TN Petróleo #71

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Revista Brasileira de TECNOLOGIA e NEGÓCIOS de Petróleo, Gás, Petroquímica, Química Fina e Biocombustíveis

opinião

Ano XII • mar/abr 2010 • Número 71 • www.tnpetroleo.com.br

O futuro do aço brasileiro

de Gabriel Aidar Abouchar, diretor de Mineração e Siderurgia da Abemi

O outro Brasil do petróleo – Parte 2 Festa para o Almirante Negro Golfo do México: horizonte sombrio Licença ambiental para o Estaleiro do Paraguaçu

ESPECIAL: TECNOLOGIA SÍSMICA

Brasil:

um território inexplorado Novos desafios à regulação: a sobrevivência dos independentes, por Marilda Rosado O marco brasileiro, por Marcio Silva Pereira Acidente ambiental, por Maurício Green e Carlos Boeckh O contrato de partilha de produção: considerações sobre o regime tributário, por Gonçalo Falcão A economia brasileira e o apagão de talentos, por Alfredo José Assumpção Sistema óptico aprimora medição de tensões residuais em dutos enterrados, por Armando Albertazzi Gonçalves Jr. e Cesar Kanda Royalties do petróleo e tributação: ou um ou o outro, por Danny Warchavsky Guedes e Caroline Floriani Bruhn Mercado de biocombustíveis carece de regulação, por Liliam Fernanda Yoshikawa e Hilton Silva Alonso Junior C O B E R T U R A

Entrevista exclusiva

Tomaso Garzia Neto, presidente da Projemar

Engenharia é o nosso negócio



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sumário

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edição nº 71 mar/abr 2010

entrevista exclusiva

com Tomaso garzia Neto, presidente da Projemar

Engenharia é o nosso negócio

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especial: Tecnologia sísmica

Brasil: um território inexplorado 22 Karoon: sísmica pioneira na Bacia de santos

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Produtores independentes – Parte 2

O outro Brasil do petróleo 34 Parceria é fundamental 35 Tesouro potiguar 38 Independentes estimulam o crescimento regional, por Oswaldo Pedrosa 40 Novos desafios à regulação: a sobrevivência dos independentes, por Marilda rosado 42 Campos marginais, por Magda Chambriard

Festa para o Almirante Negro


do méxico: 48 golfo horizonte sombrio

Liderança em Classificação e Certificação Offshore e-mail: absrio@eagle.org Tel: + 55 21 2276-3535

ambiental para o 50 licença Estaleiro do Paraguaçu

CONsElHO EDITOrIAl Affonso Vianna Junior Alexandre Castanhola Gurgel André Gustavo Garcia Goulart Antonio ricardo Pimentel de Oliveira Bruno Musso Colin foster David zylbersztajn OTC 2010 eduardo Mezzalira eraldo Montenegro flávio franceschetti francisco sedeño Gary A. logsdon Geor Thomas erhart Petrobras continua no foco Gilberto israel das atenções ivan leão Pavilhão Brasil: prospecção Jean-Paul Terra Prates de bons negócios João Carlos s. Pacheco Prointer P&G: Abrindo as João luiz de Deus fernandes José fantine portas para um novo mundo Josué rocha Badalações onshore

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mercado mundial aquecido 56 60 68 71

brasileira pronta 72 siderurgia para atender a demanda artigos 100 O marco brasileiro, por marcio silva Pereira 104 Acidente ambiental, por maurício green e Carlos Boeckh 114 O contrato de partilha de produção: considerações sobre o regime tributário, por gonçalo Falcão 116 A economia brasileira e o apagão de talentos, por Alfredo José Assumpção

118 Sistema óptico aprimora medição de tensões residuais em dutos enterrados, por Armando Albertazzi gonçalves Jr. e Cesar Kanda 121 Royalties do petróleo e tributação: ou um ou o outro, por Danny Warchavsky guedes e Caroline Floriani Bruhn

124 Mercado de biocombustíveis carece de regulação, por liliam Fernanda Yoshikawa e Hilton silva Alonso Junior

seções 05 06 10 52 78 83

editorial hot news indicadores tn eventos perfil profissional caderno de sustentabilidade

107 108 126 128 130 131

pessoas produtos e serviços fino gosto coffee break feiras e congressos opinião

luiz B. rêgo luiz eduardo Braga Xavier Marcelo Costa Márcio Giannini Márcio rocha Melo Marcius ferrari Marco Aurélio latgé Maria das Graças silva Mário Jorge C. dos santos Maurício B. figueiredo Nathan Medeiros roberto Alfradique V. de Macedo roberto fainstein ronaldo J. Alves ronaldo schubert sampaio rubens langer samuel Barbosa

Ano XII • Número 71 • mar/abr 2010 fotos: CggVeritas e TN Petróleo


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editorial

rua do rosário, 99/7º andar Centro – CEP 20041-004 rio de Janeiro – rJ – Brasil Tel/fax: 55 21 3221-7500 www.tnpetroleo.com.br tnpetroleo@tnpetroleo.com.br DIrETOr EXECUTIVO Benício Biz beniciobiz@tnpetroleo.com.br DIrETOrA DE NOVOs NEgóCIOs lia Medeiros (21 9781-3110) liamedeiros@tnpetroleo.com.br EDITOrA Beatriz Cardoso (21 9617-2360) beatrizcardoso@tnpetroleo.com.br EDITOr DE ArTE, CUlTUrA E VArIEDADEs Orlando santos (21 9491-5468) rEPórTErEs Cassiano Viana (55 21 9187-7801) cassiano@tnpetroleo.com.br Célio Albuquerque (55 21 8129-6647) celio@tnpetroleo.com.br fernanda romero (55 21 9161-8744) fernanda@tnpetroleo.com.br EsTAgIÁrIO rodrigo Miguez (21 9389-9059) rodrigo@tnpetroleo.com.br rElAÇÕEs INTErNACIONAIs luiz felipe Pinaud (21 9841-9638) lfelipe@tnpetroleo.com.br DEsIgN grÁFICO Benício Biz (21 3221-7500) beniciobiz@tnpetroleo.com.br PrODUÇÃO grÁFICA E WEBmAsTEr laércio lourenço (21 3221-7506) webmaster-tn@tnpetroleo.com.br Marcos salvador (21 3221-7510) marcossalvador@tnpetroleo.com.br rEVIsÃO sonia Cardoso (21 3502-5659) DEPArTAmENTO COmErCIAl José Arteiro (21 9163-4344) josearteiro@tnpetroleo.com.br Cristina Pavan (21 9408-4897) cristinapavan@tnpetroleo.com.br lorraine Mendes (21 8311-2053) lorraine@tnpetroleo.com.br AssINATUrAs David lourenço (21 3221-7505) david@tnpetroleo.com.br CTP e ImPrEssÃO Walprint Gráfica DIsTrIBUIÇÃO Benício Biz editores Associados. Os artigos assinados são de total responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores. TN Petróleo é dirigida a empresários, executivos, engenheiros, geólogos, técnicos, pesquisadores, fornecedores e compradores do setor de petróleo. ENVIO DE rElEAsEs sugestões de temas ou envio de matérias devem ser feitos via fax: 55 21 3221-7511 ou pelo e-mail tnpetroleo@tnpetroleo.com.br filiada à

sem exageros

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Brasil cresceu em torno de 9,85% no primeiro trimestre do ano, de acordo com o Índice de Atividade econômica do Banco Central (iBC-Br). somos quase chineses? Não, e há mais que meio planeta entre nós – de são Paulo a Pequim, em linha reta, são 17.685 km, enquanto que uma volta ao redor da Terra chega a 39.840 km. Grandes números são sempre perigosos. A China é o país que mais cresce no mundo – não por trimestre e sim de forma continuada. esse não é o caso do Brasil, que passou por um período de superaquecimento não sustentável, como reconheceu o próprio ministro da fazenda, Guido Mantega, afirmando que esse ritmo já está em queda. Muitos acenderam fogos de artifício, enquanto outros falaram do risco desse aquecimento, com previsões pessimistas. Nem tanto lá, nem tanto cá. Mantega prevê crescimento moderado, de 5,5% a 6%. Para o Brasil crescer 10% ao ano de forma sustentável, diz ele, a taxa de poupança-investimento agregado deve equivaler a 25% do Produto interno Bruto. “ela já esteve perto de 20% e caiu com a crise. Podemos chegar a 19% esse ano.” É fato que o país já deu claros sinais de recuperação da crise que ainda impacta o mundo. Mas é bom evitarmos exageros, pois crescer é uma grande responsabilidade, como já diziam os nossos pais quando tínhamos tanta pressa em nos tornarmos adultos. hoje sabemos disso e não podemos voltar atrás. ir para a frente é nossa tarefa. e estamos indo bem. A indústria avalia que o PiB do setor vai crescer

mais do que o previsto, chegando a 8% esse ano, puxada, entre outros fatores, pela cadeia produtiva de óleo e gás. A indústria petrolífera brasileira não para de crescer e de forma sustentável. e atrai o interesse de empresas do mundo inteiro ansiosas em disputar uma fatia desse mercado aquecido, como a TN Petróleo aferiu na 41ª edição da OTC, o mais importante evento de tecnologia offshore do mundo, cuja cobertura completa está nessa edição. Mostramos, ainda, um segmento dessa indústria, o de produtores independentes, que também está fazendo a diferença, embora seus números sejam menores. O que importa é a soma de todos os fatores, como mostra a indústria naval, cuja retomada, alimentada pelo setor de óleo e gás, vem se consolidando a cada dia que passa: em maio, foi lançado ao mar o primeiro navio do Programa de expansão e Modernização da frota da Transpetro. há dez anos, rezava-se um missa em memória da indústria naval brasileira – hoje, ela ocupa a quarta posição no ranking mundial. A descoberta de uma megarreserva de 4,5 bilhões de barris pela Petrobras, mas a serviço da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), soa como bom augúrio: há oportunidades para todos os que ousarem investir no país. O Brasil, sem dúvida, vale a pena, assim como os brasileiros. Mas uma nação muitas vezes padece por desgovernos ou por exagerar nos números. Portanto, toda precaução é pouca.

Benício Biz Diretor executivo da TN Petróleo

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hot news

Holanda de olho na área naval Ser uma ponte entre as indústrias marítimas brasileira e holandesa, estimulando a parceria e a cooperação no setor naval, dando suporte no levantamento e análise de informações sobre o mercado naval local é um dos principais objetivos do escritório brasileiro da Agência da Indústria Naval Holandesa (AINH), inaugurado no dia 8 de abril. O ministro holandês dos Transportes, Obras Públicas e Manejo da Água, Camiel Eurling, inaugurou o escritório, em evento que contou com a participação do novo embaixador da Holanda no Brasil, Kees Rade, e de representantes de empresas associadas à Agência, do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e outros membros da diretoria do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), e ainda o presidente da Jaraguá Equipamentos Industriais, Cristian da Silva. O escritório irá também pesquisar empresas que buscam oportunidades de cooperação no Brasil e na Holanda, além de orientar seus associados sobre questões como conteúdo local e outros aspectos relacionados ao mercado marítimo brasileiro.

Fotos: Divulgação

Agência da Indústria Naval Holandesa (AINH) abre escritório no Rio de Janeiro

A AINH é uma iniciativa conjunta dos ministérios holandeses de Assuntos Econômicos e dos Transportes, Obras Públicas e Manejo da Água, da Rede Marítima Holandesa e da Associação de Equipamentos Marítimos Holandeses (HME). A longa história do Brasil e da Holanda na construção naval faz dos dois países excelentes parceiros, abrindo possibilidades de cooperação tecnológica nas áreas offshore, de transporte fluvial, cabotagem e construção naval – destaque para embarcações de suprimento offshore, iates, rebocadores, barcos pesqueiros, dragas e navios para a Marinha. O ministro Camiel Eurling afirmou que a paixão do brasileiro pelo

trabalho foi algo que impressionou e empolgou os holandeses a fazerem negócios no Brasil. “Acreditamos no Brasil e na capacidade dos brasileiros. Por isso consideramos importante trazer as empresas holandesas, para que possam criar raízes no país e construir parcerias duradoras”, afirmou. A agência possui 24 empresas associadas que oferecem mais de 188 produtos e serviços, dentre as quais a Kronios, especializada em sistemas de fornecimento de água potável, a Bakker Sliedrecht, que atua na área de engenharia, controle de sistemas e automação, e a IHC Metalix, uma das principais fornecedoras de metal pré-moldado para estaleiros e para a indústria de reparo naval.

A Keppel Offshore & Marine, de Cingapura, adquiriu o Estaleiro TWB, localizado em Navegantes (SC), com a expectativa de ampliar as instalações para iniciar operações em meados de 2010, com capacidade anual para produzir pelo menos oito embarcações. Batizado como Keppel Singmarine Brasil, o novo estaleiro irá fabricar embarcações de apoio do tipo AHTS (Anchor Handling Tug Supply) e PSV (Platform Supply Vessels), para transporte de suprimentos e outros equipamentos às plataformas de petróleo e construir módulos para plataformas offshore. A Keppel pretende investir US$ 50 milhões na ampliação da unidade. Chow Yew Yuen, seu presidente nas Américas, assegura que o investimento visa reforçar a atuação

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do grupo no Brasil, além de complementar os serviços oferecidos pelo Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Reconhecido, aqui, pela construção de embarcações customizadas, o TWB possui área de mais de 70 mil m², uma carreira de docagem com capacidade para 1.800 toneladas de carga, permitindo embarcações de até 75 m de comprimento e 16 m de largura. Em 2007, foram realizados investimentos para a implantação de mais uma ponte rolante para operação no seu galpão de montagem. O equipamento tem capacidade para içar até 20 toneladas. No comunicado divulgado pela empresa, Yuen destaca os planos da Petrobras para expandir as operações e fretar 147 embar-

Foto: Divulgação

Keppel compra estaleiro TWB

cações offshore construídas no Brasil pelos próximos cinco anos. A operação catarinense é o segundo negócio da Keppel no Brasil. Há 14 anos, a empresa de Cingapura controla o Estaleiro Brasfels, que fabrica plataformas e embarcações de grande porte.


Acordo de cooperação tecnológica entre Brasil e Alemanha

A troca de conhecimentos e experiências entre o Brasil e a Alemanha, o estudo e a pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias, o intercâmbio de profissionais, professores e estudantes, além do estabelecimento de novas cooperações no ensino e na pesquisa, entre outras iniciativas voltadas para a engenharia de inovação são alguns dos objetivos do acordo inédito de cooperação tecnológica firmado entre a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e a Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDIBrasil), no dia 12 de abril. Com esse intuito, o acordo prevê a criação de uma Instituição de Ensino Superior (IES), pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), que representa mais de 200 mil profissionais no estado. O ministro de Ciência e Tecnologia do Brasil, Sergio Rezende, e a ministra alemã de Educação e Pesquisa, Annette Schavan, participaram do evento de assinatura durante a abertura do Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e Inovação 2010/2011. Como a Alemanha é o único país a participar da parceria com a instituição de ensino, a VDI-Brasil terá o papel de facilitar os contatos entre ela e as empresas alemãs, tanto sediadas na Alemanha quanto as instaladas aqui, contribuindo para o aumento da representatividade da tecnologia e da inovação alemãs no Brasil. De acordo com o presidente da FNE, Murilo Pinheiro, o Brasil está em um momento muito positivo, em que se valoriza a engenharia e há perspectivas de desenvolvimento no longo prazo. “Assim, é bastante importante podermos contar com a experiência alemã para darmos os

passos certos no avanço científico e tecnológico, essenciais ao nosso crescimento econômico. Em termos práticos, temos a possibilidade de contar com novos especialistas, estudos, pesquisas, laboratórios no Brasil, o que será fundamental neste processo”, revela. De acordo com Pinheiro, o setor de petróleo e gás será um dos beneficiados com a parceria. “Este é um setor que não poderá ficar fora de qualquer esforço de avanço na engenharia, tendo em vista não só as grandes oportunidades que se abrem para o Brasil com as novas reservas na camada do pré-sal e que demandam investimento em pesquisa e desenvolvimento, mas também a importância estratégica da questão energética de modo geral”, conta. O dirigente diz que a instituição tem alertado para esse aspecto como essencial a qualquer projeto de crescimento econômico e bem-estar social, portanto, terá a atenção devida. O executivo lembra ainda que as instituições já vêm trabalhando em parceria há algum tempo, tendo realizado inclusive um evento conjunto sobre a engenharia alemã em 2009. A FNE possui representação em 18 estados brasileiros por meio dos sindicatos de engenheiros em cada um deles. A Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha foi fundada em 1956, em São Paulo e, desde março de 2008, trabalha em parceria com a Câmara Brasil-Alemanha, na qual funciona seu escritório.

Nalco fornece dispersante para BP Foto: Divulgação BP

Parceria tem o objetivo de ajudar o Brasil a dar um salto no que diz respeito à formação de profissionais qualificados e voltados para a inovação. O acordo é marcado pelo grande interesse em intensificar as relações bilaterais na área científico-tecnológica.

A Nalco confirmou no dia 3 de maio que está fornecendo dispersantes de petróleo e apoio à BP (British Petroleum) e aos responsáveis para lidar com o devastador vazamento de óleo no Golfo do México. A Companhia continuará a fornecer esses dispersantes durante todo o tempo em que os responsáveis tiverem necessidade. “Até agora, as vendas relacionadas a esses dispersantes não tiveram impacto financeiro material em nossa companhia”, diz o chairman e CEO da Nalco, Erik Fyrwald. “Mas é impossível, nesse momento, prever quanto tempo vai durar esse incidente ou a magnitude da resposta necessária.” “Nossos fornecedores têm demonstrado um grande apoio ao fornecer as matérias-primas que precisamos”, Fyrwald acrescentou. “Esse tem sido de fato um grande esforço de toda a indústria para limitar os impactos do vazamento. Estamos todos comprometidos em ajudar as pessoas e o meio ambiente do Golfo do México a se recuperarem o mais rápido possível.” TN Petróleo 71

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hot news

Brasil ganha mais com múltiplos operadores no pré-sal

A existência de um operador único – não importa qual a companhia escolhida – poderá gerar atrasos no ritmo de produção e aumentos nos custos de operação e desenvolvimento na área do pré-sal. O estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que, a cada ano de atraso, o Brasil deixaria de arrecadar aproximadamente R$ 53 bilhões (em valor presente). Ainda, o investimento de R$ 1 bilhão no pré-sal teria a capacidade de gerar um efeito em cadeia na economia de 33.570 postos de trabalho divididos pelos diversos setores. “Em um cenário de múltiplos operadores há maior competição, e isto incentiva a inovação em indústrias de tecnologia de ponta, aumentando o investimento e proporcionando uma operação a custos competitivos”, afirma Marcio Lago Couto, superintendente de projetos da FGV e responsável pelo estudo. O estudo simula o impacto da operação única sobre o desenvolvimento da indústria petrolífera brasileira, com variáveis macroeconômicas nacionais, como produção, investimento, emprego e arrecadação do governo. As simulações feitas pelos economistas da FGV apontam que as perdas podem chegar a 5,5% do PIB em três anos de atraso, o que ilustra os riscos econômicos de um modelo centralizador de investimentos em 8

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Ilustração: Agência Petrobras

Estudo sobre os possíveis impactos de um único operador nas atividades de exploração e produção de petróleo na área do pré-sal, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), conclui que o novo marco regulatório deveria manter a possibilidade de haver diversas empresas operadoras na área do pré-sal.

exploração e produção nesta nova província petrolífera. Segundo Adriana Perez, coordenadora do centro de economia e petróleo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/ FGV), o ponto alto do estudo foi identificar a necessidade de um modelo regulatório mais flexível. “É importante ter essa multiplicidade de operadores, porque cada operador tem um olhar diferente sobre a área, e isso contribui muito. O novo marco regulatório deveria manter a possibilidade de haver diversas empresas operadoras na área do présal”, explica Perez. Operadores múltiplos geram benefícios para o país – O valor econômico dos blocos petrolíferos aumenta com a diversidade de operadores e liberdade na formação de parcerias entre as empresas, aponta texto do estudo.

Mencionados no trabalho da FGV estão os campos de Peregrino e Polvo que, depois de serem devolvidos à Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), foram a leilão em 2000 e desenvolvidos ao longo dos anos com grande sucesso. Nos dois casos, foi declarada a comercialidade dos campos após investimentos milionários nos poços. O campo de Peregrino, hoje operado pela Statoil, mas que já passou pela operação da Petrobras, Encana, Kerr-McGee, Hydro e Anadarko, é um exemplo do valor econômico gerado pela diversidade de operadores que, em decorrência de suas estratégias, competência e percepções de risco, tomam diferentes decisões de investimento. Desde quando foi licitado pela primeira vez, o campo de Peregrino multiplicou o seu valor em mil vezes, gerando mais receita e benefícios ao país. Por esta e outras razões, o estudo conclui que um operador único no pré-sal “não parece atender aos interesses da sociedade”.


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TI cresce no Brasil Pelo nono trimestre consecutivo, o índice ISI do Brasil é o maior da América Latina, segundo o relatório da Everis, e o PIB per capita atingiu segundo lugar no ranking.

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Cresce comércio entre brasileiros e árabes

bilidade de obter 4,55 pontos – 1,5% a mais que em 2010. O ISI brasileiro seria melhor do que a média regional e, pela primeira vez, os indicadores de Brasil e América Latina atingiriam praticamente o mesmo valor. Mesmo com previsão de um relativo abrandamento das atividades econômicas, a taxa de desemprego no Brasil poderá apresentar resultado muito melhor do que em outros países. Essa variável deverá ser de 6,7% no primeiro trimestre do próximo ano, o que representaria decréscimo de 1,8 ponto porcentual na taxa de desemprego atual. O desempenho das TIC deve se manter até o ano que vem. Além dos servidores se manterem na liderança do crescimento regional, os telefones celulares terão um avanço bem mais dinâmico. Com um aumento anual de 10,9%, a possibilidade é a de que a penetração atinja 998 terminais móveis por mil habitantes. Isso colocará o Brasil em terceiro lugar na relação de um telefone celular por habitante, depois de Argentina e Chile. Banda larga – O segmento das TIC que ainda não projeta melhora substancial no relatório ISI é o de serviço de acesso a banda larga de qualidade. A pesquisa aponta crescimento de apenas 0,8% dos assinantes – o menor progresso regional. Essa proporção deverá chegar a 17,1%, quase 4 pontos porcentuais abaixo da média latino-americana. A pouca melhoria prevista na qualidade do acesso à internet é explicada, em parte, pelo aumento rápido do número de usuários da rede. No entanto, essa variável repercute favoravelmente na pontuação de serviços de TIC. No primeiro trimestre de 2011, o índice brasileiro poderá chegar a 390 assinantes por mil habitantes, um aumento de 9,3%, o segundo maior, ficando atrás apenas da Argentina.

Com um volume total de US$ 5,1 bilhões, a corrente de comércio entre brasileiros e árabes, que inclui as importações e exportações entre as duas regiões, cresceu 40% nesses primeiros quatro meses do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. O resultado é decorrente de um aumento de 15,3% nas exportações do Brasil para as nações árabes, que somaram US$ 2,9 bilhões e do incremento de 97% nas importações, que passaram para US$ 2,2 bilhões. O melhor desempenho com relação às exportações neste período ficou com os países do Golfo Arábico, responsáveis por US$ 1,6 bilhão, com aumento de 30,5% quando comparado com o acumulado de 2009. Os países que se destacaram como principais destinos das exportações brasileiras na comparação dos primeiros quatro meses do ano em relação ao mesmo período de 2009 foram: Arábia Saudita (+30,5%) e Emirados Árabes (+33,7%). Entre os países que mais venderam ao Brasil estão Argélia, Arábia Saudita, Iraque e Marrocos.

Petrobras bate novos recordes de produção Em abril, a Petrobras bateu novo recorde mensal de produção de petróleo no Brasil. A média do mês chegou a 2.032.620 barris por dia, ultrapassando em 29 mil barris o recorde mensal anterior, de 2.003.940 barris por dia, alcançado em setembro de 2009. Esse volume foi 2,9% acima da produção do mesmo mês do ano passado e superou em 1,9% a de março de 2010. Além do recorde mensal, a Petrobras registrou, também, nos dias 23 e 24 de

Foto FPSO Cidade de Vitória: Agência Petrobras

Foto: Bia Cardoso

índice de crescimento do Brasil teve alta de 3,4% e variação mais favorável do que a média regional pelo nono trimestre consecutivo. O resultado atingiu 4,48 pontos no mais recente relatório Indicador da Sociedade da Informação (ISI) para a América Latina, realizado pela Everis, em parceria com a Iese Business School, na Espanha. O estudo apontou que o PIB per capita do país aumentou 5,3% em um ano e atingiu US$ 8.619,00. Pela primeira vez, o PIB per capita brasileiro obteve o segundo lugar no ranking, superando o México e ficando abaixo apenas do Chile. “Junto com o Chile e o Peru, o Brasil constitui o grupo de países cujo índice progrediu mais do que a média latino-americana, registrando novos recordes. A alta de 3,4% do ISI do Brasil em relação ao mesmo período do ano passado representa a variação mais favorável em comparação com os outros países da América Latina”, destaca Teodoro López, presidente da Everis Brasil. Há nove trimestres consecutivos, o indicador brasileiro vem apresentando ótimos resultados e isso se deve às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Desde o início de 2001, por exemplo, cinco de cada nove novos computadores do parque instalado na América Latina foram adquiridos no Brasil. O parque de servidores do Brasil representa a maior expansão regional. Seu índice para mil habitantes atingiu 3,6 unidades, aumento de 9,2% em um ano. Além disso, a quantidade de computadores pessoais por mil habitantes subiu 13,7%. Ou seja, o Brasil tem hoje mais de 262 computadores por mil habitantes, mais do que cinco vezes a média de nove anos, que era de 51 unidades. Entre as variáveis analisadas, destaca-se a recuperação do índice de gasto total em TIC por pessoa, que superou os US$ 400 por ano, um aumento de 25,9% em relação ao mesmo período do ano passado. No que diz respeito ao Ambiente da Sociedade da Informação (ESI, em espanhol), o desempenho econômico da região foi positivo. Também foi relevante a queda da inflação, que caiu para 4,5%, em comparação aos 5,8% do ano anterior. De acordo com o relatório ISI, se o índice do Brasil mantiver o ritmo de crescimento, poderá atingir marcas inéditas. No primeiro trimestre de 2011, o indicador terá a possi-


Advogado brasileiro faz palestra em evento internacional no Catar Objetivo do encontro é discutir os aspectos comerciais entre o país e a América Latina Cesar Amendolara, sócio do Velloza, Girotto e Lindenbojm Advogados Associados, participa do The Latin America Gulf Leaders Summit. Bridging the Gap Between Qatar and Latin America (Reunião de cúpula dos líderes da América Latina e do Golfo. Derrubando a distância entre o Catar e a América Latina), evento internacional que acontece em Doha, capital do Catar, no dia 29 de abril, e que busca estreitar a relação comercial entre o país e as principais potências econômicas da América Latina. O advogado brasileiro fará uma palestra sobre o mercado financeiro e de capitais para dezenas de investidores, abordando os aspectos legais e regulatórios, bem como as oportunidades para que as instituições financeiras estrangeiras possam estruturar operações entre as duas regiões. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e mestrando em Direito Comercial

pela Faculdade de Direito da USP, Amendolara é professor de Direito Comercial da Uni-FMU (SP); monitor de Direito Comercial da Faculdade de Direito da USP; membro efetivo do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp); Sócio do escritório Velloza, Girotto e Lindenbojm Advogados Associados, responsável pela área societária bancária e de Fusões & Aquisições. O evento, promovido pelo The Gulf Latin America Leaders Council (Cúpula de Líderes da América Latina e do Golfo), pelo The Qatari Businessmen’s Associations (Associação Comercial do Catar) e pela publicação LatinFinance, encerra uma série de reuniões e palestras que acontecem até o final de abril nos Emirados Árabes (Dubai e Abu Dahbi) e no Catar.

abril, dois recordes diários consecutivos, com a produção de óleo e LGN, alcançando 2.081.570 e 2.083.543 barris, respectivamente. Esses resultados decorreram, entre outros fatores, do bom desempenho operacional das plataformas localizadas no litoral dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, com destaque para a interligação de novos poços ao FPSO Cidade de Vitória, no campo de Golfinho (ES); da entrada em operação de novos poços no campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos (RJ); e do início do Teste de Longa Duração (TLD) de Tiro, na Bacia de Santos, em 19 de março. A produção terrestre também teve participação importante na conquista desses resultados, especialmente com a entrada em produção de dois novos poços nos campos de Rio Urucu (RUC) e Leste do Urucu (LUC), no Amazonas. Embora mais de 85% do petróleo produzido pela empresa no Brasil venha dos campos marítimos, a Petrobras tem conseguido bons resultados em suas áreas terrestres. A média de produção desses campos tem oscilado em torno de 215 mil barris de petróleo por dia,

um volume que vem sendo mantido ao longo dos últimos anos, graças a novas tecnologias que a companhia desenvolve para aumentar a vida útil de campos maduros. Com a entrada em operação dos FPSOs Cidade de Santos, em Uruguá/Tambaú, e Capixaba, em Cachalote/Baleia Franca, nos próximos meses, a companhia espera atingir novos recordes de produção.

Parceria brasileira Em janeiro deste ano, durante uma visita a Brasília, o emir Hamad Bin Khalifta Al-Thani assinou memorandos de entendimento com a Vale, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES). No encontro, o emir afirmou que o país quer prospectar possibilidades de investimentos no Brasil e no exterior em parceria com empresas brasileiras. Segundo ele, os catarianos têm interesse em setores como energia, imobiliário e agronegócios. Outro aspecto econômico-comercial da visita foi o empenho em atrair a participação de empresas brasileiras em projetos de infraestrutura no país, principalmente para a construção de ferrovias, estradas e redes de esgoto. A partir de junho, a Qatar Airways passa a operar voos diários entre Doha e São Paulo. O anúncio, feito em março pela companhia aérea, é resultado dos esforços conjuntos para aproximar os dois países.

Opep eleva previsão de alta da demanda A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) informou, no início de maio, que em 2010 a demanda pela matéria-prima vai crescer mais que o esperado. Em seu relatório mensal sobre o mercado do petróleo, a Opep afirma que o consumo

Produção de países-membros da Opep e não-membros – mai/08 a abr/10

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Frases “Há uma grande oportunidade no mercado brasileiro para fornecedores, prestadores de serviço e empresas de engenharia.” Orlando Azevedo,

Foto: Bia Cardoso

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presidente da Petrobras America, avaliando que o conteúdo nacional não será um empecilho. – 05/05/2010 – Agência Petrobras

“Depende do nível...US$ 65 dispara o alarme.” Xeque Ahmad Abdullah Al Ahmad Al Sabah, ministro de Petróleo do Kuwait, quando questionado se a Opep adotaria alguma medida para impedir novas quedas de preço do petróleo. – 10/05/2010 – Agência Estado “A ANP, antes de fechar com a Petrobras, chamou duas grandes operadoras para perfurar na área e todas se recusaram.” Magda Chambriard, diretora da ANP, sobre a descoberta de um megarreservatório estimado em 4,5 bilhões de barris, na área denominada Franco, no litoral do Rio de Janeiro, na Bacia de Santos. – 14/05/2010 – Agência Brasil

“O vazamento não deve resultar na proibição destas explorações, assim como o ‘Apollo 13’ (ônibus espacial que se acidentou) não causou o fim do programa especial nem os acidentes de avião graves evitaram que as pessoas voem.” Tony Hayward, executivo-chefe de British Petroleum (BP), sobre o acidente no Golfo do México. – 15/05/2010 – BBC

Produção da Petrobras de óleo, lgn e gás natural Produção de óleo e LGN (em mbpd) - Brasil (outubro/2009 a Out Nov Dez Jan Bacia de Campos 1.718,0 1.695,3 1.677,5 1.647,6 Outras (offshore) 66,6 77,0 89,7 109,3 Total offshore 1.784,6 1.772,2 1.761,1 1.756,9 Total onshore 216,1 218,6 220,0 215,9 Total Brasil 2.000,7 1.990,9 1.987,1 1.972,8

março/2010) Fev Mar 1.688,9 1.688,3 85,7 93,6 1.774,6 1.781,9 212,9 211,9 1.987,6 1.993,8

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d)* - Brasil (outubro/2009 a março/2010) Out Bacia de Campos 26.937,1 Outras (offshore) 8.350,3 Total offshore 35.287,4 Total onshore 15.573,2 Total Brasil 50.860,6

Nov Dez 27.105,6 26.572,5 8.192,8 8.742,1 35.298,5 35.314,6 15.369,3 15.666,3 50.667,7 50.980,9

Jan Fev Mar 25.212,0 26.386,8 25.817,3 8.686,1 9.687,1 9.057,1 33.898,0 36.074,0 34.874,4 15.650,1 15.541,7 15.259,4 49.548,1 51.615,7 50.133,8

Produção de óleo e LGN (em mbpd)** - Internacional (outubro/2009 a março/2010) Exterior

Out 153,4

Nov 150,9

Dez 150,3

Jan 147,7

Fev Mar 151,4 149,6

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d) - Internacional (outubro/2009 a março/2010) Exterior

Out Nov Dez Jan Fev Mar 16.828,8 16.374,0 15.859,0 15.912,4 16.454,7 16.530,5

Produção total de óleo, LGN e de gás natural (em mboe/d) (outubro/2009 a março/2010) Brasil+Exterior

Out 2.573,0

Nov Dez Jan Fev Mar 2.556,9 2.551,4 2.525,8 2.560,5 2.556,0

(*) Inclui gás injetado. (**) Em 2003 inclui os dados da Petrobras Energia (ex-Pecom).

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Fonte: Petrobras

mundial deverá crescer 950 mil barris/dia (mais 50 mil face à previsão anterior) em comparação com a procura do ano passado. Esta foi a mais significativa revisão de alta das previsões desde o começo do ano. Segundo a Opep, a procura mundial de petróleo, em 2010, deverá situar-se nos 85,38 milhões de barris por dia (mbd) em equivalente de crude. A maior parte do aumento está ligada a uma melhora na previsão da demanda chinesa. De acordo com as projeções da Opep, o consumo da China deverá crescer em 0,45 mbd para 8,65 mbd, um volume que representa um aumento de 5,5% face a 2009. Por outro lado, enquanto a América do Norte contabilizará uma procura de 23,58 mbd, mais 290 mil barris/dia em relação ao ano de 2009, as economias da Europa Ocidental deverão responder por uma procura de 14,09 mbd, menos 440 mil barris por dia, em comparação ao ano anterior. Segundo o relatório, embora a recuperação da economia global mostre sinais de crescente força, ainda existem riscos importantes que podem ter impacto na expectativa de crescimento da demanda para este ano. O documento ainda destaca a crise na Grécia e o efeito negativo da nuvem de cinzas vulcânicas da Islândia no mercado de combustível para aeronaves. Queda brusca – No início de maio, o petróleo negociado nos EUA fechou a 75,11 dólares o barril, marcando a maior perda semanal em quase um ano e meio. Uma consequência da crise financeira da Grécia. “Sessenta e cinco dólares justificam acionar o alarme... e uma reunião”, afirmou, na ocasião, o xeque Ahmad al-Abdullah al-Sabah, ministro do petróleo do Kuwait, a jornalistas em Doha. “Os preços sobem e descem, é uma correção natural. As mudanças de preço reagem às forças do mercado”, afirmou. “Ainda acreditamos que o mercado está muito bem suprido.”


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entrevista exclusiva Tomaso garzia Neto, presidente da Projemar

Engenharia é o nosso

NEGÓCIO Uma das mais conceituadas empresas brasileiras de engenharia, com mais de 40 anos de serviços no setor de construção naval e offshore, a Projemar nasceu para a engenharia e cresceu voltada para o mercado offshore. A empresa executou o projeto de cerca de 70% das unidades flutuantes em operação na Bacia de Campos, tendo participado de projetos de mais de uma dúzia de plataformas da Petrobras, entre as quais se destacam a P-34, P-37, P-38, P-40, P-43, P-48, P-50, por Beatriz Cardoso e Cassiano Viana P-53, P-54 e P-55.

COM UM POrTfóliO de mais de 850 projetos de todos os tipos de embarcações, desde porta-contêineres e graneleiros a plataformas de todos os tipos – chegando ao estado da arte em projetos de fPsO (floating Production storage and Offloading) –, a Projemar já se firmou como referência internacional no setor naval e offshore. Mas pretende ir ainda mais longe, inclusive no desenvolvimento de navio de posicionamento dinâmico, como revela Tomazo Garzia Neto em entrevista exclusiva à TN Petróleo. TN Petróleo – A Projemar foi criada em 1969 pelo estaleiro Emaq, com o objetivo de desenvolver projetos para a indústria no Brasil, pois na época a maioria dos projetos vinha de fora. Mas foi só a partir de 1997, quando já era uma empresa independente, que ela entrou na área offshore. Como se deu a transição? Tomaso garzia Neto – isso ocorreu dentro de um cenário crítico, no qual a construção naval estava estagnada e a Petrobras iniciava uma nova fase de exploração offshore da Bacia de Campos, 14

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em águas profundas, demandando uma grande quantidade de unidades flutuantes. Como tínhamos uma base sólida e amplo conhecimento de engenharia naval, nos candidatamos para participar do desenvolvimento de projetos de plataformas para a Petrobras. foi assim que em 1997 obtivemos os primeiros grandes contratos, entre os quais o projeto da P-37 (instalada em Marlim, Bacia de Campos). A partir daí fomos consolidando nosso caminho no mercado offshore. Vocês foram reconhecidos pela expertise em projetos de FPsO. Foram os precursores desse tipo de unidade no Brasil? Quando começamos na área offshore já existiam vários fPsOs instalados mundo afora. A grande iniciativa e mérito da Projemar foi chegar com uma série de ideias inovadoras nesse metiê, respaldados em nossa experiência acumulada na engenharia naval. e o interessante é que, nessa época – estamos falando de meados da década de 1990 –, quem projetava fPsOs, apesar de ser uma unidade flutuante, eram engenheiros

que não tinham nenhuma experiência em construção naval. Quando começamos a projetar os fPsOs, existiam especificações funcionais com a visão de engenheiros que não eram da área naval. Chegamos com essa visão. Na medida em que as unidades foram sendo construídas, elas foram se tornando mais e mais complexas, mas o enfoque sistêmico de engenharia naval nos permitiu elaborar projetos altamente eficientes, reconhecidos e citados como referência em publicações internacionais. Qual a filosofia de trabalho da Projemar? Desenvolver tecnologia. Nosso negócio não é apenas fazer projetos e simplesmente ganhar dinheiro. Claro, todo mundo quer ganhar dinheiro e a gente acha isso muito saudável, mas nossa maneira de ganhar dinheiro é oferecendo soluções. A Projemar tem uma carteira ampla de projetos porque oferece soluções inovadoras. Não somos e nem queremos ser a maior empresa de engenharia brasileira: queremos ser a melhor. então, ao invés de subcontratar serviços especializados


A PrOJeMAr TeM UMA CArTeirA AMPlA De PrOJeTOs POrQUe OfereCe sOlUções iNOVADOrAs. NãO sOMOs e NeM QUereMOs ser A MAiOr eMPresA De eNGeNhAriA BrAsileirA: QUereMOs ser A MelhOr.

de outras empresas, nacionais ou estrangeiras, preferimos contratar profissionais brilhantes e investir na sua qualificação contínua. essa é a nossa filosofia. e é isso que nos tem permitido crescer. Quando começamos, como empresa independente, em 1995, não chegávamos a 40 pessoas. Na época do contrato Barracuda-Caratinga (P-43 e P-48), o maior contrato offshore que teve no Brasil, a Projemar atingiu um efetivo de mais de 500 pessoas. hoje, temos um efetivo de aproximadamente 350 pessoas: é um número expressivo levando em consideração todas as crises e dificuldades pelas quais o mercado passou

desde 1995. Tivemos picos de trabalho e crises violentas, de falta total de serviços, quando sustentamos a companhia até mesmo com prejuízos, em alguns anos. Falta mão de obra? Esse é um dos gargalos do setor? sim, falta mão de obra capacitada e por isso investimos na formação de nosso pessoal. Não se pode esperar que um engenheiro recém-formado possa trabalhar em qualquer coisa. Trabalhamos com gente nova, mas, ao mesmo tempo, temos profissionais muito experientes e capacitados como, por exemplo, o Alcyr

Duarte faria, um profissional que está completando 80 anos de idade, o projetista mais antigo da construção naval brasileira. esse é um dos nossos segredos, a renovação contínua e a transferência de conhecimento, que se dá nesse convívio de uma turma muito experiente, extremamente capacitada, com jovens profissionais. Temos profissionais recém-formados, com uma formação básica, que vão ficar aqui dois, três anos efetivamente produzindo muito pouco para a Projemar, mas que, nesse tempo, vão estar se capacitando, recebendo um investimento grande. Não é possível pegar um engenheiro novo, TN Petróleo 71

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entrevista exclusiva

sem experiência, e delegar a ele a responsabilidade de certas atividades, pois falta maturidade profissional, coisa que, sabemos, só se consegue depois de anos e anos de profissão. Devido a esta política, a Projemar é uma das maiores formadoras de mão de obra para o mercado. Quando se fala em formação de profissionais, deve-se levar em conta as ferramentas utilizadas também. A Projemar foi uma das primeiras empresas de engenharia a incorporar ferramentas 3D na indústria naval brasileira, não? A Projemar não foi a primeira empresa a incorporar ferramentas 3D nos seus projetos, mas foi a que entrou e investiu com mais seriedade neste tipo de ferramenta. Quando começamos a atuar na área offshore, trabalhar com 3D já era um requisito da Petrobras, uma obrigação contratual. Mas a nossa visão foi mais além: uma vez que havíamos acumulado grande experiência na construção naval e tínhamos de trabalhar com essa ferramenta, vimos nela um potencial gigantesco e resolvemos ‘abraçá-la’, e explorar ao máximo os seus recursos. Vocês, na engenharia, foram os primeiros a criar uma sala de visualização de 3D? Temos essa sala desde 2003. A visualização 3D já era utilizada pela Petrobras para a parte de sísmica. Na engenharia, a Projemar foi a primeira. Vislumbramos 16

TN Petróleo 71

Um bom projeto começa com uma boa conceituação. Essa é a parte forte da Projemar, devido à sua capacitação na engenharia básica . É quando a Projemar faz a diferença, emprega sua capacidade de chegar a soluções mais vantajosas para os clientes.

nela uma ferramenta para tornar nosso projeto mais eficiente, investimos e fomos adiante. Na época, e até mesmo hoje em dia, isso chama muito a atenção. No começo, havia aqui uma verdadeira procissão. A própria Petrobras trouxe equipes, até mesmo de outras empresas, para ver a sala em funcionamento. De que maneira essas ferramentas facilitam o trabalho do engenheiro naval? A grande vantagem de uma sala de visualização 3D é a relação com o cliente, porque ele, muitas vezes, não está acostumado a ler um desenho, para entender o que aquele desenho representa. Essa é uma das grandes dificuldades de um empreendimento, pois o cliente, mesmo dentro de grandes empresas, nem sempre tem a visão do que é o projeto apenas pelo desenho e, muitas vezes, só percebe que não era aquilo exatamente o que ele queria quando a obra está feita. O sistema de realidade virtual dá a ele uma visão muito próxima daquilo que ele vai ter de fato quando a obra ficar pronta. Com a sala, o cliente tem a possibilidade de visualizar o projeto como um todo. Hoje você não pode mais prescindir dessa parafernália tecnológica.

