Argan (Argania spinosa): Produção de óleo nobre e valioso no semiárido

Page 1

ARGAN (Argania spinosa) PRODUÇÃO DE ÓLEO NOBRE E VALIOSO NO SEMIÁRIDO

VICENTE DE PAULA QUEIROGA

Editor Técnico


ARGAN (ARGANIA SPINOSA) PRODUÇÃO DE ÓLEO NOBRE E VALIOSO NO SEMIÁRIDO

1ª edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA ORGANIZADORES

ARGAN (ARGANIA SPINOSA) PRODUÇÃO DE ÓLEO NOBRE E VALIOSO NO SEMIÁRIDO

1ª EDIÇÃO

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2019


©Copyright 2019 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA

Capa FLÁVIO TORRÊS DE MOURA (Fotos: Disponíveis na Internet de vários autores mexicanos) Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 08-01-2019 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3g

Queiroga, Vicente de Paula. Argan (Arganis spinosa): Produção de óleo nobre e valioso no semiárido. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga. – Campina Grande: AREPB, 2019. 200 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-32-6 1. Argania spinosa. 2. Sistema de produção. 3.Óleo. 4. Frutos. 5. Amendoas. 6. Argan de Marrocos. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Título. CDU 633.9

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


AUTOR

Vicente de Paula Queiroga Pós-Doutor pela Universidad Politécnica de Madrid, Doutor em Tecnologia de Sementes pela Universidad Politécnica de Madrid, Mestrado em Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal do Ceará, Graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, Pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão). Linha atual de pesquisa: tecnologia de sementes, armazenamento, qualidade fisiológica, beneficiamento e sistema de produção.


APRESENTAÇÃO

O argan (Argania spinosa) é uma árvore fundamental da cultura berbere e endêmica do sudoeste de Marrocos (na planície de Souss), onde existem aproximadamente 21 milhões de árvores cobrindo quase 800 mil hectares. A importância do argan reside no seu papel vital de evitar a desertificação da área ocupada pelo bosque de árvores (média de 30 plantas por ha) porque, devido às suas raízes fortes, a árvore ajuda a reter a terra e ajuda a combater a erosão da água e do vento. Além disso, é considerada uma árvore que cresce de forma selvagem e espontânea e chega a alcançar entre 8 e 10 m de altura. Pode viver até 250 anos e a sua constituição está preparada para resistir à seca absoluta. Por ser uma espécie rara, a “Floresta de Argan” foi declarada uma Reserva Internacional pela UNESCO em 1999. Trata-se também da famosa árvore que fica lotada de cabras equilibristas da qual se obtém um óleo muito valioso, com tantas propriedades medicinais para as tradicionais populações locais do deserto e cosméticas, que tem recebido a denominação de “ouro líquido de Marrocos”. O óleo é extraído das amêndoas dos frutos maduros coletados e cada fruto alcança um peso médio de uns 20 gramas. São fontes de alimento para o animal: a polpa, os frutos e as folhas, sendo a casca dura (endocarpo), após extração das amêndoas, usada na fornalha industrial ou na cozinha doméstica. Ou seja, é uma árvore multiuso porque a sua madeira é aproveitada na carpintaria e sua florada favorece a apicultura. Esta obra é uma referência obrigatória para quem está interessado em conhecer o tema de sua exploração ecologicamente extrativista no Marrocos, principalmente para o produtor brasileiro que pretenda introduzir o argan no país (semente de argan já está sendo comercializada no mercado livre virtual). Portanto, a finalidade deste livro é servir como parâmetro, para a região semiárida brasileira e de acordo com a realidade local, adequada para o melhor estabelecimento do argan, de modo a obter maiores ganhos de produção de frutos para extração de seu óleo nobre com alto valor de mercado e superior em valor ao óleo de oliva.

Vicente de Paula Queiroga


SUMÁRIO

ARGAN (Arganis spinosa): PRODUÇÃO DE ÓLEO NOBRE E VALIOSO NO SEMIÁRIDO - Vicente de Paula Queiroga ..............................................................................10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................186


C a p í t u l o I | 10

Capítulo I

ARGAN (Arganis spinosa) PRODUÇÃO DE ÓLEO NOBRE E VALIOSO NO SEMIÁRIDO (Autor) Vicente de Paula Queiroga


C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O argan, Argania spinosa (L) Skeels, pertencente à família Sapotaceae, é uma árvore fundamental da cultura berbere e norte africana, endêmica de Marrocos e da qual são obtidas umas amêndoas com um óleo muito valioso por suas propriedades medicinais, cosméticas e nutricionais. O óleo de argan possui uma grande porcentagem de ácido linoleico e oleico, o que o torna mais benéfico desde o ponto de vista nutricional (PRENDERGAST; WALKER, 1992). Devido aos múltiplos usos desse óleo e na resistência dessa planta a estiagem, o argan é um bom candidato para se adaptar as condições edafoclimáticas do semiárido brasileiro, visando a produção de óleo pelos agricultores familiares envolvidos nos programas de associações organizadas. A área geográfica de cultivo de argan foi declarada em 1998 pela UNESCO como “Reserva da Biosfera”. Nos últimos anos, foram realizados estudos para estender seu cultivo a outras regiões de Marrocos, a outros países fronteiriços como Argélia, Portugal (Ilha da Madeira) e Espanha (região de Andaluzia e Ilhas Canárias) ou outros países distantes como México, Israel, Austrália, Chile e, provavelmente, o Brasil, pois no mercado livre virtual brasileiro as sementes de argan já estão sendo comercializadas, apesar de que pode ocorrer perda de sua germinação, após seis meses da colheita dos frutos, quando os caroços não são armazenados adequadamente. É uma espécie com uma extraordinária tradição etnobotânica entre os povos berberes do sudoeste de Marrocos (CHARROUF; GUILLAUME, 1999), mas especialmente apreciado é o óleo, o qual é muito consumido na dieta habitual da etnia berbere (também apelidado de Imazighen ou Amazigh), sendo o óleo extraído artesanalmente da amêndoa do fruto tipo drupa (refere-se à presença de um caroço). A maior parte da produção de óleo é consumida no referido país, devido as suas propriedades organoléticas, características apreciadas pelo seu sabor suave e aromático, como algo de avelã e amêndoa tostada (Em Marrocos a extração artesanal sofre aquecimento). Sua coloração pode oscilar desde dourado a vermelho escuro. Nos últimos 20 anos, esse típico óleo de argan era considerado apenas um produto exótico adquirido pelos turistas. Em pouco tempo seu valor de mercado tem sido mudado de forma radical e, atualmente, vem adquirindo considerável interesse gastronômico, nutricional e terapêutico em outros países, sendo considerado o “ouro do deserto”, sem se esquecer da grande expansão comercial no setor de cosmética, convertendo-se a escala


C a p í t u l o I | 12 mundial, no “produto revelação” dos últimos 10 anos. (GUILLAUME; CHARROUF, 2011). Atualmente, a produção tem sido incrementada significativamente em razão da mecanização parcial do processo de extração do óleo de argan, tendo como efeito uma elevação na qualidade do produto final. Os principais países exportadores são: França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Bélgica, Estados Unidos e Japão, entre outros (ROBLES, 2015). Do ponto de vista nutricional, é importante destacar que o óleo de argan destinado à alimentação é um óleo virgem, que não foi submetido a nenhum processo de refinado prévio a seu consumo. Portanto, tem mais valor comercial quando se mantém intacto sua fração insaponificável, pois é sabido que o processo de refinado dos óleos diminui radicalmente seu teor em antioxidante, em até 60-80% (DIAS, 2015; ROBLES, 2015).

IMPORTÂNCIA DO ARGAN: SISTEMA MULTIFUNCIONAL Em princípio, Argania spinosa deu origem a formações florestais fechadas que o homem foi reduzindo desde os primeiros tempos. De acordo com M'Hirit et al (1989), atualmente existem duas principais fisionomias. O primeiro corresponde a áreas puramente florestais de alta densidade, onde os arganias de tamanho médio são intercalados com formas arbustivas de espécies diferentes. A outra estrutura de floresta de argan corresponde à forma deformada onde os pés de grande tamanho dominam um sistema de baixa densidade sob os quais outros usos são combinados, como agricultura ou pecuária. O sistema de argan é chamado arganaire, pelo seu nome francês. É um sistema agrossilvipastoril cuja forma fundamental é a floresta alta, embora em alguns casos funcione com rebrotes que, em geral, não são muito vigorosos. Essas estruturas são encontradas nas grandes planícies agrícolas localizadas entre as cadeias de montanhas e a costa do Atlântico, como Souss, Haha ou Chiadma. Os bosques representam um sistema multifuncional onde os diferentes usos e usos são equilibrados. Sua origem é muito semelhante à do bosque vegetal espanhol, o qual é resultado de centenas de anos de rotação de gado, agricultura e queimas. Em Marrocos, o bosque de argan tem cerca de 30 pés por hectare, dispersos e de grandes caules, sob as quais se alternam cultivos consorciados, principalmente cereais, embora em alguns casos, o


C a p í t u l o I | 13 aproveitamento de poços de água permitiu o surgimento de pequenas parcelas hortícolas dentro desse bosque. Portanto, da árvore de argan tudo se aproveita (Figura 1). É importante destacar que se esse ecossistema é conhecido por alguma coisa, além de suas fronteiras, é por causa da imagem das cabras nos galhos da árvore de argan, as quais ficam a vários metros acima do solo, onde as mesmas pastam suas folhas e comem seus frutos (Figura 2). A madeira, ainda que de baixa qualidade, é extremamente dura, mesmo assim a população local a utiliza em diversos instrumentos. Apesar de tudo, o produto que oferece maior valor de agregação ao argan é o óleo extraído das amêndoas que estão alojadas no interior do caroço (Figuras 3 e 4).

Figura 1. Multifuncionalidade do bosque de argan (Argania spinosa).


C a p í t u l o I | 14

Figura 2. A imagem das cabras escalando árvores de argan para comer suas frutas e folhas foi o que mais marcou mundialmente. Foto: Elizabeth Preston.

Figura3. Detalhe do óleo extraído das amêndoas contidas nos caroços de argan.


C a p í t u l o I | 15

Figura 4. Detalhes dos frutos, polpa, caroço (ou endocarpo) e amêndoas de argan.

O óleo de argan contém altos níveis de ácidos graxos, incluindo o ácido linoléico (Ômega6), que contribui em melhorar a pele e mantê-la sempre saudável (PRAT; RAMOS, 2010). Esses ácidos graxos também são excelentes para peles secas e com perda de elasticidade, retardando o efeito de envelhecimento da pele (rugas). O eficiente poder de acelerar a regeneração de células da pele faz do óleo de argan (Argania spinosa) o principal ingrediente da indústria cosmética (MOUKAL, 2004), desenvolvendo a seguinte linha de produtos: hidratante corporal, esfoliantes, cremes para os pés, xampus, condicionadores etc (Figura 5). Além do setor de cosmética, o óleo é utilizado para cozinhar na cultura berbere (Figura 6). Tratar-se de um excelente óleo no processo de fritura devido seu alto teor em ômega 9 e apresenta estabilidade às altas temperaturas. É um bom substituto do aceite de oliva, com o dobre de vitamina “E”. Sabor parecido à avelã, com aroma que recorda ao sabor tostado.


C a p í t u l o I | 16

Figura 5. Linha de cosméticos à base de óleo de argan (Argania spinosa) como: condicionador, xampu, creme hidratante, lenços de limpeza facial, etc.


C a p í t u l o I | 17

Figura 6. Óleo de argan engarrafado usado na alimentação. Foto: martafernandezz.com

A árvore de argan é uma planta medicinal importante e é vastamente utilizada na medicina tradicional dos marroquinos. Os frutos de argan são comidos crus no sudoeste de Marrocos. O outro elemento que forma o bosque de arganaire é o gado, principalmente ovelhas e cabras. Durante a estação seca, e nos anos mais difíceis da seca, o gado, que habitualmente se alimenta dos matagais pré-saarianos, é remanejado para o norte de Marrocos em busca do argan, objetivando assim aproveitar as folhas e os frutos. O valor de forragem de argan é de 80 U.F. (Unidade Forrageira), isto é, os 100 kg de polpa de argan são iguais a 80 kg de cevada. A torta resultante da extração do óleo pode ser utilizada na alimentação do gado, por ser rica em glucídios, proteínas e saponinas com


C a p í t u l o I | 18 alto valor energético. Enquanto a planta é usada em pastoreio pelas cabras que comem os frutos encima da árvore e excretam os caroços nos excrementos (Figura 7). Os caroços obtidos das cabras não são aptos para elaborar óleo cosmético e nem alimentício, porque conservam o odor dos sucos gástricos do animal (PRAT; RAMOS, 2010).

Figura 7. Cabras se alimentando de folhas e frutos da árvore de argan.

ORIGEM, PROCEDÊNCIA E HISTÓRIA DO ARGAN

O nome da árvore do argan (argane em francês) deriva da palavra "Serg", que significa na língua da tribo marroquina Aït Bouzemmour "feito de madeira", palavra que deu origem à denominação "erg" e mais tarde "ergen" e, finalmente, “argan”. Portanto, argan significa árvore de madeira pesada ou árvore de madeira de ferro (bois de fer). No dialeto berbere se denomina ardján. Em algumas regiões de Essaouira, os habitantes mais velhos ainda chamam a árvore de ardján ou herdjân e não argan (PRAT; RAMOS, 2010).

O óleo de argan é um antigo segredo que nasceu no norte da África e migrou, ao longo do tempo, para todo o mundo. É extraído da árvore Argania spinosa, que é encontrada no


C a p í t u l o I | 19 sudoeste de Marrocos. É originada da era terciária, cresce em bosques de clima muito árido e com temperaturas ambientais muito altas (PRAT; RAMOS, 2010). As primeiras referências escritas ao seu uso remontam ao século XIII a.C. como uma das principais características da cultura pertencente a um conjunto de etnias autóctones do norte da África. Os fenícios já utilizavam o óleo de argan e os mesmos consideravam um unguento de beleza imprescindível para evitar a secura cutânea e retardar o envelhecimento. Na época fenícia se utilizava, sobretudo nas regiões predesérticas de Marrocos (PRAT; RAMOS, 2010). Desde então, as mulheres berberes têm passado de geração em geração as técnicas tradicionais para produzir o óleo de argan, e têm aplicado para o uso tradicional de cuidados para a pele e o cabelo.

Para conseguir o óleo, sua produção é manual. As próprias mulheres berberes recolhem os frutos da árvore e depois os secam ao sol para extrair o caroço. O seguinte passo que fazem é quebrar esse caroço ou endocarpo para extrair algumas amêndoas que, ao batêlos de maneira manual com ajuda de uma pedra, liberam o óleo precioso que é vendido como uma pasta ou creme.

A árvore de argan (Argania spinosa) é endêmica de Marrocos que compreendem o triângulo formado pelas populações de: Marrakech, Essaouira, Tamanar, Tiznit, Sidi Ifni e Taroudant. Essa rota é conhecida como a rota de argan ou a rota do ouro. Atualmente, os bosques de argan ocupam aproximadamente 800.000hectares no sudoeste de Marrocos e se encontram colônias isoladas de argan ao sudoeste de Argélia, desde Djbel Ouarkziz à Hamada de Tinduf. As principais províncias arganeras em Marrocos são Taroudant e Essaouira (PRAT; RAMOS, 2010).

O sistema de cultivo de argan é totalmente orgânico e extrativista. A elaboração do óleo é meticulosamente realizada por cooperativas de comércio justo, nas quais trabalham as mulheres em risco de exclusão social, especialmente de zonas rurais (Figura 8). Essas cooperativas fomentam a inserção das mulheres ao mercado de trabalho, incluindo programas de alfabetização, saúde, etc. O processo de elaboração do óleo é extremamente laborioso, através da prensagem a frio em moinhos de pedra, utilizando métodos artesanais e manuais (Figura 9). Cada fase do processo pode ser observada ao vivo na cooperativa, à vista do público.


C a p Ă­ t u l o I | 20

Figura 8. Fachada de uma cooperativa de argan em Marrocos administrada por mulheres.

Figura 9. Moinho de pedra giratĂłrio usado para triturar amĂŞndoas de argan pelas mulheres berberes de Marrocos.


C a p í t u l o I | 21 Além de trazer um produto muito competitivo ao mercado, essas cooperativas são responsáveis por promover o desenvolvimento e a manutenção das áreas rurais. O argan é o meio de subsistência da maioria das famílias nas zonas rurais. Portanto, tem um componente econômico e social imprescindível para Marrocos. Para obter 1 litro de óleo é necessário prensar e obter cerca de 30 kg de frutos de argan, o que requer um trabalho de pelo menos 20 horas (FLORES, 2016).

Durante anos, este óleo tem sido muito apreciado pelas tribos berberes por suas propriedades cosméticas e medicinais. É usado principalmente como um protetor da pele diante de agentes externos e como tratamento capilar. Esse óleo tem estado presente em todas as etapas da vida marroquina.

A indústria cosmética mundial colocou seu foco no Magreb a partir do ano 2000, quando as marcas famosas bem conhecidas foram atraídas pelo potencial cosmético desse produto e começaram a projetar linhas de tratamento e cosmética baseadas no óleo de argan como ingrediente ativo. Empresas européias incorporaram o maquinário para sua extração para aumentar o sistema de produção, o que implica uma perda das propriedades durante o processo de extração por prensa extrusoura (aquecimento do óleo em até 45 ºC), que só são preservadas intactas com a prensagem a frio. Igualmente que a “Rosa Mosqueta”, o óleo de argan possui um princípio ativo muito versátil, podendo ser aplicado tanto no rosto como no corpo e cabelo. Quando é utilizado para fins cosméticos, deve ser obtido por prensagem a frio, e não ser tostado artificialmente para que não perca suas propriedades (FLORES, 2016).

De forma resumida, o óleo de argan é um produto tradicional que ganhou reconhecimento internacional recentemente. Sua produção sempre foi incorporada especificamente ao contexto social e natural. Seu importante papel na economia doméstica local tornou um alvo para as políticas de desenvolvimento e conservação, enquanto seu alto valor agregado estimulou o surgimento de empresas de processamento e varejo de argan em Marrocos e em outros lugares (Figura 10). O boom do argan é comumente considerado um exemplo de desenvolvimento sustentável, na medida em que se acredita que ele ofereça incentivos para proteger as florestas de argan e, ao mesmo tempo, aumentar a renda dos pequenos proprietários, sem mencionar os benefícios para as empresas de


C a p í t u l o I | 22 processamento e exportação. Portanto, não há razão para acreditar que esse boom incentive a conservação. Embora haja alguma evidência de benefícios econômicos para a população local em algumas partes das florestas de argan, em outras partes o comércio de argan teve um impacto econômico marginal. Os efeitos sociais, por outro lado, foram positivos e negativos. É necessário que o óleo de argan e outros produtos derivados forneçam benefícios sustentáveis tanto para a população local como para a sociedade em geral, mais atenção terá de ser dada à sustentabilidade de longo prazo da cadeia de commodities do argan, e em particular às questões de distribuição de benefícios e conservação da floresta. Se isso for feito, o boom dos arganes pode realmente se tornar um exemplo de desenvolvimento sustentável. Caso contrário, pode em breve sair da memória como apenas outra moda que passou (LE POLAIN DE WAROUX, 2013).

Figura 10. Vista esquemática da rede de comércio do argan em Marrocos. Foto: Yann le Polain de Waroux.

O óleo de argan, produzido a partir da amêndoa oleaginosa do fruto da Argania spinosa, é, sem dúvida, a produção em que poderia se basear um projeto socioeconômico. Graças às suas propriedades, o óleo de argan atraiu a atenção de cientistas, turistas, empresários e grandes empresas de cosméticos em todo o mundo, tudo isso resultou em sua forte demanda e no desenvolvimento de um mercado de alto valor de óleo de argan.


C a p í t u l o I | 23 Do lado das exportações, a loucura da Europa, dos Estados Unidos e do Japão pelo óleo de argan incentivou o surgimento de um novo mercado para produtores e setores exportadores. De acordo com as estatísticas da Agência de Controle Autônomo e da Coordenação das Exportações (EACCE), as exportações de óleo de argan continuaram a aumentar até 343 toneladas no período 2009-2010. No entanto, outros impactos mais problemáticos acompanham essa "história de sucesso" e questionam os princípios do desenvolvimento sustentável (FAOUZI, 2015).

Apesar dos esforços dos coletores para proteger suas árvores como uma propriedade, suas atitudes e comportamento em relação à floresta, ainda não mostraram um interesse pela conservação. O auge do mercado de argan não tem propiciado um comportamento coletivo de conservação para essas florestas. A evolução econômica do setor de óleo de argan representa, portanto, uma séria ameaça à arganeria marroquina.

O maior desafio é mudar a percepção das pessoas com uma abordagem de proteção de árvores de curto prazo para melhorar a produção de frutos, em uma visão de longo prazo para conservar o arganeria marroquino. Deveria tentar sensibilizar a população por todos os meios (mídia, mesquitas, etc.) e despertar seu interesse por essa cultura de preservação do patrimônio florestal de argan em programas de treinamento em escolas primárias e secundárias da região do argan. No prazo mais ou menos longo, se nada for feito, todo o sudoeste do Marrocos estará ameaçado pela desertificação, devido o equilíbrio do sistema ser frágil e sua sustentabilidade está ameaçada pela exploração que excede a capacidade de produção (FAOUZI, 2015).

O desenvolvimento e o crescimento econômico, ao mesmo tempo sustentáveis e duradouros, só são possíveis se for melhorado a situação econômica, social, política, jurídica e cultural da população do território. O desenvolvimento sustentável também deve basear-se no desenvolvimento social equitativo, que dá aos pobres os meios para explorar racionalmente os recursos ambientais. A Argania spinosa ganhou o respeito do homem e sempre forneceu um papel socioeconômico importante para seus usos múltiplos (EZZAHIRI et al., 2007). O desaparecimento dessa espécie, que determina a existência rural do sudoeste de Marrocos, poderá trazer sérias consequências nas áreas econômicas, políticas, sociais e ambientais para o território de arganeria (FAOUZI, 2012).


C a p í t u l o I | 24 O tamanho dos rebanhos de cabras é outro fator de degradação da arganeria, porque não cessaram de aumentar com flutuações anuais relacionadas com a variabilidade das precipitações, desde finais de 1990. Isto indica que o aumento dos preços de argan não resultou em uma redução da pressão na árvore através da diminuição do número de rebanhos de cabras. As famílias que se beneficiaram com o crescimento do mercado de argan, são as que mais coletam frutas, consequentemente essas famílias investem mais na criação de caprinos; este fato parece incompatível com a teoria da conservação, porque a renda dos produtos da floresta de argan se torna uma ameaça para o próprio ecossistema, devido ao impacto negativo que as cabras representam para as árvores de argan (FAOUZI, 2015).

Apesar desse sucesso comercial, os lucros econômicos do óleo de argan são direcionados exclusivamente para os produtores primários (berberes). Há ainda outro fenômeno perturbador: a árvore de argan, em que se desenvolve o fruto do qual se extrai o óleo, tende a diminuir rapidamente o tamanho de seus frutos e a densidade de plantas por superfície. Essa velha árvore, cuja origem é de 80 milhões de anos, está muito ameaçada, a cada ano, cerca de 600 hectares de Argania spinosa desaparecem apesar de sua excelente resistência à seca, a densidade da árvore de argan será reduzida em dois terços em cinquenta anos, de acordo com a previsão feita por Faouzi (2015).

DISTRIBUIÇÃO DO ARGAN EM MARROCOS

O argan é distribuído naturalmente, ao longo da costa atlântica de Marrocos, entre os paralelos 29 e 34, isto é, da cidade de Essaouira, na fronteira norte, até Sidi Ifni, ao sul (Figura 11). Para o leste, populações de argan foram espalhadas do nível do mar a 1.500 metros de altura, na encosta sul do Alto Atlas, e nas áreas sul e norte do Anti Atlas (MSANDA et al., 2005). Considera-se que a área de distribuição natural de Argania spinosa ocupa cerca de 820.000 hectares, o que representa 7% do patrimônio florestal marroquino (LÓPEZ-SÁEZ; ALBA, 2009). Existem algumas populações isoladas no noroeste do Marrocos, em torno do paralelo 35, a cerca de 550 km da massa principal, ocupando uma área de 850 hectares. Considera-se que são populações ou plantas relíquias de uma distribuição muito mais ampla de argan ocorrida no passado (BENABID, 1985).


C a p í t u l o I | 25

Figura 11. Detalhe da localização da floresta espontânea de argan no mapa de Marrocos. BOTÂNICA, MORFOLOGIA, FISIOLÓGICO E ECOLÓGICO DO ARGAN

-Aspecto Botânico

A planta de argan (Argania spinosa) é uma árvore (ou arbusto) que pertence à família Sapoteaceae. Essa dicotiledônea é perene, de grande porte e grande longevidade, visto que pode atingir a idade de 150-250 anos. Sua taxonomia é a seguinte: Reino: Plantae Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Ordem: Ericales Família: Sapoteaceae Gênero: Argania Espécie: A. spinosa Nome binomial: Argania spinosa (L.) Skell


C a p í t u l o I | 26 Sinônimos taxonômicos: Argania syderoxylon (Roemer & Schultes); Syderoxylum spinosum, Linnaeus; Elaeodendron argan Retz; Tekelia spinosa, Scop.O nome syderoxylon faz referência a sua madeira maciça (madeira de ferro), empregada em construção. Nome científico: Argania spinosa (o nome científico faz alusão a uma árvore que possui espinhos). Nomes, vernáculos e comuns: Argan, arga, arganero, argán, argania, erguén, acebuche espinhoso. Sua etimologia em inglês: Argan, Maroccan ironwood tree; em Berber: Argan, Ardjan, Tizmint, Erguén; em Francês: Arganier.

-Aspecto Morfológico Planta – Por se tratar de uma espécie com alto grau de adaptabilidade às condições ambientais, o argan pode ocorrer de diferentes formas. Sob condições de forte aridez, a planta adquire crescimento de arbustos, podendo limitar seu crescimento a pequenos arbustos de apenas 50 cm. Pelo contrário, em condições ecológicas ótimas, o argan atinge a forma de uma árvore de tamanho médio. Enquanto o porte arbóreo ocorre quando o argan apresenta alta produtividade anual de frutos. No caso do semiárido do brasileiro, o objeto do estudo de argan seria a produção frutos, então o foco está no desenvolvimento desses pés frondosos. Além disso, o argan adulto é uma árvore perene, que pode atingir 10 metros de altura. Enquanto sua copa é ampla e arredondada, de aspecto denso, podendo atingir até 7,5 m de circunferência (Figura 12). A espécie é resistente à seca, perdendo sua folhagem, e permanecendo em estado de dormência, por vários anos de seca prolongada (ORWA et al., 2009).


C a p í t u l o I | 27

Figura 12. Árvore frondosa de argan. Foto: Helena Bordon. Raiz – O sistema radicular da árvore de argan é constituído por uma raiz pivotante com distribuição em profundidade e ramificação nas laterais, que pode penetrar verticalmente no solo por até 30 m de profundidade, proporcionando assim uma boa sustentação a essa árvore frondosa, o que evidencia sua possibilidade de absorção de água e elementos nutritivos bem acima de tantas outras espécies de porte semelhante (Figura 13).

Figura 13. Raiz bem desenvolvida para uma planta jovem de argan, sendo uma característica de plantas xerófitas.


C a p í t u l o I | 28 Caule e ramos - O tronco é curto e tortuoso, composto de vários caules entrelaçados que lhe dão uma aparência tortuosa. Apenas atinge um metro de diâmetro (D.A.P.) e sua madeira é considerada extremamente dura (Figura 14). Enquanto os ramos são longos e esticados, muito duros e providos de espinhos duros de 2 ou 3 cm (Figura 15). É particularmente intenso o surgimento de novos ramos ou rebrotação na periferia da copa da planta e muito raro nos ramos antigos onde os glomérulos podem nascer nas cicatrizes das folhas caídas. Nestes ramos (velhos) é frequente o fenômeno da couve-flor que consiste no acúmulo de numerosas flores e que também tem sido descrito em outras Sapotáceas (ALLACH, 2012).

Figura 14. Árvore de argan na região árida de Marrocos. Foto: Alamy Stoch


C a p Ă­ t u l o I | 29

Figura 15. Detalhe dos ramos com seus espinhos compridos. Fotos: JosĂŠ Quiles e Jca Feria


C a p í t u l o I | 30 Folhas – As folhas são alternadas, oblonga-lanceoladas e pequenas, geralmente de 2 a 3 cm de comprimento por 0,5 cm de largura.São inteiras, glabras (sem pêlos) e ligeiramente cuneadas na base (base do limbo estreitando-se para o pecíolo). Elas são simples ou agrupadas em uma roseta (Figura 16). Na verdade, as folhas não são perenes, mas são (sub)persistentes e coriáceas, permanecendo ligadas ao ramo durante a estação seca até o surgimento da nova folhagem após o retorno das chuvas. As folhas são verdes-escuros na parte superior e mais claras na sua face inferior.

Figura 16. Folhas simples de Argania spinosa ocorrendo na porção crescente de brotos de crescimento indefinido (A e B) e no primeiro ano de brotações (suas brotações laterais) e folhas agrupadas na parte do ramo do último ano (brotos lenhosos de B a C). Fotos: Shia Hertally (2017); Fouzia Bani-Aameur e Abdelaziz Zahidi (2005).


C a p í t u l o I | 31 Flor–É uma espécie monóica com flores hermafroditas (Figura 17). A inflorescência aparece com as flores condensadas em glomérulos axilares sésseis formados por 5-15 flores que são compostas por cinco pétalas brancas, enquanto o cálice consiste em um único verticilo de cinco sépalas pilosas (Figura 18). Estames são cinco em geral, mas em algumas variedades o número pode aumentar para dez. O ovário é piloso e súpero, com um estilo curto, composto de 4 a 8 carpelos soldados e cônicos, com a altura dos estames, mas as vezes os supera (Figura 19). Na sua área de distribuição natural de Marrocos, a planta de argan floresce entre fevereiro e junho, enquanto que na Península Ibérica (Espanha) pode levar algumas semanas mais tarde. Outro fator que deve ser levado em conta são os frutos de argan, que têm um longo período de maturação após a floração, que geralmente dura entre 9 e 16 meses (BANI‐AAMEUR, 2000; 2002). Porém, em condições climáticas atípicas, a floração geralmente ocorre na primavera ou no outono, isto gera uma dilatação no amadurecimento do fruto, que ocorre durante um longo período do ano (de maio a setembro) (ALLACH, 2012; M'HIRIT et al., 1999). A polinização é 80% anemófila e 20% entomofílica (THIERRY, 1987). Com relação a apicultura, as abelhas visitam com frequência essas árvores, fornecendo uma fonte preciosa de mel (NERD et al, 1998).

Figura 17. Detalhe da inflorescência com as flores condensadas em glomérulos axilares sésseis da árvore de argan. Fotos: José Antonio López Sáez; Francisca Alba Sánchez (2009); Maríam Allach e Arquivo da Hertz.


C a p í t u l o I | 32

Figura 18. Flor hermafrodita de argan. Abreviações: Esti: Estigma; Pé: Pétala; Est: Estames, Sé: Sépala. A barra representa 20 mm. Fotos: José Quiles e Maríam Allach.


C a p í t u l o I | 33

Figura 19. Argania spinosa: a) ramo; b) folhas; c) botão floral; d) flor; e) flor aberta; f, g) antera; h) fruto; i) corte transversal do fruto. Foto: Safi, pr. Yurf al-Yhudï, Marruecos (MA 299394). Fruto – Os frutos do argan possuem epicarpos (casca) de cor verde, quando em seus estádios iniciais de desenvolvimento, passando a coloração verde-amarela quando maduros (Figura 20). De tamanho variável, que pode alcançar entre 1,5 e 3 cm de comprimento por 1,5 ou 2 cm de largura.Deve-se observar que a baga de argan (fruto) é


C a p í t u l o I | 34 morfologicamente muito variável, com seis formas principais, desde a oval ao subglobosa. Existe apenas um caroço por fruto com mesocarpo carnoso e abundante, aderido a um epicarpo grosso, amargo, gomoso e esclerificado na forma de falsas drupas, sendo composto de quatro partes distintas: o epicarpo ou camada mais externa, o mesocarpo que é a polpa carnosa da parte intermediária do fruto; o endocarpo ou caroço interno duro (lignificado) e a amêndoa oleosa. O fruto fica espalhado nos galhos novos da planta e, no passado, servia de alimento para as cabras, posteriormente os caroços se recuperavam do estrume animal. Atualmente, o fruto é colhido e a amêndoa pode ser extraída do caroço (que contém 1, 2 ou 3 sementes ou amêndoas) com a batida manual por pedra ou por máquina hidráulica específica, em razão do endocarpo ser extremamente duro (ORWA et al., 2009; Figura 21). A grande importância do argan está na amêndoa (ou semente), envolvida pelo caroço ou endocarpo, a qual contém albumina carnosa rica em óleo.

Figura 20. Frutos da planta de argan e seus ramos com os espinhos. Foto: Helena Bordon.


C a p í t u l o I | 35

Figura 21. Caroços e amêndoas de argan. a: caroços, b: corte radial dos caroços mostrando um, dois ou três lóculos de amêndoas, c: amêndoas. Fotos: Mohsen Hanana, Hajer Mezghenni,Rayda Ben Ayed, Ali Ben Dhiab, Slim Jarradi, Bassem Jamoussi and Lamia Hamrouni (2018).

