Musaico

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Alexander Torres

MUSAICO



Alexander Torres

MUSAICO Breve seleção de poemas inspirados e dedicados às musas. Itinerário poético 1998-2009.

2018



na dieta matutina do poeta há pétalas de rosas banhadas em néctar pelas mãos das musas ardorosas



Escrevo seu nome [inspirado por Claudia] Escrevo seu nome num dialeto antigo para guardá-lo entre as coisas raras. E, antes que o segredo se estenda sobre nossa existência, tomo a sua mão. Viremos de longe, d’além dos jardins, para contemplar o tempo. E, se rir, riremos dos que não entendem ou desconhecem. Estranhas crianças perdidas no jardim das delícias dos outros. E, ao olhar os seus olhos, eu saberei, como sabem os que acreditam, que estarás comigo.

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Derrama a tarde em meus olhos [inspirado por Clície] Derrama a tarde em meus olhos, proclama e reluz. E, onde creio sua existência, faz brotar a lua, me seduz. As estrelas estão surgindo. Ela sonha. Ela brilha em meu delírio. Ela toma meus sentidos, por estar sempre sorrindo.

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Foi num estado delirante [inspirado por Bruna] Foi num estado delirante de sonho ou de estupor que a noite me induz, que ela me disse assim: Vês que sou tão fascinante... A ti darei um pouco da luz que há em mim. Vem queimar tuas asas neste amor, meu sutil amante. Quero ser eu o teu agraciado fim.

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Stars are falling [inspirado por Carol] Stars are falling On streets of London So, so quickly A grey sky, a cold wind My muse is walking She’s so beauty! - It’s a dream! - Somebody says - And you’re crossing the fog Like a lost poet... My dreamed muse is smiling And saying hello Those eyes shining again So, so quickly Like a dream She stays there Very distant In the streets of London

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Perdoa-me musa [inspirado por Bruna] Perdoa-me musa, que meu verbo sempre aquém não possa glorificá-la adequadamente bem. Sou um poeta resumido ante as qualidades de tua beleza, meu verbo quedou consumido, e da impossibilidade surgiu esta minha tristeza. Sois a luz que atravessa as nuvens, sois o dia que vai nascer, e em tudo do todo minhas palavras falham em dizer. Sou um poeta triste por não poder descrever a perfeição que existe... Perdoa-me musa, já não sei o que fazer... 9


Há poesia entre as palavras [inspirado por Rita] Há poesia entre as palavras, e a vida não a disfarça. Em seu corpo transparece sua escrita que se esgarça. E meu cético olhar sua beleza já enlaça.

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A inocência, enfim [inspirado por Conceição] A inocência, enfim, pediu que nascesse em mim uma vontade só de vê-la. Mas se a tenho assim, tão perto de mim, como não querê-la?

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O escuro mente [inspirado por Clície] O escuro mente os seus olhos, esta beleza evasiva, e me diz que são apenas lendas de se contar ao anoitecer. Encontrarei pelo desejo outros olhos a desejar que não sejam os seus? A musa estará ausente na manhã que vem. Terei que lhe dizer adeus?

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Je suis un poète triste [inspirado por Juliana] Je suis un poète triste. Dans mes mots je veux sa fragrance. Dans tout le ciel seulement sa beauté existe. Donne me le plaisir de voir sa céleste danse.

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Por que chorar? [inspirado por Claudia] Por que chorar? As estrelas nunca cairão de nosso céu. Vem e toma a minha mão, se apoia em meu braço, lança teu olhar na sede dos meus olhos. Porque, nunca sabemos, mas somos eternos enquanto quisermos. Somente enquanto quisermos.

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Ricordanza [inspirado por Carol] Ricordanza: una ragazza molto bella. Sono un triste poeta in sua assenza. Mia lira è muta, in mio cielo non ha stella.

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Se pergunta ao espelho [inspirado por Conceição] Se pergunta ao espelho, estando há pouco acordada, do cabelo em desalinho, o espelho não concorda em achar-lhe desleixada, ao que responde baixinho: Só vejo beleza, mais nada.

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Não legaste o brilho dos teus olhos [inspirado por Clície] Não legaste o brilho dos teus olhos a nenhuma estrela? É escura a minha noite agora. E me tardará a aurora se em breve não puder de novo vê-la.

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Luna, misteriosa luna [inspirado por Juliana] Luna, misteriosa luna... ÂżEsta su sonrisa guarda cuantos secretos? Es un encanto para mis ojos discretos.

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A noite adentrou triste a minha janela [inspirado por Bruna] A noite adentrou triste a minha janela e eu tomei em meus braços o corpo do silêncio, como se fosse a minha aguardada amante. Abraçado ao vazio, dei à saudade o nome dela. E os versos solitários quedaram sobre o papel naquele instante... Sou um poeta da incompletude e minhas palavras ardem em delirante desejo. O luar já me ilude, pois, onde está a minha amiga, a minha amada, a minha amante? Procuro e não a vejo!...

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A tarde aumenta a calma [inspirado por Lídia] a tarde aumenta a calma que a paisagem escondeu nos livros. e vejo aquela canção antiga em seus óculos que nunca cedem ao sono, antecipando seu olhar perdido na poeira das estrelas. atravesso a tarde com meus passos rápidos de cinco minutos atrás [será que já fui esquecido?] para encontrar seu rastro na intuição do inalcançável espaço.

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Amarga é a palavra do adeus [inspirado por Bruna] Amarga é a palavra do adeus quando se ama. E o quedar solitário sobre o leito de outrora uma eterna morte. Ermo é o caminho de quem parte quando o que resta é a saudade. Triste são os olhos de quem pede em silêncio que toda essa dor vá embora.

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Passarei meus dias [inspirado por Lídia] passarei meus dias a desaprender seu nome. passarei meus dias a tornar a sua voz num pálido ruído branco. passarei meus dias a desinterpretar este seu sorriso quieto, a perder a maciez de sua pele. passarei meus dias a ignorar a passagem dos anos, das estações, das horas... até o instante, até o momento do derradeiro encontro, quando te verei de novo pela primeira vez.

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Adentro o impossível jardim [inspirado por Juliana] Adentro o impossível jardim onde a antiguidade das rosas me espera. Por horas, dias, anos, eras, estive a perseguir com encanto o astro sempre transformado. Você sempre está partindo em meus sonhos. Algum dia, estarei a seu lado?

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Produzido com as tipografias Museo e Alegreya. Belo Horizonte/MG, janeiro de 2018.




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