Navegando com professores da Educação Profissional de área técnica pelos mares da leitura

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Navegando com professores da Educação Profissional de área técnica pelos mares da leitura

Gerson Cabral, Alex Jordane e Rodrigo Alves

Oficina Pedagógica de Leitura

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Navegando com professores da Educação Profissional de área técnica pelos mares da leitura

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Navegando com professores da Educação Profissional de área técnica pelos mares da leitura

Gerson Cabral, Alex Jordane e Rodrigo Alves

Oficina Pedagógica de Leitura


Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica - ProfEPT Instituto Federal do Espírito Santo Campus Vitória

P 324f

Oliveira, Gerson Cabral de; Oliveira, Alex Jordane.

Ficha catalográfica para trabalhos acadêmicos / Gerson Cabra de Paula. – Espírito Santo, 2020. 28p. Navegando com professores de educação profissional de área técnica pelos mares da leitura – Instituto Federal de Espírito Santo, Campus Vitória, Curso de Mestrado Profissional em EPT (PROFEPT), Vitória, 2020. Orientadora: Alex Jordane 1. Ficha Catalográfica. 2. Método de Estudo. 3. Trabalhos Científicos. I.Gerson Cabral . II. Título

CDD 001.4


Colega professor(a),

A

presento esta singela publicação como quem apresenta uma proposta de trabalho, com leitura em sala de aula, que pode ser desenvolvida por professores de educação profissional de área técnica ou de outras disciplinas dessa modalidade. Entendo que o desafio de desenvolver a leitura em âmbito escolar ultrapassa os limites da disciplina Língua Portuguesa. O problema da leitura no contexto de sala de aula impacta decisivamente no processo de ensino-aprendizagem de todas as disciplinas. Nesse sentido, precisamos unir nossas forças e produzir meios de trabalhar o ensino leitura com estratégias claras e sem desviar do fluxo do desenvolvimento dos conteúdos de cada disciplina. Esse material foi construído durante uma Oficina Pedagógica sobre Leitura em que participaram exclusivamente professores de educação, professores de área técnica do Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul do Distrito Federal – CESAS Esse material conta com estratégias de leitura inspirada no livro “Estratégias de Leitura”, de Isabel Solé. Além disso, nessa publicação, são discutidas algumas noções sobre texto e leitura que auxiliarão no desenvolvimento de atividades com foco no desenvolvimento da aprendizagem da leitura. Espero que este trabalho efetivamente contribua para que possamos descortinar um universo de novas possiblidades de aprendizados e práticas de leitura. Que estejamos juntos nesse novo passo que será dado em favor de educação de qualidade nas modalidades educação profissional e tecnológica e educação de jovens e adultos. Por fim, não estou te entregando um monte de “receitas prontas” com selo “sucesso garantido”. Seria muita pretensão da minha parte... o que estou disponibilizando são os meios para que você, professor, possa construir com sua criatividade novas práticas de leitura em sala de aula. Agora fui pretensioso! Boa sorte, bom trabalho e boas práticas de leitura.

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Créditos Orientando:

GERSON CABRAL DE OLIVEIRA – possui graduação em Letras/Português pela Universidade Federal de Brasília – UnB ( 1997), especialista em Educação na Diversidade, Cidadania, com ênfase na Educação de Jovens e Adultos ( 2014), mestrando em Educação Profissional e Tecnológica ( ProfEPT) – Instituto Federal do Espírito Santo ( IFES). Desde 2005 trabalha no Ministério da Educação como Técnico em Assuntos Educacionais. Professor da Educação Básica da Secretária de Estado de Educação do Distrito Federal, onde leciona Língua Portuguesa em turmas da Educação de Jovens e Adultos – segundo segmento, desde 1999.

Orientadores:

ALEX JORDANE DE OLIVEIRA - possui graduação em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Instituto Federal do Espírito Santo, lecionando na licenciatura em Matemática e em cursos de pós-graduação: Educimat e ProfEPT. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: educação matemática, currículo integrado, educação profissional, EJA, teoria da atividade e formação de professores. RODRIGO ALVES DOS SANTOS - é professor de Língua Portuguesa, Literatura e Cultura do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Campus Divinópolis, atuando em cursos técnicos de nível médio, na educação de nível superior e no Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT). Possui graduação em Letras Licenciatura, com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas de Expressão Portuguesa pela Universidade Federal de Viçosa (1997), mestrado em Ciências e Práticas Educativas pela Universidade de Franca (2003) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009).

Revisão:

GERSON CABRAL DE OLIVEIRA e SÔNIA FERREIRA

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: ELISANGELA SANDES

Imagens:

FREEPIK e UNSPLASH

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Sumário

Perguntas pelo ar

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O começo é o texto

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Modelos de leitura

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O que o texto esconde? Plano de navegação: estratégias de leitura Referências Bibliográficas

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Vou começar jogando algumas perguntas pelo ar. Qual é sua relação com leitura?

Sente que seus alunos têm muita dificuldade com a leitura de textos?

Usa alguma estratégia específica quando lida com textos em sala de aula?

