2a edição Vicente de Paula Queiroga Marcus Vinícius Assunção Francisco de Assis Cardoso Almeida Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores Técnicos)
REVISTA CIENTÍFICA
CARNAUBEIRA TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO INDUSTRIAL
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB
ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br
CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Francisco de Assis Cardoso Almeida Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Niédja Marizze Cézar Alves Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone
VICENTE DE PAULA QUEIROGA MARCOS VINÍCIUS ASSUNÇÃO FRANCISCO DE ASSIS CARDOSO ALMEIDA ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE ORGANIZADORES
MARLOS ALVES BEZERRA LEVY DE MOURA BARROS TARCÍSIO MARCOS DE SOUZA GONDIM GILVAN ALVES RAMOS ANTÔNIO MARCOS ESMERALDO BEZERRA FRANCISCO MARCÍLIO DE MELO MARIA ODETE ALVES JACSON DANTAS COELHO JAÍRA MARIA ALCOBAÇA GOMES COLABORADORES
CARNAUBEIRA TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO INDUSTRIAL
2ª edição
ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB
2017
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Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA a Capa FLÁVIO TORRÊS DE MOURA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE
O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 12-04-2017
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)
Q3c
Queiroga, Vicente de Paula. Carnaubeira: Tecnologias de Plantio e Aproveitamento Industrial. 2ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Marcos Vinícius Assunção, Francisco de Assis Cardoso Almeida, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2017. 260 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-22-7 1. Carnaúba. 2. Sistema de produção. 3. Agricultura Familiar. 4. Palmeira. 5. Semiárido. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Assunção, Marcos Vinícius. III. Almeida, Francisco de Assis Cardoso. IV. Albuquerque, Esther Maria Barros. V. Título. CDU 631.5
Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB
Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.
O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.
A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.
Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.
Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.
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ORGANIZADORES Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)
Marcos Vinícius Assunção (Dr) Professor aposentado da Universidade Federal do Ceará Fitotecnia – Centro de Ciências Agrárias Fortaleza, CE (Brasil)
Francisco de Assis Cardoso Almeida (Dr) Professor Associado da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola Centro Tecnológico e Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande, PB (Brasil)
Esther Maria Barros de Albuquerque (Drª) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande-UFCG Campina Grande, PB (Brasil)
APRESENTAÇÃO O Brasil é o único país do mundo que produz e exporta cera de carnaúba, embora a palmeira cresça com facilidade em qualquer clima tropical, porém é apenas no ambiente seco das caatingas do Nordeste, que ela se encontra em condições de exploração econômica, gerando cerca de 400 mil empregos. Mas, essa relevância mundial de produção de cera de carnaúba não depende exclusivamente da ação do homem, porque em sistema de exploração puramente extrativista também existe a participação efetiva do morcego, no tocante a dispersão de sementes, com reflexo na implantação dessa cultura. Atividade que deveria ser uma ação do homem por sua importância econômica e social para uma região onde as oportunidades de emprego e renda são mínimas, como é a dos carentes agricultores familiares.
Para tornar a carnaubeira uma cultura competitiva e economicamente viável é necessário que essa exploração extrativista do passado já vá cedendo lugar aos carnaubais formados pela mão do homem, principalmente substituindo a espécie nativa por outra mais promissora. No caso da espécie Copernicia hospita existe a possibilidade de se destacar nos testes de validação das Unidades de Teste e Demonstração (UTDs), com o envolvimento de agricultores, em um sistema definido de plantio domesticado com as seguintes atribuições específicas: desde as práticas agronômicas, qualidade do pó cerífero, refinamento e classificação das ceras, capacitação e organização dos produtores, comercialização e exportação.
Nos principais estados produtores de carnaúba (CE, PI e RN) existem espaços físicos, temporais e/ou agronômicos que podem ser ocupados pela espécie Copernicia hospita para o estabelecimento de sistemas mais diversificados. Para tanto, os novos sistemas produtivos aqui abordados devem servir como parâmetros, para que, nas respectivas regiões agrícolas e de acordo com a realidade local, adequados para o melhor estabelecimento do carnaubal, de modo a gerar maiores ganhos para os agricultores. Não só o domínio tecnológico do sistema de produção, mas também os desafios para a nova espécie Copernicia hopita se estabelecer, o que envolve escala de produção de sementes e sua distribuição espacial.
As Unidades de Teste e Demonstração (UTDs) estimulam o processo organizativo da comunidade, pois é um espaço de gestão participativa com orientação técnica aonde os produtores da agricultura familiares conduzem na prática seus diversos sistemas de produção. Ao produzir sob orientação técnica, os produtores da agricultura familiar não só terão maiores chances de obter uma boa colheita, como também, maior produtividade com menor custo e, consequentemente, maior lucratividade.
Portanto, o domínio do conhecimento de sistemas produtivo e, aqui, com ênfase ao sistema da carnaúba é considerado prática técnica relativamente simples que pode beneficiar muitas famílias de agricultores que vivem na zona rural. E assim, sempre que houver terra, chuva e alguém disposto a plantar, também haverá desenvolvimento agrícola sustentável nas comunidades rurais, onde cada sistema produtivo bem estruturado e organizado poderá ser transformado numa exploração de importância econômica e social.
Os autores deste livro acreditam que todos os conhecimentos à disposição dos agentes de desenvolvimento brasileiro comprometidos com as organizações de agricultores familiares, poderão servi-lhes no aperfeiçoamento do sistema produtivo da carnaúba, visando melhorar a produtividade e qualidade do pó e a rentabilidade da cera, existentes na região semiárida do nordeste do Brasil. Por fim, este material é dedicado àquelas pessoas que no futuro aprenderão a valorizar os sistemas produtivos das culturas organizadas por entidades agrícolas pelo seu inestimável valor no que refere à sustentabilidade da agricultura como impulsionadora da rápida evolução do nível de tecnologia agrícola, que nossa agricultura familiar tanto necessita.
Autores
PREFÁCIO A tecnologia na agricultura é hoje uma realidade de confiança dos nossos agricultores. A pesquisa no mundo inteiro vem se desenvolvendo de forma surpreendente e, em particular no Brasil. É grande o número de agricultores e mesmo de técnicos que buscam as universidades e órgãos de pesquisa a procura de informações práticas que permitam racionalizar a exploração de culturas. Em atendimento a este chamado esta publicação traz informações técnicas desde a formação dos carnaubais até o seu aproveitamento industrial, visando a contribuir de forma significativa para a exploração racional desta planta adaptada ao clima semiárido e que oferece possibilidades de atividades econômicas mesmo durante o período de estiagem, tratando-se, portanto de importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais, sem desconsiderar que os maiores e mais densos carnaubais do Brasil encontram no semiárido do nordeste, especialmente no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, e, em menor intensidade, nos estados do Maranhão, Bahia, Pernambuco e Paraíba que, ano após ano, são sempre as mais atingidas pelas secas e, onde os carnaubais se estendiam no passado por léguas e léguas, margeando as estradas que ligam o interior ou acompanhando as várzeas dos rios intermitentes, que alagam quando chegam às chuvas. Os autores trazem de volta uma planta que já cobriu uma área de aproximadamente 17 mil hectares somente no Vale do Assu, RN. Onde, antes do advento da fruticultura irrigada nesta região, era a principal economia da mesma, em que praticamente toda a produção de cera era exportada para os estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha e França. Dentre as medidas aconselháveis, salientam-se melhorar as condições de produção, no sentido de torná-la mais econômica e produtiva e, tentar por todos os meios aprimorar a qualidade da cera e a industrialização da mesma no país. Com o objetivo de auxiliá-lo nesta caminhada, procurou-se reunir neste livro argumentos de dados disponíveis que possam concorrer para a retomada com racionalização da produção da carnaubeira. O desejo é que ele possa contribuir de forma útil aos interessados no assunto quer produtores, estudantes, técnicos e engenheiros das áreas das ciências agrárias, assim como gestores públicos e privados das regiões onde se encontra a carnaubeira. Francisco de Assis C. Almeida
SUMÁRIO CAPÍTULO 1. CARNAUBEIRA: TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO - Vicente de Paula Queiroga, Marcus Vinícius Assunção, Francisco de Assis Cardoso Almeida, Esther Maria Barros de Albuquerque ............................................................................................................... 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 250
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Capítulo I
CARNAUBEIRA: TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO INDUSTRIAL (Autores) Vicente de Paula Queiroga Marcos Vinícius Assunção Francisco de Assis Cardoso Almeida Esther Maria Barros de Albuquerque
C a p í t u l o I | 13 INTRODUÇÃO
A carnaubeira (Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore) é uma espécie de palmeira do tipo xerófita, nativa do Brasil, sendo endêmico na região Nordeste, porém essa planta, somente nas condições ambientais desta região produz, em base econômica, o pó cerífero. A família Palmae ou Arecaceae compreende um grupo de plantas de grande importância econômica e ornamental, da qual fazem parte várias espécies dentro do gênero Copernicia, tais como: C. Alba, C. Bayleyana, C. Burretiana, C. Cowellii, C. Hospita, C. Tectorum, entre outras espalhadas pelos diversos continentes. No entanto, a C. prunifera pode ser encontrada com maior incidência nos vales de rios dos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Mas ainda existem carnaubais dessa espécie com menor incidência no Maranhão, Bahia (no vale do São Francisco), Pernambuco e Paraíba (ALVES; COÊLHO, 2008; D`ALVA, 2004).
De acordo com Lorenzi et al. (2004), a Copernicia hospita Martius, conhecida popularmente como carnaúba hospedeira, é uma palmeira de tamanho médio, nativa das savanas e florestas secas de Cuba, podendo ser encontrada em montes e em inclinações. A parte específica do nome, hospita, é do latim, significa hospitalidade, devido ao fato desta árvore ser um repouso hospitaleiro para uma larga variedade de pássaros. Seu tronco colunar liso que pode crescer até 0,3 m no diâmetro e até 7,9 m de altura. As flores são hermafroditas, podendo, portanto, produzir sementes por meio de autopolinização. Até 40 folhas dão forma a um esboço circular muito característico em torno do alto do tronco (BROSCHAT, MEEROW, 2000).
Quanto se trata da economia da carnaúba, ela decorre do aproveitamento integral dessa palmeira. Suas folhas, além de fornecerem o pó – principal matéria-prima da cera de carnaúba –, também são utilizadas na cobertura de casas e na confecção de peças de artesanato. O fruto serve para a alimentação animal e o óleo da amêndoa para alimentação humana e biodiesel. As palhas são comumente utilizadas na confecção de artesanatos, como adubo orgânico na agricultura, e na produção de papel, pois, apresenta celulose de excelente qualidade (GOMES; NASCIMENTO, 2006). O talo é utilizado na construção civil, e a raiz possui substâncias medicinais. A cera de carnaúba é utilizada como matéria-prima em setores de grande destaque mundial, como é o caso da indústria de informática. Por seus atributos físico-químicos, é exportada para mais de
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A cera de carnaúba ainda é um dos principais produtos da pauta de exportações cearenses, piauienses e norte-rio-grandenses, apresentando matéria-prima natural e abundante, significativa demanda interna, bem como amplo espectro de utilização como insumo industrial. Sua exportação representou um dos mais importantes ciclos econômicos para os três estados, com auge entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial; dinamizando em parte a região do nordeste do Brasil (OLIVEIRA; GOMES, 2007).
As baixas produtividades, não precocidade das plantas, ausência de políticas de preço mínimo, aliados aos baixos preços obtido nos mercados são fatores reconhecidos como os principais gargalos da exploração da cera de carnaúba. Apesar disso, a cultura ainda se mostra importante, tanto pelo aspecto econômico quanto pelo lado social, uma vez que o corte da folha, retirada do pó e produção da cera ocorrem durante a época seca (segundo semestre), gerando aproximadamente 300 mil empregos diretos e indiretos no Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Suas exportações anuais atingem uma média 15.000 toneladas e o consumo interno é estimado ser de 2.500 toneladas. Totalizando, portanto, em 17.500 a 18.000 t./ano (JACOB, 2008).
Em 1947, ocorreu retração da demanda internacional pelo produto, face à extinção do seu uso na fabricação de pólvora; entretanto, ocorreu a descoberta de novas aplicações industriais. Por outro lado, formou-se um mercado interno para o produto, em virtude do avanço no processo de industrialização brasileira que ganhou impulso nas décadas de 60 e 70 (OLIVEIRA; GOMES, 2007). O plantio sistemático de carnaubais chegou a ser executado na região do nordeste do Brasil no período de 1936 a 1947. Plantaram-se mais de 10 milhões de pés de carnaubeira (equivalente a 9.000 ha) nos estados do Ceará (Russas, Acaraú, Granja, Massapê, Sobral, Morada Nova, Pacajús, etc) e Piauí (Luís Correia). Esse programa de plantação de carnaubeira foi realizado pela iniciativa privada, sem qualquer apoio técnico de trabalho experimental do Ministério de Agricultura, sendo que o projeto de maior envergadura foi implantado no município de
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Alguns pontos podem ser apresentados como responsáveis por este grande crescimento tanto nos plantios da carnaubeira como no parque industrial: elevada cotação do produto no mercado internacional; disponibilidade de mão-de-obra barata; simplicidade do processo tecnológico adotado em todos esses grandes plantios; e por promover a geração de emprego e renda no meio rural (BAYMA, 1958; CARVALHO, 1976).
A carnaubeira é uma espécie que se encontra ainda em fase de domesticação, sendo que a forma de exploração vigente continua sendo o sistema de extrativismo. Segundo Valois (2008), a domesticação de uma determinada espécie deve ser considerada como um processo dinâmico que envolve a exploração máxima do potencial genético expressado pela planta em benefício do homem. Dessa forma, em se observando a exploração da carnaubeira, percebe-se que em relação ao melhoramento tecnológico, no qual se insere a adoção de um manejo adequado de cultivo, com a definição de espaçamentos, eficientes métodos de colheita, práticas de adubação e de controle fitossanitário, poucos ganhos foram obtidos. De certa forma, essa expectativa frustrante era esperada, pelo fato de não haver sido lançado, na época do programa, uma nova espécie promissora em relação à espécie tradicional Copernicia prunifera, ficando o sistema de cultivo organizado da carnaubeira na dependência exclusiva do seu manejo cultural, que seguramente contribuiu muito pouco em ganhos produtivos por planta, principalmente por ser considerada uma espécie perene.
Com a finalidade de estimular e conscientizar os diferentes segmentos da cadeia produtiva desta cultura e para que a mesma ganhe competitividade no mercado, necessário se faz a mudança racional dos sistemas de produção vigentes que corresponde ao extrativismo com a Copernicia prunifera para o de cultivo organizado com a espécie Copernicia hospita, contribuindo assim no aumento da produtividade de pó cerifero em mais de 100%, consequentemente irá influir na maior renda ao produtor e melhoria da qualidade do pó colhido (secador solar), da cera e de seus derivados, desde que haja um programa de orientação técnica aos produtores (ALVES; COÊLHO, 2008; CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). .
C a p í t u l o I | 16 Com base na percepção técnica atual, constata-se que a melhor estratégica de transferência de tecnologias e motivação ao produtor para tentar mudar paulatinamente o seu sistema de exploração extrativista para o cultivo organizado ainda é através do lançamento de novos matérias promissores, desenvolvidos ou introduzidos pelo setor de melhoramento. Para os melhoristas em geral, esses matérias genéticos devem oferecer um ganho mínimo de produtividade superior a 30% para as culturas temporárias e de 100%, para as perenes, em relação aos materiais tradicionais. No caso da carnaubeira, existe relato da equipe da S.C. Johnson & Son Inc. de que a espécie Copernicia hospita, procedente de Cuba, pode produzir as maiores quantidades de cera, chegando a quadruplicar, se comparada com a espécie Copernicia prunifera, possivelmente por apresentar uma camada de pó mais espessa, maior número de folhas, folhas grandes, produção elevada de frutos etc. Mesmo assim, é necessário que seja realizado um estudo de validação na área de 0,5 ha da carnaubeira Copernicia hospita implantada na Fazenda Raposo com financiamento obtido do BNB, município de Maracanaú, CE, pertencente ao Banco de Germoplasma da UFCE, para comprovar melhor os dados relacionados aos fatores de produtividade da espécie em apreço (ALVES; COÊLHO, 2008). Outro fator que deve ser levado em consideração se relaciona com o nível tecnológico da exploração. A passagem do sistema extrativismo para o cultivo organizado será realizado gradualmente por comunidades, de forma que será exigido do produtor de carnaúba pouco esforço no que se refere à adoção das seguintes tecnologias: sementes ou mudas da espécie C. hospita com incremento mínimo de 100% em produtividade de pó, uso de matraca adaptada, consorciação com culturas temporárias nas entrelinhas da carnaubeira nos três primeiros anos, adoção do sistema agrossilvopastoril a partir do 4º ano, capinas nos dois primeiros anos na modalidade de coroamento, plantio no espaçamento de 4 m x 4 m, uso de bagana como adubo e cobertura morta, corte precoce das folhas no quinto ano ou sexto ano, secagem de folhas no secador solar, implantação de uma unidade para produção de cera tipo 4 por comunidade, organização dos produtores em associação ou cooperativa, pois tais tecnologias e organizações das comunidades podem ser transferidas e orientadas diretamente pelos técnicos ligados as Secretarias de Agricultura, Ematers, Embrapa, ONGs, cooperativas, sindicatos, junto com outras identidades parceiras envolvidas na programação da carnaúba nos estados do CE, PI e RN, para os produtores tradicionais de carnaúba da região de sua atuação
C a p í t u l o I | 17 (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). Ou seja, os referidos técnicos transfeririam tais conhecimentos tecnológicos através de cursos de capacitação, palestras e de Unidades de Testes e Demonstração (UTDs) para produtores, desde que este trabalho de transferência de tecnologias seja bem orientado e supervisionado. A transferência de tecnologia e assistência técnica para os agricultores familiares no semiárido nordestino do Brasil tem sido pouco eficiente para a adoção e apropriação tecnológica pelos agricultores familiares, pois a logística governamental empregada, via de regra, pelas Empresas de ATERs, não tem dado a resposta ideal. Visando, criar um efeito positivo no processo de apropriação tecnológica pelos agricultores familiares, principalmente pequenos empreendedores rurais, os técnicos de diferentes órgãos estaduais e federal, em parceria com outras instituições, se unirão para, através dos modelos de UTDs/Escola de Campo, com aulas práticas diretamente no campo durante as diversas fases de cultivo da carnaúba, desde o plantio até os 6 anos de idade da planta adulta, visando promover o desenvolvimento territorial em vários municípios tradicionais de exploração dessa cultura perene nos estados do CE, PI e RN, cujos produtores familiares deverão ser organizados em Associações de Produtores, ONGs, Cooperativas Agrícolas, comunidades, sendo que o carnaubal cultivado irá favorecer com bases econômicas para a cidadania nos territórios que serão elegidos.
Em vista da sua perfeita adaptação ao ambiente semiárido e dos benefícios sociais e ambientais que proporciona, o plantio de carnaúbas em consórcio com outras espécies, apresenta-se como uma alternativa importante para a recuperação de áreas degradadas no semi-árido. Os carnaubais podem ser consorciados com outras espécies nativas, e culturas agrícolas e/ou animais, e constituir sistemas produtivos, com geração de renda e benefícios ambientais para as populações das áreas susceptíveis à desertificação (CARVALHO, 1976; GOMES, et al.,2006).
Além disso, pretende-se conhecer melhor a fenologia da carnaubeira, comparando-as em diferentes regiões produtoras do estado do Nordeste, onde diferentes tipos de clima e tipos de solos são fatores preponderantes. Espera-se que os resultados das pesquisas possam fornecer novas informações tecnológicas para o incremento do agronegócio da carnaubeira nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte e despertar novos interesses pela exploração da cultura, em função de um maior retorno financeiro aos
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Também é necessário ampliar os trabalhos de pesquisa e observar o comportamento de espécies nativas e exóticas do gênero Copernicia em plantios ordenados e em consórcio com culturas agrícolas e pastagens, visando alcançar resultados que reflita em aumento da produtividade futura, pelo fato de poder assegurar carnaubeiras mais vigorosas em sistemas ordenados e com espaçamento definido, cuja exploração compense economicamente os custos de exploração; as pesquisas poderiam também identificar novos produtos ou subprodutos da cadeia produtiva da cera de carnaúba e melhorar geneticamente a palmeira, a fim de torná-la precoce, de menor porte e com mais copas, permitindo maior número de folhas, para melhorar a produtividade (ALVES; COÊLHO, 2008). ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DA CARNAÚBA O Brasil é o único país do mundo que produz cera de carnaúba, embora existam palmeiras primas da carnaúba, da mesma família, na África Equatorial, no Ceilão, no Equador, na Tailândia e na Colômbia, cujas folhas não produzem a cera adequada. O nome carnaúba é derivado de uma corruptela da palavra tupi-guarani "carnahyba", composta de caraná ou caradá, que significa escamoso, pele e "yba", que significa árvore ou palmeira (PONTES, 2011). A carnaubeira (Copernícia prunífera) é uma planta típica do nordeste brasileiro, predominando nos Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Existem outras Copernicias na América do Sul – C. tectorum na Venezuela e C. alba na Bolívia e Paraguai, no entanto, apenas a C. prunifera produz cera em suas folhas. Na região do Pantanal Mato-grossense ocorre a espécie C. alba (denominada de carandá), diferindo da carnaubeira encontrada no Nordeste pela ausência do pó cerífero, devido aos excessos de umidade relativa do ar e de precipitação no Pantanal, em contraste com a região Nordeste. As plantas, de uma maneira geral, produzem cera para evitar, entre outros aspectos, a perda de umidade que na carnaúba funciona como uma proteção das folhas (GOMES, 1945; BAYMA, 1958; CARVALHO, 1976; CARVALHO, 1982).
C a p í t u l o I | 19 As maiores populações concentram-se nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, sempre nos vales dos rios e terrenos arenosos e mal drenados. A principal razão para a alta concentração da planta nesses estados é a baixa taxa de chuvas, pois a mesma possui uma camada de cera necessária para manter a umidade, impedindo a evaporação da água pelo sol tropical. Intimamente adaptada ao seu "habitat", a carnaúba é uma planta de grande longevidade (presume-se que viva até 200 anos), capaz de viver por longas estações secas sem qualquer inconveniência aparente. O período de colheita que vai de agosto a fevereiro garante cerca de 160 mil empregos (BAYMA, 1958; CARVALHO, 1976; CARVALHO, 1982, GOMES, et al., 2006). Por desenvolver-se numa região tão árida, a carnaubeira - conhecida como a "árvore da vida" por sua resistência tanto à chuva quanto à seca e pela grande variedade de usos que ela pode ter - produz em suas folhas uma película (cera) como forma de proteção. Ao atingir sua maturidade (aproximadamente 10 anos) a carnaúba está pronta para a colheita de suas folhas. Em seguida, as mesmas serão expostas ao sol, e delas é retirada a cera em forma de pó. A partir daí inicializa-se o processo de industrialização (BAYMA, 1958; CARVALHO, 1976; CARVALHO, 1982, GOMES, et al., 2006). A carnaúba e seus derivados, especificamente a cera de carnaúba, é um produto de sustentação da economia dos Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, sendo considerada uma planta de elevado valor econômico e social, de baixo custo e potencialmente de grande rentabilidade (CARVALHO, 1976; GOMES, et al., 2006) . No estado potiguar, a partir da década de 80, grande parte das áreas dos carnaubais foi substituída pelas seguintes atividades, entre outras: cerâmica, fruticultura e carcinicultura.
No Ceará, são encontrados carnaubais em diversas regiões, tanto no sertão quanto no litoral. A maior ocorrência, em termos de produção de pó, é observada, na ordem, nos municípios de Granja, Camocim, Moraújo, Santana do Acaraú, Morrinhos e Cariré. Na produção de cera de origem, destacam-se os municípios de Russas, Granja, Morada Nova, Moraújo, Aracati, Cariré e Itarema. A utilização de fibra tem mais importância nos municípios de Canindé, São Gonçalo do Amarante e Pacatuba. O município de Sobral, embora não apareça com representatividade nos dados do IBGE, em termos de produção de fibra, possui 10 fábricas de chapéus legalmente constituídas, além de outras informais e de menor porte, as quais contam com diversos fornecedores de palha em
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Figura 1. Pólos de produção de carnaúba no Ceará Fonte: Câmara Setorial de Carnaúba do Ceará (2009).
C a p í t u l o I | 21 No Piauí, os campos de carnaubais ocorrem principalmente em grandes propriedades, associados a culturas de subsistência. Os principais pólos de ocorrência de carnaubais no Piauí são as microrregiões de Campo Maior, Baixo Parnaíba Piauiense, Litoral Piauiense, Valença do Piauí, Alto Médio Canindé, Picos e Floriano (Figura 2). Na produção de cera por indústria moderna, destacam os municípios de Teresina, Picos, Piripiri, Parnaíba e Esperantina, enquanto o município de Campo Maior representa a indústria tradicional e moderna, ficando a produção de cera de origem apenas no município de Pedro II (GOMES et al., 2006).
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Figura 2. Média da produção de cera bruta e pó cerífero de carnaúba por microrregiões piauienses - 1990 a 2001. Fonte: Francisco Prancacio Araújo de Carvalhoo (2005) - Dados da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura [entre 1990 e 2001] e divisão político administrativa do IBGE (2001).
C a p í t u l o I | 23 No Rio Grande do Norte, destacam os municípios de Assu e Mossoró com as indústrias médias de beneficiamento de cera de carnaúba por solvente, enquanto os municípios de Apodi, Upanema e Felipe Guerra são os principais produtores de cera de origem de carnaúba. Por sua vez, têm registro de uma pequena produção de fibra os municípios de Ipanguaçu e Assu. Em relação à ocorrência de carnaubais e extração de pó, sua maior incidência está representada pelos municípios de Mossoró, Assu, Ipanguaçu, Carnaubais, Upanema, Apodi, Felipe Guerra e Governador Dix Sept Rosado.
UTILIZAÇÃO DA PLANTA E DA CERA DE CARNAÚBA Conhecida como a “árvore da vida”, nela tudo se aproveita desde a raiz à sua folha. É uma palmeira que apresenta grande rentabilidade, pois todas as suas partes são utilizadas comercialmente: raiz, tronco, frutos e folhas, contudo o produto comercial de maior destaque é a cera extraída das folhas no período seco do ano (SOUZA, 1972; Figura 3).
Figura 3. Organograma do múltiplo e integral uso da planta de carnaúba.
C a p í t u l o I | 24 A raiz da C. prunifera (carnaúba), apresenta qualidades medicinais depurativas e diuréticas, única parte do vegetal empregada na medicina e que faz parte da farmacopéia brasileira (Figura 4), usada tanto no tratamento de úlceras, erupções cutâneas e outras manifestações secundárias da sífilis quanto no reumatismo e artitrismo (BRAGA, 1976). Além do valor medicinal a raiz apresenta valor culinário, pois de sua queima pode ser extraída uma substância salina, que era utilizado pelos índios para condimentar os alimentos (BRAGA, 1976). Esse sal foi analisado em laboratório e apresentou em sua composição elevado teor de cloro (37,66%), sódio (21,51%) e potássio (13,67%), segundo Carvalho (1982).
Figura 4. Xarope composto com raiz de carnaúba encontrado nas casas de produtos naturais, em Fortaleza, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga
O tronco é bastante utilizado desde o período colonial como madeira para a construção civil e marcenaria. As qualidades que a tornaram madeira procurada são o tronco reto, a resistência ao cupim e outros insetos e a sua durabilidade, quando mantida seca ou imersa em água salgada. Estas qualidades somadas à abundância dos carnaubais e à facilidade da coleta fizeram do caule da carnaúba, juntamente com suas folhas, o material por excelência das primeiras construções coloniais, fossem civis ou militares, no estado do Ceará. No sertão, os troncos entraram na feitura dos currais (Figura 5), e ainda hoje está presente no madeiramento da maioria da coberta das casas em sua área de endemismo (BRAGA, 1976).
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Figura 5. Troncos de carnaubeira usados na construção de um curral rústico no município de Pilões, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga. O palmito das plantas novas de carnaúba foi bastante utilizado como alimento e ração animal nas épocas de seca. Além de uso in-natura, do palmito pisado e lavado, obtinham-se a farinha e a goma de carnaúba (CARVALHO, 1982). Quando nova, até os 4 metros aproximadamente, a carnaúba ainda conserva em toda extensão do caule os pecíolos das folhas caídas e por seu aspecto agressivo é chamada de cuandu (Figura 6), nome dado a um tipo de porco-espinho, uma vez que, quando atinge a maturidade, a parte superior se livra da base do pecíolo (JOHNSON, 1970).
Figura 6. Carnaubeira em idade jovem ou cuandu no município de Lucrécia, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 26 Quanto à utilidade do fruto (Figura 7), destacam-se a alimentação humana e a ração animal, principalmente de suínos. As amêndoas torradas e transformadas em pó eram utilizadas pelos sertanejos na composição de mingaus e em substituição ao café (BRAGA, 1976). Com relação ao óleo extraído da amêndoa, o mesmo é comestível e pode ser usado na alimentação humana (CARVALHO, 1982).
Figura 7. Frutos verdes e maduros de carnaúba. Fotos de Vicente de Paula Queiroga
As palhas são comumente utilizadas na confecção de artesanatos, como adubo orgânico na agricultura (bagana), e na produção de papel, pois, apresenta celulose de excelente qualidade (GOMES; NASCIMENTO, 2006). Enquanto a cera de carnaúba é derivada do refino do pó extraído das folhas da palmeira Copernicia prunifera, podendo ser comercializada em pó, escamas e pedaços (Figura 8). Sua coloração e tipo são determinados de acordo com a idade das folhas que são extraídas e da forma que essas são manuseadas no processo de extração e beneficiamento.
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A
B
Figura 8. Cera de carnaúba extraída da folha de carnaúba em distintas formas: A - pó e pedaços; e B- em escamas. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A cera de carnaúba é um produto resultante da síntese clorofiliana, formado no interior das células de suas folhas, composto por uma combinação de ácidos e alcoóis, ou seja, formada por: um hidrocarboneto, fundido a 59ºC; um álcool de composição C26H54O2 (álcool cerílico), fundido a 76ºC; um álcool miricílico, C30H62O, fundido a 90ºC. As características físico-químicas da cera de carnaúba proveniente das palhas-olho são diferentes daquelas extraídas das palhas verdes. Isto porque a clorofila e a xantofila se encontram dissolvidas no produto cerífero. Nos olhos, é menor o percentual de clorofila do que nas palhas, daí a cor branca do pó cerífero de olho, que produzirá cera de coloração amarelo-clara, e a coloração verde-acinzentada do pó cerífero da palha que produzirá cera de coloração escura (CARVALHO, 1982).
Os principais insumos básicos das indústrias refinadoras de cera de carnaúba são: pó cerífero de olho e de palha, ceras de origem do tipo olho e do tipo palha (arenosa ou gorda) e borra. Pela filtragem de cera olho obtém-se a cera filtrada clareada – Tipo 1; já a partir da filtragem de cera palha (arenosa ou gorda), podem-se obter as ceras filtrada clareada – Tipo 3 e apenas filtrada – Tipo 4F. Pelo processo de centrifugação, obtém-se a cera centrifugada – Tipo 4C (JACOB, 2008; 2002).
Com relação às vantagens mercadológicas da cera de carnaúba em relação aos outros tipos de ceras, as empresas estrangeiras pesquisadas apontaram a cor e o ponto de fusão
C a p í t u l o I | 28 como principais (ALVES; COÊLHO, 2006). Um fator que concorre para esta situação reside nas características da especialização produtiva dos países mencionados, em que os segmentos farmacêutico, cosmético e alimentício têm destaque.
Vale salientar que o mercado externo concentrou as exigências praticadas na cor mais clara possível, bem como no índice de acidez e no percentual de impurezas dentro das especificações, com tendência mínima. Isto reforça a necessidade de rigorosa seleção e conformidade na utilização de matéria-prima por parte das empresas beneficiadoras do produto (GOMES et al, 2006).
Por este motivo, a padronização das ceras refinadas para o comércio internacional segue a classificação da Amerwax - Associação dos Importadores e Refinadores Americanos de Cera, associação de classe norte-americana que reúne os principais importadores de cera de carnaúba dos Estados Unidos (D’ALVA, 2004). Na Tabela 1, encontram-se as características específicas dos tipos de cera de carnaúba mais comuns e os seus respectivos padrões de classificação estabelecidos pela Amerwax. Tabela 1. Características específicas de cada tipo de cera de carnaúba refinada com seus respectivos padrões de classificação. Especificações Origem Umidade
Tipo 1 Pó Olho
Tipo 3 Pó Palha
Tipo 4F Pó Palha
0,5% máx.
0,5% máx.
0,5% máx.
78-95 mg
78-95 mg
78-95 mg
02-07mg 80-86ºC
02-07mg 80-86ºC
02-07mg 80-86ºC
0,2% máx.
0,2% máx.
0,5% máx.
1,0% máx. 75-88 mg
1,0% máx. 71-88 mg
1,3% máx. 71-88 mg
0,25% máx.
0,25% máx.
-
20 ppm máx. Amarelo Laranja
20 ppm máx. Marrom
20 ppm máx. Marrom escuro
Índice de 78-95 mg Saponificação Índice de Acidez 02-07mg Índice de Fusão 80-86ºC Impurezas 0,2% máx. insolúveis Material Volátil 0,6% máx. Índice de ésteres 75-88 mg Resíduo de 0,25% máx. ignição Metais pesados 20 ppm máx. Cor Amarelo Fonte: Pontes Ind. e Com. Ltda.
Tipo 4C Pó Palha 1,0% máx.
Tipo 1 – Essa cera é resultante do pó extraído das folhas do olho da palmeira, considerada as folhas novas que ainda não efetivaram a fotossíntese, dando assim, uma coloração clara a cera. Sua cor é amarelo-ouro. A área farmacêutica utiliza a cera do tipo 1 para o revestimento de cápsulas medicinais, medicamentos, cosméticos, filmes
C a p í t u l o I | 29 fotográficos, assim como as áreas cosméticas, alimentícias e em emulsões. Tipo 3 – Cera Refinada Clareada em Escamas provém do pó da palha e é geralmente utilizada em tintas de impressoras e códigos de barra. Sua cor é amarelo-laranja.
Tipo 4F (filtrada). É a cera filtrada em escamas obtida do pó da palha, normalmente usada na área de produtos de limpeza, polidores de frutas, produto de higiene pessoal, vegetais desidratados, ceras polidoras, papel-carbono, produto de escrita, fósforos, revestimentos de latas, tones, produtos de eletricidade, pilhas, filmes plásticos, tintas de parede, revestimentos, impermeabilizantes, vernizes, laqueadores, embalagens para alimentos, produtos para tratamento de tecidos, frutas e flores artificiais. Essa cera de carnaúba é resultante do pó das folhas já abertas e que efetivaram a fotossíntese, porém não passa pelo processo de clareamento. Sua cor é marron escuro. Tipo 4C – Cera Centrifugada em Escamas do pó da palha, normalmente utilizada para a fabricação de papel de carbono. Sua cor é preta.
A utilização da cera de carnaúba foi primordialmente feita para a confecção de velas, mas seu uso logo se expandiu para outros setores, especialmente por suas características físico-químicas como: poder emulsificante, alto ponto de fusão e brilho, as quais conferem a mesma uma imensa variedade de aplicações, tais como: graxas para sapatos, cera para assoalho, discos, cera polidora (móveis, pisos e carros), vernizes; filmes fotográficos, adesivos, embalagens plásticas, cápsulas de medicamentos (orgânico), papel carbono, giz de cera, cola, tintas, esmalte, batons, lápis labial, cremes, chipes para uso na informática, goma de mascar, doces e refrigerantes, dentre outros (RIBEIRO, 2007; Figura 9).
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Figura 9. Alguns produtos industriais que contém em sua composição a cera de carnaúba: cera polidora, batons, fósforo, vela, código de barra, esmaltes, cápsulas de comprimido, tinta de impressora e giz de cera. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Além disso, a cera de carnaúba tem sido objeto de pesquisa visando seu uso em outros setores. Como exemplo, Jacomino et al. (2003) utilizaram diferentes produtos à base de cera da carnaúba na pós-colheita de frutos de goiabeira, e constataram que esses foram eficientes em retardar o amadurecimento, conferiram um maior brilho ao produto, e reduziram a perda de massa e a incidência de podridões nos frutos. No recobrimento de frutas, a permeabilidade ao etano é reduzida em 85%, contribuindo assim para a manutenção de sua qualidade (HAGENMAIER, 2006), tendo seu uso aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) Americano e pelo Parlamento Europeu (MUÑOZ, 2006). Na fabricação de queijos, inibe a perda de umidade e garante maior uniformidade e flexibilidade do produto (MUÑOZ; ALONSO, 2006). Na indústria de embalagens, garante maior proteção do conteúdo contra gases e vapores, além de resistência à abrasão e rigidez aos invólucros (MARTINEZ, 2006).
Conhecido o vasto espectro de aplicação da cera de carnaúba em âmbito externo, incluindo sua utilização tanto como aditivo em produtos tecnologicamente mais sofisticados – nas indústrias farmacêutica, cosmética, alimentícia e microinformática quanto em produtos de fabricação simples – como polidores em geral – ainda de forma bastante significativa (OLIVEIRA; GOMES, 2007). A cera de carnaúba está sempre presente no dia a dia de muitas pessoas (LUCÍRIO; FAHEINA, 1999) com base nas seguintes características específicas:
C a p í t u l o I | 31 Na beleza - A resistência do batom ao calor é obtida acrescentando-se a cera à sua composição. Por isso, mesmo sob alta temperatura, o cosmético mantém a consistência.
No brilho - A aplicação mais comum é no polimento de assoalhos, móveis e carros. Das ceras vegetais e animais, a de carnaúba é a mais resistente e com brilho mais intenso.
Na cera high-tech - Por não conduzir energia elétrica, a cera vem sendo usada como isolante em chips. Além disso, ela pode ser aplicada em outras partes do computador, protegendo-as contra a umidade.
