04 Anatomohistopatologia 26 Patologia Apícola 02 Ictiopatologia 34 Setor EET’s
Após as primeiras publicações nos terem relatado a História desta Instituição Centenária e dos Laboratórios Regionais do Porto e de Évora, e procurado transmitir um pouco do ambiente que esta quinta, em Benfica, marcou todos os que aqui trabalharam e trabalham, cabe agora dar conhecimento da atividade desenvolvida, nas diversas ÁREAS CIENTÍFICAS, ao longo dos anos no Laboratório Central, em Lisboa. Com estas publicações que agora se iniciam, pretende-se também homenagear todos os aqui trabalham e os que nos precederam, descrevendo o seu contributo na evolução do conhecimento científico daquelas Áreas e para a História da Medicina Veterinária em Portugal. A tarefa não é fácil e muito ficará seguramente por dizer. Apesar de existirem muitos trabalhos documentados em revistas antigas, nomeadamente nos primeiros Repositórios de Trabalhos publicados pelo então Diretor Dr. Águeda Ferreira, com toda a certeza omitir-se-ão pessoas e factos, mas todos foram importantes.
Esta 4ª Edição intitula-se “A Patologia no Laboratório Nacional de Investigação Veterinária”, a área científica de ligação a todas as outras desenvolvidas, no LNIV em Lisboa, no âmbito da Saúde Animal. A publicação inclui os Sectores, do Diagnóstico Anatomohistopatológico, das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, da Patologia Apícola e do Laboratório de Patologia dos Peixes. Madalena Monteiro, Médica Veterinária e Responsável pelo Diagnóstico Anatomohistopatológico, recorda-nos neste seu trabalho intitulado “A Anatomia Patológica”, Colegas Patologistas que nos deixaram grandes saudades e momentos muito marcantes da história deste Laboratório. Leonor Orge, Médica Veterinária e Responsável pelo Sector das Encefalopatias Espongiformes
Transmissíveis desde 2004, dános a conhecer o Grupo de doenças que constituem as EEts e historia o seu diagnóstico desde a identificação do primeiro caso de BSE em Portugal, em 1990. Maria José Valério, Médica Veterinária e Responsável pelo Sector de Patologia Apícola, apresenta-nos no seu trabalho, para além da história do Sector, as principais doenças que afetam os apiários portugueses. Paula Cruz e Silva, Médica Veterinária, foi Responsável pelo Sector de Ictiopatologia desde a sua criação em 1980 até 2005 ano da sua saída para exercer funções no Laboratório Veterinário da Ilha da Madeira. O Sector foi desativado em 2005.
Lisboa, 9 de abril de 2013 A Comissão do Centenário
3
Dados atuais: 3 Veterinários 2 Assistentes Técnicos 1 Assistente Operacional
Quando foi criado, em 1913, o Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia tinha como missão, segundo o regulamento aprovado pelo Decreto nº 246 de 11 de Dezembro do mesmo ano, “o estudo e diagnose das doenças que enzoótica e epizooticamente grassam entre as diferentes espécies pecuárias”. O seu quadro de pessoal era constituído por 7 pessoas onde estavam incluídos 2 médicos veterinários, mas que não exerciam funções de patologista. Nesta primeira fase verifica-se, através das várias análises estatísticas feitas e publicadas por Águeda Ferreira, que a actividade principal do Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia se centrou na produção de soros e vacinas para combate das doenças mais importantes que grassavam na época, nomeadamente a peste suína, o mal rubro, a raiva e o carbúnculo hemático. A referência às primeiras análises anatomohistopatológicas só acontece no ano de 1916, num total de cinco e correspondentes apenas a casos de peste suína; este número contrasta com o elevado número de análises bacteriológicas e sobretudo
físicoquímicas realizadas à época. Até finais de 1932 e, apesar da aquisição da nova sede, em 1918, em Benfica, do aumento do quadro de pessoal (passou a ter 4 médicos veterinários) e da criação duma Secção de Bacteriologia, Anatomia Patológica e Parasitologia chefiada por António d´Avila Horta, a actividade da patologia manteve-se muito discreta; até essa data tinham sido realizados apenas 168 exames anátomo e histopatológicos dos quais 119 correspondem a casos de peste suína. É a partir de 1930 que começam a ser mencionadas algumas patologias mais específicas, tais como uma glomerulonefrite, o mormo, uma cirrose que
poderão traduzir a criação do laboratório de histopatologia que foi da responsabilidade de Francisco Mário da Rosa que ingressou no laboratório, em Abril de 1929, após ter defendido a sua tese, na E.S.M.V., sobre “Cuti-imunização do cabúnculo bacteridico”. A partir de 1933 há um ligeiro aumento de análises; no ano de 1933 foram realizadas 42 histopatológicos, em 1934, 24 necrópsias e 54 exames histopatológicos. Aparece, pela primeira vez, a referência ao diagnóstico de degenerescências e de tumores,
nomeadamente necrópsias e 4 exames sarcomas e adenocarcinomas com várias localizações. A peste suína continua a estar em destaque; o seu diagnóstico era feito através da observação de lesões de meningoencefalite de Waldmann que Mário da Rosa descreve em “Application de la méthode de Benjamin-Terry à l´examen histologique des centres nerveux. Diagnostique rapide de la peste porcine” publicado no III Repositório de Trabalhos do L.C.P.V. Mário Rosa, inclusivé agradece ao Prof. O. Waldmann, em nota, no trabalho que publicou acerca da “Technique rapide d´inclusion pour le diagnostic neuro-pathologique de la peste porcine” o envio de algumas preparações histológicas com as referidas lesões, prova de que havia a preocupação de estabelecer contactos com outros especialistas. Em 1935 e 1936 o número de análises realizadas não sofre grandes alterações, continuando a peste suína a dar o maior contributo com o maior número de casos (10 em 1935 e 23 em 1936). Seguramente nesta época
já teria sido construído o edifício destinado à sala de necrópsias, equipada com forno crematório conforme fotografia publicada no IV Repositório de Trabalhos de 1938. É de realçar, neste período, o diagnóstico de 3 casos de peripneumonia contagiosa (1 em 1934 e 2 em 1935) em bovinos importados de Angola em que a descrição das lesões é feita na revista “Medicina Veterinária” por Cruz Bonito, médico veterinário, adjunto do Laboratório de Patologia Veterinária no qual prestou serviço entre Dezembro de 1933 e Junho de 1936; embora se desconheça o Serviço a que pertencia aquele técnico, pela descrição das lesões, pensamos que tinha, seguramente, ligação à anatomia patológica. Em 1939, apesar de apenas estarem referenciados 3 exames histopatológicos, salientamos o
Sarcoma de sticker diagnóstico do 1º Sarcoma de Sticker em cão que viria a ser descrito por João Transmontano Pelouro no V Repositório de Trabalhos do então Laboratório Central de Patologia Veterinária; este diagnóstico permite-nos identificar o momento da sua entrada em funções no laboratório. João Transmontano Pelouro nasceu em 1908, em Castelo de Vide, matriculou-se na Escola Superior de Medicina Veterinária em 1932 e formou-se em 1938 depois dum curso brilhante em que figuraram altas classificações. Segundo as palavras de Águeda Ferreira “a histologia e a histopatologia eram ciências que o apaixonavam e, para poder saciar essa paixão do seu espírito
J. Transmontano Pelouro
