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HEXAGRAMA 55: LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA
Yi Jing
HEXAGRAMA 55: LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA
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JULGAMENTO:
“LIDANDO COM A ABUNDÂNCIA exerce-se influência, mas um rei afasta-seb dela sem lamentar-se [porque é] correto como o sol ao meio-dia.”
Este hexagrama revela, para quem o obteve, uma situação de prosperidade crescente ou de plenitude, de abundância material e/ou espiritual: há o sentimento de que as coisas se realizam e completam, de que não falta nada, satisfação total. As pessoas que estão vivendo essa situação de enriquecimento abundante podem ter ou não ter consciência dela. O arranjo feliz das circunstâncias pode não ser ainda aparente ou não se ter assentado de todo, mas o momento existe, presente ou latente: com relação ao assunto da consulta, as coisas ou já estão em ou se dirigem para um estado de completude positiva. Podem-se distinguir três situações básicas para o consulente: a) Se a pessoa tirou apenas este hexagrama na consulta, o oráculo para ela é principalmente uma mensagem afirmando que está tudo bem e recomendando que a pessoa aproveite as coisas boas do presente ao invés de lamentar que elas um dia passarão. Do mesmo modo, a pessoa não deve se preocupar em aumentar a abundância material ou prolongar a plenitude espiritual, porque isso poderia levar ao excesso que, como todo desequilíbrio, é prejudicial e é um risco que existe na situação. b) Se este hexagrama saiu como segundo na consulta, é sinal de que um período de plenitude, de ausência de motivos para preocupação, deverá seguir-se às circunstâncias indicadas pelo hexagrama obtido primeiramente. Uma vez atingido aquele estágio, valem também para este consulente as recomendações da situação a. c) Se este hexagrama saiu como primeiro da consulta, com linhas mutantes, a mensagem é de que a situação de plenitude ou já é presente ou é iminente, e novamente vale o conselho para usufruir tranquilamente a situação, porém atentando antes ao que é revelado ou recomendado pelas linhas que lhe saíram. Tudo indica que a época da abundância ou a sensação de plenitude é passageira, não vai durar para sempre, está inserida no movimento geral da vida e por isso será alterada, mas não necessariamente para pior. As
Yi Jing coisas não são estáticas, estão sempre em movimento, sempre em mutação, e cabe à pessoa tirar o melhor partido de cada momento, de cada etapa do processo. Isso fará com que ela usufrua plenamente aquele momento e constituirá uma preparação para o momento seguinte que será, naturalmente, outro, diferente. A tendência dos fatores ora reunidos é se expandirem e depois se dispersarem, na sua evolução normal. Isso exigirá ações, providências, desprendimento de energia para o alcance de objetivos que por ora não se impõem, para a superação de obstáculos que por ora não aparecem. Então não é para se preocupar com isso por enquanto. O sujeito da consulta é comparado a um rei que, tendo atingido um ápice, se engrandece ainda mais, e a um sol que atinge o zênite, duas personagens que expressam poder, abundância, manifestação plena e abrangência, e é nisto que a pessoa deve pôr o seu empenho no momento: em usufruir da sua posição favorável e compartilhá-la com os outros, em expandir-se, expressar-se, ser ela mesma inteiramente, com toda a liberdade e despreocupação. O oráculo mostra ainda que a abundância e a grandeza se originam da ação dirigida pela clareza do raciocínio.
IMAGEM: "Trovão e relâmpago atingem o máximo, a imagem de LIDAR COM A ABUNDÂNCIA.
Assim, o sábio decide os processos e executa as penas."
