Welcome Tomorrow Mag - Edição #02

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2ª EDIÇÃO | JULHO DE 2020

NOVO MUNDO FULL EDITION

ESPECIAL NOVO MUNDO

Esta edição da WTW Mag traz uma cobertura exclusiva do Festival Digital Novo Mundo, o evento online e gratuito realizado pela Welcome Tomorrow para destacar que “o que nos une é maior do que o que nos separa”




4 - ÍNDICE

MOBI 08

TALK

12

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Os impactos do isolamento social na mobilidade urbana, no transporte público e no comportamento das pessoas.

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Ainda é difícil mensurar a dimensão da crise, mas o que se sabe é que nada será como antes. Conheça as novas relações de trabalho e os caminhos para quem quer sobreviver ao pósCovid.

O FUTURO DA MOBILIDADE AÉREA

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A turbulência causada pela pandemia exige o alinhamento entre a tecnologia e o cuidado com o outro na retomada do setor.

O QUE MUDA E QUAIS EMPRESAS IRÃO SOBREVIVER À MAIOR CRISE DA NOSSA HISTÓRIA?

32

>>>

EXPEDIENT E

VIVER É COMO ANDAR DE BICICLETA Por Flavio Tavares, fundador da Welcome Tomorrow.

DA GLÓRIA AO CANCELAMENTO A quem seguimos e despendemos likes? São pessoas que nos inspiram para além da média? Coerência e propósito podem evitar o temido cancelamento dos heróis da Era Digital.

42

>>>

2020: O ANO EM QUE O MUNDO PAROU

SMART

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Por Damien Timperio, CEO da GL events no Brasil, multinacional de eventos presente em 27 países.

O NOVO NORMAL É SEM ESCRITÓRIO? A crise sanitária forçou a quebra de paradigmas e fez empresas acelerarem a implantação do home office e de tecnologia remota.

A PANDEMIA É UMA MÁQUINA DO TEMPO

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NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ECOSSISTEMA DE STARTUPS Por Pedro Waengertner, CEO da ACE.

A WTW Mag é uma publicação da Welcome Tomorrow, veiculada por distribuição direta e disponível online na versão digital. Jornalista Responsável: Karina Constancio – karina@wtwconference.com.br Colaboração: Beatriz Pozzobon, Guilherme Popolin e Loraine Santos Publicidade: atendimento@wtwconference.com.br Projeto Gráfico e Diagramação: Rodrigo Saber Bitar


2ª EDIÇÃO | JULHO DE 2020 - 5

TOMORROW

IMAGINATION LIFE

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POR MAIS QUARTOS ESCUROS E ESTRADAS LIVRES

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O QUE MUDA NO CONSUMO E COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO?

38

>>>

>>>

Em poucos meses, a pandemia acelerou mudanças que poderiam demorar anos para acontecer; conheça os hábitos e realidades que vão prevalecer de agora em diante.

Um novo mundo se apresenta e exige um processo de aprendizado compatível com o século XXI; a educação corporativa indica soluções para a era pós-pandemia.

46

>>>

Dois empreendedores brasileiros nos convidam a nos libertar do mundo antes do coronavírus rumo a um futuro ainda sem referências.

O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA A EDUCAÇÃO DA NOVA ERA?

No Brasil, negros ocupam os piores índices de desenvolvimento econômico e social e são as principais vítimas da violência; entenda o racismo estrutural e como podemos sair deste triste cenário.

O FATO E O FAKE Lei das Fake News mostra luz no fim do túnel da desinformação; aceitar o contraditório e se informar livre de preconceitos são caminhos possíveis em busca de uma internet mais saudável.

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QUANDO A DESIGUALDADE TEM COR

O MAL DO SÉCULO É O MAL DO AGORA As consequências da ansiedade gerada pela pandemia e os caminhos para restabelecer o bem-estar emocional com foco em ajudar a si mesmo - e o outro.

É PRECISO ESCOLHER UM LADO? As consequências do Brasil polarizado para a democracia, o diálogo e o combate às fake news.

2020


6 - EDITORIAL

SOBRE AQUILO QUE NOS UNE >>> Karina Constancio Head de Conteúdo da Welcome Tomorrow

E

stamos vivendo um momento sem precedentes na história da humanidade. A sociedade acelerada do século XXI que costumava reclamar da falta de tempo o tempo todo foi obrigada a desacelerar. Sem aviso prévio. De repente, a falta virou sobra e o que estava em excesso foi se revelando desnecessário. Sem a noção do que vai ser o futuro, só nos restou o presente. Pausamos um pouco o planejamento e tivemos que valorizar o instante. Em março, quando tudo começou, ainda nos arriscávamos em fazer previsões. Mas é tanta incerteza, dentro e fora, que tivemos que reavaliar nossas próprias expectativas sobre voltar ao normal ou começar a viver o novo normal. Quando criamos o Festival Digital Novo Mundo, um evento online e gratuito para discutir esse cenário mais VUCA* do que nunca, não foi com a intenção de trazer respostas, mas de fazer perguntas.

Tínhamos como propósito dar luz às diversas visões sobre as principais questões, desafios e problemas desnudados pela pandemia. Em julho, realizamos a segunda edição em quatro dias intensos de palestras e debates. Falamos sobre iniciativa, flexibilidade, tolerância, vulnerabilidade, reinvenção, empatia. Sobre o caos e o amor, sobre o tempo e o acaso. Mas acho que a mensagem mais forte ainda foi a do tema que escolhemos para definir essa edição de evento digital: o que nos une é mais forte do que o que nos separa. É muito mais enriquecedor conversar com pessoas que pensam diferente de você. Que te mostram um outro lado e ampliam a sua visão de mundo. Mesmo que você continue pensando da mesma forma, conviver e dialogar com o diferente é agregador nos mais diversos sentidos. Ouvimos sobre a importância de praticar a escuta ativa e de ter um olhar mais apurado

para o outro. Fomos incentivados a estourar nossas bolhas de pensamentos e privilégios. Refletimos sobre o papel necessário da imprensa e que verdades e fatos são inquestionáveis. Acima de tudo, entendemos que ainda temos muito o que aprender. É por isso que decidimos fazer desta Revista uma edição especial sobre o Festival Novo Mundo e tudo o que aprendemos por lá. Nossos jornalistas prepararam uma cobertura completa sobre o evento e eu estou muito feliz em compartilhá-la com você nas próximas páginas. Não estamos todos no mesmo barco, mas isso não quer dizer que a travessia precisa ser solitária. Que a gente possa se fortalecer uns nos outros. Cuide de você e cuide dos seus. Fazer isso é tratar o nosso futuro com o respeito que ele merece. Boa leitura!

*Acrônimo para descrever quatro características marcantes do momento em que estamos vivendo: Volatilidade (volatility), Incerteza (uncertainty), Complexidade (complexity) e Ambiguidade (ambiguity).


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8-

MOBI- 2020: O ANO EM QUE O MUNDO PAROU


ESPECIAL NOVO MUNDO

2020: O ANO EM QUE O MUNDO PAROU Os impactos do isolamento social na mobilidade urbana, no transporte público e no comportamento das pessoas >>>Loraine Santos

A

TRANSPORTES ALTERNATIVOS Uma vida mais ativa passa por novas opções de deslocamento, como as bicicletas. Há 10 anos investindo em mobilidade a partir das bikes, o Itaú Unibanco acredita que a pandemia abriu aos transportes alternativos uma janela de oportunidades. Segundo Luciana Nicola, superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Negócios Inclusivos da instituição, “não é que as bicicletas por si só resolvem o problema, mas apostamos na intermodalidade. Ficamos muito felizes quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez recomendações para uso de bikes durante a retomada da economia em países da Europa e na China, não só pelo baixo risco de contágio do vírus que o modal apresenta, mas também por estimular a atividade física, que é de fato importante para a imunidade nesse momento”.

LUCIANA NICOLA Superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú Unibanco Luciana também aposta na mudança de comportamento das pessoas como peça fundamental para um mundo pós-pandemia mais sustentável. Ela alerta sobre a importância do poder público nesse cenário. “É necessário políticas de investimento e adaptações em infraestrutura para garantir a segurança na circulação das bicicletas e, também, precisamos da compreensão da sociedade de que o transporte público somado às bikes podem trazer um equilíbrio para as questões de lotação e de sustentabilidade”, explica a superintendente do Itaú.

>>>

pandemia causada pelo novo coronavírus mudou radicalmente a forma como as pessoas se relacionam com o espaço urbano. A hipótese de que as políticas de transporte público não são suficientes apresenta-se mais forte do que nunca. Investimento em infraestrutura e segurança para circulação de novos modais também se mostra como prioridade. Mais do que uma alternativa, a tecnologia remota tende a ser essencial nas relações pessoais e profissionais, impactando os deslocamentos, os espaços de trabalho e a acessibilidade. A diminuição da interferência do homem nos espaços urbanos também refletiu na recuperação ambiental do planeta. O momento é convidativo para repensarmos sobre estilo de vida, modelo de consumo, importância da moradia e senso de comunidade. Para a arquiteta e urbanista Myriam Tschiptschin, gerente da unidade de Smart Cities e Infraestrutura Sustentável do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), a crise causada pela pandemia reforçou a importância de discutir mobilidade nos eixos do planejamento urbano, da infraestrutura de transporte e, especialmente, das questões comportamentais. “Por mais que haja investimentos em planejamento e transporte, vimos da noite para o dia como o comportamento social muda drasticamente o ambiente e o quanto a mudança de hábito de uma pessoa influencia o coletivo. Vai ser muito importante que as pessoas entendam que a forma como elas se comportam afeta diretamente a vida delas e exerce forte influência sobre a sociedade”, alerta Myriam. Entre os hábitos que vieram para ficar, destacam-se o trabalho remoto, as compras online e a valorização do comércio local. De acordo com a arquiteta, outro ponto importante é a busca pela saúde e bem estar. “A pandemia mostrou que as pessoas mais afetadas são as que apresentam problemas crônicos, e uma vida ativa resulta em quedas de problemas como hipertensão, diabetes e outras doenças relacionadas à Covid-19. Outra questão refere-se à qualidade do ar; estudos mostram que as cidades mais poluídas têm taxas de mortalidade mais altas. Portanto, a valorização da vida saudável fará com que as pessoas busquem uma mobilidade mais MYRIAM TSCHIPTSCHIN ativa”, comenta. Arquiteta e urbanista

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10 -

MOBI- 2020: O ANO EM QUE O MUNDO PAROU

>>>

PÚBLICO X PRIVADO Diante um cenário de crise sanitária, econômica e política, é possível que o mundo pós-pandemia priorize investimentos em saúde e educação, deixando as questões relacionadas à infraestrutura em segundo plano. “Se já havia uma dificuldade no Estado em investir em metrô, trens, ônibus e outros transportes alternativos, com a pandemia os recursos vão priorizar outras frentes”, afirma André Iasi, CEO da Estapar, uma empresa ativa na busca de soluções de mobilidade sustentável. Volta-se, então, à questão da importância do comportamento das pessoas no mundo pós-pandemia, de buscar práticas colaborativas, como bike e carsharing; e, também, no papel das empresas na solução de problemas de mobilidade, uma vez que a adoção de horários flexíveis e políticas de home office contribuem de forma significativa para não-lotação do transporte público, por exemplo. Mesmo assim, Iasi destaca a importância do Estado neste cenário. “Estamos em um momento propício no Brasil para investir, em razão da taxa de juros baixa. Porém, é preciso que o Estado crie um ambiente favorável para que a iniciativa privada tenha segurança jurídica para realizar investimentos nesse sentido. Dessa forma, não seremos apenas coadjuvantes, mas vamos, de fato, promover ações e projetos práticos”, explica o CEO.

ANDRÉ IASI CEO da Estapar

MORAR PERTO DO TRABALHO AINDA FAZ SENTIDO

ALEXANDRE LAFER FRANKEL CEO da Vitacon

O mundo pós-pandemia e as mudanças no ambiente urbano passam também pela moradia. Alexandre Lafer Frankel, CEO da Vitacon, destaca a importância do conceito da flexibilização. “Desde a Covid-19, as empresas estão entendendo que a moradia é parte integrante dos benefícios oferecidos ao colaborador. Há casos de empresa que, em vez do vale transporte, oferece condições para que os funcionários morem mais perto do local de trabalho, para que realizem o home office com ergonomia e para que não dependam tanto do transporte público. É uma mudança de mindset das empresas, que precisam enxergar a moradia como mobilidade e conforto”, detalha o CEO. Mesmo as pesquisas indicando que a maioria das pessoas prefere esse novo modelo ainda pouco explorado do home office - e mesmo muitas empresas anunciando que estão deixando seus espaços físicos e investindo no trabalho remoto para seus colaboradores - há uma grande parcela da população que ainda depende - e muito - do transporte público e de novos modais para se deslocar diariamente. “O trabalho remoto não é uma realidade para todo mundo. Dentistas, enfermeiros, funcionários de limpeza… eles não têm a oportunidade de realizar home office. Só em São Paulo, mais de 6 milhões de pessoas dependem do transporte público para levar os filhos na creche, por exemplo”, alerta. Por isso, aproveitar o momento da crise para intensificar os debates acerca de soluções para moradia e mobilidade urbana é fundamental para gerar oportunidades em todas as camadas da população. Alexandre Lafer Frankel conclui: “Precisamos devolver vida ao tempo das pessoas, gerar mais qualidade de vida para que elas vivam melhor e em harmonia”.



12 -

SMART - O QUE MUDA E QUAIS EMPRESAS IRÃO SOBREVIVER À MAIOR CRISE DA NOSSA HISTÓRIA?

O QUE MUDA E QUAIS EMPRESAS IRÃO SOBREVIVER À MAIOR CRISE DA NOSSA HISTÓRIA? >>> Beatriz Pozzobon

Ainda é difícil mensurar a dimensão da crise, mas o que se sabe é que nada será como antes. Conheça as novas relações de trabalho e os caminhos para quem quer sobreviver ao pós-Covid

Um

vírus capaz de mudar o rumo da história. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que esta é “a maior crise sanitária mundial da nossa época”. O coronavírus já matou mais de meio milhão de pessoas e afetou a economia ao redor do mundo todo. Ainda é difícil mensurar qual será a dimensão exata da crise, mas o que se sabe é que nada será como antes. Passada a fase mais aguda da pandemia, o que fazer para retomar a atividade econômica? Um levantamento da consultoria McKinsey revelou que 88% das companhias avaliam que o pós-pandemia trará mudanças significativas nas relações e estruturas de trabalho. Em algumas empresas, as mudanças já estão em curso. De acordo com Douglas Pina, diretor executivo da Ticket Log, que atua no mercado brasileiro de gestão de abastecimento e manutenção de veículos, a relação com os clientes já DOUGLAS PINA é “completamente diferente” ao que era feito Diretor executivo da Ticket Log antes da pandemia. “Hoje, conseguimos fazer mais visitas do que fazíamos antes da pandemia. Antes, chegávamos em dois clientes, agora fazemos quatro visitas por dia. Este é só um sinal de como as coisas estão mudando”, avalia Pina, que passou a apostar no trabalho remoto. Ele salienta, entretanto, que foi essencial adotar protocolos que irão ajudar a empresa na retomada e expansão dos negócios. “Fomos uma das primeiras a colocar todo mundo trabalhando de casa, também nos preocupamos com a relação com os clientes e outra decisão importante foi não parar nenhum projeto estratégico”, pontua o empresário. “A ideia foi acelerar o que era possível neste período para estarmos prontos quando a tempestade passar”, completa.


