Gossypium Barbadense & Gossypium Hirsutum: algodões de fibra extralonga

Page 1

GOSSYPIUM BARBADENSE & GOSSYPIUM HIRSUTUM ALGODÕES DE FIBRA EXTRALONGA PARA AS MICRORREGIÕES DO SEMIÁRIDO

Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Tarcísio Marcos de Souza Gondim (Editores Técnicos)


GOSSYPIUM BARBADENSE & GOSSYPIUM HIRSUTUM ALGODÕES DE FIBRA EXTRALONGA PARA AS MICRORREGIÕES SECAS DO SEMIÁRIDO

1ª edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS TARCÍSIO MARCOS DE SOUZA GONDIM ORGANIZADORES

GOSSYPIUM BARBADENSE & GOSSYPIUM HIRSUTUM ALGODÕES DE FIBRA EXTRALONGA PARA AS MICRORREGIÕES SECAS DO SEMIÁRIDO

1ª EDIÇÃO

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2019


©Copyright 2019 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS, TARCÍSIO MARCOS DE SOUZA GONDIM Capa FLÁVIO TORRÊS DE MOURA (Fotos: Forest and Kim Starr e Albini Group) Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 15-01-2019 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3g

Queiroga, Vicente de Paula. Gossypium barbadense & Gossypium hirsutum: Algodões de fibra extralonga para as microrregiões secas do Semiárido. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim. – Campina Grande: AREPB, 2019. 325 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-31-9 1. Gossypium barbadense. 2. Sistema de produção. 3. Fibra extralonga. 4. Algodão Orgânico. 5. Algodão Mocó. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Medeiros, José da Cunha. III. Gondim, Tarcísio Marcos de Souza. IV. Título. CDU 633.5

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

José da Cunha Medeiros Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Tarcísio Marcos de Souza Gondim (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

Este livro descreve as espécies Gossypium barbadense (algodão das variedades Sea Island, Pima e Giza) e Gossypium hirsutum (Upland da cultivar Del Cerro e a raça Marie Galante, mocó), com especial referência ao algodão cultivado nas condições ambientais peruanas, USA e Caribe, com exceção do algodão arbóreo tradicional (mocó) cultivado, em grande escala, no passado na região semiárida. O centro geográfico de origem de G. hirsutum é a América do Norte e Central e México, e para G. barbadense é a América do Sul. Apenas 3 a 5% da produção mundial de algodão são de fibras extralongas e longas e está concentrada nos Estados Unidos, Peru e Egito, país que gerou a chancela "algodão egípcio". O objetivo deste documento é fornecer informações básicas sobre o sistema de cultivo orgânico do algodão de fibra extralonga das espécies G. barbadense e G. hirsutum. Na natureza, G. barbadense e G. hirsutum (cultivar Del Cerro) são arbustos perenes, devido ao seu ciclo anual tardio (6 meses, no caso do Pima Americano). No entanto, no sistema agrícola do Peru, ambas as espécies são cultivadas como anuais, com destruição de plantas depois de colher o fruto para semente e fibra. O algodão de ambas as espécies é frequentemente cultivado com irrigação, mas pode ser plantado sob condições de chuva e com irrigação suplementar de gotejamento na região semiárida dos Estados do CE, PB, PE, PI e RN. Um rendimento de algodão em rama de até 4 t / ha é possível em condições ideais, mas na prática é raramente superior a 2,5 t / ha, enquanto para as boas cultivares do algodão Pima Americano e Monserrat Sea Island a percentagem de fibra poderá atingir 32%, sendo a primeira cultivar introduzida antes de 1950 na Fazenda São Miguel, em Angicos, RN pela companhia inglesa Machine Cotton. Ambas as cultivares apresentam alta qualidade de fibra extralonga, variando entre 36-42 mm. Portanto, a produtividade e o comprimento da fibra do G. barbadense são priorizados como incentivo ao plantio na microrregião do Seridó e à garantia de boa comercialização, pois quanto maior o comprimento da fibra, melhor para a indústria têxtil. Suas fibras são muito mais longas e finas do que o G. hirsutum “Upland”, o que atribui aos tecidos confeccionados maciez, brilho e durabilidade. Além disso, o algodão orgânico já é tradicionalmente cultivado e produzido no semiárido usando materiais e processos que têm um impacto mínimo no meio ambiente. Neste sentido, os autores desta publicação, preocupados em fortalecer a participação comunitária e de agricultores familiares na produção agroecológica de algodão de fibra extralonga como principal elo para o processo de inclusão e desenvolvimento socioeconômico, traz, a comunidade acadêmica e extensionistas as informações básicas copiladas de bibliografias existentes sobre sistema produtivo dos algodões Sea Island, Pima, Egypto (G. barbadense), Del Cerro e Mocó (G. hirsutum), assim como todo sistema produtivo para atender as microrregiões secas do semiárido. Os autores


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO (Gossypium barbadense L.) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO – Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim ..................................10 CAPÍTULO 2. SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO DEL CERRO (Gossypium hirsutum) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO - Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim ......................177

CAPÍTULO 3. SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO ARBÓREO TRADICONAL - MOCÓ- (Gossypium hirsutum r. marie galante) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO - Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim ..........................................................................209

CAPÍTULO 4. PRODUÇÃO DE TÊXTEIS DE ALGODÃO ORGÂNICO, DEFINIÇÕES DE AGRICULTURA ORGÂNICA E NORMAS DE CERTIFICAÇÃO - Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim, Ênio Giuliano Girão, Adriana Calderan Gregolin,Esther Maria Barros de Albuquerque .........................................265

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS .................................................................................293


C a p í t u l o I | 10

Capítulo I

SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO (Gossypium barbadense L.) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO (Autores) Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Tarcísio Marcos de Souza Gondim


C a p í t u l o I | 11

INTRODUÇÃO As espécies de algodão reconhecidas no mundo são cerca de 50, dentre as quais 4 são cultivadas; duas delas (Gossypium arboreum e G. herbaceum) são diplóides e duas (G. hirsutum e G. barbadense) são tetraplóides (LACAPE et al., 2010). Em razão do melhoramento genético, as duas últimas predominam, sendo a G. hirsutum responsável por mais de 90% da produção mundial (ZHANG et al., 2008). Ocorrem no Brasil três espécies de algodão: Gossypium hirsutum, G. Barbadense e G. mustelinum. Gossypium mustelinum é a única espécie nativa do Brasil, não cultivada, ocorrendo apenas em pequenas populações naturais e em risco de desaparecimento. G. barbadense ocorre de forma semidomesticada, sendo utilizada pelas populações indígenas para confecção artesanal de tecidos, como planta medicinal e para confecção de pavios para lamparinas; além de ser cultivada em pequenas lavouras não comerciais. G. hirsutum é a espécie de algodão amplamente cultivada no Brasil, sendo composta por duas variedades: G. hirsutum raça latifolium, também chamada de algodão herbáceo e G. hirsutum raça marie galante, conhecida como algodão mocó ou arbóreo (BARROSO; FREIRE, 2003). No Brasil, desde o período em que o país era colônia de Portugal (1.500 a 1.822), a cultura do algodoeiro vem sendo explorada comercialmente. No Século XVIII, ainda no período colonial, o Maranhão se destacou como um grande fornecedor de fibras para as fiações inglesas que dominavam o mercado mundial de tecidos. No Maranhão a cultura se estendeu e a produção se organizou no semiárido do Nordeste, tornando os Estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte grandes produtores, onde era cultivado principalmente o algodão arbóreo, especialmente o mocó na microrregião climática do Seridó do RN e da PB. Foi o algodão que fixou o homem no semiárido nordestino e proveu essa região de uma riqueza singular durante quase todo o Século XX (TAKEYA, 1985). O algodoeiro anual ou herbáceo foi introduzido na região Nordeste a partir da primeira metade do século 19 por meio de cultivares oriundas dos Estados Unidos. Essas introduções semeadas nas regiões do Litoral e do Agreste nordestino foram eliminando progressivamente os algodões denominados localmente de “Rim-de-Boi” (G. barbadense var. brasiliense), cultivados desde o período colonial (FREIRE, 1989). Duas variedades botânicas de Gossypium barbadense são encontradas no Brasil, ambas na


C a p í t u l o I | 12

forma semidomesticada, porém sem qualquer esforço contínuo de melhoramento genético. O Rim-de-Boi (G. barbadense var. brasiliense) possui sementes sem línter, fortemente coladas em forma de rim, enquanto que a outra variedade é comumente conhecida como “Quebradinho” ou “Maranhão”, possuindo sementes sem línter, deslocadas, facetadas ou não. Ambas são arbóreas e de ciclo perene e muito similar geneticamente (FREIRE, 2000). O cultivo das cultivares Sea Island, Pima e Giza, da espécie G. barbadense, poderá ser considerado um marco estratégico para o desenvolvimento agroindustrial do Nordeste brasileiro, principalmente para os estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, pela sua superfície plantada tradicionalmente com o algodoeiro arbóreo (mocó tradicional) nas décadas passadas, por sua rusticidade em se adaptar às condições de clima seco, por apresentar alta produtividade, elevada qualidade de fibra que é seu grande diferencial e por sua importância socioeconômica em gerar uma grande quantidade de mão-de-obra, tanto nos processos de produção de algodão em rama e industrialização da fibra, além de outros subprodutos (MINAG, 2010). Para as microrregiões secas do Seridó e do Sertão de Inhamuns no Ceará é possível plantar uma variedade Giza (egípcio) ou Pima (americano e peruano) em condições de irrigação por ser uma zona livre de incidência de doenças para o algodoeiro, pois tais materiais de origem do Gossypium barbadense são muito suscetíveis à bacteriose. O Brasil já cultivou o algodão de fibra extralonga, o algodão arbóreo (Gossypium hirsutum L. r. marie galante), mas a variedade tem hábito de crescimento perene, o que significa que permanecem vivas no campo por vários anos, o que dificulta o manejo do bicudo-do-algodoeiro e praticamente já não vem sendo produzida nos últimos quinze anos. Os novos materiais perenes de G. barbadense são explorados apenas em ciclo anual, o que facilita o manejo do bicudo. Para o caso do algodão arbóreo tradicional, seu ciclo produtivo poderá ser viável se for efetuado apenas duas colheitas dentro de um espaço de tempo anual. Em seguida, eliminam as plantas após essa segunda colheita. A Algodoeira São Miguel, braço agrícola da companhia inglesa Machine Cotton, que também é proprietária da empresa Linhas Corrente, explorava uma imensa propriedade, coisa de uns 7.000 hectares, encravada entre os municípios de Angicos, RN e Fernando Pedroza, RN, onde se desenvolviam ininterruptamente pesquisas de melhoramento genético através da criação de novas cultivares de algodão com fibra mais longa ou


C a p í t u l o I | 13

extralonga. Nessa fazenda São Miguel de Angicos, RN, fundada em 1924, o melhorista Carlos Victor Faria usava no seu programa de melhoramento outro tipo de algodoeiro e utilizava variedades Pima (G. barbadense) provenientes do Arizona para sintetizar suas populações. Somente em 1950 essa empresa passou a trabalhar apenas com algodoeiros mocós por sua resistência ao clima (MENEZES, 2009), provavelmente em virtude da chuva escassa associada a sua má distribuição, considerada a característica mais marcante da microrregião do Seridó Rio-grandense e Paraibano, e por ainda não dispor na época de irrigação por gotejamento, a qual se desenvolveu como tecnologia comercialmente viável na década de 60, nos Estados Unidos e Israel, com o lançamento dos plásticos de polietileno. Portanto, o algodão de fibra extralonga é um importante nicho de mercado que pode ser explorado pelos pequenos produtores do semiárido, a exemplo de outros algodões especiais como o colorido e o orgânico. O Brasil tem um mercado potencial de cerca de 30 mil toneladas de pluma, que seriam suficientes para suprir esse mercado, evitando assim a importação desses materiais, principalmente do Egito, um dos maiores produtores mundiais desse tipo de fibra. Ademais, a melhoria da qualidade da fibra é uma das estratégias da cadeia produtiva nacional para garantir competitividade. O algodão tem perdido mercado para as fibras sintéticas derivadas de petróleo e uma aposta para garantir a sustentabilidade da cultura é investir em fibras naturais de qualidade diferenciada (fibra longa e extralonga), de forma que remunere melhor o produtor. Por outro lado, na década de 80, as áreas de algodão apresentaram uma redução significativa no Nordeste brasileiro, principalmente devido ao surgimento do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis Boheman) o que ocasionou aumento nos custos de produção. A "modernização" do sistema de produção baseado no aporte de insumos externos (adubos minerais, sementes melhoradas, agrotóxicos, material transgênico, etc) dificultou a atividade para o agricultor familiar descapitalizado. Mesmo nesse cenário desanimador, são notórios os esforços dos agricultores familiares do Nordeste em procurar se adaptar às novas tendências de mercado do algodão, tendo eles se apropriado das tecnologias geradas pela pesquisa para o sistema de produção do algodão ecologicamente correto. Essa capacidade de inovação dos agricultores em suas propriedades foi condição primordial para o fortalecimento do cultivo do algodão numa perspectiva agroecológica e para mercados especializados, como o orgânico.


C a p í t u l o I | 14

A política de apoio à produção orgânica no Brasil possibilitou a criação de uma cadeia produtiva de algodão ecologicamente sustentável e conduzida por agricultores familiares. Trata-se de uma cadeia produtiva solidária e que preserva os recursos naturais, gerando inclusão social e um produto final com um diferencial no mercado. A Embrapa Algodão tem suas recomendações técnicas específicas em relação ao manejo agronômico do algodão orgânico, sendo um fator importante para as condições climáticas predominantes do semiárido, as quais poderão ser úteis aos agricultores da região semiárida que pretendam cultivar essa nova espécie de algodão perene em sistema agrícola anual. Mas, a Embrapa precisa desenvolver e pesquisar e adotar novas metodologias nas diversas atividades agronômicas (plantio, irrigação, adubação orgânica, manejo de pragas com bioinseticidas, colheita, etc), a fim de alcançar a máxima eficiência, aliado ao reduzido custo de produção, e, assim, tornar essas atividades agrícolas ambientalmente mais sustentáveis, com destruição de plantas após a primeira colheita ou na segunda etapa de colheita, no caso do algodão mocó tradicional. Além disso, o algodão requer dias e noites relativamente quentes para o melhor crescimento e desenvolvimento, no entanto, durante o seu ciclo de crescimento, períodos com condições sub-ótimas podem ser registrados na região semiárida e, como consequência, a germinação, emergência, crescimento e desenvolvimento podem ser modificados, o que pode produzir reduções na produção, maturação e qualidade das fibras. As temperaturas máximas, mínimas e ótimas variam de acordo com os estádios de desenvolvimento e os processos fisiológicos de cada cultivar ou variedade (MAUNEY, 1986).

IMPORTÂNCIA DA FIBRA EXTRALONGA E DO ALGODÃO ORGÂNICO

O algodoeiro é uma das espécies vegetais de maior utilidade, cuja fibra possui múltiplas aplicações (tecelagem, confecção de feltro, celulose, películas fotográficas e chapa para radiografia) e é responsável por 45% do vestuário da humanidade. É também importante fonte de óleo e de proteínas, como subprodutos extraídos de suas sementes, com larga aplicação na indústria de alimentos e na fabricação de biocombustíveis (BELTRÃO, 2007). No caso do algodão Gossypium barbadense, essa espécie é cultivada anualmente no Peru com o nome de Pima Peruano, mas pode ser cultivado de forma bianual (MORE, 2014).


C a p í t u l o I | 15

É o tipo mais perfeito que se conhece. Na América do Norte é cultivado com os nomes de Sea Island e de Pima Americano. Foi o Sr. Jumel quem levou em 1838 a semente de Sea Island para o Egito. Por se tratar de um algodão de fibra extralonga, sua fibra permite a produção de fios mais finos usados pela indústria têxtil na confecção de tecidos de luxo e linhas de costura. É importante introduzir o cultivo de algodão de fibra extralonga na região semiárida brasileira, porque esse segmento tem mais possibilidades de mercado. Além disso, essa fibra poderá se tornar na maior fonte de ingressos econômicos para as cooperativas de agricultores irrigantes e para o país por sua cotização em dólares, constituindo em uma fonte importante de divisas. Para suprir o mercado interno de fibras longas e extralongas, estimado em 3% da demanda nacional de algodão, o Brasil importa o produto principalmente do Egito e USA (Califórnia), um dos maiores produtores mundiais desse tipo de fibra. O algodão de fibra longa e extralonga é um importante nicho de mercado que pode ser explorado pelos pequenos produtores do semiárido, a exemplo de outros algodões especiais como o colorido e o orgânico. Além disso, o Brasil tem um mercado potencial de cerca de 30 mil toneladas de pluma, que seriam suficientes para suprir esse mercado, deixando de importar esses materiais. Caro e difícil de cultivar, o algodão Sea Island (G. barbadense) logo se tornou valorizado pela aristocracia britânica: os lenços da rainha Vitória eram feitos a partir dele (Figura 1). Durante o início do século 20, o algodão da Sea Island foi exterminado por uma infestação generalizada de bicudo, que afetou todo o cinturão de algodão do México até a costa leste dos EUA (FERNANDES, 1923). Recentemente, o algodão Sea Island passou por uma nova estratégia de exploração. Hoje ela é cultivada e monitorada por alguns dedicados especialistas em pequenas ilhas do Caribe, onde a quantidade ideal de sol, chuva e umidade permitem que esse material genético único de plantas floresça e produza.


C a p í t u l o I | 16

Figura 1. Camiseta e fibra do algodão Sea Island. Fotos: Fabricante da marca Sunspel (Inglaterra).

Por outro lado, o cultivo ecológico do algodoeiro tem encontrado, no momento, sua maior expansão nos Estados Unidos (aproximadamente 4.000 ha). Existem também projetos com algodoeiro ecológicos no Egito, Argentina, Brasil, Grécia, Índia, Nicarágua, Paraguai, Peru, Tanzânia, Turquia e Uganda. A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de variedades usadas para o cultivo ecológico de algodão em alguns países (ASOCIACIÓN NATURLAND, 2000). Tabela 1. Variedades usadas para o cultivo ecológico de algodão em alguns países. Países

Variedades

USA

Sea Island; Pima Americano e outras variedades

Egito

Giza 75; Giza 85

Argentina

Pima

Paraguai

Repapes; Linea 100; Deltapine 90

Peru

Tanguis; Pima

Turquia

Nazilli 84; Nazilli 87

Fonte: Asociación Naturland, 2000.


C a p í t u l o I | 17

Em relação à produção de algodão orgânico, Lizárraga (2008) destacou que o Peru teve uma primeira experiência de produção orgânica nos anos 90 no Vale do Cañete, sendo a sua maior produção obtida entre 3.220 kg - 3.680 kg de algodão em rama em condições irrigadas por hectare (La REPUBLICA, 2014). Atualmente as indústrias possuem uma abordagem ecológica, descoberta pela crescente tendência de consumo e/ou uso de produtos que contribuem para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Os primeiros a adotar essa tendência foram os países caracterizados por seu grande poder aquisitivo e por uma grande fidelidade aos produtos orgânicos, uma vez que estão focados em questões de cuidados com a pele e na contribuição ambiental (VERÁSTEGUI, 2016). Além disso, a indústria têxtil em geral desenvolveu esse conceito ecológico nas confecções com matérias-primas orgânicas. Esse setor é caracterizado por ser vanguardista, uma vez que está focado na moda têxtil. Caro et al. (2012) esclarecem que a indústria da moda sempre apresenta diversas alternativas, inovações, oportunidades e modelos, que prometem maior conforto, elegância, distinção e status, de forma que tudo isso implica que as tendências globais são seguidas. Portanto, as empresas têxteis peruanas firmaram-se na fabricação de vestuário de materiais orgânicos, tendo como principal “modus operandi” "produzir para o mercado externo", confeccionando e apresentando peças elaboradas de algodão. Com base em tais desafios de valores de mercado, o Peru é considerado o oitavo produtor mundial de algodão orgânico por sua origem e grande história com a fibra extralonga do Gossypium barbadense (VERÁSTEGUI, 2016). De acordo com Ferrigno et al. (2009), a produção de algodão orgânico cresceu 20% durante 2007-08, chegando a 802.599 fardos (175.113 toneladas) cultivados em uma área de 253.000 hectares (625.000 acres). No entanto, a partir de 2012, o algodão orgânico representa apenas 0,76% da produção mundial de algodão. Atualmente, mais de 22 países em todo o mundo cultivam algodão orgânico. Os dez principais países produtores de algodão orgânico são a Índia, a Turquia, a Síria, a Tanzânia, a China, os Estados Unidos, o Uganda, o Peru e o Egito, juntamente com o Burkina Faso. Com base no relatório da Organic Exchange Farm and Fiber Report divulgado em maio de 2010, as vendas globais de vestuário e outros produtos têxteis feitos de algodão orgânico atingiram US$ 4,3 bilhões em 2009. Isso representa um aumento de 35% em


C a p í t u l o I | 18

relação aos US$ 3,2 bilhões de 2008. A indústria de vestuário também aceitou o algodão cultivado organicamente. Muitas empresas de vestuário têm desenvolvido programas que usam 100% de algodão cultivado organicamente para seus produtos. Além do fator ambiental, admite-se que o algodão orgânico tem uma série de qualidades superiores em comparação ao algodão tradicionalmente cultivado:

a) O algodão orgânico é mais macio e mais confortável do que o algodão cultivado convencionalmente. b) Tecido de algodão orgânico é hipoalergênico, porque não é sujeito a qualquer tratamento químico desde a sua produção até a sua transformação em vestuário. O seu cultivo, com base na agricultura biológica, realiza-se com adubos e pesticidas naturais, exigem menos água, preserva a fertilidade do solo por ser alternado com outras culturas e permite obter um algodão com fibras mais macias e resistentes. Portanto, o produto resultante é bastante adequado para a pele sensível. O resíduo químico tóxico deixado na fibra do algodão cultivado convencionalmente pode ser absorvido pela pele humana, o que pode levar a alergias. Uma vez que produtos químicos tóxicos na forma de pesticidas e fertilizantes não são usados na produção de roupas de algodão orgânico, os riscos de tais alergias são grandemente minimizados.

c) O algodão cultivado organicamente contém cera natural, que produz um tecido mais suave e satisfaz ao longo do tempo - algo que o algodão não cultivado organicamente não pode igualar.

d) O algodão cultivado organicamente tem o mesmo desempenho que o algodão cultivado tradicionalmente, no que diz respeito à resistência.


C a p í t u l o I | 19

ORIGEM DA ESPÉCIE G. BARBADENSE

O Gossypium barbadense L. habita em estado silvestre na região costeira do Peru e do Equador. Algumas formas ocorrem no norte da América do Sul, Antilhas e partes da América Central (LEE, 1984). Segundo Hutchinson et al. (1947), a América Central e outras partes do Velho Mundo foram povoadas com G. barbadense em época póscolombiana. O centro de diversidade dessa espécie é o nordeste da América do Sul. Os achados arqueológicos de Ancón-Chillón, Peru, datados de 2500-1700 a.C., são de formas primitivas do G. barbadense, sugerindo que esse tipo com línter e silvestre crescia na região (STEPHENS; MOSELEY, 1974). Em relação ao fato do achado de Ancón-Chillón pertencer ao G. barbadense e não a espécies diplóides da Europa, o que negaria a possibilidade de um dos ancestrais dos tetraplóides das Américas terem sido introduzidos por povos agrícolas, além do fato citado de que o G. barbadense referido era primitivo, com línter, e crescia de forma silvestre, na região. Assim, o G. barbadense parece ter-se desenvolvido na América do Sul como espécie silvestre, e depois como espécie domesticada (LEE, 1984). Por outro lado, os maias (2.000 a.C. - 1.527 d.C.), os astecas (200 d.C. - 1.519 d.C.) e seus predecessores, os toltecas também cultivaram o algodão e desenvolveram avançada indústria têxtil, difundindo a arte de fiação nas regiões costeiras do México (VON HAGEN, citado por PERCIVAL; KOHEL, 1990).

ORIGEM DAS CULTIVARES G. BARBADENSE 1.Cultivar Sea Island Apesar da origem do genótipo moderno do Gossypium barbadense ser complexo e de alguma forma obscuro, tudo indica que a maioria dos conjuntos de genes deriva diretamente ou indiretamente do algodão Sea Island – muitos por meio do germoplasma egípcio. O algodão Sea Island, originalmente encontrado nas ilhas caribenhas, foi introduzido na América do Norte continental no final do século 18 (FRYXELL, 1965) e se tornou a base de uma pequena e próspera indústria no estado costeiro do sul dos Estados Unidos (McGOWAN, 1961). De seu primórdio, o algodão de Sea Island era distinguido por sua excepcional fibra extralonga e fina, pois ambos os caracteres tecnológicos posicionaram com um preço Premium de sua fibra e por sua demanda


C a p í t u l o I | 20

limitada no mercado. A indústria com a matéria-prima da cultivar Sea Island dos Estados Unidos perdurou pelo século 19 para o século 20. No entanto, pelos anos 20 apresentaram um sério declínio. Antes desse declínio final, os algodões da Carolina do Sul, Geórgia e Florida foram usados para restabelecer a indústria da Sea Island nas Índias Ocidentais (se refere às ilhas do Caribe denominadas Antilhas). Atualmente, o algodão Sea Island existe em coleções de germoplasma e são usualmente identificados em sua ilha de origem (São Vicente, Barbados, Santa Lucia, S. Kitts, Nevis, etc.). Apesar de ter sido primeiramente mencionada em registros históricos como uma variedade do Caribe (FRYXELL, 1965), evidencias de aloenzima verificada no algodoeiro Sea Island tem afinidade muito próxima do algodão costeiro do Peru e Equador, a oeste dos Andes (PERCY; WENDEL, 1990; Figura 2). Essa afinidade sugere que o algodão Sea Island surgiu de uma fonte introduzida, ao invés da versão do G. barbadense ser nativo do Caribe.

Figura 2. Registro no mapa da origem do Gossypium barbadense da região costeira do Peru e Equador, sendo derivadas as cultivares Brasiliense (Brasil), Sea Island, Egípcia (Caribe) e Pima (USA). Foto: Hutchinson, J. B. (1962).


C a p í t u l o I | 21

Os esforços do melhoramento do algodão Sea Island começaram no século 18 e continuaram pelo século 20. As primeiras tentativas de seleção registrada foram para precocidade (maturação antecipada) e para o hábito de crescimento anual, as quais foram necessárias para a introdução do algodão Sea Island na parte continental da América do Norte (HUTCHINSON, 1959). Além disso, muitos esforços dos melhoristas sobre o algodão Sea Island foram feitos para melhorar ou manter a qualidade da fibra. Hutchison (1959) descreveu um sistema praticado com a St. Vicente V 135 no início do século vinte, em que 20 plantas individuais foram selecionadas anualmente por seu tipo de fibra, sendo que suas sementes foram plantadas em fileiras de progênies. Essas progênies selecionadas e enfileiradas cresceram por dois anos apenas para produzir sementes (Figura 3). As demais sementes do campo de produção foram descartadas e moídas para extração de óleo. Esse sistema permitiu manter satisfatoriamente a uniformidade de comprimento da fibra e finura necessárias para a produção comercial do algodão Sea Island.

Figura 3. Experimento de produção de sementes Sea Island de fibra extralonga da espécie G. barbadense.


C a p í t u l o I | 22

2. Algodões Egípcios A criação da produção do algodão moderno e sistema de mercado no Egito são usualmente datados de 1820. Nesse ano, Khedive Mohammed Ali, na instigação de um engenheiro francês que se chamava M. Jumel promoveram a produção comercial de uma variação de algodão conhecida por “Jumel” (WATT 1907; BALLS 1919). Jumel era um algodão perene tipo arbusto e produzia uma fibra marrom, o qual foi importado do Sudão para o Egito. Existe uma confusão ao tratar da origem da planta de Jumel. Watt (1907) se refere à Jumel como sendo G. brasiliense. Antes assumiu um status de espécie, mas brasiliense é uma forma de G. barbadense encontrada na América do Sul. Balls (1919) identifica Jumel como sendo um tipo peruano de algodão originário do oeste dos Andes. Dunn (1949) constatou que Jumel era “uma variação da espécie herbaceum, a qual é um tipo asiático”, que, sem dúvida alguma, está errado. Independentemente de sua origem, a produção de Jumel foi bem-sucedida o bastante para estimular a importação e experimentação com as cultivares de “Sea Island” e as cultivares do Brasil. Aparentemente esses algodões foram entrecruzados entre si e com o Jumel em um estado sem controle para produzir uma população em que o primeiro cultivar egípcio Ashmouni só foi derivado em 1860 (KEARNEY, 1943). Ashmouni foi descrito como uma cultivar bastante heterogênea que produzia uma fibra marrom. Ashmouni em resposta deu origem a cultivar Mit Affifi. Essa cultivar Mit Affifi foi derivada de uma única seleção de planta feita em campo da cultivar Ashmouni em 1882. A planta mãe talvez tenha sido um resultado “fora do esperado” de um cruzamento natural de Ashmouni com a variedade Sea Island (DUNN, 1949). Muitas cultivares foram derivadas a partir da seleção da cultivar Mit Affifi ou pelo cruzamento natural de Mit Affifi com Sea Island e outras cultivares (KEARNEY, 1943). As cultivares resultantes da seleção ou “descobrimento” pelos campos de Mit Affifi, estão incluídas: Nubari (1905) Assili (1906) e Sakel (1906). Outras cultivares primitivas originadas supostamente por hibridização natural inclui: a cultivar Abbasi, que supostamente foi derivada de Mit Affifi e Zafiri; Giza 3, que supostamente foi derivada de Ashmouni x Sakel de população híbrida; sendo que Giza 7, que supostamente foi derivada do mesmo cruzamento natural que produziu a Giza 3 (KEARNEY 1943; DUNN 1949; Figura 4). Nos anos 30, o Ministério da Agricultura Egípcia estava criando novas cultivares pelos métodos de seleção e hibridização controlada. Exemplos de cultivares primitivas que foram desenvolvidas por método de hibridização controlada foram: cultivar Karnak, derivada do cruzamento de Maarad e


C a p í t u l o I | 23

Sakha 3, a qual foi lançada em 1931; cultivar Menoufi, foi obtida por seleção do cruzamento entre Giza 12 e Sakha 3, lançada em 1942; e a cultivar Giza 30, a qual é resultado do cruzamento entre Giza 7 e Sakha 11, que, por sua vez, é derivada da cultivar Sea Island.

Figura 4. Destaque do comprimento de fibra extralonga de algumas variedades (Giza 45 (2) e Giza 70 (3)) do algodoeiro egípcio, as quais são inferiores a cultivar Sea Island (1).

Em todo processo inicial de desenvolvimento de algodões egípcios, os trabalhos de seleção e melhoramento estavam concentrados sobre produção de algodão em rama, qualidade da fibra e adaptação regional. Apesar de haver sido constatado uma série de ambientes distintos no Egito, essas variações são apenas subconjuntos de três regiões bastante amplas, tais como: Baixo Egito ou Delta, Médio Egito e Alto Egito. Kearney em 1949 constatou que no clima mais quente do Alto Egito era necessário fazer que o algodão daquela região tivesse “a habilidade de aguentar altas temperaturas” sem perda excessiva de queda de frutos (boll-shedding). Logo, a tolerância ao calor tem sido um fator bastante significativo entre outras adaptações ao meio ambiente que tinha que ser usada no processo de melhoramento. Para a inserção no mercado do algodão egípcio, cada algodão é marcado em função da qualidade de fibra, especialmente quando a matéria-prima é destinada ao mercado externo. A seleção de qualidade de fibra no algodão Egípcio tem evoluído através do tempo para o desenvolvimento de dois tipos de fibras gerais: – Fibra Longa (LS) e Fibra extralonga (ELS). Nos finais dos anos 80, a maior parte das cultivares egípcias de fibra extralonga eram cultivadas em uma região mais fresca, que corresponde à região do Delta, perto da costa. Enquanto, as cultivares de fibra longa eram mais cultivadas em regiões mais do Egito Médio e Alto Egito. As divisões de região de cultivares egípcios por tipo de fibras refletem um histórico de melhorias feitas pelo governo egípcio para atender melhor o mercado e é uma estratégia para prevenir


C a p í t u l o I | 24

excedentes de algodão de uma só fibra em particular. No entanto, essa visão de genótipos para regiões específicas talvez tenha um reflexo no fato dos algodões de fibra extralonga, que têm um papel muito importante para o desenvolvimento de cultivares egípcias de fibra extralonga (ELS), os quais são mais sensíveis ao calor e eram mal adaptados em muitos ambientes do Egito continental. Outra preocupação nas primeiras tentativas de melhoramento do algodão egípcio era o desenvolvimento do Fusarium Wilt, mas essa cultivar reúne resistente a tal doença. A doença foi primeiramente observada por volta de 1903, mas só em 1923 foi realizada uma seleção ativa e o trabalho de resistência a ele começou. Ironicamente, o progenitor do algodão egípcio, Ashmouni, foi diagnosticado como imune a doença (DUNN, 1949). Embora, essa resistência tenha sido perdida em muitas cultivares – particularmente para aquelas obtidas da cultivar Sakel como parente. Sakha 4 foi o primeiro sucesso em produzir fibra longa de cultivar resistente. Mesmo assim, Giza 3, Giza 7 e Wafeer foram consideradas como resistentes, apesar de todas terem sido derivadas de híbrido de Sakel x Ashmouni.

3. Cultivar Pima Americano Anteriormente a 1900, três tentativas separadas foram feitas para introduzir o algodão egípcio nos Estados Unidos (WARE, 1936). A primeira tentativa em 1867 foi resultado direto da destruição de acordo criado pela Guerra Civil americana - que mudou muito o mercado internacional de algodão para o algodão Egípcio. A qualidade superior da fibra do Algodão egípcio foi considerada em favor dos usineiros, os quais acreditaram que para conquistar o mercado nos Estados Unidos teria que desenvolver um algodão de qualidade de fibra equivalente. A tentativa de 1867 falhou, assim como as tentativas seguintes em 1892 e 1897. Na frustrada tentativa de 1897, teste de algodões egípcios foram estendidos para o vale irrigado por rio do sudoeste do EUA, onde as condições de crescimento são consideradas similares ao vale do Nilo. Como resultado desses testes, outra tentativa de sucesso na introdução do material foi feita em Arizona e Califórnia entre 1900 e 1902, usando as cultivares Mit Afifi, Ashmouni, Abbas, e Jannovich, entre outras (McGOWAN, 1961). Tentativas de cruzamento precoce foram focadas em "aclimatização" do germoplasma egípcio através de seleção de plantio individual com essas cultivares. Em 1907, seleções individuais de plantio foram feitas com Mit Afifi que levariam para o lançamento em 1912 da primeira cultivar egípcia-americana, denominada Yuma


C a p í t u l o I | 25

(SMITH, 1999). A cultivar Yuma era precoce, mais produtiva e tinha um comprimento de fibra melhor que a sua materna Mit Afifi (MCGOWAN, 1961) e competia favoravelmente com as importações egípcias para grande parte de seu uso (SCOFIELD, 1919). Em 1910, durante o desenvolvimento da Yuma, a seleção de plantio foi feita com a cultivar que iria vir a ser chamada de Pima. Lançada em 1918, a cultivar Pima tinha uma fibra mais longa e fina comparada com a da Yuma (SMITH et al., 1999) ou qualquer outra cultivar egípcia de seu tempo (Brown 1953). No entanto sua fibra, junto com a fibra de seus parentes, foi acusada de ser mais fraca que as aquelas que eram das melhores cultivares egípcias daquela época. Isso não deteve os cruzadores de cultivares egípcias de usar a Pima, que posteriormente foi renomeada de Maarad, a progenitora em desenvolvimento da cultivar Karnak (KEARNEY, 1943). Resumindo, três cultivares egípcias, Mit Afifi, Sakel e Giza 7 foram progenitores da base germoplasmática egípcia-americana, comumente referenciada retrospectivamente de base de gene Sacaton. No entanto, um progresso considerável foi feito com a adaptação do germoplasma egípcio para o sudoeste norte americano, mesmo assim a base genética foi bastante estreita por culpa das cultivares serem derivadas de uma base estreita (KERR 1960, SMITH et al., 1999). Essa situação só mudou com a criação das bases genéticas Pima S-1 e a Hibrida-B. A cultivar resultante SxP, vagarosamente substituiu a Pima como a cultivar ELS (fibra extralonga), dominante do sudoeste americano entre 1935 e 1941. Outra cultivar Amsak, foi o produto do cruzamento SxP com a Sakel na tentativa de melhorar a qualidade da fibra. Devido ao baixo potencial de produção, Amsak não foi amplamente aceita ou aprovada. A cultivar egípcia-americana Pima 32, foi lançada em 1948 (PEEBLES, 1950). A cultivar Pima 32 foi resultado do cruzamento de SxP x Pima, que, por sua vez, é derivada da cultivar egípcia Giza 7.

BOTÂNICA, MORFOLOGIA E ECOLOGIA DO GOSSYPIUM BARBADENSE 1.Aspecto Botânico O nome comum de algodão vem do árabe “quotn” e geralmente se refere as espécies que produzem fibras de fiação (línter) obtidas de semente revestida (LEE, 1984). As palavras


C a p í t u l o I | 26 mais antigas conhecidas para o algodão são “karparsa-i”, na língua Sânscrito, e “Karapas” usada nos primeiros manuscritos da Bíblia (SMITH, 1995). O nome da espécie G. barbadense L. foi dado pelos habitantes de Barbados. É conhecido por nomes científicos alternativos, tais como: Gossypium evertum, Gossypium peruvianum, Gossypium vitifolium e Gossypium brasiliense (USDA, 2006). É comumente conhecido como algodão crioulo, algodão egípcio, algodão extralongo, algodão indiano, algodão Sea Island ou algodão Pima. A maioria das classificações modernas para o algodoeiro da espécie Gossypium barbadense é a seguinte: Reino: Plantae Sub-Reino: Tracheobionta Sub-Divisão: Spermatophyta Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Sub-Classe: Dilleniidae Ordem: Malvales Família: Malvaceae Tribo: Hibisceae Gênero: Gossypium L., 1753 Espécie: G. barbadense L., 1753

O gênero Gossypium compreende 50 espécies, mas somente quatro espécies foram domesticadas e cultivadas com fins comerciais em todo o mundo, e o resto são silvestres. As espécies Gossypium hirsutum e Gossypium barbadense são conhecidas como do Novo Mundo, enquanto as espécies G. arboreum e G. herbaceum se denominam algodões do Velho Mundo ou asiáticos (MIRANDA, 1983).


C a p í t u l o I | 27

2.Aspecto Morfológico RAÍZES Com relação ao sistema radicular, a raiz principal se desenvolve mais rapidamente que a parte aérea e pode alcançar uma profundidade de até 25 cm ou mais, antes que os cotilédones estejam totalmente abertos ou desdobrados. A planta desenvolve uma raiz pivotante, podendo alcançar uma profundidade entre 90 cm até mais de 2 metros, se não houve camadas de impedimento químico ou físico (propriedades físicas do solo, umidade, drenagem, aeração e vigor da planta). Da raiz principal, partem as laterais, crescendo horizontalmente, cerca de 2 m (BASSET et al, 1970; TAYLOR; KLEPPER, 1978). Basset et al, (1970) evidenciaram um crescimento de 2,5 cm ao dia da raiz principal e as raízes laterais cresceram na metade desta taxa. Se a radícula encontra condições de baixa temperatura e aeração, seu crescimento é paralisado e surge, então, um sistema superficial de raízes secundárias. Por outro lado, a temperatura tem influência no crescimento da raiz, principalmente as temperaturas elevadas, nas primeiras semanas, prejudicam o crescimento radicular. No caso de a raiz principal sofrer uma lesão ou ruptura, uma ou duas raízes laterais (raízes secundarias) assumem a função da raiz principal e seguirá seu crescimento. A atividade radicular reduz drasticamente no período de maturação das maçãs e os carboidratos vão se dirigir com maior intensidade para os frutos.

HASTE PRINCIPAL E RAMOS O crescimento do algodoeiro é monopodial, com forte dominância apical e continuo, ou seja, seu hábito de crescimento é indeterminado. Inicialmente se desenvolvem os nós cotiledonares, nos dois primeiros nós em lados opostos. Depois a planta apresenta de 4 a 5 nós em que não se desenvolvem ramos frutíferos (Figura 5). São ramos exclusivamente vegetativos. A seguir, aparece o primeiro ramo frutífero (RR1), o segundo ramo frutífero (RR2) e assim por diante, de baixo para cima. Em cada ramo frutífero se indicam as posições das estruturas, como posição 1, posição 2, e assim por diante (ROSOLEM, 2007, Figura 6).


C a p í t u l o I | 28

Figura 5. Desenvolvimento estrutural da planta do algodoeiro, destacando o nó cotiledonar, os nós vegetativos abortados, ramo vegetativo (monopodial), vários ramos frutíferos (simpodial), haste principal (monopodial) e gema apical.

Figura 6. Esquema de uma planta de algodão, mostrando os ramos reprodutivos e as posições das estruturas reprodutivas (RR1: Ramo reprodutivo 1; RR2: ramo reprodutivo 2; também a posição 1 - Primeira posição no ramo e posição 2 – segunda posição no ramo). Foto: Ciro A. Roselem (2007).


C a p í t u l o I | 29

Além disso, em cada novo nó que aparece acima dos cotilédones se produz uma folha verdadeira simples. Na base de cada folha da haste principal, existem duas ou, excepcionalmente, três gemas, uma das quais, chamada primeira auxiliar, que é responsável pela origem dos ramos reprodutivos ou vegetativos. A segunda gema, conhecida como segunda auxiliar, geralmente se encontra dormente, exceto na ocorrência de problemas para o crescimento da primeira auxiliar, podendo assim gerar um ramo. Contudo, a terceira gema não é muito comum (MAUNEY, 1984). O desenvolvimento das gemas de cada nó depende das condições de manejo, podendo ficar latentes quando as plantas têm alta competição entre elas, em solos pobres ou por falta de água. São ativados em condições favoráveis de cultivo, sobretudo quando os espaçamentos entre plantas são amplos (MORE, 2014). A planta de algodão tem dois tipos de ramos que nascem das gemas que estão na base de cada folha verdadeira: ramos vegetativos ou monopodiais e ramos reprodutivos ou simpodial. Tanto nos ramos vegetativos como nos ramos produtivos desenvolvem numerosos nós. Os ramos vegetativos se encontram na zona definida, cerca da base da planta, entre os nós dois a seis. Seu crescimento e desenvolvimento são similares à haste principal. A formação desses ramos vegetativos está fortemente afetada pelas condições ambientais e o vigor da planta. Quando o ramo é bem desenvolvido pode formar seus próprios ramos produtivos e produzir numerosos botões e maçãs. Por outro lado, não é aconselhável o desenvolvimento de muitos ramos vegetativos. Os ramos reprodutivos se acham mais acima dos ramos vegetativos e nascem diretamente da haste principal e não têm uma gema terminal. Em cada nó se desenvolve um ramo frutífero. Sua diferença em relação aos ramos vegetativos, é que em cada nó termina uma folha e uma posição reprodutiva ocupada por um botão floral. Outra característica do algodoeiro G. barbadense é que se trata de um arbusto perene a planta anual de 1 a 3 m de altura, com poucos a muitos ramos vegetativos, fortes e ascendentes. Seu caule é ereto, anguloso e grosso. Os ramos e folhas tenras desde completamente glabras (sem pelos) até densamente cobertos (pubescentes), sendo os ramos frutíferos compridos, com muitas articulações.


C a p í t u l o I | 30

FOLHAS As folhas verdadeiras nascem com uma disposição em forma de espiral à direita ou à esquerda (filotaxia 3/8, é a mais comum) com respeito a sua posição no talo. Isso significa que para ir de uma folha à seguinte sobre a mesma vertical, encontram-se 8 folhas e se completam 3 voltas em espiral. Com esta disposição, as folhas inferiores dispõem de uma maior luminosidade na primeira idade da planta. A primeira folha verdadeira aparece entre os 6 a 8 dias depois da emergência e aproximadamente no intervalo de cada três dias depois, vão surgir as seguintes. Vale destacar que a quarta folha verdadeira se observa entre os 14 a 18 dias depois da emergência. As primeiras folhas têm forma encouraçada com apenas incipientes lóbulos característicos de uma folha adulta (Figura 7). Antes do oitavo nó, as folhas não desenvolvem completamente sua forma palmidentada (Figura 8).

Figura 7. As primeiras folhas do algodoeiro Pima ITA-59 (G. barbadense) com incipientes lóbulos. Foto: INIA, Peru.


C a p í t u l o I | 31

Figura 8. Folhas com lóbulos palmidentadas do G. hirsutum à esquerda e do G. barbadense a direta.

As folhas verdadeiras do talo principal estão principalmente associadas com o desenvolvimento do próprio talo, com as raízes e com as maçãs que se formam das gemas auxiliares do talo, enquanto que as folhas dos ramos frutíferos estão estreitamente associadas ao desenvolvimento de sua respectiva maçã.

Os ramos frutíferos crescem de maneira descontinuada formando segmentos em ziguezague. O ponto de crescimento do ramo frutífero termina numa folha e uma posição frutífera ocupada por um botão floral. Seu desenvolvimento subsequente se dará a partir da gema axilar que está na base da folha acompanhando ao botão floral. A segunda gema axilar na base de cada folha, também pode ocorrer no talo ou um nó do ramo produtivo, pode produzir um pequeno ramo frutífero que irá carregar um ou alguns botões florais, mas sem folhas (é o caso do duplo ramo frutífero axilar, sendo mais habitual no Pima Peruano; MORE, 2014).

BOTÕES FLORAIS O botão floral nasce como uma pequena estrutura de cor verde, de forma piramidal, conhecido por cabeça de alfinete (Figura 9). O mesmo está rodeado por três brácteas de forma encouraçada unidas em sua base, com a borda superior dentada que recobrem e guardam a futura flor (ROSOLEM, 2007).


C a p í t u l o I | 32

Figura 9. Desenvolvimento da flor de algodão, desde o surgimento do botão floral. Foto: Ciro A. Roselem (2007).

Os nós estão localizados na base da haste principal, mas o primeiro nó onde o ramo desenvolverá inicialmente um botão floral será no oitavo nó para as variedades de algodão de algodão Pima Peruano, sem considerar os nós cotiledonares (nó zero correspondente aos nós cotiledonares). Em variedades tipo Upland (G. hirsutum), aparece entre o quinto e sexto nó, excepcionalmente no quarto nó (MORE, 2014). O nó do primeiro ramo produtivo é uma característica importante da precocidade da cultura. Sua localização específica para cada variedade está influencia por fatores do clima e de manejo. As temperaturas altas, sobretudo as temperaturas noturnas altas, a alta competição entre plantas e o ataque de insetos como tripes ou pulgões, na fase inicial de crescimento da planta, pode induzir que o nó do primeiro ramo produtivo esteja mais alto que em condições normais, ocasionando então sérios atrasos na formação dos ramos reprodutivos e o início da etapa reprodutiva. No caso do algodão Pima Peruano pode retrasar em dois ou três nós acima do habitual (décimo nó ou décimo primeiro nó). Os primeiros ramos produtivos aparecem com uma frequência de três dias. Em cada ramo frutífero se desenvolvem numerosos botões florais que depois são convertidos em flores, maçãs e capulhos (Figura 10). A planta do algodoeiro pode chegar a produzir entre 16 a 25 ramos frutíferos, mas é conveniente aproveitar não mais de 18 para evitar alargar o ciclo de desenvolvimento e conseguir a maior quantidade de maçãs normais.


C a p í t u l o I | 33

Figura 10. Arquitetura do algodoeiro: folha da haste principal (FHP); flor (F); 1ª,2ª, 3ª e 4ª posição da flor; ramo frutífero (RF); folha do ramo frutífero (FRF).

O aparecimento do primeiro botão floral marca o início da etapa reprodutiva. O período efetivo de formação de botões florais no Pima Peruano depende em grande parte da época de semeadura e das condições do ambiente, e pode durar entre 9 a 11 semanas. Entretanto, entre a terceira ou quarta semana depois do aparecimento do primeiro botão floral, a planta consegue produzir 50% de seus botões florais (MORE, 2014). Essa etapa é a mais importante no desenvolvimento da planta, porque esse período é de efetiva formação de botões e dará origem as maçãs capazes de serem colhidas. Qualquer fator adverso que perturbe a fisiologia da planta resulta ser prejudicial e irá repercutir sobre a duração do período e consequentemente na produção final. No caso de ocorrer um atraso, o primeiro botão floral irá aparecer em um nó superior que não é usual da variedade (exemplo do Pima Peruano, acima do oitavo nó), pode se tornar um estado predominantemente vegetativo devido a fatores ambientais anormais. Quando se observa uma caída ou desprendimento de botões florais e maçãs jovens, podem ser devido a uma reação fisiológica causada por um desequilíbrio nutricional da planta ou a sua interação com o ambiente. Essa caída é distinta a que podem causar insetos como tripes, pulgão, lagarta Heliothis ou bicudo. Na fase inicial de floração, o estresse hídrico


C a p í t u l o I | 34

estimula a taxa de floração, podendo ser devido ao incremento de fitorreguladores endógenos (GUINN, 1979).

FLORAÇÃO A primeira flor aparece quando a planta tem entre 53 a 60 dias depois de semeadura. A abertura de duas flores sucessivas no mesmo ramo produtivo do terço médio (entre o sexto e nono ramo) pode levar de 9 a 14 dias. Todo período de floração da planta dura entre 13 a 15 semanas. A data do aparecimento da primeira flor é uma importante indicação da precocidade do cultivo e marca o início do período de floração (Figura 11). Existem numerosos fatores que podem alterar esse estádio, ademais da data de semeadura, tais como: a temperatura, o fornecimento de água através da irrigação e a localização dos primeiros ramos produtivos.

Figura 11. Algodoeiro Pima ITA-59 em fase inicial de floração com 75 dias após emergência. Campo instalado em Lambayeque, Peru. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 35

As flores grandes, geralmente maiores que as brácteas, com pétalas de cor amarelo intenso, geralmente com uma mancha púrpura na base interna (Figura 12). A coluna estaminal comprida, anterífera (por possui antenas funcionais) e pólen da mesma cor da pétala. A flor possui estigmas unidos à parte superior, porém não são fendidos próximo da ponta. O estigma de G. barbadense se estende bem acima das anteras (Figura 13), ao contrário de G. Hirsutum (McGREGOR, 1976), e isso pode afetar a probabilidade de ocorrência de polinização cruzada.

Figura 12. Flor amarelada do algodão Pima (G. barbadense) com 5 cm de diâmetro e com mancha púrpura na base interna. Foto: Jim Conrad.

B Estigma

Figura 13. Seção longitudinal da flor do G. hirsutum (a) e do G. barbadense (b), onde o estigma da última espécie se estende bem acima das anteras. Fotos: a) Ritchie et al. 2007; b) Gonzalo Tejada.


C a p í t u l o I | 36

A polinização da flor se produz no mesmo dia da abertura da flor. A mudança da cor amarela das pétalas do Pima Peruano para as cores violácea, marrom e marrom escuro ocorre em poucas horas depois, isso indica que houve a fecundação da flor, então começa a elongação da fibra e a formação da maçã (MORE, 2014). São hermafroditas (perfeitas) e são pentameras (peças dispostas em cinco). Elas têm nectários florais e extraflorais (MOFFETT, 1983). O estilete tem 2-5 cm de comprimento e termina no estigma de 0,5-1 cm de comprimento. O ovário contém 5-10 óvulos em cada uma das 34 seções, ou lóculos (Figura 14). A bainha resistente, que encerra a maior parte do estilo, tem numerosos estames de 0,5-1 cm de comprimento, cada um terminando em uma antera que normalmente produz uma abundância de pólen autofértil viável (McGREGOR, 1976).

Figura 14. Detalhes da morfologia reprodutiva do G. barbadense. Foto: Purseglove, J.W., 1968.


C a p í t u l o I | 37

MAÇÃS O fruto é uma cápsula ovoide a fusiforme de 3,5 a 6 cm de comprimento, com bico, glabra, densamente pigmentado, de cor preta, abrindo-se frequentemente em 3 lóculos (as vezes 4) com várias sementes por lojas (Figura 15).

Figura 15. Fruto do algodoeiro da variedade Sea Island. Foto: Forest e Kim Starr

As maçãs atingem seu tamanho entre as três a quarta semanas depois da fecundação. A maturação da maçã varia conforme a cultivar, sua posição no ramo produtivo e a localização dos ramos sobre a haste principal. Desde a floração até a abertura da maçã transcorrem em média 58 dias com variação entre 47 a 70 dias, dependendo da cultivar e das condições ambientais. O período de maturação também se amplia quando baixa a temperatura e tem presença de tempo nublado. A deiscência começa quando as plantas têm em torno de 115 dias de idade e se prolonga até a abertura final das maçãs. Dependendo do manejo e das condições ambientais, todo o período necessário, desde que começam a abrir as maçãs até o término da colheita, pode chegar até os 100 dias se tal período coincidir com descenso das temperaturas ou tempo nublado. Observou-se que ajustando a melhor data de semeadura para as condições de Piura (Peru), o algodão tipo Pima Peruano pode completar seu ciclo vital de semeadura até a colheita final em 210 a 213 dias (MORE, 2014). As cápsulas grandes geralmente têm a forma afunilada e terminam em uma ponta aguda, às vezes com uma abertura pronunciada, superfície geralmente áspera, com glândulas oleíferas no fundo das curvaturas. Comumente com 3 lóculos, as vezes 4, geralmente com


C a p í t u l o I | 38

5 a 9 sementes por lóculo. Nas sementes soltas do G. barbadense, o línter geralmente não está presente, exceto um tufo de pelos na micrópila da semente. Contudo, há raças de G. barbadense com línter. A fibra longa a extralonga de 32 a 42 mm, finura entre 3,2 a 4,0 micronaire e resistência que pode ser superior aos 40 gr/tex. O principal pigmento na semente é o gossipol, um composto fenólico venenoso existente na semente, na taxa de 0,4-4,0%, tendo o Gossypium barbadense a mais elevada taxa. Grande parte do gossipol existente na semente torna-se inofensiva após o processo de maceração ou aquecimento, devido à ligação com proteína, mas o farelo do algodão pode ainda conter quantidades diminutas de gossipol, que pode ser tóxico a alguns animais sensíveis, como os suínos e aves (MIRANDA, 1983).

3.Aspecto ecológico A cultura do algodoeiro orgânico é um perfeito exemplo da utilização sustentável dos recursos naturais. Não agredindo o meio ambiente em nenhuma das etapas de sua cadeia produtiva. Ou seja, o apelo ecológico, o uso de tecnologias limpa e a redução ou anulação de defensivos agrícolas têm agregado ao algodão orgânico alto valor de mercado.

ESTÁDIOS FENOLÓGICOS O algodoeiro G. barbadense é uma planta perene que pode ser adaptada às condições de um cultivo anual. É de crescimento indeterminado, em razão disso é que nesse processo se encontram botões florais, flores e maçãs em seus diferentes estádios fenológicos. A semeadura do algodão Pima Peruano se realiza entre dezembro a março sob condições de Piura (Peru), na época de ascensão rápida das temperaturas e as máximas temperaturas estacionárias, para então ser colhido com o descenso e as temperaturas mais baixas, entre maio a setembro. No processo de crescimento e desenvolvimento da planta, podem-se destingir três períodos bem marcantes: 1. Estabelecimento da planta – Compreende desde a semeadura ao aparecimento do primeiro botão floral. Essa é a fase vegetativa, onde a planta estabelece seu sistema radicular e seu padrão de desenvolvimento. Inclui também a fase de germinação e sua emergência, definida por ocasião da abertura dos cotilédones (plântula), que dura em média 5 dias. Em seguida, vem à fase juvenil que corresponde o período de abertura dos cotilédones até o aparecimento do primeiro botão floral. Em média dura 24 dias com variação de 21 a 28 dias.


C a p í t u l o I | 39

2. Formação de órgão frutífero. Começa com o aparecimento do primeiro botão floral até a abertura do primeiro capulho. Essa é a fase reprodutiva e a mais importante no desenvolvimento do algodoeiro, porque esse período é de efetiva formação de botões, os quais irão produzir os capulhos que vão ser colhidos. 3. Maturação das maçãs. A maçã alcança seu tamanho normal entre três e quatro semanas depois da fecundação da flor (antese). A maturação das maçãs até a deiscência (capulho) depende da cultivar, da sua posição no ramo frutífero e da posição do ramo frutífero na haste principal. A deiscência começa quando as plantas têm em torno de 115 dias de idade e se prolonga conforme vão amadurecendo as maçãs até sua abertura final (Figura 16). É importante destacar que o ciclo do algodoeiro Pima Peruano nos vales de Piura (Peru), desde a semeadura à colheita, demora aproximadamente 195 a 225 dias, em consequência da época de plantio se prolongar na região por três meses.

Figura 16. Representação fenológica do algodoeiro G. barbadense para as condições de Piura (Peru), desde o estádio vegetativo com emergência da plântula (8-15 dias para abertura cotilédones) até o estádio de maturação das maçãs ou início de abertura dos capulhos (110-130). Fonte: ADEX, 2011.


C a p í t u l o I | 40

GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA Para a semeadura mecânica, a remoção da línter (apenas aparece um tufo de línter na parte da micrópila) é essencial. As sementes perdem sua viabilidade rapidamente se seu teor de água exceder 10%, mas com um teor de água de 7%, as sementes podem ser armazenadas em embalagens herméticas por vários anos (exemplo de garrafa Pet). Sua massa de 1.000 sementes do Gossypium barbadense pode variar entre 50-100 g, todavia seu formato é ligeiramente ovóide de 8 a 10 mm de comprimento com uma cobertura densa de longas fibras (Figuras 17 e 18).

Figura 17. Sementes em formato ligeiramente ovóide e fibra do algodão marrom do Sea Island (Sea Island Brown Cotton) da espécie G. barbadense. Fotos: Baker Creek Heirloom Seeds e Susan in West Kentucky (2017).

Figura 18. Fibra de alta qualidade da espécie G. barbadense de fibra extralonga.


C a p í t u l o I | 41

O algodoeiro Gossypium hirsutum ou Gossypium barbadense é uma planta de hábito de crescimento indeterminado. A principal via de propagação é a sexuada, através das sementes que quando germinam formam uma plântula ou planta jovem. Inicia o seu processo de germinação em condições favoráveis de umidade e temperatura, absorve água até cerca de metade do seu peso (Figura 19). A velocidade de absorção da água varia com o tempo e em condições de campo a germinação pode ser demorada, ocorrendo a emergência entre 4 a 10 dias após a semeadura.

Figura 19. Germinação de sementes de algodão G. barbadense em substrato de areia + matéria orgânica. Foto: INIA

Em condições favoráveis, principalmente de umidade, temperatura e oxigênio, inicia-se o processo de germinação da semente, mas exige que o percentual de umidade deve ser em torno de 50% a 60%. Posteriormente, essa quantidade aumenta para atender ao desenvolvimento do eixo embrionário da plântula e a reindratração ocorre pelo processo de embebição. Existem diferenças genéticas na absorção de água pela semente que podem ser observadas entre variedades de G. hirsutum e G. barbadense (SOUZA et al. 2008). A temperatura também é um fator significativo para a germinação e as espécies G. hirsutum e G. barbadense não se comportam igualmente. A temperatura ótima do solo é de 25 ºC a 30ºC para a semente de algodoeiro em geral, enquanto a germinação se inicia para o Pima Peruano quando a temperaturas do solo está acima de 15ºC. Portanto, as


C a p í t u l o I | 42

semeaduras em Piura (Peru) se realizam no verão e as plântulas vão emergir, em média, aos 5 dias (MORE, 2014). Temperaturas mais elevadas, em torno de 40ºC, chegam a causar paralisação de emergência das plântulas (PARRY, 1982). O oxigênio é outro fator indispensável à germinação das sementes e como é um processo que ocorre em células vivas, necessita de energia obtida na respiração, que ocorre na presença de oxigênio. O excesso de água no solo reduz bastante o teor de oxigênio e o crescimento da radícula é melhor quando o teor desse elemento no solo fica entre 7,5% a 21%. Quando atingem 0,5%, o crescimento da radícula é totalmente paralisado (SOUZA et al. 2008). Com a ruptura do eixo embrionário e o rompimento do tegumento, a radícula penetra no solo, surgindo uma zona de absorção de água e elementos minerais. Esse crescimento da radícula é seguido do crescimento do hipocótilo, que leva a superfície do solo, o meristema apical e cotilédones. A germinação é do tipo epígea (SOUZA et al. 2008). Os cotiledôneos surgem em posição oposta, à mesma altura, nos nós mais baixo da haste principal. Durante a emergência, a plântula se nutre das reservas acumuladas nos cotilédones. Uma vez emergidos e expostos a luz, os cotilédones se tornam verde e ativa seu processo fotossintético (MORE, 2014). Enquanto a dormência das sementes é uma característica fisioecológica, sendo o processo que inibe a germinação de sementes viáveis de muitas espécies, fazendo com que não germinem mesmo quando os fatores externos necessários ao processo, como a disponibilidade de luz, água e oxigênio sejam adequados (AZANIA et. al., 2009). No algodoeiro pode ocorrer em sementes recém-colhidas, as quais possuem uma fina camada de cera ainda revestindo seu tegumento que impede sua germinação no próprio capulho. Em tais condições, essas sementes se tornam impermeáveis a água retardando o processo germinativo, apesar de que, após um mês de armazenamento, a dormência das sementes é superada naturalmente, em virtude da cera se degradar lentamente quando exposta as condições ambientais. Portanto, a dormência de algodão pode ser problema em áreas experimentais de melhoramento genético, em que os melhoristas desejam realizar mais de um ciclo da cultura por ano, para avançar as populações para as próximas gerações. O período de emergência – estádio de plântula – representa uma etapa particularmente sensível, pois é decisivo à sobrevivência da planta e à distribuição espacial de uma


C a p í t u l o I | 43

população de plantas. O atraso na emergência de plântulas expõe as sementes à ação dos patógenos de solo por maior período de tempo, o que aumenta a possibilidade de infecção e a colonização do eixo embrionário. No caso de sementes de algodão, devido suas reservas oleaginosas, esse atraso é ainda mais prejudicial, pois favorece a infecção por patógenos, além de aumentar as chances de deterioração em função da peroxidação de lipídios.

FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO A radiação solar é a fonte de energia para o crescimento da planta. A radiação solar incidente é absorvida pelas folhas, as quais funcionam como o laboratório ou a fábrica de conversão da energia. A fotossíntese converte a energia luminosa em energia química que se armazena como carboidratos (açúcares) da planta. Todas as reações metabólicas da planta dependem desta fonte de energia. Quanto maior a intensidade da radiação solar, dependendo da área foliar e do amento da fertilidade, maior será a energia disponível para produzir os carboidratos, também chamados de fotossintatos. Uma vez iniciada a formação de botões florais, os carboidratos são empregados para gerar o crescimento vegetativo e reprodutivo simultaneamente. Desde o início da floração, a quantidade de maçãs aumenta a demanda de carboidratos. Ao aumentar a demanda das maçãs, o nível de fotossintatos diminui, a planta ajusta seu padrão de desenvolvimento, há uma queda de órgãos tenros, porque a prioridade é direcionada para as maçãs já formadas e termina o crescimento vegetativo (REYES, 2014).