solicitou assistência voluntária à Cadeira de Histologia Normal e Anatomia Patológica e Curso de Física Biológica e Médica da Escola Superior de Medicina Veterinária. Não é por isso para estranhar que, ambicionando material e condições para seus estudos, ele procurasse ser admitido no Laboratório Central de Patologia Veterinária”. Efetivamente, Transmontano Pelouro entrou, em 1939, no L.C.P.V. como tirocinante de histopatologia e no ano seguinte, 1940, conquista a situação de estagiário após a realização de provas brilhantes; é assim integrado no quadro dos técnicos especializados do laboratório e élhe entregue o Serviço de Histopatologia. A partir daí há grande desenvolvimento da actividade do laboratório o que se traduziu num aumento
progressivo do número de análises realizadas: 164 em 1940, 180 em 1941 e 293 em 1942; conseguiu montar um modesto gabinete de macro e microfotografia para documentação dos casos e enriqueceu, com centenas de espécimes, a colecção de preparações histopatológicas do Serviço assim como o museu de anatomia patológica iniciado por Ávila Horta. A par com toda esta actividade vai fazendo a publicação de vários casos dos quais destacamos “Pseudotuberculose dos roedores”, “Toxoplasmose espontânea em coelhos”, “Anatomo e histopatologia da Actinomicose” e “Encefalite enzoótica dos coelhos em Portugal”. Em 1939, a Direção Geral dos Serviços Pecuários teve pela 1ª
Encefalite por Encephalitozoon cuniculi
vez conhecimento da suspeita de peripneumonia em gado vindo dos Açores, suspeita levantada pelo exame de peças anatómicas enviadas ao Laboratório Central de Patologia Veterinária pela inspecção sanitária do Matadouro de Lisboa; estabeleceram-se, no laboratório, duas correntes de opinião: segundo uma, haviam-se encontrado elementos que confirmavam a existência da doença; segundo outros não haveria lesões que o confirmassem. Em Abril de 1943, Transmontano Pelouro ascende a estagiário de 1ª classe e parte depois para os Açores, incorporado numa missão veterinária para estudar o estado sanitário do gado dessas ilhas; no relatório da referida missão diz: “Nas centenas de animais que observei em vida e nas 295 reses abatidas para consumo público, provenientes de todas as ilhas do arquipélago, não me foi dado observar quaisquer sintomas ou lesões anatomopatológicas do quadro da peripneumonia contagiosa dos bovinos”. Esta constatação teve, segundo alguns, implicações no suicídio de Transmontano Pelouro por não ter encontrado o mais leve
vestígio da doença para cujo diagnóstico afirmativo ele havia contribuido. Resultaram desta missão os trabalhos “Significado das alterações anátomo-patológicas dos gânglios mesentéricos dos bovinos açorianos” e “Processos hepáticos em bovinos açorianos”. A sua morte trágica em Setembro de 1945 foi sentida por Águeda Ferreira como “golpe duro para a instituição” e também para os seus colegas de trabalho face à amizade e admiração que lhe consagravam. Apesar da sua curta carreira como patologista esta foi marcada pela preocupação de “servir bem”, pelo entusiasmo e perseverança na investigação, apesar de alguns episódios que lhe acarretaram pesado sofrimento moral; publicou 14 trabalhos, tendo sido publicado, a título póstumo, o artigo baseado num estudo incompleto “Acerca da patologia, patogenia e terapêutica da Esclerostomíase enzoótica do cavalo”. No recente trabalho “História da anatomia patológica veterinária em Portugal” as autoras, Conceição Peleteiro e Madalena
Monteiro, consideram Transmontano Pelouro o primeiro Patologista Veterinário Português. A legislação de 1936 veio permitir aos diplomados em Medicina Veterinária, mediante concurso, a realização de tirocínos remunerados nos vários serviços do L.C.P.V., de forma a complementar a habilitação profissional dos técnicos. Até 1942 realizaram-se 6 na área da histopatologia. É assim que, em Julho de 1941, Taborda Duarte faz um tirocínio no Serviço de Histopatologia. Taborda Duarte entra como médico veterinário em 1946 e passa a estagiário de 2ª classe especializado em histologia em 1947. Em Novembro do mesmo ano é transferido para o Laboratório de Patologia Veterinária do Porto sendo responsável do Serviço de Anatomia Patológica; em Agosto de 1951 regressa ao Laboratório de Lisboa. A partir desta altura dedica-se predominantemente à patologia aviária da qual foi pioneiro no nosso país conforme se pode deduzir da sua participação na “Campanha de saneamento de aviários”
Em 1945, Braço Forte participa no concurso para tirocinantes e fica colocado no serviço de Histopatologia; em Setembro de 1947 passa a estagiário de 2ª classe e a partir de Novembro desse mesmo ano é destacado para montar o Serviço de
e nos trabalhos “Desinfecção das incubadoras artificiais na profilaxia da pulorose” e “Aspectos histológicos da bolsa de Fabricio” assim como nos numerosos Bolsa de fabricios relatórios de deslocações a locais onde se detectavam Histopatologia do Laboratório focos de doenças em aves, as de Patologia Veterinária de quais, ainda não tinham sido Évora; aí continuou a exercer identificadas à época em funções de patologista até Julho Portugal. de 1952, ano em que regressou Taborda Duarte faz várias ao Laboratório de Lisboa; inicia formações/missões no simultaneamente funções de estrangeiro e em 1958 realiza um assistente de Histologia e estágio no Laboratório dos Anatomia Patológica na E.S.M.V. Serviços Veterinários de Em 1959-1960, Braço Forte faz Onderstepoot, justificado “pela formação no Instituto de necessidade de preparar Patologia Geral e Anatomia especialistas em Patologia Patológica da Faculdade de Veterinária para ocorrer ao Veterinária de Milão com o Prof. progressivo desenvolvimento Luigi Leinati; faz as provas para o que a indústria avícola vem doutoramento em 1962 e dedicaassumindo no nosso país”. se à docência na E.S.M.V.
Nunes Petisca candidatou-se também em 1945 e em Novembro desse ano, inicia um tirocínio remunerado no serviço de Histopatologia, ano em que publica o seu primeiro artigo intitulado “Um caso de sarcoma primitivo no coração dum canídeo”; em 1946 Nunes Petisca é admitido como assalariado e começa a exercer funções, nesse mesmo serviço, sob a orientação do Prof. João Oliveira da E.S.M.V. Passou depois a estagiário de 2ª classe, especialidade de Histopatologia, em 1947 e foi-lhe entregue a chefia do Serviço de Anatomo e Histopatologia do L.C.P.V.; colaborava, simultaneamente, como assistente livre, no 2º grupo de cadeiras onde estavam incluídas a Histologia, a Anatomia Patológica e Autópsias; foi também assistente-voluntário do Serviço de Patologia Experimental do I.P.O. Nos primeiros anos de actividade Nunes Petisca assinalou ou descreveu várias doenças tais como a doença de Aujeszky (1954), Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos, em que considera específicos da doença, os focos de organização perivascular (1954), doença de Newcastle
(1956), varíola e ectima em ovinos (1956); é também neste ano que publicou um estudo sobre as pleuropneumonias em bovinos açorianos onde conclui que estão relacionadas com as condições de embarque e a participação de vários microrganismos, afastando de vez a hipótese de se tratar de peripneumonia exsudativa que tantos problemas trouxeram a Transmontano Pelouro.