A Imagem recomenda que, tão logo se atinja o ponto culminante em um determinado setor da vida, trate-se de eliminar correta e rapidamente qualquer problema pendente, fazendo o que tiver de ser feito contra os responsáveis, porque o momento da plenitude é, via de regra, tão raro, passageiro e precioso que não se pode permitir que seja perturbado por questões conflituosas ou desagradáveis. Para garantir a rapidez e eficiência no cumprimento das suas determinações, a pessoa deve agir com tal vigor que impressione e até infunda um certo medo naqueles que devem atendê-la. E para garantir a correção e justiça das suas determinações, a pessoa deve ter uma visão clara e nítida de todos os elementos em questão. Se, entretanto, a época da abundância ainda não se instaurou, a Imagem é um conselho para que os assuntos pendentes sejam resolvidos com rapidez, eficiência, correção e justiça, a fim de criar o ambiente propício para atingir e viver adequadamente uma situação de prosperidade, abundância e plenitude.
1ª LINHA (9):
Yi Jing
“Encontra seu parceiro e senhor. Se for só por dez dias não há erro; avançar, ainda que desordenadamente,b traz elogios.”
O oráculo para quem obteve esta linha é, em princípio, favorável. A pessoa a quem a linha se refere encontra alguém com quem possui afinidade, com quem se identifica, e ambos se dão apoio mútuo.
Provavelmente um dos dois é o sujeito da consulta. Além do grande entrosamento entre eles, cada um ainda mantem, por si mesmo, boas relações com as pessoas do seu círculo mais próximo. A união é corretíssima. Por isso a ação, tanto em busca da união - se ainda não concretizada no momento da consulta – quanto decorrente da união, também será correta, durará o tempo devido, terá bom resultado e obterá reconhecimento. Porém, tentar prolongar indefinidamente uma dedicação exclusiva poderá ser prejudicial. O que a pessoa desta linha não deve fazer, no momento, é tentar agir por conta própria na busca de coisas importantes, porque isso não daria certo. Daria errado. Em resumo, a pessoa da 1ª linha encontra ou busca satisfação plena num relacionamento, num convívio agradável e proveitoso para todos os envolvidos, seja na família, no trabalho, no amor, na política, na área em que for. Deve tratar de usufruir dos benefícios dessa associação, tanto no repouso quanto na atividade, sem se preocupar com a sua duração.
2ª LINHA (6):
“Suas cortinas são tão abundantes que ao meio-dia vê a Ursa Maior. Avançar desordenadamente gera dúvidas e sofrimento, mas tendo confiança parecem sumir; benéfico.”
A 2ª linha do hexagrama 55 mostra alguém que, embora estando no meio da claridade, não consegue ver. Para essa pessoa a situação está completamente enevoada, confusa, e ela só consegue vislumbrar a resolução da questão que a levou à consulta como algo muito distante e impalpável. A pessoa está no meio-dia e se comporta como se estivesse à noite. Se tentar agir imbuída desse estado de espírito sua ação não terá bom sucesso. Pode ser que seja a sua própria insegurança que acaba gerando, nos outros, principalmente naqueles que detem o poder, falta de confiança na sua capacidade e falta de valorização da sua pessoa. O fato é que existe uma interferência negativa de terceiros atrapalhando a relação da pessoa da 2ª linha com os poderosos da situação e, consequentemente, dificultando-lhe o alcance dos objetivos. Para alcançar o que deseja a pessoa deve, antes de mais nada, afastar todas as cortinas, para ver e mostrar francamente o que quer. Ela verá que o que quer não é tão inatingível assim: pelo contrário, é mais
Yi Jing acessível do que pensa. Do mesmo modo, verá que os poderosos não são tão poderosos assim: por trás da sua posição são pessoas como ela, que tem suas fraquezas e são capazes de sensibilizar-se. Depois, ela deve ver que a sua situação pessoal não é de desvalia e abandono: ela é racional, equilibrada, e possui amigos ou, pelo menos, bons relacionamentos. A sua posição é boa, dentro das circunstâncias. E, finalmente, ela deve atuar sendo ela mesma, em toda a sua inteireza, sem se preocupar com opiniões próprias ou alheias, encaminhando-se suave e discretamente na direção desejada, com naturalidade, sem desistir nem forçar. Deve lembrar-se do JULGAMENTO deste hexagrama e ser "como o sol ao meio-dia.”
