Vicente de Paula Queiroga Carlos Renato Cavalcante Barbosa Paulo de Tarso Firmino Francisco de Assis Cardoso Almeida Esther Maria Barros de Albuquerque Organizadores
OITICICA Exploração Agronômica e Aproveitamento Energético
REVISTA CIENTÍFICA
2ª Edição
OITICICA: EXPLORAÇÃO AGRONÔMICA E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO
LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB
ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br
CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Francisco de Assis Cardoso Almeida Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Niédja Marizze Cézar Alves Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone
VICENTE DE PAULA QUEIROGA CARLOS RENATO CAVALCANTE BARBOSA PAULO DE TARSO FIRMINO FRANCISCO DE ASSIS CARDOSO ALMEIDA ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE ORGANIZADORES
OITICICA: EXPLORAÇÃO AGRONÔMICA E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO
2ª EDIÇÃO
ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB
2016 ©Copyright 2016 by
Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, CARLOS RENATO CAVALCANTE BARBOSA, PAULO DE TARSO FIRMINO, FRANCISCO DE ASSIS CARDOSO ALMEIDA, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Capa ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE
O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 24-08-2016
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) Q3o
Queiroga, Vicente de Paula. Oiticica: Exploração Agronômica e Aproveitamento Energético. 2ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Carlos Renato Cavalcante Barbosa, Paulo de Tarso Firmino, Francisco de Assis Cardoso Almeida, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2016. 175 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-17-3 1. Oiticica. 2. Sistema de produção. 3. Agricultura Familiar. 4. Oleaginosa. 5. Semiárido. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Silveira, Albano José. III. Barbosa, Carlos Renato Cavalcante. IV. Carneiro Neto, Damião. V. Francisco de Assis Cardoso Almeida. VI. Albuquerque, Esther Maria Barros de. VII. Título. CDU 633.9
Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB
Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.
O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.
A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.
Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.
Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.
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EDITORES TÉCNICOS
Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)
Carlos Renato Cavalcante Barbosa Graduação em Análise e Processamento de Dados MBA em Gestão Empresarial Empresário da Indústria de Óleo de Oiticica Jaguaribe, CE (Brasil)
Paulo de Tarso Firmino Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Químico Industrial Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)
Francisco de Assis Cardoso Almeida (Dr) Professor Associado da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola Centro de Tecnologia e Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande, PB (Brasil)
Esther Maria Barros de Albuquerque (Dra) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil)
COLABORADORES
Antônio José Barbosa - Diretor da Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe-CE José Wellington Costa Rolim - Diretor da Usina Eliseu Batista S/A, Orós-CE Tarcísio Marcos de Souza Gondim – Pesquisador da Embrapa Algodão Francisco Sicupira de Andrade Filho – Diretor do IFET de Sousa, PB Bruno Adelino de Melo – Doutorando da UFCG Marcos Vinicius Assunção – Professor Aposentado da UFCE Antônio Marcos Esmeraldo Bezerra - Professor da UFCE Francisco Jânio Gonçalves – Agrônomo do IFET de Sousa, PB Diego Antonio Nóbrega Queiroga – Publicitário de João Pessoa, PB Francisco Ramiro dos Santos – Comerciante de Água Nova, RN
APRESENTAÇÃO
O principal objetivo do primeiro capítulo, e porque não dizer deste livro, é despertar o interesse dos leitores quanto à exploração racional da oiticica, da ampla possibilidade desta cultura voltar a ser uma das culturas do semiárido Nordestino responsável pele geração e movimentação de renda, assim como da melhoria na qualidade de vida das populações, especialmente as de baixa renda, como é a da agricultura familiar, por contribuir para aberturas de mercados que possibilitará a revitalização da mesma, já que, a planta existe em abundância no sertão nordestino, bem como o agricultor tem experiência de sua colheita e secagem. Neste contexto é preocupação dos autores identificar os pontos de estrangulamento que levou esta cultura sair do cenário agrícola desta região, onde a mesma teve seu auge nas décadas de 1950 a 1970, período em que grandes indústrias se instalaram na região, a exemplo da Brasil Oiticica S.A. Entretanto, devido ao total abandono na exploração desta cultura a partir dos anos 60, praticamente não se encontra na literatura especializada, depois destes anos, dados advindo da pesquisa, da extensão ou da indústria que trate da melhoria e aproveitamento agronômico racional da mesma, pelo que, para o tema, notadamente, deste capitulo - Arranjo produtivo da oiticica no semiárido -, os autores tomaram como referência os trabalhos de Bayma (1957); Peixoto (1973) e Duque (2004). Adianta-se, que os diagnósticos disponíveis evidenciam o agravamento dos problemas rurais desta cultura, decorrentes de adensamento desordenados, ausência de planejamento produtivo rural, carência de recursos e serviços de apoio e orientação, obsolescência de infraestrutura, padrões atrasados de gestão e agressões ao ambiente. Frente à necessidade de se adotar medidas efetivas em relação à preservação desta oleaginosa, deve-se atentar para procedimentos pré-estabelecidos por protocolos de caracterização botânica, cultivo e pós-colheita (acompanhamento técnico quanto à propagação, espaçamento, técnica de plantio, adubos, tratos culturais, colheita, armazenamento, processamento e comercialização). Ao analisar a situação atual, os autores verificaram que existem vários obstáculos a serem superados para exploração racional dessa oleaginosa associada a uma perspectiva interdisciplinar, que possibilitasse a aquisição de maiores informações sobre cultivo, reconhecimento, produção, utilização e contribuições para o conhecimento e exploração racional da oiticica com recurso. Contudo, para alcançar os objetivos em relação à exploração da oiticica, é necessário preservar e resgatar o conhecimento tradicional, pois este é de suma importância para a compreensão de como, onde, por que e para que se deve retomar a exploração desta rica oleaginosa. Por estas razões e, devido à escassez e/ou falta de estudos com a oiticica, especialmente depois de seu apogeu nos anos 50 e 60, conforme já referenciado, é que para se escrever este capítulo, deste livro, recorreu-se a literatura básica, e por que não dizer única, disponível sobre o tema, onde os trabalhos de Bayma (1957); Peixoto (1973) e Duque (2004) foram os pilares de sustentação para levar aos interessados os conhecimentos básicos sobre o tema Arranjo Produtivo da Oiticica no Semiárido. Prof. Dr. Francisco de Assis Cardoso Almeida
PREFÁCIO
Publicar o estado da arte da oiticica com foco no semiárido remete ao levantamento de informações relevantes na literatura pertinente a esta oleaginosa. Consta-se na literatura que, a princípio essa árvore era considerada indesejável porque dava frutos de completa inutilidade. No entanto, a partir de 1934 a Brasil Oiticica S.A. possibilita o aproveitamento comercial de seus frutos no Nordeste por meio da química industrial. A partir daí, a planta nativa de oiticica explorada pelo sistema extrativismo teve uma grande importância socioeconômica para as populações rurais da região semiárida, pois a produção de frutos, por árvore, é muito irregular, algumas falham e outras passam anos sem dar sementes. O aproveitamento industrial das sementes, produzida assim irregularmente, traz dificuldades na fabricação do óleo e do seu comércio. A frutificação tardia é um caráter normal das espécies selvagens, reproduzidas sexualmente ou de pé franco. As argumentações técnicas encontradas nesta publicação, referentes às vantagens e conveniência de fazer-se esta espécie Licania rigida entrar para o rol dos cultivos sistemáticos com mudas enxertadas, permitindo produção anual, trará a esperança de voltar ao tempo do apogeu da exploração da mesma, permitindo a abertura de grandes indústrias de extração de óleo, a exemplo da BRASIL OITICICA dos anos 30-60, que foi tida como a maior compradora e processadora de óleo de oiticica no Nordeste do Brasil e, que hoje sua exploração foi praticamente abandonada com reflexos negativos em toda a cadeia produtiva da mesma, onde se deixou de investir no melhoramento, na otimização e desenvolvimento de novas técnicas de exploração. E, em algumas regiões foram até mesmo esquecido as formas de manejo e aproveitamento. Contudo, urge lembrar que uma indústria baseada em matéria-prima extrativa não oferece garantia para o ritmo expansionista do comércio internacional e para atender o nosso programa de biodiesel, inclusive a mesma apresenta as maiores potencialidades, principalmente em termos de inclusão social, para o Nordeste. Finalmente, vale destacar que o óleo de oiticica, produzido tem sido empregado para tintas, vernizes e sabão nas fábricas brasileiras e exportado para a América do Norte. Desta forma o livro resgata a história da oiticica e contem temas, com a finalidade de proporcionar aos interessados uma visão global da temática da oiticica, com perspectivas para a retomada de sua exploração, mediante cultivo racional anual, onde os autores abordam seu arranjo produtivo no semiárido; o apogeu das indústrias pelos processos de extração e polimerização do óleo; e seu aproveitamento energético e industrial. Ademais, a fim de que se estabeleçam novas vias de informações técnica cientifica para divulgação desta promissora cultura do semiárido, pretende-se, com esta publicação, estimular estudantes, profissionais e o público em geral, tornando clara a necessidade de maiores investimentos em programas de educação e pesquisa, para que seja possível elevar o número de pessoas envolvidas no conhecimento sustentável e econômico da oiticica, levando-se em consideração que o estudo desta oleaginosa é mercado em ascensão no país.
Os Autores.
Sumário CAPÍTULO 1. ARRANJO PRODUTIVO DA OITICICA NO SEMIÁRIDO – Vicente de Paula Queiroga, Carlos Renato Cavalcante Barbosa, Paulo de Tarso Firmino, Francisco de Assis Cardoso Almeida ............................................................................................................... 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 98 CAPÍTULO 2. O APOGEU DAS INDÚSTRIAS DE OITICICA: PROCESSOS DE EXTRAÇÃO E POLIMERIZAÇÃO DO ÓLEO – Vicente de Paula Queiroga, Carlos Renato Cavalcante Barbosa, Paulo de Tarso Firmino, Francisco de Assis Cardoso Almeida ............ 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 150 CAPÍTULO 3. APROVEITAMENTO ENERGÉTICO E INDUSTRIAL DA OITICICA – Vicente de Paula Queiroga, Carlos Renato Cavalcante Barbosa, Paulo de Tarso Firmino, Francisco de Assis Cardoso Almeida........................................................................................ 151 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 173
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Capítulo I
ARRANJO PRODUTIVO DA OITICICA NO SEMIÁRIDO
(Autores)
Vicente de Paula Queiroga Carlos Renato Cavalcante Barbosa Paulo de Tarso Firmino Francisco de Assis Cardoso Almeida
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1. INTRODUÇÃO A oiticica (Licania rígida, Benth) é uma árvore de grande porte, crescimento lento, adaptada ao ambiente seco da região nordestina. Não possui grande distribuição extensiva, concentrando-se, principalmente na zona oeste e sudeste do Rio Grande do Norte, oeste da Paraíba e leste e centro do Ceará, sendo menos disseminada no Piauí. No passado, uma árvore de oiticica representava para o dono da terra uma renda apreciável, sendo sua colheita efetuada entre os meses de dezembro a fevereiro, período de maior carência de recursos financeiros para a agricultura familiar (PALMEIRA, 2006). Sua coleta é uma atividade secundária de grande importância socioeconômica, por se tratar de uma ocupação passageira que complementa a pequena renda do homem do sertão e fonte de absorção de mão-de-obra com o seu extrativismo (BAYMA, 1957). Para Duque (2004), a incrementação do cultivo da oiticica, passando do seu sistema extrativismo para uma exploração sistemática, proporcionaria aos pequenos agricultores, maior renda e tranqüilidade, diante das incertezas das safras prejudicadas pelas irregularidades das chuvas que ocorrem na região. Os frutos de oiticica se destinam principalmente as indústrias de extração de óleo instaladas na região Nordeste. Sua semente ou amêndoa contém cerca de 60% de óleo com as seguintes características: peso específico entre 0,95 a 0,96; ponto de fusão completo 57 a 65ºC; índice de saponificação completo 189 a 195, índice de iodo cerca de 180 (altamente secativo). É um óleo de duplas ligações conjuntas o que o torna altamente secativo e facilmente polimerizável, formando produtos sólidos de boa resistência ao intemperismo (ROSADO; ROSADO, 1988). O emprego principal do óleo de oiticica é na indústria de tintas de automóvel e para tintas de impressoras (jato de tinta), além de vernizes, esmaltes, lonas e ainda, na fabricação de sabão (MELO et al., 2006; PALMEIRA, 2006), onde é usado depois de sofrer polimerização pelo calor. Atualmente, este processo é desenvolvido na indústria de extração de óleo de Orós, CE, graças às pesquisas empreendidas pelo grupo da Brasil Oiticica S. A., o qual é considerado o precursor do processo de polimerização desse óleo, desde o início da implantação de sua indústria em Fortaleza, CE em 1934. Dá produção de óleo, a maior parte é consumida internamente nas regiões produtoras, pelas indústrias de tintas e vernizes e, o restante exportado para outras regiões e outros países (ROSADO; ROSADO, 1988).
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Também a oiticica poderá desempenhar o papel de principal fornecedor de óleo vegetal para as usinas brasileiras durante o segundo momento do Programa Nacional do Biodiesel devido a seu sistema extrativismo já estabelecido. Não falta, entretanto, interesse para a utilização de outras culturas e fontes de óleos que possuam maiores rendimentos e possibilitem uma matéria prima a custos mais competitivos. Nessa nova situação de mercado, a oiticica poderá ser considerada como uma semente rica em óleo que vem sendo, desde há muito tempo, empregado na indústria para diversos fins (MELO et al., 2006; PALMEIRA, 2006; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007). Além disso, há um crescente interesse na propagação de espécies nativas devido à atenção focada, cada vez mais, nos problemas ambientais, com vistas à produção de mudas para recuperar e, ou enriquecer áreas degradadas resultantes da exploração desordenada dos recursos naturais. Entretanto, é necessário se obter informações básicas sobre sua germinação, cultivo e manejo cultural, uma vez que a oiticica é uma espécie oleaginosa xerófila, arbórea perene e sempre verde, que preserva as margens dos rios e riachos temporários na região da caatinga, sendo, portanto, considerada uma espécie endêmica e ciliar (BAYMA, 1957; PALMEIRA, 2006). Devido ao potencial oleaginoso de suas sementes, a exportação do óleo de oiticica para os Estados Unidos e parte da Europa, proporcionou renda ao sertanejo até a década de 1990, quando foi totalmente substituído pelo o óleo sintético. Embora matrizes tenham sido dizimadas para dar lugar a pastos, plantações de subsistência e construção de barragens, mesmo assim ainda há grande número de remanescentes desta espécie em pleno vigor para a produção de óleo (DUQUE, 2004; PALMEIRA, 2006; DINIZ et al., 2008). Nas condições do atraso técnico e do puro extrativismo dos oiticicais com produção bianual, cujas árvores estão produzindo frutos desigualmente ricos em óleo, urge lembrar que uma indústria de oiticica instalada no sertão do Nordeste, que visa atender a demanda de óleo secativo do mercado interno e externo, necessita como garantia de suprimento da matéria prima proveniente de um sistema produtivo sistêmico e com uso de algumas tecnologias sustentáveis. Para produzir anualmente, é necessário que o pomar seja reflorestado com mudas enxertadas originadas de árvores selecionadas e produtivas. Essa exploração com tecnologias sustentáveis poderá ser alcançada dentro de um prazo de 8 anos (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
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Houve uma queda de 90,53% na produção de oiticica da região do Nordeste, em razão do Ceará não ter apresentado produção em 2004, dado que a planta apresenta ciclo vegetativo/reprodutivo bianual. Todavia, o Estado do Ceará desponta como importante produtor nacional de sementes de oiticica nos anos em que a planta floresce e frutifica. Em segundo e terceiro lugar em produção de frutos aparecem os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, respectivamente (PALMEIRA, 2006; ARAÚJO, 2012). O rendimento do óleo depende muito do período de colheita dos frutos, pois o rendimento reduz drasticamente se forem armazenados por um ano (17%) em comparação aos colhidos após uma semana (61%) e um mês (56%). No depósito, o óleo do caroço oxidase muito depressa (QUEIROGA et al., 2013). Por este motivo, recomenda-se, as novas indústrias que vão ser instaladas no Brasil, que sejam edificadas nas proximidades das regiões produtoras e, mesmo assim, que seja implantada uma logística de transporte eficiente para o escoamento da produção do campo para a unidade de beneficiamento (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Para aumentar a produtividade da cultura de oiticica alguns aspectos, tais como: produção de mudas enxertadas com estacas provenientes de árvores matrizes com elevado potencial genéticos, clima, solo, espaçamento, adubação, tratos culturais, controle dos fatores fitossanitários e colheita bem conduzida, são indispensáveis para conseguir uma produção anual de 100 kg por árvore. Em termos médios, num plantio ordenado bem conduzido com uma população de 100 árvores enxertadas, obter-se-ia um rendimento de até 10 ton de frutos por hectare (BAYMA, 1957). Razão pela qual, na exploração sistemática da oiticica, faz-se necessário uma organização no seu sistema de produção, ou seja, deve-se ter um planejamento, bem como um manejo cultural adequado das áreas de produção (Duque, 2004).
2. ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DA OITICICA A oiticica, espécie típica de matas ciliares da caatinga verdadeira, do sertão, do seridó e do agreste piauiense e dos litorais cearense e norte riograndense; ocorre nas bacias hidrográficas do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, principalmente no Sertão - em altitude de 50 até 300 m, com cerca de 3.000 horas de luz solar, por ano, nos neossolos flúvicos dos rios – nativa do nordeste do Brasil, espalhada entre outras
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vegetações. Os vales nordestinos mais densamente florestados com a oiticica são: o do Paraíba, do Acaraú, do Jaguaribe, do Açu, do Apodi, do Ipanema, do Piancó, do Piranhas e do rio do Peixe (DUQUE, 2004). Por falta de estudos sobre esta cultura, depois do seu apogeu como produtora de óleo nas décadas de 1950 e 1960, não foi encontrado na literatura especializada dados atualizados de sua produção, pelo que os dados contidos nas Tabelas 1 a 4 servirão de balizamento para reflexão sobre os principais municípios por Estado produtores desta oleaginosa, safras entre 1950 a 1953.
Tabela 1. Levantamento da produção de oiticica nos municípios do Estado do Piauí, safras de 1950 a 1953. Municípios Produtores
Quantidade (ton.) 1950
1951
1952
1953
Oeiras
57,3
269,7
236,1
794,9
Picos
11,0
-
20,0
41,9
Pio IX
100,0
30,0
40,0
30,0
Periperi
25,0
23,0
55,0
-
Valência do Piauí Total
3,0
3,0
2,5
3,0
196,3
325,7
353,6
869,8
Fonte: Bayma (1957)
Tabela 2. Levantamento da produção de oiticica nos municípios do Estado do Rio Grande do Norte, safras de 1950 a 1953. MUNICÍPIOS PRODUTORES
QUANTIDADE (ton.) 1950
1951
1952
1953
Acarí
12,0
10,0
1,5
5,0
Assu
45,6
46,1
47,5
48,0
Alexandria
75,0
150,0
160,0
200,0
Angicos
50,0
-
-
-
Apodi
300,0
250,0
-
-
Campo Grande
600,0
650,0
550,0
650,0
Caicó
125,0
118,0
70,0
49,0
Carnaúbas dos Dantas
120,0
116,2
120,0
9,0
Florânia
6,0
8,0
4,0
3,5
Jardim de Piranhas
46,5
9,6
13,9
143,5
Jardim do Seridó
58,0
50,0
-
82,2
Jucurutu
35,6
31,3
40,0
40,0
Luiz Gomes
50,0
60,0
65,0
68,0
Martins
180,0
150,0
150,0
150,0
Mossoró
1.350,0
1.800,0
1.400,0
740,0
C a p í t u l o I | 17 Parelhas
8,5
6,0
4,8
4,8
Patu
200,0
160,0
-
10,0
Pau dos Ferros
750,0
650,0
580,0
460,0
Portalegre
109,5
90,0
100,0
120,0
São João do Sabugi
80,0
35,0
20,0
13,1
São Rafael
73,5
30,0
34,0
27,0
São Tomé
6,0
3,5
1,5
-
Serra Negra
49,5
48,9
32,1
16,1
4.330,7
4.472,6
3.394,3
2.839,2
Total
Fonte: Bayma (1957)
Tabela 3. Levantamento da produção de oiticica nos municípios do Estado da Paraíba, safras de 1950 a 1953. QUANTIDADE (ton.)
Municípios Produtores
1950
1951
1952
1953
Brejo do Cruz
500,0
300,0
350,0
250,0
Cajazeiras
60,0
48,0
60,0
50,0
Catolé do Rocha
1.100,0
1.500,0
1.200,0
685,1
Itaporanga
250,0
145,0
260,0
260,0
Patos
20,0
15,0
60,0
2.400,0
Piancó
3.200,0
2.400,0
2.400,0
1.600,0
Pombal
4.200,0
1.035,4
4.800,0
1.000,0
420,0
480,0
186,0
232,5
-
-
-
55,0
São João do Rio do Peixe São José de Piranhas Sousa
524,0
396,0
324,0
430,0
Total
10.274,0
6.319,4
11.240,0
6.962,6
Fonte: Bayma (1957)
Tabela 4. Levantamento da produção de oiticica nos municípios do Estado do Ceará, safras de 1950 a 1953. Municípios Produtores
Quantidade (ton.) 1950
1951
1952
1953
30,0
-
-
14,0
-
6,0
6,0
10,0
Aurora
23,5
15,0
25,0
43,4
Baixio
13,6
8,7
8,0
3,5
Boa Viagem
40,0
26,0
-
18,0
Canindé
200,0
50,0
150,0
200,0
Cariré
410,5
250,0
110,0
-
Caririaçu
12,0
8,0
-
-
Cedro
130,0
160,0
180,0
45,0
Acaraú Aracoiaba
Coreaú
60,0
35,0
54,0
150,0
Crateús
2.000,0
2.100,0
2.200,00
2.217,0
C a p í t u l o I | 18 Granja
150,0
120,0
100,0
110,0
Ibiapina
66,0
32,5
52,0
77,0
Icó
282,0
110,0
100,0
105,7
Iguatu
20,0
4.645,1
25,0
-
Independência
100,0
40,0
28,0
16,0
Ipu
400,0
35,8
-
64,0
Ipueiras
240,0
260,0
220,0
60,0
Itapagé
98,6
13,0
108,3
13,8
Itapipoca
60,0
35,0
30,0
25,2
Jaguaretama
800,0
1.000,0
400,0
250,0
Jaguaribe
780,0
3.070,0
2.000,0
2.206,0
Jaguaruana
45,0
15,0
15,0
5,0
Jucás
3,0
800,0
400,0
30,0
Lavras de Mangabeira
65,0
900,0
450,0
17,0
1.300,0
2.000,0
3.000,0
2.620,0
Massapê
110,0
80,0
100,0
120,0
Milagres
2,0
2,2
2,0
1,5
Mombaça
300,0
200,0
220,0
230,0
Morada Nova
2.000,0
250,0
100,0
2,2
Nova Russa
2.000,0
200,0
1.000,0
1.007,8
Limoeiro do Norte
Pentecoste
10,0
-
-
-
Pereiro
130,0
50,0
-
-
Quixadá
190,0
180,0
100,0
82,0
Quixeramobim
98,6
28,7
30,0
35,0
Reriutaba
450,0
300,0
200,0
120,0
Russas
300,0
60,0
-
-
Saboeiro
49,8
-
-
-
Santa Quitéria
2.200,0
-
1.800,0
1.300,0
Santana do Acaraú
400,0
380,0
358,0
400,0
São Benedito
30,0
5,0
4,0
-
São Gonçalo do Amarante
25,0
28,0
35,0
36,0
Senador Pompeu
19,2
10,0
15,0
9,0
Sobral
320,0
150,0
710,0
366,9
Solonópole
150,0
50,0
40,0
77,0
Tamboril
100,0
80,0
60,0
11,8
Tauá
500,0
400,0
500,0
600,0
6,0
3,0
-
2,8
-
-
-
25,0
7,5
7,6
6,5
6,0
16.727,9
17.399,7
14.546,7
12.733,8
Tianguá Várzea Alegre Viçosa do Ceará Total
Fonte: Bayma (1957)
Apesar de ser um levantamento estatístico de produção de frutos de oiticica das safras de 1950 a 1953, mesmo assim os dados das Tabelas 1 a 4 dão uma dimensão da sua comercialização e sua distribuição pelos municípios produtores envolvidos dos Estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Observa-se no geral que a capacidade de
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cada unidade produtora de oiticica e sua oscilação num período de quatro anos, dos quais os três primeiros foram de boas safras e o último, 1953, foi de redução significativa. Além disso, houve um maior destaque na produção de oiticica para Pombal, PB e Mossoró, RN, devido à presença das duas filiais da Indústria Brasil Oiticica S.A. em plena operação nas respectivas cidades. Na atualidade, tal cenário tem sido modificado em função da redução progressiva dos oiticicais, pertencente ao sistema de exploração totalmente extrativista, para expansão de projetos de irrigação de fruticultura, plantio de capim e construções de grandes barragens, a exemplo de Castanhão no Ceará, que chegou a inundar uma extensa área com árvores adultas e produtivas. Para compensar a grande devastação das árvores de oiticica seria importante o desenvolvimento de programas de produção de mudas enxertadas de oiticica e incentivo ao reflorestamento de áreas para o seu plantio com espaçamento ordenado. Uma vez cultivada as mudas enxertadas são necessários 4 anos e meio para iniciar sua exploração, sendo sua produção anual. No caso de reflorestamentos com mudas não enxertadas são 8 a 10 anos para produzir frutos e sua produção é bianual (BAYMA, 1957). Além de ser considerada uma espécie endêmica, é uma planta xerófila que armazena nutrientes no caule e nas raízes, na forma de água, tanino, hidrato de carbono, de ácidos orgânicos, de mucilagens, etc., para sobreviver aos períodos de secas. Em razão da provável presença de tanino, as mudas que crescem no campo não são comidas pelo gado, porque as suas folhas são repelentes para os animais (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; MONTEIRO et al., 2005).
3. IMPORTÂNCIA DA OITICICA No semiárido nordestino, a oiticica é um oásis nos períodos de seca, pelo fato da mesma sempre se manter verde, o que garante sombra aos homens e a diversos animais. Considerada uma árvore majestosa por crescer habitualmente nos aluviões profundos dos rios e riachos, e o mais importante: ajuda a preservar esses cursos d’água. Quando não, suas folhas, troncos e frutos também servem às populações locais que constroem casas, utilizando sua madeira, produzindo sabão e/ ou combustível para a iluminação a partir de seu óleo (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). A semente de um fruto de oiticica maduro contém uma amêndoa rica em óleo, com um teor aproximado de 61% de óleo na amêndoa (BAYMA, 1957), o qual é bastante utilizado
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na indústria de tintas de automóvel e para tintas de impressoras jato de tinta, além de vernizes e na produção de sabão (PALMEIRA, 2006; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007). A exportação do óleo de oiticica para os Estados Unidos e parte da Europa, proporcionou renda ao sertanejo até a década de 1990, quando foi totalmente substituído pelo o óleo sintético e de tungue. Embora matrizes tenham sido dizimadas para dar lugar a pastos e plantações de subsistência, ainda há grande número de remanescentes desta espécie em pleno vigor para a produção de óleo (PALMEIRA, 2006). Seus frutos podem ser usados para extração de corantes naturais ou cosmético e produção de biodiesel. Também é uma árvore muito aproveitada no paisagismo, pela folhagem sempre verde e as inflorescências amarelas na apicultura para produção de mel (PALMEIRA, 2006; AZEVEDO FILHO et al., 2007; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007). Na Figura 1, encontram-se, de forma esquemática e resumida, a sequência do uso da planta e processamento dos frutos para extração de óleo e produção de biodiesel na indústria de oiticica.
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FLORAÇÃO (PRODUÇÃO DE MEL POR ABELHAS)
CATAÇÃO DOS FRUTOS CAÍDOS DA PLANTA DE OITICICA
FOLHA (ALIMENTO DO GADO)
SECAGEM AO SOL
ELIMINAR OS FRUTOS IMATUROS
ELIMINAR FRUTOS ATACADOS POR PRAGAS
CLASSIFICAÇÃO
RECEPÇÃO (COMERCIALIZAÇÃO DOS CAROÇOS)
PRÉ-LIMPEZA
TRITURAÇÃO DA AMÊNDOA
CASCA
(MOINHO)
-ALIMENTAÇÃO ANIMAL -COMBUSTÍVEL PARA CALDEIRA
COZIMENTO
VAPOR
PRENSAGEM DA AMÊNDOA
TORTA
EXTRAÇÃO QUÍMICA (HEXANO)
FARELO ÓLEO BRUTO
COMBUSTÍVEL PARA CALDEIRA
(AMARELO COM COR ESCURA)
RAÇÃO E ADUBO
TINTA VERNIZ SABÃO PROCESSO DE TRANSESTERIFICAÇÃO
GLICERINA
BIODIESEL
Figura 1. Fluxograma resumido das aplicações da planta e o processamento dos frutos para extração de óleo e produção de biodiesel de oiticica. Organograma elaborado por Vicente de Paula Queiroga
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Além de ser empregada na indústria de tintas de automóvel, de tintas de impressoras jato de tinta e de vernizes, a oiticica também é utilizada pela medicina popular do Nordeste do Brasil (PALMEIRA, 2006; DANTA; GUIMARAES, 2008) onde se emprega o decocto ou macerado das folhas no tratamento do diabetes (ALMEIDA; AGRA, 1986; AGRA et al., 2007), e as folhas, extremamente rígidas e coriáceas, se prestam para polir artefatos de chifre. Durante a seca, as folhas novas servem de alimentos para o gado, podendo comê-las diretamente desde que a copa da árvore seja baixa (BAYMA, 1957). A segunda guerra mundial acelerou a procura por óleo vegetal, em particular, do fruto da oiticica, posto que, naquele momento de sufoco, a indústria siderúrgica dos países envolvidos no conflito, precisava urgentemente, aumentar a produção de ferro e aço, para abastecer as linhas de montagens da indústria bélica. Nesse processo, o óleo entra como um composto químico que dá consistência ao produto, o que facilita a etapa final de laminação. O aço é matéria básica para produção de navios, aviões, tanques, canhões, fuzis, metralhadoras, entre outros artefatos indispensáveis à selvajaria da guerra. O óleo de oiticica, para a indústria siderúrgica, não era um produto de boa qualidade. Desse modo, na ausência, em quantidade, de um bom sucedâneo, não houve outra saída, a não ser ele mesmo (ARAÚJO, 2012). Rico em iodo, é anticorrosivo, impede a formação de crostas e se usa na produção de borrachas e lonas de freios. Atualmente existem avançados estudos para o aproveitamento de seu óleo na composição do biodiesel e biolubrificante. Essa espécie pode ser importante como matéria prima para produção de biodiesel e para a sustentabilidade do biodiesel no semiárido, a qual tem estimulado a agricultura familiar em função da época de colheita ser realizada entre os meses de dezembro a fevereiro, período de total escassez de renda para a agricultura familiar (MELO et al., 2006). Na temperatura ambiente, o óleo é meio fluido, unguentoso, amarelo claro e apresenta um cheiro penetrante. Estando o seu número de iodo mais alto que 180, têm grande capacidade de absorção do oxigênio e, em consequência, um ótimo poder de secar. Ao pincelar um vidro com óleo de oiticica, este se torna, em pouco tempo, seco e duro, não colando mais ao contacto. Coagula ao ar formando películas que não se dissolvem nos meios comuns de dissolução. Para aplicação, o óleo é aquecido antes. Fornece delgadas películas que são brilhantes, claras, elásticas, secam rapidamente e não apresentam rugas
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como sucede com as fornecidas por outros óleos (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004; ABOISSA, 2007).
