REVISTA F. CULTURA DE MODA #13

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DIREÇÃO GERAL DE MODA ALINE FIRJAM - alinefirjam@fworksprodutora.com.br Não se fala mais em futuro como pretendiam os habitantes do século XX. Estamos preocupados em entender o presente, onde estamos e o que está acontecendo: o futuro é hoje. Poderíamos pensar, ainda, que já não há futuro porque ele chega muito rápido nesse século XXI. É como se a fluidez do nosso tempo escorresse como um rio que já não estanca mais: a nossa percepção do tempo mudou, e de vez. Desde 2010, temos notado um crescimento muito grande e muito rápido na qualidade dos materiais com selo da criação de moda local, do design à imagem. Novos talentos estão aparecendo a todo momento e, para seguir a filosofia que sempre encampamos com a revista – promover o pensamento sobre a cultura de moda –, nossa ideia, a partir de agora, é servir também como uma plataforma para receber e divulgar os trabalhos de novos nomes. Para tanto, reservamos um espaço maior na Revista F. e também no site e blog da empresa F.Works para essa divulgação. São páginas separadas a cada edição da F. para um editorial assinado por novos talentos, e também com os novos criadores da moda. “Moda de Autor” é dedicada ao reconhecimento de novas linguagens, novas formas, novas interações: resumindo, à divulgação do futuro da moda local. Outra novidade, nesta edição, passa por mais um reconhecimento: surge um novo fôlego no estilo das ruas da cidade. O Craft Artstudio tem um projeto muito bacana inspirado no “Humans of New York”: clicando os humanos estilosos de Juiz de Fora e descrevendo um pedacinho do seu universo. Assim, a turma fez render uma boa ideia: e se clicássemos o nosso Street Style Memory nesse mesmo esquema? A pauta fica a cargo da Nayana Mamende (foto) e do Rodrigo Amaral (texto). Um especial sobre tendências de consumo vai abordar as principais tecnologias e as estéticas delas derivadas. Escolhemos a glitch art para permear nosso editorial bem beachwear, recebendo a primavera que já está nas ruas. O editorial MicroCosmos + MacroCosmos vai te dizer sobre como você pode vestir o futuro. Estilo, livros, cinema, arte, ciência, filosofia e todo o universo que faz a moda girar você encontra aqui também. Vou te contar um segredo: eu dedico, mentalmente, todas as edições a alguma “musa” - que para mim não são coisas, sempre pessoas. Sujeitos que me inspiram, de alguma forma, a realizar esse belo trabalho de equipe e fazer com que ele se desdobre nas páginas de cada revista criada. Dessa vez foi Carl Sagan. Lhe dedico. Un bacione, Raquel Gaudard

CONCEPÇÃO E EDITORIA DE CONTEÚDO RAQUEL GAUDARD (MTB 17010) - jornalismo@fworksprodutora.com.br DIREÇÃO DE ARTE VINICIUS ROMÃO - arte@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO EXECUTIVA VINICIUS RODRIGUES - geral@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO E CENOGRAFIA ANESLEY PEREIRA - producao@fworksprodutora.com.br STYLING CLÉBER OLIVEIRA - producao@fworksprodutora.com.br ASSISTENTE DE PRODUÇÃO ANA LUIZA GRAÇA - producao@fworksprodutora.com.br COMERCIAL DELAINE LOPES - delainelopes@fworksprodutora.com.br SABRINA DUARTE - comercial@fworksprodutora.com.br OPERAÇÃO COMERCIAL CLÁUDIO ALVIM - contato@fworksprodutora.com.br REVISÃO DE TEXTO HELLEN KATHERINE CAPA Arte gráfica por Vinícius Romão Modelo: Julia Vida (Élyseé Model Management) Foto: Márcio Brigatto Assistente de fotografia: Wesley Batista Hair por Phillipe Oliviéer e make-up por Priscila Brinati (Equipe André Pavam Cabeleireiros) Edição de Moda: Aline Firjam Styling: Cléber Oliveira Produção: Vinicius Rodrigues Assistente de Produção: Ana Luiza Graça Cenografia: Anesley Pereira AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Eduardo Delmonte John Noi - www.trendstop.com TIRAGEM: 8 mil IMPRESSÃO: Gráfica América DISTRIBUIÇÃO: Mix Alternativo e Linder Panfletagem Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da revista. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Todos os direitos reservados. A F. Cultura de Moda não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados na revista.

ERRAMOS! Na matéria “O Brasil, uma escolha”, sobre o centenário da arquiteta Lina Bo Bardi, nos esquecemos de creditar o trabalho do fotógrafo Benoît Molherat. Na matéria “Um belo começo, em todos os casos”, sobre novos etilistas, nos esquecemos de creditar o trabalho da fotógrafa Thais Vandanezi.

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1 6 . F. W O R K S O N L I N E F. W O R K S O N L I N E F. W O R K S O N L I N E 18. STREET STYLE MEM S TORREYE T S T Y L E M E M S TORREYE T S T Y L E M E M O R Y EM JUIZ DE FORA EM JUIZ DE FORA EM JUIZ DE FORA 24. TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS O FUTURO É HOJE O FUTURO É HOJE O FUTURO É HOJE 30. NACIONAL NACIONAL NACIONAL A M O M O D A A M O B RA AMSOI LM O D A A M O B RA AMSOI LM O D A A M O B R A S I L 34. PUBLI LOOKBOOK PUBLI LOOKBOOK PUBLI LOOKBOOK 42. ARTE ARTE ARTE O A R T E S A N A T O É OO NA OR ST SE O S AFNUATTUOR O É OO NA OR ST SE SO AFNUATTUOR ÉO O N O S S O F U T U R O 46. INCOMING INCOMING INCOMING MODA DE AUTOR MODA DE AUTOR MODA DE AUTOR 5 6 . C U LT U R A P O P C U LT U R A P O P C U LT U R A P O P DIS MAGAZINE DIS MAGAZINE DIS MAGAZINE 6 0 . E D I T O R I A L G L I T C H E D I T O R I A L G L I T C HE D I T O R I A L G L I T C H BEACH BEACH BEACH MENSWEAR MENSWEAR 72. MENSWEAR SER NORMAL É LEG S EA RL N O R M A L É L E G S EA RL N O R M A L É L E G A L 76. INTERNACIONAL INTERNACIONAL INTERNACIONAL STELLA JEAN STELLA JEAN STELLA JEAN 7 8 . T R E N D T O P I C S V E RTÃROE N D T O P I C S V E RTÃROE N D T O P I C S V E R Ã O 2015 2015 2015 8 2 . F. W O R K S I N D I C A F. W O R K S I N D I C A F. W O R K S I N D I C A C I N E M A , M Ú S I C A , LC II VNREOMSA , M Ú S I C A , LC II VNREOMSA , M Ú S I C A , L I V R O S 8 6 . P U B L I I N FA N T I L P U B L I I N FA N T I L P U B L I I N FA N T I L 9 4 . C I Ê N C I A E F I L O S O FC II AÊ N C I A E F I L O S O FC II AÊ N C I A E F I L O S O F I A C A R L S A G A N E O CCOASRML OSSA G A N E O CCOASRML OSSA G A N E O C O S M O S 9 8 . E D I T O R I A L C O S M O ES D I T O R I A L C O S M O ES D I T O R I A L C O S M O S 110. ARQUITETURA ARQUITETURA ARQUITETURA NOVO CENTRO DE N A SO TV RO OCNEONMTIRAO DDA E UN AFSOJ TVF RO OCNEONMT IRAO DDA E UAFSJ TF R O N O M I A D A U F J F 1 1 4 . P U B L I G A S T R O N O MPI UA B L I G A S T R O N O MPI UA B L I G A S T R O N O M I A 1 2 4 . E T I Q U E TA E T I Q U E TA E T I Q U E TA 128. ONDE ENCONTRAR ONDE ENCONTRARONDE ENCONTRAR

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DROPS

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1. A L I C E L I N H A R E S é jornalista e estudante do campo da moda e da arte. Tem interesse por fazer parte de um mundo dinâmico e em constante transformação. 2. A N A E M Í L I A é investigadora de expressões artísticas com teor político. 3. D A N I M A G N O - “Eu gosto dos Beatles. E isso já diz muito sobre mim.” 4. D A N I S A R T O R I é jornalista, eterna apreciadora das “modas” e das artes. 5. D U D U G O N Z A G A é estilista, autodidata em desenho e apaixonado pela moda. “Desenhar é uma forma de me ver, é uma pedra lançada no poço fundo.” 6. H E L L E N K A T H E R I N E é jornalista, apaixonada por internet, comunicação, moda e beleza. Se aventurando, agora, pelo mundo da assessoria. 7. J O Ã O P A U L O D E O L I V E I R A é jornalista, pixador e flamenguista. 8. J O S É A L E X A N D R E A B R A M O é jornalista por formação, publicitário pela estrada da vida. Me convide para uma cerveja e tenhamos um bom papo. 9. J O T A J O T A é dj há 10 anos, dono de um estilo inovador e criativo, que se reflete em sets e trilhas de desfiles. 10. K A T I A D I A S é jornalista, com incursões em universos plurais, como arte, viagens e automóveis. Trabalha como assessora da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF. 11. N A Y A N A M A M E D E é formada em Artes Visuais, fotógrafa e cantora de chuveiro. 12. R A F A E L B I T T E N C O U R T é psicólogo de formação, estrategista de branding e trendhunter de profissão e boêmio nas horas vagas. 13. R A Q U E L G A U D A R D é jornalista, atualmente vive na Itália e feliz. And don’t kill my vibe, bitch. 14. R O D R I G O A M A R A L é stylist, coolhunter e queria que o Jurassic Park fosse verdade. 15. V I N Í C I U S R O M Ã O trabalha com design gráfico e é tio da Lulu.

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NOSSA CONVERSA CONTINUA NA WEB!

SIGA A NOSSA ARROBINHA: @ F W O R K S P R O D U T O R A W W W . F W O R K S P R O D U T O R A . C O M . B R

E M N O S S O S I T E : a plataforma Moda de Autor foi inaugurada com vários nomes super fresh, para ficar de olho! Trabalhos lindos de uma turma com muito talento, pronta para fazer a economia criativa brasileira girar. Se você também tem algum projeto autoral em design, ilustração, fotografia ou vídeo com o background da moda, nós queremos te conhecer – envie seu portfólio para: jornalismo@fworksprodutora.com.br. N O F A C E : várias postagens ao longo do dia sobre o universo da marca F. Works e da moda. N O P I N T E R E S T : melhores cliques de street style de todas as revistas F. Cultura de Moda, estilo masculino e mais. N O I N S T A G R A M : cobertura de todos os eventos com a assinatura F. Works Produtora de Moda, paparazzi de nossa equipe em produções rua afora e muitas, muitas inspirações!

E NO BLOG ACERVO PRODUÇÃO: Todas as entrevistas com os nomes selecionados para a plataforma Moda de Autor: tipo, imperdível! F. W O R K S I N D I C A : tips sobre eventos ou marcas para conferir no circuito local. F. W O R K S T V : vídeos das webséries nacionais que estão bombando na rede: ENJOY!, com Regina Guerreiro - numa iniciativa da Cavalera -, e Amo Moda Amo Brasil, apresentada por Paulo Borges. Todas as semanas, um novo episódio. Curtiu? Não curtiu? Converse com a gente: jornalismo@fworksprodutora.com.br

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N O I N B O X D A F. W O R K S : E N V I A D O P O R I N Ê S A R C U R I : “Acabo de ler a Revista F. Cultura de Moda #ARTEMODA. Ótima, bem escrita, criativa, bem desenvolvida. Nesta edição, me encantei com as páginas 46/47, que falam sobre o Castelinho dos Bracher. Esta casa foi do meu bisavô e meu pai nasceu lá. Sensacional o ‘Decálogo do Bom Visitante’, por Celina Bracher. Vou fazer um igualzinho e colocar na minha casa.” ENVIADO POR ISAÍAS SOARES DE SOUZ A : “Parabéns à F. Works por mais um primoroso trabalho na revista de julho. Como de praxe, moda e cultura na medida certa. A revista, mais uma vez, acerta ao saber dosar uma belíssima produção a textos que transitam entre a novidade e outros ângulos de visão sobre assuntos já conhecidos. E sem precisar apelar, em momento algum, para o ‘mais do mesmo’. Grata surpresa ao encontrar Walter Benjamin – ‘inspirador’ na Escola de Frankfurt (que estudo) - nas páginas dessa edição.”


