3 minute read
Fashion
Vale da seda
ENTENDA O PROCESSO DE PRODUÇÃO E A RELAÇÃO COM O MUNDO JURÍDICO
Advertisement
Fotos divulgação/reprodução Instagram Fotos: Divulgação
POR FERNANDA FONTES
Nesta edição, resolvi trazer para vocês um tema extremamente interessante, que já foi objeto de pesquisa e trabalho em minha carreira e me enche de orgulho. Você sabia que o estado do Paraná, meu estado, é o maior produtor de casulos de bicho da seda do Ocidente e, possui a única empresa que fabrica o fio da seda em escala industrial no nosso hemisfério? Pois é, poucas pessoas têm conhecimento desse fato que tem um grande significado dentro e fora do Brasil. Quando vemos lenços, camisas entre outras peças em seda, jamais imaginamos todo o processo que este fio natural passou até chegar nas grandes maisons europeias. Isso mesmo, a maior parte da produção da seda paranaense é exportada e serve de matéria-prima para marcas de luxo, como a francesa Hermès. Além de muito valiosa, a seda foi coadjuvante de marcos históricos no cenário mundial. Diz a lenda que esse fio precioso foi descoberto há mais de 3000 anos pela Imperatriz chinesa Si Ling Chi que, enquanto tomava seu chá embaixo de uma amoreira, percebeu que um casulo de bicho da seda havia caído em sua xícara deixando transparecer este delicado tesouro da natureza. Ao longo de muitos anos, a China guardou em segredo a descoberta e produção do fio de seda, que acabou se tornando a mercadoria mais valiosa do país e a responsável pela constituição da famosa “Rota da Seda”, a mais importante rota comercial da época, usada no comércio da seda, interligando o Oriente e a Europa.
FERNANDA FONTES
Advogada pós-graduada em Fashion Law e Business
fernandagsfontes
Reem Acra RTW Spring 2021
Mas afinal, de onde vem e como é feito o fio de seda?
Começamos essa jornada com mais de 2000 famílias que, em pequenas propriedades rurais localizadas na região noroeste do Paraná, também conhecida como Vale da Seda, exercem a Sericicultura. Este é o nome dado para a criação do bicho da seda, que será o responsável por tecer o casulo e dar origem ao fio. Os bichos da seda se alimentam das folhas de amoreiras, que devem ser cultivadas pelo mesmo produtor rural, sem o uso de agrotóxicos, a fim de alimentar as larvas ao menos cinco vezes ao dia, para que produzam um fio de seda forte, resistente e de qualidade. A seda do Paraná é reconhecida como a mais branca e genuína, justamente pelas condições climáticas e do solo onde a amoreira é plantada. Posteriormente, ao atingir tamanho e idade ideais, os bichos da seda são colocados em uma estrutura com pequenas divisórias, chamados de bosques, lá as larvas começam a tecer o fio de seda até formar o casulo. O tempo médio para a formação deste é de três dias. Formados os casulos, os sericicultores farão uma préseleção daqueles com melhor qualidade e levarão a produção até uma unidade da Bratac, a única fiação de seda do Brasil, também localizada no Paraná, que é a responsável pela compra do produto. Ao chegarem, os casulos são pesados e classificados. Quanto melhor a qualidade do casulo, maior o preço final do quilo e maior o lucro do sericicultor. Feita a pesagem e classificação, os casulos seguirão para a linha industrial para serem transformados em fio de seda, um trabalho extremamente manual e delicado. Um único casulo pode ter até 1,5 km de comprimento de fio de seda ao ser desenrolado. Importante ressaltar que nada se perde ao longo de toda essa cadeia produtiva. Lembram dos casulos que não passam pelo rígido controle de qualidade? Eles são comprados pela empresa O Casulo Feliz, localizada em Maringá, minha cidade. No local, com o uso de teares, tingimentos naturais e processos extremamente artesanais, eles produzem uma rica variedade de produtos e fios de seda rústica, que são usadas como matéria-prima por grandes nomes da moda brasileira como Ronaldo Fraga, Osklen, entre outros. Lanvin Spring 2021
E o que a seda tem em comum com o mundo jurídico? Absolutamente tudo. A partir do momento que o consumidor preza por adquirir um produto de qualidade, como a seda, que é a única fibra cuja produção gera um balanço de carbono positivo e proporciona uma durabilidade infinitamente maior da peça, estamos falando em moda consciente e sustentabilidade. Mas essa escolha vai além, já que toda a cadeia produtiva da moda sofre impacto com os desejos do consumidor, inclusive, no tocante ao trabalho análogo à escravo envolvido na escolha de uma compra não inteligente, que opta por quantidade (fast fashion) e não qualidade (slow fashion).