Árvores de Karité (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn)

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ÁRVORE DE KARITÉ (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn) EXTRATIVISMO PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E EXTRAÇÃO DA MANTEIGA

Vicente de Paula Queiroga Editor Técnico

REVISTA CIENTÍFICA


ÁRVORES DE KARITÉ (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn) EXTRATIVISMO PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E EXTRAÇÃO DA MANTEIGA

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA (Editor Técnico)

ÁRVORES DE KARITÉ (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn) EXTRATIVISMO PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E EXTRAÇÃO DA MANTEIGA

1ª Edição

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2022


©Copyright 2022 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA Capa JOSEPH HUNWICK E BLESSING OKPALA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 21-04-2022

Q3a

Queiroga, Vicente de Paula. Árvores de Karité (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn): Extrativismo para a agricultura familiar e extração da manteiga. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga – Campina Grande: AREPB, 2022. 178 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-12-4 1. Árvore de karité. 2. Vitellaria padoxa. 3. Sistema de produção. 4. Colheita. 5. Sementes. 6. Extração. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Título. CDU 631.5

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

A árvore de karité (Vitellaria paradoxa, C.F. Gaertn) é considerada um recurso importante na economia rural. Essa espécie Vitellaria paradoxa, ou comumente conhecida como árvore de manteiga de karité, é uma árvore caducifólia com copa extensa e cresce cerca de 25 m de altura. A casca do seu tronco é cortiçada e resistente ao fogo. É nativa da África Subsaariana, e geralmente encontrada apenas em áreas semiáridas a áridas ao norte da zona de floresta úmida. A sua distribuição forma um cinturão quase ininterrupto de aproximadamente 5.000 km de comprimento por 500 km de largura do Senegal a Uganda, envolvendo 16 países africanos e passando por Burkina Faso, Togo e Nigéria. É uma árvore encontrada em áreas com precipitação de 400-1800 mm por ano. As exportações de manteiga e amêndoas para a Europa e América constituem uma importante fonte de divisas para os países localizados na zona de distribuição de karité. A manteiga de karité exportada é utilizada em cosmetologia, pastelaria, confeitaria e farmacologia. No entanto, a ausência de garantias sobre o nível de demanda internacional e a incerteza sobre o valor dos preços de exportação constituem restrições para o setor do karité. Por outro lado, outras espécies exóticas foram introduzidas, nos últimos anos, no semiárido do Brasil e elas foram bem sucedidas, por exemplo: a algarobeira (Prosopis juliflora (Sw), DC), a acerola (Malpighia emarginata), o nim (Azadirachta indica A Juss), etc. O mesmo caso favorável poderá acontecer com a árvore do karité, inclusive com mais agregação de valor ao produto. Em razão disso, esta obra é uma referência obrigatória para quem está interessado em conhecer o tema de sua exploração ecologicamente extrativista em vários países africanos, principalmente destinada para as comunidades organizadas do semiárido brasileiro que venham, no futuro, a introduzir o karité no Brasil (semente fresca de karité poderá ser importada dos países africanos, mas ela só é geminável até 30 dias após a coleta dos frutos maduros caídos naturalmente da árvore), gerando a inclusão social e a recuperação de áreas degradadas. Portanto, a finalidade deste livro é servir como parâmetro, para a região semiárida brasileira e de acordo com a realidade local, adequada para o melhor estabelecimento do karité, de modo a obter maiores ganhos de produção de frutos para extração da manteiga de karité com alto valor de mercado.

Vicente de Paula Queiroga


SUMÁRIO CAPÍTULO I – SISTEMA PRODUTIVO DA ESPÉCIE Vitellaria paradoxa (BOSQUE DE ÁRVORES DE KARITÉ) – Vicente de Paula Queiroga .........................................................10

CAPÍTULO II – COLHEITA E EXTRAÇÃO DA MANTEIGA DE KARITÉ – Vicente de Paula Queiroga ........................................................................................................................123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................160


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CAPÍTULO I

SISTEMA PRODUTIVO DA ESPÉCIE Vitellaria paradoxa (BOSQUE DE ÁRVORES DE KARITÉ)

Vicente de Paula Queiroga (Editor Técnico)


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INTRODUÇÃO A árvore de manteiga de karité, Vitellaria paradoxa Gaertn, semidomesticada, é um componente importante da flora lenhosa das zonas de vegetação de savana do Sudão e da Guiné da África Subsaariana (LOVETT; HAQ, 2000). Atualmente duas subespécies foram identificadas: V. paradoxa subsp. paradoxa é encontrado na África Ocidental e Central (HALL et al., 1996; SALLE et al., 1991; SANOU et al., 2005; FONTAINE et al., 2004; ALLAL et al., 2008; NYARKO et al., 2012; KELLY et al., 2004), enquanto V. paradoxa subsp. nilotica é comum na África Oriental (Sudão, Etiópia, Uganda e República Democrática do Congo) (GWALI et al., 2012; OKULLO et al., 2004; BYAKAGABA et al., 2011; OKIROR et al., 2012). A forma das árvores é influenciada por vários fatores ambientais e são bem identificados pelos agricultores de acordo com a classificação popular. Durante a estação chuvosa, a árvore produz frutos comestíveis tanto para humanos quanto para animais. Os frutos contêm de 1 a 3 grandes sementes solitárias, ricas em gordura e óleo usadas em uma variedade de finalidades, como culinária (ABBIW, 1990), medicamentos, unguentos para cabelo e pele e como base para a fabricação industrial de confeitaria (CIDELL; ALBERTS, 2006). O óleo também é usado em rituais tradicionais e sociais, como casamentos, funerais, coroações e chuvas (FERRIS et al., 2004; GWALI et al., 2012; HALL et al., 1996; MOORE, 2008). A madeira da árvore de manteiga de karité é usada para carvão, móveis e construção, e o látex para fazer cola (LOVETT; HAQ, 2000). Além disso, as árvores são utilizadas em sistemas agroflorestais que desempenham um papel importante na adaptação às mudanças climáticas, como contribuição para a fertilidade do solo (RAO et al., 2007). Por essas razões, a árvore de manteiga de karité gera uma renda significativa para as famílias. A espécie Vitellaria paradoxa cresce em 21 países sub-saarianos, com V. paradoxa subespécie paradoxa na África Ocidental e V. paradoxa subespécie nilotica no leste da África (NAUGHTON et al. 2015), enquanto a “Manteiga de karité”, extraída das sementes de ambas as subespécies, é o principal óleo comestível para 80 milhões de pessoas, e está crescendo em importância econômica como um importante produto de exportação, que vale por estimativa em US $ 120 milhões anuais (NAUGHTON et al. 2015). Além disso, a madeira desta árvore tem uma variedade de usos locais (combustível como lenha ou carvão, construção de postes, tornando material de utensílios, etc.), e a polpa do fruto fornece alimento para comunidades durante a “estação da fome”. A maioria da produção de manteiga de karité, desde a coleta dos frutos até a produção do óleo, é


C a p í t u l o I | 12 feita pelas mulheres, e o comércio local na manteiga de karité oferece renda para apoiar a educação e dieta alimentar em 18,4 milhões de famílias (POULIOT 2012; SCHRECKENBERG et al. 2006). A Burkina Faso é um país do Sahel localizado no coração da África Ocidental. É limitado, respectivamente, a norte e oeste pelo Mali, a leste pelo Níger, a sudeste pelo Benin e a sul pela Costa do Marfim, Gana e Togo. Como em todos os países da África Ocidental, a população predominantemente rural depende muito dos recursos naturais que constituem o capital básico de sua produção. No entanto, desde a década de 1970, esses recursos naturais sofreram intensa degradação devido aos fatores físicos, agro-climáticos e / ou antrópicos (FAO, 1990; MECV, 2004). Os parques agroflorestais desempenham um papel importante na paisagem africana (BOFFA, 2000). Segundo o mesmo autor, a maioria dos agricultores que praticam a agricultura de subsistência vê as árvores como parte integrante do sistema de cultivo. Durante o desmatamento e a aração, eles poupam espécies agroflorestais com interesses múltiplos: Parkia biglobosa, Vitellaria paradoxa, Faidherbia albida, etc. Serpentié (1996) relata que Vitellaria paradoxa é a primeira espécie de parque nas regiões sudanesas de Burkina Faso, Mali e Nigéria. Segundo Ouédraogo (1995), um levantamento realizado no planalto central de Burkinabé sobre as espécies consideradas primordiais deu os seguintes resultados: Vitellaria paradoxa (59%); Faidherbia albida (7%); Parkia biglobosa (7%); Mangifera indica (6%); e Adansonia digitata (5%). O karité é uma espécie espontânea de grande importância socioeconômica, pois, como principal fonte de gordura vegetal, representa 20% da receita do país ((UNCTAD, 2006) citado por François et al. (2006)), e é geradora de renda para muitas mulheres rurais, protagonistas do setor, reunidas em grupo, associações ou pequenos negócios familiares. De acordo com Devineau (1999) citado por Mapongmetsen et al. (2011), em Burkina Faso, a manteiga de karité ocupa o segundo lugar em alimentos e na fabricação de produtos cosméticos, depois do óleo de palmiste. Teklehaimanot (2004) citado por Lafleur (2008) explica que o karité é a segunda fonte mais importante de sementes oleaginosas para exportação da África depois do óleo de palmiste. De acordo com (INTERNATIONAL TRADE CENTRE (ITC), 2015), em Burkina Faso, os produtos do karité representam o quinto produto mais importante em termos de receita monetária e


C a p í t u l o I | 13 volume de exportação depois de ouro, algodão, carne bovina e gergelim. Os povoamentos de karité estão presentes em 70% do território com uma densidade média de 30 plantas por hectare (FRANÇOIS et al., 2006). Os inventários realizados em várias partes do Burkina Faso mostram que os povoamentos de karité estão envelhecendo em parques agroflorestais devido à regeneração natural insuficiente (OUÉDRAOGO, 1995). O karité (Vitellaria paradoxa C.F. Gaertn) é uma espécie utilitária espontânea com múltiplos usos (alimentício, medicinal, cosmético, etc.), além de interesses socioeconômico e ambiental, mas que não está imune aos processos de degradação. Essa degradação dos povoamentos de karité está ligada a vários fatores, incluindo secas, ações antropogênicas, o ataque de parasitas por animais e plantas e seu manejo inadequado (BOUSSIM et al., 1993). Apesar da crescente importância socioeconômica, os povoamentos de karité só se estabelecem por meio da regeneração natural (LAMIEN, 2006) e são superexploradas, sem qualquer preocupação com a conservação e restauração. De acordo com François et al. (2006), os ensaios de plantio têm sido realizados por pesquisas, mas ainda hoje os parques de karité operados dependem da regeneração espontânea da árvore por semeadura ou por rebentos de tocos. Ou seja, o karité não é cultivado. Nos últimos anos, para garantir a conservação e restauração dos povoamentos de karité e, ao mesmo tempo, permitir o acesso sustentável das mulheres produtoras de manteiga de karité ao recurso, surgiu o projeto de P&D (pesquisa\desenvolvimento) para a domesticação do karité pelos agricultores em Burkina Faso e no Mali. Consistem na transferência de técnicas de regeneração e manejo desenvolvidas por meio de pesquisa e desenvolvimento para as populações rurais, principalmente para grupos de produtores de manteiga de karité. No entanto, até o momento, nenhum estudo sobre os impactos dessas transferências foi realizado. Técnicas para a regeneração e gestão sustentável de povoamentos de karité, testadas e validadas na zona rurl do Sudão durante um projeto anterior ("Valorização dos resultados da investigação em áreas rurais para lutar contra a degradação e envelhecimento dos povoamentos de karité em função da zona climática no Burkina Faso”) são distribuídos aos produtores de manteiga de karité através do projeto do “Institute for Environment and Agricultural Research”-INERA/ OLVEA BF de 2014. Este projeto envolve os seguintes aspectos técnicos:


C a p í t u l o I | 14 - Semeadura direta de sementes frescas dentro e fora dos arbustos; - Plantio de mudas de karité produzidas no viveiro; - Proteção das plantas de karité contra a seca, fogo e gado; - Poda sanitária na árvore contra Tapinanthus da família Loranthaceae (epífitas parasitas).

A transferência dessas técnicas está em andamento em áreas onde as mulheres exploram as árvores de karité das florestas Djuié (Tuy), Kourinion (Kénédougou) e Sérékeni (Kénédougou). Os produtores de manteiga de karité nesses locais foram treinados por uma equipe do Instituto para o Meio Ambiente e Pesquisa Agrícola (INERA) na aplicação dessas técnicas, a fim de fortalecer sua capacidade no manejo dos povoamentos de karité e capacitá-los a conduzir as operações silviculturais adequadas para aumentar a produção de árvores. Em 2015, que corresponde ao ano de partida, duas produtoras de cada aldeia denominadas “mulheres de revezamento” foram selecionadas com base no seu mérito pela empresa Olvea e formadas nas técnicas. Desde 2016, essas mulheres retransmissoras são responsáveis por disseminar a tecnologia para todas as mulheres de sua área. Antes da disseminação em grande escala, é importante avaliar os efeitos desta disseminação tanto no nível ambiental quanto social nas aldeias de controle. Portanto, a avaliação dos efeitos ambientais e sociais da disseminação de técnicas de

regeneração e gestão de karité para e pelos produtores de manteiga de karité deve seguir esta lógica, principalmente na nova região do Brasil em que esta espécie possa ser introduzida. IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL Os principais benefícios ambientais e econômicos produzidos pela cultura de karité nativa do continente africano são: Preservação do agroecossistema: A estratégia nacional para o desenvolvimento sustentável do setor do karité visa desacelerar e até reverter à degradação do parque do karité. Isso se deve ao seu envelhecimento e ao desmatamento atendendo às necessidades energéticas das populações rurais. A estratégia, portanto, propõe medidas para reduzir a dependência da lenha. Também se propõe a promover uma nova economia rural baseada na valorização de resíduos, o desenvolvimento de PFNMs (Produtos florestais não madeireiros) e energias alternativas. Além disso, o karité desempenha um papel fundamental na prevenção da desertificação, ou seja, na conversão da floresta em savana. Com sua presença, o karité pode promover o desenvolvimento de muitas outras espécies,


C a p í t u l o I | 15 com amplos benefícios para a ecologia de Burkina Faso. Infelizmente, conforme indicado anteriormente, Burkina Faso está experimentando taxas alarmantes de desmatamento que ameaçam o equilíbrio ambiental, mas também o desenvolvimento futuro do setor. Além dos benefícios mencionados, a árvore se regenera bem e é tradicionalmente favorecida e protegida pelos agricultores. Como resultado, desempenha um papel significativo na conservação do solo e da água e na proteção ambiental no semiárido da África Ocidental. Também essas árvores mantêm uma cobertura natural permanente do solo formada com folhas secas; contribuem para a redução da erosão hídrica, melhora o microclima; assimilam e fixam o carbono; conservam ou melhoram a fertilidade do solo e constituem em habitat para a biodiversidade. Mesmo assim, a agricultura segue sendo o fator mais importante do desflorestamento no mundo, tornando urgente promover interações positivas entre esse setor e a atividade florestal (ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACION, 2016). Em esse sentido, os sistemas agroflorestais (SAF) consistem na introdução ou retenção de árvores nas fazendas para aumentar, diversificar e sustentar a produção e, ao mesmo tempo, melhorar os benefícios sociais, econômicos e ambientais, sendo importante para a transformação da agricultura convencional em agricultura climaticamente inteligente, uma vez que fornecem aos agricultores rurais fontes adicionais de renda e maiores estratégias de resiliência para se adaptar aos impactos do mercado ou do clima, reduzindo sua exposição aos riscos (ATANGANA et al., 2014; LASCO et al., 2014; MONTAGNINI, 2015; REED et al., 2017). Ao vincular explicitamente alguns dos lucros do comércio do karité aos objetivos de conservação realistas, surgem novas possibilidades de comercialização, com o duplo benefício de gerar mais lucros enquanto financia a regeneração do parque. Para que a indústria do karité melhore seu impacto ambiental, promova a proteção ambiental e permita que as populações rurais lidem com as mudanças climáticas, certas atividades podem facilitar o desenvolvimento ambiental do setor, tais como: a) Aumentar a conscientização das populações rurais sobre o enxerto e outras boas práticas silviculturais, a fim de rejuvenescer a população de karité em terras comunitárias e privadas; b) Definir planos de manejo comunitário para parques de karité, que permitam o estabelecimento de projetos de reflorestamento e conservação; c) Promover interdependências benéficas com outras espécies de árvores resistentes à seca, como o baobá; d) Sensibilizar os grupos comunitários sobre como criar um setor de “carbono zero”; f) Desenvolver tecnologias e


C a p í t u l o I | 16 habilidades relacionadas a fogões melhorados a fim de reduzir a demanda de energia do setor; e) Desenvolver tecnologias e competências relativas à reciclagem de resíduos (torta) de forma a promovê-la como fonte eficiente de energia; ƒ) Desenvolver e implementar o desenvolvimento do agro e ecoturismo em torno da produção de manteiga de karité, a fim de criar fontes adicionais de renda e novos mercados para os produtores rurais; g) Integrar fontes alternativas de energia (biomassa e solar) fora da rede para reduzir as emissões de carbono no processamento de karité; e h) Promover serviços ambientais, como o Programa UN-REDD (Programa das Nações Unidas para a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), e compensar os agricultores pelos serviços ambientais prestados, como o plantio de karité. Econômico. Em Burkina Faso tem uma população de árvores de karité estimada em cerca de 190 milhões de árvores, ou uma média nacional de 30 plantas/ha. A Agência para a Promoção de Produtos Florestais Não Madeireiros (APFNL) estima o potencial produtivo de grãos de karité em Burkina em 850.000 toneladas, que considera ser amplamente subutilizado (ITC, 2015). Estimada em 122.100 toneladas em 2005, a produção de grãos de karité aumentou para 206.000 toneladas em 2011, com um aumento de 68,71% (ITC, 2015). Em 2012, essa produção cresceu e atingiu 275.241 toneladas. O setor de karité está atualmente se beneficiando da crescente demanda global e das tendências de mercado encorajadoras para os próximos anos. Na verdade, o crescimento global do consumo de chocolate está aumentando a demanda por equivalentes de manteiga de cacau, da qual a manteiga de karité faz parte. Além disso, o forte crescimento da demanda por manteiga de karité pelas indústrias de cosméticos naturais confirma a existência de oportunidades concretas para o setor nos próximos anos. O setor do karité hoje representa 7% das exportações do país (ITC, 2015). Em 2011, as exportações de amêndoas e manteiga totalizaram US $ 36 milhões (ITC, 2015). O setor do karité gera renda para cerca de meio milhão de pessoas, 90% das quais são mulheres, que são os principais atores. Essa renda lhes permite suprir as necessidades diárias de suas famílias (mensalidades escolares e saúde), e até mesmo as necessidades da comunidade. No plano econômico, as amêndoas e manteiga são comercializadas no local e no mercado internacional (SANON, 2009). De acordo com Lamien (1996) citado por Sanon (2009) “o preço do quilograma de amêndoas varia entre 25 e 117 francos CFA em Burkina Faso e o da manteiga entre 540 e 1.750 francos CFA. Já para a comercialização de lagartas que atacam a folhagem da árvore de karité, o quilo custaria entre 385 e 600 francos CFA”. Na


C a p í t u l o I | 17 Costa do Marfim, durante a campanha que se estende todos os anos de junho a outubro, a colheita de frutos de plantas selvagens que habitam os parques de karité proporciona a uma mulher produtora de manteiga um ganho estimado entre 85.000 e 100.000 francos CFA (DIARRASSOUBA et al., 2008). Na mesma campanha, a receita total das vendas de amêndoas e manteiga de karité acumulada por uma comerciante em mercados urbanos é estimada em 2.300.000 francos CFA (DIARRASSOUBA et al., 2008). Da mesma forma, os atacadistas de produtos de karité podem lucrar entre 4 e 10 milhões de francos CFA por campanha (DIARRASSOUBA et al., 2008). A comercialização internacional de manteiga de karité e grãos está se tornando cada vez mais importante. As exportações de manteiga e amêndoas para a Europa e América constituem uma importante fonte de divisas para os países localizados na zona de distribuição de karité (BONKOUNGOU, 1987; BOFFA et al., 1996; BECKER; HELD, 2001) A manteiga exportada é destinada às indústrias de cosméticos e chocolate e farmacêuticas (BECKER; HELD, 2001, BUP et al., 2014 citado por SHU-AIB JAKPA et al., 2018). Usos. Os usos tradicionais do karité são múltiplos: -RAÍZES E CASCA. As raízes e a casca são usadas para tratar a diarreia, icterícia e dor de estômago. As infusões de casca de árvore têm propriedades antimicrobianas e são usadas contra a disenteria. A decocção da casca, por outro lado, é usada em banhos para facilitar o parto e estimular a lactação (galactogênicos) entre as mães que amamentam. Além disso, o látex avermelhado que exala de cortes profundos na casca é usado como goma de mascar ou transformado em cola e bolas como brinquedos; -MADEIRA. A madeira é moderadamente pesada e dura. Pode rachar ao secar e deve ser temperado lentamente. É difícil de trabalhar e tende a rachar ao serrar, mas dá um bom polimento. É durável e resistente aos cupins. Tanto o alburno quanto o cerne são resistentes à impregnação com conservantes. A madeira é utilizada para postes, linhas, caibros, pisos, utensílios domésticos e móveis. É uma excelente lenha para combustível, queima com grande calor e pode ser transformada em carvão; -FOLHAS. As folhas são utilizadas na medicina tradicional como enxaguatório bucal ou como infusão para doenças oculares, neuralgia dentária, dores de estômago, dores de cabeça, etc. As folhas, embebidas em água, produzem uma boa espuma para a lavagem. As folhas constituem uma boa forragem para alimentação animal. Elas também são usadas para melhorar a fertilidade do solo;


C a p í t u l o I | 18 -FLORES. As flores são preparadas como salada. Às vezes, são transformadas em bolinhos fritos. O karité é uma árvore de mel muito procurada para o estabelecimento de colmeias tradicionais (BONKOUNGOU, 1987); -FRUTOS: Apesar de suas propriedades ligeiramente laxativas, frutas frescas maduras são consideradas um importante alimento local. Eles são comumente consumidos em regiões de savana porque amadurecem durante o preparo da terra e a estação de plantio. A fruta quando muito madura é comida como lanche, mas também é um alimento de fome. Pode ser consumido fresco (in natura) ou ligeiramente cozido. A polpa pode ser transformada em suco, pois tem um sabor doce; -SEMENTES. O caroço da semente contém gordura, também chamada de manteiga de karité, que é branca, inodora e de alta qualidade. É usado para cozinhar, fazer doces e confeitaria e como um excelente substituto da manteiga de cacau. Estudos sobre os subprodutos do processamento da manteiga de karité mostraram que os íons de metais pesados podem ser removidos de soluções aquosas, por exemplo, águas residuais, usando cascas de sementes de Vitellaria; -MANTEIGA OU GORDURA (ÓLEO). A manteiga extraída da amêndoa é usada localmente como gordura para cozinhar, como combustível para lâmpadas, medicamentos tradicionais e é cada vez mais incorporada ao chocolate. A manteiga de karité (ou óleo de karité) é usada em fábricas para produzir gordura de panificação, margarina, substitutos da manteiga de cacau e vários produtos de beleza umectantes e farmacêuticos. Quando o processo de obtenção é bem feito, a manteiga pode ser armazenada por muitos meses se embrulhada em folhas e mantida fria. A manteiga de karité é uma base adequada para medicamentos tópicos. Sua aplicação alivia dores reumáticas e articulares e cura feridas, inchaços, dermatites, hematomas e outros problemas de pele. A alta proporção de matéria insaponificável, consistindo de álcoois triterpênicos 60-70%, dá aos cremes de manteiga de karité boas propriedades de penetração. A alantoína, outro composto insaponificável, é responsável pelo efeito antiinflamatório e cicatrizante na pele. A gordura é usada tradicionalmente para aliviar a inflamação das narinas. Testes clínicos com pacientes que sofrem de rinite e com congestão nasal moderada a grave, mostraram que a manteiga de karité pode aliviar a congestão nasal melhor do que as gotas nasais convencionais;


C a p í t u l o I | 19 -LAGARTA DO KARITÉ. A lagarta (Cirina butyrospermi), que ataca a folhagem da árvore do karité e muito rica em proteínas, é comida seca ou frita. Propriedades. A manteiga de karité de sementes frescas é branca, inodora e de alta qualidade, enquanto a de sementes velhas é escura e tem gosto amargo. A composição química aproximada do grão por 100 g de matéria seca é: gordura 31–62 g, proteína 7–9 g, carboidrato 31–38 g, matéria insaponificável 2,5–12 g. A composição de ácidos graxos da manteiga de karité é aproximadamente: traço de ácido láurico, traço de ácido mirístico, ácido palmítico 4-8%, ácido esteárico 31-45%, ácido oleico 43-56%, ácido linoléico 48%, traço de ácido linolênico e ácido araquídico 1–2%. As propriedades químicas da manteiga de karité variam em sua faixa de distribuição, Burkina Faso e Uganda representam os dois extremos. O maior teor de ácido oleico foi encontrado em Uganda (57%), o mais baixo em Burkina Faso (45%), A manteiga de karité é um substituto útil da manteiga de cacau porque tem um ponto de fusão semelhante (32-45 °C) e altas quantidades de di-estearina (30%) e um pouco de estearo-palmitina (6,5%) que a fazem misturar com a manteiga de cacau em até 5% sem causar alteração de propriedades de fluxo. Muitos produtos cosméticos, especialmente hidratantes, loções e batons, usam a manteiga como base porque seu alto conteúdo de matéria insaponificável que confere excelentes características de hidratação (Figura 1). A alta proporção de matéria insaponificável, consistindo de álcoois triterpênicos de 60 a 70%, dá aos cremes de manteiga de karité boas propriedades de penetração que são particularmente úteis em cosméticos. A alantoína, outro composto insaponificável, é responsável pelo efeito antiinflamatório e cicatrizante da pele. É usado em cremes dentais e outros produtos de higiene oral, em xampus, batons, loções e cremes cosméticos e outros produtos cosméticos e farmacêuticos. Testes clínicos com pacientes que sofrem de rinite e com congestão nasal moderada a grave, mostraram que a manteiga de karité pode aliviar a congestão nasal melhor do que as gotas nasais convencionais.


