Lentilha (Lens culinaris, Medik.): Tecnologias de plantio e utilização

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LENTILHA (Lens culinaris, Medik.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

Vicente de Paula Queiroga Ênio Giuliano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


LENTILHA (Lens culinaris, Medik.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA ÊNIO GIULIANO GIRÃO ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE (Editores Técnicos)

LENTILHA (Lens culinaris, Medik.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª Edição

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2022


©Copyright 2022 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, ÊNIO GIULIANO GIRÃO, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Capa CRISLANE SANTOS DE MACÊDO, SARAH ELISABETH SANTOS CUPERTINO, JONATHAS FARIAS DE CARVALHO. Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 19-01-2022 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3l

Queiroga, Vicente de Paula. Lentilha (Lens culinaris, Medik.): Tecnologias de plantio e utilização. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2022. 141 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-10-0 1. Lentilha. 2. Lens culinaris. 3. Sistema de produção. 4. Colheita. 5. Sementes. 6. Alimento. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Girão, Ênio Giuliano. III. Albuquerque, Esther Maria Barros de. IV. Título. CDU 631.5

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Ênio Giuliano Girão (M.Sc) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa Agroindústria Tropical– CNPAT Fortaleza, CE (Brasil)

Esther Maria Barros de Albuquerque (Drª) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

A lentilha (Lens culinaris, Medik) é uma leguminosa importante por contribuir para a nutrição humana, sua semente é um alimento bastante completo e de alto valor nutricional; contém 25,1% de proteínas, 59,7% de carboidratos, 30% de substâncias minerais, são de fácil digestão e ricas em cálcio (38,6 mg/100 g); Além disso, devido à quantidade de ferro que contém (7,62 mg/100 g), dá uma tonalidade adequada à hemoglobina no sangue. No Brasil, é considerada uma cultura de inverno, sendo as regiões do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (acima de 800 m) as que oferecem excelente condição para o seu cultivo. Por ser pouco plantado, o país recorre-se à importação, chegando ao mercado com alto preço, não lhe estimulando o consumo em maior escala. A lentilha pode ser uma das culturas de inverno mais lucrativas, especialmente quando uma abordagem profissional para a produção e comercialização é feita. Isso é o oposto quando se trata de uma cultura secundária, a qual é plantada por último, colhida por último e vendida ao comprador mais próximo. Por outro lado, a colheita antecipada das plantações de lentilhas é uma situação crítica, pois atrasos podem custar tanto aos produtores quanto à indústria de leguminosas um prejuízo considerável em dinheiro. Para muitas lavouras de colheita tardia, a umidade dos grãos costuma ser baixa, em torno de 8%; mas o teor de umidade preferido é de 12%, também é aceitável o teor com um máximo de 14%. Portanto, este livro foi preparado com esse propósito, que é fornecer uma base inicial de conhecimento para produzir a lentilha no Brasil, visando fortalecer o seu sistema produtivo que poderá abrir um mercado promissor às exportações brasileiras, além de suprir a demanda interna. Fornece em uma única fonte, o conhecimento necessário para cultivar, colher e armazenar os grãos inteiros. Em razão disso, este livro escrito em português pode ser um dos primeiros manuais dedicados ao cultivo da lentilha para o Brasil. Ou seja, aquele que decidir cultivar essa leguminosa e conhecê-la em maior profundidade, o livro "Lentilha (Lens culinaris Medik): Tecnologias de plantio e utilização" será de grande interesse e ajuda para o produtor que necessita pôr em prática as várias tecnologias abordadas no mesmo. Os autores


SUMÁRIO

CAPÍTULO I - SISTEMA PRODUTIVO DA LENTILHA (LENS CULINARIS, MEDIK.) – Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque ......10

CAPÍTULO II - COLHEITA, ARMAZENAMETO E COMERCIALIZAÇÃO DE LENTILHA - Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque .............................................................................................................................102

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................132


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CAPÍTULO I

SISTEMA PRODUTIVO DA LENTILHA (LENS CULINARIS, MEDIK.)

Vicente de Paula Queiroga Ênio Giuliano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores)


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INTRODUÇÃO O cultivo da lentilha (Lens culinaris) é considerado um dos mais antigos com cerca de 8.000 a 9.000 anos. Suas origens estão centradas no Iraque, onde se espalhou para os países vizinhos como Grécia, Bulgária etc. Posteriormente foi introduzido na Europa onde se alastrou para o resto dos países, chegando por último a alcançar as Américas. É uma cultura diploide autopolinizada (2n = 14), cultivada em todo o mundo como alimento humano por seu valor nutritivo, além de ser uma leguminosa bastante tolerante à seca. A lentilha é possivelmente a fonte mais rica de proteínas entre as leguminosas comestíveis que são cozidas e consumidas diretamente sem processamento prévio para alterações de qualidade. O teor de proteína usual em lentilhas secas é em torno de 26%, embora a variação relatada em vários genótipos oscile de 20,4 a 29,8%, e é considerada uma característica poligênica. Na maioria das colheitas, especialmente cereais, o conteúdo de proteína é invariavelmente correlacionado negativamente com o tamanho da semente. No entanto, a lentilha é possivelmente uma exceção. De acordo com relatórios disponíveis, o conteúdo de proteína foi afirmado como positivamente (embora moderadamente) correlacionado com o tamanho da semente. Esta leguminosa é considerada um alimentos de alta qualidade e de baixo custo que pode substituir as proteínas animais (MIRA et al., 2009), embora a lentilha (Lens culinaris) tenha a mais longa história de cultivo e é um dos cinco alimentos mais saudáveis do mundo (XU et al., 2010). Desde então, a lentilha foi reconhecida como alimento funcional que promove a saúde e tem propriedades terapêuticas, como antioxidantes, anticâncer, propriedades

atividades

antibacterianas,

redutoras

do

anti-hipertensivas, colesterol

imunorregulatórias

(SHAHIDI;

e

ZHONG

2008; NITHIYANANTHAM et al., 2012). Além disso, a lentilha tem menor teor de gordura do que a maioria das leguminosas e, como tal, pode ser útil para a perda de peso (DUEÑAS et al., 2002). Por outro lado, trata-se de uma cultura de inverno e climas temperados, sendo sua produção mais comum nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. No início de 1990, foi cultivada pela primeira vez na Austrália, principalmente nas regiões semiáridas de Victoria e South Austrália, com padrões de chuvas dominantes no inverno. O consumo de lentilha na Austrália está aumentando gradualmente, no entanto, é amplamente


C a p í t u l o I | 12 cultivada e consumida em todo o Mediterrâneo, no subcontinente indiano, no sul da Ásia e na América do Norte e, no último meio século, sua produção global mais que quadruplicou. A indústria de lentilhas da Austrália se beneficiou do lançamento de variedades cada vez melhores, oferecendo uma adaptação mais ampla e recursos agronômicos aprimorados, fisiologia da planta, arquitetura da planta e rendimento. Essas variedades, juntamente com técnicas aprimoradas de manejo da cultura, fornecem aos produtores a confiança necessária para cultivar esta cultura de alto valor. A lentilha geralmente tem um preço premium em comparação com outras safras de leguminosas, como ervilhas e feijão, com muitos mercados mundiais exigindo lentilhas para consumo humano. A lentilha nos últimos anos sustentou altos preços de grãos de US $ 800-1200/t durante 2014 e 2015 devido à oferta mundial escassa. Embora os preços da lentilha sejam geralmente mais altos do que a maioria das outras leguminosas, eles podem ser voláteis devido à flutuação da produção em todo o mundo, particularmente com países que exportam cerca de 100% de sua produção agrícola, incluindo Canadá e Austrália. Além das mudanças na demanda mundial e excedentes de transporte, há uma queda significativa de preços e potencial falta de mercados de ração disponíveis para os produtores de grãos que não atendem ao padrão de consumo humano. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Alimentação. As safras de pulses pertencem à família das Fabaceae, conhecidas por serem semeadas anualmente como leguminosas para a produção de sementes. As leguminosas são produtos agrícolas de extrema importância, cultivadas na maioria dos países do mundo, principalmente pelos agricultores familiares em países em desenvolvimento. É importante fonte de proteínas, bem como de carboidratos, fibras alimentares, macro e micronutrientes essenciais como vitaminas e minerais. Os cultivos de pulses (lentilha, grão-de-bico, feijão comum, fava, ervilha, etc) desempenham um papel importante na dieta das pessoas pobres em todo o mundo por causa da grande quantidade de proteínas, vitaminas e minerais. Além de ser um alimento valioso e rico em proteínas, também é usado como adubo verde (massa verde) ou ração animal (forragem, como palha seca) por produzir grande quantidade de biomassa (ZONG et al., 2009).


C a p í t u l o I | 13 A lentilha é utilizada principalmente para consumo humano como fonte de proteínas e carboidratos em sopas, ensopados e pratos vegetarianos. A maior parte da lentilha é consumida na região de produção, exceto Turquia, Austrália e América do Norte. O Canadá é o maior exportador de lentilhas do mundo. Por outro lado, o grão seco de lentilha pode ser comprado com a casca (“tegumento”), ou com o tegumento removido, ou com o tegumento removido e partido ao meio. Este último é chamado de "lentilha dividida" (Figura 1). As lentilhas divididas são desejáveis quando se deseja que as lentilhas cozinhem rapidamente até virar purê, enquanto as lentilhas inteiras com o tegumento são úteis quando se deseja que as lentilhas mantenham a sua forma, como em sopas e saladas. As diferentes variedades de lentilhas apresentam cores distintas do seu tegumento ou do cotilédone (endosperma; Figura 2).

Figura 1. Grãos partidos ou de lentilha (dividida) e sem pele (tegumento).


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Figura 2. Cultivares de lentilha com distintas cores: vermelha, verde, amarela, preta, castanha, mesclada, etc.

Os preços da lentilha variam, mas os retornos líquidos costumam ser maiores do que os obtidos com o trigo. Nos campos, os rendimentos de lentilhas variam entre 500 e 2.800 kg/ha, com um rendimento médio de cerca de 1.345 kg/ha. Propriedades. As lentilhas são ricas em magnésio. O magnésio é importante para melhorar a circulação sanguínea, o oxigênio e os nutrientes em todo o corpo. Estudos mostram que a deficiência de magnésio está associada ao ataque cardíaco. A falta de magnésio suficiente promove os radicais livres que causam danos ao coração. A fibra solúvel e os carboidratos complexos de queima lenta presentes nas lentilhas ajudam a estabilizar os níveis de açúcar no sangue. Se houver resistência à insulina, hipoglicemia ou diabetes, os legumes como as lentilhas podem ajudar a equilibrar os níveis de açúcar no sangue e fornecer energia constante e lenta. As lentilhas são alimentos ricos em energia porque são ricas em ferro e molibdênio. Os alimentos ricos em ferro são necessários para mulheres grávidas, mulheres menstruadas, meninas adolescentes e crianças em crescimento. A hemoglobina, o constituinte vital dos


C a p í t u l o I | 15 eritrócitos, deve ser reposta de tempos em tempos, à medida que transportam oxigênio dos pulmões para várias partes do corpo para a produção de energia e o metabolismo. As lentilhas são ricas em fibras. Essas fibras são solúveis. Portanto, eles mantêm as artérias limpas. Eles reduzem o valor do colesterol no sangue. O alto teor de fibra presente nas lentilhas impede que os níveis de açúcar no sangue aumentem rapidamente após uma refeição. Então, eles são os pequenos gigantes nutricionais que ajudam no controle de diabetes, derrame e doenças cardíacas. No geral, as lentilhas ajudam na digestão dos alimentos e no metabolismo. Além disso, as lentilhas são ricas em proteínas. Quando uma xícara de lentilhas cozidas é comida, ficamos cheios e satisfeitos. Portanto, as lentilhas controlam nosso peso e previnem a obesidade. Elas são alcalinas por natureza. Consequentemente, elas equilibram a proporção ácida e alcalina em nosso sangue.

ORIGEM E HISTÓRIA A lentilha é uma das plantas alimentícias mais antigas conhecidas pelo homem, e teve origem na região do «Crescente Fértil» do Médio Oriente (Síria e Norte do Iraque), no alvorecer da civilização agrícola, sendo posteriormente espalhada por todo o mundo. Em razão disso, na Península Ibérica aparecem os restos de lentilha mais antigos, juntamente com outras culturas importantes como a cevada, o trigo e a ervilha, em Alicante, no local conhecido como "Cova de les Cendres" (Gruta das Cinzas), teriam uma antiguidade de 7.500 anos. De acordo com o tamanho da semente, aqueles primeiros vestígios arqueológicos encontrados na Península Ibérica corresponderiam a uma lentilha do tipo Microsperma (BUXÓ, 1997). Considerando os baixos rendimentos apresentados por aqueles primeiros representantes selvagens, pode ser difícil entender o que levou os humanos a domesticar essa espécie. O fato é que, com o tempo, a lentilha se tornou um alimento de primeira necessidade. Isso se refletiu ao longo da história, em diferentes culturas, como a egípcia, grega ou romana, onde numerosos escritos mostram o grande apreço que davam à lentilha como alimento (COLLIS, 1978, PREISS et al. 2005; CUBERO et al. 2009), ou mesmo de acordo com Dioscorides como planta medicinal (FONT QUER, 1995). Embora também seja verdade que, desde então, a lentilha passou a ser considerada um “alimento para os pobres”.


C a p í t u l o I | 16 Assim, Juvenal, escritor romano do século I, descreveu que "os pobres cozinhavam lentilhas com as vagens incluídas" (CUBERO et al. 2009). Ou na própria Bíblia (Gênesis 25:34), onde se pode ler: “Jacó deu a Esaú pão e guisado de lentilha; e ele comeu e bebeu, depois levantou-se e saiu. Assim, Esaú desprezou a primogenitura. E na Idade Média já era considerada uma pequena cultura (PÉREZ DE LA VEGA et al. 2011).

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA MUNDIAL Nos últimos anos, a produção de lentilha acompanha uma tendência de alta, tendo em vista seu alto teor proteico e baixo requerimento hídrico. Dados de produção dessa cultura, integrante do grupo das pulses (sementes comestíveis de plantas leguminosas), mostram um salto de produção mundial de 2.836.518 toneladas, em 2008, para 6.375.732 toneladas, em 2018 (FAOSTAT, 2020). O Canadá é o maior produtor mundial, com 2.092.136 toneladas, seguido da Índia, com 1.620.000 toneladas e dos Estados Unidos da América, com 381.380 toneladas. A produtividade média desses países é de 1.395 kg.ha -1, 731 kg.ha-1 e 1.312 kg.ha-1, respectivamente (FAOSTAT, 2020). A Índia apresenta a maior área plantada de lentilha no mundo. Ainda assim, segue como segundo colocado em produção, devido à sua baixa produtividade. Esse país, maior importador mundial de lentilha, além de não ser capaz de produzir a quantidade demandada, sofre com os custos de produção, que a partir do ano de 2012 passaram a ser maiores que os custos de importação (VARGHESE et al., 2019). Na Europa, o interesse pela lentilha é crescente devido à praticidade e a variedade de pratos existentes que tem esse grão como base. Essas características atraem os consumidores europeus que estão interessados em alimentos que atendam a esses critérios (SCHNEIDER, 2002). Além disso, a chegada de novos grupos étnicos à Europa vem contribuindo mais recentemente para esse acréscimo de demanda (CBI, 2019). No Brasil, a demanda por esse produto tem sido atendida quase que exclusivamente pela importação do Canadá. Em 2017, o Brasil produziu apenas 8 toneladas (IBGE, 2019), período em que importou 15.043 toneladas (FAOSTAT, 2020). Entretanto, há expectativa com relação ao aumento da produção dessa cultura no Cerrado brasileiro, que em condições de irrigação, chegou a produzir 2.851 kg ha -1 (VIEIRA, 2003). Nesse cenário,


C a p í t u l o I | 17 entraria como opção para a diversificação da produção agrícola, sendo alternativa ao cultivo de feijão, trigo ou milho na safrinha, culturas que, na safra de 2019, apresentaram produtividades de 2.674 kg.ha-1, 2.539 kg.ha-1, 5.859 kg.ha-1 (IBGE, 2019) e valor de venda de R$ 170,00 R$ 46,00 R$ 44, 00 por saca de 60 kg, respectivamente (AGROLINK, 2019). Segundo a plataforma COMEX Stat (2020), o Brasil importou lentilha do nosso principal exportador a 0,87 dólares o quilo, que na cotação da época foi equivalente a R$ 202,00 a saca de 60 kg sem incluir os custos de transporte. Como exemplo de que novas espécies podem ser exploradas com sucesso no Cerrado brasileiro, tem-se a lentilha que, semelhante ao grão de bico, não apresentava produção expressiva no Brasil. As expectativas do mercado de lentilha no Brasil aumentam em conjunto com o aumento do consumo interno. Em 2018 e 2017, foram importadas 15 mil toneladas de lentilha contra 12 mil toneladas nos três anos anteriores a estes (COMEX STAT, 2020). Há potencial para que o custo de produção de lentilha seja menor que o custo de importação. O valor de R$ 202,00 pagos na saca de lentilha importada é alto comparado ao custo de R$ 170,00 da saca do feijão irrigado produzido na mesma época, sendo que a demanda hídrica da lentilha é de 250 mm (MATERNE; SIDDIQUE, 2009) enquanto a demanda do feijão pode variar de 300 a 500 mm (FERREIRA et al., 2006). A lentilha (Lens culinaris ssp. Culinaris) é uma importante cultura de leguminosas com vários usos como alimento e forragem devido aos seus grãos e palha ricos em proteínas. Globalmente, é cultivada em uma área de 3,85 milhões de hectares com produção de 3,59 milhões de toneladas. As principais regiões geográficas de produção de lentilhas são Sul da Ásia e China (44,3%), Grandes Planícies do Norte na América do Norte (41%), Oeste da Ásia e Norte da África (6,7%), África Subsaariana (3,5%) e Austrália (2,5 %). O Sul da Ásia cultiva lentilha em uma área de 1,8 milhões de ha com 1,1 milhão de toneladas de produção exclusivamente como uma safra pós-estação chuvosa com umidade residual, enquanto a Ásia Ocidental e o Norte da África (WANA) por meio de Turquia, Síria, Irã e Marrocos como os principais produtores cultivam no inverno e na primavera as lavouras de lentilha em 0,39 m ha com produção de 0,19 milhões de toneladas. Na África Subsaariana, a Etiópia e a Eritreia são os principais produtores de lentilhas, com 0,10 milhão de toneladas de produção. Nos últimos anos, a área cultivada de lentilha se expandiu nas Grandes Planícies do Norte da América do Norte (Canadá e EUA), que produz 1,15 milhão de toneladas de lentilha e emergiu como a principal base de produção.


C a p í t u l o I | 18 Nessas regiões, a lentilha é cultivada como cultura de sequeiro em vários sistemas de lavoura, incluindo lavoura convencional e plantio direto. É um grão relativamente tolerante à seca e prospera em muitos ambientes. Cerca de um terço de sua produção é da Índia e é consumido no mercado interno. Os maiores consumidores estão na Ásia, Norte da África, Europa Ocidental e parte da América Latina. Na América se encontra o Canadá como o maior exportador, e sua região de produção mais importante é Saskatchewan. A região de Palouse, no leste de Washington, e o Idaho Panhandle, com seu centro comercial em Pullman, Washington, constituem a maior região produtora dos Estados Unidos (CROP PROFILE FOR LENTILS IN IDAHO, 2000). Os principais importadores são Argélia e Egito, seguidos por Bangladesh, Sri Lanka, Índia e Paquistão. Na Europa, destacam-se Espanha, França, Itália e Alemanha. E, finalmente, na América Latina, os países membros da Comunidade Andina e o Brasil importam cerca de 140.000 toneladas (PRODUCCIÓN MUNDIAL DE LA LENTEJA, 2014). A FAO informou que a produção mundial de lentilhas em 2008 foi de 2,82 milhões de toneladas na Índia (29,0%), Canadá (24,5%), Turquia (14,5%), Austrália (5,7%), Estados Unidos (4%) e China (3,9%), que detêm 81% do total global. O Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas (NASS) informou que em 2007 a produção dos EUA foi de 154.500 toneladas em Dakota do Norte, Montana, Washington e Idaho. O Canadá estimou sua produção de 2009-2010 em um recorde de 1,5 milhão de toneladas (PRODUCCIÓN MUNDIAL DE LA LENTEJA, 2010; Tabela 1).


C a p í t u l o I | 19 Tabela 1. Os principais países produtores de lentilha (em milhões de toneladas).

Fonte: UN Food & Agriculture Organization.

TIPOS DE LENTILHA As cultivares de lentilha podem ser classificadas em dois grandes grupos de acordo com o tamanho da semente.

1. O tipo MACROSPERMA apresenta as seguintes características: vagens maiores (15-20 mm x 7,5-10,5 mm); sementes maiores (6-8 mm de diâmetro), peso médio de 50 gramas ou mais por 1.000 sementes, achatadas; cotilédones amarelos ou alaranjados; flores maiores (7-8 mm de comprimento), geralmente brancas com veias coloridas; folíolos maiores (15-27 mm x 4-10 mm), ovais; plantas com 2575 cm de altura. O consumo de lentilha no Brasil é dominado majoritariamente pelo tipo macrosperma, sendo produzido principalmente na região do Mediterrâneo, EUA e América do Sul.

2. As características para o tipo MICROSPERMA são: vagens menores (6-15 mm x 3,5-7 mm); sementes menores (3-6 mm de diâmetro; Figura 3), variando do


C a p í t u l o I | 20 branco ao violeta; folíolos pequenos (8-15 x 2-5 mm), de forma linear alongada ou lanceolada; plantas com 15-35 cm de altura (SINGH; SINGH, 1997). As cultivares do tipo microsperma são mais plantadas na Ásia (VIEIRA; VIEIRA, 2001), onde a preferência por esse tipo é maior (BARULINA, 1930).

Figura 3. Variação em vagens e sementes de lentilha. Linha superior, lentilha do tipo macrosperma: (a e b) vagens; (c) vista lateral e (d) vista frontal da semente. Linha inferior, lentilha tipo microsperma: (e e f) vagens; (g) vista lateral e (h) vista frontal da semente. Fonte: Mohan C. Saxena.

Para ambos os tipos de lentilhas, as sementes têm o formato de lentes, daí o nome lentilha. As cores da casca da semente variam de claro a verde, marrom, cinza, roxo manchado ou preto, enquanto os cotilédones podem ser amarelos, vermelhos ou verdes. Os principais tipos de lentilha (Lens culinaris) são baseados no tamanho e na cor do grão (cotilédone) das sementes: As lentilhas vermelhas (também conhecidas como lentilhas pequenas ou persas) são mais amplamente cultivadas e geralmente são divididas para cozinhar (Masur dhal) ou cada vez mais mantidas inteiras como "bolas de futebol", dependendo do tamanho do grão e do mercado. Lentilhas maiores geralmente são divididas. Os cotilédones são vermelhos,


C a p í t u l o I | 21 daí o nome, e o tegumento varia do cinza claro, passando pelo marrom, até o preto e pode ser pontilhado. O tamanho da semente é de 2 a 6 mm de diâmetro. Lentilhas verdes (também conhecidas por lentilhas grandes ou chilenas) são usadas inteiras para cozinhar. O revestimento da semente é verde a marrom e os cotilédones são amarelos. O tamanho da semente é de 4,5-8 mm de diâmetro (Figura 4).

