O GÊNERO TEXTUAL SUGESTIVO: INVENÇÃO NEOLÓGICA OU ENTE REAL?1
Wellington V. Fochetto Junior2
Verbos no infinitivo apresentam-se em sua forma pura, isto é, sem a transformação que consiste na conjugação. Não indicam pretérito, presente nem futuro. A partir dessa brevíssima observação, peguemos o exemplo da letra da canção Revolver, do músico Walter Franco, para, em seguida, partirmos a uma análise de como a interpretação textual pode, entre outros resultados, gerar frutos como a descoberta de novos (sub)gêneros textuais.
Lembrar de esquecer Esquecer de lembrar Cansar de dormir Dormir descansar Sorrir de doer Doer de sangrar Sangrar de morrer Morrer de lembrar Lembrar de esquecer Esquecer de lembrar Cansar de dormir Dormir descansar
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Tratam-se de notas para um futuro artigo sobre o tema. Bacharel em Publicidade e Propaganda (Universidade Braz Cubas, 2001); licenciado em Letras – Português (Centro Universitário Claretiano, 2007) e especialista em Saberes e Práticas em Língua Portuguesa (AVM Faculdade Integrada, 2014). Professor titular de Língua Portuguesa da Rede Pública de Poá, SP. 2
Trata-se de um texto prescritivo, qual gênero receita de bolo. Malgrado apresente instruções, difere do texto injuntivo justamente por este outro tipo trazer os verbos no modo imperativo (“Lembre-se de esquecer / Esqueças de lembrar...”). Nada impede, por outro lado, de atribuirmos a essa letra de música o gênero textual “sugestivo”, embora isso possa implicar certa discussão marcada por objeções por parte de leitores, literatos (linguistas e gramáticos) e críticos de literatura. Os traços de sugestão, contidos em cada linha, cada verso da letra, o são pela forma infinitiva dos verbos. Sem passar pelo processo conjugação, permanecem como que numa vitrine, expostos a quem tiver tempo e interesse em lê-los, compreendê-los, assimilá-los.
Como já dissemos, se não couber o termo “gênero textual sugestivo”, atentemos ao menos para o subgênero sugestivo. Ora, se o aspecto de sugestão subjaz ao gênero prescritivo, nada nos impede, pelos exemplos aqui fornecidos, de propormos essa criação de um novo gênero. Se a linguagem, entendida como uma das mais significativas, brilhantes e efetivas invenções humanas, o emprego da interpretação textual, em concordância com o objeto de análise, constitui recurso expressivo. Principalmente quando se busca a ampliação das possibilidade de leituras diversas. Esta que fizemos aqui, longe de ser um primor, se entendida como um pequeno esforço, pode servir como referência para futuras e eventuais leituras. Isto posto, deixemos aberta a questão para novos estudiosos da área darem continuidade a esta modesta investigação que nos propusemos fazer aqui.
REFERÊNCIA
Walter Franco – Revolver. Disponível em: <http://letras.mus.br/walterfranco/1096890/>. Acesso em: 23 nov. 2014.