ESPECIAL NOVO MUNDO

O empresário Daniel Castanho, presidente do conselho de administração e um dos fundadores da Ânima Educação, organização brasileira de ensino superior privado, acredita que todos os setores da economia irão passar por uma transformação pós Covid-19, mas que não haverá uma única solução para o país inteiro. “O Brasil é um país continental. Este é o momento de criar pequenos ecossistemas”, defende Castanho, que é também idealizador do movimento Não Demita, que reuniu mais de cinco mil empresas comprometidas a não reduzirem o quadro de funcionários durante dois meses. “Quando você tem um susto, as pessoas tendem a ter uma reação desproporcional. O que a gente quis evitar? Aquela demissão, simplesmente, para as empresas salvarem o caixa no curto prazo”, explica o empresário. Por falar em ecossistemas, a segunda fase do Não Demita quer, justamente, integrar pequenas e grandes empresas que participam do movimento para formar uma comunidade de mentoria, uma ajudando a outra. Visto que, ao lado de gigantes como BRF, Itaú Unibanco, Vivo e Suzano, 60% das empresas que assinaram o Não Demita têm menos de cem funcionários.

A revista ISTOÉ Dinheiro perguntou a uma centena de líderes empresarias e entidades de todos os segmentos “como será o país pós pandemia”? Entre as respostas, eles citaram quatro pontos fundamentais:

DANIEL CASTANHO Presidente do conselho de administração e um dos fundadores da Ânima Educação

confiança, o consumidor vai ficar mais próximo das marcas que se mostraram mais solidárias durante a crise; stay home, priorização do ambiente doméstico e espaços de home office; delivery de serviços, cresce a demanda por serviços a distância; e solidariedade, cuidar do outro será o novo ativo para as marcas trabalharem. Sobre essas tendências, Castanho acredita em uma mudança total das relações de trabalho. “O que vem com confiança? Empoderamento, autonomia. A forma de trabalhar com ‘comando-controle’ acabou. As empresas que ainda trabalham dessa maneira vão precisar se organizar de outra forma.” Com relação ao termo stay home, o empresário diz preferir usar a palavra “indissociabilidade”. Ou seja, mais do que permanecer em casa, que é a tradução do termo em inglês, essa indissociabilidade vem com a ideia de estar o tempo todo conectado. É uma mudança no conceito de espaço, de tempo e de lugar e uma quebra de barreiras entre o pessoal e o profissional. Quando se fala em delivery de serviços, Castanho afirma que as pessoas vão ficar cada vez mais exigentes sobre o que, de fato, precisa acontecer de forma presencial. Segundo ela, momentos para comemorar, viver e compartilhar juntos vão continuar existindo, o que muda é, por exemplo, um aluno precisar dirigir uma hora para ver o professor ler alguns slides, ou ainda um executivo ter o dia atribulado com viagens aéreas para participar de reuniões, que poderiam, facilmente, ocorrer de forma remota. E, por último, e talvez o mais importante, solidariedade. “Assim como é impossível estar bem sabendo que seu filho não está, não dá para acreditar que vamos viver em uma sociedade que há cinco quilômetros da sua casa tem gente morrendo de fome”, comenta o empresário, fundador de uma das maiores organizações de ensino privado do país, com mais de 140 mil estudantes em sete estados brasileiros. “Com a pandemia, desnudamos a diferença de oportunidades que temos no nosso país. Quem não for solidário, está fora. Não existe mais esse mundo em que a gente consiga viver isolado, sem viver dentro de um ecossistema”, finaliza.

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O BRASIL PÓS-PANDEMIA

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SMART - O QUE MUDA E QUAIS EMPRESAS IRÃO SOBREVIVER À MAIOR CRISE DA NOSSA HISTÓRIA?

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“QUEM NÃO INOVAR, NÃO TERÁ FUTURO” Uma pesquisa recente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) revelou que 83% das empresas reconhecem que vão precisar ser mais inovadoras para superar os impactos da pandemia e voltar a crescer. O levantamento foi realizado com 400 lideranças de médias e grandes empresas. Entre as empresas consultadas, 70% foram muito impactadas pela pandemia e 65% reduziram ou paralisaram a produção neste período. Além disso, 70% delas disseram que ainda não têm estratégias de inovação. “Nós entendemos que as empresas que inovarem para se inserir nessa Quarta Revolução Industrial serão empresas que terão uma perspectiva de futuro, poderão voltar a crescer e gerar empregos de qualidade para ajudar a desenvolver o nosso país”, afirma Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI. “A inovação é, de fato, o vetor para que possamos gerar crescimento, superar esse momento de crise e voltar a crescer”, acrescenta. Sagazio pontua que as empresas podem fazer inovações múltiplas e em áreas diversas, como nos pro-

cessos de produção, vendas, logística, RH, marketing, entre outras. “O importante é que as empresas saibam que quem não inovar, não terá futuro”, avalia.

BRASIL INVESTE POUCO NO SETOR Apesar disso, o Brasil está longe de ocupar uma posição de destaque quando se trata de inovação. Em 2019, o Brasil ficou na 76ª posição entre 129 países no Global Innovation Index, um dos principais rankings de inovação do mundo. O Brasil também investe pouco em pesquisa e desenvolvimento, apenas 1,26% do PIB. De acordo com Sagazio, países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) investem acima de 2% do PIB no setor e há aqueles que já ultrapassam os 4%. “Existe um reconhecimento dos países que são mais inovadores e desenvolvidos que ciência e tecnologia são áreas estratégicas e para elas deve ser dado prioridade e destinado recursos compatíveis”, defende a diretora de inovação da CNI. Neste sentido, Sagazio acredita que a pandemia escancarou a necessidade

do Brasil investir mais em pesquisa e inovação, até por uma questão de soberania do país. Segundo ela, enquanto nona economia do mundo, o Brasil tem competência para desenvolver as próprias tecnologias e não ficar dependente de importação. “A pandemia está nos mostrando a importância das áreas de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento dos países. O que vai nos fazer, de fato, sair dessa crise são as vacinas, remédios, equipamentos. E, por isso tudo, passa uma indústria fortalecida e a inovação”, destaca a diretora.

GIANNA SAGAZIO Diretora de inovação da CNI

QUEM AS EMPRESAS PROCURAM AGORA? A pandemia impactou diretamente o mercado de trabalho. De um lado, redução do quadro de funcionários, do outro, novas habilidades sendo exigidas dos colaboradores e dos candidatos a vagas de emprego. O que mudou no perfil profissional desejado pelas empresas e o que é valorizado no momento? De acordo com Sofia Esteves, Presidente do Conselho do Grupo Cia de Talentos, as competências mais buscadas pelas organizações continuam as mesmas, o que se inverteu foi a ordem de prioridade. Confira as quatro principais habilidades destacadas pela especialista em carreira e gestão de pessoas:

1. Capacidade de adaptação: habilidade de se adaptar rapidamente a um novo contexto e flexibilidade para desapegar do passado e encarar a nova realidade, mudando o percurso caso seja necessário. 2. Resiliência: saber lidar com as frustrações e ter a capacidade para sair disso e ir para um estado de motivação. 3. Empatia: obrigação de olhar e se colocar no lugar do outro. 4. Mindset digital: cabeça aberta para o conhecimento e utilização de novas ferramentas e tecnologias.

SOFIA ESTEVES Presidente do Conselho do Grupo Cia de Talentos



16 -

TALK - VIVER É COMO ANDAR DE BICICLETA

VIVER É COMO ANDAR DE BICICLETA

“V

“É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”

iver é como andar de bicicleta: é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio” Acredito que essa frase do gênio Albert Einstein diz muito sobre os dias que estamos vivendo. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, o mundo parou. De maneira forçada, vemos tudo ao nosso redor parar e, por consequência, nós também paramos. Quando isso acontece, perdemos o equilíbrio. Só que o grande problema está no fato de que muitas pessoas já estavam paradas de alguma forma, talvez não fisicamente, mas emocional, espiritual e até mentalmente. O conceito do movimento é o conceito da vida. Fomos criados para nos movermos e somente quando assumimos isso, entendemos o equilíbrio. O movimento tem muito a ver com nossa capacidade de perceber o mundo fora de nós, ao nosso redor, e de olhar para a vida e entender que temos um papel de protagonista nesse pequeno mundo. Nascemos para sermos brutalmente genuínos com a verdade de quem somos, autênticos e livres para perceber a imensidão de amor e esperança que se manisfesta quando entramos em movimento. A paralisia e a inércia nos deixam vulneráveis e sucetíveis às fragilidades, porque ficamos enfraquecidos quando estamos parados. Acredito muito que o futuro não é sobre

gastarmos energia pensando no sucesso, no dinheiro, na fama ou em reconhecimentos. Acredito que o futuro é sobre nosso movimento no mundo, entendendo nosso equilíbrio a partir dele. Não é sobre descobrir propósitos, é sobre criar, fazer e realizar coisas que realmente tenham sentido para cada um de nós. Eu sei que os problemas são potencializadores da paralisia, muita gente não consegue se mover por conta dos desafios que tem enfrentado. Por insegurança, medo e uma série de obstáculos que encontramos no meio do caminho, ficamos presos na nossa zona de conforto. A vida parece mais segura dessa forma, não é? Eu te entendo. Não é fácil sair da gaiola que nos aprisiona. Fomos ensinados a ter cautela, a pensar bastante antes de dar o primeiro passo. Mas levantar voo exige coragem. O movimento precisa de impulso. O que, hoje, está impedindo você de se mover? Pense nisso e tente vencer essas objeções. O protagonismo é essencialmente sobre iniciativa. Comece a mover sua mente e seu corpo, faça uma caminhada e preste atenção nessa coisa linda que é o movimento. Perceba que fomos feitos para isso, em todas as áreas da nossa existência. Faça da sua vida uma jornada de movimentos.

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18 - TOMORROW

- POR MAIS QUARTOS ESCUROS E ESTRADAS LIVRES

POR MAIS QUARTOS ESCUROS E ESTRADAS LIVRES Dois empreendedores brasileiros nos convidam a nos libertar do mundo antes do coronavírus rumo a um futuro ainda sem referências >>> Beatriz Pozzobon

“O momento agora é, justamente, de rupturas, rumo a um futuro ainda sem referências.”

A

pandemia da Covid-19 pode ser a primeira página de uma nova história. Talvez, não suportemos um “novo normal”. O momento agora é, justamente, de rupturas, rumo a um futuro ainda sem referências. E, neste sentido, a quarentena seria a oportunidade de se readequar a novas formas de vida e descartar o que já não faz mais sentido. Uma nova era marcada pelo fim do intelecto e pela busca por uma humanidade ainda não vivida. A provocação é dos empreendedores Dante Freitas e Renan Hannouche, fundadores do Gravidade Zero, um laboratório para incubar e acelerar novos projetos, localizado em Pernambuco (PE). “É possível que o Homo sapiens seja o chimpanzé desta nova era”, alude Freitas. “Talvez, estejamos vivendo o fim da era sapiens, que é marcada pelo intelecto, porque o que buscamos, agora, é humanidade. O próximo passo é uma pessoa muito mais relacionada ao natural do que ao mental. Uma pessoa que está ativando outros sensores do corpo, como o coração”, completa. Segundo Freitas e Hannouche, estaríamos vivendo o fim de uma dita “Idade Contemporânea”, marcada pelo mundo antes do coronavírus, que eles chamam de “fábrica de desorientados”. Fábrica de desorientados porque as pessoas fazem o que não querem, ou não sabem o que querem. Um mundo marcado por “quartos claros” e “estradas engarrafadas”. Explico. Em suas provocações, Freitas e Hannouche falam sobre zonas de conforto, linhas de chegada e previsibilidade. Fomos educados a permanecer no campo da previsibilidade, a entrar numa corrida que talvez não seja a nossa e a fazer sempre o mesmo do que todo mundo faz. E agora, que o mundo todo parou, poderíamos perceber que, talvez, estivéssemos vivendo uma vida pequena demais para todo potencial humano. “O futuro da humanidade é a humanidade. Talvez, a gente esteja sofrendo tanto e vivendo tudo isso, porque estamos com a humanidade baixa”, alerta Hannouche. “Neste momento de quarentena, estamos experimentando a questão da coletivi-


ESPECIAL NOVO MUNDO

DANTE FREITAS Fundador do Gravidade Zero

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dade, em que a equação só irá se resolver coletivamente”, acrescenta Freitas. É por isso que o convite deles é para vida numa nova era, chamada de “Era Complexa”. “É você perceber que o tabuleiro do planeta Terra é muito mais mundo do que estávamos acostumados. É a expansão de consciência. A ausência de sentido marcava este planeta antigo. Agora, o convite é para uma nova era, a Era Complexa, onde é possível ativar, novamente, a nossa capacidade exploradora e empreendedora, rumo a uma jornada de quartos escuros, de adentrar terrenos de incerteza”, destaca Freitas.

RUMO A UM MUNDO NOVO

RENAN HANNOUCHE Fundador do Gravidade Zero

E para entrar na “Era Complexa” é preciso deixar para trás tudo que não faz mais sentido do mundo anterior. “O que você está carregando de tão pesado que está te impedindo de fazer a transição para este novo mundo?”, questiona Freitas. Nessa nova jornada, o que importa não é o quê, mas com quem vamos estar para navegar em “quartos escuros”. O chamado, agora, é para a inteligência do coração, e ele sempre aponta para um caminho. “Mas, para você seguir o coração, precisa ter muita coragem. A chave para entrar no novo mundo pode ser a

incoerência. E isso não vai, necessariamente, agradar a todos”, avisa Freitas. E, neste novo mundo, que nada mais é do que um novo olhar para a humanidade, o chamado é para nos autoconhecermos, conhecermos a nossa essência e onde queremos chegar. Sermos autorais e autênticos na nossa singularidade, ao mesmo tempo em que entendemos que, na verdade, somos todos um. “O que me preocupa é que estamos indo todos para o mesmo caminho, pegando a pista engarrafada. Não temos coragem de procurar a nossa essência, olhamos para o lado e não para dentro de nós mesmos”, pontua Hannouche. “É preciso abraçar este caos, entender que ele vai chegar e que será bem-vindo. É preciso se apaixonar pelo caos e adicioná-lo na equação. É sobre pegar novas pistas”, complementa o empreendedor. Nesta jornada rumo ao desconhecido o luxo pode ter mais a ver com escolhas do que com escassez. De acordo com Hannouche, luxo sempre foi sinônimo de escassez. É preciso ter muito dinheiro para comprar o que poucos têm acesso. Mas, em um mundo que estamos conectados 24/7 ao digital, o novo luxo talvez seja escolher se libertar disso. “Estamos tão dentro deste mundo, que estamos nos misturando e nos perdendo por completo. Dessa forma, o novo luxo que você pode dar para alguém é estar, verdadeiramente, presente. Então, talvez, o futuro do futuro seja o presente. Ter consciência que o que se tem agora, as pessoas que você tem ao redor, são as melhores coisas que você pode ter”, finaliza o empreendedor, que é também nerd e poeta.


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IMAGINATION - O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA A EDUCAÇÃO DA NOVA ERA?