Como nasce um bom projeto? Um bom projeto começa com uma boa conceituação. Essa é a parte forte da Projemar, devido à sua capacitação de engenharia básica. É quando a Projemar faz a diferença, ou seja, emprega sua capacidade de chegar a soluções mais vantajosas para os clientes. Um bom exemplo disso é um projeto que fizemos para a Vale, que precisava levar seu minério para a China: criamos um novo tipo de navio, um mineraleiro de 400 mil toneladas, que acabou se tornando padrão do mercado no mundo inteiro. Esse navio nasceu aqui na Projemar. Oferecemos neste caso muito mais do que um projeto de navio, oferecemos uma solução de logística. Falando em logística, esse é um dos desafios das operações no pré-sal, devido às grandes distâncias da costa: mais de 300 km. A Projemar tem refletido sobre possíveis soluções para o pré-sal, como, por exemplo, novos navios de posicionamento dinâmicos, unidade de liquefação de gás natural embarcada (GNLE)? Os projetos de GNLE são um desafio bem grande. Vai ser preciso tecnologia, um know-how extremamente especializado. Seria uma leviandade dizer que a Projemar está pronta para fazer isso, mas, como eu disse, isso é o que nos move. Eu me lembro que no início de 1991, em um seminário promovido pela Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), depois de uma apresentação que fizemos, demonstrando nossa qualificação para o projeto estrutural de navios, alguém perguntou se poderíamos projetar uma plataforma offshore. Eu disse que nunca tínhamos trabalhado com isso, mas que se começássemos a fazer, rapidamente teríamos a capacitação necessária e foi exatamente o que aconteceu poucos anos após. E estamos aqui hoje. Então, quando se fala em GNLE não tenho a menor dúvida de que vamos buscar esse knowhow, eventualmente até em parceria com alguma empresa. A pouca experiência nesse tipo de projeto não nos assusta. A engenharia é o nosso negócio.


engenharia é o nosso negócio

E os navios de posicionamento dinâmico? Essa é outra especialidade da Projemar. Temos um conceito totalmente novo. Uma geração nova de embarcações DP com soluções voltadas para o présal. Estamos trabalhando nisso desde o início de 2009, e se você me perguntar qual a novidade, eu digo mais uma vez que é o conceito: tudo o que está sendo utilizado é consagrado, a questão é saber aplicar. Mesmo com o reconhecimento mundial da competência e da qualidade da Projemar, ainda é difícil vender um grande projeto fora do Brasil? O que existe no exterior é uma brutal proteção para a inteligência local: tentar vender um projeto de engenharia para os EUA ou Europa é algo quase impossível. E olha que temos excelentes relações com empresas de lá. Até vendemos alguns serviços altamente especializados, mas há uma dificuldade muito grande de

vender grandes projetos. E nem é pelo custo da engenharia, que, dentro do empreendimento, é relativamente pequeno, mas pela relação já consolidada com as empresas e profissionais locais. E não queremos comercializar o que chamamos “commodity”, serviços de engenharia que não demandam um conhecimento específico, mas somente mão de obra intensiva. Esse não é o nosso caso. A Projemar vende conhecimento, e para isso ela investe na aquisição desse conhecimento. Essa questão de mercado está associada à proteção do conhecimento e da inteligência, e os países desenvolvidos têm a perfeita noção do que isso significa. Você vive e respira engenharia o tempo todo, certo? Se você faz o que gosta, isso não é trabalho, é diversão. Esse é o espírito dentro da empresa. Boa parte dos profissionais que está aqui acredita na engenharia brasileira. Já tivemos a opção

de vender a empresa, mas nós, os proprietários da Projemar, éramos e ainda somos três engenheiros que acreditam na engenharia e não se conformam em vê-la ir para o buraco. Porque competência, nós temos. As dificuldades são enormes, sem dúvida. Quando você pensa na quantidade de obras sendo feitas lá fora, quando você desenvolve um projeto do drillship que uma empresa americana se interessa, e depois resolve construir este nosso projeto em um estaleiro na China, e você enfrenta tantas dificuldades para entrar em concorrências aqui no Brasil, você vê que a grande dificuldade é o próprio brasileiro. Outro entrave para o desenvolvimento das ideias aqui no Brasil é que muitas vezes o seu interlocutor não tem o conhecimento que você detém de determinado assunto. E não quer admitir que você tem a experiência. Mas isso são ossos do ofício. A vida de uma empresa de engenharia é muito difícil. Mas estou com quase 60 anos e, estar aqui, na Projemar, é o que gosto de fazer.

Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

Nesta edição.

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tecnologia sísmica

Com atividades de exploração de petróleo e gás em cerca de 5% de suas bacias – as quais ainda são, na maioria, desconhecidas pelos órgãos e empresas do setor –, o Brasil ainda é um continente de oportunidades para a indústria petrolífera mundial.

Brasil: um território inexplorado por Cassiano Viana

M

eio século depois do famoso relatório Link, conjunto de cartas do geólogo norte-americano Walter Link sobre o baixo potencial petrolífero do Brasil – mas que já indicava o mar como a área mais promissora – o país consolidou sua autossuficiência e fez uma das descobertas mais

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importantes das últimas décadas no cenário mundial. no entanto, mesmo depois das atividades de pesquisa e de exploração e produção da petrobras – principalmente –, além de petroleiras que hoje atuam no país, comprovarem o enorme potencial das bacias brasileiras, em águas ultraprofundas e na camada do pré-sal, ainda estamos nas águas rasas do conhecimento.

Com dimensões continentais, quinto maior em área, atrás apenas da rússia, Canadá, república popular da China e estados unidos, o Brasil tem, em terra e no mar, cerca de 30 bacias sedimentares das mais diversas idades e características geológicas, perfazendo uma área total de 7,5 milhões de km². Levando em consideração todo o território potencial para exploração e produção de óleo e gás (5 milhões


CONHECImENTO sOBrE As BACIAs BrAsIlEIrAs Total: 7,3 milhões km²

75% (5.475.000 km²) Pouco conhecidas

16% (1.168.000 km²)

Conhecimento intermediário

6%

(438.000 km²) Conhecidas

de km² no continente, 2,5 milhões de km² no mar) e o fato de termos apenas 6% dessa área conhecida e 5% em processo de exploração, os números demonstram a necessidade urgente de pesquisas geológicas e geofísicas para o crescimento de suas reservas e da produção. pesquisas que podem ser implementadas com maior grau de qualidade das informações graças às numerosas ferramentas tecnológi-

cas disponíveis no mercado mundial para as empresas que desenvolvem atividades de alto risco, como as do setor de petróleo e gás. dentro dessa cadeia produtiva, a indústria da sísmica desempenha um papel importante tanto na exploração quanto na produção de hidrocarbonetos. tecnologias modernas e técnicas inovadoras têm possibilitado não somente novas descobertas, em cenários cada vez mais complexos, como o do pré-sal, como também o melhor entendimento/interpretação das características de reservatórios de petróleo e gás já descobertos. o que vem possibilitando às petroleiras otimizar a produção tanto de campos mais novos como também de áreas mais maduras, revertendo a queda da produtividade dessas áreas.

Evolução acelerada passada a crise de 2009, a indústria sísmica mundial experimenta um novo aquecimento. novas empresas estão surgindo, assim como navios mais avançados estão sendo lançados ao mar, com mais recursos para aquisição de dados

3% (219.000 km²) Desconhecidas

sísmicos. Há também o amadurecimento de novas técnicas, como, por exemplo, as aquisições sísmicas com riqueza azimutal (rich, wide e multi-azimuth), que têm possibilitado aos players do setor delinear um novo horizonte de atuação. “no Brasil, como em todo mundo, a indústria da sísmica tem evoluído. aqui, a área de processamento de dados tem progredido, com centros de processamento de dados (Cpds) mais modernos. essa evolução também se estende à aquisição sísmica de dados, com novos levantamentos em bacias terrestres, patrocinados pela agência nacional do petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (anp), em bacias marítimas, nas quais, além da petrobras, outras petroleiras têm investido na sísmica”, observa Eduardo Lopes de Faria, presidente da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf). “Hoje estamos assistindo a uma grande evolução na tecnologia de TN Petróleo 71

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ilustração: ANP

tecnologia sísmica

aquisição sísmica”, afirma Faria, complementando que merecem destaque os levantamentos com riqueza azimutal, os levantamentos multicomponentes, utilizando receptores posicionados no fundo oceânico. “as técnicas como a aquisição com fontes simultâneas, ainda em fase de pesquisa, podem ser, em um futuro próximo, o grande marco na aquisição de dados sísmicos”, avalia. em levantamentos terrestres merece destaque a utilização da tecnologia wireless. “no processamento de dados, as técnicas de migração de dados sísmicos utilizando a equação da onda (wave equation migration), em especial a rtm (reverse time migration) têm se destacado por oferecerem uma imagem de boa qualida20

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de em regiões geologicamente complexas”, explica o geofísico. “É preciso também mencionar a evolução dos métodos de inversão dos dados sísmicos, que tem possibilitado uma estimativa mais precisa das rochas e dos fluidos nelas contidos”, diz.

geofísica avançada Marcos de Almeida, presidente da GeoQuasar energy Solutions, empresa de serviços, que atua em diversas etapas da e&p, confirma que os instrumentos de aquisição têm avançado muito. “a escala dinâmica dos instrumentos é muito boa. e isso não é de

agora. mas hoje temos avanços tecnológicos com novos softwares”, observa o executivo da companhia, que oferece serviços de aquisição onshore e offshore, processamento, interpretação e integração de dados geofísicos. “o foco está nas novas tecnologias de análises de sísmica poststack, quando podemos ganhar conhecimentos usando técnicas que ajudam a delinear, realçar e extrair informações geológicas a partir de dados sísmicos 3d com clareza, detalhes e rapidez sem precedentes. e com resultados que podem ser facilmente integrados com qualquer fluxo de trabalho de interpretação sísmica, modelagem 3d ou planejamento de poços”, explica almeida. Segundo ele, as tecnologias são projetadas especialmente para


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tecnologia sísmica

geocientistas e engenheiros, com o objetivo de destacar, realçar e extrair características geológicas imageadas nos dados sísmicos 3D. “Nossa visão da evolução da sísmica é da utilização de métodos de geofísica avançada aplicada, aquisição de dados 3D de alta densidade, em especial o wide azimuth 4D e sistemas permanentes de monetarização do reservatório”, pontua o executivo. “Acreditamos que as empresas usarão métodos potenciais de última geração como, por exemplo, a gradiometria, para otimizar os custos e diminuir o impacto ambiental, e a aquisição de aerolevantamentos”, afirma o presidente da Geo-

Quasar, que, através de alianças estratégicas, opera na Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, México e Venezuela. “A importância da sísmica é comparável ao telescópio Hubble no que se refere ao conhecimento das fronteiras no espaço em que ganhamos grande conhecimento, especialmente com as novas e modernas técnicas e fluxos de trabalhos integrados tipo ffA, uma das empresas que representamos na América Latina, com novas tecnologias de análise sísmica 3D aumentando o conhecimento e diminuindo os riscos”, conclui Marcos de Almeida.

Karoon: sísmica pioneira na Bacia de Santos A petroleira australiana Karoon finalizou em março uma campanha pioneira iniciada em fevereiro para aquisição de dados sísmicos 3D em 750 km² nos blocos que possui na Bacia de Santos utilizando duas embarcações da WesternGeco: a Western Patriot e a Western Diamond. 22

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O modelo de aquisição no Brasil foi uma novidade. A Diamond seguia posicionada a 800 m da Patriot, cujos streamers recebiam o reflexo do sinal que vinha das duas embarcações, em ângulos diferentes, o que ajudou a iluminar melhor a geometria das camadas em sub-superfície e suas complexas estruturas.

Tecnologia 4D Os avanços na sísmica são destacados também por Luiz Neves, diretor de sísmica da Gaia, empresa que atua em diversas etapas da exploração e produção, por meio de parceiras estratégicas, representadas com exclusividade por ela no Brasil. Na área sísmica, a Gaia representa a PGS (aquisição de dados sísmicos) e a SMT (software de interpretação de dados sísmicos). Graças à sua atuação na aquisição e interpretação de dados, a O propósito da campanha foi obter dados de alta qualidade em Wide Azimuth 3D, utilizado pela primeira vez no Brasil e desenvolvido para coletar imagens nas estruturas de sal capaz de permitir uma definição mais acurada e auxiliar a decisão do posicionamento dos poços exploratórios que serão perfurados no final de 2010 ou início de 2011. A Karoon possui cinco blocos em águas rasas na Bacia de Santos, entre os campos de Caravella e Merluza, arrematados na Nona Rodada de Licitações da ANP, realizada em 2007, que correspondem a uma área de 850 km² (os blocos BM-S61, BM-S-62, BM-S-68, BM-S-69 e BM-S-70). Os contratos foram assinados em março de 2008. A companhia tem 100% de participação nos blocos. “Temos atualmente três áreas de foco, as bacias de Browse e Bonaparte, na Austrália, as bacias de Tumbes e Maranon, no Peru, e a Bacia de Santos, no Brasil”, comentou Tim Hosking, gerente de desenvolvimento de negócios da Karoon para a América Latina. “Os ativos adquiridos pela Karoon na América do Sul são considerados, neste momento, os melhores que temos”, disse.


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Foto: Cortesia CGGVeritas

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empresa dispõe hoje de uma rica Biblioteca de Dados Sísmicos para dar suporte aos clientes de sua carteira, entre os quais se destacam as principais petroleiras que atuam no país. Afinal, são cerca de 17 mil km² de sísmica 3D sobre áreas da Bacia de Campos e 200 mil km de sísmica 2D em todas as bacias offshore do Brasil. “A sísmica tem avançado, conquistando maior resolução, por meio de equipamentos mais modernos, como navios com maior número de cabos e receptores com maior resolução”, destaca Neves, citando como exemplo os navios Ramform classe S (Sovereign, Sterling), da PGS, que podem levar até 20 cabos. “Além disso, utilizam a tecnologia wide azimuth, que melhora o imageamento em áreas de complexidade estrutural, e o Geostreamer (PGS), que permite que os cabos consigam operar mesmo em condições climáticas e oceanográficas não favoráveis. A utilização de sensores de pressão e velocidade permite maior 24

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penetração e resolução dos dados”, destaca o executivo. Por isso, Neves afirma que as novas tecnologias que vão fazer a diferença no monitoramento de campos de petróleo (4D convencional, instalação permanente), o Geostreamer (condições de mar adversas) e o wide azimuth (imageamento de áreas complexas). Mas tudo isso depende de algumas medidas, que vão mais além das tecnologias disponíveis em sísmica. Primeiro, condições e regras claras para que haja uma demanda maior por pesquisas, sobretudo em áreas de nova fronteira. “Mas, seria necessário que os leilões fossem programados no médio e longo prazos. Isso porque as empresas de aquisição de dados precisariam conhecer as áreas disponibilizadas nos leilões futuros para que possam adquirir os dados e dar acesso às operadoras. Isto reduziria o risco exploratório e aumentaria o interesse das empresas”, conclui o executivo da Gaia.

Reprocessamento é visão mais amadurecida Dentre os métodos de aquisição terrestre e marinha destacados por Patrick Postal, Country Manager da CGGVeritas no Brasil desde setembro do ano passado, para a atividade terrestre está disponível a tecnologia High-Productivity Vibroseis Acquisition (HPVA) e a SeisMovie 4D, para acompanhamento no tempo de um campo terrestre. “Estamos lançando um primeiro projeto SeisMovie no Brasil, junto à Petrobras, na bacia terrestre da Bahia. Esse é o primeiro projeto no país de acompanhamento de injeção de CO2 em um poço de petróleo e gás para incrementar a produção e para sequestro de carbono”, comenta Patrick. Em áreas marinhas, ele destaca o Nautilus, solução que proporciona a aquisição de informações de altíssima qualidade e que já está operacional em duas embarcações da CGGVeritas e estará disponível em pelo menos mais seis embarcações até o final de 2010, e a tecnologia de wide azimuth, que considera muito eficaz, particularmente para o pré-sal. “Obtivemos excelente resultados na visualização do pré-sal do Golfo do México”, afirma. “Pode até haver um interesse da utilização futura dessa tecnologia no Brasil, em especial nos campos que estão em desenvolvimento no pré-sal”, acredita. De acordo com Postal, mesmo que esta tecnologia seja mais cara por quilômetro quadrado, que o narrow-azimuth 3D tradicional, ela fornece o acesso a informações não disponíveis nos sistemas antigos, além de possibilitar um retorno de imagem muito mais rico e importante


para a interpretação mais precisa dos reservatórios nesse complexo ambiente. São muitas as inovações, sobretudo na área de processamento de dados, na qual a CGGVeritas – primeira companhia a adquirir informações em wide azimuth – tem liderança comprovada. Segundo Patrick Postal, a área de processamento passou por uma evolução significativa na área de processamento. “A potência de cálculo disponível cresce, junto com o trabalho humano, de forma exponencial. Há um grande potencial para dar vida a informações antigas pelo reprocessamento, utilizando tecnologias como a Tilted-Transverse Isotropy Reverse Time Migration (TTI RTM) da CGGVeritas”, salienta. Segundo ele, essa tecnologia traz grande satisfação e um grande retorno para os clientes devido à capacidade de reprocessamento de dados adquiridos há cinco, sete anos. “Os dados adquiridos ainda têm um valor muito grande, levando em consideração a possibilidade de reprocessamento, introduzindo tecnologias modernas de processamento, mostrando um potencial maior, uma outra interpretação de determinadas áreas.”

A descoberta de Tupi Segundo Postal, a própria descoberta de Tupi é um bom exemplo dos benefícios do reprocessamento de informações multiclientes por tecnologias avançadas de imageamento. O volume de aquisição de dados no Brasil da CGGVeritas é de cerca de 110 mil km² de 3D e 36.800 km de 2D. Vai para a Petrobras, no entanto, a maior parte do trabalho desenvolvido em multiclientes. “Esse tem sido o modelo dominante”, afirma. Para Patrick, esse é, para o Brasil, o período das grandes descobertas. “Participamos da descoberta das ja-

zidas do pré-sal, dentro de um trabalho que estávamos realizando. Esse é um marco da sísmica. As imagens ficaram belíssimas. Raramente vemos tão nítidas imagens de camadas tão profundas e grossas.” “Tupi representa, por exemplo, um desafio em termos de aquisição e processamento. Até mesmo pelo fato de existirem carbonatos, elementos geológicos que não conhecíamos a essa profundidade... são reservatórios complexos. Além da complexidade do sal, que implica um processamento particular ”, explica o VP de Serviços de Processamento da CGGVeritas no Brasil, Julio Perea. “A grande incógnita da equação

CGGVeritas cria centros de tecnologia no Brasil A CGGVeritas está inaugurando, ainda esse ano, três centros de tecnologia no Brasil. Dois centros de processamento dedicados ao 4D, em Macaé e no Rio de Janeiro, e um centro de tecnologia, no Rio de Janeiro. O objetivo dos centros é desenvolver tecnologias para enfrentar os grandes desafios encontrados pelos operadores brasileiros. “Este modelo de centro de tecnologia implica uma colaboração tecnológica com alguns operadores, mas também com universidades de alto nível, como as existentes no país”, explica Patrick Postal. “A CGGVeritas trará experts e as experiências vivenciadas em outros lugares do planeta, mas a participação dos especialistas locais é essencial para que se formulem conhecimento e experiência próprios.”


tecnologia sísmica

Sísmica no Brasil Período pré-Petrobras Não há muitos registros sobre as atividades sísmicas no Brasil antes da Petrobras, mas sim de sondagens em diferentes estados brasileiros, que culminaram, em 1939, na descoberta de óleo em Lobato (BA). Final do século XIX – primeiras perfurações de poços a 500 metros. 1918 a 1933 – Eusébio de Oliveira comanda programa de sondagens em vários pontos do país: foram feitas 21 sondagens no estado de São Paulo, 12 no Paraná, 10 no Pará, 6 em Alagoas, 6 na Bahia, 6 em Santa Catarina e 2 no Rio Grande do Sul. 1917 a 1933 – as pesquisas eram feitas sob a direção do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Após 1933, passaram a ser coordenadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em 1938, passarama alçada do Conselho Nacional do Petróleo. 1939 – Descoberta de petróleo em Lobato, Bahia. 1953 – Criação da Petrobras. Período Petrobras (1954-1997) Primeira Fase (1954-1968) – Sísmica Terrestre. Relatório Link (do americano Walter Link, o qual enfatizava o “baixo potencial das bacias terrestres brasileiras” e sugeria que a Petrobras explorasse bacias fora do país). Segunda Fase (1969-1974) – Sísmica Marítima de Águas Rasas. Primeiras descobertas na Bacia do Espírito Santo. Descoberta, em 1974, do campo de Garoupa, na Bacia de Campos. Terceira Fase (1975-1984) – Sísmica Marítima da Bacia de Campos. Choque do petróleo: o Governo estabelece a meta de atingir a produção nacional de 500 mil barris/dia e a decisão de explorar águas profundas. Intensificação dos investimentos exploratórios no país. Quarta Fase (1985-1997) – Sísmica Marítima da Bacia de Campos e Águas Profundas. Chegada, em 1985, dos primeiros navios de posicionamento dinâmico. Primeiros levantamentos de sísmica 3D. Confirmação do potencial da Bacia de Campos. Afirmação da sísmica 3D. Descobertas de vários campos de porte médio na Bacia de Santos. Quinta Fase (1997-2010) – Sísmica Marítima da Bacia de Campos e Águas Profundas e pré-sal. Descoberta, em 1997, do campo gigante de Roncador, na Bacia de Campos.

26

TN Petróleo 71

do pré-sal, em termos de sísmica, é definir que tipo de sísmica deve ser utilizada para melhorar o imageamento dos reservatórios.” “Estamos entrando nessa fase. Quem sabe vamos ver mais a utilização de técnicas como o wide azimuth, já implementadas com grande êxito no Golfo do México para uma problemática similar. A necessidade de incorporar mais reservas significa que a exploração continuará em áreas de águas mais profundas e objetivos mais profundos também, é o caso da última descoberta no Golfo do México, onde o objetivo está a uma profundidade de 10.685 m.” O executivo faz referência ao prospecto de Tiber, da BP, no qual se anunciou, em setembro do ano passado, um dos mais profundos poços já perfurados pela indústria de óleo e gás no mundo. “Nosso navio Viking Vantage vai terminar neste ano a aquisição de informações 3D multicliente da extensão sul do cluster do pré-sal”, avalia Postal. “Nossa ambição é sermos o maior prestador de serviços em termos de sísmica no Brasil. Certamente esse é nosso objetivo, quaisquer que sejam os nossos clientes”, avalia. “Há muito a ser feito além do território das bacias de Espírito Santo, Santos e Campos.”

Muito o que conhecer Das 29 principais bacias sedimentares com potencial para petróleo e gás natural em território nacional, apenas seis são amplamente conhecidas e sobre 11 delas há um grau de conhecimento intermediário. Outras 12 são pouco ou nada conhecidas. Dentre as pouco conhecidas, estão as bacias de período paleozoico, que em todo o mundo são excelentes produtoras de petróleo e gás. O Brasil é o país com o maior número de bacias paleozoicas não produtoras.

“Com exceção das bacias Potiguar, Sergipe-Alagoas e do Recôncavo, as outras áreas são, ainda, do ponto de vista de exploração de petróleo, muito pouco conhecidas. Para se ter uma ideia, só a Bacia do Paraná, com mais de 1 milhão km² de extensão, possui cerca de cem poços perfurados”, avalia Eduardo Lopes de Faria, presidente da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf). “É muito pouco”, garante. As bacias sedimentares marítimas, ainda mais aquelas localizadas entre as do Espírito Santo e de Santos, são relativamente bem conhecidas. Entretanto, mesmo nestas há muito ainda a se descobrir. “Há, sem dúvida alguma, um gap enorme de conhecimento do real potencial petrolífero de nossas bacias, principalmente as terrestres”, conclui. Em execução desde 2007, o Plano Plurianual de Estudos Geológicos e Geofísicos (PPA) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) prevê investimentos em torno de R$ 1 bilhão até 2012. Com foco em 24 bacias, o PPA prioriza a aquisição de dados em bacias sedimentares terrestres ou relativamente inexploradas, aquelas sobre as quais há pouca informação disponível. Entre as pesquisas planejadas, encontram-se levantamentos sísmicos 2D, processamento e interpretação de dados, estudos de sistemas petrolíferos, levantamentos aerogeofísicos, geoquímicos, perfurações de poços estratigráficos e estudos integrados de geologia e geoquímica. Dentre as bacias a serem pesquisadas estão as do Amazonas, São Francisco, Paraná, Pantanal, Solimões, Parnaíba, Tacutu, Marajó, São Luís-Bragança-Vizeu, Parecis, Acre-Madre de Dios, Bananal, Ceará, Irecê-Lençóis, Foz do Amazonas, Jacuípe, Pernambuco-


brasil: um território inexplorado

Aquisições de dados no Brasil As atividades da indústria da sísmica no Brasil iniciaram-se já no final na década de 1950, com equipamentos analógicos. Em meados dos anos 60, com a revolução digital, o método sísmico de reflexão passou a ser ferramenta fundamental na exploração de petróleo. Ainda no final dos anos 60, com auxílio da sísmica, foi descoberto o primeiro campo de petróleo na plataforma continental brasileira. Mas foi na década de 70 que a província petrolífera de Campos foi descoberta, utilizando levantamentos sísmicos 2D. A utilização de sísmica 3D foi outro marco importante para marcar os anos 80. A partir da Lei 9.478, de 06/08/1997, e da criação

da então Agência Nacional do Petróleo (ANP), os levantamentos sísmicos se intensificaram, com as empresas de aquisição de dados (EAD) realizando levantamentos não exclusivos. Destacase a aquisição de 128.500 km² de dados 3D, no período entre 1998 e 2001.

Outro marco notável, e que aconteceu nos primeiros anos deste século, foi a aquisição do até então maior levantamento sísmico do mundo, com quase 20 mil km² na Bacia de Santos. Estes dados possibilitaram as grandes descobertas nas camadas pré-sal da Bacia de Santos.

Bacias sedimentares brasileiras 38 bacias sedimentares; 29 bacias principais; 7,5 milhões km²; 5,0 milhões km² (onshore); 2,5 milhões km² (offshore); 24.114 poços perfurados Fonte: ANP, fev/2009)

Esforço exploratório Petrobras: 1.035.384 km² de sísmica 2D (73%) Total: 1.407.320 km² de sísmica 2D Petrobras: 89.342 km² de sísmica 3D (55%) Total: 162.158 km² de sísmica 3D Petrobras: 23.757 poços (98,51%). Total: 24.114 poços

Foto: Jônio Machado, Agência Petrobras

Paraíba, Pelotas, Pará-Maranhão, Cumuruxatiba, Araripe, Jatobá, Alto Tapajós e Barreirinhas.


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foto: Banco de Imagens TN Petróleo

fotos: Banco de Imagens TN Petróleo

foto: Banco de Imagens TN Petróleo foto: Agência Petrobras

independentes – parte 2

TN Petróleo 71


Produtores Independentes – Parte 2

O outroBrasil

do petróleo por Cassiano Viana

Em terras de Alagoas iniciamos a segunda parte da reportagem sobre as produtoras independentes, fatia que ajuda a construir uma parcela importante da indústria brasileira de petróleo e gás.

M

aior produtor de cana-de-açúcar do nordeste e um dos maiores produtores de açúcar do mundo – 75% do açúcar consumido na rússia é alagoano –, o estado vem consolidando seu caminho no cenário econômico da região. maceió, a capital alagoana, é o grande centro industrial, reunindo empresas dos setores químico, alimentício, metalúrgico e de plásticos. o município conta com um polo cloroquímico, que abriga a maior empresa instalada no estado, a Braskem (exploradora e beneficiadora de sal-gema), e pelo distrito Industrial Luiz Cavalcante, localizados, respectivamente, nos bairros do pontal da Barra e tabuleiro do martins.

as primeiras descobertas de petróleo no estado datam de 1957: os campos de tabuleiro dos martins, na periferia de maceió, e Jequiá, no município de mesmo nome. Hoje, há em atividade seis campos – cinco em terra e um no mar (campo de paru), com produção de cerca de 10,1 mil barris de petróleo e 2,5 milhões de m³ diá-

rios de gás. mesmo com campos terrestres em atividade há quase cinco décadas, a produção continua crescendo. atualmente, a unidade de processamento de Gás natural de alagoas (upGn) abastece maceió e cidades vizinhas produzindo 150 toneladas diárias de gás de cozinha, o equivalente a 11,5 mil boti-

Calcula-se que pelo menos 50 sondas estejam em operação ou aguardando o momento de entrar em atividade em mossoró.

TN Petróleo 71

29


independentes – parte 2

Evolução da produção de petróleo / Em barris de petróleo (b) Estado

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

RN

28.847.849

28.575.487

29.092.630

27.183.927

24.166.098

22.817.373

22.331.184

21.307.143

SE

12.931.963

13.490.357

13.962.378

14.215.988

14.343.972

15.621.430

17.193.774

16.098.426

ES*

10.121.387

15.799.789

11.685.094

12.283.243

22.861.670

42.159.296

42.240.151

35.957.828

CE

5.035.166

5.415.826

4.981.942

4.388.881

3.808.279

3.765.515

3.486.618

3.299.516

AL

2.723.937

2.775.764

2.673.236

2.758.519

3.097.659

3.023.192

2.247.469

2.341.835

Royalties distribuídos em 2009 e acumulado 2010 (jan/mar) Estado

2009

Acumulado 2010

RN

140.128.954,63

39.885.536,63

SE

89.558.815,72

28.660.340,50

ES*

144.465.190,47

56.698.691,45

CE

11.102.117,38

3.120.753,71

AL

28.591.267,83

8.584.517,91

*Levar em consideração a produção offshore (dados da produção onshore e offshore). Fonte: ANP

jões de 13 quilos, 1,8 milhão de m³ de gás industrial e 100 mil litros de gasolina natural.

Novos horizontes É justamente em Tabuleiro dos Martins, pertencente à Bacia Sergipe-Alagoas, que está localizado o campo da Petrosynergy. Com uma produção total de 288,9 boe/d – 279,6 barris diários de óleo

e 9,3 boe/d de gás, Tabuleiro dos Martins representa a maior produção em terra dos independentes em campos maduros. A empresa tem, em seu ativo em A lagoas, uma produção de 450 bbl/dia. Adquirido em 2001, e atualmente com cinco poços em atividade, Tabuleiro dos Martins corresponde a 70% da produção da Petrosynergy no estado (que, por sua vez, corresponde a 56% da produção, levando em conside-

Viabilizando a comercialização do gás Uma importante parceria está se desenhando entre a Algás – concessionária alagoana de gás natural, tendo como acionistas o estado de Alagoas, a Gaspetro (subsidiária da Petrobras), e a Mitsui Gás e Energia do Brasil – e as produtoras independentes em Alagoas. A ideia é recolher o gás produzido pelas produtoras independentes – hoje uma quantidade pequena, em geral queimada ou ventilada – e viabilizar a sua comercialização. “Já temos uma instalação dentro do site da Petrosynergy, no Tabuleiro dos Martins, que pode 30

TN Petróleo 71

ser aproveitada. Além disso, temos a BrasilGNC, uma empresa de Sergipe com a experiência e o know how de comprimir o gás no campo de produção e transportá-lo, em uma espécie de gasoduto virtual, para regiões remotas,

ração os ativos na Bahia e no Rio Grande do Norte). A companhia conta hoje com 20 poços em produção, uma planta com capacidade de processamento de 600 m³/d e uma significativa autonomia nas operações, já que é capaz de garantir desde o escoamento da produção com carretas de 30 m³, o tratamento para especificação de óleo produzido, até testes individuais de poços com tanque fiscal móvel, análise laboratorial para garantia da qualidade e intervenção com sonda e monitoramento dos reservatórios, dentre outros serviços próprios. “Se não há interesse, obviamente a produção entra em declínio”, diz Sérgio Páez, diretor de operações da Petrosynergy, argentino, ex-Petrobras Energía, contratado há pouco tempo pela companhia. “Começamos a operar com 250 bbl/d e hoje temos 450 bbl/d. Temos sem tubulações e sem acesso fácil ao produto”, explica Antonio Carlos Dória, diretor Técnico Comercial da Algás. Dados sísmicos comprovam a existência do potencial de gás no estado. Além dos poços já explorados, de gás associado e não associado e campos como o de Jequiá, ainda não explotado, há a possibilidade de novos projetos e aumento da produção. “Na medida que fomentarmos o gás a regiões que não têm acesso ao gás, novos clientes irão naturalmente surgindo, demandando gás e gerando desenvolvimento”, avalia. “Assim, ganhamos todos, produtoras, distribuidoras, empresas e municípios.”


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um horizonte mínimo de mais nove anos, com uma produção que pode ainda ser melhorada”, destaca. Dentre os projetos estaduais para 2010 estão a reativação de poços, a abertura de novas zonas produtivas e a produção de gás em campos marginais. “Tratamos aqui o trabalho com a mesma seriedade, com a mesma competência gerencial que uma grande operadora – e, obviamente, com o apoio importantíssimo do grupo Synergy –, mas com um modelo de negócio mais flexível, leve e adequado ao volume de produção”, avalia Páez. “Estamos prontos para, futuramente, quem sabe dentro em breve, termos a possibilidade de adquirirmos novos ativos e aumentar nossos números.” Segundo o diretor de operações da Petrosynergy, outro grande diferencial da companhia é contar com um sistema de gestão integrado de SMS&Q (Segurança, Meio Ambiente, Saúde e Qualidade). O da petroleira vai desde o gerenciamento de resíduos aos programas de treinamento, passando pela identificação e avaliação de aspectos e impactos, pelo relacionamento com comunidade e órgãos

Sérgio Páez, diretor de operações da Petrosynergy

oficiais e pelas certificações ISO 14001 e OHSAS 18001. A produção da Petrosynergy, que em 2009 representou 55% da produção nacional independente, é vendida totalmente para a Petrobras, entregue pela Petrosynergy na estação de recebimento da estatal em Pilar, a 30 km da base de operações, e de lá transportado via dutos até a Refinaria Landulfo Alves, na Bahia. Estrategicamente, a empresa mudou, em maio, a sede que antes era no Rio de Janeiro, para Maceió.

Da cidade para o campo O ativo de Tabuleiro dos Martins, descoberto em 1957, posto em

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independentes – parte 2

Produção onshore Petrobras no Brasil Óleo (b/d)

Gás (boe/d)

Total (boe/d)

179.255,0

43.084,0

222.339,0

Concessionário

Óleo (b/d)

Gás (boe/d)

Total (boe/d)

Petrosynergy

741,0

59,0

800,0

Starfish

228,0

8,0

236,0

W. Petróleo

138,0

5,0

143,0

Recôncavo

129,0

3,0

132,0

Brazalta

125,0

5,0

130,0

Alvorada

64,0

3,0

67,0

Severo & Villares

62,0

-

62,0

Aurizonia

43,0

8,0

51,0

Cheim

46,0

3,0

49,0

Partex

45,0

-

45,0

Koch

14,0

-

14,0

Nord

10,0

-

10,0

Egesa

8,0

-

8,0

Mercury

7,0

-

7,0

Erg

-

7,0

7,0

Odebrecht

6,0

-

6,0

Potióleo

6,0

-

6,0

Silver Marlin

4,0

1,0

5,0

Phoenix

4,0

-

4,0

Panergy

-

3,0

3,0

Orteng

0,5

-

0,5

Delp

0,4

-

0,4

Logos

0,4

-

0,4

Total

1.681,3

105

1.786,3

Foto: Banco de Imagens TN Petróleo

Produção onshore independente no Brasil

Fonte: ANP e Banco de Dados da Abpip, janeiro/2010

produção durante mais de 30 anos, foi pouco a pouco desativado até ser devolvido pela Petrobras, que utilizava o que hoje é a base da Petrosynergy como uma planta de armazenagem. Em 2001, foi adquirido pela Petrosynergy. Da base da companhia, a pouco mais de 8 km do Centro de Maceió, é possível visitar alguns poços nas principais vias da cidade. Um deles, dentro de um condomínio residencial classe média alta, fechado, com mais de 130 casas. Para operar no lugar, a Petrosynergy paga, inclusive, o condomínio, como qualquer morador. “É uma forma de operar diferente”, comenta Páez. 32

TN Petróleo 71

“Estamos em contato direto com os órgãos competentes, como a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Ibama etc.”, diz. Além disso, a operadora inaugurou um canal de comunicação com a sociedade, no mínimo, inusitado: um serviço de 0800, pelo qual os moradores podem, gratuitamente, informar qualquer irregularidade ou acontecimento. Um dos maiores usuários do serviço são os proprietários dos terrenos em que estão localizados os poços – estes ligam alertando a operadora quando os mesmos param, por algum motivo, a produção. Afinal, eles são os principais interessados, levando

em consideração os royalties que recebem... Em seguida, percorremos até Jequiá e Lagoa Pacas 70 km de estrada e mais 10 km de canaviais em um terreno acidentado, digno de um rally. Um operador contratado pela Petrosynergy percorre de moto, duas vezes por dia, todos os dias, esse mesmo terreno, cobrindo mais de 130 km para monitorar a atividade dos poços da região. O gás que será produzido em Lagoa Pacas será vendido para a BrasilGNC, distribuidora de gás do mesmo grupo do qual faz parte a Engepet, que fará o transporte por caminhão para Sergipe.


Participações Confirmadas: José Sergio Gabrielli de Azevedo Presidente PETROBRAS

Eric Namdvedt Presidente FLOATEC

Almir Barbassa CFO PETROBRAS

Marcelo Taulois Presidente AKER SOLUTIONS

Ricardo Peixoto Presidente PETROGAL

Wagner Bittencourt Diretor de Infraestrutura BNDES

Delcídio Amaral Senador SENADO FEDERAL

Sérgio Machado Presidente TRANSPETRO

Maurício Tolmasquim Presidente EPE

Julio Bueno Secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia , Indústria e Serviços GOVERNO DO RIO DE JANEIRO

Informações e Inscrições: + 55 (11) 3214-1300 – Ramal 203 | presal@theenergyexchange.co.uk

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independentes – parte 2

Parceria é

fundamental H

á 38 anos no Brasil, a Netzsch pertence ao grupo familiar alemão Erich Netzsch Holding e é a maior filial fora da Alemanha. A empresa é responsável pela produção e comercialização de bombas de cavidades progressivas (BCP) para as Américas (Norte, Central e Sul) e toda a produção está concentrada na Unidade Fabril de Pomerode (SC), onde está localizado também o Centro de Competência em Petróleo do grupo. “Isso quer dizer que o Brasil está produzindo tecnologia para o mundo todo”, diz Marcondes Silva (foto), gerente geral da Netzsch para Alagoas e Rio Grande do Norte. Com sede na Baviera, além de uma filial na China e da Unidade fabril em Pomerode, a Netzsch possui oito filiais próprias de vendas e serviços, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Centro-Oeste e uma filial de exportações para as Américas. A empresa fornece para quase todas as produtoras independentes do país: Petrosynergy, Petrorecôncavo, Koch, Partex, Starfish, Petrogal, Nord Oil, Severo Vilares, Ral Petróleo, dentre outras.