Tem o hábito da leitura?

Que memória guarda do tempo que era estudante dos ensinos fundamental e médio sobre leitura?

Considera os textos técnicos, que usa em sala de aula, compatíveis com o nível de ensino?

Espero que essas poucas perguntas possam ter desencadeado algumas reflexões em você. Entendo que vamos nos construindo leitores ao longo do tempo. Leitores não nascem prontos. Com tempo, vamos tendo uma interação com esse evento comunicativo chamado texto. Precisamos entender isso para seguir. Seguir aprendendo e ensinado lidar com textos. “Navegar é preciso”

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O Começo é o texto Então por onde começamos? Boa pergunta. Vamos começar pelo começo. O começo é o texto. Vou colocar você em papel muito instigante agora. Será um investigador(a). Você está preparado para sua missão?! Vamos lá! Sua missão é investigar essas “coisas” logo abaixo. Você distinguir o que é texto do que não é texto. Simples!

A

Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone, papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira, copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesas, cadeiras, prato, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro. Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. Fonte: Conto “Circuito Fechado”, Autor Ricardo Ramos, disponível em https://revistamacondo.wordpress. com/2012/02/29/conto-circuito-fechado-ricardo-ramos/

B Fonte: Oliviero Toscani. Campanha da Benetton. Disponível em: https://harpersbazaar.uol.com.br/wp-content/ uploads/2018/07/benetton-campoanhas8.jpg

C

480: {20 . [ 86 - 12. (5 + 2) ] 2} = 11


D Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_Wqo9IVCWV5E/TJ4R2G7ky_I/ AAAAAAAAElo/vYOeDLoa-eM/s1600/Bizarro+CHIMPS+09-19-10.jpg

E F

A informática é a ciência que tem como objetivo estudar o tratamento da informação através do computador. Este conceito, ou esta definição, são amplos devido a que o termo informática é um campo de estudo igualmente amplo. Fonte: https://queconceito.com.br/informatica#:~:text=A%20inform%C3%A1tica%20%C3%A9%20a%20ci%C3%AAncia,da%20informa%C3%A7%C3%A3o%20atrav%C3%A9s%20do%20computador.&text=Este%20campo%20de%20estudo%2C%20investiga%C3%A7%C3%A3o,te%C3%B3ricos%20cient%C3%ADficos%20e%20diversas%20t%C3%A9cnicas.

G Fonte: https://portal.educacao.go.gov.br/fundamental_dois/aula-1-lingua-portuguesa-7-ano/

Já escolheu o que considera texto? Foi divertido? Que critério utilizou? Sei que deve ter acertado tudo, mas vou mesmo tentar fornecer alguns subsídios, certo?!

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Primeiro aspecto de texto é comunicar, isso não quer dizer que o texto seja algo autônomo, que torne o leitor uma figura passiva nesse processo, ou que o texto, materialmente falando, já concentre em si todos os elementos necessários para sua compreensão.


G F E

Vamos começar pela letra “G”. Comunica? Sim. Mais do que comunicar ela nos remete a nossa infância. Sei que vai encontrar como boas lembranças lá. Mas por que toquei nesse assunto? Tudo a ver com leitura. Quando lemos um texto, ativamos uma série de conhecimentos que vamos acumulando da vida. Depois voltamos falar sobre isso. Só uma pergunta: que leitura faria desse texto se não conhecesse algumas características marcantes do personagem Cascão? Sobre as tirinhas, cabe um comentário: elas utilizam tanto a linguagem verbal como a não-verbal. Assim devemos ficar atentos as expressões dos personagens, pois elas fazem parte do texto.

É um texto. Esse texto é até interessante, pois ele deixa para o leitor a decisão sobre aquilo que se fala sobre informática ser um conceito ou uma definição. Muitas vezes temos que negociar sentido com o texto. Tomar algumas decisões em meio ao processo de leitura. Mais uma coisa, você percebeu aquela letra em azul, como se fosse um tipo de link que remete o leitor para outro texto? Chama-se hipertexto. Esse tipo de organização do texto foi trazido pela informática. Sugiro uma consulta na internet.

Não se trata de um texto. Código binário é o que podemos chamar de uma “linguagem” de máquina, não se trata de texto, pois não comunica nada entre pessoas. Vamos imaginar usando o código binário como linguagem convencional. Usaremos um sitio que traz linha escrita para código binário. Usei a seguinte frase: “Vou aprender mais sobre leitura.”

Fonte: https://www.invertexto.com/codigo-binario

D

Você leu aquela imagem? O que conseguiu interpretar? Não preciso dizer mais nada! já entreguei. Trata-se de um texto, embora não use palavras. Comunica. Vou arriscar uma leitura. Compreendo essa imagem como uma reapresentação da conhecida ilustração dos três macacos sábios de origem japonesa. A representação permite uma nova leitura. Assim as imagens dos três macacos sempre com celulares permitem dizer que a ligação excessiva entre os macacos e o artefato tecnológico, celular. A ponto do celular se tornar o meio qual se ouve, se fala e se escuta. Não acredite que essa minha leitura esgotou o texto, existem mais elementos neste texto que deixo para você fazer suas próprias descobertas.