Na farmácia - A carnaúba forma um revestimento sobre os comprimidos para evitar a umidade. É também usada na fabricação de cápsulas de remédios.
Na alimentação - Antes de serem exportadas, frutas como manga e maçã são cobertas com cera, o que evita a perda de água, mantém a qualidade e dá brilho. Sem gosto ou cheiro, não dá para perceber a cobertura.
No mercado - Vários vernizes carregam carnaúba na sua fórmula. Uma das mais recentes aplicações é em tintas térmicas que facilitam a leitura de códigos de barra.
BOTÂNICA, MORFOLOGIA E ECOLÓGICO DA CARNAUBEIRA
- Aspecto Botânico A Carnaubeira (Copernicia prunifera) é uma árvore que pertence à família das palmeiras, plantas de grande beleza, tanto pelo porte como pela fronde. Com alto potencial paisagístico, a carnaúba confere uma aparência distinta ao cenário local, devido a seu tamanho e ao fato de que elas crescem em aglomerados uniformes. Seu nome “carnaúba” vem da língua indígena tupi e significa literalmente “árvore que arranha”. A resistência e longevidade da carnaúba sempre foi motivo de orgulho e
C a p í t u l o I | 32 satisfação para os residentes dos sertões do interior. Sir. Humboldt, famoso naturalista, chamou-a de “a árvore da vida” (CARVALHO, 1982). Segundo os registros históricos, a primeira classificação da carnaubeira foi realizada pelo botânico brasileiro Manoel Arruda Câmara, que atribuiu o nome científico da espécie de Corypha cerifera. Por algum tempo, a carnaubeira foi chamada de “Arrudaria cerifera”, em homenagem ao seu primeiro classificador. Em 1838, o botânico Von Martius a rebatizou com o nome Copernicia cerifera, em homenagem ao famoso astrônomo Copernicus, que concluiu que a forma da terra era globosa, em alusão a essa forma apresentada pela copa da planta. Enquanto em 1963, foi restaurado o nome para prunifera, tendo permanecido sua classificação como Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore, por sugestão dada por estes dois botânicos (D`ALVA, 2007).
Por conseguinte, a carnaubeira é classificada botanicamente como pertencente ao Reino Plantae, Classe Monocotyledoneae, Ordem Palmales, Família Palmae (Arecaceae), gênero Copernicia e espécie Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore (LORENTZ et al., 1996). Outras palmeiras de expressão econômica, como o coco (Cocos nucifera), açaí (Euterpe oleracea) e o babaçu (Orbignya phalerata) também pertencem à família Palmae (GOMES, 1945; SANTOS, 1979).
A espécie Copernicia prunifera recebeu diferentes denominações, muito em função de sua distribuição geográfica, das quais destacamos: carnaubeira, carnaíba, carnaíva, carnaúva, carandaúba e carnaúba (LIMA, 2006), sendo a primeira e a última denominação mais utilizada para se referir à palmeira e ao fruto, respectivamente. Vale destacar que a carnaubeira (Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore) é uma espécie de palmeira do tipo xerófita, nativa do Brasil, sendo endêmico na região nordeste do país. O nome carnaúba tem sua origem na palavra carnaíba, induzida pelo naturalista Jorge Marcgrave, sendo originada da junção de Caraná, que significa cheio de escamas, áspera, arranhento; e Iba que significa madeira (SANTOS, 1979).
Segundo Carvalho (1982), existem mais de 28 espécies do gênero Copernicia, todas localizadas no Continente Americano. Na América do Sul, além da espécie Copernicia prunifera é relatada a ocorrência de outras duas espécies desse gênero: C. tectorum, na Venezuela, mais precisamente nas savanas do centronorte, se estendendo ao longo da
C a p í t u l o I | 33 costa central da Colômbia; e C. alba, na Bolívia, Paraguai, norte da Argentina e Pantanal mato-grossense.
A espécie Copernicia prunifera, denominada de carnaúba comum, é representativa de uma esmagadora maioria da população distribuída pela região do nordeste do Brasil, sendo que atualmente distinguem-se, empiricamente, algumas variedades, cuja identificação fisionômica ainda não constitui um caráter definido (GOMES, 1945; CARVALHO, 1982).
Carnaubeira sem espinho. Essa palmeira se caracteriza por ter folhas ou palmas curtas não ultrapassando a parte do limbo 50 cm de comprimento e os pecíolos 65 a 72 cm de comprimento, consequentemente é menor sua copa. O pecíolo não é totalmente desprovido de espinhos, pois a planta ainda apresenta espinho no terço da base, enquanto na espécie comum contém acúleos nos dois terços do seu comprimento.
Carnaubeira gigante. Essa palmeira se distribui as margens do rio Acaraú no estado do Ceará, que se distingue das demais variedades pela sua altitude mínima, em geral, de 15 m, podendo em alguns casos atingir a altura máxima de 30 m, quando não explorada pelo homem. As folhas têm 104 a 110 cm de comprimento e os pecíolos com aproximadamente 133 cm de comprimento. Ou seja, as folhas são mais alongadas e menos palmadas.
Carnaubeira branca. É uma variedade bastante procurada, devido às qualidades medicinais, as quais são mais claras do que as das outras variedades. Os folíolos são estreitos e inteiramente separados, facilmente reconhecível. Apesar de ser rara, mesmo assim não se extrai cera.
- Aspecto Morfológico
Raiz - A carnaubeira caracteriza-se como uma palmeira de sistema radicular fasciculado, fibroso, abundante e profundo (Figura 10), as quais são consideradas compridas, finas, pardacento-avermelhadas por fora, acinzentadas e ligeiramente fibrosas por dentro. Apresenta pequenos cristais de cor levemente amarelada, sabor fracamente alcalino, solúvel em água (SANTOS, 1979; CARVALHO, 1982).
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Figura 10. Sistema radicular fasciculado da Copernicia prunifera. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Caule – O tronco é ereto, de forma cilíndrica e sem divisões, se apresentando mais espesso na parte inferior, atingindo de 7 a 10 m de altura, podendo excepcionalmente alcançar 15 m, com peso específico de 0,929 kg/dm3 e a resistência ao esmagamento de 578 kg por cm2. O estipe cilíndrico varia de 30 a 50 centímetros de diâmetro, com restos de pecíolo (bainha), formando saliências espiraladas em superfície, decorrentes dos restos das folhas que caíram (BRAGA, 1976; Figura 11). Enquanto que na espécie Copernicia hospita, o tronco colunar liso pode crescer até 30 cm no diâmetro e até 7,9 m de altura (Figura 12).
Figura 11. Aspectos do tronco de Copernicia prunifera, com e sem bainha (liso). Fotos de Vicente de Paula Queiroga
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Figura 12. Estipe cilíndrica e lisa da espécie Copernicia hospita, cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Folhas - As folhas são verde-esbranquiçadas e em forma de leque, com até 1,2 metros de comprimento, de superfície plissada com a extremidade segmentada em longos filamentos mais ou menos eretos e rígidos, abrindo-se em limbo de 60 a 100 cm de diâmetro (Figura 13). A lâmina é afixada ao tronco por pecíolos rígidos de até 1,5 m de comprimento, recobertos parcialmente, principalmente nos bordos, de espinhos rígidos em forma de “unha-de-gato”. A base do pecíolo, denominada de “bainha”, permanece presa ao caule na fase jovem da planta, quando ocorre a queda da folha após sua secagem natural (BRAGA, 1976; CORRÊA, 1984; RISCH NETO, 2004).
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Figura 13. Folha da carnaubeira da Copernicia prunifera de superfície plissada. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Segundo Braga (1976), as folhas são originadas do broto ou do meristema terminal que é popularmente conhecido de “olho”. Deste é extraído o pó branco, sendo bastante cobiçada, no entanto, não podem ser totalmente extraídas para não comprometer a vitalidade da planta. Essas folhas são amplas e, dispostas em capitel no alto da palmeira, compondo um conjunto esferoidal bastante elegante, podendo ser divididas em três partes: - Bainha - apresenta um prolongamento em forma de língua na parte superior, ficando um pedaço do pecíolo aderido ao estipe ao cair da folha; - Pecíolo - é parte responsável pela ligação da bainha ao limbo. Apresenta-se longo e retos; - Limbos - são pregueados, com fendilhamentos e apresentam-se palmadas ou flabeliformes (que lembram o aspecto de uma mão aberta ou um leque aberto). As células epidérmicas das folhas da carnaúba são recobertas por uma camada cerífera. A presença de cera nas folhas de algumas plantas, como ocorre com a carnaúba, é possivelmente conseqüência de sua adaptação às regiões secas, uma vez que essa camada cerífera dificulta a perda de água por transpiração e protege a planta contra o ataque de fungos (SILVA, 2001; MESQUITA, 2005).
C a p í t u l o I | 37 A cera de carnaúba é uma cera dura, quebradiça, insípida e inodora. Além disso, é solúvel em éter, benzina e aguarrás e possui um brilho intenso. Mais uma vantagem desta cera é que a sua coleta não causa danos ambientais já que as folhas extraídas para obtenção do produto são naturalmente repostas na safra seguinte. De acordo com Etene (1972), uma carnaubeira produz de 45 a 60 folhas durante o ano, incluindo olho e palha. Flor - As flores em grande quantidade são extremamente pequenas, campanuladas, dispostas em espádice, paniculada, até 2 m de comprimento, protegidas por espata tubulosa, seca, membranácea. Flores amarelas em cachos pendentes que surgem de julho a outubro (Figura 14). A flor consta de dois cálices: um exterior, verde, formado por três folíolos de pouca extensão, outro interior, de cor variável, em forma de corola, contendo um tubo curto, infundibuliforme, com três divisões na extremidade, e alternado com as do cálice exterior (CARVALHO, 1982).
Figura 14. Florada das carnaubeiras das espécies Copernicia hospita e Copernicia prunifera no mês de agosto, cultivadas na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Fruto - O fruto é uma baga arredondada com cerca de 2 cm de comprimento (Figura 15), glabra, esverdeada, passando a roxo-escura ou quase negra na maturação, de epicarpo carnoso envolvendo um caroço duríssimo, provido de albume branco, duro e oleoso, além de uma grande quantidade de carboidratos na polpa (64,32%) e na amêndoa (63,29%). As bagas aglomeram-se às centenas, em grandes cachos pendentes.
C a p í t u l o I | 38 Suas inflorescências intrafoliares são ramificadas e mais longas que as folhas, de até 4 m de comprimento, afixadas nas axilas das folhas do capitel, porém ralas, lenhosas e frutifica de novembro a março. O óleo extraído do fruto é esverdeado e tem consistência de sebo. Um quilo de frutos da espécie C. prunifera contém cerca de 91 unidades (BRAGA, 1976; CARVALHO, 1982; GOMES et al., 2006).
Figura 15. Cachos com centenas de frutos da carnaubeira da espécie Copernicia prunifera. Foto de Dijauma Honório Nogueira. Aspecto Ecológico A cultura da carnaúba é um perfeito exemplo da utilização sustentável dos recursos naturais. Não agredindo o meio ambiente em nenhuma das etapas do seu processo. O corte das palhas nada mais é do que uma poda não prejudicando a palmeira e ainda retardando o seu envelhecimento. A secagem das folhas é feita com a utilização da luz solar. Na extração do pó cerífero, o rejeito das palhas se transformam em adubo orgânico (bagana). Na produção da cera bruta, a água é utilizada como solvente. Nas indústrias os rejeitos da filtração são reciclados, produzindo cera de adubo orgânico. No clareamento a reação do peróxido de hidrogênio libera ao ambiente água (vapor de água) e oxigênio. Recurso natural com exploração sustentável, fonte de geração de emprego, renda e divisa com elevado fator social, devido ao grande volume de mão de obra empregada na estação seca, com fixação do homem no campo (CARVALHO; GOMES, 2008).
C a p í t u l o I | 39 FORMAÇÃO DA CUTÍCULA NA FOLHA
A carnaubeira produz um material ceroso ou cutícula através das folhas, resultado de uma condição genética da planta, que corresponde a um mecanismo natural de defesa contra agentes externos, principalmente, incidência de elevadas temperaturas, típicas dos períodos secos. A cutícula gera uma camada protetora que evita a perda excessiva de água, mantendo assim o equilíbrio de água no interior da planta. Ou seja, o pó cerífero reveste suas folhas de uma espessa camada de cera composta principalmente de ésteres, álcoois e ácidos graxos de alto peso molécula, para evitar que a planta perca água durante o período de estiagem que castiga o nordeste do Brasil durante mais de 6 meses por ano (BAYMA, 1958; CARVALHO, 1982).
De acordo com CARVALHO (1982), a cutícula é provavelmente uma secreção do protoplasma de células epidérmicas com a finalidade de evitar a perda excessiva de água pela transpiração, sobretudo, no período de estiagem. Em conseqüência disso, o clima poderá ter grande influência sobre a formação dessa camada cuticular, ou seja, quanto mais quente for o ambiente maior deverá ser a sua espessura. Em resposta ao ambiente quente, as partículas minúsculas de cera espalham-se em camadas homogêneas sobre a superfície inteira da folha da carnaubeira (Figura 16). Não é uma camada de células, mas simplesmente um fino filme estendido sobre as estruturas epidérmicas externas de suas folhas. Por ser uma planta natural do sertão nordestino, onde a temperatura está sempre acima de 30ºC, a mesma precisa produzir uma cera mais forte que só se derrete a temperatura acima de 84ºC (DELEVORYAS, 1978).
Figura 16. Presença da cutícula na folha olho da carnaúba. Foto de Francisco Prancacio Araújo de Carvalho.
C a p í t u l o I | 40 CLIMA E SOLO
A carnaubeira é uma planta xerófila, adaptada ao clima quente e seco, que encontra condições climáticas favoráveis na amplitude latitudinal entre 2o e 14o sul, sendo que a maior produção de pó nas folhas da carnaubeira se expressa em limites de temperatura que variam de 26 a 35°C (SANTOS, 1979; CARVALHO, 1982). Suas características anatômicas consideradas típicas de vegetais xerofíticos são: parte aérea (folha) com esclerênquima abundante, epiderme espessa e textura grossa revestida por uma porção cutinizada, contribuindo assim para sua elevada capacidade de adaptação ao calor, suportando 3.000 horas de insolação por ano (ARRAES et al., 1966).
Segundo Duque (1980; 2004), a idade das palmeiras, o tipo de solo, o clima e proximidade com o mar são fatores que influenciam na produção de cera. Com relação à influência do tipo de solo, uma plantinha de carnaúba apresenta uma altura de 25 cm no final do primeiro ano, quando cultivada em solos de aluvião e 20 cm de altura, em solos de tabuleiro (GOMES, 1945).
Em toda a região semiárida do nordeste do Brasil, a carnaubeira tem preferência por solos argilosos (pesados), aluviais (de margens de rios; Figura 17), suportando alagamento prolongado durante a época de chuvas (ARRUDA; CALBO, 2003). Resiste também a um elevado teor de salinidade, o que é comum nos solos aluviais da região da caatinga. Geralmente ocorre em comunidades quase puras, principalmente nos pontos mais próximos dos rios (GOMES, 1945).
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Figura 17. As margens ciliares do riacho ocupadas pelas carnaubeiras. Felipe Guerra, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga. A densidade dos carnaubais está diretamente relacionada com o teor de argila no solo. Nos solos aluvionares com teores mais altos, há maior ocorrência da carnaubeira, enquanto nos tabuleiros, fora da calha do rio, o teor de argila no solo é menor, em razão disso, os carnaubais são mais escassos e menos densos (ALBUQUERQUE; CESTARO, 1995). Além disso, essa espécie se mostra com uma razoável tolerância a solos salinos, ricos em potássio, magnésio e sódio, e solos alcalinos, o que favorece a elevação da concentração do suco celular da folha, servindo de estímulo à produção de pó cerifero (SANTOS, 1979; CARVALHO, 1982). A qualidade do carnaubal também é definida pelo tipo de solo. Segundo D’Alva, (2004), os melhores carnaubais estão em solos de várzea que correspondem aos solos das margens e áreas inundáveis de rios e riachos, e também nos solos “salgados” ou “salitrados” localizados no curso de riachos intermitentes onde há depósito de sais. Com relação à extração da cera das folhas, Gomes (1945) admite que a carnaubeira em solos de aluvião consegue produzir cerca de 200 g de cera por planta, enquanto em solos de arisco de baixa fertilidade apenas 100 g. A maior concentração dos carnaubais ocorre nos vales dos rios onde a altitude oscila do nível do mar até 500 m aproximadamente, existindo também extensas planícies inundadas, onde grandes áreas de carnaubais permanecem submersas por alguns meses
C a p í t u l o I | 42 do ano, fato que afeta ligeiramente a carnaúba, podendo esta tolerar apenas período de submersão parcial (CARVALHO, 1982).
Por outro lado, constata-se nas áreas de ocorrência de carnaubais grande variação no volume total de precipitação pluvial, podendo apresentar mais de 2 mil milímetros por ano nas áreas de São Luís, capital do Maranhão, para menos de 400 mm anuais no vale do rio São Francisco. A duração da estação seca varia de três a quatro meses nas áreas de alta precipitação pluviométrica e de sete ou oito meses nas áreas de baixa precipitação. No obstante, os carnaubais encontrados em regiões com precipitação acima de 1.400 mm apresentam baixo rendimento em pó em comparação aos das zonas de menor precipitação. Ou seja, os carnaubais vão se destacar com maior desempenho na produção de pó em regiões de precipitação inferior a 1.000 mm (GOMES, 1945; CARVALHO, 1982).
Com o objetivo de identificar à resistência da planta as condições de baixa temperatura, em 1962 foram introduzidas sete espécies de Copernicia em Daytona Beach, no estado da Flórida, USA. Com base no comportamento dessas plantas, observou-se que as cinco espécies cubanas sofreram alguns problemas de adaptação e a Copernicia alba permaneceu incólume, enquanto a Copernicia prunifera pereceu, pelo fato dessa espécie não ter identificado essa região atípica como seu habitat natural (SMITH, 1964).
Mesmo não havendo se adaptado a espécie Copernicia prunifera ao clima frio, poucas plantas no mundo se equiparam a essa carnaubeira quando desenvolvida em seu habitat natural, pois sua produção se torna maior nos anos de poucas chuvas, justamente quando faltam ou diminuem quase todas as fontes de renda. Vale salientar que a referida palmeira permite transformar a seca periódica, considerado no passado como o flagelo do nordeste do Brasil, num fator de prosperidade (GOMES, 1945). PROPAGAÇÃO NATURAL
A propagação da carnaubeira é feita, principalmente, em seu habitat natural por via sexuada, ou seja, através de sementes (GOMES, 1945; PINHEIRO, 1986). Trata-se de uma espécie alógama que se reproduz predominantemente por meio de cruzamento (BORÉM; MIRANDA, 2005), apesar de ser considerada uma planta monóica, ou seja,
C a p í t u l o I | 43 com flores masculinas e femininas na mesma inflorescência (GOMES, 1945). Em relação a informações citogenéticas, Môro et al. (1999) afirmam que a carnaubeira é uma espécie diplóide com um número cromossômico de 2n=36. Sua dispersão natural é feita por vários mamíferos, principalmente o morcego e o porco do mato.
MELHORAMENTO DA CARNAUBEIRA
Poucos estudos são encontrados na área do melhoramento genético da cultura da carnaubeira, devido aos reduzidos avanços tecnológicos dedicados a essas espécies, bem como às dificuldades logísticas existentes por se tratar de planta perene, de ciclo longo, elevado porte e devido à maioria dessas espécies se encontrar em processo de domesticação, além de ser considerada uma cultura de subsistência. Há também escassez de estudos a cerca de sua propagação por via assexuada, o que implica num maior tempo para ter resultados e ganhos genéticos para um determinado caráter (ALVES, CÔELHO, 2008; UZZO et al., 2002).
Para a carnaubeira, os caracteres de maior importância do ponto de vista do melhoramento genético, como ocorrem em outras culturas, são aqueles de interesse agro-econômicos e que por sua vez apresentam variação contínua em sua expressão fenotípica, ou seja, são ditos caracteres quantitativos, no caso, produtividade de cera por área, período juvenil, altura da planta, adaptabilidade e estabilidade da produção (FERREIRA, 2009).
O caráter produtividade de cera por área, atributo de maior interesse no melhoramento genético da carnaubeira, consiste numa variável complexa resultante do fenótipo de uma série de outros caracteres ou componentes como: número de folhas, produção de pó cerifero e estádio de desenvolvimento da planta. Assim, para o caráter produção de cera é esperado que o controle genético seja realizado por um grande número de genes, além da forte influência dos fatores ambientais na expressão fenotípica (FERREIRA, 2009).
Uma das estratégias de melhoramento que poderia ser adotada em carnaubeira é a seleção fenotípica individual praticada nas populações naturais, a qual consiste em se avaliar individualmente as plantas no intuito de identificar genótipos superiores para uma determinada característica baseada em sua expressão fenotípica avaliada em vários
C a p í t u l o I | 44 anos. Uma vez identificados esses genótipos superiores podem-se obter progênies, para posterior avaliação em experimentos, mediante cruzamentos controlados ou intercruzamento entre os melhores indivíduos, este último conseguido mediante descarte dos indivíduos inferiores (FERREIRA, 2009).
Dentro do gênero Copernicia, as populações apresentam variabilidade genética, principalmente, quanto à produção de pó; porte, que pode atingir até 40 metros; quantidade de folhas emitidas ao ano; tamanho e produção de frutos; longo período juvenil, podendo demorar até 10 anos para se iniciar a exploração do pó cerífero (DUQUE, 1973). No entanto, segundo Valois (2008), a carnaubeira é a única espécie de valor econômico no gênero, alcançando grande importância social e industrial pela extração e uso da cera produzida em suas folhas.
A fenologia permite o conhecimento detalhado de cada fase da planta e dá subsídios para um melhor manejo agronômico de cada espécie. Vale ressaltar que cada espécie tem uma fenofase ou fase fonológica de maior interesse para exploração comercial. No caso da carnaubeira, a fenofase mais importante é a emissão de folha a qual está diretamente correlacionada com a época de maior formação de pó na superfície da folha (FERREIRA, 2009). As fases fonológicas caracterizadas para a carnaubeira podem ser: foliação, floração e frutificação.
O caráter emissão de folha é importante na seleção de genótipos superiores de carnaubeira, havendo a necessidade de relacioná-la com outros atributos da planta, como rendimento de pó cerífero e o porte da planta. Não existem até o momento trabalhos correlacionando essas características na carnaubeira (FERREIRA, 2009).
ESPÉCIE COPERNICIA HOSPITA
- Fazenda Raposo em Maracanaú, CE A Universidade Federal do Ceará (UFCE) mantém na Fazenda Raposo, uma área com aproximadamente de 147 ha, localizada no município de Maracanaú, CE, e uma coleção de acessos de variadas espécies do gênero Copernicia nativas e introduzidas, a qual foi doada pela Companhia Ceras Johnson em 1969. Essa coleção tem sido objeto de estudos com a finalidade de se selecionar genótipos superiores de carnaubeira quanto à
C a p í t u l o I | 45 produção de cera e palha, além de genótipos com potencial de exploração como plantas ornamentais (Figura 18; ALVES; CÔELHO, 2008).
Figura 18. Antigo centro experimental de pesquisa, cultivo de palmeiras e fábrica de cera de carnaúba da Companhia Ceras Johnson da Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Apenas 8 anos, após o primeiro voo que cruzou o Oceano Atlântico, o hidroavião utilizado pelo industrial Herbert Fisk Johnson Jr. aterrissou em Fortaleza, CE no ano de 1935, que havia partido da cidade americana de Racine, estado de Wisconsin, USA (Figura 19). À época, a capital cearense não possuía aeroporto e ele pousou na água, em frente à Avenida Beira-Mar. A partir do encontro de H.F. Johnson Jr. com a planta, ocorrido em Fortaleza, CE, que a classificou de "admirável", suas atividades empresariais começaram no Brasil, fundando a Companhia Ceras Johnson em 1937 (LUCÍRIO; FAHEINA, 1999).
Figura 19. Expedição Carnaúba em 1935 e réplica do hidroavião Sikorsky S-38, batizado de Spirit of Carnaúba, utilizado por Herbert Fisk Johnson Jr., que partiu do aeroporto americano de Milwaukee para Fortaleza, CE. Fotos do arquivo da Associação Caatinga e da revista Fiec.
C a p í t u l o I | 46 Atualmente, foi elaborado um projeto pela família Johnson junto com a UFCE para criar o Museu da Carnaúba, o qual irá expor o maquinário usado na fabricação de cera e revitalizar as edificações antigas da Fazenda Raposo, onde funcionou até o final dos anos 50, tendo como objetivo relatar toda historia da carnaúba no Ceará através de painéis, equipamentos e peças artesanais. Inclusive houve a iniciativa experimental da Companhia Johnson em instalar no Ceará a primeira estufa de secagem de palhas de carnaúba (Figura 20; BAYMA, 1958). Há também a intenção de fundar o memorial da família Johnson.
Figura 20. Primeira estufa experimental de secagem de palhas de carnaúba instalada no Ceará pela Companhia Johnson. Foto de Cunha Bayma. Sua força de vontade era realmente maior do que tudo. O industrial Herbert Fisk Johnson Jr. (Figura 21) queria encontrar reservas de carnaúba, descobrir se elas poderiam ser fontes permanentes e sustentáveis da palmeira e estabelecer uma plantação onde fossem pesquisados novos métodos de extração e refino. Desta matéria-prima dependia a fabricação das ceras da Companhia. Sessenta e três anos depois, em 1998, o filho de Herbert, Samuel Johnson, honrou a incrível jornada de seu pai, realizada na Expedição Carnaúba, e fez a mesma viagem usando uma réplica do hidroavião original (Figura 22; LUCÍRIO; FAHEINA, 1999).
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Figura 21. O industrial Herbert Fisk Johnson Jr., ao lado do hidroavião batizado de Carnaúba. Foto do arquivo da Associação Caatinga.
Figura 22. Expedição da família Johnson em 1998 e o anfíbio bimotor Sikorsky S-38. Fotos do arquivo da Associação Caatinga.
- Banco de Germoplasma A conservação da variabilidade genética de uma espécie pode ser feita de maneira “in situ”, no local de ocorrência ou “ex situ”, fora do seu habitat natural. Uma estratégia bastante utilizada é a formação de um banco ativo de germoplasma (BAG), que pode ser considerado como coleção representativa do patrimônio genético de uma espécie, realizado com propósitos de pesquisa, caracterização, avaliação e utilização de materiais em programas de melhoramento genético (VALOIS, 1996).
Mediante um projeto de pesquisa financiado pelo BNB-Etene, um experimento vem sendo desenvolvido na Fazenda Raposo para a seleção de genótipos superiores de carnaubeira (Copernicia sp). O projeto tem como objetivo caracterizar os genótipos das
C a p í t u l o I | 48 carnaubeiras nativas e introduzidas a partir de uma coleção de plantas existentes na referida fazenda, a qual dispõe atualmente de 21 acessos (Tabela 2). A partir desse BAG, os melhoristas da Embrapa e UFCE pretendem identificar, selecionar e propagar os materiais que têm características correlacionadas positivamente com a produção de cera e palha e para utilização na ornamentação. Para conseguir uma melhoria genética significativa dessa espécie, os estudos deveriam estar relacionados com a redução do ciclo de maturação da planta (10 anos), a altura, aumentar o número e tamanho da folha, visando elevar a produção de pó por planta (ALVES; COÊLHO, 2008).
Tabela 2. Os 21 acessos do gênero Copernicia e respectivos Países de origem pertencentes ao Banco de Germoplasma do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará plantados na Fazenda Raposo, Maracanaú, CE. Nº da espécie
Nome científico
Origem
Nº de espécie
Nome científico
Origem
Copernicia prunifera 1
Copernicia alba
Paraguai
11
(C. prunifera x C.
BR Híbrido
baileyana) 2
3
Copernicia baileyana Copernicia burretiana “híbrida”
Copernicia hospita x
USA Híbrido
Copernicia prunifera
Florida
-
12
Cuba
13
Copernicia rígida
4
Copernicia cowellii
Cuba
14
Copernicia sheferi
BR Híbrido
5
Copernicia curtissii
-
15
Copernicia sheferi
BR Híbrido
6
Copernicia glabrescens
-
16
Copernicia sheferi
BR Híbrido
7
Copernicia hospita
Cuba
18
Copernicia tectorum
8
Copernicia macroglossa
-
19
Copernicia x textilia
9
Copernicia prunifera
BR Nativa
20
10
Copernicia prunifera (C. prunifera x C. Alba)
Copernicia x vespertilionum
BR Híbrido BR Híbrido
USA Híbrido
21
Copernicia yarey
Florida
Fonte: Maria Odete Alves e Jackson Dantas Coêlho (2008)
Alencar et al. (2007) em estudos comparativos da forma e espessura da camada de deposição de pó nas folhas de espécies do gênero Copernicia, cultivadas na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE, concluíram que existe uma variação entre as espécies pertencentes ao BAG. Dessa forma, esses caracteres podem ser úteis na seleção
C a p í t u l o I | 49 de espécies ou genótipos mais produtivos, pois já foi comprovado que o pó produzido pela planta se acumula principalmente nas folhas mais novas. Os atributos relacionados com a qualidade da cera proveniente do pó cerífero também variam de acordo com o tipo de folha, de tal sorte que a cera elaborada a partir do pó extraído especialmente da palha olho apresenta um maior valor comercial (BAYMA, 1958; ALVES; COÊLHO, 2008; GOMES et al., 2006).
Nas Figuras 23 a 33, estão relacionadas algumas espécies de palmeiras nativas e introduzidas, de produção de pó e ornamentais, pertencentes à coleção do BAG da Universidade Federal do Ceará, plantadas na Fazenda Raposo, Maracanaú, CE.
Figura 23. Espécie Copernicia alba cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
Figura 24. Espécie Copernicia baileyana cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
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Figura 25. Espécie Copernicia burretiana cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
Figura 26. Espécie Copernicia cowellii cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
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Figura 27. Espécie Copernicia curtissii cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Marlos Alves Bezerra.
Figura 28. Espécie Copernicia glabrescens cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
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Figura 29. Espécie Copernicia hospita cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Marlos Alves Bezerra.
Figura 30. Espécie Copernicia macroglossa cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Marlos Alves Bezerra.
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Figura 31. Espécie Copernicia prunifera cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
Figura 32. Espécie Copernicia sheferi cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Marlos Alves Bezerra.
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Figura 33. Espécie Copernicia yarey cultivada na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Marlos Alves Bezerra.
- Registro do BAG junto ao MAPA para Produção de Mudas e Sementes Com os recursos financeiros do BNB, foi implantado em 2002 na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE, uma área de ½ ha de carnaúba com a espécie Copernicia hospita (Figura 34), visando ampliar ainda mais o Banco de Germoplasma (BAG). Vale destacar que este material oriundo de Cuba foi introduzido no Brasil pela Companhia Ceras Johnson, sendo que essa fazenda e todo BAG de carnaúba foi doado ao Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Maracanaú, CE pelo dono da referida empresa. Conforme relato feito por Bayma (1945) existe uma significativa ocorrência da palmeira Copernicia hospita em Cuba em cujas folhas se encontram um pó em maior proporção, que se transforma em cera similar à da carnaubeira Copernicia prunifera. Enquanto o relatório elaborado pela equipe da S.C. Johnson & Son Inc. afirma que a espécie Copernicia hospita cultivada na Fazenda Raposo, originada de Cuba, pode produzir as maiores quantidades de cera, chegando a quadruplicar, se comparada com a espécie nativa (ALVES; COÊLHO, 2008).
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Figura 34. Área cultivada em espaçamento organizado de Copernicia hospita Martius na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Maria Odete Alves e Jackson Dantas Coêlho (2008). Para cumprir as normas legais de produção vegetal, o BAG de produção de sementes e mudas da Copernicia hospita (½ ha) controlado pela UFCE terá que ser registrado junto ao Ministério de Agricultura (MAPA) de Fortaleza, CE, inclusive são requeridos os seus descritores quantitativos avaliados e definidos pelo melhorista responsável. Por ser considerada uma entidade com missão puramente acadêmica (sem fins lucrativos de comercialização de produtos), a UFCE terá que formar parceria, por exemplo, com a “Associação Científica de Estudos Agrários ACEG”, para ser gestora financeira da comercialização de sementes e mudas de carnaúba. Uma vez firmada tal parceria, dando a ACEG uma participação de 5% nos lucros geridos, é feito seu cadastro como produtora de sementes e mudas no MAPA. Atualmente, o BAG de carnaúba da Fazenda Raposa é coordenado pelo professor Antônio Marcos Esmeraldo Bezerra da UFCE.
- Teste de Validação da Espécie Copernicia hospita As atividades de validação com a nova espécie C. hospita poderão ser efetuadas na própria área de 0,5 ha do BAG, implantado na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Em outubro de 2013, essas plantas adultas estarão completando 11 anos de idade, pois já estão em ponto de colheita de pó (primeiro corte de folhas). No teste de validação, poderão ser selecionadas 40 plantas, sendo que os quatro conjuntos de 10 plantas receberão cores distintas. Um conjunto de dez plantas vai receber uma pincelada
C a p í t u l o I | 56 de cor azul no caule, mais 10 plantas com cor a vermelha, 10 plantas com cor a laranja e 10 plantas com cor a branca. Esse grupo de 10 plantas da mesma cor irá corresponder uma repetição. No total, serão 4 repetições de plantas relacionadas ao tratamento C. hospita. O mesmo procedimento deverá ser feito com a espécie C. prunifera, a qual irá funcionar como testemunha, devendo eleger também 40 plantas adultas com a mesma idade existentes na Fazenda Raposo ou em outra área próxima de um particular. O processo de validação entre as duas espécies será determinado pelas seguintes variáveis: produção de pó, número de folhas por planta, tamanho de folhas, produção de frutos, número de cachos frutíferos por planta, número de frutos por planta etc. Mediante um acerto de serviços prestados com uma equipe de corte e com o dono da máquina de batição na região, é possível realizar o corte separado das 4 repetições de 10 plantas, sendo um total de 40 plantas por espécie ou tratamento: Copernicia hospita ou Copernicia prunifera.
- Principais Características entre Copernicia prunifera x Copernicia hospita Algumas características relacionadas às duas espécies Copernicia prunifera e Copernicia hospita, as quais já foram definidas por Lorenzi et al. (2004), podem ser consideradas como descritores morfológicos de cada espécie (Tabela 3), mas também seria necessário a validação quantitativa dos fatores de produção, baseando-se nas variáveis citadas no item anterior:
Tabela 3. Principais características morfológicas entre as espécies Copernicia prunifera x Copernicia hospita, segundo Lorenzi et al. (2004). Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore
Copernicia hospita Mart.
Caule
revestido
Palmeira solitária ou raramente com brotos basais,
espiraladamente ao redor do troco na juventude
muito variável, de 4-8 m de altura. Caule colunar,
pelos remanescentes da base das folhas já caídas,
ás vezes um pouco dilatado, liso e de cor
de 10 a 15 m de altura (Figura 35) por 15 a 25 cm
acinzentada nas plantas adultas, variando de 12 a
de diâmetro e desprovido de palmito visível no
30 cm de diâmetro. Folhas em grande número, em
topo.
leque
leque de forma circular em linhas gerais,
(frambeliformes), palmadas (Figura 36), formando
expandidas e algo plissadas, com fina camada
copa globosa; pecíolo longo com espinhos curvos
cerosa de cor cinza-clara na face de baixo,
nas margens; lâmina circular, algo plissada, cinza-
divididas em segmentos rijos e eretos, sem
esverdeada e cerosa na face inferior e desprovida
espinhos nas margens, com pecíolo alongado e
de
forte.
solitário,
Folhas
espinho
ereto,
colunar,
numerosas,
nas
margens.
em
Inflorescência
Inflorescências
longas,
ramificadas,
C a p í t u l o I | 57 intrafoliares, dispostas obliquamente e mais longas
excedendo o comprimento das folhas, com
que as folhas, ramificadas; ramos florais ou
ramificações
raquilas de até 12 cm de comprimento e cerca de 2
comprimento,
mm de diâmetro, pubescentes, com pequenas
tubulosas pequenas. Frutos globosos, pretos, de
brácteas na base em forma de fibras ou cílios.
cerca de 2 cm de diâmetro (Figura 37). Um quilo
Estas características dos ramos florais separam
contém 250 frutos maduros e 450 sementes.
prontamente esta espécie afim C. Alba, que os têm
Origem: Cuba, com distribuição ampla em savana
mais curtos e com brácteas basais tubulares, além
abertas, bosque e ocasionalmente nas regiões
de frutos menores. Frutos ovóides ou globosos, de
costeiras
até 2,7 cm de comprimento, de cor roxo-escuro.
manguezais.
de
(raquilas)
de
pubescentes
baixa
1,0-3,5 e
altitude,
com
cm
de
brácteas
adjacentes
a
Um quilo de frutos maduros contém 380 unidades, cujas sementes germinam em 30-50 dias. Origem: região do nordeste do Brasil.
Figura 35. Porte baixo das plantas da espécie Copernicia hospita em relação ao porte elevado da espécie Copernicia prunifera (ao fundo) da Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 58
Figura 36. Folha mais larga (seca) da espécie Copernicia hospita da Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE, em comparação a folha estreita (verde) da espécie Copernicia prunifera colhida em Lucrecia, RN. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 37. Frutos verdes da planta da espécie Copernicia hospita da Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 59 - Unidades de Teste e Demonstração (UTDs) através de um Programa (Projeto) Para divulgar melhor esse material genético pelos municípios produtores de carnaúba nos estados do CE, PI e RN, a Associação Produtoras de Sementes e Mudas de Carnaúba deveria firmar convênio de produção de sementes e mudas em parcerias com a Embrapa Agroindústria Tropical (Estação Experimental de Pacajus, CE), Embrapa Caprino (Sobral, CE), Embrapa Meio Norte (Estações Experimentais de Campo Maior, PI e Parnaíba, PI) e Emparn (Estações Experimentais de Apodi, RN e Ipanguaçu, RN), incluindo também, em cada estação experimental, as instalações de Unidades de Testes e Demonstração (UTDs) ou matrizeiros para atender os Dias de Campo nas diferentes fases de crescimento e desenvolvimento da espécie C. hospita. Ou seja, será utilizado estrategicamente pelos técnicos como UTD matriz/Escola de campo (01 h cada), onde os agricultores irão receber acompanhamento técnico direto no campo, mediante o cumprimento de um calendário prévio de visitas, onde nas aulas de campo os técnicos informarão sobre os passos tecnológicos a serem seguidos na condução da cultura, e posteriormente, os agricultores aplicarão nos seus lotes (UTDs Filiais), colocando em prática esses conhecimentos adquiridos (Figura 38).
