Sistemas de cultivo das espécies de algodoeiro G. barbadense e G. hirsutum

Page 1

SISTEMAS DE CULTIVO DAS ESPÉCIES DE ALGODOEIRO G. BARBADENSE E G. HIRSUTUM (RAÇAS MARIE GALANTE E LATIFOLIUM) E CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA

Vicente de Paula Queiroga José Rodrigues Pereira Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


SISTEMAS DE CULTIVO DAS ESPÉCIES DE ALGODOEIRO G. BARBADENSE E G. HIRSUTUM (RAÇAS MARIE GALANTE E LATIFOLIUM) E CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA JOSÉ RODRIGUES PEREIRA (Editores Técnicos)

SISTEMAS DE CULTIVO DAS ESPÉCIES DE ALGODOEIRO G. BARBADENSE E G. HIRSUTUM (RAÇAS MARIE GALANTE E LATIFOLIUM) E CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA

1ª Edição

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2022


©Copyright 2022 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA JOSÉ RODRIGUES PEREIRA Capa GRUPO ALBINI; ISTOCK/MAPA, ALIBABA. VICENTE DE PAULA QUEIROGA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 12-05-2022

Q3s

Queiroga, Vicente de Paula. Sistemas de cultivo das espécies de algodoeiro G. barbadense & G. hirsutum (raças marie galante e latifolium) e características tecnológicas da indústria. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga,,José Rodrigues Pereira – Campina Grande: AREPB, 2022. 202 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-15-5 1. Gossypium barbadense. 2. Sistema de produção. 3. Fibra extralonga. 4. Extração de óleo. 5. Algodão Mocó. 6. Algodoeiro Del Cerro. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Pereira, José Rodrigues. III. Título. CDU 633.5

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

José Rodrigues Pereira (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

Este livro descreve as espécies Gossypium barbadense L. (algodão da variedade Sea Island) e Gossypium hirsutum L. (Upland da raça latifolium, cultivares BRS Acala e Del Cerro e o árbóreo (mocó) da raça marie galante, cultivar Veludo C-71), com especial referência ao algodão cultivado nas condições ambientais peruanas, USA e Caribe, com exceção do algodão arbóreo tradicional (mocó) cultivado, em grande escala, no passado na região semiárida. O centro geográfico de origem de G. hirsutum é a América do Norte e Central e México, e para G. barbadense é a América do Sul. Apenas 3 a 5% da produção mundial de algodão são de fibras extralongas e longas e está concentrada nos Estados Unidos, Peru e Egito, país que gerou a chancela "algodão egípcio". O objetivo deste documento é fornecer informações básicas sobre o sistema de cultivo não orgânico e orgânico do algodão de fibra extralonga das espécies G. barbadense e G. hirsutum. Na natureza, G. barbadense e G. hirsutum (cultivar Del Cerro) são arbustos perenes, devido ao seu ciclo anual tardio (6 meses, no caso do Pima Americano). No entanto, no sistema agrícola do Peru, ambas as espécies são cultivadas como anuais, com destruição de plantas depois de colher o fruto para semente e fibra. O algodão de ambas as espécies é frequentemente cultivado com irrigação, mas pode ser plantado sob condições de chuva e com irrigação suplementar de gotejamento na região semiárida dos Estados do CE, PB, PE, PI e RN. Um rendimento de algodão em rama de até 4 t / ha é possível em condições ideais, mas na prática é raramente superior a 2,5 t / ha, enquanto para as boas cultivares do algodão Pima Americano e Montserrat Sea Island a percentagem de fibra poderá atingir 32%, sendo a primeira cultivar introduzida antes de 1950 na Fazenda São Miguel, em Angicos, RN pela companhia inglesa Machine Cotton. Ambas as cultivares apresentam alta qualidade de fibra extralonga, variando entre 36-42 mm. Portanto, a produtividade e o comprimento da fibra do G. barbadense são priorizados como incentivo ao plantio na microrregião do Seridó e à garantia de boa comercialização, pois quanto maior o comprimento da fibra, melhor para a indústria têxtil. Suas fibras são muito mais longas e finas do que o G. hirsutum “Upland”, o que atribui aos tecidos confeccionados maciez, brilho e durabilidade. Neste sentido, os autores desta publicação, preocupados em fortalecer a participação dos pequenos cotonicultores nordestinos na produção de algodão de fibra extralonga e de fibra média (Upland) como principal elo para o processo de inclusão e desenvolvimento socioeconômico, traz, a comunidade acadêmica e extensionistas as informações básicas copiladas de bibliografias existentes sobre sistemas de cultivo das espécies de algodão Gossypium barbadense L. (Sea Island, Pima) Gossypium hirsutum L. raça marie galante, Hutch. (Mocó tradicional) Gossypium hirsutum L. raça latifolium, Hutch. (Del Cerro e o algodoeiro de fibra média “Upland”: BRS 187 8 H, BRS Aroeira, etc), assim como todo sistema produtivo para atender as microrregiões secas do semiárido.

Os Editores Técnicos


SUMÁRIO

CAPÍTULO I - SEA ISLAND (Gossypium barbadense, L.): O ALGODÃO DE FIBRA EXTRALONGA MAIS VALORIZADO E RARO CULTIVADO EM BARBADOS – Vicente de Paula Queiroga, Peter Bell.......................................................................................10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................35

CAPÍTULO II - SISTEMA DE PLANTIO DO ALGODÃO ARBÓREO (Gossypium hirsutum L. raça marie galante, Hutch.), BULK VELUDO C-71 DE FIBRA EXTRALONGA, PARA O SEMIÁRIDO – Vicente de Paula Queiroga, José Rodrigues Pereira, José Cunha de Medeiros, Tarcísio Marcos de Souza Gondim......................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................66

CAPÍTULO III - SISTEMA DE PLANTIO DO ALGODÃO HERBÁCEO (Gossypium hirsutum L. raça latifolium, Hutch.), CULTIVARES DEL CERRO E BRS ACALA DE FIBRA EXTRALONGA, PARA O SEMIÁRIDO – Vicente de Paula Queiroga, Arturo Távara Villegas, Marité Yulisa Nieves Rivera ........................................................................................71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................103

CAPÍTULO IV - PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ALGODÃO ORGÂNICO NO ÂMBITO DA AGRICULTURA FAMILIAR – Vicente de Paula Queiroga, Nair Helena Casto Arriel, José Rodrigues Pereira, José da Cunha Medeiros, Marenilson Batista da Silva, Gildo Pereira de Araújo.....................................................................................................................106 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................163

CAPÍTULO V - PROCESSOS DE REFINO DO ÓLEO EXTRAÍDO DE AMÊNDOAS DE ALGODÃO – Vicente de Paula Queiroga, José Rodrigues Pereira, Mário Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti Mata.........................................................................................................167 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................200


C a p í t u l o I | 10

CAPÍTULO I

SEA ISLAND (Gossypium barbadense, L.): O ALGODÃO DE FIBRA EXTRALONGA MAIS VALORIZADO E RARO CULTIVADO EM BARBADOS

Vicente de Paula Queiroga Peter Bell


C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O Sea Island (G. barbadense, L.) é considerado o algodão de fibra extralonga mais caro do planeta e de difícil cultivo devido ao seu ciclo tardio (sete meses), mas tornou-se ainda mais valorizado pela aristocracia britânica pelo fato de que os lenços da rainha Vitória eram feitos a partir dele. Mesmo assim, durante o início do século 20, o algodão da Sea Island foi exterminado por uma infestação generalizada de bicudo, que afetou todo o cinturão de algodão do México até a costa leste dos EUA (FERNANDES, 1923). No últimos anos, o algodão Sea Island passou por uma nova estratégia de exploração, o qual ainda é cultivado e monitorado por alguns dedicados especialistas em pequenas ilhas do Caribe, onde a quantidade ideal de sol, chuva e umidade permitem que esse material genético único de plantas floresça e produza. Além disso, o Sea Island é considerado o mais promissor nicho de mercado por incrementar o desenvolvimento agrícola de Barbados, em razão de sua elevada qualidade de fibra, à qual é seu grande diferencial e por sua importância socioeconômica em gerar uma grande quantidade de mão-de-obra aos seus pequenos agricultores. A produtividade e o comprimento da fibra do G. barbadense são priorizados como incentivo ao plantio na ilha caribenha de Barbados e também a garantia de boa comercialização, pois quanto maior o comprimento da fibra, melhor para a indústria têxtil. Suas fibras são muito mais longas e finas do que o G. hirsutum “Upland”, o que atribui aos tecidos confeccionados maciez, brilho e durabilidade. Apesar de tudo, a produção mundial de algodão de fibra extralonga é de apenas 3 a 5% e está mais concentrada nos Estados Unidos, Peru e Egito. Com base nos resultados obtidos em Barbados, a sua produtividade é de 2.250 kg, sendo seu valor em quilo de algodão em rama pago ao produtor é estimado acima de R$ 50,00 (1 dólar\ 5 reais). ORIGEM, BOTÂNICA E CARACTERÍSTICAS DO SEA ISLAND Origem - O centro geográfico de origem do G. barbadense é a região costeira do Peru e do Equador (LEE, 1984). Apesar de ter sido primeiramente mencionada em registros históricos como uma variedade do Caribe (FRYXELL, 1965), evidencias de aloenzima verificada no algodoeiro Sea Island tem afinidade muito próxima do algodão costeiro do Peru e Equador, a oeste dos Andes (PERCY; WENDEL, 1990; Figura 1). Essa afinidade


C a p í t u l o I | 12 sugere que o algodão Sea Island surgiu de uma fonte introduzida, ao invés da versão do G. barbadense ser nativo do Caribe.

Figura 1. Registro no mapa da origem do Gossypium barbadense da região costeira do Peru e Equador, sendo derivadas as cultivares Brasiliense (Brasil), Sea Island, Egípcia (Caribe) e Pima (USA). Foto: Hutchinson, J. B. (1962).

O algodão Sea Island, originalmente encontrado nas ilhas caribenhas, foi introduzido na América do Norte continental no final do século 18 (FRYXELL, 1965) e se tornou a base de uma pequena e próspera indústria no estado costeiro do sul dos Estados Unidos (MCGOWAN, 1961). De seu primórdio, o algodão de Sea Island era distinguido por sua excepcional fibra extralonga e fina (Figura 2), pois ambos os caracteres tecnológicos posicionaram com um preço Premium de sua fibra e por sua demanda limitada no mercado. A indústria com a matéria-prima da cultivar Sea Island dos Estados Unidos perdurou pelo século 19 para o século 20. Atualmente, o algodão Sea Island existe em coleções de germoplasma e são usualmente identificados e cultivados em sua ilha de origem de Barbados.


C a p í t u l o I | 13

Figura 2. Destaque do comprimento de fibra extralonga de algumas variedades (Giza 45 (2) e Giza 70 (3)) do algodoeiro egípcio, as quais são inferiores a cultivar Sea Island (1).

Apenas quando o algodão Sea Island foi cultivado nos EUA é que se tornou bem conhecido, coincidindo com a invenção do descaroçador de rolo e, ao mesmo tempo, se tornou numa mercadoria valiosa para os agricultores locais (PORCHER; FICK, 2010). Aspecto Botânico - O nome da espécie G. barbadense L. foi dado pelos habitantes de Barbados. É conhecido por nomes científicos alternativos, tais como: Gossypium evertum, Gossypium peruvianum, Gossypium vitifoliume Gossypium brasiliense (USDA, 2006). É comumente conhecido como algodão crioulo, algodão egípcio, algodão extralongo, algodão indiano, algodão Sea Island ou algodão Pima. A maioria das classificações modernas para o algodoeiro da espécie Gossypium barbadense é a seguinte: Reino: Plantae Sub-Reino: Tracheobionta Sub-Divisão: Spermatophyta Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Sub-Classe: Dilleniidae Ordem: Malvales Família: Malvaceae Tribo: Hibisceae Gênero: Gossypium L., 1753 Espécie: G. barbadense L., 1753


C a p í t u l o I | 14 Características do Algodão Sea Island - O algodão Sea Island das Índias Ocidentais (Caribe), conhecido como “Gossypium barbadense” ou “semente negra”, é uma planta perene com poucas ou muitas hastes fortes e ascendentes que se tornam mais ou menos lenhosas. Cresce cerca de 3 metros de altura. Cerca de 110 milhões de fardos de algodão são produzidos a cada ano, globalmente, dos quais 2 milhões são de algodão extralongo. Sua produção, equivalente a apenas 0,006% do algodão tardio do mundo. Ou seja, a produção anual da Sea Island Cotton é de apenas 130 fardos, concentrando-se agora principalmente em Barbados, Antígua e Jamaica, áreas que constituem um verdadeiro clima paradisíaco. Portanto, seu fornecimento é incrivelmente limitado e toda a sua produção é monitorada (rastreabilidade associada ao controle de qualidade) pela empresa certificadora West Indian Sea Island Cotton (Figura 3), a qual identifica em cada fardo de fibra de algodão o nome da certificadora e o país de origem (Figura 4).

Figura 3. Selo da empresa certificadora West Indian Sea Island Cotton de Barbados, trabalha exclusivamente no controle das variedades derivadas do Sea Island tanto nas etapas de produção como industrial (etiqueta de roupas).

Figura 4. Fardos de fibra de algodão da variedade Sea Island produzidos nas Índias Ocidentais, Jamaica.


C a p í t u l o I | 15 O algodão Sea Island produzido na ilha de Barbados se distingue de todas as outras espécies de algodão, graças às suas características únicas: o comprimento considerável da fibra, chegando a mais de 38 mm (38 mm - 42 mm), a alta resistência, igual a 40 gr/tex (92 a 100 em Pressley) e a boa porcentagem de uniformidade (86%). Além de o comprimento ser diferente em relação aos outros tipos de algodão (Figura 5), a fibra é excepcionalmente fina, comprovada pelo micronaire, entre 3,3 e 4,0, juntamente com um brilho significativo (um grau de reflexão de 73). Essa variedade permite a fiação de fios muito finos empregados na fabricação de tecidos finos (top de linha), como camisas, vestidos e gravatas (Figura 6). Devido sua alta qualidade, é considerado o algodão mais caro do planeta.

Figura 5. Campo de algodão Sea Island em início de floração na ilha caribenha de Barbados, produzido por pequenos agricultores. Foto: Grupo Albini.

Figura 6. Fibras de algodão das seguintes variedades de plantas: 1) Algodão Sea Island; 2) Algodão egípcio; 3) Algodão Pima 4) Algodão americano Upland de fibra longa; 5) Algodão americano Upland de fibra média e 6) Algodão asiático de fibra curta.


C a p í t u l o I | 16 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO SEA ISLAND EM BARBADOS Requerimentos ambientais - Em Barbados, o algodão Sea Island é cultivado na sua zona costeira sob condições de sequeiro, de formar similar aos algodoeiros de Porto Rico e do Peru. Enquanto no semiárido brasileiro o algodoeiro de fibra extralonga teria que ser cultivado aonde o sertão chega até o litoral, principalmente nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Uma vez instalada a lavoura próximo ao mar, o algodão Sea Island estaria sob a influência direta da brisa do mar e iria produzir uma fibra mais sedosa, consequentemente seriam criadas as mesmas condições ambientais existentes em Barbados e em Peru, sendo que no último país o algodão Pima é cultivado no litoral em regime de irrigação. Vale esclarecer que as palavras “algodão Sea Island” significam o algodão marinho ou campo de algodão com vista para o mar ou próximo ao litoral (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956; PORCHER; FICK, 2010; MORE, 2014). No mapa de Porto Rico, observam-se os municípios litorâneos de Santa Isabel, Salinas e Isabela que cultivavam o algodão Sea Island, da cultivar Montserrat (Figura 7).

Figura 7. Registro no mapa de Porto Rico dos locais de plantio do algodão Sea Island, cultivar Montserrat (Santa Isabel, Salinas e Isabela), conhecido também como algodão marinho por ser cultivado na zona litorânea (Rodríguez; Martorell, 1956).

A média anual de precipitações em Barbados é de 1.516 mm, que é bastante adequada por favorecer os distintos estádios do algodoeiro G. barbadense: vegetativo, floração e maturação.


C a p í t u l o I | 17 A preparação do solo é realizada durante os meses mais secos do ano, quando as médias de precipitações mensais são inferiores a 101,6mm, ocasionalmente pode ser necessário fazer algum preparo do solo tardio em junho e julho. Em alguns anos de má distribuição sazonal da chuva, pode ser necessário efetuar algum tipo de irrigação suplementar na lavoura, a fim de garantir uma boa germinação, garantir um bom enchimento dos frutos, ou mesmo resolver um problema de pragas (BELL, 2004). Tipo de solo: O algodão pode ser cultivado adequadamente na maioria dos tipos de solo em Barbados. A maioria dos tipos de solo de Barbados (associações de solos com coloração: castanho- vermelho, castanho-amarelo, castanho-cinzento e preto) é apropriado ao cultivo desta lavoura. É aconselhável plantar algodão em terrenos planos onde o solo é profundo e sem necessidade de drenagem, já que o algodão não suporta os solos encharcados. Preparo do solo. Em terrenos que não são cultivados há muitos anos precisam ser destocados os arbustos e as árvores. Além disso, suas raízes e tocos são arrancados, pois causam sérios problemas ao equipamento utilizado no algodoeiro. Dependendo do elevado nível de infestação de plantas daninhas, recomenda-se pulverizar com o herbicida Roundup antes do início do cultivo do algodão (BELL, 2004). O preparo do campo é realizado em dois sentidos com o arado de disco e a gradagem. Esse preparo do solo deve ser feito na estação seca bem antes do plantio, a fim de permitir o intemperismo (o destorroamento do solo e a decomposição dos resíduos da colheita). Os restolhos da colheita anterior podem apresentar problemas para a plantadeira de algodão no momento da semeadura. Aplica-se a dosagem de 40 kg/ha (100 kg/acre) de superfosfato triplo no início do preparo do solo (arado e gradagem), de maneira que possa ser incorporado no estágio de sulcamento e formação de camalhões (leirões). Os leirões devem ter de largura de 152,4 cm (5pés) ou 167,6 cm (5 pés. 6") (BELL, 2004). O sulcador de disco é usado para fazer os leirões na altura recomendada de 15-20 cm (68"), de modo a permitir a drenagem adequada do terreno (Figura 8). A preparação do solo em Barbados deve ser concluída até o final de julho para atender a temporada de plantio que começa em 16 de agosto. Através da adubadora mecânica aplica-se o adubo químico junto as fileiras de algodão plantadas sobre os leirões (Figura 9).


C a p í t u l o I | 18

Figura 8. Adubadora mecanizada com dois depósitos, sendo que em cada depósito de adubo tem duas mangueiras, bifurcadas em V invertido, para distribuir os fertilizantes químicos junto às fileiras de algodão plantadas sobre os leirões. Foto: Peter Bell (2004).

Figura 9. Formação de leirões ou camalhões preparados com o sulcador adaptado de discos para o plantio do algodão Sea Island, após as operações de aração a 30 cm de profundidade e de gradagem superficial do solo. Fotos: Alamy.


C a p í t u l o I | 19

Seleção de Campo e Medidas de Conservação do Solo - A seleção de campo deve ser feita tendo em mente as considerações de conservação do solo e colheita do algodão. Como maneira para atenuar as perdas por erosão existe uma série de práticas conservacionistas; pela simplicidade e eficiência podem-se recomendar as seguintes: 1. Os campos devem ser escolhidos próximos às vilas e nas rotas de ônibus para fornecer acesso fácil para aqueles que irão colher o algodão em rama; 2. Recomenda plantar o algodão em terras planas, tanto quanto possível, para evitar a erosão do solo. Os terrenos com uma inclinação de 15 graus ou mais não devem ser usados para a produção de algodão. 3. Sulcamento ao longo dos contornos em terrenos inclinados; 4. Implantação de drenos no terreno para proteger de chuvas potenciais; 5. Utilização de sulcos de retenção conforme preconizado no sistema de lavoura seca com o plantio de cana de açúcar; 6. Cultivo em curva de nível nas declividades acima de 5%; 7. Plantar a gramínea Khus-Khus (Chrysopogon zizanioides, nome popular vetiver) nas bordas dos campos.

É conveniente a utilização de mais de uma prática conservacionista ao mesmo tempo, como cultivo em nível e rotação de culturas para melhor eficiência e controle da erosão. Nos cultivos em faixas, a distância entre elas é determinada através de tabelas apropriadas de acordo com a declividade do terreno. Como regra geral deve-se evitar o plantio a favor das águas e sim, plantar em nível ou em sentido perpendicular à caída das águas. Variedade Sea Island - Atualmente, a única variedade cultivada em Barbados é a Montserrat (Montserrat Sea Island Cotton– MSI; Tabela 1). Essa variedade tem os seguintes caracteres de produção:


C a p í t u l o I | 20 Tabela 1. Principais caracteres de produção do algodão Sea Island (G. barbadense), cv. Montserrat em Barbados (Caribe). CARACTERES

SEA ISLAND (VAR. MONTSERRAT)

Aparecimento do primeiro botão floral

45 dias

Aparecimento da primeira flor

60 dias

Aparecimento do primeiro capulho

120 dias

Número de sementes por lóculos Número de reprodutivo

nós

até

Peso do capulho Massa de 100 sementes

o

primeiro

Varia de 3 três a oito ramo

Onze ou doze nós

Varia de 2,5 a 3,5 de algodão em rama 13 g (454g corresponde 1 libra que são cerca de 3.500 sementes)

Percentagem de fibra Produtividade

33% 2.250 kg/ha

Fontes: Peter Bell (2004) e Embaixada do Brasil de Barbados (2018).

Na Jamaica, a variedade Montserrat Sea Island (fibra extralonga com 38 mm) foi homenageada com o lançamento de um selo de conformidade da pluma (Figura 10) por ser o material que conseguiu apresentar maior rendimento de algodão em rama (1.900 kg/ha a 2.252 kg/ha em Barbados) e elevada percentagem de fibra (33%) em relação as demais variedades derivadas do Sea Island (G. barbadense), as quais foram avaliadas nos ensaios experimentais (RODRÍGUEZ; MARTORELL, 1956; Figura 11).

Figura 10. Selo de conformidade da fibra lançado em homenagem ao algodão Sea Island da variedade Montserrat. Foto: Empresa Certificadora West Indian Sea Island Cotton.


C a p í t u l o I | 21

Figura 11. Ensaio experimental com Sea Island de fibra extralonga da espécie G. barbadense.

Sementes - As sementes tratadas são disponibilizadas pela empresa Exclusive Cottons of the Caribbean Inc. As sementes são distribuídas no período mais próximo possível da data real de plantio, a fim de evitar o armazenamento em longo prazo nas propriedades. No caso de ser necessário o armazenamento, as sementes devem estar estocadas em uma sala bem ventilada e sobre estrado de madeira. Sob nenhuma circunstância as sementes tratadas devem ser umedecidas. Plantio - A semeadura pode ser manual ou mecânica, mas, em ambos os métodos de plantio, as sementes não devem ser colocadas abaixo de 5 cm (2") de profundidade do solo. A Tabela 2 apresenta a quantidade de sementes requeridas para cada método de plantio.

Tabela 2. Quantidade de sementes (originalmente sem linter) de algodão Sea Island, cv. Montserrat, utilizada no plantio pelos métodos mecânico e manual. Métodos

Quantidade de sementes de algodão

Mecânico

4,5-5,4 kg/0,4 ha (10-12 lb/acre)

Manual

3,6-4,5 kg/0,4 ha (10-12 lb/acre)

Fonte: Bell, 2004.


C a p í t u l o I | 22

As semeadoras pneumáticas de precisão podem semear com um gasto de sementes bem abaixo dos valores registrados na Tabela 2. Antes de plantar, é necessário que a semeadora seja regulada para garantir uma boa distribuição de sementes por metro linear, inclusive controlando a profundidade de semeadura para que as sementes não sejam colocadas na superfície do solo, ou não mais que 5 cm (2”) no solo (BELL, 2004). Na semeadura manual, as sementes são colocadas no solo a uma profundidade de 3-5 cm (1-2"). Em cada cova, são depositadas 2-4 sementes por cova. No momento do plantio, recomenda-se pressionar o solo que cobre as sementes. As covas devem ser abertas ao longo dos leirões. Deve-se colocar no sulco ou cova uma quantidade de sementes superior à densidade desejada, a fim de evitar o replantio. Recomenda-se iniciar o plantio quando tiver chovido aproximadamente 12,7mm (12"), ao invés de antecipá-lo. Imediatamente após o plantio, um herbicida pré-emergente é aplicado, e definitivamente não mais que 36 horas após o plantio. Uma combinação de Prowl (Pendimethalina 50%) e Gramoxone (Paraquat) pode ser usada. Também o herbicida Treflan ou Cotoran pode ser usado como pré-emergente. Desbaste – A operação de desbaste deve ser realizada entre 20 a 30 dias após a emergência, de preferência com solos úmidos ou quando o algodão estiver cerca de 10 cm (4”) de altura. Recomenda-se um espaçamento de 30-36 cm (12-14”) entre plantas. Os produtores devem ter como meta final 7.000-8.000 plantas por acre (espaçamento de 2 m x 0,36 m ou 0,30 mm entre plantas). Controle de Plantas Daninhas - As ervas daninhas reduzem significativamente o rendimento do algodão. Portanto, o bom controle de ervas daninhas é importante para o sucesso da produção de algodão. As ervas daninhas podem ser controladas: a) Manualmente - Seu baixo rendimento aliado à elevação do custo e escassez de mão-deobra no campo torna-o uma operação onerosa; b) Mecanicamente – A remoção de ervas daninhas com cultivadores entre fileiras é bastante eficiente, principalmente com implementos que podem ser acoplados ao trator. Entretanto, esse controle mecânico pode ser continuado até o fechamento da copa do algodoeiro; e c) Quimicamente – Os herbicidas de pré-emergência são geralmente aplicados em solo preparado sem mato para a supressão de ervas daninhas, imediatamente após o algodão ter sido plantado e antes da germinação ocorrer (não tardar mais que 36 h). Enquanto os herbicidas pós-emergência


C a p í t u l o I | 23 devem ser usados com muito mais cuidado do que as aplicações de pré-emergência, apenas alguns deles podem ser pulverizados com segurança por cima das plantas de algodão. A maioria dos herbicidas pós-emergentes é aplicada como um spray direcionado, cobrindo o espaço entre linhas, mas não atingindo as linhas ou plantas de algodão. Recomenda-se usar os bicos de jato de ar com proteções protetoras (BELL, 2004). Com base nos dados desatualizados obtidos até o ano de 2004, a seguir alguns herbicidas (Tabela 3) que são comumente aplicados no algodoeiro cultivado em Barbados:

Tabela 3. Relação dos herbicidas aplicados no algodoeiro Sea Island, cv. Montserrat. Herbicidas

Dosagem/ Característica

Fusilade

1,1-1,7 1itros/acre (2-3pts /acre) - mais eficaz em gramíneas jovens, se aplicado antes que eles atinjam o estágio de florescimento.

Daconate (MSMA)

1,1-2,9 litros/acre (2-5pts / acre) - é mais eficaz como um spray dirigido quando o algodão está acima de 10 cm (4 ") de altura. Pode haver alguma descoloração vermelha nas plantas que eventualmente desaparece.

N.B.

Recomenda-se não usar esse herbicida após o início da floração.

DSMA

Esse é um herbicida muito semelhante ao Daconate e aplicam-se as mesmas condições e precauções.

Fonte: Peter Bell (2004).

Amostragem de Solo – A partir de uma amostragem correta do solo, é feita a análise dos atributos químicos, uma técnica de rotina utilizada para avaliar os requisitos de fertilizantes para a cultura. Isso, no entanto, depende da amostragem adequada do solo, uma vez que apenas uma quantidade muito pequena de solo é analisada. Um mínimo de 20 amostras deve ser retirado aleatoriamente a duas profundidades do campo: A) Zero 30 cm (0” – 12”) e B) 30-60 cm (12” – 24”). As amostras em sacos e rótulos devem ser identificadas com as seguintes informações: Nome do campo, data da amostragem, profundidade da amostragem e estado do solo (úmido ou seco). As amostras podem ser levadas para o Laboratório Analítico do Governo em Culloden Road, onde a análise será feita. A empresa de fertilizantes do Caribe Oriental em St. John também oferece um serviço de análise de solos (BELL, 2004).


C a p í t u l o I | 24 Adubação– O agricultor precisará modificar a formulação da adubação com base nos diferentes tipos de solo e regimes de chuva que ocorrem em toda a ilha de Barbados. Geralmente o fertilizante superfosfato triplo é aplicado a uma taxa de 100 kg/acre (ou 40 kg/ha), que deve ser aplicado em fundação antes do plantio e incorporado abaixo da profundidade de semeadura. Enquanto em cobertura, aplica-se a quantidade de 100 kg/acre (40 kg/ha) de sulfato de amônia dividida em duas partes: 50% durante a semeadura e mais 50% no início da floração (cerca de 9-11 semanas após a semeadura) junto com 100 kg/acre (40 kg/ha) de cloreto de potássio. As plantas que mostram uma cor amarela pálida são geralmente uma indicação de falta de nitrogênio e o cloreto de potássio é utilizado para aumentar o nível de floração, uma vez que a planta tenha entrado no estádio reprodutivo. O algodoeiro geralmente responde bem aos fertilizantes foliares. Deve-se escolher um fertilizante foliar que contenha enxofre (S), Zinco (Zn), Magnésio (Mg) e Boro (B). Estes podem ser aplicados durante o desenvolvimento da cultura (BELL, 2004). Controle de Pragas - As pragas que atacam e danificam os botões florais, flores e cápsulas de algodão são geralmente mais perigosas do que aquelas que atacam apenas as folhas. Por isso, a lagarta rosada (Pectinophora gossypiella) e as lagartas da maçã (Heliothis spp) são as mais sérias. No entanto, nas últimas temporadas, os tripes (Thrips spp; Thysanoptera) provaram ser igualmente perigosos. De maneira resumida, observam-se nas Tabelas 4 e 5 as medidas de controle com inseticidas das principais pragas do algodoeiro Sea Island constatadas em lavouras de Barbados.


C a p í t u l o I | 25 Tabela 4. Medidas de controle com inseticidas adotadas para as principais pragas da cultura do algodão em Barbados. PRAGAS

MEDIDAS DE CONTROLE

Lagarta rosada Pectinophora gossypiella

As lagartas mais desenvolvidas apresentam coloração rosada. Os primeiros danos ocorrem nos botões florais, impedindo a abertura da flor, formando uma roseta que impede a formação da maçã. Quando o dano ocorre na maçã, essas lagartas podem destruir completamente as fibras e sementes, ocasionando o sintoma de carimã. Aplicação de Acephate® (1 libra por acre) ou Actara® (34 gm por acre) ou Lorsban® (2 pt por acre) e Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Controle Cultural: destruição das soqueiras e semeadura na época adequada e observância do vazio sanitário estabelecido no período de 1 de maio a 15 de agosto.

Lagarta da maçã Heliothis spp.

O dano causado por esses insetos ocorre desde os primeiros botões florais até a colheita. É caracterizada por pequenos orifícios de entrada nos botões florais e cápsulas e muitas vezes muitos desses botões florais danificados caem no chão. O controle químico é difícil, pois essas pragas tendem a aumentar a resistência a inseticidas. Deve-se usar um inseticida de um grupo químico diferente a cada pulverização. Inseticidas: aplicação de Acephate® (1 libra por acre) ou Actara® (34 gm por acre) ou Lorsban® (2 pt por acre) e aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis). Controle Cultural: destruição das soqueiras, armadilha de feromônio e semeadura na época adequada. Controle Biológico: (liberação de Trichogramma spp.).

Tripes (Thrips spp.)

Tornou-se uma grande praga nos últimos anos em Barbados. São insetos perfuradores e sugadores, que se reproduzem tanto sexualmente quanto assexuadamente, e as populações muito grandes se formam muito rapidamente em até 20 dias de idade da planta. Podem ocorrer ataques na fase de frutificação. Os tripes se alimentam na parte de baixo das folhas de algodão, que mais tarde ficam marrons no lado superior e prateadas antes de caírem. Com ataques muito pesados, os campos podem ser completamente desfolhados. Os ataques de tripes são mais pronunciados em períodos secos. Inseticidas: Aval® ou Flip® (25 gm por acre) ou Newmectin® (50 ml por acre).

Lagarta do Spodoptera spp.

cartucho

Massas de ovos são colocadas sob as folhas na base, no ponteiro e nas brácteas dos botões florais e maçãs. Fêmeas ovipositam até 1000 ovos. Lagartas raspam o parênquima das folhas e posteriormente migram para outras plantas. Danos: ocasionam desfolhamento, mas também perfuram botões florais e maçãs ao se alimentarem. Inseticidas: Agree® (1 lb por acre) ou NewBtR (1,5 pt por acre).

Curuquerê argillacea

Alabama

Os ovos desta larva verde e preta são colocados individualmente na superfície superior das folhas. Larvas podem desfolhar as plantas de algodão, reduzindo o seu potencial fotossintético e, dependendo da intensidade e fase de crescimento da planta, pode ocasionar sérios prejuízos à produção. Quando o ataque ocorre no início da abertura dos capulhos, provoca a maturação forçada de maçãs imaturas afetando a qualidade e o peso, e também a deposição de fezes sobre as fibras


C a p í t u l o I | 26 depreciando-as. Inseticidas: Agree® (1 lb por acre) ou NewBtR (1,5 pt por acre). Lagarta da folha menor ou Lesser leaf worm (Anomis impasta).

A larva dessa praga que se alimenta da folha do algodão é semelhante à lagarta do curuquerê e é controlada da mesma maneira. Inseticidas: Agree® (1 lb por acre) ou NewBtR (1,5 pt por acre).

Mosca branca / Bemisia spp.

Sua infestação é mais frequente em período de seca. Sucção de seiva (grandes infestações depauperam a planta) causam a mela e a queda de folhas, afetando a produção. Favorecem a fumagina. Vetor de virose “mosaico comum”. Controle Cultural: uniformidade de plantio, culturaarmadilha (gergelim), destruição dos restos de cultura, rotação de cultura (milho), monitoramento do campo com Tubo Mata Bicudo e instalação de barreiras vegetais de sorgo ou milho, implantadas de forma perpendicular à direção predominante dos ventos. Controle químico: Admire® (1.5 pt lacre) ou Aval® (100 gm por acre).

Pulgão / Aphis gossypii

Esses pequenos insetos verdes são vistos no início da colheita, alimentando-se de brotos jovens e na parte de baixo das folhas jovens. Eles causam o enrolamento das folhas e, em infestações intensas, podem causar formação de fuligem nas folhas e algodão em caroço. A presença de besouros de joaninha e crisopídeos (Chrysopa) no campo fornecem controle natural dos pulgões. Em condições de surto, um dos seguintes inseticidas pode ser usado para o controle de afídeos: Orthene® (11b por acre) Perfekthion® (1 pt por acre) Admire® (1,5pt por acre) Aval® (100 gm por acre).

Ácaro-vermelho (Tetranychus spp.)

Os ácaros adultos são minúsculos, aparecendo como pontos vermelhos brilhantes na superfície inferior das folhas. Eles causam manchas nas folhas que eventualmente ficam vermelhas e caem. Inseticida: Newmectin® (50 ml por acre).

Fonte: Peter Bell (2004). Obs: A relação dos inseticidas indicados para o algodão das Tabelas4 e 5 poderá estar desatualizada.


C a p í t u l o I | 27 Tabela 5. Alguns produtos químicos recomendados para controle de pragas de algodão. Inseticidas

Ingrediente Ativo

Modo de ação

Grupo Químico

Thamethoxam

sistematico

Thiamicotinyl

Aval

Acetamiprid

sistematico

Neonicotinoide

Flip

Fipronil

sistematico

Phenylpyrazole

Imidacloprid

sistematico

Neonicotinoid

Abamectin

Contato/ Ingestão

Avermectin

Agree

(B.t.), subespeciesAizawai

Ingestão

Bactericida

NewBt

B.t. Kurstaki

Ingestão

Bactericida

Orthene

Acephate

Contato/ Ingestão

Organophosphate

Lorsban

Chlorpyrifos

Contato/ Ingestão

Organophosphate

Perfekthion

Dimethoate

sistematico

Organophosphate

Actara

Admire Newmectin

Fonte: Peter Bell (2004). Obs: A relação dos inseticidas indicados para o algodão da Tabela 3 poderá estar desatualizada.

Amostragem de pragas – É o exame cuidadoso de plantas selecionadas ao acaso dentro de um campo de algodão. É possível identificar em campos as pragas ainda na sua fase jovem e facilmente combatê-las quando o agricultor é orientado pelos técnicos como realizar no seu campo o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Toda a planta deve ser examinada, isto é, as superfícies superiores e inferiores das folhas, os brotos florais, as flores e as maçãs, pois o cotonicultor está essencialmente à procura de pragas em qualquer fase do seu ciclo de vida (ovos, larvas, pupas ou adultos). Por isso, tomadas de decisão para aumentar e preservar as populações de inimigas naturais dentro do ecossistema algodoeiro são ações promissoras, técnicas e ecologicamente viáveis e poderão resultar em grande economia para os agricultores, em melhoria na qualidade do meio ambiente e na redução dos problemas de saúde pública decorrentes do uso indiscriminados de produtos químicos (ALMEIDA et al., 2008). No manejo de pragas, se pode tolerar um número mínimo de artrópodos-praga sobre as plantas, que servirão de alimento para outros artrópodos benéficos, sem o comprometimento da produção (BLEICHER, 1990). Antes de determinar seu plano de ação, é preciso avaliar se as pragas encontradas atingiram seus níveis de danos. Verificando 25 a 50 plantas bem espalhadas em áreas homogêneas, em caminhamento em ziguezague, o agricultor terá uma boa indicação do


C a p í t u l o I | 28 que está acontecendo em todo o campo (Figura 12). Esses exercícios de reconhecimento devem ser datados e registrados nos formulários apropriados. A amostragem de pragas deve ser feita pelo menos duas vezes por semana, principalmente a partir do surgimento dos botões florais. A eficiente gestão do campo dependerá das informações coletadas e também de qualquer ocorrência incomum verificada na área do algodoeiro (BELL, 2004).

