FEARLESS Mag // Edição No4 - Realces

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LINN DA QUEBRADA




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MÚSICA TEATRO DANÇA PERFORMANCE YOGA ALMOÇO CAFÉ e muito mais www.centrodaterra.org.br 04

@centro.da.terra


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edição no 04 | realces a fearless mag é uma publicação trimestral, online e impressa, totalmente independente e colaborativa feita por e para pessoas LGBTI+. um manifesto sobre a população criativa e artística e um mapa experimental do conteúdo criativo dentro da sigla.

editor-in-chef e direção criativa

luca weingärtner

fotografia

otávio guarino, victor reis e felipe russo ilustrações & colagens

edição de conteúdo

moda

letícia daniel

produção executiva

thais maestrello

produção de conteúdo

luca weingärtner e daniela lourenço

direção de arte e design

guilherme lourenço, luca weingärtner e marcos boscolo revisão

letícia daniel

jeff pacheco, matheus oliveira, victor loureiro, matheus capanema, guilherme lourenço, lucas cancian, bruno sales e caique tavares beleza

monique lemos, pedro calderaro, emerson douglas, amanda thome, julia leione, enzo de marchi, dudx, ginger moon, dom valentim e antonio garcia textos

arthur avila, monique lemos, vitor narumi, bruna veroz, tamiris versannio, caio coletti e ricardo miguel audiovisual

daniela lourenço, gabriel augusto e victor luz social media

marcos boscolo e guilherme lourenço nesta edição

linn da quebrada, jup do bairro, slim soledad, ginger moon, dom valentim, mavi veloso, dudx, danna lisboa, van foxter, natt matt, ana chonps, aline dias, fefa, marcia regina, ana giza, rodrag, wesley lombardi, pedro serrano, matheus baccarin e vitor monteiro

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guilherme lourenço

marcos boscolo, victor reis, guilherme lourenço, santiago coronel e vitor narumi

EDITOR EXECUTIVO


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carta do editor Aquele que não teme: corajoso, intrépido, valente. Ser LGBTI+ é um ato de coragem. Existir é um ato de resistência. Criar é um ato de sobrevivência. Dar voz as histórias de uma população marginalizada é um desafio. O nosso desafio. Somos um grupo de criativos LGBTI+ que busca, com paixão, e dor, dar cara, nome, cor e forma a nossa própria realidade. Feitos por e para, somos um manifesto vivo, um organismo multi-existente e resistente que se desdobra e se alimenta do próprio núcleo. E acreditamos na força gerada pelo coletivo. Juntos somos mais. Somos mais plurais, somos mais verdadeiros, somos mais criativos. Juntos somos uma força. Um estrondoso eco, que reverbera e se espalha. Somos o eco dos que vieram antes de nós, que jogaram pedras, iniciaram revoluções, apanharam e morreram por nós. Juntos permanecemos sem medo. We Stand Fearless.

LUCA WEINGÄRTNER EDITOR-IN-CHIEF & DIRETOR CRIATIVO

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Queremos Ser o Que Somos,

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por Arthur Avila

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Antecedentes da operação tarântula no estado de são paulo por Vitor Narumi

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mulheres negras e a Censura da Vida

por Monique Lemos

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ensaio

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ONGs e Empresas LGBTQI+ Vem Expandindo Sua Luta

por Bruna Veroz

Tem LGBTQI+ Aí?

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por Tamiris Versannio

Supernova

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ensaio

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A Cara e a Coragem dos Coletivos de Arte LGBTQI+

por Caio Coletti

Os Próximos 4 Anos

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por Ricardo Miguel

endereços

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referências

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e agradecimentos

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conteúdo


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queremos ser o que

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texto Arthur Avila colagem Marcos Boscolo

1500 foi o ano em que a esquadra liderada por Pedro Álvares Cabral alcançou a costa. Aproximadamente, dois milhões de indígenas já habitavam o território que hoje é conhecido como Brasil. Os portugueses não tinham certeza de onde estavam, mas a população que aqui já habitava, de pele mais escura e avermelhada, lhes parecia estranha. Mas não incomum o suficiente para que os brancos fossem embora e deixassem de explorar a terra alheia. Em 1530, começou, de fato, o processo de colonização, pois a Coroa Portuguesa estava com receio de “perder” o território tão grande e abundante para outros invasores. Segundo cartas enviadas de correspondentes à Portugal, os nativos não consideravam tabu nem a nudez, nem a homossexualidade (conhecida antigamente como “sodomia” ou até “pecado nefando”). No Tratado Descritivo do Brasil (1587), escrito por Gabriel Soares de Souza, para a Coroa, com intuito de informar sobre o andamento da colonização, as práticas sexuais dos Tupinambás, tribo que ocupava a maior parte da costa do país, foram apontadas: “são tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam”. Os índios efeminados eram conhecidos na tribo como “tibiras” e as índias que se relacionavam sexualmente com mulheres eram chamadas de “çacoaimbeguiras”. Também existiam as “kudinas”, que eram vistos como homens que “decidiram ser mulheres”. Todos estes citados eram naturalmente aceitos pelo grupo e sua sexualidade ou identidade de gênero eram vistas apenas como uma das diversas variações e possibilidades humanas. Anos passaram e o não-heterossexual e o não-cisgênero passam a ser sumariamente oprimidos. Com a justificativa capitalista de que só casais heterossexuais reproduzem e só assim serão gerados novos consumidores, além de argumentos religiosos de “não-natural”, “a bíblia diz 08


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que não pode”, os LGBTIs passaram a ser vistos como aberrações. Perseguições e campanhas foram realizadas, como uma da Igreja Católica, que dizia que se os fiéis usassem camisinha estariam concordando com a promiscuidade. Logo, a parte da população que era perseguida, começa a ser encurralada.

LUGARES

Além dos bares, na galeria existia também o Cine Metrópole. Uns dos preferidos cenários para pegação gay eram os cinemas e o centro de São Paulo era cheio deles (e ainda é). Além dos lançamentos da época, as salas escuras exibiam filmes pornográficos de conteúdo heterossexual explícito. Mesmo assim, as salas eram cheias de homens que procuravam outros homens para realizarem seus desejos. No Cine íris, no Rio de Janeiro, os frequentadores gays foram ameaçados: Caso não parassem de ir ao cinema, teriam suas identidades reveladas ao público. A Praça das Flores, como ficou conhecido o Largo do Arouche, após receber o tradicional Mercado das Flores, começou a receber os LGBTIs em 1965, com a abertura do bar, Caneca de Prata. O bar, A Lôca, abre as portas em 1995, levando para a Rua Frei Caneca, antigamente pacata, a comunidade “GLS”, como era denominada na época. Em 2003, após um segurança do shopping Frei Caneca discriminar dois homens se beijando, a rua presenciou um beijaço com quase três mil participantes LGBTIs. Hoje, voltada para o público LGBTI+ de classe média, a rua passou por um bum imobiliário e também sedia bares, baladas e saunas para a comunidade. Antes de existirem lugares fixos e especificamente LGBTI+ para serem frequentados, o footing era o método utilizado para azaração. As pessoas ficavam andando pela cidade, procurando romances, amizades e até algo mais momentâneo e rápido. Acontecia principalmente lugares como: escadaria do Teatro Municipal, Baixo Augusta, Praça da República, parques (como o Parque Trianon), entre outros. 09

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A Galeria Metrópole, no centro de São Paulo (SP), é um exemplo de lugar de resistência. Inaugurada em 1964 – no mesmo ano do golpe militar brasileiro – a galeria e suas redondezas (incluindo o Paribar), desde o início, foi dominada pelos “entendidos”. Os bares do prédio, que segue de pé até hoje, presenciaram grande parte do movimento LGBTI+ durante a ditadura. Como rapidamente ficou conhecida por ser point dos “veados”, se tornou alvo de batidas policiais comandadas pelo delegado José Wilson Richetti. O ato de prender criminosos havia se tornado uma perseguição aos LGBTIs e prostitutas, pois estes tipos de libertinagens eram associados ao comunismo.


