Revista MANIFESTO

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REVISTA DE ARQUITETURA E URBANISMO

MANIFESTO

Ano 1 Edição n. 1


MANIFESTO SOMOS NÓS


Editorial A Manifesto busca descentralizar os olhares sobre a arquitetura paulistana e nada mais evidente que começarmos pelos nossos próprios olhares, análises e propostas. A revista possui em estrutura os termos “Paralelos e paradoxos”, que percorrem a revista afim de mostrar como a arquitetura paulistana se expressa, como a cidade se manifesta, de modo paralelo ou de modo paradoxal? Nesta edição queremos que você, leitor, desbrave por um novo olhar, aquele quase esquecido, que muitas vezes os olhos temem ver. Ao apresentar a cidade através da arquitetura usual, debulhamos elogios aos carros chefes, aos edifícios famosos, avenidas, de uma forma que apresentamos uma São Paulo unilateral, reduzimos os nossos feitos a mera meia dúzia de bons projetos e fechamos os olhos para os demais. Queremos apresentar que muito distante de cartões postais e points de fotografias nós temos arquitetura rica e funcional em outros pontos da cidade, queremos apresentar um novo olhar que seja abrangente, que absorva e beba de locais vezes até mal vistos (ou mal interpretados). No final de tudo isso, queremos que você, leitor, veja a grandeza da arquitetura e sinta o tamanho que é esta cidade, São Paulo é complexa, é viva, mas acima de tudo é centralizadora.

Contudo, pouco nos perguntamos o que estamos fazendo de fato para a melhoria da cidade. Os arquitetos (seja até mesmo estudante) sente o quão evidente está a capacidade ampla sobre as possibilidades de melhorias passível de serem alcançadas nesta profissão. Convidamos a todos para apreciar este caminho para praticar, aguçar e até mudar a forma de enxergar o espaço, através de analises regadas a uma boa critica um tanto quanto sincera de quem vos escreve. Equipe Manifesto


NOSSA

PROPAGANDA SE BASEIA EM POEMAS


“Enquanto os arquitetos não fizerem política, os políticos continuarão fazendo Arquitetura” Pedro Ramíres Vásquez


Índice Cadeiras Modernas/Cadeiras Contemporâneas .....................................................................................08 Cadeira Bowl ..................................................................................................................................................10 Cadeira MF5 ...................................................................................................................................................12 Cadeira Favela ................................................................................................................................................14 Cadeira Cuba ..................................................................................................................................................16 Arquitetura Moderna/Arquitetura Contemporânea ................................................................................22 Galeria Metrópole ..........................................................................................................................................26 Galeria do Rock ..............................................................................................................................................36 Parque da Juventude/Biblioteca São Paulo .............................................................................................46 SESC Itaquera ................................................................................................................................................54 O que é arquitetura? ....................................................................................................................................64 Referências ....................................................................................................................................................66


Quem somos nós CLÉCIO LIMA Arquitetura para mim é o ato de fazer acontecer a junção entre estética e função em prol do bem-estar das pessoas, seja individual ou coletivamente.

DANILO DELFINO Arquitetura é a arte de conceber espaços, é o poder do traço, é transformar grafite em obras de arte, é levar em conta as relações humanas, é o comprometimento artístico e social da escala do objeto à escala da cidade.

EDISON FRANÇA Arquitetura é a chance de melhorar a vida das pessoas por meio do traço, por meio da beleza de projetar. É muito fácil fazer arquitetura, a nossa responsabilidade é realizá-la para todos.

GABRIELA PALADINI Arquitetura é a forma poética de concretizar o espaço e o abrigo. É a junção de ideias com materiais físicos tornando sonhos de terceiros realidade de forma que sejam passivos aos demais impactados pela edificação.

TALITA FAVERÃO Arquitetura, é o dom de conectar pessoas à lugares. Criar locais que se encaixem a elas, criando o sentimento de pertencimento, e não segregação. É criar locais para histórias e sonhos capazes de pertencer à pessoas tão diferentes.


CADE


CADEIRAS MODERNAS EIRAS CONTEMPORÂNEAS

ANÁLISE DE QUATRO OBRAS, SENDO DUAS DELAS DE ARQUITETOS MODERNOS E DUAS DE ARQUITETOS CONTEMPORÂNEOS. SEGUEM AS CADEIRAS ESCOLHIDAS: MODERNAS CADEIRA BOWL – LINA BO BARDI CADEIRA MF5 – CARLOS MILLAN CONTEMPORÂNEAS CADEIRA FAVELA – IRMÃOS CAMPANA CADEIRA CUBA – RODRIGO OHTAKE


CADEIRA BOWL FICHA TÉCNICA

Dimensões: Bloco: diâmetro 89 cm, profundidade máxima 42 cm. Armação: diâmetro 65 cm, altura a partir do chão 31 cm. Estrutura: 1 -pé de plástico em pp. 2 - armação formada por vergalhão de aço fe360, de 16 mm de espessura, revestida com pintura a pó de epóxi. 3 - anel de couro antideslizante para a armação. 4 - botão de alumínio revestido em couro ou tecido. 5 - bloco interno de fibra de vidro. 6 - revestimento de borracha para a borda do bloco. 7 - acolchoado de poliuretano, densidade 60 kg/m3. 8 - revestimento do bloco de couro ou tecido, com acoplamento de veludo. 9 -correia para a borda do bloco de couro ou tecido com corda. 10 - almofada do acento e encosto: revestimento de couro ou tecido, acolchoado de poliuretano com densidade 35 kg/m3.

https://www.archdaily.com.br/br/884899/lina-bo-bardi-poesia-material-e-imaterial/5a269188b22e38ced10000d5-lina-bo-bardi-poesia-material-e-imaterial-foto


Lina Bo Bardi Achilina di Enrico Bo, conhecida como Lina Bo, é uma das figuras mais importantes da arquitetura latino-americana. Nascida do dia 5 de dezembro de 1914 em Prati di Castello, Roma. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/01-174087/arper-relanca-cadeira-bowl-de-lina-bo-

