VIÉS - MODA|CULTURA|VIDA

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Um novo jeito de mostrar moda Sophia Amoruso

Mamilos livres

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Jovens estilistas da capital mineira se unem para mostrar seu trabalho em ações inusitadas baseadas no compartilhamento e na troca de ideias. Texto Heloisa Aline Ilustração Fernando Barreto e Pedro Ricardo Design Fernando Barreto e Pedro Ricardo

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GENTE JOVEM, COM TALENTO, mil ideias na cabeça e buscando uma oportunidade no competitivo mundo da moda... quem já não ouviu essa história? Após a formatura. Uma interrogação invade a cabeça da maioria dos alunos graduados em Design de Moda. Com exceção dos poucos que foram absorvidos pelo mercado quando ainda estudantes, a dificuldade para encontrar um trabalho permeia a vida do restante. Os currículos enviados ficam sem resposta, as marcas querem profissionais que já tenham uma experiência real e que possam contribuir efetivamente em suas equipes. A solução para boa parte desses estilistas em início

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de carreira é empreender, investir na própria marca, fugindo do modelo tradicional de comercialização nas grandes feiras, salões privês ou showrooms sofisticados, inviáveis economicamente. Sem aporte financeiro para bancar o investimento, a alternativa tem sido vender seus produtos diretamente para o consumidor final em ventos itinerantes, que agregam pessoas na mesma situação, faixa etário, e, não raro, envolvem outras manifestações culturais. É nesse caldeirão fervilhante de ideias, regado com a energia da juventude, e acreditando no coletivo, que as marcas vão se tornando conhecidas do público e negócios são realizados.

Case que exemplifica bem esse movimento é a galeria de moda AMDO(www. amdo.com.br), que reúne sete nomes da novíssima geração de estilistas da cidade: Ana Barros, Camila Interlandi, Gui Legnani, Carlos Penna (acessórios), Nuu Shoes (sapatos), Matheus Couto e Mínima (acessórios). A curadoria é do jornalista Bernardo Biagioni. Foi fotografando os desfiles do Fumec Forma Moda, evento no qual alunos da universidade apresentam seus trabalhos de conclusão de curso (TCC), que ele se deparou com alguns formandos talentosos, que lhe chamaram a atenção. Daí veio a proposta de formação de um grupo para que pudessem efetuar ações

Foto AMDO


‘‘Comecei documentando seus trabalhos e, com o tempo, fui percebendo que faltava uma ponte que os conectasse com o lado comercial”

Foto Google

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“mulheres com estilo pessoal, que gostam de moda, mas não se prendem às tendências”

Foto NUU Shoes

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comerciais e de marketing, Bernardo, um jovem apaixonado por Belo Horizonte, cuja primeira experiência no jornalismo aconteceu na revista Ragga e no jornal Ragga Dropz, deixou de lado a profissão para se dedicar a propostas que envolvessem e projetassem a cultura local. Em 2012, criou a galeria de arte contemporânea quartoamado, formada por artistas promissores. “Comecei documentando seus trabalhos e, com o tempo, fui percebendo que faltava uma ponte que os conectasse com o lado comercial”, explica.

Alfaiataria A AMDO (ANAGRAMA DE AMADO), “uma irmãzinha do quartoamado”, segundo ele, estreou em abril de 2015, com um desfile performático na inauguração de A Alfaia-

taria, endereço que abrigou o atelier do renomado alfaiate Hermano, e que funcionou até dezembro, com a proposta de ser um espaço colaborativo de desenvolvimento de ideias e projetos. Tornou-se um ponto cool dos antenados e criativos de Beagá. “Nosso principal objetivo é criar e ampliar espaços e perspectivas para jovens designers locais, articulando um movimento efervescente de criadores mineiros que, por falta de estímulo, por vezes não perseveram em criações experimentais e autorais”. Ali os novos estilistas receberam corners para expor suas coleções cápsulas, convivendo com outras manifestações artístico-culturais. Bernardo explica que, com o encerramento das atividades de A Alfaiataria, “a galeria AMDO seguirá itinerante, criando e resignificando lugares da cidade para a realização de desfiles, exposições, palestras e workshops direcionado à articulação deste slow fashion local”, afirma.

Atemporal FILHA DA SAPATEIRA PAULA BAHIA, Marcela Bahia seguiu os passos da mãe e lançou a NUU Shoes em sociedade com Marina Lerbach, em abril do ano passado, na Benfeitoria, um galpão mix de galeria de arte, casa de shows e bar, no bairro Floresta. O imóvel foi escoFoto AMDO

lhido pelo coletivo Benfeitoria depois que a casa que o grupo mantinha na região ficou pe quena para seus eventos, que incluem um feira de design e artesanato. Desde o princípio, a ideia da dupla era explorar minicoleções de sapatos a partir de criações atemporais, voltadas para “mulheres com estilo pessoal, que gostam de moda, mas não se prendem às tendências”. Apesar de apostar forte no e-commerce e nas redes sociais, elas optaram também, nesse primeiro momento, pelas vendas no varejo. Por isso, a participação no projeto A Alfaiataria foi fundamental para a aproximação com o público. “Clientes e amigos puderam ver a coleção e experimentar as peças. Como foram realizados vários eventos no local, houve um grande trânsito de pessoas, que se identificaram com 7 SUPER MAIO 2017


nossa proposta. Isso além do reconhecimento da empresa no cenário local”, afirma Marcela. Integrante da galeria AMDO. Marcela considera revitalizante conviver e trocar ideias com outros designers, ajudando-se mutualmente. Pouco a pouco, a NUU vem conseguindo se introduzir em multimarcas – já está no Rio, São Paulo e interior de São Paulo. “Mas, por enquanto, vamos continuar vendendo online e em pontos físicos temporários, que dialogarem como o perfil do público da NUU. Acabamos de participar da Cluster, no Rio de Janeiro, com esse mesmo objetivo”, conclui.

Slow fashion A MAIORIA DOS FASHION DESIGNERS iniciantes, que optaram por esse caminho, são adeptos do slow fashion, que tem muitos seguidores. São pessoas que gostam de comprar em locais alternativos com produção pautada pela exclusividade. E apreciam roupas que têm uma história, com edição limitada – se forem de autoria de alguém que conhecem ou pertenceram à cultura local, terão um significado especial: o valor afetivo aumenta, mesmo que custem mais caro do que em loja convencional. Camila Interlandi, que se formou na Fumec, há pouco mais de um ano – junto com Gui Legnani (moda masculina) e Ana Barros –, acredita nisso. MAIO 2017 SUPER 8

Participou, como os dois colegas, do desfile de inauguração de A Alfaiataria. “Foi minha primeira experiência, um laboratório, um aprendizado. Recebi o convite, desdobrei as peças que fiz para o TCC em outros looks e, quando vi, estava mostrando, vendendo meu trabalho e percebendo como ele estava sendo recebido”, conta. Na sequência, em novembro, ela se uniu a Gui Legnani para lançar o Projeto Motus, cujas coleções cápsulas são voltadas para um público “sem gênero”. “Criamos e as pessoas compram aquilo com que se identificam, independentemente se são homens ou mulheres”, explica, frisando que a ideia foi sucesso. Tanto é que, no momento, Camila e Gui optaram por dar uma pausa em suas coleções particulares para se exercitarem a quatro mãos. A possibilidade de se expressar a partir do que pensa sobre moda, estilo e roupas também conquistou Ana Barros, um nome para se prestar atenção. No pouco tempo entre a saída da universidade e a vida de estilista, deu passos gigantes para uma iniciante: desfilou a coleção de graduação na 36ª Casa dos Criadores, foi escolhida entre os 22 melhores jovens designers internacionais para desfilar uma nova coleção no projeto Mittelmoda, na Itália, recebeu convite para desfilar na semana de moda de Van-

couver, no Canadá. E ainda: selecionada para o estande coletivo do Sindivest-MG, no Minas Trend, ficou em segundo lugar no concurso Ready to Go, que revela novos talento para o mercado. Em São Paulo, para onde se mudou recentemente, ela se matriculou em uma pós graduação em Empreendedorismo sustentável em moda, na universidade Anhembi-Morumbi. Na sua concepção, isso vai ajudá-la a gerenciar melhor a sua marca e a continuar no consumo sustentável. “Não quero fazer parte dessas marcas que vendem roupas descartáveis. Quero que as pessoas deseje m ter uma peça minha no guarda-roupa, que ela seja atemporal, que a guardem com carinho, como antigamente acontecia. Muito da minha roupa e da minha produção passam pela questão do afeto e acho que as pessoas estão perdendo isto”. Nesta filosofia, Ana está à procura de pontos comerciais e showrooms que combinem com a sua proposta de moda festa autoral, onde o público busque esse tipo de produto, valorize, bons tecidos, postos artesanais de bordados, bom acabamento. “Penso que com todo o investimento que fiz na minha marca e no meu nome, vou dar continuidade ao meu projeto com mais facilidade e resultado”. Apesar de distante, ela salienta que não sairá da galeria AMDO, um braço importante em Beagá. S


Foto NUU Shoes2017 9 SUPER MAIO


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Passarela do Tempo Dois anos atrás, o chinês Wang Deshun causou furor ao desfilar na semana de moda de Pequim com peito nu, cabelos brancos e a leveza de quase oito décadas de vida. Hoje, o ator que virou modelo persegue uma obsessão: Transformar seu corpo em arte. Por: Michael Paterniti.

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inda faltava segundos para ele se transformar no lao xian rou- ou a velha carne fresca -, a nova fronteira em que sensualidade e velhice se uniram na mesma frase. Ate aquele momento, no backstage, ele ainda era apenas Wang Deshun, um senhor de 79 anos, casado, com dois filhos e um neto. Logo, as luzes da casa se apagaram, ouviu-se um som de vento e Deshun pisou no palco, concentrado no que parecia a encenação de um furacão. Ele interpretou a historia de uma criança tentando chegar em casa, ou de um velho que e um garotinho tentando chegar em casa – ou algo assim. Wang sabe mover seu corpo

de um jeito muito hipnótico. Seu rosto expressava emoção, alegria, medo e alegria novamente. Com a autoridade de seus quase 80 inabaláveis anos na Terra, ele não parecia ligar se as pessoas estavam ou não entendendo o que ele estava fazendo. Arte e arte. E foi assim que nasceu uma lenda. A trajetória sem palavras do Vovô Gato, como muita gente passou a chama-lo, começou uma noite de marco, ha dois anos, durante a Semana da Moda de Pequim. Com um re-

belde cavanhaque confucionista, esse senhor hoje tem 81 anos, surgiu na passarela com a cabeleira branca escovada e o peito nu besuntado com óleo. Ele estava vestido com calcas de algodão acolchoadas. O designer responsável pelo desfile, Hu Sheguang, passou as instruções: Deshun faria uma performance na abertura do desfile, na qual fingiria lutar contra um vento forte e ,depois, Hu Sheguang, passou as instruções: Deshun faria uma performance de abertura do desfile , na qual

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QQ, sua filha e agente, conta que, depois da aparição na semana de Moda de Pequim, seu pai recebeu ofertas de milhões de dólares para fazer propaganda de coisas como pílulas de longevidade e carros de luxo, embora ele não tome pílula alguma e sequer saiba dirigir. Sim, ele se tornou se tornou uma sensação global, e sim, ele gostou de atrair as atenções do mundo, mas ser visto como sex symbol não estava exatamente nos seus planos. Afinal, ele tem uma esposa, uma diretoria de cinema na casa dos 70 anos, e eles tem uma vida conjunta de quase meio século. Quando nos encontramos no ano passado em Milão, onde Deshun estava para desfilar pela Ermenegildo Zegna- um dos poucos acorMAIO 2017 SUPER 12

dos comerciais que ele aceitou assinar depois do frenesi de seu desfile-sensação-, a primeira coisa que perguntei foi sobre como ele conseguiu, aos 80 anos, ter um corpo que poderia muito bem ser o de um homem 50 anos mais jovem. A resposta foi surpreendente: em vez de um tutorial sobre dieta e exercício, ele disse que não era um modelo, mas um ator, e que seu corpo e a ferramenta de sua arte. O corpo invejável e a vitalidade não foram regra em toda a sua trajetória. Deshun confessa ter flertado com uma morte prematura durante a chamada Revolução Cultural Chinesa, quando trabalhou como operário na fabrica, engraxate e cobrador de transporte publico. Mas o ponto mas baixo de sua saú-

de ocorreu nos anos 1980, na era de Deng Xiaoping, líder do Partido Comunista Chinês que governou o pais entre 19978 e 1992. Aquela altura, Deshun já era um ator de teatro com mas de 20 anos de carreira. Como discípulo de Stanislavski, ele realmente incorporava as dores e as emoções de seus personagens. Com 40 e poucos anos de idade, ele desmaiou no palco. E voltou a desmaiar. Ao assinar um diagnostico de distúrbio autônomo, o medico que o atendeu recomendou que abandonasse os palcos- do contrario, ficaria louco. Deshun, descobriu-se depois, estava a beira de um colapso nervoso. Mas, apesar da recomendação medica, ele não quis abandonar sua carreira e decidiu transfor-


forma de arte que utiliza a mimica para contar historias geralmente alegres, divertidas; as pantomimas de Deshun, no entanto, eram dramas sobre amor e ódio, vida e morte. Ele as chamou de “pantomimas filosóficas”. Uma delas, batizada de Vida, traçava a odisseia humana do ventre a sepultura. Com ela, o ator recebeu convites para se apresentar em todo pais. Quando, aos 50 anos, um show de esculturas

mar o risco da morte em uma peca. No roteiro imaginário, Deshun viveria seus dias como se encenasse uma despedida: partiria para o deserto para nunca mas voltar. A despeito do alerta, o ator não parecia ter medo de seguir adiante com a ideia. Seus colegas de palco, claro, acharam a coisa toda uma insanidade. Não fazia sentido assumir esse risco, especialmente porque ele estava muito perto de se aposentar e começar a receber pensão. Ele pareceu ainda mas louco quando, pouco depois de partir para sua jornada final, começou a trabalhar como voluntario em uma escola para surdos-mudos. Todos os dias, ia a escola e criava historias com os alunos. Ele aprendeu a língua de sinais e estudou suas expressões. Inspirado, começou a criar pantomimas, uma

“ Arte e usar os meios mais comuns para expressar a emoção mais complicada”. de Rodin chegou a China, o autor fiou maravilhado com a beleza daquelas obras clássicas. Aquelas pecas, pensou ele, pareciam o mais próximo que a arte poderia chegar da eternidade. Ao visitar a exposição, ele fez outra observação: Seu corpo não era tão diferente de muitas daquelas formas masculinas. Ao comentar isso com sua esposa, ela provocou: por que não criar uma pantomima como uma estatua- e com uma estatua? Seriam duas figuras: uma estatua real e uma, o próprio Deshun, pintada. A ideia era conter o movimento tão in-

tensamente que fizesse a verdadeira estatua parecer estar viva e a estatua viva as vezes sem vida. Por si só, essa constante mudança de papel entre as duas figuras contaria uma historia. A pantomima seria chamada de escultura viva. “Aquilo se transformou em uma obsessão”, disse ele. A obsessão o levou a academias, pista de gelo e piscina, tudo como parte do seu rigorosíssimo regime de preparação. Aos 57 anos, Deshun estava treinando- sim, a loucura era essa mesmo- para se transformar em uma estatua de Rodin. Em 1993, ela apresentou a pantomina Escultura Viva pela primeira vez, em Pequim. Coberto apenas por uma folha de figo e om o corpo pintado om um verde metalizado que imitava o bronze da escultura, exibiu-se ao lado da estatua de uma mulher nua com os braços estendidos. O que ele queria com tudo isso, afinal? E o que e arte para ele? “ Arte e usar os meios mais comuns para expressar a emoção mais complicada”, filosofa. E mostrar a complexidade dos sentimentos com formas simples.” Na atuação, emprega-se dialogo e ação; na pantomima, eliminam-se os diálogos para concentrar tudo na ação. “ Pois eu exclui a atuação e mantive só as poses no palco. Eu ficava lá, e só. Essa e a forma mais simples de arte. e ; quando eu morrer meu corpo vai para uso da ciência.” E o que ele pensa sobre o amor? 13 SUPER MAIO 2017


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Fontes: https://kokstars.files.wordpress.com/2013/12/wallpaper-1630123.jpg


“O Primeiro Sutiã a Gente Nunca Esquece ” Protagonizou Washington Olivetto, em 1987

Por: André Regly Design: Iago Santos, Icaro Oliveira, Allan Moreira

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o mês de agosto, o município de Nova Friburgo, na Região Serrana, ultrapassou os 40 graus, na 23ª Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria Prima, ao contar com 102 expositores, quase nove mil visitantes e um faturamento de R$45 milhões - cinco milhões a mais que em 2012. Segundo os organizadores, o evento terminou com 100% do espaço vendido, para a próxima edição. Esse é o segmento do setor que mais cresce no país, apesar da falta de mão de obra que insiste em neutralizar a expansão das indústrias de maior porte, como DeMillus e Duloren. Com a intenção de entrar na intimidade da moda íntima do estado do Rio, a equipe da Revista Moda Rio subiu a serra para conhecer mais de perto a Fevest e seus expositores.