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GRUPOS

A primeira “onda” do movimento LGBTI+ ocorreu no final dos anos 70. O jornal O Lampião da Esquina foi criado em 1978 (e sobreviveu até 1981) por um grupo de 11 pessoas, em maioria homens gays, que buscavam informar, sobre acontecimentos nacionais e internacionais, a comunidade LGBTI+ durante o período de ditadura militar brasileira, já que a grande imprensa ou apoiava o golpe, ou era censurada. Em sua primeira edição, o jornal alternativo falava de assuntos como a arte homoerótica e a demissão de Celso Curi, colunista do “Última Hora de São Paulo”, que falava sobre homossexualidade e foi acusado de atentado à moral e aos bons costumes. Criado a partir dos membros d’O Lampião da Esquina, o primeiro grupo de defesa aos direitos LGBTIs recebeu o nome de “SOMOS: Grupo de Afirmação Homossexual”. Sua primeira ação foi enviar uma carta ao tabloide Notícias Populares, denunciando a linguagem pejorativa utilizada quando os repórteres se referiam aos homossexuais, lésbicas e travestis. Tinha como slogan “Queremos ser o que somos”. O grupo se dissolveu em 1983, cinco anos após sua criação. Em 1980, surge o Grupo Gay da Bahia (GGB), que fortalece o ativismo na região Nordeste do país. O grupo ainda funciona nos dias atuais.

Entretanto, na década de 90, com o avanço do número de pessoas com HIV pelo mundo, o movimento volta a crescer, tentando conscientizar a população (tanto hetero-cis quanto LGBTI+). Em 1995 é fundada a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis – ABGLT. A associação foi fundada por 31 grupos e tem como objetivo principal levar reivindicações da comunidade para o Governo federal e à própria sociedade. Em 2004, participou da criação do Programa Brasil sem Homofobia que possibilitou avanços na política pública para gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Atualmente, a associação já é composta por mais de 300 grupos espalhados pelo país.

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Em 1980 há o relato do primeiro paciente portador do vírus HIV no Brasil, especificamente em São Paulo. Apenas em 1982, o caso foi classificado como AIDS. A epidemia da doença ficou mundialmente conhecida como “peste gay”, mesmo tendo relato de contaminação em heterossexuais quase tão cedo quanto nos homens gays (no Brasil o primeiro relato de contaminação em uma pessoa heterossexual foi em 1983). A população LGBTI+ começa a ser estigmada, o que atrapalha o avanço do movimento e diminui consideravelmente o número de grupos ativistas.


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Antecedentes da operação tarântula no estado de São Paulo texto e ilustração Vitor Narumi

No início de minhas pesquisas para formar essa matéria eu sabia superficialmente sobre a operação, mas no desenvolver dela a cada momento que eu dizia ou perguntava sobre a Operação Tarantula sempre me era questionado “Nossa, o que é isso?”. Inicialmente eu tinha certeza que foi factualmente ocorrido durante o Estado Autoritário: ditadura, mas a todo momento eu me esbarrava no ano de 1987, uma época de transição para a nova constituição (ditadura 1964 - 1985, nova constituição em 1988), “por que?” me perguntava. Nesse ano de 1987 ocorreu o assassinato do diretor do Teatro Oficina Luís Antônio Martinez Correa (irmão do ator e encenador José Celso Martinez Corrêa), importante figura para a resistência das Artes Visuais no contexto de censura na ditadura. Partindo dali começasse uma discussão sobre perseguição aos homossexuais. Um vídeo documentário chamado Temporada de Caça de Rita Moreira evidencia um contexto de linchamento coletivo ao coletar diversas opiniões acerca dos assassinatos de homossexuais em São Paulo, onde respostas como ”Tem mais que assassinar mesmo”, ”homem nasceu para ser homem” e ”Eu acho que eles estão poluindo as ruas de São Paulo” tinha um consenso geral em afirmação e normalidade no discurso. Mas a partir dessas respostas que me dei conta de uma ingenuidade de minha parte; eu na contemporaneidade pesquisando sobre essa época de repressão absurda com um vocabulário contemporâneo. ”Como assim?” 012


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Nesse período o termo homossexuais tinha um sentido amplo onde abrangia para homens gays, mulheres lésbicas e até mesmo travestis, nessa configuração de fala dificulta as outras minorias que não fossem gays a serem evidenciados também, mas isso principalmente ocorria pois não havia uma discussão de sexualidade. Sem essa discussão mesmo a heterossexualidade não era pautada, relembrando que não existia o divórcio até 1977, a qual era muito diferente do divórcio atual, pois ela foi reconfigurada conforme a constituição de 88, então, podemos afirmar que havia um conceito de ”o que é normal e o que não é” baseando-se em uma moralidade. O tabu sobre o sexo logo se desdobrava para uma negação da homossexualidade, inclusive, apontada e pautada no primeiro caderno do Jornal Lampião em 1978 e na segunda edição das publicações do núcleo Lésbico-Feminista do Grupo Somos, Chana com Chana em 1983, mas que discutiam sobre o tema desde 1976.

Flávia de 22 anos, que faz viração desde o 17 conta que sua família a internou no Hospital Psiquiátrico Américo Barreto, onde tomava impregnação, ”uma injeção para castigar e parar de ser travesti”, coagindo-a a mudar, traziam mulheres para posar nua em sua frente e como não ocorria conforme eles previam, Flávia recebia eletrochoque. Tal relato e mais outros só contextualizam a marginalidade das travestis a qual em todo momento eram caçadas. Nessa mesma entrevista Tatiana e Flávia denunciam que havia uma perseguição da GARRA (grupo Armado de Repressão e Roubos e Assaltos), o Veraneio Amarelo do DEIC (departamento Estadual de Investigações criminais) e a SECCIONAL, também do DEIC, o pior distrito, conforme elas, localizada no 3º distrito, Rua Aurora. Mas que a pior época para as travestis foi quando o Erasmos Dias era o Secretário de Segurança de São Paulo (1974 - 1978), que mesmo após sua desvinculação com o cargo para candidatar-se a uma cadeira na Câmara dos Deputados pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido político de âmbito nacional de apoio à ditadura, havia fortes políticas de incentivo à cassação. Como a prostituição não era prevista no código jurídico, a principal justificativa para a prisão de travestis era incluir na Lei das Contravenções Penais Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, como Vadiagem, que é ”uma pessoa desocupada permanente”, faziam com que assinassem a Sindicância e davam o prazo de 30 dias para arranjar um emprego, se fosse detida novamente a encaixavam como vadio. Uma lei 013

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O Jornal Lampião da Esquina (1978 - 1981) foi criada dentro da imprensa alternativa para haver discussões sobre a minoria oprimida ”por carregar nas costas o estigma da não-reprodutividade numa sociedade petrificada na mitologia hebraico-cristã”e de assuntos ”não prioritários”. No caderno de 1980, com um chamado na capa ”2 travestis dão um depoimento vivo sobre o sufoco paulista”, Alice Soares, advogada criminal que orientava o Departamento Jurídico do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco junto com Darcy Penteado, João Silvério Trevisan, Glauco e Jorge do conselho editorial da lampião, entrevistaram duas travestis que estavam na ”viração” na Rua Rego Freitas em São Paulo. Flávia e Tatiana, trazem uma imensidão de relatos sobre diversas atitudes autoritárias e repressivas não apenas dos policiais mas da imprensa (como na Notícias Populares), familiar e dos conceitos patológicos.


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que claramente não era a partir do contexto daquela época por conta da alta taxa de desemprego existente. Porém, não se acabava aí, os delegados haviam uma cota de trabalho a apresentar. No tempo de Erasmos, saía na imprensa: ”o distrito __ foi campeão neste mês”.

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Marisa Fernandes uma das principais pessoas vinculadas com a resistência LGBT, fazia parte do Grupo Somos, um grupo de homossexuais de São Paulo que discutiam sobre sexualidade, e do núcleo Lésbico-Feminista, entrevistada pelo Memorial da Resistência conta que historicamente o Largo do Arouche e suas redondezas são territórios LGBT, a minoria não era nem vista como minoria, havendo uma marginalização e apagamento dessas pessoas na história, ”Quem foram as vítimas da ditadura?” tal pergunta pode ser facilmente respondida indicando presos políticos (indivíduos que exprimiam pela fala ou atos contra a política em vigor) como Vladimir Herzog (1937 - 1975), mas difícilmente para minorías negras, periféricas, LGBT, mulheres, deficientes físicos, entre outros. ”Nunca quiseram essa população lá” a negligência dos juízes e promotores só corroboraram com os abusos constantes da Polícia, que extorquiam, abusavam sexualmente, sacavam suas economias, chantageavam e prendiam apenas por terem a visto na rua, independente da carteira de trabalho, documentos ou estar na viração, a própria existência era motivo.

