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Prefácio: Um convite ao brincar

Prefácio

Um convite ao brincar...

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Raona Denise Pohren3 (UERGS) Rochele da Silva Santaiana4 (UERGS)

Sermos convidadas para prefaciar este livro nos deixa lisonjeadas e muito gratas – primeiramente, pela magnitude da temática que envolve o brincar e, em segundo lugar, pela intencionalidade da publicação, que certamente auxiliará os interessados pelo tema. Entendemos que o livro será de sumo proveito, também, para os profissionais da área da educação, principalmente os que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Acreditamos que as discussões aqui trazidas os auxiliarão a refletirem sobre o brincar em sua interlocução com a docência e as práticas pedagógicas.

Ao pensarmos na temática do livro, instigamo-nos por abordar o brincar. Trata-se de algo que faz parte do desenvolvimento das crianças desde a mais tenra idade, pois é através disso que elas assimilam o mundo à sua volta, conhecendo-o e explorando-o. É uma das principais formas de comunicação da infância e apropriação do mundo. Tal fato demonstra a importância dessa ação para o desenvolvimento infantil, trazendo repercussões para toda a vida.

Portanto, entendemos que o brincar permite às crianças

3Professora e Gestora Escolar, Mestre em Educação/UERGS). E-mail: raona.pos@gmail.com. 4Professora e Pró-Reitora de Ensino, Doutora em Educação/UERGS. E-mail: rochele-santaiana@ uergs.edu.br.

interiorizarem o mundo à sua volta, constituindo dessa forma sua identidade, expressando suas emoções, através da interação com seus pares, com adultos e com o ambiente. O brincar, antes de tudo, admite simbolizar e socializar, construindo as articulações que permitem vivenciar as infâncias de forma cultural e lúdica.

Por mais que muitos pensem que o brincar está relacionado diretamente à Educação Infantil, destaca-se a sua importância para os anos iniciais do Ensino Fundamental, pois as crianças que se tornam estudantes pelos processos de escolarização não se tornaram adultos. A ludicidade e as brincadeiras continuam, fundamentalmente, a fazer parte de suas vidas e experiências; e se faz importante que o lúdico permeie o processo educativo a fim de torná-lo mais significativo. Tal fato minimiza a ruptura que por vezes encontramos nas instituições de Ensino Fundamental, as quais acreditam que essa etapa não é mais lugar de brincadeiras, sugerindo que tal processo não seja uma “coisa séria”. E nos cabe aqui um questionamento: o brincar, a alegria extravasada de forma lúdica, não seria um elemento importante também para a vida adulta?

Assim sendo, são notórios os benefícios que o brincar traz para a aprendizagem das crianças e, acreditamos, para todos os estudantes, pois a sua presença nas propostas e vivências tanto nas escolas de Educação Infantil como nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando realizadas com intencionalidade, contribui para o pleno desenvolvimento dos envolvidos.

Diante do exposto, podemos entender por que o brincar tornouse um direito assegurado em diferentes leis, tais como a Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação da Educação (1996), entre outras. Sendo assim, é direito das crianças e estudantes ter um

espaço de aprendizagem prazeroso, que estimule a imaginação, a interação e a exploração; sendo tarefa do professor oportunizá-lo. Para que isso ocorra da melhor forma possível, é necessário que o profissional esteja atento às etapas de desenvolvimento, mantendo escuta sensível e olhar atento durante todos os momentos de brincar que compõem o contexto escolar.

Tendo ciência então da importância do brincar para o desenvolvimento da criança, a escola tem papel fundamental em promover espaços para o brincar, além da sala de aula, os quais estimulem a imaginação, a interação e a aprendizagem.

Um espaço importante que as escolas podem organizar para garantir ainda mais o brincar denomina-se brinquedoteca, que é tema deste livro. Para auxiliar no entendimento sobre esse espaço, apresentamos a ideia de Friedman, a qual relata que:

Na brinquedoteca a criança tem um espaço privilegiado, [...] apesar de ter obrigações e deveres, ela aprende de forma prazerosa e cooperativa. Pela própria idealização da brinquedoteca, espaço livre da interação e no qual os brinquedos são propriedade coletiva, [...] a criança tem oportunidade de descobrir e trazer a tona suas capacidades e habilidades específicas, ao mesmo tempo, ela percebe o outro, partilha, da cooperação e também da competição, atitudes que surgem e são negociadas naturalmente durante a atividade lúdica. (FRIEDMAN, 2003, p. 36)

Em poucas palavras, podemos entender que a brinquedoteca é um espaço destinado à ludicidade, no qual as crianças e os estudantes brincam e, através dessa ação, constroem sua aprendizagem de maneira prazerosa e significativa. É um espaço com variados estímulos ao desenvolvimento dos que dele usufruem, oportunizando a aprendizagem a partir das diferentes linguagens, da

construção da autonomia e da criatividade. Ou seja, é um ambiente acolhedor, com estímulos diversificados para o desenvolvimento de habilidades e capacidades significativas. Podemos, por fim, entendêlo como um espaço transformador, no qual se resgata o prazer de brincar inserido no contexto histórico-social e cultural da criança.

As discussões trazidas neste livro apontam o lugar privilegiado e potente que a brinquedoteca pode e deve ocupar em uma instituição educacional que entenda a importância do brincar e do lúdico. Mais do que somente transformar a vivência das crianças, ela pode ser tomada como um espaço inclusivo e emancipador, que propicie tempos diferenciados para experienciar ludicamente o período institucional – ou, como nos apontam Marques e Marandino, um “espaço de criatividade, imaginação, sensibilidade, descoberta de novos significados em respostas a experiências construídas de maneira autônoma pela criança” (2019, p. 7), onde os elementos didático-pedagógicos se misturam com os elementos criativos, da autonomia e da imaginação.

Por fim, reforçamos o convite para que todos e todas possam vislumbrar atentamente os textos que compõem este livro, intitulado “A brinquedoteca como espaço de ensino e de aprendizagem”, acompanhando as ideias e argumentos apresentados ao longo da obra, pois temos a certeza de que irão ecoar nos espaços escolares, dinamizando um fecundo debate acerca da temática.

Referências

FRIEDMANN, Adriana. O Brincar na Educação Infantil: observação, adequação e inclusão. São Paulo, 2012.

MARQUES, Amanda Cristina Teagno Lopes, MARANDINO, Martha. Alfabetização Científica e Criança: Análise de Potencialidades de uma Brinquedoteca. Revista Ensaio: Belo Horizonte, v.21, 2019.

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