A mistura de óleo de oiticica e tung oil (óleo de tungue) oferece certas vantagens em comparação ao mesmo óleo na sua forma pura. Nesse caso, a indústria prefere uma mistura constituída por 3 a 4 partes de óleo de oiticica por uma de tung oil (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
4. BENEFÍCIOS PARA APICULTURA Estando a produção de mel e dos outros produtos da colméia ligados à presença das flores, torna-se importante o conhecimento das plantas apícolas, dos seus períodos de florescimento e da sua abundancia em determinada região. Logo, a caracterização das plantas e suas épocas de floração contribuem para o estabelecimento de uma apicultura sustentável. Nesse sentido, Fernandes et al., (2005) verificou que L. rigida é uma planta melífera de grande importância para a apicultura nordestina por florescer na época de escassez de alimento. Em razão do pouco conhecimento sobre a flora melífera da região semiárida, principalmente a que ocorre na estação seca, Silva et al., (2006) decidiram avaliar o potencial de florada da oiticica (Licania rigida Benth) na microrregião de Catolé do Rocha-PB. Os mesmos constataram que o período de floração da oiticica em uma área deste município é de agosto a outubro, com pico de floração no mês de setembro, aonde os apicultores chegam a fazer de duas a três colheitas de mel. Além disso, eles observaram que as abelhas deram preferência ao néctar e que o número de visitas ocorreu com maior freqüência no horário da tarde. Durante os meses de agosto a dezembro, os apicultores da região semiárida enfrentam um longo período de escassez de alimentos para as abelhas. Nessa época, existem poucas flores no campo, e as abelhas aproveitam toda e qualquer fonte de néctar ou pólen que surja. Nas margens de rios e em locais baixos, há ocorrência natural da oiticica (Licania rigida), planta muito frequentada pelas abelhas africanizadas (Apis mellifera). Esta espécie é conhecida pelos apicultores porque eles chegam a colher pelo menos uma safra de mel claro bastante atrativo para o mercado consumidor durante o período de entressafra da oiticica (FERNANDES et al., 2005; SILVA FILHO et al., 2010).
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Sugere-se, portanto, um estudo de produção de mel na época de floração da oiticica em comparação com o estudo em outras épocas do ano, a fim de reforçar o potencial melífero da oiticica, mesmo considerando sua grande importância na manutenção de colméias de apicultores no período mais seco do ano por ser uma espécie arbórea perene sempre verde (perenifólia) que preserva as margens dos rios e riachos temporários na região da caatinga (PALMEIRAS, 2006; SILVA FILHO et al., 2010).
5. PERSPECTIVAS DE MERCADO DA OITICICA É necessário que se reconheça, que a prática das atividades extrativas, nos dias atuais, se comparada ao volume imenso de produtos extrativos que conquistaram altos percentuais no setor econômico-financeiro do passado, tem decaído, cedendo vez às atividades de cultivo e criação. Os motivos relacionam-se às constantes crises, bem como têm muito a ver com a cada vez maior oferta de matéria-prima por parte de outros países (inclusive as sintéticas). Agravam a questão, ainda, outros fatores, tais como a baixa produtividade e a falta de uma infra-estrutura dirigida a atender às necessidades de comercialização e escoamento dos produtos coletados. Estes, entre outros entraves, motivaram o esvaziamento das empresas de extração de óleo de oiticica na região do Nordeste, cuja economia atual tem seu embasamento, mesmo numa escala reduzida, no extrativismo desse vegetal (PALMEIRA, 2006; ARAÚJO, 2012). Mas, apesar dessas considerações, sabe-se que a participação das atividades primárias extrativas dos frutos da oiticica, ainda pode recuperar seu elevado percentual econômico, inclusive de inclusão social, para o Nordeste, com a perspectiva de ultrapassar, nos próximos 10 anos, os percentuais alcançados pelas lavouras e pecuárias, dadas a grandeza das áreas exploradas extrativamente de várias fontes alternativas de oleaginosas que são fomentadas no Brasil para atender a crescente demanda de óleo pelos mercados nacional e internacional. Portanto, a coleta dos frutos de oiticica, apesar dos percalços, ainda constitui uma atividade da população rurícola do sertão nos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte (PALMEIRA, 2006; ARAÚJO, 2012).
Nos anos 50 e 60, a oiticica se constituía na grande vedete da pauta da exportação dos produtos agrícolas do estado do Ceará. Os proprietários de armazéns, até as décadas de 1980, pagavam bom preço pelo quilo de caroços da oiticica, porém, com o crescimento
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do cultivo das culturas de tungue e perila em outros países, a sua colheita foi desestimulada por conta da queda no preço final pago pelos compradores (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004; PALMEIRA, 2006). Por sua vez, o óleo extraído das amêndoas de oiticica era utilizado na fabricação de sabão e nas indústrias de tintas, de lonas e de isolantes. Posteriormente, perdeu espaço para o tungue, óleo muito produzido no Paraguai e na China. Nos próximos anos, os chineses vão reabrir o mercado para a oiticica, pois pretendem mudar radicalmente as áreas plantadas de tungue pela cultura da soja, pois sua prioridade atual é produzir alimentos para atender o consumo da maior população do mundo. Consequentemente, seus diretores industriais já sinalizaram para o Governo do Estado do Ceará que estão interessados em comprar todo o óleo de oiticica que a indústria local hoje produz (SERPA, 2012; Figura 2).
Figura 2. Missão brasileira na China tratando da exportação do óleo de oiticica produzido no Ceará. Foto: Egídio Serpa (2012) A concretização desse interesse comercial dos chineses, em comprar a produção de oiticica possibilitará a revitalização da cultura, já que, a oiticica era abundante áreas dos sertões e se multiplicava em ritmo acelerado nas margens dos açudes, riachos e rios. Fazer a apanha da oiticica entre os meses de dezembro e fevereiro, antigamente era uma atividade que gerava renda extra para o agricultor, principalmente por ser realizada no início a estação das chuvas (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004; SERPA, 2012). Tal mudança de mercado foi prevista por Duque (2004), de que a China poderia diminuir a exportação de tung-oil para o Ocidente e haveria maior demanda pelos secativos originados da oiticica e da linhaça. Contudo, nos últimos anos, a linhaça tornou-se um
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produto nobre pelo seu uso como alimento dietético, além de suas propriedades medicinais, consequentemente irá oferecer baixo grau de competividade com a oiticica. Entretanto, urge lembrar que uma indústria de oiticica baseada em matéria prima extrativa não oferece garantia para o ritmo expansionista do comércio internacional (DUQUE, 2004; SERPA, 2012). Por outro lado, é necessário que as Secretárias de Agricultura dos Estados do Ceará (Figura 3), Paraíba e Rio Grande do Norte elaborem em conjunto um plano de ação, que contemplem a produção de mudas enxertadas e promovam cursos de capacitações aos fazendeiros e produtores da região do sertão sobre as tecnologias de cultivos racionais, controle de pragas, qualidade e classificação do produto colhido, secagem dos frutos, conservação e expurgo dos frutos atacados, escoamento da produção do campo, como também definam os mercados. Também deverá ser esquematizada a instalação de várias Unidades de Testes e Demonstração (UTDs) em cada Estado para os produtores e técnicos se apropriarem dos conhecimentos técnicos nos Dias de Campo (Escola de Campo), mediante o cumprimento de um calendário prévio de visitas nas diferentes fases de crescimento e desenvolvimento da espécie Licania rigida, Benth.
Figura 3. Presidente da Ematerce e Secretário da SDA visitam a Olveq - Indústria e Comércio de Óleo Vegetal Ltda, acompanhado pelo seu dirigente Albano José da Silveira. Quixadá, CE
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A exploração da oiticica por enxertia pode ser feita de forma ordenada, que atenda a demanda em tempo hábil, conforme a exigência para a ampliação e formação de novos cultivos, pelo que pode vir a mudar o aspecto econômico da região do sertão nordestino por permitir uma produção anual, a qual é considerada o habitat natural da referida espécie. Além disso, resolveria o problema da escassez de matéria prima, pelo fato da produção bianual de frutos está intimamente relacionado ao sistema de exploração extrativista, evitando assim sua vertiginosa alta de preços acima de todas as previsões feitas pelas concorrências entre os industriais exportadores de óleo (BAYMA, 1957).
6. BOTÂNICA, MORFOLOGIA E ECOLÓGICO DA OITICICA 6.1 Aspecto botânico A oiticica (Licania rigida, Benth.) é uma árvore que pertence à família Chrysobalanaceae. Esta dicotiledônea é perene, de grande porte e grande longevidade, visto que pode vegetar de 50 a 100 anos (DUQUE, 2004). Conforme Joly (1977), a sua taxonomia é a seguinte: Reino: Plantae Subdivisão: Spermatophyta Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Subclasse: Rosidae Ordem: Rosales Família: Chrysobalanaceae Gênero: Licania Espécie: L. rigida Nome binomial: Licania rigida, Benth. Nome científico: Licania rigida
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6.2 Aspecto morfológico Raiz – O sistema radicular da oiticiqueira é constituído por uma raiz pivotante (Figura 4) com distribuição em profundidade e ramificação nas laterais, que pode penetrar verticalmente no solo por até 20 m de profundidade, consequentemente irá proporcionar uma boa sustentação a essa árvore frondosa. Das raízes laterais de uma árvore morta pelas águas represadas do açude de São Gonçalo (Sousa, PB), algumas atingiram a 18,4 m de comprimento, o que evidencia uma possibilidade de absorção de água e elementos nutritivos bem acima de tantas outras espécies de porte semelhante (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Figura 4. Plantinha de oiticica com sua raiz pivotante. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Caule - A planta alcança facilmente 15 m de altura quando se desenvolve em solos de aluvião ricos em matéria orgânica e profundos de seu habitat. Geralmente a oiticica esgalha a pouca altura do solo, sendo que a tendência dos galhos é a direção alongada e bem aproximada da linha horizontal. Esse arranjo proporciona uma copa ampla, densa, baixa e sombria, que pode atingir até 15-20 m de circunferência. Mesmo sendo considerado um caule curto, grosso e canelado, com 50 a 80 cm de diâmetro, entretanto não é dos mais valiosos nem apreciáveis, por sua conformação irregular de vários troncos ou pés reunidos (Figura 5). Sua madeira é branca, com fibras entrelaçadas e muito resistentes ao esmagamento (BAYMA, 1957; LORENZI, 1992; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
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Figura 5. Caule irregular da oiticica com vários troncos ou pés reunidos. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Folha – Suas folhas são alternas, pecioladas, inteiras, glabras, opacas, oblongolanceoladas, com lâminas fortemente coriáceas ou ásperas, rígidas, duras, grossas, bastante quebradiças, tormentosas nas faces e com nervuras bem pronunciadas, medindo até 16 cm de comprimento e 6 cm de largura (LORENZI, 1992). Essas folhas simples da oiticica, com densa cutícula e hipoestomáticas, possuem seus estômatos protegidos em criptas na sua face abaxial (a visualização deste fenômeno é possível com o uso de microscópio óptico), além de possuir canais resiníferos. Além disso, as folhas da oiticica se defendem da evaporação por meio da cutícula espessa que lhes protege a superficie, cuja ausência de estomatos dá à face superior aspecto tão luzidio como se fosse envernizada. Esta característica da planta é um exemplo de defesa natural contra as hostilidades do ambiente. Mesmo no verão, a folhagem se mantém sempre verde (Figura 6), apesar de ser esbraquiçada na sua face inferior (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; LORENZI, 1992; DUQUE, 200).
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Figura 6. Folhas alternas e percioladas, oblongo-lanceoladas, com lâminas fortemente coriáceas da oiticica. Fotos: Vicente de Paula Queiroga. Flor – As flores são pequenas medindo de 2 a 5 mm de diâmetro, hermafroditas, pentâmeras, zigomorfas, amareladas internamente, agrupadas as centenas em inflorescência espiciformes, isto é, dispostas em espigas racemosas (Figura 7), situadas nas pontas dos ramos, aparecendo principalmente nos meses de agosto até outubro. A floração é contínua até cem (100) dias, período correspondente a abertura da primeira flor até a última. Os frutos apresentam-se em média com 3 cm, quando da fecundação da última flor. A abertura das flores coincide com a época mais seca do ano e são muito visitadas pelos insetos. Em geral, uma flor fica aberta 4 dias e o estigma torna-se mais úmido de madrugada (BAYMA, 1957; LORENZI, 1992; DUQUE, 2004; ABOISSA, 2007; MAIA, 2012).
Figura 7. Flores dispostas em racemo da planta de oiticica. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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A polinização das flores é feita principalmente por insetos e, em seguida, nascem os frutos, que precisam de chuvas para a maturação, o que acontece nos três primeiros meses do ano. Uma vez fecundadas, os frutinhos começam a crescer rapidamente, formando primeira a casca, oca por dentro, até 3 a 4 cm, quando então, a amêndoa se vai desenvolvendo, enchendo o espaço interior da casca (BAYMA, 1957; LORENZI, 1992; DUQUE, 2004). Fruto - O fruto da oiticica é formado essencialmente de amêndoa mais o menos avermelhada, envolvida por casca fina, fibrosa, quebradiça, que se remove com facilidade (Figura 8) após ser submetida à secagem ao sol, de cor entre pardo e o marrom, tão variáveis de dimensões e de forma como na relação entre casca e amêndoa e no conteúdo em óleo (BAYMA, 1957; STRAGEVITCH et al., 2005).
Figura 8. A) - fruto (verde); B - caroços (sem mesocarpo e epicarpo); C - casca com amêndoa; e D - amêndoas (sementes) da oiticica. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Há frutos compridos, de forma oblonga, com dimensão de até 7,5 cm de comprimento e largura de 2,2 cm, como há outros curtos, de forma arredondada, apenas com 2,5 cm de comprimento por 1,01 cm de largura, contendo uma única semente de igual formato. Dependendo do tamanho dos frutos é possível fazer um quilo com variação desde 218 até 376 unidades (BAYMA, 1957; ARAÚJO et al., 2012). Com base nas amostras analisadas pelo laboratório da extinta empresa Brasil Oiticica S.A., a relação entre casca e amêndoa também varia bastante, até mesmo entre frutos volumetricamente equivalentes, com oscilações entre 27 a 35% de casca e 73 a 65% de amêndoa (BAYMA, 1957).
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A grande importância da oiticica está nas amêndoas, com cerca de 60% de um óleo com propriedades secantes. Seu caroço é envolto por uma polpa ou massa amarelada, rala, de cheiro pouco agradável e fibrosa, apreciada por algumas aves e morcegos. Enquanto a casca do fruto é verde, mesmo quando maduro, mas se torna amarelo-escuro quando seca. Os frutos da L. rigida são apresentados na Figura 9. Em média, uma árvore de Licania rígida, Benth produz 75 kg de frutos secos por safra, mas foram registrados exemplos com produção de até 1.500 quilogramas (BAYMA, 1957; LORENZI, 1992; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 200).