Figura 12. Identificação de pragas periodicamente em campo de algodão, seguindo a técnica de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Foto: Raul Porfírio de Almeida.


C a p í t u l o I | 29 Doenças do algodoeiro – As únicas doenças de importância econômica registradas em Barbados são a podridão da folha, a mancha angular e o tombamento (Tabela 6).

Tabela 6. Principais doenças do algodoeiro em Barbados. Doenças

Sintomas e medidas de controle

Tombamento (Rhizoctonia spp.) (Pythium spp.)

As plantas jovens são mais claras do que o normal, e um pouco atrofiadas. Em seguida, aparecem lesões marrons perto da linha do solo, estas se espalham e ficam mais escuras, eventualmente, essas plantas morrem. Controle: Todas as sementes devem ser tratadas com Bronotak Terraclor-super X pode ser aplicado como spray no sulco para reduzir o tombamento pós-emergência. O Ridomil Gold também pode ser usado.

Mancha angular da folha Ferrugem bacteriana (Xanthomonas malvacearum)

As lesões frescas têm uma aparência encharcada de água, verde escuro, que mais tarde se torna marrom ou preto O nome da mancha angular descreve o contorno das lesões foliares, cuja propagação é verificada pelas nervuras. Controle: na operação de deslintamento de sementes com ácido sulfúrico, ou tratamento de sementes com um bactericida. Saneamento de campo adequado e aração profunda de resíduos agrícolas reduz a propagação dessa doença.

Podridão do fruto (Rhizopus spp.) (Phytophthora spp.)

A podridão da cápsula é causada por vários microorganismos que se desenvolvem sob condições muito úmidas, ou são introduzidos através de picadas de inseto ou perfurações. Controle: Fungicida de diclorano a 100-250 g a.i. / ha antes ou quando as cápsulas se abrem e se repetem a cada 14 dias.

Fonte: Peter Bell (2004).

Colheita – A colheita do algodão em rama é feita manualmente, iniciando-se a primeira apanha a partir de janeiro. Recomenda-se começar a colheita quando as cápsulas maduras estiverem totalmente abertas, o que geralmente ocorre do meio até o final de janeiro. É importante que a colheita seja supervisionada para obter mais rendimentos e uma coleta mais completa. Os operários colhedores do algodão em rama não devem ter permissão para escolher aleatoriamente todos os campos como desejarem, mas devem receber linhas específicas de cada vez (BELL, 2004). Deve-se colher somente os capulhos bem formados e completamente abertos (QUEIROGA, 1983), cujas fibras estejam perfeitas, sem manchas, não sujas ou atacadas por pragas e doenças. O colhedor em Barbados amarra um avental na cintura para formar uma bolsa. Assim o algodão em rama deve ser


C a p í t u l o I | 30 colhido e colocado no avental e os sacos feitos de pano de algodão com capacidade de 50 kg devem se cheios periodicamente. Não colher o algodão com umidade acima do permitido, máximo de 12% (BELTRÃO, 1999). A colheita é realizada na estação seca em Barbados (março-abril). Toda a colheita é realizada manualmente, porque o processo de amadurecimento da plantação não é uniforme (Figura 13). Além disso, de acordo com o Ministério da Agricultura, a colheita manual contribui para a qualidade do algodão, e os compradores internacionais preferem que o algodão seja colhido desta forma para diminuir o grau de impurezas. Cada colhedor recebe USD 0,95 por libra colhida, o equivalente a R$ 8,37 por quilo de algodão em rama, sendo USD 0,75 pago pelo produtor e USD 0,20 pago pelo governo.

Figura 13. O algodão da espécie G. barbadense, variedade Sea Island, no ponto de colheita, em Barbados. Foto: West Indian Sea Island Cotton.

Por meio de um excelente manejo, é possível obter rendimentos potenciais de 2.000 libras de algodão em rama por acre (2.250 kg/ha). No entanto, os cotonicultores devem almejar colher não menos de 1.200 libras de algodão em caroço por acre (1.360 kg/ha). Armazenamento Os produtores devem possuir espaço de armazenamento adequado e ventilado para até a metade da colheita do algodão esperado. Como um guia aproximado,


C a p í t u l o I | 31 requer 15 pés quadrados de espaço para armazenar 100 libras de algodão em caroço. O algodão em rama também poderá ser armazenado diretamente no caminhão que será usado no transporte para a usina de beneficiamento. Vazio sanitário - As plantações não são irrigadas. Após a colheita do algodão em rama, todas as plantas são destruídas e tem início o período de “vazio sanitário” (de 1 de maio a 15 de agosto). Durante esse período, não é permitida nenhuma plantação de algodão no país para garantir que pragas não permaneçam no solo para a próxima estação. Metas de produção e valor de comercialização - Para o governo de Barbados, a produção de algodão é estratégica, pois a exportação gera divisas para o país. A meta do governo é ampliar em 40 hectares (100 acres) a área plantada por ano, até alcançar 400 hectares (1.000 acres). O potencial da cultivar Montserrat da Sea Island é de 2.000 libras/ acre, o equivalente a 2.250 kg/ha de algodão em rama. Na Tabela 7, estão as médias de produção do algodão em rama e de área plantada, e os valores de venda da fibra o algodão.


C a p í t u l o I | 32 Tabela 7. Dados médios de produção de algodão em rama e de área plantada, e o valor de venda da fibra do algodão para a Itália. Barbados, 2018. Ano

Barbados

Dados transformados

Média anual de produção de algodão em rama De 1985 a 1990

300.000 libras

136.078 kg

2016/2017

13.000 libras

5.910 kg

2017/2018

3.500 libras

1.590 kg

Média anual de área plantada De 1984 e 1985

644 acres

260 hectares

2017/2018

200 acres

81 hectares

2018/2019

300 acres (?)

121 hectares (?)

Valor de venda do algodão em rama Valor pago ao agricultor (algodão

USD 4,8 por libra

R$ 42,00 o quilo

USD 7,20 por libra

R$ 63,49 por quilo

USD 10,00 por libra

R$ 88,18 o quilo de pluma

em rama) Valor

final

das

despesas

acumuladas: aquisição do algodão do produtor + processado pela usina de beneficiamento para separar a fibra das sementes Venda da pluma (fibra) para Bérgamo na Itália (Grupo Albani) Fonte: Embaixada do Brasil em Barbados. Dados transformados: USD – 4,00 reais (1 dólar); 1 libra (equivalente a 453,6 gramas); 0,40 ha (1 acre).

As causas da baixa produtividade e da diminuição da área plantada nos últimos anos, segundo o Ministério da Agricultura de Barbados são devidos aos seguintes fatores: falta de gerenciamento adequado e de controle das lagartas rosada e maçã; existência de apenas um comprador; seca prolongada; preferência por culturas com mais de uma colheita anual (sobretudo batata doce); baixo preço pago ao produtor (o valor não foi reajustado nos últimos 15 anos).


C a p í t u l o I | 33 As sementes colhidas são divididas. Parte é usada para a próxima safra, outra parte é vendida para Jamaica para plantar e a parte restante é vendida para os agricultores locais como ração para animais. Estima-se que o algodão Sea Island, que foi domesticado no século XV, representa atualmente apenas 0,0004% da indústria do algodão e toda de fibra do Sea Island (Cultivar Montserat Sea Island Cotton) produzida atualmente em Barbados é exportada para Bérgamo, na Itália, onde a matéria-prima irá abastecer a indústria têxtil e do vestuário (Figura 14). A usina de beneficiamento local apenas recebe a produção do agricultor, separa o caroço das fibras e produz os fardos de fibra e exporta. De acordo com o Ministério da Agricultura, a produção local tem mercado garantido e os compradores aceitam pagar valores elevados pelo algodão produzido em Barbados. Há elevada demanda e baixa oferta. Na Tabela 8, estão os principais problemas do algodão de Barbados.

Figura 14. Camiseta e fibra do algodão Sea Island. Fotos: Fabricante da marca Sunspel (Inglaterra).


C a p í t u l o I | 34 Tabela 8. Principais problemas do algodão Sea Island em Barbados. Fatores Área

Situações plantada

A baixa quantidade de área plantada (80 ha em 2018) e colhida inviabiliza

bastante reduzida e

investimentos de maior porte. A plantação requer cuidados constantes em

controle de pragas

razão de infestação de pragas, sobretudo nos meses de novembro e dezembro. Para facilitar a aplicação de pesticidas, optou-se por plantar as áreas na direção Norte-Sul da ilha.

Colheita

A colheita manual encarece muito os custos da produção. Ademais, muitas vezes não há mão-de-obra disponível e interessada em realizar esse trabalho. A fim de obter mão-de-obra para a colheita, busca-se concentrar a plantação perto de vilas.

Os principais desafios

Segundo o gerente da usina algodoeira Adlai Stevenson, o cotonicultor terá

atuais para expandir a

que conseguir alternativas viáveis à colheita manual e a pesquisa terá que

produção local

desenvolver plantas mais resistentes às pragas.

Custo de

A plantação e a colheita são subsidiadas pelo governo. O governo fornece,

produção

elevado

gratuitamente, sementes e fertilizantes aos produtores. Além disso, empresta tratores para a plantação e paga parte dos salários dos colhedores. A usina de beneficiamento também recebeu empréstimos do governo para a aquisição de maquinários.

Algodão plantado fora

A plantação é realizada entre meados de agosto e meados de setembro, época

de época (tardio)

chuvosa e quente. O algodão plantado depois desse período não alcançará o tamanho e a produtividade esperada até a data da colheita (final de colheita em março e abril).

Fonte: Embaixada do Brasil em Barbados.

Ainda de acordo com os técnicos do Ministério da Agricultura de Barbados, o Japão tem investido na produção de Sea Island Cotton em Belize, Jamaica e St. Kitts. Na Jamaica, produção atual cobre 300 acres (120 ha). A meta final é plantar 800 acres (320 ha). Segundo os técnicos do Ministério da Agricultura, no início da década de 1990, pesquisadores de Israel estiveram em Barbados e realizaram pesquisas acerca do algodão plantado no país. Mais tarde, as tentativas de plantar as sementes em Israel não foram bem sucedidas por razões climáticas.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, R. P.; SILVA, C. A. D.; RAMALHO, F. S. Manejo integrado de pragas do algodoeiro no Brasil. In: Beltrão, N. E. M.; Azevedo, D. M. P. (Ed.). O agronegócio do algodão no Brasil. 2.ed. rev. amp. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p.1035-1098. BELL, P. A guide to cotton growing. Ministry of Agriculture & Rural Development de Barbados, 2004, 21p. BELTRÃO, N. E. M. O Agronegócio do Algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. 1023p. BLEICHER, E. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: Crocomo, W. B. (Ed.). Manejo integrado de pragas. Botucatu: SP. UNESP/CETESB,1990. p.271-291. FERNANDES, J. M. Classificação comercial do algodão. Secretária da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo. 1923. 24p. FRYXELL, P. A. Stages in the evolution of Gossypium. Advancing Fronties of Plant Sciences, New Delhi, v.10, p.31-56, 1965. LEE, J. A. Cotton as a world crop. In: Rohel, R. J.; Lewis, C. F. (ED.). Cotton. Madison: American Society of Agronomy, 1984, p.1-25. MORE, P. M. R. El algodón pima peruano: Cultivo y manejo agronómico. Universidad de Piura, Ciudad Universitaria, Piura-Perú, setiembre de 2014. 78p. PERCY, R. G.; WENDEL, J. F. Allozyme evidence for the origin and diversification of Gossypium barbadense L. Theor. Appl. Genet, v.79, p. 529-542, 1990. MCGOWAN, J. C. History of extra-long staple cottons. Hill Printing Co., El Paso, Tex. 1961. PORCHER, R. D. FICK, S. The story of Sea Island cotton. Gibbs Smith, Publisher, 2010. 543p. QUEIROGA, V. P. Cultura do algodão herbáceo no Rio Grande do Norte. Natal: EMPARN, 1983. 51p.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 36 RODRÍGUEZ, J. P.; MARTORELL, L. F. El cultivo del algodón en Puerto Rico. Universidad de Puerto Rico. Estación Experimental Agrícola. Río Piedras, Puerto Rico. 1956, 103p. (Boletín -131). USDA. Plants Database. Disponível em 31-07-2006. http://plants.usda.gov\java\ classification Servlet? source=profile&symbol=TOREN.


C a p í t u l o I I | 37

CAPÍTULO II

SISTEMA DE PLANTIO DO ALGODÃO ARBÓREO (Gossypium hirsutum L. raça marie galante, Hutch.), BULK VELUDO C-71 DE FIBRA EXTRALONGA, PARA O SEMIÁRIDO

Vicente de Paula Queiroga José Rodrigues Pereira José Cunha de Medeiros Tarcísio Marcos de Souza Gondim


C a p í t u l o I I | 38 INTRODUÇÃO No Brasil, a espécie G. hirsutum está representada por duas raças cultivadas, assim classificada por Hutchinson (1951): a raça latifolium, também conhecida como algodão herbáceo ou, Upland cotton, é amplamente cultivada e encontrada em quase todos os estados brasileiros. Essa raça contribui com 99,9% da totalidade da produção de fibra comercial do Brasil (IBGE, 2009) e cerca de (90%) do mundo (ZHANG et al., 2008). A outra raça é a marie galante, a única entre as sete raças de G. hirsutum conhecidas que apresenta um porte arbóreo e é, exclusivamente, encontrada no semiárido (STEPHENS, 1973). A cultura do algodoeiro mocó foi importante no semiárido nordestino, devido a sua adaptabilidade às condições ambientais, particularmente a elevada tolerância à seca. As lavouras chegaram a ocupar cerca de 2,3 milhões de hectares na década de 70 (FREIRE, 2000). Na década de 80, esta área foi reduzida para aproximadamente 1,4 milhões de hectares. Enquanto na safra 1989 foram plantados 618.391 ha, principalmente nas regiões semiáridas dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Pernambuco (IBGE, 1990). A partir da década de 1990, a área plantada com Mocó foi drasticamente reduzida em virtude da introdução do inseto praga-bicudo e problemas econômicos, tecnológicos e sociais (MAPA, 2007). Moreira et al. (1989) apontam as seguintes razões para a decadência na cultura do algodoeiro Mocó: estrutura de produção baseada no sistema de meiação, baixo nível tecnológico, retração de crédito e, devido à desinformação e o aumento de custos decorrentes da infestação das lavouras pelo bicudo (Anthonomus grandis, Boh.). A variedade do algodoeiro mais recomendado para o plantio pelos produtores era o Veludo C-71, principalmente para os estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A dispersão desse algodoeiro localiza-se nas seguintes microrregiões dos estados citados: Sertão e Seridó, sendo que o Seridó, mais que o sertão, é o ambiente ideal para sua ampla exploração, visto que nessa região ele exibe as nobres qualidades tecnológicas de fibra que lhe são peculiares (SOUZA, 1996). De sua parte, o mocó, pela sua rusticidade, é a planta de algodão ideal para ser explorado em lavouras livres de qualquer produto químico, pois condições para tanto não faltam no Nordeste. O exemplo típico de uma área apropriada para a produção do tipo algodão orgânico é a microrregião do Seridó, nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte,


C a p í t u l o I I | 39 cultivado à mercê das características de alta luminosidade, pouca umidade e, principalmente, baixa incidência de pragas no algodoeiro, constitui-se, como nenhuma outra do Brasil, apropriada para a produção desse tipo de algodão. Portanto, será necessário criar incentivos visando difundir a prática do algodão orgânico naquela microrregião e outras de vocação semelhante no Nordeste (MOREIRA et al., 1995). Atualmente, os algodoeiros mocós remanescentes mantidos “in situ” estão ameaçados (Figura 1). A manutenção da maioria das plantas depende dos hábitos culturais da população local. Segundo Barroso et al. (2005a) esses algodões representam importantes reservatórios genéticos para uso de curto e longo prazo, consequentemente sua preservação deve ser incentivada. No momento, estima-se que existe no semiárido um total de 30 ha de áreas cultivadas comercialmente, visando aproveitar o sistema de integração lavoura-pecuária.

Figura 1. Capoeira de algodão Mocó com seis anos de idade, Ceará. Foto: Lúcia Ferreira Lirbório.


C a p í t u l o I I | 40 ORIGEM E BOTÂNICA Origem – Hutchinson (1951) descreveu a espécie G. hirsutum compreendendo sete raças (morrilli, richmondi, palmeri, punctatum, latifolium, yacatanense e marie galante), e incluindo o algodoeiro mocó como marie galante. Segundo Stephens (1973) a última raça destaca-se entre as demais devido a apresentar uma distribuição geográfica ampla e ser simpátrica com outros algodoeiros em praticamente toda sua área de ocorrência. As concepções de origem para o algodão mocó cultivado no Nordeste do Brasil incluem a dúvida quanto sua classificação como G. hirsutum raça marie galante (FREIRE; MOREIRA, 1991). Em sua genealogia pode existir uma importante participação dos outros genótipos encontrados no Nordeste. Certamente, o algodoeiro mocó do Seridó do Nordeste do Brasil representa um grupo geograficamente isolado em relação a outros da raça marie galante, que tem distribuição contínua na América Central e norte da América do Sul (STEPHENS, 1973), e apresenta um subconjunto gênico distinto da raça marie galante (JOHNSTON et al., 2006). O G. hirsutum L. r. marie galante (Watt) Hutch, conhecido como algodoeiro mocó ou arbóreo, é originária das Antilhas, foi trazida para o Brasil pelos holandeses ou africanos, durante o período colonial, e apresenta uma ampla distribuição, do México ao semiárido Nordestino do Brasil (BARROSO et al., 2005). Além disso, Boulanger e Pinheiro (1971) fazem referência que existem evidências muito fortes de que o Mocó (Gossypium hirsutum L. r. marie galante, Hutch.) corresponde a um complexo de genes provenientes em proporções variáveis de Gossypium hirsutum L. e Gossypium barbadense L. representado pelas raças “inteiro” e “quebradinho” desta última. Segundo esses autores, a evolução do Mocó a partir da introgressão progressiva do Gossypium barbadense L. sob as pressões da natureza e dos selecionadores, é uma hipótese que não deve ser descartada. Nesse ponto de vista, o algodão Mocó (Gossypium hirsutum L. r. marie galante, Hutch.) seria o resultado da evolução híbrida original nas condições semiáridas do Nordeste. Então, com base na proximidade das médias de associação cromossômica, o machoestéril e a variedade SL 9193 (Cruzeta Seridó) devem ter em sua constituição parte do genoma pertencente ao Gossypium barbadense. Com base em tal fato, decorreu a proximidade das médias de associação cromossômica nos híbridos envolvendo o macho-


C a p í t u l o I I | 41 estéril com a variedade SL 9193 e Pima S4 (MOREIRA et al., 1973). Essa população altamente heterogênea e em segregação permanente resiste às condições extremas de seca, produzindo fibras apreciadas pela indústria têxtil. Ou seja, o algodão “Mocó” foi o que melhor se adaptou ao semiárido, por ser mais vigoroso e produzia por até oito anos. Com relação ao sistema reprodutivo, o algodoeiro é considerado uma espécie intermediária, pois as taxas de autopolinização são variáveis e superiores aos 5% das alógamas, mas inferiores aos 95% das autógamas (FREIRE et al., 2002). As taxas de polinização cruzada variam muito e são dependentes de atividades dos insetos. Aspecto Botânico - A Tabela 1 apresenta a seguinte classificação botânica do algodoeiro da variedade Veludo C-71. Tabela 1. Classificação taxonômica do algodoeiro da espécie Gossypium hirsutum. Reino Divisão Subdivisão Classe Subclasse Ordem Família Gênero Espécie Raça Variedade (Bulk)

Vegetal Fanerógamas Angiospermas Dicotiledôneas Arquiclamídeas Malvales Malvaceae Gossypium Gossypium hirsutum marie galante Veludo C-71

Fonte: Villegas; Rivera, 2011.

MELHORAMENTO GENÉTICO DA VARIEDADE VELUDO C-71 (MOCÓ) A variedade do algodoeiro perene Mocó “Veludo C-71” foi originada em 1972, dos trabalhos de seleção genética realizados na Estação Experimental de Veludo, situada em Itaporanga, PB pela Secretária de Agricultura do Estado da Paraíba (SAIC), de acordo com o convênio celebrado com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste do Brasil (Sudene; Figura 2).


C a p í t u l o I I | 42

Figura 2. Estação Experimental de Veludo, Itaporanga, PB onde se desenvolveu a variedade de algodão Mocó Veludo C-71. Foto: José Rodrigues Pereira.

Trata-se de um Bulk formado de 12 linhagens, na fase de terceira geração de autofecundação, obtidas por seleção genealógica numa população da espécie Gossypium hirsutum raça marie galante Hutch, que passou por uma acentuada introgressão de G. barbadense L. Portanto, a variedade Veludo C-71 é um Bulk formado a partir de 12 linhagens fenotipicamente semelhantes, que produz fibra de excelente qualidade (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). As principais características destas linhagens estão reunidas na Tabela 1.


C a p í t u l o I I | 43 Tabela 1. Características das linhagens que compõem a variedade Veludo C-71. Linhagens

Produção

%

Índice

Fibra

sementes

de

kg/ha

Compr.

Micronaire

Fibrog.

Índice

Maturidade

Pressley

Índice

%

(100 s.) gr. 2 anos

2,5% S.L. mm

366-53-19-7

548

35

5,8

32,2

4,1

9,2

0,391

73

471-61-43-33

761

35

5,1

30,2

3,6

9,3

0,375

70

471-61-43-34

498

34

5,8

31,2

3,5

9,7

0,367

68

471-61-45-53

563

36

7,0

32,8

3,5

9,1

0,366

68

471-61-45-58

546

36

6,1

33,3

3,3

9,5

0,351

64

471-61-46-60

516

34

6,1

32,1

3,4

9,9

0,357

65

471-61-47-73

780

38

6,5

33,5

3,3

8,7

0,346

63

471-61-47-78

770

32

5,2

32,1

3,2

10,7

0,365

67

473-62-48-81

549

32

7,0

33,9

3,4

8,9

0,364

67

473-62-48-83

565

33

6,0

31,7

3,2

9,2

0,339

61

473-62-48-84

793

31

6,0

32,0

4,1

10,0

0,396

74

640-78-118-93

723

36

6,1

31,2

3,4

8,4

0,382

71

OBS: Estima-se o comprimento comercial multiplicando por 1,18 o comprimento dado em mm pelo fibrógrafo 2,5 S.L., o que equivale acrescentar 5 a 6 mm aos comprimentos observados. Fonte: Vasconcelos; Boulanger, 1979.

Nos ensaios de competição de variedades conduzidos nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, a variedade Veludo C-71 apresentou um ganho de produção de algodão em rama de 20% e de 15% em relação às SL9193 (30 ensaios) e SC9193 (72 ensaios), independentemente dos locais testados, nos anos de 1972 a 1977, da idade da cultura (1 a 4 anos) e da fertilidade do solo (1.700 a 3.200 kg em 4 anos de cultivo), além de revelar excelente capacidade de adaptação na zona semiárida do Nordeste (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). Os caracteres tecnológicos obtidos nos ensaios foram os seguintes: tipo de fibra longa e extralonga de grande aceitação pelos fiadores brasileiros: 30-31 mm do fibrógrafo 2,5% S.L. (35-37 mm de comprimento comercial); 44% de uniformidade; 3,5 a 4 de índice


C a p í t u l o I I | 44 Micronaire; e 8,5 a 9,0 de índice Pressley (92.000 a 97.000 P.S.I). A percentagem de fibra é superior a 30%. Para alcançar a seu potencial máximo de produtividade, recomenda-se plantar a variedade Veludo C-71 o mais cedo possível, desde o início da estação chuvosa. Qualquer atraso no cultivo, em condições de sequeiro, se traduz por uma queda de produção da ordem de 100 kg de algodão em rama por semana (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). A primeira flor da variedade Veludo C-71 apareceu, em média, 94 dias após o plantio, desde que seja realizado o plantio a partir janeiro ou fevereiro, a qual foi mais precoce que a variedade SC 9193 da ordem de 2 dias. O tempo de maturação da primeira cápsula foi da ordem de 53 dias para as duas variedades e pouca diferença foi registrada na abertura dos primeiros capulhos para ambas as variedades (Tabela 2). Tabela 2. Dados fenológicos do algodoeiro Mocó das cultivares Veludo C-71 e SC 9193. Estádios fenológicos

Número de dias SC 9193

Veludo C-71

Plantio-aparecimento da 1ª flor

96,2

93,7

Plantio-abertura do 1º capítulo

149,8

147,1

1ª flor-abertura do capulho

53,6

53,4

Fonte: VASCONCELOS; BOULANGER, 1979.

Nas plantas do algodoeiro Mocó, cultivar Veludo C-71, o primeiro ramo frutífero se insere no eixo central entre 15º e o 20º entrenó, sendo o número de ramos vegetativos de 5 a 10 no primeiro ano da cultura (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). Estes melhoristas observaram que no algodoeiro Mocó, cultivar Veludo C-71, as brácteas têm um número reduzido de dentes, normalmente menos de oito, e as pétalas de cor amarela são manchadas na base por uma mancha vermelho-escuro (Figura 3).


C a p í t u l o I I | 45

Figura 3. Algodoeiro Mocó (G. hirsutum r. marie galante, Hutch.) em estádios de floração e frutificação, plantado na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

A semente de algodão varia no tamanho conforme a espécie e a variedade. Para a cultivar Veludo C-71 (Mocó), as sementes tem um índice de sementes (massa de 100 sementes) inferior a 7 gramas e são nuas e não aglomeradas (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979; Figura 4).

Figura 4. Semente de algodão Mocó sem linter sobresaíndo da fibra. Fotos: Saulo Lucas da Silva.


C a p í t u l o I I | 46 O valor econômico do algodão é dado por suas qualidades de fiação, como sejam resistência, comprimento extralonga e uniformidade, grau de limpeza, maturidade, finura, etc (Tabela 3). Para que um algodão seja considerado ótimo, é preciso reunir essas qualidades nos limites exigidos pela indústria, dentro dos quais se observa variações e cujas causas, ora permanentes ora fortuitas, podem ser dirigidas ou controladas tecnicamente. Tabela 3. Ensaio regional de algodoeiro Mocó de ciclo tardio (1º ano). Patos, PB Cultivares

Rendimento

Comprimento

Comprimento

Uniformidade

2,5 mm

Comercial

(%)

kg/ha

Finura

Resistência

Alongação

(gr/tex %)

(%)

Micr. (mm)

Veludo

135

30,6

36/38

48,00

4,0

21,8

4,2

MF4

79

31,3

36/38

48,30

3,9

21,9

4,5

Emparn 1

135

29,7

34/36

47,80

3,8

19,4

4,9

C71

Fonte: João Cecílio Farias de Santana e Elêusio Curvêlio Freire (1988); Vasconcelos, W. M. & Boulanger J. (1979).

Com referência ao comprimento, uma das causas permanentes mais importantes é justamente a espécie botânica do algodoeiro e, em seguida, o quadro ecológico de determinada microrregião. Um exemplo poderia ser um comparativo do plantio do Mocó em regiões distintas: sudeste e nordeste. Nas condições de São Paulo, as características climáticas, que são as causas permanentes, impedem o desenvolvimento normal da fibra extralonga, enquanto que, no Nordeste, o fator limitante está na espécie, ou simplesmente na variedade, o qual é a causa fortuita. Para o Mocó, o problema do comprimento, sua uniformidade e resistência, maturidade e finura, tem a sua solução nas pesquisas de caráter genético, como a seleção, purificação e hibridação, sendo os demais fatores, como fertilidade do solo, clima etc, apenas são coadjuvantes. O excesso de umidade ou a sua falta, que é o caso das secas prolongadas, tem influência significativa sobre essas características físicas, mas são causas fortuitas para as microrregiões semiáridas do Nordeste, que seguem a periodicidade cíclica dos fenômenos climáticos no habitat natural do algodoeiro Mocó (VELOSO, 1935).


C a p í t u l o I I | 47 A maturidade da fibra é um importante fator para o aproveitamento industrial, pois haverá maior desperdício se for alto o índice de fibra imatura. No Mocó é uma característica que deve merecer máxima atenção do melhorista, pelo fato de ser a imaturidade um fenômeno que ocorre mais frequentemente nos algodões de fibra extralonga, de paredes celulares muito delgadas (VELOSO, 1935). Para efeito da classificação oficial do algodão brasileiro, Barroso (1936) considera que as fibras, quanto ao seu comprimento, apenas foram enquadradas em três classes, conforme a Tabela 4. No caso do Mocó com comprimento entre 36 a 38 mm deveria ser classificado como algodão de fibra extralonga com base na normativa internacional atual (Tabela 5). Mas, no Brasil por ignorar a quarta classe de extralonga, o Mocó sempre foi citado de forma errônea na literatura técnica como algodão de fibra longa na ordem de classificação entre 34 a 36 mm. Tabela 4. Antigo Padrão Oficial da fibra de algodão estabelecido pelo MAPA (Brasil). Classes

Variação dos valores

Ordens de classificação (mm)

Curta

de 22 a 28 mm

22/24; 24/26; 26/28

Média

de 28 a 34 mm

29/30; 31/32; 32/34

Longa

acima de 34 mm

34/36; 36/38; 38/40

Fonte: Liberato Joaquim Barroso (1936).


C a p í t u l o I I | 48 Tabela 5. Padrões Oficiais da fibra de algodão usado pelo Norte-Americano. CLASSIFICAÇÃO DO COMPRIMENTO DE FIBRA (STAPLE) ALGODÃO DE FIBRA LONGA E EXTRALONGA Comprimento de fibra em polegadas

Comprimento de fibra em

Código universal

milímetros 40/32

1.1/4

1,25 - abaixo

31,8 - abaixo

40

41/32

1.9/32

1,26 -1,29

32,6 - 33,2

41

42/32

1.5/16

1,30 -1,32

33,3 - 33,9

42

43/32

1.11/32

1,33 -1,36

34,0 – 34,8 (Longa)

43

44/32

1.3/8

1,37 – 1,39

34,9 - 35,5 (Longa)

44

45/32

1.13/32

1,40 – 1,42

35,6 - 36,0 (Longa)

45

46/32

1.7/16

1,43 – 1,45

36,1 – 36,9 (Extralonga)

46

47/32

1.15/32

1,46 – 1,49

37,0 - 38,0

47

48/32

1.1/2

1,50 - 1,52

38,1 – 38,7

48

49/32

1.17/32

1,53 – 1,55

38,8 – 39,4

49

50/32

1.9/16

1,56 - 1,58

39,5 – 39,8

50

51/32

1.19/32

1,59 – 1,61

39,9 – 40,5

51

52/32

1.5/8

1,62 – e mais

40,6 - mais

52

Fontes: BM&F (São Paulo); VAUGHIN, E. A.; Uster News Bulletin (Zellweger) 1997.

SISTEMA ECOLÓGICO DE PRODUÇÃO

1.Escolha da Área - O uso inadequado de áreas com o cultivo do algodoeiro arbóreo poderá trazer grandes problemas de erosão no semiárido nordestino. Por isso, antes do desbravamento efetuar um planejamento racional de uso do solo para evitar esses problemas. Nesse planejamento, os principais fatores a serem levados em consideração são: relevo, pedregosidade, afloramento de rochas, profundidade e textura do solo. Recomenda-se escolher áreas de tabuleiro com relevo plano a ondulado (0 a 5% de declividade), com solos de profundidade acima de 15 cm e textura média. Os solos


C a p í t u l o I I | 49 predominantes dessas regiões recomendáveis para o algodoeiro arbóreo são os Brunos não-Cálcicos e os Podzólicos. As áreas com declividade acima de 5% ou com solos litólicos e/ou com afloramento de rocha, devem ser evitadas e deixadas com sua vegetação natural. Na região do Seridó (PB e RN) e outras áreas semelhantes dos Estados do CE, PE, PI e BA, há a possibilidade de se cultivar o algodão orgânico, especialmente no Seridó onde o algodoeiro arbóreo tem seu ótimo ecológico que, de acordo com Duque (1973), envolve altitude baixa, de 100 a 300 m, precipitações pluviais de 400 a 700 mm, com período seco de mais de seis meses, sem orvalho, noites quentes e solos argilosos e piçarrentos (Figura 5). Em função do clima nesta região, principalmente no Seridó, aonde os produtores chegam a conseguir mais de 400 kg/ha/ano de algodão em rama, principalmente no algodoeiro de segundo e terceiro ano.

Figura 5. Plantio de algodão arbóreo tradicional no Seridó, destacando-se as pedras na superfície do solo. Foto: Eleusio Curvêlo Freire.

2.Conservação e Preparo do Solo - Nas novas áreas, após desmatamento, a destoca e retirada da lenha, os restos da vegetação cortada devem ser enleirados em nível, com distância de 20 a 30 metros (Figura 6). Havendo pedras soltas na superfície, estas poderão ser apanhas e distribuidas junto as leiras, de maneira que formem muretas de pedra, fazendo-se o mesmo em áreas já trabalhadas. Outras práticas simples de controle de erosão podem ser usadas, como a utilização de faixas de 3 m de capim Buffel ou


C a p í t u l o I I | 50 vegetação nativa a cada 20 a 30 cm, dependendo da declividade. O uso de capinas alternadas e o plantio de algumas linhas de cultura densa (gergelim, sorgo ou feijão), entre as linhas do algodoeiro, seria outra alternativa (FREIRE et al., 1990).

Figura 6. Distribuição de eira de restos vegetais como barreira para deter a enxurrada. Foto: Raimundo Estrela.

O terreno destinado à cultura do algodão deverá ser acessível às máquinas agrícolas e revolvido, logo após as primeiras chuvas a uma profundidade de 15 a 20 cm, de preferência com arado de disco, quando se trata do primeiro preparo do solo virgem. Esse arado é preferível ao de aiveca porque ao encontrar um obstáculo qualquer no terreno (tocos, pedras, etc) o salta, sem maiores consequências. Mesmo assim, em cultivos tratorizados, o preparo deve ser efetuado com o mínimo de operações possíveis, desde que favoreçam a semeadura. A melhor opção é uma aração seguida de uma gradagem com grade destorroadora. Quando não se dispõe do escarificador, normalmente uma simples aração com arado de disco é suficiente. No caso de solos argilosos efetua-se, se necessário, uma gradagem com grade niveladora ou destorroadora, para quebra os torrões. Em ambos os sistemas, o preparo deve ser executado em nível (Figura 7), obedecendo à profundidade da camada arável e com solo úmido. Caso exista vegetação herbácea intensa, procede-se a um roço antes das operações de preparo (FREIRE et al., 1990).


C a p í t u l o I I | 51

Figura 7. Marcação de linhas de nível básicas para o preparo do solo. Foto: Raimundo Estrela.

Usando-se o sistema tradicional de tração animal, o preparo do solo é efetuado com cultivador equipado com picões pontiagudos para facilitar a penetração do implemento no solo e diminuir o esforço do animal e do operador.

3.Cultivares - Para o plantio do algodão nas comunidades rurais do semiárido, recomenda-se a variedade Veludo C-71 (Bulk) de fibra extralonga, a qual poderão ser disponibilizadas (poucas sementes) pelo Banco de Germoplasma da Embrapa Algodão para a sua multiplicação por uma empresa de sementes ou associação de produtores. Conforme a meta delineada pela Embrapa, houve a substituição gradativa da variedade de algodoeiro mocó SL 9193, cultivada em todo o Nordeste desde 1949, pelo Bulk Veludo C-71 e INFAOL SI-20. Estes novos materiais, a despeito de manterem as mesmas características de fibras, chegam, no entanto, a apresentar 20% a mais no rendimento em relação à primeira variedade citada (FREIRE et al., 1980). De acordo com Vasconcelos e Boulanger (1979), a variedade Veludo C-71 manifestou uma superioridade de produção de algodão em rama de 13 a 24% sobre a variedade SC9193. Seu rendimento no descaroçamento foi superior a 0,6% sobre a variedade SL9193 e igual à da variedade SC SL9193. O comprimento da fibra é igual ao da SL9193 e ligeiramente superior ao da SC


C a p í t u l o I I | 52 9193 (0,3 mm) com uma uniformidade inferior. Enquanto os índices de micronaire e Pressley das três foram iguais. 4.Métodos e Épocas de Plantio - Existem dois métodos de plantio em uso na região semiárida: o plantio no seco e o plantio nas primeiras chuvas. O plantio no seco apresenta as vantagens de aproveitar as primeiras precipitações e a mão-de-obra ociosa no período seco que antecede as chuvas, devendo ser complementado com irrigação de gotejamento e, por ser uma área agroecológica inferior a 2 ha, não haverá falhas na lavoura. O plantio após a consolidação do inverno ou após a queda de no mínimo 40 mm (mês de fevereiro ou março) tem dado melhores resultados por economia na quantidade de sementes e por dispensar o desbaste, devido à colocação de menor número de sementes /cova. Por se tratar de um algodoeiro tardio, a época de floração deverá coincidir com os meses de maio a julho apresentando temperatura noturna ideal (mais baixa) no semiárido. É necessário o solo bem preparado, quando o plantio é realizado com semeadora a tração animal ou tratorizada, deixando-se cair 15 sementes deslintadas mecanicamente por metro linear. Já no plantio manual em covas ou com matraca colocar 4-6 sementes deslintadas mecanicamente/cova, na profundidade de 2 a 3 cm. 5. Desbaste - O desbaste ou raleamento deve ser efetuado apenas quando se verificar a germinação de um número excessivo de sementes. Deve-se proceder ao arranquio das plantas menos vigorosas entre 20 a 30 dias após a germinação, tanto para o algodão como para as culturas consorciadas. No entanto, na hipótese de germinarem de 2 a 3 plantas/cova, esta operação se torna dispensável (FREIRE et al., 1992).