M O D A

F E S TA

Juiz de Fora Rua Marechal Deodoro 528, centro, 2ยบ piso 32 3212-3711 br una j e a n s 17


P o r C r a f t s t y l e F o t o s : N a y a n a M a m e d e Te x t o : R o d r i g o A z e v e d o

A CONEXÃO DA MODA COM A RUA É UMA REALIDADE. NÃO DÁ PARA PENSAR EM ESTILO E EM INDIVIDUALIDADE SEM ENTENDER O QUE SE VESTE POR AÍ. MODA GENUÍNA, SEM FRESCURAS. COM MONTAÇÃO E COM EXPRESSÃO. MODA PARA VER E SER VISTO. MODA DE INCLUSÃO. MODA EXPERIMENTAL E SENSORIAL. PENSAR EM STREET STYLE DO BOM. SERÁ QUE JUIZ DE FORA TEM MATERIAL PARA ISSO? AS PRÓXIMAS PÁGINAS CONFIRMAM A INVENTIVIDADE DA NOSSA CIDADE. O POTENCIAL DE CONSTRUÇÃO DE IMAGENS DE MODA QUE PERAMBULAM E TRANSFORMAM O ESPAÇO URBANO. A CRIATIVIDADE EXTRAPOLADA, QUE COMEÇA DE DENTRO PARA FORA - OU DE FORA PARA DENTRO, POUCO IMPORTA. A ROUPA COMO MEDIAÇÃO DE UMA NOVA GEOGRAFIA DAS RUAS. GEOGRAFIA ESSA QUE NÃO PRIVILEGIA SÓ OS ESPAÇOS, MAS DÁ FORÇA ÀS TRIBOS, AO CONSUMO, À INVENÇÃO E ÀS RELEITURAS. JUIZ DE FORA COMO AMBIÊNCIA DA MODA E DA CULTURA DO (E DO CULTO AO) ESTILO.

ANA PAULA DESSUPOIO

A Ana Paula Dessupoio é muito animada. Multifacetada, a jornalista adora encarar novos desafios e se lança em várias empreitadas que (quase) dão vazão à sua criatividade. A Ana, entre uma pauta, um editorial e uma oficina de teatro, encara o processo de tirar sua habilitação para dirigir. Se depender dela, teremos um sorriso a mais no trânsito - o que, vamos combinar, não vai ser nada mal.

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A Ana Paula Ozório, a Aninha, é uma ameaça tripla: canta, dança e atua. A professora e estudante de Letras tem o coração nos palcos e é acelerada – sempre com muitas atividades e compromissos mil. A Ana Paula ainda descola um tempo para se conectar com a natureza e com os amigos, em uma pausa entre um livro e outro.

ANA PAULA OZÓRIO


A Astrid Lacerda sabia que este ano seria o ano da virada. Tanto que tatuou o número 14 para concentrar as boas vibrações que o novo ciclo traria - e trouxe - para ela. Para a Astrid, o pretinho (nada) básico é palavra de ordem na hora de se vestir, mas não se deixem enganar pela seriedade da cor. A Astrid tem, na verdade, uma energia superleve, divertida e um coração pra lá de nerd.

ASTRID LACERDA

O André Monteiro faz parte da turma “de fora em Juiz de Fora”. O estilista, que veio de São Paulo, garante que se adaptou bem à cidade. Atualmente, o André anda, literalmente, nas alturas: vem se jogando nas aulas de pole dance. Desafios são com o André, que até já se autotatuou mas ele acredita que a experiência rendeu uma melhor história do que tatuagem.

ANDRÉ MONTEIRO

FREDERICO RABELO O Frederico Rabelo, o Fred, é incansável. Trabalho é com ele mesmo, que se divide entre seu ateliê e o estúdio de tatuagem. A identidade estética do cara vem conquistando uma clientela fanática pelos seus traços característicos. O Fred, que ainda tem espaço na agenda para ser adepto do crossfit, recentemente concluiu sua graduação e garante que o tempo ganho será revertido em mais produção, ou seja, mais trabalho.

CAROLINA GOMES

A Carolina (Carol, vai) Gomes é tranquila. Curte ficar de bobeira na companhia de um bom livro ou vendo um filme em casa. A Carol garante que para tirá-la do lar é fácil, no entanto: só chamála para comer em um restaurante bacana - “quer sair comigo, me convida pra comer!”. Atualmente trabalhando no atendimento de uma agência de publicidade, a Carol, que é bem visual e gosta de exercitar seu apuro estético, tem a oportunidade de lidar com gente diferente e ideias criativas, o que, para ela, é tudo de bom.

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GUSTAVO DIAS

HENRIQUE GRIMALDI

O Gustavo Dias é cria da música e sabe disso. Sua banda, a Glitter Magic, segue em turnê acelerada e vai buscar novos ares no ano que vem, seguindo para a Europa. O Gustavo do rock, que tem espaço no coração para música clássica, devido aos anos de coral, também é o Gustavo estudante de psicologia e professor de inglês.

O Henrique Grimaldi está orgulhoso. Seu trabalho com curadoria está ganhando projeção e ele agora se divide entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro. De visual novo, com os cachos descoloridos, o Henrique, pai de uma gatinha branca fofíssima, a Sofia, brinca que está parecido com ela. É ou não é muito coruja?!

LEONARDO LINA O Leonardo Lina é da arte contemporânea. Como suporte, curte o design e a performance. Supercomunicativo, o Leonardo está acostumado a ouvir brincadeiras de que poderia entrar para a política, de tanto que encontra pessoas conhecidas pelas ruas. O Leonardo com certeza vai deixar saudades, uma vez que vai passar um tempo na Europa, com direito a muito estudo e muita produção.

JOÃO VÍTOR RANDI

O João Vítor Randi está adorando a rotina da casa nova. Vegetariano, está curtindo fazer o desafio da “segunda-feira vegana”, apesar de confirmar que não é nada fácil se esquivar dos laticínios ou demais derivados de origem animal. Falando em animal, não tem como não comentar a paixão pela Sofia, sua gatinha, que rende “causos” e arranhões. De amor, é claro.

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LETÍCIA VITRAL

A Letícia Vitral é craque na fotografia. E dá pra perceber que ela tira de letra quando muda de lado da lente. Além de seus cliques artísticos, a Letícia é professora de idiomas, o que não torna menos surpreendente o fato de estar aprendendo russo. Cidadã do mundo, a Letícia, em breve, estará encarando mais uma temporada fora - temporada essa que, com certeza, vai render imagens lindas e muita história pra contar.

MATHEUS ENGENHEIRO

O Matheus Engenheiro é múltiplo. Produzindo – e tocando em - duas festas na cidade, contribuindo com o projeto “Memória Trilho” e ainda por conta dos detalhes finais da sua graduação, ele não para. O Matheus se aventura também pelo tecido acrobático, levando as madeixas coloridas às alturas.

A Priscilla Karem sabe se divertir. Trabalhando na noite, é apreciadora de uma boa gastronomia e de drinks variados. Supertatuada, a Priscilla chama atenção por onde passa e tem altas histórias sobre seus desenhos. Para relaxar, ela curte um chamego com a filhota Nina.

PRISCILLA KAREM

PEDRO FONSECA

O Pedro Fonseca é das cores. Estudante de Artes&Design, é estagiário num ateliê onde trabalha com restauração e encadernações artísticas, e como fotógrafo. Apaixonado pelo audiovisual, passa horas em meio aos links e hiperlinks da rede, se inspirando, especialmente, com videoclipes e suas referências. Além disso, o Pedro é chegado em um bom videogame, desenhar e praticar pilates.

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DO TEMPO QUE VAI SER, FOI-SE E NINGUÉM VIU PASSAR.

P o r R a q u e l G a u d a r d I l u s t r a ç õ e s p o r D u d u

Tendências de consumo emergem das necessidades humanas e por isso é, digamos, fácil prevê-las. Muito já se falou sobre o papel dos trend hunters, profissionais de faro apurado para identificar novidades pelo ar. E, quem diria, o zeitgeist - essa palavra alemã tão difícil de ser pronunciada - caiu na “boca de Matilde”, para não sair mais do dicionário das modas. Saber entender o espírito do tempo para antecipar tendências é uma coisa. Saber quando e como aplicá-las, outra. Para um experto em trends, eu sugiro a pergunta (relevante) que deveria ser lançada nesses tempos de ambivalências: como lidar com os fluxos de estilos que surgem a cada par de meses ou semanas e coabitam um mesmo espaço-tempo? “Hoje é o dia mais lento do resto de nossas vidas”, segundo Michell Zappa, technology thinker sueco, uma espécie de filósofo contemporâneo da tecnologia. Por isso, acreditar que, daqui para frente, vamos ter um lag confortável entre prever uma tendência e aplicá-la ao produto é como assistir às temporadas de moda presentes nos diferentes hemisférios: as informações de moda lançadas para uma estação fria são absorvidas pela estação quente do outro polo porque, bem, se formos esperar a coerência climática acontecer, tudo já ficou velho.

Millenials, normcore, consumidores de luxo... Os marketeiros são obcecados pelas segmentações tradicionais, mas nesse terreno de seres com vontades fluidas, mutantes, efêmeras, será que há como apostar os cartuchos de uma empresa num target só? Como anuncia um dos últimos briefings lançados pelo Trendwatching, dentre os segmentos a serem levados realmente a cabo pela turma do marketing, estariam tecnológicos vs não tecnológicos, rurais vs urbanos. O resto são só nuances, faunas de um mesmo ecossistema.

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G o n z a g a

“NOSSA ORIGEM ESTÁ OCULTA NO FUTURO.” ALEJANDRO JODOROWSKY

E EU PERGUNTO: QUANDO É O FUTURO?


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M O D A

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3 D

Você que produz moda ou produtos, já adquiriu a sua impressora 3D? Ou já se colocou em contato com o bureau mais próximo que imprima as suas ideias? Muitos estão, nesse momento, fazendo experimentações que envolvam impressões em três dimensões. É a hora de levar para a sala de costura tradicional novas associações de técnicas aplicadas à moda. De pequenas peças a vestimentas inteiras – e eis que a dupla Nervous System criou uma forma incrível de se imprimir um vestido completo, montado, de uma só vez. Já viu? E se você é consumidor, muito em breve, ainda, poderá fazer o download de um arquivo de um par de sapatos, por exemplo, como um mp3 para ser produzido em sua impressora caseira, o seu futuro “player” de objetos 3D.

A O

G E N E R A T I V I D A D E E F A T O R R A N D Ô M I C O

De cabelos em pé, a indústria tradicional da moda (entendendo as grandes marcas, notoriamente vítimas de falsificações) encara a realidade das impressões em 3D como uma forma de se facilitar, ainda mais, o copy and paste de suas criações. Assim, quanto mais manual for o processo, de agora em diante – fica a dica -, maiores serão as chances de se obter um produto livre de ser falsificado, pois a exclusividade do processo artesanal não pode ser imitada. Mas como obter essa dádiva do handmade em larga escala? É aí que entram os algarismos generativos randômicos. E antes de passar para a próxima página fugindo dessa expressão – quem aprendeu a falar zeitgeist tem obrigação de aprender essa também –, entenda do que se trata.

São códigos computacionais capazes de gerar resultados sempre novos, originais, em infinitas opções de uma mesma ideia. Para os consumidores, significa ter a experiência de interferir no processo e sentir que esse produto é feito por ele, para ele e que ninguém mais terá um exatamente igual - nem a própria marca que deu origem ao código inicial. Nem ele mesmo, caso queira mais uma versão. Sim, talvez a saída para as marcas seja a venda de códigos abertos como alternativa para um produto final, totalmente acabado. O choque desse modelo para o sistema da moda atual – baseado no desejo do consumidor de pertencimento, de ser parte de uma confortável zona de estéticas, modelos, cores ou texturas replicantes – será evidente. Mas não é uma simples substituição de um padrão: como se sabe, as novas tecnologias possibilitam a criação de cenários paralelos aos precedentes. Os universos coabitam.

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O F U T U C U S T O M E R

R O D O S E R V I C E

Não, não é somente a entrega feita por drones. Aquele braço virtual da sua empresa pode ser “a” sua empresa, apenas. Como já é a de muita gente, hoje em dia. Estar online vai significar “viver”, não se engane, e com todos os níveis de inteligências (internet das coisas) possíveis. É por isso que os consumidores esperam. Portanto, todas as iniciativas virtuais são muito bem vindas e muito bem vistas para as empresas, principalmente para aquelas que não desejam fixar raízes num determinado lugar - os tais nômades digitais. Para abrir a cabeça e deixar de sonhar com um negócio com portas abertas apenas no mundo real.

Shoppings centers são coisas do passado. Bom para países como a Itália, por exemplo, onde eles nunca existiram de fato, à maneira americana. Mais e mais negócios são realizados online e de forma assim, impessoal, em diversos países. Mas quão impessoal é isso, já que as empresas sabem cada vez mais dados da nossa vida particular? O big data está aí e não se espante se mimos realmente do seu agrado cheguem de brinde com a sua próxima compra virtual. O poder está nas mãos dos consumidores e este sabe que cada moedinha sua deve ser empregada num posto justo, em tempos de crise econômica. Eles compram cada vez menos, mas cada vez mais online – onde a experiência é tranquila, sem vendedores insistentes ao seu lado, empurrando mercadorias que nunca vamos usar. Mas quem ainda faz negócios dessa forma, hoje em dia?

