Alexander Torres - Poesiocarai

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Alexander Torres



Alexander Torres



na periferia da minha poesia o leitor era feliz e n達o sabia...


Se o acaso me levar a me esbarrar com algum poeta na rua, juro que eu o encho de porrada, pra ver se ele se situa, vira homem e deixa de escrever de modo difĂ­cil e com toada sobre as coisas que finge que sente. E se ele tentar fazer rimas, garanto que vai perder dente por dente. Ah, ser mal obrado! Mais dia, ou menos dia, com meu punho cerrado, vou encher a sua cara da mais pura poesia!



Por um site nunca dantes navegado, muito além dos noobs e dos lammers, passou um nerd dedicado a procurar por musas 1.8 postadas em alguns banners. Com suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas, e tão limpas das cabeleiras que haveriam de ser photoshopadas, as musas em camisetas molhadinhas, do hd jamais serão ban ou mesmo ownadas.



Gosto do poema feito nas coxas das moças que escrevem bilhetinhos de amor. Poema bom para mim Ê assim, com encaixes perfeitos, feito com ritmo e profundo furor.



Tava em casa de boa, com bagunça por todos os lados, quando veio bater à porta o cara do IBGE falando de um lance aí... de dados. Sem saco de responder questionário, mandei ralar peito, o mané, o que não foi por acaso. Eis que declamou que nem poeta uma frase pronta de argumento ordinário, ao que respondi: DESINFETA! - rachando-lhe a cabeça com um vaso.



O Rey, que é sangue, me pôs na fita de um lugar de sorte, cheio de vadias, de goró e outras paradas de responsa. Peguei o buzú, destino: Pasárgada do Norte. Mas antes, pra ficar de boa, golei um leite de onça. Num sei se do cheiro do diesel, da falta do amortecedor ou do leite que talhou, me bateu um enjôo forte. E eu sentado no corredor. Passou um posto e num parou. Só pensei, “vai ter morte”. Outro posto mais na frente e o juco quase na boca, “pára!” - fui logo gritando. O motô foi freiando e já na porta um cara de touca, um vendedor de bandeirinhas, que me cerca, perguntando: “prá que time que tu torce?” “Sai da frente, ki mané bandera, mermão!” Se eu tivesse sangue no olho, só ia ter neguinho no chão. Da próxima vez eu vou é de van. Nunca mais embarco nesta tal viação Estrela da Manhã.



Gosto dos poemas sussurrantes escritos no banco de trás dos carros, em locais ermos. Daqueles que se lêem com os olhos coruscantes e com a língua a buscar todos seus termos.



Se algum dia vocĂŞ vir a se encontrar com Drummond no meio do caminho, sem muito pensar, mate-o bem mortinho! Pois, provavelmente, ele serĂĄ um zumbi.



Gosto do poema mal falado que passeia na rua, a mostrar sem pecado a boa parte da pele nua.



Se ele fosse um drogado, um ladr達o, ou at辿 mesmo um viado, eu entenderia. Mas, poeta? Poeta n達o!... Filho meu n達o escreve poesia!



Eu, piriguete, não sou nenhum comédia que vive a aguardar o fim de semana. Já peguei mais mulher que o dobro da média. Tenho carro, e, pra pagar a conta, tenho grana. Na balada chego junto, jogo um papo, derramo mel. Nome eu não me lembro, mesmo se pergunto, e já arrasto a cocota pro motel. Aqui sou o cara, e tudo é festa. Só miro em gata, e mesmo cachorra saio a cata. Vou logo ao que me interessa. Se já tracei baranga eu não ligo, mas também não espalho. Sei criar um clima sem fazer nenhuma rima. Por isso sempre digo: poesia? o caralho!



Pega aqui no meu poema, e sente a rija métrica do seu verso. Trata-se de um épico escrito à dura pena, e é o mais longo do universo. Pega como Nele, Nele,

aqui no meu poema, a musa que não hesita. toda a rima é extrema. toda vagaba agita.



O poeta saiu a flanar, quando encontrou um limitado leitor armado com um 38, que fez três furos no seu peito. Caído na rua, bem na sarjeta, onde da sua morte fez-se o leito, jaz o bardo ensangüentado. Ainda quente, sente o bafo do analfabeto funcional absorto, portando o pau de fogo, a soprar junto ao seu ouvido: poeta bom é poeta morto!



Belo Horizonte marรงo de 2011




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