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Figura 1. Creme hidratante de manteiga de karité.

A torta de prensagem e as cascas restantes após a extração do óleo são fertilizantes, fonte de alimento para o gado e combustíveis potenciais. Por 100 g de matéria seca contém: proteína 8–25 g, gordura 2–20 g, carboidrato 48–67,5 g, fibra 5–12 g. No entanto, apresenta baixa digestibilidade e propriedades tóxicas atribuídas às saponinas ou taninos. As sementes mofadas contêm quantidades relativamente baixas de aflatoxina, enquanto as amostras comerciais têm um máximo de 20 μg de aflatoxina B 1 por kg. A polpa da fruta contém por 100 g: glicose 1–2 g, frutose 1–2 g, sacarose 1–2 g, ácido ascórbico 200 mg, Ca 36 mg, Mg 26 mg, Fe 2 mg e vestígios de Zn, Mn e Cu. A doçura da polpa é o principal critério de qualidade.

ORIGEM E HISTÓRIA A espécie Vitellaria paradoxa C.F. Gaertn, é originária da zona de savana guineense (Guiné) e sudanesa (Sudão) na África. A planta do karité foi descrita pela primeira vez sob o nome de V. paradoxa por Carl Friedrich Gaertner em 1805. Posteriormente, foi renomeado Bassia parkii G Don em 1838 e depois Butyrospermum paradoxum parkii (G. Don) Kotschy em 1865. O nome botânico atual é Vitellaria paradoxa CF Gaertn (RUYSSEN, 1957). De acordo com os autores Ruyssen (1957) e Terpend (1982), a área


C a p í t u l o I | 21 natural do karité está localizada entre o oeste do Senegal e o leste de Uganda (entre as longitudes 16° oeste e 34° leste). Essa área de distribuição forma uma longa faixa de 5.000 km com largura de 500 a 750 km (GUIRA, 1997) em uma área de aproximadamente 1 milhão de km² (HALL et al., 1996). Os intervalos das duas subespécies de karité (V. paradoxa subsp paradoxa e V. paradoxa subsp nilotica) não se sobrepõem, embora a distância entre eles seja inferior a 175 km (OYEN; LEMMENS, 2002; Figura 2). Com exceção de Gana e Nigéria, onde o karité é encontrado a menos de 50 km da costa, ele é encontrado a mais de 750 km da costa em qualquer outro lugar em Bonkoungou (1987). Hall et al. (1996) indicam que a espécie Vitellaria está presente em 18 países. A subespécie paradoxa é encontrada na parte Ocidental da África e ocorre no Senegal, Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Togo, Benin, Níger, Chade, Camarões e na República Centro-Africana. A subespécie nilotica da parte Oriental do continente ocorre na Etiópia, República Democrática do Congo, Sudão e Uganda. Na Costa do Marfim, o karité é encontrado ao norte de uma linha que vai de Touba a Bondoukou via Bouaké (LOUPPE, 1994). Para Aubréville (1950), Ruyssen (1957) e Guinko (1984) a espécie está ligada à presença de humanos que garantem proteção e dispersão. A zona Sudano-Saheliana, apesar de suas condições ecológicas restritivas, abriga as maiores populações de toda a área do karité. Na verdade, de acordo com IRHO (1952), as populações mais densas são encontradas principalmente no Mali, Burkina Faso, norte da Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin e Nigéria (Figura 3). No entanto, Mali e Burkina Faso são os dois países que se encontram inteiramente dentro da área de predileção da espécie (SANDWIDI, 2012).


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Figura 2. Área de distribuição de Vitellaria paradoxa subespécies paradoxa e nilotica na África. Fonte: Hall et al., 1996.

Figura 3. Área de distribuição de karité na Costa do Marfim (DIARRASSOUBA, 2008).

As virtudes da manteiga de karité são conhecidas há milênios. Historicamente, a manteiga de karité tem sido usada em países africanos. A lenda egípcia diz que a grande beleza da


C a p í t u l o I | 23 rainha Nefertiti foi devido ao uso da manteiga de karité. Também há relatado de que Cleópatra teve ânforas de karité entregues por caravanas especiais e generosamente cobria seu corpo por ser considerado como bálsamo medicinal. Além dos africanos consumirem essa manteiga, as mães usam o seu óleo nos corpos de seus bebês para aliviar as áreas irritadas.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NA ÁFRICA O karité está presente em 16 países africanos e se estende do leste do Senegal a Uganda, passando por Burkina Faso, Togo e Nigéria (HALL et al., 1996). Segundo Guira (1997), o karité não se aproxima da costa marinha em nenhum lugar e sua zona de distribuição forma uma faixa de 5.000 km de comprimento e 400 a 750 km de largura. Bonkoungou (1987) relata que a área global de karité cobre 1 milhão de km². O mesmo autor acrescenta que os povoamentos de karité mais densos são encontrados no Mali, Burkina Faso, ao norte da Costa do Marfim (área chamada V Baoulé), Gana, Togo, Benin e Nigéria. A área de distribuição natural do karité cobre principalmente as regiões da África com uma alta densidade populacional humana (RUYSSEN, 1957). Essa área pode ser atribuída ao Homem, que constitui um importante agente de sua disseminação além dos morcegos ou frugívoros. A essas ações do Homem e das aves, devem-se somar as dos primatas da savana e da água que participam da disseminação da espécie. Segundo Oyen e Lemmens (2002), em Sanon (2009), a área de distribuição das duas subespécies de karité não se sobrepõe. A subespécie paradoxa está presente no Benin, Burkina Faso, Camarões, África Central, Costa do Marfim, Gana, Guiné, Guiné-Bisseau, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Chade e no Togo. A subespécie nilotica é endêmica na Etiópia, Sudão, Uganda e na República Democrática do Congo (BONKOUNGOU, 1987; HALL et al., 1996; Figura 4). No Burkina Faso, o karité estende-se por todo o território, com exceção da parte norte, ou seja, a norte do paralelo 14 (GUIRA, 1997). Schnell (1976), citado por Picasso (1984), relata que a árvore de karité é a árvore típica das florestas claras e secas e savanas arborizadas na zona sudanesa com uma estação seca muito acentuada (5 a 8 meses) e uma precipitação entre 500 e 1.200 mm por ano. Bonkoungou (1987) acrescenta que habita mais em solos arenosos-argilosos e argilo-siliciosos, mas pode crescer em tipos de solo muito variados, mesmo em solos lateríticos decompostos. No entanto, devem-se evitar as terras pantanosas sujeitas a inundações prolongadas (SENOU, 2000; OYEN; LEMMENS, 2002 citado por SANOU, 2009).


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Figura 4. Área de distribuição geográfica do karité. Fonte: Arbonnier, 2000.

BOTÂNICA, MORFOLOGIA, FISIOLOGIA E ECOLOGIA DO KARITÉ -Aspecto Botânico Karité ou "Lodjigue" em Senoufo, "Chi yiri" em Malinké, "N'gouin waka" em Baoulé "Logoudii" em Tagbana, "shea" em inglês (DIARRASSOUBA, 2008) é uma espécie espontânea da zona Sudanês do Sahel (BONKOUNGOU, 1987). Segundo Traoré (1999), o termo "karité ou carité" é um nome para "sarakollé" do oeste do Senegal. O nome em inglês de árvore de karité vem de Bambara do Mali. A palavra karité deriva de Cié que significa árvore em Bambara (daí seu nome em inglês, “Shea” “árvore de karité”). A amostra mais antiga de Vitellaria paradoxa foi provavelmente coletada em 26 de maio de 1797 pelo famoso explorador escocês Mungo Park, mas foi Carl Friedrich Von Gaertner o primeiro a dar o nome binomial "Vitellaria paradoxa" C.F. Gaertn em 1807 (HALL et al., 1996). A árvore é mais conhecida por seu antigo nome Butyrospermum parkii (G. Don) Kotschy (Butyrospermum que significa "sementes de manteiga"; o epíteto "parkii" em homenagem a Mungo Park, o médico escocês que "descobriu" a árvore enquanto explorava o Mali e Senegal. De acordo com Hall et al. (1996), a espécie Vitellaria paradoxa está localizada no reino vegetal da seguinte forma:


C a p í t u l o I | 25 Reino:..........Plantae (Plantas); Sub-reino:........Tracheobionta (Plantas vasculares); Divisão:...............Magnoliophyta (Plantas com flores); Superdivisão:.............Espermatophyta (Sementes); Classe:………………....Magnoliopsida (Dicotiledôneas); Subclasse: ………………… Gamopétales Série: …………………………. Hypogynes Sub-série: ………………………… ... Diplostémones Ordem: ………………………………….. Ebénales Família: ……………………………………. Sapotaceae Tribo: ………………………………………… Mimusopeae Subtribo: ……………………………………… .. Mimusopinae Gênero: ………………………………………..… ... Vitellaria Espécie: …………………………………………………. Vitellaria paradoxa Gaertn F. Subespécies: ………………………………………………. subsp. paradoxa : …………………………………….……………………… subsp. nilotica Variedades:………………………………………………………var. Mangifolium : ………………………………………………………………….var. Poissoni : …………………………………………………………………. var. niloticum Sub-variedades:……………………………………………………… . s.var. viridis : ...............…………………………………………………………… .. s.var. rubrifolius As árvores têm portes muito diferentes, mas as plantas da região de Bobo-SikassoKorhogo-Bouaké são todas do tipo mangifolium (folhas oblongas, mais ou menos onduladas e glabras quando adultas) e pertencem a duas subvariedades: 1. sub-variedade viridis. Folhas verdes, quando novas; oblongas, retusas no ápice, muito glabras quando jovens e de um belo verde brilhante, sempre ondulado nas bordas. Sem vestígios de pelos na parte inferior, mesmo quando muito jovem. Esta é a forma mais comum. 2. sub-variedade rubrifolia. Folhas planas ou pouco onduladas, com ápice arredondado, por vezes emarginado, avermelhado quando jovem, o lado inferior curto a princípio, com pelos ralos. Normalmente, as umbelas florais são menos densas. Bastante disperso no campo e nas plantações. Por outro lado, a subespécie nilotica (da África oriental) é distinta da subespécie paradoxa (da África Ocidental) por denso revestimento ferruginoso nos pedicelos e sépalas externas, os pelos constituintes sendo longos e espalhados e conferindo uma aparência lanosa a essas partes, especialmente nos estágios de botão. Além disso, as flores tendem


C a p í t u l o I | 26 a serem maiores, com comprimentos de estilo de 12-15 cm em paradoxa (HEMSLEY, 1968). O karité (Vitellaria paradoxa ou Butyrospermum parkii), também chamada de "árvore da manteiga" ou "ouro das mulheres", é uma árvore do gênero Vitellaria, que pertence à família Sapotaceae. As amêndoas de suas nozes (caroços) são usadas para fazer a manteiga de karité. Ela cresce na savana na África Ocidental e Central e é uma das espécies ameaçadas de acordo com a IUCN (sigla em inglês para União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais). -Aspecto Morfológico Planta – A árvore do karité tem folhas caducas, como a maioria das árvores na zona de Sudão-Sahel (SANON, 2009). As folhas são simples e dispostas em roseta ou espiral no final dos galhos (OYEN; LEMMENS, 2002). Geralmente a lâmina (limbo) da folha é oblonga, coriácea, brilhante, com bordas onduladas, ápice arredondado, verde claro na face abaxial e mais escura na face adaxial. A nervura principal é protuberante na parte inferior e aparece claramente na face superior. As nervuras secundárias são paralelas, alternadas e variam entre 20 a 40 pares e começam um tanto obliquamente no nível da nervura principal (TRAORÉ; YOSSI, 1987). O comprimento e a largura da lâmina foliar variam respectivamente entre 10 e 30 cm e entre 3 e 7 cm de largura (GUIRA, 1997; COMPAORÉ, 2008; DIARRASSOUBA et al., 2007). Em relação ao comprimento do pecíolo, Soro et al. (2011) encontraram valores entre 4,93 cm e 22,20 cm. O comprimento médio do pecíolo obtido por Soro et al. (2011) é de 8,85 cm. A cor das folhas jovens pode ser avermelhada, esverdeada ou rosada dependendo do ecótipo e são finamente pubescentes com pelos caducifólios (AUBRÉVILLE, 1950; DIARRASSOUBA et al., 2009; Figura 5). As características dos órgãos vegetativos estão resumidas na Tabela 1.


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Figura 5. Planta adulta de karité com a copa no formato bola ou circular. Foto: Diakité Tikida.

Tabela 1. Características dos órgãos vegetativos do karité. Altura

Copa Caule Raiz Folha Limbo

Pecíolo

Características 15 a 20 m Arredondada ou bola (aparência esférica; folhas longas, estreitas e claras; frutos pequenos); (Figura) Guarda-sol (em forma de V; folhas grandes e escuras; frutos grandes); Semiereto (intermediário) Cilíndrico, crescimento muito lento, diâmetro a 1,30 m (> 1 m). Pivotante (comprimento 0,75-1,0 m), lateral (cerca de 40 m). Caduca, simples, arranjo em roseta. Oblongo, borda ondulada, coriácea, brilhante, ápice arredondado, face verde escuro lado abaxial verde claro, nervuras secundárias paralelas, alternadas (20 em 40 pares), comprimento (10-30 cm), largura (3-7 cm). Comprimento médio (8,85 cm) e varia entre 4,93 e 22,20 cm

Fonte: SAIC e Sudene.

A maioria das árvores de karité que dão uma boa produção tem 100 anos de idade e as mais novas não dão frutos até uma idade muito avançada. Esta é provavelmente a razão pela qual os agricultores africanos (Bobos, Senoufos e Siens) nunca a semeiam. O mês de janeiro na região é época de plena floração, mas a floração é escalonada e nem todas as árvores floram ao mesmo tempo. Em 18 de janeiro, as flores ainda eram muito raras em Bobos, mas nos dias 20 a 23 de janeiro, as flores eram abundantes a 100 ou 150 km ao sul de Koutiala, em Niangoloko e Ferké.


C a p í t u l o I | 28 A árvore de karité é abundante em certos lugares, por exemplo, em Niangoloko. Às vezes, observam-se até 50 a 100 árvores de karité por hectare, mas apenas uma parte delas floresce. Além disso, na mesma árvore, todos os ramos não estão florindo. Muitas árvores apresentam flores apenas no topo; outros não produzem e não produzirão esse ano. Não é incomum ver árvores que ainda os têm as folhas velhas em alguns galhos e outros galhos estão despidos de folhas e carregados de flores ou botões de flores (Figura 6). Como se constata na planta, as flores do karité nascem em pseudoumbelas no final de grandes ramos inchados, formados no ano anterior. Cada pseudoumbela geralmente tem de 50 a 100 flores.

Figura 6. Vitellaria paradoxa ou Butyrospermum parkii var. mangifolium. - A. B. C. Diferentes formas de ramos floridos. - D. Ramo de alongamento. Foto:

Aug. Chevalier (1948).


C a p í t u l o I | 29 As flores parecem ser frequentemente poligâmicas heterostilo (as plantas que amadurecem primeiro os estames): machos de estilo curto incluídos no botão da flor que caem logo após a flor se abrir; as hermafroditas, com estilete saindo do botão, são poucos em número (2 a 4 por umbela) e, após a queda da corola, deixam um fruto jovem, inicialmente pubescente. As flores de uma umbela florescem sucessivamente, sendo os machos primeiro. Portanto, a fecundação é normalmente cruzada, o que não exclui que às vezes as flores masculinas de uma umbela possam fertilizar flores longistiladas (estilete comprido) da mesma umbela se sua maturidade sexual for atingida, mas este fenômeno é raro. As folhas novas desenvolvem-se quase imediatamente após a floração. Normalmente, um ou dois ramos de alongamento com folhas alternadas nascem abaixo da umbela (Figura 7).


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Figura 7. Vitellaria paradoxa ou Butyrospermum parkii var. mangifolium. - A. B. Duas plantas com alguns anos diferentes entre si e tendo emitido um crescimento anual (observa-se a lentidão de crescimento): - C. Galho com floração no ano anterior e que produziu acima dos vestígios da inflorescência uma roseta jovem de folhas e com um ramo de alongamento abaixo. - D. Uma inflorescência pauciflorosa (reduzido número de flores) mostrando as bractéolas, uma flor longistilada fértil e uma flor brevistilada. ; 1. Inflorescência encimada por uma roseta jovem de folhas (observar as bractéolas na base das flores e as estípulas na base das folhas. - 2. Botão floral longistilado. - 2'. Botão floral brevistilado. - 3. Flor prestes a abrir. - 4. Ovário cortado lateralmente. - 5. Ovário cortado transversalmente com 7 compartimentos abortados e o oitavo em desenvolvimento. - 6. Flor com corola espalhada. - 7. Dois pistilos, um longistilato (fértil), o outro brevistilado (estéril). -8. Um fruto médio ovoide com uma semente. - 9. Grande fruto esférico com 5 sementes. - 10. Uma semente (noz ou endocarpo) isolada. - 11. As cinco sementes do fruto n ° 9. Foto:

Aug. Chevalier (1948).


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As folhas novas desenvolvem-se quase imediatamente após a floração. Normalmente, um ou dois ramos de alongamento com folhas alternadas nascem abaixo da umbela; alongamse alguns decímetros no máximo durante o ano e algumas incham em rebentos (ou cepas) nas quais são inseridas no ano seguinte, primeiro flores e depois numerosas folhas muito próximas umas das outras numa falsa roseta (Figura 8). É no meio desta roseta de folhas que no ano seguinte se forma o botão do qual nascerão às flores. Um rebento envelhecido apresenta, portanto, uma sucessão de cicatrizes muito próximas abaixo da inflorescência. Portanto, qualquer umbela floral vem de um botão formado de dois anos antes, logo após a penúltima floração. Se o (s) botão (s) dormente (s) não conseguiu florescer, por exemplo, devido à ação de um vento leste seco, os hormônios de crescimento não serão capazes de agir e dois anos depois não haverá ou quase nenhuma flor, mas apenas os ramos de folhas e tocos de rebentos velhos que não podem mais dar flores.

Figura 8. Pequenas cepas (seta) são formadas nos ramos nas quais são inseridas no ano seguinte, primeiro as flores e depois numerosas folhas muito próximas umas das outras numa falsa roseta.


C a p í t u l o I | 32 Na época da floração, os pedicelos das flores são intercalados com bractéolas filiformes peludas muito fugazes. As estípulas filiformes muito semelhantes às estípulas, e também caducas muito rapidamente, são observadas na base das folhas jovens. Imediatamente após a floração, os frutos jovens, numerando de 1 a 5 (mais frequentemente 1 ou 2; Figura 9) com pedicelos mais ou menos inclinados para baixo, evoluem em bagas globulares ou ovoides. Eles levarão cerca de 4 meses para amadurecer. São os fortes ventos que ocorrem na África que precedem os tornados que os derrubam.

Figura 9. Três frutos jovens pendentes formados após floração da árvore de karité (Vitellaria paradoxa).

Ruyssen (1957) relata que as populações locais da África Ocidental chegaram a estabelecer ligações entre o tipo de hábito e as características de forma dos frutos e folhas, precocidade ou não, etc. Diz-se que as árvores com hábito de bola (tipo de copa) têm folhas longas, estreitas e claras e frutos pequenos. Essas árvores também seriam anteriores; a polpa de seus frutos é branda ou adstringente e esparsa; a casca da noz é fina e transparente. Para árvores verticais ou sombrinhas, as folhas seriam largas e de cor mais escura. Essas árvores posteriores teriam um desenvolvimento mais importante do que a primeira; os frutos são maiores; a polpa é abundante e doce; a casca da noz é escura; são boas árvores produtoras, cujas amêndoas são mais ricas em manteiga. Raiz – O sistema radicular do karité é constituído por um pivô central vertical (raiz pivotante) cujo diâmetro diminui à medida que a raiz aprofunda no solo. Segundo Bamba (1985), seu comprimento é de 0,75 a 1 m. As raízes laterais emitidas podem atingir um comprimento de 20 m. A árvore de karité tem um sistema de raízes poderoso que permite


C a p í t u l o I | 33 que se adapte a solos pedregosos, rasos e pobres. A influência das raízes nas lavouras subjacentes parece desprezível, visto que essas raízes começam a se espalhar a uma profundidade de cerca de 40 cm (GUIRA, 1997). Isso minimiza a competição com culturas anuais de portes baixas, que têm uma profundidade de enraizamento muito menor. A raiz axial (pivotante) e o sistema radicular secundário desenvolvem-se fortemente durante os primeiros anos de crescimento. Isso permite que a planta produza novos rebentos quando os originais são danificados por seca ou fogo. Caule e ramificação – Segundo Guira (1997), o tronco cilíndrico cresce muito lentamente e sua ramificação ocorre após 4-7 anos (Figura 10). Segundo o mesmo autor, a casca da árvore é cinza claro e quase lisa quando jovem (até 15 anos). Por outro lado, no tronco dos indivíduos adultos, a casca é cinza escura ou enegrecida, cortiçada e profundamente rachada em placas mais ou menos retangulares que lembram pele de crocodilo (BONKOUNGOU, 1987; Figura 11). A casca apresenta uma fatia grossa, vermelha e exalando látex (ARBONNIER, 2009). Graças à sua casca espessa, o karité é resistente ao fogo. Porém, exposto a queimadas em uma idade muito jovem, pode morrer ou retardar sua frutificação (BOFFA, 2000).


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Figura 10. Padrão de ramificação da árvore de karité: 1. Ereto, 2. Opostas, 3. verticilado, 4. Horizontal, 5. Irregular e 6. Plagiotrópico. Fonte: IPGRI, INIA (2006).

Figura 11. Detalhe da casca do tronco da árvore de karité e caule escurecido que resistiu ao incêndio. Fotos: Emeline Assede e H. C. D. de Wit.


C a p í t u l o I | 35 As árvores jovens de karité (com idades entre 30 a 80 anos), com um tronco de 15 a 30 cm de diâmetro, cortadas após vários anos ao nível do solo, ou 30 cm acima, são frequentemente cortados nas áreas nativas do povo Senufo (os senufo vivem em regiões situadas atualmente nos países da Costa do Marfim, Mali e Burkina Faso) para fazer colunas para cabanas ou bueiros para estradas. Os tocos que permanecem no local não estão mortos, pois emitem ainda rebentos (5 a 15 rebentos por toco) que emergem do solo em um raio de 30 a 80 cm de cada tronco e às vezes mais distante. Os primeiros brotos vão surgir junto ao toco; e os demais nascem à distância de ano para ano. Esses rebentos são deixados no lugar, às vezes são cortados durante a limpeza; então os outros vão nascer. Não há dúvida de que as raízes trançadas do karité, muitas vezes numerosas, ajudam a reter o solo e a impedir a erosão. Esses novos crescimentos (rebentos), muitas vezes numerosos, são frequentemente vistos em campos consociados com milheto e raramente são arrancados. Também esses rebentos nunca são usados para transplante. A maior parte das árvores jovens de karité que se pode ver em campo africano (Lougans da África Subsaariana) é na verdade rebentos nascidos nas raízes a certa distância das plantas-mãe. Folhas – Como a maioria das árvores na zona Sudano-Saheliana, o karité é uma árvore de folha caduca. Segundo Picasso (1984), as folhas de 23 a 25 cm de comprimento, são simples, inteiras e glabras, com pecíolos longos (6 cm a 12 cm), e agrupadas em tufos na extremidade dos ramos (Figuras 12 e 13). Segundo Oyen e Lemmen (2002) e Guira (1997), o limbo o lâmina é geralmente oblonga, com bordas onduladas, coriácea, brilhante, com ápice arredondado, verde escuro em cima e mais claro embaixo. Tem de 10 a 30 cm de comprimento e 3 a 7 cm de largura. A nervura principal aparece nítida na face superior e se projeta na parte inferior. As nervuras secundárias, em número de 20 a 30 pares, são visíveis em claro na face superior e em relevo na face inferior. Elas são paralelas e formam um ângulo bastante amplo com a nervura principal. As folhas na fase juvenil podem ser avermelhadas ou esverdeadas dependendo do ecótipo e finamente pubescentes com pelos geralmente decíduos.


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Figura 12. Frutos pedunculados e folhas pecioladas de karité agrupadas em tufos na extremidade do ramo curto. Fonte: Desenho botânico 2013

Figura 13. Folhas da árvore de karité. Foto: Trasud.


C a p í t u l o I | 37 Flores – A flor, hermafrodita e actinomórfica, desenvolve-se na base do pedúnculo por uma pequena bráctea. O cálice apresenta 3 a 9 sépalas externas e 2 a 10 sépalas internas. As sépalas e brácteas são cobertas por uma pubescência acastanhada densa. Quanto à corola, apresenta de 6 a 10 pétalas glabras, branco-amareladas e unidas na base em tubo e alternadas com as sépalas. Segundo Aubréville (1950), as flores brancas cremosas (Figura 14), agrupadas nas pontas dos brotos, muito perfumadas e melíferas são carregadas por pedicelos delgados (de 12 mm a 25 mm de comprimento) e ascendentes, dilatados abaixo da flor (CHEVALIER, 1943). O androceu é frequentemente composto de 8 a 10 estames dispostos em um único círculo e opostos às pétalas às quais estão unidos pela base de seus filamentos. Anteras, medifixos e extrorsas produzem grãos de pólen brancos brilhantes, visíveis apenas com uma lupa. Os estaminódios apiculados, dentados e alternípetos têm de 4 a 10. O gineceu tem um ovário livre de 4 a 8 óvulos encimado por um estigma papiloso.