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Depois percorreu algumas grandes marcas instaladas no Rio e Grande Rio, associadas do Moda Rio, para entender o que mudou nos últimos 20 anos, qual a dinâmica hoje de mercado, quais as principais barreiras e como se dá a concorrência entre tantas empresas do mesmo segmento, entre outros detalhes. Em resumo, a falta de mão de obra e a informalidade são os maiores obstáculos dos grandes e a tecnologia e deficiência na engenharia de produção parecem ser o que torna os micro e pequenos menos produtivos.

Polo de Moda Íntima Na Região Serrana, o polo de Moda Íntima reúne 1.340 confecções, aproximadamente, e emprega cerca de 12 mil pessoas de maneira formal e oito mil na informalidade – fato que lamenta o presidente do Sindvest, Marcelo Porto. De acordo com o empresário e sindicalista Marcelo, essa quantidade representa 25% da produção nacional. Ele informa que há pouco tempo atrás o município respondia por 14% das exportações, mas com o cenário de recessão internacional, esse percentual caiu para algo perto de


8%. “Mas já começa a se recuperar”, relata Marcelo, acrescentando que, “mesmo depois das tragédias das enchentes de 2011, o crescimento acumulado no setor, nos últimos anos, é de 45%”, apesar de assumir o descrédito que tem nos números estatísticos. Marcelo atribui o sucesso da Região à união dos empresários e ao forte apoio que o setor vem recebendo, como investimentos do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), numa parceria com a Firjan, que liberou R$ 400 milhões para o polo, entre outras ajudas institucionais e governamentais.

criatividade e a qualidade estão sendo estimuladas e foram premiadas pelo SEBRAE. A moda masculina chamou a atenção com inovações em cuecas grafitadas e com bojo (inspiração antiga, vinda do Renascimento). O primeiro Prêmio “Destaque da Moda” foi para a marca Lalie Lalou, das irmãs Ana Amélia e Ana Luiza Rabello. Pele Nuda foi outra marca premiada, da empresária Andréa Luiza Barbosa. Sua aposta esse ano foi acrescentar o sutiã cropped e a lingerie plus size em seu mix. De acordo com Andréa, o momento é de comemoração também pelo crescimento da empresa, que em um ano expandiu em 30%. Ela passou de 240 mil peças produzidas em 2011 para 400 mil no ano passado e garante continuar no ritmo, mantendo hoje 30 empregados formalmente legalizados na linha de produção. Para Andréa, o segredo está na mão de obra capacitada e bem amparada pela empresa, que proporciona benefícios e bem estar no local de trabalho. As gigantes do segmento lingerie concordam com a empresária, mas a pwolítica de benefícios já não é atração na metrópole.

A produção anual alcança cerca 114 milhões de peças, sendo 91% lingerie

Fevest

“Na semana em que aconteceu a Fevest, o Sistema Firjan inaugurou, próximo ao centro da cidade, o Senai Espaço da Moda (ver pág. 06). É um investimento voltado para a formação e capacitação de mão de obra local, com auxílio aos empresários para inovação. No espaço pretende-se formar 600 profissionais, por ano”, informa Marcelo Porto. Nos dois dias de desfiles da Fevest, ficaram confirmadas as tendências para a próxima estação 2014, como o abuso da renda e das cores fortes e tecidos inteligentes (sem novidades). A sensualidade, o conforto e a praticidade continuam sendo o carro chefe das marcas. Os tecidos inteligentes, principalmente os térmicos e os anticelulite, ganharam mais espaço. A

As Gigantes O crescimento é o objetivo obrigatório de todos. A DeMillus é uma marca gigante do mercado. Ela possui cerca de 500 produtos, com a intenção de satisfazer todas as necessidades da mulher, assim como garantir sua fidelidade, com linhas infantis e para adulto. Somente na linha de lingerie são 44 milhões

Fontes: http://www.lovatticonfeccoes.com.br/

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de peças por ano. “A meta de expansão para os próximos dez anos é continuar o crescimento na casa dos 20%, mantendo os mesmos níveis de atendimento e qualidade,” revela Nelson Cuptchik, diretor administrativo. Hoje, com todas as mudanças que o mercado impõe, o crescimento tornouse algo inevitável. Se as empresas não expandirem, estarão fadadas à falência. Nelson explica que há 20 anos as coisas aconteciam com mais lentidão. As fábricas mantinham estoques grandes. Hoje não. Elas investem mais em criação que também se tornou mais dinâmica e agregadora essencial de valores. Os produtos mudam com muita rapidez. O empresário lembra que, na contramão dessa agilidade, estão as peças de lingeries que ficaram muito mais complexas, com mais integração de acessórios, rendas e bordados. Esse fato aumentou bem mais o tempo de fabricação. Então, isso demanda mão de obra altamente qualificada e uma engenharia de produção moderna para dar conta do recado. A DeMillus treina seus colaboradores desde a admissão. Ao todo, o grupo tem cerca de seis mil funcionários, dos quais 3.200 trabalham na confecção. “Temos, além das empresas no Rio de Janeiro, duas na Paraíba, onde somam cerca de mil empregados. A capacitação é contínua. E temos pouca rotatividade. Isto se deve a alguns benefícios como produtividade, cesta básica e plano de saúde, dentre outros. Mas sempre há necessidade de mais mão de obra”, acrescenta. A falta constante de mão de obra, mesmo para ainda ser qualificada, é o maior obstáculo na Duloren, para o crescimento da empresa. Roni Argalji, diretor dessa outra “gigante” do estado do Rio, conta que além de todos os benefícios bastante atrativos e investimentos para fazer do ambiente de trabalho um local agradável, enfrenta constante dificuldade para completar o quadro de costureiras. “Hoje preciso de 50. Nunca consigo preencher essas vagas. Produzimos cerca de 11

milhões de lingeries por ano, com cerca de 1.500 profissionais”, relata. Ao que tudo indica, a capacitação é estratégia inevitável e será sempre um desafio para o setor, até mesmo por conta das transformações que as novas tecnologias provocam, de maquinário ao surgimento de novos tecidos. Para o empresariado, governo e instituições, que existem para apoiar e fomentar a indústria, deveriam atuar com mais seriedade para ajudar a resolver ou minimizar o problema, criando outros espaços como o recém inaugurado em Nova Friburgo. Segundo Victor Misquey, a reivindicação já foi apresentada às instituições que apoiam o setor e o assunto, que é antigo, será retomado. “Vou procurar novamente o SEBRAE, a Firjan e o Senai Cetiqt essa semana ainda, para ver o que é possível fazer”, promete, reconhecendo que não há necessidade apenas de formar mão de obra, mas também de promover capacitação, devido às novas exigências.

“Mas não brigo pelo valor barato, porque meu público é a classe a e b, mas as marcas locais acabam incomodando”

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Novos valores

Atualmente, as peças íntimas assumem cada vez mais funções e estão mais sofisticadas. Estão voltadas também para a saúde e a estética, como contenção de seios e proteção da coluna, contra celulite, bactérias e alergias, suor, odor... E por aí vai, tudo oferecendo conforto e praticidade. “Sempre tivemos uma linha médica voltada para o pós-cirúrgico e faixas maternais. As linhas mais sensuais e sofisticadas são aquelas que levam mais rendas e bordados. Em termos tecnológicos as que recebem lavagem bacteriológica (um diferencial com relação à produção de empresas de menor porte). E mais recentemente, o uso do fio Emana (da Rhodia), que ajuda no combate à celulite. E também trabalhamos com cintas emborrachadas que auxiliam na postura, bem como mo-


Dulorem produz cerca de 11 milhões de langerie por ano

deladores, entre outras peças. A procura por estes produtos voltados para a saúde cresce muito. No momento, estão no patamar de 10%. Os produtos são muito bem aceitos, porém, é um mercado mais restrito. Dificilmente eles vão chegar perto dos modelos de lingerie mais sensuais”, especula Nelson Cuptchik. Para Roni Argalji, essas novas peças, por mais funções que tenham, pouco competem com as que possuem o apelo à sensualidade, que é o que ainda provoca a consumidora. Mas, segundo a responsável pelo marketing da marca, Denise Areal, a linha funcional ganha cada vez mais espaço. “A linha básica era o carro chefe da empresa. Hoje a linha voltada para as funções corretivas é a que mais cresce. Nossa produção gira em torno de 35% de lingerie básica, 35% das funcionais e 30% dirigida para sofisticação”, explica. E Roni acrescenta: “O importante é que todas carregam o DNA Duloren, que é a produção da matéria prima de altíssima qualidade, e a criação e o valor à sensualidade. Nosso setor de tecelagem possui as máquinas mais modernas do mercado, adquiridas na Alemanha, Itália e Suíça”, gaba-se, orgulhoso. Despreocupado com a concorrência, confessa se incomodar apenas com o que classificou como “fabriquetas”, aquelas confecções que operam na clandestinidade, e mesmo com um produto com menos qualidade, interferem na estabilização do valor, na hora da venda. A competição legal acirrada no mercado nacional parece não ser uma pedra no meio do caminho de muitos empresários. Para Nelson Cuptchik “pode-se dizer até que são todos parceiros”, disse, batendo também no principal e desleal problema: “A grande concorrente nossa é a enorme quantidade de empresas informais que, embora produzam seus produtos com menor qualidade, conseguem obter um preço menor. Este valor reduzido é devido ao não pagamento de tributos ao não cumprimento das leis trabalhistas”, alfineta, enquanto aguarda uma verdadeira reforma tributária e trabalhista e ações que promovam a geração de mão de obra com competência.

Fontes: http://freshwallpapers.net/download/7939/1920x1080/download/sharon-stone-in-a-sexy-red-dress.jpg.

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Ilustração: Jack Flamel


De “mergulhadora de lixo” a arrecadadora de uma fortuna MULTI-MILIONÁRIA em dólar, FALÊNCIA e agora uma companhia de MÍDIA, a MULHER que fundou #GIRLBOSS viveu, e ESCREVEU, TUDO.

Texto Revista Collective Hub Design Júlia Vasconcelos e Samira Almeida Ilustração Júlia Vasconcelos e Samira Almeida Fotos girlboss.com e Instagram 21 SUPER MAIO 2017


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ma “anarquista desajustada” e “mulher de negócios incomum” é como o diretório de entretenimento IMDb descreve a personagem principal de Girlboss – a nova série de comédia da Netflix que é baseada na vida de Sophia Amoruso. E, é uma descrição bem precisa desta imperadora da moda. Um angustiada, “mergulhadora de lixo” adolescente que, aos 22 anos, começou uma loja no e-Bay em 2006 vendendo itens ‘pré-amados’ (a primeira coisa que ela vendeu no eBay foi um livro roubado de uma loja), Shophia jamais planejara entrar no comércio virtual. Mas, ela conseguiu conquistar o sucesso de toda a vida (e desafios) na década passada. A pequena boutique do eBay se tornou o boost inicial de um império fashion, Nasty Gal, e transformou o tradicional op-shopper num negócio próprio milionário –– eeautora autosuperstar. ra superstar. Ela se conectou com clientes através do MySpace, buscou modelos online e as pagou com hamburgers. Seu livro, #Girlboss, se tornou uma sensação do The New York Times – e um movimento social. Meio autobiográfico e meio direcionador*, ele documenta sua ascensão a executiva de alto MAIO 2017 SUPER 22

nível nível com com conselhos conselhos infalíveis infalíveis para para líderes líderes femininas femininas (um (um dos dos capítulos capítulos se se chama chama ‘O ‘O dinheiro dinheiro cai cai melhor melhor no no banco banco do do que que nos nos seus seus sapatos’). sapatos’). Em Em2012 2012Nasty NastyGal Galalugou alugouum um centro centrode dedistribuição distribuiçãode de45.000 45.000 metros metros quadrados quadrados ee recebeu recebeu 40 40 milhões milhões de de dólares dólares em em fundos fundos de de investimentos. investimentos. Três Três anos anos dedepois, pois, Nasty Nasty Gal Gal declaradamente declaradamente superou superou 300 300 milhões milhões de de dólares dólares em em receita, receita, triplicando triplicando as as venvendas das em em três três anos. anos. Ela Ela liderou liderou oo topo topoda dalista listados dos500 500performers performers de de comércio comércio virtual, virtual, passando passando aa Apple Apple ee aa Amazon Amazon com com um um perpercentual centual de de 92.4 92.4 em em taxa taxa comcomposta posta de de crescimento crescimento anual. anual. Mas Mas em em 2016, 2016, no no mesmo mesmo ano ano em em que que oo casamento casamento de de Sophia Sophia acabou, acabou, aa Nasty Nasty Gal Gal abriu abriu falência. falência. A A receita receita hahavia via caído caído drasticamente drasticamente ee SoSophia, phia, que que era era dona dona de de 55% 55% da da empresa, empresa, renunciou renunciou de de CEO CEO aa presidente presidente executiva executiva em em 2015, 2015, que que éé descrita descrita como como aa opção opção mais mais responsável responsável para para evitar o fechamento. fechamento. Em fevereiro de 2017, 2017, depois de anos de dedemissões e ações judijudiciais, a propriedade propriedade intelectual da marca marca foi foi adquirida pelo website website britânico Boohoo por apeapenas nas 20 20 milhões milhões de de dólares. dólares. No No mesmo mesmo mês, mês, Sophia Sophia recebeu recebeu uma uma notificação notificação de de que que ela ela fora removida do posto posto de de administradora da página página do Facebook da da compacompanhia que ela ela construiu construiu com as próprias próprias mãos. mãos. Nasty Gal continua atiativa, mas sem o envolvienvolvimento de Sophia.