Semente ou amêndoa - A amêndoa do argan, por estar revestida pelo endocarpo coriáceo, está mais protegida da rápida deterioração. Essa amêndoa é dura por seu elevado conteúdo em fibras, minerais, vitaminas e, principalmente, proteínas brutas, além de produzir óleo muito nobre, utilizado na indústria de cosméticos. A semente pode variar em seu formato desde elíptico a ovalado, quando encontrado uma, duas ou três sementes por caroço (Figura 22).

Figura 22. Sementes ou amêndoas do argan retiradas da parte interna do endocarpo ou caroço.


C a p í t u l o I | 36 Uma vez fecundadas, os frutinhos começam a crescer rápido, formando primeira a casca, oca por dentro, quando então, a amêndoa se vai desenvolvendo, enchendo o espaço interior da casca (Figura 23).

Figura 23. Detalhes de fruto imaturo de argan partido em duas bandas com as amêndoas ainda em formação nas duas cavidades do endocarpo; fruto maduro verde-amarelo; fruto seco; e endocarpo.

Aspecto fisiológico Germinação e dormência – Avaliando a germinação de sementes de argan (Argania spinosa) de dez plantas-mães de argan após quatro diferentes armazenagens a frio com ou sem tratamento com ácido giberélico (GA), Alouani e Bani-Aameur (2004) conseguiram estabelecer um procedimento de germinação simples e adaptável a diversas situações de viveiro. Primeiramente, os quatro lotes de quarenta frutos maduros e secos de cada árvore-mãe foram coletados em setembro de 1997, em Ait Baha no sudoeste de Marrocos. Em seguida foram acondicionados em sacos plásticos e armazenados em temperatura ambiente e em armazenamento refrigerado (4ºC), formando os seguintes tratamentos (quatro): sem armazenamento refrigerado (testemunha) e um, dois e três meses de armazenamento. Os frutos foram descascados e os caroços foram escarificados sobre uma superfície rugosa da pedra, visando provocar uma fissura no seu tegumento.


C a p í t u l o I | 37 Imediatamente, os caroços atritados foram imersos em solução de cloro a 2% durante 15 minutos e, em seguida, foram submetidos a lavagem em água corrente por alguns minutos e depois secados à temperatura ambiente. Após o tratamento com o fungicida Thiram (200 g/L), metade de cada lote foi embebida por 24 h em uma solução de ácido giberélico (GA) a 1000 ppm, enquanto a segunda metade foi embebida em água destilada. Ambos os lotes foram lavados duas vezes com água corrente antes da semeadura. Os resultados indicam que o início da germinação de sementes de argan, que foram armazenadas à temperatura ambiente na ausência de tratamento com GA, foi atrasado durante 3,4 dias em média, em comparação com as sementes resfriadas e tratadas com GA. A germinação foi tão baixa que atingiu o valor de 35,5% e a deterioração das sementes, bem como o descarte de plântulas em emergência, também foi importante. Em contraste, a aplicação de GA ou armazenamento a frio a 4 °C durante pelo menos um mês levou a um aumento de duas vezes na germinação, atingindo aproximadamente 60%, o que indica que houve um melhor controle de dormência. De fato, a germinação média foi ainda maior quando ambos os tratamentos foram combinados (79,5%), principalmente porque o GA combinado ao armazenamento refrigerado das sementes por períodos maiores que um mês diminuiu as perdas devido à contaminação dos fungos de sementes ou à deposição de plântulas em pré-emergência. O percentual final de germinação foi melhorado pelo armazenamento refrigerado nos períodos mais longos (três meses), atingindo valores superiores a 95,0%, dependendo do genótipo da árvore-mãe. Após colher os frutos da árvore de argan e secá-los ao sol, em seguida os mesmos foram descascados e os caroços foram pré-embebidos em água pelo menos quatro dias em condições de laboratório, cujo procedimento contribuiu significativamente para o sucesso da germinação. Os testes de germinação revelaram uma taxa de germinação notavelmente alta de 95% para sementes pré-embebidas em água por 96 e 120 horas na temperatura de 30 °C a 25 °C e taxas de germinação relativamente elevadas de 50% a 70% para sementes pré-embebidas a120 horas sob temperatura de 22 °C. A taxa de germinação mínima (60%) foi observada para sementes pré-embebidas por 96 horas a 22 °C (BENAOUF et al., 2016; Figuras 24). Em condições normais, a planta de argan aos 65 dias de idade atingiu de 10 a 14 cm de altura com 20 a 28 folhas (RODRÍGUEZ, 2012; Figura 25).


C a p í t u l o I | 38

Figura 24. Detalhe do início do processo de germinação em sementes de argan em condições de laboratório, onde se observa a emissão de uma, duas ou três radículas, dependendo do número de amêndoas em cada caroço (A, B, C). Foto: Zohra et al. (2014).

Figura 25. Plântulas de argan em substrato vegetal com irrigação a cada 48 horas. Fotos: Benaouf Zohra et al. (2014).


C a p í t u l o I | 39 Os testes de germinação de sementes de Argania spinosa L mostraram o efeito benéfico de alguns pré-tratamentos na melhoria de sua capacidade germinativa. De acordo com Nasri e Benmahioul (2015), os melhores resultados registrados foram obtidos com o lote de sementes tratadas com peróxido de hidrogênio aquecido por 4 dias (T3) (Figuras 26 e27).

Figura 26. Taxa de germinação de Argania spinosa L. sob o efeito de vários prétratamentos testados. (T0: Controle, T1: Tratamento com água morna a 27 °C por 6 dias, T2: Tratamento com água morna oxigenada a 27 °C por 1 dia, T3: Tratamento com água morna oxigenada a 27 ° C por 4 dias, T4: Tratamento com água quente oxigenada a 27 °C por 7 dias). Foto: Nasri Souhila e Benmahioul Benamar (2015)

Figura 27. Efeito de diferentes tratamentos na germinação de sementes de Argania spinosa L. [A: sementes tratadas com água morna; B: sementes tratadas com peróxido de hidrogênio morno durante 4 dias; C: bloqueio da germinação após tratamento prolongado (7 dias) em peróxido de hidrogênio morno. Poliembrionia refere-se à presença de mais de um embrião na semente ou caroço de argan. Fotos: Nasri Souhila e Benmahioul Benamar (2015).


C a p í t u l o I | 40 Por outro lado, as sementes utilizadas nos estudos conduzidos por Zohra et al. (2014) vieram de frutos maduros coletados em árvores escolhidas aleatoriamente, localizadas no bosque de Tindouf (sul da Argélia), e no viveiro de Mostaganem (litoral). Os frutos foram secos e a polpa removida manualmente para obter os caroços de argan. Antes do teste de germinação, os caroços foram desinfetados com peróxido de hidrogênio por 20 minutos. A técnica de germinação utilizada foi por imersão das sementes de argan na água em diferentes tempos de pré-embebição (72, 96 e 120 h). Em seguida, as 20 sementes por tratamento foram colocadas em cada germinador com controle de temperatura (30, 28 e 25 °C). Sob essas condições, foram avaliadas as percentagens de germinação das sementes colhidas de duas localidades: Tindouf (área natural do argan) e Mostaganem (espécie introduzida). Nas Figuras28, 29, 30 e 31vão destacar apenas os resultados de germinação de sementes de argan submetidas às temperaturas 25 (apenas com tempo de pré-embebição de 120 h) e 30 ºC (nos tempos de imersão de 72, 96 e 120 h).

Figura 28. Taxa diária de germinação de sementes de argan, pré-embebida por 120 horas e submetida à temperatura de 25 °C. Fonte: Benaouf Zohra; Miloudi Ali; Belkhodja Moulay (2014).


C a p í t u l o I | 41

Figura 29. Taxa diária de germinação de sementes de argan, pré-embebida por 72 horas e submetida à temperatura de 30 °C. Fonte: Benaouf Zohra; Miloudi Ali; Belkhodja Moulay (2014).

Figura 30. Taxa diária de germinação de sementes de argan, pré-embebida por 96 horas e submetida à temperatura de 30 °C. Fonte: Benaouf Zohra; Miloudi Ali; Belkhodja Moulay (2014).


C a p í t u l o I | 42

Figura 31. Taxa diária de germinação de sementes de argan, pré-embebida por 120 horas e submetida à temperatura de 30 °C. Fonte: Benaouf Zohra; Miloudi Ali; Belkhodja Moulay (2014). A propagação da Argania spinosa é feita, principalmente, em seu habitat natural por via sexuada, ou seja, através de sementes. Mesmo assim, o caroço ou semente de argan apresenta dormência do tipo mecânica, onde é necessário submeter na maioria das vezes a embebição em água (HABIBAH et al., 2007). Outro método de superação da dormência seria a obtenção da amêndoa de argan, através da remoção do seu endocarpo, com o objetivo de facilitar o seu processo germinativo (Figura 32). Preventivamente, recomenda-se fazer um tratamento das amêndoas de argan com biofungicidas para incrementar sua germinação e evitar a infestação de fungos (BANI-AAMEUR; ALOUANI, 1999).


C a p í t u l o I | 43

Figura 32. Remoção do endocarpo e germinação de amêndoas para superação da dormência mecânica.

Aspecto Ecológico A escolha do argan para atender a agricultura familiar poderá ser em função do aspecto ambiental, além de ser uma espécie arbórea perene e rústica do extrativismo, irá servir para reflorestar as áreas degradadas e desérticas da região semiárida brasileira; social: gera renda na coleta dos frutos, por seu histórico potencial para produção de óleo nobre e valioso, tanto como pelos mercados de alimento como de cosmético; e econômica: faz circular dinheiro nas regiões mais carentes nos estados do Piauí, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Paraíba no período de estiagem.

MELHORAMENTO O argan (Argania spinosa L. Skeels) é uma árvore endêmica de Marrocos, com grande impacto socioeconômico na zona de exploração do extrativismo por seus multliplos usos, que incluem a alimentação pecuária a partir de seus frutos e folhas, e a extração de um óleo de excelentes qualidades alimentarias, cosméticas e terapêuticas. No entanto, a espécie se encontra em estado de ampla regressão devido especialmente a sua


C a p í t u l o I | 44 superexploração. Com objetivo de analisar a variabilidade morfológica do argan das regiões noroeste de Marrocos (Chouihiya, província de Berkane) e do sudoeste (Agadir), a prospecção e a caracterização dos exemplares presentes foram realizadas, atendendo a um modelo morfológico clássico de discriminação de variedades de oliva, visando adaptar convenientemente ao argan. A análise de numerosos parâmetros da árvore, a folha, o fruto e o endocarpo têm permitido explorar a grande variabilidade dessa planta e conseguir diferenciar seis subespécies/variedades, denominadas de argan (genérico), argan de árvore pequena, argan de fruto alongado, argan de folhas pequenas, argan de fruto pontiagudo, argan de fruto grande (Figura 33) e planta de argan sem fruto. Ou seja, o fruto é uma baga de formato variável (oval, pontiagudo, redondo ou globular; Figura 34). O polimorfismo é observado na forma do fruto, na forma da árvore, na altura, na forma das folhas e em outros parâmetros (JACCARD, 1926). Esses estudos morfológicos têm sido estendidos com a análise da complexa fenologia floral dessa planta e de um estudo pioneiro micromorfológico e ultraestrutural do grão de pólen, que permitiu estabelecer diferenças entre subespécies/variedades analisadas (ALLACH, 2012).

Figura 33. Seleção de árvores de argan que produzam frutos graúdos. Fotos: Arquivo da empresa cosmética natural “La Dame des Sables”.


C a p í t u l o I | 45

Figura 34. Frutos de argan de diferentes formatos e tamanhos. Fotos: A-Association Internationale des Arganophiles; B- Mohsen Hanana, Hajer Mezghenni, Rayda Ben Ayed, Ali Ben Dhiab, Slim Jarradi, Bassem Jamoussi and Lamia Hamrouni (2018); CMaríam Allach.

Apesar da escassa literatura científica que análise os diversos aspectos da biologia, mesmo assim a árvore multiuso de argan é frequentemente descrita como uma espécie em extinção, uma vez que vários fatores físicos e antropogênicos reduziram a densidade e a superfície do ecossistema de argan. Com o objetivo de auxiliar na seleção de material de plantio superior para implementação de atividades de conservação em ambientes áridos, Abdelaziz et al., 2014estudaram a variabilidade genética para diversos caracteres morfológicos de caule e raiz. As 12 mudas por famílias distribuídas em blocos completos casualizados foram cultivadas por 12 meses em condições de viveiro. Vários caracteres morfológicos de caule e raiz foram observados ao final do experimento. A variabilidade intrafamiliar foi mais importante do que a variabilidade interfamiliar para todos os caracteres. As altas herdabilidades foram observadas (0,54 a 0,59) para comprimento da menor raiz e comprimento do caule. Não houve diferenciação entre as três populações para os caracteres raiz e caule. As mudas provenientes de locais mais secos parecem ter raízes mais longas, inclusive a sua relação raiz/caule e também de peso fresco são maiores. As mudas de algumas famílias investiram mais na raiz, por ser considerado um órgão fundamental para a sobrevivência das mudas de argan. Também o argan


C a p í t u l o I | 46 caracteriza-se por uma grande variabilidade entre indivíduos da mesma família 'meioirmão', o que dá a possibilidade de selecionar material de plantação de alta qualidade com capacidade de regeneração, quando se trata de sua adaptação às condições de seca, especialmente após o transplante. Vale frisar que a heterogeneidade de suas sementes deriva de uma reprodução fundamentalmente alógama (MSANDA, 1993).

FENOLOGIA Os aspectos da sua biologia reprodutiva foram estudados por Nerd et al. (1998) com o objetivo de domesticar a árvore para produção de óleo. Os autores observaram que o florescimento de árvores fertirrigidas cultivadas nas terras altas de Negev de Israel ficou concentrado aos meses de primavera e constataram que suas flores são protogíneas (em que os órgãos sexuais femininos se desenvolvem primeiro que os masculinos). Com base nos resultados dos diferentes tratamentos de polinização, os mesmos concluíram que um vetor de pólen é necessário para a polinização da árvore; que o conjunto de frutos é significativamente maior na polinização cruzada e aberta(taxa de 7-9%) do que na autopolinização (0,5%), que o menor número de frutos obtido na autopolinização foi relacionado à discriminação pós-zigótica; que a transferência de pólen pelo vento foi restrita a curtas distâncias; que a mosca, principalmente da família Calliphoridae, visita as flores e seu corpo se impregna com pólen de argan; e que os frutos amadureceram nove meses após a antese (Tabela1), exibindo curva de crescimento bisigmoidal.

Tabela 1. Fenologia do argan para as condições de Marrocos. Características Folhagem Crescimento vegetativo Floração Maturação de frutos Desfolhação

O x

N x x

D x x

J x x

F x

MESES M A

M

J

x x

x x

x

x x

x

J

A

S

x

x

x

A mensuração dos parâmetros de crescimento dos frutos foi iniciada quando os frutos atingiram um comprimento de 0,7-0,9 cm (início de junho). A partir desse tamanho, os frutos tendem a se desenvolver e atingir a maturidade, apesar de ter ocorrido uma queda significativa de flores e pequenos frutos antes deste estágio. Além disso, o crescimento dimensional (comprimento e diâmetro) foi rápido entre julho e agosto e depois desacelerou (Figura 35A). Entretanto, os frutos atingiram lentamente seu tamanho final no inverno, aproximadamente nove meses após a antese. A Figura 35B mostra que o


C a p í t u l o I | 47 crescimento fresco de frutos inteiros foi caracterizado por uma curva sigmoidal dupla e consistiu em três fases distintas: I) um período inicial de crescimento rápido, II) um período de crescimento lento e III) um período tardio de rápido crescimento. Um ganho pronunciado de peso fresco ocorreu para o pericarpo nos estádios I e III, para os caroços nos estádios I e II, e para a amêndoa nos estádios II e III. A parede da drupa endureceu no estágio II, e a coloração ocorreu no estágio III (NERD et al., 1998).

Figura 35. Aumento do tamanho do fruto (A) de argan; e peso fresco dos componentes do fruto (B) em Ramat Negev, Israel. Os valores foram avaliados em quatro árvores. Foto: Nerd et al., 1998.

COMPOSIÇÃO DO ÓLEO DE ARGAN Os triglicerídeos constituem até 99% do óleo de argan, dentre os quais predominam os ácidos graxos insaturados (80-90%) em relação aos saturados. Entre os primeiros, os mais abundantes são os ácidos oléico (42 a 55%) e linoléico (30 a 38%) com traços de


C a p í t u l o I | 48 gadoléico, gondóico, linolênico e palmitoleico; enquanto entre esses últimos são palmítico (12-16%) e esteárico (4-6%) e traços de mirístico, behênico e araquídico (HUYGHEBAERT; HENDRICKS, 1974; CHARROUF, 1984; FARINES et al., 1984a; MAURIN, 1992; MAURIN et al., 1992; CHIMI et al., 1994; NERD et al., 1994; YAGHMUR et al., 1999, 2001; CHARROUF; GUILLAUME, 2002a, 2008; KHALLOUKI et al., 2003; RAHMANI, 2005; HILALI et al., 2005; Tabela 2). O alto grau de insaturação contribui para sua alta qualidade do ponto de vista nutricional (HUYGHEBAERT; HENDRICKS, 1974; NERD et al., 1994).

Tabela 2. Composição química do óleo de argan (Argania spinosa). Composição do óleo de argan Nutrientes 1.Ácidos graxos saturados Ácido palmítico Ácido esteárico Ácido mirístico Ácido araquídico Ácido behénico 2.Ácidos graxos insaturados Os monoinsaturados Ácido oléico Ácido palmitoleico Ácido gadoleico Ácido gondoico Os poli-insaturados Ácido linoléico Ácido linolênico

Quantidade 10-20% 12-16% 4-6% Traços Traços Traços 80-90% 42-55% Traços Traços Traços 30-38% Traços

As variações observadas na composição de ácidos graxos no óleo de argan são atribuídas a vários fatores: genótipo e condições ambientais (HUYGHEBAERT; HENDRICKS, 1974; NERD et al., 1994). Foi registrado que a taxa de ácido palmítico e linoléico aumenta com a altitude, enquanto que a do ácido oléico aumenta com a precipitação (MAURIN et al., 1992; RAHMANI, 2005).

A coloração avermelhada do óleo deve-se à presença de carotenóides, tetraterpenos altamente insaturados representados basicamente pelas xantofilas (RAHMANI, 2005). O óleo é pobre em provitamina A e seu conteúdo em trans-β-caroteno é insignificante, embora nenhum deles tenha sido isolado (COLLIER; LEMAIRE, 1974). O óleo de argan contém mais de duas vezes (600-900 mg/ kg) de tocoferóis do que o azeite de oliva (300


C a p í t u l o I | 49 mg / kg), tendo identificado α-tocoferol (vitamina E), β-, δ- e γ-tocoferol, sendo este último o majoritário com 81-92% (CHARROUF, 1984; KHALLOUKI et al., 2003; HILALI et al., 2005; RAHMANI, 2005; CHARROUF, GUILLAUME, 2007).

Quatro fitoesteróis foram isolados do óleo de argan em quantidades notáveis (> 3 mg / 100 g de óleo) (FARINES et al., 1981, 1984b; CHARROUF, GUILLAUME, 2002a, 2002b; KHALLOUKI et al., 2003; HILALI et al., 2005): escotenol ou eschottenol (24SΔ7-estigmasterol; 44-49%), spinasterol (estigmasta-7,22(E)-dien-3β-ol; 34-44%), estigmasta-8,22-dien-3-ol (3,2-5,7%) e estigmas-7,24-28-dien-3-ol (-7-avenasterol; 47%). O óleo virgem de argan não contém Δ5-esteróis, apenas vestígios de campesterol, e sua presença permite detectar misturas fraudulentas com outros óleos comestíveis (HILALI et al., 2005; RAHMANI, 2005). Devido ao seu alto preço no mercado, não é incomum encontrar óleo de argan adulterado. Para combater esse fenômeno, vários métodos são utilizados: a) O campesterol é um fitoesterol encontrado em grande quantidade na maioria dos óleos vegetais, exceto o argan. Esses parâmetros podem detectar vestígios de óleo de soja, óleo de colza, óleo de girassol, semente de damasco, óleo de amendoim, óleo de avelã, óleo de gergelim ou azeite de oliva com um nível de confiança de 98%; e b) Existe outro método pelo qual, ao misturar alguns reagentes com o óleo adulterado, é obtido um determinado marcador fenólico. Dependendo da quantidade, se pode comprovar a autenticidade do óleo (RAHMANI, 2005). Em trabalhos recentes, vários autores reiteraram a importância da procedência geográfica e o método de extração na composição do óleo de argan (HILALI et al., 2005; ROJAS et al., 2005). De fato, em 2003, o Ministério da Indústria, Comércio, Energia e Minas de Marrocos implementou uma normativa (08.5.090) para definir as especificações de qualidade do óleo virgem de argan e sua classificação em diferentes categorias, incluindo limites precisos sobre a presença de certos metais. Isto também implica que os únicos tratamentos autorizados para a obtenção do óleo são: torrefação, prensagem, decantação, centrifugação e filtração. Os valores fixados pela referida norma são: densidade (20ºC) 0,906-0,919, índice de saponificação 189-191,1, índice de iodo 91-110 e índice de refração (20ºC) 1,463-1,472. Em conformidade com as especificações de qualidade prescritas por esta norma, o óleo de argan pode ser classificado em quatro categorias: extravirgem, virgem fina, virgem e virgem lampante (acidez maior do que 2%). O grau


C a p í t u l o I | 50 de acidez aumenta à medida que o óleo perde qualidade, sendo ≤0,8 no extravirgem e >2,5 no lampante (CHARROUF; GUILLAUME, 2008). Os parâmetros de qualidade, para a categoria de óleo virgem de argan de elevada qualidade, encontram-se na Tabela 3.

Tabela 3. Critérios de qualidade para a categoria de óleo virgem de argan de acordo com a Norme Marocaine 08.5.090 Standard (2003). Parâmetro Grau de acidez (% de ácido oleico, m/m)

Limite máximo ≤ 0,8

Parâmetro

Limite máximo

Critérios organolépticos odor e sabor

Não flavours a ‘ranço’ Sem Estranhos Flavour característico ≤ 0,1

Índice de peróxidos ≤ 15 Umidade e impurezas (meg02 ativos/kg de óleo) voláteis (%, m/m) K270 ≤ 0,35 Dissolventes halogênicos ΛK ≤ 0,01 Traço de metais (mg/kg) Aditivos Ferro ≤ 3,0 Impurezas insolúveis em Cobre ≤ 0,1 éter de petróleo (%, m/m) Chumbo ≤ 0,1 Arsênico ≤ 0,1 Fonte: Norme Marocaine 08.5.090 Standard (2003).

≤ 0,1 Não permitidos ≤ 0,3

O óleo virgem de argan é composto basicamente de ácidos graxos insaturados com isomeria geométrica cis, que não causam nenhum problema de digestão ou assimilação pelo organismo. A presença de ácidos graxos trans é sinônimo de óleos refinados fraudulentos. Por esta razão, na supracitada norma, o teor de ácidos graxos trans é limitado a 0,05%. A distribuição de cada ácido graxo, nas três posições dos triglicerídeos do óleo, é estereoespecífica em cada espécie, sendo capaz de detectar adulterações deste. A norma limita a presença de ácido palmítico em posição interna a 0,5%. Da mesma forma, um nível de campesterol inferior a 0,4% é sinônimo da pureza do óleo de argan (HILALI et al., 2007).

A árvore de argan é uma fonte de saponinas, compostos relacionados à resistência a fungos por isso têm sido sugeridos que são estes os responsáveis pela atividade fungicida do óleo e da torta de argan (CHARROUF; GUILLAUME, 2002a). Dadas às múltiplas atividades biológicas atribuídas às saponinas (HOSTETTMANN; MARSTON, 1995), a pesquisa relacionada a esses metabólitos estão sendo estimuladas nos últimos tempos.


C a p í t u l o I | 51 Na Tabela 4, verificam-se as diferenças entre o óleo de argan e o azeite de oliva. As mais destacadas são as diferenças encontradas na quantidade de tocoferóis, bem como o escotenol, o espinasterol e o ácido ferulico (CHARROUF; GUILLAUME,1999; KHALLOUKIet al., 2005). O tocoferol em maior quantidade é o gama-tocoferol (quase90%) que tem maior poder antioxidante do que as formas alfa e beta. Outros fenóis também foram identificados no óleo de argan e também devem agir como antioxidante. Entre esses derivados de fenóis estão o ácido caféico, oleopenina, ácido vanílico, tirosol, ácido ferulico, resorcinol, catecol entre outros. Tabela 4. Diferenças entre a composição de óleo de argan e de azeite de oliva (extraído da polpa do fruto). Constituintes Àcido graxos

Esteróis

Tocoferóis

Compuestos fenólicos

C16:0 Ácido palmítico C18:0 Ácido esteárico C18:1 Ácido oléico C18:2 Ácido linoléico C18:3 Ácido alfa-linoléico Escotenol Espinasterol Beta-sitosterol Campestrol Estigmasterol Outros Total Alfa Beta Gama Total Ácido vanílico Ácido siríngico Ácido ferulico Tirosol Outros

Óleo virgem de argan 13,4% 5,1% 44,8% 35,7% 0,1% 142 mg/100 g 115 mg/100 g 9 mg/100 g 29 mg/100 g 295 mg/100 g 35 mg/Kg 122 mg/Kg 480 mg/Kg 637 mg/Kg 67 μg/Kg 37 μg/Kg 3.147 μg/Kg 12 μg/Kg -

Azeite virgem de oliva 10,4% 2,8% 71,0% 12,9% 1,04% 156 mg/100 g 12 mg/100 g 151 mg/100 g 319 mg/100 g 190 mg/Kg 42 mg/Kg 26 mg/Kg 358 mg/Kg 359 μg/Kg 51 μg/Kg 19,6 μg/Kg 773 μg/Kg

Fonte: Ansuategui; López (2015).

O ácido oléico da série ômega 9, está presente no óleo de argan em 48% aproximadamente. O ácido ômega 9 é muito benéfico para a saúde e exerce efeitos muito benéficos sobre o sistema cardiovascular e hepático, já que sua função é muito positiva nos vasos sanguíneos. Também previne a formação de cálculos biliares e ajuda a manter um peso saudável porque consegue regular o metabolismo dos lipídeos (PRAT; RAMOS, 2010).


C a p í t u l o I | 52 Encontra-se também no óleo de argan uma boa proporção de ômega 6, o qual é essencial para o bom funcionamento do organismo. Ele influi na formação das membranas celulares, a correta formação da retina, a formação de neurônios e no bom funcionamento do sistema imunológico, diminui o colesterol e a pressão arterial, etc. Oóleo de argan contém ácidos ômega 3 (vitamina F), além da vitamina E e de tocoferóis antioxidantes no dobro da proporção contida no óleo de oliva (PRAT; RAMOS, 2010).

PRODUÇÃO DE MUDAS EM VIVEIRO O estudo conduzido por Zohra et al. (2014) teve por objetivo destacar as condições biológicas relacionadas à promoção da boa regeneração da planta de argan, pois a reprodução espontânea dessa espécie se tornou bastante difícil, apesar de ser uma árvore tolerante à seca que se adapta satisfatoriamente as zonas árida e semiárida da Argélia. Portanto, o método de propagação por mudas foi adotado no experimento, utilizando sementes coletadas de duas localidades: Tindouf e Mostaganem. Com base nos resultados de regeneração das mudas de argan em viveiro, os mesmos observaram que a imersão em água das sementes de argan por quatro dias certamente contribuiu significativamente para o sucesso da germinação. A esterilização prévia do caroço evita a contaminação microbiana e melhora a germinação (Figura 36). Além disso, os testes de germinação revelaram uma taxa muito alta de germinação (95%) para sementes pré-embebidas em água por 96 e 120 h com a temperatura de 25 e 30 °C. Resultados semelhantes foram encontrados por Benaouf et al. (2016). As avaliações das características morfológicas das plantas, em condições de casa de vegetação, mostraram que houve crescimento no sistema radicular das plântulas de argan e que a parte vegetativa melhorou quantitativa e qualitativamente. As mudas aclimatadas, por dois anos ou mais, são possuidoras de uma estrutura vegetativa bem desenvolvidas com hastes e ramos basais ramificados e lignificados, que são capazes de promover seu próprio crescimento.


C a p í t u l o I | 53

Figura 36. Plântulas germinadas de Argania spinosa (caroço) em substrato de terra misturada com material orgânico. Foto: Framepool & RightSmith Stock Footage.

Segundo Zohra et al., (2014), a taxa de pegamento ou regeneração para mudas de 12 meses foi muito baixa (50%), sendo ideal para mudas com idade de 2 anos (80%) e plantadas no início do inverno. Esta alta taxa de pegamento (80%) mostra que a idade das mudas de argan é significativa para uma boa recuperação da planta do argan em campo e atende satisfatoriamente o seu reflorestamento em regiões áridas e semiáridas. No transplantio para o viveiro, haviam 24 mudas de argan de um ano e 20 mudas de 2 anos (Figura 37). O comprimento das mudas variou de 06 a 73 cm, com um número de folhas de aproximadamente 150 unidades. Em um lote da fazenda experimental foi instalado o viveiro, sendo preparado mecanicamente para servir como local de plantio. As distâncias de plantio foram de 1 m entre as mudas e 2 m entre as linhas. A primeira rega foi feita


C a p í t u l o I | 54 imediatamente após o plantio, depois foi repetida uma vez por mês, durante seis meses, após o plantio (a quantidade de água de irrigação por planta foi de três litros).

Figura 37. Muda de argan com 1 ano de idade. Foto: Francisco Rodríguez Rodríguez.

PRODUÇÃO DE MUDAS POR ENXERTIA Apesar dos frutos de argan possuírem sementes viáveis, a reprodução sexual não é desejada no estabelecimento de plantios comerciais, em razão das plantas obtidas serem distintas da planta-mãe e apresentarem longo período juvenil. Sendo assim, a propagação assexuada é a técnica mais viável para o processo de formação de mudas, mantendo, assim, as características genéticas das plantas-matrizes, uniformidade e precocidade de produção. A obtenção de mudas de qualidade, além de garantir uniformidade e origem da mesma planta-mãe, é um fator que influencia toda a vida do bosque, permitindo maximizar os efeitos de clima e de solo e, principalmente, de tratos culturais adotados para a cultura. Portanto, recomenda-se a propagação assexuada do argan, por diferentes métodos de enxertia.


C a p í t u l o I | 55 A primeira dificuldade do processo de enxertia que visa encurtar o ciclo de produção da espécie para menos de 3 anos (produção de frutos), está na germinação de suas sementes que é baixa e lenta por causa da dormência causada pela presença do endocarpo que envolve a semente ou amêndoa e, consequentemente, na produção de cavalos para a enxertia. A recomendação para se conseguir o número máximo de porta-enxertos em boas condições, é empregar sempre sementes muito novas, selecionadas, secadas ao sol e descascadas.

Para uma cultura racional (comercial) é recomendável utilizar mudas obtidas por enxertia, vez que as de “pé franco” são tardias e irregulares. A formação das mudas para a enxertia começa com a preparação da sementeira ao sol ou protegido por telado, utilizando-se sementes maduras, novas ou recém-colhidas, nos meses de setembro a janeiro. A germinação é desigual, inicia-se após 13 a 20 dias do plantio das sementes. E a frequência máxima do aparecimento das mudinhas dá-se dos 30 aos 50 dias. Ao alcançar 10 a 16 cm de altura, as mudinhas são transplantadas para o viveiro, com o intervalo de 2,00 m x 1,00 m. Essa operação é feita eliminando o saco plástico ou vaso de plástico e extraindo o bloco de terra com a muda, sem afetar a raiz pivotante, que é grande (Figura 38).

Figura 38. Preparação de mudas de pé franco de argan no viveiro para obtenção de mudas enxertadas. Foto: Arquivo Infojardin (2006).


C a p í t u l o I | 56 O solo do viveiro deverá ser bem preparado, adubado com esterco curtido (para a muda “dar a casca” na enxertia) e disposto para irrigação manual (regador). As regas são feitas após a operação de transplantio, e com o intervalo de 30 dias até os 12 ou 18 meses da duração do viveiro, aplicam-se 3 litros d’água por cada planta. Um dia ou dois, após cada molhadura, deverão ser feitos; escarificação, entre as fileiras, e uma capina no pé das mudas. Estimuladas pela umidade, pela adubação orgânica e pelo tratamento do solo, as mudas crescerão com a casca elástica para a enxertia de borbulha, que é feita quando as mudas têm de 6-8 meses de viveiro ou a altura média de 80 cm. Por outro lado, a enxertia pode ser feita por Garfagem Lateral à Inglesa Simples, por Garfagem no Topo com Fenda Cheia e por Borbulhia, tipo escudo ou placa. Essa enxertia deve ser realizada somente nas mudas vigorosas e quando atingirem de 0,7 a 1,0 cm de diâmetro do caule e 15 a 20 cm de altura. O método de garfagem lateral consiste na junção de um ponteiro de ramo, denominado garfo, proveniente de uma planta selecionada, com o caule do cavalo, sendo ambos de diâmetros semelhantes, chanfrados em bisel simples e unidos com fita (Figura 39). Os maiores índices de pegamento se conseguem quando a enxertia é realizada em meses quentes do ano, mas que não coincida com o período de florescimento e frutificação da espécie, ou seja, deve estar em bom estado vegetativo durante os meses de março a maio. Se as mudas forem enxertadas, elas estarão prontas para o plantio a partir de um ano de idade.

