Ana Paula de Assis Zenatti Soledad Yaconi Urrutia de Sousa
Comunicação em Desastres A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
PREFÁCIO
Moacir Pereira
Ana Paula de Assis Zenatti Soledad Yaconi Urrutia de Sousa
Comunicação em Desastres A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental 2010
PREFÁCIO
Moacir Pereira
Ana Paula de Assis Zenatti Soledad Yaconi Urrutia de Sousa
Comunicação em Desastres A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
PREFÁCIO
Moacir Pereira
Autoras:
Ana Paula de Assis Zenatti Soledad Yaconi Urrutia de Sousa
Liane de Assis Zenatti
Revisão:
Projeto Gráfico e Capa:
Isaias J. Pinto
Fotos:
Secretaria de Comunicação e Departamento Estadual de Defesa Civil
Realização:
Apoio:
Centro Universitário de Estudo e Pesquisas sobre Desastres (CEPED) / Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) / Departamento Estadual de Defesa Civil (DEDC) / Governo do Estado de Santa Catarina. Associação Catarinense de Imprensa (ACI)
ZENATTI, Ana Paula de Assis; SOUSA, Soledad Yaconi Urrutia. Comunicação em Desastres: a Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental. Florianópolis – Governo do Estado de SC – SJC/DEDC – UFSC/CEPED, 2010.
Realização:
Apoio:
Dedicatória Aos profissionais de comunicação atuantes no desastre de novembro de 2008, em Santa Catarina, que auxiliaram a Defesa Civil Estadual no contato com a população em um momento catastrófico e desesperador. O livro foi elaborado para que exista um laço permanente entre a mídia e o órgão responsável pela coordenação de atendimento e assistência a desastres, com o objetivo de facilitar a comunicação entre imprensa e fonte oficial, durante uma situação em que a organização e a informação são primordiais para o atendimento à população vulnerável.
Sumário Apresentação, por Emerson Neri Emerim............................................................11 Prefácio – A indispensável convergência, por Moacir Pereira.......................13
1.
A imprensa e os desastres.........................................................................17 A arte da comunicação................................................................................24 Imprensa no Brasil........................................................................................25 Atuação em desastres.................................................................................28
O papel da imprensa na divulgação de informações..........................35 A informação em desastres.......................................................................39
2.
Imagens.........................................................................................................................45
3.
4.
Comunicação com a imprensa – o trabalho da assessoria..............56 A assessoria de imprensa nos desastres..............................................58 Comunicação preventiva, a solução mais eficaz.................................60 Plano de comunicação: antes, durante e depois do desastre.........61 Ferramentas para comunicação...............................................................67 Planejar e preparar estratégias.................................................................70
Desastre de 2008 – um exemplo prático..............................................80 Assessoria governamental: antes, durante e após o desastre de 2008....86 Antes do desastre.........................................................................................86 Durante o desastre.......................................................................................91 Pós-desastre..................................................................................................96 Reflexão – Comunicação integrada e preventiva..............................................97 Sobre as autoras......................................................................................................101 Anexos........................................................................................................................105 Plano de Comunicação – Defesa Civil de SC......................................105 Glossário de Defesa Civil..........................................................................109 Referência Bibliográfica...........................................................................115
Apresentação A imprensa atua como um dos personagens principais na ocorrência de desastres naturais ao repassar informação à população e amenizar um período difícil na vida das vítimas de uma tragédia. O papel da mídia antes, durante e após um desastre é essencial para garantir a segurança e a integridade das pessoas, bem como o atendimento e assistência necessários aos afetados. Do mesmo modo, a assessoria de imprensa governamental, como órgão oficial, deve organizar e priorizar dados e informações relevantes para acesso da imprensa, que levará o assunto à comunidade, principal público de interesse tanto da mídia quanto do órgão de governo. O sucesso deste delicado processo de comunicação exige estratégia e planejamento no momento da prevenção, hoje principal discussão entre órgãos de Defesa Civil, até os resultados de resposta e reconstrução. O maior inimigo deste complexo sistema é, ironicamente, a falta de comunicação. No intuito de evitar falhas e provocar uma discussão mais ampla sobre o trabalho de cada ator, foi elaborado este livro, o qual pretende, inicialmente, provocar a participação da mídia não só como fiscalizador do governo, mas também como ferramenta no trabalho mútuo de proteger a sociedade em cenários de desastre, por meio da informação.
Emerson Neri Emerim Diretor do Departamento Estadual de Defesa Civil Santa Catarina
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Prefácio A indispensável convergência Múltiplos são os motivos que me fazem privilegiado com o honroso convite para prefaciar este oportuno e bem escrito livro Comunicação em Desastres: A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental, das colegas Ana Paula Zenatti e Soledad Yaconi Urrutia de Sousa. O primeiro vem pelo credenciamento. No momento em que, por infeliz e desastrada decisão do Supremo Tribunal Federal, o exercício do jornalismo dispensa a formação universitária, ganha a sociedade uma nova contribuição sobre o papel dos meios de informação na prevenção e na cobertura das calamidades. Um drama que vem se repetindo com surpreendente frequência no Brasil e no resto do mundo, a revelar que o clima mudou, o tempo mudou e as ações públicas e privadas de proteção também precisam mudar. Agrega-se a esta qualidade da autoria a experiência vivida pelas autoras no front de batalha da última tragédia que se abateu sobre o Vale do Itajaí. Um testemunho que possibilitou a indicação de medidas práticas a azeitar as relações dos órgãos de defesa civil com os profissionais de imprensa que faziam a cobertura.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
Os fundamentos teóricos do estudo estão muito bem posicionados dentro da proposta, naquilo que se refere à prevenção de desastres em Santa Catarina e no resto do Brasil. Teoria estrangeira que fortalece e aprimora as apreciações judiciosas aqui produzidas. A obra mostra com clareza, também, a importância de um trabalho técnico e bem organizado daqueles que atuam nas operações de resgate durante as ocorrências calamitosas e os profissionais envolvidos nos relatos jornalísticos. A cooperação aí, de parte a parte, é fundamental para manter o bom relacionamento e obter os melhores resultados, beneficiando o conjunto da população. O trabalho reveste-se, ainda, de qualidade e relevância pelas mudanças que se registram na comunicação social, especialmente, com as novas tecnologias a oferecer ferramentas excepcionais no fantástico e desafiante mundo digital que avança celeremente. Importante lembrar, de um lado, o dever que se impõe às autoridades de segurança e defesa civil de prestarem as informações de real interesse público para alertar, prevenir e combater calamidades; e, de outro, o direito que possuem os jornalistas e os cidadãos – por princípio e por norma constitucional – de serem bem informados sobre estes acontecimentos. Direitos e deveres que remontam ao período anterior à era Cristã. O grande filósofo grego Sócrates passou a vida pregando sobre o sentido da vida e a busca permanente da Verdade. A Verdade, para ele, era – e continua sendo – a rainha de todos os princípios. Em nome da Verdade e da coerência da pregação, entregou-se ao julgamento popular e acabou condenado a morte. A injustiça e o paradoxo voltam a se repetir. Ao invés da exigência da formação permanente, do aperfeiçoamento constante, dispensa-se os jornalistas da educação superior e do registro profissional imposto a todas as demais profissões. Vale lembrar, a propósito, outro pensamento socrático: “Só sei que nada sei. O fato de saber
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Prefácio – A indispensável convergência
isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”. Para proclamar lição de todos conhecida e que permanece viva quase dois séculos e meio depois: “Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de sua ignorância e serás um sábio”. Já que não temos a sonhada sabedoria, pelos menos maior conhecimento sobre prevenção de desastres este livro proporciona a todos os leitores.
Moacir Pereira Comentarista do grupo RBS Membro da Academia Catarinense de Letras
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1 A imprensa e os desastres Em março de 2004, quando meteorologistas previam a formação de um fenômeno até então considerado impossível no Atlântico Sul, a Defesa Civil de Santa Catarina estudava a melhor maneira de comunicar à população sobre o fenômeno e como agir sem provocar pânico e desorganização. Por meio de um canal de televisão, foi divulgada a iminência do evento. Quando o furacão se aproximava da costa catarinense, o órgão estadual foi às rádios buscar suporte na comunicação com as comunidades que poderiam ser afetadas. O Catarina poderia ter causado mais mortes e grandes estragos, caso os meios de comunicação não tivessem participado ativamente da disseminação de informações essenciais naquele momento. O furacão Catarina é considerado a primeira grande experiência em Santa Catarina com a participação da mídia nas etapas pré-desastre de atuação da Defesa Civil: prevenção, previsão e alerta de um fenômeno totalmente novo ao povo catarinense, que conheceu outras tragédias, como as enchentes de 1983/84 e as fortes chuvas de 1995, de acordo com o Diretor Estadual da Defesa Civil, Már-
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
cio Luiz Alves 1. Foi preciso, por meio da imprensa, criar uma estratégia de comunicação para ensinar à população sobre o risco, o evento e como agir quando se aproximasse. O crescente aumento de danos humanos e econômicos causados por desastres naturais, explica Fred Cate em The Media and Disaster Reduction: Roundtable on the Media, Scientific Information and Disasters at the United Nations World Conference on Natural Disaster Reduction2, provocou as Nações Unidas a transformarem os anos 90 na Década Internacional para a Redução dos Desastres Naturais (IDNDR, da sigla em inglês)3. A criação deste grupo reconhecia explicitamente que o homem possui os meios para reduzir o impacto de desastres naturais, ao salvar vidas e diminuir os estragos em propriedades, essencialmente por meio da comunicação. Conforme dados apresentados por Cate, entre 1963 e 1967, o mundo enfrentou 16 desastres, que tomaram a vida de 100 pessoas, talvez mais, e 89 desastres que causaram prejuízos de 1% ou mais do Produto Interno Bruto (PIB)4 dos países afetados. Vinte e cinco anos depois, entre 1988 e 1992, o mundo passou por 66 desastres que mataram 100 pessoas e outros 205 eventos adversos extremos que custaram 1% ou mais do PIB dos países atingidos. Mais de três milhões de pessoas morreram em desastres nas últimas duas décadas. Avaliando o prejuízo em dólares, no ano de 1990, o custo econômico de desastres naturais triplicou nos últimos 30 anos, de U$40 bilhões nos anos 60 para U$ 120 bilhões nos anos 80. Historicamente, a participação da mídia na cobertura de desastres existe desde o início da imprensa. O grande marco pode ser considerado a Segunda Guerra Mundial (1939-45), a qual inovou em tecnologias armamentistas e de comunicação,
1. Na época da entrevista para elaboração deste livro, Márcio Luiz Alves era o diretor do órgão, o qual comandou entre maio de 2007 e julho de 2010. 2. A Mídia e a Redução de Desastres: Mesa-redonda sobre a mídia, informação científica e desastres na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Redução de Desastres Naturais. 3. International Decade for Natural Disaster Reduction (IDNDR). 4. No artigo, em inglês, Cate refere-se ao PIB como GNP, Gross National Product.
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Capa do jornal The Call Chronicle Examiner, de S達o Francisco (EUA), em 19 de abril de 1906, quando um terremoto atingiu a cidade
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
Capa do jornal The New York Times, em 6 de junho de 1944, com destaque para a chegada das tropas aliadas à França
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A imprensa e os desastres
como os sistemas de micro-ondas. Além disso, fotografias, filmes produzidos na época e jornais americanos, como The New York Times, relatavam os acontecimentos do conflito militar. Entre os anos 60 e 70, jornalistas já discutiam a participação da mídia na cobertura de desastres ao questionar a hierarquização da notícia, sobre o que era realmente importante para a sociedade e o nível de impacto. Em 19785, a principal manchete da capa do jornal Daily News dizia “Morena esfaqueada até a morte” e logo abaixo, em letras menores, lia-se “Seis mil mortos em terremoto no Irã”. Questionava-se então o comportamento da imprensa ao noticiar um assassinato ou um grande desastre natural com o mesmo ou menor interesse. Em Media Coverage of Disasters: The Same Old Story6, T. Joseph Scanlon e Suzanne Allded, baseados em pesquisas e por meio de contato com jornalistas experientes em coberturas de eventos inesperados, criaram, em 1981, um modelo de comportamento da mídia – muito parecido com o atual – na ocorrência de uma crise e listaram 21 pontos que tratam desta atuação (1981, p. 364 a 372)7. Os 21 passos: 1º) A imprensa ficará sabendo do evento ocorrido; 2º) A imprensa irá atrás de mais informações; 3º) A imprensa usará informações de seu arquivo para complementar a história; 4º) A imprensa enviará repórteres para o local do ocorrido; 5º) Todos os recursos de equipe serão mobilizados para cobertura de um grande evento; 6º) A imprensa utilizará todo seu aparato técnico e ingenuidade; 7º) Conforme as informações tornam-se disponíveis, serão reportadas;
5. Conforme relatado em Media Coverage of Disasters: The Same Old Story, por T. Joseph Scanlon e Suzanne Alldred. 6. A Cobertura da Mídia em Desastres: A Mesma Velha Estória. 7. Tradução livre.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
8º) 9º)
A informação irá se espalhar pelos diferentes veículos; A imprensa tentará espremer a notícia em uma estrutura lógica: óbitos, desabrigados, custos; 10º) A imprensa exigirá uma coletiva para gravar declarações oficiais e dar forma e estrutura à notícia; 11º) Esta estrutura geral não irá assegurar que diferentes veículos nacionais montem sua matéria conforme interesses particulares; 12º) O local de ocorrência do evento ajudará a determinar o significado global da notícia; 13º) A imprensa irá persuadir pessoas a agirem de um modo que atenda às normas da notícia; 14º) O jornalista que possui conhecimento geral e não específico sobre o assunto, terá problemas em lidar com assuntos técnicos. 15º) Cada mídia, televisão, rádio e impressa, atuará de maneira diferente; 16º) Apesar das diferenças, veículos da imprensa estrangeira tendem a se apoiar mutuamente, frequentemente provocando antagonismos com a mídia local; 17º) A imprensa fará exigências e cobranças quanto à comunicação, transporte e outros recursos locais que podem ter sido afetados com o evento; 18º) A imprensa irá operar em círculos, focando no sensacionalismo, para preencher períodos de menos espetáculos; 19º) Em um desastre de grandes proporções, quase todos os repórteres irão dividir as informações que possuem; 20º) A imprensa – independente do modo que utilizaram para obter informação – não irá publicá-la se decidir que pode ser prejudicial; 21º) A imprensa também irá cooperar com pedidos oficiais de que algumas informações não sejam divulgadas. Os autores ressaltam que este documento está incompleto, pois precisariam ser consideradas as ações pré-desastre.
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A imprensa e os desastres
Destacam ainda que este manual pode ser utilizado em situações não tão extremas. “Este pode ser um modelo geral de comportamento da imprensa na cobertura de eventos inesperados, além de um modelo específico de orientação para crises” (p.373). Em 1990, conta Fred Cate, foi realizado um dos primeiros encontros sobre comunicações e desastres, promovidos pela Coordenação de Assistência a Desastres das Nações Unidas, em Genebra. Na Conferência Internacional sobre Comunicação em Desastres, cientistas e estudiosos concluíram que a comunicação é “central no esforço de salvar vidas e reduzir o sofrimento humano, deslocamentos e prejuízos econômicos na ocorrência de desastres”. O marco da importância dos meios de comunicação veio em 19948, pelas Nações Unidas, devido à ocorrência dos constantes desastres entre os anos 60 e 90. O órgão promoveu a Conferência Mundial sobre Redução de Desastres Naturais, em Yokohama, no Japão. O encontro – considerado o maior do mundo relacionado à discussão sobre desastres, o qual reuniu 5 mil participantes e delegações de 148 países – foi o evento chave da década para o IDNDR e o primeiro das Nações Unidas com a presença da República da África do Sul. Com base nestas informações, cabe ponderar, modestamente, o início do processo da comunicação humana e a história da imprensa, para melhor entender a importância desta participação na cobertura de desastres.
8. Relatado por Fred Cate.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
A arte da comunicação O início da comunicação humana9 data de 8.000 a.C., com as primeiras inscrições em cavernas. Em 3.500 a.C., os egípcios criaram os hieróglifos, um dos sinais da escrita de antigas civilizações. As primeiras prensas de madeira aparecem na China em 305 d.C. Em 1452, Gutenberg inventou a reprodução fiel e difusão de uma mesma mensagem, permitindo a circulação rápida de informações e aparição dos primeiros jornais na Europa. A partir daí, o homem inovou em todas as formas de comunicação com o próximo e o meio exterior, por meio da invenção da fotografia (1827), do telégrafo (1835), do telefone (1876), do rádio (1894) – instrumento que, até os dias atuais, permanece como melhor ferramenta de comunicação em situações de desastre – e da televisão (1923)”. A mídia mais recente é a internet, criada em 1994, que permite o contato com os quatro cantos do mundo e segue como essencial no processo de globalização. Para Schuler, em Comunicação Estratégica, a única forma de existir organização, é por meio da comunicação, a qual está presente em todos os setores de desenvolvimento (2004, p.11). A autora cita a importância de saber se comunicar: “Cada vez que comunicamos, estamos enfrentando uma situação nova, diferente de todas as outras que enfrentamos, e esta situação tem que ser resolvida de modo criativo. Resolver um problema de modo criativo sig9. Conforme cronograma apresentado em www.super.abril.com.br, acesso em 24/01/2010.
