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HEXAGRAMA 58: SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE HEXAGRAMA 59: DISPERSANDO A RIGIDEZ 348
Yi Jing
HEXAGRAMA 58: SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE
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JULGAMENTO: “SATISFAZENDO-SE POSITIVAMENTE se exerce influência, é conveniente insistir.”
Na situação representada por este hexagrama temos a predominância da satisfação e da alegria. A alegria é jovial e expansiva. Traz alívio e conforto ao espírito. Se envolver trabalho, é um trabalho gratificante, que dá frutos. É aberta na superfície, comunicando-se ao mundo, e profunda nas raízes, pois tem seu fundamento na própria essência da pessoa, na sua maneira habitual de ser. Na situação de satisfação e alegria não vemos a presença de rigor e dificuldades, nem de movimentos bruscos e assustadores; não vemos a sujeição a uma condição nem a responsabilidade dos grandes empreendimentos; não vemos graves pensamentos nem o recolhimento silencioso e solitário. O que vemos junto à alegria são a claridade, a dependência e a concordância. A claridade mostra a energia que existe na alegria e mostra a beleza que se percebe quando se está sob a predominância da alegria. A dependência mostra como a nossa satisfação e alegria dependem da existência e da companhia de outros e da situação deles. A concordância mostra como a alegria, ao se expandir, penetra em todos, gerando harmonia, e principalmente como, através da satisfação que se lhes ofereça, se pode influenciar as pessoas, levando-as a concordarem conosco. A previsão geral para quem obteve este oráculo é de que a situação é, foi ou será satisfatória, gerando contentamento. Se a resposta envolver dois hexagramas, a indicação de predominância da satisfação poderá estar no presente, no passado ou no futuro, ou em todos os tempos, conforme este hexagrama seja o primitivo, o derivado, ou os dois hexagramas obtidos sejam de significados complementares. Sob a influência da alegria e com a perspectiva de satisfação há possibilidade de avanço na direção desejada, e a constância nos rumos de ação e comportamento que a pessoa vem adotando é propícia à manutenção e desenvolvimento da alegria. A persistência é especialmente recomendada porque a pessoa, no estado de alegria, ou na busca da satisfação, pode se tornar volúvel e frívola, autocomplacente, não querendo encarar mais do que a superfície
Yi Jing das coisas, por receio de comprometer a sua felicidade. O Yi Jing adverte que a alegria terá muito mais condições de se manter se for apoiada em fatores permanentes ou habituais na vida da pessoa, que façam parte da base, da essência da sua vida, do que se for apoiada em condições extraordinárias ou em fatores instáveis, que mudam muito. A alegria verdadeira deriva-se principalmente de se estar contente e satisfeito com o que se tem e com o que se é. Implica, portanto, uma atitude de aceitação da realidade, de ajuste entre os anseios e inclinações pessoais e o mundo vigente. Ainda, a verdadeira alegria é vivida de modo compartilhado, por isso a pessoa deve, no seu próprio interesse, colaborar altruisticamente com o seu grupo, e não agir de modo egoísta, tentando usufruir sozinha daquilo que causa satisfação.
IMAGEM: "Lagos agindo de acordo: a imagem da SATISFAÇÃO POSITIVA.
O sábio, porque se agrupa com seus amigos, se acostuma a debater."
O conselho para quem busca a satisfação ou está na situação em que predomina, ou deve predominar, a alegria, baseia-se no aspecto participativo deste sentimento. A alegria e a satisfação se reforçam e completam quando encontram mais satisfação e alegria, e se desenvolvem no convívio harmonioso com os amigos e as pessoas com quem nos sentimos bem. É na prática da reunião e da conversa que a pessoa se expressa integralmente, compartilhando conteúdos de ordem psíquica e espiritual e de ordem prática e material, o que contribui para o seu equilíbrio psicológico, sua satisfação pessoal e entrosamento social. É isto que o consulente deve procurar fazer: reunir-se a seus amigos para conversar e desenvolver atividades em comum.
1ª LINHA( 9): "Moderando a satisfação; benefício."