“Hoje o atendimento do setor de produção independente representa 15% de nosso negócio no país, com uma perspectiva muito grande de crescimento. Torcemos pelo desenvolvimento do setor. É importante para as empresas, sobretudo para as unidades regionais, que dessa forma precisam ser ampliadas para atender a demanda, e, obviamente, para o país, pelo aquecimento natural da economia. E o sucesso desses pioneiros está trazendo investidores não só do Brasil, mas estrangeiros.” “Contribuir para o sucesso da Petrosynergy é uma forma de contribuir para o desenvolvimento do setor no estado”, avalia Jorge Lucena, diretor Comercial da Qualitex. Genuinamente nordestina, a Qualitex iniciou suas atividades em 1992 no Polo Cloroquímico de Alagoas,

Novas descobertas no Recôncavo A Petrosynergy notificou, em março, à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a descoberta de óleo no poço 1PSY18BA do bloco REC-T-153, na região de Catu, bacia do Recôncavo. O bloco foi adquirido na Nona Rodada de Licitações da ANP, realizada em 2008. A Petrosynergy possui 12 blocos adquiridos na segunda, terceira, quinta, sexta, sétima e nona Rodada de Li34

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citação de Blocos da ANP. Seis deles no Recôncavo, seis na Bacia Potiguar. Com uma produção diária em torno de 800 barris/dia e um faturamento anual de cerca de R$ 25 milhões, a Petrosynergy já perfurou 25 poços com o índice de sucesso maior que 60%. Na Bahia, a companhia possui o campo de Uirapuru, adquirido em 2005 e localizado no município de Catu, com produção total de 108,3 boe/d (42,1 b/d

atendendo clientes locais para ensaios de laboratório industrial, estendendo suas atividades em operações de áreas industriais e meio ambiente. Hoje, a empresa tem contratos nas regiões Norte e Nordeste, prestando serviços laboratoriais, operações industriais e transporte de produtos e resíduos industriais. “Trabalhamos com a Petrosynergy desde sua criação aqui em Alagoas, em uma parceria bastante sólida. Temos um vínculo entre empresas, um relacionamento íntimo e maduro, objetivo e responsável. Com isso fica fácil atingir os objetivos da companhia”, comenta, acrescentando que o trabalho para a Petrosynergy já rendeu o contato para um bom número de outros trabalhos. “Em Alagoas, a Petrosynergy é uma empresa âncora. A empresa veio resgatar, de forma moderna, uma parte da história do estado. Muitos clientes chegam a nós pelos resultados de nosso trabalho com a companhia. Qualquer fornecedor esperto na área de marketing busca se relacionar com empresas que fazem parte de cadeias produtivas. Estamos de olho e apostando no crescimento da Petrosynergy”, ensina. de óleo, 66,2 boe/d de gás). Ainda em Catu, a Petrosynergy possui o campo de Canário, cuja produção total é de 189,4 boe/d (177,0 b/d de óleo, 12,4 boe/d de gás). Hoje, a produção desses dois campos corresponde a pouco mais de 35% do que é produzido pela empresa, sendo Canário com 40 m³/dia e Uirapuru, quando os dois poços estão operando, com 6 m³/dia. A produção acumulada nesses dois campos é de 85 mil m³.


Tesouro potiguar D

e Maceió até Fortaleza, no Ceará, e de lá para Mossoró, no Rio Grande do Norte, são 250 km de carro. O mesmo trajeto pode ser feito a partir de Natal. No caminho, ainda no Ceará, é possível ver em atividade os vários cavalos de pau do campo de Fazenda Belém, localizado na divisa dos municípios de Aracati e Icapuí, a leste de Fortaleza, um dos maiores na área terrestre, e a fazenda Maysa, grande exportadora de frutas nos anos 1990, uma área de 19,7 mil hectares, entregue em 2003 pelo governo federal a mil famílias de sem-terra no Rio Grande do Norte. Após algumas horas de viagem, surge Mossoró, a segunda maior cidade do estado – mas a primeira em sal e hidrocarbonetos. O Rio Grande do Norte é o primeiro produtor terrestre e segundo nacional, atrás apenas do Rio de Janeiro, a concentrar a grande maioria da produção nacional, ten-

do sido responsável, em 2003, pela extração de 81,7% do petróleo e de 42,2% do gás natural do país. A Bacia Potiguar compreende, em suas porções emersas, 22.500 km² e submersas 26.500 km², abrangendo partes dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. A importância econômica para a região da bacia pode ser medida por uma produção diária em torno de 80 mil barris de petróleo e 3 milhões de m³ de gás natural. Em solo potiguar está o maior campo terrestre do Brasil, o de Canto do Amaro – a Petrobras prevê investimentos de US$ 1,46 bilhão no Rio Grande do Norte até 2010, nos segmentos de exploração e produção, gás natural, energia térmica e alternativa, distribuição, segurança e meio ambiente. Também serão aplicados US$ 1,1 bilhão no desenvolvimento de diversos campos. São 15 municípios produtores de petróleo e gás natural no Rio

Grande do Norte. Esses municípios são: Alto do Rodrigues, Apodi, Areia Branca, Assu, Caraúbas, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix Sept Rosado, Guamaré, Macau, Mossoró, Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema. Estão em produção independente, na Bacia Potiguar, os campos de Cardeal, João de Barro, Araçari, Colibri, Periquito, Carcará, Irerê, Riacho Velho, Rolinha e o POT-T-748, 30% da Starfish, 70% da Petrobras, o maior em produção na região (196,2 boe/d – 194,3 barris diários de óleo e 1,9 boe/d de gás). Outras empresas com projetos na região são Partex (nos campos de Cardeal e Colibri, em parceria com a Petrobras), UTC/Aurizônia (João de Barro e Periquito), Petrosynergy (Araçari e Irerê), Odebrecht e Koch (Carcará), Genesis (Riacho Velho) e Potióleo (Rolinha). TN Petróleo 71

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independentes – parte 2

Sal da terra Localizado em Mossoró, segundo município mais populoso do estado, distante 275 km da capital, o campo de João de Barro tem produção de 38,8 boe/d (30 barris diários de óleo e 8,8 boe/d de gás). O município entrou para a história por ter um dia enfrentado e derrotado o cangaceiro Lampião e pelo primeiro voto feminino no Brasil. Localizada numa região de transição entre litoral e sertão a 42 km da costa, entre Natal e Fortaleza, Mossoró é uma das principais cidades do interior nordestino, e hoje vive intenso crescimento econômico e de infraestrutura, considerada uma das cidades de médio porte mais atraente para investimentos no país. O município é o maior produtor em terra de petróleo no país, como também de sal marinho. Mossoró é o polo petroleiro da região, servindo como sede e base de operações não apenas para as independentes, mas para empresas como Halliburton, Expro, BJ, Weatherford, Schlumberger, San Antonio, Baker Hughes, MI Drilling, Carboflex, dentre outras, devidamente instaladas no município. A região hoje vivencia um grande movimento de sondas. Calcula-

se que, no momento, pelo menos 50 delas estejam em operação ou aguardando o momento de entrar em atividade. A própria Petrobras já sinalizou novos investimentos na bacia. Com mais de 40 anos de serviços prestados para o setor (sobretudo na montagem e construção industrial e de plataformas como a PRA-1 e a P-53), a UTC Engenharia entrou no segmento de exploração e produção na Nona Rodada de Licitações da ANP realizada em 2008, quando adquiriu um bloco na bacia do Rio do Peixe (RIOP-T-20). “Identificamos a necessidade de ter volume e uma diversidade para tornar o negócio mais atrativo; a partir de então a UTC passou a avaliar outras áreas, buscando a viabilidade do empreendimento através da diversidade”, conta Julio Cezar Alves Duarte (foto), Líder Operacional de Óleo e Gás

Busca de alternativas A Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo (Abpip) tem promovido, em Mossoró, desde dezembro de 2009, reuniões operacionais semanais com associados e empresas fornecedoras de produtos e serviços que atuam na região. “Com isso estamos conseguindo prazos, qualidade e trabalhos dentro da expectativa de cada empresa e, por exemplo, valores de diárias de sonda e preço de óleo diesel com preços diferenciados. Esse trabalho de redução de custos está sendo fundamental na Bacia Potiguar”, avalia Julio Duarte, da UTC. 36

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O sucesso das reuniões é tanto que já há até fila de espera de empresas para participar das reuniões para apresentação de produtos novos e negociar condições diferenciadas de fornecimento, por exemplo. Também é fruto dessas reuniões um treinamento em perfilagem, teste e cimentação de poços, realizado pela Abpip em parceria com a Halliburton, em março, em Mossoró. “Temos tido ótimos resultados. Estamos agora montando um calendário de treinamentos para o ano.”

da UTC. “Foi quando se ofereceu, em 2009, a compra dos ativos da Aurizônia, Quantra e Potióleo na Bacia Potiguar. A UTC adquiriu a maioria dos blocos, se tornando operadora de sete deles, seis na Potiguar e um na Rio do Peixe.” A s atividades em Mossoró foram iniciadas oficialmente em novembro de 2009, quando foram executadas intervenções em blocos que estavam parados e melhorias nas locações. “Temos uma campanha de sete perfurações e cinco completações para 2010 visando aumentar a produtividade. Até dezembro de 2010, queremos atingir de 300 a 500 barris/dia. Esta é uma previsão conservadora”, afirma. Hoje, a produção da UTC está em torno de 80 a 100 barris/dia. A produção de todos os campos é escoada para a Unidade de Tratamento e Processamento de Fluidos de Guamaré (UTPF), a 282 km de Mossoró. “Estamos enviando de dez a 12 carretas de 30 m³ de petróleo por mês”, informa.

TLD “Estamos também fazendo intervenções em blocos já em atividade para a melhoria de produção. Em meados de novembro, após uma intervenção de fraturamento hidráulico, tivemos uma nova descoberta no Bloco 565, onde já existia um poço perfurado”, destaca Julio Cezar. Ele explica que a empresa está na etapa de consolidação da infraestrutura e energização da área. “Iniciamos, em abril, o TLD (Teste de Longa Duração). O poço de óleo (leve) e gás vai permanecer uns quatro a cinco meses sob observação, para estudarmos o comportamento do reservatório para em seguida declarar comercialidade.” Com uma tradição no segmento de montagem industrial, o forte


da companhia, a UTC enxergou a oportunidade (a partir da aquisição dos ativos e absorção da mão de obra das três empresas), para além da produção de petróleo, de prestar serviços para outras operadoras. “Enquanto amadurecemos o negócio de óleo e gás, prestamos serviços de build up, obras civis, locação de equipamentos, montagem eletromecânica, laboratório (análise de BSW, API e água) para diversas empresas independentes da região”, explica Duarte. “A expectativa é estarmos, em breve, prestando serviço para todas as empresas independentes, e outras que trabalham no segmento nas bacias Potiguar e Rio do Peixe, visando diminuir e diluir custos e viabilizar o empreendimento de óleo e gás”, diz. “Com isso, o custo barril se torna melhor, mais atrativo.” “Não tivemos nenhuma dificuldade em agregar o conhecimento da UTC de prestação de serviços para terceiros utilizando a mão de obra e expertise existentes. Pelo contrário, está sendo mais fácil”, avalia. E a empresa não para de crescer. “Antes eram 18 funcionários, hoje somos 42.” Sobre o projeto em Rio do Peixe, Duarte conta que já foram concluídos os trabalhos de sísmica e iniciado o processo de licenciamento ambiental. “A sísmica foi concluída no último mês de fevereiro com tecnologia em 2D (duas dimensões), cobrindo mais de 125 mil km de área. Acreditamos que a perfuração se dará entre setembro e outubro de 2010”, destaca. Essa será a primeira perfuração da Bacia do Rio do Peixe. O bloco RIOP-T-20 fica localizado entre os municípios de Santa Helena e Triunfo, no sertão paraibano, distante quase 500 km de João Pessoa. A base da UTC no projeto será no município de Cajazeiras, na Paraíba.

Foto: Banco de Imagens TN Petróleo

o outro brasil do petróleo

“Já foram encontrados indícios de óleo na região. Essa é uma bacia de formação muito parecida com a Potiguar. Análises geoquímicas indicam que o óleo é de boa qualidade, com cerca de 30° API e semelhante aos produzidos nas bacias do Recôncavo e SergipeAlagoas”, explica. “As perspectivas são boas.”

Interesse na região Há outras empresas, nacionais e estrangeiras, que também apostam nessas fronteiras exploratórias fora do eixo das três maiores bacias produtoras. Na Bacia Potiguar, a Partex possui 50% de participação nos blocos POT-9, POT-513, POT514, POT-557, POT-558 e POT-559. Sua parceira nesses blocos é a Petrobras. No entanto, a Partex é operadora em todos os blocos, menos o POT-9. Já a Starfish possui três blocos (POT-T-748, POT-T-749 e POTT-794), arrematados na Sétima Rodada. Em abril de 2009, o consórcio BT-POT-55, formado pela Starfish Oil & Gas S/A operadora, em parceria com a Petrobras, anunciou a descoberta de petróleo no bloco POT-T-748, na parte sudeste da Bacia Potiguar, no bloco baixo da Falha de Carnaubais. Em março do mesmo ano, a Petrogal declarou a comercialidade do bloco POT-T-440, na Bacia Potiguar, posteriormente batizado de Urutau. A Petrogal tem como sócia na área a Petrobras, que possui participação de 50% no bloco.

Descoberta do petróleo A história da atividade petrolífera no estado começa em 1943, quando moradores do município de Grossos registraram o afloramento de uma substância escura que “queimava como querosene”, numa constatação óbvia que se tratava de petróleo. Em 1956, tiveram início as primeiras sondagens por parte da Petrobras. Embora ficasse constatada a existência de petróleo e gás natural, os estudos concluíram pela sua inviabilidade econômica. O primeiro poço perfurado da Bacia Potiguar Terrestre (o G-1-RN) foi em Gangorra, no município de Grossos, em 1956. Na Bacia Potiguar Marítima, o primeiro poço foi o RNS-1, em Ubarana, costa de Macau (RN), em 1973. Os dois deram sinais da existência de óleo e gás, porém em quantidade não comercial. Em 1966, a prefeitura de Mossoró contratou uma firma para abrir um poço de água que acabou jorrando petróleo. Vinte anos depois, quando alguns estados já produziam petróleo com sucesso, foi descoberto o campo marítimo de Ubarana, em Macau. Foi durante a ‘crise do petróleo’ que, em 1974, chegou a primeira plataforma continental na costa de Macau. Em 1975 o poço marítimo RNS-3 já estava produzindo, com direito a visita do presidente da República, Geisel, e o seu ministro das Minas e Energias. Em 1979, quando a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais perfurava poços de água para o abastecimento das piscinas térmicas do hotel Thermas, em Mossoró, apareceu petróleo novamente, desta vez em maior quantidade. O poço MO-13 originou o campo de Mossoró, em 1979. No início de 1980 foi perfurado com sucesso o poço Mossoró-14, o primeiro poço terrestre comercialmente viável do Rio Grande do Norte. As perfurações de poços terrestres foram intensificadas no início da década de 1980, nos municípios de Macau, Areia Branca, Alto do Rodrigues e Mossoró. Em 1994, o Rio Grande do Norte atingiu a marca de segundo maior produtor de petróleo do Brasil; o primeiro em produção terrestre. TN Petróleo 71

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independentes – parte 2

Independentes estimulam o crescimento regional As petroleiras independentes surgiram no cenário brasileiro a partir da abertura do mercado, em 1998, com o advento do regime de concessão.

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Oswaldo Pedrosa é presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo (Abpip).

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or estímulo do governo, empresas nacionais e estrangeiras – cujo foco de atuação é exclusivamente a atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural – foram atraídas para atuar no Brasil e são hoje concessionárias de blocos terrestres e marítimos. Ao longo da última década, os independentes vêm funcionando como indutores do crescimento, muitas vezes em municípios com poucas oportunidades de geração de renda. Em vez de importar de outros estados ou das capitais suas demandas, como fazem as grandes companhias, o produtor independente compra localmente, movimentando economias regionais. Além disso, as petroleiras de pequeno e médio porte liberam as maiores para atuar em reservas mais estratégicas, como a do pré-sal. Trata-se de um processo de diversificação e de dinamização da indústria brasileira de petróleo. A ausência de estímulo à atividade, no entanto, tem retraído as chances desse grupo de empresas. Com reservas limitadas e poucas perspectivas de ampliá-las, as independentes estão impossibilitadas de implementar logística própria ou consorciada de tratamento, escoamento e comercialização de hidrocarboneto, o que compromete o sucesso financeiro do negócio. Nos leilões de concessão promovidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as possibilidades de ofertas são de bacias maduras, já excessivamente exploradas, além de áreas de nova fronteira, que extrapolam a atual capacidade de atuação das independentes. A solução do problema passa pela adoção de uma política efetiva de incentivo a essa indústria, incluindo: novo modelo de contrato de concessão para áreas terrestres, adequado às peculiaridades deste segmento; regulamentação da infraestrutura de dutos terrestres para o escoamento da produção; criação de incentivos fiscais; acesso ao crédito facilitado; melhoria das condições de comercialização do petróleo e do gás produzidos; harmonização do licenciamento ambiental entre os estados; e adequação das exigências de conteúdo local. Apenas a iniciativa política permitirá que áreas cujas reservas condizem com o perfil do segmento independente sejam repassadas da Petrobras para as petroleiras de menor porte, seja via contratação das independentes como operadoras pela estatal, seja pela liberação direta dessas áreas para que sejam leiloadas pela agência reguladora. A discussão de um novo marco regulatório para a indústria de petróleo e gás no Congresso tem favorecido o debate sobre o futuro do segmento independente. A expectativa é de que a sociedade, por meio dos parlamentares e do Executivo, atentem para a capacidade de geração de riqueza inerente à atividade. O sucesso desses empreendedores depende da existência de um ambiente regulatório favorável e de políticas de governo que garantam os investimentos.


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independentes – parte 2

a sobrevivência dos independentes

Novos desafios à regulação

O surgimento dos produtores independentes no Brasil tem sido festejado pelos que sabem da importância desse segmento para o desenvolvimento do país, a exemplo do que acontece na pujante indústria petrolífera dos Estados Unidos e Canadá, alicerçada na dinâmica gerada por esses independentes.

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Marilda Rosado é professora adjunta de Direito Internacional e Direito do Petróleo na Faculdade de Direito da Uerj; coordenadora e professora de cursos jurídicos do IBP; sócia do escritório Doria, Jacobina, Rosado e Gondinho Advogados Associados. Colaboraram neste artigo a advogada mestranda Juliana Lima, e a estagiária Bruna, ambas do referido escritório.

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os Estados Unidos, ao lado de megaempresas, existem em torno de 23 mil outras de capital médio ou pequeno. Essas empresas, isoladamente, tiram pouco óleo, mas, em conjunto, contribuem com 40% da produção americana e empregam 300 mil trabalhadores, tendo elevado significado econômico e social.* Essa nova perspectiva foi inaugurada oficialmente a partir da Sétima Rodada de Licitações da ANP, quando foram incluídas áreas contendo antigos campos de petróleo e gás natural que haviam sido abandonados e devolvidos pela Petrobras por razões econômicas. No entanto, o dilema das empresas independentes ainda persiste. As dificuldades evidenciam-se de diversas formas, exigindo novo posicionamento por parte da Autoridade Reguladora e de entidades governamentais de todos os níveis, para evitar a falência de um modelo que apresenta sinais preocupantes. Um problema que tem sido enfrentado é a venda da produção – com a presença de um único comprador, bem como problemas logísticos de escoamento da mesma. A complexidade e o custo do sistema de certificação do conteúdo local também representam obstáculos de difícil transposição pelas empresas desse porte. A ausência de um cronograma de rodadas de licitação e a falta de áreas atrativas em oferta têm um efeito ainda mais perverso para tais investidores, que acreditaram na proposta da ANP quando foram atraídas para o setor. O Direito do Petróleo se mostra dinâmico e complexo, e o compromisso regulatório precisa afinar-se às mutações necessárias à solução dos impasses que ora se apresentam e podem ameaçar a sobrevivência do segmento. Note-se que já vínhamos defendendo que, mesmo no âmbito da legislação em vigor, há espaço para se buscar soluções flexíveis e compatíveis com o interesse público primário. Na hipótese, este significa oportunidade de desenvolvimento regional, geração de empregos, difusão de conhecimento, arrecadação

*LIMA, Haroldo. Caminhos do petróleo no Brasil: a VII rodada. Revista teórica, Política e de Informação. Disponível em: www.vermelho.org.br. Acesso em 25 de abril de 2007.


Foto: Banco de Imagens TN Petróleo

de tributos, implantação de infraestrutura para serviços, fomento à fabricação de equipamentos brasileiros e outros. A atividade interpretativa poderia se lastrear na edição de novas resoluções específicas da ANP, fundamentadas em notas técnicas e na realização de audiências públicas, quando a participação da sociedade e dos setores regulados resguardariam a legitimidade desse processo de flexibilização. Comentem-se ainda as dificuldades de obtenção de acesso às linhas de financiamento para os pequenos investidores. Na maior parte dos casos não tem sido atingido um retorno que remunere a atividade, em vista dos vultosos dispêndios com a viabilização da produção do petróleo em pequena escala. Outro ponto crucial do marco regulatório da produção em áreas inativas com acumulações marginais que ainda requer aprimoramentos é o modelo do contrato de concessão. O atual modelo precisa de ajustes em função das especificidades desse novo nicho de atividades. Algumas das emendas apresentadas aos projetos de lei no Congresso procuram sanar pelo

menos um dos aspectos acima apontados, que é o da disponibilidade de novas áreas. Espera-se que o Congresso Nacional se sensibilize com os importantes dados e informações que foram apresentados como subsídio aos pleitos, e se permita a continuidade e crescente consistência do que pode representar um sucesso diferenciado e sustentável de nossa indústria.


independentes – parte 2

Campos marginais De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia brasileira é hoje a nona maior do mundo. Nosso Produto Interno Bruto (PIB), medido pela Paridade do Poder de Compra, foi de US$ 2,01 trilhões, em 2009, o equivalente a 2,88% do PIB mundial neste ano, colocando o país em posição de destaque no cenário mundial.

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Magda Chambriard é diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).

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autossuficiência obtida no setor de petróleo, juntamente com a descoberta e o pretendido desenvolvimento do pré-sal, possivelmente colocarão o país no ranking dos dez mais em termos de reservas mundiais. No entanto, a renda per capita do país demonstra o grande desnível social existente e aponta para a necessidade de importante e continuado trabalho de fomento da economia nacional, em prol do interesse público e da melhoria da qualidade de vida no país, principalmente em regiões carentes, como várias regiões do Nordeste brasileiro e o interior do estado do Espírito Santo. Neste cenário, a indústria do petróleo tem importante papel a cumprir, tanto na geração de riqueza como na de empregos. Com essa geração de empregos o país será capaz de incorporar ao mercado de trabalho milhares de profissionais, de várias formações. Quando se menciona petróleo e gás no Brasil, associa-se de imediato à exploração de petróleo em águas profundas no Sudeste, ao pré-sal e à atuação das grandes companhias de petróleo – Petrobras à frente, a companhia estatal brasileira, que até 1998 desempenhou papel de detentora do monopólio da exploração e produção de petróleo. A produção de petróleo no Brasil, porém, foi iniciada em 1939 no estado da Bahia, em bacia terrestre. Sobre o primeiro campo de petróleo do Brasil (o campo de Lobato, descoberto no Recôncavo Baiano e atualmente exaurido), encontra-se a comunidade de Lobato, extremamente carente, para a qual a riqueza gerada nas imediações durante décadas não resultou em progresso. Em situações similares encontram-se populações de áreas do Brasil nas proximidades das quatro bacias terrestres que, até o início da década de 1990, contribuíram com a maior parte do petróleo produzido no país (Recôncavo, Sergipe-Alagoas, Espírito Santo e Potiguar). Ao mesmo tempo, hoje, dos mais de 350 campos de petróleo e gás existentes no Brasil, dez respondem por 75% da produção e estão localizados na Bacia de Campos, no litoral do estado do Rio de Janeiro. Dos cerca de 13 bilhões de barris de reservas provadas


de petróleo do Brasil, mais da metade desses 350 campos contribuem com menos de 0,6%. Se considerarmos o pré-sal, essa contribuição poderá se tornar da ordem de 0,1%. Atenta à necessidade de atuação mais focalizada, sobretudo nas bacias terrestres, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no cumprimento das suas atribuições de regulamentação e fomento da indústria, e em prol do interesse público, deflagrou um processo de incentivo à implantação da pequena e média empresa independente de petróleo e gás no Brasil, visando à sua atuação nessas bacias, que já não são o objetivo principal das grandes companhias integradas de petróleo, mas que ainda podem significar geração de riqueza e incorporação ao mercado de trabalho de boa parte das populações locais. A atuação da ANP em prol da pequena empresa petrolífera abrangeu a licitação de pequenos campos de petróleo, com vistas à sua reabilitação, e à licitação de áreas em bacias maduras. Foram cinco as licitações da ANP de áreas em bacias maduras e duas as de pequenos campos ditos “marginais”. Todas essas licitações foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), com o objetivo de gerar oportunidades para a pequena e média empresa petrolífera no Brasil. Essa ação resultou no surgimento de 37 novas empresas brasileiras, de pequeno e médio porte, localizadas principalmente no Nordeste e no Espírito Santo, em terra. Essas empresas chegaram a produzir, em 2008, cerca de 1.800 barris de petróleo por dia. E chegaram a gerar mais de 1.500 empregos diretos e indiretos. Atualmente elas produzem cerca de 1.500 barris por dia. Assim, a grande questão que se apresenta é: qual o papel da pequena empresa petrolífera no Brasil e como poderemos destacar sua complementaridade à atuação das grandes empresas petrolíferas, em especial à da Petrobras, no momento em que nossa estatal deverá despender enormes esforços no pré-sal? É nesse contexto que, dentre as emendas aprovadas na Câmara dos Deputados, foi proposta, como emenda ao Projeto de Lei do Contrato de Partilha, o Artigo 53, que prevê políticas e medidas específicas para o aumento da participação da pequena e média empresa. Ela representa a primeira oportunidade de dar suporte legal a uma política industrial em favor dos produtores independentes de óleo e gás. Tal argumento é previsto no Artigo

70 da Constituição Federal, que menciona um tratamento diferenciado para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras. A oportunidade de aprovar os Projetos de Lei em discussão no Congresso permite avançar em três frentes: 1) no pré-sal, nas reservas gigantes e onde o risco geológico é muito reduzido; 2) nas demais áreas, com potencial de descobertas convencionais e, portanto, com maior risco geológico; 3) nas menores reservas, em áreas específicas de baixo risco, destinadas às pequenas e médias empresas. Desta maneira, o Estado terá respaldo legal para, na exploração e produção de óleo e gás, regular do macro ao micro, em conformidade com as particularidades de três segmentos distintos de atividade. São três metas interdependentes: primeiro, assegurar a continuidade do crescimento econômico do setor; segundo, aumentar o conhecimento geológico e as descobertas em todas as bacias sedimentares do território nacional; e, terceiro, incentivar o ingresso de novos atores, com a maior participação do empresariado nacional. A ANP entende que é possível gerar condições para que existam mais de 500 pequenas e médias empresas no Brasil, da aquisição de dados geofísicos à operação e manutenção de poços. Existe pelo menos uma centena de pequenos campos no Brasil e parte deles poderia servir de amparo para as novas empresas nacionais de petróleo. A nova província petrolífera será considerável para a modernização do país e para a diminuição do risco Brasil. No entanto, todo esse movimento acontecerá com mais ênfase na região Sudeste, a mais rica do país. São necessários investimentos nas demais áreas, visto que cerca de 93% das bacias sedimentares podem ser tecnicamente caracterizadas como de nova fronteira exploratória. A ANP vem atuando nesse sentido, ao colocar em prática um planejamento estratégico denominado Plano Plurianual (PPA) de Geologia e Geofísica, que pretende organizar e otimizar esforços para pesquisa de novas áreas produtoras de hidrocarbonetos. Destinar os pequenos campos à operação de empresas menores em nada comprometeria a continuidade do crescimento da produção nacional de petróleo. A revitalização de campos desativados não é apenas uma questão ec onômica. Promover projetos dessa natureza é dar prioridade às políticas sociais. Em um Brasil que cresce e que explora suas imensas bacias, existe espaço para todos. O maior desafio é realizá-lo, em prol da sociedade. TN Petróleo 71

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indústria naval

Almirante Festa para o Negro por Célio Albuquerque

O líder João Cândido Felisberto, marinheiro que comandou a revolta da Chibata, insurreição militar de 1910, agora é o novo símbolo da retomada da indústria naval: seu nome está cunhado na proa do primeiro navio do Promef e – também – do Estaleiro Atlântico Sul, lançado ao mar no início de maio.

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almirante negro, como foi chamado o marinheiro João Cândido Felisberto, líder da revolta da Chibata, que recebeu como monumento ‘as pedras pisadas do cais’ na canção O

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Mestre-sala dos Mares, de João Bosco e aldir Blanc – censurada pela ditadura militar –, vai singrar de novo pelos mares da história. e com ouro negro a bordo. Sem censura e com direito a banda de música, o Almirante Negro tornou-se o mais

novo símbolo da retomada da indústria naval brasileira: teve seu nome cunhado na proa do primeiro navio do programa de modernização e expansão da Frota da transpetro (promef), que marca também a conclusão da embarcação pioneira do


características técnicas Tipo de navio: Suezmax (tem as maiores dimensões para passar no Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo); Comprimento total: 274,2 m; Comprimento entre perpendiculares: 264 m; Boca moldada: 48 m; Pontal moldado: 23,2 m; Calado de escantilhão: 17 m; Demanda de aço: 24,5 mil ton; Capacidade de carga: 1 milhão de barris; Porte bruto (peso da embarcação mais a carga máxima): 157,7 mil ton; Velocidade de serviço: 14,80 nós;

Fotos: Daniel Feijó

Consumo de tinta na construção: 300 mil litros;

Estaleiro Atlântico Sul (EAS), fincado no porto de Suape, em Pernambuco. O batismo do novo petroleiro da Transpetro, com capacidade para transportar um milhão de barris, teve um significado ainda mais simbólico, por ter sido escolhida como madrinha a soldadora Josenilda Maria da Silva, funcionária do Atlântico Sul, representando os mais de 3.700 empregados que trabalharam na dupla construção – do navio e do próprio estaleiro. O navio Suezmax é a primeira embarcação de grande porte construída no Brasil entregue ao Sistema Petrobras em 13 anos. A última havia sido o navio tanque Livramento, também para a Transpetro, encomendado em 1987, mas que levou dez anos para ser concluído. Com 274 m de comprimento, capacidade para armazenar o

Motor principal: Doosan 6S70ME-C7 – MCR 22.920 BHP x 91 RPM; Hélice: passo fixo; Número de segregações: 3.

equivalente à metade da produção diária nacional, ele será utilizado, principalmente, para o transporte de longo curso (viagens internacionais). “A construção deste navio tem que ser levada a sério por nós. É a autoafirmação de um povo”, afirmou o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, no lançamento do novo petroleiro, no início de maio. O evento reuniu, ainda, ministros, políticos nordestinos e executivos da Petrobras e da Transpetro, além de inúmeros empresários.

Círculo virtuoso “A construção do navio foi bastante peculiar, já que o estaleiro estava sendo construído paralelamente à embarcação. À medida que as instalações ficavam prontas, o petroleiro avançava na linha de produção”, lembrou o presi-

dente do EAS, Angelo Bellelis apontando a Petrobras e a Transpetro como o grande motor da indústria naval e offshore do país. “As encomendas dessas empresas para garantir suporte à prospecção, transporte, exploração, produção e desenvolvimento da área de óleo e gás garantem condições para um círculo virtuoso para o nosso setor.” O executivo pontuou que serão investidos bilhões de dólares em navios petroleiros, navios sonda, plataformas, navios aliviadores e outros tipos de embarcação. “Como o foco do Estaleiro Atlântico Sul é o setor de petróleo e gás, é natural que essas empresas tendam a ser os maiores clientes do EAS. Mas não serão os únicos. Há outros setores demandando embarcações, como o de minérios, granéis sólidos e carga conteinerizada, entre outros”, destacou Angelo Bellelis. Ele frisou que a maior parte da mão de obra empregada na construção do navio foi formada em Pernambuco, no Centro de Treinamento Engenheiro Francisco C. E. Vasconcelos, e não tinha experiência prévia na construção naval. “Em muitos casos, eram donas de casa, trabalhadores rurais, comerciantes, pescadores e jovens em nível de primeiro emprego e que hoje trabalham como soldadores, montadores, encanadores, eletricistas e caldeireiros, entre outras funções da nossa operação”, afirmou, salientando que o investimento da empresa em treinamento foi de R$ 12 milhões, incluindo os R$ 3,5 milhões aportados no Centro de Treinamento. A construção de dez navios Suezmax pelo EAS – criado para disputar as encomendas da TN Petróleo 71

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indústria naval

transpetro – foi a primeira obra do programa de aceleração de Crescimento (paC) a ter o contrato assinado, em janeiro de 2007. o segundo lançamento do promef está previsto para junho, no estaleiro mauá (rJ), onde um navio de produtos será batizado de Celso Furtado, em homenagem ao economista e desenvolvimentista paraibano.

Nova fase

foto: Divulgação

“diziam que era impossível o Brasil voltar a construir navios. mas não só voltamos a construir, como estamos estabelecendo uma indústria naval moderna e competitiva, gerando emprego e mudando a vida dos brasileiros,” ressaltou o presidente da transpetro, Sergio machado. entre os benefícios do programa para o país, destacam-se a criação de 200 mil empregos e a economia anual de uS$ 500 milhões em divisas hoje transferidas a armadores estrangeiros. Com apoio do governo federal e recursos do Fundo de marinha

mercante (Fmm), o promef mudou um cenário de estagnação de quase duas décadas. de dois mil empregos no ano 2000, a indústria naval atingiu mais de 45 mil empregos este ano. Com as encomendas da transpetro e da petrobras, o Brasil superou a turquia e atinge dessa forma a quarta posição no ranking mundial de fabricantes de navios petroleiros. “este navio representa o primeiro de uma série de muitos que serão feitos aqui. ele abre novas oportunidades de investimento. É o início de um ciclo virtuoso para o setor”, disse o presidente da petrobras, José Sergio Gabrielli. a maior carteira individual do promef (22 navios) até agora, está com o eaS, criado a partir das encomendas da transpetro. São dez navios do tipo Suezmax (160 mil toneladas de porte bruto [tpB], capazes de transportar 1 milhão de barris de petróleo), cinco aframax (110.000 tpB), quatro aliviadores Suezmax dp (com posicionamento dinâmico) e três aliviadores aframax dp.

Quem foi João do mar JOãO CâNDiDO felisBerTO foi o marinheiro que comandou a revolta da Chibata, movimento de militares da Marinha do Brasil, planejado por cerca de dois anos e que culminou com um motim que se desenrolou de 22 a 27 de novembro de 1910 na baía de Guanabara, no rio de Janeiro, à época a capital do país. Mais de dois mil marinheiros rebelaram-se contra a aplicação de castigos físicos (principalmente chibatadas) a eles impostos 46

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como punição, ameaçando bombardear a cidade. Durante os seis dias do motim seis oficiais foram mortos, entre eles o comandante do encouraçado Minas Gerais, João Batista das Neves.

expulso da Marinha, Cândido chegou a ser internado em um hospício. Trabalhou até o fim da vida, na Praça XV, descarregando peixes de navios. sempre perto do mar. Morreu aos 89 anos, com câncer, em 1969. em 24 de julho de 2008, com a publicação da lei federal 11.756/2008 no Diário Oficial da União, foi-lhe concedida anistia post mortem – a ele e aos demais participantes do movimento.

ao longo do ano, serão lançados mais dois navios Suezmax no eaS e outros dois de produtos, pelo estaleiro mauá – o primeiro destes em junho próximo, em niterói (rJ). Completam-se, assim, os quatro lançamentos previstos pelo promef para 2010. o promef já gerou 15 mil empregos diretos no atual estágio de construção dos navios. este número chegará a 40 mil. os empregos indiretos chegarão a 160 mil. no caso do eaS, surgido com base nas encomendas do promef, chama a atenção o elevado aproveitamento de mão de obra local. mais de 90% dos trabalhadores na construção do estaleiro e dos navios vêm dos cinco municípios do entorno do Complexo portuário do Suape.

Frota própria Com o promef, a frota da transpetro, hoje de 52 navios, vai se modernizar e crescer, chegando a mais de cem navios em 2014. esse número deve aumentar com o promef III, a terceira fase do programa, que será lançada este ano e já está contemplada no paC 2. o promef III levará em conta o aumento de produção de petróleo e gás advinda dos campos do présal, e a entrada em funcionamento das novas refinarias no nordeste (pernambuco, Ceará e maranhão) e do Complexo petroquímico do rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, no Grande rio. as duas primeiras fases do promef foram concebidas antes das novas descobertas dos campos do pré-sal nas bacias de Santos e espírito Santo, o que aponta para a criação de novas fases do programa já a partir deste ano. dos 49 navios previstos nesta etapa, 46 foram licitados, com 38 já contratados. os últimos três navios estão em fase final de licitação.


festa para o almirante negro

A necessidade de modernizar e aumentar a sua frota de navios – para atingir a meta de atender a Petrobras em 100%, na cabotagem, e 50%, no longo curso – levou a Transpetro a estruturar um programa capaz de contribuir para a consolidação de uma indústria naval moderna e internacionalmente competitiva. O programa foi desenvolvido com base em três premissas essenciais: construir os navios no Brasil; alcançar um nível mínimo de nacionalização (65% na primeira fase, 70% na segunda); e oferecer condições para os estaleiros nacionais conquistarem, após a curva de aprendizado, competitividade em nível global. Cada navio encomendado pela Transpetro é composto de dois mil a três mil diferentes itens. Cerca de 70% das navipeças já são fabrica-

Um estaleiro novinho em folha O Estaleiro Atlântico Sul, com capacidade de processamento de 160 mil toneladas de aço por ano e um terreno de 160 hectares, envolve investimentos de R$ 1,8 bilhão. Sua carteira de encomendas (com 22 petroleiros Suezmax e Aframax e o casco da plataforma P-55, da Petrobras) soma US$ 3,5 bilhões. A direção do EAS pensa alto. O objetivo é que o estaleiro se torne a maior, mais moderna e mais eficiente planta naval do hemisfério Sul. Com equipamentos similares aos existentes nos mais avançados estaleiros do mundo, o EAS integra o time da quarta geração da indústria naval. Sua construção estará concluída ainda nesse primeiro semestre e, até o final de 2010, o número previsto de empregados é de quatro mil.

das no Brasil ou podem vir a sê-lo em prazo relativamente curto. São itens como chapas e perfis de aço, tintas e solventes, amarras, tubulações, acessórios de casco, caldeiras, válvulas comuns e bombas centrífugas. Outros componentes – como guinchos de amarração, âncoras, guindastes e motores auxiliares – passam a ter viabilidade de produção no país a partir da encomenda da Transpetro. Em Pernambuco, no EAS, inicialmente, os futuros trabalhadores passaram por um reforço de ensino básico, com duração de 2,5 meses, em um antigo matadouro reformado e transformado em escola, hoje denominada “Nascedouro de Talentos”, em Ipojuca. Na segunda fase, a força de trabalho é capacitada pelo Senai do Cabo de Santo Agostinho, recebendo base teórica e treinamento prático.


acidente bp

Horizonte sombrio Inevitavelmente, a explosão da plataforma de perfuração marítima Deepwater Horizon, operada pela BP, que alugava a plataforma da Transocean por uma diária de US$ 533 mil, foi o principal assunto tratado nos corredores e painéis técnicos da OTC neste ano.

Fotos: Divulgação BP

por Cassiano Viana

Lousiania

L

ocalizada no Golfo do México, a cerca de 80 km da costa de Louisiana, a Deepwater Horizon explodiu no dia 20 de abril, matando 11 dos 126 trabalhadores presentes na unidade – esta afundou dois dias depois e o vazamento de cinco mil barris de óleo por dia desde então se espalha, ameaçando os estados da Louisiana, Flórida, Alabama e Mississipi. A mancha no sul dos EUA tem mais de 200 km e impacta a navegação, a vida selvagem, as praias e a pesca na região. A catástrofe ambiental pode vir a superar danos com acidente do Exxon Valdez. A BP reconheceu que a liberação de petróleo no mar ocorreu devido a uma falha no equipamento que veda o poço em caso de ruptura. Por causa do acidente, as ações da BP tiveram queda de 4,7 e se desvalorizaram 17% em duas semanas. Em entrevista à revista semanal alemã Der Spiegel, o CEO da com48

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Flórida

Estados Unidos Nova Orleans

Golfo do México Extensão do derramamento: mais de 16 km de comprimento, 5 km de largura e 100m de espessura. Volume: 210 milhões de litros, até o dia 17 de maio de 2010.

Golfo do México

Local do acidente

Maré de óleo

panhia, Tony Hayward (à esquerda na foto), afirmou que a empresa vai compensar todas as pessoas afetadas pelo vazamento. “A BP tem a responsabilidade de lidar com as consequências e assumimos essa responsabilidade com total seriedade”, disse.

O acidente da Deepwater Horizon não é o primeiro, nem está entre os piores envolvendo petróleo, mas promete ocupar posição de destaque no ranking dos desastres. Em março, o acidente do navio petroleiro Exxon Valdez, nos Estados Unidos, completou 21 anos como um dos maiores vazamentos de petróleo da história. O navio naufragou no dia 24 de março de 1989 no estreito de Prince William, causando um derramamento de 42 mil toneladas de petróleo que se espalharam ra-


Outros grandes acidentes Amoco Cadiz – frança (1978) 260 milhões de litros de óleo Ixtoc I – Golfo do México (1979) 480 milhões de litros de óleo

Em geral, os poços possuem válvulas que bloqueiam a boca de poço em casos de emergência. A Deepwater Horizon não possuía um sistema remoto adicional, acionado por rádio, obrigatório no Brasil e no mar do Norte. Controle primário de sinais – os sinais percorrem um cabo paralelo ao duto para evitar o fluxo descontrolado.

Exxon Valdez – Alasca, eUA (1989) 40 milhões de litros de óleo pidamente por cerca de 28.000 km² de oceano e mais de 2.000 km da costa do alasca. os esforços para recolhimento e limpeza do óleo duraram três anos. Com o vazamento do Exxon Valdez a indústria petroleira teve que rever suas práticas, adotando navios-tanque e procedimentos mais seguros, já que o acidente foi causado por uma sucessão de erros de sua tripulação. no entanto, o maior desastre até hoje é o do Ixtoc I, um superpetroleiro que explodiu em 1979 e derramou 454 mil toneladas de petróleo na baía de Campeche, no méxico. a enorme maré negra afetou, por mais de

Controle secundário, sistema que fecha automaticamente o circuito em caso de fluxo descontrolado e parada. Não funcionou. Unidade de controle subsea Blowout preventer (BOP – sistema de prevenção de fluxo descontrolado). Cessa o fluxo de óleo em caso de emergência.

Broca de perfuração (em média 1.500 m)

sistema remoto adicional (backup), acionado por rádio. A Deepwater horizon não possuía um instalado e isto, segundo analistas, poderia ter evitado o acidente. Nas plataformas da Petrobras e o Mar do Norte, o item é obrigatório.