Ao analisar a cadeira projetada por Lina, tentamos nos colocar direto na década de 50, quando a arquiteta desenvolveu o objeto. O brasil passava pelo processo de aceitação da arquitetura moderna, já havia produções arquitetônicas que buscavam romper o ecletismo e o neocolonial que imperavam nas terras brasileiras. O desafio ia além arquitetura e se refletia no mobiliário também, a busca pela identidade nacional moderna e o “novo modo de viver” consequente da revolução industrial, comunicações e a posterior globalização, trazia a mente de uma arquiteta tão a frente do seu tempo, ideias “revolucionárias” que de imediato sofreu represálias intensas. Com sua Cadeira Bowl, Lina buscava introduzir um modo flexível de se aproximar do objeto – uma cadeira que se adapta às pessoas, e não o contrário. “o que é novo nesta peça de mobiliário é o fato de que a cadeira pode se mover em todos os lados, sem qualquer intermédio mecânico, apenas através de sua forma esférica”, disse a arquiteta sobre a cadeira. A genialidade da Cadeira Bowl está em sua simples execução: composta por duas partes soltas – uma concha estofada sobre uma estrutura metálica – o assento permanece livre para se mover em todas as direções. É uma cadeira para viver, não apenas para se sentar, com o ser humano novamente no centro do pensamento da arquiteta. Hoje a cadeira e as obras da arquiteta se consagraram mundialmente e ganharam o devido reconhecimento. Em 2014 a empresa italiana Arper que é a detentora dos direitos autorais, promoveu a reedição da cadeira, produzida em uma edição limitada de 500 exemplares (com o estofado em couro preto e outras sete opções de tecido), parte dos lucros da venda das cadeiras foi investida em projetos sociais e culturais do Instituto Lina Bo Bardi.

Em 1958 Lina vai a salvador para dar conferências na escola de belas artes da universidade da Bahia, e é convidada para dirigir o museu de arte moderna da Bahia (mam-ba) aonde projeta o restauro do solar do unhão e sua adaptação para sede do museu. A experiência do nordeste foi fundamental para o desenvolvimento da arquiteta que, rodeada pela diversidade e vitalidade da região em meio processo de industrialização. Retorna a São Paulo em 1966 e retoma o projeto do museu de arte moderna de São Paulo (Masp) na avenida paulista, que após sua inauguração em 1968 virá a ser um dos marcos mais icônicos da arquitetura brasileira.


CADEIRA MF5 FICHA TÉCNICA

Dimensões: - A 80 X C 75 X L 70 CM Estrutura: Esta cadeira foi estruturada em madeira com encosto em palhinha e assento estofado, produzida pelo arquiteto paulista na década de 50.

Carlos Millan Carlos Millan (1927-1964) formou-se em arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, estagiou nos escritórios de Abelardo de Souza, Arthur Oswaldo Bratke e Rino Levi. Foi membro da câmara de arquitetura do CREA, foi diretor do IAB entre 1959 e 1961 e em 1959 passou a ser professor da Universidade Mackenzie.


Na década de 50, um grupo de jovens arquitetos iniciou o design e a linguagem moderna no mobiliário nacional. Miguel Forte, Jacob Ruchti, Plínio Croce, Roberto Aflalo, Carlos Millan e Che y Hawa criaram a loja branco & preto. Valorizando a madeira do brasil, o grupo projetou móveis que representavam a arquitetura moderna da década de 50. Para que o mobiliário estivesse coerente com a arquitetura moderna que se implantava no brasil, Carlos Millan manteve a preocupação em desenvolver objetos com premissas modernas, o exemplar que escolhemos para analisar indica toda essa intenção do arquiteto: A cadeira mf5 possui estrutura limpa, esbelta, livre de adornos e composição purista. A estrutura em madeira ainda torneada longilínea indica a intenção da valorização da materialidade brasileira, assim como o encosto em palhinha trançada e o estofado com desenho geometrizado. Ao longo da pesquisa podemos observar como esta cadeira ainda é reproduzida, mantém-se presente no imaginário brasileiro. Possui exemplares em lojas de design, em comércios virtuais de móveis, e em antiquários, observamos também que a estrutura da cadeira permaneceu intacta ao longo do tempo, as mudanças recorrentes são feitas sobretudo nos assentos com a troca no tecido escolhido por cada fabricante.


Humberto e Fernando Campana Os irmãos campana (Humberto Campana, Rio Claro, 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em direito pela Universidade de São Paulo, e seu irmão em arquitetura pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Foram construindo solidamente sua carreira, atingindo reconhecimento nacional e internacional. O trabalho dos irmãos campana incorpora a ideia de transformação e reinvenção, tornando preciosos os materiais do dia-a-dia, pobres ou comuns, que carregam não só a criatividade em seu design, mas também características bem brasileiras como, por exemplo, as cores, as misturas, o caos criativo, e o triunfo de soluções simples. Com sede em São Paulo, o Estúdio campana investiga constantemente novas possibilidades de fabricação de móveis; cria pontes e diálogos, cuja troca de informações é também a fonte de sua inspiração. Além disso, desenvolve trabalhos em parceria com comunidades, fábricas e indústrias, o que mantêm seu repertório sempre atualizado.

Como o próprio título diz, os autores tiveram como referência para a construção da cadeira, a favela brasileira, a estética resultante tem dispostas lascas de madeira de forma bastante irregular, em analogia as casas das comunidades. Cheia de simbologia e brasilidade a cadeira ganhou notoriedade nacional e internacional. Desse modo o resultado estético foi a coesão efetiva entre conceito e objeto. A cadeira não possui estrutura fixa, as lascas de madeira natural, são manuseadas de maneira aleatória, seguem intuitivamente o desejo de compor a peça de modo artesanal sem métricas rígidas, de modo mais espontâneo, como são feitas as casas nas favelas brasileiras. Do ponto de vista ergonômico, a cadeira não é tão privilegiada, embora possua as dimensões e funcionalidade para que possam sentar e usá-la. Contudo a cadeira foi pensada de modo mais conceitual, ou seja, seu uso está mais direcionando a um objeto escultórico.


CADEIRA FAVELA FICHA TÉCNICA

Dimensões: - a 74 x c 67 x l 62 cm Estrutura: Esta cadeira foi criada em 2003, sua estrutura é composta por lascas de compensado sarrafeado, é fabricada e comercializada pela empresa italiana Edra.


