REVISTA F. CULTURA DE MODA #12

Page 1

1


ozani

2


symetria

3


drops

4


drops

5


EDITORIAL Na edição número 6 (como o tempo voa, não?) da Revista F. Cultura de Moda, falamos sobre criatividade e achei interessante abordar um assunto no qual sempre me debrucei: a interseção entre a moda e a arte. “Moda no museu” foi o tema do meu bate-papo com Ingrid Mida – canadense, uma das referências sobre o assunto. E ela não pestanejou em dizer, naquele inverno de 2010: “exposições de moda estão ‘na moda’, por assim dizer”. Era verdade verdadeiríssima e tal cenário se desdobraria no que estamos vivendo hoje, em 2014: esse approach da moda com as artes sempre existiu, mas é agora, num ambiente onde as pessoas estão buscando mais consistência para as coisas da vida, que ele se revela de uma forma, digamos, trendy, proposital. E quem ganha com isso somos nós, entre tantas pinceladas artísticas nos tecidos, impressões digitais realistas e surrealistas, calendários sem fim de boas mostras sobre a moda mundo afora e desfiles que são verdadeiras instalações. Daí foi fácil: como não dedicar um número inteiro a tal assunto? O leitor vai encontrar, nestas páginas, muitas referências sobre esse diálogo tão interessante. Moda nunca foi arte. Moda sempre foi um veículo para arte. Cada vez que um estilista perde o seu tempo pesquisando, colocando sua alma, referências

expediente

históricas, artísticas e inovações técnicas e tecnológicas, ele está realizando um trabalho digno de ser apreciado como as obras de grandes mestres. Aliás, sobre essa discussão tão contemporânea, da indústria das galerias de arte (ou a indústria cultural, de forma mais ampla), uma matéria do jornalista João Paulo Oliveira, para refletir com atenção. E Hellen Katherine investiga as mudanças e adaptações da alta-costura nesse século XXI, terreno onde os críticos sempre tomaram como inquestionável a relação entre a moda e a arte. Como uma luva, o tema da SPFW foi justamente o dessa edição – e fomos atrás de Paulo Borges para uma palhinha sobre o assunto. E mais uma mão cheia de pautas tão bacanas, que nem vale antecipar um resumo de cada uma, vai. Entrevista com o designer e diretor de criação Jum Nakao, arquitetura, arte, coolhunting, música, cinema, livros... O melhor mesmo é saborear tudo, de cabo a rabo, dessa revista que é uma compilação de assuntos atemporais, material de informação e, mais do que isso, de estudo, para quem quiser se dedicar à sua leitura. Que pode ser hoje ou daqui a 10 anos: todos colecionam a F. Cultura de Moda.

expediente Raquel Gaudard

DIREÇÃO GERAL E EDITORIA DE MODA ALINE FIRJAM alinefirjam@fworksprodutora.com.br CONCEPÇÃO E EDITORIA DE CONTEÚDO RAQUEL GAUDARD (MTB 17010) jornalismo@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO EXECUTIVA CINTHIA FURTADO producao@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO E CENOGRAFIA ANESLEY PEREIRA producao@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO CLÉBER OLIVEIRA RENATA FALCI producao@fworksprodutora.com.br ASSISTENTE DE PRODUÇÃO VINÍCIUS RODRIGUES geral@fworksprodutora.com.br COMERCIAL DELAINE LOPES delainelopes@fworksprodutora.com.br SABRINA DUARTE comercial@fworksprodutora.com.br OPERAÇÃO COMERCIAL CLÁUDIO ALVIM contato@fworksprodutora.com.br DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO VINÍCIUS ROMÃO

CAPA Arte gráfica por Vinícius Romão Modelo: Johnatan Faria Foto: Márcio Brigatto Assistente de Fotografia: Wesley Batista Hair por André Pavam e make-up por Silvio Prates Edição de Moda: Aline Firjam Produção: Cínthia Furtado e Cléber Oliveira Assistente de Produção: Renata Falci Agradecimentos especiais: Lucas, Carlos, Paulo e toda a família Bracher. John Noi – www.trendstop.com

Tiragem: 8 mil / Impressão: Gráfica América / Distribuição: Mix Alternativo e Linder Panfletagem Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da revista. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Todos os direitos reservados.

A F. Cultura de Moda não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados na revista. 6


bem casada

7


arpel

8


arpel

9


sumário 14_Colaboradores 16_F.Works online 20_Street Style Memory - Florença 26_Entrevista - Jum Nakao 32_Especial - Museu de Grandes Novidades - Um crossover entre a moda e a arte em 2014

36_Alta Costura - Novidades sob medida 40_Local - Dress code tapete vermelho 46_Cultura - Castelinho dos Bracher 50_Editorial Beauty - Vanitas 66_Arte - É possível entender o mercado

atual da arte contemporânea?

70_Arquitetura - O Brasil, uma escolha. 74_Editorial de Moda - Come as you are 88_Menswear - Artsy! 90_Brasil - Moda como arte na SPFW 94_Incoming - Novos talentos da moda em

Juiz de Fora

102_Publieditorial Lookbook 110_Trend Topics - Primavera-verão 14/15 116_F.Indica - Música, Livros e Cinema 122_Publieditorial Gastronomia 130_Making Of 132_Publieditorial Etiqueta 136_Onde encontrar

10


santa lolla

11


bruna

12


bruna

13


ALICE LINHARES

KATIA DIAS

É jornalista, com incursões em universos plurais, como arte, viagens e automóveis. Trabalha como assessora da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF.

É jornalista por formação e estudante do campo da moda e da arte. Tem interesse por fazer parte de um mundo dinâmico e em constante transformação. DANIELLE MAGNO

MÁRCIO BRIGATTO

É jornalista, eterna apreciadora das “modas” e das artes.

É fotógrafo, há 26 anos.

DANIELLE SARTORI

RAFAEL BITTENCOURT

“Eu gosto dos Beatles. E isso já diz muito sobre mim.”

É psicólogo de formação, estrategista de branding e trendhunter de profissão e boêmio nas horas vagas. RAQUEL GAUDARD

HELLEN KATHERINE

É jornalista, apaixonada por internet, comunicação, moda e beleza. Se aventurando, agora, pelo mundo da assessoria.

É jornalista, atualmente vive na Itália e feliz.

WANDERSON MONTEIRO

JOÃO PAULO DE OLIVEIRA

É jornalista, pixador e flamenguista.

É sócio-diretor do estúdio 50 Milímetros e fotógrafo oficial do grupo Privilège.

JOSÉ ALEXAnDRE ABRAMO

vinícius romão

É jornalista por formação, publicitário pela estrada da vida. Me convide para uma cerveja e tenhamos um bom papo.

Trabalha como designer gráfico. Quer ser médico quando crescer.

14


track field

15


No Face: várias postagens ao longo do dia sobre o universo da marca F. Works e da moda. No Pinterest: melhores cliques de street style de todas as revistas F. Cultura de Moda, estilo masculino e mais. Para seguir já!

E no blog Acervo Produção: Balanço da participação dos blogs na Mostra de Inverno 2014: os links das coberturas que fizeram o evento girar na rede.

Ocupação Zuzu: a jornalista Hellen Katherine conversa com o professor e especialista em história da moda João Braga, sobre a vida e obra da estilista Zuzu Angel.

F. Works TV: vídeos da SPFW e Mostra de Inverno.

No Instagram: cobertura de todos os eventos com a assinatura F. Works Produtora de Moda e paparazzi de nossa equipe em produções rua afora. Em nosso site: todas as fotos oficiais da Mostra de Inverno 2014.

Curtiu? Não curtiu? Converse com a gente: jornalismo@fworksprodutora.com.br Envie também suas sugestões de pauta e portfólio com criações em design de moda. Quem sabe você não aparece por aqui?

16


bruna

17


-

18


Interact

19


moda de rua

Em qual lugar do mundo a moda e a arte estariam tão vívida e historicamente lado a lado? O leitor poderia dizer Paris. Sim, mas lá a revista já esteve presente, logo na primeira edição. Florença, então, ilustraria bem esse espaço - cidade berço das atividades iluminadas de mestres como Leonardo, Michelangelo e, claro, Brunelleschi, e lugar que, atualmente, abriga a prin-

20

cipal feira de insumos e referências para a moda mundial, a Pitti Imagine. Decidido o destino, foi mochila pronta e pé na estrada. Os trens (tive de pegar três, desde Castelraimondo, na região Marche, onde vivo) renderam uma viagem de aproximadamente cinco horas, contando as baldeações. E já fui me inspirando logo no caminho: de Marche


para a Toscana, algumas das mais belas e famosas paisagens italianas. Mas era o cenário artístico de Florença meu objetivo. E concluí que era também o de uma avalanche de pessoas dispostas a admirá-lo, todos os dias. É difícil, mas de certa forma fácil, encontrar representantes genuinamente locais para serem clicados. São poucos em número,

mas se destacam na multidão de turistas. Multidão que atualmente parece ser, em sua maior parte, de orientais – e com bastante informação de moda. Essa fatia do mercado tem poder de compra e compram, sim, as marcas mais cobiçadas, sendo Chanel a preferida. Por outro lado, a elegância inerente ao homem italiano é flagrante. A moda é apenas

21

um suporte para o seu melhor estilo: o bom gosto em se vestir. Pude conferir boas mostras de moda e acervos permanentes do segmento em museus, como o Palazzo Pitti, Gucci ou o de Salvatore Ferragamo. Mas se era o espírito das vias fiorentinas o motivo para minha visita à Florença, eis, então, o que temos de imagens.


Ah, observei algumas tendências-modinhas entre os locais: para os homens, cabelos com a base raspada (ou cortada bem curta) e um coquinho amarrado no alto da cabeça. Também para eles, reinam as calças com a barra curta, com pelo menos três dedos de distân-

22


cia da altura dos tornozelos, acompanhados por sapatos sociais com meias (a primavera ainda ĂŠ fria). Para as meninas, sneakers (esses mesmos, de treino) em looks arrumadĂ­ssimos confirmam o remix da moda esportiva com a social, jĂĄ tĂŁo anunciado aos quatro ventos.

23


24


marilda

25


entrevista

©pedro colon

O designer e diretor de criação Jum Nakao escapa do convencional para criar moda, objetos, móveis, instalações ou espetáculos. Sua aproximação com a arte e tecnologias aplicadas ao design resulta em pensamentos e materiais cuja criatividade vai além do previsto. Apesar de encontrarmos relatos da sua vonta-

26

de de deixar os estudos iniciais sobre os quais se debruçava, que envolviam sistemas eletrônicos e computação – pois, demasiadamente distantes do olhar humano -, Jum me prova, ao contrário, que a tecnologia sempre esteve presente na sua criação de moda, “principalmente no processo de desenvolvimento”, como explica, em entrevista exclusiva.


As apresentações sobre a vida de Nakao sempre lembram o seu último desfile realizado na SPFW, em 2004, que deu origem ao livro “A Costura do Invisível”. E aqui, não seria diferente. Considerado o melhor da década no Brasil e um dos melhores do século pelo Museu de

Moda da França, com frequência surge a associação com o abandono da moda pelo estilista, depois da performance em que as modelos rasgam suas roupas criadas em papel. Uma verdade, talvez, se falarmos apenas da moda convencional - aquela que ele não faz.

Jum, que já esteve nas páginas da revista F. Cultura de Moda em sua primeira edição, em 2010, volta agora com mais trabalhos ainda. Para conhecer tudo, vale a pena acessar o seu site, jumnakao.com, que reúne todas as suas criações de moda, design de objetos, direções artísticas, enfim, por lá tem muita arte. E para saber o que se passa pela sua cabeça, essa entrevista. Jum Nakao revela, quase em forma de poesia, os seus pensamentos e, no final, deixa um recado para os alunos que vão fazer o seu workshop “Modelar: Inovações, Geometria, Corpo e Espaço”, a convite da F.Works Produtora de Moda, no evento Meeting.

F. - A reflexão sobre o efêmero e o glamour, tão presentes na moda, levou você a querer abandoná-la? JN - Nunca. Mais do que uma reflexão sobre efemeridade e glamour, “A Costura do Invisível” se tornou um marco porque modela sonhos e possibilidades, costura visível e invisível, borda permanência na efemeridade. Modela sonhos e possibilidades ao revelar possibilidades de uma simples folha de papel, das quais todas as roupas do desfile foram feitas, que o encantamento encontra-se nos olhos de quem vê e crê, que não importa do que é feito, mas sim, como é feito, que sonhos, mesmo que frágeis e delicados como os escritos ou feitos de papel, podem sobre-existir para sempre.

A Costura do Invisível

Costura visível e invisível ao revelar, através do rasgo - no final do desfile todas as roupas foram rasgadas e deixaram de existir -, que além da forma deve haver conteúdo, que por detrás de cada palavra deve existir um pensamento, pois o conteúdo sobrevive mesmo depois que a forma desaparece e os pensamentos reverberam em nosso pensamento mesmo depois de pronunciadas as palavras.

