Revista Bá 02

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por

Mariana bertolucci

HELENA RIZZO BINS e GIOVANA BAGGIO MAIO/JUNHO - 2013 - R$ 7,00

Nelson Eggers “Tudo que é de graça não tem valor”

Felippe Sica A cozinha prêt-à-porter que faz sucesso em Porto Alegre

Moda Sopros de inverno: quando bate o minuano

A chef mais celebrada do Brasil e a empresária, são referências com o Maní




Anúncio


o Bah


cartola_normal

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sumário

serena liberdade Sem a dor e a delícia das primeiras vezes, cá estamos para um segundo e divertido encontro. Se a número 1 nasceu mais assustada, percorremos caminhos não menos árduos, curiosos ou emocionados. Porém mais serenos e menos desconhecidos. Como a prática de ioga ashtanga que fiz com a equipe do restaurante Maní. Tão intensa e forte, como afetiva e cuidadosa. Tal qual a trajetória de Giovana Baggio e Helena Rizzo Bins. Duas outras histórias de vida contadas nesta Bá são entrelaçadas com fortes marcas gaúchas: a de Dona Eva Sopher com o Theatro São Pedro e a de Nelson Eggers com o guaraná Fruki. As Patrícias ainda mergulham no marcante estilo básico de Joana Bacaltchuk. Silvana Porto Corrêa revisita o universo charmoso de Fernanda Maisonnave, e Fabiana Fagundes nos conta por que Denise Herwig torna ainda mais mágicos momentos festivos. Marco Antônio Campos escreve sobre o melhor personagem que Robert Redford desempenhou na vida: ele mesmo. Lindamente a última página traduz um pouco daquilo em que acreditamos: atitude e liberdade. Vitória Chaves Barcellos foi convidada pelas colunistas de beleza e de moda, respectivamente Aline Matias e Isadora Bertolucci,15 para o editorial sobre maquiagem. Eis que Vitória foi além. Como de hábito em seus 20 e poucos anos. Enebriada por um xale que povoou sua memória infantil, a caminho do ensaio, embaralhavam-se em sua cabeça a tela Odalisca de Ingres e imagens de Mata Hari. Na bolsa, reinava o xale espanhol: “Não podia estar jogado num sofá como simples decoração, algo belo assim deve ser sentido”. Concordamos plenamente, Vitória. Mariana Bertolucci

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Desejos em prática

editorial

Sintonia fina, elegante e sincera


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Charme e estilo mundanos

Simplicidade marcante

Editora: Mariana Bertolucci

Básica de muito estilo

Atender e entender

Chef surfista

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Estilo, rumos e cores

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Diretoria: Mariana Bertolucci mail: mariana@revistaba.com.br Simone M. Pontes mail:simone@tabeditora.com.br

Projeto e ExecuÇão: TAB Marketing Editorial www.tabeditora.com.br Consultor Executivo: Eugenio Correa Fotografia: Dulce Helfer Editora de Moda: Isadora Bertolucci Marketing e Eventos: Denise Dias Tel: (51) 9368.4664 Mail: denise@revistaba.com.br Comercial: Lucas Pontes JC Comunicacoes Tel: (51) 3332.3994 - 9309.1626 Mail: atendimento@ jccomunicacoes.com.br

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Conceitos inovadores

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Quando bate o minuano

sopros de inverno

Ética, responsabilidade e pontualidade

A criativa Graça Cabral

Metas e sorrisos

Revisão: 3GB Consulting Colunistas: Ana Mottin André Ghem As Patricias Claudia Tajes Cristie Boff Fabiana Fagundes Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro e Carol Zanon Marco Antonio Campos Pati Leivas Vitor Raskin Impressão:

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colaboradores

Aline Matias

André Cavalheiro

Andréa Lopes

Cláudia Coutinho

Dudu Vanonni

Fabiana Fagundes

Letícia Remião

Mauren Motta

Orestes de Andrade Jr

Raul Krebs

Silvana Porto Corrêa

Tetê Pacheco

Tonico Alvares 10 |

A gente agradece muito!


MANO BY

Pietro Chiesa

luzesdomundo.com.br


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desejos em prática Fotos Tonico Alvares

Helena Rizzo Bins comanda a cozinha, Giovana Baggio coloca os sonhos da dupla em prática e enche de doçura e estilo cada cantinho do Maní, o 46º melhor restaurante do mundo.

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Considerado pela publicação britânica Restaurant Magazine o 46º melhor restaurante do mundo, o paulistano Maní tem uma reserva de um casal em lua de mel para dezembro de 2014, deixa dezenas de pessoas salivando do lado de fora diariamente e é o queridinho de clientes como Malu Mader, Claudia Raia e Ronaldo. Gisele Bündchen, Pato, Ashton Kushter e Demi Moore também já saíram de lá deliciados. Hoje com 80 funcionários, o Maní e a casa de eventos ao lado, Manioca, entraram no circuito de São Paulo. Os frutos foram colhidos à custa de muita dedicação de trabalho. Hoje a charmosa casa da Joaquim Antunes, quase esquina com a Rebouças, é visitada com frequência pela imprensa internacional e, pasmem, projeta uma diminuição no número de suas mesas: “Aos domingos, ou numa sexta à noite, é muito cheio. Tu não atendes 150

pessoas da mesma maneira como atendes 100. O único jeito é diminuir as mesas”, explica Helena Rizzo Bins, a chef mais celebrada do Brasil. O início dessa história foi há mais ou menos sete anos, quando três amigas gaúchas decidiram abrir um restaurante em São Paulo. Giovana Baggio e Helena tinham recém-inaugurado o Maní em sociedade com Fernanda Lima e o paulista Pedro Paulo Diniz. Enquanto recebia a nova parceira de trabalho, Pipa, apelido de infância de Giovana, fazia uma receita da avó de rosquinha de polvilho; Helena enlouqueceu: “Ela encasquetou com aquilo, colocou numa lâmina de silicone, nasceu um roscão disforme, quase uma instalação que é a nossa entrada, e todo mundo ama”. Escuto essa empolgada história de Giovana depois

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de perguntar para ela qual é a estrela do cardápio. Basta conhecer um pouco essa dupla para sacar que a estrela do cardápio pode até ser o nhoque de mandioquinha com araruta, mas a estrela que rege o Maní é a sintonia das duas. Já o segredo da 46ª melhor cozinha do mundo está fundamentado em outro “literalmente” casamento: o do chef espanhol Daniel Redondo com Helena. Segundo a mulher e colega, Daniel era um cara de “pueblo”, sem vontade nenhuma de sair de lá. Por 13 anos, trabalhou no restaurante espanhol El Celler de Can

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Roca, que desde 2009, quando conquistou a terceira estrela no Guia Michelin, vem figurando entre os cinco melhores do mundo; em 2013, subiu uma posição e conquistou o primeiro lugar, mesmo ano em que o Maní ficou pela primeira vez entre os 50 melhores. Foi na casa comandada pelos irmãos Joan, Josep e Jordi Roca que Dani conheceu Helena: “Por outro lado, ele sempre achou que alguma mudança grande aconteceria. Só não sabia para que lado. Demorou um monte para pedir demissão para o Joan, e o fato de já estarmos com o restaurante

influenciou a decisão dele”. Desde então, Giovana (mãe de Joaquim e Isabela), Daniel e Helena, que também querem ser pais, se completam no dia a dia e comemoram cada pequena descoberta, ideia ou iniciativa. Seja ela no salão, na cozinha, em grandes eventos gastronômicos ou na floresta. É no meio de uma floresta em uma fazenda em Pindamonhangaba que desejam lançar um restaurante experimental ao lado do grupo Agroflorestal C5, formado por pensadores, filósofos, antropólogos, cozinheiros e chefs. “A Helena está encabeçando esse


Helena trocou Porto Alegre por São Paulo aos 18 anos. Com vinte e poucos, apaixonada por culinária, foi aprender na Itália, depois passou três anos na Espanha, até voltar ao Brasil. A caminhada foi gradual. Primeiro o Maní ficou com o 74º lugar na lista de Melhores Restaurantes do Mundo, depois foi considerado o 51º melhor. Em 2013, alcançou a colocação de 46º.

projeto que quer instalar a primeira cozinha experimental do Brasil. Uma das ideias é que ela seja aberta a cozinheiros e chefs para testarem os produtos e cozinharem, para no futuro ser também um restaurante com turismo ecológico. É para quando der, estamos fazendo o que é preciso para viabilizar.” É esse “fazer o que é preciso”, somado à criatividade brasileira e à simplicidade ousada espanhola, que estará no livro do Maní, da jornalista Milly Lacombe e da Paola Bianchi, pela Editora DBA, com receitas e a história das gurias, que será lançado no segundo semestre.

Revista Bá – Como nasceu o Maní? Helena – A Pipa já morava em São Paulo, e eu ainda estava na Espanha. A Fê foi que começou o movimento, numa viagem que ela fez à Espanha. Dizia daquele jeito dela: “Tu não achas que está na hora de voltar? Os chefs [estão] lá, tudo [está] acontecendo, e tu aqui. Vamos abrir um restaurante, vamos voltar, nega”. Não só por isso, mas eu voltei e sabia que ela tinha essa vontade. Fiquei um ano em Porto Alegre. E começamos a conversar sobre isso. Um dia nos encontramos em Porto Alegre as três. A Gio estava grávida do Joaquim. Giovana – Ali já visualizamos um pouco de como seria, e a Fernanda disse que tinha um amigo que queria ser sócio. A ideia dele era um restaurante vegetariano. Convidar gaúcho para ter restaurante vegetariano é pra matar, né? (risos) Helena – Eu sempre achei legal ir atrás do bom pro-

duto, trabalhar com comida de qualidade. Antes de voltar da Europa, vi um documentário sobre orgânico e passei a me interessar. Nos convencemos de que não importa a carne, a qualidade da carne é que tem de ser boa. Giovana – O cardápio ficou 30% com carne e o resto vegetariano. Helena – Era uma opção de carne, uma de peixe, uma de ave. Giovana – Só que carne saía muito, tinha boa aceitação. Fomos introduzindo aos pouquinhos do nosso jeitinho. As pessoas achavam esquisitos alguns pratos do nosso primeiro cardápio. Helena – Não adianta. Como tudo na vida, o restaurante precisa de um tempo. Tu precisas ir construindo conforme ele vai acontecendo. Nascer pronto não existe. Por mais que se idealize, tenha um conceito. É preciso sentir teu público, as pessoas que

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trabalham contigo, para ir formando um estilo de cozinha. Bá – Qual o segredo para dividir o Maní tão bem? Helena – Acho que um dos nossos segredos para dar certo é que nos respeitamos muito. É cada uma no seu quadrado, né, Gio? Eu respeito o trabalho da Giovana, e ela o meu. O Pedro e a Fernanda não se metem muito nas coisas, porque somos nós que trabalha-

Trilha sonora e energia que vibram no Maní: jazz, MBP, ioga e natureza.

mos no dia a dia. Giovana – A gente troca sempre ideias. E não só nos respeitamos como também confiamos muito uma na outra. Construímos um trabalho em equipe com o tempo. As pessoas aqui são muito importantes. Tentamos dar condições legais para que todos estejam felizes aqui dentro. Duas vezes por semana, fazemos, junto com os funcionários, aula de ioga, oferecemos um bom plano de saúde. Foi devagarinho. Não começamos o restaurante “bombando”. Cansamos de ficar lá na porta contando cada um que entrava. Helena – Nunca quisemos ter um restaurante natureba, nem light, sempre quisemos servir comida

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com qualidade. As pessoas falam que a nossa cozinha é leve. Acho que a leveza tem a ver com a pureza dos ingredientes. Não tem a ver com não usar manteiga. Bá – O que é essencial? Giovana – Na área que eu cuido, o essencial para tudo andar bem são as pessoas estarem satisfeitas. Num ambiente gostoso, se sentirem acolhidas, saberem que a empresa é sólida, que estamos ao lado delas. Que sabemos sobre suas vidas, que têm filhos, problemas. Cada um tem sua personalidade, seus pontos fracos e fortes. Essas pessoas que estão aqui no salão trabalham ali com a Helena e atendem nosso cliente, e isso é um ciclo. Helena – Nosso trabalho não é a Giovana que faz,


bém muito rica no Sul. Temos uma coisa de comer gostoso, e acho o gaúcho muito crítico. Ele tem uma coisa crítica que às vezes é chata. Tem esse culto da tradição, da comida de casa, de receber. Sempre comparamos a comida da tua vó, da tua mãe, ali com aquela do restaurante, então os “restaurantes são sempre umas meeerdas” (imitando um sotaque beeem porto-alegrense).