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S T É T I C A U T U R I S T A

S S

Se o zeitgeist é a reunião dos moods de uma época, é fato que, daqui a algum tempo, ou se olharmos para o nosso presente com um faro mais apurado, não veremos aquela projeção feita pelos contemporâneos da década de 60. Muitos criadores de moda ainda insistem em olhar para trás para gerar suas expectativas estéticas do futuro. No entanto, basta associar-se aos resultados visuais produzidos pelos computadores que será possível entender esteticamente esse nosso milênio. Da triangulação de delauney à arte generativa, ao glitch art. Sugiro googlar um a um, caso ainda não conheça. É o visual mais fresh possível – se bem que o triangulado já seja, bem, so 2013 e tenha caído no gosto do mainstream... Então, se querem uma dica, é para cair matando já na glitch art – como vocês conferem no editorial Glitch Beach, dessa edição, e às infinitas possibilidades da bela arte generativa. Welcome to the beauty of numbers.

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V T

E S T I M E N T A S E C N O L Ó G I C A S

2014 vai entrar para o mapa cronológico das vestimentas tecnológicas como o ano em que a Apple lançou o seu tão aguardado relógio inteligente e o Google, seus smart glasses. Apesar de vários anos anteriores terem sido investidos em pesquisas, por diversas marcas e designers, nada acenou de forma tão evidente quanto agora. O momento presente é o nosso futuro, digamos assim, para vários setores, inclusive a moda. Por isso, iniciativas de estilistas individuais e marcas estão abraçando novas formas de se produzir roupas, além daquelas restritas às agulhas e linhas. E esse cenário vai ampliar ainda mais, daqui em diante. A ideia das marcas é mostrarem-se envolvidas, de alguma forma, nesse futuro, aos olhos do seu consumidor. E os estilistas tocam de diversas formas no porvir, da estamparia digital aos desfiles em 4D. Mas quem realmente está projetando o futuro, utilizando a roupa como suporte, são aqueles que partiram para os conhecimentos cruzados entre a moda e as tecnologias computacionais.

P R O G R A M A Ç Ã O

N A

M A M A D E I R A

Nesse ambiente da internet das coisas, a geração que não sabe como enviar um e-mail, por exemplo, dificilmente terá lugar. Todas as crianças já nascem, hoje em dia, com um dispositivo digital nas mãos e, percebendo isso, empresas como Google e Apple desenvolvem aplicativos para ensinar os pequenos – desde bem pequenos mesmo, digo, 3-4 anos de idade – a linguagem dos computadores. Sabem como é, tal qual o inglês, códigos computacionais também serão línguas universais, bastante úteis para programar a sua próxima geladeira inteligente, por exemplo. Ou para configurar seu próximo vestido e par de sapatos a serem impressos pela impressora 3D, da qual falei anteriormente. Associar a utilização dos softwares computacionais aos processos criativos da moda e do design já é caminho sem volta. Designers, também os de moda, deverão estar munidos de skills nas áreas de programação para desenvolver o guarda-roupa do futuro. Os consumidores – ou parcela importante deles, por necessidade ou curiosidade - também saberão um mínimo de programação para atender às suas expectativas de interação com as peças. De criativos para criativos, a tendência é de que haja um aumento natural no número de early adopters: o novo cool será uma questão de ter o conhecimento necessário para manipular os códigos dos novos produtos a serem injetados no mercado, cada vez mais possíveis de serem modificados à nossa maneira. E com os algoritmos generativos, bastará um comando. E é através deles, também, que será conferida uma maior independência e exclusividade na criação das cartelas de cores e prints para tecidos, pelos seus próprios designers. Se, hoje em dia, ser fashion victim é um rótulo que a audiência mais esperta tenta evitar, imagine quando estiver à disposição do consumidor a possibilidade de ser realmente exclusivo. Outro ponto positivo e tão básico do cenário da digital fabrication é o on demand realmente acessível: ao estabelecer-se como modelo nesse novo sistema de produção, nos seus mais variados campos, evita-se o desperdício de matéria prima, facilitando a prototipagem/pilotagem. Um ambiente muito mais sustentável.

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O Arduino é uma revolução nesses termos. Se você é designer de moda e deseja que a sua roupa tenha esses componentes inteligentes – para dar um exemplo bem raso, que ela apenas pisque – pode lançar mão do Arduino, uma plataforma de código aberto com linguagem C++, criada, em 2005, por Massimo Banzi, David Cuartielles, Tom Igoe, Gianluca Martino e David Mellis, baseando-se no processing de Casey Reas e Ben Fry. Você não precisa ser um experto em eletrônica. Atualmente existe uma evolução criada especificamente para a moda, o Lilypad Arduino, um micro controlador projetado por Leah Buechley e a SparkFun Eletronics para vestimentas e produtos têxteis. Ele é discreto e pode ser costurado ao tecido e montado com baterias, sensores e fios condutores. Para encontrar resultados infinitos, estéticos e práticos nos seus projetos. E nós, por aqui, vamos adorar poder vestir hoje mesmo todo esse futuro.


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AMO MODA AMO BRASIL Em uma edição em que se fala de futuro, novas tecnologias e mudanças reais no comportamento de consumo, a pergunta surge naturalmente: e a moda brasileira? De que forma vamos caminhar sob essa chuva de novas possibilidades que prometem transformar radicalmente as bases da indústria fashion? Pois foi em meio aos preparativos para a Copa do Mundo no nosso país que mais uma semente sobre esses e outros questionamentos foi plantada. O primeiro filme do projeto Amo Moda Amo Brasil foi lançado em maio, narrando, em alguns segundos, o surgimento de uma peça de roupa, desde o croqui até a passarela. Não coincidentemente fazendo analogia a uma partida de futebol, o vídeo chama atenção para a força da produção nacional – das costureiras aos estilistas, todos craques dessa 3ª economia do país. Criada pelo SPFW, Amo Moda Amo Brasil é uma campanha pela valorização da cadeia produtiva e criativa da nossa moda. O objetivo, claro, é destacar o nosso jeito de fazer e de vestir, propondo um novo olhar sobre o que representa a identidade brasileira, por meio de quatro temas-chave: jeans, artesanal, moda praia e algodão – atributos reconhecidos pela qualidade made in Brazil. “Eu vejo a moda como uma plataforma de valorização do DNA brasileiro – o Brasil do design, da inovação, desse lifestyle que nos identifica e desperta desejo no mundo todo. É importante reforçar o quanto acreditamos na criação brasileira”, explica Graça Cabral, da Luminosidade, em entrevista à F. Cultura de Moda. Os quatro temas deram origem, ainda, à websérie #AmoModaAmoBrasil, em parceria com o Shopping Iguatemi. “O obje-

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tivo é gerar uma contaminação positiva, seja na criação ou no varejo. Essa atitude beneficia o setor como um todo, pois chama atenção pública para esse mercado e chama atenção do consumidor para valorizar o que é nosso”, Graça resume. Em quatro episódios – must-see, por sinal -, Paulo Borges apresenta os detalhes sobre cada um dos pilares da produção brasileira, associados às realidades de percepção e consumo aqui e lá fora e definindo passos que precisam ser dados para construir esse tal futuro - e mostrar que moda não é exclusividade do estilista. Exposições, ensaios, filmes e desfiles fazem parte das ações previstas até 2016, sempre usando a bagagem cultural nacional para explicar a nossa riqueza criativa. Em 2015, com a comemoração dos 20 anos do SPFW, a campanha planeja contar a história do evento em uma exposição inédita e dois livros, colocando duas décadas de criação nacional à disposição do público. Na prática, a campanha já foi abraçada por associações ligadas à exportação, como ABIT, ASSINTECAL e APEX-Brasil - esta, inclusive, lançou, neste ano, o Projeto Showroom, iniciativa em parceria com a ABEST que busca a inclusão da moda nacional em feiras e showrooms de Paris. Mas a questão da exportação vai além. “O consumo internacional passa pela necessidade de criação de uma política de desenvolvimento para a moda que permita maior competitividade”. A grande meta é promover, efetivamente, a necessidade de articulação de todas as áreas envolvidas – especialmente sob o viés econômico, onde a moda brasileira se destaca, mas ainda não se sustenta. O engajamento virtual – que começa pelo uso da hashtag #amomodaamobrasil – busca viralizar um novo jeito de pensar o assunto, sensibilizando lideranças, consumidores e, estrategicamente, os futuros profissionais do setor, em torno de uma cultura de moda mais positiva e real. “Essa é a bandeira que estamos levantando e é isso que queremos estimular na formação dos profissionais de moda”, aponta Graça. Neste ponto – e já que estamos olhando lá na frente -, Amo Moda Amo Brasil pode significar o início de uma mudança nas bases da própria formação acadêmica, onde ainda há tanta influência do pensamento de que o que é bom vem de fora, sem uma percepção mais aprofundada sobre a cadeia como um todo. E então, quem sabe, a moda brasileira passe a ser entendida em toda a sua complexidade, e detalhes como os avanços do agronegócio no cultivo do algodão, a adoção de processos mais sustentáveis na produção do denim e o preciosismo da preservação dos saberes tradicionais de processos artesanais sejam entendidos, valorizados e compartilhados tanto quanto as últimas tendências da estação.

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UM FUTURO FEITO À MÃO

RONALDO FRAGA

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Inseridos em um cenário em que impera a euforia narcotizante da globalização, em que o apelo dos mais modernos e efêmeros aparelhos eletrônicos nos convoca todo o tempo e em que as máquinas executam trabalhos aparentemente perfeitos, haveria espaço para um resgate do trabalho manual, das práticas ancestrais, dos fazeres artesanais? O que observamos agora é justamente um turning point, uma tendência crescente nesse sentido, nas mais diversas áreas: já podemos experimentar uma medicina humanizada, uma culinária regional em detrimento do fast food e a valorização da presença humana em cada detalhe. São experiências da diversidade e do contato como enriquecimento interior e

A l i c e

L i n h a r e s

“POR TRÁS DE CADA PONTO, TEM UMA HISTÓRIA, TEM GENTE, TEM UM LUGAR MARAVILHOSO, UM CÉU DE ESTRELAS.” - Ronaldo Fraga ampliação sensorial. Diante de uma cultura planetária, um desejo de resgate da experiência singular, contrária à das massas. Na moda, grandes marcas como Louis Vuitton, Hermès e Cartier têm em comum o fato de terem sido fundadas entre os séculos XVIII e XIX por artesãos dedicados ao ofício de criar com as mãos. O método era passado de geração em geração, dando origem às tradições. E hoje, cada vez mais, a tendência ressurge. No Brasil, ao contrário dos países europeus - onde o design erudito e o industrial se desenvolveram a partir da tradição artesanal -, houve um processo de desvalorização dos trabalhos manuais, ainda agravado em função de nossa herança colonial. No entanto, a partir da década de 1960, nomes como Lina Bo Bardi e Aloísio Magalhães começaram a se pronunciar em favor daquilo que era típico e popular no país. Aloísio Magalhães dizia ser necessário combater uma “homogeneização empobrecedora” ou o “achatamento do mundo”, causados pelo foco na produção industrial. O segredo passou a ser, então, investir na criatividade nata de nosso povo. Dessa forma, é possível entender esse processo de revitalização que vem ocorrendo nas últimas décadas como um resgate de tradições de nossa identidade enquanto povo brasileiro e, também, como uma forma de aperfeiçoar técnicas ancestrais e associá-las aos princípios de design.

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“O GENUÍ NO É O NOV O L U XO. ” As fronteiras entre arte, artesanato e design encontram-se cada vez mais porosas. Grandes marcas do Brasil já perceberam e investiram nesse diferencial: Ellus, Zoomp, M. Officer, H. Stern. Vale citar o trabalho de Lino Villaventura, que consegue atingir a universalidade sem perder a brasilidade. Martha Medeiros e Walter Rodrigues também seguem esse caminho, na medida em que buscam nos saberes e técnicas artesanais inspiração e parcerias. Mas dentre todos esses criadores, direcionamos o foco para o trabalho profundo e diverso do criador Ronaldo Fraga. Em entrevista à F. Cultura de Moda, ele afirma: “A produção industrial desumaniza. Cada objeto feito à mão registra em si os erros, as imperfeições e a liberdade do criador. Hoje existem máquinas de bordado capazes de produzir peças belíssimas e perfeitas, que parecem feitas à mão. Mas na verdade, são justamente as imperfeições que constituem a alma de cada peça. São a assinatura do criador.” Ao longo de sua carreira, Ronaldo produziu coleções como “Descosturando Nilza” (Verão 2005/06), uma verdadeira ode ao trabalho da costureira. Mas foi em “O Turista Aprendiz” (Verão 2010/11) que ele trouxe à tona o grande potencial do trabalho artesanal. A coleção foi resultado de um projeto desenvolvido junto


É justamente este ponto que Ronaldo Fraga ressalta. “Diante da euforia da globalização, o genuíno passou a ser o novo luxo. Genuíno, para mim, é tudo que traga vestígios de memória, ancestralidade e humanização de processos. Aquilo que só existe em determinado lugar e que não pode ser copiado pela China, nem por máquinas. As comidas, os pontos de bordado, as técnicas tradicionais que registram a alma de determinada comunidade são um verdadeiro tesouro.” Nesse sentido, entre os planos futuros de Ronaldo, está um projeto com escamas de peixes na Paraíba e, também, a utilização de rendas no setor calçadista de Santa Catarina.

a um grupo de bordadeiras da cidade de Passira, no Agreste Pernambucano.