Figura 4. Sementes com distintas cores, descorticadas e não descorticadas: Vermelho inteiro, descascado dividido, descascado inteiro (bola de futebol), verde inteiro, descascado dividido. Fotos: T. Yeatman.


C a p í t u l o I | 22 BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLÓGICA DA LENTILHA -Aspecto Botânico A lentilha pertence ao gênero Lens Miller, um gênero pequeno, mas geneticamente descrito como diverso (LADIZINSKY; ABBO, 1996), no qual todas as suas espécies possuem o mesmo número de cromossomos (2n = 14). Está enquadrado na tribo Vicieae da subfamília Papilionoidae, uma família das Fabaceae. É conveniente esclarecer a esse respeito, para concordar com as informações disponíveis, de que Papilionaceae ou Leguminosae são sinônimos publicáveis para a família Fabaceae (McNEILL et al., 2006). Sua completa classificação taxonômica é a seguinte: Reino - Plantae (Plantas); Sub-reino - Tracheobionta (Plantas vasculares); Superdivisão - Espermatophyta (Sementes); Divisão - Magnoliophyta (Plantas com flores); Classe - Magnoliopsida (Dicotiledôneas); Ordem -Fabales; Família – Fabaceae; Sub-família –Faboideae; Tribu –Vicieae; Gênero –Lens; Espécie – Lens culinaris; Nome binomial - Lens culinaris Merik; ou sin. Lens esculenta, Moench. Atualmente, seis espécies são consideradas pertencentes ao gênero Lens, embora as relações filogenéticas entre as diferentes espécies que o compõem tenham sido objeto de notável discussão científica, tendo sido revisada a composição deste gênero por vários autores utilizando diversa técnicas, como as citogenéticas, morfológicas ou moleculares (WILLIAMS et al., 1974; LADIZINSKY et al., 1984; VAN OSS et al., 1997; FERGUSON et al., 2000; DURÁN; PÉREZ DE LA VEJA, 2004). Nestes estudos, tem sido modificado o número de espécies e subespécies dentro do gênero, chegando a resultados contraditórios. Esta é uma consequência do próprio processo evolutivo, uma vez que as espécies de Lens Miller partilham muitas características estruturais e bioquímicas, e as relações obtidas entre elas têm dependido do próprio material em estudo, bem como das técnicas para a realização dos referidos estudos.


C a p í t u l o I | 23 Consequentemente, pequenas diferenças podem localizar determinados materiais em grupos diferentes, não sendo um erro, mas sim uma consequência de uma evolução divergente (CUBERO et al., 2009). Atualmente, a classificação mais aceita (PÉREZ DE LA VEJA et al., 2011) é a fornecida por Van Oss et al. (1997): Lens culinaris Medik. -Lens culinaris Medik. subsp. culinaris (espécie cultivada) -Lens culinaris Medik subsp. orientalis (Boiss.) Ponert Lens odemensis (Godr.) Ladiz. Lens ervoides (Brign.) Grande Lens nigricans (M. Bieb.) Godr. Lens tomentosus Ladiz. Lens lamottei Czefr. Embora a discussão possa continuar, porque as recentes análises filogenéticas indicam que (PÉREZ DE LA VEJA et al. 2011): L. nigricans apresenta uma posição divergente em relação ao resto das espécies de Lens. b) A estreita relação entre Lens culinaris subsp. culinaris e Lens culinaris subsp. orientalis suporta seu status subespecífico, tendo grande similaridade. As relações entre os outros táxons (unidades taxonomias) são menos claras, no entanto: 1.- Lens tomentosus é o táxon irmão de Lens culinaris. 2.- Lens lamottei é provavelmente o mais próximo de Lens ervoides. 3.- Lens odemensis geralmente se junta ao grupo orientalis-tomentosus. A distribuição geográfica de cada uma das espécies selvagens é ilustrada na Figura 5. Em geral, a variabilidade genética na lentilha é maior na ou perto da área onde a lentilha foi domesticada, o Crescente Fértil (PÉREZ DE LA VEJA et al., 2011).


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Figura 5. Distribuição das taxonomias selvagens de Lens Miller (CUBERO, 1981).

A espécie Lens culinaris subsp. orientalis é distribuída desde a Grécia até o Uzbequistão e desde Península da Crimeia até a Jordânia. Enquanto as espécies Lens odemensis e Lens tomentosus são encontrados no Oriente Médio, embora a Lens tomentosus seja mais focalizada na Síria e na Turquia. A espécie L. lamottei é distribuída por todo o Mediterrâneo Ocidental (França, Espanha e Marrocos), enquanto a Lens ervoides e Lens nigricans têm uma distribuição mais ampla, desde Israel até a Espanha. Além disso, a Lens ervoides também é encontrada na Etiópia e Uganda, e Lens nigricans pelas Ilhas Canárias e Norte da África (SONNANTE et al. 2009). Em relação às subespécies cultivadas, a classificação clássica nos grupos Macrosperma (antiga Lens culinaris. Subsp. Culinaris var. Vulgaris) e Microsperma parece guardar, na realidade, muito pouca relação com a distribuição entre os países, ou com os resultados de diversos estudos de variabilidade que não discriminam entre ambos os tipos (SONNANTE et al. 2009), indicando uma evolução quase simultânea desde Lens culinaris subsp. orientalis. Durán e Pérez de la Veja (2004), em um estudo de diversidade genética mediante marcadores moleculares, também não discriminaram entre ambos os tipos de lentilha. Por outro lado, outros autores definem certa separação, como Sharma et al. (1996), em um estudo baseado em AFLP (Amplified Fragment Length Polymorphism), sugerindo uma afinidade mais próxima entre Macrosperma e Lens culinaris subsp. orientalis. Na Espanha, como pode ser visto na Figura 5, encontram-se as espécies silvestres Lens nigricans, Lens lamottei e Lens ervoides. E dentro das espécies cultivadas, os seguintes


C a p í t u l o I | 25 tipos de variedades têm sido tradicionalmente cultivados (NADAL et al. 2004): Dentro das macrospermas, "Castellana", "Lentejón" ou "Reina" e "Armuña", esta última apresentando atualmente um valor qualitativo na forma de Indicação Geográfica Protegida (I.G.P.). Dentro das microspermas, dois tipos principais foram cultivados: a lentilha “Pardina” (correspondendo à antiga Lens culinaris Subsp. Culinaris var. Variabilis), e a “Verdina” (antiga Lens culinaris Subsp. Culinaris var. dupuyensis). -Aspecto Morfológico Planta – As lentilhas são plantas delgadas, semieretas, arbustivas anuais com folhas compostas (4 a 7 pares de folíolos), semelhantes às folhas de ervilhaca, com uma gavinha em cada ponta (Figura 6). São plantas tipicamente pequenas, mas com as variações nas condições de cultivo e dependendo da variedade semeada, a altura pode variar de 20 a 75 cm. Normalmente, as plantas variam de 30 a 50 cm de altura. As plantas geralmente crescem mais altas quando as temperaturas da estação de crescimento são baixas e há boa umidade e boa fertilidade do solo. Apesar de apresentar uma altura relativamente baixa, muitas lavouras se colhem no final da primavera devido aos seus caules fracos, particularmente se bem cultivados com alta biomassa da cultura e alto rendimento de vagens.

Figura 6. Detalhes de uma planta de lentilha com as folhas alternadas em relação à haste principal, folhas compostas paripenadas (folíolos) e gavinhas na sua parte terminal (seta vermelha), flores e vagens.


C a p í t u l o I | 26 Raiz – A lentilha é uma cultura de estação fria com um sistema radicular relativamente raso (0,6 m) e é moderadamente resistente a altas temperaturas e seca. As plantas que possuem sementes pequenas, seu sistema radicular é superficial e se adapta ao solo, enquanto nas plantas com sementes grandes, o sistema radicular é mais profundo e se adapta a solos pesados. Variações interessantes no padrão de crescimento da raiz em diferentes ecótipos de lentilhas adaptadas a diferentes tipos de solos nas principais áreas de produção de lentilhas no subcontinente indiano foram relatadas por Nezamuddin (1970). Os padrões reconhecidos com base na profundidade e proliferação lateral foram: (i) um sistema radicular muito ramificado e raso descendo apenas até uma profundidade de cerca de 15 cm; (ii) uma raiz axial profunda delgada descendo até 36 cm de profundidade; e (iii) uma forma intermediária (Figura 7). As raízes rasas e abundantemente ramificadas foram encontradas em solos aluviais leves com os ecótipos de lentilha com sementes pequenas e brotos altamente ramificados. O sistema radicular profundo foi encontrado nos ecótipos cultivados em solos pesados de algodão preto na Índia central que tendem a desenvolver grandes rachaduras na superfície e, assim, perder rapidamente a umidade da camada superior do solo. Esses ecótipos têm brotos esparsamente ramificados e sementes relativamente grandes, embora pertençam ao tipo de microsperma. Os tipos de sistema radicular intermediário são cultivados no Punjab e na Província da Fronteira Noroeste do Paquistão.

Figura 7. Sistema radicular nas lentilhas: (a) raso; (b) intermediário; e (c) profundo. Fonte: adaptado de Nezamuddin, 1970.


C a p í t u l o I | 27 A raiz principal e as laterais na camada superior do solo carregam numerosos nódulos pequenos, redondos ou alongados (Figura 8) quando a planta cresce em um meio que contém cepas apropriadas de Rhizobium. A maioria dos nódulos, entretanto, torna-se oblonga devido à presença de um meristema apical, e vários, particularmente aqueles na raiz principal, tornam-se multilobados como resultado da bifurcação do meristema apical. Os nódulos podem começar a aparecer 15 dias após a emergência, mas o pico de crescimento em seu número e massa ocorre quando a planta atinge o pico de crescimento vegetativo, e começa a diminuir com o início da floração, embora isso possa ser atrasado até certo ponto se o suprimento de umidade do solo naquela época é melhorado com chuva ou irrigação (SAXENA; HAWTIN, 1981).

Figura 8. Na raiz principal e nas laterais mostrando os nódulos alongados. Fonte: Mohan C. Saxena.


C a p í t u l o I | 28 Talo e ramos – Seu caule é fino e ereto (Figura 9). Atinge uma altura aproximada de 20 a 50 cm e às vezes um pouco mais alta, mas nunca ultrapassa 70 cm. Essas plantas podem ter caules únicos ou muitos ramos, dependendo da população no campo. É uma planta pubescente, em geral, com caules quadrangulares e ramos com ramificações em ângulos. Os muitos caules de uma planta de lentilha originam-se perto do solo e são mais bem suportados onde a cultura é semeada entre as linhas, no meio das palhas do cereal da última estação (plantio direto).

Figura 9. Detalhes do caule, ramo e partes da planta de lentilha (Lens culinaris).

Uma representação esquemática de diferentes padrões de ramificação e estrutura da planta, observada no germoplasma de lentilha avaliado em Tel Hadya, Síria, é mostrada na Figura 10 (SAXENA; HAWTIN, 1981). Um padrão espesso altamente ramificado foi tipificado pelo acesso nº 43633; um tipo ereto esparsamente ramificado, alto, da cultivar ‘Laird’ (ILL 4349); uma estrutura de planta ereta, medianamente ramificada e semi-alta pela cultivar egípcio 'Giza 9' e a cultivar argentino Precoz '(ILL 4605); um padrão moderado a altamente ramificado, semi-alto, subcompacto pela raça síria 'Local Grande' (ILL 4400); e um padrão moderado a altamente ramificado, curto e subcompacto pela raça local síria 'Local Pequeno' (ILL 4401).


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Figura 10. Representação esquemática da variação no padrão de ramificação e estrutura da planta na lentilha: a) espesso e altamente ramificado; (b) esparsamente ramificado, alto ereto; (c) moderadamente ramificado, semi-alto ereto; (d) moderado a altamente ramificado, semi-alto, subcompacto; (e) moderado a altamente ramificado, curto, subcompacto. Fonte: Mohan C. Saxena.

A relação entre a altura da planta e a largura do dossel é uma boa medida da estrutura da planta e tem sido usada para caracterizar o hábito de crescimento na avaliação de germoplasma de lentilha (FERGUSON; ROBERTSON, 1999).

Folhas – As folhas são alternadas e paripinadas, constituídas por uma raque de 50 mm de comprimento onde são inseridos de 10 a 16 folíolos sésseis de 1 a 3 cm de comprimento, cuja forma varia de oval a lanceolada. As folhas paripenadas podem terminar em gavinhas e apresentam duas estípulas vestigiais (Figura 11). Eles também têm pulvinos na base que os permitem dobrar em momentos de estresse hídrico (CASTROVIEJO, 1999).


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Figura 11. a). Planta de lentilha; b). Folíolo oval ou folha nova; c). Folíolos lanceolados; d) Ramos e estípulas; e) Flores; f). Cálice composto por sépalas; g). Estandarte; h). Asas; i). Quilha; l). Pedúnculo; k). Coluna estaminal; m). Vagem pequena; n). Semente pequena; o). Vagem grande; p) Semente grande.


C a p í t u l o I | 31 Inflorescência – As inflorescências são distribuídas pela planta em racimos (cachos) formados por 1 a 4 flores, que começam nas axilas das folhas (MUELHBAUER, TULLU, 1997; Figura 12).

Figura 12. Pedúnculo floral em racimo formado por duas flores (lentilha).

Floração – A floração começa nos ramos mais baixos, subindo gradualmente na planta e continuando até a colheita (Figura 13). As flores podem ser brancas, lilás ou azul claro (Figura 14) e são autopolinizadas. As plantas de lentilha florescem abundantemente durante um curto período e formam muitas vagens, cada uma contendo uma ou duas sementes, dependendo das condições da estação de crescimento. Devido ao seu hábito de crescimento indeterminado, é possível encontrar flores, vagens imaturas e vagens maduras em uma planta ao mesmo tempo, o que significa que a dessecação da cultura pode ser necessária como um auxílio para a colheita.


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Figura 13. A floração começa nos ramos mais baixos, subindo gradualmente na planta e continuando até a colheita.

Figura 14. As flores de lentilha podem ser brancas, lilás ou azul claro, dependendo da cultivar.


C a p í t u l o I | 33 Pouco antes da floração da planta de lentilha, as folhas começam a produzir uma gavinha na ponta da folha. As variedades de maturação precoce, como Eston, florescem por volta do 11º ou 12º estágio do nó. Os tipos tardios de maturação, como a variedade Laird (Figura 15), florescem no 13º ou 14º estágio do nó. As lentilhas têm um hábito de crescimento indeterminado, por isso continuarão a florir até que surja alguma forma de estresse, como falta de umidade, deficiência de nutrientes ou alta temperatura.

Figura 15. Sementes de lentilha da variedade Laird de ciclo tardio. Flores – A flor da lentilha se encontra inserida em alguns pedúnculos florai, a qual está distribuída em número de um a três. Essas flores emergem na base das folhas superiores (Figura 16), onde se desenvolvem as vagens a partir das flores fecundadas, e são de pequeno tamanho, geralmente com coloração branca ou azul. As flores são autopolinizadas, portanto, não requerem insetos para polinização ou formação de sementes. Cada flor de lentilha é formada por um estandarte largo, duas asas livres e quilhas (Figura 17).


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Figura 16. O pedúnculo floral emerge na base das folhas ou na axila foliar.


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Figura 17. Detalhes da flor de lentilha e da coluna estaminal.

Os primeiros agrupamentos de flores na haste principal frequentemente murcham sem formação de sementes (aborto de flores). Isso é especialmente provável de ocorrer se as condições favorecem o crescimento vegetativo em relação à produção de sementes, principalmente em função da umidade satisfatória e da alta fertilidade de nitrogênio no solo.


C a p í t u l o I | 36 Frutos. Os frutos da lentilha são oblongos, achatados lateralmente, protuberantes sobre as sementes, com 6–20 mm de comprimento e 3,5–11,0 mm de largura; arredondado a ligeiramente cuneiforme na base, bico curto, liso, com cálice persistente, contendo de uma a três sementes (Figuras 18 e 19). Como mencionado anteriormente, a principal característica distintiva entre os tipos de macrosperma e microsperma é o tamanho e a forma dos frutos e sementes. As vagens verdes são geralmente verdes, embora em alguns genótipos a cor possa ser roxa, violeta ou manchada. Sua expansão lateral está completa antes do início do enchimento do grão. Para começar, as vagens são planas e, à medida que o enchimento dos grãos avança, ficam um tanto inchadas sobre as sementes. Isso é particularmente notável nos tipos de microsperma em que a superfície do fruto se torna convexa, enquanto nos tipos de macrosperma ela permanece geralmente plana. À medida que a cultura atinge a maturidade, a cor das vagens muda e, dependendo do genótipo, a parede da vagem torna-se de cor de palha, bege claro, marrom claro, marrom opaco ou manchado. A maior parte da semente é produzida pelos ramos aéreos que se formam dos nós superiores do caule principal, logo abaixo do primeiro nó de floração.

Figura 18. Frutos de lentilha com duas sementes por vagem e plantas de lentilha nas etapas de floração e de produção com várias vagens. Foto: Herbari virtual.


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Figura 19. Frutos de lentilha com uma semente por vagem. Foto: Stefano Sturloni.

Por outro lado, a vagem deiscência é uma propriedade típica das lentilhas selvagens. No entanto, em lentilhas cultivadas, esta característica pode causar graves perdas na colheita. A indeiscência da vagem, conferida pelo gene pi (LADIZINSKY, 1979) , é recessiva e considerada importante para a domesticação da lentilha. Sementes. As sementes de lentilha são tipicamente em forma de lente (Figura 20). Seu diâmetro varia de 2 a 9 mm (BARULINA, 1930). Os tipos de sementes grandes geralmente têm uma faixa de diâmetro de 6 a 9 mm, o tamanho médio de 5 a 6 mm e os pequenos de 3 a 5 mm. Elas podem ter uma proporção diâmetro: espessura de forma globosa variando de 1,5 a 2,5) ou achatada (proporção diâmetro: espessura variando de 2,5 a 4). A cor da testa pode ser rosa, amarelo, verde, verde escuro, cinza, marrom ou preto. Em alguns genótipos, a testa apresenta manchas marrom-escuras ou pretas, salpicadas ou mosqueadas (MUEHLBAUER et al., 2002). A superfície da semente é geralmente lisa, mas em alguns tipos de sementes grandes, pode ser enrugada. O hilo é estreitamente elíptico e diminuto, e sua cor é branca ou marrom opaca. A cor do cotilédone pode ser laranja, amarelo ou verde, este último tornando-se amarelo após um período de armazenamento (KAY, 1979; DUKE, 1981; MUEHLBAUER et al., 1985).~


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Figura 20. Detalhe da semente de lentilha em forma de lente curvada. Foto: Stefano Sturloni.

Vale ressaltar que as lentilhas cultivadas na Austrália são divididas em dois grupos com base no tamanho da semente e na cor do endosperma (cotilédone). A cor e o tamanho das sementes variam de acordo com a variedade clara (verde claro, louro, rosa) a mais escura (verde escuro, marrom, roxo). Cada grupo tem usos e mercados finais distintos. Porém, o tamanho da semente é o critério mais importante na determinação do preço pago aos agricultores nos mercados atacadistas em todo o mundo. A preferência do consumidor e o potencial de rendimento decidem a escolha das variedades a serem cultivadas. Por exemplo, lentilhas de microsperma com sementes pequenas são preferidas no subcontinente indiano. Aqui, novamente, variedades maiores semeadas com peso de 1000 grãos de 26-35 gramas são cultivadas nas províncias centrais da Índia. As variedades de sementes pequenas (peso de 1000 sementes ou grãos abaixo de 25 gramas) são preferidas nas partes do norte da Índia. Correspondentemente, as lentilhas com sementes maiores atraem preços mais altos na Índia central, enquanto as lentilhas com sementes menores comandam preços mais altos no norte. Existem duas formas de sementes, dependendo do tamanho do fruto, as do fruto grande e as do fruto pequeno: • FRUTO GRANDE: O fruto tem um tamanho de 15 a 20 mm e as sementes têm de 7 a 8 mm. As características são típicas de uma planta herbácea e atinge uma altura de 25 a


C a p í t u l o I | 39 75 cm, que pertence à raça denominada Macrosperma. As flores que vêm deste tipo de planta têm coloração branca. • FRUTO PEQUENO: O fruto atinge um tamanho menor que o anterior de 7 a 15 mm e suas sementes também são menores que 3 a 7 mm e apresentam formato achatado. O tamanho da planta atinge no máximo 35 cm de altura e suas flores são de cor azulada. Essas plantas são do tipo Microsperma. Nomes de tipo de sementes: 1. Armuña. É de cor verde claro com um tamanho de 8 a 10 mm de diâmetro. 2. Pardina. De cor castanha e dimensões de 4 a 6 mm. 3. Verdina. De cor verde a verde amarelado e com pontos pretos. 4. Lentejon. Pertence ao gênero de plantas da raça macrosperma, de cor verde amarelada e com algumas tonalidades descoloridos de tamanho grande entre 7 e 9 mm. Segundo Kay (1979), a composição média da semente da lentilha é a seguinte: água, 12,4%; gordura, 0,7%; carboidratos, 59,7%; proteína, 25,1%; cinza, 2,1%; cálcio, 38,6 mg/100g; fósforo, 242 mg/100 g; ferro, 7,62 mg/100g; sódio, 36,0 mg/100g; magnésio, 76,5 mg/100g. Contém, ademais, diversas vitaminas. A lentilha é considerada a de mais fácil digestão entre as sementes de leguminosas, e sobressai pela sua riqueza em ferro. As lentilhas são baratas, altamente nutritivas e podem ser armazenadas por um longo tempo sem refrigeração. A dureza da semente é um traço de dormência da semente; no entanto, as sementes amolecem gradualmente com o tempo no armazenamento. Esta é uma característica selvagem e mais prevalente em parentes selvagens aparentados. Relatos sobre a natureza de sua herança são conflitantes; no entanto, tem sido repetidamente mostrado ser uma característica monogênica. A dureza da semente foi designada com o símbolo do gene Hsc e está ligada ao gene Pi para a deiscência de vagem.