“Nosso atendimento nunca foi para ser duro. Nossa palavra sempre foi atenção.”

nem eu e o Dani que fazemos, é todo mundo. Só conseguimos o que conseguimos porque todo mundo faz o seu e faz o seu bem feito. Porque é muito isso também. De equipe e da própria essência. O que é e qual a importância do trabalho de cada um aqui dentro. Giovana – Todos têm uma função importante. Muito legal nessa história da ioga é a nossa integração, estar ali respirando junto. A respiração forte da ioga. Um dando força para o outro. Isso integra e aproxima as pessoas. Helena – Estamos fazendo um curso na cozinha, de despertar a criatividade para a cozinha de cada um. Os garçons têm uma vez por semana aula de inglês. Bá – Como nasceu o

Manioca? Helena – Tinha muito pedido para fechar o Maní ou receber grupos. Rolou a oportunidade de a casa do lado estar disponível. Giovana – Existe há três anos e meio. Na média são 15 eventos por mês, às vezes até mais. Outra cozinha, outra equipe, outro chef. Estruturamos a equipe ali para que o local funcione sozinho. Uma coisa boa é ser ao lado, com a mesma comida, para as degustações. Quem nos procura já tem a referência direta do restaurante, de como somos. Bá – O gaúcho é um cliente diferente? Um gourmet? Helena – Temos uma comida muito gostosa e uma cultura gastronômica tam-

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Giovana – Aqui se come muito fora. Sempre tem uma coisa na casa de alguém. Alguém recebendo. Alguém não sei o quê. Sempre tem um “vamos fazer um churrasco”. Acho que aqui as pessoas combinam menos de se encontrarem nas casas para jantar. Helena – Se come uma comida boa. É uma fartura, mas tem o temperinho. Tem o jeitinho dos italianos, dos alemães. Bá – Já pintou alguma proposta de abrirem um Maní no Sul? Helena – O trabalho aqui no restaurante é muito artesanal. O restaurante é o que é porque estamos sempre aqui. Eu, pelo menos, nunca quis ter filiais pelo Brasil. A não ser que tu conheças um pessoal gaúcho, por exemplo, que tenha uma cozinha que converse com a tua, em que a gente confie que vai fazer uma coisa legal. Porque, como falávamos, um restaurante são suas pessoas. Formar um time é uma coisa muito difícil. Bá – Sentem falta de algo de Porto Alegre? Um jeito de lá... Giovana – Eu sinto falta daquela coisa de estar no meio do trabalho e as amigas irem ali no banco da calçada do restaurante,

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“Fazer sobremesa para mim é leve, é um prazer. “

tomar um chimarrão. São Paulo é diferente. Helena – O lifestyle, né? O bom viver. Giovana – Acho que em Porto Alegre a vida tem menos correria do que em São Paulo. Aqui temos a impressão de estar sempre correndo atrás. Chega no fim do dia, dá um cansaço. É muito assunto, muita coisa acontecendo. Helena – Aqui a gente é superestimulada, né? Dá ansiedade, tem que fazer ioga, terapia. Dá uma sensação de que se é um hamster às vezes, de tanto que tudo é rápido. Bá – Como é cada pequena conquista desse time? Giovana – É muito legal esse reconhecimento do trabalho. Cada vez que acontece alguma história legal dessas, como um prêmio ou uma reportagem, muda um pouco o público. Gente nova vem conhecer. Dá uma renovada. Helena – Encher mais não tem como. Tem clientes nossos que não vêm mais porque está cheio. Sempre acreditei no restaurante e na dedicação de que fazer o que se gosta é o segredo. As pequenas e também as grandes conquistas desses sete anos nos estimulam muito. Sinal de que esta-


mos fazendo bem, bonito, então vamos lá, tem que continuar melhorando. O grande lance é sempre buscar fazer o que tu fazes de uma maneira melhor. Sempre. Cada vez mais. Bá – Ideias novas da gastronomia? Helena – Estou trabalhando com alguns produtores aqui de fora de São Paulo. Um em especial é o Patrick. Ele é muito envolvido nas SAFs (Sistemas Agroflorestais). Tem todo um projeto de reflorestamento, utilizando a agricultura no meio da floresta. Tenho trabalhado com ingredientes surgidos dessas vivências. São coisas que na verdade já existiam na culinária brasileira, mas que foram esquecidas porque ninguém paga e ninguém consome. Estamos trabalhando um pouco em cima desses ingredientes, fruto da pupunha, bacupari, taioba, ora pronobis, caramoela. Ainda são pequenos produtores que plantam só para eles, é uma coisa mais

artesanal. Não é como um fornecedor de tomate ainda. A Gio Gio consegue colocar tudo em prática. Giovana – Falta tempo para eu me envolver mais nos eventos. Temos parceiros, e uma delas é a Livia Amaral, prima da Helena, que abriu com a Fernanda Castro a Decoração do Baile, que faz grande parte dos nossos eventos e alimenta o site. A nossa estética é muito parecida. Sobre os alimentos orgânicos, o reflorestamento e o projeto da floresta, a Helena traz algo e eu entro porque dividimos as mesmas vontades. Uma gosta das ideias da outra. Essa coisa de confiança é a mesma que tenho nas coisas que vêm da Helena. São projetos que sempre acho legais. Essa coisa de resolver. Se achamos que tem uma oportunidade bacana, vamos lá, metemos a cara e fazemos. Temos uma objetividade que funciona muito bem. Bá – Como dormir, trabalhar, viver, decidir,

fazer tudo junto com o marido durante dez anos e ser feliz, e ser normal? Helena – Não somos normais (muitos risos). Ai, Mari, acho que temos muita vontade de estar juntos. Gostamos de estar juntos, construímos muitas coisas juntos. Queremos ficar junto. Essa vontade vinda dos dois fez desenvolver artimanhas. Cada um vem num turno. No início era tudo junto. Mas quando a gente começou a se chutar na cozinha (risos), decidimos nos dividir. Giovana – Eles evoluíram muito na relação e na cozinha. O início deve ter sido duro para ele. Vindo de fora. Daquela coisa mais sisuda europeia, mais organizada. Aqui tudo é diferente. Uma cozinha toda sem regras, com esse jeito mais solto do brasileiro. Helena – Vamos aprendendo o que é um relacionamento. A gente tem uns conceitos antigos. De como teria de ser.

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Giovana – Acabamos acreditando que temos que seguir um formato pré-concebido o quanto mais parecido possível com o do teu pai e da tua mãe, quando o mundo hoje é todo diferente, e as relações também. Somos a maior prova disso. Bá – Teria feito algo diferente em algum momento do passado? Em qualquer âmbito, profissional, pessoal, de lazer? Helena – Quando a gente foca numa coisa, como é o meu caso com o restaurante e a cozinha, tem que abrir mão de outras coisas. Não dá para ter tudo o tempo todo. Então eu me sinto sempre abrindo mão de várias coisas que eu gostaria de fazer ou ter feito. Cursos, aula de desenho, supermamãe, supercuidando da casa. Tem coisas que a gente deixa de lado. Nem que seja temporariamente. Bá – O que dá mais prazer na cozinha, preferência para preparar ou parte do processo? Helena – Fazer sobremesa para mim é leve, é um prazer. Eu adoro fazer, mas gosto de todo o serviço da cozinha. Giovana – E quando descobre um produto novo, então? Adora ficar testando.

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Bá – Você cozinha em casa? Helena – Ontem eu cozinhei. Pollo ao curry. Bá – É fácil ser supermulher? Boa mãe, boa profissional, boa filha, boa consigo? Giovana – Temos uma eterna culpa. Que tu não estás aqui, mas também não estás lá. Eu me sinto mais útil aqui no restaurante durante o dia. À noite, aproveito pra ficar com as crianças, jantar, fazer minhas coisas. Restaurante tem muita rotatividade de funcionários. No Maní, muitos estão desde o início. Temos essa visão de o funcionário estar do nosso lado e da nossa parceria aqui dentro, essa parceria que a gente tem com a equipe. De as pessoas se

O legal da Helena é que ela traz o funcionário para a história. Faz ele trazer um fruto lá da terra dele, daí presta atenção, puxa o melhor da pessoa, faz ele fazer junto.

sentirem importantes, porque elas realmente são. Eu tenho a minha importância, a Helena a dela, e a faxineira a dela. O meu trabalho não é menos importante ou mais do que o da menina que atende no balcão. Aqui eles se sentem cuidados. A maioria dos garçons está desde o começo. Temos compromissos e regras, mas o compromisso maior aqui é com as pessoas. Acreditamos muito nisso.


imagens meramente ilustrativas

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Bá, que delícia

Com o que ele chama de cozinha prêt-àporter, Felippe é hoje destaque ensinando e cozinhando.

Atender e entender Fotos André Cavalheiro

Aos 3 anos, Felippe Sica mirava com o par de olhos curiosos as hábeis mãos da avó paterna fazendo fettuccine e enrolando bala de coco. A abundância de sabores e de cores das frutas e vegetais nordestinos foi o

Carpaccio de beterraba com camarão rosa (para 4 pessoas)

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motor da sua infância, durante os oito anos em que viveu com a família em Salvador. “Lembro da feira com o pai, sentindo o cheiro do leite de coco e do coentro. Cresci comendo caranguejo, lambreta e acarajé.” Nas

ondas mar, o adolescente porto-alegrense encontrou prazer. O surfe passou a pautar suas escolhas e rotas, e aos 20 anos foi morar na Califórnia, viver a vida sobre as ondas. Os dias eram se equilibrando nas

Ingredientes: 8 Camarões Rosa 1 Beterraba 1 col. sopa de alcaparras Suco de 1 limão siciliano 30 ml de azeite de oliva 1/4 de molho de hortelã 1/4 de molho de manjericão 1/4 de molho de cebolete 1/4 de molho de salsinha Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto


Na Califórnia, durante a noite, Felippe dedicava-se a conferir a autenticidade da culinária típica.

pranchas em Venice Beach. Nas horas livres e durante a noite, Felippe dedicava-se a conferir a autenticidade da culinária típica. A paixão pela cozinha nascia, e nascia também um curioso, um food hunter, anos antes de a expressão existir: “Agucei os sentidos e desenvolvi minha cozinha em cima dessas diferentes experiências. Provei muito esses sabores autênticos lá, indianos, japoneses, tailandeses”. Ávido do novo, depois dos três anos em Los Angeles, Felippe ainda foi representante de marcas de surfe, blogueiro, professor de inglês – até matricular-se no Senac, em 2003, e transformar a paixão em profissão. Passou pelas mãos dos chefs Mamadou e Philippe Remondeau, e

comandou as cozinhas do Constantino e do Koh Pee Pee, na capital gaúcha: “Eu ia para a Tailândia todos os dias em plena Porto Alegre. Sempre com um olho na cozinha e o outro no salão, para um dia abrir o meu”. Lendo O Caminho do Meio, de Alex Atala, decidiu trocar a rotina diária no restaurante por consultorias, jantares -aula para grupos e jantares exclusivos. Segundo ele, atender e entender são os grandes méritos da cozinha prêt-à-porter, sob medida, que prioriza os alimentos das

estações. “Tem uma demanda reprimida de gente querendo aprender a cozinhar, gaúcho gosta de receber.” Um acidente com água fervendo na perna o deixou de repouso vendo TV alguns dias. Logo surgiu a ideia da websérie, no ano passado: “Não tenho nenhuma rotina. Trabalhando assim consigo ver meus filhos crescerem”. Felippe deu consultoria nas cartas do Café do Mercado, Petiskeira, Barbarella e Mai-Yoo. Ele não abre mão de viajar para surfar uma vez por mês.

Preparação: Corte a beterraba descascada bem fininha, quase transparente. Pique bem todas as ervas e as alcaparras. Misture o azeite de oliva e o suco de limão. Tempere com sal e pimenta do reino. Grelhe o camarão, temperado com sal e pimenta, dos dois lados, rapidamente. Montagem: Coloque o carpaccio na base, por cima o camarão e regue com o molho de ervas. Adicione no prato um vinagrete de bergamota. | 23


Bá, que viagem

viver com arte Foto Maximiliano Poglia

Vindo de uma tradicional família, Luiz Inácio Medeiros foi gestor do Margs e do Museu Julio de Castilhos, e hoje divide seus dias entre Porto Alegre e Nova York. Advogado, museólogo, membro do Conselho Internacional de Museus, Luiz Inácio Medeiros é um porto-alegrense apaixonado por Nova York. Colecionador e exímio conhecedor de arte, hoje divide-se entre bons meses em Nova York e a rotina na cidade natal.

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Para ele, a Big Apple é sempre deslumbrante, mas na primavera, tulipas e rododendros enfeitam os canteiros e os olhos. A temperatura amena, somada à segurança, deixa o astral dos bares ainda mais contagiante. A época é de mostras espetaculares em vários museus da cidade, como a Punk, Chaos to Couture, sobre o movimento punk e a sua influência na moda, em cartaz até 14 de agosto. Mais discreta, a coleção de mais de 40 pinturas e aquarelas de Paul Klee também figura entre


as prediletas do expert: “O suíço-alemão encanta pela exatidão, cor e inovação do abstrato no início do século passado. Os museus maiores assustam pelo tamanho das coleções. Escolha o que ver e dedique seu tempo e suas pernas a elas”, dá a dica. Admirador das salas de exibição menores, com qualidade e elegância dos ambientes, um dos prediletos de Luiz Inácio fica na 5ª Avenida, esquina com a Rua 70, e chama-se Frick Collection. Puro prazer e luxo, segundo ele: “Quadros e objetos de altíssima qualidade espalham-se pelas salas preservadas, com seus móveis e tapetes e inclusive flores nos vasos”. Para aguçar o paladar, a cidade é um “sem-fim” de possibilidades, de todas as origens geográficas: do luxo oriental à simplicidade quase monástica, encontra-se de tudo. Para Luiz Inácio, divertido é descobrir pequenas joias sem a gritaria dos turistas. Uma delas, de tão escondida,

Na página ao lado: Luiz Inácio em Nova York Nesta página, Restaurante Fremans, Museu Frick Collection e Plaza Food Hall

chega a ser difícil de achar: “Vá ao Freemans. Fica no Soho, na Rivington, entre as ruas Bowery e Chrystie, no fim de um beco sem saída; chama-se Freeman Alley. Um lugar agradável, sem pretensão, um menu interessante e um suflê de alcachofra de arrepiar”. Nesse lugar, facilmente se esbarra com o pessoal da Globo NY, como Jorge Pontual ou Guga Chacra. Como os vinhos franceses são mais baratos nos Estados Uni-

dos do que em Paris, uma boa é fazer um piquenique pelo parque ou mesmo no quarto do hotel: “No Plaza Hotel, na 5ª Avenida com a Rua 59, no subsolo há uma delicatessen espetacular, que abriu no ano passado, chamada Plaza Food Hall. Entre no hotel, no fundo uma escada rolante leva até lá. Queijos, presuntos e embutidos de vários lugares poderão tornar um festão seu quarto de hotel ou seu piquenique ao ar livre”.

