Mirtilo (Vaccinium spp.): Tecnologias de plantio em típicas regiões serranas

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MIRTILO (Vaccinium spp.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO EM TÍPICAS REGIÕES SERRANAS

Vicente de Paula Queiroga Josivanda Palmeira Gomes Acácio Figueiredo Neto Alexandre José de Melo Queiroz Nouglas Veloso Barbosa Mendes Esther Maria Barros de Albuquerque Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


MIRTILO (Vaccinium spp.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO EM TÍPICAS REGIÕES SERRANAS

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA JOSIVANDA PALMEIRA GOMES ACÁCIO FIGUEIREDO NETO ALEXANDRE JOSÉ DE MELO QUEIROZ NOUGLAS VELOSO BARBOSA MENDES ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE (Editores Técnicos)

MIRTILO (Vaccinium spp.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO EM TÍPICAS REGIÕES SERRANAS

1ª Edição

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2021


©Copyright 2021 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, JOSIVANDA PALMEIRA GOMES, ACÁCIO FIGUEIREDO NETO, ALEXANDRE JOSÉ DE MELO QUEIROZ, NOUGLAS VELOSO BARBOSA MENDES, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Capa ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Fotos da Capa Getty Images Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 17-09-2021 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

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Queiroga, Vicente de Paula. Mirtilo (Vaccinium spp.): Tecnologias de plantio em típicas regiões serranas. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Acácio Figueiredo Neto, Alexandre José de Melo Queiroz, Nouglas Veloso Barbosa Mendes, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2021. 236 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-19-3 1. Mirtilo. 2. Vaccinium sp. 3. Sistema de produção. 4. Colheita. 5. Frutos. 6. Alimento. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Gomes, Josivanda Palmeira. III. Figueiredo Neto, Acácio. IV. Queiroz, Alexandre José de Melo. V. Mendes, Nouglas Veloso Barbosa. VI. Albuquerque, Esther Maria Barros de. VII. Título. CDU 634.4

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Josivanda Palmeira Gomes (Drª) Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brazil)

Acácio Figueiredo Neto (Dr) Professor Adjunto do Colegiado de Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco- UNIVASF Juazeiro – BA (Brasil)

Alexandre José de Melo Queiroz (Dr) Professor da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brazil)

Nouglas Veloso Barbosa Mendes (M. Sc.) C&N Serviços Agroambientais Ltda Agritech Semiárido Agricultura Ltda Pereiro, CE (Brasil)

Esther Maria Barros de Albuquerque (Drª) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

A cultura do mirtilo é recente e pouco conhecida no Brasil. A Embrapa Clima Temperado foi à unidade pioneira na introdução de seu cultivo no Brasil com as cultivares do grupo rabbiteye. Botanicamente, o mirtilo é do gênero Vaccinium, a partir do qual várias espécies são exploradas, sendo as americanas as mais desenvolvidas no momento. Além de seu valor nutricional, inúmeras propriedades medicinais são atribuídas a essa fruta, por garantir uma elevada quantidade de antioxidantes como antocianinas, flavonoides e polifenóis, e outros compostos fenólicos, relacionados em auxiliar no combate de problemas cardiovasculares, disfunções imunológicas e musculares. É conhecido como o “Rei dos Antioxidantes” e o “Fruto da Juventude”, é rico em vitaminas, A, B, C e PP, possuindo ainda sais minerais, magnésio, potássio, cálcio, fósforo, ferro, manganês, açúcares, pectina, tanino, ácido cítrico, málico e tartárico, tornou-se então uma cultura de considerável interesse pela colheita valiosa de seus frutos. É excepcionalmente rico em todas estas substâncias, tornando-se uma fonte fito-medicinal de tudo-em-um. A possibilidade de que o mirtilo possa fornecer a base de uma nova indústria para o Brasil requer que as melhores práticas culturais para o cultivo da planta sejam conhecidas e compreendidas. Além disso, o fruto da planta, enquanto serve um pequeno mercado de produtos frescos, é processado em uma variedade de produtos, incluindo suco, suplemento nutricional em pó para adicionar em vitaminas, chá da folha e muitos outros produtos úteis e nutritivos. Portanto, este livro foi preparado com esse propósito, que é fornecer uma base inicial de conhecimento para a criação de uma indústria próspera no nosso país. Fornece em uma única fonte, o conhecimento necessário para cultivar, colher e armazenar a fruta, visando transformá-la em uma diversidade de produtos. Em razão disso, este livro escrito em português pode ser um dos primeiros manuais dedicados ao cultivo do mirtilo para o Brasil. Ou seja, aquele que decidir cultivar essa planta e conhecêla em maior profundidade, o livro “Mirtilo (Vaccinium spp.): Tecnologias de plantio em típicas regiões serranas”, será de grande interesse e ajuda para o produtor que necessita pôr em prática as várias tecnologias abordadas no mesmo.

Autores


SUMÁRIO

CAPÍTULO I - SISTEMA PRODUTIVO DO MIRTILO (Vaccinium spp.) - Vicente de Paula Queiroga, Acácio Figueiredo Neto, Josivanda Palmeira Gomes, Alexandre José de Melo Queiroz, Nouglas Veloso Barbosa Mendes, Esther Maria Barros de Albuquerque ...................10

CAPÍTULO II MATURAÇÃO, COLHEITA, PÓS-COLHEITA E COMERCIALIZAÇÃO DOS FRUTOS DE MIRTILO - Vicente de Paula Queiroga, Acácio Figueiredo Neto, Josivanda Palmeira Gomes, Alexandre José de Melo Queiroz, Nouglas Veloso Barbosa Mendes, Esther Maria Barros de Albuquerque ..........................................................187

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................215


C a p í t u l o I | 10

CAPÍTULO I

SISTEMA PRODUTIVO DO MIRTILO (Vaccinium spp.)

Vicente de Paula Queiroga Josivanda Palmeira Gomes Acácio Figueiredo Neto Alexandre José de Melo Queiroz Nouglas Veloso Barbosa Mendes Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores)


C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O mirtilo (blueberry em inglês; arándano, em espanhol) compreende um grupo de espécies frutíferas pertence à família Ericaceae, de clima temperado; classificada dentro da subfamília Vaccinioideae, na qual se encontra o gênero Vaccinium. É uma planta caducifólia, de porte arbustivo ou rasteiro. Seus frutos são bagas de cor azul-escuro, de formato achatado, com aproximadamente 1 cm de diâmetro e 1,5 g de peso e com sabor doce-ácido a ácido (WESTWOOD, 1982). A maior parte das espécies é nativa da América do Norte e algumas são originárias do continente europeu (RANDUNZ et at., 2016). Especialmente nos países localizados próximo aos centros de origem, a cultura do mirtilo apresenta significativa expressão econômica. Mais recentemente, outros países localizados fora do eixo Estados Unidos Europa têm manifestado interesse no cultivo (INIA, 1988). Atualmente, o cultivo de mirtilo em todo o mundo está em mais de 119.000 ha (safra 2019), mais que o dobro no início do século atual (FAO, 2019). A produção global ultrapassou 82.000 toneladas métricas em 2019, um aumento de quase 4 vezes em relação a 2000 (FAO, 2019). Os Estados Unidos da América são atualmente o principal produtor de mirtilos, respondendo por cerca de um terço do cultivo global em mais de 308.000 toneladas métricas. Vários tipos de mirtilo são cultivados nos Estados Unidos (EUA): highbush do norte (Vaccinium corymbosum L.); rabbiteye (Vaccinium virgatum Aiton); highbush do sul (um híbrido interespecífico de Vaccinium corymbosum); e mirtilo lowbush (Vaccinium angustifolium Aiton). O genoma do mirtilo foi sequenciado e uma versão preliminar do genoma de uma espécie diploide selvagem foi lançada em 2015 (GUPTA et al, 2015). Isso foi ainda aumentado pelo sequenciamento de um genoma cultivado de mirtilo highbush tetraplóide (Vaccinium corymbosum ‘Draper’) (COLLE et al., 2019). O mirtilo (Vaccinium spp. L.) tornou-se como uma cultura de frutas economicamente importante e está geograficamente bem distribuído em várias regiões temperadas, inclusive o Brasil. O rápido e extenso aumento em seu cultivo está relacionado, em parte, às características nutracêuticas promotoras da saúde associadas ao consumo de mirtilo (considerada uma superfruta por seus benefícios nutricionais). Numerosos estudos têm demonstrado propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e antitumorigênicas (entre


C a p í t u l o I | 12 outras) do mirtilo e seus extratos (JEYABALA et al., 2014; SILVA et al., 2020; DAVIDSON et al., 2018). Seu sabor único e sua cor inconfundível são fatores que atraem diretamente o consumidor, além dos pigmentos antociânicos presentes na composição do mirtilo, substâncias de alto poder antioxidante e que atuam na prevenção de doenças degenerativas (CONÇENSO et al., 2014). O interesse contínuo em seus benefícios potenciais à saúde e a adaptabilidade geral de seu cultivo as regiões temperadas provavelmente garantirá o crescimento sustentado da produção do mirtilo. A sustentação das tendências atuais de produção do mirtilo requer tais avanços na compreensão de sua genética e fisiologia e, subsequentemente, sua aplicação às práticas culturais. A cultura do mirtileiro vem sendo apontada como uma nova possibilidade na área de fruticultura nas regiões sul e sudeste do Brasil, e isso ocorre devido à sua alta rentabilidade, baixa utilização de insumos e facilidade de produção limpa (preservação do meio ambiente e segurança alimentar) (ARRUDA et al., 2017). Mesmo assim, as áreas de cultivo são ainda incipientes no Brasil, mas podem ser incrementadas como alternativa econômica, especialmente em pequenas propriedades. Sharpe (1980) apresenta o mirtilo como cultura altamente promissora para o sul do Brasil, apontando a espécie Vaccinium ashei como a de maior perspectiva. Seu cultivo é relativamente recente no país e alguns entraves dificultam sua expansão como a pouca disponibilidade e o alto custo das mudas. Também há a necessidade de pesquisa específica sobre manejo nas diferentes condições edafoclimáticas, para os grupos cujo cultivo é mais expressivo, sendo eles Rabbiteye e Highbush do Sul (COUTINHO et al, 2007). Necessita para seu bom desenvolvimento de solos leves, com alto teor de matéria orgânica, não sujeitos à encharcamento prolongado com pH entre 4,5 à 5,5. Os mirtileiros do grupo Rabbiteye se desenvolvem melhor em áreas onde não houve plantio de outras culturas ou recém-desmatadas. Seu crescimento pode ser prejudicado em solos ricos em cálcio, a não ser quando houver alto teor de matéria orgânica, áreas com excesso de fósforo podem comprometer a utilização do ferro pelas plantas (KREWER et al., 2015).


C a p í t u l o I | 13 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Ainda pouco conhecida no Brasil, porém com grande potencial produtivo, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, devido ao clima temperado, a sua produção ainda é restrita, mas podem ser incrementadas como alternativa econômica, especialmente em pequenas propriedades tendo uma promissora perspectiva de cultivo (BIANCHI, 2017). A falta de conhecimento dos consumidores com relação ao mirtilo vem diminuindo devido à tendência do consumo de alimentos funcionais e de suas propriedades nutracêuticas, o que têm favorecido o consumo das pequenas frutas, entre elas, o mirtilo (MOURA et al., 2017). Alimentos funcionais são aqueles cujo consumo em uma dieta habitual demonstram benefícios fisiológicos que podem reduzir o risco de doenças crônicas, além de seus benefícios nutricionais. A definição do termo nutracêutico se relaciona a uma grande quantidade de alimentos e compostos alimentares com forte apelo à saúde, o que implica na existência de relação entre o alimento ou composto alimentar e doença ou condição relacionada à saúde (GOMES et al., 2017). É conhecido como o “Rei dos Antioxidantes” e o “Fruto da Juventude”, é rico em vitaminas, A, B, C e PP, possuindo ainda sais minerais, magnésio, potássio, cálcio, fósforo, ferro, manganês, açúcares, pectina, tanino, ácido cítrico, málico e tartárico. (SERRADO et al., 2008). Tem um conteúdo particularmente elevado de polifenóis tanto na casca quanto na polpa, os quais conferem funções de proteção sobre as paredes das células (FACHINELLO, 2008). O fruto contém alta qualidade de nutracêutica, reconhecido por garantir uma elevada quantidade de antioxidantes como antocianinas, flavonoides e polifenóis, e outros compostos fenólicos (ZARDO, 2014), relacionados em auxiliar no combate de problemas cardiovasculares, disfunções imunológicas e musculares (SEVERO et al, 2008). Acredita-se que o fruto do mirtilo pode inibir a angiogênese, prevenir a carcinogênese e doenças cardíacas, minimizando danos ao DNA, proliferação de células cancerosas e aumento da apoptose de estudos in vitro, in vivo clínicos (WANG et al., 2018). Além de suas bagas, outras partes têm propriedades medicinais como as folhas, flores, raízes no preparo de chás, cosméticos e extratos (CANTUARIAS-AVILÉS, 2010).


C a p í t u l o I | 14 O termo “antocianina”, derivado do grego (anthos: flores e Kyanos: azul), foi criado por Marquart em 1835 para designar os pigmentos azuis das flores. Seu espectro de cores vai do vermelho ao azul, apresentando-se também como uma mistura de ambas as colorações, resultando em tons de púrpura. A coloração atrativa de muitos frutos, folhas e flores, se deve a estes pigmentos, os quais se encontram dispersos nos vacúolos celulares (PERTUZZATI, 2009). As frutas do mirtileiro são frequentemente processadas como suco ou suco concentrado para subsequente uso em bebidas, xaropes e outros produtos alimentícios (ZARDO, 2014). Na cosmetologia, uma grande quantidade de produtos tem utilizado o fruto do mirtilo com inúmeras alegações de propriedades biológicas, na formulação de uma variedade de produtos como cremes hidratantes, esfoliantes, protetores da radiação ultravioleta, entre outros (SPAGOLLA et al., 2009). ORIGEM E HISTÓRIA Todos os mirtilos pertencem ao gênero Vaccinium L., da família Ericaceae e constitui um grupo de espécies amplamente distribuídas pelo Hemisfério Norte, basicamente na América do Norte, Europa Central e Eurásia, também encontradas em uma escala muito menor na América do Sul, e algumas espécies na África e Madagascar. Todos eles têm em comum uma característica muito particular, a exigência em solos muito ácidos de níveis de pH entre 4,5 e 5,5. Os mirtilos na seção Cyanococcus ou mirtilos cultivados ocorrem naturalmente apenas no Leste e Centro-norte da América do Norte (HANCOCK; DRAPER, 1989). Antes de 1916, todos os mirtilos eram colhidos na natureza. Hoje, os mirtilos são a cultura de baga mais popular do gênero Vaccinium e quase todos os mirtilos comerciais são colhidos de três espécies (1) highbush ou arbusto alto (Vaccinium corymbosum L.), (2) rabbiteye [Vaccinim ashei Reade (syn. Vaccinium virgatum Ait.)], e (3) lowbush (Vaccinium angustifolium e Vaccinium myrtilloides). As plantas highbush são arbustos que formam copas e geralmente têm 1,8–2,5 m de altura. Eles são encontrados em pântanos e encostas arborizadas de terras altas mais secas, da Nova Escócia a Wisconsin, ao Sul da Geórgia e Alabama. As cultivares mais resistentes ao inverno podem ser cultivadas no Extremo Norte, com faixa de temperatura média anual mínima de _40 a _34,5 ºC (AAMTR). A maioria dos mirtilos highbush do Norte não cresce bem no Sul dos Estados Unidos porque requerem mais de 700 horas de frio para quebrar a dormência na primavera. Mirtilos


C a p í t u l o I | 15 lowbush, com 0,30–0,60 m de altura, incluem o mirtilo baixo doce (Vaccinium angustifolium) e o mirtilo com folha aveludada de sabor azedo (Viccinium myrtilloides). Os mirtilos pouco doces são encontrados do Ártico a Minnesota e nas montanhas de Nova York e New Hampshire; os mirtilos com folhas aveludadas de sabor azedo são distribuídos de forma selvagem em toda a Nova Inglaterra e no Oeste com 45,6 a _40 ºC (AAMTR). Esses arbustos resistentes ao frio não podem tolerar muito calor do verão e seu limite é com temperatura de _17,8 a _12,3 ºC (AAMTR). Os mirtilos rabbiteye (Viccinium ashei) são arbustos formadores de coroa e geralmente de 2,0–4,0 m de altura. Eles são mais adaptados a regiões com invernos amenos, incluindo o Sudeste dos Estados Unidos. Ou seja, os mirtilos rabbiteye toleram melhor os períodos de seca do que outros mirtilos, no entanto, eles são apenas resistentes ao frio com _23,3 a _12,3 ºC AAMTR (ENCICLOPÉDIA DE PLANTAS, 2008). Muitas das espécies selvagens e comestíveis de Vaccinium foram colhidas por milhares de anos por povos indígenas (MOERMAN, 1998). Os nativos americanos no Oeste e no Leste da América do Norte queimavam intencionalmente as plantações nativas de mirtilos, assim renovava o seu vigor. Os mirtilos highbush e rabbiteye foram domesticados no final do século XIX. As plantas foram inicialmente extraídas da natureza e transplantadas para os campos da Nova Inglaterra e da Flórida. A maior parte da produção comercial de mirtilo agora vem dos tipos highbush e lowbush, embora os olhos de coelho (rabbiteye) sejam importantes no Sudeste da América do Norte, e os híbridos de highbush x lowbush (half-highs) tiveram um impacto menor no Alto Meio-oeste dos EUA. As cultivares Rabbiteye estão começando a ser cultivadas no Noroeste do Pacífico e no Chile por seus frutos de amadurecimento muito tardio. Os mirtilos highbush são cultivados em 37 estados dos EUA, em seis províncias canadenses e na Austrália, Chile, Argentina, Nova Zelândia e em vários países da Ásia e Europa (STRIK, 2005; STRIK; YARBOROUGH 2005). As maiores áreas de highbush do norte estão em Michigan, Nova Jersey, Carolina do Norte, Oregon e Washington, nos EUA, e British Columbia, no Canadá. A maior área plantada de arbustos altos do Sul está na Flórida, Califórnia e Geórgia. A produção comercial de mirtilos lowbush ocorre principalmente em Maine, Quebec, New Brunswick e Nova Scotia (STRIK, 2005; HANCOCK et al., 2008). Embora os mirtilos com meia altura não contribuam muito para o mercado de frutas, são amplamente usados como planta ornamental para paisagismo.


C a p í t u l o I | 16 Por conseguinte, das 30 espécies que compõem o gênero Vaccinium do sub-contimente americano, apenas um pequeno grupo delas tem importância comercial. Destaca-se Vaccinium corimbosum L., representando aproximadamente 80% da área total cultivada, seguido em importância por Vaccinium ashei Reade, com aproximadamente 15%. Entre os 5% restantes, destacam-se Vaccinium angustifolium Aiton e alguns híbridos de Vaccinium angustifolium x Vaccinium corymbosum. O mirtilo representa uma das espécies de mais recente domesticação, uma vez que os primeiros programas de seleção de arbustos e técnicas de propagação começaram na América do Norte no final do século XIX e início do século XX. Todos as cultivares obtidas até o momento foram desenvolvidas a partir de formas silvestres. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA MUNDIAL Em 2008, a produção mundial de mirtilos foi de 331.347 toneladas e a área plantada correspondente foi de 74.015 hectares, principalmente na América do Norte (EUA e Canadá), na Europa (Polônia, Alemanha) e também em países do Hemisfério Sul (Chile, Argentina, Uruguai, Austrália e do Brasil) (CANTUARIAS-AVILÉS, 2014; Tabela 1). Por outro lado, a produção mundial de mirtilos duplicou entre 1994 e 2007, enquanto na América do Sul houve um incremento de 478% na área plantada com mirtileiros no período de 2003-2008 (RETAMALES; HANCOCK, 2012). Tabela 1. Produção mundial de mirtilos e área plantada no mundo, referente ao ano de 2008. Continentes

América do Norte: 83% da produção Europa: 16% da produção

Produção 2007 (toneladas)

Exportação 2007 (1000 USD)

Importação 2007 (1000 USD)

EUA: 199.127 CANADA 94.551

EUA: 90.993 CANADA: 53.671

EUA: 185.031 CANADA: 45.595

POLÔNIA: 7.857 ALEMANHA: 4.116

POLÔNIA: 24.820

REINO UNIDO: 27.498 ALEMANHA: 12.559

América do Sul: • Chile – 8.500 ha • Argentina – 5.000 ha • Uruguai – 300 ha • Brasil: Produção em ha aprox. 250 ha: RS, SC, PR, SP Fonte: FAOSTAT, FAO, 2010; 99% da produção mundial.

A América do Norte (EUA e Canadá) é o maior produtor mundial de mirtilo cultivado, com 223 milhões de kg em uma área de quase 44.000 ha. A seguir vem o Chile, onde apesar de ser uma cultura recém-introduzida, no início dos anos 80, rapidamente se tornou o segundo produtor mundial, com pouco mais de 13.000 ha e uma produção em torno de


C a p í t u l o I | 17 50 milhões de kg, o que representa 90% da produção da América do Sul, onde, em menor escala, também é cultivada, na Argentina, Uruguai, Peru e Brasil. Outras áreas produtoras no hemisfério Sul são a África do Sul, Austrália e Nova Zelândia (Figura 1).

Figura 1. Área mundial de mirtilo (ha). Ano de 2010. Foto: GARCÍA RUBIO et al. (2015).

Na Europa, os principais países produtores de mirtilo são, nesta ordem, Polônia, Alemanha, Espanha (foi instalada em 1967), França, Itália, Reino Unido, Holanda e Portugal. Também o mirtilo é cultivado na Ucrânia, Romênia, Áustria, Suíça, Suécia, Dinamarca e Irlanda. Além disso, novas áreas de produção estão surgindo, como Marrocos na África ou Japão e China na Ásia. A produção mundial de mirtilos no ano de 2017 foi de 1,7 milhão de toneladas, sendo que nos próximos dois anos, a colheita deve chegar a 2 milhões de toneladas, de acordo com a estimativa feita por Maxwell (2016). O Chile é o país que tem a maior produção, em janeiro e fevereiro de 2017, pico da colheita no Chile, os mirtilos exportados foram vendidos à US$ 10,04 o quilo, em média, comparando-se com os preços obtidos nos Estados Unidos cujos valores ficaram em torno de US$ 6,40 kg-1 (MAXWELL, 2016).


C a p í t u l o I | 18 No Brasil, o mirtileiro foi introduzido na década de 1980, a partir de plantas obtidas na Universidade da Flórida, Estados Unidos. Atualmente, estima-se que cerca de 200 ha são cultivados com mirtileiros, principalmente nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais (DIEZ-RODRÍGUEZ et al., 2017; Tabelas 2 e 3). Tabela 2. Períodos de produção de mirtilo em diferentes países sendo que a colheita brasileira ocorre na entressafra do Hemisfério Norte.

Brasil: Produção de DEZ a FEV (RS, SC), até abril, na contra estação do Hemisfério Norte. • Faltam variedades de baixa exigência em frio e de colheita precoce para produzir em épocas de melhores preços em OUT-NOV (SP, MG, ES, GO, BA, RN....).

Tabela 3. Superfície (ha) e produção mundial (milhões de kg) em 2014 de mirtilos, destacando abaixo apenas os países americanos, segundo destino da fruta, consumo in natura (fresco) ou industrial agroalimentar (processado).

Fonte: C. Brazelton. Estadísticas Mundiales y Análisis Global de la Producción de Arándanos. (2015 U.S. Highbush Blueberry Council).


C a p í t u l o I | 19 O destino da produção é a exportação, pois apenas parte é absorvida no mercado interno. O Rio Grande do Sul é o maior produtor, pois concentra cerca de 45 produtores, que ocupam uma área de produção de 65 ha, os quais ofertam cerca de 150 toneladas por ano (MADAIL et al., 2010). Essas demandas de mercado podem gerar oportunidades de negócio para o setor produtivo brasileiro, desde que haja adoção de tecnologia para a produção e a utilização de cultivares adequadas (ZARDO, 2014). Segundo Fachinello (2008), alguns fatores atrapalham a expansão da cultura no país, como as condições de clima e solo, o crescimento lento da planta, as dificuldades no manejo da colheita e a falta de mudas, a dificuldades de propagação em algumas cultivares e ao pouco conhecimento técnico sobre a cultura. O pacote tecnológico utilizado pelos produtores tem sido adaptado de outros países e adequado às condições locais, sendo seu cultivo ainda pouco explorado (CANTUARIAS AVILÉS, 2014). A demanda pela fruta é maior que a oferta, tanto no mercado interno quanto para exportação, provavelmente, devido a pouca oferta de produto no mercado brasileiro, à fragilidade dos frutos e sua reduzida conservação pós-colheita (SPINARDI; AYUB 2013). Necessita de muita mão de obra, principalmente na colheita, e seu cultivo depende de uma logística de transporte, embalagem adequada e conservação em frio, para chegar ao mercado. É fundamental que os produtores estejam organizados de forma associativa no momento da comercialização (FACHINELLO, 2008). BOTÂNICA, MORFOLOGIA E CICLO BIOLÓGICO DO MIRTILO É uma planta originária principalmente na América do Norte e tem três espécies de importância econômica: mirtilo baixo ou “lowbush” (Vaccinium angustifolium Alton), mirtilo olho de coelho ou “rabbiteye” (Vaccinium ashei Reade) e mirtilo alto ou “highbush” (Vaccinium corymbosum L.; BUZETA, 1997). As variedades altas de mirtilo (“highbush”) são separadas em "Norte" e "Sul", dependendo de suas necessidades de hora fria e resistência no inverno (HANCOCK; RETAMALES, 2012). As espécies "highbush" são híbridos criados a partir do cruzamento de um tradicional "highbush do Norte" e um "highbush do Sul", que foram desenvolvidos para ambientes específicos (HANCOCK, 2009). Em geral, os mirtilos rabbiteye (Vaccinium virgatum) são os mais adaptáveis, produtivos e tolerantes a pragas quando se comparam os três tipos de mirtilos. Além disso, os mirtilos rabbiteye têm um alto grau de autoincompatibilidade; portanto, um mínimo de


C a p í t u l o I | 20 duas variedades é necessário para a polinização cruzada adequada para garantir o máximo de frutos. A continuação será referida basicamente às duas espécies mais importantes para o nosso país, do ponto de vista econômico, Vaccinium corymbosum L. (variedades híbridas de highbush do Sul) e Vaccinium ashei Reade, já que são mais adaptados às condições edafoclimáticas do Sul do Brasil. Suas principais características são: Espécie Vaccinium ashei Reade. É nativa do Sudeste dos Estados Unidos. Pode atingir mais de 4 metros de altura; suas necessidades em horas frias estão entre 400 e 600 h/f. Ao contrário de Vaccinium corymbosum, tolera melhor a estiagem, mas é mais sensível ao excesso de umidade do solo. Pode ser cultivada em solos com pH mais alto e é mais produtiva, embora o fruto seja um pouco menor. Organolepticamente tem uma qualidade inferior, a pele é mais dura, em razão disso tem uma melhor conservação pós-colheita. Atualmente, a sua área de distribuição está se expandindo devido a sua maior tolerância ao pH do solo, sua adaptação às diferentes zonas climáticas e o surgimento no mercado de novas variedades, algumas delas bastante tardias, podendo estender a colheita até outubro. Pertence ao o grupo 'Rabbiteye' (olho-de-coelho; espécie hexaplóide: 6x = 72). Espécie Vaccinium corymbosum L. É nativa da costa Leste da América do Norte. Foi uma das primeiras espécies a ser domesticada no início de 1900 (século XX). Tem a fruta da mais alta qualidade, por isso é de longe a mais importante em termos de área cultivada. Em condições de cultivo, pode atingir 2,5 m de altura. Para o seu melhoramento genético foi cruzado com outras espécies de forma a poder adaptar o seu cultivo a diferentes áreas, principalmente climáticas, tendo atualmente obtido cultivares com requerimentos em horas frias que variam na faixa de 100 a 1.200 h/f. O grupo 'Southern highbush' (arbusto de porte alto, originário do Sul dos Estados Unidos), o qual engloba plantas de baixa necessidade em frio, com predomínio da espécie Vaccinium corymbosum (tetraploide: 4x = 48). -Aspecto botânico Conforme indicado, o nome científico do mirtileiro é Vaccinium spp., que pertencente à família Ericaceae e é classificado dentro da subfamília Vaccinioideae, na qual se encontra o gênero Vaccinium (SPIERS et al., 2004). Cronquist (1981) relata que o mirtilo é taxonomicamente classificado da seguinte forma:


C a p í t u l o I | 21 Reino: Plantae - Plantas; Sub-reino: Tracheobionta - Plantas vasculares; Superdivisão: Espermatophyta - Sementes; Divisão: Pterophytas (Magnoliophyta) - Plantas com flores; Subdivisão: Angiosperma Classe: Magnoliopsida (Dicotiledôneas); Subclasse: Dilleniidae Ordem: Ericales; Família: Ericaceae; Subfamília: Vaccinioideae Tribo: Vaccinieae Gênero: Vaccinium Espécies: Vaccinium corymbosum L.; Vaccinium ashei Reade.

Conhecidas como berries ou também frutas vermelhas, são pequenas frutas cultivadas no Hemisfério Norte como, por exemplo: morangos (strawberries), framboesas (raspberries), mirtilos (blueberries), amoras-pretas (blackberries) e outras pouco conhecidas no Brasil, como as groselhas, gooseberries, cranberries e loganberries (VIZZOTTO, 2012). Estão entre os sistemas de produção com francas ascendências nas regiões de maior altitude e clima frio do Brasil (ZAMBONI PINOTTI et al., 2011). -Aspecto Morfológico Embora existam algumas diferenças botânicas entre as espécies Vaccinium ashei e Vaccinium corymbosum, a morfologia da última é descrita para fins ilustrativos. Planta – O mirtilo é um arbusto de grande longevidade (podendo ultrapassar 50 anos em muitos casos), de ramificação basitônica, caducifólias, porte ereto ou rasteiro, com madeira lenhosa que atinge uma altura de 0,3 m a 7 m na fase adulta (dependendo da espécie), e seus caules podem ter uma atividade produtiva de 4 a 5 anos (LOBOS, 1988; MUÑOZ, 1988; ECK, 1989). O seu sistema radicular é superficial composto por raízes de suporte, que podem alcançar até 1 m de profundidade, e raízes finas, fibrosas e sem pelos radiculares, que se distribuem nos primeiros 30 a 40 cm de profundidade e que asseguram a absorção de água e nutrientes do solo através de uma simbiose com hifas ou micorrizas em troca de fotoassimilados. As folhas são alternadas, curtamente pediceladas


C a p í t u l o I | 22 com borda inteira ou serrilhada, que variam de 1 a 8 cm de comprimento, são lanceoladas ou ovaladas e de cor verde pálido (BUZETA, 1997). As flores são pedunculadas, axilares ou terminais e se abrem solitárias ou em racemos (cachos) e são de cor branca, que aparecem em forma de basípeto (inseridas na extremidade superior) nos ramos do ano anterior. A corola é esférica de cor verde e o estigma sobressai. O ovário está unido ao cálice; contém entre cinco e quatro lojas com um ou mais óvulos em cada lóculo. A flor possui de dez a oito estames que se inserem na base da corola (BUZETA, 1997; Figura 2).

Figura 2. Planta de mirtilo (Vaccinium myrtillus). 1. Um galho de mirtilo com flores; 2. Corte longitudinal da flor depois de retirada da copa (6/1); 3. Câmara polínica ou saco polínico (10/1); 4. Ramo com dois frutos maduros; 5. Baga madura (3/2). Fonte: Mentz, August; Ostenfeld, Carl Hansen (1917). File:Vaccinium myrtillus (Billeder af nordens flora, v.1, p.141-141, 1917. BHL-39907).


C a p í t u l o I | 23 Raiz – Possui sistema radicular reduzido, fibroso e superficial, estando 80% dele localizado nos primeiros 40 cm (Figura 3). Não possui pelos radiculares, portanto, as raízes jovens são responsáveis pela absorção (BUZETA, 1997). Tem um diâmetro de até 75 mícrons e contém até 3 camadas de células epidérmicas, mas a maioria delas tem apenas uma camada (MUNOZ, 1988). São essas células epidérmicas que em condições naturais são invadidas por micorrizas com as quais esta espécie está comumente associada, intervindo principalmente no metabolismo do nitrogênio, além do fósforo, como ocorre com a maioria das associações micorrízicas. Os fungos simbióticos que estão associados às raízes do mirtilo são Hymenoscyphus ericae ou Pezizella ericae (MUÑOZ, 1988), os quais incrementam a captação de nutrientes e a eficiência da aplicação de fertilizantes no solo, também melhoram o uso da água e protegem a planta de mirtilo de elementos tóxicos como o alumínio, cuja concentração aumenta quando o pH diminui (RETAMALES; HANCOCK, 2011). Particularmente, a associação de micorrizas a plantas da família Ericaceae aumenta a capacidade de tolerar altas concentrações de cobre e zinco (VEGA; MUÑOS, 1994). Essas micorrizas também podem utilizar compostos orgânicos, tais como: aminoácidos, peptídeos, proteínas e polímeros, como quitina e lignina, para transferir quantidades substanciais de nitrogênio para a planta hospedeira (RETAMALES; HANCOCK, 2011). É sensível ao alagamento em solos pesados (GARCÍA, 2016).

Figura 3. Raiz de uma planta de mirtilo. Foto: Sebastián Ochoa Münzenmayer.


C a p í t u l o I | 24 Ramos – Na base da planta está à coroa com gemas que emitem ou originam novos ramos vigorosos (GARCÍA, 2016), onde o sistema vascular apresenta uma estrutura morfológica intermédia entre sistema vascular das raízes e dos ramos. Nos primeiros anos após o plantio, o manejo das plantas deve ser orientado a formar uma estrutura aberta (tipo taça), com abundantes ramos, e a poda deve favorecer a emissão de novos ramos da coroa. É importante destacar que as gemas nascem das axilas das folhas. A diferenciação floral é basípeta ao longo dos ramos, começando na ponta dos mesmos (CANTUARIASAVILÉS, 2010). Portanto, estes ramos constituem a parte estrutural da planta e têm normalmente entre 15 a 50 cm de comprimento, existindo ainda ramos laterais que se formam a partir de gemas presentes nas axilas das folhas. Por sua vez, o termo "arbusto alto" (highbush) é aplicado às espécies de mirtilo cuja altura está compreendia em uma faixa que varia de 1,5 m a 7,0 m. Ao contrário, o termo "arbusto baixo" (lowbush) refere-se às espécies com altura inferior a 1,0 m. Os mirtilos que não atingem alturas superiores a 1 metro, costumam formar extensas colônias devido à capacidade das raízes rizomatosas de emitir ramos vegetativos (mirtilo baixo ou lowbush). As espécies maiores de 1,5 m não apresentam rizomas, mas a raiz tem a capacidade de emitir ramos adventícios, de modo que geralmente são desprovidos de um único tronco e formam coroas de múltiplos rebentos ou ramos. O highbush e o olho de coelho (rabbiyete) pertencem a esta categoria. O mirtilo olho de coelho alcança alturas de até 5 m, enquanto o mirtilo alto raramente atinge uma altura superior a 3 m. O crescimento começa com o aumento dos rebentos ou ramos na primavera (Figura 4) e continua até o final do verão e outono. O mirtilo produz vários fluxos de rápido crescimento de ramos. Cada fluxo de crescimento cessa quando o botão superior ou apical aborta (isso não é uma doença). Logo depois, um botão “quebra” próximo à ponta para iniciar outro fluxo de crescimento de ramos. Cada ramo pode apresentar vários desses fluxos de crescimento durante a temporada, e cada fluxo pode resultar em 15 cm a 25 cm de crescimento com umidade e nutrição adequadas. O crescimento dos ramos geralmente cessa no meio do verão.


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Figura 4. Planta dormente: a – Coroa (círculo vermelho); b – Ramo principal; c – ramo de renovação; d – ramo podado; e – ramo lateral do ano com gemas vegetativas e florais. Foto: Galletta, G. J. e Himelrick, D. G. (1989).

Normalmente, cinco a oito botões de flores podem se desenvolver em um ramo saudável. Cada botão de flor pode produzir de cinco a 10 flores que continuam a se desenvolver dentro do botão durante o outono e os primeiros meses de inverno. Os botões vegetativos e florais ficam dormentes no inverno. Os botões de flores abrem sequencialmente na primavera, com os botões de flores na ponta do ramo abrindo primeiro (Figura 5). As flores dentro de um botão se abrem em uma sequência de florescimento, com a flor mais próxima da ponta se abrindo primeiro. A espessura do ramo ou rebento afeta a sequência de floração, com as flores no ramo mais fino se abrindo mais cedo do que os botões no ramo mais espesso.


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Figura 5. Destaque dos botões florais, vegetativos (A,D) e o ramo vegetativo (B,C) na planta de mirtilo. Fonte: “Small Fruits in the Home Garden,” por E. B. Poling, North Carolina Master Gardener Manual, N.C. State University.

As plantas de viveiro de raiz nua de dois anos de idade com 30 cm a 90 cm de altura são transplantadas no final do inverno ou início da primavera. Enquanto as plantas em vasos podem ser transplantadas no outono. Folhas – As folhas do mirtilo alto (highbush) caracterizam-se por serem grandes, entre 5 e 7 cm, são ovaladas ou lanceoladas com bordas inteiras ou levemente serrilhadas, dependendo da variedade, de cor verde escura e geralmente com abundante pilosidade na parte inferior (SUDSUKI, 1983; Figura 6). Enquanto as folhas do mirtilo olho de coelho, por outro lado, são menores (4-6 cm), lanceoladas, com uma borda geralmente inteira ou ligeiramente serrilhada, de cor verde pálido e geralmente com uma pilosidade muito menos perceptível na parte inferior do que o mirtilo alto (LOBOS, 1988). Ambas as espécies (Vaccinium corymbosum e Vaccinium ashei) desenvolvem uma pigmentação avermelhada durante o outono, sendo esta mais intensa no mirtilo alto (highbush). Todas as espécies domésticas têm folhas caducas, mesmo quando em outras espécies estão sempre verdes e são de tamanho variável entre 1 e 8 cm de comprimento (MUÑOZ, 1988). Anatomicamente, as folhas apresentam uma epiderme composta apenas por uma camada paliçádica de células e um parênquima esponjoso. Os estômatos estão localizados exclusivamente na parte inferior das folhas em densidades de até 300 por mm 2 (MUÑOZ, 1988).


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Figura 6. Ramo com folhas e frutos de mirtilo. Foto: ipavelvana.eu.

Flor – O mirtilo é uma espécie autofértil. As flores são produzidas em inflorescências (em racemos de 6 a 10 em cada gema; Figura 7), geralmente axilares, as quais diferem nas gemas terminais dos ramos quando paralisa o crescimento vegetativo no início do outono e provavelmente em resposta ao fotoperíodo. A diferenciação se manifesta externamente por um notável inchaço das gemas, que são recobertas de escamas marrons, facilmente distinguíveis das gemas axilares vegetativos. Estas flores são produzidas em brotos ou ramos de um ano de crescimento (BAÑADOS et al. 2007; MEDEL, 1982).


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Figura 7: Morfologia da flor de Vaccinium meridionale. Foto: Chamorro e Nates-Parra, (2015).

A flor é pedunculada de ovário ínfero provido de 4-5 lóculos contendo 20-30 óvulos em placentação axial, podendo chegar a medir 7,2 ± 0,5 mm de comprimento e são completas e perfeitas (CHAMORRO; NATES-PARRA; 2015). As sépalas são curtas, gamossépala (sépalas unidas ou pentalobadas), com lóbulos verdes e hipanto cilíndrico e a corola gamopétala, de forma tubular, pentalobada e geralmente de cor branca ou rosada. Os estames, em número de 8 a 10, nascem na base da corola e terminam circundando completamente o estilete, o que geralmente é mais comprido e sobressai ligeiramente da corola. As anteras estão providas de um poro terminal através do qual o pólen é liberado quando atinge a sua maturidade (Figura 8). O pólen maduro permanece formando tétrades, de modo que este é realmente constituído por 4 grãos unidos entre si, uma característica rara nas espécies fanerogâmicas (LOBOS, 1988; MUNOZ, 1988).


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Figura 8. Flor de mirtilo, destacando a antera e o estigma. Foto: Maria beatriz Sousa, 2007.

Em algumas plantas, as flores possuem estames completos, mas as anteras não produzem pólen, ou seja, são plantas com flores morfologicamente hermafroditas, mas funcionalmente femininas (CHAMORRO; NATES-PARRA, 2015). O pistilo é filiforme e está atravessado em seu interior por um canal contínuo com 5 braços através dos quais o tubo polínico cresce durante o processo de fertilização, outras características pouco frequentes na plantas superiores. No momento da antese, esse canal, que une o estigma com o ovário, se enche de uma secreção mucilaginosa por onde ocorre o crescimento do tubo polínico. Floração – O florescimento do mirtileiro dura entre 3 a 8 semanas, dependendo da cultivar e da condição térmica durante a dormência das plantas. Nas novas variedades da Flórida, a floração é mais concentrada, durante 3 a 4 semanas. No Rio Grande do Sul, o período de florescimento dos mirtileiros tipo Rabbiteye é de agosto até meados de outubro. Em São Paulo, nos municípios de São Miguel Arcanjo e Piracicaba, as cultivares de produção precoce do tipo Southern Highbush O’Neal e Misty florescem de agosto até outubro (cv. Misty) e novembro (cv. O’Neal) (CANTUARIAS-AVILÉS, 2010). A floração do mirtilo na área de San Pedro (Argentina) começa durante o mês de agosto, e pode durar de 4 a 6 semanas, como ocorre na área de Concordia, Entre Rios (PESCIE; LOPEZ, 2007). Durante a ruptura das gemas florais, ou seja, na pré-antese, o dano por geada é máximo, devido à alta suscetibilidade das flores (CHAAR, 2013). Na fase de


C a p í t u l o I | 30 antese ocorre à polinização e fecundação das flores, que depende principalmente da presença de insetos polinizadores e das condições climáticas que favorecem essa atividade (MOLINA, 2001) Na Figura 9, observa-se a fase evolutiva desde a fase préantese de dormência de brotos florais até ao estádio de floração (Figura 10).