Para analisar esta cadeira partimos de sua materialidade, o arquiteto fez uso de três materiais: o aço, a madeira e o tecido, ao imaginar um obejto de escala de interiores com materiais bastante diferentes em sua composição, poderíamos pensar que o todo ficaria desconexo, entretanto o uso misto de materiais proporcionou uma cadeira muito elegante e de aspectos bastante particulares. A madeira que é um material ainda muito usado na composição de cadeiras (desde o período colonial), foi usada de modo diferente pelo arquiteto, neste caso o autor usou as tiras de madeira torneadas dispostas não mais na vertical de forma estrutural e sim na horizontal para que assim sua função de assento pudesse ser realizada. A madeira torneada remete a um charuto e contrasta com o aço dos pés da cadeira que possuem dimensões esbeltas e dão a sensação de muita leveza, assim como o enconsto que é uma almofada estruturada branca com espessura grossa aparentemente bem confortável. Segundo Rodrigo, seu ponto de partida foi através da observação da madeira torneada, e consequentemente ousou em dispor o material de maneira mais inovadora, do ponto de vista ergonômico o autor diz que usou diâmetro pequeno, para que favorecesse o conforto. Assim, o grupo entende que a partir da observação e da simplicidade de usar materiais combinados e de formas diferentes, podemos colaborar na execução de obras interessantes, com estética provocativa e que contribua para a intensificação do design contemporâneo brasileiro.


CADEIRA CUBA FICHA TÉCNICA

Dimensões: - A 75 X C 80 X L 90cm. Estrutura: Esta cadeira foi construída em 2017, possui em sua estrutura madeira maciça torneada, pés em aço pintado e encosto em almofada estruturada. Comercializada pela empresa herança cultural, 30 unidades foram disponibilizadas.

Rodrigo Ohtake Formado na FAU/USP em 2009, Rodrigo Ohtake está sempre em busca de um estilo arquitetônico próprio. Apaixonado por cores e formas livres, colaborou com os arquitetos Mario Biselli, Álvaro Puntoni e o francês Patrick Jouin, além de trabalhar com seu pai, Ruy, de 2008 a 2016. Além dos trabalhos nos escritórios, participou como assistente de curadoria das exposições viver na floresta, curadoria de Abílio Guerra, o coração da cidade: invenção dos espaços de convivência, de Júlio Katinsky, e arquitetura brasileira. Desde 2006, vem fazendo seus próprios projetos e em 2011 abriu o escritório Rodrigo Ohtake Arquitetura e Design.



O SENTAR É PRA QUEM ?


NOSSA

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“O Arquiteto que projeta para seres humanos precisa conhecer muito mais do que apenas os cinco cânones do Vitrúvio ” Richard Neutra


ARQUITETURA MODERNA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA


Análise de quatro obras escolhidas seguindo critérios a seguir, sendo duas delas de arquitetura moderna e duas de arquitetura contemporânea: MODERNAS: GALERIA METRÓPOLE - GIAN CARLO GASPERINI E SALVADOR CANDIA GALERIA DO ROCK – ALFREDO MATHIAS CONTEMPORÂNEAS: SESC ITAQUERA – EDUARDO DE CASTRO MELLO E CLÁUDIO CIANCIARULLO PARQUE DA JUVENTUDE- ROSA KLIASS E AFLALO E GASPERINI BIBLIOTECA SÃO PAULO- AFLALO E GASPERINI


POR QUE?


Relação geográfica e espacial com a cidade: a premissa inicial partiu da escolha de obras que estivessem geograficamente implantadas em regiões diferentes, exceto pelas duas galerias que estão no centro (e por esse motivo também a escolha) para que pudéssemos criar paralelos históricos, geográficos, sociais e arquitetônicos de cada obra e a consequente relação com a cidade. Descentralizar: seguindo esse raciocínio entendemos que a arquitetura não deve ser vista apenas pela ótica centralizadora. Descentralizar as atividades acadêmicas nos motivou à escolha destas obras para que possamos olhar a cidade de modo mais íntegro. Marginalidade: a Galeria do Rock, o SESC Itaquera e o parque da juventude de alguma maneira, já foram consideradas arquiteturas ou espaços marginalizados. Ver e percorrer esta história e relacionar ao presente foi, para nós, critério importante na escolha, entender o porquê dessas marginalizações, olhar e analisar o presente. Paralelos ou paradoxos: com essas análises buscamos chegar ao resultado que será exposto, se a cidade produz paralelos ou paradoxos, como essas arquiteturas podem “conversar” ou serem contíguas de alguma forma.


GALERIA METRÓ Gian Carlo Gasperini Nasceu em 1926, em Castellamare, Itália. Cursou a faculdade de arquitetura da Università degli Studi, de Roma, entre 1944 e 1946, formando-se em 1949 pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Doutorou-se em 1972 pela FAU-USP, onde lecionou na cadeira de composição até se aposentar. Atualmente, além das atividades do escritório, dedica-se aos cursos de pós-graduação na FAU-USP e faz conferências e seminários em vários pontos do país.

Escalas, por Talita Faverão

Salvador Candia Nasceu em 06/08/1924 na cidade de Campo Grande, aos 9 anos de idade veio com sua família morar em São Paulo onde se estabeleceu até seu falecimento em 1991. Formou-se em arquitetura pela Faculdade Mackenzie em 1948, sua graduação foram marcados pela transformação das escolas de arquitetura no país e os valores da arquitetura moderna brasileira ganhavam notoriedade e reconhecimento. O arquiteto possui obras icônicas como o edifício barão de ouro branco na av. Paulista.


ÓPOLE

FICHA TÉCNICA ANO: 1956 ÁREA DO TERRENO: 8,000 M2 ÁREA CONTRUÍDA: 48,000 M2 NÚMERO DE PAVIMENTOS: 19 USO: COMÉRCIO E SERVIÇOS CONSTRUÇÃO: SOCIEDADE COMERCIAL E CONSTRUTORA SA, IMPLANTAÇÃO: AV. SÃO LUIS (ESQ. PÇA. DOM JOSÉ GASPAR) - N. 187 - REPÚBLICA - SÃO PAULO - SP - BRASIL MATERIALIDADE: CONCRETO PERÍODO DE CONSTRUÇÃO: 1959 -1964 ESTADO DE CONSERVAÇÃO: BOM DESCARACTERIZAÇÃO: BAIXA


Relação com o entorno imediato, por Edison França

São Paulo, década de 70, um grupo de jovens arquitetos se propõem a participar de um concurso de arquitetura destinado a projetar uma torre com uma galeria aberta no centro da cidade. As intenções dos arquitetos revelam-se ainda hoje, muito atuais e significativas. Ao chegarmos na praça Dom José Gaspar, compreendida entre a Av. São Luís e a Rua da Consolação no centro da cidade, nos deparamos com um espaço que ainda preserva sólidas características do movimento moderno. Calçadas largas que abrigam canteiros com vegetação arbustiva e sombreadas por edifícios que podem ser considerados de grande expressão para a cidade, como na Av. São Luiz, o Edifício Itália projeto do arquiteto Franz Heep, o edifício Louvre, do polêmico Artacho e a biblioteca Mário de andrade projetada por Jacques Pilon e reformada pelo grupo Piratininga Arquitetos e associados. A praça Dom José foi tombada pelo CONDEPHAAT, consubstanciada na Resolução de Tombamento SC 82 referente à Biblioteca Municipal Mário de Andrade e à Praça Dom José Gaspar datada de 20 de agosto de 2013 e publicada no DOE de 21/08/2013, configura-se como um espaço muito convidativo da cidade. Repleto de restaurantes e bares tradicionais, aos finais de semana realizam-se shows de samba e chorinho, com a tradicional feijoada de sábado.