O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA A EDUCAÇÃO DA NOVA ERA? Um novo mundo se apresenta e exige um processo de aprendizado compatível com o século XXI; a educação corporativa indica soluções para a era pós-pandemia >>> Guilherme Popolin


ESPECIAL NOVO MUNDO

Ao

longo da história, momentos de crise evidenciaram as mazelas do mundo e, assim, proporcionaram reflexões que nos permitiram evoluir. Sendo assim, a crise provocada pela pandemia de Covid-19 expôs as deficiências da educação brasileira, acentuadas pela desigualdade social que aflige o Brasil. Desse modo, empresas que criaram seus próprios sistemas de capacitação indicam soluções possíveis para a educação na era pós-pandemia. Um novo mundo se apresenta e nos mostra como trilhar o caminho para uma educação compatível com o século XXI. Nesta jornada, os aspectos socioemocionais, o protagonismo e a aprendizagem contínua despontam como as bases de um novo modelo de aprendizagem. O mundo está sob nova direção. “Estamos preparados para ele?”, questiona Emílio Munaro, Vice-Presidente do Instituto Ayrton Senna, entidade que, há 25 anos, possibilita a formação de crianças e jovens. Uma vez que dados de 2019, do sistema de avaliação educacional mais importante do mundo, o Pisa, mostram o Brasil estagnado há uma década entre os países com pior nível de aprendizado na educação básica, inciativas como a vislumbrada por Ayrton Senna e colocada em prática por sua irmã Viviane Senna contribuem

para pensarmos modelos de educação disruptivos e adequados ao século XXI. De acordo com Emílio Munaro, em 120 dias, a pandemia da Covid-19 impactou diversos segmentos da sociedade, de modo que, assim como nos processos químicos, a Covid-19 passou a atuar como um catalisador das mudanças que já estavam previstas para o futuro. A pandemia reforçou o acrônimo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, do inglês Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity), utilizado desde a década de 1970 para se referir a um mundo que desde aquela época se apresenta heterogêneo. “Cabe a nós olharmos essa situação em que vivemos e não ter mais um pensamento somente binário. A preservação da vida é muito importante, tanto quanto a preservação da economia, do trabalho, do retorno às atividades, da sanidade mental, de absolutamente tudo. Não existe um ou outro, existe um e outro. O mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo pede uma nova postura”, explica Munaro. Sendo assim, o mundo do trabalho exige novas habilidades. Um estudo de 2019 da consultoria McKinsey Global Institute mostra que, nos próximos anos, vai haver uma grande demanda por habilidades cognitivas superiores e socioemocionais, as chamadas soft skills. Atualmente, ainda dedicamos muito tempo a habilidades físicas e cognitivas básicas, todavia, a Inteligência Artificial (A.I.) vai intensificar a demanda por habilidades socioemocionais, como liderança, gestão, empreendedorismo e tomada de iniciativa, e habilidades cognitivas superiores, como processamento e interpretação de informações complexas.

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EMÍLIO MUNARO Vice-Presidente do Instituto Ayrton Senna

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IMAGINATION - O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA A EDUCAÇÃO DA NOVA ERA?

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É por meio do desenvolvimento integral de estudantes e professores que o Instituto Ayrton Senna promove o potencial transformador das pessoas, de modo que a parceria com educadores, gestores e pesquisadores aciona as competências socioemocionais, que não são inatas e podem ser adquiridas. “É possível ensinar crianças e jovens para que eles possam ter essas competências desenvolvidas. O Instituto tem feito esse trabalho há mais ou menos 15 anos. Nós estruturamos uma matriz organizacional, com cinco macro competências: amabilidade, engajamento com os outros, abertura ao novo, autogestão, e resiliência emocional”, conta Munaro. Com foco maior em educação e empregabilidade, o trabalho feito em sala de aula imputa à escola um papel fundamental no desenvolvimento das competências socioemocionais, todavia, é preciso que o ambiente escolar se reinvente pensando no futuro, distinguindo-se da escola do século XIX e XX. “Nós levamos essa mudança para a educação pela ciência, não pela ideologia. Precisamos, de fato, fazer aquilo que nós acreditamos, que é expandir as fronteiras para uma educação não para pou-

MARIANA ACHUTTI CEO da SPUTNiK

“Formar talentos internamente é um grande atalho para criar uma cultura organizacional de alta performance”

cos, mas para todos. Porque novas ondas de mudanças virão e nós precisamos preparar nossas crianças e nossos jovens para elas”, destaca Munaro. As modificações no mundo do trabalho decorrentes do avanço da tecnologia e do acrônimo VUCA demandam novas habilidades, o que, segundo um relatório feito pelo ManpowerGroup, apresentado na última edição do Fórum Econômico Mundial, faz com que 52% dos empregadores brasileiros tenham dificuldade para contratar talentos. Manter as habilidades cognitivas superiores e socioemocionais alinhadas com o mercado, que muda constantemente, é um desafio. Aqueles que desejam se manter qualificados precisam compreender a educação como um processo contínuo – o lifelong learning – e não restrito às instituições tradicionais de ensino. De acordo com Mariana Achutti, CEO da SPUTNiK, muitas empresas perceberam a necessidade de formarem os talentos internamente, o que pode significar “um grande atalho para criar uma cultura organizacional de alta performance”, explica. A inovação, a transformação, a lucratividade e a sustenta-


ESPECIAL NOVO MUNDO

bilidade são alguns aspectos impactados positivamente quando as companhias gerenciam processos educacionais internos. Segundo Achutti, as gerações atuais, que estão dentro do universo das empresas, passaram cerca de 17 anos entre a escola e a universidade, tempo que não garante ao profissional o preparo necessário para lidar com as ferramentas e as reflexões contemporâneas. “Seria ingênuo da parte das organizações acharem que vão encontrar todos os talentos prontos para os desafios dessa nova economia vigente sem ter que despender um investimento para formar as pessoas. Acredito que o papel das companhias nesse sentido é fundamental para que a transformação aconteça”, afirma. Gustavo Brito, Head de Educação Corporativa do Grupo Boticário, destaca o potencial de transformação social das empresas que, por meio da educação corporativa, constroem pontes as quais mitigam os gaps que separam a educação tradicional e as necessidades mercadológicas. “As empresas que mais percebem isso são aquelas que têm maior visão ecossistêmica, que se desapegaram em algum nível da ideia de ‘esse talento é meu’, e associam a ideia de que o talento pertence ao ecossistema”, ou seja, quanto mais oportunidades são oferecidas para que o colaborador se desenvolva, melhores são as chances do ecossistema de negócios se fortalecer. “As organizações já perceberam essa potência e precisam fazer isso com cada vez mais consciência. Existem duas educações corporativas muito comuns no mercado: a compradora de educação e a provedora. Precisamos migrar da compradora para a provedora, é um processo e estamos no começo dessa trajetória”, afirma Brito.

GUSTAVO BRITO Head de Educação Corporativa do Grupo Boticário

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CAMILA TABET Diretora de People Design da Ambev para América do Sul Uma educação corporativa transformadora e construtora de pontes para além dos muro da companhia é encontrada na Universidade Ambev, que promove trocas de experiências entre as equipes e empoderamento dos colaboradores. “Há mais de dez anos, a universidade surgiu como uma necessidade do negócio, para formarmos os nossos talentos e, mais de início, entregar um resultado”, relembra Camila Tabet, Diretora de People Design da Ambev para América do Sul. “Hoje, nos desafiamos a ir muito além quando pensamos em construir, de fato, um ecossistema que fomente o aprendizado. Junto a isso trazemos o mindset do crescimento. Tem a ver com uma atitude curiosa e proativa nos nossos colaboradores para sempre buscarem aprender de forma contínua e muito além dos muros”, afirma Tabet. Um ecossistema que impulsione o aprendizado de modo efetivo é aquele que permite e estimule o exercício do lifelong learning. De acordo com Sidnei Oliveira, escritor e mentor de carreira, após a pandemia de Covid-19, o modo como aprendemos vai se transformar, isto é, o modelo de aprendizagem contínua vai ganhar protagonismo. “De agora em diante uma coisa é certa, ninguém vai nos ensinar nada. Nessa nova realidade, em que a informação está disponível, eu sou responsável pelo meu aprendizado. Você é responsável pelo seu aprendizado. Isso significa que o protagonismo é uma das primeiras condições para nos educarmos, para nos desenvolvermos”, reflete. A crise do novo coronavírus nos permite ressignificar antigos hábitos que, em maior ou menor medida, vão se associar à nova realidade do mundo corporativo.

Para Oliveira, a pandemia impulsionou a revisão de valores, a disciplina, a autogestão, a solidariedade, a consciência e a maturidade, ou seja, aspectos essenciais para o mundo do trabalho pós-pandemia. “Daqui para a frente você vai ter que fazer mais com menos. Isso significa que você tem que dar uma atenção maior para o que é, de fato, prioridade, e trabalhar de uma maneira mais direta ao ponto, mais objetiva, mais focada naquilo que gera valor. No novo mundo há uma nova realidade que a gente tem que construir. O que você vai fazer com tudo isso daqui para a frente?”, questiona Oliveira.


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- O QUE MUDA NO CONSUMO E COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO?

O QUE MUDA NO CONSUMO E COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO? Em poucos meses, pandemia acelerou mudanças que poderiam demorar anos para acontecer; conheça os hábitos e realidades que vão prevalecer de agora em diante >>> Beatriz Pozzobon

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pandemia mudou completamente a maneira como nos relacionamos com as pessoas, com os espaços físicos e com o capital”. A afirmação é do neurocientista Álvaro Machado Dias, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo e diretor do Centro de Estudos Avançados em Tomadas de Decisão. Para o neurocientista, entretanto, este “novo normal” não é um desfecho inesperado, mas uma aceleração da Quarta Revolução Industrial, ou Revolução Cognitiva, que já estava em curso. “Há um movimento forte em andamento, que acelera o curso da história, no que se refere à diminuição da interação entre as pessoas, que é a marca da Inteligência Artificial e da revolução que a acompanha”, afirma Dias. “Eu diria que é muito mais um atalho, do que um desvio na trilha criada por essas tecnologias”, completa. Segundo o professor, muitas pessoas acreditam que momentos de crise são ligados à inovação – e isso

acontece, de fato, do ponto de vista estritamente técnico e científico. Por outro lado, quando se trata da relação entre as pessoas a história é oposta. Ou seja, é muito mais um fechamento ao novo do que uma propensão à abertura. Estamos, enfim, menos e não mais arrojados. “Estamos com medo da doença e da crise econômica. E o medo muda a maneira como a nossa psicologia se organiza. As pessoas se tornam mais gregárias, a desconfiança em relação ao diferente aumenta, e assim todo mundo se torna um pouco mais conformista”, alerta o neurocientista.

ÁLVARO MACHADO DIAS Professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo e diretor do Centro de Estudos Avançados em Tomadas de Decisão


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RUMO ÀS CIDADES MÉDIAS A ocupação das cidades brasileiras, até o momento, está ligada às grandes metrópoles. Somente o município de São Paulo concentra mais de 12,2 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o neurocientista Álvaro Machado Dias, a pandemia deve acelerar uma mudança já em curso, a saber, uma guinada urbanística para as cidades de médio porte, assim como acontece nos Estados Unidos e na Europa, onde os municípios menores contam com redes logísticas e de suprimento eficientes.

ESPAÇOS COMPARTILHADOS X TRABALHO REMOTO

COMPRAR? SOMENTE O ESSENCIAL

Para Dias, a mudança das ocupações das cidades está ligada ainda à alteração dos modelos de espaços de trabalho. A cena produtiva, até então, estava muito atrelada aos coworkings e grandes edifícios corporativos, onde as pessoas se aglomeram com maior facilidade. Em linhas gerais, o professor acredita que, daqui para frente, haverá uma tendência de ocupação de espaços de trabalho cada vez menores, com mais ventilação e fora das zonas de maior ocupação. Dessa forma, ele não crê que haverá uma migração para ambientes de trabalho predominantemente remotos, no Brasil. Isso porque, o modelo mental brasileiro, que subsidia a criação de negócios, depende muito da empatia, do famoso “olho no olho”. Somado a isso, o neurocientista lembra também das lacunas tecnológicas nas pequenas e médias empresas brasileiras. “Sem uma estrutura digital e tecnológica bem consolidada, eu não acredito que seja possível manter a produtividade online.”

Mesmo antes da crise da Covid-19, o Brasil já dava sinais de economia fragilizada. No início de março, o dólar comercial chegou a superar R$ 5 pela primeira vez na história. Segundo o neurocientista, situações como essa costumam acentuar a concentração de renda e o subdesenvolvimento. A pandemia de coronavírus acentuou, ainda mais, a desigualdade entre ricos e pobres no Brasil e no mundo. “Os pobres estão muito mais pobres e vão ficar cada vez mais”, salienta Dias. Com o empobrecimento das famílias, o consumo será focado nas demandas essenciais e, eventualmente, em insumos que podem garantir um pequeno alívio existencial. Na outra ponta, bens de alto valor, como carros e imóveis, ficarão de fora.

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Ele explica que, em situações de ameaça, a tendência é nos fecharmos, o que reduziria as chances de exposição ao que pode nos aniquilar. Os seres humanos reagiriam, dessa forma, por meio de barreiras emocionais, que bloqueiam a nossa motivação para ser espontâneo, para inovar e buscar prazer. Neste sentido, os sentimentos e experiências que afloram em períodos como este são o medo, insônia, humor deprimido, irritabilidade, raiva e, sobretudo, angústia. Situação parecida pode ser observada na Ásia, no início dos anos 2000, quando da epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que contaminou mais de 8 mil pessoas. Foi considerada à época, pela Organização das Nações Unidas (ONU), como a mais séria doença contagiosa de tempos recentes e a primeira grande epidemia do século XXI. Diferentemente da Covid-19 que se espalhou pelo mundo inteiro, tornando-se uma pandemia, a Sars concentrou-se na China e em Hong Kong. E apesar de ter matado um número relativamente pequeno de pessoas (916 contra mais de 500 mil pelo coronavírus*), prejudicou a economia e causou severos efeitos psicológicos naquela população. De acordo com o professor, estudos realizados após a epidemia de Sars revelam grande incidência de estresse pós-traumático, quando a pessoa enfrenta situações que representam riscos à própria vida ou à vida de terceiros. E, neste sentido, podem se tornar mais ansiosas, deprimidas, pessimistas e com menos motivação para qualquer tipo de ação mais disruptiva. Ou seja, para o neurocientista, diferente do que se convencionou a falar sobre o coronavírus, as pessoas não vão sair da crise mais inovadoras, e sim mais conformistas e conservadoras, como já é possível evidenciar nas redes sociais, por exemplo.

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- O QUE MUDA NO CONSUMO E COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO?

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UM NOVO JEITO DE FAZER NEGÓCIOS Há milhares de anos, o comércio abre as portas e espera o cliente entrar para fazer as compras. De uma hora para outra, nem o comerciante pode abrir a loja, nem o consumidor pode sair de casa. Esta situação, motivada pela pandemia da Covid-19 e a necessidade de distanciamento social, revelou a acomodação cultural por que passa muitos negócios no Brasil. A reflexão é de Fred Rocha, especialista em varejo e um dos pioneiros do e-commerce no país. “Muitos comerciantes se paralisaram. Eles têm medo do digital mesmo precisando, mesmo sem vender”, avalia Rocha. Para Nina Silva, CEO do Movimento Black Money (MBM), hub de inovação para inserção da comunidade negra na era digital, não só os pequenos empreendimentos, mas mesmo os grandes negócios ainda têm dificuldades de fazer uma transformação digital. “Neste momento que enfrentamos uma pandemia, percebemos que não estamos no século XXI”, declara. “O que eu espero, entretanto, é que esses meses acelerem a digitalização que não foi feita nos últimos 15 anos”, completa a CEO.