O que estamos vivendo é uma mudança na percepção, tanto dos criadores do circuito comercial, quanto dos artistas e artesãos. Uma alteração que chega ao grande público como uma novidade, carregada de valores que não podem ser encontrados no circuito industrial.

D E S F I L E - O T U R I S TA A P R E N D I Z ( V E R Ã O 2 0 1 0 / 11 )

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Mas o estilista destaca que é preciso uma aproximação cautelosa, para que não haja uma imposição de valores. Para ele, o primeiro momento deve ser justamente voltado para conhecer a essência da comunidade, suas histórias, tradições e costumes. A partir desse material etnográfico tão rico, é possível, então, desenvolver parcerias e estimular a produção. “Quando acontece uma aproximação entre designers e artesãos bem coordenada e bem feita, esta é uma via de mão dupla, em que os dois lados alcançam benefícios. O design exerce um papel de ponte entre o artesanato e a indústria, o mercado e a academia”, completa ele.

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“Em Passira, encontramos uma comunidade inteira repetindo as mesmas coisas, com uma produção artesanal muito semelhante. Nosso trabalho foi auxiliar no processo de resgatar o que caiu em desuso, trazendo à tona elementos da infância e da tradição das famílias. Resgatar, principalmente, a autoestima das bordadeiras de agora e, também, da futura geração”, ressalta Ronaldo. “Muito mais do que um ofício que gera emprego e renda, a atividade artesanal mostra a cultura de um país, sua ancestralidade, sua formação. Um país que perde seus fazeres e tradições, perde a sua alma”, completa ele.

A S B O R D A D E I R A S D E PA S S I R A COLOCAM EM PRÁTICA, CAUTELOSAMENTE, SABERES E T É C N I C A S R E PA S S A D A S P O R GERAÇÕES.

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Um objeto criado manualmente encerra, em si, a subjetividade de seu criador. Ainda que a técnica seja a mesma, cada artesão possui suas peculiaridades, preferências e trejeitos. Em um mundo virtual, esses objetos nos oferecem uma experiência real. Ao invés da uniformidade e padronização, são únicos. Têm a beleza da imperfeição. Talvez seja justamente por isso que apresentam-se como um caminho para o futuro: tornam-se o elo que nos ajuda a nos percebermos como um grupo interconectado e com raízes, com história. Transmitem cultura, memória, identidade. É a chance de mostrar ao mundo nosso verdadeiro potencial criativo. Tomando as palavras de Ronaldo Fraga, “por trás de cada ponto tem uma história, tem gente, tem um lugar maravilhoso, um céu de estrelas”. Nossas estrelas.


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R a q u e l

G a u d a r d

MODA DE AUTOR A F.WORKS PRODUTORA DE MODA LANÇOU A PLATAFORMA MODA DE AUTOR EM 2014, COM O OBJETIVO DE PROMOVER NO CIRCUITO NOVOS TALENTOS DA MODA, NUMA PROJEÇÃO AINDA MAIOR DO QUE A QUE JÁ ERA CONFERIDA PELA REVISTA F., POR MEIO DO CHAPÉU INCOMING . AGORA, ALÉM DAS PÁGINAS IMPRESSAS, O WEBSITE DA PRODUTORA HOSPEDA AS CRIAÇÕES DE AUTORES QUE SÃO “CARNES FRESCAS NO MERCADO”, POR ASSIM DIZER, PRODUTORES COM IDEIAS EXTRAORDINÁRIAS, AUTORAIS, SENDO O COMÉRCIO APENAS UM DOS REFLEXOS DAS COISAS QUE DESENVOLVEM TÃO HABILMENTE. PARA ESSA EDIÇÃO, SELECIONAMOS TRÊS DESIGNERS E UMA FOTÓGRAFA PARA CONTAR TODA ESSA HISTÓRIA. PRISCILA ABREU, DUDU GONZAGA, ANA LUIZA E LORENA DINI SÃO NOSSOS CONVIDADOS, REPRESENTANTES DO FUTURO DA MODA LOCAL E, QUEM SABE, GLOBAL. O TRABALHO DE CADA UM VAI ALÉM DESSAS PÁGINAS E É PARA FICAR DE OLHO, DESDE SEMPRE.

D UD U

Dudu Gonzaga talvez se torne professor. E feliz do aprendiz que absorver o seu talento. Com apenas 21 anos, o jovem barbacenense transferiu-se para Juiz de Fora para estudar Design de Moda no CES/JF e desenvolver, ainda mais, seu conhecimento autodidata. “Sempre gostei de desenhar, pessoas principalmente, era minha brincadeira na infância. Com o tempo, percebi que, na verdade, gostava de criar roupas para essas personagens que viviam, e ainda vivem, na minha imaginação”, lembra.

G O N ZA G A

Como autodidata, Dudu Gonzaga sempre esteve livre para desenvolver suas próprias técnicas, sem se prender a materiais específicos. “Aproveito aquilo que está à minha volta, como esmalte, corretivo, sombra para olhos e tudo mais que estiver ao meu alcance, na hora da criação.” Aos 14 anos, começou a fazer aulas de costura e modelagem. “Percebi que seria importante saber tirar do papel as minhas ideias”, conta. Sempre com o apoio irrestrito dos pais, principalmente de sua mãe, Patrícia Gonzaga, Dudu conta que foi graças a ela que se apaixonou pela moda. “Durante minha gestação, minha mãe adorava assistir ao programa do Clodovil. Para ela, a melhor parte era quando ele desenhava.” Segundo Dudu, Patrícia sonhava em ter um vestido assinado pelo estilista e, como não foi possível, o destino tratou de fazer o próprio filho assinar vários para ela. “Quando criança, minha mãe me levava com alguns desenhos debaixo do braço à casa de uma

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costureira amiga da família, para que ela confeccionasse as roupas, desenhadas por mim, para minha irmã”, recorda. Atualmente, Dudu trabalha num ateliê de moda festa, onde cria e participa da confecção das peças. Sobre seu processo de criação, Dudu conta que seus desenhos funcionam como um arquivo de suas memórias pessoais, como um desabafo particular. “Gosto de transformar em traços as histórias que conheci, os momentos que vivi, ou qualquer coisa que tenha me chamado atenção. Me inspira qualquer coisa que me intrigue, questione e me faça pensar.” Pensando no futuro, Dudu nem titubeia ao declarar que sua intenção é continuar a absorver ainda mais conteúdo. “Acho que, em se tratando de moda, é preciso ter domínio de boa parte de sua vasta área. Pretendo concluir a faculdade e buscar algumas especializações, ainda em moda. Gosto de dar aulas, talvez me torne professor.”


LO REN A

PRI SCI LA

ABREU

Graduada em Design de Moda pela FUMEC de Belo Horizonte, Priscila Abreu, 23, é de Barbacena e atualmente mora em Juiz de Fora, MG. A idade é pouca, mas o talento é muito: com trabalho finalista num importante concurso em BH e uma pequena marca já na bagagem – a mi.mo –, Priscila mostra a que veio nos pequenos e belos detalhes das suas peças. A coleção GNAISSE, realizada por Priscila como trabalho de conclusão de curso em 2013, teve como inspiração a cidade de Coroas, no interior de Minas Gerais. Com as típicas características das cidades mineiras, Coroas é marcada pelo artesanato, principalmente pelas esculturas de pedra gnaisse. “A textura da pedra e as formas das esculturas foram transportadas para as roupas em forma de textura dos tecidos e relevos aplicados sobre a estampa. Preferi utilizar fibras naturais, como linho, seda e algodão, além de tecido indiano de tapeçaria, para desenvolver as peças.”

D I N I

Lorena Dini, 24, é mineira de Viçosa e, atualmente, está com malas prontas para embarcar para São Paulo. Na bagagem, além dos sonhos, a moça leva um portfólio profissional para ninguém botar defeito. Lorena é fotógrafa e conta em seu currículo com uma temporada em Lisboa e um período como assistente de Bruna Castanheira, também fotógrafa de moda. Para a plataforma Moda de Autor, ela enviou o seu shooting Boho Chic. Nas imagens, uma atmosfera introspectiva toma conta do cenário e da modelo, com beleza e styling apurados. Foi então que resolvemos propor uma versão editor’s cut para o editorial: a diagramação das páginas a seguir ficou a cargo da equipe da F.Works Produtora de Moda, diferente da versão que você confere no site.

Sobre a mi.mo, Priscila conta que seleciona os materiais e é responsável pelo design dos calçados. “Os sapatos são fabricados por um sapateiro manualmente, de forma bem artesanal, em pequena escala”, descreve. Priscila começou a desenhar sapatos logo depois de terminar a faculdade e hoje tem essa produção autônoma caminhando para, futuramente, configurar uma marca maior.

A N A LU I Z A G RA ÇA Aos 20 anos, Ana Luiza Graça está certa de que escolheu a profissão da sua vida. Nascida em Valença, graduou-se em Design de Moda na Estácio de Sá de Juiz de Fora, apostando no seu interesse por este universo, que carrega desde a infância. “Ninguém na minha família costurava, mas, por algum motivo, eu mesma fazia as roupas para as minhas bonecas”, lembra. Ana Luiza conta que sempre quis ser estilista, mas, por morar em uma cidade pequena, teve medo de não conseguir realizar o seu sonho. “Graças ao apoio dos meus pais, consegui dar o primeiro passo.” Sobre o tema do seu TCC, nota máxima pela banca, Ana Luiza conta que a ideia surgiu ao longo do curso. Bordados, tecidos fluidos e alfaiataria são as características mais evidentes em seu trabalho, resumidas no contexto de Abismos Oceânicos – como batizou a sua coleção apresentada. “Minha pesquisa foi dedicada aos seres abissais, navios naufragados e lendas de sereias e monstros marinhos. Transformei o conceito da minha pesquisa em cores, formas, estruturas e aviamentos. Cada pérola bordada tem um motivo para estar ali”, descreve. Profissionalmente, agora formada, Ana Luiza afirma que continuará criando moda. “Acredito que, quanto maior a pesquisa, mais criativo o profissional de moda se torna. Pretendo fazer minha pós-graduação em criação e mais cursos na área. E tenho a certeza de que escolhi a profissão certa para a minha vida”, completa.

“Para a divulgação do trabalho, eu criei a página da mi.mo no Facebook e, de tempos em tempos, os exponho para venda como, por exemplo, no Bazar Vintage, que acontece na Casa de Cultura da UFJF. Os modelos são sempre baseados em oxfords e sapatilhas, tomando como inspiração o universo vintage.”

G OS TA R I A DE PA RTI C I PA R DA P L ATA F O R M A M O D A D E A U TOR ? ENVI E S EU P R OJ ETO E M I L U S T R A Ç Ã O, DES I G N, FOTOG R A F I A O U V Í D E O PA R A J OR NA L I S M O@FWOR K S P R ODU TORA .C O M .B R – Q U E M S A B E VOC Ê NÃ O S ER Á O NOS S O P R ÓX I M O S E L E C I O N A D O ? !

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Foto s p or L ore na Di ni / / St y l i ng • Fe r nand a Mansur // B e aut y • Br una R e is // Mo d elo • Tami res Mend es

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DIS MAGAZINE PÓS-INTERNET LIFESTYLE P o r B r u n o C o l a b o r o u

B a i e t t o . D a n i e l V a r o t t o .

A DIS Magazine é uma plataforma devotada à internet, arte e moda, um projeto de raiz colaborativa entre artistas, curadores, editores e designers. Dividido em DIStaste e Dismorphia, o grupo disseca arte, moda e comércio criticamente, sob um olhar comportamental. Foi criada em 2009, em Nova York, por Marco Rosso e Lauren Boyle, os editores Solomon Chase e David Toro, o web designer Nick Scholl, o escritor Patrik Sandberg e o produtor Samuel Adrian Massel III - um grupo de amigos dedicados à indústria cultural. Idealizada primeiramente como uma revista impressa, DIS se denomina como uma revista de lifestyle pós-internet, termo que descreve aqueles que têm como tema central a cultura da internet e as bases comportamentais de social media. A DIS Magazine desenvolve cada post entre a seriedade e o sarcasmo. Sua seção DIStaste provoca o leitor com peculiares editoriais de moda, através de produções que beiram o surreal. Produtos banais e cotidianos são apresentados em ensaios cuidadosamente executados, colocando em questão ideias pré-estabelecidas sobre gosto e comportamento. Sua visão é sempre horizontal, nunca trata sobre o que é high ou low, in ou out, mas pensa criticamente o mercado da moda, submetido às complexidades do comércio, do gosto, do consumo e da reapropriação dos usuários como forma de subversão. O cruzamento de referências não diferencia moda de arte contemporânea, porém, surge sempre com uma linguagem visual relacionada à internet, como seu mais recente projeto V FILES. Trata-se de uma microrrede social e online store para roupas assinadas, com respectiva upfront no Soho, NY (www.vfiles.com).

