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POR

MARIANA BERTOLUCCI

MARÇO/ABRIL 2014 - N° 06 - R$ 7,00

FERNANDA LIMA A jornalista e apresentadora Fernanda Lima fala da infância gaúcha, da família, de amor e de sexo

BETTINA BECKER Organizada sofisticação ROBERTA BORGES Na onda do Madeirite

ALFREDO FEDRIZZI Amante do movimento

MODA Entre o Nirvana e o desprezo


cartola_normal

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sumário

ALEGRIA DE PAPEL Parece que foi ontem mesmo que falava aqui sobre a saudade e a emoção de estrear este canal de comunicação e escrever o primeiro editorial da Revista Bá. Bem do jeito que eu gosto: conhecendo gente interessante e diferente, ouvindo suas histórias e contando da maneira que eu acho mais legal para vocês. É nosso sexto encontro, e queria dividir também que uma única coisa no ano que passou foi melhor do que estar aqui falando com você. Foi ser pega de surpresa vendo alguém por aí lendo uma das cinco edições da Bá. Num salão, na academia, no banco da praça. Misturada de timidez (sim, nem venham!!! Todo mundo às vezes é tímido, e eu também sou) e emoção, espiava escondida torcendo para a pessoa passar devagar cada página. Tentando adivinhar qual história será que estava interessando cada um dos diferentes leitores. Teria sido escrita por mim ou por qual das pessoas maravilhosas que dividem comigo as próximas páginas? Sabe o que também me deu vontade de chorar de feliz no ano que passou? Receber pelo celular fotos de amigos que flagravam alguém lendo a Bá. E eis que a tal da minha alegria de papel está completando seu primeiro ano de vida. Como em todas as outras edições, nesta não vou falar das pessoas que vocês vão conhecer logo mais. Vou falar de quem está me ajudando a escrever esta história, a minha. De vocês. De todos os meus amigos e nem tão amigos assim, que dizem coisas legais. De cada um dos nossos anunciantes e parceiros comerciais que nos deram as mãos. De cada um do meu talentoso e eclético time de colunistas. E da minha sócia e amiga, Simone M. Pontes, que acreditou na nossa espevitada criança e tornou possível esse sonho ao meu lado. Bá, Obrigada Mariana Bertolucci

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UMA GRANDE GURIA

editorial

Um futuro sonhado


Preservar é preciso

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CHEGANDO MAIS LONGE

Leve sensualidade

Projeto e ExecuÇão: TAB Marketing Editorial www.tabeditora.com.br Consultor Executivo: Eugenio Correa Editora de Moda: Isadora Bertolucci Marketing e Comercial: Denise Dias Tel: (51) 9368.4664 Mail: denise@revistaba.com.br Revisão: 3GB Consulting Colunistas: Ana Mottin André Ghem Claudia Coutinho Claudia Tajes Cristie Boff Danilo Aranha Dulce Helfer Fabiana Fagundes Flavia Mello Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro e Carol Zanon Ivan Mattos Lígia Nery Lívia Chaves Barcellos Marcelo Bragagnolo Marco Antonio Campos Orestes de Andrade Jr. Pati Leivas Silvana Porto Corrêa Verônica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno

A revista Bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. Elas são de responsabilidade de seus autores. Todos os direitos são reservados.

Um lugar para viver

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Editora: Mariana Bertolucci

Brasileira no comando

TODA LINDA ELA

Um multimídia aventureiro

INTO THE GRACE

BELEZA SUBMERSA

CLARA, DOCE MÃE

Delícia de família

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ABERTOS AO MUNDO

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Diretoria: Mariana Bertolucci mail: mariana@revistaba.com.br Simone M. Pontes mail:simone@tabeditora.com.br

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UMA GRANDE GURIA Casada com o ator Rodrigo Hilbert, com quem tem os gêmeos Francisco e João, Fernanda Lima é hoje uma das mais bem sucedidas carreiras da televisão brasileira Igualzinha a mim e muitos de vocês, Fernanda Cama Pereira Lima nasceu e cresceu em Porto Alegre. Sentiu os primeiros frios na barriga descendo no carro dos pais a lomba do Parcão, jogou pipoca para os macacos na Redenção e passou momentos felizes na piscina, no Barranco, no Colégio Rosário ou no parque. Com o mesmo carinho que a gente, também recorda das praias daqui, com centrinho, mingau, picolé, chimarrão, mariola, churrasco e batucada no domingo, da Páscoa deliciosa em Gramado, com primos e casinha de boneca. Das primeiras saídas à noite nas festas do Juvenil, nos barzinhos do Imbé. A diferença entre mim, você e a Fernanda é que, bem naquela época em que as festas começaram a ficar

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mais divertidas e frequentes e a iniciar mais tarde, e fazíamos as primeiras inesquecíveis viagens só com os amigos, com o inevitável consentimento pais, a Fernanda embarcou sem amigo nenhum numa viagem diferente e foi ser modelo no Japão: “Queria viajar, viajar e viajar. Sempre quis entrar num trem e ver o mundo passar pela janela e acordar num outro país. Me comunicar em outras línguas e entender a vida de cada um sempre foi o meu barato. Mais do que o sonho de ser modelo. Naquela idade, só conseguiria trabalhar como modelo”. Então, bem nessa mesma idade enquanto eu e você continuávamos indo faceiros para a praia, para o Festival de Gramado, para o cursinho pré-vestibular e para onde quer que a

turma estivesse reunida e animada, Cleomar e Maria Tereza nunca impediram a Fernanda de seguir em frente. “Agradeço a meus pais, mesmo com todo o medo e insegurança que sentiram, por confiarem na educação que me deram até ali. Foi fundamental.” A gremista ainda acha que aproveitou bem as oportunidades que teve: “Não foram só alegrias e vitórias, mas viajei como eu sempre sonhei, conheci muita gente e construí laços afetivos que me fizeram alguém na profissão. Foi uma jornada solitária, sentia falta de uma vida mais comum, com família e amigos, mas não desisti, pois achava que o futuro estava sendo construído da maneira como eu tinha sonhado”. Achava certo! Como uma boa guria de Porto Alegre, a maneira



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como Fernanda sonhou o futuro não é lá tããão diferente da minha, da sua e de muitas pessoas que conhecemos: “Gosto de tomar meu chimarrão, bater papo com os amigos, jogar vôlei e tomar sol, sempre com as crianças por perto... Mergulhar e praticar esportes ao ar livre”. A jornalista só voltou para o Sul para ver a família e os

Como minha vida íntima está establilizada e plena, tenho segurança para me jogar de grandes alturas na profissão, e faço isso de forma muito verdadeira. amigos. Dos editoriais de moda e capas de revistas, migrou naturalmente para a carreira de apresentadora na Rede TV e nunca mais parou. Estrela da emissora, comandou o Fica Comigo, na MTV. Não demorou para a Rede Globo colocar o olho na gaúcha e não tirar mais. Protagonizou uma novela e fez participações no cinema, ancorou e se envolveu editorialmente em

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projetos que tinham a sua cara, como Por Toda a Minha Vida. O jeito autêntico, disciplinado, pé no chão, sua gentileza, seriedade e beleza foram os diferenciais que conquistaram admiradores de todas as idades no país inteiro. À frente de duas temporadas do inovador e bem-humorado Amor e Sexo, ela brilhou ainda mais. Mostrou a veia cômica e o dom para a árdua missão de escrever e criar humor para a televisão e ao mesmo tempo abordar um tema tão tabu como essencial para a felicidade das pessoas. A expectativa é de um 2014 com ainda mais voos. Além do rótulo inesperado e bem-vindo de Musa da Copa 2014, comandará ao vivo o Super Star: “Apresentar um programa ao vivo é sempre muito desafiador”. Que os sonhos dessa guria sempre atravessaram as fronteiras é certo, mas o que será que a pequena grande Fernanda queria ser quando crescesse? “Não lembro bem. Sempre gostei de esporte, de dança. Lembro claramente é que eu queria ser grande, pintar as unhas como minha mãe e também queria ser mãe.” Grande Fernanda! De unhas pintadas e mãe

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de dois príncipes... Nós, aqui de Porto Alegre, nunca duvidamos. Bá – Já trabalhou como modelo, interpretou, apresentou diferentes formatos de eventos. Faz cinema, reportagem, comanda auditório e também gosta de escrever. O que brilha diferente nos seus olhos? Fernanda – Sou movida a paixão. Sou muito apaixonada pelo meu trabalho, que às vezes mais parece um sonho, por isso agarro as oportunidades e faço delas a melhor experiência possível, tentando aprender e ser melhor sempre. Como minha vida íntima está estabilizada e plena, tenho segurança para me jogar de grandes alturas na profissão e faço isso de forma muito verdadeira, pois essa conexão entre uma equipe e as pessoas que me assistem é arrepiante. Bá – Amor e Sexo começou a temporada se despedindo, emplacou um roteiro divertido e bem-humorado. Agradou público e crítica. Como foi a experiência e no que você focava para se concentrar e comandar o auditório sempre espontânea e engraçada? Volta em 2014 com tanto sucesso? Fernanda – Esse roteiro

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que emplacou foi fruto de uma dedicação diária, na qual eu e minha dupla, Antonio Amâncio (por acaso meu empresário e melhor amigo há 15 anos), nos propusemos a experimentar escrever o programa como um todo. Da criação do conceito até os speeches iniciais e finais bem ancorados, para poder brincar e dar leveza ao tema. À medida que fui gravando o programa,

... a violência deturpa tudo e faz qualquer demanda perder o sentido. Mas acho válido as pessoas se juntarem nas ruas e se fazerem ouvidas. Estamos cansados de impunidade. Não dá mais tesão viver no Brasil do jeito que está. fui entendendo quanto o domínio do texto é importante para a fluidez do programa. Para ter mais uma temporada neste ano, vai depender de algumas

conversas ainda, mas já estou me preparando psicologicamente para essa dura tarefa que é escrever entretenimento. Bá – Tem alguma superstição que tenha o hábito de fazer antes de entrar em cena? Fernanda – Meu ideal é fazer uma preparação vocal e psicológica depois de estar vestida e maquiada, mas nunca consigo fazer isso, pois sempre acabo de me arrumar em cima da hora, e meus planos de concentração vão por água abaixo. Bá – Como foi atuar na novela e em filmes? Projetos ou chance de voltar a atuar dessa forma? Fernanda – Foi mais uma experiência na minha vida, tão privilegiada por essas oportunidades. A atuação é um campo ainda desconhecido para mim, que admiro e respeito muito. Acho que, se um dia eu voltar a atuar, será em um projeto mais elaborado e menos instantâneo, como as novelas, em que você aprende a toque de caixa. Foram experiências legais, nas quais conheci muita gente boa, mas também foi muito sofrido, pois sou uma pessoa reservada e tímida com meus sen-


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timentos. E de uma hora para outra, tive que colocar tudo para fora de uma só vez. Bá – Esperava, da noite para o dia, virar musa da Fifa e gerar tanta repercussão desde as declarações antes do evento sobre substituir Camila Pitanga e Lázaro e depois, com o vestido dourado? Fernanda – Fui convidada pela Fifa para apresentar o sorteio das chaves na Bahia e depois para o Bola de Ouro, na Suíça – o que me deixou bastante feliz. Entretanto, esses foram apenas mais dois trabalhos como tantos que sou convidada a fazer, com a diferença de que o futebol mundial tem um público espetacular, e a audiência, nesses casos, ultrapassa as fronteiras da Globo e do Brasil. Eu não esperava tamanha repercussão e muito menos que meu vestido chamasse tanta atenção. Tentei mais uma vez ser correta e profissional no desempenho do meu trabalho. E é importante que se diga: fui convidada para esse evento com quase três meses de antecedência, mas a imprensa sensacionalista manteve a polêmica mesmo depois de a

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Camila Pitanga dizer que jamais tinha sido convidada para apresentá-lo. Estou certa de que esse tipo de polêmica vende mais revistas, mas não posso corroborar com informações errôneas. Bá – Qual seu segredo e do Rodrigo para driblar as incompatibilidades da rotina e conviver bem vivendo e criando os filhos juntos? Fernanda – Não tem muito segredo: quando estamos juntos, aproveitamos ao máximo todo nosso tempo com as crianças e também a sós, e quando estamos separados, ficamos contando as horas para nos encontrar novamente. Depois de construir família, tudo o que quero é estar com eles. Bá – Além daquele amor transformador que só as mães conhecem, o que mudou com a chegada do Francisco e do João? Fernanda – Sempre quis ser mãe e nunca tive dúvidas da grande emoção que teria nesse momento. Ter esses dois meninos de uma vez só me fez crer mais uma vez que sou uma pessoa de sorte e que tenho muito trabalho pela frente para educá-los da forma que acredito ser cer-

ta para que tenham liberdade para serem e fazerem o que sonharem para suas vidas e saberem respeitar as diferenças de cada ser humano. Bá – Planos de mais um? Fernanda – Queria ter mais um, sim, mas preciso de uma brecha profissional para ter tempo de ficar enjoada como fiquei na minha gravidez e também para me dedicar a mais um filho. Com dois em casa em idade de alfabetização, não fico planejando muito. Deixo o futuro nas mãos de Deus, mas estou prevenida com método contraceptivo, portanto, só se Ele quiser muito (risos)! Bá – Quando e em que momentos incomoda ser conhecida no Brasil inteiro e a falta de privacidade? Fernanda – Ser reconhecida pelo meu trabalho só me dá alegria e gratidão. A falta de privacidade é um troço complicado, que só conhece quem não tem. Nessa realidade o chato é lidar com os paparazzi, que se instalam na beira da praia na expectativa de algum vacilo. Basta uma ajeitada no biquíni ou uma boca aberta para comer um sanduíche, que no final do dia já estamos na


capa da Globo.com. Eles me desconcertam e me intimidam cada vez que se revelam atrás de uma árvore. Nos sentimos vulneráveis e constrangidos mas exercitamos sair de casa e levar uma vida normal. Por exemplo, na praia o Rodrigo sempre vem me dar um bejinho quando estou deitada na areia. O carinho não leva mais de dois se-

Adoraria voltar para Porto Alegre um dia, mas meu trabalho está no Rio, e não gosto muito de frio. gundos, mas eles clicam e escrevem que estávamos de amassos na praia. Uma completa distorção dos fatos, e por sermos públicos, ficamos à mercê da interpretação de qualquer um. O público em geral só quer sua fotinho no celular e é sempre muito gentil conosco. Bá – Qual a melhor coisa de ser reconhecida pelo seu trabalho publicamente? Diferente das carreiras mais convencionais? Fernanda – A melhor coi-

sa é você ser bem recebida em quase todos os lugares, com educação, respeito e até ser chamada pelo nome. Isso dá uma sensação gostosa, de ser cidadão, de pertencer. E ser cidadão no Brasil não está fácil. Você vai a um restau-

rante e o garçom te trata com displicência. Você vai fazer a vistoria do seu carro e é tratado com arrogância. Você é parado pela polícia, que te falta com respeito. Educação virou exceção, infelizmente e ser conhecido publicamente nessas