É neste ambiente que ainda se destaca a galeria metrópole. O projeto foi feito em um momento que a arquitetura moderna brasileira passava a ser reconhecida e notada em alguns pontos e lugares. Havia nas metrópoles a intenção de modernidade que já permeava os espaços europeus seguindo alguns planos urbanísticos, inclusive o de Haussmann para Paris no século 19. A partir daqueles ideais modernos que assolavam a Europa, Prestes Maia, então prefeito da cidade entre 1938 e 1945, criou razões para o desenvolvimento do seu plano urbanístico, assim a partir disso passamos a conhecer o que podemos nomear hoje de “Urbanismo Rodoviarista”. O plano partia de uma cidade centralizadora e concentrava naquele espaço os poderes econômicos, o desenvolvimento arquitetônico e a parceria entre empresas de automóveis e o urbanismo que desconsiderava o pedestre. Entretanto, nos anos seguintes jovens arquitetos propõem em meio a praça, um projeto que revela um belo contraste com essas ideias. Ao chegarmos na praça, podemos ver a galeria metrópole com suas aberturas no nível do térreo que criam direta relação com o pedestre e com a cidade. Os bloqueios visuais são praticamente nulos, mesmo porque o térreo é concebido por diversos tipos de comércios e serviços, como restaurantes, bares e agências de viagens. Essa relação continua quando entramos na galeria, e a sensação é de que continuamos no mesmo espaço, ainda que adentramos a um espaço privado. A relação criada entre o espaço público e privado é diluída.

Paisagismo, por Edison França

Relação com o exterior, por Danilo Delfino

Usos por Danilo Delfino


Acessos, por ClĂŠcio Lima


Texturas, por Talita Faverão

Vista a partir do Edifício Louvre, por Gabriela Paladini

Relação com o espaço exterior, por Clécio Lima


A galeria possui um átrio central e desenvolve-se em pavimentos que são privilegiados pela luz natural que percorre todos os andares, além de dar vida ao paisagismo existente nesteátrio. Quanto mais percorremos os pavimentos, percebemos que a relação com a cidade é clara e evidente. Essa luz natural reflete os materiais simples e sofisticados para a época em que foi projetada. Guarda corpo de aço com desenho em linhas simples e sutis, sua estrutura em concreto pintada de branco (mas ainda assim bem evidente), e o piso de granilite revelam a materialidade bastante exposta. Materialidade essa que se mistura criando texturas que se complementam: Madeira, concreto, aço e vegetação. Os usos entre os pavimentos são variados: escritórios de arquitetura e design, moda e estética e restaurantes, criando um espaço de múltiplo uso e de diversidade bastante evidente. Atualmente em São Paulo há movimentos como o “ocupa centro” que tem como premissa a revalorização desta área da cidade, e para que isso aconteça, nada melhor do que ocuparmos e usufruirmos desses espaços que a cidade possui. A galeria é roteiro de visitas e guias entre as obras do centro da cidade, assim como a galeria do rock, entre outras que criam essas possibilidades de visualizar o espaço público e privado de maneira menos segregadora. Assim a cidade pode ser redescoberta através de passeio entre galerias e outras obras de arquitetura.

Fachada, por Danilo Delfino


NOSSA

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“A Arquitetura como construir portas, de abrir; ou como construir o aberto; construir, não como ilhar e prender, nem construir como fechar secretos; contruir portas abertas, em portas; casas exclusivamente portas e tecto. O arquiteto: o que abre para o homem (tudo se sanearia desde casas abertas)... ” João Cabral de Melo Neto


Vista frontal, pela Rua 24 de Maio, por ClĂŠcio Lima


GALERIA DO ROCK FICHA TÉCNICA

SHOPPING CENTER GRANDES GALERIAS ARQUITETO: ALFREDO MATHIAS IMPLANTAÇÃO: RUA VINTE E QUATRO DE MAIO, 62 REPÚBLICA, CENTRO, SÃO PAULO. FUNCIONAMENTO: DE SEGUNDA A SEXTA: 10:00 AS 18:30 E AOS SÁBADOS DAS 10:00 AS 18:00 HORAS INÍCIO DA OBRA: 1962 INAUGURAÇÃO: 1963

Alfredo Mathias Filhos de pais sírios estabelecidos em São Paulo em 1904, Alfredo Mathias entrou para a escola politécnica em 1924 e formou-se em engenheiro arquiteto em 1929. Iniciou suas atividades profissionais como engenheiro da diretoria de obras públicas. No início da década de 50 constituiu sua construtora que teve muito destaque na cidade de São Paulo até sua falência na década de 80. O engenheiro possui participação em diversas obras na cidade entre elas o Hospital São Joaquim da Beneficência Portuguesa. Suas obras eram projetadas em parceria com o arquiteto Giancarlo Palanti, entre elas: um conjunto de edifícios populares na Rua Barão de Tatuí 351; a Biblioteca Pública de Araras e o Cine Belas Artes na Rua da Consolação.


Centro de são Paulo, caminhamos sentido ao teatro municipal, moderno e eclético se misturam em meio a muitas pessoas, vendedores, ambulantes, panfleteiros, homens de social e jovens de diversas tribos, essa foi a imagem ao chegar na Praça Ramos de Azevedo. Caminhamos até a galeria do rock, nosso destino, ela é margeada por dois calçadões que levam as suas duas entradas: uma na Rua 24 de maio e a outra na Avenida São João. O calçadão que nos leva para a entrada na Rua 24 de maio é disputado por pedestres e carros, já que recentemente foi aberta a via para passagem de veículos, o que torna o espaço bem confuso. Possui edificações com altos gabaritos nos dois lados da via, gera um sombreamento o dia todo, o que dependendo do horário pode ser bom, misturada com o comércio ambulante que cerca toda a redondeza. Mas ao se deparar com a grande entrada do edifício da galeria, um novo espaço se descortina, já que sua imponente fachada arredondada, atrelada com a continuidade da calçada que entra no espaço dando ao pedestre uma sensação de fluidez e convidando-o a entrar no local, abraça o usuário. Suas lojas se apresentam explicitamente aos pedestres, que desde fora da galeria já têm acesso a elas, não estando fechadas e pouco expostas a cidade como em shoppings.