Figura 14. Flores de karité de cor branca cremosa. Foto: Rousseau, 2016.

Além disso, o estudo detalhado da morfologia floral realizado por Aubréville (1950) citado por Sanon (2009) revela que a flor inclui: -Um cálice cujo número de sépalas externas varia entre 3 e 9; o número de sépalas internas varia entre 2 e 10. As sépalas e brácteas são recobertas por um pubescente acastanhado;


C a p í t u l o I | 38 -A corola tem um número de pétalas que varia de 6 a 10. As pétalas se alternam com as sépalas e são sem pelos, de cor branca amarelada e fundidas na base em tubo; -O androceu é composto por 8 a 10 estames dispostos em um único círculo. Esses estames são unidos às pétalas pela base de seus filamentos aos quais se opõem. Os grãos de pólen são de cor branca brilhante e podem ser vistos com uma lupa. Floração. A árvore começa a florir com a idade de 10 a 15 anos. As primeiras flores podem ser estéreis. A maturidade da planta é alcançada em 20 - 45 anos e a expectativa de vida total é de cerca de 200 - 300 anos. A queda das folhas, a floração, o rubor e o início da frutificação ocorrem durante a estação seca. As folhas caem principalmente no início da estação seca (Figuras 15 e 16). As árvores raramente ficam completamente sem folhas ou apenas por períodos relativamente curtos. A floração ocorre do início ao meio da estação seca. Cerca de 25% das flores frutificam.


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Figura 15. Aspecto do período de floração da árvore de karité por perda de todas as folhas. Foto: Ji-Elle


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Figura 16. Detalhe da floração da árvore de karité. Foto: Ji-Elle

Inflorescência – A inflorescência do karité é muito característica das Sapotaceae. Sua inflorescência apresenta, nos ramos sem folhas, várias flores agrupadas na extremidade de ramos curtos e grossos (12 a 14 mm de diâmetro) formando umbelas densas compreendendo 30 a 40 flores (Figuras 17 e 18), sendo o número de flores por inflorescência muito variável e às vezes excede a cem (100) flores (OYEN; LEMMENS, 2002). Os ramos são floridos sem folhas, mas cobertos por cicatrizes foliares do ano anterior, formando pequenas marcas abaixo da inflorescência ou nas axilas das folhas terminais (GUIRA, 1997; SANDWIDI, 2012); umbela encimada por um ramo de folhas novas imediatamente após a floração.


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Figura 17. Inflorescência da planta de karité. Foto: Sanon, 2008.

Figura 18. Flores agrupadas na extremidade de ramos curtos e grossos formando umbela, onde os ramos são floridos sem folhas. Fotos: Desenho botânico (2013) e Emeline Assede.


C a p í t u l o I | 42 Segundo Aubréville (1950), a floração ocorre em árvores desfolhadas, em épocas variáveis dependendo da região africana de dezembro a abril. Imediatamente após a floração, os frutos jovens, de 1 a 5, desenvolvem-se em bagas monospermas globulares ou ovoides. Desde a floração, os frutos atingem cerca de 4 meses para amadurecer. Bonkoungou (1987) acrescenta que o intervalo de tempo entre a floração e o amadurecimento dos frutos é de 100 a 150 dias, mas pode chegar a 175 dias. A frutificação é irregular de ano para ano (BONKOUNGOU, 1987; GUIRA, 1997; KELLY, 2005; LAMIEN, 2006). Fertilização - De acordo com Chevalier (1948), as flores são frequentemente poligâmicas heterostilo: os machos de estilo curto incluídos no botão da flor caem logo após a flor desabrochar; as hermafroditas, com estilete saindo do botão, são poucas em número (2 a 4 por umbela) e, após a queda da corola, deixam um fruto jovem, inicialmente pubescente. As flores de uma umbela florescem sucessivamente, sendo os machos primeiro (Figura 17). A fecundação cruzada é predominante, mas a autofecundação também é possível e está ligada à anatomia da flor, cujas anteras são abertas depois da maturidade do ovário. Ainda de acordo com Chevalier (1948), a fertilização geralmente é cruzada, mas isso não exclui o fato de que às vezes as flores masculinas de uma umbela podem fertilizar flores longistilas da mesma umbela se a maturidade sexual for atingida. Os experimentos de Halff (1945) citados por Delolme (1947) em Ferkéssédougou obtiveram 9,6% de frutas definidas por autofecundação contra 23% para as flores controle não ensacadas (sem uso de bolsas; Figura 18).

Figura 17. Inflorescência da espécie V. paradoxa, estágio de abertura de flores masculinas (com anteras deiscentes), e estágio de botões femininos com estigmas protuberantes, marcados com o círculo pontilhados. Foto: Stout et al., 2018.


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Figura 19. Autopolinização da planta de karité. Foto: Nasare et al. (2019).

São os insetos, principalmente as abelhas, que contribuem para a polinização. O vento, quando ocorre, também pode desempenhar este papel. No entanto, observa-se que há poucos insetos nas flores de karité durante o dia. Chevalier (1948) conclui que a saída dos insetos é impedida pelo vento nordeste que sopra com força na época da floração. Sem dúvida, é à noite e de manhã que a maioria dos insetos se alimenta. Em todos os países da zona sudanesa, cada árvore de karité costuma ter uma ou mais colmeias em seus galhos. Frutos - O fruto é uma baga globular ou ovóide de cor verde-amarelada, do tamanho de uma grande ameixa (BONKOUNGOU, 1987). Os frutos nascem em pedúnculos de 1,5 a 3 cm de comprimento (Figura 20). Os frutos maduros são desprovidos de látex, embora exsudem abundantemente no estágio imaturo. O pericarpo, muito carnudo e doce, é consumido durante o período de escassez pelas populações rurais (AUBRÉVILLE, 1950).


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Figura 20. Frutos de karité. Foto: Marco Schmidt.

O fruto jovem é esférico, um pouco deprimido no topo, em torno da base persistente do estilete, coberto por uma pubescência ferruginosa comprimida, rodeado na base pelos 8 lóbulos secos do cálice. Enquanto os frutos adultos são subesféricos ou elipsóides, geralmente de 4 a 5 cm de diâmetro (tamanho de uma ameixa grande), suportados em pedúnculos frutíferos de 18 a 30 mm de comprimento, dilatados no topo que contém as partes secas do cálice. O pericarpo com 4 a 8 mm de espessura e de cor verde depois verde-amarelado, internamente lactescente até perto da maturidade, então quando totalmente maduro, desprovido de látex e carnudo, doce; exocarpo liso ou ligeiramente nervurado longitudinalmente, muitas vezes levando até a maturidade uma puberulência ferruginosa visível principalmente na base do fruto e no topo que apresenta no centro de uma ligeira depressão na base seca do estilete (CHEVALIER, 1943). Objetivando estudar a variabilidade morfológica das árvores de karité que crescem na região de Mandoul, localizada no sul do Chade, África, os frutos maduros foram coletados nos meses de maio e setembro de 2007 e usando características do fruto e do caroço (endocarpo), Djekota et al., 2014 observaram que o comprimento e a largura dos frutos e o diâmetro dos caroços (nozes) dos frutos foram medidos e coletados de três locais da região de Mandoul (Figura 21). O comprimento do fruto variou de 2,5 a 5,5 cm em


C a p í t u l o I | 45 Matekaga, 2,6 a 5 cm em Kemkian e de 2,6 a 5,5 cm em Kol. Avaliando a largura do fruto, neste estudo constatou que ela variou de 2,3 a 4,3 cm em Matekaga, 2,4 a 4,4 cm em Kemkian e 2,4 a 4,3 cm em Kol. O comprimento do caroço variou de 1,9 a 3,6 cm em Matekaga, 1,9 a 3,3 cm em Kemkian e 1,9 a 3,8 cm em Kol. Por fim, a medida realizada na largura do caroço mostrou que seus valores variaram de 1,5 a 2,8 cm em Matekaga, 1,4 a 2,4 cm em Kemkian e 1,5 a 2,6 cm em Kol.

Figura 21. Características morfológicas de frutos e caroços (nozes). (A) Fruto ovoide; (B) Fruto esférico; (C) Fruto elíptico; (D) Caroço ovoide; (E) Fruto esférico; (F) Fruto elíptico. Fotos: DJEKOTA, C. et al., 2014.

Frutificação. A frutificação começa 10-15 anos após o plantio, mas a produção total ocorre em 20-30 anos. A produção de frutos é muito irregular e os frutos levam cerca de 4 meses do final da floração para atingir a maturidade (PICASSO, 1984). De acordo com Bonkoungou (1987), as árvores de karité de bosque ou pomar frutificam melhor e dão frutos maiores em comparação com as de formações naturais (nativas; Figura 22). Segundo o mesmo autor, aos 50 anos de idade, a árvore do karité ainda é pouco produtiva, e só aos 80 ou 100 anos atinge a sua plena produção. Vários autores explicaram a irregularidade da produção de frutos entre indivíduos de uma mesma área e de um ano para outro. Picasso (1984); Guinko et al. (1988); e Bagnoud et al. (1995) relatam que essa irregularidade está ligada à existência de fatores de determinismo da produção. Sua produção média é de 20 kg de fruto por árvore. A árvore dá o máximo


C a p í t u l o I | 46 de frutificação entre os 50 e 100 anos, o que é um grande obstáculo ao seu cultivo. De acordo com Guinko et al. (1988), as variações na produção são decorrentes de distorções de polinização. Eles acrescentam que apenas 25% das flores hermafroditas conseguem frutificar após a fecundação.

Figura 22. Árvore de karité (Vitellaria paradoxa) em estádio de frutificação.

Por sua vez, Bagnoud et al. (1995) consideram que há uma tendência a heterogeneidade ao nível da região e uma provável importância para a polinização. Picasso (1984) justifica isso pela precocidade da floração que é a garantia de um bom ano de produção, sendo que a floração pode ser acelerada por uma chuva na estação seca. Por outro lado, Delolme (1947) põe em jogo outra teoria. Depois de monitorar 9 árvores ao longo de 10 anos na estação Saria em Burkina Faso, ele concluiu que um ano de boa produção segue pelo menos um ano ruim, a próxima boa produção poderá depender das condições climáticas. Serpentié (1996) após notar sucessões de bons anos de produção no Mali (1939-1940; 1950-1951; 1975-1976-1977) mostra os limites desta teoria. De acordo com Desmarest (1958) citado por Sallé et al. (1991), em uma dada população de árvore de karité, apenas 26% são bons produtores, enquanto quase metade não tem importância econômico quando se considera a produção de frutos. Independentemente do ano, 15% das árvores são bons produtores regulares. Segundo estes mesmos autores, existe uma correlação entre a forma das árvores, a densidade da folhagem e a produção. O formato da bola ou


C a p í t u l o I | 47 copa circular representa cerca de 50% dos bons cultivos, o formato da vassoura apresenta próximo ao baixo rendimento. As árvores com folhagem densa geralmente são boas produtores de frutos. Sementes. O fruto apresenta uma semente, raramente duas, muito raramente três, em formato ovoide, cujas cascas são de cor marrom claro ou escuro. Seu tamanho é de 3,5 cm de comprimento por 2,5 cm de diâmetro transversal, às vezes maior ou menor, se a semente é única, é ovoide ou cordiforme; quando o fruto contém duas sementes, estas são achatadas de uma face e posicionada de maneira variável em relação ao hilo (CHEVALIER, 1943). Por sua vez, o caroço da semente ou endocarpo (muitas vezes chamado incorretamente de 'noz') contém na sua amêndoa uma gordura vegetal conhecida como manteiga de karité (Figura 23).

Figura 23. Nozes ou caroços de karité de distintos tamanhos, em Burkina Faso e em Camarões. Fotos. Marco Schmidt; LC-Seminar Uni Hohenheim e O. Eyog Matig.


C a p í t u l o I | 48 Amêndoas. As sementes globosas ou amplamente elipsoides são caracterizadas por seu tegumento brilhante, com uma grande cicatriz ao longo do eixo. A noz contém uma amêndoa que representa 60 a 84% do peso total quando seca (Figuras 24 e 25). O peso médio de uma noz seca é de cerca de 6 g (SANON, 2009). Por meio de 6 kg de amêndoas secas são extraídos 2 kg de manteiga de karité, ou seja, uma proporção de um terço. A amêndoa consiste em dois cotilédones grossos, carnudos e fortemente comprimidos e uma radícula não protuberante (OYEN; LEMMENS, 2002). O teor de gordura das amêndoas secas varia entre 29,1% e 55,5% (DELOLME, 1947).

Figura 24. Nozes (carocos), casca e amêndoas de karité (Vitellaria paradoxa). Foto: shutterstock.com.

Figura 25. Detalhe da amêndoa (dividida em bandas) da espécie Vitellaria paradoxa. Cotilédones divididos de sementes mostrando o local de encaixe do embrião (com setas) e o embrião (e). Foto: Iddrisu et al, 2018.


C a p í t u l o I | 49 Gordura - A manteiga de karité de sementes frescas é branca, inodora e de alta qualidade (Figura 26), enquanto a de sementes velhas é escura e tem gosto amargo. A manteiga de karité de alta qualidade é consumida em toda a África Ocidental como gordura para cozinhar. A gordura refinada tem sido comercializada como margarina e gordura de cozimento. É usado para pastelaria e confeitaria porque torna a massa flexível.

Figura 26. Manteiga de karité de cor branca (amêndoa) em semente fresca. Foto: iStock.

É um substituto útil da manteiga de cacau porque tem um ponto de fusão semelhante (32 - 45 ° C) e altas quantidades de di-estearina (30%) e um pouco de estearo-palmitina (6,5%) que o fazem misturar-se com a manteiga de cacau sem alterar propriedades de fluxo. Nas áreas rurais, as sementes são tradicionalmente processadas por extração de água quente, geralmente trabalho de mulheres. A polpa do fruto é primeiramente removida para a alimentação, ou por fermentação ou fervura. As sementes são fervidas e depois secas ao sol ou em estufa. A secagem ao sol pode levar de 5 a 10 dias. As sementes são quebradas com almofariz e pilão ou pedras; os grãos são removidos pisoteando e novamente secos antes de serem triturados, moídos e amassados para formar uma pasta; a pasta é colocada em água, aquecida ou fervida e a massa fervente é batida até que uma gordura cinza e oleosa se separe da emulsão. A gordura é retirada da superfície e lavada para remover as impurezas. A gordura congelada pode subsequentemente ser submetida


C a p í t u l o I | 50 a refino adicional antes de ser moldada em várias formas. Este método tradicional dos africanos de processamento é ineficiente e exige muita mão de obra. -Aspecto Fisiológico Germinação – Sementes frescas, provenientes de frutos maduros caídos ao solo, germinam rapidamente. No entanto, o início da emergência será observado pelo menos um mês após a germinação, pois o sistema radicular da plântula se desenvolve antes do caule (meristema apical do caulículo) (PICASSO, 1984). Segundo Zerbo (1987), a germinação envolve as seguintes etapas: “o embrião perfura a semente do lado do ângulo agudo da cicatriz (cicatriz da micrópila). O órgão emergente é de cor esbranquiçada e se inclina no solo com todas as aparências de uma raiz (Figura 27). Uma vez no solo, este órgão se expande para 5-7 cm de profundidade. Ao nível desta protuberância nasce um pedúnculo, enquanto a parte inferior incha mais e desenvolve “raízes laterais”. Esse tipo de germinação foi denominado “germinação criptográfica” por Jackson em 1968 por ser diferente dos padrões clássicos de germinação epígea e hipógea (BONKOUNGOU, 1987 citado por SANON, 2009). A semente tem capacidade de germinação em torno de 99% quando seu teor de umidade está entre 41 e 48% (SACANDÉ et al., 2004). No entanto, o poder de germinação pode diminuir para 0% quando o conteúdo de água está entre 35 e 15%, tornando o karité uma espécie recalcitrante (DAWS et al., 2004). As temperaturas favoráveis à germinação estão entre 16 e 36 ° C. As mudas plantadas em meados de maio apresentam os melhores resultados com profundidade de semeadura de 5 cm (PICASSO, 1984).


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Figura 27. Estágios de desenvolvimento de mudas de V. paradoxa. A seta no estágio 6 aponta para a junção entre as partes que se desenvolvem skoto morficamente e aquelas que se desenvolvem fotomofogenicamente. Apenas as mudas estabelecidas estão prontas para o transplante. (1) Germinação. (2) Alongamento do tubo cotiledonar. (3) Protuberância. (4) Aparecimento do broto. (5) Alongamento do broto. (6) Emergência. (7) Estabelecimento. Fotos: Iddrisu et al, 2018.

Uma semente totalmente aberta, seca ao ambiente ou a semente germinada apresenta duas seções distintas nos cotilédones (Figura 28 (d)). Uma das seções se alarga na parte distal, mas se estreita nitidamente e termina sem corte próximo à extremidade proximal. Na seção distal, os cotilédones são separáveis e a semente é, portanto, referida como esquizocotílica (schizocotylous). No lado proximal, os cotilédones são fundidos, por isso são chamados de sincotílicos (syncotylous) (IDDRISU et al., 2018).


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Figura 28. Semente de V. paradoxa mostrando a morfologia do cotilédone. (a) Semente mostrando o local do embrião (seta), (b) Semente tipo 1 com a rafe (fenda) paralela ao embrião; (c) Semente do tipo 2 com rafe perpendicular ao embrião; (d) Semente dividida mostrando onde os cotilédones estão localizados (x) e comprimidos (y) entre si. PE significa extremidade proximal e DE significa extremidade distal. Fotos: Iddrisu et al, 2018.

O corte longitudinal através de uma semente fresca mostra o látex sendo exsudado apenas do local onde o embrião está localizado (Figura 29 (a)). Por outro lado, as sementes seccionadas transversalmente exsudaram látex pelas bordas e também pela fenda entre a rafe cotiledonar (Figura 29 (b)). Quando as sementes são parcialmente secas não exsudaram látex nas superfícies de corte quando seccionadas em qualquer direção (IDDRISU et al., 2018).


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Figura 29. Exsudação de látex (a) no local do embrião (b) superfície seccionada transversalmente e rafe cotiledonar (seta). Fotos: Iddrisu et al., 2018.

A germinação da semente de V. paradoxa é iniciada por um inchaço seguido pela protrusão de uma estrutura semelhante a uma raiz, pseudo-radícula, através da testa com um embrião visível na ponta (Figura 30 (a)). À medida que a germinação continua, a pseudo-radícula cresce mais profundamente no solo, empurrando a radícula para o solo e formando uma protuberância ou inchaço de 2–8 cm. Após 2-3 semanas, as raízes verdadeiras desenvolvem-se a partir da radícula abaixo da protuberância e continuam seu crescimento geotrópico positivo (Figura 30 (a)), enquanto o broto aparece de uma fenda na protuberância da pseudo-radícula e então cresce para emergir acima do solo (Figura 30 (b)). Entretanto, a semente permanece sob a superfície do solo após a germinação (IDDRISU et al., 2018).


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Figura 30. Plântulas de Vitellaria paradoxa; (a) semente germinada mostrando pseudoradícula (ps), fenda cotiledonar (cs) e radícula verdadeira (r) e (b) plântula mostrando nó cotiledonar (cn) e rebento emergido. Fotos: Iddrisu et al., 2018.

Um corte transversal através da pseudo-radícula mostra um tubo oco circundado por uma bainha e vasos laticíferos (Figura 31 (b, c)). A bainha envolve os vasos em uma estrutura geotrópica tubular. Os vasos laticíferos variam de 6 a 8 estendendo-se da semente até a base da protuberância da pseudo-radícula. A plúmula do embrião move-se através do tubo oco central durante a germinação até atingir a protuberância (Figura 31 (b); IDDRISU et al., 2018).


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Figura 31. (a) Características morfológicas da semente de karité durante a germinação, (b) seção longitudinal do tubo da plúmula mostrando uma protuberância, (c) plúmula, (d) seção transversal através do tubo cotiledonar mostrando os feixes de vasos laticíferos (I) e tubo da plúmula (pt) e (d) rebento rudimentar que se desenvolve a partir da plúmula. Fotos: Iddrisu et al., 2018.

A plúmula é única ou ramificada com rizóides ou estruturas semelhantes à plumagem. É de cor branca, mas torna-se rosa à medida que amadurece em um rebento rudimentar (Figura 31 (c, d)). A protuberância, um inchaço de 0,5–0,7 cm de comprimento na base do tubo cotiledonar, é formada quando a plúmula descende, desenvolvendo-se em um broto rudimentar. O exame microscópico revela que o rebento rudimentar tem nós e entrenós com folhas de escamas numerando de 5 a 7. À medida que a germinação continua, o rebento rudimentar se projeta do tubo cotiledonar por meio de uma fenda e cresce para cima através do solo até emergir acima da superfície do solo, sugerindo um tipo de germinação criptogeal (IDDRISU et al., 2018).


C a p í t u l o I | 56 -Aspecto ecológico Os bosques agroflorestais fazem parte da paisagem africana há séculos e as árvores de karité são mais frequentemente encontradas em áreas semiáridas ou subsumidas dos trópicos da África Ocidental (BOFFA, 2000). As espécies dominantes em bosques agroflorestais, como é o caso do karité, são preservadas em campos onde se beneficiam de aração e proteção contra incêndios (BONKOUNGOU, 1987; BOFFA 2000; BAYALA et al. (2008), por causa de seus múltiplos usos. Essas árvores tornam-se então mais vigorosas e produtivas do que as áreas de formações naturais. As árvores dispersas desempenham uma função ecológica fundamental para a conservação do solo e da água e para a proteção do meio ambiente. Segundo Zomboudré (2009), o conteúdo de matéria orgânica e a infiltrabilidade do solo são mais importantes sob as copas das árvores de karité nos bosques e nos pomares.

TÉCNICAS DE REGENERAÇÃO As nozes de karité desempenham um papel importante na segurança alimentar das populações rurais da África Subsaariana. Elas servem como a principal fonte de sustento para muitas pessoas que vivem no norte de Gana (IRVINE, 1961), especialmente porque se tornam disponíveis durante o período de escassez de alimentos (abril a julho de cada ano). Com toda a importância social e econômica da árvore de karité, suas nozes ainda são coletadas da natureza porque a planta de karité tem uma longa fase juvenil (período antes da floração), que dura de 10 a 25 anos, o que tem impedindo os agricultores de cultivar a planta. O crescimento da árvore a partir da semente é lento, atingindo a maturidade após aproximadamente 30 anos (DALZIEL, 1937), com uma vida média de 250 anos. A dificuldade envolvida na propagação vegetativa de árvores de karité limitou o cultivo de outras espécies de alto rendimento e maturação precoce, o que impediu a sua domesticação. Atualmente, o método mais confiável de propagação de V. paradoxa é a partir da semente. Este método de propagação não é isenta de problemas, pois as sementes de karité são recalcitrantes e perdem sua viabilidade logo após a colheita. A propagação vegetativa tem uma vantagem sobre a propagação seminal ao garantir a perpetuação de progênies verdadeiras de alto rendimento e para a produção uniforme de porta-enxertos para uso em


C a p í t u l o I | 57 enxertia, uma técnica que está ganhando destaque na sub-região da África Ocidental (AKAKPO et al., 2014). Para Bonkoungou (1987), a regeneração natural do karité por meio da semeadura encontra muitas dificuldades, pelo fato de que é uma espécie que se regenera abundantemente mais apenas na área sob a copa dos pés. A disseminação secundária dos frutos é garantida por pássaros, morcegos, macacos, elefantes (NANDNABA, 1986), esquilos, lebres, enxurradas e humanos (KELLY, 2005). Por outro lado, Picasso (1984) relata as diferentes técnicas de regeneração e plantio já testadas em Vilellaria paradoxa como segue: a)Semeadura de sementes: testes demonstraram que a germinação de sementes frescas é facilmente realizada com uma capacidade de germinação de 90%. Este poder de germinação dura no máximo 1 mês. Ou seja, a semente não deve ser seca, mas semeada o mais cedo possível, porque sua viabilidade é muito curta. Portanto, é aconselhável usar apenas sementes que caíram da árvore pelo menos de 8 a 10 dias e que provêm de frutos bem maduros. A emergência começa cerca de 40 dias após a semeadura. Quando as sementes frescas são usadas, a germinação é de 90 - 97% a 25 - 30 °C. Armazenar as sementes a 25 °C por 70 dias e 140 dias resultou em 96% e 88% de germinação, respectivamente. A semente deve ser plantada diretamente no campo (Figura 32) ou no viveiro. Os canteiros de sementes são feitos de uma mistura de composto orgânico e areia (Figuras 33 e 34). Existe uma diferença altamente significativa entre as profundidades de 3 cm, cm e 5 cm, sendo esta última a melhor.


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Figura 32. Enchimento dos sacos de polietileno com uma mistura de composto orgânico e areia para a produção de mudas de árvores de karité no viveiro telado. Fotos: Joseph Hunwick.


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Figura 33. Produção de mudas de karité em viveiro rústico. Foto: Doc.Player.fr.

