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POR PAULA CALÇADE
ANOS É A IDADE DO SUCESSO? Para além da frase dita na comédia romântica dos anos 2000, “De Repente 30”, o humorista e apresentador Paulo Vieira, criado em Palmas, no Tocantins, vive mesmo essa máxima em sua carreira. À frente do programa “Avisa Lá que Eu Vou” – do GNT e que conta com inserções no "Fantástico", na Globo – ele acumula boas histórias e excelentes apurações em busca de um Brasil que não é sempre mostrado na TV.
Em 2022, Paulo estreou o quadro “Big Terapia”, no "Big Brother Brasil", em que analisava de um jeito irreverente o comportamento dos confinados, ajudando o público do reality show a entender as relações, as tramas e as tensões do programa. Neste ano, ele repetiu a dose e segue no ar na edição de 2023. “Você se conecta, nem que seja pelo ranço”, define o humorista, ao observar o sucesso do BBB.
No trabalho e na vida, Paulo Vieira atravessa o país. São Paulo se tornou sua residência e ele escolheu o icônico prédio de Oscar Niemeyer, o Copan, como casa. É entre as ruas do centro da capital paulista que o artista se mantém atento à realidade urgente e diversa do país. “Se eu morasse em um lugar excludente, já trabalhando na Globo, sendo amigo de celebridades, não demoraria muito para começar a achar que o mundo é uma fantasia”, analisa.
Percorrendo sua história familiar, passando pela mudança de estado e pela construção de sua carreira na TV – tudo através de um olhar aguçado às nuances e às diferenças no Brasil – Paulo Vieira garante que não pisará no freio neste ano. Há projetos desenhados, em curso e em breve realização. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à 29HORAS.
Quem foi ou quem foram as pessoas que falaram que você deveria ser humorista? Quem primeiro riu de suas piadas?
Minha família é muito bem-humorada, sou o mais quieto entre eles. Todos são muito mais engraçados do que eu! Meu pai é piadista, minha mãe é muito divertida, meu irmão tem um humor muito refinado. Eles que me ensinaram a ver a vida de um jeito engraçado. Eles riem de tudo, nós sempre rimos da vida em casa. Rir da vida é uma forma de ela não nos vencer. Podemos rir por último mesmo sem ter vencido. Foi com eles que aprendi o que era comédia.
Na sua família, o que significava ser humorista e artista? Outras pessoas seguiram esse caminho também? Tenho uma origem muito simples. A possibilidade de ser artista sempre soou como algo burguês em casa. Meus pais queriam que eu me garantisse o mais rápido possível, poderia ser tendo um negócio, que eu empreendesse... queriam que eu tivesse uma loja, algo assim. Eles sempre acreditaram no empreendedorismo. Mas eu já nasci sendo artista, então tiveram que aprender a lidar com isso, já que não era visto com bons olhos lá atrás.
Você saiu de Tocantins para morar em São Paulo. Quais eram as suas expectativas na época? A cidade atendeu aos seus anseios e desejos?
Nunca foi no prazo que eu gostaria. Quando eu fui para São Paulo, foi para buscar as possibilidades para ser artista. Não era fácil no Tocantins, então a capital paulista era esse lugar que poderia me chamar para ingressar nessa vida. Eu sempre esperei que São Paulo me chamasse de alguma forma. Mas, durante muito tempo, atuei nas duas cidades simultaneamente (Palmas e São Paulo), tinha mais moral no Tocantins e ganhava mais dinheiro por lá. Fui me estabelecendo naturalmente, os trabalhos foram aumentando e precisei ficar cada vez mais tempo em São Paulo. Quando eu percebi, já estava morando na cidade.
Hoje você mora no Copan, símbolo da metrópole, um edifício que é praticamente uma cidade. Por que morar no Copan?
É maior que muita cidade do meu estado! Eu já tinha morado em outros lugares em São Paulo, mas vários motivos me levaram até o Copan. Primeiro, eu e uma amiga fomos despejados em uma época e acabamos saindo dos Jardins. Depois, fomos morar no Ipiranga, que era um bairro de que eu gostava um pouco mais. Até que em determinado momento decidimos que era bacana morar em um prédio onde cada um pudesse ter seu apartamento, meio que morando juntos, mas separados. Aí achamos o Copan. Escolhi o Centro porque, como artista, preciso estar atento a tudo que está acontecendo, ao povo. Penso muito nisso: o país que você vive não é o país que você mora. Temos que ter noção do país como um todo. Hoje, vivo em um país muito diferente daquele que vivia há poucos anos. Mas preciso estar conectado com o Brasil real. Se eu morasse em lugar excludente, já trabalhando na Globo, sendo amigo de celebridades, não demoraria muito para começar a achar que o mundo é de fato isso, uma fantasia. Então, me esforço para me manter atento.
No programa “Avisa Lá que Eu Vou”, da GNT, você viaja muito, justamente para locais que simbolizam esse Brasil real. Como é a apuração desses lugares e das pessoas que carregam boas histórias? O programa é muito trabalhoso, vamos montando dia após dia. O primeiro passo é pedir para que nos enviem histórias. As pessoas nas minhas redes sociais mandam sugestões, também pedimos para amigos que viajam muito nos indicar lugares. Quando temos um personagem que brilha o olho, começamos a buscar outras pessoas daquela cidade para montar a viagem. Tem vezes que vamos até um lugar justamente por causa da cidade, aí procuramos os personagens. Por exemplo, Caxambu, em Minas Gerais, fomos porque achamos interessante que lá tem muitos moradores que relatam a cura de doenças por meio da água da região. Da mesma maneira, teve Cabaceiras, na Paraíba, que achamos curioso porque é uma cidade que vive em torno da festa de um bode, a Festa do Bode Rei.
