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Entrevista
António Raminhos, Luís Filipe Borges e Marco Horácio regressam com a segunda dose do icónico “Três é Demais”
Cinco anos depois está de regresso o icónico espetáculo que teve 25 mil espectadores em dois meses. Os três amigos estão de volta e cheios de novidades. Há cinco anos: o Raminhos esperava a terceira filha, o Horácio era o pai divorciado, e o Borges andava livre e solto… Agora, o último já é casado e pai, o do meio reencontrou finalmente o amor, e o primeiro vive um conflito entre o seu velho e novo eu.
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O que será que mudou nestes últimos cinco anos? Foi o mundo ou foram eles? Ou será que foi o mundo deles?
A Mais Superior esteve à conversa com os três amigos Sem reservas, sem medos (e devidamente vacinados). Vem daí perceber porque é que três é (mesmo) demais!
Texto: Rita Coelho Fotos: Cedidas pelos entrevistados
A primeira edição do “Três é Demais” foi em 2016, porque decidiram regressar agora com a segunda edição?
A.R: Porque nós somos tipo os ABBA... L.F.B: Nós voltamos, mas já em holograma, já não somos nós! L.F.B: Nós já falamos em regressar, sem exagero há dois anos! A.R: Sim, falámos na passagem de ano de 2019 para 2020 no Casino Estoril. Conversámos os três, íamos mesmo avançar e depois veio a pandemia! L.F.B: Exato, por isso, as razões para voltarmos são: A: Tínhamos vontade há muito tempo. B: Este momento que atravessámos e, ainda estamos a atravessar, deu-nos ainda mais vontade, porque, pessoalmente, passámos demasiado tempo sozinhos. Portanto regressar com amigos, poder estar com eles a fazer um novo espetáculo, depois deste ano e meio, é exatamente aquilo que o médico receitou! A.R: É curioso, porque eu penso exatamente da mesma forma. Eu estava a fazer o “Sol” antes da pandemia e agora havia a oportunidade de voltar, mas eu preferi não avançar, porque me sinto muito melhor a voltar ao palco com amigos, estar com eles, divertir-me e saber que não estou só a fazer uma peça de teatro, estou com pessoas que me dizem mais do que isso, para mim ganha tudo um novo significado. M.H: E estamos mais protegidos! Não sabemos como vai ser a reação do público, foram quase dois anos sem espetáculos e sinto que o público desaprendeu um pouco a ver espetáculos, a sentir a magia de assistir a um espetáculo. Estando os três, estamos mais seguros, porque confiamos uns nos outros.
O que muda da primeira edição para esta segunda, na forma como encaram o espetáculo?
L.F.B: Obviamente que quando fazes uma coisa que já fizeste, de alguma maneira a segurança é diferente, e este não é um espetáculo estanque, pelo menos na primeira edição não era. O “Três é Demais” tanto podia durar 1h40m, ou 2h40m. Nesta edição isso é mais difícil de acontecer, porque é mais teatral e estamos quase sempre juntos em palco, o Raminhos entra sozinho, mas ao fim de uns minutos entramos nós e a partir daí, estamos lá sempre até ao final. Na primeira edição tínhamos pequenos momentos de stand-up, em que dava para saírmos de palco, respirar e depois regressar já mais descontraídos. Agora é impossível!
Para além do que o Borges já disse, o que muda da primeira edição para a segunda?
M.H: A principal diferença é que esta é mais teatral, obriga-nos a um trabalho mais semelhante ao de ator, apesar de fazermos de nós próprios, o que por vezes é o mais complicado para um ator, há coisas que têm de ser representadas. Emocionalmente há um trabalho mais apurado, estamos mais sinceros, e mais frágeis também. No primeiro havia um tom mais cómico, de stand-up, podíamos divagar mais no humor, havia uma bolha de segurança maior, que agora não há. Estamos mais vulneráveis e emocionais agora. Mas isto é bom! É isto que sentimos que as pessoas precisam e querem. A.R: Sim, e tem mais sentido. Desenhámos uma peça de teatro cómica, mas com
princípio, meio e fim, tem mais sentido. L.F.B: E com momentos bastante inesperados para os três! Apesar de estarmos a fazer de nós próprios, há pelo menos um momento, em que cada um faz uma coisa que ninguém estará à espera de nos ver fazer.
Esta peça faz-vos ir um pouco para fora de pé pessoal e profissionalmente?
L.F.B: Há um caso ou outro que sim. Eu faço um rap... (risos) e sim, isto é atirar-me para fora de pé. A.R: Nós dissemos que isso era ir MUITO para fora de pé, mas o Borges... Por acaso está muito giro, não é por ser eu a dizer, mas está mesmo! Se não estivesse eu faria um riso forçado, não me ria com vontade! M.H: Estes cinco anos que separam as duas edições trouxeram mudanças na nossa vida pessoal, por exemplo, o Borges foi pai pela primeira vez. E, para esta peça, há aqui um trabalho de partilha de medos, dúvidas e receios, com o público. O que eu mais gosto é que as pessoas ficam na dúvida se o que estamos a dizer é verdade, ou se estamos a inventar. Na realidade o que acontece é um misto: há é um misto. Há muita coisa que é verdade, mas há muita coisa que é extrapolada para ter graça. E essa generosidade da nossa parte, só é feita em palco. Nós só partilhamos a nossa vida pessoal em palco, e o público está a assistir como se fosse o quarto amigo, que faz parte desta reunião semanal de amigos, que começou na pandemia com o passeio higiénico e continuou, porque é um momento em que estamos os três, que conversamos uns com os outros, desabafamos e pronto, na próxima semana estamos cá novamente! No fundo, isto é o que nós sentimos que as pessoas sentiram mais falta durante a pandemia: conversarem, estarem juntas e nós vamos buscar essa emoção.