Borda permanência na efemeridade ao vestir sem existir, veste pessoas em seus pensamentos. A coleção de papel foi inteira rasgada em seu lançamento sem uma roupa sequer, posteriormente, ter sido produzida e perdura através dos tempos como referência maior de moda. Assim como estrelas que morrem, mas deixam rastros de luz pelo espaço, precisamos compreender que nossos atos são como efêmeras centelhas no infinito, brilham para sempre, tem permanência no tempo e espaço. 27


entrevista

dou a moda brasileira. Como artista brasileiro, sinto orgulho por representar o Brasil. Como cidadão brasileiro, lamento a falta de educação e cultura dentro do meu país.

“No Reality Project, A Hora do Brasil, ineditamente, uma coleção foi desenvolvida em tempo real durante uma semana de moda e pôde ser acompanhada pelo público ao vivo e pela internet.” “Em ‘A Costura do Invisível’, os recortes dos filigranas no papel vegetal, que em princípio foram concebidos e executados artesanalmente, foram realizados, por fim, a laser, pela complexidade e escassez de tempo.”

reality project

“No projeto vestidos prismáticos, projeções de imagens interagiam sobre superfícies multifacetadas e irregulares.”

F. - Acredita em iniciativas como esses novos planos do governo nacional para fomentar o setor?

“No Festival della Creatività, em Firenze, expusemos um vestido que flutuava em imagens.” “Em Future Kitsch, abordamos conceitos sobre tecnologia versus tempo, o novo obsoleto.” “Na Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas em Londres, criamos figurinos cenográficos autoiluminados, sincronizados com a música e rádio controlados.”

O caminho para a produção nacional é a educação e a cultura de qualidade. Sem conteúdo, não temos sentido. Precisamos ir além, alterar profundamente as bases deste país, estimular o bem e combater o mal, recompensar o correto e punir o incorreto. Somente assim, estimularemos os estudos e pesquisas, a dignidade e a ética, para, enfim, colocar o país no caminho do real progresso e desenvolvimento. Todos sabemos que este é o único caminho. Precisamos resgatar nossa fé.

a Costura do Invisível

JN - Até 2004, havia um descompasso entre a ascensão dos eventos de moda e a desaceleração do setor de moda no Brasil. A efervescência gerada pelos eventos não refletia a crise de longa data instaurada no setor, que chegava, em 2004, ao seu ápice. A crise atual das semanas de moda, agora em sintonia com a realidade do setor moda, revela a “bolha fashion” que atinge desde a educação à indústria, o comércio e todo o segmento ligado à moda. O foco da análise não deve ser os eventos de moda, mas a falta de estrutura do país para gerar conteúdo e investimentos para o setor de moda e, consequentemente, para os eventos de moda, assim como em todos os setores produtivos do país. Para o Brasil ser competitivo, precisamos repensar e reformar o país, sonhar sonhos dignos e lutar por eles. F. - Na sua opinião, em que medida os universos da moda e da arte podem coabitar?

future kitsch

F. - E já fez as pazes com a moda

brasileira? Dez anos depois do seu último desfile, considera que alguma coisa mudou ou melhorou na produção nacional?

JN - Sempre estive em paz com a moda brasileira. Por amor à moda, fizemos “A Costura do Invisível”. Uma obra como a coleção de papel não poderia

ser feita sem amor. “A Costura do Invisível” recebeu o título de desfile da década pelo SPFW e foi reconhecido como um dos maiores desfiles do século pelo Museu de Moda da França. É referência nas mais importantes publicações sobre moda e design do mundo e integra acervos internacionais de museus de arte e moda. “A Costura do Invisível” internacionalizou a moda brasileira, no entanto, pouco mu28

JN - A questão não é a convivência de gêneros, arte ou moda. A evolução tecnológica e científica nos aproximou da máxima possibilidade da existência humana, rompendo inúmeras barreiras e facilitando o nosso dia a dia. Tudo nos é lícito e permitido, seja para o bem ou para o mal. No campo da linguagem não há mais fronteiras. Não se define mais o gênero pelo suporte. O que define cinema ou vídeo não é mais a utilização do filme, assim como cozinhar não requer mais o fogo. Nunca se produziu tanto em tão pouco tempo. De forma antropofágica, arte, moda, cinema, música, literatura, entre outros, bebem em diversas fontes, sem pudor ou falsa ideologia. O que se busca é a melhor linguagem para o significado ou simplesmente o máximo da forma. Na busca da melhor linguagem


te surpreende?

para o significado, despertamos afetos onde não havia, pavimentamos caminhos para o pensamento descobrir a essência. Na busca pelo máximo, chegamos ao vazio. O mínimo de conteúdo, o máximo apenas na forma.

Outra significativa parte da sociedade, com valores éticos, morais e esperança, anseia por conteúdo, serviços e produtos com excelência humana. As grandes obras primas, os mestres, não existiriam se não houvesse este público, esta demanda. O caminho não é o retrocesso da evolução, o purismo versus a miscigenação, o velho no lugar do novo. Precisamos definir e honrar nossos valores na defesa de princípios. Somente assim, lapidaremos o mundo que queremos viver. De outra forma, mesmo calados, serviremos ao mundo que não queremos. A escolha é nossa!

F. - O quão difícil é criar? Quais são os skills necessários para se formar um bom designer de moda - a formação acadêmica é importante em qual sentido, na sua opinião? JN - Criar exige clareza de princípios, valores éticos e morais, sabedoria para sonhar, entendimento para realizar, humildade para construir, generosidade para compartilhar. Sem princípios, não temos fim, podemos acabar em qualquer lugar ou chegar a lugar nenhum. Onde tudo serve, qualquer destino é lugar. Sem princípios, mesmo chegando, sentimos que não alcançamos. Valores éticos e morais são a base da dignidade. O fim não justifica os meios, de nada adianta alcançar com o vazio do merecimento. O valor da recompensa é a lisura da conquista. Sabedoria para decidir quais sonhos sonhar. O princípio é apenas um norte. Para construir um sólido caminho, precisamos de sabedoria para não cair. Sonhos são a pavimentação desta nossa jornada. Entendimento para não desperdiçar a oportunidade de construir. A ferramenta em si não é nada, ela apenas significa o poder de construir ou destruir. O poder corrompe através do ego e da vaidade, o entendi-

nos surpreendemos com coisas simples, mas cheias de alma? Um prato feito por uma cozinheira e não por um chef, uma música interpretada com amor, um texto cheio de verdade, um simples ato de carinho, um dia perfeito.

F. - Qual o DNA das criações de moda do Jum Nakao?

©pedro colon

Parte da sociedade se corrompeu pela forma e se afastou da essência humana, se tornou vazia, sem alma, sem humanidade. Sem valores como ética, moral e esperança, estes personagens se tornaram os protagonistas principais dos espetáculos da degradação humana, vastamente explorados pelas mídias.

JN - Alma. Quantas vezes, felizmente,

mento esvazia o ego e a vaidade, para justo e correto uso do poder. Humildade para construir. Quando criamos, servimos à matéria. Lapidamos e polimos para que a matéria apresente o seu máximo valor. Em nossa entrega, descobrimos que servimos por servir; ao conferir visibilidade ao que era invisível, manifestamos a significância da vida humana. Generosidade para compartir princípios, valores, sonhos, entendimento, ensinamentos e transformações, através da entrega pessoal e da criação para o outro. Criar não é fácil nem difícil, é o desígnio natural de todos. Nos sentimos confortáveis, quer seja na subida ou descida, quando encontramos nosso caminho. A pergunta que devemos nos fazer é: “Qual o meu caminho?”. Cumprido o percurso acima descrito, a habilidade essencial para um designer de moda é o profundo conhecimento técnico de todas as etapas construtivas da roupa, em especial a modelagem. Sobre a importância da formação acadêmica, pergunte a qualquer empresário ou ex-formado se a Academia forma corretamente estes graduados.

F. - Como você pensa que vai ser o futuro da moda, de forma geral? JN - Sob medida. Com o avanço da tecnologia e a valorização do indivíduo, cada vez mais a demanda por produtos personalizados deve aumentar. F. - O que/quem te inspira? JN - Mudar o mundo! A começar pelo meu país. Acredito no Brasil!

F. - E nesse mundo tão saturado de coisas “cool”, o que 29

JN - O universo dos sonhos, encontros lúdicos e improváveis, o fantástico e o real, a tecnologia e a simplicidade, truques para acreditarmos em mágica! F. - Você se sente um artista ou um estilista realizado? O que ainda falta fazer? JN - Sim, ambos. Muitas coisas! F. - Você virá a Juiz de Fora em outubro, a convite da F.Works Produtora de Moda, para realizar o workshop Modelar. Conte-nos um pouco sobre o processo do curso e o que os alunos podem esperar como resultado prático desse encontro. JN - O processo tem a pele como ponto de partida, afinal a roupa é uma segunda pele. Como podemos projetar uma segunda pele sem compreender a primeira? Nosso plano de viagem é, em menos de duas horas, percorrer 500 anos da evolução da modelagem, desde o século XV até os dias atuais. Com esta ampla visão, passaremos aos exercícios práticos: criar e planificar uma pele do corpo humano! Ainda no primeiro dia, costuraremos os moldes resultantes do exercício inicial e vestiremos estas roupas. Estudos de casos serão apresentados revelando os segredos da modelagem, trazendo compreensão e entendimento sobre modelagens, permitindo aos alunos desenvolver suas próprias bases. No segundo dia, a partir da metodologia aplicada no primeiro, realizaremos uma série de desdobramentos visando à criação de volumes, silhuetas, detalhes de acabamento - visando capacitar os alunos na criação das formas que conferirão identidade em suas criações. Desejamos um maravilhoso workshop a todos!


30


objeto desigual

31


especial

Quem assistiu “O Diabo veste Prada”, certamente se lembra do diálogo em que a poderosa editora de moda Miranda Priestly, vivida por Meryl Streep, mostra como uma simples roupa tem memória e história para contar.

Miranda Priestly - “Você acha que nada aqui tem a ver com você. Você

E então, o celeste apareceu depois em coleções de 80 outros

vai até o seu armário e escolhe, digamos, esse suéter horroroso, por

estilistas e, então, passou para as lojas de departamento e depois

exemplo, porque está tentando dizer ao mundo que se leva muito a sério

foi parar em lojas populares, onde você, sem dúvida, comprou

para se importar com o que você vai vestir, mas o que você não sabe

esse suéter numa liquidação. No entanto, azul representa milhões

é que a cor desse suéter não é um simples azul, não é turquesa, não é

de dólares em incontáveis trabalhos e é meio cômico como você

lápis lazuli, ele é AZUL CELESTE. E você ignora o fato de que, em 2002,

pensa que fez uma escolha que a exime da indústria da moda

Oscar de la Renta fez uma coleção de vestidos azuis celestes, acho que

quando, na verdade, está usando um suéter escolhido para você

foi Yves Saint Laurent que fez jaquetas militares azuis celestes.

pelas pessoas dessa sala em meio a um monte de coisas.”

Mais do que se interessar por tendências, é importante estar atento para onde apontam as escolhas e os fluxos frequentes das passarelas a cada temporada, que, a princípio, não apresentam coisas em comum, mas acabam sugerindo uma intenção ou trazendo à tona o zeitgeist do momento. Para capturar a essência e o discurso da Primavera/Verão 2014 internacional, comecem já a imaginar uma interseção entre moda e arte. Interseção, segundo a definição clássica da matemática, é um conjunto de elementos que, simultaneamente, pertencem a dois ou mais conjuntos. Por um viés

mais filosófico, pode também ser um ponto (de cruzamento), onde algumas ideias ou objetos se conectam por semelhança de repertório.

Worth, Schiaparelli & Art

Ao fazer uma leitura destes pontos de conexão, vale ressaltar alguns momentos da história em que a moda flertou com a arte. Se fizermos uma retrospectiva rápida e certeira, lembraremos que, no século XIX, Charles Worth já havia posicionado suas criações de haute 32

couture numa perspectiva das Belas Artes. Em outro período não menos relevante, temos também as contribuições de alguns talentos dos movimentos cubista e surrealista à moda. Ligados ao trabalho da italiana Elsa Schiaparelli, temos Salvador Dali e Jean Cocteau, que utilizaram de indicativos da arte para dar a um objeto de moda outro significado. Caminhando nesta direção, parece natural que o ponto de chegada seja o velho embate sobre o que é arte e o que é moda. Todavia, fica aqui um


Sobre a Moda e o Mundo

P r a d a SS 1 4 - © a . m a r a n z a n o

Antes de tudo, precisamos nos situar no presente para entender a motivação atual desta conjunção entre moda e arte. E isso significa perce-

ber que o mercado de moda se recupera de um período de pós-recessão econômica que, contraditoriamente, no ano de 2010, “trouxe notícias de uma elevação dos rendimentos da alta-costura, conforme novos clientes buscavam o valor tranquilizante de um símbolo máximo de status”. * Tudo isso nos leva a crer que o momento artsy das passarelas 2014 do Hemisfério Norte parece atuar como um antídoto eficaz para aquecer

As roupas ganham outro registro imagético que não o do tempo fugaz da moda. E isso repercute positivamente em valor agregado e desejo de consumo.