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C B A

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Sigamos para próxima letra, a letra “C”. Uma expressão matemática. Dizem que os números são uma linguagem, mas não entendo uma expressão como texto. Fico imaginando o que esses números querem dizer. Imagine uma expressão dessas em placa de trânsito, indicando número vagas para idosos. Você teria que resolver toda expressão para saber se são duas ou uma vaga.. Bem complicado...

De novo, mais uma imagem na letra “B”. As palavras estão presentes. Sim, trata-se de um texto. O que ele diz? O que nos autoriza interpretar. Vamos explorar seus sentidos. Observemos as palavras em inglês. Desafiam seu inglês básico. As palavras “White”, “Black” e “Yellow” sobreposta a imagem de três corações humanos? Você compreendeu?! Trata-se de um texto publicitário, desenvolvido pelo polêmico fotógrafo Oliviero Toscana, responsável na década de 90 pela campanha publicitária da marca italiana Benetton, conforme Wikipédia. Peço licença para colocar minha leitura. Acredito não ser a única possibilidade. Na minha visão, a imagem passa uma mensagem contra o preconceito da questão racial, pois o texto permite entender que as diferença raciais não nos tornam menos seres humanos. Talvez diga bem mais que isso. Veja o que mais ver nesse texto. Mas podemos observar a questão de contexto. Em que veículo circulou essa propaganda? Que tipo de empresa é Benetton? Quem essa propaganda quer atingir com sua mensagem? Qual a real finalidade desse tipo de texto? Certamente as respostas à essas questões permitem a produção de outros sentidos pelo leitor.

Chegamos a letra “A”. Não vi verbo, não vi adjetivo. Percebi uma sequência de substantivos, como se fosse uma lista de compra. O que você viu além disso? Sem tanto suspense. Sim é um texto. Não é um texto qualquer. Trata-se de um texto literário. Temos que ter mais cuidado com esse tipo de texto, pois tem como características “ brincar” com as convenções da gramática, de forma bem criativa. Trata-se de um texto literário. Com base na sequência de substantivos, podemos começar a produzir o sentido do texto. Você percebeu que as sequências de palavras sugerem a rotina do dia de uma pessoa? Cada sequência orienta para uma parte desse dia. Ficamos por aqui, então!!!


Modelos de Leitura Que os bons ventos que nos trouxeram até aqui nos levem ainda mais longe. Tem um texto para você nesta garrafa:

Fonte: https://brazilianvoice.com/colunistas/mensagem-na-garrafa.html

“Máquina registradora” Um negociante acaba de acender as luzes de uma loja de calçados, quando surge um homem pedindo dinheiro. O proprietário abre uma máquina registradora. O conteúdo da máquina registradora é retirado e o homem corre. Um membro da polícia é imediatamente avisado. (Autor desconhecido)

Achei esse texto intrigante, e você? Para avançar um pouco nesses mares da leitura, vamos olhar esse texto sob três primas. Nessa onda, vamos de carona nos estudos de Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. Primeiro prisma: texto. Vamos fazer uma leitura pautada apenas nas palavras do texto, observando texto como mero instrumento de comunicação, ou seja, vamos fazer uma leitura do que o texto diz literalmente. O que consegue entender? Certamente, não tem como compreender nesse texto a mensagem de um assalto, por exemplo, e sim, um conjunto de ações desconexas. Não precisa nem falar o quanto essa leitura é limitada. Nessa perspectiva, ler é decodificar.

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Segundo prisma: o autor. O texto nessa perspectiva não passa de produto do pensamento do autor. Então nossa função, enquanto leitura, é captar as intenções do leitor presente no texto. Para facilitar as coisas, vamos imaginar que esse texto “Máquina Registradora” tenha sido escrito por Jô Soares. O texto ainda não é tão claro quanto as intenções do autor. Então vamos nos arriscar em uma leitura mais especulativa, podemos deduzir que Jô Soares tenta ocultar um ladrão, assim ele critica a questão da corrupção no país, em que nem sempre a justiça alcança quem a praticou. Encontrei essa saída, mas saiba, é muito difícil entender a intenção do autor quando as pistas textuais não são suficientes. Terceiro prisma: interação autor-texto-leitor: o texto se constrói no momento da interação texto-sujeitos. Não existe uma leitura a priori, ou pré-existente, pois a leitura “é uma atividade interativa altamente complexa de produção e sentido”, segundo as autoras, Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. Nesse processo, o contexto se torna elemento crucial para a construção de sentido, observando os implícitos que podem ser detectados pelo leitor. Esses apontamentos implicam considerar que o texto vai além do literal que expande consideravelmente o sentido do texto. Assim, estamos autorizados admitir a existência do furto como uma leitura possível. Essa leitura é construída por meio do contexto de violência que nos cerca. Uma alienígena, sem a carga de conhecimento de mundo que temos, não leria assim. Diante desses três modelos de leitura, qual seria o mais abrangente? Qual permite uma reflexão sobre o uso do texto em sala de aula? Qual delas considera o aluno um sujeito ativo participante do processo de leitura? Ficam essas questões para você, colega.