FRED ROCHA Especialista em varejo e um dos pioneiros do e-commerce no país

Neste sentido, Rocha destaca a importância de transformar as redes sociais em uma filial da empresa e não restringi-las a canais de comunicação. Ou seja, ter um vendedor e ações específicas para este local. “É preciso ser ativo, transformar todos os pontos de contato com os clientes em negócios verdadeiros. Acabou o tempo de abrir a loja e esperar o cliente entrar”, reforça. Para além do digital, Rocha acredita que é preciso repensar o propósito das empresas. “Eu acredito que as empresas, mesmo que digitais, se não tiverem um propósito verdadeiro, vão morrer nos próximos anos”, pondera.

FIGITAL: QUANDO FÍSICO E DIGITAL ANDAM JUNTOS Para Nina, as lojas físicas vão continuar existindo, mesmo com a guinada digital. Isso porque ainda existe a necessidade física – embora, agora controlada – de manusear os produtos. De qualquer forma, mesmo com os clientes fisicamente na loja, as empresas precisam estar no digital. “É uma comunidade só. É um ecossistema único de relacionamento comercial”, explica a CEO.

NINA SILVA CEO do Movimento Black Money (MBM)

“Precisamos ultrapassar este conceito de loja. O futuro, e até mesmo o presente, é um presente de experiências. Quem consegue ofertar as melhores experiências, quem consegue trazer valor agregado, para além de uma venda, mas um relacionamento real com o cliente, vai conseguir transitar tanto no digital, como no presencial”, acrescenta. Flávia Verginelli, diretora de produtos e inovação do Google Brasil, também acredita na convivência entre o on e o off, e que esta situação irá continuar no pós pandemia. “Os pequenos comerciantes descobriram uma nova linha de negócio. As pessoas estão buscando o mais rápido, o mais perto, o mais cômodo. Ter a comodidade do digital, dentro da loja do bairro, porque entrega muito mais rápido, isso vai perdurar. Não acho que volte atrás, acredito na convivência entre o on e o off”, destaca.

* No dia 09 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizava 545.481 mortes por conta da doença em todo mundo.

FLÁVIA VERGINELLI Diretora de produtos e inovação do Google Brasil



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- É PRECISO ESCOLHER UM LADO?

É PRECISO ESCOLHER UM LADO? As consequências do Brasil polarizado para a democracia, o diálogo e o combate às fake news >>> Loraine Santos

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polarização, por si só, não é um fenômeno recente. A divergência política sempre existiu e é um combustível saudável para o exercício democrático, porque a sociedade é complexa, plural e tem uma tendência de buscar visões ideológicas distintas. O problema é quando os discursos são movidos por um sentimento de ódio, alimentada por fake news, que tornam tóxica a possibilidade de tratar com racionalidade o debate acerca das questões políticas e sociais. Para Rafael Poço, coordenador do Despolarize, criticar a polarização não significa combater o antagonismo de ideias, muito pelo contrário. “O conflito permite que as ideias se choquem e que, a partir disso, um lado escute o outro, gerando soluções. Mas, por motivos conscientes ou inconscientes, as pessoas têm se comportado de forma divisiva, partindo do pressuposto de que o diferente é alguém que não deva ser escutado, como se fosse uma traição à um grupo ou a própria identidade do indivíduo”, explica Poço. A Despolarize é uma plataforma que oferece materiais informativos e cursos para que as pessoas ampliem seus repertórios e, assim, possam lidar com conflitos através do diálogo entre quem tem posições diferentes. “A ideia surgiu de uma necessidade pessoal de contribuir com a política e, também, de ter conhecido em outros países da América Latina projetos com o mesmo propósito”, conta o coordenador da plataforma que fornece de forma gratuita vários Guias de Conversas sobre os assuntos considerados polêmicos, como coronavírus, reforma da previdência, escola sem partidos, entre muitos outros. O objetivo é contribuir para uma sociedade mais forte e resiliente à polarização e sectarismo.

RAFAEL POÇO Coordenador do Despolarize


ESPECIAL NOVO MUNDO

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DESARMANDO A BOMBA RELÓGIO

Se de um lado há iniciativas de combate à polarização, do outro vemos uma aposta nas divergências em torno dos costumes, das posições ideológicas e das tomadas de decisões diante de eventos que impactam a sociedade, como estratégia para ganhar destaque. Segundo Rafael Poço, “em uma sociedade tão diversa, polarização é falta de criatividade: são dois lados que conseguem, de forma definitiva, reduzir e resumir uma sociedade tão complexa; além de ser uma estratégia para se destacar. As redes sociais, por exemplo, ganham mais dinheiro quando alimentam esse comportamento. Há anos, lideranças alimentam a polarização também como estratégia política”. Além disso, a polarização é acentuada pelo comportamento da sociedade atual, que está passando por uma transição econômica, política, de valores e de cultura, e que, naturalmente, se sente ameaçada. “Nosso cérebro, quando se sente ameaçado, desliga os comandos de empatia, de reflexão, focando apenas em sobreviver, em se proteger”, pondera o coordenador.

Uma das soluções propostas por Poço é ter menos certeza sobre as coisas, e mais curiosidade. Questionar e, de fato, ouvir o que o outro tem a dizer deixa a batalha de lado e abre espaço para o diálogo. “Se enquanto o outro está falando, já ficamos elaborando na nossa cabeça os argumentos que vão simplesmente reafirmar nossa posição ou deslegitimar a do outro, não é diálogo e não há como conviver democraticamente sem diálogo”, detalha. O primeiro passo para mudar é compreender que o ser humano, na maioria das vezes, não tem a habilidade de escutar aquilo que é diferente. A boa notícia fica por conta de que é possível adquirir essa habilidade e, como para qualquer outra, o desenvolvimento exige prática. “O que a Despolarize faz é estimular a prática. Sugiro um exercício para todo mundo: ‘primeiro, vou só escutar. Depois, vou reproduzir tudo que ouvi para ver se eu realmente entendi’”, aconselha ele.

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POLARIZAÇÃO COMO ESTRATÉGIA


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- É PRECISO ESCOLHER UM LADO?

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MÍDIAS SOCIAIS Quando as pessoas estão consumindo informação, elas têm a tendência de querer confirmar as próprias crenças. Além disso, elas tomam como verdade quando acessam informações encaminhadas por pessoas que confiam ou que, de modo geral, pensam igual a elas. Nesse movimento, é possível identificar um rechaço a tudo aquilo que é diferente e uma disseminação de fake news a respeito de assuntos que podem trazer consequências graves. Walter Longo, empreendedor digital, palestrante internacional e sócio-diretor da Unimark, alerta que a decisão da despolarização é ainda mais profunda nesse sentido. “Todo o mundo digital foi construído na busca do engajamento. Temos vieses cognitivos, ou seja, quanto mais eu tenho a confirmação das minhas teses, mais eu me engajo, mais eu fico satisfeito e mais sinto prazer. O algoritmo percebe isso e só me dá aquilo que eu concordo e aquilo que eu acho certo. A partir daí, somos contaminados por uma visão tribalista de que tudo o que estamos pensando é o correto. Por isso, independente dos esforços de cada um como indivíduo para combater a despolarização, vamos precisar mexer nos algoritmos das redes sociais e na forma como se processa essa busca pelo engajamento”, detalha Longo. Há, portanto, uma pressão exercida pelo ambiente virtual para rechaçar pessoas e pensamentos diferentes, versus uma pressão social para que haja mais tolerância e espaço para debates. Por mais que o panorama seja complexo, Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, alerta que todos os esforços são essenciais para combater a polarização. “A CPI das fake news, por exemplo, serve para colocar um freio em quem se aproveita da mentira para alimentar a polarização. Por freio entende-se como uma condenação pública e moral que não resolve, mas segura a

WALTER LONGO Empreendedor digital, palestrante internacional e sócio-diretor da Unimark

RENATO MEIRELLES Presidente do Instituto Locomotiva

onda das pessoas. Tem que haver transparência sobre quem está falando o que na Internet”, explica. Diante todas as questões acerca da polarização, é legítimo questionar se ter uma população mais envolvida com a política torna-se mais importante do que tratar a dualidade. Renato Meirelles reforça que a contribuição para maturidade política se dá pelo debate, e não pela polarização. “Uma expressão estética do mal da polarização é o panelaço - e aqui eu não estou falando de lados mas é fazer tanto barulho que fica difícil ouvir. Já o diálogo e o debate são fantásticos para democracia. Não é com intolerância que a gente vai além”, conclui.



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SMART - DA GLÓRIA AO CANCELAMENTO

DA GLÓRIA AO CANCELAMENTO A quem seguimos e despendemos likes? São pessoas que nos inspiram para além da média? Coerência e propósito podem evitar o temido cancelamento dos heróis da Era Digital >>> Guilherme Popolin


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seguidores, ou seja, há o alinha-

mento com elementos do mito clássico do herói: a ideia primordial de um líder acima da média que exerce a missão gloriosa de liderar seus fiéis. Para a filósofa Lucia Helena Galvão, a figura do herói nos relembra o quão grandes podemos ser, como um estímulo. “Homens nessa dimensão heróica podem apontar o caminho, mas ninguém pode caminhar por nós. Se não caminhamos, não LUCIA HELENA GALVÃO vai fazer diferença nenhuma”, asFilósofa segura. É preciso senso crítico para não compreender os Digitais Influencers como gurus da internet, ou, então, avaliar se determinada figura contribui para a banalização ou sacralização de nossas vidas. “Banalizar é viver por nada. E, de acordo com Mircea Eliade, sacralizar é a função de dar sentido quando cada momento da vida aponta para uma direção”, afirma Galvão. Aos Digitais Influencers é preciso coerência e atenção no momento da produção do conteúdo. “Aquilo que plantamos não dá para mudar, mas dá para ser consciente daquilo que podemos plantar, para que no futuro gere outro tipo de fruto. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”, alerta a filósofa. Ter um propósito definido e coerente com o conteúdo produzido para os seguidores pode evitar constrangimentos ou o temido cancelamento. Para Felipe Solari, apresentador e criador do podcast Sistema Solari, o cancelamento vem de uma frase ou um pensamento mal colocado que, em maior ou menor medida, é um reflexo do que a pessoa fundamentalmente acredita. “Está na voz de cada um de nós tentarmos não falar coisas que não cabem mais, mudarmos e modernizarmos nosso pensamento. Fazer um upgrade dos nossos ‘aplicativos’ o mais rápido possível ou seremos nós os próximos cancelados”, reflete Solari. Para Otaviano Costa, a cultura do cancelamento tem um viés educativo, se considerarmos a urgência do debate sobre questões sociais que há anos se arrastam sem uma transformação efetiva. “O glossário sobre as questões raciais, por exemplo, repensar o que falamos, das pequenas coisas que já estavam embrenhadas no nosso vocabulário, como ‘denegrir’ e ‘a coisa tá preta’, são pequenos detalhes de como a gente está tendo que repensar, de maneira obrigatória e irreversível, e isso é muito positivo”, afirma. “E mais do que aprender a falar, aprender a ouvir” – assevera Otaviano, e exemplifica que, quando uma pessoa com forte relevância faz uma declaração que representa algo que não deve ser mais praticado ou dito, a cultura do cancelamento é acionada como uma estratégia educativa. “As minorias* que não são respeitadas transformam o influenciador em um símbolo ruim, para fazer que todos entendam. Às vezes priorizam alguém de relevância que falou alguma bobagem e

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om origem datada em um tempo imemorial, o mito do Herói Salvador se estabeleceu como uma das forças primordiais a influir sobre o corpo social em todo o globo. Há milhares de anos, a figura arquetípica de um ser acima da média – admirado e dotado de características semidivinas – move a política, inspira lideranças e nos orienta diante dos problemas cotidianos. Na contemporaneidade, por meio da internet e das mídias sociais, aos Digitais Influencers é imputada a missão heroica de guiar e influenciar uma legião de seguidores. Em um mundo polarizado e em crise, a jornada do herói na Era Digital é repleta de antigos e novos desafios. Hoje, o que separa a glória do cancelamento? O apresentador e comunicador Otaviano Costa tem uma longa carreira no rádio e na TV. O artista, que já comandou vários programas de auditório nas principais emissoras de TV do Brasil e participou de seis novelas, acumula milhões de seguidores em suas redes sociais, ou seja, é um Digital Influencer. Para ele, a internet é uma ferramenta democratizante, sobretudo por conta das plataformas de vídeo, as quais geram fôlego e deram espaço para muitos talentos brasileiros mostrarem suas artes, palavras, ideias e composições de modo geral. Por um lado, a internet permite que anônimos tornem-se famosos rapidamente, de outro, pessoas que já garantiram a fama podem perder todo o capital social da noite para o dia com a cultura do cancelamento – um dos efeitos da frustração que a audiência na internet sente quando um Digital Influencer não cumpre com as expectativas, ou seja, quando a imagem mítica atribuída àquela pessoa é abalada por declarações ou atitudes consideradas equivocadas. Para Otaviano, a internet gerou heróis e monstros, e é nos momentos em que a responsabilidade é cobrada que descobrimos o quão comprometidas as pessoas são. “O Brasil, que sempre teve a necessidade de ter heróis, também parece ter a necessidade de ter monstros. Os seus fantásticos influenciadores e cancelados. Vai haver uma codificação e se sobressair aqueles que nesse momento de tanta sensibilidade social estão antenados e realmente fazendo algo que esteja provocando relevância social, em busca pela transformação de si e dos outros ao seu redor”, afirma. Ao longo da história, os seres humanos sempre elegeram uma figura heróica para conseguirem lidar com questões cotidianas. Aos Digitais Influencers é conferida a missão de guiar uma auOTAVIANO COSTA Apresentador e comunicador diência, chamada comumente de

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SMART - DA GLÓRIA AO CANCELAMENTO

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deixam todos atentos ao que é correto, ressignificando, para todo mundo ouvir e aprender.” “Eu, como comunicador, gosto de dar voz, abrir o microfone, porque não tenho um conhecimento tão pleno de muitas causas, e a gente sabe que tem causas que não estamos no lugar de ficar falando. Abrir o debate, receber uma pessoa que participa daquele movimento, começar a conversar por uma hora, e ir desenvolvendo o raciocínio. A partir da necessidade de se posicionar, algumas pessoas acabam se perdendo. Falta genuinidade, verdade, e a partir do momento que faltam essas duas coisas, falta conhecimento”, reflete Solari. Muitas vezes, com a pretensão de, assim como um líder messiânico, ser um oráculo para seus seguidores, os Digitais Influencers não ponderam acerca da coerência e da consistência de suas mensagens. Contudo, Lucia

Helena Galvão relembra que a realização do herói é baseada na justiça e na impressão de valores ao mundo. “Nós, segundo a concepção do herói tradicional, viemos aqui para sairmos maiores do que entramos. O herói nos dá uma perspectiva de ir além daquilo que consideramos como o teto de possibilidades”, portanto, a quem seguimos e despendemos likes? São pessoas que nos inspiram para além da média? A vida de quem seguimos é dotada de sentido? Nos traz um pouco de realidade no meio da ilusão em que vivemos? “E essa realidade é sempre uma luz no final do túnel. Às vezes perdura por muito tempo, dependendo da envergadura do herói, pode durar por milênios”, completa Galvão. Sendo assim, não se trata de demonizarmos todos os Digitais Influencers, mas garimparmos na rede aqueles que realmente nos inspiram.