Transdutor – dispositivo que recebe um sinal e o retransmite a uma unidade de controle que aciona o Blowout preventer (BOP – sistema de prevenção de fluxo descontrolado).

Cabeça de poço

um ano, as costas de uma área de mais de 1.600 km². É preciso lembrar, também, que além destas tragédias causadas por acidentes, entre os maiores vazamentos de petróleo da história está o provocado pelo Governo do Iraque, que em janeiro de 1991

jogou no Golfo pérsico mais de 1 milhão de toneladas de óleo dos poços do Kuwait, para dificultar o desembarque aliado. a mancha negra se estendeu por cerca de 3.200 km² e causou enormes danos ecológicos.


indústria naval

Licença ambiental para o Estaleiro do Paraguaçu A concessão da licença pelo Ibama é um passo essencial para a Bahia abrigar o segundo maior estaleiro do país, o qual somará investimentos da ordem de R$ 2 bilhões. por Maria Fernanda Romero

A

Licença Prévia para a implantação do Estaleiro Enseada do Paraguaçu já foi concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), assegurando a continuidade de um dos maiores empreendimentos e investimentos estruturantes para a economia baiana dos últimos 30 anos. O novo estaleiro será totalmente voltado para a produção de

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plataformas de petróleo de todos os tipos, representando investimentos de R$ 2 bilhões e perspectivas de gerar 8 mil empregos diretos. “É uma grande vitória para os baianos, mas ainda não é a vitória final. E esta licença foi uma construção do governo do estado junto com a iniciativa privada, envolvendo quase dois

anos de trabalho duro, realizando estudos ambientais, arqueológicos e culturais no Recôncavo em atendimento à legislação brasileira”, destacou o secretário da Indústria Naval e Portuária, Roberto Benjamin. “Esse projeto envolveu ainda órgãos como o Ibama, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Fundação Cultural Palmares de apoio à pesquisa e à extensão, Reserva Extrativista do Recôn-


cavo, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Área de Preservação Ambiental (APA) da Baía de Todos os Santos.”

Um gigante naval Localizado em frente ao canteiro de São Roque do Paraguaçu, no Recôncavo baiano, o empreendimento vai ocupar uma área de cerca de 1 milhão de m² nas margens da Baía do Iguape, em Maragogipe. Com a licença, o estaleiro terá a qualificação necessária para participar de licitações da Petrobras para construção de navios-sonda para águas profundas. Quando o estaleiro se tornar realidade, a Bahia será o quarto polo de construção naval do Brasil, se juntando ao Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Com a implantação do estaleiro, a Bahia se transformará em um parque de construção naval, formado também pelo canteiro da Petrobras, que já existe em São Roque, onde estão sendo construídas as plataformas P-59 e P-60, avaliadas em US$ 700 milhões; e pelo futuro canteiro de módulos de Aratu, destinado à montagem de equipamentos

para as plataformas, em uma área de 100 mil m². Para Fernando Barbosa, diretor da Odebrecht Engenharia Industrial, o aumento de investimentos nesse setor é um caminho natural à medida que o país cresce. Segundo ele, a Bahia está numa posição privilegiada para atender as novas demandas. “O estado tem mão de obra qualificada, resultado da implantação do Polo Petroquímico e outros segmentos industriais. Além disso, tem uma rica história naval, tendo sido o berço do processo de construção de plataformas no país”, explica Barbosa.

Novas oportunidades Para agilizar os processos legais, o governo da Bahia requereu o licenciamento ambiental da área por meio da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Sudic), vinculada à Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Quando estiver operando a plena capacidade, o estaleiro baiano será o segundo maior do

Brasil, podendo processar 70 mil toneladas/ano de aço, contra as 160 mil toneladas/ano do Estaleiro Atlântico Sul, em Suape/PE. O projeto do estaleiro baiano envolve um consórcio formado, em outubro de 2009, pelas construtoras baianas Odebrecht, OAS e UTC Engenharia. O Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) ficou pronto em dezembro. Em seguida, o projeto foi submetido a duas audiências públicas, em Maragogipe e Nazaré, recebendo o apoio irrestrito das populações das comunidades da Bacia do Iguape. Para o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, a Bahia deu um passo gigantesco para o desenvolvimento da sua indústria naval. “O canteiro da Petrobras, em São Roque do Paraguaçu, foi muito importante nos anos 1970. Agora, com o estaleiro, novas oportunidades serão criadas para a população do Recôncavo. Ou seja: mais empregos, mais saúde, saneamento, novas estradas, educação básica e profissionalizante”, disse Correia.


eventos

OTC 2010

mercado mundial

AQUECIDO Indústria de óleo e gás mostra no maior evento mundial do

setor que está aquecendo os motores, ainda que em meio a um dos maiores acidentes offshore do planeta e os efeitos prolongados da crise financeira internacional. por Cassiano Viana, enviado especial

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foto: gary Barchfeld foto: gary Barchfeld

fotos: Banco de Imagens TN Petróleo

OTC 2010 em números 568.000 m²; 2.400 companhias de 40 países; 180 novos expositores; 72.900 visitantes Pavilhão Brasil: 550 m²; 37 empresas Petrobras: 200 m²

O

tema Segurança, meio ambiente e Saúde (SmS) – que há duas décadas era uma mais uma ‘sigla’ de sistema de gestão, e este implicava alguns procedimentos e certificações nas operações das empresas, principalmente as que desenvolvem atividades de risco, como as do setor de

óleo e gás – acabou sendo o mote das conversas no maior evento petrolífero do mundo, a offshore technology Conference (otC). realizada em Houston, no texas (eua), entre os dias 3 e 6 de maio, a otC 2010 aconteceu cerca de duas semanas depois da explosão da plataforma deepwater Horizon, da transocean, a serviço da petroleira inglesa Bp (British pe-

troleum), que produzia 5 mil barris de petróleo/dia, a cerca de 80 km da costa da Louisiana. o acidente, considerado um dos mais graves da indústria mundial offshore, devido ao vazamento contínuo de óleo, provocou a decretação do estado de emergência em quatro estados – incluindo Louisiana, contíguo ao texas, além de mississipi, alabama e miami (veja matéria TN Petróleo 71

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eventos

Embora a questão do risco de acidentes tenha permeado discussões, o evento não perdeu seu foco: mostrar as novas tecnologias e tendências do setor, por meio de debates, palestras, painéis e coletivas de imprensa, além da exposição, que reuniu mais de 2.400 empresas de 40 países. O clima geral era de assombro e dúvidas – mudanças regulatórias certamente estão por vir –, mas principalmente de solidariedade.

Cenário tenso

nesta edição). E levou o tema segurança nas operações offshore para dentro de todos os espaços da OTC 2010, realizada no gigantesco Reliant Center, onde a feira ocupou 54

TN Petróleo 71

inclusive espaços externos, confirmando o aumento do evento em relação ao ano anterior – ocupou um total de 568.000 m² e recebeu quase 73 mil visitantes.

Na realidade, nos últimos tempos, uma série de fatos, com impactos no setor, tem ocorrido nos períodos próximos à OTC – há mais de 40 anos é realizada no mês de maio e assinala um compromisso permanente na agenda de seus principais mentores. As conquistas tecnológicas, o avanço em águas profundas, a expansão das fronteiras, os desafios exploratórios em cenários mais complexos como o pré-sal e outras boas novas – como as descobertas de grandes volumes de reservas pela Petrobras na Bacia de Santos nos últimos anos – têm sido debatidos em congressos apimentados por questões críticas. No ano passado, foi a gripe suína e a crise financeira deflagrada no final de 2008, ano em que pairou sobre o evento a sombra de tornados e furacões. Some-se a isso o acirramento das relações entre os Estados Unidos e a Venezuela de Hugo Chaves, que tem assento cativo na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Em 2007 e 2006, o clima andou tenso devido às ações do presidente da Bolívia, Evo Morales, iniciadas com a nacionalização dos ativos de petroleiras internacionais, como a Petrobras, com a ocupação de refinarias por tropas militares, culminando com o aumento do preço do gás natural transporta-


mercado mundial aquecido

do pelo Gasoduto Bolívia-Brasil e o afastamento dos investidores daquele país. Um tornado político na América do Sul, enquanto o Golfo do México contava os mortos pelo Katrina, furacão que passou pela região em agosto de 2005, devastou a cidade de Nova Orleans e paralisou as atividades de exploração de petróleo no Golfo do México. Mas, para a indústria de petróleo, nada se compara ao citado acidente com a Deepwater Horizon, que causou a morte de 11 pessoas e um vazamento que vai impactar não somente as atividades de exploração no Golfo do México, mas também diversos setores da economia do Sul dos Estados Unidos, da pesca ao turismo, além dos danos ainda imensuráveis ao meio ambiente. Tudo isso a pouco menos de um mês da realização de um evento

internacional da Sociedade de Engenheiros de Petróleo (SPE) sobre SMS e no ano em que a economia parecia respirar um pouco melhor após o recente colapso econômico.

OTC Brasil Para os brasileiros, a grande notícia foi a confirmação da realização, durante os dias 4 a 6 de outubro de 2011, no Rio de Janeiro, do primeiro encontro com a marca OTC no Brasil. Outras duas edições do evento, batizado Offshore Technology Conference Brasil (OTCBR) – já estão programadas para 2013 e 2015. “Este é o primeiro evento da OTC fora dos Estados Unidos. Há mais ou menos um ano pensávamos onde estaria, nos próximos dez anos, a indústria de petróleo mundial e decidimos realizar estas duas conferências, uma no Brasil e outra

sobre o Ártico, em fevereiro de 2011, aqui em Houston”, comentou Susan Cunningham, atual chairman da OTC. “Apesar da crescente participação internacional, a OTC ainda é frequentada, em sua maioria, por profissionais norte-americanos. A ideia é, obviamente, chegar a novos públicos”, disse. Cunningham afirma que a conferência no Brasil terá como foco a tecnologia internacional offshore de águas ultraprofundas, com o objetivo de divulgar os últimos avanços técnicos, desafios e oportunidades para a área: “Apesar de utilizar o mesmo modelo de evento, contando com uma feira para expositores, nosso foco será a conferência, a programação técnica”, destacou.


eventos

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TN Petr贸leo 71


Petrobras continua no

foco das atenções O pré-sal, que continua sendo o fator mais atraente da indústria de óleo e gás das Américas, a capitalização da Petrobras e o novo marco regulatório dividiram as atenções na coletiva concedida pelo presidente da estatal, José Sergio Gabrielli de Azevedo, e da Petrobras America, Orlando Azevedo.

R

ealizada na tarde do segundo dia da otC, a coletiva brasileira, da qual também participou o gerente executivo do pré-sal, José Miranda Formigli, lotou a sala de imprensa reservada para o evento. no mesmo dia, mas de manhã, Carlos tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Cenpes (Centro de pesquisa Leopoldo miguez, da petrobras) falou sobre os avanços na área de pesquisa e desenvolvimento que vão dar respaldo às operações da petrobras no pré-sal. Coincidentemente, a otC aconteceu um ano depois de iniciado o teste de Longa duração (tLd) de tupi, na Bacia de Santos, embora, na prática, a produção não tenha sido contínua, uma vez que houve paralisação da operação por mais de dois meses, devido a problemas no equipamento submarino. José Sergio Gabrielli assegurou que a petrobras deverá concluir o processo de capitalização até 31 de julho, lembrando que a estatal necessita desse tempo para estruturar a operação, que demanda

uma série de trâmites burocráticos, incluindo a assembleia de acionistas. “a capitalização será feita como estava previsto, com a cessão onerosa dos barris da união”, afirmou o presidente da petrobras, acrescentando que os valores do barril e da capitalização serão apresentados na citada assembleia. ele garantiu, ainda, que o plano de negócios, que deverá ficar entre uS$ 200 a 220 bilhões, será apresentado antes disso. Sobre o acidente com no Golfo do méxico com a deepwater Horizon, Gabrielli afirmou que riscos sempre existem e que acidentes não ocorrem apenas por uma única causa e sim um conjunto de fatores. “estamos oferecendo todo apoio possível para minimizar

os impactos e entender e aprender com essa trágica experiência”, declarou.

Pré-sal tema de maior interesse das empresas presentes na otC, as contratações de cascos, sondas e embarcações para exploração e produção no Brasil também foram abordadas na coletiva e em conversas no estande. principalmente no que dizia respeito às alternativas de desenvolvimento da produção dos campos do pé-sal, a partir dos subsídios fornecidos pelo Ld de tupi. o gerente executivo da área de exploração e produção do pré-sal, José miranda Formigli, destacou os desafios tecnológicos e logísticos para o desenvolvimento das descobertas na fronteira exploratória do pré-sal. Formigli reiterou que o piloto de tupi deverá iniciar operação ainda esse ano, com duração prevista de dois anos. “Se tudo der certo, ele se transformará, depois, em um sistema definitivo, quando então aumentaremos o número de poços produtores e injetores. em TN Petróleo 71

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eventos

poço. a conexão da árvore de natal molhada até a plataforma ocorre por meio de um riser de completação rígido, não flexível.”

Vai começar a produção

um primeiro momento são oito poços, cinco produtores e três injetores.” Segundo ele, o desenvolvimento do pré-sal da Bacia de Santos será dividido em três fases, sendo que haverá um total de três tLds na primeira fase: além de tupi, os testes serão feitos em Guará e tupi nordeste. dessa primeira fase constam ainda os oito FpSos replicantes, que são unidades novas, com enfoque de unidades definitivas desde o início e serão instaladas nos blocos B-mS-9 e B-mS-11. Segundo ele, o projeto piloto de tupi, que deverá ter uma produção

crescente, poderá atingir seu pico, de 100 mil barris/dia, no segundo semestre de 2011. “a produção média por poço será em torno de 20 mil barris. teremos ainda cerca de 4 milhões de m³ de gás, dos quais 3 milhões serão exportados ou reinjetados. o restante será consumido na plataforma como combustível e outra parte é o Co2 que será reinjetado.” o tLd de Guará está previsto para o segundo semestre de 2010, por meio do FpSo dynamic producer, da petroserv, que está em final de conversão em Cingapura. “É uma unidade de posicionamento dinâmico que se mantém sobre o

Painéis

Demanda por parceiros “QUereMOs PArCeirOs, NãO iNVesTiDOres”, afirmou Marco Antônio Martins Almeida, secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis renováveis do Ministério de Minas e energia, durante painel, no dia 4 de maio, sobre as perspectivas para a exploração em águas ultraprofundas no Brasil. Participaram do mesmo painel o gerente de perfuração e completação offshore da repsol, Álvaro Negrão, o presidente do iBP, João Carlos De luca, o vice-presidente da BG no Brasil, Nelson silva, o vice-presidente de desenvolvimento da shell no Brasil, Marco Brummelhuis, e o atual consultor da statoil, Jorge Camargo, dentre outros. Outro destaque na programação técnica foi o painel, no dia seguinte, sobre o projeto em Parque das Conchas, no bloco BC-10, hoje um dos maiores ativos da empresa anglo-holandesa shell no mundo. O projeto está hoje ao lado de investimentos gigantescos como sakhalin ii (o maior do mundo para exploração, produção e exportação de gás na rússia) e Catar Gas (de liquefaçãode gás no Catar). 58

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o acidente no Golfo do méxico fez crescer o interesse também quanto ao início da produção de Cascade e Chinook, no Golfo do méxico, que será feita, pela primeira vez na região, através de um FpSo (unidade flutuante de produção, estocagem e escoamento). “Como estamos trazendo novas tecnologias para o Golfo do méxico, é normal que esse projeto fique na vitrine da otC”, observou Orlando Azevedo, afirmando que esse destaque será ainda maior no próximo ano, uma vez que deverá entrar em produção no segundo semestre. “para trazer essa tecnologia para os estados unidos, houve acompanhamento pelos órgãos regulamentadores do governo americano e só foi possível por causa da alta experiência que a petrobras detém dessas unidades”, afirmou. essa expertise, segundo ele, conquistou a confiança das entidades americanas, da guarda costeira, e do mmS (minerals management Service), órgão que desenvolveu em conjunto com a petrobras novas regulamentações na utilização do FpSo no Golfo do méxico. “É uma nova fronteira para a petrobras, principalmente em termos de profundidade. o FpSo vai ficar submerso a 2.500 m de profundidade, quer dizer, será o FpSo do Sistema petrobras mais profundo já instalado”, afirmou o executivo, assegurando que o programa de investimentos não sofreu reduções.


Call for papers starts April 2010. Visit www.world-petroleum.org for more information.

TN Petr贸leo 71

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eventos

Pavilhão Brasil

Prospecção de

bons negócios Há mais de dez anos os estandes brasileiros do Pavilhão Brasil recebem empresários de todos os lugares do mundo em busca de oportunidades de negócios. Pelo décimo primeiro ano consecutivo, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) reuniram empresas brasileiras no Pavilhão Brasil, ponto de encontro de empresários e importante referência para quem quer fazer negócios no país. 60

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Entidades ANP iBP

CTDUT ONiP

Empresas participantes • Altona • Altus • Arteche • Brasil Energia • Chemtech • Coester • Columbia • Deeptec • Flexomarine • Grupo IFM • Grupo GP • Jaraguá • Keppel Fels • Kromav • LabOceano • Lupatech • MCS • Metroval • Multialloy • Nuclep • Oceânica

C

omo desdobramento do projeto Brazilian Supply oil & Gas, fruto de convênio entre a onip e a apex Brasil (agência Brasileira de promoção de exportações e Investimentos), o pavilhão Brasil cresceu em 50% e mudou de endereço: passou de 350 m² (2009) para 550 m², e a ocupar o espaço 1.117, na entrada do reliant Center, próximo ao estande da petrobras e outras grandes companhias globais. Integraram o pavilhão nada menos que 37 empresas dos mais diversos setores da cadeia produtiva da indústria de petróleo brasileira, além do IBp, onip e da agência nacional do petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (anp). “o aumento do número de empresas no pavilhão demonstra o potencial exportador dos fornecedores brasileiros e o interesse

que despertam no comprador ou parceiro estrangeiro pelo Brasil, que é, atualmente, referência mundial do setor offshore de petróleo e gás”, avalia o secretário executivo do IBp, Álvaro Teixeira.

Valor agregado “o mercado já está em um ritmo favorável de desenvolvimento de negócios”, comentou Melquisedec Santos, diretor da Subsin, cuja estratégia é se consolidar, neste ano, como empresa brasileira com capacidade de

• Orteng • PHDsoft • Poland • Protubo • Rio Engenharia • Sacor • Stemac • Subsin • Tecnofink • T&B Petroleum Magazine • Tomé Engennharia • Usiminas • Vanasa • Vescon • WBS • WEG

concorrer na área de projetos subsea, com empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil. “dadas as perspectivas futuras de pesados investimentos da petrobras, percebemos um grande número de empresas estrangeiras pretendendo iniciar suas atividades no Brasil”, avaliou. “Queremos aproveitar esse momento para estabelecer acordos de cooperação com parceiros estrangeiros, visando a atuação no mercado nacional.” o principal item de serviço apresentado foi um robô para inspeção de risers, desenvolvido pela Subsin: uma plataforma multissensores, que se desloca ao longo do comprimento do riser, utilizando a estrutura como guia. “este equipamento tem um alto potencial de aplicação no Golfo do méxico, dados os problemas TN Petróleo 71

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eventos

que esta região enfrenta com os furacões”, explica. “A OTC 2009 foi sensivelmente prejudicada pela crise econômica e pela gripe suína. Mas todos estão muito otimistas com os resultados da edição de 2010, pois nota-se uma demanda reprimida para equipamentos destinados ao segmento de óleo e gás”, afirmou Zenon Meireles, diretor técnico da Stemac, fabricante de grupos geradores com 65% do market share de energia no Brasil. “Além da apresentação atualizada da nossa linha de grupos geradores a diesel e a gás, estamos divulgando nossos produtos para filtragem de gases, líquidos e água produzida.” “O mercado está voltando a se aquecer no mundo todo, mesmo com a queda no preço do petróleo”, disse Duperron Marangon, CEO da PhDsoft, empresa 100% brasileira, produtora de softwares de simulação e integridade de

grandes estruturas de engenharia. Seu C4D, software de gestão de integridade de estruturas, é utilizado pelo Petrobras, Transpetro, Shell, Modec e pelo Laboratório Nacional de Computação Científica. A PhDsoft, que tem representantes nos EUA e na Europa, tem firmado diversas parcerias no sentido de consolidar a empresa como um hub brasileiro de softwares ligados à área de petróleo & gás, agregando cada vez mais valor aos clientes, com produtos que complementem o C4D.

Novas linhas de serviços “Apesar da crise, a OTC 2009 trouxe alguns resultados positivos, porém ainda não suficientes p a r a m a n t e rmos o nível de exportação na casa dos 30% do faturamento, como vinha acontecendo nos anos anteriores”, avalia Marcos Cueva, diretor da Oceânica. “Em 2010, acreditamos

na retomada desse patamar, pois além do reaquecimento do mercado externo, a empresa está mais bem preparada do ponto de vista técnico e comercial, pronta para encarar os concorrentes internacionais.” Além dos tradicionais serviços de engenharia offshore, como cálculos hidrodinâmicos e estruturais, a Oceânica apresentou, na OTC, duas novas linhas de serviços: análises de operações subsea e simulações de operações portuárias e em terminais. Esta última utiliza tanto os chamados fast time simulators, que rodam em computadores pessoais, como real time simulators, permitindo que os próprios pilotos pratiquem a operação em um ambiente que reproduz a ponte de comando dos navios. “No segundo semestre já estaremos com o simulador da Oceânica em operação no Brasil, resultado da parceria com o Marin, da Holanda”, destacou Cueva. “O clima foi de otimismo e retomada de negócios para a Lupatech, cujos produtos e soluções são fo-

20º Congresso Mundial de Petróleo realiza chamada de trabalhos na OTC 2010 A equipe do 20º Congresso Mundial de Petróleo (World Petroleum Congress/WPC) utilizou o novo espaço do seu estande, durante a OTC, em Houston, para promover a chamada de trabalhos do evento, que será realizado no Catar em dezembro de 2011. Segundo o diretor geral do WPC, Pierce Riemer, a equipe aproveitou o prestígio da indústria de petróleo e gás na OTC para convidar os grandiosos e inúmeros especialistas de petróleo e gás do mundo presentes no evento a apresentarem seus conhecimentos nos trabalhos que serão apresentados na vigésima edição do Congresso Mundial de Petróleo. “Nós percebemos um interesse incrível na chamada de trabalhos em Houston, o que demonstrou que todos querem ir a Doha em 2011, nosso novo estande estava sempre cheio. Acredito que o WPC vai ser um congresso verdadeiramente memorável”, afirmou Riemer.

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O comitê do programa do WPC preparou para o evento um vasto programa técnico, com temas que vão desde as operações onshore e offshore de gás natural, novas energias à gestão sustentável da indústria do petróleo. O Congresso Mundial de Petróleo, o maior no mundo, é realizado durante cinco

dias e conta com mais de quatro mil delegações, 600 meios de comunicação e mais 550 expositores. Este será o primeiro Congresso Mundial de Petróleo a ser realizado no Oriente Médio. Frederic Malgoire, diretor de vendas e marketing do 20º WPC, ficou encantado com a resposta da indústria durante a OTC. “Nosso novo estande foi perfeito, seu novo design atraiu muita atenção. Conseguimos ocupar mais de 80% do espaço de exposições do nosso evento, que ganha mais visibilidade com os novos expositores, como Halliburton, Baker Hughes e da API”, destacou o executivo. “E já confirmamos a presença de empresas como ExxonMobil, BP, Chevron, ConocoPhillips, Dolphin Energy, Oxy, Oryx, Petrobras, Nexen, CNPC, Schlumberger, Shell, Total, Weatherford, Chiyoda, e muitos outros, como patrocinadores do evento”, exultou.


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cados principalmente em energia como também na indústria a ex p e c t a t i v a é a mesma”, diz Adhemar Freire, gerente de Vendas oil & Gas Services / oil tools do Grupo Lupatech. a Lupatech participou do evento apresentando uma gama de produtos e soluções em energia com ênfase em cabos de ancoragem para plataformas de produção de petróleo e FpSos, válvulas, ferramentas para completação de poços de produção de gás e óleo, de injeção, onshore e offshore, sistemas de monitoramento com sensores usando tecnologia de fibra ótica, compressores para gás natural, além de um grande e especializado portfólio de serviços. “após a crise de 2009, o mercado industrial como um todo, e em especial o de petróleo e gás, tem mostrado fortes evidências de recuperação com preços do petróleo retornando a patamares mais atrativos para a retomada de produção e reposição de estoques

que declinaram nos últimos meses”, avaliou o executivo. existe ainda, de acordo com Freire, uma ênfase muito grande nos investimentos no âmbito internacional para uso crescente do gás natural em diversas aplicações nos ramos de energia, mesmo em países como os estados unidos, que não têm esse importante combustível fóssil limpo como item de peso em sua matriz energética, mas que, agora, voltam sua atenção com força para o gás natural. “esse cenário é bem mais otimista do que o vivenciado em 2009, muito embora ainda não tenha atingido os níveis de 2007/2008, mas nos mostra que existe uma forte tendência para uma retomada ainda mais forte até 2012.”

Negócios bem ancorados para mario Jorge Coutinho, da mCS engenharia, foram mantidas as tendências dos anos anteriores com o mercado buscando petróleo barato para explorar e vender. “o Brasil precisará de parceiros para a exploração do pré-sal, coisa que

se sabe ainda incipiente e necessitando de novas tecnologias, novos materiais para desenvolvimento de ferramentas e máquinas e a real análise do custo desta exploração”, avaliou. “esperamos ter concluído o processo de aprovação junto ao aBS da ferramenta pelikelo para uso como item da linha de ancoragem o que permitirá às plataformas instaladas nas áreas de furacões e de icebergs serem desconectadas, saindo da rota destes”, destacou mário Jorge. “para evitar que as plataformas sejam arrastadas e destruídas pelas tormentas, os projetistas vêm estudando alternativas como o aumento das dimensões dos elementos de ancoragem (amarras, âncoras, etc.) e o aumento do número de linhas de ancoragem. esta ferramenta permite que sejam mantidas as atuais dimensões dos elementos de ancoragem de uma plataforma.”

No topo da cadeia tecnológica a Flexomarine anunciou na otC o desenvolvimento, para a

Pavilhão Brasil

11 anos de sucesso O BrAsil TeM PreseNçA garantida na Offshore Technology Conference (OTC) desde 2000, quando foi organizado o Pavilhão Brasil. foi a primeira vez que brasileiros participavam, de forma organizada, de um evento fora do país, e ainda mais com a grandiosidade e importância da OTC. Ao todo, 60 empresários brasileiros participaram do primeiro estande, com apenas 150 m², mas que demonstrava já naquela época que o país era visto como um dos mercados mais atraentes do mundo. foi a partir de 2006 que a Onip e a Apex Brasil assinaram um bem sucedido acordo viabilizando recursos que garantiram a realização do Pavilhão Brasil na OTC e em outros eventos mundiais.

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SBM, de um novo tipo de mangote especial para carretéis. Antes, quando não estavam em operação, as mangueiras ficavam flutuando no mar. Isso reduzia a vida útil do equipamento. Com o recolhimento com carretéis, as mangueiras são enroladas, aumentando a vida útil. Todos os novos navios estão demandando a construção de carretéis. O desenvolvimento do projeto foi iniciado em dezembro do ano passado. O protótipo está em teste dinâmico em São Paulo, na unidade da Flexomarine em Tupeva, onde estão sendo simulados cinco anos de operação em carga máxima. Recebida a aprovação, a Flexomarine passará a fabricar os mangotes.

“Essa máquina coloca a Flexomarine à frente, no topo da cadeia tecnológica”, comemora Iwaldo Miranda, gerente de negócios da empresa. “Estamos buscando parceria com a Noruega para que no futuro possamos ofertar um pacote completo, de carretéis e mangotes.”

Engenharia brasileira reconhecida Especializada em projetos e ser viços de engenharia, a Kromav, em consórcio do qual fazem parte a Chemtech, empresa do grupo Siemens, e Exactum (especializada na construção de estruturas de topside), assinou, no final de abril, contrato de desenvolvimento

Orteng: parceria em estaleiro A mineira Orteng passará a ser uma construtora de topsides. O grupo anunciou, durante a OTC, a associação com a Construcap para a implantação de um estaleiro de montagem de módulos de produção offshore, integração e load-out, podendo vir a fabricar jaquetas e plataformas semi-submersíveis. A planta terá capacidade de construção simultânea de até 12 módulos. O estaleiro já possui uma área contratada de 40 hectares em Suape, a 60 km de Recife (PE), e aguarda o licenciamento para iniciar as obras de construção. Serão investidos no projeto cerca de R$ 300 milhões. “Esse é um marco na história da Orteng”, comemora João Martins, gerente regional da Orteng. “O projeto já foi apresentado e muito bem recebido pela Petrobras. Temos a tecnologia para construir módulos elétricos – já construímos seis deles no Brasil.” Esse é o primeiro empreendimento offshore da paulista Construcap, uma das maiores do Brasil – faturando no ano passado algo entre R$ 1 bilhão e 600 milhões – e que já trabalha para a Petrobras no segmento de montagem industrial de refinarias, na construção de gasodutos, obras de infraestrutura e edificações como a construção do novo Cenpes. “Estamos nos preparando para participar das futuras licitações da Petrobras”, diz o vice-presidente da Construcap, Roberto Ribeiro Capobianco. “Teremos um terceiro parceiro tecnológico, que será definido até agosto.” A previsão é que sejam gerados 3.500 empregos diretos no projeto. 64

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de projeto básico e de Feed (Front End Enginnerd Design, concepção de projeto) de todas as unidades offshore do Cenpes (Centro de Pesquisa da Petrobras). A Kromav será responsável pelo desenvolvimento da parte naval do contrato, enquanto a Chemtech desenvolverá a engenharia de topside e a Exactum, a parte de projeto estrutural dos topsides. “Esse é o terceiro contrato do tipo assinado com a Kromav e também o maior contrato de engenharia do Brasil, com mais de 700 mil horas de projeto”, afirma Rosalvo Souza Sales, diretor da Kromav. “Um contrato que envolve um consórcio 100% brasileiro e que consolida a Kromav na engenharia offshore no Brasil e a engenharia nacional no mundo.” A empresa ainda está trabalhando em duas plataformas fixas para o campo de Siri, na Bacia de Campos, referente ao segundo contrato firmado com a estatal. Atualmente, a Kromav está envolvida em um contrato com a Unidade de Negócios da Bacia de Campos (UNBC), para sistemas de injeção de água das plataformas P-25 e P-31, e outros projetos estratégicos de engenharia com outras empresas consultoras. A empresa já concluiu para a Petrobras o projeto básico de um FPSO da P-58, que atualmente está sendo finalizada pela francesa Technip.

CTDUT: pesquisa e desenvolvimento Com o cenário de recuperação, reaquecimento e retomada de investimentos e contratações, a expectativa é positiva também para o setor de pesquisa e desenvolvimento brasileiro. Pela primeira vez oficialmente, o setor se inseriu no estande do Pavilhão Brasil, da OTC. O Centro de Tecnologia em Dutos (CTDUT) apresentou o loop 14 e o Wikipipeline, versão em inglês


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do Wikidutos, e que foi lançado recentemente nos EUA. “Com isso esperamos ampliar nossos contatos com fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços que tenham interesse em efetuar testes em escala real com seus produtos ou métodos de recuperação de dutos”, destacou o presidente do Conselho Executivo do Centro de Tecnologia em Dutos (CTDUT), Raimar van den Bylaardt. Segundo ele, os fabricantes podem efetuar diversos testes, principalmente no Laboratório de Integridade Estrutural – no qual podem ser rompidos tubos na pressão de até 1.000 bar – e no Loop de 14 polegadas, com seus defeitos programados, para testes de pigs instrumentados. Outra instituição de pesquisa e desenvolvimento a participar pela primeira vez da OTC foi o Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano)

A equipe da T&B Petroleum entre amigos e parceiros, em seu estande na OTC 2010.


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do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em operação desde abril de 2003, o LabOceano foi projetado com a finalidade de realizar ensaios de modelos de estruturas e equipamentos usados nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás offshore, cujas operações avançam rapidamente para regiões de até 3.000 m de profundidade. Com uma profundidade de 15 m e um poço central com 10 m adicionais, é o tanque mais profundo no mundo, e representa para o país a consolidação da sua liderança no desenvolvimento de tecnologia de águas profundas. Equipado com sofisticados sistemas geradores de ondas multidirecionais – no futuro breve com geradores de correntes e ventos – o LabOceano está em condições de permitir a simulação realista das principais características do meio ambiente oceânico, atendendo as-

sim às necessidades e alto padrão de exigência impostos pela indústria offshore. “Nossa tecnologia é internacional. A boa tecnologia nacional é também internacional. Fomos um dos primeiros centros de pesquisa na área offshore. Temos um dos laboratórios mais bem equipados do mundo e nos sentimos capazes de prestar serviços para o setor ”, assegurou o professor Antonio Carlos Fernandes, cordenador adjunto do laboratório. “Nossos concorrentes diretos são o Marin, da Holanda e o norueguês Marin Tech”, disse ele, lembrando que no LabOceano já são atendidos clientes de peso como a Petrobras e a Shell, entre outros.

Outras delegações do Brasil Além do Pavilhão Brasil, o Departamento de Comércio dos Esta-

dos Unidos do Consulado Americano – com o apoio da Câmara de Comércio Americana (AmCham) do Rio de Janeiro, da Onip e do IBP – organizou, pelo segundo ano consecutivo, uma delegação para visitar a OTC. “A OTC tem se mostrado um evento cada vez mais estratégico para o setor de Energia. Por isso, estamos participando novamente nesta edição, levando um grupo maior de associados da Câmara de Comércio Americana”, diz Robson G. Barreto, presidente da Amcham (RJ/ES). A delegação contou com 251 profissionais de 120 empresas brasileiras dos mais variados setores da cadeia produtiva do setor de óleo e gás. “Além da sinergia entre empresas brasileiras, que estão presentes em número cada vez maior, o contato com o mercado internacional de energia é, a cada dia, mais estratégico”, afirma Robson.

Vescon: na rota da internacionalização Pelo segundo ano consecutivo na OTC, a Vescon Equipamentos Industriais dá os primeiros passos para sua internacionalização. “Fomos visitados por muitas empresas interessadas em fazer parcerias para ir para o Brasil ou oferecendo o acesso a outros mercados fora do país”, comentou Antonio Passos, gerente comercial da Vescon. “Participamos de uma missão da Apex na Argentina no passado e uma empresa está interessada em incorporar nosso produto e distribuí-lo na América Latina. Esta seria nossa porta de entrada para atender a América Latina. Depois de ganhar corpo, poderemos pensar em atuar em mercados maiores como o da América do Norte.” Com sede em Simões Filho, na Bahia, a Vescon finalizou, no ano passado, o fornecimento de 1.600 válvulas de 1/2 e 12 polegadas de revestimento orgânico classe Asme 2500, de alta pressão para o projeto de Ubarana, Rio Grande do Norte, para as plataformas UBI-1, 2 e 3. A Petrobras irá perfurar novos poços e injetar água, para recuperar a produção na área. Esse é um projeto 66

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estratégico para a Petrobras. Como o duto vai transportar água salgada, altamente corrosiva, a decisão foi utilizar o revestimento orgânico – desenvolvido originalmente pelo Cenpes – que evita a corrosão mais rápida. “A Petrobras adquiriu as válvulas em 2008. Esse é um fornecimento pioneiro. Agora estamos finalizando a entrega de mais 400 válvulas para a GDK, para serem utilizadas no mesmo projeto. No total, estaremos fornecendo duas mil válvulas de revestimento orgânico”, comentou Passos. A Vescon também está participando, junto a UTC, para fornecimento de válvulas para a P-55.


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Nova empresa na área O firsT reserVe Corporation (frC), grupo de investimentos focado na indústria de energia, anunciou no primeiro dia da OTC (3 de maio), o aporte de mais de Us$ 500 milhões para a Barra energia, uma nova companhia de exploração e produção independente – criada por João Carlos de luca, ex-presidente da repsol YPf no Brasil e presidente do instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (iBP), e renato Bertani, ex-presidente da Petrobras America, atual presidente e CeO da Thompson & Knight Global energy services e vice-presidente do World Petroleum Council (Conselho Mundial do Petróleo). Operando estrategicamente em uma enorme gama de setores industriais energéticos, em segmentos que vão desde a energia

solar, prestação de serviços como a ancoragem de barcos em águas profundas, exploração e produção, infraestrutura e gasodutos, o first reserve administra fundos de investimentos que somam Us$ 19 bilhões em ativos. No Brasil, o grupo tem participação em três empresas na área de serviços: ChC (operadora de helicópteros), DOf Marine subsea e Acteon, britânica que controla a fluke engenharia. “este é nosso primeiro investimento direto em uma empresa brasileira. No entanto, já participamos em empreendimentos de e&P nos estados Unidos, no Canadá, em Cingapura e na Colômbia”, comentou Will Honeybourne, diretor geral do first reserve Corporation, em entrevista exclusiva à TN Petróleo. “estávamos procurando uma boa oportunidade para atuar no segmento de e&P no Brasil. Com uma economia forte e recursos naturais inexplorados, o Brasil é hoje um lugar atrativo para investir”, disse. em atividade há pouco mais de um ano e agora capitalizada, a Barra energia está procurando ativos para investir. O plano de negócios

da companhia foca áreas em terra e águas rasas. “Com os recursos sendo drenados para projetos em águas profundas e para o pré-sal, há uma grande oportunidade para uma companhia, além de altamente capacitada, bem capitalizada, atuar em águas rasas e em terra”, avalia João Carlos de luca. “As pequenas petroleiras têm carência de capital. e capital é fundamental. No entanto, é preciso que o investidor conheça a natureza do negócio, o timing da indústria do petróleo. esse é o caso do first reserve”, destacou o executivo. “O objetivo é formar uma equipe altamente qualificada, com grande conhecimento geológico das bacias e utilizar novos conceitos, tentar novas ideias”, explica Bertani. “Vamos, certamente, trabalhar em parceria com outras companhias, enquanto aguardamos novos leilões”, disse. “Teremos flexibilidade para atuar também no offshore.”

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eventos

Programa de internacionalização da Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás

Abrindo as portas para

um novo mundo A rota do mercado internacional para as pequenas e médias empresas brasileiras também vem sendo construída na OTC, que recebeu esse ano uma delegação organizada pelo Programa de Internacionalização da Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás (ProInter P&G).

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ançado em maio de 2009, o proInter tem como objetivo promover a cultura da internacionalização e a inserção competitiva, sustentável e independente das pequenas e médias empresas brasileiras no mercado internacional de petróleo, gás e energia. as ações desenvolvidas pelo proInter vão desde a capacitação técnica a consultorias especializadas em co-

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mércio exterior, passando pela participação em feiras internacionais e a divulgação de oportunidades de negócios. “o público-alvo é abrangente: vai desde o exportador iniciante, novas empresas com potencial para exportação, até empresas com processos descontínuos, desistentes e exportadoras consolidadas”, explicou a gerente de projeto do Servi-

ço Brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae/rJ), Miriam Ferraz. um dos pilares do programa, afirma miriam, é a Inteligência Comercial. “do ponto de vista do mercado, é ela que identifica e seleciona novos mercados, clientes potenciais e estrutura canais de distribuição, identificando tendências de mercado, demanda por novos produtos e a exploração de novos nichos de mercado, dentre outros”, explica. “do ponto de vista da produção, a Inteligência Comercial realiza, por exemplo, ajustes do processo pro-


dutivo às normas técnicas e regulamentos, orientações a programas de qualidade e produtividade e a definição da assistência técnica.” O programa tem como parceiros estratégicos a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), a Agência de Promoções das Exportações (Apex-Brasil), o Programa de Mobilização da Indústria Nacional do Petróleo (Prominp), a Firjan, a Petrobras e o Sebrae. Entre as entidades e ações viabilizadoras do ProInter P&G está o Projeto de Apoio à Inserção Internacional de Pequenas e Médias Empresas Brasileiras (Paiipme), que é financiado pela União Europeia e executado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Hoje com 150 empresas dentro do projeto-piloto iniciado no Sebrae-RJ, o ProInter será estendido para 14 estados. “Em um ano, o ProInter virou um projeto nacional que contou com tão bons resultados em um ano que será estendido, pelo Sebrae, para outros setores da economia”, destacou Fábio de Andrade Braga, diretor adjunto do Centro Internacional de Negócios (CIN) do Sebrae-RJ/Firjan.

Bons resultados Há um ano no ProInter, a Device Automation, empresa da área de automação participou de missões na Argentina e feiras na Alemanha (em Hannover e Essen) e Escócia. “Hoje 95% do nosso mercado é óleo e gás”, comentou Luciano Weber, diretor de Negócios da Device

Automation. “Temos, dentro de nosso plano estratégico, a meta de ser uma empresa de padrão mundial. E entendemos que para crescer no mercado, tanto interno, quanto externo, precisamos alcançar um padrão que atenda qualquer tipo de engenharia no mundo todo. É isso que estamos buscando e o ProInter nos deu condição para tal”, avaliou. “Em um ano já surgiram muitas oportunidades de negócios, parcerias tecnológicas e comercialização bastante interessantes.” Pela primeira vez em uma feira internacional, a P&K Projetos desenvolve engenharia e está buscando parceiros para desenvolver peças e componentes para serem fabricados no Brasil. “Não queremos representações e sim parceiros que criem uma planta industrial no Brasil, com mão de obra brasileira, mas proporcionando um reconhecimento e o acesso ao mercado internacional”, explica Pedro Pino Véliz, CEO da P&K Projetos. Para a P&K, a participação no ProInter tem sido extremam e n t e i m p o rtante. “Somos miniepecistas

atuando nas áreas de petróleo e gás, mineração e construção civil pesada. Nosso principal cliente ainda é a Petrobras. Até então estávamos caminhando sozinhos. Criamos nosso mercado e clientes sem estrutura de suporte que, sem dúvida nenhuma, favoreceria a procura efetiva de mercado para vender serviços. Agora estamos alcançando outros clientes, abrindo novos mercado.” “O programa ampliou o horizonte da empresa, possibilitou uma capacitação de oito meses que possibilitou a revisão de nosso plano de negócios para nivelar a empresa para uma atuação a nível internacional”, destacou Wilsa Atella, diretora da Ambidados. A empresa criada por pesquisadores egressos do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, atualmente está instalada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Coppe/UFRJ e trabalha no setor de monitoramento ambiental. “O ProInter veio em um momento muito oportuno para a Salvaterra”, destaca Tânia Araujo Siberman, diretora da Salvaterra, empresa de engenharia e consultoria para sistema de gestão de SMS e Qualidade, já bem consolidada no mercado nacional, e trabalhando com todas as unidades da Petrobras. “Continuamos atendendo o mercado nacional, mas agora queremos atingir o mercado exterior com um padrão de excelência internacional. O programa abriu novas perspectivas, um novo mundo!” TN Petróleo 71

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eventos

Brasil, sem escalas A OTC deste ano foi marcada pelo anúncio de parcerias estratégicas de grande número de companhias, dos mais diversos setores, interessadas em atuar no Brasil.

mário Andrade, diretor comercial da Alusa; Cesar godoy, diretor da Alusa e michael Thomas, CeO da VMe na ocasião da assinatura do contrato na OTC.