Figura 9. Frutos da oiticica. Fotos: Arquivo do Instituto Fazenda Tamanduá e Gerda Nickel Maia (2012)
Estas sementes de L. rigida apresentam também quantidades significativas de lipídios, que se encontram dispersos pelo citoplasma das células cotiledonares e, próximo à epiderme, há uma maior concentração de moléculas hidrofóbicas, possivelmente com funções impermeabilizadoras e proteção à semente. Ao efetuar o corte dos frutos de oiticica para ser submetido às diferentes colorações, Monteiro et al. (2005) puderam constatar uma grande quantidade de tanino, que pode ter um importante papel na defesa contra herbivoria (predador animal).
6.3 Aspecto ecológico A escolha da oiticica para atender a agricultura familiar se deu em função do aspecto ambiental, além de ser uma espécie arbórea perene do extrativismo, que preserva as margens dos rios e riachos da caatinga; social: gera renda na coleta dos frutos, por seu histórico potencial para produção de óleo; e econômica: faz circular dinheiro nas regiões
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mais carentes nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004; DINIZ NETO et al., 2012).
7. FENOLOGIA Barbosa et al. (2007) constataram que não chega a 20% o número de plantas perenifólias na região semiárida do Nordeste brasileiro, que não perdem as folhas de maneira concentrada durante o período seco (junho a dezembro), com substituição de folhas velhas pelas folhas novas durante a estação seca, destacando-se entre elas a oiticica (Licania rigida Benth). A oiticica emite brotação nova nos meses de maio e junho, deste último mês até outubro, ela solta as flores, em racemos nas pontas dos brotos. Os primeiros frutos já tem 3 cm quando fecunda a última flor. A abertura das flores coincide com a época mais seca do ano, pequeninas, hermafroditas, amarelas internamente, de 2 a 3 mm de diâmetro, agrupam-se às centenas na inflorescência e são muito visitadas pelos insetos. Em geral, uma flor fica aberta quatro dias e o estigma torna-se mais úmido de madrugada (ABOISSA, 2007). Durante o período mais quente do Nordeste, ou seja, de julho a dezembro, a oiticica encontra as condições mais favoráveis para o seu florescimento, o que coincide com a época das três consecutivas florações da planta ao ano (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Uma vez fecundada as flores, os frutinhos começam a crescer rapidamente, formando, primeiramente, a casca, oca por dentro, com espessura de 2 a 4 cm, quando então, a amêndoa vai sendo desenvolvida, enchendo o espaço interior da casca. De novembro até janeiro-fevereiro, em cachos pêndulos, os frutos se completam, amadurecem e caem (DUQUE, 2004). As chuvas tardias que caem às vezes nas zonas de ocorrência da espécie, em plena época de floração e fecundação, ocasionam sempre as perdas ou a queda dos frutos em formação, que segundo Bayma (1957) tem acontecido tantas vezes com irreparáveis prejuízos para a safra de oiticica. O mesmo questiona se a perda da produção foi por causa de chuvas ou de ventos, conjugados ou não com a ação negativa de insetos. Na Tabela 5 encontra-se as principais características fenológicas da planta de oiticica (MOREIRA; BARBOSA, 1996).
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Tabela 5. Principais características fenológicas da oiticica em relação à floração, frutificação e síndromes de dispersão. Classificações das fenofases vegetativas e reprodutivas Família
Clysobalanaceae
Tipo de frutos
Drupa
Consistência do fruto
Carnoso
Síndromes de dispersão
Zoocoria
Estações Formação de novas folhas
Estação seca
Floração
Estação seca
Frutificação
Estação chuvosa
Fonte: Barbosa et al. (2007)
As plantas de oiticica apresentaram plasticidade sob diferentes níveis de luz, alocando mais biomassa para a raiz quando submetidas a pleno sol e mais para a parte aérea, sob 50 e 70% de sombreamento. Os maiores diâmetros foram observados para plantas a pleno sol, o que indica uma maior atividade cambial em relação aos outros tratamentos. O tratamento de 50% superou os demais nas variáveis: número de folhas, área foliar e altura da planta. Os valores de massa foliar específica (MEF) mostraram que as folhas submetidas ao tratamento de sombra eram mais delgadas que as de sol. Já os valores médios de área específica foliar (AEF) foram maiores para as plantas submetidas ao tratamento de sombra, o qual colaborou para mitigar o efeito da fraca irradiância, uma vez que a maior área foliar ajudou a interceptar maior quantidade de luz por unidade de massa investida nas folhas (LOPES et al., 2007).
Por outro lado, baseando-se nas observações de campo e análises em laboratório dos espécimes coletados para determinar qual seria o polinizador efetivo da espécie L. rigida e seus possíveis polinizadores ocasionais, Fernandes et al. (2005) concluíram que a polinização de L. rigida é desempenhada primordialmente por dípteros da família Syrphidae que foram vistos visitando as inflorescências de oiticica tanto nos períodos da manhã como pela tarde em número bastante evidente e superior aos demais visitantes como as abelhas, borboletas e percevejos. Durante a floração puderam ser visto frutos jovens desenvolvendo-se nas mesmas inflorescências visitadas por esses animais,
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portanto, a visita destes certamente resultou na polinização, um pré-requisito para o sucesso reprodutivo da oiticica.
8. CLIMA E SOLO A oiticica vegeta espontaneamente no sertão e no litoral dos Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí. O clima dessa região é tropical quente, de seca acentuada (tem uma estação seca de sete a oito meses, que começa após o inverno), com chuvas de 650 a 850 mm anuais e em altitude de 50 até 300 m, sendo que a preferida pela árvore varia em torno de 200 m. Quanto à temperatura, observa-se que a média das mínimas no seu habitat é de 20,8ºC e a média das máximas de 31,7ºC. A temperatura no mês mais frio é superior a 15°C. Os solos em que cresce naturalmente são os de aluvião, de ótima fertilidade, rico, com alto teor de nitrogênio, pH acima de 7, compostos de areia, argila e húmus, em proporção equilibrada, o que lhes dá características de grande permeabilidade, arejamento, drenagem natural e profundidade. Esses solos, comuns em aluviões de rios e também em pés de serra, são formados por sedimentos de areia, argila e cascalho que se locomovem com as águas das chuvas (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973).
9. PROPAGAÇÃO NATURAL A maioria das árvores de oiticica existentes nasceu e cresceu espontaneamente, principalmente em seu habitat natural por via sexuada, ou seja, através de sementes. A propagação por sementes, mesmo escolhendo-se apenas as originárias de árvores fortes e sadias, é muito irregular. O índice da germinação é baixo e em pouco tempo a semente perde seu poder germinativo. O método mais eficiente de propagação consiste em retirar a casca das sementes e semear as amêndoas ao sol, sem cobertura (Figura 10). O ideal, porém, é que a temperatura esteja em torno dos 30°C; se estiver muito acima, o poder germinativo tende a diminuir. Dessa forma, a semente germina em cerca de 22 dias, e a planta cresce rapidamente nos quinze seguintes, em média de 2 a 4 mm por dia (GHELSEN, 1937; BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
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Figura 10. As amêndoas (sem casca) promovem maior eficiência germinativa. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Os pássaros, os morcegos e as correntes d’água, no inverno, são os disseminadores das sementes. Mesmo assim, outra via assexuada, como a enxertia, pode ser mais vantajosa quando se deseja implantar novas áreas de cultivos com espaçamento ordenado.
10. MELHORAMENTO DA OITICICA Segundo Bayma, a oiticica oferece um excelente campo de investigação para os botânicos e melhoristas, pois tais áreas poderão elucidar se a Licana rigida é uma só espécie e um só gênero. Ao contrário desta hipótese, Silva (1940) afirma que não há oiticica, mas oiticicas, isto é, muitos tipos diferentes com valores variáveis em relação à produção. De fato, a forma e dimensões desses frutos são tão variáveis que estão ajudando a sacudir os antigos conceitos da classificação botânica da árvore numa espécie única, postos em dúvida mais fortemente, aliás, pelas evidentes diferenciações das folhas, inflorescências, glumérulos e flores, quando procedentes de indivíduos vários, colocadas em plano de comparação (BAYMA, 1957). Estudando 22 indivíduos de oiticica de várias procedências que povoam a região do Nordeste, o botânico Luetzelburg chegou à evidência de que é necessário compor uma subfamília, com um ou provavelmente dois gêneros e seis espécies. Enquanto os técnicos do DNOCS de São Gonçalo no município de Sousa, PB acrescentaram que é necessário estudar a espécie ou espécies botanicamente, separar os tipos ou variedades, visando aproveitar os materiais que mais se recomendam pela seleção das características individuais da planta-mãe, da qual se retiraram as estacas no processo de propagação
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vegetativa de formação de mudas, do ponto de vista da exploração comercial (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Não havendo até o momento uma indicação oficial sobre a espécie mais produtiva, Silva (1940) também recomenda utilizar para multiplicação sementes das árvores de oiticica de maior rendimento cultural e cujos frutos sejam mais ricos em óleo. Somente assim, é possível estabelecer pomares grandes e de produção precoce com elevado teor de óleo na semente.
11. GERMINAÇÃO A rápida oxidação do óleo de oiticica é a principal causa da perda do poder germinativo das sementes (BAYMA, 1957). Em razão disso, as sementes de oiticica deverão ser semeadas em sacos plásticos com o substrato esterco e solo de textura média, na proporção de 1:2, para preparação das mudas, tão novas quanto possível e logo após a colheita. Mesmo assim, as sementes irão germinar muito irregularmente (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
No ensaio de germinação com sementes novas de oiticica implantado no viveiro telado da Escola Técnica de Sousa, PB, a emergência foi observada a partir do 15º dia após semeadura (Figura 11), num total de 59 sementes e, no final, constataram-se que apenas 29 sementes (quase 50%) germinaram após 20 dias. De acordo com Ghelsen (1937), uma longa radícula é formada nos primeiros dias, alcançando 16 cm. Nesta desenvolvem-se pequenas raízes secundarias, começando na parte superior. Quando estas raízes têm certo comprimento e as plântulas estão bem fixadas ao solo, começa a formar-se o epicótilo.
Figura 11. Germinação da semente (amêndoa) de oiticica iniciada aos 15 dias, apresentando já uma pequena radícula. Foto: Vicente de Paula Queiroga Enquanto os cotilédones se acham ainda dentro da semente de oiticica (Figura 12) e ainda não surgiram à superfície do solo. Ao alcançar o epicótilo à altura de mais ou menos 10
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cm de comprimento, só então a mesma irá possui as brácteas. De maneira parecida, quando o caule alcança uma altura de mais de 10 cm é que surgem as primeiras folhas, que se inserem irregularmente nele e têm uma cor verde claro e brilhante como as da azeitona (GHELSEN, 1937).
Figura 12. Semente da espécie Licania rigida (Chrysobalanaceae). Corte da semente mostrando os cotilédones e eixo embrionário. Foto: Ribeiro, V. K. (2006).
A germinação não apresenta dificuldades quando se utiliza sementes novas de oiticica e o substrato é umedecido adequadamente; a carência ou o excesso de umidade retardam a germinação das plântulas de oiticica. Suas radículas jovens são muito delicadas e rompem-se com facilidade (GHELSEN, 1937).
Estudando as sementes de oiticica submetidas a diferentes tratamentos, tais como: T1 Testemunha; T2 - Sementes sem a casca; T3 - Sementes imersas 10 minutos em ácido sulfúrico (H2SO4 - 95%) com a casca; T4 - Sementes submetidas à pré-embebição em água por 80 horas com a casca; T5 - Sementes submetidas à pré-embebição em água por 160 horas com a casca, Santos et al. (2010) verificam que os tratamentos apresentaram as seguintes percentagens de germinação: T1 = 21%; T2 = 54%; T3 = 21%; T4 = 17%; e T5 = 12%. Para o índice de velocidade de emergência (IVG) os tratamentos tiveram respectivamente 0,122; 0,593; 0,123; 0,084; 0,072 e para o tempo médio de germinação (TMG) as médias foram 47; 31; 39; 65 e 41 dias, respectivamente. Estes resultados demonstraram também que as sementes sem casca (T2) superaram significativamente os demais tratamentos em percentagem de germinação e no índice de velocidade de emergência. Verificou-se também que apesar da germinabilidade das sementes não ter diferido estatisticamente dos tratamentos “testemunha”, “sementes imersas por 10 minutos em ácido sulfúrico” e “sementes submetidas à pré-embebição em água por 160
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horas com a casca”, enquanto o tratamento “sementes sem a casca” obteve o melhor tempo médio de germinação (31 dias).
12. PRODUÇÃO DE MUDAS Apesar dos frutos de oiticica possuírem sementes viáveis, a reprodução sexual não é desejada no estabelecimento de plantios comerciais, em razão das plantas obtidas serem distintas da planta-mãe e apresentarem longo período juvenil (produção em apenas 8 anos). Sendo assim, a propagação assexuada é a técnica mais viável para o processo de formação de mudas, mantendo, assim, as características genéticas das plantas-matrizes, uniformidade e precocidade de produção. A obtenção de mudas de qualidade, além de garantir uniformidade e origem da mesma planta-mãe, é um fator que influencia toda a vida do pomar, permitindo maximizar os efeitos de clima e de solo e, principalmente, de tratos culturais adotados para a cultura. Tema aceito por diversos estudiosos (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004) ao recomendar a propagação assexuada da oiticica, por diferentes métodos de enxertia.
A primeira dificuldade do processo de enxertia que visa encurtar o ciclo de produção da espécie para 4 ½ anos (Figura 13), está no poder germinativo de suas sementes que cai relativamente depressa e faz baixar, assim, a produção de cavalos para a enxertia. Num ensaio experimental realizado em sementes com 6 meses de idade o resultado de porcentagem de pegas tem sido apenas de 10,5%, apesar de ter sido observado todos os cuidados prévios e subsequentes à semeadura, provando-se também que os tratamentos com água quente ou fria, composição do substrato, temperatura de 30 ºC e a umidade satisfatória não têm influencia sobre a germinação da oiticica. A recomendação para se obter o número máximo de porta-enxertos em boas condições, é empregar sempre sementes muito novas, selecionadas e descascadas (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
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Figura 13. A) Aos 4 anos e meio de idade, oiticica enxertada com excelente desenvolvimento e B) aos 5 anos, com floração abundante. São Gonçalo, município de Sousa, PB. Fotos: Bayma (1957).
Para uma cultura racional (comercial) é recomendável utilizar mudas obtidas por enxertia, vez que as de “pé franco” é tardia e irregular (Figura 14). A formação das mudas para a enxertia começa com a preparação da sementeira (Figura 15), ao sol ou protegido por telado, utilizando-se sementes maduras, novas ou recém-colhidas, nos meses de fevereiro ou março. A germinação é desigual, inicia-se após 22 dias do plantio das sementes. E a frequência máxima do aparecimento das mudinhas dá-se dos 30 aos 50 dias. O crescimento varia de 2 a 4 mm por dia. Cerca de 60 dias depois da germinação, as mudinhas, com 10 a 16 cm de altura, são transplantadas para o viveiro, com o intervalo de l,00 m x 0,50 m. Essa operação é feita com duas colheres apropriadas, extraindo-se o bloco de terra, sem afetar a raiz pivotante, que é grande (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Figura 14. Oiticica de pé franco produzida por semente (não enxertada) com quase 4 anos de idade, apresenta porte reduzido e nenhum sinal de floração. São Gonçalo, município de Sousa, PB. Foto: Bayma (1957).