Esta linha mostra uma pessoa muito contente. E sem dúvidas, sem divisões. Essa satisfação provém de um contentamento consigo mesma e com a sua situação. É uma alegria tranquila, que brota do íntimo da pessoa, não depende de outros e não se apoia em nenhum relacionamento específico, parecendo fazer parte da sua própria natureza, da maneira independente e livre como ela conduz sua vida.
Yi Jing Numa atitude positiva, otimista, a pessoa realiza com gosto e segurança aquilo que constitui a sua atividade habitual (porque ela tem alguma atividade) e por isso as coisas tendem a dar certo para ela: atrai boa sorte. A pessoa não faz alarde do seu contentamento, não se vangloria, talvez nem tenha uma clara consciência dele, e de tal maneira o vive espontaneamente que não lhe ocorre que possa vir a perdê-lo. Realmente, não há nenhum mal presente mas, como todas as coisas boas, aquelas que causam satisfação devem ser preservadas e realimentadas continuamente, para que não se esgotem. Se a pessoa obteve este hexagrama como primeiro e, sobretudo, se o obteve apenas com esta linha mutante, deve prestar muita atenção aos seus passos neste momento, porque a sua alegria está correndo sério risco de se ver transformada em sofrimento, mas provavelmente ainda está em tempo de evitá-lo. Neste caso específico, a pessoa deve ver que setor da sua circunstância pessoal está sendo cogitado de mudança e deve tratar de evitá-la, pois certamente seria uma mudança para pior e de duração prolongada. Se a mudança já se tiver concretizado, deve tentar anular os seus efeitos negativos.
2ª LINHA (6): "Confiando na satisfação; benefício, remorso desaparece.”
A satisfação da pessoa a quem se refere esta linha se baseia no conhecimento da realidade e na consciência das suas próprias possibilidades e limitações, o que faz com que a sua atuação tenha boas chances de dar certo, pois tem base no real e não num engano. Pode ser que ela se veja às voltas com algum tipo de opção, e pode lhe advir o receio de optar mal. A escolha correta para esta pessoa é aquela que a aproxima da ação, do poder, da elevação, da evolução, pois ela tem muita energia. O oráculo a mostra ocupada não só consigo mesma e com os seus interesses, mas também com alguém, ou algum projeto, que se apoia nela para sua sustentação. Ela deve cuidar para não se ligar exclusivamente a esse elemento, pois isso poderá atrapalhar o seu desenvolvimento, uma vez que se trata de alguém ou de algo que possui muita energia e requer muita atenção. Se for uma pessoa, provavelmente é alguém que fala bastante e a solicita constantemente através de perguntas e comentários. No entanto, talvez essa dedicação exclusiva tenha, obrigatoriamente, que ser feita; talvez a pessoa da 2ª linha não possa, no momento atual, optar por aquilo que lhe traria maior desenvolvimento, numa área do seu interesse, do seu gosto pessoal. De qualquer modo, reconhecendo que as coisas tem que ser assim a pessoa aceitará isso e se satisfará com o que estiver ao seu alcance, não lamentará não ter agido de outra forma, e a sua satisfação consigo própria não será prejudicada.
3ª LINHA (6): "Atraindo a satisfação; prejuízos."