B a c k s t a g e P r a d a SS 1 4

convite para nos deslocarmos além deste pensamento classificatório e seguirmos viagem para um viés “à la Miranda Priestly.”

um mercado que se recupera, aos poucos, de uma crise econômica recente. Fazendo uma analogia, basta ter em mente a inesquecível coleção de Yves Saint Laurent inspirada nas obras de Piet Mondrian. As roupas ganham outro registro imagético que não o do tempo fugaz da moda. E isso repercute positivamente em valor agregado e desejo de consumo. Talvez por esta razão, a moda tenha pegado para si um conjunto de associações mais consistentes. As inspirações, desta vez, não vieram das sutilezas que muitas vezes “tendenciam” um olhar. Nesta temporada, a curadoria de ideias que motivaram uma coleção chegou ao espectador de maneira mais evidente.

Chanel, Missoni e Prada

O resultado desta equação foram coleções voltadas para a busca de novos valores e referenciais. Muito oportunamente, Karl Lagerfeld elaborou uma atraente associação do desfile da Chanel a uma verdadeira galeria de arte contemporânea. Numa inversão de valores, onde, anteriormente, a moda buscava na Prada - ©consuelo blocker

M i s s o n i - SS 2 0 1 4

33


especial

arte suas inspirações, nesta estação, o Kaiser criou “arte” com inspiração na moda. Na passarela, o que se viu foi uma coleção repleta de roupas inspiradas em pinturas e que dialogavam com as instalações expostas. Prova de imagem duradoura no mundo das artes foi a escolha da Missoni. Numa ode à atmosfera exótica do Oriente, a grife trouxe para as passarelas o trabalho do artista Katsushika Hokusai. Nascido no século XVIII, Hokusai ficou mundialmente conhecido pelas suas xilogravuras e o uso de elementos paisagísticos em suas obras. O virtuosismo do artista foi interpretado em peças que ostentavam não só elementos poéticos, como também sua obra mais conhecida, “A Grande Onda de Kanagawa”. Como uma grande patrona das artes, Miuccia Prada reuniu um grupo de jovens artistas para pintar enormes murais inspirados na arte de rua de Diego Rivera. O desfile, que faz parte do projeto intitulado “In the heart of the Multitude”, resultou em uma coleção vibrante e surpreendente. Habituada às colaborações criativas, a marca desta vez foi

além, ao estampar a coleção com os desenhos dos artistas, que foram também reproduzidos em gigantescos murais na sala de desfile. Não foi difícil imaginar uma grande moldura em torno dos vestidos da Prada.

Primavera Artsy

Como um viajante que apura o olhar e é capaz de se inspirar por absolutamente tudo o que vê e experimenta, a temporada de moda celebra um museu de grandes novidades. O resultado desta experimentação é um clash visualmente impactante e com conteúdo, que resultou em uma onda de referências e reverências pra lá de interessantes.

Chanel - ©consuelo blocker

*fo nte: Cr onologia da M o da , NJ S te v e ns o n – Edit o r a Z a ha r

34


pelo zero

35


alta-costura

Para quem acompanha as evoluções da moda, a tendência esportiva não é novidade. Estamos vendo o hi-lo predominar já há algum tempo, trazendo à tona produções elegantes com toque esportivo e vice-versa – o famoso sporty chic. As passarelas confirmaram a trend que nasceu nas ruas.

Para o mineiro, a alta-costura é, hoje, um laboratório de pesquisas e ideias. “O fato de fazer roupas sob medida não é mais uma questão de alta-costura. Inventar novas regras, sim, é a grande questão da atual alta-costura”, revela.

Na alta-costura, porém, a surpresa foi grande e gerou polêmica. Quem imaginava que os desejados vestidos de festa viriam acompanhados de tênis esportivos? Raf Simons sim, e garantiu à temporada Verão 2014 da Dior a combinação casual do sneaker com a delicadeza de florais. Enquanto isso, Lagerfeld inovou o calçado de corrida com rendas, bordados, paetês e tweed. Para compor o styling, cotoveleiras, joelheiras e... pochetes. Tudo by Chanel.

Otimista, Lins enxerga um caminho menos rigoroso para a moda de luxo – não quanto à técnica, certamente, mas quanto à adoção de novas ideias. “A silhueta muda, mas podemos, sim, ter esse fascínio com sneakers”. No caso das criações de Karl, é o que não falta. Os minuciosos bordados, combinados com cadarços de tule, custaram, aproximadamente, 30 horas de trabalhos manuais. Pela riqueza de detalhes, os preços dos modelos honram sua presença na passarela da alta-costura – algo em torno de R$6000 deve ser desembolsado para que o seleto público consumidor possa garantir a novidade. Vale lembrar que não é de hoje que essas maisons quebram paradigmas e fazem a moda, de certa forma, caminhar – para várias direções.

O termo haute couture foi criado na França, para referir-se a uma moda artesanal e de qualidade, onde tudo era confeccionado com tecidos raros e sofisticados, pelas mãos de qualificadas equipes. A singularidade de cada peça carregava o ar de preciosidade conferido, até hoje, às marcas que fazem parte desse seleto grupo – chamadas maisons. O termo faz, portanto, referência às lojas situadas em Paris, mais especificamente no chamado Triângulo de Ouro, e é até considerado patrimônio cultural da capital. As regras para que uma maison possa usá-lo são definidas pela Chambre Syndicale de la Haute Couture.

Um sonho impossível? Lá em 1913, Coco e seu affair Boy Capel escolheram a elegante Deauville para passar o verão – a cidade era o destino de muitos membros da alta sociedade francesa. Em meio ao clima de guerra e pouca ostentação, Chanel diagnosticou a oferta de roupas pouco práticas para o clima descontraído do resort. Afiada em perceber oportunidades, foi ali que a estilista abriu sua segunda butique, especializada em luxo casual, ou seja, peças femininas mais esportivas. De algum modo, a inovação do Kaiser faz, também, referência aos primeiros passos da Mademoiselle.

Entre os nomes que conquistaram um disputadíssimo espaço no órgão, está o do estilista Gustavo Lins. Brasileiro radicado em Paris, arquiteto e único latino-americano a se apresentar na semana de haute couture, Gustavo tem levado elementos brasileiros à passarela francesa, por meio de sua alfaiataria e modelagem impecáveis – especialmente na técnica, adquirida ao longo de seus mais de 20 anos no país. Em entrevista exclusiva à F., Gustavo classifica o sporty chic como um dos temas favoritos de suas criações no Atelier Gustavo Lins. É característica de suas coleções, inclusive, mesclar invejáveis e luxuosos vestidos com opções mais casuais. Em seu Inverno 2014, por exemplo, o designer apostou em peças elegantes perfeitas para o dia a dia, compondo uma coleção simples, chique e bela representante de seu DNA fashion.

O estilista, historiador e jornalista de moda José Gayegos reforça esse constante olhar para o passado. “Estão todos copiando o que já foi feito em décadas passadas. Só quem não tem repertório de moda acha que há novidades”, dispara. Relembrando nomes como Courrèges e Cardin, pioneiros em suas criações, Gayegos reforça, em entrevista, o conceito de alta-costura ao pontuar que trata-se, acima de tudo, de um modo de fazer. “Tênis e pochetes são apenas acessórios. (...) A verdadeira alta-costura pode ser feita em um simples taier”, diz.

E é assim que ele enxerga o sonho da alta-costura. “Estar confortável com allure é um dos meus objetivos”, aponta, reforçando, ainda, seu constante diálogo com a arte como instrumento inspirativo. “Minhas coleções expressam meu pensamento”. 36


Christian Dior - Haute Couture 2014

Apesar de muito se falar sobre uma alta-costura de mais atitude, em evolução, Gayegos aponta um caminho contrário. “Nos anos 1950, cerca de 200 mil mulheres usavam alta-costura. Hoje, mal chega a 200. A alta-costura, pelos seus preços, tornou-se apenas um sonho”. Um sonho de poucos e feito por poucos, já que, segundo o historiador, é impossível, inclusive, falar em novos nomes que dominem, de verdade, o savoir faire. “Até os anos 1960, os criadores saíam dos ateliês de grandes costureiros. Hoje, saem de faculdades de moda, onde mal se ensina modelagem. Sob o ponto de vista técnico, a alta-costura morreu e não será ressuscitada”, afirma, definitivo.

At e l i e r G u s tav o l i n s - H a u t e C o u t u r e 2 0 1 4

©trendstop.com

Por outro lado, enquanto o mundo do luxo vem tentando se reinventar, ainda é ele que faz parte da roda fashion girar. O limitado número de reais consumidores da alta-costura é compensado pela inquestionável visibilidade que a passarela dos sonhos garante às maisons e às suas estratégias de marketing. O sonho impossível é substituído pelos incontáveis segmentos comerciais – maquiagem, perfumaria, acessórios e, claro, o próprio prêt-à-porter, sempre influenciado pela alta moda -, atraentes pela presença das logomarcas mais desejadas do mundo. Assim, a conta fecha na compra daquela bolsa Dior. Ou, daquela pochete – Chanel, claro.

Chanel - Haute Couture 2014

37


sal達o buena vista

38


casar達o

39


local

Com mil ideias na bagagem e muita obstinação para colocá-las em prática, a nova geração que está revolucionando os caminhos da couture na cidade está no front de uma batalha delineada por fios, tecidos, bordados e transparências.

A e s t i l i s ta O l í v i a A r a g ã o ©wanderson monteiro

40

Perto de alçar voos mais altos e sem medo de encarar desafios, Olívia Aragão, Karina Cruz e Roberta Brandão são algumas das meninas que colocaram mãos à obra para realizar os próprios sonhos e os daqueles que confiam no olhar aguçado que o trio desenvolveu a partir de muita pesquisa e atenção aos detalhes. Em comum, as três têm a paixão pela moda, a admiração pelo handmade e a necessidade de cultivar o belo, mas mantêm diretrizes diferenciadas, que delineiam uma assinatura pessoal no que fazem. Afinadas com tendências internacionais e referências culturais, algumas pessoais, de viagens e das artes em geral, elas trabalham duro para se alinhar ao gosto dos clientes. Mas não se enganem: elas sabem o que querem e impõem um novo ritmo ao mercado. A recém-chegada trupe da couture juiz-forana já estabeleceu bases sólidas, movimentando a economia


local e dominando formaturas, cerimônias e casamentos com modelos exclusivos - alguns deles verdadeiras obras-primas artesanais, outros selecionados a partir de um leque de multimarcas. Cheia de gás, essa nova geração constrói seu próprio legado fashion, mesclando agulhas, tesouras e linhas com plataformas virtuais que privilegiam sites, blogs e redes sociais - costurando, habilmente, talento, inspiração e criatividade também nos moldes ortodoxos, em endereços reais. Com um fluxo generoso de clientes, essas meninas mal têm tempo de respirar, preocupadas em oferecer atenção integral a quem as procura em busca do dress code perfeito. Respostas rápidas online e celulares desligados em horários de atendimento nos ateliês são estratégias usuais. É que elas não têm tempo a perder, e estão só começando...

Karina Cruz - ©maria toscano_beauty victor fish

Dream makers

“De dez anos para cá, conquistamos cada vez mais o mercado fashion. Temos revistas de qualidade, eventos importantes, blogs conhecidos, estilistas talentosos, cursos de alto nível. Enfim, Juiz de Fora tem muito potencial e está no caminho para o reconhecimento nacional”, analisa Karina. Olívia faz coro, lembrando que as criações estão a mil por aqui. “Temos profissionais competentes e consumidores à altura das novidades. Isso movimenta o mercado e aflora ainda mais a criatividade de quem está produzindo, o que me incentiva a buscar, incessantemente, algo exclusivo e que diferencie o meu produto”. Roberta, que trouxe de Visconde do Rio Branco uma tradição familiar de handmade, acredita que faculdades, cursos paralelos e workshops têm aberto mui-

41

tas portas aos novos profissionais. Ela vê a cidade como território fértil para lançar nomes. “Raquell Guimarães é um grande exemplo e referência de um negócio local que conseguiu atingir o mercado mundial. Acredito que tudo é possível, basta querer e batalhar. Temos marcas com enorme potencial”. Com uma trajetória de experiências a partir dos anos 1970, que inclui passarelas, costura e um trabalho permanente de atualização como personal stylist, Karminha Lopes mantém um olhar crítico sobre a nova safra que está criando moda de festa na cidade e alerta para a necessidade de não se mergulhar na profissão apenas por uma questão de status ou para seguir uma tendência. “Muitos estudantes saem dos cursos de moda apenas com a teoria, sem o domínio integral, e acabam oferecendo um trabalho desprovido de qualidade”, observa, lembrando a importância da união entre informação teórica e conhecimento prático para forjar profissionais de primeira linha, que, segundo ela, estão aí, mas são raros. O presidente da Câmara de Diretores Lojistas (CDL) de Juiz de Fora, Marcos Tadeu Casarin, diz que a incursão desses novos talentos aquece a economia local, com uma movimentação financeira que envolve cifras surpreendentes, embora seja difícil chegar a números exatos, especialmente em função das várias etapas de uma produção artesanal. Bem longe da acomodação, Olívia está pronta para crescer. “Estamos perto de poder expandir para outros públicos, mas a mão de obra é difícil, o que limita a produção, principalmente porque, no caso do meu ateliê, fazemos peças únicas”. Para lapidar a nova coleção, ela foi para o Nordeste, onde visitou


local

oficinas e entrou em contato com a tradição das mulheres rendeiras, que já chamaram a atenção de grandes costureiros. Roberta aponta que os brasileiros nem sempre valorizam seu próprio produto. “Em Juiz de Fora, vejo um pouco isso. Só é bom o que vem do Rio de Janeiro e de São Paulo. Discordo totalmente dessa abordagem. Aprendi, e aprendo mais a cada dia, a respeitar meus colegas”. Olívia observa que viajar é muito válido para conhecer novos trabalhos, ateliês e estilistas. “A gente aprende todos os dias. Às vezes, não precisamos ir longe, temos referências maravilhosas aqui mesmo no Brasil”.