Figura 34. Muda de karité plantada no campo. Foto: B. Bastide (2015).

b) Estacas: as estacas de caules e raízes foram testadas combinadas com vários tratamentos (estacas em dilatação, estacas sob uma folha e entre duas folhas, uso de hormônios de crescimento). Em estudos com 10.000 estacas, não houve resultados


C a p í t u l o I | 60 positivos. A exsudação de látex interfere no enraizamento das estacas e na enxertia. Uma taxa de sucesso de 25% pode ser alcançada no enxerto se o rebento for embebido em água por algumas horas para permitir a drenagem do látex. Os cortes do caule da árvore de karité foram experimentados em condições de neblina e sem neblina. Em um experimento de Yeboah et al. (2009) para investigar o desempenho do enraizamento de estacas de karité lixiviadas em diferentes meios de enraizamento (mistura de solo superficial e areia (1:1 v / v), areia e casca de arroz) com ou sem tratamento com auxina, os autores descobriram que as porcentagens de enraizamento variaram de 67,6% para estacas enraizadas em casca de arroz e tratadas com Seradix (ingrediente ativo - ácido indol butírico) sem lixiviar as estacas para 0% e em estacas lixiviadas sem tratamento com Seradix. Embora a lixiviação de estacas tenha sido citada na literatura por ter promovido o enraizamento de estacas, a duração do período de lixiviação favorece a formação de raízes (HARTMANN et al., 2002). No experimento realizado por Yeboah et al., (2009) a lixiviação por período muito longo (24 horas) pode ter resultado no baixo enraizamento (20%) observado. Em outro estudo, a iniciação da raiz ocorreu em resposta a uma imersão basal de 48 horas em uma solução de IBA a 20 mg / litro (ppm), com a maior resposta obtida quando a auxina foi aplicada 4 ou 5 semanas após as estacas serem inseridas nos substratos de enraizamento desde o início da brotação (Figura 35) e o crescimento dos rebentos são vitais para a sobrevivência das estacas propagadas (HARTMANN et al, 1990). Além disso, as estacas do caule submetidas à embebição prolongada de 24 horas a 100 ppm enraizaram melhor (59,5% ± 8,33%), enquanto as estacas com pulverizadas foliar apresentaram o pior sucesso de enraizamento (11,9 ± 3,06 - 23,8% ± 4,16%).


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Figura 35. Brotação de estacas de V. paradoxa, antes da formação da raiz, tratadas pelo Ácido Indol Butírico (IBA). Foto: Okao et al. (2016).

Em dois experimentos conduzidos por Akakpo et al. (2014) tinham por objetivo investigar os efeitos do meio de enraizamento e das concentrações de ácido indol 3butírico (AIB) na formação de raízes adventícias em estacas retiradas de árvores cortadas de karité. Os resultados indicaram que 3000 ppm produziram significativamente (p <0,05) melhor enraizamento (57,5%) do que 5000 ppm (30%), 7000 ppm (45,0%) e o controle (7,5%). Embora os níveis de açúcares solúveis (SS) e fenóis livres totais (TFP) no corte foram significativamente (p <0,05) maiores no final do experimento (após o tratamento com IBA) em comparação com o início (antes do tratamento com IBA). As tendências de SS e TFP observadas não explicam claramente as diferenças de enraizamento encontradas entre os níveis de IBA investigados (Figura 36). A formação de calosidades foi significativamente (p <0,05) maior (35,0%) no controle (sem AIB). Geralmente, a formação de calos diminuiu com o aumento da concentração de IBA. No experimento com meio de enraizamento (substratos), o enraizamento foi significativamente (p <0,05) maior no meio de casca de arroz (35,0%) em comparação com o de fibra de palma (18,3%), serragem (14,1%) e solo superficial (16,7%).


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Figure 36. Estacas tratadas com IBA de karité após 90 dias de pegamento. Fotos: Akakpo et al., 2014.

c) Estratificação ou alporquia: o processo de "estratificação" com ensaios de tratamento com auxina resultou na emissão de uma radicular após três meses sobre a estratificação (PICASSO, 1984). Fazendo o anelamento em ramos bem endurecidos e cobrindo-os com musgo esfagno úmido (substrato de jardinagem muito eficiente) em um invólucro plástico, raízes jovens e bem formadas foram obtidas em vários rebentos. De acordo com Zerbo (1987), a alporquia terrestre realizada no início de setembro tem dado os melhores resultados do que a alporquia aérea. d) Enxertia: Apenas a enxertia da gema terminal teve sucesso entre vários outros métodos de enxertia testados. O enxerto de karité em outras sapotáceas (Achras sapota, Chrysophyllum caïnito, Manilkara multinervis) teve algum sucesso, mas as pesquisas infelizmente pararam. O enxerto pode acelerar a frutificação da árvore (Figura 37). Em


C a p í t u l o I | 63 experimentos em Burkina Faso, algumas mudas enxertadas começaram a dar frutos um ano após a enxertia.

Figura 37. Jovem árvore de karité enxertada tendo produzido (a) botões de flores e (b) folhas após eclodir ou desabrochar no viveiro. Fotos: Yao et al (2019).

Essa técnica de enxerto de karité visa melhorar a produtividade dos bosques agroflorestais existentes e também fornece material vegetal melhorado para as plantações de árvores de karité. Para conseguir um bom enxerto, os garfos de enxerto deverão ser coletados de árvores (karité; Figura 38) de elite previamente identificadas e depois multiplicados por enxerto em porta-enxertos em viveiro ou habitat natural (Figura 39). As técnicas de "enxerto em fenda simples" e "enxerto lateral no alburno", são mais acessíveis no mundo rural (YAO et al., 2019).


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Figura 38. Identificação e características visuais de um galho vegetativo na árvore de karité: a). Ramo florido identificado entre os ramos terminais da árvore; b) e c). ramo de floração inchado na extremidade e de aparência mais áspera; d). ramo de floração colhido e desfolhado. Fotos: Yao et al. (2019).


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Figura 39. Porta-enxerto jovem de karité enxertável identificado em (a) viveiro e (b) no campo. Fotos: Yao et al. (2019).

Enxerto lateral em fenda simples. Os garfos de enxertos assim retirados são imersos em solução diluída de alvejante (3 gotas de alvejante por litro de água limpa) por 10 min e depois embebidos em outra solução de fungicida (dosagem de acordo com a prescrição do rótulo ) por 15 min. Os enxertos assim tratados são envoltos em papel absorvente ou pano limpo (saco de juta) embebido em água limpa, etiquetado e guardado em refrigerador ou outro recipiente limpo com tampa para reter a umidade (Figura 40). Os enxertos assim preservados podem manter sua viabilidade por uma a duas semanas (YAO et al., 2019). As etapas 1 a 5 mostram como realizar enxerto de karité de fenda única: a). Jovem árvore de karité enxertada no viveiro; e b). Jovem árvore de karité enxertada no campo (Figura 41).

Figura 40. Coleta e acondicionamento dos garfos coletados em um refrigerador ou recipiente com tampa que pode reter umidade.


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Figura 41. Etapas na realização de um enxerto de karité de fenda única. Fotos: Yao et al. (2019).


C a p í t u l o I | 67 Enxerto lateral no alburno da árvore de karité: O uso mais comum no contexto de multiplicação de frutas cítricas, esta técnica encontra o seu lugar no contexto do enxerto de karité. A técnica consiste em ter um porta-enxerto integrado ao longo de todo o comprimento da parte aérea. As etapas 1 a 5 mostram como realizar o enxerto lateral no alburno do karité (Figuras 42 e 43).

Figura 42. Etapas na realização de enxerto lateral em alburno de karité. Fotos: Yao et al. (2019).


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Figura 43. Mudas de árvore de manteiga de carité selvagem enxertadas usando o método de fenda lateral. Foto: Haby SANOU.

Yidana (2004) fez cortes com uma taxa de sucesso de 80%. Sanou et al. (2004), Lafleur (2008) e Grolleau (1989) também conseguiram enxertar o karité com bons resultados. Porém, a renovação do recurso de karité por meio de técnicas de enxertia exige muita organização e treinamento técnico, sua sustentabilidade é problemática e as chances de sucesso costumam ser menores do que em projetos de regeneração natural assistida, enfatiza Lafleur (2008). e) Transplante: o transplante em plena estação das chuvas de mudas desenterradas ou já em viveiro (2 a 8 anos) é perfeitamente possível com a raiz nua, desde que seja feito rapidamente após a poda do caule, com um revestimento das raízes e a supressão quase total das folhas. Após 1 ano, as mudas são transplantadas para o viveiro ou plantadas diretamente no campo. Aquelas cultivadas em sacos plásticos são transplantadas após 1 2 anos. f) Micropropagação: A crescente demanda por manteiga de karité, tanto para uso local quanto industrial, exige a domesticação e o manejo necessários da árvore de karité. No entanto, a superexploração de sua madeira para a produção de lenha e carvão fez com que a atual União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) desse status da árvore de quase ameaçada a vulnerável (IUCN, 2018). As populações de árvores de manteiga de karité são provenientes de regeneração natural, cultivo desprotegido e desprovido de manejo técnico. A polinização cruzada desses


C a p í t u l o I | 69 povoamentos manejados de maneira selvagem resultou em indivíduos heterozigotos e produziu uma cultura não confiável em termos de quantidade e qualidade (LOVETT; HAQ, 2013). No entanto, os métodos vegetativos, como enxertia, brotamento, estacas e alporquia, só produziram sucesso limitado (FRIMPONG; ADOMAKO, 1989; YEBOAH et al., 2010). A micropropagação de espécies arbóreas lenhosas é agora um método amplamente utilizado na regeneração e conservação de germoplasmas (LOVETT; HAQ, 2013). A importância da Vitellaria paradoxa exigiu sua inclusão no projeto de florestamento em andamento na África, que requer a produção em massa de suas mudas. A árvore da manteiga de karité produz sementes ricas em óleo que são importantes para as indústrias de cosméticos, alimentos e nutrição. É uma árvore de folha caduca que poderia sobreviver na savana seca e ajudar a resistir à invasão do deserto. No entanto, a superexploração de sua madeira para a produção de lenha e carvão fez com que a atual União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) desse status da árvore de quase ameaçada a vulnerável (IUCN, 2018). Além disso, diante da necessidade de produzir variedades superiores verdadeiras para capturar características genéticas superiores levaram a pesquisas sobre a propagação clonal desta árvore (RÆBILD et al., 2011). Portanto, a propagação in vitro desta espécie pode ser um meio viável para sua propagação em massa. Dois hormônios vegetais são necessários: Ácido Giberélico (GA3) e Benzil Amino Purina (BAP) foram usados para cultivar a planta em diferentes combinações, perfazendo seis tratamentos (A-F) com 6 repetições em cada grupo. As combinações incluem 1,5 / 0; 1,5 / 1,0; 1,5 / 1,5; 2,0 / 0; 2,0 / 1,0; 2,0 / 1,5 mg / L de GA3 / BAP, que foram usados para cultivar estacas nodais de 2 cm de V. paradoxa em meio de cultura MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962; Figura 44). O tratamento F (com 2,0 / 1,5 mg / L GA3 / BAP) produziu o maior número de folhas (2,4 ± 0,6, 3,2 ± 0,8) e o maior comprimento do rebento (1,1 ± 0,3 cm, 1,4 ± 0,5 cm) às 4 e 8 semanas após Inoculação (WAI), respectivamente. Os resultados deste estudo mostraram que a aplicação de hormônios que aumentam o crescimento para a regeneração de espécies de árvores importantes pode fornecer meios para a sua propagação em massa de modo a atender a necessidade de projetos de florestamento.


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Figura 44. Placa: Crescimento e desenvolvimento de plântulas de V. paradoxa em meio MS (100% de sais basais) suplementado com A: 1,5 / 0, B: 1,5 / 1,0, C: 1,5 / 1,5, D: 2,0 / 0,0, E: 2,0 / 1,0 e F 2,0 / 1,5 mg / L GA3 / BAP.

CICLO FENOLÓGICO Desfolhamento. As folhas da árvore de karité são caducas e caem todos os anos. A perda de folhas geralmente ocorre durante a estação seca em outubro-novembro, mas pode ser adiada até maço, dependendo da árvore ou do ano (PICASSO, 1984). A queda das folhas é fortemente influenciada pela distribuição das chuvas, coincidindo o início com o fim desta. Suspenso durante algumas chuvas, normalmente retoma depois, assim que aumenta a umidade do solo. Aparecimento de novas folhas. Segundo Picasso (1984), as folhas jovens aparecem quase imediatamente após a floração. Eles geralmente são renovados a cada ano, de novembro a janeiro. Influenciado pelo início do inverno, a nova folhagem começa mais cedo, quando esse fim é precoce. Floração. A floração ocorre durante a estação seca. Novas folhas aparecem imediatamente após a floração. Segundo Aubréville (1950), a floração ocorre em árvores desfolhadas de karité, em épocas variadas dependendo da região de dezembro a abril. Picasso (1984) relata que a insolação desempenha um papel importante no aparecimento das flores. O mesmo autor notou uma segunda floração em algumas plantas da localidade


C a p í t u l o I | 71 de Koupela (Burkina Faso), ocorrendo ao mesmo tempo que a colheita normal, mas com produção limitada. Yidana (2004) citado por Lafleur (2008) indica que o karité possui um sistema de fertilização cruzada e que as abelhas são os principais polinizadores da espécie. Frutificação. O fruto amadurece de março a agosto e a colheita é principalmente de abril a setembro.

MELHORAMENTO A árvore de noz de karité (Vitellaria paradoxa) é uma das árvores nativas mais importantes que crescem na África Subsaariana. Seu produto principal, a manteiga de karité, é usado para fazer ingredientes vitais nas indústrias de confeitaria, cosmética e farmacêutica. Apesar de sua importância, pouco se sabe sobre sua progressão no crescimento desde a germinação até a maturidade. Para fechar essa lacuna de conhecimento, um estudo para avaliar o desempenho do crescimento foi conduzido em coleções de árvores de karité de quatro procedências do norte de Uganda. Os objetivos do estudo eram: estabelecer uma coleção de árvores de V. paradoxa das diferentes áreas principais de cultivo na sub-região do Lango para servir como banco de genes para os programas de melhoramento futuros; comparar o desempenho de crescimento dos diferentes acessos e trazer V. paradoxa à domesticação para evitar o esgotamento daqueles na natureza. O estudo foi esquematizado em um delineamento de parcela sistemática com espaçamento de 4 m x 8 m em agosto de 2011. O crescimento mínimo para todos os acessos foi observado nos primeiros 24 meses, seguido por um ganho de altura abrupto, mas constante, depois, por 20 meses. Os acessos de Palabek registraram a maior altura e número de ramos; enquanto os de Adwari apresentaram um desenvolvimento de ramo mais reduzido. Por outro lado, a expressão de marcadores morfológicos é influenciada pelas condições ambientais. No entanto, os marcadores morfológicos ainda são uma ferramenta de avaliação essencial e poderosa. Na verdade, durante a regeneração de uma coleção de plantas, é essencial ter uma lista de descritores morfológicos altamente discriminantes (YAO et al., 2015). Existem vários descritores disponíveis para o karité (IPGRI; INIA, 2006; DIARASSOUBA et al., 2007; YAO et al., 2015). Esses descritores permitem distinguir de forma fácil e rápida os fenótipos. Os descritores morfológicos revelam uma


C a p í t u l o I | 72 grande diversidade dentro das espécies de plantas (DIARASSOUBA et al., 2007; YAO et al., 2015; Figura 45).

Figura 45. Variação morfológicas de frutos, nozes (caroços ou sementes) e amêndoas. Fotos: © D. AGÚNDEZ.

No karité, descritores como altura do caule (HFUT), altura da copa (HHOU), circunferência do tronco a 1,30 m do solo (CIR), comprimento da lâmina foliar (LLM), largura da lâmina foliar (LALM) ), o comprimento do pecíolo (LPET), o comprimento do fruto (LFRU), o comprimento da noz (LNOI), o comprimento do pequeno eixo do fruto (LAFRU), o comprimento do pedúnculo (LPED), o comprimento do pequeno eixo da noz (LANOI) foram utilizados (DIARRASSOUBA et al., 2007; SORO, 2016). A avaliação fenotípica de características quantitativas e qualitativas pode ser realizada em inflorescências, frutos, sementes, folhas, caule e raízes, etc. Devido à sua importância econômica, estudos de genótipos foram realizados com base em caracteres morfológicos levando à identificação de vários fenótipos, incluindo o V. paradoxa domesticado (CHEVALIER, 1943, 1948; NAFAN et al., 2007; RUYSSEN, 1957; SANOU et al. ., 2005, 2006; UGESE et al., 2010). Em 1943, Chevalier identificou oito variedades com base na variação de frutos e folhas (Cuneata, Ferruginea, Floccosa, Mangifolia, Nilotica, Parvifolia, Poissoni e Serotina). Em 1957, a taxonomia foi revisada por Ruyssen usando formas e tamanhos de árvores, frutos, nozes e folhas levando à descrição de V. mangifolium como uma subespécie contendo duas variedades (Viridis e


C a p í t u l o I | 73 Rubifolia). Além disso, usando a morfologia do fruto, a cor da noz, a forma da copa (Figura 46) e os tipos de habitat, a variação do fenótipo foi observada para a árvore de karité nos Camarões (NAFAN et al., 2007; LAMIEN et al., 2007). Esta variação estava de acordo com a classificação popular que distingue etno-variedades que foi usada pelos agricultores da África Ocidental para selecionar e preservar a árvore de karité (GWALI et al., 2011; LOVETT; HAQ, 2000b). Gwali et al. (2012) usaram caracteres morfológicos de 176 árvores representando 44 etno-variedades em Uganda para estabelecer a congruência entre a variação morfológica e a classificação popular. Seus resultados mostraram uma boa congruência com a classificação popular quando combinaram as características qualitativas percebidas pelos agricultores. Recentemente, Mbaiguinam et al. (2007) realizaram estudos na população de karité da região de Mandoul usando características químicas e concluíram que não houve diferença significativa no teor de ácidos graxos dentro das variedades. Além disso, eles relataram que o perfil da manteiga de karité estava entre as dos Camarões e Uganda. No entanto, pontos substanciais obscuros devem ser tratados, particularmente no Chade, onde o nível de diversidade morfológica da árvore ainda não é bem conhecido.

Figura 46. Forma da copa da árvore de karité: 1. Piramidal, 2 amplamente piramidal, 3 esférico, 4 oblongo, 5 semicircular e 6 elíptico. Fonte: IPGRI, INIA (2006).


C a p í t u l o I | 74 Diversos trabalhos de pesquisa têm contribuído para evidenciar a diversidade morfológica dentro da espécie Vitellaria paradoxa CF Gaertn. Além das características pomológicas (estuda os frutos) citadas como as mais discriminantes no karité, os caracteres foliares, em particular as formas da base, da ponta, pubescência, margem e nervura da folha também são usados para descrever indivíduos em povoamentos de karité (AUBREVILLE, 1950; HUTCHINSON; DAZIEL, 1958; BERHAUT, 1967; BERG, 1985; Figuras 47-49).

Figura 47. Forma de lâmina da folha de karité: 1. Oboval, 2. Elíptica, 3. Amplamente elíptico, 4. Estritamente elíptico, 5. Oblongo, 6. Oboval-oblonga e 7. Oboval-oblonga. Fonte: IPGRI, INIA (2006).

Figura 48. Forma do ápice da folha de karité: 1. Agudo, 2. Acuminado, 3. Retuso e 4. Obtuso. Fonte: IPGRI, INIA (2006).

Figura 49. Forma da base da folha de karite. 1 Oblíquo, 2 Arredondado, 3 Cuneado, 4. Brevemente nervurado. Fonte: IPGRI, INIA (2006).


C a p í t u l o I | 75 As diferentes formas das folhas observadas (Figura 50) dentro dos tipos de vegetação foram oblongas (41,66%), elípticas (27,34%) e obovais (31%). As folhas da árvore estudada apresentam forma quase oblonga com ápice pontiagudo (93%).

Figura 50. Forma de folha coletada da planta de V. paradoxa. Foto: Souberou et al., 2015.

No Chade, cerca de seis morfotipos foram descritos com base em caracteres macromorfológicos ligados à forma do fruto e que se revelaram os mais discriminantes (DJÉKOTA, 2008). Ruyssen (1957) e Boffa et al. (1996) mostraram que na África Ocidental o peso dos frutos colhidos de plantas de karité variava de 10 a 57g.

Na Costa do Marfim, Diarrassouba et al. (2009) realizaram um estudo que se concentrou na análise de 14 caracteres morfológicos qualitativos em 124 a 300 árvores, dependendo dos caracteres, no bosque de karité de Tengréla. Os resultados mostraram a existência de variabilidade na maioria dessas características. Quatro formas da copa (esférica ou bola, vassoura, sombrinha e vertical), 5 formas no fruto (arredondada, ovoide, pera invertida, fusiforme e elipsoide), 4 expressões fenotípicas da cor da noz (marrom claro, marrom escuro, marrom acinzentado e marrom enegrecido), 3 fenótipos de frutos jovens e folhas (verde claro, arroxeado e avermelhado) e 3 orientações de ramos foram observados (Figuras 51-58). Um total de nove morfotipos foi descrito, cinco dos quais são baseados em caracteres morfológicos. A distinção entre morfotipos foi feita principalmente com base na forma e no tamanho dos frutos e folhas. Da mesma forma, Soro et al. (2011) mostraram que o karité apresenta uma variabilidade morfológica significativa dependendo do hábito de crescimento, por um lado, e das medidas das folhas e frutos, por


C a p í t u l o I | 76 outro. Em particular, cinco formas de frutos que permitem diferenciar os tipos de karité foram destacadas (SORO et al., 2011).

Figura 51. Variabilidade da forma da copa do karité: esférica ou bola, vassoura, sombrinha e vertical. Fotos: Diarrassouba et al., 2009.


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Figura 52. Variabilidade da forma do fruto do karité. Fotos: Diarrassouba et al., 2009.

Figura 53. Forma do fruto de karité: 1. Oblata, 2. Esferoide, 3. Elipsoide, 4. Oblonga, e 5. Ovoide. Fonte: IPGRI, INIA (2006).


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Figura 54. As diferentes formas do fruto (à esquerda) e as nozes correspondentes (à direita). Foto: De Oelolme (1947).

Figura 55. Variabilidade na coloração de ramos jovens de karité: verde claro, arroxeado e avermelhado. Foto: Diarrassouba et al., 2009.


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Figura 56. Variabilidade da coloração de frutos jovens de karité. Foto: Diarrassouba et al., 2009.

Figura 57. Variabilidade da cor das nozes de karité. Foto: Diarrassouba et al., 2009.


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Figura 58. Forma da semente de karité: 1. Esferoide, 2. Elipsoide, 3. Oval e 4. Ovoide. Fonte: IPGRI, INIA (2006).

CARACTERÍSTICAS DAS VARIEDADES De acordo com Chevalier (1943), as variedades de karité que mais se destacam são as seguintes: Variedade Mangifolia. Os ramos jovens têm uma puberdade fina, mas são prontamente glabros; folhas muito jovens (lâmina e pecíolo) lilases, amareladas ou ocráceas, recobertas por uma leve camada que desaparece assim que a folha se abre, ou mesmo glabras desde o nascimento. Folhas adultas com pecíolo glabro, rígido, muito delgado, longo (4 a 11 cm); lâmina oblongo-linear, fortemente torcida e ondulada nas margens, 14 a 26 cm de comprimento, com 3,5 a 6,5 cm de largura, totalmente sem pelos e brilhante em ambos os lados; extremidade superior geralmente arredondada, raramente entalhada; base da lâmina frequentemente em forma de cunha, ou folhas com lâmina em forma de cunha e lâmina arredondada na base misturada; nervuras laterais com 20 a 28 pares, muito espalhadas, pouco salientes e pouco visíveis por baixo. Flores em botões recobertos por uma leve camada ferruginoso, ovário finamente piloso com 5 ou 6 óvulos. Frutos de pequeno ou médio porte (4 a 6 cm de diâmetro) ovóides ou esféricos, cobertos com leve puberulência quando jovens; sementes 2,5 cm a 3 cm de comprimento por 18 a 22 mm de largura. Polpa carnosa comestível. É esta variedade que fornece grande parte das nozes de karité do Sudão francês. Distribuição. Está dispersas em muitas localidades: Sudão francês (Négala, Doucolobougou, Koulicoro e Koulouba); Guiné Francesa: Kollangui; de Labé a Mali, a


C a p í t u l o I | 81 1.300 m de altitude; entre Timbó e Faranna; Costa do Marfim: Bouaké e Langouassou em Fétékro, etc. Variedade Parvifolia: Difere da variedade anterior pelas folhas pequenas (4,5 cm a 7 cm por 2,5 cm a 3,5 cm) com 20-22 pares de nervuras secundárias muito finas; pecíolo delgado, rígido, 3 a 4 cm de comprimento. Distribuição: Sudão francês do norte: Macina, de Kiri a Koro. Variedade Cuneata: Folhas pequenas, com lâmina oblonga, ligeiramente alargada no topo, cuneiforme na base, que é assimétrica, com 10-12 cm de comprimento e 2,5 cm a 3,5 cm de largura; as folhas são puberulosas no início, depois glabras abaixo e opacas acima. Distribuição no Sudão francês: Gourma, de Konkobiri a Diapaga. Variedade Serotina: Árvore de tamanho médio, não se espalha, mas com ramos ascendentes. Galhos jovens verdes, ligeiramente ferruginosos. Folhas verdes, vermelhocobre quando jovens consistentemente verdes e brilhantes na parte superior e desprovidas de puberulência, mesmo na juventude extrema, exceto ao longo da nervura central; superfície inferior puberulento-ferruginosa quando jovem, depois glabra. Folhas adultas subcoriáceas, oblongo-elípticas, arredondadas na base, retusas no ápice, 12-14 cm de comprimento, 4,5-5 cm de largura, muito glabro, com 25-28 pares de nervuras secundárias, imperceptível abaixo, plano, mas claramente visível acima. Pecíolo pequeno, de 3,5 cm a grande de 7 cm. Frutos em umbelas densas, 8 a 15 frutos muito tardios, ovoides, 4 a 5 cm de comprimento, 2,5 cm 4 cm de largura, ferruginoso ligeiramente puberuloso na superfície antes da maturidade, depois glabro exceto na base e ao redor do estilete. Polpa branca quando madura, mas branda e sem açúcar, com 3-4 mm de espessura. Sementes de cor avermelhada clara, 3 cm a 3,5 cm de comprimento, por 2 cm a 2,5 cm de largura, lactescente mesmo quando maduro; Cicatriz elíptica terminada na base com entalhe longo. Distribuição: na selva nativa, entre Quétécou e Firou. Esta variedade amadurece seus frutos muito mais tarde que as outras formas; existe na selva de Atacora, na proporção 7 de apenas 1/50 da manteiga de karité existente. Plantas de manteiga de karité do Sudão que apenas amadurecem seus frutos em agosto-setembro e até mesmo no início de outubro.