Figura 38. Modelo estratégico, para transferência de tecnologia, adotada pela Embrapa, onde os produtores de cada região ou comunidade se reúnem na UTD matriz para se apropriarem dos conhecimentos técnicos e colocarem em prática em suas áreas de plantio (UTD filial). Foto de Flávio Tôrres Moura.
C a p í t u l o I | 60 Em geral, o perfil dos agricultores envolvidos com a cultura de carnaúba, apresenta-se com baixo nível de escolaridade e uso intensivo da mão de obra familiar e a diversificação de cultivos. Mesmo assim para a apropriação tecnológica e profissionalização dos pequenos agricultores de forma permanente, a Escola de Campo (UTD) visa consolidar o núcleo de produção profissional de carnaúba nos territórios elencados, via acesso em tempo real as seguintes tecnologias inovadoras: sementes ou mudas da espécie C. hospita com incremento mínimo de 100% em produtividade de pó, uso de matraca adaptada, consorciação com culturas temporárias nas entrelinhas da carnaubeira nos três primeiros anos, adoção do sistema agrossilvopastoril a partir do 4º ano, capinas nos dois primeiros anos na modalidade de coroamento, plantio no espaçamento de 4 m x 4 m, utilização de bagana como adubo e cobertura morta, corte precoce das folhas no quinto ano ou sexto ano, secagem de folhas no secador solar, implantação de uma unidade de produção de cera de origem tipo 4 por comunidade, conforme abordagem apresentado neste livro publicado pela Embrapa Algodão, para validação do seu sistema de cultivo organizado para a região nordeste do Brasil.
Vale destacar também que os trabalhadores extrativistas respondem pela maior parcela do trabalho empregado para a produção de cera de carnaúba de origem. Esses trabalhadores desempenham atividades agrícolas de subsistência, e têm no extrativismo da carnaúba uma atividade sazonal, realizada no período de estiagem e de importância significativa para a obtenção de renda nesse período.
GERMINAÇÃO E PRODUÇÃO DE MUDAS
A propagação da carnaubeira é feita, principalmente, em seu habitat natural por via sexuada, ou seja, através de sementes (GOMES, 1945; PINHEIRO, 1986). Mesmo assim, a semente de carnaúba apresenta dormência do tipo mecânica, onde é necessário submeter na maioria das vezes a embebição em água ou remover o epicarpo e mesocarpo ou endocarpo para acelerar o processo de germinação (KITZ, 1958). Para Broschat et al. (2000), a germinação é lenta e desuniforme, provavelmente devido à dormência atribuída à impermeabilidade do tegumento, resistência mecânica a expansão do embrião e/ou presença de inibidores ou ausência de giberelinas.
C a p í t u l o I | 61 Para a produção de mudas a partir de sementes (Figura 39), recomenda-se colher os frutos diretamente da carnaubeira quando maduros (novembro a março) ou recolhê-los no chão após sua queda natural. Em seguida, os frutos devem ser mergulhados dentro da água para a retirada da polpa que cobre as sementes (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). Após um período de secagem a sombra, a casca (epicarpo) e o mesocarpo (polpa) devem ser removidos pressionando o fruto com uma desimpoladeira ou desempenadeira de madeira contra uma bancada de cimento (Figura 40). Este método também facilita a eliminação de sementes atacadas pelo coleóptero Pachinerus nuclearum Fbr. (REIS, 2008; Figura 41).
A B Figura 39. Extração de sementes de frutos da carnaubeira: A- frutos maduros e BSementes sem epicarpo e mesocarpo. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 40. Método de obtenção de sementes de carnaubeira com atrito causado pela desimpoladeira de madeira sobre o piso cimentado. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 41. O coleóptero Pachinerus nuclearum Fbr. que perfura as sementes de carnaubeira. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. Estas sementes liberadas da polpa podem ser armazenadas em locais secos e frescos e acondicionadas em depósitos (garrafas pet, tambores de plástico) e sacos plásticos, mas antes é necessário reduzir o teor de umidade através de sua exposição ao sol. Vale salientar que um quilo de frutos contém aproximadamente 380 unidades e para eliminação de insetos, os mesmos são submetidos ao processo de expurgo, utilizando-se uma lona plástica e uma pastilha de fosfeto de alumínio (fosfina) por m3 com o tempo de exposição de 48 horas (SCHUMACHER et al., 2002).
Os sacos de polietileno preto com dimensão 20 cm x 30 cm podem ser preenchidos com o substrato esterco e areia grossa para a preparação das mudas. Em seguida, as sementes de carnaúba deverão ser selecionas por tamanho, utilizando-se uma peneira de crivo redondo de 12,54 mm ou 14,24 mm de diâmetro. Após a uniformização do tamanho, as sementes são submetidas ao processo de pré-embebição em bandeja plástica ou lata, fazendo-se a troca diária da água para evitar a proliferação de microorganismos (PINHEIRO, 1986). Ou seja, as sementes permanecem embebidas pelo tempo necessário à emissão da protusão do pecíolo cotiledonar (Figuras 42 e 43). Após a protusão, recomenda-se efetuar uma classificação pelo comprimento (4 mm) do pecíolo cotiledonar (MEEROW, 2004). Essa padronização por lote de sementes permite obter uma melhor uniformização das mudas (Figura 44), e consequentemente das plantas adultas em cada área cultivada.
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Figura 42. Intumescimento do pecíolo cotiledonar (ou botão germinativo) de C. prunifera após o período de pré-embebição das sementes colhidas no município de Aparecida, PB. Experimento realizado na Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 43. Evolução da protusão do pecíolo cotiledonar de C. prunifera após o período de pré-embebição das sementes. Foto de Sâmia Jainara Rocha Holanda.
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Figura 44. Preparação de mudas de sementes de carnaúba para plantio de áreas com espaçamento definido. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
No experimento conduzido com o objetivo de avaliar o efeito do tamanho da semente, de substratos e do ambiente na emergência de plântulas da espécie C. hospita, Oliveira et al. (2009) constataram que as sementes sem padronização de tamanho, assim como sementes de tamanho pequeno, proporcionaram os menores tempos de emergência, quais sejam 33 e 34 dias, respectivamente. Deste modo, nestes tratamentos foi obtida uma emergência mais rápida, a qual pode beneficiar, não só o vigor da plântula, como a formação da muda. No que diz respeito aos ambientes (pleno sol e casa de vegetação), apesar de ter ocorrido uma variação de aproximadamente 17 pontos percentuais entre os valores médios de emergência de plântulas (64 e 81%), não foi observada diferença estatística significativa entre os tratamentos estudados.
Como a região semiárida do nordeste do Brasil é caracterizada por chuvas irregulares (estiagem), em razão disso recomenda-se prepara estrategicamente as mudas de carnaúbas, antecipadamente de 10 meses do início do inverno, em viveiros a meiasombra (Figura 45), contendo o substrato adubo orgânico misturado com areia e as sementes ou frutos, os quais são cobertos por uma camada de 1 cm do referido substrato peneirado. Neste caso, a irrigação com regador manual ou por aspersão através de uma mangueira com um chuveiro adaptado na sua extremidade pode ser realizada no canteiro duas vezes ao dia. Quando se utiliza os frutos recolhidos do chão, a emissão da
C a p í t u l o I | 65 protusão do pecíolo cotiledonar é lenta, podendo demorar até 5 meses e pode emergir precocemente com 2 a 7 dias, quando as mesmas são extraídas do fruto e, em seguida, pré-embebidas em água com renovação diária (MEEROW, 2004).
Figura 45. Canteiro sombreado (sombrite) com mudas de C. prunifera com 50 dias emergidas. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e de Sâmia Jainara Rocha Holanda. Além do menor percentual de replantio, o plantio por mudas apresenta como vantagens, em relação ao plantio direto, um melhor aproveitamento da semente pelo fato de se obter uma maior percentagem de germinação no viveiro do que no campo, uma vez que é possível controlar o suprimento d’água nas épocas em que a semente mais necessita. Para a formação de mudas, devem-se utilizar sacos plásticos pretos, de dimensões mínimas de 25 cm x 19 cm, o que permite uma maior economia não só no custo de aquisição, mas, também, da mão-de-obra para o seu enchimento e transporte (SILVA, 2007).
De acordo com a Câmara Setorial da Carnaúba (2009), estabeleceu-se que, antes de plantar em sacos de mudas, deve colocar as sementes (frutos sem as cascas) dentro d´água, em temperatura ambiente, por um período de 10 dias, procedendo-se a troca diária da água, até a protusão do pecíolo cotiledonar. Nas temperaturas de 20 e 25 ºC ocorre maior porcentagem de protrusão do pecíolo cotiledonar em todos os tamanhos de sementes da espécie Copernicia prunifera, exceto para as grandes, que expressam melhor resultado apenas a 25 ºC (REIS et al., 2010). Entretanto, a classificação por tamanho não teve efeito significativo em carnaúba hospedeira (Copernicia hospita) (OLIVEIRA et al., 2009).
C a p í t u l o I | 66 Trabalhando com o gênero Copernicia, Pinheiro (1986) afirma que sementes recém coletadas, descascadas (Figura 46) e pré-embebidas apresentaram a protusão do pecíolo cotiledonar em até dois dias, enquanto que as sementes provenientes do armazenamento passaram semanas pré-embebidas para o aparecimento desta estrutura. Vale acrescentar também que na determinação da velocidade de crescimento entre raiz/folha (Figura 47), Gomes (1946) constatou que a primeira folha da plântula surgiu aos 40 dias depois da semeadura e sua raiz já apresentava 15 cm de profundidade. Aos 60 dias, a folha estava com 22 cm de comprimento e a raiz com 50 cm de profundidade e aos 10 meses de idade, a planta possuía apenas três folhas e a raiz encontrava-se com 1,5 m de profundidade. Esse crescimento acelerado da raiz explica a resistência desta espécie às estiagens, e a continuidade de seu crescimento mesmo ao longo de vários meses de completa seca (GOMES, 1946).
Figura 46. Sementes descascadas (amêndoas) de carnaúba. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 47. Plantas de carnaúba aos 120 dias após a semeadura (A) evidenciando as partes em que a planta foi dividida (B). Fotos de Rodrigo de Góes Esperon Reis
Avaliando a germinação das sementes da carnaubeira oriundas de três tipos de tratamentos: sementes com casca; sementes perfuradas e sementes descascadas (amêndoas), Gomes (1949) constatou que as sementes descascadas apresentaram a melhor percentagem de germinação, de maneira que o aparecimento da radícula sucedeu aos 17 dias por absorver maior quantidade de água em comparação aos demais tratamentos. Seu aparecimento aos 19 dias, nos estudos de germinação (Figura 48) e vigor em sementes de carnaúba realizados por Reis (2008) e Silva (2007). No caso da pesquisa desenvolvida por Meerow (2004), verificou-se que a protusão do pecíolo cotiledonar só ocorreu após 18 dias, sendo esse retardamento germinativo atribuído ao tempo de armazenamento das sementes.
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Figura 48. Estádios de desenvolvimento da plântula de carnaúba: 10 dias para a protusão do pecíolo cotiledonar da amêndoa e mais 19 dias para o surgimento de sua radícula. Foto de Fred Denílson Barbosa da Silva.
Visando acelerar a germinação de sementes da carnaubeira foram estudados os seguintes tratamentos: T1 – sementes intactas; T2 – sementes sem endocarpo; T3 – sementes sem endocarpo e imersas em água por 24 horas; T4 – sementes intactas imersas em água por 24 horas; T5 sementes sem endocarpo e imersas em água por 48 horas; e T6 sementes intactas imersas em água por 48 horas. Os resultados obtidos indicam que os tratamentos T2, T3 e T5, em que houve a remoção do endocarpo, apresentaram 90% de germinação aos 52 dias, e que a partir dos 65 dias, não houve diferença entre si (SOUZA et al., 2004).
No trabalho de germinação sem pré-embebição em água, com sementes intactas, perfuradas e descascadas (amêndoas) realizado por Gomes (1945), observou-se que as sementes descascadas apresentaram a melhor percentagem de germinação (60%), ficando as sementes intactas com 52% e com 8%, as perfuradas pelo inseto Pachinerus nuclearum Fbr. (Figura 49). As sementes sem casca destacaram com a maior velocidade
C a p í t u l o I | 69 de germinação (17 dias) em comparação as sementes com casca, sendo de 24 dias para as sementes perfuradas e de 32 dias para as sementes intactas (Tabela 4). Essa resposta menos acelerada na germinação das sementes intactas é devido à impermeabilidade do seu tegumento (KITZ, 1958) em comparação as sementes descascadas e com furo. Com relação à massa de 25 sementes, houve destaque para as sementes intactas com a maior massa de 75 g e a menor massa de 57 g, ficou para as amêndoas (sementes descascadas).
Figura 49. Sementes intactas, perfuradas e descascadas de carnaúba. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Tabela 4. Avaliação da germinação e massa de 25 sementes de carnaubeira intactas, perfuradas e descascadas. Tipos de sementes
Massa de 25 sementes (g)
Germinação (%)
Período de germinação (dias)
Sementes intactas
75,0
52
32
Sementes perfuradas
69,4
8
24
Sementes descascadas
57,0
60
17
Fonte: Pimentel Gomes (1945).
PREPARO DO SOLO E SISTEMA DE PLANTIO
Na década de 40, a técnica de plantio utilizada por grandes, médios e pequenos proprietários de terras era bastante simples. Aproveitava-se o preparo da área para a implantação de culturas de inverno (milho e feijão), e em covas rasas, com um espaçamento de 3 metros para cada palmeira, plantavam-se diretamente as sementes
C a p í t u l o I | 70 (BAYMA, 1958; CARVALHO, 1976). A partir da década de 1960, essa prática de plantios de carnaúba foi abandonada. Um censo realizado pelo Governo do Estado do Ceará em 1967 estimava que, de todos os carnaubais existentes no Estado, 8,9% eram cultivados, ou seja, um percentual mínimo (ESTUDO..., 1966).
O preparo do solo, para o cultivo da carnaúba, realizado de forma correta desempenha um importante papel para a germinação das sementes ou o plantio de mudas, e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das plantas resultantes (10 anos), principalmente por se trata de uma espécie perene. Por este motivo, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total do campo.
- Plantio Direto O não preparo do solo com implementos agrícolas é considerada uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e com raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção.
Após as primeiras chuvas de inverno, com o solo ainda úmido, é possível efetuar a abertura das covas com o cavador, o qual é confeccionado geralmente a partir de uma foice (Figura 50). Numa posição inclinada (ângulo de 45ºC) é usado tal equipamento manual para golpear o solo úmido e, de imediato, o cavador passa para a posição vertical, sendo que esse último movimento simples imprimido pelo operador permitirá abrir a cova junto a sua lâmina de perfurar (Figura 51). Em seguida, duas sementes de carnaúba, retiradas de um tiracolo, são introduzidas manualmente na cova pelo operador, enquanto na outra mão permanece segurando o cavador (Figura 52).
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Figura 50. Instrumento cavador de uso manual para abertura de covas, confeccionado geralmente a partir de uma foice quebrada. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 51. Posição inclinada para golpear o solo úmido com cavador e transporte de sementes para plantio no tiracolo. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 52. Cavador na posição vertical para facilitar abertura da cova no ponto de marcação da corda, depositando-se duas sementes de carnaúbas com ajuda da outra mão do operador. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Com auxilio de uma trena e duas fitas adesivas coloridas (durex), deve-se marcar uma corda no espaçamento de 4 m (Figura 53) antes do plantio direto, visando plantar corretamente o campo de carnaúba no espaçamento de 4 m x 4 m nos seus dois sentidos, comumente denominado de plantio cruzado. Em torno de 50 dias, após a germinação da semente, realizar a operação de desbaste com auxílio de uma tesoura de poda, deixandose uma planta por cova.
Figura 53. Corda de nylon marcada no espaçamento de 4 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas com o cavador. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 73 Também o plantio da área de carnaúba poderá ser realizado no início do inverno apenas com mudas (Figura 54), as quais poderão ser preparadas com 10 meses de antecedência no viveiro e, para garantir sua sobrevivência as condições adversas, recomenda-se leválas ao campo com mais de 8 meses de idade (SILVA, 2007). Nesse caso, o instrumento cavador pode ser útil na abertura das covas, onde serão depositadas as mudas sem o seu saco plástico.
Figura 54. Mudas de carnaúba utilizadas no plantio de campo, tendo a folha de 30 a 40 cm de comprimento. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Preparo Mínimo O preparo mínimo do solo para a semeadura da carnaúba com auxilio da matraca (equipamento adaptado ou próprio para sementes grandes) pode ser realizado passando o cultivador de tração animal ou minitrator (tipo Tobata) apenas nas linhas de cultivo (Figura 55). Uma vez determinada à primeira linha de plantio (linha mestre), os produtores em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando a corda marcada com a fita adesiva colorida no espaçamento de 4 m. Em seguida, o operador do cultivador ou minitrator irá preparar o solo apenas nas linhas paralelas de plantio demarcadas com piquetes posicionados nas cabeceiras, orientandose por duas estacas de 2 m de altura posicionadas nas duas extremidades (cabeceiras) do campo e por alguns piquetes distribuídos ao longo de cada linha de plantio. Esse mesmo procedimento de demarcação é adotado nas demais linhas de plantio subsequentes.
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Figura 55. Cultivador a tração animal e mini trator usados no preparo mínimo da área de carnaúba. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. No caso do plantio com a matraca para sementes grandes, os operários se posicionam em cada linha paralela de piquetes existentes nas duas cabeceiras opostas do campo, que também corresponde à faixa preparada pelo cultivador ou minitrator, para esticar a corda no momento em que se inicia o trabalho de semeadura com a referida matraca (Figura 56). Em cada marcação da corda com 4 m de distancia, o operário acionar uma pequena alavanca existente na matraca para liberar duas sementes, as quais foram retiradas do tiracolo e introduzidas manualmente no seu tubo alimentador. Esse equipamento foi confeccionado na cidade baiana de Luís Eduardo Magalhães, BA.
Figura 56. Matraca para sementes grandes (carnaúba) com o tubo de alimentação manual de sementes. Foto de Valdinei Sofiatti
C a p í t u l o I | 75 Preparo do Solo em Toda Área A aração e gradagem com o trator podem ser feitas em toda área a ser cultivada com carnaubeira no início da estação úmida, mas tal procedimento só é viável quando se pretende aproveitar os espaços livres para o plantio consociado com outras espécies alimentícias, tais como: feijão, milho, sorgo, gergelim (no caso de área seca) e arroz (em área alagada). Em solos trabalhados muitas vezes com o trator, só há necessidade de uma ou duas gradagens (Figura 57). Para efetuar a o plantio das sementes de carnaúba, recomenda-se usar a matraca adaptada (Figura 58) ou matraca para sementes grande nos pontos marcados (fita adesiva) da corda, conforme as instruções adotadas anteriormente. No caso do plantio com a matraca adaptada, foi realizado com sucesso um teste de validação de semeadura em sementes de carnaúba pela Embrapa Algodão. Essa adaptação da máquina consistiu apenas em substituir o mecanismo regulador de sementes original por outro de maior tamanho (Figura 59).
Figura 57. Operação de preparo de solo com aração e gradagem para a semeadura de sementes de carnaubeira em consórcio com espécies alimentares. Foto 1 de Odilon Reny Ribeiro Silva e Foto 2 de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 58. Semeadura de sementes de carnaúba com a matraca adaptada e a corda marcada em área preparada com grade de arraste acoplada ao trator. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A
B
Figura 59. Regulador ou dosador de sementes (cor prata) instalado na matraca: pequeno na máquina original (A) e grande na máquina adaptada para sementes de carnaúba (B). Foto de Gilvan Tolentino (A) e Vicente de Paula Queiroga (B). Enquanto a matraca da Figura 56 é abastecida manualmente, a confecção de outra matraca sofreu uma alteração no seu sistema de alimentação, tendo sido incorporado no equipamento um depósito de PVC para ser abastecido com várias sementes de carnaúba, dando uma autonomia ao sistema de plantio em condições de campo (Figura 60). Nesse caso, o operário acionar com o pé um pedal existente na matraca para liberar duas sementes no ponto marcação da corda, as quais vão sendo liberadas gradativamente do tubo alimentador (Figura 61).
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Figura 60. Matraca para plantio de sementes grandes (carnaúba) com depósito em PVC para abastecimento de sementes. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 61. Plantio de sementes de carnaúba com a matraca nos pontos marcados a cada 4 m da corda. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Com o solo cuidadosamente arado e gradeado, o processo de abrir sulco pode ser realizado por meio de cultivador à tração animal, usando apenas um escarificador (Figura 62). A direção da linha será dada por uma série de piquetes distribuídos ao
C a p í t u l o I | 78 longo da linha de plantio. O cultivador ao passar derruba-os sucessivamente por meio do animal de tração. Uma vez aberto o sulco, uma corda marcada a cada 4 m é estendida no terreno (ao lado de cada sulco) para facilitar a distribuição de sementes de carnaúba (Figura 63). A quantidade de duas sementes é distribuída em cada ponto marcado na corda. No final do processo de semeadura, se passa um pranchão à atração animal para fechar com facilidade os sulcos (Figura 64).
Figura 62. Cultivador com apenas um escarificador para a abertura de sulcos no terreno, seguindo a distribuição dos piquetes em cada linha de plantio. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 63. No ponto marcado na corda (4 m), realiza-se o plantio manual de duas sementes de carnaúba no sulco. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 64. Pranchão de madeira puxado pelo animal para fechar os sulcos abertos, semeados manualmente. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Por conta do espaçamento amplo de 4 m x 4 m, o preparo do solo entre as linhas para as culturas intercalares temporárias pode ser realizado a cada ano no carnaubal com cultivador a tração animal ou através de uma gradagem mecânica de forma cruzada (nos dois sentidos), pois essa consorciação só é limitada com o sombreamento intenso imposto pelas copas dessas palmeiras com idade a partir de 4 anos. Além disso, na passagem do implemento de tração animal ou mecânico, é necessário deixar um espaço de 0,5 m de distancia das linhas de plantio de carnaúba para não danificar seu sistema radicular.
ESPAÇAMENTO
Um dos aspectos mais discutidos do cultivo da carnaubeira é o espaçamento, em razão da falta de resultados experimentais convincentes. Segundo Gomes (1945), a determinação da população de plantas por hectare pode divergir bastante entre o carnaubal pouco adensado ou adensado, dependendo da fertilidade do solo. Num sistema quadrado (Figura 65), o espaçamento de 4 m x 4 m possibilita (população de 625 plantas/ha) um maior tempo de consorciação (3 anos), além de permite um melhor manejo entre fileiras, principalmente quando as inovações tecnológicas requerem o uso de caminhão dentro do carnaubal. Enquanto no espaçamento de 3 m em todos os sentidos (população de 1.111 plantas/ha), dificulta a colheita das palhas, pois o operário trabalha bem próximo da planta, podendo o mesmo sofrer acidentes com a caída de folhas.
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Figura 65. Num sistema quadrado, utiliza-se o espaçamento de 4 m nos dois sentidos para o plantio da carnaubeira. Foto de Sérgio Cobel.
Verifica-se que nos plantios mais adensados (3 m x 3 m), a população de planta por área é significativamente mais elevada. No obstante, a produção individual da carnaubeira, provavelmente, seja significativamente inferior principalmente em solos com elevada fertilidade, em função dos atritos ocasionados pelas folhas entre as grandes copas das plantas pela ação do vento, o que podem contribuir ainda mais em maiores perdas de pó. Além disso, esses atritos de folhas irão somar ainda mais as perdas de pó naturalmente previstas no carnaubal, devidas à simples ação do vento e algumas chuvas esporádicas nos meses de verão (CARVALHO, 1982).
Por outro lado, na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE encontra-se uma área de carnaubeiras vigorosas cultivadas em solos argilosos no espaçamento de 3 m entre fileiras e de 3 m entre plantas (população de 1.111 plantas), onde se observa o contato entre folhas de distintas copas (Figura 66). Este espaçamento também foi empregado no carnaubal cultivado em solos de tabuleiro em Apodi, RN, mesmo assim não se verifica o contato de folhas entre as copas das plantas pelo fato do solo com baixa fertilidade ter produzido folhas menores (Figura 67). Já nas
C a p í t u l o I | 81 proximidades desta área, é possível encontrar plantas vigorosas de carnaúba, cultivadas em solos de aluvião, que produziram folhas e pecíolos grandes (Figura 68).
Figura 66. No sistema de carnaubal cultivado no espaçamento denso de 3 m x 3 m, observa-se o contato de folhas entre as copas grandes das plantas em função da elevada fertilidade do solo. Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE. Fotos de Tarcísio Marcos de Souza Gondim.
Figura 67. No sistema de carnaubal cultivado no espaçamento denso de 3 m x 3 m, não se detecta o contato de folhas entre as copas pequenas das plantas em função da baixa fertilidade do solo. Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 68. Carnaubeiras com copas vigorosas plantadas em solos de aluvião. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
As sementes podem ser colocadas a uma profundidade variável entre cinco a dez centímetros. Nos solos argilosos, a profundidade dever ser menor; e maior nos solos de textura mais grossa (GOMES, 1945). Outros espaçamentos também são aconselháveis para a carnaubeira, tais como: 4 m x 3,5 m (população de 714 plantas/ha); 4 m x 2,50 m (população de 1.250 plantas/ha) e 3,50 m x 3,50 m (população de 816 plantas/ha), mesmo assim o seu espaçamento ideal seria de 4 m x 4m (GOMES, 1945; CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
Mediante um estudo experimental seria possível avaliar melhor as aglomerações de folhas nas copas do carnaubal cultivado no sistema quadrado (Figura 69) e suas influencias sobre a produção de pó de elevada qualidade, pois existe a possibilidade das copas das plantas das três fileiras marginais que circulam o campo sejam as que absorvem com mais intensidade as poeiras transportadas pelos ventos, protegendo assim as copas das plantas (menos contaminação) que ocupam a parte interna da área. Caso tal hipótese seja confirmada experimentalmente, haveria então a possibilidade de cortar as folhas de plantas adultas de baixo porte (idades de 5 a 6 anos) no sistema de cultivo com espaçamento definido (CARVALHO, 1976; CARVALHO, 1982), enquanto no sistema de extrativista pouco denso é desaconselhável realizar o corte de carnaubeira de baixo porte porque suas folhas estão mais próximas ao chão e, portanto, se contaminam mais com a poeira provocada pelo vento (BAYMA, 1958).
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Figura 69. Num sistema quadrado de cultivo, provavelmente o corte de folhas das plantas na parte interna da área poderá ser feito precocemente a partir dos 5 a 6 anos de idade. Russas, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
CULTURAS INTERCALARES
A atividade de exploração dos carnaubais precisa ser revisada com o objetivo de melhorar a renda do campo e de tornar os carnaubais parte de um conjunto de atividades agrícolas que se complementam, passando a área dos carnaubais a ser utilizada durante o ano inteiro, dando ocupação permanente aos moradores das propriedades. Pode ser caprinocultura, ovinocultura, cultivo de plantas com irrigação (aspersão, gotejamento) favorecendo também o carnaubal, enfim é permitido até atividades permanentes na mesma área dos carnaubais (GOMES et al, 2006).
O consórcio da carnaubeira com culturas de ciclo temporário pode ser usado com sucesso por pequenos e médios produtores, sobretudo durante os três primeiros anos de plantio, quando é menor a competição por água, luz e nutrientes. Após o período de 4 anos de idade da carnaubeira, a utilização do solo descoberto pode ser limitada para as atividades agrossilvopastoris consorciadas (Figura 70). Em caso de não consorciação irá permitir a invasão de plantas daninhas (Figura 71), pois a baixa insolação provocada pelas copas das plantas não impede o surgimento dessa pastagem nativa (CARVALHO, 1976). Mas no caso de consórcio com culturas alimentícias, provavelmente podem
C a p í t u l o I | 84 ocorrer redução significativa na produtividade por causa do sombreamento, principalmente em carnaubal que já tenha atingido a idade de 4 anos e quando se trata de espaçamento adensado de 3 m x 3 m, o qual tem sido sugerido pela Câmara Setorial da Carnaúba (2009).
Figura 70. Carnaubal cultivado em consórcio agrossilvopastoril, sendo a área mantida isenta de ervas daninhas, galhos e arbustos. Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 71. Carnaubal cultivado sem consórcio agrossilvopastoril com a infestação de plantas invasoras que dificulta a mobilização dos operários durante o corte das palhas. Barbalha, CE. Foto de Tarcísio Marcos de Souza Gondim.
C a p í t u l o I | 85 No sistema extrativista pouco adensado da carnaubeira, verifica-se uma grande diversidade de culturas consorciadas, sendo que em área não alagada é possível plantar nas entrelinhas feijão (Figura 72), milho, algodão, gergelim, mandioca, amendoim, mamona etc, enquanto em área alagada se planta mais o arroz (Figura 73). A maioria das culturas intercalares não apresenta nenhum efeito negativo sobre o desenvolvimento da carnaubeira, desde que as fileiras das culturas como amendoim ou feijão de porte ereto (não enramador) estejam próximas a cultura da carnaubeira. Também existe a possibilidade de cultivar algumas culturas irrigadas no carnaubal (Figura 74). Como resultado, tem-se observado uma interação positiva, na qual a cultura principal é beneficiada em virtude dos tratos culturais proporcionados à cultura consorciada. O produtor, por sua vez, obtém uma renda adicional, dentro da mesma área onde se encontra cultivado a carnaubeira. Como também existe o perigo de que as culturas intercalares, que são secundárias, sejam mais bem tratadas pelo produtor do que a lavoura principal, devido ao fato da carnaubeira ser perene, então o mesmo simplesmente deixa de efetuar as capinas ao seu redor (GOMES, 1945).
Figura 72. Carnaubal em sistema de extrativista com feijão consorciado. Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 73. Carnaubeira em sistema de extrativista com arroz consorciado. Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 74. Cultivo irrigado em área de carnaubal nativo no município de Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Mesmo que seja mantido livre do mato a zona de coroamento em redor da planta (raio de 0,5 m) de carnaúba, em todo caso o uso da consorciação deve ter por objetivo o de aumentar a receita por área cultivada, de modo que possa reduzir significativamente o custo de implantação dessa cultura, principalmente com o preparo do solo e com o controle da vegetação daninha (coroamento) nos seus dois primeiros anos. Tendo em vista a grande disponibilidade de área entre as fileiras de plantas de carnaúba nos
C a p í t u l o I | 87 primeiros três anos e, raramente, é permitido consorciar até os quatro anos de cultivo da carnaubeira. A partir dessa idade da carnaubeira em cultivo organizado (4 anos), recomenda-se utilizar o consórcio agrossilvopastoril (CARVALHO, 1976).
TRATOS CULTURAIS
A carnaubeira não é exigente em tratos culturais e pode ser compatível com outras atividades agrossilvopastoris. Entretanto, a rapidez do crescimento e uniformidade do carnaubal dependem dos tratos culturais realizados na fase jovem da planta, em função da mesma receber a maior competição com as ervas daninhas, principalmente nos dois primeiros anos de idade. Para evitar esse crescimento lento da planta de carnaúba, é importante mantê-la livre de plantas invasoras, devendo-se realizar o coroamento manual (enxada) ao redor da planta num raio de 0,5 m (Figura 75; CARVALHO, 1976).
Figura 75. Coroamento realizado em volta da planta de carnaúba para eliminar a competição de plantas invasoras. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Faz-se necessário, portanto, que o carnaubal novo, em início de desenvolvimento, se encontre protegido com uma cerca de arame provisória (empregando sete arames), de modo a mantê-lo livre das incursões agressivas dos animais domésticos, principalmente os suínos, caprinos, bovinos, muares e asininos. Enquanto os suínos arrancam e comem as sementes germinadas, os demais animais comem as folhas das carnaubeirinhas,
C a p í t u l o I | 88 principalmente durante a estação seca. Além disso, esses animais pisam as carnaubeirinhas, dilacerando as folhas, o que prejudica o estipe ainda tenro da planta. O suíno é considerado o animal que mais prejudica os carnaubais, pois destrói a plântula na sua fase germinativa, impedindo sua renovação. Em geral, é possível admitir que nos campos cercados, e que também se excluam as excessivas retiradas de folhas da planta (incluído os mangarás), os carnaubais decadentes se refazem espontaneamente em poucos anos quando se tratar do sistema extrativista ou quando é replantado, no caso do sistema cultivado ou domesticado (Figura 76; GOMES, 1945; CARVALHO, 1976).
Figura 76. Área cultivada de Copernicia hospita com capina manual da Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Maria Odete Alves e Jackson Dantas Coêlho (2008). Avaliando uma área não capinada de carnaubeirinhas, as quais foram abandonadas depois de um ano do plantio, Gomes (1945) observou que as plantas apresentavam de uma a duas folhas e, no caso de três a quatro folhas, quando as capinadas foram realizadas unicamente ao redor de cada planta (coroamento). O mesmo autor constatou que as diferenças de desenvolvimento entre plantas bem cuidadas e mal cuidadas e entre as de várzea e as de tabuleiro, continuam e acentuam-se significativamente com o decorrer dos anos. Assim, as carnaubeiras de aluvião bem tratadas começam a produzir cera no quinto ou sexto ano; as de tabuleiro (ou arisco), bem cuidadas, no oitavo ou no décimo ano; e as dilaceradas pelo gado e em solo de tabuleiro, a produção de cera pela planta pode variar de doze a dezesseis anos de idade (CARVALHO, 1976).
C a p í t u l o I | 89 Essa prática manual de coroamento e proteção com cerca do campo deveria ser utilizada no primeiro e no segundo ano de idade da planta de carnaúba, sendo que a liberação da área para o consorcio agrossilvopastoril poderá ser feito com 4 anos de idade (Figura 77), enquanto que aos 3 anos de idade, as folhas nas posições horizontal e inferior da pequena planta ainda sofrem o ataque parcial dos animais, mas sem compromete severamente seu desenvolvimento (Figura 78). Mesmo sendo semeada e abandonada à própria sorte, a carnaubeira dificilmente morre, em função da sua rusticidade, que suporta aos maus tratos dos animais, e de sua resistência a seca. Mas tal processo de condução da cultura, que foi e ainda continua sendo praticado, é inteiramente condenável pela pesquisa (GOMES, 1945).
Figura 77. No sistema extrativismo, a planta adulta de 4 a 5 anos de idade com a copa intacta por oferecer proteção natural (espinhos) ao ataque dos bovinos, asininos e muares existentes na Estação da Embrapa Algodão de Patos, PB. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 78. No sistema extrativismo, as carnaubeiras de 3 anos de idade: A- Planta não atacada pelos animais devido a cerca de arame, em Lucrecia, RN e B- Planta atacada parcialmente, mas que sobreviveu por conter mecanismo de defesa (espinhos) ao ataque dos bovinos, asininos e muares existentes na Estação da Embrapa Algodão de Patos, PB. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Para não dificultar a movimentação dentro do carnaubal, seria útil realizar uma limpeza no terreno após o inverno. Essa limpeza consistiria principalmente na retirada de palhas e pecíolos secos que secam e caem naturalmente da planta. Estes pecíolos são dotados de espinhos que chegam a causar acidentes ao trabalhador por não usar bota durante a época de corte das folhas (CARVALHO, 1976).
USO DA BAGANA COMO ADUBO E COBERTURA MORTA
Com a retirada do pó pelo processo mecânico, por uma saída da máquina de batição, tem como resultado a bagana (Figura 79), como é chamado o resto da palha triturada, a qual é adicionada ao solo para servir como adubo orgânico e/ou utilizado na composição de substratos para produção de mudas, melhorando a estrutura e a fertilidade do solo (ALVES; COÊLHO, 2006).
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Figura 79. A palha triturada (bagana) resultante do processo de retirada do pó pela máquina de batição. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A utilização de bagana tem a possibilidade de fertilização e de melhoria da textura de solos compactados para a implantação de novos carnaubais, tendo em vista tratar-se de excelente adubo vegetal (CARVALHO, 1982), através da sua incorporação pelo arado mais gradagem ou passando apenas a grade de disco atrelado ao trator durante o preparo do solo. O terreno destinado ao plantio da carnaúba deverá ser inteiramente revestido por uma camada singela de palhas trituradas, as quais poderão ser colocadas em sacos sobre uma carroça para facilitar sua distribuição uniforme em todo campo (Figura 80). Este procedimento (revestimento do solo com bagana) deverá ser efetivado na semana anterior ao preparo do solo mecanicamente.
Figura 80. Bagana amontoada a granel no local de batição da máquina (A) e transportada em sacos para nova área de plantio de carnaúba (B). Fotos de Francisco Judivan Aprígio de Sousa e Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 92 Com o advento da máquina de batição para a extração da cera, houve o desaparecimento do sistema tradicional de manter o terreno de plantio de carnaúba, no inicio do inverno, inteiramente revestido por uma camada de palhas inteiras (não triturada), cuja cera já tinha sido extraída por batição manual (cacete). Após proceder a semeadura das sementes de carnaúba na profundidade de 5 a 10 cm, conforme a textura do solo, as palhas eram dispostas sobre o terreno, lado a lado, cuidadosamente, de modo a revestilo totalmente. Após vinte dias ao surgimento das plântulas, procediam-se os replantios necessários (GOMES, 1945). Essa técnica de cobertura morta do solo com a palha verde inteira, atualmente não existe mais na região dos carnaubais, pelo fato da operação de batição manual (cacete) ser realizada apenas com palhas inteiras do olho para atender com exclusividade as atividades artesanais de produção de vassouras, chapéus, arupembas, cestos etc.