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DIS intervém igualmente em produções para Hood by Air , Telfar e Kenzo, que em sua campanha FW2012, Watermarked, apresenta os looks como vídeos e imagens institucionais de estoque (http://youtu.be/ZfE4bFsSHzU). De linguagem essencialmente digital e na fronteira do virtual/real, DIS Images (www.disimages.com) desenvolve um banco de fotos próprio e curadoria, convidando artistas a criarem cenários alternativos e novos estereótipos, ampliando assim a representação de novos estilos de vida. Com uma linguagem de cenas comerciais arquetípicas, promete contestar representações de valores abstratos e posições neutras, que a fotografia de estoque tradicionalmente apresenta. Seu último projeto, DIS-Own (www.disown. com), foi recentemente inaugurado no Redbull Studios, em NY. Um projeto curatorial e loja online para produtos exclusivos, assinados por designers e artistas como Jon Rafman, Amalia Ulman, Telfar e Hood By Air (HBA), K-Hole, The Jogging, Dora Budor, Anne de Vries, Timur Si-Qin, Nick DeMarco, Daniek Keller, Katja Novitskova e Maja Cule. Com inauguração em setembro de 2014 - teve como bordão de abertura “not for everyone… but definetly for you” -, DIS-Own promete ser um canal para veicular objetos de arte e moda de forma accessível, uma forma de dispor obras para consumo fora do circuito de grandes colecionadores. Sua inauguração apresentada como uma exibição, bem a cara da Ikea, expõe objetos de arte como uma mercadoria igual a qualquer outra. Nada mais contemporâneo. Por meio desse último projeto, DIS aposta em uma postura “aceleracionista”, deixando explícito que a única forma de superar o capitalismo é por meio dele mesmo, esgotando as fontes de onde se encontra, navegando entre o gosto popular e a crítica institucional, utilizando o mercado como meio para validar suas decisões conceituais e estéticas.


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Katarina usa vestido Shazi, FLOW; mรกscara de mergulho, VIGOR SPORTS, R$165; pulseiras LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta.

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Katarina usa vestido Carina Duek, D’STORE, R$948; óculos Ray Ban, ÓTICAS KIKA, R$479; pulseira LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preço sob consulta.

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Katarina usa blusa HILL STORE, preço sob consulta; s h o r t s B o t s w a n a , D R O P ’ S AT I T U D E , p r e ç o s o b consulta; óculos Absurda, ÓTICAS KIKA, R$390.

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Katarina usa biquíni Cia. Marítima, ANA ALBUQUERQUE, preço sob consulta; saia SKUNK, preço sob consulta; boné New Era, HARD BACK, R$159,90.

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Katarina usa óculos Absurda, ÓTICAS KIKA, R$390.

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Katarina usa vestido Afghan, F L O W, p r e ç o s o b c o n s u l t a ; ó c u l o s Colcci, ÓTICAS KIKA, R$489; boné New Era, HARD BACK, R$159,90.

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Katarina usa cropped e saia, acervo produção; bolsa, LUXSTORE, preço sob consulta; óculos Colcci, ÓTICAS KIKA, R$489.

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K a t a r i n a u s a b o d y, a c e r v o p r o d u ç ã o ; óculos Absurda, ÓTICAS KIKA, R$390.

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B O T T E G A V E N E TA

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SER NORMAL É LEGAL O estudo de tendências começa, invariavelmente, pela análise do passado e sobre como este tem sido refletido no presente, para que assim seja feito algum tipo de estudo prevendo quais os caminhos para o futuro, seja esteticamente ou no campo cultural, comportamental etc. O futuro, portanto, é mais que uma página em branco, é aquilo que será escrito em uma página ainda vazia de um grande caderno, onde ainda é possível ver marcas de rabiscos antigos em algumas daquelas folhas. Os arranhões são consequências de uma escrita e uma história forte, coerente, de profundidade e, portanto, confiável. O mesmo acontece com o mercado, onde o sucesso tem sido construído muito além da vitrine publicitária: uma boa marca passa a ser sinônimo de uma boa reputação. No “The Future Brand Index”, ranking das 100 marcas mais poderosas do mundo, o método de avaliação foi além da valoração das marcas. Segundo o próprio relatório, uma “Futu-

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B i t t e n c o u r t

OU “AQUELE COM A BOLSA DO JOEY.”

re Brand” é uma marca com grande probabilidade de ter ou perpetuar seu sucesso no futuro, por que ela equilibra perfeitamente fortes percepções de seu propósito no mundo com a experiência que ela proporciona, gerando uma forte conexão emocional com seus públicos, além de ter consistência em todos os pontos de contato e de focar na melhoria da vida das pessoas. De todos os avaliados, a LVMH é a única marca ligada à moda que entrou para a lista. Segundo o jornal inglês Independent, a LVMH também é uma das poucas empresas que vem investindo forte a moda masculina de luxo, que já corresponde à metade do mercado mundial. A culpa, segundo o artigo, é dos chineses e dos yummies, os Young Urban Males - uma evolução menos feminina e menos “posada” dos metrossexuais -, que já são considerados um nicho de mercado da moda atual ainda mais influente do que as it girls foram um dia. Essa influência não se deve apenas à tão grande capacidade de consumo de moda e tecnologia por este grupo, mas

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também por uma presença no mercado de trabalho em altos cargos de em diversas áreas, fomentando, até mesmo, a indústria cultural mundial. Ao mesmo tempo, em um mundo um pouco mais “mortal” e ainda em ascensão, a Geração Z, composta por jovens nascidos depois de 1990, não se preocupa tanto com marcas e coloca o conforto em primeiro lugar. Não à toa, o “look Seinfeld”, uma réplica do guarda-roupa dos pais desses jovens na época de seus nascimentos, começa a fazer parte das semanas de moda europeias, com o simpático e debochado nome de “normcore”. As roupas básicas fazem parte de ambos os grupos, yummies e normcores, cada um ao seu jeito e com seu propósito. O primeiro, com a influência do mercado de luxo asiático, que não se identifica com cores ou qualquer tipo de exagero; e o segundo, priorizando o conforto de um moletom cinza e uma calça jeans desbotada. Ambas as expressões de moda, que se encontram tão à vontade no universo masculino, mais parecem páginas em branco, ainda cheias de referências do passado, mas sem cara de futuro. Mas eis que ambos os grupos se encontram novamente, agora, em um debate de especia-


PORTS 1961

EMPORIO ARMANI

CANALI

A tecnologia, portanto, mais do que parte da rotina e em formato de celular ou tablete, passa a ser também, “vestível” e por todos os públicos. O Google Glass chamou atenção para um segmento que começa a tomar proporções cada vez maiores - a wearable technology - e vende o Google como uma marca cada vez mais consistente, admirada e, logo, com mais “poder de futuro”.

Aliando conforto a praticidade, parece que os anos 90 realmente têm algum sentido em voltarem à ativa com o normcore, afinal, nada mais prático que um macacão cheio de bolsos pra carregar

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Mas pra tantos gadgets e tanto interes-

se masculino por todo este mundo tecnológico, parece que se dá início a certa “acessorização” do guarda-roupa do homem. Afinal, as bolsas, pastas e mochilas nunca foram tão necessárias para carregar muito mais que o tênis da academia ou o caderno da faculdade, e sim, todos os aparelhos necessários para cada momento do dia – e seus respectivos fios e carregadores, claro.

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tudo isso. Ou uma pasta Louis Vuitton de material ecologicamente correto: ética e sustentabilidade são ativos indispensáveis pra qualquer marca. Talvez tanto cinza e tecnologia juntos não nos distanciem tanto assim de um paradigma de futuro recheado de referências aos Jetsons – ou Barbarella, pros mais ousados – , mas, certamente, as escolhas por qual material, qual marca ou tecnologia preferidas merecem atenção das empresas de moda. A indústria masculina, por enquanto vem engatinhando, mas com bons exemplos.

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listas em tecnologia - que faz tão parte do dia a dia contemporâneo, quanto um dia fizeram nos desenhos dos Jetsons.

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To d a s a s i m a g e n s p o r t r e n d s t o p . c o m


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PARA ONDE VAI O MADE IN ITALY? Quando temos em mãos uma peça de roupa fabricada na Itália e nos deparamos com o Made in Italy inscrito nela, isto não quer dizer apenas que o produto foi feito no bel paese, como os italianos se referem ao seu país. Talvez você nunca tenha refletido a respeito, mas é bem provável que, por alguma via, este conceito tenha se organizado em sua mente, mesmo que de modo indefinido. Assim como o Japão vende know-how tecnológico e funcional, pode-se dizer que a Itália vende para o mundo a excelência em diferentes esferas do design. Afinal, quem não se orgulharia de ter um par de óculos ou um terno italiano para chamar de seu?

nizado pela Alta Roma em colaboração com a Vogue Itália, que tem como objetivo descobrir e lançar jovens talentos criativos para as cenas nacional e internacional da moda. Depois de duas tentativas frustradas, Stella não só apresentou sua coleção como conquistou o prêmio no ano de 2011, o que a possibilitou criar uma nova coleção mais à frente.

Explico melhor: quando falamos de Itália, a simples inscrição da origem de um produto, tão presente no nosso dia a dia, não diz respeito somente à sua proveniência em si. Neste caso, sinaliza uma “marca” e evoca uma indústria organizada por atributos e padrões estéticos que alçaram o saper fare e o fatto a mano italiano ao desejo de consumo global. Vale ressaltar que estamos falando de peças genuinamente de moda produzidas tanto por nomes conhecidos, quanto por artesãos de primeira linha quase anônimos, responsáveis por tornar o Made in Italy admirado no mundo todo. Se o ditado diz “em Roma, faça como os romanos”, esta máxima não ficou de fora na construção dos pilares da moda italiana. E se por um lado, a excelência clássica e a qualidade fizeram com que o seu sucesso fosse crescente, por outro, fizeram com que, ao longo do tempo, alguns críticos apontassem certo conservadorismo e falta de inovação tecnológica no setor. Mesmo cultivada sob uma atmosfera clássica e de tradição, a moda italiana atual parece dar sinais de novos ares. E o nome de Stella Jean tem a força necessária para acrescentar novas conexões e olhares sobre o futuro do Made in Italy. Fruto de uma família multicultural, a estilista - filha de mãe haitiana e pai italiano - entrou para a moda trabalhando como modelo, mas logo despertou sua vocação para a criação. Sem qualquer formação técnica, Stella começou a desenvolver suas ideias usando apenas tecidos e alfinetes no manequim. Com a ajuda de uma amiga, elaborou algumas peças para concorrer ao Who’s On Next - projeto orga-

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Desde então, a estilista já se apresentou na Pitti Uomo em Florença, além de Roma. Mas a visibilidade maior veio em 2013, com um convite de ninguém menos que Giorgio Armani que, além de ceder o espaço do Teatro Armani, em Milão, disponibilizou sua equipe de comunicação em prol da divulgação do trabalho de Stella. Na época, Armani declarou que a nova geração de designers italianos precisava de apoio. E este foi o impulso que faltava para o seu reconhecimento pelo grande público, ao ser apontada pela mídia como a “nova Miuccia Prada” do novo Made in Italy. Sempre evocando sua história pessoal de intercâmbio de culturas, a estilista se inspirou em uma África romântica dos anos de 1940 e 1950, somada às linhas sóbrias da camisaria italiana, para uma de suas coleções. Em sua viagem cul-


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©courtesy of press office Stella Jean

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MODA AUTÊNTICA, VIBRANTE, INTERESSANTE E ENGAJADA.

tural, incorporou ao seu trabalho tecidos nobres produzidos em teares manuais nas aldeias de Burkina Faso. Tudo isso graças a uma nova realidade costurada por setores italianos e internacionais, como a concepção do Ethical Fashion Initiative, elaborado pela Alta Roma e pelo Centro de Comércio Internacional, cujo projeto de responsabilidade social visa à construção de realidades econômicas sustentáveis no sistema de moda italiano e em comunidades carentes de alguns países africanos. Para a jornalista especializada Suzy Menkes, uma grande admiradora da estilista, “a incomum etnicidade de Stella e seu desejo de criar roupas de forma ética, ajudando as mulheres mais pobres do mundo, faz com que suas roupas ousadas e coloridas sejam tão bonitas por dentro, quanto por fora”. A designer é a própria síntese deste twist étnico. Em teoria, parece simples unir a austeridade da alfaiataria a certo exagero de estam-

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pas hipercoloridas, mas chegar ao resultado harmônico encontrado em suas criações requer ousadia e um olhar estético afiado para transformar tudo isso em moda. Em entrevista ao jornal inglês The Telegraph, Stella disse: “Eu quero comunicar, por meio das roupas, um conceito de mundos opostos e tradições se fundindo de uma forma sofisticada, estando lado a lado com igual importância, sem uma sobrepor a outra”. Moda autêntica, vibrante, interessante e engajada. Talvez seja este mesmo o futuro da moda.