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americana Vme process e a alusa engenharia anunciaram a formação de uma parceria estratégica para a construção de uma fábrica de módulos de processamento no município de Quissamã, rio de Janeiro, para aplicação específica em FpSos e outras unidades flutuantes de produção. Serão investidos cerca de r$ 20 milhões no projeto, que terá um canteiro com 100 mil m² e total acesso, por rio, para balsas e operações de load-in e load-out. Com sede em tyler, texas (eua) e filiais em Cingapura, malásia e Indonésia, a Vme process fornece unidades de processamento para a industria de óleo e gás. “a parceria combina a presença local da alusa com o background tecnológico da Vme”, comentou michael thomas, Ceo da Vme. a alusa engenharia tem contrato para a construção da unidade de hidrocraqueamento (HCC) da carteira de refino do Complexo petroquímico do rio de Janeiro (Comperj). Já está construindo a

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unidade de hidrodessulfurização (HdS) da refinaria Landulpho alves (rLam, na Bahia), a unidade de tratamento de gás Sul Capixaba, a interligação das unidades da carteira de gasolina da refinaria de paulínia (replan, em São paulo) e a casa de força de uma térmica de 200 mW na refinaria do nordeste (rnest), em pernambuco. participa ainda da construção de um estaleiro no porto de Suape (pe), ao lado do estaleiro atlântico Sul. “Já estamos no ramo da refinaria e estaleiros, agora estaremos habilitados para atuar na indústria offshore”, disse Cesar Godoy, diretor da alusa. Fornecedores internacionais de serviços de sísmica, a inglesa Spectrum e a americana Hamilton Group anunciaram parceria para o desenvolvimento de campanha para aquisição de dados 2d multicliente em bacias marítimas na américa do Sul, especialmente no Brasil. “abriremos um escritório no Brasil ainda neste ano”, comentou Claude Thorp, vice-presidente da

atlantis e&p Services, subsidiária do Hamilton Group. “o Brasil possui um número considerável de bacias inexploradas com grande potencial produtivo. a ideia é formar uma equipe de profissionais que combinem o conhecimento das bacias brasileiras e a experiência internacional que temos. o Brasil precisará de muita sísmica nos próximos anos”, destacou. a Spectrum, especializada em sísmica 2d e 3d, conta com escritórios em Londres, Houston, pequim, Cairo, oslo e Cingapura. Com sede em Houston e filial em Lafayette, a expertise do grupo Hamilton é a consultoria para análise de bacias onshore e offshore e a otimização de exploração e produção. outra empresa que anunciou a inauguração de escritório no Brasil foi a texana thrustmaster. Com sede em Houston e especializada no desenvolvimento e fabricação de equipamentos e sistemas de propulsão, a empresa tem escritórios em Cingapura, roterdã e dubai. “o escritório será inaugurado ainda neste ano no rio de Janeiro”, anunciou o presidente da companhia, Joe Bekker. “estamos obviamente interessados nas perspectivas offshore geradas pelo pré-sal e outros projetos da petrobras”, disse, não descartando a possibilidade da instalação de uma unidade para fabricação dos equipamentos no país. “tudo vai depender, obviamente, da demanda de nossos produtos”, disse.


Badalações onshore

Churrasco dos brasileiros, na residência de Rosa e Fernando Frimm.

Mais além do Reliant Center e dos debates offshore, Houston ganha uma programação badalada durante os dias da OTC.

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a realidade, um churrasco bem à brasileira é a grande avant-première da maior feira tecnológica do planeta. Há mais de dez anos, sempre na véspera da abertura do evento, o casal Fernando e Rosa Frimm abre as portas de sua acolhedora residência, no bairro de White Wing Lane, para mais de uma centena de brasileiros e convidados. Patrocinado pela ABS-Rio, a SBM Atlantia e a Oildrive, o churrasco, criado inicialmente para dar as boas-vindas aos brasileiros, hoje tem convite disputado por parceiros de outros países. Na segunda-feira, a Dockwise recebeu clientes e parceiros em uma recepção no luxuoso Hotel ZaZa, enquanto que a Worley Parsons promoveu uma degustação de vinhos no Uptown Park. O tradicional coquetel do Consulado Geral do Canadá em Houston foi realizado no Grand Foyer do sofis-

ticado Wortham Center, que abriga, entre outros, o Houston Ballet e o Grand Opera. De novo no The Museum of Fine Arts, a Petrobras recebeu executivos da estatal no Brasil e na América, além de representantes das principais companhias offshore do mundo para o seu tradicional coquetel de abertura da OTC. A instituição, que tem um rico acervo de artistas plásticos brasileiros, tem o apoio da Petrobras America. Na mesma noite, a Global Industries, juntamente com a Fluor Offshore Solutions, comemorou mais uma participação na OTC no Remington Bar do clássico Hotel St. Regis. Foi também nesse hotel, mas no Grand Ballroom, que a Rolls Royce promoveu o esperado jantar, sob o som de um quarteto de cordas, que executou um diferenciado programa de música erudita. Na mesma noite foram realizados os tradicionais coquetéis da Keppel Offsho-

Renata Baruzzi, Ricardo Ianda, Rogério Mattos, Cristina Pinho, José Sergio Gabrielli durante coquetel oferecido pela Petrobras no Museum of Fine Arts.

Coquetel da Rolls Royce, no Hotel St. Regis.

re & Marine, no Intercontinental Houston, e da UPC Interpipe, no The Westin Oaks. Nesse espaço, a Câmara de Comércio Brasil-Texas promoveu um café da manhã na quarta-feira. E no Reliant Center, à tarde, aconteceu o tão esperado coquetel de confraternização do Pavilhão Brasil, promovido pelo IBP, Onip e Apex-Brasil. TN Petróleo 71

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eventos

Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

21º Congresso Brasileiro do Aço

Siderurgia brasileira pronta para atender a demanda Com a presença de pesos-pesados da indústria, 21º Congresso Brasileiro do Aço confirma sua posição como o maior evento do setor já realizado no país por Cassiano Viana

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indústria está preparada para atender as futuras demandas”, afirmou Flavio Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), na abertura do 21º Congresso Brasileiro do Aço, que reuniu em São Paulo, durante os dias 14 a 16 de abril, os principais representantes do mercado, Governo, fornecedores e clientes para debater as 72

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perspectivas do setor no Brasil e no exterior. De acordo com Flavio, está ‘sobrando’ aço, no que diz respeito à capacidade de produção da indústria siderúrgica brasileira, que é de 42 trilhões de toneladas. “Voltamos a ocupar nosso espaço no setor

internacional”, diz otimista, assegurando que o setor vem se recuperando a passos largos depois do ‘desastre’ de 2009, causado pela crise no final de 2008. Flavio Azevedo, que é também presidente da V&M do Brasil, afirmou que os momentos de crise serviram para a indústria aprender importantes lições e já é possível traçar estimativas positivas para o futuro. A previsão do IABr de


Foto: Cristiano Mariz

produção para este ano é de 33,2 milhões de toneladas de aço, 25,1% a mais do que no ano passado. As previsões relativas às vendas, cujos resultados foram fortemente impactados pela crise de 2008, são de um aumento de 26,2%. E a capacidade de produção prevista para 2016 é de 77 trilhões de toneladas, 45% a mais do que a atual. Nada menos que 800 pessoas participaram da cerimônia de abertura do Congresso, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de executivos do IABr, representantes da prefeitura e do governo do estado de São Paulo e do ministério de Minas e Energia. As palestras foram divididas em quatro painéis: Tendências da siderurgia mundial; Tendências dos grandes setores consumidores; O mercado mundial de semiacabados; e Desafios do crescimento para o Brasil. Durante os três dias do evento, foi realizada simultaneamente a ExpoAço 2010, que recebeu mais de 2.500 visitantes. A feira de negócios, estruturada em uma área de 3 mil m², contou com a participação de 52 empresas produtoras de aço, mineradores, fornecedoras de serviços e inovações tecnológicas para a cadeia produtiva do aço, oriundas de países como Alemanha, Argentina, Chile, França, Índia e Suíça. A ExpoAço também proporcionou encontro inédito com as entidades de classe, como o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas, Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel) e Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib). Reforçando a aproximação e colaboração da cadeia produtiva,

o evento promoveu a reunião de mais de 600 executivos das áreas de siderurgia, distribuição e logística, mineradoras, governo, consultorias, escritórios de advocacia, bancos e instituições financeiras, associações, fornecedores e consumidores de aço. No encerramento do Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os efeitos da crise mundial para a indústria do aço já estão se dissipando, principalmente devido à forte perspectiva de consumo do mercado interno. Em relação ao aumento do preço do minério de ferro, pontuou que não vale a pena especular se esta elevação vai influenciar os índices da inflação. “Temos que avaliar o peso do metal neste custo na linha branca e na indústria automotiva. Manter o controle inflacionário é uma questão de honra para o Brasil”, afirmou.

Bons resultados para 2010 O Instituto Aço Brasil apresentou os resultados do primeiro trimestre da produção nacional. A produção brasileira de aço bruto durante estes meses foi de 8 milhões de toneladas, representando aumento de 59,3% em relação ao mesmo período no ano

passado, e queda de 1,1% quando comparada com o trimestre imediatamente anterior. O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos em março de 2010 foi de 2,4 milhões de toneladas, totalizando 6,3 milhões de toneladas no primeiro trimestre deste ano. Esses valores representaram elevação de 77,6% e 73%, respectivamente, em relação a igual período do ano anterior. Os bons resultados do primeiro trimestre confirmam a visão otimista da indústria brasileira do aço, ainda em recuperação depois da crise econômica internacional. De janeiro a março deste ano, 5 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos foram vendidas no mercado interno. Quando comparado com os três últimos meses de 2009, o aumento é de 2,9%. Na comparação com o mesmo período de 2009, registra-se elevação de 62%. Estes resultados demonstram o acerto das ações do Governo para estimular a retomada do crescimento e equacionar problemas de tributação, logística, burocracia e outros. “PIB, consumo de aço e desenvolvimento econômico são indissociáveis. Estamos com consumo per capita estagnado há 26 anos. Precisamos crescer ”, afirmou o presidente da diretoria executiva do IABr, Marco Polo de Mello Lopes. As exportações de produtos TN Petróleo 71

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eventos

siderúrgicos do primeiro trimestre deste ano atingiram 2 milhões de toneladas, no valor de 1,2 bilhão de dólares. a previsão para 2010 é exportar 11 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos. “dentre as preocupações do setor destaca-se a queda nas exportações e as crescentes importações de bens fabricados por alguns segmentos intensivos em aço”, disse Flavio azevedo. “É um quadro que requer atenção e está associado às taxas de câmbio e, em parte, às assimetrias nas condições de concorrência com empresas internacionais”, afirmou. Segundo ele, o crescimento sustentado fará o país ultrapassar a barreira dos cerca de 100 kg/hab/ano de consumo per capita rumo aos 300 a 400 kg per capita que caracterizam as economias desenvolvidas. André Bier Gerdau Johannpeter (Gerdau), presidente do conselho diretor do IaBr, reforçou que

a indústria brasileira do aço está preparada para atender aos desafios do crescimento econômico. “o Brasil tem capacidade de produzir, hoje, 42 milhões de toneladas de aço bruto, às quais serão acrescidas, ainda este ano, mais 6 milhões de toneladas, devido ao início de operação de novas usinas. nossa capacidade atual supera em cerca de 100% a demanda interna prevista para este ano e possibilita ao setor manter elevada posição exportadora. ainda assim, vamos continuar investindo”, concluiu. os projetos de expansão previstos para o setor compreendem r$ 71,6 bilhões, que devem elevar a capacidade de produção de aço no Brasil para cerca de 77 milhões de toneladas em 2016. a retomada dos projetos de ex-

foto: Cristiano mariz

Demanda para o setor de óleo e gás

O PresiDeNTe DA PeTrOBrAs, José sérgio Gabrielli de Azevedo, participou do painel ‘Tendências dos grandes setores consumidores – projetos especiais’. e apontou que os projetos atuais da estatal, sem incluir o desenvolvimento da cama74

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da pré-sal, vão demandar 4 milhões de toneladas de aço até 2015, na forma de cascos de navio, plataformas, sondas, tubos e equipamentos. essa demanda representa mais de um terço da produção brasileira de aços planos nos 12 meses até

pansão demonstra a confiança da indústria do aço no crescimento sustentável do país e reafirma sua disposição de continuar abastecendo plenamente o mercado interno e ampliar sua participação nos mercados internacionais.

Cenário favorável “a indústria do aço tem um futuro brilhante no Brasil”, afirmou Lakshmi Mittal, Ceo da arcelormittal, durante sua apresentação no primeiro painel do Congresso. de acordo com o executivo, os investimentos planejados para o Brasil nos próximos anos, em toda a cadeia, variam de r$ 20 a 30 bilhões. para mittal, os países em desenvolvimento têm se recuperado com velocidade maior do que os

fevereiro, de 13,2 milhões de toneladas, conforme dados exibidos na ocasião. “isso vai exigir investimentos para adequação (da indústria siderúrgica) para tipos especiais de aços”, afirmou Gabrielli, durante o Congresso Brasileiro do Aço. somente em tubos para condução, os ativos atuais da Petrobras exigirão 911,94 mil toneladas de aços carbono, inox e ligas, no maior volume da previsão de demanda da estatal. Plataformas consumirão 832 mil toneladas; cascos de navios, mais 656,85 mil toneladas. Gabrielli comentou ainda que em 2009 os equipamentos contratados pela Petrobras tiveram um índice de conteúdo nacional de 75%, acima das metas da empresa, o “que significa que a indústria nacional respondeu mais rápido do que pedimos”. em 2003, o índice foi de 57%.


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desenvolvidos: segundo ele, atualmente dois terços da demanda global de aço vêm dos países em desenvolvimento. “Por isso investimos neles”, disse. A gigante mundial do aço pretende atingir 75% de autossuficiência em produção de minério até 2015, produzindo 100 milhões de toneladas. “O maior desafio do setor ainda é o alto custo do minério”, disse. “O plano da empresa para o Brasil é expandir a produção de minério, ao mesmo tempo que duplicará a unidade de aço de Monlevade (MG) e a Usina de Tubarão”, afirmou. Apesar de acreditar no enorme potencial do país no mercado, o CEO da ArcelorMittal afirmou que está atento a alguns pontos da economia brasileira, especialmente a inflação, taxa de câmbio, competitividade e custo dos investimentos. Ante a mudança estrutural que o setor vem sofrendo com a aplicação dos reajustes trimestrais para o minério de ferro, Mittal afirmou que ainda é cedo para avaliar, pois as vantagens e desvantagens para cada lado tendem a ser cíclicas. “Hoje nossos fornecedores sorriem, pois o preço cresce. Não sabemos como será o próximo ciclo.”

Brasil e China O painel de abertura do Congresso teve como foco os impactos da China nas tendências da siderurgia mundial. Na ocasião, o diretor geral do WorldSteel Association, Ian Christmas, destacou a liderança da indústria de aço do Brasil em duas áreas: segurança no trabalho e adoção de tecnologias de sequestro de carbono. Sua previsão com relação à China é de que, nos próximos anos, haverá mudanças estruturais importantes e muitas empresas surgirão no mercado. “Entretanto, o país não chegará a 76

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Foto: Cortesia AcelorMittal

eventos

ser, no curto prazo, um exportador de aço importante. É mais provável que ele seja investidor e parceiro na Ásia e na África”, ponderou. O professor especializado em economia chinesa da University of California, Barry Naughton, afirmou acreditar que o crescimento exagerado da economia chinesa tenha criado uma bolha dentro de uma estratégia desequilibrada, e que há motivos para preocupação. “Vejo três principais problemas gerais na China, que impedem um crescimento sustentável no médio e longo prazo: estagnação da reforma institucional, desequilíbrio doméstico e pressão para a valorização da moeda”, avaliou. Já o diretor da Brookings-Tsinghua Center, Geng Xiao, afirmou que o modelo adotado pelo governo da China tem se mostrado eficiente e apontou os segredos do crescimento chinês. “A estabilidade política e a competência do governo foram fundamentais para esse crescimento, assim como a privatização de 80% das empresas, principalmente as de médio e pequeno porte, e a abertura do mercado em diversos setores (excetuando o do aço, em que o governo detém 78% das indústrias, e o da comunicação, por exemplo)”. Ele salientou ainda que o modelo chi-

nês de crescimento depende muito do aço, utilizado na urbanização das cidades, tanto na construção de estradas como em arranha-céus para a moradia da população de baixa renda. Dados comparativos entre Brasil e China foram a base do discurso do diretor da Accenture, John Lichtenstein, que destacou a ambição chinesa em ser líder do mercado de aço e de tornar suas empresas globais, com investimentos pesados em tecnologia, por meio de pesquisa e desenvolvimento. “As indústrias aqui são estáveis, o mercado doméstico tende a crescer, mas a tributação ainda é uma enorme barreira para os investimentos estrangeiros, assim como a falta de recursos destinados à educação.”

Competitividade é fundamental Durante o painel ‘Economia mundial/Desafios do crescimento para o Brasil’, o economista e exministro da Fazenda Delfim Neto destacou que a maior divergência do Brasil em relação à China é o setor público brasileiro, que nunca se ajustou à nova realidade, e apontou alguns tópicos essenciais para o desenvolvimento econômico nacional, como a taxa de câmbio competitiva e estável, a taxa real de juros parecida com a dos competi-


siderurgia brasileira: pronta para atender a demanda

dores e um Estado amigável com relação ao setor privado. “Crescer 5% é perfeitamente possível. Não precisamos mais do que isso e nem imitar a China”, afirmou ele. O também economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega enfatizou os pontos fortes do Brasil dentro do cenário mundial: sistema financeiro sólido, estabilidade macroeconômica e menor vulnerabilidade a crises externas. Na comparação com países como Coreia e China, alerta que “o Brasil não deve buscar seu desenvolvimento com base nesses países, já que não temos as mesmas condições deles. Não possuímos a política industrial coreana nem a política cambial chinesa.” Para ele, o objetivo agora deve ser o aumento da produtividade, com reformas essenciais, atraindo capitais privados para a infraestrutura e melhorando a educação. “O Brasil tem um longo caminho,

mas, sob o manto das instituições e da capacidade empresarial, não há dúvida de que o país tem uma enorme possibilidade de aproveitar o cenário mundial pós-crise.” A importância da competitividade no mercado global como algo determinante para o desempenho do Brasil nos próximos anos também foi

Vila do Aço

destacada por Armando Monteiro, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que acredita ser fundamental para isso a união entre o setor governamental e o privado. “Temos que lidar com duas agendas simultaneamente para aumentar a produtividade. Uma é a questão do sistema tributário, da infraestrutura e da logística; outra é a do desenvolvimento de competência, investindo na educação e na inovação”, afirmou.

O espaço foi uma das principais atrações do Congresso Brasileiro do Aço, no qual visitantes e congressistas puderam conhecer uma área de 1.400 m² destinada a apresentar a aplicação do aço em casas, prédios, equipamentos urbanos, sistema drywall, engradamento metálico, esquadrias, coberturas e passarela, ou seja, opções arquitetônicas em aço em tamanho real. A mostra foi atraente sobretudo para empreendedores, construtores, engenheiros e arquitetos, bem como estudantes da área, que poderão conhecer melhor as opções em aço para construção.


perfil profissional

Kenhitiro Kurihara

Sensei

Kurihara por Cassiano Viana

Um mestre da indústria naval, Kenhitiro Kurihara consagrase como um dos grandes nomes deste setor, destacandose tanto na área offshore, quando participou da construção do primeiro FPSO, como no desenvolvimento de grandes navios de carga. “Não sou japonês nem brasileiro: sou paulista”, brinca Kenhitiro Kurihara, logo no início da entrevista. Filho de japoneses, natural de Pirituba (SP), da terceira geração de imigrantes (sansei, portanto) que chegaram ao Brasil no início do século passado, Kurihara vem de uma família de avicultores, sendo o único homem entre os quatro filhos. “Meu pai chegou ao Brasil com 11 anos, sempre trabalhou na roça. Mas a avicultura não desenhava lá um grande futuro profissional”, recorda. “O negócio era estudar. Minha mãe dizia: ‘Você precisa estudar. Passar a vida inteira trabalhando na roça é muito duro!’”. Incentivado pelos pais, esse paulista sem ambições acabou seguindo os passos de um tio, formado em engenharia civil, desviandose para uma área que não conhecia: a engenharia naval. “Meu objetivo inicial era fazer engenharia elétrica, depois engenharia civil. Por sorte, descobri a engenharia naval e entrei na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)”, lembra. “Afinal, se era para fazer barragem, água por água, o mar é maior”, brinca novamente. Aos 62 anos, e com um currículo que reflete uma parte da própria história da engenharia naval brasileira, Kurihara lembra uma trajetória que culminou na criação da Kromav, empresa especializada na execução de projetos para as áreas naval e offshore, consagrando-se como um dos grandes nomes da engenharia naval brasileira. Pai de um casal de engenheiros – a filha, da área civil, e o filho, engenheiro mecânico –, Kurihara vivenciou a evolução dessa indústria, que passou por altos e baixos nos últimos 40 anos, tendo participado da construção da primeira plataforma autoelevável no Brasil, do maior graneleiro de minério do mundo e do primeiro FPSO (Floating Production Storage and Offloading) no país. 78

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A caminho do Rio – Kenhitiro Kurihara entrou no mercado nos anos 1970, no auge da construção naval no Brasil. “Concluí meu curso em 1974, na primeira turma de alunos decididos a se formar em engenharia naval.” Antes, explica, eram os engenheiros elétricos e mecânicos que faziam engenharia naval, por falta de opção. “Dos quase 40 alunos da turma original, pelo menos 20 trabalharam no setor”, orgulha-se. “Um milagre naquela época.” Kenhitiro teve a oportunidade de passar três anos no Japão, de 1975 a 1978, na Universidade de Hiroshima, na qual concluiu o mestrado sobre fadiga de materiais. De volta a São Paulo, passaram-se apenas três meses antes de vir para o Rio de Janeiro, a convite do professor Toshi-ichi Tachibana, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT/USP). Outra lenda viva da engenharia brasileira, foi Tachibana quem o incentivou a estagiar e estudar no Japão e, em 1979, convidou-o, no regresso ao Brasil, a integrar a Ishitec, escritório de projeto básico do Grupo Ishibras, que desenvolvia atividades na área de estruturas. “Eu tinha um pouco de receio de vir para o Rio. Estava procurando alguma coisa em São Paulo. Mas havia estudado oito anos na área naval e queria trabalhar no ramo, aplicando os meus conhecimentos. Então acabei vindo para o Rio, aos 32 anos. Foi um desses acertos da vida”, avalia. Grandes mestres – Em 1984, transferido definitivamente para o Estaleiro Ishibras, Kurihara chegou a líder de grupo e chefe de Seção de Estrutura e Arquitetura Naval do Departamento

do Projeto Naval. “Foi uma fase muito boa, de grandes desafios. Na Ishitec eu mexia em papéis, fazia projetos. Ali, no estaleiro, eu via o que tínhamos projetado tomando forma, via a realidade sendo construída. Foi muito gratificante.” Com a criação da Indústria Verolme-Ishibras (IVI), em 1994, fruto da fusão dos estaleiros Ishibras, Verolme e Emaq, passou a responder como chefe do Departamento do Projeto Naval do Estaleiro Ishibras, permane-

cendo naquela empresa até o encerramento de suas atividades industriais, em 1996. Foi nesse momento que ele, juntamente com os chefes do Projeto Naval do Ishibras, fundou a Kromav Engenharia, especializada na execução de projetos para as áreas naval e offshore. E é lá que vem trabalhando na retomada da indústria naval até hoje. “Esse foi o meu período de encontro com grandes mestres”, lembra Kurihara, citando Tadayoshi Fujimoto, já falecido. “Foi o meu primeiro chefe. Era um dos melhores projetistas estruturais da construção naval. Ele foi fundamental para a minha formação: apesar de não ter cursado a universidade, tinha uma memória fantástica de estruturas, desenho e cálculo.”

Ele cita ainda o italiano Píer Luigi Balestrino, fiscal da ABS. “Junto com Fujimoto, nós discutíamos vários projetos. E dessas discussões nasceram ótimos detalhes estruturais”, revela. “Sem falar no Lionan Quintanilha, que está aqui na Kromav, junto comigo”, comenta. “É um dos melhores projetistas de máquinas que eu conheço.” Projetos memoráveis – Em mais de 30 anos de experiência no setor, Kurihara participou de vários projetos emblemáticos no país, tais como a construção, no início dos anos 1980 (1980 a 1983), da P-10, primeira plataforma autoelevável no Brasil, uma das unidades de perfuração da Petrobras. É deste período, também, o maior graneleiro de minério do mundo na época, de 310 mil DWT (deadweight tonnage, tonelagem de peso morto). Ele lembra ainda a construção no Brasil, de 1990 a 1994, do primeiro petroleiro de costado e fundo duplo para a Chevron. Logo depois, entre 1994 e 1995, participaria da construção do primeiro FSO (Floating Storage and Offloading) no Brasil, para a Hamilton Oil, e da transformação (de 1994 a 1997) do primeiro FPSO no Brasil, para a Petrobras: o P-34, que já passou por Roncador, na Bacia de Campos, e hoje está na Bacia do Espírito Santo, com o nome de FPSO Juscelino Kubitschek, tendo produzido o primeiro óleo do pré-sal no campo de Jubarte, ao norte da mesma bacia. Já à frente da Kromav, participou, entre 2005 e 2009, da concepção da P-57, da segunda fase de Jubarte, e da concepção e desenvolvimento do projeto básico da plataforma marítima MonoBR. Um projeto conjunto, TN Petróleo 71

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perfil profissional

desenvolvido pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) em colaboração com pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), do IPT e da Marinha brasileira. O engenheiro destaca como marco profissional a construção do minero-graneleiro. “Este foi um projeto que me ensinou muita coisa. Não usávamos aço comum, não tínhamos muita variedade e se tratava de uma concorrência internacional, com um contrato de prazos apertados, utilização de aço de altas tensões e não tínhamos nem ao menos lugar apropriado para fazer os testes de velocidade”, recorda. “Foi um desafio e um aprendizado.” Mas em matéria de prazo recorde, o projeto mais complicado foi o da construção do FSO para a Hamilton Oil, no início da década de 1990. “Passamos – eu e mais 15 pessoas – mais de seis meses no Japão, para acompanhar o projeto de construção.” A era offshore – “Quando comecei, na década de 1970, ninguém falava em petróleo, no que diz respeito a obras navais. Pouco tempo depois, em 90, falava-se que o petróleo ia acabar em 20 anos. Agora, temos mais 40 anos,

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prazo que vai aumentando com as novas descobertas de petróleo”, pontua. “Do final dos 90 ao início dos 2000, imaginávamos fazer muita coisa na área naval, mas trabalhamos muito mesmo na área offshore”, conta. “A dinâmica do setor offshore é outra, de mais contratos e prazos mais rápidos”, diz Kenhitiro Kurihara, afirmando que sobreviver com construção naval hoje é algo complicado, pois a concorrência internacional é muito forte. Depois de respirar engenharia naval por quatro décadas, Kurihara não fala em aposentadoria, mas já pensa em desacelerar. “Tenho aí mais uns três, quatro anos full time, mas, depois, quero reduzir o meu ritmo. Mas pretendo continuar na área por mais alguns anos”, avisa. Afinal, está cuidando daquilo que criou com alguns parceiros: o Kromav. “Começamos com 20

pessoas e hoje temos 130 profissionais. Espero que a partir de 2010, 2011, venha uma nova fase, e possamos duplicar esse número, conquistando novos projetos tanto no setor naval quanto offshore.” Com tanta disposição e amor ao trabalho, o engenheiro confessa que passa muito mais tempo com os amigos do setor do que com a família. “Temos também um grupo, no clube de tradições japonesas, que toda quarta-feira à noite se dedica ao majongue, jogo de mesa de origem chinesa”, conta. “É sagrado! Não me convidem para nada nesse dia e horário”, sorri. Algo que poucos sabem é que Kenhitiro foi vice-campeão brasileiro peso pena de judô. “Sempre foi uma de minhas grandes paixões. Aproveitei bem o tempo no Japão para treinar, me aperfeiçoar no esporte. Mas já tinha passado essa minha fase. Não era o que eu queria. Eu precisava trabalhar”, pondera. Ele observa que o judô evita o confronto, não é apenas uma luta, mas uma filosofia, um sentido a ser seguido; que prega sobretudo a disciplina, a concentração, a passividade, a defesa dos fracos e o equilíbrio entre corpo e alma. “A palavra em si quer dizer suavidade. Esse é o princípio que rege a minha vida”, finaliza.


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Ano 2 • nº 9 • maio de 2010 • www.tnsustentavel.com.br

Editorial

Tecnologia & Negócios para o bem (sempre)

A tecnologia mobiliza pessoas e organizações, melhora processos, encurta distâncias, diminui riscos e impactos; inclui e respeita, amplia o poder e a eficiência da comunicação; gera entendimento e transparência; provoca transformações e cria novas oportunidades de negócios. Esta é a tecnologia que precisa e deve ser incentivada e divulgada. Fiel a esse compromisso com a informação, a presente edição traz alguns exemplos de tecnologias e iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sustentável e para uma reflexão maior sobre esse tema.

É o caso da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, que debateu soluções criativas para a questão da mobilidade urbana, aquela que impacta a qualidade de vida das pessoas. Santa Catarina nos dá um belo exemplo, com a construção do primeiro empreendimento imobiliário com energia dos ventos no Brasil. Temos ainda a pesquisa que comprova a eficácia da produção de álcool a partir dos açúcares do rejeito da mandioca. Os desafios nessa área foram abordados no 3º Fórum Capixaba de Energia, que sinalizou a expectativa de o estado do Espírito Santo tornar-se exportador de energia até 2013. Ganhou destaque, ainda, a Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), considerada um marco regulatório no enfrentamento dos desafios climáticos e que dará respaldo a importantes ações ambientais. Todas elas notícias que refletem um pouco da diversidade das ações necessárias para não perdermos de vista a construção de um desenvolvimento sustentável. Lia Medeiros Diretora do Núcleo de Sustentabilidade da TN Petróleo

Sumário

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Celeiro de ideias

Energia eólica em condomínio

SMS deve ser prioridade

Conferência Internacional de Cidades Inovadoras

10ª Conferência Mundial de Segurança, Meio Ambiente, Saúde (SMS)

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Fotos: Banco de Imagens TN Petróleo

suplemento especial

Celeiro de ideias

Conferência Internacional de Cidades Inovadoras mostra soluções simples e criativas para os problemas urbanos Texto e fotos: Rodrigo Miguez

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ransporte público, mobilidade urbana, reciclagem de lixo. Esses foram alguns temas abordados na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (Cici 2010), que aconteceu entre 10 e 13 de março, na cidade de Curitiba (PR). O evento foi uma oportunidade para autoridades mundiais discutirem e compartilharem soluções inovadoras para 84

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uma melhor administração das grandes cidades, que com o passar dos anos se transformaram em um verdadeiro caos. A abertura do evento contou com a participação do prefeito de Curitiba, Beto Richa, do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, dos vice-prefeitos de Londres e Lyon, Richard Barnes

e Jean Michel Daclin, do ex-prefeito de Austin, Will Wynn, entre outros. Junto com a Cici 2010 aconteceu a Conferência Internacional de Redes Sociais (Cirs) que discutiu o papel das redes sociais no mundo atual, movido pela internet. A presença mais esperada pelos participantes da Conferência foi de Pierre Lévy. Filósofo, escritor


e professor do Departamento de Comunicação na Universidade de Ottawa, no Canadá e da Universidade Paris VIII, Lévy estuda o conceito de inteligência coletiva e sociedades baseadas no conhecimento, além de ser um pensador internacionalmente reconhecido no campo da cibercultura. Durante o evento os visitantes atuaram ativamente nos painéis e nas palestras, dando suas opiniões e trocando ideias através do Twitter. Para o presidente da Fiep, a comunidade empresarial é fundamental para o desenvolvimento das cidades. “Os empresários têm que ser os protagonistas do desenvolvimento”, afirmou. Em uma das palestras mais disputadas do evento, Jaime Lerner, urbanista e ex-prefeito da cidade paranaense, deu seu depoimento na palestra ‘Cidades não são problemas. Cidades são soluções’ para um auditório lotado. Ele mostrou como pode ser fácil desenvolver projetos que melhorem a qualidade de vida de uma cidade e como fazê-la se integrar e ter utilidade aos moradores de forma sustentável em todos os dias da semana. “Qualquer cidade no mundo pode melhorar sua qualidade de vida em três anos”, garantiu, comparando uma cidade ao casco de uma tartaruga, que possui um desenho com vários traços interligados.

Mobilidade urbana Jaime Lerner falou sobre seu principal projeto, o sistema de ônibus de Curitiba, com pistas exclusivas para os BRTs (Bus Rapid Transport) e estações de parada, chamadas de tubo. No começo, o projeto era tímido, com

25 mil usuários e hoje transporta cerca de dois milhões de pessoas, o mesmo que os sistemas de metrô e trem do Rio de Janeiro juntos. O projeto fez tanto sucesso que já foi copiado por várias cidades pelo mundo. Para ele, a integração é a solução para o setor de transportes. “O segredo da mobilidade urbana é a integração entre todos os transportes”, afirmou. Hoje, toda a frota

dos ônibus de Curitiba usa biocombustível, contribuindo para o meio ambiente e a sustentabilidade. O urbanista implantou na urbe diversos parques homenageando as origens dos moradores, como o Japão e a Ucrânia, como forma sustentável de ocupação do espaço urbano. E completou seu depoimento dizendo que para uma cidade alcançar a sustentabilidade iluminação pública de R$ 25 que é cobrada dos moradores. Sensibilizada com o problema, ela criou um sistema de iluminação pública a partir de placas solares nos postes de luz. Segundo ela, o custo de cada um, se fossem adquiridos pela prefeitura cerca de quatro mil placas, seria de R$ 80 por placa. Isadora mostrou o projeto para os políticos locais, mas o mesmo está parado. “Com o projeto, a população ficaria livre dessa taxa e a cidade economizaria na conta de energia elétrica, pois gastaria menos, utilizando a energia solar”, afirmou Isadora, que está buscando apoio para que seu trabalho se torne realidade.

Estímulo à inovação Além das palestras e painéis, a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras promoveu a mostra ‘Inova’, idealizada nas unidades do Sesi/Senai no estado do Paraná. Os projetos criados por alunos e professores têm como foco mostrar empreendimentos inovadores e sustentáveis para melhorar de alguma forma a qualidade de vida nas cidades em que residem. A aluna Isadora Rebolho, do Sesi de Carambeí, cidade de cerca de 20 mil habitantes, desenvolveu um projeto para reduzir o ônus para a população do elevado custo da taxa

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suplemento especial

mil em 350 pontos espalhados por Lyon, em geral próximos a estações de metrô ou ônibus para incentivar a integração entre os meios de transporte. Os veículos ficam travados e são liberados mediante pagamento com cartão de crédito. Existe também um sistema de assinatura que conta com cerca de 50 mil pessoas, que pagam 15 euros por ano.

Curitiba 2030 Durante a Cici 2010, foi lançado o projeto Curitiba 2030, resultado do programa do Sistema Fiep Cidades Inovadoras e desenvolvido em parceria a Fundação Opti (Observatório de Prospectiva Tecnológica Industrial da Espanha). O projeto apresenta propostas para melhorar ainda mais a infraestrutura e a qualidade de vida de Curitiba nos próximos 20 anos. As bases estruturantes do projeto estão na educação, sustentabilidade, tecnologia e cidadania plena, que servirão como foco para a transformação da capital paranaense, desenvolvendo e aperfeiçoando ações já existentes como o transporte multimodal eficiente e sustentável. Também estão incluídas nessas ações a gestão pública transparente e serviços públicos de excelência. “É uma proposta para ser discutida nos bairros, nas fábricas, escolas, universidades e por lideranças de todos os setores”, afirmou o presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures. O programa inicialmente está focado na cidade de Curitiba, mas depois, será replicado para outras cidades paranaenses que quiserem se tornar inovadoras. As principais propostas do Curitiba 2030 são: elaborar uma visão de futuro para as cidades, identificar oportunidades, mobilizar e comprometer os cidadãos com o futuro da cidade e situá-la entre as mais inovadoras do mundo. 86

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de, basta saber poupar recursos: “Inovação é cortar gastos.” No painel ‘Experiências Notáveis de Inovações em Planejamento Urbano, Gestão de Políticas e Programas Inovadores’ o vice-prefeito para Assuntos Internacionais da cidade francesa de Lyon, Jean Michel Daclin, mostrou que com soluções simples aliadas a vontade política é possível fazer melhorias na vida urbana das cidades. Ele apresentou o projeto do Vélo’v, sistema de aluguel de bicicletas da cidade, pensado no intuito de incentivar a população a deixar o carro em casa e utilizar os transportes públicos disponíveis, como metrô, ônibus e bondes elétricos. A mudança na cultura do automóvel foi o primeiro passo que os governantes tiveram que dar rumo ao desenvolvimento sustentável da cidade. Segundo Jean Michel, a população tinha aquele vislumbre de possuir um carro, que significava status, mas aos poucos os moradores foram aderindo à novidade. “Nossa proposta foi tirar os motoristas dos carros e colocá-los nas bicicletas, e estamos tendo sucesso”, disse Jean Michel. Ele lembrou que a medida também tem caráter ambiental, já que deixaram de ser despejados na atmosfera cerca de duas toneladas de CO2. O Vélo’v começou com duas mil bicicletas, e hoje possui quatro

Sustentabilidade e o futuro As cidades que assumem o compromisso de ser inovadoras devem sempre pensar em utilizar ações de sustentabilidade nos seus projetos. O grande mote da inovação está nas ideias aplicadas para o benefício de todos. A participação conjunta do poder público, com a sociedade e o setor privado, é fundamental para o sucesso desses projetos que serão um modelo de futuro para as cidades. A organização do espaço urbano é essencial para o desenvolvimento sustentável das localidades. Projetos de cunho social não parecem, mas são muito importantes para que se alcance esses objetivos. A adaptação das cidades passa, sim, pelo aumento da distribuição de renda, acesso a serviços e moradia adequada. O aproveitamento do espaço vazio nas cidades com a construção de parques ajuda no aumento da área verde, o que diminui a temperatura, melhora o visual urbanístico do local, além de reduzir as emissões de CO2 na atmosfera. A Conferência Internacional de Cidades Inovadoras ficará marcada como um grande encontro, no qual foram compartilhadas experiências bem sucedidas em cidades que estão sempre um passo à frente das outras, mostrando, assim, que para realizar grandes mudanças, basta a união de interesses da sociedade com o poder público.


Redes sociais

Os vários notebooks, netbooks e iphones que circulavam pelos painéis na Fiep eram um sinal de que aquele era um evento diferente e que o público gostou da proposta inovadora de juntar as redes sociais com as palestras. As Twittadas não paravam um só minuto de aparecer nos telões dos auditórios – e estes também podiam ser vistos no hall de entrada do evento.

No Encontro de Twit teiros Culturais do Brasil, dentro da Cirs, essa participação foi mais que bem-vinda, já que a ideia foi exatamente discutir o uso, bom ou ruim, do twitter. Participaram do encontro Fernanda Mosardo, José Luiz Goldfarb, Júlia Ramalho Pinto e Ricardo Costa. O encontro serviu para expor e discutir como o microblog pode ser usado como importante ferramenta de divulgação de conteúdo inteligente para milhares de pessoas ao mesmo tempo, além de debater a utilidade desta nova forma de divulgação de informação na rede mundial de computadores. José Luiz Goldfarb lembrou que o twitter pode servir como uma rede social de divulgação da cultura e de ações solidárias. “No natal do ano passado fizemos uma campanha via twitter com o apoio de

uma rede de farmácias e arrecadamos 150 mil livros que foram destinados às escolas de cada bairro no qual há lojas da rede”, afirmou. Essa força das redes sociais foi amplamente discutida no debate, sobretudo quando o foco foi em relação às empresas que, hoje,precisam repensar como lidar com os clientes que agora têm um forte poder nas mãos, podendo espalhar em um segundo para todos os seus seguidores algum serviço mal prestado, arranhando sua imagem. A política também foi lembrada, já que este ano temos eleições e a internet será amplamente usada pelos candidatos. Porém, o mau uso das redes sociais pode jogar contra os políticos. O prefeito de Bauru, Rodrigo Agustinho – presente no encontro – disse que está em praticamente todas as redes sociais.