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Imprensa no Brasil
nifica compreender da melhor maneira possível esse problema, ser capaz de formular várias alternativas de solução para ele, selecionar entre estas a melhor solução, aplicá-la, e aprender com os resultados dessa aplicação como melhor resolver os problemas futuros. Para sermos bons comunicadores, então, temos que desenvolver nossa criatividade, pois não há receita pronta para isso” (2004, p.8). Vale destacar que a comunicação possui elementos básicos: o emissor, o receptor, a mensagem, o canal de propagação, o meio de comunicação, o feedback10 e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. Apesar de parecer simples cotidianamente, o processo varia conforme a característica de cada elemento atuante neste sistema. A comunicação está separada por linhas de atuações, como fisiológica (gestos, fala), técnica (telecomunicação) e social, a qual será explorada nesta obra, que trata do jornalismo, assessoria e mídia. Para aprofundar as relações da imprensa e assessorias institucionais no cenário de desastres, é interessante entender, brevemente, o início da imprensa no Brasil.
Imprensa no Brasil Contam Romancini e Lago (2007, p.17), em História do Jornalismo no Brasil, que os holandeses foram os primeiros a tentar introduzir a tipografia no Brasil, por volta de 1630, quando ocupavam o Nordeste. Em 1746, o português Antonio Isidoro da Fonseca instalou uma oficina de tipografia no Rio
10. Retorno, em inglês.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
de Janeiro, onde imprimiu folhetos e livros. Portugal, ao tomar conhecimento, ordenou que Isidoro deixasse o Brasil e nunca mais retornasse. Assim, todos os textos escritos no Brasil, excetos manuscritos, foram impressos na Europa durante o período colonial, até 1808, início da impressão Régia, a qual chegou ao Brasil junto com D. João, que fugia de Napoleão Bonaparte. Um dos ministros embarcou no navio com uma tipografia, instalando-a no porão. Até 1822, data que manteve monopólio no Brasil, a impressão Régia produziu mais de mil itens. Uma comissão censurava materiais que iam contra a religião, o governo e os bons costumes, continuam Romancini e Lago (p. 23). A impressão Régia imprimiu, além de documentos do governo, cartazes, sermões e o primeiro jornal impresso do país: a Gazeta do Rio de Janeiro, escrita por um frei e que durou até 1821, assim como a censura. A partir de então, começou a circular o Diário do Governo. Pesquisadores, no entanto, tendem a considerar o Correio Braziliense, editado em Londres desde 1808, um jornal de formação da opinião pública, responsável, portanto, pelo pioneirismo do jornalismo no Brasil. “O jornalismo, a partir do período joanino, desenvolveu-se de modo rápido e peculiar, testemunhando as contínuas mudanças sociais, econômicas e políticas pelas quais começa a passar o país. Em outros termos, a atividade jornalística integra-se à historia mais ampla do Brasil” (ROMANICI; LAGO; p.27). Durante o período republicano, a imprensa adquire um custo elevado, tornando-se um empreendimento empresarial e perde o caráter opinativo, assumindo uma postura mais informativa, com ênfase nos fatos. Reportagens ganharam mais espaço nos jornais, levando Euclides da Cunha11 até Canudos
11. E scritor fluminense, autor de Os Sertões (1901).
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Imprensa no Brasil
para reportar a revolta sertaneja e João do Rio12 passa a escrever sobre a cidade carioca na belle époque13. No cenário mundial, no início do século 20, a imprensa passa a ter um reforço periódico e o jornal torna-se “um produto de consumo corrente” (Albert e Terrou in Romancini e Lago, p.67), enterrando a imprensa artesanal e introduzindo o jornal moderno. Esta transição marcou não apenas o investimento em maquinários para impressão, mas também a valorização do caráter informativo do jornal. Acompanhando lentamente o cenário de massificação da mídia nos Estados Unidos e Europa, a imprensa brasileira passou por períodos de crescimento, como a Primeira República; controversos, como a Revolução de 30; e conheceu Assis Chateaubriand, magnata dos meios de comunicação e dono dos Diários Associados, que introduziu a televisão no Brasil. Em 1925, Irineu Marinho fundou a Globo. A história é extensa, pois o jornalismo ainda viveu o momento da primeira fase getulista, do período populista, da ditadura militar e a redemocratização, até a ampliação da liberdade de imprensa e monopólios, existentes até hoje. Assim, a imprensa tornou-se mais social, sofisticada e globalizada. Conheceu a internet e enfrenta atualmente os desafios das notícias em tempo real com criatividade e dinamismo.
12. Pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro (1881-1921). 13. Período de cultura cosmopolita na história da Europa, iniciado em 1871 e que durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. A expressão designa o clima intelectual e artístico daquela época, marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano. Fonte: Wikipédia.org.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
Atuação em desastres A partir do caráter informativo e social, a imprensa preza pela notícia, dados precisos e fontes seguras de informação. O pior fato é sempre a melhor notícia, como já discutia em 1967, Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, a qual expunha a dominação da mídia e o interesse mercantil em determinadas notícias. Na obra, o autor alerta para os excessos midiáticos: “o espetáculo nada mais seria que o exagero da mídia, cuja natureza, indiscutivelmente boa, visto que serve para comunicar, pode às vezes chegar a excessos” (2003; p.171). Para existir uma notícia, existe o fato jornalístico, o qual é o acontecimento, evento ou ocorrido que resultará numa notícia. Notícia “é tornar público um fato (que implica em algum gênero de ação), através de uma informação (onde se relata a ação em termos compreensíveis)” (SODRÉ, FERRARI, 1986, p.17). Geralmente, estão relacionados com o interesse humano, desde tragédias até fofocas. Muito do que é publicado depende das condições da organização e do público que abrange – assunto que será explorado no próximo capítulo. Sodré e Ferrari acreditam no fato que só será notícia se for anunciado, e o anúncio dependerá do interesse que ele possa vir a despertar. E continuam: “o fato deve ser recente, e o anúncio do fato, imediato. Este é um dos principais elementos de distinção entre a notícia e outras modalidades de informações” (SODRÉ, FERRARI, 1986, p. 18). Acidentes, mortes, corrupção, assaltos são alguns dos temas que estampam as capas de jornais. Não foge à regra a ocorrência de eventos adversos extremos, que se transformam em desastres. De acordo com a Política Nacional de Defesa Civil, o desastre é o resultado de eventos adversos, naturais ou provoca-
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Atuação em desastres
dos pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e prejuízos econômicos e sociais. A origem pode ser natural (fenômenos ou desequilíbrios da natureza), humana (ações ou omissões do homem) ou mista (ações ou omissões humanas contribuem para intensificar ou agravar os desastres naturais). O desastre configura-se como tal devido à incapacidade de resposta do homem, independente dos esforços aplicados, ao dano que causa a uma comunidade e extensão dele. As manifestações extremas do clima sempre existiram. As fortes chuvas, vendavais, tornados e a seca, nas últimas décadas, tornaram-se mais constantes, consequência que, segundo cientistas, é causada pelas mudanças climáticas. Os especialistas confirmam o aumento de temperaturas, a intensidade ou a escassez de chuvas e a maior frequência de desastres naturais. Estas alterações somadas ao crescimento populacional e à ação do homem resultam na maior ocorrência de perdas materiais e, principalmente, humanas. James D. Goltz (WENGER; FRIEDMAN, 1986) concluiu em 1984 que a cobertura da mídia em desastres tenta amenizar o caos por meio de imagens das equipes de socorro e informação sobre ajuda e assistência prestadas. Goltz analisou o trabalho da imprensa, por meio do Los Angeles Times e Santa Monica Evening Outlook, em quatro desastres mundiais: os terremotos no Alaska, em 1964; na Califórnia, em 1979; na Argélia e Itália, ambos em 1980. Os estudiosos americanos Dennis Wenger e Barbara Friedman, porém, contestam esse resultado de que a mídia não cria mitos14 durante a cobertura de desastres. Primeiro, porque ele apenas estudou a cobertura de jornais impressos e a criação de mitos pela mídia se dá geralmente pela imprensa eletrônica. Segundo, houve uma distorção de Goltz na avaliação dos conteúdos por falta de amostras dos textos (1986, p.30).
14. O conceito de mito, neste caso, refere-se, conforme os autores, ao exagero de algumas crenças populares em situações de desastres, como o pânico disseminado, ações de criminosos, uso dos abrigos públicos e o comportamento antissocial de afetados. Wikipédia.org.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
Wenger e Friedman acreditam, timidamente15, que a mídia impressa auxilia na disseminação de alguns mitos referentes aos desastres naturais. “Uma matéria de capa, acompanhada de fotos e gráficos, pode criar uma imagem poderosa ao leitor, a qual reforça estereótipos míticos, mesmo que eles não sejam mencionados em milhares de milímetros adicionais na coluna. Simplesmente contar referências não é suficiente” (1983, p.48). A cobertura de um desastre deve ter um compromisso com a sociedade de informar sem criar pânico e garantir a segurança das pessoas. Na ocorrência de um desastre, a mídia atua como um ator da comunicação, pois parte de uma determinada cultura e possui uma motivação, além do óbvio interesse público e obrigação social de informar. A compreensão do cenário e do meio no qual está inserido é primordial na disseminação das informações corretas. Gloria Bratschi16 alerta para a diferença entre comunicar e informar: “Confunde-se informação com comunicação. Se usam ambos os termos como sinônimos, pode-se supor que as pessoas foram ‘comunicadas’ sobre algum tema em particular, quando realmente o que possuem é a informação, dados. Na realidade, toda mensagem contém informação. Mas é comunicação somente quando, ao ser percebido, é corretamente compreendido, há retroalimentação. Assim, cada pessoa expressará essa compreensão em conduta, atitude, resposta e produtividade” (postado em 28/10/2007, no blog http://bratschienprevencion.blogspot.com).
15. Os autores afirmam que este campo ainda necessita de pesquisa (1986, p.48). 16. Consultora internacional da Estratégia Internacional para Redução de Riscos de Desastres (EIRD), da ONU, em Mendoza, Argentina.
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Atuação em desastres
O objetivo da autora é alertar para os públicos para o qual a imprensa estará se direcionando, tanto no intuito de informar o desastre, como discutir formas de prevenção. Cada veículo possui uma linguagem diferente e, com a disseminação dos meios, estes públicos podem integrar-se. Marc Von Boemcken destaca no livro Media in Peacebuilding and Conflict Prevention17 que nada é mais globalizado que a mídia. Segundo ele, transmissores de rádio e TV com alcance global crescem constantemente, assim como o número de pessoas com acesso à internet. “Estas são condições impressionantes para o diálogo com culturas estrangeiras e para o intercâmbio de informações sobre as diversas concepções religiosas, políticas e sociais. A mídia internacional e a internet conseguem disseminar a compreensão e fortalecer a tolerância” (2008, p.19). Assim como a mídia está globalizada, o desastre poderá estar disseminado pelo mundo, por meio de envio de fotos, notícias e vídeos instantaneamente. Neste contexto, entende-se a necessidade de informações atualizadas precisamente e de um trabalho estratégico da mídia e da assessoria de comunicação, responsável pela divulgação dos dados oficiais. O maior interesse neste processo é enfatizar o trabalho da comunicação preventiva. Hoje, o grande desafio é ter os meios de comunicação como aliados no repasse das informações sobre desastres antes mesmo de eles acontecerem, resultando na minimização dos riscos e garantindo a participação da sociedade de forma preventiva. Planejamento e gestão devem existir nos órgão de gerenciamento da crise, incluindo os núcleos de comunicação, tan-
17. A Mídia na Construção da Paz e Prevenção de Conflitos.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
to da parte da imprensa quanto da assessoria governamental. Gloria Bratschi18 confirma que, no campo da gestão de riscos, a comunicação adquire um valor substancial. Necessita, portanto, também de uma gestão. “Ao revisar excelentes planos ou programas de organismos competentes ou de instituições públicas e privadas que estão ligadas à gestão de risco, vemos que este valor não está incluído como componente essencial que permite que os objetivos, metas e impactos esperados sejam fortalecidos e permitam sinergia entre eles. Nossa tarefa é inter-multidisciplinar. Também deve ser participativa, motivadora e sustentável” (Gloria Bratschi). A contribuição da mídia no processo de redução de risco de desastres é, comprovadamente, essencial. Da mesma forma, a participação da imprensa durante e após a ocorrência de uma tragédia torna-se primordial na emissão de alertas, recomendações e repasse de informações. No entendimento de Bratschi, os meios de comunicação, “além de informadores e formadores de opinião, devem ser divulgadores de medidas preventivas que acompanham oportunamente e, em forma estratégica, dos processos de atenção e da gestão dos eventos”19.
18. Consultora internacional da Estratégia Internacional para Redução de Riscos de Desastres (EIRD), da ONU, em Mendoza, Argentina. 19. Declaração inserida na apresentação de Margarita Villalobos Mora, da Estratégia Internacional para Redução de Risco de Desastres (EIRD/ONU), no Fórum Catarinense de Rede Cooperativa de Comunicação para Cultura de Prevenção de Desastres.
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Atuação em desastres
Ela observa ainda que a imprensa serve como colaboradora solidária na recuperação e reabilitação da comunidade, integrando-se à gestão de riscos de desastres como instituição da sociedade. A representante da América Latina da Estratégia Internacional para Redução de Risco de Desastres, Margarita Villalobos Mora, durante palestra no Fórum Catarinense de Rede Cooperativa de Comunicação para Cultura de Prevenção de Desastres, realizado em 2008, em Santa Catarina, destaca que a mídia orienta, fomenta a opinião e promove o desenvolvimento. Essa mobilização pode e deve ser utilizada na gestão de desastres, desde a prevenção até a reconstrução.
Parcerias com a imprensa Para que a mídia cumpra seu papel efetivamente, Fred Cate sugere, conforme resultado da mesa-redonda sobre Mídia, Informação Científica e Desastres na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Redução de Desastres Naturais, que as organizações relacionadas precisam estabelecer e fortalecer relações de trabalho com a imprensa. Peter Hansen, na época subsecretário geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, desafiou as organizações de mitigação de desastres a “agirem para sensibilizar a mídia” e “se tornarem fontes confiáveis de informações úteis para os jornalistas”. Muitos participantes da mesa-redonda enfatizaram a importância do repasse de informações confiáveis para a imprensa, o mais cedo possível, de forma concisa e prontamente compreensível. “Se você não nos contar sobre uma estória”, comentou o participante Larry Register, então editor sênior internacional da CNN, “nós não podemos cobri-la”.
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Por meio da informação, a população é capaz de formar uma opinião e, a partir daí, partir para a ação. Villalobos garante que “os jornalistas têm participação fundamental na gestão dos riscos, pois possuem credibilidade das pessoas e são capazes de interpretar e facilitar a compreensão dos fatos transformados em notícias”. Ela garante que a mídia pode contribuir na prevenção de riscos, mesmo que não seja um tema tão atrativo, como a resposta ao desastre. Para Bratschi, os meios de comunicação conseguem instalar temas e debates, além de difundir conhecimentos e orientar a sociedade. “Muitas pessoas opinam que a mídia representa a educação informal. Quem trabalha com a gestão de redução de riscos promove que a mídia deve se associar com suas capacidades e possibilidades de multiplicar mensagens, de forma que apoiem solidariamente os preparativos da comunidade para conviver com seus riscos e reduzir as consequências de qualquer evento adverso”, conclui a consultora em seu blog20. A pretensão de repassar, imparcialmente, as notícias ao público deve respeitar a cultura organizacional dos veículos de comunicação, talvez por isso a difícil tarefa de inserir uma gestão de desastres na mídia, desde a etapa de prevenção. A participação da imprensa na cobertura de desastres e a elaboração de um plano de comunicação, objetivo final desta obra, poderão ser compreendidas ao expor o papel da imprensa, por meio da construção de notícias e divulgação de informações, no capítulo a seguir.
20. http://bratschienprevencion.blogspot.com, acesso em 24/01/2010.
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2 O papel da imprensa na divulgação de informações O trabalho da imprensa está relacionado à natureza da comunicação social, explorada pelo Jornalismo, de informar o público por meio das notícias. Clóvis Rossi, em O que é Jornalismo?, define a profissão como uma luta para conquistar leitores, telespectadores ou ouvintes. “Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens” (ROSSI, 1980: 7). Para compreender esta tarefa, Felipe Pena, em Teorias do Jornalismo, expõe que no século 19 a Teoria do Espelho foi a primeira metodologia usada para explicar porque as notícias são como são. Dizia a teoria que a imprensa funciona como um espelho do real, apresentando um reflexo claro dos acontecimentos do cotidiano (2005; p.125). A teoria do Newsmaking, no entanto, logo derrubou a afirmação de que o Jornalismo é espelho da realidade, pois, como afirma Pena, o jornalismo é a construção de uma suposta realidade (p. 128):
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“Assim, a imprensa não reflete a realidade, mas ajuda a construí-la. Esses pressupostos estão incluídos no modelo teórico do newsmaking, cuja sistematização, feita por autores como Mauro Wolf e Nelson Traquina, por exemplo, leva em consideração critérios como noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos organizacionais, construção da audiência e rotinas de produção”. Pena afirma que o Jornalismo não consegue espelhar perfeitamente a realidade, pois o processo de comunicação da notícia está relacionado a diferentes fatores, os quais renegam esta teoria de espelho do real. Neste contexto, Gaye Tuchman (in PENA, 2005; p.129) comprova que o processo de produção da notícia é planejado como uma rotina industrial, com procedimentos próprios e limites organizacionais. “Portanto, embora o jornalista seja participante ativo na construção da realidade, não há autonomia incondicional em sua prática profissional, mas sim a submissão a um planejamento produtivo”, contesta Tuchman (2005; p.129). Gaye Tuchman (p.130) ainda explica como colocar ordem no tempo e no espaço da redação diante da imprevisibilidade dos acontecimentos. As empresas jornalísticas, para isso, estabelecem determinadas práticas unificadas na produção de notícias, das quais se ocupa a teoria do Newsmaking. Entre estas práticas estão a noticiabilidade21 e sistematização do trabalho jornalístico, por meio da divisão de tarefas22. Conforme Tuchman, a atividade jornalística é extremamente complexa, apesar do seu objetivo parecer simples: for-
21. Conjunto de critérios, operações e instrumentos para escolher entre inúmeros fatos uma quantidade limitada de notícias (PENA, 2005; p.130). 22. Nas funções específicas, estão editores, pauteiros, repórteres.