Depois do sucesso deste espetáculo, qual foi o vosso maior desafio para o tornar ainda mais interessante? Porque é que quem viu a primeira edição deve ir ver a segunda?
L.F.B: Começando pelo fim, os nossos perfis alteraram-se imenso! Somos as mesmas personas, mas mudámos muito. O Raminhos estava prestes a ter a terceira filha, e havia o pânico “Meu Deus, mais stress na minha vida, o que eu vou fazer com quatro mulheres em casa?” Eu era o folião descontraído, boa vida e tinha acabado de me apaixonar. A.R: Aliás, tu apaixonaste-te durante a peça... L.F.B: Exatamente! Quando nós começámos no Casino Estoril, eu era só o gajo da boa vida, apaixonei-me durante a peça e depois tive de introduzir isso. O Marco era solteiro e estava um bocado em baixo. Passado estes anos, o Raminhos não teve mais filhas, mas agora é um homem diferente. Chamamos-lhe Raminhos Luz. É um homem atento às questões da saúde mental, atento a si próprio e aos outros, aparentemente muito mais pacífico e inspirador. Eu casei com a mulher por quem me apaixonei, tivemos um filho e a vida é um inferno, (risos) estou claramente a pagar pela boa vida que tive. E, por último, o Marco tem uma pessoa nova na vida dele, está apaixonado, tem o filho com quinze anos, é um rapaz maravilhoso.
O que é que mudou mais, o mundo ou vocês?
M.H: Ui... L.F.B: Eu acho que nós mudámos bastante... A.R: Eu acho que nós mudámos com o mundo. M.H: Isso foi bonito, é mesmo aquela resposta... A.R: Mas é verdade! M.H: Eu acho que o mundo mudou mais! L.F.B: Sim, eu também sinto que o mundo mudou mais do que eu. Pessoalmente, sinto que estou a ficar velho... Estivemos a falar com um rapaz de um outro órgão de comunicação social e algumas expressões que ele disse, eu não fazia a mínima ideia do que significavam por exemplo. A.R: Eu acho que mudei mais que o mundo nestes anos, muito a nível pessoal. L.F.B: O Raminhos terá mudado mais que o mundo definitivamente. A mim o mundo está a obrigar-me a mudar. Eu achava que ser pai era tranquilo, tipo é um bebé... A.R: Quando o Borges trouxe o bebé para casa, a primeira coisa que fez foi ligar-me e dizer “Como é que fizeram isto três vezes?!” (risos) M.H: O mundo está numa fase muito ansiosa, mesmo criativamente, está tudo muito confuso, é muito difícil mantermo-nos neste ritmo... Sinto que o mundo tem de respirar. A pandemia tornou as pessoas muito aceleradas, as redes sociais, o swipe up, os vídeos, as pessoas consomem tudo como se fosse descartável, estão 10 segundos a ver qualquer coisa, já passam para a seguinte... Por isso, temos que ser insistentes para que as pessoas voltem a desfrutar de espetáculos, de música, que estejam atentas do princípio ao fim e aproveitem o momento.
Se tivessem que fazer esta peça daqui a 5 anos, numa terceira edição, o que é que acham que mudava?
A.R: Isso é perfeitamente possível de acontecer. Bem, o filho do Borges já tinha sido expulso do externato por agressão, o Marco já estava divorciado, e eu abri uma empresa de autoajuda (risos). L.F.B: Sim, isso é tudo perfeitamente possível. Será uma peça mais negra. M.H: Vamos estar com uma roupa havaiana e a ir para o palco de chinelos. Fora de brincadeiras, é bem possível irmos para uma terceira edição, dependendo do sucesso desta segunda.
Porque é que o público não deve perder o vosso espetáculo?
L.F.B: Porque é hilariante! M.H: Que humilde! L.F.B: O primeiro espetáculo em 2 meses teve 25 mil espetadores com muito pouca promoção, foi incrível! E eu acho que este é melhor! É tecnicamente mais exigente, tem um lado muito sincero, e aquela dúvida do que será verdade ou invenção. A.R: Toda a peça tem uma premissa real, que depois é extrapolada. A comédia, no fundo, é isso mesmo. M.H: Esta é uma oportunidade para quem gosta de nós, ver-nos mais libertos, sinceros e fragilizados. Há muitos pontos em que tocamos que as pessoas se vão rever e identificar. L.F.B: Passamos de um tema sério e transversal como é a morte, para um momento de pura galhofa e risada, em que desconstruímos a expressão morte por “foi de férias” e tudo fica mais ligeiro, tem a ver com o peso que se dá a certas palavras. Este é um dos meus momentos preferidos.