Juventude e contemporaneidade As referências que norteiam o trabalho dessas profissionais envolvem observação e vivências, unindo teoria e prática. “Minha inspiração vem da delicadeza da renda, do handmade, do trabalho artesanal que cresci vendo minha mãe fazer”, diz Roberta, que define suas criações como uma transgressão às próprias influências, com uma pegada moderna e delicada. “Amo misturar o romântico e o clássico, dando um toque de sensualidade. Esse é o perfil da minha marca”.

veis”. Para Roberta, a moda é uma reciclagem de tendências, em busca de influências antigas, que são transformadas e adaptadas a cada estação. “Amo o vintage. Ele está sempre presente nas minhas coleções”. Karina e Olívia comungam a paixão pelo estilista libanês Elie Saab. “Ele sabe, como ninguém, deixar uma mulher fina e elegante, sem perder a feminilidade e o romantismo. Sabe misturar texturas e transparências com leveza. Seria um sonho poder acompanhar de pertinho os bastidores desse trabalho que se traduz em tecidos nobres, rendas e riqueza de detalhes. Ele é meu preferido, mas gosto muito também da sensualidade da Balmain e da elegância da Dior”, diz Karina. “Quando começamos pequenos e crescemos aos poucos, temos tempo de colocar tudo no lugar e do nosso jeitinho. E isso é muito bacana, pois as coisas não se atropelam. É como tento fazer no ateliê, para que tudo saia perfeito e como planejei, do atendimento às etapas finais de produção. Busco um acabamento impecável, quero que meus vestidos sejam tão lindos quanto os de Saab, de quem sou mais que fã”, observa Olívia.

Karina, que hoje mora no Rio, mantém seu radar em amplitude. “Tenho uma pastinha com todas as minhas referências e tudo o que me inspira. Tiro fotos do celular e monto o meu repertório. Gosto de manter minha identidade em cada trabalho que executo, e, com toda certeza, minhas experiências de vida fazem parte do meu processo de criação”. Sua inspiração vem das ruas, de viagens, blogs e do seu estilo de vida. “Hoje, precisamos ser completos em tudo. O que eu puder acrescentar para agregar valor ao meu trabalho, vou acrescentar”. Nesse front, o novo e o antigo estabelecem um diálogo próprio. “A moda é cíclica e está sempre se reinventando. Para alguns, o vintage pode ser anacrônico, ultrapassado, antiquado, obsoleto. Para outros, o saudosismo pode significar uma forma de viver. E para quem tem na cabeça o conceito de velho como sendo empoeirado e démodé, pode mudar de ideia. Assim como o retrô virou comportamento”, diz Karina. Olívia explica que, muitas vezes, identifica algo que uma cliente viu, usou e gostou, resgatando em uma pegada mais moderna. “A moda é muito oscilante; procuro reinventá-la todos os dias. Costumo brincar que nem eu mesma me copio. Adoro dar um toque vintage às peças, pois agregamos um conceito diferente. Meu ateliê carrega isso também na decoração, em construções e mó-

Isabella Fortuna veste c r i a ç ã o d e R o b e r ta B r a n d ã o ©marina costa, olho de peixe

Quanto às suas pretensões, Roberta tem Chanel como uma grande inspiração e se declara apaixonada pelas criações de Zuhair Murad, outro libanês, sem deixar de reverenciar o talento de Elsa Schiaparelli - com quem gostaria de ter trabalhado.

42


43


-

44


Interact

45


cultura

Era uma quarta-feira de cinzas nublada e o artista Carlos Bracher, ao se despedir de nós, na varanda de sua casa, disse: “Estamos abertos a sugestões sobre o rumo desse Castelinho”. Eu buscava, junto com a produtora Anesley Pereira, um lugar que nos servisse para um dos editoriais dessa F. Cultura de Moda. Saímos dali com uma locação agendada e eu, uma pauta na cabeça. Momentos antes, Bracher nos contara, com os detalhes possíveis a uma conversa breve - se comparada aos 60 anos de ativismo cultural da sua família em Juiz de Fora -, sobre as suas principais atuações e momentos. E nos presenteou com um DVD sobre o seu processo criativo e algumas páginas de A4 preenchidas, com um tom bastante saudoso, pela história dos Bracher. Das suas palavras ditas e escritas, uma conclusão: a cidade não pode perder a chance de preservar esse acervo artístico e cultural – além do patrimônio arquitetônico que constitui o imóvel, situado no número 300 da Rua Antônio Dias, tombado em 1999. Aliás, como conta, uma das principais atuações de sua família, decisiva para a preservação da memória da cidade, foi a organização de um movimento que alertou a população sobre a importância da manutenção da identidade urbana através dos seus prédios históricos. Passeatas e longas brigas com o poder público inclusas nesse processo. Por pouco, a Fábrica Bernardo Mascarenhas e o Cine-Theatro Central não foram derrubados destino infeliz do Colégio Stella Matutina e sua Capela, assim como a Casa do Bispo. “Graças a estes movimentos, Juiz de Fora conta, agora, com

um órgão específico de preservação junto à Prefeitura, a Comissão Permanente Técnico-Cultural (CPTC)”, afirma. Atualmente, encontram-se tombados 149 bens culturais na cidade - valor histórico e memória afetiva justamente preservados. Voltando à cena artística, os irmãos Décio, Celina, Paulo, Nívea e Carlos, desde a década de 60, movimentaram o Castelinho, recebendo pessoas de todo tipo. Tratava-se de um coletivo antes mesmo dessa palavra ser largamente utilizada como uma reunião de artistas, com o objetivo de trocar conhecimento e produzir conteúdos culturais. Ali, era comum circularem livres ideias, segundo Bracher, “da filosofia às religiões, das ciências à história das civilizações, sem alardes professorais, no prazer da inteligência, varando bom humor pelos ares”. Muito lembrados são, ainda, os pais Waldemar e Hemengarda. Segundo o cineasta e crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, esse “organismo vivo”, uma verdadeira “obra em processo” que sempre foi o Castelinho dos Bracher, contava com a bênção dos progenitores que, generosamente, acolhiam a todos, sem preconceitos e restrições. E com muita pipoca. Depois da morte prematura de Celina Bracher, uma galeria foi aberta, em 1965, em sua homenagem. Era uma instituição aberta ao público na Rua Halfeld, uma continuação das atividades do Castelinho. “A Galeria Celina tornou-se um marco cultural em Juiz de Fora, agregando toda comunidade artística e o povo em geral, envolvendo as múltiplas artes sincronizadas”, lembra Carlos. E, talvez pelo fato de falarmos para um público

que esteja envolvido com a cultura de moda, Carlos lembre, a essa altura da conversa e com os olhos meio perdidos, como se visse a “mana” ali, bem na sua frente: “Celina era uma esteta”. No final de 2013, foram-se também os irmãos Nívea e Décio, os últimos moradores, de fato, do Castelinho. Em bate-papo com pessoas da área e amigos, segundo Carlos, a sugestão é que se repasse todo o conteúdo material, a casa, objetos e obras de arte, a uma instituição, para que seja transformado o espaço num centro cultural. “A ideia seria transformar o terreno anexo num museu e num centro de memória. A casa ficaria como está, intacta para visitação, mostrando seu caráter estético peculiar e familiar”. Ao todo, segundo Carlos Bracher, são mais de mil obras de arte a compor apenas o museu, dentre pinturas, desenhos, aquarelas, gravuras, esculturas e louças. O pedido de Carlos se estende àqueles que se preocupam com a memória da cidade. Da importância de se preservar não só o patrimônio artístico material, mas a memória afetiva de quem passou por ali - exatamente a luta que ele e sua família sempre travaram em Juiz de Fora. Algo natural de quem acredita que arte e vida são, simplesmente, uma coisa só, ou que assim deveriam ser. E me lembrei, feliz, das palavras derradeiras que disse quando fomos embora naquele dia: “Voltem sempre!”. Com certeza, Carlos, iremos voltar.

Qual a sua sugestão? Carlos e Paulo Eduardo Bracher recebem, de bom grado, o contato de quem quiser se comunicar e sugerir boas ideias para o destino do Castelinho. Rua Antônio Dias, 300, Juiz de Fora – MG. Cep.: 36010-370 | Rua Cel. Alves, 56, Ouro Preto – MG. Cep.: 35400-000 bracher@superig.com.br | blimabracher@yahoo.com.br 46


DECÁLOGO DO BOM VISITANTE Por Celina Bracher 1 • Chegar e não dar confiança às pessoas da casa. Se possível, ignorá-las completamente. 2 • Instalar-se da melhor maneira em algum canto ainda não ocupado. 3 • Evitar toda e qualquer atitude educada, para não humilhar os moradores locais. 4 • Usar óculos escuros e máscaras contra poeira, a fim de não se sentir tentado a fazer qualquer espécie de arrumação. 5 • Não incomodar a Nívea no seu sono tranquilo, a Celina na máquina de costura e, sobretudo, jamais lhe perguntar o que irá fazer daí a pouco. Causa embaraço. 6 • Jamais dar atenção às mesquinhezas cronológicas de dia, mês e hora. São absolutamente vedadas as expressões “é tarde, já passa de meia noite”, “amanhã é segunda-feira” e análogas. 7 • Ficar completamente à vontade, com pernas para cima, deitar-se no chão, ouvir música, pular, rir, chorar. Ninguém lhe pedirá explicações e evite dá-las. São desnecessárias, incômodas e ridículas. 8 • Assenhorar-se, imediatamente, da cozinha. Comer de minuto a minuto, para não preocupar a dona da casa. Arranjar uma indigestão brava, urrar de desespero, chamar o Pronto Socorro, mas continuar comendo sempre, para alegria de D. Hemengarda. 9 • E ao partir desta para melhor, fazê-lo sem se despedir, sem deixar bilhetinhos de agradecimento, enfim, ir-se sem mais aquela.

©vinícius romão

10 • Voltar sempre!

47


tri kids

48


tri kids

49


beauty

Assim como a beleza, a maquiagem também é efêmera. Alguns profissionais definem o “milagre” como nada mais que um momento – um momento mágico, único, que garante o filtro perfeito de cores e combinações ao que é natural. Bem antes, Platão e Aristóteles foram pioneiros em associar a beleza natural às artes, tendo esta como meio de completar ou abordar o impossível no que já existe, pelo menos por um momento. Não é à toa que os maquiadores são chamados de “artistas da beleza”. É tudo (deliciosamente) passageiro. Neste Inverno, olhamos, mais uma vez, para o que passou. Mas o já tão aclamado retro surge, dessa vez, renovado – afinal, é 2014 e não dá para ignorar a tecnologia que invade nossas gavetas por meio de produtos multiuso e efeitos 3D. Olhamos para referências antigas, mas o foco é parecer mais fresh do que nunca. Talvez por isso nossa pele ganhe aspecto suave ao extremo, com blush nada ou bem marcado, frontal e corado – lembrando destaques de pinturas Renascentistas, quem sabe. Beleza sem esforço tem sido norte de tendências há algum tempo e, assim, a pele recebe produtos leves, de efeito matte, e os poros só agradecem. Para compensar, a estação é dos olhos. O pessoal da Pantone deu a dica e tons de orquídea, lilás e lavanda invadem os esfumados e composições de efeito opaco – blocos de cores superelegantes. Da mesma família, o azul revela-se o destaque da temporada e a ideia é abusar dos tons e possibilidades, mantendo a intensidade da cor.