6. Adubação - A maioria dos solos das regiões aptas para a cultura do algodoeiro arbóreo, além de erodidos, já apresentam sinais de degradação acentuada e baixa fertilidade. Medeiros (1991), em trabalhos efetuados em solo Bruno não-Cálcico, no município de Patos, PB, observou que a adubação com 20 t/ha de esterco bovino distribuído a lanço e incorporado no ato do preparo do solo, elevou a rentabilidade do algodoeiro Mocó em 31%, 108%, 74% e 111% no primeiro, segundo, terceiro e quarto ano de produção, respectivamente, sem considerar que o esterco está disponível a baixo custo para o agricultor. De acordo com Beltrão et al. (1995), a produção orgânica de algodão arbóreo no Nordeste brasileiro é possível com a utilização de adubos orgânicos e pode propiciar


C a p í t u l o I I | 53 produtividades maiores que as obtidas com adubação mineral, inclusive com relação benefício/custo maior. Além da adubação orgânica, a adubação verde tem apresentado bons resultados. A crotalária e o feijão guandu se destacaram como sendo os que melhor influenciaram os rendimentos do algodão, com aumentos de 28% e 12%, respectivamente. Também foi observado que nem sempre os adubos verdes, que produziram maior volume de massa verde foram os que resultaram em maior produção de algodão. 6.Espaçamento e consórcio - O Mocó tradicional, por seu desenvolvimento e condição de planta perene, deve ser encarado e tratado à maneira de uma árvore frutífera, de forma a ser admitida apenas uma planta por cova. Todavia, na prática, é adotado o uso generalizado de 2, 3 e mais indivíduos, que, para alguns produtores, é uma estratégia para enfrentar os danos causados pela broca do algodoeiro (Eutinobotrus brasilienses), pois havendo algum ataque da referida praga na lavoura agroecológico poderá existir a possibilidade de redução no número de três plantas/cova para uma planta. Por sua vez, uma planta que cresce isoladamente tem a chance de adquiri maior robustez e maior resistência às condições adversas do ambiente da microrregião do Seridó. Recomenda-se aumentar o adensamento da cultura até os limites de penetração da claridade solar, com maior número possíveis de covas individuais, por área, evitando, porém, o maior número de plantas por cova (VELOSO, 1957). O algodão mocó (Gossypium hirsutum L. r. marie galante, Hutch.) no semiárido brasileiro geralmente era plantado em consórcio com culturas de subsistência, principalmente com o caupi e o milho. Essa prática é grandemente usada pelos plantadores de algodão que adotam os mais variados sistemas de cultivo com o propósito de conseguir maior rentabilidade por área (SOUSA, 1999). O consórcio com feijão é mais vantajoso, devendo utilizar cultivares de feijão de ciclo curto e porte ereto, para diminuir a competição com o algodão, podendo plantar até duas fileiras de feijão. Para tal configuração, recomenda-se o espaçamento de 2 m x 1 m, com 1 a 2 plantas por cova. Mesmo se tratando de uma prática de exploração tradicional do nordestino, deve-se evitar usar o consorcio com fileiras alternadas de milho e algodão, por retardar o ciclo do algodoeiro e por ocasionar queda no seu rendimento (FREIRE et al., 1992).


C a p í t u l o I I | 54 No caso do produtor preferir utilizar a cultura pura (monocultivo) do algodão tradicional de fibra extralonga, recomenda-se adotar também o espaçamento de 2 m x 1 m, com 1 a 2 plantas por cova. Por outro lado, quando o objetivo é obter fibra de elevada qualidade, deve-se ser plantado o algodão Mocó tradicional de fibra extralonga, descartando assim o uso de algodão arbóreo superprecoce (híbrido gerado do cruzamento entre herbáceo x arbóreo) por apresentar fibra com característica bastante desuniforme. 7. Controle de ervas daninhas - Beltrão e Azevedo (1983) verificaram que o algodão arbóreo deve ser mantido livre da concorrência das plantas invasoras nos primeiros 70 dias após a emergência, no primeiro ano de cultivo, e por semelhante período após o início das chuvas nos anos subsequentes. Após este período, a lavoura deve coexistir com as plantas daninhas, sem prejuízo para a sua produção final e com benefício para a pecuária, devido ao acúmulo de forragem para uso no período seco do ano. O controle das plantas daninhas na lavoura agroecológica pode ser efetuado a enxada (processo lento e caro, exigente de mão-de-obra), através de cultivadores de tração animal e com micro tratores Tobata. Não recomenda efetuar o controle de ervas após os primeiros 70 dias para não causar corte das raízes das plantas, o que irá provocar à queda dos botões florais, reduzindo, consequentemente, a capacidade de produção da lavoura (FREIRE et al., 1992). No experimento conduzido por Kerkhoven (1964), o mesmo observou que o atraso da primeira capina por 4-6 semanas, determinava redução de 76% na produção do algodão em rama em relação ao tratamento completamente livre de concorrência de ervas daninhas (testemunha). Também verificou que capinas adicionas contribuíram para elevar a produção em 20%. Enquanto Treanor e Andrews (1965) verificaram decréscimos de 76% na produção do Gossypium hirsutum L., quando em competição com plantas daninhas. Decréscimos bem menores, da ordem de 40%, foram encontrados por Holstun (1957), que também constatou redução no crescimento e retardamento na maturação dos capulhos, quando o algodão foi submetido à concorrência do mato. Por outro lado, Alves e Quirino (1970 ) constataram na Estação Experimental de Veludo de Itaporanga, PB que a roçagem da vegetação natural determinava redução de 56% no rendimento do algodão Mocó (G. hirsutum r. marie galante Hutch.), quando comparada a produção com a da testemunha. Diminuição sensível de produção foi também observada por Mangueira et al. (1970), na Estação Experimental de Serra Talhada, PE. Os mesmos


C a p í t u l o I I | 55 autores não recomendam essa prática de roçagem no algodoeiro, não só pela redução da sua produção, mas devido a redução ocasionada no stand final da cultura. 8.Doenças - Como a incidência de doenças foliares e de solo é baixa na região Nordeste, portanto, as variedades do algodão arbóreo não foram ainda avaliadas nos ensaios pela Embrapa Algodão com relação ao seu grau de resistências às doenças. As variedades de algodão de fibra extralonga se destinam preferencialmente para os agricultores familiares do semiárido do Nordeste. 9.Controle de Pragas - As pulverizações preventivas nas bordaduras (seis fileiras), ao redor do campo de algodão orgânico com o nim ou soluções de mamona, poderão ser eficientes no controle do bicudo, desde que essas pulverizações sistemáticas sejam realizadas semanalmente, a partir da fase inicial de emissão dos primórdios dos botões florais do algodoeiro G. barbadense. Junto com as pulverizações preventivas, deveriam ser efetuadas também as catações dos botões florais nas 6 fileiras da bordadura. Para elevar o poder residual e sua ação tóxica natural no algodoeiro, basta aplicar o nim misturado com óleo bruto de algodão, sendo que nesse último produto já vem incorporado uma substância tóxica natural que é o gossipol. De maneira resumida, observam-se na Tabela 6 as medidas de controle ecológico das principais pragas do algodoeiro constatadas em lavouras do Nordeste brasileiro.


C a p í t u l o I I | 56 Tabela 6. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da cultura do algodão. PRAGAS

MEDIDAS DE CONTROLE

Bicudo – Anthonomus grandis

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) misturado com óleo bruto de algodão em pulverizações sistemáticas nas bordaduras. Aplicação de soluções com pó de caulim (1,20 kg de pó do caulim/ 20 litros de água). Controle Cultural: uniformidade de plantio, variedade precoce, períodos livres de plantio, espaçamento amplo, catação de botões florais e maçãs, destruição dos restos de cultura, rotação de cultura, cultura-armadilha, tubo mata bicudo etc, e o Controle Climático. Aplicações de soluções de mamona.

Mosca branca / Bemisia tabaci/ B. argentifolii

Sua infestação é mais frequente em período de seca. Com 4 moscas por folha deve-se aplicar o detergente neutro de 180 mL em 20 litros de água ou sabões neutros (0,5 %) para o controle das ninfas, em pulverizações dirigidas a parte inferior da folha. Preparados de alho, piretro (extrato da flor de Chysanthemum cinerariaefolim,), etc têm sido eficientes no controle da praga. Controle Cultural: uniformidade de plantio, cultura-armadilha (gergelim), destruição dos restos de cultura, rotação de cultura (milho), monitoramento do campo com Tubo Mata Bicudo e instalação de barreiras vegetais de sorgo ou milho, implantadas de forma perpendicular a direção predominante dos ventos.

Curuquerê Alabama argillacea

Aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis) e de nim. Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Aplicações de soluções de nim e de mamona.

Lagarta da maçã virescens

Heliothis

Aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis) e de nim. Controle Cultural: destruição das soqueiras, armadilha de feromônio e semeadura na época adequada. Controle Biológico: (liberação de Trichogramma spp.). Aplicações de soluções de mamona.

Pectinophora

Aplicação de nim e Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Controle Cultural: destruição das soqueiras e semeadura na época adequada.

Lagarta rosada gossypiella

Cigarrinha parda / Agallia sp

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) nas bordaduras do campo e como repelente o plantio do algodão consorciado com coentro (Coriandrum sativum).

Pulgão / Aphis gossypii

Aplicação de soluções de nim (Azadirachta indica) e mamona, presença de inimigos naturais no campo e cultura-armadilha (gergelim).

Broca da brasiliensis

Controle Climático e Controle Cultural: destruição dos restos de cultura, culturaarmadilha e rotação de cultura. Tratamento de sementes tratadas com soluções de nim e mamona. Esse tratamento consiste em emergir as sementes na solução de 50 g de nim por 2 a 3 horas (Almeida; Silva, 1999).

raiz

Eutinobothrus

Formigas ou Saúvas / Atta spp.

As folhas do gergelim, em decomposição, contaminam o fungo que serve de alimento para as saúvas, levando a destruição dos formigueiros. Outra estratégia seria alimentar a cada 3 dias os formigueiros com folhagem de maniçoba (Manihot glaziowii Mull.) ou nim, fazendo essa substituição regularmente as formigas deixam de visitar o campo de algodão.

Lagarta do gênero Spodoptera frugiperda

Preparação do solo algumas semanas antes da semeadura para eliminar ovos e plantas hospedeiras de larvas. Armadilhas de luz contra traças. Preparados de nim, mamona, piretro (Chysanthemum cinerariaefolim), etc

Cochonilha Planococcus minos

Aplicação de soluções: Calda sulfocálcica (500 mL) + óleo bruto de algodão (300 mL) + detergente neutro (50 mL), esta mistura deve ser utilizada no pulverizador de 20 litros. Aplicação de soluções de nim e mamona.


C a p í t u l o I I | 57 10.Amostragem de Pragas - É possível identificar em campos as pragas ainda na sua fase jovem e facilmente combatê-las com o uso de macerados de ação mais repelentes do que bioinseticida, quando o agricultor é orientado pelos técnicos como realizar no seu campo o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A eficiente gestão do campo ocorre quando os agricultores realizam essas identificações de pragas periodicamente em sua propriedade (Figura 8). Ou seja, a amostragem de pragas deve ser feita pelo menos duas vezes por semana, principalmente a partir do surgimento dos botões florais. Para se tornar autossuficiente na produção de bioinseticidas à base de nim ou Azadirachta indica, é necessário manter pelo menos 50 plantas dessa espécie em cada comunidade familiar dos agricultores nordestinos, visando reduzir os custos de produção do algodão.

Figura 8. Identificação de pragas periodicamente em campo de algodão, seguindo a técnica de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Foto: Raul Porfírio de Almeida.

Os extratos de nim podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas, embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor


C a p í t u l o I I | 58 concentração. As quantidades de nim a serem utilizadas variam para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas (SOARES et al., 2003). 11. Capação Apical do Algodoeiro - O algodoeiro possui crescimento indeterminado, o que resulta na presença de estruturas reprodutivas de diferentes idades em uma mesma planta. Os ramos vegetativos e reprodutivos continuam a se desenvolver e a produzir botões florais na parte apical da planta, concomitantemente com o surgimento dos primeiros capulhos na parte basal (BELTRÃO et al., 2008). Então, a capação apical é recomendada para reduzir o número de estruturas não produtivas, ao final da safra, que são utilizadas como hospedeiras de pragas. De acordo com Arruda et al. (2002), apenas 44% dos botões florais produzidos formam capulhos. Quando não há abscisão natural, o excesso dessas estruturas permanece nas plantas e serve como alimento, sítio de oviposição e habitat de pragas. Com a capação apical realizada após a população de plantas completar 50% da floração, irão formar capulhos, reduzir o ramo monopodial e os ramos simpodiais e pode diminuir a população de insetos-praga na lavoura e melhorar a produção. A retirada de estruturas jovens da planta pode reduzir a atratividade e suprimir os sítios de oviposição e de desenvolvimento de insetos (DEGUINE et al., 2000; SUNDARAMURTHY, 2002). Pode, também, afetar o crescimento e o desenvolvimento da planta (Obasi; Msaakpa, 2005) e modificar a distribuição dos assimilados, em benefício das maçãs mais antigas (KIM; OOSTERHUIS, 1998). 12.Colheita Manual e Beneficiamento - A colheita é uma operação que requer total atenção e dedicação do agricultor devido à qualidade ser um fator que depende do tipo e até mesmo o rendimento da lavoura, sendo necessário preservar principalmente as características especiais do algodão mocó de fibra extralonga. Cuidadosamente, devem ser apanhados os capulhos do algodoeiro. Em um dia de trabalho, um agricultor pode colher manualmente entre 40-50 kg de algodão em rama. Portanto, a colheita manual do algodoeiro deve ser realizada com pessoal treinado para fazer a apanha, quando 60% dos capulhos estão abertos, limpos, secos e livres de orvalho, tendo-se o cuidado de separar o algodão de tipo superior do de inferior qualidade, razão pela qual deve ser realizada com pessoal treinado, o qual irá desprezar carimãs e lojas estragadas e contribuindo, desta forma, para um tipo melhor de algodão, com boa


C a p í t u l o I I | 59 qualidade de sementes e maior resistência de fibras, em virtude da separação de capulhos depreciados pelo ataque de pragas ou impurezas; ademais, os sacos usados na apanha devem ser de fio de algodão e não muito compridos, para evitar o seu contato com o solo, o que poderá afetar a qualidade da fibra; seu amarrio deve ser feito com cordão de algodão (COSTA et al., 2005). Sobre o tema de colheita, recomenda-se observar os seguintes cuidados: -Realizar tantas colheitas quanto forem viáveis, iniciando-se quando 60% dos capulhos estiverem abertos e em dias de sol. -Quando possível, separar o algodão sujo, dos limpos. -Evitar colher capulhos com carimãs, plantas daninhas, maçãs verdes, detritos da cultura, brácteas, penas, amarrios diversos, arames, terras e outros produtos estranhos – qualquer tipo de impurezas -. -Entregar, o quanto antes, o algodão, às usinas de beneficiamento evitando, assim, riscos decorrentes de fermentação e contaminação com penas de aves e pelo de animais em tulha. -O local destinado ao armazenamento do produto, antes da comercialização, deverá ser seco e limpo e bem arejado. -Treinar os colhedores, enfocando a importância do seu trabalho (COSTA et al., 2005). Uma cooperativa de agricultor em cada território do semiárido deveria contar com uma unidade de descaroçamento do tipo rolo para beneficiar o algodão Mocó de fibra extralonga. Em uma jornada de trabalho, a máquina de rolo pode beneficiar entre 220 a 270 kg de algodão em rama por dia, ou seja, um pouco mais de dois fardos de pluma, com base na produção da prensa hidráulica com capacidade para 100 a 120 kg de fibra por fardo. Direcionada para agricultura familiar, a miniusina estacionária poderá ser formada por um descaroçador de rolo (Figura 9) e uma prensa hidráulica de pequeno porte.


C a p í t u l o I I | 60

Figura 9. Descaroçador estacionário de rolo usado especialmente para algodão de fibra extralonga. Foto: Felipe Macêdo Guimarães.

Um novo protótipo itinerante com duas máquinas de rolo e uma prensa de pequeno porte sobre a carroceria de um caminhão Truck antigo foi idealizado pela Metalúrgica Barros de Campina Grande – PB. Direcionada para agricultura familiar, essa miniusina itinerante é capaz de beneficiar no mínimo 500 kg de algodão em rama por dia (EMBRAPA ALGODÃO, 2001; Figura 10).

Figura 10. Protótipo itinerante com duas máquinas de rolo e uma prensa de pequeno porte sobre a carroceria de um caminhão Truck antigo para beneficiamento de algodão de fibra extralonga. Foto: Sergio Cobel.


C a p í t u l o I I | 61 13.Armazenamento - Os produtores devem possuir espaço de armazenamento adequado e ventilado para até a metade da colheita do algodão esperado. O algodão em rama também poderá ser armazenado diretamente no caminhão que será usado no transporte para a usina de beneficiamento. 14.Integração Lavoura-Pecuária - Os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) consistem na diversificação das atividades na propriedade rural. Em tais modelos de produção estão integrados às explorações de cultivos agrícolas e o seu aproveitamento na alimentação animal, sendo que o gado é colocado para se alimentar dos restos culturais da lavoura no final da colheita do algodão arbóreo. Para o caso do algodoeiro arbóreo tradicional (Veludo C-71), apenas o gado é colocado após o segundo ciclo vegetativo sequencial, de forma que ambos os ciclos sejam realizados dentro do mesmo ano agrícola. 15.Erradicação das Soqueiras - A boa destruição é indispensável para que as populações de pragas e doenças se mantenham baixas no início de cada ano agrícola e para que algodoeiro continue sendo uma cultura economicamente interessante, de maneira sustentável através dos anos. Arrancamento e queima da soqueira do algodoeiro até 30 dias após o término da colheita. 16.Ciclo da cultura - Para o algodoeiro mocó agroecológico conviver economicamente com o bicudo, é necessário que a lavoura seja conduzida em condições de chuvas e com suplementação de irrigação por gotejamento até os dois primeiros ciclos de colheitas realizadas no mesmo ano agrícola. A economicidade dos dois ciclos produtivos será mantida desde que o algodoeiro apresente nível de produtividade média superior a 400 kg/ha, correspondendo a um total de produção de 800 kg de algodão em rama. Após os dois ciclos, recomenda-se erradicar a lavoura um mês após a colheita do algodão e o aproveitamento animal dos restos da cultura. 17.Vazio Sanitário - As plantações não são irrigadas. Após a colheita do algodão em rama, todas as plantas são destruídas e tem início o período de “vazio sanitário” (no mínimo de 3 meses). Durante esse período, não é permitida nenhuma plantação de algodão no país para garantir que as pragas não permaneçam no solo para a próxima estação. 18.Rotação de Cultivos - Consiste na alternância de diferentes espécies e com nutrição distintas de plantas em uma mesma área, variando os tipos radiculares de fasciculado ou


C a p í t u l o I I | 62 pivotante, que se evita a persistência de pragas na cultura do algodão nos ciclos subsequentes. Essa prática permite um melhor aproveitamento dos nutrientes do solo e corresponde a um manejo de solo. Também é necessário considerar que uma correta rotação permite certo controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Para alcançar tal resultado, o algodão deve ser semeado no mesmo terreno (ou território) a cada 2-3 anos. Por outro lado, o monocultivo do algodão deve ser bem avaliado quando se trata de cultura orgânica, pelo fato de produzir uma deterioração gradual do solo por perda de estrutura, além de surgirem, em pouco tempo e com maior intensidade, as doenças foliares e do solo (BRAGACHINI et al., 1993).

PRODUTIVIDADE ESPERADA E COMERCIALIZAÇÃO Conforme estudo realizado no algodoeiro Mocó por Vasconcelos e Boulanger (1979), a criação da variedade Veludo C-71 precoce (P) em 1975, com mistura de plantas que florescem muito cedo, durante os meses de abril, não apresentou no primeiro ano de cultivo, o aumento de produção esperado em relação à variedade de origem (O; Veludo C-71 obtida em 1972). Ao contrário, foi constatada uma redução da produção. Essa redução foi da mesma ordem de grandeza da observada com a variedade Veludo C-71 tardio (T) composto de plantas, cuja primeira flor apareceu no mês de maio (Tabela 7). Tabela 7. Comportamento das seleções precoces (P) e tardias efetuadas em 1975 com a variedade Veludo C-71 (Mocó). Variedade

Produção de algodão em caroço 1º ano

2º ano

Fibrógrafo 2,5 % 3º ano

Comp.

Unif.

Índice Pressley

Micro-

% Kg/ha

%

Kg/ha

%

Kg/ha

%

mm

Veludo C-71 O

872

100

534

100

1406

100

30,0

45,8

9,6

3,7

Veludo C-71 P

684

78

592

111

1276

91

30,5

46,9

10,0

3,8

Veludo C-71 T

691

79

461

86

1152

82

30,7

45,0

9,5

3,9

Fonte: Vasconcelos e Boulanger (1979).

naire


C a p í t u l o I I | 63 Por outro lado, a variedade Veludo C-71 foi comparada à variedade SL 9193 em 13 ensaios realizados de 1971 a 1975, e SC 9193 em 14 ensaios realizados de 1975 a 1977 em vários locais de Pernambuco. Na Tabela 8, observa-se que a variedade Veludo C-71 manifestou uma superioridade de algodão em rama de 13 a 24% sobre as variedades SL 9193 e SC 9193. Seu comprimento de fibra foi um pouco superior ao da SC 9193 (0,3 mm) com uma uniformidade inferior. Os índices micronaire e Pressley das três variedades foram iguais (VASCONCELOS; BOULANGER, 1979). Tabela 8. Ensaios de competição de variedades de algodão Mocó instalados em Pernambuco entre os períodos de 1971 a 1977. Discriminação Produção de algodão em rama

Variedades SL 9193

Veludo

SC 9193

C-71

Veludo C-71

- 1 ano (kg/ha)

387

124%

501

114%

- 2 ano (kg/ha)

936

116%

1.001

112%

- 3 ano (kg/ha)

1.343

116%

1.209

119%

- 4 ano (kg/ha)

1.723

113%

-

-

Produção de fibra (kg/ha)

534 (4 anos)

115%

384 (3 anos)

117%

Percentagem de fibra (%)

31,0

31,6

31,5

31,2

Comprimento Fibrógrafo 2,5% S. L. (mm)

30,7

30,5

29,9

30,2

Uniformidade (U.R.) (%)

44,8

43,5

44,5

43,8

Micronaire

3,6

3,7

3,6

3,7

Índice Pressley

8,1

8,2

8,0

8,1

Comprimento comercial (mm)

36,2

36,0

35,3

35,6

Fonte: Vasconcelos, W. M.; Boulanger, J. (1979).

Com base nos resultados dos experimentos de competição regional de “Buks” do algodoeiro Mocó, originados de Pernambuco (Bulk da seleção conservadora e Bulk C), Paraíba (Bulk C-71), Ceará (Bulk C-74-C’) em comparação a testemunha de Cruzeta, RN (variedade SL 9193), conduzidos no estado do Ceará e semeados no espaçamento de 2 m entre fileiras e 1 m entre covas, deixando duas plantas/cova, as conclusões estabelecidas


C a p í t u l o I I | 64 por Silva et al. (1975) foram as seguintes: a) O bulk C-74 (C’) mostrou-se mais precoce que os demais bulks e a variedade SL 9193, exibindo floração e frutificação mais cedo. A vantagem disso reside no melhor aproveitamento das reservas hídricas do solo, que pode se refletir em melhor rendimento; B) o balanceamento entre ramos monopodiais e simpodiais foi melhor no bulk C-74 (C’) que nos demais materiais, observando-se a proporção de vegetativos/frutíferos de 1:1, semelhante a variedade SL 9193 (testemunha); c) Rendimentos da ordem de 378 kg/ha no ensaio de Quixadá e 426 kg/ha em Quixeramobim foram apresentados pelo bulk C-74 (C’), correspondendo a uma superioridade de 87% e 244% em relação à testemunha (SL 9193); d) A superioridade do bulk C-74 (C’) foi também evidenciada quando se tomou a média dos três locais dos ensaios (Quixadá, Quixeramobim e Milagres). Foi encontrado um valor de 373 kg/ha contra 203 kg/ha da testemunha, representando um acréscimo de 84% sobre a última; e e) O bulk C de Pernambuco, revelou uma boa performance produtiva em cada local e no conjunto dos mesmos. Nas condições de clima e solo de Quixadá, CE, superou em 74% à testemunha. Por outro lado, na região algodoeira do Nordeste brasileiro, a comercialização do algodão em caroço é formada por uma cadeia de intermediários, desde a colheita até o processamento de comercialização com as indústrias têxteis. Em geral, o produtor negocia sua lavoura com a unidade de descaroçamento mais próxima da área de produção, apesar de que seria mais viável para o mesmo negociar diretamente com a indústria têxtil. Para evitar esse intermediário do algodão em caroço e com o propósito de obter maior lucro, é aconselhável que o produtor faça parte de uma comunidade organizada, que possa terceiriza o processo de descaroçamento em máquinas de rolos (Usina Algodoeira de São Mamede, PB), de modo que a comercialização da fibra seja separada das sementes para agregar valor ao produto. Os produtores têm comercializado sua produção de algodão com empresa Norfil de João Pessoa, PB, que em 1917 adquiriu 35 toneladas de algodão em rama. O SENAI da capital da Paraíba pretendia instalar, no segundo semestre de 2018, uma unidade de porte médio de fiação e tecelagem para atender a verticalização da produção do algodão das comunidades organizadas do semiárido. Por se tratar de orgânico, outros compradores de algodão de fibra extralonga são: Organic Cotton Colours, S. L. de Girona (Catalunha), Espanha (contato no Brasil: diogenes@organiccottoncolours.com) e a empresa francesa


C a p í t u l o I I | 65 Veja/Vert Shoes (no Brasil), cujo contato reside na cidade de Choró, CE ou através da ONG Esplar de Fortaleza, CE (Pedro Jorge) (QUEIROGA et al, 2019).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, R. P.; SILVA, C. A. D. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. p.753-820. ALVES, A. Q.; QUIRINO, Z. B. Tratos culturais da cultura do algodoeiro Mocó. Pesquisa Agrop. Nordeste, Recife, v.3, v.1, p.39-43, 1970. ARRUDA, F. P.; ANDRADE, A. P.; SILVA, I. F.; PEREIRA, I. E.; GUIMARÃES, M. A. M. Emissão/abscisão de estruturas reprodutivas do algodoeiro herbáceo cv. CNPA 7H: efeito do estresse hídrico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.6, p.21-27, 2002. BARROSO, L. J. Cultura dos algodoeiros herbáceos (conselhos e notas). Departamento Nacional da Produção Vegetal, Serviço de Plantas Têxteis. Rio de Janeiro, Brasil. 1936. 20p. BARROSO, P. A. V.; COSTA, J. N.; CIAMPI, A.Y.; RANGEL, L. E. P.; HOFFMANN, L. V. Caracterização in situ de populações de Gossypium barbadense do estado do Mato Grosso. Campina Grande: Embrapa Algodão. Comunicado Técnico, n.244, 2005a. 8p. BELTRÃO, N. E. M. Técnicas de poda na cultura do algodoeiro arbóreo (mocó) precoce. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1995. 4p. (Embrapa-CNPA. Comunicado Técnico, 39). BELTRÃO, N. E. M.; SOUZA, J. G.; AZEVEDO, D. M. P.; LEÃO A. B.; CARDOSO, G. D. Fitologia do algodoeiro herbáceo: sistemática, organografia e anatomia. In: BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO D. M. P. (Ed.). O agronegócio do Algodão no Brasil. 2.ed. rev. amp. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p.183-217. BOULANGER, J.; BIRCH, C.; PINHEIRO, D.; FARIA, C. V. Flutuações da produção do algodoeiro mocó. Recife: SUDENE, 1966. 24p. BRAGACHINI, M., BONETTO, L., BONGIOVANNI R. Siembra, cosecha, secado y almacenaje de soja. INTA-EEA Manfredi, 1993, 191p.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 67 COSTA, J. N.; ALMEIDA, F. A. C.; SANTANA, J. C. F. COSTA, I. L. L.; WANDERLEY, M. J. R.; SANTANA, J. C. S. Técnicas de colheita, processamento e armazenamento do algodão. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2005. 14p. (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 87). DEGUINE, J. P.; GOZE, E.; LECLANT, F. The consequences of late outbreaks of the aphid Aphis gossypii in cotton growing in Central Africa: towards a possible method for the prevention of cotton stickiness. International Journal of Pest Management, v.46, p.85-89, 2000. DUQUE, J. G. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Banco do Nordeste do Brasil. 2a ed. Fortaleza: BNB, 1973, 260p. EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). Miniusina de beneficiamento de algodão de 50 serras e prensa hidráulica: uma alternativa para associação de pequenos agricultores. Campina Grande, 2001. Folder. FREIRE, E. C. Distribuição, coleta, uso e preservação das espécies silvestres de algodão no Brasil. Embrapa Algodão: Campina Grande. 2000. FREIRE, E. C., VIEIRA, D. J.; ANDRAD, F. P.; MEDEIROS, J. C.; NÓBREGA, L. B.; NOVAES FILHO, M. B.; BRAGA SOBRINHO, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. 2 ed. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1992, 26p. (Embrapa-CNPA. Circular técnica, 15). FREIRE, E. C.; BARROSO, P. A. V.; PENNA, J. C. V.; BORÉM, A. Fluxo gênico: Análise do caso de algodão no Brasil. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, Brasília – DF, v.29, p.104-113, 2002. FREIRE, E. C.; MOREIRA, J. A. N.; MEDEIROS, L. C. Contribuição das ciências agrárias para o desenvolvimento: o caso do algodão. Revista da Economia Rural, v.18, n.3, p.383-413, 1980. FREIRE, E. C.; MOREIRA, J. A. Relações genéticas entre o algodoeiro Mocó e diferentes espécies e raças de algodoeiro. Revista Brasileira de Genética, v.14, n.2, p.393-411, 1991.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 68 FREIRE, E. C.; VIEIRA, D. J.; ANDRADE, F. P.; MEDEIROS, J. C.; NOBREGA, L. B.; NOVAES FILHO, M. B.; BRAGA SOBRINHO, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1990. 26p. (Embrapa-CNPA. Circular Técnica, 15). HOLSTUN, J. T. Jr. A preliminary study of the effects of weeds on cotton. Proc. Sou. Weed Conf., v.10, p.30, 1957. HUTCHINSON, J. B. Intra-specific differentiation in Gossypium hirsutum. Heredity, v.5, n.2, p.161-193, 1951. IBGE. Estados. 2009. http://www.ibge.gov.br/estadosat/. Acesso em 02.04.2009. JOHNSTON, J. A; MALLORY-SMITH, C.; BRUBAKER, C. L.; GANDARA, F.; ARAGÃO, F. J. F.; BARROSO, P. A. V.; QUANG, VU DUC; CARVALHO, L. P.; KAGEYAMA, P.; CIAMPI, A. Y.; FUZATTO, M.; CIRINO, V.; FREIRE, E. Assessing gene flow from Bt cotton in Brazil and its possible consequences. In: HIBECK, A.; ANDOW, D. A.; FONTES, E. M. G. Environmental Risk Assessment of Genetically Modified Organisms. CABI Publishing: Cambridge. 2006, p.261-299. KERKHOVEN, G. J. Cotton on tropical black clay, Kafue Flats Northerm Rhodesia. Emp. Cotton Gr. Rev., v.41, p.2-12, 1964. KIM, M. J.; OOSTERHUIS, D. M. Effect of upper-canopy square removal before and after NAWF=5 plus 350 heat units on carbon partitioning from upper -canopy leaves to bolls lower in the canopy. In: Cotton Research Meeting and Summaries of Research in Progress, 1998, Fayetteville. Proceedings. Fayetteville: University of Arkansas, 1998, p.174-176. (Special report, 188). MANGUEIRA, O. B.; PEREIRA, J. T.; DANTAS, A. P. Vantagens da consorciação na cultura do algodoeiro Mocó. Pesq. Agrop. Nord. Recife, v.2, n.2, p. 30-51, 1970. MEDEIROS, J. C. Efeito da adubação do algodoeiro arbóreo precoce. In: Embrapa Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Campina Grande - CNPA, 1991, p.388-389. (Relatório Técnico Anual 1987-1989).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 69 MOREIRA, J. A. N.; FREIRE, E. C.; SANTOS, R. F.; BARREIRO NETO, M. Algodoeiro Mocó: uma lavoura ameaçada de extinção. Campina Grande: EmbrapaCNPA, 1989. 20p. (Embrapa-CNPA. Documentos, 36). MOREIRA, J. A. N.; SILVA, F. P.; ALVES, J. F.; PAULA, P. H. F.; OLIVEIRA, J. G. B.; SANTOS, J. H. R.; ASSUNÇÃO, M. V. Melhoramento genético do algodão mocó no Estado do Ceará, Brasil. I. Resultados Preliminares In: Estudos básicos, melhoramento genético e experimentação com o algodoeiro mocó. Relatório Pesquisa 1972. Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Depto. Fitotecnia, Fortaleza, 1973. 86p. MOREIRA, J. A. N.; FREIRE, E. C.; SANTOS, R. F.; VIEIRA, R. M. Use of numerical taxonomy to compare “Mocó” cotton with other cotton species and races. Revista Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, v.18, n.1, p.99- 103, 1995. OBASI, M. O.; MSAAKPA, T. S. Influence of topping, side branch pruning and hill spacing on growth and development of cotton (Gossypium barbadense L.) in the southern Guinea savanna location of Nigeria. Journal of Agriculture and Rural Development in the Tropics and Subtropics, v.106, p.155-165, 2005. QUEIROGA, V. P.; MEDEIROS, J. C.; ALMEIDA, F. A. C. Gossypium barbadense & Gossypium hirsutum: Algodões de fibra extralonga para as microrregiões secas do semiárido: – 1. Ed. – Campina Grande: Embrapa, 2019. 322p. SILVA, N. M.; ALVES, J. F; MOREIRA, J. A. N. Melhoramento genético do algodão mocó, Gossypium hirsutum, L. raça marie galante, Hutch., I. Resultados dos Experimentos de Competição Regional de “Bulks” conduzidos no estado do Ceará. Ciência Agron., v.5, n.1-2, p.83-89, 1975. SOARES, F. P.; PAIVA, R.; NOGUEIRA, R. C.; OLIVEIRA, L. M.; PAIVA, P. D. O.; SILVA, D. R. G. Cultivo e usos do nim (Azadirachta indica A. Juss). Boletim Agropecuário, Universidade Federal de Lavras, n.68, p.1-14, 2003. SOUSA, I. S. Manejo agroecológico do solo e do algodoeiro mocó por agricultores familiares do município de Tauá. 1999. 104f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza: UFC, 1999.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 70 STEPHENS, S. G. Geographical distribution of cultivated cottons relative to probable centers of domestication in the new world. In. Genes, enzymes and populations. Srb. Adrian, M. Plenum Press. New York. 1973, p.239-254. SUNDARAMURTHY, V. T. The integrated insect management system and its effects on environment and productivity of cotton. Outlook on Agriculture, v.31, p.95-105, 2002. TREANOR, L. L. JR.; ANDREWS, H. Some effects of frequency of cultivation with and without herbicides on corn, cotton and soybeans. Proc. Sou. Weed Conf., v.18, n.49-54, 1965. VASCONCELOS, W. M.; BOULANGER, J. Veludo C-71: Nova variedade de algodoeiro perene. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene. Departamento de Agricultura e Abastecimento (Divisão de Pesquisa e Experimentação). Recife, 1979. 26p. VELOSO, U. D. Novo método de estudo e seleção do mocó. Tese apresentada ao Congresso Algodoeiro de São Paulo. 1935. Editado nos anais do Congresso e pelo Ministério da Agricultura. VELOSO, U. D. O algodão Mocó: bases para seu melhoramento e sua expansão no Nordeste. Rio de Janeiro, Serv. Informação Agrícola, 1957. 89p. (Estudos técnicos, 11). ZHANG, H. B.; LI, Y.; WANG, B.; CHEE, P. W. Recent Advances in cotton genomics. International Journal of Plant Genomics, v.2008, p.1-20, 2008.


C a p í t u l o I I I | 71

CAPÍTULO III

SISTEMA DE PLANTIO DO ALGODÃO HERBÁCEO (Gossypium hirsutum L. raça latifolium, Hutch.), CULTIVARES DEL CERRO E BRS ACALA DE FIBRA EXTRALONGA, PARA O SEMIÁRIDO

Vicente de Paula Queiroga Arturo Távara Villegas Marité Yulisa Nieves Rivera


C a p í t u l o I I I | 72 INTRODUÇÃO A produção de algodão é uma atividade econômica muito importante para o crescimento e desenvolvimento agrícola, industrial e econômico da região do Nordeste. Como cultivo principal é gerador de matéria-prima para o desenvolvimento das indústrias têxteis e os setores de confecções de artigos do vestuário; é também o cultivo alimentício por sua contribuição muito significativa no fornecimento de óleo para a alimentação humana e, por meio da torta derivada da extração, para a alimentação animal. Na região de Lambayeque no Peru, que se assemelha ao semiárido brasileiro, a produção do algodão cultivar Del Cerro é uma atividade importante em sua economia, devido principalmente à demanda de fibra extralonga que existe no mercado, por apresentar condições agroclimáticas favoráveis para uma produção rentável do algodão convencional e competitiva, sobretudo com a participação efetiva da agricultura familiar. É importante frisar que a indústria têxtil brasileira utiliza fibras extralongas (comprimento comercial acima de 36 mm), para a fiação de fios finos a serem usados na confecção de tecidos finos e linhas de costura. Esse mercado, estimado em 5% da demanda nacional de algodão, é suprido atualmente por poucos produtores empresariais do cerrado do Mato Grosso, ou através de importações oriundas dos Estados Unidos, Egito, Sudão e Israel (VILLEGAS; RIVERA, 2011). Apesar de tudo, a produção mundial de algodão de fibra extralonga é de apenas 3 a 5% e está mais concentrada nos Estados Unidos, Peru e Egito. Com a finalidade de desenvolver cultivares de fibras longas para produção no Brasil, a Embrapa Algodão iniciou seu programa de melhoramento do algodoeiro de fibras extralongas desde o início da década de oitenta já tendo sido obtidas duas cultivares com esse padrão de fibras, incluindo a CNPA Acala 1 em 1986 e a CNPA Giorgi 1 em 1990 (EMBRAPA, 2001). Na década de oitenta surgiu à demanda para a produção de fibras extralongas no cerrado do Mato Grosso, inicialmente pelo Grupo Itamarati e posteriormente por outros grupos empresariais (FREIRE; FARIAS, 1998). Esse programa teve desenvolvimento continuo, sob condições irrigadas nos vales do rio Açu, em Ipanguaçu, no Rio Grande do Norte e no vale do cariri em Barbalha-CE. Por outro lado, o conhecimento e entendimento dos principais processos fisiológicos que ocorrem em cada estádio fenológico de cultivares do algodoeiro, são de grande importância para o manejo eficiente do cultivo e a conseguinte obtenção de altas produtividades. Portanto, cada fase do crescimento do algodoeiro se caracteriza por uma


C a p í t u l o I I I | 73 atividade fisiológica predominante, que demandam tipos e práticas culturais específicas que os produtores podem utilizar para otimizar o crescimento e produtividade da planta (VILLEGAS; RIVERA, 2011).