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AnaMottin

Sonhos sob encomenda O mundo, na opinião dos apaixonados, de alguns filósofos e de todos os publicitários, é como o percebemos. Isso quer dizer que, quando compramos um produto, estamos, na verdade, comprando o que ele representa. Dentro de um potinho de creme buscamos a eterna juventude (quanto mais caro o creme, mais juventude!). Num prosaico sabonete: pele macia, uma banheira com água quentinha, pétalas de rosas e velas. Num carro zero: status & sexo. Se for um off-road: aventura & sexo. Um pote de margarina é família feliz e ativa desde as sete da manhã. Se, num acesso de sensatez, dissermos “a vida não é um comercial de margarina”, todos entendem o que queremos dizer. Pelos sonhos que inventa e passa adiante, característica que divide com a literatura, sempre gostei de propaganda. Assim como os bons livros sobrevivem ao autor,

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bons anúncios sobrevivem ao produto: o primeiro sutiã a gente nunca esquece. Quem, com idade suficiente, não reconhece estrela brasileira no céu azul...Varig, Varig, Varig, ou não sente um conforto quentinho ao ouvir não adianta bater, eu não deixo você entrar, as casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar... Nas matinês dos mais antigos, uma voz à Nelson Rodrigues já pressentia e dava dicas sobre como lidar com a atual escassez de homens casadoiros: Ela é noiva! Ela usa Ponds! Por que esses comerciais sobreviveram? Porque são bons. Têm algo de Lupicínio, um jeito de letra de Noel: seu garçom, faça o favor de me trazer depressa / uma boa média que não seja requentada... Por que estou lembrando tudo isso? Porque, como disse antes, gosto da invenção e difusão dos sonhos e também porque li, há pou-

co tempo, uma propaganda antiga que, sem trocadilho, me pareceu sintomática. Sob a foto de uma menina triste, o texto informa: ela nunca esteve assim antes, agora recusa a alimentação, as guloseimas, se irrita por qualquer coisa, anda chorosa, sem ânimo para brincar até com seus brinquedos prediletos. Se alguma filha nossa aparecesse hoje com esses sintomas, é quase certo que pensaríamos em depressão ou (Deus o livre!) bullying, e buscaríamos ajuda especializada. Tempos mais complicados os atuais? Não sei dizer, só sei que, conforme o anúncio, os sintomas à época resolviam-se com um ou dois vidros de Emulsão de Scott, aquela do homem carregando um bacalhau. Meu irmão tomou. A mim deram um prosaico remédio sem propaganda. Talvez por isso continue sendo um pouco melancólica.


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ping-pong

Pele e paixão Desde criança as artes cênicas e a beleza a seduziam. Ainda menina, foi mãe de Vanessa aos 15 anos em Pelotas, onde contou muito com o carinho dos amigos e o apoio dos pais. Radicada em Porto Alegre para cursar medicina Veronica Bender Lima é uma apaixonada dermatologista: “É saúde, não futilidade, porque é estético. Deixar pessoas mais bonitas, mais felizes e vivendo melhor é fascinante”. É casada com o advogado Marcelo Mac Donald Reis, com quem teve seu segundo filho, Pedro.

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“Ideal são olhares felizes e saudáveis das pacientes, sem expressões comprometidas com procedimentos exagerados.”

Ser mãe aos 15 anos te fez alguém diferente? Sim. Tive reações bem ambivalentes. Amadureci muito no sentido da responsabilidade profissional, mas fiquei imatura emocionalmente, para as relações. Algo poderia ter sido diferente na primeira maternidade? Podia ter tido mais paciência com ela. Não admitia nem que ela se sujasse. O que realiza mais na tua carreira? Deixar as pessoas mais felizes e realizadas. Adoro lidar com harmonia e transformação. Os procedimentos diminuíram as plásticas ou as substituíram? Diminuíram, sim. Agora é mais lipo e silicone. Qual o limite entre a vaidade saudável e necessária e a perigosa? Ideal são olhares felizes e saudáveis das pacientes, sem expressões comprometidas com procedimentos exagerados. Existe uma doença que se chama mortofobia, em que a pessoa não consegue conviver com detalhes que só ela considera, de forma exagerada. Quando se perdem parâmetros é nosso papel dar limites. Três dicas preciosas para todas as idades? Usar protetor solar diário, lavar o rosto com água fria e não dormir com o rosto sujo. Qual maior pedido que a mãe dermatologista faz para os filhos? Passar protetor não precisa mais. Agora é “não aperta a espinha”.

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ping-pong

Caiu uma estrela Músico de coração, agricultor e carreteiro de nascença, missionário do amor de corpo e alma, Paulo Barbudo tem 64 anos de vida, bons deles em cima da carreta. Come o que planta, mas o que o alimenta são as homenagens, casamentos e palestras nos colégios contando história pela cultura da carreta e transmitindo mensagens de fé.

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“Vou a escolas, aniversários, comemorações, para falar sobre a importância de amar e respeitar as pessoas.”

Por que o senhor acha que todos o conhecem na região? São as carreteadas. Minha carreta é a minha vida. Carrego o passado. Vou a escolas, aniversários, comemorações, para falar sobre a importância de amar e respeitar as pessoas. Quem mais lhe ensinou na vida? Minha mãe, muito querida e religiosa, só me passou coisa boa. Queria que eu fosse vigário, não tinha vocação. O que é belo para o senhor? Bonito é uma pessoa que respeita o outro. Um arrependimento? Não tenho. Se o velho anda devagar, não é porque é velho. É que entendeu que não precisa mais correr. Maior alegria? Levar para as pessoas mensagens de fé e amor, com as palestras e as histórias. Um sonho que ainda não realizou? Ser músico profissional. Canto porque gosto. Não tem pagamento maior do que o aplauso. O que mais admira nas pessoas? A vontade de viver. Ri, vai em frente, sente dor, cria os filhos, vai à luta, com o que precisar. Principalmente nas mulheres O que mais lhe incomoda? O medo. Ver pessoas atacando outras como animais. O ser humano matando por nada, por um boné. O pior do mundo são as drogas, que invadem as famílias sem dó nem piedade. E nas pessoas? O que estraga as pessoas é a ganância. As pessoas não sabem lidar com poder. Sem liberdade e respeito com o espaço do outro, nenhuma relação dá certo. Seja qual for.

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objetosedesejos

HenriqueSteyer

Em casa com quem dita a moda Já faz um tempo que mestres da moda se aventuram pelo universo da Homewear. Um dos exemplos mais bem-sucedidos nesse mercado foi Gianni Versace. Ele foi um dos gênios capazes de criar uma estética de tal forma peculiar que pode ser reconhecida em qualquer canto. Considerado um sedutor à frente dos demais, transformou o mundo da moda em um verdadeiro espetáculo do show business. A cada coleção lançada, era difícil saber para qual lado olhar: a plateia, cheia de estrelas como Madonna, Mick Jagger e Cher, disputava a atenção com as peças mostradas na passarela. Desde 1993, a grife alemã Rosenthal, que há 134 anos 32 |

é sinônimo de perfeição em produtos para mesa, investiu nessa temática criada por Gianni, carregada de simbolismos, e elaborou uma linha de porcelanas, cristais e talheres que ilustra perfeitamente a estética da Maison Versace. A coleção foi lançada usando como modelos Stallone e Claudia Schiffer, nus, no auge de suas carreiras. Aplausos! Com personalidade arrojada, Versace alcançou respeito por sua incansável busca pelo conhecimento no campo das artes. Hoje, muitos outros nomes da moda entraram no mercado

que veste casas, e aqueles que se identificam com essa estética podem montar seus cenários de vida usando a linha completa desse excêntrico, que inclui móveis, luminárias e tecidos com muita cor e extravagância. Ao lado, outros estilistas que podem vestir a sua casa.


Estilo navy de Gaultier em casa Sucesso com fotos publicitárias que evocavam marinheiros sensuais usando suas criações, Jean Paul Gaultier também assina uma coleção de móveis para a francesa Roche Bobois. Poesia e moda com muito savoir-faire para quem quer morar bem.

Cassina sob o olhar de Lagerfeld O maior ícone vivo da moda acaba de realizar um projeto fotográfico para uma importante grife italiana de móveis. Através da sua lente, Karl Lagerfeld, que é diretor criativo da Chanel e fotógrafo nas horas vagas, fez o mobiliário da Cassina tornar-se algo novo, revelando uma interpretação marcante de peças icônicas projetadas pelos mais renomados designers.

Fendi no iate A Fendi Casa, conhecida por usar materiais sofisticados na criação de sofás, poltronas, cadeiras e objetos, está com novidades. Agora, sob encomenda, é possível adquirir mobiliário para iates e outras embarcações. Ou seja, podemos ter design assinado em alto-mar! Quem já sentou em um sofá com essa assinatura sabe da qualidade do couro utilizado.

McQueen para pisar A empresa The Rug Company, que fabrica os tapetes mais desejáveis do momento, oferece tapetes Aubusson com a assinatura de Alexander McQueen. Beija-flores são tecidos à mão com seda e fio metálico em cashmere preto. O desenho tramado produz detalhes complexos, tornando a peça um verdadeiro tesouro para usar no chão ou na parede.

“Magrela” Dolce & Gabbana Se a moda agora é deixar o carro na garagem e sair de bicicleta, que tal o modelo criado pela dupla Stefano Gabbana e Domenico Dolce?

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Bรกnoesporte

Esta guria nada muito Por Clรกudia Coutinho Fotos Emmanuel Denaui

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Graciele Hermann está no time brasileiro que disputará o Mundial de Natação deste ano, em Barcelona, e já sonha com a medalha olímpica em 2016 Desde que se mudou de Pelotas para Porto Alegre, há seis anos, a fim de se dedicar à natação e realizar o sonho de participar de uma Olimpíada, a jovem Graciele Hermann mantém a desafiadora prática de anotar em sua agenda anual o objetivo para aquela temporada. E o mantém em segredo, até conquistá-lo. Em 2011, lá escreveu que gostaria de atingir o índice técnico que a colocaria nos Jogos de Londres, no ano seguinte. Assim aconteceu. Já respeitada por trazer dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara a medalha de prata, a gaúcha superou em oito centésimos o tempo exigido, nadando a prova dos 50 metros nado livre em 25s12. 2012 foi o ano da realização de um sonho. Quem diria que a garotinha que queria porque queria aprender a nadar para deixar de “tomar caldos” dos primos mais velhos chegaria lá? Desde as primeiras braçadas, então com 12 anos, no Clube Brilhante, em sua cidade natal, Graciele chegava em casa e já organizava sua mochila para a aula seguin-

te, dizendo para sua mãe, Selma, que um dia estaria em uma Olimpíada. Quando recebeu o convite para treinar no Grêmio Náutico União, aos 15 anos, não titubeou em deixar a casa dos pais e dos três irmãos. No primeiro ano, morou em um pensionato de freiras. Depois, passou a residir em um apartamento próximo à sede da Quintino, com outras quatro nadadoras do clube porto-alegrense, o qual chama de república. Como o objetivo registrado na agenda de 2012 não foi alcançado, Graciele o repetiu para 2013 e o mantém em segredo. Mas, certamente, está relacionado às conquistas em uma piscina. Em abril, no Rio de Janeiro, durante o Troféu Maria Lenk, a atleta gaúcha garantiu presença no Mundial de Natação, que, neste ano, será disputado de 24 de julho a 4 de agosto, em Barcelona. Nadou os 50 metros em 25s10, sua melhor marca até o momento, o que a colocou entre as dez principais velocistas na atual temporada. Não é por acaso que os fãs da natação já a chamam

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Bánoesporte

de GraCIELO, em referência ao brasileiro Cesar Cielo, dono de três medalhas olímpicas em provas de velocidade. “Esta conquista já é um pontapé inicial para os Jogos do Rio, em 2016”, afirma Graciele. Ela mesma explica que o índice alcançado tem um significado muito além do que ir ao Mundial. “Agora, eu não penso só na vaga olímpica, mas posso pensar na medalha olímpica”, assegura. “Comecei o ano muito bem, com meu melhor tempo, e acredito que, ainda neste ano, vou quebrar a marca dos 25 segundos e entrar nos 24 segundos, tempo que já me colocaria em uma final olímpica”, completa a atleta de 21 anos, 1m81cm de altura e 65 quilos. Com os olhos azuis sempre brilhando quando fala de natação, Graciele não parece nem um

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pouco arrependida de ter deixado de lado as passarelas e os estúdios para se dedicar ao esporte. Mantém sua rotina de treinamento a partir das 7h da manhã, seguido de musculação. À tarde, das 15h às 16h, mais exercícios e natação. E à noite cursa o sexto semestre de Fisioterapia no Centro Universitário Metodista do IPA. As visitas a Pelotas, antes bastante frequentes, passaram a ser de dois em dois meses, justamente por causa dos treinos fortes, das competições e dos estudos. Vale a torcida por Graciele! Não somente no Mundial de Natação na bela Barcelona dos Jogos Olímpicos de 1992, mas também para que ela siga conquistando medalhas e estabelecendo novos índices. Eu arrisco escrever que o segredo mantido na sua agenda é a quebra do recorde brasileiro na prova dos 50 metros, de 24s98, marcado pela mineira Flávia Delaroli em 17 de dezembro de 2009. Vai, Graciele!


