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Wellington Souza

1ÂŞ reimpressĂŁo, 2016

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Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino. Quem nunca se perguntou: sou um monstro ou isto Ê ser uma pessoa? – Clarice Lispector, A hora da estrela

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Quando o silêncio é estrondoso Um dia, abri um livro e ele começou a se despedaçar em minhas mãos. Uma letra começou por cair da página, e depois outra, e depois o número que a marcava se desfez, apagou-se e sumiu por completo. Terminei o livro e ele já não existia. Perguntei por ele e ninguém o tinha visto, embora também sentissem a estranha sensação de o terem lido algures. Era engraçado. Eu perguntava: “Você viu ‘O Monstro’ por aí”? Todos diziam que sim e que não, ao mesmo tempo. Depois de percorrer a cidade toda, o mar, os prédios da avenida central e a ciclovia recém inaugurada, percebi que o livro estava dentro de mim e que toda a poesia, para acontecer realmente dentro de qualquer um, precisa antes de um rompimento brusco, um estatelar sombrio de palavras cujos cacos retornam à alma e encontram lugar seguro para viver e nos tornar pessoas melhores. Assim acontece com os poemas de Wellington, que também está dividido em dois. Um “revirando as pedras de uma mata aberta” e o outro “enfiando os dedos no deserto”. Dois caras ou duas caras? Diante de uma poesia desta complexidade, onde o autor é “tão bruto quanto um caçador de borboletas”, a fragmentação do eu é delicada, mas estrondosa. O sumiço do livro vai acontecendo conforme o próprio artista (e o homem, também) vai sendo picotado numa intensa viagem visual e se fundindo com ela, despedaçando-se entre imagens que beiram o silêncio total. E não será essa a condição para que haja poesia? Afastar-se, tanto de si mesmo, como do outro, como das classificações, de tudo? Enxergar a realidade tão de dentro que o olhar poético repousa sobre a realidade de fora e lhe extrai o que dela há de mais complexo: a existência do vazio, que nestas páginas encontra uma bela morada.

Morgana Rech

Psicóloga. Mestre em Teoria da Literatura. Doutoranda em Teoria Psicanalítica na UFRJ. Cofundadora e editora da Revista Subversa.

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Esse livro foi escrito por ‘um cara’ e eu o apresento no primeiro poema. Seu monstro e seus vazios estão por aí e esbarram com os nossos nas esquinas e nos quartos. Quem julgar não tê-los (quem os ignora), acredito que não entenderá o livro se não se perguntar: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa? Clarice Lispector pôs isso na boca do narrador-escritor de A hora de estrela e não me canso de me perguntar. Na verdade, me cansa perguntar e tentar responder em poemas, mas não com a esperança de chegar a uma conclusão e sim de apenas expressar esses absurdos para que outras pessoas vejam que algum monstro conseguiu, de certo modo, organizar isso tudo de forma mais ou menos bela e depois repousar.

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um cara ou outro cara tenho duas imagens poéticas uma é a de um cara um cara urbano revirando as pedras de uma mata aberta procurando não a redenção, nem tatuzinhos mas só amor e encontrando musgos outros desesperos a outra é de um cara “o mesmo cara

e suas mãos

ou outro cara tanto faz enfiando os dedos no deserto

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suspensas peneiram encontros no trem sorrisos jantares quietos chuva bocejar ampulhetas mãos vazias e olhar percorre a vida convence a si ter tido sim amor ali e que este, fino demais passou

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amor e apego I a aeronave rompe na noite

silêncios e distâncias

II e a televisão um palhaço deprimido falseia risos

III o cigarro me enche o peito sacia

depois desfalece “metáfora para o amor

IV

de romper

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resta essa guimba escrevendo versos secretos acariciando seus cabelos com a televisão muda e atento aos aviões e automóveis que têm a coragem