PPCB foco de organização perivascular Para aperfeiçoamento da sua preparação em Anatomia Patológica, Nunes Petisca frequentou, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, duas das melhores universidades europeias
da época; em 1956-1957 faz um estágio no Instituto de Patologia Geral e Anatomia Patológica Veterinária da Universidade de Bolonha, sob orientação do Prof. Luigi Montroni; depois permanece um ano em França (1957-1958)no Laboratório de Histologia, Anatomia Patológica e Inspecção de Carnes da Escola Veterinária de Alfort com o Prof. Henri Drieux. Nos certificados destes estágios são realçadas a sua óptima preparação no campo da Anatomia Patológica, o interesse e assiduidade exemplares, uma rara aptidão para a histopatologia a par com as suas qualidades humanas. Teve oportunidade de participar em vários trabalhos e publicar vários artigos em revistas estrangeiras nomeadamente sobre glomerulonefrites em cão e um amplo estudo sobre tumores primitivos do fígado nos animais domésticos. Aliás Nunes Petisca
Tumor hepático
evidencia, desde cedo, uma forte predilecção pelo estudo dos tumores e da tuberculose e pela inspecção sanitária conforme se pode constatar nos numerosos trabalhos publicados sobre estas matérias. Por esta época o Serviço de Histopatologia é reforçado com a entrada de Tavares Montano, em Outubro de 1956 após prolongada estadia nos Estados Unidos (1954 a 1956) onde frequentou, como bolseiro, cursos de especialização sobre “Doenças de nutrição, Neoplásicas e de Técnicas de Necrópsia” e “Curso de Patologia Geral e Especial Veterinária” sob a orientação do Prof. Hilton Smith da Escola Americana A&M College of Texas. Entretanto em Portugal, em Maio de 1957, foi assinalada uma doença infectocontagiosa em suínos, com elevada morbilidade e mortalidade; as observações anatomo e histopatológicas levadas a efeito em largas dezenas de animais mortos revelaram um quadro duma diátese hemorrágica; em alguns casos foi feito o isolamento de Salmonella cholera suis, mas os resultados das inoculações experimentais permitiram
Peste suína africana
concluir que o agente causal era um vírus filtrável e que se trataria duma peste suína de evolução aguda e hiperaguda sendo designada como Peste suína atipica ou virose L; só mais tarde se reconheceu como sendo Peste suína Africana. Segundo Braço Forte, o qual esteve directamente envolvido no diagnóstico da doença, “não foi fácil aos técnicos, entretanto debruçados sobre o estudo da zoonose, chegar rapidamente àquela conclusão”, porque afirma “as suas características epizootológicas, sintomáticas e lesionais nos levou a pensar tratar-se de uma peste suína complicada de salmonelose”. A doença que teve início na proximidade do aeroporto de Lisboa e que foi explicada pela introdução de restos de carne de
porco, contaminada, alastrou a numerosas explorações; as drásticas medidas decretadas pelos serviços oficiais revelaramse eficazes e o último foco foi verificado em Junho de 1958. O aparecimento da P.S.A. obrigava a frequentes deslocações dos técnicos a vários pontos do país para detecção de novos focos da doença havendo, por isso, necessidade de contratar mais médicos veterinários. É nesta fase que são admitidos, Tito Paz Ferreira em Maio de 1957 e um pouco mais tarde, Zaida Santos em Dezembro do mesmo ano, a qual já tinha realizado um tirocínio no ano anterior. São numerosos os relatórios elaborados nesta fase o que traduz um período de grande actividade para os patologistas. É por isso que o Director de então, Manso Ribeiro escreve “Os técnicos de Anatomia Patológica são obrigados a exercer as suas funções em horas e dias anormais. Pretende-se assim assegurar assistência permanente ao Laboratório e ao País, podendo dizer-se que se encontra de serviço permanente, pelo menos um patologista”. Em 1958, Nunes Petisca é
Disco intervertebral
nomeado chefe do Serviço de Patologia do L.N.I.V. e no ano seguinte obtém o grau de Doutor em Ciências Médico-Veterinárias pela Universidade Técnica de Lisboa; a sua tese de doutoramento intitula-se “O disco intervertebral do cão (histologia; histoquímica e histopatologia da sua evolução) ” cujo trabalho foi desenvolvido durante a sua estadia em Alfort; de provas públicas para o lugar de investigador. Em 1962, Nunes Petisca em colaboração com Tavares Montano publica um manual designado “A técnica da necrópsia em Medicina Veterinária” ilustrado com 55 gravuras da autoria deste último; este livro vem preencher um vazio existente nesta matéria visto que não havia qualquer publicação em português,
dedicada a este assunto, reconhecida que é a importância do exame post-mortem. Segundo o prefácio do Prof. Ivo Soares “O presente trabalho não traduz mera compilação. Enriquece-o a dilatada experiência pessoal dos Drs. Nunes Petisca e Tavares Montano, colhida quer no desempenho de funções oficiais nos Serviços de Patologia e Anatomia Patológica quer em centros da especialidade de França, Itália e Estados Unidos”. Em 1962, o laboratório do Serviço de Patologia muda as suas instalações para um pavilhão acabado de construir que compartilha com o Serviço de Virologia. Com o reaparecimento da Peste Suína Africana em 1960 e pelo
facto de esta assumir grande expansão no território nacional mais uma vez se verifica necessidade de fazer ingressar novos patologistas; dá-se assim a entrada de Costa Durão e Manuel Lage. Costa Durão fez uma breve passagem pelo Serviço de Anatomia Patológica e Histopatologia do então L.C.P.V. como tirocinante em 1957; após este estágio seguiu para Angola onde exerceu a sua actividade na Companhia de Diamantes de Angola até 1962. Regressou a Portugal e foi colocado no Serviço de Anatomia Patológica e Histopatologia do L.N.I.V. como médico veterinário de 3ª classe. Em 1965 ingressou no quadro de Investigação da Direcção Geral dos Serviços Pecuários como estagiário de 3ª classe. Dedicou especial interesse à patologia aviária e patologia suína e em paralelo, a partir do ano lectivo de 1967/1968, desempenhou funções de assistente das disciplinas de Histologia e de Anatomia Patológica na E.S.M.V. Em 1963 Manuel Lage é contratado para o Serviço de Anatomia Patológica e Histopatologia do L.N.I.V., mas em Fevereiro de 1964 “foi
mandado prestar serviço no Laboratório dos Serviços Veterinários do Porto”, desempenhando funções de Chefe de Serviço da Anatomia Patológica e Histopatologia. Regressa ao Serviço de Patologia e Anatomia Patológica do laboratório de Lisboa, em Março de 1969, já depois de ter feito concurso para o ingresso no quadro de investigação; inicia, nesta fase, a sua actividade académica na E.S.M.V. na disciplina de Histologia e Embriologia. Estava constituída a equipa de patologistas cujo lider era naturalmente Nunes Petisca. As décadas de 60 e 70 revelaram-se duma particular riqueza para a patologia, pois corresponderam a uma época de expansão e transformação do sistema de criação de várias espécies animais que foi mais sentida inicialmente na avicultura e suinicultura e mais