Para um toque futurista, o lápis branco retorna poderoso dos anos 90. Ainda desta década, encontramos alternativas elegantes para o smokey eye – como a aplicação bruta da sombra preta, imitando jatos de tinta. Ainda nos olhos, o inverno mantém a febre do delineado gráfico, reinventado dos anos 40, e traz a aplicação de cílios postiços também nos cílios inferiores, no maior estilo 60’s. O glitter também permanece, garantindo não só brilho, mas a textura ideal da temporada. Pigmentos suaves e leves, em ouro e bronze, são encontrados em produções noturnas e diurnas, bem como em iluminadores discretos e sombras metálicas. Até nas sobrancelhas ele encontrou lugar, vide os apliques dourados de Pat McGrath na passarela Spring/14 da Dior. E agradeça à Cara Delevingne por fazer das sobrancelhas o destaque do look. Mais do que marcadas, elas vêm grossas, naturais, em efeito quase tridimensional – algo meio boyish. Entende-se logo o boom da oferta de produtos no mercado pensados especialmente para elas. Para quem não abre mão de colorir os lábios, uma cartela inteira de laranjas está à disposição. Do neon ao coral, eles prometem esquentar os looks mais sóbrios, junto com os tons eletrizantes de violeta e rosa pink. Para fazer o tipo femme fatale, mais impactante, aposte nos vermelhos fechados e vinhos. Tudo de um jeito despretensioso, aplicado com a ponta dos dedos, sem muita preocupação com o contorno – efeito blurred lips da passarela, mas usável. Pura vaidade, que a gente aproveita até a próxima estação.

50


Luisa usa colar LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta.

51


52


Luísa usa camisa Caos, DAY AFTER, R$419,90; vestido ESPAÇO FASHION, preço sob consulta; broches LUIZ FERNANDO RIBEIRO, R$39,80 cada; anel LUIZ FERNANDO RIBEIRO R$86,80 (foto da esq.); anel LUIZ FERNANDO RIBEIRO R$99,80 (foto da dir.)

53


54


Karina usa xale Guta, LE LIS BLANC, R$99,50; gargantilha LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta.

55


Luísa usa camisa Biti, R$499,50 e casaco Nelly, R$599,50, tudo LE LIS BLANC; colar RASA, preço sob consulta; anel LÍVORI, preço sob consulta, calça Linda de Morrer, D’STORE R$448.

56


Karina usa vestido Jesse, LE LIS BLANC, R$1.250; blazer LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta; broches LUIZ FERNANDO RIBEIRO, maior R$78,80 e menor R$54,80.

57


Luísa usa blusa Vivian, LE LIS BLANC, R$299,50, colar insetos R$84,80 e gargantilha de cristal, preço sob consulta, tudo LUIZ FERNANDO RIBEIRO; anéis LÍVORI, preços sob consulta. 58


Adereรงo de cabeรงa por ANESLEY PEREIRA. 59


60


Karina usa vestido Skazi, FLOW, R$3x660.

Luísa usa vestido Corporeum, FLOW, R$3x425; colares LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preços sob consulta.

61

AGRADECIMENTO : Família Bracher e Lázaro Souza

CONCEPÇÃO E DIREÇÃO CRIATIVA : Raquel Gaudard

DIREÇÃO DE ARTE : Vinícius Romão

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA : Wesley Batista

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO : Renata Falci e Vinicius Rodrigues

MA Q UIAGEM : Duda Pavam (Equipe Andre Pavam Cabeleireiros)

CABELO : André Pavam e Philippe Oliviéer (Equipe Andre Pavam Cabeleireiros)

CENOGRAFIA : Anesley Pereira

PRODUÇÃO : Cinthia Furtado e Cleber Oliveira

EDIÇÃO DE MODA : Aline Firjam

MODELOS : Karina Cruz e Luiza Rasmini

FOTOGRAFIA : Márcio Brigatto


-

62


PRISCILA PASSOS

63


-

64


65


arte

damien hirst - skull

66


Definir o que é a arte é uma tarefa parecida com a dos teólogos, mas entender o que é uma mercadoria, provavelmente, a maioria das pessoas sabe. Tal qual roupas e seguros são vendidos em um mercado de produtos e serviços, um tipo de coisa reconhecida como proposta artística também é comercializada, vendida. Ou mesmo, oferecida em troca de algo. A obra se define mercadoria quando é um produto com valor de barganha e consumo, em uma relação entre pessoas e instituições. Por isso, talvez seja mais fácil entender o que são mercadorias do que pontuar o que é arte. A internet denuncia o aparecimento de muitas propostas de poéticas que nem sempre estão inseridas nesse mercado. Ou seja, são produtos da criação humana e que ainda não se transformaram em algo com valor de troca para o mercado, mas, naturalmente, com o passar do tempo, podem vir a ser reconhecidas como objetos de consumo. Ao mesmo tempo, no mercado mais intenso, surge a hipervalorização de trabalhos com caráter efêmero ou meramente comerciais. Um exemplo notório é o de Damien Hirst e seus objetos que custam fortunas a colecionadores e museus. O artista britânico conseguiu mais de 140 milhões de euros em um só leilão. Suas obras encontram a temática da morte e sempre causam inúmeras polêmicas que apenas aumentam o valor desproporcional de suas criações em relação às outras obras contemporâneas. É importante destacar que, mesmo com a valorização da arte no cotidiano, nem sempre uma visita a exposições significa comércio e nem o que se entende por arte está relegado a museus e galerias. Uma parcela considerável do público vai às vernissages e exposições porque se interessa por arte e seu universo - muitos também são acadêmicos e artistas. Ao mesmo tempo, o escambo e o presente continuam na tradição artística. Muitas coleções foram montadas em cima de obras dadas por artistas importantes ou que se tornaram, num determinado momento, itens valiosos para o mercado.

Aquele que se considera apto a realizar um projeto de pesquisa e/ou de prática artística possui várias opções para isso. Ele pode se valer de uma carreira acadêmica nos cursos de belas artes, em mestrados e doutorados diversos da área, se inscrever em editais, participar de projetos culturais aprovados em leis de incentivo, atuar em ações de marketing de empresas e instituições e, também, estar em galerias e museus para participar de exposições coletivas ou individuais, de salões, concursos e feiras. No caso das galerias, quando o artista se associa, ela pode responder pela manutenção da sua obra, por exposições exclusivas, divulgação, direcionamento da produção e participação em eventos de arte. Além disso, há casos em que carreira e trabalhos são patrocinados, ou mesmo, o material para sua confecção é fornecido pelo espaço. O artista não paga para estar em uma galeria e seu ganho pode advir de consignações, pela proporcionalidade na venda ou mesmo por trocas com o acervo. Segundo José Augusto Petrillo, artista e galerista, aquele que deseja ter suas obras vendidas no cotidiano de uma galeria deve investir em sua produção, procurando locais de exposição permanente a que possa estar filiado, relacionando seu trabalho a um acervo. É aconselhável que se apresente um portfólio ao invés de esperar ser “descoberto”. Um dos elementos da arte contemporânea é, justamente, perder a forma, desmaterializar-se. Entretanto, as concepçöes material e visual ainda predominam no comércio da arte. “Hoje, o que está mais em voga na galeria ainda são as pinturas, as ilustrações e agora, a fotografia”, expõe Petrillo. Essas linguagens artísticas também são apontadas como as mais produzidas e vendidas no mercado nacional por Michaela Blanc, assistente de projetos da Coleção de Arte. A galeria está, há três anos, em atividade no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, e tem como marchand a galerista Luciana Conde. “A especulação em torno de quadros e esculturas de grandes artistas ficou tão alta que apostar em novos talentos, em desenho e fotografia, se mostrou mais fácil e com um bom custo-benefício para o comprador”. Blanc aponta que mesmo propostas artísticas mais momentâneas, como performances, também estão ocupando os espaços das galerias, mas, ainda assim, mediadas pela fotografia. “A Berna Reale é um exemplo e acredito que existam mais. As fotografias e até vídeos de suas ações se tornaram produtos artísticos para a venda. O registro também se torna possível como objeto de desejo”.

“as concepções material e visual ainda predominam no comércio da arte.” 67


arte

Até na cozinha Há todo um cenário que leva ao crescimento do mercado e do interesse pela arte. As feiras ArteRio e ArteSP abriram o mercado local para um panorama frenético de produção e consumo nessas capitais. Jovens artistas, muitos vindos da arte urbana, se juntam em ateliês coletivos e, hoje, produzem exposições de seus trabalhos, participam de bienais e têm suas obras representadas no mundo inteiro. Galerias de arte tradicionais e aquelas mais contemporâneas começam a receber inúmeros trabalhos e uma boa média semanal de compradores; os museus ficam insuportáveis em estreias de exposições. Pensando neste e em outros cenários possíveis para a arte, a pesquisa acadêmica promove encontros de práticas e discussões abertas sobre a expressão poética, crítica da arte e novas experimentações, fornecendo base de conteúdo intelectual para a sociedade e aprimorando novos artistas. Até canais de TV exclusivos sobre o tema foram lançados nos últimos anos. Além disso, com a necessidade de consumo estético estampado no comportamento social, a arte e seus fragmentos agora ocupam novos espaços, como a sala de estar, a cozinha ou o quarto de muitas pessoas que nunca imaginaram estar consumindo arte.

Não é raro encontrar relógios com imagens de Frida Khalo, reproduções de Miró em xícaras, ou mesmo o exagero de “Romeros Brittos” nos produtos convencionais, onde o uso prevalece sobre a estética. E a moda também é um exemplo claro, com roupas e estampas reproduzindo rostos e conceitos artísticos em suas cores e formas, renovando o arcabouço e potencial das coleções em vitrines e passarelas.

68


Nehme Gonzales Arquitetura

69


Foi um exílio voluntário que trouxe Lina Bo Bardi para o Brasil. Nascida em Roma, a arquiteta chegou ao nosso país em 1946, deixando para trás um cenário de destruição na Europa pós-guerra. Casada com o crítico e historiador de arte Pietro Maria Bardi, trouxe consigo as referências e a experiência do design italiano - desenvolvido a partir de habilidades e tradições artesanais - e aportou em terras brasileiras, maravilhada. Quando chegou, Lina mostrou-se encantada com a capacidade do povo brasileiro – principalmente os nordestinos – de resolver seus problemas. Ela dizia ser este um “país rico de seiva popular”. Identificou inúmeras possibilidades vindas do resgate e da valorização de técnicas tradicionais e artesanais. Para ela, chegar às raízes populares seria o caminho para compreender a história de um país. “E um país em cuja base está a cultura do povo é um país de enormes possibilidades” i. Em 2014, comemora-se o centenário de nascimento de Achillina Bo Bardi e há ainda muito que aprender com seu trabalho. Lina via a arquitetura como um projeto que deveria estar sempre a serviço do homem. “A casa dever ser para a ‘vida’ do homem, deve servir, deve consolar; e não mostrar, numa exibição teatral, as vaidades inúteis do espírito humano” ii. E para construir tais casas, ela usava a cultura como cenário. “Comer, sentar, falar, andar, ficar sentado tomando um pouquinho de sol. A arquitetura não é somente uma utopia, mas é um meio para alcançar certos resultados coletivos” iii. Lina deixou seu legado como arquiteta e designer, mas também como cenógrafa, curadora e professora. Dentre suas obras, podemos citar o MASP, com seu vão livre, no qual a arquiteta cria um espaço aberto à rua, aproximan-

do a arte da vida citadina e criando um espaço público urbano sem barreiras. A Casa de Vidro, considerada um marco da arquitetura de São Paulo, foi projetada no início da década de 1950 e é onde Bardi viveu até a morte. A construção abrigava móveis desenhados pela arquiteta, mesclando, também na decoração, obras eruditas e populares. O Sesc Pompéia, uma antiga fábrica, também recebeu a intervenção de Lina, que fez a escolha de preservar ali os usos do espaço que a população do entorno já havia criado: a alegria das famílias tomando sol e fazendo churrasco e a das crianças jogando futebol aos finais de semana deveria ser mantida.

Cultura popular: uma bandeira

O arquiteto Paulo Stuart bem pontua: “Lina viu no Brasil uma oportunidade que na Europa já não existia: o nascimento de um design brasileiro enraizado no seu pré-artesanato, a arte elaborada pela necessidade do povo, o surgimento de uma cultura autóctone. Ela ficava fascinada pelas engenhocas que o povo brasileiro criava e enxergava nisso a possibilidade de reinvenção do consumo e da nossa relação com os objetos”.

70

©arte fora do museu

arquitetura


Casa de Vidro - ©carolina antonucci

A partir dos anos 1960, via-se no Brasil uma tentativa crescente de ir contra os preceitos do pós-modernismo - que baseia-se no pastiche, no revivalismo de estilos do passado. Para Paulo Stuart, a arquiteta via como urgente a necessidade de se preservarem traços da cultura popular, sem deixar que caíssem no engessamento do estereótipo, considerando o passado como presente histórico. Foi Lina mesmo quem disse: “Violentar uma época, impondo-lhe embalsamentos de gesso e papelão, significa desconhecer o progresso fatigante e doloroso da humanidade, que a incompetência, o diletantismo e a ignorância fazem recuar de quilômetros a cada centímetro que ela consegue conquistar em seu caminho para frente” iv.