Figura 39. No método de garfagem lateral, o enxertador realiza o corte chanfrado do cavalo e do garfo (A), a junção e o amarrio do enxerto (B). Fotos: Ailton Vitor Pereira. Na garfagem de topo, o processo é semelhante ao anterior, diferindo apenas quanto ao tipo de encaixe ou união do cavalo e o garfo. Nesse caso, com o auxílio do canivete, o garfo é chanfrado em forma de cunha (bisel duplo) com cerca de 3 cm de comprimento, e o caule do cavalo é aparado e aberto no sentido longitudinal (rachado ao meio),


C a p í t u l o I | 57 formando uma fenda central na qual é inserida a extremidade do garfo preparada em bisel duplo. Em seguida, procede-se seu amarrio de forma bem apertado com fita plástica (Figura 40).

Figura 40. No método de garfagem de topo, o enxertador realiza o corte do cavalo e garfo, junção e amarrio do enxerto. Fotos: Ailton Vitor Pereira. Por último, o método de borbulhia consiste em se abrir na casca do cavalo uma janela de 3 a 4 cm de altura e largura de pouco mais de 1/3 do perímetro do caule, na qual é inserida e amarrada uma placa de casca sem lenho (com dimensões ligeiramente menores que as da janela), retiradas de uma planta adulta selecionada, de maneira que contenha uma gema ou borbulha que irá constituir a nova planta (Figura 41). A borbulhia deve ser feita no caule na altura entre 5 a 10 cm do solo (PEREIRA et al., 2002).

Figura 41. No método de borbulhia, o enxertador realiza a retirada da placa com lenho, remoção da porção com lenho, abertura da janela, inserção da placa, amarrio do enxerto e mudas brotando. Fotos: Ailton Vitor Pereira.


C a p í t u l o I | 58 Para os métodos de enxertia por garfagem, o garfo é coberto com saco plástico transparente de 5 cm de largura por 25 cm de comprimento, com a finalidade de conservar a umidade e evitar a desidratação dos garfos (Figura 42). Uma vez brotando o enxerto após 1 mês, os sacos que cobrem os garfos são desamarrados e abertos na base, podendo ser removidos depois de uma a duas semanas, enquanto a fita de união do enxerto é desamarrada a partir dos 3 meses (Figura 43). Deve ser processada em ambiente de viveiro com 50% de sombra, principalmente quando forem utilizados os métodos de garfagem. A muda enxertada por garfagem quando estiver com aproximadamente 0,15 m de altura, ou 60 a 120 dias depois da germinação, deve ir para o viveiro, onde fica no mínimo por seis meses, quando atinge 0,80 m de altura.

Figura 42. Enxertos cobertos com sacos plásticos e iniciando a brotação. Fotos: Ailton Vitor Pereira

Figura 43. No método de encostia lateral, o enxertador realiza o corte chanfrado do cavalo e do garfo (A), a junção e o amarrio do enxerto (B)). Fotos: Ailton Vitor Pereira.

De modo geral, o enraizamento do material enxertado é menor quando se preparam estacas a partir de ramos de árvore mãe em produção, mesmo que os ramos utilizados não sejam frutíferos, e menores ainda quando se utilizam ramos com flores ou frutos, o que torna nulo o enraizamento se esses órgãos não são eliminados ao preparar as respectivas estacas (COUTINHO et al., 2009). Para garantir o bom enraizamento, o ideal é planejar


C a p í t u l o I | 59 a enxertia para o estádio de renovação de folhas do argan, o qual poderá ocorrer entre os meses de abril a junho de cada ano no semiárido brasileiro. O material vegetal deve ser mantido fresco e úmido, em um lugar protegido de correntes de ar e de insolação, desde quando retirados da planta-matriz, até que as estacas estejam preparadas. Depois de preparadas são tratadas com biofungicidas, para que sejam protegidas do ataque de doenças, podendo ser utilizadas soluções à base de cúpricos (PEIXOTO, 1973). Posteriormente, quando as gemas ou olhos estão salientes, retira-se o atilho, poda-se o porta-enxerto mais ou menos 10 cm acima do local do enxerto. O broto é frouxamente atado ao toco para evitar ser quebrado pelo vento ou outro agente. Após um mês, processa-se a remoção completa do toco em forma de bisel, junto ao enxerto sem danificálo (PEIXOTO, 1973). As mudas devem permanecer no viveiro até a próxima estação chuvosa, quando estarão aptas para o plantio no campo ou para a enxertia (porta-enxerto). O transplante para o local definitivo é feito no início da estação chuvosa. Uma vez completados 12 ou 24 meses, época em que os enxertos já alcançaram mais de 0,8 m de altura, procedem-se à retirada dos blocos grandes com as raízes e transportam as mudas para o plantio definitivo, no bosque. O espaçamento deve ser de 10 m entre as filas e as árvores. Com espaçamento reduzido de 10 m x 10 m, plantam-se 100 árvores por hectare, desde que sejam controlados os ramos vegetativos com a prática da poda da árvore a partir do terceiro ano. As covas devem ter 1 x 1 x 1 m, cheias de terra preta misturada com esterco de curral ou composto com 2 kg de pó de osso. A muda é colocada no centro da cova, um pouco abaixo do nível do terreno (PEIXOTO, 1973). O seu cultivo em Espanha, especificamente nas terras secas e quentes do sudeste, de condições semelhantes ao seu local de origem, não se enraizou satisfatoriamente, como sucedeu no passado quando a mesma espécie foi introduzida na era árabe da Península Ibérica, apesar de que algumas plantas ainda persistem. Talvez não tenha sido usada a muda de argan com mais de 2 anos de idade e efetuado seu plantio no início do inverno.

TOLERÂNCIA À SALINIDADE DO ARGAN Nas regiões áridas e semiáridas da bacia do Mediterrâneo, a salinização dos solos é um dos principais fatores abióticos que reduz a produtividade de muitas culturas. A introdução de plantas tolerantes à salinidade é uma das técnicas mais recomendadas para melhorar os solos afetados por esse fenômeno. A árvore de argan é uma daquelas espécies


C a p í t u l o I | 60 com grande potencial. No trabalho realizado na universidade em Argélia foi comparado o comportamento de três procedências de arganeiro coletadas na província de Tindouf e submetidas a condições de estresse salino desde a fase de germinação. Essas sementes foram provenientes das comunidades de Merkala, Oued Bouyhadine e Oued ElGahaouane. O estresse salino foi induzido pela aplicação de diferentes concentrações de NaCl: 0; 4; 8 e 16 g.l -1. O efeito do estresse salino na germinação de sementes de argan mostrou uma variabilidade de tolerância entre as diferentes procedências testadas por Nasri e Benmahioul (2015). As sementes de Oued Bouyadhine foram as mais resistentes ao sal, onde a taxa de germinação foi da ordem de 66,7%, na presença da maior concentração de sal testada. Assim, o efeito do estresse salino no crescimento de mudas jovens foi analisado. Os resultados obtidos também mostram que os diferentes parâmetros de crescimento estudados variam de acordo com as procedências estudadas. De fato, o sistema vegetativo da árvore de argan é o mais sensível ao efeito do estresse salino que seu sistema radicular para todas as procedências testadas. A redução no crescimento da parte aérea tem sido mais acentuada no material originado de Merkala do que de Oued El-Gahaouane, especialmente sob o efeito da maior concentração testada (16 g.l-1 NaCl) (Figura 44).

Figura 44. Efeito do estresse salino (A: 0g / l de NaCl, B: 4g / l de NaCl, C: 8g / l de NaCl, D: 16g / l de NaCl) no crescimento de plântulas jovens de Argania spinosa L de três procedências (a: Oued El Gahaouane, b: Merkala, c: -Oued-Bouyhadine).


C a p í t u l o I | 61

CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS DA ESPÉCIE O argan é distribuído naturalmente desde o nível do mar até 1.700 metros de altura, enquadrado nos terrenos do regime árido e semiárido. Considera-se que a precipitação ótima para o desenvolvimento das espécies é em torno de 250 mm por ano, porém, sua amplitude ombroclimática (indiferente edáfico) favorece sua presença em locais com chuvas menores que 100 mm por ano, desde que haja uma compensação higrométrica, resultado da proximidade com o oceano Atlântico ou por formação de orvalho na região serrana. Além disso, o argan aparece em climas secos com precipitação de até 400 mm, geralmente em sua variação quente e mais temperada (com a média acima de 10 °C para as regiões quentes). A distribuição das chuvas ao longo do ano é caracterizada por grande variabilidade espacial e temporal, com predomínio de fenômenos tempestuosos, que é uma das características mais marcante do bioma caatinga exclusivamente brasileira. O intervalo de temperaturas associado ao argan é muito amplo, suportando valores acima de 50 °C, graças às diferentes adaptações ecofisiológicas que a árvore desenvolve. Pelo contrário, indica-se que não tolera a geada, especialmente nos primeiros estágios de desenvolvimento da planta. Alguns estudos indicam que o limite inferior de crescimento da espécie é de 4 °C (M’HIRIT et al, 1998). Portanto, fica evidente que dentro de sua área de distribuição natural, o argan está presente em condições climáticas muito diversas. Essa variabilidade de fatores climáticos tem reflexo na ampla distribuição geográfica da referida espécie, que por sua vez está associado a uma grande variabilidade morfológica, a partir das formas de arbustivas até os portes de árvores frondosas. Consequentemente pode-se deduzir que não sob todas as condições climáticas o argan vai aparecer como uma árvore frutífera altamente produtiva. É principalmente nas planícies de Souss em Marrocos, onde as geadas são inexistentes, e a precipitação está em torno de 300 mm por ano, e o regime térmico é principalmente de caráter termomediterrânicos. Além dos aspectos climatológicos, o argan é uma espécie de alta rusticidade, indiferente à natureza litológica do solo. A maioria dos bosques de argan desenvolve em terrenos calcários, embora também existam solos ácidos. Adapta-se melhor a substratos soltos e arenosos, uma vez que não tolera o encharcamento. Apesar de tudo, seu poderoso sistema radial permite que a planta cresça em terrenos rochosos ou sobre vertentes que atravessa em busca de umidade do subsolo. Com base na literatura, determina-se que predomina sobre os solos de regossolo, litossol, vertissolo e calcisol


C a p í t u l o I | 62 (EL-ABOUDI et al, 1992). Segundo Radi (2003), a planta de argan cresce bem em solos calcários, aluviões e até em terrenos salinos.

ESCOLHA DO TERRENO A instalação de um bosque comercial deve ser antecedida do conhecimento das exigências climáticas do argan e os terrenos da região semiárida brasileira apresentam a grande vantagem pedológica e topográfica, favorável à lavoura em grande escala, à mecanização extensiva, o que muito contribui para a agricultura em moldes econômicos. Sua adaptabilidade a solos arenosos e/ou rasos, com severas limitações de água e nutrientes, bem como seu potencial de uso, o torna uma melhoria das condições socioambientais em áreas com grande expressão de solos com estas limitações, como é caracterizado o semiárido brasileiro. A existência de uma malha viária que integre a produção aos locais de armazenamento e beneficiamento é essencial para a redução de custos de transporte e facilidade na comercialização dos produtos derivados do argan. Além disso, o argan é considerado uma planta rústica, pouco exigente em fertilidade do solo, contudo para os cultivos comerciais que exijam produtividade, devendo escolher solos com boa drenagem e aeração. Para obter um bom desenvolvimento das árvores, as mudas de argan devem ser plantadas em solos com profundidade efetiva de, no mínimo, 50 cm. Também a palhada (bagana da carnaubeira) pode ser utilizada como cobertura morta do solo para preservá-lo do excesso de aquecimento pelo sol, reduzir a evaporação com maior retenção da umidade e abafar em parte as plantas daninhas (PEIXOTO, 1973). PREPARO DO SOLO O preparo do solo, para instalação do bosque de argan, realizado de forma correta desempenha um importante papel para o plantio de mudas com 12 meses ou 24 meses de idade; e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das árvores, atingindo o seu ponto de maturação entre 5 a 7 anos, principalmente quando se trata de mudas não enxertadas. Enquanto as enxertadas, a produção das árvores se torna precoce com 3 a 4 anos. O tipo de cobertura vegetal e as características físicas do solo irão determinar o procedimento a ser adotado no preparo do solo. Como se trata de vegetação da caatinga,


C a p í t u l o I | 63 cuja cobertura vegetal é constituída de arbustos e árvores de médio porte, o desmatamento é realizado cortando-se, inicialmente, as plantas de porte elevado para aproveitamento da madeira em toras, estacas e lenha e, em seguida, procede-se a derrubada da vegetação remanescente, usando-se meios mecânicos (tratores de esteira) ou manuais (machados, chibancas, foices). Recomenda-se o emprego de trator de esteira com corrente pesada para redução de custos e aumento do rendimento da operação. Uma vez desmatado o terreno destinado ao plantio do argan ou quando se trata de clareira com poucas árvores, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total da área. O não preparo do solo com implementos agrícolas é considerada uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e com raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção. Também o plantio da área de argan com mudas não enxertadas (Figura 45) poderá ser realizado no início do inverno, as quais poderão ser preparadas com 12 meses de antecedência no viveiro e, para garantir sua sobrevivência às condições adversas, recomenda-se levá-las ao campo com mais de 24 meses de idade.


C a p í t u l o I | 64

Figura 45. Muda não enxertada de argan com 11 meses de idade pronta para o plantio no campo.

O preparo mínimo do solo para o plantio de mudas de argan pode ser realizado com a roçadeira de arraste, acoplada ao trator, no terreno de clareira, visando abaixar o mato, antes da operação de abertura de covas. Também pode ser realizado passando o cultivador de tração animal ou minitrator, tipo Tobata (Figura 46) apenas nas linhas de cultivo demarcadas com piquetes posicionados nas cabeceiras, orientando-se por duas estacas de 2 m de altura posicionadas nas duas extremidades (cabeceiras) do campo ou por alguns piquetes distribuídos ao longo de cada linha de plantio. Esse mesmo procedimento de preparação e demarcação é adotado nas demais linhas de plantio subsequentes.


C a p í t u l o I | 65

Figura 46. Preparo mínimo no terreno de clareira feito apenas com a roçadeira atrelada ao trator ou passando o mini trator apenas nas linhas de plantio. Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim e Vicente de Paula Queiroga.

Na preparação do solo em toda área para implantação do bosque de argan, procede-se do mesmo modo como para os pomares em geral. Se há tocos, é preciso arrancá-los. Em seguida, ara-se e gradeia-se usando o sistema de tração motorizada do trator (Figura 47). Nos primeiros anos, é conveniente fazer plantio intercalar com o argan, para cobrir o solo e pagar as despesas de instalação. Assim, as lavouras de feijão, milho, gergelim, sorgo, mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno. No clima do Nordeste, a terra não deve ficar exposta à insolação e ao vento. Do terceiro ano em diante, serão abolidas as culturas intercalares, adotando-se em seu lugar a adubação verde com leguminosas nativas e gradações periódicas.

Figura 47. Operação de preparo de solo com aração e gradagem com ancinho para o plantio de mudas de argan em consórcio com espécies alimentares. Foto: erierika.


C a p í t u l o I | 66 MARCAÇÃO DAS COVAS A primeira fileira de covas é alinhada com três ou mais balizas em linha reta, a qual equivale à linha mestre, medindo os espaços e espetando as estacas bem firmes. Uma vez determinada à primeira linha de plantio, os operários em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando a corda marcada com a fita adesiva colorida no espaçamento exigido para a espécie Argania spinosa. A segunda linha e as demais linhas são demarcadas paralelamente, aproveitando-se da colocação dos piquetes em suas cabeceiras. Uma vez esticada a corda entre os dois piquetes posicionados nas suas cabeceiras, previamente marcada com auxílio da trena (Figura 48), providenciam-se a marcação das covas e respectiva abertura, visando plantar corretamente o campo de argan no espaçamento, por exemplo, de 10 m x 10 m nos seus dois sentidos, comumente denominado de plantio cruzado.

Figura 48. Corda de nylon marcada no espaçamento de 10 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

As operações de marcação devem ser executadas com auxílio de corrente de plantio, trena e piquetes. Estes devem ser fincados no solo observando-se rigorosamente o alinhamento. Além de indicar o local da cova, o piquete será aproveitado também para o tutoramento das plantas jovens durante vários meses, sendo indispensável em locais com ventos fortes. Em extensas áreas, o custo desta operação pode ser reduzido pelo uso do teodolito.


C a p í t u l o I | 67 ABERTURA DAS COVAS Após as primeiras chuvas de inverno, com o solo ainda úmido, é possível efetuar a abertura das covas com o cavador para receber a muda do argan, por ocasião do plantio, o qual é confeccionado geralmente a partir de uma foice (Figura 49), ou com um perfurador motorizado, projetado para perfurações de solo na silvicultura (Figura 50).

Figura 49. Instrumento cavador de uso manual para abertura de covas, confeccionado geralmente a partir de uma foice quebrada. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 50. Perfurador motorizado usado para perfurações de solo ou abertura de covas. Fotos: Arquivo da Alibaba.


C a p í t u l o I | 68 ESPAÇAMENTO O espaçamento convencional recomendado para o argan pode variar de 5 m x 3 m (superadensado com 667 plantas com uso de poda e colheita mecanizada) a 10 m x 10 m, sendo o último arranjo mais recomendado para o plantio comercial da cultura do argan que depende da tradicional colheita manual (Figura 51). Escolhido o espaçamento, iniciase a marcação da área utilizando-se piquetes nos locais onde serão abertas as covas, alinhados por meio de corda de náilon, com ajuda de fita métrica, para alinhamento das plantas no espaçamento definido. Em terrenos com declividade, as linhas devem ser demarcadas em nível e riscadas com o auxílio de um pequeno sulcador, obedecendo ao espaçamento recomendado.

Figura 51. Pomar de argan (Argania spinosa). Foto: Krizia Almonte


C a p í t u l o I | 69 No cultivo do argan pelo sistema de exploração extrativista, usando o espaçamento de 10 x 10 m (Figura 52), espera-se uma produtividade de até 500 kg de frutos por ha. Essa estimativa de potencial de produtividade para o argan pode ser aumentada com a seleção de matrizes e o desenvolvimento e aprimoramento de sistemas de cultivo. No entanto, o monocultivo de espécies exóticas, especialmente daquelas que não sofreram processo de melhoramento, pode suscitar preocupações, especialmente com relação à incidência de doenças.

Figura 52. No sistema quadrado, utiliza-se o espaçamento de 10 m nos dois sentidos para plantio do argan. Foto: Sérgio Cobel.

Para o sistema de cultivo ordenado com argan, o grande desafio é a adequação da densidade de árvores para sua otimização, tendo em vista os diferentes espaçamentos praticados no bosque de argan poderá produzir maior quantidade de frutos na extremidade dos galhos expostos ao sol, provavelmente os espaçamentos mais amplos podem propiciar maior produtividade. Assim, devem ser preferidos espaçamentos que proporcionem área ocupada por planta entre 100 m2 a 200 m2, ou seja, densidade de 50 pés\ha a 100 pés\ha. Provavelmente no bosque pouco adensado de argan poderá existir uma ampla gama de organismos que se alimentam de seus frutos, flores, folhas, troncos e raízes. Alguns são de grande importância como polinizadores e dispersores de sementes, principalmente no caso das cabras. Outros são pragas ou agentes causais de doenças, mas por estarem em equilíbrio na natureza, causam poucos danos significativos. Porém, numa situação de cultivo adensado, tais organismos podem se transformar em pragas e doenças em nível


C a p í t u l o I | 70 de dano econômico e provocar perdas consideráveis, em virtude do rompimento do equilíbrio ecológico.

PLANTIO Em regime de sequeiro, o plantio das mudas, trazida do viveiro em saco plástico, deve ser efetuado no início da estação chuvosa. Em áreas irrigadas (uma vez por mês irriga apenas com 3 litros de água por planta), pode ser realizado em qualquer época do ano. Por ocasião do plantio, é necessário retirar o saco com cuidado para não danificar o sistema radicular das mudas, colocando-a no centro da cova, mantendo o coleto da plantinha no mesmo nível do terreno (Figura 53). É importante lembrar que os 20 primeiros centímetros de terra escavada são postos separados dos demais, e quando a muda é depositada dentro da cova, então começa a enchê-la com esses primeiros 20 cm de terra escavada (Figura 54). Em seguida, acrescenta-se o estrume curtido (20 litros) misturado com a terra do subsolo (PEIXOTO, 1973).

Figura 53. Plantio correto de muda não enxertada: eliminação do saco plástico; colocação da muda na cova, mantendo o coleto da plantinha no mesmo nível do terreno.

Figura 54. Colocar primeiro a terra de cima na cova e depois a terra de baixo ou do subsolo mesclada com estrumo.


C a p í t u l o I | 71 É indispensável à rega manual depois da plantação, mesmo que os plantios das mudas sejam feitos no inverno (Figura 55). No caso de ocorrência de seca, recomenda-se irrigar as mudas no primeiro ano (uma vez por mês irriga apenas com 3 litros de água por planta). A plantação das mudas deve ser inspecionada semanalmente para dar combate às pragas e doenças, pulverizando-as com inseticidas assim que sejam observados seus ataques, evitando infestações generalizadas (PEIXOTO, 1973).

Figura 55. Uso de água na cova após o plantio da muda de argan na região semidesértica de Marrocos.

Após plantio, deve-se realizar o tutoramento (amarrio da muda em uma estaca de 1 m de altura, enterrada junto ao caule da planta) para orientar o crescimento da planta e prevenir a inclinação da planta provocada pelo vento, o que facilitaria a escalada de cabras para comer na copa da árvore adulta. Por outro lado, para garantir maior pegamento das mudas, devem-se transplantar somente aquelas com idade de 24 meses. Ao mesmo tempo, devese usar cobertura morta para manter a umidade e reduzir a infestação de plantas daninhas. As mudas mortas devem ser imediatamente substituídas (replantio), para que o plantio seja mantido uniforme.

PODA DE MANUTENÇÃO Consiste na eliminação anual dos ramos emitidos próximo ao solo ou no porta-enxerto e, ainda, aqueles com crescimento lateral anormal. Os ramos de crescimento vertical e aqueles com tendência a inclinarem-se em demasia para o solo devem, também, ser eliminados, justamente com os galhos doentes, praguejados e secos. Recomenda-se cortar rente ao caule os ramos menos desenvolvidos e que estavam arrastando no chão. Além


C a p í t u l o I | 72 disso, toma-se o cuidado de aplicar calda bordalesa no local do corte para evitar a contaminação por fungos e bactérias na planta. A poda de manutenção deve ser realizada no início do período das chuvas, a fim de que sejam facilitadas as operações de controle das ervas daninhas, principalmente no caso da roçadeira mecânica, e por reduzir a incidência de pragas e doenças. Mesmo assim, recomenda-se pesquisar mais a prática da poda de galhos para condução da planta do argan, para melhor conformação da sua copa, bem como a poda de produção, visando estimular a indução de novos ramos produtivos. Como a produção do argan é mais periférica, sendo mais concentrada na parte média e parte superior da copa da planta (correspondendo a 60%), deve-se evitar a eliminação desses ramos, tendo em vista que quanto mais severa for à poda maior será a perda de produção do argan. A poda drástica diminui, também, o sombreamento da área sob a copa, elevando o potencial de crescimento das plantas daninhas e aumentando, consequentemente, o custo de manutenção da cultura.

IRRIGAÇÃO A irrigação deverá ser aplicada somente no primeiro ano, se as chuvas forem escassas, principalmente no período de verão. Recomenda-se irrigar, uma vez por mês, com 3 L de água por árvore de argan (ZOHRA et al., 2014). As plantas de argan cultivadas em Israel, que foram irrigadas durante o primeiro ano, começaram a dar frutos no terceiro ano, e os rendimentos máximos foram colhidos a partir do sexto ano: 30 kg de frutos (secos ao sol) por árvore para os melhores exemplares. No entanto, a produção estimada de óleo para os grandes produtores foi de 0,9 kg por árvore, que é inferior a um quinto do óleo produzido por oliveiras da mesma idade que crescem na área (NERD et al, 1998). O teor de óleo estava na mesma faixa obtida para os frutos de argan colhidos nas explorações extrativistas de Marrocos, de 50 a 56% do peso seco da amêndoa (NOUAIM, 1991). O baixo rendimento de óleo foi relacionado ao baixo peso total de amêndoas. Os componentes predominantes do fruto foram o pericarpo e a parede da drupa (endocarpo), cada um representando 44-48% do peso seco total da fruta (o peso seco do fruto variou entre 3,5 e 7 g). As amêndoas, por outro lado, constituíam apenas 5 a 8% do peso seco total (NERD et al. 1998).


C a p í t u l o I | 73 CULTURAS INTERCALARES E ADUBAÇÃO ORGÂNICA Nos primeiros três anos, é conveniente fazer plantio intercalar com a argan, visando reduzir as despesas de instalação do pomar. Assim, as lavouras de feijão, de gergelim, de milho, de mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno, pois, no clima do Nordeste, a terra não deve ficar exposta à insolação e ao vento. Do quarto ano em diante, pode-se interromper essa consorciação e adotar a adubação verde, com o plantio de alguma leguminosa. Não esquecer que o pomar deverá ser cercado, quando se visa produzir as culturas intercalares. O fator limitante para eleva a fertilidade do terreno e aumenta a produtividade das culturas intercalares com o argan é a disponibilidade, principalmente de nitrogênio e fósforo (DUQUE, 2004). Portanto, as deficiências destes elementos no solo podem ser compensadas pelo uso dos adubos orgânicos e aplicações de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos, antes da preparação do terreno. Para a recuperação do solo pobre em matéria orgânica, recomenda-se utilizar 20 toneladas de esterco de curral bem curtido por hectare (QUEIROGA et al., 2007).

TRATOS CULTURAIS Para proporcionar seu regular crescimento, é indispensável que nos arganes, durante os primeiros anos de idade, sejam dados os mesmos tratos culturais para as demais plantas florestais, frutíferas, etc., isto é, conservá-las sempre livres de pragas de toda natureza e controle das ervas daninhas (BAYMA, 1957; DINIZ NETO et al., 2012). Para evitar esse crescimento lento da planta de argan, principalmente nos dois primeiros anos de idade, é importante mantê-la livre de plantas invasoras, devendo-se realizar o coroamento manual (enxada) ao redor da planta num raio de 0,5 m (Figura 56).


C a p í t u l o I | 74

Figura 56. Coroamento realizado em volta da planta de argan para eliminar a competição de plantas invasoras. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

O uso de cobertura morta tem a possibilidade de reduzir a evaporação da umidade do solo, acelerada pelo aquecimento produzido pelo sol, e a ação do vento impertinente. Ainda contribui para redução das capinas, cobrindo o mato. A cobertura em forma de coroa ou em volta da planta de argan pode ser de capim picado ou bagana (Figura 57), que é a folha de carnaúba triturada pela máquina de batição para retirada da cera (QUEIROGA et al., 2013). Também essa cobertura é a responsável, tanto para a planta como para o solo, dos seguintes benefícios: - Incrementa a produtividade dos cultivos; - Diminui a variação do solo; - Protege os agregados do solo contra os efeitos erosivos da chuva; - Aumenta a capacidade de retenção de água na zona de cobertura; - Mantém a fertilidade do solo; - Fornecimento de nitrogênio para as plantas; - Reduz os custos do manejo do pomar


C a p í t u l o I | 75

Figura 57. Utilização de material vegetal (Foto A) e bagana (Foto B) como cobertura morta ao redor das mudas de argan.

PREPARAÇÃO DE MEIOS DE CULTURA PARA O ARGAN

A técnica de micropropagação, desenvolvida desde meados do século XX, gerou sistemas de propagação vegetal bastante explorada por biofábricas (GERALD, 1995). A técnica em si explora a capacidade organogenética de tecidos vegetais mediante ação de reguladores de crescimento. Os tecidos ou órgãos utilizados são, na maioria, aqueles com rotas de desenvolvimento já determinadas como gemas apicais e laterais, entre outros. Deles são obtidos microplantas que são submetidas a brotações sucessivas dentro de um sistema axênico. A técnica oferece uma produção massal de mudas em pequeno espaço de tempo físico e cronológico; além disso, as plantas produzidas são clones perfeitos e livres de pragas e doenças (NOUAIM et al., 2002).


C a p í t u l o I | 76 Um sistema completo de micropropagação, pode ser dividido em poucos estágios, de acordo com os procedimentos de cada laboratório. Murashige 1974 apud Debergh e Maene (1981), dividiu a micropropagação em três estágios básicos: estágios I, II e III. O estágio I compreende a desinfestação e introdução do material em cultivo in vitro. Os procedimentos e agentes desinfetantes utilizados são os mais diversificados. Segundo Grattapaglia e Machado (1990), os produtos mais utilizados são soluções a base de hipoclorito de sódio ou de cálcio, cloreto de mercúrio, cloreto de benzalcônio, coquetéis de fungicidas e antibióticos, e até mesmo, combinações de vários produtos. A maior dificuldade nesse estágio reside na obtenção de explantes vegetais descontaminados sem conduzi-los a morte. O cloreto de mercúrio tem se revelado bastante tóxico aos tecidos vegetais. Os antibióticos, alguns deles tóxico, têm aspectos de ação específica, na maioria dos casos interferem no crescimento também do vegetal cultivado e, além disso, quase sempre, funcionam não como agentes bactericidas e sim como agentes bacteriostáticos. O mesmo pode ser dito em relação aos fungicidas. O cloreto de benzalcônio, apesar de pouco tóxico aos vegetais, sua eficiência na desinfestação parece ser menor em relação aos outros produtos. Um dos produtos mais utilizados e apontados entre os mais eficientes na desinfestação de explantes vegetais é o hipoclorito de sódio. O estágio II compreende a indução e multiplicação de brotos. Neste caso, em função da responsividade fisiológica do material vegetal utilizado, faz-se uso das mais diversas combinações de hormônios e reguladores de crescimento. O estágio III compreende o enraizamento e alongamento dos brotos obtidos no estágio II. Poucos trabalhos abordam detalhes na fase de aclimatação, que corresponde ao estágio IV, onde ocorre o transplante das microplantas obtidas no estágio III para condições ex-vitro, mas também se caracteriza em outro grande problema da micropropagação. Segundo Grattapaglia e Machado (1990; 1998), as dificuldades decorrem de vários fatores como a passagem da microplanta de condições de reduzido fluxo respiratório para condições de alta demanda na atividade respiratória. A microplanta passa de condições quase heterotróficas para condições autotróficas. Passa também de condições de alta disponibilidade de nutrientes para situações onde precisa rapidamente aumentar a absorção de sais e, finalmente, a microplanta sai de condições totalmente assépticas para condições sujeitas a toda sorte de microrganismos, principalmente saprofíticos. Outro fator crítico, ressaltado pelos autores, refere-se ao tipo de substrato utilizado como suporte no transplantio.


C a p í t u l o I | 77 Por outro lado, para preparação de um litro de meio de cultivo para germinação de sementes de argan foi adicionado num frasco 900 ml de água destilada e em seguida os seguintes componentes: 2,15 g de sais de Murashige e Skoog (Duchefa, Ref M0221.), 30 g de sacarose (Phytotechnology Laboratories, ref. S391), 2 ml de vitamina B5 Gamborg mistura 500X (mistura de Gamborg B5 vitamina, Duchefa, ref. G0415) e 0,5 g de MES (2- [N-morfolino] etanossulfónico, Duchefa, ref. M1503). O pH foi então ajustado para 5,8 com KOH 1 M e o volume completado para 1 L com água destilada. O meio de cultura foi dividido em dois frascos de 500 ml e 2 g de gelificante (Gelrite, Duchefa, ref G1101) foram adicionados a cada um deles. O meio de cultura foi esterilizado na autoclave a 121ºC durante 20 minutos. O meio foi aquecido num banho termostatizado a 60ºC e foi levado para câmara de fluxo laminar horizontal (Telstar AH100) para ser adicionado 144 l de uma solução estoque deácido giberélico (Duchefa, ref.G0907) e 250 l de uma solução estoque de ampicilina (Duchefa, ref A0104) para cada meio litro de meio. Cerca de 50 ml deste meio de cultura foram distribuídos em tubos de ensaio, com 20 cm de comprimento e 2,3 cm de diâmetro, previamente esterilizados na autoclave. Após a solidificação do meio de cultura, os tubos foram cobertos com algodão estéril e armazenados no refrigerador (4°C) até o uso.

Para preparar os meios de indução de gemas de argan, o mesmo protocolo descrito acima foi seguido, complementando o meio com 144 ul de uma solução estoque de ácido giberélico e 250 l da solução estoque de ampicilina para evitar o crescimento bacteriano; e, além disso, foram adicionados 37,8 μl de uma solução estoque de citocinina (Duchefa, ref.T0916). Cerca de 90 ml do meio de indução de gema foi dispensado em frascos de vidro estéreis com tampa de rosca de plástico, que foram armazenados no refrigerador (4ºC) até o uso.