PRODUÇÃO E RETENÇÃO DE ÓRGÃOS PRODUTIVOS Como se sabe, a capacidade para a produção de maçãs está controlada geneticamente, o rendimento final está influenciado por causas ambientais que alteram o estado fisiológico da planta, tais como as propriedades fisioquímicas do solo, o manejo da lavoura e as condições ambientais não percebíveis. Portanto, o algodão Pima Peruano tradicional de longo período vegetativo, sem receber nenhuma aplicação de bioestimulante e nem reguladores de crescimento, é capaz de eliminar até 68% de suas estruturas reprodutivas (botões florais e maçãs jovens), mesmo assim podem alcançar entre 32 a 36% de maçãs colhidas.


C a p í t u l o I | 44

QUEDA DE ESTRUTURAS REPRODUTIVAS A queda ou abscisão de botões florais e de maçãs jovens é um fenômeno natural do algodão, que é acentuado pela ocorrência de condições como tempo nublado, períodos de seca, temperaturas muito altas ou baixas, deficiência de nutrientes e crescimento vegetativo muito intenso A queda de até 60% das estruturas é considerada normal (OOTERHUIS, 1992). Ou seja, as plantas produzem muitas mais estruturas florais das que elas mesmas possam reter, ainda que seja em condições ideais. A maior percentagem de queda ou “shedding” se produz nos primeiros estádios de desenvolvimento das estruturas reprodutivas, a nível de botões florais (vegetativo) e de maçãs jovens (floração) de até 12 dias de idade. Passado esse período crítico, a queda desses órgãos é menos frequente, exceto em condições extremas de estiagem, de temperatura, pragas e doenças (REYS, 2014). A queda dos pequenos botões florais e as maçãs jovens ocorre porque se forma uma zona de abscisão entre o pedúnculo e o ramo frutífero. O debilitamento das células na zona de abscisão está controlado pelo equilíbrio dos hormônios etileno e ácido abscísico (ABA) que promovem a abscisão e o ácido indol acético (AIA), que inibe a abscisão. Os botões florais grandes, as flores e as maçãs medianas e grandes são mais resistentes a caída devido a sua alta concentração de AIA (que inibe a abscisão) frente ao etileno e ABA (que promovem a abscisão), enquanto que os botões pequenos e as maçãs jovens têm maior concentração de etileno e ABA. Observa-se na Figura 20 que, por ocasião da antese, o nível de etileno é sempre alto, assim qualquer fator que determine uma queda na fotossíntese, ou um aumento no gasto metabólico, resultará em menor fluxo de fotossintatos para o tecido vegetal (ROSOLEM, 2007).


C a p í t u l o I | 45

Figura 20. Evolução de etileno, matéria seca do fruto e deiscência do algodão em função dos dias decorridos após a antese. Foto: citado por Ciro A. Rosolem (2007).

As principais causas da queda de estruturas reprodutivas do algodão: 1. Escassa disponibilidade de água no solo. A estiagem impede que a planta regule sua temperatura (esfriamento por evaporização) e promove também um envelhecimento prematuro com serias limitações para a fotossíntese. Pode provocar não só a queda dos órgãos tenros. As maçãs com mais de 12 dias de idade e as medianas, mesmo sem caírem, permanecem secas nos ramos e axilas. Os órgãos axilares são os mais susceptíveis à queda e a estiagem. 2. Excessiva umidade do solo por efeito de chuvas pesadas ou irrigação. Em solo saturado, os níveis de oxigênio se reduzem provocando o fechamento dos estômatos das folhas, o que provoca a redução da fotossíntese e aumenta o risco de queda. 3. Danos ao sistema radicular. Provocado pela passagem dos implementos agrícolas usados nos tratos culturais, sobretudo que passam muito cerca da linha de plantio. 4. Danos causados por insetos. No caso de tripes, pulgões, lagarta das maçãs, lagarta rosada, bicudo, etc.


C a p í t u l o I | 46

5. Danos causados por doenças radiculares e fibrovasculares. Indiretamente favorecidos por lesões no sistema radicular. 6. Deficiente polinização causada pelas chuvas. A água que cai no interior da flor aberta pode provocar o deterioro do grão de pólen. Para que uma maçã seja retida requer sua fecundação e desenvolvimento da semente. Se os óvulos não são fertilizados adequadamente, a planta desprende à maçã jovem. 7. Desequilíbrio nutricional da planta. É importante que a planta se desenvolva em condições de equilíbrio de carboidratos, água e nitrogênio. Se tiver deficiência na disponibilidade de carboidratos, então haverá maior risco de queda porque a planta reage com maior produção de etileno e ácido abscísico. 8. Desenvolvimento vegetativo acelerado e exagerado. Acontece quando interagem as altas temperaturas, poucas horas de sol, alta umidade no solo, alta fertilização nitrogenada e alta densidade de semeadura. 9. Temperaturas altas diurnas e noturnas. Ocorre especialmente quando as temperaturas noturnas são elevadas. Ao estreitar o intervalo da oscilação (máximo-mínimo), pode provocar a queda das estruturas reprodutivas e a subsequente predominância do estado vegetativo sobre o reprodutivo, o qual é denominado impropriamente como “tropicalização” do algodão Pima em Piura, Peru. 10. Tempo nublado prolongado. A planta requer a luz solar para realizar a fotossíntese. Em um dia nublado, a fotossíntese se reduz consideravelmente e, portanto, também o fornecimento dos hidratos de carbono da planta, consequentemente haverá queda de botões florais e maçãs jovens.

Nessa fase da primeira flor à abertura do primeiro capulho, algumas maçãs já estão em fase de maturação. Portanto, na segunda metade dessa fase, a ocorrência de qualquer estresse que diminua a fotossíntese, como temperaturas muito altas ou baixas, muitos dias nublados, seca, etc, além do prejuízo pela queda de estruturas, ocorrerá um prejuízo em função da ocorrência de maior porcentagem de fibras imaturas. A queda de estruturas reprodutivas, seja por que motivo for, provoca profundas modificações na fisiologia e bioquímica da planta, de modo que o metabolismo dos carboidratos é modificado (BELTRÃO et al., 1994), além de estimular o crescimento vegetativo. Se as condições de umidade e temperatura forem favoráveis, a planta retoma


C a p í t u l o I | 47

seu crescimento reprodutivo, se reformando, produzindo flores e frutos em posições mais altas na planta. Em muitos casos, há recuperação total da produção perdida, mas a lavoura fica mais tardia, e, portanto, mais cara. Recomenda-se garantir a produção desde as primeiras posições do baixeiro, tornando assim a lavoura mais precoce e mais econômica.

MELHORAMENTO O algodoeiro para o melhoramento é considerado uma planta de autofecundação (autógama), apesar de que a taxa de cruzamento natural pode atingir até 50% ou mais. Este fato se deve a polinizações por abelhas (FUZATTO, 1999). Os programas de melhoramento genético convencional do algodoeiro no país começaram por meio de incentivo do governo federal em 1921. Porém apenas em 1924 teve início os trabalhos através do IAC, e desde então tem demonstrado aumento no progresso genético no país (CARVALHO et.al., 1997). Inicialmente, o principal objetivo era obter cultivares precoce e de ciclo determinado, e apenas depois veio a preocupação com produtividade, densidade,

qualidade

da

fibra

(CONSELHO

DE

INFORMAÇÕES

SOBRE

BIOTECNOLOGIA, 2009). O melhoramento tem sido desenvolvido por empresas públicas e privadas, adaptando as cultivares ao meio que estão sendo inseridas. O melhoramento em algodoeiros no Brasil utiliza-se os métodos de bulk, dentro de família ou genealógico, e de retrocruzamento. O primeiro método de seleção é utilizado para melhoramento populacional, o segundo para incorporação de alelos específicos e o terceiro para recuperar uma característica do genitor recorrente (LEE, 1987). Seleção massal, seleção genealógica, seleção pedigree-massal, seleção recorrente, hibridação, retrocruzamento e uso do vigor híbrido, também são bastante utilizados (BORÉM; FREIRE, 2014). No algodoeiro a variabilidade natural existente dentro e entre as populações de plantas, ou pode ser alcançada através de cruzamentos controlados onde entra os programas de melhoramento. A hibridação é uma das formas de se conseguir variabilidade, sendo uma das técnicas mais utilizada (GRIDI-PAPP, 1969). Vale ressaltar que o Gossypium barbadense tem sido indicado como fonte de genes de resistência para o melhoramento genético da principal espécie utilizada para produção de algodão no Brasil, o Gossypium hirsutum L. (CAMPBELL et al., 2010). Em geral, o


C a p í t u l o I | 48

melhoramento do algodoeiro, é um forte aliado na obtenção de plantas que, além de adaptadas à região, apresentem alto rendimento (PEDROSA, 2011), e tem como objetivos principais, atender o aumento da produtividade, de porte, maturação uniforme e resistência às principais pragas e doenças (PENNA, 2005), bem como a obtenção de fibras de qualidade que atenda as exigências da indústria têxtil. Atualmente, o algodão Pima (Gossypium barbadense L.) é cultivado em regiões quentes do Sudoeste dos Estados Unidos. As variedades introduzidas de outros lugares raramente são produtivas porque elas não estão adaptadas a tal ambiente, e um dos principais objetivos dos melhoristas americanos foi melhorar a resistência ao calor (elevar o rendimento em ambiente quente). O rendimento de uma linha de reprodução avançada, Pima-70, é o triplo do de Pima 32, a qual é uma cultivar considerada obsoleta por ter sido lançada em 1949. Estudos de troca gasosa em linhagens de algodão Pima foram efetuados para testar a hipótese de que os avanços genéticos foram acompanhados por diminuição das limitações estomáticas para as taxas de fotossíntese e para a transpiração. Os resultados indicam que essa seleção para alto rendimento aumentou tanto a capacidade fotossintética quanto a condutância estomática, e alterou a regulação diurna da fotossíntese (CORNISH et al., 1991).

BANCO DE GERMOPLASMA A conservação da variabilidade genética de uma espécie pode ser feita de maneira “in situ”, no local de ocorrência ou “ex situ”, fora do seu habitat natural. Uma estratégia bastante utilizada é a formação de um banco ativo de germoplasma (BAG), que pode ser considerado como coleção representativa do patrimônio genético de uma espécie, realizado com propósitos de pesquisa, caracterização, avaliação e utilização de materiais em programas de melhoramento genético (VALOIS, 1996). Mediante um projeto de pesquisa financiado pela Embrapa Algodão, um experimento tem sido desenvolvido na unidade sede da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB para a seleção de genótipos superiores de algodoeiro Gossypium barbadense, inclusive a renovação de sementes do Banco de Germoplasma, o qual é composto por mais de 686 acessos de linhagens nativas e exóticas, sendo que alguns acessos são variedades. O projeto tem como objetivo caracterizar os diferentes tipos de algodão de fibra longa e


C a p í t u l o I | 49

extralonga introduzidos pelos melhoristas da Embrapa. Foi realizada análise de diversidade entre 29 acessos exóticos de algodoeiro com base em caracteres qualitativos, quantitativos e conjunta incluída caracteres qualitativos e quantitativos (Tabela 2). Os resultados indicam que o cruzamento entre os acessos Giza 59 e Pima S8 é o mais promissor para gerar populações segregantes que reúnam, simultaneamente, resistência a doença azul, bacteriose e nematóide das galhas, menor porte, além de boas características de fibras (CARVALHO et al., 2017). Tabela 2. Médias dos caracteres quantitativos: dias para aparecimento da primeira flor (DIF), altura da planta (AP), porcentagem de fibras (PF), peso do capulho (PC), Comprimento de fibras (UHM), uniformidade de fibras (UNIF, índice de fibras curtas (IFC), resistência de fibras (RES), alongamento (AL), micronaire (MIC), maturidade de fibras (MAT), reflectância (REF), grau de amarelecimento (+b) e fiabilidade avaliados em 29 acessos de algodoeiro. Genótipos

AP

PF

PC

UHM

UNIF

IFC

RES

AL

MIC

MAT

REF

+b

FIAB

Pima S8

1,1

35,7

3,5

34,6

88,2

5,5

38,1

4,7

4,1

0,9

71,8

11,8

3959

Pima 6A

1,9

31,4

4,3

38,5

90,5

5,5

36,1

5,0

3,6

0,9

77,6

8,7

4388

Pima S7

1,4

31,3

4,0

37,6

87,9

5,5

31,4

5,7

3,6

0,9

72,7

11,9

3804

Pima S6

1,2

36,0

3,8

33,6

87,5

5,6

37,2

5,8

4,5

0,9

71,0

12,1

3695

Pima S4

1,2

36,9

4,2

34,8

87,6

5,5

36,0

6,1

3,7

0,9

73,3

10,9

3857

Pima 1AR

2,2

31,0

4,4

37,9

87,8

5,5

31,8

4,3

3,6

0,9

76,6

10,2

3824

Pima

1,8

31,8

4,4

37,2

87,0

5,5

37,0

4,8

3,8

0,9

77,8

9,1

3976

2,1

33,7

4,5

36,4

87,1

5,5

35,3

5,4

3,6

0,9

77,4

9,5

3887

Giza 59

1,8

33,3

3,6

36,9

88,4

5,5

33,3

4,2

3,5

0,9

73,5

10,1

3949

Giza 76

2,0

35,3

3,4

36,3

89,8

5,5

42,2

4,9

4,2

0,9

81,1

7,3

4494

Giza 77

1,5

37,3

3,4

34,0

88,5

5,5

40,6

4,8

4,2

0,9

68,8

11,3

4081

Giza 70

1,8

35,4

3,3

35,9

85,4

5,5

37,9

4,2

4,4

0,9

72,5

9,9

3660

Giza 45

1,6

30,0

3,0

36,6

88,2

5,5

35,4

6,0

3,6

0,9

70,1

12,3

4003

Giza 47

1,6

32,3

3,3

33,7

85,9

5,6

34,8

6,7

4,3

0,9

75,6

9,9

3438

Giza 31

1,8

35,1

3,7

25,3

81,5

7,8

33,1

10,2

5,4

0,9

63,3

13,5

2186

Giza 69

2,0

37,5

3,2

33,2

88,5

5,7

37,8

6,1

5,0

0,9

82,9

6,6

3704

Giza 79

2,1

38,6

3,5

33,7

87,8

5,6

34,7

6,4

4,6

0,9

67,9

12,6

3562

Acala SJ2

0,9

37,8

6,0

31,1

86,7

6,0

31,4

5,7

4,3

0,9

82,3

8,3

3178

Acala SJ5

1,4

29,2

6,5

32,8

87,7

5,7

30,1

4,3

4,2

0,9

85,2

5,7

3314

Sea Island

Cirad-Embrapa

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

432-

70 Supima RS4


C a p í t u l o I | 50

Os resultados da Tabela 3 indicam que na avaliação dos caracteres tecnológicos de fibra, os genótipos existentes no Banco de Germoplasma da Embrapa Algodão que apresentaram algodão de fibra extralonga foram os seguintes acessos: Pima 6A, Pima S7, Pima 1AR, Pima 432-70, Supima, Giza 59, Giza 76, Giza 70 e Giza 45. Também é possível destacar o acesso Pima S7 (G3) pelo elevado comprimento de fibras (UHM) e porte reduzido. O incremento do caráter UHM é um dos principais objetivos dos programas de melhoramento do algodoeiro da Embrapa Algodão (CARVALHO et al., 2017).

2. MANEJO ECOLÓGICO DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO EXTRALONGO Para a produção de algodão orgânico, devem ser utilizados sistemas de produção orgânica que não envolvam o uso de pesticidas, inseticidas, fertilizantes químicos e sementes transgênicas. Esse processo de cultivo é possibilitado pela introdução de insetos predadores nas plantações, que substituem os inseticidas químicos, a remoção manual de ervas daninhas, o que evita o uso de herbicidas químicos e o uso de fertilizantes 100% naturais.

ESCOLHA DA CULTIVAR O controle de qualidade das sementes se estende às fases de produção e de comercialização, sempre com o objetivo de garantir a identidade genética dos materiais, mas também com os de preservação da qualidade fisiológica, sanitária e da pureza física das sementes. A eleição da cultivar é uma decisão mais importante que deve enfrentar o agricultor antes de iniciar seu plantio. A mudança de uma variedade pode dar resultados diferentes para os mesmos sistemas de produção e da indústria têxtil, inclusive as condições ambientais também podem variar de um ano a outro. Portanto, a variedade de algodão é importante porque determina praticamente todos os parâmetros da qualidade da fibra, mas são as condições nas que se desenvolverá o cultivo, as que determinam se o algodoeiro alcançará ou não todo seu potencial. Ou seja, o importante é escolher aquela variedade que permite ao agricultor obter uma alta rentabilidade.


C a p í t u l o I | 51

É essencial que a qualidade da fibra se mantenha sempre uniforme. Mas, é necessário que a semente da variedade usada no plantio seja conservada pura. Recomenda-se apenas que seja evitado no campo cruzamentos entre variedades. Os produtores de cada comunidade rural deveriam ser organizados, adotando apenas a semeadura de uma variedade que melhor se adapta a suas condições locais. Dessa maneira é fácil evitar misturas com sementes de outros algodões, consequentemente a qualidade do algodão conservaria inalterada (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956). Também é imprescindível que seja feito um teste de germinação da semente de algodão ante de semeá-la. O lote de semente que tenha uma germinação menor de 85% deve ser descartado. Não é recomendável aumentar a quantidade de sementes no plantio para compensar essa baixa germinação, pois tais sementes poderão resultar em plantas menos vigorosas, além de serem susceptíveis às doenças (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956).

CARACTERÍSTAS DAS CULTIVARES DO G. BARBADENSE Sea Island O algodão Sea Island das Índias Ocidentais (Caribe), conhecido como “Gossypium barbadense” ou “semente negra”, é um dos tipos de algodão mais antigos e preciosos do mundo, descoberto no início do século XVIII nas Índias Ocidentais Britânicas. Trata-se de uma planta perene com poucas ou muitas hastes fortes e ascendentes que se tornam mais ou menos lenhosas. Cresce cerca de 3 metros de altura. Essa espécie tem sido cultivada há tanto tempo que sua região de origem é incerta, mas possivelmente foi Peru (PORCHER; FICK, 2005). Sua produção, equivalente a apenas 0,006% do algodão tardio do mundo. Ou seja, cerca de 110 milhões de fardos de algodão são produzidos a cada ano, globalmente, dos quais 2 milhões são de algodão extralongo. A produção anual da Sea Island Cotton é de apenas 130 fardos, concentrando-se agora principalmente em Barbados, Antígua e Jamaica, áreas que constituem um verdadeiro clima paradisíaco. Portanto, seu fornecimento é incrivelmente limitado e toda a sua produção é monitorada (rastreabilidade associada ao controle de qualidade) pela empresa certificadora West Indian Sea Island Cotton (Figura 21), a qual identifica em cada fardo de fibra de algodão o nome da certificadora e o país de origem (Figura 22).


C a p í t u l o I | 52

Figura 21. Selo da empresa certificadora West Indian Sea Island Cotton de Barbados, trabalha exclusivamente no controle das variedades derivadas do Sea Island tanto nas etapas de produção como industrial (etiqueta de roupas).

Figura 22. Fardos de fibra de algodão da variedade Sea Island produzidos nas Índias Ocidentais, Jamaica.

O Grupo Albini assegurou uma parceria importante com a ECCI Cotton (associação formada por pequenos agricultores locais e apoiada pelo Ministério da Agricultura da ilha) pela exclusividade de 100% do algodão Sea Island cultivado em Barbados, o que corresponde a uma produção anual de pouco mais de 70 fardos (Figura 23). A meta é alcançar uma área plantada de 400 ha com esse algodão (a área plantada de algodão em 2018 foi 81 ha e a cada ano essa área é ampliada em 40 ha). O valor de venda de cada libra (equivalente a 453,6 gramas) de algodão em rama pago ao pequeno agricultor de Barbados é de USD 4,8 por libra (um quilo de algodão em rama custa 10,58 dólares e corresponde em real a R$ 45,50), sendo o preço do algodão Sea Island pelo menos cinco vezes mais caras que o algodão comum, conforme informações dadas por Email pelos


C a p í t u l o I | 53

Embaixadores do Brasil de Barbados (Luiz Gilberto Seixas de Andrade) e da ilha caribenha em Granada (Zenik Krawctschuk). Neste ano, os EUA estão produzindo certa quantidade de algodão Sea Island no norte atlântico da Flórida e do estado da Geórgia.

Figura 23. Campo de algodão Sea Island em início de floração na ilha caribenha de Barbados, produzido por pequenos agricultores. Foto: Grupo Albini.

O algodão da variedade Sea Island produzido na ilha de Barbados se distingue de todas as outras espécies de algodão, graças às suas características únicas: o comprimento considerável da fibra, chegando a mais de 38 mm (38 mm - 42 mm), a alta resistência, igual a 40 gr/tex (92 a 100 em Pressley) e a boa porcentagem de uniformidade (86%). Além de o comprimento ser diferente em relação aos outros tipos de algodão (Figura 24), a fibra é excepcionalmente fina, comprovada pelo micronaire, entre 3,3 e 4,0, juntamente com um brilho significativo (um grau de reflexão de 73). Essa variedade permite a fiação de fios muito finos empregados na fabricação de tecidos finos (top de linha), como camisas, vestidos e gravatas (Figura 25). Devido sua alta qualidade, é considerado o algodão mais caro do planeta.


C a p í t u l o I | 54

Figura 24. Fibras de algodão das seguintes variedades de plantas: 1) Algodão Sea Island; 2) Algodão egípcio; 3) Algodão Pima 4) Algodão americano Upland de fibra longa; 5) Algodão americano Upland de fibra média e 6) Algodão asiático de fibra curta.

Figura 25. Blusa e camisa de algodão, confeccionada com a matéria-prima da variedade Sea Island. Fotos: Fabricantes das marcas John Smedley (Inglaterra) e Bruli (suíço). Na Jamaica, a variedade Montserrat Sea Island (fibra extralonga com 38 mm) foi homenageada com o lançamento de um selo de conformidade da pluma (Figura 26) por ser o material que conseguiu apresentar maior rendimento de algodão em rama (1.900 kg/ha a 2.252 kg/ha em Barbados) e elevada percentagem de fibra (33%) em relação as


C a p í t u l o I | 55

demais variedades derivadas do Sea Island (G. barbadense), as quais foram avaliadas nos ensaios experimentais (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956).

Figura 26. Selo de conformidade da fibra lançado em homenagem ao algodão Sea Island da variedade Montserrat. Foto: Empresa certificadora West Indian Sea Island Cotton.

Embora tenham sido encontradas pela primeira vez em Barbados, as sementes de algodão foram trazidas para as ilhas da Carolina do Sul e da Geórgia para serem cultivadas para o mercado dos EUA. Apenas quando o algodão Sea Island foi cultivado nos EUA é que se tornou bem conhecido, coincidindo com a invenção do descaroçador de algodão e, ao mesmo tempo, se tornou numa mercadoria valiosa para os agricultores locais. Encontrase registrado no livro escrito pelos pesquisadores americanos Richard Dwight Porcher e Sarah Fick (544 página; Figura 27), os acontecimentos sobre o cultivo, a colheita, o descaroçamento e a venda do algodão Sea Island, que foi uma das forças econômicas mais importantes no sudeste dos Estados Unidos de 1790 até pouco antes da Guerra Civil e, em menor escala, no início do século XX, sendo o seu declínio de produção atribuído, durante grande parte da história, ao fim do período de escravidão e ao baixo nível tecnológico da época (PORCHER; FICK, 2010).


C a p í t u l o I | 56

Figura 27. A obra do livro relata “A história do algodão Sea Island” no sudeste dos Estados Unidos de 1790 até o século XX. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A planta tem flores amarelas brilhantes e fibra branca. Seu custo de produção é elevado por crescer lentamente, além de ter um baixo rendimento de até 1.920 kg/há de algodão em rama, nas condições de Porto Rico e de 2.250 kg/ha em Barbados, e pequenas cápsulas (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956). Mesmo assim, o algodão Sea Island poderá ser cultivado na região semiárida do Nordeste do Brasil por depender de mão-de-obra o seu cultivo orgânico, igualmente como sucedeu com o algodoeiro arbóreo que apresentava uma produção máxima de 450 kg/ha no segundo ou terceiro ano. Para a produção comercial, é necessário um clima quente que tenha uma estação de chuva superior a 4 meses, complementado com irrigação de gotejamento, seguido por um período mais seco para a colheita do algodão em rama.

Algodões egípcios Apesar de ter sido uns dos locais no mundo onde se começou a plantar algodão, até 1850 a sua produção era de baixa qualidade e em números insignificantes. Apenas com a introdução do Gossypium barbadense, proveniente da variedade “Sea Island” em 1850 é que o Egito começou a exportar algodão (PORCHER; FICK, 2005). O sucesso da plantação do algodão foi tal que, sobretudo na Europa o termo Algodão do Egito passou a ser sinônimo de algodão para artigos de luxo, fazendo esquecer a própria origem


C a p í t u l o I | 57

americana da espécie. Entre as variedades mundialmente demandas pelo mercado sobressai o algodão egípcio, que se cultiva no Alto Nilo e no Delta, de fibra extralonga e longa, sedosa, com comprimento de fibra de 34 a 38 mm e sua cor pode variar do creme ao pardo. A variedade Giza é altamente apreciada pelo mercado e sua fibra é usada para fazer fios de bordar de alta qualidade e na confecção dos melhores tecidos para fazer lençóis, capas de almofadas e coberturas de lençóis. O algodão egípcio refere-se basicamente ao algodão extralongo (ELS) cultivado no Egito. Sua colheita é predominantemente manual, resultando numa operação onerosa por consumir bastante mão-de-obra (Figura 28). No entanto, a apanha manual geralmente produz fibras de qualidade e menor quantidade de impurezas, quando o capulho é colhido na época certa ou totalmente aberto. Mas, devido à crise em que passa o setor agrícola no país, uma solução para reverter o difícil quadro de declínio da produção do algodão foi à elaboração de um projeto pelos representantes da regional Unido, o qual envolve um conjunto de atividades técnicas que visa promover a produção orgânica e a limpeza do algodão colhido, bem como o impacto social por apoiar também os segmentos mais pobres da cadeia de valor do algodão.

Figura 28. Colheita manual do algodão de fibra extralonga no Egito.


C a p í t u l o I | 58

Pima O algodão Pima que deve o seu nome em honra aos índios Pima, que ajudaram a cultiválo nas Estações Experimentais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos do Arizona no início do Século XX, o qual representa apenas 5% da produção total dos Estados Unidos (PORCHER; FICK, 2010). Atualmente, sua zona de cultivo é, especialmente, a Califórnia. Sua introdução no Peru aconteceu em 1918. No Peru, o algodão Pima é plantado no deserto da costa norte com 45.000 a 55.000 ha, que compreende os vales dos estados de Piura e Lambayeque, os quais chegam a produzir até 4.500 kg/ha de algodão em rama, em condições de irrigação por inundação. Essa região do Peru apresenta um microclima que favorece a produção de um dos melhores algodões do mundo tanto pelo comprimento de sua fibra como pelo alto grau de maturidade (MINAG, 2009). No estado de Piura (Peru), identificam-se duas variedades extralongas com excelentes características: Pima e Supima; embora um terço do algodão híbrido tenha sido recentemente incorporado no país. A cultivar Pima Peruano se caracteriza por sua fibra extralonga, de alta finura e resistência, da qual se podem obter tecidos de altíssima qualidade. Sua fibra é apenas comparável no mundo com o algodão do Egito, do Sudão e do Pima Americano. Nos vales de Piura, devido à alta porcentagem de umidade, a fibra do algodão Pima é coberta por uma cera natural, o que mais tarde resulta em um tratamento diferente no tingimento, o que dá aos tecidos uma suavidade particular ao toque e um brilho natural (MINAG, 2009; MORE, 2014).

A cultivar Supima foi importada de Arizona em 1962 para o Peru. Possui um período vegetativo similar ao da cultivar Pima, mas difere em algumas características. Quanto ao comprimento, tem uma fibra mais curta, embora a seu favor suas fibras tenham uma maior resistência e uniformidade. Na Tabela 3, observam os resultados das características tecnológicas de fibra entre as cultivares Pima e Supima.


C a p í t u l o I | 59

Tabela 3. Resultados da qualidade dos algodões peruanos (Pima e Supima) para as condições ambientais de Piura, Peru. PIMA

CARACTERISTICAS

SUPIMA

200-230

Período vegetativo (dias)

6 a 6,5 meses

Extralonga

Classificação de fibra

Extralonga

38,10 a 41,27

Comprimento (mm)

34,92 a 38,10

92,5 a 100

Resistência (pressley)

94 a 100

3,3 a 4,0

Finura (micronaire)

3,5 a 4,0

Branco cremoso

Cor

Branco Cremoso

Obs: Valores obtidos nas condições ambientais de Piura, Peru (diurna quente e noturna <20ºC), sendo que o ciclo da cultura para região semiárida do Brasil poderá ser mais precoce (temperatura noturna oscila entre 23-27ºC). Fonte: Ministério de Agricultura e SIEE.

MULTIPLICAÇÃO DE SEMENTES AGROECOLÓGICAS

A semente é o veículo que leva ao agricultor todo o potencial genético de uma cultivar com características superiores. Em seu caminho, do melhorista à utilização pelo agricultor, pequenas quantidades de sementes são multiplicadas até que sejam alcançados volumes em escala comercial, no decorrer do qual a qualidade dessas sementes está sujeita a uma série de fatores capazes de causarem perda de todo potencial genético. A minimização dessas perdas, com a produção de quantidades adequadas, é o objetivo principal de um programa de sementes. O ponto de partida da semente agroecológica de algodão é, pois, uma pequena quantidade de sementes, obtida por melhoramento genético de determinada cultivar (semente genética), ou da multiplicação das sementes de alguma cultivar já existente, sob condições controladas, não sendo suficientes para ser distribuída entre as entidades produtoras da semente. É necessário que seja multiplicada por três gerações para ocorrer sua purificação de convencional para agroecológica, o que requer o aparecimento de algumas classes intermediárias, até que se chegue à semente fiscalizada ou certificada. Apesar de não constituir em si, um método de melhoramento, a introdução de cultivares de algodoeiro Gossypium barbadense pode satisfazer as necessidades de uma determinada microrregião de cultivo do Nordeste, se acompanhada por experimentação realizada pela Embrapa, em base a seus caracteres fenológicos, morfológicos, fisiológicos, agronômicos e industriais de maior importância, que devem reunir certas


C a p í t u l o I | 60

variedades de algodão. Assim é que se introduzem as variedades já estabelecidas provenientes dos acessos existentes nos Bancos de Germoplasma da Embrapa Algodão (Pima) e do Cirad-Embrapa (Sea Island). Por outro lado, o ciclo da planta corresponde ao número de dias da emergência ao estágio em que o algodão está apto para a colheita. É um caráter de grande importância no melhoramento do algodoeiro, em particular para a região Nordeste, onde a seca e o ataque do bicudo são mais acentuados. Em razão disso, os produtores têm buscado por materiais de ciclos precoces ou cultivar, em condições irrigadas, em região seca, onde a alta temperatura ambiental é considerada uma defesa natural à proliferação da praga do bicudo (ROSOLEM, 2007). A incorporação de genes que controlam a precocidade é feita por meio de cruzamento com progenitores precoces, método usado pelos melhoristas com as linhagens depositadas no Banco de Germoplasma da Embrapa, pois nos seus vários acessos existem já cultivares de G. barbadense: Pima, Giza, Supima e Sea Island, além de linhagens não domesticadas. Geralmente as cultivares ou espécies são classificadas por grupos de precocidade com ciclos de curtos, médios e longos, das mais precoces às mais indeterminadas (SILVERTOOTH et al., 1999). O planejamento da execução do processo de produção de sementes de algodão agroecológica tem que obedecer aos seguintes procedimentos: Identificação da espécie, cultivar, categoria e safra da semente, identificação do produtor, cronograma de execução das atividades e as etapas do processo de produção de sementes, croquis de localização dos campos de produção, estimativa de produção e identificação dos beneficiadores envolvidos no programa de produção de sementes agroecológicas dentre outros. Na Tabela 4, verifica-se a evolução do processo de multiplicação de sementes de algodão agroecológica com base na categoria e espécie.


C a p í t u l o I | 61

Tabela 4. Demonstrativo da produção após três gerações, resultando no final as sementes agroecológicas de algodão (certificada). Espécie/variedade

Algodão G. hisurtum (fibra extralonga)

Categoria de Sementes Agroecológica (Origem e quantidade de sementes usada na multiplicação) Genética

Básica

Certificada

Del Cerro

10 sementes

0,8 kg

60 kg

Variedade de algodão mocó (tradicional)

10 sementes

0,2 kg

15 kg

Pima

10 sementes

0,8kg

60 kg

Sea Island

10 sementes

0,8 kg

60 kg

Giza 46

10 sementes

0,8 kg

60 kg

Algodão G. barbadense (fibra extralonga)

OBS: sementes genéticas (10 sementes) cedidas pelo Banco de Germoplasma da Embrapa serão multiplicadas em casa de vegetação sob regime de irrigação e também as sementes básicas, em área da Estação da Embrapa Algodão. Apenas os campos de sementes certificadas ou comerciais serão produzidos e instalados em áreas do agricultor, sendo que a quantidade de 60 kg de sementes atenderá o plantio de 2 ha. Estimando-se uma produtividade de 2 ton/ha em condições de sequeiro com complementação de irrigação (G. barbadense) e 500 kg de algodão em rama para o algodoeiro mocó tradicional, então a produção total seria de 1.200 kg e 300 kg de sementes agroecológicas (60%), respectivamente. A quantidade de 15 kg de sementes de algodão mocó atenderá 3 ha, usando o espaçamento de 2 m x 1m.

Após três gerações, as produções das sementes obtidas dos campos certificadas (comerciais) serão consideradas agroecológicas e deverão ser distribuídas e comercializadas para os diversos territórios envolvidos com o algodão de fibra extralonga no semiárido pela Embrapa Produtos e Mercado (Embrapa PM). Portanto, todo o processo deverá ser controlado por um órgão competente (Embrapa PM), através do qual se garante que a semente será produzida de forma que se possa conhecer com certeza sua origem genética e que cumpre com as condições fisiológicas, sanitárias e físicas preestabelecidas. Recomenda-se renovar as sementes de algodão, a cada intervalo de 4 anos, repetindo os mesmos procedimentos de multiplicação da Tabela 1, evitando assim perdas de sementes por degeneração.


C a p í t u l o I | 62

O estabelecimento de um campo de produção de sementes requer uma série de medidas, cujo objetivo principal é evitar que as sementes sofram contaminação genética ou varietal durante qualquer uma das fases do processo produtivo (Figura 29). A Embrapa Algodão cita medidas primordiais a serem tomadas visando à produção de sementes: i) definição da cultivar: as sementes devem ter pureza genética, origem e classe conhecida, ser livre de doenças e com alta germinação e vigor; i) escolha da área: histórico do campo e da região, regime de chuvas, espécies ou cultivares produzidos anteriormente, plantas daninhas, pragas e doenças existentes, condições de fertilidade são alguns fatores a serem considerados na escolha da área; iv) Isolamento dos campos de produção: contribui para evitar a contaminação genética e varietal; v) purificação ou “roguing”: consiste na retirada de plantas indesejáveis que possam polinizar e produzir sementes que causem contaminação mecânica na colheita, plantas daninhas de difícil controle químico e plantas doentes.

Figura 29. Estabelecimento de um campo de produção de sementes de algodão Pima ITA-59 (G. barbadense) em Lambayeque, Peru. Foto: Jorge Luis Ynoquio Palacios.

A inspeção de campo envolve a verificação de conformidades referentes às áreas que serão cultivadas: da origem das sementes, por exame das notas fiscais de compra e venda; do certificado ou do atestado de conformidade da semente; da localização dos campos, por meio de registros de georreferenciamento desses; da adoção de práticas agronômicas


C a p í t u l o I | 63

recomendadas para a produção de sementes; da observação dos requisitos de cultivos anteriores; de isolamento e da verificação de contaminantes e, principalmente, do cumprimento das normas e dos padrões preestabelecidos pelo MAPA (BRASIL, 2005; Tabela 5). Com a atuação do MAPA, as vistorias pelo responsável técnico do campo de produção ocorrem no mínimo em duas etapas: floração e pré-colheita, mas no caso de empresa certificadora privada poderá chegar até 6 inspeções (pré-semeadura, póssemeadura, floração, pré-colheita, colheita e pós-colheita).

Tabela 5. Padrões para a produção e a comercialização de sementes de algodão (Gossypium hirsutum e Gossypium barbadense). 1. PESO MÁXIMO DO LOTE (KG) 2. PESO MÁXIMO DAS AMOSTRAS (g) -Amostra submetida ou média -Amostra de trabalho para análise de pureza -Amostra de trabalho para determinação de outras sementes por número 3. PRAZO MÁXIMO PARA SOLICITAÇÃO DA INSCRIÇÃO DE CAMPO (dias após o plantio) 4. PARÂMETROS DE CAMPO CATEGORIAS/ ÍNDICES Básica C11 C22

4.1

4.2 4.3

4.4 4.5

-Área máxima da gleba (ha) - Número mínimo5 - Número mínimo de subamostras -Número de plantas subamostras - População da amostra Rotação6 Isolamento ou bordadura (mínimo em metros) Entre cultivares diferentes7 Entre espécies diferentes do mesmo gênero Plantas Atípicas8 (fora do tipo) (nº máximo) Plantas de Outras Espécies: - do Gênero Gossypium 9 - Cultivadas/ Silvestres/ Nocivas Toleradas10 Nocivas Proibidas11 Pragas12:

S13 e S24

50 2 6 1.000 6.000 -

100 2 6 500 3.000 -

100 2 6 375 2.500 -

100 2 6 250 1.500 -

250 800 3/6.000

250 800 3/3.000

250 800 3/2.250

250 3/1.500

0/6.000 0

0/3.000 0

0/2.250 0

0/1.500 0

0/6.000

30/3.000

25/2.250

20/1.500

0/6.000

0/3.000

0/2.250

0/1.500

0/6.000 0/6.000

30/3.000 0/3.000

25/2.250 0/2.250

20/1.500 0/1.500

Básica

5.1

5.3

1.000 350 1.000 30

Vistoria

- Murcha de Fusarium ou Fusariose (Fusarium oxysporum f. sp. Vasinfectum) - Mancha Angular (Xanthomonas axonopoides pv malvacearum) - Murcha de Verticillium (Verticillium albo-atrum) Ramulose (Colletotrichum gossypiivar. cephalosporioides) 5. PARÂMETROS DE SEMENTES

5.2

25.000

Pureza: -Semente pura (% mínima) -Material inerte13 (%) -Outras sementes (% máximo) Determinação de Outras Sementes por Número: -Sementes de outras espécies cultivadas (nº máximo)

CATEGORIAS/ ÍNDICES C11 C22

S13 e S24

98,0 0

98,0 0

98,0 0,1

98,0 0,1

0

1

1

1


C a p í t u l o I | 64

5.4 5.5 5.6 6.0

-Sementes silvestres14 (nº máximo) -Sementes nocivas toleradas15 (nº máximo) -Sementes nocivas proibidas15 (nº máximo) Germinação (% mínima) Validade do teste de germinação17 (máxima em meses) Validade da reanálise do teste de germinação17 (meses) Comercialização

0 2 2 2 0 2 2 2 0 0 0 0 7016 75 75 75 7 7 7 7 4 4 4 4 Somente será permitido o comércio de sementes deslintadas, independentemente do método utilizado para o deslintamento.

1. Semente certificada de primeira geração. 2. Semente certificada de segunda geração. 3. Semente de primeira geração. 4. Semente de segunda geração. 5. As vistorias obrigatórias deverão ser realizadas pelo Responsável Técnico do produtor ou do certificador, nas fases de floração e de pré-colheita. 6. Pode-se repetir o plantio no ciclo seguinte quando se tratar da mesma cultivar. No caso de mudança de cultivar, na mesma área, devem-se empregar técnicas que eliminem totalmente as plantas voluntárias ou remanescentes do ciclo anterior. 7. Com barreiras naturais ou outro cultivo de maior altura que o algodão, o isolamento deverá ser de, no mínimo, 50 metros. 8. Número máximo permitido de plantas, da mesma espécie, que apresentem quaisquer características que não coincidem com os descritores da cultivar em vistoria. 9. É obrigatória a eliminação de plantas de outras espécies de algodão e esta prática deverá ser realizada antes da floração. 10. Quando presentes em intensidade que não comprometa a produção e a qualidade da semente a ser produzida é obrigatória a prática do “roguing”, ou seja, a eliminação das plantas em questão. 11. É obrigatória a eliminação das plantas de espécies nocivas proibidas no campo de produção de sementes. 12. Na vistoria, caso haja a ocorrência de Murcha de Fusarium ou Fusariose (Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum), Ramulose (Colletotrichum gossypiivar. cephalosporioides), Mancha Angular (Xanthomonas axonopoides pv malvacearum) e Murcha de Verticillium (Verticillium albo-atrum), é obrigatório o arranquio e queima das plantas doentes visando o atendimento ao Padrão estabelecido. 13. Relatar o percentual encontrado e a sua composição no Boletim de Análise de Sementes. 14. As sementes de outras espécies cultivadas e sementes silvestres na Determinação de Outras Sementes por Número serão verificadas em Teste Reduzido – Limitado em conjunto com a análise de pureza. 15. Esta determinação será realizada em complementação à análise de pureza, observada a relação de sementes nocivas vigente. 16. A comercialização de semente básica poderá ser realizada com germinação até 10 pontos percentuais abaixo do padrão, desde que efetuada diretamente entre o produtor e o usuário e com o consentimento formal deste. 17. Excluído o mês em que o teste de germinação foi concluído.

O inspetor deverá observar o tamanho máximo do campo para efeito de inspeção, de acordo com os padrões de cada espécie, de modo que sejam realizadas tantas inspeções quantas sejam necessárias em razão do tamanho do campo (divisão em módulos). Exemplo: quando a amostragem da área do campo é maior do que a do MÓDULO (máximo de 100 ha), dever-se dividi-la de modo que cada subárea resultante seja menor do que ou no máximo igual à área do módulo.

As subamostras são áreas do campo cujo tamanho específico é determinado em função do limite de tolerância para os fatores contaminantes (atípicas; plantas daninhas toleráveis, enfermidades), tomadas ao acaso na trajetória de inspeção. Nas subamostras são feitas as observações detalhadas e identificados e contados os contaminantes. Segundo a normativa do MAPA, o que é verificado nas inspeções específicas é: a) Plantas atípicas: Plantas que apresentam uma ou más características que não coincidem com a descrição varietal da variedade a ser certificada.


C a p í t u l o I | 65

b) Plantas daninhas proibidas: Cenchrus echinatus (carrapicho); Aconthospermum hispidum (carrapicho de carneiro); Bidens pilosa (picão preto). c) Plantas daninhas toleráveis- Amaranthus spp (bredo); Cassia tora (mata-pasto); Desmodium spp (beijo de boi). d) Enfermidades de plantas de algodão: Murcha de Fusarium ou Fusariose (Fusarium oxysporum

f.

sp.

vasinfectum),

Ramulose

(Colletotrichum

gossypiivar.

cephalosporioides), Mancha Angular (Xanthomonas axonopoides pv malvacearum) e Murcha de Verticillium (Verticillium albo-atrum).

As sacarias e máquinas usadas desde a semeadura até o beneficiamento podem se constituir em importantes fontes de contaminação varietal. Sacas usadas com espécies ou cultivares diferentes costumam ser séria fonte de contaminação física e varietal. É muito frequente o aparecimento de sementes engastadas na máquina virem a se soltar ou desprender posteriormente, ao serem colhidas, secadas ou beneficiadas junto ao lote de sementes de uma cultivar diferente, resultando então na contaminação varietal ou mecânica. Além de ensacamento, misturas mecânicas também podem ocorrer durante as operações de plantio, colheita, armazenamento e beneficiamento.

ZONEAMENTO DO ALGODÃO DE FIBRA EXTRALONGA O algodoeiro arbóreo (Gossypium hirsutum r. marie galante) produtor de fibra extralonga foi explorado tradicionalmente no Nordeste brasileiro, dependendo das condições de cultivo e da cultivar, apresentava ciclo tardio, e era um cultura perene. Atualmente, a nova estratégia recomendada para o algodoeiro arbóreo seria efetuar dois ciclos de produção em regime de irrigação, sem ou com poda, durante o período de um ano (12 meses). Em seguida, seriam erradicadas todas as plantas após seu aproveitamento pelo animal (sistema lavoura-pecuária), evitando assim sua exploração tradicional por até cinco anos. A identificação das áreas com aptidão para exploração do algodoeiro arbóreo foi baseada nos fatores clima e solo e nas suas interações conhecidas, considerando-se ainda as adversidades ambientais à ocorrência de pragas, especialmente o bicudo. Portanto, as microrregiões do Seridó da Paraíba e do Rio Grande do Norte, além do Sertão de Inhamuns, Ceará, poderiam ser declaradas como zonas de Produção do Algodoeiro de


C a p í t u l o I | 66

Fibra Extralonga, em condições de irrigação, mediante um decreto do MAPA, por ser um ambiente livre da ocorrência de bacteriose, a qual a planta da espécie G. barbadense é bastante susceptível, além da menor infestação da praga do bicudo quando se utiliza manejo de controle apropriado. Nos municípios zoneados das microrregiões do Seridó da Paraíba e do Rio Grande do Norte e nos Sertões de Inhamuns do Ceará e do Piauí para o plantio do algodoeiro arbóreo que apresentam áreas com solos adequados para o cultivo do algodoeiro herbáceo, especialmente nos chamados “baixios” com condições microclimáticas e de solo. Seriam áreas propícias à produção da espécie Gossipyum barbadense, desde que sejam adotadas estratégias de controle de pragas, por exemplo, utilizando períodos livres de 1 a 2 anos de intervalos sem plantar o algodão na região. Nos anos pares, o algodoeiro da cultivar Pima ou Sea Island seria cultivado por gotejamento no Seridó da Paraíba e do Rio Grande do Norte e, nos anos ímpares, seriam cultivados nos sertões do Ceará, Pernambuco e Piauí. Tal manejo cultural evitaria a proliferação de pragas e doenças nos referidos ecossistemas, pois nos anos sem algodoeiro, sugere-se a exploração de culturas alimentares (feijão, milho, gergelim, sorgo etc.). O algodoeiro da espécie Gossypium barbadense, cujas variedades são produtoras de fibra extralonga, seria cultivado, em condições de irrigação, em microrregiões aptas para o algodoeiro arbóreo com base nas seguintes características climáticas que estão especificadas na Tabela 6.

Tabela 6. Detalhamento das características climáticas referentes aos municípios aptos para o cultivo do algodoeiro arbóreo nas microrregiões secas do semiárido. Características climáticas

Valores Observados

Temperatura média do ar

Variando entre 25 e 30ºC

Temperatura máxima do ar

Variando entre 30 e 35ºC

Temperatura mínima do ar

Variando entre 20 e 25ºC

Umidade relativa média do ar

Variando entre 55 e 75%

Isolação (número de horas de brilho solar) Altitude Precipitação pluvial Concentração de precipitação no trimestre mais chuvoso

Mais de 2.700 horas Variando de 140 e 350 Variando entre 450 e 700 mm Variando entre 65 e 75% do total anual


C a p í t u l o I | 67

Evapotranspiração

Variando entre 5 e 8 mm/dia

Não existe ocorrência de orvalho Inexistência de excesso hídrico Deficiência hídrica em 10 meses do ano Fonte: José da Cunha Medeiros et al. (1996).

Essas características estão condizentes com as mencionadas por Duque (1980) para definir, principalmente o Seridó como ótimo ecológico para o algodoeiro arbóreo, e pelo IPA (1987) em seu zoneamento pedoclimático. Vale destacar que o algodoeiro (Gossypium sp.) como planta originária de regiões tropicais e subtropicais e, apesar de apresentar metabolismo C3, extremamente heliófilo, necessitando, para produzir economicamente, de precipitações acima de 450 mm, bem distribuídas, temperatura média do ar superior a 20ºC e de pouca ou nenhuma nebulosidade, isto é, dias bem ensolarados, especialmente na fase de maturação e abertura dos frutos. Resultados aproximados para os municípios zoneados para o algodoeiro arbóreo foram obtidos pela Embrapa (1996) que considerou a classificação de Duque (1980) com modificações, levando-se em consideração aos resultados obtidos em ensaios de competição de cultivares/demonstração e lavouras dos produtores, com produtividade superior a 400 kg/ha (Figura 7). Os seguintes municípios aptos para o zoneamento da espécie Gossypium barbadense na região seca do semiárido poderiam ser:

Tabela 7. Municípios zoneados para o algodoeiro arbóreo foram obtidos pela Embrapa (1996). Estados

Municípios

PARAÍBA Aptos:

Quixaba, Salgadinho, São Mamede, São José do Sabugi, Santa Luzia e Várzea.

Dupla Aptidão

Patos, Cacimba de Areia e Passagem.

RIO GRANDE DO NORTE Aptos:

Caicó, Ouro Branco, Jardim do Seridó, Santana, São José do Seridó, Acari, Cruzeta, Lagoa Nova, São Vicente, Florânia, Santana do Matos, Carnaúba dos Dantas e Parelhas.

Dupla Aptidão

Ipueira, São João do Sabugi, Currais Novos, Jucurutu, Lages e Angicos

CEARÁ


C a p í t u l o I | 68

Aptos:

Irauçuba, Itapagé, Paramoti, General Sampaio, Boa Viagem, Tamboril, Monsenhor Tabosa, Itatira, Catarina e Apuiarés

Dupla Aptidão

Sobral, Pentecostes, Santa Quitéria, Canindé, Crateús, Novo Oriente,

Independência,

Quixeramobim,

Pedra

Branca,

Mombaça, Tauá, Arneiroz, Aiuaba, Saboeiro, Acopiara e Caridade. PIAUÍ Aptos:

Paulista, Betânia do Piauí, Isaias Coelho, Jaicós e Itainópolis

Dupla Aptidão

Conceição do Canindé, Simões, Campinas do Piauí, Bela Vista

PERNAMBUCO Aptos:

Parnamirim, Terra Nova, Mirandiba, Floresta, Petrolândia, Inajá, Betânia e Calumbi

Dupla Aptidão

Ouricuri, Serrita, Salgueiro, São Jose do Belmonte, Afrânio, Custodia, Serra Talhada, Ibimirim, Verdejante, etc

Fonte: Embrapa (1996)

CONDIÇÕES AMBIENTAIS E SOLO O algodoeiro vegeta bem nos solos de baixada e aluvião da região semiárida do Nordeste, consequentemente a planta fica mais sujeita a infestação de pragas por se tratar de solos úmidos durante o período de inverno. Já a incidência de pragas é menor em solos de tabuleiros da referida região, apesar de que o desempenho produtivo do algodoeiro não seja bastante promissor, ou seja, a produtividade do algodoeiro é regular em função da baixa fertilidade do solo. O contrário ocorre com as pragas (infestação insignificante), quando o algodão arbóreo ecológico, cultivares de ciclo longo (acima de 200 dias), é plantado irrigado, através de poço artesiano ou tubular, nas microrregiões do Seridó paraibano e norte-rio-grandense e, cujo clima de verão (julho a dezembro) é caracterizado por baixa umidade relativa do ar e elevada temperatura. Nos casos em que um mesmo produtor tenha que plantar ecologicamente os tipos de algodoeiro de ciclo longo, ele deve escolher apenas os terrenos de baixios e os de aluviões para o plantio e evitar plantar em solos de tabuleiro. Para um melhor rendimento e uma boa produção devem ser procurados os solos profundos, bem estruturados, de pH entre 5,5 e 6,5, não sujeitos a encharcamento ou erosão (Figura 30).


C a p í t u l o I | 69

Figura 30. Evitar plantar o algodão em solos salinos com pH abaixo de 5,5, pois compromete o desenvolvimento da cultura (sistema radicular afetado).

A topografia do solo pode variar desde plana até a ondulada, contanto que na plana não haja problema de encharcamento e na ondulada ou acidentada, práticas de conservação sejam observadas e seguidas para evitar erosão ou carreamento da camada arável do solo pelas águas das chuvas. Os solos recém-desbravados são ricos em matéria orgânica e com alto teor de nitrogênio, podendo ocasionar o desenvolvimento vegetativo do algodoeiro em prejuízo à produção (QUEIROGA, 1983). É importante salientar que o sertão brasileiro é uma extensa área de clima semiárido, mesmo assim apenas nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará iriam oferecer condições ecológicas satisfatórias em atender ao cultivo de algodão extralongo, pois é onde o sertão chega até o litoral em tais estados. Uma vez instalada a lavoura próximo ao mar, o algodão Sea Island estaria sob a influência direta da brisa do mar e iria produzir uma fibra mais sedosa, consequentemente seriam criadas as mesmas condições ambientais existentes em Barbados e em Peru, que é cultivado o algodão Pima no litoral. Vale esclarecer que as palavras “algodão Sea Island” significam o algodão da ilha do mar ou campo de algodão com vista para o mar (PORCHER; FICK, 2010; MORE, 2014).


C a p í t u l o I | 70

PREPARO DO SOLO O preparo convencional do solo tem por objetivo intervir e revolver uma camada profunda do solo, destruir e incorporar restos vegetais, expor pragas de solo à insolação (para seu controle), destorroar e nivelar o terreno. Com relação aos aspectos ambientais, um preparo do solo inadequado, isto é, realizado sem a consideração das características pedológicas, físicas e topográficas, pode levar a problemas como a compactação, que é o adensamento de uma camada subsuperficial do solo devido ao trânsito de tratores e outros veículos na superfície, assim como a erosão, que é a perda das camadas superficiais do solo pela ação do vento ou das chuvas. Um dos fatores que influem no rendimento do algodoeiro é o preparo do solo. Quando bem feito, facilita o plantio, favorece a germinação da semente e o desenvolvimento do sistema radicular. Recomenda-se realizar no Peru quatros métodos tradicionais de preparado do solo: aradura, subsolagem, gradagem e nivelação do solo. A aração deve ser realizada na maior profundidade possível, obedecendo sempre o sentido do nível do terreno. Não deve ser feita com o solo muito úmido nem muito seco. Há um ponto de umidade em que o solo não adere ao implemento e nem faz nuvem de poeira. É o ponto em que o solo se desmancha com alguma facilidade à pressão dos dedos. Quando a camada compactada estiver a 30-40 cm de profundidade, ela pode ser rompida com arado de aivecas (MORE, 2014). De preferência deve-se usar o arado de aiveca que danifica bem menos o ambiente do solo ou de discos, dependendo do tipo do solo (Figura 31).

Figura 31. Modelos de arados de discos e de aivecas. Foto: Gadanha Júnior et al., 1991.


C a p í t u l o I | 71

O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultivo. O arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos, mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os. Outro aspecto que deve ser considerado como essencial para as áreas dos agricultores, quanto à conservação do solo, é para a formação das raízes da planta, já que as causas principais de impedimento para a penetração e desenvolvimento das raizes são: camada de solos dura e compactas (pressão por máquina pesada ou pé de arado), terreno pedregoso, excesso de umidade, altas concentrações de sodio (alcalinidade), de sais o de alumínio (acidez). Quando a camada se apresenta muito endurecida ou compacta, dentro dos primeiros 50 a 60 cm de perfil, em profundidades não atingidas por outros implementos, é necessária a subsolagem (operação realizada em solo seco) para facilitar o crescimento radicular em profundidade e para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo. Para otimizar a penetração no solo, alguns subsoladores permitem a regulagem de inclinação das hastes, em cuja extremidade inferior existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992; Figuras 32 e 33).

Figura 32. Formato de hastes do subsolador: a) reta, b) curva, c) parabólica, d) ação da subsolagem no solo.


C a p í t u l o I | 72

Figura 33. Preparo de subsolagem, em forma cruzada e com 60 cm de profundidade, para a descompactação do terreno destinado ao plantio do algodão G. barbadense no Peru. Fotos: José Hernandez, J. e INIA, Peru.

Em razão do sistema radicular pivotante do algodão, o mesmo requer solos mais profundos que outros cultivos anuais e, portanto, é necessário efetuar a subsolagem para romper a dureza do terreno abaixo da camada arável que impede o normal desenvolvimento da cultura. Além da compactação, o solo pode apresentar alguns problemas de deficiência de aeração ou baixa infiltração e impedimento químico, geralmente de pH (acidez) e concentração de alumínio tóxico no solo. Recomenda-se no Peru realizar um passe de subsolador no terreno destinado ao plantio do algodoeiro G. barbadense a cada 3 a 4 anos a 60-70 cm de profundidade.


C a p í t u l o I | 73

A gradagem é uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo do algodão. Geralmente, a grade niveladora é utilizada após a aração, com o objetivo de destorroar, nivelar e adensar o solo (Figura 34). Recebe também denominação de grade leve por possuir massa inferior a 50 kg sobre cada disco de corte. Existem grades de simples e de dupla ação. As de simples ação são constituídas de dois conjuntos de discos dispostos lado a lado e os duplos quatro conjuntos, em forma de duas parelhas. As de dupla ação podem ser destorroadoras ou niveladoras. Na grade destorroadora, onde os conjuntos de discos são dispostos em forma de “X” e nas niveladoras, de “V”. O uso de grade aradora é desaconselhado, pois favorece a erosão laminar, é ineficiente no controle das plantas daninhas e principalmente porque provoca aumento da compactação do solo (PRIMAVESI, 1980; SEGUY et al., 1984).

Figura 34. Grade destorroadora, onde os conjuntos de discos então dispostos em forma de “X”.

A grade niveladora tem por finalidade nivelar o terreno que se encontrava desnivelado, permitindo assim ampliar a área de semeadura e uniformizar a distribuição de água de irrigação (Figura 35).


C a p í t u l o I | 74

Figura 35. Grade niveladora, onde os conjuntos de discos então dispostos em forma de “V”. Foto: Carlos Antônio Tavares Júnior.

Grande parte dos agricultores familiares do semiárido, por não disporem de outros recursos, prepara o solo, apenas usando o cultivador a tração animal. Nesse caso deve passar o cultivador até que o solo fique bem destorroado para melhorar o rendimento e a eficiência desse tipo de preparo; também pode ser recomendado o uso do arado de aiveca a tração animal antecedendo o trabalho do cultivador, principalmente quando se trata de solo argiloso. Se o preparo for feito mecanicamente a trator, recomenda-se nos solos compactos fazer uma aração a uma profundidade de no mínimo 40 cm antes da gradagem. Uma vez que o terreno está arado, devem-se efetuar duas gradagens cruzadas a uma profundidade de 30 cm, sendo a segunda contrária à caída das águas, ou seja, perpendicular ao sentido da declividade do terreno visando controlar a erosão (QUEIROGA, 1983).

PREPARO DE LEIRÕES Para área de algodão irrigada por inundação, o preparo do terreno deverá ser em leirão ou camalhão, o qual é efetuado com arado sulcador de dois discos (Figura 36), de maneira que através dessa operação se substitua a técnica de subsolagem, mas dependo do tipo de solo deverão ser mantidas as práticas de aração e gradagens convencionais. Para o plantio em leirões abaulados, as sementes do algodoeiro G. barbadense devem ser semeadas


C a p í t u l o I | 75

manualmente ou mecanicamente com distâncias de 1,00 a 1,30 m entre leirões e de 6 a 10 plantas por metro linear (Figuras 37).

Figura 36. Em terreno plano, adota-se a formação de leirões retangulares preparados com o sulcador adaptado ou arado aleirador para o algodoeiro irrigado por inundação.


C a p í t u l o I | 76

Figura 37. Em área irrigada por inundação, planta-se o algodão sobre cada leirão abaulado no espaçamento de 1,2 m.

ÉPOCA DE PLANTIO A época de plantio é considerada um manejo cultural ecológico do algodoeiro que pode resultar no desenvolvimento de plantas dentro das condições climáticas ideais. A observância da época adequada oferece maior possibilidade de êxito para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita a lavoura na região semiárida do Nordeste, tendo em vista a grande influência do tempo sobre a produção, tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA, 1983). Recomenda-se iniciar o plantio quando tiver chovido aproximadamente 40 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições o solo apresenta umidade suficiente para a germinação das sementes e desenvolvimento das plantas (BELTRÃO, 1999). Em área a ser plantada de até 2 ha, alguns agricultores familiares do Nordeste separam as quantidades de sementes a serem semeadas no dia seguinte e deixam elas umedecendo durante toda noite, tendo como resultado uma acelerada germinação das sementes em poucos dias após o plantio manual, mesmo em situações de baixa umidade do solo. Em função da irrigação suplementar para cobrir o ciclo tardio do algodoeiro G. barbadense, deve-se sincronizar o plantio (época de início do inverno) com a colheita do algodão na ausência de chuvas e, devido a problemas de pragas, em especial o bicudo, a semeadura não deve ultrapassar os 30 dias de um produtor para outro dentro de cada território. Ou seja, a época ideal de semeadura do algodão deverá ocorrer entre fevereiro


C a p í t u l o I | 77

a março de cada ano, dependendo da ocorrência dos fatores climáticos, principalmente o início das chuvas, em cada território para os estados da PB, RN, CE, PE e PI (Janeiro).

ESPAÇAMENTO E DENSIDADE O arranjo de plantas basicamente pode ser manipulado através de alterações na densidade de plantas e no espaçamento entre fileiras, mas ambos fatores estão relacionados ao tipo da planta e a qualidade do solo. Portanto, para a variedade Pima Peruano tradicional, por seu hábito de crescimento indeterminado e ciclo vegetativo longo (210 -225 dias), recomenda-se o plantio com espaçamento mais largo entre fileiras e menor densidade populacional na ânsia de explorar sua alta produtividade por planta. Então os espaçamentos poderão ser de 1,10 m, 1,20 m e até 1,30 m entre fileiras e 0,30 m ou 0,40 m entre covas, sendo que a população poderia estar entre 41.667 e 60.607 plantas, deixando duas plantas por cova após desbaste ou entre 5 a 7 plantas por metro linear. Na Tabela 8, observam-se as possíveis populações de plantas de algodão Pima por ha.

Tabela 8. Estimação da população de plantas por hectare em função do número de plantas por metro e diferentes espaçamentos entre fileiras e entre covas. Distância

Distância entre plantas (cm)

entre fileiras

30

40

Média de plantas por metro linear 6

7

8

9

10

1

2

1

2

100

33.333

66.666

25.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

110

30.303

60.607

22.727

45.454

54.545

63.636

72.727

81.818

90.909

120

27.777

55.554

20.833

41.667

49.999

58.333

66.666

74.999

83.333

130

25.641

51.282

19.230

38.460

46.153

53.846

61.538

69.230

76.923

(cm)

Fonte: Pedro Miguel More.

Deve-se ter o cuidado com o manejo das densidades altas de semeadura, devido que as plantas vão dispor de um menor espaço para desenvolver. No caso do manejo deficiente, o nó do primeiro ramo frutífero estará mais alto (acima do oitavo no algodoeiro Pima Peruano, pois o normal deveria estar entre o sexto e sétimo nó nas variedades cultivadas). Além disso, os ramos reprodutivos na parte inferior são mais curtos, a haste da planta


C a p í t u l o I | 78

crescera frágil com os entrenós compridos e se inclinará a um ou outro lado da línea de semeadura. A competição pela distribuição dos carboidratos afetará aos órgãos reprodutivos dos ramos inferiores, provocando a queda de botões e maçãs tenras. Mas se permanecer na planta, as maçãs serão de menor tamanho, com a consequente baixa de produtividade.