Figura 9. Evolução da fase de brotos florais dormentes até o estádio de floração da planta de mirtilo. Fotos: Sebastián Ochoa Münzenmayer.

Figura 10. Estádio de floração e ramos de mirtilo com flores e frutos. Foto: Blueberry Romania.


C a p í t u l o I | 31 A concentração do florescimento em menor período de tempo é uma característica agronômica desejável que tem sido melhorada nas novas cultivares de mirtilo da Flórida. Uma florada muito curta permite reduzir os significativos custos da colheita pela maior eficiência dos operários, que vão colher mais frutos em menos tempo (CANTUARIASAVILÉS, 2010). Como foi abordado anteriormente, o fruto do mirtilo amadurece em um período de dois meses após a floração. Isso varia de acordo com a cultivar, as condições climáticas e o vigor da planta. As plantas devem produzir cerca de 226 g de frutas por arbusto no terceiro ano, e 450 g a 900 g por arbusto no quarto ano. Com um bom manejo, as plantas adultas do grupo Highbush do Sul podem produzir mais de 3,5 quilos de frutas por ano, enquanto as plantas do grupo Rabbiteye podem produzir 5,4 kg (12 libras) a 11,3 kg (25 libras). Recomendam-se remover todos os botões florais no primeiro e no segundo ano após o plantio para estimular o bom desenvolvimento do rebento e da raiz. As flores e os frutos do mirtilo consomem energia considerável da planta, e a produção de frutos nos anos subsequentes pode ser prejudicada devido ao fraco desenvolvimento da planta nos primeiros dois anos de estabelecimento. Além da remoção dos botões florais, retira-se um terço a metade da parte apical de todo o crescimento de rebentos do material rabbiteye (Olho de coelho) no momento do transplante. Fruto – De forma quase esférica, o fruto é botanicamente denominado de pseudobaga, por ser proveniente de um ovário ínfero. Dependendo da espécie e da variedade, o fruto pode variar em tamanho de 0,7 a 1,5 cm de diâmetro e amadurece de 2 a 3 meses após a floração. A baga pequena com sementes apresenta em geral cor azul com tonalidades que varia entre o azul claro e o preto. A cor do mirtilo é influenciada pela presença de pruína, uma cera epicuticular que produz o efeito glauco responsável pela cor azul típica dos mirtilos (Figura 11). Esta camada cerosa constitui uma barreira importante à perda de água, impedindo o murchamente das bagas (ALBRIGO et al., 1980).


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Figura 11. Elevada qualidade do fruto de mirtilo revestido por uma camada cerosa denominada de pruína (cera esbranquiçada por secreção natural). Foto: Getty Images.

O fruto pode ter até 100 pequenas sementes, as quais se encontram no interior do endocarpo (Figura 12). As sementes têm um tamanho médio de 1,5 mm de comprimento e 0,8 mm de largura. O mesocarpo é de espessura variável e geralmente provido de células pétreas (MUÑOZ, 1988).

Figura 12. Destaque das distintas partes do fruto de mirtilo. Foto: Pinterest.


C a p í t u l o I | 33 O fruto baciforme e globoso é sumoso (suculento) e tem um sabor agridoce (ácido e doce). O seu tamanho é uma característica varietal (ECK, 1988). A fruta possui duas características importantes desde o ponto de vista comercial. A cicatriz que permanece quando o fruto se desprende do pedúnculo é uma delas. Deve ser pequena e seca a cicatriz para evitar a entrada de patógenos, o que pode causar a depreciação do produto durante o período de comercialização (Figura 13). A segunda característica é a firmeza, a que está relacionada geralmente com a espessura da epiderme. O mirtilo olho de coelho tem epiderme mais espessa do que o mirtilo alto, característica que lhe confere melhor durabilidade pós-colheita (MUÑOZ, 1988). Há de se considerar ainda o maior ou menor número de sementes no fruto, porque é um atributo que contribuem para um sabor menos acentuado e certo grau de arenosidade conferido pela presença de escleritos, ou seja, de células de esclerênquima lenhificadas (SOUSA et al., 2006).

Figura 13. Tamanho de cicatriz do fruto de mirtilo. Fotos: Lenny Denis Flores Riveros (2019).

Frutificação - Uma vez que a flor é fecundada, o fruto se põe visível através da queda da corola. Nesse momento, o tamanho potencial da fruta é definido. Após a fase de pegamento, ocorre o aumento do tamanho da fruta e, posteriormente, a mudança da cor da fruta, o que indica o processo de amadurecimento e o momento de início da colheita (Figura 14). O crescimento dos frutos dura 2 ou 3 meses. Em média, o período entre o pleno florescimento e o início da maturação dos frutos dura de 65 a 75 dias, segundo a variedade (CANTUARIAS-AVILÉS, 2010). A colheita começa em meados de outubro ou início de novembro e ocorre em dias sucessivos até novembro ou dezembro, dependendo das variedades e das condições meteorológicas nesta fase.


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Figura 14. Evolução da fecundação (antese) até o estádio de maturação do fruto de mirtilo. Fotos: Sebastián Ochoa Münzenmayer.

Crescimento do fruto - O desenvolvimento do fruto de mirtilo alto (highbush) está representado por uma curva sigmóide dupla, com três estágios de crescimento bem definidos (EDWARDS et al., 1970; SHOEMAKER, 1978; SHUTAK et al., 1980; ECK, 1989; GOUGH, 1994). A etapa inicial (1) apresenta um período de rápido crescimento do pericarpo (divisão celular). O início deste é caracterizado pela abscisão da corola e dos estames, escurecimento do estigma e em poucos dias a abscisão do estilete (ECK, 1989). A duração dessa etapa é de 21 a 50 dias para variedades de ciclo curto e longo, respectivamente (SHOEMAKER, 1978). A etapa I depende da temperatura existente no período de floração. As baixas temperaturas prolongam o desenvolvimento desta etapa e com altas temperaturas, ela diminui. Edwards et al., (1970) argumentam que a etapa II do crescimento do fruto é caracterizado por um atraso marcante no desenvolvimento do pericarpo, associado a um rápido crescimento do embrião e do endosperma (GOUGH, 1994). Essa etapa pode variar entre espécies e cultivares, o que se acredita ser altamente influenciado pelo número de sementes que se formaram no interior do fruto (EDWARDS et al., 1970; SHOEMAKER, 1978; ECK, 1989). Essa etapa pode durar 18 e 27 dias para variedades de ciclo curto e longo, respectivamente (EDWARDS et al., 1970).


C a p í t u l o I | 35 Na etapa III de crescimento do fruto, ocorre alongamento celular no mesocarpo (GALLETA, 1975, citado por GOUGH, 1994), um rápido aumento no desenvolvimento do pericarpo, adquirindo o tamanho final do fruto, desenvolvendo os graus de açúcar e cor (ECK, 1989). Shoemaker (1978) indica para esta etapa, uma duração de 26 dias em mirtilo alto. No entanto, Edwards et al. (1970) e Figueroa (1991) indicam que a duração dessa etapa varia de 23 a 26 dias. O período de formação e maturação do fruto dura 42 a 84 dias após a floração (ECK, 1989). No Chile, verificou-se que o período de desenvolvimento do fruto varia entre 50 e 103 dias após a plena floração (RETAMALES, 1988; FIGUEROA, 1991). No entanto, Lobos (1991) admite que a manifestação dos estádios fenológicos do mirtilo é regulada pelas características genéticas próprias de cada cultivar e pelas condições ambientais existentes nesse período. Tamanho dos frutos - Os fatores que influenciam no tamanho dos frutos de mirtilo são: 1.FATORES GENÉTICOS. Draper e Scott (1969) apontam que os fatores genéticos influenciam no desenvolvimento do tamanho do fruto, por exemplo, eles mencionam o mirtilo baixo (lowbush), cujo caráter dominante é o tamanho pequeno. Por outro lado, Hellman e Moore (1983) e Finn e Luby (1986) afirmam que cruzamentos interespecíficos com alta porcentagem de mirtilo baixo tendem a produzir plantas com floração precoce e fruto de pequeno calibre, uma vez mudando os cruzamentos com maior porcentagem de mirtilo alto - o fruto é de maior calibre. Estudos realizados em mirtilo de olho de coelho (rabbiteye) indicam que o tamanho do fruto e o número de sementes estariam geneticamente correlacionados (KUSHIMA et al., 1979). 2.NÚMERO DE SEMENTES. Eaton (1967) relata que encontrou em cultivares de mirtilo alto (cvs: Earlyblue, Concord, Rancocas e Berkeley) uma correlação (0,59) entre o número de sementes e o peso do fruto, mas em outras cultivares (tais como: Hanow, Jersey, Dixi e Bluecrop) nenhuma correlação significativa foi detectada (0,39). Moore et al., (1972) encontraram um coeficiente de correlação de 0,40 e 0,67 entre o peso do fruto e o número de sementes, em mirtilo alto e olho de coelho, respectivamente. Em cultivares de mirtilo olho de coelho, Kushima et al., (1979) observaram que em média o fruto grande produz mais sementes totais e maduras do que o fruto de pequeno calibre,


C a p í t u l o I | 36 mas essa relação não foi constante entre as cultivares, de modo que o autor conclui que entre o tamanho do fruto e o número de sementes perfeitas não há correlação significativa. Brewer e Dobson (1969) ressaltam que em cultivares de mirtilo alto, observaram que o calibre do fruto aumenta consideravelmente quando o número de sementes é alto, em comparação com frutos que apresentam poucas sementes. Da mesma forma, indica também que com um mínimo de sementes se promove o aumento do tamanho do fruto, embora destaque que mais de 50% das observações da variação do tamanho do fruto, seriam explicadas por outros fatores, além do número de sementes. Buzeta, (1997) indica que existe uma correlação entre o conteúdo de sementes no fruto e o seu tamanho, ou seja, quanto maior o número de sementes, maior tamanho será o fruto (Figura 15).

Figura 15. Correlação entre tamanho do fruto e número de sementes. Fonte: Fedefrutamirtilo, La Ligua. 2008.

3.POLINIZAÇÃO. Darrow, 1958; Brewer e Dobson (1969), citado por Moore et al., 1972, relatam que, com a polinização cruzada, as cultivares de mirtilo alto produzem frutos de maior calibre do que as cultivares autopolinizadas. Segundo Brewer e Dobson (1969), as cultivares de mirtilo com alto índice de polinização produzem frutos de grande tamanho e com muitas sementes, mas o número destas afetaria apenas 10% das observações realizadas sobre a variação do tamanho. Isso sugere que certo número de


C a p í t u l o I | 37 sementes produziria frutos de bom tamanho, embora várias sementes adicionais não estejam necessariamente relacionadas ao aumento do tamanho do fruto. Gupton (1984) assinala que em geral a polinização cruzada tende a produzir frutos de maior peso, o que é confirmado por Eck (1989), que relata que ao consociar cultivares com períodos de floração semelhantes ocorre uma polinização cruzada, a maturação se antecipa e se obtém frutos de maior calibre. Hancock (1991) afirma que o tamanho do fruto do mirtilo alto é aumentado em 10 a 20% com a presença de agentes polinizadores, por isso é recomendado 2 a 10 colmeias de abelhas por hectare. Westwood (1982) informa que frutos com várias sementes, como framboesas e mirtilos, podem melhorar seu tamanho por meio da polinização, fecundação e desenvolvimento da semente. Sementes – o fruto consiste de 5 lóculos que são delineados por uma parede de células simples, que constituem o endocarpo. As sementes perfeitas tendem a se agrupar na parte superior do eixo do lóculo, com as sementes imperfeitas ocupando a porção basal do lóculo, sugerindo que o número de tubos polínicos pode ser insuficiente para fertilizar todos os óvulos (ECK, 1989). -Aspecto do Ciclo Biológico Durante os primeiros dois anos deve ser favorecido o crescimento da planta, através da remoção dos botões florais. A planta do mirtilo atinge a sua produtividade máxima ao fim de 6 a 8 anos, apresentando uma produção média de 2 kg por planta, o que equivale a cerca de 9 a 10 ton/ha, para uma densidade de aproximadamente 4.100 plantas/ha (AJAP, 2017). O ciclo biológico do mirtilo divide-se em dois momentos principais: a fase de dormência ou repouso vegetativo, e a fase de atividade vegetativa. A fase de repouso tem início no outono e termina na primavera. O período de dormência do mirtilo ocorre em duas fases: A primeira fase no início do outono quando o crescimento dos ramos cessa, bem como a atividade não visível no interior das gemas florais. Esta fase de repouso é gradual e pode durar algumas semanas. Durante esta fase as plantas respondem cada vez menos aos estímulos externos.


C a p í t u l o I | 38 Na segunda fase, a planta entra num período de repouso profundo durante o qual a parte aérea não responde a qualquer alteração dos estímulos externos. Durante esta fase, os ramos têm de estar sujeitos a certo número de horas abaixo de 7 oC para poderem retomar o crescimento. Este número de horas de frio varia de acordo com a variedade e a parte da planta, uma vez que as gemas florais necessitam de menos horas de frio que as gemas vegetativas. O número de horas de frio necessárias à quebra da dormência de uma planta de mirtilo tem que ocorrer antes do fim do inverno. Na escolha das cultivares a plantar numa determinada localização, deve-se atender cuidadosamente às suas necessidades de frio para aproveitar, ao máximo, o potencial produtivo das plantas (AJAP, 2017). A fase vegetativa compreende três fases: o crescimento vegetativo, a floração e a frutificação. O crescimento vegetativo tem início na primavera, com a rebrotação das gemas e termina no final do verão, com o crescimento dos ramos. A floração, que ocorre de forma basípeta, pode durar entre 7 a 14 dias dependendo da variedade. A frutificação que ocorre durante 2 a 3 meses após a floração, terminando com a maturação completa dos frutos e a respectiva colheita. As gemas ou botões da planta do mirtilo formam-se na axila das folhas, existindo dois tipos de gemas, as vegetativas ou foliares que originam os ramos, e as florais formadas após a diferenciação floral. Por sua vez, a diferenciação floral ocorre de forma basípeta, iniciando-se nas gemas da extremidade distal e prosseguindo em direção à base da planta. Este fenómeno ocorre quando as temperaturas noturnas começam a descer e os dias a encurtar, tendo início em agosto e podendo estender-se durante os meses de setembro e outubro (AJAP, 2017). Além disso, os frutos mais próximos aos ramos são maiores que os distais, e seu tamanho também têm sido relacionados ao vigor do ramo, ou seja, ramos mais vigorosos geralmente produzem frutos maiores (GARCÍA, 2016).


C a p í t u l o I | 39 Tipos de ramos Na planta de mirtilo é possível distinguir três tipos de ramos: ramos frutíferos, ramos da base e ramos antecipados. Ramos frutíferos. Eles também podem ser chamados de ramos mistos, uma vez que são portadores de gemas florais e gemas vegetativas. Começam o seu desenvolvimento e crescimento muito cedo na primavera e, nunca são muito vigorosos, são ideais para a produção de frutos de qualidade. As gemas florais situam-se aproximadamente em seu terço final, e no restante do ramo em direção à sua base localizam-se as gemas vegetativas (Figura 16).

Figura 16. a) Ramo frutífero e b) Tipos de gemas em um ramo lateral dormente de mirtilo: frutíferos e vegetativos. Fotos: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018) e University of Maine Cooperative Extension.

Ramos da base. Geralmente eles emergem da coroa da planta ou em ramos próximos a coroa (Figura 17). São ramos que crescem mais tarde do que o resto dos ramos, desde o final de primavera ou início de verão; são muito vigorosos, geralmente com mais de 1 m de comprimento, embora possam ser portadores de gemas florais no ápice, seu real interesse para o produtor de mirtilo é usá-los como ramos de renovação. A emissão de um ou dois ramos deste tipo em cada planta e de forma anual, é um sinal claro de que a planta está equilibrada e em boas condições de cultivo.


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Figura 17. Ramos vigorosos (cor vermelha) saindo da base (coroa). Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

Ramos antecipados. São os ramos que crescem sobre outro ramo, durante o mesmo período vegetativo, e podem se originar naturalmente, ou forçados mediante a poda (Figura 18).

Figura 18. Ramos antecipados. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 41 Segundo a origem e tipo de gema, Bañados et al. (2007) consideram também que existem três tipos de brotações: A. Brotações normais, originadas de gemas hibernantes, as quais são formadas na temporada anterior (período de inverno). B. Brotações vigorosas, formados de gemas da coroa ou de gemas latentes em hastes velhas. C. Brotações antecipadas, originadas de gemas formadas na mesma temporada (Figura 19).

Figura 19. Tipos de brotações de mirtilo: A: normais originadas desde as gemas de inverno anterior; B: vigorosas originadas de gemas dormentes; C: antecipado. Fotos: Bañados et al. (2017).

Quebra artificial da dormência hibernal das gemas Os mirtileiros são plantas caducifólias, que apresentam um período de recesso ou endodormência, caracterizado pela detenção da atividade fisiológica da planta associada à ocorrência de baixas temperaturas no inverno. A condição de endodormência é superada pelo acumulo de certa quantidade de horas de frio pelas gemas. Em condições onde o frio é insuficiente para superar a endodormência das gemas, a brotação é desuniforme e escassa. A cianamida hidrogenada é um regulador de crescimento de origem sintética que substitui parcialmente o efeito do frio na superação da endodormência das gemas, sendo utilizada em regiões de clima mais quente para permitir uma brotação abundante e uniforme. O seu efeito seria no aumento de atividade enzimática da catalase e do teor de peróxido de hidrogênio nas gemas, que ativa o ciclo das pentoses e promove a saída da dormência (WERLE et al., 2008). Para isto, as aplicações de cianamida são realizadas no


C a p í t u l o I | 42 estagio de gemas inchas, na saída da fase de dormência das plantas em começos de primavera. Estudos conduzidos em mirtileiros com cianamida hidrogenada apontam os seguintes efeitos: adiantamento da maturação, aumento do tamanho dos frutos, aumento de rendimento, melhora da condição sanitária da planta, redução de estresse da planta por excesso de carga frutífera. A dose a aplicar depende da variedade, obtendo-se melhor resposta em cultivares que vegetam pouco na primavera. Comercialmente são utilizadas doses de 1 a 1,5% v\v de Dormex (52% cianamida hidrogenada). No entanto, o uso deste regulador em mirtileiros deve ser cuidadoso, pelo alto risco de fitotoxicidade devido à dose, época ou condições ambientais inadequadas no momento da aplicação. A fototoxicidade por cianamida hidrogenada pode danificar as gemas florais e reduzir o rendimento. Ainda a resposta ao regulador depende da cultivar, existindo algumas extremamente sensíveis como a Sharpblue, que não podem ser submetida a este manejo.

GRUPOS DE MIRTILO COM RELAÇÃO AO REQUERIMENTO EM FRIO As variedades cultivadas necessitam ser submetidas a baixas temperaturas por um período de tempo variável para quebrar a dormência, ou tempo de descanso das plantas. Estas necessidades em horas frias (h/f), número de horas abaixo de 7,2 ºC são determinadas geneticamente (GALLETTA; BALLINGTON, 1996), sendo uma das características que classificam os tipos de mirtilo, comercialmente cultivados, em quatro grupos: 1- Altos requerimentos em horas frias (mais de 800 h/f) a- “Highbush” do Norte (Mirtilo Alto do Norte), com Vaccinium corymbosum L. como a espécie principal (Figura 20). É nativa do Noroeste da América do Norte; esta espécie representa 75% do total de mirtilo cultivado em todo o mundo, as plantas podem medir entre 1,5 e 2,5 metros. A necessidade em frio hibernal está geralmente entre 650 e 850 h (GALLETA; BALLINGTON, 1996; CHILDERS; LYRENE, 2006; STRIK, 2007).


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Figura 20. Plantas da espécie Vaccinium corymbosum L. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

b- "Lowbush", (Mirtilo Baixo) representado principalmente por Vaccinium angustifolium Aiton (Figura 21) e Vaccinium myrtilloides Michx. Nos Estados Unidos da América, o mirtilo Baixo é encontrado principalmente na forma silvestre. Tem sido importante na obtenção de novas variedades, contribuindo para o melhoramento genético do mirtilo Alto. É o que tem maior tolerância à estiagem. Esta característica é conferida pela presença de um caule subterrâneo onde pode armazenar uma quantidade considerável de água e nutrientes.


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Figura 21. Planta silvestre da espécie Vaccinium angustifolium Aiton (Lowbush). Foto: Juan Carlos García Rubio et al. (2018).

2-Requerimentos médios em horas-frio (400-600 h/f): - “Rabbiteye”, representado por Vaccinium ashei Reade, também conhecido como mirtilo “Olho de Coelho” (Rabbit Eye). É natural do Sudeste dos Estados Unidos da América, especificamente das áreas da Geórgia, Alabama, Carolina do Sul, Arkansas e Flórida, com um clima quente, por isso têm um baixo requerimento em frio do inverno, além de estar adaptado aos solos da zona arenosa, seca e pobre em matéria orgânica (Figura 22). Os frutos ácidos, firmes, de cor azul, de bom tamanho e sabor, mas de longa conservação, e sementes maiores que as outras espécies. É parcialmente autoestéril, requer polinização cruzada. Sua colheita é mais tardia do que o mirtilo Alto (highbush), pois têm um longo período entre a floração e a frutificação. Em geral, seu fruto tem características organolépticas mais baixas do que os mirtilos Altos, embora tenha maior vida de pós-colheita. É uma das duas espécies que tem sido domesticada para o cultivo comercial, com destino ao mercado de fruta fresca. Entre as limitações dessa espécie está o fato de desenvolver a cor completa das frutas antes do ponto ideal de colheita, além da tendência a rachar a película em períodos úmidos, longo período até alcançar o máximo de produtividade, cor escura da película correlacionada com frutas mais doces e autoesterilidade. Muitos desses defeitos já foram solucionados por meio de melhoramento genético. Por exemplo, as cultivares Beckyblue e Premier produzem frutas de tamanho, cor e qualidade competitivas com as cultivares do grupo highbush (GALLETTA; BALLINGTON, 1996). No geral, as frutas têm sementes mais numerosas ou perceptíveis


C a p í t u l o I | 45 e a película é mais grossa. Os mirtileiros do grupo Rabbiteye ("olho-de-coelho") representam 15% da produção mundial, sendo cultivados principalmente na África do Sul, Austrália, Chile e no Brasil, com aproximadamente 65% destes frutos sendo destinados ao processamento (CANTUARIAS-AVILÉS et al., 2014).

Figura 22. a) Plantas de Vaccinium ashei Reade, conhecido como mirtilo Rabbiteye e b) Racemos da espécie Vaccinium ashei. Fotos: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

3- Baixos requerimentos em horas frias (menos de 400 h/f): - “Highbush” do Sul (Southern highbush) obtido por meio de programas de cruzamento entre Vaccinium corimbosum L., Vaccinium darrowi Camp e Vaccinium ashei Reade. Os híbridos são desenvolvidos para a produção precoce de frutas em invernos amenos com baixo acúmulo de frio e primaveras quentes (Figura 23). Em sua forma silvestre no Noroeste da América do Norte (Estados de Nova Jersey, Illinois, Indiana, Michigan, chegando até Quebec no Canadá) raramente supera aos dois metros e tem uns altos requerimentos em frio invernal. Este grupo também é conhecido como highbush de baixa necessidade em frio (GALLETTA; BALLINGTON, 1996), e tem melhor desempenho nos planaltos, e boa resistência a doenças. Porém, são mais exigentes em água, qualidade de solo, drenagem e teor de matéria orgânica que as cultivares do tipo rabbiteye (VILELLA, 2003). O seu fruto é azul, doce e o de maior qualidade e tamanho em relação às demais espécies. Por isso, foi à primeira espécie a ser domesticada para cultivo como planta frutífera, há pouco mais de um século.


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Figura 23. Plantação variedade hibrida de Highbush do Sul, herdando da espécie Vaccinium corymbosum o vigor e tamanho da planta, assim como a qualidade e o tamanho do fruto e da Vaccinium darrowi a tolerancia do fruto a temperaturas mais altas e os baixos requerimentos em frio hibernal das plantas. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

4- Sem requerimentos em horas frias (zero h\f) ou “no chill higbush”. É o mais novo grupo de todos, todavia mais que variedades específicas com características fisiológicas de 0 h\f, são as novas técnicas de manejo cultural que permitem que essas plantas, algumas do grupo anterior ("Low Chill"), tenham pouco ou sem invernos de repouso. Entre estes estão utilizando, por exemplo, as variedades Ventura e Biloxi, obtidas em programas de melhoramento público; enquanto a variedade Rocio é de programas privados. No entanto, é muito provável que em curto prazo, novas variedades cheguem ao mercado sem nenhum requerimento em repouso invernal. Conforme foi abordado anteriormente, essas variedades são cultivadas com uma típica e leve pausa de inverno. Mas, graças à aplicação de um manejo contínuo de irrigação e fertilização ao longo dos 12 meses do ano, as plantas podem manter-se ativas sem passar esta pausa de inverno, mantendo a


C a p í t u l o I | 47 folhagem (cultivo evergreen). Mesmo com a utilização de diferentes técnicas de poda, a colheita pode ser programada para uma data específica. É importante lembrar que este tipo de produção só é possível em latitudes muito baixas, inferiores a 20 ºC. Algumas dessas áreas, onde está realizando o cultivo, são México, Peru e algumas áreas do Sudoeste asiático e no Brasil (estado do ceará). Além disso, o mirtilo representa uma das espécies de mais recente domesticação, uma vez que os primeiros programas de seleção de arbustos e técnicas de propagação começaram na América do Norte no final do século XIX e início do século XX. Todos os cultivares obtidos até o momento foram desenvolvidos a partir de formas silvestres. Outras espécies têm um interesse puramente decorativo, sendo muito utilizadas pelos paisagistas porque os mirtilos são arbustos de grande beleza ornamental. As horas de resfriamento são listadas para muitos cultivares (Tabela 4), e esse requisito significa que as plantas de mirtilo precisam ser expostas a um número suficiente de horas de temperaturas de inverno abaixo de 45 °F (7,2 ºC) para produzir flores. As horas de resfriamento em Carolina do Sul variam entre 1.000 a 1.200 horas no relevo superior da montanha até 400 a 600 horas perto da costa.


C a p í t u l o I | 48 Tabela 4. As horas de frio requeridas dos grupos NHB (Arbusto Alto do Norte), SHB (Arbusto Alto do Sul) e Rabbiteye, para um máximo de floração.

Fonte: Spiers (1976) e Eck (1988).

Países como Portugal em que frequentemente ocorrem dias de inverno claros e ensolarados, em que as temperaturas podem atingir facilmente os 16 ºC ou mais, essas horas oscilantes e mais elevadas anulam as horas de temperaturas úteis do mirtilo em repouso.


C a p í t u l o I | 49 POLINIZAÇÃO As flores de mirtileiro são hermafroditas, com uma corola de pétalas soldadas, muito aromáticas, com glândulas nectaríferas na base do estigma, que atraem a visita de pequenos insetos, abelhas e vespas (Figuras 24 e 25). Mesmo assim, a corola das flores forma campânula invertida, protegendo os órgãos florais interno do vento, mas desfavorecendo a autopolinização, porque o pólen cai ao ser liberado, sem entrar em contato com o estigma. Adicionalmente, cada flor de mirtilo tem várias dezenas de óvulos no ovário, sendo necessários muitos grãos de pólen para uma adequada fertilização (CANTUARIAS-AVILÉS, 2010), ou sendo a polinização mediada por insetos essencial para a frutificação (RASEIRA; ANTUNES, 2004).

Figura 24. Apresentação dos órgãos florais da cultura de mirtilo. Foto: García, R. J. C. (2016).


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Figura 25. Polinização em mirtilo (Vaccinium corymbosum L). Foto: Paredes, Carlos Evair (2019).

De acordo com as observações feitas nas flores de mirtilo (Vaccinium corymbosum, L), Laibol (2017) constatou que todas apresentam 5 pétalas brancas soldadas em forma de campânula e cinco lóbulos, ou seja, gamopétalas (Figura 26A). O gineceu é composto por um pistilo que se sobressai da corola (Figura 26B), o ovário é ínfero com 4 a 10 lobos com numerosos óvulos. Nas flores, é observada a presença de néctar contido em nectários localizados na superfície do receptáculo (Figura 26C). Foram constatados 10 estames inseridos na base da corola, filamento piloso e branco, anteras com papilas e dois tubos que terminam em poros oblíquos (Figura 26D).


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Figura 26. Morfologia da flor de mirtilo (Vaccinium corymbosum L.). A, flor em fase de antese, sépalas (s), corola (c), pistilo (p); B, Detalhe do androceu (a), anteras (an), pistilo (p); C, Detalhe do nectário (n); D, Detalhe de anteras, teca (t), deiscência poricida (setas). Barras: A, C = 5 mm; B = 2,5 mm; D = 2 mm. Fotos: Agustin Tomas Laibol (2017).

Nas cultivares de grupo Southern Highbush, recomendam-se o plantio de 2 ou mais cultivares para favorecer a polinização cruzada e melhorar a produtividade, podendo se intercalar uma fileira da variedade polinizantes a cada dez fileiras da cultivar principal. Algumas cultivares de mirtileiro são parcialmente autoestéreis, como Earlyblue e Coville, sendo indispensável o plantio associado de duas ou mais cultivares. Já outras cultivares são parcialmente autoférteis, como O’Neal, Star, Jewel, Bluebelle, que podem ser estabelecidas

sem

cultivares

polinizantes,

porém

com

menor

produtividade

(CANTUARIAS-AVILÉS, 2010). Em duas propriedades dos produtores de mirtilo estudadas, o único polinizador observado foi à abelha Apis Mellifera (INIA, 2016). No caso da propriedade Andinian, o produtor colocou as colmeias para estimular a polinização na cultura. Na Figura 27, observa-se


C a p í t u l o I | 52 como a abelha realiza seu trabalho de coleta de néctar introduzindo parte do corpo no interior da flor (LAIBOL, 2017). Recomendam-se introduzir cerca de seis colmeias por hectare. É aconselhável fazer isso principalmente em condições de frio e / ou alta umidade (período de chuva). As colmeias devem ser introduzidas quando as plantas têm 5-10% de flores abertas (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).

Figura 27. Apis mellifera coletando néctar em flores de Vaccinium corymbosum L. Fotos: Agustin Tomas Laibol (2017).

Coville (1921) citado por Free (1993) observou que quando as flores do mirtilo foram auto-polinizadas, os frutos obtidos eram menores e apresentavam maturação mais tardia quando comparados com frutos obtidos através de polinização cruzada. Este autor observou também que algumas plantas eram quase completamente estéreis ao seu próprio pólen. A autopolinização também reduz a frutificação efetiva (BREVIS et al, 2006; SEZERINO, 2007) e o número de sementes por fruto relativamente à polinização cruzada (BREVIS et al, 2006). Meader e Darrow (1944) citados por Free (1993) compararam os efeitos da autopolinização e da polinização cruzada manual em dez variedades de Vaccinium ashei. Os autores encontraram que a maioria das variedades eram parcialmente ou completamente autoestéreis, sendo que apenas uma era completamente auto-fértil.


C a p í t u l o I | 53 Segundo os autores, frutos oriundos de polinização cruzada, dependendo da variedade, tinham sua maturação antecipada e eram entre 18 e 178% maiores que os frutos provenientes de autopolinização. Sezerino (2007) verificou a ocorrência de autopolinização nas cultivares Misty e O`neal, porém inadequada para a produção comercial devido a uma menor frutificação efetiva quando comparada aos testes de polinização livre e polinização cruzada manual. Um fator de clima que não deve ser esquecido é o vento, que produz graves prejuízos, tanto pela destruição da folhagem ou ramos como também pelo dano que produz no fruto, e durante a floração, impedindo o trabalho das abelhas nas espécies que requerem a presença de um agente polinizador, como é o caso do mirtilo. O uso de cortinas quebraventos artificiais ou naturais é realmente imprescindível, além disso, a escolha do local de cultivo deve ser criteriosamente selecionada, certificando-se de que o lote não seja em terreno baixo para permitir a livre circulação do ar e evitar os danos produzidos pelas geadas tardias (GORDO, 2011).

FENOLOGIA Segundo Carrera (2012), o crescimento e o desenvolvimento são constantes de modo que a etapa de estabelecimento da cultura se dá entre o primeiro e o segundo ano após a semeadura; as primeiras colheitas são realizadas entre o terceiro e o quarto ano e a estabilização da colheita ocorre aos 7 anos. Darnell et al. (1992) e Meyer e Prinsloo (2003) apresentam o ciclo de desenvolvimento anual da planta que ocorre nas condições norte-americanas, o qual está dividido em estados que se sucedem em relação às estações (Figura 28): • Desenvolvimento vegetativo, que é o crescimento dos ápices vegetativos e o acúmulo de carbono e de reservas de nutrientes; • Iniciação do botão floral, quando há indução à floração e transição dos ápices de vegetativo para reprodutivo; • Dormência, quando não há crescimento dos meristemas vegetativos e nem diferenciação das estruturas vegetativas; • Floração, quando sucedem os processos biológicos como polinização e fertilização;


C a p í t u l o I | 54 • Desenvolvimento dos frutos, juntamente com o crescimento das estruturas vegetativas e o crescimento e maturação das estruturas reprodutivas.

Figura 28. Desenvolvimento anual do ciclo do mirtilo na América do Norte. Fonte: Darnell et al. (1992).

Segundo Gómez (2004), sobre os estudos fenológicos foram obtidas informações da espécie Vaccinium spp., onde as etapas de crescimento reprodutivo estão dividas em seis: primeiro, há uma gema inchada que dará origem às flores e posteriormente a gema se abrirá (segunda), dando início à floração; a terceira, são os botões florais com corola fechada; quarta, a flor em plena floração com a corola aberta; quinta, fecundação da flor (vingamento do fruto) com a caída da corola; e sexto, fruto verde (Figura 29) (MEYER; PRINSLOO, 2003). Outros trabalhos descrevem seis estágios de maturação do mirtilo (BUITRAGO et al., 2015).


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Figura 29. Etapas fenológicas da planta de mirtilo (Vaccinium corymbosum L.). Fonte: Mario Baggiolini (1995).


C a p í t u l o I | 56 Na Figura 30 podem ser observadas as quatro principais etapas fenológicas de maneira resumida. Na pré-antese, a corola pode apresentar coloração branca ou rosada e permanece fechada (Figura 30.A). Durante a antese, a corola se encontra aberta expondo o pistilo (Figura 30.B). A queda das pétalas é o momento em que a flor perde sua corola, deixando completamente exposto o pistilo (Figura 30.C). Entre as fases de queda das pétalas e de maturação dos frutos está a fase de vingamento (Figura 30.C), que pode ser definida como a transição da flor fertilizada para a formação dos frutos. A última fase é a da fruta madura (Figura 30.D).

Figura 30. Etapas fenológicas de Vaccinium corymbosum L. A, Botão floral em fase de pré-antese; B, Fases de antese e queda de pétalas (setas); C, Fases de queda de pétalas e frutificação (setas); D, fruta madura. Barras: A B = 10 mm; C D = 5 mm. Foto: Agustin Tomas Laibol (2017).


C a p í t u l o I | 57 O ciclo fenológico muda com o genótipo e os fatores climáticos que atuam sobre o mesmo, o que indica que plantas com o mesmo genótipo, semeadas em diferentes condições climáticas, podem apresentar diferenças temporais em relação aos estágios de desenvolvimento depois de transcorrido o mesmo tempo cronológico (ALCÁNTARA, 1987). A este respeito, Rivadeneira (2008) relatou para as cultivares Alto do Sul "Misty" e "O'Neal", um tempo cronológico de desenvolvimento desde a gema aberta até o fruto roxo pronto para colheita foi de 165 dias e 130 dias, respectivamente. Segundo Eck (1989), o período de formação e maturação do fruto é de aproximadamente 42 dias a 84 dias após a floração. Por outro lado, Taiariol (2011), em experimento realizado em Bella Vista, Argentina, determinou a duração em 137 dias das etapas fenológicas das cultivares "Misty" e "O'Neal", começando em gema aberta até a colheita dos frutos roxos. Por outro lado, Retamales e Hanson (1990), mencionam que o período de desenvolvimento do fruto no Chile varia entre 50 dias e 103 dias após a floração. Nesta pesquisa, o tempo de desenvolvimento foi de 140 dias. No entanto, deve-se notar que, na presente pesquisa, o tamanho da amostra foi baixo para comparar e tirar conclusões a esse respeito.

MELHORAMENTO O mirtilo ("Alto") tem sido a primeira espécie introduzida no cultivo. É uma planta tetraploide nativa da costa Leste da América do Norte e que em condições de cultivo pode atingir alturas de até 2,5 m. Atualmente, existem mais de 50 variedades melhoradas produzidas principalmente nos Estados Unidos. Em seu melhoramento genético, uma série de outras espécies tem sido utilizada, principalmente Vaccinium australe e Vaccinium darrowi, a fim de expandir a zona de adaptação das diferentes cultivares. Na América do Norte, por exemplo, seu cultivo é feito desde a península da Flórida, ao Sul, até o Lago Michigan, ao Norte. Devido ao longo processo de melhoramento a que foi submetido (seu melhoramento teve início em 1906), é o tipo de mirtilo que produz frutos da melhor qualidade em tamanho e sabor. O período de desenvolvimento dos frutos é curto, principalmente em relação ao mirtilo “olho de coelho”, podendo chegar a 90 dias da floração à maturação dos frutos (LOBOS, 1988).


C a p í t u l o I | 58 O mirtilo "olho de coelho" (Rabbiteye) é uma espécie hexaplóide, que atinge alturas de até 4 m, de domesticação ainda mais recente que o mirtilo Alto, já que seu melhoramento genético começou em 1940. É uma planta nativa do Sudeste do continente norteamericano, vem ganhando popularidade como espécie cultivada devido à tolerância a maiores pH do solo, maior resistência à seca, maior produção e frutos com melhor preservação pós-colheita. O período de desenvolvimento dos frutos pode chegar a 90 a 120 dias, dependendo das mais de 20 cultivares melhoradas desta espécie que se conhecem (LOBOS, 1988). Os trabalhos com mirtilo no Brasil iniciaram em 1983, na Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS), com a introdução da coleção de cultivares de baixa exigência em frio do grupo 'rabbiteye' (olho- de-coelho), oriundas da Universidade da Flórida (Estados Unidos). O plantio comercial iniciou em 1990, na cidade de Vacaria (RS). A maior parte dos mirtileiros plantados no Sul do Brasil ainda corresponde a variedades do tipo Rabbiteye ou olho-de-coelho, que são variedades antigas e de mediana exigência de frio hibernal, com bom desempenho para os fruticultores locais. No entanto, estas variedades não conseguem produzir adequadamente em regiões com menos de 200 horas de frio anual. Nos últimos 10 anos, em algumas localidades livres da ocorrência de geadas no Sul do Brasil, têm-se iniciado o plantio de variedades mais antigas do tipo Southern Highbush como ‘Misty’ e ‘O’Neal’, introduzidas na década de 2000 a partir de mudas micropropagadas, importadas do Uruguai. Essas variedades são de domínio público e apresentam menor exigência em frio hibernal, sendo destinadas à produção precoce da fruta, nos meses de outubro e novembro, visando atingir melhores preços nos mercados externos. No entanto, essas variedades precisam de, pelo menos, 100 horas de frio hibernal para produzir e não têm boa adaptação em regiões de clima quente (CANTUARIAS-AVILÉS et al., 2014). Em 2010, a empresa chilena-norte americana Viveiros Sunnyridge introduziu no Brasil as variedades de baixa exigência em frio ‘Emerald, ‘Jewel, ‘Primadonna’e “Snowchaser, desenvolvidas pela Universidade da Flórida entre 1999 e 2005. Os primeiros plantios destas quatro variedades no Brasil começaram em maio de 2011, em distintas localidades do Estado de São Paulo, e também no polo frutícola de Petrolina-Juazeiro. Nessas regiões, as plantas têm apresentado crescimento vigoroso e um florescimento contínuo durante


C a p í t u l o I | 59 todo o ano. No Estado de São Paulo, vem sendo observada maior concentração da florada entre os meses de maio e novembro (CANTUARIAS-AVILÉS et al., 2014). A Universidade da Flórida lidera o programa de desenvolvimento de variedades de baixa exigência em frio, majoritariamente do grupo Southern Highbush, ou arbusto Alto do Sul dos EUA, de menor exigência em frio e maior precocidade produtiva, que foram obtidas através de cruzamentos entre espécies de mirtilos nativas da Flórida, particularmente da espécie Vaccinium darrowi. Estas variedades têm sustentado o desenvolvimento da indústria nesse estado americano, e também em outras regiões de clima subtropical no mundo, como o México e o Brasil. As variedades recentemente desenvolvidas pela Universidade da Flórida estão patenteadas pela Florida Foundation Seed Producers, Inc. nos EUA, no México e no Chile, sendo necessária uma licença para multiplicá-las. Existem algumas variedades da Flórida que não estão patenteadas e podem ser livremente utilizadas em todo o mundo, como as variedades do tipo Southern Highbush ‘Misty, ‘Sharpblue, ‘Flordablue,‘Avonblue’, e as variedades do tipo olho-de-coelho “Aliceblue’, ‘Beckyblue’ e ‘Bonita’ (UNIVERSITY OF FLORIDA, 2013). No Programa de Melhoramento Genético da Embrapa, os atributos prioritários são: adaptação climática (baixa necessidade em frio), menor dependência de água e insumos, produtividade, época e uniformidade de maturação, tamanho das frutas, tamanho e perceptibilidade das sementes, cor e aparência das frutas, predominância do sabor doce, cicatriz pequena e seca. Quanto às características das plantas são avaliados: tipo, vigor, precocidade, produtividade, facilidade de enraizamento, época de colheita, resistência a doenças e pragas, resistência a calor e seca, necessidade em frio e adaptação a diversos tipos de solo. Dentre as características das frutas são importantes: tamanho, cor, hábito ou formato do cacho, cicatriz, textura, firmeza, sabor, período de desenvolvimento das frutas, conteúdo nutricional e qualidade para processamento. Na Embrapa Clima Temperado, foram testadas as seguintes cultivares do tipo rabbiteye: Aliceblue, Bluebelle, Briteblue, Bluegem, Climax, Delite, Florida, Powderblue, Woodard, dentre as quais se destacaram Bluegem, Powderblue e Aliceblue. As highbush do Sul foram testadas no campo, e mostraram boa adaptação as cultivares Misty e O'Neal. A cv. Georgiagen também produziu satisfatoriamente sob as condições do Sul do País.