Valorização e acesso à obra

É na Casa de Vidro que funciona, desde 1990, o Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Refletindo sobre o ano de centenário de nascimento da arquiteta, Renato Anelli, diretor do Instituto, ressalta duas grandes conquistas. “A primeira é o reconhecimento internacional do valor da obra de Lina Bo Bardi, resultado do esforço em divulgá-la de modo extensivo no Brasil e no exterior. Não menos importante foi a preservação da Casa de Vidro, com seu acervo de documentos, desenhos, fotos, filmes, obras de arte, sua própria arquitetura e o bosque que a envolve. Talvez o Instituto seja hoje a maior instituição inteiramente privada de preservação de um legado arquitetônico”. Sobre as comemorações do centenário, Anelli explica que foi criado, há dois anos, um Comitê Curador do Centenário. Vão acontecer exposições na própria Casa de Vidro, no Sesc Pompéia, no Museu da Casa Brasileira e também em Roma, Munique e Zurich. Há ainda um plano de publicações novas e reedições de livros esgotados. Em março de 2015, a obra de Lina terá um papel de destaque na exposição sobre a arquitetura latino-americana que será montada no MoMA, em NY. No fim de março deste ano, a Casa de Vidro esteve sob os holofotes: pela primeira vez, um jantar social do mundo da moda aconteceu nesta casa. A Dior comemorou o primeiro ano da loja do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e também a chegada da nova coleção da maison às araras brasileiras. O que muita gente não sabe é que foi exatamente pela mãos do casal Bardi que aconteceu, em 1951, um desfile da maison Dior no Brasil, no Masp. Este foi o primeiro desfile de moda a ser realizado em um museu. Também agora em março, o stylist Dudu Bertholini fotografou um colorido editorial para a revista japonesa Shisheido, que teve como cenário a Casa de Vidro. Moda e arte em uma sintonia perfeita! Lina morreu em 1992, na Casa de Vidro. Como grande pesquisadora e defensora de uma identidade genuinamente brasileira, já poderia ser considerada nossa conterrânea. Mas foi ela mesma quem afirmou: “Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de Escolha’, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e às da fronteira” v.

i . BARDI, Lina Bo. Tempos de Grossura: o design no impasse . São Paulo, Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1994. ii . RUBINO, Silvana e GRINOVER, Marina (org.). Lina por escrito. Textos escolhidos de Lina Bo Bardi , Cosacnaify, 2010. iii . FERRAZ, Marcelo C. (Org). Lina Bo Bardi . São Paulo: Instituto Lina Bo Bardi e Pietro M. Bardi, 1993. iv . FERRAZ, Marcelo C. (Org). Lina Bo Bardi . São Paulo: Instituto Lina Bo Bardi e Pietro M. Bardi, 1993. v . Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Lina Bo Bardi , São Paulo, 1993. 71


72


garrafaria

73


Camisa Reserva, ARQMAN, preço sob consulta, blusa Linda de Morrer, D’STORE, R$348, gola tricô, acervo produção.

74


75


Camisa acervo MARCELO MOSTARO; tricô, camisa xadrez, pulseira e coturno, acervo produção; calça LE LIS BLANC R$499,50; óculos Kravitz CHILLI BEANS, preço sob consulta.

76


Camisa Reserva, ARQMAN, preço sob consulta; blusa couro Drubz, DROPS, preço sob consulta; sobretudo Vãnews, ARPEL, preço sob consulta; cinto ESPAÇO FASHION, preço sob consulta; colar usado como cinto e anéis, LUIZ FERNADO RIBEIRO, preço sob consulta; calça, bottons e sapato, acervo produção.

77


Moletom spikes, LE LIS BLANC, R$299,50; blusa silk always, ESPAÇO FASHION, preço sob consulta; calça Drubz, DROPS, preço sob consulta; coturno, acervo produção.

78


Casaco LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta; calรงa LE LIS BLANC, R$499,50; cinto SANTA LOLLA, 199,90.

79


Vestido LE LIS BLANC R$1.100; jaqueta Ateen, D’STORE, R$2.527; calça ESPAÇO FASHION, preço sob consulta; pochete e bottons, acervo produção.

80


Blusa Vida Bela, vestido Afghan e legging Botswana, tudo DROPS, preรงos sob consulta; bracelete LUIZ FERNANDO RIBEIRO, R$45,80 cada; coturno ESPAร O FASHION, preรงo sob consulta.

81


Vestido Linda de Morrer, D’STORE, R$573; blusa e calça Botswana, DROPS, preço sob consulta; óculos California CHILLI BEANS, preço sob consulta, nobuck SANTA LOLLA, R$349,90.

82


Manteaux Cris Barros D’STORE, R$1.956; calça ROSALINDA, preço sob consulta; sandália SCHUTZ, preço sob consulta; cordão e anel, LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preços sob consulta.

83


Camisa xadrez Reserva, ARQMAN, preço sob consulta; calça Carina Duek, D’STORE R$510; casaco Osklen e coturno, acervo produção.

84


Vestido Lemoncola, DAY AFTER, R$490; trench coat que vira colete SKUNK, preço sob consulta; colete de pelo, anel e pulseira de corrente prata, LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preços sob consulta; cinto SANTA LOLLA, R$199,90; bracelete SCHUTZ, preço sob consulta; restante das pulseiras, meia arrastão e sapato, acervo produção.

FOTOGRAFIA POR MÁRCIO BRIGATTO / MODELOS: GLYNNIS BRUM E JONATHAN FARIA / EDIÇÃO DE MODA POR ALINE FIRJAM / STYLING POR CLEBER OLIVEIRA PRODUÇÃO DE MODA POR CINTHIA FURTADO, CLEBER OLIVEIRA e RENATA FALCI / ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: VINÍCIUS RODRIGUES / BELEZA: PHILIPPe OLIVIÉER (CABELO) E PRISCILA BRINATI (MAQUIAGEM) - EQUIPE ANDRÉ PAVAM CABELEIREIROS / ARTE POR VINÍCIUS ROMÃO / CONCEPÇÃO POR RAQUEL GAUDARD 85


-

86


-

87


menswear

Craig Green

Há cerca de 20 anos, o mundo foi tomado por logos de grifes de roupa e do esporte, que dava seus primeiros passos para emplacar no mundo da moda de vez. O consumo desenfreado convidou o fast fashion a desfilar também e foi nessa onda que o caráter superficial, canibal e insustentável do consumo – também de moda – embarcou. Com as crises ambientais, econômicas e a crescente busca por um estilo de vida oposto ao empacotado início do novo milênio, por meio da negação de um consumismo já considerado uma patologia social, um mundo quase hippie ressurge, agora, na internet - a exemplo dos insistentes cartazes de “Mais amor, por favor”, do inesperado aumento do número de praticantes de ioga e estudiosos de mindfullness e da crescente relevância de eventos como o TED, School of Life e afins.

Gucci

©trendstop.com

Além disso, é claro, a gastronomia vem se voltando cada vez mais para os alimentos orgânicos e para a valorização de produtos locais, ao contrário da epidemia fast food de pouco tempo atrás. A música também traz diversos acordes cheios de referências ao folk rock americano da década de 1960, como Mumford & Sons, Fleet Foxes, Alabama Shakes e Edward Sharpe & The Magnetic Zeros. Aliás, não muito por acaso, o novo filme dos cultuados irmãos Coen retrata, justamente, o início da tal cena artsy em NY.

Haider Ackermann

88

Já a moda - depois de ciganismos inventados e reinventados e das inúmeras referências a um mundo com um pouco mais de paz, amor e outras drogas - encontrou e resgatou, mais


J o s e p h T u rv e y X Fa s h i o n E a s t

John Richmond

uma vez na arte, a forma mais adequada e cabível de se expressar de modo ainda mais embasado, fugindo das incertezas de uma grande crise econômica que balançou as estruturas de boa parte do velho continente, como há muito não acontecia. Claro, isso não é fruto de uma escolha randômica e sem propósito, afinal a Europa sempre teve em todos os pontos de sua história – com guerras e outras grandes catástrofes – a arte como fator intrínseco à forma de pensar, agir e criar. E não seria por consequência de uma crise econômica que o velho mundo, e sua moda sempre tão representativa, perderiam a força de influência em criações de todo o mundo.

No

Editions

Por isso, comprovando mais uma vez a filosofia do Poetinha (“É preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba, não”) e ilustrando as teorias freudianas sobre a sublimação – mecanismo de defesa que leva o sujeito a expressar na arte suas angústias –, a resiliência europeia se reinventa por meio da arte. E acaba sendo uma via de mão dupla, visto que diversos designers e grandes estilistas do setor, novos e já consagrados, vêm expondo suas grandes obras em museus e galerias de arte, como por exemplo, a aclamada exposição “Hello, My Name Is Paul Smith”, no Design Museum de Londres, que mostra como as criações do estilista e designer são similares às de qualquer artista.

89

Tanta inspiração faz com que o menswear, mais uma vez, não deixe a desejar. Por isso, as estampas florais, coloridas e detalhadas, que mais parecem ter saído de alguma obra impressionista, não faltam nas coleções e propostas de novos designers, assim como ilustrações aquareladas em t-shirts e várias cores fortes no mesmo look, com grafismos à Mondrian. A Selfridges, por exemplo, imprimiu algumas imagens icônicas do fotógrafo David Bailey em camisetas masculinas, homenageando o trabalho marcante e ousado do artista com a obra também exposta na capital inglesa. Já a japonesa Uniqlo aproveitou a onda ainda mais artística da moda e homenageou o pop Keith Haring, em camisetas com estampas de suas obras. É interessante notar tantos elementos, que normalmente não fazem parte do guarda-roupa masculino, começando a surgir sem tanta estranheza, mas sim com muita elegância e, claro, uma boa dose de ousadia, como não poderia deixar de ser. Afinal, não é nada fácil negar dez anos de fast living, em tempos ainda tão imediatos.


brasil

Quem passeou pelos corredores da edição de verão 2015 da SPFW, encontrou paredes repletas de obras que propunham uma discussão bastante recorrente no mundo fashion: arte e moda. A exposição “Paisagem Entrópica”, com curadoria de Eder Chiodetto, serviu de cenário para a semana de moda mais importante do país, fortalecendo a relação tão questionada – e, para alguns, tão inquestionável – entre os dois segmentos.

O fotógrafo foi responsável por reunir 68 obras de dez diferentes artistas para compor a atração paralela aos desfiles. Os experimentos propunham a ideia de buscar novas formas de observar a realidade, por meio do acesso da fotografia a um universo ilimitado, onde a imaginação e o surrealismo são os pilares estéticos. Em vez de documentar o entorno visível ou tempo histórico, Eder buscou flagrar imagens surreais para dar corpo aos sonhos mais des-

90


vairados. “Imaginei que essa instância criaria um paralelo interessante com o processo criativo dos estilistas. Dessa forma, a arte abraça a fotografia e a moda, ao mesmo tempo”, revela. O projeto de curadoria foi desenvolvido especialmente para a edição, a convite de Paulo Borges – o ícone por trás da organização dos maiores eventos da moda brasileira. Em entrevista à F., Paulo reflete sobre a relação íntima e contínua da moda com fazeres artísticos. “Eu vejo a moda como uma forma de arte, à medida que é resultado de uma criação, envolve uma preocupação estética, incorpora questões de harmonia, reflete um momento, uma história, uma cultura e é, sem dúvida, uma forma de expressão”, afirma. Além da fotografia, Paulo cita o cinema, as artes plásticas, a arquitetura e o design para falar sobre o que chama de interseções entre diferentes linguagens, reforçando a conexão da moda não apenas com a arte, mas com o desenvolvimento do país. “O criador acrescenta atenção ao processo e contemporaneidade ao produto, e traz para roupa a alma e a criatividade. Precisamos pensar a moda de uma maneira aguda: na educação, na formação da mão de obra e da inteligência do design e na importância de atributos que são nossos, como a diversidade, a mestiçagem e o artesanato”. Enquanto “Paisagem Entrópica” recebia o público que chegava ao evento, nas salas da tenda montada no Parque Cândido Portinari, em São Paulo, as passarelas brasileiras mostravam marcas cada vez mais focadas no consumidor. Coleções comerciais, propostas muito usáveis e peças que

poderiam ir direto para as araras representaram o panorama da moda atual. O que pode parecer um paradoxo, segundo Paulo, trata-se de um elemento da grande estrutura sobre a qual a moda se constrói, onde o desafio diário das marcas é, acima de tudo, agradar o cliente. “Moda é cultura, é expressão, é design, é criatividade, mas também é mercado. O desafio é surpreender, é seduzir, é ser sustentável em toda a complexidade da marca. Para além de tudo isso, o desafio da moda é ser capaz de fazer tudo isso a cada seis meses.”

“Queremos que a moda seja percebida e tratada como uma cadeia de valor agregado e transversal.” Paulo Borges Essa busca por sustentabilidade que norteia as criações – no sentido de foco na longevidade e permanência de marcas e grifes de moda no mercado - traz consigo a boa e velha reflexão sobre o futuro do segmento no nosso país. Paulo Borges descreve o Brasil como uma nação ainda envolvida por estereótipos, com muita dificuldade de ver e entender os movimentos que acontecem, especialmente na moda. “Somos uma sociedade contemporânea transversal, e o mundo é transversal. E assim seguirá”, aponta. Para Paulo, neste cenário de constante debate, a complexidade da moda reitera, ainda, a necessidade de posicioná-la além de seu conceito cultural clichê

91

– em que muitos insistem em aprisioná-la -, mas como manifestação, expressão artística e retrato estético e histórico que dialogam com nosso tempo. Como uma das maiores indústrias do país, ele acredita na elaboração de um plano macro de inteligência e estratégia, que utilize instrumentos já à disposição de outros setores. “Queremos que a moda seja percebida e tratada como uma cadeia de valor agregado e transversal, com capacidade de transformar o país na sua rede social e econômica, além da cultural”, resume.