tarde na cunicultura. A passagem para um sistema de exploração intensiva resultou no aparecimento duma patologia ligada aos grandes grupos e às alterações de maneio dos animais. A PSA continuava a ser motivo de preocupação não só pela sua expansão, mas também pelo aparecimento das graves complicações surgidas após a vacinação; este facto motivou inclusivé a deslocação de Costa Durão e Manuel Lage para as áreas de algumas intendências de pecuária nomeadamente do Alentejo durante largos períodos de tempo (ver folha de necrópsias em anexo). Simultaneamente verificava-se a dispersão da Leucose Bovina e o aumento do número de casos, o que levou a Direcção Geral dos Serviços Pecuários, em 1965/1967, a realizar uma Campanha de Profilaxia da Leucose Bovina que tinha como finalidade, a
Leucose bovina cutânea
elaboração de chaves hematológicas para as diversas raças de bovinos explorados no nosso país na qual colaboraram também estes patologistas; Costa Durão e Tavares Montano chegaram mesmo a deslocar-se à Dinamarca para se inteirarem do diagnóstico histopatológico desta doença. Em 1966 Nunes Petisca é requisitado pelo Ministério do Ultramar para prestar serviço como Director do Instituto de Investigação Veterinária de Moçambique e Tavares Montano fica a substituí-lo na chefia do serviço. Nesta mesma altura Tito Paz Ferreira vai também para Moçambique onde viria a falecer
em 1971. A formação e o contacto com outras universidades europeias foi uma constante e no seguimento do que já tinha acontecido com Nunes Petisca e Braço Forte na década de 50 é também chegada a oportunidade para os novos patologistas. Costa Durão, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, no ano lectivo de 1971-1972, faz um estágio no laboratório de Anatomia Patológica da Escola Veterinária de Alfort, onde volta em 19761977, tendo desta vez dedicado especial atenção ao diagnóstico da Leucose Bovina que seria o tema para o seu doutoramento, em 1978, com a tese intitulada “Leucose Bovina em Portugal. Estudo epidemiológico e anatomo-histopatológico”. Em 1971, José Gonçalves foi contratado como médico veterinário de 3ª classe e colocado no Serviço de Patologia e Anatomia Patológica do L.N.I.V. e passa a colaborar também no diagnósico das doenças dos suínos e leucose; acumula com as funções de assistente da E.S.M.V. na área da Clínica Médica junto do Prof. Braço Forte. Manuel Lage, em 1973-1974, estagiou com o Professor
Mandelli no Instituto de Anatomia Patológica e Patologia Geral e no Instituto de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Milão na área de patologia aviária o que lhe possibilitou a realização dum trabalho experimental com o vírus da doença de Newcastle que conduziu à sua tese de doutoramento cujo título era “ Aspectos evolutivos da encefalomielite na Doença de Newcastle”; as provas realizaramse em Janeiro de 1980. Doença de Newcastle
Em 1976 ingresso no Serviço de Patologia com Rui Baptista, meu colega de curso. A partir daqui passo a transmitir o que foi a minha aprendizagem e convivência com toda esta equipa. Entrei como tirocinante no final de 1976 direcionada para
Doença de gumboro a patologia de coelhos; rapidamente fiquei deslumbrada com toda a diversidade de patologias ao mesmo tempo que tomava consciência da minha ignorância e pequenez. O Departamento de Patologia era, mercê da equipa que aí estava presente, centro de referência e de diagnóstico para a patologia aviária e suína; era aí qua acorriam os médicos veterinários quando estavam perante problemas complicados pois já sabiam que encontravam sempre ajuda para a sua resolução; por isso o número de cadáveres que aqui entravam eram numerosos o que fazia com que passassemos horas a fazer necrópsias de aves, suínos, coelhos e muitas outras espécies animais. Estávamos ainda em pleno surto da Peste Suína Africana e a patologia aviária continuava a marcar presença com uma diversidade incrível. Os problemas provocados pela presença de micotoxinas nas rações, sobretudo para frangos de carne, avolumaram-se a partir de 1975 e os quadros lesionais eram diferentes dos quadros de aflatoxicose, os mais conhecidos
até aí; entretanto surgiu a doença de Gumboro, em 1978 quase simultaneamente com a enterite hemorrágica dos perus por adenovírus. Nunes Petisca era uma presença assídua na sala de necrópsias, com a sua máquina fotográfica pronta a disparar sempre que as patologias o justificavam; conseguiu-se assim ao longo dos anos realizar um arquivo notável de fotografias, em que algumas delas deveriam ter honras de museu; provavelmente algumas das doenças nunca mais virão a ser diagnosticadas. Utilizávamos ainda a pequena sala de necrópsias construída nos anos 30, a qual não tinha forno crematório; os cadáveres eram lançados para um grande buraco que existia nas traseiras onde se punham a arder troncos que mantinham acesos dum dia para o outro; o funcionário que recebia as amostras estava instalado num pequeno cubículo que tinha uma
janela para o exterior para atendimento dos clientes que ficavam na rua. A mesa de fotografia era uma placa em cima dum carro de mão!! Mas mesmo assim fizeram-se excelentes fotografias! Para além do apoio dado no laboratório é também de destacar a disponibilidade e grande colaboração que existia entre o LNIV e as Intendências de Pecuária, organismos da D.G.S.P., localizadas nos vários distritos do país que frequentemente solicitavam a deslocação de equipas do laboratório “ao campo”. É assim que na década de 70 ao surgirem alguns problemas com a tuberculose bovina foi pedida a
colaboração de Nunes Petisca dada a sua grande experiência nesta matéria; os animais infectados eram detectados pela prova de tuberculinização, mas na inspecção das respectivas carcaças, no matadouro, não se detectavam as lesões correspondentes. Eram por isso frequentes as deslocações aos matadouros, sobretudo aos de Évora e Beja; Nunes Petisca faziase acompanhar por um dos patogistas mais experientes e um dos aprendizes, eu ou o Rui; partíamos sempre muito cedo para podermos iniciar o trabalho por volta das 8h; a carrinha era geralmente conduzida pelo motorista João Piçarra que já conhecia de cor e salteado todos os “pontos de paragem obrigatórios”. A inspecção dos gânglios linfáticos era feita com toda o pormenor, fatiando-os de
Folículos turberculosos
forma muito fina; sempre que surgia alguma lesão suspeita, por vezes do tamanho da cabeça de alfinete, era levada ao Dr. Petisca para ele fazer a confirmação, com a sua lupa. Em regra após estes serviços seguia-se um almoço onde se juntavam sempre alguns colegas que trabalhavam na zona o que permitia bons momentos de convívio muito do agrado do “chefe” Petisca. Em Junho de 1978 chegou a tão ambicionada mudança de instalações; o pavilhão do carbúnculo foi adaptado para nele se instalar o laboratório de
histopatologia que comunicava com a sala de necrópsias instalada na extremidade oposta; junto desta estava a recepção de amostras dotada de melhores condições; tinha sido também instalado um forno crematório. Frente ao edifício anterior, foi construído um novo pavilhão para instalar os gabinetes dos técnicos do serviço e também a Secretaria Técnica que era responsável pela emissão dos boletins de análise e
que na altura era chefiada por Américo Estrelado; tinha também uma sala de reuniões e foi aqui que o Director de então, Prof. Braço Forte, me comunicou que seria contratada como tarefeira e ficaria a trabalhar no Serviço de Patologia a partir de Julho de 1978; estava assim atingido um dos sonhos da minha vida.