C a p í t u l o I | 60 VARIEDADES DE MIRTILO Atualmente, o número de variedades de mirtilo à disposição do produtor é extenso, por isso a escolha do portfólio de variedades que compõem um pomar moderno deve levar em conta uma série de considerações técnicas, que começam pelo conhecimento das potencialidades e fragilidades das variedades, as quais se expressarão em maior ou menor grau dependendo da zona agroecológica onde são cultivadas. Por isso, antes de escolhêlas, é fundamental desenvolver um estudo de zoneamento edafoclimático da área específica de plantio, realizando uma análise das variáveis climáticas, tais como: acúmulo de horas frias, graus-dia, risco de geadas e de precipitações, principalmente nas épocas de floração e frutificação da cultura. Do mesmo modo, um estudo acabado dos solos, em termos de profundidade, textura e condição química. Por outro lado, na escolha de uma variedade, deve-se levar em consideração a produtividade, a qualidade e a capacidade de longos trânsitos das variedades, dependendo do mercado de destino. Desta forma, uma variedade para consumo “in natura” (fruto fresco) deve principalmente ter alto rendimento, floração e colheita concentrada, frutos de alto calibre e firmeza que ultrapassa 200 N/mm 2, de modo que é capaz de percorrer longas distâncias e com períodos de pós-colheita de até 55 dias, o qual exige, por exemplo, o mercado asiático. Esta condição, embora tenha uma origem varietal muito forte, é dependente do manejo agronômico da cultura, com variáveis críticas como: poda, nutrição, irrigação e manejo de Botrytis. Da mesma forma, uma característica que se tornará cada vez mais importante será a intensidade da cor, do sabor e da firmeza, que são as qualidades que compõem o aspecto de qualidade que acabará por convencer o consumidor para decidir a sua compra (GONZÁLEZ; MORALES, 2017). Grupos de mirtilo das espécies comerciais. Segundo Zardo (2014), no mundo existem três grupos principais de mirtilo cultivados comercialmente (Tabela 5): os Lowbush; os Highbush e os do tipo Rabbiteye.


C a p í t u l o I | 61 Tabela 5. Os três grupos importantes de mirtilo.

Características dos principais grupos comerciais: As variedades de mirtilos são agrupadas levando em consideração a área em que foram desenvolvidas, utilizando os cruzamentos de Highbush do Norte e do Sul dos Estados Unidos. As razões para o desenvolvimento de essas cultivares têm sido a expansão dos limites geográficos da produção de mirtilo e o aproveitamento de um intervalo mais curto entre a floração e a colheita. Os dois grupos de maior interesse para o Brasil são: 1-GRUPO MIRTILO ALTO DO SUL (SOUTHERN HIGHBUSH). É uma planta tetraploide de alto porte cultivada na América do Norte, desde a península da Flórida, no Sul, até o Lago Michigan, no Norte. Este grupo também é conhecido como highbush de baixa necessidade em frio (GALLETTA; BALLINGTON, 1996). Como o processo de melhoramento teve início em 1906, é o tipo de mirtilo que produz frutos de melhor qualidade em tamanho e sabor. Possui talos eretos não rizomatosos e uma raiz fibrosa que penetra em solos pesados; o período de desenvolvimento do fruto é curto, em relação ao mirtilo “olho de coelho”, podendo chegar a 90 dias da floração à maturação do fruto, que ocorre desde o final de janeiro ao final de março (SUDZUKI, 1988; PRITTS; HANCOCK, 1992; URRUTIA; BUZETA, 1992). Os mirtilos Highbush do Sul são híbridos derivados de cruzamentos entre mirtilos highbush do Norte (Vaccinium corymbosum) e espécies nativas do Sul, principalmente mirtilo perene de Darrow (Vaccinium darrowi). As cultivares de Highbush do Sul, além de menores requisitos de refrigeração, também têm maior tolerância às altas temperaturas do verão, tolerância um pouco maior à estiagem e desenvolvem frutos de qualidade superior nas condições de cultivo do Sul. Recomenda-se cobrir o solo das plantas com


C a p í t u l o I | 62 palha de pinheiro para conservar a umidade do solo, mas não deve irrigar demasiadamente as plantas Altas do Sul se cultivadas em solos argilosos pesados e mal drenados. Como regra, os mirtilos Highbush do Sul são auto-férteis. No entanto, frutos maiores e de amadurecimento mais precoce resultam se vários cultivares são plantados entre si para polinização cruzada.

1.1. Cultivares do grupo Highbush do Sul e recomendadas para os USA Cultivares de início de temporada: Georgia Dawn ™: PP16756. As plantas requerem de 300 a 400 horas de resfriamento. Os frutos são de tamanho médio a grande com uma cor azul escuro médio. A fruta tem firmeza aceitável com sabor excepcional. As plantas crescem vigorosamente e amadurecem muito cedo. Polinização cruzada recomendada com Rebel. Palmetto: PP17656. A necessidade de refrigeração é de 350 a 450 horas. Os frutos são de tamanho médio com uma cor azul escuro médio com firmeza aceitável. As plantas são muito produtivas e têm bom vigor. Polinização cruzada recomendada com Suziblue. Rebel: PP18138. As plantas requerem de 400 a 450 horas de resfriamento. Os frutos são grandes, com cor e firmeza de boa a excelente. As frutas podem se tornar brandas se permanecerem na planta por muito tempo. As plantas são produtivas. Polinização cruzada recomendada com Suziblue. Southern Slendour: PP22692. Os frutos são de médio a médio-grande, muito firmes e de sabor marcante. As plantas produzem um rendimento médio. O requisito de resfriamento é de 450 a 550 horas. Polinização cruzada recomendada com Suziblue. Blue Suede ™: PP21222. As plantas são produtivas com atraentes frutos azuis claros. As frutas são grandes e saborosas. O requisito de resfriamento é de 500 a 550 horas. Polinização cruzada recomendada com Camélia ou Palmetto. A folhagem de outono tem uma cor vermelha profunda. Summer Sunset ™: PP aplicado. A necessidade de resfriamento é de 500 a 550 horas. Os frutos são de tamanho médio e multicoloridos à medida que passam pelos estágios de amadurecimento (primeiro verde-amarelo, depois vermelho-alaranjado, vermelho, roxo e finalmente preto). A planta é vigorosa. Polinização cruzada recomendada com Titan.


C a p í t u l o I | 63 Suziblue: PP21167. O requisito de resfriamento é de 400 horas ou menos. Esta cultivar apresenta frutos grandes, com muito boa firmeza e bom sabor. As plantas são vigorosas. Polinização cruzada recomendada com Rebel. Camélia: PP18151. O requisito de refrigeração é de 500 horas. Os frutos são grandes, firmes e saborosos. As plantas são vigorosas. Polinização cruzada recomendada com Suziblue.

1.2.Variedades de mirtilo Highbush do Sul recomendadas para o Chile Variedade O’Neal. É uma das primeiras variedades plantadas no Chile. Trata-se de uma variedade muito precoce, arbusto ligeiramente aberto e com pouco vigor. Fruta de tamanho médio, doce, fruto com uma boa cicatriz, seu pós-colheita é ruim para longos trânsitos e se limita apenas ao mercado norte-americano. Atualmente, o plantio foi interrompido devido ao seu estabelecimento lento, menor vigor e rendimento em comparação com as novas variedades Southern Higbush. Variedade Misty. Requer entre 150 a 300 horas de frio, fruta média a grande, de cor azul claro. É firme e de excelente sabor. Produz frutos muito cedo e pode ter uma segunda colheita em menor quantidade durante o outono. As plantas têm um hábito de crescimento ereto, arbustivo e são moderadamente vigorosas. A planta tende a sobrecarregar, então a poda anual é necessária para aliviar o estresse por carga, especialmente em plantas jovens. Apresenta um baixo desenvolvimento foliar em invernos quentes. Variedade Legacy. Variedade que tem requerimentos de frio de aproximadamente entre 500 a 600 horas. Trata-se de uma variedade com boas perspectivas, devido à sua elevada produção, existem pomares que atingem 18 a 20 ton/ha no 4º-5º ano, com fruto de bom calibre. Em relação à pós-colheita, devido à sua floração precoce e longa, é propensa a fungos de flor e de pós-colheita. Tem que ser restrito nas aplicações fúngicas de flor, e por ação precipitações abundantes pode chegar parti-la. Quanto ao outro manejo técnico, pode-se mencionar que se adapta à maioria das áreas produtivas (Figura 31). Sua época de colheita é nos primeiros dias de dezembro, quando se esperam produções baixas, mas os seus frutos são exportados para todos os mercados, o que melhora as expectativas comerciais. Entre outras características se adapta à colheita mecanizada.


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Figura 31. Pomar de mirtilo com plantas adultas em plena floração. Foto: Abel González G. e Carmen Gloria M. (2017).

Variedade Star. É uma variedade com baixa exigência de horas frias (mínimo de 400 horas de frío). Apresenta um bom índice de pós-colheita, pois se comporta bem em longos trânsitos para a Ásia, suas produções são superiores a cultivar O'Neal, mantendo boa qualidade, seus rendimentos médios estão entre 14 e 16 toneladas por hectare. Possui calibre normal a grande, de excelente sabor, seu hábito de crescimento é ereto. Seus principais pontos fracos: suscetibilidade a Botrytis na flor e divisão na colheita devido à chuva. Não deve ser estabelecido em áreas frias devido à sua suscetibilidade à geada. Recomenda-se plantar em áreas quentes e idealmente sob uma estufa tipo túnel macro para obter altos rendimentos. Variedade Jewel. É uma variedade com baixa necessidade de horas frias (em torno de 250 horas), desde Star e O'Neal, não deixa cair 100% da folha no inverno, se adapta bem a áreas quentes, assim como a cultivar Star que se adapta muito bem sob estufa tipo túnel. Dependendo da área de plantio, a colheita é feita ao ar livre a partir da primeira semana de novembro. É uma variedade de bom tamanho, com altas produções, que ultrapassa rapidamente as 20 toneladas por hectare, mas infelizmente tem uma vida pós-colheita curta, seus frutos são macios, então seu potencial é apenas para embarques aéreos.


C a p í t u l o I | 65 Variedade Emerald. Apresenta baixo requerimento de frio, estimado em 250 horas. O fruto é muito grande (calibres de 18-20 mm), firme, azul claro com excelente sabor e pequena cicatriz. A planta é vigorosa e de hábito aberto. Boa adaptação a solos pesados ou mal drenados, portanto, é resistente a Phytophthora e doenças da madeira. É muito produtiva, pode produzir certa quantidade de frutos no outono sem diminuir a produção da primavera. A Cultivar Emerald permite intervalos de colheita a cada 4 ou 5 dias sem problemas de firmeza na fruta; porém, possui um período de floração longo, por isso a colheita é mais escalonada, exigindo um maior número de passadas. A planta da cultivar Emerald precisa de polinização cruzada com outra cultivar com necessidades de frio semelhantes. Boas opções de polinizador podem ser com as variedades O'Neal e Star. Possui alta adaptabilidade ao manuseio sob estufa tipo túnel e com isso é possível antecipar sua colheita em 3 semanas. Trata-se de uma variedade que todos produtores desejam pelas suas características produtivas; se transformará a médio prazo na variedade mais plantada quando se pretende buscar produções precoces, também é recomendada em áreas quentes, porém devido a sua alta produção está sendo plantada nas zonas mais frias (a oriente do Chile) para manter as mesmas características da variedade, mas posteriormente, neste caso deve ser necessário um controle das geadas devido à sua floração precoce. A variedade Emerald tende a florescer no outono, mas a produção na primavera aparentemente não diminuiu. O período de colheita não é tão concentrado, estendendo-se por cerca de quatro semanas. Variedade Ventura. Variedade criada por Fallcreek, planta de tipo vigorosa e fruto de grande calibre. É principal variedade em novas plantações da Espanha, e bastante demandada pelos principais supermercados europeus. Apresenta bons rendimentos e firmeza, mas deve ser avaliado em diferentes zonas agroecológicas. Devido ao grande calibre do fruto, a sua colheita se estende por 4 a 6 semanas. Variedade Biloxi. É uma variedade tetraplóide classificada dentro do grupo de mirtilo Alto do Sul (Highbush do Sul). Trata-se de um híbrido obtido por cruzamento, desenvolvimento e liberado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), caracteriza-se por ter um crescimento vertical e vigoroso, além de ser muito produtiva. Seus frutos são de tamanho médio, com maturação rápida, com boa cor, firmeza, sabor e cicatriz de pedúnculo. Requer relativamente poucas horas de frio (250 horas\frio) e polinização cruzada, portanto é necessário cultivá-la com outra variedade de mirtilo e devido ao seu florescimento precoce requer proteção contra geadas. Atualmente


C a p í t u l o I | 66 é a variedade de mirtilo mais cultivada no México (SPIERS et al, 2002; Figura 32). Ela responde a climas mais quentes entre 1000 a 1300 metros acima do nível do mar (EL JORNALERO, 2018).

Figura 32. A variedade 'Biloxi' é a mais cultivada no México devido à boa qualidade dos frutos que produz, além de ser uma variedade isenta de royalties. Foto: Fall Creek Farm & Nursery, Inc.

Variedade Sharpblue. Outra cultivar muito comercializada no México é a variedade Sharpblue com o requerimento de horas\frio aproximadamente de 150 horas (Figura 33). Sua safra é mais longa e as bagas são de cor azul escuro, é menor em tamanho, mas sua colheita é um pouco mais fácil, apresentando maior quantidade de graus brix, melhorando assim seu sabor após a colheita (MESA TORRES, 2015).


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Figura 33. Variedade Sharpblue cultivada no México. Foto: Mesa, P., 2015.

1.3.Variedades de mirtilo Highbush do Sul recomendadas para o Brasil. • Arbustos de porte alto originários do Sul dos EUA; • Obtidos através de hibridações entre Vacinium corymbosum, Vacinium darrowi e V. ashei; • Baixa exigência de frio (entre 200 e 600 horas ≤ 7,2 ºC); • Possuem produção bastante precoce em relação aos outros grupos; • Produz frutos grandes de excelente qualidade; • Principais cultivares: Misty, O’Neal e Georgiagem. •Novas variedades da Flórida: Star, Jewel, Millenia, Emerald, Primadonna, Snow Chaser, Springwide, Springhigh, Sweetcrisp.

2-GRUPO MIRTILO "OLHO DE COELHO" (RABBITEYE). É uma espécie hexaploide, que pode atingir alturas de até 6 metros, mas com manejo de poda se mantém a uma altura inferior a 3 metros. A espécie Vaccinium ashei é a mais promissora, então as perspectivas de cultivo de mirtilo no Brasil são promissoras, tanto para consumo


C a p í t u l o I | 68 interno como para exportação (FACHINELLO, 2008). O seu acúmulo médio de horas de frio nas regiões produtoras no Brasil situa-se entre 400-600 h, as principais cultivares utilizadas no país pertencem a esse grupo (PASA et al., 2014). É nativa do Sudeste dos Estados Unidos e seu cultivo vem ganhando popularidade devido à tolerância a pH mais básico do solo, talo não rizomatoso, maior resistência à estiagem, maior produção e fruta com melhor preservação pós-colheita e menor requerimento de horas frias. Ao contrário do Highbush, é autoestéril, sendo necessário consorciar duas cultivares de floração simultânea para obter a polinização cruzada. O período de desenvolvimento dos frutos varia entre 90 a 120 dias, dependendo das diversas cultivares melhoradas (mais de 20), conhecidas por esta espécie (HANCOCK; DRAPER, 1989; CORFO, 1991; URRUTIA; BUZETA, 1992).

2.1Cultivares do grupo rabbiteye recomendadas para os USA Cultivares de início de temporada: Clímax: as plantas requerem 450 horas de resfriamento. Esta cultivar apresenta uma frutificação concentrada com frutos de pequeno a médio porte. Polinização cruzada recomendada com Premier ou Austin. Krewer ™: PP 28623. Requer 400 a 450 horas de resfriamento. Os frutos são muito grandes, têm uma firmeza muito favorável e um sabor adocicado. É um companheiro para Titan e adequado para cultivo comercial, escolha suas próprias operações e jardins domésticos. Vernon: PP19291. Requer 450 horas de resfriamento. Floresce 7 dias após o Climax, mas amadurece antes do Climax e Premier. Os frutos são grandes, têm excelente firmeza e têm bom sabor e cor. Polinização cruzada recomendada com Alapaha. Alapaha: PP16266. Requer 450 a 500 horas de resfriamento. Esta cultivar apresenta um fruto de tamanho médio com boa firmeza e sabor. Floresce 7 a 10 dias após a cultivar Clímax, o que ajuda a evitar danos às flores pelo congelamento da primavera. Polinização cruzada recomendada com Vernon. Austin: As plantas requerem 500 horas de resfriamento. As plantas são produtivas e produzem frutos de médio a grande porte. Polinização cruzada recomendada com Climax ou Premier.


C a p í t u l o I | 69 Titan ™: PP24135. Requer 500 a 550 horas de resfriamento. As frutas são muito grandes - maiores do que Vernon ou Premier. O sabor e a cor são bons, mas a fruta pode rachar em condições úmidas durante o amadurecimento. Polinização cruzada recomendada com Vernon e Krewer. Premier: requer 550 horas de reesfriamento. As plantas produzem frutos de médio a grande porte. Polinização cruzada recomendada com Austin ou Alapaha.

Cultivares de meio de temporada: Brightwell: Requer 400 horas de resfriamento. Os frutos são de tamanho médio a grande, mas podem rachar durante o tempo chuvoso. Polinização cruzada recomendada com Austin ou Premier. Powderblue: as plantas requerem 600 horas de resfriamento. As plantas têm boa produção de frutos azuis claros de tamanho médio. Polinização cruzada recomendada com as cultivares Tifblue ou Brightwell. Tifblue: Requer 650 horas de resfriamento. As plantas produzem frutos de pequeno a médio porte, que devem amadurecer totalmente ou serão azedos.

Cultivares de final de temporada: Baldwin: Esta cultivar de maturação tardia requer 450 a 500 horas de resfriamento. As plantas têm rendimento moderado e alto vigor. Os frutos são grandes, de boa qualidade e de cor azul muito escura. Polinização cruzada com as cultivares Brightwell, Powderblue e Centurian. Centurian: As plantas da cultivar Centurian precisam de 550 a 600 horas de refriamento para frutificar. Os frutos são de muito boa qualidade, de tamanho médio, firmes e de cor azul escuro. A fruta pode rachar com chuvas fortes. Polinize com Brightwell, Ochlockonee e Powderblue. Ochlockonee: PP17300. Requer 650 a 700 horas de resfriamento. Esta cultivar é muito produtiva com frutos maiores que o Tifblue. A fruta tem boa cor, firmeza e sabor. Polinização cruzada recomendada com Powderblue.


C a p í t u l o I | 70 Onslow: Esta cultivar tem frutos ligeiramente maiores e mais escuros que Powderblue. Para frutificar, as plantas requerem 500 a 600 horas de refrigeração. As plantas são produtivas e vigorosas. Foi relatado que a cultivar Onslow pode tolerar solos com pH mais alto do que outras cultivares. Os frutos são grandes, com muito boa firmeza e cor azul médio.

2.2.Cultivares do grupo Rabbiteye (Olho de Coelho) recomendadas para o Chile Essas cultivares apresentam menor requerimento de frio do inverno e maior tolerância ao calor. Em geral, apresentam baixo vigor e uma alta mortalidade, por isso são difíceis de cultivar. Apresentam, por sua vez, sérios problemas quando as plantas são cultivadas em solos com limitações texturais e profundidade efetiva de enraizamento. São de maior calibre e, portanto, a sua indicação é o mercado de “in natura” (fruto fresco) com colheita manual. Essas cultivares foram desenvolvidas a partir da hibridização interespecífica entre o mirtilo Alto (Vaccinium corymbosum) e duas espécies nativas do Sudeste da América do Norte: um mirtilo sempre verde (Vaccinium darrowi) e o mirtilo Rabbiteye ou Olho de Coelho (Vaccinium ashei). Estas variedades híbridas requerem entre 200 e 600 horas a 7,2 ºC (GONZÁLEZ; MORALES, 2017). Deste grupo de mirtilo, as variedades com maior área de plantio e que obtiveram os melhores resultados foram: Variedade Brigthwel. Tem um requerimento de frio de 350-400 horas, mas a floração ocorre com 500-550 horas. O período de colheita é de cerca de 35 dias. As bagas são de tamanho médio a grande, apresentam bom sabor e cor, caracterizam-se por serem firmes e redondas. As plantas são vigorosas e assume uma pronunciada posição vertical. É sensível a rachaduras com chuva e orvalho da manhã, no estádio de maturação dos frutos. A variedade Brightwell é parcialmente autofértil. Os polinizantes sugeridos são as variedades: Alapaha, Austi e Powderblue. Pelas suas características organolépticas, esta variedade não possui muitas opções de venda para todos os mercados, há clientes que não gostam devido ao seu alto teor de sementes, os resultados são favoráveis no mercado norte-americano pelo fato de que pela influencia via marítima a sua produção aumenta quando os volumes disponíveis neste mercado começam a diminuir.


C a p í t u l o I | 71 Variedade Tifblue. Variedade que inicia a colheita 1 a 2 semanas após Brigthwel. Seu pico da colheita é atingido 2 semanas após o início. A duração da colheita chega a meados de março, dentro das suas características de qualidade, é fruta de excelente cor e bom sabor, muito boa à cicatriz da fruta e boa firmeza. O calibre é de médio a pequeno, mas apresenta alto rendimento, podendo chegar a até 30 toneladas por hectare, dependendo da origem das mudas de viveiro e do manejo técnico. A variedade Tifblue não tem potencial de longo trânsito, mas se sai muito bem nos Estados Unidos devido à sua produção tardia. Ambas as variedades (Tifblue e Brigthwel) sofrem rachaduras na casca com as chuvas no período da colheita e não são adequadas para a colheita mecanizada devido à densidade dos ramos basais. Variedade Ochlokonee. É um Rabbiteye, com genes Highbush, mas a genética Rabbiteye predomina. É colhido depois de 5-10 dias (mais tarde) do que o Tifblue e o seu pico é 10-20 dias depois do início de colheita. A qualidade da fruta é de média firmeza e tamanho médio. Gosto semelhante ao Tifblue, mas com menor quantidade de sementes. Alto potencial produtivo, pois atinge entre 20 a 25 toneladas por hectare. O obtentor da variedade sugere polinizar com a variedade Powderblue. Após a chuva, foram registradas rachaduras nas frutas, não é recomendado estabelecer mais ao Sul de Chillan - Los Angeles (Chile) porque aumenta a probabilidade de chuva na colheita. Deve se concentrar na exportação para os EUA. Não oferece muita resistência em viagens longas. Variedade Powderblue. Variedade tardia que atinge produções de 20 a 25 toneladas por hectare. Esta variedade vem sendo plantada nos últimos 4 anos no Chile. Suas principais características são: fruto médio a grande, com a cor do fruto de boa aparência, boa floração e possui excelente cicatriz no fruto. Tem um bom pós-colheita, melhor que o Tifblue, os seus frutos são firmes e de bom sabor. Devido ao seu período de produção, concentra-se muito bem no mercado norteamericano. É plantado como polinizador de Ochlokonee, mas se estabeleceu e tem um ótimo desempenho.


C a p í t u l o I | 72 2.3.Cultivares do grupo Rabbiteye (Olho de Coelho) recomendadas para o Brasil. • Inclui as variedades mais cultivadas no Brasil; • Consiste basicamente na espécie Vaccinium ashei; • Plantas muito vigorosas podem alcançar 4 m; • Plantas muito produtivas, tolerantes ao calor e a seca, de colheita mais tardia. • Baixa exigência de frio (cerca de 300 horas ≤ 7,2ºC); • Produz frutos de pequenos a médios, ácidos, firmes e de menor conservação; • Principais cultivares: Aliceblue, Bluebelle, Bluegem, Briteblue, Climax, Delite, Powderblue, Woodard. O potencial produtivo das cultivares do grupo Rabbiteye nas condições brasileiras vem sendo comprovado por estudos que demonstram o alto vigor, longevidade e produtividade, baixa necessidade em frio, produzindo frutos com maior firmeza de polpa e de longa duração. As cultivares deste grupo apresentam boa brotação e floração com apenas 360 horas de frio, condição está encontrada em muitos municípios do Sul do Brasil (RADUNZ et al., 2016). Entre as limitações das cultivares desse grupo, destaca-se a completa coloração do fruto antes do ponto ideal de colheita, que interfere no sabor, e é quando se apresentam mais ácidos e com tendência a rachar a epiderme em períodos chuvosos, longo período até alcançar o máximo de produtividade, cor escura da película correlacionada com frutas mais doces e autoesterilidade (RASEIRA; ANTUNES, 2004). Cultivar Clímax. Pertence ao grupo Rabitteye, e de acordo com Coletti (2009), a cultivar Clímax é originária de Tifton, Geórgia, desenvolvida pela Coastal Plain Experimental Station e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, obtida do cruzamento entre “Callaway” e “Ethel”. O início da floração da cultivar Clímax se dá na terceira semana de agosto, e a maturação é no final de novembro. Os frutos amadurecem de maneira relativamente uniforme (RASEIRA; ANTUNES, 2004). A colheita compreende um período que vai de 21 a 41 dias. As frutas são de tamanho médio, com película de coloração azul escura, e polpa saborosa. A produção é de 3,2 kg por planta e a massa do fruto de 1,8 gramas (PEREIRA et al., 2013). Apresenta uma película denominada pruína, cuja presença dá ao fruto sua coloração azulada. O teor de sólidos solúveis varia de 10° a 12,4° Brix, com sabor doce ácido (RASEIRA; ANTUNES, 2004).


C a p í t u l o I | 73 A cv. Clímax se desenvolve bem na região de Ponta Grossa (PR), Brasil (SPINARDI; AYUB, 2013). A dificuldade na obtenção das mudas devido ao baixo poder germinativo da semente, e o longo período de desenvolvimento da muda por estaquia, elevam os custos das mudas, o que dificulta a expansão do cultivo (PASQUALINI et al., 2016). As plantas da cultivar Clímax são vulneráveis aos ventos frios tardios, que podem acontecer após a abertura das flores. No verão as temperaturas do ar acima dos 30ºC podem levar à morte das folhas, principalmente se estão completamente expostas ao sol, fato associado à insuficiência em absorver água para compensar as perdas por transpiração (RANDUNZ et al., 2016). De acordo com Coletti (2009), ventos fortes são prejudiciais ao crescimento e à polinização, devendo ser instalados quebra vento para proteção do pomar. Nos países produtores de mirtilos do Hemisfério Norte, essas variedades cultivadas atualmente no Brasil são consideradas obsoletas e de baixa produtividade (entre 1 a 2,5 kg\planta\ano), menos precoces e com regular qualidade de frutos, razões pelas quais vêm sendo substituídas pelas novas variedades de mirtilo tipo Southern Highbush desenvolvidas pela Universidade da Flórida (WILLIAMSON; LYRENE, 2004). As novas variedades de mirtilo se diferenciam pelo vigor e produtividade das plantas (˃4 kg\planta\ano), maior precocidade na maturação que permite produzir em períodos de melhores preços na Europa (outubro-novembro) e uma excelente qualidade dos frutos, que satisfazem as exigências dos mercados consumidores. Dentre estas variedades, destacam-se Star, Jewel, Emerald, Millenia, Primadonna e Snowchaser, todas patenteadas e protegidas nos EUA, Chile e México e também no Brasil (FLORIDA BLUEBERRY GROWERS, 2009; VIVEROS SUNNYRIDGE, 2021).


C a p í t u l o I | 74 PROPAGAÇÃO Entre os fatores que restringem a viabilização do mirtilo, estão as dificuldades técnicas de propagação, que têm limitado a disponibilidade de mudas, prejudicando a expansão da cultura (EMBRAPA, 1991). A propagação dessa espécie pode se dar através de sementes (propagação sexuada) e vegetativamente por enxertia, alporquia ou estaquia (propagação assexuada). Portanto, na propagação vegetativa por estaquia, as plantas podem ser enraizadas por estacas lenhosas e semilenhosas da copa de uma determinada cultivar, obtidas do material de descarte da poda hibernal, ou através de estacas herbáceas com duas folhas, tratando-as na base com auxina sintética (AIB a 2000 – 2500 ppm) para estimular o enraizamento. Este último método (herbáceo) é pouco utilizado comercialmente, pois requere cuidado especial (OURECKY; TOMKINS, 1990). Na produção comercial de mudas não são utilizados porta-enxertos. Os mirtileiros também podem ser micropropagados através de cultura de ápices meristemáticos caulinares coletados de plantas matrizes certificadas, obtendo-se mudas de excelentes sanidades e alta homogeneidade (VIVEROS SUNNYRIDGE, 2021). Santos e Raseira (2002) relatam que o mirtilo do tipo Highbush (porte alto), geralmente, é multiplicado por enraizamento de estacas lenhosas, entretanto, em cultivares como a Briteblue do grupo Rabbiteye (menos exigentes em frio), a qual é uma das mais adaptadas nas condições do Rio Grande do Sul, têm-se observado melhores resultados com estacas herbáceas (SANTOS, 2004). Krewer e Cline (2003) recomendam o uso de estacas herbáceas, tanto para o tipo Rabbiteye como para mirtilo Alto do Sul (Southern Highbush). Enquanto na Carolina do Norte (EUA), estão recomendando substituir o uso de estacas lenhosas e semilenhosas por estacas herbáceas (KREWER; CLINE, 2003). Porém, no estado do Mississipi (EUA), são usadas indistintamente estacas lenhosas e herbáceas (MSU-CARES, 2004). As plantas propagadas por estacas herbáceas, utilizando-se principalmente material da primeira brotação de primavera, poderão apresentar menores riscos de contaminação por doenças (principalmente o cancro das hastes), tendo em vista que as brotações novas geralmente estão livres de doenças (KREWER; CLINE, 2003). Comercialmente, o mirtilo é propagado principalmente por estacas (MAINLAND, 1966; SCOTT et al., 1978; SHOEMAKER, 1978; ANTUNES et al., 2006), porém esta técnica proporciona resultados bastante variáveis conforme a espécie e a cultivar (INIA, 1988).


C a p í t u l o I | 75 No Brasil, Nachtigall et al. (1998), Faria et al. (1998) e Arruda et al. (1998), utilizando estacas semilenhosas de mirtilo, obtiveram até 73% de enraizamento na cultivar Delite; 62,4% na Powderblue, e 60,40% na cultivar Bluegem, respectivamente. De modo geral, na multiplicação por estacas, obtêm-se percentuais em torno de 50% de enraizamento (FRANÇA, 1991). A propagação por alporquia ou mergulhia aérea tem sido utilizada em plantas de difícil propagação por estacas, embora, não se tenha referências, quanto à utilização desta técnica para a propagação do mirtilo. No entanto, a alporquia tem sido utilizada para jaqueira (DESAI; PATIL, 1981), Ficus elástica (HARTMANN et al., 1990), lichia e cajueiro (ALMEIDA et al., 1995), mangueira e várias espécies de plantas ornamentais (SIQUEIRA, 1998) e pessegueiro (CASTRO; SILVEIRA, 2003). Em espécies de difícil enraizamento, o uso de auxinas no método de propagação de plantas pode acelerar a iniciação dos meristemas apicais, aumentar a percentagem de estacas enraizadas e a qualidade das raízes formadas (ARGUDÍN, 1996). Dentre as auxinas, o AIB (ácido indolbutírico) é a mais utilizada para promover o enraizamento, pois é fotoestável, tem baixa mobilidade e menor toxicidade em concentrações variáveis (WEAVER, 1976; HARTMANN et al., 1990). O mirtilo do tipo Highbush é, geralmente, multiplicado por enraizamento de estacas lenhosas, retiradas durante o período de repouso hibernal. Estas são preparadas em estacas de 15 a 20 cm ou podem ser retiradas e conservadas em câmara fria e, posteriormente, preparadas e colocadas em canteiros (Figuras 34 e 35) com leito aquecido. A temperatura do substrato deve ser de 18 a 21 ºC (ANTUNES et al., 2006).

Figura 34. Estaqueamento de estacas lenhosas de mirtilo. Foto: Luis E.C. Antunes


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Figura 35. Inicio de brotação de estacas lenhosas de mirtilo. Foto: Luis E. C. Antunes.

Para as cultivares do grupo Rabbiteye, mais indicadas às condições do Rio Grande do Sul, os melhores resultados são obtidos com estacas herbáceas (SANTOS; RASEIRA, 2002). Por ser retiradas da planta em estado mais tenro (herbáceo), o ambiente de enraizamento tem que possuir controle de temperatura e, principalmente, da umidade relativa. Assim, a estrutura normalmente utilizada é a casa plástica (ou de vegetação) com sistema de nebulização intermitente, o qual é acionado em intervalos de 10 minutos por 30 segundos ininterruptos. À medida que as raízes adventícias vão se formando este intervalo entre o acionamento do sistema pode ser aumentado. As estacas herbáceas podem ser retiradas durante todo o ciclo vegetativo, embora maior porcentagem de enraizamento seja obtida quando são preparadas na primavera. As plantas matrizes devem apresentar bom estado fitossanitário e representarem fielmente a variedade que as originou. O estado nutricional da planta matriz também é fator importante para o sucesso da propagação, uma vez que plantas com deficiência mineral produzem material vegetal de má qualidade. Retirados os materiais lançados na estação de crescimento, os ramos ou varas devem ser mantidos com a base em água, para evitar que se desidratem. Para serem submetidos ao processo de enraizamento, os ramos devem ser preparados em estacas de 10 a 15 cm de comprimento. Deve-se manter de duas a três folhas superiores e eliminar as folhas basais. A permanência das folhas superiores é importantíssima, uma vez que estas serão uma das fontes reguladoras de crescimento, como as auxinas, facilitadores da formação de raízes adventícias da estaca (ANTUNES et al., 2006; Figura 36).


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Figura 36. Estacas enraizadas, sendo apenas as três primeiras da esquerda para a direita, aptas a serem transplantadas para saquinhos ou recipientes individuais contendo solo e areia. Foto: Santos e Raseira.

Para a formação das mudas, a utilização de ramos lenhosos provenientes de plantas dormentes é a melhor opção, podendo-se utilizar os ramos da poda. A coleta dos ramos deve ser feita no período de repouso das plantas, nos meses de julho a agosto na região de Pelotas, RS. Os ramos devem ser destacados das plantas e imediatamente mergulhados (um a dois terços do comprimento) em água por +/- 28 horas. A água deverá ser potável e livre de cloro. Após este período os ramos devem ser segmentados em estacas de 12 cm de comprimento. Após a segmentação estas estacas deverão ser imersas (um terço do comprimento) em ácido indol acético (AIA) ou ácido indol butírico (IBA) na concentração de 500 ppm, por 10 minutos, antes do plantio. No caso não utilizar auxina, a base da estaca deve ser imersa em água até o momento do plantio (Figuras 37 e 38).


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Figura 37. Estacas com 30 dias, (A) provenientes de ramos sem imersão em água e (B) provenientes de ramos imersos por 28 horas em água antes da segmentação para o plantio. Estágio de início do aporte de nutrientes. Foto: Rodrigo Campos de Castro

Figura 38. Mudas com 120 dias, sendo (3) provenientes de estacas tratadas com IBA, (4) provenientes de estacas sem tratamento com auxina. Observam-se estacas sem raízes e com muitas folhas, que devem ser descartadas. Fotos: Rodrigo Campos de Castro


C a p í t u l o I | 79 Recomenda-se a realização de lesão na base da estaca, uma vez que esta irá expor o lenho à ação do regulador de crescimento. Após a preparação das estacas, estas devem ter sua base mergulhada numa solução alcoólica de ácido indolbutirico (IBA) ou ácido naftalenoacético (ANA). O uso do regulador de crescimento na base das estacas, antes do plantio, facilita o enraizamento. As concentrações podem variar de espécies para espécie e de variedade para variedade, assim como entre as marcas comerciais, mas geralmente utilizam-se 2.500 ppm, por 10 segundos, em substrato que possa ser facilmente drenado. É importante que o ambiente e a parte superior da estaca sejam mantidos úmidos, através das nebulizações, mas o substrato não pode estar demasiadamente encharcado. O substrato normalmente utilizado é composto por areia grossa de rio. Tem-se a opção de colocar, no fundo da caixa, brita, para facilitar a drenagem. Outros materiais podem ser utilizados, como serragem decomposta, perlita, vermiculita e mistura entre eles, entre outros materiais. Esta fase é uma das mais críticas do processo de propagação. Dos 30 a 45 dias após a estaquia, inicia o desenvolvimento das raízes adventícias. Após 90 a 120 dias, faz-se o transplante das estacas enraizadas para sacos plásticos contendo substrato apropriado. As mudas obtidas por enraizamento de estacas pode ser comercializadas aos 12 meses depois de obtidas as estacas (ANTUNES et al., 2004; Figura 39). No entanto, o alto risco de disseminação de doenças por este método de propagação limita a obtenção de plantas de boa sanidade.

Figura 39. Muda de um ano de mirtilo. Foto: Luis E.C. Antunes (2006).


C a p í t u l o I | 80 Substrato. Vários são os substratos que poderiam ser utilizados, mas especial atenção deve ser dada ao pH das misturas, uma vez que o mirtilo é uma planta que se desenvolve melhor em solos ácidos e suas mudas não são diferentes. Uma das alternativas de substrato é uma mistura de 40% de solo, 40% de esterco bem curtido e 20% de vermiculita ou casca de arroz carbonizada, outra seria mistura 1:1:1 composta por solo (de preferência ácido), areia e esterco curtido. Deve-se atentar para o fato de que alguns tipos de compostos adquiridos no comercio possuem pH acima de 7,0. Se a mistura apresenta pH maior de que 6,5, pode-se adicionar 1,5 Kg de enxofre elementar por tonelada de substrato misturando bem e incubando a mistura por 180 dias, até a redução deste. Os substratos preparados, independente da composição, devem sofrer um processo de desinfestação, para evitar contaminação do sistema radicular por fungos ou nematoides, e inativar sementes de plantas invasoras. Transplantadas para sacos de solo, as estacas enraizadas devem permanecer em ambiente protegido (Figura 40), pois a proteção da muda neste período é fundamental. As plantas oriundas de casa de vegetação são colocadas em sacos de polietileno de 20 cm x 25 cm, com 8 furos, de maneira a facilitar o desenvolvimento radicular em profundidade e melhorar a qualidade da muda formada. O transplante deve ser realizado com o substrato úmido para não afetar as raízes por dessecação, pois a terra que é aplicada ao redor da planta deve ser ligeiramente apertada. Este transplante geralmente é realizado no final de verão e início de outono e o transplante definitivo para o campo ocorrerá a partir do próximo verão, quando as mudas terão, então, um ano de idade.

Figura 40. Mudas de mirtilo propagadas em sacos plásticos no viveiro com cobertura de sombrite. Fonte: Propagación de arándanos.


C a p í t u l o I | 81 Enxertia. Os dois tipos de enxertia que melhor se adaptam ao mirtilo são: por Garfagem Lateral à Inglesa Simples ou por Garfagem no Topo com Fenda que é realizada na primavera e por Borbulhia (gema), tipo escudo ou placa, realizada tanto na primavera como verão. Dentre os enxertos de garfagem, os mais funcionais são os enxertos de fenda e o enxerto lateral à Inglesa simples, que são escolhidos com base no diâmetro do garfo (ramo) a ser enxertado e dos cavalos a serem utilizados. Esses dois tipos, além de obterem um bom percentual de sucesso no pegamento, também proporcionam a melhor resistência mecânica na zona de união, para suportar o peso da colheita do ano seguinte, que pode variar entre 0,5 e 1 kg por enxerto (GARCÍA RUBIO et al., 2018). Nesse caso, com o auxílio do canivete, o garfo é chanfrado em forma de cunha (bisel duplo) com cerca de 3 cm de comprimento, e o caule do cavalo é aparado e aberto no sentido longitudinal (rachado), formando uma fenda na qual é inserida a extremidade do garfo preparada em bisel duplo. Em seguida, procede-se o seu amarrio de forma bem apertado com fita plástica (PEREIRA et al., 2002; Figura 41).