“O meio digital tem de tudo. Temos mensagens positivas, muita gente legal para seguir, mas vivemos esse momento dos muitos likes, dos muitos seguidores. Isso muitas vezes acaba virando um parâmetro de qualidade e de boa informação, e não necessariamente é. Temos também os pequenos influenciadores, de um grupo ou bairro. Essas pessoas começam a ter um FELIPE SOLARI valor muito grande em todos os Apresentador e criador do aspectos, porque, no fim, o que podcast Sistema Solari importa é o conteúdo”, afirma Felipe Solari. “O influenciador se julga acima do bem e do mal, muitas vezes o pé no chão não está ali para ser sensível ao que mais importa, à pequena comunidade ou à sensibilidade social. Estar atento à sua relevância, como cidadão que pensa, que age e que pode provocar muito mais que seguidores, mais do que views, provocar conversas, discussões, ideias. Há despreparo em parte da turma. Isso não é ruim, é gente espontânea, verdadeira, que faz o que quer e como quer, essa é a regra do digital. Viraram nossos super-heróis sendo quem eles quiseram ser”, conclui e provoca Otaviano.



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TALK - A PANDEMIA É UMA MÁQUINA DO TEMPO

A PANDEMIA É UMA MÁQUINA DO TEMPO >>> Damien Timperio - CEO da GL events no Brasil

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uito tem se discutido sobre o que é o “novo normal” nas relações e dinâmicas sociais, especialmente no ambiente profissional. Em alguns momentos, a sensação é de que, em apenas quatro meses – que mais parecem quatro anos –, a vida virou de cabeça pra baixo e temos que nos reinventar completamente. No entanto, o que vivenciamos agora é a aceleração de tendências que já se apresentavam antes, mas que ainda levariam algum tempo para amadurecer e se tornar realidade e, especialmente, algo aplicável em grande escala. Muitas delas, inclusive, já vinham sendo debatidas na Welcome Tomorrow há alguns anos. O festival que discutia o futuro das cidades passou, de uma hora para a outra, a falar sobre o presente. Afinal, o futuro chegou bem mais rápido do que imaginávamos. O home office é um bom exemplo. Antes da Covid-19 só as empresas mais antenadas adotavam o modelo. Agora, até as mais tradicionais já mantém ou consideram manter esse esquema de trabalho depois da pandemia. Deixando as


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reuniões presenciais para situações realmente relevantes e pontuais. Com isso, os encontros se tornarão mais escassos e, também, mais valorizados. A mesma lógica se aplica ao mercado de eventos. A pandemia mostrou que é possível fazer bons eventos digitais, mas também deixou claro que o presencial é insubstituível. Passamos a ter um cardápio bem mais amplo, com possibilidades de combinações do digital com o presencial; da opção pelo virtual para aumentar a recorrência e a interação com os públicos de interesse, sem precisar fazer grandes investimentos; e poder preparar o evento presencial com o que há de mais exclusivo e qualificado.

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Desta forma, ele se torna extremamente relevante e passa a ser aguardado e desejado pelo público. É como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, que acontecem a cada quatro anos e são o ápice do esporte global. Causam comoção mundial, os ingressos são disputadíssimos, os jogos são transmitidos por diferentes canais e o engajamento do público é gigante. Mas até chegar lá, há uma série de eventos esportivos menores, como os campeonatos regionais e nacionais. Tirando o fato de reunirem multidões, o restante é exatamente o que podemos considerar como o “novo normal” para o mercado de eventos. Já vínhamos testando novas tecnologias e identificando tendências de redução de tamanho e frequência dos eventos e, ao mesmo tempo, com um olhar ainda mais especial para a qualidade. Até então, o modelo tradicional continuava imperando, com excesso de congressos e feiras que disputavam entre si de qual atraía o maior volume de pessoas, como se só isso representasse o sucesso. Era uma lógica que ainda levaria alguns anos para ser quebrada. A pandemia nos colocou em uma máquina do tempo e nos transportou diretamente para o futuro, onde o evento físico é um in-

DAMIEN TIMPERIO CEO da GL events no Brasil

vestimento de tempo e dinheiro cuidadosamente empregado, para produzir a melhor experiência possível. A frequência é menor e reúne menos gente, mas atrai as que realmente são estratégicas para cada organizador de evento e seus patrocinadores. Mas para quem pensa que as mudanças se limitam aos formatos dos eventos, digo que as transformações são bem mais profundas e estruturais. Elas podem nos levar, por exemplo, à evolução física dos atuais centros de convenções e exposições. Esses espaços precisarão ser muito mais versáteis para receber vários e todo tipo de pequenos eventos simultaneamente, em vez de grandes feiras, congressos e exposições. Pavilhões enormes próximos aos aeroportos, que tanto eram valorizados e disputados por empresas de gestão de espaços como a nossa, passarão a concorrer com áreas bem menores nas regiões mais nobres e centrais das cidades. Afinal, se os eventos estarão menores e mais segmentados, quanto mais próximo eles estiverem do seu público-alvo, muito melhor para organizadores e visitantes. Aliás, com as pessoas menos dispostas a fazer grandes deslocamentos e a viajar para outras cidades ou estados para participar de conferências, feiras e shows, a tendência é que mais capitais se desenvolvam em turismo de negócios e entretenimento. Os eventos terão que chegar aos públicos e não o contrário. Isso é um desafio para destinos já consolidados, como São Paulo e Rio de Janeiro, e ao mesmo tempo uma grande oportunidade para que o Brasil desenvolva novos polos de eventos em outras capitais e até em cidades do interior. Para as empresas do setor, os desafios são igualmente relevantes, pois será preciso se tornar mais flexível e ágil para acompanhar tantas mudanças e estar preparado para conduzir os clientes por essas novas estradas. Para nós da GL events – que está há 40 anos no mercado global de eventos atuando em toda a cadeia produtiva desse setor – acompanhar e promover transformações faz parte do nosso DNA. Mas isso não quer dizer que é simples ou fácil. Pelo contrário, o desafio dessa vez é ainda maior pela velocidade da transformação. Por isso, o envolvimento dos nossos times em cada um dos 27 países em que atuamos se torna ainda mais essencial. Afinal, não é possível fazer nada tão grande sem uma equipe engajada e comprometida.


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IMAGINATION - O FATO E O FAKE

O FATO E O FAKE

Lei das Fake News mostra luz no fim do túnel da desinformação; aceitar o contraditório e se informar livre de preconceitos são caminhos possíveis em busca de uma internet mais saudável >>> Guilherme Popolin

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velocidade e a facilidade para produzir e distribuir conteúdos de todos os tipos nas mídias sociais criaram um terreno lodoso de onde emergem inverdades, por vezes criminosas. A crise provocada pelo novo coronavírus potencializou um fenômeno cujo impacto sobre a saúde pública é nocivo: a desinformação causada pela disseminação de fake news na internet. Em meio a controvérsias conceituais, o termo fake news é comumente utilizado para definir conteúdos que inventam ou alteram os fatos e são amplamente disseminados nas mídias sociais. A Lei das Fake News, em tramitação no Congresso Nacional, lança luz sobre um imbróglio que envolve o governo, as plataformas e a sociedade. “Você gosta de receber notícias falsas?”, questiona o advogado e economista Renato Opice Blum. De acordo com ele, a resposta negativa à provocação é unânime, uma vez que as pessoas não almejam serem desinformadas ou, eventualmente, repassarem conteúdos que possam enganar outras pessoas. Todavia, é comum, ao receber uma notícia que foge do rotineiro e


ESPECIAL NOVO MUNDO

causa impacto, o desejo de avisar as pessoas mais próximas. Por conta desse ímpeto, muitas vezes o conteúdo é repassado sem a devida checagem. “Se for uma fake news, acabamos ajudando com a divulgação. No direito, chamamos isso de culpa. Não fiz de propósito, não quis fazer aquilo, mas não tomei as cautelas necessárias para não fazer”, explica Blum. De acordo com o advogado, o tempo é um adversário da checagem, hábito que deveria ser incorporado ao cotidiano de todos por meio da educação digital, de modo que a colaboração entre a população e as mídias sociais transformem a internet em um ambiente sadio. “Hoje, nós temos uma velocidade grande, um acesso amplo e uma proliferação desenfreada de todo tipo de conteúdo. Tudo muito rápido e escalado, se o impacto for negativo e induzir comportamentos equivocados, nós teremos consequências não desejadas”, alerta. O impacto da desinformação é agudizado em tempos de crises, sobretudo sanitárias, como a provocada pela pandemia de Covid-19. No Brasil, entre abril e maio, publicações que circularam nas mídias sociais disseminaram boatos acerca de que, com o objetivo de inflar os números de mortos pela pandemia, caixões vazios ou com pedras estariam sendo enterrados. O efeito nocivo dessa fake news foi sentido pela família de uma vítima do novo coronavírus que, durante o velório, em Cairu (BA), abriu o caixão que estava lacrado. Por conta disso, cinco pessoas presentes no local foram contaminadas. “A desinformação é um ponto central da nossa vida nesse momento, não podemos ignorar que ela tem um caráter forte e influencia todos os movimentos que tomamos no dia a dia”, afirma Natalia Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa. Para ela, é preciso diferenciar o que é fake news do jornalismo mal feito, visto que não é porque discordamos de determinado posicionamento que devemos tratá-lo como mentiroso. Há veículos que adotam uma posição e um ponto de vista, e se o trabalho for feito “sobre uma base ética, transparente, com base nos fatos, é jornalismo. Não é

NATALIA LEAL Diretora de conteúdo da Agência Lupa

porque desagrada que devemos tratar como fake news. Todo jornal tem sua linha editorial, e se a linha editorial fica clara, e o jornalismo é feito com base na transparência, não podemos colocar no mesmo patamar [das fake news]”, explica. Alana Rizzo, cofundadora do Redes Cordiais, enfatiza o método jornalístico de apuração da notícia, que consiste em ouvir várias fontes, apresentar várias perspectivas sobre a mesma história, comprovando os fatos que são apresentados. “Importante as pessoas entenderem que tem um processo, pautado pela ética, diferente do mau jornalismo, da desinformação, e entender que o jornalismo também está aqui para dar o contexto. As redes sociais dão apenas um fragmento. Achamos que é a notícia, mas às vezes é um pedaço na rede social, a opinião de alguém. É diferente de uma notícia apurada, com diversas fontes, que tenta dar um contexto ao acontecimento.” Contudo, Caio Blinder, jornalista e palestrante, alerta que a escolha das fontes e dos sujeitos acionados para os debates nos veículos jornalísticos deve ser pautada pela ciência, responsável por impor um limite ao que é aceitável debater. Para o jornalista, não é porque os movimentos antivacina e terraplanistas estão articulados na redes sociais que o jornalismo precisa dar espaço a eles. “Tem coisas que não tem outro lado. Nós vamos debater a realidade e a realidade alternativa? Acaba reforçando o folclore, não se faz isso. É preciso ter o mínimo de bom senso para saber onde há um debate político, e não criar um debate artificial”, assegura Blinder.

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RENATO OPICE BLUM Advogado e economista

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IMAGINATION - O FATO E O FAKE

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LEI DAS FAKE NEWS X LIBERDADE DE EXPRESSÃO De acordo com a Câmara dos Deputados, desde o início de julho tramita na Casa o Projeto de Lei 2630/20 que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet – a Lei das Fake News. O texto cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas mídias sociais, como Facebook e Twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como WhatsApp e Telegram. A proposta gera polêmica, pois, por um lado a lei é vista como necessária para combater o financiamento de notícias falsas, especialmente em contexto eleitoral, mas por outro as medidas podem levar à censura. Para Renato Opice Blum, a Lei das Fake News funcionará como um estímulo à liberdade de expressão, uma vez que o projeto privilegia contas autênticas e prevê punição para atividades com contas fakes. O banimento de contas inautênticas é previsto nos termos de uso das mídias sociais, sendo assim, a Lei vai apenas formalizar os trâmites e alinhá-los com a justiça brasileira. No início de julho, o Facebook desarticulou uma rede de contas – com 883 mil seguidores no Facebook e 917 mil no Instagram entre páginas e grupos de funcionários do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), incluindo pessoal ligado aos filhos Flávio (Republicanos-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de deputados do PSL. As páginas empregavam ações proibidas, como contas falsas e envio de spam. Atualmente, as mídias sociais têm autonomia para seguirem seus termos de uso, contudo, com a Lei das Fake News, a plataforma que decidir cancelar ou remover um conteúdo terá que ouvir os responsáveis pelas contas. De acordo com Renato Opice Blum, é difícil ouvir o contraditório e conceder o direito de defesa à outra versão. A Lei, portanto, “vai trazer

ALANA RIZZO Cofundadora do Redes Cordiais

mais garantias porque, em casos de exclusão, a plataforma terá que ouvir a versão daquele que postou o conteúdo, para garantir a liberdade de expressão”, afirma Blum, que acredita que um dos grandes desafios atuais é o exercício pleno do direito de resposta. Desabilitar contas inautênticas pode contribuir para a transformação das redes sociais em ambientes mais saudáveis e seguros, todavia, a medida não é suficiente para evitar a desinformação por fake news, uma vez que contas verdadeiras podem continuar propagando esses conteúdos. Para Natalia Leal, as pessoas se apropriam de desinformações para contar uma história conveniente. “Muitas vezes, a história que convém pode ser contada com elementos verdadeiros, distorcendo alguns conceitos para passar uma ideia equivocada”, alerta.

FAKE


ESPECIAL NOVO MUNDO

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CONTRA ARGUMENTOS, NÃO HÁ FATOS Segundo Alana Rizzo, o problema da desinformação é de responsabilidade compartilhada. “Os governos tem responsabilidade? Claro. Principalmente, agora, no meio de uma pandemia em que estamos tratando de saúde pública. As plataformas tem uma política que os usuários precisam seguir, fazendo um diálogo de forma transparente. Muita gente acha que são os robôs que estão espalhando a desinformação, mas somos nós que disseminamos. A notícia falsa não se espalha sozinha. Precisamos cada vez mais pensar no nosso papel nessa cadeia.” Para Walter Longo, empreendedor digital, palestrante internacional e sócio-diretor da Unimark, um mundo com tantas opções nos afasta de nossas convicções. “O universo digital criou um redemoinho de efemeridade e ilusões, o resultado

CAIO BLINDER Jornalista e palestrante

disso é que o critério e o bom senso foram ficando cada mais distantes. Antigamente, contra fatos, não havia argumentos. Agora, contra argumentos, não há fatos. Nunca se falou tanto e se ouviu tão pouco”, afirma. Nas redes sociais, o Viés da Confirmação emerge como um dos mais relevantes, ao direcionar o foco dos usuários para informações que confirmem crenças ou opiniões consolidadas. “É a tendência de se lembrar, interpretar ou buscar informações que ratifiquem crenças ou hipóteses. É um viés cognitivo básico, além de grave erro de raciocínio indutivo que afeta a todos nós. Graças ao Viés de Confirmação, toda informação ambígua se torna confirmatória. Um bom exemplo disso é a Covid-19, dividindo as pessoas entre alarmistas e negacionistas. O viés de confirmação funciona como um reforço de nossos preconceitos.” Para Walter Longo, é preciso entender que há várias óticas sobre um mesmo fato. “Não necessariamente a minha ótica ou a ótica que eu tenho hoje é a única forma de enxergar aquele problema”, ou seja, é imprescindível “aceitar o contraditório que faça nexo, querer ouvir e consumir opiniões divergentes às nossas, olhar um problema por outro ângulo”. “As redes sociais mostram que é mais fácil pegar um atalho, o que o grupo no Facebook falou, que realmente se informar. Isso [se informar] leva tempo, paciência e discernimento. As pessoas têm suas próprias agendas e querem ter seus preconceitos reforçados nas redes sociais. Vivemos em bolhas. Em uma época de tanta informação à vista, nós temos monólogos. Não só guerras de narrativas, mas cada um fazendo o seu monólogo, e reforçando preconceitos para sua base de contatos”, conclui Caio Blinder.