Entretanto, Alexandre Galo que estivera a desempenhar funções na Madeira, para proceder à instalação e montagem do Laboratório Regional de Veterinária onde exerceu também funções de chefia, foi colocado no LNIV em Agosto de 1979, primeiro no Serviço de Virologia e depois no Serviço de Patologia; mas só em 1981 passou a assistente de investigação. No ano de 1980 declarou-se, em Portugal, mais um surto de febre aftosa; uma das principais características da doença é a sua grande capacidade de disseminação; bovinos, pequenos ruminantes e suínos foram atingidos em larga escala o que levou à chegada de elevado número de amostras para exame virológico; a par destas chegavam-nos também animais de pouca idade, sobretudo suínos, vitimados pela forma mais grave da doença, o coração tigrado, correspondente a uma miocardite extensa. Na altura tive oportunidade de me deslocar com o Rui Baptista a uma exploração de suínos atingidos pela doença e o espectáculo que presenciei jamais vou esquecer! Eram centenas de animais deitados,
febris que grunhiam de dor quando se lhes tocava no focinho, nas unhas ou melhor no sítio onde tinham estado as unhas. Nos finais de 1982 é diagnosticada Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos em animais da região norte do país; foi determinado o seu abate que aconteceu no matadouro de Monção em Janeiro de 1983; para lá convergiram grande número de veterinários nomeadamente patologistas, incluindo os do laboratório do Porto, Viseu e Mirandela, ansiosos de ver as lesões duma doença que já não era noticiada há muitos anos. Fomos cedo para o matadouro e Nunes Petisca dirigia as operações; os dois primeiros animais mostraram-nos formas exuberantes da doença, com grandes derrames intratorácicos, o pulmão de aspecto marmoreado com edema dos septos onde eram visíveis os focos de organização perivasculares, característicos
Peripleumonia contagiosa dos bovinos
da doença; quando passámos ao Alexandre Galo deixa o Serviço de terceiro animal que decepção! O Patologia em Junho de 1983 para pulmão estava rosadinho, sem assumir as funções de substituto alterações! Nunes Petisca não do director e em 1986 foi pareceu surpreendido e com toda autorizado a deslocar-se por um a calma começou a fazer a período de 2 anos para Plum palpação cuidadosa do pulmão, Island Animal Disease Center para fez uma incisão e para surpresa se integrar num projecto sobre geral mostra a todos um Peste Suína Africana; o trabalho aí sequestro peripneumónico!!!! Foi realizado permitiu-lhe prestar uma aula improvisada que mais provas para investigador auxiliar, uma vez não apanhou em 1987, com o tema “Peste desprevenido tão brilhante Suína Africana Crónica. professor… Contribuição para o diagnóstico Neste surto de P.P.C.B. que se por provas de afinidade, estendeu até 1999 foram citoquímica e imunocitoquímica estudados grande número de em cortes histológicos”. casos cujos resultados PSA crónica simultaneamente com os do surto de 1953-54, foram publicados no artigo “Patogenia e anatomia psa crónica patológica da peripneumonia contagiosa dos bovinos (PPCB) em Portugal” publicado no Repositório de Trabalhos do LNIV, número especial dedicado ao 75º aniversário desta mesma Costa Durão deixou o LNIV para instituição e que englobava os se dedicar exclusivamente à patologistas dos laboratórios de actividade docente na F.M.V. em Lisboa e do Porto. Este trabalho 1984; Zaida Santos e Tabordou foi distinguido com o Prémio Pfizer/88 atribuído pela Sociedade Duarte aposentam-se, respectivamente, em 1985 e em Portuguesa de Ciências 1986. Veterinárias.
Inicia-se assim o desmembramento da equipa de patologistas. A grande proximidade que me ligava ao Rui Baptista levou a que partilhássemos algumas experiências em comum nomeadamente a nossa primeira saída “ao campo”, sozinhos, que era na altura um verdadeiro desafio já que o fazíamos sempre em companhia dum patologista mais experiente. Descrevemos juntos “Alguns aspectos histopatológicos do sistema nervoso central em ovinos com listeriose” e “Alguns aspectos anatomo-histopatológicos da doença de Aujeszky em leitões”. Rui Baptista desde cedo se dedicou à suinicultura tendo como mestre o Prof. Braço Forte; a possibilidade de exercer a atividade privada em várias explorações de suínos associada ao seu trabalho como patologista permitiu-lhe uma grande afinidade e sensibilidade para o diagnóstico nesta área; é assim que identifica pela 1ª vez a enterite necrótica infecciosa dos leitões e mais tarde a circovirose suína; no seguimento desta especialização faz o concurso para investigador auxiliar, em
1987, com o trabalho intitulado “Alguns aspectos da patologia da pneumonia enzoótica dos suínos em Portugal”. Pneumonia enzoótica suina
Foi um dos fundadores da Sociedade Científica de Suinicultura tendo sido seu presidente durante vários anos. Embora mais modesta a patologia dos coelhos continuava a entusiasmar-me; as alterações provocadas pela modernização das explorações levaram ao aparecimento de patologias respiratórias e digestivas muito diferentes das que eram habituais nas coelheiras tradicionais; foi o contacto com tão elevado número de animais que tornou possível o diagnóstico da doença de Tyzzer, feito no início da década de 80, a partir de coelhos jovens que evidenciavam alterações digestivas.
Em 1986 e como consequência da passagem do Laboratório de Mirandela para a Direcção Regional de Agricultura de Trásos-Montes e Alto Douro, Augusto Afonso é transferido para o Serviço de Histopatologia; em 1992 realiza as provas para investigador auxiliar com o trabalho “Alguns aspetos da patologia das broncopneumonias parasitárias dos ovinos em Portugal”. Pneumonia parasitária
terminaria a sua actividade em 1997 e as médicas veterinárias que aí exerciam funções foram integradas em vários serviços do L.N.I.V. Em Setembro de 1989 surgiram no sul do país alguns cavalos suspeitos de estarem infectados com o vírus da Peste Equina Africana; os técnicos do L.N.I.V., Rui Baptista e Manuel Lage, deslocaram-se a Castro Marim e em colaboração com os colegas da D.R.A. do Algarve procederam à colheita de amostras para diagnóstico; na fotografia podemos ver Rui Baptista e a colega Maria José do laboratório de Faro a fazerem a necrópsia de um dos animais vitimados pela doença. Peste equina africana
Em 1987, por decisão do então Director, Dr. Matos Águas, a patologia aviária foi retirada ao L.N.I.V. e transferida para um laboratório recém-criado na Estação de Avicultura da Venda Nova, decisão algo polémica, pois algumas pesquisas, nomeadamente na área da virologia, continuaram a ser feitas no L.N.I.V.; este laboratório
Em 1990 dá-se mais uma “baixa”: é a saída de José Gonçalves para a F.M.V. onde foi integrar o grupo de docentes da Clínica Médica.
Glomerulonefrite
O seu doutoramento, realizado em 1986, com a tese sobre “Nefropatias em Canis familiaris. Estudo anátomo-clínico e histopatológico (significado patogénico e interesse em patologia comparada) ” fazia antever esta sua preferência. Segue-se pouco depois a reforma de Tavares Montano em 1992. Apesar de terem passado, por este serviço, alguns jovens técnicos nenhum deles se fixou; lembramos Isabel Mariano- 19901992, José Caiado- 1983-1985 e Jorge Pimenta em 1996-1997. Com o desagregar deste grupo de trabalho que se tinha mantido coeso durante tantos anos a actividade do departamento ressentiu-se; a agravar esta situação houve simultaneamente um conjunto de alterações, nomeadamente a regionalização dos serviços veterinários do Ministério da Agricultura que lhe
retirava capacidade de intervenção. A saída de Nunes Petisca, por motivos de saúde em 1991 foi um duro golpe para mim e para o Rui; apesar de Manuel Lage ainda estar presente, vimo-nos de repente a braços com um serviço cujas chefias repartíamos entre nós. Faltava-nos aquele apoio para a certeza do diagnóstico, para a imagem que não tínhamos, para a coloração a realizar...; mas foi também a altura certa para um crescimento que precisavamos ter e que foi necessário para um novo problema que tivemos de enfrentar, em 1990-1994 com o diagnóstico da Encefalopatia Espongiforme dos Bovinos em Portugal; problema difícil, não só porque se tratava duma patologia pouco frequente, mas também pelo envolvimento político que ocasionou; apesar de o laboratório do Porto ter um papel preponderante neste diagnóstico, o nosso departamento foi também chamado a dar a sua colaboração na colheita de amostras nos animais coabitantes de animais positivos à doença e posterior exame histopatológico,
A morte de Nunes Petisca ocorreu em Dezembro de 1996 e no VII Encontro da Sociedade Portuguesa de Patologia Animal, em Maio do ano seguinte, foi realizada uma pequena homenagem no Departamento de Patologia em que estiveram presentes os seus familiares mais próximos e alguns amigos; foi um
momento em que se recordou o PATOLOGISTA reconhecido não só a nível nacional como internacional, nomeadamente no campo das pestes suínas, mas também se falou do seu gosto em ensinar, da facilidade com que transmitia os seus conhecimentos e que fizeram dele um MESTRE por excelência, fundamental na
formação de numerosos patologistas portugueses, alguns dos quais ainda em actividade; não foram também esquecidas as suas qualidades humanas das quais destacamos a simplicidade e a generosidade, por vezes até exagerada. Considero-me uma afortunada por ter tido a possibilidade de estar alguns anos junto do Dr. Petisca; foi com ele que me iniciei na Anatomia Patológica e com ele aprendi outras lições de vida. Recordo com muita saudade as longas tardes de discussão de lâminas, os livros que desencantava nos armários do seu gabinete para nos mostrar lesões idênticas e os casos que nos relatava resultantes da sua longa experiência; o gosto e a disponibilidade com que nos ensinava eram fabulosos. Parecia tudo tão fácil..... A criação, pela Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, do Prémio Nunes Petisca que é atribuído ao melhor aluno de Anatomia Patológica dos cursos de Medicina Veterinária em Portugal é certamente uma forma justa de lembrar o Patologista que foi, para que o seu nome fique na memória das gerações vindouras.