-Aspecto Fisiológico Germinação - As sementes de lentilha permanecem sob o solo após a germinação, o que significa que os cotilédones da semente em germinação permanecem abaixo do solo e dentro do tegumento. As plântulas com emergência hipógea têm menos probabilidade de


C a p í t u l o I | 40 serem mortas por geada no final da primavera, erosão do vento, ataque de pragas ou queima por herbicida Metribuzin (Sencor / Lexone), então a plântula pode crescer novamente a partir de botões em nós no nível do solo (no segundo nó da escala) ou abaixo do solo. Entretanto, o seu crescimento pode ser consideravelmente retardado. Os primeiros dois nós muito pequenos são conhecidos como nós de escala (Figura 21). O primeiro nó de escala normalmente está abaixo da superfície do solo. A primeira folha geralmente se desenvolve na posição do terceiro nó, e novas folhas são produzidas em nós sucessivos no caule a cada 4 - 5 dias em boas condições de crescimento. O número de folíolos por folha poderá variar de 9 a 15. Para a sua germinação necessita de uma temperatura de 15 a 21ºC e um período de 72 horas em condições de laboratório (Figura 22).

Figura 21. Estágio de crescimento da lentilha.


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Figura 22. 1-Evolução da germinação em sementes de lentilhas no período de 72 horas, em condições de laboratório; 2-Estrutura da planta da lentilha: (a) semente seca; (b) sementes embebidas em umidade; (c) uma plântula recém-emergida mostrando germinação hipógea; (d) uma plântula jovem apresentando duas folhas bifoliadas; (e) ramo

com

folhas,

flores

e

vagens

de

caribbeangardenseed.com e Mohan C. Saxena.

lentilha

de

microsperma.

Fotos:


C a p í t u l o I | 42 A germinação da semente de lentilha é hipógea, em que os cotilédones não emergem da superfície do terreno de cultivo, então na maioria dos casos as plantas morrem por congelamento quando ocorrem geadas, por aplicações de inseticidas, etc. Para a sua germinação necessita de uma temperatura de 15 a 21ºC.

MELHORAMENTO Quase todas as lentilhas cultivadas no mundo atual ainda são populações locais (ecótipos) que não passam por um trabalho sério de melhoramento genético. Pois, a lentilha (Lens culinaris ssp. Culinaris) é uma importante leguminosa comestível com um amplo pool de genes espalhados entre seus parentes cultivados e silvestres para maior produtividade, melhor resistência a doenças e tolerância a estresses ambientais. Como outras leguminosas, a lentilha precisa de melhorias substanciais para maiores retornos econômicos, utilizando seus parentes selvagens em potencial. Portanto, são importantes as informações pertinentes sobre os parentes selvagens da lentilha, desde que envolva os diversos temas sobre a sua distribuição, botânica, taxonomia, conservação, genética e estudos de variabilidade para diferentes características agromorfológicas e estresses bióticos e abióticos. Também é necessário que se esclareça o status da capacidade de cruzamento de diferentes subespécies e espécies do Lens, juntamente com as abordagens de reprodução convencionais e não convencionais usadas até agora para ampliar o pool genético da lentilha cultivada. Uma combinação de estrutura da planta e características de desenvolvimento determina o tipo de planta de um genótipo. Um tipo de planta ideal para um determinado ambiente é aquele que proporciona a melhor adaptação a esse ambiente (LAL, 2001). A altura do caule, o número de ramos e o ângulo de ramificação, que determinam a largura do dossel, são as principais características que determinam a estrutura de uma planta. A taxa de crescimento vegetativo inicial e desenvolvimento da cobertura do solo (que é um reflexo do vigor inicial e que afeta a interceptação da radiação e a eficiência do uso da água e o tamanho da estrutura vegetativa da planta, segundo Silim et al., 1993), além das características fenológicas em relação às condições ambientais prevalecentes e a capacidade das plantas na partição de fotossintatos e outros nutrientes na semente, são algumas das características fisiológicas e de desenvolvimento importantes a serem


C a p í t u l o I | 43 consideradas para projetar um tipo de planta ideal para uma situação agroecológica particular. De acordo com Kusmenoglu e Muehlbauer (1998), o aumento da produção de sementes na lentilha tem sido obtido através do desenvolvimento de cultivares com períodos de crescimento vegetativo e produtivo mais curtos, maior taxa de cultivo e crescimento de sementes e maior coeficiente de partição de sementes. Esta estratégia é preferida para as regiões onde há pouca ou nenhuma chuva durante as fases posteriores de crescimento e desenvolvimento da cultura (SILIM et al., 1993). Para condições irrigadas, onde nenhuma escassez séria de água é esperada durante os estágios críticos de crescimento da cultura, um hábito de crescimento e estrutura de plantas diferentes podem ser necessários. De acordo com Solanki et al. (2007), os tipos de lentilha ideais para essas condições devem ser aquelas que não voltam ao crescimento vegetativo ao receberem irrigação na época da floração e têm maturação tardia para poderem aproveitar ao máximo o longo período de cultivo possibilitado por irrigação. Um tipo de planta ereta com entrenós mais curtos e caule forte, de modo que a cultura não possa se prostrar, e com frutos de 10-15 cm acima da superfície do solo, permitindo a colheita mecanizada, seria uma vantagem adicional. A cultivar ‘Matilda’ é um bom exemplo deste tipo de lentilha adaptada à região de Wimmera em Victoria, Austrália, onde as chuvas ocorrem no final da estação de crescimento (BROUWER, 1995). Vários pesquisadores (SOLANKI et al., 1992, 2007; LAL, 2001; OM VIR and GUPTA, 2002) propuseram ideótipos de plantas que se adaptariam a diferentes condições agroecológicas na Índia. Como as condições em diferentes áreas de lentilha são muito diferentes, Lal (2001) sugeriu os seguintes tipos de plantas diferentes para atender os principais sistemas de produção: (i) para condições secas / de chuva - sistema radicular profundo com alto volume de raiz, ramificação profusa, semi-espalhando para suportar o hábito de crescimento, para evitar a evaporação, baixa transpiração, folhagem pubescente, biomassa reduzida, alto índice de colheita e curta duração; (ii) para condições de umidade asseguradas - hábito de crescimento ereto a semi-ereto com entrenós curtos, tipo de planta compacta com ramificação restrita, alta capacidade de produção de biomassa e longa duração; (iii) para consorciação com outras culturas - hábito de crescimento ereto e compacto com entrenós mais curtos e uma capacidade de ter boa fotossíntese em baixa intensidade de luz; (v) para cultivo em revezamento / cultivo múltiplo - capacidade de


C a p í t u l o I | 44 germinação rápida, alto vigor inicial, floração precoce e resposta a insumos agronômicos aprimorados. Recentemente a lentilha é submetida à seleção para se obter uma planta mais produtiva e que seja fácil de cultivar, eliminando defeitos e alterando o seu comportamento. Os objetivos importantes são os seguintes: conseguir maior resistência ao frio, de forma a prolongar o plantio de outono também nas montanhas; crescimento vertical, desenvolvimento e indefinição das leguminosas para possibilitar a colheita mecânica; e maior resistência a maiores adversidades. Outro progresso com a lentilha tem sido feito pelo melhoramento de tipos com taninozero no Canadá e nos EUA com várias variedades que já são disponíveis para os produtores. A primeira variedade de tanino-zero, denominada e CDC Gold‟, foi lançada no Canadá; enquanto duas variedades, “Shasta” e “Cedar”, foram lançadas nos EUA. A variedade Shasta tem cotilédones amarelos e a Cedar tem cotilédones vermelhos. As comparações de sementes de Shasta e Cedar com uma variedade de cotilédones convencionais “Redberry” são mostradas abaixo (Figura 23).

Figura 23. Comparações de sementes de Shasta e Cedar (tanino-zero) com uma variedade de cotilédone vermelho convencional ‘Redberry’. Foto: Fred MUEHLBAUER; Ashutosh SARKER (2011).


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A lentilha é a fonte mais rica em proteínas dietéticas entre as plantas que são consumidas sem processamento industrial. As tentativas de analisar a herança da proteína da semente na lentilha (HAMDI et al., 1991; CHAUHAN; SINGH, 1995; Tyagi; Sharma, 1995) revelaram a natureza quantitativa desta característica. Esse tem sido o padrão em quase todas as safras. O conteúdo de proteína com base no peso seco variou de 20,4 a 28,3% em uma amostra de 32 linhagens e cultivares de germoplasma (TYAGI; SHARMA, 1995). Hamdi et al. (1991) analisaram 3663 acessos de germoplasma de todas as regiões de cultivo de lentilhas do mundo e registraram uma faixa de 34,0-86,0 g/peso de 1000 grãos e 25,7-29,8% de proteína de semente. O conteúdo de proteína da semente teve correlação desprezível com o rendimento de grãos e o tamanho da semente (r = –0,1 e 0,17, respectivamente). O conteúdo de proteína está quase universalmente (especialmente em cereais; Watson et al., 1965) e negativamente correlacionado com o tamanho da semente. Este princípio não parece se aplicar ao caso da lentilha. Na verdade, Tyagi e Sharma (1995) observaram que o conteúdo de proteína na lentilha tem uma correlação positiva, embora estatisticamente não significativa (r = 0,26), com o tamanho da semente.

Os métodos de melhoramento de lentilhas são semelhantes àqueles utilizados para melhorar outras culturas autopolinizadas e incluem seleção de linha pura, retrocruzamento e hibridização, seguidos de bulk-pedigree, descendência de semente única (SSD) ou alguma modificação desses procedimentos de seleção. O método de pedigree de seleção em massa tem sido o método de melhoramento preferido. PortaPuglia et al. (1993) descreveram diferentes metodologias de melhoramento para resistência única e múltipla ao estresse em leguminosas alimentares de estação fria. Eles sugeriram a seleção de pedigree para resistência a doenças e o método bulk-pedigree para estresses abióticos. O ICARDA segue o método de bulk-pedigree no qual os cruzamentos são avançados como bulks para F2 a F4 e as plantas selecionadas são avançadas como progênies de plantas para F5 em diante. Embora muitas cultivares tenham sido lançadas no Sul da Ásia visando algumas características e ambientes específicos, porém nem todas são adequadas para o ambiente de curta duração. Entretanto, apenas as cultivares de curta duração foram liberadas após o ano de 1980 (ciclo de 100-140 dias).


C a p í t u l o I | 46 VARIEDADES DE LENTILHA Variedades de lentilha vermelha A lentilha vermelha, às vezes conhecida como lentilha 'pequena' ou 'persa', é a mais cultivada na Austrália. Elas são vendidas repartidas para cozinhar (Masur dhal). O nome 'lentilha vermelha' é derivado da cor vermelha do cotilédone, que é exposto quando repartida (dividida) e o tegumento removido. A cor da casca da semente varia do cinza claro, passando pelo marrom ao preto, e pode ser manchada. O tamanho da semente é geralmente de 4–6 mm de diâmetro e as variedades de lentilha vermelha são classificadas como do tipo com sementes pequenas, médias ou grandes (Figuras 24, 25 e 26).

Figura 24. Lentilha vermelha antes de repartir para quitar o tegumento.

Figura 25. Lentilhas vermelhas têm tegumentos de cores variados e um cotilédone (endosperma) vermelho característico.


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Figura 26. Lentilhas verdes têm um tegumento da semente de cor verde a marrom e cotilédone amarelo (por exemplo, PBA Greenfield).

Ao escolher uma variedade para semear, considere o risco de doença, a perspectiva sazonal e a previsão do mercado. As características agronômicas das variedades atuais de lentilha vermelha são fornecidas abaixo, juntamente com comparações de rendimento, resistência a doenças e disponibilidade de sementes. O pacote de gerenciamento de variedade (VMP) para cada variedade fornece informações mais detalhadas. A variedade PBA Blitz é adequada para todas as áreas atuais de cultivo de lentilhas. É particularmente adequada para áreas de estação mais curta, onde sua combinação de floração intermediária precoce, maturidade precoce, alto rendimento, resistência a doenças e tamanho médio a grande de sementes irá melhorar a confiabilidade da lentilha e economia de produção. A PBA Blitz é a variedade de lentilha de maturação mais precoce e a melhor opção onde se pratica o plantio e / ou semeadura atrasada. PBA Blitz melhorou o vigor inicial em relação a todas as outras variedades de lentilhas vermelhas e é um tipo de planta ereta. É bem adequada para plantio direto e semeadura entre fileiras em resíduos permanentes (restolho). A variedade PBA Blitz é uma lentilha vermelha de tamanho médio maior que as variedades PBA Flash e Nugget, com uma camada de semente de cor cinza. A variedade PBA Bounty tem um tamanho de semente semelhante ao PBA Hurricane XT, Nipper e Northfield. Apesar de sua resistência a doenças é menor do que a variedade Nipper, mesmo assim a PBA Bounty tem tolerância melhorada à salinidade, semelhante às variedades PBA Bolt e PBA Flash e maior que Nugget. A variedade PBA Bounty


C a p í t u l o I | 48 poderá ser particularmente adequada para produtores que querem se beneficiar dos preços mais altos que potencialmente existem para uma lentilha vermelha de sementes pequenas de qualidade, sem comprometer o rendimento. Essa variedade PBA Bounty produz uma semente redonda que é ligeiramente maior (10%) do que as variedades PBA Hearld XT e Nipper, mas ainda vendida em mercados semelhantes para processamento ou produção de sementes despeliculadas, onde o grão é mantido inteiro após a remoção do tegumento. A variedade PBA Bounty tem um hábito de crescimento de planta mais prostrado no início da temporada do que todas as outras variedades. A variedade PBA Flash é uma lentilha vermelha de floração precoce com um tamanho médio de semente. É adequado para todas as áreas atuais de cultivo de lentilhas, mas é particularmente adequado para regiões de estação mais curta. Seus rendimentos mais altos e maturidade precoce aumentam a confiabilidade do rendimento, especialmente em situações de rendimento mais baixo. A maturação mais precoce também torna a PBA Flash uma variedade bem adequada para cultivo oportuno para controlar a formação de sementes de plantas daninhas. É moderadamente suscetível a AB (ferrugem da ascochita), suscetível a BGM (bolor cinzento botrytis) e tem tolerância melhorada ao boro e salinidade em comparação com a variedade Nugget. A variedade PBA Flash tem melhorado a capacidade de ficar em pé na maturidade em relação a outras variedades de lentilhas, o que torna a colheita eficiente. Por ser mais propenso à queda da vagem em condições de calor e vento, então a colheita oportuna é necessária. A variedade PBA Flash é adequada para mercados de grãos de lentilha vermelha média, semelhante aos materiais PBA Ace, PBA Bolt e Nugget, especialmente para separação de tegumento do grão. A variedade PBA Herald XT é uma lentilha de floração e maturação tardia semelhante à Nipper em muitas características agronômicas, incluindo a baixa altura, semente de pequeno tamanho e cor de tegumento cinza. É resistente à ferrugem da ascochita (AB) e moderadamente resistente ao bolor cinzento botrytis (BGM). A variedade PBA Herald XT foi lançada como uma lentilha 'tolerante a herbicida' (XT) porque mostrou tolerância melhorada ao flumetsulame (por exemplo, Broadstrike) aplicado na dose registrada para lentilha. Também melhorou sua tolerância a resíduos de alguns herbicidas sulfoniluréia (SU) e imi (imizadolinonas). A segurança da colheita é aumentada com esta variedade. A variedade PBA Hurricane XT é a segunda variedade de lentilha a ser lançada com maior tolerância ao herbicida imazethapyr. Tem um perfil de doença razoável, pois foi classificado como MR para ferrugem de ascochyta (AB) e MR/ MS para fungo cinza


C a p í t u l o I | 49 botrytis (BGM), mas exigirá proteção para BGM em áreas propensas a doenças, particularmente em safras semeadas precocemente. A altura da planta e o vigor inicial são melhorados em relação ao Nipper e ao PBA Herald XT, junto com a competição com plantas daninhas e a capacidade de colheita. Com base nos resultados de pesquisa de longo prazo, a variedade PBA Hurricane XT é a que mais produz as pequenas lentilhas vermelhas. A segurança da colheita é aumentada com esta variedade. A variedade PBA Jumbo é uma lentilha vermelha de sementes grandes e uma substituta direta para a variedade Aldinga e deve ser substituída por PBA Jumbo2. É adequado para a maioria das áreas atuais de cultivo de lentilhas, onde produziu consistentemente cerca de 15% mais do que a Aldinga. É mais provável atingir um tamanho maior de semente em zonas de média a alta precipitação. A variedade PBA Jumbo é moderadamente suscetível à BGM (fungo cinza botrytis) e esta doença precisará ser tratada em áreas propensas à BGM. Sua resistência foliar e semente a doença AB (ferrugem da ascochita) é melhorada em relação a variedade Aldinga. A suscetibilidade ao tipo de planta e ao acamamento é semelhante a PBA Jumbo2 e Aldinga e, portanto, é bem adequada para semeadura direta e entre fileiras em resíduo permanente. O PBA Jumbo melhorou a tolerância ao boro e salinidade do solo em relação as variedades Aldinga e Nugget. Possui tamanho e formato de semente semelhantes a Aldinga (20% maior que Nugget) e tegumento cinza. A variedade PBA Jumbo é bem adequada para a classificação póscolheita e remoção de pequenas sementes de plantas daninhas de folha larga (por exemplo, ervilhaca). A qualidade da moagem é melhor do que a do Nugget e é adequada para os grandes mercados premium de lentilha vermelha (por exemplo, Sri Lanka). A variedade PBA Jumbo2 é uma lentilha vermelha de sementes grandes que substitui a variedade PBA Jumbo e é a variedade de lentilha de maior rendimento disponível na Austrália. Os rendimentos de longo prazo da variedade PBA Jumbo2 são 9–13% maiores do que o da variedade PBA Jumbo e supera todas as outras variedades atuais em regiões de cultivo de lentilhas com média precipitação satisfatória. Esta grande variedade vermelha de maturação média, amplamente adaptada, é resistente à ferrugem de ascochyta (AB) e ao bolor cinzento botrytis (BGM) e com esses atributos ajudará a alcançar alta qualidade de grão consistente para o mercado e é adequada para semeadura precoce para maximizar o rendimento. A variedade Nipper tem resistência a BGM (bolor cinzento botrytis), mas sua resistência a AB (ferrugem de ascochyta) parece ter se reduzido em áreas de alta intensidade de


C a p í t u l o I | 50 lentilha do Sul da Austrália. Sprays vegetativos e de poda para AB são agora recomendados para esta variedade em áreas propensas a doenças. O Nipper tem um tamanho de semente pequeno, semelhante à variedade PBA Herald XT. Semelhante as variedades PBA Herald XT e PBA Hurricane XT, a variedade Nipper floresce mais tarde do que a variedade Nugget, mas geralmente amadurece antes do Nugget. Mesmo assim, a variedade PBA Hurricane XT substituiu o material Nipper. A variedade Nugget é uma lentilha vermelha de semente média que se tornou a variedade de lentilha vermelha padrão no sul da Austrália para produção e comercialização. Os lançamentos das variedades mais recentes como: PBA Bolt e PBA Ace são geralmente considerados mais confiáveis para rendimento e qualidade e, portanto, elas substituíram o Nugget. Variedades de lentilha verde A maioria das variedades de lentilhas cultivadas no Canadá tem tegumentos verdes e cotilédones amarelos (folhas rudimentares da semente). A lentilha verde é dividida em três classes de mercado no Canadá - verde grande, verde médio e verde pequeno. Lançamento da grande variedade Laird de cor verde. O Centro de Desenvolvimento em Saskatoon em 1980 foi o fator mais importante que contribuiu para a rápida expansão da indústria da lentilha no Canadá. A maioria das grandes variedades verdes requer semeadura precoce porque têm maturação relativamente tardia e são plantas de crescimento indeterminado. Este Centro produziu plantas altas que podem ser propensas a acamamento e são suscetíveis a infestações de botrytis (mofo cinza) em áreas de alta pluviosidade. Também existem algumas grandes variedades de lentilhas verdes portadoras de genes Clearfield que conferem resistência aos herbicidas. Variedade Silvina. Introduzida da Argentina para cultivo no Brasil no período seco de inverno, a cultivar Silvina é semi-precoce, com ciclo de 125 dias, apresenta porte ereto e altura média de planta de 34 cm; folíolos de cor verde claro; flores de cor branca com listras azuladas; início do florescimento aos 47 dias; sementes de formato achatado e textura lisa, uma a duas sementes por vagem; massa de 1000 sementes de 58g. Essa cultivar é indicada para regiões de clima ameno e adaptada a diferentes tipos de solo. Ela se adaptou bem no Distrito Federal, regiões do Paraná e Goiás. Apresenta vantagem pelo


C a p í t u l o I | 51 porte ereto, o que facilita a colheita mecanizada. Em ensaios de competição de cultivares apresentou rendimentos de 1.628 kg/ha em Brasília-DF, 1.429 kg/ha em Carambeí-PR e 1.285 kg/ha em Santo Antônio de Goiás-GO (EMBRAPA, 2014) A lentilha verde, também conhecida como lentilha 'grande' ou 'chilena', é usada inteira para cozinhar. O tegumento é verde a marrom e o endosperma (cotilédone) é amarelo. O tamanho da semente é geralmente de 4,5–8 mm de diâmetro. Os grãos de lentilha vermelha e verde não devem ser misturados, nem lentilha vermelha de categorias de tamanho diferentes (pequeno, médio e grande). As variedades de nicho para restaurantes e usos especializados foram desenvolvidas e variedades desses tipos adaptadas localmente são cultivadas em pequenas quantidades sob contrato. Na Europa, algumas cultivares foram consideradas produtos típicos com nomes endêmicos. Estes incluem castanho espanhol, verde francês (verde, du puy na França), semente preta ('beluga') e tipos de tanino zero. Os nichos de mercado local e de exportação podem existir ou precisam ser desenvolvidos para esses tipos, incluindo francesa, preta, vermelha, verde (variedades Richlea e Laird), marrom, Pardina e branca e por tamanho (pequeno, médio, grande; Figura 27). Em alguns casos, são vendidos decorticados, como Coral ou Rose Lentilhas ou Petite Golden (Figura 28). Existem toneladas de variedades diferentes, então é necessário avaliar em seu local de produção ou região para ver o que se adapta melhor em sua área.

Figura 27. Tipos de lentilha com distintas cores e tamanhos.


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Figura 28. Sementes descorticadas de lentilha divididas em bandas e inteiras. Foto: Life Time.

Algumas características relacionadas aos tipos de lentilhas são: •

Cervejeiro: Esta lentilha grande é do tipo marrom que se costuma encontrar nas lojas.

Eston Verde: Como o nome sugere, é um tipo de lentilha verde. É menor do que algumas outras lentilhas.

Laird: Este é um dos tipos mais comuns no oeste do Canadá. É um tipo grande e verde.

Red Chief: Red chief tem uma cobertura castanha clara e uma semente vermelha.

Masoor: esta variedade tem uma semente vermelha e uma pelagem castanha.

Puy : Esta lentilha francesa é salpicada de azul esverdeado (Figura 29).


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Figura 29. Lentilha francesa (puy). Foto: David Stobbe.

Avondale : Uma lentilha verde de tamanho médio, esta planta tem um grande rendimento.

Beluga: Esta variedade negra tem esse nome porque se parece um pouco com caviar (Figura 30).