Capa do best-seller Girlboss, publicado em 2014 Capa do best-seller Girlboss, publicado em 2014

A ascensão e a queda – e a ascensão– eé atudo queda –ea novaAascensão parte danova jornada ascensão e simpatia – é tudo cultuparte raldadesta jornada imperatriz. e simpatia Alguns cultural desta meses após imperatriz. o anúncio deAlguns famesesmais apósdeo500 anúncio de falência, mulheres mais dese 500 mulheres emlência, Los Angeles reuniram para emoLos Encontro Angeles Girlboss, se reuniram um diapara de palestras o Encontro e ações Girlboss, para um dia de mulheres palestras ea ações para inspirar se reerinspirar mulheres a se reerguerem e redefinirem o suguerem redefinirem cesso para eelas mesmas. o sucesso elas Muitopara mais domesmas. que um título de Muito livromais prático, do que Girlboss um título de livro prático, Girlboss Media é agora uma compaMedia agoraque uma companhia de émídia permite de mídia que permite às nhia mulheres se conectarem às mulheres se conectarem através de plataformas sociais, através digitais de eplataformas experienciais sociais, digitais conhecimene experienciais e compartilhar conhecimentose compartilhar sobre suas carreiras, fitos sobre suas carreiras, efinanças, relacionamentos nanças, e relacionamentos negócios, empoderar umas e as negócios, outras. Até e empoderar a data, a Funumas as outras. Até a data, a Fundação #Girlboss concedeu dação #Girlboss concedeu mais de 120,000 dólares em mais financeiros de 120,000 para dólares fundos mu-em fundos mulheres nasfinanceiros áreas de para design, moda, lheresmúsica nas áreas e artes de design, para moda, música e artesseus para ajuda-las a financiar ajuda-las a financiar seus projetos e paixões. projetos e paixões. A ‘fêmempreendedora’, A ‘fêmempreendedora’, que super compartilha, xinga e não que tem supermedo compartilha, de ser ‘perxinga e não tem medo deo ser ‘perfeitosa’, preencheu vazio, feitosa’, o mas vazio, não apenas preencheu no que ela fez apenas queEla ela fez mas emnão como ela no o fez. é um em como o fez.que Ela não é um modelo paraela líderes vestem modelo um para terno líderes poderoso, que não vestem terno poderoso, jogam golfum ou se conformam. jogam ou se conformam. Com ogolf lançamento de Girlo lançamento de Girlboss Com na Netflix para contar vagamente boss na sua Netflix jornada paraNasty contar Gal, vagamente a mulher sua de negócios jornada Nasty SoGal, a mulher de negócios Sophia está redefinindo sucesso phia era estáem redefinindo sucesso numa que planos de numa são era raramente em que planos de carreira carreira são raramente 23 SUPER MAIO 2017


Entrevista lineares. Ela recentemente se sentou com Lisa Messenger para discutir tudo isso. Lisa Messenger: Da última vez que nos encontramos foi num jantar em Sidney, dois dias depois você anunciou a falência da Nasty Gal. Mas eu devo dizer, apesar de todos os obstáculos, você ainda é uma mulher extraordinária e a definitiva Girlboss. Sophia Amoruso: Wow, obrigada, tem sido uma jornada, uma verdadeira jornada. Lisa Messenger: Então, como foram as coisas em retrospectiva? Sophia Amoruso: Foi assustador quando estava acontecendo, porque você não sabe quando o mundo vai pensar que você é uma m*rda ou te igualar a Donald Trump, pois ele passou pela falência, ou desmerecer as coisas que você conquistou nos últimos 10 anos, ou dizer que o seu livro é uma porcaria. Lisa Messenger: Você é tão extraordinariamente aberta sobre tudo que você experenciou... Sophia Amoruso: É sempre assustador tropeçar publicamente. O que eu descobri sendo aberta sobre isso – e eu acho que posso ser bem mais aberta sobre isso – é preciso publicar um livro para fazê-lo mais completamente; você não pode mergulhar e apenas sair de algo tão grande e de uma história MAIO 2017 SUPER 24

como esta acredito. Lisa Messenger: É complexo. Sophia Amoruso: Complexo, isso. Alguém tropeçando tão publicamente e honestamente, não tem gente suficiente fazendo isso, eu acho. Estamos falhando de maneiras diferentes e falhando de maneiras diferentes, o resto do mundo apenas não ouve falar disto. Mas, para nós, parece que é tudo o que está acontecendo. Então ver alguém que você pensou ter ‘tudo resolvido’ recomeçar totalmente é provavelmente muito revigorante, e coloca sua vida em perspectiva de alguma forma. Você apenas espera que as coisas que te estressam hoje se tornem coisas que você rirá daqui a dois anos. Você se vê crescendo e olhando para trás e pensando, ‘Oh meu Deus eu não acredito em quanta energia eu perdi com aquela coisa’, isso eu tive que aprender ou fazer. Essa experiência que agora parece brincadeira de criança. Então eu acho que esse é o objetivo. Lisa Messenger: Você teve a chance de aceitar tudo isso? Sophia Amoruso: Isso vai me custar pelo menos um ano para processar tudo. Porque eu sou tão empreendedora, eu dei a volta por cima. Eu sei que tem uma grande janela de oportunidades com a série da Netflix, e é um tempo em que o mundo precisa de uma grande mulher na mídia. Não que eu não planeje refletir

sobre o que está acontecendo, é só que passar um ano lambendo minhas feridas não parece a coisa mais inteligente aos 32 anos de idade, certo? É algo que eu ainda estou digerindo. Lisa Messenger: Como uma Grilboss, você realmente avançou invés de retroceder. O que este termo significa para você? Sophia Amoruso: Eu costumava dizer que Girlboss é sobre ser chefe da sua própria vida. E é verdade, é sobre todas as coisas na sua vida, é sobre ser deliberada não apenas no seu trabalho e seus objetivos e finanças pessoais, mas no que você come, como você vive, como você viaja e de quem você está se cercando. É algo bem holístico.[Mas] o objetivo da Girlboss [a companhia] é reformular esse conceito de sucesso. Eu me vi na capa da revista Forbes, não mais feliz por mim. Mas nunca foi meu objetivo. O conceito de sucesso ser financial ou algo relacionando a sua carreira, sim, é importante..., mas sucesso pode significar uma variedade de coisas. E o modelo de sucesso hoje é algo muito construído sob a visão de um bando de homens brancos. Eu não tenho a resposta, mas estou fazendo a pergunta, o que é sucesso? Lisa Messenger: Eu me lembro da Forbes ter listado seu patrimônio líquido em 280 milhões de dólares... Sophia Amoruso: Eu queria [risos]. Lisa Messenger: Então o que sucesso significa para


“Ver alguém que você pensou ter ‘tudo resolvido’ RECOMEÇAR totalmente é provavelmente muito REVIGORANTE, e coloca sua vida em PERSPECTIVA de alguma forma.”

Foto de Sophia para a matéria da revista Forbes, como uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos.

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você neste momento? Sophia Amoruso: Agora, assegurando que estou cuidando da minha vida pessoal e não a delegando a uma babá de cachorro ou um empregado, e realmente investindo tempo no meu quintal. Ver meus amigos além de atualizações ou um brunch, isso é sucesso. Nutrir o meu corpo, cuidar de mim mesma.E então vir trabalhar com mulheres maravilhosas que entendem que não há um jeito certo, e que nós todas MAIO 2017 SUPER 26

aprendemos juntas. O que fazemos hoje se torna um aniversário amanhã. Então o processo que aplicamos para finalizar os trabalhos, e a conversa que temos sobre como trabalhamos juntas e como podemos melhorar isso, é algo que, se eu começar hoje, pode ser uma cultura muito melhor do que a que eu construí na minha antiga empresa. Então isso é sucesso para mim. Isso, e ser rentável.

Não estar em débito, ter um negócio saudável – mas não a todo custo. Eu amo isso, isso parece como fazer as fundações corretas para uma construção saudável. Com o que a Girlboss se parece agora? Então, semana passada eu estava aqui com outras quatro pessoas, e hoje eu estou sentada aqui com seis outras pessoas. Nós temos um escritor na casa, um editor, nós temos um presidente em Nova York, que está supervisionando o lado da receita do negócio e vendo como nós podemos fazer parcerias com marcas,


um produtor social, um diretor de arte, minha assistente, um interno e um gerente de contas. Nós estamos fazendo apenas duas histórias por dia, e nós estamos quase em três. Nosso trafego dobra mês a mês apenas porque começamos a publicar mais regularmente e temos dedicado recursos a de fato evidenciar ‘publicações’ no Facebook. Nós estávamos escrevendo histórias mas não estávamos sequer compartilhando todas elas – o que não traz trafego ao nosso site.

Lisa Messenger: Você também tem o show na Netflix, Girlboss. Como isso surgiu? Sophia Amoruso: Eu escrevi #Girlboss em 2014, então isso será quase 3 anos até a data, pois ele foi lançado 6 de maio de 2014. Eu trabalho com WME [a agência William Morris Endeavour], eu tenho literalmente um agente ali, e Charlize Theron pôs suas mãos no livro e o amou, e ela tem uma companhia de produção chamada Denver and

Delilah. Isso foi como todas as estrelas se alinhando, não foi algo difícil de se organizar. Isso definitivamente levou algum tempo – a Netflix é bem seletiva – mas isso foi há uns bons dois anos provavelmente. Nós estávamos todos lá, nós entregamos à Netflix e eles amaram e apenas seguiu a partir disso. Lisa Messenger: O programa de TV é maravilhoso – é divertido e autodepreciativo. Como é tentar escalar para si mesma?

Ilustração do seu Livro

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Sophia Amoruso: Houveram provavelmente mais de 400 audições... ver pessoas tentando interpretar você é realmente muito interessante. Algumas pessoas vieram com perucas e falas; é apenas bonito e divertido, devo dizer. E tinham pessoas que eram bem conhecidas, eles vieram e leram, então apenas ver isto foi fascinante. Foi engraçado mudar para Los Angeles seis anos atrás e não ter ideia do que todas essas pessoas em cafeterias estavam fazendo; elas estavam escrevendo roteiros, elas estavam entre audições, eu só nunca tinha visto por dentro de como esse lado da cidade funciona. Nós começamos as audições, e a primeira a ser escalada tinha que ser a personagem da Sophia, é um papel tão importante. Ela está em quase todos os shots e quase todas as cenas. Então achar alguém que tivesse um grande nível de experiência como ator, não um novato, que foi no set, que conhecesse as cordas, e também não fosMAIO 2017 SUPER 28

se alguém marcado de alguma forma, que fosse um pouco, eu não quero chamar a Britt [Robertson, who plays Sophia in Girlboss] de uma tela vazia, mas isso é um papel muito diferente para ela, então foi ótimo trabalhar com alguém que pudéssemos moldar. Lisa Messenger: É difícil para você olhar para trás quando você deixou a Nasty Gal? Ou é um legado extraordinário? Sophia Amoruso: É sempre difícil estar sob a opinião pública. Eu sei que há pessoas que trabalharam na real empresa Nasty Gal, que tiveram diferentes experiências, que podem não entender que isso é uma comédia e que é uma ficção criada de uma realidade. Então eu estou esperando que todos levem esse show como algo pequeno e se sintam confortáveis rindo dos últimos 10 anos da minha vida e de quem eu sou. A essa altura eu tenho um forro de estômago bem forte, e passei por isso em termos de opinião pública

e eu apenas aceito o que vem.É um legado maravilhoso, meus pais estão muito orgulhosos e é uma oportunidade excitante ser uma produtora executiva pela primeira vez – algo que eu gostaria de fazer novamente, talvez não para um show que seja sobre a minha vida. Eu só não me levo a sério o suficiente para me preocupar demais. Lisa Messenger: Você parece ter se tornado apenas cada vez mais e mais forte por contar sua história e como ela se desenrolou. O que você acha que aprendeu nos últimos anos? Sophia Amoruso:A maior lição que eu tive deve ser crescer cuidadosamente. Eu estava fazendo milhões de dólares em revendas e as pessoas estavam tipo, ‘Você vai fazer centenas de milhões’, ou, ‘Você vai ser bilionária. ’ Quando se está nos vinte-e-poucos, no começo dos 20, e as pessoas te dizem coisas como essas, você pensa, ‘Legal, talvez este seja o objetivo, okay. ‘ Foi uma


“Então O OBJETIVO da Girlboss é REFORMULAR esse conceito de SUCESSO.” viagem; você faz o seu melhor com as experiências e as habilidades que você tem em qualquer tempo que lhe é dado. Essa foi uma companhia que eu nunca planejei começar e então, no meio do caminho, eu estava tipo, ‘Oh, isso é uma empresa’. Com isto que estou

fazendo hoje [com a Girlboss], eu estou intencionalmente começando algo. Isso é tão verdade, você tem que começar conscientemente as coisas do começo. Eu acredito em tropeçar na oportunidade mas, ao mesmo tempo, o quanto antes lhe for possível, organizar a si mesmo em torno disso e no que são seus objetivos, e que tipo de cultura você quer ter com sua equipe. Eu acho isso incrivelmente importante. Nasty Gal, nos primeiros anos, eu estava tipo, ‘Eu vou contratar pessoas que eu gosto, e ter um bom estilo. ’ Era uma marca fashion, então aí estava a peça para isto. Mas eu não tinha ideia, eu nunca trabalhei numa companhia. O

que [mais] eu aprendi? Formar uma empresa é realmente difícil, quando você está no posto de CEO ou você está no topo, se coisas acontecerem na sua empresa, as pessoas esperam que você saiba tudo o que está acontecendo, apenas por causa da sua posição. Eles pensam, ‘Como você pôde deixar isso acontecer?’ Muitas vezes não há oportunidade para você resolver essas coisas, porque você não sabe [sobre isto]. Então eu quero descobrir como criar uma empresa na qual eu não estou desconectada dessa maneira. É muito fácil para líderes executivos estarem focados em coisas grandes e não ir a fundo com o time o quanto eles poderiam, então isto é uma oportunidade. Lisa Messenger: Como é começar uma companhia diferente uma segunda vez? Sophia Amoruso: Ser pela segunda vez uma empreendedora é realmente muito bom porque não é como, ‘O que é um manual do funcionário, o que eu faço?’, ‘Como eu identifico talento?’ Eu não sou perfeita de qualquer maneira, mas isso parece bem diferente e muito bom. S

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A CHECKLIST DO EMPREENDEDOR TOME CONTA DE SI PARA FAZER UM BOM TRABALHO.

TENTE NÃO JANTAR FORA MUITAS VEZES

É mais fácil fazer as coisas cinco dias por semana dos que três dias por semana. É só mais preguiçoso fazer as mesmas coisas todos os dias.

É fácil projetar seu cérebro para fora, gastar dinheiro e se ver em relacionamentos relativamente superficiais ou encontros. Tente realmente ser bem seletivo sobre suas tardes.

SAIBA O QUE ESTÁ POR VIR Esteja preparado para trabalhar 24 horas por dia, ou estar disponível 24 horas por dia.