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O papel da imprensa na divulgação de informações
necer relatos de acontecimentos significativos e interessantes. Além das teorias do Espelho e Newsmaking, o conceito Jornalismo também se formou com a concepção de outras teorias, que não serão aprofundadas para concentrar este conteúdo em um conceito mais amplo do jornalismo e da premissa de informar à sociedade. Entre as demais escolas (PENA, 2005; p.133-142), estão as teorias: a) Gatekeeper23, a qual se refere ao poder que uma pessoa tem de decidir se uma informação deve ser publicada ou não; b) Organizacional, a qual especifica que o trabalho jornalístico depende dos meios utilizados pela organização, já que o fator econômico é um dos maiores influentes; e c) Agenda-setting ou Agendamento, a qual defende a ideia de que os consumidores das notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos veiculados pela mídia, sugerindo que a imprensa agenda as conversas entre a sociedade. Michael Schudson consegue resumir este processo do trabalho jornalístico: “(...) a criação das notícias é sempre uma interação de repórter, diretor, editor, constrangimentos da organização da sala de redação, necessidade de manter os laços com as fontes, os desejos da audiência, as poderosas convenções culturais e literárias dentro das quais os jornalistas frequentemente operam se as pensar” (Schudson in SILVA, Gislene, 2005; p. 96). Intrínseco a estas teorias, está presente o fator – o qual não se pode ignorar – pessoal do jornalista que atua na construção da notícia dentro de uma cultura organizacional. Assim como qualquer outro profissional, o jornalista possui uma bagagem cultural previamente adquirida, conforme educação
23. Significa porteiro, guardião.
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familiar, escolar, viagens, livros e conhecimento adquirido no decorrer de sua formação. A conclusão de todas estas teorias é apresentada por Jorge Pedro Souza, em A Notícia e Seus Efeitos, ao propor a interação entre seis forças, baseada nas propostas de Michael Schudson e Shoemaker & Reese (in PENA, 2005; p.132-133): • Ação pessoal: as notícias resultam parcialmente das pessoas e de suas intenções; • Ação social: as notícias são fruto das dinâmicas e dos constrangimentos do sistema social; • Ação ideológica: as notícias têm origem nas forças de interesse que dão coesão aos grupos; • Ação cultural: as notícias são produto do sistema cultural em que são produzidas; • Ação do meio físico: as notícias dependem dos dispositivos tecnológicos que são usados na sua fabricação; • Ação histórica: as notícias são um produto da história, durante a qual interagem as outras cinco forças. Apresenta-se, assim, a importância do Jornalismo na interação com a sociedade e a influência que a imprensa exerce no cotidiano das pessoas. McCombs and Shaw (in TRAQUINA, 2001; p.14), em 1977, já escreviam sobre a influência do jornalismo na opinião pública: “A capacidade dos mídias em influenciar a projeção dos acontecimentos na opinião pública confirma o seu importante papel na figuração da nossa realidade social, isto é, de um pseudoambiente, fabricado e montado quase completamente a partir dos mass mídia”. Desta forma, vale ressaltar este processo na construção e manutenção da democracia, informando o público sem censura. Nelson Traquina, ao discutir O Estudo do Jornalismo no
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A informação em desastres
Século XX, conclui (2001; p.46) que as responsabilidades dos jornalistas são, de fato, terríveis. Esta constatação implica que as exigências feitas aos profissionais do campo jornalístico serão cada vez maiores, tornando-se inegável o papel ativo dos jornalistas na construção da realidade social ao informar o público.
A informação em desastres A partir destes preceitos, é possível discutir o papel da imprensa na ocorrência de um desastre. A vulnerabilidade que um evento adverso extremo provoca em determinada sociedade exige a atenção da mídia, em diferentes lugares do mundo, de acordo com a intensidade deste acontecimento. Conforme discutido no capítulo Atuação em Desastres, hoje o maior desafio é ter a participação da imprensa desde a primeira etapa de gestão de um desastre, a qual trata da prevenção. Os veículos de comunicação podem atuar nos níveis municipal, regional, estadual, nacional ou internacional. As empresas de comunicação tendem a se guiar por seus manuais de redação, como os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Em Santa Catarina, o Grupo RBS possui um manual para os funcionários que atuam no estado e no Rio Grande do Sul, sede da empresa. Atualmente, sites de notícias, como o Portal IG, e órgãos oficiais, como Agência Senado, também possuem seus livros com regras de jornalismo. Cada veículo de comunicação possui um perfil e estilo próprios de contato com o público, dividindo as notí-
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cias, basicamente, em dois tipos24: hard news e soft news. A primeira refere-se à notícia “no minuto” e evento que são reportados imediatamente. Soft news possuem informação de segundo plano ou estórias de interesse mais social, com personagens reais. Fred Cate relata que é importante reconhecer as diferenças dentro da mídia (impressa x televisiva, radio x televisão, nacional x internacional) e considerar suas características distintas, potenciais e necessidades. Para compreender este trabalho da imprensa, deve-se distinguir a característica noticiosa do rádio, da televisão, do jornal impresso e dos portais de notícias, sem ignorar as mídias sociais.
Rádio Em Radiojornalismo, Paul Chantler e Sim Harris (1992; p.20) destacam que o rádio é considerado a fonte mais pura de informações jornalísticas, devido à rapidez com que as notícias são transmitidas. As pessoas escutam o rádio quando querem saber rapidamente o que está acontecendo. Por serem curtas, as notícias neste veículo tornam-se sintéticas, concentradas no acontecimento e provocam uma relação mais pessoal entre locutor e ouvinte. A praticidade também conta: pode ser operado por uma pessoa com um gravador e um telefone.
Jornal Impresso Conforme pesquisas citadas por Paul Chantler e Sim Harris (1992; p.20), o público vê as notícias dos jornais como uma
24. Em www.media-awareness.ca. Hard significa duro, compacto. Soft traduz-se como macio, suave.
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A informação em desastres
ampliação do que já foi divulgado pelo rádio e pela televisão (1992; p.20). Conforme Eduardo Martins, no Manual de Redação do jornal O Estado de São Paulo25, a falta de tempo do leitor exige que o jornal publique textos cada dia mais curtos. Por isso, compete ao redator e ao repórter selecionar com o máximo critério as informações disponíveis, para incluir as essenciais e abrir mão das supérfluas.
Televisão A televisão é um veículo de hard news, afirma Rezende26, de superficialidade e trabalho com imagens. É um meio mais complexo, afirmam Chandler e Harris, pois necessita de um grande número de pessoas para operá-la. Isso reduz sua capacidade para reagir rapidamente aos fatos jornalísticos, muitas vezes presa a problemas técnicos (1992; p.20). O manual de telejornalismo da Rede Globo ainda afirma que imprescindível é não esquecer que a palavra está casada com a imagem (in Rezende; p.45).
Portais de notícias Os portais de notícias na internet – como Último Segundo, do IG; Folha Online, do Grupo Folha; e ClicRBS, do Grupo RBS – trabalham com a notícia minuto a minuto, por meio de produção própria e com o auxílio de agências de notícias e outros sites parceiros. O Manual de Redação do Último Segundo27 destaca que as páginas devem ser claras, leves, confortáveis e simples, tendo como manchete o assunto de maior relevância.
25. Disponível em www.estadao.com.br/manualredacao. 26. Em Telejornalismo no Brasil (2000; p.92).
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Cada site estipula seu limite de credibilidade conforme os produtores de conteúdos e as agências de notícias utilizadas.
Mídias Sociais Orkut, Facebook, YouTube e – mais recentemente – o Twitter são mídias sociais que permitem o contato e interação entre as pessoas, construindo redes de relacionamento. As empresas de comunicação aderiram a estas tecnologias, que servem também para fins mercadológicos, e promovem notícias em tempo real ou ainda provocam o leitor a buscar mais detalhes no site noticioso ou webpage oficial do veículo. Joel Comm, em O Poder do Twitter, explica que a ferramenta permite que qualquer pessoa envie uma mensagem com até 140 caracteres, via computador ou celular, respondendo à pergunta: O que você está fazendo neste momento? Qualquer pessoa que decidiu por seguir as mensagens poderá visualizá-la. O Twitter, segundo Comm, tornou-se uma maneira fácil de encontrar novos usuários e clientes, “uma ferramenta poderosa para redes de relacionamento, e uma excelente maneira de conseguir informações úteis” (2009; p. 24-25). Os grandes grupos de mídia brasileiros – entre eles Globo, Folha, RBS – procuram trabalhar estes diferentes meios em sintonia, complementando um ao outro e evitando falhas e repetições. Na gestão de desastres, esta dinâmica torna-se útil e essencial para o repasse das informações oficiais à população, respeitando os limites e as características de cada veículo. Resume Margarita Villalobos28 que o que se lê na imprensa escrita é reafirmação do que se escuta no rádio e que, mais tarde, será acrescido de imagens para que seja visto pela televisão. Carlos Castilho29, ao avaliar a atuação da imprensa na cobertura do terremoto que atingiu o Haiti em janeiro de 2010,
27. Em www.ultimosegundo.ig.com.br.
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A informação em desastres
garante que a imprensa funciona bem quando retrata o desespero de sobreviventes, o drama dos feridos e o show da ajuda. Ele ressalta para um componente muito mais dramático que aparece após o desligar das câmeras e a saída dos correspondentes dos locais afetados: a reconstrução. Olavi Elo, diretor da IDNDR, em discurso na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Redução de Desastres Naturais, em 1994, foi além: “Sociedades são tão impressionadas com emergências humanas, desastres humanos, que nós paramos nos trilhos, como era antes, no caminho ao progresso e desenvolvimento, de permanecer parado sem ajudar, paralisado, observando tantas tragédias humanas acontecerem diante de nossos olhos. As prioridades percebidas pela mídia também não nos ajudam: miséria humana é muito mais valor-notícia do que uma população que está bem e segura. Resumindo, um terremoto ou uma enchente que causa pouco ou nenhum prejuízo não é notícia”. Villalobos contrasta que a mídia deve ajudar a criar uma cultura de prevenção. “A prevenção não é um tema tão atrativo aos meios de comunicação como são a resposta a desastre e o desenvolvimento de ajuda humanitária. Com a ajuda dos jornalistas e os meios de comunicação, as comunidades poderiam apropriar-se da informação e gerar processos de gestão preventiva”, explica a consultora da ONU. Para Castilho, a situação da imprensa mudou devido ao
28. Durante palestra em 2008 no Fórum Catarinense da Rede Cooperativa de Comunicação para Cultura de Prevenção de Desastres. 29. O papel da imprensa em tragédias como a do Haiti (Blog Código Aberto, em Observatório da Imprensa – www. observatoriodaimprensa.com.br, publicado em 16/01/2010).
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excesso de oferta de notícias. “Até agora, a imprensa podia refugiar-se na alegação de que seu papel era o de dar informações para que governantes e cidadãos tomassem decisões”, aponta. Ele garante ainda que a imprensa tem uma responsabilidade muito maior: “servir de canal de expressão para os sobreviventes e produzir informações que permitam a públicos muito distantes do palco da tragédia entender o que sentem e o que pensam povos como o haitiano”. Fred Cate resume a representação da mídia em um contexto de desastre ao afirmar que a comunicação efetiva e confiável é vital para reduzir o efeito de desastres. Tecnologias de comunicação, habilidades e a mídia são essenciais para conectar cientistas, oficiais de atendimento ao desastre e o público. Ele frisa a importância da mídia para educar a população antes da ocorrência de um desastre, mapear riscos aproximados, alertar autoridades e população vulnerável, avaliar estragos, coletar informações, insumos e outros recursos, além de coordenar atividades de resgate e alívio, motivar a resposta pública, política e institucional. Margarita Villalobos encerra que os jornalistas informam massivamente e fazem a ponte entre sociedade e temas da realidade, facilitando a compreensão dos fatos transformados em notícias. Desta maneira, os meios de comunicação conseguem determinar a forma como as pessoas reagem perante os desastres, pois a comunidade depende da informação para tomar decisões. Este compromisso da imprensa dependerá do estímulo e da atuação da assessoria governamental responsável pelas informações oficiais. Para compreender este processo e como esta participação pode ocorrer de maneira bem-sucedida, o próximo capítulo tratará da dinâmica da assessoria de imprensa do órgão responsável pela gestão do desastre.
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Imagens
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Avenida Beira Rio, durante a enchente de 9 de agosto de 1975, em Blumenau Arquivo DEDC/SC
Deslizamentos de terra na cidade de Blumenau, durante o desastre de 2008 James Tavares / SECOM
Alagamento em BalneĂĄrio CamboriĂş, em novembro de 2007 Celso Peixoto
Produtor mostra a pastagem seca, como consequĂŞncia da seca no Oeste e Extremo-oeste catarinense, em maio de 2005 SĂŠrgio Pinheiro / SDR Ibirama
Chuva causa estragos na Capital e deixa centenas de pessoas desabrigadas, em 23 de novembro de 2008 James Tavares / SECOM
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3 Comunicação com a imprensa – o trabalho da assessoria Para entender o trabalho da assessoria de imprensa no processo de divulgação de informações em situações de desastres, é preciso conhecer o conceito de assessoria de imprensa. Os principais registros destacam que o relacionamento entre organizações e a imprensa teve início em 1906, quando o jornalista americano Ivy Lee montou a primeira agência de comunicação do mundo. Manuel Carlos Chaparro (in DUARTE, 2006, p. 34) conta que Lee, com um projeto profissional de relações com a imprensa, a serviço de um importante cliente, conquistou o título de fundador das relações públicas, considerada berço da assessoria de comunicação. A partir da ação de Lee, a comunicação corporativa se espalhou pelo mundo, chegando a Brasil, com mais força, nas décadas de 50 e 60.
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A assessoria de imprensa nos desastres
“As relações públicas cresceram mais rápido nos países que copiaram o modelo norte-americano, entre eles o Brasil. Depois da Segunda Guerra Mundial, e mais acentuadamente após a eleição de Juscelino Kubitschek, para aqui convergiram com prioridade estratégica, os investimentos das grandes multinacionais – e com as fábricas vieram as relações públicas profissionalizadas e as práticas de assessoria de imprensa” (p.41). A prática de assessoria de imprensa disseminou-se como uma função de informar a imprensa, mas, no decorrer dos anos, principalmente na década de 90, quando as assessorias começaram a se estruturar, passou a ter um significado mais amplo, tornando-se um guarda-chuva para várias atividades. Para Maristela Mafei (2004, p.93), na obra Assessoria de imprensa: como se relacionar com a mídia, a assessoria de imprensa estabelece relações sólidas e confiáveis com os meios de comunicação e seus agentes, com o objetivo de se tornar fonte de informação respeitada e requisitada; cria situações para cobertura sobre as atividades do assessorado, visando à recuperação, manutenção e/ou fortalecimento da imagem junto à opinião pública; e apresenta, firma e consolida as informações pertinentes aos interesses do assessorado no contexto da mídia local, nacional e internacional. Cabe, ainda, capacitar o assessorado e outras fontes de informação institucionais para entender e lidar com a imprensa. O relacionamento com os veículos de comunicação, na atualidade, não é a única atribuição do assessor de imprensa. Sua atuação é mais ampla, podendo participar também do planejamento institucional, da comunicação interna, da edição de publicações, entre outras atribuições relacionadas.
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A assessoria de imprensa nos desastres A imprensa precisa estar preparada para a divulgação de informações na gestão de desastres30. As instituições responsáveis pelo gerenciamento de eventos adversos, da mesma forma, devem estar capacitadas para se relacionar com veículos de comunicação. Entender como a imprensa funciona nos desastres é importante e saber trabalhar com ela é fundamental para o sucesso no repasse das informações para a população, minimizando riscos e facilitando os trabalhos de resposta. O atendimento à imprensa durante um desastre, para que seja positivo à instituição, aos jornalistas e à sociedade, precisa de um comunicador responsável com conhecimento e prática na gestão da comunicação, antes mesmo do desastre acontecer. O indicado é que o responsável seja especialista no assunto e que a organização possua um setor específico de assessoria de comunicação, com equipe capacitada. O despreparo na comunicação das instituições, especialmente durante o desastre, costuma provocar problemas sérios. Contratempos como desinformação, especulação de fatos e falta de credibilidade podem gerar um impacto maior à população e, inclusive, ao próprio desastre. De acordo com o jornalista Wilson da Costa Bueno31,
30. A gestão de desastres diz respeito à organização e à administração de recursos e de responsabilidades de forma a lidar com as emergências, em particular na preparação, resposta e recuperação, visando minimizar o impacto dos desastres sobre as populações afetadas. Fonte: Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha de língua portuguesa. 31. Aula de Comunicação Integrada e Estratégica, da pós-graduação Gestão da Comunicação Pública e Empresarial, da Universidade Tuiuti do Paraná, em 17 de abril de 2010, em Florianópolis.