SEMEADURA MANUAL

No regulamento do Mapa exige obrigatoriamente que a semente de algodão usada no plantio seja certificada e deslintada mecanicamente (a semente do G. barbadense tem um tufo de línter na parte da micropila e fica sem línter (nua) quando submetida ao processo de deslintamento mecânico), apresentando o mínimo de 75% de germinação. Antes da semeadura, a semente deve ser tratada com calda sulfocálcica ou outros agentes biológicos (tal detalhamento está na parte referente a póscolheita do algodão em rama). O plantio manual poderá ser realizado com ajuda de sulcador de tração animal para abrir os sulcos (Figura 38) e semear com a mão, além de utilizar o pé para cobrir as sementes com terra. As sementes devem ficar na profundidade entre 3 a 5 cm, dependendo do tipo de solo. Em solos argilosos (pesados) podem retrasar a emergência, portanto se recomenda semear com menor profundidade (3 cm) do que em solos arenosos (5 cm). O consumo de sementes nesse sistema de plantio é de 25 kg por ha, sendo necessário realizar o desbaste que representa em torno de 10% dos custos de produção. Mesmo assim recomenda-se colocar no sulco ou cova uma quantidade de sementes superior à densidade desejada, a fim de evitar o replantio.


C a p í t u l o I | 79

Figura 38. Abertura de sulco de irrigação no terreno já preparado pelo trator com sulcador de uma linha de tração animal e, em seguida, a operação de semeadura manual das sementes de algodão deslintadas mecanicamente ao lado de cada sulco. Foto: INIA, Peru.

Para o plantio de área abaixo de 1 hectare, a semeadura no Peru é feita abrindo as covas com um instrumento manual, pá ou cavador, onde se colocam ao mesmo tempo as sementes com línter ou deslintadas (3-5) em cada cova, visando obter uma boa emergência. Por ser considerado um sistema poupador de sementes, consequentemente irá evitar a competição entre plantas e facilitará a operação de desbaste (Figuras 39 e 40).


C a p í t u l o I | 80

Figura 39. Semeadura manual com as sementes do algodão Pima Peruano no Peru. Fotos: Marité Nieves Rivera.


C a p í t u l o I | 81

Figura 40. Distribuição das plântulas do algodoeiro Pima de forma continua em cada fileira no espaçamento de 1,10 m. Foto: INIA, Peru.

O plantio manual pode também ser feito utilizando uma matraca específica para sementes com línter (Figura 41), cujo manuseio é bastante simples em solo bem preparado. Há necessidade de regular bem o distribuidor de sementes (BELTRÃO, 1999).

Figura 41. Matraca apropriada para semeadura de sementes de algodão com línter (Foto A).

No caso de problemas de germinação no plantio, suas causas podem ser diversas, tais como: a) semente de má qualidade (baixa germinação e vigor) b) semeadura profunda da semente, assim como preparo de solo inadequado e desnivelado, c) Irrigação do solo insuficiente para a germinação e emergência; d) Solo inundado, sem aeração e com maior


C a p í t u l o I | 82

capacidade de retenção de umidade (solos pesados), pode comprometer a germinação da semente, e) presença de crostas duras na parte superficial do solo, e f) temperaturas baixas (inferior a 15ºC). Portanto, havendo uma falha significativa na germinação das sementes, recomenda-se efetuar o replantio dentro de uma semana após a emergência, para que não haja tanta diferença entre as idades de plantas novas e as que emergiram na primera semeadura. Um replantio atrasado poderá onerar os custos com os tratos culturais e a colheita da cultura algodoeira.

SEMEADURA MECANIZADA A semeadora mecânica e de precisão consegue distribuir as sementes de algodão Pima, deslintadas mecanicamente, em quatro líneas continuas, espaçadas com 1,10 m entre fileiras, permitindo assim controlar a densidade real e dispensando a operação de desbaste (Figura 42). É necessário calibrar a máquina semeadora ante do plantio e limpar bem as sementes deslintadas em mesa de gravidade, visando obter os espaçamentos estabelecidos e também preparar adequadamente o terreno onde será semeado o algodão. O plantio mecânico também pode ser feito usando-se uma plantadeira a tração animal (Figura 43). Antes de plantar a semente com línter com germinação superior a 75%, a semeadora deve ser regulada para distribuir 15-20 sementes por metro de sulco, correspondendo a um gasto máximo de 15 kg/ha no espaçamento de 1,10 m para a cultura isolada.

Figura 42. Campo de algodão G. barbadense semeado no espaçamento de 110 cm entre fileiras, deixando 8 plantas por metro linear, sem uso de adubação química. Foto: INIA, Peru.


C a p í t u l o I | 83

Figura 43. Plantadeira mecânica de tração manual ou animal para a semeadura de sementes de algodão deslintada mecanicamente ou flambagem. Fotos: Odilon Reny Ribeiro Silva.

Além de ser mais produtivo do que o Pima Peruano, o algodoeiro Pima Americano tem hábito de crescimento mais determinado e ciclo vegetativo mais curto. Quando se trata de variedades precoces, recomenda-se diminuir a distância de semeadura entre fileiras para 1,00 m e aumentar o número de plantas por metro linear (7 a 8; Figura 44), visando estabelecer uma população final mínima de 63.000 plantas/ha.


C a p í t u l o I | 84

Figura 44. Nas entrelinhas de plantio, recomenda-se deixar 8 plantas de algodão por metro linear para as variedades precoces do Pima Americano.

Na semeadura mecanizada é importante ajustar a máquina semeadora. Ao mesmo tempo, os solos devem estar nivelados para manter uma profundidade uniforme e evitar a formação de possíveis crostas que impedem a emergência normal das plântulas. Ou seja, apresentar textura solta e livre de plantas daninhas.

DESBASTE Essa operação deve ser realizada manualmente por pequenos agricultores, quando os mesmos utilizam o sistema manual de semeadura de sementes de algodão orgânico com línter, o que os obriga a colocar grande quantidade de sementes por cova ou sulco. O desbaste deve ser realizado entre 20 a 30 dias após a emergência, de preferência com solos úmidos, sendo que aos 30 dias o desbaste deve ser efetuado, mesmo em condições de solo seco. Quando o raleamento é atrasado (após 30 dias) pode ocasionar queda na produção do algodão de forma significativa. Deve-se eliminar as plantas pouco vigorosas, plantas atípicas ou aquelas que apresentam danos por ataques de pragas ou doenças, deixando uma ou duas plantas por cova.


C a p í t u l o I | 85

CALAGEM E ADUBAÇÃO ORGÂNICA É importante destacar que os rendimentos do algodoeiro tendem a diminuir na medida em que o pH dos solos é menor que 5,5 ou maior que 7,5, sendo assim, é necessário corrigir problemas associados com a acidez do solo, no primeiro caso, ou com a alcalinidade no segundo. Recomenda-se que a calagem para o algodão seja feita de acordo com a análise química do solo. Uma vez constatada a acidez do solo, pela determinação do pH e dosagem do alumínio trocável, deve-se proceder à correção, com o uso de rocha de calcário, de preferência, dolomítico que possui de 25 a 30% de CaO e mais de 12% de MgO (AUGSTBURGER et al., 2000). O calcário deve ser aplicado a lanço, de modo uniforme e depois deve ser incorporado até a profundidade de 20 cm. Essa operação deve ser executada bem antes do plantio, no mínimo dois meses. No caso do gesso natural, que é usado para corrigir solos sódicos e solos salino-sódicos, com pH elevado, o radical sulfato liberado da hidrólise, favorece a redução do pH, formando sulfato de sódio hidratado que é lixiviado, reduzindo, assim, o problema de sódio no solo. No nordeste do Brasil, as possibilidades de fertilização mais importantes na produção ecológica do algodão são: utilização de adubo verde através da incorporação da vegetação nativa 30 dias antes da semeadura do algodão e pela aplicação de adubos orgânicos (SILVA et al., 2005). A adubação foliar pode ser complementada com biofertilizantes naturais especialmente preparados pelo produtor (ORGÂNICO, 2001). Um dos adubos orgânicos muito utilizados é a torta, que é um resíduo industrial, considerado coproduto da produção do biodiesel, a partir de oleaginosas como a mamona, girassol, dendê, pinhão-manso e soja, dentre outras. A torta é muito utilizada como fertilizante orgânico e condicionador de solo, além de outras utilidades (SILVA et al. 2012). O habitual esterco de curral bem curtido é considerado o mais usado no semiárido, onde se recomenda a dosagem de 20 t/ha, colocando nas covas ao lado das sementes e um pouco abaixo ou a lanço no plantio (Figura 45), caso o agricultor tenha grade de disco para incorporação superficial (BELTRÃO, 1999).


C a p í t u l o I | 86

Figura 45. Aplicação de esterco curtido no solo, disponível na propriedade e antes do plantio, auxiliado por uma carroça. Foto: Nair Helena Castro Arriel.

Por outro lado, o esterco caprino apresenta fermentação mais rápida que outros estercos, podendo ser utilizado com sucesso na agricultura (SOUZA; REZENDE, 2006). Contudo, a utilização de esterco caprino na quantidade de 6 t ha-¹ influencia positivamente no crescimento do algodoeiro. Um dos fatores a ser levado em conta relacionado à quantidade de esterco e outros resíduos orgânicos a ser adicionada em determinada área são: a composição e o teor de matéria orgânica desses insumos, classe textural e nível de fertilidade do solo, exigências nutricionais da cultura explorada e condições climáticas regionais (DURIGON et al. 2002). Um dos macronutrientes encontrados no esterco é o potássio, considerado o elemento mais elevado no solo pelo uso contínuo. O teor desses elementos depende da qualidade e da quantidade de esterco caprino, bem como do tipo de solo (SANTOS, 2006). É importante ressaltar que o fator limitante para a obtenção de altos rendimentos do algodoeiro é a disponibilidade de fósforo, que é o elemento básico de ação na floração e frutificação (QUEIROGA, 1983). Portanto, as deficiências do fósforo em boa parte dos solos da referida região podem ser compensadas mediante aplicações de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos, antes da preparação do terreno. Na Unidade de Teste e Demonstração (UTD) de algodão orgânico instalada nas comunidades de agricultores familiares poderá receber uma aplicação de biofertilizantes aos 47 dias após a emergência das plantas, com efeito, irá resultar em plantas mais vigorosas e com um dos melhores rendimentos em algodão em rama. Segundo Queiroz


C a p í t u l o I | 87

Filho (2005) o processo de produção de biofertilizantes é bastante simples, basta que o produtor tenha esterco de curral disponível na sua comunidade para fazer o seguinte preparo: Numa lata de 20 litros, deve-se colocar meia lata (10 litros) de esterco de curral curtido, esterco de galinha em torno de 250 gramas e 250 gramas de açúcar (cristalizado ou refinado). Completar com água, deixando um espaço de 8 a 10 centímetros antes da borda acima, para evitar transbordar. Fechar muito bem a boca da lata, vedando com um saco plástico bem amarrado. Deixar por cinco dias bem fechado (fermentação anaeróbica). A calda pronta deve ser diluída, misturando 1 litro da calda para cada 10 litros de água (Figura 46).

Figura 46. Aplicação de biofertilizante feito de esterco de gado sobre as plantas de algodão aplicado com o pulverizado, destinado exclusivamente para os produtos orgânicos da propriedade.

ADUBO VERDE A adubação verde é uma prática agrícola que consiste no plantio de determinadas plantas, de forma alternada com os cultivos de interesse econômico (rotação) ou plantadas na mesma época em linhas intercaladas (associação). Podem ser anuais, ou algumas se mantém vivas por vários anos (perenes), cobrindo o terreno por determinado período de tempo ou durante todo ano. Os adubos verdes melhoram as características do solo e ajudam a manter ou recuperar a sua fertilidade. O adubo verde, além de garantir economia com o uso de adubos, também contribui para a proteção do solo contra a erosão, aumenta a atividade biológica do solo, reduz a infestação de plantas daninhas, fixa o nitrogênio e evita lixiviação, aumenta o rendimento dos cultivos e reduz a incidência dos raios solares sobre o solo descoberto, evitando o seu aquecimento exagerado. Essa prática promove, também, a melhoria da estrutura do solo permitindo melhor penetração das raízes, mais infiltração de água e maior disponibilidade de ar no solo.


C a p í t u l o I | 88

Uma das principais vantagens do uso dos adubos verdes é o fato de que o agricultor pode, a cada ano, reservar um pouco das sementes produzidas por ele para serem plantadas no ano seguinte, diferentemente dos adubos químicos que, para serem utilizados, precisam ser comprados a cada ano.

As sementes de adubos verdes devem ser semeadas no início do período chuvoso, quando devem produzir mais massa verde. As espécies crotalária-juncea (Crotalaria juncea), feijão-guandu (Cajanus cajan) e a mucuna preta ou cinza (Mucuna aterrima) podem ser semeadas mais tarde, como cultivos de entre-safra. Nesse caso, a quantidade de massa verde produzida será menor, mas ainda em boa quantidade. Ou seja, o feijão-guandu e a mucuna podem ser semeados até março e a crotalária júncea até abril, desde que as temperaturas se mantenham altas nessa época do ano. O feijão gundú é bastante tolerante à falta de água no solo. A semeadura dos adubos verdes pode ser feita a lanço, após a gradagem do terreno, com distribuíção manual ou mecânica. Enquanto em covas, a distribuíção manual irá depender do espaçamento utilizado, usando-se duas a três sementes por cova. Esse último sistema de plantio também pode ser realizado com a matraca. Para as semeaduras das espécies mucuna cinza, crotalária juncea e feijão guandu, gastam-se 90, 40 e 60 kg/ha de sementes, respectivamente. O controle das plantas daninhas deve ser realizado de modo manual, por meio da capina com enxada, para não comprometer o desenvolvimento dos adubos verdes, principalmente em sua fase inicial. Quanto as formas de cultivo para o semiárido, recomenda-se o cultivo de uma espécie solteira de adubo verde (Figura 47).

A B Figura 47. Cultivo de uma espécie solteira de adubo verde: A) mucuna cinza e B) crotalárea-juncea.


C a p í t u l o I | 89

Uma vez realizada a semeadura a lanço de 70 kg/ ha de sementes de mucuna cinza no início do perído chuvoso, na época de floração ou formação das primeiras vagens, procederia a incorporação da massa verde ao solo para melhorar sua fertilização, através pelo equipamento rolo de faca (Figuras 48 e 49) de tração animal. Depois de 15 a 20 dias, a massa verde incorporada ao solo é totalmente decomposta, e, em seguida, o algodão pode ser semeado nesse terreno (QUEIROGA et al., 2017). Na Tabela 3, encontram-se características de algumas espécies de adubo verde.

Figura 48. Incorporação da mucuna cinza no estádio de floração com o equipamento rolo de faca (tambor cheio de areia) de tração animal.

Figura 49. Plantio consorciado da palma e feijão guandu e em sistema de monocultivo na comunidade de Veredas, São Francisco de Asis do Piauí, 2009.


C a p í t u l o I | 90

Tabela 3. Características de algumas espécies de adubo verde.

Fonte: Alexandre Paiva da Silva, 2015.

Logo após a colheita das vagens ou das sementes, deve-se proceder o beneficiamento para uniformizar a secagem das mesmas, eliminar restos de cascas, gravetos, torrões de solo, impurezas e outros materiais indesejáveis. Esse processo poderá ser realizado seguindo procedimentos simples utilizados normalmente pelos agricultores que produzem grãos. Inclusive, é bastante comum o uso de garrafas PET para o armazenamento dessas sementes. Por ser uma embalagem impermeável, é importante que a secagem das sementes tenha sido realizada adequadamente, a fim de evitar elevação da temperatura das sementes dentro da embalagem, o que levaria a perda de sua viabilidade. É importante considerar a exposiçao dessas sementes ao sol, para reduzir sua umidade.

CONSÓRCIO AGROECOLÓGICO Essa modalidade de exploração da terra permite ao produtor familiar, além de maximizar os recursos disponíveis, abrir o leque de alternativas para enfrentar da melhor maneira possível a grande margem de risco que está sujeita a cotonicultura no semiárido nordestino do Brasil, com relação às pragas, doenças, seca, etc.


C a p í t u l o I | 91

No trabalho conduzido em 2007 com algodão orgânico no Assentamento Queimadas, pertencente ao município de Remígio, PB, pelos pesquisadores da Embrapa Algodão, os resultados parciais obtidos permitem afirmar que o tratamento “algodão consorciado com coentro” teve um efeito repelente eficiente sobre a infestação de cigarrinha no algodoeiro em comparação aos outros tratamentos estudados: “algodão consorciado com feijão” e “algodão solteiro”. Provavelmente, a presença do cheiro ativo do coentro (Coriandrum sativum) dentro do algodoal seja uma forma eficiente de convivência natural que funciona apenas para as pragas do algodoeiro não tolerante. Os sistemas de cultivo consorciados ou policultivos são importantes sistemas para o manejo mais eficiente de pequenas propriedades rurais. Nesses sistemas, a diversificação de espécies vegetais é bastante benéfica, pois promove um melhor aproveitamento dos recursos naturais, haja vista as plantas terem necessidades nutricionais e demanda hídricas distintas, e contribui significativamente para o manejo das pragas. Vale destacar que o Nordeste brasileiro é caracterizado por precipitações anuais em torno de 600 mm, contudo mal distribuídas, sendo comum ocorrer uma chuva de 80 mm a 100 mm num mês e passarem dois a três meses sem chuvas. O cultivo em consórcios é um sistema tradicional de exploração dos agricultores nordestinos do Brasil, normalmente para as culturas de milho e feijão. A introdução do algodão e gergelim, junto a outras culturas alimentares, vem na tentativa de diversificar e incrementar a renda, principalmente pelo algodão orgânico, que tem um preço diferenciado em relação ao algodão convencional. O Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, iniciado em outubro de 2008, objetiva demonstrar a possibilidade de se expandir a cultura do algodão em bases agroecológicas, em consórcio com culturas alimentares, em assentamentos e comunidades de agricultores familiares do semiárido nordestino do Brasil. Busca também formatar um sistema integrado de geração de renda, segurança alimentar com a produção de alimentos, como milho, feijão, gergelim, dentre outros produtos. Além disso, procura promover o exercício permanente de ações voltadas para preservação e conservação dos recursos naturais, cuidando do solo, da água e da biodiversidade. Ao contrário do monocultivo do algodão convencional ocorrido no estado do Piauí em 2004, no ano agrícola de 2009 foram instaladas duas UTDs (Unidades de testes de Demonstração) de algodão orgânico consorciado em faixas com outras 5 espécies (feijão


C a p í t u l o I | 92

comum, milho, feijão guandu, sorgo e gergelim) nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande pertencentes ao município de São Francisco de Assis do Piauí. Portanto, o objetivo da ONG denominada de Fraternidade São Francisco de Assis (FFA) foi avaliar a eficiência do plantio do algodoeiro no sistema consorciado em faixas, por ser considerada a condição básica para uma produção agroecológica, pois essa configuração de diversas espécies faz com que algumas pragas se desorientam e os predadores são favorecidos (QUEIROGA et al., 2017). O sistema consorciado em duas faixas distintas consiste no plantio de cinco fileiras de algodão em uma faixa e, na outra faixa, 6 fileiras de diferentes espécies, sendo uma fileira ocupada por cada espécie, num espaçamento geral entre as fileiras de 1 metro. O arranjo populacional das espécies no campo obedeceu à seguinte sequência de plantio: 5 fileiras de algodão +1 fileira de feijão + 1 fileira de gergelim + 1 fileira de sorgo + 1 fileira de feijão guandu + 1 fileira de milho + 1 fileira de feijão + 5 fileiras de algodão, etc, sendo que nas bordaduras do campo (circulando toda área plantada) foram plantadas 3 fileiras de gergelim (QUEIROGA et al., 2017; Figura 50).

A B Figura 50. Consórcio agroecológico em faixa entre 5 fileiras de algodão x 5 fileiras com seis espécies distintas: A) Fase vegetativa e B) Fase de frutificação. Campo instalado na comunidade Veredas, município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS As pesquisas mostraram que independentemente da cultivar testada, do ano, dos locais, bem como da natureza da população invasora, os primeiros 15-60 dias, após emergência da plântula, foram o período em que as invasoras causaram maiores prejuízos à cultura. Foi observado também que a partir desse período, não houve efeito significativo para produção, denotando que não é mais necessário se promover limpa à cultura, a não ser


C a p í t u l o I | 93

quando a erva dominante for o carrapicho (Cenchrus echinatus, L.), então se recomenda a limpa no algodoeiro, a fim de evitar a depreciação da qualidade da fibra. Nas pequenas propriedades do Nordeste, o controle de plantas daninhas no algodoeiro é feito, geralmente, com o uso da enxada. Seu baixo rendimento aliado à elevação do custo e escassez de mão-de-obra no campo torna-o uma operação onerosa correspondendo a mais de 40% do custo de produção, porque são necessários de 2 a 3 capinas. O pequeno produtor nordestino comumente utiliza mais os instrumentos como cultivador à tração animal (entre fileiras) e enxada (entre plantas) no controle das plantas invasoras na lavoura do algodão, sendo o cultivador regulado para aprofundar no máximo 3,0 cm do solo para não danificar as raízes do algodoeiro. Após a passagem com o cultivador, deve-se fazer o “retoque” com a enxada, dentro das fileiras. Vale ressaltar que, no caso do algodão orgânico, não é permitido pulverizar com nenhum tipo de herbicidas para o controle do mato no algodoal (QUEIROGA et al., 2017). Também é realizado no Peru a escarificação mecânica do solo entre as fileiras de algodão, que consiste em romper as camadas superficiais endurecidas do solo com as asas do arado, para melhorar sua aeração, promover maior desenvolvimento radicular, eliminar as plantas daninhas e preparar e acomodar melhor os sulcos para facilitar a irrigação (Figura 51).


C a p í t u l o I | 94

Figura 51. Escarificação mecânica do solo entre as fileiras de algodão, evitando assim a formação de camada superficial endurecida, além de melhorar a aeração do solo e promover o desenvolvimento radicular da planta (ideal para chegar terra ao algodoeiro e melhor formação das leiras). Foto: INIA, Peru.


C a p í t u l o I | 95

PLASTICULTURA O filme plástico de polietileno utilizado na agricultura para a cobertura do solo, mais conhecida como “mulching” usado também para cobrir camalhão (leirão), pode ser branco e preto. Suas principais vantagens consistem na diminuição do período de germinação da cultura, com a consequente antecipação na data da colheita, na grande economia em água de irrigação, evita a erosão e o endurecimento da terra, pois o plástico retém a umidade dos solos, além da maior facilidade no controle de plantas invasoras.

Os plásticos IRT (transmissor de infravermelhos) é um pouco mais caro que o plástico preto e, por aquecer o solo, impede o crescimento de plantas daninhas, permitindo apenas deixar passar os raios infravermelhos (a luz visível é a que necessita a erva daninha para crescer) (Figura 52). Exemplo de um material sintético usado como cobertura é IRT-76 High Tech Mulching Film, por combinar as melhores características dos plásticos branco e preto. A vantagem que tem o plástico inorgânico é a sua durabilidade por conservar em boas condições durante anos. Não obstante, os orgânicos injetam nutrientes no terreno que são colocados e à medida que estão em processo de decomposição. O sistema de plasticultura poderá se ajustar mais ao plantio do algodão orgânico de fibra extralonga devido sua alta rentabilidade. De forma antecipada, as mudas de algodão deveriam ser preparadas sem sacos de plástico em viveiro a céu aberto (Figura 53). Após 45 dias da emergência, as mudas de algodão deveriam ser transportadas ao local definitivo (área de até 1 ha).


C a p í t u l o I | 96

Figura 52. Uso de plástico orgânico cobrindo o leirão é adequado para pequena lavoura orgânica, sendo as mudas de algodão plantadas nos orifícios espaçados de 30 ou 40 cm entre plantas (eliminar o saco plástico ao colocar a muda de algodão na cova).


C a p í t u l o I | 97

Figura 53. Mudas de algodão G. barbadense preparadas em viveiro a céu aberto. Lambayeque, Peru. Foto: INIA

CORTE DO BROTO TERMINAL OU CAPAÇÃO Essa operação consiste em eliminar o broto terminal de toda a planta de forma manual (incluído o broto de algum ramo vegetativo vigoroso), com a finalidade de deter o crescimento longitudinal e estimular o crescimento dos ramos frutíferos com mais seções que contenham órgãos reprodutivos. Também pode estimular as gemas extra-axilares na haste e nos mesmos ramos frutíferos para produzir mais órgãos. A época mais apropriada para realizar a capação no Peru seria quando a população de planta atinge 50% da floração, ainda apresentando o ápice terminal ou ponteiro tenro (Figura 54). Quando o ponteiro da planta fica endurecido ao extrapolar o período de 50% da floração, não é recomendável realizar tal operação no Peru. Para o caso do Pima Peruano (G. barbadense), a planta tem que apresentar entre 12 a 15 ramos frutíferos e, não funcionando, tem a alternativa da altura manejável de 1,20 m. Assim procedendo irá ajudar que a frutificação seja mais compacta e poderá contribuir com sua precocidade.


C a p í t u l o I | 98

Figura 54. Eliminação manual do ponteiro terminal da planta do algodão, variedade Pima ITA-59. Fotos: Gonzalo Tejada, Peru.

IRRIGAÇÃO Os requerimentos de água no algodoeiro dependem da variedade, da duração do ciclo de desenvolvimento, as temperaturas, as horas de sol, as chuvas, a profundidade, textura e capacidade do solo para reter a umidade e a qualidade da água. Na irrigação o importante é conhecer a necessidade de água para o algodoeiro ao longo de seu ciclo. Para a obtenção de altas produtividades é necessária uma quantidade de água da ordem de 700-1.300 mm (7.000-13.000 m3/ha) durante o ciclo da cultura e também determinar o turno de rega em cada estádio de desenvolvimento da planta (vegetativo, floração e maturação), da textura do solo e da evapotranspiração (REYES, 2014). Ou seja, ao iniciar o período vegetativa, as necessidades de água são reduzidas, da ordem de 10% do total (2 mm/dia), mas, no período de floração, são máximas e representam entre 50 e 60% do total (até 8 mm/dia na máxima floração e formação dos frutos). Um adequado manejo de água de irrigação requer o conhecimento das necessidades reais por parte da planta. Um alto fornecimento de água de irrigação pode tardar a maturação.


C a p í t u l o I | 99

Quando o fornecimento é alto na etapa inicial de desenvolvimento, poderá provocar um crescimento vegetativo excessivo em detrimento do crescimento produtivo. Mas quando a planta experimenta um estresse hídrico no período de floração e frutificação, a mesma se defende desprendendo os botões florais pequenos e as maçãs jovens menores de 12 dias de idade, entretanto as maçãs maiores das axilas podem secar na planta, ocasionando uma diminuição da produção. Os métodos de irrigação são diversos, mas no Peru prevalecem a irrigação por inundação (em área com e sem leirões) e a irrigação por gotejamento. No sistema de irrigação por inundação (Figura 55), além de requere um terreno sistematizado para evitar encharcamento, tem a desvantagem por demandar um grande volume de água. Para o algodão Pima Peruano em Piura necessita de 12.000 m3 de água para irrigar por gravidade. Enquanto a irrigação por gotejamento é tradicionalmente o método mais indicado para a região semiárida, caracterizada com registros de poucas chuvas ao longo do ano, devido ao seu baixo consumo de água (usam entre 7.000 a 9.000 m3/ha) (REYES, 2014).


C a p í t u l o I | 100

Figura 55. Irrigação por inundação com uso de leirões adotado para o algodoeiro G. barbadense de fibra extralonga.

Por apresentar temperaturas noturnas e diurnas elevadas, o ideal para região seca do semiárido brasileiro seria irrigar por gotejamento a partir das 02 horas da madrugada até as seis horas da manhã (tarifa verde), pelo fato do algodoeiro G. barbadense necessitar de temperaturas de contraste (distintas) de dia (35ºC) e de noite (23ºC) (REYES, 2014). Ao determinar a época de semeadura no início do inverno para o semiárido (meses de fevereiro e março), o algodoeiro G. barbadense poderá se desenvolver satisfatoriamente


C a p í t u l o I | 101

em condições de sequeiro, em virtude da redução da temperatura noturna por causa das chuvas. Além de ser uma região caracterizada por curto período de precipitação e de má distribuição no tempo, recomenda-se utilizar uma irrigação suplementar por gotejamento devido ser uma espécie de ciclo tardio (em torno de 200 dias; Figura 56). Por meio de um projeto governamental, é possível identificar no semiárido as áreas de captação de água (áreas de plantio nas comunidades rurais dos agricultores familiares) para a construção de barragens subterrâneas com perfuração de poços.

Figura 56. Algodoeiro G. barbadense plantado em condições de sequeiro e complementado com irrigação de gotejamento na Unidade da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB.

ESTRATÉGIA DE CONTROLE DAS PRAGAS As principais estratégias alternativas de controle de pragas para o algodoeiro G. barbadense orgânico são: a) Controle Biológico, b) Controle Cultural, c) Controle Climático e d) Controle com Produtos Naturais.


C a p í t u l o I | 102

a) Controle Biológico. Do ponto de vista ecológico, o controle biológico é uma parte do controle natural, o qual ocorre sem a interferência do homem. Entretanto, também pode ter muito valor o controle biológico aplicado, quando a introdução e a manipulação de inimigos naturais são feitas pelo homem, visando à redução de danos causados por pragas em níveis tolerados (BOSCH et al., 1982). Dentre os vários agentes de controle biológico existentes na natureza, apenas o Trichogramma spp. (curuquerê, lagarta rosada e lagarta-das-maçãs) e a bactéria Bacillus thuringiensis (curuquerê e lagartadas-maçãs) encontram-se disponíveis para aplicação pelo agricultor, sendo que no mercado o Bacillus thuringiensis é encontrado com o nome comercial Dipel. Já a tecnologia da produção de Trichogramma pretiosum encontra-se à disposição de cotonicultores na Embrapa Algodão de Campina Grande-PB.

b) Controle Cultural. Durante a condução da produção do algodão orgânico, o produtor poderá ser orientado na manipulação de várias práticas de cultivo, ecologicamente naturais, visando modificar o agroecossistema, cuja utilização de diferentes estratégias de cultivo é tornar desfavorável o desenvolvimento de pragas e, ao mesmo tempo, favorável ao desenvolvimento de seus inimigos naturais. Essas modificações nas práticas agrícolas podem alterar a atratividade e a suscetibilidade das plantas às pragas, que, segundo Ramalho (1994), pode ser definido como controle cultural. As principais práticas culturais utilizadas para reduzir problemas de pragas no algodoeiro orgânico são: UNIFORMIDADE DE PLANTIO – Nas áreas zoneadas para o cultivo do algodão orgânico da região semiárida do Nordeste deve ser estabelecido seu período de plantio pelos produtores, de forma que a semeadura não deve ultrapassar os 30 dias de um produtor para outro dentro do mesmo município, devido a problemas de pragas, em especial o bicudo (SILVA; ALMEIDA, 1998). ESCOLHA DE CULTIVARES – A pesquisa considera que a utilização de cultivares de algodão de ciclo precoce seja preferida pelo produtor de algodão orgânico, na tentativa de reduzir o tempo de exposição das plantas à colonização e infestação de pragas (broca, bicudo, lagarta das maçãs e lagarta rosada). Com relação às cultivares do G. Barbadense e arbóreo, ambas apresentam o mesmo ciclo de aproximadamente 200220 dias entre a emergência e colheita. Espera-se que a variedade destinada às condições


C a p í t u l o I | 103

do semiárido, o melhorista procura desenvolver uma cultivar de ciclo curto de 170-180 dias, a qual atenderia melhor o controle cultural de convivência com as pragas, sugerindo sua possível utilização para favorecer o escape da cultura ao ataque do bicudo (SILVA; ALMEIDA, 1998). PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO - Alguns produtores acreditam que deixando uns períodos livres de 2 a 3 anos de intervalos sem plantar o algodão na região, o nível populacional do bicudo fica zerado na região desde que sejam destruídas todas as plantas de algodão e outras espécies hospedeiras, de maneira que quando eles voltam a plantar o algodão praticamente não necessitam fazer qualquer tipo de controle para o bicudo (RAMALHO; SILVA, 1993). Esse é um fenômeno presente no nordeste brasileiro pelo fato das áreas plantadas com algodão no Nordeste pertencerem aos pequenos agricultores, os quais em muitos casos abandonaram as lavouras por não terem recursos financeiros para controlar o bicudo. Nos últimos seis anos de seca no semiárido ocorreram uma redução altamente significativa da área plantada de algodão em geral. Quando se trata do caso particular do estado da Paraíba, registrou-se em 2015 de que sua área plantada foi inferior a 100 ha. ESPAÇAMENTO AMPLO - Pesquisadores da Embrapa Algodão constataram que o espaçamento amplo utilizado no plantio do algodão orgânico pelos agricultores familiares do Assentamento Queimadas, pertencente ao município de Remígio, Curimataú Paraibano, está de conformidade com o sistema de plantio adotado pelos cotonicultores orgânicos da Califórnia EUA, os quais utilizam menores populações de plantas em seus algodoais para prevenir a infestação de pragas e doenças (SWEZEY et al., 1999). Pierce et al. (2001) citam a manipulação do microclima das plantas de algodão como estratégia de reduzir a sobrevivência de bicudos imaturos. Esses autores verificaram que alta temperatura e baixa umidade relativa promovem um maior percentual de mortalidade natural do inseto. Os mesmos autores também constataram que há uma probabilidade de que 34% dos botões florais que caem ao solo resultaram na emergência de adultos. Ao contrário, aqueles que caem no centro da fileira têm somente 6% de possibilidade de propiciarem sobrevivência do adulto, fruto das condições microclimáticas inadequadas. CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS – Vários estudos foram realizados sobre a viabilidade dessa técnica e comprovaram que a catação equivale a


C a p í t u l o I | 104

reduzir até 60% das pulverizações com inseticidas de um campo de algodão convencional, dependendo das condições ambientais, da cultivar e da proximidade de outros campos, com seu respectivo controle de pragas (BELTRÃO et al., 1997). Para as pequenas áreas de algodão orgânico do G. barbadense (no máximo até 2 hectares irrigado) dos agricultores familiares, sugere-se que se faça a coleta semanal de todos os botões florais e maçãs caídas no solo, a partir do início da queda dos botões florais (BLEICHER, 1990). Essas estruturas reprodutivas deverão ser aproveitadas para alimentação dos animais da propriedade ou enterradas ao solo. DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA- Com o surgimento do bicudo, tornou-se obrigatório a destruição dos restos culturais do algodoeiro após colheita, tais como: raízes, caules, botões florais, flores, maçãs, carimãs e capulhos não colhidos, respectivamente, através do arranquio e/ ou coleta, para destruição e incorporação no solo. Essa operação ecologicamente correta visa quebrar o ciclo biológico das pragas, através da eliminação dos sítios de proteção, alimentação e reprodução (SILVA et al., 1997). ROTAÇÃO DE CULTURA- O cultivo alternado do algodoeiro com outras culturas leguminosas, em sucessões repetidas, adotando-se uma sequência definida, além de contribuir para redução de pragas específicas associadas a uma delas, concorre favoravelmente para a melhoria das condições físicas e químicas do solo (SILVA et al., 1997). CULTURA-ARMADILHA- Também denominado por “planta-isca” baseia-se no plantio (antecipado ou não) de uma espécie mais atrativa (gergelim) para as pragas (mosca branca e pulgão) do que o algodoeiro (SILVA; ALMEIDA, 1998). Este gergelim (hospedeiro) é plantado nas fileiras marginas do campo, visando estimular a praga em preterir ou retardar a colonização definitiva no algodoeiro e essas pragas seriam controladas com produtos naturais. Scott et al. (1974) demonstraram a eficiência dessa técnica no controle do bicudo, que, no caso do algodoeiro orgânico, essa praga poderia ser atraída pelas faixas de plantio antecipado do algodão e eliminado através de pulverizações sistemáticas com defensivos orgânicos (Nim). ARMADILHA DE FERÔMONIO- Refere-se à instalação de Tubo Mata Bicudo (TMB), contendo o feromônio “grandlure”, antes da semeadura e após a colheita. Por se tratar de campos de algodão orgânico, recomenda-se instalar 02 TMBs para cada área do produtor familiar nas faixas ou rota de entrada e saída dos adultos de bicudo, com o


C a p í t u l o I | 105

objetivo de reduzir a quantidade de insetos que se dirigem as áreas de refúgio, e que posteriormente retornarão às lavouras seguintes (AZEVEDO; VIEIRA, 2002).

c) Controle Climático. Na microrregião do Seridó do Nordeste, as condições edafoclimáticas influem de forma significativa na redução do nível populacional das pragas (broca e bicudo). O algodoeiro G. barbadense orgânico cultivado, em regime de irrigação, numa área do Seridó com insolação excessiva, onde esse solo abrasador, com temperatura acima de 60ºC funcionaria como fator limitante para a sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo (RAMALHO, 1994). Este controle climático através da dessecação constitui-se no principal fator de mortalidade natural de larvas, pupas e adultos pré-emergentes do bicudo.

d) Controle com Produtos Naturais. As pulverizações preventivas nas bordaduras (seis fileiras), ao redor do campo de algodão orgânico com o nim ou soluções de mamona, poderão ser eficientes no controle do bicudo, desde que essas pulverizações sistemáticas sejam realizadas semanalmente, a partir da fase inicial de emissão dos primórdios dos botões florais do algodoeiro G. barbadense. Junto com as pulverizações preventivas, deveriam ser efetuadas também as catações dos botões florais nas 6 fileiras da bordadura. Para elevar o poder residual e sua ação tóxica natural no algodoeiro, basta aplicar o nim misturado com óleo bruto de algodão, sendo que nesse último produto já vem incorporado uma substância tóxica natural que é o gossipol.

De maneira resumida, observam-se na Tabela 9 as medidas de controle ecológico das principais pragas do algodoeiro constatadas em lavouras do Nordeste brasileiro.


C a p í t u l o I | 106

Tabela 9. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da cultura do algodão. PRAGAS Bicudo grandis

MEDIDAS DE CONTROLE

Anthonomus

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) misturado com óleo bruto de algodão em pulverizações sistemáticas nas bordaduras. Aplicação de soluções com pó de caulim (1,20 kg de pó do caulim/ 20 litros de água). Controle Cultural: uniformidade de plantio, variedade precoce, períodos livres de plantio, espaçamento amplo, catação de botões florais e maçãs, destruição dos restos de cultura, rotação de cultura, cultura-armadilha, tubo mata bicudo etc, e o Controle Climático. Aplicações de soluções de mamona.

Mosca branca / Bemisia tabaci/ B. argentifolii

Sua infestação é mais frequente em período de seca. Com 4 moscas por folha deve-se aplicar o detergente neutro de 180 mL em 20 litros de água ou sabões neutros (0,5 %) para o controle das ninfas, em pulverizações dirigidas a parte inferior da folha. Preparados de alho, piretro (extrato da flor de Chysanthemum cinerariaefolim,), etc têm sido eficientes no controle da praga. Controle Cultural: uniformidade de plantio, culturaarmadilha (gergelim), destruição dos restos de cultura, rotação de cultura (milho), monitoramento do campo com Tubo Mata Bicudo e instalação de barreiras vegetais de sorgo ou milho, implantadas de forma perpendicular a direção predominante dos ventos.

Curuquerê argillacea

Alabama

Aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis) e de nim. Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Aplicações de soluções de nim e de mamona.

Lagarta da maçã Heliothis virescens

Aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis) e de nim. Controle Cultural: destruição das soqueiras, armadilha de feromônio e semeadura na época adequada. Controle Biológico: (liberação de Trichogramma spp.). Aplicações de soluções de mamona.

Lagarta rosada Pectinophora gossypiella

Aplicação de nim e Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Controle Cultural: destruição das soqueiras e semeadura na época adequada.

Cigarrinha parda / Agallia sp

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) nas bordaduras do campo e como repelente o plantio do algodão consorciado com coentro (Coriandrum sativum).

Pulgão / Aphis gossypii

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) e mamona, presença de inimigos naturais no campo e cultura-armadilha (gergelim).

Broca da raiz Eutinobothrus brasiliensis

Controle Climático e Controle Cultural: destruição dos restos de cultura, cultura-armadilha e rotação de cultura. Tratamento de sementes tratadas com soluções de nim e mamona.

Formigas ou Saúvas / Atta spp.

As folhas do gergelim, em decomposição, contaminam o fungo que serve de alimento para as saúvas, levando a destruição dos formigueiros.


C a p í t u l o I | 107

Outra estratégia seria alimentar a cada 3 dias os formigueiros com folhagem de maniçoba (Manihot glaziowii Mull.) ou nim, fazendo essa substituição regularmente as formigas deixam de visitar o campo de algodão. Lagarta do gênero Spodoptera frugiperda

Preparação do solo algumas semanas antes da semeadura para eliminar ovos e plantas hospedeiras de larvas. Armadilhas de luz contra traças. Preparados de nim, mamona, piretro (Chysanthemum cinerariaefolim), etc

Cochonilha minos

Aplicação de soluções: Calda sulfocálcica (500 mL) + óleo bruto de algodão (300 mL) + detergente neutro (50 mL), esta mistura deve ser utilizada no pulverizador de 20 litros. Aplicação de soluções de nim e mamona.

Planococcus

IDENTIFICAÇÃO DE PRAGAS Ainda existe no meio rural aquela mentalidade de que “a cultura orgânica significa que a planta é resistente às pragas”, havendo casos de produtores reagirem apenas com replantio do campo e não pulverizarem as áreas atacadas por pragas com produtos naturais (bioinseticidas). Mesmo assim, alguns produtores não tomaram às devidas medidas de controle com a preparação e pulverização de bioinseticidas e, consequentemente, houve pequena incidência de pragas no estádio inicial da cultura (lagartas e cochonilhas), sendo sua proliferação favorecida pela instabilidade das chuvas, que são frequentes na região do semiárido do Nordeste do Brasil.

A-Broca-da-raiz BROCA-DA-RAIZ - Eutinobothrus brasiliensis (Hambleton) As plantas atacadas murcham, ficando as folhas avermelhadas e pendentes, quando arrancadas mostram as raízes deformadas com nós ou calosidades e partes mortas, podendo se encontrar no seu interior, a broca, cujas larvas abrem galerias entre a casca e o lenho em todas as direções, às vezes circundando completamente a planta, provocando murcha e morte (Figura 57). Quando não há morte ocorre hipertrofia, necrose dos tecidos e um enfraquecimento geral da planta. Ataques severos são notados em solos úmidos, observando-se morte de plantas jovens com 20 a 25 cm de altura. O período crítico compreende desde a germinação até o aparecimento da primeira flor. Recomenda-se empregar o tratamento preventivo de sementes apenas em áreas de reconhecida


C a p í t u l o I | 108

ocorrência. O uso do nim para o controle da broca da raiz seria o tratamento preventivo das sementes de algodão antes do plantio em campo. Esse tratamento consiste em emergir as sementes na solução de 50 g de nim por 2 a 3 horas (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 57. Larva da broca atacando a raiz do algodoeiro e vermelhão das plantas ocasionado pelo ataque da broca da raiz. Fotos: Raul Porfírio de Almeida.

B-Lagarta LAGARTA ROSCA - Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) Os danos são provocados pelas larvas do inseto nas plantas jovens; podem alimentar-se do caule, das folhas e das raízes; o dano mais significativo ocorre no caule, na região acima do colo, chegando a seccioná-lo, ocasionando, em alguns casos, diminuição do número de plantas por hectare (Figura 58). O período crítico compreende desde a emergência das plântulas até o aparecimento do primeiro botão floral (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 58. A praga lagarta rosca do algodoeiro


C a p í t u l o I | 109

CURUQUERÊ - Alabama argillacea (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) Os danos são observados inicialmente nas folhas novas do ponteiro que se apresentam raspadas e, em seguida, as folhas medianas da planta, apresentam-se com perfurações irregulares; posteriormente, ocorre a desfolha generalizada, deixando a planta sem folhas (Figura 59). A sua ocorrência está associada a períodos de estiagem após precipitações pluviais. O período crítico compreende desde a germinação das plântulas até o aparecimento do primeiro capulho (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 59. A praga lagarta curuquerê do algodoeiro

LAGARTA ROSADA - Pectinophora gossypiella (Saunders) Os danos são caracterizados pela imbricação das flores formando uma roseta; as maçãs apresentam a parede do carpelo com galerias, minas ou verrugas e as fibras, de uma ou mais lojas, ficam manchadas ou destruídas; sementes parciais ou totalmente destruídas; as maçãs apresentam orifícios de saída construídos pela lagarta e os capulhos amadurecem prematuramente, chegando muitas vezes a não abrirem (Figura 60). Veranicos durante anos de baixa precipitação favorecem a ocorrência da lagarta rosada. O período crítico compreende desde o surgimento da primeira maçã firme até o aparecimento do primeiro capulho (ALMEIDA; SILVA, 1999).


C a p í t u l o I | 110

Figura 60. A praga lagarta rosada no fruto do algodoeiro

LAGARTA-DAS-MAÇÃS - Heliothis virescens (Fabricius) Os primeiros danos são observados nas folhas do ponteiro, caracterizados por perfurações irregulares na superfície foliar, tanto na parte interna como nos bordos do limbo; perfurações circulares são verificadas nos botões e maçãs com penetração total ou parcial das lagartas; são observados, paralelamente ao ataque, excrementos (fezes) em grande quantidade entre as brácteas e na superfície dos órgãos atacados (Figura 61). Sua ocorrência é favorecida com o aparecimento da lua nova e precipitações pluviais regulares. O período crítico compreende desde o surgimento dos botões florais até o aparecimento do primeiro capulho (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 61. A praga lagarta-das-maçãs do algodoeiro


C a p í t u l o I | 111

HELICOVERPA ARMIGERA (Hübner) O gênero Helicoverpa é composto por diversas espécies (Figura 62) altamente destrutivas, devido a suas características biológicas (polifagia, alta fecundidade, alta mobilidade local das lagartas e migração das mariposas) que lhe permite sobreviver em ambientes instáveis e adaptar-se a mudanças sazonais do clima (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 62. Mariposa e lagarta da Helicoverpa armigera de cor esverdeada, bem pequena, mas com grande poder de destruição.

C-Pulgão PULGÕES - Aphis gossypii Glover Os danos caracterizam-se pelo encarquilhamento ou encrespamento das folhas que ficam com os bordos voltados para baixo; a face superior das folhas adquire aspecto brilhante, devido à deposição de substâncias açucaradas excretadas pelo inseto (Figura 63). Essa substância açucarada é vulgarmente denominada “mela”; no período de abertura dos capulhos os danos implicam na redução da qualidade da fibra. Alta temperatura e tempo nublado favorecem o aparecimento do pulgão do algodoeiro. Segundo Beltrão e Vieira (2001), os pulgões que vivem em colônias, são sugadores; o ataque se concentra em reboleiras; propiciam o desenvolvimento de fumagina; e são vetores de viroses. O período crítico compreende desde a emergência das plântulas até o aparecimento dos primeiros capulhos.


C a p í t u l o I | 112

Figura 63. Planta de algodão atacada por pulgões (Aphis sp). Foto: Raul Porfírio de Almeida.

D-Cochonilhas COCHONILHAS -Dactylopius sp. Segundo Guerra (1985), as cochonilhas são extremamente pequenas e o seu controle na fase larval é mais eficiente (Figura 64). Antes de o inseto formar a carapaça (escudo protetor), apresenta o corpo recoberto por secreção cérica branca, assumindo aspecto semelhante à farinha de mandioca, sobre os galhos infestados, nas formas estranhas filamentosas ou pulverulentas. Nesta oportunidade, os bioinseticidas também oferecem boas eficiências (ALMEIDA; SILVA, 1999).

A B Figura 64. Ataque de cochonilhas no algodoeiro: A) – Fruto da planta como sintoma do ataque; B) – detalhe da cochonilha na parte apical da planta. Fotos: Raul Porfírio de Almeida.


C a p í t u l o I | 113

E-Moscas branca MOSCAS BRANCA - Bemisia argentifolii Bellows & Perring Os danos iniciais caracterizam-se pelo aparecimento de pequenas pontuações brancas e amareladas na face inferior das folhas devido a sucção da seiva pelas ninfas e adultos do inseto (Figura 65); na face superior das folhas surgem manchas cloróticas, que posteriormente, adquirem aspecto brilhante, devido à deposição de substâncias açucaradas excretadas pelo inseto; ataques severos provocam o definhamento das plantas e intensa formação de “mela”, seguida pela queda das folhas, dos botões e dos frutos. A ocorrência da “mela” coincidentemente com o período de abertura dos capulhos implica na redução da qualidade da fibra. Segundo Beltrão e Vieira (2001), sua infestação é mais frequente em período de estiagem ou veranicos.

Figura 65. Planta atacada pela mosca-branca Bemisia tabaci/ B. Argentifolii, nas fases adultas e ninfas, sendo estas últimas mais vulneráveis aos bioinseticidas.

F-Bicudo BICUDO - Anthonomus grandis Boheman Vinte e quatro horas após os botões florais serem danificados por orifícios de oviposição e/ou alimentação, apresentam-se com as brácteas abertas e amareladas. Para as cultivares brasileiras, os botões florais danificados pelo bicudo podem permanecer fixados a planta por um período de cinco a nove dias, quando então, caem no solo. O sintoma do dano causado por orifício de oviposição em botão floral de idade avançada é o surgimento da “flor sorvete”, isto é, as pétalas e cépalas não se abrem, ficando as extremidades terminais entrelaçadas e abalãozada, formando uma estrutura semelhante a uma bola de sorvete. As maçãs pequenas quando danificadas por orifício de oviposição caem no solo; enquanto que as firmes, mesmo danificadas permanecem na planta. Dependendo do número de


C a p í t u l o I | 114

lóculos danificados, as maçãs poderão abrir um ou mais lóculos ou mesmo nenhum. A redução na produtividade de algodão herbáceo em rama na Paraíba e Pernambuco causado pelo bicudo varia de 54 a 87%. Elevadas umidade do solo e temperatura ambiente em torno de 27oC, favorecem a multiplicação do bicudo (Figura 66). O período crítico compreende desde o aparecimento dos primeiros botões florais até o surgimento dos primeiros capulhos (ALMEIDA; SILVA, 1999).

Figura 66. Adulto do bicudo do algodoeiro. Fotos: Raul Porfírio de Almeida.

PREPARAÇÃO DE MACERADO PARA CONTROLE DE PRAGAS MACERADO PARA LAGARTA •

a) Pimenta malagueta (Capsicum frutescens)

-200g de pimenta malagueta;

-1 litro de álcool;

-Misturar a pimenta e álcool no liquidificador e deixar repousar por uma semana para cura;

-Depois desse tempo deve coar no pano e acrescentar 100 mL de detergente neutro;

-Adicionar 200 mL de óleo de algodão;

-Utilizar apenas quatro colheres de sopa para cada pulverizador costal de 20 litros;

-Pulverizar a cada dois dias, nas primeiras horas da manhã, ou ao final da tarde.


C a p í t u l o I | 115

MACERADO PARA PULGÃO

a) Cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum) •

Três cebolas médias;

Cinco cabeças de alho;

10 litros de água;

Triturar as cebolas e alho, misturando aos 5 litros de água;

Coar no pano fino para evitar entupimento do pulverizador e adicionar a mistura (solução) com mais 5 litros de água;

Pulverizar ao final da tarde com pulverizador costal de 10 litros.

b) Tomate (Lycopersicum esculentum) •

1 kg de folhas e talos de tomate bem macerados;

1 litro de álcool;

Misturar o álcool e as folhas + talos macerados e deixar repousar por 4 dias para cura;

Coar no pano fino e pressionar para o máximo aproveitamento (recipiente fechado e escuro);

Utilizar dois vasos do extrato para ser diluído em 20 litros de água (pulverizador costal).

MACERADO PARA PULGÃO E LAGARTA Recomenda-se preparar o seguinte macerado para controle de pulgão e lagarta (DANTAS, 2001):

a) Folhas de urtiga (Fleurya aestuans L) •

1 kg de folhas de urtiga picadas;

2 litros de água;

Passar as folhas com a água no liquidificador ou pilão (esmagar e mexer bem) e deixar de repouso por dois dias para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador;


C a p í t u l o I | 116 •

Adicionar o conteúdo para cada pulverizador costal e completar o volume com água para 20 litros.

b) Folhas de angico (Piptadenia colubrina) •

1 kg de folhas de angico picadas;

10 litros de água;

Passar as folhas com a água no liquidificador e deixar de molho por 8 dias para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador costal;

Usar 5 litros do extrato no pulverizador costal com capacidade de 20 litros;

Segundo Beltrão e Vieira (2001), o dano direto da mosca-branca é provocado tanto pelo inseto adulto como pelas ninfas que se estabelecem em colônias, na fase inferior das folhas, onde sugam a seiva da planta. Altas infestações provocam a “mela” e atua como vetor de viroses do grupo geminivirus. Sua infestação é mais frequente em período de estiagem ou veranicos.

MACERADO PARA PULGÃO E COCHONILHAS

a) Samambaia (Nephrolepis exaltata) •

Colher 500 gramas de folhas de samambaia fresca ou seca, trituradas ou maceradas;

1 litro de água;

Ferver por meia hora e deixar de repouso por 1 dia para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador;

Para aplicação, diluir 1 litro da solução mãe para 10 litros de água (pulverizador costal).

MACERADO PARA COCHONILHAS •

500 mL de calda sulfocálcica;

300 mL de óleo bruto de algodão;

50 mL de detergente neutro;

Diluir a mistura no pulverizador costal com 19 litros de água e pulverizar a cada 15 dias


C a p í t u l o I | 117

MACERADO PARA MOSCA-BRANCA ADULTA a) Folha de fumo (Nicotiana tabacum) •

Fazer repelente do extrato, cozinhando 2 kg de folhas de fumo em 3 litros de água, durante 10 minutos;

Depois de frio, coar o material em pano; e usar um copo da solução do extrato em 10 litros de água para pulverização. Manter o produto sempre guardado em garrafa escura e lacrado.

b) Urina de vaca •

Coletar urina de vaca na hora da ordenha;

Colocá-la num recipiente lacrado;

Deixar no mínimo três dias de repouso para fermentar (liberar a amônia);

Diluir 200 mL de urina para 20 litros de água do pulverizador;

Se necessário aplicar a cada três dias;

Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto.

MACERADO PARA NINFAS DA MOSCA-BRANCA Com quatro moscas por folhas, deve-se aplicar o detergente neutro na dose entre 180 a 200 mL em 20 litros de água ou através de sabão neutro. Dissolver 100 mL em 1 litro de água e acrescenta em 20 litros de água no pulverizador costal. Aplicar pela manhã com os jatos dirigidos à parte inferior da folha para controle das ninfas (BELTRÃO; VIEIRA, 2001; DANTAS, 2001; DIACONIA, 2006).

O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão para ser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bem para dissolver o sabão. Pulverizar essa mistura morna sobre as plantas (35˚C).


C a p í t u l o I | 118

MACERADO PARA LAGARTAS, PULGÕES, BICUDO, PERCEVEJO E MOSCABRANCA. As recomendações dos preparos dos macerados de nim para sementes despolpadas e folhagem com talos tenros, estão indicadas respectivamente nos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003).

a) Sementes despolpadas de NIM -Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados; -Em seguida, as sementes são secas; -As sementes são raladas e imersas em água; -Na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água; -Deixar de repouso por dois dias para cura; -Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do pulverizador com água; -Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes.

b) Folhagem e talos tenros de NIM: -1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a 50 g de folhas por litro de água); -Passar no liquidificado com 2 litros de água (ou macerado no pilão) -Deixar os 20 litros da mistura em repouso por 2 dias para; -Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro; -Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água.


C a p í t u l o I | 119

Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30 a 40 g de sementes de nim ou de 40 a 50 g de folhas secas de nim.

MARCERADO PARA PRAGAS EM GERAL DO ALGODOEIRO a) Calda de mamona (Figura 67) •

Indicações:

Controle de pragas em geral do algodoeiro e pode ser utilizado como adubo foliar.

Ingredientes:

* 80 folhas fresca de mamona;

* 20 litros de água;

Modo de preparo e uso:

Triturar ou macerar as folhas, depois colocar na água e deixar em repouso por doze horas, num local escuro. Depois coar e utilizar, mas dever-se ser armazenada, no máximo 3 dias.

Figura 67. Planta de mamona usada como macerado para preparação de bioinseticida.

b) Macerado de mamona •

Modo de preparo: Colocar 250 g de mamona (frutos e folhas) macerados ou triturados em 1 litro de água, ferver por 30 minutos e depois deixar descansar por 24 horas. Para pulverizar, dissolver 1 litro de macerado filtrado ou coado em 10 litros de água.


C a p í t u l o I | 120 •

Aplicação Para pulverizar, utilize o pulverizador manual (Figura 68), caso a área plantada seja pequena.

Cuidados: Por ser orgânico, esse inseticida não é nocivo à saúde como os industrializados, mas, depois de aplicar o produto, caso seja aplicado em hortaliças como alface, repolho, cebolinha, coentro, etc., dever-se respeitar um período de carência de pelo menos dois dias e lavar o alimento antes de consumir.

Figura 68. Pulverizador manual ou garrafa Pet. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

G-Cigarrinha

MACERADO PARA CIGARRINHA PARDA a) Macerado de piretro (extrato da flor de Chysanthemum cinerariaefolium) Ingredientes: -300 Gramas de flores de piretro -1 Litro de álcool. Mesclar o álcool com as flores e deixar em repouso por 48 horas em uma garrafa bem lacrada. Depois desse período, a solução pode ser coada e diluída na proporção de 1:20, ou seja, 1 parte da solução para 20 partes de água. O piretro tem grandes concentrações de piretróide, o principal constituinte dos inseticidas domésticos. Indicada contra insetos como bicudo e percevejo, ácaros, pulgões e cigarrinha-parda.


C a p í t u l o I | 121

PLANTA DE NIM (Azadirachtina indica). Azadirachta indica, conhecida pelos nomes comuns de amargosa e nim, é uma árvore da família Meliaceae, com distribuição natural no sul da Ásia (Índia) e utilizada na produção de madeira e para fins medicinais. Tem efeito como repelente, inibidor do crescimento da praga, fungicida e nematicida. Para reduzir os custos de produção do algodoeiro, mudas de nim devem ser distribuídas e plantadas pelos produtores nas comunidades rurais do semiárido. Para se tornar autossuficiente na produção de bioinseticidas à base de nim, é necessário manter pelo menos 50 plantas dessa espécie em cada comunidade (Figura 69).

Figura 69. Pequeno bosque de nim com o mínimo de 50 plantas para atender cada comunidade de agricultores familiares e que pode também funcionar com barreira quebravento, ou área de arborização da propriedade. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

O rendimento dos frutos do nim varia entre 25 e 50 kg por árvore, de acordo com a temperatura, umidade, tipo de solo e genótipo da planta. Normalmente, 50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as quais produzem em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de sementes secas contém aproximadamente 3.000 unidades (SOARES et al., 2003).

Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de nim devem ser colocadas ao sol, em camadas finas, sobre uma superfície cimentada. Deve-se evitar o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta operação requer um único dia de sol, já que posteriormente, as sementes devem ser transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca de oito dias.


C a p í t u l o I | 122

Os extratos de nim podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura 70), embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração (SOARES et al., 2003).

Figura 70. Agricultor colocando as folhagens de nim (cortadas e maceradas no pilão) dentro do tambor para preparo de solução. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, consiste no recolhimento e acondicionamento das sementes do nim em sacos de aniagem, para permitir boa aeração e evitar, o aparecimento de fungos patogênicos que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essas condições básicas, as sementes de nim podem ser armazenadas por mais de um ano.

USO DE CAULIM NO CONTROLE AO BICUDO A Embrapa Algodão desenvolveu um inseticida natural à base de caulim - um pó de rocha de cor branca, composto por silicato de alumínio, que vem sendo utilizado no combate ao bicudo do algodoeiro. Esse produto alternativo que vem auxiliando agricultores de algodão agroecológico nas microrregiões do cariri paraibano e do agreste paraibano. O caulim deve ser diluído em água (solução de 60 g por litro; Figura 71) e depois pulverizado nas plantações afetadas. Após a pulverização do caulim, a planta fica tingida de branco em ambas as faces da folha, tornando-se irreconhecível para o bicudo, além de atrapalhar a sua movimentação e alimentação, pois as partículas aderem ao corpo do


C a p í t u l o I | 123

inseto. Recomenda-se que as aplicações com caulim sejam realizadas sempre que 5% da lavoura de algodão apresentar botões florais atacados pelo bicudo e acompanhados de outras tecnologias desenvolvidas pela Unidade (como a catação dos botões florais danificados pelo inseto). Os agricultores do Brasil chegam a vender o algodão orgânico por preço até três vezes maior que o convencional.

Figura 71. Aplicação de caulim sobre a folhagem do algodoeiro. A dosagem usada de 1,2 kg de pó/ 20 litros de água. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

CONTROLE DE PRAGAS Antes do plantio do algodão, os próprios produtores devem usar a estratégia de preparar preventivamente os macerados para combater as pragas na fase inicial de infestação (broca da raiz, lagartas ainda pequenas, pulgões e cochonilhas na fase larval, cigarrinha na fase jovem, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois as mesmas são mais vulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar as soluções de bioinseticidas, para cada praga, em depósitos de plástico lacrados para evitar a perda do seu princípio ativo (QUEIROGA et al., 2008; Figura 72).


C a p í t u l o I | 124

Figura 72. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do algodoeiro orgânico como mosca-branca, cochonilha, pulgão, lagarta e bicudo. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

É possível identificar em campos as pragas ainda na sua fase jovem e facilmente combatêlas com o uso de macerados de ação mais repelentes do que bioinseticida, quando o agricultor é orientado pelos técnicos como realizar no seu campo o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A eficiente gestão do campo ocorre quando os agricultores realizam essas identificações de pragas periodicamente em sua propriedade (Figura 73). Para se tornar autossuficiente na produção de bioinseticidas à base de nim ou Azadirachta indica, é necessário manter pelo menos 50 plantas dessa espécie em cada comunidade familiar dos agricultores nordestinos, visando reduzir os custos de produção do algodão.

Figura 73. Identificação de pragas periodicamente em campo de algodão, seguindo a técnica de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Foto: Raul Porfírio de Almeida.


C a p í t u l o I | 125

Os extratos de nim podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas, embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração. As quantidades de nim a serem utilizadas variam para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas (SOARES et al., 2003).

Albuquerque et al., (2009), em estudo conduzido no estado da Paraíba, relata que encontrou resultados satisfatórios no controle de várias pragas do algodoeiro utilizando inseticidas naturais e controle cultural: para o bicudo foi feita a catação de botões florais atacados e caídos no solo, a cochonilha Planococcus minor (Maskell), foi controlada com o uso de caulim na concentração de 1,0 kg para 20 L de água e óleo de nim na concentração de 50 mL para 20 L de água, para combater o percevejo manchador, Dysdercus sp, utilizou-se uma calda de nim. O manejo da formiga (saúva) foi feito através do uso de folhas e ramos de maniçoba (Manihot glaziovii Muell. Arg.) e de leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) R. Dewit).

No cultivo do algodão agroecológico conduzido por Araújo (2013) na Estação Experimental da Embrapa de Barbalha, CE foram utilizados os seguintes tratamentos e dosagens dos bio-inseticidas especificados na Tabela 10. Os inseticidas vegetais foram aplicados semanalmente, em cobertura total com um pulverizador costal manual com capacidade para 20 litros, utilizando bico tipo cônico de porcelana. As pragas avaliadas no ensaio foram: bicudo, pulgão, tripés, ácaro branco, mosca branca, lagarta rosada (Pectinophora gossypiella Saund) e ácaro vermelho.