Relação com exterior, por Danilo Delfino


Materialidade, por Clécio Lima

Relação com exterior, por Gabriela Paladini


Acesso, por Gabriela Paladini

A continuidade da calçada leva o usuário até a outra entrada, na Rua São João. Serve como ligação mais agradável entre uma rua e outra. A entrada pela Avenida São João passa um outro tipo de sensação ao usuário, já que o grande calçadão tem como paralelo a própria avenida, além do Largo do Paissandu. A sensação de clausura nesta parte não se aplica, o comércio ambulante e a grande circulação de pedestres se faz presente. O que se percebe que a grande entrada da galeria abraça o pedestre, o convida para um momento de encontro a diversidade que já é presente no centro, mas se reconfigura na galeria. Os corredores são largos, o piso reflete uma iluminação bem posicionada, gerando um jogo de reflexos, atrelados aos vãos em elipse no centro da galeria que dão visão ao usuário de todos os andares da edificação, gerando uma experiência diferente as pessoas que se apoiam sobre os guarda corpos em tom magenta mais saturado, tanto para uma visão mais privilegiada dos outros pavimentos quanto para bons e diferentes ângulos de fotografias. Além disso, o espaço serve de mirante, principalmente para a vista da Avenida São João com fundo para o Largo do Paissandu, já que para a rua 24 de maio, a vista que se tem é da edificação logo a frente. De qualquer andar que se acesse a galeria, há este mirante, uma vez que as pontas da galeria são abertas para a rua. A paisagem da cidade faz parte da edificação, pois sempre se tem a visão de fora, mesmo estando dentro do espaço.


A galeria do rock é um ótimo representante do comércio e arquitetura no centro da cidade, já que reuniu o conceito de um centro de compras em um único lugar. A ideia de concentrar as pessoas para passearem pelos seus corredores já estava ali implantada desde sua abertura com a vinculação ao uso misto de espaço, assim como a valorização do centro que permeava esta área da cidade naqueles anos. O centro da cidade atinge as demandas do capital e assim possui bastante flexibilidade para que se mova para outros espaços, buscando o diferencial e de certo modo segregar-se de áreas que não possuem seus critérios de ocupação. Assim, com a posterior migração do centro e de alguns tipos de poder de compra para outras áreas como a zona sul e oeste, a galeria caiu no ostracismo, ficando abandonada. Sua grande retomada sucedeu quando lojas de discos começaram a se destacar pela galeria, trazendo com isso uma nova segmentação e uma nova frequência de público. Materialidade, por Edison França

Pavimentos, por Danilo Delfino


Materialidade, por Edison França

O síndico, sr. Toninho, com quem pudemos conversar, diz que foi “imprimindo o estil rock and roll” ao local, e aos poucos atraindo lojistas e consumidores do gênero e desse modo foi construindo uma das principais áreas de encontros de São Paulo, hoje a galeria atende diversos tipos de gêneros e estilos que convivem de maneira tranquila em um ambiente bastante democrático. É margeada por símbolos culturais como o Teatro Municipal, Praça das Artes, e o mais recente Sesc 24 de maio, além de estar muito próximo do Vale do Anhangabaú e daPraça da República. A galeria do rock está rodeada de espaços icônicos e culturais na cidade, por isso mesmo, acreditamos no potencial que esta quadra tem para a cidade. A abertura do Sesc 24 de Maio, trouxe uma certa visibilidade ao local, que pode servir como agente transformador para a área, gerando um polo cultural e de convivência. A galeria por si só já é uma grande praça, e pode servir como ponte entre todos estes edifícios que agregam cultura de diferentes nichos e que podem juntar tribos e pessoas, gerando debates e novas perspectivas tanto para a região quanto para a cidade. Público do teatro municipal, da praça das artes, do sesc 24 de maio teriam uma região onde o verve seria cultura, em pleno centro da cidade. O centro deveria ser visto como um espaço mais democrático um lugar de referência para a cidade. A materialidade já existe, público também. O que precisa ser discutido e posto em prática são formas de integração desses elementos, já que há esta identificação do espaço como um grande polo de cultura. A arquitetura hoje trafega muito mais pela vaidade do que quem projetou tal edifício e menos pelo quesito do que aquela obra cumpre como papel na sociedade. Esta região, composta por símbolos arquitetônicos totalmente diferentes uns dos outros seria um grande motor para uma nova maneira de se pensar arquitetura e de se pensar a cidade. A forma é secundária quanto a boa arquitetura promove encontros e abrigo. A arquitetura contemporânea deve olhar para o lado antes de olhar para a frente. A galeria é um símbolo para a cidade, e pode ganhar mais importância ainda se a junção com estes outros símbolos que a rodeia aconteça.


Pavimentos, por Talita FaverĂŁo

Acesso, por Talita FaverĂŁo


NOSSA

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“Aquitetura não é um curso, é um caminho, percurso. Dentre todas as artes, esta me satisfaz, tira de mim tudo que sou capaz... Até o que não sou me faz! ” Emanuel Souto