Em 1998 é a vez de Manuel Lage aceder à reforma. Face ao reduzido número de técnicos que prestavam serviço no Departamento de Patologia nesta fase, Paulo Carvalho, médico veterinário da DRABL onde exercia funções de inspetor sanitário, foi transferido para este laboratório, em Novembro de 2004. A entrada deste técnico coincidiu com o aparecimento dos primeiros casos de linfadenite tuberculose em suínos; o diagnóstico foi realiazado em algumas amostras de gânglios linfáticos submandibulares e/ou mesentéricos que apresentavam focos de necrose, em número variável, no seio dos quais, com a coloração de Ziehl-Neelsen, se visualizaram bacilos ácido-álcoolresistentes. Face ao elevado número de
carcaças que evidenciavam lesões idênticas, receou-se um grave problema de saúde pública, mas o isolamento de Mycobacterium avium var. hominissuis e o facto de as lesões se encontrarem apenas nos gânglios linfáticos do sistema digestivo afastou essa hipótese; chegou-se à conclusão que as lesões eram consequência da ingestão de matérias-primas infectadas. Paula Mendonça que viera do laboratório da Estação de Avicultura e que foi colocada na Unidade de Crição, Selecção e Bem-estar dos animais de experiência foi transferida para o Departamento de Patologia em 2001, mas só em 2005 começou a realizar necrópsias e exames histopatológicos. Entretanto Rui Baptista pede a reforma por doença grave, em 2005 e vem a falecer em Outubro de 2007. Por esta altura, mais concretamente nos anos de 2005 e sobretudo 2006 foi a Gripe Aviária que tanta perturbação provocou na sociedade portuguesa por se recear a passagem do vírus das aves para as pessoas e o que poderia levar ao aparecimento duma pandemia. Linfadenite tuberculosa
Pobres aves! Tudo o que tinha penas era suspeito e posto à distância!! Segundo o edital as aves encontradas teriam de ser enviadas para o laboratório para pesquisa do vírus da gripe. Embora as aves se destinassem apenas a essa pesquisa, os patologistas não podiam perder a oportunidade de fazer a necrópsia e o contacto com espécies pouco habituais. Chegaram às centenas! Gaivotas, melros, cegonhas, patos de todas as espécies, pombos, gansos patolas, corvos marinhos, aves de rapina,…
Para além desta diversidade de aves silvestres, as de capoeira também não faltaram e permitiram-nos observar patologias que não eram vistas há
muitos anos com predominância das parasitoses. No ano de 2006 realizámos necrópsias de 4756 aves, das quais 1100 eram aves domésticas e 3656 aves silváticas. Passado o episódio da Gripe aviária o trabalho realizado no Sector de Diagnóstico Anatomohistopatológico retomou uma certa rotina com as necrópsias de todas as espécies animais, os exames histopatológicos e o apoio aos planos de erradicação do qual se destaca o da tuberculose bovina e o da tuberculose em caça maior; a patologia das espécies exóticas é também uma das nossas preferidas. Com a passagem à reforma de Augusto Afonso, em 2010, a equipa torna-se ainda mais pequena, mas disposta a continuar a servir a pecuária nacional e a saúde animal. Não podemos esquecer e queremos deixar aqui um agradecimento aos cinco técnicos de laboratório que sempre trabalharam connosco. O trabalho de rotina era feito por Ludgero Oliveira (entrou como servente em 1948) e Glória Saramago.
Santos que entrou em Abril de 1937 como servente, era o preparador que fazia os métodos de coloração mais elaborados; a elevada qualidade
Ainda me lembro dos velhos micrótomos onde se cortavam os blocos de parafina e onde eu também aprendi a fazer cortes; o processamento das amostras era feita já num processador automático de tecidos e os blocos eram feitos nos quadros de Leuckart; na sua
simplicidade, era por vezes difícil entenderem o porquê de algumas análises terem um número tão elevado de blocos que lhes davam tanto trabalho a cortar e então diziam que “só faltava vir o rabo do cão!!!”. António Bernardino
do seu trabalho resultou da grande dedicação e persistência embora auxiliado, nos primeiros anos, por Nunes Petisca que lhe transmitia os métodos utilizados nos laboratórios por onde tinha passado; os seus serviços eram, inclusive, requisitados por médicos da área da anatomia patológica; o PAS e os tricrómicos faziam sensação!! Nesta altura entraram para exercer funções no laboratório de Histopatologia Helena Carvalho e Leonor Leitão que se mantêm ainda hoje ao serviço; usufruíram duma grande melhoria nas condições de trabalho e aprenderam a realizar numerosas técnicas.
Com a descrição cronológica da actividade da PATOLOGIA ao longo destes anos poderei não ter conseguido transmitir, sobretudo a quem está afastado desta área, o papel importante desempenhado por todos estes técnicos e investigadores, ao longo destes 100 anos, sempre em colaboração com outras áreas científicas no diagnóstico e controlo de numerosas doenças animais, algumas das quais foram levadas à extinção.
Ficam aqui por enumerar a longa lista de trabalhos científicos que foram realizados, a participação em numerosos cursos de formação para médicos veterinários, as participações em reuniões científicas e congressos e também todo o apoio que não é possível quantificar...