O oráculo mostra a pessoa da 3ª linha sendo envolvida por aquilo que lhe dá satisfação. Ao que tudo indica trata-se de algo que vem de fora, podendo, inclusive, ser de origem não totalmente idônea. Pela sua própria natureza expansiva e inconsequente (ao menos com relação ao assunto da consulta, ou neste momento específico) a pessoa se entrega entusiasticamente àquilo que lhe traz satisfação. Ela não tem o controle da situação, pois aquilo não se origina nela mesma, depende de fatores externos. Por isso o oráculo adverte sobre a possibilidade de as coisas não darem certo. A fonte da alegria pode estancar, independentemente da vontade da pessoa: assim como veio pode ir embora. Ao contrário da pessoa da linha 2, que é forte mas está numa posição que não lhe permite fazer tudo o que gostaria, a pessoa da 3ª linha está numa posição que lhe permite grande mobilidade, mas não tem a forte estrutura interna necessária para tirar o melhor proveito disso. Ela o percebe e procura se apoiar na pessoa da 2ª linha, uma vez que não tem, nem no momento nem previsto para o futuro próximo, outro ponto forte de amparo, colaboração ou inspiração. Ao procurar se defender contra a possibilidade de azares, sua arma provavelmente será a obstinação, a teimosia, manifestada primeiramente através de palavras inflamadas. Ela deveria tentar evitar isto, pois não é prudente expor abertamente suas intenções de ataque, ainda mais sem a devida competência para atacar. Na continuação da situação existe a tendência a um fortalecimento interno da pessoa da 3ª linha, talvez um amadurecimento. A teimosia tende a transformar-se em determinação originada de decisões pensadas, e ela, tendo a intenção de acertar, não incorrerá em erro, mesmo que os outros pensem assim.
4ª LINHA (9): "Questionando a satisfação, ainda não fica tranquilo; mas afastando-se das preocupações haverá felicidade."
É próprio da natureza da pessoa a quem se refere esta linha não decidir impulsivamente nem se obstinar sem reflexão, mas sim analisar bem os fatos, avançando e recuando antes de tomar uma decisão. Se ela faz isso é porque, naturalmente, não está plenamente confiante no modo como as coisas se apresentam e porque sabe da influência que a sua decisão pode ter no desenvolver da situação, ou na sua própria vida. Ela está numa posição em que nem se basta a si mesma nem pode se apoiar em outros. Talvez contra suas expectativas, tem que se virar
Yi Jing sozinha e procurar por si mesma aquilo que possa satisfazê-la e/ou lhe dar alegria. Há uma possibilidade - ou realidade - de relacionamento, dentro do assunto enfocado pela consulta, mas é com alguém meio sem conteúdo, mais fraco do que a pessoa da 4ª linha e que, portanto, não lhe adianta muito, a não ser para troca de opiniões. A pessoa desta linha é dinâmica, tem visão e é otimista, de modo que, embora se preocupe e pondere, uma vez que consegue eliminar os erros e vislumbrar o caminho do acerto fica contente. Entre os erros de que ela se livra ou deve se livrar está aquele representado pela subjugação de si própria a um elemento externo, por causa do prazer, da satisfação que aquele elemento possa lhe proporcionar. Na continuação desta situação a pessoa deverá encontrar a tranquilidade e prosseguir, aceitando alegremente as limitações derivadas dela mesma e das circunstâncias. Assim, o movimento da 4ª linha evolui da preocupação e análise para a decisão, e daí para a tranquilidade e alegria.
5ª LINHA (9): "Confiando no que rui, é necessário ser prudente."
A pessoa da 5ª linha está bem, é atuante, é senhora da sua situação, porém está muito perto de alguém ou de algo que não merece a sua confiança: uma amizade, uma ponte, uma proposta, uma máquina, seja o que for. Se for pessoa (ou grupo) é alegre e bem falante e, embora seja superficial e com pouco domínio do assunto da consulta, dispõe-se a aconselhar e assessorar a pessoa da 5ª linha, que a escuta, um pouco por causa da posição que a outra ocupa, um pouco porque ela fala e age como se soubesse muito. Pode-se supor que essa outra pessoa pretenda exercer um controle sobre os demais participantes da situação utilizando a influência da pessoa da 5ª linha, que tem conteúdo e é respeitada. O consulente deve verificar quanto disso se aplica ao seu caso específico porque, se o elemento negativo não for uma pessoa, não se lhe pode atribuir intenções. Por outro lado, quem deveria ajudar a pessoa da 5ª linha está concorrendo com ela, é seu rival nesta questão. Assim, a pessoa deve acautelar-se e controlar suas palavras para que não haja chance de que façam mau uso delas ou de que elas o comprometam num projeto que não teria sustentação. Na continuação da situação enfocada pela consulta a pessoa da 5ª linha torna-se mais decidida e, apesar das adversidades, leva as coisas a bom termo. Através da sua modéstia consolida bons relacionamentos,
Yi Jing embora continue havendo quem, sem ter valor igualável ao seu, deseje suplantá-la perante os outros. Se o consulente obteve este hexagrama só com esta linha mutante, deve tomar muito cuidado, porque está, com relação ao assunto da consulta, entre alguém que é falso e alguém que é rival, ambos visando apenas os seus próprios interesses. Mesmo assim, ele provavelmente conseguiria levar o seu projeto até o fim, mas talvez não do jeito que gostaria, e com tanta incomodação que talvez fosse mais conveniente aguardar uma ocasião mais propícia para agir. Enquanto isso, que deixe passar o tempo despreocupadamente na companhia dos amigos, conforme o conselho da Imagem.