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Fotos:Divulgação 31 SUPER MAIO 2017


CAPA |

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O

que personalidades como Kendall Jenner, Bella Hadid, Lady Gaga e Rhianna têm a ver com seus seios? Além de inspirarem uma legião de seguidoras com seu estilo fora da caixinha, todas são fãs de uma tendência que divide opiniões: os mamilos aparentes. E não se trata de side boob, decote V ou até do “farol aceso” – a onda é sair na rua com bico & cia. Á mostra, seja com um sutião nada recatado, seja com uma blusa ou um vestido completamente transparente. Prática recorrente em desfiles, mostrar os

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mamilos na passarela está longe de ser novidade. È comum cruzar com peitos soltinhos aqui e ali tanto em semanas de moda brasileiras tanto internacionais, já que as ousadias de desfile raramente ganham um ctrl C + ctrl V na vida real. O que muda agora é que a tendência de fato foi para as ruas, com fashionistas e celebs colocando os seios para jogo em baladas, shows, jantares e até mesmo para passear na rua. A verdade é que aderir ao zeitgeist nesse caso não é como tirar uma bota branca ou uma calça saruel do armário – mais do que atitude para encarar uma produção polêmica, é preciso entender que culturalmente o mamilo feminino ainda é um tabu. A parte em questão é altamente erotizada na percepção geral e continua sendo censurada nas redes sociais. Um dos principais movimentos a favor de sua libertação é o Free the nipple, fundada em 2012 pela ativista, atriz e diretora norte-


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americana Lina Esco. “Nós ajudamos a mudar a política do Facebook e do Instagram sobre a permissão de fotos de amamentação e transformamos os mamilos em algo popular”, explica ela à ELLE. “O conselho de Venice Beach, na Califórnia, disse sim ao topless nas praias graças à nossa campanha.” Baseando-se no pressuposto de que homens e mulheres têm peitos, nada mais normal que a presença deles em público não seja considerada nudez para ninguém. “Se você tirar o seio inteiro para fora e o mamilo não aparecer, é ok. Mas, no momento em que a mulher o mostra, isso se torna ilegal”, pontua Lina. Em 2014, ela lançou um longa metragem sobre o tema, estrelado por ela mesmo e por Lola Kirke. O movimento também ganhou popularidade graças a adesão de nomes como Cara Delevigne, Rummer Willis e Lena Dunham, entre outras. Movimentação semelhante acontece com as meninas do projeto Mamilo Livre, comandado pela psicóloga e diretora instutucional da revista AzMina, Letícia Bahia, e pela fotógrafa Julia Rodrigues.

Cansadas da discrepância de tratamento entre gêneros, elas resolveram colocar a boca no trombone. “É muito louco pensar que eu não posso postar uma foto minha com o mamilo de fora em uma rede social, mas, se isso estiver dentro de uma revista masculina tudo bem”, pontua Julia, que já teve diversos de seus trabalhos pessoais censurados pelo Facebook. Resolveu criar um álbum chamado Pode Não Pode, no qual postava retratos de amigos sem camisa e a notava quais eram censurados, quanto tempo eles ficavam no ar e quais eram os comentários maldosos que apareciam pelo caminho. “Se a imagem saia do ar, eu botava de volta com algum tipo de intervenção, como uma tarja, ou até trocava um peito feminino por um masculino “, explica. “Minha conta chegou a ficar quase 3 meses fora do ar por causa de denuncias. Era quase uma cadeia virtual.” O grupo espalhou lambe-lambes pela cidade de São Paulo e segue procurando métodos de burlar as regras das redes sociais. “Há mil motivos para postar um mamilo, mas apenas um para proibir: entender

“Quando paramos de sexualizar a mulher em dizer qual parte do seu corpo é ou não obscena, damos um passo na direção certa.” MAIO 2017 SUPER 34


KLAYNEVIEIRA.COM

que o corpo da mulher é sempre algo que provoca tesão”, explica Letícia. “Nossa ideia não é que todo mundo poste uma foto sem roupa, mas que quem quiser fazer isso possa fazer em paz.” Outra culpa de mulheres, dessa vez em Chicago, achou uma maneira divertida de protestar. Robyn e Michelle Lytle criaram a TaTa Top, uma marca especializada em tops que pintam mamilos de mamilos. A ideia surgiu após um casal de amigas de Amsterdam ficar perplexo com o fato de não poder fazer topless no Lago Michigan. A solução do duo foi recriar os protagonistas do problema em versão cartunesca, transformando-os em três modelos de biquínis cortininha. “Toda vez que existe um duplo padrão de julgamento entre os sexos, abrimos um precedente para vários outros”, opina Michelle. “Quando paramos de sexualizar a mulher em dizer qual parte do seu corpo é ou não obscena, damos um passo na direção certa.” Quem também concorda com essa afirmação é a turma do Genderless Nipples, perfil do Intagram que promove a discussão: dá mesmo para diferenciar o masculino do feminino? “As pessoas tentam adivinhar qual é o gênero o tempo todo e, em 70% dos casos, elas estão erradas”, explica Evelyne Wyss, responsável pela página juntamente com Morgan-Lee Wagner e o brasileiro Marco Russo. “Nosso projeto

é sobre dessexualizar o mamilo e sobre frear a objetificação da mulher. Não somos contra as regras. Só achamos que elas precisam valer para todo mundo.” Gostou da proposta? Dá para participar mandando um clique do seu para o e-mail genderlessnipples@gmail.com. Apesar de mulheres com Kendall Jenner e Bella Hadid terem o provilégio de usar o que querem porque contam com a proteção de seguranças 24h por dia, já é possível sonhar com um mundo em que todo mamilo seja livre (e pode andar por aí sem escolta). “Tudo é uma questão de normalização”, Destaca Lina Esco. “Vale lembrar que há 100 anos tornozelos eram considerados obscenos e hoje simplesmente rimos disso. Até 1937, era considerado ilegal um homem ir sem camisa à praia aqui, nos Estados Unidos.” O trio dos Genderless Nipples endossa o coro: “Em 1947 Harvey Milk estava entre um grupo de homens presos por exposição indecente no Central Park”, relembra Evelyne. “É preciso repensar e reprogramar nosso cérebro para perceber que nem toda parte do corpo é sensual. Nossos pensamentos é que são. È hora de mudar e o tempo é de igualdade. E, sim, talvez tudo comece por um mamilo.” 35 SUPER MAIO 2017


Moda

AS GAROTAS DO CALENDÁRIO De bonecas sensuais a obras de arte.

Por: Gladis Viviane e Fábio Farias Design: Genaldo da S. Filho MAIO 2017 SUPER 36 Ilustração: Google


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As pernas de um milhão de dólares de Betty Grable – a primeira pin-up de carne e osso - talvez não causassem tanta comoção nos dias de hoje. Baixinha, de coxas grossas e curvas generosas, ela estaria fora do padrão “um metro e vinte de pernas”, que é o ideal de beleza perseguido pelas mulheres do século XXI. Mas o destino foi generoso com a humanidade ao fazê-la viver em outra época, e seduzir o mundo nos anos 40. Antes dela, as pin-ups não eram reais. Saíam das mentes criativas dos desenhistas, e pulavam pro papel. Naquele tempo o padrão estético era outro. As mulheres – e os homens, claroqueriam curvas, muitas curvas. Betty Grable e tantas outras que seriam consideradas plus size atualmente, simbolizavam o ideal máximo de beleza e sensualidade daquele tempo, e foi natural que elas se transformassem nas “pin-up reais”. Hoje em dia - zapeando entre programas de gosto duvidoso na TV brasileira - é comum encontrar as mulheres -f ruta anunciando que colocaram suas melancias, melões e morangos no seguro. Novidade nenhuma. A prática é antiga, a diferença é que algumas décadas atrás, essa história de colocar atributos físicos em seguro era bem mais refi nada. A pioneira foi justamente Grable, que teve as pernas asseguradas pelo Lloyd’s de Londres em um milhão de dólares cada! A foto em que a atriz aparece de costas, vestindo somente um maiô e sorrindo sobre o ombro, estampou muitas paredes nas décadas de 40 e 50. A origem do nome “pin-up” é exatamente essa. Os rapazes – principalmente os soldados americanos durante a guerra – tinham o hábito de recortar desenhos ou fotografias de belas mulheres, e pendurá-los na parede. Assim surgiu o termo “pin-up girls”, que seria algo como “garotas penduradas”.

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Betty Grable


da fotografi a, modelos de carne e osso já incorporavam o estilo pin-up. Eram mulheres de cintura fi na e decote volumoso, retratadas em situações cotidianas, mas displicentemente sexies. Quando se fala em pin-up sexy, há que se falar na inesquecível Bettie Page. Ela foi uma das primeiras modelos a posar nua para a revista Playboy, e era uma pin-up das mais ousadas. São relíquias de colecionador as séries de imagens sadomasoquistas de Bettie entre chicotes de couro e mordaças. Já o corte de cabelo dela, com a clássica franjinha reta no meio da testa, foi copiado exaustivamente pelas mulheres, e entrou para a história como o típico penteado pin-up. No cinema, as pin-ups tinham status de estrela. Sempre no papel da prostituta romântica e levemente burra, ou da moça ingênua que nun-

ca entendia a piada. As mais famosas eram Rita Hayworth, e a mãe de todas as loiras, Marilyn Monroe. As pin-ups até então nem imaginam, mas o surgimento de um novo movimento artístico vai transformá-las para sempre em ícones da cultura visual. No final dos anos 40, quando a arte ainda era dominada pelas expressões abstratas, alguns artistas ingleses começam a fazer experiências com colagens, utilizando elementos da cultura popular. Logo em seguida os artistas americanos embarcam na novidade, e os Estados Unidos acabam impulsionando a difusão do movimento que ficou conhecido como Pop Art. Segundo o professor de história da arte Vicente Vitoriano, apesar de baseado na cultura popular, a Pop Art foi um movimento muito sofi sticado em termos conceitu

Fotos: Google

Mas a história das pin-ups começa bem antes da guerra. Ainda no fi nal do século XIX, com as novas técnicas de impressão, alguns artistas começaram a criar imagens de belas mulheres, que eram usadas inicialmente em cartazes de divulgação de espetáculos teatrais. Depois foi a vez dos calendários, e por fi m eles se deram conta de que mulheres bonitas em poses sensuais eram uma poderosa arma de propaganda, que alavancava a venda dos mais diversos tipos de produtos. A partir daí, as pin-ups começaram a aparecer em vários lugares. Um exemplo clássico era uma espécie de kit de beleza masculino, composto por um pente, um lenço, um potinho de brilhantina e um espelho, que tinha sempre a imagem de uma pin-up na parte de trás. À essa época, depois de tanto sucesso dos desenhos e com a evolução

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ais e intelectuais. “A Pop Art trouxe o retorno da figura para a arte. E uma figura não feita pelo artista. O artista começa a se apoderar de uma figura feita por outra pessoa, através da colagem. E apesar do nome pop, eram obras caríssimas, acessíveis apenas a uma elite intelectualizada e abastada da época”, explica Vitoriano. Muitos artistas pop utilizam as pin-ups em suas obras, mas nenhum fez tanto sucesso quanto Andy Warhol. Mestre em marketing pessoal, Warhol soube trazer para si todos os holofotes destinados à Pop Art. A todo momento aparecem variações sobre o mesmo tema. Uma cantora, uma atriz, uma modelo... sempre tem alguém querendo resgatar a magia daquelas moças do calendário.

Foi de trem, em um 18 de julho de 1942, que Maria de Oliveira Barros desembarcou em Natal. Aos 22 anos, ela vinha de João Pessoa, depois de ter morado em Taperoá e Campina Grande. Alguns anos mais tarde, essa bela jovem ganharia fama como Maria Boa, e se tornaria a musa dos cadetes americanos na Natal da segunda guerra – mais pin-up impossível! Um artigo de Manoel Oliveira Cavalcanti Neto conta que ela teve seu nome gravado em um caça B-25 e sua imagem pintada na lataria de um deles. Era – o caça, é

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"Pop Art trouxe o retorno da figura para a arte. E uma figura não feita pelo artista. O artista começa a se apoderar de uma figura feita por outra pessoa, através da colagem"

claro- a mais importante máquina de guerra da época. E uma foto de Maria Boa como veio ao mundo também fez fama entre os soldados e virou troféu de competição dos cadetes. Não são poucas as histórias em torno do mito Maria Boa. Com o passar dos anos multiplicaram-se as versões para os mesmos fatos. Para descobrir a verdadeira história da nossa pin-up, a Salto Agulha conversou com o historiador Deífi lo Gurgel, e com familiares de Maria Boa que ainda vivem em Natal. A entrevistada pediu para não ter o

nome divulgado. Resquícios do preconceito que a parente “famosa” sempre sofreu por causa da sua profissão. Mas nos contou muitos detalhes sobre a vida de Maria Boa, começando pela adolescência dela na Paraíba.

Uma vida de fugas-

Quando terminou o quinto ano do colégio, Maria começou a trabalhar como tipografista. Aos 16 anos, seduzida pelos encantos de um rapaz campinense, fugiu de casa e da criação severa do pai, Pedro Ferreira Barros. Ele, ao descobrir a fuga,


Fotos: Google

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mandou procurá-los e exigiu que se casassem. O rapaz não quis, abandonou-a. A vergonha para a família - tradicional e conservadora- foi tão grande que ela acabou expulsa de casa. Tentou voltar ao emprego, mas não a quiseram por lá. Os amigos também não lhe deram apoio. Sozinha, sem família e sem dinheiro, lhe restou somente a prostituição nas ruas de Campina Grande. A vergonha que tinha da situação fez com que, ao juntar alguns trocados, ela se mudasse pela primeira vez. Foi para Taperoá, onde passou algum tempo antes de seguir para João Pessoa. Na capital paraibana, apaixonouse novamente. Dessa vez, por um dos familiares do escritor José Lins do Rêgo. Chegou a morar com a família Lins do Rêgo, até que precisou sair e procurar outro lugar para se manter. Mudou-se para Natal porque não queria ser prostituta em João Pessoa. O nome - Maria Boa - já lhe acompanhava. Vinha da Paraíba, de uma brincadeira de colégio. Em uma festa religiosa em Campina Grande, ela trabalhou com o pai em uma barraca. Como ela ajudava muita gente, começaram a chamá-la de Boa, pela sua presteza e bondade. O pai não gostou do apelido e exigiu que a menina não deixasse ninguém chamá-la assim. O resto da história não é difícil imaginar. Quando o apelidado não gosta da alcunha, ela ganha mais força. Conta-se que ela chegou a sair no braço com engraçadinhos que, na época, chamavam-na de Maria Boa. O nome ficou tão forte, que foi difícil livrar-se dele. Mesmo depois de velha, dizem, não gostava quando chamavam-na assim.