Ele afirmou também que a internet não foi muito útil durante a campanha eleitoral. “Numa cidade como a nossa, o eleitor quer ver o candidato pessoalmente.” O sociólogo Pierre Lévy, durante sua palestra, assegurou que a chegada da internet levou os governos de todo o mundo a serem mais transparentes com a população, com a divulgação de dados como gastos públicos, para que todos possam conferir como estão sendo geridos os recursos do Estado. Essa nova forma de governar é chamada de ‘e-governo’. “É cada vez mais comum os políticos, inclusive presidentes, divulgarem o que estão fazendo. É uma interação maior com a população”, disse Lévy, que lembrou que a internet foi muito importante na mobilização e na vitória do então candidato e hoje presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

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Energia eólica em condomínio

foto: Divulgação

suplemento especial

Santa Catarina tem o primeiro empreendimento imobiliário com energia dos ventos no Brasil por rodrigo miguez

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ocalizado no bairro novo Campeche em Florianópolis (SC), o condomínio residencial neo foi concebido para ser o primeiro empreendimento com produção de energia eólica no Brasil, dentro de um conceito inédito de sustentabilidade batizado de Next Generation. o projeto prevê a instalação de duas turbinas de vento – uma em cada torre residencial – para o aquecimento da água consumida pelos 24 apartamentos do condomínio. diferentemente das turbinas eólicas de grande porte espalhadas pelo mundo, o equipamento da Helix Wind, escolhido para o empreendimento, possui dimensões reduzidas e se destaca pelo design vertical de alta tecnologia e com forte apelo estético. desenvolvida nos estados unidos e trazida para o Brasil pelo arquiteto e urbanista paulista Ja-

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ques Suchodolski, a turbina utiliza um moderno sistema de captação vertical, em turbinas que medem 1,20 m de diâmetro e 6 m de altura, e são capazes de gerar cerca de 5 kilowatts cada, de maneira silenciosa e segura, o que é uma configuração ideal para a instalação em casas e edifícios. Com a energia do vento e a captação complementar da energia do sol através de painéis solares, as coberturas das duas torres baixas que integram o projeto residencial passam a se constituir em eficientes fontes de energia limpa, sustentável e com emissão zero de carbono. além disso, o empreendimento adotou um sistema de tratamento de efluentes que promove a reutilização da água consumida, para uso nos jardins e áreas comuns e o uso inteligente dos sanitários, o que possibilita a redução de 50% no consumo de

água de todo o condomínio. a energia produzida em forma de água quente será armazenada em reservatórios nas torres das caixas d’água. dedicado a integrar soluções tecnológicas na indústria da construção civil, Jaques – radicado em Florianópolis há cerca de dois anos – procurou desenvolver um projeto que pudesse refletir estes valores de forma decisiva na cultura construtiva da cidade: “o condomínio não irá utilizar nenhum combustível fóssil e o custo de aquecimento d’água será próximo de zero”, ressalta. Com lançamento oficial em março de 2010 e a conclusão das obras previstas para o verão de 2012, o neo promete se tornar o propulsor de uma série de empreendimentos imobiliários que utilizarão energia eólica no Brasil, dentro do conceito next Generation.


Mandioca também gera bioetanol Universidade paraense desenvolve pesquisas para novo combustível

Feiras e Congressos

Junho

7 – Brasil Prêmio Fiesp de Mérito Ambiental Local: São Paulo Tel.:(55 11) 3549-4675 Fax: (55 11) 3549-4237 www.fiesp.com.br/meritoambiental cdma@fiesp.org.br

Foto: Divulgação

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m grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (Ufpa) mostra com seus estudos a eficácia da produção de álcool a partir dos açúcares obtidos do rejeito da mandioca. Trabalhando neste tema desde 2007, os pesquisadores, coordenados pelo professor Alberdan Silva Santos, constataram que as primeiras enzimas estudadas apresentaram potencial de resistência térmica, podendo ser uma alternativa para as que estão no mercado. Agora, investigações mais aprofundadas estão sendo realizadas para caracterizar essas enzimas. De acordo com o professor Alberdan, o projeto, que conta com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa), busca a produção do bioetanol de mandioca para diversas aplicações, não necessariamente a fabricação de biocombustível. “O álcool que estamos produzindo poderá ser direcionado para a indústria de biocombustíveis, ou para a indústria de cosméticos”, explica. “Nossa proposta é promover a educação ambiental, melhorar a qualidade da indústria de farinha de fécula de mandioca e minimizar o impacto ambiental nas zonas ribeirinhas próximas das unidades de produção de farinha no

O professor Alberdan Silva Santos (centro) e sua equipe estado do Pará. O grande volume de rejeito da mandioca é um problema ambiental para as margens dos rios e para a qualidade da farinha paraense. Por isso, buscamos organizar as coletas dos resíduos e encontrar alternativas de uso para os mesmos”, ressalta o mestre. Embora o Pará seja o maior estado produtor de mandioca do país, respondendo por um quinto (20,3%) da produção nacional, o projeto da Ufpa não tem como objetivo competir com o etanol da cana-de-açúcar. Visa-se em primeira instância a criação de alternativas energéticas, as quais estejam comprometidas com a melhora na qualidade de vida da população local. “Nossa intenção não é criar competição, até porque isto seria impossível. A

ideia é, no futuro, promover a organização de um grupo de pequenos produtores, viabilizando a coleta do rejeito, seguido de seu transporte, logística e disponibilização em um único ponto. Esse processo demanda treinamento e educação ambiental dos produtores, o que irá incluir profissionais de diversas áreas, como educação, meio ambiente, antropologia, sociologia, entre outras. Se este projeto se estabelecer e nós conseguirmos dar continuidade obtendo os resultados que queremos, não tenho dúvidas que será um marco no estado do Pará e um ganho incomensurável para toda a população ribeirinha, além de se poder estender para outros estados do Brasil”, conclui o professor Alberdan.

10 a 11 – Brasil Perspectivas do Brasil frente aos desafios da Sustentabilidade Local: Piracicaba, SP Tel.: (55 19) 3417-6604 Fax: (55 19) 3422-2755 www.fealq.org.br cdt@fealq.org.br

Julho

16 a 19 – Brasil ReciclAção Local: Curitiba, PR Tel.: (55 41) 3203 1189 Fax: (55 41) 3203 1197 www.montebelloeventos.com.br montebello@montebelloeventos.com.br

11 a 15 – Suiça 20ª Conferência Mundial da Saúde da UIPES Local: Genebra Tel.: 41 (0)21 345 15 15 Fax: 41 (0)21 345 15 45 www.iuhpeconference.net info@iuhpeconference.net 27 a 29 – Brasil FIBOPS – I Congresso Internacional de Boas Práticas Socioambientais Local: São Paulo Tel.: (55 11 3257-9660) www.fibops.com.br TN Petróleo 71

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suplemento especial

Fórum Capixaba de Energia

Espírito Santo: um grande gerador ‘Os desafios energéticos do Brasil’ foi o tema do 3° Fórum Capixaba de Energia, realizado no dia 23 de março, em Vitória (ES), reunindo empresários, representantes do setor de energia, estudantes e a sociedade em torno da busca de soluções para um desenvolvimento sustentável do setor no Brasil. por Rodrigo Miguez

Energia solar e eólica Maurício Moszckovicz, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da MPX Soluções Integradas, falou sobre os investimentos da empresa na 90

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om 536 participantes, o evento teve uma programação bem diversificada, com palestras de representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), EDP, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (Emtu) e Eletronuclear, além de empresas do setor, como a MPX Soluções Integradas, da EBX, holding do grupo comandado pelo empresário Eike Batista. Destacando que o Espírito Santo é o segundo maior produtor de petróleo do país, com a produção de 300 mil barris por dia, o secretário estadual de Desenvolvimento, Márcio Félix, falou do crescimento capixaba no setor de óleo e gás e como isso vem refletindo nos investimentos do governo nos municípios. Ele salientou, ainda, que a inauguração do Gasoduto da Integração SudesteNordeste (Gasene) será muito importante para o setor de gás capixaba. “Esse é o momento do Espírito Santo”, afirmou o secretário. O Gasene é formado pelos gasodutos CabiúnasVitória (Gascav), Cacimbas-Vitória e Cacimbas-Catu (Gascac). Félix fez questão de tocar no assunto royalties, afirmando que “o pacto federativo deve prevalecer e os royalties devem ficar nos estados produtores”, já que o estado realiza uma ação social com os royalties, distribuindo 30% dos recursos para municípios capixabas que não recebem a compensação.

área de energia solar, como a construção da Usina Solar de Tauá, no Ceará. Para ele, é essencial que se crie uma política nacional de incentivo à energia solar para o crescimento do setor. De acordo com a diretora geral da Agência de Serviços Públicos de Energia do Estado do Espírito Santo (Aspe), Maria Paula Martins, o panorama energético do estado vem passando por importantes mudanças nos últimos anos. Antes sofrendo com falta de energia, a expectativa é de que, em 2013, o Espírito Santo se torne exportador de energia. “Nossa realidade está muito diferente: éramos o patinho feio da energia e hoje estamos em destaque e crescendo”, disse ela, que deu ênfase ao Atlas Eólico do Espírito Santo, divulgado no ano passado, o qual mapeou todo o potencial desta fonte de energia na região. A esperança dos governantes capixabas é de que o Espírito Santo entre na disputa de projetos eólicos, junto com Ceará e outros estados. Como parte do evento, houve assuntos relacionados à sustentabilidade, como o uso de veículos elétricos e ônibus a hidrogênio, para diminuir a emissão de CO2 na atmosfera, e a polêmica energia nuclear.

Complexo de Angra O assistente do diretor-presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos, falou da imensa quantidade de urânio que o Brasil possui e que o armazenamento dos rejeitos é feito em perfeita segurança. Ele destacou o papel estratégico de Angra 3 para o aprimoramento da matriz energética brasileira: “A expansão da oferta de energia nuclear é fundamental para o sistema elétrico nacional”, afirmou. A unidade em construção é parte do complexo nuclear, constituído pelas usinas Angra 2 e Angra 1. Segundo a Nucleonics Week, publicação americana especializada em energia nuclear, em 2009 Angra 2 ficou em 33º lugar em volume de produção entre as 436 usinas em operação no mundo. Já em relação aos indicadores de desempenho da Wano (World Association of Nuclear Operators), está em 21ª posição entre as 50 melhores usinas das Américas. A usina brasileira fechou o ano de 2009 gerando 10.153.593,49 MWh, energia suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte por quase um ano. O resultado coloca Angra 2 entre as melhores do mundo em produção bruta de energia elétrica, segundo o ranking da Nucleonics Week, publicado no início do mês.


V Fórum Urbano Mundial

A lição das tragédias O secretário-geral das Nações Unidas, Ban-Ki-Moon, agradeceu ao Brasil por “sediar generosamente” o V FUM, ao mesmo tempo que alertava os governantes presentes sobre o problema do crescimento da população que vive em condições precárias nos

Foto: Agência Brasil

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omo melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos, dando condições mais dignas para sua população, por meio de moradias decentes, transporte de qualidade e saneamento básico? Este foi o mote do V Fórum Urbano Mundial (FUM), realizado no Armazém 4 do Píer Mauá (RJ). O Píer é um dos muitos pontos da cidade que há quase uma década aguardam a concretização de projetos de revitalização. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o evento, realizado no dia 22 de março, do qual participaram ainda o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, a diretora executiva da área de assentamentos urbanos da Organização das Nações Unidas (ONU-Habitat), Anna Tibaijuka, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro das Cidades, Marcio Fortes de Almeida, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito, Eduardo Paes. Lula disse que o Rio de Janeiro começa a ser visto como a cara de um novo Brasil, com grandes investimentos. “Estamos neste momento da história brasileira provando que é possível construir um novo país”, afirmou. Como o governador Cabral, o presidente convidou os participantes a visitarem as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Urbanização de Favelas para comprovar a mudança na vida de comunidades de baixa renda.

Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

Líderes discutem maneiras de melhorar a vida nas cidades

centros urbanos. Ele lembrou que 827 milhões de pessoas vivem sem acesso a água potável, moradia e segurança pública no mundo. A tragédia no Haiti teve grande repercussão no Fórum, que contou com a participação do primeiro-ministro daquele país, Jean-Max Bellerive. Ele citou as Forças Armadas brasileiras como um exemplo de construção de relação bem-sucedida entre um povo e uma força militar. A diretora da ONU para Assentamentos Urbanos, Anna Tibaijuka, afirmou que a reconstrução sustentável de um país só pode ser feita por meio de liderança

e parabenizou o trabalho do primeiroministro haitiano. Todos os participantes defenderam a ideia de que é necessário pensar a reconstrução do Haiti como um todo, tanto na área de infraestrutura, quanto na de educação e de emprego. “Temos de perguntar que tipo de atividades são rentáveis no ambiente haitiano, para que eles não dependam tanto de ajuda externa”, disse o ministro das Cidades, Márcio Fortes. O encerramento do V Fórum Urbano Mundial foi marcado pelo lançamento da Campanha Urbana Mundial, pela ONU-Habitat, com o intuito de envolver cada vez mais atores de governos locais e nacionais, setor privado e organizações da sociedade civil na adoção de práticas sustentáveis e democráticas para garantir o “direito à cidade”, estabelecido na Carta do Rio de Janeiro, documento aprovado no final do evento. TN Petróleo 71

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Copa do mundo sustentável Camisa do novo uniforme da Seleção Brasileira é feita do poliéster reciclado a SeLeção BraSILeIra de Futebol vai buscar o hexacampeonato mundial na Copa da África do Sul vestindo um uniforme ecológico e tecnicamente avançado. o novo modelo, desenvolvido pela nike, foi fabricado a partir de poliéster reciclado de oito garrafas pet retiradas do meio ambiente. a tecnologia também está presente na camisa azul da Seleção, e nos uniformes das seleções da Holanda, portugal, estados unidos,

Coreia do Sul, austrália, nova Zelândia, Sérvia e eslovênia. o processo de produção das camisas começa com o recolhimento das garrafas de lixões no Japão e em taiwan. elas são lavadas para a retirada de impurezas, o rótulo é removido e são cortadas em flocos. esses pequenos pedaços são derretidos para produzir fios muito finos, depois convertidos em tecido. Quando comparado à

fabricação tradicional, com base em poliéster virgem, o método da reciclagem de garrafas reduz o consumo de energia em 30%. este novo modelo de camisa faz par te do conceito Considered design, que significa a redução ou eliminação de produtos tóx icos e resíduos, aumenta o uso de mater iais ecológicos na produção, cr iando produtos mais sustentáveis. ao usar o poliéster reciclado, a nike evitou que cerca de 13 milhões de gar rafas plásticas fossem estocadas em ater ros sanitár ios ou li xões.

Avião movido a energia renovável PrOMOVer iNiCiATiVAs públicas e privadas para o desenvolvimento e a certificação de biocombustíveis sustentáveis para a aviação é o principal objetivo da Aliança Brasileira para Biocombustíveis de Aviação (Abraba), formada no último dia 6 de maio, em são Paulo. O grupo conta inicialmente com a participação de dez entidades: Algae Biotecnologia, Amyris Brasil, Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM), Associação das indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab), Azul linhas Aéreas Brasileiras, embraer (empresa Brasileira de Aeronáutica s/A), GOl linhas Aéreas inteligentes, TAM linhas Aéreas, Trip linhas Aéreas e União da indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). A Abraba espera que outras entidades se somem ao projeto, que pretende viabilizar a ambiciosa meta por meio de diálogos com formuladores de políticas públicas e formadores de opinião, visando a obtenção de bio-

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foto: Banco de Imagens stock.xcng

Empresas aéreas e de pesquisa de biocombustíveis, produtores de biomassa e fabricantes aeronáuticos formam aliança para o setor de aviação utilizar combustíveis mais limpos.

combustíveis com níveis equivalentes de segurança e custo em relação aos combustíveis derivados do petróleo. A preocupação mundial com as mudanças no clima tem levado a uma crescente demanda por fontes renováveis. O aumento das emissões dos gases de efeito estufa, aliado às incertezas sobre a disponibilidade dos combustíveis de origem fóssil, reforça a necessidade de se buscar novas alternativas. Neste contexto, a aviação civil tem um papel fundamental, pois produz aproxima-

damente 2% das emissões de dióxido de carbono (CO2), conforme estudos do Painel intergovernamental de Mudanças no Clima (intergovernmental Panel on Climate Change/iPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). empresas e instituições ligadas ao setor vêm realizando diversas atividades e projetos, no intuito de contribuir com o desenvolvimento de alternativas para reduzir, com segurança, as emissões de gases de efeito estufa e a maior eficiência energética no mundo. A Abraba acredita que a utilização de biocombustíveis sustentáveis produzidos a partir de biomassas é fundamental para manter o crescimento da indústria de aviação em uma economia de baixa emissão de carbono. A reconhecida capacidade do Brasil em desenvolver fontes energéticas alternativas, aliada ao conhecimento das tecnologias aeronáuticas, resultará em um significativo ganho para o meio ambiente, minimizando o impacto sobre o desenvolvimento econômico.


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SMS deve ser prioridade Organizada pela SPE no Brasil, o Rio de Janeiro sedia a 10ª Conferência Mundial de Segurança, Meio Ambiente, Saúde (SMS) e Responsabilidade Social na indústria offshore de petróleo e gás.

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romovida a cada dois anos pela Society of Petroleum Engineers (Sociedade de Engenheiros de Petróleo), a décima edição da Conferência Internacional de Segurança, Meio Ambiente e Saúde aconteceu de 12 a 14 de abril no Rio de Janeiro – realizada pela segunda vez na América Latina. Especialistas na indústria mundial de petróleo e gás, agências oficiais do governo e órgãos não governamentais se reuniram para discutir como enfrentar a mudança climática, a saúde pública, as necessidades dos países em desenvolvimento e outras 94

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por Maria Fernanda Romero e Rodrigo Miguez

questões de responsabilidade social. “Os novos desafios com as melhores práticas e pensamento inovador” foi o tema da conferência deste ano, que reuniu mais de mil especialistas no tema. A escolha do Brasil como sede do evento deu uma dimensão da importância que o país vem assumindo nessa área. “Segurança, Meio Ambiente e Saúde são temas centrais em todas as nossas atividades profissionais”, diz Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção da Petrobras e o presidente da conferência. “Os tópicos são de

enorme importância e mostram o compromisso da indústria de E&P e da SPE em alcançar padrões mais elevados de produção com responsabilidade social”, afirmou. Participaram da sessão de abertura o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo; o secretário de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia, João José Souto; o diretor da Fundação de Saúde e Segurança do Trabalho


fotos: Claudio roberto Araujo

(Fundacentro), do ministério do trabalho e emprego, eduardo azevedo da Costa; o secretário de desenvolvimento econômico, petróleo, Indústria e Comércio, Júlio Bueno; e Ken arnold, vice-presidente da Sociedade de engenheiros de petróleo (Spe).

Crescimento sustentável Gabrielli destacou a importância da discussão do tema para o setor de petróleo e gás e o cuidado com a segurança, o meio ambiente e a saúde como elemento fundamental de estratégia da estatal. “para a petrobras, é importante ser rentável e ter grande crescimento, mas, da mesma maneira, é importante se voltar para as questões sociais, ambientais, de segurança e saúde”, disse. para o executivo, o setor deve atuar sempre de forma sustentável, prevenindo acidentes de trabalho e ambientais e contribuindo para minimizar emissões, por meio da melhoria dos processos e da busca por combustíveis mais limpos. durante coletiva com jornalistas, estrella declarou que a petrobras espera perfurar até 16 poços na área de tupi, na Bacia de Santos, antes de declarar a comercialidade da região e instalar o projeto piloto, com pico de produção de cem mil barris diários. Já o presidente da petrobras reforçou que mantém o fim deste semestre como prazo para a capitalização da empresa, comentando o ritmo das discussões no congresso. ele disse, porém, que não pretende apresentar nenhuma alternativa à capitalização com sessão onerosa até o fim do prazo estipulado. a conferência também apresentou mais de 45 sessões técnicas, responsáveis pela discussão

José laurindo, gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, Petrobras, solange Ferreira, gerente senior América Latina e Caribe, Society of Petroleum Engineers (SPE), Ken Arnold, vice presidente, Society of Petroleum Engineers (SPE), Cláudia del souza, gerente de Comunicação, Petrobras, Jorge de moraes, gerente executivo, Petrobras

e a interação entre os autores e participantes. o programa técnico estabeleceu um equilíbrio entre as questões emergentes, as melhores práticas e inovações de SmS e as lições aprendidas, os desafios das alterações climáticas, a responsabilidade social e a melhoria da segurança. além disso, o evento contou com 30 empresas em um espaço de exposição de 4.572 m². dentre os temas dos diversos trabalhos técnicos apresentados no evento estava o ‘air emis-

sions: case studies for emissions reduction’, que mostrou como os estudos sobre a redução das emissões de gases vêm sendo feitos e implantados em países como a noruega. de acordo com o representante norueguês, a conversão de energia é responsável por 90% das emissões de Co2, na produção de óleo e gás no país. mas ele afirmou que o governo da noruega faz um trabalho de prevenção das emissões desde 1996, o que mostra a consciência ambiental existente na região. o alerta deixado ao final da apresentação foi o de que é necessário um modelo sistemático de calibração destes gases pela indústria de óleo e gás e de que é possível a prevenção e diminuição das emissões no período de cinco anos.

hsE em números 3 sessões plenárias; 45 sessões técnicas; 17 painéis Trabalhos inscritos 200 trabalhos técnicos; 90 sessões interativas

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Fotos: Divulgação

Cidades

e mudanças climáticas

Promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), foi iniciado em maio no Rio de Janeiro o Ciclo de Encontros Sustentáveis 2010, com o tema Cidades e mudanças climáticas. O Sustentável 2010 tem como foco a discussão da sustentabilidade em seus diversos níveis: dilemas globais, a sociedade e suas reações aos desafios socioambientais, as questões econômicas e mercadológicas e suas implicações sobre a dinâmica empresarial.

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primeiro debate do Sustentável 2010 foi realizado no Rio de Janeiro e teve como tema principal ‘Cidades e mudanças climáticas’. Este primeiro debate faz parte do ciclo de três encontros que serão realizados dentro da programação do Sustentável 2010. Depois do encontro do Rio, a programação prevê outros dois ciclos: ‘Comunicação e educação para a sustentabilidade’, no mês 96

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por Maria Fernanda Romero

de agosto em Porto Alegre; e ‘Rede de mercados inclusivos: uma oportunidade de negócios’, no mês de novembro, em Salvador (BA). O Ciclo de Encontros do Sustentável 2010 é promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e tem como parceiros as instituições Iclei (sigla em inglês de Governos Locais pela Sustentabilidade), CBCS (Conselho Bra-

sileiro de Construção Sustentável) e o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). O Rio assumiu uma responsabilidade muito grande ao se credenciar para promover as Olimpíadas de 2016, bem como a Copa de 2014. Assim, o evento debateu as mudanças previstas quanto a adaptação e mitigação nas grandes cidades brasileiras até 2016. Discutiu-se, ainda, a possibilidade de mobili-


zar os recursos públicos e privados para um modelo mais sustentável nas grandes cidades, explorando a oportunidade que megaeventos como estes carreiam em termos de novos recursos e projetos. Para esta discussão, foram chamados o setor privado, representantes do governo, ONGs e os tomadores de decisão. A mobilidade e a adaptação frente às mudanças climáticas foram as grandes questões abordadas no debate do Ciclo de Encontros Sustentáveis 2010. As discussões já começaram pela manhã na abertura do evento que contou com a participação do presidente do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), Bjorn Stigson; o vice-prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Vieira; e a secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Branca Americano, dentre outros. O presidente do WBCSD, Bjorn Stigson, abriu o ciclo de palestras com um panorama internacional sobre adaptação e negócios, indicando que o Brasil se destaca por sua matriz energética limpa e pelos investimentos significativos na redução das mudanças climáticas, mas ainda encontra dificuldades na infraestrutura disponível, ao contrário de outros países que sofrem com a situação inversa. Entretanto, segundo o executivo, o Brasil terá grandes oportunidades de reverter este quadro sendo sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016. De acordo com ele, o país poderá desenvolver até lá projetos de construções mais sustentáveis e desenvolvimento de novos planos para redução das mudanças climáticas. O representante do governo, Carlos Alberto Vieira, também compôs a mesa de abertura na qual, com poucas palavras, ressaltou

que o verdadeiro desafio do Rio é a gestão ambiental como parte integrante do plano de governo. Com o tema central ‘Cidades e mudanças climáticas’, a questão da adaptação e da mobilidade, capacidades de se desenvolver considerando o novo cenário ambiental receberam destaque na discussão. Iniciando o debate, Suzana Kahn, pesquisadora da Coppe/ UFRJ, afirmou que o problema das mudanças climáticas é global, que as iniciativas individuais são muito importantes, mas faremos a diferença mais rapidamente com

a soma da participação de todos os atores envolvidos. Diante disso, ela indicou a governança, cooperação e liderança como requisitos fundamentais de adaptação para se conseguir trilhar um caminho mais sustentável e apontou a importância de se ter uma entidade responsável para coordenar as ações de sustentabilidade. “A governança é fundamental para que haja o comprometimento dos atores envolvidos, seja das empresas, do estado, das cidades, municípios, do cidadão, etc. Além disso, é preciso estabelecer políticas e incrementá-las.” A cooperação entre todos esses atores, até mesmo entre países, tem que existir, para que todos se beneficiem e produzam o mínimo de impacto ambiental possível. Ou-

Cariocas estão mais preocupados com efeitos das mudanças climáticas, revela pesquisa A tese de que as tragédias ambientais são indutoras importantes da promoção de mudanças rápidas de comportamento foi confirmada pela pesquisa de opinião ‘Cidades e mudanças climáticas’, realizada entre março e abril deste ano junto aos cariocas. Antes do temporal do início de abril, a percepção do público formador de opinião sobre o impacto das chuvas fortes no Rio estava equilibrada entre os que acreditavam que esses efeitos pioraram (35%), ficaram iguais (35%) ou melhoraram (30%) nos últimos tempos. Depois da tragédia, 71% dos entrevistados responderam que os problemas pioraram e 29% acharam que nada mudou. Realizada pelo instituto Market Analysis, a pesquisa foi encomendada pelo CEBDS e apresentada durante o evento no Rio de Janeiro. Ao analisar as informações contidas na pesquisa, a presidente do CEBDS, Marina Grossi, chama a atenção para outro componente importante: a radical mudança de opinião antes e depois da tragédia ocorrida na região metropolitana do Rio foi verificada entre o grupo de entrevistados “formadores de opinião”, ou seja, aquelas pessoas com altos cargos de gestão ou relações institucionais, jornalistas e acadêmicos que lidam diretamente com temas de sustentabilidade e infraestrutura urbana. “Isso revela que até especialistas da área da sustentabilidade assumem uma posição extremamente reativa”, constata Marina.

A pesquisa foi feita com dois grupos de entrevistados: um formado pelo público geral, em que foram ouvidas 258 pessoas – adultos de 18 a 69 anos das classes A, B e C (65% do total) com algum nível de informação sobre os temas abordados pelo questionário; e outro dos formadores de opinião. A percepção pessimista entre os impactos das fortes chuvas também foi revelada entre o público não especializado: 74% dos entrevistados disseram que o problema piorou nos últimos tempos, 21% acharam que está igual e 4% acharam que melhorou. A diferença é que esse grupo foi ouvido antes do temporal. Marina Grossi fez a apresentação da pesquisa durante o encontro no Rio e chamou a atenção para o fato de que, mesmo tendo sido ouvido antes da tempestade, o percentual de pessoas que consideram que os efeitos da chuva pioraram nos últimos tempos foi maior entre a população em geral (74%) do que entre os especialistas (71%), entrevistados depois da tragédia. “Se essa parcela da população tivesse sido ouvida depois da tragédia, teríamos certamente uma percepção ainda mais pessimista”, observa. Para Grossi, os números revelam que o cidadão comum tem uma percepção mais precisa sobre os efeitos das mudanças climáticas e outros indutores de degradação ambiental. Talvez por serem eles os mais afetados pelos seus efeitos, conclui a executiva.

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tra questão importante é a complementaridade e otimização dos recursos. “Sem uma liderança, sem um mandato, sem alguém que assuma essa coordenação fica muito difícil”, assegura Suzana. A pesquisadora apontou o aumento da mobilidade no mundo como um fator relevante ao tema, e a maior utilização de novas tecnologias como forma de redução dos impactos. “A mobilidade no mundo provavelmente deve aumentar, seja por aumento de renda, aumento da população e, ainda, outras opções como turismo, transporte, cursos etc.; e com isso aumentará o consumo de recursos, consequentemente ao aumento de impactos. A forma de reduzirmos esses impactos está na maior utilização das tecnologias, não somente na tecnologia veicular e de combustível, mas avançarmos em outras formas. Isso também será importante para mantermos a competitividade”, indica. De acordo com Suzana, o Brasil tem grande capacidade de contribuir para o esforço global da redução das emissões advindas do desmatamento da Amazônia, mas não podemos esquecer também do setor energético e de transporte. “Há vários caminhos para se reduzir as emissões, mas o que se prevê é que cada país, cada região, cada cidade, deve ter sua trajetória 98

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de desenvolvimento nessas reduções de acordo com seu cenário, planos de adaptação para, no final, somarmos tudo isso”, finaliza a pesquisadora. Outro ponto importante do encontro foi a apresentação do estudo ‘Vulnerabilidade das megacidades brasileiras às mudanças climáticas’, feito por Andrea Young, pesquisadora da Coppe/UFRJ. Na ocasião, Young apresentou os resultados desse estudo, produzido pelo Inpe e pela Unicamp, e ressaltou que a infraestrutura, rede de serviços desiguais, o fraco dinamismo econômico e a baixa arrecadação são os principais fatores que prejudicam os investimentos e iniciativas sustentáveis aos municípios. Finalizando os debates da manhã, Branca Americano, do Ministério do Meio Ambiente, também sinalizou a grande oportunidade de mudança e de promoção de ações sustentáveis por ocasião dos dois eventos internacionais, mas ressaltou que o governo tem de assumir um papel mais agressivo quanto às mudanças climáticas e estímulos às ações sustentáveis. Branca apregoa que o governo deve criar incentivos

e regras para essas ações acontecerem e se expandirem, e sugere a elaboração de planos setoriais, planos de adaptação, indicando que o governo tem de buscar, de alguma outra forma, apoiar ações de mitigação e adaptação no país. Durante o encontro foi lançada a 1ª Jornada de Construção Sustentável /CEBDS. Seu tema: ‘Sustentabilidade: O legado da Copa’. A Jornada tem como objetivo unir as principais entidades ligadas à construção sustentável, tais como o CEBDS, por meio da sua Câmara Temática de Construção Sustentável, o Iclei, o CBCS e o Pnuma, para participar da agenda e debates sobre as obras que serão realizadas em infraestrutura urbana, nas cidades que vão receber os megaeventos. “É fundamental que todo o esforço, envolvendo os três níveis de governos, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, traga benefícios de longo prazo, dotando as cidades de infraestrutura nas mais diversas áreas, como transporte, segurança, comunicação, organização, rede hoteleira, rede de saúde, etc. O êxito é possível e está em nossas mãos”, diz a organizadora do encontro e atual presidente do CEBDS, Marina Grossi. O licenciamento ambiental e o controle dos gastos, segundo Grossi, devem seguir critérios responsáveis, ágeis, transparentes e inteligentes. “Além dos parâmetros legais, os preparativos precisam estar contidos nos princípios do desenvolvimento sustentável, aliando-se às medidas compensatórias para recuperar áreas ambientalmente degradadas e ampliar a inclusão social. Por isso, o CEBDS abre a discussão e se alia às entidades capacitadas para debater o assunto, para um trabalho conjunto que possa trazer reais benefícios para o Rio de Janeiro”, informa Marina.


Fundo Vale desenvolve projetos sustentáveis na Amazônia por Maria Fernanda Romero

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ete instituições da sociedade civil da área socioambiental, juntamente com a Vale, lançaram, no dia 10 de maio, oficialmente, o Fundo Vale, ação pioneira, com foco inicial em programas de combate ao desmatamento e à degradação florestal e o desenvolvimento socioeconômico no bioma amazônico. O projeto conta com R$ 51 milhões, já aprovados pelo conselho administrativo da empresa, para investimentos nos próximos três anos e está aberto a novos investidores privados e públicos do Brasil e do exterior. De acordo com a diretora de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Vale, Vânia Somavilla, o objetivo do projeto é promover o desenvolvimento, conciliando a conservação e o uso sustentável do meio ambiente com a melhoria das condições socioeconômicas das regiões em que ele atua, deixando um legado positivo para as próximas gerações. Em operação há um ano, o Fundo já aportou R$ 7 milhões do valor total aprovado em oito projetos desenvolvidos pelas ONGs IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil), IFT (Instituto Floresta Tropical), Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), Instituto Peabiru, ISA (Instituto Socioambiental) e TNC (The Nature Conservancy). Somavilla assegura que o Fundo Vale permite estender as boas práticas e o desenvolvimento sustentável para muito além do limite das operações da mineradora. “O Fundo Vale surgiu como produto do estágio mais avançado da Política de De-

Foto: Divulgação

Iniciativa inédita vai contar com R$ 51 milhões, até 2012, para investir em proteção ambiental e no desenvolvimento socioeconômico local.

senvolvimento Sustentável da Vale, que é a de ser um agente global de sustentabilidade, que olha para além de suas operações, com preocupações e envolvimento com o futuro e bem-estar de todo o planeta, e não somente das áreas nas quais a Vale está presente”, explica ela. No futuro, a ideia é atuar em outras regiões e países, sempre em projetos ligados a temas centrais da macrossustentabilidade – biodiversidade, mudanças climáticas, conservação de florestas, etc. “O projeto pode ser estendido para regiões que tenham questões estruturantes de preservação e de desenvolvimento, tais como outras florestas tropicais, ou mesmo no Continente Africano. Mas hoje, nosso foco é a Amazônia Legal”, complementa. Vânia conta que a principal dificuldade para os gestores do Fundo é identificar bons projetos – estruturantes, bem definidos, com propostas de resultados transformadores e sustentáveis. Segundo ela, os parceiros da Vale são ONGs com experiência comprovada em projetos desta natureza e apresentaram projetos viáveis e com diferenciais. A diretora aponta que para as pessoas que trabalham nos projetos os principal desafio é trabalhar na própria região

amazônica, em função das longas distâncias, calor, umidade, falta de infraestrutura, etc. Na Amazônia, a ação do Fundo está concentrada em projetos direcionados a três principais temas: o monitoramento estratégico da região por satélite (com foco em identificar áreas sob pressão de desmatamento ilegal e que exijam algum tipo de intervenção pública); a consolidação e criação de áreas protegidas e biodiversidades (quando se busca garantir a preservação e consolidação de cerca de 15 milhões de hectares de áreas protegidas); e a promoção de municípios verdes (o Fundo Vale apoia um novo pacto de desenvolvimento sustentável em municípios críticos situados ao longo da fronteira da exploração madeireira ilegal e combate ao desmatamento). Vânia apontou ainda uma importante ferramenta para implementação das atividades das ONGs, parceiras do Fundo Vale, o CAR (Cadastro Ambiental Rural), criado pelo governo do Pará. O CAR não tem caráter punitivo, mas de ajudar o proprietário que busca se enquadrar na legislação ambiental, a qual prevê, na Amazônia, que 80% da propriedade devem ser preservados. TN Petróleo 71

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O marco brasileiro A Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) instituída no Brasil no apagar das luzes de 2009 dará respaldo a importantes ações ambientais.

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Marcio Silva Pereira é advogado, sócio da Área de Meio Ambiente e de Sustentabilidade do escritório Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira & Agel Advogados, no Rio de Janeiro.

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onsiderado um marco regulatório no enfrentamento dos desafios climáticos, a Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), instituída pela Lei 12.187, de 29/12/2009, reforça o posicionamento assumido pelo Brasil durante a 15ª Conferência entre as Partes (COP-15), realizada em Copenhagen, Dinamarca. Isto porque possibilita ao governo brasileiro estabelecer e avançar em ações nesse tema, tendo como parâmetros os compromissos assumidos pelo país na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no Protocolo de Kyoto e nos demais instrumentos sobre mudança do clima dos quais vier a ser signatário. Como destaque, a PNMC estipula para o país a meta voluntária de redução das emissões dos gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até 2020, cujo detalhamento dependerá de Decreto, a ser editado com base no Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, previsto para 2010 (artigo 12). O texto aprovado no Senado e encaminhado à sanção presidencial condenava o uso de fontes energéticas à base de combustíveis fósseis, o que seria incompatível com o desenvolvimento de importantes projetos nacionais, como o pré-sal. De fato, entre os objetivos dessa política, constava o “paulatino abandono do uso de fontes energéticas que utilizem combustíveis fósseis”, o que acabou vetado (inciso III do artigo 4º). O veto a essa disposição legal foi justificado na Política Energética do país, que já prioriza a utilização de fontes de energia renováveis em sua matriz e obteve avanços amplamente reconhecidos no uso de tecnologias limpas. Ademais, uma das balizas dessa política é o aproveitamento racional dos vários recursos energéticos disponíveis, o que torna inadequada uma diretriz focada no abandono do uso de combustíveis fósseis.


Foto: Itaipu Binacional

Foto: Banco de Imagens Keystone

Foto: Agência Petrobras

Ainda, num arroubo ambientalista, chegou-se a indicar a substituição dos combustíveis fósseis na matriz energética brasileira por meio do incentivo ao desenvolvimento de energias renováveis e do aumento progressivo de sua participação na matriz energética brasileira. Esta substituição se daria mediante a adoção de medidas específicas, como, por exemplo, o incentivo à produção de biodiesel, preferencialmente a partir de unidades produtoras de agricultura familiar e de cooperativas ou associações de pequenos produtores, e ao seu uso progressivo em substituição ao óleo diesel derivado de petróleo, particularmente no setor de transportes (artigo 10, também vetado). Segundo as razões do veto presidencial, esses comandos legais não estavam em consonância com as necessidades energéticas do Brasil e fragilizavam a confiabilidade e a segurança do sistema energético nacional. Além disso, as diretrizes da PNMC e da Política Energética Nacional deverão ser harmonizadas de forma a proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantir a segurança energética necessária para o desenvolvimento do país.

A propósito, a Lei 12.187/09 estabelece que os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos das políticas públicas e governamentais deverão se compatibilizar à PNMC (artigo 11). Obviamente, isso não quer dizer, por exemplo, que a Política Energética está subordinada à PNMC, até porque ambas foram instituídas por lei, ato normativo de mesma hierarquia, cada qual dentro de sua competência material. Como principal norma jurídica nacional que dispõe sobre a Política Energética Nacional, a Lei 9.478, de 6/08/1997, que está voltada para o setor do petróleo, tem escopo e matéria própria, assim como a Lei 10.438, de 26/04/2002, que, direcionada para a energia renovável, criou o Programa de Incentivo às Fontes Energéticas Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Desse modo, a PNMC trata de temas e medidas que se comunicam necessariamente com as demais políticas e ações setoriais do Governo Federal nas suas diversas áreas de atuação. Exemplo disso é um de seus instrumentos, o Fundo Nacional sobre Mudança Climática, que foi criado pela Lei 12.014, publicada em 10/12/2009. Ele será constituído por recursos de fontes como TN Petróleo 71

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o orçamento da União, doações e empréstimos de entidades nacionais e internacionais, públicas e privadas, inclusive oriundos em parte de royalties do petróleo. Tais recursos poderão ser aplicados na análise de impactos, projetos de redução de gases de efeito estufa e na formulação de políticas públicas, entre outras ações e projetos, gerando novas soluções e oportunidades. Outro exemplo: com o intuito de atender as metas gradativas de redução de emissões antrópicas quantificáveis e verificáveis, a lei delega ao Poder Executivo a regulamentação, via Decreto, dos planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono, na geração e distribuição de energia elétrica, no transporte público urbano e nos sistemas modais de transporte interestadual de cargas e passageiros, na indústria de transformação e na de bens de consumos duráveis, construção civil, nos serviços de saúde e na agropecuária (artigo 11, parágrafo único). Também, para promover a redução de emissão ou remoção de gases de efeito estufa, a PNMC estimula o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e as Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (Namas), bem como o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), a ser operacionalizado em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e entidades de balcão organizado, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), onde se dará a negociação de títulos mobiliários representativos de emissões evitadas de gases de efeito estufa e certificadas, cujos efeitos fiscais ainda merecem adequado tratamento legal e contábil. Sob uma ótica de comando e controle, a redução das emissões por fontes deverá ser promovida por meio de medidas a serem executadas pelos entes públicos e órgãos da administração pública, considerando a responsabilidade individual pela fonte emissora e pelos seus impactos adversos ao clima, entre outros aspectos (artigos 4º, II, e 3º, III). Entre as possíveis medidas a serem adotadas, podem ser mencionados o estabelecimento de padrões ambientais e de metas quantificáveis e verificáveis para a redução de emissões antrópicas por fontes, bem como a avaliação de impactos ambientais sobre o microclima e macroclima, os quais estão entre os instrumentos da PNMC (artigo 6º, VII e VIII). Esses instrumentos, quando aplicados ao licenciamento ambiental, poderão condicionar a fonte 102

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emissora a determinada meta ou padrão ambiental. Com efeito, se para o Estado brasileiro a meta é voluntária, para a iniciativa privada poderá existir meta obrigatória, com repercussões na competitividade empresarial. Antes dessa PNMC, a controvertida iniciativa promovida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através da Instrução Normativa 007/09, já pretendia obrigar os projetos de termeletricidade (à base de carvão mineral ou óleo) a mitigarem suas emissões de dióxido de carbono por meio de programa de recuperação florestal e investimentos em geração de energia ou medidas que promovam eficiência energética. Tal medida era justificada pela necessidade de se onerar os projetos à base de combustível fóssil, que, em tese, apresentam emissões significativas de gases do efeito estufa, de forma a estimular a adoção por fontes renováveis de energia. Por ora, essa norma se encontra suspensa por decisão judicial, pois faltaria suporte legal ao Ibama para fixação dessas medidas no licenciamento (7ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito federal, processo n. 2009.34.00.034475-00, ação ordinária). Entretanto, diante do novo marco legal, é possível antever a intensificação da discussão sobre impactos adversos ao clima e a responsabilização do empreendedor na implementação de medidas de mitigação, sobretudo no licenciamento de fontes de energia à base de combustível fóssil. Aliás, a temática climática extrapola os limites do licenciamento ambiental, sendo razoável almejar soluções normativas que antecedam e previnam as discussões técnicas e, às vezes, passionais que podem envolver determinado projeto. E ainda, é de se esperar iniciativas legislativas mais robustas tendentes a tornar efetivos os objetivos e aplicáveis os instrumentos previstos na Lei 12.187/09. O que inclui a proposição, entre outras, de ações tecnológicas e práticas voltadas para o enfrentamento das alterações climáticas (por exemplo, medidas de adaptação e criação de sumidouros), sempre com a finalidade de se compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do sistema climático (artigo 4º, I). As alterações climáticas, em suma, desafiam a forma de produção e organização das presentes e futuras gerações. Não somente os negócios, mas também a legislação está se adaptando, o que poderá intensificar ações já existentes e induzir novos comportamentos, agora com respaldo na Política Nacional de Mudanças Climáticas.