Figura 41. Planta de mirtilo com enxerto de fenda. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 82 O outro tipo de enxertia de garfagem Lateral à Inglesa simples, também apresenta uma boa taxa de pegamento e é fácil de realizar no mirtilo, mas oferece menor resistência ao peso do fruto no primeiro ano (GARCÍA RUBIO et al., 2018). A enxertia de borbulhia também é viável. O que mais se adapta é o método de borbulha, que pode ser feito tanto na primavera com gemas coletadas no inverno, ou durante o verão com gemas verdes. Esta última opção, se realizada no início do verão (junho na Espanha), pode servir como alternativa às falhas de enxertos de primavera e assim ainda obter um ramo com bom crescimento nesse mesmo ano, sendo capaz de produzir fruta no ano seguinte. Pelo contrário, se for realizado no final do verão com uma gema dormente, surgirá um ramo na primavera seguinte, atrasando a produção por mais um ano. Segundo Pereira et al. (2002), o método de borbulhia consiste em se abrir na casca do cavalo uma janela de 3 a 4 cm de altura e largura de pouco mais de 1/3 do perímetro do caule, na qual é inserida e amarrada uma placa de casca sem lenho (com dimensões ligeiramente menores que as da janela), retiradas de uma planta adulta selecionada, de maneira que contenha uma gema ou borbulha que irá constituir a nova planta (Figura 42). A borbulhia deve ser feita no caule na altura entre 5 a 10 cm do solo.

Figura 42. Enxerto por borbulhia no mirtilo. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 83 Coleta de material vegetal. Durante a parada vegetativa, dezembro ou janeiro, o material para o enxerto é coletado. Este consiste em hastes de madeira crescidas a partir do ano da variedade a ser enxertada, as gemas florais são eliminadas do ápice, as hastes cortadas são armazenadas em sacos plásticos e conservadas em câmara fria, entre 2 ºC e 4 ºC para Vaccinium corymbosum e entre 6 ºC e 8 ºC para Vaccinium ashei ou “Southern Highbush”. São mantidos nestas condições até o momento da enxertia (Figura 43).

Figura 43. a) Ramos cortados para enxertar; b) Planta cortada e preparada para ser enxertada; e c) enxerto realizado e amarrado com fita preta. Fotos: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 84 MICROPROPAGAÇÃO E MICROESTAQUIA Micropropagação. De acordo com Hartmann et al. (1997) entende-se como micropropagação uma forma de propagação clonal massal de um genótipo selecionado por técnicas de cultura in vitro. A micropropagação é a técnica mais bem-sucedida e a mais utilizada, de maneira diferente dependendo da espécie e da variedade. Sua principal vantagem é que o material vegetal é livre de doenças, mas tem como desvantagem o alto custo. O processo de micropropagação divide-se em quatro estágios principais: o estágio I que é o estabelecimento do explante no meio de cultura; o estágio II em que ocorre a multiplicação ou indução de brotos múltiplos; o estágio III com a formação de raízes e o estágio IV que é a aclimatização, com a transferência gradual das plantas para a condição ex vitro (HARTMANN et al., 1997). Estudo comparativo entre os meios Murashige e Skoog (MS) e Rhododendron de Anderson modificado (mAN) foi realizado para a multiplicação de brotos in vitro de três variedades de mirtilo highbush (Vaccinium corymbosum L.) ‘Berkeley’, ‘Bluecrop’ e ‘Goldtraube’. Todos os meios continham 0,5 mg / L de zeatina aplicada isoladamente ou combinada com 0,1, 1 e 5 mg/L de IBA. O enraizamento in vitro foi induzido usando meio mAN suplementado com 0,8 mg/L de AIB e 4 g/L de carvão ativado. Os resultados obtidos mostraram que o meio mAN é mais adequado para a multiplicação in vitro das cultivares de mirtilo Highbush selecionadas do que o meio MS. A baixa concentração de IBA (≤1 mg / L) adicionado ao meio mAN suplementado com zeatina aumenta a eficiência da multiplicação de brotos de mirtilo Highbush in vitro e pode ser recomendada para propagação em grande escala de plantas de alta qualidade. O meio MS induziu necrose parcial ou total de caules e folhas, que foi mais pronunciada em meio contendo zeatina combinada com o aumento da concentração de AIB. A capacidade de enraizamento dos brotos variou amplamente entre as cultivares de mirtilo testadas. As maiores taxas de enraizamento e aclimatação foram alcançadas em 'Goldtraube' (82,8 e 91,8%, respectivamente), e as mais baixas (10 e 66,7%, respectivamente) foram em 'Berkeley' (RUZIC et al., 2012). O período de incubação dos mirtilos varia entre 30 a 45 dias (Figura 44).


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Figura 44. Produção de mirtilo in vitro. Fonte: Propagación de arándanos.

Com esta técnica, pode-se produzir um número bastante grande de mudas a partir de um único explante. Essas mudas, normalmente, são comercializadas em tubetes (Figura 45). Tais plantas não devem ser levadas diretamente a campo, pois, além de novas, são muito tenras e sensíveis às variações ambientais. Uma vez que seu material vegetal está enraizado, ele é transplantado para sacos plásticos ou vasos (1-2 litros), crescendo da mesma forma que as mudas oriundas de estacas durante um período de 1 a 2 anos.

Figura 45. Mudas de mirtilo oriundas da cultura de tecidos vegetais. Foto: Luis E. C. Antunes (2005).


C a p í t u l o I | 86 Microestaquia. Em busca de um sistema de produção eficiente e competitivo, que garanta a qualidade e sanidade das mudas, surgem como alternativas as técnicas de miniestaquia e microestaquia. Essas técnicas surgiram a partir do aprimoramento da estaquia em Eucalyptus, visando contornar as dificuldades de enraizamento de alguns clones. As variações na capacidade de enraizamento por meio da propagação vegetativa têm sido atribuídas à maturação do material vegetal (WENDLING; XAVIER, 2001), levando à adoção de técnicas de reversão do estado maduro ao estado juvenil, mediante a utilização de ferramentas da biotecnologia (TITON, 2001), como as técnicas de micropropagação, microestaquia e miniestaquia. Ou seja, a miniestaquia é uma opção de uso para a propagação de clones que apresentam dificuldades no cultivo ‘in vitro’ (XAVIER; WENDLING, 1998), além de ser possível maximizar a qualidade e a uniformidade das mudas produzidas, quando comparado com mudas obtidas através da estaquia convencional (SANTOS et al., 2000). Os ápices caulinares de plantas rejuvenescidas in vitro são coletados e utilizados como microestacas, os quais são colocados para enraizar sob condições de casa-de-vegetação. A poda contínua destas plantas fornece novos ápices, que são fontes de propágulos vegetativos para a produção da muda. Na cultura do eucalipto, a coleta se realiza em intervalos de 15 dias no verão e de 30 dias no inverno. Com isto, os novos ápices são retirados de microestacas enraizadas, originando ambientes denominados de microjardins clonais (HIGASHI et al., 2000). Em estudos realizados com microestacas, Ristow et al. (2010) verificaram que a aplicação de 4.000 a 8.000 mg kg-1 de AIB em pó proporcionou os melhores índices de enraizamento e volume radicular de microestacas de mirtileiro cultivar Climax, com percentuais de enraizamento de 9l,67% e 93,75%, respectivamente (Figura 46).

Figura 46. Sistema radicular de microestacas de mirtileiro. Foto: N. C. Ristow (2010).


C a p í t u l o I | 87 COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DO MIRTILO O mirtilo apresenta, em média, cerca de 82% de água. O teor de água nos tecidos depende, entre outros fatores, da disponibilidade hídrica do solo na altura da colheita. A perda de água nos frutos conduz ao emurchacimento e perda de massa, porém o elevado teor de umidade torna-os, geralmente susceptíveis a deterioração, aumentando a possibilidade de contaminação por crescimento microbiano. Os açucares são os principais componentes solúveis e representam cerca de 80 da matéria seca. A glucose e a frutose são os principais açucares existentes no mirtilo e os seus teores influenciam o sabor (Tabela 6). Tabela 6. Valores nutricionais do mirtilo.

Fonte: Divulgação Agro 556 (2007).


C a p í t u l o I | 88 Jennings (1988) refere que em amoras e framboesas, os frutos produzidos em zonas de verões quentes e secos, têm uma concentração mais elevadas de açucares, são mais aromáticos e de coloração mais intensa do que os que crescem em regiões mais amenas e úmidas. Os frutos contêm ácidos orgânicos em teores elevados, sendo os mais comuns o cítrico e o málico (Somogyi; Luh, 1996). O ácido quínico representa 40% dos ácidos orgânico presentes no mirtilo, enquanto o ácido málico apresenta no mirtilo valores entre 0,006 a 0,14 g\100 g de frutos maduro (RODRIGUES et al., 1992). Além disso, os frutos do mirtilo são bagas ricas em antocianinas e minerais, aos quais lhes são atribuídas um elevado valor medicinal e nutricional, sendo então uma espécie de grande interesse económico. A sua capacidade antioxidante é devida à presença de compostos flavonóides, onde se incluem as antocianidinas, proantocianidinas, flavonois e flavanas (KALT, 2006). Bushway et al. (1983) consideram o mirtilo um alimento rico em manganês, apresentado valores entre 0,4 a 1,2 mg\100 g no fruto maduro. Seu consumo tem sido recomendado para todos os tipos de pessoas, destacando-se o baixo consumo calórico, o teor de fibras, o alto teor de potássio e por ser uma boa fonte de vitaminas A e C. As propriedades nutricionais e nutracêuticas do mirtilo são constantemente pesquisadas e promovidas (PRIOR et al., 2009). Antioxidantes no mirtilo Entre as substâncias com capacidade antioxidante que podem ser encontradas no mirtilo, destacam-se o beta-caroteno, a vitamina C, as antocianinas, os fenóis, o ácido eleágico e o ácido fólico (SAPERS et al., 1984). 1. Compostos fenólicos. Dentre os compostos fenólicos do mirtilo, destacam-se os ácidos fenólicos e as antocianinas, que estão em constante estudo por sua forte capacidade antioxidante (SHELLAPAN et al., 2002). Kalt et al. (1999) analisaram a capacidade antioxidante de quatro frutas pequenas: morango, framboesa, mirtilo Alto e mirtilo Baixo. Eles observaram que o teor total de fenóis em "mirtilo Alto" e "mirtilo Baixo" foi cerca de quatro vezes maior do que em morangos e framboesas. MOYER et al. (2002) observaram que em mirtilos o teor de fenóis pode variar entre 171 e 868 mg, equivalente em ácido gálico/100 g de fruta fresca.


C a p í t u l o I | 89 2. Antocianinas. As antocianinas estão localizadas principalmente nas camadas epidérmicas de algumas frutas, tais como: maçã, ameixa, mirtilo, uva, entre outras (BARCELÓ et al., 2001). No caso do mirtilo, as antocianinas estão localizadas na casca e na polpa do mirtilo e são responsáveis pela coloração azul escura dessa fruta. A esse respeito, Mainland e Tucker (2002) estabeleceram que o teor de antocianinas e fenóis é maior na casca dos frutos de mirtilo, podendo ser 4 vezes maior do que no fruto inteiro. De acordo com Prior et al. (1998), as antocianinas presentes nos mirtilos podem ter benefícios potenciais à saúde que são independentes ou em adição a seus efeitos antioxidantes. O nível de antocianinas em frutos de mirtilo pode variar, segundo Mazza e Miniati (1993) citado por Prior et al. (1998) entre 25 e 495 mg de cianidina -3glucosídeo/100g de fruta fresca

CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS 1-CLIMÁTICAS Clima. O mirtilo adapta-se a diversos climas, tanto em zonas húmidas como secas e tanto a invernos muito rigorosos como a verões muito quentes, desde que sejam escolhidas as variedades que melhor se adaptem ao clima de cada região. Os fatores climáticos afetam a cultura de diferentes formas de acordo com a fase de desenvolvimento da planta, determinando assim o seu potencial de produção. Durante a fase de dormência o fator mais importante é a temperatura e na fase vegetativa são, temperatura, precipitação, exposição solar e vento. Temperatura. Por ser uma espécie perene, o mirtilo tem necessidade de baixas temperaturas invernais, as quais se acumulam e se quantificam em horas frias, que se referem às horas em que a temperatura é inferior a 7,2 ºC, durante o inverno (GORDO, 2011) o que lhe permite ultrapassa ao recesso invernal e assim lograr uma floração uniforme e em grandes quantidades (SIAP, 2016). Dependendo da variedade, considerase que durante o repouso vegetativo a planta necessita de um período de dormência que varia entre 150 a valores superiores a 1.000 horas de frio, para que ocorra a completa diferenciação das gemas florais e se atinja um balanço hormonal que permita superar a dormência, dando início um novo ciclo vegetativo. Ou seja, após completadas as horas frias necessárias, o estado de dormência da planta é rompido e muda o status da planta a


C a p í t u l o I | 90 maior sensibilidade às baixas temperaturas (UNDURRAGA et al., 2013). Em resposta, a qualidade dos frutos é favorecida pelos verões ensolarados, evita também o desenvolvimento e proliferação de fungos fitopatogênicos, por outro lado, o calor excessivo prejudica a qualidade dos frutos. Para o estabelecimento dessa cultura, é recomendado evitar locais com ventos e chuvas fortes, pois tais fatores causam a queda de frutos, flores e impedem a polinização (INTAGRI, 2017). Vale destacar que no processo de escolha das variedades, deve ter-se em conta a temperatura máxima que se faz sentir na região, evitando variedades sensíveis ao stress hídrico, pois a atividade da planta não cessa, de modo que a raiz não tem capacidade de absorção, o que podem ocasionar necroses nas folhas e nos ramos jovens lançados. Em relação ainda aos requerimentos de temperatura, o mirtilo resiste bem às geadas durante o recesso invernal, sendo -0,6 °C um valor crítico prévio a registros de danos. Uma vez terminada o estado de dormência, a planta se torna sensível às baixas temperaturas, especialmente na floração (Figura 47). Portanto, recomenda-se avaliar os dados históricos de geadas na área onde será estabelecido o cultivo e a quantidade de horas frias, cuja faixa ideal vai desde 400 a 1.200 horas frias com o limite mínimo de 7 °C, para fazer a escolha correta da variedade. A temperatura ótima para o crescimento das raízes varia de 18 °C - 22 °C, enquanto para os brotos ou ramos, folhas e frutos entre 20 °C - 26 °C (MORALES, 2017).

. Figura 47. Estádio fenológico de floração altamente sensível às baixas temperaturas. Foto: Carmen Gloria Morales A. (2017).


C a p í t u l o I | 91 Na fase vegetativa, temperaturas superiores a 30 ºC com elevada exposição solar podem levar à morte das folhas, principalmente em cultivares de crescimento vegetativo acelerado, e a situações de stress hídrico, em que as raízes não conseguem absorver água suficiente para compensar as perdas por transpiração levada a cabo pelas folhas. Após a floração, temperaturas altas exercem um papel fundamental no vingamento e crescimento do fruto. Se durante esta fase as temperaturas permanecerem baixas durante várias horas causam necrose no gineceu. Durante o período de maturação da fruta, ventos fortes e temperaturas acima de 27 °C causam a sua desidratação (MESA TORRES, 2015). A temperatura ideal de maturação é de 16 a 25 °C. Precipitação. O período desde o início da frutificação até à colheita é o mais exigente em termos hídricos. Em média, as necessidades hídricas do mirtilo são aproximadamente 35 litros de água por planta por semana ou cerca de 2 a 6 litros de água por dia. O mirtilo é uma planta pouco tolerante ao encharcamento, sendo, por outro lado, tolerante a curtos períodos de stress hídrico. O mirtilo "Baixo" é mais tolerante às condições de estiagem (seca) do que o mirtilo "Alto" porque o seu sistema radicular corresponde a um caule subterrâneo (rizoma) com reservas abundantes de água e nutrientes (VALENZUELA, 1988). Exposição solar. O mirtilo é uma planta que necessita de uma boa exposição solar, devendo as linhas de produção ser orientadas de norte para sul para que esta seja máxima, diminuindo o risco de danos pela geada. Além disso, a exposição solar tem um impacto positivo na maturação dos frutos reduzindo o teor de acidez, aumentando o teor de açúcar, promovendo melhores aromas e acelerando a maturação, promovendo assim a antecipação da colheita. Contudo, em regiões onde a incidência solar e as temperaturas são elevadas, deve-se diminuir a exposição solar, de modo a reduzir o stress hídrico e os danos causados pelo sol, através de técnicas de sombreamento. Vento. O mirtilo não suporta ventos fortes, principalmente durante a fase vegetativa, em que a planta é vulnerável a ventos frios tardios que possam ocorrer após a abertura das flores. Assim sendo, a plantação deve ser feita em locais protegidos por barreira vegetal (quebra-ventos) ao redor da área cultivada e, caso não seja possível, deve ser protegida com auxílio de estufa do tipo túnel.


C a p í t u l o I | 92 2-EDÁFICAS Solos. Os mirtilos não toleram solos muito argilosos o que podem dificultar o crescimento das raízes e a drenagem se torna imperfeita; os solos calcários que causam deficiências graves de ferro e os períodos de seca. Por apresentar um sistema radicular superficial, suas raízes não têm pelos absorventes como a maioria das fruteiras, pois são fibrosas e muito delgadas. Assim, para manter este sistema radicular vivo e ativo, é imprescindível recorrer ao mulch (cobertura morta) e/ou ao uso abundante de matéria orgânica na cova de plantio e na fileira, a fim de manter a umidade necessária à cultura. Em condições de irrigação, a frequência é mais importante do que o tempo de irrigação (VALENZUELA, 1988). Os solos arenosos ou franco arenoso permitem não só a penetração das raízes finas e fibrosas dos mirtilos no solo, como também a presença dos fungos que vivem em simbiose com as raízes, facilitando a absorção de água pelas raízes. O mirtilo pode beneficiar da existência de 20 a 30% de partículas argilosas no solo que favorecem a retenção de água no verão e promovem uma melhor fixação das raízes ao solo. Nas regiões mediterrânicas, solos arenosos claros têm tendência a aquecer chegando a atingir temperaturas superiores a 20 oC. Acidez do solo. A preferência do mirtilo por solos ácidos remonta ao habitat natural das espécies utilizadas no melhoramento, em que os solos eram turfosos. Estes solos são extremamente ricos em matéria orgânica e pH baixo, o que é coerente com a fraca capacidade de penetração das raízes e com o estabelecimento de simbioses com fungos. A maioria das espécies de mirtilo requer solos com pH 4,0 - 5,0, apresentando boa estrutura e porosidade total elevada, textura limosa e franco-arenosa, matéria orgânica abundante, e com retenção de umidade. Ao mesmo tempo, o solo deve ter uma drenagem perfeita (VALENZUELA, 1988). Na Flórida, os solos com pH 4,0 - 5,2 são preferidos para o mirtilo "Olho de Coelho". Os solos ricos em fósforo ou cálcio não são bons para esta espécie; com os solos que tem sido queimado a lenha vegetal, as suas cinzas resultantes aumentam o pH do solo. Nesse Estado (Flórida), recomendam-se baixar o pH do solo adicionando enxofre pelo menos 6 meses antes do plantio. A quantidade recomendada é 500 kg\ha de enxofre em pó, para cada décimo de pH acima de 5,2. O solo é imediatamente gradeado para incorporar a


C a p í t u l o I | 93 correção com enxofre, o qual deverá ser esparramado de forma uniforme, com os primeiros 12 cm do solo (LOBOS, 1988). No estado do Tennessee, reconhecem um pH de 4,5-5,2 como ideal para o crescimento e produção do mirtilo "Olho de Coelho". Para baixar o pH, recomenda-se aplicar enxofre no solo, um ano antes do plantio (Tabela 7), nas seguintes proporções: Tabela 7. Redução do pH com aplicação de enxofre antes do plantio. pH do solo 6,5 + 6,0 5,5 Fonte: Lobos (1988).

Kg de S puro\9,3 m2 solos 3,2 2,3 1,4

Diversos trabalhos norte-americanos indicam que o mirtilo pode crescer e ter boas produções com pH de 5,5 e acima de 6,0; desde que a nutrição da planta seja bem cuidada. O uso de fertilizantes amoniacais, com sulfato de amônio é básico com pH alto. Este é o caso das Estações Experimentais de Carillanca (pH 6,2), La Pampa (Ph 5,4), Chufquén (pH 5,8) e Cauquenes (pH 5,6). Embora os solos dessas localidades difiram na origem (vulcânica e aluviais), bem como na textura; mas têm em comum um bom sistema de irrigação e o uso de cobertura morta (Mulch) (LOBOS, 1988). Ajuste do pH do solo. O mirtilo requer solo ácido, idealmente com pH entre 4,5 a 5,2. Mas, é importante fazer um teste de solo no outono antes do plantio no final do inverno ou início da primavera. Se o pH estiver acima de 6,0, selecione outro local de plantio. Se o pH do solo estiver abaixo de 6,0, mas acima do limite de 5,5, aplique enxofre molhável (90% de enxofre). Ou seja, o pH do solo pode ser ajustado aplicando enxofre vários meses antes do plantio e novamente anualmente, conforme necessário. O musgo de turfa umedecido ou a casca de pinheiro moída costumam ser misturados ao solo na cova de plantio para manter a umidade e a acidez do solo. Um pH muito baixo do solo causado pelo excesso de enxofre pode ser prejudicial. Alguns solos de serra são muito ricos em manganês. Ao cultivar mirtilo nesses solos, mantenha o pH acima de 5,0 para evitar problemas com a toxicidade do manganês. Qualquer aplicação de enxofre deve ser feita pelo menos três meses antes do plantio, pois leva vários meses para que o enxofre reduza o pH. Verifique o pH uma ou duas vezes durante


C a p í t u l o I | 94 a primeira estação de cultivo para determinar se é necessário de mais aplicação de enxofre na estação posterior. Às vezes, o impaciente agricultor insiste em plantar sem fazer um teste de solo. Neste caso, misture 30 cm3 de musgo de turfa com uma quantidade igual de areia. É importante usar uma areia que não tenha sido tratada com cal ou que não contenha um material de calagem. A maior parte da areia do construtor, referida como areia "afiada", não contém materiais de cal. Por sua vez, o cultivo do mirtilo requer condições de acidez do solo para um ótimo desenvolvimento (DARNELL et al., 1992), para o qual sugere um intervalo de pH (a água) desde 4,5 a 5,5), embora no Chile um desenvolvimento adequado tenha sido observado com níveis de acidez ligeiramente inferiores a pH 6,0. Em condições de falta de acidez, o mirtilo reduz seu desenvolvimento e produtividade, além de apresentar deficiências de alguns nutrientes, onde se destaca a deficiência de Fe, por se tratar do elemento com maior redução na disponibilidade, principalmente quando o pH do solo começa a aumentar em valores maiores que 6,0 (Figura 48).

Figura 48. Planta de mirtilo apresentado deficiência em ferro (Fe).

Constatou-se no Chile que a maioria dos solos cultivados com mirtilo apresentam níveis de pH superiores à faixa ótima para esta espécie, portanto, é necessário acidificar o solo, tanto antes do plantio, como durante o cultivo. Para isso, o enxofre elementar (S) é normalmente utilizado como um corretivo que permite reduzir a acidez, visto que a reação do S com a água e o oxigênio do solo, na presença de microrganismos quimioautotróficos especializados (Thiobacillus e outras espécies), gera ácido sulfúrico como reação


C a p í t u l o I | 95 intermediária e finalmente a liberação de prótons (H +) que acidificam o solo (NAVARRO; NAVARRO, 2003). Em outras ocasiões, são feitas aplicações consecutivas de ácidos (principalmente sulfúrico e fosfórico) para reduzir ou manter o pH do solo dentro de uma faixa ideal para o cultivo de mirtilo, bem como fertilizantes de reação ácida (sulfato de amônio, sulfato de potássio, fosfato monoamônio, fosfato monopotássio, entre outros). Como exemplo, a Figura 49 mostra a redução do pH de um solo vulcânico da região VII contra a adição de S elementar.

Figura 49. Efeito de doses crescentes de enxofre elementar na redução do pH de um solo vulcânico após um período de 30 dias de incubação em condições controladas de temperatura e umidade. Fonte: Hirzel (2008).

Nesta Figura 49, uma redução de 0,4 unidades de pH pode ser observada para cada 1 tonelada de S elementar aplicada. Doses crescentes de S (acidificação do solo), além de gerar redução no pH do solo, afetam a disponibilidade de nutrientes, como tem sido apontado por diversos autores desde a antiguidade (TRUOG, 1948; HAVLIN et al., 1999). A disponibilidade de alguns nutrientes apresenta um ajuste linear como S, Mn e B, enquanto o pH do solo e os demais nutrientes (P, K, Ca, Mg, Al, saturação de Al, Fe, S) apresentam ajuste quadrático frente a doses crescentes de S. O pH do solo apresenta uma redução em relação ao aumento da dose de S, até atingir um valor de estabilidade


C a p í t u l o I | 96 que representa a capacidade tampão do solo, e que é explicado por processos físicoquímicos, que geram esta estabilização do pH (NAVARRO; NAVARRO, 2003). Drenagem da água do solo: Em um solo argiloso pesado ou que às vezes permanece úmido, aplique a mistura de turfa e areia na superfície do solo e plante. Se o solo tiver uma boa drenagem, parte da mistura de turfa e areia pode ir para a cova ou sulco a vários centímetros abaixo da superfície do solo. No entanto, deixe o suficiente da mistura de turfa e areia para formar um monte (para plantas individuais) ou um camalhão (para uma fileira de plantas) pelo menos 15 cm acima da superfície do solo circundante. O leirão ou camalhão protegerá as plantas do excesso de água; no entanto, com este método de plantio, irrige completamente duas a três vezes por semana durante os períodos de seca no verão e no início do outono. Toras de madeiras, pedras, tijolos ou blocos de concreto podem ser usados para conter a mistura de solo no canteiro elevado. Adições de matéria orgânica em pré-plantio: os mirtilos são naturalmente adaptados a solos com alto teor de matéria orgânica, onde os estercos têm 3% ou mais de matéria orgânica, ao contrário da maioria dos solos minerais com teor orgânico geralmente inferior a 1%. Materiais orgânicos como turfa, casca de pinheiro, compostagem ou serragem de madeira macia podre (Figura 50) devem ser incorporados em solos com menos de 2% de matéria orgânica antes do plantio para melhorar significativamente a sobrevivência e o crescimento da planta de mirtilo. A serragem de madeira dura não é tão eficaz quanto a serragem de fibra longa ou musgo de turfa para reduzir o pH do solo. A serragem de madeira macia não decomposta não deve ser usada.


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Figura 50. a) Casca de pinho espalhada sobre a linha de plantação no camalhão e b) Plantação nova com cobertura morta de serragem de pinho. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

Siga esse popular programa de pré-plantio passo a passo para modificar os solos com menos de 2% de matéria orgânica: 1-Estabeleça os leirões ou camalhões das plantas (90 cm de largura) para fornecer a drenagem necessária em solos mal drenados; 2-Aplique 10 a 15 cm de matéria orgânica sobre a linha em uma faixa de 45 cm a 60 cm de largura e incorpore completamente usando uma pá a uma profundidade de 15 a 20 cm. Dessa forma, é possível realizar o manejo preventivo, corrigindo deficiências com outros insumos, além da compostagem (Figura 51), e incorporando ao camalão os produtos permitidos para prevenir problemas sanitários. Finalmente, depois de marcar as fileiras, deve-se proceder a formação do camalhão (VARGAS; CÉSPEDES, 2012);


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Figura 51. Aplicação de compostagem sobre o camalhão antes do plantio da muda de mirtilo. Fotos: Sigrid Vargas S.Cecilia Céspedes L (2012) e Carmen Gloria Morales A. (2017).

As etapas 1 e 2 devem ser concluídas no outono, antes do plantio no final de fevereiro até o final de março, dependendo da localização. Se a matéria orgânica for incorporada no outono, qualquer enxofre necessário para baixar o pH pode ser adicionado ao mesmo tempo. Nota: O manejo da água e dos nutrientes é difícil em matéria orgânica pura e as plantas têm maior probabilidade de se defender e morrer.

SISTEMA DE PRODUÇÃO Antes de estabelecer uma cultura de mirtilo com uma nova variedade, recomendam-se considerar, no mínimo, os seguintes aspectos: • Selecione uma variedade adequada às condições climáticas e de solo da área de estabelecimento: requerimentos de frio, rendimentos, períodos de floração e de colheita. Ressalta-se que o potencial produtivo pode ultrapassar 30 ton/ha, dependendo da genética da variedade e da densidade de plantio. • Considerar a disponibilidade de mão de obra e a competição com outras culturas na região durante os trabalhos de poda e de colheita, épocas de maior demanda para o cultivo. • A facilidade de colheita segundo seja o caso, manual ou mecanizada. Os frutos com pele firme a rachadura e separação do pedicelo sem exercer força que prejudique a qualidade.


C a p í t u l o I | 99 Boas condições pós-colheita da fruta, tais como: pequena cicatriz e retenção da camada cerosa de pruína. • Avaliar o mercado para a variedade escolhida (fresca, congelada ou ambos), bem como a vida de pós-colheita. • Uma consideração a ser destacada é o fato de muitas das novas variedades serem originadas de programas privados de melhoramento e, portanto, estão licenciadas a empresas que as propagam e as entregam aos produtores com cláusulas que os obrigam ao pagamento de direitos de propriedade (royalties). • As variedades recomendadas para a produção in natura não cumprem necessariamente aos requisitos da produção industrial, mas se privilegia especificamente a cor, o teor de açúcar e o rendimento. Por outro lado, nas frutas destinadas a congelado, a prioridade é dada ao tamanho da fruta e à sua firmeza. • Resistência ao estresse biótico e abiótico. • Qualidade organoléptica do fruto: presença de sementes, cor, sabor, tamanho e casca lisa.

ANÁLISE DE SOLO É importante conhecer a condição química do solo antes do estabelecimento do mirtilo; portanto, recomenda-se realizar uma análise completa de macro e micronutrientes, salinidade (condutividade elétrica), matéria orgânica, capacidade de troca catiônica e pH. Se o pH estiver alto, pode-se acidificar usando enxofre na plantação ou injeção direta. O ideal é começar a aplicar enxofre no ano anterior ao plantio, incorporando-o superficialmente em toda a superfície a ser plantada. Se o solo não alcançou a acidificação antes do plantio, o enxofre elementar deve ser muito bem misturado com o solo a ser retirado da área ou zona de plantio (camalhão). O pH que pode ser obtido no solo é mantido pela acidificação da água de irrigação com ácido sulfúrico e ácido fosfórico, ou com a aplicação de fertilizantes com reação ácida, como sulfato de amônio, fosfato monoamônio ou fosfato monopotássico. No entanto, deve-se tentar verificar anualmente a acidez do solo para garantir o bom desenvolvimento das raízes, absorção eficiente dos elementos minerais; portanto, obter-se-ão plantas com bom estado nutricional (MORALES, 2017).


C a p í t u l o I | 100 Deve ser realizada a amostragem antes da aplicação das fontes de fertilização mais importantes para a cultura, como no caso da compostagem para pomares com manejo orgânico (período outono a inverno). Para isso, uma amostra composta de solo (média de 20 subamostras) deve ser retirada das áreas dos camalhões ou de terreno homogêneo, a uma profundidade de 0 a 30 cm. Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trados ou com pá de corte, balde plástico e saco plástico. O trado torna a operação mais fácil e rápida. Além disso, ele permite a retirada da amostra na profundidade correta e da mesma quantidade de terra de todos os pontos amostrados. Na Figura 52 estão representados os tipos de ferramentas que podem ser utilizadas na amostragem de solo.

Figura 52. Ferramentas que podem ser utilizadas na amostragem de solo. Fonte: Agrolink (2011).

A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa. No caso de área homogênea, tomam-se amostras em 10 a 12 pontos bem distribuídos, limpando-se em cada local a superfície do terreno, retirando-se as folhagens, resíduos orgânicos, etc, sem, contudo, raspar a terra (Figura 53). O número no qual o erro amostral é bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Em cada ponto, retirar os detritos na superfície do solo. Essas subamostras devem ser


C a p í t u l o I | 101 armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 53. a) Abertura da cova em forma de V; b) Corte de uma lâmina de solos de 2 a 3 cm; e c) Disposição dos pontos de amostragem de solos em forma de ziguezague.

Como acontece com qualquer outra espécie frutífera, o preparo do solo é muito importante para o bom desenvolvimento da cultura. A melhor época para começar essas tarefas preparatórias é no final do verão ou início do outono. Previamente, é conveniente realizar uma análise do solo que permita, por um lado, determinar o seu pH e fazer as eventuais alterações necessárias; e, por outro lado, corrigir com a adubação de fundação possíveis deficiências de nutrientes. Com níveis de Fósforo (P) e Potássio (K) acima de 10 ppm e 150 ppm, respectivamente, não seria necessário fazer adubação mineral de fundação. Se os níveis forem inferiores, deve-se fornecer a quantidade necessária para se aproximar do ótimo. Embora sejam espécies adaptadas para solos muito ácidos, se o pH for inferior a 4 uma correção de calcário, ou calagem, deve ser realizada para ajustá-lo a níveis ótimos, fornecendo aproximadamente 1.000 kg/ha de cal viva (CaO) ou apagada (Ca (OH) 2) para aumentar 1 unidade de pH. Estes cais são considerados produtos de ação rápida, pois em praticamente um mês reagem com o solo e realizam sua ação neutralizante. Pelo contrário, se o valor do pH for ligeiramente superior a 6, além da utilização de fertilizantes de reação ácida (sulfato de amônio, sulfato de potássio, etc.) é aconselhável efetuar uma correção com o enxofre. Recomenda-se uma dose, dependendo do tipo de solo, que pode variar entre 1.000 e 1.500 kg/ha para abaixar um ponto (pH) por ano, e não é aconselhável reduzir mais de um ponto por ano. A aplicação é realizada pelo menos


C a p í t u l o I | 102 6 meses antes do estabelecimento da plantação, incorporando nos primeiros 15-20 cm de solo. Além do aporte de enxofre, recomenda-se a fertirrigação contínua ao longo do ciclo da cultura, acidificando tanto a solução nutritiva quanto a água de irrigação, para manter o pH da área do sistema radicular dentro dos níveis ótimos. Outra forma de cultivo para solos com pH excessivamente alto é fazer uma vala na linha de plantio e substituir esse solo por outro que atenda as características adequadas. A desvantagem dessa técnica, para grandes fazendas, é que ela é muito cara. Por ser uma cultura muito exigente em matéria orgânica, se a percentagem desta for inferior a 2-3%, será necessário adicionar esterco a uma taxa de 30 a 60 t / ha. Uma vez realizadas as correções necessárias, a primeira tarefa será subsolar toda a parcela, romper as camadas mais profundas, arejar o solo e facilitar a drenagem em áreas com risco de inundação. Em seguida, é realizada uma grade ou arado de aiveca, para enterrar os fertilizantes, deixando assim preparado o solo para o momento do plantio. Imediatamente antes do plantio, passa-se uma grade de arraste para eliminar as plantas daninhas que estão novamente surgindo e também evita que suceda o endurecimento do solo.

PREPARO DO SOLO O estabelecimento do mirtilo tem um custo inicial elevado, pois dadas as suas características requer um preparo de solo adequado em profundidade (quando seco, obtêm-se melhores resultados), instalação de irrigação localizada (gotejamento), solo leve e cobertura morta (ou mulch); além do custo da muda, que deve apresentar elevada sanidade e ser certificada, obtida de viveristas credenciados no Ministério da Agricultura (MAPA). Uma boa planta é aquela com um sistema de raízes brancas, bem desenvolvido e que não tem mais de dois anos no viveiro. Quando a camada se apresenta muito endurecida ou compacta, dentro dos primeiros 50 a 60 cm de perfil, em profundidades não atingidas por outros implementos, é necessária a subsolagem (operação realizada em solo seco) para facilitar o crescimento radicular em profundidade e para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo. Para otimizar a penetração no solo, alguns subsoladores permitem a regulagem de inclinação das hastes (inclinação vertical superior a 25 a 30 °,


C a p í t u l o I | 103 de preferência 45 °), em cuja extremidade inferior existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992; Figura 54).

Figura 54. Formato de hastes do subsolador: a) reta, b) curva, c) parabólica, d) ação da subsolagem no solo.

A gradagem é uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim o trabalho de formação de camalhões da área de cultivo do mirtilo. Para a formação dos camalhões se podem conseguir com implemento de aivecas simples (ou tipo sucador; Figura 55), orientadas para o giro em direção ao centro das ruas. Como alternativa é utilizar arado de disco construídos com grupos de dois discos de diferentes tamanhos (35,5 e 40,6 cm) unidos por um eixo comum, que são inclinados cerca de 45 ° com a linha de avanço (Figura 56). O solo é interferido primeiro pelo disco menor, que faz um sulco e passa a terra a um segundo disco, que o impulso junto com o que o mesmo extrai, já que trabalha em maior profundidade.


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Figura 55. Equipamento sucador de solo (camalhões) e de colocação de mulch integrado, sendo essa máquina capaz de confeccionar o camalhão com ajuste de 10- 30 cm de altura e de uma largura superior regulável de 45-86 cm. Foto: AL S14 – CHECCI & MAGLI (Sargent Agrícola, Chile).

Figura 56. Arados de disco formador de camalhões. Foto: Konrath implementos Agrícolas.


C a p í t u l o I | 105 Em solos com risco de encharcamento, é altamente recomendável plantar em camalhões, que vão melhor à drenagem ao redor das plantas, pois o sistema radicular do mirtilo é muito suscetível ao excesso de umidade. Desta forma, os problemas de raiz devido a Phytophthora são reduzidos. Os camalhões deverão ter aproximadamente 0,70-1,0 m de largura e 30-40 cm de altura (Figura 57), tentando juntar a sua textura e estrutura com serragem grossa de pinheiro, casca de pinheiro, casca de arroz em quantidades que variam entre 200 a 800 m3/ha, ou usar compostagem ou outros materiais orgânicos que permitirão às raízes explorar livremente a superfície, cobrindo os espaços com raízes. O camalhão deve ser reestruturada a cada 3 anos. Ou seja, o passe posterior de uma grade de discos entre as fileiras move o solo para fora, movendo assim mais solo ao camalhão central e favorecendo a forma trapezoidal desejada.

Figura 57. Campo preparado (em camalhões) para receber as mudas de mirtilo transplantadas do viveiro com dois anos de idade. Foto: Terramarket.cl.

Em geral, os problemas de drenagem ocorrem em solos com posição baixa e alto teor de argilas. A drenagem está relacionada à capacidade que tem um solo de evacuar as águas por escorrimento superficial ou infiltração profunda. Em casos de chuva forte ou irrigação


C a p í t u l o I | 106 copiosa se formarem alagamento no solo e permanecem por vários dias, é um sinal de má drenagem. Se uma valeta de 60 cm de profundidade está cheia de água e depois de 24 horas ainda permanece, é que a drenagem está deficiente. Também olhando para os horizontes do solo em uma valeta, na uma profundidade de 50 cm ou mais, a terra tem uma cor cinza com manchas vermelhas, é um sinal de que essa área do solo permanece saturada de água durante parte do ano (RIQUELME; MORALES, 2017; Figura 58).

Figura 58. Preparação de saída de água (valeta) na área lateral do pomar quando houver problemas de má drenagem. Foto: Jorge Riquelme S. e Carmen Gloria Morales (2017).

ÉPOCA DE PLANTIO O plantio deve ser executado de preferência após precipitações pluviométricas, em condições de solo com boa umidade. As mudas devem permanecer à sombra com irrigação frequente até serem transplantadas. A época de plantio pode ser no outono ou no final do inverno e início da primavera. É fundamental a irrigação do solo antes e após o plantio das mudas (ANTUNES et al., 2006).


C a p í t u l o I | 107 ESPAÇAMENTO A escolha do espaçamento entre os camalhões dependerá em parte do tamanho da parcela, do sistema de colheita (manual ou mecânico), das cultivares (mais ou menos vigorosos, eretos ou abertos) e também da fertilidade do solo. O preparo do solo é considerado normal para o plantio de pomares, quando não existe a necessidade de corrigir a acidez do solo, que no Brasil frequentemente é baixa sua acidez e favorável ao desenvolvimento do mirtileiro. No entanto, solos com baixo teor de matéria orgânica devem ser acondicionados com dois anos de antecedência ao plantio. Depois de preparado o solo, procede-se a abertura das covas de plantio, de dimensões 30 cm x 30 cm x 30 cm, dispostas em fileiras ou sobre camalhões, caso seja necessário aumentar a profundidade efetiva do solo. É recomendado cobrir o solo das fileiras de plantio com coberturas secas, de bagaço ou palha, para a conservação da umidade do solo. Quando se trata de pequenos pomares, onde não é necessário circular pelas ruas com maquinário, o espaçamento adotado pode ser de 0,75 m a 1,0 m entre plantas e 2,0 a 2,5 m entre fileiras. Atualmente, é cada vez mais comum plantar mirtilo com densidades maiores, podendo chegar a 6.000 plantas por hectare para obter altas produções nos primeiros anos e amortizar rapidamente o investimento. No caso de áreas superiores a 0,5 ou 1,0 ha, onde é imprescindível o acesso pelas ruas com maquinários para realizar os diferentes tratos culturais e colheita, o espaçamento entre as plantas pode ser igual ao anterior, mas entre fileiras deve ser de no mínimo 3 m, ou mesmo 3,5 m, se a colheita da fruta for mecanizada com máquinas automotoras. Devese deixar uma área de manobra no final das fileiras de 5 a 7 m. Para o plantio, devem ser usadas mudas de boa qualidade, vigorosas e bem enraizadas. Utilizam-se espaçamento de 3 m a 3,5 m entre fileiras e 0,75 m a 1,20 m entre plantas, dependendo da cultivar e do solo. Isto implica uma alta densidade de plantas entre 2.200 a 4.400 plantas\ha. Para o mirtilo do grupo Highbush do Sul, o espaçamento adotado é de 0,8 m a 1,2 m na linha e de 3,0 m a 3,5 m entre as fileiras. Um espaçamento muito utilizado é de 1,0 x 3,0 m, com uma densidade de 3.333 plantas por ha, mas tal espaçamento pode ser ajustado de acordo com a variedade escolhida. As cultivares da espécie Vaccinium ashei (grupo Rabbiteye ou Olho de Coelho) por serem mais vigorosas, podem necessitar de um espaçamento um pouco mais amplo (1,8 m na linha e de 3,0 m a 3,5 m entre as fileiras).


