Sobre o tempo e outras centelhas do existir Aryanne Audrey
Uma ode ao tempo
Rigidez No encontro com as águas calmas do outro, e suas margens serenas, é que percebemos o quanto ainda somos de pedra. Rígidos como as ondas que vão e sempre voltam. Nesse ritmo marítimo que ensina sobre a inconstância do nosso querer.
Caminhada Ouvi uma canção com uma melodia tão doce que eu poderia dormir 3 eternidades. Ela falava algo sobre não se esquecer de quem se ama quando vamos dormir. Talvez seja pra que no fio dos sonhos a gente coloque mais travesseiros macios sob os pés dessas pessoas, e assim a caminhada delas seja mais leve. Se eu não puder fazer isso, pra que mais serve a minha existência? O amor sempre sabe o que fazer.
Utopia Existe um tempo que está além desse que vemos no relógio. Ele se confunde com o espaço que cria salas ou varandas em corações. O tempo das ondas, sempre azuis, que quebram na beira de tantas praias. Meu sonho é viajar sem rumo pela Bahia ouvindo Caetano numa vitrola amassada e fotografando o nada.
Passado Pretérito perfeito de mim mesma: o verbo era a conjugação sobre todas as coisas que antecedem o segundo antes do encontro. Que é nas águas que me enxergo espelhada, e é no tempo passado e vivido que entendo alguma parcela sobre a calma.
Democracia O tempo talvez seja a coisa mais democrática que existe. É de tempo que se alimentam todas as coisas que vivem, porque esse as rega e as faz crescer. O tempo risca aqueles traços na parede e nutre o tecido no qual tudo se entrelaça e depois se desfaz, virando poeira ou névoa do existir. É o tempo que revela a fragilidade do que pensamos ser, e conta sobre a urgência de cada dia. A infância é clara nesse ponto, quando até mesmo os sapatos tem vida útil menor do que uma bola de futebol. E até nisso existe algum silêncio a ser agraciado.
A poesia me salvou Nada poderia me deter se eu quisesse contar sobre a teoria da vida, e nada poderia calar a minha voz, por tanto tempo silenciada, se eu quisesse falar pros poetas sobre a honra que existe em nossa sutileza. É que faz tempo que eu buscava, e buscava, e buscava, e errava matematicamente, e nada de fato preenchia esse existir no vazio, distante de mim mesma. E quando na palavra descrevi o que meus olhos viam e o coração sentia, soube que a cura existia pelo respeito à cada sílaba que se aproximava, e pelo tempo orgânico, que ensinava lições sobre os novos dias.