O cabaré

Logo nos primeiros dias em Natal, Maria hospedou-se na pousada Estrela e depois no Arpeje, até que conseguiu um financiamento para o aluguel da casa – que serviu como o seu bordel por mais de 40 anos. Não se sabe ao certo qual foi a data de fundação do seu

Fotos:Divulgação

Maria Boa

famoso cabaré. Foi em um daqueles anos da década de 40, onde podia-se facilmente encontrar os cadetes da aeronáutica flanando pelas ruas de Natal. O local escolhido foi um casarão no final da Rua Padre Pinto, centro da cidade. O visitante, ao entrar, via uma casa recheada de móveis vermelhos, estilo clássico. Um imenso salão com damas dançando tango. Tivesse sorte, talvez ouviria a voz de Odair José soando na vitrola e dependendo da época que fosse, os acordes do piano de Paulo Lira. Veria, caminhando por entre os cômodos, algumas belas mulheres, todas simpáticas e à sua disposição. O álcool não faltaria. A cerveja, sempre gelada, estaria apenas a um pedido de distância. Maria Boa administrava o negócio com competência. Tinha visão empreendedora e era inteligentíssima. O tango era sua dança preferida. Tinha longos cabelos negros, que estavam sempre elegantemente presos. Vestia-se com roupas costuradas à mão, adorava saltos altos, perfumes, ir ao cinema e copiar os vestidos das atrizes hollywoodianas. Deve

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ter copiado muitos modelitos de pin-ups americanas, sem saber que ela mesma, a seu modo, era uma legítima pin-up. Uma grande paixão de Maria Boa era a leitura. Ela tinha uma biblioteca, onde podiam ser encontradas obras completas de Machado de Assis, José de Alencar e do escritor gaúcho Érico Veríssimo. Não voltou para escola, nem se dedicou a uma carreira acadêmica, por medo do preconceito e da rejeição. Tratava a sua profi ssão com muita discrição, não comentava esse assunto nem com os familiares. Não dava entrevistas. Seu maior sonho – nunca realizado – era se casar. Sonhava com isso desde menina e, talvez, nos meandros da sua profissão, acreditava que um dia algum homem a tiraria daquela situação e casaria com ela. Nos casamentos das sobrinhas e primas, fazia questão de pagar tudo. Desde o vestido, até a cerimônia e as festas. E, ao vê-las no altar, desatava em um choro de alguém que nunca teve a oportunidade de ter algo semelhante. Sua importância na cidade foi reconhecida pelos militares. Em meados da década de 80, foi homenageada por coronéis da aeronáutica – aqueles que, nos anos 40, eram os cadetes que freqüentavam a sua casa. Até americanos vieram prestar-lhe homenagens. Na entrada do seu salão foi colocada uma placa em nome dos seus serviços prestados. Maria Boa morreu em 1997, vítima de um acidente vascular cerebral. Anos antes, seu lendário cabaré havia fechado as portas. O começo do fi m para o bordel foi a morte da mãe de Maria, em 1994. A essa altura ela já havia se reconciliado com a família e trazido todos eles para morar em Natal. Com a morte da mãe, ficou ainda mais devotada à família, e resolveu vender o casarão. O cinema brasileiro já fez referência à nobre dama e sua casa famosa. No ano da morte de Maria Boa foi lançado o fi lme “For All – O Trampolim da Vitória” Não se sabe se ela teve oportunidade de a sistir à película. Mas há no enredo uma bela homenagem à antiFotos:Divulgação

-dama, ícone natalense. Uma das prostitutas do longa-metragem tinha o nome de “Maria Buena”, inspirada nas histórias ouvidas pelos diretores Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz, antes das gravações. Certamente, pelo gosto que tinha pela sétima arte, Maria Boa fi caria feliz em ser lembrada.

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PEIXE GRANDE MARCA MASCULINA NASCIDA E CRIADA NAS AREIAS DO RIO, A FOXTON, DE MARCELLA MENDES E RODRIGO RIBEIRO, SURFA UMA NOVA ONDA. E ESSA ONDA E GRANDE Por: Rosana Rodini Design: Claudio Alves e Ruan Souza

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érias?, pergunto. “ Que nada! Estamos fazendo pesquisa”. Diz Rodrigo Ribeiro, de 39 anos. A viagem a Paris, ao lado da mulher e sócia, Marcella Mendes, de 36, e uma das muitas de casal faz para criar as coleções de Foxton, marca masculina que surgiu em Ipanema ha mais de uma década e que passa por um novo momento. Não a toa, a próxima coleção, que será lançada em agosto, foi batizada de Nova Onda. “ A Foxton era vista como um menino do Rio, mas ela amadureceu”, afirma Ribeiro. Carioca, filho de uma artista plástica e de uma engenheiro surfista, Rodrigo cresceu nas areias de Ipanema.

Marcella, que e mineira e cursou comunicação, foi estudar moda no Rio. Eles se cruzaram na praia. Depois, na academia. “Eu tinha acabado de voltar de uma temporada em San Diego e não sabia se abria uma marca ou se ia morar na Nova Zelândia, numa cidade chamada Foxton”, conta Ribeiro. Os dois se apaixonaram. Ele abandonou os planos de ir para Foxton, mas a Foxton nasceu ali, com o casal vendendo camisetas, malhas e bermudas para os amigos. Em 2009, a primeira loja, que deu certo muito rápido. O próximo passo foi um espaço na Garcia D’ Ávila – nos fins de semana, e comum vê-los sentados num barquinho em frente a loja, vendo quem

passa. Muitos, alias, passam vestindo a roupa deles, hit carioca – Rodrigo Santoro, Rodrigo Hilbert, Marcio Garcia e Caetano Veloso estão entre os adeptos. NO ano passado, namoro com a Farm virou business, e a Foxton entrou no Grupo Soma, que inclui as marcas Farm, Animale, A. Brand, FYI, Vitorino Campos, Cris Barros e Fabula – todas femininas, diga-se. Na pratica, ampliaram o mix de produtos. Além dos modelos básicos, com estampas, cores fortes e frases que colam, fortaleceram a parte de camisaria e as peças de linho e apostaram em tecidos tecnológicos e em moletons com shapes diferentes. Desenvolveram também a Ta Clássico , linha de alfaiataria, e criaram o Design Bar, com uma atmosfera pensada para que o cliente mergulhe no universo 47 SUPER MAIO 2017


A Hugo Boss vive um momento de reinvenção – e o centro dessa mudança esta na retomada de seu espaço na moda masculina. A missão foi entregue a Ingo Wilts, que retornou em agosto do ano passado para sua terceira passagem pela marca alemã. “ Eu me descreveria mais como um estrategista criativo’ do que como um designer”, disse Wilts em entrevista a GQ Brasil. A essência da mudança, conta o novo chief brand officer do grupo, esta no retorno ao foco em menswear depois de um longo período investindo no feminino (que segue sob a direção artística de Jason Wu). Neste ano, por MAIO 2017 SUPER 48

exemplo, a marca escolheu desfilar apenas o outono-inverno masculino da sua Iabel Boss na New York Fashion Week, e já confirmou que fara o mesmo na próxima. Em junho, estreara na Pitti Uomo, em Florença, onde exibira a primavera-verão 2018 do selo Hugo. Outro pilar do momento da marca alemã e a independência mais definida dos seus dois seios. “ Boss e para quem quer alfaiataria perfeita e sportwear

de altíssima qualidade”, explica Wilts. “Ja Hugo, continua sendo nossa marca mais cutting edge, além de ter os preços 30% menos que os da Boss.” Nascido em 1965 em Leer, no noroeste da Alemanha, Wilts e velho conhecido da moda. Teve nos anos 1990 passagens pela Henri Vetter em Amsterda e pela francesa Daniel Hechter ate assumir o posto de geren-


te de produto da Boss Black na Hugo Boss, em 1997. Dois anos depois, foi exercer a mesma função no sportwear da Joop, em Hamburgo, ate voltar para Hugo Boss em 2000. Ele ficou na marca ate 2009, e, ate seu retorno a velha nova casa, em 2016, somou passagens por Kenneth Cole, Elie Tahari e Tommy Hilfiger, além da própria Hugo Boss, em breve passagem em 2014. “ Quando eu voltei, cheguei com a ideia de expandir os horizontes da marca. E acho que essa energia renovada aparece nas novas coleções”, afirma. No caso da ultima coleção apresentada pela grife em Nova York, Wilts debruçou-se sobre os arquivos da marca das décadas de 1980 e 1990 para buscar uma silhueta mais fluida, com ternos mais relaxados usados com golas role “bagunçadas” e calcas oversized – que também apareceram com jaquetas bomber. O outerwear foi outro ponto alto, com capas e parcas com pele e detalhes em couro. “Somos famosos mundialmente por ter a alfaiataria em nosso DNA, mas Boss vai muito além do corte perfeito”, dia. “ O terno permanece uma peça-chave para nos, mas cortado e produzido de uma forma moderna.” Fotos:Divulgação

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O JEANS PELO

MUNDO

ENTENDA COMO CULTURA E BIOTIPO DIFERENCIAM CONFECÇÕES Reportagem Fernanda Maciel Design Paulo Geovane e Rafael Santos

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m um olhar menos atento, pequenas diferenças entre confecções de peças pelo mundo podem passar despercebidas. Mas, colocadas lado a lado, as características de cada país mostram que, a despeito da globalização e dos sistemas de informação que correm pelo globo, a moda permanece como um importante foco de preservação da identidade de cada região. Nesta reportagem conversamos com especialista a respeito do jeans pelo mundo. Quais as características do jeans norte-americano, europeu, japonês? Em que os estrangeiros se diferenciam dos nocionais? Quais os shapes, as bases e beneficiamentos, os pesos do denim em cada região? Onde estão os novos mercados?

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Pode-se dizer que o jeans é peça do vestuário mais universal e democrática: todo mundo usa. Porém, a diferença cultural faz com que a intenção de usá-lo seja completamente diferente para cada nação. O antropólogo wfrancês Stéphane Maysse, ao comparar o corpo da mulher brasileira com a da francesa constatou que “enquanto na França a produção da aparência pessoal continua centrada essencialmente na própria roupa, no Brasil é o corpo que parece estar no centro das estratégias do vestir”. A antropóloga e professora da UFRJ, Miriam Goldenberg, reforça a constatação de Maysse e destaca que, no Brasil, o corpo é muito mais importante do que a roupa. “Ele é a verdadeira roupa”, e acrescenta:

“É o corpo que entra e sai da moda. A roupa, neste caso, é apenas um acessório para valorização e exposição deste corpo da moda” Neste culto ao corpo, o jeans entra como o coad-

“Ele é a verdadeira roupa”, e acrescenta: “É o corpo que ewntra e sai da moda. A roupa, neste caso, é apenas um acessório para valorização e exposição deste corpo da moda” juvante que se destaca. Ele valoriza ou disfarça o bumbum, o quadril e as pernas. Ele rejuvenesce muitas vezes. Conforme Miriam, as brasileiras e as norte-americanas


são as maiores consumidoras de cirurgias plásticas e outros procedimentos para permanecerem jovens. Coincidência ou não, o Brasil é o segundo maior consumidor de jeans no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. A novidade por aqui, em um Brasil tropical, de mulheres com corpos cheios de curvas, é que o jeans skinny, ainda com alguma resistência, esta lentamente cedendo lugar às modelagens mais amplas – tendência que já caiu no gosto das europeias há algumas temporadas. “O Brasil se caracteriza por ser um mix de culturas em um só lugar. Outro fato que faz com que aqui exista espaço para os mais diversificados shapes é que nosso povo é ávido por novidades e extremamente interessado em moda”, ressalta Raquel Tavares, coordenadora de produto da Santana Textiles. Ela diz que o mercado latino prima por modelagens que enalteçam os atributos físicos. Bases e beneficiamentos são os mais diversificados possíveis, retratando assim, traços da fusão cultural. Ana Gabriela Lima, gerente de produtos e moda do Cedro, afirma que os consumidores brasileiros e latino-americanos, sem dúvida, têm grande preferência por artigos com elastano, tanto denim quanto sarja. “Alguns preferem apenas algodão e elastano, outros gostam também da presença do poliésFotos Divulgação

ter. O fato é que tecidos rígidos são muito poucos usados para publico feminino, direcionando-se. Mesmo assim, vemos cada vez mais os garotos aceitarem os stretch”. Para a gerente da Cedro, basta que os homens superem esse tabu e aceitem experimentar uma peça elastizada. “A partir daí, conforto fala mais alto e eles passam a demandar o stretch”, complementa.¬ Os responsáveis pela multimarcas The Jeans Boutique, que comercializa 24 grifes de denim, afirmam que o jeans nacional é tão bom quanto internacional. Para eles, a diferença que prevalece é a aplicação de mais recursos por parte das grifes estrangeiras, como aviamentos e acabamentos internos que privilegiam a qualidade. A loja informa que, entre as marcas brasileiras, as favoritas são Carmim, Cavalera e lódice. Entre as internacionais, Antik, 575, TAG Jeans, True Religion e Diesel, estão entras preferidas. Na The Jeans Boutique, as calças modelo skinny ainda são as mais procuradas pelos clientes. Os jeans da Itália, Estados Unidos e Japão carregam a tarefa de abrigar as principais marcas do mundo, tendo o design inovador como fonte de sucesso. Berço de jeans, os Estados Unidos são sustentado por empresas de peso, originarias principalmente da Califórnia. Marcas como Current Elliot, Citizenz Of HUmanity

Jeas e True Religion carregam o estilo casual e a influência western presentes no design americano. Os italianos são conhecidos pela excelência e corte impecável. A maioria das marcas preocupa-se com os beneficiamentos, o que contribui para os mais diversos efeitos de lavanderia. Não é à toa que as lavanderias Martelli, I.T.A.C., Blue Line e TRC Candiani ficam em solo italiano.

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m um olhar menos atento, pequenas diferenças entre confecções de peças pelo mundo podem passar despercebidas. Mas, colocadas lado a lado, as características de cada país mostram que, a despeito da globalização e dos sistemas de informação que correm pelo globo, a moda permanece como um importante foco de preservação da identidade de cada região. Nesta reportagem conversamos com especialista a respeito do jeans pelo mundo. Quais as características do jeans norte-americano, europeu, japonês? Em que os estrangeiros se diferenciam dos nocionais? Quais os shapes, as bases e beneficiamentos, os pesos do denim em cada região? Onde estão os novos mercados?

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Pode-se dizer que o jeans é peça do vestuário mais universal e democrática: todo mundo usa. Porém, a diferença cultural faz com que a intenção de usá-lo seja completamente diferente para cada nação. O antropólogo wfrancês Stéphane Maysse, ao comparar o corpo da mulher brasileira com a da francesa constatou que “enquanto na França a produção da aparência pessoal continua centrada essencialmente na própria roupa, no Brasil é o corpo que parece estar no centro das estratégias do vestir”. A antropóloga e professora da UFRJ, Miriam Goldenberg, reforça a constatação de Maysse e destaca que, no Brasil, o corpo é muito mais importante do que a roupa. “Ele é a verdadeira roupa”, e acrescenta:

“É o corpo que entra e sai da moda. A roupa, neste caso, é apenas um acessório para valorização e exposição deste corpo da moda” Neste culto ao corpo, o jeans entra como o coad-

“Ele é a verdadeira roupa”, e acrescenta: “É o corpo que ewntra e sai da moda. A roupa, neste caso, é apenas um acessório para valorização e exposição deste corpo da moda” juvante que se destaca. Ele valoriza ou disfarça o bumbum, o quadril e as pernas. Ele rejuvenesce muitas vezes. Conforme Miriam, as brasileiras e as norte-americanas


são as maiores consumidoras de cirurgias plásticas e outros procedimentos para permanecerem jovens. Coincidência ou não, o Brasil é o segundo maior consumidor de jeans no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. A novidade por aqui, em um Brasil tropical, de mulheres com corpos cheios de curvas, é que o jeans skinny, ainda com alguma resistência, esta lentamente cedendo lugar às modelagens mais amplas – tendência que já caiu no gosto das europeias há algumas temporadas. “O Brasil se caracteriza por ser um mix de culturas em um só lugar. Outro fato que faz com que aqui exista espaço para os mais diversificados shapes é que nosso povo é ávido por novidades e extremamente interessado em moda”, ressalta Raquel Tavares, coordenadora de produto da Santana Textiles. Ela diz que o mercado latino prima por modelagens que enalteçam os atributos físicos. Bases e beneficiamentos são os mais diversificados possíveis, retratando assim, traços da fusão cultural. Ana Gabriela Lima, gerente de produtos e moda do Cedro, afirma que os consumidores brasileiros e latino-americanos, sem dúvida, têm grande preferência por artigos com elastano, tanto denim quanto sarja. “Alguns preferem apenas algodão e elastano, outros gostam também da presença do poliésFotos Divulgação

ter. O fato é que tecidos rígidos são muito poucos usados para publico feminino, direcionando-se. Mesmo assim, vemos cada vez mais os garotos aceitarem os stretch”. Para a gerente da Cedro, basta que os homens superem esse tabu e aceitem experimentar uma peça elastizada. “A partir daí, conforto fala mais alto e eles passam a demandar o stretch”, complementa.¬ Os responsáveis pela multimarcas The Jeans Boutique, que comercializa 24 grifes de denim, afirmam que o jeans nacional é tão bom quanto internacional. Para eles, a diferença que prevalece é a aplicação de mais recursos por parte das grifes estrangeiras, como aviamentos e acabamentos internos que privilegiam a qualidade. A loja informa que, entre as marcas brasileiras, as favoritas são Carmim, Cavalera e lódice. Entre as internacionais, Antik, 575, TAG Jeans, True Religion e Diesel, estão entras preferidas. Na The Jeans Boutique, as calças modelo skinny ainda são as mais procuradas pelos clientes. Os jeans da Itália, Estados Unidos e Japão carregam a tarefa de abrigar as principais marcas do mundo, tendo o design inovador como fonte de sucesso. Berço de jeans, os Estados Unidos são sustentado por empresas de peso, originarias principalmente da Califórnia. Marcas como Current Elliot, Citizenz Of HUmanity

Jeas e True Religion carregam o estilo casual e a influência western presentes no design americano. Os italianos são conhecidos pela excelência e corte impecável. A maioria das marcas preocupa-se com os beneficiamentos, o que contribui para os mais diversos efeitos de lavanderia. Não é à toa que as lavanderias Martelli, I.T.A.C., Blue Line e TRC Candiani ficam em solo italiano.