C a p í t u l o I | 108 Posteriormente, são feitos as covas de aproximadamente 40 cm x 40 cm x 40 cm (Figura 59). Após a realização do transplante adequado, é necessário dispor previamente dos produtos para a desinfecção do solo (fungicidas, inseticidas e fertilizantes recomendados). Na hora do transplante, o desenrolamento da raiz deve ser feito com muita delicadeza, isso com o fim de que não sofra maior dano e que possa gerar uma resposta negativa às alterações ambientais a que a planta está exposta. É necessário irrigar durante os primeiros 3 dias do transplante e após, colocar o sistema de irrigação adequado com a frequência necessária para o cultivo (UNDURRAGA et al., 2013). Deve-se plantar na mesma profundidade em que as plantas estavam se desenvolvendo no viveiro. Ao plantar a muda na cova, firmar levemente o solo ao redor da planta com os pés e, em seguida, irrigue bem.

Figura 59. Abertura da cova e colocação da muda de mirtilo extraída do saco plástico. Fotos: Manual del arándano

Recomenda-se o transplante de mudas com raiz de 1 ano, comercializadas em sacos de plástico de 1 a 2 quilos. As plantas mais velhas devem ser colocadas em sacos de maior capacidade para evitar que as raízes se enrolem dentro do saco. Se isso acontecer, é muito importante desfazer esses emaranhados aparando as raízes enroladas, pouco antes do plantio. Não é muito aconselhável usar mudas com raiz nua, e menos ainda se não houver possibilidade de irrigação após o plantio, já que o sistema radicular do mirtilo é bastante sensível à dessecação. Logo após o plantio procede-se ao rebaixamento das plantas a uma altura de 30 cm do solo, a fim de eliminar as gemas florais e ajustar a relação raiz\copa. Nos primeiros anos após plantio, recomenda-se a remoção total de flores e frutos, para formar uma melhor


C a p í t u l o I | 109 estrutura da planta. Nesse período também é importante cuidar do controle de formigas cortadeiras, que causam grande perda de plantas (ANTUNES et al., 2004).

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO Plantas: mudas de plantas de dois ou três anos de idade com 30 cm a 90 cm de altura serão bem transplantadas (Figura 60). Mantenha as raízes úmidas o tempo todo entre a escavação e o replantio. Remova todas as pontas dos ramos que possuem botões de flores (botões redondos e rechonchudos). Evite fazer cortes perto da base das plantas que servirão de porta de entrada para a doença da ferrugem do caule. Para aumentar a sobrevivência e o crescimento e desenvolvimento subsequentes, podar dois terços do crescimento da raiz na raiz nua e metade nas plantas em vasos. Deixe apenas um a três dos mais vigorosos brotos ou ramos verticais e qualquer outro crescimento próximo ao nível do solo.

Figura 60. Planta de mirtilo em vaso. Foto: Sebastián Ochoa Münzenmayer.


C a p í t u l o I | 110 A orientação das fileiras deve ser preferencialmente em direção do vento para permitir uma melhor ventilação da cultura (Figura 61). O espaçamento entre fileiras mais utilizado é de 3 m e não mais que 100 m de comprimento por fileira para não afetar a entrega rápida das grades colhidas com frutos. Procure deixar um espaço suficiente na cabeceira das fileiras para facilitar a manobra do maquinário. Recomenda-se efetuar a instalação de mangueira de irrigação por gotejamento em baixo do mulch antes do estabelecimento das mudas de mirtilo.

Figura 61. Estabelecimento de campo de mirtilo em camalhões protegidos por mulch para o controle de plantas daninhas.

Deve-se plantar deixando a raiz levemente enterrada e pressionando o solo ao redor para evitar a formação de bolsas de ar. Se o plantio for realizado coincidindo com o período de seca, deve-se irrigar imediatamente após o plantio para manter a umidade das raízes e melhorar o seu contato com a terra (Figura 62).


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Figura 62. Muda de mirtilo plantada em campo em condições de irrigação. Foto: Sebastián Ochoa Münzenmayer.

Sempre que possível, é preferível plantar cedo, no final do outono, pois a atividade do sistema radicular começa bem antes da parte aérea. Desta forma, é possível ter a planta bem enraizada quando a floração começa na primavera. Porém, com mudas em torrão e com irrigação instalada, pode-se plantar praticamente em qualquer época do ano. Tempo: Final do inverno (fevereiro-março), assim que o solo puder ser trabalhado, é melhor para plantas de raiz nuas; o plantio no outono (novembro-dezembro) tem sido bem-sucedido em solos arenosos com plantas de raiz nuas e em outras áreas com plantas em vasos. Aplicação de cobertura morta na superfície: material orgânico como casca, lascas de madeira, serragem ou palha de pinheiro como cobertura morta de 5 cm a 8 cm na superfície após o plantio resulta em umidade do solo mais uniforme, moderada a temperatura do solo e geralmente promove melhor crescimento e sobrevivência. Lascas de casca de pinheiro ou serragem têm um pH entre 3,5 a 4,5 e são mais desejáveis do que as mesmas coberturas de madeira dura com um pH acima de 5,0. No entanto, coberturas de madeira de lei aplicadas na superfície têm sido satisfatórias. Evite serragem pegajosa de madeira dura que “selará” o leito e evitará a infiltração de água.


C a p í t u l o I | 112 As plantas de mirtilo são facilmente danificadas por excesso de fertilizante. Aplique a quantidade recomendada e deixe 100 mm de chuva ou uma quantidade equivalente de irrigação entre as aplicações. Primeiro ano: Não fertilize imediatamente após o plantio. Espere até que as primeiras folhas atinjam o tamanho completo, em seguida, aplique 1 colher de sopa de um fertilizante de azaléia especial (como 10-5-4, 10-8-8 ou 11-7-7) dentro de um círculo de 30 centímetros de distância de cada planta. Repita em intervalos de cerca de seis semanas, dependendo da chuva ou irrigação, desde meados de julho até meados de agosto. Use meia colher de sopa de sulfato de amônio em vez de um fertilizante completo para a segunda aplicação e as subsequentes se altos níveis de fósforo estiverem presentes, conforme determinado por um teste de solo. Segundo ano: dobre as dosagens de fertilizante do primeiro ano, mas aumente o círculo ao redor das plantas para 45 cm. Faça a primeira aplicação quando o novo crescimento começar na primavera. Plantas produtoras: Quando o crescimento começa na primavera, aplique 1 xícara de um fertilizante completo, como um fertilizante Azaléa dentro de um círculo de 90 cm de cada planta (cultivo em vaso). Para um crescimento mais vigoroso, cubra as laterais com um quarto de xícara de sulfato de amônio em intervalos de seis semanas, mas pare de fertilizar depois de 1º de julho. Em arbustos maduros, de 15 a 30 cm de crescimento novo é adequado. Qualquer crescimento adicional deve ser podado para evitar que as plantas se tornem excessivamente grande e resultem em uma perda de produção. Avalie a necessidade de cobertura com base na quantidade de crescimento do ramo e na cor da folha. Baixando o pH: Se o pH do solo estiver ligeiramente alto em um plantio estabelecido com base nos resultados do teste do solo, deve-se aplicar o sulfato de amônio e também aplique sulfato de ferro, se necessário, para corrigir o amarelecimento da folhagem Se a cobertura morta for utilizada após o plantio e substituída na quantidade de 3 cm por ano, alguns problemas de plantas daninhas podem ser solucionada. A palha de pinheiro é ácida e dá uma excelente cobertura morta (Figura 63). Arranque manualmente o crescimento ocasional de plantas daninhas. Evite o cultivo profundo, pois as raízes do mirtilo estão muito próximas da superfície. Abra a cova com a enxada não mais do que cerca de 3 cm de profundidade.


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Figura 63. Cobertura de casca grossa de pinus colocada sobre a fileira de plantio. Foto: Williamson (2008).

ADUBAÇÃO O manejo nutricional é um dos fatores mais importantes no cultivo de mirtilo. Para o manejo convencional, qualquer tipo de fertilizante químico pode ser aplicado em doses e épocas oportunas, com base nas exigências detectadas em campo. Ao contrário, para o manejo orgânico, devem ser aplicadas fontes de fertilização autorizadas, as quais devem ser aplicadas no momento oportuno de acordo com a velocidade de entrega dos nutrientes, uma vez que muitas dessas fontes, como compostagem e adubos verdes, necessitam da atividade biológica do solo, processo que leva muito tempo para entregar alguns de seus nutrientes, como o nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S). Outros nutrientes, como potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) são entregues mais rapidamente (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). 1.Adubação orgânica A matéria orgânica dos solos é importante para melhorar a estrutura do solo, reter a umidade e fornecer nutrientes para a planta. Além disso, com alto teor de matéria orgânica, há menos perda de nutrientes por lixiviação. O potássio, o cálcio e o magnésio são retidos no solo pelo complexo de troca de matéria orgânica. O nitrogênio e o fósforo são frequentemente convertidos em formas orgânicas por microrganismos do solo e, posteriormente, entregues para uso pela planta. O nitrogênio também pode ser retido na


C a p í t u l o I | 114 matéria orgânica na forma de amônia (NH4 +), que é o íon que é absorvido pelas raízes das plantas de mirtilo. Ademais, a matéria orgânica do solo mantém disponíveis formas de microelementos no solo, como o ferro, elemento particularmente exigido por essas espécies de plantas (RETAMALES, 1988). Os estrume de bovino e galinha são excelentes fontes de matéria orgânica. Nas zonas produtoras de Michigan (USA), recomendam-se aplicações anuais, no início da primavera, de 18-27 toneladas de estrume bovino por ha; ou aplicações de 11-13 toneladas de esterco de galinha por hectare. É sempre aconselhável fazer uma análise química do esterco e evitar a introdução no campo de esterco contaminado com sementes de plantas daninhas (VALENZUELA, 1988). Além disso, o emprego de adubo verde ajuda a aumentar a matéria orgânica e a textura do solo. O centeio semeado no outono e incorporado na primavera do ano em que se plantará, é uma prática recomendada em Michigan (USA). Não deve deixar espigar o adubo verde, pois o N extra será necessário para decompor o talo e não estará disponível para o mirtilo. O mesmo sucede quando se incorpora serragem ao solo; nesse caso, nitrogênio extra deve ser adicionado à cultura (LOBOS, 1988). A dose aplicada de cada nutriente deve estar relacionada ao nível de desempenho do pomar e às propriedades químicas do solo (análise do solo). De maneira que o programa de fertilização de safra a safra deve ser específico em cada pomar (uma receita não pode ser generalizada para todas as condições), pois a falta ou excesso de qualquer nutriente afetará diretamente a produtividade do pomar e a qualidade da fruta. Por isso, é necessária a realização de análises de solo (se possível a cada 2 ou 3 anos) e foliares (todos os anos), com as quais o diagnóstico nutricional e a recomendação de fertilização para o pomar serão específicos e se cumprirá com o objetivo do produtor em obter maior rendimento, alta qualidade e elevada rentabilidade da cultura (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). 2.Adubação química NITROGÊNIO. O nitrogênio é um macronutriente com uma infinidade de funções e muitas vezes é um fator limitante na produção agrícola. É um elemento fundamental por desempenhar um papel importante nos diferentes processos metabólicos e é parte fundamental na constituição de proteínas e outros compostos, além de ter influência no desenvolvimento de brotos (ramos), raízes, indução floral, frutificação, desenvolvimento e qualidade da fruta entre outros (Figura 64; Tabela 8).


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Figura 64. Observa-se pomar de mirtilo com fertilização nitrogenada adequada, além de uma abundância de plantas daninhas (gramíneas). Foto: Juan Hirzel C. (2017).


C a p í t u l o I | 116 Tabela 8. Concentração de nitrogênio (N) em diferentes partes de uma planta de mirtilo (Vaccinium spp.). Parte da Planta

Concentração de N (% Peso Seco) 1,2–2,1

Observação

Folhas 1.85–2,95

1,7–2.7 Crescimento vegetativo

Ramos lenhosos

2,1

Entre a senescência das folhas e a colheita dos frutos. Período típico de colheita de frutas.

1,1–4,7

Durante a estação de crescimento.

1,5–2,5

Entre a antese e aproximadamente 80 dias após a antese.

0,4–0,75

Mais alto antes da antese; mais baixo durante o desenvolvimento do fruto. Mais alto na dormência; baixo na colheita de frutas. Mais alto na dormência; mais baixo na colheita de frutas. Antese

0,8–1,7 0,76–1,58 Flor

2,1–2,2 5 5,3

Fruto

Coroa

Raiz

1–1,1

Na colheita

1–1,7

Na colheita

1,2–1,75

Na colheita dos frutos e na dormência

0,95–1,73

Mais alta na dormência e mais baixa durante o desenvolvimento do fruto. Aumentando à medida que vai terminando o desenvolvimento da fruta Na dormência e na colheita dos frutos

1,1–1,6 1,2–1,6 0,95–2,3

Fonte

Retamales et al, 2012 Bañados et al. 2012 (Z) Fang et al., 2020 (y) Bryla et al., 2012 (x) Bañados et al. 2012 Birkhold et al, 1993 (w) Birkhold et al, 1993 Bryla et al., 2012 Bañados et al. 2012 Birkhold et al, 1993 Bryla et al., 2012 Bañados et al. 2012 Birkhold et al, 1993 Bañados et al. 2012; Bryla et al., 2012 Bryla et al., 2012 Bañados et al. 2012 Birkhold et al, 1993 Bryla et al., 2012 Bañados et al. 2012

Baixo durante o desenvolvimento inicial do fruto e mais alto durante a dormência (ano seguinte) OBS: zVaccinium corymbosum ‘Bluecrop’; dados do tratamento de 50 kg ha−1 N. y Vaccinium corymbosum (híbridos interespecíficos; 'Emerald' e 'Farthing'); estimado a partir de 168 kg ha -1 N de tratamento de fertirrigação xVaccinium corymbosum ‘Bluecrop’; dados do tratamento de 50 kg ha−1 N. wVaccinium virgatum (‘Bonita’ e ‘Climax’). Fonte: Doyle et al. (2021).


C a p í t u l o I | 117 Em casos menos severos de deficiência de nitrogênio, a folha ficará vermelha e cairá no início da temporada. Como o nitrogênio se move dos tecidos mais velhos para os mais jovens, os tecidos velhos apresentam os primeiros sintomas. Os ramos jovens que crescem a partir da base da planta aparecem inicialmente rosados, depois se tornam a verdes pálidos. Todo o arbusto para de crescer. As necessidades de nitrogênio variam de acordo com a localização geográfica, tipo de solo, idade, produtividade da planta e manejo do solo. A aplicação excessiva de nitrogênio reduz a produção de frutos, retarda seu amadurecimento e diminui a resistência ao frio por parte da planta. A fonte de fertilização com nitrogênio no mirtilo é muito importante. As plantas que recebem nitrato como única fonte de nitrogênio apresentam baixo crescimento e podem apresentar deficiências de nitrogênio e ferro, uma vez que os nitratos elevam gradativamente o pH do solo (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). Geralmente, a ureia é a melhor alternativa se o pH do solo for inferior a 5; Caso contrário, se o solo tiver pH superior a 5, o sulfato de amônio é a melhor solução. Em relação à dose, em geral recomenda-se aplicar cerca de 75 kg de nitrogênio por hectare para um pomar adulto em plena produção, mas pode variar dependendo da quantidade de matéria orgânica que o solo contém (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). FÓSFORO. O fósforo, em baixas concentrações, afeta o desenvolvimento aéreo, reduzindo a eficiência fotossintética das plantas, tem influencia na diferenciação dos botões florais, na senescência das folhas e no desenvolvimento das plantas. No entanto, as plantas deficientes neste elemento apresentam folhas fracas e ligeiramente roxas. Quando os solos apresentam baixo teor de fósforo, devem ser aplicados 34 kg de P 2O5/ha para incrementar a produção. Caso as análises foliares apresentem deficiências, recomenda-se aplicar entre 85 e 115 kg de P2O5/ha. Os fertilizantes que contêm apenas fósforo, como superfosfato triplo, podem ser aplicados em qualquer época. Os fertilizantes que além do fósforo contêm nitrogênio, como o fosfato mono e di-amônio, só serão aplicados antes da floração, com o cuidado de ajustar a dose de nitrogênio a ser aplicada (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). POTÁSSIO. O potássio tem grande mobilidade no interior das células e influência no vigor dos ramos, aumenta a eficiência no uso da água e a resistência a condições de estresse por falta de água, melhora a qualidade, sabor e cheiro dos frutos, bem como seu rendimento (RETAMALES; HANCOCK, 2011). A deficiência desse nutriente produz margens vermelhas nas folhas que mais tarde se tornam necróticas. As manchas


C a p í t u l o I | 118 necróticas aparecem nas folhas velhas, enquanto a clorose intervinal (tecido da folha entre as nervuras, chamado mesofilo, é verde pálido) aparece nas folhas novas. Em solos com baixos níveis de potássio, a aplicação de 45 kg de K2O por hectare pode aumentar a produção. Se as análises foliares indicarem baixos níveis de potássio, recomendam-se doses de 60 a 100 kg de K2O/ha. Sugere-se a aplicação de sulfato de potássio e desaconselha-se a aplicação de muriato de potássio, pois o mirtilo é sensível ao cloro. Recomenda-se a aplicar com umidade adequada do solo e em qualquer época (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). CÁLCIO. O cálcio favorece a qualidade dos ramos, aumenta a firmeza dos frutos e regula o desenvolvimento das raízes (RETAMALES; HANCOCK, 2011). Raramente este elemento é deficiente em cultivo de mirtilo. Altos níveis foliares de Ca são encontrados quando a produção é alta e vice-versa, o que pode ser devido a um efeito de diluição do Ca na planta. Uma maior quantidade de frutas reduz o crescimento dos ramos e a quantidade total de cálcio na planta é diluída em uma menor medida. Se as análises indicam, recomenda-se aplicar de 1.000 a 2.000 kg/ha de calcário, desde que o pH seja baixo; se o pH estiver alto, recomenda-se aplicar gesso agrícola nas mesmas doses (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). MAGNESIO (Mg). Os principais benefícios são: Aumenta a intensidade na cor verde das plantas; Induz o vigor dos ramos (futura madeira produtiva); e Contribui para o aumento da produtividade (maior atividade fotossintética das folhas). Quando o Mg é deficiente, observam-se as folhas com margens cloróticas característicos, enquanto o restante da folha permanece verde. As regiões da folha que apresentam sintomas se tornam amarelas para o vermelho brilhante, adjacente às nervuras das folhas que permanecem verdes. A clorose progride em direção ao centro da folha, seguida por necrose. Estes sintomas aparecem primeiro em folhas velhas. Geralmente os sintomas aparecem durante o período de amadurecimento do fruto. As aplicações de MgSO4 a cada 2 ou 3 anos na dose de 224 kg/ha podem eliminar os sintomas. Se a análise foliar indicar, é aconselhável aplicar de 40 a 60 kg de Mg/ha. Se o pH for inferior a 4,5, aplicar dolomita ou cal dolomítica e se for maior que 4,5, aplicar sulfato de magnésio (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). ENXOFRE (S). Melhora o desenvolvimento dos ramos e a coloração das folhas. Também contribui na redução do pH do solo (acidificação) e quando aplicado junto com o K melhora a firmeza do fruto. Em solos com alta condutividade elétrica gera um aumento neste parâmetro afetando o desenvolvimento das plantas, aplicado como sulfato em solos


C a p í t u l o I | 119 com baixa concentração de cálcio pode causar deficiência de cálcio, (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). MICRONUTRIENTES Em relação ao ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn), molibdênio (Mb), zinco (Zn) e boro (Bo), suas deficiências estão geralmente associadas a um pH inadequado do solo. Por este motivo, é importante fazer novamente a análise do solo para checar o pH e a análise foliar para verificar se realmente existem deficiências desses nutrientes. Normalmente, os problemas com micronutrientes podem ser resolvidos simplesmente corrigindo o pH do solo para os intervalos apropriados (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). Aplicação de adubos químicos. Antes da instalação do pomar, a análise de solo é o único método de diagnose disponível para se estimar as necessidades de fósforo (P) e de potássio (K). As quantidades necessárias de P e de K são determinadas na mesma amostra de solo usada para se avaliar o pH. Os adubos fosfatados e potássicos, usados antes do plantio, devem ser aplicados em toda a área, por ocasião da instalação do pomar, preferentemente a lanço, e incorporados até 20 cm de profundidade. As quantidades de P2O5 e de K2O recomendadas na adubação de pré-plantio para a cultura de mirtilo constam da Tabela 9 (ANTUNES; RASEIRA, 2006). Tabela 9. Recomendação de adubação fosfatada e potássica, de pré-plantio, para a cultura do mirtilo de acordo com a análise de P e de K no solo. Interpretação do teor de P ou de K no solo Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Fonte: Sociedade (2004).

Doses de fosfato (kg P205\ha) 90 60 30 0 0

Doses de potássio (kg K20\ha) 90 60 30 0 0

Durante a fase de crescimento das plantas, que vai desde o plantio das mudas até o início da fase produtiva, recomenda-se usar somente nitrogênio. Supõe-se que o P e o K, fornecidos por intermédio da adubação de pré-plantio, sejam suficientes até o momento em que as plantas entrem em produção. Como o mirtilo apresenta uma alta suscetibilidade à toxidez por fertilizantes, recomendase fracionar a dose anual em, pelo menos, duas parcelas. As doses recomendadas, bem


C a p í t u l o I | 120 como as épocas, constam na Tabela 10. O adubo nitrogenado deve ser distribuído ao redor das plantas, formando uma coroa distanciada de 30 a 40 cm do tronco. A primeira aplicação de fertilizante nitrogenado deve ser realizada por ocasião da abertura das gemas florais e a segunda deve coincidir com o período da plena floração. Se houver necessidade, realizar uma aplicação adicional de N, durante o período de desenvolvimento dos frutos. Isto pode ser evidenciado pela ocorrência de sintomatologia carencial específica, por meio da observação do crescimento das plantas ou através de análise foliar (ANTUNES; RASEIRA, 2006). Tabela 10. Recomendação de adubação nitrogenada, de crescimento e de produção, para o mirtilo. Ano 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º em diante Fonte: Sociedade (2004).

Doses de nitrogênio (g de N\planta) 1ª aplicação 2ª aplicação 5,0 5,0 7,5 7,5 7,5 7,5 10,0 10,0 15,0 15,0 17,5 17,5 22,5 22,5 27,5 27,5 30,0 30,0

Segundo Rivadeneira (2010), a demanda por nitrogênio, fósforo e potássio aumenta com o passar dos anos e da mesma forma a absorção em cada estágio fenológico é diferente em seu requerimento. Também menciona que os elementos mais importantes no momento da fecundação no mirtilo são nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e zinco e é importante levar em consideração as baixas necessidades nutricionais já que há uma tendência do produtor de fertilizar em excesso, podendo assim acarretar os problemas de salinização do meio e limitação ao crescimento radicular.


C a p í t u l o I | 121 FERTIIRRIGAÇÃO Os solos ricos em cálcio não são recomendados para esta espécie. Os melhores solos são aqueles de pradarias, sem restos de cultivos frutais ou florestais e, principalmente, que não contenham herbicidas residuais, como o Simazina. Com um manejo adequado, a área de cultivo de mirtilo pode ser expandida. Os avanços nas técnicas de cultivo têm contribuído para isso, por exemplo, o uso da fertirrigação. Por ser originário de regiões com solos ácidos, de baixa fertilidade, geralmente o mirtileiro requer pouca adubação e é sensível aos excessos de fertilizantes. Em comparação com outras espécies de pequenas frutas, como framboesa e morangos, as plantas de mirtilo têm menores níveis foliares de nutrientes e de baixa extração do solo. Para um eficiente manejo da nutrição é preciso estabelecer os plantios em solos aptos para a cultura – profundos, bem arejados, ácidos, com alto teor de matéria orgânica. Nessas condições, a fertiirrigação é uma ferramenta muito útil para atingir altas produtividades em mirtileiros, pois permite disponibilizar o adubo na região de maior concentração de raízes, logrando-se uma maior eficiência no uso dos fertilizantes (VIDAL, 2007). Normalmente nas lavouras de mirtilo são realizados dois tipos de fertilização, um deles consiste na parte foliar e o outro refere-se à parte edáfica. O primeiro deles nesta cultura é mais eficiente que o do solo, portanto é aconselhável fazer uma análise foliar a cada 2 ou 3 anos para avaliar a eficácia do plano de fertilização recomendado. Como em todas as culturas, as faixas ideais de extração de macro e micronutrientes são monitoradas, conforme Rubio et al., 2010 (Tabela 11). Tabela 11. Os níveis foliares orientativos de macro e micro nutrientes em mirtilo. Fonte: Hanson; Hancock, 1996). Nutrientes Nitrogênio (N) % Fósforo (P) % Potássio (k) % Cálcio (Ca) % Magnêsio (Mg) % Enxofre (S) Boro (B) ppm Cobre (Cu) ppm Ferro (Fe) ppm Manganês (Mn) ppm Zinco (Zn) ppm

Deficiência <1,7 <0,08 <0,35 <0,13 <0,10 nd <18 <5 <60 <25 <8

Ótimo 1,70 - 2,10 0,08 -0,04 0,40 – 0,65 0,30 – 0,80 0,15 – 0,30 0,12 – 0,20 0,30 – 0,70 5 - 20 60 - 200 50 - 350 8 -30

Excesso ˃2,30 ˃0,60 ˃0,90 ˃1 nd nd ˃200 nd ˃400 ˃450 ˃80


C a p í t u l o I | 122 De acordo com a Tabela anterior, o teor de N nas folhas deve ser mantido entre 1,70 e 2,10% para que se obtenha um ótimo crescimento e uma boa produção, com frutas de qualidade. O teor foliar de N, frequentemente, é mais elevado em anos de produção elevada. Enquanto a exigência do mirtilo por P é muito baixa, sendo suficiente a aplicação em pré-plantio. Uma nova aplicação somente deverá ser feita quando o teor foliar estiver abaixo de 0,08%. Também quando o teor foliar de K estiver abaixo de 0,35%, é indicativo da necessidade de aplicação de K no solo. Para a realização da análise foliar do mirtilo, devem ser colhidas folhas completas (lâmina foliar com o pecíolo), na segunda quinzena de novembro. De cada dez arbustos, coletar cinco folhas plenamente desenvolvidas, localizadas no 5º ou 6º nó, contado a partir da extremidade dos ramos frutíferos jovens. Cada amostra deve ser composta de 80 a 100 folhas, podendo representar um grupo de plantas ou um pomar, conforme a homogeneidade. Em pomares com mais de 100 plantas, porém homogêneas, deve-se coletar quatro folhas por planta em 25 plantas distribuídas aleatoriamente e representativas da área. Cada amostra relaciona-se a uma condição nutricional. Assim, folhas com sintomas de deficiência nutricional não devem ser misturadas com folhas de plantas sadias. Cada amostra deve ser constituída de folhas de plantas adultas, da mesma idade e da mesma cultivar. As folhas que compõem a amostra devem estar livres de doenças e de danos causados por insetos, e não devem entrar em contato com embalagens usadas de defensivos, fertilizantes, etc. A amostra deve ser acondicionada em saco de papel pardo perfurado e enviada ao laboratório o mais rápido possível. Caso o tempo previsto para a chegada da amostra ao laboratório seja superior a dois dias, sugere-se fazer uma prévia secagem ao sol, sem retirar as folhas do saco, até que elas se tornem quebradiças (ANTUNES; RASEIRA, 2006). Para o correto manejo da fertirrigação é importante conhecer as exigências nutricionais do mirtileiro, que variam segundo o estado fenológico das plantas. Depois da saída do recesso hibernal, as plantas começam a mobilizar as reservas acumuladas nos tecidos de reserva nas raízes e no lenho, e inicia-se a absorção radicular de água e nutrientes do solo, permitindo sustentar a brotação e o florescimento na primavera. Durante as primeiras etapas de fixação dos frutos, há intensa absorção de água e nutrientes e translocação de fotoassimilados aos órgãos em crescimento ativo, sendo necessárias aplicações substanciais de N, P, B e Ca, de metade da dose anual recomendada. Próximo à colheita é realizada uma segunda adubação com os mesmos nutrientes, em torno de 10% da dose


C a p í t u l o I | 123 de N anual, e entre 30 a 40% das doses anuais de K, P e Ca. Depois da colheita se realiza uma terceira adubação, visando favorecer acumulo de reservas nos tecidos da planta antes do recesso, sendo aplicada 35% da dose de N anual e entre 10 a 20% das doses anuais de K, P e Ca (VIDAL, 2006). A adubação nitrogenada é importante para promover o desenvolvimento inicial da estrutura das plantas que sustentará os frutos, e também nas plantas já formadas para manter um adequado vigor dos ramos e boa produtividade. A forma preferida de aplicação de nitrogênio em mirtileiros é via fertirrigação. As formas solúveis de nitrogênio podem ser aplicadas na superfície do solo, desde que sejam incorporadas com chuva ou irrigação. Assim, as formas nitrogenadas amoniacais com predominância em solos com pH ácido são as preferidas pelos mirtileiros, em função disso recomendam-se aplicar fertilizantes como sulfato de amônia ou ureia (GASKELL, 2009). Em resumo, o manejo de fertirrigação é uma estratégia que permite elevar a produtividade e qualidade dos frutos de mirtileiros, desde que se promova um crescimento constante das raízes durante o período de frutificação. No entanto, cada produtor deve definir o programa de fertirrigação mais adequado, segundo suas condições de solo, qualidade da água de irrigação e nível produtivo. Para um adequado manejo de fertirrigação é fundamental o monitoramento utilizando tensiômetros e extratores de solução do solo, a fim de minimizar impactos ambientais, econômicos, desordens fisiológicas e potencializar a produção, qualidade dos frutos e a rentabilidade.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS Existem basicamente quatro métodos de controle que podem ser aplicados: biológico, cultural, mecânico e químico. Porém, o produtor sempre busca o método mais fácil e mais barato, por isso confia excessivamente no controle químico, por achar que é a única solução. Neste caso é viável e há uma série de produtos registrados para mirtilos em outros países, mas é preciso ressaltar que a solução é mais viável de se conseguir com o controle integrado; ou seja, usar todas as estratégias disponíveis aos agricultores para reduzir o efeito das plantas daninhas, começando pela prevenção; isto é, evitar que as plantas daninhas cheguem no campo, evitar que se reproduzam, evitar que se disseminem.


C a p í t u l o I | 124 Em plantios jovens, o desenvolvimento de plantas daninhas é menor quando utilizadas coberturas naturais ou artificiais sobre o solo. Para evitar a competição hídrica e nutricional, as plantas daninhas devem ser eliminadas manualmente ou com herbicidas sistêmicos ou de contato. Ou seja, as plantas daninhas devem ser eliminadas para evitar a competição da água por meio de herbicidas ou de forma mecânica, levando em consideração que a parte da raiz do mirtilo é superficial (STRIK, 2008). Por outro lado, a cobertura plástica do solo (mulch) é usada durante os primeiros anos de desenvolvimento do mirtilo como uma barreira contra as plantas daninhas (STRIK, 2008; Figura 65).

Figura 65. Controle de plantas daninhas em pomar de mirtilo. Foto: El Mercurio Campo.

No Brasil, não existem herbicidas registrados para a cultura do mirtileiro. No entanto, nos países produtores de mirtilo são utilizados herbicidas de preemergência, como a simazina e a terbutilazina, nicosulfurom, tendo o cuidado de não aplicar em plantas de menos de um ano, nem durante o primeiro mês de plantio ou durante a colheita. Em plantios novos sem frutos podem ser utilizados herbicidas de preemergência como o isoxaflutol, a trifluralina e o oxifluorfem. Os seguintes herbicidas de pós-emergência podem ser usados, desde que as plantas de mirtilo sejam protegidas da deriva: pendimetalina, oxifluorfem,


C a p í t u l o I | 125 glufosinato, glifosate, paraquate, setoxidim. Em plantios novos, sem frutos, podem ser usados herbicidas de pós-emergência como cletodim e fluazifope-P-butílico (CHIAVENATO, 2010). Como o controle de plantas daninhas perenes é realizado principalmente na primaveraverão, é viável a utilização de produtos não seletivos, mas aplicados de forma dirigida, desde que no se depositem em alguma parte verde das plantas de mirtilo ou tecido não lignificado, pois podem produzir danos irreversíveis (Figura 66). Este cuidado também deve ser tomado no caso de misturar um solo ativo com um herbicida pós-emergência (PEDREROS, 2013).

Figura 66. Aplicação de herbicida sistêmico não seletivo na plantação de mirtilo com protetor. Foto: Alberto Pedreros L. (2013).

MULCHING Mulching, ou cobertura morta, consiste em cobrir o solo da linha de plantio com materiais orgânicos (casca de pinheiro, palha, serragem, etc.) ou materiais sintéticos (plástico, tela antiaderente, etc.; Figuras 67 e 68), fundamentalmente para evitar o crescimento de plantas daninhas e manter a umidade na área do sistema radicular. A colocação de uma cobertura superficial ajuda a reduzir a frequência de irrigação, além de proteger as raízes jovens da evaporação excessiva de água em dias quentes. A sua colocação é, portanto, essencial em caso de ausência de irrigação. Esta técnica favorece muito o


C a p í t u l o I | 126 desenvolvimento da planta nos primeiros anos, resultando em plantas saudáveis e vigorosas com melhores produções e maior crescimento do arbusto\ ano.

Figura 67. Utilização de mulching em plantações de mirtilo. Foto: Patricio Borlando V.

Figura 68. Plantação em camalhão com mulch de malha antierva. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 127 O mulch de origem orgânica tem a vantagem de contribuir com matéria orgânica para o solo e melhorar sua estrutura, mas tem uma duração muito curta (4-5 anos) e plantas daninhas terminam se instalado sobre ele. Caso contrário ocorre quando se usa a malha anti-ervas daninhas, a qual dura 10-15 anos e cumpre melhor a função principal da cobertura morta (mulching), que é evitar o crescimento da erva na fileira de plantio. Quando for usado “mulch”, dobrar a quantidade de nitrogênio, com o objetivo de reduzir a relação C/N do material e, assim, acelerar sua decomposição (ANTUNES; RASEIRA, 2006). A cobertura morta deve ocupar uma faixa de aproximadamente 1 metro de largura ao longo da fileira de plantio. Quando se trata de um preenchimento orgânico, sua espessura deve ser de 15-20 cm, substituindo-o a cada 4-5 anos. Quando se coloca a tela anti-ervas, para permitir que as plantas (mudas) sejam enterradas, pode ser suficiente realizar sobre ela dois cortes em forma de cruz, com cerca de 15-20 cm de comprimento, embora também possam ser empregados queimadores ou outros instrumentos. Em relação à manutenção do solo, é aconselhável manter a grama da rua, minimizando a erosão do solo em áreas inclinadas e reduzindo a compactação do solo devido à passagem de máquinas. A grama deve ser cortada periodicamente para evitar competição desta, em água e nutrientes, com a cultura. Esta operação é preferível que seja realizada com roçadeira, deixando os restos no terreno que serão incorporados ao solo para aumentar o teor de matéria orgânica. Os herbicidas podem ser usados para controlar as plantas daninhas que podem sair através da cobertura morta ou ao longo das bordas da cobertura. Os mais recomendáveis são o tipo de contato não sistêmico, o tipo glufosinato e os sistêmicos tipo glifosato. Este último é mais eficaz porque elimina as plantas daninhas da raiz do mirtilo, mas deve-se ter cuidado para não tocar nas partes verdes das plantas. Além disso, em solos muito arenosos deve ser usado com muito cuidado, pois é possível que a planta o assimile pela raiz.


C a p í t u l o I | 128 IRRIGAÇÃO Nos primeiros cinco anos, depois do plantio, as práticas culturais como poda, irrigação e adubação devem estar orientadas a formar plantas com grande estrutura capaz de sustentar a produção de frutos. As plantas devem ser conduzidas em forma de taça aberta, para melhorar a luminosidade e a aeração no interior. É altamente recomendado o uso de coberturas naturais, assim como a manutenção permanente de uma camada de matéria orgânica sobre o solo das fileiras. A irrigação é um manejo que pode ser otimizado para atingir altas produtividades, sendo fundamental nos primeiros anos de estabelecimento, afetando diretamente o desenvolvimento vegetativo e a produção. Esta espécie (Vaccinium spp) é sensível aos períodos de estiagem no período de verão, principalmente na fase juvenil, pois suas raízes carecem de pelos absorventes e são muito propensas à desidratação. Portanto, é necessário manter um nível adequado de umidade, porque as plantas de mirtileiro não toleram estresse hídrico. Plantas do grupo Southern Highbush são mais sensíveis ao déficit hídrico do que o grupo Rabbiteye. Além disso, os frutos do mirtilo apresentam um crescimento cíclico: um primeiro período rápido de crescimento do pericarpo, ou parte do fruto que envolve a semente, que dura até cerca de 29 dias após a fecundação; um crescimento lento do pericarpo com rápido desenvolvimento do embrião de 5 a 56 dias; e, finalmente, outro período de desenvolvimento acelerado do epicarpo que continua até a sua maturação, que pode ser cerca de 26 dias. Assim sendo, o tamanho do fruto está condicionado pelo nível e pelas oscilações da umidade do solo, daí a grande importância da irrigação. Em plantações adultas, as maiores necessidades hídricas estão centradas na época de engrossamento e amadurecimento dos frutos, ou seja, de junho a setembro, no caso da Espanha. Por outro lado, nos meses de julho e agosto, inicia-se a formação de gemas florais para o ano seguinte, e seu número pode diminuir consideravelmente se coincidir com um período de escassez de água no solo (GARCÍA RUBIO; LENA, 2007). Também é importante realizar uma análise da qualidade da água de irrigação, já que o mirtilo não tolera bem a salinidade, nem os excessos de cálcio, boro ou cloro. Os requerimentos de água dependerão de fatores climáticos como a temperatura do ar, o vento, a umidade relativa, a insolação, bem como do tipo de solo. Em um solo arenoso, a frequência de irrigação deve ser aumentada e a sua duração reduzida; ao contrário de um


C a p í t u l o I | 129 solo franco, com maior retenção de água, onde as irrigações podem ser mais longas e espaçadas. Necessidades hídricas. Por se tratar de uma planta arbustiva com um sistema radicular superficial e pouco desenvolvido, o mirtilo necessita de boa disponibilidade de água, sendo imprescindível o uso de irrigação suplementar. Para isso, recomenda-se que o sistema de irrigação umedeça bem a área de maior concentração radicular, sendo necessário ajustar o espaçamento e a vazão dos emissores. O sistema de irrigação por gotejamento é o apropriado, pois permite uma aplicação mais eficiente da água e dos nutrientes. Entretanto, nos EUA é comum o uso de irrigação por aspersão alta, que também pode ser utilizada para controle de geadas. As aplicações de irrigação devem ser feitas de forma que os primeiros 15 a 20 cm do solo fiquem úmidos, pois é nessa profundidade que se encontra a maior parte das raízes. As raízes muito finas e sem pelos radiculares de mirtileiro são sensíveis de encharcamento e a falta de oxigênio no solo, causadas geralmente por compactação e má drenagem do solo. Nestas condições, a frequência da irrigação deve ser ajustada evitando asfixia a radícula ou déficit hídrico nas plantas. Em geral, para sistemas de irrigação por gotejamento a frequência das irrigações varia entre 1 a 3 dias, segundo a época do ano e o tipo de solo. É importante verificar que a água de irrigação tenha um pH inferior a 7,0 (idealmente pH 5,0), com teores de bicarbonatos menores a 1,5 mmol\L, de sódio menor a 2 mmol\L e de cloro menor a 4 mmol\L. Em relação ao efeito dos sais na solução do solo, têm sido definidos os seguintes valores como limites de tolerância: boro 0,5-1,0 g\m3; sódio e cloreto 100 g\m3; potássio 250 g\m3; fósforo 35 g\m3; nitrogênio 150 g\m3 e um valor de condutividade elétrica de 1,2 dS\m (VIDAL, 2006). Na planta do mirtilo, o sistema vascular das raízes e da parte aérea não se encontra totalmente interligado. Vários estudos comprovam que se a água e os nutrientes forem distribuídos de um dos lados da planta, só esse lado se desenvolverá, sendo necessária uma distribuição uniforme da água e nutrientes em torno da planta. Deste modo, no seu cultivo é comum utilizar duas mangueiras de gotejamento (uma de cada lado ao longo da fileira de plantio; Figuras 69 e 70), visando obter uma distribuição eficiente da água irrigada. Além disso, deve-se manter a irrigação das plantas regularmente durante a


C a p í t u l o I | 130 estação de crescimento, quando a chuva não é suficiente, pois os mirtilos jovens precisam de umidade apropriada para estabelecer os seus sistemas radiculares saudáveis.

Figura 69. Para o sistema de irrigação por gotejamento, duas mangueiras são instaladas ao longo de cada fileira de plantio do mirtilo.