ORIGEM, BOTÂNICA E CARACTERÍSTICAS DAS VARIEDADES Origem - A variedade Del Cerro é um tipo de algodão de fibra extralonga correspondente à espécie Gossypium hirsutum e que se encontra classificado dentro da família Malvaceae, a mesma que compreende umas 1.500 espécies. É um polihíbrido obtido por Dean Stahmann no Estado de Novo México (USA) e foi introduzido no Peru por volta de 1957 e posteriormente no Brasil. O Centro Nacional de Pesquisa do Algodão da Embrapa em colaboração com a Companhia Nacional de Estamparia – CIANE, iniciou um trabalho de melhoramento do algodoeiro Acala del Cerro, a partir de sementes introduzidas do Peru, pela Algodoeira São Miguel, RN. Em fins de 1986, esse material foi lançado como nova variedade sob a denominação de CNPA Acala 1, estando sob a responsabilidade o seu melhoramento e conservação (EMBRAPA, 1987). Enquanto a cultivar BRS Acala foi obtida através do método de seleção genealógica aplicada em população de Acala Del Cerro mantida e melhorada pela Embrapa Algodão. Inicialmente a planta CNPA 96 - 117 foi selecionada dentro da progênie CNPA GIORGI 92/6 – 94/1 – 96/8, do Ensaio de Progênies de Fibras longas conduzido sob condições de irrigação em pivô central em Touros – RN e adaptadas às condições de produção brasileira. Atualmente, o algodão das cultivares Del Cero e BRS Acala existe em coleções de germoplasma da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. Aspecto Botânico - A Tabela 1 apresenta a seguinte classificação botânica do algodoeiro da variedade Del Cerro ou BRS Acala.


C a p í t u l o I I I | 74 Tabela 1. Classificação taxonômica do algodoeiro da espécie Gossypium hirsutum. Reino Divisão Subdivisão Classe Subclasse Ordem Família Gênero Espécie Variedade Fonte: Villegas; Rivera, 2011.

Vegetal Fanerógamas Angiospermas Dicotiledôneas Arquiclamídeas Malvales Malvaceae Gossypium Gossypium hirsutum Del Cerro; BRS Acala

Características das Variedades Del Cerro e BRS Acala - Essa variedade Del Cerro (G. hirsutum) conta com um número haploide de cromossomas 13 e é um tetraploide com 52 cromossomas em seu genoma somático. Além disso, trata-se de uma planta anual, de baixo porte com altura variando entre 0,6 m a 1,5 m. Seu talo é comumente verde e possui pouco ou nenhum ramo vegetativo. Os ramos frutíferos e as folhas tenras são filamentosos. Já as brácteas são mais compridas do que largas, geralmente divididas em 7 a 12 dentes longos acuminados. Com flores grandes e a corola de cor cremosa, que estendida geralmente é maior que as brácteas. As cápsulas grandes são redondas com 45 lóculos (Figura 1) e suas sementes são cobertas por línter. Além disso, o algodão da variedade Del Cerro produzido no Peru (também ocorre com a BRS Acala cultivada no Brasil), se distingue de todas as outras cultivares de algodão da espécie Gossypium hirsutum, r. Latifolium, graças às suas características únicas: as fibras são extralongas com comprimento comercial 36-38mm, muito resistentes e finas perfeitamente adequadas à elaboração de fios finos e linhas de costura (VILLEGAS; RIVERA, 2011).


C a p í t u l o I I I | 75

Figura 1. Formato arredondado da maçã do algodoeiro da variedade Del Cerro. Foto: INIA de Lambayeque, Peru.

Por outro lado, as plantas da cultivar BRS Acala apresentam porte médio, com altura de 116 cm, iniciam o florescimento nas condições do Nordeste aos 43 dias da emergência e o aparecimento do primeiro capulho ocorre aos 96 dias da emergência. Apresentam capulhos muito grandes, com peso médio de 7,0 g e baixo rendimento de fibras com 36% em algodoeiras de rolo e 33% em algodoeiras de serras. Sob condições irrigadas, no ano agrícola de 2000, apresentou produtividade média de 4.900 kg de algodão em caroço/ha e de 1.760 kg/ha de fibras em ensaios conduzidos nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Sob condições de sequeiro nos Estados do Ceará e Bahia apresentou produtividade de 2.719 kg de algodão em rama/ha e de 979 kg de fibra/ha. Sob condições de agricultura familiar do Mato Grosso, no ano de 2002, apresentou produtividade de 1.837 kg/ha de algodão em rama e de 661 kg de fibra/há (Tabela 2).


C a p í t u l o I I I | 76 Tabela 2. Análise comparativa da cultivar BRS Acala com a Acala SM3 e CNPA 1758H. Característica BRS ACALA ACALA SM3 CNPA 8H Rendimento sequeiro NE (kg/ha)1 2.719 3.210 Rendimento sequeiro MT (kg/ha)2 1.837 1.620 Rendimento irrigação (kg/ha)3 4.900 5.182 Altura média (cm) 116 115 100 Aparecimento 1ª flor (dias) 43 43 45 Aparecimento 1º. capulho (dias) 96 94 110 Peso médio de capulho (g) 7,0 6,2 6,5 Percentagem média de fibra (%) 36,0 37,8 38,6 1 – Médias de oito ensaios conduzidos nos Estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará; 2 – Médias de quatro ensaios conduzidos sob condições de agricultura familiar; 3 – Médias de três ensaios conduzidos nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará.

SISTEMA DE PRODUÇÃO O estabelecimento adequado do algodoeiro é essencial já que tem influência em seu desenvolvimento e interfere no manejo do cultivo. Consequentemente, à época, a profundidade, o espaçamento e a densidade de semeadura devem ser planejados de forma que o algodoeiro possa desenvolver ao máximo seu potencial produtivo. A qualidade das sementes (certificadas) utilizadas também é outro fator chave do êxito na etapa de semeadura. 1.Tipo de Solo Por ser o algodão de fibra extralonga um importante nicho de mercado, preferencialmente deveria selecionar para seu cultivo as áreas de baixio (Neossolos Fluvicos ou Solos Aluviais) do semiárido brasileiro ou em solos de textura média (franco-arenoso ou areno-argiloso) com boa porosidade e apresentando drenagem satisfatória. 2.Preparo do Solo Em terrenos que não são cultivados há muitos anos precisam ser destocados os arbustos e as árvores. Além disso, suas raízes e tocos são arrancados, pois causam sérios problemas ao equipamento utilizado no algodoeiro. O preparo adequado do solo é de grande importância para o desenvolvimento do algodoeiro, por proporcionar melhor crescimento e distribuição do seu sistema radicular. Também permite estar em condições de absorver os nutrientes que se encontram no solo


C a p í t u l o I I I | 77 pelo menos a 0,80 cm de profundidade. Portanto, recomenda-se passar o subsolador em solo seco (antes da irrigação) a 40 ou 60 cm de profundidade para romper as camadas duras do solo. Deve-se repetir o preparo com subsolador a cada 3 ou 4 anos, sobretudo em solos argilosos, limosos e francos. Quando existe camada compacta no solo aos 30 cm de profundidade, o sistema radicular da planta iniciará um crescimento lateral, cujo cultivo irá exigir de irrigação por infiltração com mais frequência. Mesmo assim, as plantas ficarão pequenas e também ocorrerá maior queda de botões florais. Uma vez realizada a irrigação por inundação ou aspersão (a umidade do solo deve estar entre 40 a 50%), efetua-se o serviço de aração com aivecas para eliminar os restos de plantas daninhas, restolhos da colheita anterior e para expor diversos estágios das pragas à ação dos predadores e do sol. Para determinar empiricamente se o solo atingiu a umidade ideal de 40% ou 50%, é necessário coletar uma porção de terra e apertá-la fortemente com a mão até formar uma pasta. Imediatamente, deixa a pasta cair a uma altura de aproximadamente 1,5 m sobre uma superfície plana e dura. Se ocasionar seu destorroamento, significa que o solo está em ótimas condições para arar (VILLEGAS; RIVERA, 2011). Em solos já trabalhados com o subsolador, o preparo do campo é realizado em dois sentidos com o arado de disco e a gradagem. Esse preparo do solo deve ser feito antes do plantio, a fim de permitir o intemperismo (o destorroamento do solo e a decomposição dos resíduos da colheita). Os restolhos da colheita anterior podem apresentar problemas para a plantadeira de algodão no momento da semeadura. Aplica-se a dosagem de 40 kg/ha de superfosfato triplo no início do preparo do solo (arado e gradagem), de maneira que possa ser incorporado no estágio de sulcamento e formação de camalhões (leirões). Os leirões devem ter de largura de 152,4 cm (5 pés) ou 167,6 cm (5 pés. 6") (BELL, 2004). O sulcador de disco é usado para fazer os leirões na altura recomendada de 15-20 cm (68"), de modo a permitir a drenagem adequada do terreno (Figura 2). A preparação do solo deve ser concluída até o final de janeiro para atender a temporada de plantio que começa na segunda quinzena de fevereiro até a primeira quinzena de março. Através da adubadora


C a p í t u l o I I I | 78 mecânica, aplica-se o adubo químico junto as fileiras de algodão plantadas sobre os leirões.

Figura 2. Adubadora mecanizada com dois depósitos, sendo que em cada depósito de adubo tem duas mangueiras, bifurcadas em V invertido, para distribuir os fertilizantes químicos junto às fileiras de algodão plantadas sobre os leirões. Foto: Peter Bell (2004).

3.Seleção de Campo e Medidas de Conservação do Solo A seleção de campo deve ser feita tendo em mente as considerações de conservação do solo e colheita do algodão. Como maneira para atenuar as perdas por erosão existe uma série de práticas conservacionistas; pela simplicidade e eficiência podem-se recomendar as seguintes: 1. Os campos devem ser escolhidos próximos às comunidades para aqueles que irão colher o algodão em rama; 2. Recomenda plantar o algodão em terras planas, tanto quanto possível, para evitar a erosão do solo. Os terrenos com uma inclinação de 15 graus ou mais não devem ser usados para a produção de algodão. 3. Sulcamento ao longo dos contornos em terrenos inclinados; 4. Implantação de drenos no terreno para proteger de chuvas potenciais;


C a p í t u l o I I I | 79 5. Utilização de sulcos de retenção conforme preconizado no sistema de lavoura seca com o plantio de gliricídia ou cana de açúcar; 6. Cultivo em curva de nível nas declividades acima de 5%; É conveniente a utilização de mais de uma prática conservacionista ao mesmo tempo, como cultivo em nível e rotação de culturas para melhor eficiência e controle da erosão. Nos cultivos em faixas, a distância entre elas é determinada através de tabelas apropriadas de acordo com a declividade do terreno. Como regra geral deve-se evitar o plantio a favor das águas e sim, plantar em nível ou em sentido perpendicular à caída das águas. 4.Cultivares Para o plantio do algodão nas comunidades rurais do semiárido, praticamente estão sendo utilizadas as cultivares de fibra extralonga: Del Cerro e BRS Acala, as quais poderão ser disponibilizadas (poucas sementes) pelo Banco de Germoplasma da Embrapa Algodão para a sua multiplicação por uma empresa de sementes ou associação de produtores. 5. Época de Plantio Recomenda-se plantar o algodão BRS Acala em condições de sequeiro da região Nordeste no início das chuvas (fevereiro e março) com suplementação de irrigação por gotejamento. Também em áreas irrigadas após o período chuvoso. O agricultor deve usar a semente certificada e nunca semear o caroço de algodão distribuído diretamente pelas usinas algodoeiras da região. Para as variedades de algodão Del Cerro e BRS Acala, recomenda-se utilizar 15 kg de sementes/ha (deslintadas quimicamente) em semeadura mecanizada e 30 kg/ha em semeadura manual (não deslintadas). 6. Semeadura e sua Profundidade A semeadura do algodão pode ser realizada por três métodos: semeadora mecânica atrelada por um trator, com tração animal e manualmente. Os dois últimos sistemas podem ser ideais para os pequenos produtores de escassos recursos financeiros e para áreas de até 2 ha (Figura 3). Antes de plantar, é necessário que a semeadora seja regulada para garantir uma boa distribuição de sementes por metro linear, inclusive controlando a profundidade de semeadura para que as sementes não sejam colocadas na superfície do solo, ou não mais que 5 cm (2”) no solo (BELL, 2004).


C a p í t u l o I I I | 80

Figura 3. Abertura de sulco irrigação a tração animal e semeadura manual de sementes de algodão da cultivar Del Cerro, auxiliado por uma pá para abrir as covas (espaçamento já demarcado a cada 30 ou 40 cm na corda ou cano de PVC) e, ao mesmo tempo, depositar as sementes ao lado do sulco de irrigação. Fotos: Marité Nieves Rivera, Lambayeque, Peru.

Na semeadura manual, as sementes são colocadas no solo a uma profundidade de 3-5 cm (1-2"). Em cada cova, são depositadas 2-4 sementes por cova. No momento do plantio, recomenda-se pressionar o solo que cobre as sementes. As covas devem ser abertas ao longo dos leirões. Deve-se colocar no sulco ou cova uma quantidade de sementes superior à densidade desejada, a fim de evitar o replantio. Recomenda-se iniciar o plantio quando tiver chovido aproximadamente 12,7 mm, ao invés de antecipá-lo.


C a p í t u l o I I I | 81 As sementes tratadas (Vitavax-Thiram 200 SC) deverão ser distribuídas no período mais próximo possível da data real de plantio, a fim de evitar o armazenamento em longo prazo nas propriedades. No caso de ser necessário o armazenamento, as sementes devem estar estocadas em uma sala bem ventilada e sobre estrado de madeira. Sob nenhuma circunstância as sementes tratadas devem ser umedecidas. Imediatamente após o plantio, um herbicida pré-emergente é aplicado, e definitivamente não mais que 36 horas após o plantio. Uma combinação de Prowl (Pendimethalina 50%) e Gramoxone (Paraquat) pode ser usada. Também o herbicida Treflan ou Cotoran pode ser usado como pré-emergente. A profundidade de semeadura varia com a textura do solo, melhor preparo do solo, maior teor de umidade e de contato da semente no solo. Em solos argilosos ou úmidos, se deve semear a uma profundidade de 3 cm; em solos arenosos, a profundidade de semeadura é de 5 cm. De forma geral, quanto mais úmido for o solo menor deverá ser a profundidade de semeadura. 7.Emergência de Plântulas Uma vez plantada a semente, e em presença de umidade, se inicia o processo de germinação. O primeiro órgão que se emerge é a radícula ou raiz embrionária, e dará lugar à raiz principal, a qual permite à planta jovem fixa-se no solo e absorver água. A fase de plântula tem a duração de 12 a 20 dias, e qualquer intempérie do clima poderá comprometer o desenvolvimento posterior. No caso do solo está compactado, salino, ou com excessiva umidade, o sistema radicular não se desenvolverá, a planta ficará frágil e a maioria das raízes irá se concentrar a pouca profundidade. Isso provocará o seu acamamento, menor tamanho final e naturalmente, perdas na produção individual. Deve-se evitar também a competição de plantas daninhas, à qual é uma época crítica compreendida entre os 20 a 60 dias depois da semeadura. Ao mesmo tempo, deve-se evitar a concorrência entre as plantas de algodão, sendo assim necessário realizar o desbaste na época oportuna entre os 25 a 30 dias de idade da lavoura (VILLEGAS; RIVERA, 2011).


C a p í t u l o I I I | 82 8.Espaçamento e Densidade de Plantio A Embrapa (1987) recomenda usar na semeadura manual do algodoeiro herbáceo, cultivar BRS Acala, o espaçamento de um metro entre fileiras com 30 cm entre covas, deixando-se após o desbaste duas plantas/cova (66.000 plantas/ha; Figura 4). Enquanto na semeadura mecanizada, regular a semeadora para deixar cair 12 a 15 sementes deslintadas quimicamente (ácido sulfúrico na proporção de um litro de ácido para cada 7 kg e depois neutralização com uma solução de 5% de hidróxido de sódio) por metro linear no espaçamento de um metro entre sulcos, deixando-se sete a dez plantas por metro linear após desbaste (70.000 a 100.000 plantas/ha). Portanto, quando se muda apenas o sistema de semeadura, em cova ou em sulco, obtém-se uma diferença de 4.000 a 34.000 plantas/ha.

Figura 4. Campo de algodoeiro de fibra extralonga, cultivar BRS Acala, instalado no Vale do Assu, RN e semeado no espaçamento de 1 metro entre sulcos com 10 plantas por metro linear. Foto: Eleusio Curvelo Freire.

A resposta do algodoeiro em relação com a densidade das plantas é complexa e compromete aspectos ecofisiológicos. Em termos práticos se tem estabelecido que a densidade ótima é aquela quando a época de máxima floração, os ramos das plantas


C a p í t u l o I I I | 83 cheguem a cobrir toda a superfície entre fileiras, sem deixar espaços vazios e sem que apresente entrelaçamento entre eles. As variações na densidade de semeadura afetam o crescimento e o desenvolvimento do algodoeiro. A altura das plantas, o diâmetro do caule, a altura de inserção do primeiro ramo frutífero, o número de ramos vegetativos e reprodutivos, são algumas das características morfológicas do algodoeiro significativamente afetado pela densidade de semeadura. Assim mesmo, tem sido determinado que os componentes de produção, como o número de maçãs, peso do capulho e peso de 100 sementes, tendem a reduzir seus valores com o aumento da densidade de plantio. 9. Desbaste Consiste em eliminar certo número de plantas até alcançar a população ideal ou prefixada por unidade de área. Normalmente com uma boa preparação do terreno, e semeadura de precisão com sementes deslintadas quimicamente, essa prática não será efetuada. Entretanto, a maior parte dos pequenos agricultores é acostumado em semear além da quantidade requerida (depositando acima de 6 sementes por cova) e não executa a operação de desbaste (Figura 5). No entanto, na hipótese de germinarem de 2 a 3 plantas/cova, esta operação se torna dispensável (FREIRE et al., 1992).

Figura 5. Recomenda-se efetuar manualmente a operação de desbaste para 2 plantas por cova. Foto: INIA, Peru.


C a p í t u l o I I I | 84 Além disso, tal operação demanda grande quantidade de mão-de-obra, principalmente quando não são utilizadas sementes certificadas e não deslintadas quimicamente. É importante realizar essa operação o mais cedo possível, quando as plântulas tenham de 2 a 3 folhas verdadeiras (15 a 20 dias desde a germinação), 18 cm de altura e uma vez que não exista maior risco de mortandade de plantas por ataque de pragas e/ou doenças (VILLEGAS; RIVERA, 2011). 10.Fenologia e Caracterização do Algodoeiro Del Cerro O crescimento da planta de algodão se divide em estádios ou fases (Tabela 3). A duração de cada um dele pode variar e é influenciado pelo sistema de cultivo (sequeiro ou irrigado) e por fatores ambientais. Para alcançar os máximos rendimentos de cada variedade com baixo custo, é necessário que os trabalhos de manejo de cultivo sejam aplicados e realizados de maneira oportuna e eficiente, de acordo com as etapas fenológicas de crescimento e desenvolvimento do algodoeiro (Figura 6).

Tabela 3. Estádio fenológico e características do algodoeiro, variedade Del Cerro. Lambayeque, Peru, 2011. ESTÁDIO FENOLÓGICO Emergência Aparecimento das primeiras folhas verdadeiras Aparecimento do primeiro botão floral Início da floração Início da abertura do capulho CARACTERÍSTICAS DA PLANTA Tipo de planta Hábito de crescimento Cor da Planta Forma da folha Número de ramos vegetativos Número de ramos frutíferos Número de nós Posição nodal Comprimento de internódios (cm) Altura da planta (cm) Número de sementes por capulho Massa de 100 sementes (g) Porcentagem de sementes (%) Número de cápsulas por planta Percentagem de fibra (%) Comprimento da fibra (mm) Rendimento de algodão e rama – Experimental (kg/ha) Rendimento de algodão e rama – Comercial (kg/ha)

Fonte. INIA, Peru.

N° de dias 7 a 9 (média 8) 12 a 14 (média 13) 31-33 (média 32) 50-52 (média 51) 111-113 (média 112) Cônica Determinado Verde Palmada 1,2 13,5 18,6 4,0 5,5 130 -140 36-45 12,2 63,28 35-50 36-37 34-38 6.440 3.680 - 4.600


C a p í t u l o I I I | 85

Figura 6. Campo de algodoeiro Del Cero em fase inicial de floração. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

11. Irrigação Pode ser realizada pelos métodos de superfície (volume total de 8.500 m 3/ha), gotejamento (5.00 m3/ha) ou aspersão em função da topografia do terreno. O manejo de água deve ser feito de acordo com a orientação técnica, considerando-se as características físico-hídricas do solo e a demanda da cultura. Não existindo informações disponíveis sobre as características acima, sugere-se irrigar as plantas entre 9 h, e 9 h:30m, apresentarem sintomas de murcha das folhas superiores com coloração verde azulada e mudança de coloração dos brotos terminais. Deve-se aplicar uma lâmina de água que seja suficiente para umedecer o perfil do solo explorado pelo sistema radicular do algodoeiro (EMBRAPA, 1996). A irrigação por infiltração deve ser aplicada com maior uniformidade possível com o objetivo de alcançar uma camada úmida do solo de 50 a 70 cm de profundidade, sendo a exigência no florescimento de 10 mm/dia de água. Deve levar em conta a variabilidade de textura do terreno para diferenciar a duração da irrigação por inundação (VILLEGAS; RIVERA, 2011). O manejo inadequado das irrigações é um dos fatores que mais tem limitado o rendimento do algodoeiro, cujo déficit de umidade no solo (MILLAR, 1976; GUINN et al., 1981) ou o excesso (LEVIN; SHMUELI, 1964; BRUCE; ROMKENS, 1965) pode causar redução significativa no rendimento da cultura.


C a p í t u l o I I I | 86 12. Controle de Plantas Daninhas - As plantas daninhas reduzem significativamente o rendimento do algodão. Portanto, o bom controle de ervas daninhas é importante para o sucesso da produção de algodão. As ervas daninhas podem ser controladas: a) Manualmente - Seu baixo rendimento aliado à elevação do custo e escassez de mão-deobra no campo torna-o uma operação onerosa; b) Mecanicamente – A remoção de ervas daninhas com cultivadores entre as fileiras é bastante eficiente, principalmente com implementos que podem ser acoplados ao trator (ou microcultivador tipo Tobata, deve-se iniciar as limpas 5 dias após a emergência das plantas). Entretanto, esse controle mecânico pode ser continuado até o fechamento da copa do algodoeiro ou início da floração; e c) Quimicamente – Os herbicidas de pré-emergência são geralmente aplicados em solo preparado sem mato para a supressão de ervas daninhas, imediatamente após o algodão ter sido plantado e antes da germinação ocorrer (não tardar mais que 36 h). Enquanto os herbicidas pós-emergência devem ser usados com muito mais cuidado do que as aplicações de pré-emergência, apenas alguns deles podem ser pulverizados com segurança por cima das plantas de algodão. A maioria dos herbicidas pós-emergentes é aplicada como uma pulverização direcionada, cobrindo o espaço entre linhas, mas não atingindo as linhas ou plantas de algodão. Recomenda-se usar os bicos de jato de ar com proteções protetoras (BELL, 2004). Com base nos dados desatualizados obtidos até o ano de 2004, a seguir alguns herbicidas (Tabela 4) que são comumente aplicados no algodoeiro Sea Island, cv. Montserrat de fibra extralonga: Tabela 4. Relação dos herbicidas aplicados no algodoeiro de fibra extralonga. Herbicidas Fusilade Daconate (MSMA) N.B.

Dosagem/ Característica 1,1-1,7 1itros/acre (2-3pts /acre) - mais eficaz em gramíneas jovens, se aplicado antes que eles atinjam o estágio de florescimento. 1,1-2,9 litros/acre (2-5pts / acre) - é mais eficaz como um spray dirigido quando o algodão está acima de 10 cm (4 ") de altura. Pode haver alguma descoloração vermelha nas plantas que eventualmente desaparece. Recomenda-se não usar esse herbicida após o início da floração.

Esse é um herbicida muito semelhante ao Daconate e aplicam-se as mesmas condições e precauções. Fonte: Peter Bell (2004). DSMA

14.Amostragem de Solo – A partir de uma amostragem correta do solo, é feita a análise dos atributos químicos, uma técnica de rotina utilizada para avaliar os requisitos de fertilizantes para a cultura. Isso, no entanto, depende da amostragem adequada do solo,


C a p í t u l o I I I | 87 uma vez que apenas uma quantidade muito pequena de solo é analisada (Figura 7). Um mínimo de 20 amostras deve ser retirado aleatoriamente a duas profundidades do campo: A) Zero -30 cm (0” – 12”) e B) 30-60 cm (12” – 24”). As amostras em sacos e rótulos devem ser identificadas com as seguintes informações: Nome do campo, data da amostragem, profundidade da amostragem e estado do solo (úmido ou seco). As amostras podem ser levadas para o Laboratório de Solos (BELL, 2004).

Figura 7. Retiradas de amostras de solos para análise de laboratório.

É importante frisar que sementes de algodão com potencial genético de produção exigem terra boa e fértil e que depois de preparadas, facilite a boa germinação das sementes e o desenvolvimento normal das plantas, condições para que possam resultar em lavouras que venham produzir satisfatoriamente. 15.Adubação– O agricultor precisará modificar a formulação da adubação com base nos diferentes tipos de solo e regimes de chuva que ocorrem no semiárido brasileiro. Geralmente o fertilizante superfosfato triplo é aplicado a uma taxa de 40 kg/ha que deve ser aplicado em fundação antes do plantio e incorporado abaixo da profundidade de semeadura. Enquanto em cobertura, aplica-se a quantidade de 40 kg/ha de sulfato de amônia dividida em duas partes: 50% durante a semeadura e mais 50% no início da floração (cerca de 8-10 semanas após a semeadura) junto com 40 kg/ha de cloreto de potássio. As plantas que mostram uma cor amarela pálida são geralmente uma indicação de falta de nitrogênio e o cloreto de potássio é utilizado para aumentar o nível de floração, uma vez que a planta tenha entrado no estádio reprodutivo. O algodoeiro geralmente responde bem aos fertilizantes foliares. Deve-se escolher um fertilizante foliar que contenha enxofre (S), Zinco (Zn), Magnésio (Mg) e Boro (B). Estes podem ser aplicados durante o desenvolvimento da cultura (BELL, 2004).


C a p í t u l o I I I | 88 16.Capação A operação de desponte consiste em eliminar a gema terminal da haste principal e dos principais ramos vegetativos que têm um desenvolvimento pronunciado e exagerado. Ao executar tal prática evita a continuação do desenvolvimento vegetativo da planta, quando se observa que sua altura sobrepassa os limites habituais, alargando-se o talo ou ramos principais em detrimento da formação ou maturação dos órgãos frutíferos. O momento de efetuar o desponte tem grande importância para o êxito da operação em época em que as gemas terminais ainda estão tenras e quebradiças, coincidindo com o atingimento de 50% da floração da população de plantas (apenas 44% dos capulhos são formados na planta); a produção se localiza também nos ramos vegetativos da base da planta, os quais atuam como verdadeiros talos principais. Essa operação manual de capação irá resultar no incremento de órgãos frutíferos e irá favorecer os rendimentos, principalmente nas últimas colheitas (segunda ou terceira etapa de colheita) do algodão em rama (VILLEGAS; RIVERA, 2011). 17.Controle de Pragas As pragas que atacam e danificam os botões florais, flores e cápsulas de algodão são geralmente mais perigosas do que aquelas que atacam apenas as folhas. Por isso, o bicudo (Anthomonus grandis), a lagarta rosada (Pectinophora gossypiella) e as lagartas da maçã (Heliothis spp) são as mais sérias. De maneira resumida, observam-se nas Tabelas 5 e 6 as medidas de controle com inseticidas das principais pragas do algodoeiro constatadas em lavouras do semiárido.


C a p í t u l o I I I | 89 Tabela 5. Medidas de controle com inseticidas adotadas para as principais pragas da cultura do algodão. PRAGAS

MEDIDAS DE CONTROLE

Broca da raiz (Eutinobothrus brasiliensis)

Ocorre de 10 a 40 dias após o nascimento da planta. O dano é provocado por uma lagartinha que ao se alimentar cava galerias em espiral nas raízes e caule da planta, provocando a morte desta. O controle é preventivo, devendo-se tratar as sementes com produtos a base de Carbofuran (Diafuran 50 e Furadan 50), na dosagem de 30 a 40 gramas por 100 Kg de semente. Se a infestação ocorrer com 20 a 30 dias de idade, recomenda-se realizar pulverização dirigida à base da planta (colo).

Bicudo (Anthomonus grandis)

Ataca os botões florais e as maçãs jovens. Os botões florais se tornam mais amarelos e caem no chão. O bicudo ataca desde o aparecimento dos primeiros botões até a abertura dos primeiros capulhos. Para controlar essa praga utiliza-se além do controle químico (Parathion Metílico (95%); Etofenproxi (87,5%); Malathion e Alfacipermetrina (82,5%); e Carbosulfan (80, entre outros), e medidas complementares como: plantio uniforme, plantio isca ou armadilha, catação de botões florais atacados e caídos ao solo, períodos livres de plantio, rotação de culturas, aplicações de soluções com pó de caulim e arranquio e queima dos restos culturais.

Lagarta rosada (Pectinophora gossypiella)

As lagartas mais desenvolvidas apresentam coloração rosada. Os primeiros danos ocorrem nos botões florais, impedindo a abertura da flor, formando uma roseta que impede a formação da maçã. Quando o dano ocorre na maçã, essas lagartas podem destruir completamente as fibras e sementes, ocasionando o sintoma de carimã. Aplicação de Acephate® (1 libra por acre) ou Actara® (34 gm por acre) ou Lorsban® (2 pt por acre) e Controle Biológico (liberação de Trichogramma spp.). Controle Cultural: destruição das soqueiras e semeadura na época adequada e observância do vazio sanitário estabelecido no período de 1 de maio a 15 de agosto.

Lagarta da maçã (Heliothis spp).

O dano causado por esses insetos ocorre desde os primeiros botões florais até a colheita. É caracterizada por pequenos orifícios de entrada nos botões florais e cápsulas e muitas vezes muitos desses botões florais danificados caem no chão. O controle químico é difícil, pois essas pragas tendem a aumentar a resistência a inseticidas. Deve-se usar um inseticida de um grupo químico diferente a cada pulverização. Inseticidas: aplicação de Acephate® (1 libra por acre) ou Actara® (34 gm por acre) ou Lorsban® (2 pt por acre) e aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis). Controle Cultural: destruição das soqueiras, armadilha de feromônio e semeadura na época adequada. Controle Biológico: (liberação de Trichogramma spp.).

Tripes (Thrips spp.)

São insetos perfuradores e sugadores, que se reproduzem tanto sexualmente quanto assexuadamente, e as populações muito grandes se formam muito rapidamente em até 20 dias de idade da planta. Podem ocorrer ataques na fase de frutificação. Os tripes se alimentam na parte de baixo das folhas de algodão, que mais tarde ficam marrons no lado superior e prateadas antes de caírem. Com ataques muito pesados, os campos podem ser completamente desfolhados. Os ataques de tripes são


C a p í t u l o I I I | 90 mais pronunciados em períodos secos. Inseticidas: Aval® ou Flip® (25 gm por acre) ou Newmectin® (50 ml por acre). Lagarta do (Spodoptera spp).

cartucho

Massas de ovos são colocadas sob as folhas na base, no ponteiro e nas brácteas dos botões florais e maçãs. Fêmeas ovipositam até 1000 ovos. Lagartas raspam o parênquima das folhas e posteriormente migram para outras plantas. Danos: ocasionam desfolhamento, mas também perfuram botões florais e maçãs ao se alimentarem. Inseticidas: Agree® (1 lb por acre) ou NewBtR (1,5 pt por acre).

(Alabama

Os ovos desta larva verde e preta são colocados individualmente na superfície superior das folhas. Larvas podem desfolhar as plantas de algodão, reduzindo o seu potencial fotossintético e, dependendo da intensidade e fase de crescimento da planta, pode ocasionar sérios prejuízos à produção. Quando o ataque ocorre no início da abertura dos capulhos, provoca a maturação forçada de maçãs imaturas afetando a qualidade e o peso, e também a deposição de fezes sobre as fibras depreciando-as. Inseticidas: Agree® (1 lb por acre) ou NewBtR (1,5 pt por acre).

Mosca branca / Bemisia spp.

Sua infestação é mais frequente em período de seca. Sucção de seiva (grandes infestações depauperam a planta) causam a mela e a queda de folhas, afetando a produção. Favorecem a fumagina. Vetor de virose “mosaico comum”. Controle Cultural: uniformidade de plantio, culturaarmadilha (gergelim), destruição dos restos de cultura, rotação de cultura (milho), monitoramento do campo com Tubo Mata Bicudo e instalação de barreiras vegetais de sorgo ou milho, implantadas de forma perpendicular à direção predominante dos ventos. Controle químico: Admire® (1.5 pt lacre) ou Aval® (100 gm por acre).

Pulgão / Aphis gossypii

Esses pequenos insetos verdes são vistos no início da colheita, alimentando-se de brotos jovens e na parte de baixo das folhas jovens. Eles causam o enrolamento das folhas e, em infestações intensas, podem causar formação de fuligem nas folhas e algodão em caroço. A presença de besouros de joaninha e crisopídeos (Chrysopa) no campo fornecem controle natural dos pulgões. Em condições de surto, um dos seguintes inseticidas pode ser usado para o controle de afídeos: Orthene® (11b por acre) Perfekthion® (1 pt por acre) Admire® (1,5pt por acre) Aval® (100 gm por acre).

Ácaro (rajado, vermelho e branco)

Ocorre no inicio da formação das maçãs até a sua maturação. Habitam a parte inferior das folhas na região do ponteiro da planta (ácaro branco) e na região do terço médio da planta (ácaro vermelho e rajado). Causam necroses, manchas avermelhadas, folhas com bordas voltadas para cima, secamento e queda. O controle é feito através de defensivos: Vertimec 18 CE (Concentração Emulsionante), Hostathion 400 CE, Curacron 500 CE.

Curuquerê argilacea)

Fonte: Peter Bell (2004). Obs: A relação dos inseticidas indicados para o algodão das Tabelas4 e 5 poderá estar desatualizada.


C a p í t u l o I I I | 91 Tabela 6. Alguns produtos químicos recomendados para controle de pragas de algodão. Inseticidas

Ingrediente Ativo

Modo de ação

Grupo Químico

Thamethoxam

sistematico

Thiamicotinyl

Aval

Acetamiprid

sistematico

Neonicotinoide

Flip

Fipronil

sistematico

Phenylpyrazole

Imidacloprid

sistematico

Neonicotinoid

Abamectin

Contato/ Ingestão

Avermectin

Agree

(B.t.), subespeciesAizawai

Ingestão

Bactericida

NewBt

B.t. Kurstaki

Ingestão

Bactericida

Orthene

Acephate

Contato/ Ingestão

Organophosphate

Lorsban

Chlorpyrifos

Contato/ Ingestão

Organophosphate

Perfekthion

Dimethoate

sistematico

Organophosphate

Actara

Admire Newmectin

Fonte: Peter Bell (2004). Obs: A relação dos inseticidas indicados para o algodão da Tabela 3 poderá estar desatualizada.

O bicudo é considerado a principal praga dos algodoeiros nas Américas. Na microrregião do Seridó do Nordeste, as condições edafoclimáticas influem de forma significativa na redução do nível populacional das pragas (broca e bicudo). O algodoeiro BRS Acala cultivado, em regime de irrigação, numa área do Seridó com insolação excessiva, onde esse solo abrasador, com temperatura acima de 60ºC funcionaria como fator limitante para a sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo (RAMALHO, 1994). Este controle climático através da dessecação constitui-se no principal fator de mortalidade natural de larvas, pupas e adultos pré-emergentes do bicudo. 18.Amostragem de Pragas É o exame cuidadoso de plantas selecionadas ao acaso dentro de um campo de algodão. É possível identificar em campos as pragas ainda na sua fase jovem e facilmente combatêlas quando o agricultor é orientado pelos técnicos como realizar no seu campo o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Toda a planta deve ser examinada, isto é, as superfícies superiores e inferiores das folhas, os brotos florais, as flores e as maçãs, pois o cotonicultor está essencialmente à procura de pragas em qualquer fase do seu ciclo de vida (ovos, larvas, pupas ou adultos). Por isso, tomadas de decisão para aumentar e


C a p í t u l o I I I | 92 preservar as populações de inimigas naturais dentro do ecossistema algodoeiro são ações promissoras, técnicas e ecologicamente viáveis e poderão resultar em grande economia para os agricultores, em melhoria na qualidade do meio ambiente e na redução dos problemas de saúde pública decorrentes do uso indiscriminados de produtos químicos (ALMEIDA et al., 2008). No manejo de pragas, se pode tolerar um número mínimo de artrópodos-praga sobre as plantas, que servirão de alimento para outros artrópodos benéficos, sem o comprometimento da produção (BLEICHER, 1990). Antes de determinar seu plano de ação, é preciso avaliar se as pragas encontradas atingiram seus níveis de danos. Verificando 25 a 50 plantas bem espalhadas em áreas homogêneas, em caminhamento em ziguezague, o agricultor terá uma boa indicação do que está acontecendo em todo o campo (Figura 8). Esses exercícios de reconhecimento devem ser datados e registrados nos formulários apropriados. A amostragem de pragas deve ser feita pelo menos duas vezes por semana, principalmente a partir do surgimento dos botões florais. A eficiente gestão do campo dependerá das informações coletadas e também de qualquer ocorrência incomum verificada na área do algodoeiro (BELL, 2004).