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SMART - O NOVO NORMAL É SEM ESCRITÓRIO?

O NOVO NORMAL É SEM ESCRITÓRIO? A crise sanitária forçou a quebra de paradigmas e fez empresas acelerarem a implantação do home office e de tecnologia remota >>> Loraine Santos


ESPECIAL NOVO MUNDO

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modelo de trabalho no mundo foi diretamente afetado pela pandemia do novo coronavírus. O estudo intitulado Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios, realizado em abril pelo diretor executivo da Infobase, André Miceli, ouviu tomadores de decisão e gestores de 100 empresas e apurou que o número de empresas que pretendem adotar o home office após a crise deve crescer 30%. A aposta deste modelo de trabalho em um mundo pós-pandemia vem em linha com grandes empresas globais, como Nubank, Facebook e Twitter, que já anunciaram estender o home office até o final de 2020. Há corporações, inclusive, que adotaram o trabalho remoto como um modelo definitivo, abandonando os espaços físicos e investindo em tecnologia para não perder produtividade.

BOM PARA QUEM? TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

RUY SHIOZAWA Presidente do Great Place to Work (GPTW) no Brasil

Crises são momentos de reinvenção do negócio, e sobrevive quem souber aproveitá-lo. Obviamente, a tecnologia remota é uma condição inerente ao modelo de home office e muito se questiona sobre se as empresas brasileiras estão preparadas para esta virada de chave. “O ponto não é o nível de tecnologia e sim o mindset dos líderes. A tecnologia é acessível, mas o modelo mental dificulta. Conheço uma pessoa que trabalha para uma ONG e a chefe dela não providenciou uma infraestrutura adequada até agora porque está esperando a volta da vida normal. Ou seja, ela não desenvolveu ações para que sua equipe pudesse atuar de forma mais efetiva, seja durante ou após a pandemia”. O enfrentamento da crise passa pela tecnologia remota, mas também pela educação. “Já vínhamos com altos índices de desemprego e agora aumentou bastante. Se somarmos isso às inovações tecnológicas, muitos empregos tendem a ser eliminados. Ao mesmo tempo, estão surgindo milhões de novas oportunidades, ou seja, estamos eliminando empregos e gerando outros, mas não dá para movimentar a pessoa de um para outro sem educação e sem capacitação”, alerta Shiozawa.

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Marcado pelo extremismo, o Brasil é um país vasto e com muitas diferenças culturais entre as regiões. “Havia empresas bem preparadas que não sentiram os impactos que a pandemia trouxe; e outras que ficaram muito atrapalhadas, pois eram totalmente contrárias a um modelo de trabalho remoto”, afirma Ruy Shiozawa, presidente do Great Place to Work (GPTW) no Brasil. Há mais de 20 anos apoiando organizações a obterem melhores resultados por meio de uma cultura de confiança, alto desempenho e inovação, o GPTW já avaliou mais de 115 mil práticas de empresas em 90 países ao redor do mundo. De acordo com o presidente, a regra é ouvir o colaborador. “O que a gente sempre recomenda é questionar as pessoas que trabalham para você sobre o que elas acham do home office. Têm pessoas que moram em um local adequado, com uma cadeira ergonômica, e outras que não têm sequer um espaço físico para trabalhar de casa, moram com uma família muito grande, não têm privacidade. Costumamos generalizar conclusões, e isso é muito perigoso. Por isso, faça uma pesquisa e entenda que talvez não seja nem um extremo e nem outro, e sim um modelo intermediário”.


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SMART - O NOVO NORMAL É SEM ESCRITÓRIO?

Em parceria com a B3, uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no mundo, o Great Place to Work se prepara para divulgar um estudo atestando que as empresas certificadas pela organização são mais valiosas para o mercado financeiro. Os dados são frutos de mais de dois anos acompanhando os indicadores e conclui que investir em pessoas faz bem para os negócios. Ruy Shiozawa, presidente da GPTW no Brasil, explica: “nossa missão é construir uma sociedade melhor, transformando cada organização em um GPTW. Escolhemos o caminho das empresas, porque as práticas positivas vivenciadas e estimuladas no ambiente corporativo refletem na vida das pessoas, fazem com que elas ajam com ética e transparência também em suas famílias, com seus amigos, na comunidade em que vive”. O estudo será publicado em breve, acompanhe pelo site gptw.com.br.

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CUIDAR DAS PESSOAS FAZ MUITO BEM PARA OS NEGÓCIOS

A RETOMADA Uma reportagem publicada pela revista ISTO É Dinheiro, em maio de 2020, perguntou a uma centena de líderes empresariais, artistas e entidades de todos os segmentos e tamanhos como será o país após a pandemia. Confiança e ambientes domésticos híbridos (com espaço para home office) são fatores que vão ditar o futuro das empresas daqui para frente. O presidente do GPTW alerta que o mais importante é direcionar a atenção para as pessoas. “As pessoas são o centro da gestão. Em um momento de retomada, o empresário foca na planilha de Excel e só vê números. É preciso fazer isso também, mas sem esquecer que a empresa é feita de pessoas e são elas que vão salvar o seu negócio”. Melhorar o ambiente de trabalho, seja presencial ou remotamente, reflete na confiança dos colaboradores e os tornam engajados. Ruy Shiozawa dá a letra: “Olhe para as pessoas com atenção, cuide delas. São elas que vão trazer respostas, soluções e caminhos para sair da crise, porque estarão comprometidas com a sobrevivência da empresa. É uma receita simples”.


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LIFE - QUANDO A DESIGUALDADE TEM COR

QUANDO A DESIGUALDADE TEM COR No Brasil, negros ocupam os piores índices de desenvolvimento econômico e social e são as principais vítimas da violência; entenda o racismo estrutural e como podemos sair deste triste cenário >>> Beatriz Pozzobon

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Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, o que só ocorreu em 1888. Além disso, junto com os Estados Unidos, foi o país que mais importou escravos da África. Por quase quatro séculos, os negros foram tratados como mercadoria em nosso país. Excluídas da sociedade por tanto tempo, após mais de 130 anos de abolição, as pessoas negras ainda ocupam os piores índices de desenvolvimento econômico e social e são as principais vítimas da violência no Brasil. Em um país em que 55,8% da população se autodeclara preta ou parda, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2018, a superação da desigualdade racial é, ainda, um desafio. Em maio deste ano, a morte de um homem negro por um policial branco, em Minneapolis (EUA), reacendeu os debates em torno do racismo no mundo inteiro. George Floyd morreu asfixiado após ficar mais de oito minutos preso sob o joelho do policial. A morte de Floyd foi o estopim para que milhares de pessoas marchassem contra o racismo e o fim da violência da polícia. O recado das ruas? “Black Lives Matter”, ou, vidas negras importam, traduzido para o português.


ções semelhantes, além de menores oportunidades educacionais. Quando se fala em educação, uma série de indicadores apresentaram melhoras de 2016 para 2018, como a diminuição da taxa de analfabetismo e o aumento de jovens negros que concluíram o ensino médio e ingressaram no ensino superior. Mesmo assim, ainda é evidente a desvantagem da população negra em relação à branca. Enquanto 78,8% dos jovens brancos entre 18 e 24 anos estão no ensino superior, 55,6% dos negros da mesma faixa etária frequentam uma universidade. A queda na desigualdade educacional entre brancos e negros no Brasil é, conforme o estudo, fruto de medidas adotadas para ampliar o acesso ao ensino superior, desde os anos 2000. É o caso da institucionalização do sistema de cotas, o Sistema de Seleção Unificada (SISU), e a expansão dos financiamentos estudantis, como o FIES e o Prouni. Os negros são, ainda, sub-representados nos cargos de poder. Em 2018, 24,4% dos deputados federais eleitos eram constituídos por pessoas negras; frente a 75,6% de brancos legislando o país. Já as mulheres negras, que representam um quarto da população brasileira, ocupam apenas 2,4% dos assentos do legislativo em âmbito federal.

RACISMO ESTRUTURAL Para muitas pessoas, racismo ainda é sinônimo de uma atividade individual, por exemplo, casos de violência direta, ofensas verbais ou ainda a atitude discriminatória de impedir a entrada de pessoas negras em determinados estabelecimentos. A historiadora, escritora e ativista Carolina Rocha, que adota o pseudônimo Dandara Suburbana em seus textos, explica que o racismo estrutural é “algo muito maior do que preconceito e discriminação”. “O racismo não é uma questão pontual, é um projeto de poder que passa por diversos âmbitos da nossa vida. O racismo é estruturante das relações que a gente vive. Ele se reproduz nas nossas instituições, nas nossas leis, nos livros, nos comportamentos sociais e permeia o imaginário social. É por isso que para vencermos o racismo, precisamos elaborar uma teoria que não seja racista, uma teoria antirracista”, defende Carolina, que é também idealizadora do Ataré Palavra Terapia, um projeto de escrita curativa, literatura negra e autocuidado.

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Mas, infelizmente, não é preciso ir até os Estados Unidos para se queixar da violência da polícia contra pessoas negras. O adolescente João Pedro Mattos, de apenas 14 anos, foi mais uma vítima de operação policial nas comunidades do Rio de Janeiro. Assim como João Pedro, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, segundo o Mapa da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Os negros são também as pessoas que, no Brasil, recebem os menores salários, sofrem mais com o desemprego, com a informalidade, além de serem menos representados em cargos de gerência, sobretudo, os de mais altos níveis. Um estudo* divulgado pelo IBGE, em 2019, mostrou que, em média, 29,9% dos cargos gerenciais são ocupados por pessoas negras, que chegam a receber quase 74% menos do que a população branca. De acordo com a pesquisa, o rendimento médio mensal de uma pessoa branca ocupada no Brasil foi de R$ 2.796, em 2018, rendimento que cai para R$ 1.608, quando se trata de uma pessoa negra. Ainda segundo o estudo, a desigualdade salarial é um padrão que se repete ano após ano, o que pode ser explicado por fatores como segregação ocupacional, recebimento de remunerações inferiores em ocupa-


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LIFE - QUANDO A DESIGUALDADE TEM COR

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MITO DA DEMOCRACIA RACIAL Uma das primeiras articulações do movimento negro no Brasil foi, justamente, afirmar que o racismo existe no país. Isso porque, na década de 1930, o sociólogo Gilberto Freyre defendia a teoria de uma dita “democracia racial”, que permearia o imaginário brasileiro até os dias de hoje. Para jornalista Rosane Borges, doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e autora dos livros “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” e “Mídia e racismo”, o mito da democracia racial serviu de base para formação da identidade nacional brasileira, e pode ser uma das explicações para o fato de que, ainda, muitos brasileiros negam a existência de racismo no país. “A partir da década de 1930, passou-se a ter uma pers-

FORÇA DE TRABALHO NEGROS

57,7

MILHÕES BRANCOS

46,1

MILHÕES Porém, 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados são negros

RENDIMENTO MÉDIO MENSAL EM 2018 PARA UMA PESSOA BRANCA

ROSANE BORGES Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo pectiva que vivíamos em uma democracia racial, sem considerar as estruturas, sem considerar as exclusões, porque todo mundo convivia em uma mesma sociedade sem apartheid legal. O não reconhecimento do racismo vem daí, de um apego a essa democracia racial que nunca existiu”, destaca. “Tem também uma frase, que eu gosto muito, do sociólogo Florestan Fernandes que diz que ‘o brasileiro tem preconceito de se dizer preconceituoso’. Nós nunca enfrentamos nossos traumas, e quando os traumas não são enfrentados, os sintomas permanecem”, completa a jornalista. Por fim, a historiadora e ativista Carolina Rocha pontua que a desigualdade racial brasileira é historicamente deflagrada por um projeto de poder. Ou seja, a luta contra o racismo passa, necessariamente, pela abertura de privilégios da população branca em busca de uma sociedade menos desigual. “Mas, quem CAROLINA ROCHA quer abrir mão de seus Historiadora e ativista privilégios?”, questiona a historiadora.

R$ 2.796,00 PARA UMA PESSOA NEGRA

R$ 1.608,00 CARGOS GERENCIAIS* BRANCOS

85,9% NEGROS

11,9 *Cargos gerenciais com rendimento mais elevado.


ESPECIAL NOVO MUNDO

2ª EDIÇÃO | JULHO DE 2020 - 49

O PAPEL DAS EMPRESAS

RACISMO TAMBÉM NO MERCADO DE TRABALHO

JULIANA TEIXEIRA Doutora em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

“É necessário que as empresas adotem políticas de diversidade que ultrapassem uma perspectiva somente quantitativa”

A conquista por uma sociedade mais justa e democrática não é responsabilidade, somente, do poder público, as empresas também podem ter papel efetivo na redução das desigualdades. Neste sentido, a pesquisadora avalia que o primeiro ponto fundamental dentro das empresas é a educação racial, ou seja, capacitar todos que a compõem para o debate racial. “Com relação à gestão de pessoas, é necessário que as empresas adotem políticas de diversidade que ultrapassem uma perspectiva somente quantitativa”, expõe. “Algumas empresas fazem do negro que se inseriu no ambiente corporativo um argumento para se declarar uma empresa com diversidade: o negro só para constar, ou o negro pass. Assim como muitos racistas utilizam do argumento de que não são racistas porque têm um amigo negro”, esclarece a professora. Para Juliana, as mudanças precisam ser mais profundas do que ter o chamado negro pass, como um cartão de demonstração de que se é contra o racismo. Ela defende que é preciso constituir aberturas de oportunidades amplas, que não coloquem negros sempre concorrendo contra negros; investir em capacitação, excluindo a oferta de vagas que contêm requisitos que são mais acessíveis aos brancos de modo geral; e para além ao quadro interno contratado, repensar as práticas empresariais e seus impactos na sociedade.