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horas é bom, porque por mais que o cara seja entojado ele acaba soltando: “Pô, minha mãe se amarra em você, ou: “tira uma foto para eu mandar para minha mulher, ela ama o Amor e Sexo”. Outra coisa maravilhosa é que conheço pessoas com que jamais imaginaria cruzar na vida. Bá – Falar e se informar mais pelo trabalho sobre assuntos de sexo mudou algo no desempenho e nas crenças da vida pessoal? Fernanda – O fundamental nessa questão do sexo é o diálogo. É o grande começo para que as pessoas coloquem por terra suas travas e preconceitos. Por isso acho tão importante o programa. Vamos brincando e tocando em assuntos importantes para a evolução das pessoas no que diz respeito ao seu prazer. Bá – Que importância tem falar desse assunto sem tabu na televisão para o brasileiro, que se julga todo bem resolvido, mas também é cheio de preconceitos? Fernanda – Acho importante porque mesmo as pessoas muito informadas e “resolvidas” têm suas questões quando o assunto é sexo. Agora, você imagina aquelas que não

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têm acesso a informação, que vivem num núcleo em que o sexo ainda é tratado como pecado. Onde não se fala em proteção, vontade, desejo, liberdade e direitos. São muitas as questões a serem tratadas ainda. Nosso desafio é “como falar” sem que as famílias se ofendam e queiram trocar de canal. Acho que chegamos num grau de comunicação legal em que podemos rir, mas colo-

Me pergunto muitas coisas em relação ao futuro deles, mas no fundo, no fundo meu maior investimento é no amor, na companhia diária. cando nas entrelinhas informações que consideramos necessárias. O programa chegou a dar 20 pontos à 1h da madrugada. Além de tudo isso, ganhamos o prêmio APCA pela última temporada, o prêmio de audiovisual mais respeitado do país. Tenho motivos de sobra para acreditar que encontramos um caminho de comunicação eficaz para tratar de um tema antes inaceitável na TV.

Bá – Você acha que principalmente as mulheres têm uma vida sexual saudável? Ou ainda são muito reprimidas e ainda há muito machismo? Como mudar e melhorar isso? Fernanda – O machismo ainda impera, mas estamos caminhando. A mulher já sacou que também tem direito ao prazer, mas tudo isso ainda é muito recente. Nós, mulheres contemporâneas, temos sorte de viver numa época de liberdade de pensamento e ações e temos que fazer de tudo para ajudar outras mulheres que não têm as mesmas possibilidades a alcançar seus direitos. Os homens estão amadurecendo, querendo entender e aceitar os novos tempos. Vemos pais exemplares e sensíveis em relação à família e à mulher, mais presentes e participativos em questões que antes eram somente das mulheres. Mas ainda existe muita violência contra a mulher e também uma certa revolta por ela ter se tornado a grande máquina do dinheiro em casa. Muitos ajustes ainda precisam ser feitos, mas acredito que, com diálogo aberto, a situação pode melhorar. Bá – Sente falta de algo

em Porto Alegre, a cidade onde nasceu? E de São Paulo, onde também viveu alguns anos? Fernanda – Porto Alegre é uma cidade simpática e acolhedora, além de bonita e de ter pessoas inteligentes, educadas e carinhosas. Gosto muito de voltar para casa, rever minhas amigas e familiares. Adoraria voltar para lá um dia, mas meu trabalho está no Rio, e não gosto muito de frio. São Paulo foi a cidade em que vivi dez anos depois de sair de Porto Alegre. Fui entendendo aos poucos e me apaixonando pela sua diversidade cultural. Sinto falta dos amigos que fiz por lá, dos restaurantes, dos táxis cheirosos e limpinhos e da variedade de entretenimento para adultos. Mas não sei como faria para viver lá com dois filhos pequenos. Quando levo as crianças para lá, gasto uma fortuna em parquinhos de shoppings, e ainda assim eles querem mais. Bá – Como se divertia na infância gaúcha, na praia, em Gramado? O que ficou marcado na memória? Fernanda – Lembro-me muito da infância em Gramado e em Tramandaí. Lembro as Páscoas sensa-

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cionais, o mar de chocolate, a hora do picolé, os encontros de família, com muita batucada. Lembro que eu adorava minha cabana da Mônica, onde eu entrava e me sentia em outra parte do mundo, e também das brincadeiras de menino das quais eu participava com meus 15 primos. Na adolescência, Imbé foi marcante para mim. Eu tinha vida de surfista. Vivia na praia, surfava aquelas ondas cascudas e pintava o cabelo com parafina. Eu queria sair à noite com os amigos pelos barzinhos da cidade, mas minha mãe não deixava. Essa parte eu não gostava. Bons tempos... Bá – Do que sente medo? Fernanda – De qualquer tipo de violência. Física, virtual, verbal. Acho que as pessoas estão perdendo a educação, não querem ser contrariadas, não sabem mais argumentar e resolvem tudo na agressividade. Também tenho medo do futuro do Brasil. Não vejo mudanças reais na erradicação da corrupção, da impunidade, etc. etc. etc., tampouco melhorias na área da saúde e da educação. É só escândalo e roubo. Fico pensando o que

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será do Rio quando meus filhos forem adolescentes, e isso me dá medo. Bá – Quem você admira muito? Fernanda – Minha mãe e meu pai, por terem me educado com valores que julgo fundamentais e sem nenhum tipo de frescura, aparência ou interesse que não fosse a felicidade e o amor. Bá – Alguém ou algo que lhe causa repulsa? Fernanda – Nossa cultura do “se colar, colou.” Não suporto malandragem. Bá – O que mais a deixa tensa na educação dos meninos? Qual o valor

que mais quer passar para os filhos? Fernanda – Fico me perguntando se não devo prepará-los para morar fora do Brasil, para que tenham mais oportunidades. Fico me perguntando se quero que eles decidam a carreira profissional deles aos 16 anos... Me pergunto muitas coisas em relação ao futuro deles, mas no fundo, no fundo meu maior investimento é no amor, na companhia diária, no acompanhamento sincero e transparente de cada fase da vida deles e na insistência para que eles me


contem e me perguntem tudo o que quiserem, pois sempre estarei pronta para encará-los, nem que tenhamos que descobrir juntos algo que eu não saiba responder. Espero que eles confiem em mim acima de tudo. Bá – Lugar que mais amou conhecer? Por quê? Fernanda – Espanha, porque meu avô era de lá, e achei que tive uma conexão imediata com o lugar e as pessoas. Bá – Lugar que deseja conhecer? Fernanda – Berlim. Bá – Você já se declarou

ser ciumenta; como engana o ciúme? Fernanda – Trabalho minhas inseguranças e me torno uma pessoa mais madura a cada dia. Bá – Você tem algum ídolo? Qual e por quê? Fernanda – Rita Lee, por tudo o que ela representa no cenário do rock brasileiro, por seu discurso e seu humor. Quando li sua biografia, fiquei tão encantada que queria fazer um filme. Bá – Resuma sua rotina normal, de exercícios, de mãe, dona de casa, profissional e mulher. Fernanda – Tento cuidar da família, da casa e do corpo pela manhã. Isso inclui acordar as crianças, dar café da manhã, ensinar as rotinas para eles, encaminhar para as aulinhas da manhã, organizar meu dia, responder e-mails, malhar etc. Ao meio-dia almoço com as crianças, e à tarde normalmente trabalho. Cada dia num projeto diferente. Minha vida não tem rotina, o que é bom e ruim. Gosto de rotina, de disciplina, de dormir cedo, ir ao cinema... Mas também gosto de ir a São Paulo toda semana, estar cada dia num estúdio diferente, enfrentando cada semana um

novo desafio pelo qual eu ainda não tenha passado. Bá – A Copa está chegando. Você acredita que as manifestações tomaram um rumo saudável? Qual a sua opinião? Fernanda – O vandalismo nunca pode ser aceito, a violência deturpa tudo e faz qualquer demanda perder o sentido. Mas acho válido as pessoas se juntarem nas ruas e se fazerem ouvidas. Estamos cansados de impunidade. Não dá mais tesão viver no Brasil do jeito que está. Bá – O uso com prescrição da maconha ganha cada vez mais espaço para ser discutido dentro das instituições. Qual a sua opinião? Fernanda – Acho que não temos a menor condição de lidar com essa temática neste momento. Há muito o que ser feito antes disso, e acho que quem alimenta a indústria das drogas não tem interesse de pagar nem esse e nenhum outro imposto... Bá – Do que você sente falta na televisão brasileira? Fernanda – Sinto falta de uma concorrência de alto nível, porque nivelar a qualidade do que assistimos por baixo é um grande retrocesso. MB

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por que publicamos?

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porque amamos!

www.tabeditora.com.br

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Bá, que delícia

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CLARA, DOCE MÃE Fotos André Cavalheiro

Clara Tajes é mãe de Antônia, 20, Sofia, 18, Isadora, 9, Natália, 7, e Bibiana, 6. Nenhuma das outras de suas várias qualidades a apresentariam tão sublime e impactantemente nos dias de hoje. Nem a própria, numa época em que tal apresentação não causaria tanto espanto, tem tantos irmãos. Terceira de um quarteto, entre as recordações está a certeza de que a mãe, Mirian, detestava cozinhar. No lugar dos habituais dotes femininos, não é que Dona Mirian gostava mesmo é de colecionar muitas coisas, como recortes de receitas publicadas em jornais e revistas? O olhar infantil e observador de Clara já registrava e seduzia-se com a mistura de ingredientes. Só a prendada e

encantadora Dona Rosinha, nora de sua madrinha, a enfeitiçava mais. Dona Rosinha cozinhava e recebia divinamente. Tudo era pensado, combinado, bonitinho, cheiroso e gostoso. O tempo passou, Clara cresceu fazendo doces e biscoitos e ganhando a vida como revisora de português em agências de publicidade. Teve as duas primeiras meninas. O tempo passou mais um pouco, e do segundo casamento nasceu o trio calafrio. Para garantir os muitos leitinhos das crianças, entre uma revisão e outra, de bico e hobby ao mesmo tempo, ela recebia encomendas de quem já se dava conta de que suas guloseimas eram uma delícia. Mal sabiam que na mesma mis-

tura havia boa dose de coragem, colheres fartas de intuição e liberdade e gotas preciosas de humildade: “Era e é complicado dar conta de tudo. A necessidade que um filho tem da mãe independe da idade. Com cinco, isso é enlouquecedor. Porque todas precisam de atenção, e é meu dever dar”, conta, em tom tranquilo e gracioso, sobre um período nada tranquilo e sem graça de sua vida. Pelo excesso de faltas, numa fase menos calma da criação das caçulas, ela foi desligada da agência em que trabalhava. Tristeza não foi exatamente o que sentiu. Há algum tempo apenas, revisar textos já não a realizava mais. E como uma mãe não milionária de cinco não marias

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cogitaria não trabalhar? Três meses depois, entregava sua primeira meia dúzia de ceias de Natal da vida: “Nesse momento entendi que, por mais que não seja fácil, sei que consigo”. Nunca mais tirou a mão na massa. Levemente atordoada com cada novo desafio, encomenda ou fase das meninas, ela cozinha feliz e cercada do quinteto. Para até 50 pessoas, com o braço direito e o esquerdo de Sofia, ela encara qualquer tipo de desejo gastronômico. Sob encomenda ou em domícilio: jantares, almoços, sobremesas, cucas, bolos, pães, feijoada. Seu

Cuca de uva Massa: 3 xícaras de farinha com fermento 1 colher de sopa de fermento químico 2 xícaras de açúcar 1 pitada de sal 3 ovos 1 xícara de nata 150 ml leite Aproximadamente 3 xícaras de grãos de uvas pretas Farofinha: 1 xícara de farinha de trigo comum 1 xícara de açúcar ½ xícara de nata Forno pré-aquecido a 200°C, assadeira retangular grande untada.

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jeito de criar, cozinhar e bolar suas receitas é espontâneo e despretensioso, como ela. Para fazer a cuca de uva de chorar de boa (receita abaixo, buáaáá) ela espia uma aqui, prova outra ali, imita um jeito de acolá e inventa. Sabe bem do que gosta, mas nunca exatamente o

que quer: “Fiz um pão integral totalmente acidental, e adoraram. É muito bom as pessoas gostarem do que tu faz, alimentar com qualidade e alegria. Quando te procuram de novo, então... Sempre penso num cardápio para as crianças também”. É mesmo, Clara? Por que será, né? MB

Preparo: Massa: Misturar bem a farinha, o sal e o açúcar. Acrescentar os ovos, a nata e o leite. Não é preciso trabalhar muito a massa, basta que todos os ingredientes fiquem bem misturados.

farofinha. Levar ao forno por no mínimo 40 minutos, até que esteja com uma bela cor dourada.

Farofinha: Misturar todos os ingredientes rapidamente, apenas até que se juntem em uma massa granulosa. É bom não cair em tentação de mexer muito nessa massa – ou a farofinha se transformará em massa de biscoito! Montagem: Despejar a massa na assadeira e cobri-la com muita uva e a

Outras possibilidades: Figos frescos aos pedaços, laranja de umbigo em rodelas bem finas com a casca, requeijão e geleia de goiaba, maçã ou banana com canela... Ou coisas salgadas, por mais estranho que pareça: presunto, linguiça fresca cozida e desmanchada, bacon...

