Parasitologia

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Início edição n.5|Maio

Laboratório Nacional de Investigação Veterinária


04 Parasitologia 18 Micologia

A Parasitologia e a Micologia são as áreas científicas contidas nesta 5ª Edição. Jacinto Gomes e Helga Waap dois jovens Médicos Veterinários, em colaboração com Eugénia Rebelo, também Médica Veterinária e Investigadora do LNIV, atualmente reformada, dão-nos a conhecer nesta publicação, a história da Parasitologia.


Os capítulos deste texto constituem a Missão de um Laboratório do Estado. De facto, o diagnóstico, os planos de vigilância, a investigação e a formação são os principais aspetos das atividades desenvolvidas diariamente e ao longo dos anos no LNIV. Marina Martins, Médica Veterinária e Investigadora do LNIV, atualmente reformada, descreve-nos também, nesta edição, os principais marcos da história da Micologia clinica e alimentar.

Lisboa, 9 de Maio de 2013 A Comissão do Centenário

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Parasitologia A história

Dados atuais: 2 Médicos Veterinários 2 Assistentes Técnicos

A Parasitologia é uma área da ciência que estuda os organismos parasitas dos seres vivos e a sua interação com os hospedeiros. Esta área tem na Medicina Veterinária uma maior relevância que na Medicina humana, não só pela diversidade de espécies parasitárias, como também pelas suas implicações económicas. A associação da doença aos parasitas, nomeadamente dos parasitas externos (ectoparasitas) e internos (endoparasitas), muitas vezes visíveis a olho nu e facilmente identificáveis pelo leigo, é há muito evidente para os agricultores e agentes económicos da pecuária. Também o Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia não era alheio à importância das parasitoses em Medicina Veterinária, pelo que em 1918, após transferência para as instalações de Benfica do, a partir de então, designado Laboratório de Patologia Veterinária, foram criadas duas secções: a de Seroterapia e

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Vacinoterapia e a de Bacteriologia, Anatomia Patológica e Parasitologia. Foi, portanto, neste período que se verificou uma separação das áreas de trabalho, embora com um número de funcionários ainda muito reduzido. Apesar da existência de apenas quatro médicos veterinários e a exigência de uma grande versatilidade na execução das tarefas, foram na altura publicados diversos trabalhos no âmbito da Parasitologia veterinária por António Águeda Ferreira, então Diretor do Laboratório e António d'Ávila Horta, chefe da secção onde se encontrava essa valência. Em 1936 foi atribuída uma nova designação ao laboratório, que

passou a chamar-se Laboratório Central de Patologia Veterinária (LCPV). Entre 1936 e 1942, 13 Médicos Veterinários frequentaram os Serviços do LCPV e da Parasitologia na qualidade de tirocinantes, alguns dos quais viriam a ser funcionários do Laboratório. Outros, como os distintos professores J. L. Silva Leitão e M. Carvalho-Varela integraram a carreira académica como professores de Parasitologia na Escola Superior de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa. Em 1939 Alves da Cruz foi nomeado Chefe do Serviço de Parasitologia do LCPV. Na década seguinte começaram a ser delineadas as campanhas para estudo e luta antiparasitária, de que faziam parte, por exemplo, a campanha da Hipodermose bovina. Alves da Cruz, médico veterinário muito conceituado no País foi consultor científico na área da Parasitologia e colaborador na Junta Nacional dos Produtos Pecuários. Alves 5


criou e dinamizou um serviço de fotografia no Laboratório, que veio complementar o

da Cruz impulsionou a criação e divisão do serviço nas áreas científicas de aracnoentomologia, protozoologia, e helmintologia e contribuiu significativamente para a dinamização do serviço. Ao longo da sua carreira, foram desenvolvidos vários estudos de prevalência de diversas

parasitoses, complementados por campanhas sanitárias de desparasitação. Alves da Cruz 6