No início da década de 1977 e 1978 são registrados os primeiros casos da Aids nos EUA, Haiti e África central, em 1982 classificam essa síndrome. Em 1980 é registrado no Brasil o primeiro caso, mas que só em 1982 é classificado. A Aids era identificada por homossexuais, hemofílicos, haitianos, usuários de heroína injetável e prostitutas, em 1983 é notificada os primeiros casos com heterossexuais onde começasse maior discussão sobre a Aids. E por que estou contando isso? lembram-se do começo do texto onde eu falo que sempre esbarrava no ano de 1987? antes desse ano a repressão de homossexuais (lembrando do termo em abrangência) começou-se a tomar novos rumos, não era apenas uma questão moral e de obscenidade mas eram identificados como principais difusores da Aids no território Brasileiro, que já estava sendo popularizada como Peste-gay. Começasse como pano de fundo da AIDS uma forte cassação, não apenas policial mas pela imprensa e civis, que de 1983 até 1987, ape-

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nas com o assassinato do diretor do teatro Luís Antônio Martinez Corrêa o assunto sobre discriminação e marginalização dessa minoria é introduzida. Nesse mesmo ano 1987, Jânio Quadros prefeito de São Paulo, instituiu a “Operação Tarântula” com o objetivo de prender as travestis acusadas do “crime de contágio de AIDS”. Mais de 300 travestis foram apreendidas. Tal operação iniciou-se em fevereiro e teve ações suspensas em março do mesmo ano.

Disponível no acervo do jornal O GLOBO, apenas para assinantes.

Ainda sentimos o reflexo do Colonialismo e do Estado Autoritário, o Patriarcado ainda rege a configuração social, mas digo, e afirmo, com orgulho, conseguimos sim diversas políticas, representatividades e visibilidade nesse meio tempo até a presente matéria redigida, “ninguém solta a mão de ninguém”.

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Com a nova constituição de 1988, de acordo com o art 3o, IV, “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Levando em conta todo o histórico de violência, discriminação e, agora me permito usar um termo que conseguimos conquistar com muita resistência, LGBTQIAP+fobia, mesmo que vários dos mecanismos de violência tenham sido produzidos e reproduzidos por diversas vezes e que se desdobram a cada contexto com novas justificativas discriminatórias ou voltam para velhas respostas morais, te pergunto, o que mudou?


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texto Monique Lemos ilustração Victor Reis

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MULHERES NEGRAS E A CENSURA DA VIDA É necessário, logo de início, lembrar a importância de se falar sobre, pois há intencionalidade na quantidade de material que temos disponível sobre mulheres negras na ditadura: pouco, muito pouco. Portanto, retornar ao tema é sempre criar corpo à necessidade de punição às violações de direitos humanos cometidas pelo Estado, é importante desvendar esse período da história e abrirmos os olhos, pois a distância de lá para onde estamos, neste caso, é apenas temporal.

tros, tais como Clóvis Moura, Abdias do Nascimento. Houve também uma forte ruptura na produção científica, diversos professores foram aposentados de maneira compulsória, entre eles Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, figuras centrais no estudo sobre relações raciais e o pensamento social brasileiro. A própria esquerda brasileira colaborou com as práticas racistas, uma vez que não considerou a questão de raça um elemento central em sua resistência na ideia de construção de um país democrático, a luta de classes sempre foi o eixo central. Apesar da questão de classe ser estrutural para a luta anticapitalista, a questão racial não pode ocupar uma posição lateral. O Brasil foi o último a abolir a escravidão, foi o país que mais sequestrou negros da África e onde a abolição foi um pacto político–econômico, sem a inclusão da população negra na sociedade¹.

CONTEXTO Naquele período, o discurso da democracia racial fazia parte da ideologia de Estado, um dos eixos de integração nacional autoritária retomado por Vargas durante a Ditadura Militar, alegava–se, por exemplo, que a racialização das desigualdades no Brasil e as pautas do movimento negro eram antinacionalistas. Por meio do Itamaraty, impediram que intelectuais negros saíssem do país ou que participassem de encon016


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Uma questão apontada por Amelinha Teles, é a de que “foi vendo o posicionamento enfático das estudantes que ela também decidiu se impor mais e incluir informações sobre questões femininas no jornal que ajudava a escrever para o Partido Comunista do Brasil, o PCB”. No entanto, lembra, uma parcela importante das mulheres não era tratada devidamente dentro do próprio debate feminista: as mulheres negras. As palavras de Angela Davis, feminista americana que militou também no grupo Panteras Negras, ainda não haviam chegado ao Brasil. O livro “Mulheres, Raça e Classe” de Angela Davis, por exemplo, lançado em 1981, só foi publicado em português em 2016. CAMPO CULTURAL As velhas teorias da mestiçagem e a ideologia da democracia racial começaram a ser duramente criticadas por intelectuais, artistas e agitadores culturais. No mundo acadêmico, sociólogos como Florestan Fernandes desenvolveram críticas sofisticadas e aprofundadas

à ideia de “democracia racial”, demonstrando como os negros foram integrados à sociedade industrial e urbana, com a manutenção da uma situação de dupla exclusão: social e racial ¹. No samba, ocorreu um processo de valorização das raízes negras e africanas, ainda que o gênero fosse o símbolo maior de brasilidade. No final dos anos 60 e início dos anos 10, na explosão da “black music”, artistas como Tim Maia e Toni Tornado colocaram em pauta explicitamente a questão da luta contra a discriminação. No ano de 1974, em Salvador, o bloco Ilê Aiyê surgiu com a proposta de celebrar o carnaval sem esquecer o protesto contra o racismo, cantando, em vozes femininas, “é o mundo negro, que viemos mostrar pra você”. Nas periferias, também surgia uma nova consciência cujo foco era a valorização da “identidade racial” e a percepção do preconceito explícito ou disfarçado que marcava a sociedade brasileira.

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É em 1977, seguindo a cronologia de Machado de Assis, Lima Barreto e Carolina Maria de Jesus,que nasce uma das principais expressões literárias brasileiras: os Cadernos Negros, que em 2018 chegou a marca dos 41 anos ininterruptos, com a publicação de nomes consagrados e pouco conhecidos pelo grande público, como Cuti, Esmeralda Ribeiro, Oswaldo de Camargo e Miriam Alves. Figuras que passam a traçar estratégias para a existência de um movimento negro enquanto ator político importante no cenário nacional. Um movimento que ocupa lugares estratégicos na sociedade, caso das instituições públicas de ensino superior, organizações políticas consistentes e poder de influência na esfera pública.

espaços políticos tradicionais, por outro, elas privilegiavam ações que visavam a melhoria nas suas condições de vida. A importante participação das mulheres nos movimentos de oposição suscitou um debate sobre a discriminação e a subordinação das mulheres, bem como, encorajou a sua participação nas produções científicas e nas ações políticas. No Brasil, os estudos sobre a mulher se apresentaram ainda na década de 1970. Heleieth Saffioti defendeu em 1967, sob orientação do professor Florestan Fernandes, a tese intitulada A Mulher na Sociedade de Classe: Mito e Realidade, publicada pela Editora Vozes, em 1976. O livro foi um best–seller na época.

CAMPO POLÍTICO As mulheres negras, ao se engajarem na organização de movimentos políticos, são personagens em ruptura total com as funções que lhes foram atribuídas, que se insurgem contra a ordem estabelecida e que lutam para defender seus ideais e fazer ouvir suas reivindicações. Nesse período, muitas militantes tiveram suas primeiras experiências políticas nos partidos de esquerda, já outras iniciaram suas trajetórias no movimento feminista, assim como no movimento negro. Esses grupos, constituídos em um contexto autoritário, lutavam pelos direitos civis, pela liberdade política e contra as desigualdades sociais.

Em 1975, durante o Congresso de Mulheres Brasileiras, houve a apresentação do Manifesto das Mulheres Negras representando o primeiro debate sobre as divisões raciais dentro do movimento feminista brasileiro. Depois de 1985, uma das principais reivindicações do movimento de mulheres negras ainda era a construção de uma identidade feminina negra.

A eclosão do feminismo na década de 70 entre as militantes dos movimentos de esquerda tinha como objetivo principal a luta pela democracia e contra o regime ditatorial. Por um lado, as mulheres lutavam pela anistia, pelas eleições livres e diretas, pela abertura dos 019

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Contudo, durante os anos 70 a 80, mulheres negras, índias, pobres e trabalhadoras, consideraram que a pauta política não as incluía, ocasionando inúmeras críticas em relação à categoria “mulher” como universal. A noção de trabalho fora do lar e de carreira, defendida por Betty Friedan, no livro Mística Feminina, não significava para elas uma forma de “libertação”, pois essas mulheres sempre trabalharam dentro e fora do lar, por exemplo. Assim, não era mais possível analisar somente uma única condição feminina, uma vez que existem diversas “mulheres”, múltiplas identidades e inúmeras diferenças, não apenas de classe, mas regionais, geracionais, de raça, orientação sexual, religião.