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cansado, apenas me digo cansado de andar à beira do entendimento de bater à parede e esperar que se abram cansado de sorrisos leves desfibriladores que reanimam por pouco tempo de pouco tempo pra vida inteira me digo exaurido me digo exausto, sim, de semear ventres quimicamente infertilizados de prover às bocas mortas ir sem levar e vir sem trazer “e ainda assim ter sempre um peso latente

que tentam me provar, me lambem que me tentam ao contrário

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me digo cansado de letras frases linhas versos

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tremor temo o próximo como a mim mesmo os cabelos as ondas não puladas temo o relógio descontínuo e o perfume que a nuca nua anuncia aleluias

duas e balé russo no abajur as temo “mas antes de me matarem, se precipitam na luz ardem gozam e se estremecem separadas no chão

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busco a relação entre o corpo que cai o domingo retraído, mas sem frio

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joão sem maria sigo na floresta

qualquer vaga-lume olho de fera à espreita

no caminho jogo brasas estilhaços de espelho não para saber voltar não para deixar as marcas

de um homem que se esmigalha

mas para quem me segue e não se vê estilhaçada pisar em si e sangrar e que a sua imagem, fragmentada e vermelha a faça parar desconstruo o caminho para ter por onde não voltar

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a volta é o meu descaminho

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nostálgico todas as noites recebo a visita do homem que fui e de seus amigos de suas mulheres

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e tento em vão reconciliação

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morta anos-luz brilha dedos de unhas roídas levam cigarro à boca minguante a fumaça contorna as ruínas do homem névoa entranhas seu resto de civilização

de uma estrela morta

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tenta se esconder, nessa noite fria do olhar severo

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o relógio me ronda difícil dormir

a chuva perturba o quadro me olha e uma luz pisca um anjo não cai relógio me ronda

difícil dormir nesses tempos em que o dia pede vigília e a noite pede combate difícil dormir pronto armado

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espero cair e não sei se alguém na trincheira de amanhã me espera em seda translúcida como me espera se a espera me encontrará são salvo da chuva do quadro da luz do anjo do relógio

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sossegue os poetas mortos I às vezes preciso daquela mulher gigante que me pega uma mão no peito a outra pernas me eleva

à boca e começa a devorar pelo meio

II sobe peito arando com unhas negras às vezes preciso daquela mulher que me prepare

eu, terra salgada me plante o celeste

daquela mulher que, cansada

beije a terra me seja semente

III

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às vezes preciso daquela mulher gigante que me cale os poetas mortos

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abraço o frio para sentir algo diferente o vento me pune me faz sentir noite frio remete a você saio da cama escuro varanda sem camisa nos procuro

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o vento arrasta tudo sĂł cheiros resta

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czar russo

de borboletas

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às vezes me sinto tão bruto quanto um caçador

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sobre a monstruosidade das formigas formigas também insones andam cheirando espreitando restos de doçuras perdidas esquecidas e amanhecidas restos de doçuras abelhas de todos os tipos gozam do sabor de néctar em flor defloram lambem a água na fonte pertenço ao nicho das formigas desertoras alimentando-me de belezas já mortas às vezes sob a luz da lua noutras no breu total formigas são cegas

[ 20 ]

abelhas voam

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concisos e as realidades realidade reduzida desejei boa noite numa cama vazia

realidade ampliada

acendeu dois cigarros depois de se masturbar

realidade

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esboรงo-me ensaio-me mas nunca me sou

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finjo ser sorriso e eu sou o que

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senĂŁo um iceberg fantasiado de ilha paradisĂ­aca

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sou um monstro ou isto é ser uma pessoa? não sei se o problema é você com quem te faço ser quem imagino que sejas se é comigo ou com quem me fez com quem me fazes ser se a sombra existe ou se me oponho à luz na esperança de não ter a paz do fim e recomeçar outro dos distúrbios que dão sentido à vida enovelo o herói nos muros da saudade bato sua cabeça no meio fio da meada o coloco para correr e isto tudo mil noites por amor à nossa estória que não sei fazer de amor