Tem algum lugar no Brasil que você ainda quer conhecer? Você olha para alguma região já atento para futuras pautas do programa?
Sempre estamos atrás de pautar o que é pouco mostrado. Temos vontade de fazer episódios sobre o Brasil indígena, vamos deixar essa ideia para a terceira temporada do programa. Queremos ir ao Xingu, temos muito interesse na Amazônia também. Já mostramos um pouco na segunda temporada, fomos a duas cidades do Pará, fizemos uma viagem de seis dias em um barco pelo Rio Amazonas, ouvindo histórias, foi incrível! Quero ainda ir ao extremo sul do país, na fronteira com o Uruguai, queremos dar essa região na terceira temporada também.
Quando não é a trabalho, como é a sua escolha de viagem?
Eu não tiro férias há muito tempo, mas vez ou outra dou uma escapada por alguns dias, uma semana. Adoro Porto das Pedras, em Alagoas. E fui recentemente ao Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, em uma expedição científica. Colhemos amostras de baleias, foi muito legal! Fiquei fascinado, adoro baleias. Para mim, quem não gosta de baleias é suspeito! É um animal gigante, que representa a grandeza da natureza, de Deus. Não tem como não amar esse bicho, as jubartes até cantam!
Neste começo de ano, você também está na equipe de apresentadores e comentaristas do 'Big Brother Brasil'. Na sua opinião, por que as pessoas gostam tanto de reality show? Por estar por dentro dos bastidores do programa, como você vê a renovação do formato para seguir interessante para a audiência?
É clichê, mas as pessoas gostam de 'BBB' porque o programa é uma embalagem muito bem feita da sociedade. As pessoas se enxergam ali, mesmo que apenas no desejo de ter um milhão e meio de reais. É impossível não se identificar com nada, enquanto há um elenco de 22 brasileiros. Você se conecta, nem que seja no ranço, vendo alguém que é a cara do chefe, do boy lixo que já namorou a sua amiga... então, o que a televisão busca com o público é a conexão forte e o programa consegue isso. O 'BBB' se renova por causa do elenco novo sempre. É uma surpresa, uma máquina a 220 por hora, cheia de complexidade, nunca sabemos o que vai ser, como será a reação do público. Todo dia tem algo novo, seja um meme, um conflito, uma história...
Por falar em meme, tem um que circulou nas redes sociais, recentemente, que era “queria passar três meses no 'BBB' só para ficar sem notícias do Brasil!”. Para você, qual é o papel do humor hoje? É difícil fazer piada nestes tempos?
Sempre avalio onde estou fazendo humor. Por exemplo, no 'BBB', que é um produto popular que as pessoas assistem para espairecer, faço um determinado tipo de piada. Mas tem algo que acredito que é: não posso trair quem eu sou. Vejo que o humor pode ser uma fonte de informação e senso crítico, sobretudo porque através dele temos um alcance maior. Desperdiçar essa potência para refletir o Brasil seria ruim, na minha visão. Minha arte não está descolada daquilo que penso, faço humor com meu cérebro e meu coração. Nunca fui um comediante chapa branca, sempre tive opinião. O “Avisa Lá que Eu Vou”, que não é um programa de comédia, mas tem humor, reflete o que eu acredito como país. Temos o poder de incomodar, de fazer a diferença. Tem uma frase que adoro: ‘do ridículo não se volta nunca mais’. No "Domingão com o Hulk", no ano passado, incomodei muita gente porque fiz piadas com os golpistas em acampamentos na frente dos quartéis. A partir do momento que os ridicularizamos, eles perdem a força. Passamos muito tempo colocando as pessoas erradas nesse lugar do ridículo, cada vez mais temos que ficar atentos a quem colocamos nessa posição.
Você simboliza uma mudança de estilo na TV aberta, é bastante livre para falar o que pensa, fazer piadas com colegas, outras emissoras, além de se posicionar. Essa autonomia é algo de sua personalidade ou você acha que a TV vem mudando?
Não sei quem está empurrando quem, são as duas coisas. Não sou um cara fácil de domar, tenho um compromisso com a minha liberdade artística, eu luto por isso. A liberdade é sempre conquistada! O preço é alto, mas estou conquistando respeito na Globo. Houve um alinhamento de estilos, porque é mesmo um momento em que a emissora está se modernizando, com uma nova gestão. É uma empresa, hoje, mais moderna, sem aquele ar de inatingível, que se zomba, que se critica. Meu sucesso na Globo se deve a isso também, não sei se eu seria bem-vindo há poucos anos.
Em 2022, você colheu bons frutos de seus trabalhos, com lançamento de livro, expansão do programa e estreias no cinema. O que você espera para este ano?
Eu quero descansar mais! Mas, espero também manter o que conquistei, porque a manutenção, por vezes, é mais difícil do que a conquista em si. Neste ano, quero continuar com a qualidade do programa no GNT, quero fazer uma temporada ainda melhor. Para mim, é importante fazer um produto popular, que se comunique com quem eu quero falar, com o brasileiro, com o meu povo. Vou lançar outro livro, que muito provavelmente será infantil também. Vou ainda gravar um ou dois filmes. E estou desenhando a série "Pablo e Luisão", que começo a gravar no segundo semestre. Será uma série de 16 episódios, que comecei a escrever no Twitter, sobre o melhor amigo do meu pai. Todos os dias eles criavam uma empresa nova, todas as histórias são reais. As equipes da Globo e da Globoplay gostaram e vamos produzir!