Alexander Torres - Corpo Estranho

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Alexander Torres

CORPO ESTRANHO poesias



sumário arquivo morto a noite calipluvia desvio a serpente 39 graus e meio para Srs. de fino trato nos bastidores estas pessoas de bem aquele que veio 72-pin pena esquisita antes do fim um último olhar ruínas

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arquivo morto Não devia estar lá, aquele gesto macio em meio aos lençóis do meu abandono. Não devia restar nenhum sabor neste corpo estranho da lembrança.

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a noite Vi o dia morrer no seu leito branco de luz que se estendia no horizonte. E a noite surgiu sem pressa, negra e nua, como se buscasse o amor dos homens. Vi as estrelas surgirem dos seus olhos que se assustavam e se repetiam. E a trouxe para junto de meu peito.

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calipluvia Sua beleza caminha na chuva em um delicado corpo recomposto do desejo. E suas formas trazem estremecimento a estas palavras sem sombras. Sua beleza caminha com graรงa, a mesma graรงa que a chuva toma.

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desvio No corpo do desejo, poeta a tocar a pele da palavra com o cuidado de um amante. Para o amor nada ĂŠ estranho.

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a serpente Ela retornou do paraíso. E ela sorria, me oferecendo o pomo ainda fresco. A seguir, vieram os músicos, o juiz de paz, e os advogados que assegurariam a correta compreensão de todas as cláusulas contratuais. Ela largou os cabelos sobre os lençóis que se enrugavam, e nos conhecemos.

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39 graus e meio A tarde lanรงa ecos enfermos de luz de um amarelo que se apagarรก. Beijo o cadรกver vivo do que ainda serรก o seu corpo, e as vestes se animam, a moldar o desejo nas sombras de um sorriso.

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para Srs. de fino trato Esta poesia pobre? Não presta. Esta poesia vendida? Não presta. Esta poesia paga? Não presta. Esta poesia de esquina? Não prestará jamais!

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nos bastidores Não revelará nenhum segredo, o homem por trás da cortina. Não há nada lá. Sequer um coração a pulsar. Todas as páginas de seu livro estão em branco. E nenhuma árvore balança ao vento. Não há nada lá. Ele nada dirá.

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estas pessoas de bem Para os que não desejam, tudo que é estranho, é perigoso. Para os que não desejam, não resta nem o gozo do incerto. Desejar é errar em corpos alheios. E querer o que nunca está por perto.

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aquele que veio Invadi seu corpo como um estranho e conheci seu medo. Meus antigos encantamentos deitei em seus ouvidos. Entre os ciclos celestes, a noite do exasperado amor. Tracei seus mapas em segredo. E na mem贸ria do seu corpo escondi o meu destino. Todos os gritos, todas as l谩grimas se perderam no vazio, depois que fui embora.

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72-pin Seu corpo é estranho ao meu amor, e minhas palavras, ao seu ouvido, não se afeiçoam. Inútil e breve é meu suspiro a sepultar seu nome no silêncio. Sem clemência, adentro solitário a noite do esquecimento.

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pena esquisita Como um corpo estranho a ser estirpado do seu verbo, ela corrompe o bom funcionamento das regras comunicacionais. Ela está nadando nua contra a corrente literária. Ela é o estigma da delicada morte. Esta poesia? Não prestará jamais.

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antes do fim Minha alcova arde em sentidos delicados. No corpo do vinho há tanta saudade que me esqueço. Pousa seu nome no meu leito, estende seu verbo ao lado do meu. Nada sobreviverá ao amanhecer, estamos acabados. Estamos definidos na irresoluta sombra de um passado sem marcas. Só você e eu.

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um último olhar Seus olhos sempre foram uma cerimônia do adeus. Nunca brilhou outro sentido senão a partida. Na estranha substância de nossas noites quedaram as memórias sem glória das pessoas que passam na rua. Procurarão no irresoluto corpo de algum segredo a voz que chamou ao longe. Mas, tudo é silêncio nos seus olhos.

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ruínas Ventos varrem as páginas. Correm sussurros frios entre os dedos que já não buscam. A noite desenha uma paisagem escura na janela inútil de um sonho. Vagas folhas se perdem na sombra de um nome que não restará.

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PRODUZIDO EM BELO HORIZONTE - MG, BRASIL, EM FEVEREIRO DE 2012




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