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“e quem não se pergunta

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fingia ser azul antes eu era s贸 e, ainda assim, tentava disfar莽ar

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fingia ser mais ser menos maior redondo azul

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corações bamboleiam uns corações batem

outros tremem sacolejam bamboleiam

o meu, às vezes, suspira

tranco

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mas não pega

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vocĂŞ longe me respinga sonhei com uma borboleta vomitando

vomitando

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hĂĄ dias a sigo

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sobre a pilastra que partiu

um teto jogado no ch達o

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agora sou

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paladar supersensível gosto do quebrado gosto acre e doce desajustado da pele pálida à beira-mar lágrima pintada – fantasia de carnaval da miopia de biquíni na piscina

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a dor pulsante me acalma a manhã a lua à tarde anônima gosto do pássaro de canto rompendo a madrugada

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sobre como a poesia requer nudez

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um homem se demoliu escreveu um poema

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apneio eu não amo

prendo a respiração para que nada me escape

cheiros olhares vazios me esgano na pretensão de mantê-la quente, ser aconchegante me fazer torre de marfim

e talvez, um dia, indolor

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buraco negro retenho luz paz nu no cosmos gelado invisível

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as queria em vasos mas o mundo ĂŠ mais

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pudera eu escrever terra sagrada Ă s flores mal plantadas sem salgĂĄ-las com meu amor medonho

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tigre elefante I ando em cĂ­rculos feito um tigre na jaula e as grades a perder de vista no horizonte

II

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como o tempo trago tudo estrago putrefaço -me e não esqueço

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cárcere

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meus olhos são a janela em que uma criança paralítica vê as outras jogarem bola

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ou talvez não seja nada disso talvez seja porque meu time perdeu. jogou bem, mas perdeu. e também porque eu tenho vivido bem até aqui (ou até há algum tempo atrás) ... esteja com certo volume de jogo, mas ainda tenha receio de que... talvez seja porque um amor morreu. um não: vários amores tenham morrido. morrer, que é desprender-se do tempo e passar a existir somente em lembranças vagas. muitas pessoas moram só aí. portanto, existe uma coisa pior que a morte: é nem estar morto. talvez seja porque meu cachorro me olha, esperando algo que não tenho – ou algo que só ele vê que tenho. Cachorro lacaniano, sabe que amar é dar o que não se tem a quem não quer. talvez seja porque o poema não quer sair, está com medo do mundo que lhe é estranho. eu sou esse poema, talvez. tenho certo receio de não me escrever. na verdade, o receio é de me escrever e ser abstruso (desses que requerem dicionário para causar nos outros a falsa sensação de entendimento e companhia). talvez sejam esses ‘e se ...’ que, às vezes, não nos deixam dormir. talvez seja a falha impossível de perdão e redenção. confessá-la pareceria um gesto de piedade para com os réus inocentes (e não para comigo). seria inútil fazê-la, até mesmo nesse poema perdido na web. talvez seja a canção do Vinícius que ganha vida no player. talvez seja a Clarice que me espera na cabeceira. talvez seja a saudade de dois dias seculares.

[ 34 ]

talvez fosse o cigarro que acabei de jogar fora.

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asas cortadas pagando

tudo posso quando Ele não me enfraquece

outro

não é que eu goste de ser assim apenas não sei ser ...

sacrifique-me

não há como aceitar

cordeiros “não sendo um deus como eu

desejos

todas as noites podo minhas asas pecaminosas teimam em amanhecer

[ 35 ]

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expulsões não me recuperei

do trauma de ter nascido

também ainda me atormenta

depois choveu

de moleque matar um sapo à pedradas

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mas dura, mesmo lembrança do que sonhei do que não vivi

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usurpar quem não sou I “não me conhecia. se apaixona. me conhece. fim.