Figura 8. Identificação de pragas periodicamente em campo de algodão, seguindo a técnica de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Foto: Raul Porfírio de Almeida.


C a p í t u l o I I I | 93 19.Doenças do Algodoeiro Como a incidência de doenças foliares e de solo é baixa na região Nordeste, portanto, as variedades do algodão G. hirsutum e arbóreo não foram ainda avaliadas nos ensaios pela Embrapa Algodão com relação ao seu grau de resistências às doenças. As variedades de algodão de fibra extralonga se destinam preferencialmente para os agricultores familiares do semiárido do Nordeste. Se considerarmos apenas a região semiárida, as doenças da parte área possuem menor importância, enquanto que aquelas veiculadas pelo solo, especialmente a murcha-defusário, possuem maior relevância. Isso se deve principalmente ao fato do agente causal dessa doença, ser transmitido pelas sementes, ser capaz de sobreviver por vários anos no solo, mesmo na ausência de seu principal hospedeiro, e não dispor de métodos curativos de manejo, que sejam eficazes e economicamente viáveis (HILLOCKS, 1992). 20.Colheita Manual A colheita do algodão consiste em separar o capulho já formado e maduro das brácteas secas das cápsulas abertas. Iniciar a operação de colheita quando a lavoura esteja com mais da metade da sua carga aberta e deverá ser realizada com todo cuidado para não prejudicar a qualidade do algodão. Recomenda-se colher a partir das 9:00 h e em dia ensolarado, e sem a presença do orvalho. A colheita manual é o método mais apropriado para pequenas áreas da agricultura familiar. Um operário tem a capacidade de colher até 45 kg de algodão em rama por dia. Apesar do baixo rendimento e o inconveniente de terceirizar a mão-de-obra, a colheita manual permite obter algodão em rama mais limpo, desde que se efetue uma boa supervisão de campo (Figura 9).


C a p í t u l o I I I | 94

Figura 9. Campo de algodão Del Cerro sendo colhido manualmente. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.

A colheita manual deve ser iniciada quando 70 a 80% dos capulhos estiverem abertos, enquanto a segunda colheita com 30% e 20% para o restante. Se possível separar o algodão sujo do limpo e evitar colher carimã ou capulho mal aberto, plantas daninhas, frutos verdes e atacados, terras, resíduos vegetais, etc. O algodão colhido com umidade superior a 12% deve ser de imediato secado ao sol. Não deve deixar seu produto exposto por muito tempo à insolação, visto que é prejudicial (mínimo com 7% de umidade), pois começam os desgastes a partir da cera que cobre a cutícula (PASSOS, 1977). À medida que o algodão vai sendo colhido, o mesmo deverá ser estendido sobre um lençol de algodão para limpá-lo, extraindo manualmente todos os materiais estranhos. Recomendase não utilizar sacos ou cordões de plástico, para evitar a contaminação da fibra e sua rejeição pela indústria têxtil. Uma colhedora de algodão de funcionamento parecido a um aspirador de pó, tendo como mochila um motor de sucção (peso de 3,5 kg) junto a um saco transparente para acumulação do algodão (Figura 10), foi validada pela Embrapa Algodão numa unidade demonstrativa de algodão da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE. Os técnicos observaram que o equipamento é capaz de colher 80 kg/dia de algodão em rama, sendo esse desempenho considerado o dobro da quantidade colhida manualmente (40 kg/dia). Uma vez completado o saco coletor com algodão, o mesmo


C a p í t u l o I I I | 95 deverá ser substituído por outro saco de reserva, assim fazendo poderá haver um incremento na quantidade de algodão em rama colhido por dia.

Figura 10. Colhedora de algodão tipo costal (motor e saco coletor de algodão) com tubo de sucção usado na colheita do G. barbadense no pequeno campo de Chincha, Peru. Fotos: Gonzalo Tejada.

21.Aplicação de Dessecantes no Algodoeiro antes da Colheita Mecanizada A desfolha do algodoeiro é um processo natural que ocorre quando estas estruturas se tornam fisiologicamente maduras. A queda das folhas (abscisão) resulta de atividades de células especiais da base do pecíolo que a fixa a haste central do caule ou dos ramos vegetativos e frutíferos. Esta área é denominada de “camada de abscisão”. A desfolha pode ser causada também por geadas, doenças, estresse hídrico e deficiência mineral. O fenômeno de desfolha, no entanto, pode ser induzido artificialmente através de produtos químicos (BAKER et al.,1968). O uso de produtos químicos como meio de facilitar a colheita tem por propósito reduzir o conteúdo de umidade da folhagem quando se usam colheitadeiras arrancadoras (stripper harvester) e induzir a queda das folhas para colheitadeiras com fusos (spindle harvester) (UNIVERSITY OF TENNESSEE INSTITUTE OF AGRICULTURE, 1994).


C a p í t u l o I I I | 96 A desfolha pode ser usada quando a última maçã fisiologicamente madura com interesse de colheita estiver entre 3 a 5 nós acima do capulho mais alto. Para checar a maturidade da maçã, sugere-se cortá-la em cruz com um canivete afiado. Quando o fruto estiver maduro, haverá resistência ao corte, às sementes estarão completamente cheias e não haverá gelatina no centro. A colheita mecanizada do algodão na presença de folhas verdes provocará a contaminação com restos foliares, que aumentará a umidade e produzirá manchas de clorofila na fibra, afetando a qualidade do produto; portanto, recomenda-se a aplicação de desfolhantes quando 70 a 80% dos frutos ou capulhos estiverem abertos e a desfolha ocorre entre 7 a 15 dias após a aplicação do produto. No caso de grandes áreas recomendase fazer a desfolha de forma escalonada, compatível com a capacidade de colheitas das máquinas. É utilizada uma máquina colheitadeira específica na lavoura de algodão, sendo necessária uma prévia pulverização com dessecante químico (Glifosato; Paraquat; Thidiazuron (Dropp 50 PM); Bramoxinil (Buctril/Rhône Poulenc, etc) na época de maturação dos frutos, pois aplicações precoces causam redução na produtividade do algodoeiro e na qualidade da fibra. Dependendo do tamanho da área cultivada do algodoeiro, o dessecante poderá ser aplicado por meio de trâmpulo (Figura 11). Após sete a doze dias de secagem, a máquina colheitadeira é utilizada sobre as plantas secas. A finalidade da utilização dos dessecantes é acelerar e uniformizar a secagem das plantas de algodão, eliminar os inconvenientes causados à colheita por reinfestação tardia de plantas daninhas e liberar mais cedo as áreas menos infestadas para a sucessão cultural, além de facilitar a colheita mecanizada (AZEVEDO et al., 2004).


C a p í t u l o I I I | 97

Figura 11. Aplicação de dessecantes na época de maturação dos frutos por meio do trâmpulo, dependendo do tamanho da área plantada do algodão. Foto: Indústria Massey. 22.Colheita Mecanizada No Peru, recomenda-se utilizar as novas variedades de Del Cerro de crescimento determinado e precoce, o que vão favorecer a colheita mecanizada (Figuras 12 e 13), seja pelo seu alto rendimento ou por seu menor custo em comparação à onerosa colheita manual. Além disso, a mão-de-obra para colheita manual é difícil para algumas regiões do Nordeste. Por outro lado, a capacidade operacional de uma colheitadeira mecanizada de 4 linhas no Peru é estimada em 11.500 kg de algodão em rama por dia.

Figura 12. Campo do algodoeiro da cultivar Del Cerro em ponto natural favorável à colheita mecanizada, sem uso de desfolhante. Foto: INIA, Lambayeque, Peru.


C a p í t u l o I I I | 98

Figura 13. Colheitadeira automotriz de algodão de uma linha com fuso ou “spindles” para atender pequena lavoura da agricultura familiar. Fotos: Valdinei Sofiatti e Odilon Reny Ribeiro Ferreira Silva.

23.Armazenamento Os produtores devem possuir espaço de armazenamento adequado e ventilado para até a metade da colheita do algodão esperado. O algodão em rama também poderá ser armazenado diretamente no caminhão que será usado no transporte para a usina de beneficiamento. 24.Vazio Sanitário As plantações não são irrigadas. Após a colheita do algodão em rama, todas as plantas são destruídas e tem início o período de “vazio sanitário” (no mínimo de 3 meses). Durante esse período, não é permitida nenhuma plantação de algodão no país para garantir que as pragas não permaneçam no solo para a próxima estação. 25. Beneficiamento Recomenda-se o uso de mini-descaroçadores e prensas manuais ou hidráulicas, instaladas especialmente nas comunidades ligadas às cooperativas e associações de produtores familiares. Procurar beneficiar o produto em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente


C a p í t u l o I I I | 99 quando for usá-las novamente, pois são necessárias apenas algumas sementes atípicas para contaminar todo um lote (EMBRAPA, 2001). Por trazer acoplado um pequeno limpador sobre o mini-descaroçador de 50 serras (Figura 14), é necessário que o agricultor colha o algodão limpo, evitando-se restos de planta (folhas, brácteas, fragmentos de caule e ramos, plantas daninhas e suas partes, capulhos doentes ou não abertos totalmente, terra, etc), visando obter após beneficiamento uma fibra de alta qualidade e de maior aceitação pelo mercado.

Figura 14. Miniusina de algodão de 50 serras para comunidades de produtores familiares. Campina Grande-PB. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.

A prensa hidráulica opera como fluxo da produção do descaroçador de 50 serras, cuja pluma é conduzida de forma manual para a caixa de armazenamento da prensa, que deve possuir tela de pano de algodão para o envolvimento do fardo. Em caso de grande volume de algodão, recomenda-se beneficiar em usina algodoeira de grande porte que utiliza os descaroçadores de 90 serras (Exemplo da Campal de Patos, PB).


C a p í t u l o I I I | 100 QUALIDADE DA FIBRA E COMERCIALIZAÇÃO Na Tabela 7, observa-se uma análise comparativas das cultivares de fibra extralonga (BRS Acala e Acala SM3) em relação a cultivar de fibra média CNPA 8H, onde houve destaque significativo em rendimento (kg/ha) da cultivar CNPA 8H, nos oito ensaios experimentais conduzidos nos estados BA, RN e CE. Para às características tecnológicas de fibra entre as cultivares de fibra extralonga, a BRS Acala apresenta índice de fiabilidade, resistência e comprimento de fibras superior aos valores médios da Acala SM3, além de fibras mais finas, o que permitirá a obtenção de fios e tecidos de melhor qualidade (FREIRE et al., 2003). Tabela 7. Análise comparativa da cultivar BRS Acala com a Acala SM3 e CNPA 8H. Característica BRS ACALA ACALA SM3 CNPA 8H Rendimento sequeiro NE (kg/ha)1 2.719 3.210 Rendimento sequeiro MT (kg/ha)2 1.837 1.620 Percentagem média de fibra (%) 36,0 37,8 38,6 Comprimento S.L. 2,5% (mm) 33,5 32,7 28,0 Comprimento comercial (x 1,18; 39,5 38,6 33,0 mm) Uniformidade de comprimento (%) 87,7 85,7 86,0 Resistência HVI (gf/tex) 35,8 33,9 26,5 Finura (índice micronaire) 4,2 3,8 4,5 Elongação (%) 9,6 9,2 7,0 Reflectancia Rd (%) 77,0 75,5 61,0 Grau de amarelecimento (+ b) 2.483 2.418 1.968 1 – Médias de oito ensaios conduzidos nos Estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará; 2 – Médias de quatro ensaios conduzidos sob condições de agricultura familiar; 3 – Médias de três ensaios conduzidos nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará.

Por outro lado, na região algodoeira do Nordeste brasileiro, a comercialização do algodão em caroço é formada por uma cadeia de intermediários, desde a colheita até o processamento de comercialização com as indústrias têxteis. Em geral, o produtor negocia sua lavoura com a unidade de descaroçamento mais próxima da área de produção, apesar de que seria mais viável para o mesmo negociar diretamente com a indústria têxtil. Para evitar esse intermediário do algodão em caroço e com o propósito de obter maior lucro, é aconselhável que o produtor faça parte de uma comunidade organizada, que já possua sua própria miniusina e utilize a mão-de-obra familiar no processo de descaroçamento, de modo que a comercialização da fibra seja separada das sementes.


C a p í t u l o I I I | 101 Os produtores têm comercializado sua produção de algodão com empresa Norfil de João Pessoa, PB, que em 1917 adquiriu 35 toneladas de algodão em rama. O SENAI da capital da Paraíba pretendia instalar, no segundo semestre de 2018, uma unidade de porte médio de fiação e tecelagem para atender a verticalização da produção do algodão das comunidades organizadas do semiárido. No caso de orgânico, outros compradores de algodão de fibra extralonga são: Organic Cotton Colours, S. L. de Girona (Catalunha), Espanha (contato no Brasil: diogenes@organiccottoncolours.com) e a empresa francesa Veja/Vert Shoes (no Brasil), cujo contato reside na cidade de Choró, CE ou através da ONG Esplar de Fortaleza, CE (Pedro Jorge) (QUEIROGA et al, 2019). O preço do algodão internacional está determinado pelo seu comprimento de fibra. Portanto, na avaliação do custo têxtil no Peru realizada no ano 2000, os analistas observaram que o preço do algodão Pima Peruano convencional de fibra extralonga (US$ 34,56/arroba de 15 kg de fibra) foi cotizado no mercado em 10% abaixo do valor do Pima Americano (US$ 38,15/ arroba de 15 kg de fibra) e bem acima dos algodões das variedades de fibra longa: Tanguis Peruano (US$ 29,67/arroba de fibra) e San Joaquin Valley-SJV- Americano (US$ 27,06/arroba de fibra). Contatou-se também que o algodão Pima foi superior ao preço referencial de algodões de fibra média do índice Cotllook A (US$ 20,87/ arroba de fibra). Nos últimos anos, observou-se uma tendência decrescente nos preços de fibra para todos os tipos de algodão. A diminuição gradual dos preços do algodão se deve principalmente aos baixos preços do algodão importado. O governo dos Estados Unidos, primeiro exportador de algodão no mundo e o principal importador de algodão do Peru, mantém uma política de protecionismo ao produtor americano, que o coloca em notável vantagem frente ao produtor peruano de algodão. Na Tabela 8, estão registrados os baixos preços de algodão em rama de fibra extralonga praticados pelas usinas algodoeiras dos Estados de Piura e Lambayeque (Peru) entre 2011-2016, com exceção do ano de 2011. Provavelmente, haveria um acréscimo de mais de 30% no preço da matéria-prima se o algodão fosse cultivado de forma agroecológica, pois esta é a meta esperada pelo INIA de agregação de valor em favor dos agricultores peruanos (QUEIROGA et al, 2019).


C a p í t u l o I I I | 102 Tabela 8. Preço do algodão em rama (kg) das espécies G. barbadense (Pima) e G. hirsutum (Del Cerro). Produto convencional (não orgânico). Ano Pima Pima IPA-59 2011 4,17 5,08 2012 2,43 2,74 2013 2,91 3,00 2014 3,34 3,63 2015 3,45 3,50 2016 3,47 3,45 Obs- Moeda sol (Peru). Fonte: Creditex, Peru, em 2017.

Del Cerro 4,89 2,45 2,67 3,32 2,82 2,82

O preço que recebe o produtor americano está subsidiado pelo Estado. Para o período de 2002-2004, tem sido fixado um preço mínimo de US$ 23,47/arroba de fibra média, por um produto que no mercado mundial receberia um preço de US$ 13,70-16,95 (ano 2002). Ademais, os cotonicultores americanos contam com programa de transferência tecnológica, apoio de crédito em condições vantajosas, refinanciamento da dívida e subsídios às exportações para poder vender seu produto a preços competitivos no mercado internacional, sempre mais baixo que em seu mercado local, reduzindo os seus custos em 30% e gerando as práticas de “dumping” (QUEIROGA et al, 2019).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, R. P.; SILVA, C. A. D.; RAMALHO, F. S. Manejo integrado de pragas do algodoeiro no Brasil. In: Beltrão, N. E. M.; Azevedo, D. M. P. (Ed.). O agronegócio do algodão no Brasil. 2.ed. rev. amp. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2008. p.1035-1098. AZEVEDO, D. M. P.; CORTEZ, J. R. B.; BRANDÃO, Z. N. Uso de desfolhantes, maturadores e dessecantes na cultura do algodoeiro irrigado. Circular Técnica 78. Campina Grande: EMBRAPA Algodão, 2004. 7p. BAKER, D. N.; MYHRE, D. L. Leaf shape and photosynthetic potential in cotton. In: Beltwide Cotton Prod. Res. Conf., Hot Springs. 1968, p.103-109. BELL, P. A guide to cotton growing. Ministry of Agriculture & Rural Development de Barbados, 2004, 21p. BLEICHER, E. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: Crocomo, W. B. (Ed.). Manejo integrado de pragas. Botucatu: SP. UNESP/CETESB,1990. p.271-291. BRUCE, R. R.; ROMKENS, M. J. M. Fruiting and growth characteristics of cotton in relation to soil moisture tension. Agronomy Journal, Madison, v.57, n.2, p.135-140, 1965. EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). Miniusina de beneficiamento de algodão de 50 serras e prensa hidráulica: uma alternativa para associação de pequenos agricultores. Campina Grande, 2001. Folder. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (Campina Grande, PB). Melhoramento do algodoeiro na Embrapa. Campina Grande, 2001. Folder. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa De Algodão (Campina Grande, PB). Zoneamento para a cultura do algodão no Nordeste. I. Algodão Arbóreo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1996. 23p. (Embrapa-CNPA. Boletim de Pesquisa, 31). EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa Do Algodão (Campina Grande, PB). CNPA Acala 1: Nova cultivar de algodoeiro herbáceo de fibra longa para áreas irrigadas do Nordeste. Campina Grande, [1987]. Folder. 10p.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 104 FREIRE, E. C.; ANDRADE, F. P.; VIDAL NETO, F. C.; SUINAGA, F. A.; SANTOS, J. W.; ARAÚJO, G. P.; ASSUNÇÃO, J. H. Brs Acala – cultivar de fibras extralongas. 4p.

Acesso

em:

12

de

setembro

de

2003.

Disponível

em:

www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodao/publicacoes/trabalhos_cba4/213.pdf. FREIRE, E. C.; FARIAS, F. J. C. Novas tendências e avanços do melhoramento genético do algodoeiro. IN: Seminário Estadual Do Algodão. Anais... Cuiabá: Fundação MT/Embrapa/Empaer-MT, 1998. p.5-20 FREIRE, E. C., VIEIRA, D. J.; Andrad, F. P.; Medeiros, J. C.; Nóbrega, L. B.; Novaes Filho, M. B.; Braga Sobrinho, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. 2 ed. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1992, 26p. (Embrapa-CNPA. Circular técnica, 15). GUINN, G.; MAUNEY, J. R.; Fry, K. E. Irrigation scheduling and plant population effects on growth, bloom rates, boll abscission, and yield of cotton. Agronomy Journal, Madison, v.73, n.3, p.529-534, 1981. HILLOCKS, R. J. Cotton diseases. Wallington: CAB International, 1992. 415p. LEVIN, I.; Shmueli, E. The response of cotton to various irrigation regimes in the Hula Valley. Israel Journal of Agriculture Research, Bet Dagan, v.14, p.211-225, 1964. MILLAR, A. A. Respuesta de los cultivos al déficit de agua como información básica para el manejo del riego. Petrolina: Embrapa-CPATSA, 1976. 62p. PASSOS, S. M. G. Algodão. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1977. 424p. QUEIROGA, V. P.; MEDEIROS, J. C.; ALMEIDA, F. A. C. Gossypium barbadense & Gossypium hirsutum: Algodões de fibra extralonga para as microrregiões secas do semiárido: – 1. Ed. – Campina Grande: Embrapa, 2019. 322p. RAMALHO, F. S. Cotton pest management: Part 4. A Brazilian perspective. Annual Review of Entomology, 1994, p.563-578. UNIVERSITY OF TENNESSEE INSTITUTE OF AGRICULTURE (Washington). Cotton. Washington, 1994, p.27-30.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 105 VILLEGAS, A. T.; RIVERA, M. N. Manejo integrado del algodón Del Cerro. Instituto Nacional de Innovación Agrarias (INIA). ZB impresores S.A.C., Lima, Peru. 2011, 182p.


C a p í t u l o I V | 106

CAPÍTULO IV

PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ALGODÃO ORGÂNICO NO ÂMBITO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Vicente de Paula Queiroga Nair Helena Casto Arriel José Rodrigues Pereira José da Cunha Medeiros Marenilson Batista da Silva Gildo Pereira de Araújo


C a p í t u l o I V | 107 INTRODUÇÃO Uma semente de boa qualidade oriunda de um programa de produção de sementes orgânicas, além de propiciar resultados imediatos de aumento de produtividade, constitui o primeiro passo no processo de recuperação e incentivo da cotonicultura nas comunidades organizadas da agricultura familiar no semiárido, em substituição aos caroços ou sementes convencionais de procedência duvidosa, as quais são adquiridas no mercado local. O sistema de produção de sementes de base ecológica é fundamentando em uma agricultura sob uma perspectiva ambiental, abrangendo modos de produção que agem de maneira limpa e aliam a maximização das atividades agrícolas aos componentes socioculturais, econômicos e tecnológicos. Ou seja, permite integrar o conhecimento científico de diversas áreas que agem sob perspectiva ecológica. Para isso, alguns fatores servem de alicerce para o sistema, como: a) Substituição de fertilizantes artificiais por adubos naturais, impedindo que haja contaminação do solo e do lençol freático; b) Utilização apenas de bioinseticidas no controle de pragas e c). Não uso de transgênicos (VILLEGAS; RIVERA, 2011). Antes da instalação de um campo de produção de sementes de algodão, há a necessidade de um planejamento adequado, visando estabelecer as condições apropriadas para sua condução, de modo a evitar maiores problemas de infestação de pragas por se trata de um cultivo agroecológico. O planejamento da execução do processo de produção de sementes de algodão agroecológica tem que obedecer aos seguintes procedimentos: Identificação da espécie, cultivar, categoria e safra da semente, identificação do produtor, cronograma de execução das atividades e as etapas do processo de produção de sementes, croquis de localização dos campos de produção, estimativa de produção e identificação dos beneficiadores envolvidos no programa de produção de sementes agroecológicas dentre outros. O ponto de partida da semente agroecológica de algodão é, pois, uma pequena quantidade de sementes, obtida por melhoramento genético de determinada cultivar (semente genética), ou da multiplicação das sementes de alguma cultivar já existente, sob condições controladas, não sendo suficientes para ser distribuída entre as entidades produtoras da semente. Em seu caminho, do melhorista à utilização pelo agricultor, pequenas quantidades de sementes são multiplicadas até que sejam alcançados volumes em escala


C a p í t u l o I V | 108 comercial, no decorrer do qual a qualidade dessas sementes está sujeita a uma série de fatores capazes de causarem perda de todo potencial genético. A minimização dessas perdas, com a produção de quantidades adequadas, é o objetivo principal de um programa de sementes. As causas mais frequentes em pequenas propriedades é a baixa qualidade das sementes produzidas em razão da colheita antecipada dos capulhos ainda úmidos e não totalmente abertos. Uma vez colhido o algodão, especial atenção deve ser dispensada à secagem natural, ao beneficiamento e ao armazenamento, pois sem a secagem prévia do material, armazena-o, temporariamente, de modo que a qualidade da semente e da fibra fica afetada pela fermentação do algodão em rama estocado com excessiva umidade. É importante mencionar que as sementes devem ser armazenadas desde sua colheita até a época de semeadura na temporada seguinte. Considerando que, ao serem colhidas, as sementes são desligadas da planta mãe, que até esse momento era seu ambiente natural, passa a ser responsabilidade do homem a conservação das mesmas nas melhores condições durante todo esse período. Outro aspecto fundamental que deve ser considerado é que todo o esforço humano e material gasto durante a produção da semente podem ser perdidos se as condições de armazenamento fornecidas às sementes, após serem ensacadas, ou até na preparação da semeadura, forem inadequadas. A seguir, são descritas algumas considerações sobre a produção de sementes de algodão nas etapas de campo e de pós-colheita, procurando ajustá-las as condições das pequenas comunidades rurais do semiárido. SISTEMA ECOLÓGICO DE PRODUÇÃO Para a obtenção de sementes de qualidade é necessário o controle qualitativo do algodão em todas as fases de produção. Além do controle das condições adversas de campo, Popinigis (1977) considera que a produção de sementes de boa qualidade depende da colheita, da secagem, do beneficiamento e do armazenamento. Portanto, o sistema ecológico de produção está dividido, no presente trabalho, em três etapas: 1.Normativa e Certificação da Produção, 2.Fase de Campo e de 3.Colheita e Pós-Colheita.


C a p í t u l o I V | 109 1.NORMATIVA E CERTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO Modelo de produção para a agricultura familiar - A base do modelo é a multiplicação de sementes de algodão da classe não certificada, com origem genética comprovada, das categorias Sementes S1 (primeira geração) e S2 (segunda geração) para uso próprio, ou seja, corresponde a semente guardada pelas comunidades da agricultura familiar a cada safra, para semeadura ou plantio na safra seguinte e em sua propriedade, admitindo-se a venda de excedentes, comercializáveis dentro das próprias comunidades, conforme prevê a Lei de Sementes, em vigor (BRASIL, 2005). Independentemente dos casos, as sementes comercializáveis devem ser produzidas a partir de materiais previamente avaliados e sem prejuízo do comprimento das normas técnicas e dos padrões de produção e de comercialização vigentes. Inclui-se neste modelo a multiplicação de cultivares mais adaptadas ou produzidas por agricultores familiares ou as variedades promissoras elegidas nos ensaios de competição de cultivares pelos próprios agricultores (após dois anos de experimentação e avaliação), cujas áreas experimentais são instaladas nessas comunidades rurais. Uma vez mantida a lógica do modelo convencional, a Unidade de Multiplicação de Sementes configura o elemento central do componente do sistema, como mostrado no esquema da Figura 1.

Figura 1. Esquema do modelo da Unidade de Multiplicação de Sementes interagindo com os demais componentes.


C a p í t u l o I V | 110 Neste contexto, três diferenças importantes caracterizam o modelo: a- A diversidade da origem dos materiais a serem multiplicados; b- A existência de duas etapas distintas e subsequentes: (1) a primeira, concernente à produção de sementes com os agricultores familiares, visando atender a demanda da própria comunidade produtora, e a formação de um Banco de Sementes; e (2) a segunda, concernente à produção de excedentes comercializáveis de sementes melhoradas do tipo S1 e S2 para venda diretamente a outras comunidades da agricultura familiar ou, indiretamente, por demanda de instituições públicas. c- A ofertada está centrada prioritariamente para a demanda de sementes de algodão orgânica com línter. Assim as instituições de pesquisa e de assistência técnica constituem os principais agentes no âmbito do subsistema tecnológico, e dois mercados configuram o sistema de distribuição: o mercado interno formado pela própria comunidade; e o mercado externo formado pelo universo de comunidades da agricultura familiar de um território. Considera-se uma Unidade Coletiva de Multiplicação de Sementes a estrutura fundada coletivamente por uma comunidade, ou por um grupo de unidades familiares organizadas, para produzir sementes de algodão orgânico de qualidade superior para a demanda da própria comunidade, ou para a demanda de outras comunidades da agricultura familiar de um território, mediante o uso em comum de terras, matraca para sementes com línter, semeadoras a tração animal, mini-usinas de beneficiamento de algodão em rama (50 serras ou 25 serras), instalações e equipamentos disponibilizáveis. Assim, a organização de uma Unidade Coletiva de Multiplicação de Sementes, no âmbito da agricultura familiar, começa pela decisão de uma comunidade inserida, tomada com base em uma clara definição das atividades a serem desenvolvidas e as responsabilidades dos diferentes agentes envolvidos: Instituições de pesquisa, instituições orientadas para a assistência técnica e extensão rural, e agricultores. Em termos físicos, cada Unidade Coletiva de Multiplicação de Sementes conta com duas estruturas:


C a p í t u l o I V | 111 UM CAMPO DE PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ALGODÃO ORGÂNICO: área especialmente eleita pela comunidade para a implantação dos campos de produção, preferencialmente solteiro ou consorciado e onde sejam viáveis a perfuração de poços ou a construção de pequenas ou médias barragens subterrâneas, com capacidade para assegurar aportes confiáveis de água, para irrigação suplementar (gotejamento). UMA UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DO ALGODÃO EM RAMA: Refere-se a um complexo simplificado de secagem (quadra cimentada) e prédios da mini-usina de algodão com descaroçadores de 50 serras ou de 25 serras e do armazenamento de sementes e fardos de fibra. Os equipamentos mínimos são: balança, máquina de costura sacarias e um aparelho determinador de umidade (portátil) de sementes. Em linhas gerais, a estrutura da divisão do trabalho para efetividade do processo operacional de uma Unidade Coletiva de Multiplicação de Sementes, deve ter a formatação apresentada na Figura 2.

Figura 2. Estrutura da Unidade de Multiplicação de Sementes e a relação dos demais subsistemas.

O planejamento da produção de sementes deve ser definido em função de duas safras subsequentes ao momento da instalação dos campos de produção de sementes das seguintes categorias: 1).A primeira, relacionada com a necessidade de sementes de primeira geração (Sementes S1 com ou sem registro no MAPA);


C a p í t u l o I V | 112 2).A segunda, relacionada com a necessidade de sementes de segunda geração (Sementes S2 com ou sem registro no MAPA). Como as necessidades de sementes são determinadas com base na área a ser cultivada pela comunidade como um todo e da densidade de plantio do algodoeiro herbáceo (ou arbóreo de fibra longa) considerada, a participação efetiva dos agricultores em todo o processo de planejamento deve expressar o compromisso recíproco de que as cultivares selecionadas em comum serão objeto da produção agrícola da comunidade, o que significa assegurar a demanda pelas sementes disponibilizadas pela Unidade de Multiplicação de Sementes, através de seu Banco de Sementes. Assim, o planejamento para a implantação coletiva dos campos de produção de sementes, deve ser procedido de “oficinas de trabalho”, conduzidas por técnicos ou representantes de instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural ou de organizações não governamentais, direta ou indiretamente envolvidas com o processo de produção, visando nivelar os procedimentos técnicos (produção de sementes) e metodológicos (metodologia de planejamento participativo) a sem empregados. A definição da área a ser destinada pela comunidade para a implantação dos campos de produção apresenta duas alternativas: a). Área coletiva- se a for considerada apta para a produção de sementes em termos de qualidade do solo e de fontes suplementar de água, a comunidade torna-se responsável direta pela condução do campo de sementes; b). Não existe área coletiva – neste caso a comunidade decidirá quem, dentro os agricultores membros efetivos, produzirá as sementes para a coletividade e, se for o caso, o estabelecimento de um sistema de rodízio entre os candidatos. Para escolha do local, deve-se procurar localizar a lavoura numa área segura e protegida, bem como a possibilidade de se estabelecer pontos confiáveis de aportes de água. Além disso, os solos deverão ser providos de matéria orgânica e apresentem boa capacidade de retenção de umidade. Uma vez escolhida à área, procede-se a coleta de amostra para análise do solo e, em função dos resultados de laboratório, poderá ou não receber aplicação de corretivos (calcário). Amostragem de solos - A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa (Figura 3). O número no qual o erro amostral é


C a p í t u l o I V | 113 bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Essas subamostras devem ser armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 3. Retiradas de amostras de solos para análise de laboratório.

É importante frisar que sementes de algodão com potencial genético de produção exigem terra boa e fértil e que depois de preparadas, facilite a boa germinação das sementes e o desenvolvimento normal das plantas, condições para que possam resultar em lavouras que venham produzir satisfatoriamente. Durante esta etapa de preparação do plano de produção, a comunidade deve buscar respostas para três questões:


C a p í t u l o I V | 114

A produção de sementes de algodão consiste na multiplicação sucessivas de materiais de qualidade superior geradas pelas instituições de pesquisa, classificadas pelos técnicos como segue: Sementes genéticas: resultante da seleção ou cruzamentos feitos pelo melhoristas das instituições de pesquisa; Sementes Básicas: resultantes da multiplicação de sementes genéticas realizadas por empresas de pesquisa que criaram a cultivar; Sementes Certificadas-C1: Resulta da multiplicação das sementes básicas pelo produtor de sementes; Sementes Certificadas-C2: Resulta da multiplicação das sementes certificadas (C1) pelo produtor de sementes; Sementes S1: Resulta da multiplicação das sementes certificadas (C2) pelo produtor de sementes ou comunidades da agricultura familiar e não é certificada; e Sementes S2: Resulta da multiplicação das sementes S1 pelo produtor de sementes ou comunidades da agricultura familiar e não é certificada. A comunidade que se dispuser a produzir sementes de algodão orgânico deve seguir os processos e procedimentos técnicos recomendados pela pesquisa, condição essencial para que ela consiga obter sementes com qualidade. Essas condições significam garantir as características de germinação, vigor, pureza física e varietal, e sanidade, semelhantes àquelas na semente mãe, como segue:


C a p í t u l o I V | 115 GERMINAÇÃO – processo que significa que as sementes, após semeadura, têm plena capacidade de iniciar o processo de emergência e o desenvolvimento das estruturas essenciais do embrião e que, sob condições favoráveis de campo, resultará numa planta normal e apta para a produção. VIGOR – propriedade que determina o potencial das sementes durante a sua germinação e a emergência da plântula de algodão, medido em termos de velocidade e de uniformidade da germinação, e do homogêneo crescimento das plantas. PUREZA – a pureza física é uma das características que reflete a composição física de um determinado lote de sementes. São consideras sementes puras aquelas pertencentes à espécie e variedades trabalhadas, maduras e não danificadas. SANIDADE – é a condição que caracteriza a inexistência de fungos, bactérias, vírus e nematoides em um determinado lote de sementes, e que permite estabelecer um perfil sanitário das sementes disponibilizadas. MISTURA VARIETAL – significa que um determinado lote de sementes inexiste sementes de plantas cultivadas não pertencentes à espécie e à variedade objeto da produção, e/ou sementes e outros veículos de propagação de plantas prejudiciais à produção agrícola (plantas daninhas). Para que as sementes multiplicadas tenham as mesmas características das sementes de origem, cada comunidade deve usar para a implantação dos campos, apenas uma variedade de classe superior (básicas ou certificadas) destacada em ensaios de competição específicos. Dependendo da orientação técnica, cada comunidade produtora poderá usar em seus campos de produção de sementes, em até 03 (três) remutiplicações sucessivas das sementes obtidas na safra anterior. A partir do limite, torna-se imprescindível que a comunidade se reabasteça de sementes básicas e/ou certificadas. Uma vez cumprindo corretamente os procedimentos de cultivo e de condução da lavoura de sementes de algodão, os quais são condições imperativas para assegurar a manutenção da qualidade do material multiplicado. Certificação de produtos orgânicos - A produção de algodão de forma orgânica se constitui uma alternativa econômica para a agricultura familiar. Então, a recomendação em relação ao tamanho da área a ser cultivada está limitada a 2 ha por produtor, pois a


C a p í t u l o I V | 116 lavoura orgânica, diariamente, exige muito cuidados manuais especiais, por parte dos agricultores familiares, do que os campos convencionais de algodão. Para acessar o mercado de orgânicos no Brasil é necessário que os agricultores tenham o Certificado de Avaliação da Conformidade Orgânica, o qual é validado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), porém para ter esse documento é preciso desenvolver algumas atividades. O processo para obtenção desse certificado é um desafio para as organizações dos agricultores e agricultoras familiares do estado da Paraíba, pois é oneroso financeiramente e demorado (SILVA, 2015). A certificação de produtos orgânicos é o processo de análise dos registros da unidade de produção, por meio de visitas no campo, registros de dados, entrevistas com os agricultores. Com base em tais informações, se confirma a conformidade do produto. Nesse processo é necessário disponibilizar recursos financeiros, demonstrar competência e responsabilidade, como também transparência e imparcialidade (FONSECA, 2009). De acordo com Souza (1998), a primeira certificação de algodão orgânico realizada no Brasil, ocorreu em 1970 pelo Instituto Biodinâmico de Botucatu (IBD). Isto demonstra que a produção de algodão orgânico no Brasil não é tão recente e acompanha a tendência mundial, já que muitas das questões sobre a produção orgânica vão surgir a partir dos movimentos ambientalistas dos anos 60. Por outro lado, Silva (2015) constatou que, entre 2006 e 2011, os agricultores do Assentamento Margarida Maria Alves I certificavam a produção através da contratação de empresas de auditoras externas, sendo certificado através do Instituto BiodinâmicoIBD. Esse processo tem custo elevado e não é bem indicado para as limitadas condições financeiras da agricultura familiar. Mesmo assim, a certificação do IBD é exigida quando se trata de exportação da produção de fibra para o mercado internacional. No ano 2013, estimulados pela Associação de Apoio a Políticas de Melhoria de Qualidade Vida, Convivência com a Seca, Meio Ambiente e Verticalização de Produção Familiar (ARRIBAÇÃ), Embrapa Algodão e a Prefeitura Municipal de Remígio os agricultores resolveram acessar um novo modelo de certificação, conhecido como processo de certificação orgânica participativa, também validada pelo MAPA, sendo reconhecido em todo território nacional. Para isso foi fundado um Organismo Participativo de Avaliação


C a p í t u l o I V | 117 da Conformidade (OPAC), denominada de Rede Borborema de Agroecologia (RBA) (SILVA, 2015). Por meio dessa nova entidade RBA não será necessário contratar empresas terceirizadas para certificação orgânica. Além disso, ocorrerá uma diminuição com os custos para certificação, fortalecendo assim o trabalho coletivo por envolver todos/as agricultores no processo. Os próprios agricultores irão atestar e emitir o selo de avaliação da conformidade orgânica, o qual é validado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Hoje os agricultores estão aguardando a certificação orgânica, visto que todo o processo inicial foi aprovado pelo fiscal do Ministério da Agricultura (SILVA, 2015). Formação de banco de sementes - O Banco Comunitário de Sementes é uma organização que visa suprir as necessidades de sementes dos agricultores familiares, sem que para isso ele precise ter dinheiro. Esta prática representa, para o agricultor, autonomia e segurança alimentar, dois conceitos muito importantes na agroecologia. Armazenar sementes em Bancos Comunitários para utilizar no próximo plantio tem sido a alternativa utilizada por centenas de famílias de pequenos agricultores. Esses Bancos são um modelo alternativo de administração coletiva da reserva de sementes necessária para o plantio. O funcionamento se baseia no sistema de empréstimo e devolução (Figura 4). A família associada toma emprestada certa quantidade de sementes, à que se acrescenta uma porcentagem quando devolvida depois da colheita. Para o início das atividades, o Banco define coletivamente a quantidade de sementes que cada agricultor ou agricultora tem que depositar e qual será a porcentagem que deve ser acrescentada na devolução. Este sistema permite que cada família produza e melhore sua própria semente sob a gestão coletiva dos produtores familiares de comunidades rurais.