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Bá, que viagem

CHEGANDO MAIS LONGE

Subindo o Kilimanjaro, na Tanzânia, pegou chuva, barro e só reencontrou o guia um dia depois. No Aconcágua, tomando sopa e batendo queixo, deu feliz ano-novo pelo rádio para a família que brindava o Réveillon em Santa Catarina. Ou ainda, faltando 400 metros para alcançar o cume do Elbrus, a maior montanha da Europa, com 26 graus negativos, vento e neve na cara, Alfredo Fedrizzi pensou em desistir. Foi um guia russo muito simples que o incentivou dizendo: “Te observei e vi que podes chegar ao cume. Descansa, te hidrata mais, que consegues”. Ele seguiu em frente, cumpriu o objetivo, foi aplaudido pelo guia e 24 |

chorou. É assim o segundo dos seis filhos do jornalista Nestor Fedrizzi e da professora de português e francês Elsa. Aluno do Colégio Rosário, cresceu rodeado de livros, jornais e pessoas interessantes. Na faculdade, andava com os mais velhos, que sabiam mais do que ele. Foi alimentando vorazmente essa curiosidade e a paixão por aprender e conhecer gente nova e diferente que Fedrizzi se tornou um grande amante do movimento do mundo. “Tenho um enorme mapa-múndi que, de vez em quando, fico olhando. A qual lugar ainda não fui? Começo a planejar ir. Quando olho o mundo, com seus mais de 200

Foto: Dulce Helfer

Curioso e apaixonado, Alfredo Fedrizzi, que hoje comanda uma das gigantes da publicidade gaúcha, a Agência Escala, era multimídia bem antes de a expressão virar tendência. países, vejo que ainda falta muito a conhecer.” As férias são sempre culturais ou de aventura, e os lugares exóticos têm sua preferência. “Fui o primeiro dos netos a ir estudar no exterior (na Itália), o que na época era uma grande conquista. Gostei de conviver com outras culturas e nunca mais parei”, conta o viajante, que já visitou 71 países. O pequeno Alfredo já espiava a única das bandeiras com formato diferente do retangular, a do Nepal. Anos depois, com o primo Paulo, encantou-se pelas montanhas no Nepal e do Tibete. A capital, Kathmandu, é uma cidade mágica, onde se encontram pessoas muito diferentes, de


todas as partes do mundo. Os mais importantes montanhistas estão ao pé do Himalaia, cujas montanhas têm mais de 8.000 metros de altura: “Estar ali, na frente de quase todas as mais altas do mundo, foi muito desafiador. Paisagem, silêncio e luminosidade são indescritíveis. O montanhismo veio no embalo e me faz conhecer e superar meus limites, estar em dia fisicamente. Saber que ninguém vai te ajudar traz ensinamentos”. Ensinamentos que fizeram desse catarinense de Joaçaba, criado e adotado por Porto Alegre, um homem raro. Que escala montanha, mas também encontra plena felicidade observando a fila de crianças para comer ou brincar no pátio da Aldeia da Fraternidade, instituição que hoje preside. Também sorri em casa, mexendo no jardim, ouvindo ópera ou Beatles. Planejando maratonas cinematográficas, mer-

gulhado em livros ou ainda correndo no Morro do Osso, com o cachorro Rodolfo: “É o visual mais bonito da cidade. Gosto de aprender, conhecer pessoas e ajudar aos outros”. Fedrizzi ainda é o paizão da publicitária Lissa, 28, que sempre morou fora e está prestes a se casar e viver em Chicago; e de Laura, 23, designer e apaixonada por cavalos. É casado há 29 anos com a também designer Angela: “Me considero um grande parceiro dela. Às vezes, no terceiro turno, dou ‘consultoria’ paras as gurias. Ambas bem empreendedoras e minhas parceiras. Lissa na parte cultural, e Laura nas aventuras. Já mergulhamos e fizemos safári fotográfico na África, juntos”. Diante de tanto mundo, Fedrizzi não sente medo? “Claro. Mas calculado. Medo em demasia é paralisante, mas é fundamental para nos manter vivos. Quem diz que não

Cume do Kilimanjaro – Tanzânia Na trilha

tem medo é covarde. Sério candidato a morrer cedo. Como gosto de viver, não me arrisco demais. Me move a superação. Estar concentrado em cada atitude, em monitorar cada respiração, cada lugar onde vai colocar o pé. O desafio de poder chegar mais longe.” MB | 25


AnaMottin

escritora

ENCANTOS E DESENCANTOS

O Passarinho Encantado, cabeça de rato, corpo de passarinho, vive aqui em casa, em cima de uma antena velha de televisão. Sua melhor amiga é Julia, uma boneca corajosa que só veste cor-de-rosa. Juntos, eles já enfrentaram o diabo a quatro. Porque sabe que eu me preocupo, Julia nunca sai sem me dizer aonde vai. Deixa um bilhete no esconderijo secreto. Demorei a descobrir o tal esconderijo: uma fresta embaixo do tampo empenado de uma cômoda antiga. Quem descobriu, na verdade, foi minha neta Maria Luiza. Agora que já sabemos, vamos direto. O bilhete da semana passada dizia que Julia precisara ir até a Ilha das Fadas porque um bruxo tinha enfeitiçado o Passarinho. Dessa vez, a coisa era complicada, um feitiço poderoso que só poderia ser quebrado com uma poção mágica que precisávamos preparar urgentemente. Uma colher de açúcar, uma pitada de sal, uma gota de xampu Bed Head, uma gota de condicionador Bed Head, uma colher de calda de chocolate e um ingrediente secreto que Julia traria depois, de um lugar muito além da Ilha das Fadas. Fizemos a poção direitinho, que não somos nem loucas, e ficamos aguardando o ingrediente secreto. Passou um dia, dois, e nada. A Julia não vinha. Lá na antena, o pobre do passarinho. Na terceira noite, a Julia, sem que ninguém a visse (bonecos só se mexem quando ninguém vê) havia deixado na sala o ingrediente secreto. A mim, pareceu um pedaço de fio dental. Maria Luiza e o primo Ignacio acharam que não. Decidimos ir ver se 26 |

não havia um bilhete explicando. Havia: o ingrediente secreto era um pedaço do fio da vida. Se a Julia dizia, devia ser. Misturamos o tal fio à poção e ficamos esperando. Durante a noite, o passarinho sumiu! Apavorados, fomos procurar outro bilhete. Felizmente estava lá e dizia que desaparecimentos eram normais, faziam parte do processo de desfeitiço. Mais duas noites, e o passarinho voltou, ainda encantado, mas já desfeitiçado. Durante as comemorações, com brigadeiro e tudo, me peguei pensando no tal ingrediente secreto: o fio da vida. Como é que eu não o reconhecera? As moiras o fiam, depois cortam e a gente morre, lembram? Que burrice confundi-lo com fio dental, que vem todo enrolado na caixinha. O fio da vida, ainda que às vezes se enrole, parece mais um fio de varal, desses de secar roupa. Os dois ficam amarrado entre duas varas, dois muros, nascimento e morte, o que seja. Os dois sustentam coisas: vestidos, sonhos, gente. No fio da vida, feito roupas comuns dependuradas, vivemos nossas vidas. Porque temos medo (é muito frágil), o reforçamos entrelaçando a ele outros fios: amor, família, dinheiro, trabalho. É inevitável, mas, como diria Julia, cuidado com esses entrelaços! Eles podem tornar o fio da vida fixo demais, duro, quando o certo é mantê-lo meio solto: forte o suficiente para nos sustentar, flexível o bastante para permitir alguns voos. E nunca se esqueçam de ter sempre um pedacinho sobrando, a Julia recomenda. Pode ser necessário para algum desencanto.


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OFICINA DE INFÂNCIA foto Dulce Helfer

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É com um imaginário fértil e muita afinidade com o mundo infantil que Luciana Chwarztmann leva sua vida.


Foi colocando arte, cultura, moda, salão de beleza, festa, uma oficina mais legal que a outra no mesmo saco, acrescentando doçura, observação e curiosidade que a publicitária Luciana Chwarztmann inventou a Lezanfan e, por cinco criativos anos, instalou-se cheia de graça no Moinhos de Vento. Conversando, vivendo e interpretando expectativas de pais e filhos, criou oficinas que foram a cereja do bolo do projeto, que em 2014, sem sede física, enfeitará bolos alheios e estará em escolas, casas e festas: “Ser estimulada para a arte e cultura como fui pelos meus pais me fez crescer interessada no que as pessoas sentem, pensam, planejam e questionam. Estou aprendendo sempre. Construir concretamente minhas inspirações é muito compensador”.

Como nasceu a Lezanfan? Queria criar algo relevante para formar e divertir crianças. Ser mãe foi o gatilho que pôs em prática meu imaginário e observação sobre a infância. Quem brincou na rua infelizmente terá melhores recordações do que quem hoje brinca em condomínios. Não viva só reclamando que o filho não sai no celular. Jogue junto, filtre referências, entenda como ele usa a criatividade. Você criança... Nasci numa família pronta. Ser a quarta filha numa casa barulhenta com três irmãs espaçosas, cheia de amigos, primos e estrangeiros em intercâmbio me aguçou a observação. Não era de falar muito. Adorava desenhar, tocar piano, dançar, ver as formigas e brincar com cachorros. E mãe? Sou general, adoro disciplina, regras e combinações. Valorizo a educação básica – oi, tchau, por favor, obrigada – e as metas e conquistas para as regalias. Fora isso, é uma extrema felicidade colocar uma música alta e dançar livre pela casa ou cozinhar as receitas da minha mãe com elas. O que aprendeu com as crianças? É fundamental com crianças, na maternidade e, por que não, na vida, o frescor da descoberta. A sensação de fazer algo pela primeira vez é fascinante. A vida fica mais bonita. Não espere a viagem dos sonhos para se encantar com a paisagem. O que a faz feliz, e um desejo... Dividir a vida com quem me acompanha de mãos dadas, minhas três irmãs e melhores amigas, Clarice, Lilian e Flávia, meu marido, Mauro Dorfman, e minhas filhas, Alice e Cecília. Sair do Brasil um tempo com a família para viver outra cultura. MB

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ping-pong

POLITICAMENTE OBSTINADO Foto Dulce Helfer

Pai de Graziela, Mário e Camila e marido de Lorene, o médico e deputado estadual Pedro Westphalen é um obstinado pelas carreiras que escolheu.

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Ao lado do irmão e também médico e das duas irmãs, Pedro Westphalen nasceu e cresceu no fundo do Hospital Cruz Alta, construído pelos avós. Formado pela Faculdade de Medicina de Teresópolis, no Rio, fez residências em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Conceição, e cirurgia geral e vascular no Hospital Lazzaroto. Também é pós-gradua-


“Valorizei a educação, a cultura e a arte, porque são os mais eficazes agentes transformadores.”

Como a política entrou na sua vida? Fui orador da turma, presidente do Centro Acadêmico. Em 1992 me candidatei a prefeito e perdi. Comecei com a política na área da saúde. Criei e organizei associações hospitalares, federações e confederações nacionais e fundei e presidi a Federação dos Hospitais do RS. O resto foi consequência O que o fascina na política? Sou fascinado porque acredito na força coletiva e sindical representativa. O que aprendeu em 2013 à frente do Poder Legislativo? Não tive marca no comando da Assembleia. Valorizei a educação, a cultura e a arte. São os mais eficazes agentes transformadores. Reforçamos a acessibilidade lá dentro e recebemos o Prêmio FDRH pelo projeto Deputado por Um Dia, um resgate da importância parlamentar. Aprendi muito em 2013.

do em Administração Hospitalar pela PUC-RS e, em 1983, participou do Programa de Transplantes de Rins; foi responsável por mais de 20 transplantes e pioneiro, ao lado do irmão, Jorge, em cirurgias de hemodiálise da sua região. O incansável Pedro ainda presidiu o Guarani de Cruz Alta e segue um eterno questionador: “Sou um defensor do SUS. Por que pobre não pode fazer cirurgia no HMV?”.

Na política e na medicina, os desafios vão além da nossa vontade e trabalho. Em qual área você se frustra mais? Perder um paciente frustrava demais. Na política frustra ter de comprar material mais barato sabendo que não é o melhor, ou retardará o tratamento, mesmo com o avanço da medicina. É ruim saber que faltam condições para fazer. E os médicos cubanos? A estatização é para mim um princípio só que o país cresceu e as cidades pequenas não têm estrutura. Como as manifestações foram sem liderança e foco e a saúde sempre apareceu em primeiro lugar na insatisfação das pessoas. Os cubanos foram a bola da vez. Momento marcante? No fim do primeiro transplante que fizemos na vida, o paciente disse: “Estou feliz por ter dado certo, porque se desse errado, os estudos e avanços de vocês não iriam para frente”. MB

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objetosedesejos

HenriqueSteyer arquiteto e publicitário

EXTRAINDO FANTASIA DA REALIDADE

Annie Leibovitz é a fotógrafa que se aproximou das celebridades de forma tão íntima que tornou plausível extrair delas imagens nunca antes exibidas. A simbiose entre a sua lente e o seu sexto sentido possibilitou identificar o momento exato pra fazer o clique perfeito, revelando cenas que eternizaram fantasia em um mundo real. Isso acaba sendo mais do que fotografia. É arte, é design gráfico e design emocional. Ela dispara que está mais interessada em ser boa do que em ser famosa, mas a elevada qualidade de seu trabalho transformou sua carreira em algo tão exitoso e célebre como a de seus personagens. Ainda jovem, foi contratada pela revista Rolling Stone para tirar um retrato de John Lennon que acabou virando capa da revis-

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Annie Leibovitz


ta e um divisor de águas em sua carreira. Tratava-se da famosa foto dele nu, abraçado em Yoko Ono. Annie foi a última pessoa a fotografar o Beatle, morto naquele mesmo dia. Vem com assinatura dela também a icônica campanha da Louis Vuitton com Mikhail Baryshnikov, Catherine Deneuve, Bono Vox, entre outros. A apoteose de suas superproduções foi a contratação para criar o calendário da Disney, no qual Scarlett Johansson se transforma em Cinderela, Julienne Moore em a Pequena Sereia, na companhia do nadador Michael Phelps, David Beckham em o príncipe da Bela Adormecida,

entre muitos outros, em fotos de tirar o fôlego. Com seus instintos únicos, ela pôde redefinir o que um retrato de celebridade poderia ser. Utilizando produções e encenações grandiosas, Anne passou a extrair de seus personagens aspectos extremamente pessoais e inéditos, revelando, de certa forma, a alma de cada súdito fotografado. Seu perfeccionismo foi capaz de revelar posturas e semblantes tão peculiares nas celebridades clicadas que há entendedores que afirmam que um sorriso visto em um desses retratos não é apenas um sorriso real, mas sim “um sorriso Annie Leibovitz”.

Peter Rolfe Woodworker é daquele tipo de designer que consegue apresentar algo inusitado e arrojado em um mercado repleto de soluções pasteurizadas. Suas peças em formas de corpos nus incluem gavetas funcionais que nos deixam dúvidas sobre sua denominação: seriam esculturas ou móveis? Bravo!

