Escola para quem quer, Escola para quem precisa

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ESCOLA PARA QUEM QUER, ESCOLA PARA QUEM PRECISA1

Wellington V. Fochetto Junior

Para Suellen N. Amaral e todos os meus ex-professores (do Fundamental II à pós-graduação latu sensu)

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1. A presente crônica, construída com algumas rimas, é uma espécie de esboço que eu, o autor, resolvi postar na internet, para pedir a opinião de alguns colegas. Eu pretendia, na verdade e originalmente, escrever um ensaio sobre a questão escolar quanto ao que deveria ser aprimorado durante as aulas. Todavia, uma possível voz de adolescente, dentro de mim, implorou que eu antes compusesse um texto de aspecto mais voltado ao lúdico, ao poético, ao infanto-juvenil. Deve ser alguma coisa que me prenda ao passado. 2. Desejo expressar minha gratidão à Professora Suellen Nardin Amaral, com quem trabalhei nos anos de 2009 e 2010, na E.E. Pe. Simon Switzar. Ela foi uma das pessoas mais incríveis – pelo seu trato com os colegas de trabalho, sempre disposta a ajudar. E porque, certa feita, enviara, para vários colegas, um SMS com dizeres que tocavam o coração dos mais sensíveis como eu. Naquela curta mensagem de texto a gente era parabenizado, em pleno 15 de outubro, pela importância de nosso trabalho na educação (e instrução) de jovens que tanto precisavam de um pouco de Luz em suas vidas. Sem expressar nossa gratidão a todos os que, de uma forma ou de outra, quase sempre se provaram amigos e forças extras em nossa vida profissional, como sentirmo-nos no direito de prosseguir neste caminho árduo, longo e complicadíssimo que é a profissão de lecionar a uma parcela de adolescentes, jovens e adultos que contam com a gente para aprenderem algo de útil nesta vida tão conturbada, difícil e incerta que tão bem conhecemos e tão mal compreendemos?


PARTE I

1. Saída de casa

Acordei. É cedo. Mais um dia. Haverá sol – sorrisos, piadas, alegria. Meus amigos irei encontrar. Entrar na escola – quem sabe estudar. Prova? Uma ova! Nem pensar!

2. Portões da escola

Cheguei. Na hora. Nossa, cheio de gente. Parece até balada: uns se divertindo tanto; outros, nada. O negócio é esperar... Meus amigos – quatro, cinco, seis... Posso vê-los, quase todos, de uma só vez.

3. Corredores

Há gente demais. Uns reclamando – “ai isso”, “ai aquilo”, “ai mais ou menos”, “ai menos ou mais” –, outros rindo. Imagino que eu esteja no lugar certo. Entrei sério, sairei


rindo. A vida passa por aqui, todos os dias, segunda à sexta. Verdade. Anos que marcam a vida da gente, sabe? Um dia estarei no corredor da faculdade – só espero não chegar tarde. Sem problemas: a gente “vai indo”, como diz o outro...

4. Sala de aula

O povo se ajeitando, pouco a pouco. Nem bateu o sinal, alguns professores já vêm – parece, pela pressa deles, que será o Juízo Final... Mas a gente já se acostumou; não faz mal.

O professor de Matemática, o Rogério, é sério. Quase não fala nada. Explica tudo, o quanto precisar. Só parece meio sisudo – do tipo que não topa brincar...

O de Geografia, Márcio, parece um sujeito surdo: a gente tem que gritar com ele para sermos ouvidos. Se não, ele entra calado e sai mudo.

O de Português, o Locão, é misterioso e estranho. Parece ter vindo de outro mundo, com seu visual diferente, sua


barba eriçada e sua inteligência desse tamaaanho... Esse deve ser o mais infeliz: de suas aulas quase não se entende nada. Nada do que ele fala, muito menos do que ele diz. Mas parece ser um cara interessante, do ponto de vista da ciência: seria ele um cientista da linguagem, em busca de compreensão dos mistérios da consciência? Sei não. Suas aulas são um misto de chatice, escuridão e eloquência: às vezes não saem da mesmice. Outras, parecem presas ao chão. Em outras, ainda, parecem discursos de demência. Mas há quem goste dele – gosto não se discute. É o povo mais inteligente da sala – que tem até comunidade científica no facebook...

A professora de Arte, Maria, é uma gracinha. Queria namorar com ela – pena que ela não queira ser minha...

O de Física, Elias, é um dos mais legais. Ensina muito à gente – nunca permitindo que sentemos no fundo da sala, junto dos que não fazem nada de mais.


PARTE II

1. Professor saindo de casa

O exercício docente começa bem cedo, fim da madrugada. Quando o sol percorre os confins do Universo, numa viagem cósmica e alucinada. Bola ígnea, parece a insígnia dos que esperam pelo brilho derradeiro da profissão docente: formar seres humanos incríveis, cientes de seu papel no mundo e que merecem ser reconhecidos como Grande Gente.

2. Caminho

Vivem os professores numa jornada infinita: sua vida, agitada, um misto de livros e papelada, em algum ponto da viagem apita. Sinal de que sua voz, calada, é cutucada pelo seu coração, que grita.


3. Sala dos professores

Ali há riso e romper de paradigmas: planejar as melhores aulas, desfazer todos e quaisquer estigmas.

4. Sala de aula, professor-turma: aqui uma aula são todas, todas aulas são uma

5. Interválido

Tempo para comer. Para brincar. Para brincorversar sobre várias coisas – sem tempo para matar...

6. Sinal de fim de período

Bom dia, amigos. Boa tarde, gente. A gente se vê amanhã. Ontem. Hoje. Sempre.

Poá (São Paulo), noite de 12 de maio de 2014


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