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Em 1978, figuras como Milton Barbosa, Lélia Gonzalez, Hamilton Cardoso fundam uma das experiências mais bem sucedidas na luta contra o racismo: o MNU – Movimento Negro Unificado. Fundado num ato público com 2 mil pessoas, no dia 7 de julho, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. O ato era uma resposta à discriminação sofrida por quatro jovens atletas negros num clube esportivo de São Paulo, além de outros eventos de violência policial. Com diversidade política interna, o MNU passa a pautar a luta contra o capitalismo e o status quo no Brasil a partir de uma perspectiva que considerasse os fundamentos de raça e classe. Além disso, o MNU encampou as lutas específicas das mulheres negras, duplamente discriminadas, por serem negras e mulheres, numa sociedade racista e machista. A idealização das raízes africanas, vistas em seu conjunto sem se preocupar com as etnias ou nacionalidades do continente, o Pan–Africanismo e a necessidade de se conectar com outros movimentos negros ao redor do mundo davam o tom da luta do MNU.

Estes movimentos, ao colocarem em suas agendas as denúncias de racismo institucional, de racismo à moda brasileira e da farsa da democracia racial, demarcaram um campo de força política imprescindível na conquista por direitos civis, políticos e materiais. A contribuição política deste e dos demais movimentos, de diferentes correntes e tendências, foi a construção de políticas afirmativas e de valorização da população negra². Mais do que isso, é preciso destacar que se o capitalismo no Brasil e a estrutura de dominação foram criados sob os pilares de raça, gênero e classe, é necessário que exista um olhar sobre a história que respeite esses fundamentos. Haroldo Costa, na obra Fala Crioulo, já alertava: “cada vez que há um endurecimento, um fechamento político, o negro é atingido diretamente porque todas as suas reivindicações particulares, a exposição de suas ânsias, a valorização de sua história, desde que não sejam feitas segundo os ditames oficiais, cheiram à contestação subversiva”³. Sob todas as circunstâncias, seguimos em resistência.

É necessário pontuar o surgimento também do FECONEZU, Festival Comunitário Negro Zumbi e em 1978, a reivindicação do Grupo Palmares, desde 1971, pela adoção do 20 de Novembro como data da comunidade negra e não o 13 de Maio, data carregada de paternalismo por exaltar uma suposta bondade da princesa Isabel.

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direção e fotografia OTÁVIO GUARINO direção criativa LUCA WEINGÄRTNER GUILHERME LOURENÇO making of e colagens VICTOR REIS elenco LINN DA QUEBRADA JUP DO BAIRRO SLIM SOLEDAD GINGER MOON DOM VALENTIM MAVI VELOSO DANNA LISBOA DUDX ass de fotografia MAÍSA MENDES

moda JEFF PACHECO VICTOR LOUREIRO MATHEUS CAPANEMA GUILHERME LOURENÇO LUCAS CANCIAN CAIQUE TAVARES MATHEUS OLIVEIRA beleza MONIQUE LEMOS EMERSON DOUGLAS AMANDA THOME JULIA LEONE ENZO DE MARCHI DUDX GINGER MOON DOM VALENTIM DIEGO VALE agradecimentos TEATRO CENTRO DA TERRA IZABELA COSTA

Ginger Moon Top Pérolas - Von Destroyer Luvas - Minha Avó Tinha Hot Pant - Minha Avó Tinha Sandália - Toca Blazer - Acervo Leques - Maison Fontaine Bleau Dudx Robe - Minha Avó Tinha Corset - Acervo Calça - Matheus Capanema Coturno - Acervo Mavi Veloso Saia de tule, usada como ... - Minha Avó Tinha Saia de Sarja, usada como ... - Denis Leão Brinco - Garibada Meia e Sapato - Acervo Slim Soledad Headpiece - Von Destroyer Blazer - Minha Avó Tinha Cinto, Sapato e Macacão (usado como calça) - Acervo Danna Lisboa Vestido - Minha Avó Tinha Luvas de Couro - Acervo Brinco - Garibada Anéis - Versace Coturno - Acervo Jup do Bairro Vestido - Rober Dognani Colar de Correntes - CanCan Turbante - Acervo Headpiece, por cima do turbante - CanCan Sapatos - Aurélio Alves Linn da Quebrada LOOK 1 Headpiece - CanCan by Victor Hugo Mattos Bota - Minha Avó Tinha Vestido - Minha Avó Tinha LOOK 2 Headpiece - CanCan by Victor Hugo Mattos Bota - Minha Avó Tinha Robe - Minha Avó Tinha LOOK 3 Headpiece - CanCan by Victor Hugo Mattos Bota - Minha Avó Tinha Casaco - Aurélio Alves

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produção LUCA WEINGÄRTNER GUILHERME LOURENÇO DANIELA LOURENÇO LUCAS TRUTA ARTHUR AVILA

Don Valentim Sobretudo Alfaiataria- Toca Patties - Acervo Cueca de Onça - Acervo Meias - Acervo Bota - Versace


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texto Bruna Veroz fotos Victor Reis produção Thais Maestrello

ONGs fazem parte da nossa sociedade há séculos. No Brasil, as primeiras surgiram na década de 50, com o intuito de cumprir funções que seriam, em tese, do Estado. Elas surgem com a insatisfação coletiva da população com relação a falta de acesso aos seus direitos, ocorrendo, assim, o “boom” das Organizações Não-Governamentais nos anos 90. No entanto, ainda que exista um número extenso de ONGs no país, destaca-se uma carência na área de direitos da população LGBTI+, que luta diariamente por uma vida digna como outros núcleos da sociedade. Apesar do crescimento do número de grupos, os mesmos sofrem para conseguir se manter funcionando.

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ONGS E EMPRESAS LGBTQI+ VEM EXPANDINDO SUA LUTA


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Coletivos como Casa 1, Grupo Gay da Bahia, Grupo Arco-Íris, TransMissão e Mães Pela Diversidade, além de serem centro de acolhida e apoio para pessoas do meio LGBTI+, lutam pela inclusão destes no mercado de trabalho e na sociedade.

Já o Mães Pela Diversidade, um coletivo composto por mães e pais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, é um projeto que existe há 10 anos e atua em 25 estados. A maior concentração de membros está em São Paulo, contando com mais de 500 pessoas unidas pelo projeto. Marcia Regina de Almeida Silva, membro do grupo, diz que o coletivo é de uma extrema importância, sendo muito grata por tê-lo encontrado, uma vez que consegue unir forças com outras mães para lutar pelos direitos de seus filhos. “É a partir disso você começa a se engajar, participar e perceber um novo mundo, que é o mundo da diversidade”, diz.

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É uma luta diária e constante, onde coletivos como os apresentados e tantos outros fazem toda a diferença. Colocando-se frente de um papel que deveria ser do Estado, esse tão lento para responder aos apelos da comunidade LGBTI+ e de tantos outros grupos marginalizados. Motivados pelo bem querer do outro, ninguém soltando a mão de ninguém e juntos formando uma corrente muito mais forte que qualquer agenda de ódio e medo, E assim, a caminhada segue com suas conquistas, entraves e luta, todos juntos por seus ideais.

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O TransMissão é uma ONG/empresa criada pelas sócias Aline Dias e Ruby Delafuente, formada somente por mulheres transexuais. Elas são planejadoras de eventos, e oferecem serviços como limpeza e buffet. O objetivo é conseguir tirar mulheres trans da rua, oferecendo trabalho e apoio para ingresso no mercado e trabalho. “Acho que o TransMissão é isso. A missão de colocar as trans em seu lugar de direito como qualquer outra pessoa. Somos pessoas! O termo “trans” é apenas uma nomenclatura”, afirma Aline. Ainda não possuem um espaço físico, como diz Aline “O nosso espaço somos nós mesmas”, mas não descarta esse plano para o futuro.

O Mães Pela Diversidade é um espaço acolhedor com a estrutura necessária para pais e filhos juntos lutarem pelos direitos que já deveriam ser deles. É preciso de fato batalhar, pois em alguns momentos, apenas o amor não basta. E a militância é real, existindo e resistindo em uma política de luta pela garantia de direitos, uma vez que seus membros inclusive entraram em contato com o STF para pedir punições devidas aos crimes relacionados a LGBTfobia.