II o espelho mostra quem sou um cara viajando no descampado da confissão à poesia sigo um descalço o outro não sei a pé

dessa

fugindo de quem quero ser sombra perturbadora do que nunca aconteceu projetada no que não farei que tento prender e por vezes me persegue sorrateiro

até aqui no nu

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para confrontar quem não sou aquele reflexo sereno que me acena dos olhos dela mas como atirar-me para matá-lo usurpá-lo e descansar no romance idealizado sem que eu, assassino bíblico também seja esfacelado ?

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versos livres e uma mulher em que não existo não vou culpá-la, posto que somente tem culpa aquele que age e pelo mesmo motivo não haverá perdão “só se perdoa a quem erra essa melancolia

também só existe de um lado:

só um lado viveu só em uma parede retratos de amor estão pendurados não houve dialética é como uma balança que só pende para um lado ou uma ponte que só cai em uma margem

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nem ao menos posso julgá-la displicente pois só o é quem ignora o perigo e nunca ofereci perigo algum

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votos que sussurramos

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dividir o guarda-chuva o guarda-sol atĂŠ que o vento leve da morte nos espalhe

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jardim japonês ela sentia-se só mesmo comigo ao lado sentado buscando-a nos olhos não conseguia trazê-la de volta ao mundo tátil pousei minha mão sobre a sua nossos dedos formaram uma grade

no banco e nem isso a libertou

recolhi, então de lado a minha pequenez pensei em sair deixá-la... permaneci queria ficar sozinho, também, ali ... o mindinho dela buscou o meu

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ficamos enfim a sós

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jardinzinho na varanda de apartamento escrevi o jantar bebemos conversa amizade nĂŁo leva a nada traz tudo deixa certa a paz se lĂĄgrimas te secam eu rego me arranco replantas abelhas e formigas

passam

resta nĂłs

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na chuva

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nosso caos é o nós os músculos relaxam agora seremos serenos somente alma corrente reencontramos como quem redescobre o mar e molha os pés ainda de calça jeans

e a cama continua desarrumada

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voltamos para casa nós

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perdidos “manhã ela tomou um ansiolítico ele fumou quatro cigarros dormiram, por fim “tarde ela não saiu da cama

nem ficou ouvindo música olhando para o teto

ele escovou os dentes

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por meia hora encostado na parede do quarto

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afinidades na manhã passo os dedos em tua boca e abro-a “entreabro

como se pudesse te fazer pedir

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passa os dedos em meus olhos e os fecha como em um cadáver querido “mas não pode me fazer sonhar

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somos n贸s sob o mesmo

guarda-chuva somos dois tantas coisas e tantas dessas coisas divididas, somam

guarda-chuva

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um elo vamos n贸s sob o mesmo

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assimetria ela quer amizade amizades outras pessoas às vezes beijinho de esquimó para lembrar ele quer amizade sexo como pinguins a sós e tudo junto várias luas a vida inteira

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assimetria é horrível “que se foda a do rosto do corpo eu digo no amor

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carmella e aldebaran ela tem nome de formiga dessas pretinhas e certinhas que não atacam jardim “recolhem belezas mortas, limpam levam para a colônia beijam suas crianças ficam em paz

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eu tenho nome de abelha cara de bravo mas só pouso, beijo e vou para casa escrever poesia

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rolamos ainda acesos e sujos de batom

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somos uma guimba que rola ainda acesa na procura v達 de outra boca

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diáspora dos eus

no mundo

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você é o que me mantém desperto e disperso

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nostálgico

quando estávamos juntos

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tenho saudade de várias pessoas de você de nós e daquele cara que eu era

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me jardinaste pegaste um homem

rude um homem que persegue poesia como quem caça borboletas “tentando capturar o belo e alfinetá-lo em livros viste um homem bruto que expõe como troféus os corações dos seus outros eus seus inimigos ainda pulsando recordações e rum