C a p í t u l o I V | 118

Figura 4. Sistema de empréstimo e devolução: o agricultor leva 1 garrafa emprestada para plantar e, depois da colheita, devolve duas garrafas. Garrafa pet de 2 litros para envasamento de sementes será o padrão adotado pela Unidade Piloto do Banco Comunitário de Sementes.

A dificuldade ao acesso e os altos custos das sementes de qualidade, aliado às dificuldades financeiras dos agricultores familiares, juntamente com a quase ausência de assistência técnica, fazem da produção comunitária de sementes uma saída viável, tanto para os cultivos de subsistência, oleaginosas e adubos verdes, quanto para facilitar a comercialização dos seus excedentes. Ao produzir sua própria semente, o pequeno produtor não só terá maiores chances de obter uma boa colheita, como também maior produtividade, dispor desse insumo num custo menor que aquele praticado pelo mercado. Nesses bancos, os agricultores se associam espontaneamente, e a moeda são as próprias sementes. Esse sistema assegura que cada família produza e beneficie sua própria sementes, destinando parte da produção para um estoque comunitário gerenciado coletivamente. O mesmo não deve se limitar apenas a uma unidade central administrativa, mas deve funcionar como uma organização promotora do uso dessa prática e que agregue conhecimento técnico e saberes populares para capacitar e aprimorar os conhecimentos de um número cada vez maior de produtores. Nas comunidades rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí na região do Nordeste do Brasil foram construídos, em trabalhos de mutirão, pequenos armazéns para o acondicionamento de sementes dos produtores familiares, o qual foi denominado de Casa de Sementes (Figura 5).


C a p í t u l o I V | 119

Figura 5. Casa de sementes na comunidade de “Lagoa do Juá” no município de São Francisco de Assis do Piauí, Brasil. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

No Banco de Sementes, as sementes das várias espécies (arroz, feijão, milho, gergelim, algodão, sorgo, milheto, feijão guandu, etc) devem ser acondicionadas em embalagens herméticas (garrafa pet de 2 litros), com a umidade baixa segundo cada espécie, conforme a Tabela 1 e guardadas em prateleiras ou sobre estrados de madeira (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000).

Tabela 1. Teor de umidade máximo recomendado para o armazenamento de sementes em recipientes herméticos. ESPÉCIE Arroz Amendoim Feijão Gergelim Algodão com línter Milho Sorgo

% DE UMIDADE 9 5 8 4 8 9 9

Fonte: Harrington e Douglas (1970)

O acesso à semente pode se transformar em problemas logo no início da fundação do Banco de Sementes Comunitário, pois geralmente o estoque de sementes é limitado e há uma grande demanda pelas sementes de maiores retornos econômicas por parte dos produtores (CORDEIRO; FARIAS, 1993). A solução de alguns bancos é adotar uma estratégica simples, que é permitir a oferta mínima da quantidade de sementes por agricultor. Em vez de uma garrafa de 02 litros de sementes, o agricultor leva por


C a p í t u l o I V | 120 empréstimo uma garrafa menor de 01 litro (Tabela 2), visando com tal distribuição de sementes atenderem um maior número de sócios do banco comunitário de uma determinada comunidade. Tabela 2. Comparação de valores entre a quantidade de sementes contidas dentro de uma garrafa pet de 01 litro e seu respectivo peso em gramas. EQUIVALÊNCIA DE VALORES 01 LITRO DE SEMENTES DAS

QUANTIDADE DE SEMENTES EM GRAMAS (g)

ESPÉCIES (L) Arroz

670

Feijão

870

Sorgo forrageiro

794

Gergelim

733

Algodão com línter

442

Feijão guandu

837

Leucena

875

Milho

795

Mucuna Preta

860

Fontes: Cordeiro e Farias (1993); Embrapa Algodão; OBS: Dentro da mesma espécie, os pesos entre cultivares poderão variar.

2.FASE DE CAMPO Condições da área - A exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção do algodão orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas agrícolas manejadas por pelo menos 3 anos na ausência de defensivos e adubos minerais (QUEIROGA, et al., 2008). A topografia do solo pode variar desde plana até a ondulada, contanto que na plana não haja problema de encharcamento e na ondulada ou acidentada, práticas de conservação sejam observadas e seguidas para evitar erosão. O uso inadequado de áreas com o cultivo do algodoeiro poderá trazer grandes problemas de erosão. Por isso, antes do desbravamento, deve-se efetuar um planejamento racional de uso do solo para evitar esses problemas. Nesse planejamento, os principais fatores a serem levados em consideração são: relevo, pedregosidade, afloramento de rochas, profundidade e textura do solo. Em qualquer terreno (solo) é possível encontrar três camadas chamadas de solo agrícola, subsolo e rocha (Figura 6).


C a p í t u l o I V | 121

Figura 6. Três camadas de solo existente no terreno. Foto: Ematerce.

Preparo de solo - Um dos fatores que influenciam no rendimento da cultura é o preparo do solo. Quando bem feito, facilita o plantio, favorece a germinação da semente e o desenvolvimento do sistema radicular, além do controle de plantas daninhas. O solo pode ser preparado pelo método tradicional de aração e gradagem, preferencialmente com arado de aiveca ou de discos dependendo do tipo de solo (Figura 7). Este método deve ser feito em solo úmido, no ponto da fiabilidade (QUEIROGA, et al., 2008).

Figura 7. Modelos de arados de discos e de aivecas. Foto: Gadanha Júnior et al., 1991.


C a p í t u l o I V | 122 Alguns agricultores familiares do semiárido, por não disporem de outros recursos, prepara o solo, usando apenas o arado de aiveca (tombador) à tração animal. Após o preparo com o tombador, deveriam passar o cultivador ou grade de dentes (Figura 8) até que o solo fique bem destorroado para melhorar o rendimento e a eficiência deste tipo de preparo.

Figura 8. Implemento grade de dentes de tração animal usado no destorroamento de solos.

Se o preparo for feito mecanicamente a trator, recomenda-se fazer aração a uma profundidade de 15 a 20 cm antes da gradagem. A gradagem de nivelamento deve ser feita perpendicular ao sentido da declividade do terreno visando controlar a erosão (QUEIROGA, 1983).

Escolha da cultivar - O controle de qualidade das sementes se estende às fases de produção e de comercialização, sempre com o objetivo de garantir a identidade genética dos materiais, mas também com os de preservação da qualidade fisiológica, sanitária e da pureza física das sementes. A eleição da cultivar é uma decisão mais importante que deve enfrentar o agricultor antes de iniciar seu plantio. A mudança de uma variedade pode dar resultados diferentes para os mesmos sistemas de produção e da indústria têxtil, inclusive as condições ambientais também podem variar de um ano a outro. É essencial que a qualidade da fibra se mantenha sempre uniforme. Mas, é necessário que a semente da variedade usada no plantio seja conservada pura. Recomenda-se apenas que seja evitado no campo cruzamentos entre variedades. Os produtores de cada comunidade


C a p í t u l o I V | 123 rural deveriam ser organizados, adotando apenas a semeadura de uma variedade que melhor se adapta a suas condições locais. Dessa maneira é fácil evitar misturas com sementes de outros algodões, consequentemente a qualidade do algodão conservaria inalterada. Também é imprescindível que seja feito um teste de germinação da semente de algodão ante de semeá-la. O lote de semente que tenha uma germinação menor de 75% deve ser descartado. Não é recomendável aumentar a quantidade de sementes no plantio para compensar essa baixa germinação, pois tais sementes poderão resultar em plantas menos vigorosas, além de serem susceptíveis às doenças. Cultivares - Para o plantio do algodão orgânico nas comunidades rurais do semiárido, praticamente estão sendo utilizadas as cultivares BRS 187- 8H e BRS Aroeira, mesmo assim nas UAPs dos 7 territórios, distribuídos entre os estados do RN, PI, PE, PB, AL e SE, foram implantados os ensaios de cultivares de algodão para que os agricultores possam avaliar melhor o desempenho de outros materiais mais adaptados a cada território. Na Tabela 3, estão os principais caracteres de produção e tecnológicos das cultivares BRS 187- 8H e BRS Aroeira. Tabela 3. Principais caracteres de produção e tecnológicos do algodão herbáceo convencional, cultivares BRS 187- 8H e BRS Aroeira, para as condições do Nordeste (sequeiro). Características

BRS 187- 8H

BRS Aroeira

Rendimento (kg/ha)

2.120

1.980

Altura média (cm)

100

125,33

Peso médio do capulho (g)

6,5

6,62

Peso médio de 100 sementes (g)

11,8

-

Percentagem média de fibra (%)

38,7

38,8

Comprimento S.L. 2,5 % (mm)

28,1

31

Uniformidade de comprimento (%)

50,4

86,6

Resistência DVI (gf/tex)

24,2

29,35

Finura (Índice micronaire)

4,5

4,44

Elongação (%)

7,0

6,9

Maturidade

63,9

-

Fiabilidade

2.212

2.294,5

Fonte: Embrapa Algodão (2003); Embrapa Algodão (2009).


C a p í t u l o I V | 124 Deslintamento para sementes orgânicas - Um dos obstáculos no cultivo do algodão é sua semente revestida de uma fibra curta, tecnicamente denominada de línter, a qual impede o seu fluxo no sistema de distribuição da plantadeira a tração animal ou matraca utilizada no plantio do algodão. As sementes de algodão orgânico, quando descaroçadas, podem ser deslintadas pelo método de flambagem, que é considerado um equipamento simples destinado para as comunidades familiares (Figura 9). Nesse processo, a massa de sementes com línter é esparramada numa coluna de chamas, que queima a maior parte do línter, podendo deixar a semente do algodão herbáceo parcialmente com línter (QUEIROGA et al., 1993).

Figura 9. A) Sementes de algodão herbáceo, sendo o línter parcialmente eliminado ao passar por gravidade na coluna de fogo no tubo do flambador.

Também no plantio do algodão orgânico, as sementes podem ser deslintadas pelo método mecânico, o que corresponde a um processo de deslintamento parcial por não eliminar totalmente o línter (Figura 10). Mesmo assim existe matraca apropriada ou plantadeira mecânica de tração animal apropriada para sementes de algodão com pouco línter. As sementes de algodão com línter podem ser deslintadas mecanicamente na usina algodoeira de Pirpiritua-PB da Empaer (antiga Emepa), a qual possui três máquinas de deslintamento mecânico.


C a p í t u l o I V | 125

A

B

C Figura 10. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Deslintador mecânico utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes; e C) Sementes deslintadas mecanicamente com pouco línter.

Mini betoneira para revestimento de sementes com línter - A técnica de encapsulação consiste em envolver as sementes numa massa de revestimento ou cobertura, de modo que possam ser semeadas com precisão, individualizadas e mecanicamente. Para possibilitar a aplicação uniforme dos produtos sobre as sementes de algodão deslintadas mecanicamente ou flambadas (com línter) deverá ser adaptada uma mini betoneira, a qual foi desenvolvida para o incrustamento ou revestimento de sementes de várias espécies (MELO, 2013). A mesma foi construída a partir de tubos metálicos quadrados de 20,0 mm de espessura. Lateralmente a mesma possui a forma de um trapézio retângulo,


C a p í t u l o I V | 126 possuindo a base 50,0cm e a parte superior 22,0cm e altura de 50,0cm, formando uma inclinação de aproximadamente 45º (Figura 11A). A mesma possui 40,0 cm de largura e no centro da estrutura metálica, foi acoplada uma furadeira elétrica (Black&Decker-3/8” KR505 -500 Watts com rotação aproximada de 40 rpm) para girar o recipiente da betoneira. O acionamento da betoneira é realizado por meio de um interruptor + timer de velocidade (Figura 112B) com o timer, pode-se escolher a velocidade desejada para uso na aplicação dos produtos. Na parte frontal da estrutura metálica, foi fixado um conjunto de rolamento e eixo, interligando assim o mandril da furadeira e a base do recipiente. O recipiente da betoneira possui capacidade para 8,0 litros e tem na base um mecanismo de retirada do recipiente para limpeza. Esse mecanismo é travado por um parafuso com porca do tipo borboleta facilitando o manuseio (Figura 11C). No interior do recipiente, foram fixados três misturadores para auxiliar na uniformização da aplicação dos produtos (Figura 12D).

Figura 11. Mini betoneira desenvolvida e adaptada para aplicação dos produtos em sementes de algodão orgânico com línter: (A) visão lateral; (B) visão posterior; (C) ligação entre a furadeira e o recipiente da betoneira e (D) misturadores no interior do recipiente. Campina Grande, Paraíba, 2. Fotos: Bruno Adelino de Melo e Raul Porfírio de Almeida (2013).


C a p í t u l o I V | 127 Para efetuar o recobrimento, as sementes se movimentam com a rotação de 40 rpm da panela metálica da mini -betoneira elétrica, sendo adicionadas alternadamente pequenas porções de solução adesiva (ou água) por processo de nebulização (Figura 12) para umedecimento das sementes de algodão com pouco línter (deslintadas mecanicamente ou com flambagem) e de pó que, através do umedecimento, se adere às sementes. À medida que se repete (várias vezes) esta operação, estas pequenas quantidades de pó (cobertura) acrescentadas se transformam em finas camadas e, consequentemente, as sementes aumentam lentamente de tamanho (QUEIROGA et al., 2010). Uma vez atingido o acabamento final no interior da mini-betoneira (quando não se observa mais línter visível), essas sementes resultantes vão ficar uniformidades, bem lisas e individualizadas.

Figura 12. Nebulizador de plástico.

Após o processo de revestimento, as sementes são retiradas da mini-betoneira. Em seguidas, são espalhadas sobre folhas de jornal e deixadas para secar à sombra por 24 horas (BALTIERE, 1993). Nas Tabelas 4 e 5, estão alguns produtos encapsulantes e adesivos testados em sementes de algodão com línter após os processos de deslintamento mecânico e flambagem (BALTIERE, 1993).


C a p í t u l o I V | 128 Tabela 4. Relação adesivo e encapsulante para sementes (250 g) de algodão deslintadas mecanicamente. Adesivo (g) Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

100 22,5 10 160 100

Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

80 25 9 170 100

Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

100 22,5 10 170 100

Calcário calcinado (g) 387 210 225 145 200

Encapsulantes Calcário (g)

Água (mL) Gesso (g) 100 90 100 20 25

317 250 265 250 203

80 100 130 20 25 215 171 200 203 250

80 90 130 20 25

Fonte: BALTIERE, 1993. (OBS: Calcário comercial (CaC03); Gesso agrícola (CaS04.2H2); Calcário calcinado (CaC03 e Mg0); Açúcar refinado; Amido de milho (empregado na indústria de papel); O caulim e argila foram empregados sem diluição.

Tabela 5. Relação adesivo e encapsulante para sementes (250 g) de algodão deslintadas mecanicamente e flambadas. Adesivo (g) Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

80 20 10 160 100

Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

80 20 9 160 100

Açúcar Amido (milho) Bentonita Caulim Argila

75 20 10 60 100

Encapsulantes Calcário calcinado (g) Calcário (g) 242 173 225 173

Água (mL) Gesso (g) 80 80 100 20 25

350 250 228 250 250

80 80 100 20 25 189 158 223 163 163

75 80 130 20 25

Fonte: BALTIERE, 1993.

Alguns desses produtos são compostos de material celulósico solúvel em água, amido solúvel em água, metil-celulose (methocel) (Figuras 13 e 14), goma arábica mais sacarose, celulose mais hemicelulose de pasta de madeira e materiais inorgânicos naturais (minerais de argila e composto de silicato).


C a p í t u l o I V | 129

Figura 13. Adesivo methocel diluído e em pó. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 14. Sementes de algodão encapsuladas ou revestidas, sem e com corante anilina. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Aquisição de uma boa semente (compra): Para que o agricultor possa garantir um aumento na produção de algodão em rama, ele deve adquiri as sementes básicas ou certificadas de algodão de uma instituição de pesquisa ou produtor de sementes. Antes do plantio, o agricultor previdente deve fazer o teste de germinação da semente que deseja plantar para evitar despesas com o replantio. O teste é realizado colocando 100 sementes em um prato com areia molhada (Figura 15) ou entre duas folhas de papel jornal


C a p í t u l o I V | 130 umedecidas. Depois de 10 dias se nascerem mais de 75% é porque a semente é boa. Ao contrário, se diz que a semente é caroço e se aconselha busca outro vendedor.

Figura 15. Teste de germinação de sementes de algodão em substrato de areia lavada de rio e umedecida com água (prato de barro).

Tratamento das sementes orgânicas - Antes da semeadura, a semente deve ser tratada com calda sulfocálcica ou outros agentes biológicos. O tratamento de sementes é uma prática realizada para proteger a semente de agentes externos como enfermidades e roedores. No caso de produção ecológica, as normas não permitem o uso de sementes de produção convencional e nem o uso de sementes tratadas com produtos químicos, mas é permitido o tratamento com produtos biológicos e produtos naturais a base de minerais. Na Tabela 6, os métodos alternativos usados para o tratamento contra doenças fúngicas de sementes orgânicas:


C a p í t u l o I V | 131 Tabela 6. Fungicidas naturais para tratamentos de sementes de algodão. Produto Calda Sulfocálcica

Eucalipto

Esterco de gado

Pó de Mastruz

Cinza de lenha

Modo de preparação

Dose/método

A calda sulfocálcica é um defensivo utilizado na agricultura. Constituída essencialmente por polissulfetos de cálcio, é o resultado de uma reação entre o óxido de cálcio (da cal virgem) e o enxofre, quando dissolvidos em água e submetidos à fervura. Possui ação inseticida, acaricida e fungicida. Mistura a calda sulfocálcica em 20 litros de água. Introduz as sementes em um saco de malha. Submergir na calda por 3 minutos. Em seguida, as sementes são extraídas e secadas à sombra, evitando a exposição direta com raios solares. Uma vez concluída a secagem, as sementes são ensacadas em novos sacos de polipropileno. Colocar as folhas de eucalipto para secar ao sol. Moer as folhas secas até obter uma espécie de pó. Uma vez moída, mesclar o pó com as sementes e umedecer levemente até obter uma pasta consistente. Deixar secar e ensacar. Essa prática deve ser realizada um dia antes da semeadura ou três horas antes de plantar. Os produtores de algodão na Índia encerram as sementes dentro do esterco de vaca. O estrume de vaca tem características fungicidas que afastam as bactérias nocivas. Um fungo não destrutivo, do gênero Trichoderma, contém esporos que competem e destroem outros fungos ou bactérias devastadoras.

¼ litro de sulfocálcica em 20 litros de água

Para o armazenamento, recomenda-se tratar as sementes deslintadas mecanicamente com pó de mastruz (Chenopodium ambrosioides). O método simples é coletar a planta inteira (parte aérea) e colocá-la em condições ambiente (sol) para ser desidratada. Em seguida, a planta seca é triturada em pilão (ou liquidificador) e passar em uma peneira fina até obter um pó. É necessário guardar o pó em vidro seco e bem lacrado. Controla vários fungos Aspergillus flavus, A. glaucus, A. niger, A. ochraceous, Acanthoscelides obtectus, Colletotrichum gloesporioides, etc. Para o armazenamento, recomenda-se tratar as sementes deslintadas mecanicamente com cinza de lenha para controle de fungos

Pó de 3 folhas de eucalipto por 1 kg de sementes

Inicia-se com a distribuição de uma fina camada de esterco no fundo do sulco e depois vem a semeadura. Em seguida, as sementes são cobertas com outra camada de esterco. A dosagem de mastruz de 0,30 g do pó/20 g de sementes, o que equivale a 150 g do pó para 10 kg de sementes, correspondente a quantidade de um ha.

Mistura a cinza de lenha com as sementes deslintadas, na proporção de 5% do volume total.

Fuente: Fundación Valles (2011); Dantas, 2001.

Estrutura morfológica da semente - As funções e os principais constituintes existentes na interior da semente de algodão são: -A semente apresenta a micrópila em uma extremidade apontada e arredondada, na outra extremidade, onde situa a calaza (Figura 16);


C a p í t u l o I V | 132

Figura 16. Estrutura interna da semente de algodão, destacando os pigmentos de gossipol. Foto: Glen L. Ritchie, Craig W. Bednarz, Philip H. Jost and Steve M. Brown.

-A calaza é o principal local de absorção de água e oxigênio durante a germinação;

-A ponta da raiz primária, ou radícula, é a primeira parte da planta a emergir através da micrópila;

-As glândulas de gossipol visíveis em todo o interior da semente também são visíveis nos tecidos da planta em crescimento (Figura 17).


C a p í t u l o I V | 133

Figura 17. Sementes desprovidas de casca, cotilédones e pecíolo sem glândula (linha superior) e com glândula (linha inferior) de gossipol. Fotos: Dan Ma et al. (2016).

Germinação e desenvolvimento de plântulas. A germinação começa quando a semente absorve água e oxigênio através da calaza após o plantio. A água intumesce os tecidos dormentes, então a divisão e o crescimento celular começam a ocorrer. A radícula emerge através da micrópila (A-B) e cresce mais profundamente no solo (Figura 18), desde uma raiz principal que fornecerá água e nutrientes durante toda a vida útil da planta.

Figura 18. Germinação e desenvolvimento de plântulas de algodão, destacando a emergência da radícula (micrópila), abertura dos cotilédones e o surgimento da primeira folha verdadeira. Foto: Glen L. Ritchie, Craig W. Bednarz, Philip H. Jost and Steve M. Brown.


C a p í t u l o I V | 134 O hipocótilo se alonga a partir da radícula e forma um arco ou curvado que começa a empurrar o solo, um breve período geralmente chamado de estágio de curvatura (C). O surgimento de plântulas ocorre normalmente entre 4 a 14 dias após o plantio. Na superfície do solo, o hipocótilo endireita e puxa os cotilédones dobrados para fora do solo (D), um processo conhecido como germinação epígea. Depois que os cotilédones são puxados pela superfície do solo, eles se desdobram e expõem o epicótilo e o meristema apical, ou ponto de crescimento, que será a fonte do crescimento subsequente (Figura 19). Os cotilédones têm um papel duplo na germinação. Antes de se abrir, eles fornecem alimentos armazenados para as novas plântulas em germinação e após a sua abertura, eles produzem clorofila, tornam-se verdes e produzem energia através da fotossíntese. Enquanto o meristema apical emerge na base dos cotilédones e todo o crescimento vegetativo e reprodutivo da planta ocorre através dos meristemas.

Figura 19. Destaque do meristema apical e a primeira folha verdadeira em plântulas de algodão. Fotos: Glen L. Ritchie, Craig W. Bednarz, Philip H. Jost and Steve M. Brown.


C a p í t u l o I V | 135 Uma semana ou mais após o estabelecimento das plântulas, a primeira folha verdadeira aparece acima dos cotilédones (F) (Figura 19). Essa primeira folha da plântula é a primeira fonte de energia a partir do armazenamento para a fotossíntese e sinaliza a mudança da emergência para o crescimento vegetativo. Nesse ponto, a germinação e a emergência das plântulas estão completas e as plantas começam seu ativo crescimento vegetativo. Época de plantio - A observância da época adequada de plantio oferece maior possibilidade de êxito para o agricultor dentro das variações de chuvas a que está sujeita a lavoura nas comunidades dos distintos territórios envolvidos no projeto de algodão orgânico nos estados do PI, PE, PB, RN, AL e SE, tendo em vista a grande influência da precipitação sobre a produção, tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA, 1983). Recomenda-se iniciar o plantio quando a precipitação tenha atingido aproximadamente 30 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições, o solo apresenta umidade suficiente para a germinação das sementes e desenvolvimento das plantas (BELTRÃO, 1999). Em área a ser plantada até 2 ha, alguns agricultores familiares de outras regiões do Nordeste separam as quantidades de sementes a serem semeadas no dia seguinte e deixam elas umedecidas durante toda noite, tendo como resultado uma acelerada germinação das sementes em poucos dias após plantio, mesmo em situações de baixa umidade do solo. Este exemplo se ajusta perfeitamente às condições do agricultor do semiárido pelo fato da semeadura de sua lavoura do algodão ser realizada, em grande parte, manualmente. Semeadura - Riscar ou marcar as fileiras com o instrumento marcador onde serão plantados o algodão, conforme a Figura 20. A semeadura pode ser manual ou mecânica. Em ambos os casos, deve-se colocar no sulco ou na cova uma quantidade de semente superior a densidade desejada a fim de evitar o replantio. Essa quantidade dependerá do poder germinativo da semente. Semente com mais de 85% de germinação, recomenda-se colocar de quatro a cinco sementes por cova, no caso de plantio manual, e de 15 a 25 sementes por metro linear, no plantio mecanizado. Para o plantio de um hectare de algodão herbáceo são necessários de 20 a 25 kg de sementes com línter.


C a p í t u l o I V | 136

Figura 20. Utilização de um instrumento manual para riscar as fileiras de plantio do algodão.

O plantio pode ser totalmente manual, abrindo as covas com ajuda de uma enxada e, de imediato com o pé, as covas são cobertas com o solo. Recomenda-se colocar em cada cova de 6 a 8 sementes, principalmente quando não se conhece o seu percentual de germinação, das quais serão aproveitadas as três plantas (no máximo) que se mostrarem mais vigorosas. Também o plantio manual pode ser feito utilizando uma matraca específica para sementes com pouco línter (Figura 21), cujo manuseio é bastante simples em solo bem preparado. Há necessidade de regular bem o distribuidor de sementes (BELTRÃO, 1999).

Figura 21. Matraca apropriada para semeadura de sementes de algodão com línter. Fotos: Odilon Reny Ribeiro e Vicente de Paula queiroga.


C a p í t u l o I V | 137 No caso de problemas de germinação no plantio, suas causas podem ser diversas, tais como: a) semente de má qualidade (baixa germinação e vigor) b) semeadura profunda da semente, assim como preparo de solo inadequado e desnivelado; c) Solo inundado, sem aeração e com maior capacidade de retenção de umidade (solos pesados), pode comprometer a germinação da semente, e d) presença de crostas duras na parte superficial do solo. Portanto, havendo uma falha significativa na germinação das sementes, recomenda-se efetuar o replantio dentro de uma semana após a emergência, para que não haja tanta diferença entre as idades de plantas novas e as que emergiram na primera semeadura. Um replantio atrasado poderá onerar os custos com os tratos culturais e a colheita da cultura algodoeira. Antes de plantar a semente com línter com germinação superior a 75%, a semeadora de tração animal deve ser regulada para distribuir 15-20 sementes por metro de sulco, correspondendo a um gasto máximo de 20 kg/ha no espaçamento entre fileiras de 0,90 a 1,00 m para a cultura solteira, deixando após desbaste entre 7 a 11 plantas por metro linear (Figuras 22 e 23).

Figura 22. Plantadeira mecânica de tração manual ou animal para a semeadura de sementes de algodão com pouco línter (deslintadas mecanicamente ou flambagem). Fotos: Odilon Reny Ribeiro Silva.


C a p í t u l o I V | 138

Figura 23. Nas entrelinhas de plantio, recomenda-se deixar 7 a 11 plantas de algodão por metro linear do algodão herbáceo.

Espaçamento e Densidade - Divergindo do espaçamento recomendado pela Embrapa Algodão, o sistema de plantio com espaçamento mais largo (1,10 x 0,40 m) apresentou melhor resposta produtiva do algodoeiro orgânico no experimento realizado na região do Curimataú (Remígio, PB), em razão de que tal manipulação do microclima no algodoal irá reduzir a proliferação de pragas e doenças, permitindo então criar às condições para que ocorra maior mortalidade natural do bicudo (COSTA et al., 2008; SWEZEY et al., 1999). Em geral, o espaçamento indicado pela pesquisa para o algodoeiro herbáceo varia de 0,75 a 1,00 m entre fileiras, com 4 a 12 plantas por metro linear após desbaste, dependendo dos tipos de algodão (herbáceo e arbóreo). A população ideal para a cultivar BRS 200 Marrom é de 40.000 plantas por ha, podendo usar o espaçamento de 1,00 m x 0,30 m com duas plantas/ cova ou 4 a 6 plantas/metro linear. Desbaste - O desbaste ou raleamento deve ser efetuado apenas quando se verificar a germinação de um número excessivo de sementes (Figura 24). Deve-se proceder ao arranquio das plantas menos vigorosas entre 15 a 20 dias após a germinação ou quando as plantinhas estiverem com um palmo de altura e o terreno estiver bem molhado, tanto para o algodão como para as culturas consorciadas. Deixar no caso do milho e feijão duas plantas por cova após desbaste. No entanto, na hipótese de germinarem de 2 a 3 plantas/cova, esta operação se torna dispensável (FREIRE et al., 1992).


C a p í t u l o I V | 139

Figura 24. Excessiva quantidade de semente usada no plantio. Recomenda-se efetuar manualmente a operação de desbaste para 2 a 3 plantas por cova.

Irrigação – O algodão em regime de irrigação deve ser plantado durante todo ano e o plantio de campos de sementes nas entressafras permite reduzir o tempo de armazenamento, além de reduzir a infestação de pragas quando se trata da região semiárida. Pode ser realizada pelos métodos de superfície (volume total de 8.500 m 3/ha), gotejamento (5.00 m3/ha) ou aspersão em função da topografia do terreno. O manejo de água deve ser feito de acordo com a orientação técnica, considerando-se as características físico-hídricas do solo e a demanda da cultura. Não existindo informações disponíveis sobre as características acima, sugere-se irrigar as plantas entre 6 h, e 8h:30m, apresentarem sintomas de murcha das folhas superiores com coloração verde azulada e mudança de coloração dos brotos terminais. Deve-se aplicar uma lâmina de água que seja suficiente para umedecer o perfil do solo explorado pelo sistema radicular do algodoeiro (EMBRAPA, 1996). Calagem - É importante destacar que os rendimentos do algodoeiro tendem a diminuir na medida em que o pH dos solos é menor que 5,5 ou maior que 7,5, sendo assim, é necessário corrigir problemas associados com a acidez do solo, no primeiro caso, ou com a alcalinidade no segundo. Recomenda-se que a calagem para o algodão seja feita de acordo com a análise química do solo. Uma vez constatada a acidez do solo, pela determinação do pH e dosagem do alumínio trocável, deve-se proceder à correção, com o uso de rocha de calcário, de preferência, dolomítico que possui de 25 a 30% de CaO e mais de 12% de MgO


C a p í t u l o I V | 140 (AUGSTBURGER et al., 2000). O calcário deve ser aplicado a lanço, de modo uniforme e depois deve ser incorporado até a profundidade de 20 cm. Essa operação deve ser executada bem antes do plantio, no mínimo dois meses. No caso do gesso natural, que é usado para corrigir solos sódicos e solos salino-sódicos, com pH elevado, o radical sulfato liberado da hidrólise, favorece a redução do pH, formando sulfato de sódio hidratado que é lixiviado, reduzindo, assim, o problema de sódio no solo. Adubação orgânica - No Nordeste do Brasil, as possibilidades de fertilização mais importantes na produção ecológica do algodão são: utilização de adubo verde através da incorporação da vegetação nativa 30 dias antes da semeadura do algodão e pela aplicação de adubos orgânicos (SILVA et al., 2005). A adubação foliar pode ser complementada com biofertilizantes naturais especialmente preparados pelo produtor (ORGÂNICO, 2001). O habitual esterco de curral bem curtido é considerado o mais usado no semiárido, onde se recomenda a dosagem de 20 t/ha, colocando nas covas ao lado das sementes e um pouco abaixo ou a lanço no plantio, caso o agricultor tenha grade de disco para incorporação superficial. O ideal é usar o esterco disponível na própria propriedade. É importante ressaltar que o fator limitante para a obtenção de altos rendimentos do algodoeiro é a disponibilidade de fósforo, que é o elemento básico de ação na floração e frutificação (QUEIROGA, 1983). Portanto, as deficiências do fósforo em boa parte dos solos da referida região podem ser compensadas mediante aplicações de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos, antes da preparação do terreno. Biofertilizantes - Na área de produção de sementes de algodão orgânico instalada nas comunidades de agricultores familiares poderá receber uma aplicação de biofertilizantes aos 30 dias após a emergência das plantas, com efeito, irá resultar em plantas mais vigorosas e com um dos melhores rendimentos em algodão em rama. O processo de produção de biofertilizantes é bastante simples, basta que o produtor tenha esterco de curral disponível na sua comunidade para fazer o seguinte preparo: Numa lata de 20 litros, deve-se colocar meia lata (10 litros) de esterco de curral curtido, esterco de galinha em torno de 250 gramas e 250 gramas de açúcar (cristalizado ou refinado). Completar com água, deixando um espaço de 8 a 10 centímetros antes da borda acima, para evitar transbordar. Fechar muito bem a boca da lata, vedando com um saco plástico bem


C a p í t u l o I V | 141 amarrado. Deixar por trinta dias bem fechado (fermentação anaeróbica). A calda pronta deve ser diluída, misturando 1 litro da calda para cada 10 litros de água. Consórcio agroecológico - Os sistemas de cultivo consorciados ou policultivos são importantes sistemas para o manejo mais eficiente de pequenas propriedades rurais. Nesses sistemas, a diversificação de espécies vegetais é bastante benéfica, pois promove um melhor aproveitamento dos recursos naturais, haja vista as plantas terem necessidades nutricionais e demanda hídricas distintas, e contribui significativamente para o manejo das pragas. Na Normativa de produção de sementes adotada pelo MAPA deve ser permitida oficialmente, em lugar do monocultivo do algodão convencional, o cultivo do algodão orgânico consorciado em faixas com outras espécies (feijão comum, milho, feijão guandu, sorgo e gergelim) realizadas pelas comunidades rurais do semiárido. Essa medida é justificada pela eficiência do plantio do algodoeiro no sistema consorciado em faixas, por ser considerada a condição básica para uma produção agroecológica, pois essa configuração de diversas espécies faz com que algumas pragas se desorientam e os predadores são favorecidos (QUEIROGA et al., 2017). O sistema consorciado em duas faixas distintas consiste no plantio de 5 fileiras de algodão em uma faixa e, na outra faixa, 6 (ou 5) fileiras de diferentes espécies, sendo uma fileira ocupada por cada espécie, num espaçamento geral entre as fileiras de 1 metro. O arranjo populacional das espécies no campo obedeceu à seguinte sequência de plantio: 5 fileiras de algodão +1 fileira de feijão + 1 fileira de gergelim + 1 fileira de sorgo + 1 fileira de feijão guandu + 1 fileira de milho + 1 fileira de feijão + 5 fileiras de algodão, etc, sendo que nas bordaduras do campo (circulando toda área plantada) foram plantadas 3 fileiras de gergelim. Esse sistema de consórcio de cinco fileiras de algodão e cinco fileiras de distintos cultivos também foi avaliado em São Sebastião, região do Cariri, PB (Figura 25).


C a p í t u l o I V | 142

Figura 25. Consórcio agroecológico em faixa de cinco fileiras de algodão x cinco fileiras de cada cultivo alimentício (amendoim, milho, feijão, gergelim), sendo que o jerimum e a melancia são plantados aleatoriamente dentro da área do algodão. Foto: Dalfran Gonçalves Vale.

Isolamento e operação de roguing - Pelo fato de ser o algodoeiro uma planta de polinização cruzada, recomenda-se uma distância mínima de 250 metros entre cultivares diferentes, de 800 m entre espécies diferentes do mesmo gênero e de 50 m com barreira naturais ou cultivos de maior altura do que o algodão. Além desses tipos de isolamentos, ainda, para o cultivo em épocas espaçadas no tempo (cultivo de mais de 60 dias, dependendo do ciclo das cultivares) de cultivares distintas, pode surtir o efeito desejado como condição de isolamento, quando se considera cultivar do mesmo ciclo (QUEIROGA et al., 2008). A limpeza dos campos (roguing) de algodoeiro deverá ser efetuada pelos agricultores (Figura 26) nas áreas destinadas para produção de sementes, visando eliminar as plantas atípicas e garantir a identidade genética do material. A produção própria de sementes pelos agricultores, visando atender os seus compromissos assumidos junto aos Bancos Comunitários de Sementes, irá contribuir na autossuficiência do abastecimento das comunidades organizadas do semiárido, também, evita a introdução de doenças na referida região.


C a p í t u l o I V | 143

Figura 26. Roguing em campo de algodão para eliminação de plantas atípicas. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A contaminação das plantas pode ser de ordem genética e mecânica. Mesmo quando se utilizam sementes com elevada pureza genética para semear, é possível detectar no campo uma pequena variação na população das plantas, devido à segregação, as quais deverão ser eliminadas pela operação de “roguing”, procedimento usado nos programas de produção de sementes em geral (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). No caso do algodão é necessário realizar a operação de eliminação das plantas atípicas nos seguintes estádios fenológicos da cultura (QUEIROGA; BELTRÃO, 2001): 1. Pré-floração - porte distinto, folhagem diferente, presença de pêlos nas folhas, doentes, coloração distinta da haste; 2. Floração - tamanho e intensidade de coloração das flores, florescimento precoce e não uniforme, 3. Pré-Colheita- quanto ao tipo, formato e coloração dos frutos, inclusive as plantas de baixo rendimento; 4. Colheita- remoção das plantas tardias e com deiscência precoce.