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TEM LGBTI+ AÍ? texto Tamiris Versannio colagem Guilherme Lourenço

Ter visibilidade do índice de desemprego dentro de um país faz com que a economia reaja negativamente, nada cresce e o mercado pressiona. Assim, políticas públicas são criadas para remediar a situação e provocar a retomada de empregos e consequentemente fazer as estruturas econômicas fluírem. Inversamente proporcional, quando não se sabe quem são, quantos são, onde vivem e sob quais condições resistem transgêneros, transsexuais, lésbicas, bissexuais e gays nada é feito para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, afinal, sem dados estatísticos concretos dessa existência, o Brasil assume a intolerância LGBTI+. com suas nuances, mais de 20 milhões de vidas sumariamente apagadas e cotidianamente invalidadas por não serem consideradas vidas, brasileiras, cidadãs ou sequer humanas o suficiente para constar em pesquisas e análises que denunciem e reclamem postura ativa e acolhedora de políticos e políticas nacionais. Em contrapartida, e sempre resistindo, o movimento LGBTI+ no Brasil, desde a fundação das primeiras organizações, na década de 70 e 80, se preocuparam em documentar a (re)existência dessa camada marginalizada da população, sem poupar siglas e nomenclaturas.

É o caso da organização GGB, Grupo Gay da Bahia, fundada em 1980 e que, entre outros trabalhos e políticas, faz a contagem, através de denúncias e relatos, dos assassinatos de LGBTI+ no Brasil e, segundo estimativa da organização, representamos 10% da população nacional, mais de 20 milhões.

Por isso, há alguns anos, mesmo sem respaldo oficial (federativo) essas ONGs são consultadas por organizações internacionais.

Mais de 20 milhões de pessoas sem políticas públicas como prioridade, mais de 20 milhões de pessoas sem direito a uma assistência preparada para lidar

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É o caso do GGB consultada pela

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Em qualquer trabalho jornalístico, é fundamental apoiar-se em dados e instituições que tenham credibilidade nas informações que apresentam. Nesse caso, na busca de números que demostrassem onde estão, quanto e quem são os LGBTI+ no Brasil, toda e qualquer matéria leva em conta números não oficiais, coletados por organizações e associações fundadas pela luta por inclusão, respeito e diversidade das pessoas LGBTI+.


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Comissão Interamericana de Direitos Humanos e também a ABGLT, Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexos, consultada pelo Conselho Econômico Social das Nações Unidas. Na América Latina e no mundo, os dados e estatísticas da população LGBTI+ importam, no Brasil não.

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Quando a própria “Casa do Povo” não assume a existência de uma parcela de sua população, assume a própria intolerância. Mas quem ganha com essa anulação? Para quem é interessante mostrar que no Brasil, não existem LGBTI+, ou ainda, que somos uma parcela irrelevante, ínfima, mínima? A Fearless Magazine entrou em contato com a assessoria de imprensa do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, orgão oficial do governo desde 1934, que tabula a população brasileira em diversos aspectos a partir de números, promovendo censos e relatórios que demostrem a realidade do país. Em 2016, em matéria do jornal Folha de São Paulo, o então presidente da instituição, Paulo Rabello de Castro, alegou que “pretende conversar com a área técnica do IBGE para saber qual é a viabilidade de se fazer o levantamento, e como as questões deveriam ser elaboradas para se chegar a um resultado próximo da realidade”. Agora, em 2018, renovamos a pergunta, inclusive diante da ausência desse recorte no PNAD, Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio - a maior realizada pelo instituto depois do CENSO.

A resposta da assessoria foi: “Algumas

informações sobre relacionamentos homoafetivos estão disponíveis no Registro Civil eno Censo Demográfico 2010. No momento, o IBGE ainda não possui as informações específicas solicitadas.”

Por tanto, seguimos sem respaldo governamental, uma vez que não existimos para os políticos, não existem políticas públicas. Sem políticas públicas, a marginalização LGBTI+ segue imperturbável. No entanto, e como respiro, as organizações seguem nos representando e com aliados cada vez mais poderosos, como a ONU e a CIDH. E trazem números positivos, por exemplo: Mais de 4 mil casamentos LGBTI foram realizados desde a legalização em 2013 e mais de 300 pessoas fizeram o Enem usando nome social em 2017 e hoje são reconhecidas como se sentem, como são verdadeiramente. Há quem diga que não existimos, que nosso lugar é no escuro, na noite. Nossa resposta será sim, estaremos na noite, brilhando, trabalhando ou nos divertindo, mas também seremos livres ao Sol, no público e no privado, pagando no débito todo o GLAM de ser quem somos e não dever absolutamente NADA a ninguém.

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NATT MAAT USA Casaco Morena Rosa

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VAN FOXTER USA Blazer xadrez cinza Miha Avó Tinha Blazer xadrez vermelho Minha Avó Tinha Calça Heloisa Faria Cinto Acervo

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ANA CHONPS USA Vestido vintage 60s Miha Avó Tinha Bota Morena Rosa Acessórios Acervo

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NATT MAAT USA Vestido Salinas Meia Lupo Mule Morena Rosa Viseira Morena Rosa

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ANA CHONPS USA Camiseta branca Acervo Saia (usada como vestido) Heloisa Faria Cinto Acervo Bota Heloisa Faria

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VAN FOXTER USA Camiseta branca Acervo Colete Heloisa Faria Calça xadrez Minha Avó Tinha

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NATT MAAT USA | Vestido Miha Avó Tinha, Bracelete Acervo.

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A CARA E A CORAGEM DOS COLETIVOS DE ARTE LGBTQI+ texto Caio Coletti fotos Victor Reis produção Thais Maestrello

A violência contra corpos LGBTQI+ no Brasil não foi inventada pelo atual governo. “A transfobia, infelizmente, é algo que esteve sempre presente no nosso dia a dia”, disse Ana Giselle, do coletivo MARSHA!, quando perguntada sobre o acirramento das animosidades políticas e seu efeito no trabalho de um grupo artístico LGBTI+. “Acredito que [a transfobia] tenha se tornado mais explícita na mídia, mas a violência que é jogada sobre os nossos corpos sempre foi extremamente cruel”, continuou Ana.

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Em 2019, assim como nos anos anteriores, o buraco é muito mais embaixo. O preconceito é sistemático, e persiste em espaços gerenciados por pessoas cis. “É uma realidade que nós estamos empenhadas em mudar, criando espaços artísticos administrados inteiramente por pessoas trans e travestis”.

O que o paradigma cultural da nossa era ainda não entende sobre arte LGBTQI+ é que ela não é uma caricatura: é essência e sobrevivência, em muitos sentidos. “Todo momento que nós trabalhamos e procuramos espaços para ecoar energia é sempre sobre a nossa essência, não são personagens ou princípios de personas, nós dependemos do nosso trabalho pra ter nosso ganho”, define a Animália. “Porém, é [também] muito mais que isso quando temos noção de que somos corpos artistas e fluentes em expressões que precisam ser colocadas pra fora”. EXPLOSÃO A palavra-chave, neste caso, é “precisam”. Ana Giselle disse que o MARSHA! foi criado como “um movimento social e de celebração e tributo a todas as pessoas trans e travestis que nos antece-

Um vocabulário parecido foi usado pelo Animália para definir sua missão como grupo. “A mensagem mais forte vem da necessidade de expressão, vem da necessidade de explodir, vem da necessidade de resposta a todo e qualquer tipo de opressão vivida até então. É sobre ressignificar todas as nossas dores enquanto corpo e transformá-las com arte”, disseram. “Urgência. Falar de arte hoje e não ligar automaticamente à urgência do ser e do que se é acaba sendo um erro”, continuaram. “A necessidade de resposta e a urgência dos nossos corpos parte de uma constante, parte da dor, do chorar sozinha, da violência, mas parte mais ainda da ressignificação da nossa fúria, da nossa raiva, da nossa glória e do nosso brilho”. Assim, a explosão de expressão da arte LGBTI+ se torna também veículo de revisão histórica. E seu efeito pode ser ainda maior. “Para o cenário atual, podemos encaixar a arte como um veículo de estímulo e força para pessoas como nós [...]. Para além disso, podemos também encaixar como instrumento conscientizador, para pessoas que estão de fora, vivendo outras realidades”, definiu Ana Giselle. INCLUSÃO Nesta missão de extravasar, pelas próprias mãos, os corpos LGBTI+ para o contexto do imaginário artístico, união 0109

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O pessoal do coletivo Animália elabora a razão pela qual corpos LGBTQI+ não são aceitos nem mesmo no espaço da arte. Os membros do grupo responderam às perguntas da Fearless Magazine de forma colaborativa. “Dói neles, ou melhor, no bolso deles, ter que pagar dinheiro para corpos como o nosso, dói neles ver que estamos em processos que vão além de tudo que foi já estabelecido para a gente, dói neles ver a glória a que chegamos quando descobrimos e trabalhamos nossa potência”, comentam os artistas.

deram, para as de hoje e para as que estão por vir”. “O projeto surgiu da necessidade de ter pessoas trans e travestis como donas de suas próprias narrativas, garantir autonomia desses corpos historicamente marginalizados, criar espaços de pertencimento e acolhimento onde possamos fomentar ainda mais o avanço da população T com a articulação do coletivo”, disse ainda.