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tu abriste o teto da casa do poeta e o mostraste que lá fora não existia somente a brutalidade (ora singela) que ele sentia mas também que no mundo havia um canto e que se ele corresse e voasse e gritasse e o escutasse chegaria esbaforido e poderia enfim deixar seu coração alimentar borboletas

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tentando amar-me

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ela age como se fosse capaz de me libertar dessa poesia

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monólogo urbano ela ...

dá duas horas pega o dinheiro

agora ninguém mais sabe que quer saber se eu estou vivo

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desço até a calabouço do meu casebre, deito, sem paz

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helena febril suava de seus poros fluíam não apenas líquidos que em vão tentavam retirar

do corpo o calor excessivo

fluíam feromônios olhares-de-sereia era imprescindível amar

de sua costela sair mulher

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a febre ansiava barro forjar um corpo varão e dele

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eterno é o sem resposta um amor simples e saciado talvez desate desgaste vire cafés da manhã que apenas em arrotos da memória nos retornará

do passado que nunca nos serviram

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perigosos são os jejuados frutos de uns pedaços

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oferenda

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vocĂŞ foi a fera a quem concedi minha bala de prata

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meio tempo tudo em vão nesse meio tempo tentei me curar algumas vezes Jack Daniel’s Lucky Strike “sei, o cara que você amou não se remediaria não assim que o que tentei em vão foi um assassinato bíblico nesse meio tempo voltei a ser vegetariano parei de fazer exercícios e circulei pelos livros e filmes que te esperavam sair não tirei foto alguma, nem de formigas senti certa paz por deixar de ser sua cruz e ainda de braços abertos

ser descanso para pombas

tentei outras mulheres serpenteando maçãs a saírem de fininho do Paraíso e escorregarem para o mundo desconexo em que me abandonaste mas elas não gostavam de silêncio nem desenhavam sentimentos tentei uma bailarina enfeitiçada que só ambicionava flores estripadas uma modelo que delírios bulímicos levavam para a Austrália engenheira ambiental

tento, como bem percebeu, não te escrever não te poemar tudo em vão

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por fim, uma estudante de cursinho se apaixonou pela minha camiseta do Woody Allen (Nabokov em algum lugar sorri, de escuto dizer) combinando com o blaser e o tênis Cavalera e me chupa sempre que pode

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seu sorriso me abre seu sorriso me abre os sentidos passionais das palavras epifanias ateia-me escrevo tudo, cada fagulha, esgoto o oxigênio a chama não cala mato deus

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e saio andando fumando e combinando ideias na tentativa de dissolver poemas espero o metrô, que se abre e eu vago não vejo

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olhos abissais olhos calmaria

e profundo mar infestado de criaturas abissais e amedrontadas cegas em fissuras à espreita meu espírito táctil percebe mesmo estando na praia “no reflexo das lágrimas que teimas em não verter que neste oceano há muitos monstros é se esconderem

cuja única defesa

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em si e que suplicam companhia não suportam existir

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misógino é a musa que rompe a tela e os lados do quadro a gata que rompe a tela “da proteção que desenhei

e salta no vazio do quarto do quarto andar arranhando o marfim da torre que eu me fiz guardava você

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até você romper

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guardo seu silêncio a noite baixou poluída numa brancura fosca densa que aumenta a resistência do ar enquanto caminho apressado pelos corredores dessa Cidade-Estado então paro acendo um cigarro “que logo se umedece te chamo no whatsapp ...