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para contribuir com o gerenciamento de uma crise, as organizações precisam de prevenção, ou seja, de planejamento, capacitação e conscientização de que algumas posturas podem gerar problemas enormes. As principais ações de comunicação voltadas ao gerenciamento de uma crise são as que antecedem o problema. Bueno ainda destaca: “a organização precisa de um plano de crise, tem que pensar nos possíveis cenários e planejar as soluções”. Aponta uma questão fundamental: o estopim de uma crise pode ser um fato aparentemente menor. Logo, crises nem sempre começam com uma tragédia. Um erro de gerenciamento no decorrer de um desastre pode tornar o fato maior do que o próprio desastre ou provocar um novo problema para a organização. Foi o que aconteceu durante as enchentes de 2008, em Santa Catarina, com toneladas de doações arrecadadas por diferentes instituições que, no intuito de colaborar, apresentaram um novo problema para os responsáveis pela gestão do desastre: como armazenar e distribuir tantos donativos? O planejamento anterior ao desastre possibilitou que a logística para solucionar este problema fosse colocada em prática de maneira eficaz. Não evitou, porém, o acúmulo de donativos, o vencimento de alguns alimentos e o desvio de doações. Resultado na mídia: a mesma imprensa que incentivou por meio de inúmeras reportagens as doações às vítimas do desastre também explorou os fatos negativos, fiscalizando as ações dos responsáveis e cobrando soluções imediatas. Os momentos de uma crise, a previsão das piores possibilidades e a preparação das equipes podem não evitar um desastre, mas certamente minimizarão impactos e consequências. Nas instituições onde há responsabilidade pelo gerenciamento de desastres, nos diversos níveis (municipal, estadual ou federal) e áreas (saúde, segurança, meio ambiente), o relacionamento com a imprensa é constante e mais efetivo nos momentos de crise. Isso não significa que estejam preparadas para esse contato com a mídia.
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Comunicação preventiva: a solução mais eficaz Como fator de minimização dos riscos, a gestão deve prever a comunicação como um elemento estratégico e primordial, em suas diferentes fases, essencialmente na prevenção. Em uma estrutura organizacional de atendimento a emergências, o comunicador precisa estar integrado aos elementos de gestão e conhecer todos os processos. O Sistema Nacional de Defesa Civil divide o gerenciamento de desastres em quatro momentos: prevenção, preparação, resposta e reconstrução, os quais podem ser agrupados em três etapas: antes, durante e depois. Didaticamente, as ações de comunicação também podem ser dividas nestas etapas, previamente definidas, garantindo uma organização eficaz durante a crise e potencializando o trabalho a ser desenvolvido. Ao delinear o trabalho, é elaborado um plano de comunicação. Este plano é de responsabilidade do setor de comunicação social, considerando que ele deverá: a) Estar incorporado aos programas de planejamento da instituição e às estruturas de comunicação (veículos) das localidades que serão abrangidas; b) Estar focado na população local, regional, estadual ou nacional, conforme o alcance da entidade e dos fatos; c) Evitar desinformações; d) Gerar informações e atividades junto às comunidades, com o objetivo de elaborar processos preventivos, provocando compreensão das ameaças, percepção dos riscos e conhecimento para reduzir as vulnerabilidades.
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Plano de comunicação: antes, durante e depois do desastre
O comunicador precisa ter claro este papel de atuação e entender a importância dos veículos de comunicação para o gerenciamento de um desastre. Enquanto os veículos buscam informações precisas, dados transparentes e atualizados sobre o evento adverso, as organizações trabalham para32: • Ampliar o domínio do assunto pelo público leigo; • Orientar sobre comportamentos apropriados, colaboração e cooperação; • Evitar danos desnecessários; • Fortalecer seu status de fonte confiável de informação, com conhecimento específico; • Estabelecer contato permanente com o público; • Garantir apoio para políticas e planos; • Assegurar um processo decisório bem informado; e • Conter rumores, má informação e ameaças de pânico.
Plano de comunicação: antes, durante e depois do desastre O plano de comunicação para desastres é a formalização estratégica das ações que a assessoria de imprensa desenvolverá numa determinada organização, durante as etapas de um evento adverso, ou seja, antes, durante e depois do desastre. Este deverá ser moldado conforme as características de cada institui-
32. Comunicação em Situação de Risco, apresentado pela jornalista Ana Lavratti, assessora de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, em julho 2009.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
ção, tendo como objetivo principal a redução dos riscos junto à população. A prevenção, etapa de ação antes de um desastre, é a fase mais importante do plano, pois é por meio dela que os danos e o desastre podem ser minimizados. A construção de vínculos junto à imprensa e a outros setores estratégicos da sociedade, no intuito de somar esforços para minimizar o risco de desastres em um município, estado ou país, também será importante na gestão de comunicação social. Além da criação desses laços, a assessoria assumirá o desafio de mantê-los e fortalecê-los no decorrer de todo o processo, alimentando informações, gerando demandas, trocando experiências e favorecendo o diálogo contínuo. Organização e planejamento favorecem os resultados do processo de comunicação social nos desastres. As avaliações dos trabalhos desenvolvidos junto a outros setores da instituição e junto à própria imprensa, nas diferentes etapas, servirão de referência para o futuro. O plano de comunicação deve ser elaborado de forma integrada com as estratégias de todos os setores da instituição e prever todas as possibilidades. A seguir, algumas sugestões de ações para o plano de comunicação, nas etapas de um desastre:
Antes do desastre Etapa mais importante no processo, pois propicia a prevenção e a preparação para enfrentar os desastres. Devem ser definidos os objetivos do plano e a equipe de pessoas responsável pela execução. Neste momento, podem ser realizadas diversas atividades focadas na comunicação.
Conhecer a imprensa e dialogar Descobrir o telefone de um importante jornal, de uma emissora de televisão ou rádio durante um desastre será mais um problema em um momento no qual o objetivo é minimi-
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zá-los. Um começo é preparar uma boa agenda de contatos e manter diálogo permanente com os jornalistas, dos diversos veículos de comunicação. O fato de a imprensa conhecer suas fontes e confiar nelas facilita o trabalho dos assessores e das organizações interessadas em repassar informações. Desta forma, os contatos dos jornalistas e veículos de comunicação devem ser permanentemente atualizados e organizados de forma propícia, para que durante uma emergência possam ser acessados de forma prática e rápida. Conhecer os jornalistas é essencial para o gerenciamento do desastre. O assessor deve estar atento para saber qual é a melhor maneira de repassar informações, via telefone, e-mail ou outro meio de comunicação; conhecer seus horários; e entender como funcionam os diferentes veículos. Isso garantirá que as informações das instituições cheguem rapidamente e de forma adequada às redações. Uma maneira de approach33 é agendar visitas, almoço, reunião ou buscar outros mecanismos de interação. Uma ferramenta importante para organizar os contatos, de jornalistas e parceiros estratégicos, e divulgar informações é o mailing34 eletrônico, o qual poderá ser criado a partir de uma conta de e-mail ou de um programa específico. Nele, será feito o cadastro de diversos grupos multiplicadores de informação (imprensa, parceiros públicos, instituições interligadas). Os grupos poderão receber periodicamente informações divulgadas pela assessoria de comunicação, via e-mail. Recomenda-se que o mailing seja organizado com a maior precisão possível, principalmente os contatos de imprensa. Uma sugestão é organizá-lo por veículo e região. Ou seja, separando TVs, jornais, rádios, sites de notícias e outros meios de comunicação em grupos específicos, identificando o alcance (nacional, estadual, regional ou muni-
33. Aproximação, em inglês. 34. Mailing (abreviação de Mailing List, em inglês) é um banco de dados onde se armazenam informações de consumidores (nome, endereços, características do consumidor, entre outros) para serem utilizados em marketing direto, tais como mala direta, telemarketing e correio eletrônico. Fonte: Wikipedia.org.
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cipal). Assim, quando uma informação de interesse público for repassada à imprensa, via e-mail, ela poderá ser enviada de acordo com o nível de interesse. Exemplo: se a notícia a ser divulgada interessa somente aos moradores de uma determinada região, já que não provocará impactos para outras localidades, esta poderá ser enviada exclusivamente para o grupo de contatos daquela comunidade. Da mesma forma, notícias direcionadas a determinados veículos não precisarão ser enviadas a outros, respeitando as características de cada um. O assessor de comunicação deve conhecer as diferenças entre cada veículo, mostrados no capítulo anterior, evitando o envio equivocado de informações. Margarita Villalobos cita e diferencia os aspectos importantes da imprensa escrita, do rádio, da televisão, da internet e de outras formas de comunicação, para o trabalho a ser realizado na prevenção de desastres, da seguinte maneira35: a) Imprensa escrita – é possível detalhar e aprofundar muito mais o tratamento do tema. A palavra escrita tem vida útil mais longa, embora tenha um valor documental permanente. O tratamento da informação preventiva poderá proporcionar mensagens que influenciam o comportamento das pessoas; b) Rádio, “o teatro da mente” – este meio de comunicação é ouvido por milhões de pessoas, comunica-se com um público heterogêneo composto pelos diversos degraus socioculturais da comunidade, de forma simultânea e instantânea. Mensagens preventivas podem ser transmitidas por meio de entrevistas, comentários, crônicas e informes especiais. Falar por meio do rádio significa explicar, contar, dialogar com o receptor. Por isso, este tipo de comunicação deve ser coloquial;
35. Contribuições da mídia para o Desenvolvimento de uma Cultura de Prevenção de Desastres, apresentado em 29 de agosto de 2008, em Florianópolis, durante o Fórum Catarinense da Rede Cooperativa de Comunicação para Cultura de Prevenção de Desastres.
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Plano de comunicação: antes, durante e depois do desastre
c) Televisão – é importante considerar a simultaneidade, instantaneidade e atualidade de informações transmitidas por esta mídia. Para que a comunicação preventiva televisada tenha êxito, deve-se gerenciar corretamente os três códigos fundamentais da mensagem mediatizada: o icônico, o sonoro e o linguístico. A televisão, além da mensagem falada, transmite imagens, que contextualizam o telespectador e possibilitam uma leitura mais completa dos fatos; d) Internet – as vantagens desta mídia estão na capacidade de oferecer aos usuários exatamente a informação que necessitam, organizada de acordo com seus requerimentos, podendo ser de forma simultânea. Porém, apesar de ser uma mídia em expansão, ainda é restrita ao número de usuários; e) Outros canais alternativos – Feiras, atividades, redes de comunicadores, empresas privadas, entre outros.
Divulgar ações de prevenção e preparação Estimular a geração de notícias, por parte da imprensa, para a redução dos riscos de desastres, é o maior desafio dos setores de comunicação social nas organizações responsáveis pelo atendimento de emergências. Atualmente, os veículos dedicam muito mais espaço à divulgação das tragédias do que às possibilidades de evitá-las ou de lidar com elas. Cabe às assessorias de comunicação contribuir para mudar essa realidade. A criatividade ditará os assuntos a serem explorados pelas assessorias e encaminhados aos veículos de imprensa, por meio de sugestões de pauta, com o objetivo de alertar, prevenir e preparar a população para situações de emergência. Assuntos como o início de cada estação, dados sobre antigos desastres, riscos nas comunidades, ações para prevenir eventos adversos, iniciativas de sucesso, alertas de desastre, contextualizados corretamente, podem atrair a atenção
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da mídia e se transformarem em reportagens preventivas à população. Na elaboração de uma sugestão de pauta, deve-se considerar a importância do tema para determinado veículo, avaliar sua relevância para a população e buscar as informações que possam interessar aos jornalistas que receberão a notícia. Além de informações corretas e atualizadas, uma notícia deve ser coerente com as características do veículo de informação para o qual será enviada. Ou seja, devemos ter consciência do que é notícia, para quem será uma notícia e respeitar o formato de cada mídia. Uma ação social realizada há uma semana, por exemplo, dificilmente será notícia de interesse para um jornal diário ou uma emissora de rádio, no qual a informação é quase instantânea. Também não será importante para uma emissora de televisão, mas poderá interessar a um informativo mensal ou semanal. Ao elaborar uma notícia, é preciso facilitar a compreensão das informações a serem repassadas para a imprensa ou para outros públicos. Textos claros e objetivos contribuirão com esse processo. Uma maneira de contextualizar o leitor e propiciar informações básicas, logo no início da leitura, é citar, no primeiro parágrafo, ou lead36 da notícia, alguns elementos essenciais para a construção de um texto informativo. São eles: O que queremos comunicar; Quando o fato aconteceu; Com quem ele aconteceu; Onde aconteceu; e Como ocorreu.
36. Em jornalismo, é a primeira parte de uma notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. É uma expressão inglesa que significa “guia” ou “o que vem à frente”. Fonte: Wikipedia.org.
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Ferramentas para a comunicação
Ferramentas para a comunicação Diferentes ferramentas poderão ser usadas pela assessoria de comunicação na divulgação de informações. Esses instrumentos deverão ser identificados antes do desastre acontecer. Além do contato permanente com os veículos e o envio de notícias para a imprensa, por meio do mailing eletrônico, telefone, fax ou outros canais pré-identificados, novas informações podem ser repassadas à população por intermédio de sites institucionais, eventos programados, cartilhas, informativos e mídias sociais. A publicação e/ou transmissão de informações deve ser sempre planejada e estruturada de acordo com as necessidades da instituição e com os objetivos previstos em cada ação. O setor de comunicação deve prever que durante o desastre algumas ferramentas podem ficar indisponíveis, como a queda de energia elétrica. As ferramentas que poderão ser utilizadas são:
Site Institucional Ao preparar um site, é fundamental prever as informações que nele serão veiculadas; as necessidades da instituição; e as demandas que poderão aparecer especialmente durante o desastre. O sítio digital permitirá o relacionamento da instituição com a sociedade em geral, segmentos organizados, imprensa ou outro público alvo. É necessário entender a linguagem dessa ferramenta, não apenas o domínio para a inserção e atualização de conteúdos, mas suas características. No mundo virtual, as informações são dinâmicas e o público não é específico.
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As atualizações devem ser constantes e os conteúdos de fácil compreensão. Assim, o site sempre será atual e qualquer internauta poderá entender as mensagens postadas. A ferramenta deve ser direcionada ao gerenciamento de desastres e as necessidades devem ser previstas nas diferentes etapas (antes, durante e depois). O comunicador pode realizar pesquisas internas e externas, conversando com agentes de resposta ao desastre, segmentos da população e imprensa, questionando conteúdos importantes para o espaço virtual e de que forma os mesmos podem ser atualizados e organizados. Antes de um desastre, a ferramenta poderá abrigar conteúdos para a prevenção e preparação da população ante as possibilidades de eventos adversos, ao exemplo de informações sobre como se prevenir em caso de desastres, alertas meteorológicos, previsões, dados úteis, divulgação de pesquisas, eventos, projetos de interesse geral, ações e propostas. Durante o desastre, poderá ser criado um site específico para o evento, ou uma página dentro do site institucional, concentrando todas as informações a ele relacionadas. Os dados deverão ser sempre atualizados e organizados para que sejam facilmente encontrados pelos interessados. No desastre de 2008, em Santa Catarina, boletins informativos, notícias e informações de interesse público eram atualizados logo após a confirmação dos fatos em um site específico para o gerenciamento do desastre. Antes do evento, notícias sobre os riscos e ações de prevenção eram atualizadas com agilidade, credibilidade e dinamismo nos sites institucionais da Defesa Civil de Santa Catarina e do Governo do Estado. Informações sobre o primeiro alerta da possibilidade do desastre e as orientações para a população foram transmitidas inicialmente pelo site: www.defesacivil.sc.gov. br. Após a postagem no endereço eletrônico, as informações seguiram para a imprensa, parceiros institucionais e outros setores estratégicos.
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Ferramentas para a comunicação
Mídias sociais No gerenciamento de desastres, as mídias sociais servirão para o envio de mensagens informativas instantâneas, com o registro de ações e fatos. É preciso avaliar o público que será alcançado por meio deste tipo de ferramenta, conhecer bem o seu funcionamento e garantir as atualizações. A linguagem utilizada deve ser condizente com os usuários, reforçando que a credibilidade das informações divulgadas por meio das mídias sociais dependerá da utilização correta das mesmas.