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Figura 30. Semente preta de lentilha denominada de Beluga.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA Historicamente, a lentilha é amplamente utilizada na Índia, no sudoeste da Ásia e nas áreas do Mediterrâneo na forma de lentilha sem película (conhecida como dhal) e ainda é uma fonte importante de proteína na dieta da população nessas regiões. A lentilha contém aproximadamente 22% de proteína e é rica em fibras, vitamina A, cálcio, amido, ferro, fósforo, cobre e manganês. Enquanto a semente da lentilha é usada principalmente como alimento, a sua palhada pode ser usada como ração animal de alta qualidade ou seu plantio como fonte de matéria orgânica para melhoria do solo. A composição química da semente de lentilha é mostrada na Tabela 2.


C a p í t u l o I | 55 Tabela 2. Concentração média dos principais componentes nutricionais em sementes de lentilha e palha para rações de gado. LENTILHA SEMENTE PALHA Proteína 22-25 6,4 TDN (%) (nutrientes digestíveis totais) 44-46 D.E (Swine) (Kcal\kg) 3.250 Carboidratos (%) 54-63 37,4 (para 70g) Açucares 2,00 Cálcio (%) 0,10-0,56 0,65 Fósforo (%) 0,39-0,45 0,20 Potássio 0,95 Magnésio 0,12 Sódio 0,06 Zinco 0,06 Ferro 0,07 Fibra alimentaria (%) 4,80 Gordura E.E. (%) 1,50 Lisina (%) 1,60 Metionina e Cistina (%) 0,48 Água 8,26 6,1 OBS: Amostras individuais são necessárias para análises mais precisas. Fonte: Saskatchewan Feed Testing Laboratory e outras fontes.

Apesar da composição química da semente apresentada na Tabela 2, às variedades de lentilhas diferem fisiologicamente pelo tamanho da semente, cor do tegumento, cor do endosperma (cotilédone) e tempo de maturação. A Austrália é um produtor significativo de lentilha vermelha e a área plantada com lentilha verde está aumentando gradualmente, assim como a área de lentilhas especiais como 'Duy', 'Preta' e 'Espanhola'. A lentilha é possivelmente a fonte mais rica de proteínas entre as leguminosas comestíveis que são cozidas e consumidas diretamente sem processamento prévio para alterações de qualidade. O teor de proteína usual em lentilhas secas é em torno de 26%, embora a variação relatada em coleções de germoplasma seja de 20,4 a 29,8%, e é considerada uma característica poligênica. Na maioria das colheitas, especialmente cereais, o conteúdo de proteína é invariavelmente correlacionado negativamente com o tamanho da semente. No entanto, a lentilha é possivelmente uma exceção. De acordo com relatórios disponíveis, o conteúdo de proteína foi afirmado como positivamente (embora moderadamente) correlacionado com o tamanho da semente.


C a p í t u l o I | 56 CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS Segundo Kay (1979), para germinação, as sementes necessitam de pelo menos 15ºC, ficando o ótimo entre 18 e 21ºC; para altos rendimentos, a temperatura deve, em geral, ficar entre 19 e 25ºC, dependendo do cultivar. Não tolera calor e, por isso, nos trópicos é cultivada em altas altitudes ou no inverno. Por outro lado, geadas intensas ou prolongadas afetam-lhe negativamente o crescimento. De acordo com Giordano et al. (1988), no Centro-Oeste do Brasil as regiões com mais de 800 m de altitude oferecem excelente condição para o seu cultivo. As lentilhas são normalmente cultivadas e adaptadas a solos neutros a alcalinos, mas os rendimentos são comprometidos quando os solos são ácidos, sódicos, salinos ou têm altos níveis de boro. Aliviar esses problemas de toxicidade por meio da modificação do solo não é uma solução econômica ou prática e, portanto, o cultivo de cultivares mais tolerantes é considerado a melhor abordagem para superar essas restrições. Para um bom desenvolvimento e adequada fixação de nitrogênio no ar, é necessário que o pH não seja ácido e que haja boa aeração no solo, portanto, é aconselhável evitar excesso de umidade. A cultura tem melhor desempenho em terreno plano ou ligeiramente ondulado e se dá melhor em solo com níveis de pH de seis a oito. Um pH do solo próximo a 7,0 é melhor para a produção de lentilhas. A lentilha é adaptada a todos os tipos de solo bem drenados, desde textura mediana a argilosa. A lentilha não tolera alagamentos, inundações ou solos com alta salinidade e se dá melhor em áreas profundas e franco-arenosas com alto teor de fósforo e potássio. As plantas de lentilha morrem se expostas, mesmo a curtos períodos de alagamento ou inundação. A toxicidade do boro é um problema cada vez mais reconhecido da agricultura nas áreas áridas da Ásia Ocidental e da Austrália (RALPH, 1991; YAU; ERSKINE, 2000; HOBSON et al., 2006). Níveis tão baixos quanto 4 ppm produziram sintomas visuais de toxicidade na lentilha 26 dias após a semeadura, em comparação com a cevada e a aveia aos 47 e 37 dias, respectivamente (CHAUHAN; ASTHANA, 1981). O desempenho da lentilha é melhor nos solos em pousio de textura média a fina ou quando cultivada sob irrigação. Nas regiões brasileiras de inverno seco, não é possível cultivar a lentilha sem irrigação, mas com o cuidado de evitar umidade em excesso, que pode


C a p í t u l o I | 57 prejudicar a cultura. É tida como moderadamente tolerante à seca, porém o grau de tolerância varia de cultivar para cultivar. Summerfield et al. (1989) relataram que, sob condições controladas, temperaturas progressivamente mais altas após a floração restringiram o crescimento vegetativo, aceleraram o desenvolvimento em direção à maturidade reprodutiva e reduziram a produção de sementes. As altas temperaturas associadas a ventos fortes e solos secos são especialmente prejudiciais. Os rizóbios também são suscetíveis a temperaturas mais altas, principalmente quando as condições são úmidas (MALHOTRA; SAXENA, 1993). A floração precoce e a maturação podem evitar altas temperaturas em ambientes de semeadura de inverno, mas podem expor as lavouras a um maior risco de danos por geada em alguns ambientes e podem limitar o seu potencial de rendimento. As lentilhas são plantas de dias longos, mas alguns cultivares tendem a ser neutros quanto ao comprimento do dia (KAY, 1979). Também as plântulas de lentilha são tolerantes à geada leve (-4 ° C) e podem crescer novamente a partir dos nós da camada abaixo da superfície do solo se o dano inicial da geada for severo. Recomenda-se não repetir seu cultivo no mesmo terreno pelo menos até quatro anos. Se o terreno tem matéria orgânica começando a se decompor, também o prejudicará. SISTEMA DE PRODUÇÃO Para o cultivo do Lens culinaris deve aplicar as melhores condições agronômicas ao longo do seu ciclo vegetativo, visando obter um elevada produção de vagens e uma maior produtividade. ESCOLHA DA ÁREA O histórico de campo é uma consideração importante na seleção de campo para lentilha, pois ela é sensível a resíduos de herbicidas como Accord, Ally, Amber, Assert, Curtail, Lontrel, Muster, Odyssey, Poast FlaxMax, Prestige e Unity. As restrições de cultivo se aplicam ao uso do Express Pack e Poast Ultra. Os herbicidas residuais de curto prazo, como Banvel e 2,4-D / MCPA podem, sob certas condições, ter um efeito deletério no crescimento da lentilha. É necessário sempre seguir as recomendações apresentadas no rótulo dos produtos. Se o herbicida residual ativo for um problema potencial, uma parcela de teste deve ser plantada um ano antes do plantio das lentilhas. A parcela deve ser cultivada até a


C a p í t u l o I | 58 maturidade para garantir que nenhum efeito do herbicida no final da temporada ocorra na produção ou na qualidade da colheita. Na rotação, a lentilha não deve seguir a lentilha, mesmo para variedades resistentes, pois isso pode resultar em uma contaminação grave de ferrugem da ascochita e antracnose e acelerar a quebra da resistência. A presença da podridão Sclerotinia (Sclerotinia sclerotiorum) e de plantas voluntárias podem ser um problema, se a lentilha seguir ervilha, fava, girassol, canola ou mostarda. Os campos sem a infestação de cardo canadense (Cirsium arvense) ou cardo de porca perene (Sonchus arvensis ) oferecem a melhor probabilidade de sucesso, pois a lentilha compete mal com estas plantas daninhas e não há métodos eficazes de controle de herbicida na cultura da lentilha. A lentilha se encaixa bem em um sistema de produção de safra de semeadura direta. As plântulas de lentilha podem emergir em meio de resíduos de colheita de cereais devido ao seu forte vigor. ANÁLISE DE SOLO E CALAGEM A amostragem é considerada a fase mais crítica de um programa de recomendação de correção e adubação, quando baseado em análise química de terra. O objetivo da amostragem é caracterizar a fertilidade de uma área ou gleba de grande dimensão, por meio da determinação das quantidades de nutrientes e outros elementos presentes, através de uma pequena fração de terra. Com relação à habilidade do operador que vai retirar a amostra, o ideal é que ele seja capaz de tomar pequenos, suficientes e iguais volumes de solo em cada ponto de amostragem. A pá de corte ou trado deve ser de aço inoxidável, para evitar contaminações principalmente de micronutrientes. Cada amostra composta representará as características químicas de cada talhão, portanto deve-se ter o cuidado de coletar as amostras simples, procurando cobrir a totalidade do talhão. Recomenda-se fazer a coleta caminhando em ziguezague. Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trado ou pá reta ou enxadão, balde plástico e saco plástico (Figura 31). Dos trados utilizados, os tipos mais comuns são o holandês, de rosca e tubo.


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Figura 31. Materiais utilizados para coleta de amostras de solo: a) trado holandês, b) trado de rosca, c) trado de meia-lua, d) marreta, e) trado tubular, f) pá reta, g) enxadão, h) balde, i) saco plástico virgem.

A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa (Figura 32). O número no qual o erro amostral é bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Essas subamostras devem ser armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 32. a) Abertura da cova em forma de V; b) Corte de uma lâmina de solos de 2 a 3 cm; e c) Disposição dos pontos de amostragem de solos em forma de ziguezague.


C a p í t u l o I | 60 No caso de área homogênea, tomam-se amostras em 10 a 12 pontos bem distribuídos, limpando-se em cada local a superfície do terreno, retirando-se as folhagens, resíduos orgânicos, etc, sem, contudo, raspar a terra. As amostras simples deverão ser reunidas em um balde limpo e bem misturadas, formando uma amostra composta. Retirar aproximadamente 500 g de terra, transferir para saco plástico sem uso, identificar pelo número correspondente da área (talhão) e especificar informações complementares (profundidade, entrelinha, etc). Devem-se separar as amostras coletadas das partes altas, médias e baixas do terreno. O tamanho da gleba homogênea não deve ser muito grande em geral de 3 a 5 hectares. A análise de solo é uma ferramenta básica para recomendações de calagem. Sua aplicação tem sido reconhecida como uma das principais técnicas na agricultura para controlar a acidez dos solos, reduzir os níveis de Al+3 e atuar como fonte de Ca+2 e Mg+2 para as culturas agrícolas. É importante ressaltar que a pesquisa orienta que a aplicação do calcário, se for necessária, deverá ser feita dois meses antes do plantio, para que o calcário tenha produzido a correção pretendida ou a disponibilização de Ca e Mg na quantidade esperada. Contudo, mesmo que não dê para aplicar calcário com a antecedência recomendada, apurando-se a necessidade de calagem através da análise de solo, deve-se fazer a calagem a qualquer tempo, pois os efeitos benéficos da calagem serão alcançados no decorrer do desenvolvimento da cultura. Sempre que a análise química do solo a ser cultivado revelar pH inferior a 6,0 deve-se proceder a calagem. A quantidade de calcário a ser aplicada pode ser calculada pelo método da elevação da saturação de bases ou pelo método da neutralização do alumínio e da elevação de cálcio e magnésio. Existem basicamente três tipos de calcário: os ricos em Ca ou calcíticos; os ricos em Mg ou magnesianos; e os ricos em ambos o elementos, ou dolomíticos. O tipo de calcário a ser aplicado depende dos teores de Ca e Mg presentes no solo. A relação Ca:Mg ideal deve estar em torno de 3-4:1. Se o valor desta relação estiver acima de 4:1, o produtor deve optar pelo calcário magnesiano, a fim de ajustar esta proporção; se estiver abaixo de 3:1, deve-se optar pelo calcítico. O calcário dolomítico deve ser preferido quando a relação Ca :Mg encontrar-se dentro da faixa ideal. Na implantação da lavoura de lentilha, a calagem pode ser realizada em área total, aplicando-se 50% antes da aração e os outros 50% após a aração e antes da gradagem. Este procedimento tem a finalidade de uniformizar a distribuição do calcário (pontos brancos na Figura 33) na camada arada do terreno para um crescimento mais abundante


C a p í t u l o I | 61 das raízes das plantas cultivadas. Para o cultivo ideal de lentilha, recomenda-se que o solo tenha o pH ajustado em 7,0; em solos ácidos deve-se fazer a calagem preferencialmente com calcário dolomítico (MALAVOLTA, 1997).

Calcário total + aração

½ Calcário + aração

½ Calcário + gradeação

Figura 33. Distribuição do calcário no perfil do solo conforme o tipo de incorporação.

O produtor pode também realizar uma calagem no sulco de plantio. O calcário no sulco de plantio tem efeito localizado e contribui de forma mais significativa para o crescimento radicular em profundidade. É uma aplicação opcional e não deve ser entendida como substituta da calagem em área total. Sua utilização baseia-se em critérios agronômicos bem consolidados e não deve ser feita sem prévia análise de solo. Vale lembrar que a falta ou excesso de calcário podem prejudicar a nutrição das plantas. PREPARO DO SOLO É importante destacar que o cultivo de lentilha requer solos profundos para uma boa expressão de seu potencial produtivo, isto significa dizer que solos compactados com baixos níveis de porosidade diminuem o seu crescimento. Potencialmente, as raízes da planta podem atingir até 0,6 m de profundidade, o que implica que ela explora um bom volume de solo. Por outro lado, o preparo do solo depende da sua classe textural em francoargilosa, franco-arenosa, argiloarenosa, muito argilosa. Em solos pesados geralmente exigem mais trabalho, máquinas e equipamentos mais potentes. Antes de se iniciar a operação de preparo do solo, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactadas. A presença e a profundidade dessas camadas compactadas são detectadas por sondagens com penetrômetros ou pela abertura de trincheiras. Deve-se também coletar amostras de solo para a análise química. Além de facilitar o crescimento


C a p í t u l o I | 62 radicular em profundidade, a subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo. Realizar uma subsolação com arado subsolador de 03 ou 05 hastes (a depender da potência do trator), a 0,50 m – 0,60 m de profundidade em forma cruzada, complementado com uma gradagem com grade leve. Não se recomenda usar o subsolador em solo com bastante umidade, em razão de que cada haste do equipamento subsolador irá limitar sua área de rompimento de solo. É importante frisar que na extremidade inferior da haste existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992). Essa subsolagem pode ser repetida a cada dois ou três anos e é recomendado principalmente para solos pesados e tem por objetivo facilitar a penetração da água e o crescimento das radículas (CAMARILLO et al., 2002). Aração: Quando a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade, ela pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 34), atuando nessa profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultura. O arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos, mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Em geral, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, nos dois sentidos, complementado com uma gradagem com grade leve. A aração não deve ser feita com o solo muito úmido nem muito seco. Há um ponto de umidade em que o solo não adere ao implemento e nem faz nuvem de poeira. É o ponto em que o solo se desmancha com alguma facilidade à pressão dos dedos. Vale lembrar que a aração com subsequente gradagem do solo permite melhor desenvolvimento radicular.


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Figura 34. Aração do terreno destinado ao plantio de lentilha. Foto: Gettyimages.

Recomenda-se fazer a primeira aração, visando remover a camada arável do solo. Ao mesmo tempo, são incorporados resíduos da colheita anterior e são eliminadas algumas sementes de ervas daninhas e larvas de insetos, propiciando assim a aeração do terreno, além de favorecer o movimento e armazenamento de água. Deve ser feito a uma profundidade de 25 a 35 cm quando o solo possui umidade adequada (preferencialmente após a colheita da safra anterior) para evitar a formação de torrões, sendo este último mais importante em solos argilosos (CAMARILLO et al., 2002). Gradagem - é a etapa de preparação do solo para cultivo agrícola posterior à aração. Após a aração, o solo ainda poderá conter muitos torrões, o que dificultaria a emergência das sementes e o estabelecimento das culturas (CAMARILLO et al., 2002; INIA, 1963). Ou seja, essa operação de gradagem é uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo de lentilha. É importante ter o solo destorroado, principalmente quando se planeja aplicar herbicidas pré-emergentes. Porém, se os solos apresentarem tendência arenosa duas gradagens são suficientes no preparo do solo. ÉPOCA DE PLANTIO A data de semeadura é igualmente um fator determinante, porque pode determinar o tipo de condições com que a cultura irá se confrontar ao longo dos diferentes estádios fenológicos. Na região Centro-Oeste, maiores produções são obtidas com as semeaduras feitas no mês de abril. Contudo, pode-se estender o período de plantio até a segunda quinzena de maio. Plantios mais tardios resultam em menor produtividade e maior risco


C a p í t u l o I | 64 de perdas na produção, devido à possibilidade de ocorrência de chuvas durante a colheita (GIORDANO et al., 1988). Segundo Giordano et al. (1988), no centro-oeste do Brasil as áreas com altitudes acima de 800 m oferecem excelentes condições para o desenvolvimento dessa leguminosa em plantios realizados no mês de abril até a segunda quinzena de maio. Plantios mais tardios resultam em menor produtividade e maior risco de chuva durante a colheita. Em quatro regiões de Minas Gerais: Viçosa, Leopoldina (Zona da Mata), Patos de Minas (Alto Paranaíba), Uberaba (Triângulo) e Janaúba (Norte) foram conduzidos cinco ensaios, todos irrigados, com o objetivo de determinar a melhor época de plantio da lentilha precoce. Em Viçosa, foram estudadas seis datas de plantio, de 15/3 a 30/5; em Leopoldina, quatro, de 7/4 a 10/6; em Uberaba e Patos de Minas, seis, de 17/2 a 2/6; e em Janaúba, cinco, de 16/5 a 3/8. O intervalo entre datas de plantio foi de, aproximadamente, 20 dias. No ensaio de Viçosa, foi utilizada a cultivar Precoz, plantada no espaçamento entre fileiras de 40 cm, com 30 sementes/m; nos outros ensaios, a cultivar Silvina, no espaçamento entre fileiras de 30 cm, com 50 sementes/m. Em geral, os maiores rendimentos foram alcançados quando o plantio foi feito em maio, principalmente na segunda quinzena. Em Viçosa, a lentilha também teve bom desempenho quando plantada na segunda quinzena de março. Em Leopoldina e Janaúba, os dois locais de temperaturas mais altas, o plantio no início de junho não prejudicou o rendimento, se comparado com o da segunda quinzena de maio. Nas épocas de plantio em que foram obtidos os maiores rendimentos, a lentilha precoce, após a emergência, levou entre 28 e 60 dias para iniciar o florescimento; e da emergência até a colheita, entre 92 e 112 dias. O maior rendimento médio foi alcançado em Leopoldina, quando o plantio foi realizado em 27/5: 1.644 kg/ha. O peso de 100 sementes da cultivar Silvina variou de 5,5 a 6,3 gramas, quando o plantio foi feito em maio (VIEIRA et al., 1999). TRATAMENTO DE SEMENTES COM FUNGICIDA Um tratamento de sementes com fungicida poderá fornecer algum controle de doenças fúngicas, causadas pelos fitopatógenos, e melhorar a emergência de plântulas em condições de solo úmido. Se usar o inoculo e o adubo de sementes, aplique o adubo de sementes primeiro e depois inocule imediatamente antes de semear (Figura 35). Não misture inoculantes e tratamento de sementes, a menos que o rótulo do inoculante especifique a compatibilidade (Figura 36).


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Figura 35. Adicionar o inoculo às sementes de lentilha por meio de uma broca. Foto: M Witney, Dodgshun Medlin.

Figura 36. Folhas amarelas em planta que não foi bem nodulada. Foto: M Witney, Dodgshun Medlin.


C a p í t u l o I | 66 Os tratamentos com fungicidas para sementes são os primeiros componentes de um programa geral de gerenciamento de doenças que visa fornecer grãos livres de patógenos. O uso de sementes incrustadas com fungicida para controlar a ferrugem da ascochita e o bolor cinzento da botrytis durante 8 a 10 semanas após a semeadura pode resultar em uma melhoria de rendimento de 5 a 15% da lavoura de lentilha. INOCULAÇÃO A lentilha inoculada com a cepa de bactéria de rizóbio adequada é capaz de fixar uma parte significativa de sua necessidade de nitrogênio do ar no solo. Para que isso ocorra, a semente ou o solo ao redor da semente devem ser inoculados ou tratados com um inoculante formulado para lentilha que contenha bactérias rizóbio compatíveis. As lentilhas requerem inoculação com rizóbio do Grupo F, que pode fornecer aumentos no crescimento, rendimento e balanço de nitrogênio do solo se os níveis de rizóbio no solo forem baixos. O inoculante do Grupo F garantirá a máxima nodulação e fixação de nitrogênio (Figura 37).

Figura 37. Inoculado (à esquerda) com WSM1455 (uma excelente cepa de inoculante do Grupo F para lentilhas) versus uma cepa não eficaz (à direita).

O rizóbio entra nos pelos da raiz da planta e induz a formação de nódulos. A planta fornece energia e nutrientes para as bactérias que vivem dentro dos nódulos e os rizóbios,


C a p í t u l o I | 67 em contrapartida, convertem o nitrogênio atmosférico em uma forma que pode ser utilizada pela planta. O benefício máximo da fixação de nitrogênio é obtido se o suprimento de nitrogênio disponível no solo for baixo e os níveis de umidade e temperatura do solo forem bons no momento da semeadura. As bactérias Rhizobium podem morrer se forem expostas a estresses como alta temperatura, ventos secos, luz solar direta ou água clorada. Na avaliação da eficácia da nodulação, quanto mais nódulos e quanto mais cedo ocorrer à nodulação (nas raízes), melhor. Os nódulos precisam ser rosa para serem eficazes (Figura 38).

Figura 38. Exemplo de diferentes tipos de nódulos na raiz de semente inoculada. Foto: Graham O'Hara et al., 2012.