Para preparar o meio de enraizamento de argan, o mesmo protocolo inicial foi seguido, mas neste caso o meio é suplementado com 250 μl de uma solução estoque de auxina (Duchefa, ref.I0902, N0903), além de outro 250 l da solução de estoque de ampicilina. Cerca de 90 ml do meio de enraizamento foi dispensado em frascos de vidro estéreis com tampa de plástico, que foram armazenados no refrigerador a 4ºC até o uso posterior. Nas Figuras 58, 59 e 60, observa-se o desenvolvimento radicular de plântula de argan obtido no trabalho de micropropagação vegetal conduzido por Justamante et al. (2017).


C a p í t u l o I | 78

Figura 58. Visão macroscópica do fruto, semente (semilla), endosperma (endospermo) e embrião (embrión) do argan. Foto: Miríam Allach (2012).


C a p í t u l o I | 79

Figura 59. Gráfico ilustrativo mostrando resumidamente todo o processo de micropropagação vegetal do argan. Fotos: María Salud Justamante; Sergio Ibáñez; Joan Villanova; José Manuel Pérez-Pérez (2017).


C a p í t u l o I | 80

Figura60. Aclimatação de microestacas de árvore de argan com raízes in vitro em ambiente controlado (B). Uma microplântula de argan com dois meses de idade mostrando desenvolvimento radicular profuso. (C) Microplântula de argan de raiz enraizada após seis meses em estufa. Barras de escala: 5 mm (B) e 15 mm (A, C). Fotos: María Salud Justamante; Sergio Ibáñez; Joan Villanova; José Manuel Pérez-Pérez (2017).

PODA A produção da argan é influenciada por diversos fatores, ligados ao relativo abandono e falta de cuidados em que a planta nativa tem vivido nas zonas áridas de deserto de Marrocos, como seja baixa densidade dos bosques com agrupamentos irregulares com média de 30 plantas por hectare, formados ao acaso no sistema extrativismo, nos quais os indivíduos reciprocamente se prejudicam no desenvolvimento, na formação da copa e na própria floração. Além disso, a permanência de galhos envelhecidos na árvore compromete em parte sua produção de frutos (Figura 61).


C a p í t u l o I | 81

Figura 61. Árvore de argan velha apresentando produtividade reduzida. Foto: Msanda, 2011. A técnica da poda poderá promover a indução de novos ramos na planta de argan, sendo que as inflorescências apresentam as flores condensadas em glomérulos axilares sésseis e vão surgir nos novos ramos. Uma vez sucedendo, a poda estará proporcionando maior frutificação por árvore e, ao mesmo tempo, reduzindo problemas de crescimento vegetativo intenso que ocasionam perdas produtivas. Assim efetuada, a poda irá renovar ou restaurar parte ou a totalidade das plantas no sistema de exploração do extrativismo.

Para conseguir volumes de copa aceitáveis de argan e de porte erguido, deve-se recorre a técnica da poda. Os caules das plantas de argan devem ser tão retos quanto possível, sem mudanças bruscas de direção. Quando não podada a árvore irá surgir o agrupamento de caules e de galhos na parte inferior, formando um ângulo muito aberto entre eles, o que permitiria a escalada de cabra na árvore para comer os frutos de sua copa (Figura 62).Os galhos pendentes deverão ser reduzidos, e os horizontais com comprimento excessivo deverão ser encurtados, de modo que somente um tronco seja definido e bem visualizado, com as primeiras ramificações a uma altura superior a 0,80 m. Ou seja, do tronco definitivo se cortam todas as brotações vigorosas presentes na parte abaixo de 0,80 cm a 1,0 m, deixando apenas os ramos pouco desenvolvidos e sem brotações verticais.


C a p í t u l o I | 82

Figura 62. Agrupamento de caules e galhos na parte inferior da árvore de argan (planta não podada) facilita a escalada de cabras para se alimentar de frutos na sua copa (ocorreu a germinação de três amêndoas de um só caroço de argan).

Uma planta pré-formada no viveiro e de boa qualidade é o ponto de partida para se obter uma plantação produtiva, mecanizável e rentável. Devem-se selecionar no viveiro as mudas, ainda em saco de polietileno, de plantas jovens e vigorosas. Previamente, eliminase o saco plástico e depois coloca a muda em uma cova de 15 cm de profundidade. Simultaneamente um tutor de vara grossa (5 cm de diâmetro e 2 m de altura) é colocado amarrado folgadamente a planta em dois ou três pontos com uso de barbante, de modo a manter em todo momento a guia em sentido vertical. As brotações de baixo vigor devem ser eliminadas e nunca as gemas terminais, o que ocasionaria um excessivo número de ramos principais.

Periodicamente, um operário deverá revisar a atadura das plantas ao tutor, evitando que se produza um estrangulamento à proporção que vai aumentando o diâmetro do caule, principalmente quando se emprega cordas plásticas. No caso de ocorrer ventos dominantes de certa intensidade na região, recomenda-se colocar o tutor por trás da planta para que não se produza fricções diretas entre ambos, o que poderia resultar em lesões graves com possível ponto de entrada de pragas.


C a p í t u l o I | 83 Ao atingir 1,00 m de altura, recomenda-se fazer podas de formação para orientar o crescimento das plantas enxertadas de argan, principalmente quando se pretende implantar novas áreas de cultivos em espaçamento sistemático. Ou seja, o crescimento vegetativo descontrolado piora o fenômeno denominado ano ON e ano OFF (denominado em espanhol de vancería), que ocorre normalmente com as plantas de oliva, argan, oiticica etc, em que um ano a planta produz bem, e no outro não (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). Outra vantagem do uso da poda é de reduzir o espaçamento entre plantas de argan para 5 m entre fileiras e de 3 m entre árvores (667 plantas/ha), em lugar de 10 m em todo sentido no sistema de plantio sem poda, ou seja, há um aumento significativo acima de 6 vezes na população de plantas por ha em favor do uso da poda (SILVA, 1940). O podador deve sempre manter os ramos sombreados, conservando o maior número possível de folhas, intentando que estas estejam bem iluminadas. A ação direta do sol sobre o tronco e os ramos principais acabará por queimá-los e envelhecê-los prematuramente, reduzindo o vigor e vida produtiva da planta. Um volume de copa excessivo (superior ao ótimo com grande desenvolvimento desproporcional da árvore em relação a qualidade do ecossistema em que vegeta) incidirá negativamente sobre o tamanho do fruto, sobre o rendimento de óleo, e sobre a regularidade e a quantidade de frutos produzidos, como consequência de uma iluminação deficiente e o rápido consumo de água no solo. Por este motivo é previsível que no verão se produz um severo déficit hídrico que pode afetar negativamente o desenvolvimento dos frutos, e, em casos extremos, ocasionar a queda massiva dos mesmos e, por conseguinte, a perda de uma boa parte da colheita. Devido à grande variabilidade morfológica das árvores de argan, é possível identificar algumas plantas de pequeno porte bastante produtivas, de acordo com Jaccard (1926). Com conhecimento prévio do potencial produtivo de cada planta, a enxertia seria a técnica mais viável para o processo de formação de mudas, mantendo, assim, as características genéticas das plantas-matrizes. Além disso, seria necessário aplicar a técnica de poda na plantação de argan e, através do espaçamento adensado de 5 m x 3 m, conseguiriam uma população 667 indivíduos por ha. É importante destacar que a oliveira (Olea europaea L.) é uma árvore (também é cultivada em escala comercial no Brasil) que pode ter dimensões e formas muito variáveis (Figura 63) e por meio de melhoramento foi


C a p í t u l o I | 84 domesticada, a qual chegou a passar de uma árvore frondosa pouco produtiva para uma planta arbustiva de porte baixo que permite o plantio adensado, colheita mecanizada, maior produtividade, etc. O mesmo caso poderá suceder no futuro com a domesticação da espécie Argania spinosa.

Figura 63. Árvore gigante de oliva Olea europaea L. var. Alfafarenca e planta domesticada de oliva, variedade arbequina, apropriada para a colheita mecanizada. Foto: http://elrebostdelham.blogspot.com.es/

Uma forma de regeneração de árvores velhas ou plantas pouco produtivas seria a substituição de copas (Figura 64). É uma técnica econômica que consiste, essencialmente, em rejuvenescer as árvores de baixa produção, através da enxertia, utilizando clones superiores, que possuam alta produção. Quando se trata de árvore de argan com apenas um troco, a inserção dos ramos de substituição não deverá ser feita diretamente sobre o tronco, e sim sobre os ramos principais, buscando conseguir um espaço suficiente onde


C a p í t u l o I | 85 os ramos de substituição possam desenvolver sem competição pela luz. As novas brotações serão, no futuro, os ramos secundários da nova estrutura rejuvenescida (Figura 65).

Figura 64. Esquema das diferentes intervenções de poda necessárias para o rejuvenescimento de uma árvore improdutiva de argan. Foto: Fontanazza (1983).

Figura 65. a) Planta não podada sem eliminação das brotações na base do tronco; b) planta podada apoiada pelo tutor por até dois anos de idade e c) planta adulta de argan com apenas um caule ereto. Fotos A e B: Diego Barranco et al (1997).

Outro mecanismo seria o corte da planta adulta de argan, em bisel, cerca de 40 cm do solo, utilizando motosserra para induzir as brotações, as quais deverão estar aptas para enxertia entre 60 a 90 dias. O corte do tronco da planta adulta deveria ocorrer no mês de


C a p í t u l o I | 86 janeiro no semiárido e no mês de março realizaria nos ramos novos a técnica de enxertia de substituição de copa (método da borbulhia). As práticas de poda, realizadas ao longo da vida de uma árvore de argan, sempre devem equilibrar o crescimento e a frutificação, não desvitalizar ou envelhecer prematuramente a árvore. Recomenda-se podar pouco durante o período de formação e, durante o período produtivo, a poda bianual tem sido mais indicada agronomicamente que a poda anual (COUTINHO et al., 2009). Dependendo do tipo de poda praticado na copa da planta após colheita (final de janeiro), pode resultar no aumento do diâmetro do tronco quando é severa. Ao contrário, é necessário podar parcialmente os galhos principais e ramos laterais de modo a forçar o crescimento de pequenos ramos novos, cujas gemas se diferenciarão para gemas reprodutivas (glomérulos), gerando flores e frutos (COUTINHO et al., 2009). A poda de produção tem por objetivo melhorar a iluminação dentro da copa, o que aumentará a produção e melhorará a qualidade dos frutos produzidos, facilitando igualmente as operações de colheita. São dois tipos de poda que podem ser realizados no bosque de argan: manual e mecânico. Na operação manual é utilizada uma tesoura de podar na extremidade da vara, auxiliado por uma escada grande para atingir as partes superiores da copa da árvore (Figura 66). Porém, é necessário contar com podadores qualificados para efetuar tal tarefa. Enquanto a mecânica é um método de poda que os cortes da copa são realizados com ajuda de uma máquina podadora de discos rotativos montada sobre um trator de média potência (Figura 67). O equipamento deve ser movido a velocidade constante entre as fileiras das árvores nos dois sentidos (espaçamento de 10 m x 10 m), de forma que sejam realizados os cortes perpendiculares ou com certa inclinação ou paralelo em relação à superfície do solo (Figura 68). Além disso, recomenda-se complementar a poda mecânica com intervenções manuais, a cada três ou quatro anos, para eliminar os ramos ladrões de grande desenvolvimento, galhos mortos e tocos.


C a p í t u l o I | 87

Figura 66. Poda manual de árvore de oliveira com ajuda de tesoura de poda e escada, a qual tem um aspecto similar ao argan. Foto: InfoHuévar.

Figura 67. Máquina podadora, de discos rotativos, montada sobre um trator e usada para podar a copa de plantas frutíferas. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 88

Figura 68. Máquina podadora com discos cortadores na posição paralela à superfície do solo. Foto: Jacinto Gil Sierra.

AGROSSILVOPASTORIL O sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP) consiste na diversificação das atividades na propriedade rural. Também são considerados modelos integrados de produção, os quais estão integrados às explorações as árvores, os cultivos agrícolas, as forrageiras e os animais que realizam o pastejo (DUBOC et al., 2008). Por outro lado, o sombreamento excessivo também prejudica o desenvolvimento da pastagem consorciada, diminuindo a capacidade de lotação. Na Figura 69 pode ser visto o desenvolvimento bastante satisfatório da pastagem sob uma densidade relativamente alta de pequizeiros adultos em área nativa. Enquanto o início do pastejo se deu quando os pequizeiros encontravam com 3 anos de idade. Essa sequência trouxe algumas vantagens, tais como: redução de operações para consolidação da pastagem em consórcio com o pequi e antecipação da abertura deste consórcio para o pastejo.


C a p í t u l o I | 89

Figura 69. Cultivo de pequizeiros (Caryocar spp) em sistema agrossilvopastoril. Foto: Eny Duboc.

Tal sistema poderá ser adotado para os bosques de argan, mas para evitar que os animais de pequeno porte não se alimentem de todas as brotações e frutos é necessário efetuar a poda de formação das plantas e disponibilizar o pastoreio a partir do 5º ano de idade (Figura70).

Figura 70. Cabras se alimentado de frutos em árvores de argan sem poda de formação do caule.


C a p í t u l o I | 90 PRAGAS E DOENÇAS Nas condições do ecossistema natural de ocupação do argan em Marrocos, sem expressão econômica, foram detectadas as seguintes ocorrências de pragas: lagarta da folha, pulgão, cochonilha, mosca branca, ácaros (RODRÍGUEZ, 2012). Provavelmente, o bosque de argan desenvolvido no bioma do semiárido brasileiro esteja sujeito ao ataque de outras pragas, as quais não são propagadas em Marrocos.

Lagarta da folha. Pertence a várias espécies e se alimentam das folhas. O apetite voraz das lagartas leva ao desfolhamento de parte do galho ou planta jovem.

Pulgão (Aphis spp.): São várias espécies de pulgões que atacam o argan. Sintomas: o inseto, ao mesmo tempo em que suga a seiva da planta, expele uma substância açucarada denominada “mela”, que recobre principalmente inflorescências e folhas, servindo de substrato para o crescimento da fumagina, um fungo de coloração negra. O ataque intenso às inflorescências do argan tem como consequência a murcha e a seca, com reflexos diretos na produção. Cochonilhas: Existem várias espécies que podem afetar o argan, sendo a mais frequente a cochonilha cinzenta (Saissetia oleae Bern.). Também se encontra em outras fruteiras e arbustos. As cochonilhas sugam a seiva e excretam muitas substâncias açucaradas (melaço) que impregnam a planta e que em períodos úmidos serve de alimento aos fungos negros (fumagina), que cobrem os tecidos vegetais como se fosse um feltro e que diminuem a fotossíntese e a respiração. Os danos diretos são escassos, somente em caso de grandes populações pode repercutir na produção.

Mosca branca: Aleyrodidae (aleirodídeos)é uma família de insetos da ordemHemiptera, subordemSternorrhyncha. Mais de 1.550 espécies já foram descritas. São fitófagos e normalmente se alimentam da parte inferior das folhas das plantas. Espécies mais conhecidas são a Bemisia argentifolii, popularmente chamada mosca-branca. Existe também a possibilidade de controle biológico da praga, através das várias espécies de predadores naturais. Ácaros: Pouco se conhece sobre as espécies, biologia e danos que produz. Os sintomas produzidos por ácaros estão cada vez mais presentes, sobretudo em viveiros, árvores em


C a p í t u l o I | 91 formação e em plantio com irrigação, sendo que os mesmos se manifestam em folhas tenras.

As doenças são irrelevantes, como todos os cultivos tipicamente da região desérticas de Marrocos e sua importância é escassa e imprecisa.

ÁRVORES DE ARGANIA EM RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A árvore de argan, que faz parte da fauna da região do Magreb no norte da África há mais de 80 milhões de anos, está ameaçada. Mudanças climáticas causadas pela glaciação durante a última era glacial levaram ao desaparecimento, dessa árvore comum anteriormente populosa, da maior parte de sua área original de cultivo. Hoje, a árvore do argan é limitada ao Vale do Souss (Figura 71) e ao sopé das cordilheiras Atlas e AntiAtlas do sul do Marrocos. A área, uma região semiárida, é muitas vezes chamada de "Arganeraie", que significa "floresta de argan". A floresta é crucial para a terra e o solo. Ao acessar a água, as raízes de argan atingem grandes profundidades no solo. Esse vasto sistema de raízes estabiliza o solo. Além disso, a floresta de argan é a única defesa da área na luta constante contra a erosão do solo e a invasão do deserto do Saara nas proximidades (Figura 72). Sem a floresta de argan, a área se transformaria em deserto dentro de pouco tempo, o mesmo sucede com a nossa floresta amazônica. Portanto, toda árvore de argan perdida é mais uma derrota na luta contra a desertificação da Arganeraie. Infelizmente, apesar de sua importância para a região, mais da metade da floresta de argan foi perdida no século XX. As razões das perdas recentes não foram naturais, mas provocadas pelo homem: agricultura industrial, desenvolvimento urbano, corte de madeira e criação de gado.


C a p í t u l o I | 92

Figura 71. Floresta de argan no Vale do Souss em Marrocos. Foto: Eric Dürr.

Figura 72. Implantado um bosque de argan no Saara argelino para controlar a invasão do deserto. Foto: Abdelm Mouza.

Observa-se que, até hoje, a redução da área de superfície da árvore de argan marroquino é grande e tende a acelerar, embora os dados disponíveis quanto à exatidão das florestas de argan ainda são limitados. Ao tomar o exemplo da região de Haha (Alto Atlas Ocidental), verifica-se que cerca de 600 hectares são perdidos por ano (BOUZEMOURI, 2007), o que representam uma redução de dois terços na densidade florestal dentro de cinquenta anos (Figura 73). Estima-se também que a cobertura florestal na região de


C a p í t u l o I | 93 Souss diminuiu em aproximadamente 2,6% entre 1989 e 2006 (ZUGMEYER, 2006). Finalmente, a densidade média de árvores de argan, inicialmente composta de 100 árvores/ha, tem passado para 30 árvores/ha (ZUGMEYER, 2006).

Figura 73. Degradação da arganería em Marrocos (aldeia de Ouchene, região de Haha. Western High Atlas) por causa da expansão das terras agrícolas com outros cultivos. Fonte: CNES/SPOT, 2012.

Nos anos 90, a situação já era bastante pessimista: a árvore de argan não se regenerou naturalmente a partir de sementes (exceto em muito poucos casos; Figura 74) ou plantações artificiais com mudas de viveiro. A regeneração natural da própria árvore não é observada na maior parte do território. Atualmente, na floresta, praticamente não foi observado o aparecimento de plântulas nascidas naturalmente (BELLEFONTAINE, 2010), exceto em caso excepcional à margem de riachos ou em locais muito protegidos.


C a p í t u l o I | 94

Figura 74. Plântulas regeneradas naturalmente da árvore de argan que é uma ocorrência rara para as condições de Marrocos. Foto: Faouzi, janeiro, 2013.

A árvore de argan está protegida desde 1925 por uma lei aprovada em Marrocos, que regula seu uso pela população local, mesmo assim as florestas sofrem com a degradação contínua do uso intenso, como a coleta de lenha e pastagem de plantas novas por animais. O sucesso comercial do óleo de argan promoverá ainda mais a degradação, aumentando a pressão sobre a árvore de argan mediante a intensificação da coleta de frutos, que não deixa de ter consequências para a regeneração da árvore de argan (Figura 75).


C a p í t u l o I | 95

Figura 75. Bosque de Argania spinosa muito degradado em Marrocos devido à ausência de regeneração da área com novas árvores de argan. Foto: Faouzi, maio 2010.

Em Israel, o argan foi introduzido mais para evitar o avanço do deserto Neguev (ocupa 60% do território israelense) sobre as áreas agrícolas cultivadas do que mesmo na sua exploração de óleo, mesmo assim o óleo de argan consumido no país é praticamente importado de Marrocos. As árvores de argan se agarram às encostas de colinas acidentadas e parecem prosperar entre as rochas em solo pobre (Figura 76). Crescendo até uma altitude de até 1.500 m, elas só precisam anualmente de 100 a 200 mm de chuva. Incapaz de resistir ao frio, à árvore de argan é resistente ao calor extremo (50 ºC) e à seca, tornando-a ideal para o clima do semiárido brasileiro.


C a p í t u l o I | 96

Figura 76. Uma floresta de argan nas encostas de colinas acidentadas do deserto.

A maioria das áreas da região Nordeste do Brasil está sob o regime climático semiárido. Essas áreas revistem de particular importância no contexto de recuperação ecológica devido ao elevado nível de degradação que com frequência as caracteriza, a dificuldade com que se desenvolvem os processos de regeneração espontânea de sua vegetação e o risco de desertificação que apresentam. Vários fatores, abióticos e bióticos, favoreceram esses processos de degradação. Entre os primeiros estão a baixa precipitação


C a p í t u l o I | 97 pluviométrica e a alta demanda evaporativa, chuvas irregulares e alta capacidade erosiva, características topográficas e litologia, que frequentemente incluem rochas degradáveis ou com alto teor de sais solúveis. Entre os fatores bióticos estão àqueles relacionados à atividade antrópica. Os períodos de integração política e aumento da população foram acompanhados historicamente por uma intensificação dos usos com a consequente alteração dos ecossistemas, mediante a exploração da pecuária de forma desordenada.

Por outro lado, a introdução de uma espécie exótica, no caso de Argania spinosa, no semiárido brasileiro, poderá apresentar os seguintes riscos: 1) a introdução de novas enfermidades e pragas para o caso da importação de sementes que não seja realizada oficialmente, consequentemente as mesmas não vão ser submetidas ao período de quarentena; 2) que a espécie experimentada na região resulta ser invasora ou competitiva no novo ecossistema da caatinga, por razões ecológicas ou econômicas; 3) instabilidade da produção detectada em longo prazo e com excessivo atraso; 4) desconhecimento das técnicas de cultivo a serem aplicadas no bosque, etc..

Portanto, é necessário aprofundar bem nas distintas perspectivas para delimitar com precisão as potencialidades e riscos das espécies exóticas. Montoya (1984b) admite que as espécies exóticas possam estar mais bem adaptadas ao seu habitat natural que muitas das autóctones (nativas) e que, apesar de seus riscos, podem reduzir as limitações genéticas no novo bioma. Além disso, Montoya (1984a) considera que são quatro situações principais dentro da área de viabilidade estável ou permanente de uma espécie e dentro do marco de rentabilidade da mesma: a, b) área de reprodução e competição natural; c) sem área de reprodução e não competividade; e d) sem reprodução e nem competividade assistidas. O mesmo autor avalia que no estudo de validação da espécie exótica argan na Espanha é necessário implantar vários ensaios em escala real (1 ha) nos terrenos desérticos de Albacete, Almería, Granada, Murcia, Alicante e nas ilhas canárias orientais, ou seja, constatar se as exigências fitoclimáticas do argan são cumpridas nas diversas zonas dos referidos estados. Esses dados essenciais são: mais de 120 mm de precipitação anual com seu ótimo de 250 mm e um máximo de precipitação de 400 mm; escassez de geadas e o mês mais frio com temperatura superior a 10ºC.


C a p í t u l o I | 98 Vale destacar que essas características climáticas do sul da Espanha também se assemelham perfeitamente às condições do semiárido do Brasil, pois outras espécies exóticas introduzidas nesta região foram bem sucedidas, por exemplo: a algarobeira (Prosopis juliflora (Sw), DC), a acerola (Malpighia emarginata), o nim (Azadirachta indica A Juss), etc. Ademais, a árvore de argan pode permitir uma produção pastoral, relativamente importante para um clima em que ela se adapta adequadamente (exemplo da caatinga). No caso prático das condições reais de Marrocos, um hectare da área extrativista com a população de 30 plantas de argan tem a capacidade de suportar anualmente duas cabras (MONTOYA, 1984a).

Sem levar em consideração as zonas litorâneas, a região semiárida brasileira está um pouco próxima geograficamente das áreas naturais do argan do vale do ‘Sus’ (população de 700.000 ha) e das zonas predesérticas de Ifni, e inclusive do Saara Ocidental.Portanto, as vantagens apresentadas por essa espécie são inegáveis, tais como: por ocupar menos plantas por hectare, consequentemente as plantações resultam ser mais econômicas; indestrutível a árvore frente ao pastoreio desordenado da cabra; produção abundante de frutos comestíveis no período de estiagem, considerado a época mais crítica; os frutos produzem a arganina, de recentes aplicações cosméticas; o óleo extraído das amêndoas tem especial qualidade gastronômica; a árvore apenas ocupa o solo e o animal aproveita o pasto formado abaixo da sua copa (sem capina); e eventualmente pode produzir lenha (MONTOYA, 1984a).

SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAFS) O argan é uma espécie autóctone das zonas áridas de deserto que apresenta alta tolerância aos sistemas agroflorestais ou ao sistema de exploração extrativista de zonas semiáridas. Seu preparo do solo pode resumir-se apenas no preparo de covas para plantio, em clareiras ou intercalar a outras plantas nativas ou plantadas.

A distância entre as covas deve ser de aproximadamente dez metros. O desenho de sua distribuição não deve seguir padrões geométricos, mas padrões biológicos irregulares, visando garantir na prática a sobrevivência de uma espécie exótica no bioma da caatinga pela dispersão de grandes números de mudas. Com o passar do tempo, e à medida que as mudas forem crescendo, o mecanismo darwiniano da luta pelo espaço vital se encarregará de manter vivas as melhores árvores de argan adaptadas ao novo ambiente.


C a p í t u l o I | 99 Provavelmente, poucas mudas conseguirão chegar ao estado adulto; dando origem a novas árvores de argan, que ao longo dos anos, irão florir e produzir frutos e sementes, deixando assim seus descendentes viáveis. Este é o mecanismo cíclico da sucessão natural que comanda a evolução do mundo biológico ao revitalizar um bioma natural. Por outro lado, as árvores de argan começam a dar frutos quando têm 5-6 anos de idade, com sua produção máxima aos 60 anos e tem um período de vida de 200-250 anos (ORWA et al., 2009). Essa árvore também tem a capacidade de recuar para um estado de dormência por um período prolongado com o advento das condições de seca e, portanto, não necessariamente dão frutos todos os anos (ORWA et al., 2009).

O futuro da Argania depende em grande parte do nível de vida e das oportunidades de promover atividades geradoras de renda que possam fornecer apoio público para a preservação dessa árvore, para garantir uma melhor regeneração da floresta de Arganias. Devem-se promover sistemas agroflorestais que combinem várias espécies que se adaptam bem à aridez local, de modo que não tenha um crescimento mais rápido do que a árvore de argan, as quais poderiam fornecer produtos adicionais e forragem na época de verão (BENCHEKROUN; BUTTOUD, 1989).

VARIABILIDADE MORFOLÓGICA NA FRUTIFICAÇÃO DO ARGAN

A maioria das pesquisas disponíveis sobre o fruto de argan foi dedicado à composição química do óleo de argan, enquanto pouco estudo se concentrou na produtividade dos frutos em particular. O rendimento do fruto fresco varia de acordo com a estação chuvosa, ambiente e clima. A produtividade média pode ser de 500 kg /ha/ano por hectare em média (M'HIRIT, 1989) e produção por árvore de cerca de 15 kg (RAHALI, 1989). A produção total de frutos maduros nas estações quentes e secas varia dentro dos limites de acordo com as árvores da região de Ait Melloul (BANI-AAMEUR, 2002). Os rendimentos de frutos secos estão entre 1,52 e 22,4 kg / árvore/ano. Além disso, a frequência de árvores frutíferas, frutos, polpa e peso de amêndoas foi altamente variável dependendo da interação entre estação, árvores e árvores x ambiente (FERRADOUS et al., 1996). Os mesmos autores também relataram que um mínimo de 100 mm de chuva registrado no outono, que representa o período de maturação dos frutos, promove boa frutificação. No entanto, grande variabilidade da intensidade de floração foi observada entre os anos climáticos, locais, genótipos de árvores e tipos de galhos. Em qualquer caso,


C a p í t u l o I | 100 o pico de floração ocorre na primavera (BANI-AAMEUR, 2002). Os pequenos frutos na árvore começam a crescer a partir de outubro (METRO, 1952). Mas, em fevereiro, os frutos crescem mais rápido. Em julho, a maturação dos frutos encontra-se quase completa e seus frutos jovens da nova floração permanecem com desenvolvimento incompleto até as primeiras chuvas do próximo outono. Assim, o ciclo de floração-frutificação abrange um período de nove a 16 meses, dependendo das árvores (BANI AAMEUR et al., 1998; BENLAHBIL; BANI-AAMEUR, 1999).

Por outro lado, o número total de ramos frutíferos (F), com um (F1), dois (F2), três (F3) e quatro ou mais frutos (F4) em dez árvores de quatro diferentes ramos foram observados por três épocas consecutivas em três localidades no sudoeste de Marrocos (Ait Baha, Ait Melloul e Argana). De acordo com Zahidi et al. (2013; 20014) a produção de frutos na árvore de argan é amplamente dependente das temperaturas e chuvas durante o ciclo de floração e frutificação, que abrange um período de 16 meses. A seca prolongada durante a época de floração pode influir significativamente na redução de ramos frutíferos e número de frutos nos galhos durante a época de maturação dos frutos (Figuras 77 e 78).


C a p í t u l o I | 101

Figura 77. Caracteres morfológicos dos ramos de frutificação do argan observados nas localidades de Ait Melloul, Ait Baha e Argana (Marrocos) durante três temporadas consecutivas (F1= um fruto; F2= dois frutos; F3= 3 frutos; F4= 4 frutos). Foto: Zahidi, A., Bani-Aameur, F. e El Mousadik, A. (2013).


C a p í t u l o I | 102

Figura 78. Destaque dos ramos da planta de argan com distintos frutos: F1 com um fruto; F2 com dois frutos; F3 com três frutos; e F4 com quatro frutos.

Os ramos frutíferos selecionados das árvores de argan nas três localidades de Marrocos reagiram de forma diferente às variações sazonais de temperaturas e chuvas. Alguns indivíduos da região de Ait Baha produziram de 4 e 21 frutos, 6 e 10 em Ait Melloul e 6, 7, 11, 17 em Argana tanto para os anos de seca como de chuva (Figura 79). Consequentemente, outras árvores não deram frutos nas mesmas condições. Esses comportamentos foram observados anteriormente por Ferradous et al. (1996), uma vez que as frequências de árvores que deram frutos diferem principalmente em Ait Melloul e Argana. Ferradous et al. (1996) confirmam a importância do genótipo, além da variação sazonal na determinação da frutificação pela árvore de argan.


C a p í t u l o I | 103

Figura 79. Diferentes formas de frutificação dos ramos da árvore de argan são devidas às variações sazonais de temperaturas e chuvas ocorridas nas três localidades de Marrocos (Ait Baha, Ait Melloul e Argana). Foto: Alain-Marc.

Para a espécie Argania spinosa, existem duas categorias de genótipos. Alguns genótipos são capazes de produzir frutos mesmo sob condições desfavoráveis. Outros genótipos só podem manter os frutos se as temperaturas e as chuvas forem favoráveis nos estádios de floração e maturação dos frutos. As árvores da região de Ait Baha foram as mais afetadas por essas mudanças de condições ambientais (ZUNZUNEGUI et al, 2010). Estes resultados confirmam a ideia de que a árvore de argan apresenta uma alta plasticidade adaptativa em relação ao seu habitat natural, como foi observado em outras espécies de plantas (SULTAN, 2000; MÜCKSCHEL; OTTE, 2003; AIT AABD et al., 2011).

Algumas árvores de argan são capazes de produzir frutos uma vez por estação. É considerada uma árvore precoce quando ocorre a frutificação em março ou tardia em junho. Entretanto, outras árvores são capazes de florescer duas vezes e depois produzir, no mesmo indivíduo, frutos precoces e tardios (FERRADOUS et al., 1996; BANI AAMEUR et al., 1998). Nas árvores precoces, o amadurecimento dos frutos ocorre em maio e as suas flores são fertilizadas em outono da estação anterior (FERRADOUS et al., 1996). Para as árvores tardias, a maturação de frutos ocorre em agosto e as suas flores são


C a p í t u l o I | 104 fertilizadas na primavera da última campanha. Enquanto em árvores intermediárias, os frutos são altamente variáveis em tamanho; sua maturação é distribuída entre a primavera e o verão. Todos os frutos originados de flores fertilizadas não persistem até a maturidade, pois uma queda mais ou menos significativa pode suceder nos frutos jovens, frutos maduros e frutos imaturos, ainda em processo de maturação (SANDRET, 1957). As percentagens de perdas expressas em número de frutos podem variar de 3 a 39%, dependendo das árvores.

Essa porcentagem de perdas com variação de 3 a 39%, aliada a uma estação quente e seca, (BANI AAMEUR et al., 1998), provavelmente seja uma resposta ou ajuste de frutificação da planta às condições adversas, tendo por efeito uma redução no número de frutos nos ramos. A influência das condições climáticas também foi manifestada nas três localidades estudadas, havendo uma redução significativa na frutificação para as árvores da região de Ait Baha em comparação as demais (Ait Melloul e Argana), tanto na estação seca (1ª temporada) como no período mais chuvoso (2ª temporada). Assim, em Ait Baha, essa reação foi manifestada por um número muito limitado de árvores que chegaram a produzir frutos (9 árvores na primeira temporada e 2 árvores na segunda temporada) e uma redução no número de ramos frutíferos. Tais resultados estão de conformidade com os dados obtidos por Ferradous et al. (1996), em relação a frequência de árvores com frutos, peso de frutos, amêndoas e polpa, onde os mesmos efeitos do ano climático foram registrados na região de Ait Baha. Esta última localidade poderá ser considerada uma referência para seleção de genótipos de argan resistentes à seca.