desenho científico, muito utilizado na área da Parasitologia. No trabalho desenvolvido contou com a ajuda do seu próximo colaborador Lino de Sousa. Embora não tenhamos tido o privilégio de participar nas campanhas de reconhecimento parasitário, o vasto espólio fotográfico herdado faz-nos fantasiar com um tempo em que a ligação do laboratório ao campo era palpável e em que os problemas eram resolvidos, ou pelo menos tentados resolver, in loco, certamente com meios mais escassos mas em que a


vontade era seguramente hercúlea. O trabalho de campo nunca é fácil, especialmente em veterinária. Na década de 1950 Ribeiro Diogo, técnico muito organizado, dinâmico e de pronta disponibilidade passou a integrar a equipa do departamento de Parasitologia. Consultor dos serviços pecuários oficiais foi outro colaborador próximo de Alves da Cruz. Participou em numerosas campanhas de reconhecimento parasitário no País, especializou-se em coccidioses aviarias e desenvolveu o diagnóstico parasitológico no departamento, vindo mais tarde, a substituir Alves da Cruz como chefe de Serviço. Na década de 70 entraram no serviço, Sabino Serra e Eugénia Rebêlo. José Manuel Sabino Serra, excelente técnico de reconhecidas qualidades diretivas, visão, simplicidade e sociabilidade, especializou-se no diagnóstico das Piroplasmose dos equídeos e da Daurina nos

Estados Unidos e nos Serviços Veterinários do Quénia, no seguimento do qual implementou serologias para diagnóstico de doenças parasitárias em cavalos. Sabino Serra viria posteriormente a ser chefe de serviço de Parasitologia. Ao longo da sua carreira, manteve uma estreita colaboração com a Faculdade de Farmácia de Lisboa. Muitos de nós não chegaram a conhecer Sabino Serra mas a admiração com que os colegas que com ele trabalharam o referem, fazem-nos sentir saudades de algo que não tivemos. Quão motivador teria sido trabalhar em equipas mais alargadas e as possibilidades infinitas a que esse diálogo certamente conduziria. Após o falecimento trágico de Sabino Serra, Eugénia Rebêlo assumiu a chefia de serviço, e desenvolveu diversas atividades de diagnóstico, das quais se destacam as parasitoses em cunicultura, nomeadamente a identificação e estudos de patogenia das coccidioses de coelhos, após estágio em Tours, 7


duma monografia intitulada ”Leishmaniose viscero-cutânea do cão doméstico” nas versões portuguesa e inglesa. A convite da Organização Mundial de Saúde, Eugénia Rebêlo contribuiu significativamente para a divulgação da importância da doença no País.

França. Foi pioneira no estudo da Leishmaniose canina, zoonose de elevada importância e de ampla distribuição geográfica em Portugal. Este trabalho permitiu o isolamento de estirpes de Leishmania em cães e no gato doméstico, posteriormente caracterizadas por método enzimatico no Reino Unido e na França (MCAN/MON1/Reb Leishmania infantum). Foi com base neste trabalho que se iniciou a cultura de estirpes de Leishmania no laboratório e se criou a valência de diagnóstico serológico da Leishmaniose canina. A documentação fotográfica do parasita e dos aspectos clínicos da doença permitiu a elaboração 8

Atualmente, no departamento, trabalham dois médicos veterinários, Jacinto Gomes e Helga Waap, ambos alunos de Doutoramento da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa. Outros técnicos que devido à sua ligação ao mundo académico e a outros institutos, prestaram um importante contributo ao serviço de parasitologia foram Armando Castelo Branco Gonçalves, José Girão Bastos e Maria Alice Pereira. Castelo Branco exerceu primeiro funções na Faculdade de Medicina Veterinária e no