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Figura 15. Preparação de mudas de pé franco de oiticica no viveiro para obtenção de mudas enxertadas. Escola Agrotécnica de Sousa, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga
O solo do viveiro deverá ser bem preparado, adubado com esterco curtido (para a muda “dar a casca” na enxertia) e disposto para irrigação. A“pega” no transplantio regula 83% e as falhas deverão ser replantadas. As regas são feitas um dia antes do transplantio, após essa operação e com o intervalo de 10 a 15 dias até 6 a 8 meses da duração do viveiro, aplicam-se 300 a 400 m3 d’água em cada hectare a cada rega. Um homem com pequeno sulcador e um burro faz os sulcos, entre as fileiras de 1 hectare, em 6 horas, e, em seguida, 3 homens distribuem a água, na vazão de 10 litros por segundo, nos sulcos, no período de 10 horas, para 1ha (DUQUE, 2004). Um dia ou dois, após cada molhadura, deverão ser feitos; escarificação, entre as fileiras, e uma capina no pé das mudas. Estimuladas pela umidade, pela adubação e pelo tratamento do solo, as mudas crescerão com a casca elástica para a enxertia de borbulha, que é feita quando as mudas têm de 5 a 6 meses de viveiro ou a altura média de 80 cm (DUQUE, 2004). A oiticica (Licania rigida Benth), também foi estudada por Araujo et al (2012) com relação à produção e crescimento das mudas. Os mesmos concluíram que o padrão das mudas de oiticica, seis meses após a repicagem para sacos de polietileno 19 cm x 35 cm em ambiente de estufa, apresentou os seguintes valores: 72,13 cm de altura, 6,93 mm de diâmetro do caule e 24 folhas por planta.
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13. ENXERTIA Quando a muda estiver com aproximadamente 0,15 m de altura, 60 a 120 dias depois da germinação deve ir para o viveiro, onde fica por cinco ou seis meses, quando atinge 0,80 m de altura. Faz-se então a enxertia de encosto (Figura 16). No caso da oiticica seria mais interessante o encosto lateral, abre-se ao lado do porta-enxerto uma lingüeta de 2 cm até 3 cm com o canivete inclinado. Nesta lingüeta introduz-se um pequenino garfo chanfrado em bisel ou cunha, de maneira que as cascas das duas peças coincidam bem e, então, amarrara-se com plástico (PEIXOTO, 1973). No entanto, este tipo de enxertia não é recomendável para grandes campos por apresentar baixa porcentagem de pega, conforme estudos realizados por Bayma (1957).
Figura 16. Enxertia por encostia (ou garfagem).
Pode-se também fazer a enxertia de borbulha, quando a muda tiver 8 a 10 meses (Figura 17). O cavalo ou porta-enxerto nessa idade está dando casca, isto é, a casca se desprende e se solta naturalmente. O corte no cavalo é de T invertido, semelhante ao adotado para os citros. A amarração deve ser feita de preferência com fita de plástico. As borbulhas devem ser extraídas da oiticiqueira de alta produtividade e produção precoce, devendo ser enxertadas nas mudas, no mesmo dia. Os garfos para fornecimento da borbulha convêm ter 3 a 6 mm de diâmetro, o que facilita a operação. Enquanto o cavalo deve possuir no mínimo 5 mm. Quanto mais finos, dificultam a inoculação da borbulha (PEIXOTO, 1973).
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Figura 17. Enxerto por borbulhia.
De modo geral, o enraizamento do material enxertado é menor quando se preparam estacas a partir de ramos de árvore mãe em produção, mesmo que os ramos utilizados não sejam frutíferos, e menor ainda quando se utilizam ramos com flores ou frutos, o que torna nulo o enraizamento se estes órgãos não são eliminados ao preparar as respectivas estacas (COUTINHO et al., 2009). Para garantir o bom enraizamento, o ideal é planejar a enxertia para o estádio de renovação de folhas da oiticica, o qual ocorre entre os meses de abril a junho de cada ano. O material vegetal deve ser mantido fresco e úmido, em um lugar protegido de correntes de ar e de insolação, desde quando retirados da planta-matriz, até que as estacas estejam preparadas. Depois de preparadas são tratadas com fungicidas, para que sejam protegidas do ataque de doenças, podendo ser utilizadas soluções à base de cúpricos (PEIXOTO, 1973). Posteriormente, quando as gemas ou olhos estão salientes, retira-se o atilho, poda-se o porta-enxerto mais ou menos 10 cm acima do local do enxerto. O broto é frouxamente atado ao toco para evitar ser quebrado pelo vento ou outro agente. Após um mês, processa-se a remoção completa do toco em forma de bisel, junto ao enxerto sem danificálo (PEIXOTO, 1973). Para os técnicos do DNOCS de São Gonçalo, município de Sousa, PB, a enxertia de borbulha é considerada como o processo mais indicado para a multiplicação assexuada da planta de oiticica, com base no resultado de 26,6% de pegas sobre um total de 1.281 enxertos efetuados. Vale assinalar que a percentagem de pega em algumas fileiras de mudas alcançou 58,6%, ao lado de outras com 9,7 e 3,7% de casos bem sucedidos (BAYMA, 1957).
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O transplante para o local definitivo é feito no início da estação chuvosa. Uma vez completados 180 ou 240 dias, época em que os enxertos já alcançaram mais de 0,8 metro de altura, procedem-se à retirada dos blocos grandes com as raízes e transportam as mudas para o plantio definitivo, no pomar (DUQUE, 2004). O espaçamento deve ser de 10 a 15 m entre as filas e as árvores. Com espaçamento reduzido de 10 m x 10 m, plantam-se 100 árvores por hectare, desde que sejam controlados os ramos vegetativos com a prática da poda da árvore a cada dois anos. As covas devem ter 1 x 1 x 1 m, cheias de terra preta misturada com esterco de curral ou composto com 2 kg de pó de osso. A muda é colocada no centro da cova, um pouco abaixo do nível do terreno (PEIXOTO, 1973). Um plano de produção de mudas enxertadas de oiticica, produzidas numa área equivalente a um terço de um ha, com as atividades de sementeira, viveiro e pomar definitivo é apresentado na Tabela 6.
Tabela 6. Os principais processos utilizados para produção de mudas enxertadas de oiticica a partir de um terço de ha da sementeira, transportando as mudas para o viveiro e transplantando as mudas enxertadas para o pomar definitivo. 1.
SEMENTEIRA
Área de semeadura
1 tarefa (3,3 ha)
Quantidade de sementes novas e escolhidas
134.0000 sementes (200 kg)
Quantidades de mudas obtidas (prováveis)
26.7000 sementes
Água total (chuvas e irrigação) para a sementeira 2.
VIVEIRO
Após 2 a 3 meses, as melhores mudas com 15 a 20 cm de altura são transplantadas para os viveiros Condições especiais de preparo de solo com revolvimento de 20 cm de profundidade, depois de receber 25 gramas de calcário dolomítico e 20 kg de esterco curtido Área necessária para o viveiro As mudas serão enxertadas por enxertadores práticos Água total (chuvas e irrigação) para o viveiro Depois da enxertia, as mudas enraizadas no viveiro deverão ser usadas apenas as mais vigorosas 3.
1.334 m3
Distância de 1 m x 0,40 m
Produzir muda com boa casca e facilitar a pega do enxerto 1 ha Após 8 a 10 meses de sua permanência no viveiro 20.000 m3 16.670 plantas enxertadas
POMAR DEFINITIVO
As plantas enxertadas serão transplantadas para o lugar definitivo no inicio do inverno (fevereiro) quanto atingir a altura de: A dimensão de cada cova do pomar definitivo As 16.670 mudas serão plantadas no espaçamento de 10 m x 10 m para suprir uma área de:
Fonte: Bayma (1957)
80 cm (ou 18 a 24 meses após a semeadura da semente do cavalo) 1mx1mx1m 167 ha
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De acordo com Bayma (1957), o primeiro pomar plantado em São Gonçalo, município de Sousa, PB, no ano de 1939, foi de 425 mudas enxertadas com borbulhas de árvores nativas e o segundo com 200 mudas obtidas de borbulhas das melhores árvores do primeiro pomar (Figura 18). A Tabela 7 apresenta o resultado do crescimento médio das árvores obtidas após dois anos (1941).
Figura 18. Pomar de oiticica enxertado por borbulha no perímetro irrigado do DNOCS de São Gonçalo, município de Sousa, PB (Atualmente, o pomar de oiticica foi destruído para ceder lugar a outras culturas irrigadas). Foto: Bayma (1957).
Tabela 7. Crescimento médio das árvores enxertadas e não enxertadas da mesma idade (2 anos). Característica morfológica
Enxertadas
Não enxertadas (pés francos)
Altura (m)
2,850
2,550
Diâmetro do tronco (m)
0,082
0, 063
Diâmetro da copa (m)
4,075
2,560
Fonte: Bayma (1957)
Com 10 anos de idade, as oiticicas enxertadas tinham a altura média de 10 m e 30 m de circunferência de copa. Algumas das enxertadas chegaram a produzir 100 quilos de sementes, por pé, anualmente. A qualidade do óleo secativo não é afetada pela enxertia (BAYMA, 1957).
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14. ESCOLHA DO TERRENO A oiticica prefere os solos de aluvião, marginais dos riachos, de cor escura, férteis, de pH, 7,0 e mais ou menos planos (DUQUE, 2004). Para obter um bom desenvolvimento das árvores, as mudas de oiticica devem ser plantadas em solos com profundidade efetiva de, no mínimo, 50 cm. Em solos pouco profundos ou naqueles com presença de grande lençol freático, ou que tenham textura muito argilosa, a plantação pode ser feita em camalhões. Isto irá aumentar artificialmente a profundidade do solo, além de aumentar a aeração (SILVA, 1940). A oiticica é considerada planta rústica, pouco exigente em fertilidade do solo, contudo para os cultivos comerciais que exijam produtividade, os solos devem ser bem aerados e férteis. Por outro lado, a oiticica suporta solos encharcados, devendo escolher solos profundos, com boa drenagem e aeração. As práticas de conservação do solo devem ser seguidas como para qualquer cultura agrícola, com a construção de terraços, descompactação do solo e manutenção de cobertura vegetal que não atrapalhe o desenvolvimento da cultura principal – a oiticica (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). No caso do terreno pobre em nutrientes, antes da gradagem é conveniente semear uma leguminosa para adubação verde, seja a mucuna preta ou cinza, feijão guandu, feijão de porco ou semelhante. No início da floração é ceifado e gradeado, sendo incorporado ao solo, procedendo-se a nova semeadura das mudas em covas. Também essa palhada pode permanecer como cobertura morta do solo para preservá-lo do excesso de aquecimento pelo sol, reduzir a evaporação com maior retenção da umidade e abafar em parte as plantas daninhas (PEIXOTO, 1973).
15. PREPARO DO SOLO O preparo do solo, para instalação do pomar da oiticica, realizado de forma correta desempenha um importante papel para o plantio de mudas; e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das árvores (8 anos), principalmente quando se trata de mudas não enxertadas. Enquanto as enxertadas, a produção das árvores se torna precoce com 4 anos e meio (BAYMA, 1957). Por este motivo, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total da área.
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15.1 Plantio direto O não preparo do solo com implementos agrícolas é considerada uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura, exigindo apenas abertura de covas com instrumento rudimentar (Figura 19). O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e com raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção.
Figura 19. Instrumento cavador de uso manual para abertura de covas, confeccionado geralmente a partir de uma foice quebrada. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Também o plantio da área de oiticica com mudas não enxertadas (Figura 20) poderá ser realizado no início do inverno, as quais poderão ser preparadas com 10 meses de antecedência no viveiro e, para garantir sua sobrevivência as condições adversas, recomenda-se levá-las ao campo com mais de 8 meses de idade (SILVA, 1940).
Figura 20. Mudas não enxertadas de oiticica com 6 meses de idade. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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15.2 Preparo mínimo O preparo mínimo do solo para o plantio de mudas de oiticica pode ser realizado passando o cultivador de tração animal ou minitrator, tipo Tobata (Figura 21) apenas nas linhas de cultivo demarcadas com piquetes posicionados nas cabeceiras, orientando-se por duas estacas de 2 m de altura posicionadas nas duas extremidades (cabeceiras) do campo ou por alguns piquetes distribuídos ao longo de cada linha de plantio. Esse mesmo procedimento de preparação e demarcação é adotado nas demais linhas de plantio subsequentes.
Figura 21. Mini trator usado no preparo de área para o estabelecimento de campos de oiticica. Foto: Vicente de Paula Queiroga
15.3 Preparo do solo em toda área Na preparação da terra para a oiticiqueira procede-se do mesmo modo como para os pomares em geral. Se há tocos, é preciso arrancá-los. Em seguida, ara-se e gradeia-se usando o sistema de tração motorizada do trator (Figura 22). Nos primeiros anos, é conveniente fazer plantio intercalar com a oiticica, para cobrir o solo e pagar as despesas de instalação. Assim, as lavouras de feijão, milho, gergelim, sorgo, mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno. No clima do Nordeste, a terra não deve ficar exposta à insolação e ao vento. Do quarto ano em diante, serão abolidas as culturas intercalares, adotando-se em seu lugar a adubação verde com leguminosas nativas e gradações periódicas.
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Figura 22. Operação de preparo de solo com aração e gradagem para o plantio de mudas de oiticica em consórcio com espécies alimentares. Foto 1 de Odilon Reny Ribeiro Silva e Foto 2 de Vicente de Paula Queiroga
16. MARCAÇÃO DAS COVAS A primeira carreira de covas é alinhada com três ou mais balizas em linha reta, a qual equivale à linha mestre, medindo os espaços e espetando as estacas bem firmes. Uma vez determinada à primeira linha de plantio, os operários em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando a corda marcada com a fita adesiva colorida no espaçamento exigido para a espécie Licania rigida, Benth. A segunda linha e as demais linhas são demarcadas paralelamente, aproveitando-se da colocação dos piquetes em suas cabeceiras. Uma vez esticada a corda entre os dois piquetes posicionados nas suas cabeceiras, previamente marcada com auxilio da trena (Figura 23), providenciam-se a marcação das covas e respectiva abertura, visando plantar corretamente o campo de oiticica no espaçamento, por exemplo, de 10 m x 10 m nos seus dois sentidos, comumente denominado de plantio cruzado. Porém, usando-se a poda da copa em cada árvore.
Figura 23. Corda de nylon marcada no espaçamento de 10 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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17. ABERTURA DAS COVAS Após as primeiras chuvas de inverno, com o solo ainda úmido, é possível efetuar a abertura das covas com o cavador, o qual é confeccionado geralmente a partir de uma foice, e com um perfurador motorizado, projetado para perfurações de solo na silvicultura (Figura 24). A plantação no pomar deve ser feita em covas de 80 cm3 ou 1m3, cheias de solo adubado com composto ou esterco (30 ou 40 litros por cova). O bloco da muda trazida do viveiro ou em saco plástico é colocado no centro da cova (Figura 25), com o coleto da planta um pouco abaixo do nível do solo, molha-se bem cada muda. É importante lembrar que os 20 primeiros centímetros de terra escavada são postos separados dos demais, e quando a muda é depositada dentro da cova, então começa a enchê-la com esses primeiros 20 cm de terra escavada. Em seguida, acrescenta-se o estrumo misturado com o composto e terriço (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Figura 24. Perfurador motorizado usado para perfurações de solo ou abertura de covas. Fotos: Arquivo da Alibaba
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Figura 25. Plantio correto de muda não enxertada: eliminação do saco plástico; colocação da muda na cova, mantendo o coleto da plantinha no mesmo nível do terreno; e usar a mistura terra da cova e esterco.