3ª LINHA (9):
“Seus véus são tão abundantes que ao meio-dia vê espíritos malignos e monstros; quebra seu braço direito, mas não erra.”
A pessoa da 3ª linha tem que se virar sozinha, porque perde seu apoio principal e não vai recuperá-lo tão cedo. Ela não tem culpa dessa carência que a impede de agir por um certo tempo. No momento ela se julga perdida: quer avançar mas não vê mais o caminho e assim não pode fazer o que importa. Não há pessoas ou elementos que possam ajudá-la. Aquele que poderia ajudá-la afastou-se e fechou as portas, não só para ela, mas para todos. Perto dela, aqueles com quem mantém relações são fracos e estão ocupados com seus próprios interesses. Se ela conseguir superar o choque de se ver sozinha, constatará que, apesar dos danos sofridos, não está realmente perdida ou sem saída no escuro. É o enredamento em que se meteu que está lhe obstruindo a visão do real e provocando a visão de problemas imaginários: além do pântano o sol brilha, é meio-dia e ela está no meio-dia. Ela possui as capacidades de percepção, penetração e expressão. Assim, deve armar-se dessas habilidades e aguardar a ocasião de agir, sem se angustiar.
4ª LINHA (9):
“Suas cortinas são tão abundantes que ao meio-dia vê a Ursa Maior, [mas] encontra seu igual e senhor. Bbenéfico.”
Para o sujeito desta linha o oráculo distingue dois momentos consecutivos, podendo ser um passado e um presente, ou um presente e um futuro. O 1º momento mostra a pessoa numa situação de inação e de falta de perspectiva, num estado de espírito pessimista, achando tudo muito difícil e obscuro. Essa negatividade deve-se a que a pessoa não encontra, por si mesma, um direcionamento a dar a seus impulsos de ação e
Yi Jing expressão - sentindo desejo de agir e de falar - e ao fato de que ela não tem, junto a si, alguém ou algo que lhe possa dar esse direcionamento com firmeza e segurança. O 2º momento mostra a pessoa encontrando alguém a quem se sente ligada pelas afinidades que existem entre eles, e que é capaz de dar um direcionamento e um sentido à sua ação. Estabelece-se a comunicação e a cooperação entre os dois. Crescimento, em todos os sentidos, é atingido através desse relacionamento. A ação a partir daí pode desenvolver-se e há uma grande probabilidade de bom sucesso no assunto da consulta. Na verdade, o caminho para a atuação da pessoa da 4ª linha já era visível desde o início; ela é que não o enxergava, devido a bloqueios e conflitos internos seus. Na continuação, a pessoa atinge a compreensão daquilo que a estava tolhendo, que a impedia de ver e de agir, e liberta-se definitivamente daqueles problemas, deixando-os para trás e seguindo seu caminho.
5ª LINHA (6):
“Chega manifestando-se, recebe consolo e elogios; benéfico.”
O oráculo desta linha é extremamente favorável. A pessoa está numa posição privilegiada, de quem realmente atingiu a culminância em algum empreendimento específico ou em algum setor da vida. Porém mantém a modéstia, apresenta-se igual aos outros em geral. Ela possui grande capacidade de comunicação e um poder de penetração carregado de otimismo, que se infiltra mesmo por entre barreiras e atinge os mais distantes. Quando há alguma afinidade entre ela e as pessoas abrangidas pela sua influência, estas se tornam valiosos aliados seus e a ação conjunta gera um resultado que satisfaz a todos plenamente. Assim a pessoa da 5ª linha se enriquece abundantemente pela reunião e também pela dispersão de fatores positivos, os quais podem ser de ordem pessoal, social, material, etc., dependendo do assunto da consulta. Com isso ela assegura a evolução natural da abundância e evita o exagero, o que é bom porque a abundância necessita ser compartilhada, caso contrário o acúmulo contínuo geraria o excesso, que acabaria por derrubar-se a si mesmo devido ao seu “peso” excessivo. Outra característica do sujeito desta linha é que ele se mostra, se manifesta, não se esconde, mesmo no auge da riqueza ou do sucesso, e com isso consolida mais ainda o apoio dos que o cercam e até dos que estão mais distantes, talvez só o conhecendo por intermédio de outros.