Figura 70. a) Sistema de irrigação por gotejamento da cultura de mirtilo com as mangueiras instaladas abaixo do mulching e b) mangueiras colocadas por debaixo do plástico. Fontes: Bustillo Aimeth e Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 131 Os sistemas de irrigação localizada permitem irrigar com elevada frequência e, além disso, oferecem a possibilidade de fertirrigação, ou aplicação conjunta de água e fertilizantes. A irrigação por gotejamento é a mais adequada, levando em consideração que as lâminas de água necessárias para cobrir as necessidades da cultura não são excessivamente grandes (GARCÍA RUBIO; LENA, 2007). Como orientação, pode-se tomar como referência uma média de 1 a 2 litros\planta adulta\dia, principalmente durante os meses de junho a setembro e nas condições de cultivo das Astúrias, Espanha. Nas plantações de primeiro ano, as necessidades podem ser em torno de 0,5 litro\planta por dia, nas mesmas condições (GARCÍA RUBIO; LENA, 2007). Aplicar mais água do que a planta realmente necessita não traz nenhum benefício para essa cultura, muito pelo contrário. Uma vez que o perfil do solo está na “capacidade de campo”, um termo que se refere à capacidade de água relativamente constante que um solo saturado contém após 48 horas de drenagem, continuar a irrigar somente fará com que ele se torne saturado, perdendo água pelo escoamento ou encharcando o solo, dependendo de suas características físicas. Um abastecimento adequado de água é essencial para o crescimento ideal das plantas, pois as plantas de mirtilo possuem um sistema radicular fibroso superficial, tornando-as suscetíveis às secas; no entanto, é importante evitar a irrigação excessiva, já que as raízes podem morrer por falta de oxigênio (STRIK, 2008). Por sua vez, Buzeta (1997) relata que a irrigação na lavoura de mirtilo deve ser especialmente apropriada nos seguintes momentos: duas semanas após a queda das pétalas, duas semanas antes da colheita e três ou duas semanas depois. Como na maioria das espécies de frutas, o crescimento da baga é um período fundamental. Riveros (1996) relata um efeito positivo da irrigação na produção de frutos e no comprimento dos ramos. A grande vantagem da irrigação por gotejamento é por manter uma umidade constante e adequada no solo, para que a planta encontre não só água, mas também oxigênio e os nutrientes com os quais se podem fornecer dissolvidos na água (fertirrigação). Essa combinação água-ar somente pode ser alcançada quando a água cai gota a gota em um ponto do solo, se infiltra lateralmente e verticalmente formando o chamado "bulbo úmido" que, dependendo da textura do solo, assumirá diferentes formas. Portanto, o nível de umidade que é mantido no solo é sempre inferior à capacidade do campo. Como


C a p í t u l o I | 132 consequência dessas características, a cultura deve ser fertilizada com frequência (fertirrigação), pois os movimentos contínuos da água no bulbo úmido podem produzir uma lavagem excessiva de nutrientes (PALOMINO, 2009). A distribuição da água no solo tem um efeito importante na produção do mirtilo, de forma que a irrigação é um fator a ser considerado no manejo da cultura, principalmente devido ao sistema radicular superficial desta espécie. Estudos recentes mostram aumentos de até 43% na produtividade do mirtilo, com a aplicação da irrigação, (UNDURRAGA; VARGAS, 2013; Figura 71).

Figura 71. Aumento de produtividade do mirtilo usando o sistema de irrigação por gotejamento. Fonte: Undurraga e Vargas, 2013).

Os problemas mais comuns que surgem com a irrigação são devidos à má escolha do local de cultivo, principalmente quando os solos têm pouca aeração devido a uma porcentagem inadequada de argila (> 20%), o que limita o desenvolvimento das raízes devido ao excesso de umidade, asfixia radicular e incidência de doenças radiculares (INTAGRI 2017). Um sistema de irrigação por aspersão também pode ser usado (Figura 72). Mas só é recomendado nos casos em que haja risco de geadas primaveris, como forma de defesa


C a p í t u l o I | 133 contra elas, mesmo assim pode apresenta grandes inconvenientes, como promover a infestação de Botrítis no período que antecede a queda das pétalas.

Figura 72. Sistema de controle de dano por geada no mirtileiro com aspersão de água. Foto: Sulian Junkes Dal Molin.

DOENÇAS DO MIRTILO O mirtilo é uma espécie vigorosa, de rápido crescimento e alta produtividade, mas é suscetível a diversas doenças que podem alterar seu desenvolvimento, encurtar sua vida produtiva e afetar a qualidade e a quantidade dos frutos. A alta densidade de plantas nos pomares e os altos níveis de nutrientes usados para manter os níveis produtivos máximos, facilitam o estabelecimento e a propagação de doenças. Portanto, é importante conhecer as patologias dessa espécie, a fim de prevenir que doenças se estabeleçam e tornem o pomar improdutivo. Na verdade, qualquer estratégia de controle que se deseja seguir primeiro passa pelo diagnóstico da doença; se o problema não for conhecido, uma solução adequada não pode ser aplicada. As doenças mais comuns que afetam este arbusto frutífero são descritas a seguir. VERTICILOSE (Verticillium dahliae) Sintomas. Murchamento e clorose moderada da folhagem, seguida de rápida secagem da borda das folhas durante o verão; semelhante à deficiência hídrica. Este murchamento ou necrose das folhas pode ser parcial dentro dos ramos ou dentro do arbusto. A maior


C a p í t u l o I | 134 intensidade dos sintomas ocorre no verão e se caracteriza pela obstrução do sistema vascular (xilema), impedindo a passagem de água e nutrientes para a folhagem, o que induz ao murchamento. Ao cortar as hastes afetadas, observam-se anéis necróticos que podem ser parciais ou completos (Figura 73). Também ocorrem a podridão da raiz e o desenvolvimento de um micélio cinza chumbo ao redor do colo e das raízes primárias das plantas doentes (FRANCE, 2017).

Figura 73. À esquerda, lesões em plantas de mirtilo causadas por verticilose nas folhas. Centro e a direita, lesões em feixes vasculares. Fotos: INIA (2017).

Ciclo da doença. O organismo causador pode afetar vários hospedeiros, portanto o inoculo pode estar presente no solo da plantação. As primeiras plantas afetadas podem aparecer em áreas reduzidas (reboleiras) e com sintomas leves, mas se não forem controladas, essas áreas podem se expandir e causar mais danos aos arbustos. As lesões nas raízes e no colo da planta, por insetos ou tratos culturais, contribuem para a infestação por Verticillium. Controle. Essa doença não se controla apenas se previne. É importante evitar as lesões nas raízes, tanto mecânicas quanto causadas por insetos do solo ou nematoides fitoparasitários. Nas plantas sintomáticas devem retirar os frutos e reduzir a área foliar para reduzir a transpiração, caso contrário, colapsam por falta de fluxo de água desde as raízes. As plantas podem ser recuperadas no ano seguinte (FRANCE, 2017). GALHA-DA-COROA OU COLO (Agrobacterium tumefaciens). Sintomas. Na área do colo da planta e das raízes principais desenvolvem tumores ou galhas que podem chegar ao tamanho de uma bola de pingue-pongue (Figura 74). Os sintomas aéreos podem variar desde despercebidos até clorose e vermelhidão da folhagem, diminuição do crescimento e, eventualmente, a morte dessas plantas. Quanto


C a p í t u l o I | 135 mais jovem é a planta no momento da contaminação da doença de galhas, mais marcantes serão os sintomas. O normal é detectar as galhas na região do colo da planta, onde são instaladas após sofrerem uma lesão mecânica ou por insetos mastigadores. As galhas são relativamente mais macias em consistência do que um calo em cicatrização, seu interior apresenta um tecido esponjoso e de textura irregular, e crescem rapidamente, até atingir o tamanho de uma bola de 5 cm. As plantas que são infectadas precocemente são mais fracas e podem morrer.

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Figura 74. À esquerda, plantas de mirtilo afetadas por Agrobacterium tumefaciens. Centro e direita, galha-do-colo da planta e raízes (INIA, 2017).

Ciclo da doença. A doença é produzida por uma bactéria que se move com a ajuda de flagelos para uma lesão na raiz ou no colo. Essa bactéria pode entrar com a água de irrigação ou estar presente no solo ou substratos, uma vez que localiza a lesão, adere ao tecido lesado e transfere um pedaço de informação genética (plasmídeo) para a célula hospedeira. O plasmídeo contém informações que induzem a célula a crescer e se dividir de forma descontrolada, gerando uma galha. Além disso, o plasmídeo induz a produção de proteínas que servem de alimento para Agrobacterium e permitem que a bactéria se multiplique. As galhas podem eventualmente desaparecer quando apodrecem, mas novas galhas se formam em outros setores, desde que as lesões nas plantas continuem a ocorrer (FRANCE, 2017). Controle. A doença deve ser prevenida, pois uma vez que as plantas estão doentes, elas são modificadas para o resto da vida. As plantas de viveiro devem ser inspecionadas quanto a galhas na base do colo e, se for detectada a doença, devem ser removidas. A propagação por estacas lenhosas em canteiros quentes é um ambiente favorável para a multiplicação e disseminação da bactéria. Os canteiros infeccionam quando se usa água


C a p í t u l o I | 136 contaminada com bactérias, portanto, somente se deve utilizar água de poço profundo ou água tratada com cloro ou sulfato de cobre. Como controle biológico existe Agrobacterium radiobacter raça K84, a qual é eficaz apenas de forma preventiva, evitando o contato do Agrobacterium tumefaciens com a raiz. As raízes a serem tratadas devem ser imersas em uma solução de Agrobacterium radiobacter antes do plantio. Uma vez ocorrida à doença, não há controle curativo e deve-se conviver com ela, evitando ao máximo ferir as raízes, pois é a única forma da bactéria causar novas infecções.

MORTE REGRESSIVA - Phomopsis vaccinii (fase assexuada: Diaporthe vaccinii). Sintomas. A morte regressiva de ramos terminais até atingir a base do ramo da temporada anterior e uma coloração preta brilhante (Figura 75). Além disso, o desenvolvimento de cancros superficiais e lisos, sobre os quais podem se formar picnídios que estão imersos na casca; os picnídios são estruturas ocas em forma de pera, em cujo interior os conídios são produzidos, mas são observados como pequenos pontos pretos na superfície do ramo doente. A morte de ramos afeta a parte produtiva da próxima temporada.

Figura 75. Sintomas característicos causados por Phomopsis vacinii em hastes de mirtilo. Fotos: INIA (2017).

Ciclo da doença. A doença pode estar presente em viveiros quando as estacas são enraizadas provenientes de plantas doentes. Os ramos doentes produzem numerosos picnídios, que durante a primavera liberam conídios sempre que há chuva, a caída de gotas de água da chuva e o vento contribuem para a disseminação. Durante o inverno, o ciclo sexuado do fungo (Diaporthe vacinii) pode ocorrer nos restos de ramos doentes que


C a p í t u l o I | 137 permanecem no solo. Esta parte do ciclo se conhece pelos peritécios pretos, agrupados, com colos longos e irregulares, e que se encontram sob a casca. Os caules que sofreram lesões por geadas, ramos e picaduras de insetos são os mais suscetíveis, agravados por climas com maiores precipitações. Controle. A poda sanitária de ramos doentes é uma boa medida de controle, mas desde que esses ramos sejam retirados do pomar. A aplicação de fungicidas cúpricos em gemas inchadas ou que tenham efeito sobre Botrytis ajudam a reduzir o inoculo. A infestação da doença é variável e depende das chuvas da primavera e do nível de inoculo que permanece nos restos da poda (FRANCE, 2017).

CANCRO DO COLO - Fusicoccum parvum (fase assexuada: Botryosphaeria corticis). Sintomas. Iniciam-se com a clorose das folhas e ligeiro avermelhamento da borda da lâmina foliar, seguido de um rápido murchamento da folhagem, semelhante um déficit hídrico da planta (Figura 76). Posteriormente, as folhas se tornam castanhas claras e permanecem grudadas por um tempo. A morte do ramo é repentina e geralmente ocorre em meados do verão. Na base dos ramos doentes pode haver rachaduras na casca e o desenvolvimento de cancros irregulares. Sob ou sobre a casca existem picnídios pretos que normalmente estão agrupados. Quando os ramos doentes são cortados, observa-se necrose parcial em forma de leque ou semicírculo, que cresce até a necrosar todo o ramo, momento em que ocorre a sua morte. Sem controle, a planta enfraquece progressivamente devido à diminuição de ramos e da folhagem.

Figura 76. Necrose no caule causado por Fusicoccum parvum, em uma planta de mirtilo. Fotos: INIA (2017).


C a p í t u l o I | 138 Ciclo da doença. Dissemina-se pela propagação de estacas doentes em viveiros e, posteriormente, no pomar, pelas chuvas que liberam os conídios desde o interior dos picnídios. Quando as plantas morrem ou em climas com invernos muito frios, ocorre o ciclo sexuado, que é conhecido como Botryosphaeria e se caracteriza por produzir peritécios a partir das madeiras afetadas; esses corpos posteriormente liberam ascósporos no início da primavera, constituindo-se em inoculo primário. Em climas mais amenos, a fase sexuada não ocorre e o patógeno hiberna como picnídios na base dos caules doentes. Os conídios são liberados na primavera e colonizam lesões de brotação ou podas tardias. Controle. A melhor forma de cortar o ciclo da doença é a poda sanitária à medida que vão sendo produzidos os ramos mortos. Porém, não é fácil remover o ramo completo e é comum observar tocos de poda que permitem a reprodução do fungo. A poda deve ser ao nível do solo e a parte que deve ser retirada está a 10 cm do colo da planta. Complementando-o, estão as aplicações de fungicidas no outono e no início da primavera (FRANCE, 2017).

FERRUGEM (TIZÓN) DA MADEIRA - Botryotinia fuckeliana (fase assexuada: Botrytis cinerea). Sintomas. Os sintomas da ferrugem da madeira começam a partir de um cacho de flores que foi afetado pelo patógeno, para posteriormente avançar em direção à madeira e produzir uma lesão mais ou menos circular, de cor marrom, e que pode terminar em anelamento necrótico, secando o ramo sobre a lesão. Esses sintomas são mais comuns em novos ramos, especialmente se houver excesso de nitrogênio ou crescimento tardio. Madeiras doentes podem formar escleródios, que são vistos inseridos na casca como pequenas estruturas pretas com formas irregulares (Figura 77).

Figura 77. À esquerda, ferrugem (atizonamiento) de mirtilo, esclerócio em ramo e gema completamente coberto por micélio. À direita, estruturas reprodutivas de Botrytis. Fotos: INIA (2017).


C a p í t u l o I | 139 Ciclo da doença. Na primavera os escleródios germinam, produzindo estruturas reprodutivas (conidióforos e conídios) de cor chumbo, constituindo-se na principal fonte de inoculo para o resto da estação. Os conídios são disseminados pelo vento e podem colonizar qualquer tecido da planta, exceto as raízes, se as condições ambientais permitirem. O fungo pode viver sob expensas de tecidos saudáveis e em decomposição, aumentando ainda mais as chances de se reproduzir. Durante o inverno, o micélio do fungo se agrega e forma os esclerócios, que são estruturas de resistência duras, compactas e pretas. A incidência e severidade são maiores quando há chuvas de primavera e verão, excesso de nitrogênio na planta, danos causados por geadas e lesões. Em climas muito benignos, onde as plantas são sempre verdes, os danos do Botrytis são mais frequentes (FRANCE, 2017). Controle. É semelhante ao indicado abaixo para o controle da podridão cinzenta de flores e frutos. Nesse caso, pode-se adicionar poda sanitária para eliminar os galhos doentes, mas tomando cuidado para eliminá-los do pomar.

FERRUGEM BACTERIANA (Pseudomonas syringae). Sintomas. No início da temporada de crescimento, as gemas e raminhos terminais começam a necrosar nas pontas, avançando em direção à base, anelando a madeira ao redor dos ramos e deixando grandes setores do caule necrosado. Quando novos ramos são afetados, ocorre a morte regressiva, semelhante à causada por Phomopsis vacinii, mas neste caso a necrose se limita a casca. Os sintomas em folhas mais desenvolvidas são lesões necróticas em forma de V, quando começam na borda apical da folha, ou deformação lateral, no caso da infecção começa em um lado (Figura 78). As infecções tardias em mirtilo Olho de Coelho (Rabbiteye) produzem desprendimento de epidermes na parte inferior das folhas, juntamente com necrose do mesofilo quando exposto por essa perda de epiderme.


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Figura 78. Esquerda, ferrugem bacteriana em plantas de mirtilo, ramo necrosado. À direita, lesões necróticas em folhas causadas por Pseudomonas syringae. Fotos: INIA (2017).

Ciclo da doença. A bactéria habita sobre as folhas de mirtilo ou outras plantas dicotiledôneas que podem não estar necessariamente doentes. Quando se produz uma lesão na planta, seja de forma artificial ou natural, a bactéria entra e começa o desenvolvimento da doença, que é muito rápido devido à facilidade com que esse organismo se reproduz. A disseminação é pela chuva e a maior incidência da doença está condicionada à presença de geadas, uma vez que facilita a produção de lesões nos tecidos verdes. A doença também pode começar por cortes de poda, para continuar com a morte regressiva do caule. Controle. Esta doença está condicionada à presença de lesões e água livre, por isso o controle deve ser feito quando a gema está inchando, momento em que se produz uma ferida natural e maciça nos brotos. Posteriormente, as geadas são a principal causa de lesões e estabelecimento da doença, o que torna necessária a aplicação de antibióticos ou produtos cúpricos (calda bordalesa). Os caules doentes devem ser podados e removidos do pomar (FRANCE, 2017). Preparação da Calda Bordalesa: é uma suspensão coloidal, de cor azul-celeste, obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre com uma suspensão de cal virgem ou hidratada. A formulação a seguir é para o preparo de 10 litros; para fazer outras medidas, é só manter as proporções entre os ingredientes. a) Dissolução do sulfato de cobre: No dia anterior ou quatro horas antes do preparo da calda, dissolver o sulfato de cobre. Colocar 100 g de sulfato de cobre dentro de um pano de algodão, amarrar e mergulhar em um vasilhame plástico com 1 litro de água morna; b) Água de cal: colocar 100 g de


C a p í t u l o I | 141 cal em um balde com capacidade para 10 litros. Em seguida, adicionar 9 litros de água, aos poucos. c) Mistura dos dois ingredientes: Adicionar, aos poucos e mexendo sempre, o litro da solução de sulfato de cobre dentro do balde da água de cal. d) Teste da faca: Para ver se a calda não ficou ácida, pode-se fazer um teste, mergulhando uma faca de aço comum bem limpa, por 3 minutos, na calda. Se a lâmina da faca sujar, isto é, adquirir uma coloração marrom ao ser retirada da calda, indica que esta está ácida, devendo-se adicionar mais cal na mistura; se não sujar, a calda está pronta para o uso, sendo necessário coar a solução antes das pulverizações.

MANCHA FOLIAR E TALO (Pestalotia vaccinii). Sintomas. Ocorre apenas em talos novos, aquelas que apresentam clorose da folhagem e morte completa dos ramos, e na base apresenta-se anel marrom-escuro com ou sem rachaduras na casca. Numerosos acérvulos (estruturas reprodutivas em forma de almofada) são produzidos na área do colo, que levantam a casca para liberar um grande número de conídios pretos. Nas folhas, se produz necrose extensa, com bordas definidas e similares à produzida por Botrytis cinerea, essa necrose é acompanhada pela formação de acérvulos semelhantes aos que ocorrem no caule (Figura 79).

Figura 79. À esquerda, mancha da folha com necrose. No centro, caule do mirtilo com anelamento. À direita, haste com estruturas reprodutivas de Pestalotia vacinii. Fotos: INIA (2017).

Ciclo da doença. É importante em viveiros, onde as condições de alta umidade e temperatura, somadas à presença de abundantes tecidos tenros, facilita o desenvolvimento da doença. Posteriormente, pode ser observado em novas plantações. O inoculo pode vir de tecidos doentes de mirtilo ou de outros hospedeiros, destacando-se o acúleo de pinheiro


C a p í t u l o I | 142 como tecido suscetível. Outra fonte de inoculo são talos e folhas doentes que permanecem no solo. Os conídios são disseminados pela chuva e pelo vento, no caso dos viveiros são disseminados por irrigação por aspersão. Controle. Esta doença deve ser controlada no viveiro, eliminando-se os resíduos vegetais e principalmente as folhas e restos de caules dos vasos e do solo, caso contrário o reservatório de inoculo é constante. A ventilação é importante para não criar ambientes tropicais em casas de vegetação, os quais são necessários para a germinação dos conídios. Nos pomares, deve-se evitar a recepção de plantas com caules anelados na base, a poda sanitária permite eliminar este tipo de raminhas, mas desde que não fiquem no mesmo pomar. Os fungicidas aplicados no colo da planta ajudam a controlar os conídios. Os acúleos de pinheiro não devem ser usados em substratos de viveiro ou na preparação de camalhões (FRANCE, 2017).

PRATEADO (Chondrostereum purpureum). Sintomas. As folhas apresentam coloração de chumbo que se intensifica nas folhas superiores, à epiderme dessas folhas pode ser facilmente desprendida, expondo um mesofilo saudável que logo se queimará com o sol, deixando lesões necróticas nas folhas (Figura 80). Nos caules, observa-se necrose no centro da madeira, que se intensifica em direção à base. Os caules são mais frágeis e podem ser facilmente divididos. A fruta de ramos prateados é menor e não completa a maturação. O arbusto morre em 3 a 4 temporadas se não for feito um controle da doença.

Figura 80. À esquerda, sintomas clássicos de Chondrostereum purpureum em plantas de mirtilo, cor prateada das folhas. No centro, caule com necrose central. À direita, folha com desprendimento de epiderme. Fotos: INIA (2017).


C a p í t u l o I | 143 Ciclo da doença. Os corpos frutíferos do fungo (basidiocarpos) são formados quando a necrose interna da madeira consegue atingir a borda da casca. Eles aparecem no outono e no inverno, entre as estrias da casca ou em cortes de poda de ramos grossos. Os basidiocarpos são de cor rosa a roxa, aderidos à casca e com bordas ligeiramente levantadas. Eles produzem um grande número de esporos que são disseminados pelo vento. Encontram-se uma lesão profunda na madeira, como um corte de poda, e se produz a infecção (FRANCE, 2017). Controle. As variedades suscetíveis, Brigitta, Duke, Bluecrop, Drapper, Liberty, Misty, Elliot, Blueheaven, devem ser podadas o mais cedo possível na temporada; os cortes grossos devem ser cobertos com tintas protetoras e evitar a poda em dias chuvosos. É melhor remover as plantas doentes do pomar ou, na falta disso, devem-se podar os ramos sintomáticos desde a base assim que os sintomas aparecerem. No entanto, esse manejo não elimina a doença, mas estimula a rebrotação e a formação de novos ramos produtivos. O uso do chá de compostagem é uma alternativa para estimular os mecanismos de defesa e reverter os sintomas, os quais são alcançados após várias temporadas de uso intensivo. Não há controle químico.

PODRIDÃO CINZENTA DE FLORES E FRUTAS - Botryotinia fuckeliana (fase assexuada: Botrytis cinerea). Sintomas. Os sintomas são observados preferencialmente em flores e frutos, embora as folhas também possam ser afetadas; neste último causa lesões marrons que geralmente começam no centro da lâmina e se estendem em direção às bordas, produzindo necrose extensiva das folhas. No caso das flores, ocorrem lesões necróticas, que crescem até queimar completamente a flor e posteriormente o racemo (Figuras 81 e 82). A necrose também pode ser observada em frutos imaturos, mas está condicionada pela presença de restos florais. Enquanto que nos frutos maduras é onde se atinge a maior expressão de sintomas, caracterizados pelo amolecimento do fruto, tonalidade opaca, liberação de suco, desidratação e desenvolvimento de colonias de micélio (Figura 83). Se a umidade ambiente for alta, as estruturas reprodutivas do patógeno (conidióforos e conídios) se desenvolvem nas lesões, o que dão aos tecidos uma aparência de chumbo.


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Figura 81. Podridão cinzenta em mirtilo. À esquerda, necrose foliar. À direita, necrose floral causada por Botrytis cinerea. Fotos: INIA (2017).

Figura 82. Micélio e estruturas reprodutivas de Botrytis cinerea em frutos de mirtilo. Fotos: INIA (2017).

Figura 83. Danos causados no fruto de mirtilo por Botrytis cinérea. Foto: Bustillo Aimeth.


C a p í t u l o I | 145 Ciclo da doença. Este fungo é polífago e inespecífico nos substratos que coloniza, podendo danificar tecidos verdes de diferentes plantas e inclusive tecidos em decomposição. O inoculo de Botrytis é muito abundante no meio ambiente e provém dos diversos hospedeiros que possui. As primeiras infecções ocorrem nas flores e posteriormente os restos florais infectados podem transmitir a doença aos frutos. As infecções de frutas podem ser precoces na frutificação e se manifestar na maturação ou no destino, principalmente se houver condições favoráveis para o seu desenvolvimento na pós-colheita, como rupturas na cadeia de frio. Os frutos infectados podem desenvolver escleródios pretos à medida que se desidratam ou durante o inverno, os quais servem como estrutura de resistência ao fungo para os períodos de inverno. Controle. O controle deve ser mediante um manejo integrado que reduza as condições predisponentes ao ataque do patógeno, como excesso de nitrogênio, altas densidades de plantas, uso de variedades de longa floração, danos pelo vento e geadas. Alguns desses fatores devem ser prevenidos ou evitados no momento do plantio e seleção das variedades, e também os outros como: uso de quebra-ventos, controle de geadas e regulação da fertilização. Os controles com produtos químicos ou biológicos devem começar junto com a floração, continuar com a frutificação e caída de flores, ademais é necessário continuar com as aplicações em racemos com frutos agrupados para as aquelas variedades com cachos compactos. Na colheita é necessário evitar que restos florais aderem ao fruto, por se tratar de um bom reservatório de inoculo que se desenvolverá no armazenamento. Para armazenamento e transportes longos (por exemplo, para o Oriente), devem-se ser realizados os controles de pré-colheita (FRANCE, 2017).

ANTRACNOSE DE FRUTA (Colletotrichum acutatum). Sintomas. São observados principalmente na pós-colheita, quando pequenos acérvulos alaranjados começam a aparecer na epiderme do fruto. Em condições de alta umidade relativa, o fungo aumenta a produção de conídios, que são exsudados pelas lesões produzidas por esses acérvulos e contaminam outras frutas. À medida que o fungo se desenvolve, ocorre a desidratação do fruto, que acaba mumificado e coberto pelos conídios do patógeno (Figura 84). Este organismo também pode afetar flores, mas seus danos passam despercebidos. Embora a infecção comece na floração, a maior expressão dos sintomas é observada na pós-colheita.


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Figura 84. Antracnose em mirtilo. À esquerda, frutas desidratadas com acérvulos alaranjados. À direita, a epiderme do fruto com estágios reprodutivos de Colletotrichum acutatum. Fotos: INIA (2017).

Ciclo da doença. O patógeno se dissemina com a chuva e o vento por meio dos conídios, que se desenvolvem nos frutos que são lançados fora ou aderidos às plantas no final da colheita. As primeiras infecções ocorrem durante a floração, permanecendo latente o desenvolvimento da doença enquanto se aguarda um maior acúmulo de açúcares, o qual ocorre na época da colheita e no armazenamento. A presença de um fruto doente significa a contaminação do resto durante o armazenamento, o que pode causar perdas significativas (FRANCE, 2017). Controle. Não há controle especial para esta doença, às práticas de controle utilizadas para Botrytis ajudam a controlar esta patologia.

PODRIDÃO RADICULAR (Phytophthora cinnamomi). Sintomas. A doença pode começar desde o viveiro, onde ocorre à morte do rebento ou muda, necrose da base da estaca e falta de desenvolvimento da raiz (Figura 85). Nos pomares os sintomas são clorose e necrose da borda das folhas, folhagem avermelhada, desfolhação, crescimento reduzido e falta de vigor. As plantas doentes têm maior aborto floral e produzem frutas menores e mais ácidas. O sistema radicular mostra necrose parcial ou extensiva das raízes secundárias, que podem progredir até deixá-las completamente pretas; a casca da raiz se desprende facilmente, exibindo um centro de tonalidades castanho escuro.


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Figura 85. Podridão da raiz causada por Phytophthora cinnamomi. Foto: Andrés France I. (2017).

Ciclo da doença: A doença pode ser transmitida a partir de mudas doentes ou o inóculo pode estar no solo da plantação ou mesmo vir junto com a água de irrigação ou inundação. O patógeno tem a capacidade de produzir esporos flagelados conhecidos como zoósporos, que podem movimentar e ir para as raízes e o colo das plantas; se houver cicatrizes, a localização do hospedeiro é facilitada pelo zoósporo. Os tecidos doentes produzem inoculo cada vez que o tecido é inundado, liberando novos zoósporos que irão movimentar em busca de novos tecidos suscetíveis. Solos pesados e as inundações favorecem a doença. Controle: A principal medida de controle é evitar que a água inunde o colo das plantas, o que significa plantar em camalhões, controlando o excesso de água de irrigação, não tendo gotejadores que molhem o colo das plantas e o solo com boa drenagem. Não utilizar mudas doentes de viveiro. O uso de fungicidas como metalaxil, mefenoxam ou fosetilalumínio são alternativas de controle, mas desnecessárias se o excesso de umidade for evitado. Além disso, é necessário evitar os ferimentos (lesões) causados por insetos do solo, já que favorecem a entrada do patógeno na planta (FRANCE, 2017).


C a p í t u l o I | 148 ARMILARIOSE (Armillaria mellea). Sintomas: As plantas sofrem um declínio lento junto com a clorose da folhagem. O colo das plantas torna-se suberoso (consistência de cortiça), a casca desprende-se facilmente e por baixo dela encontram-se massas de micélios grossos, de cor branca, e dispostos em leques, que também podem ser visíveis até no interior da coroa (Figura 86). Os rizomorfos de cor preta são produzidos nas raízes primárias, que correspondem a micélios que se entrelaçam entre si para formar estruturas semelhantes a cordões que são usadas pelo fungo para colonizar novas plantas.

Figura 86. Planta de mirtilo com sintomas causados pelo fungo Armillaria mellea e o colo da planta mostrando micélio esbranquiçado e raiz afetada por Armillaria. Fotos: INIA (2017) e Gisela Chicau.

Ciclo da doença. A doença ocorre em diversas espécies florestais e frutíferas. A principal forma de disseminação é através dos rizomorfos, que são passados desde uma raiz doente para outra saudável e desde as árvores circundantes para a plantação ou entre plantas dentro do pomar; esses rizomorfos são muito difíceis de controlar. As plantas afetadas não têm controle e terminam morrendo, por isso a prevenção deve ser enfatizada. Quando as plantas morrem, no inverno, formam-se grupos de carpóforos (zetas), com 5 a 10 cm de diâmetro, cor de mel, as quais produzem numerosos esporos que podem se disseminar por grandes distâncias. Controle. Não plantar mirtilo depois de desmatar uma floresta, pois tem que eliminar as raízes grossas ou esperar mais tempo até que elas se decomponham. Também é necessário remover as árvores fracas ou mortas que circundam o pomar. Plantas doentes não têm controle e é preferível eliminá-las, além disso, se pode tratar de controlar a propagação a


C a p í t u l o I | 149 partir de uma planta doente, mas isso só é possível através do controle biológico dos rizomorfos. Como opção existe o Trichoderma, mas com a desvantagem de que deve ser aprofundado até a altura das raízes principais (FRANCE, 2017).

ALTERNARIA (Alternaria sp). Sintomas: Em países como o Chile, um dos principais produtores de mirtilo estabeleceu que uma das doenças mais limitantes da cultura é a Alternaria, a qual gera mais de 30% das perdas econômicas na colheita e pós-colheita, gerando maior incidência de fungos devido à implantação de novas cultivares, fertilização ineficiente e alterações na virulência de patógenos (BENSCH; GUERRERO, 2000). Alguns dos sintomas pelos quais esta doença é identificada são as ferrugens nos rebentos, onde alguns dos racemos florais ficam castanho e preto. Quando o fruto está na colheita adquire um amadurecimento excessivo, deixando-o enrugado e com uma esporulação alaranjada (Figura 87) (RAMSDELL, S. F.).

Figura 87. Danos causados aos frutos de mirtilo por Alternaria (Alternaria sp.) Fonte: Manejo Integrado de Plagas y Enfermedades del Cultivo de Arándano (2015).

Controle. Para o controle desta doença, é recomendado um controle químico exaustivo, fungicidas como o benomyl + captan são geralmente recomendados, uma vez que a eficácia no controle da Alternaria é bastante significativa na frutificação. Estudos realizados evidendiam que, quando não foram realizadas aplicações preventivas, a incidência aumentou 13%; onde mostrou que com três aplicações em plena floração e


C a p í t u l o I | 150 maturidade sua incidência foi menor. Mostra também que quando a fruta é mantida em câmaras frias, ela gera menos incidência, isso devido à sua temperatura de armazenamento (BENSCH; GUERRERO, 2000).

ASPERGILLUS SPP: Sintomas. Presença de esporulação preta pulverulenta de fácil remoção. Sintoma tipo mancha. Comportamento. A infecção da planta pode ocorrer no transporte ou durante o armazenamento, através do contato entre os frutos, pelo manuseio, por ferimentos mecânicos ou por disseminação dos esporos por corrente de ar (Figura 88). As altas umidades e temperatura elevada favorecem o crescimento e a disseminação do fungo.

Figura 88. Fruto de mirtilo atacado por Aspergillus sp. Foto: Bernardo Ueno.

Controle. Redução de injúrias durante as operações de colheita, classificação, armazenamento, embalagem e transporte; armazenamento em locais com boa aeração; manter o local de armazenamento limpo e sanitizado, à baixa temperatura e umidade relativa.


C a p í t u l o I | 151 PRAGAS Atualmente a área de distribuição produtiva no país tem se expandido, porém as pragas permanecem as mesmas, algumas se espalharam junto com as plantas e outras em menor extensão correspondem a insetos associados de relativa importância. Em nosso país, a safra é produzida por pequenos e médios produtores e, em menor proporção, por grandes produtores, sendo a fruta destinada ao consumo in natura, industrial e congelado. LAGARTAS BRANCAS (Coleoptera: Scarabaeidae). Mariposas. As espécies Hylamorpha elegans, Sericoides spp., Sericoides viridis, Sericoides obesa, Brachysternus

prasinus,

Brachysternus

spectabilis,

Phytholaema

herrmanni,

Phytholaema dilutipes e Tomarus villosus seriam as mais frequentes que compõem o conjunto de lagartas brancas. A maioria das espécies desenvolve seu ciclo em 1 ano. O adulto se alimenta principalmente da folhagem de árvores e arbustos nativos e, em menor escala, da folhagem do mirtilo, exceto as espécies de Sericoides spp que apresentam maior hábito alimentar ao cultivo. Assim que as fêmeas acasalam, elas introduzem no solo e depositam aproximadamente uns 60 ovos brancos. Sua atividade é principalmente crepuscular e noturna. As larvas são cilíndricas, brancas e em repouso formam uma letra típica "C", a principal característica sendo seus três pares de patas. As larvas destas espécies encontram-se regularmente sobre a fileira, junto às raízes das plantas e nas entrelinhas associadas à grama vegetal. As larvas se alimentam de raízes e radicelas do mirtilo sobre a fileira ou camalhão, causando enfraquecimento geral e até mesmo a morte de plantas jovens. As lesões produzidas por mastigação são uma porta de entrada de doenças. As plantas atacadas apresentam sintomas de estresse hídrico e crescimento reduzido. O maior dano é observado em plantas recém-estabelecidas e com menos de 4 anos de idade (UNDURRAGA; VARGAS, 2013; Figura 89).

Figura 89. A) Adulto de Sericoides viridis; B) Larva de Sericoides spp. C) Raízes danificadas pela lagarta branca. Fotos: Ernesto Cisternas A.


C a p í t u l o I | 152 Monitoramento. Antes do estabelecimento, devem-se revisar umas 20 amostras de solo (cubos de 20 × 20 × 30 cm de profundidade) por setor. Durante o cultivo, plantas com sintomas de déficit hídrico, amarelecimento e inclusive avermelhadas, seu sistema radicular deve ser examinado, enquanto os danos radiculares e a presença de insetos devem ser excluídos. A detecção precoce das larvas deste inseto deve ser feita entre o final do verão e o outono por meio da revisão de amostras de solo da linha superior. Controle cultural. As lagartas brancas presentes no solo devem ser combatidas antes do plantio do mirtilo. Arar o solo e a incorporação de inseticidas antes do plantio reduzirá a densidade das larvas. Se a cultura tiver cobertura de plástico, a incidência será menor em comparação com outros tipos de cobertura morta. Controle natural. Esses insetos são controlados naturalmente por pássaros, vespas e moscas parasitoides, fungos entomopatogênicos e alguns predadores. Controle biológico. Aplicação preventiva e curativa de fungos entomopatogênicos específicos para as espécies detectadas e identificadas corretamente na plantação. Controle químico. Um inseticida de solo deve ser aplicado incorporando-o quando as larvas forem detectadas antes do plantio. Uma medida de controle eficaz é a aplicação de inseticidas registrados respeitando os intervalos de segurança para o controle de adultos.

BESOUROS (Coleoptera: Curculionidae) gorgulho. As principais espécies presentes na cultura do mirtilo são: Aegorhinus superciliosus, Aegorhinus nodipennis, Aegorhinus phaleratus, Otiorhynchus sulcatus, Otiorhynchus rugosostriatus, Naupactus xanthographus, Graphognatus leucoloma e Naupactus cervinus. Os estágios adultos são encontrados no campo desde o final da primavera até o início do outono, dependendo da espécie. As espécies Otiorhynchus sulcatus e Otiorhynchus rugosostriatus são de atividade noturna, ao contrário das outras espécies, que são diurnas. Otiorhynchus sulcatus e Otiorhynchus rugosostriatus podem hibernar quando adultos e iniciar a postura precoce de ovos no início da estação após sua emergência (UNDURRAGA; VARGAS, 2013; Figuras 90A e B). Seus tamanhos, cores e formas variam de acordo com a espécie; mas não são facilmente identificáveis (Figuras 90C e D). A alimentação dos adultos ocorre principalmente nas folhas, produzindo nelas entalhes característicos, ao contrário das espécies de Aegorhinus que podem cortar os


C a p í t u l o I | 153 pecíolos das folhas e frutos e, em menor proporção, consumir folhagens. A fase larval apresenta em comum à ausência de patas, sendo o estado do inseto que mais prejudica a planta, pois consome e danifica raízes, radicelas e rizoma. Os patógenos entram nas lesões que podem causar a morte da planta. O ciclo desses insetos é anual e em alguns seu desenvolvimento ultrapassa 15 meses. O surgimento dos adultos começa no final da primavera, concentrando-se nos meses de verão (CISTERNAS, 2013).

Figura 90. Besouros: A) Adulto de Otiorhynchus rugosostriatus, B) adulto de Otiorhynchus sulcatus, C) larva de Naupactus cervinus, D) larva de Otiorhynchus rugosostriatus. Fotos: Ernesto Cisternas A. (2013).

Monitoramento. Antes do estabelecimento, devem-se revisar umas 20 amostras de solo (cubos de 20 × 20 × 30 cm de profundidade) por setor. Durante o cultivo, plantas com sintomas de déficit hídrico, amarelecimento e inclusive avermelhadas, seu sistema radicular deve ser examinado, enquanto os danos radiculares e a presença de insetos devem ser excluídos. Controle cultural. Os besouros devem ser combatidos antes do plantio. A sanidade das plantas em origem e procedência em relação aos besouros é muito importante, pois um pomar pode ser infestado com novas espécies. Verifique a colheita para detectar os


C a p í t u l o I | 154 adultos provenientes de bordas arborizadas. Não use solos com infestações comprovadas sem fazer longas rotações. Controle natural. Grilos, moscas parasitoides, vespas parasitoides, pássaros selvagens, fungos entomopatogênicos. Controle biológico. Fungos entomopatogênicos específicos para algumas das espécies. Controle químico. Um inseticida de solo deve ser aplicado incorporando-o quando as larvas forem detectadas. O combate de adultos deve ser realizado com inseticidas registrados e respeitando os períodos de carência. TRIPS (Thysanoptera: Thripidae) Trips, trips das flores, trips da cebola, trips preto das flores. As principais espécies associadas à cultura de mirtilo são: Frankliniella occidentalis, Thrips tabaci e Frankliniella australis. Esses insetos são muito pequenos em tamanho e frágil na aparência, quando adultos podem variar entre 0,8 e 2 mm, apresentam dois pares de asas membranosas finas e peludas. Corpo cilíndrico de aspecto frágil. Algumas dessas espécies não são fáceis de distinguir em condições de campo. De reprodução sexuada e por partenogênese, as fêmeas inserem os ovos ovoides, brilhantes e transparentes sob os tecidos vegetais, alojados em ramos tenros de crescimento sazonal, estruturas florais, pedúnculos e frutos. Deles emerge a larva ou ninfa I de cor branca hialina, tornando-se posteriormente amarelada. A larva ou ninfa II é amarelada que logo muda e dá origem a uma prepupa que após um curto período dá origem a uma pupa, que não se alimenta e após uma semana emerge um novo adulto muito ativo. O ciclo de vida pode ser completado em 15 a 20 dias e, dependendo das condições climáticas, podem permanecer ativos durante todo o ano ou hibernar como adulto. As larvas e os adultos são os estados que se alimentam de tecidos tenros por meio de seu estilete, são vetores de doenças, pois podem transportar fungos, bactérias e vírus. Os adultos também se alimentam de pólen. Os danos cosméticos causados pela oviposição e / ou pelo efeito da alimentação das larvas e adultos produzirão danos nos frutos (UNDURRAGA; VARGAS, 2013; Figura 91).


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Figura 91. A) Adulto de Thrips tabaci, B) ninfa de Frankliniella occidentalis. Fotos: Ernesto Cisternas A. (2013).

Monitoramento. Para detectar a presença e determinar as densidades, devem-se colher 100 flores por hectare, sacudidas sobre uma superfície plana preta e contar o número de indivíduos. Esse monitoramento pode ser repetido a cada 10 ou 15 dias, dependendo da população e da época do ano. Não tem limite de controle da praga. Controle cultural. Mantenha o pomar com uma presença reduzida de plantas daninhas ou plantas hospedeiras, tais como: trepadeiras, ervas daninhas, rabanetes, dentes-de-leão, etc., para reduzir as populações e manter os inimigos naturais. Controle natural. Outros trips predadores, crisopídeos, percevejos e ácaros. Controle biológico. Orius spp. Controle químico. Aplique produtos registrados nas doses e épocas de ataque.