C a p í t u l o I | 126

Tabela 10. Especificação dos tratamentos, com os nomes técnicos, nomes comerciais, grupos químicos naturais e dosagens dos produtos utilizados. Princípio Ativo Nome comercial Capsaicina Pimenta malagueta Caulinita Caulim Azadiractina Azamax® Rotenona Rotenat® Extrato pirolenhoso Pironat® Fonte: Gildo pereira de Araujo (2013).

Grupo Químico Alcalóide Silicato de alumínio hidratado Limonóide Rotenóide Ácido acético

Dosagem 200 mL/20 L 60 g/L 5 mL/L 7,5 mL/L 5 mL/L

As principais conclusões obtidas por Araújo (2013) foram: O caulim foi o mais eficiente no controle do bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, atrasando o início da infestação. A pimenta malagueta não foi eficiente no controle das pragas. Os produtos aplicados não influenciaram na presença de inimigos naturais, nem a produtividade e precocidade da cultura. Vale destacar que o caulim é retirado com facilidade quando ocorre uma chuva ou irrigação por aspersão, esse fato pode ser limitante para a sua eficiência, principalmente em condições de sequeiro onde o produto pode ser retirado por uma chuva logo após a sua aplicação, havendo aqui a necessidade da repetição da operação, onerando os custos da produção. Em condições irrigadas, caso desse estudo, a aplicação era realizada logo após a irrigação, deixando o algodoeiro protegido por um período de sete dias, quando se repetia a irrigação. Para o preparo dos extratos de Capsicum spp., frutos maduros e recém colhidos foram adicionados à água filtrada na proporção de 100 gramas para 1 litro de água. Em seguida, foram triturados no liquidificador e posteriormente filtrados em coador de tecido. A solução resultante desse processo foi preparada no momento da pulverização, na dosagem citada na Tabela 10.

DOENÇAS NO ALGODOEIRO Como a incidência de doenças foliares e de solo é baixa na região Nordeste, portanto, as variedades do algodão G. barbadense e arbóreo não foram ainda avaliadas nos ensaios pela Embrapa Algodão com relação ao seu grau de resistências às doenças. As variedades de algodão de fibra extralonga se destinam preferencialmente para os agricultores familiares do semiárido do Nordeste.


C a p í t u l o I | 127

COLHEITA DO ALGODÃO 1.Colheita Manual A colheita do algodão Pima Peruano é feita manualmente, aproximadamente a partir dos 150 dias após a semeadura (Figura 74), provavelmente para as condições quentes do semiárido brasileiro seja a partir de 135 dias. Inicia-se a colheita manual no Nordeste quando 50-60% dos capulhos estiverem abertos, mas recomenda-se colher o máximo em duas apanhas, ficando a terceira apanha apenas os capulhos da parte apical da planta. Não é recomendável misturar todas as apanhas, porque as primeiras do terço inferior e terço médio são de melhor qualidade e alcançam melhor preço no mercado.

Figura 74. A primeira colheita manual dos capulhos do terço inferior da planta do algodão Pima realizada aos 150 dias por operários no estado de Piura, Peru.

A colheita deve ser realizada com tempo seco, para se evitar impurezas que possam vir junto ao capulho, o que prejudicaria a qualidade do algodão de fibra extralonga (Figura 75). Não colher o algodão com umidade acima do permitido, máximo de 12% (BELTRÃO, 1999). Segundo Queiroga (1983), o trabalho de colheita deve ser iniciado após as 08 horas da manhã, quando parte da umidade noturna ou orvalho no capulho já se dissipou. Deve-se colher somente os capulhos bem formados e completamente abertos (QUEIROGA, 1983), em que a fibra extralonga esteja perfeita, sem manchas ou atacadas por pragas e doenças. Quando o material colhido contém umidade, esse deve ser depositado sobre lonas de plástico, para evitar o deterioro da fibra e a perda de qualidade da semente. Deve-se ter o cuidado de não armazenar o produto colhido após uma chuva, ou com umidade, para evitar sua fermentação que é bastante prejudicial à qualidade


C a p í t u l o I | 128

intrínseca da fibra. Convém secar bem o algodão ao sol, pois assim procedendo irá melhorar a qualidade da fibra.

Figura 75. O algodão da espécie G. barbadense, variedade Sea Island, no ponto de colheita, em Barbados. Foto: West Indian Sea Island Cotton

No Peru, a comercialização do algodão em rama de fibra extralonga consegue mais vantagem quando colhido manualmente (Figura 76), pois a indústria têxtil é capaz de pagar um preço bem superior para tal matéria-prima em comparação aos algodões colhidos mecanicamente. Em razão da arquitetura da planta, longa etapa de maturação e abertura dos capulhos, a colheita mecânica não tem sido a mais apropriada para o algodoeiro Pima Peruano.


C a p í t u l o I | 129

Figura 76. No peru, o algodão G. barbadense variedade Pima quando colhido manualmente consegue obter maior valor comercial da indústria têxtil.

O algodão em caroço colhido deve ser colocado em saco de pano, de preferência de tecido de algodão bastante arejado com capacidade para 45 kg, sendo transportado e armazenado em depósitos e galpões específicos. Recomenda-se utilizar cordão de algodão para amarrar os sacos e não contaminar a fibra. Além disso, a sacaria deve ser virgem, pois caso tenha sido usado algum tipo de ração animal corre o perigo de o cheiro contaminar a fibra e evitar também a contaminação mecânica, quando se utilizada outra cultivar de algodão. A umidade ideal de armazenamento do algodão em rama é de 8 a 10% (BELTRÃO, 1999). Não é permitido o uso do polipropileno, juta ou outro tipo de sacaria, como de caroá. Ao ensacar, evitar não misturar tipos de algodões orgânicos de uma determinada cultivar junto com não orgânico de a mesma cultivar. Também não comprimir muito o algodão na sacaria, pois pode prejudicar a fibra (neps). Deve-se procurar amarrar os sacos de tecido de algodão com barbante de algodão, para não criar problemas na fiação. Não se devem utilizar sacos de juta e plástico durante a colheita (QUEIROGA, 1983).

2.Colheita Mecanizada A mecanização nos estabelecimentos rurais nordestinos ainda é uma realidade pouco disseminada, pois, em sua maioria, ainda utilizam práticas rudimentares em sua produção, fator este que limita a produção, mesmo quando se trata de pequenas áreas de algodão


C a p í t u l o I | 130

(BANCO DO NORDESTE, 2010), principalmente quando associado aos custos elevados e a baixa disponibilidade da mão de obra. A colheita mecanizada é extremamente vantajosa em relação a manual, pois os custos operacionais são reduzidos por ser uma operação muito rápida e há melhoria na qualidade do produto colhido por evitar a presença de contaminantes. A técnica da mecanização acessível aos pequenos agricultores na fase de colheita do algodão das espécies G. barbadense e G. hirsutum poderá mudar radicalmente o sistema de exploração dessa cultura na região semiárida, pois se trata de conhecimento simples que resolverá questões fundamentais limitantes à exploração das áreas cultivadas atualmente com essa oleaginosa (QUEIROGA; SILVA, 2008). Uma colhedora de algodão de funcionamento parecido a um aspirador de pó, tendo como mochila um motor de sucção (peso de 3,5 kg) junto a um saco transparente para acumulação do algodão (Figura 77), foi validada pela Embrapa Algodão numa unidade demonstrativa de algodão da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE. Os técnicos observaram que o equipamento é capaz de colher 80 kg/dia de algodão em rama, sendo esse desempenho considerado o dobro da quantidade colhida manualmente (40 kg/dia). Uma vez completado o saco coletor com algodão, o mesmo deverá ser substituído por outro saco de reserva, assim fazendo poderá haver um incremento na quantidade de algodão em rama colhido por dia.


C a p í t u l o I | 131

Figura 77. Colhedora de algodão tipo costal (motor e saco coletor de algodão) com tubo de sucção usado na colheita do G. barbadense no pequeno campo de Chincha, Peru. Fotos: Gonzalo Tejada.

A desfolha do algodoeiro é um processo natural que ocorre quando essas estruturas se tornam fisiologicamente maduras. A queda das folhas (abscisão) resulta de atividades de células especiais da base do pecíolo que a fixa a haste central do caule ou dos ramos vegetativos e frutíferos. Essa área é denominada de “camada de abscisão”. A desfolha pode ser causada também por geadas, doenças, estresse hídrico e deficiência mineral. O fenômeno de desfolha, no entanto, pode ser induzido artificialmente através de produtos químicos ou de dessecantes (BAKER; MYHRE,1968).

No caso de cultivo orgânico não é permitido o emprego de produtos químicos ou dessecantes no cultivo do algodoeiro como meio para facilitar a colheita mecanizada.


C a p í t u l o I | 132

Esses produtos químicos têm por propósito reduzir a conteúdo de umidade da folhagem e evitar a produção de manchas de clorofila na fibra, as quais afetam a qualidade do produto, principalmente quando se usa colheitadeira arranque (stripper harvester), a qual é capaz de colher capulhos e frutos abertos ou semiabertos resultando em um produto de qualidade inferior, tanto o colhido mecanicamente (colheitadeira de fuso) quanto o colhido manualmente (BELTRÃO et al., 2008). Portanto, uma única forma de empregar a colheitadeira de fuso (spindles) de uma linha (Figura 78) no algodoal orgânico é retardar sua colheita, usando variedades de maior retenção dos capulhos nas cápsulas e provocando assim a senescência natural de toda a folhagem, cujo fenômeno é iniciado e finalizado pelo amarelecimento e pelo murchamento das folhas, respectivamente.

Figura 78. Colheitadeira automotriz de algodão de uma linha com fuso ou “spindles”. Fotos: Valdinei Sofiatti e Odilon Reny Ribeiro Ferreira Silva.

É importante destacar que na colheita mecânica é necessário que, quando a colheita ocorrer, todas as cápsulas estejam no mesmo estágio de desenvolvimento. Aqui no plano ecológico se intenta manejar uma maturação simultânea removendo as pontas das hastes e aplicando "silicato de chifre” (chifres de gado cheios de cristais de quartzo (sílica) moídos, enterrados por alguns meses - preparados a partir da agricultura biodinâmica). Desta forma, o crescimento vegetativo de todas as plantas é ajustado simultaneamente (ASOCIACIÓN NATURLAND, 2000).

Modo de preparação do chifre-sílica: usa-se cristal de quartzo, que é finamente moído em pilão de ferro, peneirado, lavado para extrair as impurezas e colocado dentro de chifres


C a p í t u l o I | 133

de vacas. Os chifres são deixados em posição vertical por duas horas para decantar e então retirar o excesso de água superficial. Depois, enterram-se os mesmos durante o verão (CORREIA-RICKLI, 1986; STEINER, 1993; KOEPF et al., 1983). Observou-se que a coloração do preparado sofreu alteração durante o período em que esteve enterrado, passando de cinza (antes) para vermelho-alaranjado (depois), o que pode estar relacionado ao teor de ferro presente na rocha. É pulverizado em gotas finas, sobre plantas não muito frágeis, de manhã bem cedo, o ideal é no nascer do sol, sua dosagem é bem menor: de 1 a 4 gr. Nesse tipo de colheitadeira de uma linha, o dispositivo de colheita é composto de fusos cônicos estriados, que giram em alta rotação, fazendo com que os capulhos fiquem aderidos aos fusos e, assim, sejam extraídos da planta. Proporciona um produto com menos impurezas, porém, a colhedora apresenta elevado custo de aquisição (US$ 130 mil), sendo mais viável terceirizar essa operação mecanizada de colheita pelos produtores organizados de cooperativas ou associações. Por outro lado, a colheita mecanizada deverá ser realizada nas horas mais quentes do dia, pois facilita a limpeza dos fusos na colhedora, devendo-se atentar também ao teor de água de até 12% com 95% dos capulhos abertos (CUNHA, 2002). Outros fatores ainda podem ser levados em consideração no momento da colheita, como as regulagens da colhedora, treinamento dos operadores, velocidade de operação, condições do terreno, e as características da cultura (OOSTERHUIS, 1999; SANTOS et al., 2005). Apesar da colheitadeira mecanizada de algodão apresentar maior rendimento de trabalho (12 mil kg de algodão em caroço/dia) em relação à colheita manual (equivalente a mais ou menos 200 colhedores), mas o seu produto colhido contém sujidades ou contaminantes tanto para o sistema de produção convencional como para o orgânico. Entretanto, nesse último material, o grau de impureza será bem maior, em função de a colheita mecanizada ser realizada em algodoal sem aplicação de dessecantes foliar. Consequentemente, as impurezas contidas no algodão em caroço proveniente da produção orgânica somente serão eliminadas eficazmente em máquinas de descaroçamento de grande porte (90 serras) e não em máquina de rolo, a qual é específica para o beneficiamento do algodão de fibra extralonga da espécie G. barbadense ou G. hirsutum r. marie galante, Hutch. Pelo fato de não existir limpador no equipamento de rolo, a limpeza desses algodões em rama é realizada manualmente por mulheres no Peru e não mecanicamente.


C a p í t u l o I | 134

INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA Os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) consistem na diversificação das atividades na propriedade rural. Em tais modelos de produção estão integrados às explorações de cultivos agrícolas e o seu aproveitamento na alimentação animal, sendo que o gado é colocado para se alimentar dos restos culturais da lavoura no final da colheita do G. barbadense. Para o caso do algodoeiro arbóreo tradicional, apenas o gado é colocado após o segundo ciclo vegetativo sequencial, de forma que ambos os ciclos sejam realizados dentro do mesmo ano agrícola.

ERRADICAÇÃO DAS SOQUEIRAS A boa destruição é indispensável para que as populações de pragas e doenças se mantenham baixas no início de cada ano agrícola e para que algodoeiro continue sendo uma cultura economicamente interessante, de maneira sustentável através dos anos. Arrancamento e queima da soqueira do algodoeiro até 30 dias após o término da colheita. Existem diversos métodos de arrancamento de soqueira do algodoeiro, conforme o implemento usado, podendo ser, manual ou mecânico. O trabalho mecânico é feito pelo arado de aiveca fixo, onde o bico do arado entra por baixo das fileiras das plantas de algodão, arrancando-as. Deve usar uma parelha de burros ou dois bois. Uma guia longitudinal, de barra de ferro redondo, deve ser adaptada ao arado, fixo perto da ponta do “apo” ou mastro, na frente da aiveca, com curvatura adequada a inclinar as plantas para o lado direito na frente da aiveca e tombá-las ao serem arrancadas. Convém, também, levantar as rédeas, por meio de outra guia, com a finalidade de evitar o amaranhamento com os galhos das plantas.

Outro mecanismo de arranquio das soqueiras seria usando uma adaptação no arado com três discos a tração tratorizado, eliminando-se os dois discos dianteiros. O sistema hidráulico do trator deve ser regulado até que o terceiro disco afunde corretamente para realizar o arrancamento. A operação leva uma linha por passada. Após o arrancamento das plantas de algodão com raízes, elas devem ser enleiradas com auxílio de um rastelo tracionado com trator. Em seguida, as leiras devem ser queimadas. Como a queima das leiras é bem localizada, em pequenas faixas no terreno, não há, de maneira geral, prejuízo para os microrganismos do solo.


C a p í t u l o I | 135

ROTAÇÃO DE CULTIVOS Consiste na alternância de diferentes espécies e com nutrição distintas de plantas em uma mesma área, variando os tipos radiculares de fasciculado ou pivotante, que se evita a persistência de pragas na cultura do algodão nos ciclos subsequentes. Essa prática permite um melhor aproveitamento dos nutrientes do solo e corresponde a um manejo de solo. Também é necessário considerar que uma correta rotação permite certo controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Para alcançar tal resultado, o algodão deve ser semeado no mesmo terreno (ou território) a cada 2-3 anos. Por outro lado, o monocultivo do algodão deve ser bem avaliado quando se trata de cultura orgânica, pelo fato de produzir uma deterioração gradual do solo por perda de estrutura, além de surgirem, em pouco tempo e com maior intensidade, as doenças foliares e do solo (BRAGACHINI et al., 1993).

BENEFICIAMENTO DO ALGODÃO O algodão em rama é pesado e, de imediato, é classificado, antes de entrar na usina de descaroçamento. No caso do algodão Sea Island (G. barbadense), a classificação é a seguinte: Algodão de primeira classe: Livre de fragmentos de vegetação (palhas), folhas secas, areia, ou outros materiais estranhos. Além da ausência de algodões verdes ou imaturos (mal desenvolvidos), o algodão colhido deve ser bem seco, cor branco-creme e brilhante, sedoso e com lustre característico da variedade Sea Island. A cor tem uma grande influência no grau de classificação da fibra. O comprimento da fibra deve ser uniforme e não menor de 1.5/8 polegadas (41,28 mm; RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956; Figura 79).


C a p í t u l o I | 136

Figura 79. Categoria primeira classe do algodão Pima com comprimento da fibra extralonga acima de 41,28 mm (1.5/8 polegadas).

Algodão de segunda classe: São os mesmos requisitos exigidos da primeira classe, mas não tão rigoroso em relação à limpeza da fibra. Algodão de terceira classe: A diferença da primeira classe é que pode apresentar um pouco manchado e ter maior quantidade de folhas e palhas secas. Algodão de quarta classe: pode estar um pouco úmido, manchado por insetos, ou por terra, a fibra pode estar descolorida, e pode conter maior quantidade de materiais estranhos, tais como: folhas secas, pedaços de ramos, pedaços de cápsulas e alguma areia. Por outro lado, a classificação do algodão depois do descaroçamento compete apenas aos classificadores oficiais de laboratório, cuja amostra de fibra é geralmente enviada pela empresa têxtil interessada na compra do produto.

1.Descaroçador de rolo As primeiras tentativas para separar a fibra da semente foram realizadas manualmente; mais tarde, surgiram na Índia, máquinas pequenas, muito simples, denominadas “churka”, que podem ser consideradas precursoras dos descaroçadores de rolo. A partir deste modelo, o americano Jones McCarty desenvolveu, em 1740, o descaroçador de rolo, que revolucionou o praticado beneficiamento do algodão e cujo modelo e princípios de funcionamento deram origem aos modernos descaroçadores da atualidade, que hoje são


C a p í t u l o I | 137

utilizados para o beneficiamento de algodão de fibra longa e extralonga ou em operações de caráter experimental (MOORE, 1977; Figura 80).

Figura 80. Unidade de beneficiamento do algodão da variedade Sea Island de fibra extralonga na ilha de Barbados, empregando os descaroçadores de rolo.

No caso do algodoeiro Gossypium barbadense, recomenda-se o uso de descaroçadores de rolo e prensas manuais ou hidráulicas, instaladas especialmente nas comunidades ligadas às cooperativas e associações de produtores familiares. Essa etapa é muito importante para que o produto final seja de qualidade superior e deve ser feito isoladamente para cada cultivar de algodão. Além disso, deve-se beneficiar o produto orgânico em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente quando for usá-las novamente, pois são necessárias apenas algumas sementes atípicas para contaminar todo um lote. Por não trazer acoplado um pequeno limpador sobre o descaroçador de rolo (Figura 80), é necessário que o agricultor colha o algodão limpo, evitando-se restos de planta (folhas, brácteas, fragmentos de caule e ramos, plantas daninhas e suas partes, capulhos doentes ou não abertos totalmente, terra, etc), visando obter após beneficiamento uma fibra de alta qualidade e de maior aceitação pelo mercado.


C a p í t u l o I | 138

Uma cooperativa de agricultor em cada território do semiárido deveria contar com uma unidade de descaroçamento do tipo rolo para beneficiar o algodão de fibra extralonga (G. barbadense). Em uma jornada de trabalho, cada máquina de rolo pode beneficiar entre 220 a 270 kg de algodão em rama por dia, ou seja, um pouco mais de dois fardos de pluma, com base na produção de prensa média com capacidade para 100 a 120 kg de fibra por fardo. Uma unidade de beneficiamento com descaroçadores de rolo de São Mamede, PB da Empresa Santana, é dotada de 20 máquinas, cujas fibras processadas vão alimentar uma prensa grande com capacidade de produzir fardo de 180 a 200 kg (Figuras 81 e 82)

Figura 81. Descaroçadores de rolo da atual usina algodoeira do Grupo Santana, em São Mamede, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 139

Figura 82. Prensa hidráulica da usina algodoeira de São Mamede, PB usada no enfardamento da fibra de algodão. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A unidade de processamento de Lambayeque (Peru) possui 140 descaroçadores de rolo (Figura 83) e produz 12 fardos de 165 kg por hora, sendo que a limpeza do algodão em rama nas tulhas dessa usina algodoeira (Figura 84), uma vez transportada do campo, é realizada manualmente por mulheres, diferente da usina para o algodão herbáceo em que essa limpeza é feita mecanicamente por batedor e limpadores.


C a p í t u l o I | 140

Figura 83. Descaroçadores de rolo da usina algodoeira Creditex de Lambayeque (Peru). Foto: Vicente de Paula Queiroga

Figura 84. Tulha para armazenamento temporário e para limpeza manual do algodão em rama da cultivar Pima (G. barbadense) da usina algodoeira peruana, antes de ser conduzido através da tubulação, por sucção a vácuo, para alimentar os descaroçadores de rolo. Foto: Felipe Macêdo Guimarães.


C a p í t u l o I | 141

Vale destacar que o descaroçador de rolo com baixa rotação de 350 rpm permitiu a obtenção de fibra, pelo menos 1 mm maior em comprimento do que os descaroçadores de serras, independentemente do número de serras e marca da máquina utilizada no beneficiamento do algodão em rama. Ou seja, esse processo com máquina de rolo preserva as propriedades intrínsecas da fibra, porém apresenta limitações em relação à capacidade de beneficiamento por unidade de tempo (MOORE, 1977; FREIRE et al., 1984; QUEIROGA et al., 1994; BELTRÃO, 1999).

A região semiárida do Nordeste com sua tradicional produção do G. hirsutum em agricultura familiar testemunhou a gradativa difusão das miniusinas para descaroçamento da fibra de algodão. Esse sistema de beneficiamento também representa uma ferramenta importante para a agregação de valor ao algodão G. barbadense de fibra extralonga, o qual é descaroçado em máquinas de rolo. Um novo protótipo itinerante com duas máquinas de rolo e uma prensa de pequeno porte sobre a carroceria de um caminhão Truck antigo foi idealizado pela Metalúrgica Barros de Campina Grande – PB. Direcionada para agricultura familiar, essa miniusina itinerante é capaz de beneficiar no mínimo 500 kg de algodão em rama por dia. Além de prender a base de cada equipamento ao chassi do caminhão, o piso de madeira da carroceria poderá ser revestido com folhas de alumínio, evitando assim sujar ou contaminar a fibra. Na extremidade do caminhão deverá ser posicionada a prensa hidráulica de pequeno porte, de modo que os fardos possam ser lançados para baixo da carroceria (Figura 85). Tal unidade em funcionamento ocuparia seis trabalhadores, pois seu abastecimento e a condução da fibra para a prensa é feito manualmente. O fardo é de volume similar ao obtido na prensa grande, enquanto o seu peso na pequena prensa oscila entre 100 e 120 quilos, enquanto na prensa grande o peso fica entre 190 e 200 quilos (EMBRAPA ALGODÃO, 2001).


C a p í t u l o I | 142

Figura 85. Protótipo itinerante com duas máquinas de rolo e uma prensa de pequeno porte sobre a carroceria de um caminhão Truck antigo para beneficiamento de algodão de fibra extralonga. Foto: Sergio Cobel.

O mecanismo de funcionamento da máquina de rolo é bem simples (Figura 86). Inicialmente, o algodão em rama é alimentado manualmente no depósito inclinado instalado na parte superior da máquina. Na parte frontal do alimentador, uma lona com vários ganchos, em movimento circular, arrasta o algodão para o interior do equipamento. Um chapa abaixo, em movimento vibratório, irá impulsionar o algodão em rama a passar entre um garfo em forma de pente e uma barra, ambos fixos, o que resultará na separação das sementes nuas da fibra. Ao mesmo tempo, a fibra fica aderida a superfície estriada de um rolo de maior diâmetro, enquanto as sementes que passam entre os dentes do pente vão cair por gravidade numa caixa coletora. Em seguida, outro rolo de menor diâmetro, formado por seis palhetas de borracha rígida e com movimento colado ao primeiro rolo, fica girando ao contrário para liberar a fibra. As fibras liberadas vão cair por gravidade no interior de outra caixa coletora.


C a p í t u l o I | 143

Figura 86. Descaroçador de rolo usado especialmente para algodão de fibra extralonga. Fotos: Vicente de Paula Queiroga


C a p í t u l o I | 144

Por outro lado, no semiárido do Nordeste é característico o perfil de pequenas propriedades gerenciadas por agricultores familiares realizarem a tradicional venda direta do algodão em rama para as usinas algodoeiras mais próximas da sua propriedade. No caso do algodão orgânico de fibra extralonga, a cooperativa dos agricultores organizados assumiria o seu beneficiamento e a comercialização da fibra para o mercado. Outra alternativa de agregação de valor à matéria prima, que em vez de comercializar o algodão em rama ou apenas a fibra, tal cooperativa poderia terceirizar com uma empresa fiadora da Paraíba para comercializar o fio orgânico de fibra extralonga com o mercado. A título de exemplificação, 1 kg de fibra de algodão branco orgânico, no Brasil, é comprado por empresas como Veja (Empresa Francesa) e TudoBOM a um custo de R$ 7,50/kg de fibra e, para o algodão orgânico colorido, o valor pago é de R$ 11,50/kg de fibra. O próprio cooperado beneficia sua produção, vende toda fibra com base num contrato fixado com antecedência com as referidas empresas, enquanto uma parte das sementes é armazenada para plantio, em garrafas PET, e restante do material é utilizado na alimentação animal (bovinos). Particularmente no Nordeste, a venda da produção é feita na forma de algodão em caroço; esse modelo retira do pequeno agricultor plantador de algodão a possibilidade de agregar valor à sua produção. A Embrapa Algodão estima que o produtor tenha um lucro de até 30% sobre o algodão em rama, principalmente pelo fato das comunidades de agricultores assistidas pela COEP (Rede Nacional de Mobilização Social) só produzir o algodão não convencional (orgânico) e realiza sua comercialização separadamente como sementes e fibra.

2.Deslintamento para sementes orgânicas Um dos obstáculos no cultivo do algodão é sua semente revestida de uma fibra curta, tecnicamente denominada de línter, a qual impede o seu fluxo no sistema de distribuição da plantadeira a tração animal ou matraca utilizada no plantio do algodão. Assim, o deslintamento é considerado uma etapa essencial para remoção desta fibra, expondo a face lisa das sementes, o que contribui no processo de sua classificação por tamanho em mesa de gravidade (SILVA et al., 2001).


C a p í t u l o I | 145 Para a comercialização das sementes de algodão, a remoção do línter é uma prática obrigatória e que seu plantio seja feito apenas com sementes sem línter em todo território nacional, por força da Portaria de nº 607, emitida pelo MAPA em 14 de dezembro de 2001 (BRASIL, 2005). Contrariando tal portaria, os métodos de deslintamento mais utilizados no Brasil para sementes orgânicas apenas eliminam parcialmente o línter, o que impedem sua comercialização, mesmo assim elas são usadas apenas em área própria do deslintador-produtor. Ainda em fase de validação, um novo deslintador foi desenvolvido no USA, o qual permite a eliminação total do línter da semente de algodão por processo mecânico abrasivo, ficando o material no final similar as sementes deslintadas quimicamente. Antes do processo de deslintamento, os técnicos da Deltapine Monsanto recomendam submeter uma pequena amostra de sementes com línter ao teste de acidez, utilizando os seguintes procedimentos de laboratório: 1). Na pequena prensa hidráulica se extrai 1 mL de óleo da amostra de sementes (Figura 87). Como o equipamento de extração não tem filtro, o importante é que a umidade da semente não seja superior a 12%, pois do contrário fica difícil obter o óleo; 2). O óleo obtido se mescla com 2,8 mL de solução de fenoltaleina a 1% e logo se faz a titulação com hidróxido de sódio; 3). A quantidade de gotas de hidróxido de sódio utilizado indica o grau de acidez da amostra, sendo o limite definido de 1% para deslintar.


C a p í t u l o I | 146

Figura 87. Prensa hidráulica de sementes com línter, acionada por uma bomba de ar comprimido, para extração de óleo. Foto: Riselane de Lucena Alcântara Bruno.

2.a). Deslintador com escovas e rolos (deslintamento total): O deslintador mecânico de semente orgânica é formado por um tambor posicionado horizontalmente, sendo que a sua parede interna é revestida alternadamente por dois conjuntos de escovas, sendo 42 de escovas de nylon e 42 de arame (Figura 88). Esse tambor gira na velocidade de 300 rpm, quando acionado por um motor elétrico, e funciona como uma lixa quando está em operação. Também no interior do tambor, encontram-se 2 rolos rotativos, movimentando-se no sentido oposto ao tambor, os quais estão posicionados junto as escovas e têm por função pressionar a passagem das sementes com línter entre rolos e escovas (Figura 89).

Figura 88. Escovas de nylon e de arame posicionadas alternadamente na parede interna do tambor do equipamento deslintador mecânico. Fotos: Greg Holt, Tom Wedegaertner, John Wanjura, and Mathew Pelletier (2016).


C a p í t u l o I | 147

Figura 89. Detalhe do pequeno equipamento deslintador mecânico de sementes de algodão herbáceo, que funciona com dois tipos de escovas. Fotos: Greg Holt, Tom Wedegaertner, John Wanjura, and Mathew Pelletier (2016).

Uma vez em funcionamento o equipamento, as sementes são introduzidas numa extremidade do tambor em movimento e sai na outra exterminada já totalmente desnudas devido ao efeito abrasivo gerado pelas escovas de nylon e de arame. Um equipamento de sucção ou exaustor (Figura 90), através de um tubo de conexão, extrair todo material do tambor e no seu interior, as sementes, já separadas do línter, são recolhidas numa boca de saída e em outra boca, o línter. O pequeno deslintador experimental tem a capacidade de deslintar à quantidade de 30 kg de sementes com línter por 10 minutos (ou 180 kg por hora; Figura 91). A empresa fabricante dos USA (BC Supply) ainda está pretendendo desenvolver um protótipo de maior capacidade de processamento com cinco rolos rotativos (Figura 92).

Figura 90. Equipamento de sucção que retira todo material do tambor e separa no seu interior as sementes do línter. Foto: Greg Holt, Tom Wedegaertner, John Wanjura, and Mathew Pelletier (2016).


C a p í t u l o I | 148

Figura 91. A;B). Sementes com línter e sementes totalmente deslintadas pelo deslintador mecânico com escovas e rolos; C). Resultado das sementes deslintadas pelas escovas alternadas: 42 de Nylon e 42 de arame. Fotos: Greg Holt, Tom Wedegaertner, John Wanjura, and Mathew Pelletier (2016).

Figura 92. Rolos rotativos (5) instalados próximos à parede interna do tambor do grande equipamento deslintador mecânico (protótipo). Foto: Greg Holt, Tom Wedegaertner, John Wanjura, and Mathew Pelletier (2016).

2.b). Flambagem No caso particular de associações de produtores ou cooperativas, as sementes de algodão orgânico, quando descaroçadas, podem ser deslintadas pelo método de flambagem, que é considerado um equipamento simples destinado para as comunidades familiares (Figura 93). Nesse processo, a massa de sementes com línter é despejada de forma manual e lentamente numa coluna de chamas (formado por um bico de maçarico e gás de botijão), que queima a maior parte do línter, podendo deixar a semente do algodão G. barbadense praticamente nua (QUEIROGA et al., 1993).


C a p í t u l o I | 149

Figura 93. A) Sementes de algodão do G. barbadense com pouco línter na micrópila (tufo), sendo o mesmo eliminado ao passar por gravidade na coluna de fogo no tubo do flambador.

2.c). Deslintador mecânico No plantio do algodão orgânico, as sementes devem ser deslintadas mecanicamente, o que corresponde a um processo de deslintamento eficiente quando se trata do algodoeiro G. barbadense por eliminar praticamente o línter da semente (Figura 94).


C a p í t u l o I | 150

Figura 94. Deslintadores mecânicos utilizados para a eliminação do línter das sementes de algodão das espécies G. barbadense (tufo de línter na micrópila) e G. hirsutum. Fotos: Vicente de Paula Queiroga

Um professor da Universidade de Molina em Lima (Peru) desenvolveu um equipamento mecânico (protótipo) de deslintamento para o G. barbadense. Seu princípio de funcionamento consiste em submeter às sementes nuas de algodão com tufo de línter na parte da micrópila ao movimento giratório no interior da câmara cilíndrica telada (ou tambor), o que irá provocar o atrito das sementes na parede telada, ocasionado assim a liberação do línter (Figura 95). Envolvendo o tambor interno telado de menor orifício, que retém as sementes, há outro tambor telado estacionário de orifício maior para facilitar a passagem do línter que foi eliminado das sementes.


C a p Ă­ t u l o I | 151

Figura 95. Protótipo mecânico de deslintamento para o G. barbadense desenvolvido pela Universidade de Molina em Lima (Peru) e sementes deslintadas. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 152

3.Pré-limpeza das sementes deslintadas mecanicamente (tipo abrasivo) Após as etapas de deslintamento mecânico abrasivo ou flambadas, as sementes totalmente deslintadas são classificadas por tamanho por meio de um conjunto de peneiras com furos de tamanho diferentes (Figura 96). Essa máquina de pré-limpeza de sementes sem línter de algodão está projetada para remover eficientemente os materiais estranhos contidos dentro do lote. A eficiência dessa máquina para produzir sementes deslintadas mais limpas ou padronizadas, dependerá do desempenho da etapa de deslintamento mecânico (tipo abrasivo) realizado sobre as sementes para eliminar totalmente o seu línter. Suas peneiras de pré-limpeza possuem bandejas de 60 polegadas de largura e tem uma capacidade nominal de 75-100 tons por dia.

Figura 96. Esquema de funcionamento da máquina de ar e peneiras: A- Moega; BVentilador aspirador; C- Primeira peneira; D- Segunda peneira; E- Terceira peneira; FVentilador de impulsão; G- Depósito de impurezas leves; H- Saída de sementes limpas; e I) Saída de impurezas grossas. Sementes de algodão classificadas em cinco tamanhos diferentes através da máquina de ar e peneiras, após o deslintamento e sementes com línter antes do deslintamento. Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.

Em geral, todos os lotes de sementes devem passar inicialmente pela máquina de ar e peneiras, pois muitos lotes podem ser completamente limpos por meio desse equipamento (VAUGHN et al., 1976). Além disso, a pré-limpeza e/ou classificação prévia das sementes em diferentes tamanhos na máquina de ar e peneiras, favorecem uma separação mais precisa na mesa de gravidade.


C a p í t u l o I | 153

4.Seleção de sementes em mesa de gravidade O emprego do deslintamento mecânico abrasivo das sementes de algodão é de fundamental importância econômica porque, ao eliminar completamente o línter, as sementes são submetidas ao processo de seleção em mesa de gravidade. Consequentemente, esse processo poderá influir consideravelmente na obtenção de sementes de elevado valor cultural, reduzindo os custos de produção, por dispensarem as práticas do desbaste e do replantio e assegura uma melhor regulagem das máquinas (GREGG, 1969; QUEIROGA, 1985). As pesquisas têm evidenciado que a inclusão da mesa gravitacional na linha de beneficiamento é vantajosa para o aprimoramento da qualidade das sementes de algodão (Figura 97). A evolução da qualidade do material pode ser avaliada quando se toma por base o início do deslintamento mecânico das sementes nuas com tufo de línter na parte da micrópila até a etapa final da mesa de gravidade.

Figura 97. A operação na mesa de gravidade seleciona e melhora a qualidade das sementes deslintadas de algodão G. barbadense por processo mecânico ou flambagem.

5.Tratamento das sementes orgânicas O tratamento de sementes é uma prática realizada para proteger a semente de agentes externos como enfermidades e roedores. No caso de produção ecológica, as normas não permitem o uso de sementes de produção convencional e nem o uso de sementes tratadas com produtos químicos, mas é permitido o tratamento com produtos biológicos e produtos naturais a base de minerais. Na Tabela 11, os métodos alternativos usados para o tratamento contra doenças fúngicas de sementes orgânicas:


C a p í t u l o I | 154

Tabela 11. Fungicidas naturais para tratamentos de sementes de algodão. Produto Calda Sulfocálcica

Eucalipto

Esterco de gado

Pó de Mastruz

Cinza de lenha

Modo de preparação

Dose/método

A calda sulfocálcica é um defensivo utilizado na agricultura. Constituída essencialmente por polissulfetos de cálcio, é o resultado de uma reação entre o óxido de cálcio (da cal virgem) e o enxofre, quando dissolvidos em água e submetidos à fervura. Possui ação inseticida, acaricida e fungicida. Mistura a calda sulfocálcica em 20 litros de água. Introduz as sementes em um saco de malha. Submergir na calda por 3 minutos. Em seguida, as sementes são extraídas e secadas à sombra, evitando a exposição direta com raios solares. Uma vez concluída a secagem, as sementes são ensacadas em novos sacos de polipropileno. Colocar as folhas de eucalipto para secar ao sol. Moer as folhas secas até obter uma espécie de pó. Uma vez moída, mesclar o pó com as sementes e umedecer levemente até obter uma pasta consistente. Deixar secar e ensacar. Essa prática deve ser realizada um dia antes da semeadura ou três horas antes de plantar. Os produtores de algodão na Índia encerram as sementes dentro do esterco de vaca. O estrume de vaca tem características fungicidas que afastam as bactérias nocivas. Um fungo não destrutivo, do gênero Trichoderma, contém esporos que competem e destroem outros fungos ou bactérias devastadoras.

¼ litro de sulfocálcica em 20 litros de água

Para o armazenamento, recomenda-se tratar as sementes deslintadas mecanicamente com pó de mastruz (Chenopodium ambrosioides). O método simples é coletar a planta inteira (parte aérea) e colocá-la em condições ambiente (sol) para ser desidratada. Em seguida, a planta seca é triturada em pilão (ou liquidificador) e passar em uma peneira fina até obter um pó. É necessário guardar o pó em vidro seco e bem lacrado. Controla vários fungos Aspergillus flavus, A. glaucus, A. niger, A. ochraceous, Acanthoscelides obtectus, Colletotrichum gloesporioides, etc. Para o armazenamento, recomenda-se tratar as sementes deslintadas mecanicamente com cinza de lenha para controle de fungos

Fuente: Fundación Valles (2011); Dantas, 2001.

Pó de 3 folhas de eucalipto por 1 kg de sementes

Inicia-se com a distribuição de uma fina camada de esterco no fundo do sulco e depois vem a semeadura. Em seguida, as sementes são cobertas com outra camada de esterco. A dosagem de mastruz de 0,30 g do pó/20 g de sementes, o que equivale a 150 g do pó para 10 kg de sementes, correspondente a quantidade de um ha.

Mistura a cinza de lenha com as sementes deslintadas, na proporção de 5% do volume total.


C a p í t u l o I | 155

Em casos excepcionais, a entidade certificadora de produtos orgânicos poderá autorizar o uso de sementes convencionais para as seguintes situações: - Quando existam suficientes evidências e a organização certificadora demonstre que no mercado local ou regional comercializa apenas sementes convencionais, não havendo disponibilidade de sementes de produção ecológica. - As sementes ou plantas não sejam geneticamente modificadas (OGM). No caso do produto com risco de OGM no contexto local, recomenda-se apresentar uma declaração do fornecedor sobre o uso dessas práticas.

6. Envasamento e armazenamento de sementes Após o deslintamento mecânico abrasivo e a classificação em mesa de gravidade, as sementes são embaladas em sacaria de papel e armazenadas, aguardando a próxima semeadura. O Serviço de Produção de Sementes Básicas da Embrapa Algodão, em Campina Grande-PB, recomenda o armazenamento das sementes de algodão por no máximo oito meses, nas condições ambientais e com teor de umidade abaixo dos 10%. São utilizados sacos de papel multifoliados, com capacidade para 15 kg ou 22,5 kg de sementes orgânicas deslintadas (Figura 98). Geralmente, essas embalagens consistem de duas ou mais camadas de papel kraft, protegidas por uma capa externa de papel mais resistente. O saco de embalagem cumpre a função não apenas de facilitar o manuseio e o transporte, mas, também, de manter a qualidade das mesmas (PIVA, 2013).

Figura 98. Identificação da embalagem multifoliada de sementes para comercialização e máquinas ensacadoras de sementes com balança. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 156

Em cada sacaria, a rotulação deve conter todas as informações capazes de identificar o produto e o produtor de sementes, como sementes certificadas, nome e endereço do produtor de sementes, número de registro do produtor junto ao MAPA, CNPJ da Empresa de Sementes, espécie, cultivar, lote, peneira, safra, pureza e germinação mínima, prazo de validade do teste de germinação, peso líquido, etc (QUEIROGA; BELTRÃO, 2001). Com relação ao armazenamento de sementes, limpar todas as instalações antes de usálas, para evitar misturas acidentais. Além disso, é necessário identificar todos os lotes de sementes armazenados no galpão. Não recomenda empilhar lotes de sementes de uma espécie ou variedade em cima de lotes de outra espécie ou variedades. É necessário manter espaços e corredores adequados para circulação de pessoal e amostragem, bem como divisões que permitam imediata identificação entre os diferentes lotes de sementes numa mesma fileira. Periodicamente, os lotes devem ser inspecionados, a fim de verificar anormalidades como: umidades, insetos, etc. O tamanho de cada lote de sementes não pode ultrapassar a quantidade de 25 toneladas. Outro fator importante segundo Villela e Menezes (2009), é o tempo de armazenamento onde a deterioração das sementes não pode ser impedida, todavia, a velocidade do processo de deterioração pode ser minimizada por meio de procedimentos adequados de produção, colheita, beneficiamento, transporte e armazenamento. Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), no armazenamento, a velocidade do processo deteriorativo pode ser controlada em função da longevidade, qualidade inicial das sementes e das condições do ambiente. Entre as várias etapas pelas quais as sementes passam após a colheita, o armazenamento assume papel importante, principalmente no Brasil, devido às condições climáticas tropicais e subtropicais. É nessa fase que os produtores necessitam ter grande cuidado, visando à preservação da qualidade, diminuindo a velocidade do processo deteriorativo e o problema de descarte de lotes (MACEDO et al., 1998). Para Villela e Menezes (2009), o potencial de armazenamento de diferentes lotes de sementes de uma espécie, sob condições ambientais similares, é determinado pela qualidade fisiológica inicial. O teste de germinação, pelo fato de não avaliar completamente a qualidade de um lote e por oferecer ótimas condições às sementes, possibilita a formação de plântulas normais a partir de sementes em diferentes estádios de deterioração.


C a p í t u l o I | 157

CLASSIFICAÇÃO DA FIBRA DE ALGODÃO A importância econômica da fibra de algodão é bem conhecida, tendo sua produção sido estabilizada nos últimos anos em 20 milhões de toneladas de pluma de algodão em função do crescimento da produção de fibras sintéticas (poliéster e poliamidas) e artificiais (viscose e acetato) entre outras, correspondendo um total de 44,6 milhões de toneladas de todas as fibras usadas pelo ser humano. Ou seja, há uma tendência, a nível mundial, para uma maior participação relativa destas últimas. As variações encontradas nas propriedades físicas da fibra de algodão determinam o seu valor como matéria prima na obtenção de fios e tecidos, no uso doméstico e industrial e também na confecção de vestuário. Essas variações determinam a versatilidade da fibra de algodão quanto aos vários usos a que se pode destinar (Figura 99).

Figura 99. Fibra de algodão cultivar Pima Peruano (Gossypium bardadense).

Além disso, no desenvolvimento de novas variedades de algodão, objetiva-se em geral, associar-se um bom desempenho agronômico com propriedades de fibras desejáveis sob o ponto de vista têxtil, ou seja, comprimento, uniformidade, finura, maturidade, resistência intrínseca, elongação e cor. Na criação de variedades (GRIDI-PAPP; SABINO, 1972), são considerados, em geral, os seguintes caracteres: 1-Produtividade; 2-Precocidade; 3-Deiscência; 4-Conformação; 5-Peso médio do capulho; 6-Peso médio de 100 sementes; 7-Porcentagem de fibras; 8-


C a p í t u l o I | 158

Comportamento; da fibra; 9-Uniformidade de comprimento; 10-Maturidade; 11-Finura; 12-Resistência da fibra e 13-Resistência do fio. Nota-se que os caracteres de 1 a 7 podem ser classificados como de natureza agronômica, os de 8 a 12 pertinentes à natureza da fibra e apenas o 13º relativo a problemas de industrialização, sendo que os fios são produzidos em processo de minifiacão. O trabalho do melhorista consiste em combinar positivamente as características agronômicas, incluindo resistência a doenças, resposta à adubos e produtividade, com as características da fibra, por exemplo: resistência e finura, maturidade, comprimento. Esse é um trabalho difícil, já que certas características, são em geral, adversamente associadas, como por exemplo, produtividade em fibras e resistência. As associações conhecidas, que são importantes para os melhoritas e para a indústria são: a) Para uma mesma variedade, maturidade e finura associam-se positivamente, bem como fibras mais longas são mais finas e fortes. b) Apesar de maior número de convoluções e reversões, algodões mais finos tendem a ser mais fortes que algodões mais grossos. c) Finura, comprimento e resistência tendem a aumentar conjuntamente. Contudo, observa-se que esta variação se dá em níveis consideravelmente diferentes para algodões de procedência genética diversa, como pela comparação do algodão Egípcio, com as variedades do IAC, e cruzamento dos IAC com variedades africanas. d) Frequentemente, a resistência aumenta, enquanto que a elongação por unidade de tensão diminui, bem como a elongação limitante. Um algodão mais fraco, porém com maior elongação, pode resultar em maior eficiência na tecelagem (GOPPEL, 1947).

1.Formação da Fibra O algodão, proveniente das sementes de planta do gênero ''Gossypium”, é unicelular e seu desenvolvimento ocorre na parede mais externa da semente (epiderme). O processo de formação dessa fibra dura de 50 a 70 dias (BALLS, 1915). O desenvolvimento do algodão processa-se em duas fases distintas: na primeira fase, ela se alonga, até atingir seu comprimento máximo; na segunda fase, começa o crescimento na espessura devido a deposição de celulose em camadas concêntricas, formando o corpo da fibra. O


C a p í t u l o I | 159

desenvolvimento contínuo, no sentido do comprimento, cessa aproximadamente aos 25 dias após o florescimento, durante o qual atinge o comprimento de 25 mm a 35 mm, dependendo da espécie. Nesse período, a fibra é constituída pela cutícula e parede primária; alguns dias antes de atingir o comprimento final, inicia-se a deposição de celulose na parede secundária, a qual se prolonga até alguns dias antes da deiscência dos capulhos. Por ocasião da abertura das maçãs, as fibras ficam expostas ao ar, ocorrendo a desidratação gradual e uma consequente contração das fibras sobre si mesmas, mostrando pontos de reversões, que dão os aspectos característicos dessas fibras. A Figura 100 mostra a aparência da fibra de algodão antes e após a 1ª secagem.

Figura 100. Mostra a aparência da fibra de algodão antes e após a 1ª secagem (GORDON, 1968).

2.Estrutura da Fibra de Algodão A fibra do algodão, quando observada ao microscópio, apresenta-se como um tubo translúcido, achatado, caracterizando-se por uma série de torções, sendo mais larga na base, afilando-se nas extremidades. A ponta externa não apresenta lúmen e nem é retorcida. O comprimento da fibra é de 2000 a 3000 vezes a sua largura. Podem-se


C a p í t u l o I | 160

considerar, numa fibra de algodão, as seguintes partes: cutícula, parede primária, parede secundária e lúmen (Figura 101).

Figura 101. Diagrama da estrutura da fibra de algodão (GORDON, 1968).

A cutícula é a parte mais externa da fibra, sendo composta de gomas, ceras, pectinas e óleos. Na primeira fase de desenvolvimento tem uma aparência oleosa, já na segunda fase torna-se resistente como se fosse uma fina camada de verniz. A função da cutícula é de proteger a fibra. A parede primária é protegida externamente pela cutícula e se apresenta como uma membrana elástica, sendo constituída por celulose e uma porcentagem relativamente alta de outros componentes. A celulose apresenta-se na forma de fibrilas dispostas em ângulo reto em relação ao comprimento da fibra, formando espirais dextrogiros ou levogiras, devendo-se ressaltar que as espirais não mudam de sentido ao longo do comprimento de uma mesma fibra. A parede primária delimita o comprimento e a finura da fibra.


C a p í t u l o I | 161

A parede secundária constitui o corpo da fibra e se compõe de celulose pura, cuja natureza e estrutura determinam finalmente as principais características da fibra. A celulose é depositada em camadas concêntricas, constituídas por fibrilas em espirais que, ao contrário da parede primária, mudam de sentido ao longo de uma mesma fibra. Lúmen é o canal central existente na parte interna da fibra. Quando a célula está viva, seu contorno é bastante regular. As variações da parede secundária determinam posteriormente um aspecto bastante irregular para o lúmen. Neste encontram-se os resíduos protoplasmáticos de natureza proteica (CORRÊA, 1965).

3.Composição Química da Fibra O principal componente químico da fibra de algodão é a celulose, representando cerca de mais 90% de sua composição (Tabela 12), sendo os demais componentes formados por umidade, goma, pectina, graxa e matéria inorgânica. Tabela 12. Composição química da fibra de algodão. Constituintes Celulose Proteínas Substâncias pécticas Cinzas Ácidos málicos, cítricos e outros Cera Açúcares totais Não dosados Fonte: Parry (1980).

Percentagem (%) 94,0 1,3 0,9 1,2 0,8 0,6 0,3 0,9

Nas fibras imaturas, o teor de celulose apresenta-se mais baixo, sendo mais elevada o de substâncias pécticas. A celulose é formada por uma longa cadeia de moléculas de glucose e sua natureza assume importante papel na determinação das principais propriedades da fibra de algodão. Estas são influenciadas pela orientação das moléculas, pelo comprimento da cadeia de moléculas e principalmente, pela porcentagem de celulose cristalizada em relação à amorfa que se encontra em cada camada concêntrica.


C a p í t u l o I | 162

A cera é, depois da celulose, o componente de maior importância, sendo responsável pela lenta absorção de água pela fibra, o que pode ser verificado quando se procede a sua extração, o que resulta em rápida absorção de água. Por outro lado, apresenta importante papel durante o processamento industrial, constituindo-se num verdadeiro lubrificante entre as fibras. Ela é encontrada na parede primária, juntamente com as substâncias pécticas, que funcionam como material de cimentação da celulose. As cinzas da fibra do algodão contêm compostos de potássio, cálcio, magnésio e, em menor proporção, sódio, ferro, alumínio, fósforo e sílica.

4.Morfologia da Fibra Ao ser feita a observação de sua vista longitudinal, a fibra mostra o formato de um tubo achatado com certo número de torções a intervalos irregulares. As Figuras 102 e 103 mostram a vista longitudinal e a seção transversal da fibra. As torções estão intimamente ligadas a inversão do movimento fibrilar. As fibrilas estão dispostas lado a lado e a inversão pode ser explicada pela deposição dos anéis de celulose durante o amadurecimento. A seção transversal das fibras tem uma forma elíptica a circular, enquanto que as fibras imaturas apresentam uma forma de ''U” (MARJORY, 1977).

Figura 102. Microfotografia da fibra do algodão: a) seção transversal e b) seção longitudinal (MARJORY, 1977).


C a p í t u l o I | 163

Figura 103. Diagrama da seção transversal da fibra de algodão (MARJORY,1977).

5.Propriedades Macroscópicas da Fibra Antigamente, a classificação do algodão era considerada apenas em função de seu comprimento. Pesquisas feitas nos últimos vinte anos mostraram a importância de outras características na determinação das propriedades da fibra do algodão. Dessa maneira, novos métodos passaram a ser estudados, permitindo uma ava1iação mais rápida e precisa das principais características destas fibras, que são o resultado de um complexo processo biológico, desencadeado· desde o florescimento até a abertura dos capulhos do algodoeiro (KONDO, 1987).

a) COMPRIMENTO DA FIBRA O comprimento é um fator muito importante na determinação da qualidade da fibra, estando associada à finura e a resistência. As fibras mais longas são mais finas e fortes e por isso são usadas para a fabricação de tecidos finos e resistentes. Ele está associado à qualidade do fio, à performance do processamento industrial, e é responsável pelos ajustes e detalhes de construção das máquinas de fiação. Vários fatores, tais como, torção, uniformidade e aparência do fio, são influenciados pelo comprimento da fibra de algodão (SABINO et al., 1982). O comprimento da fibra é medido pelo aparelho fibrógrafo 430, sob condições de 65% de umidade relativa e 20 °C de temperatura, equivalente a 01 atmosfera, que emprega células fotoelétricas para examinar amostras de fibras paralelas dispostas ao acaso, determinando o comprimento das mesmas e dando uma ideia de sua uniformidade. O fibrógrafo fornece duas medidas de comprimento: o comprimento a 50% que dá uma ideia


C a p í t u l o I | 164

do comprimento médio da amostra, e a 2,5% que está mais relacionado com o comprimento comercial, determinado pelo classificador de algodão. A relação entre os comprimentos 50% e 2,5% em milímetros indica a uniformidade de comprimento, expressa em porcentagem. A Tabela 13 mostra a classificação tecnológica do comprimento determinado pelo fibrógrafo (KONDO, 1987).

Tabela 13. Classificação de fibras de algodão adotada pelo Laboratório de Fibra da Embrapa de Campina Grande, PB na década de 1990. Comprimento/

Comprimento

Classificação

Uniformidade

Classificação

Fibrografo 430

Comercial (mm)

<25,4

<28

Curta

>46

Muito Uniforme

25,5 a 30,2

28 a 34

Média

45 a 46

Uniforme

30,3 a 31,8

34-36

Longa

43 a 45

Média

>31,8

>36

Extralonga

41 a 42

Irregular

<41

Muito irregular

Alongamento

Classificação

Resistência (gf/tex)

Classificação

Estelômetro (%) >34

Muito forte

>7,6%

Muito alta

31 a 33

Forte

6,8 a 7,6%

Alta

27 a 30

Média

5,9 a 6,7%

Média

23 a 26

Fraca

5,0 a 5,8%

Baixa

<22

Muito fraca

<5,0%

Muito baixa

Resistência (lb/mg)

Classificação

Resistência Pressley

Resistência -

(1.000 psi) >8,98

0

Classificação

Pressley 1/8 (g/Tex)*

Muito forte

>95

>24,9

Muito resistente

8,24 a 8,98

Forte

86 a 95

22,9 a 24,9

Resistente

7,50 a 8,15

Média

76 a 85

20,8 a 22,8

Média

6,67 a 7,41

Fraca

66 a 75

18,7 a 20,7

Sofrível

Muito fraca

<65

<18,6

Fraco

<6,58

Maturidade Lord

Classificação

>1,00

Muito madura

1,00 a 0,95

Acima da média

0,95 a 0.90

Madura

0,90 a 0,85

Madura

0,85 a 0,80

Abaixo da média

0,80 a 0,70

Imatura

<0,70

Incomum

Maturidade – ASTM

Classificação


C a p í t u l o I | 165

Finura em Militex

>85%

Muito madura

77 a 85%

Madura

68 a 76%

Média

60 a 67%

Imatura

<59%

Muito imatura

Finura Micron (μg/in)

Classificação

<119

<3,0

Muito fina

119 a 157

3,0 a 3,9

Fina

158 a 196

4,0 a 4,5

Média

197 a 235

4,5 a 4,9

Grossa

>236

>5,0

Muito grossa

Fonte: Laboratório de Fibra da Embrapa Algodão; (*) – Um tex corresponde ao peso de uma grama para o comprimento de mil metros.

b) RESISTÊNCIA A resistência à tração é uma das características físicas mais importantes da fibra de algodão, pois afeta diretamente a tenacidade do fio e a qualidade dos tecidos; é afetada decisivamente pelo grau de maturidade do algodão produzido, que representa a quantidade de celulose depositada na parede secundária da fibra. Todos os fatores que influenciam no processo de maturação, tais como luminosidade, clima, temperatura, podem favorecer ou não a deposição de celulose nas fibras, conferindo-lhes maior ou menor resistência. Outras características que influenciam na resistência são: o estado de polimerização da celulose, o ângulo que os feixes de fibrilas formam com o eixo da fibra e o número de pontos de inversão da orientação desses feixes (GRIDI-PAPP; SABINO, 1972), além das condições climáticas, umidade, desidratação e descaroçamento. O aparelho usado mundialmente para a determinação da resistência da fibra é o Pressley, o qual consiste no emprego da força necessária para se romper a fibra. Na prática dois índices podem ser determinados: o Pressley “0” que corresponde a pinças sem espaçador e o Pressley 1/8, referente à medida obtida com espaçador de 1/8 de polegada. A resistência também pode ser afetada pelas condições climáticas, umidade, desidratação e descaroçamento. Quando a fibra é imatura ocorre que o seu teor de celulose é baixo, necessita-se de uma maior quantidade de fibras para se ter o peso necessário para a análise Pressley, acarretando então um valor alto para a tenacidade. Caso inverso observa-se quando se


C a p í t u l o I | 166

tem a fibra madura, ou seja, utiliza-se uma menor quantidade de fibra para se atingir o mesmo peso, pois as mesmas possuem um alto teor de celulose; acarretando então, um valor baixo para a tenacidade no Pressley.

c) ELASTICIDADE E ELONGAÇÃO A elongação é a deformação longitudinal máxima que a fibra suporta antes de se romper, e a elasticidade é a capacidade que a fibra possui de recuperar total ou parcialmente o seu comprimento inicial depois de cessada a força que a deformava. A elongação é obtida pelo estelômetro (KONDO,1987). Quanto à elongação os algodões podem ser classificados como mostra Tabela 13.

d) FINURA Está relacionada com o maior ou menor diâmetro da fibra, com seu peso (microgramas) e com a maturidade da fibra. E a propriedade que mais afeta a aparência do fio. Ela fornece uma indicação do número de fibras numa seção transversal do fio. A finura é determinada pelo micronaire, aparelho por onde passa uma corrente de ar em uma amostra de 3,24 gramas de algodão, determinando sua resistência a esta passagem de ar. Se passar pouco ar, o algodão é fino, pois existem muitas fibras e pouco espaço livre entre elas.

Quanto à finura o algodão classifica-se em: Extrafinos (Sea Islands e Sekallaridis) - com até 16,5 microns de diâmetro. Finos (Egípcios e Brasileiros) – têm diâmetro entre 16,5 e 18 microns. Grossos (Asiáticos) – diâmetro superior a 20 microns.

A finura é a propriedade que muito pouco pode ser alterada com o descaroçamento, embalagem, manuseio e condições atmosféricas. As fibras mais finas destinam-se à produção de tecidos de alta qualidade.


C a p í t u l o I | 167

e) MATURIDADE A maturidade é representada pela quantidade de celulose depositada na parede secundária da fibra, sendo o grau de maturidade uma medida da espessura da parede celular em relação ao seu diâmetro. As fibras maduras apresentam a espessura da parede maior que a metade do diâmetro do lúmen. A deposição de celulose na parte interna da fibra não é uniforme em todas as fibras, variando não só para as fibras de uma mesma semente, mas também na própria extensão do comprimento da fibra. Fibras com espessa parede celular e reduzido lúmen, são ditas maduras, enquanto aquelas que praticamente não apresentam espessamento da parede secundária e mostram lúmen largo, são chamadas de imaturas (Figura 104). Ou seja, as fibras imaturas apresentam parede delgada, fina e praticamente não possuem circunvolução. Além disso, suas torções são em número reduzidos, muito irregulares e concentradas em curtos segmentos. O número 4 da sequência refere-se ao algodão morto, isto é, às fibras que morreram antes mesmo de desenvolver o comprimento característico da espécie.

Figura 104. Visualização do grau de maturidade da fibra do algodão em uma sequência que vai de 1 a 4.

As fibras imaturas determinam uma série de inconvenientes em diversas fases do processamento industrial. Quebram facilmente por serem fracas, apresentam alta porcentagem de neps (engrossamento modular do fio que causa má aparência do tecido e irregular tingimento) e finalmente, possuem menor poder de absorção de corantes, causando irregularidades no tingimento dos tecidos. Para um mesmo tipo de algodão, de comprimento e resistência semelhantes, é a maturidade que determina a melhor performance da fibra durante o processamento (CORRÊA, 1965).


C a p í t u l o I | 168

A maturidade pode ser medida pelo Finurímetro-Maturímetro, denominado de FMT2, aparelho desenvolvido pelo Instituto Shirley, da Inglaterra, o qual fornece, simultaneamente, a finura e a maturidade, nas unidades Micronaire, mtex, Lord e ASTM. A maturidade é fornecida nas unidades em Lord e ASTM (Tabela 13), sendo uma das principais características da fibra e está diretamente relacionada a sua finura.

6. Equipamento HVI Em torno de 97% da produção mundial de algodão é de fibra curta e média. Os demais 3% produzidos, de fibra longa e extralonga, são produzidos no Egito, Estados Unidos (cada um com cerca de 40% da produção) e Peru. São os famosos algodões egípcios e algodões Pima. Por sua vez, as fibras do algodão são classificadas em curta, média, longa e extralonga, medidas em milímetros ou polegadas em HVI (High Volume Instrument), equipamento que realiza medições em larga escala de amostras de algodão para avaliação de características como comprimento, resistência, uniformidade, índice de fiabilidade, entre outras. Ou seja, o sistema HVI é a combinação de aparelhos de medição usados para acessar quantitativamente as características físicas das fibras do algodão, que podem fornecer informações mais rapidamente e em maior quantidade, e com tanta precisão quanto às classificações laboratoriais (LUNA, 1994; NABAS, 1997). O HVI, modelo 1.000 da Spinlab/Zellweger Uster, instalado no Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão, determina as seguintes características físicas da fibra do algodão: percentagem de impurezas, comprimento da fibra a 2,5% Span Lenght e a 50% Span Lenght, uniformidade de comprimento, índice de fibras curtas, micronaire, resistência, alongamento, reflectância (Rd, quantidade de luz refletida pela fibra de algodão, variando a faixa de 0 a 85 Rd), Amarelamento da fibra (+b, sobre a escala de Hunter, variando a faixa para fibra de algodão de 4 a 18), grau de cor e tipo de algodão (Figura 105).


C a p í t u l o I | 169

Figura 105. Equipamento HVI 1.000 instalado no Laboratório de Fibra da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

ARMAZENAMENTO DOS FARDOS DE FIBRA Tanto o algodão em caroço como o já beneficiado (fibra), deve ser armazenado adequadamente, para não se ter problemas de redução de qualidade. No caso dos produtores de uma determinada comunidade de produtores beneficiarem seu próprio algodão, então ela deve ter uma estrutura para armazenar o algodão em caroço, fardos e as sementes, desde que as mesmas sejam usadas para o plantio do ano seguinte, ou, também, se a comunidade for cooperada de um produtor oficial de sementes certificadas. Para a fibra, deve-se ter um armazém com circulação de ar, sem a possibilidade de entrar água de chuvas, com estrados de madeira, sem pontos de tomadas elétricas e com todos os requisitos para a segurança do armazém, em especial contra incêndios e umidade excessivas. A umidade em excesso pode produzir fermentação da fibra dentro do fardo e provocar os chamados Cavitomas, fenômeno da cavitomia, ocasião em que o produto entra em combustão dentro do fardo (EMBRAPA ALGODÃO, 2002).