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Foto: Arquivo Pessoal Roberta Borges

Bánoesporte

CláudiaCoutinho jornalista

Roberta Borges tem no surfe e na fotografia duas grandes paixões. E construiu sua caminhada profissional sem se distanciar nem de um nem do outro

VIVENDO A VIDA COM AS ONDAS Para alguns, o surfe se limita a competições. Para outros, no entanto, o esporte reflete um estilo de vida, um jeito de ser. A porto-alegrense Roberta Borges

faz parte desse segundo grupo. Ainda garota, encantou-se ao chegar à bela praia da Guarita, em Torres, e observar todas aquelas ondas. “Quando vi, fiquei

louca. Sabia que tinha que experimentar, e, depois de surfar minha primeira onda, nunca mais parei”, recorda. Na mesma época, estudante do Colégio Anchieta,

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Foto: Acervo Manoel Tostes

A gurizada do surfe gaúcho nos anos 70


Foto: Arquivo Pessoal Roberta Borges Foto: Arquivo Pessoal Giovanni Mancuso

pendiam muito mais para festivais de confraternização do que disputas acirradas. Mas logo, acompanhada por sua amiga Tanira Damasceno Ferreira, aventurou-se a participar de torneios nacionais, começando em Florianópolis. Em 1985, sagrou-se a primeira campeã brasileira de surfe. No ano seguinte, representou o país no Mundial Amador de Surfe, na Inglaterra, graças ao patrocínio de uma empresa de marca de roupas, que, além de pagar pranchas e passagens para viagem, garantia um salário mensal. Surfista profissional, portanto. E a fotografia? Roberta já não mais participava de competições e passou a trabalhar para revistas de surfe; quando viajava a trabalho, levava a prancha. Quando realizava uma surf trip, carregava o equipamento fotográfico. “Surfe e fotografia sempre estiveram

Roberta foi pioneira entre as mulheres no surfe de competição

Campeão gaúcho em 1987, Giovanni segue ligado no esporte

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Foto: Arquivo Pessoal Giovanni Mancuso

Foto: Harleyson de Almeida

escolheu fazer o curso profissionalizante de fotografia. Pronto. Havia encontrado os dois caminhos que percorreria por sua vida. E, com dedicação e competência, fez com que eles se cruzassem na maior parte do tempo. “Quanto estou na minha em casa, em Porto Alegre, trabalho com as minhas imagens sobre o mar. Quando estou na praia, fotografo e pego ondas. É o que gosto.” Roberta foi apresentada ao surfe no final dos anos 70, época em que o esporte reunia famílias e amigos na Praia da Guarita. Todos adoravam estar lá, pegar a onda pelo simples prazer de estar em harmonia com o mar. “Imagina! Tu estás ali e aquela onda vem vindo e tu consegues pegá-la e te sintonizar com ela, em cima de uma prancha, é um barato”, explica para quem nunca se aventurou nas águas. As competições

O Madeirite, realizado na Praia da Guarita, em Torres, resgata a história do surfe gaúcho e a amizade entre diferentes gerações


Arquivo Pessoal Roberta Borges

Bánoesporte

Roberta em uma onda

Foto: Xandão/Ondas do Sul

Giovanni segue surfando

Foto: Arquivo Pessoal Roberta Borges

Roberta em uma surf trip em Barbados

muito ligados”, reforça. Fez outros trabalhos profissionais também, no segmento da arquitetura e de produtos. Mas hoje voltou a ter o mar como principal personagem de suas lentes. “A gente vai, percorre muitas coisas e volta ao que motivou àquela caminhada. É um reencontro”, reflete. Por isso também, o reencontro proporcionado pelo Madeirite Trópico, evento que busca o resgate da história do surfe gaúcho, é sempre muito emocionante. “É um momento mágico, porque resgata o espírito do surfe gaúcho, resgata a essência. Todos estão lá, todos se abraçam, todos se reúnem. Ninguém está ali para brigar por pontos. É sensacional”, assegura.

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Foto: Acervo Caldas Júnior

Marco, Gerdau e Roberto Bins quando do início do surfe gaúcho.

É tão legal que Roberta recorda que, em uma das edições do Madeirite, entrou na água com sua filha Stephanie, para disputar a bateria das Famílias. Estavam lá, aproveitando cada segundo daquele momento. “Lá pelas tantas, a Teté me perguntou se a disputa já tinha começado. Eu respondi: ‘Sim, faz tempo. Pega uma onda aí’.” E riram, claro. Como o surfe e a fotografia seguem juntos na vida de Roberta, os planos para este ano englobam uma nova surf trip. Muitos dos detalhes dessa viagem já estão definidos. Mas ainda devem ficar em segredo. A promessa é contar tudo como foi por meio de belas fotos. Resgate de histórias Nascido em Bom Retiro do Sul, Giovanni Mancuso passou seus veraneios na casa de seus avós na Praia da Cal, em Torres. Lá estreou no surfe. Tornou-se referência no surfe gaúcho nos anos 80 e conquistou o título do circuito estadual em 1987. Giovanni hoje trabalha com design gráfico, mas também está na organização do Madeirite Trópico, que acontece desde 2010. “Mais do que um resgate da história do surfe gaúcho, o evento é a confraternização de toda a família do surfe”.


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arte arte

IvanMattos jornalista

VIVENDO POR MEIO DA ARTE Foto Dulce Helfer

Mulher de Emile Leopold e mãe de Leopold Amadeus, Tânia Bian é engenheira civil de formação, professora, designer de acessórios e amante da arte. 38 |


Foi com antigos slides que nasceu a paixão de Tânia Bian pela arte quando, ainda na infância, ela os colecionava trazidos como presentes de familiares em viagens para fora do país. Logo os slides cederam lugar para os livros de arte e história. Bastava andar pela Rua da Praia, vinda de visita, de Santa Maria, onde morava, que sucumbia ao apelo das vitrines da Livraria do Globo, sempre levando alguma novidade para casa. Na primeira viagem à Europa, a moça se encantou pelos quadros do Louvre, do Prado, da

L’Orangerie, que reconhecia um por um, pelo nome e pelo pintor, em encontros marcados que se repetiriam pela vida toda. Assim, colecionou memórias, obras de arte, livros, imagens, cursou engenharia civil, se especializou em história da arte, casou, descasou, casou novamente em seguida, cursou urbanismo em Bruxelas, morou na Europa e, quando voltou, foi trabalhar em uma galeria de arte em São Paulo, para ficar mais perto do que gostava. De volta a Porto Alegre, já casada com Emile Leopold Bian, fixou

residência em Ipanema, se cercou de mais arte e, enquanto trabalhava como engenheira e consultora de decoração, se matriculou em um curso de extensão de história da arte, na PUCRS. A professora, Cláudia Musa Fay, impressionada com o conhecimento da aluna sobre absolutamente tudo, a convidou para ministrarem o curso juntas. De aluna, passou a mestra, e, em seguida, responsável pelos Cursos Integrados de Artes, que ministra há 19 anos na Educação Continuada da PUCRS. Inquieta, passou a

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arte

acompanhar os alunos em pequenas viagens a São Paulo, e depois Nova York, visitando exposições internacionais. Para formar um grupo e viajar para Paris, foi questão apenas de um incentivo do marido. “Pensei que fosse detestar, que iria voltar e aposentar a ideia de viajar em grupo visitando museus e pontos históricos. Mas amei a experiência. Foram oito viagens até agora. “Não costumo levar desconhecidos, não sou uma guia de turismo, preparo meus alunos antes, que chegam diante das obras e as reconhecem, sabem a que escola pertencem, conhecem a vida do pintor, é uma viagem de estudos, mas com uma leveza de passeio”, acrescenta. Quem pensa que as aulas de história da arte que ela costuma dar se restringem ao conhecimento “oficial” se engana. “Eu preciso complementar as informações com todas as fofocas e notas de rodapé que passam à margem da história oficial, que não estão nos livros acadêmicos; acrescento meu molho particular, a minha visão, as minhas pesquisas”, relata. É verdade. Quem já assistiu a uma de suas aulas ou palestras saiu picado pela curiosidade de saber mais,

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de acrescentar mais informações ao já conhecido. Ela mesma é capaz de loucuras por um quadro ou obra que admira muito. É o caso do Casal Arnolfini, quadro do pintor flamengo Jan van Eyck, pintado em 1434, que está exposto na National Gallery, em Londres. “Para ‘frequentar’ o Casal Arnolfini, já mandei inclusive fazer um coboloi, igual ao que está no quadro, e uma roupa nova especial para o momento. Pena que, ao chegar à National, a sala em que estava o quadro jazia fechada, e a obra, em viagem ao exterior”, complementa, decepcionada. Mas nada é capaz de arrefecer sua paixão. Devoradora de livros, é dona de uma memória prodigiosa, capaz de guardar fatos e detalhes de toda uma dinastia de reis franceses, por exemplo, com casamentos, traições, conquistas, doenças e particularidades. “Sou fascinada por essas histórias desde criança, leio tudo o que me cai nas mãos, e tenho muita facilidade para armazenar os detalhes, principalmente os mais picantes e escabrosos”, diz, sorrindo. Quando se pensava que ela estava comodamente instalada no ofício de professora, viu na criação de colares com pedras brasileiras um

bom negócio para expandir sua criatividade. Desde 2009 divide suas aulas e viagens com a função de designer de acessórios da Collezione Tânia Bian, que cria inspirada em quadros e artistas que admira. “Eu sou muito despachada, depois de criar uma coleção inteira de colares, resolvi ligar para a Rede Globo e oferecer para mostrar meu trabalho para uma figurinista da novela Caminho das Índias. Ela aceitou e, a partir daí, meus colares foram parar nos pescoços das atrizes das principais novelas da emissora, de Fernanda Montenegro a Vera Fischer; de Eva Wilma a Flávia Alessandra”, salienta. A curiosa Tânia vai realizando seus projetos, sem nunca se esquecer de sua paixão pela arte. “Entre meus projetos para o futuro, além de continuar sempre com minhas pesquisas, estão ver ou rever algumas obras de arte que, por um motivo ou outro, me escaparam quando de minhas visitas aos museus ou catedrais. É o caso da Leiteira, de Johannes Vermeer; do Monsieur Bertin, de Jean August Dominique Ingres; e da Adoração do Cordeiro Místico, de Jan van Eyck, que são alguns dos meus preferidos”, confessa.


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CristieBoff

vida e da morte e a vibração das cores. Vale conferir na Calle del Ridotto, 1353.

designer e artista plástica

Ah, o futurismo Poderá ser visitada até (e tem tempo) 1º de setembro a mostra Reconstrução Futurista do Universo, sobre futurismo, no Guggenheim de Nova York. São vestidos, fotografias, filmes, livros e obras do movimento futurista, que revolucionou a linguagem e estética no início do século XX.

Arte e moda Criado pela grife francesa para promover arte e cultura, o Espace Louis Vuitton de Veneza, além de ser um charme, está expondo obras de Vittore Carpaccio e Bill Viola até 24 de maio. O nome da mostra italiana chama-se Renaissance. Carpaccio é um pintor italiano (1465-1525), e Viola (1951), videoartista americano, sobre o qual já falei na minha última coluna. São cincos séculos de distância entre os dois e, ainda assim, os quadros de Carpaccio e os vídeos de Viola dialogam e trazem ao espectador temas como o sentido da existência, o paradoxo da proximidade da

Grande Henry Ainda no rico e saboroso solo italiano, na cidade de Ferrara, está em cartaz a mostra do maestro e grande artista francês Matisse (1869-1954), no Palácio do Diamante, até o dia 15 de junho. São mais de 100 belas e coloridas obras reunidas de Matisse, que, ao contrário de muitos colegas contemporâneos, teve uma vida feliz, bem ligado à família – pintou muitas vezes sua filha e a esposa.

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Famiglia Foi aberta em março e ficará em cartaz até 20 de julho a Mostra Questioni di Famiglia na Strozzina. Viver e representar a família de hoje é o mote da exposição que reúne 11 artistas internacionais que definem o conceito da família no mundo contemporâneo. São eles Guy Ben-Ner, Sophie Calle, Jim Campbell, John Clang, Nan Goldin, Courtney Kessel, Ottonella Mocellin+Nicola Pellegrini, Trish Morrissey, Op de Beeck, Chrischa Oswald, Thomas Struth.


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ENTRELAÇOS Foto Dulce Helfer

Eles não se assustam por serem múltiplos. Não temem se redescobrirem em si mesmos. Tampouco ao mundo. Karina Steiger e Pedro Corbetta gostam de liberdade para ir e vir. Pedro é descomplicado, sensível, artista e sonhador. Karina é inquieta, destemida e errante. “Permito-me voar. Na vida, nas ideias, tatuei asas na nuca”, conta-me minha amiga com sorriso largo e meio rouco que eu bem conheço e de que tanto gosto. Em 1999 deu um ousado mergulho de oito anos na alta-costura, montando um ateliê de vestidos de noiva no Moinhos de Vento. Em 2007 decidiu que queria acordar, dormir e ser feliz em Nova York. Fez styling e produção de moda para editoriais de revistas bacanas e o curso de Retail Buying na Parsons New School for Design. Quando era gerente operacional da franquia nova-iorquina da Carlos Miele, ela ganhou o greencard. Mas não importava, era exatamente a hora de o coração devolvê-la ao Brasil. Já Pedro é todo coração. Em 1992, aos 18 anos, deixou o trabalho com o avô e foi para os Estados Unidos: “Ali começava minha faculdade cigana”, brinca, referindo-se aos dois anos em que viveu em São Francisco, na Califórnia, e em Nova York, quando dividiu o apartamento com o já famoso ator Paulo Betti. Foi garçom, fez cursos de interpretação. De volta a Porto Alegre, montou uma banda de música pop espanhola e instrumental de flamenco e fez o curso de atores do TEPA. No ano seguinte, decidiu tentar a sorte no Rio por

seis meses. Por lá e cá, estrelou comerciais, campanhas políticas, filmes, a série Casa da Sete Mulheres e a novela portuguesa O Segredo, e em 2005 a global América. Foi quando realizou o sonho de morar na Europa: “Em Londres trabalhei na companhia Delfont Mackintosh Theatres, de musicais, onde conheci os bastidores de Les Misérables e Mamma Mia. Foi um ano incrível”. Karina e Pedro entrelaçaram seus sonhos, almas, corpos e projetos no final de 2010, quando se encontraram em Porto Alegre. Juntos decidiram fazer mais malas. O destino era São Paulo. Ela trabalhou na Chanel e decidiu vender minicupcakes. Ele estudou com dois preparadores de elenco, Fatima Toledo e Beto Silveira: “Fatima foi um divisor de águas para a vida”, conta Pedro. Em 2013, criaram o Historias Verdadeiras brasileiro. Um projeto sensível, que reúne convidados para contarem suas histórias em 12 minutos. Aqui e agora. Sem corte ou ensaio. Trocando, refletindo e compartilhando a mais pura vida. Com todas as suas dores, cores e amores, inspirado no formato que já acontece há anos mensalmente nos Estados Unidos e em Londres: “Contei minha história e participei durante os quatro anos que morei lá. É lindo e forte resgatar o poder de uma narrativa ‘olho no olho’”. Essa bela e simples “terapia em grupo espontânea” acontecerá, em todos os meses de 2014, no Pub Nova York. A próxima viagem – sempre com volta – da dupla é estrear a versão paulista do projeto, que por enquanto só existe por aqui. MB

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MULTICRIATIVIDADE NO CORAÇÃO DO RIO

COMPLEX ESQUINA 111 FOI XODÓ DO VERÃO CARIOCA 2014 Ponto de encontro confirmado dos porto-alegrenses, o Complex mal desembarcou e já virou uma das boas novidades da

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Cidade Maravilhosa nesta temporada. O diferencial da capital fluminense para a gaúcha é a escola de criatividade que fun-

ciona no local. Na esquina onde a Maria Quitéria encontra com a Redentor, em Ipanema, o Complex Esquina 111 mistura com estilo música, arte, gastronomia e criatividade – o que chamou atenção da descolada vanguarda da Zona Sul do Rio. Idealizado pelo grupo Slash/ Slash, pela produtora BDZ e pela Escola de Atividades Criativas Perestroika, o complexo de entretenimento agrada tanto a quem chega da praia quanto quem está se preparando para a balada. O primeiro andar oferece bar e restaurante, e o de cima, uma sala multiúso com estrutura para todo tipo de programação. Fica aberto das 11h à 1h aos domingos, terças e quartas, e das 11h às 2h, de quinta a sábado.