Mesmo assim, ainda é possível revestir todo o solo com uma camada de palha triturada (bagana; Figura 81), após o plantio das sementes de carnaúba, desde que esse material seja abundante na região de plantio. Para torná-la eficiente como cobertura morta, tal revestimento do terreno terá que ser repetido por mais de duas vezes apenas no período de inverno dos dois primeiros anos, em razão da palha triturada com 3 cm de comprimento apresentar maior facilidade ao processo de decomposição do que as palhas adultas inteiras (GOMES, 1945). No caso de não haver grande disponibilidade de bagana ao alcance do produtor, recomenda-se distribuí-la apenas sobre as linhas de plantio da carnaubeira (Figura 82), a qual poderá ser semeada no espaçamento de 4 m x 4 m, deixando a carroça seguir a distribuição de piquetes, usando-os como guia ao longo de cada linha de plantio. Outra situação seria usar o espalhamento das folhas trituradas num raio de 0,5 m ao redor da plantinha de carnaúba, de modo a manter essa área do coroamento sempre revestida com bagana, principalmente nos meses de chuva (Figura 83). Este manejo simples com a cobertura morta dispensa a capina manual (enxada) no controle das plantas daninhas, o que implica menos custos de mão-de-obra em tratos culturais do carnaubal.
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Figura 81. A cobertura morta do solo com bagana controlou praticamente a incidência de ervas daninhas na área cultivada com milho em Felipe Guerra, RN, sendo que tais plantas haviam sido cortadas recentemente para silagem. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 82. Espalhamento da bagana apenas na linha de plantio das sementes de carnaúba com auxilio da carroça. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 83. Uso da palha triturada (bagana) em volta das plantinhas de carnaúba da espécie Copernicia hospita Martius, utilizando apenas um raio de 0,5 m que representa a zona de coroamento. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e P. Goltra.
Essa cobertura morta (bagana) é a principal responsável, tanto para a planta quanto para o solo, dos seguintes benefícios: Incrementa a produtividade dos cultivos; Mantém a umidade do solo; Diminui a variação de temperatura do solo; Protege os agregados do solo contra os efeitos erosivos da chuva; Aumenta a capacidade de retenção de água na zona de cobertura; Diminui a incidência de ervas daninhas na área de cobertura; Mantém a fertilidade do solo; Reduz o turno de rega em fruteiras irrigadas; Fornecimento de nitrogênio para as plantas; Reduz os custos no manejo do pomar.
C a p í t u l o I | 95 Por outro lado, é importante frisar que o uso de resíduos e subprodutos agrícolas e agroindustriais têm se constituído como fonte de alimento para melhorar a eficiência da produção animal no semiárido. Dentre esses produtos, a bagana da carnaúba está sendo pesquisada, principalmente pela disponibilidade e volume produzido. Apesar de apresentar limitações devido aos altos teores de fibra e lignina e baixos teores de digestibilidade e de proteína bruta, que chega a 7% (GOMES et al., 2007), seu uso como ração animal é uma prática que vem sendo adotada por vários produtores e pode se constituir numa alternativa interessante, principalmente quando enriquecida com uréia animal, conhecido por amonização (ALVES; COELHO, 2006; ROCHA et al., 2006). Estudos realizados pela Embrapa Agroindústria Tropical em manejo do solo e observações feitas em áreas de fruticultura (Figura 84), tanto no litoral como no semiárido, têm mostrado que a morte de plantas jovens no campo está relacionada, quase sempre, com a baixa umidade e a elevada temperatura do solo superficial. Solos com essas condições submetidos a uma estação seca de seis a sete meses e elevado número de horas de insolação diárias inibem o crescimento das raízes e causam o dessecamento destas.
Figura 84. Utilização da bagana como cobertura morta nos pomares frutíferos. Foto de Vicente de Paula Queiroga
C a p í t u l o I | 96 PRAGAS E DOENÇAS
A carnaubeira é uma planta de crescimento lento que se propaga facilmente por dispersão de sementes. Por sua resistência as condições adversas da região semiárida, praticamente não são atacadas por pragas e doenças e, portanto, os mesmos não trazem prejuízos econômicos à cultura (GOMES, 1945).
Segundo Gomes (1945), o coleóptero Pachinerus nuclearum Fbr perfura o fruto da carnaúba para alimentação e reprodução (Figura 85), sendo a postura de um ovo por semente. Após sua eclosão passa para a fase de larva que irá devorar totalmente a amêndoa, deixando apenas a casca, e, consequentemente, irá comprometer sua germinação (Figura 86). Essa praga é facilmente identificada junto às sementes colhidas no chão.
A B Figura 85. Amêndoas de carnaúba perfuradas por Pachinerus nuclearum Fbr. (A) e esse coleóptero nas fases de adulto e de pulpa (B). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 86. Sementes de Copernicia perfuradas pelo coleóptero Pachinerus nuclearum Fbr. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
As folhas das carnaubeiras são atacadas esporadicamente por lagartas das espécies Brassolis sophorae, Linvar e Opsiphanes envirae, Hubn (GOMES, 1945); e por gafanhotos (ALVES; COÊLHO, 2008). Enquanto um piolho vegetal Aspiodiotus destrutor, Sign ataca as folhas das carnaubeiras novas (GOMES, 1945).
Com relação às doenças, apenas o fungo Pseudocercospora coperniciae Braun & Freire havia sido catalogado até 2002 como patógeno da carnaúba, causando manchas foliares (FREIRE; BARGUIL, 2006). Também foi constatado a presença dos fungos Aspergillus niger, Cladosporium cladosporioides e Penicillium citrinum no endosperma de frutos da carnaubeira (FREIRE; BARGUIL, 2006).
No município de Chorozinho, CE em 2006, foi constatada uma infecção generalizada em frutos de carnaubeiras adultas, que causou a queda drástica dos mesmos. Com base no exame microscópico do Laboratório de Fitopatologia da Embrapa de Fortaleza, CE, revelou trata-se da espécie do gênero Colletotricum. Esta foi à primeira constatação da ocorrência de antracnose em frutos de carnaubeira no Brasil (Figura 87). A doença torna-se particularmente severa nos anos de maior pluviosidade, possibilitando assim o ataque mais intenso às inflorescências (FREIRE; BARGUIL, 2006).
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Figura 87. Frutos de carnaúba afetados pelo fungo causador da doença antracnose, colhidos na comunidade Logradouro no município de Frutuoso Gomes, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Uma das principais ameaças aos carnaubais e a biodiversidade das planícies aluviais é a trepadeira de origem da Ilha de Madagascar e Este africano (Cryptostegia madagascariensis), conhecida como boca-de-leão, unha-de-moça, viúva-alegre, margarida, mensageira, dependendo da região. Esta trepadeira pode chegar a matar a planta ao tornar-se sua hospedeira (ALVES, COÊLHO, 2008; D’ALVA, 2004; Figura 88). As causas de sua infestação são os carnaubais abandonados da atividade extrativista que, sem manejo, contribuem de forma significativa para o seu alastramento (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
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A
B
C D Figura 88. Diferentes fases de ataque da trepadeira boca-de-leão a carnaubeira: AInício do ataque a planta; B- Fase bem avançada de ataque a planta; C- Planta totalmente atacada; e D- Planta totalmente morta, sem a copa de folhagem. Fotos de Vicente de Paula Queiroga (A, B) e de Francisco Marcílio de Melo (C, D). Para controlar a boca-de-leão, inicialmente é necessário identificar a parte da extensa trepadeira onde se encontra sua raiz, que, em muitos casos, oferece um difícil acesso pelo mato em sua volta e pela densa folhagem apresentada pela própria planta invasora (Figura 89). Com ajuda de uma foice é realizado um roço para eliminar esse mato e desgalhar os ramos nessa zona próxima a raiz (colo do caule). A partir dessa situação de roço, os técnicos da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) do Ceará testaram vários métodos de controle por desconhecer o mecanismo de reação dessa planta invasora:
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Figura 89. Dificuldade para localizar o local da raiz da planta invasora por conta do mato e da folhagem densa. Foto de Francisco de Marcílio de Melo.
Método de destocamento ou mecânico – Consiste em arrancar a planta pela raiz com auxílio de uma chibanca ou lavanca. Apesar de ser eficiente na eliminação da trepadeira boca-de-leão, esse método torna-se oneroso e inviável quando a área é bastante infestada (D’ALVA, 2004). Em seu lugar, os técnicos da SDA usaram a lâmina da motoniveladora CAT 120 H para destocar as plantas invasoras, mesmo assim os resultados não foram totalmente satisfatórios por ter havido algumas falhas nesse processo mecânico (Figura 90).
Figura 90. Destocamento das plantas invasoras através da lâmina da motoniveladora. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 101 Método de poda – Foi efetuada uma poda drástica próximo ao colo da planta invasora, usando um facão ou motor serra (Figura 91), mas a mesma ofereceu certa resistência a esse método e conseguiu rebrotar novamente no início das chuvas.
Figura 91. Não houve eficiência no método de poda drástica da planta invasora com moto serra. Foto de Francisco Marcílio de Melo.
Método com herbicida – Por respeito às leis de proteção ao meio ambiente, os técnicos da
Secretaria
do
Desenvolvimento
Agrário
do
Ceará
rejeitaram
testar
experimentalmente uma combinação de herbicidas de contato e sistêmico e em doses elevadas para destruir essa trepadeira (D’ALVA, 2004).
Método com fogo - Consiste em aplicar um fogo dirigido ao colo do caule da planta invasora produzido por uma bucha feita com retalho de pano, a qual é colocada na extremidade de uma vara (Figura 92). Essa bucha, ao ser embebido com óleo queimado, irá provocar um fogo lento e demorado (tempo de 15 minutos) que destrói com eficiência essa planta invasora, além de ser considerado um método barato. A hipótese para tal controle eficiente seria mais bem explicada devido à ação do fogo ter provocado a dessecação dos tecidos de reserva na base superior da raiz, onde se armazenam os hormônios de crescimento, após essa planta invasora ter sofrido um estresse hídrico drástico de mais de 60 dias em relação às últimas chuvas (melhor época de controle seria novembro ou dezembro). Como se trata de um mecanismo de sobrevivência
C a p í t u l o I | 102 apresentado pela planta que, em reposta ao estresse hídrico, interrompe o fluxo de seiva elaborada das folhas, enquanto que os hormônios de crescimento, que estão em atividades na sua parte aérea, vão ser translocados gradativamente pelos vasos do floema, indo finalmente se acumular na sua raiz (COSTA, 2006). Para combater com eficiência a trepadeira boca-de-leão, esse estresse hídrico de 60 dias significa o momento ideal de se utilizar esse método térmico para causar uma decomposição da fração de hormônio de crescimento armazenado nessa raiz.
Figura 92. Eficiente método com fogo para matar a trepadeira boca-de-leão. Fotos de Francisco Marcílio de Melo. Para fazer a queima, os técnicos da SDA recomendam retirar os ramos para um local apropriado e, que as áreas infestadas devem ser reflorestadas com carnaúba, porque a planta invasora boca-de-leão tem preferência por áreas desmatadas (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
C a p í t u l o I | 103 CORTE DA PALHA
Ao atingir sua maturidade (±10 anos), a carnaubeira está pronta para a colheita de suas folhas. As folhas da planta são cortadas entre setembro e dezembro, época em que há maior quantidade de cera incrustada sobre as folhas, que pode se estender a atividade de corte no mês de janeiro, desde que não chova na região (inverno tardio). No carnaubal cortado anualmente, em geral são cortadas de 35 a 40 folhas por palmeira e no carnaubal bianual, são cortadas de 55 a 60 folhas.
A quantidade de milheiros de palhas definirá a quantidade de trabalhadores na turma e quantas turmas serão necessárias. A turma é formada por trabalhadores com diferentes funções, contratos e remunerações. Há basicamente dois tipos de trabalhadores: os especializados, organizados em varas ou ternos (formada por vareiro, aparador e enfiador), diretamente envolvidos no corte e pagos por produção; e os diaristas, aqueles que cumprem atividades complementares ao corte e são pagos por diárias (D’ALVA, 2004).
A equipe de corte das palhas do carnaubal geralmente é composta de cinco trabalhadores, um vareiro e quatro auxiliares: enfiador, desenganchador ou aparador, carregador e lastreiro. As palhas da planta são cortadas por meio de uma foice presa na extremidade de uma vara de bambu, a qual é manuseada exclusivamente pelo vareiro (Figura 93). De acordo com a altura da planta, as varas de bambu variam de 4,5 a 12 m de comprimento (Figura 94; ALVES; COELHO, 2008).
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Figura 93. Corte das folhas da carnaubeira pelo vareiro com ajuda da vara de bambu de 10 m. de comprimento. LucrĂŠcia -RN, 2011. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 94. Corte das folhas da carnaubeira pelo vareiro com vara de bambu de 4,5 m de comprimento. Aparecida, PB. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 105 São cortados separadamente dois tipos de folhas: 1) as folhas de olho (fechadas) que cercam o meristema terminal da planta e fornecem um pó branco, de primeira qualidade e 2) as folhas de palha, bem abertas, verdes, que fornecem um pó cinzento (Figura 95). Antigamente se cortava primeiro as folhas de palhas e depois vinha o corte das folhas de olho. Atualmente, o corte de ambas as folhas é feito concomitantemente, embora o vareiro encarregado do corte das folhas de olhos seja mais cuidadoso para não maltratar a palmeira, evitando não quebrar o “mangará” por ser a parte de crescimento do tecido do caule. Caso contrário, implicará na sua morte.
A B C Figura 95. A- Folha de olho fechada produz pó branco; B- Folha jovem que ainda não se abriu inteiramente (chama-se bandeira ou de olho); e C- Folha de palha aberta produz pó cinzento. Lucrécia, RN, 2011. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
As palhas adultas devem ser todas cortadas, mesmo aquelas já amarelecidas na própria árvore, pois a sua retirada ou poda favorece a planta. Mesmo assim existe caso em que o vareiro seleciona as folhas de palhas para corte, deixando de cortar as folhas que estão abaixo da posição horizontal, pelo fato de que essas folhas possuem menos quantidade de pó em relação as que estão na posição vertical (GOMES et al, 2006).
Segundo GOMES (1945), as folhas novas (do olho) da carnaubeira apresentam maior concentração de pó em relação às demais folhas da mesma planta, podendo variar esta concentração dependendo de sua posição na copa. Pois, à medida que o estipe da planta vai crescendo, essas folhas vão se deslocando através da copa desde a parte vertical superior (folhas fechadas do olho com maior teor de pó) até a posição obliqua da parte inferior da copa (folhas envelhecidas). Esse processo de envelhecimento das folhas de carnaúba ocorreria da seguinte maneira: uma vez surgindo às folhas do olho fechadas na
C a p í t u l o I | 106 posição vertical, essas folhas novas vão se abrir apenas na posição obliqua da parte superior da copa. Em seguida, elas passam para a posição horizontal (folhas adultas com médio teor de pó) e, finalmente, envelhecem na posição que vão ficando penduradas na parte inferior da copa (folhas velhas com menor teor de pó; Figura 96), formando assim um gradiente natural de perdas de pó entre as distintas posições de folhas assumidas dentro de cada copa. Esse ciclo de folhas é completado na copa, quando essas folhas velhas secam e se desprendem naturalmente da planta, ao mesmo tempo em que vão surgindo novas emissões de folhas de olho na parte superior (CARVALHO, 1982).
Figura 96. Folhas envelhecidas não cortadas abaixo da posição horizontal junto às folhas novas. Apodi, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Vale ressaltar que a tarefa de corte das folhas requer muita pericia por parte do vareiro, haja vista que, ao manobrar a vara diretamente abaixo da carnaubeira, deve deixar um espaço livre no chão para a queda das folhas (Figura 97), evitando com esta estratégia os acidentes de trabalho. É característico da indumentária do vareiro o uso de óculos escuros, já que passa períodos de até 12 horas por dia com a cabeça e olhos voltados para cima (ALVES; COELHO, 2008). Além do desgaste da visão e da coluna que sustenta o peso da vara, as palhas de carnaúba ao serem cortadas, caem como flechas apontadas para o vareiro, que tem apenas a própria vara, o vento e o jogo de corpo para defender-se.
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Figura 97. As folhas da planta caem na direção do vareiro, podendo ocasionar com relativa frequência acidentes de trabalho. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A ferramenta tradicional de corte das folhas (foice na vara de bambu) pode receber aperfeiçoamento de forma a tornar essa operação menos árdua e perigosa, desde que seja utilizada uma vara de alumínio temperado (bem mais leve em comparação ao bambu) com lâminas auto-afinantes na foice, ou substituí-la por tesouras de corte (IPT, 2002). Para proteção do corpo, Alves e Coêlho (2008) sugerem que o vareiro deveria utilizar escudos de material transparente, de maneira que o corte pudesse ser efetuado com a vara na posição mais próxima da vertical, o que reduziria o peso e, consequentemente, o esforço físico do trabalhador na operação.
A quantidade de folhas cortadas por vareiro durante um dia de trabalho sofre influência de vários fatores, tais como: altura da planta, densidade do campo e vegetação nativa existente no carnaubal. Mesmo assim, o vareiro consegue obter uma produtividade de oito a doze milheiros de folhas por dia, ou seja, 300 carnaubeiras (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). Além disso, a operação é simples e de baixo custo, o que reforça a resistência do trabalhador em mudar de ferramenta (ALVES; COÊLHO, 2008).
C a p í t u l o I | 108 A altura das carnaúbas influirá no grau de dificuldade do corte, pois, quanto mais altas as palmeiras, mais difícil é o corte, situação que não ocorre com a espécie Copernicia hospita de baixo porte (4 a 8 metros; Figura 98). A limpeza do carnaubal está relacionada com a presença de mato, ervas, trepadeiras e outras árvores que em excesso dificultam o corte. O carnaubal “unido” refere-se à distribuição e uniformidade das carnaúbas na área, um espaçamento entre as palmeiras de até 4 metros é o ideal, pois quando estão muito dispersas acarretam queda na produtividade (CARVALHO, 1976).
Figura 98. Plantas da espécie Copernicia hospita de baixo porte, cultivadas na Fazenda Raposo, município de Maracanaú, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Para evitar acidentes de trabalho ao vareiro e reduzir custos na operação de corte das folhas da carnaubeira, os técnicos da Secretaria de Indústria e Comercio do Estado do Piauí e Universidade Federal do Piauí estão tentando introduzir no seu sistema produtivo novo equipamento de corte de folhas por meio de um disco de serra na extremidade da vara, acionado pelo ar comprimido que é gerado pelo compressor móvel (Figura 99), capaz de substituir a velha foice. As pesquisas com essa nova tecnologia de corte das folhas ainda estão em fase experimental.
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Figura 99. Corte das folhas da carnaubeira com disco de serra movido por ar comprimido e gerado pelo compressor móvel adaptado ao carro de mão. Fotos de Francisco Marcílio de Melo.
Em Campo Maior, PI foi testando o corte das folhas da carnaubeira pelo vareiro, utilizando uma plataforma de trabalho com 7,5 metros de altura na máquina de empilhadeira para efetuar serviços em partes elevadas com total segurança (Figura 100A). Apesar do seu elevado custo de aquisição e ser uma tecnologia indicada para grandes produtores, o que limita e dificulta mais o seu uso para a operação de corte das folhas é o acesso as carnaubeiras em áreas nativas. Porém quando se trata de área reflorestada com espaçamento definido entre plantas, o sistema de corte das folhas pelo vareiro sobre a plataforma elevada pode ser mais eficiente por garantir o livre trânsito de máquinas, trabalhadores e animais dentro da área do carnaubal (GOMES et al, 2006; Figura 100B).
A B Figura 100. A- Corte das folhas pelo vareiro sobre a plataforma da empilhadeira em área nativa do carnaubal e B- Corte das folhas sobre uma plataforma adaptada no caminhão em área reflorestada. Fotos de Diego Antonio Nóbrega.
C a p í t u l o I | 110 O trabalhador denominado de enfiador, ao cortar parte do talo ou pecíolo da folha após a sua queda ao chão (Figura 101), irá formar feixes de 15, 25 ou 50 palhas. Para facilitar o carregamento dos mesmos nas cangalhas dos animais de serviço (ou garupa de moto com capacidade de 300 palhas, utilizando-se 10 cambos de 30 folhas, ou burros ou jumentos com capacidade de 500 palhas, utilizando-se 10 cambos de 50 folhas) e a contagem das palhas cortadas, o enfiador irá prender esses feixes de palhas de dois em dois, atando-as com um nó chamado de embira (Figura 102). Os conjuntos de dois feixes de folhas formam os cambos, os quais servem de base para o pagamento aos trabalhadores, se for o caso de serem renumerados por produtividade (milheiros derrubados). O mesmo é responsável pela retirada das folhas, com uso de uma vara de bambu ou guia com o máximo de 2,5 m, que ficam presas à vegetação nativa, sendo conhecido também por cambiteiro ou desenganchador (Figura 103; ALVES; COÊLHO, 2008).
Figura 101. Operação de corte do talo da folha de palha com uma faca amolada, após sua queda ao chão. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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A B Figura 102. Preparação de cada feixe de 15 folhas (A) e cambos de dois feixes de 30 folhas pelo enfiador (B) para facilitar seu transporte na garupa da moto até o local do lastro. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 103. Retirada das folhas presas à vegetação com o auxílio de uma vara pelo desenganchador. Foto de José Natanael Fontenele de Carvalho.
Uma vez o enfiador cortando a maior parte do talo (cerca de 50-60 cm) que une a palha ao caule da carnaubeira, mesmo assim a palha ainda fica com uns 15 a 20 cm de talo. Esse talo contém fibra celulósica mais longa em relação à fibra da folha, que é curta. Além disso, o talo é bastante duro e a presença de espinhos no mesmo dificulta o manuseio da palha de carnaúba (JACOB, 2002). A tarefa do “aparador” é aparar os talos das folhas com uma faca, retirando os espinhos (Figura 104).
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Figura 104. O aparador com a faca retira os espinhos e apara os talos (papo) para fabricar arupemba (peneira rústica). Lucrécia-RN, 2011. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Na região de Lucrecia, RN, o vareiro inicia seu trabalho cortando algumas folhas de palhas para deixar logo uma área livre na copa da planta, de modo a alcançar com a vara as folhas do olho. Geralmente, essa atividade de corte das folhas do carnaubal é levada a efeito uma vez por ano, onde, de forma sistemática, deixa-se pelo menos de 3 mangarás por palmeira (Figura 105). O mangará, considerado o olho mais novo da planta, é responsável pela vida e reprodução da carnaubeira. Portanto, cabe sempre ao arrendatário recomendar ao vareiro para não cortar os mangarás, pois se tal medida não for cumprida à risca irá prejudicar o desenvolvimento da carnaubeira, causando sua morte (GOMES et al, 2006).
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A B Figura 105. A- Detalhe do mangará nas carnaubeiras após o corte das folhas e BRecuperação da folhagem na copa das plantas após 3 meses da época de poda. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A definição de carnaubal maduro relaciona-se com o período de recomposição da copa e da saída dos novos olhos, palhas imberbes da palmeira. Normalmente, após um corte, é necessário aguardar o período de um ano para a total recomposição da copa e amadurecimento do carnaubal. Enquanto as carnaúbas estão recompondo a copa, os rendeiros dizem que o carnaubal está ainda verde (D’ALVA, 2004). Quando o proprietário ou rendeiro pretende fazer dois cortes anuais, o segundo corte já ocorre após o período de plantio das lavouras de subsistência, ou seja, no período de veranico que costuma ocorrer nos meses de fevereiro-março, mas que nem sempre acontece (D’ALVA, 2004). Na região de Aparecida, PB, o segundo corte ocorre no mês de junho. Por ser um período de corte mais curto, o risco de perda de folhas cortadas é bastante significativo, caso não sejam adotadas outras práticas de secagem mais eficientes do que a secagem em lastro, como por exemplo: secador solar móvel (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
Do local do corte, as folhas são conduzidas ao lastro para secagem e estendidas separadamente conforme o tipo, de olho e palha, onde permanecem por um período de 8 a 10 dias, dependendo da região e insolação. O transporte das folhas pode ser feito por
C a p í t u l o I | 114 jumento, carroça de tração animal, carroção do trator, caminhão (Figura 106), dependendo das condições financeiras do rendeiro/ proprietário (ALVES; COÊLHO, 2008).
A
B
C
Figura 106. Transporte de palhas de carnaúba da área de corte ao local do lastro para secagem através de caminhão (A), animal (B) e carroça (C). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 115 SECAGEM DA PALHA
Secagem das folhas cortadas no chão batido
Já houve tentativa de mudanças na forma de secagem das folhas, com incremento de estruturas de secador solar móvel apenas no Ceará (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009), mas não houve, ainda, disseminação dessa técnica em outros estados do nordeste do Brasil e a secagem de palhas permanece na forma tradicional de exposição ao sol sobre o chão. As palhas verdes e olhos são estendidas separadas. As primeiras são postas para secar ainda nos feixes e os olhos são desamarrados e estendidos um a um enfileirado (D’ALVA, 2004).
Após o corte da palha, caberá ao enfiador forma cambo de feixes de 30 a 50 palhas que pendura na cangalha de um jumento ou nas pernas viradas para cima de um tamborete amarrado na garupa da moto (Figura 107). Em seguida, são transportas para uma área aberta onde as palhas serão secadas. Este método de secagem das palhas é denominado de lastro, que pode ser em chão batido. Também o lastro pode estar recoberto de mato ralo, pastagem fina, capim etc. (Figura 108). Para evitar as nuvens de poeira e terra provocadas pela ação de ventos fortes da região, recomenda-se construir o lastro bem próximo de uma cerca viva ou cercada por uma mureta baixa (Figura 109; D’ALVA, 2004).
Figura 107. Detalhe do tamborete na garupa da moto para o transporte de palhas (cambo de feixes de 30 palhas). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 116
Figura 108. Secagem de feixes de palhas em lastro sobre chão batido (A) e chão batido revestido com cobertura morta e as palhas olhos espalhadas individualmente (B). Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Francisco Marcílio de Melo.
Figura 109. Uma mureta baixa (ao fundo) ao redor do lastro para evitar a poeira do vento. Foto de Vicente de Paula Queiroga. O lastreiro costuma fazer filas de 20 feixes de palhas verdes, de forma que cada fila soma 500 palhas (1/2 milheiro), facilitando a contagem diária. As palhas verdes levam de oito a doze dias para secar e devem ser viradas após quatro ou seis dias de secagem, enquanto as palhas olhos, espalhadas individualmente, secam após quatro dias (D’ALVA, 2004).
A secagem das palhas em lastros cimentados com muretas protetoras seria uma alternativa com efeito na melhoria da qualidade do pó: neste caso evitar-se-ia o contato com o solo e diminuir-se-ia a perda com o vento. A relação de área por milheiro de palha seria de aproximadamente 20 m² / milheiro (CARNAÚBA, 1949).
C a p í t u l o I | 117
No sistema de secagem da palha a céu aberto é necessário manter a vigilância para o seu recolhimento em caso de chuvas ocasionais. A perda de pó e sua contaminação com areia e outras sujeiras são inevitáveis quando essas palhas são espalhadas no chão para secar. Consequentemente, a baixa qualidade do pó irá influir na desvalorização do produto pelo mercado (BAYMA, 1958).
Uma vez que as palhas e os olhos secaram, as mesmas estão prontas para a extração do pó cerífero. Em algumas regiões, enquanto as palhas secas ainda estão no lastro, são feitas, por precaução, as jumentinhas, pilhas construídas em formato cônico com as palhas olhos amarrados em feixes colocados internamente em posição vertical e as palhas verdes superpostas externamente (Figura 110). Esta arrumação permite proteger tanto as palhas olhos e verdes de uma possível chuva, em razão do início de inverno nos meses de dezembro e janeiro (D’ALVA, 2004). Com base no processo de secagem, a cera fica na forma de escamas aderidas às palhas, as quais se desprendem facilmente por qualquer movimento da mesma e por ação do vento. Estima-se uma perda de pó cerífero em cerca de 20% só na etapa de secagem (CARNAÚBA..., 1949).
A B Figura 110. Pilhas de feixes de palhas em formato cônico com as palhas do olho internamente e as verdes externamente, conhecido por jumentinha (A) ou pinhão em Aparecida, PB (B). Fotos de Oscar Arruda D’Alva (A) e Vicente de Paula Queiroga (B)
C a p í t u l o I | 118 Secagem em estaleiro
A outra maneira de secar as palhas é usando o sistema de estaleiro, o qual consiste em pendurá-las em um arame (arame preto recozido nº10) bem esticado na direção do vento e preso a duas estacas (Figura 111). A distância de uma linha de estacas da outra é de 10 a 20 m e o comprimento de cada varal é de 10 a 20 m. Desta forma também se evita o contato com o solo (COLHENDO..., 1994).
Figura 111. Secagem de palhas de carnaúba em estaleiro. Desenho do arquivo SEBRAE, CE (1994).
Por ser considerado um sistema lento, mesmo assim a secagem em estaleiro elimina a mão-de-obra de revolver as palhas quando comparado com a secagem em lastro. Além disso, o aumento da quantidade de pó é de uns 10% e o rendimento em cera um pouco melhor. No caso de chuvas, não existe a obrigação de recolher as palhas já que as mesmas só atingem a parte externa das palhas. Uma alternativa à construção de estaleiros é estender um arame preto recozido nº10 entre duas carnaubeiras nas áreas de corte para secar as palhas penduradas no arame (varal). A maior vantagem apresentada pela secagem em estaleiro é evitar que as pontas das palhas (no mínimo 30 cm acima do chão) fiquem em contato com o solo e, portanto, não acumulam sujeiras (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
C a p í t u l o I | 119 Quando se utiliza o sistema de secagem das palhas em varais constata-se redução na qualidade do pó, devido às chuvas ocasionais entre os meses de novembro e janeiro na região de Apodi, RN. Neste caso, recomenda-se adaptar uma estrutura de PVC de três canos vazados, de 6 m de largura x 10 m de comprimento, sobre os varais de palhas, os quais deverão ser cobertos com uma lona plástica móvel para proteger as palhas das chuvas. Essa operação poderá ser realizada por duas pessoas em poucos minutos. O mecanismo manual de abrir e fechar a lona se assemelha ao movimento de uma cortina, cujas extremidades da lona ficarão apoiadas por várias argolas que se deslocam por dentro de dois canos colocados horizontalmente nas laterais da estrutura de PVC. Enquanto o terceiro cano ocupará livremente a parte central dessa estrutura e ficará numa posição ligeiramente elevada em relação aos dois canos das laterais para manter a lona inclinada e facilitar o escorrimento da água de chuvas pelas laterais (Figura 112A).
A B Figura 112. Protótipo (1,0 m x 0,6 m) de uma cobertura com lona plástica apoiada por armação de PVC para ser instalado sobre os varais de palhas e garantir proteção de chuvas ocasionais. A- Lona aberta e B- Lona recolhida ou fechada. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. Para conseguir apoiar toda cobertura de lona, a estrutura de PVC (10 m x 6 m) contará com uma base de estaca de madeira na vertical com dois metros de altura em cada extremidade desse sistema retangular (pilares). Enquanto, os canos vazados horizontais nas laterais para não envergarem junto com toda a estrutura de PVC serão esticados por arames ou cabos de aço presos ao chão, os quais passarão pela parte interna dos mesmos (canos) para oferecer maior rigidez à cobertura. Para o caso de ausência de chuva, o
C a p í t u l o I | 120 mecanismo de recolher a lona plástica numa determinada extremidade da cobertura será efetuado manualmente para favorecer a exposição das palhas ao sol (Figura 112B).
Vale salientar que tanto no sistema de lastro, como no de estaleiros ou varais, deve-se ter, próximo a esses locais, estruturas rústicas para a estocagem das palhas secas até que as máquinas de bater estejam disponíveis. Ainda que a propriedade disponha de máquinas de bater palhas, recomenda-se que essa operação seja feita após 24 horas de armazenamento das palhas secas em estrutura rústica, devido ao fato dessas palhas excessivamente secas se fragmentarem facilmente em pequenos resíduos vegetais, os quais poderão contaminar o pó produzido durante tal operação. Este tempo de armazenamento (24 h) permite equilibrar a umidade das palhas com a do ambiente, de modo que as mesmas poderão ser submetidas à atividade de batição manual ou mecânica, sem causarem muitas sujeiras ao pó. Também não se deve esperar muito a operação de batição, para evitar que se acumulem detritos de animais sobre as palhas (BAYMA, 1958; D’ALVA, 2004).
Secador solar móvel das palhas
O Governo do estado do Ceará, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), lançou um programa do secador solar junto às comunidades organizadas de produtores de carnaúbas, visando aumentar a sua produção de pó cerífero e da cera de maior qualidade. Este sistema tipo estufa permite obter um pó mais limpo pelo fato do piso interno ser recoberto com lona plástica (Figura 113), o que possibilita conseguir um produto com preço superior ao de mercado. Esta proposta de pesquisa de secagem das palhas com o secador solar móvel foi iniciada pela Universidade Federal do Piauí.
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Figura 113. Lona de plástico sob a estrutura metálica do secado solar móvel visando obter um pó de alta qualidade. Foto de Francisco Marcílio de Melo
O secador solar móvel, doado as comunidades de produtores pelo projeto do governo do Ceará, é um equipamento constituído de uma estrutura metálica, cujas paredes laterais circulares e sua cobertura são revestidas por um único plástico flexível e resistente ao vento, chuva e temperatura elevada. Este plástico é confeccionado sob medida por uma empresa de capotaria de Fortaleza, CE contratada por licitação pela SDA do Ceará, o qual é dotado de um tipo de porta em forma de zíper (Figura 114). Segundo os técnicos da SDA-CE, o custo total de cada secador solar ficou estimado em R$ 10.500,00, incluído a compra da máquina derriçadeira no valor de R$ 2.000,00. Para aumentar a durabilidade do secador solar, estes técnicos afirmam que seria necessário mudar a estrutura metálica de ferro carbono para ferro galvanizado, como também melhorar a qualidade do plástico de cobertura.
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Figura 114. Tipo de porta em forma de zíper na cobertura de plástico de acesso ao interior do secador solar. Fotos de Francisco Marcílio de Melo e Carlos Lustosa Filho.
Na parte central e superior do secador solar é colocado um exaustor para o sistema funcionar como uma estufa durante o dia (exposição ao sol; Figura 115). Ou seja, a entrada do ar seco do ambiente externo ocorre no espaço de 30 cm deixado na parte inferior do plástico das paredes laterais circulares (dobrando um pouco a borda de tal plástico), enquanto a saída do ar úmido extraído das palhas verdes é feita através do exaustor.
Figura 115. Cobertura de plástico com espaço de 30 cm na parte inferior das paredes laterais circulares e exaustor no topo do secador solar. Foto de Francisco Marcílio de Melo.
C a p í t u l o I | 123 No interior do secador, as palhas são penduradas uma ao lado da outra em varais esticados de cabos de aço ou de arame liso recozido (Figura 116). Uma vez arrumadas, essas palhas são submetidas a elevadas temperaturas durante o período de exposição ao sol, atingindo a temperatura máxima de 65ºC. Normalmente as palhas estão secas dentro da estufa após 48 h, podendo aumentar tal tempo de secagem, dependendo das condições de insolação reinantes na região, sendo geralmente mais eficiente esse processo nos meses de setembro a dezembro (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
Figura 116. Distribuição em varais das palhas verdes de carnaubeira no interior do secador solar para facilitar a operação de secagem. Fotos de Francisco Marcílio de Melo e Carlos Lustosa Filho.
Para a retirada do pó cerífero das palhas secas de carnaúbas, utiliza-se uma máquina conhecida como derriçadeira, o mesmo equipamento empregado na colheita do café, a qual possui palhetas vibratórias que em contato com as palhas derrubam o pó sobre a lona (Figura 117). Esta máquina de dois tempos é movida a gasolina (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
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A B Figura 117. A- Máquina derriçadeira e B- Operação de batição das palhas secas de carnaúba no interior do secador solar auxiliado pela máquina derriçadeira. Foto de Francisco Marcílio de Melo
A máquina derriçadeira para batição utilizada no projeto do secador solar consiste de um motor interligado a um braço, onde na sua ponta existem várias hastes vibratórias, que, com a ajuda deste motor, vibram em meio às palhas e fazem o pó se desprender da mesma, caindo em uma superfície onde se possa recolhê-lo sem muitas impurezas. Este equipamento tem como vantagem a não trituração da palha, podendo a mesma ser aproveitada para outras utilizações, como o artesanato e a construção civil.
Antes da operação de batição realizadas entre às 6:00 h até 9:00 horas (horário pouco quente no interior de secador), recomenda-se desenrolar as bordas inferior da lona e, em seguida, vedá-las com cobra de areia para evitar perda de pó. O pó resultante da batição é considerado limpo por cai sobre a lona plástica (Figura 118), o qual é coletado e armazenado em sacos de algodão para posterior transporte (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
Figura 118. Alta qualidade do pó proveniente de palhas de carnaúba submetidas ao secador solar. Foto de Francisco Marcílio de Melo
C a p í t u l o I | 125 Na Tabela 5, observa-se que o secador solar proporcionou o maior rendimento de pó (92%) em comparação aos sistemas de secagem da folha em estaleiro (74%) e em lastro (64%), sem considerar que o pó resultante do secador solar é mais limpo. Quanto ao rendimento de cera, os resultados percentuais obtidos revelaram superioridade de 89% do sistema secador solar (6,6 kg) em relação ao sistema de secagem da folha em lastro (3,5 kg), ficando o estaleiro com rendimento intermediário de 4 kg de cera.
Tabela 5. Comparativos de rendimentos de pó de carnaúba entre os diferentes tipos de secagem de palhas: lastro, estaleiro e secador solar. Valor estimado para um milheiro de palhas. Descriminação
Unidade
Tipos de secagem da palha Lastro
Estaleiro
Secador solar
Produção de pó
kg
5,5
6,3
7,2
Rendimento de cera
kg
3,5
4,0
6,6
Rendimento
%
64
74
92
Fonte: ADECE
Segundo os técnicos da SDA, as principais vantagens do secador solar em relação ao sistema tradicional de secagem (piso batido ou lastro) são: maior rendimento em pó, a secagem da palha é mais eficiente (não fica úmida), evita contaminação do pó com outros resíduos (areia, barro etc.), não dispersa o pó por ação do vento, protege as palhas das chuvas ocasionais, reduz o tempo de secagem, ocupa menor espaço, não necessita virar a palha, não exige a operação de montar e desmontar os feixes e reduz a mão de obra.