C a p í t u l o I | 170

MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO Na região algodoeira do Nordeste brasileiro, a comercialização do algodão em caroço é formada por uma cadeia de intermediários, desde a colheita até o processamento de comercialização com as indústrias têxteis. Em geral, o produtor negocia sua lavoura com a unidade de descaroçamento mais próxima da área de produção, apesar de que seria mais viável para o mesmo negociar diretamente com a indústria têxtil. Essa comercialização é mais estabelecida com a usina algodoeira, em razão do apoio logístico recebido pelo produtor, tais como: recursos financeiros, sacarias e transporte, em troca do compromisso de entrega da produção do algodão em caroço por um preço acordado antecipadamente entre ambos. Para evitar esse intermediário do algodão em caroço e com o propósito de obter maior lucro, é aconselhável que o produtor faça parte de uma comunidade organizada, que já possua sua própria miniusina e utilize a mão-de-obra familiar no processo de descaroçamento, de modo que a comercialização da fibra seja separada das sementes. Os produtores têm comercializado sua produção de algodão ecológico diretamente com o CoopNatural e a empresa de vestuário Natural Cotton Color. Essas empresas são formadas por várias pequenas microempresas de confecções nas respectivas cidades de Campina Grande, PB e de João Pessoa, PB, as quais são responsáveis pelo desenvolvimento de uma coleção de moda com a malha do algodão colorido. Também em João Pessoa, PB tem a empresa Norfil que compra toda produção de algodão orgânico, que em 1917 adquiriu 35 toneladas de algodão em rama. O SENAI da capital da Paraíba estar instando no segundo semestre de 2018 uma unidade de porte médio de fiação e tecelagem para atender a verticalização da produção do algodão orgânico das comunidades organizadas do semiárido. Outros compradores de algodão orgânico de fibra extralonga são: Organic Cotton Colours, S. L. de Girona (Catalunha), Espanha (contato no Brasil: diogenes@organiccottoncolours.com) e a empresa francesa Veja/Vert Shoes (no Brasil), cujo contato reside na cidade de Choró, CE ou através da ONG Esplar de Fortaleza, CE (Pedro Jorge).


C a p í t u l o I | 171

PRODUÇÃO DO ALGODÃO BARBADENSE O algodão G. hirsutum é cultivado principalmente como uma cultura de produção de fibra. Uma vez colhido o "algodão em rama", é então descaroçado para separar a semente da fibra. De forma distinta, o algodão G. barbadense é cultivado especialmente por sua qualidade de fibra, pois tem um comprimento de fibra extralonga (comprimento de fibra acima de 40 mm) e de maior resistência de fibra do que G. hirsutum (SMITH, 1999). Embora o Gossypium barbadense produza fibra de alta qualidade, mesmo assim a maior parte da produção mundial de algodão vem de Gossypium hirsutum (95%), porque o Gossypium barbadense precisa de mais tempo para colher, dá rendimentos mais baixos e é mais sensível a condições de crescimento sub-óptimas. Vale destacar que o algodão peruano é considerado um dos melhores materiais na indústria têxtil do mundo. Sua excelente qualidade e textura especial têm produzido uma das matérias-primas mais exportadas do Peru, as quais representam altos níveis de ganhos em divisas. Os variados espaços geográficos onde sua indústria foi gerada produziram o desenvolvimento das comunidades rurais e as políticas das regiões, melhorando a economia e a integração ao mercado nacional e internacional (MINAG, 2009). Por outro lado, o preço do algodão internacional está determinado pelo seu comprimento de fibra. Portanto, na avaliação do custo têxtil no Peru realizada no ano 2000, os analistas observaram que o preço do algodão Pima Peruano convencional de fibra extralonga (US$ 34,56/arroba de 15 kg de fibra) foi cotizado no mercado em 10% abaixo do valor do Pima Americano (US$ 38,15/ arroba de 15 kg de fibra) e bem acima dos algodões das variedades de fibra longa: Tanguis Peruano (US$ 29,67/arroba de fibra) e San Joaquin Valley-SJV- Americano (US$ 27,06/arroba de fibra). Contatou-se também que o algodão Pima foi superior ao preço referencial de algodões de fibra média do índice Cotllook A (US$ 20,87/ arroba de fibra). Nos últimos anos, observou-se uma tendência decrescente nos preços de fibra para todos os tipos de algodão. A diminuição gradual dos preços do algodão se deve principalmente aos baixos preços do algodão importado. O governo dos Estados Unidos, primeiro exportador de algodão no mundo e o principal importador de algodão do Peru, mantém uma política de protecionismo ao produtor americano, que o coloca em notável vantagem frente ao produtor peruano de algodão. Na Tabela 14, estão registrados os baixos preços de algodão em rama de fibra extralonga praticados pelas usinas algodoeiras dos estados


C a p í t u l o I | 172

de Piura e Lambayeque (Peru) entre 2011-2016, com exceção do ano de 2011. Provavelmente, haveria um acréscimo de mais de 30% no preço da matéria-prima se o algodão fosse cultivado de forma agroecológica, pois esta é a meta esperada pelo INIA de agregação de valor em favor dos agricultores peruanos.

Tabela 14. Preço do algodão em rama (kg) das espécies G. barbadense (Pima) e G. hirsutum (Del Cerro). Produto convencional (não orgânico). Ano

Pima

Pima IPA-59

Del Cerro

2011

4,17

5,08

4,89

2012

2,43

2,74

2,45

2013

2,91

3,00

2,67

2014

3,34

3,63

3,32

2015

3,45

3,50

2,82

2016

3,47

3,45

2,82

Obs- Moeda equivalente entre real (Brasil) e sol (Peru). Fonte: Creditex, Peru, em 2017.

O preço que recebe o produtor americano está subsidiado pelo Estado. Para o período de 2002-2004, tem sido fixado um preço mínimo de US$ 23,47/arroba de fibra média, por um produto que no mercado mundial receberia um preço de US$ 13,70-16,95 (ano 2002). Ademais, os cotonicultores americanos contam com programa de transferência tecnológica, apoio de crédito em condições vantajosas, refinanciamento da dívida e subsídios às exportações para poder vender seu produto a preços competitivos no mercado internacional, sempre mais baixo que em seu mercado local, reduzindo os seus custos em 30% e gerando as práticas de “dumping”. A fibra de G. barbadense apresentou um preço superior nos EUA de aproximadamente 80% a mais do que a fibra de G. hirsutum em 2004 (ICAC, 2004). A produção mundial de algodão extralonga foi estimada em 774 mil toneladas (toneladas métricas) em 2004. Isso incluiu 224 mil t de algodão G. hirsutum cultivado no Egito, que tem fibra o suficiente para classificar-se como algodão extralonga. Portanto, os principais produtores de algodão G. barbadense avaliados em 2004 foram os EUA (157.000 t), China (98.000 t), Índia (90.000 t) e Egito (68.000 t). Outros países como a Austrália, Israel e Peru foram estimados no total com uma produção de 24 mil toneladas em 2004 (ICAC, 2004). Um


C a p í t u l o I | 173

levantamento mais recente (2010/2011 a 2012/2013) da produção de algodão G. barbadense por país, encontra-se registrado na Figura 106.

Figura 106. Produção (em mil toneladas) do algodão G. barbadense de fibra extralonga por país.

Existem poucas tecelagens/spinners no mundo que têm a habilidade e delicadeza para lidar com o algodão Sea Island. Uma empresa Suíça tem spinners que o transformam no tecido mais luxuoso (Figura 107). O algodão Sea Island é também conhecido por ser encontrado em locais como a Itália, em Bérgamo, estritamente para pentear e fiar em fios, e depois sua transformação em vestuário. Esse algodão é especial não só porque é raro, mas também devido a sua força duradoura combinada com o seu acabamento sedoso (Figura 108). Estima-se que o algodão Sea Island, que foi domesticado no século XV, representa atualmente apenas 0,0004% da indústria do algodão e toda de fibra do Sea Island (Cultivar Montserat Sea Island Cotton) produzida atualmente em Barbados é exportada para a Itália.


C a p í t u l o I | 174

Figura 107. Tecelagem na suíça que trabalha com o algodão Sea Island.

Figura 108. Fibra sedosa, fio e confecção de roupas com tecido do algodão Sea Island.


C a p í t u l o I | 175

COEFICIENTE TÉCNICO Neste tópico se apresenta o coeficiente técnico para implantação (Tabela 15) de um hectare de algodão nos espaçamentos de 1,10 m com 06 a 08 plantas por metro linear com preparo do solo mecanizado. A produção da lavoura do algodão G. barbadense, nas condições de sequeiro com irrigação suplementar, poderá ser estimada em 2.500 kg de algodão em rama.

Tabela 15. Coeficiente técnico para implantação de 1 ha de algodão orgânico G. barbadense em condições de sequeiro com irrigação suplementar. CUSTO DE PRODUÇÃO – ALG. Irrigação suplementar / I,0 ha ATIVIDADE/INSUMO

UNID

QUANT

ATIVIDADES Preparo do solo

h/t

3,5

Plantio

H/d

2,0

Aplicação de esterco de curral em fundação

H/d

5,0

Desbaste

H/d

6,0

Cultivador

H/d/a

3,0

Retoque a enxada

H/d

20,0

Catação de botões florais

H/d

4,0

Preparo de biofertilizantes

H/d

1,0

Aplicação de biofertilizantes

H/d

1,0

Preparo de inseticidas orgânicos

H/d

4,0

Pulverizações com inseticidas orgânicos

d/h/a

10,0

Irrigação

H/d

10,0

Colheita

Kg

2000,0

Energia (tarifa verde)

Kwa

1200,0

Energia (tarifa normal)

kwa

1000,0

Destruição de soqueiras

H/d

6,0

Sementes deslintadas mecanicamente

Kg

15,0

Adubo de fundação/ Esterco de curral

ton

20,0

INSUMOS


C a p í t u l o I | 176

Biofertilizantes (10 kg de esterco de gado + 250 g de esterco de galinha +250 gramas de açúcar cristalizado ou refinado + completar os 20 litros com água). Colocar o produto numa lata e vedar a boca com plástico por 5 dias. A calda pronta deve ser diluída, misturando 1 litro da calda para cada 10 litros de água. L Inseticidas orgânicos (5 kg de folhas + picagem das folhas + macerar as folhas no liquidificador ou pilão + fermentação por oito dias + coar no pano + adicionar 1litro de detergente neutro. A calda pronta deve ser diluída, misturando 2 litros da calda para cada 20 litros de água.

d/h = dias/homem h/tr = hora trator

L

20,0

20,0


C a p í t u l o I I | 177

Capítulo II

SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO DEL CERRO (Gossypium hirsutum) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO

(Autores) Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Tarcísio Marcos de Souza Gondim


C a p í t u l o I I | 178

INTRODUÇÃO A produção de algodão é uma atividade econômica muito importante para o crescimento e desenvolvimento agrícola, industrial e econômico da região do Nordeste. Como cultivo principal é gerador de matéria-prima para o desenvolvimento das indústrias têxteis e os setores de confecções de artigos do vestuário; é também o cultivo alimentício por sua contribuição muito significativa no fornecimento de óleo para a alimentação humana e, por meio da torta derivada da extração, para a alimentação animal. Na região de Lambayeque no Peru, que se assemelha ao semiárido brasileiro, a produção do algodão cultivar Del Cerro é uma atividade importante em sua economia, devido principalmente à demanda de fibra extralonga que existe no mercado, por apresentar condições agroclimáticas favoráveis para uma produção rentável do algodão agroecológico e competitiva, sobretudo com a participação efetiva da agricultura familiar. É importante frisar que a indústria têxtil brasileira utiliza fibras extralongas (comprimento comercial acima de 36 mm), para a fiação de fios finos a serem usados na confecção de tecidos finos e linhas de costura. Esse mercado, estimado em 5% da demanda nacional de algodão, é suprido atualmente por poucos produtores empresariais do cerrado do Mato Grosso, ou através de importações oriundas dos Estados Unidos, Egito, Sudão e Israel (VILLEGAS; RIVERA, 2011). Com o objetivo de desenvolver cultivares de fibras longas para produção no Brasil, a Embrapa Algodão iniciou seu programa de melhoramento do algodoeiro de fibras extralongas desde o início da década de oitenta já tendo sido obtidas duas cultivares com esse padrão de fibras, incluindo a CNPA Acala 1 em 1986 e a CNPA Giorgi 1 em 1990 (EMBRAPA, 2001). Na década de oitenta surgiu à demanda para a produção de fibras extralongas no cerrado do Mato Grosso, inicialmente pelo Grupo Itamarati e posteriormente por outros grupos empresariais (FREIRE; FARIAS, 1998). Esse programa teve desenvolvimento continuo, sob condições irrigadas nos vales do rio Açu, em Ipanguaçu, no Rio Grande do Norte e no vale do cariri em Barbalha-CE.


C a p í t u l o I I | 179

DESCRIÇÃO BOTÂNICA DA VARIEDADE DEL CERRO A variedade Del Cerro é um tipo de algodão de fibra extralonga correspondente à espécie Gossypium hirsutum e que se encontra classificado dentro da família Malvaceae, a mesma que compreende umas 1.500 espécies. É um polihíbrido obtido por Dean Stahmann no Estado de Novo México (USA) e foi introduzido no Peru por volta de 1957 e posteriormente no Brasil.

Essa variedade Del Cerro (G. hirsutum) conta com um número haploide de cromossomas 13 e é um tetraploide com 52 cromossomas em seu genoma somático. Além disso, tratase de uma planta anual, de baixo porte com altura variando entre 0,6 m a 1,5 m. Seu talo é comumente verde e possui pouco ou nenhum ramo vegetativo. Os ramos frutíferos e as folhas tenras são filamentosos. Já as brácteas são mais compridas do que largas, geralmente divididas em 7 a 12 dentes longos acuminados. Com flores grandes e a corola de cor cremosa, que estendida geralmente é maior que as brácteas. As cápsulas grandes são redondas com 4-5 lóculos (Figura 109) e suas sementes são cobertas por línter (VILLEGAS; RIVERA, 2011). A Tabela 16 apresenta a seguinte classificação botânica do algodoeiro da variedade Del Cerro.

Figura 109. Formato arredondado da maçã do algodoeiro da variedade Del Cerro. Foto: INIA de Lambayeque, Peru.


C a p í t u l o I I | 180

Tabela 16. Classificação taxonômica do algodoeiro da espécie Gossypium hirsutum. Reino

Vegetal

Divisão

Fanerógamas

Subdivisão

Angiospermas

Classe

Dicotiledôneas

Subclasse

Arquiclamídeas

Ordem

Malvales

Família

Malvaceae

Gênero

Gossypium

Espécie

Gossypium hirsutum

Variedade

Del Cerro; Acala del Cerro

Fonte: Villegas; Rivera, 2011

Durante seu ciclo de produção, desde a semeadura até a colheita, o algodão Del Cerro passa pelas seguintes fases de crescimento e desenvolvimento: a) Fase vegetativa: da emergência ao primeiro botão floral; b) Fase reprodutiva: do primeiro botão floral ao início de abertura de capulhos; e c) Fase de maturação: do início de abertura de capulhos a colheita.

O conhecimento e entendimento dos principais processos fisiológicos que ocorrem durante em cada uma dessas fases, são de grande importância para o manejo eficiente do cultivo e a conseguinte obtenção de altas produtividades. Portanto, cada fase do crescimento do algodoeiro se caracteriza por uma atividade fisiológica predominante, que demandam tipos e práticas culturais específicas que os produtores podem utilizar para otimizar o crescimento e produtividade da planta. Alguns processos fisiológicos da planta são necessários compreender, tais como: tem hábito de crescimento indeterminado; tratase de uma planta tropical; não tolera baixa temperatura; a planta se adapta ao fotoperíodo de dias compridos e a condições desérticas: capacidade xerofítica; há uma forte interação entre o genótipo e o meio ambiente; a floração se inicia na parte basal; o período de floração pode ser continuo se as condições do ambiente são favoráveis; ao iniciar o desenvolvimento dos frutos, o crescimento vegetativo é retido; quando os frutos são formados e amadurecidos, a planta retoma o modelo de crescimento vegetativo (VILLEGAS; RIVERA, 2011).


C a p í t u l o I I | 181

FASE VEGETATIVA O algodoeiro possui sua propagação via sementes, as quais estão expostas a diversas doenças, causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides, presentes tanto nas próprias sementes quanto no solo e/ou em restos culturais (MENTEN et al., 2005). Durante a etapa da fase vegetativa, ocorrem os processos de germinação e crescimento inicial ou fase de plântula que tem duração de 12 a 20 dias.

Essas sementes são estruturas biológicas protegidas pelo tegumento, que é responsável por várias funções, dentre as quais, regula a germinação pela absorção de água na sua superfície, além disso, envolve o tecido de reserva cotiledonar e o eixo embrionário, este com seu crescimento temporariamente estável (KIJEL; GALILI, 1995). Quando umedecida em quantidade adequada, a semente inicia o processo de reativação ou crescimento do eixo embrionário, demonstrando a sua capacidade de produzir uma plântula normal, caracterizando, assim, o processo de germinação (FERRAZ; CALVI, 2010).

A absorção de água ou embebição dá início a diversos processos físicos, fisiológicos e bioquímicos, os quais são prejudicados na presença de fatores limitantes, dificultando assim a protrusão da radícula (MARCOS FILHO, 2005).

Entre os variados fatores limitantes que afetam o processo de germinação das sementes, destaca-se o estresse hídrico, pois a água é fundamental para o início desse processo, que faz parte direta ou indiretamente do desenvolvimento das outras fases da planta (STEFANELLO et al., 2006). A deficiência hídrica afeta a porcentagem, velocidade e a uniformidade de germinação (MARCOS FILHO, 2005).

FASE REPRODUTIVA Na fase reprodutiva do algodoeiro Del Cerro é possível distinguir 4 fases: a) Formação de estruturas, b) Formação de botões, c) Floração e d) Formação de maçãs.

A fase formação de estrutura se inicia aproximadamente aos 30- 35 dias e é concluída aos 110-125 dias. Em tal fase, são cumpridos os processos de formação de botões, floração, frutificação e é bastante crítica para o rendimento. No início desta fase no algodoeiro Del


C a p í t u l o I I | 182

Cerro ocorre o botão (30 – 40 dias), a planta produz os primeiros ramos vegetativos ou monopodiais, e os frutíferos ou simpodial, e se forma o esqueleto da planta com suas estruturas bem diferenciadas (Figura 110). Para desenvolver estas estruturas, as plantas necessitam crescer rapidamente e ter uma alta eficiência fotossintética.

Figura 110. Na fase formação de estrutura, surgem os botões florais entre os 30 a 40 dias no algodoeiro Del Cerro. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

Durante a fase da floração, observa-se que a flor abre entre os 20 a 25 dias depois da diferenciação do botão floral. Normalmente passam 2 a 3 dias na abertura de duas flores situadas sobre dois ramos frutíferos alternos e sucessivos, e de 6 a 8 dias entre duas flores sucessivas de um mesmo ramo frutífero. A floração é plena aos 55 dias depois da semeadura e pode durar até os 125 dias. O tempo transcorrido entre a abertura da flor e sua fecundação dura 24 a 30 horas. Nessa fase a planta exige que o solo esteja suficientemente úmido de maneira a atender sua alta transpiração, o qual é muito importante para a abertura de flores (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

A fecundação se realiza no transcurso das próximas 30 horas que seguem à abertura da flor, à qual é o momento que as pétalas ainda têm a sua coloração creme (Figura 111). A


C a p í t u l o I I | 183

medida que os tubos polínicos avançam dentro do estigma, as pétalas se tornam vermelhas e 2 a 3 dias depois se murcham e caem. Durante a polinização da flor, as chuvas excessivas podem causar problemas por diminuir a fecundação entre 20 a 25%. Uma vez fecundado a flor, o fruto jovem começa a crescer rapidamente e alcança em 24 a 28 dias seu tamanho definitivo, mas para adquirir sua completa maturação e sua normal abertura tarda outros 25 a 30 dias. Portanto, o período transcorrido entre a fecundação e abertura dos capulhos dura entre 50 a 56 dias, segundo o ambiente e a posição do capulho na planta (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

Figura 111. Flor de cor creme do algodoeiro da variedade Del Cerro. Foto: INIA de Lambayeque, Peru.

FASE DE MATURAÇÃO Algumas variedades de algodão Del Cerro chegam a produzir geralmente até 120 capulhos em todo seu ciclo vegetativo, chegando a permanecer até a colheita apenas 30 a 45 frutos. Apesar de que as propriedades do capulho e da fibra sejam controladas geneticamente, as condições de umidade durante o período de floração podem modificar as características das variedades, mesmo utilizando um apropriado manejo de cultivo.


C a p í t u l o I I | 184

Ao mesmo tempo, a fibra se forma a partir de células individuais da epiderme da semente, observando-se a primeira diferenciação das células 16 horas antes da abertura da flor. Seu desenvolvimento dentro da maçã ocorre em duas fases: uma de elongação ou crescimento e outra de engrossamento ou maturação. Durante o período de elongação das fibras crescem longitudinalmente como tubos delgados formando a cutícula e a parede primária, e alcança seu tamanho máximo entre 18 e 20 dias depois da fecundação da flor nas variedades Gossypium hirsutum e 39 dias nas variedades da espécie Gossypium barbadense. Ao terminar a fase de elongação se inicia a etapa de engrossamento ou maturação, que compreende a formação da parede secundária da fibra, considerada a parte mais importante da fibra seca. A deposição de camadas de celulose termina 4 ou 5 dias antes da abertura do capulho (VILLEGAS; RIVERA, 2011; Figuras 112 e 113).

Figura 112. Capulho de algodão da variedade Del Cerro. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.


C a p í t u l o I I | 185

Figura 113. Fibra de algodão da variedade Del Cerro. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

MELHORAMENTO O Centro Nacional de Pesquisa do Algodão da Embrapa em colaboração com a Companhia Nacional de Estamparia – CIANE, iniciou um trabalho de melhoramento do algodoeiro Acala del Cerro, a partir de sementes introduzidas do Peru, pela Algodoeira São Miguel S. A.

Em 1981 foram selecionadas 380 plantas em campo de produção de sementes da Acala del Cerro, no perímetro irrigado Engenheiro Arcoverde, Condado, PB, pertencente ao DNOCS. Após as análises de fibra foram selecionadas 157 progênies. Destas as 36 denominadas de CIANE/CNPA 81/01 a 81/35 foram avaliadas em Taquaritinga do Norte, PE em 1982. Naquele ano, procedeu-se a escolha de 3 plantas/progênies, que também foram avaliadas quanto as características de fibra, elegendo-se 23 progênies. Estas, foram estudadas em 1983, escolhendo-se apenas 5 plantas/progênies para autofecundação, colheita individual e caracterização tecnológica. Em 1984, as 23 progênies foram reavaliadas, através de sementes autofecundadas (S1) e de polinização livre. Com resultado final foram eleitas 10 progênies que foram reunidas num composto denominado de CNE/CNPA-1ADC, o qual a partir de 1985 passou pelas etapas de multiplicação de sementes, caracterização e testes de campo em Monte Alegre, PA, e em condições


C a p í t u l o I I | 186

irrigadas no Nordeste do Brasil. Em fins de 1986, este material foi lançado como nova variedade sob a denominação de CNPA Acala 1, estando sob a responsabilidade o seu melhoramento e conservação (EMBRAPA, 1987). Na Tabela 17, encontram-se as suas principais características agronômicas e tecnológicas de fibra.

Tabela 17. Principais características agronômicas e tecnológicas de fibra referentes a variedade CNPA Acala 1. Caraterização agronômica e tecnológicas de fibra

Valores

Aparecimento das primeiras flores (dias)

45-50

Aparecimento dos primeiros capulhos (dias)

95-100

Ciclo (da emergência a última colheita) (dias)

140

Número de nós para inserção do 1º ramo frutífero

05-07

Número de ramos vegetativos

01-02

Altura média da Planta (cm)

103

Precocidade = 1ª colheita x 100/ colheita total

70

Número de dentes nas brácteas

10-12

Número de maçãs por planta

10

Número de lojas/ fruto

4-5

Massa média do capulho (g)

7,1

Massa de 100 sementes com línter (g)

12,5

Comprimento de fibras (A.L. 2,5%) (mm)

34,1

Uniformidade de fibras (%)

52,2

Finura das fibras (I. M.)

3,4

Resistência das fibras (I. P.) (Lb/mg)

9,5

Fonte: Embrapa (1996).

Por outro lado, a cultivar BRS Acala foi obtida através do método de seleção genealógica aplicada em população de Acala Del Cerro mantida e melhorada pela Embrapa Algodão. Inicialmente a planta CNPA 96 - 117 foi selecionada dentro da progênie CNPA GIORGI 92/6 – 94/1 – 96/8, do Ensaio de Progênies de Fibras longas conduzido sob condições de irrigação em pivô central em Touros – RN e adaptadas às condições de produção brasileiras. O resultado da pesquisa foi publicado na revista Crop Science com o título "Seleção para aumento do comprimento da fibra de algodão em progênies de Acala e


C a p í t u l o I I | 187

tipos não Acala". Durante o estudo foi obtida uma alta porcentagem de progênies (plantas filhas) de comprimento superior a 32 mm (FREIRE et al., 2003). Vale destacar também que o ensaio para selecionar as linhagens de fibra longa teve seu reinício em 2008, com o cruzamento das cultivares Guazuncho 2, escolhida pela capacidade de produção, e Acala SJ4, pelo comprimento longo da fibra. A partir daquele cruzamento foram selecionadas as plantas com maior comprimento de fibra. Cerca de 600 plantas foram avaliadas no Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa, sempre selecionando aquelas com maior comprimento de fibra e eliminando as outras. Ao final do experimento, apenas 35 linhagens foram eleitas, sendo grande parte de comprimento entre 32 e 34,1 mm (FREIRE et al., 2003).

CARACTERÍSTICAS

MORFOLÓGICAS,

AGRONÔMICAS

E

TECNOLÓGICAS DE FIBRAS

As plantas da cultivar BRS Acala apresentam porte médio, com altura de 116 cm, iniciam o florescimento nas condições do Nordeste aos 43 dias da emergência e o aparecimento do primeiro capulho ocorre aos 96 dias da emergência. Apresentam capulhos muito grandes, com peso médio de 7,0 g e baixo rendimento de fibras com 36% em algodoeiras de rolo e 33% em algodoeiras de serras. As fibras são extralongas com comprimento comercial 36-38mm, muito resistentes e finas perfeitamente adequadas à elaboração de fios finos e linhas de costura.

A cultivar foi avaliada sob condições irrigadas e de sequeiro nas safras 2000 a 2002. Sob condições irrigadas apresentou produtividade média de 4.900 kg de algodão em caroço/ha e de 1.760 kg/ha de fibras em ensaios conduzidos nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Sob condições de sequeiro nos Estados do Ceará e Bahia apresentou produtividade de 2.719 kg de algodão em rama/ha e de 979 kg de fibra/ha. Sob condições de agricultura familiar do Mato Grosso, no ano de 2002 apresentou produtividade de 1.837 kg/ha de algodão em rama e de 661 kg de fibra/ha. Em relação a Acala SM3, única cultivar de fibra extralonga disponível no Brasil, a BRS Acala apresentou produtividade, sob condições irrigadas, 3,7% inferior, porém sob condições de sequeiro no Mato Grosso a sua produtividade foi 15,1% superior. Em relação a cultivar de fibras médias CNPA 8H, a


C a p í t u l o I I | 188

produtividade de BRS Acala foi 11,8% inferior, porém apresentou fibras de qualidade superior, com relação a todas as características tecnológicas, fazendo jus a uma valorização 30% acima do valor de mercado dessa fibra de padrão médio (FREIRE et al, 2007).

A cultivar BRS Acala apresenta susceptibilidade as viroses (doença azul, vermelhão e mosaico comum), à ramulose e a bacteriose, devendo ser cultivada sob condições irrigadas no Nordeste, onde o surgimento dessas doenças é minimizado, ou sob controle rigoroso de pragas sugadoras (pulgões, mosca branca) e de doenças, nas condições do Mato Grosso.

A Cultivar BRS Acala apresenta índice de fiabilidade, resistência e comprimento de fibras superior aos valores médios da Acala SM3, além de fibras mais finas, o que permitirá a obtenção de fios e tecidos de melhor qualidade (Tabela 18; FREIRE et al., 2003).

Tabela 18. Análise comparativa da cultivar BRS Acala com a Acala SM3 e CNPA 8H. Característica BRS ACALA ACALA SM3 CNPA 8H Rendimento sequeiro NE (kg/ha)1 2.719 3.210 Rendimento sequeiro MT (kg/ha)2 1.837 1.620 Rendimento irrigação (kg/ha)3 4.900 5.182 Altura média (cm) 116 115 100 Aparecimento 1ª flor (dias) 43 43 45 Aparecimento 1º. capulho (dias) 96 94 110 Peso médio de capulho (g) 7,0 6,2 6,5 Percentagem média de fibra (%) 36,0 37,8 38,6 Comprimento S.L. 2,5% (mm) 33,5 32,7 28,0 Comprimento comercial (x 1,18; mm) 39,5 38,6 39,0 Uniformidade de comprimento (%) 87,7 85,7 86,0 Resistência HVI (gf/tex) 35,8 33,9 26,5 Finura (índice micronaire) 4,2 3,8 4,5 Elongação (%) 9,6 9,2 7,0 Reflectancia Rd (%) 77,0 75,5 61,0 Grau de amarelecimento (+ b) 2.483 2.418 1.968 Índice de fibras curtas (SFI) 3,6 3,6 5,0 1 – Medias de oito ensaios conduzidos nos Estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará; 2 – Medias de quatro ensaios conduzidos sob condições de agricultura familiar; 3 – Medias de três ensaios conduzidos nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará.


C a p í t u l o I I | 189

FENOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO DO ALGODOEIRO DEL CERRO O crescimento da planta de algodão se divide em estádios ou fases (Tabela 19). A duração de cada um dele pode variar e é influenciado pelo sistema de cultivo (sequeiro ou irrigado) e por fatores ambientais. Para alcançar os máximos rendimentos de cada variedade com baixo custo, é necessário que os trabalhos de manejo de cultivo sejam aplicados e realizados de maneira oportuna e eficiente, de acordo com as etapas fenológicas de crescimento e desenvolvimento do algodoeiro (Figura 114).

Tabela 19. Estádio fenológico e características do algodoeiro, variedade Del Cerro. Lambayeque, Peru, 2011. ESTÁDIO FENOLÓGICO Emergência Aparecimento das primeiras folhas verdadeiras Aparecimento do primeiro botão floral Início da floração Início da abertura do capulho CARACTERÍSTICAS DA PLANTA Tipo de planta Hábito de crescimento Cor da Planta Forma da folha Número de ramos vegetativos Número de ramos frutíferos Número de nós Posição nodal Comprimento de internódios (cm) Altura da planta (cm) Número de sementes por capulho Massa de 100 sementes (g) Porcentagem de sementes (%) Número de cápsulas por planta Percentagem de fibra (%) Comprimento da fibra (mm) Rendimento de algodão e rama – Experimental (kg/ha) Rendimento de algodão e rama – Comercial (kg/ha) Fonte. INIA, Peru.

N° de dias 7 a 9 (média 8) 12 a 14 (média 13) 31-33 (média 32) 50-52 (média 51) 111-113 (média 112) Cônica Determinado Verde Palmada 1,2 13,5 18,6 4,0 5,5 130 -140 36-45 12,2 63,28 35-50 36-37 34-38 6.440 3.680 - 4.600


C a p í t u l o I I | 190

Figura 114. Campo de algodoeiro Del Cero em fase inicial de floração. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

SISTEMA ECOLÓGICO DE PRODUÇÃO O sistema de produção de base ecológica é fundamentando em uma agricultura sob uma perspectiva ambiental, abrangendo modos de produção que agem de maneira limpa e aliam a maximização das atividades agrícolas aos componentes socioculturais, econômicos e tecnológicos. Ou seja, permite integrar o conhecimento científico de diversas áreas que agem sob perspectiva ecológica. Para isso, alguns fatores servem de alicerce para o sistema, como: a) Substituição de fertilizantes artificiais por adubos naturais, impedindo que haja contaminação do solo e do lençol freático; b) Utilização apenas de bioinseticidas no controle de pragas e c) Não uso de transgênicos (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

Por outro lado, o estabelecimento adequado do algodoeiro é essencial já que tem influência em seu desenvolvimento e interfere no manejo do cultivo. Consequentemente, à época, a profundidade, o espaçamento e a densidade de semeadura devem ser planejados de forma que o algodoeiro possa desenvolver ao máximo seu potencial produtivo. A


C a p í t u l o I I | 191

qualidade das sementes utilizadas também é outro fator chave do êxito na etapa de semeadura.

1.Preparo do solo O preparo adequado do solo é de grande importância para o desenvolvimento do algodoeiro, por proporcionar melhor crescimento e distribuição do seu sistema radicular. Também permite estar em condições de absorver os nutrientes que se encontram no solo pelo menos a 0,80 cm de profundidade. Portanto, recomenda-se passar o subsolador em solo seco (antes da irrigação) a 40 ou 60 cm de profundidade para romper as camadas duras do solo. Deve-se repetir o preparo com subsolador a cada 3 ou 4 anos, sobretudo em solos argilosos, limosos e francos.

Quando existe camada compacta no solo aos 30 cm de profundidade, o sistema radicular da planta iniciará um crescimento lateral, cujo cultivo irá exigir de irrigação por infiltração com mais frequência. Mesmo assim, as plantas ficarão pequenas e também ocorrerá maior queda de botões florais.

Uma vez realizada a irrigação por inundação ou aspersão (a umidade do solo deve estar entre 40 a 50%), efetua-se o serviço de aração com aivecas para eliminar os restos de plantas daninhas, restolhos da colheita anterior e para expor diversos estádios das pragas à ação dos predadores e do sol. Para determinar empiricamente se o solo atingiu a umidade ideal de 40% ou 50%, é necessário coletar uma porção de terra e apertá-la fortemente com a mão até formar uma pasta. Imediatamente, deixa a pasta cair a uma altura de aproximadamente 1,5 m sobre uma superfície plana e dura. Se ocasionar seu destorroamento, significa que o solo está em ótimas condições para arar (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

A aração em solo demasiado úmido pode destruir sua estrutura e modificar o relevo do terreno. Ademais, há maior desgaste do trator, pois o disco do arado irá formar uma espécie de grandes torrões endurecidos e compactos quando ficam expostos ao sol. Nessas circunstâncias, à operação seguinte de gradagem será difícil, pois terá como consequentemente lógica um preparo deficiente que prejudicará a semeadura do cultivo.


C a p í t u l o I I | 192

A profundidade normal da aração para semear algodão irá depender logicamente da profundidade efetiva ou camada arável solo, que deve ser entre 25 a 35 cm. Em solos de textura pesada a média, recomenda-se utilizar discos de maior diâmetro (28” a 24”) e nos de textura leve, discos mais pequenos (22” a 24”). De acordo com a disponibilidade é preferível o uso de arados de aiveca.

O arado de disco surgiu como alternativa ao de aiveca e teve como ponto de partida a grade de disco. É o implemento de preparo de solo mais usado no Brasil, devido a sua facilidade de confecção e melhor adaptação às variadas condições de solos. Foi construído para ser usado em solos secos, duros, pegajosos, com raízes e pedras (Figura 115). Apesar do movimento giratório dos discos, que corta o solo e a vegetação, esse tipo de arado requer peso para penetrar no solo; o que não acontece no de aiveca, cuja penetração é provocada pela conformação de suas partes ativas. Além disso, ele não realiza o tombamento da leiva e a incorporação dos restos culturais com a mesma qualidade proporcionada pelo arado de aiveca.

Figura 115. Preparo do solo em curva de nível com arado de disco. Foto: Adalberto Cordeiro Júnior.


C a p í t u l o I I | 193

A gradagem do solo é uma prática de preparo do solo para o plantio realizado normalmente após as operações de aração. Por realizar o revolvimento e a inversão de camadas, o arado acaba por deixar o terreno irregular e desnivelado. Através da operação de gradagem com grade aradora ou com grade de arraste, os grandes torrões deixados pela aração acabam sendo rompidos, deixando o solo plano. A operação de formação dos leirões ou camalhões estreitos, como área de plantio manual de sementes de algodão, é realizada com o sulcador ou enleirador de tração mecânica (trator; Figura 116) ou de tração animal, e o espaço entre os dois, como área de área de captação de água de chuva ou de irrigação. Antes da abertura do sulcamento, terreno é submetido a aração e gradagem.

Figura 116. Enleirador de tração mecânica. Foto 2: Vicente de Paula Queiroga.

2. Época de plantio Recomenda-se plantar o algodão Acala del Cerro em condições de sequeiro da região Nordeste no início das chuvas (fevereiro e março) com suplementação de irrigação por gotejamento. Também em áreas irrigadas após o período chuvoso. O agricultor deve usar a semente certificada e nunca semear o caroço de algodão distribuído diretamente pelas usinas algodoeiras da região. Para as variedades de algodão Del Cerro e Acala Del Cerro, recomenda-se utilizar 30 kg de sementes/ha em semeadura mecanizada e 20 kg/ha em semeadura manual.


C a p í t u l o I I | 194

3. Semeadura e sua profundidade A semeadura do algodão pode ser realizada por três métodos: semeadora mecânica atrelada por um trator, com tração animal e manualmente. Os dois últimos sistemas podem ser ideais para os pequenos produtores de escassos recursos financeiros e para áreas de até 2 ha (Figura 117).

Figura 117. Abertura de sulco irrigação a tração animal e semeadura manual de sementes de algodão da cultivar Del Cerro, auxiliado por uma pá para abrir as covas (espaçamento já demarcado a cada 30 ou 40 cm na corda ou cano de PVC) e, ao mesmo tempo, depositar as sementes ao lado do sulco de irrigação. Fotos: Marité Nieves Rivera, Lambayeque, Peru.


C a p í t u l o I I | 195

A profundidade de semeadura varia com a textura do solo, melhor preparo do solo e maior teor de umidade de contato da semente no solo. Em solos argilosos ou úmidos se deve semear a uma profundidade de 3 cm; em solos arenosos a profundidade de semeadura é de 5 cm. De forma geral, quanto mais úmido for o solo menor deverá ser a profundidade de semeadura. Uma vez plantada a semente, e em presença de umidade, se inicia o processo de germinação. O primeiro órgão que se emerge é a radícula ou raiz embrionária, e dará lugar à raiz principal, a qual permite à planta jovem fixa-se no solo e absorver água. A fase de plântula tem a duração de 12 a 20 dias, e qualquer intempérie do clima poderá comprometer o desenvolvimento posterior. No caso do solo está compactado, salino, ou com excessiva umidade, o sistema radicular não se desenvolverá, a planta ficará frágil e a maioria das raízes irá se concentrar a pouca profundidade. Isso provocará o seu acamamento, menor tamanho final e naturalmente, perdas na produção individual. Deve-se evitar também a competição de ervas daninhas, à qual é uma época crítica compreendida entre os 20 a 60 dias depois da semeadura. Ao mesmo tempo, deve-se evitar a concorrência entre as plantas de algodão, sendo assim necessário realizar o desbaste na época oportuna entre os 25 a 30 dias de idade da lavoura (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

4.Espaçamento e densidade de plantio A Embrapa (1987) recomenda usar na semeadura manual do algodoeiro herbáceo, cultivar CNPA Acala 1, o espaçamento de um metro entre fileiras com 30 cm entre covas, deixando-se após o desbaste duas plantas/cova (66.000 plantas/ha; Figura 118). Enquanto na semeadura mecanizada, regular a semeadora para deixar cair 20 a 30 sementes deslintadas mecanicamente por metro linear no espaçamento de um metro entre sulcos, deixando-se sete a dez plantas por metro linear após desbaste (70.000 a 100.000 plantas/ha). Portanto, quando se muda apenas o sistema de semeadura, em cova ou em sulco, obtém-se uma diferença de 4.000 a 34.000 plantas/ha.


C a p í t u l o I I | 196

Figura 118. Campo de algodoeiro de fibra extralonga, cultivar Acala del Cerro, instalado no Vale do Assu, RN e semeado no espaçamento de 1 metro entre sulcos com 10 plantas por metro linear. Foto: Eleusio Curvelo Freire

A resposta do algodoeiro em relação com a densidade das plantas é complexa e compromete aspectos ecofisiológicos. Em termos práticos se tem estabelecido que a densidade ótima é aquela quando a época de máxima floração, os ramos das plantas cheguem a cobrir toda a superfície entre fileiras, sem deixar espaços vazios e sem que apresente entrelaçamento entre eles. As variações na densidade de semeadura afetam o crescimento e o desenvolvimento do algodoeiro. A altura das plantas, o diâmetro do caule, a altura de inserção do primeiro ramo frutífero, o número de ramos vegetativos e reprodutivos, são algumas das características morfológicas do algodoeiro significativamente afetadas pela densidade de semeadura. Assim mesmo, tem sido determinado que os componentes de produção, como o número de maçãs, peso do capulho e peso de 100 sementes, tendem a reduzir seus valores com o aumento da densidade de plantio.


C a p í t u l o I I | 197

5. Desbaste Consiste em eliminar certo número de plantas até alcançar a população ideal ou prefixada por unidade de área. Normalmente com uma boa preparação do terreno, e semeadura de precisão com sementes deslintadas mecanicamente, essa prática não seria efetuada. Entretanto, a maior parte dos pequenos agricultores é acostumado em semear além da quantidade requerida (depositando acima de 6 sementes por cova) e não executa a operação de desbaste (Figura 119).

Figura 119. Excessiva quantidade de semente usada no plantio. Recomenda-se efetuar manualmente a operação de desbaste para 2 a 3 plantas por cova. Foto: INIA, Peru.

Geralmente, o desbaste é feito manualmente e deve deixar as plantas sadias e vigorosas. Além disso, tal operação demanda grande quantidade de mão-de-obra, principalmente quando não são utilizadas sementes certificadas e deslintadas mecanicamente (ainda com línter). É importante realizar essa operação o mais cedo possível, quando as plântulas tenham de 2 a 3 folhas verdadeiras (20 a 30 dias desde a germinação), 18 cm de altura e uma vez que não exista maior risco de mortandade de plantas por ataque de pragas e/ou enfermidades (VILLEGAS; RIVERA, 2011).


C a p í t u l o I I | 198

6. Irrigação Pode ser realizada pelos métodos de superfície (volume total de 8.500 m 3/ha), gotejamento (5.00 m3/ha) ou aspersão em função da topografia do terreno. O manejo de água deve ser feito de acordo com a orientação técnica, considerando-se as características físico-hídricas do solo e a demanda da cultura. Não existindo informações disponíveis sobre as características acima, sugere-se irrigar as plantas entre 9 h, e 9h:30m, apresentarem sintomas de murcha das folhas superiores com coloração verde azulada e mudança de coloração dos brotos terminais. Deve-se aplicar uma lâmina de água que seja suficiente para umedecer o perfil do solo explorado pelo sistema radicular do algodoeiro (EMBRAPA, 1996). A irrigação por infiltração deve ser aplicada com maior uniformidade possível com o objetivo de alcançar uma camada úmida do solo de 50 a 70 cm de profundidade, sendo a exigência no florescimento de 10 mm/dia de água. Deve levar em conta a variabilidade de textura do terreno para diferenciar a duração da irrigação por inundação (VILLEGAS; RIVERA, 2011). O manejo inadequado das irrigações é um dos fatores que mais tem limitado o rendimento do algodoeiro, cujo déficit de umidade no solo (MILLAR, 1976; GUINN et al., 1981) ou o excesso (LEVIN; SHMUELI, 1964; BRUCE; ROMKENS, 1965) pode causar redução significativa no rendimento da cultura.

7. Controle de plantas daninhas No caso da utilização de métodos mecânicos envolvendo enxada e/ou cultivador (ou microcultivador tipo tobata), deve-se iniciar as limpas 5 dias após a emergência das plantas até o início da floração. Em geral são necessários de 3 a 4 cultivos. Deve-se ter o cuidado para não atingir as raízes das plantas, para tal; a profundidade de cultivo não deve ultrapassar 4 cm.

8. Adubação É a aplicação ao solo de nutrientes de origem orgânico, com alto teor de matéria orgânica, visando melhorar a estrutura e textura do solo. Os adubos orgânicos mais conhecidos são: esterco de curral, compostagem e adubo verde. Recomenda-se adubar o terreno antes da semeadura, distribuindo de 10 a 20 toneladas/ha de adubo e incorporá-lo com a aradura.


C a p í t u l o I I | 199

9. Capação A operação de desponte consiste em eliminar a gema terminal da haste principal e dos principais ramos vegetativos que têm um desenvolvimento pronunciado e exagerado. Ao executar tal prática evita a continuação do desenvolvimento vegetativo da planta, quando se observa que sua altura sobrepassa os limites habituais, alargando-se o talo ou ramos principais em detrimento da formação ou maturação dos órgãos frutíferos. O momento de efetuar o desponte tem grande importância para o êxito da operação em época em que as gemas terminais ainda estão tenras e quebradiças, coincidindo com o atingimento de 50% da floração da população de plantas (apenas 44% dos capulhos são formados na planta); a produção se localiza também nos ramos vegetativos da base da planta, os quais atuam como verdadeiros talos principais. Essa operação manual de capação irá resultar no incremento de órgãos frutíferos e irá favorecer os rendimentos, principalmente nas últimas colheitas (segunda ou terceira etapa de colheita) do algodão em rama (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

10.Controle de pragas Recomenda-se seguir o mesmo procedimento de controle de pragas citado no primeiro capítulo deste livro para lavoura de algodão orgânico ou agroecológica.

11. Colheita A colheita do algodão consiste em separar o capulho já formado e maduro das brácteas secas das cápsulas abertas. Iniciar a operação de colheita quando a lavoura esteja com mais da metade da sua carga aberta e deverá ser realizada com todo cuidado para não prejudicar a qualidade do algodão. Recomenda-se colher a partir das 9:00 h e em dia ensolarado, e sem a presença do orvalho. A colheita manual é o método mais apropriado para pequenas áreas da agricultura familiar. Um operário tem a capacidade de colher até 45 kg de algodão em rama por dia. Apesar do baixo rendimento e o inconveniente de terceirizar a mão-de-obra, a colheita


C a p í t u l o I I | 200

manual permite obter algodão em rama mais limpo, desde que se efetue uma boa supervisão de campo (Figura 120).

Figura 120. Campo de algodão Del Cerro sendo colhido manualmente. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

A colheita manual deve ser iniciada quando 70 a 80% dos capulhos estiverem abertos (Figura 121), enquanto a segunda colheita com 30% e 20% para o restante. Se possível separar o algodão sujo do limpo e evitar colher carimã ou capulho mal aberto, plantas daninhas, frutos verdes e atacados, terras, resíduos vegetais, etc. O algodão colhido com umidade superior a 12% deve ser de imediato secado ao sol. Não deve deixar seu produto exposto por muito tempo à insolação, visto que é prejudicial (mínimo com 7% de umidade), pois começam os desgastes a partir da cera que cobre a cutícula (PASSOS, 1977). A medida que o algodão vai sendo colhido, o mesmo deverá ser estendido sobre um lençol de algodão para limpá-lo, extraindo manualmente todos os materiais estranhos. Recomenda-se não utilizar sacos ou cordões de plástico, para evitar a contaminação da fibra e sua rejeição pela indústria têxtil.


C a p í t u l o I I | 201

Figura 121. Campo de algodão Del Cerro em ponto de colheita. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

No peru, recomenda-se utilizar as novas variedades de Del Cerro de crescimento determinado e precoce, o que vão favorecer a colheita mecanizada (Figuras 122 e 123), seja pelo seu alto rendimento ou por seu menor custo em comparação a onerosa colheita


C a p í t u l o I I | 202

manual. Além disso, a mão-de-obra para colheita manual é difícil para algumas regiões do Nordeste. Por outro lado, a capacidade operacional de uma colheitadeira mecanizada de 4 linhas no Peru é estimada em 11.500 kg de algodão em rama por dia.

Figura 122. Campo do algodoeiro orgânico da cultivar Del Cerro em ponto natural favorável a colheita mecanizada, sem uso de desfolhante. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

Figura 123. Colheitadeira automotriz de algodão de uma linha com fuso ou “spindles” para atender pequena lavoura da agricultura familiar. Fotos: Valdinei Sofiatti e Odilon Reny Ribeiro Ferreira Silva.


C a p í t u l o I I | 203

Para atender os agricultores da Índia, a empresa John Deere desenvolveu uma colheitadeira automotriz de algodão de uma linha com capacidade de colher 4.800 a 6.000 kg por dia (Figura 124), dependendo o seu desempenho do cultivo adensado de 45-60 cm ou do espaçamento amplo de 90-120 cm e da produtividade da lavoura.

Figura 124. Colhedora automotriz de algodão de uma linha com fuso ou “Picker”, do fabricante John Deere. Fotos: Arquivos da John Deere. Disponível em: (https://www.youtube.com/watch?v=Ri9Dhz6Dryw&feature=youtu.be)

12. Beneficiamento Recomenda-se o uso de mini-descaroçadores e prensas manuais ou hidráulicas, instaladas especialmente nas comunidades ligadas às cooperativas e associações de produtores familiares. Procurar beneficiar o produto orgânico em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente quando for usá-las novamente, pois são necessárias apenas algumas sementes atípicas para contaminar todo um lote. Por trazer acoplado um pequeno limpador sobre o mini-descaroçador de 50 serras (Figura 125), é necessário que o agricultor colha o algodão limpo, evitando-se restos de planta (folhas, brácteas, fragmentos de caule e ramos, plantas daninhas e suas partes, capulhos doentes ou não abertos totalmente, terra, etc), visando obter após beneficiamento uma fibra de alta qualidade e de maior aceitação pelo mercado.


C a p í t u l o I I | 204

Figura 125. Miniusina de algodão de 50 serras para comunidades de produtores familiares. Campina Grande-PB. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.

O descaroçador é composto basicamente dos seguintes componentes: dispositivo de alimentação (composto de uma moega e dois cilindros que regulam a quantidade de entrada de algodão no dispositivo de limpeza, constituído de uma grelha e sete cilindros de diferentes diâmetros dotados de dentes, serrilhas ou escovas, que trabalham com diferentes velocidades periféricas, com a finalidade de peneirar e retirar as impurezas contidas no algodão a ser descaroçado), uma estrutura externa feita em chapa para suportar um eixo dotado de 50 serras, com diâmetro 11 ¾ " (298,45 mm) que atua entre costelas para realizar a separação da fibra da semente; cilindro com escovas para retirar a fibra das serras e condensador para aglutinar a fibra em forma de manta; motor elétrico de 7,5 c.v. trifásico de baixa rotação (1750 rpm) para movimentar toda a máquina; polias em “v”; correias de acionamento; chaves interruptoras e alavanca de comando (SILVA et al., 2009). A prensa hidráulica opera como fluxo da produção do descaroçador de 50 serras, cuja pluma é conduzida de forma manual para a caixa de armazenamento da prensa, que deve possuir tela de pano de algodão para o envolvimento do fardo (Figura 126).


C a p í t u l o I I | 205

Figura 126. Prensa hidráulica da miniusina de algodão de 50 serras para comunidades de produtores familiares. Campina Grande-PB. Quando a caixa estiver cheia, aciona-se o dispositivo de prensagem para compactar a pluma. Essa operação de abastecimento e de prensagem deve se repetir de cinco a oito vezes, até que se obtenha um fardo com altura lateral de aproximadamente 0,60 m e peso entre 150 kg e 180 kg. Em seguida abrem-se as duas portas - a dianteira e a traseira - para se proceder a amarração do fardo com seis fios de arame, separados especialmente para esse fim. A retirada do fardo é feita por meio de duas correntes acionadas pelo sistema hidráulico da prensa, logo após esse fardo é pesado e identificado (SILVA et al., 2009). Apesar do baixo rendimento, o algodão em rama da variedade Del Cerro de fibra extralonga pode ser beneficiado no descaroçador de rolo (Figura 127), quando se trata de pequena produção da agricultura familiar, mesmo assim não impede que ocorra uma pequena perda de fibra por se tratar de uma semente com línter. Ao contrário, o processo de beneficiamento com rolo apenas é eficiente com o algodão mocó ou barbadense (sementes sem línter), por evita a quebra de um milímetro de fibra.


C a p í t u l o I I | 206

Figura 127. Beneficiamento do algodão herbáceo da cultivar Del Cerro é mais eficiente no descaroçador de serra do que na máquina de rolo. Foto: Felipe Macêdo Guimarães.

FENÔMENO DE CAVITOMIA Uma vez colhido o algodão, especial atenção deve ser dispensada à secagem natural, ao beneficiamento e ao armazenamento, pois esses processos podem afetar a qualidade da semente e, principalmente, da fibra se não forem bem conduzidos (QUEIROGA et al., 1994). A umidade do algodão em caroço não deve ultrapassar de 11% no momento da colheita (colher apenas os capulhos bem abertos). Quando o algodão em caroço apresenta umidade inadequada deve ser submetido à secagem natural (ao sol) sobre uma lona ou quadra cimentada, reduzindo-a para o nível de 9% (SILVA; CARVALHO, 2008), consequentemente, irá obter maior eficiência durante o seu processo de beneficiamento. Ou seja, o excesso de umidade do algodão faz com que o mesmo seja transportado aos montes nas máquinas de limpeza, transporte e descaroçamento, causando entupimento (embuchamento), danos às máquinas e limpeza ineficiente (SHAW; FRANK, 1966; CLAVIJO, 1990). O ideal é armazenar o algodão em caroço entre 8 a 10%. Esse algodão com excesso de umidade nos armazéns provisórios do produtor rural e algodoeira (tulhas) pode produzir


C a p í t u l o I I | 207

fermentação da fibra e provocar a sua combustão espontânea, fenômeno da cavitomia que raramente ocorre no fardo de fibra, devido não ser possível efetuar o beneficiamento do algodão em caroço com a umidade elevada (EMBRAPA ALGODÃO, 2001; SILVA; CARVALHO, 2008). Para evitar incêndio na unidade algodoeira tradicional, o prédio é planejado para funcionar em três compartimentos separados: a) Unidade de recebimento, qualificação e armazenamento temporário da matéria-prima (algodão em caroço); b) Unidade principal de instalação das máquinas (limpadores, descaroçadores e prensa), onde ocorre a extração da fibra das sementes e c) Unidade complementar de armazenamento da fibra, abrangendo também o armazenamento de sementes (SILVA; CARVALHO, 2008). Para atender o programa da agricultura familiar, são instaladas as miniusinas de 50 serras de algodão e a prensa manual ou hidráulica num prédio de dimensão bastante limitada, o que leva a descumprir as normas de segurança para um produto (algodão) altamente inflamável. Por considerar as máquinas pequenas, um só compartimento do prédio ocupa ao mesmo tempo: recebimento do algodão em caroço, instalação dos descaroçadores e prensa e armazenamento dos fardos de fibra, ou seja, não se isola a matéria prima (algodão em caroço) e fibra do setor das máquinas. Esse problema tem sido constatado em Paulistana, PI (Figura 128), o que ocasionou um incêndio de elevada proporção por um dos três motivos:

1. Provavelmente pode ter ocorrido combustão espontânea do algodão em caroço com umidade em excesso (acima de 16%), chamado de Cavitomas, por falta de fiscalização de um profissional no ato do recebimento da produção;

2. Ou pelo fato da unidade desmontadora não apresentar os requisitos necessários de segurança contra incêndio e umidade excessiva: armazém sem circulação de ar, possibilidade de entrar água de chuvas; sem estrado de madeira; e a instalação elétrica inadequada com pontos de tomadas (EMBRAPA ALGODÃO, 2001);

3. Ou devido à falta de cuidado durante a colheita, por conseguinte o algodão em caroço apresenta corpos estranhos (arame, detritos da cultura, pedras, terras,


C a p í t u l o I I | 208

barbantes, etc) o que não é eliminado pelo limitado limpador acoplado ao descaroçador de 50 serras, podendo ocasionar desgaste nos dentes das serras do descaroçador (SILVA; CARVALHO, 2008) e, ao mesmo tempo, esse atrito pode gerar uma fagulha, provocando a combustão da fibra, que geralmente é detectado pelo cheiro queimado na caixa da prensa. Uma vez prensada a fibra suspeita, normalmente o fardo é deixado isolado dos demais fardos de pluma por 4 a 5 dias, ou, de imediato, a fibra estragada é eliminada desfazendo o fardo de fibra (Figura 129).

A

B

C

Figura 128. Prédio e máquinas de 50 serras e prensa da mini desmontadora de algodão de Paulistana, PI: A) Antes do Incêndio e B,C) Após incêndio em 2010 com o prédio lotado de algodão e as máquinas danificadas (descaroçador e prensa hidráulica). Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 129. Eliminação de pluma de algodão em processo inicial de combustão. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I I I | 209

Capítulo III

SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ALGODÃO ORGÂNICO ARBÓREO TRADICONAL - MOCÓ- (Gossypium hirsutum r. marie galante) DE FIBRA EXTRALONGA PARA O SEMIÁRIDO

(Autores) Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Tarcísio Marcos de Sousa Gondim


C a p í t u l o I I I | 210

INTRODUÇÃO O algodoeiro (G. hirsutum L.) é uma das espécies vegetais de maior utilidade, cuja fibra possui múltiplas aplicações (tecelagem, confecção de feltro, celulose, películas fotográficas e chapas para radiografia) e é responsável por 45% do vestuário da humanidade. É também importante fonte de óleo e de proteínas, co-produtos extraídos de suas sementes, com larga aplicação na indústria de alimentos e na fabricação de biocombustíveis (BELTRÃO, 2007). No Brasil, a espécie G. hirsutum está representada por duas raças cultivadas, assim classificada por Huchinson (1951): a raça latifolium, também conhecida como algodão herbáceo ou, Upland cotton, é amplamente cultivada e encontrada em quase todos os estados brasileiros. Essa raça contribui com 99,9% da totalidade da produção de fibra comercial do Brasil (IBGE, 2009) e cerca de (90%) do mundo (ZHANG et al., 2008). A outra raça é a marie galante, a única entre as sete raças de G. hirsutum conhecidas que apresenta um porte arbóreo e é, exclusivamente, encontrada no semiárido (STEPHENS, 1973). A história do algodão no Brasil relata que a espécie arbórea (Gossypium hirsutum r. marie galante) já era conhecida pelos nativos locais antes da descoberta do nosso país pelos portugueses. Porém, sua exploração como cultura comercial teve início por volta de 1750, no Maranhão. Após a grande seca de 1845 e a dizimação de quase todo rebanho da região Nordeste, o cultivo do algodão espalhou-se pelo semiárido, e passou a ter destaque na economia regional com a crise do açúcar a partir da década de 1880. Em 1905, o algodão era o cultivo mais importante da economia local (MAPA, 2007). A cultura do algodoeiro mocó foi importante no semiárido nordestino, devido a sua adaptabilidade às condições ambientais, particularmente a elevada tolerância à seca. As lavouras chegaram a ocupar cerca de 2,3 milhões de hectares na década de 70 (FEIRE, 2000). Na década de 80, esta área foi reduzida para aproximadamente 1,4 milhões de hectares. Enquanto na safra 1989 foram plantados 618.391 ha, principalmente nas regiões semiáridas dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Pernambuco (IBGE, 1990). A partir da década de 1990, a área plantada com Mocó foi drasticamente reduzida em virtude da introdução do inseto praga-bicudo e problemas econômicos, tecnológicos e sociais (MAPA, 2007).


C a p í t u l o I I I | 211

A variedade do algodoeiro mais recomendado para o plantio pelos produtores era o Veludo C-71, principalmente para os estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A dispersão desse algodoeiro localiza-se nas seguintes microrregiões dos estados citados: Sertão e Seridó, sendo que o Seridó, mais que o sertão, é o ambiente ideal para sua ampla exploração, visto que nessa região ele exibe as nobres qualidades tecnológicas de fibra que lhe são peculiares (SOUZA, 1996). Vale destacar o caso especial do estado da Paraíba, que em 1980 tinha uma área plantada de 700 mil hectares de algodão arbóreo, decresceu sua área plantada para apenas 3 mil hectares em 1990, o que ocasionou a quase extinção do algodão que representava uma das melhores oportunidades de renda para a agricultura familiar no Nordeste brasileiro (SOUSA, 2003). Além disso, o Ciclo do Algodão Mocó contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento de várias cidades do interior do Nordeste do Brasil. Um exemplo é a cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba, que chegou a ocupar, na década de 30, destacado segundo lugar no mundo no comércio de algodão arbóreo, perdendo apenas para a cidade de Liverpool na Inglaterra. Moreira et al. (1989) apontam as seguintes razões para a decadência na cultura do algodoeiro Mocó: estrutura de produção baseada no sistema de meiação, baixo nível tecnológico, retração de crédito e, devido à desinformação e o aumento de custos decorrentes da infestação das lavouras pelo bicudo (Anthonomus grandis, Boh.). De sua parte, o mocó, pela sua rusticidade, é a planta de algodão ideal para ser explorado em lavouras livres de qualquer produto químico, pois condições para tanto não faltam no Nordeste. O exemplo típico de uma área apropriada para a produção do tipo algodão orgânico é a microrregião do Seridó, nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, cultivado à mercê das características de alta luminosidade, pouca umidade e, principalmente, baixa incidência de pragas no algodoeiro, constitui-se, como nenhuma outra do Brasil, apropriada para a produção desse tipo de algodão. Portanto, será necessário criar incentivos visando difundir a prática do algodão orgânico naquela microrregião e outras de vocação semelhante no Nordeste (MOREIRA et al., 1995). Atualmente, os algodoeiros mocós remanescentes mantidos in situ estão ameaçados (Figura 130). A manutenção da maioria das plantas depende dos hábitos culturais da


C a p í t u l o I I I | 212

população local. Segundo Barroso et al. (2005a) esses algodões representam importantes reservatórios genéticos para uso de curto e longo prazo, consequentemente sua preservação deve ser incentivada. No momento, estima-se que existe no semiárido um total de 30 ha de áreas cultivadas comercialmente, visando aproveitar o sistema de integração lavoura-pecuária.

Figura 130. Capoeira de algodão Mocó com seis anos de idade, Ceará. Foto: Lúcia Ferreira Lirbório.