GAÚCHA COMUNICATIVA Ela já pensa em abrir filial em São Paulo e quer aumentar o portfólio de clientes internacionais em 2014. Também quer muita praia, qualidade de vida e família por perto. Nos planos da jornalista gaúcha Fran Hochmuller, 33 anos, também estão a lista de clientes conquistados no Rio de Janeiro, cidade que escolheu há seis anos para abrir a Hochmuller Comunicação, empresa de assessoria de imprensa e comunicação integrada. Com passagem pela TV, revistas e rádio Atlântida no Rio Grande do Sul, Fran encontrou no Rio de Janeiro o lugar ideal para viver o resto da vida. É apaixonada pela praia, pelos eventos cariocas, e já tem ótima rede de contatos na Cidade Maravilhosa. Hoje ela acompanha empresas e pessoas conhecidas do Brasil, como o famoso

DJ Zeh Pretim. A Hochmuller oferece conteúdo, serviços customizados e ideias criativas para, também, gerar negócios e fortificar parce-

rias, o que rendeu clientes internacionais como a rede de hotéis de luxo W, com o W South Beach de Miami e o Prince de Gales Paris.

WARHOL EM SP Inaugurada em 2009, em Barcelona, pelo casal de gaúchos Ricardo e Carla Zielinsky, a Galeria Antic & Modern estará em São Paulo chancelando a mostra Andy Warhol – Pop Art. Claudia Sehbe e Jaqueline Sant’Anna Pegoraro articularam a parceria da mostra, que poderá ser visitada até 7 de abril, na Brasserie des Arts, Rua Padre João Manuel, 1.231. Todas as obras disponíveis são serigrafias certificadas e catalogadas. Entre elas, as mais icônicas do artista, incluindo os célebres rostos de Marilyn Monroe e Mao Tsé-Tung.

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CláudiaTajes

UM NOME PARA CHAMAR DE SEU O Fabrício Carpinejar diz que conhece uma senhora chamada Bucetildes. Sinceramente, não acredito. Mas pesquisando no Google os nomes mais estranhos do Brasil, é possível encontrar, entre muitos outros que parecem ficção, Asteróide, Bananéia (com acento, apesar da reforma), Carabino, Hypotenusa, Mijardina, Necrotério e Placenta. Não é mentira, pode procurar. Até que, lendo uma matéria que saiu na Folha de São Paulo há alguns dias, fiquei achando que mais vale alguém se chamar Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel (existe, eu juro) do que, por exemplo, Aparecida. Explico. A reportagem da Folha levantou casos de pessoas que vão parar na cadeia por terem nomes iguais aos de algum criminoso. A Maria Aparecida, de 58 anos, ficou seis dias presa ao ser confun-

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dida com uma cunhada, também Aparecida, que havia sequestrado um bebê. Apanhou da polícia e, na cadeia, sofreu ameaças de morte. Melhor ser registrada como Última Delícia do Casal Carvalho (também existe). O Eronildo, de apelido Nildo, passou nove meses na cadeia, confundido que foi com outro Nildo, esse nascido Leonildo. Todas as vítimas desse tipo de erro localizadas pela Folha agora têm problemas emocionais e nunca mais conseguiram emprego. Algumas nem sequer pediram indenização, e quem entrou na Justiça ainda espera por justiça. Enquanto isso, muita gente que deveria ver o sol nascer quadrado segue livre e solta por aí. Se por um milagre eu der à luz outro filho, para prevenir, vou batizar de Faraó do Egito (existe). Ou, se for menina, de Radigun-

da (existe). Chega de correr riscos. A respeito de nomes, uma história com o meu, Maria Claudia Tajes. Era preciso renovar o crachá, e me dirigi ao encarregado da empresa, um senhor de certa idade que já não deve mais aguentar fazer crachá para terceiros. ELE: Tem nome artístico? EU: Não, mas me assino Claudia Tajes. ELE: Compreendi. Aguarda lá fora. E agora eu ando por aí com o meu crachá pendurado no pescoço: Maria Tajes. Mas seria pior se ele tivesse escrito Barrigudinha Seleide (existe). ... Para a revista Bá, muitos anos de vida e que a gente continue abrindo cada edição e dizendo: bá!


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Décor Fabiana Bá Fagundes

UM ARQUITETO E MUITOS CAMINHOS arquiteta mude@fabianafagundes. com.br

Ele é um estrategista do design que une diversas linguagens em seus trabalhos

Paulo Brum é uma figura que precisa de poucos minutos para rapidamente deixar a gente encantada com seu carisma, simpatia e principalmente o olhar apurado e sensível a todas as relações visuais, e por

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que não emocionais, que uma conversa casual pode ter. O filho de Dona Leci e Seu Vanderlei pensou em fazer artes plásticas, mas os pais, funcionários públicos, pensando na segurança do filho, o direcionaram

para a conceituada escola técnica Parobé, onde surgiu seu interesse por arquitetura. Ao se formar na UniRitter no final dos anos 90, Paulo tinha sede de empreender, e com esse objetivo abriu sua primeira


O menino que sonhava ser artista virou arquiteto... arquiteto artista.

empresa, a Web Projects, umas das primeiras a fazer websites por aqui. A partir dessa fase, começou naturalmente a trabalhar com design de produto e design de mobiliário, que lhe renderam prêmios importantes. Surgiu então a Trama Design, sua empresa até hoje, na qual vem desenvolvendo uma nova linguagem em projetos de identidade, interligando arte,

música e arquicomercial. Atuando tetura comercial como consultor de design do estado pelo Sebrae, especializou-se em design gráfico para a área de turismo no RS, no Brasil e na América Latina. Foi responsável pela identidade visual da região Serrana do Rio de Janeiro, em projeto do Instituto Marca Brasil. Paulo se destaca por trabalhar com estratégia em design em seus projetos muito antes de o termo ter sido adotado pela classe.

Nos últimos três anos, ampliou sua área de atuação, participando como curador da galeria Mascate, em Porto Alegre, onde seleciona trabalhos e atua como DJ e VJ nos workshops da casa. Enfim, Paulo acabou encontrando uma maneira de intermediar arte por meio de seus projetos com pessoas, marcas e instituições. Uma coisa é certa: se do sorriso dele ninguém esquece, do trabalho também não. Interligar arte, música e arquitetura comercial é um dos objetivos de Paulo.

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crônica

BÁ, QUE CRIANÇA... Quando algo importante, fruto de amor, planejamento e envolvimento nasce em você, é inevitável ter ao mesmo tempo sensações distintas que vão do medo, passam pela ansiedade alegre e excitada e culminam numa expectativa deliciosa e cheia de esperança de que tudo dê absolutamente certo naquele futuro próximo entre você e o seu almejado “sonho”. Vem à cabeça a plenitude da gestação, do nascimento e do “cuidar” dessa semente transformada em flor e pronta para encantar as pessoas, cada vez mais independente de você. Durante esses primeiros meses de vida, mesmo com ajuda e olhares generosos de todos os lados, entre família, amigos e parceiros que por um motivo ou outro simplesmente torcem para tudo dar certo para você e o seu “novo amor”, todo tipo de dúvida invade. Se está introduzindo a alimentação na hora

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adequada para que ele cresça forte e saudável, se está blindando cautelosamente de movimentos e brincadeiras perigosas que possam machucá-lo ou colocá-lo em risco. Se o lugar onde você escolheu para que ele apren-

da coisas importantes da vida tem a ver com a sua personalidade. Uma mãe que ama seu bebê está constantemente se perguntando o que deve fazer para cercá-lo de todos os cuidados, medidas e escolhas certas para que Eu com 1 ano


Por Mariana Bertolucci Fotos arquivo pessoal

a sua criança complete o primeiro ano saudável, sorridente, sapeca e amada pelas pessoas. Para que tenha todas as condições de tornar-se uma criança, um adolescente e um adulto esperto, inteligente, generoso, ami-

go e determinado. Mas esse broto genuíno e tão especial que cada um planta à sua maneira e do seu jeito, pode vir em muitas formas de desejos e projetos cultivados ao longo do tempo. Pode vir em forma de outro ser humano ou de um bichinho, de uma horta, uma casa nova, uma viagem diferente, um desafio profissional ou a presidência dos Estados Unidos. Algo que você sonhou um dia concretizar, cuidar e amar. Pode ser até um beijo, um reencontro, ou uma nova receita. Pode ser qualquer coisa que realmente a faça sentir orgulho do trajeto caminhado. Do plano concebido e transformado em realidade. Sem olhar para trás. Saudade é boa porque é recordação do que valeu pena. Sinta-a livremente, sem vergonha. Mas siga em frente, porque é nessa direção que há a possibilidade da surpresa. É lá na frente, talvez logo ali na esquina, que está o que ainda a

vida lhe reserva. Em forma do que você quiser, planejar, trabalhar, concentrar seu olhar, seu esforço e seu coração para realizar. Lembrando já com a melhor das saudades da estreia da Bá, essa semente que nasceu em mim e mal completou um ano, só tenho a escrever aqui, que, sem você aí, não existiria a Bá, nossa criança sonhadora, cheia de vida, apaixonada por gente legal, pequenina por fora e metidinha por dentro, mal tirou as fraldas, aprendeu a engatinhar e com um ano de vida já se alça para andar sozinha, perambulante por aí, de mão em mão, bem dada, graciosa, eclética, colorida, tagarela, serelepe, e cheia de informação . Prontinha para em 2014 dar mais e mais abraços gostosos e cheios de carinho em gente bacana. Que ela cresça ainda mais forte, generosa, sem preconceito, independente e cercada de amigos especiais como você...

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Bá, quelugar cartola_normal

TODA LINDA ELA Por Simone M. Pontes

A comida do restaurante La Linda, em Punta del Leste, tem chamado a atenção. Descobrimos que há uma brasileira por trás de todo esse sucesso. 54 |

A primeira impressão marcante de Isabella Aquilina é sua simpatia. “Ela sorri com os olhos”, anuncia uma de suas funcionárias. Brasileira, nascida em São Paulo, onde morou até os oito anos, Isabella é filha de libaneses. Depois da capital paulista, foi viver na capital do mundo, Nova York, onde ficou por cinco anos. Hoje


ela reside em Londres, mas divide seu tempo com Punta del leste. Ela conta que, enquanto ainda morava no Brasil, sua família descobriu o balneário uruguaio. Compraram uma casa e desde então as festas de fim de ano são todas comemoradas por lá. Aos 19 anos e influenciada pela avó e pela mãe – que, segundo ela, cozinham como ninguém –, Aquilina resolveu abrir seu próprio negócio. Começou com uma pequena “paneria”, que ela batizou de La Linda. “Eu nunca tinha pensado em ter nada relacionado a cozinha, meu sonho era ser tenista profissional, mas uma lesão mudou tudo.” Da padaria para o restaurante foi um pulo. Hoje com 21 anos, ela comanda uma das melhores cozinhas de Punta del Leste, oferecendo ambiente simples, mas pratos de sabor sofisticado. “Eu queria trazer a comida tradicional do Uruguai de uma forma inovadora para as mesas. Não queria nada muito moderno, nada de fusion food. Essa é a essência do La Linda.” A padaria continua funcionando, e se você chegar tarde, não encontrará nem um pãozinho sequer na prateleira. Um sucesso absoluto.

Durante o dia funciona a padaria, que tem desde de geleias feitas por lá mesmo, até doces maravilhosos, sem falar nos pães, é claro. Assim que a noite chega, são abertas as portas do restaurante e novamente delicias são servidas.

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deolho foto Divulgação

MarceloBragagnolo publicitário e agente

BELEZA SUBMERSA Das aulas de violino na infância ao estudo de fotografia e faculdades de História, Jornalismo e Biologia, Raquel Rossa sempre sentiu-se movida pela vontade de aprender. A criança atraída pelo universo da imagem, aos 16 anos, descobriu-se modelo, revelada num concurso de uma grande agência. O estilo e visual punk/clássico lhe rendeu a atenção de clientes tanto de vanguarda quanto tradicionais. Fotografou para publicações icônicas da moda. Ao lado do fotógrafo Jacques Dequeker, com quem foi casada, viu seu fascínio pela arte e fotografia se aguçar. Em paralelo à vida de modelo, auxiliava o marido na criação e pós-produção de editoriais e campanhas – fase em que viveu também o primeiro contato com a fotografia subaquática. Desde sempre uma apaixonada pela água e em busca de uma sequência para a carreira de modelo, enxergou aí a oportunidade de ir mais fundo. Quando, num mergulho nas Bahamas, entre tubarões caribenhos de recife e o turbilhão de energia

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de criaturas tão sensíveis, teve certeza do caminho a seguir. Escolheu trabalhar pela preservação e desmistificação de tais animais. Foi cursar Biologia e estudá-los, tanto como autodidata como em parceria com especialistas e organizações ligadas a preservação. Munida de uma câmera fotográfica, passou a viajar pelos quatro cantos do planeta, registrando diferentes espécies. A sintonia total e a percepção vivenciada lhe renderam uma passagem sem volta – Raquel se reconheceu nos tubarões. Ela quer divulgar de maneira clara e simples a importân-

cia biológica e ecológica desses animais, que existem na natureza praticamente da mesma maneira há 400 milhões. Também denuncia o mercado milionário do tráfico de barbatanas e trabalha junto a ONGs e profissionais do mergulho pela conservação da biologia e conquista da moratória da pesca dos tubarões no Brasil, para que as populações de diversas espécies voltem às águas. Conservacionista dos oceanos e dos tubarões e consciente do diferencial que sua imagem pessoal representa na divulgação do que faz, foi nomeada Embaixadora do

Mar pelo Instituto Sea Shepherd Brasil e Embaixadora dos Tubarões pelo Divers for Sharks. Busca captar a atenção de empresas visionárias e dispostas a viabilizar um trabalho pioneiro que envolva esse animal e que enxerguem o benefício de uma associação de imagem com a hidrodinâmica e o design perfeitos dos tubarões e o zelo de uma modelo-fotógrafa-bióloga-defensora dos mares. Quixotesca e otimista, Raquel busca compartilhar o que experimenta debaixo d’água por meio da única perspectiva pela qual vê a vida: a da beleza e do amor.