PARQUE DA JUVENTUDE BIBLIOTECA SÃO PAULO

Vistas, por Clécio Lima

FICHA TÉCNICA PARQUE DA JUVENTUDE: ARQUITETOS: ARQUITETA PAISAGISTA ROSA KLIASS JUNTO AO ESCRITÓRIO AFLALO & GASPERINI, COMPOSTO PELOS SÓCIOS GIAN CARLO GASPERINI, LUÍS FELIPE AFLALO HERMAN E ROBERTO AFLALO FILHO (VENCEDORES DO CONCURSO). IMPLANTAÇÃO: AVENIDA CRUZEIRO DO SUL, 2,630 (AO LADO DO METRÔ CARANDIRU) SANTANA — SÃO PAULO — SP FUNCIONAMENTO: TODOS OS DIAS DA SEMANA, TEMPO DE OBRA: A OBRA TEVE INÍCIO EM 2002 APÓS O FECHAMENTO DO PRESÍDIO. PRIMEIRA ETAPA: COM 35,000 M 2, INAUGURADA EM 2003 - QUADRAS POLIESPORTIVAS, PISTAS DE SKATE E PARTE DO PAISAGISMO, QUE FOI O MAIOR CONTRIBUINTE PARA A MUDANÇA DE SIGNIFICADOS DO LOCAL. SEGUNDA ETAPA: COM 90.000 M 2, INAUGURADA EM 2004 — ÁREA CENTRAL (NÃO TINHA EQUIPAMENTOS PÚBLICOS NESTE LOCAL). TERCEIRA ETAPA: FOI INAUGURADA EM 2007 — ÁREA INSTITUCIONAL (CONJUNTO DE EDIFÍCIOS PROPOSTOS PELO ESCRITÓRIO AFLALO & GASPERINI. NA NOVA ÁREA, A PRAÇA, PRÉDIO DA BIBLIOTECA E ETEC). BIBLIOTECA SÃO PAULO: ARQUITETOS: AFLALO / GASPERINI ARQUITETOS IMPLANTAÇÃO: AV. CRUZEIRO DO SUL, 2630 - CARANDIRU, SÃO PAULO — SP — BRASIL ÁREA: 4527,0 M2 ANO PROJETO: 2010


Aflalo/Gasperini Arquitetos Foi em 1962 que Plínio Croce e Roberto Aflalo uniram-se ao arquiteto Gian Carlo Gasperini para participar do maior concurso internacional da época, o desafio era uma nova e maior torre da América do Sul, em Buenos Aires. Vencedores desse concurso, os jovens arquitetos, que contavam com seus 30 anos, apostavam em soluções modernas e inovadoras para a época, assim o escritório foi ganhando notoriedade e mais de 50 anos depois ainda produzem com o mesmo nome. Atualmente Gasperini um dos fundadores do escritório compõe o espaço e também se divide como professor da FAU-USP, o fundador ainda vivo, também participam do escritório arquitetos da geração mais nova como: Luiz Felipe Aflalo Herman e Roberto Aflalo Filho. Rosa Kliass nasceu em São Roque no interior de São Paulo, arquiteta-paisagista, considerada uma das mais importantes na história do paisagismo brasileiro moderno e contemporâneo. Entre suas obras mais significativas estão a reforma do Vale do Anhangabaú e o projeto paisagístico do parque da juventude, ambos na cidade de São Paulo. Rosa Kliass formou-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1955, e pós graduada também na FAU-USP em 1989. Foi diretamente influenciada pelo professor Roberto Coelho Cardoso ao optar pelo paisagismo como área de atuação, sendo ganhadora de inúmeros prêmios nesta área. Sagrou-se também como consultora de diversos órgãos estatais, autora de vários trabalhos publicados no país e no exterior.


As pessoas que passam pela região do Parque da Juventude e até mesmo algumas que o frequentam podem não lembrar, mas aquele espaço foi marcado por uma trágica parte da história da cidade. A área com mais de 240 mil metros quadrados, localizada no barro de Santana na zona norte da capital paulista, até 2002, abrigou o antigo complexo penitenciário do Carandiru, historicamente conhecido como o maior da américa latina. Não bastasse a imagem negativa da área, que foi praticamente rejeitada pelo estado e sociedade, em 1992 ocorreu ali o massacre de 111 presos, retratado em músicas, livros e no cinema. Alguns anos depois, em 1999 para ser mais exato, o Governo Do Estado De São Paulo promoveu um concurso público à concepção arquitetônica e planejamento nomeado de Parque da Juventude. Entre as propostas, o projeto concebido pela arquiteta paisagista Rosa Kliass conjuntamente ao escritório Aflalo & Gasperini, composto pelos sócios Gian Carlo Gasperini, Luís Felipe Aflalo Herman e Roberto Aflalo Filho, foi vencedor. O projeto foi desenvolvido em três etapas e construído por fases. Na primeira fase o que fica marcado é o paisagismo desenvolvido por Rosa Kliass. Foram 35 mil metros quadrados, além de quadras e pistas de skate. O projeto paisagístico deixa evidente a intenção da arquiteta de criar caminhos e espaços livres para que o parque possa ser apropriado de maneira regular. As ruínas dos antigos pavilhões, assim como as estruturas que indicavam novas celas foram mantidas e adicionados decks para movimento e permanência de indivíduos. A arquiteta na fase seguinte usou a muralha que os guardas mantinham para segurança dos pavilhões como área transitável, pertencente ao paisagismo, criando simbolismo e reforçando a memória daquele espaço, trazendo o usuário a uma espacialidade inteiramente nova e provocadora. Entre as alterações topográficas, um pequeno morro de terra foi criado, quebrando a monotonia visual do terreno planificado e também por recobrir os resquícios de entulho da demolição. Trilhas foram adicionadas e paus-ferro foram plantados na extensão da alameda.

Paisagismo Resignifcador, por Danilo Delfino

Paisagismo Resignifcador, por Danilo Delfino


Marco Histรณrico, por Talita Faverรฃo

Paisagismo, por Edison Franรงa


Respeito à história, por Gabriela Paladini

Respeito à história, por Gabriela Paladini


Interiores, por Talita Faverão

Vistas, por Clécio Lima

Na última fase foi inaugurada a área institucional em 2007, com um conjunto de edifícios propostos pelo escritório Aflalo & Gasperini. Na nova área, a praça, o prédio da biblioteca e a ETEC são facilmente acessados, visto que têm entrada ao lado da estação Carandiru (linha azul do metrô). Embora construída em fases a arquitetura possui bastante uniformidade criando espaços com qualidade e ressignificação espacial para a cidade, levando em conta e respeitando sua história. Entre a praça saltam os edifícios, e entre eles a Biblioteca que leva o nome da Cidade nos chama atenção pela luminosidade empregada no projeto. Quando pensamos em biblioteca nos vem a mente ambientes fechados, com pouco ou nenhuma interação com o ambiente externo, e aqui fica evidente a intenção dos arquitetos em manter essa relação com o espaço circundante, além de proporcionar ao projeto o uso eficiente da luz natural. Ali se faz clara a metáfora existente em transformar um espaço reconhecido de enclausura e recolhimento, num espaço de conhecimento, liberdade e luz. A biblioteca possui estrutura em um bloco de concreto disposto de forma longilínea. A materialidade exposta alterna nos fechamentos, entre concreto e vidro modulados a partir de pilares e colunas expostas. A vista frontal possui uma laje em balanço que permite ao pavimento superior uma área em contato direto com o meio externo, onde há também um pergolado de madeira que mantém um sombreamento levemente regular dependendo do horário de uso. As vistas laterais possuem fechamento no pavimento superior em alvenaria de concreto pintada de magenta, e nela há algumas aberturas para entrada de luz natural. O ambiente interno é revelador. São dois pavimentos: o térreo é composto quase inteir mente por mesas, cadeiras e prateleiras com livros, a planta é livre e permite a mudança na disposição do mobiliário, o pé direito duplo em boa parte do edifício cria conexão direta entre os dois pavimentos e permite a intensificação do uso da luz natural, o que para nós é a dorsal do projeto. Com estrutura simples, mas como uma proposta muito coerente e coesa, a Biblioteca São Paulo nos apresenta um espaço preenchido de conhecimentos, liberdade e luz. Pertencente a todo o complexo que faz parte do Parque da Juventude, a inserção deste equipamento público a área é para nós, um meio de mostrar a que se presta a arquitetura contemporânea. Embora seja evidente a intenção política de apagar a história daquele espaço, a arquitetura junto com o paisagismo resinificam, levando em conta a história da cidade.