Na tentativa de acrescentar valor à produção de pó, tendo como referência o método tradicional (lastro) de secagem de 800 milheiros de palhas da carnaubeira, constata-se na Tabela 6 que houve um incremento de R$ 5.440,00 na renda bruta da produção de pó em favor ao sistema secador solar, cujos valores de produção de pó gerados nos sistemas em lastro e secador solar foram estimados em 4.400 kg e 5.760 kg, respectivamente. Para alcançarem estes resultados de produção de pó, a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) considerou o rendimento em pó (kg/1000 palhas) de cada sistema de secagem e seu preço de mercado ocorrido em 2010.
C a p í t u l o I | 126
Tabela 6. Comparativo da renda bruta na produção de pó de carnaúba entre o sistema de secagem de palhas tradicional (lastro) e o secador solar móvel. Tipo de secagem
Rendimento em pó
Produção de
Renda Bruta
pó (kg)*
(R$)**
(kg/1000 palhas
Incremento de renda bruta (R$)
Tradicional
5,5
4.400
17.600,00
-
Secador solar
7,2
5.760
23.040,00
5.440,00
(*) 800 milheiros de palhas por ano; (**) Preço do Pó – R$ 4,00 (2010) Fonte: Adece
Secador solar fixo das palhas
Os primeiros resultados de pesquisa do secador solar fixo foram gerados pela Universidade Federal do Piauí com apoio financeiro do governo estadual, visando promover a secagem das palhas de carnaúbas. Este modelo de secador tem sido considerado de alta eficiência devido ao sistema de sucção e devolução do ar ocorrer em função do tamanho das portas de entrada e saída, sendo este mecanismo de troca de ar ser a forma mais adequada de operação para manter a pressão interna em relação ao emprego de exaustores (JACOB, 2008).
Além de ser construído no sentido norte/sul, o secador solar fixo é de baixo custo por permitir alojar 10 mil folhas (6 m x 12 m) para proceder à secagem em 24 a 48 h, dependendo da exposição do sol (Figura 119). Deve-se deixar um pequeno espaçamento entre as palhas no primeiro dia de secagem, pois o contato entre as palhas verdes irá dificultar a liberação do pó nas áreas ardidas, mas que, a partir do segundo dia, é possível juntá-las sem problema. Ao adotar esse secador solar fixo, é necessária que se faça uma cobertura rústica para receber as palhas verdes em cambos (conjunto de dois feixes) provenientes do local do corte, e no outro extremo, outra construção no mesmo estilo, para receber e estocar as folhas secas. Vale destacar também que à medida em que as folhas secas vão sendo empurradas no arame para perto da porta de saída, ao mesmo tempo se vai alimentando o secador com novas folhas para secar, através da
C a p í t u l o I | 127 porta de entrada. Em razão disso, o processo de secagem é considerado continuo (JACOB, 2008).
Figura 119. Secador solar fixo desenvolvido em Campo Maior, PI pela UFPI para elevação do rendimento de pó cerífero da carnaúba. Foto de Raimundo Tomaz da Costa.
A PVP – Ceras Vegetais do Piauí tem desenvolvido um secador de palhas de carnaúba utilizando plástico flexível nas laterais e plástico transparente rígido na cobertura, o qual proporcionou a secagem das palhas em 24 h e, resultou no final, produção de pó cerífero com 6% de impurezas e 94% no rendimento em cera. Em comparação a secagem em lastro, observa-se na Tabela 7 um incremento significativo na produção do pó e rendimento em cera das folhas de olho e de palha, à medida que as mesmas foram submetidas aos métodos de secagem em varal e no secador solar. Este último sistema de secagem da palha poderá aumentar o rendimento e qualidade do pó e da cera em até 34% (D’ALVA, 2004; JACOB, 2008). Mesmo assim, este tipo de secador solar apresentou como desvantagem o fato de não ser desmontável, dificultando o processo produtivo, que exige deslocamento na área do carnaubal.
C a p í t u l o I | 128 Tabela 7. Valores médios de produção e rendimento do pó cerífero e de cera segundo o tipo de palha e processo de secagem. Tipo de folha
Quantidade Tipo de secagem
de pó (kg/1.000fls.)
Produção em cera (kg/1.000fls.)
Rendimento em cera (%)
Olho
Lastro
6,0
4,8
80,00
Olho
Varal
6,9
5,7
82,61
Olho
Secador solar
8,5
8,0
94,12
Palha
Lastro
5,5
3,5
63,64
Palha
Varal
6,3
4,4
69,84
Palha
Secador solar
7,8
7,2
92,31
Fonte: Adaptado por Jacob (2008)
Secador Vertical (Tipo Estufa)
O secador tipo estufa é considerado um método alternativo de secagem para facilitar o desprendimento do pó aderido à superfície das palhas. Esta estufa funciona em conjugação com o instrumento “riscador” (dilacerador dos folíolos) das palhas verdes através de faca ou utilizando a trincha de lâminas afiadas. Esta operação de dilacerar as palhas é realizada preliminarmente.
O conjunto do secador compõe-se de um ventilador, uma câmara com dois aquecedores de ar movidos a gás ou eletricidade e a estufa propriamente dita (Figura 120), a qual utiliza o ar quente (65ºC) insuflado de baixo para cima pelo ventilador para efetuar a secagem das palhas penduradas em varais no seu interior. Após a passagem pelas folhas estendidas, o ar úmido e quente é eliminado naturalmente pela parte superior do equipamento (tipo chaminé). Uma vez completado o processo de secagem no espaço de tempo de 3 a 4 horas, as palhas secas são retiradas da estufa e substituídas por outras palhas verdes riscadas. Por manter ainda uma parte do pecíolo, as palhas são penduradas em varas de madeira, de modo que essa arrumação das palhas não haja superposição. Recomenda-se efetuar a batição da palha seca depois de 24 horas para evitar a contaminação do pó pelos fragmentos liberados das palhas aquecidas.
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A
B
C D Figura 120. Detalhe de um pequeno secador tipo estufa: A- Extremidade do equipamento, ventilador de insuflação do ar, B- Aquecedores a gás na parte interna da câmara; C- Palhetas em camadas na parte inferior da estufa que permitem melhor distribuição do ar quente e palhas riscadas secas e verdes penduradas; D- Palhas riscadas, sendo penduradas em varal de madeira para iniciar o processo de secagem. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
O secador tipo estufa de maior volume e móvel poderá oferecer as seguintes vantagens em relação ao sistema tradicional de secagem em lastro: evita os estragos das palhas produzidos pelas chuvas ocasionais; permite prolongar o beneficiamento das palhas, mesmo em condições de inverno antecipado; reduz o tempo de secagem de uma semana para apenas 4 horas; e permite obter rendimento em pó superior a 30% (BAYMA, 1958).
C a p í t u l o I | 130 OBTENÇÃO DO PÓ CERÍFERO
Segundo dados obtidos pela Câmara Setorial da Carnaúba, CE (2009), uma carnaubeira madura produz entre 35 a 40 palhas por ano, sendo 28 a 32 palhas maduras, e 7 ou 8 novas, ainda não totalmente abertas. As palhas maduras produzem o pó tipo B ou pó preto e as palhas novas, o pó tipo A ou pó de cor branca, conhecido por pó de olho, por ser obtido das palhas do olho da carnaubeira.
Uma vez que as palhas e olhos estão secos, encerra-se o processo extrativista e tem início o processo de beneficiamento agroindustrial, que corresponde às etapas de batedura manual e mecânica de pó cerífero, produção de cera de carnaúba de origem ou extração de cera por solvente. No beneficiamento, registram-se as mais expressivas inovações tecnológicas ocorridas no processo produtivo: a invenção da máquina de bater palha e a utilização de extratores de solventes para produção de cera de carnaúba.
Batição manual
A batedura é a etapa posterior à secagem e tem por objetivo desprender as partículas de cera aderidas à palha na forma de pó cerífero. Até a década de 1940, o processo de batedura era realizado inteiramente de forma manual em ambientes fechados, com a utilização de trinchas (facas apontadas para cima), presas a uma estrutura de madeira onde se batiam e riscavam as palhas (D’ALVA, 2004). Além disso, a retirada do pó cerífero era realizada no local de secagem das folhas, sendo as mesmas colocadas sobre um pano e batidas com uma vara (JOHNSON, 1970). Após a secagem das palhas de olho ao sol no lastro, a operação de batição com cacete ainda é utilizada com um pedaço de madeira para extrair o pó, principalmente quando as palhas são utilizadas nas áreas de carnaubal em que há produção artesanal (vassouras, chapéus ou outro tipo de artesanato de palhas). Preliminarmente, as palhas do olho são riscadas através de facas (Figura 121) ou utilizando o trinchador, que corresponde a um instrumento de lâminas afiadas usada para riscar as folhas. Ou seja, quando as palhas do olho chegam a um nível de secagem satisfatório (Figura 122), então as mesmas são levadas para um quarto especial, onde se dá a batedura manual, que tem por fim fazer
C a p í t u l o I | 131 cair e separar o pó finíssimo aderido às folhas. É na etapa de batedura das palhas que na prática encontra-se registrada as mais altas percentagens de perdas de pó produzidas pela carnaubeira (BAYMA, 1958). Vale destacar também que na palha batida é fácil verificar a quantidade de pó que fica aderido ou perdido, principalmente nas mediações da região do pecíolo decepado, pois esse pequeno espaço da folha fica impedido de abrir naturalmente em razão de ser bastante protegida do sol (BAYMA, 1958).
A B Figura 121. Destaque da folha do olho normal recém cortada (A) e da folha do olho, ainda verde, sendo riscada com faca (B) para produção de vassoura, após o processo de batição para extração do pó. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A B Figura 122. A- Folhas do olho riscadas com a faca destinadas para secagem ao sol (lastro); B- Palhas do olho riscadas, secadas e batidas (sem pó). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 132 O trabalho de extração do pó cerífero é efetuado numa pequena construção rústica fechada denominada de ‘catimbóia’ ou “paiol” (Figura 123), onde visando reduzir as perdas de pó cerífero pelo vento e chuva, tem-se somente uma porta e uma janela (ALVES; CÔELHO, 2008). Nesse tipo de batição, as palhas secas são armazenadas, por conter ainda certa quantidade de pó, sendo reaproveitada durante a entressafra. As palhas são utilizadas na fabricação artesanal de utensílios domésticos (vassouras), proporcionando trabalho e renda durante todo o ano.
Figura 123. Casas rústicas usadas para batição das palhas de carnaúbas nos municípios de Lucrecia, RN e Aparecida, PB. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
No interior do paiol, encontra-se um trinchador de palhas, formado por uma série de facas presas verticalmente a uma estrutura de madeira, as quais vão passar as palhas para dividi-las em tiras de largura apropriada para a fabricação de vassouras (Figura 124; ALVES; COÊLHO, 2008). Após a operação de trinchas, as palhas são batidas contra uma banca de madeira, em local fechado (paiol), ou são submetidas às batidas com cacetes, gerando desse modo o pó de cacete (Figura 125). Na batição a cacete, utiliza-se, em geral, a mão-de-obra familiar, geralmente feita por mulheres (D’ALVA, 2004).
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A B Figura 124. O trinchador no interior do paiol com suas facas verticais preso ao tronco de madeira (A) e o trabalhador dividindo as palhas em tiras (B). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A B Figura 125. Batição de palhas riscadas com cacete no interior do paiol (A) e bancada rústica usada para batição das palhas (B). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Durante o processo de secagem e batição da palha, deve-se atentar para a devida separação entre pó de palha e pó do olho (Figura 126), garantindo assim a integridade do produto. Qualquer mistura entre ambos (tipos de pó) caracteriza adulteração do produto, desqualificando seu uso na indústria, podendo acarretar sua devolução. Ou seja, antes de negociar a compra do produto, uma amostra do pó é examinada em laboratório para que o comprador possa avaliar melhor sua qualidade (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
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Figura 126. Pó de palha (creme) e pó do olho (branco). Fotos de Vicente de Paula Queiroga. Por outro lado, os sacos de pano (ideal) utilizados para o pó do olho não devem ser os mesmos já usados para o pó de palha, evitando-se também armazenar o pó em sacos usados de produtos químicos, tais como fertilizantes, inseticidas ou outros tipos de embalagens que venham prejudicar a qualidade da cera. A estrutura física das embalagens de ráfia (Figura 127) formada por entrelaçamento de fibras sintéticas contribui para o desperdício, ampliado com seu reuso continuado, que favorece a formação de rasgo no saco (espaço com furos) por onde há perdas significativas, no momento do empacotamento e manejo, devido à textura do pó cerífero ser muito fina (CARVALHO, 2005). Além disso, recomenda-se que o pó do olho e o pó de palha sejam protegidos por lona e bem amarrados durante o seu transporte por caminhão, visado manter o produto com excelente qualidade até a indústria (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
Figura 127. Sacos de ráfia usados na embalagem do pó de carnaúba. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 135 Deste processo, obtêm-se as grandes palhas olhos riscadas, as quais servirão para a produção artesanal e o pó de faca ou pó do cassete, que corresponde a um pó cerífero de olho de cor branca, com alto percentual de cera e com qualidade bastante superior ao obtido pela batedura mecânica (D’ALVA, 2004). Apesar da batedura mecânica ter viabilizado grandes ganhos de produtividade, mesmo assim tal processo implica numa diminuição da qualidade do pó cerífero obtido. No caso do processo de extração manual, o pó cerífero apresenta impurezas da ordem de 6%, enquanto no processo mecânico este percentual pode chegar a 40%, em decorrência da maior agregação do material fibroso vegetal ao pó. Outro problema é a maior impregnação de clorofila ao pó que interfere na cor do produto (JOHNSON, 1970). Com base nas informações prestadas aos técnicos da Câmara Setorial da Carnaúba, CE (2009), vários vareiros têm admitido que a perda de pó já é perceptível a partir do momento em que a foice na extremidade da vara corta a palha. Outros desperdícios de pó vão sucedendo nas seguintes atividades de campo: durante o transporte dos feixes de palha entre a área de corte e o local de secagem (lastro); ao jogar a palha no lastro; movimentando a palha no lastro ou a falta de desprendimento do pó devido à secagem imperfeita das folhas; juntando a palha para ser guardada a espera da máquina de bater; quando os feixes de palhas são levados para a alimentação da máquina de bater e, finalmente, usando tecnologia atrasada de batição das palhas. Geralmente, esse último processo mecânico é feito a céu aberto.
Máquina de bater
As mudanças mais importantes, no processo de produção de pó, ocorreram com a inserção da máquina de bater palha que agilizou o processo de batição e elevou, amplamente, a produtividade, reduzindo o esforço humano e o contato com o pó em suspensão, no momento da batição, este com possibilidades de provocar problemas respiratórios. Devido principalmente ao funcionamento da máquina de bater palhas ser realizado em ambiente fechado, com pouca luz e sem ventilação, o que favorece manter o excesso de pó cerífero suspenso no ar. Por não usar máscara de proteção, o operador da referida máquina corre o risco de doenças nos olhos e pulmões, situação ainda mais agravada pelo forte calor de verão nessa região semiárida do nordeste do Brasil (D’ALVA, 2004; CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
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A utilização de máquinas providas de um equipamento denominado “triturador de facas” é considerado outro processo de retirada do pó cerífero, geralmente movidas a diesel, fixadas em carrocerias de caminhão, ou reboques puxados por tratores, gerando assim o “pó de máquina” (Figura 128). Além de ser movida a diesel, a máquina de bater palhas pode ser acoplada a tomada de força do trator (Figura 129), a fim de ser locomovida de lastro em lastro.
Figura 128. Máquina de bater palha a diesel usada de lastro em lastro nos carnaubais do município de Aparecida, PB. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 129. Máquina de bater palha movida à tomada de força do trator usada de lastro em lastro nos carnaubais do município de Felipe Guerra, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 137 As atuais máquinas de bater palhas de carnaúbas são um aperfeiçoamento da máquina Guarany-Ciclone, a qual era pequena, pesava cerca de 280 kg, batia 50 milheiros de palha por dia e foi patenteada em 1938 (ALVES; COÊLHO, 2008). Com algumas inovações realizadas a partir de 1965, a mesma tornou-se mais leve e potente, tendo a Máquina Moreira sido transformada em três modelos de 100, 200 e 300 milheiros / dia. Atualmente, a máquina de bater palha de carnaúba é de domínio público e este último modelo é o mais adotado em quase todos os carnaubais, em razão de permitir extrair, em média, 7,5 kg de pó por cada milheiro no próprio lastro e por facilitar o ensacamento do pó (ALVES; COÊLHO, 2008).
Na batedura mecânica trabalham pelo menos cinco pessoas (Figura 130): operador ou motorista, empurrador de palha, cortador de embira, entregador de feixe e carregador de feixe. O carregador de feixe traz os feixes do lastro até a máquina para que o entregador de feixe os entregue para a máquina. Estes dois são também chamados trabalhadores de baixo e são pagos por quem contratou a máquina. Enquanto o cortador de embira recebe os feixes do entregador, corta a embira separando as palhas do feixe e as coloca na banca (mesa de madeira acoplada à boca da máquina). O empurrador de palha introduz as palhas na máquina e o operador ou motorista cuida da regulagem e manutenção, estando apto a resolver qualquer problema mecânico que porventura aconteça. Estes três, chamados trabalhadores de cima, são remunerados pelo proprietário da máquina (D’ALVA, 2004).
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A
B
C Figura 130. Equipe envolvida na operação da máquina de batição em Russas, CE: Aum empurrador de palha e um cortador de embira; B- um encostador de feixes de palha e outro trabalhador fazendo duas funções: entregador de feixe e de baganeiro; C- um motorista. Fotos de Vicente de Paula Queiroga
C a p í t u l o I | 139 Caso a bagana vá ser espalhada no próprio terreno do lastro, é contratado o trabalhador chamado baganeiro. Ou seja, essa equipe pode variar de três a dez trabalhadores, dependendo da capacidade de funcionamento da máquina de bater (100, 200 e 300 milheiros de palhas) e da população de plantas no carnaubal (ALVES; COÊLHO, 2008).
A máquina de bater é adaptada a um tipo de reboque, ficando a carroceria parecida a uma cabine de madeira fechada. Essa máquina é dotada de duas aberturas, sendo uma na parte superior para a saída do pó, cujo material (pó) é transportado pelo vento do ventilador diretamente para o saco cilíndrico coletor de pó e a outra na parte lateral, por onde sai à palha triturada (bagana). Esse processo de funcionamento da máquina de bater é composto de uma calha de alimentação por uma das testeiras da máquina, onde a palha é introduzida para ser cortada em pedaços de mais ou menos 3 cm de comprimento por lâminas em rotação (sistema de navalhas). Em seguida, as palhas picotadas são batidas contra uma fileira de batedores dentro do cilindro da máquina, para desprender as partículas de cera (Figura 131A). Os pedaços de palha picada saem por uma extremidade, enquanto as partículas de cera são retiradas por sucção, passando através de uma fina tela (furos de no máximo 1,2 mm) instalada internamente sob a tampa circular móvel da máquina (Figura 131B; JOHNSON, 1970).
A B Figura 131. A- Parte interna da máquina de bater: navalhas rotativas de corte das palhas, batedores de palhas trituradas; e B- Tela fina para reter as impurezas, permitindo apenas a passagem do pó. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 140 Durante a batedura, todo o pó cerífero é depositado em um grande saco cilíndrico acoplado à máquina também chamado de minhocão, o qual é instalado na parte externa da cabine (Figura 132) ou na parte interna da cabine (Figura 133), de preferência feito de flanela, que filtra o ar e não deixa o pó sair (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). Ao final do dia o pó é transferido manualmente do minhocão para sacos de ráfia de 40 a 60 kg (D’ALVA, 2004). Alves e Coêlho (2008) admitem que a desvantagem da batição mecânica em comparação ao manual é a de deixar resíduos de palha triturada em meio ao pó, o que dificulta as fases industriais de extração e clareamento da cera.
Figura 132. Minhocão estacionário ou saco cilíndrico coletor de pó na parte externa da cabine de beneficiamento de palhas de carnaúba. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 133. Máquina de batição de palha de carnaúba operada por um alimentador ou empurrador de palha e um cortador de embira e o saco cilíndrico coletor de pó (ao lado) instalado na parte interna da cabine. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Antes de colocar a máquina de bater em operação, deve-se observar o funcionamento do seu motor para que não esteja acima de mil (1.000) rotações por minuto. A sua calha de alimentação deverá ficar dentro da cabine, pois este sistema protetor evita que haja desperdiço do pó. Enquanto suas navalhas feitas de aço temperado deverão estar sempre bem afiadas e substituí-las com freqüência durante o trabalho, o que implica contar com um esmeril em uma das polias do conjunto da máquina de bater e dois (2) jogos de navalhas (Figura 134). Recomenda-se também verificar atentamente o estado da tela da máquina, pois havendo buracos ou rasgos é necessário que a mesma seja trocada ou consertada imediatamente. Por conseguinte, essa operação mecânica de batição deverá ser realizada de preferência nas horas menos quentes do dia: das 5:00 h às 10:00 h da manhã e a partir das 15:00 h da tarde (D’ALVA, 2004).
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Figura 134. Motorista ou maquinista se encarrega da manutenção da máquina de bater palha. Observa-se o mesmo amolando a navalha no esmeril e as navalhas amoladas no chão. Russas, CE. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
A qualidade do pó cerífero dependerá do processo de secagem das palhas, e principalmente da batedura mecânica, na qual a rotação da máquina e a espessura da tela interna definirão a granulação e o percentual de material vegetal e impurezas agregadas ao pó. Para a obtenção de um pó de qualidade, a rotação da máquina não deverá exceder 1000 rpm e a tela interna deverá ter furos de no máximo 1,5 mm (COLHENDO..., 1994).
A fase de obtenção do pó cerífero está sujeita a diversas formas de adulteração para conseguir maior pesagem do produto durante sua comercialização. A mais comum é o aumento da rotação da máquina e o aumento da espessura dos furos da tela, que permitem maior agregação dos resíduos da palha ao pó, resultando num pó mais pesado e com menor percentual de cera. Outra adulteração comum é a batedura de palha junto com o olho, visando aumentar a quantidade de pó de olho, que possui valor superior no mercado. Adulterações grosseiras como mistura de pó com areia, sal, açúcar, fubá, farinha de trigo, entre outras, também já foram detectados pelos compradores (D’ALVA, 2004).
Durante visita as áreas de extrativismo da carnaúba no Piauí, um pesquisador do IPT tem afirmado que a atual máquina de bater palhas oferece possibilidades de melhorias significativas, desde que sejam introduzidas algumas inovações tecnologias adotadas nas colheitadeiras. Ou seja, o uso de tal tecnologia impediria a trituração das folhas e,
C a p í t u l o I | 143 consequentemente, melhoraria a qualidade do pó, sem considerar que a preservação da palha inteira poderia ter utilização artesanal ou na construção civil (IPT, 2002).
As máquinas de maior porte, que processam 300 milheiros por dia e requerem uma motorização diesel de 45 cv, estão se tornando as tendências mais adotadas nos grandes carnaubais (D’ALVA, 2004; CARVALHO, 2005). Em razão disso, uma empresa de cera do Piauí fez uma adaptação na máquina de bater com cabine fixada na carroceria de um caminhão que proporcionou um aumento considerável na produção diária do pó de 1.200 kg para mais de 2.500 kg (1 milheiro de folhas para 7 kg de pó), apenas alterando a forma de alimentação manual de folhas da máquina pelo sistema de alimentação com esteira rolante. Este tipo de inovação tecnológica na máquina de bater pode proporcionar redução significativamente nos custos de obtenção do pó cerífero.
Para facilitar a movimentação do veículo para junto das palhas espalhadas no lastro (Figura 135) e aumentar a eficiência do processo de beneficiamento do pó, a máquina de batição de palhas de carnaúba foi adaptada ao caminhão com duas saídas de pó (Figura 136), sendo implantado uma boca na parte superior da cabine de beneficiamento que irá alimentar um saco cilíndrico coletor de pó com a capacidade diária de 500 kg e outra boca com o saco cilíndrico coletor de pó instalado na sua parte interna com a mesma capacidade de armazenamento (500 kg). Ao entrar em funcionamento a máquina, o pó fino e leve é conduzido pelo vento (processo de sucção) que está inflando os dois sacos coletores ao mesmo tempo, os quais deixam escapar o ar e prende o pó. Com seu deslocamento (caminhão) por toda extensão do lastro haveria redução de mãode-obra no carregamento de palhas em comparação ao sistema estacionário do grande minhocão, o qual depende de operários encostadores levarem os feixes de palhas até a máquina de batição (Figura 137).
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Figura 135. Palhas secas de carnaúba espalhadas no lastro em Russas, CE e no campo em Canaubais, RN. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 136. Cabine com a máquina de batição de palhas de carnaúba dotada de duas saídas de pó, sendo uma na parte superior da cabine e a outra na sua parte interna. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 137. Operários transportando feixes de palhas até a máquina de batição. Fotos de José Natanael Fontenele de Carvalho.
Por outro lado, o pó resultante é retirado do minhocão, com capacidade para armazenar 300 kg de pó, para ser colocado de preferência em saco de pano com capacidade de 25 a 30 kg, no caso do pó de palha e, se tratando do pó do olho, entre 16 a 25 kg (Figura 138; ALVES; COÊLHO, 2008). Outra consideração importante, não deve ser aproveitada sacaria que tenha transportado anteriormente adubos e defensivos agrícolas, ou seja, nunca utilizar saco plástico reusado por se rasga facilmente quando manipulado pelo operário. Na Figura 139 encontram-se o esquema das etapas básicas do processo de obtenção do pó de carnaúba.
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Figura 138. Retirada manual do pó do saco coletor ou minhocão com uma lata para o saco de aniagem com capacidade de 30 kg. Fotos de Francisco Judivan Aprígio de Sousa.
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CORTE DA PALHA (VARA DE CORTAR)
RECOLHIMENTO (FORMAÇÃO DE FEIXE)
TRANSPORTE (ANIMAIS)
SECAGEM (ao sol ou em secadores)
RETIRADA DO PÓ (MANUAL OU MÁQUINA DE BATER)
PÓ DE PALHA
PÓ DE OLHO
BAGANA
Figura 139. Etapas do processo de obtenção do pó de carnaúba. Adaptação de Alves e Coêlho (2008).
PRODUÇÃO DA CERA
Processo artesanal A produção da cera de origem é uma atividade semi-industrial ou mesmo artesanal, que compreende os processos de fusão ou cozimento do pó cerífero com água, prensagem, filtragem, recozimento, solidificação, quebra e embalagem. O local onde se produz a cera de origem pode ser chamado de usina, fábrica ou casa de cera e apresenta variações em termos de tamanho, processo e equipamentos, de acordo com a região produtora e a escala de produção (D’ALVA, 2004).
Atualmente, as pesquisas revelam que as pequenas indústrias artesanais de cera de carnaúba estão mais presentes nas pequenas propriedades rurais dos estados do Ceará e
C a p í t u l o I | 148 do Rio Grande do Norte. Porém, sua ausência foi registrada no Piauí em razão dessa exploração ocorrer prioritariamente em grandes propriedades.
Segundo Alves e Coêlho (2008), a obtenção da cera de origem pode ser classificada em três tipos de beneficiamento:
a) A partir do Pó de Olho, obtém-se a cera amarela ou cera olho com 4% de umidade e 2% de impurezas; b) A partir do Pó de Palha, obtém-se a cera arenosa, verde acinzentada com 6% de umidade e 2% de impurezas; c) A partir do Pó de Palha, obtém-se a cera gorda e 2% de impurezas, de coloração negra esverdeada, a qual difere da arenosa por não ter água em sua composição. Vale salientar que o destino da produção de cera de origem são as indústrias exportadoras.
No sistema extrativista, várias etapas ocorrem no carnaubal para obtenção da matéria prima (pó). Inicia-se com o corte das folhas e é concluído com o processo de produção artesanal da cera ou industrial (Figura 140). O processo de produção artesanal de cera de carnaúba tem essencialmente seis etapas:
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PALMEIRA DE CARNAÚBA
CORTE DA FOLHA
OLHO
SELEÇÃO
PALHA
SECAGEM AO SOL
MANUAL
BATIÇÃO
MECÂNICA
PÓ
DE MÁQUINA COM IMPUREZA
DE CACETE (MAIS PURO)
PALHA (ARTESANATO)
PALHA (COBERTURA DE SOLO)
PRODUÇÃO DE CERA
NO LOCAL (CERA BRUTA)
POR REFINADORES
Figura 140. Fluxograma dos processos extrativos e industriais da carnaúba. Fonte: Adaptação realizada por Maria Odete Alves e Jackson Dantas Coêlho (2008).
1. A Caldeira possui um tacho de zinco ou de ferro moldada na sua parte interna com volume útil de aproximadamente 400 litros (Figura 141), instalado em cima de uma construção de alvenaria para receber fogo direto. Em geral essa construção fica no interior do galpão de produção e permite a alimentação de lenha (algaroba) pela parte externa como combustível (Figura 142). Em primeiro lugar, coloca-se a água de boa qualidade e, depois, o pó cerífero, na proporção de 14 latas de água (capacidade de 18 litros cada) para 150 a 160 kg do pó. Esse processo de cozimento do pó cerífero em banho-maria é iniciado com seu aquecimento até se transformar numa cera líquida, em função da ação do calor (temperatura em torno de 120ºC) o processo pode demorar cerca de 3 horas (ALVES; COÊLHO, 2008). Ao atingir o ponto ideal de fervura, a cera se eleva e o líquido aquecido passa a ser drenado pela abertura superior do tacho, caído
C a p í t u l o I | 150 no final dentro de um tambor instalado na parte externa. Ou seja, a cera em estado líquido sobe enquanto a água e as impurezas descem. Ainda em estado líquido, retira-se, com o auxílio de concha, a cera da parte superior do tacho que é separada naturalmente durante a fervura e, em seguida, é disponibilizada para solidificar pelo processo natural de esfriamento em formas cimentadas ou gamelas de madeira. Ao mesmo tempo, uma parte do material passa lentamente a se decantar ou sedimentar na parte intermediária do tacho, ficando no fundo do mesmo apenas a água. Após esta primeira etapa, o material sedimentado é denominado de borra e é levado para prensa por 10 minutos, visando recuperar a cera mesclada às impurezas. Por fim, o tacho é esvaziado com uma lata, e essa água é colocada num dreno de alvenaria para abastecer um tanque cimentado, localizado na parte externa da unidade de beneficiamento (Figura 143; D’ALVA, 2004; ALVES; COÊLHO, 2008).
Figura 141. Mistura-se pó e água no tacho ou caldeira para produção da cera de origem. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 142. Fornalha com alimentação à lenha na parte externa da unidade de beneficiamento da cera de origem. Felipe Guerra, RN, 2011. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 143. Tanque de cimento para escoamento da água resultante do cozimento da cera na caldeira (tacho). Felipe Guerra, RN, 2011. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Além da água e pó cerífero usados na produção da cera de origem, pode ocorrer à introdução de ácido oxálico, também chamado de sal de azedo, utilizado para catalisação do processo de decantação de impurezas e clareamento da cera amarela. Inclusive, existe a possibilidade de substituição desse insumo (ácido oxálico) por suco de limão e raspa de marmeleiro (D’ALVA, 2004; ALVES; COÊLHO, 2008).
2. Resfriamento da cera: O material derretido no tacho ou caldeira, ainda em estado líquido, é transportado em latas de 18 litros para as formas de alvenaria (Figura 144) ou gamelas, permanecendo nesse tipo de formas por cerca de 5 horas, a fim que ocorra o resfriamento e solidificação da cera.
Figura 144. Formas cimentadas (tipo gamelas) para o resfriamento e solidificação da cera derretida. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 152 3. A Prensa recebe uma parte da mistura contendo água, detritos e cera (borra), a qual ficou sedimentada na parte intermediaria do tacho (Figura 141). Alguns produtores de cera de origem realizam o recozimento da borra impregnada com impurezas, submetendo-a ao processo de filtragem em prensa de madeira (Figura 145) para recuperar uma parte do restante da cera. Entretanto, é só no processo industrial de extração com solventes que a borra poderá ter aproveitamento total (D’ALVA, 2004).
Figura 145. Prenseiros de cera de origem em Felipe Guerra, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga
Essa prensa é composta de uma armação de madeira e de um fuso de ferro com a ‘porca’ em bronze fixada numa de suas peças de madeira, sendo que no extremo inferior do fuso é fixada um cepo de madeira retangular (Figura 146). A mesma tem um “cesto de aço perfurado” e um pranchão de madeira circular no tamanho do diâmetro do cesto. Sobre esse pranchão é montado o cepo para ser aplicada a prensagem praticada no fuso, cuja força é exercida manualmente por dois trabalhadores. Antes de efetuar a prensagem, a cera derretida é revestida num saco de aniagem (ráfia) no interior do cesto, servindo assim com elemento filtrante. Em seguida, esse material revestido (ráfia) é forrado com palhas secas de carnaúba para evitar que a cera quente e líquida “espirre” sobre os prenseiros (D’ALVA, 2004; ALVES; COÊLHO, 2008).
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Figura 146. Detalhe do cesto, fuso, cepo e prensa rústica de madeira em Felipe Guerra, RN e Assú, RN. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
4. Recozimento da cera. Depois da prensada, o material retido dentro do saco é levado novamente para ferver (recozimento) em latas de querosene, usando nesse caso um simples fogão rústico de lenha. Após 40 minutos no fogo, o material é novamente submetido ao processo de prensagem, obtendo-se entre 30 a 35% de cera, que passa, em seguida, para o resfriamento e solidificação. Atualmente em Felipe Guerra, RN, esse material está retornando para ser processado no tacho de ferro, com aquecimento direto a lenha. . 5. Filtragem em saco de aniagem. Após a extração da cera proveniente da borra, o resíduo sólido que permanece dentro do saco é denominado de barreiro ou cavaco (Figura 147). O barreiro é fervido e prensado. Antes de ser solidificada, a cera é filtrada para eliminar as impurezas, por meio da torção manual das extremidades do saco (com cera) e da pressão exercida pela vara sobre a massa contida no saco (Figura 148). Dentro do saco fica retida uma sobra de material que é conhecida como ricum da palha, que é aproveitado como adubo orgânico nas lavouras.
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A B Figura 147. O material barreiro (B) retido no saco filtrante, após a prensagem da borra (A). Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 148. Processo manual de filtragem da cera de carnaúba em saco para eliminar as impurezas. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
6. Embalagem. Após a solidificação, a cera é quebrada em pedaços dentro da própria forma cimentada e ensacada para comercialização (Figura 149; CARVALHO, 2005).
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Figura 149. Ceras em barra em sacos de aniagem (ráfia) para comercialização. Foto de Vicente de Paula Queiroga. No final do processo de produção da cera de origem em Felipe Guerra, RN, atualmente foi constatado rendimentos médios de 80% e 67% referentes aos respectivos pó de olho e pó de palha. Em parte estes valores estão de acordo com os resultados divulgados pelo Sebrae (1994), de que é possível obter rendimentos de 80% e 60% na cera de origem proveniente de pó olho e pó palha, respectivamente. Enquanto Bayma (1958) sugere rendimento de 63% para o pó de palha, tendo como referencial 15 kg de pó extraido de 2 mil folhas.
Para Alves e Coêlho (2008), existe uma variação no rendimento de cera de acordo com o tempo de descanso dado as plantas para efetuar o corte das folhas (pó de palha), podendo tal operação ser realizada no espaço de tempo de um ano ou de dois ano, de modo que o pó produzido de um ano permite um rendimento de 65 a 70% de cera, enquanto o de dois anos atinge um rendimento de 75% de cera. Bayma (1958) e D’Alva (2004) consideram que o calor não controlado, produzido diretamente pela fornalha de lenha na produção da cera de origem, pode prejudical à qualidade do produto, sobretudo pela elevação exagerada da temperatura e seus efeitos sobre a cor e textura da cera, estando também influenciando os processos de prensagem com filtros inadequados e a solidificação exposta a impurezas.
De uma forma geral, as unidades de produção de cera de origem apresentam condições precárias de funcionamento que interferem na qualidade da cera obtida e expõem os
C a p í t u l o I | 156 trabalhadores a riscos de acidentes graves. Esses acidentes de trabalho são, em sua maioria, queimaduras causadas por vazamentos de cera quente dos tachos e estouro de prensas, riscos potencializados pela falta de equipamentos de segurança e má racionalização dos espaços de trabalho. Como medidas de prevenção, recomendam-se que os operários envolvidos na produção de cera utilizem calça comprida, camisas de manga longa, boné, luvas e protetores faciais, pois os riscos de acidentes com a cera quente são bastante danosos por grudar na pele, dificultando então o seu tratamento curativo. Além disso, deve haver algumas pomadas no local de beneficiamento, para atender os casos de emergências (D’ALVA, 2004; ALVES; COÊLHO, 2008).
Com relação aos impactos ambientais da produção de cera de origem destaca-se o uso de lenha como combustível. São rejeitos usuais da produção de fibras vegetais e detritos sólidos com algum percentual residual de cera de carnaúba, materiais sem toxidade. Quando há uso de ácido oxálico, entretanto, estes rejeitos são tóxicos, apresentando riscos de contaminação ambiental (D’ALVA, 2004).
Processo industrial A tecnologia de extração de cera de carnaúba por solventes originou-se na década de 1940 e foi adaptada por industriais exportadores. A implantação de unidades de extração com solvente por produtores de cera de origem no interior do Ceará é uma atividade recente que remonta ao início da década de 1990 (D’ALVA, 2004).
Segundo Alves e Coêlho (2008), os processos industriais de produção da cera de solvente estão evidenciados na Tabela 8 com base nos seus três insumos básicos:
a) Refino da cera bruta, considerada a cera de origem obtida pelo processo artesanal (olho e palha); b) Produção da cera a partir do pó cerífero; e c) Processamento da cera da borra oriunda do processamento artesanal e filtração.