MARIPOSA BLACK (Lepidoptera: Hepialidae). Mariposas fantasmas. As espécies nativas Dalaca pallens e Dalaca variabilis apresentam uma geração por ano. Os adultos são mariposas de voo crepuscular e noturno. Elas põem entre 1.000 e 2.000 ovos sobre o solo. Após 28 dias eclodem as larvas das mariposas de 1 mm, que em um período de 9 a 10 meses atingem comprimentos de 5 a 6 cm. A larva da mariposa vive no solo onde constrói uma galeria que ocupa durante o dia. À noite, as mariposas saem de sua galeria e se alimentam no nível do colo das plantas herbáceas e arbustivas. O dano característico mais severo é o anelamento do colo das plantas rente ao solo ou até 3 cm


C a p í t u l o I | 156 acima do solo, produzindo na área cortada calosidades de grande tamanho. Plantas com menos de 3 anos e novos raminhos de plantas maiores aneladas morrem após o ataque (Figura 92). Os ataques ocorrem regularmente no final da temporada, quando as larvas das mariposas migram desde entre fileiras e se instalam sob as plantas. A presença de plantas daninhas no colo e camalhão favorece sua incidência. Ataques a plantações com mais de 4 anos produzem apenas a perda de ramos produtivos que mudam de cor (amarelo para avermelhado). Os ataques começam no verão com o estabelecimento do inseto no meio e na fileira sob a cobertura vegetal ou restolhos (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).

Figura 92. A) larva da mariposa negra; B) dano a nível do colo em planta de mirtilo; e C) Mariposa da espécie Dalaca pallens. Fotos: Undurraga; Vargas (2013) e INIA (2013).

Monitoramento. Coletara cerca de 20 amostras de solo (cubos de 20 × 20 × 20 cm de profundidade) por setor, tomadas na entre fileira desde o final de maio ao início de julho. Aplicar medidas de controle quando a densidade da praga exceder as 20 larvas/m 2. As plantas pequenas ou com menos de 3 anos são as mais suscetíveis à praga. Controle cultural. O manejo do solo e de pré-cultivo antes do plantio permitiram uma baixa presença ou ausência da praga. Controle natural. Aves selvagens, insetos carabídeos, fungos entomopatogênicos, vírus e nematoides entomoparasitas.


C a p í t u l o I | 157 Controle biológico: fungo entomopatogênico BioINIA. Controle químico. Vários produtos químicos registrados do grupo dos piretróides.

LAGARTA ROSCA OU CORTADEIRA (Lepidoptera: Noctuidae). Mariposas noturnas. As espécies Agrotis ipsilon e Peridroma saucia apresentam de uma a três gerações ao ano. Os adultos são mariposas de voo crespuscular e noturno com alta capacidade de dispersão. Têm uma grande capacidade de adaptação às diversas condições e hospedeiros. As mariposas vivem entre 1 e 2 semanas, período em que depositam entre 1.000 e 2.000 ovos esféricos estriados, em pequenos grupos ou isolados, sobre as folhas da cultura e plantas daninhas, geralmente na parte inferior, também no restolho ou no solo. Quando as larvas são pequenas, alimentam-se da folhagem; mas quando crescem escondem-se no solo entre 5 e 10 cm de profundidade. Durante a noite, elas são muito ativas, movendose e se alimentando do colo das plantas (Figura 93). Os danos da lagarta costumam estar localizados no colo das plantas, rente e sob o solo (com anelado), sendo que as plantas recém-estabelecidas apresentam os maiores danos. Quando as plantas são mais velhas (3 a 4 anos), os danos são mínimos (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).

Figura 93. A) Lagarta de rosca e B) larva em colo de planta de mirtilo. Fotos: Ernesto Cisternas A. (2013) e INIA (2013).

Monitoramento. Coletar cerca de 20 amostras de solo (cubos de 20 × 20 × 20 cm de profundidade) por setor, as quais são tomadas sobre a fileira durante o outono, inverno e primavera. Aplicar medidas de controle quando a densidade da praga exceder 0,2


C a p í t u l o I | 158 larvas/planta As plantas pequenas ou com menos de 3 anos de idade seriam as mais suscetíveis à praga. Controle cultural. Antes do plantio, o manejo do solo e o pré-cultivo permitem uma baixa incidência ou ausência da praga. Controlar as plantas daninhas. Controle natural. Aves silvestres, insetos carabídeos, parasitoides e nematoides entomoparasitas. Controle biológico. Parasitoides braconídeos e taquinídeos de larvas. Os ovos são atacados por microvespas do gênero Trichogramma. As larvas podem ser controladas com produtos comerciais à base de Bacillus thuringiensis. Controle químico. Vários produtos químicos registrados do grupo dos piretróides.

PULGÕES (Hemiptera: Aphididae). Pulgão do melão e pulgão rosado. As espécies Aphis gossypii e Macrosiphum spp. são as mais encontradas no mirtilo. A espécie Aphis gossypii consegue muitas gerações durante 1 ano. Dependendo das temperaturas, pode completar uma geração em 8 dias. Esses pequenos insetos de corpo brando formam colônias entre os racemos desde a floração até o final da colheita e, posteriormente, entre os tecidos tenros e as flores dilaceradas. A colonização do pomar inicia-se na primavera com a chegada das fêmeas aladas, estas são vivíparas e depositam seus ovos em grupos de 60 (sexuadamente ou através de partenogênese) entre as raminhas e flores, formando densas colônias em curtíssimo tempo; quando isso ocorre, os indivíduos alados migram para outras plantas (Figura 94). Este tipo de inseto constitui um grupo de importância econômica. O dano mais relevante está relacionado ao manchamento da fruta devido à excreção de uma substância açucarada (excesso da seiva excretada é a mela) que serve como substrato para o crescimento de fungos (fumagina), além da transmissão de vírus. Ataques intensos podem causar queda das flores e redução do crescimento de novos ramos (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).


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Figura 94. A) pulgões adultos na flor de mirtilo e B) Racemo de frutas infestadas. Foto: Undurraga; Vargas (2013).

Monitoramento. Os ataques de afídeos são rápidos e dinâmicos dependendo da época. O monitoramento deve ser feito antes da floração e sobre ramos tenros desde o final do inverno e da primavera. Coletar 100 buquês de flores/ha no início da brotação na primavera, mas apenas tomar as medidas de controle se a presença de pulgões for superior a 10%. Controle cultural. Não fertilize em excesso com nitrogênio, Controle natural. Existem vários agentes de controle natural que regulam as populações de pulgões (vespas parasitoides, moscas das flores, fungos entomopatogênicos, etc.). Estima-se que quando mais de 30% dos pulgões são parasitados e também há a presença de outros inimigos naturais, então devem-se respeitar esses agentes, não aplicando inseticidas de amplo espectro ou selecionando inseticidas seletivos que não eliminam os inimigos naturais. Controle biológico. Existem vários agentes de controle natural, como parasitoides (Aphidius spp.) e predadores que ultrapassam o controle de 90% no período da primavera. Esses agentes podem ser multiplicados em laboratório para o controle de pulgões, mas deve ser solicitada às empresas produtoras de controladores biológicos com antecipação a época de liberação. Controle químico. Aplicar principalmente inseticidas sistêmicos, respeitando doses, épocas, registro e carências.


C a p í t u l o I | 160 LAGARTA-ENROLADEIRA DE FOLHAS (Lepidoptera: Tortricidae). Espécie Proeulia spp. Essas espécies de mariposas nativas teriam pelo menos duas a três gerações por ano, que poderiam se alternar em diferentes hospedeiros. A maior relevância é seu status de quarentena. Sua incidência na cultura tem sido regularmente baixa, porém a taxa de rejeição é alta. Estimam-se que existam várias espécies associadas à cultura. Estas mariposas noturnas de 2 cm de expansão de asa apresentam vistosas cores ocre, dourado, marrom e laranja com algumas faixas brancas e cinza. As fêmeas põem seus ovos brancos em grupos sobre as folhas, com o passar dos dias os ovos tornam-se amarelados, alaranjados e um tanto enegrecidos antes da eclosão. Entre 10 e 12 dias eclodem larvinhas de 1,5 mm, atingindo entre 2,0 e 2,5 cm em seu desenvolvimento máximo. As pupas encontram-se entre as folhas enroladas. Na primavera e no verão, as folhas enroladas e frutos danificados externamente por larvas são facilmente encontrados (UNDURRAGA; VARGAS, 2013; Figura 95).

Figura 95. A) Larva de Proeulia na fruta e B) na folha de mirtilo. Foto: Undurraga; Vargas (2013).

Monitoramento. No final do outono, larvas de primeiro instar são detectadas atacando os ramos. Desde o início da primavera e por meio de uma análise visual de 100 ramos por setor, quantificar a presença de danos à folhagem e/ou detecção de larvas nos racemos de fruta. Controle cultural. Remova o material de poda do pomar. Controle natural. Larvas e pupas são regularmente parasitadas, sendo as vespas braconídeos e as moscas taquinídeos as mais comuns. Controle biológico. Aplicação de produto a base de Bacillus thuringiensis (comercial).


C a p í t u l o I | 161 Controle químico. A aplicação de inseticidas registrados respeitando os períodos de carência é uma medida de controle eficaz para o controle de larvas quando mais de 2% dos ramos apresentam danos à folhagem.

COCHONILHAS FARINHENTAS (Hemiptera: Pseudococcidae). As espécies encontradas no mirtilo são: Pseudococcus viburni, Pseudococcus calceolariae, Pseudococcus longispinus e Pseudococcus cribata. Durante o ano, produzem-se entre 3 e 4 gerações. A dificuldade de identificação dos estágios imaturos dessas espécies torna-as particularmente quarentenárias. Seu corpo é de consistência branda, oval e achatada. São recobertos de cera esbranquiçada que às vezes deixa revelar a cor rosada ou cinza do corpo. No contorno apresentam filamentos de cera que são de maior tamanho do que na parte posterior. As ninfas móveis que eclodem dos ovos são distribuídas por diferentes partes da planta. Durante o inverno, os insetos adultos e juvenis estão localizados principalmente sob o solo, entre as raízes das plantas e na base do tronco sob a casca. Durante a primavera e o verão, elas colonizam os racemos e frutos (Figura 96).

Figura 96. A) Adulto e ninfas de cochonilha branco na planta e sob a casca e B) no fruto do mirtilo. Fotos: Undurraga; Vargas (2013).

Monitoramento. Armadilhas de cartão ondulado colocadas no caule são uma ferramenta muito boa para monitoramento e detecção. As plantas daninhas são fontes importantes de infestação natural. Devem-se analisar 20 armadilhas por setor desde o início da


C a p í t u l o I | 162 primavera. Quantifique a presença no colo, folhagem e detecção nos racemos de fruta, segundo a época. Controle cultural. Remova o material de poda do pomar. Controlar as plantas daninhas no colo, camalhão e borda do camalhão. Combater as formigas. Controle natural. Vários agentes de controle natural produzem uma ótima regulação das espécies, composta por parasitoides e predadores. Controle biológico. Liberação de parasitoides e predadores de acordo com as espécies determinadas no pomar. Aplicação de fungos entomopatogênicos selecionados com BioINIA. O controle de formigas é essencial para a eficácia dos inimigos naturais e controladores biológicos. Controle químico. Uma medida de controle eficaz para controlar a praga é a aplicação de inseticidas registrados respeitando os períodos de carência quando mais de 2% das plantas apresentam o inseto praga.

PERCEVEJO PARDO DO FRUTO (Hemiptera: Coreidae). A espécie Leptoglossus chilensis tem uma geração por ano. Os adultos têm corpo delgado marrom opaco de até 15 mm com antenas e pernas longas. Após o acasalamento, a fêmea inicia a postura característica de seus ovos em forma de corrente, aderidas aos raminhos, folhas e frutos de mirtilo em menor extensão. As pequenas ninfas preto-avermelhadas eclodem dos ovos retangulares marrons, que à primeira vista se assemelham a aranhas. Eles são regularmente encontrados agrupados em folhagens e racemos de fruta (Figura 97). A colonização do pomar começa com a chegada de adultos em hibernação de plantas nativas. Os voos de dispersão iniciam quando as temperaturas aumentam no início da primavera. É encontrada associada a muitas plantas nativas (hospedeiras) que ocupam os contornos dos pomares, além de muitos outros hospedeiros cultivados introduzidos. Nenhum dano foi encontrado em folhas e frutos, exceto em frutas sobremaduras. As densidades em que se encontra regularmente são baixas e sazonais. As densidades serão regularmente mais altas em setores onde existem hospedeiros nativos. Sua maior importância é quarentenária (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).


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Figura 97. A) Adulto de percevejo pardo e B) ninfas em frutos de mirtilo. Fotos: INIA (2013).

Monitoramento. Análise visual da folhagem desde o início da primavera através de uma amostragem pontual de 50 a 100 plantas/seção. Quantifique a presença na folhagem e nos racemos de fruta, de acordo com a época do ano. Os limites de aplicação são desconhecidos. Controle natural. Dois parasitoides regulam naturalmente sua população até o estado de ovo e a fase adulta Controle químico. Aplicar inseticidas registrados e respeitando os períodos de carência, a eficácia do controle da praga é suficiente à satisfatória.

VESPA PERFURADORA DOS RAMOS (Hymenoptera: Tenthredinidae). A espécie Ametastegia glabrata foi introduzida acidentalmente no sul do Chile, sendo detectada em 1986 atacando framboesas. Este inseto apresentaria até três gerações por ano. Sua área de distribuição atual ocorre entre as regiões de Maule e Los Lagos, provavelmente foi aumentada pelo movimento de plantas. Os adultos são vespas pretas de 0,6-0,8 cm com patas alaranjadas. A fêmea deposita seus ovos de aparência achatada nas folhas de espécies de plantas daninhas poligonáceas, como pêssego e romã. A larva verde, com três pares de patas verdadeiras e sete pares de pés falsos, alimenta-se da parte inferior da folhagem das plantas daninhas até atingir seu crescimento máximo de 1,0 a 1,5 cm, momento em que migra para locais aonde irá construir uma câmara para hibernar como larva, pupa na primavera e emerge como uma vespa na primavera (Figura 98). O maior dano desse inseto ocorre desde final de verão e outono, quando as larvas procuram


C a p í t u l o I | 164 um local para hibernar, cavando os tenros brotos de crescimento sazonal do mirtilo. Sua maior importância ocorre em novos plantios e principalmente onde as plantas daninhas indicadas não foram controladas. O controle de plantas daninhas hospedeiras é a melhor estratégia para o manejo e controle do inseto (UNDURRAGA; VARGAS, 2013).

Figura 98. A) Raminho de mirtilo perfurado por larvas de vespa broca e B) larva em hibernação. Fotos: INIA (2013).

Monitoramento. A coleta de plantas hospedeiras e de plantas daninhas é uma ferramenta muito boa para seu monitoramento e detecção. As plantas daninhas são a fonte de infestação. De março a maio (outono) a colonização do inseto ocorre nos raminhos das plantas. Controle cultural. Remova o material de poda do pomar. Controle as plantas daninhas poligonáceas no colo, camalhão e na borda do camalhão. Controle natural. Sem informação. Controle químico. Aplicar inseticidas registrados respeitando os períodos de carências.


C a p í t u l o I | 165 MOSCA DA FRUTA A mosca-da-fruta faz parte do grupo de pragas limitantes para o cultivo de mirtilo, é comumente chamada de "Drosophila das asas manchadas", é nativa da Ásia, mas se consolidou como praga limitante na Califórnia dos Estados Unidos. As moscas são identificadas por serem pequenas, cerca de 2-3 mm com abdome redondo (Figura 99) (ISAACS, 2014).

Figura 99. Fêmea em oviposição. Fonte: Recomendaciones para el Manejo de la Mosca de Alas Manchadas (SWD) en los Arándanos de Michigan.

As fêmeas ovipositam diretamente no fruto, esses ovos passam para a fase de larvas, as quais se alimentam do fruto até causar o colapso total do mesmo. Esses insetos devem ser controlados no momento adequado do cultivo, pois têm a capacidade de gerar prejuízos bastante limitantes para a comercialização do fruto no final de sua cadeia produtiva. Por isso, os produtores implementam estratégias preventivas contra o impacto dessa praga. Um dos controles desse inseto refere-se ao monitoramento em campo com algum tipo de armadilha, geralmente se utilizam cartões de cor branca ou amarela com algum tipo de adesivo, os quais podem capturar tanto os machos como as fêmeas (ISAACS, 2014; Figura 100).


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Figura 100. Armadilha caseira para capturar adultos da mosca SWD. Fonte: Recomendaciones para el Manejo de la Mosca de Alas Manchadas (SWD) en los Arándanos de Michigan.

Outro manejo necessário para o controle desse inseto é a erradicação dos frutos que se encontram infestados com o estado de ovos ou larvas, pois são capazes de gerar moscas adultas. É imprescindível o monitoramento constante de frutas que possam apresentar cicatriz de oviposição e/ou tecido brando, pois assim será possível observar que tão afetado pode estar o cultivo. Eles podem ser identificados graças a uma xícara de sal dissolvido em um galão de água, a fruta é levemente pressionada sobre esta solução, a fim de observá-la posteriormente. Por serem larvas pequenas e brancas, podem ser facilmente vistas. Como método preventivo, recomenda-se a aplicação com inseticida quando a fruta já está na fase de maturação. O uso pós-colheita como controle de temperatura e o uso de maquinários adequados são essenciais para a seleção de frutos brandos ou moles (ISAACS, 2014).

PÁSSAROS Os pássaros são as pragas vertebradas mais graves dos mirtilos, especialmente em pequenas parcelas ou em áreas onde abundam grandes bandos, por exemplo, de estorninho-comum (família dos esturnídeos). No entanto, a gravidade dos danos pode variar muito de ano para ano. São controlados por métodos repelentes, combinando vários tipos, ou ainda cobrindo o terreno com uma rede anti-pássaros, embora esta solução possa


C a p í t u l o I | 167 ser pouco económica (Figura 101). Alguns produtos à base de plantas, como o antranilato de metila, um composto encontrado nas uvas e em algumas frutas cítricas, estão sendo testados como repelentes. Baseados em antranilato de metila – O seu sabor consegue evitar que as aves comam o fruto. No entanto, ao ser um composto volátil, tem uma eficácia muito curta. Foram conseguidos bons resultados durante cerca de três dias, mas passados estes três dias, estes repelentes químicos perdem a sua eficácia. Ao longo da temporada, é necessário aplicá-los 4 vezes e depois dos dias de chuva.

Figura 101. Plantas jovens de mirtilo coberta com rede anti-pássaro. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I | 168 PODA A poda é muito importante no cultivo do mirtilo porque mantém o equilíbrio entre o crescimento vegetativo e radicular e também na formação e na qualidade dos frutos. Não se recomenda uma poda no outono porque pode estimular a brotação de novos ramos que, com as baixas temperaturas do inverno, morreriam. Nos primeiros dois anos de plantio, a planta não deveria florescer. Para isso, é conveniente remover os botões de flores por meio da poda de gemas florais, que no mirtilo se encontram aproximadamente nos 5 cm superiores dos ramos do ano anterior. Portanto, a poda desta porção dos ramos eliminaria essas gemas. Este tipo de poda visa estimular o crescimento vegetativo dos ramos selecionados que vão dar a estrutura da planta. Uma vez que a planta tenha de 4 a 5 anos, o objetivo da poda será manter o equilíbrio entre os ramos velhos, cada vez mais improdutivos, e os ramos jovens que ainda não atingiram a produção máxima. Para isso, devem ser removidos de um a dois ramos velhos por ano. Mediante a poda também se consegue uma estrutura da planta bem aberta (tipo taça) para permitir a penetração da luz e aeração. Além disso, todos os ramos doentes ou fracos devem ser removidos (GORDO, 2011). Ou seja, uma boa poda para rejuvenescer a planta se consegue eliminando os ramos velhos e deixando os ramos novos e fortes, assim a planta de mirtilo pode prolongar a sua vida por até 40 anos. É importante ressaltar novamente que a finalidade da poda dos mirtileiros é equilibrar a parte aérea da planta, ou seja, promover o equilíbrio adequado do crescimento reprodutivo e vegetativo (STRIK et al., 2003), redistribuindo a carga na copa para regularizar a produção, e também favorecer a emissão de brotações vigorosas e a abertura do centro da planta (forma de taça aberta). Quando as plantas de mirtilo não são podadas, eventualmente os ramos se tornarão adensados e improdutivos. Com a poda, buscam-se condições favoráveis para o crescimento de plantas sãs, retirando madeiras finas e fracas com excesso de ramificações, a fim de ter ramos (brotos) vigorosos e longos. Também auxilia no controle de pragas e doenças, melhora o tamanho e a qualidade dos frutos, equilibra a produção de ramos novos e fortes, desenvolvendo um hábito de crescimento apropriado para a colheita (SANMARTÍN, 2010).

A maior parte da poda deve ser feita após a colheita

(WILLIAMSON; LYRENE, 2005).


C a p í t u l o I | 169 Na hora da poda, o operador deve usar luvas que evitem danificar os frutos e a tesoura não deve ser pontiaguda, pois dificultam a manobra nas partes centrais do arbusto. A desinfecção da tesoura pode ser feita com permanganato de potássio a 1% para evitar a propagação de doenças de uma planta para outra. Os tipos de podas são: Podas de formação. Realizam-se nos primeiros dois anos após o plantio para eliminar ramos não vigorosos e gemas florais, com o fim de obter um posterior equilíbrio entre as partes vegetativa e reprodutiva. Se essa poda não for realizada, a planta começa a produzir frutos sem ter a parte vegetativa suficiente, além disso, existe o risco de formação de frutos pequenos e de baixa qualidade (INTAGRI, 2017). Portanto, após o plantio, podar os ramos em um terço e remover os ramos finos e fracos ao redor da base da planta (Figura 102). Também incline todos os ramos laterais que permanecerem após o corte das plantas. A poda remove os ramos florais e incentiva as plantas a investirem energia no desenvolvimento das raízes, em vez da produção de frutos na primeira estação de crescimento.

Figura 102. Poda da planta de mirtilo na primeira estação de crescimento. Foto: Kim Toscano.

A poda é realizada durante o recesso hibernal nos primeiros dois anos após o plantio, visando formar a estrutura da planta. Também são eliminados os ramos mal localizados, finos e débeis abaixo dos 30 cm da copa, deixando os 3 a 4 ramos mais vigorosos no primeiro ano. No inverno seguinte, esses ramos serão podados a 40-50 cm de


C a p í t u l o I | 170 comprimento, para formação de 3-4 hastes principais, sobre as quais se concentrará a produção do ano seguinte. A cada 5 anos, os ramos envelhecidos devem ser eliminados. Poda de inverno: Depois de formada a estrutura da planta, é realizada a poda de inverno no período de recesso hirbernal, consistindo na eliminação de ramos secos e mal localizados, principalmente aqueles que se desenvolvem para o interior da copa. Nessa poda os ramos fracos devem ser rebaixados até um bom ramo lateral jovem. Devem-se deixar entre 4 a 6 hastes na planta, sendo 1-2 para substituição e as demais para produção. Diferente de outras espécies como o pessegueiro, no mirtileiro não se deve despontar os ramos no período de recesso, porque as gemas florais se concentram nas últimas 6-8 gemas terminais do ramo. Poda de produção (poda verde ou de verão). Tal poda é realizada quando surgem ramos e folhagem verde em época de primavera e verão, cujo objetivo é controlar o tamanho dos ramos vigorosos que saem da base de plantas adultas e estimular a emissão de ramos antecipados (laterais), forçando a frutificação na porção média dos ramos que produz os frutos de maior calibre, eliminar a parte do ramo que já produziu após colheita (Figuras 103 e 104) ou ramos que vão em direção ao solo e ajustar o número de ramos. Também é realizada para eliminar os ramos inativos e ramos muito compridos com o fim de rebaixar a planta a uma altura média de 50 centímetros do solo.

Figura 103. Ramo despontado (seta vermelha da poda verde) com a consequente emissão de ramos antecipados. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


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Figura 104. Poda verde, despontando o ramo que já produziu frutos. Fonte: San Martín, 2012.

Essa poda pode ter efeito variável dependendo da época na qual seja realizada. Despontes muito antecipados ou tardios na estação de crescimento podem ser ineficazes ou até prejudiciais, caso estimulem a brotação em épocas frias. Estudos conduzidos em outros países produtores de mirtilo indicam que os despontes de ramos realizados aos 60-85 dias depois da brotação – que no Brasil corresponderia aos meses de novembro-dezembro – produzem antecipados longos, com mais gemas florais e vegetativas. Além disso, a poda verde tem um efeito debilitante na planta, porque remove parcialmente a madeira disponível para acúmulo de reservas, razão pela qual esta prática deve ser realizada somente em ramos vigorosos, de pomares bem conduzidos, com extensos ciclos de crescimento. Podas de renovação. Estas podas são realizadas em plantas com grande número de colmos lenhosos (hastes), para revitalizar a planta em consequência de um baixo vigor, poucos frutos por podas sem intensidade e para induzir os ramos curtos (Figura 105). Existem três formas diferentes de poda de rejuvenescimento: Ao nível do solo. Utilizado para uma renovação completa da planta, apenas como último recurso. Em altura média. Também elimina tudo, mas preservando a estrutura inicial da planta; isso reduz o tempo de renovação da produção.


C a p í t u l o I | 172 Misto: Dois a quatro ramos da planta são rebaixados a uma altura média, deixando o restante em produção. A produção não diminui, mas demora mais a apresentar os resultados esperados e é realizada em períodos de 2 a 3 anos (INTAGRI, 2017).

Figura 105. Poda de rejuvenescimento ou renovação do mirtilo. Foto: San Martín, 2012.

Poda conforme a espécie. Visto anteriormente que os mirtilos são produzidos a partir de botões em ramos com 1 ano de idade, a poda deve ser severa o suficiente para estimular a produção de um novo crescimento vigoroso a cada ano. Como os Mirtilos Rabbiteye são vigorosos e podem sustentar e desenvolver safras pesadas de frutas de grande porte, eles geralmente requerem menos poda do que os Mirtilos Highbush do Sul. Durante os primeiros cinco anos, pouca poda será necessária. Remova o crescimento de ramos inferiores, ramos mortos ou danificados e crescimento fraco e espigado. Incline os ramos excessivamente longos e flexíveis para estimular a ramificação lateral e para engrossar os ramos. Podar as plantas jovens durante a estação dormente (hibernal) e imediatamente após a colheita das plantas mais velhas. Abaixo exemplifica a poda necessária dependendo da idade da plantação (Figura 106). - Ano 1: poda de formação após o plantio. Podar os ramos mais vigorosos pela metade e os fracos ou rasteiros a 2 cm ou 3 cm da base, eliminando todas as gemas florais. - Ano 2: se produz a primeira colheita, remova algum ramo fraco bem próximo ao solo. Se não houver colheita ou o crescimento da planta for escasso, é necessária uma nova poda de formação.


C a p í t u l o I | 173 - Ano 3 ao 7-8: poda de produção. Muito leve nos primeiros anos, elegendo-se os principais ramos que vão formar o mato ou moita (copa). - Ano 3 em diante: poda de manutenção, em que se limita o crescimento em altura, os ramos fracos ou tardios são eliminados e que se abrem o interior da planta (tipo taça aberta). - Ano 7-8 em diante: poda de frutificação, após atingir a máxima produção. Renovar a cada ano um terço dos ramos principais, cortando-os cerca de 30-40 cm acima do solo (poda drástica), de forma que tenha sempre ramos com menos de 4-5 anos. Período de poda: de novembro ao início de março.

Figura 106. Poda necessária dependendo da idade da plantação de mirtilo. Foto: Ganesh Grow.

Existem duas possibilidades com o manejo da poda em variedades precoces: um tradicional ou de inverno, que envolve as estratégias que normalmente são realizadas na etapa de repouso ou recesso hibernal, desde a queda das folhas no outono até a brotação no final do inverno, que consiste na eliminação de toda a madeira produzida por um ou mais períodos consecutivos, o que é facilmente reconhecido por possuir um maior nível


C a p í t u l o I | 174 de ramificação. Esta condição implica ramos pequenos finos, sem vigor e gemas florais de qualidade inferior. Os frutos de melhor qualidade são produzidos em ramos de maior vigor a médio vigor, com aproximadamente 15 a 25 cm (Figura 107). Estes devem ser estimulados com uma intensidade de poda que varia de moderada a severa dependendo do vigor de cada planta. Se a planta tem um bom vigor e crescimento, a poda deve ser moderada e, ao contrário, se o vigor for baixo, a poda deve ser severa ou forte (SANMARTÍN, 2010).

Figura 107. Os ramos laterais carregadores de maior vigor (direita) produzem frutos de melhor qualidade. Foto: José San Martín (2010).

Por outro lado, a planta emite com maior ou menor intensidade novos brotos ou ramos longos desde a sua base, que no final da temporada (safra) podem atingir entre 0,8 m e 1,5 m. Aquelas que se originam desde a coroa ou do subsolo tendem a ser mais longos e vigorosos do que as que emergem da madeira (haste) na parte inferior ou média da planta. Esses ramos longos são muito importantes para a estrutura do arbusto, pois geram uma haste ou madeira produtiva de substituição. Para estimular esses tipos de ramos, os mais velhos devem ser eliminados por poda de desbaste (SANMARTÍN, 2010).


C a p í t u l o I | 175 Se as plantas ficarem muito altas para serem colhidas com facilidade, remova seletivamente cerca de um terço das hastes mais velhas no inverno. Geralmente, até sete hastes são deixadas a cada ano após a poda de rabbiteye (Olhos de Coelho) maduros, com a haste mais velha ou maior removida a cada inverno começando no quinto ano. Esses cortes seletivos devem ser feitos para abrir o centro da planta para melhorar a penetração da luz e permitir que novas hastes se desenvolvam para substituir as velhas (Figura 108).

Figura 108. Tipos de poda em planta da mirtilo.

Os mirtilos Highbush do Sul requerem poda anual para evitar a dominância apical e manter o vigor. Podar durante a temporada de dormência; o final do inverno é mais desejável, especialmente nas montanhas. Se os botões florais forem removidos após o plantio, pouca poda será necessária no segundo ano, exceto para remover todos os botões florais e qualquer crescimento fraco, danificado ou doente. Depois de duas estações de cultivo, devem-se deixar alguns botões florais em hastes ou ramos vigorosos para produzir uma pequena safra no terceiro ano. Para a poda em planta em idade produtiva, remova as hastes de baixa propagação e as hastes que crescem no centro do arbusto, especialmente os galhos mais velhos e fracos. Corte as hastes de 1 ano de idade extremamente vigorosas e remova a maioria dos galhos


C a p í t u l o I | 176 pequenos e delgados (Figura 109). Se a precocidade for importante, lembre-se de que os frutos produzidos em ramos pequenos laterais delgados geralmente serão os primeiros a amadurecer, portanto, isso deve ser levado em consideração na determinação do número desses ramos a serem removidos (Figura 110). Além disso, as hastes laterais de longa frutificação precisam ser inclinadas para trás para que não restem mais do que quatro a seis botões florais.

Figura 109. Poda da planta de mirtilo realizada no segundo ano e o aspecto da planta no terceiro ano após 12 meses da poda. Foto: Pinterest.


C a p í t u l o I | 177 Figura 110. Planta de mirtilo antes e após a poda (terceiro ano ou mais). Foto: Caldwell County Center – N. C. State University.

As plantas de mirtilo Highbush geralmente atingem seu pico de produção entre 8 e 10 anos de idade. Para manter o vigor do arbusto com a produção contínua de frutas de alta qualidade, a poda de renovação deve ser praticada. Comece o processo de renovação quando os arbustos tiverem cerca de 6 anos. Primeiro, remova qualquer haste fraca ou doente inteiramente. Entre as hastes restantes, começando com as mais velhas, corte cerca de duas por ano para ramos laterais fortes. Novos ramos laterais fortes geralmente se desenvolvem abaixo do corte. Por meio da poda de renovação, uma nova estrutura vertical pode ser desenvolvida ao longo de um período de quatro a cinco anos. As plantas adultas com 5 anos ou mais devem ser podadas numa ordem. O ideal é o produtor podar por cada lado da fileira para evitar pisar nos camalhões. Sempre podar desde a parte inferior da planta até a parte superior, começando por eliminar desde a base todos os ramos fracos e finos. Continuar para cima removendo todos os ramos finos, caídos e curtos que estão próximos a outros ramos produtivos. Os ramos envelhecidos que já não apresentam mais vigor para produzir ramos laterais vigorosos devem ser retirados desde a base, promovendo assim a produção de novos ramos a partir da coroa da planta. Cortar os ramos que deram frutos sobre o ramo mais vigoroso do ano, procurando sempre uma gema que venha na posição superior e com corte em bisel (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). É importante destacar que o desbaste de ramos velhos na base da planta induz a produção de novos rebentos desde a coroa. O manejo geral tende a favorecer este tipo de crescimento juntamente com um bom plano de fertilização, irrigação e poda. Outra possibilidade é a poda na fase de crescimento ou de verão, que é realizada imediatamente após o término da colheita. Isso é possível porque as variedades precoces, como Duke, Bluetta e Earliblue, e as de baixa exigência de frio, como O'Neal, Misty e Sharpblue, são produzidas no início da temporada. Após a colheita, ocorre um período prolongado de crescimento desde novembro a março. É importante lembrar que qualquer poda feita durante a estação de crescimento é debilitante. No entanto, o princípio aqui utilizado é eliminar a madeira que carregou os


C a p í t u l o I | 178 frutos para evitar seu posterior desenvolvimento, embora sob um esquema tradicional de desbaste, de todas as maneiras se eliminará durante o inverno, o que permitará evitar que a planta venha a perde energia. Além disso, os ramos gerados em madeira que carrega fruta são de menor vigor e suas gemas florais, de qualidade inferior, portanto, eliminá-los antecipadamente beneficia a planta. Da mesma forma, gera mais espaço e permite que incida mais luz ao centro da planta para promover o vigor dos ramos em crescimento, além de aumentar a formação de gemas florais de boa qualidade no que resta da temporada (SANMARTÍN, 2010; Figura 111).

Figura 111. (A) = Arbusto adulto apresentando cortes de poda anuais típicos e madeira a ser removida (parte pontilhada). (B) = Arbusto adulto após a poda (Seta vermelha: parte central da copa aberta). Fotos: Sebastián Ochoa Münzenmayer.

CULTIVO DO MIRTILO EM COBERTURA DE PLÁSTICO Cultivo sob plástico tipo minicapela. No cultivo em casa de vegetação, e dependendo da variedade, a maturação dos frutos pode ser adiantada de 10 a 15 dias sob uma estrutura simples do tipo minicapela (Figura 112); ou uns 30 dias ou mais em estufas mais sofisticadas, aquecidas e cobertas de vidro, etc. Esse efeito pode ser ampliado com o uso de fitorreguladores, já abordado anteriormente.


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Figura 112. Cultivo de mirtilo em casa de vegetação tipo minicapela. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

As vantagens mais importantes são de produzir fora de época, e sob plástico pode se conseguir um maior preço do fruto no mercado, permitindo assim a colheita em dias de chuva e a obtenção de frutos de melhor qualidade em épocas chuvosas. A principal desvantagem da aplicação dessa tecnologia de cultivo é o custo econômico da estrutura e instalação da estufa (GARCÍA RUBIO et al., 2018). No entanto, em relação ao cultivo ao ar livre, uma série de considerações deve ser levada em consideração: -Uma maior atenção à irrigação, em termos de frequência e quantidade de água fornecida; -O uso indispensável da fertirrigação; - Atenção especial à ventilação; - Excesso de temperatura no verão; - Maior vigilância sobre pragas.

Estufa tipo túnel. O uso de polisombras ou túneis de plástico tem aumentado à produção de mirtilo nos últimos anos, ajudando a controlar as condições climáticas adversas da cultura (Figura 113). Como é o caso da presença de geadas, as quais podem ocasionar inconvenientes em fases importantes como a floração e a frutificação, também evita os


C a p í t u l o I | 180 danos da chuva que podem ocorrer na colheita. Diz-se que a produção em estufa tipo túnel pode melhorar a precocidade dos frutos, permitindo aos produtores obter preços mais elevados na temporada de colheita.

Figura 113. Produção de mirtilo com cobertura de plástico tipo túnel. Foto: Ritec.

A produção em túneis elevados consiste em estruturas cobertas com plástico e ventiladas naturalmente. Este tipo de instalação permite a alteração do microclima da cultura e a proteção das condições ambientais adversas ao crescimento e a extensão da época produtiva. Em variedades normais e tardias há uma antecipação de 5 a 6 semanas da data de colheita, enquanto que em variedades precoces a antecipação é de, apenas, 2 a 4 semanas. As técnicas culturais são semelhantes às utilizadas em culturas ao ar livre e permitem o aumento da produtividade e qualidade, uma utilização de água e fertilizantes mais eficiente e a diminuição da erosão do solo e da presença de infestantes e pragas na cultura (RETAMAL et al., 2015; GARCÍA RUBIO et al., 2018).


C a p í t u l o I | 181 Cultivo "Evergreen". Se conhece com este nome ao tipo de cultivo "sempre verde", ou seja, que as plantas, no caso do mirtilo, não perdem as folhas durante todo o ano, pelo menos na sua maior parte (Figura 114).

Figura 114. Cultivo "evergreen", denominado de “sempre verde”. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

Nesse ciclo de crescimento contínuo, é possível modificar a fenologia da planta por meio de um manejo adequado, de acordo com as necessidades sazonais, mas levando em consideração as variações locais de temperatura e as flutuações climáticas. Com é lógico, isso só é possível em climas quentes e latitudes muito baixas, aproximadamente abaixo do paralelo 300 e até o equador. E, evidentemente, com variedades adequadas a este ambiente, como são algumas do grupo “Highbush do Sur” com necessidades h\frio muito baixas, inferiores a 300 h\frio, como as cultivares Biloxi, Ventura, Rocio; ou muito recentemente aquelas selecionadas pela Universidade da Flórida, as quais são: Avanti, Arcadia e Endura (GARCÍA RUBIO et al., 2018). Esta modalidade de cultivo baseia-se principalmente na manutenção de um programa contínuo de irrigação e fertilização ao longo do ano para que a planta não entre em repouso (hibernação). Desta forma, e mediante as podas adequadas, as colheitas podem ser obtidas do inverno à primavera: dezembro a maio no hemisfério norte, ou de julho a novembro no hemisfério sul.


C a p í t u l o I | 182 Esta nova técnica, em sinergia com as variedades adequadas, está dando um giro de 1800 ao cultivo do mirtilo. Prova disso é que os mais importantes programas de melhoramento genético em todo o mundo estão dedicando boa parte de seus esforços à obtenção de variedades conhecidas como "no Chill Highbush", com necessidade zero de horas frias (GARCÍA RUBIO et al., 2018).

ESTABELECIMENTO DE MIRTILO FORA DO SOLO (VASO OU BALDE) A produção de mirtilo em substrato ou vaso é uma técnica de cultivo em fase inicial de estudo. A necessidade de recorrer a esta tecnologia de cultivo está na baixa disponibilidade de condições de solo ideais para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Esta tecnologia de cultivo permitirá facilitar as operações culturais e a colocação das plantas em câmaras frigoríficas, onde através da exposição ao frio artificial é possível manipular o ciclo produtivo da cultura, estando também este método em fase de estudo. Os estudos já realizados demonstram a existência de um grande potencial de manipulação do ciclo produtivo das plantas, mas realçam a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre estas tecnologias de cultivo. O cultivo fora do solo, em substrato ou hidropônico como também é conhecido, é relativamente recente em mirtilo. Embora seja cada vez mais comum ver grandes áreas de mirtilos cultivados em recipientes, seja em sacos ou vasos (Figura 115), ainda não há experiência suficiente a longo prazo sobre o tempo de vida útil das plantas, mantendo a sua produção ideal nessas condições. A produção em vaso, comparativamente com a cultura em solo, apesar do investimento inicial, permite um desenvolvimento da planta muito mais rápido o que permite atingir a produtividade máxima também muito mais rápido.


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Figura 115. Cultivo de mirtilo fora do solo: A) Poda e depois de um ano; B) Antes da poda e depois da poda. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

Uma das vantagens deste sistema é que permite estabelecer o cultivo em qualquer tipo de solo, inclusive sobre superfícies sem solo vegetal ou com problemas fitossanitários, já que não se utiliza para cultivo senão para colocar as plantas nos recipientes que mantenham sempre as raízes isoladas do solo. Na cultura em vaso é necessário um controle muito mais rigoroso em termos de irrigação e fertilização, requerendo conhecimentos técnicos maiores. Com este sistema também se consegue um aproveitamento mais eficiente do espaço, e permite um aumento da produção por unidade de área e da rapidez de entrada em produção, que em condições normais de uma cultura poderia ser um ano após o plantio com uma produção aproximada de 1 kg por planta, ou superior, dependendo da variedade, ambiente, etc. A partir do 3º ou 4º ano de plantio (2ª ou 3ª colheita), as produções atingiriam cerca de 25 t\ha, o que significa uma produção de cerca de 3 kg por planta (GARCÍA RUBIO et al., 2018). Como é de esperar, também existem fatores menos positivos. O principal, neste caso, é o forte investimento econômico necessário para sua implantação, que pode representar mais do dobro em relação ao cultivo convencional, embora também seja certo que poderá ser recuperado muito mais antes do que este último sistema. O maior custo do investimento


C a p í t u l o I | 184 se dá, fundamentalmente, pela maior densidade de plantio utilizada, entre 8.000 e 10.000 plantas \hectare, o que envolve o mesmo número de recipientes, além do substrato necessário que pode ser da ordem de 30 ou 40 litros\plantar. Outro custo importante é a mala anti-ervas daninhas para o solo, pois é um sistema muito intensivo e não se utiliza maquinário para o preparo do solo, sendo a melhor recomendação é cobrir todo o terreno com essa malha (GARCÍA RUBIO et al., 2018). Do ponto de vista ambiental, um aspecto negativo é a geração de resíduos, seja pelos recipientes atualmente utilizados que não são biodegradáveis, seja pelos lixiviados da fertilização quando se trabalham a perda da solução e não são recuperados. Substrato. A escolha do substrato, ou mistura de vários, é um aspecto delicado e fundamental para se obter o sucesso no cultivo de mirtilo fora do solo (em recipientes; Figura 116). Portanto, antes de eleger entre os distintos substratos, é preciso levar em consideração vários fatores, tais como: -Normalmente, o tipo de substrato tem uma influência positiva maior na cultura do que o volume; - Nunca use solo natural, nem isolado nem em misturas; -Quando forem misturar os materiais diferentes, é importante que tenham granulometria semelhante; -A porosidade deve ser alta, superior a 50%; -A porcentagem de aeração alta, em torno de 30% em volume de oxigênio; -Baixa salinidade, com CE inferior a 0,5 mS\cm; -O pH entre 4,5 e 5; - Retenção moderada de água; -Baixo índice de expansão ou contração do meio.