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Alem disso, em termos de corte, a modelagem italiana busca a sensualidade, muito vista também nos modelos brasileiros. Talvez, em função disso, marcas como a Diesel e Miss Sixty façam tanto sucesso por aqui. Os japoneses são responsáveis pela manufatura do denim mais nobre do mundo, o Selvage, tecido em antigos teares manuais. Marcas como Edwin, Sugar Kane e Evisu utilizam esta matéria-prima, que é preferencialmente bruta. Em termos de modelagens, eles se apropriam dos cortes retos. “O mercado americano e japonês possuem como similaridade a preferência por bases Premium e formas mais conceituadas. Em relação à Europa, um traço marcante é a preferência por beneficiamentos inovadores”, reforça Raquel. O diretor da Vicunha Europa, Thomas Dislich, afirma MAIO 2017 SUPER 56

Berço de jeans, os Estados Unidos são sustentado por empresas de peso, originarias principalmente da Califórnia.

que, em geral, é o azul “puro índigo” que pesos na Europa vão até 13 oz para os artigos comerciais. Artigos mais conceituados chegam a 14 oz. Para o verão, os pesos são muito leves.


PREFERÊNCIAS NAS AMÉRICAS MÉXICO Stretch: Entre 9 e 11 oz. Com bom nível de elasticidade (para mulheres o fit é bem ajustado). Rígido: Entre 10 e 12 oz (pode passar um pouco desse peso nos estados ao Norte, pois o clima é mais frio) – poucas marcas utilizam comfort para os homens. Nível de lavagens: mais tradicional. Eles não costumam ousar tanto e a referencia é uma mescla de gosto local e influencia dos Estados Unidos.

COLÔMBIA Stretch: Entre 9 e 10,5 oz. Variando entre o strechcomfort e o novel de stretch razoável. Rígido: Entre 10 e 12 oz. Quase nenhuma marca utiliza comfort para homens. Nivek de lavagens: Muito bom, possuem conhecimento e recursos para lavagens elaboradas.

Fotos Divulgação

PERU Stretch: Entre 8,5 e 10,5 oz. Variando entre o strtchcomfort e nível de stretch razoável. Rígido: Entre 9 e 11 oz. Diversas marcas utilizam confort para homens. Nível de lavagens: Razoável., possuem um nível bom de lavadeiras e recursos, mas as lavagens ainda não são tão elaboradas.

VENEZUELA Stretch: Entre 11 e 13 oz. Alta elasticidade (pequeno volume de stretch mais leves, mas com alta elasticidade também). Rígido: Entre 11 e 14 oz. Praticamente nenhuma marca utiliza comfort para homens. Nível de lavagens: Muito básica. Fonte: Vicunha S

EQUADOR Stretch: Entre 9 e 11,5 oz. Variando entre o stretch normal e a alta elasticidade. Rígido: Entre 11 e 12 oz. (uniformes 14 oz). Poucas marcas utilizam comfort para homens. Nível de lavagens: Muito básico.

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Ilustração: Anna Maystrenko

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A PROCURA DO / DECOTE / Outrora poderoso sĂ­mbolo de sexualidade. O decote generoso saiu de moda. Estaremos condenadas a viver com as blusas abotoadas para todo o sempre? Por Kathleen Baird Murray Design Marconi Brito e Rute Silva Fotos Pinterest

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M Mas uma noite amena de início de setembro no terraço do Chiltern Firehouse. Cinco amigas, todas antigas colegas de profissão, bebem caipiroscas. Estavamos todas vestidas de maneira diferente, mas elegante: uma camisa branca Equipment, um vestido de ganga com botões MIH, um casaco bomber da Vetements, um maxivestido Roksanda e um corpete tipo Prada sobre uma T-shirt e calças de ganga. A empregada de mesa aproxima-se, a avisar-nos que o bar está quase a fechar e é hora de fazermos os nossos últimos pedidos; elogiamos-lhe o uniforme – o famoso macacão Emilia Wickstead sem costas, justo ao corpo, com uma sensualidade, estilo – em termos de alfaiataria, o Chiltern tem tudo. Sempre teve. Mas olhemos com mais atenção. Há um MAIO 2017 SUPER 60

– ou serão dois? – elemento essencial ausente: nem uma mulher ali presente tem o menor vestígio de peito à mostra. O que aconteceu com os decotes? Lembra-se dos top-soutien de Jean Paul Gaultier? Desapareceram. Os corpetes de Vivenne Westwood, que elevavam até os seios mais pequenos, permitindo ás suas donas parecerem-se – por mais uma noite apenas – com Nell Gwyn? No baú. É compreensível, talvez, visto que ambos tiveram o seu auge nos anos 90. Mas agora? Nas passadeiras vermelhas, sem soutien (Alia Shawkat nos Emmys); 2. Vestidas com capas (Natasha Lyonne); ou 3. A fazer a pose com a perna enfiada pela racha lateral do vestido (Robin Wright). E o que dizer sobre a mais recente vaga de desfiles? Quando até marcas como a Versus e a Roberto Cavalli, habitualmente conhecidas pelos seus decotes amplos, apresentaram raparigas com pernas e barrigas à mostra e tecidos recortados, mas sem qualquer peito visível (no máximo uma tímida clavícula), tomámos consciência de que alguma coisa se passa. Ou, melhor dizendo, deixou de se passar. O decote – com aqueles dois montes magníficos, empurrados um contra o outro numa exibição de poder sexual, com o objetivo de seduzir, inspirar luxúria ou, simplesmente, dar nas vistas – saiu de cena. Ou, pelo menos, tirou umas férias bem merecidas. As meninas já não vêm à rua dizer: “Olá aos rapazes!” Nem a eles, nem a ninguém. No seu lugar, temos camisas brancas, o corpete Prada a simular roupa interior, o maxivestido Roksanda de gola alta. Quanto ao vestido de ganga com botões MIH? Uma revelação: os botões ficam abotoados quase até em cima, comas duas cúpulas em forma de lua e olharem para mim como se quisessem fugir dali. (Nenhuma revelação


propriamente dita, portanto.) Não sou a única a querer, de repente, tapar-se. Uma amiga escreveu-me num e-mail: “ Ontem á noite, ia vestir uma peça Chloé vermelha de prender no pescoço para um evento de Moda com jantar, mas por qualquer razão pareceu-me tão revelador, que senti necessidade de vestir uma gola alta branca por baixo. “Subitamente, o decote parece inapropriado e, em vez dele, estamos a adorar as blusas de Chiffon delicadas de Chloé; os laços Pussycat senhoris de Gucci e as golas adornadas. Golas altas em Céline d e Valentino, a simplicidade e a sensualidade ondulante das sedas e das caxemiras de The Row. Quando uma peça antes utilizada para aumentar e elevar surge nas passarelles – um corpete, por exemplo – é a representar um papel completamente diferente. “ A coleção de Prada baseou-se muito em usar corpetes de algodão à moda antiga”, diz Kate Phelan, diretora criativa da Topshop, “ mas sem realçar o peito. O efeito pretendido era simular uma peça de roupa interior, ou seja, pegar uma coisa que costuma estar invisível e torná-la mais proeminente”. A incidência do foco também mudou na passadeira vermelha. “ Já repararam que, de há uns tempos para cá, a pose popular nas passadeiras vermelhas é olhar sobre o ombro?”, pergunta a stylist Elizabeth Saltzaman, que recentemente vestiu Gwyneth Paltrow com um macacão Emilia Wickstead e Gemma Arterton com um vestido Ralph e Russo que mostrava muita coxa, mas nenhum peito. “A ausência de peito não tem nada a ver com serem mais novas ou mais velhas. Não consigo lembrar-me de uma única pessoa que me tenha pedido uma peça para exibir o peito. E, no entanto, muitas me têm dito: ‘Gostava de mostrar as pernas’. Além das pernas, estão a mostrar umas costas

perfeitamente tonificadas, uma barriga em forma ou um ombro – tudo partes do corpo que assumiram como estandartes de uma nova mensagem na passadeira vermelha. “Quando estão ali, na passadeira vermelha, ficam felizes por pensarem ‘tenho ótima figura e trabalhei muito para alcança-la’ “, comenta Saltzman. “ Mas não têm de agir como: ‘Olhem, aqui estão as minhas Dolly Partons para vocês verem’.” As atrizes não são as únicas a rejeitar os encantos óbvios do decote para serem levadas mãos a sério. Alex Eagle, cuja loja de moda e lifestyle impecavelmente arranjada de Walton Street tem uma clientela altamente informada e exigente, diz não ter encomendas de peças decotadas. Para ela, este fato reflete, essencialmente, as necessidades profissionais das mulheres em termos de guarda roupa. “A maioria das minhas clientes são mulheres de negócios e querem roupa que as façam sentir-se confiantes no local de trabalho, mas também querem vestir-se para agradar a si próprias.” Não é invulgar as novas funcionárias de grandes empresas receberem normas de conduta, com códigos de vestuário, estipulando que não devem usar peças demasiado reveladoras. Quer nos agrade quer não, a quantidade de pele visível é um indicador de quanto poder a pessoa detém. O peito de Victoria Beckham estava sempre à mostra quando era mais conhecida por ser mulher de um futebolista e estrela pop – mas o decote começou a diminuir assim que ela começou a levar a sério a atividade de designer, “O tamanho do decote no local de trabalho é uma questão delicada”, afirma Emilia Wickstead. “Acho que é importante sermos naturais e estarmos confortáveis, mas também devemos dar-nos ao respeito – diverti 61 SUPER MAIO 2017


masculino ouvem aquilo que ela tem a dizer, mas só respondem ao seu sócio

mo-nos com o nosso estilo pessoal, mas tendo noção do ambiente em que nos encontramos e do que é apropriado

em determinadas condições.” É claro que, embora nalguns aspetos isso seja sinal de progresso, é frustrante que uma mulher não possa usar decotes se quiser ser levada a sério. “ Porque é que ainda se pensa que ou temos maminhas ou temos cérebro?”, pergunta Margareth Crow, antiga stilyst e atual proprietária de um restaurante. “Porque temos que escolher uma gola alta para sermos levadas a sério?”. Trabalhando no ramo da restauração, sente-se permanentemente frustrada pela maneira como seus funcionários do sexo MAIO 2017 SUPER 62

(um homem). “Já tive dias em que os homens olhavam para o meu peito antes de olharem para a minha cara e ressinto-me do fato de ter de seu eu a resolver esse problema.” Tendo tomado a decisão de deixar de usar soutien há alguns anos, preferindo a forma natural do seus seios a “estar toda apertada e constrangida”, Crow diz que se não incomoda a ela ter mamilos visíveis através da roupa, também não deveria incomodar os outros. “ Tenho o peito grande, diz, “e cresci no Texas, onde qualquer referência à sexualidade ou prazer feminino é reprimida e há muita vergonha incutida. Chamavam-me nomes na escola e partiam do princípio que eu era atrevida. É estranho que o peito comunique mais do que qualquer outra parte do corpo”. A diretora artística Lotte Andersen também deixou de usar soutien, em parte por temer que o peito parecesse artificialmente grande. “Não gostava do aspecto que o meu peito ficava”, diz. “Além disso, a maneira como os homens se comportam... em Nova Iorque eu podiausar um soutien push-up e niguém olhava para mim. Aqui, na Europa, se eu usar soutien, sou assediada porque o meu peito parece maior e torna-se mais visível.” O risco de ser assediada é levado em conta por Saltzman quando veste outras pessoas para a passadeira vermelha. “Uma das mulheres que tenho a sorte de vestir tem um peito enorme e eu tento não me concentrar nisso quando escolho roupa para ela”, diz. “Mas naquelas ocasiões em que o peito é mais visível, vejo o que acontece nos seus feeds de integram e 90 mil em cada 100 mil comentários são sobre os seus seios. Isso não é saudável. É assustador.” Vejamos um exemplo:


a atriz e modelo Emily Ratajkowski foi amplamente criticada nas redes sociais por aparecer numa festa da New York Fashion Week com um vestido Julien Macdonald que pouco deixava à imaginação. E reagiu aos comentários no twitter: “Os homens ocidentais de 2016: querem impedir que as mulheres estrangeiras se tapem voluntariamente na praia, mas depois querem que as suas mulheres tapem os seus corpos “ordinários” em casa. Quem controla os corpos das mulheres em 2016? Estamos em 2016. Porque continuam a querer mandar naquilo que as mulheres vestem?” Alguns dias mais tarde, na cerimônia dos Emmys, ela foi epítome da elegância em Zac Posen. Mas embora os nossos motivos para mostrar nossos peitos no local de trabalho possam dever-se a uma questão de dessexualização, ou mesmo de auto-

proteção, a roupa sem decote pode ser igualmente sexy – talvez até mais, exprimindo erotismo através do mistério. Os recortes característicos de Wickstead ( que expõem cinturas e ombros em vez de celebrarem especificamente os seios) são uma exploração deliberada da sexualidade feminina, chamandoa atenção para zonas erógenas até agora não exploradas. “Gosto de orientar o olhar para as partes do corpo que têm sido consideradas menos sexy”, afirma Wickstead. “É muito maisuma questão daquilo que funciona para o indivíduo e o seu tipo físico, aquilo que querem exibir e aquilo que preferem esconder.” “Do ponto de vista de uma mulher sem peito, o decote não é algo que me seduza”, comenta Eagle. “É muito mais elegante, chique e sofisticado usar roupa que deslize sobre algo natural e real do que empurrar os seios para cima e para fora. “Quando era criança, admirava a roupa que a sua mãe – Jil Sander, Giorgio Armani, Max Mara – ou aquilo que, na sua opinião, é muito “O inverso do movimento do decote dos anos 90”. Ela tinha muitos tops em seda rosa-pálida e cor de chocolate e lembro-me de pensar: “É assim que as mulheres se deviam vestir!” Phelan concorda que a ausência de decotes é sinal de que os designers estão a procurar maneiras diferentes de mulheres de todas as idades exprimirem a sua feminilidade. “É mais sutil, com os designers a reagirem a um esbatimento da fronteira do genérico e uma sensualidade mais fluida nas mulheres mais novas, em vez de uma sexualização excessiva.” Phelan deus os seus primeiros passos na moda com a tenra idade de 19 anos e lembra-se de participar em sessões fotográficas com supermodelos como Cindy Crawford, Christy Turlington e Linda Evangelista. “Ver aquelas raparigas, todas com a minha idade, serem transformadas 63 SUPER MAIO 2017