Informativos Informativos em formatos de jornais, murais, revistas, cartilhas e folders, impressos ou eletrônicos, requerem uma pré-produção. A elaboração exige definição dos assuntos abordados, discussão dos conteúdos, seleção de fotografias, diagramação e edição. Este tipo de ferramenta tem mais tempo de vida útil, por isso, o conteúdo não poderá ser o mesmo utilizado para uma mídia mais ágil, como o site. Na fase de prevenção e preparação, os informativos permitem explorar de forma ampla os fatos. Uma reportagem sobre um determinado assunto poderá apresentar dados e informações mais completas e atrativas. Durante o desastre, a produção de um informativo dificilmente será propícia, uma vez que o tempo de produção é maior do que o das mídias eletrônicas. Além da definição de conteúdos e do formato do material, é essencial estipular o público alvo, a quantidade de exemplares – se for impresso, e os mecanismos de distribuição. O resultado da iniciativa de elaborar um informativo não poderá ser medido pela quantidade de pessoas que receberam o mesmo, mas pela qualidade das informações que foram trabalhadas e as características dos leitores. O conteúdo do informativo deve ser focado no público alvo. O formato
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que for direcionado para uma determinada comunidade não poderá ser o mesmo que o encaminhado para profissionais de Defesa Civil, por exemplo.
Eventos, feiras, palestras Promover eventos e ações para difundir iniciativas entre grupos específicos, inclusive entre jornalistas, incentiva o envolvimento das pessoas e o interesse sobre um determinado assunto, além de propiciar a troca de experiências. Este tipo de ação requer planejamento, organização e engajamento de outros setores da instituição. É importante avaliar a importância da ação para a redução do risco de desastre e as necessidades de logística para sua realização.
Planejar e preparar estratégias É na fase anterior ao desastre que o comunicador precisa prever como será o seu trabalho e quais serão suas demandas durante e depois do evento adverso. Além da ampla rede de contatos, das ferramentas de comunicação e das estratégias de divulgação, é preciso definir como será sua atuação nas próximas fases. Quais serão as necessidades da imprensa junto à instituição? Como atender a essas necessidades? Quem falará com a imprensa no caso de um desastre? Como deve ser a estrutura de comunicação da instituição durante um evento adverso? Estes questionamentos importantes devem ser respondidos no planejamento das ações. O plano de comunicação da instituição terá que englobar
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Planejar e preparar estratégias
todas as estratégias previstas, identificando como as necessidades serão atendidas e os parceiros que poderão colaborar no processo. Algumas ações que podem ser previstas e planejadas são:
Definir e treinar as fontes Antes do desastre, o comunicador poderá definir com os membros da instituição quem será o porta-voz junto à imprensa, a pessoa responsável por transmitir as informações. É fundamental que essa função não fique limitada a uma única pessoa, pois, dependendo da dimensão do desastre, a procura por informações poderá ser maior que a capacidade de resposta de um único porta-voz. O porta-voz deve ter consciência da importância de seu papel numa situação de emergência, conhecer as características de cada veículo de comunicação e estar preparado para atender à imprensa em qualquer circunstância e horário. O porta-voz será responsável por comunicar ao público todas as informações necessárias sobre o desastre com o objetivo de reduzir o desconhecimento sobre o assunto, orientar sobre medidas de segurança e colocá-lo a par das ações que estão sendo desenvolvidas para minimizar os impactos do evento adverso e garantir o retorno da normalidade. Conhecer o assunto e ter domínio sobre as informações que serão transmitidas são pré-requisitos para a função. O porta-voz deverá gerenciar suas emoções, mostrar firmeza e calma. Mentir, fugir das respostas ou falar sem ter convicção dos fatos contribuirá com os efeitos negativos do desastre e poderá gerar mais pânico e/ou insegurança na população. Treinar todos os colaboradores da instituição para lidar com os veículos de comunicação, por meio de cursos, ou fazer com que conheçam o funcionamento da imprensa, favorecerá os trabalhos durante o desastre, pois, mais colaboradores terão condições de conceder uma entrevista ou repassar informações para os jornalistas, caso seja necessário. É importante, no entanto, deixar claro que nem todos
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concederão entrevistas durante o desastre e que o repasse das informações deve ser gerenciado pela assessoria de imprensa, para evitar a divulgação de informações desencontradas. O setor de comunicação definirá como serão realizadas as entrevistas e quais serão as fontes da instituição.
Definir equipe de trabalho Em um desastre, a demanda por informações é maior que no período de normalidade. Conforme as características do evento adverso e suas consequências, o setor de comunicação social poderá funcionar 24 horas por dia, durante algum tempo. É na fase de preparação ao desastre que a estratégia de resposta deve ser prevista, podendo definir um organograma da equipe, no qual sejam identificadas as tarefas e horários de atuação de cada membro. A equipe de comunicação poderá ser reforçada com o apoio de parceiros pré-identificados. No momento da emergência, todos os envolvidos deverão conhecer suas responsabilidades e saber como agir.
Prever canais de comunicação com a imprensa As notícias sobre o evento surgem a todo instante e a imprensa precisa de informações precisas e atualizadas. A instituição responsável pelo gerenciamento do desastre ou por uma área específica (saúde, segurança, etc.) não pode ser a última a saber dos fatos. Se a instituição não tiver as informações para a imprensa, no momento em que a notícia precisa ser divulgada por determinado veículo, corre-se o risco do jornalista procurar outra fonte e as informações não saírem de forma adequada. Ao mesmo tempo, os dados precisam ser apurados, pois uma informação errada pode provocar prejuízos maiores à população. Os canais de comunicação com a imprensa devem ser pré-definidos e conhecidos pelos veículos de comunicação, como explorado anteriormente.
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Planejar e preparar estratégias
Durante o desastre, as notícias poderão ser repassadas via e-mail, releases ou boletins informativos; publicadas num site oficial; por telefone; em gravações de áudios para as rádios; em mídias sociais; coletivas à imprensa; ou por meio de outras ferramentas e formatos, de acordo com as características da imprensa a qual será comunicada. Conforme a demanda, todas essas ferramentas poderão ser utilizadas conjuntamente. O assessor precisa trabalhar adequadamente com os mecanismos de comunicação que irá utilizar, para que a imprensa receba as mensagens de forma correta e oportuna.
Definir espaço físico para a imprensa na instituição A dimensão do desastre ditará o interesse da imprensa. É possível que alguns veículos de comunicação procurem pessoalmente a instituição para buscar informações. Esta deve estar preparada para receber o grupo e oferecer espaços adequados aos jornalistas, com a infraestrutura necessária para o repasse de informações. Durante o desastre, o repórter não poderá ficar entre os técnicos e funcionários da organização, pois, além de atrapalhar os trabalhos, acabará colhendo informações que nem sempre são adequadas e oportunas naquele determinado momento. Uma sala, equipada com computadores e internet, poderá servir de redação para os jornalistas que permaneçam ou visitem a instituição em busca de informações. Caberá à assessoria de imprensa atender aos jornalistas.
Definir espaços para coletivas A possibilidade de realização de uma coletiva durante o evento adverso deve ser prevista na fase de preparação. O assessor precisa definir o espaço mais adequado para a realização desse tipo de ação e os elementos necessários (banner da instituição, mesa, cadeiras, etc.).
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Identificar parceiros e estratégias As ações de resposta nem sempre ficam concentradas em uma única instituição. As informações poderão ser geradas de diferentes fontes. Identificar os assessores de comunicação das instituições que também são responsáveis pela resposta aos desastres e acertar estratégias conjuntas para evitar o desencontro de informações permitirão um melhor resultado junto à imprensa. Além de definir mecanismos para que os assessores de comunicação atuem de forma integrada durante o desastre, os comunicadores poderão trocar ideias e potencializar recursos e ferramentas. Uma sugestão é elaborar uma lista de contatos estratégicos e criar uma rede de comunicação constante entre eles.
Definir estratégias de comunicação com os diferentes veículos Cada veículo de comunicação possui características próprias e formatos diferenciados. A assessoria de imprensa, em todas as fases do desastre, deve prever como o veículo de comunicação trabalha e respeitar seus horários e diferenças. Durante o desastre, estratégias que facilitem o repasse das informações poderão ser colocadas em práticas, se testadas e aprovadas anteriormente. Antes do desastre, o assessor poderá discutir essas estratégias com os diferentes veículos e testar a operacionalidade das mesmas. Para atender às rádios, por exemplo, poderão ser disponibilizados áudios, em diferentes momentos do dia, com boletins informativos. Desta forma, um número maior de emissoras poderá ser atendido, multiplicando a informação que deseja ser transmitida. As formas de atendimento aos veículos de comunicação deverão ser pré-definidas na fase de prevenção e preparação. Ajustes poderão ser feitos no decorrer do processo.
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Planejar e preparar estratégias
Preparar informações Além das informações relacionadas a um determinado desastre, é comum que os jornalistas, para contextualizar suas matérias e reportagens, solicitem às instituições responsáveis pelo atendimento de emergências dados complementares, como o histórico de desastres numa determinada região, características dos eventos adversos, frequência deles, ações já desenvolvidas, dados científicos, entre outros. Para facilitar o trabalho do setor de comunicação social e dos veículos, poderá ser preparado um arquivo com esse tipo de informações. Caso ocorra um desastre, elas já estarão prontas quando solicitadas. Nomes e contatos de especialistas em assuntos relacionados a desastres, como geólogos, arquitetos, bombeiros, psicólogos, que tenham experiência no assunto, também poderão ser requisitados pela imprensa. Por isso, a relação dessas pessoas e seus respectivos contatos deverão ser preparados com antecedência.
Alertas É na fase de prevenção e preparação de um desastre que a Defesa Civil divulga alertas para avisar a população sobre a probabilidade de um fenômeno acontecer numa determinada região. Em Santa Catarina, os alertas são elaborados pelo Departamento Estadual de Defesa Civil, a partir do monitoramento dos fenômenos naturais, em parceria com a Epagri/Ciram (Centro de Informação de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e outras instituições. Conforme a relevância do alerta, as informações são rapidamente repassadas à imprensa. Neste processo, o assessor é responsável pela elaboração do alerta específico para a imprensa, voltado para a população, ou seja, de fácil compreensão, objetivo e prático. A partir dos dados técnicos, deverá ser preparada a notícia, com informa-
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ções sobre o que poderá acontecer se confirmado o fenômeno, quando ele poderá ocorrer, o que está sendo feito para minimizar os danos, como a população deve agir e o que poderá ser feito para reduzir os riscos, além de outros dados que possam servir para amenizar o problema. Ao fazer o alerta, a assessoria e os técnicos responsáveis deverão discutir o impacto das informações que serão repassadas à população e avaliar se as comunidades estão preparadas para recebê-las. Em algumas circunstâncias, as informações podem ser trabalhadas de maneira que não prejudiquem os trabalhos de preparação da população. O momento certo de divulgar o alerta deve ser discutido entre os técnicos responsáveis das instituições envolvidas. Além de repassar o release para a imprensa, o setor de comunicação, em conjunto com outros setores, poderá definir outras estratégias para levar o alerta à população e a parceiros pré-identificados.
Informação responsável No furacão Catarina, em março de 2004, os técnicos da Defesa Civil sabiam da existência do fenômeno antes de divulgar o alerta. Porém, quando foram à imprensa para repassar informações para a população optaram por não caracterizar o evento como um furacão. Os técnicos avaliaram, pelo fato do evento nunca antes ter sido registrado no Brasil, que se o nome do desastre fosse divulgado a reação da população seria de pânico e insegurança, provocando descontrole e gerando novos fatores de risco. Sem citar a palavra furacão, todas as informações e medidas de segurança para preparar as comunidades para os fortes ventos e tempestades previstos, foram repassadas pelo porta-voz oficial. Fonte: Departamento Estadual de Defesa Civil.
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Planejar e preparar estratégias
Durante o desastre Durante o desastre as instituições responsáveis pelo atendimento de emergências realizam ações de socorro, assistência às populações vitimadas e reabilitação de cenários. O setor de comunicação poderá acompanhar esses processos e divulgar as informações referentes a eles. Nesta etapa, são colocadas em prática todas as estratégias previstas na fase de prevenção e preparação. Qualquer informação, antes de ser divulgada, precisa ser avaliada, pois o impacto pode provocar pânico desnecessário na população. Durante o desastre o setor de comunicação poderá: • Definir quem será o porta-voz da instituição. Se o número de atendimentos à imprensa for maior do que a capacidade de resposta, identifique mais de uma pessoa, porém, defina estratégias para que entrevistas não atrapalhem os trabalhos de busca, salvamento e assistência às vítimas; • Organizar as informações do desastre de forma integrada com o Sistema de Comando de Operações para que toda a equipe da assessoria tenha conhecimento; • Produzir e divulgar notícias sobre o evento adverso e as ações de resposta; • Divulgar boletins com informações sobre a situação e ações de resposta; • Atualizar o site da instituição com informações em tempo real sobre os fatos e com notícias mais elaboradas; • Divulgar balanços das ações de resposta no final do dia, antes dos horários de fechamento dos veículos de comunicação (antes dos telejornais irem ao ar e dos jornais fecharem suas edições para o dia seguinte); • Divulgar áudios com boletins informativos e/ou sonoras com o porta-voz da instituição para as rádios, em horários estratégicos a fim de que sejam bem aproveitados pelas emissoras;
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• Agendar, organizar, divulgar a acompanhar coletivas à imprensa; • Coordenar ou participar de estratégias conjuntas com os setores de comunicação de outras instituições, responsáveis por ações de reposta ao desastre, evitando a duplicidade e o desencontro de informações e potencializando os esforços; • Fotografar, registrar e divulgar imagens do desastre e das ações de resposta promovidas pela instituição; • Atender aos jornalistas na instituição dando suporte a suas necessidades; • Durante ações em campo, contribuir com o trabalho dos jornalistas, dando prioridade a cinegrafistas e fotógrafos para o registro das imagens; • Alimentar e gerenciar mídias sociais com informações sobre o desastre; • Agendar a realização de entrevistas, definindo local, horário e fonte; • Gerenciar o relacionamento com a imprensa de maneira que o atendimento aos veículos seja igualitário. Se não for possível atender todos, proponha critérios de atendimento e apresente-os para a imprensa; • Avaliar diariamente o resultado dos trabalhos, trocar ideias e discutir as ações com os membros da equipe de comunicação social; • Elaborar e divulgar relatórios diários sobre as ações de resposta ao desastre e informações como o número de desabrigados, desalojados, danos, prejuízos, atendimentos, situação das rodovias, novas previsões; e • Outras ações planejadas ou identificadas como necessárias no decorrer do processo.
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Planejar e preparar estratégias
Pós-desastre O desastre termina após sua fase crítica, quando não há mais riscos em virtude do evento adverso. Entretanto, provoca danos sociais e econômicos que podem durar semanas, meses e até anos, dependendo de sua magnitude. Problemas estruturais, como quedas de pontes, danificação de rodovias, falhas nos serviços públicos essenciais, perda de produções, desemprego, medo da população, interferências no convívio social das pessoas, entre tantos outros, fazem parte da realidade de milhões de pessoas que já passaram por uma situação de desastre. Nesta fase pós-desastre, a comunicação continuará tendo papel fundamental, agora no processo de reabilitação dos cenários, contribuindo com o restabelecimento da normalidade. Caberá à assessoria de comunicação permitir a transmissão de informações, por intermédio da imprensa, ou outros mecanismos de comunicação com a sociedade, sobre os danos e prejuízos ainda existentes e ações para a reabilitação. O evento adverso e suas consequências não podem ser esquecidos. As atividades da comunicação social pós-desastre devem ser avaliadas e os erros corrigidos, contribuindo para que a percepção de novos riscos melhore nas comunidades.
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4 Desastre de 2008 – um exemplo prático Este capítulo traz um relato das atividades desenvolvidas junto à imprensa, antes, durante e depois das enchentes e deslizamentos que ocorreram em novembro de 2008, em Santa Catarina. O objetivo é apresentar o trabalho prático do gerenciamento da comunicação governamental em uma situação de desastre, a partir da experiência das autoras37.
A tragédia de 2008 em Santa Catarina No contexto estadual de gerenciamento de desastres, o ano de 2008 foi marcado pela ocorrência de diferentes eventos adversos em Santa Catarina. Estiagens, ciclones, vendavais e enxurradas
37. As autoras desta obra participaram do gerenciamento do Sistema de Comunicação do Desastre de 2008, como assessoras de comunicação do Departamento Estadual de Defesa Civil e da Secretaria de Estado de Comunicação.