O que o texto esconde? A viagem continua...

Um pouco mais longe de nosso ponto de partida, vamos dar um mergulho e descobrir o que o texto esconde, mergulhar significa sair da superfície do texto, buscar algo nas entrelinhas, as inferências, os implícitos. Nesse primeiro texto, algumas possiblidades de leitura ficaram de fora, você não pode dizer por exemplo que houve um assalto, por exemplo.

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Como você deve ter percebido, utilizamos na leitura algo mais que palavras ditas, expressa no texto. Assim, na sua leitura do “Máquina registradora” você incluiu um personagem que se encontra nos implícitos do texto, o ladrão.


Vamos então conhecer um pouco mais sobre esse imenso universo que o texto esconde, mas que sem ele não é possível fazer uma leitura mais ampla. Adianto que teremos apenas uma noção sobre inferência, de modo entender aspectos ligados ao processo de leitura. Vamos começar por atividade simples.

Você ganhou um carro esporte!

Considerando essa simples oração “Você ganhou um carro esporte”, verificamos que a partir da expressão “carro esporte” pode gerar percepções diferentes sobre esse veículo, ou seja, nenhum leitor vai construir mentalmente, exatamente a mesma imagem do veículo, conforme ilustrados na representação acima. Com isso, já começamos a perceber que a leitura se construiu também a partir da experiência de vida e visão de mundo dos leitores, cada um viu o carro esporte preenchido com suas preferências. A partir dessas informações, vamos adentrando em outras águas, que podemos chamar de inferências. Observamos que esta fala da personagem Helga: “O marido da irmã parou de beber”. O que podemos inferir sobre a fala de personagem? O marido da irmã bebia, é uma inferência totalmente que se harmoniza com as ideias do texto. Com o desenrolar da conversa, novas informações permitem novas inferências. “Sinto muito, quando é o enterro? Isso permite inferir que o marido da irmã de Helga morreu. Além disso, podemos inferir que ele parou de beber, não de forma voluntária, parou de beber em decorrência de sua morte. Verificamos então que muitas informações transitam nas entrelinhas do texto. Bem, falou inferir para cá, inferir para lá. Mas o que é inferir, mesmo?? Vamos usar como definição o que diz Marcuschi: Na realidade, as inferências na compreensão de texto são processos cognitivos nos quais os falantes ou ouvintes, partindo da informação textual e considerando o respectivo contexto, constroem uma nova representação semântica. Sobre essa definição, cabem algumas ponderações: a importância de inserir o leitor no processo de construção de sentido, pois inferência é um processo mental do leitor, sendo assim, a leitura é um processo de construção de sentido, o texto se faz texto nesse momento. O que está escrito no

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VOL. 34, FEBRERO 2017

EL CORAZÓN DEL LÍDER

papel não representa o texto de forma plena, por isso muitos autores usam a metáfora do iceberg PRINCIPIOS Y HERRAMIENTAS PARA ANIMAR Y FORTALECER AL LÍDER DE HOY criada por Dascal para explicar essa peculiaridade do texto.

EL CARÁCTER IMPORTA

Percebemos que a parte aparente do texto não o representa em sua totalidade. A inferência então faz parte desse continente Escrito por Luis Mellado que está escondido do texto. Isso justifica sua La gente sigue a un líder fundamentalmente por dos razones: líder tiene una visión convincente y abordagem nesteel livreto. Navegando além, tiene un carácter que inspira a otros. El carácter del não podemos de fazer alguns esclarecilíder es deixar muy importante porque le da credibilidad y le permite ganarse la confianza de sus seguidores. mentos sobre a inferência. Cuando nos referimos al carácter en esta ocasión no estamos hablando de personalidad, ya sea agradable o carismática, sino del conjunto de cualidades y convicciones que condicionan o Nesse sentido, vamos nos utilizar da metáfora producen la conducta en una persona y la distingue de los demás. Es lo que estáestudos debajo de la superficie, do iceberg e muito mais dos das autoel núcleo o corazón de la persona.

ras Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias, que trazem esse esclarecimento: El carácter del líder es importante no sólo porque le da