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é essencial. Ambos os coletivos frisaram a importância da colaboração entre grupos e artistas. “Só vamos permanecer vivas e ter uma chance considerável contra tudo que sempre nos colocou na beira se estivermos alinhadas e munidas pra acabar com essa merda”, cravaram os artistas da Animália. “Essa aproximação é natural, uma vez que são corpos que dialogam em espaços parecidos ou iguais de opressão”, continuaram.

Mesmo porque a pluralidade é (ou deveria ser) uma marca importante de qualquer reunião de corpos LGBTI+, gire ela em torno da arte ou não. “Por essência, corpos trans já fogem de qualquer padronização”, disse Ana Giselle. “Por mais que nós estejamos atuando na mesma área, exibimos personalidades tão múltiplas que acredito nunca cairmos na uniformidade. Somos um coletivo extremamente plural”.

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“Não é a dor que nos une, é a resposta a ela. O que nos aproxima é a cura, afeto, carinho e imersão no trabalho que está sendo realizado pelo outro coletivo, pelos outros corpos.”


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A arte LGBTI+ nunca vai “caber no uniforme”, como bem expressa o Animália. “Sempre foi importante, para nós, estabelecer conexões entre diversas linguagens. Sempre estarmos trabalhando com transições de espaço corpo [entre os membros do coletivo], e nos expandindo para novas trocas também, com outres corpes”.

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AO ATAQUE Ver e ouvir a explosão expressiva destes coletivos LGBTI+, e de tantos outros que permeiam São Paulo e o Brasil, é essencial para entender o tempo e o país em que vivemos. Suas lutas, suas dificuldades e seus triunfos ilustram o estágio da quebra de padrões em que estamos como sociedade, mas também ditam o caminho para o futuro. Como costuma ser na história humana, a arte é a quebradora de barreiras. Nossa capacidade de contar histórias (filmadas, escritas, dançadas, pintadas, tocadas, cantadas) guia e esclarece o caminho da nossa evolução. Não é surpresa que corpos oprimidos extravasem na arte sua frustração e suas esperanças, e a abracem como caminho de pioneirismo. Tampouco é surpreendente que a arte que eles produzem faça os donos do poder tremerem de medo. Como definem os artistas da Animália: “O medo que o cistema (sic) tem da gente é justamente porque ele tem ciência do nosso poder, e [sabe que] quando colocamos isso na arte, ele se torna mais temível ainda, já que a arte é algo transmutável e que alcança todo ser humano, está dentro de todo ser”.

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os próximos anos texto Ricardo Miguel curadoria visual Marcos Boscolo

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Durante as eleições de 2018, as expressões artísticas se fizeram presentes e necessárias para falarmos sobre o cenário em que vivíamos. Fearless Magazine recebe artistas de todo Brasil para ilustrarem a próxima matéria e apresentar um panorama sobre os próximos 4 anos.

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Das 160 candidaturas de pessoas abertamente lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e aliadas da causa LGBTI+, 31 foram eleitas no pleito de 2018¹. Pela primeira vez um candidato assumidamente gay foi eleito para ocupar uma cadeira no senado, Fabiano Contarato (Rede-ES) obteve 1.117.039 votos no Espírito Santo². Pela primeira vez uma candidata transsexual foi eleita deputada estadual em São Paulo, Erica Malunguinho (PSOL-SP) recebeu 55.223 votos².

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Pela primeira vez uma candidatura coletiva, composta por 9 ativistas, incluindo Erika Hilton, uma mulher transvestigenere negra, concorreu a um cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo, a Bancada Ativista (PSOL-SP) foi eleita com 149.844 votos². Pela primeira vez, um grupo de 5 mulheres, incluindo Robeyoncé Lima, uma das primeiras transexuais do norte e nordeste do país a usar o nome social na carteira da OAB, é eleito para legislar na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o Juntas (PSOL-PE) foi eleito com 39.175 votos². Por outro lado, o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz afirmou ao El País que foi eleito o “(...) Congresso mais conservador desde a redemocratização”. E o próprio presidente eleito com 55,13% dos votos válidos, Jair Messias Bolsonaro (PSL-RJ) fez diversas declarações contra as minorias nos seus mais de vinte anos de vida pública. Em discurso de 2017, ele disse: “(...) vamos fazer o Brasil para as maiorias, as minorias têm que se curvar as maiorias, as leis devem existir para defender as maiorias, as minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”. No dia 26 de outubro de 2018, após a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, num país dividido entre o progresso das conquistas em favor das minorias e o conservadorismo, a equipe da Fearless Magazine (integralmente formada por pessoas LGBTI+) respondeu o que pensa da política brasileira e o que espera dos próximos 4 anos:

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Em uma palavra, o que você sente da atual política brasileira? Insegurança

medo Receio

Desafio Esperança

Repulsa

medo

Retrógrada

Vergonha

Tristeza

medo

Injustiça

Desrespeito

medo

Ímpeto

medo

União

Crise Dificuldades Bagunça Luta

Reconciliação

Tragédia Resistência

Ódio

Arrependimento

Segurança

Responsabilidade

Corrupção

Caos

Oposição

Impunidade Erros

Sobreviver Conscientização

Repressão

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Perseguição

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Em até quatro palavras, o que você espera dos próximos 4 anos da política brasileira?


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Em meio ao medo e a esperança, o que as eleições de 2018 significam para quem é LGBTI+? O sociólogo e coordenador da campanha da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Pedro Serrano considera que é possível ter esperança para resistir e lutar nos próximos quatro anos, apesar do crescente medo perante o consequente florescimento do conservadorismo no país. “A renovação dos parlamentos em 2018 reforça os extremos políticos. Tanto a esquerda, uma esquerda contundente, radical no bom sentido da palavra, que não vende as suas pautas. Quanto a extrema-direita que acabou pegando carona no “bolsonarismo”. Por isso, é importante que a gente fortaleça o enraizamento social da esquerda, uma esquerda que é coerente, e que não faz somente a luta parlamentar, que é sempre o mais difícil, mas também uma ressonância das lutas que estão acontecendo nas ruas”, contou Pedro em entrevista para Fearless Magazine. O sociólogo avalia o crescimento da extrema-direita como uma resposta a expansão das conquistas adquiridas pelas minorias nos últimos anos e acrescenta: “Se a gente olhar o resultado das eleições, é possível afirmar que nós teremos um país mais conservador, mas o compasso da política eleitoral e a sociedade real nem sempre é ajustado”.

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“ Não é porque aconteceu uma eleição com resultados preocupantes que dei-

xa de existir a primavera feminista que começou contra o Eduardo Cunha e segue enfrentando o Bolsonaro. Não é porque os conservadores cresceram nas eleições que os LGBTI’s vão voltar para o armário ou deixar de sair do armário. A população negra não vai deixar de denunciar o racismo, de se empoderar, de seguir o exemplo da Marielle Franco. O legislativo pode sair mais conservador, mas a sociedade sai polarizada, sem perder o acúmulo do empoderamento dos setores oprimidos ”, afirma Pedro Serrano. Por décadas, a população LGBTI+ ficou marginalizada aos guetos da sociedade. Situação que não é diferente na política partidária, representada por parlamentares que refletem um país preconceituoso (a cada 19 horas um LGBTI+ é assassinado por homotransfobia no Brasil⁴) comandado por oligarquias de famílias de políticos profissionais (33,5% dos deputados eleitos em 2018 possuem algum vínculo familiar com outro político⁵) e religiosos (84 deputados e 7 senadores eleitos em 2018 são da bancada evangélica⁶). Até pouco tempo, Jean Wyllys (PSOL-RJ) era a única figura abertamente gay que lutava por pautas de interesse da população LGBTI+ no congresso. Em 2007, Clodovil Hernandes fez história como o primeiro homossexual assumido a ser eleito deputado federal. Entretanto, “(...) ele não levou essa discussão para o Congresso Nacional” e “(...) ia a público se colocar contra as bandeiras do movimento”, como declarou Jean Wyllys em entrevista concedida para revista Veja na ocasião da conquista do seu primeiro mandato como deputado em fevereiro de 2011.