Dinis et al. (2011) sugeriram que as condições climáticas anuais influenciam significativamente os frutos e caracteres foliares. Além disso, as diferenças morfológicas e fonológicas entre os ecótipos não foram relacionadas às pequenas diferenças genéticas, mas foram simplesmente adaptações fenotípicas a diferentes condições climáticas. Ambas as árvores de Ait Baha, e alguns genótipos de Ait Melloul e Argana podem produzir frutos, mesmo em um ambiente árido, as quais deverão ser usadas como germoplasma (matrizeiro) para a domesticação do argan como uma árvore frutífera para a produção de óleo (produção clonal por enxertia).


C a p í t u l o I | 105 COLHEITA DOS FRUTOS DO ARGAN

Este método consiste na catação de frutos do chão, abaixo da copa da árvore, após sua queda natural (Figura 80). Antes do período de colheita, recomenda-se efetuar uma limpeza do terreno abaixo da copa de cada árvore com uma vassoura de palha ou a forração do solo com uma lona plástica (Figura 81). As colheitas dos frutos de argan poderão ser efetuadas em intervalos regulares de quinze dias, a fim de evitar as chuvas entre os meses de dezembro e janeiro, o ataque de roedores, cabras, ovelhas, insetos, pássaros e fungos, que podem reduzir a produção de frutos e afetar a sua qualidade. Devido ao cheiro, evitar coletar caroços de argan excretados pelas cabras.

Figura 80. Coleta de frutos de argan por mulheres em Marrocos. Foto: Alamy.


C a p í t u l o I | 106

Figura 81. Coleta de frutos caídos no chão de um bosque de argan em Marrocos e seu transporte por jumento. Foto: Alamy stock.

Provavelmente, a sua colheita poderá ocorrer entre o período de outubro até janeiro no semiárido brasileiro, quando os frutos se completam, amadurecem e caem. Por ocasião da colheita é possível ocorrer algumas chuvas no sertão nordestino, então é preciso cuidar da secagem e do armazenamento da safra, a fim de evitar a fermentação dos frutos.Enquanto em Marrocos, a época de coleta de frutos começa no mês de junho e se prolonga até setembro (Figura 82). Em seguida, os frutos são espalhados, em um local limpo e seco, e secados ao sol. Nesse momento, vão desprender um agradável aroma que se lembra ao das maçãs e o mel. Os frutos empilhados não devem ultrapassar os 10 cm de altura para que o processo de secagem seja correto (PRAT; RAMOS, 2010).


C a p í t u l o I | 107

Figura 82. Coleta de frutos de argan por mulheres em Marrocos.

Os frutos de argan maduros de cor verde-amarelo (às vezes avermelhado) chegam a pesar em média 3,7 g. Apresenta formato variável (oval, redondo ou afunilado) e é formado por um pericarpo (epicarpo + mesocarpo que se refere a polpa) que representa 45 a 75% do peso do fruto fresco (Figura 83). A polpa cobre um caroço duro ou endocarpo que representa de 25 a 55%. Por sua vez o caroço contém de uma a três amêndoas e as amêndoas ricas em óleo representam cerca de 3 a 5% do peso do fruto fresco e seu teor em óleo oscila entre 50 a 60%. O conteúdo de água na casca e no caroço é respectivamente de 13,7% e 5,07%. A extração química do óleo em frutos novos pode apresentar um rendimento de 56,0%. É aconselhável o rápido processamento para a extração do óleo, por meio de prensagem ou de solventes, porque em alguns meses de armazenamento o seu teor de óleo poderá perde qualidade. Para obter 1 litro de óleo, serão necessárias coletar 32 kg de frutos, o que corresponde aproximadamente a produção de duas plantas de argan (16 kg de frutos por planta e uma população de 30 plantas por ha).


C a p í t u l o I | 108

Figura 83. Detalhe das distintas partes do fruto de argan. Foto: Arganophiles (2006).

Durante a colheita dos frutos da argan caídos ao chão, especial atenção deve ser dispensada a sua qualidade, pois no caso de haver uma seleção por parte do apanhador de somente colher os frutos recém-caídos, o rendimento do seu óleo poderá ser elevado nos processos de extração mecânica e química efetuados pela indústria de extração de óleo das amêndoas. Atualmente, o seu rendimento total gira em torno de 45% de óleo, segundo resultado obtido pela prensa mecânica tipo extrusora (EL ABBASSI et al., 2014).

Espera-se que essa colheita com qualidade do argan possa proporcionar uma maior renda por quilo de caroços ao apanhador durante a comercialização de sua produção para a indústria. Por outro lado, a não apanha de frutos imprestáveis do chão poderá reduzir sensivelmente os seus custos de produção, em razão de somente manusear um volume


C a p í t u l o I | 109 limitado, além de mais rentável, de material de qualidade a ser secado naturalmente ao sol e, também, a ser transportado para a usina de beneficiamento (menos frete). Essa produção colhida com elevado teor de óleo das amêndoas (50-56%) iria constituir num dos fatores responsáveis pelo sucesso do argan.

O sucesso da colheita do argan depende não apenas da técnica a ser adotada, mas também de uma série de fatores imprescindíveis ao seu bom desempenho, como o conhecimento da época de maturação, das características dos frutos de maior qualidade e das condições climáticas durante o processo de colheita (Figura 84). Por outro lado, as condições físicas do terreno e as características das árvores implicam na escolha de lona plástica e telas a serem utilizados (COUTINHO et al., 2009).

Figura 84. Planta de argan com seus frutos maduros (pontos amarelos na copa).

O varamento é o método mais difundido na colheita do argan (Figura 85). O operário, equipado com uma vara, antes era de madeira e hoje de fibra de vidro, muito mais leve, cujo comprimento chega a três ou até quatro metros, atinge tangencialmente os ramos da árvore tentando, com batidas leves e sem atingir os frutos verdes, derrubar os frutos maduros, mas sem causar danos à árvore. Às vezes, quando se varea inadequadamente, o que é muito frequente, o número de brotos florais formadores de frutos poderá ser reduzido drasticamente, comprometendo assim a colheita de frutos na safra seguinte. Por este motivo não convém usar varas nem balançar os galhos do argan para derrubar os


C a p í t u l o I | 110 frutos, porque isso irá ocasionar a derrubada de frutos ainda imaturos, exceto quando se usa um ancinho de plástico na extremidade da vara (Figura 86).

Figura 85. O varamento é um método considerado tradicional na colheita de frutos em geral. Foto: Porras Soriano, A. et al.

Figura 86. O varamento pode ser menos danoso à arvore de argan durante a colheita de frutos quando em sua extremidade é adaptado um ancinho de plástico, inclusive revestindo o terreno com tela para facilitar a coleta dos frutos maduros caídos.

O único processo eficiente de colheita recomendado é o recolhimento diário dos frutos que vão caindo. Essa cata deveria ser diária, para evitar a fermentação dos frutos. Sua velocidade de maturação varia muito entre árvores, havendo alterações entre locais e anos, por causa da influência das condições climáticas. Esses frutos de argan recémcolhidos e ensacados devem ser esparramados assim que chegar ao local de secagem,


C a p í t u l o I | 111 evitando que os mesmos permaneçam por mais tempo acondicionados com alto teor de umidade, em razão de acelerar o processo de fermentação. Assim, as sacarias de ráfia podem ser utilizadas apenas para facilitar o transporte do local de colheita para outro de secagem.

De modo geral, a embalagem destinada ao acondicionamento dos caroços (após secagem) para o local de armazenamento é classificada como permeável, devido ao fato do uso de sacos de ráfia ser mais comum e mais acessível ao pequeno produtor. Para o caso dos catadores de argan que estão organizados em uma associação, é possível haver uma negociação junto à cooperativa, encarregada do processo de extração de óleo, sobre a questão de assumir o fornecimento dessas sacarias de ráfia, igualmente o que acontece com a cultura do algodão (sacos de pano).

COLHEITA MECANIZADA Nas plantações, especialmente na colheita mecânica, é utilizada uma máquina vibradora que movimenta os ramos da árvore para desprender os frutos. Os frutos caem em uma rede estruturada e completa, onde podem ser facilmente coletados. O processo final de secagem, o despolpamento das sementes e a prensagem mecânica ocorrerão nas miniusinas. 1-Máquina vibradora Para a retirada de frutos de argan ou de oliva, utiliza-se uma máquina conhecida como derriçadeira, o mesmo equipamento empregado na colheita do café, a qual possui palhetas vibratórias que em contato com os frutos maduros (argan) são derrubados sobre uma tela que reveste o terreno para facilitar a coleta dos frutos maduros caídos (Figura 87). Essa máquina de dois tempos é movida a gasolina.


C a p í t u l o I | 112

Figura 87. Máquina derriçadeira empregada na colheita de frutos de argan ou oliva ou café.

A máquina derriçadeira utilizada na colheita de frutos consiste de um motor interligado a um braço, onde na sua ponta existem várias hastes vibratórias, que, com a ajuda deste


C a p í t u l o I | 113 motor, vibram e fazem os frutos se desprenderem da árvore, caindo sobre redes, de material plástico, colocadas previamente abaixo das árvores, onde se possa recolhê-los sem muitas impurezas. A qualidade da operação é ótima, pois o despendimento de ramos é insignificante. Esse equipamento tem como vantagem de não causar danos aos demais órgãos da planta, inclusive o dano nos frutos é pequeno e, certamente, muito menos que o provocado pela vara. Quando sua eficácia de derrubar os frutos não atingir o valor de 100%, deve-se colocar em prática um vareamento suplementar para a retirada total dos frutos ainda retidos na árvore. Essa situação pode suceder em razão de que os frutos restantes ficam agrupados em zonas localizadas na parte alta da copa da árvore que não é acessível a máquina vibradora.

2-Vibrador adaptado ao sistema mecanizado O sistema mecanizado de colheita se baseia em um broco de ferro, de grande dimensão e em formato retangular, instalado na parte frontal do trator, mas com uma almofada de borracha colocada na parte da cabeça que é usada para bater, com que se evitariam danos à casca, ao impactar sobre os troncos é possível conseguir, em algumas espécies de árvores frutíferas, transmitir a energia necessária nos galhos para fazer com que os frutos sejam derrubados (Figura 88). A vibração que pode gerar esse sistema, especialmente em árvores de grande porte, além de não ser eficaz, requer um grande esforço complementar dos trabalhadores, que para alcançar maior eficiência na derrubada de frutos, os mesmos têm que subir nas árvores para agitar ou golpear os galhos pequenos. Com base nessa ideia apareceu um segundo tipo de vibrador, que, com uma mola comprimida, que quando é subitamente disparada, por um cilindro metálico, irá lançar uma bola de madeira que, ao bater em uma almofada de apoio na árvore, produzirá um choque que provoca a derrubada dos frutos. Também foram testados modelos que, em vez de molas, usavam ar comprimido.


C a p í t u l o I | 114

Figura 88. Vibrador unidirecional de impacto. Foto: Porras Soriano, A.; Marcilla Goldaracena, I.; González S. de la Nieta, J. A.; Redondo García, A.; Porras Piedra, A.

Até chegar aos atuais vibradores de troncos e ramos do tipo multidirecional, houve uma evolução técnica baseada em estudos e experimentos realizados por mais de meio século. Um dos primeiros métodos usados na derrubada de frutos de oliva era equipar um trator com um excêntrico e um cabo. Primeiro um gancho e depois um cinto plano montados em sua extremidade livre, eram colocados nos galhos ou tronco das árvores (Figura 89). Em seguida, o condutor do trator se deslocava até que o cabo fique esticado e, ativando o excêntrico, conseguia um movimento de grande amplitude e baixa frequência que provocaria a queda dos frutos. Como o cabo só pode exercer força de tração, a velocidade com que os galhos retornam à sua posição de equilíbrio é determinada pela frequência natural, o que limita a eficiência da vibração. Além disso, muito cuidado deve ser tomado com a tensão inicial do cabo para evitar quebras de ramificações.


C a p í t u l o I | 115

Figura 89. Vibrador unidirecional de excêntrica e braço rígido. Foto: Porras Soriano, A.; Marcilla Goldaracena, I.; González S. de la Nieta, J. A.; Redondo García, A.; Porras Piedra, A.

3-Porte da planta para se adaptar a colheitadeira mecanizada. A árvore de argan tem um aspecto bem parecido a uma oliveira e pode alcançar um porte arbustivo mediante o manejo de poda, o que facilitaria a sua colheita mecanizada.Nos testes que foram realizados em um pomar de oliva de alta densidade (Olea europea L., cv.Arbequina) no sul da Espanha, observou-se que a produção de frutos e a distribuição da qualidade do óleo em relação à distribuição da copa são critérios importantes para a melhoria dos métodos de colheita mecânica. Os resultados mostraram um alto percentual de frutos e óleo localizado na parte média e superior da copa da planta, representando mais de 60% da produção total (Figura 90). A posição desses frutos, juntamente com seu maior peso por fruto e índice de maturidade, faz deles o alvo para todos os sistemas de colheita mecânica. Os frutos do dossel inferior representaram cerca de 30% da produção de frutos e óleos, no entanto, a colheita mecânica desses frutos é ineficiente para os sistemas de colheita mecânica. Se essas frutas não podem ser colhidas corretamente, é recomendável aprimorar o manejo da poda das árvores para elevar sua posição. Esses frutos localizados no interior do dossel não são um local de destino para os sistemas de colheita mecânica, pois os mesmos representam uma pequena porcentagem do fruto total (<10%; CASTILLO-RUIZ et al., 2015). De forma similar, os sistemas de colheita do argan podem ser direcionados para maximizar a eficiência da colheita, incluindo um sistema adequado de manejo de poda de suas árvores com adaptações ao sistema de colheita mecanizada.


C a p í t u l o I | 116

Figura 90. Localização da copa de oliveira de acordo com a altura e profundidade do dossel (CASTILLO-RUIZ et al., 2015).

De acordo com o arranjo característico para a cultura de oliva desenvolvida por Pellenc e Rolland (2016) e Patenteado na Espanha (Nº da patente ES 2 558 055 T3), uma poda anual ou semestral adaptada às árvores de argan provavelmente poderá ser realizada para a colheita mecanizada (Figura 91), de modo que as ramificações (CH1, CH2) sejam conservadas por meio dos tutores divergentes (T1, T2) e permaneçam no plano delimitado de estacamento (P) e que o manto de folhagem vegetal constituído pelas fileiras de árvores não exceda uma largura de 2 m (Figuras 92 e 93).


C a p í t u l o I | 117

Figura 91. Máquina colheitadeira de frutos de oliva. Foto: Arquivo da empresa Gregoire.

Figura 92. Etapa de plantação de fileiras paralelas de plantas jovens (JO de oliva ou argan) com espaçamento entre os troncos de árvores (B de 1,5 m a 3,0 metros) e uma separação de fileiras de árvores (R1, R2, R3 de 5,0 m a 8,0 m), estacas verticais (P-F com 80 cm de altura de inserção da folhagem e delimitada por uma fita plástica); TR (troco com altura de 0,80 m e início das ramificações CH1 e CH2) e os tutores divergentes (T1, T2) para as ramificações CH1 e CH2. Foto: ROGER PELLENC; CHRISTIAN ROLLAND, 2016 (Inventores do modelo de configuração de plantio para oliveira e patenteado na Espanha com o Nº: ES 2 558 055 T3).


C a p í t u l o I | 118

Figura 93. Planta podada adaptada para a colheita mecanizada formada apenas por dois tipos de ramificações: CH1 (Galho principal que cresce verticalmente com diâmetro médio da ordem de 0,20 m e com altura de 3 m) e CH2 (Galho secundário que cresce na inclinação de 45º com diâmetro médio da ordem de 0,20 m e com altura de 3 m em relação ao solo (S). Eliminação de outras ramificações se existirem na árvore. As demais características são: AF (adaptação da parte aérea frutífera da oliva ou do argan, devido ser uma árvore de produção periférica; TR (tronco da árvore com diâmetro de 0,30 m); H (designa a altura máxima dos ramos rígidos das árvores, que podem ser da ordem de 3 m); H1 (designa a altura total das árvores cuja parte superior é constituída por ramos flexíveis, sendo esta altura da ordem de 5 m) H2 (designa a altura do tronco que pode ser da ordem de 0,8 m e o início das ramificações CH1 e CH2) e S (solo). Foto: ROGER PELLENC; CHRISTIAN ROLLAND, 2016 (Inventores do modelo de configuração de plantio para oliveira e patenteado na Espanha com Nº: ES 2 558 055 T3).

As vantagens proporcionadas pelo método de condução de poda na plantação, de acordo o modelo recomendado por Pellenc e Rolland (2016), são refletidas pela colheita mais rápida com a máquina colhedora que funciona continuamente. Mesmo assim, são necessários que as plantações e as árvores sejam adaptadas a essas máquinas, cujos rendimentos vão ser equivalentes aos das plantações superintensivas, os quais podem durar várias décadas, inclusive os gastos com plantações e podas serão reduzidos, entre 2 e 4 vezes mais econômicos, do que uma plantação superintensiva. Além disso, a qualidade


C a p í t u l o I | 119 de óleo poderá aumentar com a idade das árvores, sem considerar o respeito aos critérios de plantio das espécies reconhecidas para a produção de óleo com denominação de origem controlada e com adaptação a todas as variedades mundiais de azeitonas ou provavelmente para a espécie argan.

SECAGEM DOS FRUTOS Por ocasião da colheita, normalmente, os frutos caídos ao chão apresentam excesso de umidade e grandes quantidades de impurezas (frutos impregnados de terras), o que inviabiliza seu uso imediato. Recomenda-se que esses frutos colhidos sejam submetidos ao processo de secagem sobre uma lona plástica, para que desprendam facilmente suas amêndoas no interior dos caroços (Figura 94). Inicialmente aderidas à parede interna do endocarpo, as amêndoas, sem a operação de secagem, não são liberadas facilmente de suas respectivas cascas, mesmo beneficiadas manualmente através da batedura de uma pedra sobre o caroço duro.


C a p í t u l o I | 120

Figura 94. Secagem dos frutos de argan sobre um piso cimentado, etapa que precede o seu despolpamento.

Durante o dia são expostos ao sol e à noite recolhidos ou cobertos com o próprio encerado, a fim de evitar o orvalho e proteger de chuvas ocasionais. À medida que vai se processando a secagem, os frutos espalhados em encerados, formando uma camada com espessura variando de 3 a 10 cm, devem ser constantemente revolvidos a cada 3 horas, propiciando melhor aeração em todo lote e secagem mais homogênea. Essa revirada é feita com auxílio de rodos de madeira ou ancinhos. O tempo em que os frutos permanecem expostos ao sol varia de acordo com as condições climáticas locais e com o teor de umidade inicial dos frutos. Normalmente, os frutos de argan permanecem, em média, de 3 a 5 dias no encerado. Esse período pode se estender por até 8 dias, quando


C a p í t u l o I | 121 sua colheita, realizada entre os meses de outubro a janeiro, venha a coincidir, em alguns anos, com o início do inverno A velocidade de perda de umidade da superfície do fruto para o ambiente é maior do que o deslocamento de umidade do interior para sua superfície. Em função disso, o processo de secagem do argan deve ser lento e gradativo. Essa secagem por 4 dias irá possibilitar a migração de sua umidade de dentro para fora. Também a secagem irá propiciar a redução do teor de umidade dos caroços para o nível adequado, em torno de 4%, ao seu acondicionamento em sacos de ráfia ou a granel em armazéns por breve espaço de tempo (Figura 95).

Figura 95. Acondicionamento de frutos de argan em sacos de ráfia (sem uso de estrados de madeira). Foto: D. Daniel, 2005.

PRODUÇÃO DE ÓLEO DE ARGAN DE FORMA TRADICIONAL EM MARROCOS Os frutos da árvore de argan amadurecem entre julho e setembro. Algumas semanas antes, os coletores selecionam as árvores apropriadas para a nova temporada de catação com base na quantidade e na qualidade do fruto produzido. Tradicionalmente, a colheita do fruto era realizada através das cabras, antes da consagração do seu óleo no mercado


C a p í t u l o I | 122 mundial. Devido à falta de pastagens durante os meses secos em Marrocos, esses animais eram obrigados a escalar os arganes para se alimentarem dos brotos verdes e frutos, na época da primavera (a partir de 20 de março), e os frutos maduros (a partir de agosto). Mais tarde, no aprisco, as cabras ruminam e os caroços são expelidos nos excrementos, já sem polpa, de modo que o processo de coleta se reduzia no passado a catação dos caroços regurgitados no solo. Devido à grande demanda do argan pelo mercado, os frutos estão sendo coletados batendo nas árvores com uma vara. Nos lugares onde o argan coexiste com a atividade pecuária, costuma-se cercar a área extrativista com os pés previamente selecionados, a fim de evitar que as cabras subam. Depois de colher as bagas na sua maturação ideal, os frutos são espalhados e expostos ao sol para secar a polpa e facilitar a sua remoção (PRAT; RAMOS, 2018). Mesmo assim, a catação dos frutos da árvore de argan também ocorre após o seu estádio de amadurecimento, dependendo da altura da planta e do período de maturação registrado naquele país nos meses de julho/agosto/setembro. Tradicionalmente, as mulheres berberes são encarregadas da operação de catação manual dos frutos caídos ao solo. Ou seja, por causa da presença de muitos espinhos e galhos densos na árvore, elas não conseguem derrubar todos os frutos com auxílio de uma vara. Esses frutos quando maduros adquirem a coloração verde-amarelo e vão cair naturalmente ao atingir sua plena maturação e/ou por influência de outros fatores como vento, pássaros etc. Sua coleta em campo é feita com a ajuda de cestos, sacos de pano ou sacolas de folhas de palmeira (Figura 96).


C a p í t u l o I | 123

Figura 96. Berberes marroquinos coletam os frutos de argan. Foto: Faouzi, 2014.

Em seguida, toda produção catada diariamente é transportada em carroça puxada por animal e armazenada no depósito da casa da agricultora até alcançar um volume expressivo para dar início ao processo de secagem. Antes de tudo, os frutos defeituosos e podres são removidos, deixando apenas os saudáveis. Após os três dias de exposição ao sol, cuidadosamente os frutos secos são descascados manualmente para remoção da polpa e casca (mesocarpo e epicarpo) e deixando livre o seu endocarpo duro (caroço), o qual contém as amêndoas que são utilizadas na preparação artesanal do óleo de argan. Enquanto essa polpa removida é utilizada para alimentação do gado. Com ajuda de duas pedras, os caroços de argan são batidos até obter as amêndoas duras e ricas em óleo no seu interior (presença de 1, 2 e 3 sementes ou amêndoas por caroço). O método tradicional de extração de óleo de argan adotado em Marrocos inclui cinco etapas: 1. Essa operação manual de obtenção das amêndoas é feita pelas mulheres berberes, que consiste em um leve esmagamento do caroço obtido do fruto inteiro contra uma pedra que serve de suporte por meio da batida martelada suave feito com outra pedra (Figura 97). Essa etapa é a parte mais dolorosa e cansativa no


C a p í t u l o I | 124 processo de extração de óleo. As cascas duras dos caroços são usadas como combustível no forno doméstico (Figura 98).

Figura 97. Caroço de argan sendo martelado suavemente com uma pedra para obter as amêndoas no seu interior.


C a p í t u l o I | 125

Figura 98. Cascas duras do endocarpo do argan são usadas como combustível no forno doméstico.

2.As amêndoas obtidas são torradas em recipiente de terracota (argila cozida no forno), onde elas são aquecidas com um fogo suave (Figura 99). De vez em quando, as amêndoas são mexidas para ficarem marrons. Segundo as mulheres berberes, o objetivo dessa operação é o desenvolvimento da cor, cheiro e sabor do óleo a ser extraído. No caso de aumentar o fogo, atingindo temperatura acima de 100 ºC, a cor do óleo no final ficará mais marrom. No processo de torração das amêndoas são produzidas características no óleo de substâncias aromáticas com sabor de avelã. Por outro lado, substâncias amargas são reduzidas com a torrefação. Mas também existe óleo de sementes não torrado comercialmente disponível em Marrocos.


C a p í t u l o I | 126

Figura 99. Panela de barro, aquecida em fogo suave, usada no processo de torrefação das amêndoas de argan. 3. As amêndoas torradas são moídas, usando um pequeno moinho de pedra semelhante ao usado no moinho de grãos artesanais (chamado Azerg; Figura 100). A massa oleosa (triturada) é acumulada em um recipiente de cerâmica para misturar (PRAT; RAMOS, 2018).

Figura 100. Pequeno moinho de pedra usada manualmente para triturar as amêndoas tostadas.


C a p í t u l o I | 127 4. A mistura é feita manualmente com a adição de uma pequena quantidade de água morna para obter uma pasta lisa (Figura 101). No entanto, esta operação determina a qualidade do óleo. Assim, um aumento pronunciado na água estará na origem a diminuição na qualidade do óleo.

Figura 101. Mistura manual da torta gorda obtida no moinho com água morna. Foto: Gerame Genée. 5. A torta gorda ou pasta obtida é pressionada manualmente, liberando óleo na forma de gotículas, devido naturalmente ao adicionamento de água morna (Figura 102). Sob adição de água fervida, a pasta de purê de amêndoa em suspensão é amassada e prensada manualmente para que o óleo deixe a torta gorda em um pequeno escorrimento. A torta gorda sob pressão manual constante termina se transformando em torta seca. Em seguida, a torta seca é usada na alimentação das cabras ou gado (PRAT; RAMOS, 2018, Figura 103).


C a p í t u l o I | 128

Figura 102. Prensagem manual de pequenas porções de torta para obter o escorrimento do óleo de argan. Foto: Gerame Genée.

Figura 103. Torta magra de argan após sua prensagem manual, mas ainda contendo mais de 20% de óleo residual.


C a p í t u l o I | 129 Subsequentemente, a mistura óleo/água é separada por decantação e finalmente vem a etapa de envasado do óleo (Figura 104). Com esse método, além de uma higiene sanitária reduzida, obtém-se um rendimento de óleo inferior a 30% (referida à amêndoa) e são necessárias aproximadamente 10 horas para a produção de 1 litro de óleo (EL ABBASSI et al., 2014). Isso explica o preço relativamente alto do argan em comparação ao óleo de oliva. Como as cooperativas do UCFA (Sindicato das Cooperativas de Femmes de l'Arganeraie) trabalham para sua própria comercialização, o valor de seu trabalho é uma renda muito desejada para as mulheres. Naturalmente, a qualidade desse óleo é geralmente muito baixa, uma vez que está muito sujeito alteração nos compostos químicos minoritários, dependendo das condições de torrefação da amêndoa, adição de água, prensagem, etc.

Figura 104. Esquema do processo de obtenção tradicional do óleo de argan.


C a p í t u l o I | 130 MÉTODO SEMI-INDUSTRIAL DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE ARGAN Além de selecionar a matéria-prima e eliminar a adição de água durante o amassamento da torta gorda, os processos de torrefação, moagem e prensagem são realizados de forma mecanizada no método semi-industrial, os quais são considerados pontos críticos que vão exigir um controle rigoroso (HARHAR et al., 2011). Atualmente, a prensagem a frio está sendo empregado sem aplicação de calor nesta etapa. Além do tostador e moagem das amêndoas (Figuras 105 e 106), as etapas de decantação, filtragem e embalagem do óleo também são mecanizadas. Essa gradual padronização e melhoria do método de produção e embalagem significaram um aumento significativo no rendimento obtido (até 43%) e, consequentemente, na qualidade nutricional, sensorial e na estabilidade do produto obtido. O tempo para se obter 1 litro de óleo é de aproximadamente 2 horas, pois tal eficiência dependerá da capacidade da prensa (EL ABBASSI et al., 2014).

Figura 105. Tostador mecânico de amêndoas. Foto: Ascensión Rueda Robles (2015).

Figura 106. Moagem mecânica de amêndoas. Foto: Ascensión Rueda Robles (2015).


C a p í t u l o I | 131 Estes avanços tecnológicos no método semi-industrial estão sendo explorados nos últimos anos por várias cooperativas de mulheres estabelecidas no Marrocos, especificamente nas áreas de Essaouria e Agadir, que produzem e comercializam óleo de alta qualidade em larga escala (Figura 107). Quase 90% da economia rural nessas regiões depende da produção de óleo de argan (ROBLES, 2015).

Figura 107. Óleo de argan de alta qualidade. Foto: Laura López Altares

Na maioria das unidades industriais da região de Marrocos, o processo foi modernizado através do uso de fornos para tostar e moinhos modernos, a fim de acelerar o processo de extração na prensa mecânica e melhorar o rendimento da produção de óleo. Apesar disso, o processo ainda continua lento e tedioso devido à dureza do caroço que envolve as amêndoas de argan (Figuras 108 e 109).

Figura 108. Cooperativa de mulheres no setor de quebra manual dos caroços de argan para obtenção de amêndoas e extração do óleo. Marrocos.


C a p í t u l o I | 132

Figura 109. Esquema do processo semi-industrial de obtenção do óleo extravirgem de argan.

PRODUTIVIDADE DE ARGANIA SPINOSA Quando se trata dos aspectos relacionados ao cultivo do argan, a literatura consultada assinala que o volume de frutos produzidos é muito pequeno. Ou seja, a maioria dos estudos coincide em indicar uma produtividade média de 16,5 kg de frutos verdes por árvore para uma densidade de 30 pés por hectare, pois no passado essa população do


C a p í t u l o I | 133 bosque era de 100 plantas de argan por hectare e com o tempo essa população vem se reduzindo significativamente. No entanto, estes dados não são apresentados associados a qualquer tipo de metodologia de cultivo da espécie. Mesmo sem uma especificação técnica, sugere-se que este valor seja a produtividade da espécie argan para o sistema extrativista de exploração de Marrocos. Com base nos estudos bibliográficos, a produtividade potencial do argan na área de estudo da Espanha é determinada a partir do Índice de Potencial Agrícola Turc (o índice estabelece a relação entre as condições climáticas e a produtividade agrícola, o qual é determinado com base em três parâmetros: o fator térmico, o fator solar e o fator de estiagem ou seca). Normalmente, esse índice é usado para determinar a melhoria na produção agrícola de uma cultura, que projeta valores para o Mediterrâneo que quadruplicam aos valores encontrados para as estações marroquinas. Ao analisar os valores desse índice por estações, observou-se que os fatores térmicos e solares, dependentes do regime de temperatura, são muito altos em Marrocos, enquanto o fator de estiagem, dependente do regime de chuvas, é nulo por um período muito longo do ano. Essa limitação à produtividade, devido às disponibilidades hídricas, se apresentava da mesma maneira ao analisar os valores de intensidade bioclimática encontrados na construção dos diagramas bioclimáticos. Consequentemente assume-se que o potencial produtivo do argan é muito elevado, sob as condições de ambas as regiões, no entanto, só pode ocorrer se a planta for dotada de recursos hídricos suficientes. Neste sentido, o valor do Índice de Potencial Agrícola de Turc, que é quatro vezes superior em território espanhol por consequência do resultado do regime hídrico do termomediterrânico valenciano, que em termos de precipitação anual é triplicada em comparação com a área de origem do argan em Marrocos. Apesar de tudo, é importante ressaltar certas simplificações assumidas nesta análise. Por um lado, a densidade da cultura, que no lugar de origem é de 30 pés por hectare, e nesse estudo se eleva para além de 600 pés, tratandose de multiplicar o rendimento agrícola. De outro, as práticas culturais associadas à produção da árvore, como podem ser a fertilização química ou as podas produtivas, das quais não há registro na literatura.

Geralmente, as espécies agrícolas de longa duração não mantêm o nível produtivo máximo até o final de sua vida útil. Durante os últimos anos, a produção sofreu uma descida gradual. Hoje, geralmente é mais lucrativo renovar a parcela com novas mudas


C a p í t u l o I | 134 do que continuar com a exploração, à medida que a diminuição da produção se acentua. Na literatura consultada sobre Argania spinosa, esse período de envelhecimento é citado. Esse processo é atribuído à diminuição da produtividade dos pés ou ao surgimento de fenômenos de vancería (árvores frutíferas que alternam com anos de alta produção e de pouca ou nenhuma colheita) que modificam a quantidade de frutos obtida de um ano para o outro. Também foi constatada uma diminuição produtiva dos pés com a idade a partir dos 115 anos de plantação. Essa descida modelada gradualmente segue a seguinte expressão:

Prod.ano i= Prod.ano i -1- Prod. ano 60 - Prod. ano 7 ÷ 60 -7; sendo 115 ˂ i ˂ 150

Entretanto, uma plantação de argan pode ser planejada com uma densidade de 667 plantas por hectare (5,0 m x 3,0 m). Como base nesses dados, determina-se diretamente que a produção máxima de argan, com 60 anos de plantio, é de 11.108 kg/ha de frutos, o que equivale a 12,25% do valor da colheita máxima. Aplicando o fator de multiplicação obtido através do Índice de Potencial Agrícola Turc, a quantidade produzida na fase de produtividade máxima é de 44.432 kg de frutos colhidos. Desde o valor da primeira colheita, no 7º ano de plantio, que corresponde a 12,25% do valor da colheita máxima (1.360,7 kg). A partir deste valor, o crescimento progressivo da colheita é determinado até a produção máxima, como ocorre com o cultivo da oliveira. Do mesmo modo, a queda de fruto é determinada a partir do 115º ano até terminar o ciclo da cultura. A Tabela 5 a seguir mostra a evolução da produção de argan, ao longo dos anos, a partir dos dados calculados.