A inoculação da semente com rizóbio do Grupo F para cada cultura de lentilha pode ser necessária em solos alagados, salinos ou ácidos, particularmente argilas vermelhas mal estruturadas ou terras avermelhadas onde as condições de sobrevivência dos rizóbios são ruins. As novas formas granulares (O Nodulator Duo SCG é um inoculante granular para lentilhas) e outras formas de inoculo podem se tornar disponíveis e podem ajudar na sobrevivência dos rizóbios, particularmente em solos ácidos ou quando o pulso é semeado seco. Portanto, tanto os produtos inculantes quanto as sementes inoculadas devem ser


C a p í t u l o I | 68 manuseados com cuidado e todos os esforços devem ser feitos para plantar a semente inoculada em solo úmido o mais rápido possível após a inoculação. As bactérias Rhizobium em sementes inoculadas logo morrerão se a semente for colocada em um terreno seco. As bactérias Rhizobium podem ser sensíveis ao contato direto com fertilizantes granulados, portanto, não misture fertilizantes com sementes inoculadas no tanque. Os inoculantes também são sensíveis a alguns fungicidas aplicados em sementes. Ao usar uma combinação de fungicida e inoculante, aplique primeiro o fungicida na semente, deixe-a secar e aplique o inoculante imediatamente antes da semeadura. Os inoculantes granulares são menos sensíveis a fungicidas aplicados em sementes do que outras formulações de inoculantes porque o produto granular não tem contato direto com o tratamento de sementes (Figura 39)

Figura 39. O inoculo pode ser aplicado em uma das várias formulações. Foto: J. Howieson.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO A época da semeadura das lentilhas costuma ser bem planejada. A semeadura precoce aumenta o risco de desenvolvimento de doenças como resultado do crescimento vegetativo excessivo e acamamento. O risco de danos por congelamento também pode ser aumentado. Por outro lado, se semear mais tarde do que o normal corre o risco de baixo crescimento da planta comprometendo a colheita, ficando também sujeita as altas temperaturas e condições de seca durante a floração e enchimento da vagem.


C a p í t u l o I | 69 As lentilhas podem ser semeadas em condições secas para garantir a germinação oportuna, mas os fatores como os riscos de doenças e geadas também devem ser considerados. Os produtores tendem a ter mais confiança na semeadura precoce, onde novos sistemas de semeadura entre fileiras em restolho em pé, usando um espaçamento mais amplo entre as fileiras, são usados para garantir que o fechamento da copa seja atrasado e as lentilhas permaneçam mais eretas no estágio de colheita. Quando se trata de semear, é fundamental manter o contato firme entre a semente e o solo, tornar o solo úmido e evitar o solo seco que é uma etapa crítica. A maioria das sementes de leguminosas pode emergir de semeadura profunda devido ao seu grande tamanho. A semeadura profunda não é necessária, mas o importante é que a semente seja colocada em solo firme e úmido. Após o plantio, as áreas semeadas com lentilha são roladas (rolagem do solo) para aplainar a superfície do solo. Além de melhorar o processo germinativo das sementes, também beneficia no rendimento de grãos inteiros pela colheitadeira, reduzindo as perdas e quebra de vagens penduradas nessa etapa de colheita. A rolagem do solo também enterra as pedras, tornando a colheita mais fácil e segura. A colheita normalmente ocorre no mês de agosto. Antes da colheita, as vagens de lentilha devem ser secadas naturalmente até certo grau, o que geralmente ocorre sem a ajuda de produtos químicos. Alguns aspectos sobre a lentilha que necessitam ser levados em consideração antes de sua semeadura: •

A lentilha requer umidade adequada para crescer o suficiente para ser colhida satisfatoriamente. Os sistemas de semeadura direta que retêm restolho ajudam a reduzir as perdas por evaporação do solo. A semeadura entre fileiras com restolho de cereal em pé ajuda as plantas de lentilha a crescerem altas e eretas, tornando a colheita mais eficiente.

A escolha da variedade deve corresponder à maturidade, resistência a doenças, época de semeadura e sistema de cultivo usado. Ao selecionar a variedade, tenha em mente o tipo de mercado, o usuário final e o ponto de entrega. Considere os contratos futuros se o armazenamento na fazenda não estiver disponível.


C a p í t u l o I | 70 •

Sempre use sementes de qualidade e não semeie muito rasas ou profundas (5–8 cm de profundidade de semeadura é recomendado).

Semear na hora certa (final de abril a maio) é importante para maximizar a produção em situações mais secas.

Em situações mais úmidas no sul da Austrália, a lentilha pode ser semeada muito mais tarde (até meados da primavera) sem afetar significativamente a produção. Aumente a taxa de semeadura se a semeadura for muito tarde.

Use uma taxa de semeadura que provavelmente atinja uma densidade de planta de 120 plantas / m2 (aproximadamente 50–60 kg de sementes / ha).

Inocular com rizóbios do grupo F e fornecer adubação adequada (fertilizante).

Monitorar as pragas e plantas daninhas durante o estabelecimento e crescimento inicial da cultura. Monitore as plantações regularmente em busca de pragas.

Como o mercado brasileiro prefere a lentilha de grãos grandes, as cultivares Silvina e CNPH 01.001 seriam as mais indicadas para plantio. Em 1997, foram testados, em Coimbra, 18 linhagens de lentilha (Macrosperma) provenientes do ICARDA, na Síria, com ciclo de vida entre 137 e 160 dias. Sobressaiu a FLIP 86-51L, a mais precoce, cujo peso de 100 sementes foi de 7,9 g. Segundo Nascimento e Giordano (1993), as linhagens FLIP 86-16L, FLIP 89-48L e CNPH 91-002 são produtivas no cerrado e possuem sementes grandes de coloração creme-esverdeada. Têm ciclo de vida entre 126 e 129 dias.

SISTEMA DE PLANTIO DIRETO O custo de produção desempenha um papel importante na alocação de área em uma cultura específica. Para uma maior expansão da área com a lentilha, sua competitividade econômica precisa ser melhorada, reduzindo o custo de produção por meio da adoção de várias tecnologias de conservação de recursos. Portanto, o plantio direto é um


C a p í t u l o I | 71 componente importante da agricultura de conservação para produzir safras de baixo custo com profundo efeito nos recursos naturais, como água e solo. Este sistema é muito eficaz em minimizar a perturbação do solo e resíduos da cultura, controlando a evaporação do solo, minimizando as perdas por erosão, sequestrando carbono no solo e reduzindo as necessidades de energia. Além disso, o plantio direto (semeadura direta sem cultivo ou cultivo zero) da lentilha em restolho remanescente após a colheita do cereal (trigo ou cevada) está se tornando uma opção nos países desenvolvidos onde a erosão do solo é um problema. No sistema de plantio direto, as sementes são colocadas manualmente ou mecanicamente com ajuda de uma semeadora especial que abre uma fenda estreita no solo sem muita perturbação do solo. O objetivo principal é aproveitar a umidade residual do solo e os restos de fertilidade da safra anterior para suprir a safra de lentilha que se segue. O sistema de plantio direto é recomendado nos EUA para a lentilha semeada no outono como um meio de conservar a umidade do solo e fornecer alguma proteção de superfície para reduzir os danos do inverno às plantas de lentilha em desenvolvimento (WINCH, 2006). A lentilha de plantio direto encontrou preferência nos últimos anos nas Grandes Planícies dos EUA, Canadá e Austrália, onde os agricultores cultivam as lentilhas em grandes áreas como uma cultura de sequeiro e obtêm benefícios da diversificação e oportunidades de exportação. No Sul da Ásia, as sementes de lentilha são tradicionalmente difundidas na cultura de arroz em pé perto da maturidade ou após o fenômeno de monção em terras de pousio, sem qualquer preparo do solo para explorar a umidade residual para a germinação e estabelecimento do stand. Essa prática milenar de plantio de superfície, popularmente conhecida como cultivo de “paira” ou “utera” na Índia, Bangladesh e Nepal, é uma verdadeira forma de cultivo da lentilha. O método moderno de plantio direto, no entanto, requer um investimento de tempo para adquirir uma máquina de plantio direto adequada. No Brasil, observa-se uma rápida expansão de áreas com culturas anuais implantadas sobre algum tipo de palhada. A adoção do sistema de semeadura direta em áreas de pastagens degradadas, bem como na sucessão do milho, sorgo, milheto e cereais de inverno, como cobertura morta na condição de safrinha, é uma realidade que poderá vir a ser viabilizada como alternativa tecnológica para as regiões produtoras de lentilha. A semeadura entre fileiras com restolho em pé de cereal ajuda as plantas de lentilha a crescerem altas e eretas, tornando a colheita mais eficiente (Figura 40). A importância da manutenção

da palhada das culturas anteriores sobre a superfície do solo é mundialmente conhecida e


C a p í t u l o I | 72 divulgada no cenário agrícola, principalmente quanto aos benefícios relacionados à redução da erosão pluvial, recuperação e manutenção da estrutura físico-química do solo e favorecimento ao controle de plantas daninhas.

Figura 40. Excelente estabelecimento da cultura uniforme de lentilha. Foto: W. Hawthorne.

Neste sistema, o plantio é realizado sem que haja aração ou gradagem prévia do solo, sendo a semente colocada no solo não revolvido. O plantio é realizado por plantadeiras que abrem um pequeno sulco de profundidade e largura suficientes para garantir boa cobertura e contato da semente com o solo (Figura 41). As plantas daninhas são controladas com uso de herbicidas porque não se pode revolver o solo para removê-las. Portanto, o plantio direto consiste basicamente em três etapas: a) colheita e distribuição dos restos da cultura antecessora, para formação da palhada; b) dessecação das plantas daninhas; e c) plantio. É um sistema muito eficiente no controle da erosão, pois mantém os resíduos vegetais sobre o solo e promove movimentação mínima do solo.


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Figura 41. Semeadora com sistema de dosagem e distribuição pneumática efetuando o plantio direto de lentilha.

Como culturas para formação de palhada, o ideal é que se cultivem espécies que apresentem boa formação de matéria seca e sejam de lenta decomposição no solo. Geralmente, as gramíneas, como braquiárias, milho, sorgo ou milheto, atendem estas exigências. Ou seja, o sistema de plantio direto engloba a diversificação de espécies ao longo do tempo (rotação de culturas), mobilização de solo apenas no sulco de semeadura e a manutenção permanente da cobertura de solo. Na implantação do sistema de plantio direto duas operações são necessárias: Sistematização da lavoura - Sulcos e depressões no terreno devem ser eliminados através de plainas, motoniveladoras ou mesmo por escarificação. Solos com pH muito baixo devem ter sua acidez corrigida pela calagem já nesse momento. A adoção do sistema de semeadura direta para a cultura de lentilha permitiria que a época de semeadura seja realizada em até vários dias após o manejo da cobertura vegetal antecessora (Figura 42). Várias são as opções de culturas de sucessão, como, por exemplo, milho, milheto, sorgo, cana-de-açúcar, trigo, aveia-preta e capim-braquiária, as quais seus resíduos culturais apresentam relação C/N alta e características físico-químicas favoráveis como cobertura morta para as diferentes regiões do Brasil.


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Figura 42. As plântulas de lentilha podem surgir através de restolhos de cereais espessos. Foto: Pulse Australia.

Para efetuar o plantio direto de lentilha é necessário que o solo esteja descompactado e se use maquinário apropriado. Neste caso, é imprescindível fazer o manejo da palhada da cultura anterior. Dados recentes têm mostrado a necessidade de se esperar de 15 a 20 dias após a dessecação da cultura anterior, para se proceder ao plantio de lentilha (as lentilhas convencionais são muito sensíveis à maioria dos herbicidas), pois o herbicida pode diminuir o crescimento e o desenvolvimento radicular da cultura, sujeitando-a ao déficit hídrico e à redução de produtividade. Em palhadas de sorgo (Sorghum bicolor (L) Moench), especialmente o forrageiro, e de milheto (Pennisetum americanum (L) Leeke) é preciso passar o rolo-faca antes de aplicar o dessecante. O sorgo granífero e o milho (Zea mays L.) geralmente já estão secos quando colhidos e essa operação já deita a palhada, facilitando o plantio. As pastagens de braquiárias (Brachiaria sp.) são dessecadas e plantadas normalmente. A retenção de restolho de cereais não afeta a germinação ou o crescimento da lentilha (Figura 43) e pode melhorar o estabelecimento em solos de camada dura e com crostas superficiais. Enquanto os aglomerados de restolho causam dificuldades na colocação das sementes no solo e durante a colheita.


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Figura 43. Semeadora efetuado o plantio direto entre os restolhos em pé de trigo (cobertura vegetal antecessora) nos USA. Foto: Jimmy Meeks.

PROFUNDIDADE DE SEMEADURA Recomenda-se semear a uma profundidade entre 5 e 10 cm (Figura 44). Ao semear a esta profundidade ajuda a evitar os danos causados por herbicidas pré-emergentes. As lentilhas surgem mais rápido do que outras leguminosas, mas o crescimento é lento no inverno. Se a germinação coincidir com a temperatura do solo abaixo de 5 °C, a emergência completa pode levar 30 dias.


C a p í t u l o I | 76 Figura 44. Garanta uma profundidade de semeadura uniforme entre 5-10 cm (o operador da máquina aponta a profundidade de semeadura com um lápis) e com bom contato com o solo, utilizando sementes de qualidade de lentilha. Foto: R Rainbow, anteriormente SARDI; J Brand, VDPI.

ESPAÇAMENTO Para as lentilhas, a profundidade de semeadura deve ser de 1,2 polegadas (3 cm) a 3 polegadas (7,6 cm). O acondicionamento adequado após a semeadura é muito importante para tornar o solo liso e uniforme para a colheita e também ajuda a prevenir a perda de umidade. Embora tolerantes à geada, as plântulas de lentilha são muito sensíveis aos danos causados pelo vento. Nesses casos, novas plântulas de lentilha normalmente emergem de nós abaixo da superfície. Com um bom desempenho de uma variedade cultivada em campos, as lentilhas são frequentemente semeadas diretamente nos resíduos de grãos ou restolho em pé se os resíduos forem insuficientes para proteger a superfície do solo. Eles são normalmente cultivados após o trigo de inverno ou cevada da primavera (Figura 45).

Figura 45. Semeadura de lentilha entre fileiras de restolho em pé de cereal na Austrália


C a p í t u l o I | 77 Normalmente semeadas no final de abril ou início de maio, as lentilhas têm mais sucesso quando as temperaturas do solo estão acima de 40 ° Fahrenheit (4 ° Celsius). Na América do Norte, as lentilhas são plantadas no início da primavera e colhidas no final do verão. Com a semeadura precoce, os agricultores podem aumentar a altura e o tamanho da planta na etapa de floração. As lentilhas plantadas depois de abril normalmente resultam em uma colheita de qualidade inferior e menor rendimento de sementes. As lentilhas são espaçadas entre fileiras de 15 a 18 centímetros de distância. A cultura está adaptada para crescer durante a estação fria e, na maior parte da região de produção, as lentilhas dependem da umidade armazenada no solo durante grande parte do seu ciclo de crescimento. Além disso, o espaçamento entre fileiras pode ser variado (15 a 45 cm), mas as fileiras mais largas são usadas apenas se a semeadura for entre restolhos em pé de cereal para evitar o acamamento na colheita (Figura 46) e também o controle de plantas daninhas entre fileiras estiver disponível. Alguns produtores usam espaçamentos médios entre fileiras (25 a 36 cm) para se adequar à eliminação de restolhos, controle de planta daninhas dentro da fileira ou para atrasar o fechamento do dossel da planta para permitir maior movimento de ar entre as fileiras e diminuir o risco de mofo cinzento botrytis.

Figura 46. Larga linha de espaçamento de 24" (0,60 m) à esquerda em comparação com 12" (0,30 m) à direita. Foto: J. Brand.


C a p í t u l o I | 78 A altura das vagens inferiores pode ser aumentada com espaçamentos de fileiras mais amplos ou com taxas de semeadura maiores. O controle de plantas daninhas pode ser mais difícil com espaçamento de fileira mais amplo, a menos que pulverizadores protegidos sejam usados. O número de frutos por pedúnculo normalmente varia de um a quatro, embora até seis tenham sido encontrados. Muehlbauer (1974) estudou a diferença genotípica no número de frutos por pedúnculo em 45 linhas diversas de lentilhas plantadas em função do espaçamento. A frequência de uma vagem por pedúnculo foi maior, seguida de perto por dois frutos por pedúnculo, enquanto a frequência de três frutos por pedúnculo foi muito baixa. O número de frutos por planta, que é um determinante muito importante do rendimento da lentilha, varia consideravelmente dependendo do genótipo e também do ambiente. Em avaliação de genótipos de lentilhas indianas, plantadas com espaçamento de 50 cm × 10 cm, Malhotra et al. (1974) observaram um intervalo de 17,2 vagens a 216 vagens por planta, enquanto Singh e Singh (1969) encontraram mais de 500 frutos por planta em uma cultura plantada com espaçamento de 60 cm × 30 cm. ROLAMENTO DE SOLO As lentilhas são colhidas perto do solo, portanto, uma superfície lisa e nivelada é desejável para facilitar a colheita das vagens próximas à superfície do solo. A rolagem nivelará as partículas desestruturadas do solo causadas pela semeadura. A rolagem do solo pode ser feita antes do surgimento da cultura (Figura 47), mas esta prática pode levar ao aumento da erosão do solo se a superfície do solo estiver seca. A pesquisa indica que a rolagem do solo após a emergência da cultura pode ser concluída com sucesso até o estágio de cinco a sete nós, sem perda significativa de rendimento. Um rolo de massa leve a médio pode ser usado com sucesso entre a semeadura e até o estágio do 5º nó da plântula de lentilha (Figuras 48 e 49). A rolagem do solo além desse estágio pode danificar as plântulas, aumentar a disseminação de doenças foliares e reduzir a produtividade. Os melhores resultados são obtidos se a rolagem for feita quando as plântulas estiverem ligeiramente murchas e a superfície do solo estiver seca. A rolagem não deve ser feita em solos úmidos ou quando a cultura está úmida ou estressada pelo calor extremo, geada ou aplicação de herbicida.


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Figura 47. O rolamento irá firmar as sementes em contato com o solo e conectá-las por ação capilar com a umidade abaixo da superfície. Em contraste, os solos soltos têm tendência a secar na superfície, privando a superfície semeada de umidade.

Figura 48. Rolagem do solo após semeadura. Foto: Basf.


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Figura 49. Após a emergência e até o estágio do 5º nó, a rolagem do solo não coloca peso nas plântulas de lentilha como aconteceria em um solo mais plano. Foto: Pulse Australia.

O rolo reduz substancialmente os danos à barra de corte da colheitadeira e pode melhorar a qualidade da semente reduzindo a marca de terra (terra grudada às sementes) e acelera o enleiramento ou a colheita direta. Portanto, a rolagem permite velocidades mais altas das colheitadeiras combinadas e reduz substancialmente os danos à barra de corte e pode melhorar a qualidade da semente reduzindo a marca de terra (terra grudada nas sementes). O campo de lentilha pode ser rolado após gradagem, se o preparo convencional do solo for usado, ou após a semeadura, no caso de semeadura direta. Um estudo conduzido com a lentilha da cultivar Laird mostrou reduções de rendimento devido a rolagem após o estágio de 5 a 7 nós. A rolagem tardia resultou em perdas de rendimento de 15% devido à quebra de caules principais e rompimento de ramos aéreos. A rolagem em solo argiloso úmido antes da emergência da planta pode causar crostas e pode atrasar ou reduzir a emergência. O efeito do aplainamento da rolagem pode resultar em erosão do solo e, consequentemente, danos às plantas por partículas de solo relacionadas ao vento, especialmente sob condições de baixo resíduo, como em solos arenosos de textura leve. Portanto, quando a erosão do solo é um problema potencial, a rolagem deve ser atrasada até que alguma proteção do dossel da lentilha seja estabelecida.


C a p í t u l o I | 81 Alguns fatores adversos que poderão ser considerados antes da operação de rolagem do solo: -A rolagem deve ocorrer em dias quentes, pois as plantas são mais flexíveis quando parcialmente murchas e incorrerão em menos quebra do caule em comparação quando são roladas em um dia mais frio; -Alguns produtores alertam que a rolagem em temperaturas superiores a 30 °C pode resultar no enrijecimento da planta de lentilha devido ao estresse; -A rolagem do solo quando a lavoura está úmida por causa da chuva ou orvalho intenso pode disseminar a praga Ascochyta e a antracnose por todo o campo; - A rolagem pode danificar e enfraquecer as plântulas de lentilha, portanto, a rolagem e a aplicação de herbicida não devem se seguir muito próximas. Um mínimo de 2 dias entre as operações permitirá que a cultura se recupere; -Da mesma forma, a rolagem não deve ocorrer imediatamente após uma geada. IRRIGAÇÃO A irrigação da lentilha é possível, mas uma boa drenagem é essencial porque as plantas da lentilha não toleram o alagamento, principalmente durante a floração precoce. Mesmo curtos períodos de alagamento podem resultar em perdas graves. Os requisitos de manejo para lentilha irrigada são os mesmos que para lavouras de sequeiro, com maior ênfase no controle de doenças, pois as lavouras irrigadas são mais propensas à propagação de doenças foliares devido ao dossel denso e o umedecimento foliar potencialmente prolongado após a irrigação. Os níveis de salinidade na água de irrigação ou no solo a ser irrigado devem ser baixos. A lentilha é uma das culturas agrícolas mais sensíveis à salinidade - quase tão sensível quanto o feijão verde (Phaseolus vulgaris), que requer água de irrigação <0,7 dS/m para que não haja redução da produção. Uma redução de rendimento de 10% é esperada se a água de irrigação medir 1,0 dS/ m (condutividade elétrica no extrato de saturação em decisiemens/m). Alguns produtores de lentilha experientes no Leste de Mallee, região de Victoria (Austrália), usam com sucesso a irrigação aérea (aspersão). A irrigação por inundação de plantações de lentilha não é amplamente praticada na Austrália porque o risco de perda


C a p í t u l o I | 82 de rendimento devido ao alagamento é considerado alto. No entanto, a irrigação pode ser econômica se o sistema de irrigação permitir uma drenagem adequada, principalmente se houver água de boa qualidade disponível e a rotação com outras culturas de inverno e verão for bem administrada para reduzir o risco de doenças. Para os solos típicos do cerrado brasileiro (latossolos), a Embrapa Horticultura recomenda a aplicação de uma lâmina bruta diária de 5 a 6 mm por dia (GIORDANO et al., 1988). ADUBAÇÃO De acordo com Manara et al. (1992), para produzir 1.000 kg/ha de grãos, a planta de lentilha retira do solo 43 kg de N, 5 kg de P2O5, 11,7 kg de K20, 0,7 kg de Ca, 1,2 kg de Mg e 2,0 kg de S. Giordano et al. (1993) apresentam números algo diferentes: para produzir 1.500 kg/ha, a lentilha retira do solo 75 kg de N, 21 kg de P 2O5 e 52 kg de K20. Parte do N pode ser obtido por intermédio da fixação simbiótica. Por isso, em área em que a lentilha está sendo cultivada pela primeira vez, a introdução do rizóbio (Rhizobium leguminosarum bv. viciae) deve merecer a maior atenção. Vieira (1964), em Viçosa, MG, semeou lentilha em terreno onde ela nunca fora plantada e, usando como fonte de rizóbio terra de campos onde anteriormente a ervilha fora cultivada, procurou verificar o efeito da inoculação e da inoculação mais calagem. Obteve 23% de aumento na produção de sementes com a inoculação (1.150 kg/ha) e 37% de aumento com a inoculação+calagem (1.286 kg/ha). Em área de cerrado, a inoculação das sementes com isolados de Rhizobium leguminosarum bv. viciae promoveu aumento de até 873 kg/ha de grãos, em relação ao tratamento que recebeu 60 kg/ha de N, e aumento de 1.976 kg/ha, em relação à testemunha (não-inoculado com rizóbio e sem adubação nitrogenada) (VARGAS et al., 1994). Em relação à calagem, Wutke et al. (1998) recomendam, após análise do solo, elevar o índice de saturação por bases a 70%. Recomendam ainda a aplicação, na semeadura, de 25 kg/ha de N, 60 kg/ha de P205 e 50 kg/ha de K20. Manara et al. (1992) indicam, como recomendação geral, 8 kg/ha de N e 60 kg/ha de P205. Quanto ao K20, em solos com teores maiores que 80 ppm de K, indicam 50 kg/ha de K20; e com teores superiores a 120 ppm, 10 kg/ha. Recomendam ainda umedecer as sementes com uma solução contendo 700 mg de molibdato de amônio e 100 ml de água, imediatamente antes da inoculação com o


C a p í t u l o I | 83 rizóbio. Para o Planalto Central, Giordano et al. (1993) indicam 400 kg/ha de 5-25-15 e, na ausência de inoculação com rizóbio, duas aplicações, em cobertura, de 25 kg/ha de N. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS Todo cuidado deve ser tomado no preparo do solo, a fim de se obter uma área o mais livre possível de plantas daninhas por ocasião da semeadura da lentilha. O controle da flora invasora, após a emergência da cultura, também deve merecer toda atenção, pois as plantas de lentilha são frágeis e pouco competitivas. Em estudo em que a principal invasora foi o capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), Giordano et al. (1988) verificou que o período crítico de interferência das plantas daninhas situa-se entre a 4a e a 8a semana após o plantio (Figura 50).