Recomenda-se plantar as mudas no mesmo dia de abertura das covas, para evitar o endurecimento das paredes e dificultar a penetração das raízes, especialmente, se o solo for argiloso. É indispensável à rega depois da plantação, assim como o estaqueamento da muda, principalmente se o campo estiver sujeito a ventanias. Ou seja, os plantios são feitos no inverno e, se houver seca, é indispensável irrigar as mudas no primeiro ano. A plantação deve ser inspecionada semanalmente para dar combate às pragas e doenças, assim que sejam observadas os ataques serão controladas com inseticidas, evitando infestações generalizadas. As mudas mortas devem ser imediatamente substituídas, para que o plantio seja mantido uniforme (PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
18. ESPAÇAMENTO Um dos aspectos mais discutidos durante o plantio da oiticica é o espaçamento, em razão da falta de resultados experimentais, pois o único campo cultivado com mudas enxertadas foi registrado em São Gonçalo, no município de Sousa, PB com espaçamento de 25 m x 25 m de distância entre covas (SILVA, 1940; BAYMA, 1957). Atualmente, o campo foi exterminado para a instalação de projetos irrigados com culturas alimentícias e fruticultura. É sabido que a oiticica, em estado nativo, tem uma copa que atinge grande área do terreno (Figura 26), precisando, na abertura das covas para colocação das mudas no início do
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inverno, manter o espaçamento de 10 a 15 m em todo sentido, ou seja, apresenta uma população de 45 e 100 árvores por hectare. As mudas poderão ser preparadas com antecedência de 10 meses (muda não enxertada ou pé franco) ou 18 a 24 meses (muda enxertada) de antecedência no viveiro e, para garantir sua sobrevivência às condições adversas, recomendam-se levá-las ao campo com mais de 10 meses ou 20 meses de idade, respectivamente (BAYMA, 1957).
Figura 26. Copa de uma árvore da oiticica nativa cobrindo grande área do terreno. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
No caso das mudas enxertadas, Silva (1940), Peixoto (1973) e Coutinho et al. (2009) também recomendam a distância de 10 a 15 m, sendo os sistemas de alinhamento mais indicado para solo plano: quadrado, retângulo e quincôncio (Figuras 27 a 29). O alinhamento das fileiras pode ser conseguido com barbante grosso, ao passo que, quando o terreno apresenta declividade entre 5 e 12%, o plantio em quincôncio deve ser o preferido. - Em quadrado: as plantas ocupam os vértices do quadrado, guardando entre si a mesma distância. Não é dos mais aconselhados, por dificultar os tratos culturais mecanizados e reduzir a área útil do terreno.
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Figura 27. Desenho esquemático da marcação de plantio de mudas de oiticica em quadrado.
- Em retângulo: as plantas se encontram distribuídas nos vértices do retângulo, orientando-se o lado maior na direção da declividade do terreno, dando origem às ruas (passeios). Esse tipo de alinhamento possibilita o aproveitamento racional do terreno, facilita os tratos culturais, fitossanitários, as colheitas e o transporte dos frutos no interior do oiticical (BAYMA, 1957; COUTINHO et al., 2009). O número de plantas é dado pela fórmula N=S/(LxC), onde L corresponde ao lado maior, C ao menor e S a área a plantar.
Figura 28. Desenho esquemático da marcação de plantio de mudas de oiticica em retângulo de 15 m x 12 m.
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- Em triângulo equilátero ou quincôncio: por esse sistema, quatro oiticicas permanecem equidistantes de uma colocada no centro, com melhor aproveitamento da área, permitindo um acréscimo de 15% de plantas na área de plantio (COUTINHO et al., 2009).
Figura 29. Desenho esquemático da marcação de plantio de mudas de oiticica em quincôncio.
As linhas de plantio devem ser orientadas na direção norte-sul para otimizar o aproveitamento da radiação solar e reduzir o sombreamento entre as árvores dentro da plantação. Também é necessário considerar outros fatores, tais como a exposição aos ventos dominantes e topografia do terreno (COUTINHO et al., 2009).
19. CULTURAS INTERCALARES Nos primeiros três anos, é conveniente fazer plantio intercalar com a oiticica, visando reduzir as despesas de instalação do pomar. Assim, as lavouras de feijão, de gergelim, de milho, de mandioca poderão ser feitas, entre as carreiras, deixando-se os restos culturais para adubar o terreno, pois, no clima do Nordeste, a terra não deve ficar exposta à insolação e ao vento. Do quarto ano em diante, pode-se interromper essa consorciação e adotar a adubação verde, com o plantio de alguma leguminosa. Não esquecer que o pomar deverá ser cercado, quando se visa produzir as culturas intercalares. O fator limitante para eleva a fertilidade do terreno e aumenta a produtividade das culturas intercalares com a oiticica é a disponibilidade, principalmente de nitrogênio e fósforo
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(BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Portanto, as deficiências destes elementos no solo podem ser compensadas pelo uso dos adubos orgânicos e aplicações de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos, antes da preparação do terreno. Para a recuperação do solo pobre em matéria orgânica, recomenda-se utilizar 20 toneladas de esterco de curral bem curtido por hectare (QUEIROGA et al., 2008).
20. IRRIGAÇÃO A irrigação deverá ser aplicada somente no primeiro ano, se as chuvas forem escassas. Essas regas são realizadas, assim que as folhas principiarem a murchar. As regas frequente conduzem a um enraizamento superficial, e pouco desenvolvido. Para evitar esse atrofiamento do sistema radicular da planta de oiticica, recomenda-se fazer irrigação uma vez por semana, com 40 L de água por árvore (PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
21. ADUBAÇÃO Para se recomendar uma adubação química é necessário o conhecimento antecipado das reservas minerais do solo. Nunca foi feita uma adubação química na cultura da oiticica em condições de campo. A julgar pela adubação do coqueiro, outra oleaginosa, em terreno de aluvião, não tem sido necessário suprir o potássio nem o cálcio; as exigências são de nitrogênio e de fósforo, em forma de sulfato de amônio e de superfosfato triplo, na quantidade de meio a um quilo por pé, aplicada a cada 2 a 3 anos. Na falta de experiência e na ausência de uma análise de solo, esses dados poderão servir de orientação na adubação de oiticica. Embora o fósforo não seja absorvido em maior quantidade, mas é o elemento que mais influencia a elaboração dos óleos durante o processo fotossintético da planta (PEIXOTO, 1973). A torta de oiticica, resultante da prensagem para a extração do óleo, pode ser utilizada como adubo a qual é referenciada como um excelente adubo, desde que seja misturada com farinha de osso e cinzas proveniente do bagaço da cana-de-açúcar. Adverte-se ainda para não utiliza-la isolada, isto é, a mesma somente deve ser empregada conforme descrito, para que o óleo residual seja absorvido. Esse óleo, com as transformações químicas provocadas pelo calor, pode até matar as plantas se a torta for aplicada como adubo sem mistura (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
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Estudando em casa de vegetação a área foliar e concentração de pigmentos clorofilianos em plantas de oiticica submetidas a estresse salino e adubadas com biofertilizante bovino e potássio, Diniz Neto et ali (2012) concluíram que houve decréscimo na área foliar e na concentração de pigmentos clorofilianos nas folhas tanto na ausência como na presença do biofertilizante e do potássio conforme aumentou-se a concentração de sais (KCL) na água de irrigação.
22. TRATOS CULTURAIS Para proporcionar seu regular crescimento, é indispensável que nos oiticicais, durante os primeiros anos de idade, sejam dados os mesmos tratos culturais para as demais plantas florestais, frutíferas, etc., isto é, conservá-las sempre livres de pragas de toda natureza e controle das ervas daninhas (BAYMA, 1957; DINIZ NETO et al., 2012). Para evitar esse crescimento lento da planta de oiticica, principalmente nos dois primeiros anos de idade, é importante mantê-la livre de plantas invasoras, devendo-se realizar o coroamento manual (enxada) ao redor da planta num raio de 0,5 m (Figura 30). A questão da poda da oiticica é abordada no próximo item.
Figura 30. Coroamento realizado em volta da planta de oiticica para eliminar a competição de plantas invasoras. Foto: Vicente de Paula Queiroga
O uso de cobertura morta tem a possibilidade de reduzir a evaporação da umidade do solo, acelerada pelo aquecimento produzido pelo sol, e a ação do vento impertinente. Ainda contribui para redução das capinas, cobrindo o mato. A cobertura em forma de coroa ou em volta da plantinha de oiticica pode ser de capim picado ou bagana (Figura
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31), que é a folha de carnaúba triturada pela máquina de batição para retirada da cera (QUEIROGA et al., 2013). Também essa cobertura é a responsável, tanto para a planta como para o solo, dos seguintes benefícios: - Incrementa a produtividade dos cultivos; - Diminui a variação do solo; - Protege os agregados do solo contra os efeitos erosivos da chuva; - Aumenta a capacidade de retenção de água na zona de cobertura; - Mantém a fertilidade do solo; - Fornecimento de nitrogênio para as plantas; - Reduz os custos do manejo do pomar
Figura 31. Utilização de material vegetal (Foto A) e bagana (Foto B) como cobertura morta nos pomares de oiticica. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
23. PODA A produção da oiticica é influenciada por diversos fatores, ligados ao relativo abandono e falta de cuidados em que a planta nativa tem vivido no semiárido, como seja a densidade elevada nos agrupamentos irregulares, formados ao acaso no sistema extrativismo, nos quais os indivíduos reciprocamente se prejudicam no desenvolvimento, na formação da copa e na própria floração. Além disso, a permanência de galhos envelhecidos na árvore compromete em parte sua produção de frutos (BAYMA, 1957; Figura 32).
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Figura 32. Árvore de oiticica bastante velha apresentando produtividade reduzida. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
A técnica da poda poderá promover a indução de novos ramos na planta de oiticica, sendo que as inflorescências dispostas em espigas racemosas vão surgir nas pontas desses ramos. Uma vez sucedendo, a poda estará proporcionando maior frutificação por árvore e, ao mesmo tempo, reduzindo problemas de crescimento vegetativo intenso que ocasionam perdas produtivas. Assim efetuada, a poda irá renovar ou restaurar parte ou a totalidade da planta (COUTINHO et al., 2009). As práticas de poda, realizadas ao longo da vida de uma árvore de oiticica, sempre devem equilibrar o crescimento e a frutificação, não desvitalizar ou envelhecer prematuramente a árvore. Recomenda-se podar pouco durante o período de formação e, durante o período produtivo, a poda bianual tem sido mais indicada agronomicamente que a poda anual (COUTINHO et al., 2009). Dependendo do tipo de poda praticado na copa da planta após colheita (final de fevereiro), pode resultar no aumento do diâmetro do tronco quando é severa. Ao contrário, é necessário podar parcialmente os galhos principais e ramos laterais de modo a forçar o crescimento de pequenos ramos novos, cujas gemas se diferenciarão para gemas reprodutivas (racemos), gerando flores e frutos (COUTINHO et al., 2009). A forma incorreta de formação da copa, sem o uso da poda, ocorreu nos pomares de oiticica enxertados conduzidos em São Gonçalo, no município de Sousa, PB, pois sem crescimento vegetativo controlado não produziu maior número de ramos secundários produtivos. Segundo Duque (2004), os pomares enxertados de 10 anos, a carga unitária
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por árvore tem sido de 75 kg de frutos por ano e, quando efetua o combate de pragas, foi possível encontrar algumas oiticicas com produções médias de 100 a 200 kg por árvore. Ao atingir 1,50 m de altura, recomenda-se fazer podas de formação para orientar o crescimento das plantas enxertadas de oiticica, principalmente quando se pretende implantar novas áreas de cultivos em espaçamento sistemático. Ou seja, o crescimento vegetativo descontrolado piora o fenômeno denominado ano ON e ano OFF, que ocorre normalmente com a planta de oiticica, em que um ano a planta produz bem, e no outro não (SILVA, 1940; BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). Outra vantagem do uso da poda é de reduzir o espaçamento entre plantas de oiticica para 7,5 m em todo sentido, em lugar de 15 m no sistema de plantio sem poda, ou seja, há um aumento significativo de 100% na população de plantas por ha em favor do uso da poda (SILVA, 1940). Também a planta podada de oiticica, com o formato da copa reduzido, é usada no paisagismo da cidade de Barbalha, CE (Figuras 33 e 34).
Figura 33. Planta podada de oiticica fazendo parte do paisagismo da cidade de Barbalha, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 34. Ferramentas usadas na poda de árvores. Fotos: Arquivo da Galhos & Bugalhos e Diego Antonio Nóbrega Queiroga.
Em visita ao município de Água Nova, RN, o técnico da Embrapa observou duas árvores de oiticica submetidas à poda. A primeira sofreu, além da ação do fogo, uma poda severa, em razão da má aplicação da técnica de poda a produção de frutos foi recuperada depois de 8 anos (Figura 35). Na segunda árvore, podaram-se somente os galhos médios, tendo a planta recuperada sua produção já no segundo ano. (Figura 36). Sua madeira foi retirada com o propósito de queimar tijolos em pequenas caieiras utilizadas na zona rural (Figura 37). Por coincidir a visita com o início de setembro de 2013, algumas árvores normais do sítio Carnaubal apresentavam baixa intensidade de floração e outras não, todavia uma florada com 70% de intensidade surgia de ramos novos dessas duas árvores podadas.
Figura 35. Árvore de oiticica que sofreu danos de fogo e poda severa, recuperando sua produção de frutos após 8 anos. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 36. Árvore de oiticica vigorosa que sofreu poda apenas dos galhos médios, recuperando sua produção de frutos após 2 anos. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Figura 37. Uso da madeira de oiticica para queima de tijolos em caieira rudimentar. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
24. PRAGAS E DOENÇAS 24.1 Controle cultural A oiticica é uma planta muito rústica, mesmo assim uma série de fatores age na planta de maneira maléfica por ser uma exploração extrativista, ou seja, por viver abandonada às condições adversas do sertão nordestino, sem qualquer intervenção do homem, a não ser durante a colheita dos frutos (BAYMA, 1957). Se não for realizada uma limpeza regular em torno do tronco e sob a árvore, aparecem muitas plantas concorrentes e desenvolvem-se várias espécies de cipós, plantas arbóreas e arbustivas, ora abafando-a, ora disputam os elementos nutritivos no solo com a oiticica, proporcionando um ambiente favorável ao surgimento nas folhas de algas (Cephaleuros mycoidea) e fungos (Capnodium sp.), além do estabelecimento de fungos superiores
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(orelha de pau) e do desenvolvimento de liquens no tronco e galhos, algumas vezes secos (orelha de pau) (BAYMA, 1957, PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). O controle dessas plantas invasoras deve ser cultural, efetuando-se o desmatamento em torno e sob a árvore de oiticica e a poda de seus galhos secos, visando à maior penetração dos raios solares no interior da planta. Além da limpeza geral das árvores, outra medida a ser tomada pelo agricultor é a retirada de cupins (Isoptera) e arapuás (Melipona ruficrus), pois tais abelhas provocam dano durante a floração da oiticica por perfura a base das flores ainda fechadas, em busca de néctar, causando assim a destruição ou queda de suas flores e botões florais e deixando as inflorescências completamente inutilizadas (BAYMA, 1957). Como medida de controle, indica-se a eliminação de seu ninho, encontrado geralmente na própria árvore como morada (Figura 38).