Tabela 5. Produtividade da cultura do argan, em quilogramas de fruto por hectare, sob as condições estabelecidas, ao longo dos anos de vida útil do plantio.


C a p í t u l o I | 135 A coleta de frutos verdes, em quilogramas, dará origem a uma certa quantidade de óleo de argan. Para calcular esse valor, recomenda-se utilizar o fator de rendimento de argan que é 0,0156 sobre o peso de frutos verdes coletados. Ou seja, a plantação começará seu período produtivo no 7º ano com 85 litros de óleo e aumentará para 693 litros por ano. A produção posterior irá diminuir progressivamente.

A produção do argan começa no seu terceiro ano produtivo, atingindo 1.800 kg por hectare. O aumento da produção desde o primeiro ano produtivo até o máximo é de 12,25%. O aumento ano a ano, embora ligeiramente maior nos primeiros três anos, é considerado constante, a uma taxa de 1.600 kg por hectare por ano.

Outro aspecto a estudar é a modelagem da queda na produção. Além da idade, isso pode ser devido a múltiplos fatores desconhecidos para a espécie, como o estado fitossanitário das plantas. Isso requer o desenvolvimento de experiências piloto que estabeleçam com certeza a idade em que a planta entra em declínio produtivo, as condições fitossanitárias que reduzem sua produção e a análise econômica associada que determina em que momento da plantação é mais lucrativo cortar os pés existentes e replantá-los novamente.

Os preços do óleo de argan são muito variáveis entre alguns estabelecimentos e outros. A Tabela inclui, exclusivamente, os preços de venda do óleo de argan extravirgem comercializado em embalagens de alta qualidade, com tamanho menor ou igual a 100 ml. De acordo com os resultados apresentados na Tabela 6, o preço médio do óleo de argan extravirgem é de 150,00 euros por litro.

Tabela 6. Preços de venda de óleo de argan extravirgem e o tamanho do recipiente. Volume em mL

Preço (Euros)

Preço por litro (Euros/litro)

250

32,90

131,6

250

33,08

132,32

100

16,00

160

100

125

125

250

25

100

125

12,5

100

Fonte: Alfonso Brezo.


C a p í t u l o I | 136 PÓS-COLETA E EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE ARGAN NO BRASIL Essa etapa consiste num conjunto de procedimentos que são realizados após a coleta dos frutos, podendo ser de transporte, armazenamento e processamento para extração do óleo. É uma etapa importante na manutenção da qualidade final do produto até o local de extração do óleo, principalmente quando destinado ao consumo humano. Para a produção de alimentos oriundos da amêndoa do argan faz-se necessário a realização de várias etapas de beneficiamento e processamento de extração de óleo, mas, em contrapartida, o mercado brasileiro oferece uma grande variedade de equipamentos modernos para as sementes oleaginosas em geral. No futuro, os principais procedimentos de pós-coleta do argan no semiárido brasileiro seriam:

Em condições de campo Uma vez colhido o fruto de argan, sua polpa que cobre a semente ou caroço deve ser retirada manualmente ou por meio mecânico manual (Figura 110). Após um período de secagem ao sol (3 dias), o processo de despolpar manualmente o mesocarpo seco, que envolve o endocarpo ou caroço de argan, é considerado um trabalho árduo, dificil e artesanal pelas mulheres berberes de Marrocos.Outro método simples de eliminação da polpa de frutos ainda frescos seria pressionando uma desempenadeira de madeira sobre os frutos contra uma bancada de cimento (Figura 111), visando à remoção da casca (epicarpo) e o mesocarpo (polpa) ao mesmo tempo.

Figura 110 . Detalhe do fruto seco, caroço (endocarpo), amêndoa de argan e o óleo extraído da amêndoa. Fotos: Luisa Puccini.


C a p í t u l o I | 137

Figura 111. Método de obtenção de caroço de argan (despolpamento) com atrito do fruto seco pela desimpoladeira de madeira contra o piso cimentado. Foto: Vicente de Paula Queiroga. É provável que o processo de quebra manual do caroço do argan adotado pelas mulheres marroquinas (Figura 112) possa sofrer uma adaptação no Brasil para o método mecânico manual, semelhante ao empregado na obtenção das castanhas do pará. Mais detalhes sobre tal assunto estão na etapa de “quebra mecânica do caroço duro”.

Figura 112. Quebra manual do caroço de argan com ajuda de pedra, realizado pelas mulheres berberes de Marrocos, para liberar as amêndoas. Transporte dos frutos É necessário o estabelecimento de meios de transporte para carregar toda a produção de caroço de argan de uma comunidade do interior para as cooperativas ou indústrias, especialmente para as cidades onde se instalaram as usinas. Atualmente, esse é o maior entrave que existe para a indústria de oleaginosas, em geral, instalada na região Nordeste do Brasil, em razão de que muitos agricultores não estão organizados em associações ou cooperativas.


C a p í t u l o I | 138 Apesar do interesse do apanhador em colher os frutos de espécies oleaginosas, quando existe um preço justo oferecido pelo mercado, mesmo assim poderá ocorrer que esse material fique depositado durante meses no armazém da sua propriedade, sem conseguir transporte para as microusinas, determinando o desânimo do apanhador, que poderá não mais se interessar em colher na safra seguinte. Tal fato poderá suceder com os frutos de argan se futuramente for cultivado no semiárido brasileiro. Ao mesmo tempo, ocorrerá um grande prejuízo de quebra de qualidade, pois a semente ou amêndoa irá perder em qualidade de óleo gradualmente à proporção que vai se envelhecendo, sofrendo muitas vezes alto grau de fermentação, que a inutiliza para qualquer aplicação industrial, com exceção a fabricação de sabão. Para amenizar esse problema, as usinas de processamento de óleo deverão estar estrategicamente localizadas em relação às áreas de cultivo, facilitando a formação de uma rede de fluxo dimensionada para otimizar a eficiência do sistema. Algumas medidas, no entanto, são necessárias, como: -O transporte dos frutos até a usina de processamento o mais rapidamente possível e com certos cuidados, evitando-se ruptura da casca com impurezas e a coleta de frutos verdes ou já “passados”. -Não transportar os frutos em recipientes que são utilizados para carregar outros produtos como carne, esterco, óleo diesel ou produtos químicos e tóxicos. -As usinas devem orientar a forma correta de transporte do fruto dentro e fora da área de coleta até o processamento. -A condução dos frutos para o local de processamento na agroindústria deve ser ágil em virtude dos mesmos perderam sua qualidade, principalmente quando os frutos frescos são armazenados inadequadamente no depósito da propriedade rural.

Recepção É a primeira oportunidade de verificação da qualidade do fruto, pela avaliação do seu estado de maturação (com coloração característica de verde-amarelo), integridade física e de sanidade. É quando se decide se o fruto pode ser processado de imediato, se ele pode ser armazenado em espera, ou ainda, se deve ser rejeitado do agricultor fornecedor. Outra situação seria comprar os caroços de argan, obrigando assim o agricultor a fazer a


C a p í t u l o I | 139 operação de secagem dos frutos e seu descascamento manual para remoção do mesocarpo seco.

Armazenamento dos frutos Após ser pesado, o produto que vem do campo em sacos deve ser empilhado sobre estrados de plástico e não devem manter contato com as paredes do depósito de armazenamento da usina de extração de óleo (recuo de 100 cm). O lote recebido deve estar etiquetado, conhecendo-se a qualidade do produto com as seguintes classificações de qualidade: “A”, “B” ou “C”, assim como sua origem, quantidade, o nome do produtor, etc. Uma vez identificado, recomenda-se separar o produto por qualidade e origem.

Sob condições muito especiais, os frutos podem ser armazenados em depósitos da indústria, principalmente se o destino do mesmo for a extração do óleo de sua amêndoa. Quando simplesmente amontoados ou mal acondicionados, os frutos ficam susceptíveis ao ataque de pragas, capaz de romper todos os tecidos envoltórios e se alimentar da amêndoa.

Seleção dos frutos Uma vez na Unidade de Processamento, os frutos ou caroços são transportados por uma esteira classificadora, à qual é visualizada por uma equipe de mulheres, onde os produtos deteriorados são eliminados em cada lote. Além de descartar os frutos que estejam impróprios para o processamento, também os frutos em avançado estado de deterioração, os imaturos, fissurados e aqueles com problemas fitossanitários. Algumas características como polpa machucada com exposição do caroço e o estado avançado de maturação do fruto, podem-se ainda ser aproveitados para a retirada da amêndoa e seu óleo, que ainda não foi afetada pelos danos externos. Consequentemente, os frutos frescos mais firmes são selecionados e direcionados para o processo de despolpamento na máquina despolpadora, pois seus caroços geralmente apresentam textura e aspecto visual de melhor qualidade.

No caso da agroindústria adquirir apenas os caroços de argan, a visualização da qualidade do produto pela equipe de recepção é mais fácil de constatar o endocarpo furado por ataque de pragas ou por apresentar algum tipo de rachadura que possa comprometer a amêndoa por contaminação de fungos.


C a p í t u l o I | 140 Despolpamento A separação da polpa do restante do fruto é muito difícil, porque o tecido correspondente ao mesocarpo ou a polpa é compacto e fica fortemente aderido ao endocarpo (Figura 113). Embora não existam máquinas especializadas para a operação de despolpamento de frutos frescos de argan, porém o mesmo princípio de despolpadeira indicada para o fruto de macaúba poderá oferecer uma construção mais sólida, mais resistente e as suas barras de aço que constituem o cilindro devem ser mais reforçadas, porque o trabalho como argan é também enérgico. As facas implantadas no eixo devem apresentar um desenho diferente, quase cortante e em número maior. É acionada por um motor mais possante (5,0 HP) e tem a capacidade de processar até 10 toneladas de frutos por dia (SILVA, 2007; Figura 114).

Figura 113. Despolpador marcas D80 (A) e D 300 (B) do mesocarpo da macaúba que pode ser adaptado para o despolpamento dos frutos de argan, visando a obtenção dos seus caroços. Foto: Arquivo da Scott Tech (2014).


C a p í t u l o I | 141

Figura 114. Despolpadeira semi-industrial que separa a casca e a polpa do endocarpo da macaúba oferece as condições ideais de adaptação para obtenção dos caroços de argan. Fotos: Isabella Christina Costa da Silva. O período de despolpamento deve ser muito intenso para retirada completa do mesocarpo, o que aumentaria a eficiência do processo de obtenção de caroço plenamente limpo, sem nenhum vestígio de polpa. Pela ação das pancadas das facas, a polpa é totalmente retirada e separada do endocarpo e vai sendo eliminada pelas aberturas entre as barras. A polpa vai para os receptores e fazem-se a descarga dos caroços descascados, ambos em depósitos distintos. Logo após o encerramento dessa etapa, deve-se remover a polpa destinada à alimentação animal, enquanto os caroços recolhidos são espalhados sobre uma lona plástica para o processo de secagem ao sol.

Em caso de armazenamento temporário, os endocarpos devem ser conservados em depósitos comuns, protegidos da umidade, de roedores e alguns insetos, principalmente, coleópteros; pela sua constituição de tecido lignificado e extremamente duro, as amêndoas delicadas e finas, dotadas de um alto teor de óleo, estão naturalmente protegidas.

Secagem natural Os caroços desprovidos de polpa devem ser secados ao sol por 1 a 2 dias. Após secagem, a umidade da amêndoa fica reduzida com consequente perda de sua aderência na parede interna do endocarpo, o que permite a obtenção de amêndoa totalmente inteira (sem se fragmentar), quando submetida ao processo mecânico ou manual de quebra da casca dura (endocarpo).


C a p í t u l o I | 142 Quebra mecânica do caroço duro (endocarpo) Por meio de um descascador mecânico de acionamento manual é possível quebrar o caroço duro de argan (endocarpo) para libera as amêndoas contidas internamente, de forma a garantir uma boa higienização em comparação ao método rudimentar de quebra do endocarpo com uso de pedra. Na Figura 115, observa-se uma linha de produção de mulheres quebradeiras de castanha do pará que utilizar individualmente o descascador mecânico de acionamento manual.

Figura 115. Linha de produção de castanhas do pará com o descascador de acionamento manual por mulher do fabricante Ecirtec, podendo ser adaptado para quebrar o caroço de argan.


C a p í t u l o I | 143 Tostado e moagem mecânica das amêndoas O tostado de amêndoas é um procedimento usado tradicionalmente em Marrocos por causar uma alteração no sabor do óleo (tipo avelã). Essa característica diferenciada do óleo tostado agrada bastante os consumidores daquele país. A continuação, as amêndoas duras de argan (já tostadas) são trituradas por meio de um moinho industrial (Figura 116), cuja operação permite facilitar a extração do óleo na etapa de prensagem.

Figura 116. Moinho industrial de grãos com capacidade de 100-500 kg/h (Tipo 450). Equipamento em aço inoxidável fabricado na China. Outra forma de obter maior rendimento seria dirigir as amêndoas inteiras de argan ainda quentes diretamente para uma prensa potente, após sua exposição ao sol por 4 horas, inclusive sem necessidade da etapa de moagem. Com a secagem natural das amêndoas de argan, o óleo resultante é de alta qualidade por não comprometer as suas propriedades físico-químicas e organolépticas, o qual é denominado de extravirgem. Ao contrário, ocorre com a secagem artificial com temperatura oscilando entre 70 a 80 ºC para tostar as amêndoas de argan, visando obter um óleo com sabor do tipo avelã. Sua denominação é virgem, porque parte dos elementos nutricionais foram comprometidos durante o processo de tostado com temperatura elevada acima de 45ºC.


C a p í t u l o I | 144 Extração de óleo das amêndoas de argan Uma vez secadas ao sol e atingindo a umidade máxima de 4%, as amêndoas duras de argan ainda aquecidas devem ser conduzidas imediatamente para o setor de prensado, visando obter um maior rendimento no processo de extração de óleo.

A mini-usina deverá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância sanitária para funcionamento de Laboratório de Tecnologia de Alimentos, e nela deverá ser implantada uma prensa de porte médio do fabricante Scott Tech de Vinhedo, SP, por apresentar o argan uma amêndoa dura com seu teor em óleo entre 52% a 56%.

A Unidade de Extração de Óleo, doada para a cooperativa de pequenos produtores de Lucrecia, RN, foi adquirida do fabricante Scott Tech com ajuda financeira da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão). Sua prensa de médio porte foi validada no processo de extração de óleo com várias espécies oleaginosas e tem a capacidade de processamento de 100 quilos de matéria prima de argan por hora, rendimento de 43% de óleo extra-virgem e extrai 22 litros de óleo por hora (EL ABBASSI et al., 2014; QUEIROGA et al., 2014; Figura 117).


C a p í t u l o I | 145

Figura 117. Unidade de extração de óleo das amêndoas de argan da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Familiares de Lucrecia, RN (COAFAL) e da Cooperativa de Agricultores Familiares de Apodi, RN. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Decantação e filtragem O óleo obtido por prensagem sempre arrasta resíduos que tendem a turvar o óleo. A separação desse material pode ser por sedimentação (tanque de decantação; Figura 118) ou por filtragem. A filtragem tem a finalidade de retirar os resíduos que estão misturados com o óleo. No tipo de equipamento empregado, o óleo passa através de uma série de filtros (10), feitos de tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo.


C a p í t u l o I | 146

Figura 118. Tanque de aço inoxidável usado para decantação e separação de impurezas misturadas ao óleo de argan.

Esse filtro de prensa é do tipo placas verticais, com 6 placas e 7 quadros, fechamento mecânico manual, bica recolhedora e bandeja para retenção de finos. Também acompanha uma bomba para alimentação e motor de 0,33 CV (Figura 119). Dependendo da qualidade dos grãos empregados (natural sujo de campo) e do grau de impureza do óleo, pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al., 2007).

Figura 119. Filtros de prensa de porte médio utilizados na eliminação de impurezas contidas no óleo de argan. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 147 Amostragem do óleo em laboratório A análise da amostra de óleo de argan em Laboratório é a penúltima fase do processo de extração, porque determina a qualidade final do produto e define ou não sua comercialização para o mercado. Utiliza-se de uma pipeta limpa e esterilizada para tirar uma amostra de 100 mL de cada tambor de 200 L de aço inoxidável. Em seguida, deposita a amostra de óleo em cada frasco de vidro esterilizado, usando a mesma numeração que identifica o tambor amostrado. As amostras tiradas de cada tambor são armazenadas para a realização das respectivas análises de peróxido e acidez em 4 repetições por cada teste. Uma vez concluído essa operação, realiza-se a etiquetagem das garrafas indicando no rotulo o índice de peróxido e acidez (SAG; DICTA, 2007; Figura 120).

Figura 120. Laboratório de Análises de óleo. Foto: Arquivo da empresa Shirosawa Co.

Envasamento do óleo O processo de engarrafamento se divide em quatro etapas. A primeira consiste no processo de lavagem, esterilização e secagem das garrafas, que em seguida seguem para a etapa de envasamento, onde acontece o enchimento das garrafas. A terceira etapa é a colocação de rótulo e selo na superfície externa da garrafa, e por último as garrafas são colocadas em caixas para distribuição ou comercialização local. Nessa etapa, alguns resíduos e efluentes gerados podem ser apontados como aspectos ambientais relevantes. Os efluentes gerados no processo são a água utilizada na assepsia dos recipientes e as soluções contendo detergente. Também são gerados, rótulos de papel, tampinhas de garrafa, restos de cola, cacos de vidro, etc (SEBRAE, 2001).


C a p í t u l o I | 148 O óleo deve ser envasado em recipientes novos, mesmo assim é necessário submetê-los ao processo de esterilização. Atualmente, os materiais permitidos são: vidros, lata de alumínio e garrafa Pet (Figura 121). A capacidade de cada embalagem não pode ser maior de 1 litros e não é permitido usar embalagem com marcas que não sejam de propriedade do Produtor Autorizado ou ser um envasador aprovado nos términos das normas oficiais. Recomenda-se colocar em frasco de 80 mL a 150 ml, pois cada pequeno recipiente de óleo extravirgem de argan pode custar para o consumidor final o valor superior a R$ 30,00 (nas condições do Brasil).

Figura 121. Sistema semi-automatizado de envasamento das garrafas de vidro com óleo e etiquetagem manual das garrafas de acordo com as normas oficiais estabelecidas.

EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE ARGAN COM SOLVENTES A extração do óleo com solventes é reservada para o óleo destinado a cosméticos ou outros usos industriais, devido às suas características organolépticas desfavoráveis (EL ABBASSI et al., 2014). Ou seja, alguns estudos apontam para certa diferenciação da qualidade do óleo dependendo do processo de extração, geralmente porque o método industrial e o uso de produtos químicos pioram as propriedades físico-químicas e organolépticas (HILALI et al., 2005; CHARROUF; GUILLAUME, 1999). Muitas vezes é feito com solventes voláteis, sendo os mesmos lipofílicos por apresentarem grande afinidade química com gorduras. Dentre os vários solventes testados para a extração de óleos, o hexano é o mais utilizado pelas indústrias, por ser um solvente derivado do petróleo e tem como desvantagens, o fato de ser obtido de fonte não renovável, além de ser tóxico e altamente inflamável (GUARIENTI et al., 2012; OSHA, 2011).


C a p í t u l o I | 149 Portanto, nos processos mais modernos das indústrias, a extração de óleo é realizada diretamente por solvente orgânico. O uso do solvente no processo de extração de óleo da matéria prima pelas indústrias oleíferas, principalmente da amêndoa de argan previamente triturada em moinho, está na eficiência do mesmo em reduzir o conteúdo de óleo da matéria prima utilizada, permanecendo no farelo, co-produto da extração, uma mínima quantidade de óleo, em média 0,5% a 0,6% (CUSTÓDIO, 2003; MORETTO; FETT, 1998).

A indústria de extração de óleo com solvente desenvolveu um tecnologia que permite abastecer o exaustor com torta gorda, ou seja, a partir do processo de trituração em moinho da amêndoa de argan que é transportada por uma rosca sem fim para alimentar uma moega. Através de um elevador de canecas, a torta é novamente transportada por um sistema de rosca sem fim que irá conectar separadamente com a boca de alimentação na parte superior, em forma de funil, de cada exaustor (Figura 122). Vale salientar que no processo químico de extração de óleo, a torta de argan passa essencialmente por sete etapas.

Figura 122. A) Rosca-sem-fim distribui a amêndoa triturada (torta gorda) em cada boca do funil na parte superior da plataforma; e B) na parte inferior da plataforma, cada exaustor é abastecido com torta de argan por meio desses funis. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

No Extrator (Figura 123), coloca-se a mistura de amêndoa triturada de argan e solvente, na proporção de 14 tambores de 200 L de hexano para 1.200 kg de torta, que passa por um processo de aquecimento numa temperatura que varia entre 55 e 65 ºC, gerando um composto de óleo, água resultante da perda de umidade da torta e farelos de endosperma. O solvente, água e óleo seguem para a próxima etapa do destilador, através do bombeamento de um motor elétrico. Os resíduos que ficam nos extratores são chamados,


C a p í t u l o I | 150 na indústria, de borra. Essa borra pode ser utilizada como adubo para a atividade agrícola ou na alimentação animal.

Figura 123. Conjunto de extratores da indústria de extração de óleo de argan. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

O Destilador é responsável pela separação da mistura de solvente e água do óleo aquecido (Figura 124). O solvente e a água evaporam pelo processo de aquecimento para o condensador, ficando o óleo de argan retido no fundo desse tanque. No Condensador (Figura 125), com o uso da água fria da piscina ou caixa dágua, a mistura de solvente e água, é resfriada, voltando ao estado líquido. A água que passou pelo condensador retorna aquecida à piscina (Figura 126) e esfria naturalmente para ser reaproveitada. Depois do condensador, a mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no Separador (Figura 127), sendo que esse sistema opera com o nível de 60% de água. Enquanto, o solvente retorna por gravidade para o Tanque Original para ser reaproveitado (Figura 128). Segundo o técnico de produção, ao longo de todo o trajeto do solvente, há perdas na ordem de 5% (CARVALHO, 2005). No final do processo de extração com solvente, usando a matéria-prima amêndoa triturada de argan, se consegue obter um rendimento de 50% - 55% de óleo e armazenar o produto em tanque de aço inoxidável (KRIST et al., 2008; Figura 129).


C a p í t u l o I | 151

Figura 124. Mediante aquecimento no destilador, processa a separação do óleo de argan do solvente e água. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 125. A mistura do solvente e água (vapor) retorna ao seu estado líquido no condensador. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 152

Figura 126. A) Água da piscina usada pela caldeira para produzir vapor aquecido e B) Vapor quente circula pelos canos serpenteados no interior do tanque para aquecer o óleo extraído por solvente, auxiliado por um agitador com palhetas (eixo central). Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 127. A mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no tanque separador, sendo mantido um nível de 60% de água no seu interior. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 153

Figura 128. Tanque original para armazenar o solvente (hexano) usado no processo industrial de extração de óleo da amêndoa triturada de argan. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 129. Armazenamento do óleo de argan em tanque de aço inoxidável. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A Caldeira, movida à lenha ou com borra de argan (Figura130), responde pela oferta de vapor necessário ao processo industrial de extração de óleo de argan. O vapor é utilizado, especialmente, nos extratores, destiladores e no tanque de aquecimento para o processo de filtragem do óleo bruto extraído das amêndoas de argan. Essa caldeira consome água da piscina para os processos de formação de vapor (CARVALHO, 2005).


C a p í t u l o I | 154

Figura 130. Caldeira movida à lenha ou borra de argan para gerar vapor ao processo industrial de extração de óleo de argan por solvente. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A energia elétrica é usada, principalmente, na movimentação de motores que bombeiam o óleo líquido de argan de um recipiente para outro, assim como para transposição da água da piscina para resfriar o solvente no condensador. Por sua vez, o solvente hexano utilizado é preferido no processo de extração pelo seu excelente poder de solvência para um grande número de sementes oleaginosas e, também, por ser o mais seletivo, possuir estreita faixa de ebulição e ser imiscível com a água. A sua facilidade de separação do óleo permite simplificar o processo de recuperação desse solvente. Nesse processo geral de extração do óleo de argan, a maior parte de consumo do solvente ocorre, pela perda, na fase de aquecimento nos extratores e no seu resfriamento no condensador, para, em seguida, retornar ao tanque original e ser reaproveitado (CARVALHO, 2005).

QUALIDADE DO ÓLEO DE ARGAN A matéria-prima e o método de extração são os fatores que determinam a qualidade do óleo de argan. É das sementes ou amêndoas contidas no fruto de argan, de onde é extraído esse extraordinário óleo, mas para obter um óleo de argan de alta qualidade, é preciso usar matéria-prima ideal. Nem todas as amêndoas são iguais, as suas características dependem principalmente da maturidade do fruto, da área geográfica de procedência, do tempo de estocagem, uma vez extraídas do fruto e se são inteiras, quebradas ou danificadas, as amêndoas sempre se classificam antes do processo de extração do óleo e


C a p í t u l o I | 155 as melhores amêndoas serão aquelas longas, oleosas ao toque, de cor clara, inteiras, intactas e recém-extraídas dos caroços (ou endocarpo). Do anteriormente exposto, pode-se deduzir que um óleo de argan puro pode ser obtido de amêndoas de diferentes tipos, embora a sua pureza não mude, mas a sua qualidade pode ser definida. Ou seja, se na indústria for usado um método de extração desfavorável, o óleo de argan obtido não será de máxima qualidade, mesmo que tenha utilizado a melhor matéria-prima no processo. Portanto, quando se almeja obter um produto de qualidade, é muito importante conhecer como se obtém o óleo de argan. Existem três métodos de extração de óleo de argan: o método tradicional ou artesanal, o semi-industrial e o método de extração por solvente. Contudo, é necessário avaliar em cada método os seus fatores limitantes. Na extração artesanal, o método consiste em triturar as amêndoas de argan manualmente, usando uma roda de pedra rotativa para obter uma massa oleosa à qual se vai adicionando a água e depois se amassa manualmente por um determinado tempo até obter uma pasta ou torta macia que é logo pressionada com as mãos para separar uma emulsão oleosa (Figuras 131 e 132). São as mulheres que realizam essa tarefa. Consequentemente, elas que sabem a quantidade de água para adicionar e o tempo que devem amassar a pasta, pois não há um protocolo técnico exato, trata-se de um método puramente tradicional.


C a p í t u l o I | 156

Figura 131. Prensa de pedra rotativa para triturar as amêndoas de argan e obter uma massa líquida oleosa. Marrocos. Foto: Shia Hertally (2017).

Figura 132. Detalhes do moinho de pedra rotativa (uma pedra lisa se atrita com outra pedra com ranhuras na sua face inferior) para triturar as amêndoas de argan. Foto: Alibaba.


C a p í t u l o I | 157 Após a prensagem manual (Figura 133), a emulsão é deixada em repouso para separar a água do óleo e, assim, ser capaz de remover o óleo de argan. Esse processo é chamado de decantação. O óleo, assim obtido após filtração através de tecidos ou peneiras apropriadas, é envasado em garrafas para ser vendido em mercados locais ou ser utilizado imediatamente, pois, devido às características de sua fabricação, não se conserva em bom estado por muito tempo (pouco tempo de prateleira).

Figura 133. Método artesanal de extração de óleo realizado pelas mulheres berberes de Marrocos. Foto: Hermy.

O método tradicional de prensagem manual, que é, sem dúvida, o que é mais divulgado e o que gera mais simpatia por ser totalmente artesanal, no entanto, a realidade dessa forma de fabricação de óleo de argan tem muitas deficiências, as principais são: -Baixo rendimento na extração: A quantidade de óleo contida na semente de argan é cerca de metade do seu peso, com prensagem manual é possível extrair aproximadamente entre 15-20% de óleo, os restantes permanecem na torta, cuja única forma de aproveitamento é como alimento para animais; -As prensas de pedra e outros utensílios utilizados em muitos casos contribuem com elementos que podem deteriorar ou favorecer a deterioração ou oxidação do óleo; -Em geral, o processo é realizado em más condições higiênicas e sanitárias. A água potável é escassa ou inexistente nas áreas rurais de Marrocos e este método é caracterizado pela adição de água à massa triturada de amêndoas de argan para facilitar a extração;


C a p í t u l o I | 158 -O óleo de argan obtido pelo método tradicional tem muito má conservação porque é muito difícil eliminar completamente a água adicionada durante o processo de fabricação, a água residual remanescente no produto final acelera muito o ranço do óleo; -A extração artesanal do óleo de argan é uma técnica muito lenta, trabalhosa e requer muito trabalho manual. A obtenção semi-industrial ou parcialmente mecanizada de óleo de argan é por várias razões o método mais usado nas cooperativas de produtores de Marrocos. A prensagem de amêndoas é feita por prensas mecânicas que funcionam com eletricidade, dessa forma as amêndoas são trituradas pela ação de rosca única (tipo extrusoras; Figura 134), que giram a velocidades não muito altas para evitar que a temperatura da massa esmagada aumente como consequência do atrito e, assim, garanta a extração a frio do óleo de argan. A principal vantagem deste método é que não é necessário adicionar água à pasta de amêndoas e o rendimento em quantidade de óleo de argan obtido é maior, dependendo da capacidade da prensa utilizada.

Figura 134. Extração mecânica de óleo de argan, sendo o funil da prensa abastecido com amêndoas inteiras e não torradas. Foto: Hermy.

Os outros procedimentos são por vezes semelhantes ao método tradicional, depende de cada unidade de produção, em alguns casos, a decantação, a filtração e a embalagem também poderão ser realizadas mecanicamente.


C a p í t u l o I | 159 O método parcialmente mecanizado ou semi-industrial apresenta melhores características do que o processo artesanal, suas principais vantagens são: -Maior rendimento: a extração por prensagem mecânica permite obter até 45% do óleo contido nas sementes de argan. Existe prensa que atinge maior capacidade de extração (70%); -Os elementos das prensas que estão em contato com o produto são feitos de aço inoxidável, o que evita problemas de contaminação e seu acabamento sanitário garantem uma ótima limpeza; -O processo de extração é realizado sem a adição de água e sob condições higiênicas apropriadas; -Em comparação com o processo artesanal, o método semi-industrial requer menos tempo e menos mão-de-obra, o que reduz significativamente os custos.

O óleo de argan também pode ser obtido usando algum solvente volátil que atua na pasta de amêndoas trituradas. O solvente mais empregado é o hexano. Esse método de extração é realizado em alguns casos pela grande indústria de preparações cosméticas em função do seu alto desempenho, mas as propriedades do óleo de argan obtido não são satisfatórias. Basicamente, o método consiste em adicionar hexano à pasta de amêndoas de argan triturada, o solvente extrai quase completamente o óleo das amêndoas (Figura 135). Quando o processo é finalizado, a mistura é aquecida a cerca de 100ºC para eliminar completamente o hexano por evaporação (seu ponto de ebulição é apenas 67ºC), deixando assim o óleo puro, que é recuperado, filtrado e envasado. Trata-se de um método eficaz e barato, mas com o qual não é obtido um óleo de argan puro de boa qualidade.


C a p í t u l o I | 160

Figura 135. Extração de óleo de argan com solvente. Foto: Hermy.

Outro método para extração de óleos essenciais de tortas de argan pode ser realizado através do sistema de Extração por Arraste de Vapor. A extração desses óleos é feita por destilação. Uma corrente de vapor passa pela matéria prima e arrasta com ela o óleo essencial. Quando esse vapor condensa, temos dois líquidos imiscíveis: água e óleo essencial. A Ercitec dispõe de vários modelos com diversas capacidades de produção (Figura 136). .

A B Figura 136. Extração por arraste de vapor dorna: A) equipamento com capacidade de 15 litros e B) equipamento com capacidade de 500 litros. Fotos: Adilson Manzano.

Em geral, o método semi-industrial ou parcialmente mecanizado por meio de prensa mecânica ou hidráulica a frio aumenta significativamente a qualidade óleo de argan comparado ao obtido de forma artesanal (Figura 137), preservando sua composição


C a p í t u l o I | 161 química e sua conservação adequada. De fato, por causa de suas vantagens em termos de custo e desempenho, é atualmente o mais utilizado nas cooperativas de produção de Marrocos (Figura 138).

Figura 137. Óleos de argan extraídos por métodos distintos: artesanal (óleo tostado) usado na culinária marroquina e óleo com solvente para uso cosmético. Foto: http://www. arganoilhealth.com/arganoilhealth/0/0/2/71.


C a p í t u l o I | 162

Figura 138. Resumo comparativo entre os diferentes métodos de extração de óleo de argan nas condições de Marrocos.

Outro equipamento mecânico de extração de óleo seria a prensa hidráulica, a qual consiste de um pistão de 12 polegadas, montado no fosso, é acionado por uma bomba hidráulica (instalada na parte superior do fosso) para movimentar uma panela de ferro contra um bloco de aço fixado na parte superior da prensa, visando prensar as amêndoas de argan dentro de um saco de estopa (o pano grosso funciona com filtro), os quais estão contidos no interior da respectiva panela (Figura 139). Esse encaixe da panela de ferro contra o bloco de aço fixo é realizado com bastante precisão e com alta pressão (ABUMO, 2010).