C a p í t u l o I | 157 Tabela 8. Transformação do pó ou cera de origem ou borra em cera pelo processo industrial. CERA BRUTA DE ORIGEM
PÓ
(Olho ou Palha)
BORRA DE CERA
Extração por solvente
Extração por solvente
Extração por solvente
Filtração ou Centrifugação
Filtração ou Centrifugação
Filtração
Clarificação
Clarificação
Centrifugação
Solidificação
Solidificação
Clarificação
Escamação
Escamação
Escamação
Escamação
Escamação
Escamação
Embalagem
Embalagem
Embalagem
Embalagem
Embalagem
Embalagem
CERA T4 EM
CERA T1 EM
CERA EM
CERA EM
CERA EM
CERA EM
ESCAMA
TABLETES
ESCAMA
TABLETES
ESCAMA
TABLETES
Fonte: Secretária de Desenvolvimento Econômico do Ceará
O pó cerífero, ao chegar à indústria, é pesado. São retiradas amostras para exame de qualidade no laboratório. Uma vez submetido ao teste de qualidade que verifica a grau de pureza e rentabilidade do pó, então a compra do pó é efetivada e os sacos de pó são descarregados do veículo e empilhados no armazém (Figura 150), levando em conta a classificação em pó olho e pó palha. Um teste simples realizado com álcool (etanol adquirido em posto de combustível) pode detectar com facilidade a pureza do pó de olho. Para se obter a coloração branca em poucos minutos, basta colocar uma pequena porção desse pó puro num copo com álcool e adquire uma coloração verde, quando o pó olho contém uma pequena fração de palhas trituradas (Figuras 151 e 152). Este teste não é válido para o pó de folha verde.
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Figura 150. Empilhamento dos sacos (ráfia) de pó de carnaúba no depósito da indústria de produção de cera de solvente. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 151. Pó de olho não puro usado no teste com álcool. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 152. Pó do olho de carnaúba em contato com álcool: cor branca para o pó puro e cor verde, não puro. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Para iniciar o processo de produção de cera pela indústria, o pó cerífero (ou a cera bruta de origem ou a borra) é misturado no exaustor ao material facilitador de drenagem (facilita a fixação do solvente), geralmente é utilizada a palha de arroz (Figura 153) ou palha triturada de carnaúba (bagana). O processamento do pó olho ocorre separadamente do pó palha, gerando tipos de cera com diferentes níveis de qualidade (GOMES et al, 2006). Vale salientar que o processo de produção moderno de cera de carnaúba tem essencialmente sete etapas, conforme Figura 154.
Figura 153. Palha de arroz em sacos ou bagana usada na mistura com pó e solvente no exaustor, como facilitador do processo de fixação do solvente a cera derretida. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 154. Processo de produção de cera de carnaúba na indústria considerada moderna. Fonte de Francisco Prancacio Araújo de Carvalho.
1. No Extrator (Figura 155), coloca-se a mistura de pó cerífero, material de drenagem (palha triturada de carnaúba ou casca de arroz) e solvente que passa por um processo de aquecimento numa temperatura que varia entre 100 e 120 ºC, gerando um composto de cera fundida, água resultante da perda de umidade e palha de arroz. O solvente, água e cera seguem para a próxima etapa do destilador, através de bombeamento por um motor elétrico. Os resíduos que ficam nos extratores são compostos, fundamentalmente, por palha de arroz e impurezas, e são chamados, na indústria, de borra, que pode ser utilizada como adubo para a atividade agrícola (GOMES et al, 2006).
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Figura 155. Conjunto de extratores da indústria moderna de cera de carnaúba do Piauí. Foto de Vicente de Paula Queiroga. A indústria de produção de cera de solvente desenvolveu um tecnologia que permite abastecer o exaustor com pó cerífero, a partir do chão e de forma mecanizada, em substituição ao método tradicional de abastecimento manual sobre uma plataforma elevava, cujo seu acesso é realizado normalmente por uma escadaria fixa (Figura 156). Esse transportador móvel é dotada de uma caixa alimentadora com motor (Figura 157), por onde o pó é introduzido manualmente e transportado por um sistema de rosca sem fim instalada no interior de um tubo, o qual é bastante comprido e inclinado para cima, que pode ser conectado separadamente com a boca de alimentação da parte superior de cada exaustor (GOMES et al, 2006).
Figura 156. Detalhe da escadaria no canto de parede de acesso a plataforma elevada para abastecer o exaustor com pó. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 157. Sistema móvel de transportar pó, dotado de uma caixa alimentadora com motor e um tubo com rosca sem fim inclinado para cima, para abastecer a parte superior do exaustor (ao fundo, dois exaustores). Foto de Vicente de Paula Queiroga.
2. O Destilador é responsável pela separação da mistura de solvente e água da cera líquida derretida. O solvente e a água evaporam pelo processo de aquecimento para o condensador, ficando a cera líquida retida no fundo do recipiente (Figura 158). No condensador (Figura 159), com o uso da água fria da piscina ou caixa dágua, a mistura de solvente e água, é resfriada, voltando ao estado líquido. A água que passou pelo condensador retorna aquecida à piscina e esfria naturalmente para ser reaproveitada. Depois do condensador, a mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no separador (Figura 160), sendo que este sistema opera com o nível de 60% de água. Enquanto, o solvente retorna por gravidade para o tanque original para ser reaproveitado (Figura 161). Segundo o técnico de produção, ao longo de todo o trajeto do solvente, há perdas na ordem de 5%. Através de bombeamento, a cera líquida passa para o Tacho de Fusão (CARVALHO, 2005).
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Figura 158. Mediante aquecimento nos destiladores, processa a separação da cera do solvente e água. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 159. A mistura do solvente e água (vapor) retorna ao seu estado líquido no condensador (ao lado a caixa dágua). Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 160. A mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no tanque separador, sendo mantido um nível de 60% de água no seu interior. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 161. Tanques originais para armazenar o solvente usado no processo industrial de produção da cera. Foto de Vicente de Paula Queiroga. A caldeira, movida à lenha, responde pela oferta de vapor necessário ao processo industrial (Figura 162). O vapor é utilizado, especialmente, no extrator, destilador, tacho de fusão e clarificador (Figura 163), que demandam aquecimento. Essa caldeira consome água da piscina para os processos de formação de vapor e para limpeza da fumaça, através do que se chama “lavador de fumaça”, uma estrutura que gera uma chuva sobre a fumaça para retenção de poluentes, gerando menor poluição dos gases residuais (CARVALHO, 2005).
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Figura 162. Caldeira movida à lenha para gerar vapor ao processo industrial de produção da cera por solvente. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 163. O vapor quente produzido na caldeira circula pelos canos serpenteados no interior do tanque de clareamento para derreter a cera de solvente, auxiliado por um agitador com palhetas (eixo central). Foto de Vicente de Paula Queiroga.
A energia elétrica é usada, principalmente, na movimentação de motores que bombeiam a cera líquida de um recipiente para outro, assim como para transposição da água da piscina para resfriar o solvente no condensador e a cera na escamadeira. Por sua vez, o solvente utilizado é um produto químico tóxico ISSOL 80-155 com densidade média de
C a p í t u l o I | 166 0,7225 g/cm3 (20º – 4 ºC) que pode gerar impactos importantes à natureza e ao homem. Na opinião do gerente de um indústria de produção de cera, o melhor solvente existente atuamente no mercado para o processo de extração da cera é o Nafta 1H, o qual é considerado um produto preparado (mistura de hidrocarbonetos parafínicos, olefínicos, naftênicos e aromáticos constituídos principalmente de 7 a 10 átomos de carbono). Nesse processo geral de extração da cera, a maior parte de consumo do solvente ocorre, pela perda, na fase de aquecimento nos extratores e no seu resfriamento no condensador, para, em seguida, retornar ao tanque original e ser reaproveitado (CARVALHO, 2005).
3. O Tacho de Fusão é o recipiente que recebe a cera líquida do destilador para que sejam adicionadas diatomita e fulmont ou tonsil (Figura 164), argilas usadas na contenção de impurezas no momento da filtragem A diatomita tem referência na contenção das sujeiras de um forma geral, enquanto o tonsil retém, fundamentalmente, a clorofila misturada ao pó, resultante do processso de exploração do carnaubal, por exemplo: o corte anual do mesmo carnaubal apresenta maior teor de clorofila do que o corte bianual. Antes da filtragem, é feito um bombeamento só de argila de diatomita, visando formar uma capa protetora sobre o papel especial ou o pano de filtro. Em seguida, a mistura da cera líquida com essas argilas é bombeada para o processo de filtragem, pois só assim se consegue uma filtragem eficiente das impurezas contidas na cera derretida (CARVALHO, 2005; GOMES et al, 2006).
Figura 164. Tanque de mistura das argilas com a cera impregnada com sujeiras, sendo a argila diatomita usada nos tanques de cor cinza e o tonsil, no tanque laranja. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 167 No caso da argila diatomita, que tem em sua composição básica o elemento SiO2 (81 – 93%), é classificado como produto não perigoso, estável, não inflamável, não explosivo ou tóxico. Já a argila tonsil, que também contém a mesma composição do elemento SiO2 (61 – 71%), é considerado um produto incombustível e não tóxico. Quanto à sua reatividade, é estável e inerte (CARVALHO, 2005). A Figura 165 apresenta essas duas argilas.
Figura 165. Argilas usadas na produção de cera de carnaúba: Diatomita e Tonsil. Fotos de Francisco Prancacio Araújo de Carvalho.
4. O Filtro dispõe de paredes de papel fino ou tecido microporoso entre as placas que retém as argilas misturadas às impurezas (Figuras 166 e 167), permitindo que a cera passe para o processo de clarificação ou siga direto para a escamadeira ou forma de solidificação. Os resíduos liberados do filtro, geralmente, precisam passar por outro processo para retirada do restante de cera. Ou seja, esses resíduos, chamados de barro, ainda ficam cerca de 30% de cera, conforme afirmação prestada pelo técnico de produção da indústria de cera de solvente (CARVALHO, 2005; GOMES et al, 2006).
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Figura 166. Papel de filtro e tecido sintético microporoso utilizados entre as placas do equipamento de filtragem para contenção das impurezas contidas na cera derretida. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 167. Processo de filtração da cera para eliminar as impurezas contidas nas argilas. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Após o processo de filtragem, os totais de resíduos emitidos foram: 71,34% de barro, formado, fundamentalmente, por argilas e impurezas contidas no pó de carnaúba; 29,58% de borra, composto, essencialmente, por palha de arroz; e apenas 0,08% de tecido. Desses resíduos, apenas o tecido tem problemas na deterioração natural que pode levar um tempo substancial, os demais são biodegradáveis, renováveis e com utilização
C a p í t u l o I | 169 em outros processos. Observa-se na Figura 168 os principais resíduos: o barro e a borra (CARVALHO, 2005).
Figura 168. Resíduos sólidos do processo de produção e refino de cera de solvente: o barro, gerado na fase de filtragem e a borra, no extrator. Fotos de Francisco Prancacio Araújo de Carvalho.
5. Uma vez submetida ao processo de filtração, a cera é bombeada para o Clarificador, onde sob altas temperaturas de 95 a 110ºC , adiciona-se peróxido de hidrogênio (H2O2), substância conhecida popularmente como água oxigenada (Figura 169). Em função do peróxido de hidrogênio ser adicionado lentamente à cera, esse processo acaba se tornando bastante demorado para atingir o ponto ideal de clarificação, sendo a proporção de 10% de peróxido em relação a quantidade de cera de palha e 1% de peróxido para a cera do olho. Dependendo da combinação entre clareamento e origem da cera, é que ocorre a classificação de alguns tipos de cera: Tipo 1, Tipo 3 e Tipo 4. A cera do Tipo 1 passa pelo processo de clarificação e é originária do olho, tendo melhor preço e qualidade. As ceras dos tipos 3 e 4 são ambas originárias das palhas, entretanto a do Tipo 3 é clara e a do Tipo 4 escura, por não passar pelo processo de clarificação (CARVALHO, 2005).
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Figura 169. Tanque usado no processo de clareamento da cera na presença do produto peróxido de hidrogênio. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Na avaliação dos materiais usados no processo de fabricação da produção da cera realizada por Carvalho (2005), constataram-se os seguintes percentuais de consumo: 81,62% para o insumo básico pó cerífero; 11,79% para a palha de arroz; 3,55% para o peróxido de hidrogênio (não é reaproveitado); um baixo consumo para o solvente em decorrência, principalmente, de sua reutilização; 1,11% para as argilas que têm utilização para adubação; e o tecido filtro, usado do processo de filtragem, é descartado.
A seção de centrifugação é composta de caldeira a vapor e centrifuga utilizadas para produção da cera do tipo 4 centrifugada. Após a cera de palha passar pelo processo de fundição a vapor, a mesma é centrifugada em alta rotação (15.000 rpm) para separação das impurezas contidas na cera, mas sua pureza de 100% não é totalmente atingida. Por este motivo, as indústrias de produção da cera por solvente estão desativando tal setor, devido à elevada qualidade do produto demandado pelo mercado exterior (Figura 170).
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Figura 170. Setor de centrifugação da cera desativado em algumas indústrias exportadoras para o comércio exterior, devido à falta de eficiência desse equipamento no processo de purificação da cera. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
6. Após ser concluída o processo de clarificação, a cera segue para a Escamadeira ou para a Forma de Solidificação. Na primeira, a cera chega líquida e quente, desliza-se sobre um rolo circulante que está sendo resfriado pela água canalizada da piscina, gerando assim uma fina camada sólida de cera que ao cair no reservatório, quebra-se em pequenos pedaços similares à escama de peixe (Figuras 171 e 172; CARVALHO, 2005). O resevatório dispõe de fundo circulante que transporta a cera escamada por lâminas para embalagem em sacos de 25 kg, conforme as exigências dos importadores (GOMES et al, 2006). Na Figura 173, observa-se uma amostra de cera escamada em diferentes tipos: Tipo 1, Tipo 3 e Tipo 4.
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Figura 171. Tanques auxiliares usados para derreter a cera e destinar ao processo de escamação. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 172. Máquina usada no processo de escamação da cera de carnaúba, que provoca solidificação da cera devido ao choque térmico no contato entre a lâmina de cera líquida aquecida e o rolo refrigerado por água. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 173. Diferentes tipos de cera escamada oriunda do processo de produção de cera. Foto de Francisco Prancacio Araújo de Carvalho.
Quando o mercado exige cera em barra, a cera líquida deve ser depositada na Forma de Solidificação e espalhada numa camada uniforme até que seja completado o processo natural de resfriamento (Figura 174). Depois de resfriada, a cera solidificada é triturada ou cortada em vários blocos. Em seguida, essas blocos produzidos são embalados em sacos e armazenados em depósito (CARVALHO, 2005).
Figura 174. Forma usada para solidificar a cera em barra oriunda do processo de produção de cera. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. 7. A embalagem da cera é realizada, com o auxílio de um operário, em sacos de plástico transparente de 25 kg, os quais são separados nos diferentes tipos de cera: Tipo 1, Tipo 3 e Tipo 4 (Figura 175). A seção de quebra, escamação, atomização e embalagem é a etapa final do processamento, onde a cera pode ser quebrada em blocos, cortada em escamas, através da máquina escamadeira, ou atomizada em grânulos
C a p í t u l o I | 174 esféricos. Estes são pesados, lacrados e levados ao depósito para serem comercializados. São necessários 36 horas para completar o processo de produção de 15 toneladas de cera (ALVES; COELHO, 2008).
A B C Figura 175. Embalagem da cera (tipos T1, T3 e T4) em saco transparente com capacidade de 25 kg , no depósito da indústria de refino. A- Cera Tipo 1, atomizada; B- Tipo 3, escamada; e C- Tipo 4, escamada. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. Alves e Coelho (2008) afirmam que inovações tecnológicas têm sido introduzidas nos últimos anos por algumas indústrias no processo de produção da cera de carnaúba por solvente, destacando-se que esse processo já é realizado sem a utilização de palha de arroz, o que implica na redução do tempo da operação, além de promover economia significativa em solvente e energia. A outra inovação no processo é a destilação a vácuo produzido por venturi, visando a recuperação de solvente. Além disso, já existe a produção de cera pulverizada por moinho a jato (micronização) ou outro processo semelhante, porém diferente ao tratamento químico dado à cera atomizada. Tanto a micronização quanto a atomização deixam a cera tipo T1 (olho) com aparência semelhante ao leite em pó em cor e textura (Figura 176).
C a p í t u l o I | 175
A B Figura 176. A- Moinho mecânico utilizado para transformar os pedaços de cera em pó e B- Atomização do pó de cera. Fotos de Vicente de Paula Queiroga. A extração por solvente apresenta maiores riscos de contaminação ambiental e acidentes graves, uma vez que envolve o manuseio de produtos tóxicos e inflamáveis que exigem rigoroso controle de temperatura e pressão. A utilização desta tecnologia por produtores de cera de origem é preocupante, na medida em que é feita de maneira improvisada e sem acompanhamento técnico (D’ALVA, 2004).
COMERCIALIZAÇÃO DO PÓ CERÍFERO
Existem três tipos básicos de pó cerífero. O pó da faca ou pó do cassete, obtido dos olhos da carnaúba em processo manual, e o pó de palha ou pó preto e pó de olho ou pó branco, dois tipos de “pó de máquina” extraídos pelo processo de batedura mecânica. O pó de olho apresenta cotação entre duas a três vezes superior a do pó de palha.
O pó cerífero é constituído basicamente de cera e fibras vegetais provenientes da palha. Quanto maior o percentual de cera por unidade de pó, maior sua qualidade e valor. Outro parâmetro que defini a qualidade do pó é a cor. O pó de palha apresenta coloração verde acinzentada enquanto o pó de olho deve apresentar cor branca. Quanto mais escura for à coloração, maior é o percentual de impurezas e menores a qualidade e o preço (CARVALHO, 2005).
C a p í t u l o I | 176 Uma vez obtido o pó, geralmente os proprietários das máquinas de bater são os responsáveis pela comercialização do pó com os armazéns ou diretamente com as indústrias. Como também existem os casos dos pequenos produtores que ainda prepararam artesanalmente a cera para a sua venda posterior, que representa mais uma alternativa de agregação de valor ao produto. Por meio da produção da cera de origem, tem-se como subproduto a borra, que é comercializada também para as indústrias refinadoras, por permitir extrair ainda um pequeno percentual de cera (ALVES; COELHO, 2008).
Os preços divulgados pela indústria refinadora de cera se referem à qualidade média aceitável (Tabela 9). Portanto, os pós que apresentarem rendimentos inferiores a essa qualidade média sofrerão descontos nos preços unitários, enquanto os pós com rendimentos superiores ganharão um sobre-preço ou prêmio (Tabela 10).
Tabela 9. Qualidade média aceitável do percentual de rendimento do pó para a compra pelas indústrias de cera. TIPO DE PÓ
QUALIDADE MÉDIA ACEITAVEL (%)
Pó de Olho
79 a 82
Pó de Palha
60 a 64
Fonte: JACOB, Marc Theophile (GOMES et al, 2006).
C a p í t u l o I | 177 Tabela 10. Cálculo do preço do pó com base no seu rendimento. I.
PÓ DE OLHO PRÊMIO
a 81
Preço normal
Prêmio (%)
Rend. (%)
79 82
83
84
85
86
87
88
89
90
+2,50
+3,75
+5,00
+6,25
+7,50
+8,75
+10,00
+11,25
+12,50
DESCONTOS
Rend. (%)
a
Descontos (%)
Preço normal
79
81
Fonte: ADECE
78
77
76
75
74
73
72
-2,50
-3,75
-5,00
-6,25
-7,50
-8,75
-10,00
C a p í t u l o I | 178 II. PÓ DE PALHA
Rend. (%)
59
Prêmio (%)
Preço normal
PRÊMIO
a
62
63
64
65
66
67
68
69
70
+3,33
+5,00
+6,66
+8,33
+10,00
+11,66
+13,33
+15,00
+16,66
61
59
59
57
56
55
54
53
52
51
50
49
48
47
46
45
-
-5,00
-6,66
-8,33
-10
-11,66
-13,33
-15
-16,66
-18,33
-20
-21,66
-23,33
-25
a 61
Preço normal
Prêmio (%)
Rend. (%)
DESCONTOS
3,33
Fonte: ADECE
A indústria refinadora de cera tem por prática efetuar um desconto de 3 pontos percentuais no resultado da análise do laboratório como margem de segurança. Exemplo: rendimento de 65% - 3% = 62% (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
A Câmara Setorial da Carnaúba do Ceará (2009) dá um exemplo interessante sobre o cálculo de preço do pó com base no seu rendimento. No caso do pó de carnaúba que contenha 70% de cera, terá um prêmio de 16,66% no seu preço base, mais 0,50/ kg. Quando se trata do pó de palha com 55% de rendimento de cera, este produto quando for comercializado sofrerá um desconto de 8,33%, sem considerar a perda de R$ 0,05% /kg. Além disso, outra tabela também é utilizada pelas indústrias refinadoras para o cálculo do preço baseado no custo de extração do pó (Tabela 11).
C a p í t u l o I | 179 Tabela 11. Cálculo do preço baseado no custo de extração do pó. TIPO
PERCENTUAL DE CERA (%)
DESCONTO OU PÊMIO/KG (R$)
65 a 70
+0,05
60 a 64
Preço base
55 a 59
-0,05
50 a 54
-0,10
45 a 49
-0,15
40 a 44
-0,20
85 a 90
+0,08
80 a 84
Preço base
75 a 79
-0,08
70 a 74
-0,19
Pó de olho
Pó de palha
DE PÓ
Fonte: ADECE
Também se aplica a tabela de rendimento para a comercialização da borra, considerado um resíduo extraído da produção artesanal da cera de origem, que deve apresentar um teor de 29 a 31% de cera, sendo concedido um prêmio de 3,33% para cada 1% que exceder a 31% ou um desconto, usando o mesmo percentual, se for inferior a 28%. Vale ressaltar que há uma tendência para a recusa de compra de matérias primas muito abaixo dos padrões médios estabelecidos (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
MERCADO DA CERA DE CARNAÚBA
Entre as ceras vegetais, destacam-se as ceras brasileiras de carnaúba e licuri e a cera mexicana de candelilla, as quais correspondem a 0,9% do volume mundial de ceras e a 4,3% do valor total da exportação. Sendo o Brasil, o maior país exportador, com 59% do mercado, seguido do México com 9%. Tal fato se deve a importância da cera de carnaúba que representa 68% do volume e 59% do valor total das exportações mundiais de ceras vegetais. A cera de carnaúba é exportada para 50 países, sendo os principais compradores: Estados Unidos, Japão, Alemanha, China, Holanda e Itália. No mercado
C a p í t u l o I | 180 interno, que consome em torno de 20% da produção, tem como os principais Estados compradores no Brasil: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia (LIMA, 2011).
Na Tabela 12, observa-se um volume de exportação de 15,82 toneladas de cera de carnaúba produzido pelos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte para o ano de 2011, tendo a participação do Ceará ocupando um lugar de destaque com 53,87% e com 40,81%, o Piauí.
Tabela 12. Exportação de cera de carnaúba pelos principais estados produtores da região de nordeste do Brasil. Ano 2011. Estado Ceará Piauí Rio Grande do Norte TOTAL
US$ FOB
Peso Líquido (Kg)
58.215.910 44.096.763 5.746.787 108.059.460
8.371.235 6.548.275 902.000 15.821.510
Participação na Exportação de 2011 53,87% 40,81% 5,32% 100%
Fonte: Alice Web – MDIC Elaboração: UCP/ INDI/ FIEC NCM Consultado: 1521.10.00 (ceras vegetais)
A produção de cera de carnaúba no Brasil concentra basicamente nos três estados nordestinos, no caso, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, que se estima uma produção de 30 mil toneladas de pó, aproximadamente, sendo que 26 mil toneladas (80%) vêm da palha e 4 mil toneladas (20%) do olho da carnaúba, que são transformado em 18 mil toneladas de cera, sendo 15 mil toneladas do tipo preta e 3 mil toneladas de cera do tipo (branca) olho, tendo mantido uma percentagem de participação dos diferentes tipos de cera: T1 com 25%, T3 com 60 % e T4 com 15%. Do total da cadeia produtiva, 50% são desenvolvidos no Ceará, 40% no Piauí e 10% no Rio Grande do Norte e demais estados (Figura 177), segundo posicionamento do Sindcarnaúba. O segmento da carnaúba na região nordeste, estima-se envolver durante a safra 250 mil trabalhadores em média, principalmente, na época em que praticamente não existem atividades para os agricultores da zona rural (AQUINO; SOUSA, 2012).
C a p í t u l o I | 181
CERA DE CARNAÚBA ESTADOS PRODUTORES
R. G. Norte e Outros 10% Ceará Piauí 40%
Ceará
50%
Piauí
Rio Grande do Norte e Outros
Figura 177. Participação dos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande no Norte na produção de cera de carnaúba. Fonte Gilson Antônio de Sousa Lima.
Vale ressaltar que a cera de carnaúba é um produto com mercado cativo, de produção exclusivamente brasileira, com possibilidade de crescimento e de maior geração de divisas, alcançando os valores de exportação de US$17,6 milhões e US$14,9 milhões nos anos de 2001 e 2002, respectivamente. A observação da série de exportações, entretanto, revela grandes variações em termos de volume, o que caracteriza a instabilidade de produção do extrativismo da carnaúba, devido entre outros fatores, a desorganização da cadeia produtiva em todos os seus segmentos, o baixo índice tecnológico do sistema de produção e falta de apoio creditício (GOMES et al, 2006).
Com base no cenário da cadeia produtiva da carnaúba analisado por Carvalho (2005), o mercado de produção de cera caracteriza-se por apresentar poucas empresas com poder de mercado, configurando uma estrutura similar ao oligopólio em que as indústrias concorrem entre si, disputando, essencialmente, o mercado externo. A maior parte da produção de cera destina-se ao mercado internacional. A cotação de seu preço em dólar favorece os preços internos para o produtor, principalmente, quando há um cenário internacional favorável. O estímulo às exportações promovidas pelo governo através de isenção de tributos, as boas condições de pagamento do mercado externo e a grande aceitação externa por ser um produto natural, contribuem para a produção escoar, principalmente, para o exterior.
C a p í t u l o I | 182 Um dos maiores problemas enfrentados pelos produtores é a intermediação das vendas no mercado externo, pois são poucos os corretores que vendem a maior parte da produção para um pequeno número de compradores que distribuem o produto. Assim, criam-se fortes influências dos compradores internacionais com exercício de grande poder de compra, caracterizando uma estrutura de oligopsônio, ou seja, o maior poder de mercado está no comprador. O fato de a cera ter pouca participação na composição final dos produtos pode agravar essa situação, entretanto, por outro lado, a condição de ser um produto natural dificulta a participação de produtos substitutos próximos, criando uma estrutura semelhante ao monopólio da cera de carnaúba no mercado de cera vegetal. Vale destacar também que no processo de produção de cera, a composição industrial, agregada por indústrias atrasadas e modernas, determina a demanda do pó cerífero e a capacidade de abastecimento de cera no mercado (CARVALHO, 2005).
Embora a importância da cera de carnaúba seja incontestável, nenhum órgão ligado ao setor de pesquisa (municipal, estadual e federal), não se preocupou em desenvolver tecnologias visando o desenvolvimento da cultura da carnaúba em todos os segmentos de sua cadeia, observando-se uma desorganização tanto dos produtores, refinadores e exportadores. Além do mais há necessidade de ações coordenadoras das instituições governamentais, com vistas a um melhor desenvolvimento de todos os elos da cadeia produtiva (CARVALHO, 2005; ALVES; COÊLHO, 2008).
Com a finalidade de estimular e conscientizar os diferentes segmentos da cadeia produtiva desta cultura e para que a mesma ganhe competitividade no mercado, necessário se faz a racionalização dos sistemas de produção vigentes, contribuindo para o aumento da renda do produtor e melhoria da qualidade do pó cerífero, da cera e de seus derivados.
C a p í t u l o I | 183 ORGANIZAÇÃO NA COMERCIALIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO A partir da década de 1990, a adoção no Brasil do modelo neoliberal implicou na redução do Estado e abertura da economia. Neste cenário, o extrativismo da carnaúba e o comércio internacional de cera ficaram sujeitos às leis do mercado. O Estado que financiava a produção, subsidiava as exportações, regulava preços mínimos, formava estoques reguladores, foi desmontado.
Houve uma completa ausência de políticas e/ou ações governamentais direcionadas para o extrativismo da carnaúba no período compreendido entre 1994 e 2003. A partir de 2004, o Governo Federal começa a ensaiar a possibilidade de uma política para as comunidades tradicionais e produtos extrativos não madeireiros, com a articulação dos ministérios do Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente.
No Ceará, em 2004, articula-se a Câmara Setorial da Carnaúba, órgão colegiado de caráter consultivo composto por representantes da cadeia produtiva da carnaúba, órgãos governamentais e não governamentais, com o objetivo de identificar gargalos e propostas e integrar os agentes para a implantação e acompanhamento de projetos prioritários.
Por intermédio da Câmara Setorial são implantados projetos-piloto de melhoria dos processos de secagem da palha de carnaúba (estufa), produção de papel reciclado de palha de carnaúba e projetos de pesquisa botânica-agronômica. Em 2009, é lançado o Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sóciobiodiversidade, que tem por
objetivo
fortalecer
as
comunidades,
associações
e
cooperativas
de
agricultores/extrativistas familiares dos biomas brasileiros. Neste mesmo ano, a carnaúba é incluída como produto da sociobiodiversidade com preços mínimos regulados pela CONAB (Portaria MAPA nº 103 de 16/02/09).
Tanto o pó quanto a cera de carnaúba são contemplados com a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) nas suas modalidades convencionais e mais recentemente, em 2010, a subvencional voltada para produtos da sociobiodiversidade, efetivada por dois mecanismos Aquisições do Governo Federal (AGF) e Empréstimos do Governo Federal (EGF), elaborada e operacionalizada pela Companhia Nacional de Abastecimento
C a p í t u l o I | 184 (Conab). Esse preço mínimo para as culturas regionais é muito importante, pois garante ao produtor a sustentação de preço na época da comercialização, por ser um instrumento de parâmetro na negociação. É importante para o segmento, que o preço mínimo esteja dentro da realidade de custo de produção, para que o produtor de pó cerífero, principalmente, possa investir na cultura, por ser a etapa do processo mais importante da cadeia, tanto no aspecto social e como econômico, por gerar trabalho e renda. Os Preços mínimos fixados para a safra 2011/2012 são de R$ 4,20 para o pó tipo B e R$ 6,59 para a cera tipo 3/4, fixados dentro da realidade do custo de produção da época (Tabela 13; LIMA, 2011).
Tabela 13. Comercialização da safra 2011/2012 no Estado do Ceará registra os seguintes preços recebidos pelos produtores no mês de novembro de 2011. Produto
Gramatura
Pó tipo A – Rendimento Kg de 75 a 80% Pó tipo B – Rendimento Kg de 55 a 60% Cera tipo Kg 1/2 Cera tipo Kg 3/4 Fonte: Conab-Sureg/Ce-Segeo
Nov - 2010 R$ (A)
Nov - 2011 R$ (B)
Var. % (B/A )
Preços Mínimos R$ (C) R$
Var. % (B/C)
7,00
10,00
42,8
6,90
44,9
4,00
5,00
25,0
4,20
19,0
10,00
13,00
30,0
9,07
43,3
7,00
8,00
14,2
6,59
21,3
Em âmbito federal tem-se o apoio aos Arranjos Produtivos Locais (APLs), em 2004 foi instituído o Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais (GTP APL). O Piauí, desde 2008, tem um APL composto de oito agroindústrias agricultura/carnaúba, instaladas nos municípios de Campo Maior, Esperantina, Floriano, Oeiras, Parnaíba, Picos, Piripiri e Valença do Piauí, tendo Parnaíba como cidade pólo. Essas ações do arranjo produtivo da carnaúba, com apoio do Governo do Estado e seus parceiros, vêm contribuir com o desenvolvimento sócio-econômico e ambiental do agronegócio da carnaúba, por meio de uma melhor qualificação dos produtores, pela organização de novas modalidades empresariais, novos conhecimentos tecnológicos e habilidades que lhes permitirão aumentar a produção e produtividade da cultura, melhor qualidade do pó e da cera, gerando novos postos de trabalhos, contribuindo com o aumento das arrecadações dos tributos municipais e estaduais, fortalecimento da infra-
C a p í t u l o I | 185 estrutura das unidades produtivas, incremento do mercado de bens e serviços, sistema de comercialização e preços eficientes (CARVALHO JÚNIOR, 2007). A oferta de um produto de melhor qualidade para importação e exportação, organizada em formas associativas de pequenos produtores e/ou cooperativas de produção é um fator da maior relevância capaz de, em sendo bem sucedido, refletir as tendências atuais e revigorar a atividade que passaria a estimular não somente o crescimento da produção, mas, igualmente, esforços que o produto estaria a demandar no sentido de seu aprimoramento tecnológico, desenvolvimento de novos produtos derivados para o atendimento de nichos importantes de mercados, introdução da espécie de porte baixo: a Copernicia hospita, aproveitamento de outros materiais recuperáveis da palha da carnaúba (celulose e seus derivados) e a implantação de plantios racionais em consórcio com outras atividades, já tradicionais da região ou outras, inovadoras. Tudo isto se refletirá no mercado interno e no comércio exterior (CARVALHO JÚNIOR, 2007). Quanto à preservação dos carnaubais, a lei Nº 4.854 de 10 de julho de 1996, estabelece que, cabe a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos autorizarem, de acordo com a legislação vigente, desmatamentos e quaisquer outras alterações de cobertura vegetal nativa, primitiva ou regenerada e florestas homogêneas. As diretrizes das políticas de preservação e conservação do meio ambiente são estabelecidas e reavaliadas pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente. As empresas exportadoras de cera recebem incentivos fiscais por parte do estado do Piauí - isenção de ICMS – por tempo determinado, sendo que a prorrogação segue até 2020 (COSTA; GOMES, 2012).
C a p í t u l o I | 186 LINHAS DE CRÈDITO
Tabela 14. Linhas de crédito favoráveis a produção da carnaúba. AGENTE
LINHAS DE
FINANCEIRO
FINANCIAMENTO
PÚBLICO
TAXAS
Custeio agropecuário tradicional
Produtores do
BNDES MODERAGRO
Agronegócio
BANCO DO
Investimento
BRASIL
PRONAF
Prazo até 1 ano Prazo de até 96 meses, carência de até 24 meses
Custeio
Agricultores
PRONAF
Familiares
Teto máximo de R$ 40 mil reais
Teto máximo de R$ 36 mil reais
Investimento Custeio/ Investimento (PRONAF) Produtores Rurais Produtores Rurais (FNE Rural) BANCO DO NORDESTE
FNE Industrial FNE Giro insumos
0,5% a
Prazo de 2 a 12 anos, dependendo
3 % ao
da finalidade e do tipo de PRONAF
ano
utilizado
5% a
Prazo de até 12 anos para
8,5%
investimento e até 8 meses para
ao ano
custeio Prazo até 12 anos
Empresas 6,75% a 10%
Nordeste Exportação
OBSERVAÇÕES
Empresas Exportadoras
ao ano
Prazo até 24 meses Aquisição de matéria- prima, insumos e estoque de mercadorias para empresas exportadoras. Prazo até 12 meses
Fonte: ADECE
ANÁLISE ECONÔMICA
Ao contrário do sistema extrativismo, que se utiliza de diagnósticos e cenários amplos e detalhados (ALVES; COÊLHO, 2008), na análise econômica para o sistema de cultivo da carnaúba com espaçamento definido deve-se apresentar um modelo simplificado, que permite ao produtor tomar uma decisão correta sobre a viabilidade econômica de cada sistema produtivo, tendo com base as condições mais ajustadas a sua realidade. Além disso, no sistema domesticado de cultivo é possível extrapolar a produção de pó, dependendo da fertilidade do solo que se pretende cultivar a carnaubeira da espécie Copernicia prunifera, de forma que a produção de pó bruto por planta pode variar de 100, 150 e 200 g em solos com baixa fertilidade (arisco), fertilidade média (solos com textura areno-argiloso) e fertilidade alta (solos de textura argilosa ou aluviões), respectivamente (GOMES, 1945).
C a p í t u l o I | 187 Considerando o espaçamento de 4 m x 4 m, isto é, uma planta da espécie Copernicia prunifera explorando 16 m², tem-se 625 plantas/ha. Retirando-se 30, 35 e 40 folhas/planta com base no nível tecnológico em baixo, médio e elevado utilizado e da fertilidade do solo em baixa, média e alta, obtêm-se 18.750, 21.875 e 25.000 folhas em um hectare, respectivamente. Então, para as 18.750, 21.875 e 25.000 folhas são obtidas, respectivamente, 71,6 kg de pó de palha e 22,5 kg de olho através do método tradicional (lastro), no estaleiro 91,66 kg de palha e 27,1 kg de olho, e utilizando o secador solar podem ser produzidos 138 kg de palha e 35,3 kg de olho (Tabelas 15, 16 e 18).
Tabela 15. Custos de produção da carnaubeira C. prunifera cultivada no espaçamento de 4 m x 4 m (625 plantas) para um sistema de produção de baixo nível tecnológico, conforme as seguintes características da região de Assú, RN: plantio em solos de baixa fertilidade (solo tipo arisco); corte tardio de palhas após 12 a 14 anos com 30 folhas por planta, sendo 24 de palhas e 6 de olho; equipe de corte formada por 4 pessoas; e utilização de lastro, incluindo as despesas de arrendamento do carnaubal e máquina de batição terceirizada. Valor da Características
Unidade
Quantidade
Diária (R$ 1,00)
Plantio Direto
d/h
03
Valor Total (R$ 1,00)
30,00
90,00
70,00
140,00
35,00
105,00
Doze Anos Corte de folhas (1 vareiro)
d/h
02 (18.750 folhas)
Corte de folhas (Equipe de 3
d/h
03
auxiliares) Sub-Total
335,00
Lastro (olho com 80%
Kg de pó
de rend.)