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InBá

RÓTULOS DE SONHOS Fotos Vinicius Dalla Rosa

Amigos de infância e casados há quase meio século, Beatriz e Ayrton Giovannini sonharam a Vinícola Don Giovanni, em Pinto Bandeira Beatriz Dreher e Ayrton Giovannini são amigos desde os quatro anos de idade, quando as famílias se conheceram. Casados há 47, tiveram Paola, André e Fábia e muitos sonhos: um deles

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chama-se Don Giovanni. Um lugar onde o olhar atordoado e atento do lagarto chama atenção no verde-limão da natureza serrana nos meses de calor pode ser tão plástico como a luz caindo colorida ao fim de mais um dia, tornando ainda mais bela uma rosa cor-de-rosa daquelas terras. Retratos e objetos antigos, garrafas, velas e bilhetes sintonizam-


-se nas mesmas paredes de pedra que em 1930 abrigavam um armazém de beira de estrada no porão. Nos dias de hoje, com 23 funcionários sob a supervisão do farmacêutico e genro Daniel Panizzi e do enólogo Luciano Vian, é onde funciona o gostoso e peculiar restaurante da Pousada e Vinícola Don Giovanni, em Pinto Bandeira. Anos antes, na década de 70, eram fabricados ali os licores, conhaques e vinhos Dreher, da família de Beatriz. Quem não lembra o “Deu duro? Tome um Dreher”, famosa peça publicitária da marca de bebida que foi comprada pela empresa fabricante do Cinzano. Em 1976, um ano antes de o menino de Beatriz e Ayrton nascer, a área foi recomprada, e foi em alegres finais de semana que a família Dreher Giovannini se estabeleceu por ali com o objetivo único de ser feliz. Ele era engenheiro agrônomo da Embrapa, apaixonada por arte; ela comandava uma galeria por 15 anos em Bento Gonçal-

A casa onde funcionava um armazém hoje abriga a Don Giovanni

ves, cidade onde moram: “Vínhamos toda sexta para descansar na natureza. Cada filho trazia um amigo. Esses dias, Ayrton foi pagar uma consulta, e a moça, amiga de uma de nossas filhas, disse para ele: ‘Pai de final de semana não paga’. Ele ficou tão feliz. Isso não tem preço para a gente”. É com um jeito bem parecido com o que recebiam os amigos dos filhos que Ayrton e Beatriz, musa inspiradora da premiada espumante Dona Bita, juntaram afetos, experiências e lembranças e

começaram a receber hóspedes. Se a paixão pelos vinhos e as artes estava no DNA de Beatriz, o coração de Ayrton compartilhava admiração semelhante: “Começamos a fazer muito turismo em vinícolas. De tanto espiar e nos deliciarmos com tantas formas diferentes de receber, criamos a nossa própria”. O jeito de receber da Don Giovanni é parecido com o jeito de ser do casal que a idealizou. Agradável, especial, exclusivo, simples, natural e carinhoso. Pintada pelo artista gaúcho

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Victor Hugo Porto, a porta antiga original da galeria está lá, e em cada parede das sete suítes e dos corredores da casa, disputam espaço e olhares gravuras e telas de Gheno, Soriano, 60 |

Volpi, Iberê Camargo, Alice Bruggeman, entre outros artistas: “Sou muito louca por arte e arqueologia. Me encanta pensar que começou antes do mundo”. Ela recorda quase emocionada o primeiro vinho feito pelo marido. Ele embalava faceiro na sala da casa em Bento. Por pura paixão, para presentear: “Começamos a brincar de fazer vinhos, a cuidar as parreiras. Onde tem vinho, tem comida; onde tem comida, tem gente. Isso aqui é nosso grande prazer”. Dona Bita não é só um célebre e conceituado rótulo da produção anual de 120 mil garrafas. No último Réveillon, não é que a danada foi preparar a ceia? “Ai, era uma gente tão legal que fiquei com vontade de cozinhar para eles. Não resisti. Buscamos o típico, mas fugimos do que já existe pela Serra. Não servimos sagu, galeto tradicional. É um rústico também serrano, mas diferente.” Esse rústico também serrano arranca elogios de paladares exigentes e surpreende em

forma de risotos de vinho tinto e de alcachofras (a plantação local é de 12 mil pés), sorvetes caseiros com caldas divinas de espumante e de vinho. O segredo de Dona Bita é quase tão simples quanto a própria: “O ar é puro, tem passarinho, natureza, mas o melhor daqui é quem vem. É uma relação de convivência e confiança. No frigobar, tudo à disposição, cada um anota o que pegou. Trocamos, nos apegamos e aprendemos. Minha paixão maior são as pessoas. Fizemos amizades eternas”. Ao lado do filho, André, Ayrton comanda 600 funcionários na Fundição Farina e segue capitaneando à distância a colheita. Já a matriarca é mais essencial para a cozinha, onde bola os pratos e sente orgulho por dominar as receitas no olho. É na força e no poder do olhar também que explica um pouco de como se relaciona com seu primeiro e melhor amigo: “Já estamos naquele ponto que não precisamos mais falar”. MB


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OutBá

ABERTOS AO MUNDO Recém-formada em Odontologia, Suzana conheceu Roberto, com quem vive há 31 anos na Praia do Rosa e divide o amor pelo único filho, Gustavo, e a rotina na Solar do Mirador 62 | 62 |

Suzana Stocker conheceu Roberto Deutrich na Garopaba encantada da década de 70, quando poucos grupos de jovens gaúchos desbravavam fascinados o paraíso catarinense, e nunca mais pararam de voltar. Recém-formada dentista, ela tinha viagem marcada para o Projeto Rondon, na Amazônia. Depois de um mês

andando de barco no maior rio do mundo, voltou a Porto Alegre e terminou com o seu então namorado. Uma semana depois, tocou o telefone e era Roberto, recorda Suzi: “Marcamos de sair e não nos largamos até hoje”. Em 1982, acompanhados de outras famílias gaúchas, Suzana e Roberto decidiram construir um lugar para viver


no Rosa. Nos primeiros cinco anos, ela trabalhou como dentista, e Roberto, como representante comercial em Santa Catarina: “Tínhamos aquela mentalidade de que o Rosa era nosso, não queríamos dividir com mais ninguém. Éramos uma comunidade gaúcha que queria

cuidar desse lugar”. Esse lugar é onde hoje fica uma das praias mais bonitas e procuradas do Brasil, e essa história já tem 32 anos. Como as outras famílias gaúchas que os acompanharam na empreitada, Suzana e Roberto criaram por lá o filho, Gustavo, de 29 anos, formado em

Administração, que mora em Floripa. Lá também nasceu a Exclusive Resort Solar do Mirador, há dez anos de portas abertas no coração da Praia do Rosa. Lembrando esse início, Suzana sorri larga e saudosamente e espicha o olhar para a imensidão azul que nos cerca na

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OutBá

sala de estar da pousada: “Com minha escolha, ganhei pura vida. Viver na natureza, saber que hoje venta, amanhã chove, é importante, não pela informação em si, mas pelo que ela significa diante da existência, essa sabedoria natural que um homem não consegue passar para o outro, que faz nossos filhos se cuidarem e viverem como irmãos desde pequenos soltos aqui, cidadãos do mundo, idênticos aos filhos dos pescadores que passaram a infância com eles”. Da própria infância em Santo Ângelo, ela lembra a paixão pela leitura. “Ler e viajar nos transporta para muitos universos”, explica Suzana, que desde que o filho cresceu, tem investido, sempre ao lado do marido, em longas temporadas em lugares diferentes do mundo: “Quanto mais se conhece o mundo, mais se percebe que ele é pequeno. Decidimos fazer essas vivências anuais e mais

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longas para sentir mesmo a diversidade e conhecer culturas de outros países. Já moramos em Paris, Londres, na Califórnia e na Itália desde 2010, e conhecemos 60 países. Austrália, Nova Zelândia e Bali, na Indonésia, serão nossos próximos lares”. Da mesma forma como escolhem lugares com perfil adequado ao deles, os hóspedes das 12 cabanas da Solar do Mirador, que são recebidos por 15 funcionários,

têm a ver com a atmosfera natural, despojada e confortável que o casal montou no lugar. “É uma grande família, e hoje, com as estradas, estamos a 30 minutos de teatro, cinema e shopping. Com a internet, há mais reforço ainda no vínculo com amigos e a família. Gostamos de estar com as pessoas do mundo inteiro aqui também, no nosso canto. São laços para a vida toda. Basta estar aberto.” MB



Benildo (ao centro), Franco (esquerda) e Pablo Perini (direita) em meio aos vinhedos sustentados por estruturas em forma de “Y”, um diferencial da vinícola do Vale Trentino

Báco

OrestesdeAndradeJr. jornalista e Sommelier

A VIDA COMEÇA AOS 40 Fotos Divulgação

Tradicional vinícola do Vale Trentino, em Farroupilha, na Serra Gaúcha, a Perini inova com o lançamento pioneiro de uma linha de cervejas artesanais 66 || 66

A Vinícola Perini consagra aquela campanha posta no ar há alguns anos com o mantra “a vida começa aos 40”. A empresa alcançou a maturidade ao romper a barreira das quatro décadas de vida. Tudo começou em 1876, com a chegada do imigrante Giuseppe Perini ao interior de Farroupilha,

em um local hoje conhecido como Vale Trentino. Ele trouxe consigo a arte de transformar uva em vinho e a prática de produzir cerveja como complemento alimentar. A produção vinícola começou, efetivamente, em 1928, pelas mãos de João Perini. Seu filho único, Be-


nildo Perini, neto de Giuseppe e atual diretor da vinícola, iniciou a transformação do pequeno empreendimento familiar em empresa. A partir daí, a Vinícola Perini só cresceu. Há cerca de oito anos, Benildo Perini teve a ousadia e a humildade de procurar a consultoria do consagrado enólogo chileno Mario Geisse. “Mudou a nossa vida”, confessa. “O Mario nos trouxe informações e cuidados com os detalhes que fazem toda a diferença. E isso transformou os produtos derivados de uva que elaboramos”, afirma. A consagração deste trabalho chegou em 2013 – o grande ano da Perini até aqui. Na 21ª Avaliação Nacional de Vinhos, o Oscar da vitivinicultura brasileira, a Perini foi a grande campeã da disputa de taças com 16 amostras selecionadas entre as 30% mais representativas do Brasil na safra 2013. A conquista não surgiu do acaso. Em 2012, a Perini já havia beliscado o topo do ranking, ficando em 2º lugar. Foi também no ano passado que o rótulo ícone da empresa – o vinho tinto Perini Qu4tro 2009 – conquistou o Top Ten da Expovinis 2013, a maior feira de vinhos da América Latina. Do vinho à cerveja Agora, a ousadia e a inovação que marcam a Vinícola Perini suscita mais uma novidade: o lançamento de uma linha de cervejas especiais. A Matarelo – nome inspirado na cidade da região do Trento de onde vieram os antepassados da família Perini da Itália – acaba de chegar ao mercado. É a primeira vez que uma vinícola ingressa no emergente mercado de cervejas Premium, especiais e artesanais.

Linha de cervejas Matarelo tem quatro estilos – American Lager, Weiss, Red Vienna Lager e Munich Dunkel

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FláviaMello

O CHARME DA SIMPLICIDADE Chef e DJ

Fotos Vinicius Dalla Rosa

A região de Pinto Bandeira, na serra gaúcha, guarda surpresas. Beleza natural, povo acolhedor, inúmeras vinícolas que produzem alguns dos melhores espumantes do Brasil, como a Don Giovanni e a Cave Geisse, gastronomia sofisticada, como no restaurante Valle Rustico, onde o chef Rodrigo Bellora faz releitura de pratos da culinária italiana. Tudo o que esperamos da Serra. Em uma das minhas idas, fui surpreendida e fiquei encantada pelos ladrilhos hidráulicos feitos pelo Sr. Sergio Viecili. O pai dele era leiteiro e construiu, na década de 50, a casa onde ele vive até hoje com a sua família, nos Caminho de Pedra. O curioso é que o pai

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dele fez o piso da casa de ladrilhos na época comprados em uma sobra na antiga casa Manfrói, porque estavam baratos e o dinheiro na época era curto. Pequeno, ele mal sabia que naqueles ladrilhos estaria o seu ofício quando grande. Sérgio aprendeu a arte com o francês Louis Guichard (in memorian), ex-proprietário do Museu do Azulejo, em Porto Alegre. Seu “atelier” fica em uma casa de madeira antiga, aquelas em tom de cinza devido ao tempo, com uma pequena parreira no fundo, uma antiga chaleira que serve como vaso para uma planta, além de um tanque todo revestido de ladrilhos, o charme da simplicidade.

Lá ele mostrou e explicou o processo: os ladrilhos hidráulicos são peças de cimento, feitas em uma matriz de ferro, coloridos por pó xadrez, e quem lhe dá algumas dicas de cor é a esposa, Vilma Pegoraro Viecili. Depois de prontos, ficam 12 horas para secagem no verão, e no inverno em torno de 24 horas, devido à umidade e ao frio; após isso, ficam mais 12 horas na água e depois são levados ao sótão, onde ficam secando por mais cinco dias. No atelier, matrizes, ladrilhos prontos, algumas fotos de família, ferramentas, e, quando chegamos ao sótão, o que vimos foram lindos “tapetes” cheios de cor.