MARCO DE VINCENZO

M A R Y K AT R A N T Z O U

INVERNO P o r

H e l l e n

K a t h e r i n e

©trendstop.com

FELTROS, VELUDOS, LÃS, MOLETONS, NEOPRENES, TRAMAS, EFEITOS TRIDIMENSIONAIS… O INVERNO PEDE O TOQUE! OS SHAPES MAIS RELAXADOS GANHAM MATERIAIS LUXUOSOS E A QUALIDADE DOS TECIDOS, SUBMETIDOS A AVANÇADOS TRATAMENTOS, DEIXA TUDO AINDA MAIS DESEJÁVEL. É SÓ VER AS PASSARELAS DE BALMAIN, BOTTEGA VENETA, CHANEL E HERMÈS – DÁ VONTADE DE TOCAR TUDO.

CHANEL

CAN TOUCH THIS!

MIU MIU

Para compensar, encontramos na década de 60 o complemento ideal que traz conforto e funcionalidade para peças de alta qualidade. A silhueta reta e o mod style inspiram proporções despojadas, mais práticas, garantindo a liberdade de movimento sob o visual 3D. Passado e futuro se cruzam, ainda, no novo fôlego da influência handmade e na herança sporty encontrada, especialmente, na releitura mais solta e utilitária do militarismo.

60’S BACK RETRÔ FRESH, A MODA SESSENTINHA GARANTE A SILHUETA RETA, OS CURTINHOS ESTRUTURADOS E OS PRINTS ARTÍSTICOS, EM UMA VISITA MODERNA AO ESTILO MOD. O RESULTADO É UMA CARTELA DE VERSÕES ATUALIZADAS DA DÉCADA, REFORÇADA POR NOMES COMO ALEXANDER WANG, MARY KATRANTZOU, MIU MIU E VALENTINO.

ALEXANDER WANG

Apesar de falarmos de futuro, a influência dessa moda impregnada de tecnologia poderá ser vista logo ali, no nosso Inverno 2015. Ou melhor, tocada. As temperaturas caem e revelam a estação que grita por uma relação tátil mais intensa com as roupas. Teremos texturas, tecidos, detalhes cuidadosamente aplicados, itens básicos transformados pela riqueza dos materiais e tricôs que são puro luxo – pra ver e sentir.

BALMAIN

VA L E N T I N O

C H A L AYA N

E se o resultado disso tudo tinha alguma chance de ficar boring, não faltarão opções que comprovam o contrário. O conforto fun brinca com o impacto visual das matérias-primas, resumindo o que vamos encontrar nas ruas na próxima temporada: a estética futurista funcional e cada vez mais próxima da nossa realidade. Alguém duvida?

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MOSCHINO S A LVAT O R E F E R R A G A M O

To d a s a s i m a g e n s p o r t r e n d s t o p . c o m

HOUSE OF HOLLAND CHLOE

COCOON

FUN FOR YOU

AINDA NÃO OUVIU FALAR? ENTÃO, ANOTA AÍ: O CASACO-CASULO PROMETE SER A PEÇA INDISPENSÁVEL PARA ESQUENTAR O PRÓXIMO INVERNO – CHLOÉ, KENZO E SALVATORE FERRAGAMO NÃO ME DEIXAM MENTIR.

FAY

PROENZA SCHOULER

A IRONIA DO FAST-FOOD DA MOSCHINO E DO SUPERMERCADO DA CHANEL GARANTIRAM A CARGA LÚDICA QUE PROMETE DEIXAR OS NOSSOS CLOSETS MAIS DIVERTIDOS – PORQUE NÃO? É ASSIM QUE PERSONAGENS E DESENHOS SÃO CANDIDATOS A ÍCONES DE ESTILO DA PRÓXIMA ESTAÇÃO.

KENZO

CHANEL

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LEONARD

ISABEL MARANT

A LT U Z A R R A

BALMAIN

ALEXANDER MCQUEEN

OS RECURSOS ARTESANAIS ENRIQUECERAM AS PASSARELAS NA MESMA PROPORÇÃO QUE OS TRATAMENTOS ESPECIAIS DOS TECIDOS MAIS MODERNOS. VALOR E EXCLUSIVIDADE PARA ESTE GUARDA-ROUPA DELUXE QUE VEM AÍ.

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DOLCE AND GABBANA

HANDMADE

SOFISTICADA E NADA ÓBVIA, A TENDÊNCIA MILITAR PEGA CARONA NO SPORTY CHIC PARA SE REINVENTAR. É POR ISSO QUE VEREMOS O VERDE E O CAMUFLADO EM PEÇAS MAIS SOLTAS E EM PROPOSTAS DE UMA ALFAIATARIA CADA VEZ MAIS FREE.

BALENCIAGA

MARC BY MARC JACOBS

GUERRA FASHION


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MÚSICA P o r

Na edição que fala sobre futuro, não vou falar de novas bandas ou novos estilos musicais, mas de como a forma como você escuta música mudou. Nas últimas quatro décadas, tivemos o disco de vinil, a fita cassete, o CD e o laserdisc. E, embora alguns desses formatos ainda sejam cultuados, como o vinil - pelo qual este colunista que vos escreve é apaixonado -, não há como negar que as novidades chegaram para ficar. A popularização rápida da internet trouxe um novo jeito de consumir música, que foi rapidamente assimilado pelas novas gerações. A música deixou o formato físico e passou para o digital, na mesma velocidade em que os usuários passaram a utilizar plataformas onde todo conteúdo fica em nuvens. Serviços como SoundCloud, Spotify e Grooveshark viraram as vedetes do momento, mas, como em toda mudança de comportamento, há vantagens e desvantagens. As vantagens dessa nova forma de escutar música, certamente, encontram argumentação na praticidade - na possibilidade de escutar sua música favorita mesmo longe do PC, na facilidade de compartilhar com seus amigos aquele som que você descobriu e na comodidade de não entupir HDs com gigas de mp3. As desvantagens desabaram na cabeça das gravadoras e dos artistas como

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uma bomba. Os principais efeitos são a queda na venda de discos e CDs, consequente diminuição do faturamento dos artistas e o encolhimento e/ou encerramento de gravadoras que não conseguiram se reestruturar. E, o mais importante, a ameaça à cultura de fruir música escutando álbuns inteiros, manuseando os booklets, suas letras, acessando informações de produção, enfim, toda uma cultura baseada no prazer de ter a obra física. Vê-se de tudo na tentativa do mercado fonográfico de se adequar a esta nova ordem mundial. Muitas das poderosas, como Universal, Sony, EMI e Warner, tentam marcar presença com canais oficiais em serviços como Youtube, Vimeo, Dailymotion e Soundcloud. Outras, abriram lojas virtuais de venda de mp3, apenas para citar alguns casos. As maiores vantagens mesmo são a popularização do acesso à música e o fim do monopólio das grandes gravadoras. Muitos artistas já não precisam do suporte dessas gigantes para se lançarem, como foi o caso do Artic Monkeys, com seu álbum de estreia, de Gossip a Foster The People, entre tantas outras bandas/artistas que alcançaram enorme sucesso utilizando o campo livre da internet. Os debates a respeito dos prós e contras desse novo comportamento de consumo são enormes e nunca terão fim - como o debate CDxvinil, que perdura até hoje. Ou, pelo menos, precisaremos de um pouco mais de tempo para descobrir o que vai e o que fica no gosto dos usuários. Mas posso garantir que, depois de mais de 10 anos trabalhando com música, ainda não inventaram nada como um vinil ou CD originais.

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CINEMA COMEÇAR DE NOVO O futuro, pelo menos no cinema, trabalha com o distópico, com o fim, a falta de esperança ou, num caminho oposto, com a crença de que a tecnologia e a inteligência em todos os níveis possam nos salvar. A ideia projetada do futuro nos dá a esperança genuína de mudança. Mas, nos últimos anos, a ideia de “esperança” e “melhores dias” vem acompanhada da perspectiva de múltiplos tempos e de vida fora do planeta. E por quê? Porque se a coisa está ruim por aqui, quem sabe fora não encontramos algum sentido para nossa existência? E também porque fora do nosso espaço, a noção do tempo, tal qual conhecemos, também é relativizada. Em novembro, estreia mais um exemplar dessa perspectiva, dirigido por Christopher Nolan. “Interestelar” conta com Matthew McCoughaney e Anne Hathaway no elenco. O planeta vive uma escassez de alimentos. Assim, exploradores (na verdade, pessoas comuns com algumas habilidades específicas) precisam procurar um novo lugar para que os humanos possam viver. Sim, porque salvar o habitat não é mais possível, somente a espécie. O que encontramos são viagens no tempo e dimensões que criam realidades paralelas (o conceito de fendas, chamado de buracos de minhocas – vá entender - que facilitam o “trajeto”), e uma delas seria o modo de vida ideal para a humanidade. Essa projeção de realidades paralelas é in-

teressantíssima. Uma ideia de recriar a vida com várias tentativas, suprimindo momentos, aperfeiçoando outros, ignorando mais alguns. Parte do enredo é especulação - o diretor, que também coassina o roteiro, é conhecido por não contar muito de suas histórias antes da estreia de seus filmes. Ele promete efeitos espetaculares para ajudar a contar o enredo, mas não espere um filme de efeitos especiais apenas. Nolan, aliás, não é um novato no tema de bifurcações e saltos no tempo. “A Origem” (2010) conta como um grupo de profissionais manipula o “sonho” alheio e consegue modificar acontecimentos. As linhas do tempo são continuamente destruídas e a linearidade é o principal entrave para o grupo de Cobb (Leonardo DiCaprio), que conta com o fluxo de tempo (o vai e vem típico de sonhos) para realizar o seu trabalho. Já Spielberg pegou um projeto pensado, mas não executado, de Kubrick e fez seu “Inteligência Artificial” (2001), no qual o futuro da humanidade é escravizar novas formas de vida (robôs humanizados para as mais diferentes funções). Cabe a pergunta de quem, na verdade, são os humanos ou as máquinas. A jornada do menino robô ultrapassa o ciclo biológico dos humanos, prolongando a vida de sua “mãe” através da superação do espaço-tempo. Em “Prometheus” (2012) - escrito por um dos criadores de “Lost”, Damon Lindelof -, o futuro é visto como algo esplêndido, dominado pela tecnologia e pelas possibilidades in-

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finitas da ciência em interferir, inclusive, no tempo e na longevidade humana. Mas as mesmas questões filosóficas que assolam a humanidade desde sempre estão lá. De onde viemos? Quem nos criou? Qual o sentido da vida? O filme tem previsão de sequência em 2015. “Elysium” (2013), do mesmo diretor de “Distrito 9” e com o nosso Wagner Moura, mostra que o caminho da humanidade é o pior possível. Assim como no seu filme anterior, a intolerância é o mote. As diferenças sociais tornam-se mais densas num futuro em que viver na Terra, com suas doenças e falta de estrutura, é apenas para os mais pobres, num sistema de castas em escala mundial. O mesmo Wagner Moura participa de uma simpática comédia, homenagem ao gênero scifi, produzida no Brasil – “O Homem do Futuro” (2011), no qual seu personagem tenta mudar sua vida através de... Isso mesmo, viajar no tempo e modificar o passado. Por alguma razão filosófica, ou religiosa, ou quiçá ainda não explicada, o cinema gosta de pensar no futuro olhando mesmo é para o passado.