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Desastre de 2008 – Um exemplo prático
provocaram danos à população em todas as regiões do Estado. Além da atuação na preparação, resposta e reconstrução de desastres, o Departamento Estadual de Defesa Civil agia amplamente em ações de prevenção para redução dos riscos. As iniciativas, consideradas prioritárias pelo órgão, visavam o desenvolvimento de uma mudança cultural na sociedade, por meio da educação e da comunicação. No mês de agosto daquele ano, a instituição promoveu um fórum voltado para a imprensa com o objetivo de criar uma Rede Cooperativa de Comunicação de Desastres. Era uma oportunidade de aprofundar a discussão sobre o papel da imprensa no contexto das mudanças climáticas. Mais de 160 profissionais do setor e de outras áreas participaram do evento. Apesar das ações acima relatas, o ano de 2008 ficaria na memória da população catarinense pela ocorrência de outros fatos. Em setembro, os meteorologistas da Ciram/Epagri informaram aos técnicos da Defesa Civil que as previsões para a primavera apontavam uma estação chuvosa. Um alerta anunciando mudanças no tempo e previsão de chuva foi divulgado à imprensa, no início da nova estação, com o propósito de minimizar os danos no caso da ocorrência de novos desastres no período. Conforme o Atlas de Desastres de Santa Catarina38, nos meses de outubro, novembro e dezembro são mais frequentes eventos adversos como granizo, inundações e vendavais. Os registros da Defesa Civil demonstravam que esses fenômenos tinham sido comuns no Estado nas últimas décadas. Um mês depois, os temporais já provocavam danos em algumas cidades catarinenses. Um mural com o mapa de Santa Catarina, exibido no Centro de Operações da Defesa Civil, destacava, com pequenos alfinetes coloridos, os municípios que decretaram Situação de Emergência devido à chuva anunciada. O primeiro município a sofrer com os efeitos do mau
38. Elaborado por Maria Lúcia Hermann e editado pela Defesa Civil catarinense, em 2005.
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tempo, conforme registros da instituição no seu site institucional39, foi Rio dos Cedros, na região do Médio Vale catarinense. No dia 18 de outubro, a cidade de pouco mais de 10 mil habitantes decretava Situação de Emergência em virtude de deslizamentos de terra, causados pelo excesso de chuva. Poucos dias depois, o número de cidades afetadas cresceu. De acordo com informações do Ciram, também divulgadas no site da Defesa Civil, as chuvas de outubro quebraram recordes nos município de Blumenau, Indaial, Ituporanga, Rio do Campo, São Joaquim e Florianópolis. O acumulado de chuva ultrapassou o esperado para o mês em todo o Estado e já alcançava o dobro entre municípios do Planalto ao Litoral. As notícias divulgadas na época, pela assessoria de imprensa da Defesa Civil, registravam que, no começo de novembro, a maior parte dos municípios com decretos de Situação de Emergência estava concentrada nas regiões Oeste e Meio-oeste catarinense. Diariamente, todas as informações sobre a situação, que até então abrangia 25 cidades e deixava cerca de 1,5 mil catarinenses desalojados e desabrigados, eram divulgadas para a sociedade por meio da imprensa e nos sites oficiais do Governo do Estado e da Defesa Civil. A cada novo alerta de mais chuvas, as equipes de sobreaviso eram reforçadas. Além de vítimas, os municípios comunicavam estragos e prejuízos na economia, meio ambiente e infraestrutura local. Técnicos também estavam em campo conferindo os danos e orientando às prefeituras sobre como agir para garantir a segurança da população e iniciar o retorno à normalidade. No decorrer do mês, as precipitações frequentes elevaram os níveis dos rios e deixaram o solo cada vez mais instável. A preocupação estava voltada a possibilidade de mais enchentes e novos deslizamentos de terra, principalmente nas cidades do Vale do Itajaí, para onde as previsões meteorológicas apontavam
39. www.defesacivil.sc.gov.br.
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maior concentração de chuva para os próximos dias. O mau tempo, que inicialmente castigou e gerou maiores danos nos municípios do Oeste e Meio-oeste catarinense, agora provocava prejuízos, principalmente, no Vale, Litoral e Norte do Estado. No dia 21 de novembro, uma sexta-feira, dois meses após o início da primavera, mais um alerta foi divulgado pela Defesa Civil Estadual. As novas chuvas, somadas ao acumulado nos meses anteriores, provocavam a maior tragédia climatológica da história catarinense, conforme dados e informações do Governo do Estado, divulgados no dia 24 de novembro de 200840, em seu site oficial. O desastre provocou Situação de Emergência em todo Estado, ao afetar 77 municípios, derrubar ou condenar casas de 78 mil pessoas e provocar a morte de 135 catarinenses, sendo que duas vítimas continuam desaparecidas41.
A atuação da Assessoria governamental O governador de Santa Catarina na época, Luiz Henrique da Silveira, em seu relato anual à Assembleia Legislativa, em fevereiro de 2009, sobre as ações desenvolvidas pelo Poder Executivo no decorrer do exercício do ano anterior, classificou o desastre ocorrido no Estado como “a mais destruidora catástrofe climática”. Na oportunidade, o chefe do executivo estadual também agradeceu o papel da mídia, que, além de cobrir toda a extensão do desastre, disseminou os avisos e alertas da Defesa Civil, garantindo a transparência das operações e o sucesso das campanhas de arrecadação de donativos42. No período de Desastre, Márcio Luiz Alves respondia pelo cargo de diretor da Defesa Civil Estadual e coordenador
40. Publicadas em http://webimprensa.sc.gov.br/paginas/Buscas/visualiza_noticia.asp?intCodigo=43367 41. Informações oficiais em www.desastre.sc.gov.br. 42. Governo do Estado de Santa Catarina. Relato Anual de atividades, exercício 2008. Santa Catarina, 2009.
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das operações. Segundo ele43, a mídia teve atuação fundamental no gerenciamento do evento adverso, cumprindo seu papel social de levar a informação para população e indo além ao atuar como instrumento facilitador e integrador em todas as fases do evento adverso. Na avaliação de Alves, as informações essenciais à população chegavam de forma rápida e eficaz por meio da imprensa, facilitando o trabalho de todos os envolvidos. “Em muitos momentos, durante o desastre, perdeu-se o contato com comunidades e até com municípios inteiros, mas era possível falar e repassar informações para as pessoas por intermédio do rádio, por exemplo”, observa. A credibilidade das informações e a agilidade com que as mesmas foram repassadas para imprensa, continua Alves, foram fatores fundamentais para o sucesso obtido junto à mídia. “A cada segundo tínhamos um fato novo, que se não fosse corretamente divulgado, poderia criar mais pânico. Ter uma grande equipe de comunicação preparada para gerenciar as informações junto à coordenação do desastre garantiu os resultados positivos por meio da mídia”, relata.
A estrutura A data de 22 de novembro ficou registrada como início da tragédia catarinense, quando o governador decretou Situação de Emergência em Santa Catarina, abrangendo todas as áreas afetadas44. Devido às dimensões do desastre, todos os setores do governo catarinense foram convocados para auxiliar as ações da Defesa Civil. A Assessoria de Imprensa da Defesa Civil passou a contar com o respaldo e auxílio de uma equipe de
43. Durante entrevista às autoras, em maio de 2010. 44. Decreto nº 1.897, de 22 de novembro de 2008. Acessado em www.desastre.sc.gov.br.
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mais de dez assessores de comunicação do Governo do Estado. Para gerenciar as informações do evento adverso, a Defesa Civil e a Secretaria de Estado de Comunicação montaram uma Central de Comunicação do Desastre, com duas bases estratégicas, sendo uma em Florianópolis, junto à Defesa Civil, e outra no aeroporto de Navegantes, no Comando de Operações Aéreas. No dia 29 de novembro, foi disponibilizado, com o apoio do Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina (CIASC), o endereço eletrônico: www.desastre.sc.gov.br, que a partir daquela data passou a ser o site oficial do evento, concentrando todas as informações e notícias referentes à catástrofe. Veículos de comunicação de todo o Brasil e a imprensa internacional tiveram acesso aos fatos em tempo real. A Central de Comunicação do desastre, com suas estruturas organizadas em Florianópolis e em Navegantes, além do apoio dos assessores de comunicação das 36 Secretarias de Estado de Desenvolvimento Regional45, produziram durante a primeira semana de atuação, em média, 65 notícias diárias, publicadas no site do Governo do Estado (http://webimprensa.sc.gov.br). O balanço do mês de novembro46 de 2008 registrou 183.750 visitas ao site do Departamento Estadual de Defesa Civil, contra 13.304 do mês de outubro. Nos primeiros cinco dias, após a publicação do site específico para o desastre, foram registradas 74.974 visitas ao endereço eletrônico. A Central de Comunicação definiu o secretário-executivo de Justiça e Cidadania47, Justiniano Pedroso, como porta-voz oficial do evento. Técnicos da Defesa Civil, treinados anteriormente, auxiliaram no atendimento às rádios. Márcio Luiz Alves, que coordenava os trabalhos de resposta ao desastre, concedeu apenas entrevistas programadas e
45. Estruturas do Governo do Estado de Santa Catarina que descentralizam as ações do executivo em 36 regiões do estado, atendendo todos os municípios. 46. Conforme dados disponibilizados pelo CIASC, entre 28 de novembro e 3 de dezembro de 2008. 47. A secretaria é composta pelo Departamento Estadual de Defesa Civil, além dos Departamentos de Administração Prisional (DEAP) e Justiça e Cidadania (DJUC).
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental
orientadas pela equipe de comunicação. Pelo menos dez entrevistas coletivas, organizadas pela central, foram concedidas pelas instituições que atuaram de forma integrada ao desastre. Passados um ano e meio da tragédia, o site www.desastre.sc.org.br continua recebendo atualizações sobre o destino de doações, reconstrução do desastre e prevenção de novos eventos adversos.
Assessoria governamental: antes, durante e após o desastre de 2008 Antes do desastre Em março de 2007, o Departamento Estadual de Defesa Civil em Santa Catarina passou a contar, pela primeira vez desde sua criação em 1973, com um setor responsável pela comunicação junto à imprensa. Foi disponibilizado um novo site com dados e informações institucionais, além de notícias sobre o gerenciamento de desastres no Estado, nas fases de prevenção, preparação, resposta e reconstrução. O setor iniciou o repasse periódico de informações à imprensa, organizou e atualizou um amplo cadastro de contatos e gerou vínculos com setores estratégicos. Experiências anteriores da Defesa Civil, como a do Furacão Catarina, em março de 2004, e a do Apagão em Florianópolis, em 2003 – nas quais a constante busca por informações, por parte da imprensa, tornou necessário o auxílio de profissionais especializados da Secretaria de Estado de Comunicação para o
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Antes do desastre
gerenciamento da relação entre veículos de comunicação e a Defesa Civil –, serviram de base para dar início a um plano de comunicação ao órgão estadual. A Assessoria de Comunicação da Defesa Civil passou a atuar de forma diferenciada nos períodos de normalidade e anormalidade na instituição.
Entenda • Normalidade – Períodos nos quais não há registro de situações de emergência. • Anormalidade – Período nos quais há registro de situações de emergência no estado Fonte: Manual de capacitação a distância do Governo de SC, Os Consegs e a Redução de Riscos. CEPED/UFSC, 2008.
No desastre de 2008, durante a fase de normalidade, a comunicação era voltada à divulgação de medidas e projetos de prevenção e preparação de desastres. Durante o evento, no período de anormalidade, os esforços foram concentrados na divulgação e atualização constante das informações. Fonte: Departamento Estadual de Defesa Civil
Na fase de normalidade, uma das primeiras ações desenvolvidas foi a elaboração de um Plano de Comunicação para a Defesa Civil, prevendo a atuação integrada da Assessoria de Comunicação, nas diferentes fases dos desastres. O plano consta como anexo deste livro48.
48. Cópia do Plano de Comunicação Social da Defesa Civil catarinense, elaborado em março de 2007. Documento disponibilizado pela Assessoria de Comunicação Social da instituição.
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Atividades desenvolvidas A partir do Plano de Comunicação Social da Defesa Civil, diversas ações foram propostas e realizadas, com o objetivo de promover a prevenção e a preparação da população catarinense frente aos desastres. Destacam-se as seguintes: • Folder explicativo para todos os funcionários da instituição: por meio do documento, técnicos, especialistas e equipe administrativa receberam informações sobre como se comportar junto à imprensa. “Quais informações são importantes para a imprensa?”, “Como falar para os diferentes veículos?” eram alguns questionamentos respondidos. • Identificação e preparação de profissionais para falar com a imprensa: foram identificados os profissionais com maior desenvoltura para conversar com a imprensa. Outros, apesar de ter conhecimento técnico e experiência suficiente, tinham medo de dar entrevistas ou repassar informações. No período de normalidade ou em situações anormais com pouca repercussão, além do diretor da Defesa Civil, que geralmente era o porta-voz oficial, outros funcionários passaram a dar entrevistas e a conversar com a imprensa. O objetivo era preparar o maior número de pessoas, para que no caso de um desastre de maiores proporções, todas as demandas de imprensa pudessem ser atendidas. • Contato periódico com a imprensa: desde o começo dos trabalhos do setor de comunicação, o contato com a imprensa foi periódico, tanto no repasse de informações, quanto na sugestão de pautas. Além de encaminhar releases com informações
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da instituição, a assessoria promoveu visitas e contatos telefônicos frequentes. • Identificação e cadastro de grupos estratégicos: além de cadastrar grupos de imprensa no mailing da assessoria, foram cadastrados grupos estratégicos. As informações repassadas à imprensa eram, conforme a necessidade, repassadas aos bombeiros, técnicos de defesa civil, interessados no assunto, órgãos de governo, entre outros. • Atualização do site institucional: após a reestruturação do site institucional da Defesa Civil, a ferramenta passou a receber atualizações diárias. Um grupo de mais de dez funcionários do departamento recebeu treinamento para ter acesso ao sistema interno do site. • Participação e promoção de eventos: a assessoria participou e ajudou a promover diversos eventos da Defesa Civil, inclusive voltados à imprensa, ao exemplo de fóruns, debates e palestras. • Ações Sociais: o setor de comunicação social também foi responsável pela coordenação do projeto educativo Percepção de Risco, a Descoberta de um Novo Olhar49, que, entre outras atividades, promoveu ações junto às comunidades para estimular a redução dos riscos locais.
49. Projeto de Defesa Civil – Site Oficial: www.percepcaoderisco.sc.gov.br.
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Capa da cartilha educativa sobre Comunicação, produzida pelo Departamento Estadual de Defesa Civil – Série nossa segurança
• Cartilhas educativas e atividades nas escolas – em parceira com outras instituições, foi iniciada a produção de uma série de cartilhas educativas para a população. Foram promovidas palestras em escolas públicas, levando a temática de Defesa Civil para a discussão entre crianças e adolescentes. Além das atividades citadas acima, constam ainda a divulgação de ações, recomendações e alertas; contato com instituições parceiras; e participação em capacitações.
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Durante o desastre
Durante o desastre Desde o início dos trabalhos da Assessoria de Comunicação no Departamento Estadual de Defesa Civil, diversos desastres causaram estragos em Santa Catarina, provocando danos e prejuízos à população. Em 2008, conforme registros da instituição, 122 decretos de situação de emergência foram homologados pelo Governo do Estado, em municípios catarinenses, desconsiderados os atingidos pelo evento entre outubro e dezembro daquele ano. Durante a ocorrência dos eventos adversos, o setor de comunicação social colocou em prática as atividades previstas no plano de comunicação e implantou canais de relacionamento com a imprensa em situações de emergência, estreitando o relacionamento com os jornalistas. A ocorrência frequente de eventos adversos possibilitou o diálogo constante entre a assessoria governamental e os veículos de comunicação de Santa Catarina. No início do período de chuvas que culminou nas enchentes e deslizamentos registrados em novembro de 2008, a Defesa Civil, por meio de sua assessoria, divulgou alertas e recomendações à população, visando à redução do risco de desastre. A partir dos primeiros decretos de situação de emergência, em outubro de 2008, as informações sobre a situação dos municípios, vítimas e previsões, passaram a ser atualizadas diariamente nos sites da instituição e do Governo do Estado, onde eram divulgados boletins, relatórios e notícias. Os acontecimentos também foram divulgados pelo mailing eletrônico da Defesa Civil e da Secretaria de Estado de Comunicação e por boletins informativos gravados e distribuídos à imprensa pela Rádio Oficial do Governo do Estado. No dia 22 de novembro, o setor de comunicação social da Defesa Civil passou a contar com o reforço de jornalistas de outras secretarias e instituições do Governo catarinense.
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As equipes trabalharam, inicialmente, 24 horas por dia. Com apoio da Secretaria de Estado de Comunicação, foram desenvolvidas as seguintes estratégias e atividades: • Instalação de uma Central de Comunicação do Desastre, com bases no Aeroporto de Navegantes e no Departamento Estadual de Defesa Civil, em Florianópolis; • Na base de Florianópolis, a estrutura foi organizada para atender e receber a imprensa. No local, foram disponibilizados 11 computadores com acesso à internet; • O site da Defesa Civil (www.defesacivil.sc.gov.br) passou a ser atualizado 24 horas com dados sobre número de mortos, afetados, desabrigados e desalojados, doações, entre outros; • Notícias, fotos e boletins de rádio eram disponibilizados no site da Secretaria de Comunicação do Governo do Estado (www.sc.gov.br/webimprensa); • A partir do dia 29 de novembro, as informações foram concentradas no site oficial do desastre (www.desastre. sc.gov.br). Ferramenta desenvolvida por técnicos do CIASC, durante o evento adverso; • A Defesa Civil, que coordenava as ações, passou a ser o órgão oficial do desastre. Todas as informações eram concentradas e divulgadas pelo departamento, evitando duplicidade de fontes; • O número de vítimas era repassado ao departamento pelos municípios, atualizado pela Central de Operações da Defesa Civil e divulgados pela assessoria governamental; • Diariamente, a assessoria atualizava um relatório dos trabalhos de Defesa Civil, com informações sobre a situação das estradas e rodovias, vítimas, danos e prejuízos nos municípios, doações e outras informações relevantes. Os relatórios eram repassados ao governador do Estado de Santa Catarina, ao secretário de Justiça e Cidadania e ao diretor estadual de Defesa Civil. As informações também eram atualizadas no site do desastre e em um mural da
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central, que concentrava, de forma organizada, todos os dados referentes ao evento adverso (cidades afetadas, situação das rodovias, vítimas, telefones importantes, etc.); O telefone da assessoria funcionou 24 horas; O secretário de Estado de Justiça e Cidadania, Justiniano Pedroso, passou a ser o porta-voz oficial do desastre. Dois técnicos também foram autorizados a atender emissoras de rádios. O diretor estadual de Defesa Civil foi orientado a atender apenas entrevistas pré-agendadas, nos telejornais da manhã; As equipes de fotografia e televisão da Secretaria de Estado de Comunicação produziram imagens diárias sobre o desastre e as ações de resposta. As imagens eram disponibilizadas no site da Secretaria e enviadas às imprensa estadual e nacional; Na fase mais crítica do desastre, entre os dias 24 e 30 de novembro, devido ao grande número de solicitações de entrevistas pelos veículos de comunicação que acompanhavam o evento, as participações foram organizadas e priorizadas da seguinte maneira:
Rádios a) Prioridade de atendimento às rádios com abrangência nos municípios mais atingidos, por técnicos da Defesa Civil, pré-definidos; b) Repasse de boletins diários para todas as rádios, gravados pelo secretário de Justiça e Cidadania ou pelo diretor Estadual de Defesa Civil; c) Entrevistas às emissoras presentes na Central de Comunicação, conforme disponibilidade das fontes, mediante agendamento junto à assessoria governamental.