Yi Jing Neste momento especial de plenitude, a pessoa da 5ª linha deve simplesmente usufruir da sua felicidade, compartilhando-a com quem de direito. Deve gozar a satisfação de ser quem é e de estar onde está. Deve ser ela mesma integralmente, sem se preocupar com problemas que não existem e tratando de decidir rapidamente a solução dos que existam e estejam pendentes, eliminando a possibilidade de que venham a interferir na harmonia reinante. Na continuação, as suas possibilidades de ação e de expressão aumentam, como convém a uma situação de crescimento. A ação consolida-se: passa de um movimento rápido, quase impulsivo, para um movimento forte e consolidado, que atrai seguidores. A própria pessoa torna-se mais forte e mais bem relacionada, e percebe que, de fato, efetuou-se uma mudança no assunto que originou a consulta ao oráculo e que ela está no controle dos acontecimentos (ou deve assumir o controle) ao invés de ser conduzida por eles.
6ª LINHA (6):
“Sua casa é exuberante e segrega sua família. Espia pela porta e, desolado pela solidão, por três anos não enxerga. Prejuízo.”
A 6ª linha representa o egoísmo na abundância. A pessoa a quem se refere esta linha está, como as outras indicadas pelo hexagrama, numa situação de crescimento abundante, quase atingindo a plenitude no assunto da consulta. A recomendação geral, para quem está na abundância, é o compartilhamento, a expansão e a manifestação plena; no entanto, é exatamente o contrário disso que a pessoa faz: ela retém só para si os seus bens, se esconde, não se comunica francamente com ninguém. Seu comportamento é antissocial, desconfiado e egoísta. O resultado disso é o isolamento e a infelicidade - inclusive a própria infelicidade de não viver plenamente a abundância – os quais tendem a se prolongar por bastante tempo. A tendência é de haver, no futuro, talvez quando a pessoa envelhecer, uma alteração nas suas condições que a leve a perder autonomia e a ter dependência de outros, provavelmente forçando-a a desenvolver um pouco de humildade e amplitude de visão. Pode ser então que ela tome consciência do quanto sua atitude anterior estava errada e entre num processo de revisão dos seus atos.
Yi Jing
HEXAGRAMA 56: VIAJANDO PELO EXÍLIO
JULGAMENTO:
“VIAJANDO PELO EXÍLIO exerce-se pouca influência,b [mas] a insistência do viajante é benéfica.”
Embora este hexagrama possa, eventualmente, vir em resposta a uma questão específica sobre viagens ou mudanças de lugar, de situação ou de tempo, é muito frequente que ele venha em resposta a circunstâncias existenciais onde a pessoa está fora do seu lugar próprio. Tudo lhe é estranho e meio incompreensível. A sua necessidade de ligação e aconchego fica truncada: ela depende apenas de si mesma, conta apenas consigo mesma e o movimento - ainda que sem um objetivo definitivo - é a solução para as situações que se tornem pesadas ou opressivas. Pouco ou nenhum apoio e pouca ou nenhuma influência caracterizam a face exterior da atuação da pessoa: ela não pertence àquele contexto, e nada ali lhe pertence, exceto ela mesma e o que faz parte dela, a sua bagagem pessoal - suas habilidades, suas memórias, seus anseios e sentimentos, seu carisma, suas crenças, etc. Solidez e tranquilidade internas, do eu, aliadas a um estado alerta de percepção do mundo e energia para agir conforme as possibilidades são os requisitos necessários para atravessar este momento sem se deixar desestruturar por quaisquer excessos que possam estar presentes nas vivências que se apresentam ao viajante, ou ao buscador. Resumindo, este hexagrama mostra o transitório, o precário e, de certo modo, o desarmônico de uma situação, que pode tanto ser uma situação passageira, inclusive de viagem ou de busca, como a própria situação vital da pessoa.