LIVROS

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O futuro é anseio, medo ou esperança? Depende exatamente do tempo em que vivemos – e refletimos – sobre o que seria esse futuro. Como prisioneiros de uma era, projetamos para o amanhã o que é nos é caro hoje. Indicamos autores bem distintos entre si, mas implacáveis no modo de pensar a vida e a era em que vivemos. Zygmunt Bauman é um escritor que tem a constante preocupação com o mal estar dos nossos dias. Chamado por alguns de “téorico do caos”, ele cunhou o termo “liquidez” para falar da efemeridade e superficialidade das relações. Bauman é interessado no homem comum e na forma como vê o mundo e lida com ele. Em seu mais recente livro, “Cegueira Moral”, ele discute como a banalidade da vida, a visão trivial da violência, nos transformou em pessoas insensíveis aos dramas alheios - da impossibilidade de compreender o outro, a miopia moral e ética que nos mantém distante do pertencimento e da ideia de viver em sociedade. Ele disseca, por meio de diálogos com o colaborador - o filósofo Leonidas Donskis -, a falta de dilemas, a ausência de uma privacidade plena, o não-espaço para dúvidas morais e a perda da sensibilidade. Mais uma vez, Bauman volta o seu ataque às redes sociais, destacando como o ódio anônimo da internet alimenta essa insensibilidade. Enfim, um tratado sobre como as atuais relações humanas caminham para a quase indiferença, sem dor ou consciência moral com o coletivo. Carl Sagan é um grande crítico da pseudociência e do misticismo como tentativa de explicação do mundo através do sobrenatural. Cético quanto a religião, fé e outros acessórios de fuga - no seu entendimento - para entender a vida, ele escreveu, de forma bem humorada, “O Mundo Assombrado por Demônios”, quase como um manifesto contra este “estilo de vida”. O título da obra pode ser entendido como uma referência a tempos obscuros de crenças e medos sob o caráter religioso, místico e de uma ciência rasteira, uma idade das trevas, onde qualquer avanço da ciência era visto como uma provocação a Deus. Aqui, Sagan refuta qualquer linha de pensar o mundo que não tenha como base racional a ciência. Em outro livro, Sagan embarca na literatura, seu único romance, “Contato” (que virou filme com Jodie Foster), narra como uma cientista conseguiu se comunicar com seres extraterrestres através de anos de dedicação à pesquisa científica. A história narra cada etapa dessa conquista, deixando claro que a ciência contesta, mas também pode unir países e pessoas. Há questões de metafísica e religiosas no livro, como um embate constante.

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“TORNAMOS NOSSO MUNDO SIGNIFICATIVO PELA CORAGEM DE NOSSAS PERGUNTAS E PELA PROFUNDIDADE DE NOSSAS RESPOSTAS.” CARL SAGAN

Cegueira Moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida Zygmunt Bauman e Leonidas Donskis Zahar, SP, 2014 - 264 páginas Contato Carl Sagan Companhia do Bolso, SP, 2008 - 440 páginas O Mundo Assombrado por Demônios Carl Sagan Companhia das Letras, SP, 2006 - 512 páginas


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O UNIVERSO AO ALCANCE DE TODOS

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ESTUDOS E PENSAMENTO DE CARL SAGAN RENASCEM COM REMAKE DA SÉRIE COSMOS.

“O futuro a Deus pertence.” Este, sem dúvida, é um dos ditados mais conhecidos e antigos de nossa sociedade. Mas qual “Deus” é esse, dono do futuro? Carl Sagan (1934-1996), cientista americano e um dos maiores propagadores do conhecimento do cosmos, acreditava que o divino não seria uma entidade antropomórfica, com a aparência similar a de um ancião humano. Sagan cria na razão, como força essencial para que o homem pudesse se perceber, ir ao encontro das suas dúvidas, criar condições melhores de vida e ampliar suas possibilidades. Questionando tudo e sempre. Segundo Chadas Ustuntas, músico e aficionado de Carl Sagan, o astrofísico via a linguagem do próprio universo como uma divindade. “A matemática, a geometria, a astronomia são divinas para um cientista. São leis do universo que o moldam e, também, ao nosso mundo. Consequentemente, nossa vida”, resume Chadas. Em entrevista à revista eletrônica DomTotal, da Escola Superior Dom Helder Câmara - entidade com princípios jesuítas -, o brasileiro Marcelo Gleiser, físico e professor da Universidade de Dartmouth, em Hannover, EUA, pondera que Sagan tinha uma visão ainda mais radical que a sua, pois “ele acreditava que a ciência era a resposta para tudo”. Segundo Gleiser, ela também possui um lado espiritual próprio. Entretanto, ambos estudiosos têm visão similar quando se trata da crença ou não crença em Deus: não se ater à necessidade de uma resposta. Para Sagan, crer ou não crer em Deus seria uma tarefa muito difícil para uma mente racional. O processo pesaria no aprendizado e, obviamente, isso influenciaria na produção de significados, o que, para ele, seria o mais importante: entender racionalmente os fenômenos, sem medo de desafiar o desconhecido e crente na possibilidade de erradicar dificuldades e encontrar facilitações para o convívio.

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Em seu pensamento, as leis naturais, como a gravidade ou a entropia, atestam sobre a vida e o seu futuro. Portanto, formariam a carta astral da natureza. Assim, o questionamento e a observação dos fenômenos seriam o parâmetro para se conseguir entender a qual Deus o destino do indivíduo e o da Terra pertenceriam. Por essas descobertas e experiências, o homem pôde adaptar seus sentidos à necessidade de ir a fundo no entendimento do mundo, do universo e do funcionamento das coisas. Gleiser aponta o telescópio e o microscópio como exemplos dessa potência humana em criar próteses, que aproximaria o homem de uma condição divina. Esses dois instrumentos mudaram a vida no planeta. Com o telescópio, “percebemos que o universo é muito mais rico, dinâmico e variado do que o céu estrelado que vemos todos os dias”. No caso do microscópio, acontece o oposto. Ao invés do mundo do “muito grande”, temos o mundo do “muito pequeno”. Ali, se viu que “em uma gota d’água existe todo um universo de vida, bactérias e animais estranhíssimos, que são completamente invisíveis a olho nu”. As pesquisas de Carl Sagan conseguiram trazer muitas novidades sobre os astros, como o fato de a lua Titã, de Saturno, ter, em suas características, compostos orgânicos – algo impensado até então. Além disso, foi um precursor do estudo do efeito estufa em Vênus, pesquisa esta que avançou o estudo do efeito, também, em nosso planeta. O maravilhoso da biografia de Sagan foi que esse conhecimento não ficou restrito aos laboratórios das universidades em que trabalhou. Pelo contrário, ele foi um dos maiores responsáveis pela propagação do pensamento científico como forma de se atualizar o sujeito em meio às pregações e às pequenas crenças, não só religiosas, mas também científicas. Assim


MARTE, EM 5 DE AGOSTO DE 2014 ©NASA/JPL-Caltech

como Ustuntas, vários cientistas contemporâneos e pessoas com outras profissões se interessaram pela ciência por meio do trabalho de divulgação de Sagan. “Estudos de Carl Sagan deram luz e inspiração para muitos interessados no universo e ajudaram a moldar a nova geração de cientistas que buscam conhecimento por todo canto do universo, principalmente com ‘Cosmos’, a famosa série de televisão”, lembra Chadas.

UMA VIAGEM PESSOAL No final dos anos 1970, Sagan coproduziu com sua esposa Ann Druyan e apresentou a série “Cosmos – uma viagem pessoal”. O programa de TV trouxe ao público em geral questões que, muitas vezes, estavam restritas apenas aos estudiosos e aos seus nichos de atuação nas ciências. Um raro conhecimento científico, que atualizou o saber de cerca de 500 milhões de pessoas ao redor do mundo, em 13 capítulos, totalizando quase 800 minutos de gravações. Em 2014, a série voltou ao ar em uma continuação, também produzida pela viúva de Sagan e apresentada pelo físico Neil deGrasse Tyson. Segundo Marcelo Gleiser, a série original apresentada por Carl Sagan foi um marco na história da televisão - o documentário de maior audiência de todos os tempos. “Esta nova versão, com certeza, terá uma enorme repercussão. Ciência dessa forma inspira gerações de futuros cientistas”, afirma. Para Gleiser, Tyson, “é diferente do Sagan, não tem, talvez, a mesma profundidade de reflexão. Por outro lado, tem uma fantástica presença e ótimo senso de humor. Sem dúvida, uma ótima combinação para essa nova versão do show”.

Crer na ciência não significa abster-se de religiosidade. As descobertas que melhoram a saúde das pessoas, aquelas que ajudam na diminuição de distâncias e no entendimento do que é semelhante e diverso, também inspiram nossa vida e busca espiritual. Afinal, tanto a ciência, quanto a religião creem em haver respostas adequadas para cada momento da vida, mesmo que, para muitas dessas, não se tenha a exatidão. Questionar e querer entender o “como” e o “porquê” trazem ao homem um mínimo daquilo que seria a imagem e a semelhança da natureza: a consciência.

O PONTO AZUL DA IMAGEM É UM PULSAR - NÚCLEO MAGNÉTICO DE UMA S U P E R N O VA . M I S S Ã O C H A N D R A X - R A Y O B S E R V A T O R Y, N U S T A R . EM 16 DE SETEMBRO DE 2014. ©NASA/JPL-Caltech/SAO

E tê-la não é um benefício apenas para entender o movimento dos corpos celestiais, ou para saber como nossa espécie se comporta em adversidades. É sim, um bônus para conseguir, inclusive, ter a noção do seu próprio lugar como habitante planetário - ou seja, saber sobre nossas possibilidades, deveres e, também, possíveis consequências de nossas ações. Assim, raciocinar sobre a vida, entender como a natureza se programa e aplicar ao cotidiano é, também, ter consciência política, sapiência para agir e se posicionar diante do mundo e de suas vicissitudes. É poder saber avaliar as relações que ocorrem em qualquer que seja o espaço, em qualquer que seja o tempo; seja qual for a sua formação e para atingir seja qual for sua finalidade.

Entender como o universo funciona e compará-lo ao rendimento de nossos sistemas biológico e comportamental não nos incute apenas um (im)possível posicionamento sobre nossa origem ou destino. Reconhecer as regras naturais de nosso meio nos dá, também, a noção do “aqui-agora”, do tempo real e das coisas que nos circundam. CARL SAGAN ©NASA/Cosmos Studies

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Ve s t i d o J o v a n i , AT I T U D E B Y D R O P ’ S , preço sob consulta; colar LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preço sob consulta.

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Blusa LE LIS BLANC, R$239,50; adereรงo DUDU GONZAGA, preรงo sob consulta.

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Ve s t i d o J o v a n i , AT I T U D E B Y D R O P ’ S , preço sob consulta

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Colete BOBSTORE, R$200; calça BOBSTORE, R$395; saia usada como gorro BOBSTORE, R$384; pulseiras e anéis, acervo produção.



Ve s t i d o S k a z i , F L O W, p r e ç o s o b c o n s u l t a ; v e s t i d o usado como gola, BOBSTORE, R$170; bolsa A t i t u d e , D R O P ’ S AT I T U D E , p r e ç o s o b c o n s u l t a ; sapato usado em todo editorial, acervo produção.

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Blusa, SKUNK, preรงo s o b c o n s u l t a ; c o l a r, LUIZ FERNANDO RIBEIRO, preรงo sob consulta.

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SOB O CÉU QUE NOS PROTEGE

A anos-luz da Terra, mas com visibilidade graças a equipamentos de última geração que garantem excelente percepção do campo estelar, será fácil contemplar o Sol, as crateras da Lua, os anéis de Saturno ou a espiral de Andrômeda. Estas são só algumas das possibilidades que a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) passa a oferecer com o Observatório Astronômico e o Planetário, que estreitarão ainda mais os laços entre a comunidade acadêmica e o público em geral. Trata-se de um complexo de cinco mil metros quadrados, em vias de finalização, bem no coração do Campus. Resultado de investimentos que ultrapassam R$11 milhões, a obra - anunciada em dezembro de 2012 por Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, então reitor - está em sintonia com diferentes áreas do conhecimento, referendando iniciativas culturais e turísticas que vão além do fato de a UFJF se tornar o maior centro didático de Astronomia no país, divulgando as possibilidades que o Centro de Ciências oferece.

Integrados ao Centro de Vivência, com restaurante, playground, academia de ginástica ao ar livre, jardins, lâmina d’água e concha acústica, o Centro de Astronomia e o Planetário da UFJF representam um conjunto que chama atenção também pelo design ousado. A Zaquieu Arquitetura e Construção executou o layout do arquiteto Maruem de Castro Hatem, do escritório Architech, que privilegiou curvas e reflexos na concepção. “Procuramos desenvolver um projeto com linhas futurísticas, onde o edifício busca encontrar uma simbologia de conexão com os astros. A base da edificação é menor que a área de cobertura e, desta forma, temos um desenho que sugere duas mãos tentando conectar as estrelas”, comenta Hatem. Desde agosto, estão aparentes as arrojadas formas do projeto. Segundo Hatem, o conjunto arquitetônico é composto, basicamente, de três volumes que se interagem. O primeiro consiste em uma área destinada ao estudo e à pesquisa, onde se destaca o Planetário, com poltronas reclináveis adaptadas para observação de projeções em sua cúpula interna, recoberta internamente com placas de alumínio microperfuradas. Nela, são projetadas imagens de qualquer natureza e qualidade, além da astronomia propriamente dita. O segundo atende o Observatório, destinado à pesquisa e ao estudo da astronomia. O terceiro compreende as áreas de circulação entre o Planetário e o Observatório. Sua proposta foi buscar modernidade com uma volumetria diferenciada, criando uma arquitetura funcional e, ao mesmo tempo, com estética forte para produzir um novo ícone referencial na paisagem do Campus. O partido arquitetônico caracterizou-se por formas suaves e, ao mesmo tempo, marcantes em sua monumentalidade, valorizando a melhor tecnologia disponível e a aplicação de materiais experimentados e adequados, como o alumínio composto e o vidro laminado refletivo”.