Madalena Monteiro
Bibliografia “Recurso do Director-Geral dos Serviços Pecuários Dr. Fontes Pereira de Melo para o Supremo Tribunal Administrativo. Alegações e documentos” Lisboa 1950 Bonito, Cruz- Acerca da Perineumonia Contagiosa- Medicina Veterinária, Abril-Maio, 1935 págs. 45-48 Braço Forte Junior, Manuel da Cruz- Peste Suína em Portugal- extracto da lição produzida no Curso de Patologia Porcina realizado ao abrigo do III Plano de Fomento, 1970 Braço Forte Júnior, Manuel da Cruz – Pestes suínas em Portugal- Repositório de Trabalhos do I.N.V., Vol. XII, 1980, pág. 7-22 Peleteiro, M. Conceição e Monteiro, Madalena- A Anatomia Patológica Veterinária em PortugalRevista da Ordem dos Médicos Veterinários, 1º semestre 2011, 68-84. I, II, III, IV, V e VI Repositórios do Laboratório Central de Patologia Veterinária
Dados atuais: 1 Veterinário 1 Eng. Zootécnico 1 Assistente Técnico
O crescente número de Apicultores e o consequente aumento da atividade apícola em Portugal fez surgir, em 1979, o Serviço de Patologia Apícola inserido na Divisão de Biologia e Patologia dos Animais Aquáticos e Silvestres, no então, Instituto Nacional de Veterinária, em Lisboa. No início, a equipa de trabalho era constituída por um Assistente de Investigação, Mira Delgado, e duas Assistentes Técnicas: Armanda Dias e Ana Almada e funcionava numa sala do Serviço de Bacteriologia. Nesse mesmo ano, foram diagnosticadas, pela primeira vez em Portugal Continental, a Acarapisose, a Nosemose, a Amebíase, a Senotainiose e a Loque Americana. Em 1982 diagnosticou-se a Ascosferiose. Em 1987, devido ao aumento crescente de amostras de material apícola que entrava no LNIV e à necessidade de respostas rápidas e atempadas, entrou para o Serviço a Médica Veterinária, Maria José Valério, atualmente a Responsável. Nesse mesmo ano, é diagnosticada pela primeira vez em Portugal
Varroa
Continental a Varroose, sendo posteriormente identificada, em 2000, na ilha do Pico, Açores e em 2001 na Madeira. Entre 1988 e 1994 colaborou no Serviço a Técnica Auxiliar Maria José Chasqueira e em 1990 a Engª. Técnica Iracema Marques que já nos “deixou” por doença grave em Janeiro de 2003. Em 1991, o sector deixa o espaço que ocupava no Serviço de Bacteriologia e é transferido para novas instalações laboratoriais adaptadas na antiga cavalariça, com maior espaço e melhores condições de trabalho. Nesse mesmo ano, foi criado em Almoster um apiário experimental com 10 colmeias tipo Langstroth, que tinha como objetivo estudar a eficácia de alguns produtos
químicos e/ou naturais, bem como meios biotécnicos no controlo de determinadas doenças e no comportamento das colónias perante os mesmos. À época, foram plantados no terreno circundante ao apiário, 500 pés de alecrim, planta altamente nectífera, que muito contribuiu para a coleta de cerca de 250 kg de mel ao ano. Este era vendido aos funcionários do LNIV, mas em 2003 foi desativado, tendo a Quinta de Almoster sido entregue à Estação Zootécnica Nacional, Fonte Boa, à qual pertencia. Em 1994 Mira Delgado deixa o Serviço de Patologia Apícola.
Aethina tumina
Em 2004 é diagnosticada pela primeira vez em Portugal e no espaço comunitário a Aethinose, que altera a diretiva comunitária 2003/881/CE e, por se tratar de uma doença exótica na Europa, leva à destruição completa do apiário onde a mesma tinha sido diagnosticada, na região de Borba.
Em 2008, devido a fortes cheias, o Serviço é encerrado e a parte laboratorial foi transferida para o Serviço de Ictiopatologia onde ainda hoje permanece. Em 2009 foram reconduzidas para o sector de Patologia Apícola a Assistente Técnica Gabriela Correia e a Eng.ª Zootécnica Maria Telma Félix, que saiu do LNIV em Abril de 2011, entrando para o seu lugar, a também Eng.ª Zootécnica, Gisela Alvim. Nestes últimos anos o número de análises de identificação das doenças que afetam o efetivo apícola têm vindo a aumentar,
Acarapis woodi tendo-se realizado, no ano transato, cerca de 3.612 análises. Este aumento deve-se a dois grandes fatores:
Senotainia tricuspis nos Estados Membros, baseados na realização de análises do material apícola.
(i) ao aparecimento das zonas controladas em Portugal Continental no ano de 2008, o que obrigou a que os apicultores existentes nessas zonas, enviem material apícola ao Laboratório, pelo menos uma vez por ano;
Atualmente, o LNIV é o laboratório de referência a nível nacional para as doenças das abelhas e esperamos que num futuro bem próximo este setor seja enriquecido, não só em meios técnicos como também em meios humanos.
(ii) na sequência do aparecimento do chamado Síndrome do Desaparecimento das Abelhas em 2008, a EU tem vindo a implementar estudos e projetos,
Maria José Valério
Dados atuais: 1 Veterinário 1 Assistente Técnico
O Serviço de Patologia dos Peixes surgiu em Dezembro de 1980 também inserido na Divisão de Biologia e Patologia dos Animais Aquáticos e Silvestres, no então, Instituto Nacional de Veterinária, em Lisboa, devido á necessidade de existir nos serviços oficiais uma estrutura que apoiasse o desenvolvimento da aquacultura nas diversas vertentes da patologia. O Serviço tinha como missão o diagnóstico de todas as doenças dos peixes no apoio, a Aquicultores, aos Serviços de Inspeção dos Portos e ao então denominado Serviço de Bromatologia do LNIV. Fizeram parte do grupo inicial, chamado carinhosamente “as peixeiras”, as colegas: Marina Martins (Micologia), Paula Cruz e Silva (Parasitologia), Susana Freitas (Histologia) e Teresa Albuquerque (Bacteriologia). Mais tarde, juntouse a este grupo a colega Teresa Duarte (Virologia). Quando da sua criação, foi provisoriamente instalado numa das salas do Departamento de Patologia, em condições precárias, onde os reservatórios dos peixes
coexistiam com microscópios. Após o estabelecimento do quadro nosológico nacional em 1985-86, o Serviço muda de instalações, sendo para tal adaptada a antiga garagem do Laboratório. O desenho do pavilhão, as bancadas e as enfermarias foram idealizadas pelos elementos do Serviço, e o seu equipamento financiado, na sua quase totalidade, por Projetos de Investigação. Até 2005 esta unidade orgânica foi Laboratório de Referência para as doenças dos peixes de água doce. Em 2005 o Serviço é desativado, mantendo-se, no entanto, o diagnóstico virológico integrado nas atividades do laboratório de Virologia.
Truticultura
Dicentrarchus labrax
Maria Paula Cruz e Silva Brânquias com Neodiplectanum sp.
Trichodina sp.