C a p í t u l o I | 82 Variedade Poissoni. Árvore com hábito ordinariamente piramidal apresenta com brotos jovens e folhas novas cobertas por um puberulum vermelho, comprimidao, rapidamente caducifólia. Folhas adultas subcoriáceas, muito glabras, ovadas-alongadas ou elípticas, arredondadas na base e no ápice, às vezes subcordadas na base e retusas truncadas no ápice; tão largo na base e final quanto no meio medindo 12-16 cm de comprimento e 5,57,5 cm largura; 20 a 25 pares de nervuras secundárias; pecíolos de 5 cm a 6,5 cm, ligeiramente canaliculado e acima, glabro. Pedicelos florais recobertos e cálices com pubescência ferruginosa comprimida. A puberulência dos frutos jovens desaparece precocemente. Ovário com 5 ou 6 óvulos. Distribuição: Montanhas Atacora, entre Toukountouna e Tanguéta, 300-600 m de altitude e Abeokuta, Nigéria. Variedade Férruginea: Folhas geralmente muito grandes (lâmina 20-25 cm. Longa, 1012 cm e larga) arredondadas ou subcordadas na base, cobertas abaixo, mesmo no estado adulto apresenta uma escama ferruginosa mais esbranquiçada no seu comprimento e persistente; superfície superior finamente puberulosa, ápice arredondado ou mesmo dentado. Distribuição: Entre Bassila e Pénésoulou, círculo de Djougou, África. Variedade Floccosa: Galhos cobertos por uma pubescência muito densa. Folhas, inflorescências e frutos - recobertos por uma camada espesso e escamoso, persistindo nas folhas (lado inferior) e frutos até a fase adulta. A forma das folhas é a de varariedade Poissoni; a lâmina da folha mede 15 a 16 cm de longitude por 4 a 6,5 cm de largura; a superfície superior também é ligeiramente peluda quando jovem. Frutos em forma ovoide e muito grande (5 a 6 cm longo e 5 cm de diâmetro), com polpa moderadamente desenvolvida, comestível. Amadurece no final de junho. As sementes têm o dobro do tamanho do Poissoni. Distribuição: entre Djougou e Pobégou (África), em 500 m de altitude. Variedade nilotica (Kotschy) – Apresenta folhas jovens membranosas, ferruginosas e peludas. Enquanto as folhas adultas apresentam com lâmina coriácea, oblongas com uma base frequentemente aguda ou ligeiramente desigual, glabras, inteiras ou mal onduladas nas bordas; nervuras secundárias 20 a 35; ovário globoso com 6-8 células; Estilo áspero na base.


C a p í t u l o I | 83 Distribuíção. Sudão anglo-egípcio: no Nilo, perto de Gondokoro (Knoblecher ex Kotschy) e em - Oubangui-Chari (África Central) encontra-se misturada com a variedade Mangifolia. Subespécie paradoxa. A subespécie paradoxa está em alta demanda porque a estearina do karité é o ingrediente mais necessário e procurado pela indústria global de confeitaria. Estudos químicos confirmam que a subespécie nilotica é geneticamente diferente (ALLAL et al., 2011) e que suas amêndoas são menos ricas em ácido esteárico (18:0) (ALLAL et al., 2013; Tabela 2). Tabela 2. Características de Vitellaria paradoxa ssp. paradoxa versus ssp. nilótica3. Vitellaria Subespécie

País

Perfil de ácidos graxos Triacilglicerídeos (média PAG,%) (Saturado - Não saturado,%) 16:0 18:0 18:1 18:2 S3 S2 N SN2 N3 Nilotica Uganda 4,7 30,7 57,4 5,7 0,0 22,7 41,4 35,9 Sudão do Sul 4,0 30,2 57,0 6,6 Chad 5,3 32,3 54,8 8,1 Camarões 5,5 34,6 51,9 7,8 Etiópia 5,5 37,4 49,8 5,5 Paradoxa Gâmbia 3,8 37,0 49,2 7,7 Senegal 5,0 39,0 47,0 6,5 Nigéria 3,9 40,8 46,6 7,1 0,2 45,4 31,6 22,8 Guiné 4,5 41,3 47,3 5,5 Mali 3,8 42,4 45,5 6,9 0,1 45,6 33,1 21,3 Burkina Falso 3,8 44,1 44,0 6,4 0,0 47,5 32,8 19,7 Gana 4,0 45,6 43,3 6,3 Fonte: 3. Lovett P. N., Manteigas naturais: alternativas de fracionamento, 2014.

Em resposta à demanda do mercado internacional, cadeias de suprimento para paradoxase estão sendo estabelecidas em países produtores dessa variedade politicamente estáveis. Além da indústria de confeitaria, outros mercados de karité, como o de cuidados pessoais, formularam seus produtos para usar a subespécie paradoxa (Figura 59), que é mais competitiva em termos de preço, mais disponível e, de outra forma, tem um ponto de fusão mais alto.


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Figura 59. Flores da árvore de karité Vitellaria paradoxa. Foto: © Jane Stout.

As forças usuais em ação, como confiança, preço, disponibilidade, formulação da receita, conhecimento do mercado, bom marketing e demanda global por karité como um ingrediente cosmético e comestível, tornam a subespécie paradoxa um produto mais atraente para compradores internacionais.

COMPOSIÇÃO DA MANTEIGA DE KARITÉ A manteiga de karité é composta por triglicerídeos (50%), ácidos graxos livres (5%), ésteres de cera (7%) e insaponificáveis. Os insaponificáveis incluem a maioria dos ingredientes ativos da manteiga de karité: vitaminas (A, D, E), ésteres resinosos, conhecidos por suas propriedades cicatrizantes e desinfetantes, fitoesteróis, úteis para células para a fabricação de vitaminas e hormônios e importantes para o crescimento de tecidos, em particular para a renovação das células da pele, depois o látex, uma substância que aumenta a propriedade de filtro solar da manteiga de karité. A manteiga de karité é composta por cinco ácidos graxos principais (Tabela 3).


C a p í t u l o I | 85 Tabela 3. Variação de ácidos graxos na manteiga de karité. Ácido graxos

Média

Mínima

Máxima

Palmítico (16:0)

4,0

2,6

8,4

Esteárico (18:0)

41,5

25,6

50,2

Oléico (18:1)

46,4

37,1

62,1

Linoléico (18:2)

6,6

0,6

10,8

Araquídico (20:0)

1,3

0,0

3,5

A

manteiga

de

karité

contém,

em

particular, catequinas, tocoferóis (vitamina

E), triterpenos (principalmente amirinas, lupeol e butirospermol). O teor químico dos constituintes das frutas de casca rija e da manteiga de karité varia consideravelmente em função da origem geográfica das frutas de casca rija, nomeadamente devido às diferenças climáticas das regiões em causa (HONFO et al., 2014; WARRA, 2014; DHALLUIN, 2018). Quanto à gordura de karité, Hébert (1911) encontrou as seguintes propriedades: “Derrete a 32 °C, solidifica a 19 °C; é muito ligeiramente solúvel em álcool 90%; sua densidade a 32 °C no estado líquido é 0,900; apresenta as seguintes constantes, determinadas de acordo com os métodos clássicos usuais. Índice de acidez (ácidos graxos livres).......................................... 7,7 Índice de saponificação................................................................196 Índice de Reichert (ácidos graxos voláteis) .................................1,1 Índice de Heiner (ácidos graxos não voláteis)............................95,25 Índice de iodo ............................................................................69,6 "A matéria gordurosa, após saponificação com soda alcoólica, depois com a decomposição dos sais de sódio com ácido sulfúrico, forneceu aproximadamente 96% de ácidos graxos, brancos, fundindo a 51° e compostos de uma mistura de ácidos graxos sólidos ou saturados e ácidos graxos líquidos ou insaturados”. A proporção desses dois tipos seria a seguinte: Ácidos graxos insaturados - 33%


C a p í t u l o I | 86 Ácidos graxos saturados - 67% Os ácidos insaturados são líquidos, amarelos, inodoros; eles seriam formados de ácido oleico. Os ácidos graxos saturados derretem a 67-68 °C. Ao precipitá-los com acetato de magnésio e recristalizá-los em álcool, obtém-se uma primeira precipitação que funde a 70 °C, uma segunda funde a 66-67 °C e finalmente uma terceira a 66-67 °C. A primeira porção, segundo Hébert (1911), parece conter principalmente um ácido em CO2, provavelmente ácido araquídico, que funde a 75 °C, enquanto as duas últimas porções se aproximam de um ácido em C18, como o ácido esteárico com um ponto de fusão de 69,2 °C, misturado com um pouco de ácido palmítico C16, fundindo a 62 °C. O karité se tornou internacionalmente famoso há cerca de dez anos graças à indústria de cosméticos. Esse ingrediente, muitas vezes em versão desodorizada refinada (o que o faz perder qualidade), é incorporado em diversos percentuais nem sempre indicados nos rótulos dos produtos cosméticos por suas propriedades nutritivas e restauradoras. O karité tem um teor relativamente alto de tocoferóis (vitamina E; VITRE, 2014) e outras substâncias antioxidantes. Desta forma, possui propriedades hidratantes por conter alto teor de insaponificáveis e alantoína. Na verdade, é muito bem tolerado pela pele; na aplicação, a pele fica lisa e flexível (WEST AFRICA REGIONAL, 2018). Também pode ser usado para acalmar em casos de eczema (dermatite atópica) ou psoríase e é usado na composição de vários produtos farmacêuticos no Ocidente. A polpa, rica em vitamina C, que envolve a amêndoa também pode ser comida com a casca ainda verde, no início da estação das chuvas na África, quando as reservas alimentares das famílias são escassas (SAUSSEY et al., 2005). O sabor da fruta lembra o de um abacate, mas é doce.

CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS A árvore da manteiga de karité é uma planta dos trópicos mais secos das terras baixas, geralmente em altitudes de até 600 metros, embora também possa ser cultivada em altitudes de até 1.500 metros. Ela cresce melhor em áreas onde as temperaturas diurnas anuais estão entre 24 - 38 °C, mas pode tolerar 18 - 43 °C. A planta prefere uma precipitação média anual na faixa de 500 - 1.000 mm, mas tolera 300 - 1.800 mm e cresce


C a p í t u l o I | 87 melhor em uma posição ensolarada, tolerando sombras claras. Tem sucesso em uma variedade de solos, como: argiloso; argila-arenoso; arenoso; solo pedregoso e lateríticos (Figura 60).

Figura 60. Árvore jovem de karité em solo arenoso. Karen Rousseau (2013).

Existem três tipos de solo: - solos pedregosos de textura grossa: são solos de baixo valor agrícola utilizados para a produção de sorgo, gergelim, milheto, etc; - solos siltosos argilosos a franco argilosos na superfície e argilosos em profundidade, são solos hidromórficos com pseudo-gley, quimicamente muito ricos para a produção de milho e algodão; -As plantas também podem ter sucesso em solos lateríticos pobres. A planta de karite prefere encostas coluviais com solos moderadamente úmidos, profundos e ricos em matéria orgânica. Além disso, prefere um pH na faixa de 6 a 7, tolerando 5,5 a 8. Existem duas formas principais da planta:


C a p í t u l o I | 88 1-Subespécie paradoxa que cresce em altitudes mais baixas, principalmente em 100-600 metros, embora possa ser encontrado em até 1.300 metros. A temperatura média anual em seu intervalo é de 25 - 29 °C, com uma precipitação média anual de 600 - 1.400 mm e 5 - 8 meses de estação seca, onde a precipitação é inferior a 50 mm. 2-Subespécie nilotica é encontrada em elevações um pouco mais altas de 450-1.600 metros, onde a precipitação média anual é de 900 - 1.400 mm e há apenas 3-5 meses de seca. Os números fornecidos por Halff (1945) para Ferké (Costa do Marfim) são bastante promissores, ao afirmar que as árvores de karité crescem muito em solo de aluvial mais rico e não é afetada por incêndios florestais há muito tempo. Também considera que o terreno tem uma influência extremamente marcante na produção de karité. Em um ano favorável, a produção pode variar de 1 a 6 dependendo se o solo é bom ou ruim. Assim, uma parcela (com 20 árvores) deu no ano de 1944, 36 kg de amêndoas secas por árvore e outra muito menos fértil (com 10 árvores) deu apenas 5 kg por árvore. É verdade que o fator de fertilidade de cada árvore não é levado em consideração. No ano seguinte, a parcela que rendeu 36 kg de amêndoas por árvore rendeu apenas 2 kg.

SISTEMA DE PRODUÇÃO Para o cultivo do karité orgânico se devem aplicar as melhores condições agronômicas, sem agredir os recursos naturais, ao longo do seu ciclo vegetativo, visando obter um elevado desenvolvimento frutífero e a maior produtividade de uma árvore. Portanto, o cultivo do karité (Vitellaria paradoxa) apresenta um caráter conservacionista e representa um bom exemplo para caracterizar “Sistemas Agroflorestais”, pois pode ser cultivado sob a sombra da própria mata nativa raleada, em associação com outras espécies, sem a necessidade de desmatamento ou em áreas de reflorestamento.

ESCOLHA DA ÁREA A instalação de um bosque comercial deve ser antecedida do conhecimento das exigências climáticas do karité e os terrenos da região semiárida brasileira apresentam a grande vantagem pedológica e topográfica, favorável à lavoura em grande escala, à mecanização extensiva, o que muito contribui para a agricultura em moldes econômicos.


C a p í t u l o I | 89 Sua adaptabilidade a solos arenosos o torna uma melhoria das condições socioambientais em áreas com grande expressão de solos com estas limitações, como é caracterizado o semiárido brasileiro.

PREPARAÇÃO DO SOLO O preparo do solo, para instalação do bosque de karité, realizado de forma correta desempenha um importante papel para o plantio de mudas com 12 meses ou 24 meses de idade; e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das árvores, atingindo o seu ponto de maturação entre 10 a 12 anos. O tipo de cobertura vegetal e as características físicas do solo irão determinar o procedimento a ser adotado no preparo do solo. Uma vez desmatado o terreno destinado ao plantio do karité ou quando se trata de clareira com poucas árvores, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total da área (Figura 61).

Figura 61. Aração com trator versus plantio manual. Foto: Joseph Hunwick.

O não preparo do solo com implementos agrícolas é considerada uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e com raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e a manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção.


C a p í t u l o I | 90 Também o plantio da área de karité com mudas não enxertadas poderá ser realizado no início do inverno, as quais poderão ser preparadas com 12 meses de antecedência no viveiro e, para garantir sua sobrevivência às condições adversas, recomenda-se levá-las ao campo com mais de 24 meses de idade. O preparo mínimo do solo para o plantio de mudas de karité pode ser realizado com a roçadeira de arraste, acoplada ao trator, no terreno de clareira, visando abaixar o mato, antes da operação de abertura de covas. Também pode ser realizado passando o cultivador de tração animal ou minitrator, tipo Tobata (Figura 62) apenas nas linhas de cultivo demarcadas com piquetes posicionados nas cabeceiras, orientando-se por duas estacas de 2 m de altura posicionadas nas duas extremidades (cabeceiras) do campo ou por alguns piquetes distribuídos ao longo de cada linha de plantio. Esse mesmo procedimento de preparação e demarcação é adotado nas demais linhas de plantio subsequentes.

Figura 62. Preparo mínimo no terreno de clareira feito apenas com a roçadeira atrelada ao trator ou passando o mini trator apenas nas linhas de plantio. Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim e Vicente de Paula Queiroga.

Na preparação do solo em toda área para implantação do bosque de karité, procede-se do mesmo modo como para os pomares em geral. Se há tocos, é preciso arrancá-los. Em seguida, ara-se e gradeia-se usando o sistema de tração motorizada do trator (Figura 47). Nos cinco primeiros anos ou mais, é conveniente fazer plantio intercalar com o karité, para cobrir o solo e pagar as despesas de instalação. Assim, as lavouras de feijão, milho, gergelim, sorgo, mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras ou fileiras, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno. Do sexto ou oitavo ano em diante, serão abolidas


C a p í t u l o I | 91 as culturas intercalares, adotando-se em seu lugar a adubação verde com leguminosas nativas e gradações periódicas.

MARCAÇÃO DAS COVAS A primeira fileira de covas é alinhada com três ou mais balizas em linha reta, a qual equivale à linha mestre, medindo os espaços e espetando as estacas bem firmes. Uma vez determinada à primeira linha de plantio, os operários em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando a corda marcada com a fita adesiva colorida no espaçamento exigido para a espécie Vitellaria paradoxa. A segunda linha e as demais linhas são demarcadas paralelamente, aproveitando-se da colocação dos piquetes em suas cabeceiras. Uma vez esticada a corda entre os dois piquetes posicionados nas suas cabeceiras, previamente marcada com auxílio da trena (Figura 63), providenciam-se a marcação das covas e respectiva abertura, visando plantar corretamente o campo de karité no espaçamento, por exemplo, de 10 m x 10 m nos seus dois sentidos, comumente denominado de plantio cruzado.

Figura 63. Corda de nylon marcada no espaçamento de 10 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 92 ABERTURA DAS COVAS E ÉPOCA DE PLANTIO Para obter um bom desenvolvimento das árvores, as mudas de karité devem ser plantadas em solos com profundidade efetiva de, no mínimo, 50 cm. Após as primeiras chuvas de inverno, com o solo ainda úmido, é possível efetuar a abertura das covas. Nos pontos demarcados, a abertura da cova pode ser realizada com enxada ou enxadão e cavadeira (Figura 64), recomendando-se a dimensão de 40 cm x 40 cm x 50 cm de profundidade ou com um perfurador motorizado, projetado para perfurações de solo na silvicultura (Figura 65).

Figura 64. Abertura de covas com a enxada; aplicação de calcário no fundo e nas laterais da cova com base na análise do solo.


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Figura 65. Perfurador motorizado usado para perfurações de solo ou abertura de covas. Foto: Senar (2018).

É importante lembrar que os 20 primeiros centímetros de terra escavada são postos separados dos demais, e quando a muda é depositada dentro da cova, então começa a enchê-la com esses primeiros 20 cm de terra escavada (Figura 66). Em seguida, acrescenta-se o estrume curtido (20 litros) misturado com a terra do subsolo.

Figura 66. Colocar primeiro a terra de cima na cova e depois a terra de baixo ou do subsolo mesclada com estrumo.


C a p í t u l o I | 94 Também a palhada (bagana da carnaubeira) pode ser utilizada como cobertura morta do solo junto a muda de karité (coroamento) para preservá-la do excesso de aquecimento pelo sol, reduzir a evaporação com maior retenção da umidade e abafar em parte as plantas daninhas.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO De acordo com Ouédraogo e Devineau (1996), o karité é prejudicado pela baixa disseminação de suas sementes pesadas, mas é garantida principalmente pelo morcego (morcegos frugívoros). Isso explica a forte regeneração sob as copas das plantas-mãe. Em áreas com cobertura basal pobre, a água do escoamento leva embora certas nozes que, mantidas na base dos brotos dos troncos, aluvião e arbustos, germinam com eficiência (Figura 67).

Figura 67. Plântula de karité germinada sob um arbusto de Pteleopsis suberosa na comunidade rural de Sérékéni, Burkina Faso. Foto: B. BASTIDE, 2015.

Segundo Jackson (1968), a semente do karité tem germinação criptogênica. Começa com o desenvolvimento de um corpo de reserva subterrâneo favorável à resistência, à competição, ao fogo e à estação seca. Este tipo de germinação constitui uma estratégia de


C a p í t u l o I | 95 adaptação eficaz da espécie se houver o tempo necessário para transferir as reservas da semente. No primeiro estágio de desenvolvimento, um sistema subterrâneo giratório é desenvolvido. A planta então emite raízes laterais rastejantes e começa seu desenvolvimento. Embora o plantio de árvores em linhas retas em cultivo direto de karité raramente tenha sido tentado na África Ocidental, há muitas vantagens previstas a partir deste sistema: -O maior benefício será aumentar a densidade de árvores de karité por ha e, como resultado, reduzir o tempo gasto e a distância necessária para as mulheres coletarem os frutos frescos de karité. Também tornará mais fácil proteger a colheita de karité de animais (esquilos, ratos) ou furtos no caso da África. -O plantio em linha facilitará a poda das árvores, bem como a remoção de plantas parasitas ou epífitas, além de permitir a remoção mecânica de ervas daninhas dentro e mesmo entre as linhas. Deve também facilitar a aplicação de estrume/fertilizante em plantas jovens, enquanto continua a cultivar safras anuais entre as árvores, incluindo a adubação verde. -A incorporação ordenada de árvores de karité ajudará a melhorar a textura do solo, o conteúdo orgânico, a ciclagem de nutrientes e a infiltração de água, visto que as raízes das espécies arbóreas de savana quebram sistematicamente os torrões rígidos e a queda de folhas caducas será novamente incorporada ao solo. Em razão disso, a cultura de karité pode ser propagada semeando sementes ou arrancando e replantando rebentos. Os agricultores africanos nunca fazem essas operações, mesmo assim Halff (1945) a experimentou. As sementes devem ser plantadas enquanto estão frescas e durante a época das chuvas, principalmente em junho (África). Devem-se escolher as plântulas mais vigorosas que vão surgindo em campo aberto. A semeadura em covas após a aração deu resultados não satisfatórios. No segundo ano, apenas 32% das covas de sucesso permaneceram e as plantas atingiram apenas 6 a 11 cm de altura. Também se recomenda realizar a semeadura de karité em sementeira com solo rico e profundo, onde as fileiras são separadas por 20 cm x 15 cm. Após dois anos, as mudas desenvolvidas são transplantadas no início da estação das chuvas. As plantas são arrancadas com uma raiz de 15 cm de diâmetro e 35 a 40 cm de comprimento. A raiz pivotante já muito longa deve ser cortada na sua base. Deve-se cavar com uma pá uma


C a p í t u l o I | 96 cova de 25 cm de lado e 50 cm de profundidade no qual se adiciona cerca de cinco litros de água. Em seguida, a terra da superfície é lançada no interior da cova, formando assim um torrão bastante umedecido. Por fim, a cova é coberta com terra fina. Seria inútil regar mais tarde, no entanto, deve-se observar que o terreno onde foram feitos os plantios é muito fresco. A proporção de estabelecimento registrada foi de 86 a 96%. Os indivíduos assim transplantados crescem um pouco mais rápidos (Figura 68). .

Figura 68. Parques de karité cultivados mecanicamente sem regeneração de árvores. Foto: Joseph Hunwick.

Halff (1945) recomenda fazer dois transplantes sucessivos desta forma, sendo que o estabelecimento final não venha a ocorrer até 4 anos e meio após a primeira semeadura. O plantio de raízes nuas não teve sucesso. Da mesma forma, o replantio de rebentos dá pouco sucesso. Halff (1945) conduziu com sucesso dois enxertos por encostia, mas esse método é lento e não seria prático. A enxertia de fenda e a enxertia de topo em plantas de karité, já de um determinado tamanho, ou brotamento em plantas jovens, escolhendo como parâmetro uma árvore de karité altamente produtiva, seria muito mais interessante. O problema certamente mudaria de aspecto se conseguisse selecionar plantas de karité de alto rendimento, não alternadas as produções e com frutos de bom desenvolvimento e alto


C a p í t u l o I | 97 teor de gordura. Trata-se basicamente de obter para essa árvore clones elite semelhantes aos que se encontraram para a cultura de Oliveira há séculos. Uma estação experimental instalada no coração do Sudão, dedicada exclusivamente a árvore de karite, com duração garantida e dotada de pessoal competente, sem dúvida, após alguns anos de pesquisa e prospecção, poderia encontrar clones de elite que poderiam então ser multiplicados pela enxertia ou por planos radiculares frequentemente emitidos por rebentos. Esta é a técnica geralmente usada para multiplicar variedades selecionadas de oliveiras na Tunísia. Os agricultores sudaneses devem então ser capacitados para que criem bosques de karité melhorados (clones elite) ao redor de suas comunidades. Sallé et al. (1991) revelaram que em um plantio de karité, uma árvore deve ser considerada elite apenas se produzir um grande número de frutos (> 200 por ano), um peso médio do fruto superior a 9,7 g, um reduzido comprimento da lâmina da folha (<4,4 cm), pecíolo curto (<8,2 cm), folhagem densa, floração precoce e maturação precoce dos frutos. Também Boffa et al (1995) realizando um estudo sobre a produção de 54 árvores de karité por três anos em campos da província de Thiougou (Burkina Faso) mostraram que em um povoamento de karité apenas 26% dos indivíduos são árvores bastantes produtoras, dos quais 15% mostram produção estável.

ESPAÇAMENTO No cultivo do karité pelo sistema de exploração extrativista, usando o espaçamento de 10 x 10 m (Figura 69), espera-se uma produtividade entre 800 kg a 1.000 kg de frutos frescos por ha. Essa estimativa de potencial de produtividade para o karité pode ser aumentada por seleção de clones de frutificação anteriores, mediante a identificação de árvores matrizes promissoras, as quais seriam multiplicadas por enxertia ou rebentos (clones de elite). No entanto, o monocultivo de espécies exóticas, especialmente daquelas que não sofreram processo de melhoramento, pode suscitar preocupações, especialmente com relação à incidência de doenças.


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Figura 69. No sistema quadrado, utiliza-se o espaçamento de 10 m nos dois sentidos para plantio do karité. Foto: Sérgio Cobel.