ORIGEM DO ALGODOEIRO Hutchinson (1951) descreveu a espécie G. hirsutum compreendendo sete raças (morrilli, richmondi, palmeri, punctatum, latifolium, yacatanense e marie galante), e incluindo o algodoeiro mocó como marie galante. Segundo Stephens (1973) a última raça destaca-se entre as demais devido a apresentar uma distribuição geográfica ampla e ser simpátrica com outros algodoeiros em praticamente toda sua área de ocorrência. As concepções de origem para o algodão mocó cultivado no Nordeste do Brasil incluem a dúvida quanto sua classificação como G. hirsutum raça marie galante (FREIRE; MOREIRA, 1991). Em sua genealogia pode existir uma importante participação dos outros genótipos encontrados no Nordeste. Certamente, o algodoeiro mocó do Seridó do


C a p í t u l o I I I | 213

Nordeste do Brasil representa um grupo geograficamente isolado em relação a outros da raça marie galante, que tem distribuição contínua na América Central e norte da América do Sul (STEPHENS, 1973), e apresenta um subconjunto gênico distinto da raça marie galante (JOHNSTON et al., 2006). A espécie G. hirsutum é representada no Brasil por duas raças: G. hirsutum r. latifolium, Hutch e G. hirsutum r. marie galante (Watt) Hutch. A primeira, denominada de algodoeiro herbáceo é nativa do México e foi introduzida via Estados Unidos; é amplamente cultivada no Brasil e está presente quase que exclusivamente na forma de cultivares. A segunda raça, conhecida como algodoeiro mocó, é originária das Antilhas, foi trazida para o Brasil pelos holandeses ou africanos, durante o período colonial, e apresenta uma ampla distribuição, do México ao semiárido Nordestino do Brasil (BARROSO et al., 2005). O cultivo do algodoeiro mocó no Nordeste iniciou-se por volta 1860 na região do Seridó potiguar, a partir de sementes desenvolvidas pelos agricultores. Os tipos mais antigos desse algodoeiro mostram sinais evidentes de melhoramento. Isto levou Moreira et al. (1982) a exaltar a participação do homem como agente transformador na origem de um novo tipo de algodoeiro, o mocó. Além disso, Boulanger e Pinheiro (1971) fazem referência que existem evidências muito fortes de que o Mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante, Hutch.) corresponde a um complexo de genes provenientes em proporções variáveis de Gossypium hirsutum L. e Gossypium barbadense L. representado pelas raças “inteiro” e “quebradinho” desta última. Segundo esses autores, a evolução do Mocó a partir da introgressão progressiva do Gossypium barbadense L. sob as pressões da natureza e dos selecionadores, é uma hipótese que não deve ser descartada. Nesse ponto de vista, o algodão Mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante, Hutch.) seria o resultado da evolução híbrida original nas condições semiáridas do Nordeste. Então, com base na proximidade das médias de associação cromossômica, o machoestéril e a variedade SL 9193 (Cruzeta Seridó) devem ter em sua constituição parte do genoma pertencente ao Gossypium barbadense. Com base em tal fato, decorreu a proximidade das médias de associação cromossômica nos híbridos envolvendo o machoestéril com a variedade SL 9193 e Pima S4 (MOREIRA et al., 1973). Essa população altamente heterogênea e em segregação permanente resiste às condições extremas de


C a p í t u l o I I I | 214

seca, produzindo fibras apreciadas pela indústria têxtil. Ou seja, o algodão “Mocó” foi o que melhor se adaptou ao semiárido, por ser mais vigoroso e produzia por até oito anos. Com relação ao sistema reprodutivo, o algodoeiro é considerado uma espécie intermediária, pois as taxas de autopolinização são variáveis e superiores aos 5% das alógamas, mas inferiores aos 95% das autógamas (FREIRE et al., 2002). As taxas de polinização cruzada variam muito e são dependentes de atividades dos insetos. Nos algodoeiros arbóreos cultivados no Nordeste (predominantemente algodoeiros “Mocó” – G. hirsutum, raça marie galante), as taxas de polinização cruzada são normalmente altas (PENNA, 2005).

ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA DE MELHORAMENTO O melhoramento genético do algodoeiro Mocó no Nordeste do Brasil sob o ponto de vista estrito é uma atividade praticada há mais de 88 anos. Os modos e objetivos variaram com a época. A coordenação do programa de melhoramento do algodoeiro Mocó foi estabelecida por Moreira et al. (1982) em duas fases: a primeira anterior a criação da SUDENE em 1963 e a segunda, coordenada pela Embrapa Algodão. A primeira fase inicia-se em 1921 com a visita do inglês Arno Pearce, que representava a Secretaria Geral da “International Federal of Master Cotton Spinners and Manufacters Association”, a região do Seridó do Rio Grande do Norte, onde o mesmo constatou a necessidade de um trabalho sistemático de seleção para melhorar a excelência da qualidade de fibra. Apesar da iniciativa de um plano de agenda delineado pelo governo durante o evento da Conferência Internacional Algodoeira ocorrido em 1922, no Rio de Janeiro, mesmo assim o pioneirismo ficou por conta de empresas privadas. Em 1924, implantou-se um núcleo de melhoria do algodoeiro na Fazenda São Miguel, em Angicos, RN. Após quatro anos, o governo criou as Estações Experimentais de Cruzeta, RN, de Serra Talhada, PE, de Pendência, no município de Soledade, PB. Nessa primeira fase, o melhoramento do algodoeiro mocó plantado no semiárido brasileiro foi institucionalizado e as ações eram fragmentadas e independentes.


C a p í t u l o I I I | 215

Além da purificação da planta quanto aos aspectos morfológicos e tecnológicos de fibra, também era objetivo importante manter as características de resistência do algodoeiro Mocó às adversidades do semiárido nordestino. O único programa a usar outro tipo de algodoeiro no melhoramento foi a Algodoeira São Miguel, que também utilizava variedades Pima (G. barbadense) provenientes do Arizona para sintetizar suas populações. Somente a partir de 1950, essa empresa passou a trabalhar apenas com o algodoeiro Mocó (MENEZES, 2009). A segunda fase do melhoramento do algodoeiro Mocó teve início em 1963, sob a coordenação da SUDENE, a qual apresentou um programa unificado de melhoramento sob sua coordenação. Por meio de um trabalho de equipe, o melhoramento genético do algodoeiro contou com a colaboração técnica do “Institut de Recherche Coton et Textile Exotique” e da “Food and Agricultural Organizatión (FAO)”. Além desse suporte científico, a SUDENE realizou importantes convênios com Centro de Ciências Agrárias da UFCE (CCA), Instituto de Pesquisa Agronômica (IPA-PE), a Secretária de Agricultura do Estado da Paraíba e com a Algodoeira São Miguel. Os objetivos do melhoramento genético foram totalmente reformulados e as sementes eram distribuídas diretamente aos agricultores. Isso resultou em incremento da produção (MOREIRA et al., 1982). Ainda na segunda fase, os algodoeiros mocós foram separados em classes de acordo com o número de dias até o florescimento em: precoces (103-142 dias); médios ou intermediários (133-172 dias) e tardios (163-232 dias), conforme Moreira (1982). Esta separação permitiu disponibilizar materiais de ciclo diferentes para o produtor, proporcionando uma maior flexibilidade para se adaptar a irregularidade do período chuvoso do semiárido brasileiro. Também foi verificado que a baixa produtividade estaria relacionada ao conjunto de genes da população tardia, desse modo, o programa de melhoramento passou a apresentar orientação de seleção para precocidade. A fundação do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA), em 1975, no município de Campina Grande (PB) é o marco inicial da terceira fase e consolida a institucionalização do melhoramento genético do algodoeiro Mocó. A mudança institucional não alterou as atividades que vinham sendo exercidas sob coordenação da SUDENE. Manteve-se a linha de seleção para precocidade iniciada pela UFCE.


C a p í t u l o I I I | 216

Entretanto, os trabalhos que eram conduzidos na Estação Experimental de Veludo de Itaporanga, PB passaram a ser concentrado no próprio habitat natural do algodoeiro Mocó no campo Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB. A transferência dos trabalhos para Patos, PB permitiu selecionar genótipos com padrões mais precoces, cuja combinação de genes apresentasse um alto grau de resistência aos fatores de estresse da região do Seridó (MOREIRA et al., 1982). Assim organizado os trabalhos de melhoramento no semiárido, a maioria das estações experimentais que atuava com o algodoeiro Mocó apenas funcionou até a década de oitenta e, em consequência do surgimento da praga do bicudo, levou ao declínio o cultivo do algodoeiro arbóreo e à desativação da maioria dos programas de melhoramento desta cultura no Nordeste. Por outro lado, merece destaque especial a contribuição prestada pelos pioneiros da pesquisa com o algodoeiro Mocó no Brasil representado pelas pessoas e instituições relacionadas a seguir: José de Alencar Nunes Moreira e Fanuel Pereira Silva pela UFCE; Wokmar M. de Vasconcelos pela Sudene-PE; Jacques Boulanger pelo IRCT da França; Fernando Chaves Lins pelo INFAOL, PE; Luís Carlos de Medeiros e João Cecílio F. de Santana pelo CNPA/Embrapa de Campina Grande, PB; Ursulino Dantas Veloso pelo IPEANE, que coordenava os trabalhos na Estação Experimental de Cruzeta, RN; Oriosvaldo B. Mangueira pelo IPA; Carlos Victor Faria pela Algodoeira São Miguel de Angico, RN; e Fernando Melo Nascimento pelo Ministério da Agricultura da Paraíba (FREIRE et al., 1980).

MELHORAMENTO DO ALGODOEIRO MOCÓ Desde a década de 1880, o algodoeiro arbóreo vem sendo cultivado na região setentrional pela excelente qualidade tecnológica de suas fibras, por sua adaptabilidade às condições adversas do semiárido e pela ampla utilização industrial no passado (atualmente, em total declínio). Inicialmente toda fibra longa e extralonga produzida na região era destinado ao mercado externo, exigente quanto às qualidades tecnológicas, mas indiferente quanto a produtividade da cultura. A medida que as exportações foram decrescendo, o produto teve que ser consumido no mercado interno, precisamente nessa década de 1980, então o


C a p í t u l o I I I | 217

cotonicultor foi despertado para a baixa produtividade do algodoeiro arbóreo e para os preços não compensatórios de sua fibra. Com base em tal cenário, o programa geral de melhoramento do algodoeiro arbóreo teve como meta fundamental, o incremento da produtividade média anual de 216 kg/ha para níveis entre 3 a 5 vezes maiores de produtividade daquela época. Portanto, nesse programa, procurou-se selecionar as plantas em função da precocidade e da produtividade, visando obter cultivares de alta produtividade e precocidade. Também se aproveitou a variabilidade existente nas cultivares, linhagens e tipos locais considerandose várias características, tais como: a) produtividade dentro do limite; b) plantas precoces e produtivas na primeira colheita; c) porte baixo; d) poucos ramos vegetativos; e) resistente à broca; e f) com características de fibra do algodoeiro arbóreo. Por ser a precocidade um dos fatores mais importante na seleção adotada nessa linha, procurou-se estabelecer outro critério que o da floração, o qual é extremamente variável e influenciado pelos fatores do meio ambiente. Adotaram-se então dois critérios distintos baseado no número de nós para a inserção do primeiro ramo frutífero e no número de capulhos abertos aos 175 dias após o plantio. O primeiro critério, por ser um caráter de natureza genética, era esperado ser de maior precisão que o segundo, o qual poderia ser também influenciado pelo meio ambiente. Em seguida, estão relacionados os ensaios realizados dentro dessa linha nos anos 1977 e 1978 (Tabela 20).

Tabela 20. Critérios de seleção para precocidade do algodão arbóreo. Tipo

Precoce Média Tardia

Número de nós

10-18 19-25 + 25

Nº de capulhos abertos aos 175 dias +5 1-5 Sem capulho

Fonte: FREIRE et al. (1980).

É importante frisar que o principal método de melhoramento usado no algodoeiro é a seleção genealógica, embora também sejam empregadas seleção massal, seleção recorrente e retrocruzamentos, a depender da população e do objetivo a ser alcançado.


C a p í t u l o I I I | 218

Foi o melhorista Boulanger quem primeiro sugeriu o emprego de seleção genealógica com autofecundação para o melhoramento genético do algodão Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch.), no Estado do Ceará. O objetivo focado com o emprego dessa metodologia era homogeneizar, numa primeira etapa, o material de trabalho da seleção. Para isso, era considerada no decurso dos trabalhos a eliminação das descendências autofecundadas das plantas extremamente aberrantes, especialmente, as de tendência arbórea e anual de baixa produção (MOREIRA et al., 1973). A meta visada, no entanto, não preconizava a obtenção de linhagens puras, sendo previstas, após o sexto ou sétimo ano, a hibridação entre as melhores linhagens. Na fase de maior homogeneidade do material, isto é, quando fosse enquadrado nos limites de um tipo aceitável de Mocó, o melhoramento poderia ter prosseguimento à custa da seleção “Pedigree Massal” com polinização livre tal como foi empregado pro Harland (1949) no algodão Tanguis do Peru.

MELHORAMENTO GENÉTICO DA VARIEDADE VELUDO C-71 (MOCÓ) A variedade do algodoeiro perene Mocó “Veludo C-71” foi originada em 1972, dos trabalhos de seleção genética realizados na Estação Experimental de Veludo, situada em Itaporanga, PB pela Secretária de Agricultura do Estado da Paraíba (SAIC), de acordo com o convênio celebrado com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste do Brasil (SUDENE; Figura 131).


C a p í t u l o I I I | 219

Figura 131. Estação Experimental de Veludo, Itaporanga, PB onde se desenvolveu a cultivar de algodão Mocó Veludo C-71. Foto: José Rodrigues Pereira

Trata-se de um Bulk formado de 12 linhagens, na fase de terceira geração de autofecundação, obtidas por seleção genealógica numa população da espécie Gossypium hirsutum raça marie galante Hutch, que passou por uma acentuada introgressão de G. barbadense L. Portanto, a variedade Veludo C-71 é um Bulk formado a partir de 12 linhagens fenotipicamente semelhantes, que produz fibra de excelente qualidade (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). As principais características destas linhagens estão reunidas na Tabela 21.


C a p í t u l o I I I | 220

Tabela 21. Características das linhagens que compõem a variedade Veludo C-71. Linhagens

Produção

%

Índice

kg/ha

Fibra

sementes

Fibrog.

(100 s.) gr.

2,5% S.L.

2 anos

de

Compr.

Micronaire

Índice

Maturidade

Pressley

Índice

%

mm 366-53-19-7

548

35

5,8

32,2

4,1

9,2

0,391

73

471-61-43-33

761

35

5,1

30,2

3,6

9,3

0,375

70

471-61-43-34

498

34

5,8

31,2

3,5

9,7

0,367

68

471-61-45-53

563

36

7,0

32,8

3,5

9,1

0,366

68

471-61-45-58

546

36

6,1

33,3

3,3

9,5

0,351

64

471-61-46-60

516

34

6,1

32,1

3,4

9,9

0,357

65

471-61-47-73

780

38

6,5

33,5

3,3

8,7

0,346

63

471-61-47-78

770

32

5,2

32,1

3,2

10,7

0,365

67

473-62-48-81

549

32

7,0

33,9

3,4

8,9

0,364

67

473-62-48-83

565

33

6,0

31,7

3,2

9,2

0,339

61

473-62-48-84

793

31

6,0

32,0

4,1

10,0

0,396

74

640-78-118-93

723

36

6,1

31,2

3,4

8,4

0,382

71

OBS: Estima-se o comprimento comercial multiplicando por 1,18 o comprimento dado em mm pelo fibrógrafo 2,5 S.L., o que equivale acrescentar 5 a 6 mm aos comprimentos observados. Fonte: VASCONCELOS; BOULANGER, 1979.

Nos ensaios de competição de variedades conduzidos nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, a variedade Veludo C-71 apresentou um ganho de produção de algodão em rama de 20% e de 15% em relação às SL9193 (30 ensaios) e SC9193 (72 ensaios), independentemente dos locais testados, nos anos de 1972 a 1977, da idade da cultura (1 a 4 anos) e da fertilidade do solo (1.700 a 3.200 kg em 4 anos de cultivo), além de revelar excelente capacidade de adaptação na zona semiárida do Nordeste (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). Os caracteres tecnológicos obtidos nos ensaios foram os seguintes: tipo de fibra longa e extralonga de grande aceitação pelos fiadores brasileiros: 30-31 mm do fibrógrafo 2,5% S.L. (35-37 mm de comprimento comercial); 44% de uniformidade; 3,5 a 4 de índice Micronaire; e 8,5 a 9,0 de índice Pressley (92.000 a 97.000 P.S.I). A percentagem de fibra é superior a 30%. Para alcançar a seu potencial máximo de produtividade, recomenda-se plantar a variedade Veludo C-71 o mais cedo possível, desde o início da estação chuvosa. Qualquer atraso no cultivo, em condições de sequeiro, se traduz por uma queda de produção da ordem de 100 kg de algodão em rama por semana (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979).


C a p í t u l o I I I | 221

BANCO DE GERMOPLASMA DO ALGODOEIRO MOCÓ

A palavra germoplasma refere-se à coleção de genótipos de uma espécie, ou seja, todo o material que constitui a base física da herança de uma espécie e que se transmite de uma geração para outra por meio de células reprodutivas (IBPGR, 1991). Na conservação “in situ”, o germoplasma é mantido em seu ambiente natural, local de origem ou de domesticação. No caso do algodoeiro Mocó, o Banco de Germoplasma do Mocó está instalado na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Patos que é seu habitat natural (microrregião do Seridó; Figura 132). Na conservação “ex situ”, os espécimes são mantidos fora do seu habitat natural, sendo preservados em condições controladas, em bancos de germoplasma, in vitro ou in vivo. Nas coleções de germoplasma “ex situ”, cada elemento é chamado de acesso, termo empregado para qualificar toda a amostra que representa a variação genética de uma população ou indivíduo obtido por coleta e/ou intercâmbio (VILELA-MORALES et al., 1997).

Figura 132. Estação Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB com área de 354 ha. Atualmente, a unidade está à venda, mas pelo fato se encontrar no Seridó Paraibano, que é o habitat natural do algodoeiro mocó, a Embrapa deveria manter 40-50 ha da área da estação para pesquisa. Foto: Saulo Lucas da Silva.


C a p í t u l o I I I | 222

A coleção da Embrapa Algodão é formada por sementes e plantas do algodoeiro Mocó (Banco Germoplasma da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB), com o objetivo de manter disponível o máximo da diversidade genética da espécie. O uso dos acessos depende do conhecimento do valor de cada genótipo e está sob controle de um curador. A valoração é realizada pela caracterização, que é a atividade primordial na geração de conhecimentos sobre germoplasma conservado em bancos e ou coleções. Além de fornecer subsídios ao melhoramento genético, a caracterização permite um melhor manejo do germoplasma mantido “ex situ” (VICENTE et al., 2005).

As sementes genéticas (10 sementes por variedade) cedidas pelo Banco de Germoplasma da Embrapa serão multiplicadas em casa de vegetação sob regime de irrigação e também as sementes básicas, em área da Estação da Embrapa Algodão. Apenas os campos de sementes certificadas ou comerciais serão produzidos e instalados em áreas do agricultor, sendo que a quantidade de 15 kg de sementes de algodão mocó atenderá 3 ha, usando o espaçamento de 2 m x 1m. Estimando-se uma produtividade de 500 kg de algodão em rama para o algodoeiro mocó tradicional, então a produção total seria 300 kg de sementes agroecológicas (60%).

Após três gerações, as produções das sementes obtidas dos campos certificadas (comerciais) serão consideradas agroecológicas e deverão ser distribuídas e comercializadas para os diversos territórios envolvidos com o algodão de fibra extralonga no semiárido pela Embrapa Produtos e Mercado (Embrapa PM). Portanto, todo o processo deverá ser controlado por um órgão competente (Embrapa PM), através do qual se garante que a semente será produzida de forma que se possa conhecer com certeza sua origem genética e que cumpre com as condições fisiológicas, sanitárias e físicas preestabelecidas. Recomenda-se renovar as sementes de algodão, a cada intervalo de 4 anos.

MORFOLOGIA DO ALGODOEIRO MOCÓ PLANTA A raça marie galante de ciclo tardio é produzida nos estados do Nordeste, e é conhecida popularmente como algodão Mocó, ou Seridó. Possui como características: plantas de porte alto (3-4 m), arbustivas, semiperenes (3-6 anos), frutos pequenos, em pequena


C a p í t u l o I I I | 223

quantidade, e sementes com pouco ou nenhum línter, fibras longas e extralongas (maiores de 36 mm; SOUZA et al., 1995). A região Nordeste detém grande variabilidade do gênero Gossypium. É a única região conhecida no Brasil que abriga três das cinco espécies alotetraplóides: G. hirsutum, G. barbadense e G. mustelinum. No que se refere ao algodoeiro mocó, trata-se de uma planta dicotiledônea, com flores hermafroditas e sistema misto de reprodução (predominância de alogamia), que segundo Freire et al. (2002) apresenta acentuada taxas de polinização cruzada por insetos. É sexualmente compatível com os demais algodoeiros tetraplóides, inclusive com as cultivares comerciais de algodoeiro herbáceo, com os quais formam híbridos viáveis e vigorosos (SILVA et al., 1982). Desta forma, os algodoeiros mocós podem ser utilizados como fonte potencial de variabilidade em programas de melhoramento. A primeira flor da variedade Veludo C-71 apareceu, em média, 94 dias após o plantio, desde que seja realizado o plantio a partir janeiro ou fevereiro, a qual foi mais precoce que a variedade SC 9193 da ordem de 2 dias. O tempo de maturação da primeira cápsula foi da ordem de 53 dias para as duas variedades e pouca diferença foi registrado da abertura dos primeiros capulhos para ambas cultivares (Tabela 22).

Tabela 22. Dados fenológicos do algodoeiro Mocó das cultivares Veludo C-71 e SC 9193. Estádios fenológicos

Número de dias SC 9193

Veludo C-71

Plantio-aparecimento da 1ª flor

96,2

93,7

Plantio-abertura do 1º capulho

149,8

147,1

1ª flor-abertura do capulho

53,6

53,4

Fonte: VASCONCELOS; BOULANGER, 1979.

RAIZ O algodoeiro tem uma raiz principal que cresce em sentido vertical e que, uma vez alcançando certo nível de profundidade, ramifica-se intensamente. A ramificação abundante das raízes é uma característica de todas as espécies de Gossypium. As raízes secundárias são de relativa grossura dependendo, sobretudo, do tipo, temperatura e


C a p í t u l o I I I | 224

umidade do solo. Segundo Hector (1936), as raízes secundárias iniciam seu crescimento tão logo a raiz principal atinge um comprimento em torno de 12 cm, crescendo em quatro fileiras regulares, mais ou menos horizontais ou ligeiramente inclinadas, produzindo um amplo e espesso sistema radicular que se assemelha a um cone invertido. As raízes secundárias do algodoeiro plantado com um maior espaçamento podem atingir até mais de dois metros.

CAULE Esse é herbáceo ou lenhoso, de porte variável, podendo atingir cerca de alguns metros. O porte está determinado pelo hábito de crescimento, anual ou perene. Os anuais são tipos realmente precoces, visto que frutificam em poucos meses e ainda podem seguir crescendo por um longo período, sendo que nestes o comprimento das ramificações laterais determina as formas cônicas ou cilíndricas. Nos algodoeiros perenes, que vivem vários anos, chegam a alcançar portes arbóreos, com ramificações muito irregulares. As ramificações laterais surgem da haste principal ou caule, as quais podem ser do tipo vegetativo ou reprodutivo. Os tipos vegetativos são intra-axilares e desenvolvem-se no plano formado pelo caule e pecíolo da folha correspondente. São, em geral, em número de quatro a cinco, somente produzem flores após ramificarem-se e estão localizados na parte inferior do caule. Das gemas basais do caule, somente brotam ramificações vegetativas que crescem eretas, em ângulo agudo com o caule, e são grossas e longas. Por outro lado, os ramos reprodutivos são extra-axilares e desenvolvem-se fora do plano formado pelo caule e o pecíolo da respectiva folha, distribuindo-se em grande número na planta e produzindo flores. São delgados e curtos em comparação aos ramos vegetativos e são horizontais em G. hirsutum e em ângulo em G. barbadense (MIRANDA, 1983).

RAMIFICAÇÃO No algodoeiro distinguem-se dois tipos de ramos, os quais assumem uma posição fundamental, na relação da planta com o seu rendimento e com sua capacidade de adaptação e resistência ao meio. Os dois tipos de ramos são: frutíferos, ou simpódio, e vegetativo, ou monopódio.


C a p í t u l o I I I | 225

Todo o algodoeiro tem crescimento monopodial, na sua haste principal, distinguindo-se, porém, uma zona na parte inferior da planta, que emite lateralmente ramos vegetativos, e outra na parte superior que produz ramos frutíferos. Na prática de seleção do algodoeiro herbáceo, constitui norma evitar indivíduos que possuam ramos vegetativos, disto resultando a sua formação simpodial, com reduzido número de nós. Ao contrário do arbóreo Mocó, de formação geralmente mista, na qual os ramos vegetativos devem existir em maior número. Nesta particularidade, surgiu a prática da contagem dos nós na base da planta, cujo número no arbóreo deve ultrapassar 14 até 20, no máximo. A contagem dos nós deve merecer a atenção do melhorista, para que não fique aquém do limite mínimo ou ultrapassar o limite máximo. Mas também é necessário observar o comportamento dos ramos vegetativos, principalmente com relação à emissão de ramos simpódicos secundários, cuja presença dá à planta caráter de maior frutificação, portanto maior rendimento individual (VELOSO, 1957). Nas plantas do algodoeiro Mocó, cultivar Veludo C-71, o primeiro ramo frutífero se insere no eixo central entre 15º e o 20º entrenó, sendo o número de ramos vegetativos de 5 a 10 no primeiro ano da cultura (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). A ramificação ideal para o Mocó, no seu desenvolvimento primário, é a mista, cujas plantas reúnam um determinado número de ramos vegetativos, regulado pela contagem dos nós (Figura 133). Plantas assim são produtivas e resistem mais ao intemperismo das secas, devido sua longevidade (VELOSO, 1957).


C a p í t u l o I I I | 226

Figura 133. Planta ideal para o Mocó no seu desenvolvimento primário é a mista: tipo mono-simpodial. Foto: Ursulino Dantas Veloso (1957).

FOLHA As folhas do algodoeiro, em geral, são lombadas e, conforme a espécie, pela profundidade dos recortes, elas podem ser classificadas em: espalmadas; pouco recortadas; medianamente recortadas e profundamente recortadas (Figura 134). Além disso, em uma mesma planta de Mocó encontram-se folhas tri e pentalobadas, havendo exemplares com


C a p í t u l o I I I | 227

ótimas características de fibra e boa produtividade, nos quais predomina a primeira forma, isto é, trilobada.

Figura 134. Variação na folha do algodoeiro Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch). Foto: Ursulino Dantas Veloso (1957).

As folhas do Mocó são de tamanho médio, verde claro e pouco a mediano cortadas e demasiadamente grandes, espessas e escuras, como no G. barbadense. Na relação entre a nervura do lóbulo central e a distância da base da nervura à base do recorte, as folhas do Mocó se enquadram em C/R= 1,9 a 2,5 (VELOSO, 1935).

FLOR Todas as plantas da familia malvácea possui cinco pétalas. Sua cor, no algodoeiro Mocó, predomina entre amarelo e amarelo-claro (Figura 135), mais pronunciada que no G.


C a p í t u l o I I I | 228

hirsutum r. latifolium, no qual é creme. Sob a ação da luz solar, por um processo fotoquímico, as flores do algodoeiro, de qualquer espécie, no período da tarde do mesmo dia da abertura, mudam de coloração, passando do amarelo ao rubro. De modo que todas as observações, referentes à flor, deverão ser procedidas no período da manhã. Os melhoristas Vasconcelos e Boulanger (1979) observaram que no algodoeiro Mocó, cultivar Veludo C-71, as brácteas têm um número reduzido de dentes, normalmente menos de oito, e as pétalas de cor amarela são manchadas na base por uma mancha vermelho-escuro.

Figura 135. Algodoeiro Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch.) em estádios de floração e frutificação, plantado na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga e Saulo Lucas da Silva

Na base de cada pétala existe uma mancha rubra (Figura 136), que varia de tamanho e intensidade nas espécies arboreas (G. hirsutum r. marie galante e G. barbadense). Essas manchas, na espécie G. barbadense (rim-de-boi e quebradinho), são muito grandes, tomando toda a base da pétala, e de um rubro intenso, mas no Mocó elas se reduzem a um tamanho e intensidade médios. A coluna estaminal, encimada por um pistilo mais ou menos longo, que no Mocó utrapassa os estames, às vezes até dois centimetros, suporta um indefinido número de estames providos de anteras nas suas extremidades.


C a p í t u l o I I I | 229

Figura 136. Variação da mancha rubra na base da flor no algodoeiro Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch). Foto: Ursulino Dantas Veloso (1957).

FRUTO O fruto é constituído por uma cápsula tri, tetra e pentalocular, de forma e tamanho variáveis, contendo fibras e sementes, estas em número médio de 8 a 10 em cada loja (Figura 137). No estado verde, denomina-se de maçã, de epiderme lisa (herbáceo) ou rugosa (arbóreo). A forma do capulho constitui num caráter genético, pois no herbáceo os capulhos são formados de 4 a 5 lojas e nos arbóreos de 3 a 4. Entretanto, nos cruzamentos interpecíficos, obedecendo às leis de hibridação, apresentam formas intermediarias de 3, 4 e 5 lojas, indistintamente nas várias espécies.


C a p í t u l o I I I | 230

Figura 137. Variação no formato do fruto do algodoeiro Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch). Foto: Ursulino Dantas Veloso (1957).

Geralmente os capulhos do algodoeiro G. hirsutum r. marie galante (Mocó) são menores do que os do G. hirsutum r. latifolium. No herbáceo, assumem os capulhos a forma esférica, ou esférica acuminada meio oblonga, enquanto que no arbóreo (Mocó) são longos e oblongos, pronunciadamente acuminados.

SEMENTE A semente de algodão varia conforme a espécie e a variedade. E tanto varia em tamanho, como forma e natureza do tegumento (testa), podendo ser liso (sem linter; Figura 138),


C a p í t u l o I I I | 231

rugoso e revestido de línter. Para a cultivar Veludo C-71 (Mocó), as sementes tem um índice de sementes (massa de 100 sementes) inferior a 7 gramas e são nuas e não aglomeradas (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979).

Figura 138. Semente de algodão Mocó sem linter sobresaíndo da fibra. Fotos: Saulo Lucas da Silva.

Na seleção do Mocó, as sementes revestidas com línter, quer branco, marrom ou verde são indesejáveis e devem ser prontamente eliminadas as plantas de onde procederam, pois são, ao que tudo indica, portadoras de formação genotípica do G. hirsutum r. latifolium, tipo anual de fibra curta e verdão ou híbrido (VELOSO, 1935).

FIBRA O valor econômico do algodão é dado por suas qualidades de fiação, como sejam resistência, comprimento extralonga e uniformidade, grau de limpeza, maturidade, finura, etc (Tabela 23). Para que um algodão seja considerado ótimo, é preciso reunir essas qualidades nos limites exigidos pela indústria, dentro dos quais se observa variações e cujas causas, ora permanentes ora fortuitas, podem ser dirigidas ou controladas tecnicamente.


C a p í t u l o I I I | 232

Tabela 23. Ensaio regional de algodoeiro Mocó de ciclo tardio (1º ano). Patos, PB Cultivares

Rendimento

Comprimento

Comprimento

Uniformidade

Finura

Resistência

Alongação

kg/ha

2,5 mm

Comercial

(%)

Micr.

(gr/tex %)

(%)

(mm) Veludo

135

30,6

36/38

48,00

4,0

21,8

4,2

MF4

79

31,3

36/38

48,30

3,9

21,9

4,5

Emparn 1

135

29,7

34/36

47,80

3,8

19,4

4,9

C71

Fonte: João Cecílio Farias de Santana e Elêusio Curvêlio Freire (1988); Vasconcelos, W. M. & Boulanger, J. (1979).

Com referência ao comprimento, uma das causas permanentes mais importantes é justamente a espécie botânica do algodoeiro e, em seguida, o quadro ecológico de determinada microrregião. Um exemplo poderia ser um comparativo do plantio do Mocó em regiões distintas: sudeste e nordeste. Nas condições de São Paulo, as características climáticas, que são as causas permanentes, impedem o desenvolvimento normal da fibra extralonga, enquanto que, no Nordeste, o fator limitante está na espécie, ou simplesmente na variedade, o qual é a causa fortuita.

Para o Mocó, o problema do comprimento, sua uniformidade e resistência, maturidade e finura, tem a sua solução nas pesquisas de caráter genético, como a seleção, purificação e hibridação, sendo os demais fatores, como fertilidade do solo, clima etc, apenas são coadjuvantes. O excesso de umidade ou a sua falta, que é o caso das secas prolongadas, tem influência significativa sobre essas características físicas, mas são causas fortuitas para as microrregiões semiáridas do Nordeste, que seguem a periodicidade cíclica dos fenômenos climáticos no habitat natural do algodoeiro Mocó (VELOSO, 1935).

A maturidade da fibra é um importante fator para o aproveitamento industrial, pois haverá maior desperdício se for alto o índice de fibra imatura. No Mocó é uma característica que deve merecer máxima atenção do melhorista, pelo fato de ser a imaturidade um fenômeno que ocorre mais frequentemente nos algodões de fibra extralonga, de paredes celulares muito delgadas (VELOSO, 1935). Para efeito da classificação oficial do algodão brasileiro, Barroso (1936) considera que as fibras, quanto ao seu comprimento, apenas foram enquadradas em três classes, conforme


C a p í t u l o I I I | 233

a Tabela 24. No caso do Mocó com comprimento entre 36 a 38 mm deveria ser classificado como algodão de fibra extralonga com base na normativa internacional atual (Tabela 25). Mas, no Brasil por ignorar a quarta classe de extralonga, o Mocó sempre foi citado de forma errônea na literatura técnica como algodão de fibra longa na ordem de classificação entre 34 a 36 mm.

Tabela 24. Antigo Padrão Oficial da fibra de algodão estabelecido pelo MAPA (Brasil). Classes

Variação dos valores

Ordens de classificação (mm)

Curta

de 22 a 28 mm

22/24; 24/26; 26/28

Média

de 28 a 34 mm

29/30; 31/32; 32/34

Longa

acima de 34 mm

34/36; 36/38; 38/40

Fonte: Liberato Joaquim Barroso (1936).

Tabela 25. Padrões Oficiais da fibra de algodão usado pelo Norte-Americano. CLASSIFICAÇÃO DO COMPRIMENTO DE FIBRA (STAPLE) ALGODÃO DE FIBRA LONGA E EXTRALONGA Comprimento de fibra em polegadas

Comprimento de fibra

Código

em milímetros

universal

40/32

1.1/4

1,25 - abaixo

31,8 - abaixo

40

41/32

1.9/32

1,26 -1,29

32,6 - 33,2

41

42/32

1.5/16

1,30 -1,32

33,3 - 33,9

42

43/32

1.11/32

1,33 -1,36

34,0 – 34,8 (Longa)

43

44/32

1.3/8

1,37 – 1,39

34,9 - 35,5 (Longa)

44

45/32

1.13/32

1,40 – 1,42

35,6 - 36,0 (Longa)

45

46/32

1.7/16

1,43 – 1,45

36,1 – 36,9 (Extralonga)

46

47/32

1.15/32

1,46 – 1,49

37,0 - 38,0

47

48/32

1.1/2

1,50 - 1,52

38,1 – 38,7

48

49/32

1.17/32

1,53 – 1,55

38,8 – 39,4

49

50/32

1.9/16

1,56 - 1,58

39,5 – 39,8

50

51/32

1.19/32

1,59 – 1,61

39,9 – 40,5

51

52/32

1.5/8

1,62 – e mais

40,6 - mais

52

Fontes: BM&F (São Paulo); VAUGHIN, E. A.; Uster News Bulletin (Zellweger) 1997.


C a p í t u l o I I I | 234

ZONEAMENTO E CERTIFICAÇÃO DOS CAMPOS DE ALGODÃO NA PARAÍBA O cultivo do algodão colorido se restringiu até recentemente ao território paraibano. Segundo Amaral et al. (2004) os municípios indicados no zoneamento agrícola para o cultivo da variedade BRS 200 de cor marrom (G. hirsutum r. marie galante) são: Areia de Baraúnas, Nova Palmeira, Santa Luzia, Baraúna, Passagem, São José dos Espinharas, Cubatí, Patos, São Mamede, Cacimba de Areia, Pedra Lavrada, São Vicente do Seridó, Frei Martinho Picuí, Santa Terezinha, Juazeirinho, Quixaba, São José do Sabugi, Junco do Seridó, Salgadinho, Tenório, Mãe D’água, São José do Bonfim e Várzea (Figura 139). As medidas de incentivo ao Mocó deveriam, preferencialmente, ser restritas às zonas de maior aptidão agroclimática definidas no zoneamento. A Embrapa Algodão já dispõe dos mapas com esse zoneamento para cada estado do Nordeste (assunto detalhado no primeiro capítulo).

Figura 139. Municípios do Estado da Paraíba zoneados para o plantio do algodão da variedade BRS 200 de cor marrom (G. hirsutum r. marie galante). Foto: Lúcia Ferreira Lirbório


C a p í t u l o I I I | 235

A produção de algodão de forma orgânica se constitui uma alternativa econômica para a agricultura familiar. Então, a recomendação em relação ao tamanho da área a ser cultivada está limitada a 2 ha por produtor, pois a lavoura orgânica, diariamente, exige muito cuidados manuais especiais, por parte dos agricultores familiares, do que os campos convencionais de algodão. Apesar da área plantada com algodão colorido encontra-se reduzida, mesmo assim merece destacar os municípios envolvidos no cultivo orgânico: Juarez Távora (Assentamento Margarida Maria Alves), Remígio (Assentamento Queimadas), Salgado São Felix (Fazenda Campos), Itabaiana, Gurinhém, Campina Grande, Ingá, Caiçara, Pedra Lavrada, Areia de Baraúna, Picuí, Catingueira, São José dos Espinharas. Em relação aos municípios envolvidos na programação do mapa da Paraíba (Figura 139), observa-se que houve um deslocamento da área de produção do algodão orgânico do Sertão em direção à região Agreste, devido aos seguintes fatores: 1) Maiores possibilidades de chuvas nessa região, 2) proximidade da área de beneficiamento do assentamento Margarida Alves e 3) proximidade dos compradores de Campina Grande, PB e João Pessoa, PB. Para acessar o mercado de orgânicos no Brasil é necessário que os agricultores tenham o Certificado de Avaliação da Conformidade Orgânica, o qual é validado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), porém para ter esse documento é preciso desenvolver algumas atividades. O processo para obtenção desse certificado é um desafio para as organizações dos agricultores e agricultoras familiares do estado da Paraíba, pois é oneroso financeiramente e demorado (SILVA, 2015). A certificação de produtos orgânicos é o processo de análise dos registros da unidade de produção, por meio de visitas no campo, registros de dados, entrevistas com os agricultores. Com base em tais informações, se confirma a conformidade do produto. Nesse processo é necessário disponibilizar recursos financeiros, demonstrar competência e responsabilidade, como também transparência e imparcialidade (FONSECA, 2009). De acordo com Souza (1998), a primeira certificação de algodão orgânico realizada no Brasil, ocorreu em 1970 pelo Instituto Biodinâmico de Botucatu (IBD). Isto demonstra que a produção de algodão orgânico no Brasil não é tão recente e acompanha a tendência


C a p í t u l o I I I | 236

mundial, já que muitas das questões sobre a produção orgânica vão surgir a partir dos movimentos ambientalistas dos anos 60. Por outro lado, Silva (2015) constatou que, entre 2006 e 2011, os agricultores do Assentamento Margarida Maria Alves I certificavam a produção através da contratação de empresas de auditoras externas, sendo certificado através do Instituto BiodinâmicoIBD. Esse processo tem custo elevado e não é bem indicado para as limitadas condições financeiras da agricultura familiar. Mesmo assim, a certificação do IBD é exigida quando se trata de exportação da produção de fibra para o mercado internacional. No ano 2013, estimulados pela Associação de Apoio a Políticas de Melhoria de Qualidade Vida, Convivência com a Seca, Meio Ambiente e Verticalização de Produção Familiar (ARRIBAÇÃ), Embrapa Algodão e a Prefeitura Municipal de Remígio os agricultores resolveram acessar um novo modelo de certificação, conhecido como processo de certificação orgânica participativa, também validada pelo MAPA, sendo reconhecido em todo território nacional. Para isso foi fundado um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC), denominada de Rede Borborema de Agroecologia (RBA) (SILVA, 2015). Por meio dessa nova entidade RBA não será necessário contratar empresas terceirizadas para certificação orgânica. Além disso, ocorrerá uma diminuição com os custos para certificação, fortalecendo assim o trabalho coletivo por envolver todos/as agricultores no processo. Os próprios agricultores irão atestar e emitir o selo de avaliação da conformidade orgânica, o qual é validado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Hoje os agricultores estão aguardando a certificação orgânica, visto que todo o processo inicial foi aprovado pelo fiscal do Ministério da Agricultura (SILVA, 2015).

SISTEMA ECOLÓGICO DE PRODUÇÃO

1.Escolha da área O uso inadequado de áreas com o cultivo do algodoeiro arbóreo poderá trazer grandes problemas de erosão no semiárido nordestino. Por isso, antes do desbravamento efetuar um planejamento racional de uso do solo para evitar esses problemas. Nesse


C a p í t u l o I I I | 237

planejamento, os principais fatores a serem levados em consideração são: relevo, pedregosidade, afloramento de rochas, profundidade e textura do solo. Recomenda-se escolher áreas de tabuleiro com relevo plano a ondulado (0 a 5% de declividade), com solos de profundidade acima de 15 cm e textura média. Os solos predominantes dessas regiões recomendáveis para o algodoeiro arbóreo são os Brunos não-Cálcicos e os Podzólicos. As áreas com declividade acima de 5% ou com solos litólicos e/ou com afloramento de rocha, devem ser evitadas e deixadas com sua vegetação natural. Na região do Seridó (PB e RN) e outras áreas semelhantes dos Estados do CE, PE, PI e BA, há a possibilidade de se cultivar o algodão orgânico, especialmente no Seridó onde o algodoeiro arbóreo tem seu ótimo ecológico que, de acordo com Duque (1973), envolve altitude baixa, de 100 a 300 m, precipitações pluviais de 400 a 700 mm, com período seco de mais de seis meses, sem orvalho, noites quentes e solos argilosos e piçarrentos (Figura 140). Em função do clima nesta região, principalmente no Seridó, onde os produtores chegam a conseguir mais de 400 kg/ha/ano de algodão em rama, principalmente no algodoeiro de segundo e terceiro ano.

Figura 140. Plantio de algodão arbóreo tradicional no Seridó, destacando-se as pedras na superfície do solo. Foto: Eleusio Curvêlo Freire.


C a p í t u l o I I I | 238

2.Conservação e preparo do solo

Nas novas áreas, após desmatamento, a destoca e retirada da lenha, os restos da vegetação cortada devem ser enleirados em nível, com distância de 20 a 30 metros (Figura 141). Havendo pedras soltas na superfície, estas poderão ser apanhas e distribuidas junto as leiras, de maneira que formem muretas de pedra, fazendo-se o mesmo em áreas já trabalhadas. Outras práticas simples de controle de erosão podem ser usadas, como a utilização de faixas de 3 m de capim Buffel ou vegetação nativa a cada 20 a 30 cm (Figura 4), dependendo da declividade. O uso de capinas alternadas e o plantio de algumas linhas de cultura densa (gergelim, sorgo ou feijão), entre as linhas do algodoeiro, seria outra alternativa (FREIRE et al., 1990).

Figura 141. Distribuição de eira de restos vegetais como barreira para deter a enxurrada. Foto: Raimundo Estrela.

O terreno destinado à cultura do algodão deverá ser acessível às máquinas agrícolas e revolvido, logo após as primeiras chuvas a uma profundidade de 15 a 20 cm, de preferência com arado de disco, quando se trata do primeiro preparo do solo virgem. Esse arado é preferível ao de aiveca porque ao encontrar um obstáculo qualquer no terreno (tocos, pedras, etc) o salta, sem maiores consequências.


C a p í t u l o I I I | 239

Mesmo assim, em cultivos tratorizados, o preparo deve ser efetuado com o mínimo de operações possíveis, desde que favoreçam a semeadura. A melhor opção é uma aração seguida de uma gradagem com grade destorroadora. Quando não se dispõe do escarificador, normalmente uma simples aração com arado de disco é suficiente. No caso de solos argilosos efetua-se, se necessário, uma gradagem com grade niveladora ou destorroadora, para quebra os torrões. Em ambos os sistemas, o preparo deve ser executado em nível (Figura 142), obedecendo à profundidade da camada arável e com solo úmido. Caso exista vegetação herbácea intensa, procede-se a um roço antes das operações de preparo (FREIRE et al., 1990).

Figura 142. Marcação de linhas de nível básicas para o preparo do solo. Foto: Raimundo Estrela.

Usando-se o sistema tradicional de tração animal, o preparo do solo é efetuado com cultivador equipado com picões pontiagudos para facilitar a penetração do implemento no solo e diminuir o esforço do animal e do operador.


C a p í t u l o I I I | 240

3.Cultivares Recomenda-se que na implantação de novas lavouras sejam utilizadas as cultivares tradicionais SL9193, Veludo C-71, MF4 e Emparn 1 e 2 (Tabela 26) de fibra longa e extralonga, recomendadas para o plantio em apenas nas áreas zoneadas para exploração do algodoeiro Mocó (detalhe do zoneamento no primeiro capítulo). Essas cultivares possuem ciclos de 165 dias no primeiro ano e de 110 dias no segundo ano, contando-se com o início das chuvas à realização da primeira colheita. Portanto, para conseguir duas colheitas no mesmo ano é necessária uma irrigação suplementar por gotejamento.

Tabela 26. As principais variedades do algodoeiro Mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante, Hutch.) e estações experimentais de melhoramento da região Nordeste. Cultivares

Origem

SL 9193

Desenvolvida em 1949 na Estação Experimental de Cruzetas, RN, em razão disso a cultivar SL 9193 é ainda denominada de Cruzeta.

Bulk Veludo C-71

Desenvolvida pela SAA/Sudene na Estação Experimental de Veludo, Itaporanga, PB.

Bulk C-74 (C’)

Desenvolvida pela UFCE

MF1; MF2; MF3 e MF4

Desenvolvidas na Fazenda São Miguel, Angico, RN, onde os trabalhos de seleção do Mocó eram realizados por uma equipe de estrangeiros (ingleses). Entre esses materiais cabe destacar as cultivares designadas por MF’S (Mocó Faria) obtidas pela Algodoeira São Miguel.

IPA

Material desenvolvido na Estação Experimental de Serra Talhada, PE (Figura 143).

P-55

Derivada da Estação Experimental de Pendência, município de Soledade, PB.

Emparn 1 e 2

Desenvolvidas na Unidade da Emparn (Empresa de Pesquisa do Rio Grande do Norte) de Caicó, RN.


C a p í t u l o I I I | 241

Figura 143. Estação Experimental de Serra Talhada, PE onde se desenvolveu os trabalhos de melhoramento do algodão Mocó. Foto: Marleide Magalhães de Andrade Lima.

As contribuições dos pesquisadores da Estação Experimental de Cruzetas, RN (Figura 144), no que se refere ao trabalho de melhoramento da variedade SL-9193 (ou Cruzeta), destacaram pelo fato de suas características de fibras excepcionais, comparáveis com as dos melhores tipos de fibras extralongas produzidas no mundo. Além das instituições públicas, o setor privado foi importante no desenvolvimento de algumas pesquisas na região, tais como: a algodoeira São Miguel e o Instituto Nordestino de Fomento ao Algodão e Oleaginosas (INFAOL). A fazenda São Miguel, localizada em Angicos, RN desde 1924 vinha desenvolvendo ininterruptamente programas de melhoramento genético, produção de sementes e comercialização do algodão na região. Desde o início de suas atividades desenvolveu os seguintes materiais, tendo como recurso genético o algodão Mocó: MF-1; MF-2, MF-3 e MF-4 (FREIRE; BARRETO NETO, 1983).


C a p í t u l o I I I | 242

Figura 144. Prédio do escritório da Estação Experimental de Cruzeta, RN, onde a cultivar SL 9193 (G. hirsutum r. marie galante, Hutch.) foi desenvolvida.

É importante destacar que o INFAOL era uma instituição de caráter privado, constituída por empresários vinculados à produção, comercialização e industrialização do algodão, que foi implantada em 1972 com o objetivo de fomentar a cotonicultura no Nordeste do Brasil. Quando estava ainda em atividade, obteve como resultado principal a seleção da SI-20, variedade de mocó para distribuição no Estado do Rio Grande do Norte (FREIRE et al., 1980). Conforme a meta delineada pela Embrapa, houve a substituição gradativa da variedade de algodoeiro mocó SL 9193, cultivada em todo o Nordeste desde 1949, pelo Bulk Veludo C-71 e INFAOL SI-20. Estes novos materiais, a despeito de manterem as mesmas características de fibras, chegam, no entanto, a apresentar 20% a mais no rendimento em relação à primeira variedade citada (FREIRE et al., 1980). De acordo com Vasconcelos e Boulanger (1979), a variedade Veludo C-71 manifestou uma superioridade de produção de algodão em rama de 13 a 24% sobre a variedade SC9193. Seu rendimento no descaroçamento foi superior a 0,6% sobre a variedade SL9193 e igual à da variedade SC SL9193. O comprimento da fibra é igual ao da SL9193 e ligeiramente superior ao da SC


C a p í t u l o I I I | 243

9193 (0,3 mm) com uma uniformidade inferior. Enquanto os índices de micronaire e Pressley das três foram iguais.

4.Métodos e épocas de plantio Existem dois métodos de plantio em uso na região semiárida: o plantio no seco e o plantio nas primeiras chuvas. O plantio no seco apresenta as vantagens de aproveitar as primeiras precipitações e a mão-de-obra ociosa no período seco que antecede as chuvas, devendo ser complementado com irrigação de gotejamento e, por ser uma área agroecológica inferior a 2 ha, não haverá falhas na lavoura. O plantio após a consolidação do inverno ou após a queda de no mínimo 40 mm (mês de fevereiro ou março) tem dado melhores resultados por economia na quantidade de sementes e por dispensar o desbaste, devido à colocação de menor número de sementes /cova. Por se tratar de um algodoeiro tardio, a época de floração deverá coincidir com os meses de maio a julho apresentando temperatura noturna ideal (mais baixa) no semiárido. É necessário o solo bem preparado, quando o plantio é realizado com semeadora a tração animal ou tratorizada, deixando-se cair 15 sementes deslintadas mecanicamente por metro linear. Já no plantio manual em covas ou com matraca colocar 4-6 sementes deslintadas mecanicamente/cova, na profundidade de 2 a 3 cm.

5.Adubação A maioria dos solos das regiões aptas para a cultura do algodoeiro arbóreo, além de erodidos, já apresentam sinais de degradação acentuada e baixa fertilidade. Medeiros (1991), em trabalhos efetuados em solo Bruno não-Cálcico, no município de Patos, PB, observou que a adubação com 20 t/ha de esterco bovino distribuídos a lanço e incorporados no ato do preparo do solo, elevou a rentabilidade do algodoeiro Mocó em 31%, 108%, 74% e 111% no primeiro, segundo, terceiro e quarto ano de produção, respectivamente, sem considerar que o esterco está disponível a baixo custo para o agricultor. De acordo com Beltrão et al. (1995), a produção orgânica de algodão arbóreo no Nordeste brasileiro é possível com a utilização de adubos orgânicos e pode propiciar produtividades maiores que as obtidas com adubação mineral, inclusive com relação benefício/custo maior.


C a p í t u l o I I I | 244

Além da adubação orgânica, a adubação verde tem apresentado bons resultados. A crotalária e o feijão guandu se destacaram como sendo os que melhor influenciaram os rendimentos do algodão, com aumentos de 28% e 12%, respectivamente. Também foi observado que nem sempre os adubos verdes, que produziram maior volume de massa verde foram os que resultaram em maior produção de algodão.

6.Espaçamento e consórcio O Mocó tradicional, por seu desenvolvimento e condição de planta perene, deve ser encarado e tratado à maneira de uma árvore frutífera, de forma a ser admitida apenas uma planta por cova. Todavia, na prática, é adotado o uso generalizado de 2, 3 e mais indivíduos, que, para alguns produtores, é uma estratégia para enfrentar os danos causados pela broca do algodoeiro (Eutinobotrus brasilienses), pois havendo algum ataque da referida praga na lavoura agroecológico poderá existir a possibilidade de redução no número de três plantas/cova para uma planta. Por sua vez, uma planta que cresce isoladamente tem a chance de adquiri maior robustez e maior resistência as condições adversas do ambiente da microrregião do Seridó. Recomenda-se aumentar o adensamento da cultura até os limites de penetração da claridade solar, com maior número possíveis de covas individuais, por área, evitando porém, o maior número de plantas por cova (VELOSO, 1957). O algodão mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante, Hutch.) no semiárido brasileiro geralmente era plantado em consórcio com culturas de subsistência, principalmente com o caupi e o milho. Essa prática é grandemente usada pelos plantadores de algodão que adotam os mais variados sistemas de cultivo com o propósito de conseguir maior rentabilidade por área (SOUSA, 1996). O consórcio com feijão é mais vantajoso, devendo utilizar cultivares de feijão de ciclo curto e porte ereto, para diminuir a competição com o algodão, podendo plantar até duas fileiras de feijão. Para tal configuração, recomenda-se o espaçamento de 2 m x 1 m, com 1 a 2 plantas por cova. Mesmo se tratando de uma prática de exploração tradicional do nordestino, deve-se evitar usar o consorcio com fileiras alternadas de milho e algodão, por retardar o ciclo do algodoeiro e por ocasionar queda no seu rendimento (FREIRE et al., 1992).


C a p í t u l o I I I | 245

No caso do produtor preferir utilizar a cultura pura (monocultivo) do algodão tradicional de fibra extralonga, recomenda-se adotar também o espaçamento de 2 m x 1 m, com 1 a 2 plantas por cova. Por outro lado, quando o objetivo é obter fibra de elevada qualidade, deve-se ser plantado o algodão Mocó tradicional de fibra extralonga, descartando assim o uso de algodão arbóreo superprecoce (híbrido gerado do cruzamento entre herbáceo x arbóreo) por apresentar fibra com característica bastante desuniforme.

7.Desbaste O desbaste ou raleamento deve ser efetuado apenas quando se verificar a germinação de um número excessivo de sementes. Deve-se proceder ao arranquio das plantas menos vigorosas entre 20 a 30 dias após a germinação, tanto para o algodão como para as culturas consorciadas. No entanto, na hipótese de germinarem de 2 a 3 plantas/cova, esta operação se torna dispensável (FREIRE et al., 1992).

8. Controle de ervas daninhas Beltrão e Azevedo (1983) verificaram que o algodão arbóreo deve ser mantido livre da concorrência das plantas invasoras nos primeiros 70 dias após a emergência, no primeiro ano de cultivo, e por semelhante período após o início das chuvas nos anos subsequentes. Após este período, a lavoura deve coexistir com as plantas daninhas, sem prejuízo para a sua produção final e com benefício para a pecuária, devido ao acúmulo de forragem para uso no período seco do ano. O controle das plantas daninhas na lavoura agroecológica pode ser efetuado a enxada (processo lento e caro, exigente de mão-de-obra), através de cultivadores de tração animal e com micro tratores Tobata. Não recomenda efetuar o controle de ervas após os primeiros 70 dias para não causar corte das raízes das plantas, o que irá provocar à queda dos botões florais, reduzindo, consequentemente, a capacidade de produção da lavoura (FREIRE et al., 1992). No experimento conduzido por Kerkhoven (1964), o mesmo observou que o atraso da primeira capina por 4-6 semanas, determinava redução de 76% na produção do algodão em rama em relação ao tratamento completamente livre de concorrência de ervas daninhas (testemunha). Também verificou que capinas adicionas contribuíram para elevar


C a p í t u l o I I I | 246

a produção em 20%. Enquanto Treanor e Andrews (1965) verificaram decréscimos de 76% na produção do Gossypium hirsutum L., quando em competição com plantas daninhas. Decréscimos bem menores, da ordem de 40%, foram encontrados por Holstun (1957), que também constatou redução no crescimento e retardamento na maturação dos capulhos, quando o algodão foi submetido à concorrência do mato. Por outro lado, Alves e Quirino (1970 ) constataram na Estação Experimental de Veludo de Itaporanga, PB que a roçagem da vegetação natural determinava redução de 56% no rendimento do algodão Mocó (G. hirsutum r. marie galante Hutch.), quando comparada a produção com a da testemunha. Diminuição sensível de produção foi também observada por Mangueira et al. (1970), na Estação Experimental de Serra Talhada, PE. Os mesmos autores não recomendam essa prática de roçagem no algodoeiro, não só pela redução da sua produção, mas devido a redução ocasionada no stand final da cultura.

9.Pragas-Doenças Os métodos de controle de pragas e doenças para o algodoeiro agroecológico estão detalhados no primeiro capítulo do livro. É importante destacar que a produção do algodão limpo, ou simplesmente agroecológico, envolve não somente o não uso de produtos químicos, mas, também, todo um planejamento do sistema de produção envolvendo os componentes do agroecossistema, tanto do substrato ecológico quanto da parte biótica, incluindo cultivares que, por si só, colaborem com a redução dos problemas fitossanitários via resistência genética e/ou mecanismos de escape ou exclusão, através da precocidade e de outros atributos importantes na luta contra os agentes redutores da produtividade (BELTRÃO et al., 1995). Em função de não se poderem utilizar produtos químicos, como inseticidas, herbicidas, desfolhantes e fertilizantes e de ainda não se ter cultivares sintetizadas especificamente para tais condições de cultivo e também dependendo do ambiente, que influenciará diretamente as pressões ocasionadas pelos agentes biológicas causadores de pragas e doenças, a produtividade do algodão orgânico é, em geral, menor que a obtida em condições convencionais. O International Cotton Advisory Committee (1994) tem registrado perdas de até 65%, com as produções obtidas na Índia e, em alguns casos, ganho de 7%, como o obtido em 1993 no Tennessee, nos USA.


C a p í t u l o I I I | 247

Nas áreas de cultivo do algodoeiro arbóreo, cujo ciclo econômico é de cinco anos e se recomenda fazer uma poda drástica anualmente (altura de 40 cm) após a colheita no período seco (FREIRE et al., 1992). As principais pragas são o curuquerê, o bicudo e o pulgão, e, praticamente, não existem problemas com doenças. É importante destacar que a região zoneada para o cultivo do algodoeiro arbóreo no Nordeste apresenta as melhores condições climáticas e técnicas para a exploração do algodão orgânico (BELTRÃO et al., 1995). O algodão cultivado sem a utilização de adubos, inseticidas, herbicidas, desfolhantes e outros produtos químicos sintéticos, também chamados de "algodão orgânico", alcança preços 30 a 40% superiores ao mesmo produto obtido com a utilização de insumos químicos. No Brasil, a primeira experiência com o algodão orgânico foi efetuada por um grupo de produtores de Tauá, CE, sob a orientação da ESPLAR. Foram plantados 200 ha de algodão mocó, cultivar CNPA 3M, sendo o produto obtido comercializado junto à indústria têxtil Filobel de Jundiaí, SP (LIMA, 1995). As possibilidades de cultivo e produção desta malvácea em bases orgânicas também têm sido estudadas no Campo Experimental da Embrapa Algodão, localizado no município de Patos, Seridó Nordestino. Nesta região, as condições climáticas predominantes têm sido apontadas por diversos pesquisadores (BELTRÃO et al., 1995; CHAGAS et al., 1988; RAMALHO; SANTOS, 1991; RAMALHO; GONZAGA, 1990a,b; RAMALHO et al., 1993; RAMALHO; SILVA, 1993; RAMALHO, 1994) como o principal fator responsável pelas reduções dos problemas de ordem fitossanitária, notadamente aqueles relacionados as duas principais pragas do algodão mocó, que são: o curuquerê e o bicudo. Apesar disso, ocorrem anos cujas condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento dessas pragas, havendo necessidade da utilização de medidas adicionais de controle além do climático. Para controlar o curuquerê, sugere-se efetuar liberações inundativas de Trichogramma spp. ou efetuar pulverizações com inseticidas microbiológicas a base de Baciiius thuringiensis. No caso do bicudo, sugere-se estimular o controle biológico natural, manipular cultivares e adotar as práticas culturais recomendadas no MIP do Algodoeiro mocó. Nas lavouras de 2º e 5º anos, estas medidas associadas a grande precocidade das lavouras em decorrência da poda, quebram a sincronia entre a fonte alimentar da praga e sua ocorrência, possibilitando boas produções antes que os níveis populacionais do bicudo atinjam patamares elevados, inviabilizando a produção. Nas lavouras de primeiro ano,


C a p í t u l o I I I | 248

sugere-se efetuar a instalação de "tubos mata bicudo" na quantidade de 1 tubo/ha, colocado fora e na periferia da lavoura, próximo aos locais de refúgio, para dificultar e/ou retardar o estabelecimento da primeira geração no campo (Figura 145).

Figura 145. Tubo-mata-bicudo: No orifício superior do tubo é inserida a placa de feromônio sexual que atrai o bicudo. Fotos: Larissa Gonçalves Silva

10. Capação apical do algodoeiro O algodoeiro possui crescimento indeterminado, o que resulta na presença de estruturas reprodutivas de diferentes idades em uma mesma planta. Os ramos vegetativos e reprodutivos continuam a se desenvolver e a produzir botões florais na parte apical da planta, concomitantemente com o surgimento dos primeiros capulhos na parte basal (BELTRÃO et al., 2008). Então, a capação apical é recomendada para reduzir o número


C a p í t u l o I I I | 249

de estruturas não produtivas, ao final da safra, que são utilizadas como hospedeiras de pragas.

De acordo com Arruda et al. (2002), apenas 44% dos botões florais produzidos formam capulhos. Quando não há abscisão natural, o excesso dessas estruturas permanece nas plantas e serve como alimento, sítio de oviposição e habitat de pragas. Com a capação apical realizada após a população de plantas completar 50% da floração, irão formar capulhos, reduzir o ramo monopodial e os ramos simpodiais e pode diminuir a população de insetos-praga na lavoura e melhorar a produção. A retirada de estruturas jovens da planta pode reduzir a atratividade e suprimir os sítios de oviposição e de desenvolvimento de insetos (DEGUINE et al., 2000; SUNDARAMURTHY, 2002). Pode, também, afetar o crescimento e o desenvolvimento da planta (OBASI; MSAAKPA, 2005) e modificar a distribuição dos assimilados, em benefício das maçãs mais antigas (KIM; OOSTERHUIS, 1998).

11.Poda da haste principal É fácil constatar a nível de campo na microrregião do Seridó que o algodoeiro Mocó tradicional geralmente cresce a uma média de dois metros. Portanto, antes da entrada da praga do bicudo no Brasil, recomendava-se que a poda fosse efetuada um mês antes do período do inverno, numa altura que ultrapasse a zona monopodial, em mais ou menos o dobro ou triplo, a fim de que a planta se capacite a produzir ramos mais vigorosos, consequentemente mais produtivos em floração. Obedecendo a uma contagem de nós, nos limites 17 a 20, a altura da zona monopodial seria marcada a uma média de 40 cm, aos quais somados o seu triplo teria uma altura de 1,20 m, à qual seria a altura para o corte da haste principal. Enquanto os ramos vegetativos inferiores deveriam ser secionados à distância de dois terços e mínimo de um terço de sua inserção, em referência à altura da haste principal, diminuindo à medida que se aproxima do último ramo vegetativo superior, sendo, porém, os frutíferos secionados rente à haste principal, ou ao ramo que lhe deu origem. Após a quinta colheita do algodão em rama (safra), recomendava-se erradicar todas as plantas e efetuar nova semeadura do campo (VELOSO, 1957).


C a p í t u l o I I I | 250

Na atual situação de convivência com a praga do bicudo, recomenda-se efetuar duas colheitas sucessivas do algodoeiro Mocó tradicional no espaço de tempo anual, o que requer o emprego de irrigação por gotejamento. A pequena área da agricultura familiar pode ser plantada no início do inverno (fevereiro ou março) e ser conduzida normalmente em condições de sequeiro e com suplementação de irrigação. Após a primeira colheita do algodão em rama e sem uso de poda, a irrigação do algodoeiro deve ser reativada após um intervalo de 30 dias, a fim de obter a segunda colheita do algodão em rama.