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Décor LígiaNery Bá

CONTO DE FALHAS psicóloga e coach

Estava lendo agora os comentários de pessoas impactadas por um post no Facebook... “Minha vida é um conto de falhas!!!” Trocadilho bárbaro, dizem na sua maioria. Esse momento me remeteu a uma lembrança e me levou a uma das maiores “viagens” para dentro dessa discussão “fadas ou falhas?”. Numa ida a Cambará, Itaimbezinho, contemplando aquele presente da natureza, me vi novamente diante dessa mesma questão quando em uma daquelas fendas do cânion Fortaleza. Nunca me senti tão perto do céu, tão elevada aos meus sonhos. E também nunca enxerguei tão próximo o chão, os meus porões. Como a natureza reproduz no homem e em diversas formas esses extremos que parecem tão opostos! Nunca percebi ao mesmo tempo tanta possibilidade de estar na luz ou na

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Ilustração Graziela Ramos

escuridão, nas nuvens ou na gruta mais escura. E aí está a grande magia para ser percebida e desvelada. Naquele lugar temos a escolha de trocarmos o “ou” pelo “e”. Num lugar ou no outro, podemos estar nos dois com a beleza da vida, com diferentes ângulos, cheios de aprendizados. Somos capazes de integralizar como naquela paisagem paradisíaca o céu e a terra, o claro e o escuro. São belezas distintas, viagens e aventuras com suas singularidades, mas que fazem parte do mesmo ecossistema, tal como nossas fadas e nossas falhas. Essa alquimia é geradora da força que nos move, que nos torna interessantes e singulares. Fadas nos ensinam a sonhar a desejar ir além. A descobrir a cor, magia, os tons. Na maturidade, só fadas não nos conten-

tam. Queremos, ansiamos por realidade, e assim dificuldades chegam muitas vezes até travestidas de impossível, de dor, mas é essa falha a energia propulsora que determina nosso comportamento que nos leva à frente. Assim somos guerreiros que descobrem sua força e seu tamanho. Guerreiros alados, encantados. Impressionante pensar na magia e na diferença que faz pensarmos em tentar levar a vida mais com “e”, menos com “ou”. Isso nos torna possíveis e paradisíacos. Tente!


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VeronicaBender

dermatologista

MÁXIMA PROTEÇÃO Acabou o verão, voltam as atividades de trabalho, escola dos filhos, academia. É também a hora de avaliarmos o impacto do sol, praia e areia causados à nossa pele. Observamos aumento das manchas preexistentes e também o surgimento de

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algumas novas no rosto e no nosso corpo. Além disso, a pele, após o sol, fica mais oleosa e predisposta a imperfeições como cravos e espinhas. Em recente evento dermatológico ocorrido em fevereiro na cidade de São Paulo, os bons resultados dos pe-

elings nos tratamentos de manchas e envelhecimento facial e corporal foram um dos principais destaques. Quando falamos em peelings, surge a ideia de tratamentos agressivos, porém dispomos hoje de uma grande variedade de opções, como peelings


suaves, para uma boa esfoliação e renovação da superfície da pele, sem agredir demais e não necessitando afastar-se dos compromissos, sejam eles sociais, sejam de trabalho. Podemos obter ótimos resultados com microdermoabrasão, um tipo de peeling superficial no qual os microcristais produzem uma esfoliação da superfície da pele, promovendo o

clareamento das manchas, suavizando as linhas finas, e fazendo com que a pele adquira um aspecto mais viçoso e belo. Destaque para a importância do cuidado com a pele dos braços e mãos, que sofrem com a agressão dos raios ultravioletas e apresentam, assim como o rosto, manchas inestéticas. Nesse caso existe a opção da realização de peelings

corporais, com o mesmo objetivo, clareamento de manchas e revitalização da pele. É importante salientar que sempre é necessário o uso do protetor solar, não apenas no rosto, mas também nas áreas expostas à luz solar durante o ano inteiro, para que possamos manter a pele protegida de manchas e principalmente de doenças da pele.

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LíviaChavesBarcellos

A ARTE DE LER Este ano, que já está com três meses de idade, promete ser difícil. Talvez seja bom para os amantes de futebol, para alguns políticos, mas para nós, simples mortais, vai ser dureza. Temos muito pela frente. Copa do Mundo, eleições e muitas férias. Na TV, o horário político afugenta muita gente. Quem não gosta de futebol e estiver no país dele durante o campeonato mundial terá que ser criativo. Colégios e comércio fechados nas horas dos jogos, e muito pouco para fazer. Meu conselho é abastecer a biblioteca. Um bom livro é a melhor companhia. Fiz uma lista bem caprichada para vocês. A polêmica sobre biografias não autorizadas, que teve Paula Lavigne e Caetano Veloso como líderes, talvez se acalme com o lançamento de muitas

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que vêm por aí. Roberto Carlos, depois de impedir a circulação de duas sobre sua vida, autorizou o lançamento da Collector’s Book Roberto Carlos, que já tem data marcada para abril. A tiragem limitada e numerada é de apenas 3.000 exemplares. Conclusão: biografias têm que passar pelo crivo do biografado e só dizer aquilo que ele quer. Portanto, bom mesmo são as lançadas post mortem. É o caso de Salinger, morto em 2010, aos 91 anos. No ano seguinte foi lançada Salinger – Uma Vida, de autoria de Kenneth Slawenski, e, agora, a Editora Intrínseca acaba de publicar a versão de Shane Salerno, que brevemente estará também nos cinemas como documentário. As duas são boas, mas a de Salerno é bem mais longa, prefiro a

de Slawenski, que conta tudo de uma forma mais resumida e mais leve. Mas aconselho que leiam, pelo menos, o Apanhador no Campo de Centeio antes de ler o que contam sobre o autor. O livro é um


clássico da literatura norte-americana e deve ser lido e relido muitas vezes. Interessante saber que foi sob a influência desse livro que John Hinckley tentou assassinar o presidente Reagan, em 1981. E Mark

David Chapman, ao matar John Lennon em dezembro de 1980, carregava um exemplar dentro do casaco. Ainda de Salinger, recomendo Nove Estórias (1953) e Franny and Zooey (1955).

Não deixem de ler Trem Noturno para Lisboa e A Partitura do Adeus, ambos de Pascal Mercier. O primeiro já virou filme, com Jeremy Irons no papel principal. Para quem gosta de viajar (quem não gosta?), Paris Sobre Trilhos, de Ina Caro, é leitura obrigatória. Ela é historiadora e resolveu passar grandes temporadas em Paris, fazendo roteiros superprogramados, de trem ou de metrô. Robert Caro, também escritor, foi o companheiro ideal, que acompanhou o sonho de sua mulher, seguindo os trilhos traçados por ela. O livro resulta em uma deliciosa viagem histórica pela França. De Miguel Souza Tavares, autor do já famoso Equador, temos agora Madrugada Suja, uma trama passada em Évora, Portugal, que começa com a Revolução dos Cravos, de 1964, e vem até os nossos dias. E, last but not least, Sunset Park, de Paul Auster, que é absolutamente imperdível.

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MarcoAntônioCampos

advogado e cinéfilo

ENCANTO DE CATE Catherine Elise Blanchett, ou Cate Blanchett, hoje já é uma unanimidade entre cineastas, críticos e público. Nascida em 14 de maio de 1969 na Austrália, filha de um pai norte-americano e de uma mãe australiana, essa extraordinária atriz já tem em seu currículo uma lista de prêmios de teatro e cinema igualada por poucos. Casada com o escritor e diretor australiano Andrew Uptown desde 1997, tem três filhos. Hoje

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eles dirigem em conjunto o prestigiado Sydney Theatre Company. Cate formou-se em teatro pelo Instituto Nacional Australiano de Arte Dramática em 1992, ganhando seus dois primeiros prêmios como atriz revelação em 1993, pelas peças Top Girls e Kafka Dances. Seu primeiro filme no cinema foi Um Canto de Esperança, em 1997, um drama sobre mulheres em um campo de concentração

japonês, com Glenn Close e Frances McDormand, dirigido pelo também australiano Bruce Beresford. Em 1998, ao viver Elizabeth no filme dirigido por Shekhar Kapur, Cate ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática e uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz (perdeu para Gwyneth Paltrow, em Shakespeare Apaixonado). Daí para a frente, sua carreira não parou de crescer, em uma sucessão de grandes papéis em filmes de maior


ou menor apelo popular, mas em que o trabalho de Cate sempre era reconhecido como diferenciado: Vida Bandida (2001), Chegadas e Partidas (2001) e Charlotte Gray(2001). Cate foi então chamada por Pete Jackson para fazer a rainha Elf Galadriel na trilogia O Senhor dos Aneis, na qual esteve simplesmente luminosa. Em 2004, outro grande êxito, ao viver Katherine Hepburn em O Aviador, de Martin Scorsese, ganhando

o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Em 2006, nova indicação como a professora que teve um affair com um menor em Notas de um Escândalo, trabalho seguido por outra nominação para Melhor Atriz em Elizabeth: The Golden Age. Para variar, mais uma indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante em I’m Not There, em que viveu magnificamente Bob Dylan. Olhando assim, em retrospectiva, a carreira de Cate Blanchett, a gente perce-

be que essa australiana de apenas 45 anos colecionou um cartel de papéis fora de série. E olha que ainda tem Veronica Guerin, O Custo e a Coragem (extraordinário filme sobre uma jornalista escocesa assassinada), Babel, Benjamin Button, Robin Hood (Ridley Scott), entre muitos outros. E, agora, a inesquecível, Blue Jasmine, de Woody Allen que lhe garantiu a primeira estatueta de melhor atriz. Bendita Cate e sua arte de nos encantar.

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PatiLeivas

advogada e promoter

EU SOU LIGHT

Bom, que São Paulo é a uma megalópole, isso todos nós sabemos, mas que tem mais de 15 mil restaurantes para atender os quase 11,8 milhões de habitantes nos 1.530 quilômetros quadrados da região metropolitana, isso até agora você não sabia (fonte: www.visitesaopaulo.com.br). Tendo em vista esses números, imaginem a facilidade que tenho para escolher lugares bacanas pra colocar aqui na coluna quando estou lá…. ou não! Por isso hoje resolvi mostrar uma opção pra vocês com uma pegada mais “almoço charmoso”. O primeiro engana no nome: pra quem tá sempre de dieta como eu, o Insalata dá aquela sensação de “noooossa, como eu sou light”. E sim, você pode ser light, como eu mostro com a minha bem comportada salada da foto, a “Caprina”, que eu amo de paixão. Porém, é ´ absolutamente proibido ir a esse restaurante se não pedir o “Mix de bruschettas” 78 |

para aperitivo: Brie com mel, Berinjela condimentada e Napolitana (queijo de búfala, tomate e manjericão), em um pão ciabata incrível. Aí o light foi pras cucuias… e o barco segue. O cardápio oferece muitas opções de massas, risotos, sandubas especiais, quiches (que eu amo…. Gordinhaaa!) e grelhados, então podes perfeitamente ser leve, saudável e ficar com a consciência tranquila até que... até que chegas nas sobremesas! Parece inofensivo: sorvetes, salada de frutas, tudo bem tradicional, aí aparece “Petit gateau de doce de leite”. Aí pedimos. Aí, ahhhhhh. Aí estamos ferrados! Simplesmente tão viciante quanto pipoca, o prato vem lindo, com três bolinhas de sorvete de baunilha, bem levinho, um calda de goiabada espessa e o bolinho clarinho, mas com uma casquinha que, quando tu colocas a colher, derrama uma “onda” de um doce de leite

grosso, quentinho, escuro e MA-RA-VI-LHO-SO! Para de babar em cima da Bá! O restaurante tem ambiente superdescolado, com um bar bem no meio para espera, preço razoável, e está sempre cheio. Fica na Alameda Campinas, 1.478, e tem a vantagem paulistana de abrir ao meio-dia e só fechar à meia-noite. Fico hoje por aqui, já imaginando qual a próxima parada e escapada da minha dieta que vou ter que fazer em função de vocês (como eu sofro!). Já sabem: @patileivas no Insta pra ver mais, e patileivas@terra.com.br pra sugerir ou me xingar por ter viciado.


AndréGhem

tenista profissional

O MELHOR DA SORTE No primeiro momento, sou obrigado a iniciar a conversa. Passo-lhe a direção, algumas referências que trago na manga para os desentendidos. Procuro falar apenas o necessário, escolho a cordialidade como forma de tratamento. Alguns apenas dirigem, outros contam histórias e outros fazem perguntas. O acento muitas vezes me entrega. O que gera mais perguntas e mais lero-lero. Conversas sobre o tempo são mais divertidas que explicações de onde vem o meu sotaque. Por essas e outras, prefiro os segundos. Bons contadores de histórias podem errar a rota (sem querer ou mesmo de propósito), que, muitas vezes, não levamos em conta apenas por estarmos entretidos no trajeto por uma boa conversa fiada ou uma frase de para-choque de caminhão como slogan de vida. Não me lembro da integridade do sujeito, se era um lambisgoia ou do bem. Sei que, no fim de uma corrida, me deixou uma pérola, que me fez refletir e, claro, deixar-lhe uma gorjeta a mais. Antes dessa nunca havia pensando em dividir a sorte aos pedaços. A via como um todo. Ele, não... Queria me dar apenas o filé mignon. À Bá, por este primeiro ano de vida, e pelos próximos, “Deseo lo mejor de la suerte”.

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SilvanaPortoCorrêa

AGITADA ROTINA Fotos Dulce Helfer

Um dos nomes mais procurados no universo das festas e casamentos sofisticados, Bettina Becker é dona de um estilo clássico e marcante e imprime bom gosto em tudo que faz 80 | 80 |

Havia uma brincadeira entre os Teixeira nos áureos anos dos saudosos veraneios da praia de Torres. A churrasqueira pilotada pelo alegre Pedro Teixeira era acesa na sexta-feira e apagada no domingo. E como bem diz uma grande amiga nossa em comum, sangue não é água. Minha amiga Bettina Teixeira Becker gosta de casa cheia.