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TVs d) Foi definido que as participações em estúdios seriam agendadas somente no primeiro horário da manhã; e) Entrevistas ao vivo para os telejornais passaram a ser agendadas em um único local, em comum acordo entre as emissoras; f) Entrevistas eram marcadas somente mediante autorização e agendamento prévio junto à Central de Comunicação.
Jornais, sites e outros veículos a) Todas as informações disponíveis sobre o desastre eram atualizadas no site oficial e repassadas aos veículos de comunicação via e-mail; b) A assessoria governamental foi responsável pelo levantamento de informações diferenciadas, solicitadas pelos veículos; c) As entrevistas foram realizadas, principalmente, por meio de telefone.
Coletivas Para facilitar o trabalho dos veículos de comunicação e otimizar o número de entrevistas, a Central de Comunicação também promoveu entrevistas coletivas à imprensa, para anunciar medidas e ações.
Balanço Por meio do trabalho da Central de Comunicação do Desastre, todas as informações relativas ao evento foram disponibilizadas à imprensa estadual, nacional e mundial, que
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Durante o desastre
voltou atenções para o drama vivido pelos catarinenses. O atendimento à imprensa integrou-se ao processo de resposta ao desastre da Defesa Civil catarinense e contribuiu com os resultados alcançados. Demonstrações da força da comunicação no gerenciamento do desastre foram constatadas a partir da divulgação das contas oficiais, criadas para arrecadar doações em recursos financeiros para as vítimas, e do engajamento de voluntários e instituições dispostos a colaborar com os trabalhos de Defesa Civil. Em três dias de divulgação, via imprensa, as contas oficiais registravam mais de R$ 3 milhões em doações. A Defesa Civil estima que 12 mil pessoas envolveram-se diretamente nas ações de resposta ao evento adverso, além de milhares de voluntários, que auxiliaram na recepção, triagem e distribuição de doações. Ao todo, a Defesa Civil calcula que foram doados 4,3 milhões de quilos de alimentos e 2,5 milhões de litros de água. Os alimentos e água doados foram considerados, pela Defesa Civil, suficientes para atender a demanda gerada pelo desastre. Em recursos, o Fundo Estadual de Defesa Civil recebeu mais de R$ 36 milhões em doações. Conforme dados divulgados pela instituição, o valor foi distribuído no atendimento à população para a compra de terrenos (R$ 18 milhões) e ao Auxílio Reação (R$ 17,7 milhões), benefício que atendeu sete mil famílias desalojadas com as chuvas. O esforço das equipes da assessoria governamental e dos técnicos da Defesa Civil, para garantir o repasse das informações à imprensa, visando à segurança da população, durante o desastre de 2008, foi registrado pela coordenadora Técnica do site www.desastre.sc.gov.br, Márcia Nazareth de Souza, em ofício enviado à Defesa Civil, no dia 3 de dezembro de 200850:
50. Observação registrada em ofício com o Relatório de Atividades do CIASC junto ao Departamento Estadual de Defesa Civil – Mutirão – www.desastre.sc.gov.br – CTP – 2008/549 , de 5 de dezembro de 2008.
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“Permitam-me acrescentar uma observação de caráter pessoal, relacionada ao assunto (site oficial do desastre). Nesses cinco dias de contato direto com a Defesa Civil Estadual, me sentiria envergonhada se tivesse cedido ao cansaço físico ou emocional, pois ao ver a equipe da Defesa Civil em ação, trabalhando sem parar, sem descansar, sem dormir, objetivando salvar, proteger, resgatar, por em segurança, buscando forças sei lá de onde, fazendo todo o possível para informar, orientar, organizar, disponibilizar, agilizar, pude constatar que efetuaram seu trabalho não só como técnicos que são, mas foram além, o fizeram com amor, dedicação, carinho, doação. Isso senhores, não tem preço!”.
Pós-desastre O último relatório, referente ao desastre de 2008, foi publicado no site oficial, no dia 31 de dezembro daquele ano. O endereço eletrônico continuou sendo atualizado por mais de 18 meses após o início da tragédia, com informações sobre as ações de reconstrução e destino das doações. Todas as informações publicadas ainda estão disponíveis à imprensa e para a população. Depois que a Central de Comunicação do Desastre foi desmontada, a Assessoria de Comunicação continuou trabalhando de forma integrada com as Secretarias de Comunicação e de Desenvolvimento Regional do Estado de Santa Catarina. Os trabalhos de prevenção e preparação para novos eventos adversos foram retomados pela Defesa Civil e o atendimento à imprensa continua sendo permanente.
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Comunicação integrada e preventiva
Reflexão Comunicação integrada e preventiva Este livro pretendeu compilar conceitos e ações práticas de comunicação, elaborados por estudiosos da área e por profissionais que atuam em um cenário conturbado, típico da ocorrência de um desastre, para expor a necessidade de maior integração entre mídia e assessoria governamental. Este laço permitirá, além do repasse fiel das informações oficiais, comunicar à população sobre um desastre antes mesmo que ocorra. Conforme exposto, o surgimento de um evento adverso exige que o trabalho da imprensa – de informar e reportar à população – deve ser integrado ao da assessoria governamental, a qual possui interesse comum de fazer a informação oficial chegar às pessoas, tanto afetadas pelo evento quanto distantes, mas interessadas no desenrolar dos fatos. Patrick Butler51 confirma a necessidade de o governo saber lidar com a mídia e vice-versa. Entre os desafios de cobrir desastres, ele enumera alguns pontos: a) conseguir que a mídia reporte os problemas ambientais; b) desafios étnicos; c) como entrevistar pessoas traumatizadas; d) como garantir
51. Durante palestra no 27° Workshop Anual para Jornalistas e Editores da América Latina e Caribe, realizado em 1/05/2009, em Miami, FL.
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a segurança de jornalistas; e) o trauma de jornalistas ou a vitimização com o desastre; e f) como levar a notícia a pessoas que foram deslocadas. Devido aos frequentes castigos do mau tempo, é imperativo que este trabalho de integração entre governo e imprensa ultrapasse a barreira de reportar apenas números consequentes de um desastre. Ambos precisam ser aliadas no desenvolvimento de um processo preventivo, com o intuito de educar a população e repassar dados, ações e projetos relacionados às atividades que visem minimizar os efeitos de um evento adverso extremo. Marco Antônio de Carvalho Eid, em Entre o poder e a mídia, exemplifica como pode se dar esta integração ao sugerir que “a assessoria de imprensa pode solicitar à principal emissora de rádio da região atingida que lhes conceda o microfone” (p.27). Este reforço poderá centralizar e disseminar as informações sobre buscas, salvamentos, envio de equipes de resgates e mobilização de ajudas localizadas. “Ao ver o resultado do trabalho eficiente da assessoria de imprensa, a Defesa Civil passa a respeitar e valorizar o papel dos profissionais de comunicação nessas circunstâncias, contribuindo para o trabalho”, assegura Eid (p.28). Caberá à equipe de governo e à imprensa compreenderem esta importância, organizando-se e trabalhando em conjunto em todas as etapas de um evento iminente. Conforme conclui a comunicadora Glória Bratschi, “a comunicação, direcionada para a prevenção, sensibilização das comunidades e compreensão dos eventos, é o fundamento de redução da vulnerabilidade”.
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Fim
Sobre as autoras Ana Paula de Assis Zenatti é jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e executiva de conta na Edelman Brasil de Relações Públicas, em São Paulo. Atuou por dois anos como repórter na Secretaria de Estado de Comunicação, quando participou da cobertura do Desastre de 2008. Entre fevereiro de 2009 a março de 2010, assumiu a Assessoria de Comunicação da Secretaria Executiva da Justiça e Cidadania, a qual engloba os Departamentos de Defesa Civil e de Administração Prisional. Cursa Pós-graduação em Gestão da Comunicação Pública e Empresarial, da Universidade do Tuiuti do Paraná. Soledad P. Yaconi Urrutia de Sousa é formada em Comunicação com habilitação em Jornalismo pela Universidade do Sul de Santa Catarina (agosto de 2005) e aluna de pós-graduação em Gestão da Comunicação Pública e Empresarial, da Universidade do Tuiuti do Paraná. Foi assessora de Comunicação do Departamento Estadual de Defesa Civil, de março de 2007 a janeiro de 2009. Foi responsável pela coordenação dos trabalhos na base da Central de Comunicação montada em Florianópolis, durante o desastre de 2008. Nos últimos sete anos, prestou serviços de Assessoria de Comunicação Social para as Secretarias de Estado de Comunicação, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico Sustentável, e Desenvolvimento Social, Trabalho e Renda. Atualmente, atua como consultora e assessora de comunicação em projetos públicos e privados.
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Outras publicações das autoras 2009 – Livro Relatos de um Desastre – Narrativas Jornalísticas da Tragédia de 2008 em Santa Catarina / Ana Paula Zenatti e Soledad Y. U. de Sousa (org.) – Florianópolis: UFSC/CEPED, 2009. 132 p. (Governo do Estado de Santa Catarina/Secretaria Executiva da Justiça e Cidadania). 2009 – Manual da Força Voluntária / Ana Paula Zenatti e Soledad Y.U. de Sousa (conteúdos). Realização: Fundo Comunitário de Reconstrução / Instituto Voluntário em Ação/ Instituto Comunitário da Grande Florianópolis / Projeto Força Voluntária. 2009 – Guia Proteção de Crianças e Adolescentes – Situações de Emergência / Ana Paula Zenatti e Soledad Y.U. de Sousa (conteúdos). Elaboração: Fundo Comunitário de Reconstrução e Instituto Comunitário da Grande Florianópolis.
Sobre o autor do projeto gráfico: ISAIAS J. PINTO é profissional em produção gráfica, desde 1994. Atuando em vários veículos de comunicação de Santa Catarina, desenvolve projetos gráfico-editoriais e promocionais para as mídias impressa e internet. Pode ser contatado através do e-mail: zdesigner@gmail.com.
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Anexos Plano de Comunicação – Defesa Civil de Santa Catarina Objetivo O setor de Assessoria de Comunicação, integrado à gerência de Apoio Logístico do Departamento Estadual de Defesa Civil (Dedc), por intermédio de um trabalho de divulgação, objetiva: a) despertar o interesse da sociedade civil e do poder público para as ações do departamento, tornando público o trabalho realizado pela instituição; b) garantir o relacionamento favorável com a imprensa, nas diferentes fases dos desastres; e c) contribuir para a minimização dos riscos de desastres.
Ferramentas Para alcançar seu objetivo, diversas são as ferramentas disponíveis que facilitarão o trabalho e proporcionarão resultados rápidos e eficazes. São elas: 1) Mailing eletrônico com diversos grupos multiplicadores de informação: Inclui a imprensa catarinense; os parceiros públicos; as instituições interligadas; os coordenadores municipais; entre outros existentes ou que poderão surgir no decorrer dos trabalhos. Estes grupos receberão periodica-
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mente informações divulgadas pela assessoria de comunicação, através do e-mail defesacivilsc@gmail.com. 2) Site do Governo do Estado →– www.sc.gov.br: O site do governo será uma ferramenta essencial para a valorização dos trabalhos da Defesa Civil, oficializando as informações divulgadas dentro da estrutura de governo. Todas as notícias geradas pela assessoria serão publicadas nesse site e repassadas para a imprensa, com a assinatura do Governo do Estado. 3) Site da Defesa Civil: O site da Defesa Civil – que poderá sofrer alterações visuais, com o objetivo de melhorar seu formato e de integrá-lo à identidade visual do Governo do Estado – é uma das principais ferramentas de comunicação já existentes na Defesa Civil, pois representa o endereço particular da instituição, sendo a principal fonte de pesquisa de terceiros. Deverá ser constantemente atualizado, cabendo à assessoria a publicação de fotos e notícias respectivas aos trabalhos da instituição. 4) Rádio on-line do Governo do Estado: Ao possibilitar a interação com mais de 120 rádios catarinenses, a rádio do governo deverá ser ferramenta de uso contínuo para a divulgação das ações da Defesa Civil. A Assessoria de Comunicação terá a responsabilidade de encaminhar pautas e informações para o setor responsável da Secretaria de Comunicação. 5) Imprensa: Os meios de comunicação, principalmente estaduais e municipais (rádios, jornais, tvs e sites de notícias), deverão ser acionados sempre que necessário para a divulgação de eventos, trabalhos que envolvam a estrutura da Defesa Civil e de todas as ações relativas ao gerenciamento de desastres. A assessoria terá contato com os diversos veículos de comunicação, tratando com eles não apenas assuntos emergenciais, mas também questões institucionais de prevenção e preparação a eventos adversos. 6) Outras ferramentas: Cabe à Assessoria de Comunicação a elaboração de um projeto e o desenvolvimento de materiais alternativos para divulgação de informações, ao exemplo
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Plano de Comunicação – Defesa Civil de Santa Catarina
de cartilhas, folders, informativos e mídias digitais, nas fases de prevenção, preparação e resposta ao desastre. Informativos podem ser elaborados anualmente para divulgar as ações da instituição durante o ano.
Atendimento à imprensa durante situações de emergência Em situações de emergência, o trabalho da Assessoria de Comunicação deverá centralizar suas ações no repasse de informações à imprensa, visando à segurança da população. Algumas das ações a serem adotadas são: • Notícias de grande impacto deverão ser avaliadas em conjunto com a diretoria da Defesa Civil; • Caberá à Assessoria de Comunicação emitir releases informativos e boletins para a imprensa, organizar coletivas, esclarecer dúvidas, atualizar informações no site oficial, entre outras atividades; • As entrevistas junto à imprensa serão gravadas ou noticiadas ao vivo pela pessoa definida como porta-voz da instituição e serão organizadas de acordo com a magnitude dos fatos, podendo ocorrer de forma coletiva; • A Assessoria de Comunicação será um instrumento mediador, entre a imprensa e a Defesa Civil; • Para o sucesso do trabalho, a Assessoria de Comunicação deverá participar e integrar o Sistema de Comando de Operações (SCO)52, acompanhando todos os acontecimentos e recebendo as informações necessárias; • Os veículos receberão dados e informações igualmente, sem exclusividade; • Em situações de emergência, serão distribuídas entrevistas gravadas para as rádios, facilitando a difusão de 52. Sistema baseado no Incident Command System, criado na década de 70 nos EUA e aperfeiçoado desde então. É utilizado em Santa Catarina para organizar o gerenciamento de desastres. Fonte: Defesa Civil SC.
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informações; • O trabalho dos radioamadores, que contribuem com a Defesa Civil, será integrado à comunicação social; e • Novas ações estratégicas poderão ser definidas e planejadas no decorrer do processo, junto à Secretaria de Estado de Comunicação e ao SCO do desastre.
Necessidades para a implantação da Assessoria de Comunicação Itens considerados essenciais para o funcionamento apropriado e organização da Assessoria de Comunicação: • Identificar o grupo de trabalho da Defesa Civil e as responsabilidades individuais de cada colaborador (conhecer o organograma da instituição, funções específicas e contatos); • Dispor de estrutura física local, com internet, computador, telefone, fax, celular, notebook, câmera fotográfica e gravador de voz; • Assinatura dos principais jornais de circulação estadual e nacional; • Material de escritório; • Integrar a assessoria à equipe de trabalho do departamento; e • Identificar o trabalho realizado e seus responsáveis junto a outras instituições.
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Glossário de Defesa Civil
Glossário de Defesa Civil Este glossário apresenta definições técnicas de conceitos utilizados no gerenciamento de eventos adversos, levantados a partir de documentos, livros e sites institucionais53, com o objetivo de contribuir nos trabalhos das assessorias de comunicação e dos veículos de imprensa, nas diferentes fases de um desastre. Abrigado – Situação de uma pessoa afetada por dano ou ameaça de dano em sua habitação e que, depois de realizada a triagem socioeconômica e definida a necessidade, é encaminhada a um abrigo.
sistema de drenagem deficientes.
Abrigo – Local ou instalação que proporciona hospedagem a pessoas necessitadas.
Alerta – Dispositivo de vigilância. Situação em que o perigo ou risco é previsível em curto prazo.