Quando se trata do sistema de produção de cultivares precoces (CNPA 5M, Algodão 6M e Algodão 7MH), a colheita será antecipada de setembro/outubro para junho/agosto. As lavouras de 1º ano normalmente serão colhidas no período de julho/agosto, enquanto que as lavouras de 2º a 5º anos, serão colhidas nos meses de maio/junho, devido a antecipação do seu ciclo. Imediatamente após a colheita, recomenda-se colocar o gado na lavoura por 30 a 60 dias, após o qual seriam retirados os animais e processada a poda para padronização de porte e rebrota. A poda nessas cultivares precoces deve ser a 20-30 cm do solo, no 1º ano da cultura, e pelo menos 30 dias antes do reinício das chuvas, queimando-se os ramos podados imediatamente após a poda, para evitar a fuga ou refúgio de insetos adultos nos restos de lavoura. Nos 2º a 5º anos seguintes podam-se os ramos vegetativos de lª ordem que surgem do eixo principal ou dos ramos dele derivados sempre 20 cm acima do local de poda do ano anterior (BELTRÃO, 1995) (Figura 146).


C a p í t u l o I I I | 251

Figura 146. Poda do algodoeiro de 1º e 2º anos do ciclo biológico, cultivares precoces. Foto: Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão (1995).

De acordo com Fye e Bonham (1970) quando a temperatura da superfície do solo ultrapassa 38 ºC, durante algumas horas por dia (pelo menos três), ocorre um forte controle bioclimático do bicudo. No Seridó, mesmo no período chuvoso e nos dias de estiagem, a temperatura da superfície do solo atinge mais de 45 ºC. Este controle ecológico do bicudo é extremamente importante pois, associado a outras medidas de controle, como o uso de configurações abertas, espaçamento duplo (3,0 m x 1,0 m x 0,50 m), poda anual drástica, retirada dos retos culturais, colocação do gado após a colheita, que se alimenta dos restos culturais, fazendo um tipo de controle biológico das pragas, catação e queima dos botões florais caídos ao solo facilitada com o uso de catador manual (Figura 147), sendo de maior eficiência em solos com poucas ou nenhuma pedra na superfície (BELTRÃO et al., 1993), uso de cultivares precoces que floram no primeiro ano com 60 dias da emergência das plantas contra 100 a 120 dias nas cultivares de algodão


C a p í t u l o I I I | 252

arbóreo tradicional. Diferente das cultivares tradicionais de fibra extralonga (36-42 mm), a cultivar precoce CNPA 5M produz fibra longa de 34-36 mm (EMBRAPA, 2003).

Figura 147. Detalhes do catador manual de botões florais atacados pelo bicudo e caídos ao solo e a bolsa de coletas. Foto: Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão (1995).

12.Colheita e beneficiamento A colheita é uma operação que requer total atenção e dedicação do agricultor devido à qualidade ser um fator que depende do tipo e até mesmo o rendimento da lavoura, sendo necessário preservar principalmente as características especiais do algodão mocó de fibra extralonga. Cuidadosamente, devem ser apanhados os capulhos do algodoeiro. Em um dia de trabalho, um agricultor pode colher manualmente entre 40-50 kg de algodão em rama. Portanto, a colheita manual do algodoeiro deve ser realizada com pessoal treinado para fazer a apanha, quando 60% dos capulhos estão abertos, limpos, secos e livres de orvalho, tendo-se o cuidado de separar o algodão de tipo superior do de inferior qualidade, razão pela qual deve ser realizada com pessoal treinado, o qual irá desprezar carimãs e lojas estragadas e contribuindo, desta forma, para um tipo melhor de algodão, com boa qualidade de sementes e maior resistência de fibras, em virtude da separação de capulhos depreciados pelo ataque de pragas ou impurezas; ademais, os sacos usados na apanha devem ser de fio de algodão e não muito compridos, para evitar o seu contato com o solo,


C a p í t u l o I I I | 253

o que poderá afetar a qualidade da fibra; seu amarrio deve ser feito com cordão de algodão (COSTA et al., 2005). Sobre o tema de colheita, recomenda-se observar os seguintes cuidados: -Realizar tantas colheitas quanto forem viáveis, iniciando-se quando 60% dos capulhos estiverem abertos e em dias de sol. -Quando possível, separar o algodão sujo, dos limpos. -Evitar colher capulhos com carimãs, plantas daninhas, maçãs verdes, detritos da cultura, brácteas, penas, amarrios diversos, arames, terras e outros produtos estranhos – qualquer tipo de impurezas -. -Entregar, o quanto antes, o algodão, às usinas de beneficiamento evitando, assim, riscos decorrentes de fermentação e contaminação com penas de aves e pelo de animais em tulha. -O local destinado ao armazenamento do produto, antes da comercialização, deverá ser seco e limpo e bem arejado. -Treinar os colhedores, enfocando a importância do seu trabalho (COSTA et al., 2005).

Uma cooperativa de agricultor em cada território do semiárido deveria contar com uma unidade de descaroçamento do tipo rolo para beneficiar o algodão Mocó de fibra extralonga. Em uma jornada de trabalho, a máquina de rolo pode beneficiar entre 220 a 270 kg de algodão em rama por dia, ou seja, um pouco mais de dois fardos de pluma, com base na produção da prensa hidráulica com capacidade para 100 a 120 kg de fibra por fardo. Direcionada para agricultura familiar, a miniusina itinerante poderá ser formada por um reboque, um descaroçador de rolo e uma prensa hidráulica de pequeno porte (Figura 148). Além de prender os equipamentos a base do reboque, o piso deverá ser revestido com folhas de alumínio, evitando assim sujar ou contaminar a fibra.


C a p í t u l o I I I | 254

Figura 148. Unidade itinerante de beneficiamento de algodão Mocó constituída por um reboque, um descaroçador de rolo e uma prensa mecânica (montagem ilustrada) para atender pequena comunidade da agricultura familiar. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

PRODUTIVIDADE ESPERADA Para o algodoeiro mocó agroecológico conviver economicamente com o bicudo, é necessário que a lavoura seja conduzida em condições de chuvas e com suplementação de irrigação por gotejamento até os dois primeiros ciclos de colheitas realizadas no mesmo ano agrícola. A economicidade dos dois ciclos produtivos será mantida desde que o algodoeiro apresente nível de produtividade média superior a 400 kg/ha, correspondendo a um total de produção de 800 kg de algodão em rama. Após os dois


C a p í t u l o I I I | 255

ciclos, recomenda-se erradicar a lavoura um mês após a colheita do algodão e o aproveitamento animal dos restos da cultura.

Desde 1926, tanto a área cultivada como a produção de algodão em rama na Fazenda São Miguel (Figura 149), situada no município de Angicos, RN têm sido controladas e mais de 500 ha foram cultivados de uma maneira contínua, durante 20 anos. A algodoeira São Miguel visava obter uma quantidade de algodão em rama da ordem de 10.000 toneladas para abastecer as duas usinas de beneficiamento (São Miguel e Âncora), promovendo assim a distribuição gratuita aos agricultores, em um raio de 80 km, de sementes provenientes das multiplicações na Fazenda São Miguel, como seus cooperadores de algodoeiros perenes melhorados, tipo mocó, em colaboração com os órgãos governamentais. A pluviosidade anual registrada na região foi muito variável em quantidade como na sua distribuição, podendo variar de 121,0 mm (1958) a 928,5 mm (1964), com média anual de aproximadamente 450 mm. Os resultados obtidos das variações do rendimento médio por hectare e das variações da pluviosidade anual (Tabela 27) mostram que: a) O rendimento médio por hectare variou de 74 kg a 580 kg; b) As mínimas e as máximas do rendimento diminuíram, regularmente, com a cultura algodoeira explorada interruptamente nas mesmas áreas, onde os rendimentos máximos por hectare foram de 336 kg, 245 kg e 194 kg para os períodos: 1926-1940, 1941-1950, e 1951-1964, respectivamente; e c) observou-se que existe certa correlação entre os baixos rendimentos por hectare e os anos de pluviosidade inferior ou próxima a 200 mm, em contrapartida, não há correlação significativa entre os rendimentos máximos e a queda de precipitações anuais.


C a p í t u l o I I I | 256

Figura 149. Estação experimental da Algodoeira São Miguel em Angicos, RN pertencente a companhia inglesa Machine Cotton. Foto: Júnior Santos.

Tabela 27. Flutuações da produção do algodoeiro Mocó na Fazenda São Miguel, em Angicos, RN entre os períodos de 1926-1964. Ano

Área Rdt (ha) (kg/ha) 1926 296 277 1927 296 210 1928 296 224 1929 296 580 1930 296 300 1931 296 370 1932 296 154 1933 296 370 1934 373 475 1935 373 485 1936 373 150 1937 373 295 1938 373 345 1939 373 370 1940 373 433 1941 373 205 1942 373 114 1943 373 260 1944 650 275 1945 650 270 Foto: Boulanger et al. (1966).

Precipitações (mm) 573,9 484,4 297,1 481,6 240,2 225,0 150,1 281,3 552,4 604,7 155,0 420,5 402,5 427,5 870,5 248,5 190,1 237,8 644,9 438,9

Ano

Área (ha) 1946 650 1947 650 1948 650 1949 650 1950 650 1951 650 1952 650 1953 650 1954 650 1955 650 1956 650 1957 650 1958 650 1959 650 1960 625 1961 590 1962 570 1963 600 1964 600 Médias

Rdt (kg/ha) 276 286 273 240 243 105 202 84 74 244 240 320 74 340 231 200 196 219 182 260

Precipitações (mm) 377,5 920,0 858,1 613,4 480,3 236,5 489,8 216,5 212,1 563,9 405,5 458,8 212,0 752,5 381,7 619,0 500,3 761,5 928,5 454,8


C a p í t u l o I I I | 257

Um estudo com 3 grupos de plantas de algodão, no segundo ano de produção, classificadas como precoces, intermediárias e tardias, foi realizado nas fileiras de progênies do campo da fazenda Senador Acioly em Quixeramobim, CE. Nas plantas selecionadas, diariamente, eram contados os números de flores, maçãs e de capulhos com o objetivo de determinar a relação entre as percentagens de perda e a produtividade potencial. Na avaliação efetuada em cada semana, da projeção da copa, eram recolhidas as flores e maçãs que haviam caído. Também foram calculadas as percentagens de flores e maçãs atacadas pela lagarta rosada e somente os capulhos abertos e, realmente colhidos, foram levados em conta na medida da produtividade de cada loja, com isenção de ataque. Os resultados obtidos na Tabela 28 indicam que a produtividade real totalizou apenas valores pouco acima de 32% de produtividade potencial nas plantas das diversas categorias, enquanto a queda de flores e maçãs devida a causas desconhecidas foi à variável que maior redução apresentou a produtividade real, as quais corresponderam a 59,4%, 61,0% e 64,4%, respectivamente nos tipos precoces, tardios e do grupo intermediário (MOREIRA et al., 1973).

Tabela 28. Produtividade potencial, quedas com causas indeterminadas e com ataque de lagarta rosada e produtividade real de capulhos em plantas dos tipos precoces, médias e tardias. Em Quixeramobim, CE. Aspecto

da

Tipos de planta

produtividade

Precoces

Intermediárias %

Valores

%

Valores

%

Observados

produtividade

Observados

produtividade

Observados

produtividade

potencial Produtividade

Tardias

Valores

potencial

potencial

313

100,0

225

100,0

187

100,0

186

59,4

145

64,4

114

61,0

20

6,4

8

3,6

9

4,8

107

34,2

72

32,0

64

34,2

potencial Queda indeterminada Queda

com

ataque

da

lagarta rosada Produtividade real de capulhos

Fonte: Moreira et al. 1973 (Relatório Técnico, 1972).


C a p í t u l o I I I | 258

Conforme estudo realizado no algodoeiro Mocó por Vasconcelos e Boulanger (1979), a criação da variedade Veludo C-71 precoce (P) em 1975, com mistura de plantas que florescem muito cedo, durante os meses de abril, não apresentou no primeiro ano de cultivo, o aumento de produção esperado em relação à variedade de origem (O; Veludo C-71 obtida em 1972). Ao contrário, foi constatada uma redução da produção. Essa redução foi da mesma ordem de grandeza da observada com a variedade Veludo C-71 tardio (T) composto de plantas, cuja primeira flor apareceu no mês de maio (Tabela 29).

Tabela 29. Comportamento das seleções precoces (P) e tardias efetuadas em 1975 com a variedade Veludo C-71 (Mocó). Variedade

Produção de algodão em caroço 1º ano

2º ano

Fibrógrafo 2,5 % 3º ano

Índice

Comp.

Unif.

Kg/ha

%

Kg/ha

%

Kg/ha

%

mm

%

Pressley

Micro-

Veludo C-71 O

872

100

534

100

1406

100

30,0

45,8

9,6

3,7

Veludo C-71 P

684

78

592

111

1276

91

30,5

46,9

10,0

3,8

Veludo C-71 T

691

79

461

86

1152

82

30,7

45,0

9,5

3,9

naire

Fonte: Vasconcelos e Boulanger (1979).

Por outro lado, a variedade Veludo C-71 foi comparada à variedade SL 9193 em 13 ensaios realizados de 1971 a 1975, e SC 9193 em 14 ensaios realizados de 1975 a 1977 em vários locais de Pernambuco. Na Tabela 30, observa-se que a variedade Veludo C-71 manifestou uma superioridade de algodão em rama de 13 a 24% sobre as variedades SL 9193 e SC 9193. Seu comprimento de fibra foi um pouco superior ao da SC 9193 (0,3 mm) com uma uniformidade inferior. Os índices micronaire e Pressley das três variedades foram iguais (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979).


C a p í t u l o I I I | 259

Tabela 30. Ensaios de competição de variedades de algodão Mocó instalados em Pernambuco entre os períodos de 1971 a 1977. Discriminação

Variedades

Produção de algodão em rama

SL 9193

Veludo

SC 9193

C-71

Veludo C-71

- 1 ano (kg/ha)

387

124%

501

114%

- 2 ano (kg/ha)

936

116%

1.001

112%

- 3 ano (kg/ha)

1.343

116%

1.209

119%

- 4 ano (kg/ha)

1.723

113%

-

-

Produção de fibra (kg/ha)

534 (4 anos)

115%

384 (3 anos)

117%

Percentagem de fibra (%)

31,0

31,6

31,5

31,2

Comprimento Fibrógrafo 2,5% S. L. (mm)

30,7

30,5

29,9

30,2

Uniformidade (U.R.) (%)

44,8

43,5

44,5

43,8

Micronaire

3,6

3,7

3,6

3,7

Índice Pressley

8,1

8,2

8,0

8,1

Comprimento comercial (mm)

36,2

36,0

35,3

35,6

Fonte: Vasconcelos, W. M.; Boulanger, J. (1979).

Com base nos resultados dos experimentos de competição regional de “Buks” do algodoeiro Mocó, originados de Pernambuco (Bulk da seleção conservadora e Bulk C), Paraíba (Bulk C-71), Ceará (Bulk C-74-C’) em comparação a testemunha de Cruzeta, RN (variedade SL 9193), conduzidos no estado do Ceará e semeados no espaçamento de 2 m entre fileiras e 1 m entre covas, deixando duas plantas/cova, as conclusões estabelecidas por Silva et al. (1975) foram as seguintes: a) O bulk C-74 (C’) mostrou-se mais precoce que os demais bulks e a variedade SL 9193, exibindo floração e frutificação mais cedo. A vantagem disso reside no melhor aproveitamento das reservas hídricas do solo, que pode se refletir em melhor rendimento; B) o balanceamento entre ramos monopodiais e simpodiais foi melhor no bulk C-74 (C’) que nos demais materiais, observando-se a proporção de vegetativos/frutíferos de 1:1, semelhante a variedade SL 9193 (testemunha); c) Rendimentos da ordem de 378 kg/ha no ensaio de Quixadá e 426 kg/ha em Quixeramobim foram apresentados pelo bulk C-74 (C’), correspondendo a uma superioridade de 87% e 244% em relação à testemunha (SL 9193); d) A superioridade do bulk C-74 (C’) foi também evidenciada quando se tomou a média dos três locais dos ensaios (Quixadá, Quixeramobim e Milagres). Foi encontrado um valor de 373 kg/ha


C a p í t u l o I I I | 260

contra 203 kg/ha da testemunha, representando um acréscimo de 84% sobre a última; e e) O bulk C de Pernambuco, revelou uma boa performance produtiva em cada local e no conjunto dos mesmos. Nas condições de clima e solo de Quixadá, CE, superou em 74% à testemunha.

DÉCADA DE 50: ALGODÃO MOCÓ NA USINA DE SÃO MAMEDE A atividade econômica do município de São Mamede, PB, além dos municípios no seu entorno, era no ano de 1956 fundamentado no cultivo do algodão mocó, mas também incluíam as culturas de subsistência como o feijão, milho, batata doce, etc. Nesse ano, a cultura do algodão apresentou um volume de produção de 113.000 arrobas de algodão em rama (Figuras 150 e 151).

Figura 150. Recepção e pesagem do caminhão com algodão em rama na balança da Usina Algodoeira de São Mamede, PB.


C a p í t u l o I I I | 261

Figura 151. Usina Algodoeira de São Mamede, PB como algodão em rama armazenado na parte externa da unidade devido à grande produção de 1956. Foto: Prefeitura de São Mamede, PB.

O auge do algodão mocó durou vários anos, só vindo a ter uma queda significativa por volta dos anos 80. A atividade industrial foi durante muitos anos o carro chefe da economia de São Mamede. Impulsionada por sua usina de algodão com vários descaroçadores de rolo (Figura 152) e uma rústica prensa de fibra (Figura 153), além da unidade de extração de óleo, chegava a representar 80% da economia do referido município. Após alguns anos, houve uma queda significativa da produção de algodão em todo o nordeste brasileiro, consequentemente a usina de São Mamede esteve com suas atividades paralisadas durante vários anos.


C a p í t u l o I I I | 262

Figura 152. Beneficiamento do algodão Mocó nos descaroçadores de rolo da Usina Algodoeira de São Mamede, PB. Foto: Prefeitura de São Mamede, PB.

Figura 153. Fardo de fibra de algodão na máquina de prensa da Usina Algodoeira de São Mamede, PB. Foto: Prefeitura de São Mamede, PB.

Nos últimos 20 anos, o Grupo Santana do Rio Grande do Norte, com apoio da Prefeitura de São Mamede e do Governo do Estado da Paraíba, regularizou a situação da usina e foram gastos altos valores no processo de recuperação, deixando recuperando os


C a p í t u l o I I I | 263

armazéns de armazenamento de algodão com capacidade para mais de cinco milhões de toneladas, além de restaurar a unidade de extração de óleo de algodão (Figura 154). Antes da extração de óleo, as sementes são submetidas ao deslintador mecânico da referida usina (Figura 155).

Figura 154. Unidade de extração a quente de óleo das sementes deslintadas de algodão e o filtro da Usina Algodoeira de São Mamede, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I I I | 264

Figura 155. Deslintador mecânico de sementes de algodão da Usina Algodoeira de São Mamede, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga


C a p í t u l o I V | 265

Capítulo IV

PRODUÇÃO DE TÊXTEIS DE ALGODÃO ORGÂNICO, DEFINIÇÕES DE AGRICULTURA ORGÂNICA E NORMAS DE CERTIFICAÇÃO

(Autores) Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Tarcísio Marcos de Souza Gondim Ênio Giuliano Girão Adriana Calderan Gregolin Esther Maria Barros de Albuquerque


C a p í t u l o I V | 266

PRODUÇÃO DE TÊXTEIS DE ALGODÃO ORGÂNICO

As primeiras peças de vestuário produzidas com o enfoque de moda ecológica surgiram a partir de 1990, mas foi apenas no final dessa década que a produção de matéria-prima e o processamento de têxteis foram vistos de modo integrado. Portanto, as informações sobre a produção de algodão orgânico são escassas, parciais e dispersas, pois a atividade é muito recente e não há registros em estatísticas oficiais.

O número de países com experiência no cultivo de algodão orgânico ainda é pequeno, mas cresce a cada ano. Há registro de 19 países produtores (Tabela 31). Os primeiros países a cultivarem algodão orgânico foram os Estados Unidos e a Turquia, a partir de 1989. Os principais consumidores da fibra orgânica são os Estados Unidos, que produzem basicamente para consumo próprio, e os países da União Europeia, que, por não serem produtores, apoiam sua produção em países em desenvolvimento na Ásia, África, América do Sul e América Central, por meio de agências governamentais e não governamentais. Essas agências fornecem suporte técnico, financeiro e institucional, organizando, certificando e comercializando a produção (SOUZA, 1997).

Tabela 31. Estimativa da produção mundial de algodão orgânico, em 1997. Países

1997

Países

1997

Argentina

70

Nicarágua

20

Austrália

400

Paraguai

50

Benin

5

Peru

650

Brasil

5

Senegal

20

Egito

630

Turquia

800

USA

2.852

Tanzânia

200

Grécia

400

Uganda

800

Índia

930

Zâmbia

30

Israel

50

Zimbábue

5

Moçambique

50

TOTAL

Fonte: Adaptada de ORGANIC (1999).

7.976


C a p í t u l o I V | 267

Apesar da produção orgânica de algodão ainda ser pequena, mesmo assim as empresas do setor têxtil, buscando atender ao mercado de consumidores de produtos orgânicos, passaram a demandar matérias-primas produzidas dentro de sistemas de produção menos agressivos ao meio ambiente, como forma de diferenciar seus produtos diante do consumidor. Os problemas ambientais mais importantes na indústria de têxteis de algodão estão na produção rural, pela grande quantidade de agrotóxicos usados no cultivo da fibra, e na etapa de acabamento, devido às substâncias tóxicas usadas para alvejar e tingir os produtos.

Novamente ressalvando que para ser considerado orgânico, o algodão precisa ser certificado. A certificação é um instrumento de garantia de que o algodão orgânico foi produzido dentro de um conjunto mínimo de normas. As instituições que regulamentam o processo, e as organizações que certificam o produto, desempenham papel importante, promovendo e assegurando sua diferenciação, reduzindo a assimetria de informações entre compradores e vendedores, permitindo maior agregação de valor ao produto e a obtenção de margens de lucro mais elevadas pelos diferentes segmentos do sistema produtivo (SOUZA, 2000).

Vale destacar que essa cadeia têxtil é formada pela reunião de várias unidades de produção, operando ou não dentro de um mesmo estabelecimento. Portanto, para manter a condição de orgânico, até o produto final, é necessário que toda a cadeia de produção seja inspecionada e certificada como orgânica. Além de controlar o segmento de insumos, as condições de cultivo devem obedecer a práticas orgânicas, assim como as etapas subsequentes, como o beneficiamento, fiação, tecelagem, acabamento e confecções, também devem ser certificados como orgânicas (THE COTTON, 1998). Contudo, o monitoramento das agências de certificação poderá ocorrer nos seguintes segmentos de produção e da indústria têxtil:

Insumos agrícolas É importante considerar que o setor de insumos nos sistemas orgânicos de produção apresenta características distintas do setor convencional. A reorganização da atividade agrícola dentro desses sistemas reduz, mas não elimina a dependência de insumos externos. As práticas culturais recomendadas contemplam a rotação de culturas, uso de


C a p í t u l o I V | 268

composto e adubo orgânico, que pode ser produzido na própria unidade produtiva, capina manual e mecânica, contagem e lançamento de insetos benéficos e uso de armadilhas para controle de pragas.

A reorganização do segmento de insumos orgânicos traz novos atores à cena, como os fornecedores de insetos e de outros organismos benéficos usados contra as pragas. Essas práticas, contudo, elevam os custos com mão-de-obra e acentuam os riscos de menores rendimentos, além de, em muitos casos, não contarem com financiamento bancário (IMHOFF, 1995). Além disso, dentro das normas de certificação da produção, alguns insumos precisam ter origem orgânica certificada.

Produção da matéria-prima Uma exigência importante adotada pelo IBD (Brasil) para certificação do campo de produção do algodão orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas agrícolas sob pousio de 3 anos, na ausência de defensivos e adubos minerais. Na Tabela 32, destaca-se a evolução da área utilizada para produção orgânica certificada de alguns países da América do Sul.

Tabla 32. Área utilizada para produção orgânica certificada (ha). País

Área 2000

Área 2004

Taxa de crescimento em %

Argentina

169.200

2.960.000

1.649,4

Brasil

50.000

841.000

1.583,5

Paraguai

23.975

91.414

281,3

Uruguai

14.824

760.000

5.026,8

Fonte: Adaptado de Batalha e Buainain, 2007.

O sistema do algodão orgânico é mais cultivado em pequenas áreas agrícolas de até 2 ha, com maior predominância de exploração na região semiárida do Brasil. Na pequena produção, o algodão é cultivado em consórcio ou em rotação com culturas alimentares. A produção é intensiva em trabalho, com operações de cultivo manuais, geralmente,


C a p í t u l o I V | 269

ocupando mão-de-obra familiar. A mão-de-obra representa um fator de produção importante no cultivo do algodão orgânico, especialmente no caso de colheita manual.

Observa-se também no semiárido que o sistema de produção de algodão orgânico é mais caracterizado pelo baixo nível tecnológico empregado nas atividades, à qual é conduzida em condições de sequeiro. Além disso, a produtividade da pequena área é reduzida pela competição entre as culturas por terra e trabalho (principalmente no consórcio com outras espécies e por não realizar adequadamente a operação de desbaste), fazendo com que as práticas de cultivo sejam realizadas fora do prazo adequado, dificultando o controle de pragas e invasoras e a operação de colheita. Ou seja, o cultivo orgânico exige uma rigidez no controle sobre a produção, assim como maior preparo por parte dos agricultores para sua utilização. A colheita manual seletiva tem grande importância na definição da qualidade da fibra.

A produção de algodão orgânico está a cargo de pequenos produtores do semiárido que empregam, basicamente, mão-de-obra familiar, em cultivo consorciado com milho, feijão, gergelim e guandu (LIMA et al., 1997). É importante destacar que a primeira exportação brasileira de algodão orgânico certificado pelo IBD (Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural de Botucatu, SP) aconteceu em 1999, quando a empresa norteamericana Tribal Trading Co adquiriu 3 toneladas de fibra da associação dos pequenos agricultores de Tauá-CE para confecção de roupas intimas, sendo os fios e a malha elaborados pela Têxtil Bezerra de Menezes de Fortaleza, CE (ORGÂNICO, 2001).

Mesmo se tratando de pequenas áreas plantadas (no máximo 2 ha), os pequenos produtores orgânicos nordestinos têm dificuldades em pagar a taxa anual para certificar junto ao IBD os seus campos de algodão como orgânico. Meirelles (2003) destaca que o preço cobrado pelo serviço de certificação é impeditivo para pequenos agricultores, além de diferentes exigências de selos de cada comprador ou importador, o que é totalmente insustentável. Uma forma de resolver tal problema seria negociar um contrato de terceirização da produção do algodão colorido orgânico firmado entre os fornecedores da matéria prima (Associação de Produtores ou Cooperativas Agrícolas) e a indústria têxtil de produtos naturais, ficando esta indústria com a responsabilidade de pagar a taxa de certificação dos campos de produção de algodão orgânico e os pequenos produtores


C a p í t u l o I V | 270

apenas assumiriam o papel de cooperados no sistema produtivo do algodão dessa empresa. Recentemente, essa situação sucedeu com os produtores familiares de Remígio, PB, os quais foram contratados por uma indústria têxtil para produzir ecologicamente o algodão colorido, tendo ela incluído no contrato que iria assumir o pagamento da taxa de certificação do produto. Todas as práticas agrícolas e insumos precisam ser aprovados pelas certificadoras. A densidade de plantio é menor no cultivo orgânico, para reduzir a competição pela luz, água e nutrientes e para promover um melhor desenvolvimento dos capulhos. O controle de pragas e doenças consta de monitoramento, pulverizações com produtos vegetais e técnicas de confundimento como as armadilhas de feromônios (hormônios sexuais de insetos) (SOUZA, 2000). Pode-se também recorrer ao uso de organismos vivos, como Bacillus thuringiensis, trichogramma e de outros insetos benéficos. As práticas variam conforme a pressão das pragas, a localização da área, as condições climáticas, a incidência no ano anterior e as culturas e habitats mais próximos. O controle de ervas pode ser feito com cultivo manual ou mecânico. Ainda não há consenso sobre a viabilidade econômica do cultivo do algodão orgânico. As informações disponíveis não são suficientes para determinar tendências de longo prazo. Estima-se que nos países onde já se cultiva o algodão orgânico, os custos de produção sejam 10% a 15% superiores aos do algodão convencional, com rendimento 15% inferior (UNCTAD, 1996). O prêmio pago aos produtores pelo algodão orgânico certificado, segundo MYERS (1995), varia entre 10% e 30%. Em alguns casos, como no do algodão colorido, pode variar entre 50% e 100% sobre o preço do algodão convencional (IMHOFF, 1995). A importância do prêmio varia em função de fatores como a queda de produtividade após a introdução do sistema orgânico, a redução das despesas com insumos químicos, os custos da fertilização orgânica, a disponibilidade de controle alternativo de pragas e o custo adicional com mão-de-obra. CHAUDHRY (1994), no entanto, estima que para cobrir as alterações na composição dos custos, os preços do algodão orgânico deveriam ser 43% mais elevados que os do produto convencional. A estrutura do negócio de algodão orgânico requer ligações diretas entre produtores e fabricantes, que, tradicionalmente, não existem no comércio do algodão convencional. Essas ligações demandam poder de organização e de negociação mais fortes por parte das


C a p í t u l o I V | 271

organizações de produtores rurais. Por ser produzido para um nicho específico do mercado, o algodão orgânico é geralmente comercializado por meio de canais não convencionais (MOHAMMADIOUN et al., 1994; QUEIROGA et al., 2017). As confecções do estado da Paraíba com frequência contratam a produção diretamente com os produtores ou associações de produtores, estabelecendo, a priori, quantidade e qualidade. Os contratos, no entanto, costumam ser mais flexíveis, em função da quantidade limitada de matéria-prima que ainda é produzida. Os contratos realizados antes da colheita apresentam várias vantagens, como o financiamento antecipado da safra, garantia de um mercado para a fibra orgânica e possibilidade de negociação do prêmio (GROSE, 1995). Esses rearranjos devem-se, em grande parte, ao caráter novo desse mercado, seu tamanho reduzido e a não disponibilidade da matéria-prima orgânica nos canais tradicionais de comercialização. O mercado de têxteis orgânicos deve ainda permanecer como um nicho, pela restrição da oferta ainda reduzida, cuja expansão é limitada pelas dificuldades da produção e pela especificidade locacional. Assim, a tendência é de que produtores de algodão orgânico e a indústria procurem um ao outro, eliminando uma série de intermediários tradicionais como traders, corretores, processadores e representantes de vendas, entre outros. Além disso, a manutenção do prêmio sobre o preço de mercado é o principal estímulo à sua produção, com tendência de divisão dos custos maiores de produção entre os segmentos produtivos e os consumidores. Por outro lado, a integridade das organizações que certificam o produto ao longo do ciclo produtivo é extremamente necessária, para dar credibilidade e promover a confiança dos consumidores sobre a presença dos atributos desejados (SOUZA, 2000).

Beneficiamento e Fiação Após a colheita do algodão, o resultado da produção - o algodão em rama - passa por um processo de beneficiamento do produto, que consiste em receber o produto das lavouras, examiná-lo e submetê-lo a operações mecânicas com máquinas descaroçadoras, cuja finalidade é retirar impurezas e separar e acondicionar os seus componentes, preparandoos para o transporte e armazenamento (BERZAGHI, 1965).


C a p í t u l o I V | 272

No caso da Paraíba, quinze famílias do Assentamento Margarida Maria Alves cultivam o algodão colorido em sistema de sequeiro, sem nenhum tipo de adubo ou inseticida sintético. O algodão é certificado pela Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD) e em processo para receber o selo de certificação orgânica participativa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que representará uma redução dos custos de produção, tendo em vista que o produto será avaliado pelos próprios agricultores, com a supervisão da Superintendência Federal da Agricultura no Estado da Paraíba. Além disso, o algodão é beneficiado no próprio assentamento na miniusina descaroçadora desenvolvida pela Embrapa para os pequenos produtores de algodão. A máquina separa a semente da fibra; a semente fica no assentamento para o próximo plantio e para alimentação animal; e a fibra segue para a indústria de fiação em Campina Grande e João Pessoa e, depois, para teares mecânicos rústicos que ainda existem em diversos municípios paraibanos. É uma etapa importante para a manutenção da qualidade da fibra alcançada no segmento de produção rural, que poderá se refletir em etapas posteriores do processamento industrial. A qualidade do algodão pode ser definida sob dois aspectos: intrínseca e extrínseca, que representam a base da estrutura de relação entre os aspectos de qualidade. A qualidade intrínseca envolve, basicamente, o cultivar e todo o trabalho realizado pelo pesquisador ou melhorista e deve atender, de um lado, às necessidades dos produtores em termos de rendimento por hectare e, de outro, às expectativas da indústria de transformação, preocupada com as características tecnológicas da fibra, como comprimento, uniformidade, tipo, finura, resistência e maturidade. A qualidade extrínseca, por sua vez, ocorre num segundo momento e depende das condições de colheita, armazenamento e descaroçamento. Nessas etapas, a qualidade da fibra do algodão pode ser comprometida de diversas maneiras. Se estes processos forem realizados corretamente, com apoio tecnológico, resultam na umidade tolerada até 10% a 12%, na ausência de contaminação com penas de aves, fibras estranhas, como juta, sisal, e polipropileno, ou ainda restos de cultura e de fibras deterioradas (SOUZA, 2000).

O segmento de fiação é a fase inicial da transformação da matéria-prima e consiste na produção de fios a partir da fibra do algodão. Esse processo pode ser feito por filatórios


C a p í t u l o I V | 273

a anel, que é o método convencional de fiação, ou por filatórios open-end, responsáveis pelas inovações mais recentes da fiação (SOUZA, 2000).

Na fiação, assim como no beneficiamento, o algodão convencional e o orgânico recebem o mesmo tratamento, porém os procedimentos são monitorados pelas agências certificadoras. As máquinas precisam passar por um processo de limpeza para evitar a contaminação das fibras com a pluma convencional antes de processar a matéria-prima orgânica, o que onera as operações, elevando os custos devido ao pequeno volume de produção do algodão orgânico (IMHOFF, 1995).

Tecelagem A tecelagem consiste do entrelaçamento dos fios para sua transformação em tecidos. Esse processo varia conforme o tipo de tecido a ser produzido. Na produção de tecidos planos, o tear fabrica o tecido de acordo com o padrão requerido, pelo entrelaçamento dos fios paralelos do urdume (ou teia) com os da trama, em sentido transversal. A produtividade e a qualidade dos produtos finais, sejam tecidos ou confecções, dependem de características tecnológicas da fibra como finura e resistência do fio utilizado. Enquanto os tecidos de malha são fabricados em teares circulares. Sua produção é mais simples que a de tecidos planos. Os cones originados na fiação são colocados diretamente no equipamento, o tear circular, que realiza, praticamente, quase todo o processo. O tecido cru é então inspecionado e classificado antes de seguir para a etapa do acabamento (HURST; SARNO, 1994). No subsistema de têxteis orgânicos não há diferenças nos processos de tecelagem e malharia em relação aos têxteis convencionais. As alterações que ocorrem referem-se à elevação dos custos devido ao pequeno volume de produção e à parada das máquinas para limpeza, antes da utilização de fios de algodão orgânico, à semelhança da etapa de fiação (IMHOFF, 1995). Além disso, também é requerida nessa fase a inspeção da agência certificadora, para fins de certificação orgânica.

Acabamento Os tecidos orgânicos não são alvejados e nem tingidos, mas para se obter um produto têxtil de cor recomenda utilizar variedades de algodão colorido no sistema de produção.


C a p í t u l o I V | 274

Confecção A dificuldade em se identificar com precisão o conteúdo dos tecidos utilizados em produtos de vestuário torna-os sujeitos a uma regulamentação que obriga a colocação de etiquetas fixadas nas peças, indicando a composição do material (FERREIRA; LIMA, 1997). No caso de têxteis orgânicos, não há diferenças significativas em relação ao sistema agroindustrial do algodão convencional, a não ser pela necessidade de inspeção pelos certificadores, dada a dificuldade em se auferir os atributos orgânicos do produto.

Distribuição Os sistemas de distribuição, cujos pontos de venda oferecem os produtos têxteis de vestuário, desempenham papel importante por representarem a interface com o consumidor. No caso dos têxteis orgânicos, o aumento dos custos onera praticamente todos os segmentos da indústria têxtil. A resposta dos consumidores ainda é pequena, conforme IMHOFF (1995), devido a vários fatores, entre eles: a) o baixo grau de informação do consumidor sobre os efeitos nocivos do uso de produtos químicos empregados tanto no plantio como na fabricação de produtos de algodão; b) dificuldade em fazer a distinção nas lojas entre roupas de algodão orgânico e as peças coloridas convencionais; e c) confusão gerada por algumas empresas que vendem peças em tecido cru, como “algodão natural”, a preços mais elevados, mesmo que o algodão tenha sido cultivado com os produtos químicos convencionais. Além disso, os atores devem ser capazes de viabilizar um sistema institucional que permita a verificação da presença de atributos orgânicos e também seja capaz de punir as eventuais ações oportunistas. Por outro lado, o consumidor precisa ser educado para o consumo de produtos de algodão orgânico, o que eleva os custos de marketing da empresa, de modo a ampliar e consolidar sua parcela de mercado e fornecer garantias da integridade do produto. Com isso, as empresas buscam reduzir o custo da informação para o consumidor, ao mesmo tempo em que reforçam a marca, que pode passar a representar um certificado de qualidade.

2. DEFINIÇÕES DE AGRICULTURA ORGÂNICA Existem diferentes definições de agricultura orgânica, entre as quais se apresentam as seguintes: A agricultura orgânica proíbe o uso total de pesticidas, pois seu princípio se baseia na aplicação de adubos orgânicos e nas práticas agrícolas que são planejadas para


C a p í t u l o I V | 275

restabelecer e manter um balanço ecológico da biodiversidade (PEREZ; LANDEROS, 2009). Espinoza et al. (2007) afirmam que a agricultura orgânica é uma estratégia de desenvolvimento que visa mudar algumas das limitações encontradas na produção convencional e que, além de uma tecnologia de produção, é uma estratégia de desenvolvimento que se fundamenta não apenas no melhor manejo ou gestão da terra e de promover o uso de insumos locais, mas também por seu maior valor agregado e por permitir uma cadeia de comércio justo. Gómez et al. (2008) assinalam que a agricultura orgânica surgiu como uma alternativa para proteger o meio ambiente e as diferentes espécies de plantas e animais dos perigos da agricultura convencional ou moderna. A agricultura orgânica se define melhor como aqueles sistemas holísticos de produção que promovem e melhoram a saúde do agroecossistema, incluindo a biodiversidade, os ciclos biológicos e a atividade biológica do solo. Além disso, esse sistema prefere o uso de práticas de manejo dentro da propriedade agrícola em lugar do uso de insumos externos, tendo em conta que as condições regionais dos produtores têm preferências pelos sistemas já adaptados às condições locais, o que se logra ao utilizar, possivelmente, métodos culturais, biológicos e mecânicos em oposição a materiais sintéticos para desempenhar qualquer função específica dentro do sistema (CODEX ALIMENTARIUS, 1999; GÓMEZ, 2000). A agricultura orgânica se refere mais a um processo do que a um produto, mas também significa simplesmente que esse produto deve ser ajustado às normas de produção preestabelecidas (QUINTERO; GIOANETTO, 2006). Assim sendo, há uma diferença considerável entre produção orgânica certificada e agricultura orgânica natural (ou agroecológica), pois a primeira baseia-se numa série de procedimentos agronômicos que descartam a utilização de agroquímicos, antibióticos, entre outros insumos da agropecuária moderna. Ademais, esse sistema produtivo deve rigorosamente passar por todo um processo de certificação, desde os insumos, manejo e gestão técnica da propriedade agrícola. Já a agroecologia, além da adoção de algumas práticas agrícolas, aplica-se apenas esterco como fertilizante, total ou parcialmente, ou com a simples aplicação de bioinseticidas e/ou biofertilizantes, e envolve em seu contexto questões sociais, políticas e ideológicas.


C a p í t u l o I V | 276

Na abordagem anterior há ocasião que pode causar confusão aos produtores que esperam obter um elevado preço por sua colheita, quando unicamente aplicaram em seus sistemas de produção a prática da agricultura orgânica normal ou agroecológica, a qual em nenhum momento poderá receber um elevado benefício econômico, situação que poderá suceder quando se trata do segundo caso (orgânico certificado). É importante observar que também estão presentes no nosso país os dois tipos de produtores, aqueles que estão de acordo com a agricultura orgânica como sistema holístico e aqueles que o vê como um bom negócio, deixando de lado as questões ambientais; no entanto ambos os sistemas de produção são capazes de serem certificados. O termo “produto cultivado organicamente” tem como princípios e práticas encorajar e realçar ciclos biológicos dentro do sistema de agricultura para manter e aumentar a fertilidade do solo, minimizar todas as formas de poluição, evitar o uso de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos, manter a diversidade genética do sistema de produção, considerar o amplo impacto social e ecológico do sistema de produção de fibra ou alimento,

e

produzir

(INTERNATIONAL

fibra

de

boa

FEDERATION

qualidade OF

em

ORGANIC

quantidade

suficiente

AGRICULTURAL

MOVEMENTS, 1998). Desde 1990 a agricultura orgânica vem crescendo rapidamente, tanto em área cultivada como em número de produtores e mercado consumidor. O crescimento da agricultura orgânica se deve, principalmente, ao fato da agricultura convencional basear-se na utilização intensiva de produtos químicos e à maior consciência de parcela dos consumidores quanto aos efeitos adversos que os resíduos de produtos químicos podem causar à saúde. No entanto, o mercado de produtos orgânicos apresenta algumas dificuldades como a baixa escala de produção e, ainda, a necessidade do pagamento da certificação, fiscalização e assistência técnica que, diferentemente do sistema convencional, representam custos adicionais aos produtores (DAROLT, 2003). Mesmo diante de tais dificuldades, alguns estudos comparativos entre os sistemas orgânico e convencional mostraram que o sistema orgânico pode ser vantajoso e competitivo tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.


C a p í t u l o I V | 277

3. ASPECTOS GERAIS DA CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS A produção orgânica aplica numerosas práticas naturais para conservar os recursos naturais, promover o respeito à ecologia e preservar a vida do campo. Já a certificação permite a venda, apresentação e etiquetagem de produtos agrícolas como orgânicos no mercado, ou seja, marca a diferença entre um produto já certificado e um que é cultivado de forma convencional. Portanto, a certificação de produtos orgânicos reveste-se de fundamental importância para a garantia da qualidade desse tipo de produtos, através do estabelecimento de um processo de confiança entre os agentes. Ou seja, “a certificação é um procedimento pelo qual se assegura, por escrito, que um produto, processo ou serviço obedece a determinados requisitos, através da emissão de um certificado. Esse certificado representa uma garantia de que o produto, processo ou serviço é diferenciado dos demais” (SOUZA, 2001).

História Segundo a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica – IFOAM, o sistema orgânico já é praticado em mais de uma centena de países ao redor do mundo, sendo observada uma rápida expansão, sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul. Essa expansão está associada, em grande parte, ao aumento de custos da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos consumidores por produtos “limpos”, livres de substâncias químicas e/ou geneticamente modificados (DAROLT, 2002). A agricultura orgânica no Brasil surgiu na década de 70, principalmente por causa de insatisfações com o padrão tecnológico da “Revolução Verde”. Sua cadeia de distribuição se ampliou significativamente, mas trouxe como consequencia que seu produto estaria sujeito a passar por vários atravessadores e deveria viajar por quilometros antes de chegar a mãos do consumidor. Em tais circunstâncias, o consumidor necessitava saber se os produtos comprados eram realmente orgânicos. Também sucedia o efeito inverso, onde o produtor devia comprovar aos consumidores que estava fazendo uso de práticas orgânicas no seu sistema de produção. Para sanar tais problemas, nasce o processo chamado de certificação.


C a p í t u l o I V | 278

A certificação de produtos orgânicos no Brasil teve início em meados dos anos 80. Ocorreu então que em outubro de 1998, foi colocada em consulta pública as normas disciplinadoras para a produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade de produtos orgânicos, de origem vegetal ou animal, que resultou mais tarde na primeira norma brasileira para produtos orgânicos, a Instrução Normativa (IN) nº 7 de 17/05/1999 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), constando de 7 anexos: I – do período de conversão, II- adubos e condicionadores de solos permitidos, III – produção vegetal, IV- produção animal, Vaditivos para processamento e outros produtos que podem ser usados na produção orgânica, VI- da Armazenagem e do transporte, VII - da rotulagem (BRASIL, 2003). O Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (BR) foi regulamentado pela Lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003, com base no Decreto 6.323 de 27 de dezembro de 2007 e as Instruções Normativas correspondentes. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é o proprietário e gestor deste esquema, em conjunto com o INMETRO, responsável pela acreditação dos organismos de certificação. Os sistemas de certificação foram originalmente criados por agricultores e, até certo ponto, pelos comerciantes que participavam do mercado emergente de produtos orgânicos. Em um esforço para proteger seu mercado de fraude e para garantir a autenticidade do selo orgânico, os agricultores começaram a estruturar sistemas de autoregulação para assegurar que os alimentos orgânicos do mercado correspondiam com as técnicas ecológicas de produção e de preparação do solo, as quais dão seu significado ao termo orgânico (GÓMEZ; GÓMEZ, 2002; GONZALEZ; NIGH, 2005). A comercialização de produtos orgânicos envolve a inspeção e certificação dos métodos de produção utilizados, que são realizados principalmente por agências estrangeiras.

Conceito de Certificação Orgânica Define-se como procedimento mediante o qual se garante que um determinado produto vegetal ou animal, os equipamentos e processos de produção cumpre as normas de um organismo regulador orgânico, sem causar danos ao meio ambiente (GUTIERREZ, 2011). Uma das finalidades da certificação é a capacidade de rastrear a origem do produto orgânico.


C a p í t u l o I V | 279

As empresas ou organizações que certificam são chamadas de agências certificadoras e se ocupam do estudo das propriedades orgânicas, no que se refere as normas de produção, as quais não diferem muito dos princípios gerais em todo mundo. Essas agências podem ser estatais, privadas ou organizações sem fins lucrativos, como sucede com as Associações de Produtores ou Consumidores Orgânicos (GUTIERREZ, 2011).

Requisitos para a Produção Orgânica Para se tornar um agricultor orgânico, é necessário que o candidato seja submetido a um rigoroso processo de investigação das condições ambientais do estabelecimento agrícola e de potencialidade para a produção. São considerados aspectos como o não uso de adubos químicos e agrotóxicos nos últimos três anos, a existência de barreiras vegetais quando há vizinhos que praticam a agricultura convencional, a qualidade da água a ser utilizada na irrigação e na lavagem dos produtos, as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, o cumprimento da legislação sanitária e a inexistência de lixo espalhado pelo estabelecimento (DULLEY, 2003). O produtor deve respeitar as normas durante todas as etapas de produção, desde a preparação do solo à embalagem do produto, sempre preservando os recursos naturais (MIRANDA, 2001). O agricultor assina um contrato com uma certificadora que prevê a fiscalização da sua produção, de modo a garantir a rastreabilidade e a qualidade do produto a ser disponibilizado para o consumidor.

Etapas do Processo de Certificação A certificação de produtos e processos orgânicos se realiza por toda uma série de etapas de campo e transmites administrativos, visando comprovar que efetivamente a produção, transformação e comercialização de produtos certificados têm respeitado um conjunto de regras, normas e procedimentos que estão em consonância com as práticas de produção orgânica (GARCIA et al., 2009). Para identificar os produtos orgânicos no mercado competitivo, é necessário emitir um selo que certifique os processos, que é uma forma de garantir sua qualidade. Essa marca de certificação é um selo de certificação, símbolo ou logotipo que identifica que um ou diversos produtos estão em conformidade com as normas oficiais de produção orgânica (SANTOS; MONTEIRO, 2004). Os selos nos produtos orgânicos estabelecem uma taxa


C a p í t u l o I V | 280

por seu uso, a qual em sua maioria dos casos oscila 0,5 e 1,5% do total das vendas. Sua vantagem irá depender do prestigio da certificadora no mercado orgânico. Antes de escolher uma agência certificadora, o produtor solicitante deve saber a que países ou mercados deseja vender seu produto. Deve-se eleger um organismo de certificação que conta com a acreditação para certificar os produtos com os diferentes programas. Esse programa de certificação permite aos produtores brasileiros com certificados, por exemplo, no ato da matrícula com o IBD (Instituto Biodinâmico; Figura 156), comercializar seus produtos tanto no mercado interno como em outros países. É possível escolher ser certificado com normas dos Estados Unidos ou com o regulamento da Europa ou de outro país como Japão. Também existe a opção de ser certificado em mais de um programa ao mesmo tempo, levando-se em conta que haverá aumento da tarifa, mas teria como vantagem a possibilidades de diversificação de mercado (GUTIERREZ, 2011; IBD, 2016).

Figura 156. Selo da agência certificadora IBD. Foto: Arquivo do IBD.


C a p í t u l o I V | 281

1) Atender a todas as certificações orgânicas feitas pelo IBD Certificações no mercado interno e é usado em conjunto com o selo de produtos orgânicos do Brasil (Figura 157).

Figura 157. Selo da agencia certificadora IBD para produto orgânico do Brasil. Foto: Arquivo do IBD. 2) Atender a todas as certificações feitas para o Mercado Comum Europeu (Figura 158), sendo que o IBD está acreditado com adoção de normas equivalentes, valendo para isso as Diretrizes IBD, aprovadas pelos credenciadores Europeus como equivalente à norma Europeia.

Figura 158. A) Selo da agencia certificadora IBD para produto orgânico destinado ao Mercado Comum Europeu. Foto: Arquivo do IBD.

3) Atender a todas as certificações feitas para o Mercado Norte Americano (USA), sendo que o IBD está acreditado com adoção de norma USDA/NOP (Figura 159), valendo somente estas. Os produtos para o Japão são identificados com o selo oficial JAS (Estándar Agrícola Japonês; Figura 160).

Figura 159. Selo da agencia certificadora IBD para produto orgânico destinado ao Norte Americano (USA). Foto: Arquivo do IBD.


C a p í t u l o I V | 282

Figura 160. Selo da agencia certificadora JAS para produto orgânico destinado ao Japão.

Normas e Regulamentação da Produção Orgânica As normas na agricultura orgânica compreendem um conjunto de regras e procedimentos adotados por uma entidade certificadora, que, por meio de auditoria, avalia a conformidade de um produto, processo ou serviço, objetivando a sua certificação. Esse mecanismo poderá controlar desde a produção até o processamento e a comercialização dos diferentes produtos através de normas específicas que dão credibilidade ao produtor e a indústria processadora e ao mesmo tempo oferecem seguridade ao consumidor. Esse procedimento se realiza através de inspeções de sistemas de controle específicos, estabelecidas por empresas certificadoras independentes, com base nas normas e regulações internacionais que avaliam sua rastreabilidade e manejo adequado em todos os processos. Seu ciclo de certificação é anual, culminando na emissão/renovação do Certificado de Conformidade, quando todos os requisitos de certificação são atendidos (GUTIERREZ, 2011; IBD, 2016). Esse ciclo de certificação é composto das seguintes grandes etapas (Figura 161):


C a p í t u l o I V | 283

Figura 161. As etapas do ciclo de certificação usadas para a produção orgânica (Arquivo do IBD - Instituto Biodinâmico).

A agência certificadora envia ao solicitante um formulário de solicitação de proposta, visando coletar todas as informações necessárias para atender bem a sua demanda e lhe oferecer um atendimento comercial personalizado. Quando o produtor pretende comercializar um produto, como o algodão, para os Estados Unidos ou Alemanha, é preferível consultar o importador sobre a agência certificadora que é de sua confiança (GUTIERREZ, 2011). Quando não existe preferência por parte do comprador, o solicitante pode fazer uma licitação com várias certificadoras para cotizar o preço do serviço. Admite-se que o processo de certificação pode ajudar o produtor a entender melhor as normas orgânicas, além de permitir deixar em ordem sua documentação e atualizar sobre os materiais proibidos e aprovados (GUTIERREZ, 2011). Por outro lado, a gerência comercial da certificadora, para o caso do IBD, realiza uma análise crítica da solicitação conforme os requisitos da ISO17065, de modo a esclarecer quaisquer dúvidas e garantir que a tal agência possui a competência e os recursos necessários para realizar o serviço. Uma vez firmado a proposta comercial, o solicitante manifesta seu acordo com os termos e condições estabelecidos no contrato que está disponível no website do IBD. Esse contrato informa dos direitos e deveres dos clientes,


C a p í t u l o I V | 284

incluindo os requisitos e restrições do uso do nome do IBD e das marcas de conformidade ou de acreditação (IBD, 2016). Quando chega o questionário em suas mãos, detalhando informação das atividades de produção com respeito ao tipo de operação, a certificadora se encarrega de revisar o questionário, assegurando que toda essa informação se cumpra com as normas estabelecidas. Uma vez cumpridas todas as normas, o produtor toma conhecimento dos custos de certificação e é nomeado um inspetor qualificado para fazer a inspeção (GUTIERREZ, 2011).

Inspeção Orgânica O trabalho de inspeção é realizado por uma pessoa física que é contratada pelo Organismo Certificador para elaborar um relatório com base na unidade de produção dos produtos orgânicos. O custo de produção está estritamente relacionado com o número de horas e dias que carece o inspetor para verificar a unidade de produção. Algumas empresas abrangem a inspeção no seu orçamento total, enquanto outras apresentam em separado o custo real da inspeção mais o serviço da agência certificadora (GUTIERREZ, 2011). Vale frisar que para atender as empresas privadas, a inspeção pode levar de 1 a 2 dias por empresa, mas, quando se trata de grupos comunitários de produtores, a inspeção se prolonga, já que tem que revisar as propriedades por amostras de produtores. Além de examinar o sistema de controle interno, o qual registra os principais dados de produção e trabalho efetuado por cada parceiro da organização durante o ciclo produtivo (GUTIERREZ, 2011). Para que um produtor possa usar o selo de certificação, deve se submeter a inspeções periódicas. As certificadoras e seus inspetores devem ter acesso a todas as instalações, inclusive aos registros contábeis e demais documentos relativos às unidades certificadas. As visitas de inspeção devem ter um planejamento prévio que deve incluir, entre outros, o levantamento de inspeções anteriores, descrições das atividades, dos processos, mapas, planos, especificações dos produtos, insumos utilizados, irregularidades identificadas anteriormente, infrações, medidas disciplinares adotadas e condições especiais estabelecidas para a certificação da unidade em análise (BRASIL, 2002). A nível de campo, o inspetor também examina os cultivos, condições do terreno, a sanidade das


C a p í t u l o I V | 285

plantas, manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, equipamentos, sistema de irrigação e o manejo pós-colheita (GUTIERREZ, 2011). Uma vez concluída a inspeção, um informe é enviado com todo visto dado e discutido com o produtor. O inspetor apenas reporta suas observações, mas não toma parte na decisão da certificação. Um comitê de certificação da agência analisará e avaliará as diferentes partes do processo produtivo orgânico. Cabe as eles decidirem ou não a certificação do produto (GUTIERREZ, 2011).

O tempo decorrido entre o início do manejo orgânico de culturas e sua certificação como processos orgânicos é chamado de período de conversão (BRASIL, 2002). É necessário um espaço de tempo para a descontaminação do solo dos resíduos de agrotóxicos e não poderá ultrapassar cinco anos. Esse período deverá ser suficiente para o estabelecimento de um sistema produtivo viável e sustentável, econômico, ecológico e socialmente correto (IBD, 2002).

Certificação Orgânica É importante ressaltar que para cumprir o processo de certificação, a agência certificadora necessita realizar a coleta e análise laboratorial de amostras de produtos, solo, água, insumos, algodão em rama e outros materiais relevantes às atividades de certificação. Quando se expede sua certificação, o produtor já pode começar a vender seu produto como orgânico, mencionando a agência reguladora e sua etiqueta (GUTIERREZ, 2011). Quando o produto orgânico é respaldado por um certificado, isto demonstra que houve o cumprimento das normas orgânicas em todo o processo que segue o mesmo, as quais se estendem desde a produção de matéria prima até o produto final. Vale esclarecer que a certificadora nunca participa do sistema de distribuição. Mesmo assim, um inspetor visitará anualmente o produtor para a unidade já certificada para avaliar se tudo segue com base nas normas, inclusive alguns produtores podem receber uma inspeção surpresa (GUTIERREZ, 2011). Através da certificação, o produtor não só obtém o selo confirmatório de que oferece os produtos orgânicos certificados, mas também agregam valor pelo aspecto ecológico que conferem ao consumidor e ao meio ambiente, além da possibilidade de oferecer aspectos de limpeza, sem contaminação química. É também da responsabilidade da empresa


C a p í t u l o I V | 286

certificadora verificar o uso e a exibição corretas dos certificados e marcas de conformidade do proprietário ao esquema de certificação e/ou do organismo de acreditação, principalmente nos rótulos de produtos certificados, mas também nos materiais de comunicação, tais como website, anúncios, folders, brochuras, cartões de visita, etc (GUTIERREZ, 2011).

Período de Conversão para Orgânico Quando o produtor deseja certificar sua produção para o mercado da Europa ou Japão é necessário que passe por um período de conversão. Esse período é variável e dependerá do manejo historial de uso de inseticidas que o produtor tenha utilizado na sua propriedade (Tabela 33).

Tabela 33. Período de exclusão de agroquímico nas parcelas destinadas ao plantio do algodão. Categoria de

Símbolo de

Período de exclusão de uso de agroquímicos em relação a data de

classificação

classificação

semeadura do algodão

Convencional

C

Aplicou agroquímico recentemente

Convencional

Co

Aplicou agroquímico em menos de um ano

Transição

C1

Aplicou agroquímico faz mais de um ano

Ecológico

E

Aplicou agroquímico faz mais de 2 anos

Fonte: Fundación Valles (2015).

Para os produtores que se encontram no programa de certificação do algodão, estabeleceram as semeaduras em parcelas adequadas definidas por um programa de rotação e unidades de produção previamente aprovadas como ecológicas sob um acompanhamento rigoroso por parte do técnico encarregado da região. Cada parcela dos produtores deve estar protegida por barreiras vegetais, as quais evitam a contaminação das parcelas vizinhas que possivelmente tenham utilizado agroquímicos (QUEIROGA et al., 2017).


C a p í t u l o I V | 287

Principais Agências Certificadoras A certificação das áreas sob produção orgânica na América Latina é realizada, principalmente por agências reguladoras internacionais, tais como: QUAI (Quality Assurance International), FVO (Farm Verified Organic), BCS- OKo Garantie, Naturland, Ecocert S.A., Skal (Holanda), SGS, IMMO Control, entre outros (Tabela 34). Tabela 34. Agências certificadoras de origem latino-americanas. Países Argentina Bolívia Brasil Chile

Colômbia Costa Rica Equador Guatemala México Peru

Empresas Certificadoras Argencert S.R.L., Bio Certificación Letis S.A., OIA (Organización Internacional Agropecuaria) Bolicert IBD (Instituto Biodinámica), Red de Certificación Participativa Ecovida CCO (Certificadora Chile Orgánico) CIAL (Corporación de Investigación en Agricultura Alternativa), PROA (Corporación de Promoción Orgánica Agropecuaria) Biológicos del Trópico (Socia de Ecocert S.A.), CCI (Corporación Colombia Internacional) Aimcopoc, Eco-Lógica S.A. Fundación Biocon, PROBIO (Corporación Ecuatoriana de Agricultores Biológicos) Mayacert (Certificadora Maya S.A.) Certimex S.C (Certificadora Mexicana de Productos y Procesos Ecológicos), CUCEPRO (Comité Certificador de Productos Orgánicos) BIO LATINA (Agencia certificadora latinoamericana fundada por Biopacha de Bolivia), Bio Muisca (Colombia), Cenipae (Nicaragua), e Inka Cert (Perú ̇)

Uruguai

ARU (Asociación Rural del Uruguay), SCPB (Sociedad de Consumidores de Productos Biológicos), Urucert Fonte: García 2002. IICA-INTA 2004.

A certificação da produção orgânica nacional é realiza por cerca de 21 agências certificadoras, 12 nacionais e 9 internacionais, que atestam que a produção do produto obedeceu às normas de qualidade orgânica. A maioria das certificadoras nacionais encontra-se no estado de São Paulo, enquanto as internacionais são provenientes, sobretudo, de países da União Europeia, sendo que a certificadora Farm Verified Organic (FVO) é de origem americana, atuando no Brasil desde o ano de 1980 e sua representação fica na cidade de Recife, PE (fvobr@terra.com.br; CAMARGO FILHO, 2004). O Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu/SP, fundado em 1982, com o objetivo de implementar atividade de ensino e pesquisa e também de certificar produtos orgânicos, conta com dois credenciamentos internacionais, um da IFOAM e outro da Alemanha


C a p í t u l o I V | 288

(DAP), o que permite que seu certificado seja aceito nos três principais blocos econômicos: Europa, Estados Unidos e Japão. No Brasil existem 250 projetos certificados pelo IBD dos quais participam 2.000 produtores, totalizando 60.000 hectares de produção agroecológica.

Custos da Certificação Antes de iniciar um processo de certificação, os produtores devem saber qual é o montante a ser pago e se tal orçamento não irá afetar diretamente sua economia. Ademais, os clientes exigem que a certificadora ofereça um trabalho ágil, eficiente e de qualidade por um preço justo. As taxas cobradas pela certificadora podem variar dependendo de vários fatores: a) Tamanho e complexidade do projeto a ser certificado; b). Gastos administrativos; c) Localização da unidade de produção; d) Análises de laboratório e tomada de amostras; e) Programa de certificação para o caso de o produto ser comercializado no mercado interno ou exportado para outros países; f) Trabalho de inspeção; e g) Uso do selo (GUTIERREZ, 2011).

Considerações Antes de Solicitar uma Certificadora Antes de o produtor contratar uma certificadora, recomenda-se observar alguns pontos para definir se na realidade é ou não necessário a certificação do produto. a) Cumprir com as normas de produção orgânica da certificadora – O fato de que a certificadora aceite sua solicitude de certificação não significa que ela vá outorgar a certificação. É de responsabilidade de o produtor conhecer muito bem as normas e assegura-se que seu sistema de produção está cumprindo com tais regulamentos, antes de efetivar qualquer acordo de certificação; b) Usar a certificação para a comercialização – Ao vender produtos orgânicos diretamente da propriedade para os clientes conhecidos, provavelmente não seja necessário a certificação. Essa certificação pode ser exigida quando se trata de exportar ou vender seus produtos fora da região da propriedade; c). Justificar economicamente o custo de certificação – É imprescindível que a certificação seja viável, de modo a pagar com margem de lucro os custos da certificação (GUTIERREZ, 2011).