Fonte: https://guiame.com.br/colunistas/dione-alexsandra/ para corregirte. El rendirle cuentas a alguien es una de credibilidad, también es importante porque lo ayuda a las mejores prácticas que un líder puede tener.ponta-do-iceberg.html Y tercero, Quando adotamos - para entender o texmantenerse en su trayectoria a largo plazo. Jossy Chacko poner límites claros en nuestras áreas débiles y decidir tosu- sesión a metáfora do iceberg, que tem uma en “Formas indudables de extender el alcance por adelantado lo que no haremos. Si no decides de de tu liderazgo” menciona que los líderes no fallan por antemano, cuando te encuentres en esas situaciones pequena superfície à flor da água (explícito) e uma imensa superfície subjacente, que fundamenta falta de información, fallan por falta de carácter. Es una peligrosas, es más probable que caigas. verdadera tragedia cada vez que escuchamos que una a interpretação (o implícito), podemos chamar de contexto o iceberg como um todo, ou seja, tudo persona con muchos dones, habilidades, experiencia y En cuanto a los miembros de nuestro equipo y los líderes aquilo, de cae alguma forma, contribui para a construção sentido. gran potencial y es descalificada por un escándalo o determinar que estamos formando, eldo carácter debe ser un factor de descuido en su carácter. ¿Qué es lo que podemos hacer suma importancia. Una persona superdotada pero sin como líderes en cuanto a carácter? Debemos de tener carácter es peligrosa. La autoridad y el éxito le afectará presente la importancia del carácter en nosotros e vai do linguístico en forma negativa ultimadamente lo descalificará De certo muy modo podemos dizer que contexto aoycontexto sociocultural, vamos na inculcarlo en nuestro equipo y en los líderes que estamos del liderazgo. La formación y el cuidado de nuestros formando. seguidores debe incluir un gran énfasis en la formación y explicação de Regina Lúcia Péret Dell’Isola? cuidado del carácter, y no sólo el desarrollo de habilidades, Oscuanto contextos, cultural, encontram-se intimamente correlacionados. e cultura En a nosotrossocial mismos,edebemos reconocer que conocimiento y experiencia. Cuando vayas Sociedade a reclutar somos capaces de caer como cualquier otra persona. La a un líder para tu equipo, fíjate en su corazón y no te auxiliam a aquisição de conhecimentos, pelo indivíduo, de sua situação humana, na medida em que Biblia y la historia nos recuerdan a muchos personajes deslumbres con su carisma y sus habilidades. brillantes que empezaron bien pero terminaron mal. El depende da vida em conjunto com outros. primer paso es reconocer que somos débiles, y que si no Pero sobre todo, necesitamos reconocer que para es por la gracia de Dios podríamos caer. El segundo paso mantenernos firmes a lo largo de la carrera, necesitamos es estar dispuesto a que otros hablen a nuestra vida y a Dios. Sólo su gracia y su poder nos puede sostener A inferência tem como base também o conhecimento prévio e conhecimento de mundo que as pesnos digan nuestras verdades. Permitir que tu pareja, tus hasta el final. Enfoquémonos en tener un corazónem abierto amigos cercanos y tus mentores tengan la libertad total y moldeable en las manos de Dios. Sólo así podremos soas vão adquirindo ao logo da vida, por meio de suas vivências, experiências e de seus comportamentos. de hablar a tu vida para aconsejarte, para prevenirte, y permanecer fieles hasta el final.

Quando lemos o texto “A Máquina Registradora” o contexto sociocultural foi decisivo para a leitura de “El talento puede llevarte a la cima, pero solamente el carácter puede que houve um furto na loja. Marcasmantenerte textuais ajudaram, podemos dizer que não foram suficientes. Craig Groeschel en la cima”mas “Porque ojos de Jehová contemplan todade la tierra, para inferência mostrar su poder Para ficar mais claro, umlos exemplo retirado do livro Leitura: e contexto sociocula favor de los que tienen corazón perfecto para con él.” 2 Crónicas 16:9 (RVR1960) tural, de Dell’Isola.

Era um típico dia de janeiro em Estocolmo.

Era um típico dia de janeiro no Rio de Janeiro.

Como seria Estocolmo em janeiro? Muita neve? Frio? Como seria janeiro no Rio de Janeiro? Calor? Praia?

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Com esses exemplos, fica bem fácil perceber a importância do conhecimento do mundo para compreensão do texto, não podendo inferir sem conhecimento prévio.


As inferências abrem um horizonte de possibilidades para leitura, o que pode levar você a se perguntar até onde posso ir na leitura de texto com meus alunos. Com essa ilustração, pretendemos descortinar aspectos que podem ser considerados com relação aos limites de leitura. Lembramos que se trata de uma referência, e não uma resposta absoluta aplicável a todo tipo de texto.

HORIZONTES DE COMPREENSÃO TEXTUAL TEXTO ORIGINAL FALSEAMENTOS EXTRAPOLAÇÕES INFERÊNCIAS POSSÍVEIS PARÁFRASES CÓPIA FALTA DE HORIZONTE HORIZONTE MÍNIMO HORIZONTE MÁXIMO HORIZONTE PROBLEMÁTICO HORIZONTE INDEVIDO Fonte: imagem baseada em “ horizontes de compreensão textual, do Livro Produção textual, Análise de gêneros e compreensão, de Luiz Antônio Marcuschi, 2008.