Instituto de Investigação Veterinária em Lourenço Marques, em Moçambique, antes de integrar a equipa do departamento de Parasitologia. Entre as suas várias atividades, dedicou-se ao estudo dos ixodídeos, desenvolvendo trabalhos com os Professores Victor Caeiro da Universidade de Évora e Travassos Dias. De África, após ter sido docente de parasitologia na Universidade de Nova Lisboa e após uma carreira de docente na Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa, Girão Bastos viria a participar, já nos anos 1990, no trabalho de diagnóstico e na orientação e formação de técnicos superiores neste serviço. Maria Alice Pereira, técnica proveniente do Laboratório de Évora, viria a desenvolver a sua atividade nas diferentes áreas da Parasitologia, dedicando-se

sobretudo ao estudo de identificação das larvas de estrongilídeos gastrointestinais. De destacar também todos os técnicos de laboratório que, durante tantas décadas colaboraram e desenvolveram todo o trabalho de preparação de material: Eduardo Santos, Maria Henriques, José Inácio, Iria Vilela, Pedro Paula, Nuno Mira, Lucinda Marques, Maria do Carmo Dias, Cristina Duarte, Ana Abreu, Rui Pinheiro, Isabel Carvalho, Cristina Santos, Isilda Grácio, Carlos Santos, Maria do Céu Santos, Zaida Oliveira e Alva Ribeiro.

MISSÃO 1. Diagnóstico A Parasitologia é uma área das ciências veterinárias em que o objeto de estudo inclui uma grande diversidade de

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organismos, desde os protozoários até aos insetos. Devido a essa grande diversidade divide-se tradicionalmente em

Protozoologia, Helmintologia e Aracnoentomologia. A missão do departamento de Parasitologia centra-se no diagnóstico das doenças de origem parasitária nos animais domésticos e nos peixes (Ictioparasitologia). Ao longo do último século, a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre os organismos causadores de doenças e de melhorar os métodos de diagnóstico, justificou o investimento na investigação e implementação de novas técnicas. A entrada para a União Europeia, e com esta, a entrada em vigor de novas medidas de controlo e 10

vigilância das doenças, os planos oficiais da autoridade veterinária nacional assim como a necessidade de formação de técnicos inspetores, levaram a uma diversificação das atividades do departamento de Parasitologia. A nossa actividade de diagnóstico é especialmente importante no que diz respeito às doenças de declaração obrigatória e aquelas consideradas prioritárias pela OIE (Organization International des Epizooties), como por exemplo a Triquinelose (causada pela Trichinella spiralis), a Piroplasmose Equina causadas pelos protozoários Theileria equi e Babesia caballi), a Leishmaniose (Leishmania infantum) e a EquinococoseHidatidose (Echinococcus granulosus), entre outras. Na área da Protozoologia, desde cedo investigadores e técnicos dedicaram-se ao estudo das Piroplasmoses dos vários animais, como Aboim Inglês que na década de 1940, visitou o Egipto para estudar os métodos de luta anti-parasitária contra as piroplasmoses


Trichinella spiralis

bovinas e Sabino Serra, que nos anos 70 implementou a técnica de Fixação de Complemento (FC) para diagnóstico serológico da Piroplasmose equina, doenças ainda hoje com um importante impacto económico, especialmente nos animais destinados à exportação. Sabino Serra desenvolveu e implementou igualmente a prova de FC para o diagnóstico de Trypanosoma equiperdum, agente causador da Daurina em cavalos. Esta doença foi referida em Portugal apenas até 1925, no entanto o seu despiste serológico continua a ser exigido por vários países para a importação de cavalos. Na área da Aracnoentomologia, destaca-se o estudo de artrópodes vetores de outros agentes (virais, bacterianos e parasitários). Nesta área, entre vários outros trabalhos, é de referir a primeira identificação de larvas agentes de miíases do género Rhinoestrus em cavalos. Um grande volume das análises do laboratório de Parasitologia, com destaque para as aquelas efetuadas nos animais de pecuária, insere-se na