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winner advertising single // new york photo awards 2012 | 37


arte

palavras que explicam memórias Por Andréa Lopes

Artista plástica consagrada, ela investe agora na literatura. E relata a experiência: “Escrevendo me exponho muito mais. A palavra explica, não tem disfarce”.

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Ela recebe em seu ateliê, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, com um sorriso largo e um café quente. Marilia Fayh acolhe, deixa à vontade, puxa uma cadeira em meio a telas e esculturas de vários tamanhos. E passa a contar sua nova história, o lançamento de seu primeiro livro, Diário de Alecrim, da Editora Kazuá (atenção para essa editora, gente!). Artista plástica consagrada, ela sai da escultura, da litografia e da pintura – sem abandoná-las – e parte para uma viagem pela escrita. Marilia catou seus apontamentos e empreendeu um mergulho em si mesma, revelando sentimentos, sem meias-palavras. “Escrevo cartas desde pequena,


para desabafar, para exorcizar meus sentimentos. Sempre escrevi, mas nunca pensei que pudesse publicar”, conta. “Foi meio como a escultura e a pintura, sempre esculpi e pintei, como hobby. Até que surgiu uma oportunidade para expor meus trabalhos, deu certo, e virei artista plástica.” Recentemente, Marilia teve um problema na mão direita e pensou que jamais poderia voltar a esculpir. Resolveu começar a usar a mão esquerda para escrever mais cotidianamente, enquanto estava se recuperando de uma cirurgia na direita. “Mas, na verdade, só pensava se iria conseguir voltar a fazer coisas simples, como pentear o cabelo e escovar os dentes”, confessa. Mas o destino, Deus ou o que quer que seja – ela própria? – queria mais. “Revirei meus escritos, textos que vinha escrevendo há anos. Os textos são elaborações de lutos pelos quais passei na vida, e foram vários. A elaboração ocorreu lá, quando os escrevi. No livro, compilo e costuro esses escritos e elaboro os ganhos que obtive com as perdas, porque sempre se perde, mas se ganha também”, garante. O título vem de um cheiro

Eu puxo o leitor para sentir comigo essa sensação, ir além da leitura, mergulhar nos sentidos que, para a autora, lembra infância, aconchego, o perfume do alecrim. Cada capítulo do livro é associado a um tempero, um cheiro diferente que tempera a emoção da situação ali descrita. “Eu puxo o leitor para sentir comigo essa sensação, ir além da leitura, mergulhar nos sentidos”, justifica. Para ilustrar o livro, Marilia produziu novas telas, reproduzidas no papel. “Eu estava produzindo algumas para uma exposição que terei em agosto, todas elas do mesmo tamanho. Quando me dei conta, havia 15 telas, dava certinho para os 14 capítulos do livro, mais a capa. Joguei em um carteado e acho que as joguei nos seus capítulos certos, digamos assim. Acabei planejando tudo, inconscientemente.” Diário de Alecrim liga emoções. “São coisas banais e comuns, por isso mesmo, iguais para todo mundo”, acredita Marilia. “Escrevo de um jeito cru, não enfeito. Acho que todo mundo, de um jeito ou de outro, já pas-

sou pelas situações descritas no livro.” Aí Marilia já começa a experimentar a dor e a delícia de quem escreve. “É interessante imaginar que o leitor vai saber a minha história, a minha emoção, mas eu não vou saber a emoção ou a história que despertei no leitor.” A exposição de sentimentos demonstrada nas páginas do livro apavora Marilia Fayh, logo ela, acostumada a se expor em suas telas e esculturas. “Escrever é muito pior (risos). A palavra explica, não tem disfarce. Isso é uma coisa que estou aprendendo. Escrevo achando que consigo me preservar, que consigo não demonstrar tanto a emoção, mas aí vem alguém, lê e enche os olhos d’água. E eu penso ‘puts, me entreguei’. O complicado é que acredito que o tempo tira essa inocência das pessoas. Com o tempo, a gente acha o caminho, vai aprendendo a se esconder. O brilho é o de uma primeira vez. É agora.” E agora é a hora de Marilia Fayh.

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Báco

Luxemburgo e o vinho Por Orestes de Andrade Jr.

Foto Mell Helade

Jornalista e Sommelier

Apaixonado por vinho e com a promessa de oferecer produtos com preços médios 30% abaixo dos preços dos concorrentes Vanderlei Luxemburgo oferece cerca de 2.000 rótulos no seu novíssimo site. 40 |

O mundo do vinho não para de atrair personalidades no Brasil. Depois do narrador Galvão Bueno e do empresário Raul Randon, agora é o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo, do Grêmio, ex-Seleção Brasileira, Flamengo, Palmeiras, Atlético Mineiro e Real Madrid. Admirador confesso de Malbecs argentinos, Luxa, como é mais conhecido no futebol, acaba de entrar como sócio-investidor do site www. comprevinhos.com, ao lado do empresário Rafael Zardo, de Bento Gonçalves (RS). Os dois não se conheciam antes e nem tiveram um amigo em comum para apresentá-los. Quem os aproximou foi o vinho mesmo. Qual é a proposta da Compre Vinhos? O objetivo é democratizar o consumo de vinho no Brasil, como ocorre em outros países. Aqui o vinho é muito caro, e não há por que ser assim. Mesmo com os altos impostos, é possível vender vinhos a preços mais acessíveis e é isso que estamos fazendo.

Qual é tua filosofia para escolher os rótulos que são vendidos na Compre Vinhos? Antes de mais nada, tem que ter qualidade, ser um bom vinho. E ter uma ótima relação custo-benefício para o consumidor. E o teu gosto pessoal recai sobre quais rótulos, de quais países? Os meus preferidos são os \ Malbecs argentinos. Como também vivi dois anos na Espanha, experimentei muitos vinhos de lá: o Terreus é um vinho que eu adoro. Gosto também do Val de Flores, de Mendoza, um dos meus vinhos preferidos, ao lado do Cobos. Gosto muito de um vinho italiano da Toscana, o Yumi, que é 100% Sangiovese. O que você conhece sobre os vinhos brasileiros? Ainda muito pouco. Quem sempre me incentivou a conhecer os vinhos brasileiros foi mesmo o Galvão Bueno, que agora é sócio da Miolo. Eu gosto de bons vinhos. E o Brasil tem muitos, como o Sesmarias e o Lote 43.


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CristieBoff

Manet retorna Fica em cartaz até dia 18 de agosto a mostra Manet Retorno a Veneza, no Palácio Ducal, em Veneza. O mérito maior do francês foi não manter vínculos com as categorias acadêmicas e abrir estrada para novas modalidades de expressão formal. Edouard Manet é um dos precursores do impressionismo com a obra Olympia (1863), que está no Musée d’Orsay.

na europa Meret Oppenheim Integrante do movimento surrealista, a artista suíça Meret Oppenheim (19131985) ganhou uma retrospectiva no Bank Austria Kunstforum, em Viena. Até o dia 14 de julho, é possível ver obras como a famosa “taça de chá em couro’’, batizada de Object. Ela também posou nua muitas vezes para o fotógrafo Man Ray. Uma anticonformista e influente artista do século XX.

Arte pobre no Louvre Até o dia 3 de setembro, serão exibidas no Museu do Louvre, em Paris, obras do artista italiano Michelangelo Pistoletto (1933). O maestro da arte pobre invade o museu parisiense com obras históricas e recentes. Anno Uno traz a famosa Venere degli Stracci (Vênus dos trapos) 42 | MARÇO - 2013 |

Artesella Nos bosques de Val di Sella, na região do Trento (norte da Itália), nasceu em 1986 uma manifestação de arte contemporânea ao ar livre chamada artesella. Feitas com troncos, galhos, folhas e pedras, as obras vão se transformando, degradando, até desaparecer no ciclo vital da natureza. Ao mesmo tempo em que aprecia os trabalhos, o visitante curte a natureza. Concebida pelo artista Giuliano Mauri, a Catedral Vegetal, feita em 2001, foi construída com mais de três mil ramos trançados e oitenta colunas com plantas. A artesella pode ser visitada durante o ano todo, com opções de percursos diferentes, um deles com três quilômetros (duas horas de caminhada), passando por aproximadamente 25 instalações artísticas.


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moBรก

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Moda muito além da roupa Por Tetê Pacheco

Greice, Walmor e Letícia entrelaçaram os olhares para criar um maravilhoso novo mundo A roupa da Greice Antes nunca foi só desenho, tecido e costura. A roupa da Greice tem uma parte que é de vestir o corpo e outra que é de vestir a alma, acordar os sonhos, estimular os desejos. Mestra em alinhavar ideias, inspirações poéticas e intenções estéticas, Greice vem ganhando as clientes, agradando a crítica e, mais uma vez, provocando os amigos. Eu vejo a Greice como uma menina curiosa, diante de um eterno baú recheado de fantasias. E acredito que é essa curiosidade que a leva aos armários existenciais das pessoas, abrindo, fuçando, descobrindo e perguntando: "Posso usar?" Do amigo, irmão, artista plástico Walmor Corrêa, Greice foi escavar a inspiração para sua nova

coleção: O Maravilhoso Mundo de Walmor Corrêa. Perturbadoramente bela, como a obra que a inspirou. Mas a menina Greice não gosta de brincar sozinha. O trabalho é um campo para as trocas e invenções coletivas. E é aí que entra a também amiga-irmã-fotógrafa Letícia Remião, traduzindo em linguagem visual a aura de outro mundo que paira sobre esse trabalho. São três corações ali. Um entrelaçado ao outro, provocando os sentidos de quem não olha apenas para grifes e roupas, mas para ideias. Nesse maravilhoso mundo de Greice, Walmor e Letícia, o criar, o fazer, o juntar é pano de fundo para tudo.Um jogo de afinidades que tecem uma rede linda, chamada amizade. Me junto a essa rede, com admiração.

Na foto, Letícia Remião, Walmor Corrêa e Greice Antes

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eutenhovisto

alma vibrante JaquelinePegoraro CarolZanon www.eutenhovisto.com

Foto Didiê Cunha

Descalço, o artista plástico carioca Bruno Schmidt inventa a vida e uma arte que está atraindo olhares brasileiros e de outros cantos do mundo.

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Assim mesmo, sem sapatos e cheio de carisma, Bruno conquista pessoas e pinta telas vibrantes, coloridas, usando tons do seu cotidiano e das belezas naturais da cidade onde vive. Menino do Rio, adora receber amigos no apartamento em Copacabana, onde exibe seu trabalho, arma saraus, festas de réveillon e joga conversa fora sem fim. Em casa, onde também fica o atelier, Bruno escolheu paredes cinza que ajudam a ressaltar a riqueza cromá-

tica do seu trabalho, arte irresistível para gente como Amauri Soares, Patricia Poeta, Jorge Salomão, Rodolfo Landim, Marcelo Neri, Telmo Zanini, Cristiane Haas e Paula Merlo, clientes arrebatados pela série Árvores. Enquanto prepara roteiro para divulgar o trabalho no Brasil – em breve em Porto Alegre –, Bruno prepara nova série para levar à França, em maio de 2014. O convite é da La Galerie, em Vaison La Romaine, região da Provence.


Pestana Com vista privilegiada de Copacabana, o Deck Bar, na cobertura do Hotel Pestana, na Atlântica, é perfeito para curtir um pós-praia e iniciar a noite num lounge relaxante. O cardápio é simples, mas tem opções interessantes, assina-

a outra com mais rapidez e ainda curto o visual da praia ou da lagoa”, conta. Andrea aderiu também ao charmoso e ecológico meio de transporte para as saídas noturnas. Nada melhor do que circular à noite pela Cidade Maravilhosa sem ter problemas para estacionar.

Foto Didiê Cunha

Bicicleta elétrica Os cariocas aderiram com tudo a uma boa alternativa para enfrentar a chatice diária do trânsito. As bicicletas são meios de transporte cada vez mais usados por lá. É o caso da arquiteta Andrea Fiorini, 44 anos, que trocou o automóvel pela bike e garante que ganhou qualidade de vida: “Demorava muito tempo para fazer coisas simples. Hoje vou tranquilamente de uma obra

do pelo chef Renato Vicente. Aberto para hóspedes e visitantes a partir das 20h, tem caipirinha de lichia e croquete de carne com queijo cremoso e molho de ervas. De quinta-feira a sábado, tem agitinho da DJ Adriana Carvalho.