22,5 (3.750 folhas)
12,00
270,00
6,00
429,6
Lastro (Palha com 63,64% de
Kg de pó
71,6 (15.000 folhas)
rend.) Sub-Total Despesas com Arrendamento
94,1 -
-
699,60 -
139,90
C a p í t u l o I | 188 (20% de todo pó) Despesas com máquina de batição (R$ 0,80 por quilo
-
-
-
75,28
-
-
-
149,42
de pó produzido) Lucro Geral por Ha
Tabela 16. Custos de produção da carnaubeira C. prunifera cultivada no espaçamento de 4 m x 4 m (625 plantas) para um sistema de produção de médio nível tecnológico, conforme as seguintes características da região de Assú, RN: plantio em solos de média fertilidade (solo areno-argiloso); corte de palhas após 8 a 10 anos com 35 folhas por planta, sendo 28 de palhas e 7 de olho; equipe de corte formada por 6 pessoas; e utilização de secador em varal fornecido pelo governo para atender a comunidade, incluindo as despesas de arrendamento do carnaubal e máquina de batição terceirizada. Valor da Características
Unidade
Quantidade
Diária (R$ 1,00)
Preparo mínimo Plantio manual
Valor Total (R$ 1,00)
d/h
01
50,00
50,00
d/h
03
30,00
90,00
70,00
140,00
35,00
175,00
Oito Anos Corte de folhas (1 vareiro)
d/h
02 (21.875 folhas)
Corte de folhas (Equipe de 5
d/h
03
auxiliares) Sub-Total
455,00
Estaleiro (olho com
Kg de pó
82,6% de rend.) Estaleiro (Palha com 69,84% de
Kg de pó
27,1 (4.375 folhas)
91,66 (17.500 folhas)
12,00
270,00
6,00
549,96
C a p í t u l o I | 189 rend.) Sub-Total
118,76
819,96
Despesas com Arrendamento (20% de todo
-
-
-
163,99
-
-
-
95,01
-
-
-
105,90
pó) Despesas com máquina de batição (R$ 0,80 por quilo de pó produzido) Lucro Geral por Ha
Com base nessa extrapolação de produção de pó por ha, é possível estruturar o coeficiente técnico e os custos variáveis para implantação da área de 01 ha de carnaubeira, considerando o espaçamento de 4 m x 4 m (623 plantas/ha), tais como: preparo do solo, plantio, adubação com bagana e o coroamento, realizado nos seus dois primeiros anos, os quais vão ser totalmente cobertos com base na margem de lucro proveniente das culturas temporárias intercalares (feijão, milho, gergelim, algodão etc) produzidas nas entrelinhas de 4m x 4 m dessa cultura perene, sem considera que esses tratos culturais proporcionaram grandes benefícios ao carnaubal. Por conta disso, haverá uma maior resposta de crescimento e desenvolvimento da planta e também a possibilidade de sua colheita ser precoce (corte de folhas) aos 5 ou 6 anos de idade. Em situação contrária, esse corte de folhas deveria ocorrer entre 8 a 10 anos (Tabela 17).
C a p í t u l o I | 190 Tabela 17. Coeficiente técnico para implantação e manutenção de 1 ha da cultura perene de carnaúba (C. Prunifera ) no espaçamento de 4 m x 4 m (625 plantas), sendo essas despesas viabilizadas pelas margens de lucros advindos das culturas temporárias intercalares nos três primeiros anos.
Características
Unidade
Quantidade
h/m (aração e gradagem)
5
Unid.
625
Kg
12
Unid
625
d/h
1,0
d/h
3
d/h
1,0
d/c
1,0
d/h
3
d/c
1,0
d/h
3
Primeiro Ano Preparo do solo com trator Plantio de mudas Ou plantio de sementes Abertura de covas (cavador) ou matraca (covas) Coroamento com bagana Consórcio Segundo Ano Coroamento com bagana Preparo do solo com cultivador entre fileiras Consórcio Terceiro Ano Preparo do solo com cultivador entre fileiras Consórcio Quarto Ano
Agrossilvopastoril (capina efetuada pelo animal)
Quinto Ano Agrossilvopastoril (capina efetuada pelo animal)
C a p í t u l o I | 191 Tabela 18. Custos de produção da carnaubeira C. prunifera cultivada no espaçamento de 4 m x 4 m (625 plantas) para um sistema de produção de alto nível tecnológico, conforme as seguintes características da região de Assú, RN: plantio em solos de alta fertilidade (de aluvião ou argiloso); usos de consorciação nos três primeiros anos que irão cobrir as despesas de implantação e manejo da cultura perene; corte precoce de palhas após 6 anos com 40 folhas por planta, sendo 32 de palhas e 8 de olho; equipe de corte formada por 9 pessoas; e utilização de secador solar fornecido pelo governo para atender a comunidade, incluindo as despesas de arrendamento do carnaubal e máquina de batição terceirizada.
Características Sexto Ano Corte de folhas (1 vareiro) Corte de folhas (Equipe de 8 auxiliares) Sub-Total Secador solar (olho com 94,12% de rend.) Secador solar (Palha com 92,12% de rend.) Sub-Total Despesas com Arrendamento (20% de todo pó) Despesas com máquina de batição (R$ 0,80 por quilo de pó produzido) Lucro Geral por Ha
Unidade
Quantidade
Valor da Diária (R$ 1,00)
Valor Total (R$ 1,00)
d/h
2 (25.000 folhas)
70,00
140,00
d/h
1
35,00
280,00 420,00
Kg de pó
35,3 (5.000 folhas)
12,00
423,60
Kg de pó
138,5 (20.000 folhas)
6,00
831,00
173,80
1.254,60
-
-
-
209,00
-
-
-
139,04
-
-
-
486,56
C a p í t u l o I | 192 Considerações adicionais sobre a análise econômica:
- Para cada 100 kg de pó, obtêm-se 15 kg do pó do olho e 85 kg de pó de palha. Convém lembrar que esses valores são variáveis segundo as regiões de produção, processos de secagem e forma de extração do pó (MOURA, 2010).
- Tendo em vista a constante repetição das turmas, foi aplicado outro método para a elaboração da estimativa do número de empregos diretos. De acordo com a pesquisa direta, uma turma responsável pelo corte e secagem das palhas é composta, em média, por treze trabalhadores. São três foiceiros, quatro aparadores, um desenganchador, dois carregadores, dois lastreiros e um cozinheiro. A produtividade média/ dia de um vareiro é de 8.000 palhas (D’ALVA, 2004; SANTOS et al., 2006). Existe a possibilidade do vareiro corta mais de 300 plantas por dia, mas tudo depende da densidade populacional de plantas na área de extrativismo. Dessa maneira, cada turma cortará 24.000 palhas/dia.
- A equipe de batição é formada por 9 pessoas, sendo 1 empurrador, 1 banqueiro, 5 carregadores, 1 cozinheiro e 1 motorista (dono da máquina, mecânico e baganeiro). Ao atingir a meta diária de produção de 1.000 kg de pó (ou 1.200 kg), o pagamento da equipe seria o seguinte: a cada produção de 1.000 kg de pó renderia a quantia de R$ 800,00, ficando R$ 45,00 para cada operário: 01 empurrador e 01 banqueiro (R$ 90,00), 5 carregadores e 1 cozinheiro com R$ 30,00 (R$ 180,00), despesas de combustível, manutenção da máquina e alimentos (café, almoço e jantar; Figura 177) com 50% do faturamento (R$ 400,00), e o lucro líquido diário do dono da máquina seria de R$ 130,00 (MOURA, 2010).
C a p í t u l o I | 193
Figura 178. Durante a substituição de navalhas amoladas da máquina de batição das palhas de carnaúba, a equipe de trabalhadores aproveita o momento para o café da manhã. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
- O valor do arrendamento varia com a quantidade de milheiros de palha e com a qualidade do carnaubal. A quantidade é definida pelo rendeiro e pelo proprietário, com base na produção de anos anteriores, e a qualidade segue alguns parâmetros empíricos: limpeza do terreno entre as carnaubeiras, altura (quanto mais baixas, melhor), o espaçamento entre as palmeiras (até três metros é o ideal, mais do que isso a produtividade tende a baixar), tipo de solo (os de várzea são os melhores), tempo de descanso e corte do carnaubal (períodos superiores a dois anos aumentam o valor do arrendamento, já que o número de palhas tende a ser maior) (D’ALVA, 2004).
- Com relação à extração da cera das folhas, Gomes (1945) admite que a carnaubeira em solos de aluvião pode produzir cerca de 200 g de cera por planta, enquanto em solos de arisco de baixa fertilidade apenas 100 g. Para os solos de aluvião de Aparecida, PB, há registro feito pelo único dono de máquina de bater palha de carnaúba nessa região da produção de 13 kg de pó para cada 01 milheiro de palha, após 3 anos sem corte do carnaubal. Ou seja, por meio da máquina de batição, obteve-se a produção de 416 kg de pó em 32 milheiros de palhas de carnaúba.
- Os valores elevados do quilo de pó de palha de R$ 6,00 e olho de R$ 12,00, com seus respectivos lucros líquidos obtidos nas Tabelas acima, é devido à presença de uma indústria de exportação de cera na região de Assu, RN, provavelmente tais lucros serão duplicados ou triplicados quando se tratar da substituição da espécie Copernicia prunifera pela Copernicia hospita (ALVES; COÊLHO, 2008), mas antes a
C a p í t u l o I | 194 produtividade em campo dessa última espécie terá que passar por validação. Quando se considera o mercado do pó de carnaúba em Lavras de Mangabeira, CE, o qual é controlado por atravessador, os preços do pó ficarão pela metade dos valores alcançados na região de Assu, RN, sendo de R$ 3,00 de palha e R$ 6,00 de olho. Por outro lado, o valor pago no arrendamento do carnaubal também é reduzido de 20% em Assu, RN sobre a produção total do pó para menos de 12% em Lavras de Mangabeira, CE.
UTILIZAÇÃO DA FOLHA DE CARNAÚBA NO ARTESANATO
A planta de carnaúba, por sua elegância, vem sendo amplamente utilizada no paisagismo de muitas cidades nordestinas (praças e jardins; Figura 179) e na arborização urbana, principalmente por se tratar de uma espécie adaptada ao clima semiárido (ALVES; COELHO, 2008).
Figura 179. Carnaubeiras arborizando o canteiro de acesso à cidade de Sousa, PB. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
A palha (folha seca), depois da retirada da cera, é o segundo produto obtido da carnaubeira de maior importância econômica para as várias regiões dos Estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, onde a carnaúba está sempre presente. O aproveitamento da planta de carnaúba é múltiplo e integral, principalmente quando envolve a produção artesanal. Entre as mais conhecidas estão os produtos da palha, dos tradicionais chapéus (Figura 180) ao inovador artesanato originados desta matéria-
C a p í t u l o I | 195 prima. Apenas a palha do olho é utilizada no artesanato: desde que o processo de retirada do seu pó tenha sido manualmente (cacete) e não seja triturada pela máquina, podendo assim servir a diversas finalidades artísticas (VASCONCELOS, 2003).
Figura 180. Tradicionais chapéus feitos com palha de carnaúba. Fotos do arquivo da ONG Carnaúba Viva.
Vale salientar que a palha de olho utilizada na confecção de chapéus recebe uma secagem diferenciada e especial, que leva quase 8 horas de sol. Ao final do processo, essa palha fechada é aberta manualmente, tomando o formato de um leque. Em seguida, a mesma é submetida a um curto tempo de secagem ao sol, o que irá mantê-la no formato aberto para ser comercializa com os artesões de chapéus rústicos.
Existem arranjos produtivos de artesanato com palha de carnaúba em nove cidades do Rio Grande do Norte, onde os artesãos filiados a ONG Carnaúba Viva produzem mantas e cintas de palha de carnaúba para a Petrobras, a fim de revestir os oleodutos pelos quais passa o vapor quente resultante da exploração do petróleo.
Segundo o BNB (2002), com o investimento do SEBRAE e da CEART, foram dados cursos de designers, aprimorando as técnicas que os artesãos já utilizavam na produção dos chapéus (Figura 181). Daí começou a surgir uma série de produtos, como bolsas, cestas, peças decorativas e tudo o mais que os artesãos imaginem; tudo feito da palha de carnaúba e totalmente manual (Figuras 182), inclusive foram dados cursos de gestão, empreendedorismo e atendimento. Além destes produtos, as folhas são usadas na
C a p í t u l o I | 196 confecção de esteiras, urus (sacos) e vassouras (Figura 183). O pecíolo da folha ou o talo também é utilizado para a produção artesanal de utensílios domésticos e móveis (Figura 184; D’ALVA, 2004).
Figura 181. Novo designer do chapéu feito da palha de carnaúba. Foto do arquivo da ONG Carnaúba Viva.
Figura 182. Peças de artesanato de palha e talo de carnaúba feitas manualmente pelos artesãos de Aracati, CE. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Terezinha Queiroga Nóbrega.
C a p í t u l o I | 197
Figura 183. Artesanato de palha (olho) de carnaúba de Apodi, RN e Lucrecia, RN. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Alexandra Alves da Cunha.
A B Figura 184. Vassouras do artesanato da Paraíba (A) e Piauí (B). Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Marizeh Marques.
A produção de peças artesanais a partir da produção de papel da palha da carnaúba pode se constituir para as populações de baixa renda, terapia ocupacional, realização artística, incentivo a capacidade empreendedora e, principalmente, oportunidade de emprego e renda (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
C a p í t u l o I | 198 A fabricação de papel artesanal, a base de folhas de carnaúba, é uma tecnologia desenvolvida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte que vem sendo difundida pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Estado do Ceará (CENTEC). O teor de celulose contido nessas palhas pode oscilar entre 26 e 33%, dependendo do tempo de cozimento, quantidade e natureza do álcali empregado. Essas palhas secas, já desprovidas da quase totalidade do pó cerífero, são submetidas a vários processos para a obtenção do papel artesanal, tais como:
- Inicialmente, separa-se parte da palha e tritura-se em forrageira para ficar bem moído. Ao produto obtido adiciona-se água para o cozimento. Em seguida, adicionam-se os produtos químicos hidróxido de sódio e ácido acético. Depois de 24 horas a fibra é lavada em água varias vezes e transformada em polpa, usando-se um liquidificador industrial (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
- Adicionam-se então o aditivo responsável pela união das fibras, o carboximetilcelulose (CMC) e os corantes. Após a formulação a polpa é então colocada em moldes de madeira e postas para secar ao sol. Uma vez seco é retirado dos moldes telados para utilização em impressão e fabricação de peças artesanais (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
O aproveitamento da palha de carnaúba para a fabricação do papel foi uma demanda dos moradores de diversos povoados do município de Caridade, CE, que desejavam ampliar as possibilidades de aproveitamento da carnaúba, bem como aumentar suas receitas. Permitiu-se, portanto, o surgimento de oportunidades para a confecção de novos produtos como abajures, rosáceas, capas de agendas, caixas redondas e quadradas, modelos de luminárias e arandelas (Figura 185), calendários, entre outros (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009).
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A
B
Figura 185. Aproveitamento da palha de carnaúba para a fabricação do papel e peças de artesanato. Fotos José Natanael Fontenelle de Carvalho (A) e arquivo da Câmara Setorial do Ceará (B).
Os artesãos têm enfrentado alguns problemas quanto à qualidade e estabilidade da palha frente à presença de fungos e outros tipos de contaminação. Para minimizar esses inconvenientes e garantir maior durabilidade à palha, recomenda-se secá-la adequadamente e armazená-la em lugar seco e arejado. No caso do uso do papel para produção de peças artesanais esse cuidado deve ser redobrado, uma vez que será armazenado por longo período para confecção de produtos cujo mercado é exigente na qualidade (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). . Algumas considerações relativas à qualidade da produção de artesanato de palha de carnaúba têm sido apontadas pelo Sindicarnaúba como uns dos principais entraves para o desenvolvimento desse setor, tais como: - Falta de profissionalismo dos artesãos; - Falta de apoio aos produtores de artesanato, que utilizam a palha de carnaúba como matéria prima; - Falta de variedade e qualidade, nos artesanatos; - Ausência de organização entre os produtores de artesanato; - Desconhecimento dos mercados;
C a p í t u l o I | 200 - Ausência de linhas de crédito, para financiar as exportações de artesanato pelas pequenas empresas ou cooperativas, visto que estas operações demandam cerca de 120 dias para que os recursos gerados estejam no caixa do exportador; - Desconhecimento de tecnologias para amaciamento e clareamento da palha, aspectos muito exigidos pelos importadores de artesanato, etc;
USO DA FIBRA PARA CONFECÇÃO DE FIOS E CORDAS
A extração do ticum ou tucum da carnaúba era a atividade comum entre os indígenas e sertanejos que a utilizavam para a fabricação de cordas. Ainda hoje, muitos habitantes das áreas litorâneas e nos vales do Jaguaribe e Acaraú (Ceará) sabem extrair e trançar seu ticum, muito embora a produção de cordas esteja bastante reduzida (D’ALVA, 2004).
Com a obtenção da fibra (ticum) da palha do olho da carnaúba, que é bastante forte, fabricam-se cordas, redes (as franjas do tucum substituem as varandas; Figura 186), tarrafas e mantas de cavalo (GOMES 1945). Para entender melhor todo esse processo artesanal, as fibras de carnaúbas estão localizadas na parte central da folha entre as duas camadas da epiderme e, para extraí-las, utiliza-se uma faca afiada. Inicialmente, faz-se uma leve incisão transversal na face superior da folha (olho) para tentar abrir uma pequena fissura abaixo da camada da epiderme (Figura 187). Ao conseguir tal intento, a mesma é puxada manualmente com auxilio da costa da faca (parte não amolada). Quando esse mesmo procedimento é efetuado na face inferior da mesma, as fibras, que se encontravam presas entre essas duas camadas de epiderme, estão totalmente livres (Figura 188).
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Figura 186. Produção artesanal de cordas e redes pela artesã Maria Félix de Oliveira (Maria Tito), do Sítio Inglês, município de Paracuru, CE. Fotos do arquivo do Portal da Carnaúba do Ceará.
Figura 187. Incisão superficial e transversal na folha do olho de carnaúba feita com a faca. Lucrécia, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 188. Processo manual de extração das fibras entre as duas camadas de epiderme da folha do olho de carnaúba com a costa da faca. Foto de Vicente de Paula Queiroga. Alguns artesãos de Lucrecia, RN ainda mantém a tradição de confeccionar a corda com fibras da folha de carnaubeira, empregando as técnicas de trançar apenas uma peça de fibra e a de duas peças de fibras. Em ambos os tipos de corda, o artesão inicia a confecção da peça na própria mão e depois a pequena corda é pendurada num prego para dar maior apoio ao trabalho de trançá-la (Figura 189). À medida que essa corda vai aumentando de tamanho, mais fibras vão sendo adicionadas e emendadas pelo artesão. Além disso, sua espessura também pode ser aumentada de diâmetro quando se pretende confeccionar uma corda mais grossa.
Figura 189. A- Técnica manual de trançar a fibra de carnaúba para confeccionar a corda de uma peça; B – Corda de uma e duas peças de fibra da folha do olho da carnaúba. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 203 ONG CARNAÚBA VIVA E OUTRAS ENTIDADES
As ONGs desenvolvem importante papel dentro do extrativismo da carnaúba, devido à capacidade de ação local que possuem. A ONG Carnaúba Viva, com sede em Assu-RN, fornece para a Petrobras mantas e cintas de palha de carnaúba para revestimento de quilométricas linhas de vapor (Figura 190), que chegam a atingir 200ºC de temperatura. As mantas, além de mais baratas e seguras do que o revestimento de alumínio (que vinha sendo roubado), geram uma economia milionária para a estatal e também representa uma ocupação e renda para cerca de trezentos artesãos e suas famílias, que antes viviam à mercê do assistencialismo e que agora passaram a viver com o mínimo de dignidade e cidadania (PIMENTEL, 2011; ALVES; COÊLHO, 2007).
Figura 190. Isolante térmico usado sobre a linha de vapor quente da Petrobras e, por cima, vem o revestimento da manta e cintas feitas de palha de carnaúba. Fotos de Sílvio José Bezerra. Mas o maior impacto foi social, já que o novo material está garantindo ocupação e renda para 300 artesões dos municípios potiguares de Assu, Itajá, Upanema, São Rafael, Pendências, Macau, Afonso Bezerra, Apodi, Mossoró e para um grupo da cidade de Aracati, no Ceará, que também fornece as mantas para complementar a produção do Rio Grande do Norte. As cintas com 90 cm de comprimento (Figura 191) servem para segurar as mantas no tamanho padronizado de 1,5 m x 0,80 m (Figura 192). Essas cintas são utilizadas principalmente nas emendas das esteiras ou mantas também devidamente impermeabilizadas, em substituição aos grampos metálicos que oxidavam e se rompiam. Com este trabalho, a Carnaúba Viva conquistou o primeiro lugar na categoria inovação social da região Nordeste, recebendo o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, em 2010 (PIMENTEL, 2011).
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Figura 191. Confecção de cinta de palha de carnaúba por uma artesã e rolo de cinta ainda sem o impermeabilizante a base de uma emulsão asfáltica fornecida pela Empresa Petrobras. Fotos do arquivo da Carnaúba Viva e Vicente de Paula Queiroga.
Figura 192. Manta de palha de carnaúba confeccionada pelas artesãs, aguardando ainda a aplicação da emulsão asfáltica com a pistola de pintura. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
O terceiro produto demandado pela estatal que vem causando satisfação e gerando renda para os artesões, trata-se da grade feita dos talos ou pecíolos da carnaúba, cuja função é resfriar e proteger um eventual contato humano ou animal com os quentíssimos oleodutos (Figura 193).
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Figura 193. Grades de talos de carnaúba (sem e com impermeabilizante) feitas por artesões para proteção dos oleodutos (tubulações) da Petrobrás. Fotos de Vicente de Paula Queiroga .
Criada com o objetivo de promover a inclusão social, resgatar os valores culturais e artísticos da região onde atua, além de gerar trabalho e renda de forma sustentável, a ONG Carnaúba Viva também está promovendo a capacitação dos artesões, visando melhorar a qualidade das peças artesanais decorativas e utilitárias (Figura 194). Também essa ONG tem colaborado no projeto de instalação de uma unidade coletiva de beneficiamento de cera de origem na Agrovila Picada de Ipanguaçu, RN (Figura 195).
Figura 194. Capacitação profissional das artesãs Meliponi-Art do município de Almino Afonso, RN pela ONG Carnaúba Viva. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 195. Unidade coletiva de beneficiamento de cera de origem da carnaúba na Agrovila Picada no município de Ipanguaçu, RN, através do projeto da ONG Carnaúba Viva. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Há ainda outras ONGs importantes no trabalho com a carnaúba, como o Instituto Sertão, em Fortaleza, o Instituto Carnaúba, em Sobral, o Instituto Sesemar, em Itapipoca, e a Associação Caatinga. Esta é a única ONG que faz parte da CSCPC. O Instituto Sertão integrou a Câmara até o início de 2006. Os três primeiros trabalham com projetos de capacitação de trabalhadores rurais que praticam o extrativismo da carnaúba, e a Associação Caatinga é um dos parceiros na administração da reserva de Serra das Almas, em Crateús, sítio de preservação ecológica com extensos carnaubais nativos (ALVES; COÊLHO, 2007).
PRODUÇÃO DE BRIQUETES DA BAGANA Uma vez alimentada manualmente a máquina de bater palha seca da carnaúba, obtém à extração de pó e a produção da bagana ou palha triturada (CARVALHO, 1976). Esse resíduo vegetal que é produzida abundantemente pela máquina de batição de palha pode ser compactado mecanicamente pelo equipamento briquetadeira, transformando-se num briquete (Figura 196). Este briquete pode ser utilizado como combustível em caldeiras, cerâmicas, fornos de padaria, lareiras e outros.
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Figura 196. Briquetes obtidos a partir da compactação mecânica de resíduos vegetais. Foto do arquivo da Biomax.
Segundo a Biomax (2012), as principais características dos briquetes são: uma tonelada de briquetes equivale aproximadamente 4-5 m3 de lenha; em termos de poder calorífico, os resíduos vegetais podem oscilar entre 3.800 a 4900 kcal/kg; em termo de peso específico, entre 1,10 a 1,20 g/cm³; em termo de peso a granel, entre 650 a 800 kg/m³; e em termo de teor de água; entre 12 a 14%. Esses resíduos vegetais mais utilizados como alternativas energéticas são: Serragem, bagaço de cana, casca de arroz; resíduos de algodão, bagana da carnaubeira, casca de café, casca de coco, resíduos de pinus, casca de amendoim, resíduos madeira de lei, resíduos de eucalipto etc. Para se ter uma idéia comparativa com os resíduos vegetais diversos, a lenha comercial apresenta as seguintes características: 2.200 a 2.500 kcal/kg de poder calórico; 0,60 g/cm³ de peso específico; 350 a 400 kg/m³ de peso a granel; e 25 a 30% de teor de água. Por outro lado, as principais características dos briquetes produzidos na usina são: Alto poder calorífico; maior temperatura de chama (acima de 4.000 kcal/kg de poder calórico, segundo vídeo da fabrica de briquetes com palha triturada de carnaúba em Campo Maior, PI); regularidade térmica; facilidade no manuseio; menor espaço de armazenagem; menor índice de poluição e ecologicamente correto, por diminuir o desmatamento. Uma usina de briquetagem é formada por um conjunto de equipamentos com a função de compactar resíduos de origem vegetal. O equipamento de briquetagem mais simples é constituído de uma briquetadeira e um sistema de alimentação. Para que os resíduos possam passar pelo processo de compactação são necessários que eles estejam com, no
C a p í t u l o I | 208 máximo, 16% de teor de água (base úmida) e granulometria fina (no máximo 15 mm; BIOMAX, 2012). Para a compactação dos resíduos em pedaços de mais ou menos 3 cm de comprimento (JACOB, 2002) e 6% de teor de umidade da bagana da carnaubeira (duas amostras de palhas trituradas de carnaúba foram analisadas no Laboratório de Química da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB), provavelmente sejam necessários passar pelo equipamento picador, visando reduzir o tamanho da bagana para 1,5 cm, antes de efetivar sua compactação na briquetadeira. Devido ao teor de água abaixo de 16% da bagana (em torno de 6%), fica dispensada a aquisição do equipamento secador para a usina de briquetagem (BIOMAX, 2012).
Outra situação poderia ocorrer quando a massa sólida do resíduo é compressível, mas o teor de água superior a 16% impediria a formação do briquete por não conseguir absorver tal compactação. No caso de compactar resíduos sem passar no picador, como cascas e fibras, o comprimento da fibra poderia ser superior a 1,5 cm, mesmo assim se recomenda fazer um teste preliminar com cada material, inclusive com a bagana da carnaubeira (em torno de 3 cm de comprimento). O fornecimento de matéria prima para a briquetagem deve ser de forma mais contínua possível, a fim de evitar sobrecargas ao equipamento. O volume de resíduos fornecido deve ser regulado dentro de valores compatíveis com as dimensões e a capacidade de processamento da briquetadeira (BIOMAX, 2012). O sistema de alimentação mais comumente utilizado é um silo com rosca dosadora. Esta rosca possui velocidade variável que pode ser regulada dentro dos limites desejados. O silo (Figura 197) pode ser aéreo ou subterrâneo:
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Figura 197. Dois tipos de usinas de briquetagem idealizadas pela empresa Biomax: silo aéreo e silo subterrâneo. Foto do arquivo da Biomax.
No esquema de funcionamento da briquetadeira, o resíduo pré-compactado que se encontra na câmara de alimentação é empurrado pelo pistão através de uma matriz cônica, em um movimento contínuo de vai e vem. O resíduo que atravessa a matriz cônica, a cada golpe do pistão, gera um aumento de temperatura devido ao atrito criado pela grande pressão. Esta alta temperatura do resíduo causa a destruição da elasticidade natural das suas fibras, formando um novo produto com características diferentes: o briquete (BIOMAX, 2012). O modelo de briquetadeira B-55/120 é considerado o equipamento mais simples do fabricante Biomax Indústria de Máquinas Ltda, o qual apresenta as seguintes características: produz briquete com 56 mm de diâmetro e com capacidade de produção de briquetes de 280 kg/h, cujo motor de 20 cv aciona a briquetadeira com peso líquido de 2000 kg. O movimento de vai e vem do pistão é realizado por um sistema bielamanivela, acoplado a um volante com elevada energia cinética, o que proporciona um trabalho contínuo e suave de compactação (Figura 198). Existe o modelo B-105/210 exclusivo para resíduos leves como bagaço de cana (90 kg/m³) e resíduos de algodão com peso específico de 120 kg/m³ (provavelmente seja o modelo recomendável para bagana), cujo equipamento possui maior potência e capacidade de produção de briquetes (briquete com 103 mm de diâmetro; capacidade de produção de 700 kg/h; motor de 75 cv; briquetadeira com peso líquido de 8.500 kg; BIOMAX, 2012).
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Figura 198. Esquema de funcionamento da briquetadeira para produção de briquetes a partir de resíduos vegetais. Foto do arquivo da Biomax.
Através do Projeto Caatinga Viva, patrocinado pelo Programa Petrobrás Ambiental em parceria com a ONG Carnaúba Viva, Embrapa, IFRN, Caern e ANEA, recentemente foi instalada no Campus de Ipanguaçu, RN a usina de briquetagem para resíduos vegetais (bagana), que é um tipo de lenha ecológica, fabricada com material orgânico prensado e seco (Figura 199). O seu objetivo é reverter à matriz energética das principais indústrias do Vale do Assú - a lenha que alimenta os fornos das padarias, queijarias e, sobretudo, das fábricas de tijolos de toda a região. As técnicas rudimentares de extração da madeira, aliadas ao crescimento da economia, estão intensificando o ritmo da devastação de um dos biomas mais raros do mundo - a caatinga, que só existe no semiárido nordestino e que, no estado do Rio Grande do Norte, ocupa 48.700 km2 do seu território. Esta usina terá capacidade de produzir 4.680 toneladas do produto, por ano, substituindo o corte de quase 363 mil m3 de lenha, o que evitaria a exploração de 403 ha/ano da vegetação nativa da região. O projeto irá atuar também na educação ambiental para conquistar o homem do campo para a causa da preservação da mata nativa.
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Figura 199. Usina de briquetes para resíduos vegetais no Instituto Federal Tecnológico do RN (IFRN) - Campus de Ipanguaçu, RN. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Além da possibilidade de usar a tarifa verde de energia na usina de briquetagem instalada na zona rural, o biodigestor seria mais uma alternativa de redução da energia consumida para movimentar o motor da briquetadeira, pois tal sistema (biodigestor) é abastecido com qualquer material orgânico (Figura 200). A decomposição desse material gera, entre outros produtos finais, gás metano, que é coletado e armazenado para uso posterior. Ou seja, o biogás é um gás combustível, constituído em média por 60% de metano e 40% de CO2, que é obtido pela degradação biológica anaeróbica dos resíduos orgânicos (esterco de curral), provenientes dos animais criados em confinamento. Este sistema tornar o agricultor independente e sua unidade produtiva sustentável, economicamente viável e ambientalmente correta (CARE BRASIL, 2010).
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A B Figura 200. A- Ciclo evolutivo para produção de biogás e transformação em energia elétrica e B- Biodigestor abastecido com o esterco de curral e urina de animais criados em confinamento. Foto 1 do Arquivo do Globo Rural e foto 2 do arquivo da Care Brasil.
O modelo de biodigestor, do tipo tubular, é anaeróbio. O mesmo pode ter 50 metros de comprimento e quatro de largura, com 250 metros cúbicos de capacidade de armazenamento de líquidos, o suficiente para produzir, pelo menos, 13 metros cúbicos de biogás e seis metros cúbicos de biofertilizante diariamente. Para se ter uma ideia, o biodigestor com capacidade de produzir seis metros cúbicos de biogás diariamente, é suficiente para fazer funcionar um fogão, uma geladeira e ainda ligar um gerador de energia por algumas horas, segundo a Care Brasil (2010).
IMPACTOS NEGATIVOS SOBRE O CARNAUBAL
No sistema de exploração extrativista, a prática de queimadas tem sido usada nos carnaubais no fim da estação seca, visando controlar o aparecimento de arbusto e estimular o crescimento de pasto nativo, destinado a pecuária extensiva, e para o plantio de culturas de subsistência. Essa atividade tem um efeito negativo de degradação ao meio ambiental por comprometer a estrutura física, química e microbiológica dos solos, o que tem provocado a redução do seu teor de matéria orgânica. A queimada como prática de limpeza deve ser evitada por ser prejudicial às carnaubeiras novas, porém não afetando as plantas adultas, em virtude da base do pecíolo (bainha) junto ao seu caule servir de proteção aos sérios danos provocados pelo fogo (Figuras 201 e 202; CARVALHO, 1976; GOMES et al, 2006; D’ALVA, 2007).
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Figura 201. Flagrante da queimada num carnaubal. Foto de Francisco Prancacio Araújo de carvalho.
Figura 202. Carnaubeira adulta oferece resistência ao fogo devido à permanência da bainha no seu caule, estrutura ausente na planta jovem o que facilita sua destruição. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
Por outro lado, a expansão da carcinicultura e da fruticultura irrigada tem devastado os carnaubais, sendo importante o desenvolvimento de programas de produção de mudas de carnaúba e incentivo ao reflorestamento dessas áreas (D’ALVA, 2007). Este fato tem ocasionado uma redução progressiva dos carnaubais nos Vales de Assú e Apodi, estado do Rio Grande do Norte, onde as áreas extrativistas deram lugar às culturas irrigadas
C a p í t u l o I | 214 com maiores rentabilidades (Figura 203). Em meados dos anos 1980, já se comentava que o extrativismo da carnaúba, no estado, era uma atividade em extinção (D’ALVA, 2007). Uma vez cultivada uma área de carnaúba, são necessários 8 anos para iniciar sua exploração, tempo mais que suficiente para outras atividades econômicas atraírem capital e impedirem o desenvolvimento da atividade carnaubeira. Com esse baixo grau de competitividade, a introdução de outras culturas tecnificadas é facilitada em função das mesmas dependerem de pouca mão-de-obra especializada (CRUZ, 1995).
Figura 203. Carnaubeiras destruídas pelo homem para dar lugar à pastagem dos animais. Apodi, RN. Foto Vicente de Paula Queiroga.
Apesar da tamanha devastação de carnaubais no Rio Grande do Norte (Figura 204), atualmente se observam campos com espera do corte por dois e até três anos, (ALVES; COÊLHO, 2008), principalmente devido à redução significativa da atividade agrícola constatada no meio rural pela carência de mão-de-obra.
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Figura 204. Destruição de carnaubal no município de Carnaubais, RN, em 1975. Foto de Anita Queiroz Monteiro.
BIODIESEL DO ÓLEO EXTRAÍDO DAS AMÊNDOAS DE CARNAÚBA
Algumas palmeiras, como babaçu (Orbignya phalerata Mart), dendê (Elais guineensis Jacq.), pupunha (Bactris gasipaes Kunth) e carnaúba (Copernica prunifera (Miller) H. E. Moore), já demonstraram seu potencial econômico como oleaginosas, com potencial para produção de biodiesel (FREITAS, 2000). A carnaúba além de suas diversas utilidades, atualmente, com o advento do biodiesel, vem despertando grande interesse por parte dos produtores rurais nordestinos em manejar seus povoamentos naturais e até mesmo em estabelecer novos plantios com a espécie Copernicia hospita Martius para fins de produção de biodiesel, pois tal palmeira apresenta grande produção de frutos (Figura 205; ALVES; COÊLHO, 2008).
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Figura 205. Planta da espécie Copernicia hospita Martius em estádios de floração e frutificação. Foto de Maria Odete Alves e Jackson Dantas Coêlho.
Colheita dos Frutos Na forma de cacho, o fruto da carnaubeira é uma baga ovóide em torno de dois centímetros de comprimento, glabra, esverdeada passando a roxo-escura ou quase preta na maturação, de epicarpo carnoso, envolvendo um caroço muito duro, provido de albume branco, duro e oleoso, além de uma grande quantidade de carboidratos na polpa (64,32 %) e (63,29 %) na amêndoa (Tabela 19). Do fruto se extrai 8% de óleo e de sua polpa (mesocarpo) se obtém apenas 6,25%. Enquanto o óleo da amêndoa pode ser usado na alimentação humana por possui a seguinte composição: água – 10,55 %, proteína – 6,89 %, sendo que seu teor de óleo pode atingir 14% (BRAGA, 1976).
Tabela 19. Composição físico química relativa às características dos frutos, polpa e amêndoa de carnaúba. Características Teor de água Óleo Matéria extrativa de cor vermelha Substâncias resinosas Fonte: Braga (1976)
Composição Físico Química Frutos (%) 12,85 8,00 5,14
6,17
Características
Composição Química
Teor de água Proteína
Polpa (%) 15,04 5,46
Amêndoa (%) 10,55 6,89
Teor de óleo
6,25
13,65
Carboidratos Celulose Cinzas
64,32 5,81 2,95
63,39 1,55
C a p í t u l o I | 217 A época da colheita nos meses de fevereiro e março coincide com o ponto de maturação dos frutos da carnaúba, sendo o indicativo de maturidade a coloração roxa escura do epicarpo (Figura 206). Dependendo do porte da planta, os frutos poderão ser colhidos da seguinte forma:
Figura 206. Ponto de colheita dos frutos maduros de carnaúba, com indicativo a cor roxa escuro do epicarpo. Foto de Vicente de Paula Queiroga. a) Na espécie Copernicia prunifera, os frutos são colhidos no chão após sua queda natural (Figura 207) e, da planta alta com ajuda de um gancho preso a uma vara.