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Acidente

ambiental O que está ocorrendo no Golfo do México pode acontecer no Brasil? Estamos preparados?

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Maurício Green é analista ambiental da HidroClean Proteção Ambiental.

Carlos Boeckh é diretor da HidroClean Proteção Ambiental e coordenador do Plano de Emergência da Baía de Guanabara (PEBG).

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acidente com a plataforma de perfuração Deepwater Horizon, que está alarmando todos os Estados Unidos e a comunidade mundial, deu-se em função da perda do controle do poço que causou o fenômeno conhecido como blowout, ou erupção do poço. Estes eventos são de baixa frequência, porém de elevado potencial poluidor; ocorrem quando há uma falha no BOP (blowout preventer), grande válvula localizada na cabeça de poços de perfuração, que deve ser fechada caso o controle dos fluidos do reservatório seja perdido pela tripulação da plataforma. No caso da Deepwater Horizon, os desafios de retomar o controle do poço e parar o vazamento são muito grandes, devido à lâmina d’água de trabalho (1.500 m) e da profundidade do poço (5.400 m). Já foram feitas tentativas sem sucesso de reativar o BOP utilizando-se ROVs (veículos subaquáticos de operação remota). Atualmente está sendo construída uma câmara para conter o óleo ainda no fundo, e bombeá-lo para a superfície. Contudo, esta técnica nunca foi usada nesta profundidade e sua aplicação está prevista para ser iniciada em breve. Em outra frente, um novo poço está sendo perfurado no mesmo reservatório para aliviar a pressão e tamponar o vazamento por dentro do reservatório. Esta seria a solução definitiva, contudo, esse procedimento deve demorar por volta de três meses para ser concluído, ficando claro então que o óleo continuará vazando por um bom tempo. Como resposta ao vazamento na superfície, milhares de litros de dispersantes, produtos químicos surfactantes que fazem o óleo afundar, já foram lançados sobre a mancha. Mais de 70 embarcações estão sendo usadas para conter e recolher o óleo com auxílio de equipamentos específicos para este tipo de acidente. Milhares de metros de barreiras de contenção foram posicionados na linha da costa para impedir que o óleo chegue ao litoral. A última tentativa de minimizar os impactos foi lançar dispersantes no fundo do mar, junto aos pontos de vazamento. Porém, todo este esforço apenas reduzirá os gigantescos impactos ambientais


Foto: Divulgação BP

e consequentes impactos econômicos e sociais na região do Golfo do México, o que pode se espalhar ainda mais. A BP (British Petroleum), dona do poço e responsável por todos os custos das operações de contenção e limpeza, estima gastar 6 milhões de dólares ao dia, totalizando assim, ao fim do processo, um gasto de 8 bilhões de dólares. Isto sem contar com pesadas multas e indenizações futuras. Este desastre levanta muitas questões que precisam ser respondidas não apenas nos EUA, mas também aqui no Brasil, uma vez que é notória a expansão da indústria do petróleo em águas brasileiras. Os americanos estavam preparados? Estamos preparados? Os Estados Unidos são uma nação que tem grande cultura de segurança e resposta a emergências e estão provando ter muitos recursos para lidar com um incidente como este. Mesmo assim, neste caso, grandes impactos serão inevitáveis devido à magnitude do acidente. No Brasil, a Lei Federal n. 9966 de 2000, que dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob

jurisdição nacional, foi uma resposta aos acidentes ocorridos então. Esta lei e suas regulamentações (resolução Conama/Conselho Nacional de Meio Ambiente 293/2001, mais tarde substituída pela resolução Conama 398/2008), assim como as lições aprendidas à época fizeram com que o grau de preparação para um acidente com óleo aumentasse substancialmente. Hoje, a Petrobras tem centros de defesa espalhados por todo o território nacional e está muito bem preparada para a resposta a incidentes com óleo, possuindo tanto equipamentos quanto pessoal especializado. Assim como a Petrobras, as outras empresas do ramo se preparam para este tipo de evento contratando serviços terceirizados ou investindo em recursos próprios. Em agosto deste ano será realizado, em Manaus, um grande simulado internacional (Mobex/International Mobilization, Preparedness & Response Exercise), capitaneado pela CCA (Clean Caribbean & America) e tendo como membro realizador do evento a Petrobras, com o apoio do governo brasileiro. Um incidente com as mesmas características deste é passível de ocorrer também no Brasil, uma vez que o problema se deu devido a uma falha num equipamento que é usado em todas as perfurações marítimas TN Petróleo 71

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foto: Divulgação BP

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em águas profundas. Contudo, ao contrário do que ocorre na região do Golfo do méxico, num acidente em águas profundas nas principais bacias brasileiras (espírito Santo, Campos e Santos), o óleo derramado teria menor probabilidade de atingir a costa. Isto se deve às condições oceanográficas da costa brasileira, que tendem a manter a mancha de óleo afastada, como demonstrado nos estudos de modelagens matemáticas de deriva de óleo. entretanto, não podemos nos basear nesta premissa para diminuir o grau de preparação de resposta. para que possamos estar mais bem preparados para responder a acidentes não só durante a exploração e produção offshore, como também no transporte de óleo e nas questões portuárias, algumas medidas devem ser tomadas. dentre elas, é preciso que haja primeiramente um avanço no cumprimento da legislação. a lei n. 9966 e sua regulamentação, por exemplo, ainda não são plenamente cumpridas. em todo o Brasil, muitas instalações portuárias ainda não possuem o plano de emergência Individual (peI), nenhum plano de Área foi consolidado até hoje e o plano nacional de Contingência (pnC) continua a ser discutido. o plano de emergência Individual tem como função garantir procedimentos e recursos de resposta local. Se por um lado muitas instalações portuárias, estaleiros, clubes e marinas ainda não possuem o peI, por outro todas as plataformas de exploração e

produção os têm, uma vez que, sem estes documentos, não seria possível obter as licenças do Ibama. os planos de área, que teriam por função agrupar os peIs de uma região, criando uma estrutura regional de resposta, também ainda não existem. o plano nacional de Contingência, que tem como função criar uma estrutura nacional de resposta, definindo responsabilidades e um comando unificado, segue sendo discutido, impossibilitando que o Brasil participe dos planos internacionais de emergência. além disso, especial atenção deve ser dada às resoluções do Conama 269/00, que regulamenta sobre o uso de dispersantes químicos em derrames de óleo no mar, e 398/08, que dispõe sobre o conteúdo mínimo do plano de emergência Individual para incidentes de poluição por óleo e orienta a sua elaboração. a resolução 269/00 precisa ser mais clara quanto aos critérios de utilização de dispersantes e da necessidade ou não de anuência do órgão ambiental. Já a resolução 398/08 apresentou avanços em relação a sua versão anterior, resolução Conama 293/2001, exigindo uma modelagem matemática de dispersão do óleo e deixando claro que todos os terminais portuários de onde se originam e se destinam navios devem possuir um peI. Contudo, foram feitas alterações na legislação que se mostraram pouco conservadoras, especialmente quanto ao dimensionamento do volume de pior caso para plataformas de petróleo, já que a resolução 293 exigia que este dimensionamento fosse feito levando-se em conta o descontrole do poço por 30 dias, enquanto a resolução atual, 398/08, exige que se leve em conta o descontrole do poço por apenas quatro dias. Como vemos no caso da deepwater Horizon, a resolução 293 era mais realista, levando em conta o caso de um blowout. essas questões precisam ser sanadas para que possamos responder com maior eficiência a um acidente com óleo, seja este de pequeno ou grande porte. por fim, vale lembrar que devemos procurar aprender com as lições obtidas a partir de um acidente como o que está havendo no Golfo do méxico, o primeiro deste tipo em águas profundas. além disso, precisamos não só incorporar as tecnologias desenvolvidas para responder a esta emergência, como também desenvolver nossa própria tecnologia de combate para um evento semelhante.

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pessoas

O PresiDeNTe DO CONselhO de Administração da Usiminas, Wilson Nélio Brumer, assumiu a direção executiva da companhia. “fico muito satisfeito pela eleição do Brumer como novo presidente da Usiminas. essa é a garantia de continuidade do processo de transformação, sem mudanças de rotas”, afirmou Marco Antônio Castello Branco, que ocupa o cargo desde 2008. Com a renovação da presidência, a Usiminas começa uma nova etapa do processo de mudança e modernização. A partir de uma relação de proximidade com os clientes, a empresa pretende se antecipar às necessidades futuras do mercado, além de manter um canal aberto de diálogo com os acionistas, fornecedores, colaboradores e com as comunidades nas quais a empresa está inserida. “O Marco Antônio teve um papel muito importante nessa fase de mudanças”, disse Wilson Brumer. “estamos dando início a uma nova etapa no processo de renovação da empresa. A linha estratégica da companhia conti-

foto: roberto rocha

Usiminas: mudança no comando

Wilson Brumer e Marco Antônio Castello Branco

nua. O que muda é o estilo de gestão”, ressalta Brumer, ex-secretário de estado de Desenvolvimento econômico de Minas Gerais, e ex-presidente do instituto Brasileiro de siderurgia (1997-1999), da Companhia siderúrgica de Tubarão (1996-1999), da Acesita (1992-1998) e da Vale (1990-1992), na qual trabalhou durante 17 anos. A mudança na presidência da Usiminas não altera o plano de investimentos já anunciado para 2010 de r$ 3,2 bilhões. Além da conclusão

global Industries anuncia novo CEO COM MAis De 30 ANOs de experiência no setor offshore, o americano John reed é o novo CeO da Global energy, substituindo John Clerico, que permanecerá como chairman do Conselho da empresa. O executivo já atuou em várias companhias do setor, tendo sido CeO da heerema Marine e da intec engineering; foi presidente e chairman (divisão América) da international Pipeline and Marine Contractors Association; e membro do

conselho de diretores da National Ocean industries Association. Clerico saudou o novo CeO da Global elogiando sua experiência e comprovada capacidade de liderança. “John era um candidato ideal. ele tem a visão e o talento necessários para liderar a companhia,

da coqueria 3, em ipatinga, estão previstos outros projetos de melhorias operacionais nas plantas de ipatinga e Cubatão. Já nos primeiros meses do ano que vem serão finalizadas as obras de ampliação da Unigal e a implantação do novo laminador de tiras a quente em Cubatão. em 2009, importantes projetos foram concluídos, como a reforma do Alto forno 2, em ipatinga, e a construção da nova Central Termelétrica, no mesmo município mineiro. consolidando nossa posição no setor de serviços offshore”, afirmou. há quase três anos no Brasil, a Global já participou de projetos como Camarupim (Bacia do espírito santo) e Mexilhão (Bacia de santos), além de realizar a manutenção de dutos nessas bacias e na de campos. em março, a companhia venceu a concorrência para fornecimento de equipamentos subsea e instalação de dutos rígidos para a Petrobras, destinados ao campo de gás natural de Ubarana (Bacia Potiguar) e para a unidade de gasolina de Guamaré, da refinaria Clara Camarão (rN).

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produtos e serviços

Aker solutions

mais 40 árvores de natal preferido da petrobras para operações submarinas”, diz Marcelo Taulois, presidente da divisão Subsea da aker Solutions no Brasil. o campo de Guará (Bm-S-9) irá receber 14 árvores deste contrato, e será explorado por um consórcio de empresas formado pela petrobras, que possui 45% de participação, o BG Group, que possui 30% e a repsol YpF, que tem 25% de participação. Já o campo de Iara (Bm-S-11), que pertence à petrobras (65%), ao BG Group (25%) e à petrogal (10%), irá receber 26 árvores. o escopo completo de trabalho será gerenciado, projetado e executado pela fábrica da aker Solutions em Curitiba (pr), com o suporte de aberdeen,

Voos mais altos

a aSeL-teCH Vem avançando em seu plano de internacionalização. depois de fechar os primeiros contratos de exportação de Sistemas de detecção de Vazamentos para dutos no equador e Chile, a empresa vem se preparando para voos mais altos: há mais de um ano, vem investindo para qualificar sua tecnologia proprietária junto à Saudi aramco na arábia Saudita. Como parte

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foto: Banco de Imagens stock.xcng

o traBaLHo InCLuI a enGenHarIa e fabricação de 40 anm verticais para operar em lâmina d’água de 2.500 m, sistemas de controle submarinos multiplexados e 17 conjuntos completos de ferramentas. a entrega está prevista para os próximos quatro anos. Com o contrato, a empresa será responsável por fornecer equipamentos submarinos para os três campos iniciais do pré-sal. em dezembro de 2008, a aker ganhou seu primeiro trabalho na área, que incluía a produção de nove árvores de natal molhadas para o projeto piloto de tupi. “nossa experiência no desenvolvimento do projeto piloto de tupi, a capacidade de carga de nossa fábrica em Curitiba, além de uma proposta técnica e comercial atraente foram fatores cruciais para fecharmos este contrato. esta comprovação está alinhada com a nossa meta de sermos o fornecedor

desse processo, em novembro passado, uma comitiva de técnicos da área de engenharia de dutos saudita visitou a sede da empresa em São Carlos (Sp) bem como instalações reais dos sistemas. “o plano da asel-tech para o oriente médio passa pela criação de uma empresa com sede na arábia Saudita, o maior produtor da região, em associação com uma empresa local de forma

foto: Banco de Imagens Aker solutions

Cerca de US$ 300 milhões é o valor do contrato firmado pela Aker Solutions com a Petrobras, em abril, para fornecer 40 árvores de natal molhadas (ANM) para os campos de Iara e Guará, localizados na Bacia de Santos, na chamada camada do pré-sal.

no reino unido, para os sistemas de controle submarinos. a entrega da primeira anm está prevista para o final de 2011.

Asel-Tech a atender a política de conteúdo e suporte in-kingdom da Saudi aramco”, explica Julio Alonso, fundador e Ceo da companhia. Segundo alonso, além da fabricação dos painéis e da engenharia de aplicação, também o comissionamento e a assistência técnica pós-venda passarão a ser feitos a partir do país árabe, estendendose, paulatinamente, aos demais países do oriente médio. atualmente, encontra-se em fase final de construção, na cidade de dammam, um loop de testes de 1,4 km, com características similares ao que a asel-tech já possui no Brasil, e que servirá como plataforma de demonstração, testes, comissionamento e treinamento dos usuários.


Brazilian Helicopter Services

Transporte aéreo para o pré-sal A exploração de petróleo no pré-sal começa a provocar mudanças na logística offshore. Dois helicópteros de grande porte, modelo S-92, da norte-americana Sikorsky, recém adquiridos pela Brazilian Helicopter Services (BHS), já estão sendo utilizados pela Petrobras para transporte de passageiros até o campo de Tupi, na Bacia de Santos, a 300 km da costa. Além destes, outros três grandes helicópteros EC-225 Super Puma, da francesa Eurocopter, entraram em operação na Bacia de Campos. As cinco novas aeronaves da BHS, contratadas pela Petrobras, já ultrapassaram a marca de 500 horas de voo. “Estamos cumprindo todos os prazos contratuais com a Petrobras e operando esses novos modelos de helicópteros especiais, totalmente equipados para transportar passageiros a grandes distâncias. Eles têm até quatro horas e meia de autonomia de voo e podem levar 18 pessoas às áreas mais distantes do pré-sal”, informa Décio Galvão, diretor da BHS Helicópteros.

Foto: Divulgação

Helicópteros de grande porte estão operando no litoral fluminense, agilizando a logística das atividades offshore

Outro modelo S-92, da Sikorsky, também está entrando em operação em abril. Até junho, mais três aeronaves adquiridas pela BHS chegam ao Brasil, completando a frota de nove, contratada pela Petrobras. No final de fevereiro, a BHS foi homenageada pela francesa Eurocopter e pela americana Sikorsky por ser uma das primeiras empresas a operar comercialmente esses novos modelos de helicópteros no Brasil. A cerimô-

nia ocorreu durante a feira da HAI (Helicopter Association International), a maior do setor no mundo, realizada este ano em Houston, no Texas (EUA). A pioneira foi a Líder Táxi Aéreo, que desde meados do ano passado está operando o S-92, também atendendo às atividades offshore da Petrobras. As duas empresas, juntamente com a Petrobras, operam com helicópteros Sikorsky, desde o primeiro modelo S58TTM da década de 1970.

Radix Engenharia

Radix Engenharia chega ao Brasil A Radix Engenharia e Software, empresa de soluções de engenharia e TI, inicia suas operações com a expectativa de somar R$ 20 milhões em vendas em seu primeiro ano de atuação. Com sede no Rio de Janeiro, a empresa foi criada por seis fundadores e principais gestores da Chemtech, do Grupo Siemens: Luiz Rubião, ex-CEO da Chemtech, Flávio Guimarães, Geraldo Rochocz, João Chachamovitz, Alexandre Cramer e Maurício Miele. Empresa com capital 100% nacional, a Radix já assinou seu primeiro

Foto: Banco de Imagens TN Petróleo

A previsão é de faturar R$ 20 milhões em venda em um ano no país

contrato com um cliente do setor de alimentos. A empresa pretende começar a atuar no mercado interna-

cional (EUA, Noruega, Índia, Oriente Médio, entre outras regiões) até o fim de 2010. A Radix – palavra que vem do latim e significa ‘ raiz’, ‘origem’ –, desenvolve e implementa soluções eficientes e inovadoras para o contínuo aperfei-çoamento e crescimento dos processos produtivos de seus clientes. Os serviços e soluções da companhia atendem aos mercados de óleo e gás, petroquímico, químico, de metais e mineração, papel e celulose e geração de energia, dentre outros.

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produtos e serviços

Lupatech

Lupatech cria empresa de serviços

Foto: Agência Petrobras

Subsidiária prestará serviços de intervenção em poços de petróleo.

Ampliar sua participação no mercado brasileiro de óleo e gás, no qual já é uma tradicional fornecedora de equipamentos e serviços, é a meta da Lupatech com a criação de uma subsidiária, a Lupatech Oilfield Services. A nova companhia nasce com o objetivo de ser um importante player regional de serviços para poços de petróleo e gás na América Latina. Anunciada no final de março, a subsidiária é a soma de experiências da Lupatech e da Penta Oilfield Services, empresa de serviços de petróleo que reúne profissionais do setor, oriundos de empresas como Schlumberger, BP, Petrobras e Repsol. Entre eles, Cesar Paolini (ex-vice-presidente da Schlumberger para América Latina), Carlos Portela, ex-Chief Operating Officer (executivochefe de operações) da BP na Colômbia, e João Carlos de Luca, ex-diretor

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da Petrobras, ex-presidente da Repsol e atual presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), criadores da Penta e executivos e conselheiros do novo player. A Lupatech terá 85% do controle da nova companhia, enquanto a Penta fica com os 15% restantes. O plano de negócios da empresa prevê a atuação inicial no Brasil, Colômbia e México. “Esses mercados foram escolhidos por apresentarem escala e excelentes perspectivas de crescimento”, explicou Cesar Paolini, CEO da nova companhia, a Lupatech OFS. “A Lupatech já conta com uma ampla linha de equipamentos e é um player em serviços não relacionados à intervenção de poços. Agora a companhia terá acesso a novos mercados”, avaliou De Luca, um dos criadores da Penta e membro do conselho da Lupatech OFS. Operações internacionais – A nova empresa iniciará suas operações na Colômbia, onde foram adquiridas, em 29 de março de 2010, as operações da colombiana Hidrocarbon Services

(HS), que registrou receita líquida em 2009 de US$ 11,7 milhões, e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 2,25 milhões. “A criação da Lupatech OFS marca nova fase do setor na América Latina, já que consiste no surgimento de um player regional na área de serviços especializados para petróleo e gás”, afirmou o CEO da Lupatech, Nestor Perini – ele assegura que, dentre os diferenciais competitivos da companhia, está um projeto alinhado com as necessidades do setor em utilizar conteúdo local, ofertando serviços técnicos com agilidade, qualidade e custo competitivo. A empresa deve receber o investimento inicial de US$ 16 milhões em aquisições. “Investimentos futuros estão associados às oportunidades de mercado que a companhia vier a identificar dentro da estratégia de ocupação mercadológica”, comentou o diretor de finanças e de relações com investidores da Lupatech, Thiago Alonso de Oliveira. Atuando em três segmentos de negócios – Energy Products, Flow Control e Metalurgia – a Lupatech existe desde 1980, com a criação da Microinox, empresa especializada no processo de fundição de precisão (microfusão) para produção de componentes fundidos para válvulas. Nos últimos anos, o grupo evoluiu, aumentando sua presença no setor de petróleo e gás. Na semana passada, foi anunciada a assinatura de contrato com a Petrobras para fornecimento de revestimentos internos especiais contra corrosão em tubos de aço. O acordo, que também prevê acompanhamento de instalações nos poços e assistência técnica, tem valor aproximado de R$ 150 milhões. O contrato prevê a possibilidade de renovação por mais três anos.


Swire Oilfield Services

Pré-sal atrai investimentos da Swire Oilfield Services

Em 2015, a estimativa é que o dobro de unidades offshore estarão operando em águas brasileiras. Com esse aumento, toda a cadeia de suprimentos terá um aumento significativo na demanda. A empresa, que tem por lema we go where you go (vamos aonde você for), acredita que o mercado vai demandar unidades de transporte offshore – conhecidos como CCUs (Cargo Carrying Units) – de qualidade superior. “Temos mais de 45 mil unidades de contêineres, cestas e tanques offshore, certificados pela Norma DNV 2.7-1, espalhadas pelo mundo e, no momento, o Brasil é uma prioridade dentro da estratégia global da empresa”, explica Marcelo Nacif, Business Development da Swire no Brasil. O executivo aposta no Brasil, onde tem boas expectativas de negócios. Em 2009, a Swire faturou US$ 166 milhões, e estima faturar US$ 420 milhões em 2015, com a ajuda dos investimentos no Brasil. A empresa possui grandes contratos com as principais operadoras de O&G e com as principais empresas de serviços e logística no mundo. “No Brasil, já temos unidades operando com a Statoil, Shell, Devon, Chevron, Repsol, Petrobras, Seadrill, Schlumberger, Halliburton, Modec, Brasco Logística Offshore e Nitshore”, enumera. “A expectativa é realmente promissora.” Exigências na área de SMS – Nacif observa que o Brasil tem uma das mais

Foto: Divulgação

A Swire Oilfield Services, empresa britânica do setor de contêineres offshore para a indústria de óleo e gás (O&G), com mais de 45 mil unidades espalhadas pelo mundo, desembarcou em março no Brasil de olho no pré-sal.

rígidas políticas de SMS e, naturalmente, a correta utilização de unidades de transporte de cargas offshore é um assunto muito discutido. “Empresas nacionais e internacionais, incluindo a Petrobras, estão promovendo esforços no sentido de melhorar a segurança das operações”, destaca. A Swire oferece somente unidades certificadas pela Norma DNV 2.7-1, mundialmente reconhecida no setor offshore e adotada na grande maioria dos países produtores. “Essas unidades oferecem total integridade para os equipamentos transportados e total segurança para as pessoas que os operam”, explica. “Além disso as unidades DNV 2.7-1 garantem maior capacidade de carga, menor utilização de área de armazenagem onshore e offshore, além de um custo muito baixo de manutenção.” O grupo pretende construir equipamentos no país atendendo a exigência de conteúdo nacional. A meta é produzir seis mil unidades de contêineres offshore até 2015. Até a construção da

fábrica, que será em região próxima a Macaé (RJ), a Swire estará investindo R$ 10 milhões em ativos, fora os investimentos a partir do início da produção, que envolverão toda uma cadeia de mão de obra e de fornecedores, movimentando a economia local. A produção local está planejada para mil unidades por ano pelo menos até 2015. “Somos o braço no continente sul-americano do conglomerado Swire, que possui mais de 35 empresas em seis continentes com foco na região da Ásia, atuando em diversos segmentos, sempre investindo onde a qualidade é uma demanda do negócio”, afirma. A maior área de atuação geográfica da Swire Oilfield Services continua sendo o norte da Europa, onde opera a partir de oito bases já estabelecidas, quatro delas no Reino Unido e Noruega, com parceiros na Dinamarca e Holanda. Também opera na Austrália, Nigéria, Angola, Rússia, EUA e Trinidad Tobago.

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produtos e serviços

Fluke

Assinantes da revista Control Engineering escolheram três novos produtos da Fluke para o Prêmio Engineers’ Choice 2010 para avanços tecnológicos, serviços para a indústria e impacto no mercado. Os produtos ganhadores, todos lançados em 2009, incluem a Pinça Amperimétrica de Processos de Miliamperes Fluke 773, o Termovisor Fluke Ti32 e, ganhando uma menção honrosa, o Multímetro Digital com Display Remoto Fluke 233. Todos os três produtos da Fluke ganharam na categoria de Controle de Processos. De acordo com a editora, “Os Prêmios Engineers’ Choice 2010 da Control Engineering destacam algumas das maiores novidades em controle, instrumentação e automação lançadas em 2009, escolhidas pelos assinantes da versão impressa e da publicação on-line da revista. Os participantes da pesquisa selecionaram os produtos baseados em seu progresso tecnológico, serviço para a indústria e impacto no mercado.” Segundo o presidente da Fluke, Fernando Kozik, a empresa trabalha continuamente para soluções e padrões que sejam eficientes em consumo de energia, e o prêmio foi um reconhecimento muito importante. “Estamos muito felizes e orgulhosos que nossos produtos foram reconhecidos, especialmente porque os prêmios da Control Engineering destacam as maiores novidades em controle, instru-

Foto: Divulgação

Fluke ganha prêmios por produtos inovadores

mentação e automação do mercado. Isso mostra o comprometimento da empresa em oferecer soluções que agreguem valor ao nosso cliente”, afirma. Em Controle de Processos – Monitoramento de Energia, a Pinça Amperimétrica de Processos de Miliamperes Fluke 773 foi escolhida a melhor. Nas palavras da Control Engineering, esta pinça “oferece capacidades abrangentes para testes e medições. O produto foi desenhado para medir com precisão as quantidades minúsculas de corrente fluindo nos circuitos de sistemas de controle, sem desligar o sistema, quebrar o circuito ou inserir um instrumento de teste. Ao invés disso, as pinças amperimétricas sensíveis são colocadas no fio para detectar e medir a corrente transportada. A Fluke alega que é o único fabricante de alicates amperímetros de alta precisão que não quebram o circuito, uma abordagem que

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pode proporcionar ganhos significativos em tempo e dinheiro”. Na categoria de Controle de Processos – Segurança de Processos, o prêmio foi para o Termovisor Fluke Ti32. De acordo com as reportagens da Control Engineering, ele “oferece um sistema de imagens térmicas acessível e efetivo em vários aplicativos usados por técnicos de manutenção, engenheiros de produção, eletricistas, técnicas de HV AC/R e outros. O produto foi desenhado e seu preço determinado para oferecer um nível de desempenho inédito para localizar erros e efetuar a manutenção preventiva em instalações elétricas, equipamentos eletromecânicos, equipamentos de processos e muito mais. Segundo a Fluke, o Ti32 é o primeiro equipamento de imagens térmicas a incorporar o potente sensor de 320 x 240, para criar imagens muito nítidas e detalhadas por menos de US$ 9.000”. Os assinantes da revista também selecionaram o Multímetro Digital com Display Remoto Fluke 233, o primeiro da indústria com um visor sem fio removível, para uma Menção Honrosa na categoria de Controle de Processos – Monitoramento de Energia. Com o display acoplado, o Fluke 233 funciona como um multímetro convencional. Em condições mais difíceis e incomuns, o display sem fio oferece o máximo em flexibilidade, aumentando a segurança e a produtividade para eletricistas e técnicos em eletrônica. Ao remover o visor sem fio do corpo do medidor, o usuário pode posicioná-lo no local mais fácil de visualizar e colocar o medidor na melhor posição para conectá-lo ao circuito testado.

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Wärtsilä quer maior participação onshore Fornecedora de equipamentos navais para construtores, armadores e operadores de embarcações e instalações offshore, a Wärtsilä Brasil realizou em março, no Rio de Janeiro, seminário sobre aplicações para o segmento de óleo e gás. O evento contou com a presença de Tomas Ronn, um dos principais executivos do departamento de execução de projetos da Wärtsilä; Stefan Fálten, gerente de Aplicação de Compressão da companhia; Gil Viana, gerente geral de Serviços e Vendas; e Luiz Maggioni, gerente de Desenvolvimento de Negócios para a área de Energia, além de profissionais da Petrobras, Transpetro, Iesa, Gaia, TBG, Odebrecht e da PUC. A atuação da Wärtsilä é expressiva no setor. A empresa tem participação em projetos em países como Hungria, Alemanha, Escandinávia, Indonésia, Turquia, Sudão, Índia e EUA. “Já fornecemos para o setor por intermédio de nossa unidade naval. Agora queremos

uma participação maior no onshore brasileiro”, afirmou Maggioni. Na ocasião, a empresa apresentou soluções como estações de bombeamento e de flare reduction (redução na queima de gás), afora seu portfólio de motores e geradores de energia. “Além da alta eficiência, flexibilidade na utilização de combustíveis e baixos níveis de emissões, são soluções que visam a otimização das plantas”, explicou. “Apesar de parte dos equipamentos serem comprados no exterior, existem projetos para aumentar nosso conteúdo nacional”, comentou Maggioni. No Brasil, os negócios da Wärtsilä estão a todo vapor. Em 2009, foram construídas três novas usinas, e os contratos de operação e manutenção das plantas de

Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

Wärtsilä

Viana (ES) e Geramar I e II, localizadas em Miranda do Norte (MA), também ficarão a cargo da empresa. Estas duas produzirão, juntas, um total de 320 MW de potência elétrica à rede nacional, enquanto Viana ficará responsável por suprir 174 MW, energia suficiente para o abastecimento de 400 mil residências. Em Geramar I e II, com o acordo de pelo menos cinco anos de Operações e Manutenção (O&M), a Wärtsilä vai assumir a responsabilidade por todas as demandas das plantas.

Metalcoating

Tecnologia nacional

Foto: Divulgação

Metalcoating é qualificada pela Petrobras para revestimentos orgânicos anticorrosivos de dutos em curvas

A Metalcoating Revestimentos foi certificada pela área de dutos da Petrobras como empresa qualificada para realizar revestimentos orgânicos anticorrosivos em curvas. Os revestimentos são aplicados interna e externamente nas curvas, protegendo o substrato metálico da ação corrosiva de fluidos e solos.

A tecnologia desenvolvida para essa aplicação é 100% brasileira e passa a ser mais um item de nacionalização desenvolvido pela Metalcoating para atender as demandas da Petrobras e do segmento de óleo & gás. “O revestimento será utilizado para proteger as curvas do aqueduto do mar do

Rio Grande do Norte que será instalado no campo de Ubarana, cujo projeto estratégico de revitalização terá capacidade para injetar 17 mil m³ de água por dia, contribuindo para o incremento da produção de óleo e gás no estado potiguar”, explica Gilson Gama, da gerência comercial da empresa. Para esse projeto, as resinas aplicadas irão proteger o substrato metálico internamente da ação corrosiva de água produzida (PCW), e externamente da ação corrosiva da água do mar. Uma das unidades de negócio do Grupo Alvenius, e especializada em tecnologias de aplicação de revestimentos orgânicos para proteção anticorrosiva, a Metalcoating atua nos mercados de petróleo, gás, etanol e biodiesel e no de indústrias químicas. Localizada em Cotia, em São Paulo, próxima ao Complexo Viário Mário Covas – Rodoanel – a empresa é a primeira no setor de revestimentos no Brasil a conquistar o SGI (Sistema de Gestão Integrado), possuindo as três normas mais importantes do sistema: as certificações ISO 90001:2008, ISO 14001:2004 e OHSAS 18001:2007.

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contratos

O contrato de partilha de considerações sobre produção o regime tributário Num momento em que se define que o modelo contratual a vigorar nas operações petrolíferas do pré-sal será o do contrato de partilha de produção, importa tecer algumas considerações sobre as questões tributárias que este tipo de contrato suscita.

C

Gonçalo Falcão é sócio do Tauil & Chequer Advogados associado a Mayer Brown, com ampla experiência em assuntos relacionados às áreas de petróleo e gás, empresariais, de investimento estrangeiro, trabalho, imigração e comércio exterior. Habilitado a atuar profissionalmente no Brasil e em Portugal, dedica-se às questões tributárias internacionais, representando clientes em todo o mundo e especialmente na África (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe).

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onceitualmente, vou começar por dizer que o contrato de partilha de produção tem sua gênese no contrato agrícola norte-americano conhecido por farm-out. Nos termos deste contrato, àquele que ajudasse o dono da terra na plantação ou colheita era atribuída, em espécie, uma parte da produção. Na exploração petrolífera, o conceito é precisamente o mesmo, ou seja, quem “ajudar” o Estado, ou a entidade concessionária dos direitos de exploração na atividade de produção petrolífera, tem direito a adquirir, em espécie, uma parte do petróleo extraído. No caso brasileiro, isto equivale a dizer que às companhias petrolíferas que se associem à União na exploração da área do pré-sal será atribuída, em espécie, uma quota-parte do petróleo produzido. Quem suporta integralmente os riscos e os custos da atividade são as entidades contratadas pela União, sendo que, em caso de insucesso na exploração, não serão reembolsadas de tais custos. Diferentemente, havendo petróleo a partilhar entre a União e tais entidades, parte desse petróleo será utilizado para recuperar os custos de exploração, sendo este aspecto (o da recuperação de custos) aquele que marca a diferença do regime tributário deste tipo de contrato face a outros, como por exemplo o modelo vigente (contrato de associação). Apesar de não existir ainda qualquer pista quanto à forma como o Brasil irá adequar o modelo de tributação em sede de imposto de renda ao regime da partilha de produção (sendo certo que se mantém o pagamento de royalties sobre a produção e o bônus de assinatura, existindo alguma indefinição quanto à participação especial), o certo é que o mecanismo da partilha obriga a algumas adaptações e à assimilação de conceitos até hoje desconhecidos no imposto de renda. Conforme referido aqui, especial atenção deve ser dispensada ao mecanismo de recuperação dos custos de exploração. Com efeito, característica elementar da atividade petrolífera é a da acumulação de prejuízos nos primeiros anos de exploração, sendo elemento basilar do equilíbrio contratual a possibilidade de a companhia petrolífera poder recuperar esses custos (os quais, tecnicamente, e atento ao princípio da especialização de exercícios, assumem a natureza de prejuízos dos primeiros anos de exploração) a partir da produção comercial. Tendo em conta que no


Foto: Agência Petrobras

modelo de partilha de produção ocorre a partilha, em espécie, do petróleo produzido, a recuperação dos custos de exploração dá-se através da utilização, todos os anos, de parte do petróleo produzido precisamente para operar a recuperação dos custos. Como funciona? Simples: do montante total de petróleo que é produzido em determinada área, dada percentagem (a fixar no contrato) é autonomizada e vendida pela companhia petrolífera, utilizando-se as receitas daí provenientes exclusivamente para compensar os custos incorridos nas fases de pesquisa e desenvolvimento acumulados nos anos anteriores ao início da produção. O prejuízo transportado dos anos anteriores à produção assume a natureza de crédito a deduzir à base tributável dos anos subsequentes, tendo como limite de dedução o montante de cost-oil disponível (determinada percentagem do total de petróleo produzido). Em outras palavras, existindo base tributável o prejuízo transportado dos anos anteriores (que corresponde ao montante dos custos recuperáveis) é considerado como um custo desse ano e deduzido em conformidade. Note-se que, por oposição ao petróleo para recuperação de custos (cost-oil), existe o designado petróleolucro ou profit-oil. Com efeito, e conforme já referido, se do total do petróleo produzido num dado ano, parte (vamos supor, 50%), é considerada cost-oil, o restante é considerado petróleo-lucro e é sobre ele que incide a alíquota de imposto de renda. O lucro assume assim uma natureza convencional e não real, fenômeno algo parecido ao do sistema do lucro presumido do Imposto de Renda. A convivência entre o cost-oil e o profit-oil é necessária na medida que, se por um lado o cost-oil permite a recuperação dos custos incorridos pelas companhias petrolíferas a partir da existência de produção comercial, o profit-oil permite que o Estado possa igualmente ser remunerado, também ele, logo a partir do momento que exista produção comercial. Ou seja, há sempre imposto a pagar ao Estado, estando sempre assegurada a progressiva recuperação dos custos incorridos nas operações. Note-se que, por via de regra, se num dado exercício não existirem custos a recuperar em valor suficiente para preencher o cost-oil disponível, a parte deste cost-oil não utilizada se converte em profit-oil. Em sentido inverso, países há em que se admite por curtos períodos de tempo o aumento da percentagem do cost-oil se a dada altura da vida da exploração se concluir que existem ainda muitos custos por recuperar. Se o conceito se afigura de compreensão simples, já a sua implementação requer algum cuidado na medida que há várias regras que devem ser definidas com clareza na lei ou no contrato para que não subsistam dúvidas. A enunciação dessas regras constitui um

desafio para o legislador e deve ser objeto de cuidada ponderação. Enunciam-se, em seguida, alguns dos aspectos a considerar: • Percentagem do profit-oil vs. cost-oil. Trata-se, essencialmente, de uma ponderação financeira a fazer pelo Estado no sentido de dar preferência à arrecadação de receita ou a tornar o regime tributário mais atrativo para o investidor por via da mais rápida recuperação dos custos. • Classificação dos custos recuperáveis. Atualmente a legislação brasileira em sede de imposto de renda não contempla um capítulo especial relativo às operações petrolíferas e, nessa medida, não cobre a questão da classificação dos custos dedutíveis/recuperáveis. Cremos que a existência dessa tipificação seria benéfica na medida que traria algum conforto adicional e segurança jurídica à relação entre a indústria petrolífera e a receita federal. • Ordem cronológica da recuperação em função da natureza do custo. Atendendo à distinção legal tradicional que é feita entre custos de pesquisa, desenvolvimento e produção, importa definir uma ordem cronológica de recuperação. • Deve também ser definido em que medida a recuperabilidade de custos possa ser feita em comunicação entre vários campos ou áreas de desenvolvimento ou se se prefere um regime de absoluto ring fencing. Mais haverá a desenvolver quando for conhecido o regime contratual definitivo, sendo que por ora apenas se procurou dar uma visão panorâmica do esquema de tributação deste tipo de contrato. TN Petróleo 71

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mão de obra

A economia brasileira e o apagão de talentos Era outubro de 2008, e o mundo sofria os efeitos do momento mais crítico da crise financeira global que, segundo os pessimistas, arrasaria o mundo. Eu me debruçava na escrita da minha sétima publicação: Fraldas corporativas: desenvolvendo hoje o líder de amanhã – voltado para os jovens universitários. Mas, decidi não só afirmar, mas deixar por escrito, no livro, que o Brasil passaria incólume por tal crise sem precedentes.

P

Alfredo José Assumpção é economista, mestre em Gerência de RH, CEO & Founder Partner da Fesa, e Chairman da Asap, é autor de oito livros, dentre eles, Gestão sem medo e Fraldas corporativas.

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ara provar que falava com convicção, contrário a todas as empresas que demitiram de 30% a 60% do seu capital humano, eu e meus sócios criamos uma empresa em plena crise. Nascia então a Asap Recruiting Leaders for the Future, empresa para recrutar e selecionar profissionais em início de carreira gerencial. Durante todo o ano de 2008, comentei em meus artigos e entrevistas sobre os limites físicos do Brasil para sustentar seu crescimento. A crise de 2009 foi uma espécie de ‘bênção’ para o governo e o empresariado local. Deu tempo ao nosso governo e aos nossos empresários de repensarem os negócios do país, em conjunto com a estrutura micro e macroeconômica. Foi um respiro que nos ajudou a nos capacitar para um crescimento previsto e tido como sufocante de 5% a 6% em 2010. Acredito que o ano de 2010 repetirá 2008, o auge para a seleção de executivos, mas sofreremos com a falta de talentos no país. Assim, enquanto falávamos em 2008 de apagões diversos (como o energético, rodoviário, ferroviário, portuário, aeroviário, regulatório, previdenciário, executivo, judiciário e outros tantos), esquecíamos do apagão mais complexo e de difícil solução: o de talentos. Sem talentos, não resolveremos apagão algum. No segundo semestre de 2009, já podíamos constatar que a crise passara ao largo do Brasil. Sofremos pouco com ela. Na verdade, a crise apenas deu fôlego para nos prepararmos para 2010. Estamos na fase do Investment Grade, concedido pelas maiores e mais conceituadas agências de rating do mundo, como: Moody’s, Standard & Poors e Fitch Ratings, além do alinhamento do famoso bloco econômico Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Todos acreditam no Brasil e todos nos querem bem. O assunto econômico deste final de década, “investimento no Brasil”, continua a ser também o da próxima década e não podia ser diferente. É sinal de que mais e mais investimentos sérios serão encaminhados ao país. E a pergunta que não quer calar é: “Teremos condições físicas para atender a tanto investimento?” Com certeza, o crescimento econômico estará, de certa forma, cerceado por limites físicos. Com o apagão de talentos, é evidente que falte infraestrutura humana para suportar tanto investimento. Nenhum país consegue se desenvolver sem educação adequada. Sabemos que os Tigres Asiáticos investiram pesado em educação – a Índia e a China não fizeram por menos. Esses são apenas alguns exemplos de mercados emergentes que se prepararam, a partir do alicerce básico, para o crescimento e desenvolvimento econômico


Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

e social que advém da educação. Teremos um leilão de mão de obra jamais visto no país. Caminhamos para um completo desassossego e sofreguidão empresarial devido à incerteza quanto à entrega de pedidos por falta total de competência humana, em quantidade suficiente, sobretudo na esfera executiva. Carecemos de líderes e de capital humano técnico gerencial para respondermos no curto e médio prazos a toda a demanda de produtos e serviços que advirá. Precisamos começar a investir agora em educação. Assim, grandes empresas serão aquelas que conseguirão reter, desenvolver e motivar seus atuais talentos, além de atrair outros no mercado local e internacional. Precisamos fazer um grande mutirão, aí incluindo governo e iniciativa privada, para minimizarmos o gap de capital humano necessário para fazer crescer o PIB brasileiro, de acordo com as oportunidades que se desenham neste cenário. É o que as grandes nações fazem e o Brasil tem de cumprir com seu papel social. Não há outra saída, temos de educar para sobreviver. É hora de investirmos pesado em educação em todos os níveis, do primário ao superior, incluindo escolas de ponta para MBAs, além das que já temos, para merecermos mais ainda os investimentos que estão sendo e serão aportados no país. Só assim teremos um PIB crescendo de forma constante e duradoura, o que se reverterá em benefícios cumulativos para o povo brasileiro. É a forma de nos mantermos no status de investment grade. Falamos, enfim, da grande virada do país. O futuro acaba de chegar. O “país do futuro” virou o “país do presente”. Toda empresa que quiser sobreviver aos novos tempos no Brasil precisará ter um excelente quadro de pessoas. Então, comecem agora, líderes empresariais e área de recursos humanos, a recrutar os melhores universitários, pós-graduados, MBAs e demais acadêmicos, para montar o que chamamos de personnel pipeline.