C a p í t u l o I V | 144 Capinas - Até os primeiros 20 dias após a germinação o algodoeiro apresenta um crescimento inicial lento, enquanto que as ervas daninhas crescem rapidamente. Assim, quando não controladas as ervas daninhas podem reduzir o rendimento do algodoeiro em até 90% (BELTRÃO et al., 1986). Recomenda-se realizar a primeira capina entre o 9' e o 12' dia da emergência, pois o algodoeiro não suporta a competição de ervas daninhas nos primeiros 70 dias após a germinação. As demais capinas devem ser realizadas a proporção em que se fizerem necessárias. Após este período, a lavoura deve coexistir com as plantas daninhas, sem prejuízo para a sua produção final e com benefício para a pecuária, devido ao acúmulo de forragem para uso no período seco do ano. Geralmente, são efetuadas de três a quatro capinas durante o ciclo da cultura (BELTRÃO; AZEVEDO, 1983). As limpas devem ser realizadas no período crítico (da emergência aos 70 dias da cultura) e rasas, no máximo 3,0 a 4,0 cm. O controle das plantas daninhas na lavoura agroecológica pode ser efetuado a enxada (processo lento e caro, exigente de mão-deobra), através de cultivadores de tração animal e com micro tratores Tobata. Esse controle do mato entre as fileiras do algodoal é realizado com ajuda do instrumento arado cultivador (Figura 27) e, entre as covas das plantas, realiza-se o retoque com a enxada.

Figura 27. Uso de cultivador puxado pelo burro corresponde ao serviço de 10 homens. Foto: Ematerce, 1993.


C a p í t u l o I V | 145 Controle de pragas - As principais estratégias alternativas de controle de pragas para o algodoeiro orgânico são: a) Controle Biológico, b) Controle Cultural, c) Controle Climático e d) Controle com Produtos Naturais. a) Controle Biológico. Do ponto de vista ecológico, o controle biológico é uma parte do controle natural, o qual ocorre sem a interferência do homem. Entretanto, também pode ter muito valor o controle biológico aplicado, quando a introdução e a manipulação de inimigos naturais são feitas pelo homem, visando à redução de danos causados por pragas em níveis tolerados (BOSCH et al., 1982). Dentre os vários agentes de controle biológico existentes na natureza, apenas o Trichogramma spp. (curuquerê, lagarta rosada e lagarta-das-maçãs) e a bactéria Bacillus thuringiensis (curuquerê e lagarta-das-maçãs) encontram-se disponíveis para aplicação pelo agricultor, sendo que no mercado o Bacillus thuringiensis é encontrado com o nome comercial Dipel. Já a tecnologia da produção de Trichogramma pretiosum encontra-se à disposição de cotonicultores na Embrapa Algodão de Campina Grande-PB. b) Controle Cultural. Durante a condução da produção do algodão orgânico, o produtor poderá ser orientado na manipulação de várias práticas de cultivo, ecologicamente naturais, visando modificar o agroecossistema, cuja utilização de diferentes estratégias de cultivo é tornar desfavorável o desenvolvimento de pragas e, ao mesmo tempo, favorável ao desenvolvimento de seus inimigos naturais. Estas modificações nas práticas agrícolas podem alterar a atratividade e a suscetibilidade das plantas às pragas, que, segundo Ramalho (1994), pode ser definido como controle cultural. As principais práticas culturais utilizadas para reduzir problemas de pragas no algodoeiro orgânico são: UNIFORMIDADE DE PLANTIO – Nas áreas zoneadas para o cultivo do algodão orgânico da região semiárida do Nordeste deve ser estabelecido seu período de plantio pelos produtores, de forma que a semeadura não deve ultrapassar os 30 dias de um produtor para outro dentro do mesmo município, devido a problemas de pragas, em especial o bicudo e o aumento dos riscos de veranicos durante o ciclo da cultura (SILVA et al.; 1997). MANIPULAÇÃO DE CULTIVARES – A pesquisa considera que a utilização de cultivares de algodão de ciclo curto seja preferida pelo produtor de algodão orgânico, na tentativa de reduzir o tempo de exposição das plantas à colonização e infestação de pragas


C a p í t u l o I V | 146 (broca, bicudo, lagarta das maçãs e lagarta rosada). Espera-se que o agricultor plante uma cultivar de ciclo curto de 100 a 110 dias, a qual atenderia melhor o controle cultural de convivência com as pragas, sugerindo sua possível utilização para favorecer o escape da cultura ao ataque do bicudo (SILVA; ALMEIDA, 1998). PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO - Devido às áreas plantadas com algodão no Nordeste pertencerem aos pequenos agricultores, os quais em muitos casos abandonam as lavouras por não terem recursos financeiros para controlar o bicudo. Portanto, alguns produtores acreditam que deixando uns períodos livres de 2 a 3 anos de intervalos sem plantar o algodão na região, o nível populacional do bicudo fica zerado na região desde que sejam destruídas todas as plantas de algodão e outras espécies hospedeiras, de maneira que quando eles voltam a planta o algodão praticamente não necessitam fazer qualquer tipo de controle para o bicudo (RAMALHO; SILVA, 1993). ESPAÇAMENTO AMPLO - Pesquisadores da Embrapa Algodão constataram que o espaçamento amplo (1,10 m X 0,40 m) utilizado no plantio algodão orgânico pelos agricultores familiares do Assentamento Queimadas, pertencente ao município de Remígio, Curimataú Paraibano, está de conformidade com o sistema de plantio adotado pelos cotonicultores orgânicos da Califórnia EUA, os quais utilizam menores populações de plantas em seus algodoais para prevenir a infestação de pragas e doenças (SWEZEY et al., 1999). Pierce et al. (2001) citam a manipulação do microclima das plantas de algodão como estratégia de reduzir a sobrevivência de bicudos imaturos. Esses autores verificaram que alta temperatura e baixa umidade relativa promovem um maior percentual de mortalidade natural do inseto. Os mesmos autores também constataram que há uma probabilidade de que 34% dos botões florais que caem ao solo resultarem na emergência de adultos. Ao contrário, aqueles que caem no centro da fileira têm somente 6% de possibilidade de propiciarem sobrevivência do adulto, fruto das condições microclimáticas inadequadas. CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS – Vários estudos foram realizados sobre a viabilidade desta técnica e comprovaram que a catação equivale a reduzir até 60 % das pulverizações com inseticidas de um campo de algodão convencional, dependendo das condições ambientais, da cultivar e da proximidade de outros campos, com seu respectivo controle de pragas (BELTRÃO et al., 1997). Para as pequenas áreas de algodão orgânico dos agricultores familiares, sugere-se que se faça a


C a p í t u l o I V | 147 coleta semanal de todos os botões florais e maçãs caídas no solo, a partir do início da queda dos botões florais. Para as áreas maiores, sugere-se apenas coletar nas bordaduras (15 a 20 fileiras ao redor do campo) e com frequência de uma a duas vezes por semana, dependendo do nível populacional da praga (BLEICHER, 1990). Estas estruturas reprodutivas deverão ser aproveitadas para alimentação dos animais da propriedade ou enterradas ao solo. O catador de botões florais desenvolvido pela Embrapa Algodão e acompanhado por um saco-coleta, conforme pode ser visto na Figura 28.

Figura 28. Detalhes do catador manual de botões florais atacados pelo bicudo e caídos ao solo e a bolsa de coletas. Foto: Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão (1995).

DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA- Com o surgimento do bicudo, tornou-se obrigatório a destruição dos restos culturais do algodoeiro após colheita, tais como: raízes, caules, botões florais, flores, maçãs, carimãs e capulhos não colhidos, respectivamente, através do arranquio e/ ou coleta, para destruição e incorporação no solo. Esta operação ecologicamente correta visa quebrar o ciclo biológico das pragas, através da eliminação dos sítios de proteção, alimentação e reprodução (SILVA et al., 1997). ROTAÇÃO DE CULTURA- O cultivo alternado do algodoeiro com outras culturas, em sucessões repetidas, adotando-se uma sequência definida, além de contribuir para redução de pragas específicas associadas a uma delas, concorre favoravelmente para a melhoria das condições físicas e químicas do solo (SILVA et al., 1997). CULTURA-ARMADILHA- Também denominado por “planta-isca” baseia-se no plantio (antecipado ou não) de uma espécie mais atrativa (gergelim) para as pragas (mosca branca e pulgão) do que o algodoeiro (SILVA; ALMEIDA, 1998). Este gergelim (hospedeiro) é plantado nas fileiras marginas do campo, visando estimular a praga em


C a p í t u l o I V | 148 preterir ou retarda a colonização definitiva no algodoeiro e estas pragas seriam controladas com produtos naturais. Scott et al. (1974) demonstraram a eficiência desta técnica no controle do bicudo, que, no caso do algodoeiro colorido orgânico, esta praga poderia se atraída pelas faixas de plantio antecipado do algodão e eliminado através de pulverizações sistemáticas com defensivos orgânicos (Nim). ARMADILHA DE FEROMÔNIO- Refere-se à instalação de Tubo Mata Bicudo (TMB), contendo o feromônio “grandlure”, antes da semeadura e após a colheita. Por se tratar de campos de algodão orgânico, recomenda-se instalar 02 TMBs para cada área do produtor familiar nas faixas ou rota de entrada e saída dos adultos de bicudo, com o objetivo de reduzir a quantidade de insetos que se dirigem as áreas de refúgio, e que posteriormente retornarão ás lavouras seguintes (AZEVEDO; VIEIRA, 2002). c) Controle Climático. Na microrregião do Seridó do Nordeste, as condições edafoclimáticas influem de forma significativa na redução do nível populacional das pragas (broca e bicudo). O algodoeiro colorido orgânico cultivado, em regime de irrigação, numa área do Seridó com insolação excessiva, onde esse solo abrasador, com temperatura acima de 60 ºC funcionaria como fator limitante para a sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo (RAMALHO, 1994). Este controle climático através da dessecação constitui-se no principal fator de mortalidade natural de larvas, pupas e adultos pré-emergentes do bicudo. d) Controle com Produtos Naturais. As pulverizações preventivas nas bordaduras (6 fileiras), ao redor do campo de algodão orgânico com o Nim, poderão ser eficientes no controle do bicudo, desde que essas pulverizações sistemáticas sejam realizadas semanalmente, a partir da fase inicial de emissão dos primórdios dos botões florais do algodoeiro colorido. Junto com as pulverizações preventivas, deveriam ser efetuadas também as catações dos botões florais nas 6 fileiras da bordadura. Para elevar o poder residual e sua ação tóxica natural no algodoeiro, basta aplicar o Nim misturado com óleo bruto de algodão, sendo que neste último produto já vem incorporado uma substância tóxica natural que é o gossipol (ARAÚJO et al., 2002). A Embrapa Algodão também desenvolveu um inseticida natural à base de caulim - um pó de rocha de cor branca, composto por silicato de alumínio, que vem sendo utilizado no combate ao bicudo do algodoeiro (Figura 29). Esse produto alternativo que vem auxiliando agricultores de algodão agroecológico nas microrregiões do cariri paraibano e


C a p í t u l o I V | 149 do agreste paraibano. O caulim deve ser diluído em água (solução de 60 g por litro) e depois pulverizado nas plantações afetadas. Após a pulverização do caulim, a planta fica tingida de branco, tornando-se irreconhecível para o bicudo, além de atrapalhar a sua movimentação e alimentação, pois as partículas aderem ao corpo do inseto. Recomendase que as aplicações com caulim sejam realizadas sempre que 5% da lavoura de algodão apresentar botões florais atacados pelo bicudo e acompanhada de outras tecnologias desenvolvidas pela Unidade (como a catação dos botões florais danificados pelo inseto).

Figura 29. Aplicação de caulim sobre a folhagem do algodoeiro. A dosagem usada de 1,2 kg de pó/ 20 litros de água. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Preparação de macerado para controle de pragas – Recomenda-se a preparação antecipada de macerados e seu armazenamento em depósito de plástico bem lacrado para atender as principais pragas do algodão (broca, pulgão, lagarta, bicudo, etc; Figuras 30 e 31).

Figura 30. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do algodoeiro orgânico como mosca-branca, cochonilha, pulgão, lagarta e bicudo. Depósitos devem ser bem vedados. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I V | 150

Figura 31. Identificação de algumas pragas do algodoeiro: broca, pulgão, lagartas curuquerê e rosada.

Os principais danos causados pelo bicudo no algodoeiro são resultantes de orifícios promovidos nas estruturas reprodutivas da planta, durante a alimentação e oviposição dos adultos do inseto, sendo os botões florais as estruturas preferencialmente atacadas pelos insetos (Figuras 32, 33 e 34). Os botões florais presentes no terço médio das plantas são os preferidos para a alimentação, enquanto que os botões florais presentes no terço superior das plantas são os preferidos para a oviposição. Porém, na ausência dos botões florais e em alta densidade populacional de adultos, as flores e as maçãs também podem ser atacadas.


C a p í t u l o I V | 151

Figura 32. Ciclo biológico do bicudo Fotos: Paulo E. Saran (ovo, larva e pupa), Arquivo IMAmt.

Figura 33. Crescimento populacional do bicudo-do-algodoeiro em 5 gerações/safra. Fonte: Ramiro, Z. (2001).


C a p í t u l o I V | 152

Figura 34. Porcentagem de danos causados pelo bicudo-do-algodoeiro, de acordo com a posição dos capulhos nos terços superior, médio e inferior da planta. Fonte: Ramiro, Z.(2001), III CBA.

Colheita manual- A colheita do algodão consiste em separar o capulho já formado e maduro das brácteas secas das cápsulas abertas (Figura 35). Iniciar a operação de colheita quando a lavoura esteja com mais da metade da sua carga aberta e deverá ser realizada com todo cuidado para não prejudicar a qualidade do algodão. Recomenda-se colher a partir das 8:00 h e em dia ensolarado, e sem a presença do orvalho.

Figura 35. Colheita manual do algodoeiro. Gravura: Nerival Rodrigues (2009).


C a p í t u l o I V | 153 A colheita manual é o método mais apropriado para pequenas áreas da agricultura familiar. Um operário tem a capacidade de colher até 45 kg de algodão em rama por dia. Apesar do baixo rendimento e o inconveniente de terceirizar a mão-de-obra, a colheita manual permite obter algodão em rama mais limpo, desde que se efetue uma boa supervisão de campo. Utilizar sacos de tecido de algodão para a colheita do algodão em rama e nunca de agave, juta ou plástico, materiais que poderiam contaminar o produto, diminuindo a qualidade da fibra. Esses sacos de pano (algodão) são bastante arejados com capacidade para 45 a 60 kg, sendo transportados e armazenados em depósitos e galpões específicos (Figura 36). Também se recomenda utilizar cordão de algodão para amarrar os sacos para não criar problemas na fiação (fibra contaminada). Além disso, a sacaria deve ser virgem para evitar a contaminação mecânica, principalmente quando se utilizada outra cultivar de algodão herbáceo. A umidade ideal de armazenamento do algodão em caroço é de 8 a 10% (BELTRÃO, 1999).

Figura 36. Colheita manual do algodão e ensacamento do algodão em rama em sacos de pano. Foto: Toninho Cury.


C a p í t u l o I V | 154 Quando o material colhido contém umidade excessiva, este deve ser depositado sobre lonas de plástico para completar sua secagem ao sol. Uma semente seca com baixa umidade é detectada na prática por produzir um pequeno estalido ao mastigá-la entre os dentes e, se o som do estalido não suceder, essa semente é considerada úmida. Deve-se ter o cuidado de não armazenar o produto colhido após uma chuva, ou com umidade elevada, para evitar sua fermentação que é bastante prejudicial a qualidade intrínseca da fibra. Colheita mecanizada -A mecanização nos estabelecimentos rurais nordestinos ainda é uma realidade pouco disseminada, pois, em sua maioria, ainda utilizam práticas rudimentares em sua produção, fator este que limita a produção, mesmo quando se trata de pequenas áreas de algodão (BANCO DO NORDESTE, 2010), principalmente quando associado aos custos elevados e a baixa disponibilidade da mão de obra. A colheita mecanizada é extremamente vantajosa em relação a manual, pois os custos operacionais são reduzidos por ser uma operação muito rápida e há melhoria na qualidade do produto colhido por evitar a presença de contaminantes. Uma colhedora de algodão de funcionamento parecido a um aspirador de pó, tendo como mochila um motor de sucção (peso de 3,5 kg) junto a um saco transparente para acumulação do algodão (Figura 37), foi validada pela Embrapa Algodão numa unidade demonstrativa de algodão da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE. Os técnicos observaram que o equipamento é capaz de colher 80 kg/dia de algodão em rama, sendo esse desempenho considerado o dobro da quantidade colhida manualmente (40 kg/dia). Uma vez completado o saco coletor com algodão, o mesmo deverá ser substituído por outro saco de reserva, assim fazendo poderá haver um incremento na quantidade de algodão em rama colhido por dia.


C a p í t u l o I V | 155

Figura 37. Colhedora de algodão tipo costal (motor e saco coletor de algodão) com tubo de sucção usado na colheita do G. barbadense no pequeno campo de Chincha, Peru. Fotos: Gonzalo Tejada.

No caso de cultivo orgânico não é permitido o emprego de produtos químicos ou dessecantes no cultivo do algodoeiro como meio para facilitar a colheita mecanizada. A única forma de empregar a colheitadeira de fuso (spindles) de uma linha (Figura 38) no algodoal orgânico é retardar sua colheita, usando variedades de maior retenção dos capulhos nas cápsulas e provocando assim a senescência natural de toda a folhagem, cujo fenômeno é iniciado e finalizado pelo amarelecimento e pelo murchamento das folhas, respectivamente.


C a p í t u l o I V | 156

Figura 38. Colheitadeira automotriz de algodão de uma linha com fuso ou “spindles”. Fotos: Valdinei Sofiatti e Odilon Reny Ribeiro Ferreira Silva

Beneficiamento - Recomenda-se o uso de mini-descaroçadores e prensas manuais ou hidráulicas, instaladas especialmente nas comunidades ligadas às cooperativas e associações de produtores familiares (Figura 39). Procurar beneficiar o produto orgânico em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente quando for usá-las novamente, pois são necessárias apenas algumas sementes atípicas para contaminar todo um lote.

Figura 39. Algodão em rama e beneficiamento na miniusina de algodão de 50 serras na comunidade de produtores familiares. Campina Grande-PB. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.


C a p í t u l o I V | 157 A prensa hidráulica opera como fluxo da produção do descaroçador de 50 serras, cuja pluma é conduzida de forma manual para a caixa de armazenamento da prensa, que deve possuir tela de pano de algodão para o envolvimento do fardo (Figura 40). Além da miniusina de 50 serras, a Metalúrgica Barros de Campina Grande – PB desenvolveu um novo protótipo itinerante de 20 serras para atender pequenas comunidades de até 10 produtores (Figuras 41).

Figura 40. Prensa hidráulica da miniusina de algodão de 50 serras para comunidades de produtores familiares. Campina Grande-PB.


C a p í t u l o I V | 158

Figura 41. Miniusina itinerante composta por: um descaroçador de 20 serras, uma pequena prensa de fibra e um reboque para acoplar ao veículo. Fotos: Arquivo da Embrapa Algodão

Como vantagem relacionada à produção orgânica é que, ainda que em pequena escala, existem soluções para seu beneficiamento, como o caso dos fardos produzidos pela miniusina de 20 serras, que tem o mesmo volume do fardo da indústria de grande porte (peso de 200 kg do fardo, cuja dimensão é: 50,5 cm x 104,1 cm), no entanto, com uma densidade menor (entre 80 a 100 kg). Sua capacidade de beneficiamento é de 100 a 150 de algodão em rama/ hora.


C a p í t u l o I V | 159 Envasamento e Armazenamento de Sementes - Após o deslintamento mecânico ou flambado, as sementes são embaladas em sacaria de pano ou de ráfia e armazenadas, aguardando a próxima semeadura. Em condições da região semiárida, recomenda o armazenamento das sementes de algodão por no máximo oito meses, nas condições ambientais e com teor de umidade abaixo dos 10%. A capacidade de cada saco poderá ser de 25 kg de sementes orgânicas O tamanho de cada lote de sementes não pode ultrapassar a quantidade de 20 toneladas (Figura 42).

Figura 42. Sementes básicas com línter de algodão herbáceo da Embrapa envasadas em sacos de pano (25 kg) empilhados sobre estrados de madeira.

Integração lavoura-pecuária - Os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) consistem na diversificação das atividades na propriedade rural. Em tais modelos de produção estão integrados às explorações de cultivos agrícolas e o seu aproveitamento na alimentação animal, sendo que o gado é colocado para se alimentar dos restos culturais da lavoura no final da colheita do algodão.

Erradicação das soqueiras - A boa destruição é indispensável para que as populações de pragas e doenças se mantenham baixas no início de cada ano agrícola e para que algodoeiro continue sendo uma cultura economicamente interessante, de maneira sustentável através dos anos. Arrancamento e queima da soqueira do algodoeiro até 30 dias após o término da colheita.


C a p í t u l o I V | 160

Processo de distribuição de sementes – Esta etapa tem por finalidade assegurar a oferta de materiais e a logística da distribuição das sementes obtidas pela comunidade, para fundação de campos para a produção de outros campos de sementes. Isso tudo pode significar as seguintes estratégias:

1- Estratégias para reserva de materiais para multiplicação; 2- Estratégias para renovação do material básico ou certificado empregado na fundação dos campos de sementes e; 3- Mudanças de espécies ou cultivar escolhida em função de mudanças na demanda de materiais pelo mercado ou devido aos bons resultados apresentados pelos ensaios de competição de cultivares realizados no território da comunidade.

Em princípio, um dos objetivos da instituição das Unidades Coletivas de Multiplicação de Sementes (UCMS) no âmbito de uma comunidade de agricultura familiar é a implantação de campos de produção de sementes para a sua autossuficiência.

Neste caso, as sementes resultantes do processo de produção passam a compor o Banco de Sementes da Unidade, cabendo à comunidade, em assembleia específica, decidir a forma e os procedimentos para destinação das sementes disponibilizadas, ou seja, a oferta total menos a quantidade de sementes reservadas para a fundação de novos campos de sementes. Como forma de se dar sustentabilidade ao Banco de Sementes da UCMS, duas possibilidades existem para apoiar o processo de decisão:

1-Venda de sementes diretamente a cada membro da comunidade segundo suas necessidades e a preços previamente fixados pela assembleia; e 2-Distribuição das sementes a cada membro da comunidade mediante pagãmente de algodão em rama ou grãos de outras espécies, de valor equivalente para venda no mercado local.

Quando houver excedentes comercializáveis ou nos casos em que a comunidade decida produzir suas sementes também em função da demanda de comunidades vizinhas, a comunidade interessada deve procurar o necessário apoio técnico para registro no RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas, em conformidades com o modelo


C a p í t u l o I V | 161 convencional de produção de sementes, categorias S1 ou S2, estabelecido na legislação específica vigente. Independente da alternativa escolhida, os resultados financeiros das operações devem compor um fundo rotativo a ser estabelecido para a reprodução do processo produtivo terminado. Dependendo do interesse da coletividade como um todo, ou do interesse de um grupo em particular de produtores, uma comunidade pode se dedicar a produção de sementes para o comércio. Neste caso, a comunidade ou grupo deve efetivar sua inscrição no RENASEM como entidade regular de produção, beneficiamento e embalagem de sementes, cumprindo todas as exigências legais. Os conhecimentos sobre técnicas de produção de sementes, visando a melhor administração da UCMS pelos agricultores familiares, devem receber o apoio de organizações facilitadoras (técnicos de ONGs ou Emater) com ênfase na formação de jovens (filhos de agricultores) e de líderes das comunidades envolvidas no programa de produção de sementes de algodão orgânico.

Diagrama produtivo do algodão agroecológico consorciado – O diagrama referente ao cultivo dos consórcios agroecológicos com algodão em geral em Quixeramobim-CE (Figura 43).

Figura 43. Diagrama de fluxos elaborado junto com os agricultores familiares de Quixeramobim, CE para produção de sementes em consórcios agroecológicos com


C a p í t u l o I V | 162 algodão. As conexões estabelecidas na produção do algodão agroecológico: setas azuis representam fluxos de entrada e setas laranjas os fluxos de saída. Fonte: ESPLAR.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 163 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, L. H. A.; SANTOS, R. F.; SOUSA, S. L.; QUEIROGA, V. P.; LIMA, N. J. Avaliação da Mistura Endosulfan com Óleos Vegetais para o Controle do Bicudo do Algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, 1843. (Coleoptera: Curculionidae). Embrapa Algodão, Campina Grande, 7p. 2002. AUGSTBURGER, F.; BERGER, J.; CENSKOWSKY, U.; HEID, P.; MILZ, J.; STREIT, C. Agricultura orgánica en el trópico y subtrópico: guías de 18 cultivos: ajonjolí (sésamo).1. ed., Gräfelfing: Naturland, 2000. 30p. AZEVEDO, F. R.; VIEIRA, F. V. Levantamento populacional de pragas do algodoeiro em condições de sequeiro. Ciência agronômica, v.33, n.1, p.15–19, 2002. BALTIERE, E. M. Encapsulação de sementes de algodão (Gossypium hirsutum r. latifolium, L.). 1993. 106f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” /USP, Piracicaba, SP. BANCO DO NORDESTE. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste ETENE. Utilização de máquinas e implementos agrícolas nos estabelecimentos rurais do Nordeste, Informe Rural ETENE, v.4, n.9, 2010. BELTRÃO, N. E. M. O Agronegócio do Algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. 1023p. BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P. Influência competitiva das plantas daninhas sobre o algodoeiro arbóreo “Gossypium hirsutum marie galante, Hutch.”, nos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Campina Grande, PB: EmbrapaCNPA, 1983. p.21-34 (Embrapa-CNPA. Boletim de Pesquisa 3). BELTRÃO, N. E. M.; SILVA, O. R. R. F.; RIBEIRO, V. G.; CARVALHO, L. P. Desenvolvimento e avaliação de um catador de botões florais atacados pelo bicudo e caídos no solo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1997. 7p. (EMBRAPA-CNPA. Pesquisa em Andamento, 37). BELTRÃO, N. E. M.; VIEIRA, D. J. O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.121-160. 348p.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 164 BLEICHER, E. Uso da catação de botões florais no controle do bicudo do algodoeiro. In: REUNIÃO NACIONAL DO ALGODÃO, 6., 1990, Campina Grande. Resumo dos trabalhos. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1990. p.40. BOSCH, R. Van den; MESSENGER, P. S.; GUTIERREZ, A. P. An introduction to biological control. New York: Plenum Press, 1982, 247p. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 25, de 16 de dezembro de 2005. Estabelecer normas específicas e os padrões de identidade e qualidade para produção e comercialização de sementes de algodão, arroz, aveia, azevém, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trevo vermelho, trigo, trigo duro, triticale e feijão caupi. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 20/05/2007. CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 588p. CORDEIRO, A.; FARIAS, A. A. Gestão de bancos de sementes comunitários. Versão brasileira do Manual de Gestão Prática de Fernand Vicent - Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 60 p. COSTA, A. A.; SILVA, C. D.; MACÊDO, R. C.; SILVA, M. N. B.; MOREIRA, J. M. Convivência com as pragas do algodoeiro no Curimataú paraibano. Revista Agriculturas: Experiências em Agroecologia, n.1, v. 5, p. 7-10, 2008. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de algodão. (Campina Grande, PB). Zoneamento para a cultura do algodão no Nordeste. I. Algodão Arbóreo. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1996. 23p. (Embrapa-CNPA. Boletim de Pesquisa, 31). FONSECA, M. F. A. C. Agricultura orgânica: regulamentos técnicos para acesso aos mercados dos produtos orgânicos no Brasil. Niterói: PESAGRO-RIO, 2009. FREIRE, E. C., VIEIRA, D. J.; ANDRAD, F. P.; MEDEIROS, J. C.; NÓBREGA, L. B.; NOVAES FILHO, M. B.; BRAGA SOBRINHO, R. Cultura do algodoeiro mocó precoce. 2 ed. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1992, 26p. (Embrapa-CNPA. Circular técnica, 15). MELO, B. A. Associação de defensivos natural e sintético à polímero para o controle de Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797) (Coleoptera: Tenebrionidae) em sementes


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 165 de amendoim. 2013. 44f. Tese de Mestrado (Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Campina Grande. Processamento e Armazenamento de Produtos Agrícolas. ORGÂNICO, o difícil é produzir. Anuário Brasileiro do Algodão, Santa Cruz do Sul, p. 40-41, 2001. PIERCE, J. P. B.; YATES, P. E.; HAIR, C. J. Crop management and microclimate effects on immature boll weevil mortality in Chihuahuan desert cotton fields. Southewestern Entomologist. v. 26, n.1, p.87-93, 2001. QUEIROGA, V. P. Cultura do algodão herbáceo no Rio Grande do Norte. Natal: EMPARN, 1983. 51p. QUEIROGA, V. P.; BELTRÃO, N. E. M. Produção de Sementes. In: O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.285-301. 348p. QUEIROGA, V. P.; BEZERRA, J. E. S.; CORREIA, L. J. Deslintamento à flama da semente de algodão (Gossypium hirsutum L.). Revista Brasileira de Sementes. BrasíliaDF: ABRATES, v.15, n.1, p.07-12, 1993. QUEIROGA, V. P.; CARVALHO, L. P.; CARDOSO, G. D. Cultivo do algodão colorido orgânico na região semiárida do Nordeste brasileiro. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. 50p. (Embrapa Algodão. Documentos, 204). QUEIROGA, V. P.; DURÁN, J. M.; LIMA, M. M. A.; QUEIROGA, D. A. N. Qualidade de sementes de algodão submetidas ao processo encapsulamento em equipamentos com diferentes tamanhos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.12, n.1, p.203-211, 2010. QUEIROGA, V. P.; GREGOLIN, A. C.; ALMEIDA, F. A. C.; ALBUQUERQUE, E. M. B. Sistema de produção de algodão colorido orgânico no semiárido. 1.ed. Campina Grande: Editora Revista Barriguda, 2017, 112p. RAMALHO, F. S. Cotton pest management: Part 4. A Brasilian perspective. Annual Review of Entomology, v.39, p.563-578, 1994. RAMALHO, F. S.; SILVA, J. R. B. Período de emergência e mortalidade natural do bicudo-do-algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, n.11, p.12211231, 1993.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 166 SILVA, C. A. D.; ALMEIDA, R. P. Manejo integrado de pragas do algodoeiro no Brasil. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1998. 65p. (EMBRAPA-CNPA. Circular Técnica, 27). SILVA, C. A. D.; RAMALHO, F. S.; ALMEIDA, R. P. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1997. (Folder). SILVA, M. A. A certificação orgânica participativa em assentamentos do agreste paraibano: um estudo sobre o processo. Areia: UFPB/CCA, 2015 Trabalho de conclusão de curso. SILVA, M. N. B.; BELTRÀO, N. E. M.; CARDOSO, G. D. Adubação do algodão colorido BRS 200 em sistema orgânico no Seridó Paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, n.2, p.222-228, 2005. SOUZA, M. C. M. Algodão orgânico: o papel das organizações na coordenação do sistema agroindustrial do algodão. 1998. 201f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Curso de Economia, Administração e Contabilidade, Administração, São Paulo, 1998. SWEZEY, S. L.; GOLDMAN, P.; JERGENS R.; VARGAS, R. Preliminary studies show yield and quality potential of organic cotton. California Agriculture. n.53, v.4, p.9-16, 1999. VILLEGAS, A. T.; RIVERA, M. N. Manejo integrado del algodón Del Cerro. Instituto Nacional de Innovación Agrarias (INIA). ZB impresores S.A.C., Lima, Peru. 2011, 182p.


C a p í t u l o V | 167

CAPÍTULO V

PROCESSOS DE REFINO DO ÓLEO EXTRAÍDO DE AMÊNDOAS DE ALGODÃO

Vicente de Paula Queiroga José Rodrigues Pereira Mário Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti Mata


C a p í t u l o V | 168 INTRODUÇÃO A cultura do algodoeiro é orientada para produção de fibra. Além disso, no beneficiamento da fibra, obtém-se o caroço como principal subproduto, que, por ser rico em óleo, serve de matéria-prima para a indústria de óleos e gorduras. A torta e o farelo, obtidos do processamento do caroço, são utilizados como complementação de rações balanceadas. O caroço de algodão, subproduto do beneficiamento da fibra, constitui importante matéria-prima para a indústria de óleos comestíveis (GONDIM-TOMAZ et al., 2016). Portanto, o óleo de algodão é um óleo industrial que pode ser usado tanto para fins alimentares quanto não alimentares. Nos Estados Unidos, desde o século XIX, até a década de 1940, foi a principal fonte de óleo alimentar vegetal, sendo então superado pelos óleos de soja e de milho. No Brasil, atualmente, a produção de óleo de algodão é apenas superada pela de óleo de soja. Há estudos que mostram que o óleo de algodão pode ser usado na alimentação humana, baixando os níveis de colesterol. O maior uso industrial dele é para a produção de biodiesel. Tanto o óleo usado como alimento quanto o usado para produção de biodiesel necessitam de etapas previas de refino para a eliminação de componentes indesejáveis como, por exemplo, o gossipol (MORAIS et al., 2014). Quimicamente, os óleos vegetais (ou gorduras animais) consistem de moléculas de triacilglicerídeos, as quais são constituídas de três ácidos graxos de cadeia longa ligados na forma de ésteres a uma molécula de glicerol. Esses ácidos graxos variam na extensão da cadeia carbônica, no número, orientação e posição das ligações duplas (EMBRAPA ALGODÃO, 2008). O mesmo sucede com o óleo de algodão que é extraído da semente inteira ou amêndoa da semente descascada do algodão, o qual contém uma mistura de ácidos graxos saturados e insaturados, (SANTOS, 2010), majoritariamente os ácidos palmítico, oleico e linoleico. Entretanto, os principais componentes do óleo de algodão são: ácido linoleico (46,7%-58,2%) e palmítico (21,4%-26,4%) em maior porcentagem, seguidos por ácido oleico (14,7%-21,7%) e esteárico (2,1%-3,3%), de acordo com o Codex Alimentarius (FAO; WHO, 2015). Mas, quando se trata de avaliar a qualidade do semi-refinado, esse óleo tem um leve sabor de castanha, com coloração dourada claro ao amarelo avermelhado, que pode variar de acordo com o grau de refinamento. É importante destacar que a utilização do caroço de


C a p í t u l o V | 169 algodão na produção de óleo alimentício só foi possível depois que se conseguiu sua desodorização, alcançando assim o seu grau final de refinamento (CAMPESTRE, 2011). O destino comercial desse óleo de algodão com o grau semi-refinado ou refinado poderá ser as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. ESQUEMA DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DE ÓLEO Os procedimentos para extração de óleo de amêndoas de algodão são caracterizados por diferentes processos ao longo de sua linha de produção de óleo, principalmente no que se refere ao momento de recebimento da matéria-prima (algodão em rama) na usina algodoeira até a colocação dos rótulos nas garrafas, visando padronizar os serviços ou os métodos realizados pelas unidades extratoras de óleo instaladas em algumas cidades do Nordeste. Uma instalação moderna para extração de óleo e, concomitantemente, com aproveitamento do línter e da torta, segue o esquema destacado na Figura 1, podendo apresentar pequenas variações. Na usina algodoeira, o algodão em rama é separado em fibras (pluma) e sementes (caroço). Por sua vez, três partes podem ser consideradas numa semente de algodão, como resultado de seu beneficiamento: o línter, a casca e a amêndoa. As amêndoas passam por laminadores antes de sofrer o cozimento nos cozinhadores e nas prensas tipo expeller ocorrem a extração de óleo e, depois, o mesmo segue para a refinação, obtendo assim o óleo semi-refinado ou refinado.

Figura 1. Esquema de uma instalação moderna para extração de óleo de algodão, segundo Godoy Passos.


C a p í t u l o V | 170 A usina de refinamento do óleo de algodão deverá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância sanitária, e nela deverão ser implantados os demais equipamentos. Antes de se definir e instalar uma refinaria recomenda-se realizar um estudo econômico do mercado das grandes cidades mais próximas da usina a ser instalado, levando-se em consideração as dificuldades, de distribuição e de venda do óleo, impostas pelo mercado. AVALIAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE PÓS-COLHEITA 1.Beneficiamento do Algodão em Rama O processo de beneficiamento se inicia com a pesagem e caracterização dos algodões ensacados (capacidade de peso entre 45 a 60 kg) na recepção da algodoeira (EMBRAPA ALGODÃO, 2003). Uma vez na usina, os algodões ensacados são abertos e desmanchados. Em seguida, são puxados manualmente por um enxadeco de três dentes, de maneira uniforme e em pequena quantidade, para alimentar os tubos de sucção pneumáticos que os vão conduzir às máquinas descaroçadoras (SILVA et al, 2006). No percurso pela tubulação, o algodão em rama passa, inicialmente, pelo catador de pesado de separação gravimétrica para eliminar corpos estranhos pesados (pedras, ramos, capulhos não abertos, etc) provenientes da colheita manual ou mecanizada. Com relação à operação de secagem do algodão em rama no secador em torre é opcional na região semiárida, em razão de raramente ocorrer alguma precipitação atípica no período de verão (outubro e novembro). Continuando o beneficiamento (Figura 2), o algodão em rama é conduzido ao processo de limpeza nos batedores de rolos inclinados (primeiro limpador) que batem e espadanam o algodão para que as impurezas se desprendam com maior facilidade no equipamento extrator (segundo limpador). Após sua limpeza, o algodão é conduzido por gravidade aos descaroçadores, os quais realizam a separação da fibra (rendimento entre 38-41%) das sementes (62-59%) através da ação de serras circulares e das costelas sobre as massas de algodão. Além das impurezas, a umidade interfere na qualidade do algodão durante o beneficiamento, tendo influência na forma como o descaroçador age nas sementes e na fibra. O ideal seria utilizar o algodão em rama com 10% de umidade. Em geral, sementes menos úmidas são mais fáceis de serem processadas (GORDON et al., 2010; LACAPE et al., 2005). Os diferentes fabricantes oferecem máquinas com velocidades de rotação variando entre 550 rpm (Lummus) até o limite de 780 rpm (Piratininga), ficando a marca


C a p í t u l o V | 171 Continental em torno de 715 rpm. Estes descaroçadores de serras trabalham numa velocidade bem superior as máquinas de rolo (350 rpm).