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CláudiaTajes

carnívoras No começo a mulher foi carnívora. Comia paleta de brontosauro, não tirava a pele do pterodáctilo e devorava um bife gordo de tiranosauro rex sem preocupação alguma com o colesterol ou com a balança. Pelo menos até o século XX chegar, uma moça opulenta não era apenas aceitável, mas desejável. As grandes obras de arte estão aí para comprovar, mostrando de sutis gordurinhas localizadas a banhas despudoradamente retratadas. A carne farta tinha sex appeal. E os ossos que ficassem para os mastins do palácio. Havia também um grande aliado da beleza feminina, o espartilho, apertando as sobras e levantando o que a gravidade pudesse derrubar. Em minutos, a barriga de volume considerável se transformava em uma cinturinha de vespa sem ginástica, sem dieta e sem lipo. O inverso também acontecia, mas aí para deleite

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do marido. Que diante de tanta abundância, tratava de aparafusar um cinto de castidade na rechonchuda esposa sempre que partia com os amigos para uma cruzada. O seguro morreu de velho. Dizem que a culpada por mudar esse conceito foi a francesa Coco Chanel com os seus tubinhos e tailleurs perfeitos, que só caíam bem nas magras. Não dá mesmo para imaginar um corpo clássico da antiguidade, a Vênus de Milo, por exemplo, usando um deles. Não só pelos braços, que fariam falta no casaco, mas pelos excessos, que marcariam toda a saia. O fato é que, ao longo das últimas décadas, a mulher vem virando herbívora. E mesmo com tantas boas carnes à disposição (muitas caras a ponto de merecerem alarme anti-furto nos supermercados), agora prefere as lindas e verdejantes folhas. Tudo para se manter

dentro dos padrões estabelecidos pela moda. – Vai uma picanha mal passada com capa de gordura crocante, amor? – Não, meu bem. Eu fico na rúcula. Mas isso do Mampituba para cima. Aqui, na nossa República, as gurias se arrumam com jeito de festa e saem, em bando, para jantar nas churrascarias e parrillas. O entrecot e a paquera convivem sem conflitos na noite. Vendo uma mesa só de loiras bonitas às voltas com espetos de salsichão e de vazio, um amigo paulista comentou: deve ser esse o segredo de beleza das gaúchas. Quando chegou o costelão 12 horas na mesa delas, meu amigo não resistiu e pediu licença para tirar uma foto das loiras. Caso um dia seja preciso provar que ainda existe, em um lugar remoto do planeta, mulheres carnívoras que não estão em extinção.


AnĂşncio Onodera

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DĂŠcorBĂĄ

Encantadora de festas Por Fabiana Fagundes

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Arte em movimento, a arquitetura acha cada vez mais espaços para atuar, facilitar e tornar mais bela a vida das pessoas.


Decorações e ambientações feitas por Denise Herwig

Arte em movimento, a arquitetura acha cada vez mais espaços para atuar, facilitar e tornar mais bela a vida das pessoas. Foi num desses “novos caminhos” que a arquiteta Denise Herwig reencontrou a profissão que escolheu. Há oito anos, nessa nova frente ela planeja, projeta e encanta com suas soluções exclusivas e personalizadas em grandes eventos e festas. O olhar técnico, somado à sensibilidade e à criatividade, é o que faz a diferença. Denise imagina o espaço como um todo, pensando em cada detalhe, definindo cores, formas e texturas. Tudo percebendo qual o “clima” desejado, o perfil do evento e o espírito de festa encomendada. Não há limites para surpreender. Surgem arquibancadas no meio da festa jovem, para a galera se sentir em casa, ou mesmo uma “loja” dos produtos cosméticos preferidos da anfitriã, para presentear seus amigos; balanços deixam o casamento mais informal; flores ganham embalagens mimosas, e velas, arremates cheios de charme, fitas, bolas, aros, panos, vasos, estampas. No mundo de Denise, não há limites para misturas inusitadas de materiais e elementos de decoração. Características que a profissional também empresta ao seu jeito de vestir, cheio de estilo. Metamorfose do estático em instantes inesquecíveis e cheios de vida. É quando a arquitetura escapa ludicamente do universo concreto e mergulha em sonhos e cenários dignos de grandes momentos.

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crônica

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foto eduardo liotti

olhos falantes

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Ao bom aluno, o tempo ensina a perceber e aceitar capacidades e incapacidades cultivadas ao longo da vida. Desde as mais cotidianas, como cozinhar, se maquiar, passando pela simplicidade de cuidar de plantas, desenhar razoavelmente bem ou manter em ordem um armário, até as mais difíceis, que independem do que gostamos de fazer e aprender. Simplesmente nos surpreendem e nos fazem perguntar: “por que conosco?” Não desenvolvi – sem nenhum trauma ou arrependimento – a capacidade de amar um animal. Não é por mal, nem por crença, falta ou excesso de estímulo. Simplesmente, vim sendo assim e assim eu sou. Acho muito bonitinhos quase todos, mas não despertam nenhum outro tipo de sentimento em mim além de admiração por sua graça e beleza. Já me vi muitas vezes pensando “como

amo tal música, livro ou filme”. Mas não me recordo de pensar alto ou mesmo baixo: “como eu amo esse bichinho”. É que músicas, filmes, livros podem com facilidade me levar às lágrimas – o que animais dificilmente despertam em mim, com exceção dos que passam por Hollywood e têm seus roteiros impecavelmente amarrados a outros sentimentos como gratidão, zelo, solidão, amor ou amizade incondicional. Foi vendo cada vez mais pessoas próximas incluírem em suas vidas seus animais de estimação que percebi em mim esse desamor. Aí no sentido mais amplo da palavra, porque quem ama cuida, alimenta, acarinha, abraça, dialoga com os olhos. Se não me disponho e inclusive, não me imagino fazendo isso é porque não desenvolvi tal potencial. No entanto, se me preocupa, às vezes, um comportamento infantil um pouco egoísta da


Simplesmente, vim sendo assim e assim eu sou.

minha filha, Antônia, vê-la praticamente hipnotizar animais com o seu amor, me acalma. Penso que, se ela é naturalmente assim com os animais, não será com os humanos que não saberá dividir. Nada do que está escrito acima faz diferença ou muda meu sentimento de vergonha e desprezo ao ver cenas de violência contra os animais. Isso sim me entristece, tamanha brutalidade de espírito. Lembro de outra estupidez recente e me invadem os semblantes de mulheres mantidas

em cárcere anos a fio. Volto a pensar sobre desenvolver ou não capacidades. De amar ou não. Cães, gatos, homens, mulheres, orquídeas ou obras de arte. Seja o que for. Mesmo ainda temporariamente incapaz, entendo melhor como adultos e crianças, como a minha própria, enquanto encostam os narizes em seus bichinhos, deixam que os olhos falem.

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São pedro das artes Há 31 anos, são 12 horas, em média, que Dona Eva passa no TSP, desde 1982, ano em que deixou a Pro Arte e passou a dedicar-se unicamente a ele. A própria história de Eva Sopher é também parte significativa da do Theatro São Pedro. No entanto, a de um dos teatros mais bonitos e admirados do país começou antes. Por iniciativa de uma sociedade acionária de 12 cidadãos, o teatro se chamaria São Pedro de Alcântara e auxiliaria a Santa Casa de Misericórdia. O então presidente da província, Manoel Antônio Galvão, doou em 1833 o terreno da Praça da Matriz, no centro da cidade. Iniciadas no ano seguinte, as obras foram interrompidas pela Revolução Farroupilha por dez anos, ainda na fase dos alicerces (1835-1845). Depois da guerra, em 1850, os trabalhos foram retomados com verbas de um programa de loterias estaduais, e o edifício em estilo neoclássico foi inaugurado em 27 de junho de 1858, com capacidade para 700 espectadores e

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decoração em veludo e ouro, numa Porto Alegre com pouco mais de 20 mil habitantes. Mas a sociedade constituída para sua conservação não conseguiria mais arcar com as despesas, e o imóvel foi desapropriado pelo poder público em 2 de abril de 1861. Foi palco dos mais importantes espetáculos como do maestro Heitor Villa-Lobos, de gigantes como Walmor Chagas, Paulo Autran, Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo.


Por suas galerias, camarotes e coxias passaram Cacilda Becker, Marcel Marceau, Olavo Bilac e políticos como Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Apesar disso, em abril de 1973, o Theatro São Pedro foi interditado por falta de condições técnicas. As obras de restauração começaram em 1975, sob comando do arquiteto Carlos Antônio Mancuso (1930-2010). A direção administrativa dos trabalhos foi designada a Eva Sopher, que dirigia o Instituto Pro Arte. A reinauguração foi em agosto de 1984, com o espetáculo de teatro de bonecos O Julgamento do Cupim, do Grupo Cem Modos, o musical Piaf, com Bibi Ferrei-

ra e uma apresentação da Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Isaac Karabtchevsky. Desde então, é a alemã nascida em Frankfurt, no dia 18 de junho de 1923, que está incansável no comando da Fundação Theatro São Pedro, criada em 1982 e desde então dirigida por ela. Ligada de forma autônoma à Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, Eva, filha do banqueiro Max e da dona de casa Marie Plaut, irmã de Lieselotte, a Lolo, completa seus 90 anos na capital gaúcha, cidade onde vive há 53. Todos eles numa cruzada destemida pela preservação dos patrimônios culturais. Dedicada, idealista, obsessiva,

Para colocar de pé novamente o teatro e construir o Multipalco, o prédio ao lado com oito andares e mais de 18 mil m2, a maior parte dos recursos vem da iniciativa privada

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Umque Bá, lugar Lugar

imparcial, séria, a menina que aos 13 anos trocou a Alemanha nazista de Adolf Hitler pelo Brasil cuida de todos os detalhes da instituição desde 1975, quando convidada para o cargo pelo então governador Synval Guazzelli, por sugestão do jornalista Paulo Amorim. Reativou a Pro Arte – onde trabalhara desde os 16 em São Paulo – em Porto Alegre, em 1960, poucos meses depois de chegar à cidade com o marido, também judeu-alemão, Wolf Klaus Sopher, e das filhas, Renata e Ruth, nascidas no Rio. Foi seu grande e único amor, Wolf, com quem se casou em março de 1946,

O lustre original tinha um dispositivo para a cera não cair na plateia. Ele sumiu e foi localizado anos depois na Igreja Matriz de Rio Pardo, já sem grande parte dos pingentes de cristal. O atual foi feito em Porto Alegre e tem cerca de 300 pingentes de cristais nacionais e da Boêmia

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no Rio de Janeiro, três meses depois de conhecê-lo, e que a convenceu a assumir a restauração do teatro fechado havia 10 anos, a convite de Synval Guazzelli. Foi ele também, seu grande apoiador na busca de recursos para as obras, que, como repete dona Eva, foram não só de restauro, mas de reconstrução. Com o marido, falecido após 41 anos de relação, em 1987, formou uma família de duas filhas, quatro netos e seis bisnetos, para os quais ama cozinhar aos domingos. Depois de árduo trabalho, o teatro foi devolvido à comunidade no dia 28 de junho 1984.


DE 3 0 DE JU N H O A 18 D E AGOST O

2013

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metas e sorrisos A família e três projetos movem Nelson Eggers: o novo Centro de Distribuição de Canoas, a ampliação da fábrica de Lajeado e a nova fábrica do estado, que fará novos produtos 58 |

Enquanto o avô Emilio Kirst e o pai, Theobaldo Eggers, já tocavam a pequena indústria familiar na região de Lajeado, o pequeno Nelson, nascido 7 anos antes em Paverama, também ajudava no sustento da casa. Com a mãe, tirava e a distribuía o leite a cavalo antes mesmo de conseguir montar sozinho: “Era muito alto. Quando eu descia para entregar as garrafas ou para desempacar o cavalo, pedia ajuda para subir de volta ou puxava o animal”, relembra aos risos, com a doçura que o tempo não apaga, para, em seguida, perder-se em outra lembrança: “Tinham essas coisas boas. Cansei de esperar sentado na telefônica uma ligação e era uma


História Fundada por Emílio Kirst, a história da Fruki começou em 1924, na Vila de Arroio do Meio, Lajeado. A pequena indústria familiar produzia cerveja, vinagre, xarope, água tônica, gasosa e água de mesa com a marca Bella Vista. Em 1949, em parceria com a família Vontobel produz o refrigerante Laranjinha.

festa. Hoje, não se atende o celular, já existe um problema”. É acompanhando de perto as mudanças do mundo e evoluindo ao lado delas que o empresário Nelson Eggers completa 52 anos na empresa que comanda e festeja as nove décadas em 2014. A maior indústria regional de refrigerantes do estado tem capacidade anual de 300 milhões de litros, responde por 13% do mercado nacional de refrigerantes, 15% do de água mineral, e é líder na produção regional do estado. O aprendizado que a caminhada pessoal proporcionou também tem a ver com a história da Fruki. A primeira mulher teve um AVC repentino quando a caçula do casal, Fabiola, tinha 3 anos. Ain-

da eram pais do primogênito Fernando, que tem 42 anos e necessidades especiais, e de Aline. “Aprendi a ser pai e mãe de três filhos, fortaleci laços muito ricos de amizades. Todos trabalham comigo. Com o Nando eu tomo café todos os dias, ele me acompanha até a empresa, faz natação e à tarde frequenta a APAE. É meu melhor amigo.” Do segundo casamento, ele tem mais três filhos e vive cercado pela família. Para cumprir todas as metas, que entre pessoais e profissionais nunca foram poucas, além de dedicação, método e organização são fundamentais: “As 24 horas não são por acaso: são oito horas de trabalho, oito de descanso para o sono e oito para a família e o lazer”.

Em 1971, instala-se às margens da BR-386 e lança um refrigerante com a marca Fruki. Nos anos 90, lançou suas versões PET e latas de alumínio, e a partir de 2000, a água mineral Água da Pedra e o repositor energético Frukito. Centros de distribuição e vendas abrangem todo o estado. O foco não é exportação, mas é possível encontrar o guaraná em países como o Uruguai, Japão, China e Estados Unidos. Espontaneamente, o jogador David Beckham saiu de um restaurante de Venice, Los Angeles, tomando uma latinha de Fruki. O flagra fez o rótulo lajeadense dar a volta ao mundo em um flash.

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Quero ver o Brasil com boa renda e vender para os brasileiros.