Por meio dessa ilustração, você percebe que há limites para leitura. Além disso, leitura pode ficar restrito a mera codificação ou ser um processo mais amplo que nos permite vislumbrar horizontes além do expresso imediato, literal. Vamos comentar o quadro para descrever aspecto de cada horizonte que compõe a compreensão do texto, segundo Marcuschi. Quando o leitor lê o que está escrito estritamente, o autor chama isso de cópia, pois não explora de forma mais profunda as ideias contidas no texto. No horizonte mínimo, encontramos a paráfrase - processo em que leitor se arrisca um pouco mais sobre a compreensão do texto - permitindo uma reconstrução simples baseada em troca de palavras. Por meio das possíveis inferências, o leitor vai alçar voo mais distante, mas não poderá ir além do que o texto autoriza. No que o autor denomina Horizonte Problemático, está presente uma leitura permeada pelas impressões do leitor, não se pode dizer que seja uma leitura equivocada. Como diz o autor, nesse horizonte “se instala um quase que vale-tudo”. Resta então ao professor, que estiver conduzindo o processo, não deixar que ele descambe para um vale-tudo e ao mesmo tempo considerar as informações adicionais que o aluno traz, de modo que ele se sinta sujeito desse processo.

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O horizonte indevido é constituído pela leitura que não encaixa de modo algum com o texto. É uma atribuição de sentido totalmente equivocada. Essa área o autor chama de “leitura errada”. Vamos zarpando para outras águas. Confesso aos navegantes que os mares da leitura exigem bastante de quem os quer navegar, cada texto se traduz em um universo próprio, recheado de peculiaridades que cobram perícia, atenção e cuidado dos seus leitores.

Plano de navegação: estratégias de leitura Diante disso, precisamos de algum tipo de plano de navegação para não nos perdermos na imensidão dos mares, seguindo por outros rumos. Quem quer navegar por essas águas precisa de orientação. Em outras palavras, precisamos orientar nossos alunos para que eles se tornem bons navegadores. Mas, ao invés de chamar isso de plano de navegação, vamos chamar de estratégias de leitura. Vamos nos basear nas ideias de Isabel Solé, contidas no Livro “Estratégias de Leitura”. Também nos apoiaremos no livro “Formação de Professor do professor como agente letrador”, cujas coautoras são Stela Maris Bortoni-Ricardo, Veruska Ribeiro Machado e Salete Flôres Castanheira. Essa autora divide as estratégias de leitura em três momentos distintos: antes, durante e depois da leitura. Vamos fazer então uma analogia com uma viagem. Antes da viagem, o que fazemos? Fazemos reserva em um hotel, arrumamos as malas, verificamos as condições do veículo, os itens de segurança, pneus. Assim devemos agir antes da leitura em sala de aula, devemos preparar “o terreno” para que nossos alunos tenham boas condições de iniciar a leitura de texto. Pensando nisso, não podemos começar a leitura de texto escrito sem algumas atividades preliminares, que motivem os alunos para a leitura, ou mesmo que os preparem para essa atividade. Podemos começar verificando o que nosso aluno já conhece sobre o tema a ser abordado no texto, ou seja, seu conhecimento prévio sobre o tema. Para que tenhamos ideia da dimensão da importância do conhecimento prévio para a compreensão do texto, vamos beber um pouco do estudo de Angela Kleiman, expresso nas seguintes palavras:

A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. 20


Voltamos aquela analogia com a viagem. Cabe aos navegadores mais experientes formar os novos navegadores. Assim você deve procurar verificar o que entende como necessário para essa viagem. Em outras palavras, tenha em mente o que a aluno deve conhecer sobre o tema para que seja possível construir a leitura do texto. Se ele souber tudo, seu nível de adesão será mais baixo, tendo em vista que há expectativas. Se souber muito pouco, poderá sua compreensão ser comprometida. O que devemos fazer então? Temos que verificar o quanto ele sabe e, se for preciso, devemos atualizar seu conhecimento prévio. Como fazem isso? Há inúmeras formas. Tudo depende do texto que for trabalhado. Vamos imaginar uma aula em curso de técnico em informática, por exemplo, em que professor resolve começar sua aula, fazendo passar de mão em mão, uma placa com vários chips. Ele poderia perguntar: “Vocês sabem o que é isso? ”, “Sabem para que serve isso? ”, “Sabem o nome disso? ’ De uma forma bem criativa ele começou a verificar o conhecimento prévio dos alunos, além disso, instalou uma certa curiosidade e expectativa sobre o texto. Além dessa forma, o professor poderia pedir para que os alunos listassem o que já sabiam sobre o tema, à maneira de uma tempestade mental. Fazer algumas perguntas diretas sobre o tema, buscando uma relação entre o tema a ser abordado e o cotidiano do aluno. Ou seja, há várias maneiras de verificar o conhecimento prévio. Fica sempre aberta para sua criatividade. E quanto mais criativa for a maneira, mais expectativa os alunos terão sobre o texto. Além do conhecimento prévio, Isabel Solé nos orienta a observar a definição de um objetivo para a leitura de texto. Como há textos diferentes, há objetivos distintos para cada tipo de texto.