Ao separar as árvores jovens plantadas o suficiente, permitiria a consorciação do karite com culturas alimentícias e, assim, manter os pomares com adubo anual. Poderia adotar o espaçamento de 10 m ou 12 m ou 20 m de distância entre as fileiras das árvores de karité, sendo as plantas dentro de cada fileira com 5 m ou 10 m ou 20 m de distância. Portanto, a população de árvores por ha poderia ser bastante variável. Além disso, essas árvores em condições de sequeiro só entram em produção por volta do 10º ou 12º ano e é apenas a partir do 20º ano que elas estão em plena produção (Figura 70), como a cultura da oliveira.


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Figura 70. Bosque de karité implantado em fileiras ordenadas. Foto : Joseph Hunwick (2016).

É importante destacar que a produtividade das árvores é variável. Em uma amostra tirada em Burkina Faso, os melhores 25% das árvores produziram 60% da produção, enquanto os 30% mais pobres das árvores produziram poucos frutos. Uma boa árvore pode produzir em média 15-30 kg de frutos por ano. Em um ano bom, isso pode chegar a 50 kg, mas apenas cerca de 15 kg nos próximos dois anos. Embora um ciclo de produção ideal não seja confirmado, as observações mostram uma tendência para as árvores darem apenas uma boa colheita a cada 3-4 anos.

CONSORCIAÇÃO Nos primeiros seis ou oito anos, dependendo do espaçamento utilizado, é conveniente fazer plantio intercalar com a cultura de karité, visando reduzir as despesas de instalação e manejo do pomar. Assim, as lavouras de feijão, de gergelim, de milho, de milheto, de amendoim e de mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras de karité, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno. Recomendam-se plantar 100 árvores de karité por ha no espaçamento de 10 m x 10 m ou mesmo 25 árvores (espaçamentos de 20 m x 20 m.) como é utilizado para as oliveiras de Sfax, na Tunísia. No caso de distância de 20 m


C a p í t u l o I | 100 entre fileiras (exemplos: 20 m x 5 m; ou 20 m x 10 m; ou 20 m x 20 m), é possível obter permanentemente uma consorciação de árvores de karité com as espécies alimentícias. Sem dúvida, seria possível obter manteiga de karité produzindo por volta do 20º ano 4 kg em média de amêndoas secas por árvore, ou seja, mais de 640 kg de frutos frescos por ha. Tal produção sem dúvida compensaria para o agricultor, especialmente se ele pudesse agregar valor ao produto, como a extração de manteiga a partir de amêndoas secas.

IRRIGAÇÃO As árvores de karité plantadas em linha ordenada devem tornar mais econômica à introdução de irrigação localizada por gotejamento, pelo menos nos primeiros anos críticos de estabelecimento. Isso poderia acelerar o crescimento de forma significativa da planta.

TRATOS CULTURAIS Para proporcionar seu regular crescimento, é indispensável que nos bosques de karité, durante os cincos primeiros anos de idade (ou mais), sejam dados os mesmos tratos culturais que são recomendados as demais plantas florestais, frutíferas, etc., isto é, conservá-las sempre livres de pragas de toda natureza e controle das ervas daninhas (Figura 71). Portanto, é importante mantê-la livre de plantas invasoras, devendo-se realizar o coroamento manual (enxada) ao redor da planta num raio de 0,5 m.


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Figura 71. Mudas de karité poupadas durante a remoção de ervas daninhas em um campo. Foto: S. A. Kaboré.

O uso de cobertura morta tem a possibilidade de reduzir a evaporação da umidade do solo, acelerada pelo aquecimento produzido pelo sol, e a ação do vento impertinente. Ainda contribui para redução das capinas, cobrindo o mato. A cobertura em forma de coroa ou em volta da planta de karité pode ser de capim picado ou bagana (Figura 72), que é a folha de carnaúba triturada pela máquina de batição para retirada da cera no semiárido brasileiro (QUEIROGA et al., 2013). Também essa cobertura é a responsável, tanto para a planta como para o solo, dos seguintes benefícios: - Incrementa a produtividade dos cultivos; - Diminui a variação da temperatura do solo; - Protege os agregados do solo contra os efeitos erosivos da chuva; - Aumenta a capacidade de retenção de água na zona de cobertura; - Mantém a fertilidade do solo; - Fornecimento de nitrogênio para as plantas; - Reduz os custos do manejo do pomar


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Figura 72. Utilização de material vegetal (Foto A) como cobertura morta ao redor das mudas de karité.

PODAS DE REJUVENESCIMENTO DA ÁRVORE DE KARITÉ A produção da karité é influenciada por diversos fatores, ligados ao relativo abandono e falta de cuidados em que a planta nativa tem vivido nas zonas semiáridas africanas, como seja baixa densidade dos bosques com agrupamentos irregulares com média de 30 plantas por hectare, formados ao acaso no sistema extrativismo, nos quais os indivíduos reciprocamente se prejudicam no desenvolvimento, na formação da copa e na própria floração. Além disso, a permanência de galhos envelhecidos na árvore compromete em parte sua produção de frutos. Para conseguir volumes de copa aceitáveis de karité e de porte erguido, deve-se recorre à técnica da poda. Os caules das plantas de karité devem ser tão retos quanto possível, sem mudanças bruscas de direção. Quando não podado os rebentos juntos à árvore irá surgir o agrupamento de caules e de galhos na parte inferior, de modo que somente um tronco seja definido e bem visualizado, com as primeiras ramificações a uma altura superior a 0,80 m.


C a p í t u l o I | 103 Os tipos de corte e poda utilizados na árvore de karité: a). O corte severo envolve o corte da árvore alguns centímetros (cerca de 10 cm) acima do solo. Essa técnica é geralmente aplicada a árvores idosas e moribundas. b). Já a poda consiste em cortar os galhos das copas das árvores. Quando são aplicados nas árvores dos campos, ambas as técnicas permitem: - Reduzir o efeito do sombreamento nas culturas anuais; - Manter os indivíduos em bom estado sanitário; - e Rejuvenescer as árvores.

Uma planta pré-formada no viveiro e de boa qualidade é o ponto de partida para se obter uma plantação produtiva, mecanizável e rentável. Devem-se selecionar no viveiro as mudas de 2 anos de idade, ainda em saco de polietileno, de plantas jovens e vigorosas. Previamente, elimina-se o saco plástico e depois coloca a muda em uma cova de 50 cm de profundidade. Devido à grande variabilidade morfológica das árvores de karité, é possível identificar algumas plantas de pequeno porte bastante produtivas. Com conhecimento prévio do potencial produtivo de cada planta, a enxertia seria a técnica mais viável para o processo de formação de mudas, mantendo, assim, as características genéticas das plantasmatrizes. Além disso, hipoteticamente seria necessário aplicar a técnica de poda na plantação de karité e, através do espaçamento adensado de 5 m x 3 m, conseguiria uma população 667 indivíduos por ha. É importante destacar que a oliveira (Olea europaea L.) é uma árvore (também é cultivada em escala comercial no Brasil) que pode ter dimensões e formas muito variáveis (Figura 73) e por meio de melhoramento foi domesticada, a qual chegou a passar de uma árvore frondosa pouco produtiva para uma planta arbustiva de porte baixo que permite o plantio adensado, colheita mecanizada, maior produtividade, etc. O mesmo caso poderá suceder no futuro com a domesticação da espécie Vitellaria paradoxa.


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Figura 73. Árvore gigante de oliva Olea europaea L. var. Alfafarenca e planta domesticada de oliva, variedade arbequina, apropriada para a colheita mecanizada. Foto: http://elrebostdelham.blogspot.com.es/

As práticas de poda, realizadas ao longo da vida de uma árvore de karité, sempre devem equilibrar o crescimento e a frutificação, não desvitalizar ou envelhecer prematuramente a árvore. Recomenda-se podar pouco durante o período de formação e, durante o período produtivo, a poda bianual tem sido mais indicada agronomicamente que a poda anual (COUTINHO et al., 2009).


C a p í t u l o I | 105 PARQUE AGROFLORESTAL DE KARITÉ No Mali, como em todos os países com escassa cobertura de árvores (Figura 74) onde a desertificação é uma ameaça constante, todos os recursos de madeira fora da floresta, incluindo árvores e outra biomassa lenhosa, são vitais. O futuro da cobertura de árvores depende muito do amplo reconhecimento e do aprimoramento das inúmeras funções dos parques agroflorestais. Esses desafios principais pressupõem uma compreensão da dinâmica do parque. Mas é necessário efetuar uma avaliação para avançar o estado de conhecimento dos parques de karité (SÉNOU; BAGNOUD, 1998), visando determinar quaisquer mudanças em termos de sistemas de produção, quando se trabalha em estreita colaboração com a população local, e sugerir formas de aumentar a produtividade do karité, tomando com base o sistema agroflorestal (SAF) apresentado na Figura 75.

Figura 74. Cultivo de painço (Panicum miliaceum) em um parque agroflorestal de (Vitellaria paradoxa) no Mali. Foto: (© Cossalter / Cirad).


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Figura 75. Definir com os agricultores locais a diversidade de espécies que resulte maior eficiência do sistema SAF do karité

Dada à intensificação da agricultura e a invasão de áreas naturais nos parques de karité da África Ocidental, e a associação entre a perda de habitat e fragmentação com diminuição da abundância e diversidade de polinizadores, os serviços de polinização em parques de karité podem ser afetados negativamente pelas atividades humanas. Como o karité depende fortemente das abelhas para a polinização (LASSEN et al., 2016; STOUT et al., 2018), as mudanças nas práticas agrícolas podem ter um efeito negativo sobre os insetos polinizadores, o que pode contribuir para as ameaças à segurança alimentar e ao bem-estar econômico sendo de cerca de 45,1 milhões de pessoas rurais que vivem no cinturão do karité (NAUGHTON et al., 2015).

CRESCIMENTO LENTO DA ÁRVORE DE KARITÉ O karité é uma espécie de crescimento muito lento. Os primeiros anos de crescimento são marcados pelo desenvolvimento do sistema radicular resultando na formação de uma raiz pivotante cujo comprimento final é entre 70 e 80 cm. Em seguida, a árvore estabelece um sistema radicular considerável esquematizado, acompanhado em paralelo pelo


C a p í t u l o I | 107 desenvolvimento progressivo das partes aéreas e subterrâneas (DELOLME, 1947). De acordo com Picasso (1984), o crescimento dos ramos de karité ocorre de duas maneiras: - alongando os ramos velhos: depois de as folhas caírem, o botão estipulado incha em um toco nodoso e aumenta 2 cm. Durante a fase vegetativa, ocorre um segundo alongamento mais fraco e o galho aumenta em 1 a 2 cm; - pela formação de novos ramos: nascem do lado do botão estipulado após a floração. Seu comprimento varia de 10 a 20 cm e seu diâmetro de 5 a 10 mm. Seu desenvolvimento é mais rápido e contrasta fortemente com o toque fraco dos botões de onde são originários. Segundo o mesmo autor, em indivíduos jovens (1 a 4 anos), o alongamento da haste é feito apenas de acordo com a primeira modalidade por alongamento terminal, mas, ao contrário dos adultos, não há inchaço da parte terminal da haste que se alonga mais rapidamente. A proporção dos dois modos de alongamento varia de acordo com o vigor da planta, a qualidade do solo e o trabalho de manutenção. Delolme (1947) relata que as chuvas influenciam fortemente as várias fases vegetativas (desfolha, floração e aparecimento de novas folhas). A interrupção precoce das chuvas levaria a um aparecimento mais rápido das diferentes fases vegetativas. Por outro lado, o prolongamento do período de inverno atrasaria o início dessas fases. Na maturidade (no ponto ideal de seu desenvolvimento entre 80 e 100 anos), a árvore atinge uma altura que varia de 10 a 20 m com um tronco de altura média de 3 a 4 m (TEKLEHAIMANOT, 2004; citado por LAFLEUR, 2008). O que se opõe à rápida melhoria da planta de karité é a lentidão com que essas árvores crescem. De acordo com Halff (1945), os arbustos ou mudas semeadas em horta experimental, em solo aluvial com bom nível de fertilidade e bem conservados, mesmo às vezes curtidos, ainda têm apenas 1,50 a 1,80 m de tamanho ao final de 8 ou 10 anos. Portanto, as árvores jovens, mas já com vários metros de altura e em produção, quando são cortadas, emitem rebentos nas raízes que crescem um pouco mais rápido. No entanto, Halff (1945) cita as plantas existentes em Korhogo (cidade ao norte da Costa do Marfim), cujos troncos foram cortados e os rebentos ainda tinham apenas 6 a 8 metros de altura depois de 50 anos. As primeiras flores aparecem no mínimo apenas em plantas de 15 a 20 anos de idade e essas primeiras flores são estéreis. Só 3 ou 4 anos após a primeira floração é que a árvore dá frutos. Aos 50, ele ainda não é muito produtivo. Só aos 80 ou 100 anos é que dá uma boa colheita de frutos e ainda assim apenas em alguns anos. A


C a p í t u l o I | 108 árvore vive de 200 a 300 anos. Tem um tronco que pode atingir 80 cm de diâmetro a um metro (no Sul da sua área porque no Norte do Sudão permanece sempre fraco - no máximo 50 cm de diâmetro). Este é um modo de comportamento da árvore de karité na África que não é cultivada, não é enxertada, e nunca foi selecionada. Em árvores de karité já com idade avançada, o tronco cresce 1,80 cm em média por ano até 30 ou 40 anos e depois 1,40 cm. Em indivíduos jovens, o diâmetro é de apenas 5 a 6 mm e o tronco tem apenas 5 a 7 cm no primeiro ano e 10 a 15 cm no segundo. Para evidenciar a lentidão do crescimento, Halff (1945) menciona o caso de um ramo de 1 a 2 cm de diâmetro que provavelmente levou 22 anos para se alongar em 45 cm. Em savanas não cultivadas, o crescimento é ainda mais lento porque quase todos os anos são impedidos por incêndios florestais. O sistema radicular, pelo contrário, é de grande importância. A raiz pivotante pode aprofundar até 1,80 m se o terreno for adequado. As raízes superficiais são numerosas e robustas; elas às vezes se estendem por um raio de 15 a 20 m do tronco de uma árvore adulta. A maioria das plantas jovens que é originada de sementes não oferece resistente ao fogo de ervas ou ao pastejo animal. A árvore é mantida ainda viva, sobretudo pelos rebentos que surgem aqui e ali nas raízes velhas. O mais urgente é desenvolver uma boa técnica de enxerto. Um bom praticante de enxerto sem dúvida terá sucesso, mas nada foi feito dessa forma ainda. Para o karité, tudo ainda precisa ser feito. O mais urgente é desenvolver uma boa técnica de enxerto. Um bom praticante de enxerto sem dúvida terá sucesso, mas nada foi feito dessa forma ainda. Houard estava certo ao escrever em 1918 a seguinte frase: “As variações exageradas na produtividade de certas plantas de karité são um sério defeito para a regularidade da produção... É preferível procurar assuntos com frutificação regular dando uma média anual e uma porcentagem em alto teor de gordura. Mesmo assim, esta pesquisa será muito longa e difícil”.

AGRISSILVIPASTORIL O sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) consiste na diversificação das atividades na propriedade rural. Também são considerados modelos integrados de produção, os quais estão integrados às explorações as árvores, os cultivos agrícolas, as forrageiras e os animais que realizam o pastejo (DUBOC et al., 2008). Por outro lado, o sombreamento excessivo também prejudica o desenvolvimento da pastagem consorciada,


C a p í t u l o I | 109 diminuindo a capacidade de lotação. Na Figura 76 pode ser visto o desenvolvimento bastante satisfatório da pastagem sob uma densidade relativamente baixa de árvores adultas de karité em área nativa. Provavelmente, o início do pastejo se deu quando o pomar de karité encontrava com mais de 15 anos de idade.

Figura 74. Gado pastando nos parques entre as fileiras de karité. Foto: © Jane Stout.

PARASITAS DO CARITÉ 1. Fanerógamas parasitas De acordo com Boussim et al. (1993), 95% da árvore de karité em Burkina Faso são infestadas por Tapinanthus, hemiparasitas da família Loranthaceae. De acordo com os mesmos autores, três espécies de Tapinanthus foram identificadas em Burkina Faso: Tapinanthus dodoneifolius, Tapinanthus globiferus e Tapinanthus ophoides. A área de distribuição de Tapinanthus dodoneifolius cobre todo o Burkina Faso. Esta espécie ocupa biótopos bastante heliofílicos. Tapinanthus globiferus tem virtualmente a mesma distribuição nacional que Tapinanthus dodoneifolius, mas permanece numericamente menos abundante. Embora não seja rara em regiões secas, esta espécie prefere locais úmidos e ventilados. Presente na metade ocidental de Burkina Faso, Tapinanthus ophoides é a menos difundida das três espécies e está limitada à zona climática sudanesa. Ela gosta de estações úmidas. Essas três espécies de Tapinanthus combinadas são perenes e a disseminação de suas sementes é contínua e garantida pela “ave-de-fronte-amarela”, um pequeno pássaro frutífero (Figura 77). O pequeno tamanho dos órgãos digestivos da ave (bico e moela) não permite que ela engula o caroço de


C a p í t u l o I | 110 Tapinanthus (BOUSSIM, 2002). Ele apenas consome parte da polpa viscosa. Com o seu bico curto e pontudo, a ave pega o fruto, perfura o epicarpo, consome a camada superficial da polpa e abandona a semente que adere ao suporte graças ao resto do fruto não totalmente consumido. Com muito medo, assim que se sente perturbado ou ameaçado, voa com o fruto no bico para uma árvore próxima ou distante onde deixará após a refeição a semente que germinará e constituirá uma nova fonte de parasita. Esses parasitas desviam a seiva bruta destinada à extremidade distal dos ramos da árvore para seu proveito, utilizando o haustório, levando à redução da produção de frutos e à morte dos ramos (Figuras 78 e 79 ). Quando o déficit trófico é muito importante, o indivíduo parasitado pode morrer. Após a morte e queda do parasita, o buraco aberto à esquerda fornece uma porta de entrada para outros patógenos. Na parte norte do Burkina Faso, o ambiente hostil do Sahel amplifica o efeito dos parasitas nas árvores. Essa ecologia austera contribui rapidamente, além de limitar o alcance das espécies.

Figura 77. Pássaro barbudo de fronte amarela disseminador de bagas Tapinanthus: T. globiferu (5); T. globiferu (6); e T. ophiodes (7). Fotos: Boussim (2002).


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Figura 78. Estágios fenológicos no desenvolvimento de Tapinanthus de acordo com Boussim (1991). Observações de 1 a 7: 1. O pequeno pássaro barbudo de fronte amarela se livra de uma semente de Tapinanthus após consumir a polpa. 2. Semente depositada em um galho hospedeiro pela ave. 3. Germinação da semente com o desenvolvimento de um hipocótilo clorofílico (h) (chlorophyllien) terminado por uma extremidade inchada. v, viscina seca (viscine séchée). 4. Fixação do parasita ao hospedeiro por meio de um disco de fixação (df). 5. Aspecto da primeira folha (If). A albumina desapareceu e os cotilédones atrofiaram. 6. Estágio de duas folhas (2f). A muda pode permanecer nesta fase por dois meses. df, disco de fixação. 7. Planta jovem de Tapinanthus (jp) com um ano de idade. Observe um leve inchaço do hospedeiro, na base do ponto de inserção do parasita, •.

Figura 79. Observe a presença inicial de Tapinanthus dodoneifolius (seta) no topo da árvore de karité (Vitellaria paradoxa) e (1) árvore de karité totalmente parasitada. Fotos: Boussim (2002).


C a p í t u l o I | 112 2. Insetos parasitas do karité Segundo Vuillet (1912), Mallamaire (1950) e Roberts (1969) citados por Dubut (2012), são numerosos os diferentes insetos que podem causar danos ao karité. Ao nível dos botões e rebentos jovens: Os adultos do besouro Curimosphena senegalensis (Haag) perfuram os rebentos de karité durante a estação das chuvas. O inseto Hemiptera Glypsus conspicuus (Westw) causa leve murchamento nas extremidades do karité. Um Homoptera da família Psyllidae, mas cujo gênero e espécie permanecem indeterminados, é responsável pela atrofia de folhas e galhos jovens picados por esse inseto, seja no estado adulto ou mesmo larval. Ao nível da folhagem: As lagartas de Lepidoptera Cirina butyrospermi (Vuillet) causam desfolhações severas durante os meses de agosto e setembro (Figura 80). Então, em setembro, as crisálidas aparecem no solo ao pé das árvores atacadas. Os principais países afetados por esses ataques são Mali, Burkina Faso, Gana e Nigéria. Outras lagartas, as do Lepidoptera Bostra glaucalis (Hampson), deixam apenas as nervuras das folhas com as quais conceberão um abrigo. Eles proliferam de maio a novembro no Mali, Burkina Faso e Nigéria. No Mali, ainda outras lagartas, a dos lepidópteros, cujo gênero e espécie não puderam ser determinados, consomem o parênquima das folhas, deixando apenas a cutícula. Um díptero de gênero e espécie indeterminados gera pequenas galhas marrons protuberantes na superfície superior da lâmina foliar do karité. Dois gafanhotos Orthoptera, Anacardium melanorhodon (Walker) e Pachytilus migratoroides (Reiche) são responsáveis por fortes desfolhações em árvores de karité e isso resulta em frutificação pobre, principalmente no Mali. O Coleoptera Cardiophorus quadriplagiatus em folhas, flores e frutos jovens em Burkina Faso, pode ser a causa de um declínio significativo na produção de frutos.


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Figura 80. Lagarta de Cirina butyrospermi (Saturniidae, Lepidoptera) alimentando-se de folhas de uma árvore de manteiga de karité. Foto: Rik Schuiling.

Ao nível de flores, frutos e sementes: Em Burkina Faso, os frutos verdes e nozes de karité podem ser atacadas por vários Lepidoptera incluindo Mussidia nigrivenella (Ragonot), de novembro a maio, Mussidia pectinicornelle (Hampson) e Nephopteryx orphnantes (Meyrick), de junho ao mês de agosto. As larvas da mosca Diptera Ceratitis sylvestri (Begzi) proliferam na polpa dos frutos em maturação. Controle de fanerógamas parasitas. Existem vários métodos de controle de Tapinanthus: controle mecânico, controle químico e controle biológico. O controle mecânico que consiste em destruir manualmente o parasita é o mais utilizado por ser mais simples e eficaz. Segundo Boussim (2002), o desgalhamento completo da árvore permite a eliminação total do parasita (Figura 81). Para considerar o parasita como destruído permanentemente, todo o sistema de absorção do parasita deve ser removido cortando o ramo parasitado bem a montante de seu ponto de fixação ou infestação. Na verdade, se simplesmente remove os tufos de Tapinanthus, seu sistema de absorção se regenera ainda mais. A desparasitação da árvore de carité do campo pode ser feita subdividindo o campo em 3 parcelas de área igual para um corte rotativo em intervalos de 3 anos (SAMAKÉ et al., 2011). Os 3 anos correspondem ao lapso de tempo necessário para que os pés com ramos voltem a frutificar. Esta técnica torna possível desparasitar toda a árvore de karité no campo após 7 anos.


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Figura 81. Poda sanitária de uma árvore de karité por meio do corte dos ramos parasitados em Djuié, África. Foto: B. Bastide (2016).

USO DE LAGARTAS (Cirina butyrospermi) DE KARITÉ NA ALIMENTAÇÃO De acordo com Payne et al. (2020) não se detectou nenhuma competição entre a lagarta do karité, cultivo de karité e plantas de milho. Em dois anos consecutivos de dados de campo obtidos, observou-se que a desfoliação da árvore por lagartas não tem efeito sobre a produção de frutos de karité, entretanto essa desfolha pode ter um efeito positivo na produtividade do milho (Figura 82).


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Figura 82. Diagrama mostrando como as medições que foram feitas para a altura do milho, fora e sob a copa do karité. As diferenças de médias foram calculadas subtraindo a altura média sob o dossel da altura média fora do dossel, em todas as quatro direções da bússola. Fonte: Payne et al., 2020.

Por outro lado, o mesmo autor observou uma maior produção de milho fora das copas do que sob as copas. Isso explica em parte a fraca regeneração das espécies nos campos de cultivo porque muitas mudas são sistematicamente eliminadas pelos agricultores. Por ser o karité uma espécie de crescimento lento, é necessário esperar vários anos para se beneficiar plenamente da renda gerada pela exploração da árvore. Além disso, o uso do arado, prática cada vez mais difundida na África, resulta no desenraizamento de rebentos jovens (GYSBERS et al., 1994 citado por LAFLEUR, 2008). Quando ocorre o ataque de lagartas (Cirina butyrospermi, Saturniidae, Lepidoptera) do karité, os ramos das árvores ficam com as folhas totalmente comidas, deixando apenas os ramos das folhas e as nervuras centrais dos limbos das folhas (Figuras 83 e 84). O ataque da lagarta a Vitellaria paradoxa (árvore do karité) ocorre durante a época das chuvas, quando inúmeras lagartas se lançam sobre a árvore e comem suas folhas em um dia. Poucas horas depois do ataque, a árvore de karité fica sem folhas e as lagartas sem sombra contra o sol caem no chão e morrem de calor.


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Figura 83. Aspecto da árvore de karité durante e após o ataque de lagarta da espécie Cirina butyrospermi, em Burkina Faso. Foto: Rik Schuiling.


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Figura 84. A lagarta do karité (Cirina butyrospermi), em escala (à esquerda, em 7 cm); uma árvore de karité (Vitellaria paradoxa) após a desfolha por lagartas de karité (direita). Fotos: Payne et al., 2020.