Para o presidente da Fruki, as pessoas são o mais importante na empresa. Focada nessa premissa, em 2012 a empresa gaúcha atingiu o faturamento de R$ 200 milhões, meta estabelecida para quatro anos à frente: “Brinco que cometemos um erro no plano estratégico para sermos líderes regionais em 2016. Só que aconteceu em 2012”. Quintuplicar as vendas em oito anos é o norte do momento: faturamento de R$ 1 milhão em 2020. Mas o crescimento vertiginoso e planejado não muda a mira do menino que não alcançava o lombo do cavalo: “Nosso foco não é a exportação. Poucos países têm 200 milhões de habitantes. Em uma entrevista, Aline, uma de suas três filhas, disse que hoje não é mais possível mas que a relação entre o pai e os funcionários sempre foi tão intensa que antes de a Fruki ter 900

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colaboradores, ele lembrava dos nomes dos filhos de cada um. Não duvido de nada disso ao ouvir enternecida o finalzinho dessa história, enquanto espio curiosa uma cesta cheia de mimos e olho para meu entrevistado: “Não faço nada sozinho, todos me ajudam e me facilitam. Essas cestas são para cada um dos aniversariantes. Eles vêm na minha sala e eu entrego”. Nelson volta a sorrir com os olhos miúdos e me explica: “Damos de presente quando eles se formam nos cursos de formação subsidiados 50% por nós. Nada de graça tem valor. Como exigimos conhecimento e mais preparo, temos que ajudar”. No final do ano cerca de 30 funcionários aposentados que ajudaram a empresa a crescer se reúnem anualmente para confraternizar a parceria de uma vida: “É uma diversão. É a minha turma”.


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A criativa Graça Cabral Nascida em Belo Horizonte, com os pais e o irmão passou a infância em Belém do Pará, São Paulo e Rio de Janeiro. A adolescência foi no Peru, Chile e Paraguai. Hoje ela é um dos principais nomes quando se fala em economia criativa.

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O berço e a roupa forrados com estampa de oncinha, o laçarote na cabeça e a pulseira de figa anunciavam que o que não faltava para o bebê em questão era estilo. Entre mimosices e detalhes charmosos foi educada a menina Graça Cabral, um dos cérebros da Luminosidade. Ela é sócia-fundadora da empresa criadora e organizadora do São Paulo Fashion Week, principal plataforma de moda da América Latina, e do Hot Spot, primeira incubadora de novos talentos de moda no país. É também diretora do In-Mod Instituto Nacional de Moda e Design, no qual é responsável, desde 2007, pelo projeto pioneiro de economia criativa. Como morou em muitas cidades, essa globalização precoce deu a ela uma bagagem cultural única. Para se adaptar a cada nova morada, estudou sempre em escolas americanas, e aos 18 anos, a cidade escolhida para cursar Comunicação Social e formar-se em jornalismo foi o Rio. O interesse pela moda passa pela transversalidade que esse canal de comunicação tem com a arte, a arquitetura, com a história e outras linguagens. Foi morar em

Londres, onde o primeiro marido, médico carioca, foi fazer especialização por dois anos. Trabalhou em diversas áreas do jornalismo nas redações da BBC inglesa e da Rede Globo. Hoje é casada com um psicólogo, com quem teve três filhos. Outra cria da qual se orgulha muito é o conceito inovador da SPFW. A ideia do desfile veio do Paulo. Graça brinca que a moda entrou na sua vida por acaso. Em 1993, foi convidada pela Paula Dipp para a missão de revitalizar a Zoomp pela comunicação. Conheceu Denise Basso, na época no marketing da grife brasileira, e a Márcia Matsuno. O trio se associou a Paulo Borges e, juntos, criaram a SPFW, na época, Morumbi Fashion Week: “Gostamos de trabalhar com muitos

palpites. Pensar coletivo é a melhor forma para que todos ganhem. Nada nasceu como um evento, e sim como um processo”. Para ela, as formas de expressão e a atitude sempre chamaram mais atenção do que as tendências. Diferente de qualquer semana de moda do mundo, foi por esse viés e com essa visão multicultural que a semana paulistana virou case de expertise para a moda mundial. Além de mostrar moda e apresentar tendência, pensa o entorno do processo criativo, focada em fomentar a economia criativa brasileira ligada exclusivamente ao universo da moda e todas as suas pontas: “O desafio permanente é costurar essas vertentes todas. Somos ricos tanto na criação quan-

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to na matéria-prima genuína, como teares, trançados e técnicas típicas. Moda é sem fronteira, um retrato de uma época. Isso que me seduz”. Em 30 anos, a Luminosidade fez a coisa acontecer, com comunicação, estratégia e projetos especiais. Virou case de economia criativa em fóruns e promoveu seminários para criar cultura de moda. Dessa necessidade cada vez mais emergente surgiu o Movimento Hot Spot, com a ideia de mergulhar na visão 360 graus de mercado e desenvolver todos os elementos na moda: “O que tem por trás de todo o simbólico da moda transcende a tendência”. A partir de 2007, a economia criativa ganhou espaço significativo nos eventos. Formavam-se grupos de profissionais de várias naturezas para se aproximarem e colaborarem em conversas A ideia é conectar redes criativas, gerar novas parcerias, redes e processos, olhando para mercados maiores, bem como oferecer oportunidades numa área cara – com vertente mercadológica, tecnológica e artística. O movimento Hot Spot, por meio da incubadora, acompanhou, de 2002 a 2007,

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11 talentos que tinham dificuldades em gestão e economias de produção. Ali nasceram marcas como a Néon, Samuel Cirnansck e Amapô. Em 2007 a iniciativa foi transformada em prêmio nacional, para estimular o mercado brasileiro. O Movimento Hot Spot ampliou sua premiação para dez categorias: “Como somos loucos, criamos a categoria ideia, com prêmio de R$ 200 mil, para colocar em prática. E o de moda, R$ 150 mil, para desenvolver duas coleções”. Abertas em setembro de 2012 até dezembro do mesmo ano, foram 1.642 inscrições, das quais foram escolhidas 303 na categoria moda e 79 em ideias. Sul e Sudeste se destacam. São polos de inovação.


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A cara do brasil Por Orestes de Andrade Jr. Jornalista e Sommelier

Fotos Gilmar Gomes

Com um produto genuinamente brasileiro, Evandro Weber desbravou nossas fronteiras levando a cachaça para os quatro cantos do mundo.

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Evandro Weber é o alemão mais brasileiro do Rio Grande do Sul. Gaúcho porque nasceu em Ivoti, cidadezinha situada na Rota Romântica do RS, a 80 quilômetros de Porto Alegre, passando Novo Hamburgo. Alemão porque sua família veio de Hundstrich, um lugarejo próximo a Düsseldorf. E brasileiro porque vive de produzir a bebida que é a cara do país – a cachaça! A ousadia de elaborar “água que passarinho não bebe” na terra do vinho veio

da tradição familiar. Desde 1824, quando chegaram ao Brasil, os pioneiros Jakob, mulher e filhos – a primeira geração da atual família Weber de Ivoti – viveram da produção de “schnapps”, um destilado de batata inglesa, vocação adquirida na Alemanha. Em 1848, José Weber Filho (segunda geração da família) decidiu investir em uma bebida tipicamente brasileira, um destilado à base de cana-de-açúcar, em vez de batatas.


Cem anos depois, em 1948, José Weber, avô de Evandro Weber, encheu um barril de 500 litros de cachaça, embarcou-o em uma carroça de quatro mulas e levou até Novo Hamburgo para comercializá-lo pela primeira vez. Embora seja produtor de cachaças desde 1948, um século depois de a família chegar da Alemanha, a história de sucesso da cachaçaria começou em 2001, com a entrada da marca Weber Haus. A partir de 2004, a empresa começou a venda fora do mercado regional (de Ivoti, Dois Irmãos e Novo Hamburgo). Evandro Weber foi o desbravador do mercado nacional e internacional há apenas oito anos. Em 2006 conseguiu a primeira exportação,

que hoje representa 30% do faturamento da empresa, já presente em países como Estados Unidos (sucesso na rede de churrascarias Fogo de Chão), China, Alemanha, Itália, Canadá, França e Japão. O segredo da notoriedade no exterior é que, desde o início, Evandro Weber posicionou suas cachaças no mercado como um produto genuinamente brasileiro. Parece óbvio, mas não é. Depois de retornar de feiras internacionais, em 2004, Evandro Weber notou que a cachaça era praticamente desconhecida no mercado externo. A solução foi associá-la à caipirinha, um sinônimo do Brasil no mundo todo. “Nossa estratégia foi ser sempre reconhecida como cachaça brasileira, e

não de um lugar específico, como cachaça gaúcha ou mineira. Isso fez e faz toda a diferença, especialmente no exterior”, explica. As lições aprendidas no exterior resultaram em novidades, como aguardentes compostas com frutas e ervas, lançadas ainda em 2005. Em 2008 vieram os licores. E as cachaças passaram a ter álcool moderado, de 38 a 40 graus, mais agradáveis ao paladar. “A cachaça é um ótimo aperitivo e ainda um bom complemento para a comida”, garante. “A imagem de produto sem qualidade ficou no passado”, comenta. Hoje há inúmeras cachaças premium, vendidas com valor superior a R$ 100, e algumas acima de R$ 1 mil. Como o novo lançamento

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Báco

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da cachaçaria – o rótulo Lote 48 Weber Haus 12 Anos Extra Premium –, que teve apenas 2.000 unidades engarrafadas no dia 26 de janeiro deste ano. É o principal lançamento da história da empresa, com preço que chega a quase R$ 1.700. Isso porque a “Ferrari” da Weber Haus é comercializada em escala de raridade. A unidade 1.999 foi vendida a R$ 701. A partir daí, o preço aumenta em R$ 1 a cada garrafa numerada em ordem decrescente, até atingir R$ 1.698, na de número 0002, também já comercializada. A garrafa 0001 será leiloada, enquanto a de número 2.000 ficará para sempre no acervo da empresa. Um produto assim mere-

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ce cuidado. A garrafa, por exemplo, é feita artesanalmente a partir de sopro de vidro em fornalhas. Tem design único e é banhada em ouro 18 quilates. O líquido foi escolhido por especialistas entre 18 barris de bálsamo e carvalho francês guardados na cachaçaria há 12 anos, como os bons uísques e conhaques. Os três melhores barris foram selecionados para compor essa bebida exclusiva. “É uma cachaça única. Como os vinhos raros que se valorizam com o passar do tempo, as cachaças envelhecidas podem seguir esse caminho. É a minha aposta”, diz Evandro. Ao estilo alemão, cujas homenagens ocorrem em vida, ao contrário do Brasil, onde os mortos é que

geralmente são reverenciados, os pais de Evandro, Hugo e Eugênia Weber, que conduziram o processo de constituição formal da empresa e inauguraram o catálogo comercial com o rótulo Primavera, em 1968, são testemunhas do nascimento de um produto ícone, com a marca do empreendedorismo alemão, o trabalho gaúcho e a criatividade brasileira. “O que eles começaram com a Primavera tornou-se a marca Weber Haus. O Lote 48 é o nosso reconhecimento ao trabalho deles e um presente aos apreciadores da melhor cachaça produzida na mesma terra aonde chegaram nossos antepassados”, conclui Evandro Weber.

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LíviaChavesBarcellos

a arte carioca Convidada pela Revista Bá, darei aqui preciosas dicas daquilo que, ao longo dos anos, considero o “bem viver”. Também vou entrevistar pessoas interessantes com alguma relação com o tema escolhido. No caso da cidade mais bonita do mundo, e que fica logo ali, a uma hora e meia, aterrissamos no Aeroporto Tom Jobim. A primeira impressão não é a melhor: a espera pelas malas é demorada e desorganizada. Depois, é só prazer. Tudo acontece entre o Leblon e a Barra. O Sheraton, na subida da Niemeyer, é uma ótima pedida. Eu amo o Leblon. Ali encontram-se desde excelentes apart-hotéis até um cinco estrelas à beira-mar plantado. Depois da inauguração do Village Mall, na Barra, as cariocas não precisam mais sair da cidade para comprar as melhores grifes do mundo. Inaugurada recentemente, a Prada no Village bateu todos

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os recordes de vendas de todas as lojas da marca do planeta. Mostra que comprar bem não é privilégio das paulistas. Recomendo a parada para descansar e comer o melhor croque-monsieur de todos, feito por Claude Troisgros na sua CTBrasserie. Ninguém pode dizer que conhece o Rio sem passear pelo Centro. Vá direto ao Museu Rio de Janeiro – o MAR, inaugurado em março, ocupa dois prédios: o antigo Palacete Dom João VI e, ao lado, onde havia uma estação rodoviária, uma construção moderníssima. O contraste ficou lindo. No momento, os highlights são duas exposições de obras de arte brasileira, que foram cedidas por dois dos maio-

res colecionadores do país, Sergio Fadel e Jean Boghici. A Vontade Construtiva na Coleção Fadel ficará exposta até 7 de julho e contém 250 obras pertencentes a ele. Em cartaz até 1º de setembro, Boghici cedeu 136 obras de sua imensa coleção, na qual encontramos Lygia Clark, Tarsila do Amaral e ainda alguns pintores internacionais, como Rodin e Modigliani. Aproveite a ida ao Centro para conhecer um dos mais belos prédios da cidade, o do Real Gabinete de Leitura, onde há cerca de 400 mil volumes de livros de língua portuguesa. Arremate com pingos de tocha divinos e um chá na Confeitaria Colombo, uma das mais lindas do mundo. Enjoy!