Trichinella spiralis

Leishmania infantum

Echinococcus granulosus


Helmintologia, uma grande área de estudo onde se encontram parasitas das Classes Nematoda, Cestoda, Trematoda e Acanthocephala. A vertente pecuária representa presentemente mais de 90% das análises realizadas no laboratório de Parasitologia, embora nos últimos anos se tenha vindo a verificar um aumento do número de pedidos para animais de companhia, bem como animais silvestres e de zoológico. A área da

segurança alimentar representa igualmente uma área de onde tradicionalmente o laboratório recebia amostras para análise, como testemunha a existência de registos fotográficos da década de 60 de inúmeros queijos com ácaros. 2. Planos de Vigilância Podemos considerar como precursor dos planos de vigilância atuais, as campanhas iniciadas em 1954 pela Direcção Geral dos Serviços Pecuários (D.G.S.P.). Nesse ano, a DGSP deu início à então chamada Campanha de Reconhecimento Parasitário que, com investimento dos Planos de Fomento Nacional, foi confiada ao Departamento de Parasitologia do LNIV. Essa campanha tinha como objetivos o conhecimento da fauna zooparasitária das explorações animais e o estudo das doenças predominantes com vista à aplicação de medidas de profilaxia e terapêutica a nível da exploração, assim como a


nível regional e nacional. Com estas campanhas pretendia-se também elaborar uma “carta” zooparasitária nacional, que permitisse divulgar e demonstrar os meios de luta profilática e terapêutica para essas doenças parasitárias. Os ovinos foram escolhidos como espécie alvo de estudo devido às perdas económicas na produção associadas ao parasitismo. A campanha nesta espécie compreendeu inicialmente o designado “reconhecimento” parasitário, que implicava não só o trabalho de campo junto das explorações e pastores, como o trabalho laboratorial de identificação, documentação e

catalogação do material colhido. Este trabalho dava origem a uma ficha zooparasitária do rebanho, que era posteriormente enviada para os proprietários dos rebanhos, os clínicos veterinários e a Intendência de Pecuária. Outro contributo importante para o estudo dos parasitas em Portugal, anterior à campanha de reconhecimento parasitário promovido pela DGSP, foi a campanha da Hipodermose bovina. Esta doença parasitária dos bovinos, causada pela


forma larvar de moscas do género Hypoderma, causava na altura graves prejuízos na indústria de curtumes. Posteriormente, na década de 1960 desenvolveu-se também um grande esforço na luta contra os moluscos hospedeiros intermediários de Fasciola hepatica, um parasita do fígado dos ruminantes tendo sido feitos vários estudos de controlo desse molúsculo na região da Figueira da Foz. Nas últimas décadas e por indicação da União Europeia, a autoridade sanitária nacional elaborou um estudo de vigilância epidemiológica da triquinelose em javalis. 3. Investigação A investigação direcionada para os aspetos da produção agropecuária foi sempre uma prioridade no laboratório de Parasitologia. A existência de alunos da Escola Superior de Medicina Veterinária (ESMV), assim como a colaboração com outros institutos, nomeadamente com o Instituto de Medicina Tropical,


permitiu dinamizar esta vertente. O primeiro trabalho de doutoramento de que há referência é o “Subsídios para o estudo da distomatose’’, de 1930, tese de doutoramento de A. H. Sousa Dias. Na década que se seguiu, vários foram os tirocinantes da ESMV que passaram pelo Departamento e que aqui iniciaram a sua carreira, quer como investigadores, quer como docentes universitários. Nos anos 1980, o número de estudos sobre a Leishmaniose humana, o seu agente (Leishmania infantum) e vector (insetos do género Phlebotomus), suscitaram um grande interesse pelo estudo dessa doença nos canídeos domésticos. Ainda nessa década implementaram-se no laboratório de Parasitologia os métodos analíticos para o diagnóstico da leishmaniose nos cães e deu-se início a um trabalho de investigação que contribuiu para o conhecimento da Leishmaniose canina em Portugal. Já no século XXI, e em

colaboração com várias instituições de ensino superior, diversos alunos fazem a sua formação pós curricular no departamento de parasitologia. Para além disso, também em colaboração com a FMV-UTL os técnicos superiores têm a oportunidade de fazer o doutoramento. 4. Formação A história do serviço de parasitologia como laboratório de formação de médicos veterinários e outros técnicos licenciados é longa. Desde o fim da década de 1930, altura em que se iniciaram os tirocínios, verificou-se a entrada de muitos técnicos e investigadores no laboratório de Parasitologia. Estas pessoas