Existem várias maneiras de as pessoas colherem essa lagarta crocante e deliciosa. O primeiro é recolher as lagartas enquanto elas rastejam pela árvore e também pegar as que já estão no chão. As pessoas recolhem as lagartas e as secam para comê-las ou preserválas por um período prolongado. Portanto, uma lagarta comestível (McALLAN et al., 1996) que se alimenta apenas de Vitellaria paradoxa é seca e vendida nos mercados de alguns países (Figura 85). É rico em proteínas.


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Figura 85. Lagartas (Cirina butyrospermi) secas de karité no mercado de Orodara, Burkina Faso. Fotos: Rik Schuiling e Marco Schmidt.


C a p í t u l o I | 119 Segundo a FAO, o órgão da ONU para a alimentação, os insetos poderão ser a resposta para o futuro na luta contra a fome, porque representam uma fonte muito abundante e rica em proteínas e minerais. A lagarta da árvore de karité, Cirina butyrospermi (pertencente à família Saturniidae, lepidóptera), chamada chitoumou, é coletada para ser comida crua, seca ou frita e é bastante apreciada pelas populações locais (Figura 86).

Figura 86. Sanduíche de lagarta (Cirina butyrospermi) comestível “chitoumou” coletada na árvore de karité em Boromo, Burkina Faso. Foto: Rik Schuiling.

MATURIDADE FISIOLÓGICA E PRODUTIIDADE DO KARITÉ Minoungou (1988) citado por Serpantié (1996) mostrou que o ciclo de desenvolvimento do karité é particularmente longo, pois o ciclo de reprodução começa quando as árvores atingem a idade de 15-20 anos no melhor dos casos, e que a produção economia é observada em torno dos 40 anos (Figura 87). Em Burkina Faso, por exemplo, a plantação de karité em 1955 pelo Instituto de Pesquisa em Óleos e Sementes Oleaginosas (IRHO) com uma densidade de 150 plantas por hectare em 2 hectares produzidos em 1987 apenas 15% das plantas, com um baixa produção, por árvore, entre 1,2 e 9,1 kg de frutos por ano.


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Figura 87. Vista geral da árvore de karité. Foto: Marco Schmidt.

Estudos de produção em povoamentos naturais feitos por I.R.H.O em Niangoloko (Burkina Faso) na década de 1950 mostraram que existe um forte polimorfismo que resulta em uma grande variação na produtividade das árvores. Assim, esses estudos mostraram que mais da metade das árvores não apresenta produção, enquanto cerca de 25% dos exemplares são bons produtores, dos quais dois terços são regulares. Para o mesmo autor, a produção de karité parece estar ligada ao crescimento da árvore. Na verdade, 50% dos bons produtores (mais de 12 kg de nozes frescas por ano) têm copa em forma de bola (esférica), enquanto a forma de vassoura parece menos produtiva. Ele acrescenta a isso a densidade da folhagem e a maturidade das árvores como bons critérios de produtividade. Em condições em que os incêndios florestais são controlados, a frutificação ocorre por volta dos 20 anos, e ocorre por volta dos 40 anos para a condição de ação de incêndios florestais frequentes. A idade de produção plena está entre 40 e 100 anos (SERPANTIÉ, 1996). Os maiores rendimentos são de cerca de 50 kg de amêndoas secas por árvore. O rendimento médio por árvore madura no Mali é de cerca de 27 kg de frutos (BAGNOUD et al., 1995) ou cerca de 6 kg de amêndoas secas. De acordo com Picasso (1984), os testes


C a p í t u l o I | 121 de fertilização de árvores e cultivo do solo, além de remoção de ervas daninhas, não produziram resultados convincentes. Ataques de pragas como plantas parasitas (Tapinanthus spp.) e várias pragas (lagartas de karité específicas (Cirina butyrospermii) mariposas) foram comprovados, mas seu impacto na produção ainda não foi quantificado (SALLÉ et al., 1991). As produções sofrem variações interanuais significativas, seja ao nível de uma árvore, de um sítio ou mesmo de uma região, de acordo com uma periodicidade de 2 a 5 anos. É difícil relacionar essas variações a condições climáticas específicas. Existem, portanto, dois tipos de teorias para o desenvolvimento da produção anual. Existem as teorias baseadas na alternância, e aquelas que se referem a processos determinísticos diretos (como necessidades de água, parasitismo, temperaturas, ventos etc.) durante a floração e a frutificação. Após 10 anos de monitoramento da produção de nove árvores de karité, Delolme (1947) citado por Serpantié (1996) se inclina a favor da teoria da alternância ao observar que uma produção abundante é seguida de pelo menos uma ruim. As opiniões são muito divididas sobre os rendimentos que podem ser esperados de uma árvore de karité madura. Todos concordam que o retorno produtivo é altamente variável de ano para ano. Tem anos bons, tem anos medíocres e também tem anos muito ruins, Houard (1918) demorou 5 anos consecutivos para estabelecer uma média e acha que não alcançou o valor seguro. A média em Koulicoro (Mali) durante 5 anos foi de 5,321 kg de amêndoas secas por ano por árvore, ou 17,732 kg de fruto fresco por árvore madura. Vuillet (1939) foi mais otimista. Ele estima que uma árvore média (50 cm de diâmetro) pode produzir em média 30 kg de frutos frescos, e um hectare de pomar plantado com manteiga de karité adulta pode dar 150 a 300 kg de nozes secas, representando 50 a 120 kg de gordura. Os números fornecidos por Halff (1945) para Ferké (Costa do Marfim) são mais elevados. É verdade que as árvores de karité crescem muito em solo de aluvial mais rico e não é afetada por incêndios florestais há muito tempo. O terreno tem uma influência extremamente marcante na produção de karité. Em um ano favorável, a produção pode variar de 1 a 6 dependendo se o solo é bom ou ruim. Assim, uma parcela (com 20 árvores) deu no ano de 1944, 36 kg de amêndoas secas por árvore e outra muito menos fértil (com 10 árvores) deu apenas 5 kg por árvore. É verdade que o fator de fertilidade de cada árvore


C a p í t u l o I | 122 não é levado em consideração. No ano seguinte, a parcela que rendeu 36 kg de amêndoas por árvore rendeu apenas 2 kg. No Sudão, em alguns anos, uma grande árvore de karité foi colhida até 250 kg de frutos frescos, o que corresponde a 50 kg de amêndoas secas, mas esses são casos muito excepcionais e as árvores com rendimentos tão elevados são muito raras e os anos de grande abundância ocorrem apenas a cada 5 ou mesmo a cada 10 anos. Portanto, é necessário ter as mais extremas reservas quanto ao plano estabelecido por um colono de Alto Volta (Burkina Faso), o Sr. Renodier em 1942, que estimava que um pomar de karité com uma densidade de 100 árvores por hectare poderia produzir 30 kg de frutos secos por ano por árvore, ou seja, 3.000 kg por hectare e com um rendimento de 30% de gordura, isso dava 900 kg de manteiga por ha, enquanto um campo de amendoim daria apenas 240 kg de óleo. E o pomar de karité exigiu apenas 30 dias de coleta, enquanto o campo de amendoim de mesma extensão exigiu 90 dias de trabalho com baixo nível tecnológico por hectare. Se isso fosse verdade, toda a área cultivável do Sudão teria de ser transformada em um enorme pomar de karité. Na realidade, as coisas são bastante diferentes. Ou seja, os campos bem desenvolvidos com culturas alimentares dificilmente podem suportar mais de 15 a 20 árvores de karité por hectare e se o total rendesse em um ano médio 100 ou 150 kg de nozes secas, cuja colheita, transporte e preparação são um trabalho árduo para o agricultor, não é este produto da colheita que o faria viver. Além disso, deve-se considerar que todas as árvores adultas de karité são bastante produtivas e os campos de produção não são afetados por incêndios florestais. Indução da produção com a técnica de anelamento. O anelamento ou incisão anelar consiste na remoção de um anel de casca de seu tronco ou galho de árvore para romper o sistema vascular do floema sem afetar a camada do xilema (ZILBERSTAINE; KALUSKI, 1999; TAIZ; ZEIGER , 2002) citados por Lamien (2006). Segundo Dunn e Lorio (1992) citados pelo mesmo autor, essa técnica evita a descida de carboidratos recém-sintetizados, tanto os de reserva quanto os hormônios que regulam o crescimento pela quebra dos elementos condutores do floema. Isso torna essas substâncias mais disponíveis para o processo reprodutivo. Ele relata que o entorno dos ramos de karité em Bondoukuy (África) aumentou a proporção de ramos com flores em 17%, o número médio de órgãos reprodutivos em 54% e o número médio de frutos verdes por ramo em 100%.


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Capítulo II

COLHEITA E EXTRAÇÃO DA MANTEIGA DE KARITÉ

Vicente de Paula Queiroga (Editor Técnico)


C a p í t u l o I I | 124 COLHEITA Introdução. O interesse comercial inicial no recurso da manteiga de karité entre os fabricantes europeus é evidente em muitos relatórios escritos durante o primeiro quarto do século XX. A monografia de Vuillet (1911), sublinha a consciência francesa da importância e do potencial da árvore de manteiga de karité. O livro de Vuillet, ilustrado com as primeiras fotografias e, aparentemente, o primeiro relato monográfico de qualquer árvore africana tropical selvagem, fornece análises químicas detalhadas da noz, manteiga, óleo, torta e látex. Ele também contém muitas informações sobre o comércio dentro da África Ocidental e com a Europa. É importante acrescentar, as etapas de colheita dos frutos de karité e de extração da manteiga

das amêndoas

que

são realizadas principalmente

por quase 16

milhões (MARANZ et al., 2004) de mulheres das áreas rurais (VINCENZO et al., 2005), cuja situação econômica têm melhorado (MASTERS et al., 2004), o que deu ao karité o apelido de "ouro feminino” (ALLAL et al., 2010) . Além disso, a indústria internacional do karité é, em geral, controlada principalmente por homens e é dominada por alguns agentes monopolistas, o que coloca a dimensão do "comércio justo" em perspectiva. Por outro lado, a floração da árvore de karité é seguida pela frutificação que consiste em uma umbela de frutos pendurados compreendendo de 1 a 12 bagas, na maioria das vezes 1 a 3. Acima deste, a umbela desenvolve um botão foliar (cepa curta) que floresce após a frutificação e que inclui 20 a 30 folhas, com inserções muito próximas. A floração em uma única árvore pode durar de 30 a 75 dias; na maioria das vezes dura apenas um mês. Os frutos geralmente contêm uma única noz ou semente (Figura 88), mas o fruto que contém mais de uma é a exceção. A colheita total dos 100 indivíduos sob observação em Ferké em 1945 foi dividida da seguinte forma: 95,36% de uma noz, 4,52% de duas nozes, 0,1% de três nozes, 0,02% 4 nozes. Os frutos raros com 5 e 6 nozes já foram observados. De acordo com Halff (1945), ao examinar um fruto de karité com 5 sementes, constatou que o mesmo era esférico e muito grande. Com base na amostra seca, deve ter medido no estado fresco cerca de 6 a 7 cm de diâmetro. Não deve conter polpa, sendo todo o espaço do compartimento ocupado pelas lojas, partições muito finas separando as 5 sementes umas das outras. Uma árvore que produza principalmente sementes semelhantes seria muito valiosa para a produção de gordura, mas até agora nenhuma árvore foi encontrada dando frutos quase exclusivamente com 2 ou 3 sementes ou mais. No entanto, Halff


C a p í t u l o I I | 125 (1945) nota que algumas árvores têm uma proporção bastante elevada de frutos com várias nozes no mesmo fruto e isso sucedem a cada colheita.

Figura 88. Frutos frescos de karité e um fruto aberto, destacando a casca, polpa e um caroço ou noz. Foto: Reiichi Miura.

Cada noz ou caroço contém apenas uma amêndoa cuja proporção varia de 60 a 84% do peso da noz seca, com uma média de 69%. Os valores específicos de cada indivíduo se não são constantes, pelo menos são muitos semelhantes de um ano para o outro e, portanto, representam uma característica específica de indivíduos que são particularmente interessantes para a seleção. Observa-se que o peso médio do fruto fresco é de 21gr; para as nozes frescas de 10g, os pesos extremos da noz proveniente de um indivíduo em nozes secas (colheita média de uma planta) variam de 4,7 g a 16,1 g (Figura 89). O peso médio de uma noz seca é próximo de 6 gr. A perda de peso na secagem varia de 40 a 45%, enquanto o peso da casca do fruto seco representa 30 a 35%.


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Figura 89. Duas nozes secas de karité inteiras e uma noz seca partida, destacando a casca e uma amêndoa no seu interior.

Coleta de frutos. A colheita do fruto de karite (Sheanut) é uma tarefa direta, consistindo na simples coleta de frutos maduros do solo. A coleta pode ser melhorada por meio de maior acesso ao transporte e pela eliminação do mato sob a copa da árvore (na África se faz a queima controlada ("silenciosa") da grama) pelos agricultores no início da temporada de colheita, a qual é relativamente curta, ou logo antes da floração do karité (Figura 90).


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Figura 90. Recomenda eliminar o mato sob a copa da árvore de karité para facilitar a coleta de frutos maduros caídos no chão pelas mulheres.

Na coleta de frutos caídos naturalmente da árvore de karité é possível encontrar sob a sua copa os frutos no início da maturação (frutos imaturos ainda com látex) por ação de ventos fortes, os frutos maduros sem látex colhidos no chão e finalmente os frutos de fim de colheita. Pois, entre o início do amadurecimento e a queda dos últimos frutos na mesma árvore pode haver um intervalo de 15 a 20 dias e os frutos de um momento a outro podem ter uma composição ligeiramente diferente (Figuras 91, 92 e 93). O certo é que existem diferenças bastante grandes de uma variedade para outra e até de árvore para árvore na mesma região no valor dos frutos: tamanho das amêndoas, conteúdo de gordura e a mesma composição desta.


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Figura 91. Coleta de frutos maduros caídos naturalmente da árvore de karité em Burkina Faso. Foto: Ministere du Commerce, de L’industrie et de L’artisanat, 2006.

Figura 92 (I) Uma mulher local colhendo os frutos de Vitellaria paradoxa usando o método de 'vara, o que pode ocasionar a colheita de frutos verdes (imaturos) com látex (fruto com gosto amargo), e recolhendo-os em grandes tigelas que pesa cerca de 20 kg (II) para transporte de volta para a aldeia. Fotos: Sam Moore (2008).


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Figura 93. Saco de nozes de karité coletadas em Gana.

Os frutos imediatamente caídos tornam-se maduros demais; eles são coletados por mulheres. Se permanecerem no solo, a polpa que envolve a semente apodrece muito rapidamente ou é comida por insetos. Se o solo permanecer úmido, a semente germina após um curto período de tempo, a radícula imediatamente afunda no solo. Na estação seca, um grande número de mudas nascidas ou germinadas desta forma irá sucumbir, mesmo que o fogo no mato não intervenha. Algumas mudas protegidas por tufos de grama podem persistir. Elas levarão anos para formar um arbusto de apenas um metro de altura. Muitas vezes, uma planta jovem é pastada por animal ou destruída pelo fogo. Os brotos adventícios podem então nascer na base do caule mutilado ou mesmo nas raízes. O peso dos frutos coletados, cuja colheita ocorre ao longo de dois meses (geralmente de 15 de maio a 15 de julho), também é muito variável. Ou seja, o peso dos frutos em si não é constante durante a maturação. É um pouco baixo no início (frutos menores) da colheita, mas rapidamente adquire um valor mais elevado, onde se mantém e depois, diminui no final da colheita. Segundo Halff (1945), cita a produção de uma árvore de karité em que as nozes frescas pesaram inicialmente 9,7 g, aumentou para 19,9 g e depois reduziu para 9,4 g no final da colheita.


C a p í t u l o I I | 130 Pós-colheita do fruto. Após a colheita, a polpa é completamente removida para consumo (Figura 94) ou pode ser triturada, secada e mantida para consumo doméstico ou venda. Em áreas onde a árvore é muito abundante, os métodos tradicionais de remoção da polpa às vezes incluem um processo de fermentação em uma cova de barro. Embora as altas temperaturas de fermentação possam ajudar a desnaturar as enzimas de crescimento, matando a semente e minimizando a oxidação enzimática, o processo de fermentação também pode contaminar os grãos com um odor desagradável. A fermentação agora é desencorajada devido ao risco de contaminação.

Figura 94. Detalhe do karité (Vitellaria paradoxa): (a) árvore e frutos frescos, (b) sementes ou nozes secas, (c) amêndoas e (d) cascas de nozes.

Após a remoção da polpa por fermentação, as nozes são colocadas para secar ao sol (Figura 95; McALLAN et al. 1996). As amêndoas são extraídas geralmente antes do início da fabricação da manteiga, quebrando as nozes com pedras ou batendo suavemente em um pilão (Figura 96) e a amêndoa em pó (triturada) é transformada em manteiga.


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Figura 95. Secagem ao sol de nozes de karité. Foto: Dieu-Donné Gameli


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Figura 96. Separação da casca das amêndoas apenas batendo suavemente em um pilão as nozes secas de karité. Foto: International Trade Centre – ITC.

O teor de gordura das amêndoas secas também varia de acordo com as árvores de 29,1% a 50,5%. A manteiga contém uma pequena quantidade de matéria insaponificável (Karitene), cuja proporção, segundo André (1947), pode variar de 1,7 a 16,6%. Essa substância pegajosa vem da laticífera contida na semente fresca. No entanto, em frutos maduros e bem maduros, quase não se detecta o látex, mas quando ocorre uma alta proporção de insaponificáveis na análise, na maioria das vezes é o produto resultante de frutos verdes, os quais foram destacados da árvore pela ação dos ventos fortes (tornados). Nas últimas décadas, os sacos de polietileno passaram a ser amplamente utilizados para armazenamento de grãos de karité - particularmente na África Oriental - com efeitos nocivos sobre a condição das nozes de karité (sheanut) armazenadas. A malha de plástico firmemente tecida não permite a livre circulação de ar, e a condensação da umidade da amêndoa (kernel) e ao longo de um gradiente de temperatura diurna estimula o desenvolvimento de esporos de fungos, levando à rápida contaminação do produto armazenado. A situação é agravada pelo fato de que os sacos são frequentemente armazenados diretamente no chão de uma casa, sem uso de estrado de madeira.


C a p í t u l o I I | 133 Os extensionistas pertencentes ao projeto de desenvolvimento de karité na África Oriental recomendam o uso de métodos tradicionais de armazenamento, por ex. celeiros domésticos ou cestos armazenados fora do chão (MASTERS, 2001). Na África Ocidental, além dos celeiros e cestos tradicionais, os sacos de juta da indústria do cacau são amplamente disponíveis; as fibras de juta permitem que o ar regule os níveis de umidade, mas devem ser armazenadas a pelo menos 25 cm do chão.

IMPORTÂNCIA DA MANTEIGA DE KARITÉ NA ÁFRICA A manteiga de karité é mencionada em quase todos os documentos da história africana. Este valioso produto natural sempre desempenhou um papel importante na farmacologia do Continente africano. No antigo Egito, Cleópatra já usava a manteiga de karité em procedimentos cosméticos. Atualmente, a manteiga de karité é consumida em Gana, por exemplo, para cuidar e proteger a pele durante a estação seca do Harmattan. Na Nigéria, a manteiga de karité é usada para aliviar a sinusite e a congestão nasal. Além dos cuidados com a pele, a manteiga de karité também é usada como alimento em muitas partes da África porque é uma manteiga de nozes comestível totalmente natural. Como um produto de cuidado de pele extremamente eficaz, a manteiga de karité atraiu a atenção de muitos fabricantes de cosméticos. Pode-se dizer que hoje em dia é difícil encontrar um fabricante de cosméticos que não coloque manteiga de karité em nenhum de seus produtos (creme, sabonete, etc.). Os gigantes da cosmética global tornaram a manteiga de karité um componente bastante familiar para muitos ocidentais através de seus inúmeros anúncios. Mas o que as empresas de cosméticos não dizem é que usam principalmente manteiga de karité na forma refinada. O refino envolve o tratamento da manteiga de karité com calor e produtos químicos, durante o qual a manteiga perde seu aroma e cor naturais. Assim, em sua forma natural, torna-se dourado ou um produto branco com aroma de nozes ou inodoro. Nem é preciso dizer que a manteiga tratada quimicamente não retém tantas substâncias úteis como em um produto natural não refinado. Alguns estudos mostraram que o processo de refino pode remover até 75% dos nutrientes bioativos que ocorrem naturalmente na manteiga de karité. Por que as grandes empresas de cosméticos usam principalmente manteiga de karité refinada? Há várias razões para isso. Em primeiro lugar, cabe aos fabricantes decidirem por si mesmos que odor e cor específicos terão o produto final. O aroma da manteiga de


C a p í t u l o I I | 134 karité não refinada natural é tão único e forte que dominará em todos os demais produtos criados. Portanto, eles preferem matérias-primas completamente inodoras. O mesmo acontece com a cor - usando manteiga de karité natural ou amarelada / dourada, não é possível criar um creme branco como a neve, por exemplo, mas muitas vezes ainda é considerado um indicador de "um produto cosmético verdadeiramente limpo e estéril". Obviamente, o preço mais baixo da manteiga de karité refinada também é um argumento importante para muitos produtores. A manteiga refinada é mais barata de produzir; na verdade, esta é a única maneira de produzir em massa ou separá-la por meios químicos e em um ritmo muito mais rápido e com uma carga de trabalho menor do que o não refinado. O sistema de classificação comum para manteiga de karité divide a manteiga em cinco classes: A (manteiga de karité crua ou não refinada, gordura separada por água), B (refinada), C (altamente refinada, gordura separada por solventes como hexano), D (nível mais baixo livre de contaminantes), e a classe E (contêm poluentes). A manteiga de karité das classes A, B e C é usada comercialmente. A manteiga crua, ou manteiga não refinada (Classe A), varia em cor do ouro-cremoso ao amarelo-acinzentado e tem um aroma de nozes. A manteiga de karité nas outras classes é branca e inodora. A manteiga de karité vendida na loja online Gaia é certificada como orgânica (Soil Association) e produzida de acordo com os princípios do comércio justo (Fairtrade Foundation). Esta manteiga de karité orgânica de comércio justo Classe A é 100% não refinada - tão natural e pura quanto possível. Assim, retém todos os ingredientes naturais que proporcionam um cuidado eficaz para todos os tipos de pele, ajudando a manter a elasticidade e a hidratação da pele para prevenir o envelhecimento prematuro da pele, danos do sol, descamação e outros problemas de pele. Além disso, a manteiga de karité (assim como o sabonete negro africano) é feita na África Ocidental, em Gana, por mulheres que pertencem a uma comunidade chamada Sociedade Cooperativa Multifuncional de Akoma (Figura 97). É uma organização fundada em 2006 para ajudar as pessoas da aldeia de Pusu-Namogo, especialmente mulheres, crianças e idosos vulneráveis, a aliviar a pobreza na área.


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Figura 97. Equipe de mulheres que pertence à comunidade chamada Sociedade Cooperativa Multifuncional de Akoma, em Gana. Foto: Arquivo da Akoma.

A Akoma Cooperative Multipurpose Society foi à primeira associação em Gana a receber um certificado de comércio justo em 2009, garantindo que as mulheres da comunidade Akoma recebessem um salário justo pela produção de manteiga de karité (e sabão negro africano). Além disso, o dinheiro da venda da manteiga de karité será usado para realizar os programas sociais necessários, ajudando a tornar a comunidade local sustentável. A prioridade da cooperativa Akoma nesta área é a renovação da escola básica de PusuNamago. Nos próximos anos, está prevista a melhoria da qualidade da educação oferecida às crianças e a criação de uma biblioteca e centro de informação, bem como a aquisição de mobiliário escolar (por exemplo, carteiras de estudo) e outros recursos necessários.


C a p í t u l o I I | 136 EXTRAÇÃO DA MANTEIGA DE KARITÉ Introdução. A manteiga de karité é muito popular em cosmetologia (hidratação da pele, proteção UV, etc.), farmacologia (cicatrização de feridas, etc.), alimentação (produção de óleo, produção de chocolate), que oferece muitos pontos de venda em mercados internacionais. Em 2005, a produção global de caroços (nozes) de karité foi estimada em cerca de 700.000 toneladas, sendo os principais produtores a Nigéria (61%), Mali (12%) e Burkina Faso (10%) (UNCTAD, 2006). As exportações consistem principalmente de amêndoas secas que são posteriormente processadas na Europa e nos EUA por extração química ou por prensagem mecânica. No Burkina Faso, apenas 3,5% da produção é exportada na forma de manteiga. Grande parte das amêndoas é processada localmente em manteiga, onde se destina principalmente a usos alimentícios, cosmetologia e sabão. Não existem estatísticas confiáveis sobre esse autoconsumo, mas foi estabelecido que essa produção local representa uma importante fonte de renda para cerca de 400.000 mulheres burquinenses (ERNEST, 2001). A ecologia natural do karité o torna uma cultura ambiental importante para preencher lacunas, pois a árvore dá frutos durante a temporada de fome, quando tanto a comida quanto o dinheiro são recursos escassos. Embora o preço do grão de karité e da manteiga aumente ao máximo pouco antes do período de frutificação em fevereiro-março e alcance o mínimo durante as colheitas em abril-agosto, os resultados avaliados por Schreckenberg (2004) mostram que muito poucas famílias podem manter seus estoques para se beneficiar da sazonalidade que conduz a aumentos de preços do produto no mercado. Isso enfatiza a severidade das necessidades de dinheiro das famílias durante a temporada de fome e valoriza as culturas ambientais, como o karité, que pode servir como um amortecedor durante esse período. Por exemplo, é geralmente reconhecido que o estado de saúde das famílias rurais em Burkina Faso está altamente ameaçado durante a estação chuvosa (SAUERBORN et al. 1996), e a renda monetária gerada pelas mulheres durante este período é, portanto, crucial para garantir a saúde das famílias durante um período em que o trabalho é muito necessário. A mão de obra necessária para a coleta de nozes de karité varia de acordo com a localização e a produção em um determinado ano. No entanto, mesmo onde há árvores de karité em abundância (Figura 98), a coleta de frutos de karité e nozes é uma atividade de baixo retorno. Um estudo de Chalfin (2004) no norte de Gana mostrou que as mulheres que trabalham seis horas na coleta de frutas durante dois dias colheram apenas alguns kg


C a p í t u l o I I | 137 de frutos, e um estudo feito em Mali em 1980 mostrou que as atividades de coleta e prétratamento exigiam 1,4 pessoa- horas de mão de obra por quilograma de grãos (CEPAZE, 1988, citado por HYMAN, 1991). Embora o processamento de grãos de karité em manteiga ofereça uma possibilidade de retornos maiores, as necessidades de mão de obra para essa atividade também são muito altas. Hyman (1991) mostra que os produtores de manteiga de karité investem aproximadamente oito horas de trabalho para produzir um kg de manteiga de karité. O preço de um kg de manteiga de karité no mercado local foi estimado em aproximadamente US $ 2 (valor convertido). Em geral, as mulheres de Burkinabè precisam fornecer mão de obra significativa para as atividades agrícolas de suas famílias (por exemplo, SIDA, 2004). Isso significa que, a fim de garantir que não negligenciem suas atividades agrícolas nem seus afazeres domésticos, as mulheres muitas vezes partem para o campo para colher frutos de karité muito antes do amanhecer (CHALFIN, 2004) e voltam para sua casa para preparar o café da manhã para os familiares e depois juntar-se ao resto da família nos campos agrícolas. Inevitavelmente, as atividades baseadas no karité, devido ao seu tempo, aumentam o bem-estar geral das famílias, mas com um alto custo - o risco de sobrecarregar as mulheres, colocando-as em risco de atenuação e outras doenças que podem, por sua vez, minar a produtividade geral da família.