C a p í t u l o I | 163

Figura 139. Prensa hidráulica com alta capacidade de extração de óleo (70%): A) Um pistão movimenta a panela de ferro contra um bloco de aço fixado na parte superior da prensa; B) Parte inferior da panela de ferro contém vários furos minúsculos; C) amêndoas de argan depositadas no saco de estopa instalado dentro da panela de ferro; D) pressão do pistão hidráulico da prensa com escorrimento do óleo.

O óleo de argan poderá ser extraído pela prensa hidráulica através da pressão realizada pelo pistão contra o bloco de aço. A extração do óleo é realizada a temperatura ambiente e a baixa pressão (180 kgf/cm2). A cada 20 kg da matéria-prima poderão ser extraídos aproximadamente 7 kg de óleo (rendimento de 70%) e cada processo demora mais de 1 hora (ABUMO, 2010). Após o processo de decantação natural por 24 horas, o óleo de argan seria filtrado.

MARROCOS: EXTRAÇÃO DE ÓLEO COM PRENSA MECANIZADA Nos anos 1990, começou em Marrocos a industrialização do processamento de óleo de argan. Nas miniusinas de Casablanca e Agadir, o óleo é extraído das amêndoas de argan por prensa extrusora. Afinal, esse processo mecânico representa uma perda significativa


C a p í t u l o I | 164 de renda para muitas famílias, porque antes as mulheres que viviam nas áreas rurais eram encarregadas pela produção de óleo por extração manual ou artesanal. Posteriormente, o governo marroquino criou um subsídio da UCFA (Unión de Cooperativas das Mulheres da Arganeraie). Nessa nova organização, cerca de 22 cooperativas fornecem trabalho a mais de 1.000 mulheres que continuam a fazer o método tradicional de obtenção de óleo de argan por prensado manual. A partir das vendas do óleo, os membros de cerca de 6.000 famílias podem viver nas cidades rurais e ainda são as associações familiares que permitem manter as populações nessas zonas rurais porque não há necessidade de emigrar para trabalhar nas fábricas urbanas. Com o descobrimento do óleo de argan para a indústria cosmética, como parte de itens para higiene pessoal, também foi criado uma demanda de longo prazo pelos produtos das cooperativas. O grande impacto da demanda e as consequências sociais devido a implantação de métodos modernos de extração do óleo de argan por meio de máquinas de prensagem tipo extrusora, bem como o movimento de contramedidas das cooperativas de mulheres, estão refletidos em um estudo realizado em maio de 2006 pela GTZ (Sociedad de Asistencia para el Desarrollo Alemana).Essas cooperativas incentivam as mulheres a ingressar no mercado de trabalho, incluindo programas de alfabetização, programas de sanidade, etc. O processo de extração é extremamente laborioso, através da prensagem a frio em moinhos de pedra, usando métodos artesanais e manuais. No Marrocos e a nível internacionalmente, se pretende conseguir o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) que protegerá a árvore de argan e a seus produtos. Esse reconhecimento é concedido pela "Organização para uma Rede Internacional de Indicações Geográficas" (ORIGIN). Antes de obter o reconhecimento IG do “azeite de argan” é necessário organizar racionalmente a produção, o que valorizariam as áreas rurais onde se encontram as árvores e acrescentaria um valor aos produtos. Consequentemente aumentariam as rendas em benefício dos produtores envolvidos, que iriam criar mais cooperativas ou associações. Foi fundado em Genebra no ano 2003 por um grupo de produtores de diversos países distintos com a etiqueta IG. O IG concederia as zonas produtoras maiores perspectivas de desenvolvimento em seu entorno para atrair o turista com atividades e degustações, restaurantes, hotéis (PRAT; RAMOS, 2010). Contudo, o mais importante da obtenção do selo de denominação de origem é que se conserva o argan e somente os produtos nativos do sudoeste de Marrocos serão denominados de “argan ou azeite de argan”.


C a p í t u l o I | 165 Paralelamente, em Agadir (2008), por iniciativa do Conselho Geral de Souss Massa Draa, foi fundada a associação marroquina para a identificação geográfica do óleo de argan (AMIGHA) que também se apoia a criação de uma lei que certifique a denominação de origem do óleo (Figura 140). O objetivo dessa associação é criar uma etiqueta IGP (Indicação Geográfica Protegida) para o óleo de argan (PRAT; RAMOS, 2010).

Figura 140. Etiqueta de identificação geográfica do óleo de argan de Marrocos. Foto: martafernadezz.com

Atualmente, a maioria dos produtores e cooperativas tem recebido o selo de certificação ECOCERT para o óleo de argan e seus produtos (Figura 141). A ECOCERT é uma companhia de inspeção e certificação que verifica a conformidade dos produtos ecológicos, baseando-se nas regulações orgânicas européias. Para obter uma etiqueta que proteja o autêntico óleo de argan é necessário cumprir uma série de normas internacionais concernentes à sanidade, métodos de extração e especificações precisas dadas por um laboratório credenciado (PRAT; RAMOS, 2010).

Figura 141. Etiqueta da empresa certificadora de produtos ecológicos. Foto: martafernadezz.com


C a p í t u l o I | 166 Além de trazer um produto muito competitivo ao mercado, essas cooperativas são responsáveis por promover o desenvolvimento e a manutenção das áreas rurais. Elas representam o sustento da maioria das famílias no âmbito rural. Por causa disso, tem um componente econômico e social essencial para Marrocos. Para obter um litro de óleo é necessário prensar uns 30 kg de frutos de argan, requerendo assim um trabalho de pelo menos 20 horas. Desde 2009, foi criado um selo de Denominação da Origem do Óleo de Argan pela Associação de Produtores de Argan (AMIGHA; Figura 142), que é uma garantia de que as condições de produção mantêm constantes e a qualidade intacta.

Figura 142. Selo de Denominação da Origem do Óleo de Argan da Associação de Produtores de Argan (AMIGHA) de Marrocos.

Por outro lado, o fruto de argan é uma baga carnosa de cor verde-amarelo, que contém um endocarpo duro, com duas ou três sementes no interior, de onde se obtém o óleo, o qual constitui em um diferencial competitivo de maior interesse econômico e industrial (Figura 143). Anualmente, Marrocos produz umas 4.00 toneladas do fruto de argan, dos quais se obtêm entre 1.000 a 2.000 toneladas de óleo, cujo preço no mercado pode alcançar no local de origem até 96 euros o litro, sendo considerado o mais caro do mundo. Os principais países importadores desses produtos são França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda, Canadá, Estados Unidos e Japão, se bem que a maior parte se destina ao consumo no próprio país (CHAUSSOD et al., 2005).


C a p Ă­ t u l o I | 167

Figura 143. Frutos e caroços de argan. Fotos: Helena Bordon; Tatiana (2015).


C a p í t u l o I | 168 SITUAÇÃO ATUA DO BOSQUE DE ARGAN EM MARROCOS As árvores de argan desempenham um papel fundamental no equilíbrio ecológico do bosque sobre as quais domina (EHRIG, 1974). Seu extenso sistema radicular contribui para a conservação do solo, evitando a erosão hídrica e eólica, o que ameaça levar à desertificação em grande parte da região de Marrocos. Ademais, sob a sombra que projeta sua ampla copa, pode se desenvolver a agricultura de subsistência, impossível de outra forma de exploração para as condições de aridez existente. O sistema radicular da árvore de argan funciona como um poço de água que eleva a umidade dos aquíferos aos horizontes férteis da superfície do solo, onde é restaurado através de um processo de evaporação e condensação. Também existem numerosas espécies de fauna e flora cuja existência está intimamente ligada à presença do argan.

Apesar da disposição desses benefícios, o bosque de argan está em considerável estado de regressão. Atualmente, pode ser encontrado um grande número de parcelas abandonadas devido à erosão eólica ou salinificação do solo. Segundo Nouaim (1991), há várias décadas o ecossistema se encontra superexplorado, em grande parte devido ao complexo sistema tribal berbere da região que dificulta a distribuição equilibrada dos direitos de exploração entre os diferentes atores. A forte pressão do gado impede a regeneração do bosque, tanto no sistema agrossilvipastoril como no florestal, que por sua vez obriga os produtores de óleo a colher o fruto extremamente verde, sem deixar um volume de reservas de sementes na árvore. Ao mesmo tempo, o surgimento de infraestruturas de irrigação favoreceu a abertura de terras agrícolas em detrimento da população arbórea (NOUAIM, 1991). Atualmente, a zona de argan em Marrocos constitui uma Reserva da Biosfera da UNESCO que, juntamente com as ONGs na área, tentam parar a dinâmica regressiva que estão sofrendo os bosques dessa espécie (MAB Programa UNESCO, 1998). Essa árvore multiuso é frequentemente descrita como uma espécie em extinção desde fatores físicos e antropogênicos que reduzem a densidade e superfície do ecossistema arganeraie (MSANDA et al. 2005).

O governo de Marrocos e os governadores locais das zonas dos bosques de argan têm tomando medidas corretivas sem pôr em risco o equilíbrio econômico e social que a exploração desses arbustos implica. Portanto, foi elaborado um projeto que tem como principal desafio a preservação dos bosques de argan e o combate à desertificação nas


C a p í t u l o I | 169 regiões áridas do Marrocos. Foi financiado pelo Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento (IDRC) e envolvem pesquisadores marroquinos atuando em conjunto com as múltiplas cooperativas de extração de óleo que existem atualmente no país.

Infelizmente, em menos de uma década, mais de um terço da floresta argan desapareceu e sua densidade média diminuiu de 100 para 30 árvores por hectare. Por outro lado, a pesquisa mostra que a árvore de argan não é um fóssil que está desaparecendo, mas se trata de uma árvore com futuro específico para certas regiões áridas. Portanto, é vital melhorar o potencial de produção da árvore de argan, para que ela possa recuperar sua posição chave nos sistemas agrícolas da região. Apesar da planta do argan desempenhar um papel muito importante na preservação da biodiversidade e no combate à desertificação nas regiões áridas de Marrocos, estas são preocupações que estão muito distantes para as populações locais pobres. Portanto, o projeto tem vários objetivos:

a- Prevenir uma maior degradação ambiental.

b- Melhorar a qualidade de vida das populações do sudoeste de Marrocos, em particular as mulheres.

c- Manter e desenvolver novas técnicas de extração do óleo que é bastante demandado pelo mercado para que as cooperativas continuem desenvolvendo suas atividades.

Para alcançar esses objetivos propostos, os pesquisadores marroquinos também estão focados em:

1- O desenvolvimento de novos cenários de tratamento para a árvore de argan.

2- A seleção de árvores que produzem grandes quantidades de óleos e produtos biológicos ativos.

3- Melhorar os procedimentos artesanais das mulheres berberes para extração de óleo de argan, estudar as características físico-químicas, a composição química e a atividade farmacológica do óleo de argan, a fim de prolongar sua vida útil e desenvolver produtos de valor agregado a partir do óleo.


C a p í t u l o I | 170

4- A viabilidade econômica das cooperativas arganeras criadas pelos grupos de mulheres que produzem o óleo, tanto manual quanto mecanicamente.

5- A organização de marketing e formação dos grupos de mulheres que trabalham no setor.

Seguindo essas premissas, acredita-se que o desmatamento das florestas de argan pode ser controlado e conseguir reverter a delicada situação que vive agora, assegurando assim o futuro da economia das zonas rurais e evitando que haja êxodo rural.

ASPECTO SOCIAL DA ATIVIDADE EXTRATIVISTA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO Profundo conhecedor da terra, do homem e da cultura nordestina, o Padre Cícero Romão Batista não faltou a reflexão quanto ao meio ambiente, essencial para a sobrevivência da população do semiárido. Pois, há mais de cem anos, quando ninguém falava em ecologia, ele como extraordinário homem de vanguarda que foi se antecipava e ensinava preceitos ecológicos ao povo do Nordeste, alguns como: “Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau”; “Não toque fogo nem no roçado nem na Caatinga”; “Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá, ou outra árvore qualquer, até que o sertão seja uma mata só”; “Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando, e o povo terá sempre o que comer”; “Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão vai virar um deserto só”. Na verdade, o semiárido já apresenta uma área desertificada de mais de 72.708 km 2, o equivalente em área aos estados de Rio Grande do Norte e Sergipe juntos. A seca prolongada no nordeste está aumentando ainda mais esse grave problema ambiental.

Para mudar tal cenário de desertificação, os agricultores teriam que atender os preceitos do beato em cultivar uma espécie de árvore do deserto, apoiados com política pública de incentivo e fortalecimento à Agricultora Familiar, de modo a contribuir para a permanência das famílias no meio rural, promovendo assim sua inclusão social e econômica. Certamente, a árvore de argan, que é resistente a seca, se for cultivada por


C a p í t u l o I | 171 comunidade rural organizada seria a solução perfeita que cumpriria todos os preceitos do imaginário Padre Cícero e também resolveria os problemas dos maiores flagelos sociais do nosso tempo, por permitir a produção de um óleo nobre e valioso demandado pelo mercado e também por ser alimento para o animal. No período anterior 479 a. C., o filósofo chinês Confúcio escreveu o seguinte provérbio: “Se seu plano é para 1 ano, plante arroz; Se seu plano é para daqui dez anos, plante árvores; Mas se seu plano for durar cem anos ou mais, eduque as crianças”. Ou seja, se seu plano é de longo prazo siga o exemplo da Coreia do Sul que investiu pesado em educação de qualidade; se o plano é de médio prazo, vamos repovoar com árvores de argan e espécies nativas o semiárido para recuperar a sua área degradada e amenizar a elevada temperatura da região. Finalmente, concluímos que é necessário acabar com nossa cultura imediatista que só acredita em plano de curto prazo. No contexto atual e em função da fragilidade do ecossistema semiárido, os recursos naturais e as atividades agropecuárias ali desenvolvidas, não garantem mais a renda indispensável à sobrevivência de uma parcela significativa da sua população, caracterizando, assim, uma situação de extrema vulnerabilidade e insustentabilidade dos atuais sistemas de produção dependentes de chuva. Desta forma, a atividade extrativista do fruto do argan seria de grande importância por garantir, em parte, a sobrevivência dos pequenos agricultores e de seus animais. Essa atividade extrativista com a espécie exótica argan que seria desenvolvida pelos pequenos agricultores da região semiárida do Nordeste seria de grande importância para a absorção de mão-de-obra e geração de renda dos pequenos agricultores, como também na fixação do homem ao campo, visto que, os agricultores que futuramente vão colher o argan, provavelmente, irão permanecer em suas comunidades, à espera dessa safra. No período da colheita e comercialização da argan, a economia da cidade seria movimentada, por conta da circulação de mais dinheiro advindo da venda e compra da produção de caroços ou amêndoas do argan, bem além da circulação atual. A sua exploração, ao contrário do algodão, iria dispensar custos adicionais no preparo do solo e plantio, por se tratar de uma espécie exótica que requer no máximo 100 plantas por ha. E por ser uma atividade extrativista, os animais, que se alimentam da polpa do fruto, seriam os responsáveis pela expansão do argan na região. Portanto, as despesas dos


C a p í t u l o I | 172 agricultores iriam se restringir aos encargos com a coleta de frutos em cesto de palha, secagem ao sol, sacarias, transporte e a alguns cuidados necessários, para permitir o acesso das pessoas responsáveis pela cata dos frutos.

PROJETO DO CHILE DE ADAPTAÇÃO DA ARGANIA SPINOSA O pesquisador do INIA do Chile Andrés Zurita, PhD em Plant Biotechnology, viajou recentemente para o Marrocos, como parte do plano de trabalho do projeto "Prospecção e adaptação de Argania spinosa, com o objetivo de conhecer em campo as condições de crescimento dos bosques de argan e efetuar a seleção de clones de argan importados que foram implantados no norte verde do Chile. Esse projeto contou com financiamento do CORFO. De acordo com Zurita, essa pesquisa é de grande interesse para o Chile devido a que "com o aumento das condições de aridez no país, somadas à falta de chuvas, é necessário buscar espécies que possam tolerar condições climáticas extremas e possam crescer com poucos recursos hídricos, condições que o Argan tem suportado em sua área de distribuição natural, mostrando uma grande plasticidade de desenvolvimento em diferentes tipos de solo, e tolerância à seca, altas temperaturas e salinidade". A revegetação, e por extensão a restauração, é considerada uma das técnicas disponíveis para mitigar os efeitos da desertificação e até reverter esse fenômeno complexo (NYKVIST, 1983; VALLEJO et al., 2000; REYNOLDS, 2001). Por esta razão, a recuperação da cobertura vegetal tem sido uma das prioridades nos programas de combate à desertificação (LÓPEZ CADENAS, 1984; GÓMEZ, 1999; ROJO, 2000). É importante mencionar que o argan é uma árvore endêmica do Marrocos e da Argélia, países localizados no norte da África, que pode viver por 200 anos e é muito tolerante às condições do deserto, o que o torna adequado para seu possível estabelecimento no norte do Chile, onde o recurso hídrico é cada vez mais escasso, as secas existentes que já são características dessas regiões. Devido a estas características, o INIA avaliará a adaptação do argan no norte através de acordos de colaboração e acordos de transferência de materiais com grupos de pesquisa que trabalham com esta espécie nos países de origem.


C a p í t u l o I | 173 Por outro lado, no Brasil, o Mercado Livre Virtual já disponibiliza as mudas e as sementes de argan por um preço bastante elevado (Figura 144), mesmo assim é necessário elaborar um projeto de recuperação de áreas degradadas para a região semiárida do Nordeste do Brasil, de maneira similar as estratégias adotadas pelo Chile. Provavelmente, o Ceará seja o primeiro estado a formular essa iniciativa pioneira e inovadora de combate à desertificação. Das onze sementes (ou caroços) adquiridas no mercado virtual, apenas duas sementes conseguiram germinar após 4 dias de embebição em água (quebra de dormência).

Figura 144. Mudas e caroços de argan adquiridos no Mercado Livre. Fotos: rareplantsBrasil, jso Feria e Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 174 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO E FABRICAÇÃO As boas práticas de manipulação e fabricação de alimentos são um conjunto preventivo de procedimentos de implantação e controle de qualidade, relacionados à produção de alimentos e aos recursos utilizados para isso, como matérias-primas, insumos, equipamentos e instalações prediais, e principalmente recursos humanos. O principal objetivo de se implantar os procedimentos de boas práticas em qualquer estabelecimento que trabalhe com produtos alimentícios é elevar o nível de segurança e qualidade dos produtos para o consumo, o que eleva também o grau de confiabilidade e aceitabilidade junto ao mercado consumidor. Dentre as diversas medidas preventivas que podem compor um plano de boas práticas de fabricação compatível com as atividades descritas neste item, destacam-se as seguintes:

Prevenção da Contaminação Cruzada – Na unidade de processamento do argan, as áreas de recepção da matéria-prima, processamento, embalagem e armazenamento devem ser separadas. – Não deve haver cruzamento de matéria-prima com o produto acabado, para que ele não seja contaminado com microrganismos típicos das matérias-primas, colocando a perder todo o processamento realizado. – Os manipuladores das matérias-primas ou produtos semielaborados não devem entrar em contato com o produto acabado. – Todos os colaboradores devem lavar bem as mãos entre uma e outra etapa do processamento, nas diversas fases de elaboração, de acordo com o plano de higienização. – A entrada e/ou circulação de animais domésticos é estritamente proibida em qualquer local da unidade de processamento do argan. – Embalagens e recipientes devem ser sempre inspecionados para verificar sua segurança e não devem ser utilizados para outra finalidade que possa causar contaminação do produto.


C a p í t u l o I | 175 Armazenamento e Transporte de Matérias-primas e Produtos Acabados Os frutos ou caroços de argan deveriam ser transportados em caixas de plástico logo após a colheita, de preferência nas horas mais frescas do dia, sem exposição ao sol. Ao chegarem às fábricas, os frutos de argan devem ser imediatamente processados. Caso não haja a possibilidade de processamento imediato, eles devem ser armazenados em câmaras frias com temperatura de refrigeração (7 °C). No transporte das áreas de coleta para a fábrica, no caso de veículo aberto, é necessário manter a matéria-prima protegida contra a poeira da estrada, quando possível.

O armazenamento compreende a manutenção de produtos e ingredientes em ambiente (28 °C) que preservem sua integridade e qualidade. Ingredientes e embalagens devem ser armazenados em condições que evitem a sua deterioração e protegidos contra contaminação. Os produtos devem ser depositados sobre estrados e separados das paredes para permitir a correta limpeza do local.

Durante o armazenamento, deve ser exercida inspeção periódica dos produtos acabados, a fim de que somente sejam expedidos alimentos aptos para o consumo humano. Caso necessário, devem-se especificar, nas embalagens, sacos, caixas ou outro recipiente do produto, os cuidados devidos no transporte e armazenamento. Os produtos alimentícios não devem ser armazenados ao lado de produtos químicos, de higiene, limpeza e perfumaria, a fim de evitar contaminação ou impregnação com odores estranhos.

Os veículos de transporte devem estar limpos e em bom estado de conservação, para evitar possível contaminação com os produtos transportados até os estabelecimentos comerciais, além de não apresentarem evidências da presença de possíveis pragas ou odores acentuados.

Estrutura Física e Condições Higiênicas--Sanitárias do Estabelecimento

-Localização O estabelecimento não deve ser localizado em lugar próximo a fontes de odores indesejáveis, fumaça, pó e outros contaminantes. Não deve estar exposto a inundações e outros riscos de perigo ao alimento e à saúde humana.


C a p í t u l o I | 176 -Construção O desenho e o espaço da construção devem ser adequados para atender a todas as operações, da recepção da matéria-prima ao armazenamento do produto final, além de permitirem uma limpeza adequada (Figura 145). Ademais, devem impedir a entrada e o alojamento de insetos, roedores e outras pragas.

Figura 145. Unidade de extração de óleo da cooperativa COAFAL de Lucrecia, RN (outra unidade de extração de óleo similar se encontra na cooperativa de Apodi, RN). Os equipamentos foram adquiridos com recursos do projeto da Jica com apoio do Estado do Rio Grande do Norte. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Deve-se evitar a utilização de materiais que não possam ser higienizados ou desinfetados adequadamente (por exemplo, a madeira), a menos que a tecnologia utilizada exija esses materiais. Nesse caso, o controle de limpeza deve demonstrar que eles não são fontes de contaminação.

-Pisos, paredes e aberturas Os pisos devem ser de material resistente ao trânsito, impermeáveis, laváveis e antiderrapantes; serem fáceis de limpar ou desinfetar e não possuir frestas.


C a p í t u l o I | 177 As paredes devem ser lisas, revestidas de materiais impermeáveis e laváveis, de cores claras, fáceis de limpar e desinfetar. As janelas, portas e outras aberturas devem ser de materiais que evitem o acúmulo de sujeira, e sejam fáceis de lavar. As que se comunicam com o exterior devem ser providas de proteção antipragas, como telas.

-Efluentes e resíduos Deve haver um sistema eficaz de eliminação de efluentes e águas residuais, o qual deve ser mantido em bom estado de funcionamento. Todos os tubos de escoamento (incluindo o sistema de esgoto) devem ser suficientemente grandes para suportar cargas máximas de despejo e devem ser construídos de modo a evitar a contaminação do abastecimento de água potável.

-Abastecimento de água Deve haver um controle de origem e qualidade da água utilizada durante todo o processo de produção, a fim de evitar a contaminação do produto.

Além do sistema adequado de abastecimento de água potável, deve haver um sistema de distribuição protegido contra contaminação. No caso necessário de armazenamento, deve-se dispor de instalações apropriadas, como tanques e caixas de fácil limpeza, que deve ser feita constantemente.

Deve ser utilizada somente água potável para lavagem de matéria--prima, instalações, equipamentos, utensílios e outros processos que envolvam a preparação e formulação de alimentos.

Pode ser utilizada água não potável para a produção de vapor, sistema de refrigeração, controle de incêndio, limpeza de áreas externas e outros fins não relacionados com os usos acima descritos.

-Vestiários e banheiros Os refeitórios ou cantinas, banheiros, lavabos e vestiários devem estar completamente separados dos locais de manipulação de alimentos, sem acesso direto nem comunicação com esses locais.


C a p í t u l o I | 178 Os vestiários devem possuir o mínimo de estrutura de acondicionamento de roupas e acessórios dos colaboradores.

-Instalações para lavagem das mãos nas áreas de produção Assim como no banheiro, deve haver instalações adequadas e convenientemente localizadas para lavagem e secagem das mãos sempre que necessário, devendo ser compostas por: pia, saboneteira (uso preferencial de sabonete líquido), toalheiro de papel, e lixeira para descarte de toalhas. Não se devem usar toalhas de tecido.

-Instalações para limpeza e desinfecção As instalações para a limpeza e desinfecção de utensílios e equipamentos de trabalho (por exemplo, tanques) devem ser construídas com materiais resistentes à corrosão, que possam ser limpos facilmente, e devem estar providas de meios convenientes para abastecimento de água.

-Iluminação e instalação elétrica Deve haver iluminação natural e/ou artificial que possibilite a realização dos trabalhos e não comprometa a higiene dos alimentos. Lâmpadas suspensas ou colocadas diretamente no teto, sobre a área de manipulação de alimentos, devem ser adequadas e protegidas contra quebras.

-Ventilação O estabelecimento deve dispor de ventilação adequada de tal forma a evitar o calor excessivo, a condensação de vapor e o acúmulo de poeira. A direção da corrente de ar nunca deve ir de um local sujo para um limpo.

-Higienização de equipamentos e utensílios Todo equipamento e utensílio utilizados que possam entrar em contato com o alimento devem ser confeccionados de material não tóxico, isento de odores e sabores que sejam absorvidos pelo alimento, e devem ser resistentes à corrosão e a repetidas operações de limpeza e desinfecção. É preferível que os equipamentos e utensílios utilizados no processamento de extração do óleo de argan sejam de aço inoxidável.


C a p í t u l o I | 179 Recomenda-se que baldes e recipientes de aço inoxidável sejam utilizados, os quais não apresentam a capacidade de absorver resíduos e odores, assim não compromete a qualidade do produto. Os tanques de azulejos não são recomendados porque apresentam frestas que facilitam o acúmulo de sujidades, dificultando o processo de limpeza. Devese evitar o uso de madeira e outros materiais que não possam ser limpos e desinfetados adequadamente. O local de estocagem dos utensílios deve ser limpo e apropriado para não acumular sujidade, sem riscos de recontaminação após a limpeza.

Os utensílios devem ser lavados preferentemente com água quente, em torno de 45 ºC, e detergente. Em seguida, deve-se enxaguar com água corrente de boa qualidade e mergulhar numa solução de hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária) em água, na proporção de um copo (150 mL) de água sanitária para 30 litros de água. Os utensílios devem permanecer na solução por 5 minutos e depois ser deixados para secar (é importante não usar panos ou toalhas).

Os equipamentos e superfícies de contato com alimentos devem ser lavados da mesma forma. Em seguida, deve-se passar um pano limpo, molhado com a solução de hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária) em água, na proporção de um copo (150 mL) de água sanitária para 50 litros de água, e deixados para que a secagem ocorra naturalmente. Em caso do uso de álcool como agente sanificante, recomenda-se o uso de álcool a 70% e/ou do álcool gel a 70%.

-Higiene, limpeza e cuidados com o estabelecimento – Todos os produtos de limpeza e desinfecção devem ser identificados e guardados em local adequado, fora das áreas de manipulação dos alimentos. – Deve-se evitar o uso de produto com odores perfumados, pois pode haver a contaminação indireta do alimento com o cheiro do produto. – Toda área de manipulação de alimentos, equipamentos e utensílios deve ser limpa e desinfetada com a frequência necessária, imediatamente após o término do trabalho ou quantas vezes for conveniente.


C a p í t u l o I | 180 – Deve-se manipular e descartar o lixo de maneira que se evite a contaminação dos alimentos, da água potável, dos equipamentos e dependências da unidade, além de evitar o avanço de pragas. Deve haver um depósito próprio para o lixo. – Deve-se impedir a entrada de animais em todos os lugares onde se encontram matériasprimas, material de embalagem, alimentos prontos ou em qualquer das etapas da produção. – Não devem ser guardados roupas nem objetos pessoais na área de manipulação de alimentos.

Higiene Pessoal e Comportamento

-Capacitação em higiene A coordenação da unidade de beneficiamento deve tomar providências para que todas as pessoas que manipulam alimentos recebam instrução adequada e contínua sobre procedimentos higiênico-sanitários na manipulação dos alimentos e higiene pessoal.

-Problema de saúde O manipulador que apresente alguma enfermidade ou problema de saúde, como inflamações, infecções ou afecções na pele, feridas, resfriado ou outra anormalidade que possa originar contaminação do produto, do ambiente ou de outros indivíduos, não deve entrar na área de manipulação. Qualquer pessoa na situação acima deve comunicar imediatamente à coordenação da unidade a sua condição de saúde. Dependendo do caso, a pessoa pode ser direcionada a outro tipo de trabalho que não seja a manipulação de alimentos.

-Higiene e conduta pessoal Toda pessoa que trabalhe em uma área de manipulação de alimentos deve manter higiene pessoal e conduta adequada e praticar os seguintes princípios: – Tomar banho diariamente e enxugar-se com toalha limpa.


C a p í t u l o I | 181 – Usar roupa, touca e calçados adequados e, de acordo com as funções, máscara protetora. Todos esses elementos devem ser laváveis e mantidos limpos, a menos que sejam descartáveis, de acordo com a natureza do trabalho. – As mãos e antebraços devem apresentar-se sempre limpos. Deve-se fazer a higienização antes do início do trabalho, na troca de atividade e, especialmente, ao retornar dos sanitários, antes de manipular produtos processados, utensílios e equipamentos higienizados. Durante o trabalho, deve ser evitada a utilização de tecido para enxugar as mãos, tampouco o do uniforme. Devem ser colocados avisos que indiquem a obrigatoriedade e a forma correta de lavar as mãos. – Ao usar luvas, as mãos devem ser higienizadas previamente. – Os dentes devem ser escovados após cada refeição. – As práticas de coçar a cabeça e o corpo e introduzir os dedos no nariz, orelhas e boca devem ser evitados. Havendo necessidade de fazer isso, devem-se higienizar as mãos antes de reiniciar os trabalhos. – Evitar práticas e hábitos anti-higiênicos na área de produção, como fumar, espirrar, tossir, cuspir, etc. – Devem-se proibir expressamente os atos de fumar, comer, portar ou guardar alimentos para consumo no interior da área de processamento. – Todos os empregados devem ser orientados a não usar anéis, relógios, brincos e pulseiras, tanto para evitar que se percam no alimento, como para prevenir da contaminação. – O uso de máscara para boca e nariz é recomendável para os casos de manipulação direta dos produtos sensíveis à contaminação.


C a p í t u l o I | 182 -Controle de pragas Deve-se fazer o controle permanente e integrado de pragas nas áreas externa e interna da fábrica, por meio da vedação correta de portas, janelas e ralos. Ninhos de pássaros devem ser removidos dos arredores do prédio da agroindústria, sendo proibido o trânsito de qualquer animal nas proximidades das instalações.

-Treinamentos – O estabelecimento deve possuir programa de treinamento – que deve ser avaliado periodicamente – abordando os seguintes itens: tópicos gerais sobre o programa de Boas Práticas de Fabricação, noções de microbiologia de alimentos, higiene pessoal, controle integrado de pragas, limpeza e sanificação, entre outros. – Os treinamentos deverão ser registrados por meio de listas de presença e arquivados para controle. – Os treinamentos devem ser reforçados, revisados e atualizados, quando necessário. – Os treinamentos devem envolver todos os setores da unidade, inclusive o de manutenção.

-Documentação e registro Registros e documentos adequados possibilitam, muitas vezes, a resolução rápida de um problema que se mostraria insolúvel, caso não fossem efetuados controles sobre a dinâmica de produção. Cada procedimento de extração do óleo de argan deve ser anotado numa ou mais planilhas, para facilitar a localização de qualquer etapa do processamento, quando necessário. Outras observações, como interrupções e modificações eventuais ocorridas durante o processamento, também devem ser registradas. Deve ser elaborado e mantido o maior número possível de registros de controle de produção, acompanhamento de processos e distribuição do produto, conservando-os durante um período superior ao tempo de vida de prateleira do alimento, ou seja, superior ao seu prazo de durabilidade.

Os procedimentos em que vários requisitos das Boas Práticas de Fabricação devem estar descritos e documentados são conhecidos como PPHOs (Procedimentos Padrão de


C a p í t u l o I | 183 Higiene Operacional) ou POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados). Essas operações devem ser descritas, desenvolvidas, implementadas e monitoradas, estabelecendo-se a forma rotineira pela qual se poderá evitar a contaminação dos produtos (ANVISA, 2002). O responsável técnico e a administração geral têm a função de aprovar, datar e assinar os procedimentos, além de serem responsáveis por sua implementação e cumprimento. Os documentos devem conter informação sobre limpeza e sanificação, frequência das operações, formas de monitorização, ações corretivas, formulários de registros, entre outros. Deve-se avaliar, regularmente, a efetividade dos procedimentos implementados e, caso necessário, realizar ajustes (BRASIL, 2000).