6ª LINHA (6): "Satisfação sedutora."
A pessoa a quem se refere a 6ª linha tanto pode estar sendo fonte de alegria e prazer para outros quanto pode estar sendo atraída por algo ou alguém em função da satisfação, do prazer que este elemento lhe proporciona, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. A situação em si não é boa nem má, dependendo isto dos componentes e das circunstâncias. Vários fatores aí podem ser analisados e avaliados, como por exemplo: - o tipo de prazer que está sendo buscado; - as consequências da entrega àquele prazer; - se a dedicação ao prazer não está roubando tempo e energia que poderiam ser dedicados a algo mais nobre; - se não está havendo uma subjugação da vontade, uma perda do domínio de si mesmo em função de uma paixão, de uma busca incontrolada dde algo ou alguém que proporcione prazer, da alegria. De acordo com os conceitos expressos pelo Julgamento e pela Imagem deste hexagrama, a verdadeira satisfação é aquela que brota de fatores constantes da vida da pessoa e desabrocha no convívio harmonioso com os outros; e não aquela que tem origem em algo fora de nós e nos atrai como um ímã sem vontade própria. Assim, a situação da pessoa da 6ª linha é, no mínimo, duvidosa. Ela possui características ambivalentes: busca a satisfação, mas não se satisfaz e a busca de novo; fala muito, mas talvez suas palavras sejam vazias; não possui a maturidade e a sabedoria que se esperaria dela e é até mesmo um pouco inconsequente; ao mesmo tempo em que, por sua falta de conteúdo, é influenciável, procura exercer influência; mas, mesmo querendo influenciar, procura apoiar-se em alguém mais sólido. Como se vê, uma pessoa cheia de contradições. Desse jeito as perspectivas não são necessariamente ruins nem totalmente boas, porque a pessoa é de natureza elevada, não é de má
Yi Jing índole, e isso poderá contribuir para que, embora trilhando um caminho perigoso, não venha a se perder. De qualquer modo, parece que poderia estar fazendo melhor uso de seu tempo e de si mesma. Por isso, na continuação dos acontecimentos, ou ao final desta fase, o Yi Jing convida a pessoa a julgar o seu comportamento atual, avaliando racionalmente se foi correto ou não, se contribuiu para a sua evolução ou se constituiu um estacionamento ou retrocesso. E se, afinal, vale a pena repeti-lo ou é mais prudente mudá-lo.
Yi Jing
HEXAGRAMA 59: DISPERSANDO A RIGIDEZ
JULGAMENTO:
“DISSOLVENDO A RIGIDEZ se exerce influência, mas apenas um grande rei terá um templo.
É conveniente atravessar o grande rio e é conveniente insistir.”
Este hexagrama mostra a matéria da consulta num ponto em que é necessário, útil ou conveniente haver uma quebra de certas estruturas para que ocorra uma reorganização, uma nova amalgamação dos componentes. Trata-se do processo de dissolução da rigidez em certos aspectos da realidade enfocada pela consulta, ou em toda ela. Cabe lembrar que a matéria da consulta pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas, uma conjuntura social, relacionamento, comportamento, projeto, enfim, qualquer coisa. Esse processo costuma ser, frequentemente, um processo doloroso para o sujeito da consulta e provavelmente para os demais envolvidos, pois mexe em estruturas ou sistemas com os quais já estavam acostumados e que, bem ou mal, lhes davam apoio e segurança, funcionavam. Pode envolver a dispersão de bens e valores, o enfraquecimento e até o desmantelamento de relações, a frustração de expectativas, a anulação de esforços despendidos para um determinado fim, a diluição de idéias ou crenças solidamente estabelecidas, a dissolução de um bloqueio emocional, etc.