Figura 98. Parque de árvores adensadas de karité na África.


C a p í t u l o I I | 138 O fruto quando muito maduro é comido como merenda, mas também é um alimento para o povo carente. Pode ser consumido cru ou ligeiramente cozido. A polpa pode ser transformada em suco. De acordo com McAllan et al. 1996, a polpa também pode ser removida por fermentação. Em seguida, as nozes são colocadas para secar ao sol. As amêndoas são extraídas geralmente antes do início da fabricação da manteiga (Figura 99), quebrando as nozes com pedras ou batendo suavemente em um pilão e a massa triturada é transformada em manteiga. A manteiga de karité, ou óleo de karité, é usada em fábricas para produzir gordura de panificação, margarina, substitutos da manteiga de cacau e vários produtos de beleza umectantes e farmacêuticos. Quando é bem elaborada, a manteiga pode ser armazenada por muitos meses se embrulhada em folhas e mantida fria.

Figura 99. Amêndoas extraídas das nozes de karité.

A extração da manteiga de karité pode ser feita de forma tradicional ou extração manual (fervura tradicional), ou semimecanizada ou semi-industrial (extração por mecânica (prensagem/expeller), ou industrialmente (extração por solvente). O método tradicional é trabalhoso, ineficiente (eficiência de extração de 20%) e sem consistência. O método semimecanizado atinge uma taxa de extração de 35–40%. Enquanto, o método totalmente mecanizado atinge a taxa de extração de 42–50% (USAID, 2004; FAO; CFC, 2004). Conforme descrito por Matthäus (2012), os métodos mecanizados apresentam as


C a p í t u l o I I | 139 vantagens de baixo investimento e custos de manutenção, obtenção de manteiga de alta qualidade e facilidade de refino. Extração manual. Infelizmente, a manteiga de karité é um dos recursos oleaginosos mais difíceis de extrair pela forma tradicional. Seguindo o esquema tradicional de extração de karité, as amêndoas são previamente limpas, depois são cozidas por aquecimento, secadas e, em seguida, esmagadas em um pilão. A massa obtida é então prensada entre dois blocos de pedras para ser apurada, depois amassada manualmente (batendo ou agitando) até obter uma manteiga bruta que é lavada várias vezes com água quente e enxaguada com água fria. A manteiga é então purificada por aquecimento e decantada. Tais métodos são demorados, tediosos e fornecem um produto de qualidade altamente variável. Em particular, durante a fase de purificação, a manteiga pode superaquecer, o que afeta suas qualidades. O processamento artesanal é realizado tanto por mulheres que trabalham sozinhas ou com suas famílias, quanto por grupos de mulheres (Figura 100). Continua disseminado devido à baixa demanda de investimentos. A produção tradicional de manteiga representa cerca de 10% da produção total de amêndoas, e os produtores de manteiga ganham cerca de FCFA 19.800 por 100 kg de amêndoas processadas.

Figura 100. Carregamento de nozes de karité pelas mulheres de Gana para extração de sua manteiga. Foto: USAID na África.


C a p í t u l o I I | 140 Dependendo das tradições locais, os métodos tradicionais de extração têm variações, mas ainda são realizados por mulheres. Dos 505 domicílios que coletaram produtos de karité durante o período da entrevista, 92% mencionaram que o trabalho era feito apenas por mulheres e meninas, enquanto apenas 2% mencionaram que o trabalho era feito por homens. Os 6% restantes dos domicílios mencionaram que a coleta de produtos do karité era feita por membros do sexo masculino e feminino do domicílio. Além disso, 98% das famílias envolvidas na produção de manteiga de karité mencionaram que as mulheres eram responsáveis pelas atividades de processamento. Exemplo do método de extração de manteiga de karité de Gaia que é produzida por membros da Associação de Mulheres Akoma em Gana, e elas fazem isso usando o método tradicional, à mão. Hexano ou outros solventes não são usados para separar a gordura, mas apenas a água. O resultado é manteiga de karité classe A não refinada natural. As etapas de produção estão apresentadas nas seguintes Figuras 101-106:

Figura 101. O fruto da árvore de karité é colhido manualmente, as nozes de karité são lavadas, selecionadas e secas. Foto: Arquivo da Akoma.


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Figura 102. As nozes de karité são esmagadas em uma trituradora mecânica. As sementes esmagadas são então torradas, deixadas para esfriar e moídas até formar uma pasta lisa ou fina. Foto: Arquivo da Akoma.

Figura 103. Adiciona água para remover a gordura e essa mistura é fervida por várias horas. Por fim, filtre o óleo, misture e deixe esfriar. Foto: Arquivo da Akoma.


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Figura 104. O óleo ainda quente é deixado para solidificar por esfriamento. A manteiga de karité natural não refinada está pronta. Foto: Arquivo da Akoma.

Figura 105. Manteiga não refinada solidificada após resfriamento. Foto: Arquivo da Akoma.


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Figura 106. A manteiga ainda na fase líquida (quente) é colocada em pequenas formas de plástico para comercialização no comércio ambulante dos países africanos. Fonte: (cc BY-NC-ND 2.0) SOCODEVI.

Os habitantes que vivem na região do karité colhem os frutos dos quais se extrai a gordura contida nas amêndoas para fazer a manteiga. A comercialização de amêndoas e manteiga nos mercados locais (Figuras 107 e 108) proporciona uma renda substancial para as mulheres que estão envolvidas no setor e sua exportação constitui uma fonte de divisas. Apesar da importância econômica da manteiga de karité como um produto polivalente, o karité a partir do qual é produzida não foi, até agora, objeto de um esforço sustentado de pesquisa em melhoramento genético (SORO et al. ., 2011).

Figura 107. Jovem vendedor de manteiga de karité, transformada em pequeno bloco, nas ruas de Tafiré, Costa do Marfim.


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Figura 108. Sabonetes de manteiga de karité, Burkina Faso.

A produção de manteiga é um processo longo e doloroso por razões relacionadas com as estruturas tradicionais, às vezes é feito em grupos, mas geralmente individual praticado como um costume ancestral (DANDJOUMA et al., 2009). O processo seco de extração é implementado pelas mulheres, principais produtoras de manteiga de karité em várias localidades de Camarões, África (Figura 109).


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Figura 109. Diagrama do processo de extração da manteiga de karité via seca. Fonte: Dandjouma, A. K. A.; Adjia, H. Z.; Kameni1, A.; Tchiégang, C. (2009).

Extração semi-industrial. O processo semi-industrial corresponde a cerca de 10% da produção total. Geralmente é realizado por organizações de mulheres em um centro de produção de manteiga (BADINI et al., 2011). Na verdade, várias unidades de processamento conseguiram mecanizar parte de suas atividades. Graças ao apoio financeiro e técnico de parceiros nacionais e internacionais, essas organizações estão


C a p í t u l o I I | 146 agora penetrando nos mercados internacionais de manteiga convencional, orgânica e de comércio justo. Essas unidades fabris ainda apresentam baixa capacidade de produção por falta de recursos e equipamentos adequados. Muitas vezes, o processamento semiindustrial é combinado com o processamento manual para aumentar a capacidade de produção. A manteiga é vendida para processadores nacionais e internacionais, em nichos de mercado (mercado justo, orgânico, etc.) ou no mercado local (supermercado, etc., Figura 110).

Figura 110. Manteiga de karité colocada em embalagem e ofertada pelo mercado. Foto: Cathkidston@fickr.com.

Atualmente, há um número significativo de fábricas extraindo manteiga de karité na África Ocidental. Em Gana, uma oitava fábrica acaba de ser inaugurada, e Burkina Faso também acaba de adquirir uma nova fábrica. Eles vão se instalando, além de muitas outras fábricas já estabelecidas nos sete principais países exportadores de karité. Como resultado, em breve a região terá capacidade para extrair ou processar quase todas as suas safras, principalmente para exportação. Com um claro aumento da demanda por manteiga de karité e produtos fracionados, este crescimento da capacidade na África Ocidental representa um desenvolvimento interessante, e permite considerar mais oportunidades para fortalecer a valorização no continente africano.


C a p í t u l o I I | 147 É também uma chance de reduzir ineficiências na cadeia de abastecimento, aproximando o fornecedor de matéria-prima dos centros de processamento. Isso reduziria os custos de transporte de materiais a granel não tratados e melhoraria a comunicação com os produtores sobre os requisitos de suprimento de grãos de karité (qualidade, volume, variedade, certificação, etc.).

PROCESSOS DE EXTRAÇÃO DE MANTEIGA Transporte dos frutos. É necessário o estabelecimento de meios de transporte para carregar toda a produção de caroço de karité de uma comunidade do interior para as cooperativas ou indústrias, especialmente para as cidades onde se instalaram as usinas (Figura 111). Atualmente, esse é o maior entrave que existe para a indústria de oleaginosas, em geral, instalada na África, em razão de que muitos agricultores não estão organizados em associações ou cooperativas.

Figura 111. Pesagem em balança para controlar a quantidade de nozes colhidas de karité. Foto: (cc BY-NC-ND 2.0), Sinsibere@flickr.com.


C a p í t u l o I I | 148 Parbolização. Em algumas partes da África Ocidental, os frutos frescos de karité são parbolizados (pré-cozimento, mediante a imersão das nozes (em casca) de karité em água aquecida numa autoclave) imediatamente após a colheita (Figura 112), a fim de matar as enzimas de crescimento da semente ou amêndoa e para facilitar a secagem da noz ao sol antes que a casca seja removida (ou a semente seja armazenada intacta em sua casca; Figura 113). A parbolização requer uma grande quantidade de lenha, com impactos correspondentes no meio ambiente. A parbolização não é praticada na África Oriental, onde as nozes inteiras são secas ao sol por cerca de duas semanas, período durante o qual a casca é geralmente removida, antes do armazenamento.

Figura 112. Uma mulher ferve os frutos de karité recém-colhidos para remoção de sua polpa (processo de despolpação) e como parte do processo de produção de manteiga. Fotos: Alamy Stock


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Figura 113. (I) Nozes de Vitellaria depois de fervidas e em processo de secagem, (II) a casca da semente é guardada e usada como lenha, (III) os grãos descascados (amêndoas) sendo posteriormente secos. Fotos: Sam Moore (2008).

Os decorticadores manuais e elétricos para o descasque mecânico de nozes secas de karité foram desenvolvidos na África Ocidental, com base na tecnologia usada para descascar o amendoim (Figura 114). Estes avanços tecnológicos no método semi-industrial estão sendo explorados nos últimos anos por várias cooperativas de mulheres estabelecidas na região produtora de karité.

Figura 114. Descascadores de amendoim do fabricante Semecat, modelos SM-3 (A) e modelo SM-1 (B) que poderão ser adaptados no descasque de nozes secas de karité, visando à liberação de suas amêndoas. Fotos: Arquivo da Semecat - Máquinas Agrícolas e Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I I | 150 Despolpamento. A separação da polpa do restante do fruto é muito difícil, porque o tecido correspondente ao mesocarpo ou a polpa é compacto e fica fortemente aderido ao endocarpo (Figura 113). Embora não existam máquinas especializadas para a operação de despolpamento de frutos frescos de karité, porém o mesmo princípio de despolpadeira indicada para o fruto de macaúba poderá oferecer uma construção mais sólida, mais resistente e as suas barras de aço que constituem o cilindro devem ser mais reforçadas, porque o trabalho com o karité é também enérgico. As facas implantadas no eixo devem apresentar um desenho diferente, quase cortante e em número maior. É acionada por um motor mais possante (5,0 HP) e tem a capacidade de processar até 10 toneladas de frutos por dia (SILVA, 2007; Figura 114).

Figura 113. Despolpador marcas D80 (A) e D 300 (B) do mesocarpo da macaúba que pode ser adaptado para o despolpamento dos frutos de karité, visando à obtenção dos seus caroços. Foto: Arquivo da Scott Tech (2014).


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Figura 114. Despolpadeira semi-industrial que separa a casca e a polpa do endocarpo da macaúba oferece as condições ideais de adaptação para obtenção dos caroços de karité. Fotos: Isabella Christina Costa da Silva.

O período de despolpamento deve ser muito intenso para retirada completa do mesocarpo, o que aumentaria a eficiência do processo de obtenção de caroço plenamente limpo, sem nenhum vestígio de polpa. Pela ação das pancadas das facas, a polpa é totalmente retirada e separada do endocarpo e vai sendo eliminada pelas aberturas entre as barras. A polpa vai para os receptores e fazem-se a descarga dos caroços descascados, ambos em depósitos distintos. Logo após o encerramento dessa etapa, deve-se remover a polpa destinada à alimentação animal, enquanto os caroços recolhidos são espalhados sobre uma lona plástica para o processo de secagem ao sol (Figura 115).


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Figura 115. Fluxograma do processo de prensagem das amêndoas de karité e parâmetros medidos em cada etapa. Fonte: Yé et al., 2007.

Em caso de armazenamento temporário, os endocarpos devem ser conservados em depósitos comuns, protegidos da umidade, de roedores e alguns insetos, principalmente, coleópteros; pela sua constituição de tecido lignificado e duro, as amêndoas, dotadas de um alto teor de óleo, estão naturalmente protegidas. Secagem. Dada à simultaneidade sazonal da colheita anual do karité com o início das longas chuvas na África, a atenção e o tempo investidos na secagem cuidadosa do karité são bastantes críticos para a qualidade do produto final. Qualquer medida de negligência no processo de secagem pode facilmente levar à contaminação rápida e completa do caroço (sheanut) com fungo, em alguns casos levando a infecção secundária por bactérias. A secagem aprimorada de nozes (caroços) foi abordada por meio de uma variedade de métodos, começando na década de 1950 com o desenvolvimento em Burkina Faso de secadores a lenha, baseados em métodos tradicionais de fumaçar as nozes que são colocadas acima do fogo (SERVANT et al., 1956; BAGOT, 1958; Figura 116).


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Figura 116. Forno rústico de barro (fumaçar) e de alvenaria para secar as nozes de karité usado na África. Fotos: International Trade Centre – ITC.

Os métodos tradicionais de secagem de caroços (nozes) de karité no fogo ou no forno (fumagem) de karité, com ou sem casca, nunca podem ser recomendados como método de secagem, pois reduz muito a qualidade do produto acabado por meio da contaminação por hidrocarbonetos e compostos químicos mais tóxicos. Métodos de secagem solar foram desenvolvidos em Burkina Faso (TERPEND, 1982), em Camarões (KAPSEU et al., 2000) e mais recentemente pela ONG Technoserve Ghana (ANTWI, 2001). Em dezembro de 1999, a Universidade de Ngoundere (Camarões)


C a p í t u l o I I | 154 realizou um workshop sobre a secagem e o melhoramento de karité (KAPSEU; KAYEM, 2000). De um modo geral, os secadores solares mais acessíveis, baseados em folhas de polietileno, têm uma durabilidade muito limitada e podem exigir reparos ou substituição mais de uma vez por estação devido à degradação do polietileno transparente pela radiação UV e uso geral. A utilidade econômica da secagem solar versus o método tradicional mais trabalhoso deve ser decidida de acordo com as condições locais. Além de selecionar a matéria-prima e eliminar a adição de água durante o amassamento da torta gorda, os processos de torrefação (Figura 117), moagem e prensagem são realizados de forma mecanizada no método semi-industrial, os quais são considerados pontos críticos que vão exigir um controle rigoroso.

Figura 117. Tostador mecânico de amêndoas. Foto: Ascensión Rueda Robles (2015).

Trituração. A trituração é feita para moer a amêndoa em pedaços e romper as células que contêm óleo (SCRIBAN, 1988; Figura 118). A intensidade da moagem representa um propósito: tornar um tamanho de grão fino permite obter um cozimento mais homogêneo, mas resulta em um material mais compacto que exige mais energia durante o processo de prensagem. Deve-se utilizar um moinho de martelo (Deklerck, o Superior) equipado com uma tela de malha redonda de 5 mm de diâmetro, conforme recomendação dada por Yaméogo (1997).


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Figura 118. Moagem mecânica de amêndoas. Foto: Ascensión Rueda Robles (2015).

Peneiração. O produto resultante da trituração das amêndoas é composto por partículas de tamanhos variados. Este material moído é caracterizado por peneiramento por meio de uma peneira vibratória equipada com uma coluna de peneiras de 5 malhas quadradas com dimensões de 5, 4, 2, 1 e 0,5 mm respectivamente. A peneiração é realizada vibrando amostras de 100 a 200 gramas de material moído por 10 minutos na pilha de peneiras. O tamanho de partícula observado é estabelecido da seguinte forma: 5 mm <Ø <4 mm (1,47 ± 0,59%); 4 mm <Ø <2 mm (32,81 ± 3,24%); 2 mm <Ø <1 mm (44,9 ± 3,96%); 1 mm <Ø <0,5 mm (19,51 ± 1,59%). A proporção de partículas finas (Ø <0,5 mm) é desprezível. Condicionador ou cozimento. O cozimento é o processo de aquecimento do material moído normalmente efetuada a baixa temperatura, da ordem dos 70 °C, que tem por efeito concentrar as gotículas de manteiga espalhadas no material moído e fluidificar a manteiga com vista à sua extração. O cozimento pode ser realizado em estufa de laboratório, com temperatura nominal variando de 30 °C a 150 °C, em etapas de 20 °C. A temperatura de cozimento é controlada por meio de uma unidade de medição equipada com termopares tipo J implantados no núcleo do material triturado. O processo de extração se inicia com a descarga da matéria-prima feita na moega. Em seguida, a massa da amêndoa vai sendo descarregada numa segunda rosca sem fim, através de um elevador, e transportadas para abastecer pela parte superior as prensas do tipo expellers. Fazendo parte do pré-tratamento da matéria-prima no processo de extração do óleo, o volumoso da amêndoa de karité é submetido à temperatura de 70-120°C num


C a p í t u l o I I | 156 aparelho apropriado chamado de condicionador ou cozinhador (staker) embutido na parte superior da prensa mecânica de pressão contínua ou expeller. Este sistema de aquecimento é realizado por vapor quente que circula entre as paredes laterais do cozinhador constituído por um ou duplo estágio. No seu interior, a massa da amêndoa, além de perder umidade, é aquecida para reduzir a viscosidade e facilitar o seu esmagamento sob pressão efetuado pela prensa mecânica contínua do tipo expellers. Vale salientar que o óleo se encontra na forma de glóbulos e está presente nas células da amêndoa do karité. Para que seja possível extrair o óleo é necessário que haja uma ruptura da membrana das células o que irá provocar a saída dos glóbulos. Tal ruptura no caso da prensa mecânica é dada pelo esmagamento da massa de amêndoa sob pressão continua por meio de eixo helicoidal, girando a matéria prima dentro de um cilindro tubular para ser comprimida no final do eixo. Além disso, o cilindro é dotado de orifícios de saída de óleo em suas paredes laterais. Além disso, recomenda-se levar o material triturado ao cozinhador da prensa expeller, sob uma temperatura interna de 70 °C antes de introduzi-lo na prensa, mas estudos preliminares de campo mostraram que na prática os valores utilizados estão entre 70 e 120 °C, devido à falta de controle do processo de aquecimento. Verificou-se, no entanto, que uma temperatura em torno de 90 °C era um elemento favorável na taxa de extração da prensa hidráulica, o qual resultará em 45% ± 3% de óleo (YÉ, 2004). Prensagem mecânica. O objetivo da prensagem mecânica é permitir que grupos de mulheres comercializem manteiga de qualidade exportável (SAUSSEY et al., 2005) em vez de amêndoas secas, as quais têm menor valor de agregação. Quatro tipos principais de prensas mecânicas são encontrados em Burkina Faso. Se diferirem em seu modelo, mas o princípio de prensagem é semelhante: o material, previamente triturado e aquecido, é inserido em uma gaiola perfurada com orifícios de 2 mm de diâmetro e pressurizado por meio de um pistão acionado ou por um parafuso de pressão (modelos MTK, SRC, CRIQ), ou por cilindro hidráulico (marca ADMGA). Atualmente, essas técnicas têm tido um sucesso misto, porque a taxa de extração permanece baixa, os usuários reclamam da dificuldade excessiva e da falta de confiabilidade das máquinas (YAMÉOGO, 1997; BRUINSMA, 1997; NIANOGO et al., 1997; OUATTARA, 2002). Porém, dos quatro modelos de máquinas, as prensas acionadas por cilindro hidráulico são consideradas as mais interessantes por apresentarem a melhor taxa de extração com média de 42% (± 3%) (UNIFEM, 1997). Embora os princípios físicos das prensas sejam semelhantes,


C a p í t u l o I I | 157 principalmente a pressurização de um determinado volume de material moído préaquecido, as condições de funcionamento variam. As prensas de parafuso possuem gaiolas de diâmetro semelhante, mas a força aplicada varia entre 150 e 300 kN (YAMÉOGO, 1997), o que corresponde a pressões de extração de 4 a 8 MPa. Com a prensa hidráulica, uma pressão de óleo de alimentação do cilindro de 30 a 32 MPa é recomendada. Como o pistão de simples ação tem um diâmetro de 100 mm e a gaiola de prensagem tem um diâmetro de 215 mm, a pressão de extração aplicada ao material retificado varia, portanto entre 6,5 e 7 MPa. O termo expeller é um nome registrado para as prensas de parafuso contínuas patenteadas por Anderson Expeller em 1903, porém se popularizou e se tornou um nome genérico adotado para todas as prensas contínuas de parafuso (OETTERER et al., 2006; Figura 119).

Figura 119. Cozinhador de um estágio de amêndoas trituradas de karité, acoplado a prensa extrusora de óleo tipo expeller.

As principais partes da prensa são: o alimentador e a gaiola horizontal formada por barras de aço colocadas uma ao lado da outra que são mantidas nessa posição por anéis de aço. O espaçamento das barras é regulado para permitir a saída do óleo e, ao mesmo tempo, agir como filtro para as partículas do resíduo de prensagem (torta). Dentro da gaiola, girase um parafuso em helicóide que movimenta o material para frente, comprimindo-o ao


C a p í t u l o I I | 158 mesmo tempo, e um redutor de velocidade da saída da torta que regula a pressão interna e, consequentemente, a eficiência da prensagem (MORETTO; FETT, 1998). Filtragem. O óleo obtido por prensagem sempre arrasta resíduos que tendem a turvar o óleo. A separação desse material pode ser por filtragem. A filtragem tem a finalidade de retirar os resíduos que estão misturados com o óleo. No tipo de equipamento empregado, o óleo quente passa através de uma série de filtros (10), feitos de tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. Esse filtro de prensa é do tipo placas verticais, com 6 placas e 7 quadros, fechamento mecânico manual, bica recolhedora e bandeja para retenção de finos. Também acompanha uma bomba para alimentação e motor de 0,33 CV (Figura 120). Dependendo da qualidade dos grãos empregados e do grau de impureza do óleo, pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al., 2007).

Figura 120. Filtros de prensa de porte médio que poderão ser utilizados na eliminação de impurezas contidas no óleo de karité. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Refinamento. Até o momento, seja para uso alimentar ou cosmético, a maioria da manteiga de karité integral e da estearina de karité refinada e pronta para formulação é processada na Europa ou na Ásia. Quer seja feita na África ou na Europa, quase toda a manteiga de karité destinada ao mercado da UE é canalizada por cerca de 10 refinarias


C a p í t u l o I I | 159 especializadas, como Zor (Cargill), SRC, Olvea, Bunge Loders Croklaan, AAK, óleos Fuji, Wilmar, etc. antes de usar em formulações de produtos acabados. Recentemente, a capacidade de refinação está surgindo na África Ocidental. No entanto, para que o material dessas fábricas entre na indústria global de alimentos e cosméticos, elas precisam estar em conformidade com os padrões regulatórios internacionais (HACCP, ISO, CODEX, Orgânico, Comércio Justo, etc.). As joint ventures franqueadas com refinarias globais experientes são provavelmente a melhor forma de as empresas africanas entrarem no mercado global. Existem, no entanto, grandes oportunidades potenciais para usar manteiga / óleo de karité refinado nos mercados domésticos de óleo comestível da África, particularmente na Nigéria e no Mali, onde há enormes volumes de grãos não exportados.


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