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enriqueceram o departamento com as suas contribuições e levaram daqui conhecimentos na área que, nalguns casos, resultaram em distintas carreiras docentes. Para além dos estágios de licenciatura, teses de mestrado e de doutoramento desenvolvidos no departamento ou em colaboração com outros departamentos, o laboratório tem igualmente participado na formação de técnicos oficiais, em colaboração com a autoridade veterinária nacional, bem como de técnicos de agentes económicos. Em 2005, no âmbito da directiva comunitária 2075/2005/CE, a pesquisa de larvas de Trichinella spp. na carne de suíno e cavalo passou a ser obrigatória em todos os Estados-membros, o que implicou um grande esforço por parte dos serviços da DGV, nomeadamente na formação das equipas de inspeção. O LNIV, como laboratório de referência nacional no âmbito

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da parasitologia, tem a responsabilidade de contribuir para a formação das equipas de inspeção na execução das suas tarefas laboratoriais.

Jacinto Gomes Helga Waap Eugénia Rebelo



Micologia

A micologia nos

Dados atuais: 2 Assistentes Técnicos

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Imediatamente após a criação do “Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia”, em 1913, instalado no Largo do Terreiro do Trigo, na zona ribeirinha da cidade de Lisboa, foram iniciados procedimentos de diagnóstico de micoses de animais, especialmente de ruminantes e equídeos. O diretor desse laboratório inicial, o Dr. António Águeda Ferreira, era um eminente parasitologista e não descurou a valência do diagnóstico das doenças dos animais causadas pelos fungos. Nos 60 anos consecutivos à criação do laboratório oficial, o diagnóstico das micoses dos animais foi mantido integrado nos serviços do Laboratório de Parasitologia. Aí se realizavam os procedimentos analíticos que permitiam diagnosticar as “tinhas” dos ruminantes, dos equídeos, dos animais de companhia e as aspergiloses das aves. Por sua vez, no Laboratório de Bacteriologia, executavam-se os procedimentos de diagnóstico


s laboratórios oficiais de veterinária com recursos a provas culturais para o diagnóstico de Candidoses (mamites). Durante este período foi produzida muita documentação que atesta a atividade do Laboratório nesta área científica. Durante as décadas de 30 e 40 do século XX, os Veterinários do Laboratório Central de Patologia Veterinária foram publicados diversos trabalhos sobre micoses de animais na revista “Repositório de Trabalhos” do laboratório e no Boletim Pecuário. Em 1953, as tinhas dos mamíferos e aves foram incluídas na lista das nosologias

Aspecto macroscópio A. flavus

dos animais de declaração obrigatória em Portugal, anexa ao Regulamento de Sanidade Pecuária (Dec. Lei 39:209 de 14 de maio). O serviço de Micologia apenas se autonomizou do Laboratório de Parasitologia em 1974, tendo como principal vocação o apoio ao diagnóstico de doenças dos animais causadas por fungos, algumas das quais são de notificação oficial obrigatória (dermatofitoses, afanomicose, síndrome ulcerativa epizoótica, citridiomicose e ascoferiose) e outras que têm impacto económico e sanitário

Aspecto microscópio A. flavus

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Aspecto macroscópio A. fumigatus

Aspecto microscópio A. fumigatus

muito relevante na produção pecuária (aspergilose, criptococoses, candidoses, histoplasmose, pitioses, sporotricose) sendo que a importância de algumas é complicada pelo seu caracter zoonótico. O desenvolvimento da pecuária intensiva, da aquacultura, da ranicultura e da apicultura também trouxeram novos desafios ao laboratório de micologia, na medida em que surgiram novas patologias micóticas com o caracter de doenças de grupo e com impactos económicos muito negativos (saprolegniose, acliose, afanomicose, síndrome ulcerativa epizoótica, citridiomicose e ascoferiose). Desde aquela data, e até ao tempo presente, o serviço de micologia tem vindo a desempenhar essa função com a maior regularidade.