Se a pessoa aceita a inevitabilidade da dissolução e procura se adaptar ou mesmo se antecipar a ela, flexibilizando-se onde se fizer necessário e amoldando-se às circunstâncias, tem fortes chances de se sair bem, sem muito sofrimento. Se a pessoa resiste a se adaptar à dissolução e procura segurar as coisas e mantê-las exatamente do jeito em que estão (ou em que estavam), atendo-se rigidamente ao que é e ao que quer, de uma maneira inflexível e/ou intolerante, tem fortes chances de se sair mal, talvez arruinar definitivamente aquilo que pretendia segurar a todo custo. Poderá também ter muito sofrimento. De qualquer modo, independentemente da atitude da pessoa, a tendência é de as coisas tornarem a se estabilizar numa nova configuração
Yi Jing ou numa nova estrutura uma vez que passe este momento da dissolução dos pontos rígidos da estrutura atual. O que a atitude de aceitação ou de resistência podem ocasionar é uma diferença no grau de facilidade com que a pessoa passa pelo processo. Através da atitude de aceitação a pessoa pode até chegar a influir no processo, não sendo totalmente dominada por ele. Porém, será somente com muita grandeza interior e com muita consideração pelos que dependem dela que a pessoa conseguirá superar a dissolução até o ponto de, futuramente, construir uma nova estrutura positiva e vir a ser admirada e reverenciada, atingindo posição de destaque entre os que se destacam. Há uma exigência básica de grandeza do sujeito da consulta para o bom andamento da questão: ele tem que estar à altura da situação e do que a situação requer dele. Caso contrário, não conseguirá realizar a obra que deseja ou desempenhar a contento as funções para que foi designado ou a que se propôs. Mesmo em pleno processo de dispersão, dissolução, desintegração ou espalhamento, seja do que for, existem aqueles fatores que devem ser mantidos e preservados, e o sujeito da consulta deve cuidar de prover alimento e sustentação a esses fatores. Isso o engrandeceria e facilitaria a adaptação ao momento. Não é para desistir de tudo e abandonar de vez a questão: isso seria um comportamento irresponsável, que só pioraria os efeitos negativos da dissolução. Resumindo, o que é recomendado é promover - ou aceitar - uma flexibilização de alguns aspectos da matéria da consulta, e continuar no rumo dos esforços e das aspirações, realizando ou aceitando grandes mudanças, alterações radicais, perdas ou rupturas importantes que se imponham ou se mostrem necessárias, utilizando, para tanto, os meios que se apresentarem. Está prevista a colaboração entre os diversos envolvidos na questão, mas, repito, somente uma atuação decidida e responsável, de uma pessoa que saiba agir com determinação e flexibilidade, grandeza e humildade, poderá criar as condições para uma reestruturação positiva da situação. Essa é a mensagem básica para quem obteve este hexagrama. As linhas obtidas darão detalhes sobre o posicionamento da(s) pessoa(s) face à dispersão em curso.
IMAGEM: "O vento atuando acima da água DISPERSA A RIGIDEZ. Assim, os reis da antiguidade, para sacrificar ao divino, erguiam templos."
Quando ocorre a dispersão, as coisas e as pessoas espalham-se para diferentes lados. O conselho para a pessoa que se encontra numa tal situação é de que não se deixe dispersar ela própria, mas procure seu centro, procure união no meio da separação.