C a p í t u l o I V | 289

Cadeia Produtiva de Produtos Orgânicos A cadeia produtiva estabelece a relação entre os diversos agentes envolvidos. Sua análise permite identificar pontos de estrangulamento e fundamentar intervenções ou estratégias de ajustes e desenvolvimento. A cadeia produtiva de produtos orgânicos conforme proposta por Ormond et al. (2002) foi a primeira descrita para o segmento de orgânicos, conforme mostra a Figura 162, onde são identificadas as funções que compõem a cadeia produtiva, os agentes que as executam e as formas de relacionamento entre eles.

Figura 162. Cadeia produtiva dos orgânicos. Fonte: Ormond et al. (2002).

Segundo Ormond et al. (2002), a cadeia produtiva de produtos orgânicos pouco se diferencia da cadeia de produtos convencionais, a não ser pela presença da certificação e pela inexistência da figura do atacadista ou do intermediário entre a produção e o elo seguinte, em função da pequena escala de produção. Os produtos orgânicos in natura reúnem certas particularidades na comercialização, distribuição e consumo, se comparadas às equivalentes da cadeia produtiva de produtos convencionais. As funções do atacadista são realizadas pelo próprio produtor/agricultor ou por associações e cooperativas (processamento primário), que embora não assumam relações contratuais com os produtores, mantêm acordos informais para fornecimento de insumos e assistência técnica. Novos métodos de relacionamento entre produção, processamento e


C a p í t u l o I V | 290

comercialização têm sido verificados ao longo dessa cadeia. O trabalho conjunto de desenvolvimento de produto e métodos de produção entre os diferentes agentes da cadeia pode ser exemplificado por uma grande rede de supermercados que criou selo próprio e definiu normas de fornecimento de produtos orgânicos oferecidos em suas lojas (ORMOND et al., 2002; SATO et al., 2003; SANTOS; MONTEIRO, 2004).

O principal entrave da produção de produtos orgânicos é a baixa escala de produção, o que implica maiores custos (mão-de-obra, insumos) por unidade de produto, seguida da falta de recursos dos produtores e de treinamento, da desorganização do sistema de produção (falta de planejamento) e do processo de comercialização, além da embalagem que pode encarecer o produto em cerca de R$ 0,15/unidade (DAROLT, 2002). Diferentemente do sistema convencional, o agricultor tem que pagar para ser certificado, fiscalizado e também pela assistência técnica, que é quase toda particular e exercida por consultores credenciados pelas certificadoras (DULLEY, 2003). Algumas Considerações sobre a Construção da Cadeia de Produtos Orgânicos (CAMARGO FILHO, 2004):


C a p í t u l o I V | 291


C a p í t u l o I V | 292


R e f e r ê n c i a s | 293

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ADEX. Exportación del Algodón Peruano. 2011. Disponible en: http:// www. adexperu.org.pe/exportaciones/algodon_peruano/html. (Accesado 23/01/2011).

ALBUQUERQUE, F. A.; ARRIEL, N. H. C.; ALVES, I.; GUIMARÃES, F. M.; VALE, D. G.; FONTINELE, F.; BLACKBURN, R.; SOUZA, F.; SANTIAGO, F.; BLOCH, D. Diagnóstico da Produção de Algodão Agroecológico no Cariri Paraibano. In: Congresso Brasileiro de Algodão, 7., 2009, Foz do Iguaçu, PR. Sustentabilidade da Cotonicultura Brasileira e Expansão dos Mercados. Anais...Campina Grande: Embrapa Algodão, 2009, p.101-105.

ALMEIDA, R. P.; SILVA, C. A. D. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. p.753-820.

ALOISI, R. R.; PAGGIARO, C. M.; BIBIAN, R.; MACHADO JÚNIOR, A. P.; ALBUQUERQUE, F. C. Uso de hastes subsoladoras em áreas de cana-de-açúcar. STAB - Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v.10, n.6, p.26-30, 1992.

ALVES, A. Q.; QUIRINO, Z. B. Tratos culturais da cultura do algodoeiro Mocó. Pesquisa Agrop. Nordeste, Recife, v.3, v.1, p.39-43, 1970.

AMARAL, J. A. B.; BELTRÃO, N. E. M.; SILVA, M. T. Zoneamento Agrícola do Algodão no Nordeste Brasileiro. Safra 2004/2005. Estado de Pernambuco. Comunicado técnico 277, Embrapa Algodão, p.1-7, 2004.

ARAUJO, G. P. Cultivo do algodão agroecológico no semiárido com ênfase no manejo de pragas: em busca da sustentabilidade. 2013. 102f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁCAMPUS DO CARIRI. Centro de Pesquisa e Pós-Graduação do Semiárido. Juazeiro Do Norte – CE, 2013.


R e f e r ê n c i a s | 294

ARRUDA, F. P.; ANDRADE, A. P.; SILVA, I. F.; PEREIRA, I. E.; GUIMARÃES, M. A. M. Emissão/abscisão de estruturas reprodutivas do algodoeiro herbáceo cv. CNPA 7H: efeito do estresse hídrico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.6, p.21-27, 2002.

ASOCIACIÓN NATURLAND. Algodón. Agricultura Orgánica en el Trópico y Subtrópico. II Parte Especializada: Producción Orgánica de Algodón - 1ª edición, 2000. 16p.

AUGSTBURGER, F.; BERGER, J.; CENSKOWSKY, U.; HEID, P.; MILZ, J.; STREIT, C. Agricultura orgánica en el trópico y subtrópico: guías de 18 cultivos: ajonjolí (sésamo).1. ed., Gräfelfing: Naturland, 2000. 30p.

AZANIA, C. A. M.; MARQUES, R. P.; AZANIA, A. A. P. M.; ROLIM, J. C. Superação da dormência de sementes de corda-de-viola (Ipomoea quamoclite I. hederifolia). Planta Daninha, v.27, n.1, p.23-27, 2009.

AZEVEDO, F. R.; VIEIRA, F. V. Levantamento populacional de pragas do algodoeiro em condições de sequeiro. Ciência agronômica, v.33, n.1, p.15–19, 2002.

BAKER, D. N.; MYHRE, D. L. Leaf shape and photosynthetic potential in cotton. In: Proc. Beltwide Cotton Prod. Res. Conf., Hot Springs, p.103-109, 1968.

BALLS, W. L. The cotton plant in Egypt. MacMillan and Co., London. 1919.

BALLS, W. L. The development and properties of raw cotton. London, A.&C. Black, 1915, 221p.

BANCO DO NORDESTE. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste ETENE. Utilização de máquinas e implementos agrícolas nos estabelecimentos rurais do Nordeste, Informe Rural ETENE, v.4, n.9, 2010.


R e f e r ê n c i a s | 295

BARROSO, L. J. Cultura dos algodoeiros herbáceos (conselhos e notas). Departamento Nacional da Produção Vegetal, Serviço de Plantas Têxteis. Rio de Janeiro, Brasil. 1936. 20p.

BARROSO, P. A. V.; COSTA, J. N.; CIAMPI, A.Y.; RANGEL, L. E. P.; HOFFMANN, L. V. Caracterização in situ de populações de Gossypium barbadense do estado do Mato Grosso. Campina Grande: Embrapa Algodão. Comunicado Técnico, n.244, 2005a. 8p.

BARROSO, P. A. V.; FREIRE, E. C. Fluxo gênico em algodão no Brasil. In: PIRES, C. S. S.; FONTES, E. M. G.; SUJII, E. R. (Ed.). Impacto ecológico de plantas geneticamente modificadas: o algodão resistente a inseto como estudo de caso. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2003. p.163-193.

BARROSO, P. A. V.; FREIRE, E. C.; AMARAL, J. A. B.; SILVA, M. T. Zonas de exclusão de algodoeiros transgênicos para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Campina Grande, PB: Embrapa -CNPA, 2005. 7p. (Embrapa –CNPA, Comunicado Técnico, 242).

BASSET, D. M.; STOCKTON, J. R.; DICKENS, W. L. Root growth of cotton as measured by P32 uptake. Agronomy Journal, Madison, v.60, p.200-203, 1970.

BELTRÃO, N. E. M. Algodão brasileiro em relação ao mundo: situação e perspectivas. In: BELTRÃO, N. E. M. (Org.). O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Algodão, 1999. cap.1, p.15-27.

BELTRÃO, N. E. M. O Agronegócio do Algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. 1023p.

BELTRÃO, N. E. M. Técnicas de poda na cultura do algodoeiro arbóreo (mocó) precoce. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1995. 4p. (Embrapa-CNPA. Comunicado Técnico, 39).


R e f e r ê n c i a s | 296

BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P. Influência competitiva das plantas daninhas sobre o algodoeiro arbóreo “Gossypium hirsutum marie galante, Hutch.”, nos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Campina Grande, PB: EmbrapaCNPA, 1983. p.21-34 (Embrapa-CNPA. Boletim de Pesquisa 3).

BELTRÃO, N. E. M. Algodão e a agroenergia. Cotton Business, v.1; n.3; p.26-28, 2007.

BELTRÃO, N. E. M.; FIDELES FILHO, J.; VALE, L. S. Zoneamento agroclimático do algodoeiro no cerrado brasileiro. In: FREIRE, E. C. (Ed.). Algodão no cerrado brasileiro. 2007. cap.5, p.175-191.

BELTRÃO, N. E. M.; NASCIMENTO, G. E.; NOVAES FILHO, M. B.; NÓBREGA, L. B.; OLIVEIRA, J. M. C.; AZEVÊDO, D. M. P.; ALMEIDA, R. P. Novo catador manual de botões florais e frutos jovens atacados pelo bicudo do algodoeiro e caídos ao solo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1993. 8p. (Embrapa-CNPA, Comunicado Técnico, 37).

BELTRÃO, N. E. M.; SILVA, O. R. R. F.; RIBEIRO, V. G.; CARVALHO, L. P. Desenvolvimento e avaliação de um catador de botões florais atacados pelo bicudo e caídos no solo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1997. 7p. (EMBRAPA-CNPA. Pesquisa em Andamento, 37).

BELTRÃO, N. E. M.; SOUZA, J. G.; AZEVEDO, D. M. P.; LEÃO A. B.; CARDOSO, G. D. Fitologia do algodoeiro herbáceo: sistemática, organografia e anatomia. In: BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO D. M. P. (Ed.). O agronegócio do Algodão no Brasil. 2.ed. rev. amp. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p.183-217.

BELTRÃO, N. E. M.; VIEIRA, D. J. O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.121-160. 348p.

BELTRÃO, N. E. M.; VIEIRA, R. D.; BRAGA SOBRlNHO, R. Futures possibilities of organic

cotton

in

Brazil.

In: INTERNATIONAL

COTTON

ADVISORY


R e f e r ê n c i a s | 297

COMMITTE. Fiber characteristics and the spinner's perspective: a losk into the future. Washington, 1994, p.15-20.

BELTRÃO, N. E.; VIEIRA, R. M.; BRAGA SOBRINHO, R. Possibilidades de cultivo do algodão orgânico no Brasil. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1995. 36p. (Embrapa-CNPA. Documentos, 42).

BERZAGHI, M. N. Beneficiamento do algodão. In: NEVES, O. S. et al. Cultura e adubação do algodoeiro. São Paulo: Instituto Brasileiro de Potassa, 1965. p.541-67.

BLEICHER, E. Uso da catação de botões florais no controle do bicudo do algodoeiro. In: REUNIÃO NACIONAL DO ALGODÃO, 6., 1990, Campina Grande. Resumo dos trabalhos. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1990. p.40.

BORÉM, A.; FREIRE, E. C. Algodão do plantio à colheita. Viçosa, MG: Ed. UFV, 2014. p.115.

BOSCH, R. Van Den; MESSENGER, P. S.; GUTIERREZ, A. P. An introduction to biological control. New York: Plenum Press, 1982. 247p.

BOULANGER, J.; BIRCH, C.; PINHEIRO, D.; FARIA, C.V. Flutuações da produção do algodoeiro mocó. Recife: SUDENE, 1966. 24p.

BOULANGER, J.; PINHEIRO, D. Elolution de la production cotonière au Noerd-Est du Brésil. IV. Polymorphisme des types cotonniers cultivés: relations genetiques entre ces tipes: origine des types “Mocó et Verdão”. Cot. Fib. Trop., v.26, n.3, p.319-326, 1971.

BRAGACHINI, M., BONETTO, L., BONGIOVANNI R., 1993. Siembra, cosecha, secado y almacenaje de soja. INTA-EEA Manfredi, 1993, 191p.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 25, de 16 de dezembro de 2005. Estabelecer normas específicas e os padrões de identidade e qualidade para produção e comercialização de sementes de algodão,


R e f e r ê n c i a s | 298

arroz, aveia, azevém, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trevo vermelho, trigo, trigo duro, triticale e feijão caupi. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 20/05/2007.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa nº 006 de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF. Disponível em: http://www.ibd.com.br. Acesso em: 03 dez. 2003.

BROWN, C. H. Egyptian Cotton. Leonard Hill Ltd., 1953, London.

BRUCE, R. R.; ROMKENS, M. J. M. Fruiting and growth characteristics of cotton in relation to soil moisture tension. Agronomy Journal, Madison, v.57, n.2, p.135-140, 1965.

CAC. Extra-Fine Cotton This Month. Report No. December 04, International Cotton Advisory Committee, Washington DC. 2004.

CAMARGO FILHO, W. P.; CAMARGO, F. P.; CAMARGO, A. M. M. P.; ALVES, H. S. Algumas considerações sobre a construção da cadeia de produtos orgânicos. Informações Econômicas, SP, v.34, n.2, p.55-69, 2004.

CAMPBELL, B. T.; SAHA, S.; PERCY, R.; FRELICHOWSKI, J.; JENKINS, J. N.; PARK, W.; MAYEE, C. D.; GOTMARE, V.; DESSAUW, D.; GIBAND, M.; DU, X.; JIA,

Y.;

CONSTABLE,

G.;

DILLON,

S.;

ABDURAKHMONOV,

I.

Y.;

ABDUKARIMOV, A.; RIZAEVA, S. M.; ABDULLAEV, A.; BARROSO, P. A. V.; PÁDUA, J. G.; HOFFMANN, L. V.; PODOLNAYA, L. Status of the global cotton germplasm resources. Crop Science, v.50, p.1161-1179, 2010. DOI: 10.2135/ cropsci2009.09.0551.

CARO MARENTES, M. A.; CUYUBAMBA LÓPEZ, H.; MENDOZA DÍAZ, A. Plan de negocios para la comercialización vía web de ropa orgánica para bebé. 2012. Tesis (Magíster) - Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas, Lima, Perú). Recuperado de


R e f e r ê n c i a s | 299

http://repositorioacademico.upc.edu.pe/upc/bitstream/10757/305444/1/

caromm-pub-

delfos.pdf.

CARVALHO, L. P.; BARBOSA, M. H. P.; COSTA, J. N.; FARIAS, F. J. C.; SANTANA, J. C. F.; ANDRADE, F. P. Progresso genético do algodoeiro herbáceo no Nordeste. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.32, p.283-291, 1997.

CARVALHO, L. P.; FARIAS, F. J. C.; RODRIGUES, J. I. S.; SUASSUNA, N. D.; TEODORO, P. E. Diversidade de acessos exóticos de algodão quanto aos caracteres qualitativos e quantitativos. In: 11º Congresso Brasileiro de Algodão. Área Temática 166 - Melhoramento Vegetal, Maceió, 2017.

CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 588p.

CHAGAS, M. C.; BENIGNO, L. L.; ANDRADE, H. T. H. In: REUNIÃO NACIONAL DO ALGODAO, 5., 1988, Campina Grande. Resumos dos trabalhos. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1988. 107p.

CHAUDHRY, M. R. Status of organic cotton production. In: International Workshop on Cotton Production Prospects for the Next Decade. Ismailia, Egypt, Nov. 1994. 6p.

CLAVIJO, C. A. D. Federación Nacional y Algodoneros, Bases Técnicas para el cultivo del algodón en Colombia, 1990, p.633-653.

CODEX ALIMENTARIUS. Guidelines for the production, processing, labeling and marketing of organic produced products, v.32, 1999. Rev. 2001. CONSELHO DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA. Guia do algodão – tecnologia no campo para uma indústria de qualidade. 2009. Disponível em: <http://www.cib.org.br/pdf/guia_algodao_ago09.pdf>. Acesso em: 07 de jan. 2015.


R e f e r ê n c i a s | 300

CORNISH, K.; RADIN, J. W.; TURCOTTE, E. L.; LU, Z.; ZEIGER, E. Enhanced photosynthesis and stomatal conductance of pima cotton (Gossypium barbadense L.) bred for increased yield. Plant Physiol., v.97, p.484-489, 1991.

CORRÊA, F. A. A fibra e os subprodutos. In: Cultura e Adubação do Algodoeiro. São Paulo, Instituto Brasileiro de Potassa, 1965, p.509-540.

CORREIA-RICKLI, R. Os preparados biodinâmicos: Introdução à preparação e uso. Botucatu: Cadernos Deméter, 1986, n.1, 63p.

COSTA, J. N.; ALMEIDA, F. A. C.; SANTANA, J. C. F. COSTA, I. L. L.; WANDERLEY, M. J. R.; SANTANA, J. C. S. Técnicas de colheita, processamento e armazenamento do algodão. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2005. 14p. (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 87).

COTTON AUSTRALIA ASSOCIATION. Cotton as a Commodity; 8p.

CUNHA, L. J. C. Ajuste na colheita. Cultivar Máquinas, v.13, p.06-08, 2002.

DANTAS, I. P. Manual técnico: receitas simples, puras, ecológicas e sustentáveis. [S.l.: s.n.], 2001.

DAROLT, M. R. A evolução da agricultura orgânica no contexto brasileiro. Disponível em: http://www.planetaorganico.com.br. Acesso em: 17 dez. 2003.

DAROLT, M. R. Agricultura Orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 250p.

DEGUINE, J. P.; GOZE, E.; LECLANT, F. The consequences of late outbreaks of the aphid Aphis gossypii in cotton growing in Central Africa: towards a possible method for the prevention of cotton stickiness. International Journal of Pest Management, v.46, p.85-89, 2000.


R e f e r ê n c i a s | 301

DIACONIA. Produção agroecológica: algodão. Recife, 2007. 23 p. (Série Cultivos Agroecológicos).

DULLEY, R. D. As diversas faces da agricultura orgânica. Disponível em: http:// www.planetaorganico.com.br. Acesso em: 18 nov. 2003.

DUNN, R. P. Cotton in Egypt. National Cotton Council, Memphis, T. N., 1949.

DUQUE, J. G. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Banco do Nordeste do Brasil. 2a ed. Fortaleza: BNB, 1973, 260p.

DUQUE, J. G. Solo e água no polígono das secas. 5. ed. Mossoró: Fundação Guimarães Duque, 1980.

DURIGON, R.; CERETTTA, C. A.; BASSO, C. J.; Barcellos, L. A. R.; Pavinato, P. S. Produção de forragem em pastagem natural com o uso de esterco líquido de suínos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.26, p.983-992, 2002.

EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). BRS VERDE. Campina Grande, 2002. Folder.

EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). Miniusina de beneficiamento de algodão de 50 serras e prensa hidráulica: uma alternativa para associação de pequenos agricultores. Campina Grande, 2001. Folder.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (Campina Grande, PB). Melhoramento do algodoeiro na Embrapa. Campina Grande, 2001. Folder.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de algodão. (Campina Grande, PB). Zoneamento para a cultura do algodão no Nordeste. I. Algodão Arbóreo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1996. 23p. (Embrapa-CNPA. Boletim de Pesquisa, 31).


R e f e r ê n c i a s | 302

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (Campina Grande, PB). CNPA Acala 1: Nova cultivar de algodoeiro herbáceo de fibra longa para áreas irrigadas do Nordeste. Campina Grande, [1987]. Folder. 10p.

EMBRAPA. Serviço de Produção e Informação (Brasília, DF). Recomendações técnicas para o cultivo do algodoeiro mocó precoce: áreas do nordeste do Brasil, zona 17. Brasília: Embrapa-SPI, 1993. 26p.

EMPRAPA, Algodão. Cultivo do algodoeiro irrigado, condições climáticas. Sistemas de produção, 3, versão eletrônica, Jan/2003. Disponível em: <http://sistemasde producao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/Algodao.Irrigado/clima.htm>. Último acesso em: 26 de março de 2005.

ESPINOZA, V. J. L.; PALACIOS, E. A.; ÁVILA, S. N.; GUILLÉN, T. A.; LUNA, P. R.; ORTEGA, P. R.; MURILLO, A. B. La ganadería orgánica, una alternativa de desarrollo pecuario para algunas regiones de México. Una revisión. INCI32, n.6; p.385390, 2007.

FERNANDES, J. M. Classificação comercial do algodão. Secretária da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo. 1923. 24p.

FERRAZ, I. D. K.; CALVI, G. P. Teste de germinação. In: Manual de Análise de Sementes. Manaus: UFAM. 2010, p.55-122.

FERREIRA, I. L.; LIMA, J. J. Entrevista concedida pela Chefe do NAT - Núcleo de Assistência Técnica e pelo Professor do SENAI / CETIQT - Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, em Fortaleza, Ceará. Fortaleza, 2 out. 1997.

FERRIGNO, S.; LIZARRAGA, A.; NAGARAJAN, P; TOVIGNAN, S. Organic cotton farm and fiber report. Organic Exchange - Executive Summary, 2009. 6p.


R e f e r ê n c i a s | 303

FONSECA, M. F. A. C. Agricultura orgânica: regulamentos técnicos para acesso aos mercados dos produtos orgânicos no Brasil. Niterói: PESAGRO-RIO, 2009.

FREIRE, E. C. Melhoramento do algodoeiro Upland. Campina Grande: Centro Nacional de Pesquisa do Algodão da Embrapa, 1977. 27p.

FREIRE, E. C. Distribuição, coleta, uso e preservação das espécies silvestres de algodão no Brasil. Embrapa Algodão: Campina Grande. 2000.

FREIRE, E. C. Melhoramento genético do algodoeiro no Nordeste do Brasil. In: ENCONTRO DE GENÉTICA DO NORDESTE, 6., 1989, Fortaleza. Anais.... Fortaleza: [s.n], 1989. p.19.

FREIRE, E. C., VIEIRA, D. J.; ANDRAD, F. P.; MEDEIROS, J. C.; NÓBREGA, L. B.; NOVAES FILHO, M. B.; BRAGA SOBRINHO, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. 2 ed. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1992, 26p. (Embrapa-CNPA. Circular técnica, 15).

FREIRE, E. C.; ANDRADE, F. P.; VIDAL NETO, F. C.; SUINAGA, F. A.; SANTOS, J. W.; ARAÚJO, G. P.; ASSUNÇÃO, J. H. Brs Acala – cultivar de fibras extralongas. 4p.

Acesso

em:

12

de

setembro

de

2003.

Disponível

em:

www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodao/publicacoes/trabalhos_cba4/213.pdf.

FREIRE, E. C.; BARREIRO NETO, M. A pesquisa algodoeira no Nordeste do Brasil. Embrapa- Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Campina Grande, PB. 1983. (Documentos, n.18).

FREIRE, E. C.; BARROSO, P. A. V.; PENNA, J. C. V.; BORÉM, A. Fluxo gênico: Análise do caso de algodão no Brasil. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, Brasília – DF, v.29, p.104-113, 2002.


R e f e r ê n c i a s | 304

FREIRE, E. C.; FARIAS, F. J. C. Novas tendências e avanços do melhoramento genético do algodoeiro. IN: Seminário Estadual Do Algodão. Anais... Cuiabá: Fundação MT/Embrapa/Empaer-MT, 1998. p.5-20.

FREIRE, E. C.; MOREIRA, J. A. N.; MEDEIROS, L. C. Contribuição das ciências agrárias para o desenvolvimento: o caso do algodão. Revista da Economia Rural, v.18, n.3, p.383-413, 1980.

FREIRE, E. C.; MOREIRA, J. A. Relações genéticas entre o algodoeiro Mocó e diferentes espécies e raças de algodoeiro. Revista Brasileira de Genética, v.14, n.2, p.393-411, 1991.

FREIRE, E. C.; VIEIRA, D. J.; ANDRADE, F. P.; MEDEIROS, J. C.; NOBREGA, L. B.; NOVAES FILHO, M. B.; BRAGA SOBRINHO, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1990. 26p. (Embrapa-CNPA. Circular Técnica, 15).

FREIRE, E. C.; MORELLO, C. L.; FARIAS, F. J. C. Melhoramento do algodoeiro no Cerrado. In: FREIRE, E. C. (Org.). Algodão no cerrado do Brasil. 1. ed. Brasília, DF: Abrapa, 2007, v.1, p.267-318.

FREIRE, E. C.; SANTOS, E. O.; BELTRÃO, N. E. M.; CRISÓSTOMO, J. R. Relatório Técnico Anual do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão 1977-1978. EmbrapaCNP-Algodão, 1980, 144p.

FREIRE, E. C.; VIEIRA, R. M.; GOMES. I. F.; SILVA. F. A. Qualidade da fibra de algodão mocó obtida em descaroçadores de serra e rolo. In: EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Relatório técnico anual-1981/1982. Campina Grande, 1984. p.304-305.

FRYXELL, P. A. Stages in the evolution of Gossypium. Advancing Fronties of Plant Sciences, New Delhi, v.10, p.31-56, 1965.


R e f e r ê n c i a s | 305

FUZATTO, M. G. Melhoramento genético do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. Cultura do Algodoeiro. Piracicaba: Associação Brasileira para a Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1999. p.15-34.

FYE, R. E.; BONHAM, C. D. Summer temperatures of the soil surface and their affect on survival of boll weevils in fallen cotton squares. Journal of Economic Entomology, v.63, n.5, p. 1.599-1.602, 1970.

GADANHA JÚNIOR, C. D.; MOLIN, J. P.; COELHO, J. L. D.; YAHAN, C. H.; TOMIMORI, S. M. A. W. Máquinas e implementos agrícolas do Brasil. São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1991. 468p.

GARCÍA, H. J. L.; VALDEZ, C. R.D.; SALAZAR, S. E.; FORTIS, H. M.; PRECIADO, R. P.; MÁRQUEZ, H. C.; RUEDA, P. E.; TROYO, D. E. Regulación y certificación orgánica en México. En: ORONA, C. I.; SALAZAR, S. E.; FORTIS, H. M.; TREJO, E. H. I.; VÁZQUEZ, V. C.; LÓPEZ, M. J. D.; FIGUEROA, V. R.; ZÚÑIGA, T. R.; PRECIADO, R. P.; CHAVARRÍA, G. J. A. (Eds). Agricultura orgánica. FAZ. UJED. Sociedad Mexicana de la Ciencia del Suelo. COCYTED. Gómez Palacio, Dgo. México. 2009, 504p.

GÓMEZ, A. Agricultura Orgánica en el Codex Alimentarius. Seminario Protección del Consumidor desde las ONG‟s y el Codex Alimentarius. CEADU. Montevideo. 2000. http://internet.com.uy/rusinek/tf/04agroecologia/agr01.htm GÓMEZ, C. M. A.; SCHWENTESIUS, R. R.; ORTIGOZA, R. J.; GÓMEZ, T. L. Agricultura orgánica de México. UACH-CONACYT. 2008. 80p. GÓMEZ, T. L.; GÓMEZ, C. M. A. "La importancia de la agricultura orgánica en México y su sector hortofrutícola", 2002 en M. A. GÓMEZ CRUZ Y R.

GONZÁLEZ, A. A.; NIGH, R. ¿Quien dice que es orgánico? La certificación y la participación de los pequeños propietarios en el mercado global. Gaceta Ecológica, v.77, p.19-33, 2005.


R e f e r ê n c i a s | 306

GOPPEL, J. M. The Orientation of Rubber Crystallites in Stretched Samples. Appl. Sci. Res. A-1, p.18-26, 1947.

GORDON, J. C. Handbook of Textile Fibers. W. S. COWELL, 1968, 44p.

GREGG, B. R. Associations among selected physical and biological of gravity graded cottonseed. 1969. 119. Dissertation (Doutorado) - Mississippi State University, State College, Mississippi, 1969.

GRIDI-PAPP, I. L. Genética e melhoramento do algodão. In: KERR, W. S. (ed.) Melhoramento e genética. São Paulo: Ed. Melhoramentos, p.75-101, 1969.

GRIDI-PAPP, I. L.; SABINO, N. P. Maturidade da fibra de algodão determinada por processo ótico — Método do Fibrógrafo Digital. Revista Brasileira de Tecnologia, São Paulo, v.3, p.99-106, 1972.

GROSE, L. Designing for an organic cotton future. In: THE COTTON chain: linking sustainable agriculture and fair trade. Pesticides News, n.28, p.9-11, Jun. 1995.

GUERRA, M. S. Receituário caseiro: alternativas para o controle de pragas e doenças de plantas cultivadas e seus produtos. Brasília, DF: Embrater, 1985. 166p. (Informações Técnicas, 7).

GUINN, G. Hormonal relations in flowering, fruiting, and cutout. In: Proceedings of the 33d Cotton Physiology Conference, 1979, p.265-276. National Cotton Council, Memphis, Tenn.

GUINN, G.; MAUNEY, J. R.; FRY, K. E. Irrigation scheduling and plant population effects on growth, bloom rates, boll abscission, and yield of cotton. Agronomy Journal, Madison, v.73, n.3, p.529-534, 1981.


R e f e r ê n c i a s | 307

GUTIERREZ, A. J. R. E-Commerce, refuerzo para el desarrollo de la agricultura orgánica. 2011. 166f. Tesis (Licenciado en Relaciones Comerciales) – Instituto Politecnico Nacional. Escuela Superior de Comercio y Administración Unidad Santo Tomas, México.

HARLAND, S. C. Methods and results of selection experiments with Peruvian Tanguis cotton. Part I. A survey of present methods of cotton breeding and a Description of the “Mass Pedigree System”. Empire Cotton Growing Review, v.26, p.163-174, 1949.

HECTOR, J. M. Introduction to the botany of fiel crops. Johannesburgh, Central New Agency, 1936, v.2 Ilust. (South African Agricultural Series, 16).

HOLSTUN, J. T. Jr. A preliminary study of the effects of weeds on cotton. Proc. Sou. Weed Conf., v.10, p.30, 1957.

HURST, M. A.; SARNO, V. L. C. Cotonicultura baiana e indústria têxtil. Salvador: Fundação CPE, 1994. 96p. (Estudos e Pesquisas, 24).

HUTCHINSON, J. B. Intra-specific differentiation in Gossypium hirsutum. Heredity, v.5, n.2, p.161-193, 1951.

HUTCHINSON, J. B. The application of genetics to cotton improvement. London: Cambridge University Press, 1959.

HUTCHINSON, J. B.; SILOW, R. A.; STEPHENS, S. G. The evolution of Gossypium and the differentiation of the cottons. London: Oxford University Press, 1947.

IBD. Certificação de Produtos Orgânicos: Passo a Passo. IBD Certificações. 01ª Edição. Documento 10-4-1, março de 2016.

IBD. Instituto Biodinâmico. Diretrizes para o padrão de qualidade orgânico. 11. ed. Botucatu: 2002. 72p.


R e f e r ê n c i a s | 308

IBGE. Levantamento sistemático da produção agrícola. Rio de Janeiro, v.2, n.1, 1990.

IBGE. Estados. 2009. http://www.ibge.gov.br/estadosat/. Acesso em 02.04.2009.

IBPGR- INTERNATIONAL BOARD FOR PLANT GENETIC RESOURCES. Consultative Group on International Agricultural Research. Report of the third external review of the International Board for Plant Genetic Resouces. Rome, 1991. 85p.

IMHOFF, D. Growing pains: organic cotton tests the fiber of growers and manufacturers alike. Farmer to Farmer: Community Alliance with Family Farmers, Davis, CA, Nov./Dec., p. 8,9,11, 1995.

INSTITUTO PERUANO DEL ALGODÓN. 1997; 11p.

INTERNATIONAL COTTON ADVISORY COMMITTEE. Organic cotton growing. Washington, 1994. 7p.

INTERNATIONAL

FEDERATION

OF

ORGANIC

AGRICULTURAL

MOVEMENTS. Basic standards for organic production and processing. In: IFOAM General Assembly. Argentina, 1998.

IPA (Recife, PE). Zoneamento pedoclimático do Estado de Pernambuco: relatório de dados básicos. Recife: IPA/SUDENE, 1987. 183p. v1.

JOHNSTON, J. A; MALLORY-SMITH, C.; BRUBAKER, C. L.; GANDARA, F.; ARAGÃO, F. J. F.; BARROSO, P. A. V.; QUANG, VU DUC; CARVALHO, L. P.; KAGEYAMA, P.; CIAMPI, A. Y.; FUZATTO, M.; CIRINO, V.; FREIRE, E. Assessing gene flow from Bt cotton in Brazil and its possible consequences. In: HIBECK, A.; ANDOW, D. A.; FONTES, E. M. G. Environmental Risk Assessment of Genetically Modified Organisms. CABI Publishing: Cambridge. 2006, p.261-299.


R e f e r ê n c i a s | 309

KEARNEY, T. H. Egyptian-type cottons: their origin and characteristics. Report of Division of Cotton and other Fiber Crops and Diseases, USDA. 1943. Mimeo (unnumbered).

KERKHOVEN, G. J. Cotton on tropical black clay, Kafue Flats Northerm Rhodesia. Emp. Cotton Gr. Rev., v.41, p.2-12, 1964.

KERR, T. The potentials of barbadense cottons. Proc. 12th Ann. Cotton Imp. Conf., Memphis, TN, 1960, p.57-60.

KIJEL, J.; GALILI, G. E. Seed development and germination. New York, Marcel Dekker Inc. 1995. 853p.

KIM, M. J.; OOSTERHUIS, D. M. Effect of upper-canopy square removal before and after NAWF=5 plus 350 heat units on carbon partitioning from upper -canopy leaves to bolls lower in the canopy. In: COTTON RESEARCH MEETING AND SUMMARIES OF RESEARCH IN PROGRESS, 1998, Fayetteville. Proceedings. Fayetteville: University of Arkansas, 1998, p.174-176. (Special report, 188).

KOEPF, H. H.; PETTERSSON, B. D.; SCHAUMANN, W. Agricultura biodinâmica. São Paulo: Nobel, 1983, 333p.

KONDO, J. I. Tecnologia de Fibras. Bolsa de Mercadorias de São Paulo, 1987. vol. II.

LA REPÚBLICA. Sube el cultivo de algodón en seis zonas del país. 30 de Junio, 2014. LaRepublica.pe. Recuperado de http://www.larepublica.pe/30-06-2014/sube-el-cultivode-algodon-en-seis-zonas-del-pais.

LACAPE, J. M.; LLEWELLYN, D.; JACOBS, J.; ARIOLI, T.; BECKER, D.; CALHOUN, S.; AL-GHAZI, Y.; LIU, S.; PALAÏ, O.; GEORGES, S.; GIBAND, M.; ASSUNÇÃO, H.; BARROSO, P. A. V.; CLAVERIE, M.; GAWRYZIAK, G.; JEAN, J.; VIALLE, M.; VIOT, C. Meta-analysis of cotton fiber quality QTLs across diverse


R e f e r ê n c i a s | 310

environments in a Gossypium hirsutum x G. barbadense RIL population. Plant Biology, v.10, p.2-24, 2010.

LEE, J. A. Cotton as a world crop. In: ROHEL, R. J.; LEWIS, C. F. (ED.). Cotton. Madison: American Society of Agronomy, 1984, p.1-25.

LEE, J. A. Cotton. In: FERH, W. R, ed. Principles of cultivar development. New York: MacMillan, 1987. cap.5, p.126-160.

LEVIN, I.; SHMUELI, E. The response of cotton to various irrigation regimes in the Hula Valley. Israel Journal of Agriculture Research, Bet Dagan, v.14, p.211-225, 1964.

LIMA, P. J. B. F.; OLIVEIRA, T. S.; ARAÚJO, L. H. A. P&D de propostas agroecológicas para o algodoeiro (Gossypium hirsutum), com agricultores familiares do semiárido cearense - resultados preliminares. In: ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 1., Fortaleza, CE, 30 set./3 out. 1997. p.8-11.

LIMA, P. J. 0. F. Algodão orgânico: bases técnicas da produção, certificação, industrialização e mercado. Fortaleza: ESPLAR, 1995. 22p.

LIZÁRRAGA, A. Algodón orgánico y el efecto de las plantas transgénicas sobre su desarrollo. Artículo científico. Foro “Transgénicos, Punto de Vista Biológico”. Colegio de

Biólogos

del

Perú–Lima.

Lima,

Perú.

2008.

Recuperado

de

http://www.colbiolima.org/Biblioteca/transgenicos/Articulo%20(algodon%20organico %20%20y%20transgenicos).pdf.

LUNA, L. C. HVI: características e peculiaridades do sistema e interpretação de resultados. Salvador: SENAI/CETIQT, 1994. 27p. Trabalho apresentado no XVI Congresso Nacional de Técnicos Têxteis, Salvador, BA, 1994.

MACEDO, E.; GROTH, D.; SOAVE, J. Influência da embalagem e do armazenamento na qualidade fisiológica de sementes de algodão. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, DF, v.20, n.2, p.454-461, 1998.


R e f e r ê n c i a s | 311

MANGUEIRA, O. B.; PEREIRA, J. T.; DANTAS, A. P. Vantagens da consorciação na cultura do algodoeiro Mocó. Pesq. Agrop. Nord. Recife, v.2, n.2, p. 30-51, 1970.

MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba: FEALQ. 2005. 495p.

MARJORY, L. J. Introductory Textile Science, New York, Holt, Rinhart and Winston, Inc, 1977, p.3-87.

MAUNEY, J. R. Anatomy and morphology of cultivater cottons. In: KOHEL, R. J.; LEWIS, C. F. (Eds.). Cotton. Agronomy Monograph, nº 24. American Society of Agronomy, Madison, WI, 1984, p. 25-79.

MAUNEY, J. R. Vegetative growth and development of fruiting sites. In: MAUNEY, J. R.; STEWART, J. McD. (ed). Cotton physiology. Memphis, Tennessee: The Cotton Foundation, 1986, p.11-28.

McGREGOR, S. E. Crop Plants and Exotic Plants- Cotton. Chapter 9.10. In: Insect pollination of cultivated crop plants. USDA, Agricultural Research Service, McGOWAN, J. C. History of extra-long staple cottons. Hill Printing Co., El Paso, Tex. 1961.

MEDEIROS, J. C. Efeito da adubação do algodoeiro arbóreo precoce. In: EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Campina Grande - CNPA, 1991, p.388-389. (Relatório Técnico Anual 1987-1989). MEIRELLES, L. A Certificação de Produtos Orgânicos – caminhos e descaminhos, Centro Ecológico Ipê, novembro de 2003, disponível no site da Rede Ecovida http://www.ecovida.org.br.

MENEZES, I. P. P. Caracterização in situ e diversidade genética de algodoeiros mocós (Gossypium hirsutum raça marie galante L. Hutch) da região Nordeste do


R e f e r ê n c i a s | 312

Brasil. 2009. 89f. Mestrado (Genética e Biologia Molecular). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências - Departamento de Biologia Celular e Genética - Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular.

MENTEN, J. O.; RUGAI, A.; ARAUJO, A. E.; LIMA, L. C. S. F.; ZUPPI, M. Utilização de sementes sadias e/ou adequadamente tratadas no manejo de doenças do algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 5., 2005, Salvador. Anais... Bahia: Embrapa Algodão, 2005.

MILLAR, A. A. Respuesta de los cultivos al déficit de agua como información básica para el manejo del riego. Petrolina: Embrapa-CPATSA, 1976. 62p.

MINAG. Manual del Cultivo del Algodón. 2010. Disponible en: http://www.minag.gob .pe/algodon/manual_del_cultivo_del_algodon/html. (Accesado 15/08/2011).

MINAG. Programa de Algodón de formalización del comercio. 2009. Disponible en: http://www.minag.gob.pe/algodon/programa-de-formalizacion-del-comercioalgodonero /4.html. (Accesado 15/02/2011).

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. MAPA Cadeia produtiva do algodão – Brasília: IICA / MAPA/SPA, 2007.108p. (Agronegócios; v. 4).

MIRANDA, A. R. Contribuição ao estudo do algodoeiro Gossypium spp. Brasília: Embrapa-DDT, 1983, 63p. (Embrapa-Cenargen. Documentos, 5).

MIRANDA, L. Cresce a variedade de alimentos mais saudável. Jornal OESP, São Paulo, 19 nov. 2001. Biotecnologia, p.A11.

MOFFETT, J. O. Pollination of entomophilous hybrid seed parents - hybrid cotton. Chapter 8. In: JONES, C. E.; LITTLE, R. J. eds. Handbook of experimental pollination biology. Van Nostrand Reinhold, New York. 1983, p.508-514.


R e f e r ê n c i a s | 313

MOHAMMADIOUN, M.; GALLAWAY, M.; APODACA, J. K. An economic analysis of organic cotton as a niche crop in Texas. Austin, TX: Bureau of Business Research, Jan., 1994. 56p. (Research Monography, 1/94).

MOORE, V. P. Development of the saw gin. Department of Agriculture. In: Cotton Ginners handbook. Washinton: EUA. 1977. p.1- 4. Agriculture Handbook, 503.

MORE, P. M. R. El algodón pima peruano: Cultivo y manejo agronómico. Universidad de Piura, Ciudad Universitaria, Piura-Perú, setiembre de 2014. 78p.

MOREIRA, J. A. N.; FREIRE, E. C.; SANTOS, R. F. E BARREIRO NETO, M.; MEDEIROS, L. C.; GILES, J. A. Visão retrospectiva do melhoramento genético no algodoeiro mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante Hutch) no nordeste do Brasil. Embrapa Algodão: Campina Grande, 1982. p.56 (Comunicado Técnico: 12).

MOREIRA, J. A. N.; FREIRE, E. C.; SANTOS, R. F.; BARREIRO NETO, M. Algodoeiro Mocó: uma lavoura ameaçada de extinção. Campina Grande: EmbrapaCNPA, 1989. 20p. (Embrapa-CNPA. Documentos, 36).

MOREIRA, J. A. N.; FREIRE, E. C.; SANTOS, R. F. E BARREIRO NETO, M.; MEDEIROS, L. C.; GILES, J. A. Visão retrospectiva do melhoramento genético no algodoeiro mocó (Gossypium hirsutum r. marie galante Hutch) no nordeste do Brasil. Embrapa Algodão: Campina Grande, 1982. p.56 (Comunicado Técnico: 12).

MOREIRA, J. A. N.; SILVA, F. P.; ALVES, J. F.; PAULA, P. H. F.; OLIVEIRA, J. G. B.; SANTOS, J. H. R.; ASSUNÇÃO, M. V. Melhoramento genético do algodão mocó no Estado do Ceará, Brasil. I. Resultados Preliminares In: Estudos básicos, melhoramento genético e experimentação com o algodoeiro mocó. Relatório Pesquisa 1972. Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Depto. Fitotecnia, Fortaleza, 1973. 86p.


R e f e r ê n c i a s | 314

MYERS, D. Organic production: picking the pesticides out of cotton. In: THE COTTON chain: linking sustainable agriculture and fair trade. Pesticides News, n.28, p.17-19, Jun., 1995.

NABAS, H. T. Relatório do laboratório tecnológico de fibras. São Paulo: Bolsa de Mercadorias e Futuros, 1997. 12p.

OBASI, M. O.; MSAAKPA, T. S. Influence of topping, side branch pruning and hill spacing on growth and development of cotton (Gossypium barbadense L.) in the southern Guinea savanna location of Nigeria. Journal of Agriculture and Rural Development in the Tropics and Subtropics, v.106, p.155-165, 2005.

OOSTERHUIS, D. M. Growth and development of a cotton plant. Faytteville: University of Arkansas, Arkansas Cooperative Extension Service, 1992. 24p. (MP3324M-9-92R).

OOSTERHUIS, D. M. Growth and development of a cotton plant. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. (Eds). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, 1999, p.3555.

OOSTERHUIS, D. M., JERNSTEDT, J. Morphology and anatomy of the cotton plant. Chapter 2.1. In: SMITH, C. W.; COTHREN, J. T. eds. Cotton: Origin, History, Technology and Production. John Wiley & Sons, New York. 1999, p.175-206.

ORGÂNICO, o difícil é produzir. Anuário Brasileiro do Algodão, Santa Cruz do Sul, p.40-41, 2001.

ORMOND, J. G. P.; PAULA, S. R. L.; FAVERET FILHO, P.; ROCHA, L. T. M. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. Rio de Janeiro: BNDES Setorial, 2002. 24p.

PARRY, G. Le cottonier et ses produites. Paris: Maisonneuve e Larouse, 1982. 502p.


R e f e r ê n c i a s | 315

PASSOS, S. M. G. Algodão. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1977. 424p.

PEDROSA, M. B. Evolução da cadeia para construção de um setor. Anais. Campina Grande, PB: Embrapa Algodão, 2011. p.1234-1241.

PEEBLES, R. H. 1950 long staple picture changed. Cotton Trade J., April, v.14, p.7-8, 1950.

PENNA, J. C. V. Melhoramento do algodão. In: BORÉM, A. Melhoramento de espécies cultivadas. Editora UFV, Viçosa, 2005, p.15-53.

PERCIVAL, E. A.; KOHEL, J. R. Distribution, collection, and evolution of Gossypium. American Journal of Botany, New York, v.53, p.328-335, 1966.

PERCIVAL, E. A.; KOHEL, J. R. Distribution, collection, and evolution of Gossypium. Adv. Agron., v.44, p.225-255, 1990.

PERCY, R. G.; WENDEL, J. F. Allozyme evidence for the origin and diversification of Gossypium barbadense L. Theor. Appl. Genet, v.79, p. 529-542, 1990.

PÉREZ, V. A.; LANDEROS, S. C. Agricultura y deterioro ambiental. Elementos: Ciencia y cultura, v.16, n.73, p.19-25, 2009.

PIERCE, J. P. B.; YATES, P. E.; HAIR, C. J. Crop management and microclimate effects on immature boll weevil mortality in Chihuahuan desert cotton fields. Southewestern Entomologist. v. 26, n.1, p.87-93, 2001.

PIVA, D. L. P. D. Hidróxido de sódio na neutralização do ácido sulfúrico no deslintamento de sementes de algodão. 2013. 24f. Tese - (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Sementes) - Universidade Federal de Pelotas, RS. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Pelotas.


R e f e r ê n c i a s | 316

PORCHER, R. D. FICK, S. The story of Sea Island cotton. Gibbs Smith, Publisher, 2010. 543p.

PRIMAVESI, A. A agricultura em regiões tropicais: O manejo ecológico do solo. São Paulo: Nobel, 1980. 541p.

QUEIROGA, V. P. Cultura do algodão herbáceo no Rio Grande do Norte. Natal: EMPARN, 1983. 51p.

QUEIROGA, V. P. Análise econômica dos processos de melhoria de qualidade das sementes de algodão herbáceo. Campina Grande: Embrapa/CNPA, 1985. 10p.

QUEIROGA, V. P.; BELTRÃO, N. E. M. Produção de Sementes. In: O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.285-301. 348p.

QUEIROGA, V. P.; SILVA, O. R. R. F. Tecnologias utilizadas no cultivo do gergelim mecanizado. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. 142f. (Embrapa Algodão. Documentos, 203).

QUEIROGA, V. P.; BEZERRA, J. E. S.; CORREIA, L. J. Deslintamento à flama da semente de algodão (Gossypium hirsutum L.). Revista Brasileira de Sementes. BrasíliaDF: ABRATES, v.15, n.1, p.07-12, 1993.

QUEIROGA, V. P.; GREGOLIN, A. C.; ALMEIDA, F. A. C.; ALBUQUERQUE, E. M. B. Sistema de produção de algodão colorido orgânico no semiárido. 1.ed. Campina Grande: Editora Revista Barriguda, 2017, 112p.

QUEIROGA, V. P.; BARROS, M. A. L.; VALE, L. V.; MATOS, V. P. Influência da colheita, armazenamento temporário e beneficiamento nos caracteres tecnológicos do algodão herbáceo. Revista Ceres, v.41, n.236, p.337-357, 1994.


R e f e r ê n c i a s | 317

QUEIROGA, V. P.; CARVALHO, L. P.; CARDOSO, G. D. Cultivo do algodão colorido orgânico na região semiárida do Nordeste brasileiro. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. 50p. (Embrapa Algodão. Documentos, 204).

QUEIROZ FILHO, V. Agricultura orgânica e biodinâmica consultoria, projetos e cursos: Cursos práticos de agricultura orgânica. Petrolina: (s.n.), 2005, 45p.

QUINTERO, R.; GIOANETTO, F. Agricultura orgánica en México. En: GIOANETTO, F.; QUINTERO, R. (eds.). Agricultura orgánica. Fundación Produce Morelos. Cuernavaca, Mor. 2006, 550p.

RAMALHO, F. S. Cotton pest management: Part 4. A Brasilian perspective. Annual Review of Entomology, v.39, p.563-578, 1994.

RAMALHO, F. S.; GONZAGA J. V. Tabela de vida e fatores de mortalidade do Anthonomus grandis (Coleoptera: curculionidae) no algodoeiro consorciado. In: REUNIAO NACIONAL DO ALGODAO, 6.. 1990. Campina Grande. Resumos dos trabalhos. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1990a. p.61.

RAMALHO, F. S.; GONZAGA, J. V. Tabela de vida e fatores de mortalidade do Anthonumus grandis (Coleoptera: curculionidae] no algodoeiro consorciado. In: REUNIAO NACIONAL DO ALGODÃO, 6. 1990, Campina Grande. Resumo dos trabalhos. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1990b. p.59.

RAMALHO, F. S.; GONZAGA, J. V.; SILVA, J. R. B. Método para determinação das causas de mortalidade natural do bicudo-do algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, n.8, p.877-887, 1993.

RAMALHO, F. S.; SANTOS, R. F. Impact of cotton boll weevil introduction into Brazil. In: PLANT PROTECTION CONGRESS, 12., 1991, Rio de Janeiro. [S.I.: s.n.1, 1 991 . p.32.


R e f e r ê n c i a s | 318

RAMALHO, F. S.; SILVA, J. R. B. Período de emergência e mortalidade natural do bicudo-do-algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, n.11, p.12211231, 1993.

REVESZ., B. Algodón, empresariado y productores agrarios. Edit. Centro de Investigación y Promoción del Campesinado. 1982, 48p.

REYES, P. M. El algodón pima peruano: Cultivo y manejo agronómico. Universidad de Piura, Ciudad Universitaria, Piura-Perú, setiembre de 2014. 78p.

RODRÍGUEZ, J. P.; MARTORELL, L. F. El cultivo del algodón en Puerto Rico. Universidad de Puerto Rico. Estación Experimental Agrícola. Río Piedras, Puerto Rico. 1956, 103p. (Boletín -131).

ROSOLEM, C. A. Fenologia e ecofisiologia no manejo do algodoeiro. In: FEIRE, E. C. Algodão no cerrado do Brasil. Brasília: Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, 2007, p.649-688.

S.E. MCGREGOR. Crop Plants and Exotic Plants Insect Pollination of Cultivated Crop Plants. Chapter 9. 1976.

SABINO, N. P.; KONDO, J. I.; WEIZEL, J. B. C. Tecnologia e utilizações da fibra de algodão. Informe Agropecuário (IAC), v.92; p.86-92, 1982.

SANTOS, F. G. B. Substratos para produção de mudas utilizando resíduos agroindustriais. 2006. 78f. Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo) – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife-PE, 2006.

SANTOS, G. C.; MONTEIRO, M. Sistema orgânico de produção de alimentos. Alim. Nutr., Araraquara, v.15, n.1, p.73-86, 2004.

SANTOS, J. B.; FREIRE, E. C.; PEDROSA, M. B.; SILVA FILHO, J. L.; FERREIRA, G. B.; TAVARES, J. A.; ALENCAR, A. R.; EVANGELISTA, R. C. C.; OLIVEIRA, W.


R e f e r ê n c i a s | 319

P. Avaliação da Perda em Produtividade de Cultivares de Algodoeiro em Função da Colheita Mecanizada no Oeste da Bahia. In: Congresso Brasileiro de Algodão 5. Salvador, Brasil. 2005.

SATO, G. S.; MOORI, R. G.; LOMBARDI, M. F. S. Estudo de mercado para produtos orgânicos através de análise fatorial. Disponível em: http://www. planetaorganico.com. br. Acesso em: 18 nov. 2003.

SCOFIELD, C. S.; KEARNEY, T. H.; BRAND, C. J.; COOK, O. F.; SWINGLE, W. T. Production of American Egyptian cotton. USDA, Bull. 742, 1919.

SCOTT, W. P.; LLOYD, E. P.; BRYSON, J. O.; DAVICH, T. B. Trap plots for suppression of flow density overwintered populations of boll weevils. Journal Economic of Entomology. v.17, p.229-283, 1974.

SEGUY, L.; KLUTHCOVSKI, J.; SILVA, J. G.; BLUMENSHEIN, F. N.; DALLACQUA, F. M. Técnicas de preparo do solo: efeitos na fertilidade, na conservação do solo, nas ervas daninhas e na conservação da água. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1984. 26p. (EMBRAPA–CNPAF. Circular Técnica, 17).

SHAW, C. S.; FRANKS, G. N. Limpieza y extracción. In: Estados Unidos. Departamento de Agricultura. Manual para desmotadores de algodón. Roque Sáez Peña, Chaco: INTA, 1966, p.76-87.

SILVA, C. A. D.; ALMEIDA, R. P. Manejo integrado de pragas do algodoeiro no Brasil. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1998. 65p. (EMBRAPA-CNPA. Circular Técnica, 27).

SILVA, M. A. A certificação orgânica participativa em assentamentos do agreste paraibano: um estudo sobre o processo. Areia: UFPB/CCA, 2015 Trabalho de conclusão de curso.


R e f e r ê n c i a s | 320

SILVA, F. P.; ALVES, J. F.; NETO, F. V. C. Herança de características morfológicas e agronômicas no cruzamento de algodão herbáceo, Gossypium hirsutum L. raça latifolium, com algodão arbóreo, Gossypium hirsutum Hutch, raça marie galante. Ciências Agronomia, v.3; p.1-13, 1982.

SILVA, M. N. B.; BELTRÀO, N. E. M.; CARDOSO, G. D. Adubação do algodão colorido BRS 200 em sistema orgânico no Seridó Paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, n.2, p.222-228, 2005.

SILVA, N. M.; ALVES, J. F; MOREIRA, J. A. N. Melhoramento genético do algodão mocó, Gossypium hirsutum raça marie galante L. Hutch., I. Resultados dos Experimentos de Competição Regional de “Bulks” conduzidos no estado do Ceará. Ciência Agron., v.5, n.1-2, p.83-89, 1975.

SILVA, O. R. R. F.; CARVALHO, O. S. Beneficiamento. In: BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P. (Editores). O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica. 2008, p.1199-1232.

SILVA, O. R. R. F.; SOFIATTI, V.; CARTAXO, W. V.; BARBOSA, V. S. C.; WANDERLEY, M. J. R. Algodão em pluma. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2009. 44p. il - (Coleção Agroindústria Familiar).

SILVA, S. D.; PRESOTTO, R. A.; MAROTA, H. B.; ZONTA, E. Uso de torta de mamona como fertilizante orgânico. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v.42, n.1, p.19-27, jan./mar. 2012.

SILVERTOOTH, J. C.; EDMISTEN, K. L.; McCARTY, W. H. Production practices. In: SMITH, C. W.; COTHREN, J. T. Cotton: origin, history, technology, and production. New York, 1999, p.451-488.

SMITH, W. C. Production statistics. Chapter 3.1. In: SMITH, W. C.; COTHREN, J. T. eds. Cotton: Origin, History, Technology and Production. John Wiley and Sons, Inc., 1999, p. 435-449.


R e f e r ê n c i a s | 321

SMITH, C. W.; CANTRELL, R. G.; MOSER, H. S.; OAKLEY, S. R. History of cultivar development in the United States. In: SMITH, C. W; COTHREN, J. T. (Eds.), Cotton. John Wiley, New York, 1999, p.99-171.

SMITH, C. W. Cotton (Gossypium hirsutum L.). Chapter 6. In: Crop Production: Evolution, History, and Technology. John Wiley and Sons, Inc., New York. 1995, p 287-349.

SOARES, F. P.; PAIVA, R.; NOGUEIRA, R. C.; OLIVEIRA, L. M.; PAIVA, P. D. O.; SILVA, D. R. G. Cultivo e usos do nim (Azadirachta indica A. Juss). Boletim Agropecuário, Universidade Federal de Lavras, n.68, p.1-14, 2003. SOUSA, H. F. Desempenho da variedade BRS 200 – Marrom no sertão da Paraíba mediante Unidades Técnicas Demonstrativas. In: Congresso Brasileiro de Algodão, 4., 2003, Goiânia. Anais... Campina Grande/PB: Embrapa/CNPA, 2003.

SOUSA, J. S. I.; PEIXOTO, A. M.; TOLEDO, F. F. Enciclopédia Agrícola Brasileira: A-B. São Paulo: Edusp, 1995. Vol.1.

SOUZA, J. G.; BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P.; ALBUQUERQUE, W. G.; LIMA, R. L. S.; CARDOSO, G. D. Fisiologia. In: BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P. O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa, 2008. v.1, cap.7, p. 119170. SOUZA, M. C. M. “Certificação de produtos orgânicos e legislação pertinente”. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.212, n.22, p.68-72, 2001.

SOUZA, M. C. M. Produção de têxteis de algodão orgânico: uma análise comparativa entre o subsistema orgânico e o sistema agroindustrial convencional. Agric. São Paulo, SP, v.47; n.2, p.83-104, 2000.


R e f e r ê n c i a s | 322

SOUZA, M. C. M. Algodão orgânico: o papel das organizações na coordenação do sistema agroindustrial do algodão. 1998. 201f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Curso de Economia, Administração e Contabilidade, Administração, São Paulo, 1998.

SOUZA, L. C. Componentes de produção do cultivar de algodoeiro CNPA - 7H em diferentes populações de plantas. 1996. 71p. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Viçosa.

SOUZA, M. C. M. Panorama mundial da produção de algodão orgânico. In: ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 1., Fortaleza, 30 set./.3 out. 1997. p.100-103.

SOUZA, J. L; RESENDE, P. Manual de horticultura orgânica. Aprenda fácil, Viçosa: UFV, 2006. 843p.

STEFANELLO, R.; GARCIA, D. C.; MENESES, N. L.; WRASSE, C. F. Influência da luz, temperatura e estresse hídrico na germinação e no vigor de sementes de anis. Revista Brasileira de Agrociência, v.12, n.1, p.45-50, 2006.

STEINER, R. Fundamentos da agricultura biodinâmica: vida nova para a terra. 7. ed. São Paulo: Antroposófica, 1993, 240p.

STEPHENS, S. G. Geographical distribution of cultivated cottons relative to probable centers of domestication in the new world. In. Genes, enzymes and populations. Srb. ADRIAN, M. Plenum Press. New York. 1973, p.239-254.

STEPHENS, S. G.; MOSELEY, M. E. Early domesticated cottons from archeological sites in central coast Peru. American Antiquity, Washington, v.39, p.109-122, 1974.

SUNDARAMURTHY, V. T. The integrated insect management system and its effects on environment and productivity of cotton. Outlook on Agriculture, v.31, p.95-105, 2002.


R e f e r ê n c i a s | 323

SWEZEY, S. L.; GOLDMAN, P.; JERGENS R.; VARGAS, R. Preliminary studies show yield and quality potential of organic cotton. California Agriculture. n.53, v.4, p.9-16, 1999.

TAKEYA, D. M. Um outro Nordeste: o algodão na economia do Rio Grande do Norte (1880-1915). Fortaleza: BNB/ETENE, 1985. 138p (BNB/ETENE. Documentos do Nordeste, 4).

TAYLOR, H. M.; KLEPPER, B. The role of rooting characteristics in the supply of water to plants. Advances Agronomy, Madison, v.30; p.99-128, 1978.

THE COTTON: Producción de algodón orgánico. IV. International Cotton Advisory Committee, Washington D.C., v.16, n.4, p.28-32, Dec., 1998.

TREANOR, L. L. Jr.; ANDREWS, H. Some effects of frequency of cultivation with and without herbicides on corn, cotton and soybeans. Proc. Sou. Weed Conf., v.18, n.49-54, 1965.

UNCTAD. Organic production in developing countries: potential for trade, environmental improvement, and social development. [S. l.]: United Nations Conference on Trade and Development, Jul. 1996. 48p. (UNCTAD/COM/88).

USDA. Plants Database. Disponível em 31-07-2006. http://plants.usda.gov\java\ classification Servlet? source=profile&symbol=TOREN.

VALOIS, A. C. C. Conservação de germoplasma vegetal "ex situ". In: PUIGNAU, J. P., ed. Conservacion de germoplasma vegetal. Montevideo: IICA, 1996. p.7-11. (IICAPROCISUR. Dialogo, 45). p.7-11 (IICA-PROCISUR. Dialogo, 45).

VASCONCELOS, W. M.; BOULANGER, J. Veludo C-71: Nova variedade de algodoeiro perene. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE.


R e f e r ê n c i a s | 324

Departamento de Agricultura e Abastecimento (Divisão de Pesquisa e Experimentação). Recife, 1979. 26p.

VAUGHAN, C. E.; GREGG, B. R.; DELOUCHE, J. C. Beneficiamento e manuseio de sementes. Trad. C.W. Lingerfelt; F. F. Toledo. Brasil: AGIPLAN, 1976. 195p.

VELOSO, U. D. Novo método de estudo e seleção do mocó. Tese apresentada ao Congresso Algodoeiro de São Paulo. 1935. Editado nos anais do Congresso e pelo Ministério da Agricultura.

VELOSO, U. D. O algodão Mocó: bases para seu melhoramento e sua expansão no Nordeste. Rio de Janeiro, Serv. Informação Agrícola, 1957. 89p. (Estudos técnicos, 11)

VERÁSTEGUI, M. S. M. Estudio de mercado para determinar la oportunidad de comercializar t-shirts a base de algodón orgánico peruano con destino al sector textil de medellín, colombia. 2016. 84f. Tesis (Licenciado en Administración de Empresas). Facultad de Ciencias Empresariales de la Universidad Católica Santo Toribio de Mogrovejo. Chiclayo, Perú.

VICENTE, M. C.; GUZMÁN, F. A.; ENGELS, J.; RAMANATHA RAO, V. Genetic Characterization and its use in decision making for the conservation of crop germplasm. In: The Role of Biotechnology, 2005, Turin. Proccedings...Turin, 2005, p.121-128.

VILELA-MORALES, E. A.; VALOIS, A. C. C.; NASS, L. L. Recursos genéticos vegetales. Brasília: Embrapa-SPI/Embrapa-Cenargen, 1997. 78p.

VILLEGAS, A. T.; RIVERA, M. N. Manejo integrado del algodón Del Cerro. Instituto Nacional de Innovación Agrarias (INIA). ZB impresores S.A.C., Lima, Peru. 2011, 182p.

VILLELA, F. A.; MENEZES, N. L. O potencial de armazenamento de cada semente. Seed News, Pelotas, v.8, n.4, p.22-25, jul. / ago. 2009.


R e f e r ĂŞ n c i a s | 325

WARE, J. O. Plant breeding and the cotton industry. In: Yearbook of Agriculture. United States Dept. Agriculture, government Printing Office, Washington, DC, 1936, p. 657-744.

WATT, G. The wild and cultivated plants of the word. Longmans, Green and Co. London, 1907.

ZHANG, H. B.; LI, Y.; WANG, B.; CHEE, P. W. Recent Advances in cotton genomics. International Journal of Plant Genomics, v.2008, p.1-20, 2008.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.