Dados atuais: 2 Veterinários 2 Biotecnólogos 1 Assistente Técnico
A identificação de uma nova doença neurodegenerativa fatal em bovinos adultos, de declaração obrigatória, em 1986, no Reino Unido - a Encefalopatia Espongiforme Bovina (na terminologia anglo-saxónica, Bovine Spongiform EncephalopathyBSE), enquadrada no grupo das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (TSE's - abreviatura da designação Transmissible Spongiform Encephalopathies), preocupou de sobremaneira as autoridades de saúde devido ao seu potencial zoonótico, relacionado com a variante da doença de Creutzfeldt- Jakob (vCJD), bem como ao grande impacto económico
das medidas implementadas no seu controlo. As TSEs constituem um grupo de doenças raras, progressivas e fatais
do Sistema Nervoso Central (SNC) que incluem, entre outras, o Scrapie nos pequenos ruminantes, a Doença Emaciante Crónica nos cervídeos e a Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) no homem. Este grupo de doenças apresenta características únicas, entre as quais se destacam a presença de um agente causal não convencional e altamente resistente, que quando tratado com detergentes induz a formação de fibrilhas (Scrapie Associated Fibrils - SAF) visíveis em microscopia eletrónica e um período de incubação longo, bem como um quadro histopatológico típico caracterizado por vacuolização neuronal e no neurópilo. Muitas teorias foram formuladas sobre o agente infeccioso, sendo a da proteína única apresentada por Prusiner a que é atualmente aceite na comunidade científica (Prusiner, 1982). Esta considera uma isoforma anormal de uma proteína celular (Proteína priónica celular- PrPc), a qual
designou por prião (prionproteinaceous infectious particle) ou proteína priónica resistente (PrPres) como o único agente infeccioso envolvido BSE - Histopatologia
BSE - Imunohistoquimica
BSE - Western blot
neste tipo de afeções. Atualmente, a PrPres constitui o marcador específico destas doenças e a sua deteção por ELISA (Teste rápido), Imunohistoquímica, por Western Immunoblot representa a base de diagnóstico. O primeiro caso de BSE em Portugal foi diagnosticado em 1990 pelos Investigadores do LNIV Alexandre Galo e Manuel Azevedo Ramos, num animal proveniente do Reino Unido. Durante os anos seguintes até 1993, foram diagnosticados seis novos casos clínicos em animais com a mesma proveniência. A partir de 1994, a quase totalidade dos casos positivos confirmados foram de animais nascidos em Portugal, tendo-se atingido o pico epidémico da doença em 1999. Em Julho de 1994, perante o número crescente de casos de BSE foi emitida legislação nacional para proibir a incorporação de farinhas de carne e osso em alimentos compostos para ruminantes, pois a infeção era devida ao consumo de ração com incorporação de farinha de carne e osso contaminada com priões. Nessa altura, foi também decidido o
sequestro de todos os efetivos pertencentes a explorações com casos de BSE e, em 1996, foi então aprovado pela União Europeia o programa de erradicação de BSE para Portugal que impôs grandes medidas de combate à doença e à proteção da saúde pública. A magnitude da BSE em Portugal constituiu um problema nacional e comunitário, surgindo uma necessidade absoluta de desenvolver no país a base de conhecimento sobre as TSEs fundamental ao cumprimento dos Planos de Vigilância destas doenças. Assim, no âmbito do projeto PAMAF–IED7046, coordenado por Alexandre Galo, foi inicialmente criada em 1998, nas instalações do LNIV em Lisboa, uma unidade dedicada ao estudo e diagnóstico das TSEs animais, reunindo as condições de biossegurança de nível 3 exigidas para os ensaios de diagnóstico das TSEs e para a implementação de novos métodos de diagnóstico de BSE até então inexistentes em Portugal. Esta unidade, em colaboração com os setores de diagnóstico anatomohistopatológico e o laboratório de Higiene Pública de
Lisboa e Vairão, tem assegurado o diagnóstico laboratorial das TSEs, bem como a realização de exames relativos à pesquisa de farinhas de carne e osso em amostras de alimentos compostos para o cumprimento do Plano de Vigilância das TSEs animais em Portugal. Em 1999, o LNIV foi designado pela União Europeia como Laboratório Nacional de Referência para estas doenças animais, e como tal, parte da sua missão tem sido assegurar o apoio técnico e cientifico especializado à Autoridade Veterinária Nacional, caracterizar e monitorizar as estirpes de TSEs identificadas em Portugal bem como zelar pelo arquivo destas amostras. Em 2001, para além do plano vigilância passiva (que inclui animais com sinais clínicos), a União Europeia estabeleceu no Reg. CE nº 999/2001 um programa mais
alargado de epidemiovigilância para os bovinos- a vigilância ativa (que incluía animais abatidos para consumo e animais de risco). Para que nos matadouros se pudesse tomar uma decisão sobre o destino das carcaças, surgiu a exigência de um diagnóstico rápido num elevado número de amostras, que só foi possível após a implementação da colheita de tronco cerebral pelo foramen magnum e pelo desenvolvimento de metodologias analíticas mais rápidas, os designados “Testes rápidos” que permitiram um tempo de resposta significativamente inferior ao dos exames histopatológico e imunohistoquímico. Para dar resposta à elevada
magnitude de testagem exigida por esta vigilância, foi instalada em 2001 no LNIV, em Vairão, uma unidade de Testes Rápidos. Mais tarde, em 2002, após a constatação da transmissão experimental da BSE aos ovinos, a vigilância activa foi alargada aos pequenos ruminantes com o objetivo de conhecer a verdadeira prevalência de scrapie nos vários países comunitários, uma vez que esta foi considerada desde
sempre como subestimada. Nesta extensa monitorização, verificouse não só uma incidência desta doença superior ao esperado, bem como foram identificados casos atípicos de scrapie em vários países. Em Portugal, pese embora a vigilância desenvolvida até 2002,
Vairão (dados atuais): 2 Veterinários 2 Microbiologistas 7 Assistentes Técnicos
nunca tinha sido identificado nenhum caso desta doença em pequenos ruminantes, apesar da existência de genótipos susceptíveis na população ovina portuguesa. Em 2003, no âmbito do plano da vigilância ativa, identificou-se pela primeira vez em Portugal uma forma atípica de scrapie, semelhante à descrita para a NOR98 (forma atípica detetada em 1998 na Noruega). Em 2004, foi detectado o primeiro caso da forma clássica de scrapie num ovino importado e quatro anos mais tarde, foram confirmados os primeiros casos desta afeção em ovinos portugueses. Em resposta às exigências comunitárias e nacionais na defesa da saúde animal e pública, têm sido implementados mais procedimentos analíticos:a determinação do genótipo do gene que codifica a PrPc em ovinos e caprinos para
estudo da susceptibilidade genética desta espécie às TSEs (2000 e 2010, respetivamente), o teste molecular discriminatório para distinção entre BSE e scrapie em pequenos ruminantes (2005) e o teste discriminatório entre a forma clássica e as formas atípicas de BSE (2012). Uma das medidas mais eficazes na redução do risco de exposição humana à BSE foi a interdição na cadeia alimentar humana de materiais de risco específico
Scrapie Clássico
Scrapie Atípico
HISTOPATOLOGIA
IMUNOHISTOQUIMICA
WESTERN BLOT
(MREs) provenientes de bovinos e pequenos ruminantes No entanto, esta remoção levou a uma perda significativa do valor comercial das carcaças. Assim, em 2003, foi estabelecida uma derrogação (Regulamento nº1139/2003 que altera o Regulamento 999/2001), permitindo o aproveitamento da carne da cabeça dos bovinos com mais de 12 meses de idade, desde que fossem asseguradas medidas destinadas a impedir a contaminação daquela carne com tecido do sistema nervoso central. Neste âmbito, implementou-se, em 2006, um teste laboratorial para pesquisa deste tecido, em produtos cárneos pela deteção da Proteína Glial Acídica Fibrilhar (GFAP). Desde o início da sua atividade, o
setor se empenhou em reunir, primeiramente, as condições necessárias à certificação do Sistema de Gestão da Qualidade em conformidade com a norma NP EN ISO 9001 e, de seguida, aquelas requeridas para o processo de acreditação de acordo com a NP EN ISO 17025, contribuindo assim, a par de outros setores, para que o LNIV fosse a primeira entidade do Ministério da Agricultura a obter a certificação da qualidade ISO 9001 em abril de 2007, bem como o Estatuto de Acreditação atribuído em janeiro de 2008. No que tange à realização de ações de investigação, a equipa tem integrado e desenvolvido vários projetos nacionais e internacionais, no domínio da patogenia, da caracterização de estirpes e avaliação de risco e controlo destas doenças.
Maria Leonor Orge
Comissão do Centenário: Maria Inácia Corrêa de Sá Madalena Monteiro Clara Cruz Carla Neves Machado Alice Santos Design Gráfico: Alice Santos Contactos: inacia.sa@iniav.pt