MEETING

92


Brigatto

93


INCOMING

W esley C ancela X T halita M a z z oni Os jovens estilistas Wesley Cancela, 21, e Thalita Mazzoni, 22, são juiz-foranos e atuam na marca Holyshit, desenvolvendo afinidades desde o período em que cursaram Tecnologia em Design de Moda no CES/JF. Concluído o curso, em 2013, uniram forças para levar em frente um projeto que fora idealizado depois de uma temporada em São Paulo.

A ideia era criar algo maior que uma marca, talvez uma label, que contasse com um calendário de happenings noturnos, abastecido por intervenções artísticas e musicais. E muita moda. A “Holyshit Party” vem por aí e tem pretensões de consolidar ainda mais a cultura fashion na cidade - como garante a dupla, em entrevista para a revista F.

94

Segundo Wesley, o “urbano dark” é a cara da Holyshit, que trouxe como inspiração para o tema do seu Inverno/14 a Catedral de Notre Dame e a Arte Sacra. O resultado é um visual com muitas referências religiosas, como vitrais, velas e gárgulas – uma atmosfera gótica que os levou a fotografar a coleção em um cemitério. Creepy’n’cool.


Para o projeto de conclusão de curso, cada um desenvolveu uma linha diferente. Thalita parece ter se aproximado mais da ânima Holyshit, escolhendo a história da condessa húngara Bathory, que costumava banhar-se no sangue de jovens acreditando, assim, tornar a sua beleza eterna. “Realizei uma coleção de roupas de festa mais conceitual, confeccionada com tecidos finos, abusando de prints e bordados. Os acessórios foram inspirados em artigos de práticas sadomasoquistas”, conta a estilista. Já Cancela aventurou-se pela década de 50 e tomou Marilyn Monroe como musa.

“Transitei por toda a sua vida e busquei retratar a psicologia da atriz, desde a infância até a sua morte.” A construção de peças com estamparia digital, recortes a laser, tecidos de textura e caimento contrastante (como voil e couro), além de acessórios statement, chamaram a atenção da equipe de um famoso calçadista brasileiro - mas essa história você confere na próxima página. Sobre a moda brasileira, Thalita e Wesley esboçam uma opinião parecida, no sentido de buscar um plus no quesito criatividade e conceito. “Explorar mais a arte, arriscar um

pouco mais”, diz Thalita. “Peças acessíveis voltadas para o público alternativo, marcas independentes em movimentos interativos como a Endossa, em São Paulo, ou a Interact, em Juiz de Fora”, completa Cancela. Ambos afirmam a vontade de continuar os estudos: Thalita planeja uma pós-graduação em Produção e Styling de Moda e Wesley, um MBA em Gestão de Negócios, além de uma especialização em Modelagem. Completando um ao outro, esse binômio de talento ainda vai longe e, se alguém duvida disso, holy shit!

E d i t o r i a l HOLYSHIT TCC T h a l i t a M a z z o n i

tcc wesley

L ívia A z evedo Nascida em Belo Horizonte, criada em São João Nepomuceno, a estilista Lívia Azevedo, 28, desembarcou em Juiz de Fora em 2004, para cursar História. Uma coisa leva à outra e, depois de terminar o curso, resolveu entrar em uma faculdade de Moda, no CES/JF, especializando-se também nesse segmento, na Universidade Federal de Juiz de Fora. “Como me formei em História, minhas grandes paixões são a pesquisa de tendências e o planejamento de coleção”, conta. Sensata, Lívia sabe que um bom profissional está em constante construção. “Vejo ainda uma grande necessidade e tenho muito interesse em melhorar o meu marketing de moda”, pondera. Mas nada que diminua seu brilho e talento - basta analisar as peças apre-

sentadas pela moça em seu projeto de conclusão de curso, em 2013. O tema de seu trabalho foi “Garotas do Alceu”, personagens criadas pelo ilustrador Alceu Penna na revista O Cruzeiro. “Nas décadas de 50 e 60, seus desenhos influenciaram jovens em seus comportamentos e na maneira de vestir”, conta Lívia. Depois de muitas pesquisas, a estilista se inspirou, de fato, em um dos últimos desenhos de Penna, quando, após ser acometido por um infarto, já não podia mais desenhar com tanta maestria. “A imagem de uma de suas garotas com traços imperfeitos e com pouca cor foi a que mais me emocionou, fazendo com que todas as peças criadas para a coleção fossem pretas e brancas”, descreve.

95

A cor alaranjada dos calçados é também uma das características dos desenhos de Penna, utilizada por Lívia em seu projeto. A estilista já planeja a criação de uma marca própria e, também, seguir com os seus estudos. “A todo instante, surgem novos tecidos, novos olhares e novas pesquisas sobre a área – é impossível parar de se atualizar”, conclui. Assim, com tantas pesquisas, referências e determinação, Lívia Azevedo não poderia deixar de se destacar. Uma de suas peças foi selecionada (como a de Wesley Cancela) para compor um dos looks para a produção da campanha de Inverno 2014 daquele famoso calçadista, do qual falamos anteriormente. Quer saber tudo? Vire a página, então.


INCOMING

LÍVIA AZEVEDO

CRO Q UI - LÍVIA AZEVEDO

A passos largos No final de 2013, o curso de Tecnologia em Design de Moda do CES/JF – através do coordenador Marcelo Mostaro - foi convidado para desenvolver os looks do coquetel de comemoração dos 15 anos da marca Jorge Bischoff, em Juiz de Fora.

“Selecionei três grupos de três looks, utilizando peças desfiladas no encerramento do semestre dos alunos”, resume Mostaro. As produções, assinadas por ele e com assistência de três alunas do curso, contavam com referências das décadas de 50 e 60 e do minimalismo. O resultado, além de um belo desfile, foi que as peças caíram no gosto da equipe de Jorge Bischoff, que solicitou o envio de três looks para a campanha da marca. Segundo Mostaro, o catálogo será entregue em mais de 36 pontos de venda internacionais e 900 aqui no Brasil. A cereja do bolo? Bom, ter as suas peças publicadas em uma das revistas mais

M o s ta r o e a s m o d e l o s d o d e s f i l e © w a n d e r s o n m o n t e i r o

96

respeitadas do mundo no segmento – a Vogue - é motivo para comemorar, certo, Lívia Azevedo e Wesley Cancela? É que uma das produções, com peças dos dois estilistas, foi selecionada para o anúncio veiculado na publicação, em março deste ano. Lívia comemora a oportunidade. “Para mim, representa um início a passos largos”, garante. “Levando em consideração as circunstâncias da cidade em que vivemos, é um orgulho inenarrável ver meu trabalho publicado na Vogue. Devo essa conquista à instituição em que me formei e ao coordenador Marcelo Mostaro”, agradece Cancela.


croe

97


-

98


arqman

99


DR MARIA CLARA

100


zine cultural

101


look - armada

102


look - armada girl

103


look - menina doce

104


look - larrici

105


look - fina

106


look - santuarium

107


look - chocolate

108


-

109


Tom Ford

Sacai

trend topics

Pa c o R a b a n n e

cantões desse mundo (de novo e bem forte), alfaiataria para as mulheres (de novo, só que mais sexy) e muitas flores e folhagens tropicais para os meninos, algo mais dark – pois a atmosfera é noturna. Para eles, jaquetas mais longas e calças mais fluidas – a alfaiataria masculina vem mais easy. Será essa a palavra? Só sei mesmo que é para esquecer a gravata, meninos. Lembrando que tudo isso é só um recorte de um todo muito maior, dessa moda que pode tudo, o tempo todo, ao mesmo tempo. Ou deveria.

Rag and Bone

©trendstop.com

Para falar sobre o mood do verão 14/15, podemos começar tomando esta edição por inteiro. É que a apresentação desse cruzamento modaxarte seria influência do hemisfério norte para a temporada quente, não se engane. Mas como deixar de lado essa tão importante referência, que já está sendo reproduzida por aqui desde o começo desse ano? Não dava. Bom, dessa forma, nesses tópicos de tendência você não encontrará tais pinceladas artísticas, mas muito esporte (de novo!), brilhos futuristas (de novo!), doses étnicas de diversos

110

Get Physical Tênis com roupas arrumadinhas? Check. Salto alto com peças esportivas? Check. E se as mais chiques das marcas – Tom Ford, Gucci, Pucci etc et al – aderiram, é porque o babado está forte mesmo. Os materiais são nobres para fugir do óbvio e da academia: seda e couro já na lista.


Va l e n t i n o

Haider Ackermann

Celine

Lanvin

SHINY HAPPY PEOPLE

The Row

A lt u z a r r a

Givenchy

Phillip Lim

Tudo metalizado! Tudo brocado! Tudo lamê. Brilhe bastante, antes mesmo do sol se pôr.

111

ETNIAS MUNDO AFORA Gosto de observar certa trinca para saber o que vai acontecer na moda: Lagerfeld, Jacobs e Prada. Ah, Raf Simons também – temos aí um quarteto, então. Por isso, não poderia deixar de apostar ou falar sobre tribos indígenas da América do Norte ou sobre paganismos diretos da África. Vêm muitas coisas dessas por aí, ainda este ano.


Y o h j i Ya m a m o t o

Christian Dior

trend topics

EASY GOING

©trendstop.com

Va l e n t i n o

Balenciaga

112

Pense num combo de calça e paletó alfaiataria perfeito para o verão: é essa a proposta! E com sandálias em couro, mocassins em vime, tênis. Para os garotos que trabalham no Rio de Janeiro, a notícia é exatamente boa, não é mesmo?

Prada

A lt u z a r r a

E daí que o universo da camisaria de algodão aparece com uma pitada as sexy as never - vimos em Alexander Wang, Altuzarra, Victoria Beckham e Balenciaga.

Z Zegna

Alexander Wang

SEXY BUSINESS


gucci

D r i e s Va n N o t e n

Prada

Phillip Lim

FLORES EM VOCÊ Meninos, eu vi. Muitas padronagens florais povoando não só as passarelas, mas as ruas e, vejam só, não só as mulheres, mas os homens vestem calças, t-shirts, camisas, camisetas, shorts... Flores vivas, grandes, bem tropicais sobre um background escuro. Adoro.

Raf Simons

113


-

114


115


f. indica

segredo da fórmula! Foi assim nos anos 2000, com o retorno da década de 80 e seus ícones transgressores, reagindo a um cenário político-econômico estagnado. Está sendo assim desde 2010, com o resgate da influência cultural dos anos 90.

Cocolores - Vox Artwork

O francês Antoine Lavoisier deixou para o mundo a herança de que nada se cria, tudo se transforma - ideia originalmente usada para descrever os processos de renovação da natureza, difundida pelos publicitários da nossa era para todos os campos criativos possíveis. No mercado fonográfico, não é diferente: são comuns os ciclos criativos inspirados em ideias previamente concebidas. Eles movimentam milhões, lançando mão da nostalgia de uma geração, trazendo informação para as novas gerações consumidoras, numa tentativa de justificar a sensação de que nada de essencialmente original resta ser feito. Os revivals acontecem a cada 20 anos, revivendo lembranças que povoam a memória afetiva das pessoas. Este é o

6 e Daniel Avery, entre tantos outros, merecem destaque pela qualidade e fidelidade na produção.

Se é tempo de reviver, convido você, caro leitor, a viajar no tempo e aproveitar a década que ainda vai influenciar a indústria Alguns artistas cumprem bem esse tra- do entretenimento por um bom tempo. tado, como a dupla Azari&III, que despontou do Canadá para o mundo com faixas como “Reckless With Your Love” e “Hungry for the Power”, disparando para o mundo que o mood 90’s ia tomar conta das pistas de dança e trilhas de desfiles. Alguns meses depois, com o lançamento o álbum de nome homônimo, faixas como “Into The Night”, “Indigo” e “Tunnel Vision” confirmavam isto com seus vocais e instrumentais de clima underground, característicos da época da popularização da música eletrônica no mundo. Outro projeto que recria a década com maestria são os Cocolores, duo de DJs alemães, radicados em Londres, que lançaram o EP “Vox”, pela Exploited Records do DJ Shirkan. Vale a pena conferir o lindíssimo vídeo da música no Youtube ou Vimeo, com linguagem visual que recria a estética dos videoclipes da época. A lista não termina aqui - são tantos Djs e bandas que seria impossível elencar todos em um só texto. Mas nomes como Tensnake, Navid Izadi, Soul Clap, Jessica

FLY TUR 116

COCOLORES MUSIC VIDEO


devidamente transformado para cair na estrada, batizado de Priscilla. Durante o trajeto, muitas roupas e caras e bocas nos ensaios das senhoritas. Gênero on the road com referência icônica gay, kitsh e da banda Abba. Uma verdadeira obsessão do cinema australiano.