Yi Jing A dispersão pode ser-nos favorável ou desfavorável, dependendo das circunstâncias. Se for a dissolução de algo que nos bloqueava, nos impedia, é favorável. Se for a dissolução de bens, idéias, esforços, afetos, etc., talvez seja desfavorável. De qualquer modo é um movimento forte, que implica mudanças, nem sempre desejadas. O conselho da Imagem é de que a pessoa, em meio à dispersão, procure aproximar-se daquilo que é imutável e forte, procure sentir-se apoiada por uma união que supere toda e qualquer separação. A comunhão do indivíduo com Deus, com aquilo que represente para ele o inabalável, o seguro, o imutável, é apresentada como a maneira sábia de enfrentar as incertezas do momento. A própria consulta ao oráculo é um meio de buscar apoio, pois a adivinhação é uma aproximação do divino, é um modo de penetrar num saber superior a nós, no qual nos podemos apoiar. O texto da Imagem dá como exemplo de aproximação do divino e a construção de templos, a criação de um tempo/espaço que favoreça o recolhimento, a reflexão, a concentração em si mesmo e também a congregação de pessoas. Em suma, a Imagem aconselha a quem obteve este hexagrama que busque união e concentração, através da elevação espiritual, a fim de equilibrar a dispersão.
1ª LINHA (6):
“Se salva utilizando um cavalo robusto, benefício.”
Esta linha mostra a pessoa que é pouco suscetível à ação desestruturadora da dispersão, não por ser excepcionalmente forte e bem preparada, mas por ser mais voltada para dentro de si mesma e do seu mundo pessoal do que para o que acontece em torno. Além disso, através de ajuda ela se livra das dificuldades e complicações dolorosas que geralmente acompanham um momento de dispersão: tem ou obtém colaboração de elementos mais fortes e dinâmicos do que ela. Assim, é através das suas ligações, em que confia intimamente, que consegue escapar dos efeitos da dispersão e continuar no seu modo de ser habitual. Não sofre alterações negativas, especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Se há algo de rígido e trancado nas suas circunstâncias específicas, ela o vivencia de uma maneira tão incorporada ao seu modo habitual de ser que não o percebe claramente, não tem consciência daquilo. Do mesmo modo, provavelmente não percebe algum perigo ou obstáculo que possa estar próximo a ela.
Yi Jing Se a consulta indaga sobre como enfrentar uma situação qualquer, a resposta é: utilizando a ajuda de alguém mais forte. E tem que buscar - e aceitar - ajuda para si mesmo, não adianta se preocupar com os outros agora.
2ª LINHA (9):
“Dispersado, retira-se para seu apoio e o remorso desaparece.”
Esta linha mostra a pessoa que nem opõe resistência nem se engaja no processo de dispersão em curso, mas foge dele. Ela consegue subtrair-se refugiando-se numa posição mais obscura e reservada, porém mais segura, junto de quem ou do que lhe dá apoio e cobertura. A princípio a pessoa sente uma certa culpa por essa atitude, mas depois acaba se tranquilizando e o arrependimento desaparece. Porém a continuação prolongada nessa posição de indefinição e não comprometimento, buscando apenas a própria segurança e proteção, poderá vir a envergonhá-la, por ser, talvez, inferior àquilo que ela mereceria e poderia desenvolver.
3ª LINHA (6):
“Dispersa seu corpo, nenhum remorso.”
Esta linha mostra a pessoa totalmente exposta à ação dos elementos dispersivos: ela está voltada para o exterior, para o que se passa em volta, sem pensar em si mesma. Envolvida em trabalhos, dificuldades ou perigos, e tentando superá-los, aceita a descentralização que atinge a ela própria de uma forma pessoal ou à realidade enfocada pela consulta. Como esse é o comportamento requerido pelas circunstâncias, está de acordo com o momento e não gera sentimentos de culpa, arrependimento ou remorso. No entanto, apesar de no seu agir a pessoa sujeitar-se e adaptar-se, "dançar conforme a música", sua vontade e decisão de agir em função das circunstâncias exteriores rapidamente se esgotam, pois não encontram eco legítimo no seu íntimo. Ela pode cansar de se submeter e começar a, em palavras, expressar seu descontentamento através de reclamações e resmungos, que não darão resultado algum. Isso é verdade especialmente se esta foi a única linha mutante obtida.