Figura 38. Ataque de abelhas arapuás provocando a queda das flores e a presença de seu ninho na parte superior da copa da oiticica (seta). Fotos: Vicente de Paula Queiroga
24.2 Distúrbios fisiológicos De forma acentuada ocorre uma elevada taxa de queda de botões florais e de frutos jovens (fenômeno denominado shedding) em planta de oiticica aparentemente vigorosa. Bayma (1957) admite que os distúrbios fisiológicos, tais como: o déficit nutricional do solo, a deficiência em luminosidade provocada pela densa copa de outras árvores e as variações bruscas da umidade atmosférica em dias nublados e chuvosos sejam as principais causas das perdas precoces de estruturas reprodutivas (shedding) da planta, aliado a falta de fecundação das flores e o ataque aos frutos novos pela broca ou rosada da oiticica (Figura 39). Costumeiramente, os agricultores responsabilizam a rosada como causadora da
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abscisão excessiva dos frutinhos, em virtude de perda quase total da carga produtiva de certas árvores. Através de uma avaliação mais criteriosa, observou-se que nem sempre os frutos caídos apresentaram sinais de destruições de insetos ou qualquer outra praga. Mesmo assim, verificou-se que muitos deles foram desenvolvidos por partenocarpia, ou seja, não apresentando sementes (ou amêndoas) e outros frutos, apesar de fecundados, caem por causa desconhecida.
Figura 39. a) Frutos vazios não fecundados e b) fruto novo atacado por pragas. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
De modo geral, pode-se considerar parte de shedding da oiticica como defesa contra o esgotamento à superprodução. Ou seja, as árvores consideradas produtivas apresentaram uma floração elevada nos anos de chuvas abundantes, consequentemente o número de frutos produzidos por ser excessivo irá induzir a queda dos frutos (shedding), devido aos fatores estressantes fisiológicos que passam a ser ativados, implicando assim em reduzir a distribuição de assimilados para o processo de frutificação. Provavelmente, uma adubação química, com base na análise de solo, poderia restringir a queda de frutos das árvores de oiticica, apesar da dificuldade da aplicação dos adubos para favorecer seu sistema radicular por ser muito disperso e profundo (BAYMA, 1957).
24.3 Pragas Embora de grande resistência às condições adversas, a oiticica está sujeita a duas pragas principais que afetam a frutificação e o rendimento: a) Broca dos frutos novos ou rosada da oiticica (Peonea sp.) e b) Gorgulho da semente de oiticica (Conotrachelus sp).
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24.3.1 Broca dos frutos novos ou Rosada da oiticica (Peonea sp.) A rosada-da-oiticica é a praga que exige maior combate, pois provoca a broca dos frutos novos pelas larvas do lepidóptero (Pionea sp). Sua infestação ocorre após o início da frutificação, entre os meses de agosto e princípio de outubro, provocando a morte e queda de frutinhos medindo poucos milímetros. As larvas novinhas, de tonalidade creme, provenientes da postura de ovos solitários, depositados sobre flores e frutos, penetram nos frutos tenros pelos Lepidópteros, alimentando-se das reservas das sementes, destruindo-as completamente. Mais tarde, observa-se que a mesma larva ataca frutos com até trinta milímetros, neste caso apresenta uma tonalidade rósea dominante (BAYMA, 1957). Por outro lado, o fruto da oiticica desenvolve a casca mais rapidamente que a semente, ficando então uma cavidade no seu interior, que será progressivamente preenchida pela semente. Em geral, quando a larva penetra no fruto, a semente ocupa cerca ou menos da metade do referido espaço. Sua queda pelo ataque da rosada confunde o agricultor com o fenômeno de shedding, enquanto os frutos que não caem são invadidos por formigas, as quais removem as dejeções (pequenas bolas medindo de meio a um milímetro de diâmetro, de cor amarelo-esverdeado quando novas e mais tarde escurecidas) (BAYMA, 1957). O ataque da rosada reduz o rendimento de frutos por árvore, consequentemente seus danos irão afetar diretamente o agricultor ou apanhador. E preciso ter cuidado para combater as pragas, a fim de não eliminar os insetos responsáveis pela polinização das flores da oiticica (BAYMA, 1957).
24.3.2 Gorgulho da semente de oiticica (Conotrachelus sp) O gorgulho da semente de oiticica é a praga que se manifesta em princípio de novembro, exatamente após o término da fase ativa da rosada da oiticica. Os frutos com o endocarpo já endurecido (cheios) são atacados pelas larvas de um coleóptero (Conotrachelus sp) da família Cryptorhynchidae, apresentando a cavidade interior do fruto, com dois terços a mais, ocupada com a amêndoa já bem resistente (BAYMA, 1957). O ataque do gorgulho prolonga-se pelos meses de novembro a fevereiro nos frutos nas árvores ou no chão e de março a maio apenas nos frutos abandonados na natureza. Depois
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da colheita, continua a destruição dos frutos. Se não houver expurgo, outras gerações de insetos Curculinodeos serão criadas. Constatou-se que os frutos brocados pelo gorgulho (Figura 40) não é devido a uma só espécie de inseto pertencente ao gênero Conotrachelus, mas pela ação de três espécies: Conotrachelus lateralis, Conotrachelus sp e Conotrachelus licaniae, sendo esta última espécie considerada a mais importante (BAYMA, 1957).
Figura 40. a) Furo nos frutos da oiticica revestido com cera após postura dos ovos pelos coleóptilos (Conotrachelus) e b) larva da praga com a casca do caroço furada e sua amêndoa danificada.
Os frutos caídos durantes os meses de novembro e dezembro, quase sempre quando coletados, pouco ou nada valem, pois ainda estão imaturos. O grosso da colheita vai de janeiro a março. A porcentagem de frutos com o gorgulho decresce proporcionalmente com o aumento da colheita, apesar de existe uma variação na percentagem de frutos atacados por planta (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
Para o atravessador e industrial, o gorgulho constitui a principal praga que os afeta diretamente por provocar a queda de frutos imaturos, destruição parcial ou total da amêndoa, alterações no óleo e impurezas diversas. Pelo fato do apanhador comumente não selecionar os frutos caídos e nem expurgar posteriormente sua produção, todo material apanhado termina sendo comercializado para as indústrias. O combate às pragas é feito mediante pulverizações ou polvilhamentos das árvores com Bullock 125; Marshal 400; Regente 800 WG; Lorsban 480 BR, etc, usando-se máquina motorizada (tipo atomizador) para atingir todas as partes da planta (Figura 41). Na época da floração e do crescimento dos frutos, é necessário dar uma pulverização por mês ou cada 2 meses, conforme a intensidade do ataque.
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Figura 41. Pulverização com inseticida do pomar de oiticica enxertada para combater as pragas. São Gonçalo, município de Sousa, PB. Foto: Duque (2004)
Recomenda-se ao agricultor, colher diariamente os frutos caídos, incinerando os verdosos ou imaturos e levando os maduros ao expurgo. Expurgar com duas pastilhas de Fosfina (produto comercial Gastoxin) os frutos num tambor de 200 litros, adaptados de maneira a evitar vazamentos do gás, sendo tratados por 48 horas e acondicionados em sacos de pano. Revestir a boca do tambor com plástico resistente e efetuar sua vedação lateral com fita adesiva (PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
24.3.3 Pragas de importância secundária na oiticica 24.3.3.1 Broca de frutos depredados ou abandonados (Piralidideos) Como os Pyralidoideos atacam somente frutos abandonados no campo com a casca fendida e com lesões geralmente devidas a pássaros, os mesmos não têm expressão econômica. Além disso, o número de larvas dos frutos atacados pelo Lepidóptero é considerado pequeno, mas que aumenta para o fim da colheita, principalmente nos meses de abril e maio (BAYMA, 1957).
24.3.3.2 Formigas cortadeiras Pequenas formigas pretas têm sido encontradas depredando a face inferior das folhas novas, deixando-as tipicamente rendilhadas. Estas formigas têm os seus ninhos próximos à oiticica depredada (BAYMA, 1957). Em áreas plantadas em formação, deve-se realizar o combate do formigueiro com iscas granuladas contendo Sulfluramida, enquanto em
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árvores já formadas, não há necessidade de qualquer medida de controle (LINK et al., 1995).
24.3.3.3. Lagarta das folhas Nos meses de agosto a setembro, encontram-se um reduzido número de larvas de um lepidóptero heterócero. São amarelas, fortemente pilosas, com dois feixes de pelos pardos dorsais por segmento, exceto nos torácicos cujos pêlos são amarelados. Depredam as folhas mais novas que se apresentam com orifícios ora circulares ora alongados. Apenas em pomares de oiticica em formação, pode-se adotar nos meses de ataque, uma cata semanal das larvas e sua conseqüente destruição (incineração) (BAYMA, 1957).
24.3.3.4 Sugadores 24.3.3.4.1 Trips (Thysanoptera) No mês de setembro, encontram-se os trips sugando os frutos e provocando a formação de pequenos montículos pardo-escuro de 0,5 a 2 milímetros de diâmetro. Os danos causados na oiticica são insignificantes (BAYMA, 1957).
24.3.3.4.2 Coccideos (Homoptera: Coccideos: Diaspidinae) Nos frutos quase maduros e nas folhas, encontram-se raramente os sugadores Coccídeos diaspíneo de cor geralmente cinzenta, notando-se através das películas envolventes, o corpo central. Medem cerca de 1,5 milímetros de diâmetro, provavelmente trata-se de Aspidiotus destructor. Praticamente, os Coccídeos não causam danos à oiticica (BAYMA, 1957).
24.3.3.4.3 Membracídeos (Homoptera: Membracidae) Entre os meses de julho a outubro, encontram-se em brotos novos e cachos florais (inflorescência) e frutificados, em colônias de pequenos Membracídeos amarelados, pretos, malhados de áreas rosadas e brancas, e esverdeados. Tais colônias estão quase sempre sobre um material branco depositado em fendilhamentos da casca, a pequenos intervalos. Abelhas arapuás e formigas frequentemente visitam estas colônias, certamente a procura de substâncias secretadas pelos Membracídeos. Os danos causados são o sugamento dos galhos florais e vegetativos e o rendilhamento da casca do fruto, podendo ser observado com baixa frequência uma completa inutilidade dos cachos florais, devido à ação conjunta de Membracídeos e abelhas arapuás (BAYMA, 1957).
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24.3.3.4.4 Aleurothrixus floccosus (Homoptera: Aleyrodae) Algumas vezes se encontram as colônias destes sugadores nas folhas da oiticica, mas raramente densas. Nos casos de ataque mais severos, as folhas apresentam-se com flocos de fios brancos e pulverulência da mesma cor. Sob estes matérias encontram-se as formas jovens, sedentárias, elípticas, de cor que vai do verde-claro ao castanho-escuro e medem até 1 milímetro de comprimento, com asas frágeis, cobertas de uma pulverulência branca. Não há necessidade de medidas de controle por geralmente constatar a existência de fracas colônias (BAYMA, 1957).
24.4 Disseminadores de frutos Além do hábito de carregar os frutos, os pássaros e morcegos bicam e comem a polpa dos frutos e contribuem para evitar o aparecimento de fungos que se localizam aí. A ação é benéfica, pois as sementes ficam limpas e fornecem óleo de melhor qualidade. Mas quando o fruto é novo, as bicadas produzem depredações atingindo a semente. Entre os pássaros que mais se alimentam da polpa da oiticica estão o periquito, o choró, o sofrêus e a graúna-bico-de-osso. As saúvas (Atta sexdens) despolpam os frutos junto ao formigueiro sem causar nenhum dano à semente (BAYMA, 1957).
24.5 Doenças Durante as constantes visitas às áreas experimentais da Embrapa Agroindústria Tropical, nos Municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré, Freire et al. (2004) observaram inúmeras plantas de oiticica com grandes partes da copa totalmente secas, com a folhagem acinzentada ou prateada, contrastando com o verde escuro da folhagem sadia. A coleta de ramos e folhas, e o isolamento conduzido em laboratório a partir da junção entre o tecido sadio e o tecido necrosado, permitiram o isolamento e a caracterização do fungo Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff. & Maubl (Figura 42). Esse fato é a primeira constatação acerca da infecção de oiticica por esse fungo, o qual é extremamente polífago e apresenta uma gama de mais de 500 hospedeiros já catalogados em regiões tropicais e temperadas (PUNITHALINGAM, 1980).
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Figura 42. Sintomas do ataque de L. theobromae em árvore de oiticica. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
É importante enfatizar a possibilidade de a oiticica estar atuando como uma provável fonte de inoculo deste patógeno para plantas cultivadas da região Jaguaribana. Essa possibilidade assume uma importância ainda maior ao se considerar que um dos agropólos de fruticultura irrigada do Estado do Ceará, no caso o Tabuleiro de Russas, situa-se na região Jaguaribana. Extensas áreas cultivadas com fruteiras irrigadas encontram-se também instaladas na Chapada do Apodi, exatamente nos dois municípios onde foi detectada a infecção da oiticica (FREIRE et al., 2004). Anteriormente citadas, outras doenças da oiticica são: Cephaleuros (alga das folhas), Capnodium (fungo das folhas), Pintas Cinzentas nas folhas e também Manchas Necróticas e Concêntricas (BAYMA, 1957; Figura 43).
Figura 43. Manchas Necróticas e Concêntricas na folha de oiticica. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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25. PRODUÇÃO DA OITICICA As indústrias de oiticica tinham como base para estimar a produção da oiticica por safra a libra, isto é, 500 libras-peso (equivalente a 227 kg) de sementes por árvore e por ano, na tentativa de estimar a colheita de 113.000 toneladas de frutos e produzir 29.200 toneladas de óleo para uma população de 500 mil plantas de oiticica em todo Estado do Ceará. Mesmo nas melhores safras verificadas ao longo dos anos subsequentes, suas estatísticas mal atingiram a 40.000 toneladas da matéria prima e produziu 12.000 toneladas de óleo (BAYMA, 1957). Portanto, a estimativa era irreal e o planejamento de safra errôneo. Para melhorar a precisão dos dados de produção da oiticica, os levantamentos das informações passaram a ser realizados por várias equipes técnicas, com consecutivas viagens de inspeção e se concentraram apenas nas principais zonas produtoras. Entretanto, não foi possível representar com segurança a previsão de produção de frutos e óleo, com base na média geral de produção por árvore. Apenas é possível concluir que quando se trata de produção de oiticica é bastante variável o volume anual de produção por safra (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004). Também é importante destacar que as oiticicas nativas não produzem todos os anos, ou seja, sua produção significativa é praticamente bianual. As cargas grandes aparecem uma vez em longos anos. Em conseqüência disso, há registro de 1.500 kg de sementes no município de Crateús, CE nas colheitas excepcionais de árvores isoladas, em condições ideais de solo e clima. E que, no mesmo bosque, algumas plantas frutificaram e outras não. Um exemplo de tal fenômeno se deu por meio do relato de um produtor com 465 árvores de oiticica em sua propriedade situada no norte do Ceará, o qual constatou uma completa improdutividade em 97% da população na safra de 1938, das quais apenas 12 plantas frutificaram, apesar de todas as plantas serem adultas e de existirem 40 pés frondosos à beira de riacho (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). De acordo com Bayma (1957), a produção de frutos de oiticica, no município de Limoeiro, CE, no vale do baixo Jaguaribe, feita em 10 mil árvores foi de 75 mil toneladas de sementes, com uma média de 7,5 kg por unidade. Enquanto no município de Icó, CE, pertencente ao mesmo vale, as 110 mil oiticicas produziram 3 ton. em 1929 e 18 ton. em 1938, verificando-se as médias anuais de 27 e de 16 kg por pé, respectivamente.