Figura 50. Período crítico de controle de plantas daninhas em lentilhas entre a 4 a e a 8a semana. Foto: BASF SE, 2016.

Por causa da estreita distância entre as fileiras de plantio, o cultivo mecânico não é fácil. A alternativa seriam os herbicidas, mas no Brasil não há nenhum registrado para a cultura da lentilha. Giordano et al. (1993) conseguiram bons resultados com os seguintes herbicidas: (a) para folhas largas: cianazina (em pré-emergência), diuron (préemergência), imazaquin (pré-plantio incorporado), linuron (pré-emergência), metribuzin (pré-plantio incorporado) e prometrina (pré-emergência); (b) para gramíneas: fluazifop-


C a p í t u l o I | 84 butil (em pós-emergência), metolachlor (pré-emergência), napropamida (pré-plantio incorporado), pendamethalin (pré-plantio incorporado), sethoxydim (pós-emergência) e trifluralin (pré-plantio incorporado). Evitando danos por herbicida. Em condições adversas, a maioria dos herbicidas póssemeadura e pré-emergentes (PSPE) é capaz de causar danos à lentilha (Figura 51). As aplicações pós-emergentes também podem causar danos à cultura ou atrasar a floração e a formação de frutos em algumas circunstâncias. Na maioria dos casos, o dano pode ser atribuído à solubilidade do produto em: •

Semeando muito raso;

Aplicação de herbicidas em solos secos seguido de chuvas intensas;

Dose muito alta para o tipo de solo;

Superfície de solo irregular;

Acúmulo de herbicida em sulcos pela roda de compactação.

Diferenças na suscetibilidade das variedades.

Figura 51. Exemplo de dano de herbicida em lentilhas. Foto: L. McMurray.


C a p í t u l o I | 85 Para reduzir os riscos de danos por herbicida ao usar metribuzina ou outros produtos PSPE em lentilhas, algumas recomendações práticas são necessárias, tais como: •

Semeie a 5 cm ou mais.

Aplique os herbicidas em uma superfície nivelada do solo (por exemplo, com rolagem do solo).

Avalie que rolar após as rodas da compactação pode não fazer o suficiente para nivelar o sulco.

Evite aplicar esses herbicidas após a semeadura em solos secos e diante de chuvas intensas.

Escolha a dose certa de herbicida para o seu tipo de solo (solos mais leves requerem doses mais baixas).

Considere a aplicação de herbicida incorporado por semeadura (IBS).

Ter conhecimento da sensibilidade a herbicidas por variedades.

DOENÇAS As doenças podem afetar gravemente o rendimento e a qualidade da lentilha se o inoculo estiver presente e as condições ambientais forem propícias ao desenvolvimento da doença. Estratégias de manejo para prevenir ou reduzir os patógenos causadores de doenças por meio da rotação de culturas, incluindo as contaminações entre culturas, são exigidas para o sucesso da produção de lentilhas. Algumas doenças são generalizadas, mas causam poucos danos; outros podem ser muito prejudiciais e justificam medidas de controle adequadas (Tabela 3). Tabela 3. Doenças que ameaçam as colheitas de lentilhas. Fungo Mancha-de-ascochyta Mancha de Stemphylium Antracnose Doença de plântulas Podridão do caule e vagem de Botrytis Murcha e podridão do caule Viral Virus

Doenças xxx xx xxx xx xx xx x

OBS: XXX generalizada e causa perdas econômicas significativas quando presente; XX Muito difundido, mas geralmente sem importância econômica; X Não frequente e geralmente sem importância econômica. Fonte: Howard Love, 2010.


C a p í t u l o I | 86 Os primeiros sintomas de algumas doenças fúngicas são difíceis de distinguir uns dos outros. As condições ambientais e as aplicações de herbicidas também podem causar lesões nas folhas, de modo que o diagnóstico correto ou a identificação de doenças pode ser difícil. A podridão da semente, murcha de plântulas, o tombamento do caule e a podridão da raiz são doenças fúngicas transmitidas pelo solo que podem infectar as plântulas de lentilha. Tais doenças podem ser causadas por espécies de Rhizoctonia, Pythium, Fusarium e / ou Botrytis. Esses patógenos estão presentes em todos os solos agrícolas e podem infectar e matar as plântulas individuais desde a germinação até o estágio inicial de floração. Os sintomas podem incluir baixa emergência, podridão radicular, retardo de crescimento, amarelecimento e morte de plântulas. As lesões podem se desenvolver na base do caule levando à constrição do caule e ao colapso da plântula. Normalmente, apenas as plantas espalhadas são infectadas, então essas doenças raramente causam perdas econômicas. Estresse em plântulas ou danos causados por danos ambientais ou herbicidas podem levar a um aumento na incidência de murcha de plântulas. A murcha das plântulas não deve ser confundida com um estresse ambiental chamado necrose do calor, que ocorre quando as plântulas jovens de lentilhas são expostas a altas temperaturas da superfície do solo. Com a murcha das plântulas, a base do caule seca e fica comprimida e a plântula fica amarela e morre. Com a necrose do calor, as plântulas murcham muito rapidamente em dias extremamente quentes de primavera, o caule comprimido geralmente permanece branco e, frequentemente, novos brotos são iniciados nos nós em escalas. As rotações de culturas que incluem cereais e oleaginosas podem reduzir o acúmulo de patógenos transmitidos pelos solos específicos da lentilha. No entanto, muitos desses patógenos podem sobreviver como saprófitos na ausência de um hospedeiro suscetível. Portanto, a rotação de culturas pode ter um efeito limitado no manejo da murcha de plântulas e podridão de raízes (Figura 52). Uma investigação preliminar na Síria da frequência da murcha de fusarium em lentilhas não mostrou diferenças entre os métodos de plantio direto e convencional (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000).


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Figura 52. Lentilha: Podridão da raiz; saudável (L); plantas cloróticas atrofiadas (R). Foto: Canadian Phytopathological Society.

Ferrugem da lentilha. A ferrugem é causada pelo fungo Uromyces fabae e os sintomas aparecem no início da primavera com o aparecimento de pequenas pústulas redondas, marrom-avermelhadas, medindo aproximadamente 1 mm (Figura 53). Estes estão localizados sob a epiderme, preferencialmente nas folhas inferiores da planta. À medida que a doença progride, as pústulas aumentam de tamanho e espalham-se pelo resto da planta, atingindo outras folhas, caules e vagens.


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Figura 53. Folhas com sintomas de ferrugem causado pelo fungo Uromyces fabae.

Controle químico: Tratamento de sementes com acetado de fenilmercúrio e diclobutrazol têm sido usados para reduzir a transmissão via sementes. A aplicação foliar de fungicidas logo após o aparecimento dos sintomas, seguida de mais duas pulverizações em intervalos de 10 dias, reduz a incidência e a gravidade da doença. Flutriafol e metalaxil podem ser recomendados para o controle da ferrugem da lentilha. Outros produtos incluem formulações que contém mancozeb, clorotalonil e cobre. Medidas preventivas: Certifique-se de usar sementes saudáveis de fontes certificadas; Escolha de variedades resistentes se disponíveis (Laird e Tekoa); Planeje uma rotação de culturas com uma cultura não hospedeira; Mantenha os campos livres de ervas daninhas e plantas voluntárias; Monitore os campos em busca de sinais da doença; Tome cuidado para não transportar restos vegetais contaminados entre campos ou fazendas; Limpe e desinfete as ferramentas e equipamentos após o trabalho de campo; Remova e destrua as plantas contaminadas queimando, roçando e enterrando-as após colheita; Altere a data de plantio para evitar os piores sintomas. Mancha-de-ascochyta (Ascochyta fabae f. sp. lentis). A mancha de Ascochyta é uma doença foliar grave da lentilha. Pode ser transmitida pela semente ou por resíduos, resultando na infecção de folhas, caules, vagens e sementes (Figura 54). As lesões


C a p í t u l o I | 89 aparecem como manchas marrons ou acinzentadas com margens escuras e frequentemente apresentam minúsculos corpos frutíferos pretos (picnídia) no centro. O clima frio e chuvoso é propício à disseminação e à infecção da doença. É mais prejudicial para as vagens e sementes em maturação se o tempo chuvoso prolongado ocorrer durante julho e agosto. Lotes de sementes gravemente infectados podem não ser comercializáveis ou serão severamente desvalorizados devido à descoloração.

Figure 54. Lentilha: Mancha de Ascochyta; lesão de vagem. Foto: Canadian Phytopathological Society.

A maioria das variedades de lentilhas da Austrália agora tem algum nível de resistência à praga da ascochita. O inoculo da mancha de Ascochyta também ocorre após inverno em resíduos de lentilha, portanto, os produtores não devem plantar lentilhas em restolhos. A redução da rotação, especialmente o cultivo de lentilha em restolho de lentilha, pode levar a consequências terríveis. Os esforços de melhoramento produziram muitas variedades com “boa” resistência à ascochita, a ponto de ser fácil de ignorar como uma ameaça potencial em campos comerciais. Só porque o ascochyta não está infectando obviamente o campo de lentilhas, não significa que a doença não esteja presente - a resistência incorporada na variedade de lentilhas está evitando a infecção. Mas os fungos estão sempre desenvolvendo naturalmente novos arranjos de genes. Essas mudanças


C a p í t u l o I | 90 podem levar a uma nova cepa de ascochyta que pode superar os genes de resistência reproduzidos nas variedades de lentilhas. Isso pode acontecer em campos com anos de separação entre as lavouras de lentilha, mas se o gene resistente estiver lá e tiver uma planta hospedeira (lentilha) para viver e se reproduzir, então aumenta as chances de sobrevivência, reprodução e disseminação. Múltiplas gerações por ano significam que um fungo pode se espalhar rapidamente quando se estabelece em determinado campo (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000). Antracnose (Colletotrichum truncatum). A antracnose é uma doença foliar e do caule encontrada na maioria das áreas produtoras de lentilhas. A pesquisa identificou duas raças de antracnose. Algumas variedades de lentilhas foram introduzidas com resistência à Raça 1 (Ct1), mas nenhuma variedade é resistente à Raça Ct0. O fungo antracnose causa lesões cinza a creme nas folhas e caules. Os folíolos inferiores ficam amarelos e marrons e caem na superfície do solo (Figura 55). Os caules inferiores tornam-se necrosados pela doença e as plantas morrem prematuramente.

Figura 55. Lentilha: Antracnose; lesões de folíolos. Foto: Canadian Phytopathological Society.


C a p í t u l o I | 91 As manchas doentes na cultura podem expandir-se rapidamente e aparecer como manchas amarelas ou cinzentas dentro de um campo verde. A doença é favorecida por clima quente e úmido e geralmente mata a planta de lentilha infectada antes que a semente seja produzida. A antracnose pode ser espalhada em resíduos transportados pelo vento e poeira durante a colheita, e pode ser transmitida por resíduos nos campos por vários anos. Embora a antracnose não seja considerada uma doença transmitida pela semente, os produtores devem tentar usar sementes com baixos níveis de infecção, uma vez que não existem fungicidas para o tratamento de sementes eficazes no controle da antracnose transmitida pela semente para a lentilha. Prolongue as rotações de culturas para evitar o plantio de lentilhas no mesmo campo por pelo menos quatro anos. No entanto, siga as instruções do rótulo para saber o tempo correto de aplicação. O objetivo é proteger o material vegetal saudável se o inoculo da doença estiver presente no campo e as condições climáticas favorecerem a doença. Podem ser necessárias até três aplicações se as condições que favorecem a doença persistirem (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000). Mofo cinzento da Botrytis: O mofo cinzento da Botrytis causado pelo fungo Botrytis cinerea chega a causar apodrecimento do caule e da vagem durante as fases de floração e enchimento das sementes e pode causar perdas econômicas. O inoculo transmitido pelo solo está presente em todos os campos, mas essa doença é tipicamente um problema apenas em stands vegetativos adensados que se alojaram em clima úmido e frio de verão. As folhas murcham e caem, os frutos não se preenchem e as áreas infectadas tornam-se cinzentas a castanhas (Figura 56).


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Figura 56. Lentilha: Botrytis; vagens infectadas. Foto: Canadian Phytopathological Society.

As nuvens de esporos cinzentos são dispersos no ar conforme as áreas infectadas são colhidas. Os produtores são advertidos a usar máscaras contra poeira para evitar dificuldades respiratórias. Existem fungicidas foliares registrados para o controle desta doença foliar causada pelo mofo cinzento botrytis. Mofo branco de Sclerotinia: O mofo branco de Sclerotinia, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, pode ocorrer ocasionalmente em cultivos de lentilha em maturação sob condições de alta umidade que promovem o crescimento vegetativo e o acamamento, e pode causar perdas econômicas. As lavouras de lentilhas estão sob maior risco de infecção por esclerotinia se cultivadas em rotação com outras lavouras suscetíveis, como a canola, ervilha ou girassol. Doença de Stemphylium: A estenfiliose da lentilha é causada pelo fungo Pleospora herbarum, anteriormente conhecido como Stemphylium herbarum, daí o nome da doença (Figura 57). Acredita-se que ele sobreviva em sementes ou restos de plantas mortas infectadas no campo. Esta doença foliar tem sintomas de queda de folíolos semelhantes aos da antracnose e lesões semelhantes nas folhas como a mancha de ascochita. Ainda não foi confirmado que causa perdas significativas de rendimento, porque a doença tende


C a p í t u l o I | 93 a aparecer mais tarde no verão. O fungo se desenvolve em condições de calor (28 °C) e umidade. Houve diferenças observadas entre as variedades de lentilhas em relação à suscetibilidade a crestamento do stemphylium.

Figura 57. Lentilha: Doença de Stemphylium; lesões iniciais da folha Foto: Sabine Banniza.

PRAGAS A lista de insetos para monitorar na cultura de lentilha não é extensa, mas pode ser muito importante nos anos em que as populações de certos insetos atingem níveis prejudiciais. Gafanhotos. O gafanhoto é o inseto com maior probabilidade de causar danos em um determinado ano. Não que o controle seja necessário todos os anos, mas o número limite é baixo para a cultura de lentilha. A pesquisa indica que dois gafanhotos por metro quadrado causarão perda de rendimento e qualidade suficiente para justificar uma aplicação de inseticida. Além disso, existem mais de 80 espécies de gafanhotos nas pradarias, apenas cerca de 10 espécies causam problemas nas lavouras agrícolas e dessas, apenas três espécies ameaçam a lentilha.


C a p í t u l o I | 94 Os gafanhotos geralmente não favorecem a folhagem da lentilha. Eles representam a maior ameaça desde o estágio de botão até o desenvolvimento inicial da vagem porque comem botões de flores, flores abertas e vagens em desenvolvimento. A alimentação de frutos em desenvolvimento precoce pode resultar em perda de rendimento e causar atraso na maturidade. Este atraso na maturidade deve-se ao atraso no pegamento ou estabelecimento dos frutos, pois a planta tenta compensar a perda dos frutos no início da temporada. Os danos causados pela alimentação do gafanhoto são variáveis. Os danos leves nas vagens podem resultar em destruição e perda de sementes. Quando a borda da vagem é mastigada, as sementes ficam mais suscetíveis a doenças e as manchas. Na colheita, as partes do gafanhoto, especificamente as suas cabeças, podem ser um problema para a limpeza de grãos colhidos de lentilhas, pois as mesmas estão na mesma faixa de tamanho que a semente de lentilha em forma de lente. Isso resulta em uma nota inferior para o produto. Embora os gafanhotos geralmente não causem danos precoces (eles não se alimentam prontamente de folhagem de lentilha), o monitoramento do campo deve começar cedo para determinar a extensão do problema. Se o controle for necessário, o momento ideal é quando as ninfas estão no terceiro estágio, que geralmente é em meados de junho. Nesse estágio, os gafanhotos se tornam móveis, consomem mais e a maior parte da eclosão deve estar concluída. Frequentemente, o número de gafanhotos será maior nas margens do campo e uma semeadura densa de lentilha impedirá os insetos de se moverem mais para o interior do campo, pois preferem áreas mais abertas e nuas. Se as populações de gafanhotos só excederem o limite econômico nas margens do campo, um tratamento na borda com um inseticida apropriado pode economizar tempo e reduzir custos, ao mesmo tempo que fornece controle adequado. Em anos com populações maiores de gafanhotos, múltiplas aplicações de inseticidas podem ser necessárias, especialmente nas margens do campo. É fundamental usar / aplicar apenas inseticidas registrados para uso em lentilhas e respeitar o intervalo de pré-colheita (PHI) do inseticida selecionado para manter a comercialização da cultura (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000). Ácaros. O ácaro de pata vermelha (Halotydeus destructor) e o ácaro-azul-da-aveia (Penthaleus major) podem causar danos significativos às plantações de lentilhas jovens. As folhas danificadas por ácaros têm aparência áspera e prateada, tornam-se marrons e murcham. Os danos são mais graves quando as condições de frio, umidade ou seca retardam o crescimento das plântulas.


C a p í t u l o I | 95 A prevenção estratégica pode envolver pulverização foliar na primavera anterior. O cultivo limpo no outono e a atenção às ervas daninhas nas cercas também são essenciais. Se possível, mantenha distância dos piquetes das espécies que hospedam os ácaros, como outras leguminosas, leguminosas de pasto (incluindo sub-trevo e luzerna) e sementes oleaginosas, e controle de plantas daninhas ao longo das bordas dos campos e áreas sem cultivo. Os inseticidas registrados para lentilha para uso pós-semeadura protegerão as plântulas em germinação, quando a cultura está mais vulnerável. Os tratamentos de sementes funcionam melhor quando um pequeno número de ácaros está ativo durante a germinação. Recomenda-se monitorar as lavouras jovens semanalmente, inspecionando as plantas de lentilha em 10 locais diferentes do campo. As condições climáticas afetam a atividade dos ácaros. Em caso do tempo estiver bom, estimem os números de ácaro por folha; se estiver frio e nublado, estimem os números por 100 cm quadrados (10 cm x 10 cm) ao redor da base das plantas. Os danos aos ácaros são geralmente maiores ao redor da borda dos campos, onde os ácaros estão invadindo de fora o campo. Uma média de 50 ácaros por área inspecionada (folha ou ao redor da base da planta) indica que o controle pode ser garantido (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000). Pulga saltona. A pulga saltona (Sminthurus viridis) é um inseto pequeno, sem asas, verde-claro, semelhante a uma pulga, que pula quando perturbado. O inseto mastiga as folhas em camadas, resultando em buracos transparentes parecidos como "vidraças" (Figura 58).

Figura 58. Pulga saltona mastiga a folha e resulta no buraco transparente (seta vermelha). Foto: Shutterstock.com.


C a p í t u l o I | 96 O monitoramento semanal para detectar larvas deve começar na floração. Aumente para duas vezes por semana desde o início da formação dos botões florais ou quando a atividade das mariposas atingiu o pico. Amostrar 10 vezes com uma rede de 38 cm de diâmetro em pelo menos em cinco áreas diferentes da cultura. Pulverize quando cinco ou mais larvas forem coletadas em qualquer uma das 10 amostragens. Aguarde a pulverização até que a maioria das larvas tenha cerca de 1 cm de comprimento. A pulverização muito cedo aumenta o risco de uma segunda população se desenvolver antes da colheita. Não demore muito, pois as pragas maiores requerem doses mais altas de inseticida e são as que perfuram as vagens, causando as maiores perdas econômicas. As lavouras de lentilhas atacadas não podem ser controladas com eficácia. Em culturas adensadas, sacuda vigorosamente as plantas em meio metro de uma fileira sobre uma bandeja branca ou saco de fertilizante. Repita 5–10 vezes. O controle é garantido se uma média de 1 larva /m por fileira for detectada. Recomenda monitorar as lavouras regularmente, pelo menos semanalmente, em busca de sinais de danos. Se houver suspeita de pulga, verifique a presença ou ausência de danos em 10 plantas, repetidos em cinco locais. Uma média de 10 ou mais buracos por folha pode indicar que o controle é garantido (SASKATCHEWAN PULSE GROWERS, 2000). Pragas de floração. As mariposas nativas da lagarta (Helicoverpa punctigera) migram do interior da Austrália para áreas de produção de lentilhas na primavera. As mariposas fêmeas põem ovos nas folhas, caules, flores ou frutos. As larvas grandes (com mais de 1 cm de comprimento) causam danos significativos à medida que se penetram nas vagens e se alimentam do grão em desenvolvimento. Destaca-se como uma “prima” próxima da H. armigera, oriunda do mesmo centro de origem (Austrália), que assombra produtores de grãos, de algodão, de hortaliças e de frutas no mundo, e atende pelo nome científico de Helicoverpa punctigera (Wallengren) (Lepidoptera: Noctuidae). Por serem bastante similares é necessária muita atenção na identificação correta destas espécies. Dentre as principais diferenciações morfológicas é possível destacar que as larvas de H. punctigera têm pelos pretos ao redor da cabeça e ao longo do corpo, enquanto H. armigera apresenta pelos claros. Já nos indivíduos adultos de H. armigera é possível verificar duas manchas claras nas asas inferiores, enquanto em H. punctigera não existem essas manchas (Figura 59) (BELLATI et al., 2012).