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guardo seu silêncio caminho

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mal-estar na civilização I I o homem cuida do cachorro quem cuida do Homem? há máquinas que fazem café café com leite que mantém café quente para o Homem há máquinas que lavam roupa louça carpetes... que cozinham e massageiam mas, e o afeto na casa das máquinas? o Homem obedece a ordens ligar, virar, programar... haverá um dia a proposta em tom faceiro: eu lavo e você seca ? triste dia em que a solidão inventar máquinas assim

II

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o cachorro se faz de pobre pede afagos e deixa, enfim o homem ser útil

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mal-estar na civilização II há o vinho peixe saladas com molhos importantes som tranquilo de mar e de cordas e de sopros e lábios brilhantes num arco sincero à minha frente tudo o que em sonho não está ao alcance das bacantes mas o riso se agrava guinchado e logo ressoa toda a zombaria dantesca das outras mulheres que estive à frente, vago e cortês, e das que um dia estarei

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você em diferente espaço-tempo com outro cara vago e cortês não toca o jantar

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leve nuvens seu sopro

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doce dispersa nuvens acres que me dormem

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fotografia a intenção era guardar sua beleza numa clausura e a tornar eterna

deteriorar-me em frente a ela

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e nĂŁo o inverso:

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ricocheteiam deixo uma fresta para o frio assoviar escrevo de lapiseira mas não há borracha então, cicatrizo os poemas

perdi todas as boas

metáfora para o passado que assola e somente seu toque pode apagar

e estes planos que traço

sempre com pessoas mortas este café gelado que a lembrança da fumaça faz esquentar ?

e atingem você

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meus pensamentos ricocheteiam até em pássaros em perfumes montanhas

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te replico ou a mulher ideal dorme em mim entrou pela minha boca e foi apalpando assim como se enxerga no escuro “órgãos e sentimentos até que se encontrou no quarto de hotel que é o meu peito sob a luz tênue que ilumina coisas do peito deitada, dormindo e sua imagem duplicada a aterrorizou “o terror de se saber amada tentei replicar o que ela fazia ali comigo a observando, da poltrona marrom mas só fiz aumentar a angústia de ter outra vida fora de si saiu correndo no mundo escuro que é fora de mim

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não mais conseguiu dormir sabendo que em outro corpo serena repousa

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poema da negação um anjo me disse: na porta do céu me disse: eu indo para o inferno me disse: irredutivelmente: indubitavelmente: “não paradoxalmente me deu a mão e me disse

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me faz ficar pendurado à beira do abismo azul da vida negada ouvindo-a dizer suas doces palavras

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aquele amor foda que será para a vida inteira

desculpe o incômodo pensei que fosse você

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ok,

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má sã mais uma ânsia

é engolida ruminada

vira adubo para macieira que nutrimos tesão

menos uma ânsia é vomitada

no gozo do alivio... no parto da coisa má

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coisa marília, sã e sedutora mas indigesta

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reverberamos a fumaรงa sobre reta no raro momento de calmaria no mundo ao avesso dos seus cabelos ondulados para fora da cama quase tocando o chรฃo o cigarro estรก tremulo como nunca

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deitada tem espasmos no abdรณmen, orgasmo reverbera

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me avermelha e outros concisos I

agonia é amor próprio não correspondido

II

você é a luz que me avermelha

III

amor é o medo que me deixa de pau duro

VI

V

Cleiton olhava Maria e salivava

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quero ser seu travesseiro sem fronha

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poeta na cidade todo dia ĂŠ atropelado

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pela cidade e enterrado como indigente

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sobre as pequenas importâncias dar um real a um mendigo

diz a ele que não é mais pobre

não é mais sozinho

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um cigarro um boa noite

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cadente sentou-se no parapeito e releu alguns trechos de seus poemas

mal escritos medíocres metáforas

o presente lhe espetava lembrou-se da ninfa que deveria estar perdida e feliz no paraíso alheio apertou a rosa até se machucar exalar respirou profundamente e olhou pela última vez o céu daquela que não era a sua cidade e mergulhou para a libertação esmagar a rosa acabar no chão espalhou-se pétalas esbranquiçadas e folhas vermelhas

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os transeuntes que o viram fizeram cada um o seu desejo

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carolina a gatinha de olhos carolinados brincava com o peixe beta jรก moribundo, no carpete quando ele, enfim, desanimou arqueou-se primeiro, depois, se espreguiรงou e foi lado do menino que chorava... lambeu-se