VAMOS FAZER UMA REFLEXÃO BEM SIMPLES SOBRE ISSO QUE FOI DITO

Fonte: https://cidadania23.org.br/2020/01/27/ veja-as-manchetes-e-editoriais-dosprincipais-jornais-hoje-27-01-2020/

Fonte: https://br.gsk.com/media/535999/rec_1501220143045332741_ bl_purin_gds18-ipi-03_v2-limpa.pdf

Fonte: http://www.emondial.com. br/wp-content/uploads/2017/08/ Ventilador-VP-PRO-55-08-18-Rev-10-IMPRESS%C3%83O.pdf

Temos então três figuras que representam diferentes tipos de texto. Na primeira, jornal; na segunda, bula de remédio; na terceira, manual de instrução de eletrodoméstico. Quando lemos um jornal podemos ter objetivos diversos: buscar informações sobre esporte, política ou mesmo sobre oportunidades de emprego. Assim, nem sempre precisamos ler o jornal por inteiro para alcançar nosso objetivo. Sobre a bula de remédio, talvez o leitor busque informações sobre efeitos colaterais do remédio, por exemplo. Para isso não precisamos ler a bula inteira.

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Pelos manuais de eletrodomésticos, podemos procurar informações sobre como o aparelho funciona e suas características técnicas. Talvez precise, para isso, ler boa parte desse texto, ou mesmo todo o texto. Com isso, devemos entender que a apresentação prévia do objetivo conduz também o processo de leitura do texto, pois, de certa forma, direciona o aluno em meio a leitura. O que o aluno busca no texto ou para que está lendo esse texto tornam-se uma estratégia de leitura indispensável, por isso devemos estar atentos a esse detalhe. Além disso, podemos usar outros recursos que podem motivar os alunos antes da leitura do texto. Podemos auxiliar nossos alunos a estabelecerem hipóteses ou previsões sobre o tema abordado no texto. Essas previsões ou hipóteses, podem se apoiar em alguma estrutura do próprio texto, como títulos, subtítulos, cabeçalhos, manchetes de jornais, uma ilustração etc. Vamos pensar em um texto com o seguinte título: “ Massa líquida, massa semilíquida e massa para fritar”. Que previsões podemos fazer sobre esse texto? Trata-se de um texto que deve diferenciar cada tipo de massa. Podemos supor que esse texto traga informações de como preparar as massas, ou finalidade de cada massa. Isso deve suscitar alguma curiosidade no aluno sobre o texto a fim de verificar suas previsões. Se o título do texto fosse “Relações Interpessoais”, que hipóteses ou previsões poderiam ser levantadas? Vamos lá: Como as relações interpessoais interferem no trabalho, como as características pessoais interferem no trabalho, por exemplo. Vemos esses recursos como instrumentos poderosos no sentido de buscar adesão dos alunos para a leitura do texto escrito. Em pleno mar, essa metáfora nos servirá para que possamos entender esse novo momento que vamos definir aqui como o momento durante a leitura. Lembramos que cabe ao navegador mais experiente orientar os demais. Nesse momento, temos como fundamental que o papel do professor na educação profissional seja como um mediador. Isso não significa que ele deva ler para os alunos e sim, com os alunos. Um pouco mais sobre isso, vamos nos utilizar das orientações de Stella Maris Bortoni-Ricardo, Veruska Ribeiro e Salete Flôres Castanheira:

No momento da leitura, deve-se destacar a importância do professor como mediador dessa atividade. É importante frisar que, na realização da leitura, deve ser dada ao aluno a oportunidade de assumir uma postura ativa diante do texto. Por isso, a função do professor no momento da leitura deve ser a de fornecer instruções para que os próprios leitores cheguem à compreensão dos textos. 22


Além disso, outras orientações relevantes sobre o momento da leitura estão apoiadas nas ideias dessas autoras. Em um primeiro momento, segundo essas autoras, o aluno deve fazer uma leitura silenciosa a fim de tomar um contato inicial com o texto. Posterior a isso, o navegador mais experiente, você professor de educação profissional, dever fazer uma leitura compartilhada. Esse momento é um momento bem rico nesse processo. Caberá então ao professor fazer com que o aluno compreenda mais sobre o texto. Não se trata de uma leitura apressada, pelo contrário, vamos devagar apreciando à vista, provocando os alunos para que eles formulem hipóteses. Vamos propondo um mergulho no sentido de palavras-chaves do texto, termos técnicos, conceitos subjacentes. Vamos verificando o que diz literalmente o texto pelas falas dos alunos, conduzindo o processo para que os alunos disponham sobre as informações implícitas no texto. Vamos deixando que os alunos naveguem, mas sabendo que estamos bem próximos para qualquer necessidade. Mais uma vez vamos nos mantendo firmes em ceder a um hábito bem comum: ler o texto para o aluno, entregar a leitura “pronta”. Devemos ter paciência se quisermos formar bons leitores e bons navegadores. Para tudo não ficar apenas na teoria, vamos simular uma prática de leitura a partir do texto abaixo:

Fonte: https://ifrs.edu.br/ensino/ead/cursosead/

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Vamos pelas hipóteses. Podemos começar assim, verificando junto aos alunos algumas afirmações. Se buscarmos uma leitura global, veremos que o texto faz referências a pratos típicos brasileiros. Agora elementos mais pontuais no texto, podemos fazer esses tipos de massa sem leite, ovos e farinha. Agora ainda mais específico, podemos dizer que panquecas e filhó recebem o mesmo tipo de recheio. Podemos explorar o sentido das palavras. Uma busca ampla. Como perguntas diretas: Entenderam todas as palavras do texto? O que significa diâmetro? Qual o significado da palavra “areada”? Qual o significado da palavra “empanados”? Esse ponto cabe um esclarecimento. Não vamos fazer da leitura uma atormentada busca por sentido de cada palavra, em muitos casos, por meio do próprio contexto, conseguimos ter uma certa noção do sentido da palavra. Isso deve ser ensinado aos alunos, pois a excessiva busca de sentido das palavras pode travar fluidez da leitura. Em caso de palavras-chaves é diferente, se o aluno não domina o sentido dessas palavras pode comprometer a compreensão do texto como um todo.

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Por outro lado, temos que estar bem vigilantes à questão do vocabulário de cada aluno, muitas vezes somos surpreendidos, pois aquelas palavras cujo sentido julgamos ser de amplo conhecimento, às vezes não é bem assim. A experiência com textos e palavras de cada aluno acaba sendo algo muito subjetivo. Imaginar isso dentro de uma sala de aula bem heterogênea, nos dá uma dimensão da complexidade do que é o ensino da leitura. Vamos à analogia que fizemos anteriormente, entre leitura e viagem. Quando retornamos da viagem, o que fazemos de imediato? Desfazemos as malas. Mais que isso, nos damos conta do que aprendemos durante o passeio, o quanto foi divertido. Avaliamos a viagem. Sobre a leitura, ao terminar um texto, precisamos verificar se nossos alunos alcançaram a compreensão dele. Não vamos fazer uma prova nos moldes tradicionais, embora vamos pensar que recursos podemos utilizar para que possamos “medir” a compreensão do texto pelos alunos. As autoras Stella Maris, Veruska e Salete nos dão dicas de recursos que podem ser utilizados nesse momento. Para as autoras, podemos ir desde uma identificação das ideias principais do texto até a elaboração de mapas conceituais. Entre os recursos citados pelas autoras, destacamos dois em especial: a elaboração de resumos, que se trata de uma prática interessante, uma vez que trabalha, além da compreensão do texto, a produção de texto. Podemos aqui ter uma oportunidade para que professores de EPT de área técnica, trabalhem em parceria com professores de Língua Portuguesa.


Destacamos também a realização de mapas conceituais, cabendo ao professor de EPT, de área técnica, preparar o “terreno” para que o aluno possa elaborar seus mapas conceituais com mais desenvoltura e segurança. Vamos deixar aqui uma simples ilustração sobre a realização de mapa conceitual feito a partir de texto de uma disciplina de área técnica. Uma simples ilustração, só isso.

Fonte: http://www.cefospe.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=30580954&folderId=33769599&name=DLFE-169051.pdf

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Elaboramos o seguinte mapa conceitual: SOMOS ÚNICOS HERANÇA BIOLÓGICA

RELAÇÕES INTERPESSOAIS

PERS0NALIDADE

DETERMINADA POR

AMBIENTE

IDADE COMPRENDER AS INDIVIDUALIDADES PARA MELHORAR DISPOSIÇÃO INTERIOR

RESPEITO

SATISFAÇÃO DE NECESSIDADES

CONCEITO ACEITAÇÃO DO OUTRO

As formas de avaliação da leitura ficam abertas a criatividade de cada navegador, em sua escolha deve ser considerada como essas formas se adaptam as características de cada aluno ou turma. Importa-nos destacar que o momento depois da leitura é também mais um momento de aprendizado em que a leitura continua. Entendemos que chegamos ao fim dessa jornada. Não é o fim da aventura. Trata-se apenas do começo para você, professor de EPT de área técnica. Esperamos que as informações sejam úteis, que possamos todos navegar pelos mares da leitura, cada vez melhor e com muito mais navegadores.

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Referências Bibliográficas BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro; CASANHEIRA, Salete Flôres. Formação do professor como agente letrador . 4ª. ed. São Paulo: Editora Contecto, 2010. 190 p. DELL´ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura:inferências e contexto sociocultural. 2 ª Ed. Belo Horizonte- MG. Formato. 2001. 15-81p. FREIRE, Paulo. A importância do ato de leitura : em três artigos que se completam. 23ª. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1989. 49 p. v. único. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 1ª ed. São Paulo-SP, Parábola Editoria, 2008. 229-289 p SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura.Trad.Cláudia Schilling, 6 ed. Porto Alegre, 1998. 09-114p. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3ª ed. São Paulo, SP, Contexto, 2017, 10-73p.

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REALIZAÇÃO:

Reitoria: Avenida Rio Branco, nº 50 – Santa Lúcia | 29056-264 – Vitória – ES - (27) 3357-7500 | https://www.ifes.edu.br/


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