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Figura 116. Estabelecimento do cultivo de mirtilo em recipiente plástico ou fora do solo com irrigação. Fotos: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).

Os substratos mais utilizados atualmente nas misturas são casca de pinheiro, turfa e serragem, além da fibra de coco (GARCÍA RUBIO et al., 2018), e cada um possui propriedades físico-químicas específicas. -A casca do pinheiro permite que a água, os nutrientes e o oxigênio sejam retidos nos espaços porosos, ao mesmo tempo que facilita a drenagem. Além disso, por ter um pH entre 4 e 5 contribui para diminuir o pH do substrato. -A turfa aumenta a densidade aparente do substrato, melhorando assim a retenção de água e nutrientes; aeração e drenagem, o que facilita o desenvolvimento do sistema radicular. Além disso, aumenta o efeito tampão, que é o que permite que o pH seja estável; e é uma fonte de nitrogênio de liberação lenta.


C a p í t u l o I | 186 -A serragem é ideal para esta cultura, graças ao seu pH ácido que ajuda a reduzir o ataque de fungos patogênicos. Além disso, dificilmente altera o programa nutricional das plantas devido à sua baixa fertilidade. Devido ao tamanho das partículas, melhora o estado físico do substrato e com uma elevada concentração de lignina fornece uma fonte de matéria orgânica, um componente essencial na fertilização do mirtilo. A fibra de coco permite manter um ótimo equilíbrio entre a retenção de água e a capacidade de aeração, uma adequada troca catiônica, pois é capaz de reter nutrientes e liberá-los progressivamente. Possui um pH entre 5,5 e 6,2. A fibra de coco possui alta condutividade, por isso é fundamental que ela tenha passado por um processo de lavagem que garanta uma baixa CE. Possui boa inércia térmica, pois pode ceder ou absorver calor rapidamente, facilitando o desenvolvimento das raízes, tanto nas épocas quentes quanto nas frias. Fertilização. Se a fertilização desempenha um papel fundamental na produção convencional do solo, é ainda mais quando se trata de cultivo fora dele. Deve-se levar em consideração que a planta de mirtilo é muito sensível às altas concentrações de sais, tanto no solo quanto na água de irrigação. O risco de aumento da salinidade é ainda maior quando cultivado em substrato, pois tem um baixo efeito tampão. Portanto, é imprescindível ter água de boa qualidade para irrigação, com baixa concentração de sal ou CE, inferior a 0,5 mS \ cm para ter margem de aplicação dos fertilizantes necessários e não ultrapassar, em solução nutritiva, 1 mS|cm. Além disso, deve ser feito um controle rigoroso do pH, do volume da água de irrigação, da porcentagem de drenagem e da lavagem do substrato, para evitar o acúmulo de sais no mesmo (GARCÍA RUBIO et al., 2018).


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Capítulo II

MATURAÇÃO, COLHEITA, PÓS-COLHEITA E COMERCIALIZAÇÃO DOS FRUTOS DE MIRTILO

Vicente de Paula Queiroga Josivanda Palmeira Gomes Acácio Figueiredo Neto Alexandre José de Melo Queiroz Nouglas Veloso Barbosa Mendes Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores Técnicos)


C a p í t u l o I I | 188 MATURIDADE O mirtilo, que corresponde a um fruto pertencente à espécie Vaccinium corymbosum L. (mirtilo highbush) e Vaccinium virgatum (ex ashei Reade) (mirtilo Rabbiteye), e todos os seus cultivares híbridos (com Vaccinium darrowii, Vaccinium angustifolium e outros) da família Ericaceae, é um fruto de respiração climatérica, caracterizada por uma elevação respiratória durante o período de maturação. No entanto, ao contrário de outras frutas climatéricas, o mirtilo deve ser colhido próximo à maturidade para consumo, uma vez que suas características internas de qualidade, como o sabor, não melhoram após a colheita (LUCHSINGER et al., 2018). Com base em outras espécies frutíferas, o processo de amadurecimento não será o mesmo para todas as frutas e, dependendo de seu comportamento fisiológico, elas podem ser divididas em dois grupos (AGUSTÍ et al. 2012): a) Frutos climatéricos: caracterizam-se por acumular amido durante o crescimento e hidrolisar durante a maturação em principalmente monossacarídeos, glicose e frutose. Como esse processo exige grande quantidade de energia, ocorre um aumento da respiração que é precedido por um aumento da concentração ativa de etileno nos espaços intercelulares do mesocarpo. b) Frutos não climatéricos: são caracterizados pelo acúmulo direto de monossacarídeos durante o seu crescimento. Assim, durante o amadurecimento não há aumentos significativos em sua taxa respiratória e isso significa que as alterações que se produzem são menos intensas, mais lentas e não estão relacionadas à síntese de etileno. A taxa respiratória e a produção de etileno podem variar em função da variedade e da temperatura em que o fruto se encontra o que indica que se deve realizar um manejo eficiente no resfriamento, armazenamento e transporte dos mirtilos para exportação (Tabela 12). Tabela 12. Taxa respiratória e a produção de etileno. Temperatura (ºC)

Respiração (mL CO2\kg por h)

0

3

10

9

20

34

Fonte: Universidade da Califórnia Daves.


C a p í t u l o I I | 189 Em geral, os mirtilos não apresentam uma grande produção de etileno em comparação com outras frutas. No entanto, a taxa de produção deste hormônio, bem como a resposta a ele está relacionada à variedade. Todos os fatores descritos acima fazem com que o manuseio pós-colheita seja orientado principalmente para o manuseio de temperatura e umidade relativa. Em razão de ser um fruto com reduzida taxa respiratória e produção de etileno, os mirtilos devem ser colhidos no ponto de maturação de consumo, caracterizado pela coloração azulada da epiderme dos frutos e sua maturação uniforme no ramo. Portanto, não se deve apressar o momento de colheita dos frutos de mirtilo, mesmo quando eles se tornam azuis, pois as bagas desenvolvem melhor sabor, ficam mais doces e crescem 20% a mais se deixados poucos dias depois de estarem completamente azuis (STRIK, 2008). Ou seja, a colheita é realizada de forma seletiva pelos índices de maturação do fruto, em função da cor e do tamanho. Muito do potencial para a duração pós-colheita do fruto (ou manutenção da qualidade) é definido no momento da colheita, especialmente para as bagas. O primeiro fator a considerar é a seleção do momento de colheita apropriado, que para os mirtilos é definido pela cor da fruta. Apesar de sua característica climatérica, os mirtilos devem ter um desenvolvimento de cor azul uniforme para obter uma fruta de boa qualidade. Frutos colhidos de cor avermelhada, apesar de manterem uma maior firmeza e desenvolverem uma cor azul após a colheita (Figura 117), terão qualidade organoléptica inferior a uma fruta colhida com uma cor apropriada. Neste momento, todas as precauções devem ser tomadas para reduzir os danos causados por golpes e a exposição a altas temperaturas, o que só será alcançado com um bom treinamento do pessoal de colheita. Maior manipulação do fruto contribuirá apenas para causar danos e remover a cera da epiderme do mirtilo. Se os recipientes de colheita ficam cheios, o dano por compressão causará um efeito direto na fruta e, por outro lado, impedirá seu posterior resfriamento (DEFILIPPI et al., 2013).


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Figura 117. Aspectos da qualidade dos mirtilos na pré-colheita. Foto: Sierra Exportadora, 2013.

Devido ao pequeno tamanho da fruta, que se traduz em uma maior relação entre área superficial e volume, os mirtilos são mais suscetíveis à perda de água (ou desidratação) do que frutas de maior tamanho, como maçã. Talvez uma das poucas vantagens práticas dessa característica morfológica seja o menor tempo requerido para os processos de resfriamento. Por outro lado, a epiderme (casca) do fruto é fina e muito suscetível a danos mecânicos e perda de água. No entanto, uma característica morfológica que contribui a diminuir a perda de água é o teor de cera da cutícula localizada na epiderme. Portanto, a manutenção dessa cutícula durante a cadeia produtiva tem efeito cosmético, tanto por contribuir para a redução da desidratação como a exuberância da fruta (DEFILIPPI et al., 2013). A qualidade é definida por uma série de fatores que podem ser agrupados em qualidade visível, qualidade organoléptica e qualidade nutricional. Qualidade visível refere-se à


C a p í t u l o I I | 191 aparência da fruta, que em blueberries é definida como: (i) uma fruta azul uniforme, (ii) presença de cera na superfície da fruta (conhecida como bloom) que o consumidor referese a uma fruta fresca, (iii) ausência de defeitos, tais como danos mecânicos e deterioração, (iv) forma e tamanho da fruta e (v) fruta com firmeza adequada. A qualidade organoléptica é determinada por um conteúdo adequado de açúcares, ácidos e compostos voláteis responsáveis pelo aroma característico da fruta. Portanto, todas as operações de pré-colheita e pós-colheita devem ser orientadas para maximizar a chegada de um produto de qualidade ao consumidor. Os índices de qualidade normalmente utilizados pela indústria de frutas frescas são: cor, tamanho, forma, ausência de defeitos, firmeza e sabor (DEFILIPPI et al., 2013). Recomenda-se, independentemente da cultivar, que os frutos apresentem as seguintes características químicas e físicas na colheita (Tabela 13). Tabela 13. Característica físico-química de frutos de mirtilo. Características

Valor médio

Peso (g)

1,0-1,30

Sólidos solúveis totais (SST)

13-14,0

Acidez total titulável (AT) (%ácido cítrico)

0,4-0,5

Relação SST/AT

36,0-37,0

Firmeza (libras)

9,0-10,0

Fonte: Enilton Fick Coutinho e Rufino Fernando Flores Cantillano (2006).

Os frutos do mirtilo amadurecem aproximadamente entre 8 e 20 semanas. Uma planta em estádio de maduração produz entre 6-8 kg de frutos por ano em condições como as encontradas na América do Norte (STRIK, 2008). O ponto de colheita é determinado pelo mercado, pois se for para exportação à fruta deve apresentar uma cor característica. Mas geralmente sua colheita começa quando 10-15% dos frutos estão maduros e seu teor de açúcar é superior a 11º Brix. A colheita do mirtilo inicia-se aproximadamente no segundo e terceiro ano de plantio, onde são obtidas aproximadamente 4 toneladas / ha, aumentadas proporcionalmente com a idade do cultivo, até que atinge o seu ponto máximo de produção entre 15 e 20 ton/ha e o cultivo com manejo adequado pode durar aproximadamente 25 anos produzindo de forma satisfatória (RUBIO et al., 2010; Tabela 14).


C a p í t u l o I I | 192 Tabela 14. Produção de mirtilo ao longo do tempo de plantação. Fonte: Rubio et al. (2010). Evolução da produção nos primeiros 10 anos de cultivo, iniciando a colheita no 3º ano de plantio. Anos de 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 plantação Produção 0 0 20 40 75 90 100 100 100 100 (%)

COLHEITA. Colheita manual. Nas condições de Pelotas, a floração ocorre ao final de agosto ou início de setembro. A colheita vai da segunda quinzena de dezembro a janeiro. Todavia, o amadurecimento dos frutos ocorre de forma irregular, exigindo diversas colheitas seletivas para a retirada somente dos frutos maduros (HOFFMANN; ANTUNES, 2002). A frutificação se dá em ramos de um ano de idade e a colheita deve ser feita semanalmente ou preferentemente, duas vezes por semana ou mais passadas semanais, dependendo da cultivar, durante as primeiras horas do dia, sem orvalho na fruta. A colheita manual é feita colocando os frutos em recipientes especiais (Figura118) ou diretamente na embalagem (Figura 119). Esta operação demanda uso intensivo de mão-de-obra durante 3 a 8 semanas. De acordo com Nuñes e Rey (2009), a colheita representa 56,31% dos custos variáveis de um pomar de 5 ha de mirtilo. Nas novas variedades de mirtileiros Southern Higbush da Flórida, a colheita tem duração mais concentrada de 3 a 4 semanas. Isto reflete-se em menores custos da colheita por quilograma colhida com novas variedades, que permitem colher mais frutos em menos tempo (ESPINOZA; REY, 2009). A produtividade varia conforme a cultivar e região de cultivo, ficando entre 6 e 10 toneladas por hectare (HOFFMANN; ANTUNES, 2002).


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Figura 118. Colheita manual de frutos de mirtilo. Fotos: Jennifer Poindexter (A); Luchsinger et al. (2018; B) e Ganeshgrow (C).

Figura 119. Colheita direta na embalagem utilizada para comercialização de frutas frescas de mirtilo. Fotos: Edwin Droogendijk (TripleF Fruit) e Dreamstime.com.


C a p í t u l o I I | 194 A introdução no país de diferentes cultivares de mirtilo têm conduzido à implementação de tecnologias de produção e concomitantemente à necessidade de se determinar a qualidade dos frutos obtidos, de forma a elegerem-se as cultivares com maior interesse econômico. Ou seja, entre os cuidados de pré-colheita está o de determinar a momento de colheita apropriada para cada variedade, bem como a frequência da colheita. Sugere-se iniciar a colheita com 5% de fruta madura (cerca de 90% de cor da cobertura da fruta). Não é recomendado colher com chuva e nem com orvalho ou com temperaturas acima de 30 ºC. Dependendo da temperatura, o mirtilo tipo Highbush do Sul tem a melhor qualidade quando colhido a cada cinco a sete dias, enquanto o sabor do tipo Rabbiteye melhora se as bagas forem colhidas com menos frequência, aproximadamente a cada 10 dias, o que permite o máximo de sabor com a presença de poucas frutas supermaduras. Um dos pontos mais críticos para a extensão da vida pós-colheita dos mirtilos é a temperatura, que deve ser manejada desde o pomar no momento da colheita, usando sombreamento ou passando rapidamente para os locais de embalagem (embalagem), onde há um controle de temperatura. Se as condições de colheita não permitirem uma transferência rápida e frequente dos frutos para a embalagem, recomendam-se cobrir as bandejas com materiais que permitam refletir o sol evitando o aumento da temperatura da fruta (DEFILIPPI et al., 2013). Durante a colheita, um dos indicadores é que a fruta não passe mais de 30 minutos após sua colheita sem ser colocada na sombra (Figura 120), por isso o transporte rápido até a embalagem é essencial.

Figura 120. Bandejas de mirtilo protegidas do sol durante a colheita para obtenção de frutos de qualidade.


C a p í t u l o I I | 195 Se a colheita for feita diretamente no contêiner de exportação, a fruta fica sujeita a menos manipulação, o que favorece, entre outras coisas, a manutenção da flor, menos danos por compressão e menos exposição à contaminação. Os colhedores e manipuladores de mirtilo devem conhecer e aplicar os principais e fundamentais manejos desde a colheita até os centros de beneficiamento, para a manutenção da qualidade e da condição dos frutos. Forma de colheita: Seja qual for o seu modelo de colheita: 1. Colheita a granel e embalagem mecanizada. 2. Colheita a granel e embalagem automatizada. 3. Colheita a granel e embalagem manual. 4. Colheita direta na embalagem clamshell. Recomendações básicas: - Pessoal apropriado deve ser selecionado para a tarefa de colheita (Figura 121); - Os colhedores devem ser treinados; - Os materiais de colheita (bandejas, potes, etc.) devem ser selecionados de acordo com a situação propriedade; - O trabalho de colheita deve ser supervisionado: 1 supervisor a cada 15 ou menos; - Pegue o fruto com cuidado e individualmente entre o polegar e o resto dos dedos ao retirá-lo do arbusto.


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Figura 121. Colheita manual cuidadosa e seletiva de frutas maduras de mirtilo (coloração azul da epiderme).

Colheita mecanizada. Para a colheita mecanizada, é imprescindível a escolha de cultivares com porte ereto, com maturação agrupada, uma dureza considerável dos frutos e um fácil desprendimento destes da planta. Nos Estados Unidos, em grandes fazendas com mais de 5 ha são utilizadas máquinas para colher os frutos de mirtilo (Figura 122). A desvantagem da colheita mecanizada é que não há colheita seletiva de frutas e, portanto, aumenta o número de fragmentos da fruta a restos vegetais (UNDURRAGA; VARGAS, 2013). Mesmo assim, as diferentes universidades americanas estão avançando no desenvolvimento de colheitadeiras mecânicas para aumentar a eficiência da colheita, reduzir as lesões da fruta e aumentar seu período de conservação. Esses trabalhos também buscam reduzir o tamanho das máquinas e seu custo, para que sejam mais viáveis para fazendas menores (GARCÍA RUBIO et al., 2018; Figura 123).


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Figura 122. Colheitadeira mecanizada 860P de mirtilo de arraste por trator ou colheitadeira de mirtilo autopropelida, pode coletar de 1.000 a 2.000 kg/hora. Devido ao seu alto custo e tamanho, são adequados para grandes plantações, maiores que 25-30 ha, e com boa topografia do terreno. Fotos: A. Krebeck GmbH Stalleinrichtungen und Apparatebau (AgriExpo) (A) e Ganeshgrow (B).

Figura 123. Máquina de colheita mecanizada. Foto: Juan Carlos García Rubio; Guillermo García Gonzáles de Lena; Marta Ciordia Ara (2018).


C a p í t u l o I I | 198 A pesquisa é combinada com estudos do enquadramento da plantação, da forma dos camalhões e com a selecção de variedades adaptadas à colheita mecanizada: arquitectura adequada, racimos bem dispostos com frutos grandes e firmes, cicatriz pequena e seca, em bom estado de conservação em câmera. A Universidade da Flórida acaba de patentear as três primeiras variedades, Optimus, Wayne e Magnus, adaptadas à mecanização. A técnica de enxertia utilizando como padrão a espécie Vaccinium arboreum, com um hábito de crescimento arbóreo, parece potencializar melhor a colheita mecânica em ensaios realizados com as variedades “Highbush” do Sul, por poder formar as plantas em um único tronco ou caule (GARCÍA RUBIO et al., 2018; Figura 124).

Figura 124. Nas plantas de mirtilo são realizadas as operações de enxertia e de poda para favorecer a colheita mecanizada. Fotos: www.growingproduce.com


C a p í t u l o I I | 199 A seguir, os benefícios da poda para facilitar a colheita mecanizada (Figura 124): 1. A altura dos arbustos é controlada; 2. A produtividade é mantida estimulando o crescimento de ramos jovens produtivos; 3. O tamanho das bagas é aumentado 4. Caules doentes e mortos são removidos; 5. A colheita excessiva por planta é evitada; 6. As hastes mais antigas são substituídas; 7. A forma desejada e a flexibilidade das hastes são mantidas; 8. O período de maturação é alterado; 9. A vida dos arbustos é prolongada. Existem também vibradores manuais elétricos no mercado com os quais podem ser alcançados rendimentos de 30 a 40 kg / hora por pessoa. Essas máquinas têm dedos giratórios com vibração vertical ou horizontal ou ambas (Figura 125). Os sistemas rotativos são menos prejudiciais às plantas do que os métodos mecanizados anteriores, mas são menos eficazes.

Figura 125. Derriçadeira pneumática manual (modelo Golia) colhendo uma planta de mirtilo com frutas maduras e os cabeçais do equipamento com dentes curtos e longos. Fotos: Fumiomi Takeda et al. (2017).


C a p í t u l o I I | 200 Além disso, todos os frutos das variedades de mirtilo se caracterizam por ser muito perecíveis após a colheita, destacando-se entre as principais causas de deterioração: a podridão, desidratação, perda de firmeza, perda de aparência e qualidade sensorial. Com o objetivo de avaliar a firmeza e a variabilidade de IB (internal browning escurecimento interno) em frutos comerciais vindos do campo, em uma amostra de 200 frutos das cultivares “Duke” e “Brigitta”, Moggia et al. (2017) conseguiram avaliada em cada cultivar e estação antes da segregação da firmeza, sendo que a firmeza (N) foi avaliada usando um dispositivo de compressão (FirmTech 2, BioWorks, KS, EUA) com os limites de força definidos entre 200 g (máximo) e 15 g (mínimo) (EHLENFELDT; MARTIN, 2002; SAFTNER et al., 2008 ). O IB foi avaliado cortando na região equatorial da fruta e, em seguida, avaliando o escurecimento da polpa em cada fruta individual, de acordo com a extensão da área machucada, como 0 (0–5%), 1 (6–25%), 2 (26–50%) , 3 (51–75%) ou 4 (> 75%) (Figura 126).

Figura 126. Escala usada para avaliar a severidade do escurecimento interno (IB) em frutos de mirtilo. As categorias foram atribuídas com base na extensão da área equatorial machucada: 0 (0–5%), 1 (6–25%), 2 (26–50%), 3 (51–75%) e 4 (> 75% ). Foto: Moggia et al. (2017).

De acordo com Moggia et al. (2017), a perda de firmeza e o desenvolvimento de IB estiveram relacionados à firmeza na colheita, sendo os frutos macios e firmes os mais e menos danificados, respectivamente. Frutos moles foram caracterizados por maior desenvolvimento de IB durante o armazenamento, juntamente com alta relação de sólidos solúveis/ácido, o que pode ser usado em conjunto com a firmeza para estimar a data de colheita e o potencial de armazenamento dos frutos. Os resultados deste trabalho sugerem que as diferenças nas características de qualidade dos frutos na colheita podem estar relacionadas ao tempo que os frutos permanecem na planta após ficarem azuis, sendo os frutos macios mais avançados em maturidade. Finalmente, as diferenças observadas entre


C a p í t u l o I I | 201 as categorias segregadas reforçam a importância de analisar a condição dos frutos para cada grupo classificado separadamente. Ressalta-se também a importância da rede de frio e que se a propriedade não tiver instalações frigoríficas, as frutas deverão ser enviadas pelo menos duas vezes ao dia para o centro de coleta de uma cooperativa (por exemplo), que contará com instalações frigoríficas.

PÓS-COLHEITA Após a colheita dos frutos e a chegada ao empacotamento, são necessários sistemas eficientes para obter uma rápida remoção do calor de campo antes do armazenamento e atingir uma temperatura entre 0 e 1 ° C, recomendada para armazenamento e transporte. As principais etapas de pós-colheita dos frutos de mirtilo são: Pré-resfriamento. Por serem frutos perecíveis, os mirtilos devem ser colhidos e levados imediatamente a um local de pré-esfriamento (tempo mínimo de 4 horas após a colheita), para reduzir a respiração e transpiração dos frutos. Normalmente, se busca reduzir a temperatura do produto para o mais próximo possível da temperatura de armazenamento, geralmente em torno de 4ºC. Este processo é realizado antes do armazenamento definitivo do fruto. Na chegada ao packing house, os frutos são pré-esfriados por imersão em água fria a 1 a 2 ºC, ou transportadas e tratadas através de um túnel onde estão localizadas as duchas ou jatos de água. Neste sistema, a transferência de calor é rápida e homogênea e a perda de peso é praticamente nula (COUTINHO; CANTILLANO, 2004). Foi demonstrado que os mirtilos resfriados a 1,5 °C em 2 h após colhidos tiveram um nível de podridão mais baixo após o armazenamento do que aqueles resfriados à mesma temperatura, mas em 48 horas (DEFILIPPI et al., 2013). Seleção dos frutos. Depois, a fruta é transportada através da mesa de limpeza e seleção na linha de embalagem, para no final ser submetida a controle de qualidade (Figura 127). No final da linha, os mirtilos são embalados segundo o destino. As embalagens são acondicionadas em pallets e levados à câmara de armazenamento, onde são esfriados por circulação de ar frio, com os umidificadores funcionando na câmara para evitar a desidratação da fruta (COUTINHO; CANTILLANO, 2004).


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Figura 127. Mesas de seleção manual e de seleção mecânica das frutas de mirtilo. Fotos: Katherine Alcalde Navarro (2019).

Ao avaliar a qualidade, devem-se diferenciar os defeitos de qualidade dos defeitos de condição dos frutos. Ambos se referem àqueles atributos do produto que afetam sua apresentação, diferindo em que os defeitos de qualidade não evoluem com o tempo, como tamanho, forma, etc., e os defeitos de condições se evoluem com o tempo, como firmeza, desidratação, etc. Portanto, a colheita é um ponto crítico para a condição da fruta e a sua aceitação no mercado (LUCHSINGER et al., 2018). Na seção de cuidados ou defeitos, também é indicado o tipo de fruta que deve ser descartada após sua colheita (Figura 128). Um dos tipos de fruta a descartar é aquele que não tem pruína.


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Figura 128. Frutos de mirtilo que são descartados do lote durante o processo de seleção de pós-colheita. Foto: Documento del Comité de Berries de Asoex.


C a p í t u l o I I | 204 Outra seção é dedicada às boas práticas de higienização de recipientes, bandejas, superfícies de contêineres e uma seção anterior que trata da higiene das mãos dos trabalhadores. O transporte pode se tornar uma fonte de poluição; manter as instalações varridas evita que o tráfego acumule contaminantes do chão. Os cuidados de higiene continuam nas diferentes etapas, incluindo a seleção do maquinário se utilizado e as superfícies onde é realizada a embalagem. Armazenamento. Em frutos, o processo físico mais importante está relacionado com a transpiração. Denomina-se transpiração, a perda de água em forma de vapor pelos tecidos. Ocorre porque os frutos contêm entre 85 a 90% de água na sua constituição, isto equivale a uma pressão de vapor interna de água equivalente a 99% de umidade relativa (UR). Assim, se evaporará água desde o interior do fruto até a atmosfera, sempre que a umidade da câmara seja menor que a do fruto. Esta é a principal causa da perda de peso dos frutos durante a pós-colheita. Perdas de peso acima de 3-5% resultam numa aparência pouco atrativa, reduzindo o valor comercial e a qualidade do produto (COUTINHO; CANTILLANO, 2004). Existem fatores que condicionam a perda de água. Entre os estresses destacam os ambientais (temperatura, umidade relativa, déficit de pressão de vapor do ar e pressão atmosférica) e os biológicos (tamanho do fruto, presença de ceras naturais na epiderme, espessura da cutícula, danos na epiderme, estado de maturação, etc.). Como medida de prevenção para diminuir a perda de água recomenda-se baixar a temperatura, aumentar a umidade relativa e revestir os frutos (modificação da atmosfera com ceras, filmes poliméricos, etc.). Em geral, os mirtilos são muito suscetíveis à perda de água, o que afeta negativamente a aparência do fruto, pois são observadas o seu enrugamento. Por isso, é fundamental manter o fruto na temperatura e umidade recomendadas para reduzir o déficit de pressão de vapor e a desidratação (DEFILIPPI et al., 2013). Os mirtilos do grupo Rabbiteye são conservados a 0 ºC e 85-90% UR por até 14 dias (KLUGER et al., 1995). O armazenamento refrigerado (0 ºC e 85-90% UR) de mirtilo, associado à modificação da atmosfera pelo uso de PVC (cloreto de polivinila) perfurado e com espessura de 7μ, permite a conservação dos frutos durante 14 e 30 dias para o consumo em natura e processamento, respectivamente (COUTINHO; CANTILLANO, 2004; Figura 129).


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Figura 129. Pallet com caixas de mirtilos embalados para exportação em câmara fria a 0 °C. Fotos: Bruno Defilippi; Paula Robledo; Cecilia Becerra (2013).

Os frutos de mirtilo da cultivar Climax (grupo Rabitteye) podem ser conservados a 0 °C com UR entre 90 e 95% por até 14 dias quando destinados ao consumo “in natura”. Para fins de processamento os mesmos podem ser armazenados por até 42 dias. Existe um significativo aumento na porcentagem de frutos murchos durante o armazenamento refrigerado, especialmente a partir dos 28 dias, tornando-os inviáveis para o consumo “in natura”, podendo ser utilizados apenas na indústria de processamento, desde que não ocorram mudanças significativas nas suas características químicas (KLUGE et al., 1995). Em geral, os mirtilos são muito suscetíveis à perda de água, o que afeta negativamente a aparência da fruta, já que o "enrugamento" é observado. Por esse motivo, é essencial manter a fruta na temperatura e umidade recomendadas para reduzir o déficit de pressão e desidratação do vapor. Juntamente com o uso de baixa temperatura, os mirtilos devem ser armazenados com uma alta umidade relativa (95% a 0 °C), uma condição que ajudará a reduzir a perda de água da fruta. Com boa gestão da colheita, resfriamento rápido e armazenamento a 0 °C, sob condições de umidade relativa entre 90 e 95%, os mirtilos têm uma duração mínima de 14 dias.


C a p í t u l o I I | 206 Uso de atmosferas controladas e modificadas. Tomando como base o uso de baixa temperatura (0 °C) para o manejo de pós-colheita de frutos de mirtilo , tem sido avaliado uma série de tecnologias para estender a sua vida pós-colheita. As mais utilizadas são atmosfera modificada (AM) e atmosfera controlada (AC), as quais se baseiam na modificação da composição dos gases (O2 e CO2) durante o armazenamento e/ou transporte. Em ambas as técnicas, o principal efeito na fisiologia do fruto é a diminuição da atividade metabólica e também o controle de fungos. Entre os potenciais benefícios dessas tecnologias se podem mencionar uma redução da desidratação (principalmente AM) e menor desenvolvimento de podridões, desde que sejam utilizadas corretamente. Os níveis de gases alcançados com o uso do AM dependem das características da fruta (taxa respiratória, temperatura), da capa ou película (principalmente permeabilidade) e do ambiente (temperatura). Ao contrário, no AC os níveis de gases a serem utilizados são mantidos e/ ou ajustados automaticamente durante todo o armazenamento da fruta, o que o torna independente dos fatores citados para AM (DEFILIPPI et al., 2013). Uma opção que se utiliza em AM para atingir mais rapidamente a concentração final do gás é realizar uma injeção inicial, que é mantida posteriormente através da respiração da fruta e das características do filme (atmosfera modificada ativa). Para os mirtilos, as concentrações que mostraram vantagens na extensão de pós-colheita são 2-5% O2 e 1015% CO2 a 0 °C. Os efeitos do alto CO2 passam basicamente pelo controle de patógenos como o Botrytis, concentrações superiores a 10% têm se mostrado eficientes no controle de patógenos. Um dos fatores que determinam que concentrações utilizar para alcançar um máximo benefício em pós-colheita é a suscetibilidade de uma determinada variedade a baixos níveis de O2 e altos níveis de CO2. Portanto, níveis baixos de O2 (<2%) ou níveis elevados de CO2 (25%) podem desenvolver processos metabólicos que resultam no desenvolvimento de sabores ou aromas estranhos na fruta, escurecimento ou descoloração e uma maior incidência de podridões, que são sem dúvida as causas da rejeição no momento da venda. O desenvolvimento e a severidade dos problemas anteriormente mencionados são parcialmente determinados pelas concentrações de CO 2 e O2 alcançadas, pelo tempo de exposição às mesmas e pela suscetibilidade que pode apresentar a variedade. Um dos principais fatores para o sucesso do AM é a manutenção de uma temperatura adequada durante toda a cadeia, caso contrário os processos prejudiciais mencionados serão acelerados. Também é importante considerar o fator varietal, uma vez que as taxas respiratórias variam de acordo com a variedade. Um efeito


C a p í t u l o I I | 207 adicional do uso do AM é reduzir a perda de umidade, porém se ocorrer condensação excessiva pode aumentar os problemas de apodrecimento (DEFILIPPI et al., 2013). Alguns dos cuidados a serem considerados ao trabalhar com AM incluem: os processos de resfriamento do produto são mais lentos, o filme não deve ser danificado, caso contrário, a atmosfera benéfica será perdida e evitar o uso de filmes com baixa permeabilidade ao vapor de água, pois isso irá gerar uma alta umidade relativa que irá beneficiar o desenvolvimento de patógenos. Ceponis e Cappellini (1985), ao armazenarem mirtilos durante 17 dias (14 dias a 2 ºC, mais três dias a 21 ºC), com o uso de atmosfera controlada (20% de CO 2 e 2% de O2), obtiveram frutos com excelente qualidade comercial, além da redução em 14% na deterioração dos frutos devido, à incidência de doenças fúngicas.

Incidência de doenças na fase de pós-colheita. O aspecto sanitário da planta também merece uma atenção especial. Existem pragas e doenças que atacam a cultura e podem causar danos significativos tanto na quantidade como na qualidade dos frutos. Os principais problemas na pós-colheita do mirtilo, o desenvolvimento de podridões, sem dúvida, ocupa um lugar preponderante. Dentre os patógenos que frequentemente atacam essas frutas, estão o Botrytis (Botrytis cinerea), a antracnose (Colletotrichum sp.) e o rhizopus (Rhizopus sp.). No entanto, o principal problema fúngico em mirtilos póscolheita é a podridão de Botrytis (DEFILIPPI et al., 2013). Embora com um bom manejo da temperatura é possível reduzir a incidência deste fungo, mesmo assim não podem interromper o seu desenvolvimento, pois o mesmo é capaz de se desenvolver mesmo a 0 °C. O uso de alto CO2 no manejo AC (atmosfera controlada) ou AM (atmosfera modificada) também é capaz de reduzir o nível de incidência do patógeno, mas sem dúvida todas essas estratégias de pós-colheita devem ser apoiadas por um bom manejo de pré-colheita e colheita. Assim como a aplicação de fungicidas em momentos críticos de infestação na pré-colheita, como por exemplo, a floração ajuda a reduzir os índices de incidência de doenças na pós-colheita, além disso, se devem evitar as colheitas em dias com muita umidade ou água livre. O desenvolvimento de outros patógenos, como o Rhizopus, durante a pós-colheita, costuma estar associado a um deficiente manejo na temperatura e à falta de higiene


C a p í t u l o I I | 208 durante os processos de colheita e embalagem (Figura 130). Também é mencionado que a presença de etileno durante o armazenamento pode estimular o crescimento de Botrytis cinerea, organismo causador de podridões. No entanto, em geral, não foram observados benefícios diretos na fruta ao usar produtos para reduzir a síntese ou ação do etileno (DEFILIPPI et al., 2013).

Figura 130. Danos provocados por fungos em frutos de mirtilo durante todo o armazenamento a frio. Fonte: Instituto de Pesquisa Agropecuária.

Estudos realizados em frutos de mirtilo indicam que as doenças ocasionadas por fungos na pós-colheita são as que causam as maiores perdas econômicas e que a maior incidência de fungos se deve as novas cultivares suscetíveis, ineficiência de fungicidas e alterações na virulência dos patógenos (CEPONIS; CAPPELLINI , 2006).

Bioestimulante em pré-colheita x sucrolosa em pos-colheita de frutos de mirtilo (ensaio). O uso de bioestimulantes orgânicos na fruticultura é novo no Chile, mas não nos países desenvolvidos, onde são produzidos e usados há mais de 10 anos com excelentes resultados. Esses produtos foram desenvolvidos devido à existência de algas e plantas ricas em hormônios vegetais (extrato de folhas novas de moringa, com menos de 40 dias, permite a obtenção da substância ativa Zeatina, que é um hormônio do grupo das citoquininas; PÉREZ et al., 2010) e também em alguns nutrientes necessários às plantas cultivadas (ROJAS; RAMÍREZ, 1987). As algas marinhas são utilizadas como base de vários produtos de uso agrícola. Há aqueles com ação bioestimulante (CROUCH; VAN STADEN, 1993) que aumentam o crescimento da planta (ARTHUR et al., 2003),


C a p í t u l o I I | 209 retardam a senescência, aumentam a resistência a doenças fúngicas e bacterianas (KUWADA et al., 1999), melhoram o crescimento radicular (JONES; VAN STADEN, 1997), aumentam a colheita de frutos e de sementes (ZURAWICZ et al., 2004), incrementam o grau de amadurecimento dos frutos (FORNES et al., 2002) e estimulam a produtividade (ROJAS; RAMÍREZ, 1987). A aplicação de bioestimulantes em précolheita permite aumentar o teor de cálcio nas células dos tecidos vegetais e uniformizar os açúcares dentro dos frutos, o qual permitiria alcançar uma vida pós-colheita mais longa. A sucralose (Figura 131) que é utilizada como cobertura comestível em frutas é extraída do açúcar por meio de um processo patenteado, que inclui várias etapas, a substituição seletiva de três átomos de grupos hidroxila por três átomos de cloro na molécula de sacarose (NAVIA et al., 1995). Embora a sucralose seja feita de açúcar, o corpo humano não a reconhece como tal e nem tampouco como outro hidrato de carbono. A molécula de sucralose passa pelo corpo sem ser alterada, não é metabolizada e é eliminada depois de consumida. A sucralose está aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. Ao aplicar sucralose em solução a 1% nos frutos de mirtilo, cria uma camada protetora que diminui as trocas gasosas entre o fruto e o exterior, o que reduz a taxa respiratória dos mirtilos, prolongando a vida pós-colheita do fruto. Essa camada que é criada na parte externa da fruta impede o reconhecimento entre os patógenos e a epiderme da fruta.

Figura 131. Sucralose em pó.


C a p í t u l o I I | 210 Em ensaios realizados na Universidade Católica de Maule (Chile), determinou-se que a aplicação de um bioestimulante na pré-colheita e a cobertura da sucralose na pós-colheita, mantiveram as condições de consumo dos frutos de mirtilo em estado fresco, orgânicos e convencionais, durante 21 dias a 0 °C com 85% de umidade relativa. Em relação aos índices de qualidade, a firmeza dos frutos orgânicos e convencionais, medida com métodos instrumentais, apresentou aumento, principalmente quando a fruta recebeu a adição de uma cobertura de sucralose na pós-colheita. A Figura 132 mostra a metodologia empregada.

Figura 132. Linha de fluxo do processo de avaliação de frutos de mirtilo com aplicação de bioestimulante na pré-colheita e sucralose na pós-colheita.


C a p í t u l o I I | 211 COMERCIALIZAÇÃO Os índices de qualidade normalmente utilizados pela indústria de frutas frescas são: cor, tamanho, forma, ausência de defeitos, firmeza e sabor. Portanto, toda a operação de précolheita e pós-colheita deve ter como objetivo maximizar a chegada de um produto de qualidade ao consumidor (Figura 133).

Figura 133. Linha de seleção de frutos de mirtilo. Foto: Andrés France I. (2012).

A comercialização do mirtilo é feita em função do mercado para onde vai à fruta, seja para consumo “in natura” ou para indústrias de processamento. Geralmente é feito em cestos plásticos, mas se o produto for para venda em fresco é feito em embalagens de aproximadamente 125, 150, 200, 250, 500 g. (Figura 134), posteriormente são acondicionadas em caixas de papelão com peso em torno de 1 a 3 kg. Deve-se ter em mente que, ao embalar a fruta para o seu transporte adequado, deve-se levar em consideração o tamanho requerido do fruto, pois isso pode depender do bom recebimento da fruta. (RUBIO et al., 2010; Figuras 135 e 136).


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Figura 134. Caixa de transporte de mirtilo (fresco). Fonte: Proplantas, 2013.

Figura 135. Calibre do fruto de mirtilo segundo o tamanho. Fonte: Producción y mercado de arándano.


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Figura 136. Régua para medir o calibre dos frutos de mirtilo. Fotos: Juan José Torres Pérez (2017) e Sebastián Ochoa Münzenmayer.

Nessa parte do processo, também são descartadas as frutas que não servem para comercialização, que correspondem àquelas que não atendem aos padrões de qualidade necessários, como por exemplo, frutas que já se encontram em estado de alta maturação, com danos fitossanitários ou com cor e tamanho inadequados. Recomendam-se que essas frutas assim selecionadas no campo, sejam colocadas em cestos separados e destinadas a mercados menos exigentes (BARICHIVICH, 2010). No Brasil, os mirtilos são comercializados para consumo em embalagens de 125 g (clamshells). A fruta congelada destinada à indústria é comercializada pela metade do preço da fruta fresca. A comercialização de mirtilos é feita diretamente pelos produtores ou associações de produtores, ou através de empresas dedicadas à comercialização interna e externa. Em 2009, os preços de venda de mirtilos frescos nos mercados do Rio Grande do Sul e de São Paulo eram de 2 a 3 R$\ embalagem de 125 g, equivalente a 20 a 30 reais


C a p í t u l o I I | 214 por quilo de fruta fresca, sem descontar os gastos de embalagem, transporte e comercialização (PAGOT, 2009). Entre 40 a 60% da colheita é vendida congelada para indústria de sucos e geleias. Em 2009, os preços de venda direta a empresas comercializadoras variaram entre 10 a 15 reais por quilo de fruata fresca, dependendo do local, qualidade e quantidade da fruta e época da colheita (ESPINOZA; REY, 2009). Comercialmente, o fruto apresenta uma cicatriz, de modo que seja mais conveniente a cicatriz pequena e seca (MUÑOZ, 1988), pois na colheita com a separação da baga da planta deixa uma cavidade de 5 mm de diâmetro e 2 mm de profundidade (=>cicatriz; scar). As novas cultivares de mirtilo foram melhoradas para ter cicatrizes pequenas, que diminuem a incidência de podridões na fase de pós-colheita (Figura 137).

Figura . Após colheita, observa-se a presença da cicatriz (círculo em vermelho) no fruto de mirtilo, a qual é deixada pela retirada do pedúnculo.


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