IMAGEM:
“Sobre a montanha há fogo: a imagem de VIAJAR PELO EXÍLIO.
Por isso o sábio é claro e cauteloso ao aplicar castigos e não paralisa os processos.”
A situação é transitória, a pessoa é passageira: ela está naquele tempo e lugar mas não pertence àquele tempo e lugar.
Yi Jing Reconhecendo a transitoriedade e precariedade da sua condição, a pessoa torna-se muito escrupulosa ao ter de punir ou criticar alguém ou a si mesma, e não se detém em disputas, litígios, questões controversas, mas procura fazer com que se resolvam rapidamente, para libertar-se dos entraves e seguir adiante.
1ª LINHA (6):
“Viajando pelo exílio frivolamente, desta forma colherá desgraças.”
Esta linha mostra a pessoa que avança por avançar, sem saber bem por que nem para que. Agir desse modo, sem motivação verdadeira, é muito mau para a pessoa, pois a faz perder a vontade e a determinação que a levaram à ação, e ela cai numa confusão indecisa. Seria preferível, neste caso, a pessoa ficar onde já está: no lugar, no ponto, na casa, no cargo, na relação amorosa, etc. onde já se encontra. Nem sempre a dependência é um mal e a independência, um bem: neste caso, para esta pessoa, parece que é preferível manter os laços atuais, pelo menos até que esteja mais madura ou mais segura para procurar outra coisa ou para prosseguir sozinha.
2ª LINHA (6):
“Viajando pelo exílio chega a uma pousada; abraçando suas posses consegue a fidelidade de um jovem ajudante.”
A pessoa alcança algum resultado positivo em sua atuação: ela consegue avançar um pouco no pertencer e no possuir, e consegue, inclusive, iniciar ou reafirmar um relacionamento no qual ela é o elemento mais importante, aquele que exerce maior influência, sendo o outro talvez apenas um auxiliar ou um companheiro passageiro, que tem um papel limitado na vida do sujeito da consulta. A pessoa terá alguma ansiedade a respeito desse relacionamento, porque, embora em princípio haja substância a ser desenvolvida entre os dois, a aproximação real não ocorre, seja devido à transitoriedade, seja devido à desigualdade. A pousada pode não ser um lugar físico, mas uma verdade, ideia ou conforto a que se chega depois de uma busca qualquer. Nada é definitivo nem completo e o melhor que a pessoa pode - e deve - fazer é extrair dos fatores presentes o máximo que puder, procurando preservar o que possa ser incorporado à sua bagagem pessoal. De qualquer modo, essa experiência serve de material para o crescimento e transformação interior da pessoa, e não há o que censurar nela.
3A LINHA (9): "Viajando pelo exílio queima sua pousada e perde a fidelidade de seu jovem ajudante. Prudência!"