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As políticas de acesso ao ensino superior contribuíram com o aumento da taxa de jovens negros no ambiente universitário nos últimos anos. Entretanto, mesmo quando graduadas, as pessoas negras seguem sofrendo racismo e discriminação por conta da cor da pele, o que se evidencia pelas dificuldades de acesso ao mercado de trabalho formal e aos cargos com maior remuneração. Segundo dados do IBGE, em 2018, os negros constituíram a maior parte da força de trabalho no Brasil – totalizando 57,7 milhões de pessoas e, portanto, 25,2% a mais do que a população branca, com 46,1 milhões. No entanto, mesmo que a população negra represente 54,9% da força de trabalho, ela soma 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados na força de trabalho daquele ano. O estudo denominado ‘’Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil’’ revelou, ainda, que quanto mais alto o rendimento em cargos de gerência, menor é a ocorrência de pessoas negras. Em 2018, na classe de rendimento mais elevado, somente 11,9% das pessoas ocupadas em cargos gerenciais eram negras, ao passo que entre as brancas tal proporção atingiu 85,9%. Por outro lado, nos cargos gerenciais de rendimento mais baixo, situados na primeira classe, havia 45,3% de negros e 53,2% de brancos. De acordo com a professora Juliana Teixeira, doutora em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, a construção da gestão no Brasil é baseada em valores de raça e gênero. “A figura do gestor é uma figura idealmente branca e masculina. E isso tem efeitos tanto para as mulheres negras, em maior medida, quanto para os homens negros”, afirma a pesquisadora. Juliana acrescenta que os processos de seleção, contratação e promoção no mercado de trabalho são conduzidos por sujeitos constituídos a partir de um discurso racista. E que a própria estética negra é entendida como uma estética que precisa ser “branqueada” para ser entendida como profissional, o que se evidencia na dificuldade das empresas em acolher cabelos crespos, black, tranças e turbantes dentro do espaço de trabalho. “É necessário desconstruir estereótipos racistas. Precisamos nos acostumar a ver, por exemplo, médicas e médicos negros; CEOs negras e negros; engenheiras e engenheiros negros; escritoras e escritores negros”, destaca.


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LIFE - QUANDO A DESIGUALDADE TEM COR

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EMPREENDIMENTOS NEGROS PARA NEGROS As pessoas negras movimentam R$ 1,7 trilhão por ano, no Brasil, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. Em contrapartida, são as que mais sofrem com o desemprego, falta de renda e oportunidades no país. Iniciativa pioneira no Brasil, o Movimento Black Money (MBM), fundando em 2017, quer mudar esta realidade, a partir da inserção e autonomia da comunidade negra na era digital. Especialista em tecnologia da informação e uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil, de acordo com a revista Forbes, Nina Silva encabeça o MBM. Seus objetivos? Investir na própria comunidade negra, promovendo a integração dessa população ao sistema financeiro; fomentar negócios e fortalecer o ecossistema de negócios geridos por negros para negros.

NINA SILVA CEO do Movimento Black Money (MBM)

Para chegar lá, uma das apostas do MBM é na área da educação em tecnologia. Segundo Nina, sobram vagas na área de TI e falta mão de obra qualificada. Dessa forma, o Afreektech tem por finalidade desenvolver habilidades e competências em jovens e empreendedores negros. Outras iniciativas são o StartBlack Up, série de encontros de empreendedores que visam o fomento de negócios e a criação de redes de relacionamento entre a comunidade negra; e o D’Black Bank, fintech criada para conectar consumidores a empreendedores negros. Tem também a maquininha de pagamento própria, a “Pretinha”, que está disponível em oito cidades do Brasil. Por fim, o Mercado Black Money, é um market place que reúne empreendedores negros.

COMO FOMENTAR O BLACK MONEY? A fundadora do MBM listou algumas dicas para que negros e brancos fomentem o chamado black money. Entre elas: comprar e investir em empreendimentos de pessoas negras; dar protagonismo para ativistas e profissionais negros; apoiar o trabalho de artistas negros; comprar bonecas negras para as crianças; ler e estudar intelectuais negros; além de reivindicar direitos e oportunidades para pessoas negras.

*Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil: A pesquisa do IBGE foi realizada em 2018 e divulgada no ano passado.



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TALK - NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ECOSSISTEMA DE STARTUPS

NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ECOSSISTEMA DE STARTUPS >>> Pedro Waengertner - CEO da ACE*

Ao

mesmo tempo que é nos momentos mais complexos que surgem grandes ideias, empresas se desenvolvem e empreendedores criam soluções disruptivas, também é neste período que surgem provações e dificuldades - impulsionadas por incertezas financeiras e cautela pelo futuro ainda nebuloso. No ambiente empreendedor, o impacto da pandemia, assim como vários outros, também foi considerável. A ACE, com mais de 120 empresas investidas, observou três situações em seu portfólio:

tindo na mesma intensidade de 2019 e boa parte do mercado também continua no mesmo ritmo. Dentro deste cenário, gostaria de falar sobre algumas tendências que identificamos e podem ajudar empreendedores a planejar seus negócios nos próximos 12 meses.

• 15% das empresas tiveram seu faturamento reduzido abaixo de 80%. Neste caso, estamos considerando empresas que atuam justamente com os setores mais afetados. Estas empresas tiveram que reduzir drasticamente os custos e preservar caixa. • 70% das empresas foram pouco ou nada afetadas, mantendo uma curva um pouco abaixo de crescimento, mas operando próximas da “normalidade”. • 15% das empresas cresceram de forma acelerada durante a pandemia. Principalmente aquelas que provêm serviços relacionados ao e-commerce e digitalização de serviços. A maioria ainda têm vagas abertas e continua crescendo rapidamente.

Acreditamos que os investidores profissionais continuarão apostando agressivamente no mercado brasileiro, pois o número de oportunidades ainda é muito grande. O Brasil ainda possui muito potencial de crescimento no setor de tecnologia e existe uma grande quantidade de startups de qualidade. O cenário de juros baixos favorecem esta tendência ainda mais. A pandemia acelerou uma recalibragem nos valuations que iniciou nos últimos meses, puxada principalmente pelo aumento considerável dos cheques em estágios mais avançados. Vemos este movimento como uma correção.

Creio que esta distribuição deve seguir uma lógica parecida em todo o mercado de startups. Quando falamos de investimentos, praticamente continuamos inves-

OS INVESTIMENTOS DEVEM CONTINUAR ACONTECENDO, MAS COM VALUATIONS REDUZIDOS


ESPECIAL NOVO MUNDO

OS IPOS DEVEM ACELERAR NO EXTERIOR Embora o mercado privado de investimentos em startups tenha recebido uma injeção de capital sem precedentes na história, ainda vemos um grande apetite pela oferta pública de ações por parte das maiores startups do mercado. Acreditamos que exista uma pressão por resultados por parte dos investidores de estágios mais tardios, além de necessidade de liquidez para os colaboradores que receberam compensação através de ações. Uma das tendências são as listagens diretas, onde as empresas apenas abrem o capital sem uma injeção de dinheiro no negócio. No Brasil, existe uma tendência de abertura de capital de empresas de tecnologia, pelo grande aumento de investidores na bolsa e a performance que estas ações estão tendo no exterior, mas acreditamos que o horizonte para vermos um volume considerável de IPOs maior do que 12 meses.

EXISTIRÁ UMA GRANDE DEMANDA POR M&A POR PARTE DE GRANDES CORPORAÇÕES E STARTUPS MAIORES Na corrida pela digitalização de negócios, percebemos um interesse considerável por parte das grandes corporações na aquisição de startups em praticamente todos os setores. Este interesse acontece tanto pelos produtos já estabelecidos quanto pela carteira de clientes já conquistados. Acreditamos que os orçamentos de M&A (fusões e aquisições) deve ganhar incremento em grande parte dos negócios, especialmente aqueles que

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foram impactados pela pandemia. Da mesma forma, percebemos que startups mais consolidadas devem buscar startups que complementam suas ofertas como forma de aceleração de crescimento.

A COMPETIÇÃO POR TALENTOS FICA CADA VEZ MAIS GLOBALIZADA Com o distanciamento, as grandes empresas de tecnologia e startups americanas aprenderam a trabalhar remotamente. Diversos colaboradores mudaram-se para o interior ou outros países. Este movimento deve causar uma mudança nas políticas de aquisição de talentos, que passará a enxergar mercados ainda pouco explorados como alternativas. Esta tendência faz com que os talentos mais relevantes do mercado Brasileiro passem a ser cobiçados por players globais, sem a necessidade de realocação. Devido a alta do dólar, existe um possível impacto nas startups Brasileiras, que passam a ter que competir com salários globais, inflacionando o mercado local.

SPINOFFS CORPORATIVOS SERÃO CADA VEZ MAIS COMUNS Grandes corporações, buscando competir em um mercado cada vez mais digital, passarão a optar pelo spinoff de seus novos negócios para ganhar velocidade. Esta tendência tende a acirrar a competição em diversos mercados para as startups, bem como exigir maiores investimentos para a manutenção da sua posição. Em vários casos, haverá a competição também pelo talento e a possibilidade de M&A. A concorrência passa a ser mais difusa, o que exige um foco ainda maior no cliente.

CANAIS PAGOS DE AQUISIÇÃO DE CLIENTES FICARÃO CADA VEZ MAIS CAROS A pandemia reduziu o orçamento de comunicação da maior parte das empresas e o concentrou nos canais digitais. A curva de redução dos veículos tradicionais e aceleração do digital ficará mais intensa. Com o duopólio do Facebook e Google, torna-se vez mais caro competir pelas palavras e personas nestas plataformas. A saída é o desenvolvimento criativo de canais próprios de marketing e um refinamento nas estratégias de aquisição de clientes. Os profissionais que sabem gerar resultados neste contexto se tornarão ainda mais valorizados e haverá uma tendência de internalização destes profissionais, o que dificulta o trabalho das agências de comunicação. O Covid-19 trouxe um impacto grande para o mundo todo, mas antes de tudo serviu como um grande acelerador das tendências digitais e de inovação. Acreditamos que o mercado de inovação e tecnologia no Brasil nunca foi tão forte e deve continuar uma trajetória intensa de crescimento nos próximos anos. Continuamos acreditando que o Brasil é um dos mercados mais promissores do mundo para este tipo de negócio.

PEDRO WAENGERTNER CEO da ACE

*Empreendedor serial, investidor-anjo e incentivador do ecossistema empreendedor do país, Pedro Waengertner é co-fundador e CEO da ACE, empresa de inovação. É especialista em inovação e trabalha na área de tecnologia desde o início da Internet comercial no Brasil. É professor há mais de 17 anos e coordenador do MBA da ESPM, e autor do best-seller A Estratégia da Inovação Radical.


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LIFE - O MAL DO SÉCULO É O MAL DO AGORA

O MAL DO SÉCULO É O MAL DO AGORA As consequências da ansiedade gerada pela pandemia e os caminhos para restabelecer o bem estar emocional com foco em ajudar a si mesmo - e o outro >>> Loraine Santos


ESPECIAL NOVO MUNDO

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TEÓFILO HAYASHI Psicólogo, líder e fundador do movimento cristão Dunamis ao passar por um momento de privação, o ser humano busca pelo contraste: “se agora estamos vivendo um momento ruim, quando foi que vivi um momento bom?”. Isso faz com que nosso cérebro resgate memórias e, consequentemente, sentimos saudade - que nada mais é do que a memória de uma época boa. Ter inteligência emocional nesse momento é, segundo o médico, saber que você está agora se privando de algo que traz tanto prazer, em detrimento de um bem maior. Na pandemia, é difícil manter esse equilíbrio porque a conta não fecha, ou seja, não está claro qual é esse bem maior, nem quando e nem como ele vai chegar. Já é possível mensurar esses reflexos na população. Uma pesquisa feita na China pela Psychol Health Med, no mês de abril, para avaliar a saúde mental da população durante a pandemia, ouviu 7.236 pessoas e, destas, 35% pontuaram o questionário como ansiosas, 20% como depressivas e 18% com distúrbios do sono. Os dados também concluíram que, de 1257 profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) chineses de 34 hospitais, mais de 70% estiveram sob estado de grande estresse, mais de 50% apresentaram quadros de depressão, quase 45% ficaram mais ansiosos e 35% se queixaram de insônia.

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A solidão e a desaceleração forçada nos apresentam uma nova dimensão de tempo. Com a pandemia do novo coronavírus, a população sofreu uma alteração súbita de seu estado emocional. A ameaça traz um estado de alerta para o corpo e ele dedica sua inteligência para combatê-la. Quando o desfecho não acontece, ou seja, quando o ciclo não se fecha, como é o caso da pandemia que ainda está em curso, a ansiedade - combinado com o estresse - são mantidos, provocando alterações de comportamento. A vontade de retomar o controle da nossa vida fica cada vez mais latente e o ciclo da quarentena passa, então, por dois extremos: no início, entramos em um estado de euforia, achando interessante viver essa experiência; e, agora, a população enfrenta um estado mais depressivo, que precisa ser combatido de forma adequada. Para o psicólogo Teófilo Hayashi, líder e fundador do movimento cristão Dunamis, “o vírus forçou o ser humano a encarar a morte, e a sociedade de modo geral não está preparada para algo não palpável”. A forma de lidar com as frustrações de não conseguir se adaptar às mudanças impostas pela pandemia e pelo isolamento está sendo, então, uma questão latente na sociedade. “Eu creio que esse momento é de tristeza, ninguém está feliz por passar por tudo isso. Porém, a tristeza nos ensina muito, ela nos leva para introspecção e eu vejo isso com bons olhos. Mas é preciso prestar atenção, pois podemos descambar para um outro lado, onde a tristeza leva a uma depressão, a um estado introspectivo mais duradoura, a um sofrimento mais profundo e a uma ansiedade exacerbada”, explica Hayashi Sabe-se que o toque físico libera diversos hormônios que causam bem estar e, por isso, a privação do abraço traz consequências. Em entrevista à rede CNN Brasil em maio de 2020, o neurocirurgião Fernando Gomes explicou que,

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LIFE - O MAL DO SÉCULO É O MAL DO AGORA

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O TEMPO E O ACASO Todos estes indicadores sobre a saúde mental da população importam. Uma das atitudes mais cobradas pela sociedade em um momentos de caos como o atual é o exercício da empatia. Ricardo Gondim, teólogo e pastor, relembra que reconhecer nossa mortalidade é essencial, mas não é só isso. “Bem-aventurados aqueles que admitem que necessitam do outro, que sabem que nada se constrói por si só. Que pensam ‘eu não me construí sozinho, sou devedor a milhares de outros que de forma direta ou indireta contribuíram para eu ser quem sou’”, aconselha Gondim. Quando falamos sobre o outro, percebe-se que a raça humana precisa continuamente escolher uma figura heróica para prestar solidariedade, para se colocar à disposição e para se doar. Gondim alerta que o ser humano tende a valorizar o estrelato, o heroísmo, os bem-sucedidos, e esquecer que a história se dá também entre pessoas anônimas, “que vivem sem essas luzes da ribalta sobre elas, porque a vida não acontece necessariamente a partir das nossas competências e das nossas vitórias. Eu diria que esse tempo que estamos atravessando, que é gravíssimo, pode ser um tempo de nos colocar cara a cara com nossa fragilidade. De repente, todos participamos de uma mesma sorte, o tempo e o acaso chega para todos, e essa é uma verdade. A pandemia fez com que todos percebessem que sim, a casualidade não respeita países, cor da pele, status social”.