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ele a perdoou

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reminiscĂŞncia

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chove no homem no menino faz sol

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absurdo um homem nega novamente o amor e novamente o amor e o amor um homem não chora no velório da mãe um homem fica levemente contrariado ao acordar inseto na realidade, acontece uma barata aceitou o amor no velório da mãe

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misantropo

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notívago se alimenta da noite lunåtico ataca sonhos na plateia misantropo esconde a criança no castelo

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sampa e as sombras o sol de sampa põe tudo sentimentos identidades no escuro o pôr aqui é diferente indiferente

à cerveja, à agonia ao mal-estar dos que, de tão sós amam personagens

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sol posto, só resta agrupar quem sente frio cio estupor restam assombrados

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salmões em busca da paz algo assim não se traça demarca cerca é rio que não se transpõe “toma seu curso

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e nós, gravetos, seguimos nele cruzando

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a fraqueza do bolchevique quando

nos achamos fortalezas e senhores das emoções

uma borboleta amarela ogiva

pousa em nosso ombro e com a sutiliza de átomos desabrochando e emanando energia deixa sólido apenas o essencial de vez em quando mexe as anteninhas

serena nas suas preocupações de mulher pequena

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mas repousa

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síndrome de buda o capitão chegou ao cais vazio de si e de outros

salgado insalubre “até o seu mundo onírico é solitário seus homens aos cabarés e ao rum:

nesta rara noite liberta libertam

após se alimentar de alguma carne flácida volta ao que lhe é firme

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na cabine janelas úmidas de sereno chora por não ter alegria nem tristeza orgulho ou desapontamento chora por não ser não ter alguém por não estar

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pecados do fruto alvo e limpo como um livro só de poemas seco

ainda não sentidos

um rosto de lágrimas não minadas

é um fruto, ainda ao pé da moral à espera que lhe libertem de sua árvore de uma ave

genealógica

que lhe dilacere engula e voe lhe semeie em suas merdas e bares

à espera de uma ventania avassaladora que arranque tudo sua prisão

“na têmpora

e lhe dê ao mundo

do plástico e do neon

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“ao invés da morte vã que é amadurecer apodrecer ainda no pé

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noé em sua arca o leve efeito etílico começa a deixá-lo mais apaixonado mesmo sem ter a personificação do seu amor revive momentos como que desenhando conto traça um desfecho

enquanto imagina outro

apaga enche o copo novamente

brinca de deuses montando seu próprio palco

com personagens que só existem em retratos

ao final, deseja

outras ações em dias perdidos porque o realizado agora lhe parece o mais triste dos finais...

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sempre soube estar designado a isso queria somente ter vivido mais... algo a mais

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segunda-feira ter que comer macarrão requentado se requentar e escrever poesia últimos cigarros talvez algumas cervejas ou gotas destiladas sobraram um querer florescer que se mistura ao implodir e dá essa coisa esburacada sem nome em que não se distingue o cheio do vazio sequer se sabe se é um todo ou se são três ou sete diferentes sentimentos esperando para formarem o amor ter que requentar o sol significá-lo

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requentar a vida significá-la

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acaba conosco o amor acaba quando há mais fotos na parede do que em sonhos quando a vontade se desvanece antes dos corpos que agora tremem de frio possível vergonha da nudez às vezes o medo de ficarmos sozinhos para sempre “mesmo que você tenha vinte e seis anos

segura amor velho na poltrona com manta gasta

o amor se foi antes, quando não queremos estar ali que se estivesse ali se vai e percebemos a guerra que sempre esteve à nossa volta as armas que disparam olhares perdidos e pedimos trégua mas o tempo não para de assolar as minas de explodirem a leves carícias e desfigurar quem seremos amanhã