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Figura 59. Características distintivas entre Helicoverpa punctigera (Wallengren) e Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae).

As larvas da lagarta podem variar muito em cor, mas todas têm uma linha escura no centro das costas e uma faixa larga e clara ao longo de cada lado do corpo. Sua pele parece esburacada. Pelos pretos curtos e rígidos geralmente são evidentes ao longo do corpo. Lagarta. As larvas de Etiella (Etiella behrii) perfuram vagens e amadurecem, enquanto se alimentam das sementes em desenvolvimento (Figura 60). Quando totalmente alimentados, elas saem para formar pupas no solo. O controle das larvas é difícil, pois elas permanecem dentro das vagens, onde são protegidas de pulverizações de inseticidas.


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Figura 60. As larvas da lagarta nativa variam consideravelmente em cor. O manejo envolve controlar as mariposas antes de colocarem os ovos. A mariposa tem um corpo esguio e um bico distinto (Figura 61). As asas são cinza com uma listra branca na frente e uma faixa amarela perto da base. A envergadura é de aproximadamente 2 cm.

Figura 61. As mariposas Etiella têm um rostro (bico) comprido e distinto. No cerrado do Distrito Federal, em área irrigada, Sharma (1991) encontrou maior densidade de nematóides fitoparasitas (Meloidogyne javanica, Helicotylenchus dihystera, Pratylenchus brachyurus e Criconemella aornata) na cultura da lentilha que na do feijãocomum. Em Minas Gerais, não têm sido observados problemas sérios com pragas. Manara et al. (1992) citam os seguintes insetos como capazes de causar, em condições favoráveis, prejuízos consideráveis à cultura: percevejo-verde (Nezara viridula), percevejo-verdinho


C a p í t u l o I | 99 (Piezodorus guildinii), percevejo (Edessa meditabunda), vaquinha (Diabrotica speciosa), pulgão (Acyrtosiphum pisum), tripes (Hercothrips phaseoli), broca-das-axilas (Epinotia aporema), além de cigarrinhas, gafanhotos, saúva e quenquém. Muitos desses insetos ocorreram em Viçosa e Coimbra, MG, mas, até o momento, não se tem visto nesses locais ataques à lentilha que merecesse atenção. Considerando o cultivo da lentilha em outros países, as pragas tidas como mais nocivas à lentilha são a lagarta-das-vagens (Etiella zinckenella), o afídio-do-caupi (Aphis craccivora), o afídio-da-ervilha (Acyrthosiphon pisum), o gorgulho (Sitona lineatus) e bruquídeos (SINGH; SINGH, 1997). Destes últimos, o mais citado é Callosobruchus chinensis.

MATURIDADE FISIOLÓGICA As lentilhas são autopolinizadoras, assim como outras leguminosas. Portanto, as plantas de lentilha começam a florir depois que um número específico de nós foi atingido e continuam até que a seca ou a deficiência de nitrogênio termine essa floração por ser uma planta de crescimento indeterminado. A maturidade é atingida cerca de 100 dias após a emergência. A colheita é feita quando as folhas começam a amarelar, tomando-se o cuidado de executá-la no tempo certo: se efetuada muito cedo, a qualidade dos grãos é prejudicada e, se muito tardia, ocorrem perdas por deiscência das vagens. A colheita pode ser manual, pelo arranque das plantas, ou pelo emprego de colheitadeira. Depois de arrancadas, as plantas são esparramadas em terreiro para secagem, sendo posteriormente trilhadas com vara ou com máquina trilhadeira. Nenhuma secagem complementar é necessária, quando a secagem da cultura sucede naturalmente no campo. Todas as variedades são colhidas em agosto a setembro. Também as lentilhas são cortadas e amontoadas em leiras aproximadamente uma semana antes da colheita para secar tanto as plantas daninhas como as lentilhas em casos de maturidade irregular da colheita ou infestação de plantas daninhas. A arrumação em leira melhora a uniformidade da umidade da semente de lentilha e reduz a quantidade de descoloração da semente. O corte para o enleiramento ocorre quando cerca de 30% das vagens inferiores ficam castanho dourados e suas sementes chacoalham. Fazer isso em condições de umidade


C a p í t u l o I | 100 muito alta pode reduzir o estilhaçamento. As lentilhas também podem ser de colheita direta (apenas uma passagem com a mesma máquina que corta a planta e debulha as sementes das vagens). A colheitadeira de corte direto é mais eficiente quando equipada com uma plataforma flexível e com garfos levantadores (Figura 62), uma vez que as lentilhas tendem a se acamar bastante no solo no estádio de maturação.

Figura 62. Colheitadeira de corte direto de plantas de lentilha equipada com plataforma flexível e com auxílio de ar, plantadas entre restolho em pé de cereais, evitando assim seu acamamento. Foto: T. Bray.

Como a semente seca tem tendência a trincar e descascar durante a debulha, os produtores tentam debulhar com cerca de 18% de umidade e usar aeração para secar a amostra a 14% para armazenamento seguro. Algumas recomendações que deverão ser seguidas durante a etapa de colheita: -Faça a colheita assim que a safra atingir a maturação. As colheitas de lentilhas podem ficar quebradiças depois de totalmente amadurecidas e as vagens podem se estilhaçar (ou deiscência), especialmente após as chuvas de verão.


C a p í t u l o I | 101 -Para maximizar a qualidade do grão, manuseie a semente com cuidado e evite os empecilhos para a máquina colheitadeira. -Realize a colheita em condições mais frias para melhorar a eficiência da colheitadeira e reduzir o risco de incêndio. -Considere o armazenamento de grãos de lentilha na fazenda para permitir o acesso a mercados mais lucrativos após a colheita. RENDIMENTO A produtividade da lentilha não é alta, variando geralmente de 400 a 800 kg/ha na Índia devido ao baixo nível tecnológico, mas podendo alcançar de 1.000 a 1.500 kg/ha. Na literatura, entretanto, há menção de 2.500 a 3.000 kg/ha, no Egito, e de 1.700 a 1.800 kg/ha, nos EUA (KAY, 1979). Nos experimentos conduzidos em Minas Gerais, o rendimento máximo obtido foi de 2.851 kg/ha, com a linhagem proveniente do ICARDA FLIP 86-51L, que atingiu a altura de 59 cm e completou o ciclo de vida em 137 dias. Neste caso, a linhagem foi testada em Coimbra, com semeadura em 25 de abril. Em outros ensaios realizados em Minas Gerais e envolvendo cultivares precoces, os rendimentos situaram-se entre 1.000 e 1.600 kg/ha. No cerrado, Vargas et al. (1994) conseguiram mais de 3.000 kg/ha.

ROTAÇÃO A produção de lentilhas é mais bem-sucedida quando cultivada em rotação com cereais, como trigo duro ou de primavera. A pesquisa de rotação de culturas conduzida pela Agriculture and Agri-Food Canada (AAFC), mostra que os rendimentos das culturas de cereais cultivados em restolhos eram melhores após as culturas de lentilha ou ervilha. A profundidade do enraizamento da lentilha é de cerca de 0,60 m (2 pés). Isso permite que a safra seguinte de trigo, com uma profundidade de enraizamento de 1,8 m (6 pés), extraia água de uma profundidade maior e produza maior rendimento e proteína. Mesmo assim, a pressão da doença limita a rotação de culturas para lentilhas a uma vez a cada três a quatro anos.


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Capítulo II

COLHEITA, ARMAZENAMETO E COMERCIALIZAÇÃO DE LENTILHA Vicente de Paula Queiroga Ênio Giuliano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores)


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COLHEITA As lentilhas podem ser uma escolha lucrativa de cultivo devido às conexões de mercado bem estabelecidas. Levando em consideração a semeadura, a rolagem do solo e o manejo de plantas daninhas, a colheita pode ser uma operação simples com o equipamento certo. Como as lentilhas são pequenas e resistem bem, combinando com um corte reto, o cabeçalho flexível pode simplificar o processo de colheita. Ademais, uma colheita antecipada com menor risco de intempéries, garantindo que o grão colhido seja de alta qualidade, irá depender do estado do cultivo no momento da colheita em termos de tamanho e sanidade das plantas, densidade populacional, presença de plantas daninhas e porcentagem de umidade, tanto das plantas, suas vagens e as sementes e o ambiente que as rodeas. As vagens de lentilhas amadurecem rapidamente, mas de forma desigual. Algumas variedades amadurecem, mas de forma desigual, resultando em perdas por estilhaçamento (abertura de vagem), pois algumas vagens secam demais enquanto outras ainda estão verdes. A semente que se desenvolve a partir das primeiras flores (vagens inferiores) amadurece antes da semente das flores posteriores (vagens superiores). Alguma folhagem ou caule pode ainda estar verde quando a plantação está pronta para a colheita. Deve-se iniciar a colheita quando as vagens inferiores tiverem adquirido uma cor marrom claro e suas sementes chacoalharem nas vagens, sendo assim de fácil identificação para fins de colheita de lentilhas por ser o ponto de maturidade fisiológica de suas sementes (KHATUN et al., 2009). Com o teor de umidade da semente de 15% é satisfatório para a etapa de colheita, embora o seu armazenamento seja mais seguro quando as sementes apresentarem a umidade de 12 ou 13%. Outro indicativo para a colheita da planta de lentilha é quando as folhas começarem a amarelar, tomando-se o cuidado de executá-la no tempo certo: se efetuada muito cedo, a qualidade dos grãos é prejudicada e, se muito tardia, ocorrem perdas por deiscência das vagens. Além disso, as plantações que permanecem em pé ao atingir sua maturidade são

mais propensas à queda de vagens devido à intensidade do vento, portanto, a colheita precoce é essencial. Ao manter o restolho em pé da cultura anterior pode dar alguma proteção contra o vento.


C a p í t u l o I I | 104 Também é importante destacar que o mercado demanda mais uma semente graúda de cor verde brilhante, livre de manchas e de manchas ambientais. Esta última situação se verifica quando se atrasa na colheita, resultando então em uma cor de semente mais débil e em semente manchada. Ademais, essa colheita atrasada pode ocasionar em perda de sementes e redução do rendimento de grãos. Além disso, a maioria dos campos não será 100% uniforme em topografia, de modo que poderia haver condições mais verdes em áreas mais baixas e úmidas e plantas mais avançadas em áreas mais altas. A decisão de começar a colheita dependerá de a maioria do campo atender a certos critérios. Não sacrifique a quantidade e a qualidade de sua colheita esperando que áreas menores e mais verdes cheguem ao estágio adequado para iniciar a colheita. Em alguns países, essa colheita é manual, cortando as plantas acima do nível do solo ou das raízes, são empilhadas em montes e deixadas para secar no campo por uma semana, antes de serem trilhadas com vara ou com trilhadeira mecânica. Em outros países, a colheita é mecanizada por meio de colheitadeiras, que são adaptadas para que a quantidade de grãos partidos seja a menor possível. No Brasil, a colheita totalmente mecanizada é utilizada apenas nas lavouras do Sudeste e Centro-Oeste, onde os produtores são mais tecnificados, enquanto a maior parte da produção de lentilha produzido com pouco uso da mecanização é proveniente de pequenos produtores, principalmente na colheita. Recomenda-se realizar uma colheita ao nível do solo para colocar as plantas cortadas de lentilha na plataforma da colheitadeira. Pode ser desafiador como executá-la pelo fato de se utilizar uma altura da colheitadeira relativamente baixa, variando de 5 cm a 15 cm dependendo da variedade cultivada e da densidade de plantio. Todas, exceto as colheitas muito baixas, mostrarão algum acamamento na maturidade ou após. Ou seja, algumas variedades são mais eretas do que outras. Mas quando as lentilhas são semeadas entre fileiras de restolhos em pé de cereais tendem a ficar mais altas e permanecer mais eretas na colheita. É importante destacar novamente que o momento da colheita é quando as folhas ficam amarelas. Uma vez atingida tal maturidade, a operação de colheita da lentilha pode ser realizada em três modalidades: a) Colheita totalmente manual, b) Colheita


C a p í t u l o I I | 105 Semimecanizada e c) Colheita totalmente mecanizada, sendo esta última utilizada em áreas maiores. Na escolha de um deles, devem ser considerados o tamanho da lavoura, o sistema de cultivo (monocultivo ou consorciação com outras culturas), o hábito de crescimento das plantas (variedades mais ou menos eretas) e a disponibilidade de mão de obra e de equipamentos na propriedade. Geralmente, nas pequenas lavouras (menores que 5 ha) cultivadas em monocultivo ou em consorciação, a colheita é processada manualmente; nas grandes, cultivadas em monocultivo, a colheita é feita por processos mecanizados, com equipamentos existentes no mercado brasileiro. Em cada modalidade de colheita, as operações envolvidas se dividem em três fases: arrancamento manual das plantas, esparramar as plantas em terreiro para secagem e separação dos frutos das plantas (batedura manual ou trilha mecanizada). Por meio de uma moderna colheitadeira adaptada para a colheita direta da lentilha, a ordem das operações pode ser alterada para arrancamento mecânico das plantas, separação das sementes dos frutos ou vagens (trilhagem) e secagem de grãos. Recomendam-se as máquinas axiais, ou seja, de sistemas híbridos com trilha radial, sistema de separação e limpeza axial, equipadas com cabeçais tipo draper (plataforma frontal) e a sua colheita deverá ser programada para ser realizada nos meses de poucas chuvas (ideal seria na ausência de chuvas). A continuação destacam-se as operações envolvidas nas distintas modalidades de colheita da lentilha: A) COLHEITA MANUAL Arranquio. Neste método, todas as operações da colheita, como o arranquio, o recolhimento das plantas cortadas e a trilha das plantas, são feitas manualmente. Devido ao tipo de crescimento e porte das plantas (de 25 a 70 cm) de lentilha, o processo de colheita manual consiste em segurar manualmente os ramos da planta a partir da maturação fisiológica das sementes para cortá-la na parte que corresponde o caule com o auxilio de uma foice de mão (Figuras 63 e 64). Também se recomenda realizar tal operação quando as vagens inferiores tiverem adquirido uma cor marrom claro ou quando as folhas começam a amarelar. As plantas arrancadas são postas em terreiros revestidos com lona plástica ou cimentado, em molhos com as vagens para cima e em camadas de 30 cm a 50 cm por 10 a 15 dias para completar a secagem, onde se processa a batedura


C a p í t u l o I I | 106 para separação das palhas dos grãos. Este último processo poderá ser efetuado manualmente por meio de varas, pequenas debulhadoras mecânicas ou por meio de despencamento manual de vagens das hastes. Por último, realiza-se a separação e a limpeza dos grãos por processo de ventilação (Figuras 65 e 66). É importante destacar que a colheita manual, como as operações de arranquio, recolhimento para o terreiro e batedura, é utilizada a mão-de-obra familiar, principalmente nas pequenas propriedades.

Figura 63. Altura do corte manual da planta de lentilha (região do caule ou talo, em vermelho), efetuado durante a etapa de colheita. Foto: BASF SE, 2016.


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Figura 64. Operação de corte manual das plantas no ponto de colheita. Foto: Mehr News Agency do Iran.

Figura 65. Instrumento tipo foice de mão usada no corte de plantas de lentilha Foto: Vazlon Brasil.


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Figura 66. Separação e a limpeza dos grãos de lentilha por processo de ventilação sobre uma lona, usando uma arupemba. Foto: Vikas Rawal (2019).

Também as plantas arrancadas a mãos deverão ser levadas diretamente para terreiros de terra batida revestidos com lona plástica ou de cimento, onde elas serão espalhadas para a secagem dos grãos até 12% a 13% de umidade, o que facilitará a operação de trilha. Secagem. A operação de secagem dos frutos é de máxima importância para preservar o valor e a qualidade das sementes de lentilha. As vagens que, por ocasião do arrancamento apresentam teor de água em torno de 18%, ou mais, devem ter o seu teor reduzido para 12 a 13% das sementes, para possibilitar o armazenamento posterior, sem problemas. Portanto, as plantas arrancadas de lentilha são transportadas para os terreiros revestidos com lonas plásticas ou cimento, em molhos com as vagens para cima, por 12 a 15 dias (após corte), para completar o processo de secagem natural até os grãos atingirem cerca de 12% de umidade (secagem preliminar). Despencamento manual. Após a secagem, as vagens presas às plantas necessitam ser separadas das hastes. Esta operação recebe o nome de despencamento, sendo feita manualmente (batedura) ou mecanicamente (trilha). A operação de despencamento é feita no terreiro revestido de lona plástica ou cimentado, a qual consiste em bater um feixe de


C a p í t u l o I I | 109 plantas de lentilha seco contra a borda de uma madeira presa ao tambor ou um cavalete de madeira, sendo os frutos amparados em sua queda no próprio tambor ou lona plástica, caixote, etc. Outro método manual para desprender os frutos secos de lentilha é passando o feixe de plantas entre os dentes de um pente (feito de madeira com vários pregos) preso à borda de uma lata. Desta forma, as vagens ainda úmidas, por não terem atingido o teor ideal na secagem preliminar realizada antes da batedura, necessitam receber imediatamente uma secagem complementar, seja em terreiros, quadras cimentadas, lonas plásticas, etc, deixando-as expostas ao sol por mais dois dias. Batedeira mecânica de pequeno porte. É descrito um equipamento para debulha de leguminosas que compreende uma estrutura de suporte (100) provida de um tambor giratório (10) com superfície telada (11) rotacionado por um primeiro motor (20) através de um conjunto de polia e correia, com velocidade de rotação entre 40 a 50 rpm, dito tambor giratório (10) que apresenta uma abertura (12) para acesso à região interna do tambor (10) onde é disposto um eixo provido de batedores que se projetam radiais da superfície do eixo (30) que rotaciona através de um conjunto de polia e correia atuados por um segundo motor (21) com velocidade de 12 rotações entre 500 a 600 rpm, seguido de calhas (40) e uma peneira vibratória em posição imediatamente inferior (Figura 67).

Figura 67. Batedeira de pequeno porte para feixes secos de plantas dos grãos para separação e limpeza.


C a p í t u l o I I | 110 Batedeira mecânica de grande porte. Recomenda-se utilizar debulhadora de maior porte para o beneficiamento dos feixes secos de plantas de lentilha provenientes da colheita manual (plantas cortadas), principalmente quando se semeia uma área superior a 5 ha (Figura 68).

Figura 68. Operação de separação dos grãos das vagens nas hastes das plantas cortadas (feixes) alimentadas manualmente na máquina batedeira ou trilhadora de sementes de lentilha acionada por tomada de força do trator ou com motor diesel. Foto: www.shutterstock.com.

B)COLHEITA SEMIMECANIZADA No método semimecanizado, o arranquio e o enleiramento das plantas são normalmente manuais, e a trilha é mecanizada, empregando-se as máquinas recolhedoras-trilhadoras. Enquanto a operação de arranquio é complementada manualmente, arrancando e sacudindo as plantas para a eliminação de terra ainda aderente às vagens e às raízes, procedimento denominado de “chacoalhação”. Algumas variedades de lentilhas também atingem a maturidade cerca de 100 dias após a emergência, com a colheita em meados de agosto, quando a safra é em faixas e depois combinada. Em Washington, as lentilhas florescem aproximadamente 60 dias após a emergência da cultura e todas as variedades são colhidas em agosto, sendo cortadas e


C a p í t u l o I I | 111 colocadas em leiras aproximadamente uma semana antes da combinação tipo recolhedora-trilhadora (Figura 69).

Figura 69. Operação da colheitadeira recolhedora-trilhadora, após uma semana as plantas enleiradas atingirem a sua secagem em campo.

Colocar as lentilhas cortadas nas planícies do Norte em Montana e Dakota do Norte é arriscado devido às frequentes tempestades de vento, que podem soprar para longe as leiras. As plantas de lentilha são cortadas diretamente pela colheitadeira nestas regiões. Em todos os casos, uma colheita oportuna é crítica para evitar o branqueamento, quebra de sementes e doenças pós-maturação. Todos esses problemas degradam a qualidade da colheita e reduzem o rendimento.


C a p í t u l o I I | 112 C)PROCESSO DIRETO DE COLHEITA O processo direto consiste no emprego da colhedora automotriz para realizar, simultaneamente, as operações de corte, recolhimento e trilha das plantas cortadas e a abanação e o acondicionamento dos grãos, o que tem ocasionado redução da necessidade de mão de obra, diminuindo significativamente o custo de produção, além de aumentar significativamente o rendimento operacional e proporcionar melhora na qualidade do produto, uma vez que a operação é mais rápida, reduzindo o tempo que o produto fica exposto às intempéries do clima no campo (Figura 70).

Figura 70. Plataforma Draper utilizada na colheita de lentilha. Foto: Ruwoldt, R.; Hawthorne, W.

A colheita de uma safra de lentilha de estação fria consiste em uma única passagem com uma colheitadeira, um dispositivo de colheita mecânica que integra várias operações. Ele corta a planta do solo, separa as sementes do restante da folhagem, distribui o resíduo pelo campo e transfere o produto resultante para uma caixa de armazenamento por meio de um caminhão. Nos Estados Unidos, a colheita geralmente começa em agosto e vai até setembro. A colheita direta é efetuada quando a folhagem começa a amarelar. As lentilhas podem ser colhidas com até 14% de teor de umidade, onde a aeração é possível, auxiliando na colheita antecipada (Figura 71).


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Figura 71. Sistema de ar para auxiliar na colheita de lentilha e levantadores curtos usados na colheitadeira. Fotos: Ruwoldt, R.; Hawthorne, W.

Uso de dessecante. Os produtos químicos que auxiliam na secagem são, no entanto, importantes durante os verões frios e úmidos, quando a secagem natural não é possível. Esperar que a secagem natural ocorra pode levar à quebra da vagem, germinação, descamação do tegumento e branqueamento da semente. Quando as plantas daninhas não são um problema, as lentilhas são enleiradas mecanicamente ou colhidas diretamente. A colheita de lentilhas é cuidadosamente cronometrada. Usar a colheitadeira na cultura prematuramente pode resultar em uma cultura imatura e subdesenvolvida. Também não se recomenda a colheita tarde demais com secagem excessiva porque pode causar perda


C a p í t u l o I I | 114 de safra devido ao rompimento das vagens antes ou durante a colheita. Frequentemente, são consideradas duas situações, em relação à aplicação de dessecantes, que ocorrem antes da colheita da lentilha: Primeira situação: O momento é muito cedo para a aplicação de dessecante, ante da colheita totalmente mecanizada, se as vagens inferiores não amadureceram e ocorrem uma mudança mínima de cor ou quando as sementes não estão ainda firmes (imaturas) e nenhum barulho pode ser ouvido quando as vagens são agitadas (Figura 72). Os frutos superiores provavelmente ainda estarão verdes neste momento e a floração ainda pode estar ocorrendo com as variedades de lentilha mais indeterminadas. Se a colheita começar antes destes sinais descritos de maturidade fisiológica, o rendimento será reduzido e a qualidade também poderá ser afetada.

Figura 72. O momento não é adequado (muito cedo) para aplicar o dessecante Reglone na pré-colheita em lentilha antes de detectar os sinais característicos de maturidade fisiológica. Fonte: Basf.