4ª LINHA (6):
“Dispersar seu grupo tem benefícios fundamentais porque dispersando se acumula e comumente não se pensa nisso.”
Yi Jing Agente ativo do processo de dispersão em curso, o sujeito desta linha se separa do seu grupo ou desfaz o grupo a que pertence, provavelmente um grupo de estrutura já cristalizada e habituado a atuar de uma determinada forma. Essa ação radical produz resultados positivos, por duas razões: primeiro, porque abre espaço para novas configurações do mesmo grupo ou para a formação de novos agrupamentos, mais ricos e fecundos; segundo, porque dá liberdade ao sujeito para agir por conta própria. Com essa atitude ele revela o seu valor e a sua capacidade de previsão, pois já enxerga e prepara, no presente, a consequência futura da ação atual, que seria a reversão da dispersão, o acúmulo. No caso de relacionamentos, o oráculo preconiza a dissolução e consequente liberação de ligações enrijecidas, para permitir a sua renovação ou a formação de novas ligações, o que exige, do sujeito desta linha, coragem e grandeza de alma. Tendo em vista a possibilidade de essa ação de agora gerar disputa, o sujeito deverá ter a flexibilidade de recuar e voltar atrás, se necessário, não desistindo do que quer, mas insistindo sutil e calmamente, sem rigidez, porque, afinal, ele não perde nada.
5ª LINHA (9):
“Dispersa transpirando e dando grandes gritos; dispersando, o rei permanece sem erro.”
Esta linha mostra a dispersão acontecendo por obra e esforço do sujeito da consulta, ou por ordem de longo alcance de uma autoridade superior a ele. A dispersão ocorre com grande alarde e, provavelmente, com grande sofrimento para a própria e/ou para os outros atingidos, conforme ela seja autora ou vítima do processo, ou ambas as coisas. De qualquer forma, ela não pede ajuda nem foge: assume a situação e trabalha, seja para implantar o movimento - se for a agente - seja para harmonizar os seus efeitos - se for a vítima. Assim, a dispersão é imediatamente seguida por uma reestruturação da realidade enfocada pela consulta, e os espaços tornam a ser ocupados, numa nova configuração dos elementos. Apesar da turbulência, do trabalho e da dor que possam porventura se originar desses acontecimentos, eles estão dentro dos limites da correção e das normas vigentes. Por outro lado, a desestruturação ocorrida põe à mostra a fragilidade e a ignorância do sujeito da consulta com relação ao assunto em pauta e, em função disso, ele passa a sentir necessidade e disposição de aprender, de evoluir. Para tanto, tem que desenvolver uma certa modéstia, a fim de que possa reconhecer sua ignorância ou ingenuidade e aprender o que não
Yi Jing sabe. Deve fazê-lo com dedicação, desenvolvendo em si a grandeza que lhe permitirá, no futuro, ser digno de admiração e reverência.
6ª LINHA (9):
“Dispersando seu sangue, parte, afasta-se, sai sem culpa.”
Quer o processo de dispersão esteja em pleno andamento, quer já esteja terminado, a pessoa a quem se refere esta linha não deve tentar deter o curso dos acontecimentos, não deve tentar segurar nada, não deve manter rigidez alguma com relação ao assunto da consulta. Deve, ao contrário, largar a questão, abandonar o assunto, afastar-se, sob pena de sofrer danos importantes se não o fizer. Embora ela possa ter alguma dúvida sobre se essa é mesmo a atitude certa, o Yi Jing diz que não há erro, que deixar se dissolverem completamente os laços com aquilo que a estava prendendo ou preocupando significa apartar-se do que é prejudicial para ela. E mais: se não o fizer, corre o risco de se afundar e prender numa situação complexa, desconfortável e obscura, de saída difícil e demorada. Por outro lado, essa dispersão atual, embora necessária ou inevitável, pode acarretar sofrimento e limitações para a pessoa, que deve, então, aproveitar a ocasião para o aprofundamento do exame de si mesma e da matéria da consulta.