Com o desenvolvimento natural dos procedimentos analíticos instalados no serviço, a partir de 1976, o Laboratório de Micologia iniciou a prestação regular de serviços de controlo analítico das contaminações fúngicas dos géneros alimentícios e dos alimentos para animais, secos e semiconservados, incluindo a respetiva avaliação micotoxicológica. A determinação do teor micológico e da natureza da micobiota dos referidos produtos é um recurso fundamental para a salvaguarda do respetivo valor nutritivo e da sua salubridade (os fungos são agentes decompositores) – Micologia Alimentar. Durante as décadas de 60, 70 e 80 do século XX ocorreram as descobertas das principais micotoxinas (cerca de 200) e foram avaliados os respetivos

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impactos na saúde e produtividade dos animais. O aumento das preocupações com os impactos negativos das micotoxinas na saúde e na produção animal repercutiu-se no funcionamento do Laboratório Central Oficial de Veterinária, impondo um significativo aumento e intensificação da atividade laboratorial. Esse desenvolvimento foi mais significativo durante a década de 80 do século XX. Contudo, a oferta de serviços de deteção de Micotoxinas por Laboratórios particulares nas últimas duas décadas, tem conduzido a uma progressiva diminuição do volume de prestação de serviços a terceiros (indústrias de rações, criadores de animais). Progressivamente as atividades de deteção e quantificação de micotoxinas tem vindo a ser restringida ao âmbito dos Planos de Controlo Oficiais aplicados pela Autoridade Veterinária Nacional. Ao longo dos últimos 38 anos o Laboratório de Micologia desenvolveu, instalou e aplicou

Hifas no centro dum granuloma. Grocott: 400x.


mais de duas dezenas de procedimentos analíticos novos com vista à caracterização da micobiota dos géneros alimentícios e alimentos para animais e das contaminações por micotoxinas. Quando o laboratório de Micologia do ex-LNIV foi criado, a respetiva coordenação foi confiada à Drª Maria Lígia Lourdes Martins (Investigadora Principal), integrando de imediato a sua equipa: Maria Cândida Saraiva Traça (Técnica Profissional), Fernando Manuel Bernardo (Preparador) e Isabel Velhinho (Auxiliar Técnica). Progressivamente e à medida que o volume de trabalho foi aumentando, juntaram-se à equipa inicial outros técnicos e técnicos superiores: Maria Constança Sousa Dias (Investigadora Auxiliar), Hermínia Marina Lourdes Martins (Técnica Superior), Maria de Lurdes Sequeira Mateus (Auxiliar Técnica), Teresa do Carmo Matias (Auxiliar Técnica), Zaida Santos (Auxiliar Técnica); Alice Ruge (Auxiliar Técnica), Anabela

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Ramos (Técnica Profissional), Esperança Pires Rodrigues (Técnica Profissional) e Eunice Sousa (Auxiliar Técnica). Atualmente o serviço de Micologia dispõe apenas de 3 postos de trabalho: uma investigadora principal e duas assistentes técnicas. Ao longo dos 100 anos da história do laboratório oficial de veterinária, as questões suscitadas pela ação dos fungos sobre os animais estiveram sempre bem presentes e foram sistematicamente atualizadas à medida que os progressos científicos iam surgindo. A missão essencial foi contribuir sistematicamente para minorar o sofrimento dos animais vitimados pela ação dos fungos e contribuir para o desenvolvimento da pecuária nacional, através do controlo miológico da segurança e nutribilidade dos alimentos utilizados nas dietas dos animais.

Marina Martins



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Comissão do Centenário: Maria Inácia Corrêa de Sá Madalena Monteiro Clara Cruz Carla Neves Machado Alice Santos Design Gráfico: Alice Santos Contactos: inacia.sa@iniav.pt


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