naquelas mulheres incrivelmente voluptuosas e desejáveis era incrível, mas o peito delas nunca parecia ordinário: dava-lhes confiança e poder. As raparigas que vestiam Alaia pareciam capazes de conquistar o mundo”. Agora, porém, isso parecia antiquado. A rejeição os estereótipos de gênero tem estado na ordem do dia e os tempos das mulheres como regalo para os olhos, com uma sexualidade hipercarregada em vez de sutil, chegaram oficialmente ao fim. “Agora existe respeito mútuo e igualdade entre rapazes e raparigas, homens e mulheres, e as jovens não se consideram gay ou hétero: querem experimentar tudo”, diz Phelan. O declínio da sexualização nas passarelles desencadeou, por sua vez, a exigência de implantes mamários com aspecto mais natural. “Os excessos dos anos 80 e 90 resultaram num aumento da popularidade do peito”, afirma o cirurgião cosmético Patrick Malluci, que tem defendido, com grande sucesso, implantes mamários mais naturais. “As minhas pacientes falavam e aumentar MAIO 2017 SUPER 64

os seios, mas queriam ficar “naturais”, comenta. “Mas estavam a pensar no seu aspecto completamente vestidas ou de biquíni – por outas palavras, no decote – e não é esse aspecto que os seios têm no seu estado natural.” Malluci que tem um pôster de Kate Moss pendurado no seu gabinete (não nos esqueçamos que os seus seios perfeitamente empinados serviram em tempos de modelo para uma taça de champanhe – na verdade, existe alguma coisa que Moss não possa publicitar?), dissuade as suas pacientes de fazerem qualquer escolha pouco natural. “Não queremos meter um par de bolas de futebol lá dentro – ninguém gosta disso, além de esticar a pele e arruinar os tecidos mamários.” Os seus implantes para usar sem soutien são o oposto do look de decote forçado que domina a cirurgia de aumento mamário. “É um processo libertador porque restauramos os seios, devolvendo-lhe forma mais empinada com um lift, um implante, ou ambas as coisas e é espetacular permite usar T-shirt sem soutien.


Da mesma forma, os tempos dos Wonderbara com enchimento e arames desconfortáveis podem estar a chegar ao fim. (Também avistado no Chiltern, o antigo rosto e peito de Wonderbara, Eva herzigova, com uma camisa branca abotoada até em cima. O Net-a-Porter diz que os soutiens sem armação e encontram atualmente entre os seus produtos mais vendidos, na categoria de langerie, totalizando quase metade do total das vendas é o bralette CK, juntamente com os modelos prender atrás do pescoço rendados da Free People e Daydream Nation, desenhados para serem usados com uma camisa branca lisa ou um top simples, revelando pormenores sutis em renda. “É quase como se as mulheres se recusassem a submeter-se à imagem sexy que, durante tanto tempo, dominou as campanhas publicitárias da indústria de langerie”, comenta Pierre Reynolds, responsável pelas aquisições do Body Studio. Mas antes de queimar os seus sou-

É quase como se as mulheres se recusassem a submeter-se à imagem sexy que, durante tanto tempo, dominou as campanhas publicitárias da indústria de langerie. tiens, lembre-se do seguinte: uma das peças atualmente expostas na exposição vulgar, no Barbican, é uma pièce d’stomac, um painel triangular rígido usado sobre os seios e que desce até à cintura. Amplamente adornado com bordados, pérolas e joias, este soutien peculiar, que foi desenhado para elevar os seios a tornar a cintura, aparentemente, mais fina, transitou para dentro e para fora da moda várias vezes em finais do século XVIII. Por outras palavras, pode estar museu agora, mas o decote, essa magnifica e divertida exibição do peito, nunca desaparece por muito tempo. Olá meninas! s

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Consumo do público masculino Novo hábito de consumo do público masculino impulsiona a área de moda Por: onegociodovarejo Designer: Jonatas Silva

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e olho nos hábitos de consumo dos homens, cada vez mais preocupados com a aparência, o segmento de moda masculina continua otimista, tanto que atrai mais investimentos e até novas empresas. Além de marcas tradicionais como Camisaria Colombo, Siberian e Brooksfield, entre outras, varejistas como Jack The Baber e Hermoso Compradre chegam ao mercado concentrando esforços em artigos masculinos. Para o diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), Marcelo Prado, mesmo com a economia fraca o mercado cresce. “As condições atuais podem trazer algumas restrições de compra, mas o mercado vai evoluir, tanto quanto nos últimos anos. As oportunidades são grandes pelo comportamento e pela melhoria da renda da população”. O diretor também afirma que o potencial a ser explorado está nas diversas atividades que os homens atuais estão inseridos, como a prática de esportes, atuação profissional e os momentos de laser. Uma pesquisa realizada pelo Instituto, em setembro, revelou o perfil dos consumidores masculinos. Cerca de 21,5% dos homens fazem compras regularmente de três em três meses e 26,1% deles, levam pelo menos três peças em cada compra.

Mercado Há 27 anos no mercado, a marca Cobra D’Agua aposta no mercado de moda masculina e este ano irá investir cerca de R$ 7 milhões em ações de marketing,

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capacitação de funcionários, novas tecnologias e consultorias. “ A previsão é crescermos cerca de 15 % em 2015 e o valor de investimento é 10% maior do que o realizado no ano passado”, explica fundador e diretor da empresa, Lucas Izoton. Hoje, a Cobra D’Agua atua com cerca de 12 mil pontos de vendas multimarcas e está espalhada nos 27 estados brasileiros. Ainda para 2015, a marca, que não possui lojas próprias, irá focar nas grandes lojas do setor para estabelecer parcerias e instalar as chamadas ‘store in store’. Comum fora do Brasil, o modelo conta com espaços diferenciados dentro dos pontos de venda. “Nele os produtos da Cobra D’agua ficam dispostos em um ambiente exclusivo, para expor a essência e o conceito da marca. A instalação de um corner de 9 metros quadrados, por exemplo, triplica as vendas no local”, explica Lucas Izoton.

Tendência O aumento da demanda entre o público masculino pôde ser visto com ênfase no Brasil entre 2007 e 2014, quando o setor cresceu

cerca de 44%. No período houve crescimento entre as lojas que tradicionalmente vendem para o segmento, como Camisaria Colombo, Richards e Brooksfield, entre outras. Mesmo assim, o número de lojas especializadas está aumentando, e o canal on-line comprova isso. É o caso da Jack the Barber (JtB), e-commerce que nasceu no ano passado e diz focar na inovação. A marca trouxe para o Brasil um modelo norte-americano de tamanho. “Resolvemos criar no País a numeração de cintura e pernas como acontece nos Estados Unidos”, informou o fundador da JtB, Guilherme Paulino. Com linhas apenas ao gênero masculino e 120 produtos no portfólio, entre camisas, camisetas, calças e acessórios, a empresa explora iniciativas de marketing e canais de vendas. Este ano, a marca espera alcançar faturamento médio de R$ 2 milhões. Para tanto, a empresa pretende fazer novos investimentos. “Vamos criar uma loja experimental, para que o cliente veja e experimente os produtos e depois os receba em casa”. A loja física deve ser instalada ainda este ano, no bairro Itaim Bibi, na capital paulista, disse Paulino. Outra marca otimista é a Hermoso Compadre, e-commerce que também possui uma loja física e


atende os clientes em Franca (SP), além de repassar os produtos para uma loja multimarca. A empresa, criada em 2012, faturou cerca de R$ 420 mil em 2014 e pretende alcançar aumento de 50% este ano. Voltada ao público jovem, a Hermoso Compadre comercializa camisetas, carteiras, sapatos e outros produtos. “Em 2013 fizemos a estruturação na área de criação. Este ano queremos aumentar a oferta de produtos, com peças em tricô, como gorros e cachecóis”, afirma o sócio da Hermoso Compadre, Rafael Cintra. O empresário aposta no crescimento, “mesmo com o cenário econômico difícil para algumas empresas do segmento”.

Cautela Cautela é a palavra de ordem na rede Enzo Toscani, que atende ao público de classe B e C e trabalha com estilos social e esporte fino. Com 13 lojas próprias e sete franquias, o sócio da grife, Afonso Henrique Moreira Ribeiro, diz que o momento é de cautela para novos investimentos, mas espera crescer cerca de 5% entre as 17 unidades mais antigas. “Acredito que as marcas com capital próprio têm mais chance de enfrentar o momento de alta de juros. As novas marcas, para se manter no mercado”. Em termos de mercado, faz sentido. Segundo o IEMI, nos últimos três anos o segmento apresentou avanço de 12,5 % em valores e de 0,8% em produção de peças. No entanto, em 2014, houve queda de 0,9% na produção, em comparação ao ano anterior. O valor de peças produzidas sem impostos foi R$ 34 bilhões, um

acréscimo de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Ter um entendimento básico sobre moda masculina é uma coisa difícil para muitos homens. Custa dinheiro e parece extremamente difícil manter o seu guarda roupa actualizado. Eu vou dar dicas de moda masculina p a r a você ter um visual perfeito em qualquer o c a sião. Depois de ler os artigos mais importantes deste s i t e você vai ter um entendimento melhor sobre estilo, o que vestir em que ocasião e como gastar o seu dinheiro da melhor forma. Infelizmente não existe uma solução simples para a moda masculina… mas ela é mais simples que a moda feminina! Eu não posso dizer o que você deve vestir todos os dias, não posso especificar para onde deve ir às compras e quanto gastar. O que eu posso fazer é dizer as regras básicas da moda masculina que

deve seguir. Se você seguir estes princípios religiosamente, o seu estilo masculino vai melhorar muito! Determinar o Seu Estilo Pessoal Determine o seu estilo pessoal e trabalhe nele. Esta é a dica mais importante que lhe posso dar. Você têm de se decidir num tipo de imagem e ser consistente. A maioria das pessoas, especialmente as mulheres – que dão muito mais atenção à moda – vão estranhar se você anda com jeans de 30€ num dia e um fato Armani de 900€ no outro dia. Pense um pouco sobre o seu estilo pessoal. Que tipo de roupas combinam com o seu estilo de vida? Se você está a copiar um estilo de uma pessoa que não conhece bem (ou não conhece de todo) pode ser útil escrever o que eles estão a vestir num período de alguns dias. Se você vê alguém na rua com roupa que você gosta, não hesite em perguntar onde ele comprou. A maioria das pessoas gostam da conversa e respondem sem problemas. Isso é uma coisa que eu faço c e encontrei muitas lojas boas dessa forma.

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Alto verão e inverno com poucas novidades e muitas opções

Texto Aline Parrini Ilustração Juliana Fachini (Quase à Toa) Desing Lucas e Henrique Edição Moda Rio MAIOSUPER 2017 SUPER 70 MAIO

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e início de agosto ao meado de setembro (12), a equipe do Giro SENAI Moda Design percorreu cerca de 10 polos de moda levando informações preciosas sobre macrotendências e comportamento, para um público eclético que vai de confeccionistas e pequenos empresários de marcas a blogueiras, estudantes e profissionais de desenvolvimento, entre outros. Com um mercado cada vez mais segmentado, as opções são múltiplas e as novidades difíceis de identificar. De acordo com Carol Fernandes, uma das pesquisadoras e palestrantes mais aguardadas no evento de abertura, na sede da Fir-

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jan, no Rio, as informações divulgadas servem, principalmente, para que pequenos e micro empresários criem suas coleções alinhadas às tendências da moda mundial e que as ajustem se for necessário. Manter-se informado, confirmando a cada oportunidade as tendências, reduz a probabilidade de erros e permite ajustes rápidos”, diz, ressaltando que o diferencial pode estar no olhar crítico, perceptivo e conhecedor. Como em todas as palestras que ministra, chamou o público à reflexão, analisou campanhas publicitárias alinhadas com o que acontece no mundo e apontou os movimentos e burburinhos contemporâneos que transitam nas artes,


Masculino O blazer traz mais ousadia. Oferece cortes diversos e brinca com o tema militar. Vem camuflado, com folhagens, assim como os moletons, que abusam das estampas, que aparecem em outras peças e exibem animais e flores. Mas nem todo homem adere, por isso, todo cuidado é pouco. Haverá muita referência aos skatistas e ao hip-hop, com peças bastante confortáveis . Aparece bastante uma mistura de estilo e temas e o destaque vai para a t-shirt com a estamparia de sublimação. Segundo Milena, o jeans traz cada vez mais peças macias, gostosas de tocar e vestir. “Todas as lojas apresentavam, em suas coleções, camisas jeans. Brenda Tostes estreou no Giro, apresentando o infantil que retorna após solicitação do público, assim como “acessórios”, que novamente ficaram sob a apresentação da Carol.

na música e nas ruas das grandes metrópoles internacionais. Estiveram presentes cerca de 120 espectadores. A equipe do Senai Moda repetiu as visitas às feiras, às ruas e suas vitrines, e aos polos culturais de Berlim, Paris e Londres. Carol Fernandes e Milena Rodrigues protagonizaram a maior parte da mostra da pesquisa. As palestras do Giro Senai são um resumo do Dossiê Digital - Perfil Moda Alto Verão e Inverno 2014 -, que contém os pontos fortes do Inverno 2014, como as cores, AS quando colorido, surge sobre o fundo claro. “Vimos pouquíssima estamparia com fundo escuro”, completa. No meio tribal, a renda surge em looks mais góticos. Telas sobrepostas vêm com mais potência e o franjado étnico perdura. Casacos e saias trazem os detalhes iluminados. Estampas aparecem localizadas nas laterais das calças. Mas, atenção para a maciez dos tecidos. Todos os palestrantes atentaram para estampas, as formas e os materiais observados nos segmentos feminino, masculino, infantil, fitness, lingerie e acessório. Há, ainda, a confirmação do alto verão 2014. O ma 73 SUPER MAIO 2017