As coisas não correm bem na jornada da pessoa, conforme mostrado nesta 3ª linha, e ela fica sem os poucos pontos de apoio que tinha, tanto materiais quanto afetivos ou de prestação de serviços, o que lhe vem a causar sofrimento, incomodação. Deve ter muito cuidado e rigor em tudo o que faz, tanto para tentar evitar esses fatos, se eles ainda não aconteceram, como para passar sem aqueles apoios, se já os perdeu. Sozinha, ela não tem mais como avançar. A sua tendência, então, é de novamente procurar amparo, desta vez num grupo ao qual pertença ou ao qual vem a se juntar, desaparecendo assim o que houve de errado na sua atuação, que foi associar-se com alguém inferior e não ter sabido manter o que lhe dava abrigo e conforto, material ou de outra ordem. Isso é verdade especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Se não, serve como alerta à pessoa para que aja com muito cuidado, pois corre o risco de perder os pontos de apoio que conseguiu. (Muitos autores apontam arrogância e violência no caráter ou no comportamento da pessoa desta linha. Eu não consigo ver isso. Se ela é, por um lado, inacessível e fechada, por outro tende ao bom humor e à busca de penetração e entendimento. Outras razões que não a ira deliberada devem ter provocado os desastres aqui previstos.)
4ª LINHA (9):
“Viajando pelo exílio repousa num abrigo e consegue posses e ferramentas, [mas ainda assim diz:] ‘meu coração não está contente’.”
Por seus próprios meios, inclusive financeiros, a pessoa aqui consegue um ponto, um local, uma situação onde pode ficar sossegada por algum tempo. No entanto, ela sabe que aquele ainda não é o seu lugar definitivo, tratando-se apenas de um abrigo provisório e temporário que ela mesma teve que providenciar para si. Como a pessoa anseia por um lugar seu, que lhe dê apoio e acolhida, ao qual pertença, essa situação provisória não pode satisfazê-la inteiramente e a carência causa-lhe tristeza ou desânimo. A tendência dessa pessoa ou um dos caminhos possíveis para ela é buscar refúgio dentro de si mesma: uma vez que sente as circunstâncias como estranhas, e sente a si mesma como estrangeira no meio onde está, é somente dentro dos limites do seu eu que pode sentir-se em casa. Para poder usufruir dessa sensação precisa acalmar-se, aquietar o corpo e a mente consciente. Talvez assim consiga afastar o descontentamento, mas não há previsão neste sentido.
5ª LINHA (6):
“Aponta o arco a um faisão, [mas] sua única flecha se perde; no fim é elogiado e segue seu quinhão.”
Esta linha mostra a pessoa atingindo o ponto mais alto possível na questão da consulta, no momento. Ela não obtém tudo o que queria e tem alguma perda, mas consegue desapegar-se da situação e seguir seu próprio rumo, não se fixando em projetos, lugares, situações enfim, que não são a sua. Ela é quem decide se afastar, o que é o certo a fazer, uma vez que ficar não levaria a nada além de relações superficiais, pois não há integração verdadeira da pessoa com o meio que este hexagrama chama de “exílio”.
6ª LINHA (9):
“O pássaro queima seu ninho, o homem que viaja pelo exílio primeiro ri, mas depois grita e chora amargamente. Perde sua vaca com facilidade; prejuízo.”
Aqui a pessoa, por sua arrogância e ambição de avançar sempre, destrói aquilo que lhe poderia dar acolhida e repouso, e prossegue no seu caminho como buscador, viajante, investidor, etc., buscando a realização em algo fora da sua casa, da sua realidade rotineira, fora do seu alcance no momento. A princípio sua própria energia a sustenta e anima, mas depois a chama se consome e, sozinha e sem alcançar o que almejava, a pessoa se desespera e sofre. No entanto, ela chega a este ponto por sua própria arrogância e insensatez, pois não aceita conselhos, ajudas ou parcerias, superestimando suas capacidades e, afinal, não consegue nada e fica abandonada pelos outros, a quem desprezou. Obter esta linha deve servir de alerta à pessoa para que cultive a modéstia e a habilidade de adaptação às circunstâncias do presente, da sua realidade vigente, ao invés de apenas projetar-se ambiciosamente para o futuro, para uma outra realidade. Seria oportuno examinar que circunstâncias ou que relações humanas se está deixando de explorar e aproveitar por julgá-las poucas, pequenas, e querer algo maior e melhor, pois é provável que jamais se recupere aquilo que se perder agora, bestamente.