Abrigo temporário – Abrigo organizado em uma instalação fixa e adaptado para esta finalidade, por período determinado. Acampado – Pessoa abrigada em acampamento. Acampamento – Abrigo temporário construído de barracas. Afetado – Qualquer pessoa que tenha sido atingida ou prejudicada por desastre (deslocado, desabrigado, ferido, etc.). Alagadiço – Terreno sujeito a inundações por parte de rios ou de marés. Conforme a sua posição em relação ao mar ou aos rios, os terrenos alagadiços são encharcados apenas periodicamente e, durante certo período, podem transformar-se em área seca. Alagamento – Água acumulada no leito das ruas e no perímetro urbano por fortes precipitações pluviométricas, em cidades com
Alarme – Sinal, dispositivo ou sistema que tem por finalidade avisar sobre um perigo ou risco iminente.
Alerta antecipado – Emitido por instituições identificadas, informa sobre a existência de uma ameaça e permite que a população exposta realize ações para reduzir o seu risco e prepare-se para uma resposta efetiva. Ameaça – 1. Risco imediato de desastre. Prenúncio ou indício de um evento desastroso. Evento adverso. Evento adverso provocador de desastre, quando ainda potencial. 2. Estimativa da ocorrência e magnitude de um evento adverso, expressa em termos de probabilidade estatística de concretização do evento (ou acidente) e da provável magnitude de sua manifestação. Análise de riscos – Identificação e avaliação dos tipos de ameaça como dos elementos em risco, dentro de um determinado sistema ou região geográfica definida.
53. Citados nas Referências Bibliográficas.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental Avaliação de danos – Método de exame sistemático de um equipamento, sistema, instalação, comunidade ou área geográfica, com o objetivo de definir e quantificar os danos humanos, materiais e ambientais e os prejuízos econômicos e sociais provocados por um determinado desastre. Avaliação de risco – Metodologia para indicar a natureza e o grau de risco através do estudo de ameaças potenciais e avaliação das condições de vulnerabilidade e capacidades existentes. Busca e salvamento – 1. Emprego de aeronaves, embarcações de superfície, submarinos e outro qualquer equipamento especial, para busca e salvamento no mar e na terra. 2. Conjunto de operações com a finalidade de encontrar e preservar vidas e colocar seres humanos e animais a salvo em local seguro e adequado. Capacidade – É a soma de todas as forças e recursos disponíveis dentro de uma comunidade, sociedade ou organização, para que possam reduzir o nível de risco ou os efeitos de um evento ou desastres. Cheia – 1. Enchente de um rio causada por chuvas fortes ou fusão de neves. 2. Elevação temporária e móvel do nível das águas de um rio ou lado. 3. Inundação. Ciclone – Área de concentração de energia cinética na atmosfera, ou seja, de ventos fortes. Essa energia vem da distribuição de massas de ar diferentes entre si em temperatura, pressão e densidade. Existem diferentes tipos de ciclones (frontais, orográficos, superiores, termais, tropicais e extratropicais). Clima – Conjunto de condições meteorológicas (temperatura, pressão e ventos, umidade e chuvas) características do estado médio da atmosfera, em um longo período de tempo, para uma área ou local definido. Cooperação – A cooperação e a colabo-
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ração são elementos essenciais para a redução de risco de desastres. O Estado, a sociedade civil, os voluntários das organizações de base, a comunidade científica, os meios de comunicação e o setor privado são atores essenciais. Crise – Manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio. Momento perigoso e decisivo. Situação que implica a ruptura da normalidade ou do equilíbrio dinâmico de um sistema e favorece sua desorganização. Dano – Intensidade das perdas humanas, materiais ou ambientais ocasionadas às pessoas, comunidades, instituições, instalações e aos ecossistemas como consequência de um desastre ou acidente. Defesa Civil – Conjunto de ações preventivas de socorro, assistenciais e reconstrutivas, destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar a autoestima da população e restabelecer a normalidade social. Desabrigado – Desalojado ou pessoa cuja habitação foi afetada por dano ou ameaça de dano e que necessita de abrigo. Desalojado – Pessoa que foi obrigada a abandonar temporária ou definitivamente sua habitação, em função de evacuações preventivas, destruição ou avaria grave, decorrentes do desastre, e que, não necessariamente, carece de abrigo. Desastre – O conceito de desastre, de acordo com a Política Nacional de Defesa Civil, é o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. A origem destes pode ser natural (fenômenos ou desequilíbrios da natureza), humana (ações ou omissões do homem) ou mista (ações ou omissões humanas contribuem para intensificar ou agravar os desastres naturais). Situações como a seca, erosão, acidentes de trânsito, epi-
Glossário de Defesa Civil demia de Aids e violência urbana também podem ser consideradas desastres. Deslizamento – Fenômeno provocado pelo escorregamento de materiais sólidos, como solos, rochas, vegetação e/ou material de construção ao longo de terrenos inclinados, denominados de encostas, pendentes ou escarpas. Caracterizam-se por movimentos gravitacionais de massa que ocorrem de forma rápida e cuja superfície de ruptura é nitidamente definida por limites laterais e profundos, bem caracterizados. A ocupação caótica das encostas urbanas é a principal causa dos escorregamentos, causadores de importantes danos humanos, inclusive de mortes, além dos danos materiais e ambientais, e dos graves prejuízos sociais e econômicos.
sando sérios danos à comunidade afetada, inclusive à incolumidade e à vida de seus integrantes. Estiagem – Período prolongado de baixa pluviosidade ou sua ausência, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. Evento adverso – Ocorrência desfavorável, prejudicial, imprópria. Acontecimento que traz prejuízo, infortúnio. Fenômeno causador de um desastre. Furação – Violenta tempestade, associada a um ciclone tropical, que pode medir centenas de quilômetros de diâmetro. Os ventos próximos ao centro de um furacão sopram em velocidade que podem ultrapassar 120 km/h.
Deslocado – Pessoa que, por motivo de desastre, perseguição política ou religiosa ou por outra causa, é obrigada a migrar da região que habita para outra que lhe seja mais propícia.
Gestão de risco – São as atividades desenvolvidas por sociedades e comunidades para implementar políticas e estratégias e fortalecer sua capacidade para reduzir o impacto de ameaças e desastres.
Desmoronamento – Queda ou derrubamento de uma edificação. É também utilizado como sinônimo de escorregamento, para descrever movimentos de encostas.
Geada – A geada é formada pelo congelamento direto do vapor d’água existente na atmosfera, sem passagem pela forma líquida, e ocorre quando a temperatura ambiental cai a níveis abaixo de 0ºC (ponto de congelamento da água).
Emergência – 1. Situação crítica; acontecimento perigoso ou fortuito; incidente. 2. Caso de urgência. Enchente – Elevação do nível de água de um rio, acima de sua vazão normal. Termo normalmente utilizado como sinônimo de inundação. Enxurrada – Volume de água que escoa na superfície do terreno, com grande velocidade, resultante de fortes chuvas. Erosão – Desagregação e remoção do solo ou rochas, pela ação da água, vento, gelo e/ ou organismos (plantas e animais). Estado de Calamidade Pública – Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastres, cau-
Granizo – 1. Precipitação sólida de grânulos de gelo, transparentes ou translúcidos de forma esférica ou irregular, raramente cônica, de diâmetro igual ou superior a 5 mm. 2. Precipitação de pequenas pedras de gelo, com diâmetro de 5 a 20 mm, e, às vezes, maiores, caindo isoladamente ou em massas irregulares. Grupo de voluntários – Formação espontânea ou programada de grupos de pessoas de uma comunidade, com o objetivo de realizar trabalhos de interesse de defesa civil como: realização de campanhas, assistência, coleta de donativos e prestação de socorro nos desastres.
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental Grupo vulnerável – Grupo de indivíduos de uma população, como crianças, grávidas, idosos, enfermos, habitantes de áreas de risco, desnutridos e outros, que apresentam pré-condições para terem intensificados os danos, em caso de desastre. Incêndio florestal – É a propagação do fogo, em áreas florestais e de savana (cerrados e caatingas). Normalmente ocorre com frequência e intensidade nos períodos de estiagem e está intrinsecamente relacionado com a redução da umidade ambiental. Os incêndios podem se iniciar de forma espontânea ou ser consequência de ações e/ou omissões humanas, mas mesmo nesse último caso, os fatores climatológicos e ambientais são decisivos para incrementá-los, facilitando sua propagação e dificultando seu controle. Inundações repentinas, bruscas ou enxurradas – Ocorrem em regiões de relevo acentuado, montanhoso, como na região Sul do País. Acontecem pela presença de grande quantidade de água num curto espaço de tempo. São frequentes em rios de zonas montanhosas com bastante inclinação e vales profundos. Muitas vezes as águas de chuva arrastam terra sem vegetação devido aos deslizamentos nas margens dos rios. A grande quantidade de água e materiais arrastados representa, à medida que escoa, grande poder destruidor. Chuvas fortes ou moderadas, mas duradouras (intensas), também podem originar inundações repentinas, quando o solo esgota sua capacidade de infiltração. Inundações lentas ou de planície – Nas enchentes, as águas elevam-se de forma paulatina e previsível; mantêm-se em situação de cheia durante algum tempo e, a seguir, escoam gradualmente. Normalmente, as inundações são cíclicas e sazonais. Inundações em cidades ou alagamentos – São águas acumuladas no leito das ruas e nos perímetros urbanos, por fortes preci-
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pitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes. Nos alagamentos, o extravasamento das águas depende muito mais de uma drenagem deficiente, que dificulta a vazão das águas acumuladas, do que das precipitações locais, mas também pode ser ocasionado por rompimento de diques ou barragens. Inundação pela invasão do mar – As inundações litorâneas, provocadas pela brusca invasão do mar, são geralmente desastres secundários, e podem ser provocados por vendavais e tempestades marinhas, ciclones tropicais, trombas d’água, tsunamis e ressacas muito intensas. Isolamento – Conjunto de operações destinadas a impedir a propagação de um sinistro (normalmente incêndio) para outras áreas. Maré – Fenômeno relacionado com o movimento cíclico das águas do mar ou de grandes lagos, através do qual as águas se elevam ou baixam em relação a uma referência fixa do solo. É produzido pela atração gravitacional conjunta da lua e do sol, podendo ser influenciado menos intensamente por outros planetas, Maremoto – Movimento produzido pela propagação de ondas sísmicas através da massa oceânica. Geralmente tem alto poder destrutivos. Minimização – Medidas para reduzir o impacto adverso de ameaças naturais ou tecnológicas e da degradação ambiental. Mudança cultural – Processo de transformação e de evolução social, conduzido por um esforço orientando e coletivo de educação global, com o objetivo de garantir o pleno desenvolvimento sociocultural das comunidades e dos indivíduos que a constituem. Onda de calor – As ondas de calor originam-se quando frentes de alta pressão, formadas em regiões quentes, áridas ou semiáridas, deslocam-se, invadindo regi-
Glossário de Defesa Civil ões de climas mais amenos, onde se estabilizam por alguns dias. Percepção de risco – 1. Impressão ou juízo intuitivo sobre a natureza e a magnitude de um determinado risco. 2. Percepção sobre a importância ou gravidade de um determinado risco, com base no repertório de conhecimento acumulado durante o desenvolvimento cultural de um indivíduo, e sobre o juízo político e moral de sua significação. Plano de contingência ou emergência – Planejamento realizado para controlar e minimizar os efeitos previsíveis de um desastre específico. É o documento no qual estarão previstas as responsabilidades de cada organização que participará da resposta ao desastre; as prioridades e medidas essenciais a serem tomadas; e a forma como os recursos serão empregados. Plano de operações – Plano destinado à execução de uma operação, incluindo todos os aspectos necessários para esse fim. Plano diretor de defesa civil – Plano global de todas as ações de defesa civil – entre elas de comunicação –, nas diferentes fases do desastre. É baseado na Política Nacional de Defesa Civil e no programa de governo do estado e/ou município. Deve estar voltado aos aspectos estratégicos, abordando programas, ações, objetivos e metas de longo prazo que envolvam as quatro fases de administração de desastres: prevenção, preparação, resposta e reconstrução. O Plano Diretor de Defesa Civil deve ser integrado ao Plano Diretor Municipal e, entre seus objetivos, deve visar a promoção da defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem. Prejuízo – É a medida de perda relacionada ao valor social, econômico e patrimonial de um determinado bem em circunstâncias de desastre ou acidente. Preparação – Atividades e medidas tomadas antecipadamente para assegurar uma
resposta eficaz diante de ameaças, incluindo a emissão de alerta antecipado e a evacuação temporária da população de uma área ameaçada. Prevenção – A prevenção é definida como o conjunto de ações destinadas a reduzir a ocorrência de desastres naturais e humanos através da avaliação e redução das ameaças e/ou vulnerabilidades, minimizando os prejuízos socioeconômicos e os danos humanos, materiais e ambientais. Reabilitação de cenários – Envolve a avaliação de danos, vistoria e elaboração de laudos técnicos, desmontagem de estruturas danificadas, desobstrução de escombros, sepultamento, limpeza, descontaminação e reabilitação dos serviços essenciais. Reconstrução – Conjunto de ações desenvolvidas após as operações de resposta aos desastres e destinadas a recuperar a infraestrutura e a restabelecer, em sua plenitude, os serviços públicos, a economia da área, o moral social e o bem-estar da população. Redução de risco – Conjunto de ações para minimizar vulnerabilidades e riscos para evitar (prevenção) ou limitar (mitigação e preparação) o impacto de ameaças. Resiliência – Termo que veio da metalurgia e da medicina. É a resistência ante as adversidades. A capacidade de manter-se inteiro quando o organismo é submetido a grandes exigências e pressões. Capacidade de domar a dificuldade, aprender das derrotas e reconstituir-se, criativamente, transformando aspectos negativos em oportunidades e vantagens. Resposta aos desastres – Conjunto de ações desenvolvidas imediatamente após a ocorrência de desastre e caracterizadas por atividades de socorro e de assistência ás populações vitimadas e de reabilitação do cenário do desastre, objetivando o resta-
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Comunicação em Desastres – A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental belecimento das condições de normalidade.
lógico que pode manifestar separadamente.
Risco – Medida de danos potenciais, expressada em termos de probabilidade estatística de ocorrência e intensidade.
Temporal – Fenômeno meteorológico caracterizado por chuvas fortes.
Seca – Ausência prolongada, deficiência acentuada ou fraca distribuição de precipitação. Numa visão socioeconômica, a seca depende muito mais da vulnerabilidade dos grupos sociais afetados que das condições climáticas. Situação de Emergência – Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastre, causando danos superáveis (suportáveis) pela comunidade afetada. Socorro – Engloba as atividades a fim de localizar, acessar e estabilizar as vítimas que estão com sua saúde ou sobrevivência ameaçada pelo desastre. Tempestade – Precipitação forte de chuva, neve ou granizo, acompanhada ou não de vento e associada a um fenômeno meteoro-
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Terremoto – Movimento súbito do terreno, ocasionado pela passagem de ondas sísmicas. Tornado – Os tornados são vórtices ou redemoinhos de vento, formados na baixa atmosfera, apresentando-se com características nuvens escuras, de formato afunilado, semelhantes a uma tuba, que descem até tocar a superfície da Terra, com grande velocidade de rotação e forte sucção, destruindo em sua trajetória grande quantidade de edificações, árvores e outros equipamentos do território. Vulnerabilidade – 1. Condição própria ao sistema, que, em interação com a magnitude do evento ou do acidente caracteriza os efeitos adversos. 2. Relação entre a magnitude da ameaça e a intensidade do dano consequente.
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Presencial • Fórum Catarinense de Rede Cooperativa de Comunicação para Cultura de Prevenção de Desastres, realizado em agosto de 2008. • 27th Annual Journalists and Editors Workshop on Latin American and the Caribbean, realizado nos dias 31 de abril e 1º de maio de 2009, em Miami, Flórida, Estados Unidos. • Apresentação de Ana Lavratti, assessora de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde. Comunicação em Situação de Risco. Governo do Estado de Santa Catarina. Em julho 2009.
Entrevista • Márcio Luiz Alves, em maio de 2010. Alves foi diretor estadual da Defesa Civil de Santa Catarina entre maio de 2007 a julho de 2010.
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Comunicação em Desastres A Atuação da Imprensa e o Papel da Assessoria Governamental “No momento em que, por infeliz e desastrada decisão do Supremo Tribunal Federal, o exercício do jornalismo dispensa a formação universitária, ganha a sociedade uma nova contribuição sobre o papel dos meios de informação na prevenção e na cobertura das calamidades. Um drama que vem se repetindo com surpreendente frequência no Brasil e no resto do mundo, a revelar que o clima mudou, o tempo mudou e as ações públicas e privadas de proteção também precisam mudar”. MOACIR PEREIRA, autor do prefácio e comentarista do Grupo RBS O surgimento de um evento adverso exige que o trabalho da imprensa de informar à população precisa ser integrado ao da assessoria governamental, a qual possui interesse comum de levar a informação oficial às pessoas, tanto afetadas pelo desastre quanto distantes, mas interessadas nos fatos. Este livro demonstra como estas ações estratégicas podem ser realizadas, utilizando como exemplo as atividades de comunicação praticadas no Desastre de 2008, em Santa Catarina. AUTORAS:
ANA PAULA DE ASSIS ZENATTI & SOLEDAD YACONI URRUTIA DE SOUSA 2010 / 120 PÁGINAS / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E DIRIGIDA Realização:
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