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terial é vendido pela instituição, em DVD, pelo valor de R$150. Das feiras, na percepção de Carol, Berlim é a cidade que está cada vez mais surpreendente. Londres vem se destacando para pesquisa de rua. Ela ressalta: “Paris está perdendo fôlego”. Mas criticou a feira alemã Bread & Butter, destacando a irreverência da mostra da Bright, que se torna cada vez mais alternativa, múltipla e democrática. Milena Rodrigues Cariello abriu o evento destacando as cores que continuam em alta e listou o branco, o areia, laranja, menta, vermelho, azul e verde - que iniciou tímido no verão e deslancha no inverno. As estampas aparecem fortes e a Pop Art se destaca. O tema Bicho virou o novo básico, mas mudou de público. Saiu do sensual e passou para o sofisticado e casual, com permanência marcante dos felinos. A temática militar se reafirma em mais uma edição das coleções de alto verão e leva o camuflado para o inverno. O clássico listrado quase saiu de cena. Aparece em barras largas, na diagonal e horizontal e com nuanMAIO 2017 SUPER 74

ces entre o PB ou junto com estamparia floral. O PB persiste no quadriculado, cresce com o floral, que o conforto, principalmente no jeans. “O jeans é um grande destaque para 2014, com modelagem Slim Fit, tecnologia e muita maciez no tecido, principalmente na camisaria”, completa. Ganharam evidência as maxi regata, as blusinhas e shorts curtos, e a nova transparência com estampas. Saias mimolet e godê e as longas com pinçados. Os vestidos exibem estampas localizadas. O destaque vai para as estampas de caveiras mexicanas sorridentes, da cultura asteca. Carol Fernandes dedicou-se à “Macro Tendência”: “Dediquem atenção para criar algo autêntico, com a cara da marca de vocês. As marcas lá de fora estão mudando. As pessoas querem conteúdo, conforto e qualidade”, disse, retomando o discurso que há tempos vem praticando, o da “desconstrução teórica”. “Temos que refletir, questionar, não permitir a manipulação, como disse o Papa”, lembrou. E emendou o discurso abordando a tendência dos contrários, entre o sagrado e o profano, presentes em

conceitos antigos e contemporâneos, também influenciados pelo “clero”. A pesquisadora analisou as campanhas publicitárias do “The Economist”, sob o slogan “where do you stand?”. Mostrou a chanceler alemã, Angela Dorothea Merkel, caricaturada como anjo e demônio. Falou da Diesel, que está reinventando o sagrado, e retornou às mensagWens do Papa, pelo mundo, na busca de renovar a imagem do sagrado e debatendo assuntos “profanos”, abordando temas polêmicos, ainda considerados tabus na sociedade. “O momento é de emitir mensagem de otimismo, conforto”, ressalta. E tudo isso aparece na hora de desenvolver um produto ou oferecer um serviço. “O desafio também é fazer do ordinário o extraordinário”, disse, acrescentando que vivemos em um momento em que novas formas de gênero surgem com um mundo aberto às diferenças e à liberdade, em busca de felicidade. Aproveitou para apresentar um vídeo sobre a imagem estereotipada e banalizada da mulher em anúncios, onde os “papéis” femininos são protagoni-


zados por homens. (ver em Notas e Retalhos). Resgatando os signos do surrealismo e do anarquismo na moda, a palestrante congratulou a chegada da década de 90 com mais força ao mundo fashion contemporâneo. Apontou, como exemplo, a primeira exposição internacional s o b r e o as- tro David Bowie - que aconteceu no Victoria and Albert Museum, de março a agosto -, como vitrine de um homem que não tolera mesmices, inspirando grandes artistas e estilistas de sua época. Carol dedicou, novamente, fôlego à Economia do Amor, onde a felicidade é o combustível. As marcas continuam valorizando a mensagem da felicidade, que vai para além de vestir peças da grife. São empresários oferecendo experiências reais de prazer e de cumplicidade ao cliente. As ideias abraçam a comunidade, têm como proposta fortalecer a imagem de ser bacana, de criar laços de amizade e de valorizar as boas ações. O prazer tem que estar aliado ao trabalho e aos trabalhadores e consumidores. Sempre presente no Giro Senai Moda, a empresária Cristina Dahier afirmou que muito do que ouviu e viu nas palestras já havia pesquisado

e encontrado na internet, mas ressaltou que sempre há novidades e inspiração, p r i n c i p a l m e n t e quando há reflexão sobre comportamento e valores. Ela conta que há muito tempo optou por investir na “glocalização”, s e g u i n d o motivações do Giro Senai. Ela e a amiga Thatiana Amorim aliam necessidades e realidades locais com tendências globais. Buscam inspirações que valorizam seu entorno e lançam mão de promover eventos com marcas regionais amigas para atrair e compartilhar os clientes e, ainda, envolver todos em uma ação, seja de lazer e consumo ou de consumo com responsabilidade social.

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OS ANOS 80 COM UM LUXO MODERNO: OMBROS VOLUMOSOS , CINTURA MARCADA E LOGOTIPOS EM TODO LUGAR Por: Bia Frata Design: Priscila das V. Silva de Brito

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Ilustração: Jack Flamel

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ESTÃO DE VOLTA

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BEM VINDO VERÃO 2017 ! Referência forte na temporada verão 2017, os anos 80 dominaram de vez as passarelas internacionais. Com ele, uma energia positiva que irá traduzir a década da alta octanagem responsável por ombros volumosos, bustos decotados, amarrações laterais, moulages e tecidos extravagantes.

O ESPIRITO MAIS CONTAGIANTA DE TODOS ? “O designers apostaram nas ombreiras poderosas e em decotes típicos da década; como o assimétrico e o tomara-que-caia,em suas coleções, explorando a mistura do clássico e do rock, transportada para os dias de hoje”. “ Quanto maior e mais ousado, melhor”. O humor dos anos 80, é defendido por designers como Anthony VaccaCONSIDERADA A ERA DE rello; Saint Laurent; Gilvenchy EXTRAVAGÂNCIA e Isabel Marant.

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Às peças metalizadas e super brilhante, são essenciais para adaptar a tendência. E, a dica é: a tonalidade mais ousada, melhor Shantung, tafetá, veludos e brocados máximalistas farão seu guarda-roupa brilhar, inclusive à luz do dia. À noite, troque bordados por amarrações de moulage criadas a partir de tecidos igualmente incorpados. Nas passarelas, o resultado são peças com muita assimetria, brilho e toque contemporâneo. As calças aparecem em um shape mais amplo, os vestidos em pegada sexy com a cintura marcada, recortes e mix de texturas, sempre combinando a rigidez e fluidez dos materiais.

Fotos:Divulgação

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OS ACESSÓRIOS VOLTANDO Inspirados nos anos 80 foram aposta quase unânime nas passarelas nas últimas semanas de moda internacionais, e não é por menos: o

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verão 2017 dá abertura a detalhes maiores, mais coloridos e com mais vida; alguns itens de breve complementos, se tornaram o grande destaque do look. Para setembro, Anthony Vaccarello não apenas fez seu debute de estreia para Saint Laurent, ele deu o tom da temporada. Foi o seu acessório que realmente atingiu a marca, o lendário logotipo YSL, estilo dos anos 80, mas com toque um pouco contemporâneo para torná-los itens instantâneos culturais.

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Fotos:Divulgação

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POWER SQUAD Conheça modelos e bloggers que estão mudando a moda de dentro para fora ao colocarem em prática, nas redes e nas passarelas suas ideias transformadoras. Por: Vivian Whiteman | Colaboração: Chantal Sordi Design: Kércia Ferreira e Jason Santos

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Ilustração: Freepik.com


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causa feminista tem sido abraçada, ou apenas usada, por uma série de marcas e virou um dos mais recentes fenômenos de interesse no mercado de moda. Se muitas vezes isso se aproxima de um discurso marqueteiro de ocasião, há, por, outro lado, um movimento real de mulheres dentro da indústria disposto a mudar as coisas de dentro para fora, colocando em prática ideias sobre inclusão, diversidade e poder feminino. Essas iniciativas se concentravam, em outros tempos, na mão dos estilistas, mas agora o esforço vem de todos os lados, inclusive das modelos. A tarefa de desmitificar certas ilusões, de falar de glamour e falar da realidade do business não é simples. Mas está em pleno andamento graças a pioneiras como a Black Girls Coalition (fundada em 1988 por Iman e Bethann Hardisson) e a discur-

Foto: allwomansproject.com

sos marcantes como o TED da top Cameron Russel (Aparência Não é Tudo: Acreditem, Eu Sou Modelo), que viralizou no Youtube em 2012. O trabalho segue agora com nomes como Adwoa Aboah, com seu site Gurls Talk, e Ashley Graham, com seu discurso pela quebra dos padrões de beleza. Adwoa tem, inclusive, ampliado o repertório e falado abertamente sobre assuntos como depressão, vício, solidão e dificuldades na carreira. As duas modelos se juntam a um grupo crescente e cada vez mais ativo, protagonista de um trabalho educativo que é feito dia após dia com a ajuda das redes. O All Woman Project, de Charli Howard e Clementine Desseaux, e um exemplo desse “uma por todas e todas por uma”. Elas se conheceram por meio de um booker, que incentivou a amizade. “Como Clem é modelo plus-size, e só faz ensaios plus-size nunca havíamos nos encontrado.

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Quando nos conhecemos, a química foi imediata, assim como a vontade de fazer um editorial de moda que celebrasse todos os tipos de corpos e cores”, diz Charli. A ideia se desdobrou em um projeto maior, que visa melhorar a vida de mulheres ao redor do globo por meio de imagens de positividade em relação ao próprio corpo. “Esse é um processo lento, mas a cada temporada estamos vendo mais diversidade nos desfiles, continua Charli. “A persistência é a chave. Só vamos ter completado nosso objetivo, quando isso se tornar algo normal.” Explica Clementine. A fundação realiza campanhas com mulheres de diferentes silhuetas, idades, gêneros e origens, sem retoque de Photoshop, e também organiza eventos e workshops em escolas para começar uma educação desde cedo, promovendo a aceitação do próprio corpo. “A nova geração ainda sente a pressão criada pelo tratamento de imagem, mas, difeMAIO 2017 SUPER 84

rente da nossa, ela tem acesso aos movimentos de positividade na internet.”, pondera Charli. “Nunca tivemos alguém dizendo que a nossa celulite não é motivo para ter vergonha. Isso é ótimo.” Entre as musas do projeto, está a modelo intersex Victoria Brito, que, assim como nossa cover girl Hanny Gaby Odiele, usa sua fama e seu poder de influencia para trazer visibilidade ao assunto dos gêneros. Em um movimento similar, a designer Sophie Theallet adotou a inclusão como regra nos castings de seus desfiles e a top Erin O’Connor fundou o All Walks Beyond the Catwalk, também a favor de mulheres de todos os tipos e estilos. A atriz e cantora Zendaya (que está no novo filme do Homem Aranha e na última campanha da Dolce & Gabbana) também mostrou como tirar o discurso sobre o corpo do papel. Quando recebeu uma corrente que humilhava uma garota gorda, decidiu contratá-la para ser um dos

rostos da campanha de sua grife. Em outros contextos, a simples presença de uma mulher, e sua capacidade de representar uma ideia, pode ser desafiadora. A modelo somali-americana Halina Aden havia feito história por competir em um concurso de miss usando burkini e seu hijab, o lenço muçulmano que cobre parte do rosto e cabelos. Na mais recente temporada de moda, ela desfilou para a Yeezy, de Kanye West, e para a Alberta Ferretti, sempre usando a peça. Além disso, assinou um contrato com a agencia IMG. “Não mude quem você é, mude o jogo”, disse. Além da imagem incomum em passarelas ocidentais, a cena ganha novos contornos quando o muno se une contra o presidente Donald Trump e sua política de discriminação contra os que são muçulmanos.


Fotos: Divulgação

“A persistência é a chave. Só vamos ter completado nosso objetivo, quando isso se tornar algo normal.”

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“A sociedade foi condicionada para ver um tipo de beleza específico.” Mama Cax Quando o assunto é racismo na mídia, a modelo Deddeh Howard está na linha de frente do combate. Por meio do projeto fotográfico Black Mirror, ela tenta ilustrar porque o padrão de beleza precisa mudar. “Estava folheando revistas de moda em busca de inspiração quando percebi que só havia mulheres brancas e nao tinha ninguém para me representar”, conta. Após ser recusada por algumas agências com a alegação de que “já havia uma mulher afro-americana no casting”, ela se uniu a fotógrafo Raffael Dickreute para dar vida ao projeto. Nele, Deddeh recria, com mulheres negras, cam-

panhas de grifes famosas com mulheres brancas. “Quero chamar a atenção para a invisibilidade de mulheres de outras cores.” Se para algumas ativistas já é possível ver a evolução na indústria da moda em relação ao padrão de beleza, para mulheres como Cax Me, do blog de life style e moda Mama Cax, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Nascida no Brooklin, em Nova York, e criada entre Montreal, no Canadá, e o Haiti, Cax foi diagnosticada com câncer nos ossos e nos pulmões aos 14 anos e, para vencer a doença com tratamentos experimentais, precisou amputar uma perna. Aos 17, ela fez uma viagem para a Costa Rica e postou os registros em um blog, que repercutiu. A partir daí, não parou mais. Foram 25 países desde en-

A sociedade foi condicionada para ver um tipo de beleza específico.

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tão e seu site virou um hit da internet. “Eu queria viver a experiência que outras pessoas postavam, mas a maioria dos bloggers era de homens brancos e com corpos saudáveis”, conta. “Decidi dividir minhas próprias descobertas, captando a beleza de cada local, assim como os obstáculos enfrentados neles.” O sie evoluiu com o tempo e hoje Cax não só fala de viagens mas também de moda e beleza, chamando a atenção sempre para as questões de deficiência física e mensagens positivas em relação ao próprio corpo. “A sociedade foi condicionada para ver um tipo de beleza específico e, da mesma maneira que levou décadas para que as pessoas se acostumassem com essa imagem, levará outras tantas para mudar essa percepção”, reflete. “Há sempre um mo-

Cor em questão

Foto: Mama Cax


mento de regressão. Então acredito que, infelizmente, para algumas marcas, a diversidade seja apenas uma mera tendência”, diz ela, que se tornou uma musa inspiradora de diversas garotas em situação similar. “Sinto que tenho poder de influência e a minha mensagem é simples: Seja você mesma, se ame e aprenda a se defender.” Cax não está sozinha. A modelo Jillian Mercado vem combatendo ideias preconcebidas e erradas a respeito dos portadores de deficiência físicas. Diagnosticada com distrofia muscular congênita na infância, essa norte-americana de descendência latina sempre amou moda e não deixou sua condição física impedi-la de entrar no mercado. Ela se matriculou no Fashion Institute oh Tecnology, em Nova York, onde estudou história da moda, e conseguiu um estágio na revista Allure. Seu conhecimento do assunto fez com que seus amigos a incentivassem a criar um blog para compartilhar suas refe-

w Fiquei chocada com o fato de não haver na indústria uma pessoa como eu. Então, quando minhas seguidoras me chamam de musa, me surpreende

rências. “Hesitei no começo, pois não sabia se haveria audiência. Afinal nossa sociedade foi condicionada a ignorar pessoas com deficiência física. Mas meus amigos insistiram tanto que acabei fazendo”, diz. No site Manufactured 1987, ela passou a compartilhar suas inspirações ao mesmo tempo que discutia a questão da inclusão e da diversidade. A audiência veio no ato, e Jillian rapidamente se deparou com um fiel grupo de seguidores, que a enxergavam como um exemplo. “Quando era mais jovem, procurei uma inspiração. Havia pessoas que admirava, mas ninguém com uma deficiência que poderia me influenciar”, recorda. “Fiquei chocada com o fato de não haver na indústria uma pessoa como eu. Então, quando minhas seguidoras me chamam de musa, me surpreende” diz. Por questões que esbarram em problemas como pressões do mercado e resistência de grandes players – muito de-

Foto: Jillian Mercado

les interessados em manter as coisas como estão –, as iniciativas caminham devagar. Mas, mais do que eventos chamativos, capas de revistas e discursos inflamados, a revolução que essas mulheres estão fazendo sem muito alarde será duradoura. Ela está ajudando a moldar pensamentos e a criar pessoas mais generosas e seguras, que em algum momento terão, além de poder de consumo, a organização necessária para alavancar avanços afetivos. S

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Produção experimental da disciplina Práticas em Produção Editorial do segundo semestre do curso de Design Gráfico da Unijorge

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