Figura 207. Colheita manual dos frutos maduros de carnaúba caídos no chão, após sua queda natural ou através do gancho preso na vara. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
C a p í t u l o I | 218 b) Quando se trata da Copernica hospita, palmeira de porte baixo (Figura 208), outras técnicas de colheita podem ser favoráveis, tais como: usando uma escada ou uma empilhadeira, dependendo das condições financeiras do produtor, para revestir o cacho com saco telado, mesmo estando os frutos em estado verde (Figura 209). Este processo é similar ao revestimento com tela aplicado aos cachos de bananeira para evitar o ataque de pragas e insolação. Uma vez maduros esses frutos (março), corta com a foice os cachos revestidos com tela de cada planta.
Figura 208. Porte alto e baixo das respectivas plantas Copernicia prunifera e Copernicia hospita, sendo que esta última espécie se encontra em plena floração. Fotos de Vicente de Paula Queiroga.
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A
B
C D Figura 209. Cobrir os cachos dos frutos, ainda verde (A), de carnaúba com sacos telados (processo similar a proteção efetuada nos cachos da bananeira (B) contra o ataque de pragas e insolação), auxiliado por uma escada de madeira (C), no caso do médio produtor ou usando uma empilhadeira(D) para o grande produtor. Fotos de Dijauma Honório Nogueira (A) e Diego Antonio Nóbrega Queiroga (B, C, D).
Processos de Beneficiamento dos Frutos Uma vez colhidos, os frutos devem ser mergulhados dentro da água para a retirada da polpa que cobre as sementes (CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA, 2009). Após um período de secagem a sombra, a casca (epicarpo) e o mesocarpo (polpa) devem ser removidos pressionando o fruto com uma desimpoladeira ou desempenadeira de madeira contra uma bancada de cimento. A limpeza e classificação dos caroços é operação indispensável para a obtenção do óleo e da torta de boa qualidade (Figura 210).
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Figura 210. Sementes com casca (endocarpo ou caroço) de carnaúba com elevado padrão de qualidade, visando sua comercialização junto às indústrias de biodiesel. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Após o beneficiamento, os caroços de carnaúba são acondicionados em sacos de ráfia e transportados para ser comercializados com as indústrias de produção de biodiesel. Na indústria, esses caroços poderão ser processados numa máquina descascadora de girassol (Figura 211) adaptada pela indústria Scott Tech de Vinhedo, SP para eliminação das cascas, desde que seja ajustada uma abertura no tamanho do caroço de carnaúba entre os dois rolos, os quais efetuam a quebra da casca (endocarpo), passando, em seguida, entre as duas borrachas, sendo uma fixa e a outra móvel para causar atrito, que têm a função de liberar as amêndoas duras de suas respectivas cascas (Figura 212). Por meio de um moinho industrial (Figura 213), é possível triturar as amêndoas duras de carnaúba.
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Figura 211. Descascadora de girassol que pode ser adaptada para obtenção de amêndoas de carnaúba, sendo a máquina fabricada pela Scott Tech de Vinhedo, SP. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Figura 212. As amêndoas (sementes sem casca) de carnaúba usadas como matéria prima na extração de óleo. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 213. Moinho triturador de amêndoas duras de carnaúba. Foto de Vicente de Paula Queiroga.
Extração Química do Óleo A determinação do óleo da torta de carnaúba foi realizada no Laboratório da Embrapa Algodão, por extração em solvente (hexano), em 45,6 g da torta moída, no extrator de Soxhlet, cujo processo conseguiu extrair 4,54 g de óleo, que corresponde a 10,1% de óleo (Figura 214). Para atingir o percentual máximo de óleo da amêndoa, de aproximadamente 14%, a torta moída no triturador teria que ser submetida ao moinho de pedra, o qual permitiria a transformação de grânulos de torta ou farelo em pó (Figura 215). Ou seja, a
eficiência da extração é aumentada pelo contato do solvente (hexano) com as células de óleo, desde que seja preparada uma superfície maior de exposição (pó).
Figura 214. Extração de óleo da torta moída de carnaúba pelo processo químico, utilizando o solvente hexano no extrator de Soxhlet, tendo gerado um co-produto: farinha ou farelo desengordurado de amêndoa (ração animal). Laboratório de Química da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB.
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Figura 215. Farinha ou farelo desengordurado de amêndoas de carnaúba em pequenos grânulos, podendo ser transformados em pó ao ser processado no moinho de pedra. Fotos de Vicente de Paula Queiroga e Diego Antonio Nóbrega.
A extração química de óleos vegetais em maior escala, denominado de extração com solvente, utiliza uma mistura de hidrocarbonetos denominada de "hexano" (fração do petróleo) com ponto de ebulição ao redor de 70ºC que passa pela matéria prima devidamente preparada. Esta passagem do solvente pela matéria prima é denominada "lavagem" e sua eficiência será maior quando o contato com as células de óleo for facilitado pela exposição de uma superfície maior (através da moagem dos grãos). O óleo da matéria prima que está na superfície é retirado por simples dissolução, e o óleo presente no interior de células intactas são removidos por difusão. Assim, a velocidade de extração do óleo decresce com o decurso do processo. Mesmo com a extração por solvente não se tem uma eficiência de 100%, pois o farelo ficará ainda com um teor de 0,5 a 0,6% (em geral 1%) de óleo. A mistura de óleo com solvente é chamada de "miscela" e o equilíbrio no sistema óleo-miscela-solvente é o fator que determina a velocidade de extração. A difusão do solvente será mais rápida quanto melhor for à preparação da matéria prima e quanto maior for à temperatura de extração (próximo à temperatura de ebulição do solvente). A extração não é completa, pois o farelo geralmente apresenta um teor de 0,5 a 2,0% de óleo. Posteriormente é necessário fazer uma nova destilação, para separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006).
Outro método para extração de óleos de amêndoas trituradas de carnaúba pode ser realizado através do sistema de Extração por Arraste de Vapor. A extração desses óleos é feita por destilação. Uma corrente de vapor passa pela matéria prima e arrasta
C a p í t u l o I | 224 com ela o óleo. Quando esse vapor condensa, temos dois líquidos imiscíveis: água e óleo. A Ecirtec dispõe de vários modelos com diversas capacidades de produção (Figura 216).
A B Figura 216. Extração por arraste de vapor dorna: A) equipamento com capacidade de 15 litros e B) equipamento com capacidade de 500 litros. Fotos de Adilson Manzano.
A produção de biodiesel com carnaúba na região semiárida do nordeste do Brasil é relativamente recente. Assim, poucas informações estão disponíveis sobre o comportamento da referida espécie nas áreas produtoras de caroços e em sistemas de produção. Diante da grande demanda do mercado de biodiesel, mesmo havendo diferentes espécies de carnaúba, falta gera mais informações destes quanto ao rendimento de óleo da amêndoa triturada (eliminação da casca antes de tal processo), extraído pelo método químico.
Em geral, nos processos de extração em que se inclui a etapa de extração com solvente, o farelo sai do processo com um teor de óleo inferior a 1%. A torta nestas condições é denominada de torta magra ou farelo, que pode ser destinada para alimentação animal (ração).
C a p í t u l o I | 225 Na Figura 217 encontra-se todas as etapas produtivas do processo completo de extração, incluindo a etapa de extração com solvente.
Figura 217. Processo de extração do óleo vegetal (PARENTE, 2003).
Com relação ao óleo extraído da amêndoa, Carvalho (1982) admite que seja comestível e pode ser usado na alimentação humana. Esse óleo bruto, tanto o obtido por prensagem como o extraído por solvente, são submetidos inicialmente ao processo de refinação,
C a p í t u l o I | 226 visando reduzir o índice de acidez, para o tipo refinado de até 0,5 g/100 g. Ao mesmo tempo, substancias indesejáveis não gliceridicas que acompanham o óleo bruto também são reduzidas durante o refino, tais como: gomas, mucilagens, carboidratos, fosfatídeos, fragmentos protéicos, pigmentos, esteróides e principalmente ácidos graxos livres. Essas substancias escurecem o óleo bruto, dão sabor e aroma fortes e, uma vez aquecido, produzem fumaça, espuma e favorece a oxidação (MANDARINO; ROESSING, 2001), ou seja, o óleo bruto não é recomendado para cozinhar alimentos (aquecido) para o consumo humano.
Como as impurezas variam em sua natureza física ou química, sua eliminação é feita em várias operações. Essas operações de refino do óleo bruto são realizadas em quatro etapas:
Degomado - visa remover do óleo bruto os fosfatídeos, proteínas e substâncias coloidais o que reduz a quantidade de álcali durante a subseqüente neutralização e diminui as perdas na refinação. Essas substâncias são facilmente hidratáveis, sendo removidas através da adição de água (1 - 3%) ao óleo aquecido a 60 – 70º C e agitação durante 20 - 30 minutos, formando precipitados que são facilmente removidos do óleo por centrifugação a 5000-6000 rpm. As gomas removidas que possuem cerca de 50% de umidade podem ser secas em vácuo (100 mm de Hg de pressão) a temperatura de 70 – 80º C. As gomas também podem ser extraídas com 0,1 – 0,4% de ácido fosfórico a 85% misturado com óleo à temperatura de 60 – 65º C, seguido ou não pela adição de terra branqueadora que posteriormente são separadas por filtração ou centrifugação (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Neutralização - é o processo de remoção de ácidos graxos livres e outros componentes (proteínas, ácidos oxidados, produtos de decomposição de glicerídeos), através da adição de solução aquosa de álcalis, como hidróxido de sódio ou carbonato de sódio. A quantidade de solução alcalina necessária para o processo dependerá do teor de ácidos graxos livres no óleo, tempo de mistura, temperatura de neutralização e processo adotado (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Clarificação - é o tratamento que visa tornar o óleo mais claro através do uso de adsorventes, como terras clarificantes, ativadas e naturais, misturadas às vezes com
C a p í t u l o I | 227 carvão ativado. Para aumentar a eficiência dos adsorventes, o óleo neutro e lavado, deve estar seco, à temperatura de 80 – 90º C sob vácuo (30 mm Hg) durante 30 minutos. Após a secagem é adicionada a quantidade apropriada de adsorvente por sucção, com o qual o óleo é agitado à temperatura de 80 – 95º C durante 20 – 30 minutos. O seguinte passo é resfriar a 60 – 70º C e filtrar no filtro prensa. O resíduo que permanece no filtro prensa contém aproximadamente 50% de óleo, a aplicação de ar comprimido reduz esse conteúdo para 30 – 35% (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Desodorização - é a última etapa do refino e objetiva a remoção de sabores e odores indesejáveis. As principais substâncias removidas são: aldeídos, cetonas, ácidos graxos oxidados, produtos de decomposição de proteínas, carotenóides e esteróis, formados durante o armazenamento e processamento; hidrocarbonetos insaturados e ácidos graxos de cadeia curta e média, naturalmente presentes nos óleos; ácidos graxos livres e peróxidos. As condições do processamento de óleos vegetais, 2 – 8 mm Hg e temperatura de 220 – 250º C com insuflação de vapor direto, permite a completa desodorização e eliminação de grande parte dos ácidos graxos livres residuais (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Processo de Refino dos Óleos A refinação ou refinamento do óleo vegetal tem por objetivo preparar esta matéria prima para a obtenção adequada dos ésteres metílicos ou etílicos, os quais deverão constituir o biodiesel. O não refinamento do óleo implica para o biodiesel de carnaúba a presença de cera. Quando o biodiesel de carnaúba resfria, fica endurecido e turvo, provavelmente devido à presença de cera proveniente da amêndoa da carnaúba. Por esse motivo, na extração do óleo é recomendado usar apenas a amêndoa de carnaúba, após o processo de descascamento dos caroços, pois o óleo extraído do seu fruto fica com a consistência de sebo com cor verde (CARVALHO, 1982).
É recomendável eliminar do óleo a sua acidez, as partículas sólidas em suspensão e o residual de água. Este procedimento se mostra na Figura 218.
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Figura 218. Processos de refinação de óleos (PARENTE, 2003).
Os rendimentos do óleo cru por extração de solvente oscilam entre 12 e 13% em base de matéria seca.
Biodiesel da Carnaúba O biodiesel é obtido de fontes renováveis tais como as gorduras vegetais e animal, e de outras fontes. Por ser biodegradável, não tóxico e por possuir baixa concentração de substâncias aromáticas e cancerígenas, recebe o título de “combustível ecológico” (SILVA, 2005). O “combustível ecológico” é produzido através da reação química de um óleo vegetal com metanol ou etanol (álcool de cana) na presença de um catalisador. Este processo é conhecido como transesterificação, sendo que a catálise pode ser alcalina, ácida ou enzimática. Na Figura 219 se encontram, de forma esquemática e resumida, as aplicações dos frutos da carnaúba.
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Figura 219. Fluxograma do processo de transesterificação do óleo de carnaúba. Organograma elaborado por Vicente de Paula Queiroga.
Uma vez produzindo o biodiesel (Figura 218), extraem-se a glicerina empregada para fabricação de sabão. O biodiesel da carnaúba pode ser usado em motores ciclo diesel automotivo (caminhões, tratores, caminhonetes, automóveis, etc.) ou estacionário (geradores de eletricidade, calor, etc.), na sua forma misturada com diesel de petróleo, em até 20% de proporções, não sendo necessária nenhuma modificação nos motores (CACERES, 2002).
Características da Miniusina para Produção de Biodiesel As empresas TECBIO de Fortaleza, CE e Linard de Missão Velha, CE estão fabricando os equipamentos de produção biodiesel para os distintos cultivos agrícolas oleaginosos para atender os programas de produção de biocombustível do Brasil, inclusive também uma unidade de extração de óleos vegetais de tamanho compatível para produção de biodiesel em cooperativas e associações organizadas de agricultura familiar (miniusina).
Um sistema de miniusina para produção de biodiesel é constituído por uma unidade compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de 100 L· h-1.
C a p í t u l o I | 230 Este mini-sistema, o qual tem sido denominado “máquina de biodiesel” é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figuras 220 e 221). Esta miniusina possui as seguintes características: - Dimensões: 7.500 mm (comprimento) x 3.500 mm (largura) x 5.000 mm (altura). - Peso aproximado: 3.500 kg - Esta Unidade é móvel, facilmente transportada por caminhão convencional. - Potencia elétrica: 18 Kw, quando o gerador de calor é elétrico e 3 Kw quando a fonte de calor é outra. - Consumo de água: 2.000 litros por dia - Mão de obra: dois operários (empregado e auxiliar) - Processo manual com varias etapas
Figura 220. Mini equipamento de produção de biodiesel, fabricado pela empresa Tecbio. Fotos de Expedito Parente.
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Figura 221. Planta Piloto Industrial com capacidade de produção de 8.000 litros diários de biodiesel, instalada no campo da Universidade Federal de Piauí, Teresina, PI. Fotos de Expedito Parente.
SUBSTITUTOS NATURAIS E SINTÉTICOS DA CERA
No tocante às ceras substitutas da carnaúba, as mais apontadas pelas empresas estrangeiras foram ceras de polietileno, montana e do farelo de arroz. Por outro lado, considerando-se as indústrias nacionais, as mais citadas foram resinas acrílicas, de brilho mais duráveis e menos escorregadias; parafinas, de menor preço; e cera de abelha (com menor ponto de fusão).
Apesar de terem sido adotadas ao longo do tempo por questões técnicas e financeiras, as ceras substitutas ainda não são consideradas plenamente eficientes para ocupar o lugar da cera de carnaúba. As ceras de candelilla, licuri, cana de açúcar, sisal e retama são ceras de origem vegetal, enquanto a microcristalina e a montana, de origem mineral (BAYMA, 1945; ALVES; COÊLHO, 2008).
Candelilla O aumento das exportações de cera de carnaúba tem sempre uma incerteza associada à oferta do produto, em virtude do setor produtivo ser inteiramente baseado no extrativismo, além da constante devastação de campos de carnaubais para implantação de projetos agropecuários. Com isso, outros produtos têm sido utilizados como substitutos da cera de carnaúba, como é o caso da cera de candelilla (Euphorbia
C a p í t u l o I | 232 antisyphilitica, Zus.), principal cera vegetal exportada pelo México (OLIVEIRA; GOMES, 2006).
A candelilla é um recurso vegetal nativo das zonas áridas e semiárida do norte do México. Como resposta adaptativa às condições ambientais extremas dessas regiões áridas, a planta produz cera que permite conservar a pouca umidade que é captada no período de chuvas e ainda protege do excesso de energia solar (SCORA et al., 1995). Portanto, o nome da planta “candelilla” provém da forma específica das hastes do arbusto, que são compridas, retas, eretas e recobertas de cera, além disso apresentam uma aparência de pequenas velas (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004; Figura 222).
Figura 222. Hastes eretas e compridas da planta arbustiva candelilla e uma amostra de suas hastes cortadas. Fotos do arquivo Instituto de la Candelilla e Ricardo de Jesús Saldívar.
A planta candelilla pertence à família das Euphorbiaceae (espécie Euphorbia antisyphilitica, Zus.), nome comum para uma grande família de plantas com flores, com aspecto parecido aos cactos, mas que são claramente diferenciados pelo látex leitoso que caracteriza a Euphorbiaceae. Há outras espécies de plantas capazes de gerar "cera candelilla", tais como: Pedilanthus pavonis, Bass., Pedilanthus aphyllus e Pedilanthus Boissie. No entanto, estas plantas têm um rendimento mais baixo de cera e os pontos de fusão mais baixos e de menor valor de saponificação em comparação com a cera produzida em plantas do género Euphorbia (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004).
C a p í t u l o I | 233 Essa planta cresce normalmente em áreas de semideserto do clima do norte do México, principalmente em encostas de solo calcário, associados com a formação de material rochoso. Sua raiz é relativamente pequena, embora uma unidade de tamanho moderado possa desenvolver mais de 100 hastes de cor cinzento-verde, com dimensões típicas de 30-60 cm de comprimento e 0,1-1,0 cm de diâmetro, resultando na formação de arbustos com tamanho de cerca de 90 cm de diâmetro (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004). Na estação chuvosa, a planta é repleta de pequenas flores cor de rosa (Figura 223) e suas hastes de candelilla são preenchidas com uma densa seiva, que no período seco as mesmas são revestidas com cera para evitar a evaporação. Mesmo em tempos de seca severa, o mecanismo de proteção de candelilla se revelou eficaz. Por outro lado, sua propagação natural é mais abundante em altitudes de cerca de 800 m. Também é considerada uma planta muito resistente a pragas e doenças, pouco consumida por algumas espécies de animais selvagens (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004).
Figura 223. Planta arbustiva da candelilla com flores de cor rosa no período chuvoso. Fotos do arquivo Instituto de la Candelilla. Normalmente, a planta completa com raiz de candelilla é arrancada manualmente, com auxílio de uma estaca pontiaguda, usada como ferramenta, para facilitar a remoção da unidade. Posteriormente, 20-30 fardos são preparados de candelilla, livre de impurezas (terra, pedras, grama seca, etc), que são transportados usando os animais de carga (normalmente a cada burro pode levar entre 60 e 90 kg de carga), ou camionetas (Figura 224; INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004).
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Figura 224. Transporte de fardos de plantas de candelillas em animais e camionetas. Fotos do arquivo Instituto de la Candelilla.
Para a remoção da cera, a carga de candelilla é colocada em candelila de ferro chamado "pots", e imersa em água acidificada com ácido sulfúrico. Em seguida, esse material é aquecido pelo calor direto até o ponto de ebulição da solução. Por esta técnica, a cera de candelilla fundida flutua na superfície da água, como uma espuma. Essa cera quente espumante é removida do "pan" que significa utensílios com buracos ou "escumadeiras" para ser coletada em tanques de aço, baldes, furos cônicos no chão ou em moldes de barro, que são colocados ao nível do solo (Figura 225). Em qualquer destes vasos, a espuma quente (cera) é decantada a partir de um licor branco, que precipita no fundo do recipiente e é subsequentemente reciclados para "pan" extração. Na parte intermédia do recipiente, imediatamente acima da fase aquosa, formando uma camada fina de creme amarelo se constitui a cera candelilla, que é conhecido pelo nome de "cerote". Na parte superior do recipiente é formada uma terceira camada, a qual consiste de uma pasta formada por bolhas de cinzas, que são as impurezas sólidas (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004).
Figura 225. Método rudimentar de remoção da cera de candelilla. Fotos do arquivo Instituto de la Candelilla.
C a p í t u l o I | 235 O cerote é deixado para arrefecer até solidificar a temperatura ambiente. A cera endurecida é quebrada em pedaços por golpes de martelo. Essa cera adquire a cor marrom amarelada, dura e quebradiça (Figura 226). Para refinar a cera, recomenda-se quebrá-la em pedaços, derretê-la e filtrá-la através de terra Fuller (carvão ativado), ou pode incluir um branqueamento realizado com peróxido de hidrogênio. Por ser mais mole que a cera de carnaúba, uma empresa mexicana consegui produzir a cera híbrida visando reunir o melhor das duas ceras de candelilla e carnaúba: a emoliência, proteção contra umidade e baixo coeficiente de expansão/contração da cera candelilla e o brilho, dureza e facilidade de emulsificação da cera de carnaúba (MULTICERAS, 2007). Segundo Carvalho (1982) admite que seu rendimento em cera é de 1,2-1,5% do peso da planta verde.
Figura 226. Cor marrom amarelada da cera candelilla. Foto do arquivo Instituto de la Candelilla. A candelilla tem grande diversidade de aplicações em mais de 20 diferentes indústrias em todo o mundo, principalmente na União Européia, USA e Japão. As suas propriedades específicas atribuídas à qualidade de materiais essenciais para a fabricação de cosméticos, tintas, colas, emulsionantes, pomadas e produtos farmacêuticos (INSTITUTO DE LA CANDELILLA, 2004).
Licuri A espécie de licuri, Syagrus coronata (Mart) Becc., tem uma nítida preferência pelas regiões secas e áridas das caatingas, com uma área de distribuição que abrange do norte de Minas Gerais, ocupando toda a porção oriental e central da Bahia, até o sul de Pernambuco, incluindo os Estados de Sergipe e Alagoas. No entanto, essa cultura ainda é explorada de forma extrativista (NOBLICK, 1986).
C a p í t u l o I | 236 É uma palmeira da família Arecaceae com 6 a 10 m de altura e 20 cm de diâmetro de tronco (Figura 227). Os frutos são tipo drupa e levam cerca de dois meses para amadurecerem, quando se apresentam de coloração amarelada. Na região de ocorrência da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari; Figura 228) uma única palmeira produz, em média, 320 frutos por ano, apresentando picos de frutificação nos meses de janeiro e fevereiro e menor produtividade entre os meses de maio e agosto (RAMALHO, 2008).
Figura 227. Palmeiras de licuri (Syagrus coronata (Mart) Becc.). Foto de Antônio Eduardo.
Figura 228. A sobrevivência da arara-azul-de-lear depende dos frutos do licuri. Foto do arquivo da Biodiversitas. Bayma (1958) afirma que a cera do licuri era extraída por processo primitivo mais do que o da carnaúba. Ao rasparem-se as folhas nas quais está aderido o pó cerífero, não só uma parte da clorofila respectiva como outras impurezas de origem orgânica eram incorporadas a esse pó com que se fazia, em seguida, a cera fundida. Este método rudimentar de extração da cera contribuía demasiadamente na desvalorização do
C a p í t u l o I | 237 produto pelo mercado consumidor. Atualmente, não há registro de pesquisa direcionada à cera do licuri, pois os estudos agora estão mais voltados para os frutos e sua utilidade como alimento, inclusive suas palhas são aproveitadas no artesanato.
Vale frisar também que o licurizeiro produz cera similar a de carnaúba, seja por caracteres organoléticos, seja pelas constantes físico-químicas e pela composição, contando com ponto de fusão semelhante ao da cera de carnaúba. A cor é muito semelhante a da cera gordurosa como também a sua textura (ALVES; COÊLHO, 2008). De acordo com Ramalho (2008), a cera extraída das folhas era utilizada na fabricação de papel carbono, graxa para sapatos, móveis e na pintura de automóveis.
Cana de Açúcar A cana de açúcar também produz cera, na forma de uma substância branca e pulverulenta que se adere a parte externa dos colmos, principalmente próximo aos nós da Sacacharum sp. É uma cera dura, amarelada, com massa específica de 0,961 kg/dm3 e ponto de fusão de 82ºC. No entanto, a concentração da cera na planta é baixa (um quilo por tonelada de colmos) e não existe processo prático e econômico de extrair essa cera (BAYMA, 1958).
Um subproduto da indústria sucroalcooleira, a torta de filtro, atualmente descartada ou utilizada como fertilizante, pode dar origem a uma cera com propriedades químicas e físicas próximas às das ceras comerciais de carnaúba e abelha. Segundo a pesquisadora da Unicamp, a cera obtida a partir da cana de açúcar pode vir a ser uma alternativa à cera de carnaúba, com potencial de aplicações nas áreas alimentícia, farmacêutica, cosméticos e de limpeza (ALVES; COÊLHO, 2008).
Por se encontrar na superfície do colmo formando uma película (Figura 229), essa cera protege a planta contra desidratação e do ataque de microoganismos e insetos. Uma vez feito o processo de esmagamento ou moagem, o caldo extraído é destinado para a produção de açúcar ou álcool, gerando entre alguns subprodutos a torta de filtro. Para separar a cera dos outros materiais é usado um solvente, similar ao processo utilizado para purificar o produto. A pesquisadora da Unicamp admite que, para cada tonelada de cana, são gerados 30 kg de torta de filtro, cujo rendimento de cera purificada varia de 2 a 4% (PESQUISA..., 2003).
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Figura 229. Cera de cor branca próximo aos nós dos colmos da planta de cana de açúcar. Foto de Diego Antonio Nóbrega Queiroga.
Cera de Sisal No ano de 1945, houve um grande entusiasmo no México de que a carnaúba não teria possibilidade de concorrer com a cera dura do agave, tendo seu processamento industrial sido sugerido na época ao governo mexicano. Além da cor, essa cera é bastante semelhante na composição físico-química a da carnaubeira (BAYMA, 1958).
A principal operação pós-colheita é o desfibramento do sisal (Figura 230), processo pelo qual se elimina a polpa das fibras, mediante uma raspagem mecânica, o que torna esta prática complexa e de alto custo. Ao mesmo tempo, origina-se um subproduto denominado de bagaço ou resíduo (Figura 231), que constitui, em média, de 15% de mucilagem ou polpa (formado pela cutícula e por tecido palissádico e parenquimatoso), 1% de fibra curta (bucha) e 81% de suco ou seiva clorofilada (HARRISON, 1984). Devido à baixa concentração de cera existente nesse volumoso ainda não existe um processo prático e econômico para sua extração (BAYMA, 1958).
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Figura 230. Máquina de desfibramento de folhas de sisal. Foto de Sérgio Cobel.
Figura 231. Bagaço do sisal após desfibramento das folhas. Foto de Flávio Tôrres de Moura. Cera de Retama A retama é uma planta originada da Espanha, mas que ocorre com bastante abundância em certas zonas da Argentina, Paraguai e Peru. Trata-se de um arbusto com tronco ramificado desde o solo, que atinge de 2 a 4 m de altura, com poucas folhas pequenas e flores amarelas (Figura 232; BAYMA, 1958).
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Figura 232. Arbusto de retama (Bulnesia retama). Foto de Rodolfo Tafur Zevallos. A poda para remoção das hastes se realiza aproximadamente a cada 7 anos nas áreas mais favoráveis. Enquanto a produtividade é de 30 kg de ramas secas por individuo/ano, estimando-se uma produção de 1 tonelada de ramas secas/ha/ano. Seu rendimento de cera pura oscila, segundo o procedimento empregado para extrair a cera sobre a superfície das hastes, entre uns 2% a 5% por tonelada de ramagem seca (BAYMA, 1958). Estes valores podem diminuir em função da planta ter sofrido algum estresse hídrico.
Microcristalina A cera microcristalina é obtida do craqueamento (quebra) da nafta; como o próprio nome sugere, é oriunda de cristais pequenos, identificados como ”cera amorfa”(sem forma definida). Sua estrutura molecular consiste de uma mistura complexa de hidrocarbonetos que incluem parafinas normais, ramificadas, compostos monocíclicos e tem excelentes propriedades termoplásticas e de repelência à água (MEGH CERAS E EMULSÕES, 2007). Entre as ceras minerais, talvez seja a que mais concorre com a de carnaúba em termos de aplicações, pois está presente na composição de polidores de pisos e automóveis, produtos de limpeza, cosméticos e farmacêuticos (fio dental) (ALVES; COÊLHO, 2008).
C a p í t u l o I | 241 Cera de Montana A cera de montana é uma cera betuminosa, extraída da linhita (éster fóssil obtido do carvão), por solvente. As reservas desse mineral no planeta existem nas Montanhas Rochosas dos USA e Alemanha (DÀLVA, 2004). Possui uma aparência de cor marrom ou preto sólido (Figura 233), sendo seu ponto de fusão de 75-87ºC, o que a torna fácil de emulsificação. Além disso, possui uma característica de ser altamente brilhante, alta resistência mecânica e facilmente solúvel em muitos solventes orgânicos.
Figura 233. Cera de montana de aparência de cor marrom ou preto sólido. Foto do arquivo de Alibaba.
Substitutos Sintéticos Importante se faz diferenciar ceras sintéticas de ceras minerais. D`Alva (2004) esclarece que as ceras sintéticas são produzidas a partir da síntese industrial de polímeros, como polietileno e polipropileno. Segundo Johnson (1970), as ceras sintéticas teriam três vantagens sobre as ceras naturais: a) - Preço razoável; -b) Ausência completa de impureza; e c) – A composição e as qualidades podem ser variadas para se adaptarem à fórmula específica para a qual foi destinada. Entretanto, a cera de carnaúba jamais cairia em desuso pelo fato de possui um amplo leque de aplicações, em cuja totalidade não poderia ser substituída pelas ceras sintéticas (ALVES; COÊLHO, 2008).
Cera de Abelhas De origem animal, a cera de abelhas tem uma aplicação bastante diversificada, devido às propriedades emolientes, amaciantes, moldantes e impermeabilizantes (Figura 234).
C a p í t u l o I | 242 O produto é largamente utilizado pelas indústrias de cosméticos, farmacêutica e odontológica. Essa cera é usada também na fabricação de chocolates, tintas, velas, lentes telescópicas, mobiliário, material de depilação e moldes (COUTO; COUTO, 2002).
Figura 234. Cera branca ou pré-beneficiada e bruta de abelhas. Foto de José de Anchieta Moura.
ALGUMAS ENTIDADES RELACIONADAS DIRETA E INDIRETAMENTE À CARNAÚBA DO ESTADO DO CEARÁ E RIO GRANDE DO NORTE Sindicato das Indústrias Refinadoras de Cera de Carnaúba do Estado do Ceará – SINDICARNAÚBA (85) 3261 9145 sindicarnauba.org.br Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC (85) 3421.5492 fiec.org.br
CVC - Cera Vegetal do Ceará Ltda (85) 3293 1515 ceraflorcvc.com.br
C a p í t u l o I | 243 Rodolfo G. Moraes & Cia Ltda (85) 3213 3000 roguimo.com.br FONCEPI – Comercial e Exportadora Ltda (85) 3274 3334 (86) 8831 4852 foncepi.com.br
Pontes Indústria de Cera Ltda (85) 3288 7100 (86) 3323 7863 pontes.ind.br
CERAPELES Ltda (85) 3285 1900 cerapeles.com.br
Carnaúba do Brasil Ltda (85) 3264 7111 (88) 3667 1414 carnaubadobrasil.com
Natural Wax Indústria de Cera Ltda (85) 3215 3090 naturalwax.com.br
Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará - FAEC (85) 3535-8000 faec.org.br
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará - FETRAECE (85) 3231 588 fetraece.org.br
C a p í t u l o I | 244 Instituto Sertão (85) 3253 2422 sertão.org.br
Associação Caatinga (85) 3241 0759 acaatinga.org.br
Instituto Carnaúba (88) 3611 8124 carnauba.org.br
Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará - SEFAZ (85) 3101 4917 sefaz.ce.gov.br
Secretaria do Desenvolvimento Agrário - SDA (85) 3101 8063 (85) 3101 8064 sda.ce.gov.br
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior - SECITECE (85) 3101 6443 sct.ce.gov.br
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (88) 3112 7400 cnpat.embrapa.br
Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Ceará - SEBRAE/CE (85) 3255 6822 ce.sebrae.com.br
Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará - ADECE (85) 3244 7925 adece.ce.gov.br
C a p í t u l o I | 245 Universidade Federal do Ceará - UFC (85) 3366 9971 ufc.br
Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará - NUTEC (85) 3101 2897 nutec.ce.gov.br
Banco do Brasil (85) 3266 7858 bb.com.br
Banco do Nordeste (85) 3299 3034 bnb.gov.br
Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC (85) 3066 7016 centec.org.br
Carnaúba Viva – Organização Potiguar de Arte, Cultura, Desporto e Meio Ambiente. (84) 3331 3881 carnaubaviva.org.br
Empresa Metalcone Fabricate de caldeiras geradoras de vapor, máquinas e equipamentos para indústria de extração e refino de cera de carnaúba. (85) 3237-5555 metalcone.com.br
C a p í t u l o I | 246 O que é Câmara Setorial? Câmara Setorial é um instrumento de integração dos elos de uma Cadeia Produtiva, de caráter consultivo, composto por representantes de uma cadeia produtiva, como as lideranças dos produtores, dos industriais, dos fornecedores de serviços, de insumos, de máquinas e de equipamentos, além das entidades vinculadas ao governo, e outras organizações com atuação no setor. Finalidades da Câmara Setorial - Integrar os agentes públicos e privados, para implantação e acompanhamento de projetos prioritários, de interesse comum. - Identificar os gargalos impeditivos e as propostas de soluções ao desenvolvimento da cadeia produtiva. - Induzir a organização dos elos faltantes. - Facilitar os mecanismos de governança da cadeia produtiva. Instituições que Compõem a Câmara Setorial da Carnaúba do Estado do Ceará 1) Sindicato das Indústrias Refinadoras de Cera de Carnaúba do Estado do Ceará SINDICARNAÚBA 2) Sindicato dos Produtores de Cera de Carnaúba do Ceará – SINCARNAÚBA 3) Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC 4) Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará - FAEC 5) Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará - FETRAECE 6) Instituto Sertão 7) Associação Caatinga 8) Instituto Carnaúba 9) Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará - SEFAZ 10) Secretaria do Desenvolvimento Agrário - SDA
C a p í t u l o I | 247 11) Secretaria da Ciência,Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará SECITECE 12) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA 13) Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará - SEBRAE-CE 14) Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará - ADECE 15) Universidade Federal do Ceará - UFC 16) Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará - NUTEC 17) Banco do Brasil - BB 18) Banco do Nordeste do Brasil – BNB
PLANOS DE AÇÕES A SEREM DESENVOLVIDAS NO PROJETO DE CARNAÚBA
Capacitação e Organização de Técnicos e Produtores •
Capacitar e/ou reciclar técnicos da EMATERCE nas áreas produtoras, para conhecimento das novas tecnologias e repassá-las aos produtores;
•
Capacitar os produtores rurais, com a introdução de novas tecnologias;
•
Organizar e/ou reorganizar os produtores de pó de carnaúba em grupos formais como:
Cooperativas,
Associações
Comunitárias
e
outras
formas
de
agrupamento, visando agir como uma entidade integradora. Fazer o cadastramento de produtores e rendeiros de carnaubais nas regiões produtoras do Estado, bem como dos vareiros existentes nessas áreas.
Identificação das Áreas Produtoras •
Fazer levantamento, juntamente com a Ematers e outras instituições, das áreas com carnaubais que estão sendo explorados e/ou com potencial;
•
Identificar tipos de solos onde a exploração da cultura da carnaúba é representativa;
C a p í t u l o I | 248 •
Coletar dados sobre a temperatura e a umidade relativa do ar nos locais de produção.
Colheita e Secagem das Folhas •
Capacitar os vareiros (tirador de folhas), quanto ao corte das folhas, separandoas em "folhas verdes" e "folhas do olho";
•
Comparar os diversos tipos de secadores solares, observando os seus rendimentos, visando uma maior eficiência na obtenção do pó cerífero;
•
Verificar a viabilidade da instalação de secadores solar.
Na atividade de secagem das folhas, o uso de "secador solar/estufa" tem sido considerado de alta eficiência e de baixo custo. O secador solar é uma estufa proposta pela PVP – Sociedade Anônima, do Piauí, para promover a secagem das folhas da carnaúba. Não requer um só motor ou equipamento de qualquer natureza e seca a palha aumentando o rendimento e qualidade do pó e da cera em até 42%.
Retirada do Pó Cerífero •
Estudar novas metodologias de obtenção do pó cerífero, através da comparação dos métodos atualmente utilizados com os indicados pela PVP – S.A, principalmente com uso de máquinas mais modernas, de menor custo e mais eficientes;
•
Analisar a qualidade do pó e classificá-lo no laboratório da SEAGRI.
Produção de Cera de Origem •
Verificar os equipamentos e materiais necessários para este processo, com vistas à utilização de tecnologias mais apropriadas;
•
Formar parcerias, objetivando melhorias na obtenção do produto;
•
Analisar a qualidade da cera e classificá-la no laboratório da SEAGRI.
Recursos para Financiamento •
Utilização de recursos do PRONAF, que poderá apoiar na indução de novas tecnologias no que se refere ao corte das folhas, secagem e retirada do pó, como
C a p í t u l o I | 249 também na instalação de agroindústria de produção da cera de origem, atendendo a agricultura familiar; •
Rever a utilização do mecanismo de financiamento do Governo Federal em parceria com a CONAB, como o EGF e AGF para a entidade integradora, beneficiando ao produtor do pó e da cera de origem;
•
Promover discussões quanto aos preços Preços Mínimas para o pó cerífero e para as ceras branca e gorda.
Produção de Material Técnico e Elaboração de Relatório •
Elaboração de Informativo Técnico direcionado aos profissionais responsáveis pela orientação técnica aos produtores/ rendeiros;
•
Elaboração de Cartilha de Orientação Técnica, dirigida ao produtor/rendeiro, mostrando as novas tecnologias sobre plantio da nova espécie Copernicia hospita, colheita da palha de carnaúba e beneficiamento do pó, melhoramento na qualidade da cera, produtos fitoterápicos e outros.
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