Cinema é a plataforma da arte mais difundida e, talvez, mais compreendida do mundo. Moda é uma forma de expressão e um campo da cultura que muitos defendem também como arte. Difícil dizer onde começa e termina a influência de um em outro. Certo que cinema e moda são indissociáveis e representativos do contexto da época, bem como do tempo e história que abordam. E moda não se restringe ao figurino, mas toda estética que existe num filme. A seguir, algumas obras onde este casamento, muita vezes, é maior que a própria história.

Teorema (Itália, 1968): O cineasta italiano Pasolini faz parte de uma espécie de grupo que ganhou um curioso “subgênero”: cinema de arte. Narra a destruição da vida burguesa de uma família, depois da chegada de um anjo exterminador que seduz sexualmente a todos. O pai abandona tudo, a mãe torna-se promíscua, o filho pinta quadros com suas fezes e a empregada começa a levitar. Metáforas sobre capitalismo, sociedade, aparência e estilo de vida. Nada escapa.

Matrix (EUA, 1999): Com esse filme, uma nova forma de fazer cinema começou – com toda uma estrutura estética construída em cenários e figurinos que passam do hiperfuturista ao metafísico. Influenciado por Baudrillard e o seu “Simulacro e Simulações”, “Matrix” mostra que a vestimenta e os adornos contam uma história de hierarquia O Diabo Veste Prada (EUA, social, antropologia e filosofia. 2006): Talvez o leitor estranhe Priscilla, a Rainha do colocar um filme tão pop como Deserto (Austrália, 1994): exemplo de moda e arte. Mas há Amigos drags e a trans são con- uma cena específica que justifividados a fazer um show numa ca a inclusão. O personagem diz remota cidadezinha na Austrália à jovem aprendiz que desdenha e, para isso, viajam num ônibus publicações de moda: “Publi-

117

camos aqui os maiores artistas desse século, os estilistas”. Um filme que tem um valor grande, até porque acaba repercutindo, acidentalmente, quem sabe, no que Walter Benjamin prega em seu livro (ver F. Indica Livros). 2001, Uma Odisseia no Espaço (EUA, 1968): Não é apenas um filme de espaço, mas um exercício de estética fílmico sobre a evolução do Homem, desde os tempos de primata que domina o fogo ao momento em que chega ao espaço. Kubrick cria uma atmosfera claustrofóbica, fria, de perplexidade. Uma crítica à busca pela tecnologia que aprisiona e deixa a humanidade imersa na solidão. Barbarella (EUA, França, Itália, 1968): O leitor já percebeu que o ano de 68 foi importante por seu contexto político e artístico. “Barbarella” levou a sexualidade feminina às telas não apenas como objeto, mas como uma mulher de ação. O visual arrojado do figurino e os cenários anteciparam tendências e marcaram o que seria a pop art. Também é considerado um pouco cafona. Coisas da vida.


f. indica

Voltado, principalmente, para estudantes e profissionais de moda, Dinah Pezzolo e seu “Moda e Arte: Releitura no Processo de Criação” estabelecem a conexão histórica entre moda e arte. Bastante ilustrada, a obra traça um painel da influência da arte na moda, e também o inverso, a partir dos nos 20. A autora busca contextualizar o passado e movimentos artísticos com a criatividade dos estilistas e o conceitual de uma coleção mostrado nas passarelas dos dias hoje. Mais amplo na abrangência do tema, em “A

Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”, Walter Benjamin discute a arte na era da produção industrial, ou, em suas palavras, “um trabalho de teoria estética” na consolidação do capitalismo. O que ele analisa é como a possibilidade de reproduzir uma expressão artística tira sua aura de autenticidade, unicidade, interfere no ritual e em seu contexto de tradição, e também questiona o valor de culto e de exposição. Neste livro, Benjamin não fala diretamente da moda, ele o faz num outro, “Passagens”, dedicando um capítulo a isto. A partir dele,

“As modas são um medicamento que deve compensar, na escala coletiva, os efeitos nefastos do esquecimento. Quanto mais efêmera é uma época, tanto mais ela se orienta na moda.”

podemos refletir que o caráter da exclusividade, tão caro à moda, sobretudo na alta-costura, o poder de criar identidades e a busca constante pelo novo fazem com que ele compare a moda à própria morte. Ciclos que terminam e renascem. “Cada estação da moda traz em suas mais novas criações alguns sinais secretos das coisas vindouras. Quem os soubesse ler, saberia, antecipadamente, não só quais seriam as novas tendências da arte, mas também a respeito de novas legislações, guerras e revoluções”.

Moda e Arte: Releitura no Processo de Criação Autora: Dinah Pezollo Editora: Senac SP, 2013. 208 páginas A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica Autor: Walter Benjamin Editora: Zouk, 2012. 128 páginas Passagens Autor: Walter Benjamin Editora: UFMG, 2006. 1167 páginas

Walter Benjamin

118


119


120


medicallis

121


publieditorial

122


123


124


125


126


127


gastronomia

128


gastronomia

129


onde encontrar

look - armada

©vinícius romão

130


etiqueta

131


etiqueta

132


etiqueta

133


etiqueta

134


etiqueta

135


onde encontrar

PUBLIEDITORIAL LOOK BOOK ARMADDA, Rua São João, 287, (32)3212-6516; Independência Shopping, L2, (32)3236-2342; Marechal Center lj123, (32)3217-3245. ARMADDA GIRL, Rua São João, 275, (32)3212-1554; Rua Mister Moore, 69, (32)3215-1914; Independência Shopping, L2, (32)3236-2342. CHOCOLATE COM PIMENTA, Shopping Marechal, lj18, (32)3216-3011; Galeria PIO X, 76; Galeria Tenente Belfort Arantes, lj02. FINA ACESSÓRIOS, Garden Shopping, lj06, Centro, (32)8810-7022. LARRICI, Marechal Shopping, lj08, (32)3216-5913 / (32)8829-2691; Marechal Center, lj126, (32)3216-5913 / (32)8881-5913. MENINA DOCE, Marechal Shopping, lj20, (32)8873-8940. SANTUÁRIO STORE, Rua Braz Bernardino, 199, Pátio Central, Centro, (32)3211-3185.

ETIQUETA ACESSÓRIOS PAULA BOTELHO, (32)8437-1377; www.facebook.com/acessorios.paulabotelho; www.acessoriospaulabotelho.com; paulabotelhoferreira87@yahoo.com.br. ANA RIBEIRO JOALHERIA, Galeria Epaminondas Braga, lj04, (32)3215-4572. CAIXAS MONGE, caixasmonge.com.br; www.facebook.com/caixasmonge. CAMARIM ESPAÇO DE CINEMA E MODA, Av. Presidente Itamar Franco, 996, (32)3082-5250. CÃO D’AGUA BOUTIQUE PET, Rua Santo Antônio, 1390, (32)3216-9447; contato@caodagua.com.br; www.caodagua.com.br. CRIS CRIA COISAS, Loja Interact, Rua São Mateus, 262. (32)3277-5292 / (32)9128-6318; crisbijoux@gmail.com. ENERGY POWER, Rua São João, 354, (32)3213-4343; www.energypowersuplementos.com.br. ESPAÇO MANUFATO, Rua Moraes e Castro, 307, Alto dos Passos, (32)8803-3396; www.espacomanufato.com. FRADE SPORTS, Rua Santo Antônio, 1440, (32)3241-3136; luiz.zigue@hotmail.com. KIKUCHI JÓIAS, Galeria Constança Valadares, 202, Centro, (32)3215-5759; Rua Marechal Deodoro, 242, Centro, (32)3216-9647. LIFE BASIC, Rua Dr. Antônio Canedo, 45/lj02, Centro, Muriaé, (32)3722-7421; Rodovia Presidente Dutra, 13.900/lj336/337, Cidade da Moda, Rio de Janeiro (21)3037-7201; Av. Carlos Alves, 100/lj16, Centermoda (32)3261-2623. LOLINGERIE, Rua Moraes e Castro, 175, (32)3026-2809. MARIA MORENA, Marechal Center, lj 217, 2º piso, (32)8814-7625; www.facebook.com/mariamorenajf. MEGGIOLARO CALÇADOS – ITALIAN DESIGN, Rua Braz Bernardino, 199, lj 126 (Galeria Pátio Central), (32)3216-1735. MEU HERÓI, Independência Shopping, L1, (ao lado da praça de eventos), (32)3026-6964; meuheroibrasil@gmail.com; Facebook: Meu Herói. PALPITE, Rua Henrique Surerus, 26, (32)3211-0190. PAPPAGAIO RIO DE JANEIRO, Rua Marechal Deodoro (Parte Baixa), Free Shopping, Box 18, (32)8810-8051/(32)8803-0620. PINÓQUIO: www.facebook.com/pinoquiocdm. Contato: José Abramo (32) 9128-0910 SANTORINI BOLSAS E ACESSÓRIOS, Av. dos Andradas, 57, Centro, (32)3211-4312. TOQUE INICIAL, Mister Shopping, lj148, (32)3215-1716; Galeria Bruno Barbosa, lj51, (32)3215-0478; Galeria Tenente Belfort Arantes, 05, (32)3218-1814. VIA MIA, Mister Shopping, L2, Centro, (32)3217-7289.

EDITORIAL BEAUTY D’STORE, Independência Shopping, L2, (32)3231-5764. DAY AFTER, Independência Shopping, L2, (32)3214-5726; Mister Shopping, L2, (32)3215-3515.

136


ESPAÇO FASHION, Mister Shopping, L2, (32)3216-5117. FLOW, Independência Shopping, L2, (32)3241-1627. LE LIS BLANC, Independência Shopping, L2, (32)3236-5501. LÍVORI, Av. Presidente Itamar Franco, 2760, (32)3232-1363. LUIZ FERNANDO RIBEIRO, Galeria Constança Valadares, lj 22, (32)3215-2512. RASA, Rua Dom Viçoso, 06, Alto dos Passos, (32)3215-3775.

EDITORIAL MODA ARPEL, Av. Rio Branco, 2235, Centro, (32)3215-1384; Independência Shopping, L2, (32)3313-8140; Shopping Alameda, Alto dos Passos, (32)3214-6784. ARQMAN, Av. Rio Branco, 2189, Centro, (32)3215-7519; Independência Shopping, L2, Cascatinha, (32)3313-8070. CHILLI BEANS, Rua Barão de São João Nepomuceno, 325, (32)3216-9583; Independência Shopping, L1, (32)3214-2959; Rua Mister Moore (32)3211-2127. D’STORE, Independência Shopping, L2, Cascatinha, (32)3231-5764. DAY AFTER, Mister Shopping, L2, Centro, (32)3215-3515; Independência Shopping, L2, Cascatinha, (32)3214-5726. DROPS, Rua São João, 399, (32)3215-3929. ESPAÇO FASHION, Mister Shopping, L2, (32)3216-5117. LE LIS BLANC, Independência Shopping, L2, (32)3236-5501/(32)3236-5047. LÍVORI, Av. Presidente Itamar Franco, 2760, São Mateus, (32)3232-1363. LUIZ FERNANDO RIBEIRO, Galeria Constança Valadares, lj22, (32)3215-2512. ROSALINDA, Rua Dom Viçoso, 47 Alto dos Passos, (32)3026-1990 SANTA LOLLA, Independência Shopping, l2, (32)3236-1370; Rua Braz Bernardino, 197, (32)3241-6744 SCHUTZ, Independência Shopping, L2, (32)3232-6567. SKUNK, Rua Oscar Vidal, 150, (32)3215-8046; Marechal Center, 121, (32)3217-8080; Independência Shopping, L2, (32)3241-2105.

GASTRONOMIA BACCO RESTAURANTE, Av Presidente Itamar Franco, 1850, São Mateus, (32)3249-1860. BROWNIE GOURMET, Av. Governador Valadares, 372, Lj 03, Manoel Honório, (32)3211-5810. CABANA DU CELINHO, Rua Bernardo Mascarenhas, 1247, Bairro Fábrica, (32)3217-6781. CLUBE DA ESQUINA, Av. Ibitiguaia, 102, Santa Luzia, (32)3235-9917. COFFEE BREAK CAFFETTERIA, Rua Braz Bernardino 199/lj105, Pátio Central, Centro, (32)3211-5217. EMPÓRIO DO SABOR, Rua Henrique de Novaes, 166, Bairro de Lourdes, (32)3236-7760. Gourmet. Br, Rua São Mateus, 144, São Mateus. Delivery (32) 3026-0811. KIDELÍCIA, Rua Santa Rita, 361/367, Centro, (32)3211-6655. MR TUGAS, Rua Otília de Souza Leal, 310, Nova Califórnia, (32)3233-0036. REI DO CANGAÇO, Av Presidente Costa e Silva, 1748, São Pedro, (32)3213-5149. SABOR DA TERRA, Rua Santa Rita, 375, Centro, (32)3211-7489. SODIÊ DOCES, Rua Severiano Sarmento, 310, Alto dos Passos, (32)3026-0893 / (32)3026-0926.

137


top fitness

138


torp

139


hope

140


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.