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MATHEUS COSTA @CTRLSHIFTM FORTALEZA 0123


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De acordo com Silvia Aguião Rodrigues⁷, doutora em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o primeiro movimento político brasileiro em favor dos direitos dos homossexuais surgiu em plena ditadura militar. Entre 1978 e 1981, o Somos - Grupo de Afirmação Homossexual articulou iniciativas de representatividade por meio do jornal Lampião da Esquina, a primeira publicação impressa do país com circulação nacional a tratar de assuntos ligados ao universo LGBTI+.

movidas sobre o PL. 1151, de 1995”⁹. Em janeiro de 2007, após passar pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), o PL. 5252/2001 foi arquivado por conta do término da legislatura em curso.

Em outubro de 1995, a então deputada federal, Marta Suplicy (PT-SP) apresentou o projeto de lei 1151, proposta pioneira que disciplinaria “(...) a união civil entre pessoas do mesmo sexo”⁸. O projeto teria de passar por uma série de comissões antes de ser votado na câmara. Contudo, foi criada uma única Comissão Especial (CESP) para sua discussão. O PL. 1151/1995 foi discutido, rediscutido e em 2001 acabou sendo arquivado depois da criação do PL. 5252/2001, proposta que foi “elaborada a partir das discussões pro-

Em entrevista para Fearless Magazine, o cientista político pela Universidade de Brasília (UnB), Matheus Baccarin considera que os projetos que beneficiaram os direitos da população LGBTI+ vão diretamente de encontro aos “(...) parlamentares que legislam por um maior conservadorismo nos costumes” e “(...) utilizam-se de ferramentas próprias do processo legislativo, como retiradas de pauta, pedidos de vista e votação em destaque, para atrasar o avanço dessas propostas”.

De lá para cá, foram elaborados múltiplos projetos de lei que serviriam para consolidar e legitimar os direitos da população LGBTI+. Porém, todos tiveram o mesmo fim: o arquivamento e consequente esquecimento.

Segundo Pedro Serrano, a demora Diversos outros coletivos fortalepara que sejam aprovadas leis em favor ceram o movimento LGBTI+ do fim dos de pessoas LGBTI+ é uma consequência anos 70 até o início dos anos 90. Surgiram direta da bancada fundamentalista no grupos que organizaram desde levancongresso. “Existe um conjunto de deputates contra o regime militar até ações de dos que atuam quase que exclusivamente conscientização e combate contra a AIDS. para impedir o avanço desse tipo de pauta A inserção de setores voltados especialimportante aos direitos humanos. Não é à mente para o público LGBTI+ nos partidos toa que são quase os mesmos deputados políticos aconteceu em meados dos anos envolvidos em escândalos. Que, para tentar 90, quando o PT (Partido dos Trabalhado- apagar sua atuação fisiológica dentro do res) e o PSTU (Partido Socialista dos Traparlamento, tem uma posição reacionária e balhadores Unificado) começaram a atuar conservadora”, justifica Pedro, que também na criação de políticas públicas e parlanão deixa de culpar parte da esquerda que mentares em prol da população LGBTI+, é favorável, mas “em nome da governabialém de lançar candidaturas de pessoas lidade”, acaba “negociado e rifando esses da sigla. projetos com os setores fundamentalistas”.

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FELIPE FOSTER @FOSTERLANDS SÃO PAULO REALCES

LUCAS MARTINS @IVEGOTNERVE SÃO PAULO 0125


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E como esse cenário poderia ser melhorado? Matheus acredita que com o aumento da representatividade no parlamento: “votar em LGBTI’s nos próximos pleitos é a melhor forma de fazer com que nossas pautas avancem. A pressão e articulação de movimentos sociais é fundamental para pressionar parlamentares, deve-se apostar na ação coletiva tradicional com protestos de rua, mas também em repertórios típicos da era digital, como os tuítaços e comentários em perfis públicos de parlamentares, de modo a buscar amplificação dessas demandas”. Mas caso os empecilhos, dificuldades e percalços ainda inflamem os temores para os próximos anos, não há melhor forma de descrever o uso do medo como arma política do que nesse trecho de Persépolis (Marjane Satrapi, Quadrinhos na Cia, 2007): “Quando temos medo, perdemos o senso de análise e reflexão. O terror nos paralisa. Aliás, o medo sempre foi o motor da repressão em todas as ditaduras”. Existem motivos para ter esperança. Apesar dos pesares, os últimos anos trouxeram esperança no que concerne às políticas públicas que garantem direitos à população LGBTI+.

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Desde 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente a cirurgia de redesignação sexual, além de todo o acompanhamento e procedimentos necessários. Desde 2011, a união entre pessoas do mesmo gênero é reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Desde 2016, é permitido o uso do nome social na inscrição do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), no Conselho Federal de Medicina (CFM) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), além de crachás e formulários de servidores públicos, mesmo que o nome não esteja registrado no registro civil. Desde 2018, transexuais e travestis conquistaram o direito de alterar o nome e gênero da identidade civil sem necessidade da apresentação de parecer psicológico ou laudo médico que ateste a transexualidade. Essas políticas desempenham papel fundamental na qualidade de vida de pessoas como o fotógrafo Vitor Monteiro. “Quando eu peguei a certidão com o meu nome social, me senti muito, muito, muito feliz, parecia que eu tinha nascido de novo. Antes da mudança, era bem ruim viajar a trabalho, fazer check-in em hotéis, muitas vezes não queriam usar o meu nome social, era bastante incomodo. Agora ninguém mais pode falar: “mas qual o seu nome de registro”, porque daqui para frente o meu nome de registro é Vitor”, relata o fotógrafo, que alterou o nome e gênero da sua certidão de nascimento em novembro de 2018. Sobre os próximos 4 anos, Vitor discorre: “Eu fui atrás da troca logo na certidão de nascimento para não ter problemas no futuro, estou com medo de que possa ser dificultado para a gente nos próximos anos. Provavelmente não vamos perder esse direito, mas eu tenho quase certeza que vão dar algum jeito de dificultar. Acredito que os próximos quatro 0126


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anos serão de luta e união. Vamos ter que dar a cara a tapa, mostrar quem somos e ajudar uns aos outros.” Outras duas pessoas que foram diretamente beneficiadas por uma dessas políticas foi o casal formado por Brunno Fróes e Kenjy Sakamoto, os dois assinaram a união estável em dezembro de 2015. “Resolvemos formalizar a nossa união depois de já estarmos 12 anos juntos. A decisão veio de comum acordo quando a união foi aprovada no país. Não nos achávamos menos casados antes disso, até porque o casamento vai para muito além de um papel registrado. Mas sentíamos que era um momento importante para a gente, uma vitória, um reconhecimento. E pensamos racionalmente ao assinar por questões de segurança para os dois. Nunca sabemos o que pode acontecer amanhã e não queremos nos deixar desamparados”, conta Brunno Fróes. Para os próximos 4 anos, Brunno também aposta na necessidade de união: “Com a vitória de um candidato e um governo mais conservador o medo é grande. Medo de viver, medo de perder os poucos direitos que conquistamos. Mas não podemos deixar o medo nos paralisar, não mais. Precisamos nos unir e quebrar os preconceitos. Sem isso, eles vencerão.”

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LARISSA CARDOSO @LARIISSETE RIO DE JANEIRO 0127


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HENRIQUE CANDIDO @HENRIQDESIGNER PERNAMBUCO 0128


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GABRIEL LAUXEN @LAUXENART FLORIANÓPOLIS 0129


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HUGO CRUZ @HG_X SÃO PAULO 0130


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Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, polícias fizeram uma batida violenta no bar Stonewall Inn em Manhattan na cidade de Nova York. Nas horas seguintes, surgiram diversas manifestações que seriam só o começo da luta pelos direitos LGBTI+ nos Estados Unidos. A frente dessa luta estava a ativista Marsha P. Johnson (1945-1992), uma mulher trans que fez da sua vida resistência e lutou até o fim para que os LGBTIs tivessem uma vida digna. Se lá eles tiveram Marsha, aqui nós temos Alexya, Duda, Erica, Erika, Giowana, Hailey, Kátia, Leandrinha, Leonora, Rhayana, Robeyoncé e muitas outras mulheres trans que se candidataram a cargos políticos nos últimos anos e estão a frente da nossa própria resistência tupiniquim. “Minha vida por si só já é o maior ato político que eu posso exercer”, afirma Alexya Salvador (PSOL-SP) em entrevista para Fearless Magazine. Candidata a deputada estadual em 2018, Alexya recebeu 10.486 votos, o que ela considera uma conquista, apesar de não ter garantido o cargo. “Fizemos uma campanha com apenas [R$] 1,500 do fundo partidário. Fui a candidata trans que menos recebeu verba no partido. O resultado me deixou muito feliz tendo em vista os recursos que tive para colocar a campanha nas ruas”.