NOSSA

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“A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem...” Oscar Niemeyer


SESC ITAQUERA

Vista Frontal, por Talita Faverão

FICHA TÉCNICA DATA DE INAUGURAÇÃO: 29/1 0/1 992 ARQUITETO RESPONSÁVEL: EDUARDO DE CASTRO MELLO E CLÁUDIO CIANCIARULLO ÁREA DO TERRENO: 350000,00 M² AREA CONSTRUÍDA: 10.000 M2 CARACTERÍSTICAS: UNIDADE CAMPESTRE


Eduardo de Castro Mello Eduardo de Castro Mello, arquiteto especializado em projetos de arenas esportivas. Filho de ex-atleta e um dos primeiros arquitetos brasileiros a trabalhar nessa área. Desde sua graduação em 1970 vem projetando instalações esportivas no brasil e no exterior, inclusive com obras premiadas na bienal de arquitetura. É membro da IAKS-LAC, associação internacional para instalações esportivas, seção América Latina e Caribe, entidade com sede em Colônia, na Alemanha, que estuda e orienta projetos de instalações esportivas em todo o mundo. Foi responsável pelo projeto do Sesc Itaquera e também do Estádio Mané Garrincha em Brasília, para a copa do mundo de futebol.


Paisagem, por Danilo Delfino Paisagem, por Danilo Delfino


Estação Sé: Nos dirigimos a linha vermelha sentido Corinthians Itaquera, ao logo de quarenta e cinco minutos aproximadamente e percorremos o corredor Leste-Oeste da cidade via metrô. A paisagem alterna entre torres de edifícios centrais e quão mais distante do centro estamos, menor o gabarito. Essa vista é permitida devido ao metrô da linha vermelha estar em boa parte na superfície e não em túneis subterrâneos. Ao chegarmos em Itaquera, nos guiamos à um balcão de informações e assim nos indicaram o ônibus que nos deixaria no Sesc. Foram mais cinquenta minutos aproximadamente percorrendo a paisagem do extremo leste da cidade, cheia de contradições, expressões de grafite e pichações. O espaço clamava por observação. Chegamos no Sesc Itaquera e em meio à periferia da cidade nos deparamos com um imenso parque na entrada. A vegetação em predominância salta aos olhos e em meio a isso está a sede administrativa com arquitetura purista, com colunas em concreto aparente e fechamento em vidro modulado, que nos informa a disposição dos equipamentos de lazer e serviço que o espaço possui. Entre eles: Um parque aquático, quadras poliesportivas abertas e fechadas, um ginásio e atendimentos de serviços como odontologia. Inicialmente o que nos chama atenção é o excelente estado de conservação do espaço, vegetações de diversas espécies e limpeza impecável. A topografia do local é bastante inclinada, desenhada por caminhos muitas vezes autoritários e em outras vezes desejáveis. Neste caminho livre encontramos uma área repleta de quiosques destinados a elaboração de festas e churrascos, onde os usuários tem total direito de uso. Central de Atendimento, por Danilo Delfino


Textura, por Gabriela Paladini


Complexo Aquático, por Clécio Lima

Interiores, por Gabriela Paladini

Ginásio Treliçado, por Clécio Lima

Ao percorrer mais um pouco vemos uma quadra aberta disposta em um talude com grafites bastante expressivos. Em seguida, em um talude maior, há umaconcha acústica onde acontece boa parte dos grandes shows que são realizados no Sesc Itaquera, local onde nomes como Maria Bethânia, Caetano Veloso e Maria Rita já se apresentaram. O paisagismo é contínuo e expressivo ao longo do parque inteiro, possuindo dois lagos artificiais que espelham parte da arquitetura, que é bastante revelada ao longo do local. A arquitetura mostra-se bastante purista. A maior parte sua estrutura é composta por concreto aparente modulado e fechamento de vidro e as coberturas variam entre aço e laje de concreto, dependendo do uso que se faz no espaço. A comedoria possui um espelho d’água entre corredores, quebrando a monotonia enquanto esperamos o café expresso. O design das cadeiras é simples e sofisticado ao mesmo tempo, misturando materiais como aço e madeira. Linhas retas e orgânicas são o contraste existente da escala do objeto à escala da cidade. O parque aquático é fechado por grades e arbustos que dão privacidade aos banhistas. Na entrada uma recepção com vestiários mantém a linguagem arquitetônica dos outros edifícios, que são colunas e estrutura em concreto aparente, fechamento em vidros modulados e cobertura em aço amarelo que saltam aos olhos a uma boa distância.


Vistas, por Talita Faverão

Colunas, modulação e fechamentos, por Edison França

Colunas, modulação e fechamentos, por Edison França


Ao chegarmos ao ginásio vemos uma arquitetura mais despretensiosa, que contudo, ainda se mostra eficiente. Sua estrutura em concreto com cobertura de aço em treliça espacial traz o efeito desejado de vencer grandes vãos com poucos pilares. Externamente, um painel de grafite revela ainda mais a expressão que o espaço possui e isso tudo está localizado ao lado de duas quadras de tênis. A contiguidade entre o paisagismo e arquitetura nos entrega um parque muito poético e com muita delicadeza no desenho, permitindo que nos revele olhares diferentes a cada poucos passos. A arquitetura contemporânea ainda remete a uma estética purista e modernista devido a materialidade empregada e com desenho funcional, respondendo ao programa desejado. A iniciativa por parte do Sesc de aproveitar aquela região que pertencia à Fazenda do Carmo, foi excelente já que a região necessitava desse complexo, o qual notavelmente a população faz uso bastante regular. É Importante que nos atentemos às necessidades e problemas atuais que a arquitetura se propõe a resolver. A combinação de paisagismo, arquitetura, serviços, esportes, políticas públicas e privadas consolidaram um belo exemplar de avanço em um espaço tão marginalizado e degradado da cidade. É nessa tentativa que devemos seguir com a arquitetura contemporânea.