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o amor acaba, e resta, isso

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benditos benditos os que acendem trêmulos um cigarro no outro benditos os aguardam um telefonema uma mensagem mímica de amor benditos os que respondem vagamente a um conhecido e imaginam poesias benditos os que querem correr mais são mancos os que só querem que os queiram benditos os que falam com a fumaça e os que imaginam mil e um diálogos rasgados enquanto o banho lhes tomam benditos os que se escalam

na busca vã

de um cume e benditos os que buscam, ainda, suas partes caídas desde a infância pois só lhes existe a incompletude benditos os que dizem na forma de poema benditos os que são cúmplices dos crimes diários punidos à noite benditos os que se afogam no ar e benditos os que fumam na chuva e

depois, quando estia benditos, sentem o perfume das estrelas

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benditos os que se casam e maridos

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não leem jornais

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benditos os que, de pés tortos, chutam benditos os tão estranhos quanto estrelas-do-mar redondas quanto morcegos e acordam invertidos benditos os que são derrocados os que não tem folia os que tomam café da manhã sozinhos às três da tarde benditos os que semeiam no inverno os que rezam para deuses antigos

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benditos os que escrevem o que não presta benditos os sísifos que do alto da montanha contemplam e até, porque não, sorriem

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Sumário [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [

05 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38

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prefácio um cara ou outro cara amor e apego cansado, apenas tremor joão sem maria nostálgico morta anos-luz brilha o relógio me ronda sossegue os poetas mortos abraço o frio para sentir algo diferente czar russo sobre a monstruosidade das formigas concisos e as realidades finjo ser sorriso sou um monstro ou isto é ser uma pessoa? fingia ser azul corações bamboleiam você longe me respinga sobre a pilastra que partiu paladar supersensível sobre como a poesia requer nudez apneio as queria em vasos mas o mundo é mais tigre elefante cárcere ou talvez não seja nada disso asas cortadas expulsões usurpar quem não sou versos livres e uma mulher em que não existo

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39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70

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votos que sussurramos jardim japonês jardinzinho na varanda de apartamento nosso caos é o nós perdidos afinidades na manhã somos nós assimetria carmella e aldebaran rolamos ainda acesos e sujos de batom diáspora dos eus nostálgico me jardinaste tentando amar-me monólogo urbano helena febril eterno é o sem resposta oferenda meio tempo tudo em vão seu sorriso me abre olhos abissais misógino guardo seu silêncio mal-estar na civilização I mal-estar na civilização II leve nuvens fotografia ricocheteiam te replico ou a mulher ideal dorme em mim poema da negação aquele amor foda que será para a vida inteira má sã

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71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88

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reverberamos me avermelha e outros concisos poeta na cidade sobre as pequenas importâncias cadente carolina reminiscência absurdo misantropo sampa e as sombras salmões em busca da paz a fraqueza do bolchevique síndrome de buda pecados do fruto noé em sua arca segunda-feira acaba conosco benditos

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Copyright © 2015 by Wellington Souza Edição: Wellington Souza Revisão: Tânia Ardito e Morgana Rech Capa: fotografia de Marcelo Sampaio com design de Charlotte Estúdio Projeto gráfico e diagramação: Charlotte Estúdio 1ª edição, setembro de 2015 – 1ª reimpressão, março de 2016 ISBN: 978-85-69577-02-7

Souza, Wellington (1984 – ) O monstro e seus vazios / Wellington Souza. - São Paulo: Editora Benfazeja, 2015 96 p.; 21 cm ISBN 978-85-69577-02-7 1. Poesia brasileira. I. Título. CDD: B869.1 CDU: 821.134.3(81)-1

[2015, 2016] Todos os direitos desta edição reservados à Editora Benfazeja São Paulo/SP, Brasil. www.benfazeja.com.br | contato@benfazeja.com.br Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização dos autores e da Editora Benfazeja.

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1ª edição (2015), 1ª reimpressão (2016) Esta obra foi composta em Open Sans pelo Charlotte Estúdio para a Editora Benfazeja em setembro de 2015.

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