Segundo situação. Para garantir o tempo correto, não examine o campo da estrada, mas inspecione as plantas dentro do campo. O que pode parecer um campo verde à distância como muito cedo para os métodos de pré-colheita (aplicação de dessecante), pode realmente estar pronto para a colheita após uma inspeção mais detalhada (Figura 73). As


C a p í t u l o I I | 115 lentilhas são consideradas maduras quando o terço inferior das vagens torna-se amarelo a marrom e os grãos chacoalham quando são agitados. Este é o estágio recomendado para aplicação de herbicida em faixas ou dessecante na pré-colheita. O Reglone (diquat) tem sido o dessecante mais consistente e amplamente usado ao longo dos anos. Após a sua aplicação, as lentilhas podem estar prontas para ser debulhadas em quatro a sete dias se vier um clima quente, seco e ensolarado (embora o período de tempo seja mais comumente de sete a 10 dias). Outros dessecantes registados no USA para uso em lentilhas são: Heat (saflufenacil) e Good Harvest (glufosinato de amônia).

Figura 73. Momento ideal para aplicar o dessecante Reglone na pré-colheita em lentilha, tendo com base os sinais característicos de maturidade fisiológica. Fonte: Basf.

O glifosato pode ser usado como um auxiliar na colheita, mas não é um dessecante. Se aplicado, deve ser para fins de controle de plantas daninhas (mais frequentemente para as plantas daninhas perenes e menos para as anuais). Isso pode resultar na debulha da safra mais cedo em comparação à secagem natural, apesar de a planta morre pela ação do glifosato, mesmo assim o material vegetal verde ainda deve secar por conta própria. Se o clima for quente e seco, isso reduzirá os dias para a debulha, em comparação com as plantas que se mantêm em pé sem a aplicação de glifosato. Mas, se as condições climáticas forem frescas e/ou úmidas, a secagem pode demorar bastante. No caso de


C a p í t u l o I I | 116 aplicar o glifosato, não use a cultura para a produção de sementes, pois as plantas daninhas perenes, como é o caso do cardo-canadense (Cirsium arvense), ficam muito expostas em uma plantação de lentilha quando ela se aproxima da maturidade. Além disso, pode afetar a germinação e o desenvolvimento de plântulas. O glifosato na pré-colheita deve ser aplicado nas lentilhas quando a colheita está com menos de 30% de umidade das sementes, com um intervalo de pré-colheita de 7 dias. Avaliar a maturação da semente em uma cultura indeterminada como a lentilha é um desafio. Colheita mecanizada. De maneira semelhante à ervilha, as plantas de lentilha apresentam-se muito acamadas no momento da colheita. Por isso, a colheitadeira deve ser adaptada (Figuras 74 e 75), incluindo garfos levantadores e uma chapa retentora de solo ao longo da plataforma de corte, logo atrás das facas seccionadoras. Os garfos servem para levantar as plantas para o corte; a chapa retentora evita a entrada de solo no interior da colheitadeira.

Figura 74. Semeadura de lentilha entre fileiras de restolho em pé de cereais ajuda a prevenir o acamamento e melhora a eficiência da colheitadeira. Fotos: Pulse Australiano.


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Figura 75. Colheita mecanizada em campo de lentilha após a aplicação de dessecante, sendo plantado entre rebrotas em pé (seta vermelha) de cultivo anterior de cereais para facilitar a colheita da lentilha e evitar o seu acamamento. Foto: Ruwoldt, R.; Hawthorne, W.

Essa colheita antecipada maximiza a qualidade. As safras colhidas alguns dias depois, quando as condições estão muito secas, têm uma proporção muito maior de grãos partidos e quebrados (defeituosos) e níveis aumentados de doenças (Ascochyta, etc) e danos climáticos. O acamamento também ocorre e a semente se torna quebradiça, descolorida, com tendência a mofo e a germinação é reduzida. A eficiência da colheita também é reduzida drasticamente. Frequentemente, a diferença entre uma colheita fácil de colher e outra mais difícil é de 2 a 5 dias. A uniformidade do amadurecimento e a data de colheita antecipada podem ser influenciadas pela dessecação, cobertura da cultura anterior ou lentilhas em faixa no estágio correto de crescimento. Por outro lado, quando se utiliza colheitadeira automotriz com plataforma flexível, melhores resultados são alcançados com a velocidade de 2,5 km/hora, com o côncavo bem aberto e a velocidade do cilindro batedor entre 300 e 500 rpm. Esse equipamento


C a p í t u l o I I | 118 pode colher de 1,5 a 2,0 ha/hora, e a perda durante a colheita varia de 5% a 10% (GIORDANO et al., 1988; Figura 76).

Figura 76. Colheitadeiras realizando a colheita direta dos grãos de lentilha.


C a p í t u l o I I | 119 A preparação da colheitadeira automotriz consiste em equipar a máquina com barra de corte flexível, para ceifar as plantas rente ao solo, e com um conjunto de acessórios (kit; Figura 77) composto basicamente de: a) garfos levantadores acoplados à barra de corte, que levantam as plantas acamadas antes da ceifa; b) sapatas de plástico, que facilitam o deslizamento da plataforma de corte no solo; c) chapa retentora de solo ao longo da plataforma de corte, logo atrás das facas seccionadoras ou uma chapa perfurada na plataforma de corte, que elimina a terra antes de que as plantas entrem na máquina; d) chapa perfurada no alimentador do cilindro trilhador, que elimina a terra antes de que as plantas entrarem no sistema de trilha e) redutor de velocidade, que reduz a velocidade do cilindro trilhador das colhedoras de fluxo radial para ajustar entre 250-500 rpm a fim de diminuir a danificação de grãos (as máquinas de fluxo axial já possuem, incorporado ao seu projeto, um regulador de velocidade do rotor adequado aos grãos); f) elevador de canecas, que substitui o elevador do tipo raspador a fim de reduzir os danos mecânicos nos grãos; g) bandejão perfurado, que elimina a terra dos grãos após a trilha; h) extensão das hélices no centro do caracol, que substitui parte dos dedos retráteis que devem ser retirados do caracol, pois estes provocam embuchamento de plantas e abertura de vagens de lentilha na plataforma de corte. Por outro lado, as colhedoras com mecanismo de trilha axial danificam menos os grãos do que as radiais ou tangenciais. O mecanismo axial é composto de um rotor helicoidal, disposto longitudinalmente na máquina, com comprimento que alcança cerca de 3.500 mm para alguns modelos de máquinas. Mantenha a velocidade do ventilador alta o suficiente para produzir uma amostra limpa, pois as sementes de lentilha podem ser sopradas para fora da colheitadeira.


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Figura 77. Corte esquemático de uma colheitadeira automotriz. Fotos: Embrapa.

COLHENDO COM QUALIDADE A aparência visual do produto final é crítica para as lentilhas. Os mercados alimentares de consumo humano exigem uma amostra de qualidade do produto sem danos, tais como: ausência de grãos quebrados, rachados, descascados, manchados ou danificados pelos insetos. A colheita precoce da lentilha é importante para a obtenção dessa alta qualidade. Os tipos maiores de lentilhas verdes ou grãos secos são mais propensos a rachaduras ou trincamentos durante a colheita e durante o seu manuseio em comparação as lentilhas vermelhas menores ou aquelas com a umidade desejada (12-13%). Recomenda-se regular a colheitadeira para minimizar as rachaduras nos grãos (Figura 78).


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Figura 78. As regulagens realizadas na colheitadeira são importantes na obtenção de grãos de qualidade. Foto: Hawthorne, W.

Pelo fato das sementes maiores de lentilhas verdes estarem mais sujeitas a danos mecânicos, portanto recomenda-se realizar a colheita de manhã cedo com uma velocidade de tambor baixa e usar uma ampla folga entre cilindro trilhador\ côncavo. Os tambores de colhedoras axiais ou rotativos causam muito menos danos às sementes. Use a velocidade mínima do tambor, uma regulagem do côncavo totalmente aberto na frente e meio fechado atrás (Figura ). A semente de lentilha é pesada em comparação com a sujeira do caule e da folha, por isso é seguro usar a tração para remover a sujeira.

DETALHES IMPORTANTES PARA A COLHEITA DE LENTILHA -Colher o mais rápido possível a área plantada, atrasos podem custar caro por se tratar de um material sujeito a deiscência; -Colher no início do dia ou à noite, pois a umidade um pouco elevada do ambiente reduz a quebra das sementes;


C a p í t u l o I I | 122 -Plataformas flexíveis ou de recolhimento para o interior da colheitadeira fornecem melhores resultados em uma variedade de condições. -Sopradores de folhas permitem que a colheita seja feita com a barra de corte bem próximo ao solo garantindo um bom fluxo de alimentação da cultura. As vagens inferiores estão próximas à superfície do solo, portanto, a barra de corte deve se movimentar bem perto do solo. A barra de corte deve estar preferencialmente a cerca de 5 cm do solo, em um ângulo de 20 a 30 ° com o solo. -A assistência de ar, levantadores curtos de colheita e dedos duplos do sistema de corte melhoram a eficiência da colheita. -Frentes abertas podem colher lentilhas com sucesso se a superfície de área for uniforme e a copa da cultura for densa e livre de plantas daninhas. Levantadores na plataforma da colheitadeira são necessários. -Uma barra de corte estendida e assistência de ar reduzirão as perdas na colheita. -A velocidade da colheitadeira não deve ser excessiva para minimizar a probabilidade de rachar e danificar os grãos. -Use um dessecante se as plantas daninhas do verão impedirem a colheita precoce.

COLHEITA DESTINADA A PRODUÇÃO DE SEMENTES A semente de lentilha cultivada para semeadura na estação seguinte deve ser colhida em uma área o mais livre possível de doenças, pragas e plantas daninhas. As plantas daninhas contaminantes podem ser difíceis de controlar na lentilha, e as sementes quando são infectadas com a ferrugem de Ascochyta irão transferir esta doença para a próxima safra. Se for colher grão para semente, as percentagens de germinação podem ser mantidas se os grãos forem colhidos com 12–13% de umidade e, em seguida, são armazenados em silos arejados ou imediatamente classificados e ensacados. A aplicação de herbicida na colheita antes da maturidade da cultura pode reduzir a qualidade do grão e a viabilidade da semente. Portanto, não é recomendado guarda a semente proveniente de lavoura com cobertura vegetal. Deve-se tomar o cuidado extra quando a lentilha for destinada para semente, visando reduzir o trincamento do grão, mesmo que isso signifique fazer uma pequena amostra


C a p í t u l o I I | 123 (incluindo um número limitado de vagens não debulhadas). A colheita cuidadosa dará a melhor qualidade de semente. As colheitadeiras rotativas são mais suaves para a lavoura de lentilha e geralmente causam menos danos aos grãos do que as colheitadeiras convencionais. Para garantir a germinação máxima e uma contaminação mínima de doenças, é necessário delimitar uma área com piquetes onde tenha havido um mínimo de doenças, pragas e infestação de plantas daninhas. Certifique-se de que coletores, caixas, roscas e outros equipamentos da colheitadeira estejam livres de contaminação de cereais, pois esses grãos são difíceis de remover durante o processo de limpeza. Além disso, devem-se observar alguns procedimentos durante as etapas de armazenamento e de manuseio nos processos de beneficiamento, tais como: -As sementes de lentilha são mais sujeitas a danos mecânicos do que a maioria das outras leguminosas; -Minimize o manuseio dos grãos; -Ao usar rosca-sem-fim, execute a rosca cheia e mais lentamente do que para cereais; - As esteiras de correia são mais preferidas (Figura 79);

Figura 79. Limpeza de grãos de lentilhas para remover contaminantes como grãos danificados, cereais e sementes de plantas daninhas.


C a p í t u l o I I | 124 PÓS-COLHEITA: BENEFICIAMENTO Após a colheita, as lentilhas são armazenadas em silos ou outros recipientes nas fazendas ou vendidas e entregues em uma instalação de processamento primário para armazenamento e eventual limpeza. Em regiões onde o armazenamento de grãos na fazenda não é comum, os produtores entregam os grãos de lentilha aos comerciantes imediatamente após a colheita. Neste caso, o comprador pode dispor de depósitos onde as lentilhas são armazenadas a granel, em sacos ou em silos de aço. Onde o armazenamento de grãos na fazenda é comum, por exemplo, no Canadá, as lentilhas são normalmente armazenadas na fazenda em silos de aço e entregues em instalações de beneficiamento primário (UBS) quando exigido pelos contratos de venda. A condição inicial do grão e o ambiente de armazenamento podem afetar a qualidade do processamento. Em alguns casos, as lentilhas passam por uma limpeza grosseira antes do armazenamento, usando telas fixas incorporadas aos sistemas de transporte nas colheitadeiras ou sistemas de transporte de grãos para remover partículas grandes e pequenas dos grãos. Os princípios do beneficiamento primário usados para limpar as lentilhas são essencialmente os mesmos que os dos grãos de cereais. As modificações específicas usadas para processar lentilhas incluem mudanças em elevadores, transportadores e sistemas de armazenamento para reduzir os danos às sementes e aos tegumentos e para manter a alta qualidade visual. Os componentes usados em sistemas de processamento primário são muito específicos em termos de que tipo de equipamento é econômico e necessário em uma determinada região de produção de lentilha. Por exemplo, requisitos específicos para a remoção de sementes de plantas daninhas podem determinar que tipo de equipamento de separação é essencial. A Tabela 4 apresenta um esquema generalizado das etapas do beneficiamento primário, começando com o armazenamento e terminando com o ensacamento das lentilhas limpas. A configuração real em uma instalação de processamento é altamente variável e flexível, dependendo da economia de atender a demanda do consumidor de acordo com um nível de qualidade geralmente acordado com base no fornecimento de lentilhas com diâmetro específico, espessura, cor, dano e especificações de mistura que são acordadas pelos compradores e vendedores.


C a p í t u l o I I | 125 Tabela 4. Esboço geral das etapas envolvidas no processamento primário de grãos de lentilhas. Operação Lentilhas armazenadas

Comentários As condições específicas são específicas do local, podem diferir dependendo do uso final.

Pré-limpeza

Remoção de materiais grossos e finos com base em telas fixas.

Triagem por ar

Remoção de material com base na densidade, forma e tamanho de partícula usando gravidade e fluxo de ar.

Limpeza por alvéolos

Separação física de lentilhas com base no diâmetro.

Separação por gravidade

Separação adicional de lentilhas com base na densidade.

Dispositivos de remoção de pedras

Separação adicional de pedras com base na densidade.

Separação por tamanho

Separação opcional em diâmetro ou espessura com base nos requisitos do cliente.

Classificação de cores

Separação opcional de lentilhas com base na cor.

Embalagem

Entrega do produto final em sacos, sacolas, contêineres, contêineres a granel ou vagões para entrega.

Fonte: Albert Vandenberg.

ARMAZENAMENTO DE LENTILHA O momento ideal de colheita inclui esperar que o teor de umidade seja aceitável para armazenamento. A colheita muito cedo pode resultar em um produto com muito teor de umidade para armazenamento, tornando-o sujeito a deterioração. A semente armazenada não deve ter mais de 13% de umidade. Se for maior, a aeração no armazenamento evitará a deterioração. A colheita geralmente é realizada quando o produto ainda não está pronto para cortar, mas posteriormente é secado o suficiente para armazenar sem danos. Ou seja, nenhum produto é armazenado com mais de 15% de umidade, mas com 12% é o nível de umidade ideal para uma safra colhida de lentilha.


C a p í t u l o I I | 126 Mover grãos úmidos em um dia quente e seco entre dois silos reduzirá o teor de umidade em 1-2%. Neste caso, descarregue as lentilhas lentamente e em quantidades menores do que outras culturas (Figura 80), pois os grãos de lentilha podem ser danificados quando caem em um depósito de altura significativa, sendo então necessário usar equipamentos (por exemplo, escadas de feijão) para suavizar sua queda. Seque-os, resfrie-os, armazeneos no escuro e venda-os o mais rápido possível.

Figura 80. Correia transportadora para mover e elevar os grãos de lentilha com segurança durante o enchimento de silos. Foto: Hawthorne, W.

Danos nas paredes laterais do silo e até mesmo anormalidade podem ocorrer ao esvaziar silos de lentilhas armazenadas. Portanto, armazene lentilhas apenas em silos do tipo caixa de campo (aqueles com paredes baixas) ou preencha apenas parcialmente silos mais altos. E importante destacar que os silos são depósitos adequados para lentilhas.


C a p í t u l o I I | 127 A sanidade dos grãos é importante e, quando são contaminantes por insetos, plantas daninhas ou outros grãos, tornam-se indesejáveis. As presenças de excrementos de animais e de roedores nos grãos e de grãos mofados são inaceitáveis. Os sacos de silo devem ser considerados apenas para armazenamento de curto prazo porque pode ocorrer descoloração do grão de lentilha, umidade pode ser difícil de controlar e o plástico pode ser furado por pássaros, vermes ou pragas. Verifique regularmente se há insetos, mofo ou outros problemas nos grãos armazenados. As sementes excessivamente secas irão trincar e descascar durante a debulha. É preferível debulhar em cerca de 18% de umidade e usar aeração para secar o lote até 14% para variedades verdes e 13% para variedades vermelhas para conseguir um armazenamento seguro. As lentilhas são comumente armazenadas na fazenda por um tempo antes de serem entregues ao processador. Tal como acontece com o grão de bico, é mais comum que as lentilhas sejam armazenadas em um recipiente com fundo de tremonha com aeração. Se a cultura incluir muitas sementes de plantas daninhas verdes, as lentilhas, embora armazenadas com segurança a 14% de umidade, são normalmente limpas ou arejadas o mais rápido possível após a colheita para evitar danos pelo calor. As variedades de lentilhas com tegumento de sementes verdes vão descolorir com o tempo, diminuindo o grau e o preço da colheita. Se não forem mantidas em ambientes frescos e escuros com um teor de umidade de 12%, as lentilhas com tegumento verde podem descolorir à medida que os taninos dentro do tegumento se oxidam. Outros fatores, como alta umidade e altas temperaturas do meio ambiente, também podem causar mudança de cor. Em cada caso, tais mudanças na cor afetam a qualidade e o preço recebido pela safra.

COMERCIALIZAÇÃO DOS GRÃOS DE LENTILHA Quase 90% da safra de lentilhas produzidas nos EUA é exportada, embora o consumo doméstico esteja crescendo. Os mercados de exportação incluem Ásia, Oriente Médio, América Latina, Europa e África. Recentemente, os nichos de mercados para pequenas lentilhas castanhas espanholas (variedade Pardina, demandada pela Espanha; Figura 81) e lentilhas vermelhas (variedade Crimson, demandada pelo mercado asiático)


C a p í t u l o I I | 128 proporcionaram maior lucratividade do que o mercado tradicional de cotilédones amarelos grandes (variedade Brewer). Portanto, um número crescente de acres nos EUA está sendo semeado com lentilhas especiais, como Pardina e Crimson. Os requisitos de qualidade exigidos pelo mercado de grãos de lentilha são apresentados na Tabela 5.

Figura 81. Semente de lentilha variedade Pardina.


C a p í t u l o I I | 129 Tabela 5. Os mercados exigem qualidade e quantidade consistentes de lentilhas. Tipo

Características de qualidade

Comentários

Padrão de recebimento de lentilha vermelha

Lentilhas vermelhas

O tamanho da semente é importante para os mercados (pequeno, médio e grande). A cor da casca da semente é menos importante, mas deve estar virtualmente livre de manchas e ser uniforme em tamanho e cor. Um tegumento cinzamarrom a vermelho é mais comum, com divisões de cor escura (vermelho-laranja) preferíveis em relação a uma cor mais clara (amarelovermelho). A má cor do tegumento da semente pode ser causada por doenças, manchas do tempo, atraso na colheita ou geadas, que também podem afetar a qualidade. A descoloração do cotilédone verde é causada pelo amadurecimento. As

lentilhas

vermelhas

são

consumidas

principalmente divididas ou descascadas. O grão de formato redondo é preferido por melhorar a eficiência

Usar

do

processo

de

divisão. Cereais,

ervilhaca ou sementes de lentilha de outra variedade são os principais contaminantes das lentilhas. Ataque de insetos prejudica a qualidade

Tamanho da semente, ausência de manchas no tegumento, cor do tegumento. Lentilhas verdes O tamanho ideal semente dependerá variedade.

da da

do grão. As lentilhas verdes são usadas principalmente para consumo integral, portanto o grão deve estar livre de manchas e de cor e tamanho consistentes. A preferência do mercado para certas variedades é baseada na cor da semente (palidez de verde) e tamanho da semente. Lentilhas verdes de tamanho maior tendem a ser preferidas, pois são mais competitivas com variedades estrangeiras nos mercados de exportação. O grão que não está manchado, dividido, lascado ou danificado por insetos é importante para a qualidade.

Ao contrário de outras leguminosas, as lentilhas descorticadas (ou seja, lentilhas das quais as cascas foram removidas) são tratadas como um produto processado e são consideradas uma mercadoria não padronizada. As amostras podem ser inspecionadas para fatores de qualidade (por exemplo, grãos danificados, lentilhas sem pele, etc.), mas os grãos sem películas não são classificados. Os padrões nacionais de recebimento de lentilhas são definidos pela indústria de pulsos para a Pulse Austrália. A nota número 1 reflete os requisitos do mercado para um produto alimentar de qualidade. As variedades são segregadas com apenas 1% de variedades fora


C a p í t u l o I I | 130 do tipo permitido. A entrega requer descoloração ou coloração mínima do tegumento da semente (máximo de 1%) e grão de lentilha (máximo de 1% de cor ruim), bem como danos mínimos de insetos ou quebra (defeituosos 3% no máximo) e material estranho ou impurezas mínimas (máximo de 3%) (Figura 82). O dimensionamento através de telas redondas e com fenda também pode ocorrer. Há falha em obter lentilhas que atendam a esses padrões de recebimento, o que pode significar descontos no preço, nova limpeza ou mesmo rejeição do mercadoria, se a decisão do comprador for severa. Um padrão de grau número 2 foi recentemente estabelecido para auxiliar na entrega e comercialização de produtos que simplesmente perdem a qualidade de grau número 1.

Figura 82. Sementes danificadas de lentilha. Foto: Clive Palmer.

Um tegumento ou cotilédone de cor débil é distintamente fora da cor característica da variedade (Figura 83). Ambos são importantes e podem ser causados por colheita atrasada, chuva na colheita, doenças (bolor cinzento ascochyta e botrytis), geada, um final seco, amadurecimento prematuro ou armazenamento deficiente. Manchas na casca da semente não são consideradas cores ruins (Figura 84).


C a p í t u l o I I | 131

Figura 83. Faixa de descoloração. Foto: G McMullen, Pulse Australia; Clive Palmer

Figura 84. A mancha no grão (cores mescladas) não é uma cor ruim, mas um atributo genético. Foto: G. McMullen, Pulse Australia; Clive Palmer.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 132

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