Quando não está à frente da NB Eventos na recepção dos incontáveis e exclusivos encontros sociais da cidade, não é raro ela armar um churrasco ou um jantarzinho cheio de charme no apartamento onde mora com o marido, Luiz Felipe Becker, e os filhos, Pedro e Rodolfo. Formada advogada, profissão que exerceu até engravidar,


Bettina foi aconselhada a diminuir o ritmo de trabalho na mesma época em que a mãe, Lelete, encerrava uma empresa de comidas congeladas. Fábrica vendida, e os clientes e amigos seguiam sentindo falta e encomendando os quitutes maravilhosos da querida e talentosa mãe de Aline, Bettina, Nora e Carolina: “Quando vimos, ela estava recebendo encomendas novamente. Eu, grávida dos meninos, tinha que dar uma parada e fiquei ajudando na organização e na administração. A Nora, no financeiro, e o buffet era com a mãe e a Aline”. Por algum tempo, foi nesse cúmplice e gostoso clima familiar feminino que nascia a mais bem-sucedida empresa especializada em eventos sociais do estado. Com 22 anos de existência, cerca de 1.500 festas, casamentos, coquetéis e jantares na bagagem. O primeiro grande trabalho foi uma prova de fogo e tanto: organizar uma das festas

de arromba do empresário Alexandre Grendene, na Punta del Este do início dos anos 90. “Era o que precisávamos para tomar coragem e assumir eventos maiores.” Na intensa e agitada rotina, ela não abre mão de sempre tentar almoçar com a família em casa. Quem priva da sua intimidade sabe que é com calma, seriedade e alegria que a determinada e perfeccionista Bettina se tornou uma profissional respeitada e muito admirada pelos colegas e pelo mercado. “Trabalho muito. É comum estar no telefone com clientes às 22h, mas fazer parte da felicidade de alguém é muito prazeroso. Escolhi certo, porque adoro o que faço.” O contrário também acontece. Na maioria das vezes, além de organizar a festa, é também convidadíssima. Confessa que pode até se divertir e não só trabalhar, mas sempre espiando se o garçom está passando, se estão tirando as mesas, se o buffet está funcionando: “Tem um segredo que é essencial para a festa dar certo: posso fazer tudo com os melhores fornecedores e da melhor forma, mas se o astral do anfitrião não estiver legal, não adianta”.

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maquiagem beleza

DAS PASSARELAS PARA A REALIDADE DaniloAranha maquiador

Fotos Divulgação

Há pouco tempo, aconteceram as semanas de moda do mundo inteiro, e sempre, entre os destaques da temporada, está a Semana de Moda de Paris, que neste ano teve o desfile da Chanel como um dos grandes destaques. Nele pudemos observar que o delineador, clássico e atemporal, ganhou novas formas e um brilho prata estilizado em baixo dos olhos.

Como usar para traduzir a ideia dessa maquiagem no dia a dia, é só usar um delineador em gel preto, apenas com o rabinho puxado para fora, e utilizar uma sombra prata como ponto de luz na parte interna dos olhos. Fica lindo!

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Falando em passarela, no Brasil acabamos de viver um dos desfiles mais conhecidos do mundo: o da Marquês de Sapucaí, no Carnaval do Rio de Janeiro. Nesse grande evento, uma das maquiagens mais mencionadas foi a da coreógrafa Priscila Motta, da comissão de frente da escola de samba campeã, Unidos da Tijuca. Essa posso me gabar que fui eu que fiz: “Usei muito brilho no rosto inteiro”.

Como usar o iluminador será o grande queridinho do inverno, e deve ser aplicado nas têmporas, ponte do nariz e área interna dos olhos. Estilo de maquiagem predileto da cantora Beyoncé.

Maquiagem faz toda a diferença, mas deve ser usada com moderação; toda mulher precisa de pouco para valorizar sua beleza.

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Andréa Back

Publicitária e jornalista

AVANTPREMIÈRE

Celebridades, consumidores ansiosos, mídia e trend-setters buscam novidades nas Semanas de Moda mundo afora. Mas onde as equipes de criação das marcas mais disputadas do planeta buscam suas novidades? Afinal, eles também precisam de orientação para materializar sua criatividade. Uma das respostas é o Première Vision Paris, evento apresentado como uma “Plataforma global de inspiração para profissionais de moda”, que acontece em outras grandes capitais do mundo, como Nova York, Istambul e São Paulo – mas é em Paris que o bicho pega! Lá juntam-se a fome e a vontade de comer. Os melhores fabricantes de fios, tecidos, acessórios, estúdios de design e bureau de tendências se encontram com os principais estilistas, comprado-

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res, jornalistas, empresários e “decision makers” desse mercado. Então surge o que mundo vai vestir. Para o verão 2015, foram três dias (18 a 20 de fevereiro de 2014), 1.772 expositores de 31 países (das Ilhas Maurício à Letônia) e mais de 60 mil visitantes. Números, números... só para dizer que o negócio é grande, forte e influente. E o que se viu? À primeira vista, pode-se pensar que o mercado da moda vive um “transtorno bipolar”, pois conceitos visuais aparentemente opostos são os xodós do momento: o artesanal e o tecnológico. Da valorização do artesanal, vale destacar as propostas de Janaina Milheiro e Masao Koishihara. A primeira, uma franco-brasileira que trabalha principalmente com penas e plumas. O resultado são texturas de

uma delicadeza e originalidade que dá vontade de pendurar na parede! Mestre Koishihara é representante da tradição e da excelência. Quarta geração de uma família de tecelões japoneses, ele e sua equipe se envolvem em todo o processo produtivo, incluindo a plantação de glicínias que serão utilizadas em suas rocas de fiar. Handmade roots... http://www.janaina-milheiro.com/ http://www.yushisha. com/ Ao mesmo tempo, cartelas de cores explosivas, cortes com volumes inusitados que remetem à arquitetura modernista, além de tecidos que oferecem experiências “multissensoriais”, atraem olhares e mentes inspirados. É o outro lado da moeda, a moda fazendo uso da tec-


POR PARIS

nologia e do lifestyle das megalópoles. Olhando a vitrine da Kenzo em Paris, a gente percebe que algumas dessas apostas já estão disponíveis. Quando eu disse que o artesanato e tecnologia eram conceitos “aparentemente” opostos, é porque eles se complementam na resposta às demandas desse mercado. Além de dar vazão a toda a sua energia criativa, um estilista tem que pensar em sustentabilidade, originalidade, custo, estética, prazo, concorrência, etc. E tanto as técnicas tradicionais do “handmade” como as soluções de última geração apresentadas no Première Vision agradam porque resolvem muitos desses perrengues citados, deixando as cabeças geniais das maisons mais livres para voar. Afinal, fashion is business!

E como Paris é sempre uma boa ideia, seguem três sugestões para quem, como eu, gosta de programas simpáticos, adequados à realidade de quem ganha em reais e fora do circuito “turismo blockbuster”. Comer. Au Lis D’Argent Creperie. É uma creperia, eu sei. Mas tem a melhor torta de chocolate amargo da Via Láctea. A Chiara, que me atendeu, me contou que é tudo feito lá mesmo, inclusive o chocolate. Rue Saint Louis en L’isle, 90. Comprar. Question Mark Society. Se o seu negócio não é lojas de departamentos, vem pra cá. Essa é uma lojinha com uma pegada Londres anos 60, sabe? Rue de Turbigo, 18. Passear. Museu Marmottan. Pequeno, quase discreto, sem muvuca, mas com um acervo sensacional, centrado principalmente no Impressionismo. Localizado na região maravilhosa do 16º arrondissement, só a ida já vale o passeio. Até 6 de julho, apresenta uma exposição chamada Les Impressionnistes en Privé (Os Impressionistas em Privado), reunindo quadros e esculturas de coleções privadas. Difícil outra chance de ver. 2, Rue Louis Boilly.

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IsadoraBertolucci

www.paxluxluv.com.br publicitária e produtora de moda

Inspirations, de Dries Van Noten Não é uma exposição que conta os melhores momentos do estilista, e sim um mergulho em suas maiores inspirações. É uma rica coletânea de fotografias, vídeos, filmes, música e obras de arte públicas e privadas que interferiram no trabalho do designer ao longo de sua vida e carreira. A riqueza desse apanhado mapeia interconexão inerente a todo artista-estilista. Dries era parte do Antwerp Six, e sua teia cognitiva ilustra o crucial mergulho cultural da turma de belgas que esta coluna adora enaltecer. Segundo ele, “O ponto de partida de uma coleção pode ser muito literal ou abstrato. Uma pintura, uma determinada cor, um pensamento, um gesto, um cheiro, uma flor, realmente nada. O que

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me importa é a jornada desde o primeiro lampejo de inspiração para o destino final, as peças individuais, a coleção”. A exposição é o resultado de uma estreita colaboração do estilista com o museu, o que o levou a usar vários padrões têxteis do século XIX em suas duas últimas coleções. Até 31 de agosto em Paris, no Musée des Arts Decoratifs. + http://www.driesvannoten.be/news


TELETRANSPORTE, por favor. Até dia 30 de abril, é possível apreciar ao vivo uma expo-documentário de tirar o fôlego para qualquer pessoa que tenha um flerte com a moda-vestuário, ou de certa forma seja seduzida pelo fenômeno. TREND-OLOGY é o nome da mostra abrigada, obviamente, pelo FITMuseum, em Nova York. A origem das principais tendências de moda nos últimos 250 anos está ali registrada. Desde culotes e ombreiras vitorianas até a colabora-

ção fast-fashion Rodarte for Target, que democratizou o paetê para sempre, em 2009. Street Style urbano, arte, música, cinema e movimentos políticos sociais obviamente são os delineadores das “trends”. De que forma a cor amarela é sentida no Oriente e no Ocidente, ou como a onda dos vestidos cortados no viés foi embalada pelas divas de Hollywood. Estão lá também a relação entre a mobilidade de jet-setters nos anos 60 e a tradução da moda exótica em kaftans de Emilio Puc-

ci. O movimento logomania de correntes douradas dos anos 90, e a resposta minimalista de pretos, nudes e cinzas de Calvin Klein, Prada e Helmut Lang. Ufa. Resumindo: quem inspira expira. Assim Jean Paul Gaultier aponta acertadamente que “os designers são os catalisadores do seu tempo, a sua função é traduzir as mudanças, as mutações e a evolução da sociedade. Enquanto a cultura estiver evoluindo, “fashion trends” permanecerão bem vivas.+ /www. fitnyc.edu

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INTO THE GRACE ENTRE O NIRVANA E O DESPREZO

FOTOGRAFIA: GABRIEL NOT MODELO: CIBELE RAMM (FORD MODELS SUL) BELEZA: CATIA MARQUES MODA: ISADORA BERTOLUCCI AGRADECIMENTOS: AMAURI FAUSTO (FOTÓGRAFO E MONTADOR DE BICICLETAS) KIKO BRUSTOLIM (FORD MODELS SUL) MARIANA PESCE E ALINE MATIAS. 88 |


JEANS TOPSHOP, REGATA, CARDIGAN E ANCKLE BOOTS, LOJAS RENNER.



CAMISOLA DE RENDA IRLANDESA, ACERVO.


LENÇO TOPSHOP, BOLSA SACO, PP ACESSÓRIOS.

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MACACÃO ESPAÇO BOHO, ANÉIS E COLAR, DEBORA DVOSKIN JÓIAS.


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BLUSA RENNER, CARDIGAN TOPSHOP, LEGGING LIVE, BOLSAS PP ACESSÓRIOS E BOTAS, LOJAS RENNER


COLAR E BRINCOS DEBORA DVOSKIN Jテ的AS, VESTIDO FARM E REGATA ARAGANA


Todos os acess贸rios deste ensaio s茫o Debora Dvoskin J贸ias.

HOODIE E SHORT METALIZADO, LOJAS RENNER


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Virginia Woolf, “Ao Farol”, tradução de Luiza Lobo, Ediouro, p. 67. Por Jorge Bortoli e Aline Matias


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MOMENTOS DO VERÃO

VitorRaskin

O sorriso de Débora Ioschpe usando brinco de sua criação para o clic de DEUOCHIC em uma das tardes elegantes do verão Foto: Nattan Carvalho

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1 - A bela Paula Bing Muller recebeu os amigos com festão em Atlântida 9

2 - O milionário Eric Trump recebeu Marcos & Leihla Dvoskin no jantar no La Bourgogne 3 - No melhor astral da praia mansa, Felipe Pedri & Julia Fleck da Rosa

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4- Pedro Grendene Bartelle & Tânia Bulhões nos festejos de Punta del Este 5 - Sunset em Punta: Leila Nahas e Livia Bortoncello 6 - Pedro Chaves Barcellos, Heloisa Crocco e Thomaz Selliens na badalada noite do La Huella, por Vitor Raskin 7 - Maria da Graça Alves Coelho com o filho Rafael Coelho Leal em Punta del Este 8 - Viviana Hauck, Beatriz Zaluski e Maria Cecilia Sperb no elegante final de tarde na praia 9 - Andrea Werlang Sirotsky apareceu na Twin Set Casa de Praia em Atlântida 10 - As cunhadas Fernanda e Bárbara Pozzebon na movimentada temporada de verão

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social

Família Verissimo na avenida: LUCIA, MARIANA, LUIS FERNANDO, PEDRO e FERNANDA VERISSIMO antes do desfile que ganhou o título do Carnaval 2014

MISTURE BÁ Por Dulce Helfer Com Mariana Bertolucci

Os irmãos CARUSO, CHICO e PAULO dão os últimos retoques na fantasia da Imperadores do Samba

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Beleza e alto-astral no DNA: KENA MAROCCO com a sobrinha, GABRIELA MAROCCO RAPHAELLI, a irmã, ADRIANA MAROCCO, e a mãe, ROSANE GALVÃO MAROCCO


Linda GIOVANNA PERNA ARAÚJO

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social

As cores da bela CORA PINTO RIBEIRO

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Bate-papo: FLAVIA ALVAREZ e NORA TEIXEIRA

Querida e cheia de charme, a aniversariante ANDREA PERNA

HORIZONTE VENZON, feliz no seu complexo Nova York, na rua homônima de Porto Alegre

JULIANA LEAL MARKUNSONS

Encontro: JOSÉ SEVERO, o escritor e secretário da Cultura, LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL, TABAJARA RUAS e o ministro ALDO REBELO

LEONARDO CALDAS VARGAS


social

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CONTANZA ZARPELLON DE ARAÚJO


ERNESTO DENARDIN recebeu a Medalha MinistroPEDRO MIGUEL ROSSETTO Farroupilha na Assembleia com sua mulher, MALU

GLORIA CORBETTA no Nova York Pub RODRIGO PERNA ARAÚJO e GIOVANA PRADO

CLARICE DALL`IGNNA

ANDRÉ RODIGHERI

CARLA JONER


social

O chamego de RICARDO GHELMAN e MARIANA VERISSIMO

OLIVIO DUTRA, TARSO e SANDRA GENRO e MARIA DO ROSÁRIO no aniversário do governador

CLARICE CHARTZMANN e MARIA INES CAMPOS DÀLMEIDA

MÔNICA LEAL

CHRISTIANE RAMIREZ e o ator JAIRO KLEIN

OLGA VELHO 112 |

LUCIANA ALTMAYER, KITTY TOSTES e URSULA COSTA


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Foto: Nádia Raupp Meucci

artista plástico

“Humaitá é uma palavra de origem indígena, que tem muitos significados. Também é o nome de uma batalha entre brasileiros e paraguaios em 1868.” 114 |




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