NO RASTRO DAS ESTRELAS, A UFJF SE ALINHA COM O FUTURO, CONSTRÓI O MAIOR PLANETÁRIO FIXO DE MINAS GERAIS E ALCANÇA A VANGUARDA NO ENSINO DA ASTRONOMIA NO BRASIL.

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TEATRO DAS ESTRELAS Aqueles que olham para o alto e pensam no que poderia estar escrito nas estrelas, podem contemplar alguns desses pretensos “mistérios” de forma divertida. Vedete do Planetário e posicionado em uma cúpula de 360 graus e 12 metros de diâmetro, a quarta geração do Skymaster ZKP, da marca alemã Carl Zeiss, ostenta um corpo de sete mil fibras óticas, cada uma delas podendo captar uma estrela de forma isolada. Acoplado a um software, esse projetor ótico central traz a multidisciplinaridade como coringa, disponibilizando espetáculos que vão de imagens estelares a informações científicas variadas e até divertidas, como o funcionamento das células e o surgimento dos animais pré-históricos. Seu hardware oferece confiabilidade e o software permite tanto shows ao vivo, quanto por automação. Já há quem se refira ao novo espaço como o “Teatro das Estrelas”, graças a um investimento de €2.075.000 no equipamento. Doze telescópios computadorizados, fixos e móveis, se juntam à aparelhagem embarcada, em que sobressaem uma câmera capaz de fotografar o Sol, binóculos especiais e uma cúpula retrátil de 6,7 metros de diâmetro, capaz de permitir visibilidade em um círculo completo. Para tal, os recursos empregados foram além de US$370 mil. O diretor do Centro de Ciências da UFJF, Elói Teixeira César, ressalta que um telescópio

de 20 polegadas permitirá observação direta dos astros, e, dependendo das condições climáticas na cidade, será possível ver planetas e galáxias. “Nosso principal objetivo é a divulgação científica”, ressalta, lembrando que o Centro de Ciências será instalado na parte destinada ao Observatório. Henrique Duque, que articulou o empreendimento e hoje responde pela Diretoria de Desenvolvimento e Representação Institucional da UFJF, adiantou que o Planetário levará o nome do professor Antônio Rezende Guedes, que integrou o Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF, acalentando, durante toda a sua trajetória, o sonho de um planetário itinerante que utilizasse técnicas diversas para melhor fixar conteúdos relativos aos astros, despertando o interesse por uma educação formal entre crianças e adolescentes. “Nada mais justo que dar o nome desse pioneiro ao Planetário”, sintetiza. Guedes chegou a iniciar a construção de um observatório em Conceição de Ibitipoca, e conheceu o antigo Planetário do Centro de Ciências da UFJF, que, em oito anos de existência e instalado em uma lona inflável ao lado do Colégio de Aplicação João XXIII, bateu, em agosto, a marca dos 100 mil visitantes. Teixeira César está entusiasmado com o fato de o novo complexo astronômico representar

PLANETÁRIO UFJF ©wanderson monteiro

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um importante ganho na divulgação científica, dando à comunidade a chance de ter contato com o que a Universidade tem a oferecer de melhor, despertando, principalmente entre os estudantes, a paixão pelas ciências. Ele acredita que o conhecimento estará acessível a todos de forma prazerosa, o que aproxima ainda mais a Universidade da sociedade em geral, atraindo não apenas visitantes das cidades da região, mas de outros estados, como o Rio de Janeiro. Hatem não tem dúvidas de que esse tipo de empreendimento constitui-se em um polo de difusão científica e cultural na região em que se instala. “Isso, não apenas pelo grande poder de atração cultural de suas sessões, que são um grande show multimídia com efeitos sonoros e visuais verdadeiramente impressionantes, mas também pelo fato de que as pequenas cidades de uma determinada região não comportam um projeto deste tipo. A prática dos Planetários existentes no Brasil nos confirma este aspecto regional, pois os mesmos atendem muito mais do que a população de suas cidades, recebendo visitantes até mesmo de outros estados e países”, diz.


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A l e x a n d r e

A b r a m o

A GASTRONOMIA NÃO É SÓ O PALADAR CONTEMPLADO, ESTE É O FIM. O INÍCIO PASSA PELA ESCOLHA DOS INGREDIENTES, MONTAGEM DO PRATO EM UM BRILHO NO OLHAR: PRONTO, CONSIDERAMOS A VISÃO. TALVEZ, O MEIO SEJA O OLFATO, EM IRRESISTÍVEIS AROMAS QUE

HOJE, ENTRE TANTOS REALITIES E MATÉRIAS SOBRE O ASSUNTO,

GANHAM O AMBIENTE SEM IMPREGNAR E PERFUMAM.

DESCUBRO CERTAS CURIOSIDADES, COMO, BUSCANDO SOBRE A

O GRAND FINALE É EXPERIMENTAR O QUE TODOS OS

COZINHA FUTURISTA, ME DEPAREI COM UM MANIFESTO ITALIANO QUE

SABORES PODEM PROPORCIONAR EM APENAS UM PRATO.

DEFENDIA A DIMINUIÇÃO DO CONSUMO DE MACARRÃO, NO PRINCÍPIO

TODOS OS SENTIDOS SE FUNDEM.

DO SÉCULO XX. TIPO DE NOVIDADE QUE, POR MOTIVOS ÓBVIOS, NÃO FOI LEVADA EM CONSIDERAÇÃO PELA TERRA DA BOTA.

DE FORMA INTUITIVA, SEMPRE ASSOCIEI A GASTRONOMIA FUTURISTA A FERRAN ADRIÀ E SUA COZINHA MOLECULAR,

COMO TODA ARTE, COM EXPERIÊNCIA E PASSAR DO TEMPO, OS

MISTURANDO NOVOS SABORES E EXPERIMENTANDO

CONCEITOS SE TRANSFORMAM E O QUE ERA SIMPLES GANHA

TEXTURAS. UM COZINHEIRO CATALÃO QUE QUEBRA TABUS

CONTORNOS MAIS COMPLEXOS. É PRECISO SE REINVENTAR. CRIAR

EM MISTURAS, MODIFICA FORMAS TÃO INCONTESTÁVEIS

EXPECTATIVAS E SURPREENDER É O DESEJO DE TODO ARTISTA QUE

E AINDA TEM A AUDÁCIA DE ABRIR SEU RESTAURANTE

PRETENDE SER DE VANGUARDA. E A GASTRONOMIA FUTURISTA,

TEMPORARIAMENTE, DE ABRIL A SETEMBRO.

OUSARIA AFIRMAR, É AQUELA QUE TENDE A ROMPER COM O TRADICIONAL E CRIAR NOVAS TENDÊNCIAS.

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O N D E

E N C O N

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PUBLIEDITORIAL LOOK BOOK CÓDIGO GIRL, Galeria Constança Valadares, lj 05, Centro, (32)3026-2982, Galeria Bruno Barbosa, lj 76, Centro, (32) 3026-2982. CRAVO DOURADO, (32) 3235-6339, (32)8857-1065 VENDAS EM CONSIGNADO E ATACADO Facebook: /cravodourado Site: www.cravodourado.com.br KORPAÇO, Rua Marechal Deodoro, 456, ljs 26 e 28, Shopping Marechal, (32)3235-9919; Rua Marília, 510, lj 116, Benfica Shopping, (32)3222-9316; Santa Cruz Shopping, lj 1232, Setor Amarelo, (32)3213-1821. MALDIVAS ROUPAS, Rua Braz Bernardino, 199, lj 101, (32)9146-8180, (32)9108-0305, (32)9906-3001; maldivasmami@gmail.com MARIA MORENA, Marechal Center, 217, 2º piso, (32)8828-0747.

P U B L I E D I T O R I A L I N FA N T I L BABY STAR, Rua Halfeld, 400, ljs 27 e 48 (Galeria Prefeito Álvaro Braga), Centro, (32)3212-4953 LÁPIS DE COR, Mister Shopping, lj 70, 1º piso, (32)3211-2287. MUNDO DA CRIANÇA, Rua Dom Silvério, 60, Alto dos Passos, (32)3213-0297. TRI KIDS, Santa Cruz Shopping, 1201, Setor Amarelo, (32)3211-1242.

EDITORIAL GLITCH BEACH ANA ALBUQUERQUE, Galeria Epaminondas Braga, lj 16, (32)3214-5838. D’ STORE, Rua Morais e Castro, 383, Alto Dos Passos, (32)3231-5761.

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T R A R DROP’S ATITUDE, Rua São João Nepomuceno, 399, Centro (32)3215-3929. FLOW, Independência Shopping, L2, (32)3241-1627. HARD BACK, Marechal Center, P1, (32)3216-0687; Santa Cruz Shopping, P2, (32)3241-3347. HILL STORE, Mister Shopping, P1, (32)3215-7609, Rua Machado Sobrinho, 10, Alto dos Passos, (32) 3217-6312. LÍVORI, Avenida Presidente Itamar Franco, 2760, (32)3232-1363. LUIZ FERNANDO RIBEIRO, (32)9929-3595. LUXSTORE, Avenida Rio Branco, 2167, lj 102, Central Shopping, (32)3215-5421. ÓTICAS KIKA, Avenida Rio Branco, 2375, (32)3691-2263. RYGY, Independência Shopping, L2, (32)3313-8182. SCHUTZ, Independência Shopping, L2, (32)32326567. SKUNK, Rua Oscar Vidal, 150, (32)3245-8046; Independência Shopping, L2, (32)3214-2105; Marechal Center, P1, (32)3217-8080. VIGOR SPORTS, Rua Braz Bernardino 104/105, (32)3218-7252, Mister Shopping, lj 269, 2º piso, (32) 3214-6388.

EDITORIAL COSMOS ATELIÊ DO CABELO, Rua Marechal Deodoro, 444, Marechal Center, lj 318, 3º piso, (32)3216-0832. ATITUDE BY DROP’S, Rua São João Nepomuceno, 399, Centro (32)3215-3929. BOBSTORE, Rua Morais e Castro, 583, Alto dos Passos, (32)3217-6543. DUDU GONZAGA, Acervo CES, Avenida Luz Interior, 345, Estrela Sul (32)3250-3900. FLOW, Independência Shopping, L2, (32)3241-1627. JOÃO PEDRO BASQUES, Acervo CES, Avenida Luz Interior, 345, Estrela Sul (32)3250-3900. LE LIS BLANC, Independência Shopping, L2, (32)3236-5501 LUIZ FERNANDO RIBEIRO, (32)9929-3595. LUXSTORE, Avenida Rio Branco, 2167, lj 102, Central Shopping, (32)3215-5421. SKUNK, Rua Oscar Vidal, 150, (32)3245-8046; Independência Shopping, L2, (32)3214-2105; Marechal Center, P1, (32)3217-8080.

GASTRONOMIA BACCO RESTAURANTE, Avenida Presidente Itamar Franco, 1850, (32) 3249-1860. CLUBE DA ESQUINA, Avenida Ibitiguaia, 102, Santa Luzia, (32) 3235-9917, (32) 8848-0575. KIDELÍCIA, Rua Santa Rita, 361/367, Centro, (32) 3215-7298 / (32) 3211-6655, facebook.com/RestauranteKideliciaJF MAMA NOSTRA, Rua São Mateus, 535, São Mateus, (32) 3241-5666. MARIA DELÍCIA GOURMET, Mister Shopping, 2º Piso, (32) 8854-0489, (32) 8874-3275. MINERICE QUITUTERIA GOURMET, Rua Padre Café, 153, São Mateus, (32) 3236-9044, facebook.com/mineiricegourmet PADARIA TRIGO PÃO, Avenida Rio Branco, 2293, Centro, (32) 3215-5896. REI DO CANGAÇO BAR E RESTAURANTE, Avenida Presidente Costa e Silva, 1748, São Pedro, (32) 3213-5149. SALSA PARRILLA, Centro de Vivência UFJF, Rua José Lourenço Kelmer s/n (32) 3241 -4796 Avenida Independência, 3.600, Independência Shopping, (32) 3313-8218, Rua Braz Bernardino, 171, Centro, (32) 3215-7501. SANTA HORA BAR, Rua Santa Terezinha, 11, Santa Terezinha, (32) 3221-2257. SAPORE DI PANE CAFFETTERIA, Rua Oscar Vidal, 250, Centro, (32)3026-0784, email: saporedipanecaffetteria@gmail.com SODIÊ DOCES, Rua Severiano Sarmento, 310, Alto dos Passos, (32) 3026-0893, (32)3026-0926.

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