Foto Divulgação

Confeitaria Colombo Museu Rio de Janeiro – o MAR Real Gabinete de Leitura CTBrasserie

A cara da Cidade Maravilhosa, Julio Rego é dono de um bom gosto único. Depois de trabalhar na Bolsa, no Banco Denasa, de viver em São Paulo, em Porto Alegre e a maior parte do tempo no Rio, hoje dedica-se exclusivamente à moda, assunto em que é expert. Ele é meu convidado para este pingue-pongue. Cidade preferida: Paris Livro inesquecível: Cartas a um Poeta, de Rainer Maria Rilke O melhor filme: Todos do diretor Billy Wilder Restaurante: Antiquario’s, Satyricon e o Jobi, no Leblon Sinônimo de requinte: Ser bem educado Mania: Arrumação Sonho de consumo: Ganhar a Loto acumulada Sonho realizado: Bons amigos Sonho não realizado: Viajar mais Saudade: Minha mãe Onde podemos adquirir óculos de sua grife? Na ótica Arnaldo Gonçalves, na Visconde de Pirajá, 444, em Ipanema Jô é patrão ou amigo? Patrão e grande amigo Passeio no Rio: Jardim Botânico

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MarcoAntônioCampos

Robert Redford ou sundance kid? Robert Redford é um fenômeno. Ele tinha tudo para entrar para a história do cinema como apenas mais um galã loiro de olhos azuis, com uma dezena de sucessos de bilheteria. Pois hoje, quando chega aos 77 anos, Mr. Redford conquistou um lugar na indústria do entretenimento que vai muito além disso. Ele criou, dirige e divulga o Sundance Film Festival, um evento cinematográfico espetacular, realizado anualmente no estado de Utah, desde 1978, para oportunizar divulgação e discussão para o cinema independente norte-americano e internacional. “O Sundance começou como um mecanismo para a descoberta de novas vozes e novos talentos”, disse Redford em uma de suas aberturas. óbvio que o nome Sundance veio do

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sisudo personagem (Sundance Kid) que o próprio Redford viveu no notável Butch Cassidy, ao lado de seu amigo e parceiro Paul Newman, ao som da música eterna de Burt Bacarach. Redford é casado com a pintora alemã Sibille Szaggars, 51 anos, e tem três filhos: Shauna, 53, James, 51, e Amy, 43. Esteve por fazer dois papéis clássicos do cinema, o de Michael Corleone em O Poderoso Chefão e o de Benjamin Braddock em A Primeira Noite de Um Homem. Quando se pensa na carreira do ator Robert Redford, o que não faltam são filmes ótimos, como Golpe de Mestre, Todos os Homens do Presidente ou Entre Dois Amores (Out of Africa). Mas sua carreira atrás da câmera, como diretor de cinema, também se revelou excelente e talentosa, produzindo obras como Gente Como a Gente, Nada é Para Sempre, Quiz Show,


O Encantador de Cavalos, Lendas da Vida e A Conspiradora. Redford já recebeu dois Oscars, um de melhor diretor, por Gente Como a Gente, e outro honorário, pelo fato de ter criado o Sundance. A paixão pelo cinema independente e sua luta por abrir oportunidade a jovens cineastas sem dúvida são os maiores legados que Redford vai deixar para o cinema. O Sundance trouxe para a mídia nomes como Quentin Tarantino, Steven Soderbergh, David O. Russell, Paul Thomas Anderson, Jim Jarmusch, Edward Burns, Darren Aronofsky, entre tantos. Lá ganharam as telas pela primeira vez – e talvez sem o Sundance nunca tivéssemos a chan-

ce de ver – filmes como Cães de Aluguel, Pequena Miss Sunshine, Obrigado por Fumar, Sexo, Mentiras & Videoteipes e Os Irmão McMullen. A reflexão que fica olhando para a carreira de Robert Redford é justamente a de que ele conseguiu encontrar um caminho extraordinário para realizar seus sonhos e levar adiante seus valores na defesa do cinema independente, mesmo sendo um dos expoentes do cinemão dos grandes estúdios. “Falando genericamente, eu encarei essa questão. Eu cheguei a um lugar em que eu descobri o que verdadeiramente tem valor. Não é dinheiro. Dinheiro é um caminho para atingir um fim, mas não é o fim”, afirma ele.

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Vida Selvagem Fecho os olhos. Minha aconchegante cama me recebe de braços abertos e lençóis egípcios. O corpo que deita é envolvido por sua densa camada de espuma e logo descansa no silêncio da noite. Respirando a escuridão, tudo começa a passar mais devagar. Toda aquela loucura de mais um dia corrido, cercado de gente e decisões, vai desacelerando em quatro, três, dois, um... Do presente, volto ao passado. De casa, ao mundo. Da cidade, à selva. Absorto nessa lembrança, os bichos puxam a carroça de meus sonhos. Estar perto, de frente, rodeado por animais selvagens num safári, na selva africana, foi uma das experiências mais impactantes que presenciei. Era como se estivera num apartamento infinito com diferentes donos e moradores, que a rotina da casa funcionava dessa maneira, e se por acaso alguém desarrumasse a cama, bagunçasse a sala ou mexesse na mesa, poderia ser picado, atacado ou mordido por seus proprietários. O puro e o maculado, o inofensivo e o traiçoeiro, o pensante e o irracional. A vida, como a natureza, é selvagem. Porém, a selva, como o nosso cotidiano, também é cercada de companheirismo e amor. Compreensão e sabedoria. Se os animais conseguem... André Ghem*

*O autor é tenista profissional e viaja em média 35 semanas por ano pelo mundo. 74 | MARÇO - 2013 |


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PatiLeivas

saboroso desafio Há exatos dois meses, comecei uma dieta... Ok, aí tu pensas: “Grande coisa, toda segunda eu começo uma!”. Mas dessa vez foi diferente! Fiz juntamente com outra pessoa, o amigo e também promoter Nelson Quinto. Como nós dois estávamos acima do peso e temos muitos “seguidores” nas redes sociais, resolvemos colocar a cara à tapa e abrir pra todo mundo nossa busca, na forma de um DESAFIO! Buscamos uma profissional gabaritada, a personal trainer e fisiologista do exercício Marcia Refinski, e encaramos o que chamamos #DesafioMR e #DesafioPatiLeivasxNelsonQuinto! Tá, mas aqui é uma coluna de comida, minha filha.... Pois é! Imagina o quão difícil foi pra mim, com troEntrada: Tigelinha de Siri Carne de siri ao leite de coco, castanhas-do-pará com ´ farofa de curcuma e molho de pimenta Principal: Salmão ao molho de frutas vermelhas e champagne 76 | MARÇO - 2013 |

centos eventos e festas, fazer dieta! Pois aí que entra a dica deste mês ! Tive que ir atrás de restaurantes mais “lightdietdesnatados” – como diz a Marcia Refinski... E sabe o quê? Achei opções incríveis! Como a ideia aqui é apresentar comidinhas deliciosas em lugares fora de Poa, nenhum lugar melhor que o restaurante precursor dos orgânicos na cidade que mais oferece coisas: São Paulo. O Le Manjue é um lugar megacharmoso na Vila Nova Conceição, bairro nobre e cheio de restaurantes em Metrópolis... O mais legal é que é um lugar “supersocial”, badalado e superbem frequentado, passa longe de ser aqueles lugares cheios de “bicho-grilo-natureba”! O restaurante

passou por uma reforma bem recente e tem opção de buffet orgânico (delicioso) no almoço e à la carte no jantar. Muitas opções saudáveis (dentro da dieta, aprendi que a qualidade do que comemos faz TODA a diferença), algumas mais calóricas, mas ainda assim muito interessantes para quem está cuidando o que come... Minha escolha pra mostrar pra vocês foi bem leve e saborosa de mais! Espero que gostem e visitem o restaurante, e que também se empolguem na “batalha” de comer melhor: só tem vantagem! Se tiveres alguma receita boa (e leve), me manda no @patileivas (Twitter e Instagram), ou segue lá e vê as minhas dicas! :D


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close inCasa

estilo, rumos e cores Por Silvana Porto CorrÊa

Fernanda não consegue economizar na bagagem, nem de ida, nem de volta: “Sempre levo duas malas e volto feliz. Adoro fazer comprinhas”.

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O detalhe pode estar num laço da carteira bordada, na camisa de seda, no acessório impactante e colorido, na mistura inusitada de tons e até na sobriedade. Com a mesma facilidade que Fernanda de Medeiros Maisonnave carimba o passaporte atrás de um novo roteiro, delicia-se fazendo suas marcantes combina-

ções. Por esse e por outros tantos bons motivos é difícil não perceber a agradável presença dessa moradora da Ilha da Pintada há 11 anos. Ao lado dos filhos Rafael, 12, e Pedro, 19, ela recebe a família nos finais de semana em seu pequeno paraíso particular às margens do Guaíba, onde pratica Stand Up Paddle.


Os melhores parceiros de viagem são os preparados para imprevistos, com bom humor e que não economizam.

Por lá, cada cantinho conta um pedaço da história, uma lembrança de viagem da charmosa empresária porto-alegrense, que trancou o primeiro semestre em Letras para morar um ano na Suíça. Na volta ao Brasil, escolheu Economia. Nessa época, em que começou a trabalhar com o pai, Roberto, aos 18 anos, viajava muito com a mãe e a irmã, Nilda e Luciana: “Para Bali, aos 21 anos, com a minha irmã, foi inesquecível”. Talvez tenha nascido por lá, seduzida pelo exótico Oriente, a ideia da agência, que mantém há 14 anos com Maria Cristina Salgado, e há quatro com Anelise Risso. O diferencial do turismo do trio são os roteiros de luxo. Por conta disso,

Fernanda tem girado o planeta fascinada e a trabalho: “Recebo convites para feiras exclusivas de viagem, como a ILTM, de Cannes, em dezembro, e a Pure, de Marrocos, em novembro”. Neste momento, ela está na Escócia, com direito a passeios a castelos medievais. Exatamente o que a apaixona, o novo: “Tóquio e Índia me pegaram de jeito, o que mais me excita é o desconhecido”. Talvez por isso, entre os desejos de Fernanda estão idas para Rússia e China, com mergulho em suas peculiares culturas. Muito provável que, na próxima visita, sua linda casa já tenha mais sinais do hemisfério Norte espalhados em harmonia pelo seu charmoso e colorido universo.

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PaxLuxLuv

www.paxluxluv.com.br

Teletransporte 1 O MOMU – Museu da Moda da Antuérpia abriga, até dia 11 de agosto, a mostra Couture in Color – Silks ans Prints from Abraham Archive. A empresa suíça Abraham era especializada em estampar sedas e colaborou “apenas” com Christian Dior, Hubert de Givenchy, Yves Saint Laurent and Cristóbal Balenciaga durante anos. Na década de 30, era comandada por Gustav Zumsteg, amigo íntimo de uma turma de respeito: Marc Chagall, Alberto Giacometti, Elsa Schiaparelli e Pierre Balmain, nomes da arte e da moda que influenciaram consideravelmente as criações de Zumsteg, que tornou-se figura-chave na fabricação de tecidos para alta-costura. Com chegada do prêt-à-porter, nos anos 60, a demanda por sedas diminuiu

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drasticamente, fazendo a Abraham repensar tudo. Manteve parceria com Yves Saint Laurent até 1995, quando definitivamente foi obrigada a fechar suas portas. Tido como patrimônio nacional suíço, o arquivo da Abraham foi dar um giro

pela primeira vez na cidade perfeita. O MOMU convidou designers contemporâneos como Dries Van Noten, Diane Von Furstenberg e Peter Pilotto para experimentarem os cortes de seda. Fica o desejo de ver de pertinho. +www.momu.be


Vestir arte Nada de novo em dizer que o corpo é uma mídia. A ideia de que somos veículos de comunicação interpessoal, que buscamos definir nossa personalidade através do que vestimos, paira no ar, e talvez seja o motivo da migração em massa de profissionais de diversas áreas que escolhem o mercado da moda em busca de realização. A paixão por moda com viés comportamental vem do desejo de compreendermos o agora – se assim considerarmos, o cenário fica bem positivo. Parece tão vazio amar a moda pelo seu alto grau de efemeridade, queremos fazer sentido. Foi aí que uma moça chamada Tainá Barrionuevo criou a marca PhD. Tainá acredita que a discussão “moda é arte” e “arte é moda” ainda não acabou, e sua proposta é “vestir arte”. A PhD começou com nove artistas de três países diferentes; o desejo de Tainá é que a marca se torne um portal para intercâmbio de culturas. Como a perfeita representação do agora, a PhD é sigla de Photo Dress, ou seja, estampas full print de fotos/obras de artistas contemporâneos. Para completar, qualquer adepto pode virar curador. + www.phdress.com

Teletransporte 2 O que a moda e o estilo nos contam sobre a sociedade? Como pessoas de diferentes gerações e culturas se comunicam por meio do vestuário? É o que indaga a exposição “Trading Style - Weltmode in Dialog”, em cartaz até 31 de agosto no Weltkulturen Museum, em Frankfurt. A mostra é fruto da imersão de quatro marcas de moda um tanto quanto transgressoras, como a nigeriana Buki Akib, a holandesa Kind of Guise, a britânica Cassette Playa e a australiana P.A.M/ Perks and Mini, que, durante o ano de 2012, trabalharam juntas no laboratório de pesquisa do museu. Com direção de arte de Teimaz Shahverdi, o time de designers investigou e selecionou elementos etnográficos de culturas diversas, ou seja, inspiração infinita. A partir dessa riqueza de elementos, fizeram suas releituras e desenvolveram novas coleções. A mostra é composta por mais de 500 objetos históricos, filmes e fotografias que documentam costumes e tradições e suas indumentárias no mundo todo. + www.weltkulturenmuseum.de

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QUANDO SOPRA O MINUANO moBรก

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FOTOS: RAUL KREBS (ESTÚDIO MUTANTE) STYLING: MARIANE COLLOVINI DIR.ARTE: DUDU VANONI (CRAFT)


Calça Samô – Pandorga Malha preta Osklen Moletom cinza Asap – Pandorga Gola Doris Klusener

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Blusa de tule Greice Antes Vestido de alpaca – Vintage Moda Brechó Manta Nica Gola Doris Klusener


Moletom Asap – Pandorga

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Casaco de tricô Attraversiamo Calça Samô – Pandorga Manta acervo stylist

Vestido longo Greice Antes Cordão no braço Indiada - Pandorga Cinto Forum Manta Zara


Calça Samô – Pandorga Blusa de tricô – Malha preta Osklen Manta acervo stylist Cinto Forum Manta de tear peruano acervo stylist

moBá cartola_normal

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Blusa de tule Greice Antes Casaco – acervo Pandorga Calça Last Nite – Pandorga Gola Doris Klusener Manta preta amarrada no braço Rockster

Modelos: Bruna Dadalt e Renan Veiga (Super Agency) Beauty: Diego Marcon Assistente de arte: Felipe Lopes (Craft) Assistentes de fotografia: Luis Krebs e Otávio Castedo Tratamento de imagem: Gustavo Schossler (Estúdio Mutante)


beleza

ChapĂŠu de lĂŁ - Kangol

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Cabeça foi feita para usar chapéu! Por Aline Matias

Chapéu pode ser um acessório divertido, proteger do frio e da chuva e camuflar aqueles dias de cabeleira rebelde. O truque para incorporá-lo no dia a dia é conjugar harmoniosamente com a beleza, pegando leve no pincel pois fica supercool eleger um elemento evidente na maquiagem, tipo um olhar mais marcado e uma boca nada, ou batom importante e olhos discretos; ou ainda aquele look cara lavada, trabalhadinho no primer ou no BB cream, rímel levinho e lipbalm. O importante é lembrar que o rosto pede uma atenção na medida, sem exageros e com os devidos cuidados, afinal, o foco fica no chapéu!