RICARDO GONDIM Teólogo e pastor

MESMO OCEANO, BARCOS DIFERENTES Mesmo sendo um problema enfrentado por todos, a Covid-19 expôs ainda mais as inadequações sociais presentes pelo Brasil. O Ministério da Economia divulgou que foram registrados 504 mil pedidos de seguro-desemprego na primeira quinzena do mês de maio, um aumento de 76,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Até agora, Segundo a Caixa Econômica Federal, o auxílio emergencial de R$ 600 cedido pelo Governo Federal já foi pago a 65,2 milhões de pessoas. Desse total, 19,2 milhões são inscritos no Bolsa Família, outros 10,5 milhões fazem parte do CadÚnico e um total de 35,5 milhões foram as pessoas que se inscreveram diretamente pelo site ou pelo aplicativo, e compõem o grande contingente de trabalhadores informais que estavam fora de qualquer base de dados do governo. Paralelo ao cenário do desemprego, o Brasil tem 72.234 mortos por coronavírus confirmadas até às 13 horas do dia 13 de julho (data que esta reportagem foi redigida). Segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, o país soma 1.867.841 casos de Covid-19 confirmados e uma média de novos casos que ultrapassa a marca de 37.000 por dia. O teólogo e pastor reforça: “Eu sou pastor e é óbvio que esse dilema (sobre reabrir ou não as igrejas) foi colocado diante de mim desde o começo: eu, pessoa física, não tenho poupança, preciso do dinheiro mês a mês para sobreviver. Então eu pensei: ‘devo preservar a minha própria vida em detrimento de tudo?’. Não. As comunidades indígenas não têm uma defesa orgânica para enfrentar a pandemia, imagina também quem mora em palafitas, em favelas, com cômodos pouco iluminados, lugares quentes do Nordeste onde sequer é possível ficar em casa durante o dia de tanto calor. Como podemos colocar a falsa equação entre vidas e economia diante de tantas situações de vulnerabilidade? Nosso dever com o próximo não é religioso, é humano. A religião vem depois”, conclui ele.


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AS REDES SOCIAIS E O MUNDO QUE VOCÊ QUER CONSTRUIR

RAFA BRITES Influenciadora de jornadas

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Apesar de ser fonte de renda para milhares de pessoas no planeta e possibilitar maior interação com quem não se convive diariamente ou até com ídolos, especialmente na pandemia, as redes sociais podem ser prejudiciais à saúde mental se não forem utilizadas de maneira correta. A influenciadora de jornadas Rafa Brites, que também é apresentadora e empreendedora, explica que quando as pessoas se comparam com digital influencers, por exemplo, elas tendem a focar no resultado e a se sentirem diminuídas por não ter aquela vida. “Devemos trocar a comparação pela inspiração. Quando a gente, ao invés de comparar, se inspira em alguém, tratamos de olhar a trajetória que essa pessoa teve até chegar no resultado, e tenta então adaptar os recursos disponíveis para conseguir chegar lá também”, explica Rafa. Tratar o que é mostrado nas redes sociais como verdade absoluta causa frustração e depressão. Uma pesquisa realizada em 2017 pela Royal Society for Public Health, uma instituição de saúde pública do Reino Unido, em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, revelou que as taxas de ansiedade e depressão entre jovens de 14 a 24 anos aumentaram 70% nos últimos 25 anos. Ao todo, 1.479 participantes das pesquisas falaram sobre o nível de envolvimento com aplicativos como Youtube, Twitter, Instagram e Snapchat e como eles influenciavam seus sentimentos. Ainda segundo a pesquisa, para 70% dos jovens entrevistados o Instagram impacta negativamente a vida e faz com que eles se sintam piores em relação à própria autoimagem e, quando a fatia analisada são as meninas, esse número sobe para 90%. “Nunca compare o palco do outro com o seu backstage. Essa quarentena nos aproximou do backstage das pessoas”, explica a influenciadora. “O palco é feito de luzes, de looks, de viagens que todo mundo fica postando, e o isolamento fez a gente enxergar que muitas pessoas que costumavam mostrar o ‘life style’, na quarentena o style caiu, sobrou só o life. E muitas dessas pessoas, desses influencers, foram perdendo seguidores”. Como tarefa para um novo mundo pós-pandemia, Rafa fala sobre o exercício da contribuição. “O que deve nos motivar é a possibilidade de contribuir com outras vidas, é participar ativamente de redes propulsoras. Com o advento das máquinas, o que nos sobra é nossa criatividade, nosso afeto, nossa generosidade e nossas inter relações”. Por isso, o conselho é se reconectar consigo mesmo e dar ouvido a voz interior. E Rafa finaliza com um questionamento importante: “como seria se você se tratasse na terceira pessoa? Se você dissociasse todos os seus pensamentos e os colocassem em outro corpo, quem seria essa pessoa?”


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DIÁRIO DE BORDO “Ironicamente eu me preparei a vida inteira para o isolamento social, eu já fiz isso muitas vezes no mar”, conta o velejador Beto Pandiani. Com 54, há 17 anos Beto realiza expedições de alto desempenho pelos mais temidos mares do mundo a bordo de catamarãs sem cabine. Filho do também velejador italiano Corrado Pandiani, conquistou prêmios nacionais e internacionais e coleciona marcos vitoriosos na história da vela mundial. Com seus dois metros de altura, Beto não é só grande fisicamente, mas especialmente pelas lições sobre a quarentena que ensina a partir de sua experiência. “Eu queria ser astronauta quando criança. Quando cruzei o pacífico com um companheiro de viagem, foram 17 mil quilômetros de mar aberto, saindo de Vinã del Mar (Chile) à Austrália. A primeira perna foi até a Ilha de Páscoa, durou 18 dias, éramos os seres humanos mais distantes da sociedade e foi uma sensação maravilhosa. Naquela noite não havia lua, eram só estrelas e, para todos os lados, eu via as estrelas com clareza. Quando me levantei, olhei para água e vi o céu espelhado e, de repente, meu barco se tornou uma nave, relembrando meu sonho de criança. Alguns minutos antes, eu estava refletindo sobre o tamanho do oceano, aquela porção de água era imensurável, mas sendo vista no meio da imensidão, passei a chamá-la de gotinha azul. Fiquei pensando que, em um primeiro momento, a gente se sente pequeno e, realmente, nosso tamanho físico é desprezível perto do Universo. Mas existe algo que é extremamente valioso, que é o fato de sermos únicos e, se sou único, só eu posso sentir as coisas da maneira como eu sinto e, dessa forma, eu entendo que estou nesta vida para trazer algo. Cada vida veio trazer coisas, nossa luz, nossas habilidades, nosso amor”, conta o velejador, que é também palestrante e escritor. Além dos ensinamentos sobre o quanto cada indivíduo é essencial e como cada um pode influenciar a vida do outro, Beto alerta que, durante a pandemia, é importante que as pessoas não gastem energia tentando prever quando tudo vai se resolver. “Isso gera expectativa e frustração. Isso faz com que agora, quando todos precisam de mais energia para enfrentar a crise, ela entre em decadência”. E completa: “Confie em você! Toda a vez que você não confia, corre o risco de cair na idolatria, fica sem discernimento. Mas quando se tem confiança, no seus BETO PANDIANI Velejador sentimento, você vai entender que o lugar mais seguro é o seu coração”.



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MOBI- O FUTURO DA MOBILIDADE AÉREA

O FUTURO DA MOBILIDADE AÉREA

A turbulência causada pela pandemia exige o alinhamento entre a tecnologia e o cuidado com o outro na retomada do setor >>> Guilherme Popolin


ESPECIAL NOVO MUNDO

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TECNOLOGIA E COOPERAÇÃO Eduardo Sanovicz salienta que nos próximos anos haverá um uso mais intenso dos recursos digitais, ou seja, cartão de embarque, check-ins e despacho de bagagens digitalizados. Do ponto de vista de segurança sanitária, o uso de máscara, desde o ingresso no aeroporto até o desembarque no outro destino, incluindo o tempo todo a bordo, será comum e obrigatório. O filtro HEPA, do inglês High Efficiency Particulate Arrestance, ou detenção de partículas de alta eficiência em uma tradução livre, é uma tecnologia empregada em filtros de ar com alta capacidade na separação de partículas que vem se destacando como uma das principais ferramentas contra a disseminação de vírus e bactérias em aeronaves. O filtro utiliza três processos de filtragem: impacto, difusão e interceptação, de modo que a renovação do ar no interior dos aviões é realizada a cada três minutos, sendo capaz de reter mais de 99,9% dos vírus e bactérias presentes no ar, incluindo o novo coronavírus. Outro fator fundamental quando se pensa em viagens mais seguras é a conscientização. “Precisamos educar as pessoas em relação ao distanciamento na fila [de embarque] e no desembarque. Todos vão precisar ter uma conduta cooperativa para que cada um cuide de si e do próximo. É uma postura de cuidado que vai ser muito importante”, destaca Sanovicz. “Apesar de uma vacina no futuro, o mundo não será mais o mesmo”, assegura Francisco Conejero, para o professor, medidas sanitárias rigorosas nos aeroportos e nas aeronaves, comissários e passageiros com máscaras serão comuns no futuro da aviação. “O novo mundo trata-se de uma mudança de hábitos e costumes, o que levará anos para realmente ser corriqueiro. Precisaremos de disciplina, e isso impacta em cultura. Não se muda o comportamento raFRANCISCO CONEJERO PEREZ pidamente, é bem provável que Professor do curso de Aviação Civil da Universidade Anhembi teremos fiscais, ou até mesmo Morumbi a coletividade vai vigiar a si mesma e aos outros”, conclui Conejero.

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correria dos atrasados, as filas abarrotadas e o fluxo intenso de aeronaves, tão comuns nos aeroportos, saíram de cena desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, havia se espalhado o suficiente para tornar-se uma pandemia. Aviões vazios e voos cancelados abalaram o transporte aéreo, cuja expectativa do setor, no Brasil, indicava bons índices em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e à geração de empregos nos próximos anos. Políticas públicas – incluindo apoio financeiro – e uma cultuEDUARDO SANOVICZ Presidente da Associação ra que preze pelo cuidado e cooperação entre Brasileira das Empresas Aéreas os passageiros são essenciais para pensar o (Abear) futuro da mobilidade aérea. Um estudo global da London Business School indica que os mercados de turismo, hospitalidade e aviação vão sentir os efeitos da crise do coronavírus por mais tempo. De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), 2020 será o “pior ano da história da aviação”, com um prejuízo anual recorde entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões. No Brasil, dados de 2019 mostravam que 1,1% do PIB era decorrente do transporte aéreo e dos turistas estrangeiros que chegavam por via aérea, reforçando a estimativa de que o setor dobraria de tamanho até 2037, contudo, a turbulência causada pela pandemia exigiu novos esforços a fim de alinhar o transporte aéreo com um mundo que não é mais o mesmo. Para Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), é possível pensar na retomada do segmento a partir de 2021, já que o cenário é incerto. “A aviação é um setor que tem metade dos seus custos dolarizados, e o Brasil, hoje, é campeão mundial de desvalorização cambial. Como não temos uma avaliação de quanto vai estar o câmbio é um pouco difícil fazer previsões de recuperação. Soma-se a isso o cenário da economia e, fundamentalmente, a saúde das pessoas”, destaca. A Abear e o setor de transporte aéreo estabeleceram 36 medidas para atravessar a crise e se preparar para a retomada das operações: a revisão de contratos trabalhistas, já que as empresas decidiram evitar a demissão; a redução da jornada de trabalho; alterações salariais; a garantia de adiamento das passagens adquiridas, assegurada pelo governo, órgãos reguladores e Ministério Público; a solicitação de um empréstimo ao Ministério da Economia, por meio de uma linha de crédito do BNDES para capital de giro; e a liberação do FGTS para os colaboradores, incluindo aeronautas e aeroviários, são algumas das ações. De acordo com Francisco Conejero Perez, professor do curso de Aviação Civil da Universidade Anhembi Morumbi, as medidas não garantem a recuperação do setor aéreo, e a ajuda do Governo Federal não pode ser momentânea, visto que a economia não voltará à normalidade enquanto as empresas estiverem frágeis. “O Governo Federal ainda poderá anunciar mais medidas econômicas, mas não se sabe se o setor aéreo terá mais alguma contemplação”, afirma.

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MOBI- O FUTURO DA MOBILIDADE AÉREA

O CUIDADO COM O VIAJANTE NO FOCO DAS OPERAÇÕES “Em um piscar de olhos nos vimos em isolamento social, com eventos e viagens cancelados”, relembra Giovana Jannuzzelli, gerente-executiva da Associação Latino Americana de Gestores de Viagens e Eventos Corporativos (Alagev), companhia multisetorial que atua na gestão de viagens e eventos corporativos. Com um modelo de negócio essencialmente presencial, após a confirmação da pandemia de Covid-19 pela OMS, a Alagev se reinventou em pouco tempo, a fim de conceder suporte ao mercado desde o início da crise. “Migramos 100% para o mundo virtual. Nessa migração, nosso modelo de negócio sofreu um impacto porque deixamos de ter um contato olho no olho com nossos associados, mas nos trouxe um entendimento cada vez maior de presença on-line”, conta Jannuzzelli. O compartilhamento de conteúdo, com informações atualizadas, e ações de apoio aos associados são fundamentais para que o setor continue avançando mesmo com as adversidades. Lives sobre viagens e eventos corporativos, e a realização de eventos virtuais ou híbridos garantem “um local de aconchego, de compartilhamento de dúvidas, de se abrir para as preocupações. Nós criamos uma hashtag, a #FamíliaAlagev, justamente para criar um espaço protegido para os associados”, pontua a gerente-executiva, uma vez que o momento é de alerta para o setor, mas também de cuidado com o outro. O Velocímetro da Retomada, ferramenta colaborativa e disponibilizada pela Alagev no site da associação, tem como objetivo orientar o mercado sobre a evolução e a geração

GIOVANA JANNUZZELLI Gerente-executiva da Associação Latino Americana de Gestores de Viagens e Eventos Corporativos (Alagev)

dos negócios. Gestores de viagens e eventos podem alimentar a ferramenta após se cadastrarem e responderem um questionário, sendo assim, a partir de um comparativo com 2019, o velocímetro é capaz de aferir e indicar dados sobre a retomada do setor. Os gestores de viagens corporativas contam também com o playbook, um material que reúne dicas sobre a negociação e a gestão de viagens durante a pandemia. “É uma ferramenta viva, com várias informações a respeito do transporte aéreo, da hotelaria, das agências de viagens. Com foco em viagens corporativas e gestão de viagem de risco, começamos a compilar o material das lives e eventos virtuais dentro de grandes tópicos, dando ferramentas práticas para os gestores poderem atuar no dia a dia. É um material que precisa ser revisitado o tempo inteiro, na medida em que vemos o velocímetro se mexendo, conseguimos atualizar as informações no playbook”, explica Jannuzzelli. Segundo Giovana, o importante nesse momento é que o gestor de viagens avalie se o

fornecedor está atendendo aos protocolos sanitários. Com a pandemia, o viajante passa a ser, de modo mais acentuado, o foco do programa de viagem. “Ele está apto a viajar? Tem alguma morbidade que possa colocá-lo em risco? Qual é o ambiente familiar do viajante? Há o risco de viajar e trazer o coronavírus para dentro de casa?” são algumas questões pontuadas por Jannuzzelli, indicando que o gestor de viagens vai passar a trabalhar cada vez mais com o RH e com a área de segurança das companhias. “Isso é uma modificação que veio para ficar. A empresa começa a questionar: esse deslocamento é necessário? Eu posso substituir por tecnologia? Se a demanda for real, o viajante precisa, de fato, ir?” Assim, o dever de cuidar dá lugar à cultura do cuidado, considerando o antes, o durante e o depois da viagem. Em um novo mundo pós-pandemia, as viagens vão contar com um olhar estratégico dos gestores de viagens, entendendo que o viajante precisa ser o foco das operações.




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