Figura 2. Descaroçador de 224 serras (dois conjuntos de rolos por máquina, sendo cada rolo de 112 serras) marca Hadwicke-Etter, compressor de alta densidade de fabricação americana. Algodoeira Godefroy de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Foto: Alejandro Godefroy.

Por outro lado, a confecção dos fardos de fibra (entre 210 e 230 kg; Figura 3) poderá ser efetuada por meio de prensa hidráulica da marca Hadwicke-Etter, acionada por uma unidade hidráulica composta de um pistão de 12 polegadas, instalados na parte inferior do conjunto, sendo prensado os fardos por uma bomba mecânica.


C a p í t u l o V | 172

Figura 3. Prensa hidráulica de fibra de algodão de duas caixas e um pistão, marca Hadwicke-Etter de produção americana. Algodoeira Godefroy de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Foto: Alejandro Godefroy.

2.Preparação da Semente ou Caroço de Algodão A grande produção de algodão deixa um grande volume de caroços, cujo destino é a produção de óleo comestível. No processo de industrialização do caroço de algodão, obtém-se o línter, o óleo e a torta. O línter, que é constituído por fibras curtas (3 a 12 mm), como foi dito anteriormente, não é retirado no processo de beneficiamento do algodão, onde as fibras são separadas das sementes. É constituído praticamente de celulose, tendo ainda, em pequenas quantidades, pectinas, constituintes minerais, lipídeos (óleo e ceras) e resinas. Entre as várias aplicações do línter, destacam-se o algodão hidrófilo, tecidos cirúrgicos, pólvora seca e misturas com lã para a fabricação de tecidos (BELTRÃO, 2000).


C a p í t u l o V | 173 A composição das diferentes partes do caroço ou semente de algodão apresenta, em média, os seguintes valores: 12,5% de línter, 15,2% de óleo bruto, 46,7% de torta (resíduo da extração do óleo), 20,7% de casca (Figura 4) e 4,9% de resíduos, produzidos no processo industrial. Em relação a sua composição química, apresentam de 6 a 12% de umidade, 3 a 4% de cinzas (resíduo mineral), 16 a 26% de proteínas, 24 a 31% de carboidratos, 14 a 25% de óleo e de 14 a 21% de material fibroso (BELTRÃO, 2000).

Figura 4. As diferentes partes de um caroço de algodão. Foto: Jean Louis Belot.

O óleo de algodão representa de 14% a 26% da massa do caroço, dependendo da cultivar plantada. É composto principalmente por ácidos insaturados (ácido mirístico, ácido palmítico, ácido esteárico) e outros compostos, sendo normalmente obtido por prensagem a quente, embora também seja possível obtê-lo por extração via solventes (hexano). A composição em ácidos graxos do óleo de algodão, segundo “Standard for Named Vegetable Oils” Codex Stan 210-2015 pode ser visualizada na Tabela 1.


C a p í t u l o V | 174 Tabela 1. Principais ácidos graxos presentes no óleo de algodão. Ácido graxo (Fórmula)

Percentagem (%)

C12:

Láurico

0 – 0,2

C14:

Mirístico

0,6 – 1,0

C16:0

Palmítico

21,4 – 26,4

C16:1

Palmitoléico

0 – 1,2

C18:0

Esteárico

2,1 – 3,3

C18:1

Oléico

14,7 – 21,7

C18:2

Linoléico

46,7 – 58,2

C18:3

Linolênico

0 – 0,4

C20:0

Araquídico

0,2 – 0,5

Como componentes minoritários, destacam-se os fitosteróis e os tocoferóis. Ainda de acordo com a legislação Codex Stan 210 (2015), beta-sitosterol e campesterol são os principais fitosteróis presentes no óleo de algodão. No caso dos tocoferóis, alfa e gamatocoferol são os principais isômeros. Fitosteróis e tocoferóis também podem ser utilizados como marcadores da legitimidade do óleo de algodão. O alto teor de antioxidantes naturais, presente na composição química do óleo de algodão, confere a ele maior estabilidade a oxidação e a deterioração, em comparação a outros óleos vegetais e gorduras animais. O óleo de algodão é um óleo industrial que pode ser usado tanto para fins alimentares quanto não alimentares. Tanto o óleo usado como alimento quanto o usado para produção de biodiesel necessitam de etapas previas de refino para a eliminação de componentes indesejáveis como, por exemplo, o gossipol. Por este motivo, o caroço de algodão “in natura” não deve ser utilizado como alimento para animais monogástricos, principalmente aves e suínos, pois é tóxico, devido à presença do gossipol (complexo de substâncias - pelo menos 15% são de natureza fenólica, alcalóide) que ocorre nas sementes e em outras partes da planta do algodão, nas glândulas internas. Seu teor varia entre 0,5 e 1,0%, formado por aldeídos e terpenos, biossintetizado por plantas do gênero Gossypium da família Malvaceae, de baixo peso molecular, apresenta características muito ácidas e reage com bases fortes


C a p í t u l o V | 175 (BELL, 1967; CARVALHO, 1996; SHAVER, 1969). Na semente, o gossipol fica localizado internamente na amêndoa, nas partes escuras (Figuras 5 e 6).

Figura 10. Corte transversal de uma semente de algodão, com as glândulas internas de gossipol. Cotimes, 2004.

Figura 6. Sementes de cultivares de algodão com (A) e sem glândulas de gossipol (B) (glandless). Fotos: Heping Cao; Kandan Sethumadhavan; John M. Bland (2018).


C a p í t u l o V | 176 Para o óleo de algodão ser usado no cozimento de alimentos (frituras em geral), esse óleo bruto por prensagem é submetido inicialmente ao processo de refinação, visando reduzir o índice de acidez, que pode variar de 0,5% a 1,0% no óleo bruto, (acidez depende das condições de armazenamento, colheita e umidade), para o tipo refinado de até 0,5 g/100g (GRIMALDI, 2016; Figura 106). Ao mesmo tempo, substancias indesejáveis não gliceridicas que acompanham o óleo bruto também são reduzidas durante o refino, tais como: carotenos, mucilagens, carboidratos, fosfatídeos, fragmentos protéicos, pigmentos, esteróides e principalmente ácidos graxos livres. Essas substancias escurecem o óleo bruto, dão sabor e aroma fortes e, uma vez aquecido, produzem fumaça, espuma e favorece a oxidação (MANDARINO; ROESSING, 2001). Deslintadores - Antes da extração do óleo, as sementes de algodão passam por deslintadores mecânicos (conjunto de quatro máquinas da usina Godefroy da Bolívia; Figura 7), para a eliminação parcial do línter. Com base no número de cortes processados no deslintamento da semente, o línter é chamado de primeiro corte, de segundo corte e de terceiro corte. O de primeiro corte, que apresenta fibras mais longas, é usado para a fabricação de algodão hidrófilo (absorvente) e tecidos cirúrgicos. O línter de segundo corte é usado para a fabricação de celulose, bem como o línter de terceiro corte. O uso do línter permite a produção da celulose química de elevado conteúdo de ß-celulose, de alta viscosidade. No final do processo, cerca de 21% do produto original são removidos, pois contêm resíduos de casca de sementes e outras impurezas. Em geral, em média, pode-se obter cerca de 50 kg de línter por tonelada de sementes (BELTRÃO, 2000).


C a p í t u l o V | 177

Figura 7. Deslintador mecânico de sementes de algodão herbáceo que consegue eliminar parcialmente o línter. Foto: Alejandro Godefroy.

Máquina de descascar – Dependendo da cultivar, os caroços de algodão podem apresentar os valores de teor de óleo variando entre 14-26% (BELTRÃO, 2000). Mas, quando se utiliza a máquina descascadora de caroço de algodão de alta capacidade de produção é possível remover a sua casca (Figura 8), anto, a casca deve ser eliminada no descascador antes da prensagem de extração do óleo para evita a retenção de óleo na torta junto com a casca. Essa amêndoa que é separada da casca conta com equivalentes a 0 % a 40 % de proteínas e de 35% a 40% de lipídios. Enquanto a casca tem em média 8,7% de água, 2,6% de cinza, 3,5% de proteína bruta, mais de 45% de carboidratos e - somente - em torno de 1% de lipídeos (BELTRÃO, 2000). Além disso, a casca tem de 3 a 8% de línter e fibras com tamanho inferior a 3 mm. É altamente digestível e pode ser usada pura ou misturada com outros produtos na composição de rações, não necessitando de moagem, tendo de 44 a 48% de fibra bruta. Essa casca pode ainda ser usada como adubo (Figura 9) e combustível.


C a p í t u l o V | 178

Figura 8. Descascador usado para obtenção de amêndoas pela eliminação da casca ou tegumento de sementes de algodão da usina algodoeira Godefroy em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Foto: Alejandro Godefroy.

Figura 9. Composto feito a partir de casquinhas de algodão e outras matérias primas. Foto: Elio Torre.


C a p í t u l o V | 179 Na parte inferior da máquina descascadora, fica uma esteira de furos inclinada que transporta por gravidade as amêndoas até o final de sua extensão, para então alimentar uma rosca sem fim conectada à outra moega de alimentação da máquina trituradora. Triturador de amêndoas - A amêndoa é transportada por uma esteira rotativa para alimentar um moinho triturador, tipo martelo, modelo MTE-10 do fabricante Ecirtec (2018; Figura 10) totalmente construído em aço inoxidável, destinado a triturar o produto em processamento e facilitar as operações de cozimento e de extração do óleo na prensa mecânica de pressão continua. Após a passagem no equipamento triturador, as amêndoas trituradas adquirem a forma de uma pasta fina, por meio da passagem em vários laminadores. De imediato, o material pastoso é transportado para alimentar a moega do cozinhador.

Figura 10. Moinho triturador de amêndoas de algodão, tipo martelo, modelo MTE-10 do fabricante Ecirtec com motor de 1,5 CV. Dimensões e peso embalado para transporte: 0,90 m x 0,60 m x Altura 1,26 m, peso total 100 kg. Foto: Arquivo da Ecirtec.


C a p í t u l o V | 180 3.Extração do Óleo Os processos de extração de óleo variam de acordo com a matéria-prima processada. Os dois métodos genéricos empregados na extração de óleos vegetais são a prensagem mecânica e a extração por solvente, ou ainda, uma combinação de ambos. Algumas matérias-primas, como as amêndoas moídas de algodão costumam utilizar um cozimento prévio seguida da prensagem continua visando a obtenção de rendimentos mais elevados. A extração por solvente pode recuperar até 95% do óleo, resultado extremamente favorável, comparado com os 80% a 90% que seriam obtidos via prensagem hidráulica ou prensa-parafuso. Este segundo processo de extração tem sido mais utilizado no passado pelas usinas algodoeiras do Nordeste. Portanto, com a descarga do material feita na moega, às amêndoas trituradas vão sendo descarregadas numa segunda rosca sem fim, através de um elevador, e transportadas para abastecer pela parte superior o conjunto de prensas do tipo expellers. Este tipo de prensa consta de um alimentador contínuo que recebe o material previamente preparado para ser extraído, entregando-o automaticamente ao aquecedor. O alimentador é montado no topo do aquecedor, do lado oposto ao mecanismo de acionamento da prensa. Devido à sua constituição fibrosa, bem porosa e bastante rica em sólidos, a amêndoa triturada deve ser submetida a um rápido aquecimento antes da extração. Na extração do óleo, utilizam-se prensas de parafusos. Nesta altura a amêndoa de algodão contém mais ou menos 1/3 de seu peso em óleo. Na pré-prensa (Expeller) extrai 20% de óleo (do total de 33%) é retirado da amêndoa. Dá-se o nome de óleo prensa. Enquanto a torta que sai do Expeller vai para extração (processo de solvente), onde mais 13% do óleo são retirados. Chama-se óleo solvente quando emprega este último processo (PASSOS, 1977). Cozinhador e prensagem – Fazendo parte do pré-tratamento da matéria-prima no processo de extração do óleo, as amêndoas trituradas são submetidas rapidamente à temperatura de 70 a 105°C num aparelho apropriado chamado de condicionador ou cozinhador (staker) embutido na parte superior da prensa mecânica de pressão contínua ou expeller (Figura 11).


C a p í t u l o V | 181

Figura 11. Conjunto de máquinas com cozinhador montado sobre a prensa expeller para extração de óleo de amêndoas trituradas de algodão instaladas em compartimento separado dos demais equipamentos da usina algodoeira. São Mamede, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Este sistema de aquecimento é provido de pratos, cujo vapor quente circula entre as paredes laterais e na parte inferior do cozinhador com duplo estágio. No seu interior, as amêndoas vão descendo de prato em prato, perdem umidade e são aquecidas para reduzir a viscosidade e facilitar o seu esmagamento na câmara de compressão sob pressão efetuado pela prensa mecânica contínua do tipo expellers (Figura 12). O produto resultante é o óleo bruto extraído da amêndoa triturada.


C a p í t u l o V | 182

Figura 12. Prensa contínua ‘Expeller”: 1- Motor elétrico, 2- Redutor, Entrada da massa da amêndoa triturada condicionada, 4- Rosca helicoidal, 5- Cesto, 6- Cone de saída, 7saída da torta gorda. Fonte: Moretto; Fett (1998).

O corpo cilíndrico ou extrator da prensa fica situado no plano inferior ao aquecedor, na abertura de descarga. O extrator da prensa consiste de uma câmara cilíndrica horizontal, formada de inúmeras barras de aço, que são colocadas uma ao lado da outra e mantidas nessa posição, com anéis de aço (Figura 13).

Figura 13. Parte do cilindro tubular com orifícios nas laterais de saída do óleo em função da compressão exercida pelo eixo helicoidal sobre a matéria prima. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o V | 183 Para que seja possível extrair o óleo é necessário que haja uma ruptura da membrana das células o que irá provocar a saída dos glóbulos (MORETO; FETT, 1998). Tal ruptura no caso da prensa mecânica é dada pelo esmagamento das amêndoas trituradas sob pressão continua por meio de eixo helicoidal, girando a matéria prima dentro de um cilindro tubular para ser comprimida no final do eixo. Esta condição é importante, pois para se conseguir um bom rendimento em óleo é preciso elevar a pressão lentamente, de modo a dar tempo para o escoamento do óleo. Além disso, o cilindro é dotado de orifícios de saída de óleo em suas paredes laterais. A pressão inicial é pequena e deve aumentar até atingir 1050 a 1400 quilos por cm 2. Este aumento é obtido com relativa facilidade, uma vez que o parafuso trabalha contra uma abertura ajustável de pressão que retrai a descarga da torta no fim do extrator. A descarga da torta pode ser regulada por este orifício de retração. A torta gorda extraída na extremidade oposta à da chegada do material aquecido encerra de 6 a 13% de óleo, apresentando pequenos fragmentos duros, lisos e brilhantes, com 6 a 8 cm de espessura. Armazenamento - O óleo bruto extraído da prensa expeller passa para tanques de aço inoxidável. Uma vez aquecido com vapor à temperatura de 120ºC no tanque (Figura 14), o óleo é bombeado para ser submetido ao processo de filtragem (panos de filtro entre as placas), pois só assim se consegue uma filtragem eficiente das impurezas contidas no mesmo.


C a p í t u l o V | 184

Figura 14. Tanque de armazenamento de óleo bruto. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Filtração - Esse óleo bruto extraído pela prensa mecânica de pressão contínua arrasta partículas da matéria prima que devem ser separadas por decantação ou filtração. A filtragem tem a finalidade de retirar os resíduos que estão misturados com o óleo. No tipo de equipamento empregado, o óleo passa através de uma série de filtros (10), feitos de tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. No final, o óleo filtrado é bombeado para os tanques de armazenamento de grande volume (Figura 15), e, em seguida, ocorrem os processos de refinamento do mesmo.


C a p í t u l o V | 185

Figura 15. A) Aquecimento a vapor do óleo bruto nos tanques de aço inoxidável, B) As partículas contidas no óleo aquecido são retidas no filtro de prensa. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

4.Refinamento do Óleo

O óleo da semente de algodão é o mais antigo óleo vegetal produzido industrialmente e consumido em larga escala no Brasil. Esse óleo, em estado bruto, apresenta uma coloração bastante intensa, que quando utilizado para fins alimentícios passa por um processo de clareamento que pode ser o processo de semi-refino ou o refino, onde a diferença está na etapa de desodorização. Durante o refino, a clarificação é a etapa que deverá ser de maior importância para a determinação da qualidade e ainda estabilidade do produto final. Esse óleo bruto é submetido a algumas etapas para clarificação. Assim


C a p í t u l o V | 186 seus pigmentos são removidos no estágio de neutralização, por adição do hidróxido de sódio e ainda branqueamento por adsorção em sólidos, utilizados em argilas ativadas. Na Figura 16, observa-se um organograma das etapas encontradas para a obtenção do óleo semi-refinado.

Figura 16. Organograma utilizado no processo de obtenção do óleo de algodão com grau semi-refinado.

Refino - São as etapas de tratamento do óleo que incluem: degomagem, neutralização, clarificação, winterização e desodorização para tornar o óleo comestível. A Ecirtec projeta e entrega de fábrica completa para extração de óleos vegetais, desde o preparo da matéria prima até o envase do óleo (Figura 17).


C a p í t u l o V | 187

Figura 17. Usina completa de extração e refino do óleo. Foto: Arquivo da Ecirtec.

Degomagem - O primeiro passo no processo de refino de muitos óleos é a degomagem. Os óleos são degomados misturando-os com água para hidratar os fosfatídeos, os quais logo a seguir, são removidos por centrifugação (Figura 18). A operação de degomagem pode ainda ser melhorada adicionando ácido cítrico ou fosfórico, ou gel de sílica. A degomagem remove substâncias emulsivas, como a lecitina. Os óleos de algodão não precisam ser degomados, mas os óleos de canola e soja requerem esse processo.

Figura 18. Vista das centrífugas na unidade de refino de óleo. Foto: Arquivo da Ecirtec.


C a p í t u l o V | 188 Neutralização - Do óleo neutralizado são removidos os pigmentos carotenoides e mucilagens que dão uma cor mais escura ao óleo, pois este precisa tornar-se claro, cristalino e apetecível. O uso da solução de hidróxido de sódio no processamento do óleo de algodão é fundamental, uma vez que, além de neutralizar os ácidos graxos livres presentes, ainda auxilia na clarificação do óleo de algodão (Figura 19).

Figura 19. Reator aberto simples (neutralização). Foto: Arquivo da Ecirtec.

Clareamento ou branqueamento – Do óleo neutralizado são removidos os pigmentos carotenoides e mucilagens que dão uma cor mais escura ao óleo, pois este precisa tornarse claro, cristalino e apetecível. O óleo é então submetido a aquecimento e agitação, em tanques especiais (Figura 20), onde são adicionadas terras diatomáceas ou carvão ativo, que tem como objetivo absorver os pigmentos colorantes e mucilagens presentes e, quando da filtração (Figura 21), carregá-los para fora do óleo. Os óleos nessa fase quase não possuem mais cor e apresentam valor de peróxido de aproximadamente zero. Após submeter às etapas de degomagem, neutralização e clarificação, o óleo é classificado com grau de semi-refinado


C a p í t u l o V | 189

Figura 20. Tanques de mistura de terras diatomáceas ou carvão ativo com o óleo bruto impregnado de pigmentos colorantes e mucilagens.

Figura 21. Filtros de placas verticais para branqueamento. Foto: Arquivo da Ecirtec.

O equipamento branqueador contínuo de construção cilíndrica vertical com agitador e diversas células, construído em aço carbono (Figura 22). Com camisa e ou serpentina de aquecimento por vapor e visores de nível. Está previsto para trabalhar com vácuo de 680/720 mmHg. Equipado com controle de nível automático (ECIRTEC, 2018).


C a p í t u l o V | 190

Figura 22. Branqueador contínuo de construção cilíndrica vertical com agitador e diversas células, construído em aço carbono. Foto: Arquivo da Ecirtec.

Winterização - Os óleos de algodão devem passar pelo processo de winterização (do inglês, inverno), ainda chamado de congelamento. Os óleos que serão armazenados em locais frios necessitam desse processo para evitar que se tornem turvos com o frio, o que depõe contra a qualidade de qualquer óleo comestível. Essa fase visa exclusivamente à retirada da estearina natural, uma gordura de alto ponto de fusão, porém, em pequena quantidade dissolvida no óleo, sendo praticamente imperceptível em temperatura ambiente. O processo consiste no resfriamento gradativo do óleo vegetal, em células especiais, a 5ºC a 6ºC, durante aproximadamente 36 horas. Dessa forma, as pequenas quantidades de estearina solidificam-se, aglutinando-se umas às outras, e formando flocos maiores no meio do óleo, os quais são possíveis de serem filtrados (Figura 23). Em resumo, trata-se de uma separação por cristalização (Figura 24).


C a p í t u l o V | 191

Figura 23. Filtros de placas verticais para branqueamento e winterização. Foto: Arquivo da Ecirtec.

Figura 24. Cristalizadores usados no processo de branqueamento do óleo de algodão. Foto: Arquivo da Ecirtec.

Desodorização - A desodorização pode ser feita por processo contínuo ou descontínuo (por lote). Sua finalidade é remover as substâncias voláteis dos óleos e gorduras, que lhes dão sabores e odores diversos (característicos ou adquiridos), mediante processo por arraste de vapor. Entre essas substâncias encontram-se os ácidos graxos livres voláteis, os triglicérides de baixo peso molecular, impurezas, etc. As altas temperaturas e o vácuo quase absoluto usados nesse processo garantem um produto completamente estéril,


C a p í t u l o V | 192 apresentando sabor e odor neutros e suaves. Trata-se de um dos produtos mais puros que se pode oferecer ao consumo. Poucos produtos são tão limpos quanto o óleo refinado, clarificado e branqueado. Nessa fase, depois de pesado, o óleo ou gordura é depositado no desodorizador, aquecido à alta temperatura (230ºC) e submetido a alto vácuo (71 cmHg; Figura 25). No fundo do tanque desodorizador é borbulhado vapor seco, arrastando em sua trajetória para cima os ácidos graxos livres (voláteis), os triglicérides de baixo peso molecular, etc., e carregando-os para fora do sistema através do vapor contínuo. Esse processo dura algumas horas, após o qual o produto é resfriado a 60ºC / 70 ºC e, logo depois da análise do controle de qualidade, é liberado para o acondicionamento. É nessa fase do processo que se adicionam aos óleos os elementos antioxidantes (ou outros aditivos), cujo objetivo é prolongar a vida útil do produto, evitando a formação de ranço, mesmo quando submetidos a condições adversas.

Figura 25. Vista dos equipamentos de desodorização e filtro de polimento de óleo desodorizado. Foto: Arquivo da Ecirtec.


C a p í t u l o V | 193 Depois desses processos de refino parcial ou total (acrescido da etapa de desodorização) (Figura 26), é possível obter um óleo semi-refinado que é utilizado principalmente em temperos, fabricação de biscoitos, margarinas e em frituras de ótima qualidade nutricional. Enquanto o óleo refinado totalmente é comestível, devido à presença de ácidos graxos e o mais conhecido e importante é chamado de ácido linoleico, que no organismo é transformado em ácido araquidônico. O óleo de algodão ainda é rico em vitamina E ou mesmo alfa tocoferol, que é um antioxidante natural, o que deverá lhe conferir uma maior vida de prateleira, apresentando um grande estado de conservação com pouca possibilidade de rancificação ou mesmo sofrendo menos alteração do que os óleos de soja.

Figura 26. Sementes com línter de algodão, torta, (alimentação animal), óleo bruto (de cor vermelha intensa por ser rico em caroteno), óleo semi-refinado (de cor amarelo avermelhado, usado para fritura, biscoite, margarina etc, isento de gorduras trans.), óleo refinado (de cor amarelo claro de uso comestível por humano). Foto: Arquivo da empresa de óleo Caçarola.


C a p í t u l o V | 194 Óleo de Algodão x Qualidade Os dois principais índices de qualidade utilizados pelas indústrias são ácidos graxos livres (AGL) e índice de peróxido (IP). Receber um óleo de algodão com estes parâmetros dentro do especificado não garante a qualidade do óleo, uma vez que refletem a qualidade apenas no momento da análise. Os dois parâmetros de qualidade considerados fundamentais no mercado de óleos vegetais são: avaliação sensorial e estabilidade oxidativa. Avaliação sensorial – reflete diretamente a qualidade do óleo no momento do recebimento, como reflexo do processo de refino realizado pela empresa. Muitas reações adversas podem acontecer durante o refino e a maioria está relacionada aos ácidos graxos poliinsaturados presentes e condições de desodorização, realizadas em equipamentos antigos e de baixa eficiência. São comuns os casos de óleos recebidos dentro das especificações das empresas, que acabam sendo utilizados no processo, mas que a percepção sensorial ruim só acaba sendo detectada no produto pronto (GRIMALDI, 2016). Estabilidade oxidativa – sem dúvida o parâmetro, mas citado hoje por conta especialmente da eliminação das gorduras contendo altos teores de ácidos graxos trans e também pela tendência de redução do teor de saturados nos alimentos industrializados. É muito comum encontrar lotes distintos de óleo de algodão com diferentes valores de estabilidade oxidativa, ou seja, teores reduzidos de AGL e IP não estão relacionados com o “shelf-life” do produto (GRIMALDI, 2016). Observa-se na Figura 27 uma linha de envase de óleo do fabricante Ecirtec e uma garrafa pet do óleo de algodão da marca Don Don (Figura 28).


C a p í t u l o V | 195

Figura 27. Linha de envase de óleo. Foto: Arquivo da Ecirtec.

Figura 28. Óleo refinado e comestível de algodão da marca Don Don e detalhe da composição nutricional do óleo no seu rótulo. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o V | 196 Óleo extra virgem - O óleo extra virgem de amêndoas de algodão é obtido por prensagem a frio, utilizando uma prensa hidráulica de médio porte (QUEIROGA et al., 2007). Para conservar melhor todas as propriedades químicas naturais do óleo, deve-se realizar o seu envase em embalagem de vidro escuro (frasco âmbar; Figura 29). Embalagens transparentes de vidro e de plástico, usadas comumente pelos fabricantes, alteram as características do produto.

Figura 29. Óleo de algodão extra-virgem.

Uso de farelo de algodão na alimentação animal O uso de derivados do algodão na ração animal, como o farelo de algodão, é bastante difundido pela sua composição nutricional e por conter proteína de boa qualidade. O farelo de algodão é o terceiro farelo proteico mais produzido no mundo, perdendo apenas para o farelo de soja e de canola. Os problemas provocados pelo uso do caroço de algodão são atribuídos ao gossipol devido a sua toxicidade e aos ácidos graxos ciclopropenóides (MARSÍGLIO, 2015). A alta nos preços dos farelos proteinados, em especial o farelo de soja, tem levado os técnicos e produtores a procurarem alternativas para sua substituição. Portanto, a utilização do farelo de algodão (FA) normalmente é a alternativa mais fácil e de composição mais próxima. Sem considerar a diferente concentração de nutrientes destes dois produtos, muitos ainda têm restrições quanto ao seu uso em virtude da presença do gossipol no FA.


C a p í t u l o V | 197 O gossipol é um composto polifenólico de cor amarela, presente nas glândulas de pigmentos da semente de algodão (Figura 10). Ele existe nas formas "livre" e "ligada" (à proteína, principalmente ao aminoácido lisina). Na forma "ligada" ele é considerado não tóxico por não poder ser absorvido no trato digestivo. A forma "livre" pode ser tóxica, e atua reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio do sangue, resultando em respiração mais curta e edema de pulmões. O caroço de algodão possui maior quantidade de gossipol livre, enquanto que nos farelos, o aquecimento durante o processamento faz com que a maior parte se apresente na forma ligada, embora o valor total não se altere.

Figura 5. Corte transversal de uma semente de algodão, com as glândulas internas de gossipol.

O gossipol é tóxico para animais monogástricos, mas os ruminantes parecem possuir capacidade, através dos microrganismos do rúmen, de anular este efeito tóxico até certo nível de ingestão de gossipol. O problema reside em identificar o nível adequado de forma precisa, o que faz dele o vilão da questão. Um experimento realizado nos EUA traz novas e interessantes informações sobre esta questão. Foram utilizadas 30 vacas holandesas que receberam por 42 dias dietas com diferentes níveis de gossipol "livre" (GL) e gossipol "total" (GT - livre + ligado). A dieta "A" era o "controle", sem subprodutos do algodão e, portanto sem gossipol; a dieta "B"


C a p í t u l o V | 198 possuía 1040 mg de GT/kg e, 989 mg de GL/kg oriundo de caroço de algodão; a dieta "C" teve 900 mg de GT e somente 64 mg de GL/kg, oriundos do farelo de algodão; a dieta "D" tinha 960 mg de GT e 531 mg de GL/kg, com iguais quantidades de gossipol total oriundas do caroço e do farelo de algodão e finalmente a dieta "E", a mais "severa", tinha 1922 mg de GT e 1050 mg de GL, também originadas de iguais quantidades de GT do caroço e do farelo de algodão (MENA et al., 2001). As concentrações de GT e GL no caroço de algodão foram, respectivamente, de 0,69 e 0,66%, enquanto que no farelo de algodão os valores foram 1,26 e 0,09%. A quantidade de GT consumida aumentou de forma diretamente proporcional ao aumento dos subprodutos do algodão na dieta, mas a ingestão de GL aumentou com a adição de maior quantidade de caroço na dieta (MENA et al., 2001). Nenhuma vaca teve sinais visíveis de intoxicação, muito embora os níveis de gossipol no plasma (GP) sanguíneo tenham aumentado rapidamente. Os níveis de GP se estabilizaram aos 35 dias após o início do fornecimento das dietas, após atingirem os valores de 3,10; 0,81; 1,83 e 5,15 mg/ml, respectivamente para as dietas B, C, D e E. Para que se tenha uma ideia, uma recomendação genérica é que, para que não ocorra intoxicação, o nível de GP não deve ultrapassar 5,0 mg/ml (MENA et al., 2001). Nas plantas, o Gp atua na proteção contra pragas e insetos. Variedades totalmente sem gossipol têm sido desenvolvidas, no entanto, não são adotadas para cultivo industrial, devido a sua grande vulnerabilidade às pestes e um consequente aumento no custo de produção. Romano e Scheffler (2008) sugeriram uma estratégia de cruzamento entre variedades capaz de diminuir o teor de gossipol e manter uma concentração suficiente da toxina na parte vegetativa da planta, garantindo-lhe proteção contra fatores adversos ao seu desenvolvimento. Após sete gerações de seleção, estes autores identificaram plantas que mantiveram uma produção suficiente de gossipol nos pontos críticos de defesa da planta e apresentaram menos de 0,3% de gossipol total no caroço, representando uma forma eficiente de produzir o algodão e fornecer proteína e energia segura aos animais. Além disso, grande parte do gossipol é removido durante a manufatura da torta de sementes de algodão na fase de cozimento, no entanto, ainda assim podem ser encontradas as formas “livres” e “conjugadas” do gossipol (MARSÍGLIO, 2015).


C a p í t u l o V | 199 Medidas como a extração através de solvente, cozimento, autoclavagem, peletização, assim como a adição de sais de ferro e cálcio, têm-se mostrado eficiente na redução do GL no farelo de algodão. O cozimento do farelo de algodão a 100 ºC durante 10 minutos em calor úmido reduz em 44% o nível de gossipol livre (JARQUIN et al.,1966). Zhang et al. (2007) verificaram que o tratamento empregando o calor (130ºC por 20 min) ocasionou uma redução nos níveis de GL. Portanto, o tratamento térmico seguido de extrusão dos subprodutos obtidos após a extração do óleo do caroço de algodão é potencialmente capaz de diminuir significativamente o teor de GL.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 200 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELL, A. A. Formation of gossypol in infected or chemically irritated tissues of Gossypium species. Phytopathology, v.57, p.759-764, 1967. BELTRÃO, N. E. M. O que fazer com a semente de algodão? Revista Cultivar. Edição número 17, junho de 2000, 3p. CAMPESTRE, IND. E COM. DE ÓLEOS VEGETAIS Ltda. Óleos vegetais. Encontrado em: http://www.campestre.com.br/oleos_vegetais.shtml Acessado em 05 de junho de 2011. CARVALHO, P. P. Manual do algodoeiro. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1996. 282p. ECIRTEC|

Equipamentos

e

Acessórios

Industriais

Ltda.

Disponível

em:

http://ecirtec.com.br/equipamentos/refino/. Acesso em 09 de Julho de 2018. EMBRAPA ALGODÃO - Cultura do Algodão Herbáceo na Agricultura Familiar Subprodutos

do

Algodão.

2003.

Disponível

em:

<http://sistemasdeproducao.

cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/AlgodaoAgriculturaFamiliar/subprodutos.htm >. Acesso em: 13 abr. 2015. EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). Oleaginosas e seus óleos: Vantagens e Desvantagens para Produção de Biodiesel, por Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão e Maria Isaura Pereira de Oliveira. Campina Grande, 2008. 28p. (Embrapa Algodão. Documentos, 201). FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION – FAO; World Health Organization – WHO. Codex Stan 210-1999: standard for named vegetable oils (Revision: 2001, 2003, 2009. Amendment: 2005, 2011, 2013 and 2015). Roma: FAO, 2015. Disponível em: http://www.fao.org/fao-who-codexalimentarius/ standards/list-standards/en/. Acesso em: 16 fev. 2016. GORDON, S.; SLUIJS, M. VAN DER; KRAJEWSKI, A.; HORNE, S. Ginning and fibre quality series: Measuring moisture in cotton. The Australian Cottongrower, v.31, p.3842, 2010.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 201 GONDIM-TOMAZ, R. M. A; ERISMANN; N. M.; CIA, E.; KONDO, J. I.; FUZATTO, M. G.; CARVALHO, C. R. L. Teor de óleo e composição de ácidos graxos em sementes de diferentes genótipos de algodoeiro. Brazilian Journal of Food Technology, v.19, p.18, 2016. GRIMALDI, R. Óleo de Algodão – Composição e Refino. Publicação Exclusiva da Revista Óleos & Gorduras – Edição Julho/Agosto de 2016. JARQUIN, R.; BRESSANI, R.; ELIAS, L.G. et al. Effect of cooking and calcium and iron supplementation on gossypol toxicity in swine. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Davis, n.14, p.275-279, 1966. LACAPE, J. M.; NGUYEN, T. B.; COURTOIS, B.; BELOT, J. L.; GIBAND, M.; GOURLOT, J. P.; GAWRYZIAK, G.; ROQUES S.; HAU, B. QTL analysis of cotton fiber quality using multiple Gossypium hirsutum × Gossypium barbadense backcross generations. Crop Science, v.45, p.123-140. 2005. MANDARINO, J. M. G.; ROESSING, A. C. Tecnologia para a produção do óleo de soja: descrição das etapas, equipamentos, produtos e subprodutos. Londrina: Embrapa Soja, 2001. Disponível em: Acesso em 06 jul. de 2019. MORAIS, J. P. S.; MEDEIROS, E.; BELOT, J. L. Produção de uma fibra de qualidade Valorização dos coprodutos do algodão. In: Belot, J. L. Manual de boas práticas de manejo do algodoeiro em Mato Grosso. AMPA – IMAmt, Cuiabá (MT) - Safra 2014/15. 2015, p.337. MORETTO, E.; FETT, R. Tecnologia de óleos e gorduras vegetais na indústria de alimentos, São Paulo: Editora Varela, 1998. MARSÍGLIO, B. N. Utilização de farelo de algodão na nutrição animal x gossipol. 2015.

Disponível

em:

http://iepec.com/utilizacao-de-farelo-de-algodao-nanutricao-

animal-x-gossipol/. Acesso em: 19 set. 2019. MENA, H., et al. The Effects of Feeding Varying Amounts of Gossypol from Whole Cottonseed and Cottonseed Meal in Lactating Dairy Cows. J. D. Sci., v.84, n.10, p.22312239, 2001.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 202 PASSOS, S. M. G. Algodão. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1977. 424p. QUEIROGA, V. A.; CAVALCANTI, A. S. R. R. M., MATA, M. E. R. M. C. Procedimentos para extração de óleo extra-virgem de sementes de gergelim. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.19, n.4, p.405-426, 2017. ROMANO, G. B.; SCHEFFLER, J. A. Lowering seed gossypol content in glanded cotton (Gossypium hirsutum L.) lines. Plant Breeding, Berlin, v.127, p.619-624, 2008. SANTOS, A. G. D. Avaliação da estabilidade térmica e oxidativa do biodiesel de algodão, girassol, dendê e sebo bovino. 2010. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil. SANTOS, R. C. R. Otimização do processo de pré-tratamento do óleo de algodão para produção de biodiesel. 2010. 116f. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. SHAVER, T. N.; LUKEFAHR, M. J. Effect of flavonoid pigments and gossypol on growth and development of the bollworm, tobacco budworm, and pink bollworm. Journal of Economic Entomology, v.62, n.3, p.643-646, 1969.

SILVA, J. C.; ALBUQUERQUE, M. C.; MENDONÇA, E. A. F.; KIM, M. E. Desempenho de sementes de algodão após processamento e armazenamento. Revista Brasileira de Sementes. v.28, n.1, p.79-85, 2006. ZHANG, W.; XU, Z.; PAN, X. et al. Advances in gossypol toxicity and processing effects of whole cottonseed in dairy cows feeding. Livestock Science, Amsterdan, v.111, p.1-9, 2007.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.