A decisão de buscar no mercado os recursos humanos com forte impacto na estratégia de negócios das organizações – executivos – implica uma cuidadosa escolha de parceiros externos. O bom profissional, em geral, não se oferece nem responde a anúncios. Há quase que saber encontrá-los, valendo-se de consultores altamente especializados neste tipo de pesquisa e que atuam com ética no trato com pessoas. O sucesso da economia brasileira dependerá do sucesso das empresas locais ou multinacionais aqui instaladas que, por sua vez, dependerá de como será gerenciado o apagão de talentos que o país volta a enfrentar neste ano. O recrutamento estratégico de executivos-chave passa a fazer parte integrante da agenda e deve estar no topo da lista de conselhos de administração, CEOs e líderes em geral, incluindo o empresariado local. A sobrevivência, manutenção, produtividade, lucratividade e o próprio valor da empresa dependem disto.

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dutos

medição de tensões residuais

Sistema óptico aprimora

em dutos enterrados

Num mundo ideal, dutos enterrados para o transporte de derivados de petróleo estariam expostos apenas aos esforços resultantes da pressão interna do fluido transportado.

N

Armando Albertazzi Gonçalves Jr. é doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina e fundador da Photonita. Especializado na área de Metrologia.

Cesar Kanda é mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina e sóciodiretor da Photonita.

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o mundo real, esta é apenas uma componente do complexo estado de tensões que age nas paredes de um duto enterrado. Sem considerar os efeitos do envelhecimento e da corrosão, pelo menos quatro outros fatores geram tensões significativas que se combinam com o primeiro: as tensões de montagem, de origem térmica, as decorrentes da interação duto/solo e as tensões residuais por conta da fabricação do duto. Medir as tensões residuais nestes dutos é um trabalho extremamente importante, pois as combinações de todos os fatores mencionados podem gerar situações de risco, elevando o potencial de ocorrência de acidentes graves. Para calcular com segurança as tensões que agem em um trecho de um duto, é necessário o conhecimento pleno da própria história do duto, desde a produção do material até a obtenção da sua conformação final. Adicionalmente, devem ser conhecidas as ações sofridas pelo duto durante seu transporte, sua montagem na faixa de serviço, bem como as possíveis ações de terreno, tais como deslizamentos. Como não é possível ter acesso a estas informações de maneira confiável, o cálculo das tensões não satisfaz. É necessário medi-las em campo. Existem alguns métodos experimentais capazes de medir tais tensões. Extensômetros de resistência elétrica e extensômetros de cordas vibrantes estão entre os mais popularmente usados em dutos. Entretanto, ambos são sistemas incrementais, isto é, medem apenas as variações de tensões a partir de um momento adotado como referência. Ao instalar extensômetros em dutos em operação nos quais os estados de tensões iniciais são desconhecidos, não é possível caracterizar as tensões combinadas. Só é possível monitorar a evolução do estado de tensões tendo o momento da instalação como referencial. Nestas condições, pouco ou nada é possível afirmar sobre a integridade de um duto que já estava carregado e exposto à ação do terreno no momento em que o extensômetro foi instalado, porque não se sabe a que


Foto: Divulgação

nível de carregamento estava exposto o duto no momento em que o monitoramento iniciou. Os métodos que medem tensões residuais são absolutos, isto é, medem o estado de tensões que age de forma combinada sobre o material independentemente de existir um referencial inicial. Os mais populares são a difração de raios-X e o método do furo cego. O primeiro envolve a medição das distâncias interatômicas da estrutura cristalina do material do duto a partir das figuras de difração resultantes do bombardeio de um feixe de raios-X com ângulos controlados. Tem como vantagem o fato de não ser invasivo ao material do duto. Sua principal limitação é a baixa penetração na região medida, dando informações sobre as tensões que agem na superfície do material, que não são de interesse na engenharia.

Furo cego O método do furo cego é, sem dúvida, o caminho mais usado, principalmente em campo, para medir o estado de tensões de forma absoluta. Apresenta como aspecto negativo o caráter semi-invasivo, uma vez que é necessário executar um pequeno furo cego no material a ser medido. Trata-se de um furo pequeno, de 1,6 mm de diâmetro, e de não mais de 1,4 mm de profundidade. Quando necessário, após a medição estar completada, aplica-se uma ferramenta abrasiva para produzir um “adoçamento” da região do furo, tornando-a geometricamente suave.

Há duas formas básicas de medir a movimentação do material em torno do furo: com extensômetros de resistência elétrica e com métodos ópticos. No primeiro caso, uma roseta com extensômetros é instalada de forma convencional na superfície da peça cujas tensões devem ser medidas. A roseta possui um alvo na parte central para guiar a execução do furo na posição correta. Uma turbina pneumática de ultra-alta rotação e um dispositivo de avanço fino executam o furo com uma fresa de topo similar às usadas pelos dentistas. Ao final de cada passo de furação, as deformações de cada extensômetro são medidas. Esses dados, juntamente com as características da ferramenta de furação, propriedades do material e características da roseta extensométrica são usados para determinar o estado de tensões residuais. É um método confiável, normalizado e muito trabalhoso. Requer habilidade prática e consome muito tempo de um técnico especializado. Alternativamente, o método do furo cego pode ser aplicado usando um interferômetro à base de laser para medir o campo de deslocamentos em torno do furo executado em lugar da roseta interferométrica. Este método (norma ASTM E 837-01) envolve a realização de um pequeno furo cego de 1,6 mm de diâmetro e aproximadamente 1,4 mm de profundidade (podendo ser realizado com menores profundidades). Se o material analisado se encontra livre de tensões TN Petróleo 71

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dutos

residuais, a geometria do furo será um círculo (linha amarela da figura 1). Na presença de tensões residuais, o material nas imediações do furo será deformado de acordo com o campo de tensões atuantes, mudando sua forma Figura 1 – Campo de deslocamentos e transformando-se medidos pelo método do furo cego combinado com holografia eletrônica. em uma elipse (linha azul da figura 1). Essa mudança (circular para elíptico) gera um campo de deslocamentos ao redor do furo, o qual se relaciona diretamente com o campo de tensões presentes. Para medir com grande precisão este campo de deslocamentos e calcular as tensões, utiliza-se um método óptico conhecido como ‘holografia eletrônica (HE)’. Quando um objeto é iluminado com um laser, o mesmo apresenta um aspecto granular formado por pontos claros e escuros conhecido como speckle. Deslocamentos na superfície produzem mudanças neste granulado óptico, as quais podem ser captadas por uma câmera digital, permitindo calcular a movimentação do material ao redor do furo, de acordo com o estado de tensões existentes. Com o desenvolvimento da tecnologia, a medição óptica do campo de deslocamentos ao redor do furo se tornou muito mais rápida e prática que a medição das deformações realizadas com extensômetros elétricos (EE). A figura 2 apresenta uma comparação do tempo tipicamente necessário para realizar uma medição óptica como holografia eletrônica (HE) e com extensômetros elétricos (EE). Na medição com extensômetro, cerca de 50 minutos são consumidos com a preparação da superfície e sua instalação. Na medição óptica, este tempo cai para 10 minutos. No final, é possível medir entre três a quatro vezes mais rapidamente com os métodos ópticos. A medição óptica com holografia eletrônica é o princípio de um sistema desenvolvido nos últimos 15 anos na Universidade Federal de Santa Catarina, denominado de MTRES (Medidor Modular de Tensões Residuais), com apoio da Finep, CTPetro, CNPq, Petrobras, Sebrae e CTEnerg. O sistema resultante é um equipamento com tecnologia de ponta, sem paralelo no cenário internacional. O serviço de medição é hoje disponibilizado em escala comercial ao mercado brasileiro através da empresa Photonita, localizada na incubadora Celta, de empresas de base tecnológica inovadora de Florianópolis. Inédito no mercado, o sistema tem sido utilizado por grandes empresas petrolíferas e de 120

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Figura 2 – Comparação de tempos de medição entre os métodos disponíveis.

Figura 3 – Medição realizada no Gasoduto Bolívia-Brasil.

distribuição de gás e consiste em inovação totalmente brasileira.

Medição em gasoduto A figura 3 mostra uma foto do sistema sendo utilizado em uma medição realizada pela empresa Photonita (www.photonita.com.br) em um trecho do gasoduto Gasbol. As tensões são medidas em um mínimo de quatro pontos distribuídos ao longo da seção analisada. Um diagrama colorido similar ao da figura representa a distribuição das tensões longitudinais ao longo da seção analisada em um duto. Com ele são calculados os esforços longitudinais e os momentos fletores que agem no duto em resposta à movimentação do terreno. (Convém deixar claro que o diagrama colorido da figura corresponde a um outro duto. É aqui apresentado com o aspecto ilustrativo apenas. Ele não corresponde às medições realizadas no Gasbol. Os dados verdadeiros foram omitidos por questões de sigilo profissional.)


royalties

Royalties do petróleo e tributação:

ou um ou o outro A aprovação da Emenda 387 do Projeto de Lei n. 5.938/2009, popularmente conhecida como ‘Emenda Ibsen’, deu início a intensas discussões a respeito da distribuição dos royalties decorrentes da produção de petróleo e gás natural no Brasil.

T

endo em vista o grande impacto financeiro que os estados e municípios produtores poderão vir a sofrer, a discussão ganhou fortes conotações políticas, com grande apelo social, suscitando inclusive uma gigantesca manifestação popular no Centro da cidade do Rio de Janeiro, representando o estado mais prejudicado com a eventual edição da Lei nos termos da emenda. Segundo a Emenda, após o pagamento de royalties e participação especial a que tem direito a União Federal, o montante remanescente deverá ser dividido à proporção de 50% para os estados e 50% para os municípios brasileiros, independentemente de se tratar de produtores ou não produtores. A redação original tinha o intuito de ser aplicada a todos os campos de exploração e produção, abrangendo tanto as novas áreas da região do pré-sal como aquelas já licitadas e operantes. O projeto de lei final apresentado ao Senado, todavia, estabeleceu alterações tendentes a atenuar os impactos originalmente previstos. Agora denominado PLC 16/10, o projeto, que foi apresentado ao Senado em 22 de março, aproveitou parte da Emenda Ibsen, transformando-a no artigo 45 do novo projeto. No entanto, trouxe dispositivos legais diferenciados para a exploração de petróleo na área da região do pré-sal, utilizando parâmetros diferentes de distribuição de royalties, prevendo percentuais específicos para os estados e municípios produtores.

Royalties O projeto de lei em trâmite no Senado já possui mais de 50 emendas, o que gerará ainda diversos debates de fundo legal, político e econômico. Todas estas discussões trouxeram à tona numerosos questionamentos a respeito da sistemática atual de distribuição de royalties. Qual o motivo para a existência do pagamento dos royalties? Por que beneficiar tão somente os estados e municípios produtores? Qual a ligação da atual sistemática de divisão de royalties com a tributação

Danny Warchavsky Guedes é sócio do escritório Bastos-Tigre, Coelho da Rocha e Lopes Advogados, especializado em Direito Tributário.

Caroline Floriani Bruhn é advogada do escritório Bastos-Tigre, Coelho da Rocha e Lopes Advogados, especializada em Direito Tributário.

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royalties

na indústria de petróleo e derivados? Estas questões podem ser delimitadas em dois aspectos principais: o socioeconômico e o jurídico – de fundo eminentemente tributário. A questão social e econômica diz respeito aos gastos despendidos pelos municípios e estados produtores para viabilizar as atividades, principalmente levando em conta os altos custos envolvidos em manter toda a infraestrutura necessária no setor. Isto porque a atividade de exploração e produção gera uma forte demanda de mão de obra, que acarreta crescimento populacional nestas áreas, e nova demanda por serviços públicos, como: educação, saúde, saneamento, iluminação pública, transportes e segurança. Tudo isso significa, indubitavelmente, um aumento dos gastos públicos. Ademais, os riscos ambientais envolvidos na exploração e produção de petróleo e gás natural, e a consequente responsabilidade dos estados e municípios produtores, devem ser levados em consideração. O trânsito de embarcações, as instalações de plataformas, oleodutos e bases de apoio, e, ainda, os riscos de vazamentos são aspectos relevantes de preocupação permanente dos estados e municípios produtores. Há quem discuta que os valores recebidos a título de royalties não são corretamente aplicados pelas administrações beneficiadas, não cabendo, portanto, tão alta remuneração para ser desviada nas mãos de maus gestores ou até mesmo pelos caminhos da corrupção. Não obstante, o fato é que 122

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as finanças públicas são fortemente afetadas nas áreas produtoras de petróleo e gás e os royalties servem justamente para amenizar os impactos orçamentários destas regiões. E é a partir deste ponto que se passa à análise jurídica e tributária dos royalties, o que, a nosso ver, é o centro das discussões sobre o assunto.

ICMS A satisfação das necessidades públicas é responsabilidade do Estado, que mediante uma série de atividades e intervenções na esfera social, política, econômica, educacional e administrativa, assegura todas as necessidades básicas da população. O Estado tem gastos. Ele é responsável pela gestão social. Para que possa efetivamente exercer tal gestão, é necessário arrecadar recursos financeiros e desenvolver atividades no sentido de empregar referidos recursos. Estes recursos financeiros compõem a chamada receita pública. Assim, é principalmente através da arrecadação dos tributos que os estados angariam receita suficiente para suprir todas as demandas. No caso das regiões produtoras de petróleo e gás natural, os gastos são ainda maiores. Desse modo, a tributação estadual e municipal exerce papel fundamental na economia destes locais. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sem sombra de dúvidas, representa a maior fonte de arrecadação estadual e envolve maiores quantias de dinheiro devido à ex-


royalties do petróleo e tributação: ou um ou o outro

tensa variedade de situações sobre as quais incide o referido tributo. De todo o montante arrecadado, 25% devem ser repassados aos municípios, na forma do artigo 158, IV da Constituição Federal. Verifica-se, portanto, a forte relevância da arrecadação do ICMS para os estados e municípios. Este imposto surgiu no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Lei n. 4.625/22, sob a denominação de Imposto sobre Vendas Mercantis. Foi incluído na Constituição de 1934, então intitulado Imposto sobre Vendas e Consignações, e passou à denominação de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias a partir da Constituição de 1965, com as características bastante semelhantes ao atual ICMS. O ICMS efetivamente firmou suas hipóteses de incidência e consequente nomenclatura com a Constituição de 1988, a partir da inclusão no fato gerador da prestação de serviços e transportes intermunicipais e interestaduais, e a prestação de serviços de comunicação, além de operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu artigo 155 as diretrizes básicas para a instituição e arrecadação do ICMS, imposto este de competência estadual. Em regra, o imposto incide na saída dos serviços e mercadorias. Desta forma, a regra geral determina que a arrecadação cabe ao Estado de onde saem as mercadorias e serviços. Em sentido contrário à regra geral, a Constituição determinou, em seu parágrafo 4º, que nas operações com os lubrificantes e combustíveis derivados de petróleo, além das operações com energia, o imposto caberá ao estado em que ocorrer o consumo. Aí está a distribuição diferenciada da riqueza do petróleo: enquanto todos os produtos sofrem cobrança do imposto no local onde são produzidos, o petróleo é tributado nos locais de consumo.

Arrecadação Neste mesmo sentido, a Lei Complementar n. 87/96, legislação infraconstitucional que regulamenta o ICMS, igualmente determina que o imposto, nas operações com petróleo, lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, caberá ao estado em que estiver localizado o adquirente. Significa dizer que o imposto estadual de maior importância é arrecadado sempre pelos estados consumidores de petróleo, e não pelos estados produtores, que precisam arcar com todos os gastos necessários à atividade.

Foi com o intuito de compensar financeiramente esta perda para os estados e municípios produtores, que a Constituição Federal introduziu em seu artigo 20, §1º, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural nos respectivos territórios. Verifica-se, portanto, que a motivação por trás do pagamento dos royalties foi originada pelas perdas consideráveis na arrecadação do ICMS. Conforme recentemente apontado à imprensa pelo secretário estadual de Fazenda do Rio de Janeiro, Joaquim Levy, este estado, por exemplo, deixa de arrecadar por ano algo em torno de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões com a incidência do imposto. Assim, se as conclusões dos debates travados no Congresso Nacional apontarem para uma maior distribuição de royalties entre estados e municípios não produtores, a melhor alternativa poderia ser a reavaliação do sistema tributário atual com relação ao ICMS. O que não se pode conceber é a distribuição de todos os recursos, perdendo os estados produtores nos dois lados: no ICMS e nos royalties. Ou os estados produtores recebem compensação pelos royalties, ou lhes é autorizada a cobrança do ICMS na produção. Já existe no Senado uma proposta de emenda constitucional, a PEC 20/07, que pretende alterar a sistemática atual, a fim de alterar os dispositivos do artigo 155 da Constituição, para que a tributação do ICMS seja destinada aos estados produtores. Os argumentos do relator do projeto, senador Paulo Duque, apontam a necessidade de restaurar a equidade de tratamento tributário e uniformizar a regra de incidência do ICMS. Em sua justificação, o senador afirma que não haveria motivos técnicos ou jurídicos para excepcionar os derivados de petróleo e a energia elétrica da regra que se aplica a todas as demais mercadorias. Os trâmites no Senado encontram-se paralisados desde novembro de 2008, mas há a grande possibilidade de que, com as crescentes discussões a respeito da distribuição de royalties, novos debates voltem a ser travados e a PEC volte a ser apreciada. A alteração da sistemática de arrecadação poderia significar maiores receitas aos estados produtores, amenizando os prejuízos decorrentes da nova sistemática de distribuição de royalties, e assim viabilizando a continuidade dos investimentos nestas áreas. Trata-se de uma alternativa para acalmar os ânimos de todos os envolvidos, além de ser uma opção viável e coerente à luz dos princípios e dispositivos constitucionais vigentes. Que seja um ou o outro, mas os estados produtores não podem perder nas duas pontas. TN Petróleo 71

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biocombustíveis

Mercado de biocombustíveis carece de regulação Desde o início deste ano, tem sido divulgado que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) submeteria ao Ministério de Minas e Energia (MME) uma proposta de marco regulatório para a exploração dos biocombustíveis. O objetivo seria inserir a ANP não apenas como ente fiscalizador e controlador da comercialização do etanol e do biodiesel em postos de gasolina, mas também introduzi-la como entidade reguladora de toda a cadeia, o que englobaria tratar de questões relativas à estrutura tarifária e infraestrutura logística dos biocombustíveis, dentre outras.

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Liliam Fernanda Yoshikawa é advogada sênior da área de infraestrutura e de energia, petróleo, gás natural e biocombustíveis do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.

Hilton Silva Alonso Junior é advogado da área de infraestrutura e de energia, petróleo, gás natural e biocombustíveis do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.

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ão é recente a expectativa do mercado pela regulação da infraestrutura logística dos biocombustíveis. A existência de um arcabouço jurídico-regulatório faz-se essencial à captação de investidores e à garantia de implantação de projetos de infraestrutura necessários ao segmento. Com efeito, a despeito da crescente presença do álcool combustível na matriz energética nacional, incertezas jurídicas, como a relativa ao regime jurídico aplicável ao transporte de álcool via dutos, retardam e, de certa forma, encarecem a implantação não somente destes, mas de outros projetos correlacionados ao segmento sucroalcooleiro, implicando, por conseguinte, a manutenção do gargalo logístico existente. Enquanto o transporte de petróleo bruto, seus derivados e gás natural são tutelados pela Constituição Federal e pelas Leis nº 9.478/1997 (Lei do Petróleo) e Lei nº 11.909/2009 (Lei do Gás), o transporte dutoviário de álcool carece de um marco regulatório próprio que forneça aos investidores segurança jurídica suficiente que justifique a injeção de recursos necessários à viabilização dos projetos de transporte de álcool. Isso porque verifica-se que, a par da discussão quanto à recepção, pela Constituição da República de 1988, da Lei nº 7.029/1982, que dispõe acerca do transporte dutoviário de álcool mediante concessão, até o presente momento, não foi editado regulamento que conferisse eficácia plena a esta lei, causando incertezas e prejudicando a sua executoriedade. Some-se a isso o fato de que, por força dos arts. 6º, VII e VIII, e 56 da Lei do Petróleo, a ANP, tal como já se manifestara em outras oportunidades, não é ainda competente para regular, fiscalizar ou normatizar o regime de construção e operação dos alcooldutos, já que os artigos mencionados tacitamente excepcionam o álcool do rol de commodities cujas atividades de transporte estão inseridas dentre aquelas sob ingerência da ANP. Diante desse cenário, aos interessados resta o estudo de outras alternativas, por vezes mais custosas e demoradas, para viabilizar o investimento no segmento. Sob a perspectiva regulatória, há argumentos em tese para sustentar a aplicabilidade dos polidutos, uma vez que o regime de outorga para a construção e operação destes, em razão de


Foto: Divulgação UNICA

sua natureza, é de competência da ANP e já está previsto em atos normativos administrativos editados pela agência. Não se pode afirmar, no entanto, que essa alternativa seria a mais viável sob a ótica operacional, haja vista a compatibilidade técnica e a questão de capacidade reservada, uma vez que o transporte de álcool via polidutos pode vir a não ser suficiente para atender aos interesses de investidores interessados exclusivamente na agroindústria canavieira ou nas atividades de logística envolvidas na produção e escoamento do etanol. De acordo com o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de 2009, elaborado pela ANP, a produção nacional de álcool etílico, seguindo uma trajetória de constante crescimento, atingiu um volume aproximado de 27,1 milhões m³, o que representou aumento de 20,3% em relação a 2007. Ainda segundo dados de publicações do mercado, só no ano passado o consumo de álcool etílico superou o de gasolina em, aproximadamente, 24%. Sobre o mercado de biodiesel, o Anuário Estatístico da ANP dá conta de que a produção brasileira efetiva foi de cerca de 1,2 milhão de m³. Sem dúvida, a Resolução nº 6/2009, do Conselho Nacional de Política

Energética (CNPE), que determinou a obrigatoriedade de adição de percentual mínimo de 5% de biodiesel ao óleo diesel a partir de 1º de janeiro de 2010, e a Portaria nº 50/2010 do MME, que define as diretrizes específicas para a realização de Leilões de Compra de Biodiesel a serem promovidos pela ANP, contribuirão para melhorar a performance desse biocombustível na matriz de fontes energéticas de 2010. Os dados estatísticos do setor, como os acima mencionados, reforçam o argumento de que, não obstante as oscilações sazonais comuns ao segmento, a produção dos biocombustíveis continua em franca expansão e apresenta potencial de crescimento para os próximos anos, tendo em vista a demanda doméstica e internacional por fontes ambientalmente limpas. Em que pese o entusiasmo quanto ao referido potencial de crescimento, não se deve esquecer que importantes ajustes no cenário regulatório, como é o caso da reflexão acerca do regime de outorga mais apropriado para a movimentação de álcool em dutos exclusivos, fazem-se essenciais à concretização das projeções de crescimento dos biocombustíveis na matriz brasileira. Aguarda-se que a proposta a ser submetida pela ANP ao governo aborde essas e outras questões cruciais ao desenvolvimento do setor. TN Petróleo 71

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fino gosto

O galeto da

Rua dos

Sabores por Orlando santos

epois de uma década funcionando em um amplo e belo espaço na esquina da rua da assembleia em frente ao prédio do palácio tiradentes, no Centro do rio – onde aliás permanece até hoje com o nome de Crystal restaurante – e com a experiência acumulada neste período, a família Safi se lança numa empreitada gastronômica. desta feita o local escolhido foi a rua do rosário, 99, entre a avenida rio Branco e rua da Quitanda, próximo ao centro histórico, onde se destacam o Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa França-Brasil, o arco do teles, o paço Imperial, entre outros. a ideia, segundo Cristiano Safi, que ficará à frente da nova casa, batizada de Crystal Galetos, é oferecer uma nova opção para quem trabalha no Centro da cidade. o cardápio (ver quadro), no entanto, é recheado de opções, e o espaço, antes ocupado por uma rede de fast-food, exibe agora, além da logomarca da Crystal na fachada, uma arquitetura moderna, decoração esmerada, mobiliário gastronômico de primeira qualidade, espaços amplos e confortáveis. a Rua dos Sabores, ou polo gastronômico do Centro do rio, como é mais conhecida a rua do rosário, por contar com mais de 20 restaurantes das mais variadas tendências, fica agora enriquecida com este novo espaço, que certamente tem tudo para se constituir num segundo e vitorioso empreendimento da família Safi. CrYsTAl gAlETOs rua do rosário, 99, Centro, rio de Janeiro Telefone: (21) 2507-1001

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Point do galeto Inaugurado em noite concorrida, o Crystal Galetos apresenta em seu cardápio variações raramente encontradas em outras casas do gênero,


a não ser as mais recentes, abertas na Barra e no recreio. É o caso, por exemplo, do galeto Crystal, servido com risoto de palmito e salada simples; ou o galeto francês, com risoto de funghi e folhas mistas; e o italiano, acompanhado de fetuccinni tricolor ao sugo; além de outras variedades como o galeto sulista (arroz de carreteiro e batata frita ) e o ‘metido a besta’, servido com risoto aos quatro queijos e ratatouille. para os tradicionalistas, há o velho e bom galeto simples, acompanhado de farofa de ovo e molho a campanha.

As origens da galeteria a expansão das casas de galeto (o termo ‘galeteria’, importado de São paulo, é coisa recente) começou com a inauguração, há quase cinco décadas, do Galeto São Judas tadeu, no coração da Cinelândia, ponto de efervescência política e cultural da cidade. ali, na rua ator Jaime Costa, próximo à Álvaro alvim, quatro portugueses, liderados por antonio Ferreira, todos devotos do santo, abriram a primeira casa do gênero no rio. o destaque do pioneiro sempre foi o galeto na brasa, especialidade que consumiu, assim como as obras no local, alguns meses de pesquisa,

até a escolha definitiva de um fornecedor do rio, com longa tradição na comercialização de aves o Galeto São Judas tadeu permaneceu por mais de 42 anos, até fechar as portas, há cinco anos, porque o novo dono do prédio resolveu uniformizar todo o espaço e, com a reforma, eliminou atividades não ligadas à sociedade. o grupo de portugueses que fundou o Galeto Cinelândia é o mesmo que pouco tempo depois abriu o Galeto Central, no edifício avenida Central, e o Bom Galeto, no Castelo, ambos em pleno funcionamento.

na Cinelândia, no começo dos anos 1960 – e quem é dessa época se recorda muito bem –, os fregueses tentavam comer os galetos com garfo e faca, mas depois começaram a degustar os tenros pedaços de ave com as mãos, lambuzando os dedos. nada mais prosaico! a mania dos galetos se espalhou por toda a cidade ao longo do tempo, com cada estabelecimento ostentando em suas fachadas, orgulhosamente, logomarcas como o rei dos Galetos, Galeto diplomata, Galeto do Leblon, entre outros – o que comprova que o pioneirismo dos portugueses atingiu em cheio o paladar do morador do rio.

galeto Francês, um dos pratos especiais da casa, vem acompanhado do risoto ao funghi e folhas mistas.

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coffee break

Museu Naïf um patrimônio valioso em busca da sobrevivência por Orlando Santos

As placas turísticas colocadas ao longo da rua das Laranjeiras, em direção ao Cosme Velho, indicam claramente três pontos bastante procurados naquela área: a igreja de São Judas Tadeu, o trem do Corcovado e o Museu Internacional de Arte Naïf.

Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil – Mian Rua Cosme Velho, 561, Cosme Velho, Rio de Janeiro Tel.: (55 21) 2205 8612 De segunda a sexta feira, das 13h às 17h Ingressos: R$ 10,00 www.museunaif.com.br

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O

s dois primeiros estão sempre com suas portas abertas, mas o Museu, depois de ser fechado em 2007, hoje está reaberto parcialmente e exibe em sua entrada um aviso de que isso é temporário. Para penetrar naquele mundo terno e mágico dos artistas primitivos é preciso tocar a campainha, para que o velho portão do casarão do século XIX, que fica trancado por medida de segurança, se abra. A luta do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (Mian) para sobreviver tem sido constante, já que desde sua criação nunca contou com a ajuda do poder público. O espaço tem sobrevivido graças à visitação, eventos paralelos em outras cidades, e à utilização dos seus trabalhos em calendários e agendas, como os feitos este ano pela Caixa Econômica Federal e o Banco Itaú. Criado em 1995, pelo francês Lucien Finkelstein, já falecido, um apaixonado pela pintura primitiva, ingênua, o Museu Naïf, agora transformado em fundação, é administrado pela filha do criador, Jacqueline Finkelstein, e alguns poucos colaboradores, como Tânia Magalhães, assessora especial.


Fotos: Divulgação MIAN

Separado por apenas 30 metros do bondinho do Corcovado, o Mian reúne um dos mais expressivos acervos do gênero – mais de seis mil obras, de todas as partes do país e do mundo – em espaços que necessitam de imediatas e profundas intervenções. E em regime de urgência mais do que urgentíssima para que este patrimônio valioso – que inclui o quadro de Aparecida Azevedo, contando a história do Brasil desde o descobrimento até a inauguração de Brasília – não seja danificado pelo tempo e por condições impróprias de conservação, apesar do grande esforço dos dirigentes do Museu. O quadro de Aparecida, com 24 m de comprimento, é considerado o maior quadro Naïf do mundo. Por enquanto, o museu vai funcionando em horário reduzido, de segunda a sexta, na parte da tarde. As portas estão novamente abertas, como a mídia saudou recentemente, mas para que isso seja definitivo é preciso

que algum mecenas ou órgão público ligado à Cultura saiba reconhecer o que este espaço representa para a vida cultural da cidade, do estado, do país.

Uma mina de ouro É assim que Jacqueline Finkelstein se refere ao legado que recebeu, depois de acompanhar a trajetória e a luta do seu

Abertura – Chegando ao Corcovado, Lia Mittarakis, acrílica sobre eucatex, 1985 Ao lado – Zé do Carmo, pierrot do Recife, Gerson, óleo sobre eucatex, 1972

pai, Lucien, para implantar e, se possível, consolidar o espaço do Cosme Velho como uma referência não só nacional, mas internacional do mundo naïf. Esses primitivos tão desassistidos – título, aliás, de uma grande matéria no Jornal do Brasil, publicada em 1998 –, continuam pedindo socorro. Otimista por formação, Jacqueline se arrisca a dizer que o grande acervo existente no Mian é como uma grande reserva de petróleo que precisa ser melhor explorada, seja através de parcerias individuais ou consolidadas. “Isso aqui é uma mina de ouro e espero que alguém venha participar desse grande projeto, para resgatar, de forma definitiva, um espaço tão bonito e tão representativo da nossa arte mais pura ”, diz esperançosa.

O painel Haiti A TN Petróleo reproduz, com exclusividade, o painel que reúne o talento de três artistas primitivos brasileiros e três do Haiti – uma das obras que sobreviveu aos terremotos ocorridos recentemente naquele país. O painel celebra a amizade entre os artistas primitivos dos dois países. O Mian ficou encarregado de selecionar e enviar ao país caribenho obras dos três artistas primitivos brasileiros que partilharam este espaço.

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feiras e congressos

Maio

26 a 27 – Escócia SPE International Conference on Oilfield Scale Local: Aberdeen Tel.: 972 952 9393 Fax: 972 952 9435 www.spe.org sppedal@spe.org 31 de maio a 2 de junho – Brasil Rio Gas Summit 2010 Local: Angra dos Reis Tel.: +44 (207) 089 4204 www.thecwcgroup.com

Junho

1º a 4 – Azerbaijão Caspian International Local: Baku Tel.: +44 0 207 596 5000 Fax: +44 0 207 596 5106 www.caspianoil-gas.com oilgas@ite-exhibitions.com 6 a 8 – Malásia Asia Oil & Gas Conference Local: Kuala Lumpur Tel.: 65 6338 0064 Fax: 65 6338 4090 www.asiaoil.com info@cconnection.org 6 a 9 – Brasil IAEE International Conference Local: Rio de Janeiro Tel.: 216 464 5365 Fax: 216 464 2737 www.iaee.org iaee@iaee.org 8 a 10 – Itália NGV 2010 Local: Roma Tel.: +55 21 81335291 www.ngv2010roma.com info@ngv2010roma.com 8 a 10 – Canadá Global Petroleum Show Local: Calgary Tel.: (888) 799-2545 Fax: (403) 245-8649 www.globalpetroleumshow.com paulaarnold@dmgworldmedia.com

9 a 11– Malásia Subsea Asia Local: Kuala Lumpur Tel.: +44 0 20 7840 2102 Fax: +44 0 20 7840 2119 sluff@oesallworld.com www.oesallworld.com 14 a 17– Espanha EAGE Conference Local: Barcelona Tel.: +31 88 995 5055 Fax: +31 30 634 3524 eage@eage.org • www.eage.org

Julho

20 a 22 – Canadá Oil Sands and Heavy Oil Technologies Local: Calgary Tel.: +1 713 963 6251 Fax: +1 713 963 6201 www.oilsandstechnologies.com gailk@pennwell.com 7 a 9 – EUA COGA Rocky Mountain Energy Epicenter Conference Local: Denver, Colorado Tel.: 303 861 0362 Fax: 303 861 0373 conference@coga.org 13 a 14 – EUA IADC Lifiting & Mechanical Handling Conference & Exhibition Local: Houston Tel.: 713 292 1945 Fax: 713 292 1946 info@iadc.org

Agosto

3 a 05 – Nigéria SPE Nigerian Annual Conference Local: Abuja Tel.: 972 952 9393 Fax: 972 952 9435 spedal@spe.org 19 a 20 – EUA Summer NAPE Expo Local: Houston, Texas Tel.: 817 306 7171 Fax: 817 847 7703 www.napeexpo.com info@napeexpo.com

22 a 26 – EUA The Oil & Gas Conference Local: Denver, Colorado Tel.: 303 296 8834 Fax: 303 293 9904 kgrover@enercominc.com 22 a 26 – Austrália ASEG/PESA Conference & Exhibition Local: Sydney Tel.: +08 9427 0838 Fax: +08 9427 0839 secretary@aseg.org.au 24 a 27 – Noruega Offshore Northern Seas (ONS) Conference Local: Stavanger Tel.: +47 51 84 90 40 info@ons.no 24 a 25 – EUA NPRA Cat Cracker Seminar Local: Houston, Texas Tel.: 202 457 0480 Fax: 202 457 0486 www.npra.org 25 a 28– Lituânia IAEE European Conference Local: Vilnius Tel.: +370 37 401 952 Fax: +370 37 351 271 iaee2010@mail.lei.lt www.iaee2010.org 31 de agosto a 2 de setembro – EUA OGMT – Oil & Gas Maintenance Technology Local: Nova Orleans Tel.: (918) 831-9523 Fax: : (918) 831-9729 www.ogmtna.com cstevinson@pennwell.com

Setembro

13 a 16 – Brasil Rio Oil & Gas Expo Local: Rio de Janeiro Tel.: 55 21 2112-900 Fax: 55 21 2220-1596 congresso@ibp.org.br 19 a 22 – Itália SPE Annual Technical Local: Florença Tel.: 972 952 9393 Fax: 972 952 9435 spedal@spe.org

Para divulgação de cursos e/ou eventos, entre em contato com a redação. Tel.: 21 3221-7500 ou webmaster-tn@tnpetroleo.com.br

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opinião

de Gabriel Aidar Abouchar, diretor de Mineração e Siderurgia da Abemi (Associação Brasileira de Engenharia Industrial).

O futuro do

aço brasileiro

A

pós um período conturbado, em função da crise econômica mundial, a siderurgia brasileira retoma o fôlego e passa a encarar 2010 com os olhos do otimismo. Os números consolidados até o momento indicam que o setor vem se recuperando e pode alcançar, em breve, os indicadores pré-crise. Mais do que isso, anima a siderurgia o horizonte futuro de oportunidades. No ano passado, o fechamento de mais da metade dos altos-fornos existentes no país tornou-se símbolo das dificuldades vivenciadas pelas usinas. A queda na produção, no comparativo com 2008, chegou a 21,4% no caso do aço bruto (totalizando 26,5 milhões) e 18,2% no de laminados (20,2 milhões de toneladas), de acordo com o IABr (Instituto Aço Brasil), entidade representativa das empresas do setor. Os negócios também encolheram: as exportações, da ordem de 8,9 milhões de toneladas e US$ 4,9 bilhões, ficaram 2,9% menores em volume e 38,6% em valor. Apesar da ação do governo de desonerar a carga tributária de grandes consumidores de aço, como a indústria automobilística e a de eletrodomésticos, as vendas domésticas também tiveram retração: 25,2%, passando a 16,3 milhões de toneladas. O cenário projetado para 2010 difere bastante do descrito aqui. Já em janeiro a produção de aço bruto somou 2,7 milhões de toneladas, volume 4,4% maior do que o de dezembro e 66,6% superior ao do mesmo mês de 2009. A previsão do IABr para o ano é de recuperação no consumo doméstico (alta de 23,3%) e nas exportações (crescimento de 23,4%), possibilitando uma produção de 33,2 milhões de

toneladas de aço bruto, próximo ao resultado de 2008 (33,7 milhões de toneladas). Além do melhor momento da economia brasileira e mundial, essas previsões refletem a expectativa da cadeia produtiva do aço em relação a diversos projetos que vão movimentar o Brasil nos próximos anos. Obras de infraestrutura de porte, programas de estímulo à construção civil, como o Minha Casa, Minha Vida, investimentos para exploração de petróleo na camada pré-sal, além dos previstos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, devem impactar positivamente a demanda de produtos siderúrgicos e abrir caminho para o crescimento sustentado do setor. Segundo o IABr, somente os projetos relacionados aos dois eventos esportivos devem aumentar o consumo de aço em 8 milhões de toneladas, entre 2010 e 2016. É mirando essas oportunidades que as usinas anunciaram aportes de US$ 39,8 bilhões para o período, valor que seria suficiente para elevar a capacidade produtiva dos atuais 42 milhões de toneladas de aço para 77 milhões de toneladas. A maior parte das empresas tem planos ambiciosos para o período, que incluem tanto a modernização e ampliação da capacidade instalada das usinas, como a implantação de novas plantas. Claro, o avanço da siderurgia brasileira vai depender de fatores que vão além da disposição das TN Petróleo 71

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Foto: Divulgação Abemi

Passada a crise, é hora de preparar as bases que vão garantir a sustentabilidade da siderurgia brasileira.


opinião

empresas em levar adiante os planos anunciados. Cabe ao governo estruturar uma política industrial eficiente, garantir um ambiente institucional com regras estáveis – sem deixar de levar em conta que os projetos siderúrgicos têm prazos longos de maturação, em função de características próprias à atividade – e se empenhar para solucionar questões que hoje impedem o setor de alcançar uma performance compatível com suas potencialidades. Entre elas, as altas taxas de juros praticadas no país, entre as maiores do mundo, e o complexo e oneroso sistema tributário. Na área fiscal, o governo sinalizou recentemente que pode modificar a política de tributação da mineração, de forma a estimular a agregação de valor na indústria. Atualmente, as vendas externas de minério de ferro pagam menos impostos que as de produtos manufaturados. Por conta dessa distorção, temos um país que é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo, com reservas que somam 33 bilhões de toneladas, mas que ocupa apenas a nona posição no ranking da produção global do aço. De acordo com a World Steel Asso-

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ciation, corresponde ao Brasil a fatia de 2,5% do mercado siderúrgico – reduzida para 2,2% em 2009. Há também desafios no que diz respeito às barreiras comerciais protecionistas que atrapalham o acesso da indústria a certos mercados. O caso mais importante é o das taxas de importação impostas pelos Estados Unidos ao aço brasileiro desde a era Bush. A sobretaxação chega a R$ 400,00 por tonelada de produto, em determinadas situações. Destaco ainda a formação de mão de obra, das áreas operacionais às executivas, como um fator preponderante para o sucesso dos empreendimentos da siderurgia e de todos os setores que agora se veem diante de oportunidades como nunca antes. O capital humano é e sempre será o principal motor do desenvolvimento. A siderurgia já é uma das atividades que mais contribui para o desenvolvimento do Brasil e pode, nos próximos anos, ampliar esse compromisso. Passada a crise, o horizonte é de otimismo, e o momento é o de formar bases que vão garantir a sustentabilidade do setor nos próximos anos.




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