Todos os processos de compras, registro de fornecedores, produção, vendas, devolução e dados de análises qualitativas do óleo de argan devem ser mantidos em registros. Quando houver modificação que implique alterações nas operações documentadas, os procedimentos devem ser revisados. Todos os procedimentos e registros devem ser arquivados em local de fácil acesso e devem estar sempre disponíveis para as eventuais auditorias.

Aspectos Econômicos Considera-se, o sistema de produção como uma unidade econômica na qual o produtor rural desenvolve suas atividades produtivas com o propósito de viabilizar seus objetivos. Assim, coeficientes técnicos de produção, associados aos custos de produção, ao permitir uma visualização detalhada da unidade física no uso de fatores de produção das diversas atividades exigidas para o cultivo de argan (Tabela 7). Tabela 7. Coeficiente técnico para implantação e condução de 1 ha da cultura perene de argan (Argania spinosa) no espaçamento de 10 m x 10 m (100 plantas/ha), sendo essas despesas de implantação viabilizadas pelas margens de lucros advindos das culturas temporárias intercalares nos três primeiros anos. Especificações

1°e 2° Ano

3°e 4° Ano

Unidade

Preço (R$)

Quant.

Valor

Quant.

h/tr.

80,0

5

400,00

-

-

Unid.

10,00

100

1.000,00

-

-

Valor

Preparo do solo com trator (Aração e gradagem) Preparação de mudas enxertadas (dois anos de antecipação)


C a p í t u l o I | 184 Marcação

d/h

50,00

1

50,00

-

-

Abertura de covas

d/h

50,00

1

50,00

-

-

d/h

50,00

2

100,00

-

-

d/h

50,0

2

100,00

-

-

d/h

50,0

2

100,00

-

-

d/h

50,0

2

100,00

-

-

h/cult.

80,00

1,5

120,00

3

240,00

d/h

30,00

5

150,00

5

150,00

-

-

-

-

-

-

d/h

60,00

-

-

2

120,00

Adubação orgânica (apenas na cova) Plantio de mudas em condições de sequeiro (inicio de inverno Coroamento (com capina) Coroamento (com cobertura morta) Preparo do solo (gradagem entre fileiras no 2º, 3º e 4º ano) Consorciação no 1º, 2º, 3º e 4º ano (milho, feijão, gergelim, sorgo, etc) Agrossilvopastoril (capina efetuada pelo animal a partir do 5º ano) Pulverização no 4º ano (floração ou frutificação) Bioinseticidas Poda de formação Poda de galhos após colheita

Litro

30,00

-

-

2

60,00

d/h

100,00

2

100,00

-

-

d/h

50,00

-

-

4

200,00

d/h

50,00

-

-

2

100,00

d/h

50,00

-

-

8

400,00

d/h

50,00

-

-

4

200,00

Metro

15,00

-

-

6

90,00

Unid.

0,80

-

-

160

128,00

d/h

50,00

-

-

2

100,00

Antes da colheita, limpeza do solo abaixo da copa com a vassoura Colheita em dezembro e janeiro (Uma apanha de frutos do chão por semana) Secagem ao sol sobre lona (4 dias) Aquisição de uma lona de 6 m x 6 m Aquisição de sacarias Ensacamento


C a p í t u l o I | 185 Transporte para usina ou entrega no

Frete

80,00

-

-

1

80,00

-

-

-

2.270,00

-

1.868,00

ton

1,20 por kg

-

-

7

3.600,00

campo Despesas totais (R$) Produtividade doargan por ha (30 kg de frutos/planta)

Obs: Estimação do valor de comercialização de frutos de argan em R$ 1,20 por quilo, que a princípio poderá adquirir um preço bem elevado devido a pequena oferta. Além disso, esperar-se que a produtividade do semiárido brasileiro seja o dobro da obtida no deserto arenoso de Marrocos (16 kg de frutos por planta).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 186 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDELAZIZ1, Z.; BANI-AAMEUR, F.; EL MOUSADIK, A. Morphological variability in argan seedlings (Argania spinosa (L.) Skeels) and its implications for selecting superior planting material in arid environments. International Journal of Agriculture and Forestry, v.4, n.6, p.419-434, 2014.

ABUMO. Processamento do óleo de gergelim tipo abumo. Apresenta imagens das diferentes etapas de beneficiamento dos grãos e de extração de óleo pela prensa hidráulica. Disponível em: <http://www.abumo.com/user_data/operation.php> Acesso em: 8 de setembro de 2010.

AIT AABD, N.; EL AYADI, F.; MSANDA, F.; EL MOUSADIK, A. Avaliação de agromorphological variability of argan tree under different environmental conditions in Morocco: implication for selection. Int. J. Biodiver. Conserv., v.3, n.3, p.73-82, 2011.

ALLACH, M. Variabilidad morfológica, isoenzimática e histológica del argán (Argania spinosa L.) y de su aceite en la región de Chouihiya (Berkane, Marruecos). Contribución a su propagación in vitro. 2012. 275f. Licenciada (en Ciencias Biológicas) – Universidad de Granada, Departamento de Bioquímica, Biología Celular y Molecular de Plantas. Granada, 2012.

ALOUANI, M.; BANI-AAMEUR, F. Argan (Argania spinosa (L.) Skeels) seed germination under nursery conditions: Effect of cold storage, gibberellic acid and mothertree genotype. Ann. For. Sci., v.61, p.191–194, 2004.

ANSUATEGUI, M.; LÓPEZ, V. Aceite de argán: usos tradicionales, aspectos fitoquímicos, nutricionales y farmacológicos. Revista de Fitoterapia, v.15, n.1, p.5-19, 2015.

ANVISA. Resolução n. 275, de 21de outubro de 2002. Regulamento técnico de procedimentos

operacionais

padronizados

aplicados

aos

estabelecimentos

produtores/industrializadores de alimentos e a lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Diário


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 187 Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 206, de 23 out. 2002, Seção 1, p. 126. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/d02.pdf? MOD=AJPERESV. Acesso em: 25 maio 2013.

BANI-AAMEUR, F. Argania spinosa (L.) Skeels flowering phenology. Genetic Resources Crop Evolution, v.49, p.11-19, 2002.

BANI‐AAMEUR, F.Phenological phases of Argania spinosa (L. Skeels) flower. Forest Genetics, v.7, n.4, p.329‐334, 2000. BANI-AAMEUR, F.; ALOUANI, M. Viabilité et dormance des semences d’arganier. Ecol. Medit., v.25, p.75–86, 1999.

BANI-AAMEUR, F.; LOUALI, L.; DUPUIS, P. Maturation et chute des fruits de l'arganier. Actes de l'lnstitut Agronomique et Veterinaire Hassan II, v.18, p.136-144, 1998.

BAYMA, C. Oiticica. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola do Ministério da Agricultura, 1957. 140p.

DEBERGH, P. C.; MAENE, L. V. A scheme for commercial propagation of ornamental plants by tissue culture. Scientia Horticulturae, v.14, p.335-345, 1981. BELLEFONTAINE, R. De la domesticacion à l’amélioration variétale de l’arganier (Argania spinosa L. Skeels)? Science et changements planétaires / Sécheresse, v.21, n.1, p.42-53, 2010.

BENABID, A. Les ecosystemes forestieres, pre-forestieres et presteppiques du Maroc: diversité, repartition biogeographique et problemas posés par leurs aménagement. Forêt médit, v.7, n.1, p.53-64, 1985.

BENAOUF, Z.; SOUIDI, Z.; ARABI, Z. Propagation of argan (Argania spinosa (L.) Skeels) by seeds: Effects of temperature and soaking on seed germination of two taxa in


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 188 Algeria. International Journal of Ecological Economics and Statistics, v.37, n.1, p.3142, 2016. BENCHEKROUN, F.; BUTTOUD, G. L’arganeraie dans l’économie rurae du sud-ouest marocain. Forêt Méditerranéenne, T. XI, 2, 1989.

BENLAHBIL, S.; BANI-AAMEUR, F. Pollination of the argan tree is mostly entomophilous. In: Symposium of international plant resources: Argan and plants in arid and semi-arid areas. Faculty of Sciences, Agadir 23-25 April, 1999. p.119-120.

BOUZEMOURI, B. Problématique de la conservation et du développement de l’arganeraie, dans Zoubida Charrouf (sous la dir. de): L’arganier: levier du développement humain du milieu rural marocain, colloque international organisé par l’association Ibn Al Baytar à la faculté des sciences de Rabat, 2007.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa, n.1, de 7 de janeiro de 2000. Regulamento técnico geral para fixação dos padrões de identidade

e

qualidade

para

polpa

de

fruta.

Disponível

em:

<http://www.ivegetal.com.br/Legisla%C3%A7%C3%A3o%20Referenciada/IN%20N% C2%BA%201%20de%207%20de%20janeiro%20de%202000.htm>. Acesso em: 14 maio 2013.

CARVALHO, F. P. A. Eco-eficiência na Produção de Pó e Cera de Carnaúba no Município de Campo Maior (PI). 2005. 157f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2005.

CASTILLO-RUIZ, F. J.; JIMÉNEZ-JIMÉNEZ, F.; BLANCO-ROLDÁN, G. L.; SOLAGUIRADO, R. R.; AGÜERA-VEGA, J.; CASTRO-GARCIA, S. Analysis of fruit and oil quantity and quality distribution in high-density olive trees in order to improve the mechanical harvesting process. Spanish Journal of Agricultural Research, v.13, n.2, p.1-8, 2015.

CHARROUF, Z.; GUILLAUME, D. Argan oil: ocurrence, composition and impact on human health. Eur. J. Lipid Sci. Technol., v.110, p.632-636, 2008.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 189

CHARROUF, Z.; GUILLAUME, D. Secondary metabolites from Argania spinosa (L.) Skeels. Phytochem Rev., v.1, p.345-354, 2002a. CHARROUF, M. Contribution à l‟étude chimique de l‟huile d‟Argania spinosa (Sapotacées). 1984. Ph.D. Thesis, University of Perpignan, Perpignan, Francia.

CHARROUF, Z.; GUILLAUME, D. Chemistry of the secondary metabolites of Argania spinosa (L.) Skeels. Curr. Top. Phytochem, v.5, p.99-102, 2002b.

CHARROUF, Z.; GUILLAUME, D. Ethnoeconomical, ethnomedical and phytochemical study of Argania spinosa (L) Skeels. Journal of Ethnopharmacology, v.67, n.1, p.7-14, 1999.

CHARROUF, Z; GUILLAUME, D. Phenols and polyphenols from Argania spinosa. Amer. J. Food Technol., v.2, n.7, p.679-683, 2007.

CHAUSSOD, R.; ADLOUNI, A.; CHRISTON, R. The argan tree and argan oil in Marocco: towards a deep change in a traditional agroforestry system: economic and scientific challenges. Cahiers d’Études et de Recherches Francophones, v.14, n.4, p.351-356, 2005. CHIMI, H.; CILLARD, J.; CILLARD, P. Autoxydation de l‟huile d‟argan (Argania spinosa) sapotacée du Maroc. Sciences des Aliments, v.14, p.117-124, 1994.

COLLIER, A.; LEMAIRE, B. Carotenoids of argan oil. Cah. Nutr. Diet, v.9, p.300-301, 1974.

COUTINHO, E. F.; RIBEIRO, F. C.; CAPPELLARO, T. H. Cultivo de Oliveira (Olea europaea L.). Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. 125p. (Embrapa Clima Temperado. Sistema de Produção, 16).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 190 CUSTÓDIO, A. F. Modelagem e Simulação do Processo de Separação de Óleo de Soja-Hexano por Evaporação. 2003. 247f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Engenharia Química, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.

DIAS, L. S.Efeito da matéria insaponificável do óleo de palma (Elaeis guineensis) na estabilidade oxidativa de óleo de soja sob estocagem acelerada em estufa. 2015. 109f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, 2015.

DINIS, L. T.; PEIXOTO, F.; PINTO, T.; COSTA, R.; BENNETT, R. N.; GOMESLARANJO, J. Study of morphological and phenological diversity in chestnut trees ('Judia' variety) as a function of temperature sum. Environ.Exper.Bot.Robô, v.70, n.23, p.110-120, 2011.

DINIZ NETO, M. A.; SILVA, I. F.; CAVALCANTE, L. F.; AGUIAR, J. C.; PEREIRA JÚNIOR, A.; DINIZ, B. L. M. T.; PEREIRA, A. A.; SILVA, E. C.; PEREIRA, A. R.; MAIOLI, M. G. S.; BARBOSA, W. M. C. Área foliar e concentração de pigmentos clorofilianos em plantas de oiticica submetidas a estresse salino adubadas com biofertilizante bovino e potássio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 5; SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE OLEAGINOSAS ENERGÉTICAS, 2 & I FÓRUM CAPIXABA DE PINHÃO MANSO, 2012, Guarapari. Desafios e Oportunidades: Anais... Campina grande: Embrapa Algodão, 2012. p.64.

DUBOC, E.; MORAES NETO, S. P.; MELO, J. T. Sistemas agroflorestais e o Cerrado. In: PARRON, L. M.; AGUIAR, L. M. S.; DUBOC, E.; OLIVEIRA-FLHO, E. C.; CAMARGO, A. J. A.; AQUINO, F. G. (Ed.). Cerrado: desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2008. p.305-344.

DUQUE, G. O Nordeste e as lavouras xerófilas. 4. ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2004. 330p.

EHRIG, F. R. The argan character, ecology and economic maintenance of a significant tertiary in Morocco. Ptermanns geographical releases, v.118; n.2, p.117-125, 1974.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 191 EL ABBASSI, A.; KHALID, N.; ZBAKH, H.; AHMAD, A. Physicochemical characteristics, nutritional properties, and health benefits of argan oil: a review. Crit. Rev. Food Sci. Nutr., v.54, p.1401-1414, 2014.

EL-ABOUDI, A.; PELTIER, J. P.; CARLIER, G.; DOCHE, B. La carte de la végétation des Aït Baha (Anti-Atlas occidental, Maroc) et son intérêt pour l’édaphologie. Feddes Repertorium, 1992, p.121-126.

ESPAÑA. Ministerio de Medio Ambiente, Medio Rural y Marino. Plan de Acción nacional contra la Desertificación P.A.N.D. Segunda Parte: Diagnostico de la Desertificación en España. Madrid, 2008. EZZAHIRI, M.; BELGHAZI, B.; CHARRADI, N. Contribution de l’Arganier dans le Développement Local de la Région d’Essaouira. Annales de la recherche forestière au Maroc., v.38, p.209-210, 2007.

FAOUZI, H. Impacto de la evolución del mercado del aceite de argán sobre la arganería de Marruecos. Revista Geográfica de América Central, v.55, p.199-222, 2015.

FAOUZI, H. La arganería de haha, un sistema agrario en crisis (Alto Atlas Occidental, Marruecos). Revista Geográfica de América Central, v.48, p.163-177, 2012. FARINES M, SOULIER J, CHARROUF M, CAVÉ A. Étude de l‟huile des graines d‟Argania spinosa (L.); Sapotaceae. II. Stérols, alcools, tritèrpenes et méthylstérols de l‟huile d‟argan. Rev. Fr. Corps Gras., v.31, p.443-448, 1984b

FARINES, M.; CHARROUF, M.; SOULIER, J. The sterols of Argania spinosa seed oil. Phytochemistry, v.20, n.8, p.2038-2039, 1981. FARINES, M.; SOULIER, J.; CHARROUF, M.; SOULIER, R. Étude de l‟huile des graines d‟Argania spinosa (L.); Sapotaceae. I. La fraction glycéridique. Rev. Fr. Corps Gras., v.31, p.283-286, 1984a.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 192 FERRADOUS, A.; BANI-AAMEUR, F.; DUPUIS, P. Stationnel climate, phenology and Fruiting of argan (Argania spinosa (L.) Skeels). Acts Agronomic Veterinary Institute Hassan II, v.17, p.51-60, 1996.

FLORES, M. G. M. Estrategias para la consolidación en el mercado Mexicano de Bc Oil Miracle de Schwarzkopf de Henkel Mexicano S.A. 2016. 63f. Tesis de Monografía (En Relaciones Comerciales) – Instituto Politécnico Nacional de la Ciudad del México. Escuela Superior de Comercio y Administración, 2016.

GERALD, L. T. S.; PICOLLO, L. T.; MENEGHIN, S. P.; ARAÚJO, S. M. S. S. In: GERALD, L. T. S. Biofábrica: Produção Industrial de Plantas in vitro. Araras: Universidade Federal de São Carlos, 1995, p.9-17.

GÓMEZ, F. J. Example of desertification mitigation: integral forest fire prevention in the Comunidad Valenciana (Spain). In: BALABANIS, P.; PETER, D.; A. GHAZI, A.; TSOGAS, M., editores. Mediterranean Desertification. 1999, p.361-364. Research Results and Policy Implications. European Commision EUR 19303. Brussels.

GRATTAPAGLIA, D.; MACHADO, M. A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS, L. S.; BUSO, J. A. (Eds.). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa/CNPH, 1998. p.183-260.

GRATTAPAGLIA, D.; MACHADO, M. A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS, L. S. (Eds.). Técnicas e aplicações da cultura de tecidos de plantas, Brasília: ABCTP; Embrapa/CNPH, 1990. p.99-169.

GUARIENTI, E. P., PINHEIRO, E., GODOY, L. P., EVANGELISTA, M. L. S.; LOBATO, A. Perdas de matéria-prima: um estudo de caso na indústria de óleo de soja. Engevista, v.14, n.1, p.58-73, 2012.

GUILLAUME, D.; CHARROUF, Z. Argan oil and other argan products: use dermocosmetology. Eur. J. Lipid Sci. Tecnol., v.13, p.403-408, 2011.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 193 HABIBAH, S.; AL-MENAIE, N.; BHAT, R.; ABO EL-NIL, M.; AL-DOSERY, S. M.; AL-SHATTI, A. A.; GAMALIN, P.; SURESH, N. Seed Germination of argan (Argania spinosa L.). American-Eurasian Journal of Scientific Research, v.2, n.1, p.01-04, 2007.

HARHAR H, GHARBY S, KARTAH B, EL MONFALOUTI H, GUILLAUME D, CHARROUF Z. Influence of argan kernel roasting-time on virgin argan oil composition and oxidative stability. Plant Foods Hum. Nutr., v.66, p.163-168, 2011.

HILALI, M.; CHARROUF, Z.; EL AZIZ SOULHI, A., HACHIMI, L.; GUILLAUME, D. Influence of origin and extraction method on argan oil physico-chemical characteristics and composition. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.53, p.2081-2087, 2005.

HILALI, M.; CHARROUF, Z.; EL AZIZ, A.; HACHIMI, L.; GUILLAUME, D. Detection of argan oil adulteration using quantitative campesterol GC-analysis. J. Amer. Oil Chem. Soc., v.84, p.761-764, 2007.

HOSTETTMANN, K.; MARSTON, A. Saponins. Cambridge University Press, Cambridge, Gran Bretaña, 1995. 544p.

HUYGHEBAERT, A.; HENDRICKS, H. Quelques aspects chimiques, physiques et technologiques de l‟huile d‟argan. Oléagineux, v.1, p.29-31, 1974.

JACCARD, P. L'arganier, sapotacee oleagineuse du Maroc. Pharmac. Acta Helv., v.11, p.203-209, 1926.

JUSTAMANTE, M. S.; IBÁÑEZ, S.; VILANOVA, J.; PÉREZ-PÉREZ, J. M. Vegetative propagation of argan tree (Argania spinosa (L.) Skeels) using in vitro germinated seeds and stem cuttings. Sci. Hort., v.221: 81-87, 2017.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 194 KHALLOUKI, F.; SPIEGELHALDER, B.; BARTSCH, H.; OWEN, R. W. Secondary metabolites of the argan tree (Morocco) may have disease prevention properties. African Journal Biotechnology, v.4, p.381-388, 2005.

KHALLOUKI, F.; YOUNOS, C.; SOULIMANI, R.; OSTER, T.; CHARROUF, Z.; SPIEGELHALDER, B.; BARTSCH, H; OWEN, R. W. Consumption of argan oil (Morocco) with its unique profile of fatty acids, tocopherols, squalene, sterols and phenolic compounds should confer valuable cancer chemopreventive effects. Eur. J. Cancer Prevent, v.12, p.67-75, 2003.

KRIST, S.; BUCHBAUER, G.; KLAUSBERGER, C. Springer-Verlag Wien, ed. Lexikon der pflanzlichen Fette und Öle (en alemán) (1.ª edición). 2008, p.56-57.

LE POLAIN DE WAROUX, Y. The social and environmental context of argan oil production. Natural Product Communications, v.8, n.1, p.1-4, 2013.

LÓPEZ CADENAS DE LLANO, F. Ordenación y restauración hidrológico forestal de cuencas áridas. In: MENDIZÁBAL, M.; CIRÍA, F.; CORREAL, E.; RUEDA, F, editores. Seminario sobre zonas áridas. 19984, p.143-157. Vocalía de C. C. del Instituto de Estudios Almerienses. Diputación Provincial de Almería. Almería.

LOPEZ-SAEZ, J. A.; ALBA, F. Ecología, etnobotánica y etnofarmacología del argán (Argania spinosa). Boletín Latinoamericano y del Caribe de Plantas Medicinales y Aromáticas, v.8, p.323-341, 2009. MAB-UNESCO, Man and Biosphere – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization, 1998, comme reserve de biophère en décembre 1998; http//www.arabmab.net/countrydetails.cfm?cid=8.

MAURIN, R. Argan oil, Argania spinosa (L.) Skeels Sapotaceae. French Rev. Fatty Substances, v.56, p.139-146, 1992.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 195 MAURIN, R.; FELLAT-ZARROUCK, K.; KSI, M. Positional analysis and determination of triacylglycerol structure of Argania spinosa seed oil. J. Am. Oil Chem. Soc., v.69, p.141-145, 1992.

METRO, A. Preliminary observations on argan tree in Oued Cherrate and Dar Askraoui for genealogical selections. Ann. Floresta. Rech. (Rabat), Annual Report, p.201-215, 1952. M’HIRIT, O. L’arganier: Une espece frutiere-forestiere a usages multiples. Ecole Nationale Forestière d’Ingenieurs. Sale, Maroc. 1999.

M'HIRIT, O. Argan: a forest and fruit tree to multiple uses. Continuous Forest Formation, theme "argan". Forest Research Station. Rabat. 13-17 March. 1989. p.31-58.

MONTOYA, J. M. El argán (Argania spinosa (L) Skeel). Potencial silvopastoral e de repoblación en España. Anales I.N.I.A. Serie Forestal nº 8. I.N.I.A. Madrid. 1984a.Incluye bibliografía sobre el argán con 89 referencias en total, juzgadas las más importantes en la materia.

MONTOYA, J. M. Espacios y tempos ecológicos en la repoblación forestal y en la introducción de especies exóticas. Comunicaciones I.N.I.A. Serie: Recursos Naturales. I.N.I.A. Madrid, 1984b.

MORETTO, E.; FETT, R. Tecnologia de óleos e gorduras vegetais na indústria de alimentos. Livraria Varela, 150p. 1998. MOUKAL, A. L’arganier, Argania spinosa (L.) Skeels, usage thérapeutique, cosmétique et alimentaire. Phytotérapie, v.2, p.135-141, 2004. MSANDA, F. Ecologie et cartographie des groupements végétaux d’Anzi (Anti-Atlas Occidental, Maroc) et contribution à l’étude de la diversité génétique de l’arganier (Argania spinosa (L.) Skeels). 1993. 116f. Thèse - Univ. Joseph Fourrier, Grenoble (France).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 196 MSANDA, F.; EL ABOUDI, A.; PELTIER, J. P. Biodiversité et biogéographie de l’arganeraie marocaine. Cahiers Agricultures, v.14; n.4, p.357-364, 2005.

MÜCKSCHEL, C.; OTTE, A. Morphometric parameters: an approach for the indication of environmental conditions on calcareous grassland. Agriculture, Ecosyst. Environ, v.98, n.1-3, p.213-225, 2003.

MURASHIGE, T. Plant propagation through tissue culture. Annual Review of Plant Physiology, v.25, p.135-166, 1974.

NASRI, S.; BENMAHIOUL, B. Effet de la contrainte saline sur la germination et la croissance de quelques provenances algeriennes d’arganier (Argania spinosa L.). Algerian journal of arid environment, v.5, n.2, p.98-112, 2015.

NERD, A.; ETESHOLA, E.; BOROWY, N.; MIRZAHI, Y. Growth and oil production of argan in the Negev desert of Israel. Ind. Crops Prod., v.2, n.2, p.89-95, 1994.

NERD, A.; IRIJIMOVICH, V.; MIZRAHI, Y. Phenology, breeding system and fruit development of argan (Argania spinosa, sapotaceae) cultivated in Israel. Economic Botany, v.52, n.2, p.161-167, 1998. NORME MAROCAINE (NM) 08.5.090. Huile d’argane, spécifications. Service de Normalisation industrielle marocaine. Rabat, 2003. NOUAIM, R. La biologie de l’arganier. In: Colloque International l‟arganier. Recherches et perspectives. Université d‟Agadir, Agadir, Marruecos, p.11-15, 1991.

NOUAIM, R.; MANGIN, G.; BREUIL, M. C.; CHAUSSOD, R. The argan tree (Argania spinosa) in Morroco: propagation by seed, cutting and in-vitro tecniques. Agroforestry System, v.54, p.71-81, 2002.

NYKVIST, N. Soil erosion. The Scientific Magazine of the Swedish Forestry Association, v.83, n.1, 48p, 1983.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 197 ORWA, C.; MUTUA, A., KINDT, R.; JAMNADASS, R.; ANTHONY, S. Argan (Argania spinosa, (L.) Skeels. Sapotaceae) 2009. Agroforestree Database: a tree reference and

selection

guide

version

4.0.

Disponível

em:

(http://www.world

agroforestry.org/sites/treedbs/treedatabases.asp).

OSHA. Occupational Safety and Health Guideline for n-Hexane. Disponível em <http: //www.osha.gov/SLTC/healthguidelines/nhexane/ recognition.html>. Acesso em 10 de agosto 2011.

PEIXOTO, A. R. O pequi e a lavoura no Cerrado. In: PEIXOTO, A. R. (Ed.). Plantas oleaginosas arbóreas. São Paulo: Nobel, 1973. p.195-226.

PELLENC, R.; ROLLAND, C. Procedimiento de conducción de la plantación de olivos adaptado a la cosecha mecánica en continuo de las aceitunas. 2016, 13p. (Inventores do modelo de configuração de plantio para oliveira e patenteado na Espanha com Nº: ES 2 558 055 T3).

PEREIRA, A. V.; PEREIRA, E. B. C.; JUNQUEIRA, N. T. V.; FIALHO, J. F. Avaliação de métodos de enxertia de mudas de pequizeiro. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2002. 15p. (Embrapa Cerrados. Boletim de pesquisa, 51).

PRAT, L; RAMOS, J. Aceite de argán: el oro de Marruecos. Ediciones Obelisco S.L.; 1ª ed. 2010. 224p.

PRENDERGAST, H. D. V.; WALKER, C. C. The argan: multipurpose tree of Morocco. The Kew Magazine, v.9, p.76-85, 1992.

QUEIROGA, V. P.; ARRIEL, N. H. C.; BELTRÃO, N. E. M, SILVA, O. R. R.; GONDIM, T. M. S.; FIRMINO, P. T.; CARTAXO, W. V.; SILVA, A. C.; VALE, D. G.; NÓBREGA, D. A. Cultivo Ecológico do Gergelim: Alternativa de Produção para Comunidades de Produtores Familiares da Região Semiárida do Nordeste. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2007. 53p. (Embrapa Algodão. Documentos, 171).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 198 QUEIROGA, V. P; RAMOS, G. A.; ASSUNÇÃO, M. V.; ALMEIDA, F. A. C. Carnaubeira: Tecnologias de Plantio e Aproveitamento Industrial. Campina Grande: Editora da Universidade Federal de Campina Grande, 2013. 204p.

QUEIROGA, V. P.; FIRMINO, P. T.; GONDIM, T. M. S.; CARTAXO, W. V.; SILVA, A. C.; ALMEIDA, F. A. C. Equipamentos utilizados no sistema produtivo do gergelim em diferentes níveis tecnológicos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.3, p.319-337, 2014. RADI, N. L’Arganier arbre du sud ouest marocain, en péril, à proteger. 2003. 59f. Thése pour le diplôme d’Etat de Docteur en pharmacie, Université de Nantes, Nantes.

RAHALI, M. The production of argan forest. Continuous Forest Formation, theme "argan". Forest Research Station, Rabat, 13-17. March. 1989. p.31-58. RAHMANI, M. Composition chimique de l‟huile d‟argane « vierge ». Cahiers Agric., v.14, n.5, p.461-465, 2005.

REYNOLDS, J. F. Desertification. In: Levin, S. editor. Academic Press, New York, USA.Encyclopedia of Biodiversity, v.2, p.61-78, 2001.

ROBLES, A. R. Estudio de la composición y de las propiedades antioxidantes del aceite de argán virgen extra. Comparación con otros aceites vegetales comestibles. 2015. 268f. Tesis Doctoral (En Nutrición Humana) – Universidad de Granada. Departamento de Fisiología y Bioquímica de la Nutrición Animal, 2015.

RODRÍGUEZ, F. R. Estudios de adaptación de nuevas especies. Granja Agrícola Experimental, p.16-22, 2012.

ROJAS, L. B.; QUIDEAU, S.; PARDON, P.; CHARROUF, Z. Colorimetric evaluation of phenolic content and GC-MS characterization of phenolic composition of alimentary and cosmetic argan oil and press cake. J. Agric. Food Chem., v.53, p.9122-9127, 2005.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 199 ROJO, L. Managing desertification in a national context. In: G. ENNE, G.; ZANOLLA, C.; PETER, D, editores. Desertification in Europe: mitigation strategies, landuse planning. 2000, p.240-248. EC DG Research. Env. Programme EUR 19390.

SAG & DICTA. Estudio de factibilidad del proyecto de producción de aceite de ajonjolí en los departamentos de Choluteca y Valle. Solicitud de Financiamiento al Programa Second Kennedy Round (2KK). Secretaria de Agricultura y Ganaderia (MAG), Dirección de Ciencia y Tecnología (Dicta). Tegucigalpa, 2007. 46p.

SANDRET, F. The argan pulp: Chemical composition and fodder value change during maturation. Ann. Para. Rech. (Rabat) v.4, p.153-177, 1957.

SEBRAE; SEAMA: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente do Espírito Santo. Recomendações de controle ambiental para produção de cachaça. Vitória, ES, p.1123, 2001. SILVA, R. F. E. Notas sobre a cultura da oiticica. Rio de Janeiro, s.ed., 1940. 15p.

SULTAN, S. E. Phenotypic plasticity for plant development, function and life history. Plant Sci., v.5, n.12, p.537-542, 2000. THIERRY, L. L ́arganier au Maroc: Sa description, ses méthodes de multiplication et son application en reforestation. 1987. Tesis de ingeniero tecnico. Institut provencial d ́enseignement supérieur agronomique et technique. Maroc.

VALLEJO, V. R.; SERRASOLSES, I.; CORTINA, J.; SEVA, J. P.; VALDECANTOS, A.; VILAGROSA, A. Restoration strategies and actions in Mediterranean degraded lands. In: ENNE, G.; ZANOLLA, C.; PETER, D., editores. Desertification in Europe: mitigation strategies, land use planning. 2000, p.221-233. Office for Official Publications of the European Communities, Luxembourg.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 200 YAGHMUR, A.; ASERIN, A.; MIZRAHI, Y.; NERD, A.; GARTI, N. Argan oil-in-water emulsions: preparation and stabilization. J. Am. Oil Chem. Soc., v.76, p.15-18, 1999.

ZAHIDI, A.; BANI-AAMEUR, F.; EL MOUSADIK, A. Morphological variability of the fruiting branches in Argania spinosa: Effects of seasonal variations, locality and genotype. Journal of Horticulture and Forestry, v.5, n.10, p.168-182, 2013.

ZAHIDI, A.; BANI-AAMEUR, F.; EL MOUSADIK, A. Morphological variability in argan seedlings (Argania spinosa (L.) Skeels) and its implications for selecting superior planting material in arid environments. International Journal of Agriculture and Forestry, v.4, n.6, p.419-434, 2014.

ZAHIDI, A.; BANI-AAMEUR, F.; EL MOUSADIK, A. Variabilidade morfológica dos ramos de frutificação em Argania spinosa: Efeitos das variações sazonais, localidade e genótipo. Jornal de Horticultura e Silvicultura, v.5, n.10, p.168-182, novembro de 2013.

ZOHRA, B.; ALI, M.; MOULAY, B. Germination tests of seeds of argan tree (Argania spinosa (l.) skeels) of two sources (Tindouf and Mostaganem) in the semi-arid western Algerian. African Journal of Plant Science, v.8, n.6, p.260-270, June 2014. ZUGMEYER, L. Projet de développement sylvopastoral de l’arganeraie marocaine (commune rurale de Tiout, Taroudan, Maroc). Mémoire de fin d’études, ENGREF, Nancy, France, 2006.

ZUNZUNEGUI, M.; AIN-LHOUT, F.; JÁUREGUI, J.; DÍAZ BARRADAS, M. C.; BOUTALEB, S.; ÁLVAREZ-CANSINO, L.; ESQUIVIAS, M. P. Fruit production under different environmental and management conditions of argan, Argania spinosa (L.) Skeels. J. Arid Environ., v.74, p.1138-1145, 2010.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.