NOSSA

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“Prefiro desenhar do que falar. O desenho é mais rápido e deixa menos espaço para mentiras” Le Corbusier


O QUE É ARQUITETURA ?


A contemporaneidade nos apresenta muitas questões à refletir e com a arquitetura que é a materialização de um tempo, não poderia ser diferente. Buscamos ao longo desta edição apresentar projetos e ideias que descentralizassem parte do atual pensamento arquitetônico, e através de algumas entrevistas procuramos entender, o que é arquitetura para algumas pessoas que não estão diretamente ligadas à produção arquitetônica. “Criar ambientes para abrigar os diversos tipos de atividades humanas, visando tanto a estética quanto a funcionalidade” Vinicius Sampaio, Estudante “Arquitetura é o que a gente expressa na vida, ela expressa o que a sociedade quer dizer naquele momento, ela representa os hábitos e costumes de uma sociedade em cada momento histórico, então cada período temos uma arquitetura diferente porque representa a expressão da sociedade naquele período, a arquitetura faz com que a cidade fale, com que a cidade expresse, coloque o que a gente deseja a partir dos edifícios, do design, dos monumentos, então em cada momento ela expressa o que o ser humano quer, nessa sociedade maluca que vivemos” Talita Molina, Professora universitária e Historiadora “Arquitetura ao meu ver, é a conciliação de um espaço unindo planejamento, beleza, funcionalidade e claro que dando criatividade ao design” Ademir Pixe, Economista “Arquitetura faz a beleza das obras, dos prédios, das construções ou dos espaços de uma cidade, deixando o externo quanto o interno mais bonito, fazendo desde móveis de decoração, dando toda beleza a todas as estruturas. ” Denis Martinelli, Vendedor “ Arquitetura é uma interpretação do espaço, envolvendo a interação da ciência e da arte, porque todo projeto de arquitetura tem que estar fundamentado no espaço onde vai ser realizado o projeto e na interação da Ciência com a Arte”. Diana Carla, Engenheira Cartógrafa “Arquitetura para mim é uma coisa muito, muito importante... eu adoro ver aqueles prédios, construções da Rússia, por exemplo construções do Niemayer, com aquelas curvas...Arquitetura é fundamental porque sem ter aquele camarada que cria as construções, como faríamos?!” Damaris Nascimento “Arquitetura é arte em forma de construção e para a fotografia eu busco na arquitetura sempre um cenário perfeito para compor e construir uma imagem. ” Raphael de Melo, Fotógrafo “ Arquitetura para mim é um projeto que precisa de muita elaboração, muita inteligência e por isso nem todos conseguem ser arquiteto” Maria Aparecida, Comerciante “Eu diria que é o processo de planejamento de ambientes de determinada instalação, sendo esse planejamento de uma instalação já existente ou de um projeto, pensando na melhor disposição de cômodos e em uma ambientação agradável. ” Júlia Tiene Cunha, Estudante de Engenharia Elétrica “Para mim toda área e curso é a realização de sonhos, só que de formas diferentes, no caso da arquitetura, a pessoa vai fazer um projeto com o arquiteto, é um sonho é um desafio, então você vai estar ali expressando esse sonho em desenho para transformar aquele sonho em realidade, vai tirar aquele sonho do papel e transformar em realidade.” Bruna Nabor, Estudante de Engenharia de Produção


REFERÊNCIAS


DIAS, BRUNO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO TESES MACKENZIE 2013 DISPONÍVEL EM: http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/326/1/Bruno%20Silva%20Dias.pdf ACESSO EM: ABRIL 2018 MÓVEL MODERNO NO BRASIL- MARIA CECILLIA LOSCHIAVO DOS SANTOS 2º EDIÇÃO REVISADA E AMPLIADA, EDITORA OLHARES, SÃO PAULO 2015 DISPONÍVEL EM: http://www.rodrigoohtake.com/ ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: http://campanas.com.br/pt# ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: http://www.edra.com/ ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: http://www.herancacultural.com/objetos.html ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: https://www.donacadeira.com/poltrona-mf5-carlos-milan ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: https://www.pinterest.pt/pin/427630927100439851/ ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: https://www.artezanal.com/produto/poltronas/classicas/poltrona-mf5-millan/ ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM http://bardisbowlchair.arper.com/wp-content/uploads/2013/11/Bardis_Bowl_Chair_Ficha_Tecnica_Garantia_PORT.pdf ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: http://institutobardi.com.br/ ACESSADO EM: ABRIL 2018 DISPONÍVEL EM: https://www.archdaily.com.br/br/01-174087/arper-relanca-cadeira-bowl-de-lina-bo-bardi ACESSADO EM: ABRIL 2018 https://www.archdaily.com.br/br/880975/parque-da-juventude-paisagismo-como-ressignificador-espacial https://www.google.com.br/search?q=EDUARDO+DE+CASTRO+MELLO&ei=mr_wWqbQCMS5wASFqLSYAg&start=10&sa=N&biw=1366&bih=613 https://www.arcoweb.com.br/projetodesign/entrevista/gian-carlo-gasperini-arquitetura-exige-12-02-2003 http://www.arquivo.arq.br/alfredo-mathias https://e-dau.com/equipe-team/eduardo-de-castro-mello/ https://books.google.com.br/books?id=LlOKUVJUvRkC&pg=PA230&lpg=PA230&dq=arquiteto+alfredo+mathias&source=bl&ots=d4b0F3C3F4&sig=N8gGZdexbxAPmIsfVYIzIj6krHc&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiph6On7vPaAhUPlpAKHVDVCtMQ6AEIWDAM#v=onepage&q=arquiteto%20alfredo%20mathias&f=false Tese de mestrado: Cunha Júnior: Edifício metrópole, um diálogo entre a arquitetura moderna e a cidade, FAU-USP, SP 2007, professora orientadora: Doutora Regina Maria Prosperi Meyer.


MANIFESTO


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