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Chapéu de feltro – Renner

Chapéu de nylon para chuva - Zara


ChapĂŠu de feltro fancy - DonnaLy

Boina de cashmere - DonnaLy


ChapĂŠu de feltro fancy - DonnaLy

ChapĂŠu de nylon para chuva - Zara


ChapĂŠu de tecido - Riachuelo

ChapĂŠu de palha - acervo


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1. Dior Masque Magiqué: pele cansada? Em 20 minutinhos cara de recém-acordada 2. Chubby Stick Moisturizing lip colour balm Clinique, um “must have” levinho e superhidratante! 3. Make B batom stick O Boticário, fácil aplicação e cores incríveis 4. Long Last Glosswear Clinique, longa duração e um brilho daqueles 5 Different Lipstick Clinique, cores elegantes e antialérgico 6. Balm labial leite de cabra Empório Body Store, perfeito para proteger os lábios do clima frio, a latinha é um charme 7. Batom Rouge pur couture, vermelhos fantásticos 8. BB Cream Lóreal, pode ser usado sozinho e já faz um efeito de pele descansada 9. BB cream Maybelline, queridinho do momento, tem três opções de cores 10. Make B, base líquida alta definição O Boticário, boa alternativa econômica, acabamento perfeito 11. Primer facial Panvel, bem levinho 12. Batom Panvel, cores incríveis e supereconômicos 13. Delineador colorido Panvel, boa fixação e opções de cores 14. Quickliner for eyes intense Clinique, supermacio, intenso e fixante 15. Máscara Dior Show, minha queridinha, avoluma e tinge intensamente 16 The falsie volum’express Maybelline, avoluma e alonga, adoro a escovinha 17. Delineador Panvel risco preciso, não borra fácil 18.Blue creamy máscara Mavala, o azul é lindíssimo 19. Hidratante facial para pele oleosa Panvel, bem sequinho, hidrata sem deixar brilho 20. Youth surge SPF15 Clinique hidrata, previne o envelhecimento e protege do sol 21. Eclat Miracle Lancôme primer iluminador, pele luminosa e sem sombras 22. Teint Miracle Lancôme pele perfeita a queridinha da princesa Kate 23. Embryolisse lait crème concentrè, hidratante perfeito para peles secas, faço estoquinho de tanto que gosto 24. Pó translúcido Isabela Capeto, chegou fazendo bonito com sua microtextura, não devendo nada aos similares poderosos Sou Aline Matias, maquiadora profissional, trabalho como free lancer em beleza, moda e publicidade, louca por cosméticos !

Modelos: Carol Escouto – Joy Models Jake Bisnela Premiére Models Management Manoela Brondani – Joy Models Tauany França – Ford Models Sul Vitória Chaves Barcellos – LOV Models Management

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modaurbana

Pelas ruas A rua dita moda e estilo e faz desfilar opostas personalidades em diferentes lugares. Em Porto Alegre o mix de referências interessantes conta com estilos inusitados trazidos por passantes e locais. Confira quem e como circula por aqui nas escolhas da jornalista Mauren Motta, da MM Conteúdo. Para ver mais acesse www.modapoa.com.br Fotos André Cavalheiro e Gabriel Nott

Nora Teixeira dá status ao pretinho básico com cinto poderoso e bolsa clássica. O vestido pode ganhar cara nova apenas com a mudança dos acessórios 98 |


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1 - Lica Melzer escolheu produção monocromática. Chique, os tons de nude ficam ótimos com acessórios dourados 2 - A produção de Fernanda Prestefelippe é ideal para quem preza pelo conforto. A saia longa estampada, que também pode ser usada nas estações mais frias, pede combinação básica. 3 - Preto e branco é aposta certeira nesta temporada. Fuja das combinações óbvias, assim como Alessandra Simas, e escolha peças com modelagens mais amplas e atuais 4 -O casal Diogo Carvalho e Renata Guerra aposta nos prints. Ele, na camiseta com estampa humorada, e ela no animal print versão pop 5 - O estilista Mauricio Placeres optou por produção básica, mas sem perder o charme. A calça skinny combinada com a bota tipo chelsea dá um toque contemporâneo ao look 4

6 - Renata Leiria sobrepõe malha com estampa de coruja à blusa listrada. Os óculos de armação redonda ainda são o modelo preferido 5

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AsPatrícias

www.aspatricias.com.br

À frente das criações da grife Iaiá, a estilista cria para mulheres reais sem tempo a perder

jOANA bACALTCHUK, BÁSICA DE MUITO ESTILO Fotos André Cavalheiro

Diz um amigo, renomado estilista do Brasil, que uma das grandes vantagens de uma mulher à frente da criação de uma grife feminina é a possibilidade de atender aos próprios desejos. Sim. Uma estilista pode criar pensando no que gostaria de usar, naquilo que faria brilhar seus olhos, nas peças que respondem

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aos seus anseios de moda. Quer saber?! A gente superconcorda. E muitas vezes é exatamente essa boa relação entre criadora e criaturas (no caso, roupas) que responde pelo sucesso de uma marca, como comprovam vários casos além de qualquer fronteira e também muitos próximos da gente, aqui mesmo pelos


pampas, como o da estilista Joana Bacaltchuk, que assina o estilo da gaúcha Iaiá. Joana, uma serelepe que não para um minuto e vira Bombril diante das mil e uma funções cotidianas, cria olhando para uma mulher como ela, que não tem tempo nem estilo a perder – e quem tem?! Embora dona de uma silhueta esguia de provocar cobiça até em estampa de revista, Joana também se preocupa em valorizar cada detalhe do corpo feminino, sejam eles perfeitos ou nem tanto – aquela barriguinha, aquele voluminho no quadril, aquela cintura não tão Scarlet O´Hara. A Iaiá, que chega aos sete anos com duas lojas, uma em POA, outra em SP, e um plano de expansão de fazer inveja em veteranas, tem uma roupa caprichada na modelagem e nos detalhes que valorizam cada centímetro das curvas, com tamanhos reais, bem diferentes dos idealizados nas passarelas. “Sempre penso nas coisas que eu gostaria de vestir, em como deixar o

corpo mais bonito, nas tendências que poderiam transitar por um closet sem deixá-lo caricato”, conta Joana, que tem as irmãs, Manuela e Mariana, como sócias na marca. Não à toa, a Iaiá tem um perfil básico, como Joana, que ama tons neutros e shapes secos. Mas nem tanto, já que a designer também se rende a uma boa estampa, um toque de cor, um complemento audacioso, um corte ousado. “Penso sempre em um básico com estilo, algo que me parece

responder às dúvidas de muita gente diante dessa profusão de tendências e informação de hoje, né?! Um básico bom que anime o nosso dia e torne nossa vida mais fácil.” Colecionadora de t-shirts brancas, explora na Iaiá todas as formas da camiseta, que podem até virar jumper, vestido, cropped. Apaixonada por jeans e couro, faz calças dos dois materiais que são disputadíssimas pelas clientes. Aposta nos toques de cor e em padronagens que a encantam para animar vestidos que transitam com muito charme do trabalho ao vernissage. Joana, sem dúvida, é da premissa de Diana Vreeland, a editora que marcou a história da moda e não acreditava que alguém que se vestisse mal em um dia qualquer da semana pudesse estar bem vestido em um sábado à noite, ou seja, faz roupa para deixar a mulher bonita sempre, e mantendo sua crença mais profunda: “Elegância é ser discreta”. Na Joana, a gente acredita.

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VitorRaskin

SPECIAL GUEST: Cheia de charme e muita personalidade, a psic贸loga Catarina Lobato Costa 茅 a convidada da coluna para a lente do fot贸grafo Nattan Carvalho. 102 |


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8 9 1 - Presen莽a Marcante: a bela Ana Laura Os贸rio 2 - Ana Aita no casamento dos sonhos 3 - Maria Agostina Algorta Noronha de Oliveira 4 - Lila Tellechea Pinto & Henrique Gonzalez em noite de festa animada em Punta del Este. 5 - Marcos Maisonnave & Juliana Kruel 6 - Lisette Feij贸 em noite de festa 7- Cen谩rio de Fime: Carlos Brinckmann & Manuela Jardim Vilar 8 - Elias & Luciana Fleck da Rosa - elegantes 9 - Luli Damiani & Zeca Amaral receberam no Country Club

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Veja quem Deu o Chic no jantar de aniversรกrio de Roberto Carlos na Casa NTX

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1 - O prefeito José Fortunati e Cicão Chies 2 - Ana Carolina Issler Ferreira Kessler e Francisca Osório 3 - Fernanda Zaffari & Carlos Alberto Thumn 4 - Fafá de Bélem 5 - Nara Birmann Sirotsky 6 - Rodrigo Vontobel 7 - Margie Siegmann 8 - Silvana Porto Corrêa 9 - Andrea Ioschpe Campos 10 - Nora Teixeira & Alexandre Grendene 11 - Carlos Albert e Rafael Braga, o irmão e o filho do rei RC 12 - Elizabeth Goldsztein 13 - Luiz Felipe & Bettina Becker

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15 - Fernando Baggio & Greice Boff

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16 - Duda & Lica Melzer

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Os amigos da vida toda CLINEU VIEIRA DOS SANTOS, LUCIANO MANDELLI, ALEXANDRE GERHARDT, GUSTAVO CALEFFI, FERNANDO BAGGIO, MARCELO PEGORARO e EDUARDO FERNANDES brindaram felizes os 40 na Ilha da Pintada

GUILHERME DIEHL e KARLA KRIEGER

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Alegria: FELIPE OLIVEIRA, JOÃO OTÁVIO CARMONA PAZ e ANGELO CALEFFI

misture BÁ Por Dulce Helfer Com Mariana Bertolucci


Fotos jv eventos

À esquerda, os queridos RAFAEL MOTTIN e PAULO BAGGIO

JÉSSICA PEGORARO, LAURA TEIXEIRA, ROBERTA VOLKWEIS e LUCIANA HEINECK BORGES | 107


social

CAETANO VELOSO encantou a plateia no AraĂşjo Vianna 108 |


ADRIANA CHAVES BARCELLOS, AFONSO MOTTA, ZÉ VICTOR e ALICE CASTIEL

NAILÊ SANTOS

DANIEL GIACOBONI, só alegria

LUCIANE FALCÃO e MARILENE BITTENCOURT

DÉBORA FLECK foi mimar ENA LAUTERT na mostra de sua talentosa vovó artista

LIA FLECK e CRISTIANE LÖFF

JEAN RODRIGUES entre as sócias NECA ESBRÓGLIO e ANNA LUIZA MEDEIROS

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Artista gaúcho radicado em São Paulo, ALEXANDRE CRAVO, o CUSCO REBEL, é um dos sócios da produtora de arte Mundo Arte Global, que cria e executa projetos customizados e artísticos

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Beleza, talento e simpatia: ALICE BASTOS NEVES

LOURDES FELLINE e RITA CHANG

TABAJARA RUAS e RAFAEL CARDOSO filmando Senhores da Guerra

À esquerda, JORGE FURTADO no camarim de Caetano

Abaixo, a cantora BIANCA GISMONTI VITORIO GHENO, DÉCIO AZEVEDO e RUI WILLIG

O designer MARCELO ROSENBAUM na Usina do GASÔMETRO

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Fotos Pati Leivas

social

Lindas, BARBARA RUSSOWSKY e THAYSA POLTO

MILTINHO TALAVEIRA e EDUARDO CONILL CAMILA MACEDO e PAULA CRUZ JORJA PORTELLA NUNES, sempre impecรกvel GLORIA CORBETTA, apostando nos detalhes WALESCA e JOSร LUIZ PIRES

DEBORA DORNELLES, o designer ADALBERTO AMORIM e RENATA BUSNELLO

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www.tabeditora.com.br

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Modelo: Vitória Chaves Barcellos Fotos e efeitos: Ricardo Lage Tratamento de Imagem: Gustavo Dias

“A beleza desperta a alma para agir” Dante Alighieri




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