Com o mesmo desejo de tomar os espaços nasceu a Bancada Ativista (PSOL-SP), candidatura formada por 9 pessoas lutando por um novo jeito de fazer política e “(...) eleger não apenas uma pessoa, mas sim um movimento” voltado para diversas causas sociais. “A bancada ativista surgiu em 2016, como uma página no Facebook indagando as pessoas sobre candidaturas coletivas, sobre eleger ativistas e aí recebeu várias respostas positivas”, conta Erika Hilton para Fearless Magazine. A trajetória como militante de Erika começou bem antes da sua entrada para a Bancada Ativista. Aos 14 anos de idade, ela foi expulsa de casa e começou a se prostituir para se sustentar. Em 2015, aos 22 anos de idade, ganhava notoriedade nacional por lutar pelo direito de ter seu nome social no cartão do transporte público de Itu, no interior de São Paulo. “O empurrão para eu começar na política foi a necessidade de ser respeitada como cidadã, de ter o meu nome respeitado, de saber que a constituição também foi escrita para mim e que não dava para permanecer calada diante de todo o desrespeito, diante de toda violação de direitos, diante daquilo que o sistema faz com os nossos corpos, contra as nossas vidas. Esse foi o meu start para começar, saber que a balança da igualdade precisa ser reequilibrada, que nós precisamos ir para as ruas, precisamos ocupar os espaços políticos, institucionais ou não, se não as coisas não vão mudar”. 0131

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Sua candidatura nasceu da vontade de sentir efetivamente representada “nos espaços de poder”. “Eu entendo que somente dessa forma podemos ter a manutenção dos nossos direitos garantidos”, explica Alexya.


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GREGORY LAGO @GREGORYLAGO BELÉM DO PARÁ 0132


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GABRIELA TORNAI @GABRIELATORNAI_ MARINGÁ 0133


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Em 2016, Erika saiu como candidata a vereadora de Itu, porém teve sua candidatura indeferida um dia antes das eleições, o que ela classifica como “(...) um golpe político”. O convite para entrar na Bancada Ativista veio por conta do seu histórico de militância. “Eles perguntaram se eu não tinha interesse e eu achei a proposta muito interessante, fiquei um pouco receosa no começo, mas depois vi que tinha potencial. As pessoas estão cansadas dessa hierarquização dentro da política que está centrada na figura de um deputado, que são essas pessoas inacessíveis. As pessoas querem uma renovação. Nós não tivemos dinheiro, não tivemos grande marketing, foi na rua que tudo aconteceu. E o recado das ruas era para a gente fazer a diferença, a gente não quer mais as velhas raposas que fazem a velha política, daquela velha guarda que não inova, não renova”, conta Erika.

Em relação ao grande número de candidatos conversadores que também ganharam as eleições em 2018, Erika acredita que seja uma indignação “(...) da extrema-direita contra a assenção das dissidências, que são chamadas as minorias, mas não são minorias e a gente sabe bem disso”, e diz que a Bancada Ativista pretende resistir contra esse levante do conservadorismo de forma estratégica e prudente “(...) fazendo as coisas da melhor forma possível, sendo resilientes diante dos obstáculos. Buscando sempre a diplomacia, o bom diálogo, mas entendo que eles estão aí para incomodar e isso é irrevogável”. Erika vê dificuldades para os próximos 4 anos, mas espera engajamento das minorias. “Eu espero que os próximos quatro anos sejam de muitas tomadas de direitos, muita incitação ao ódio, a barbárie, a ignorância, o Bolsonaro quer uma sociedade alienada, que não consegue entender as coisas. Mas eu também vejo um momento de muita união das dissidências, muita força e muita resistência”.

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STÉFANI PIETCZAKI CORACINI @HARDIYCORE LONDRINA 0135


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COLABORE EM NOSSA PRÓXIMA EDIÇÃO A fearless mag é uma publicação independente e colaborativa, e está sempre aberta para novos nomes! Se você é LGBTI+ e fotógrafo, ilustrador, quadrinista, design, jornalista, estilista, produtor, diretor, etc... nós queremos publica-lo. Envie seu trabalho e algumas informações sobre você para

contato@westandfearless.com e aguarde nosso contato!

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AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer ao Teatro Centro da Terra, a Universidade Anhembi Morumbi e ao Memorial da Resistência de Sao Paulo, por nos cederem o espaço e direito de imagem para nossas matérias e ensaios. A toda a equipe de modelos e convidados por participarem. Aos artistas que disponibilizaram o uso de suas criações para ilustrar a matéria “Os próximos 4 anos”. Aos nossos colaboradores e a vocês, nossos leitores.

Centro da Terra www.centrodaterra.com.br Rua Piracuama, 19 Memorial da Resistência de Sao Paulo www.memorialdaresistenciasp.org.br Largo General Osório, 66 index assessoria www.indexassessoria.com.br Rua Augusta, 2840 - 6° andar Morena Rosa www.morenarosa.com.br Minha Avó Tinha www.instagram.com/minhavotinha Rua Tome de Souza, 100

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Heloisa Faria www.heloisafaria.com.br Rua Harmonia, 342

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ENDEREÇOS


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referências

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ANTECEDENTES DA OPERAÇÃO TARÂNTULA NO ESTADO DE SÃO PAULO FERNANDES, Marisa. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Julia Gumieri em 24/08/2017. TREVISAN, João Silvério. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Julia Gumieri em 06/10/2016. GREEN, James Naylor. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Julia Gumieri em 24/11/2016. CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Justificativa PL 0225/2017 Secretaria de Documentação. 2017. Disponível em: <http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/justificativa/JPL0225-2017.pdf> MINISTÉRIO DA SAÚDE. História da AIDS. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/ pt-br/centrais-de-conteudos/historia-aids-linha-do-tempo> ACERVO BAJUBÁ MEMÓRIA LGBT. Chana com Chana. Disponível em: <http://acervobajuba.com.br/?s=chanacomchana> 8 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DA MULHER. A Negação da Sexualidade. Chana com Chana. Grupo ação Lesbico-feminista, São Paulo. 2ª edição. 8 de março de 1980. PLANALTO. Decreto-Lei Nº 3.688, de 3 de outubro de 1941. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm> CONOFRE Fernanda e PEREIRA Cledivânia. Sobrevivi diz vítima de Operação da policia de caça a travestis há 31 anos. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2018/01/1951067-sobrevivi-diz-vitima-de-operacao-da-policia-de-caca-a-travestis-ha-31-anos.shtml> GRUPO DIGNIDADE. Lampião da esquina. Disponível em: <http://www.grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/> ENTREVISTAS. Lampião da Esquina. 2 travestis dão depoimentos vivo sobre o sufoco paulista. Rio de Janeiro. 3ª Extra. 1980.

MULHERES NEGRAS E A CENSURA DA VIDA ¹ FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na sociedade de classes. 3ed. São Paulo: Ática, 1978. ² https://www.geledes.org.br/onde–estavam–as–mulheres–negras–na–ditadura–militar/ ³ http://www.institutobuzios.org.br/documentos/KARIN%20SANTANNA%20KOSSLING_Movimento%20Negro%20sob%20vigil%C3%A2ncia%20do%20DEOPS.pdf

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OS PRÓXIMOS 4 ANOS

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¹ Dados da Aliança Nacional LGBTI+, Disponível em: http://aliancalgbti.org.br/eleicoes2018/. ² Dados da Gazeta do Povo, Disponível em: https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/candidatos/. ³ FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. 3ª Edição Revista e Ampliada, Rio de Janeiro, 1993. ⁴ Dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-01/levantamento-aponta-recorde-de-mortes-por-homofobia-no-brasil-em. ⁵ Dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Disponível em: https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/28527-eleicoes-2018-bancada-de-parentes-cresce-na-camara-dos-deputados. ⁶ Dados da Agência Brasil, Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/em-crescimento-bancada-evangelica-tera-91-parlamentares-no-congresso. ⁷ AGUIÃO, Silvia. Fazer-se no “Estado”: uma etnografia sobre o processo de constituição dos “LGBT” como sujeitos de direitos no Brasil contemporâneo. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP, 2014. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/281317. ⁸ Dados do site da Câmara, Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=16329. ⁹ Dados do site da Câmara, Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=32823.


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