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Nesse ano de 1938, a fazenda Angicos no Ceará com suas 400 árvores não produziram um só fruto, sendo que na safra do ano anterior apresentou uma extraordinária colheita de 3.750 kg de sementes com uma média de produtividade de menos de 11 kg por árvore (BAYMA, 1957). Por outro lado, a extinta Companhia Industrial, Comercial e Agrícola (CICA) instalada na cidade de Patos, PB forneceu dados resultantes de observações feitas na safra 1938, de que oito árvores desenvolvidas em solos excepcionalmente férteis e frescos, as quais tinham até 50 m de diâmetro de copa e 12 m de altura, produziram um total de 2.432 kg de sementes, com média de 304 kg de frutos por pé (BAYMA, 1957). Quando que refere ao pomar enxertado de oiticicais cultivados em espaçamento ordenado no perímetro de São Gonçalo, município de Sousa, PB, Bayma (1957) e Duque (2004) afirmam que a produção é anual, com menores variações, desde que as pragas sejam controladas com inseticidas. Tomando-se com base essa imprevisível produtividade de frutos por árvore da Licania rígida, Bayma (1957) apresenta algumas situações resumidas de seu comportamento: a) A produção da oiticica, por árvore e por safra, varia entre os extremos limites de 7 a 1.700 quilos de sementes. b) As árvores de rendimento igual ou maior de 500 kg por ano constituem raras exceções, e até as safras de 200 e 450 kg por pé só se verificam em condições especiais de desenvolvimento de solo, de isolamento, de umidade, e com todos os demais fatores favoráveis. c) Não é recomendado estabelecer média de produção acima de 100 kg por pé, porque numa população de milhares de indivíduos há médias registradas abaixo de 20 e abaixo de 10 kg de frutos por árvore e por ano. Ou seja, o autor considera incorreto afirmar que a oiticica produz no mínimo 150 kg de sementes por árvore. d) Para as mesmas árvores de uma determinada região, há anos de grande e pequena produção de sementes. e) Também há registro, com pouca frequência, de indivíduos com elevada produtividade, mesmo dentro de um ano de safra reduzida ou mínima.
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26. INFLUÊNCIA DAS CHUVAS NA SAFRA DA OITICICA O fator preponderante na questão das safras de oiticica, como nas demais plantas do bioma da caatinga, é dado como sendo a chuva. Segundo Bayma (1957), a oiticica produz mais ou menos, conforme as precipitações no ano em que floresce, sejam abundantes ou escassas, a despeito de sua extraordinária resistências às secas. Mesmo assim, os técnicos do DNOCS afirmam que nos períodos de estiagem a oiticica tem uma frutificação quase nula (SILVA, 1940). Não há dúvida, portanto, de que a safra de oiticica depende do inverno, seja satisfatório ou não. E do inverno do ano anterior, pelo fato da colheita se realizar nos meses de janeiro a março. A floração e a frutificação, bases da safra, realizam-se de agosto a novembro, em plena época de estiagem, numa distância média de três meses do período chuvoso que vai de janeiro a junho. Daí é que vem o paradoxo, pois há opinião técnica empírica de que a oiticica pode produzir boa safra num ano de precipitações irregulares, insuficientes ou escassas. É sabido que em matéria de chuvas no Nordeste, ocorre muito mais irregularidades ou má distribuição do que seca propriamente dita (BAYMA, 1957). Há circunstâncias muito especiais de chover em novembro no sertão (chuvas do caju), que é o penúltimo mês da estação seca do Nordeste, quando a oiticica está no início da frutificação ou com três meses de floração. Tais chuvas extemporâneas causam uma grande queda de frutos em formação, sobretudo se acompanhados de ventanias (Figura 44), acarretando sensível prejuízo de safra (BAYMA, 1957).
Figura 44. Frutos em formação caídos no chão pela ação conjunta do vento e do ataque de pragas. Amostras coletadas de oiticicais em Água Nova (RN), no dia 22 de outubro de 2013. Foto: Vicente de Paula Queiroga .
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Por outro lado, o início da estação chuvosa nos invernos pesados e um tanto antecipados que ocasionam enchentes logo em janeiro e fevereiro, também é prejudicial à safra porque justamente nessa época do ano é que se realiza a apanha das sementes do chão. Aliás, grande parte das árvores produtivas do sistema extrativismo está à margem dos rios e riachos, pois os frutos dessas árvores são muitas vezes arrastados pelas águas ou ficam em terrenos alagados de difícil acesso para coleta.
27. PRODUÇÃO DA ÁRVORE A árvore começa a frutificar do 3° ao 5° ano. Com cerca de 10 anos já produz plenamente, alcançando 10 m de altura. Há árvores com mais de 100 anos ainda produzindo. Conforme Duque (2004), oiticicas nativas não produzem todos os anos. As grandes produções aparecem uma vez em longos anos. No mesmo bosque, algumas frutificam, outras não. A produção média anual, de uma nativa no curso de 10 anos, entre árvores de uma mesma idade, não atinge 30 kg de amêndoas.
Nos pomares enxertados, a produção é anual, com variações menores, desde que as pragas sejam controladas. Em árvores de 10 anos, a produção anual pode atingir 75 kg de frutos. É possível contar-se, nesses arvoredos, com produções médias, unitárias de 100 a 200 kg, desde que haja o combate aos insetos (DUQUE, 2004).
28. COLHEITA DOS FRUTOS NO CHÃO Este método consiste na catagem de frutos do chão, abaixo da copa da árvore, após sua queda natural (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Antes do período de colheita, recomenda-se efetuar uma limpeza do terreno abaixo da copa de cada árvore com uma vassoura de palha ou a forração do solo com uma lona plástica (Figura 45). Para facilitar a colheita dos frutos, a firma Oiticica Brasil de Pau dos Ferros, RN estuda a possibilidade de importar uma tela barata da China, a qual ficaria armada abaixo da copa da oiticica (pendurada nos galhos da árvore) para evitar o contato dos frutos caídos com o solo.
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Figura 45. Forração do solo com lona plástica para facilitar a colheita de frutos limpos, por evitar seu contado com o solo.
As colheitas dos frutos de oiticica deveriam ser efetuadas em intervalos regulares de quinze dias, a fim de evitar as chuvas entre os meses de dezembro e fevereiro, o ataque de roedores, insetos, pássaros e fungos, que pode reduzir a produção de frutos e afetar a sua qualidade. Nesse período de dezembro até fevereiro, os frutos se completam, amadurecem e caem. Por ocasião da colheita é possível ocorrer algumas chuvas no sertão nordestino, então é preciso cuidar da secagem e do armazenamento da safra, a fim de evitar a fermentação dos frutos. O expurgo dos frutos com produtos a base de Fosfina (Gastoxin ou Fostoxin), no depósito, é indispensável para eliminar as brocas (BAYMA, 1957; MOREIRA, 1963; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Os frutos de oiticica recém-colhidos chegam a pesar em média 3,7 g, a casca constitui 37,8% do peso total e o caroço 62,2%. O conteúdo de água na casca e no caroço é respectivamente de 13,7% e 5,07%. A extração química do óleo em frutos novos pode apresentar um rendimento de 61,82%. É aconselhável o rápido processamento para a extração do óleo, por meio de prensagem ou de solventes, porque em alguns meses de armazenamento o seu teor de óleo baixa consideravelmente. Para obter 1 kg, são necessárias 218 a 260 sementes de tamanho médio (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Durante a colheita dos frutos da oiticica caídos ao chão, especial atenção deve ser dispensada a sua qualidade, pois no caso de haver uma seleção por parte do apanhador de somente colher os frutos recém caídos, o rendimento do seu óleo será quase duplicado nos processos de extração mecânica e química efetuados pela indústria de extração de
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óleo (MELO et al., 2006). Atualmente, o seu rendimento total gira em torno de 32% de óleo, segundo resultado divulgado pela indústria de oiticica de Jaguaribe, CE, sendo o primeiro processo mecânico responsável por 24% da extração do óleo e de 8% de óleo, na segunda etapa da extração química com solvente sobre a torta resultante do processo mecânico.
Espera-se que essa colheita com qualidade da oiticica possa proporcionar uma maior renda por quilo de caroços ao apanhador durante a comercialização de sua produção para a indústria. Por outro lado, a não apanha de frutos imprestáveis do chão poderá reduzir sensivelmente os seus custos de produção, em razão de somente manusear um volume limitado, além de mais rentável, de material de qualidade a ser secado naturalmente ao sol e, também, a ser transportado para a usina de beneficiamento (menos frete). Essa produção colhida com elevado teor de óleo (acima de 50%) iria constituir num dos fatores responsáveis pelo sucesso da oiticica (QUEIROGA et al., 2013).
O sucesso da colheita da oiticica depende não apenas da técnica a ser adotada, mas também de uma série de fatores imprescindíveis ao seu bom desempenho, como o conhecimento da época de maturação, das características dos frutos de maior qualidade e das condições climáticas durante o processo de colheita. Por outro lado, as condições físicas do terreno e as características das árvores implicam na escolha de lona plástica e telas a serem utilizados (COUTINHO et al., 2009).
Não convém usar varas nem balançar os galhos da oiticica para derrubar os frutos, porque isso prejudica a árvore (cai à produção nos anos seguintes), pois tal método irá derrubar os frutos ainda imaturos. O único processo eficiente de colheita recomendado é o recolhimento diário dos frutos que vão caindo. Essa cata deveria ser diária, para evitar a fermentação dos frutos. Sua velocidade de maturação varia muito entre árvores, havendo alterações entre locais e anos, por causa da influência das condições climáticas. O período em que ocorrem frutos maduros geralmente é bastante amplo, mas os primeiros frutos que caem, na maioria das vezes, são improdutivos ou imaturos, devido à ação de ventos fortes ou pragas (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
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29. EMBALAGEM Os frutos de oiticica recém-colhidos e ensacados devem ser esparramados assim que chegar ao local de secagem, evitando que os mesmos permaneçam por mais tempo acondicionados com alto teor de umidade, em razão de acelerar o processo de fermentação. Assim, as sacarias de ráfia podem ser utilizadas apenas para facilitar o transporte do local de colheita (Figura 46) para outro de secagem (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
Figura 46. Após secagem, ensacar os caroços de oiticica em sacos de ráfia (A), evitando os sacos usados com furos (B). Fotos: Vicente de Paula Queiroga
De modo geral, a embalagem destinada ao acondicionamento dos caroços (após secagem) para o local de armazenamento é classificada como permeável, devido ao fato do uso de sacos de ráfia ser mais comum e mais acessível ao pequeno produtor. Para o caso dos catadores de oiticica que estão organizados em uma associação, é possível haver uma negociação junto à indústria sobre a questão de assumir o fornecimento dessas sacarias de ráfia, igualmente o que acontece com a cultura do algodão (sacos de pano).
30. SECAGEM DOS FRUTOS Por ocasião da colheita, normalmente, os frutos caídos ao chão apresentam excesso de umidade e grandes quantidades de impurezas (frutos impregnados de terras), o que inviabiliza seu uso imediato. Recomenda-se que esses frutos colhidos sejam submetidos ao processo de secagem sobre uma lona plástica (Figura 47), para que liberem facilmente suas amêndoas no interior dos caroços. Sem a operação de secagem, as amêndoas não são
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separadas de suas respectivas cascas quando beneficiadas no moinho da indústria de extração de óleo (BAYMA, 1957).
Figura 47. Efetuar o espalhamento em camadas dos frutos colhidos de oiticica em encerado.
Durante o dia são expostos ao sol e à noite recolhidos ou cobertos com o próprio encerado, a fim de evitar o orvalho e proteger de chuvas ocasionais. Á medida que vai se processando a secagem, os frutos espalhados em encerados, formando uma camada com espessura variando de 3 a 10 cm, devem ser constantemente revolvidos a cada 3 horas, propiciando melhor aeração em todo lote e secagem mais homogênea. Essa revirada é feita com auxílio de rodos de madeira ou ancinhos (BAYMA, 1957; COUTINHO et al., 2009; Figura 48).
Figura 48. Uso do rodo ou ancinho para revolver a camada de frutos de oiticica em processo de secagem ao sol. Fotos: Ronald Mansur e Vicente de Paula Queirga
Por outro lado, é importante registrar que o produtor do município de Condado, PB efetua o amontoamento dos frutos colhidos de oiticica em forma de pirâmide (Figura 48), visando provocar o aquecimento acelerado da massa e reduzir o tempo de secagem. No entanto, tal método deve ser evitado por promover super aquecimento e com isso alterar a qualidade dos frutos e do óleo (fermentação do óleo) (DUQUE, 2004).
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Figura 49. Evitar a secagem com os frutos amontoados, em forma de pirâmide.
O tempo em que os frutos permanecem expostos ao sol varia de acordo com as condições climáticas locais e com o teor de umidade inicial dos frutos. Normalmente, os frutos de oiticica permanecem, em média, de 3 a 5 dias no encerado. Esse período pode se estender por até 8 dias, quando sua colheita, realizada entre os meses de dezembro a fevereiro, venha a coincidir, em alguns anos, com o início do inverno (BAYMA, 1957; COUTINHO et al., 2009). A velocidade de perda de umidade da superfície do fruto para o ambiente é maior do que o deslocamento de umidade do interior para sua superfície. Em função disso, o processo de secagem da oiticica deve ser lento e gradativo. Esta secagem por 4 dias irá possibilitar a migração de sua umidade de dentro para fora. Também a secagem irá propiciar a redução do conteúdo de umidade dos caroços (em torno de 5%) a teor adequado ao seu acondicionamento em sacos de ráfia ou a granel em armazéns por breve espaço de tempo (BAYMA, 1957; COUTINHO et al., 2009; QUEIROGA et al., 2013).
31. TRANSPORTE DA PRODUÇÃO DE OITICICA PARA AS USINAS DE ÓLEO É necessário o estabelecimento de meios de transporte para carregar toda a produção de oiticica do interior para os centros indústrias, especialmente para as cidades onde se instalaram as usinas (BAYMA, 1957). Atualmente, esse é o maior entrave que existe na indústria de oiticica, em razão de que os produtores não estão organizados em cooperativas ou associações de produtores de oiticica. Apesar do interesse do apanhador em colher a sementes, quando existe um preço justo oferecido pelo mercado, mesmo assim fica esta depositada durante meses no armazém da sua propriedade, sem conseguir transporte para as usinas, determinando o desânimo do apanhador, que não mais se interessa colher na safra seguinte. Ao mesmo tempo, ocorre um grande prejuízo de quebra de qualidade, pois a semente perde gradualmente o óleo à
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proporção que envelhece, sofrendo muitas vezes alto grau de fermentação, que a inutiliza para qualquer aplicação industrial (BAYMA, 1957). Todos os órgãos envolvidos com a cadeia produtiva de oiticica poderiam acordar com a Secretária de Agricultura Estadual um estudo do problema para uma solução imediata, assegurando assim o escoamento da safra que tem início em dezembro e se estende até março de cada ano (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Com essa medida consolidada haveria um grande incremento na produção, pois as usinas instaladas no Ceará estão aparelhadas para receber e processar toda essa matéria prima. Na ausência dessa logística anterior para escoamento da safra, o produtor desorganizado fica obrigado a vender sua produção para os atravessadores da região por um preço bem abaixo do valor estipulado pelas indústrias de oiticica. Em muito caso o atravessador recebe a oiticica de cada produtor diretamente no seu armazém quando sua produção é insignificante. Mas, quando o volume da produção é em maior escala numa determinada comunidade, então o atravessador envia um caminhão para recolher a produção acondicionada em sacos de ráfia de vários produtores e, no dia seguinte, a produção é descarregada na indústria de óleo de oiticica, cuja carga foi previamente negociada entre ambos. No breve momento de pesagem na balança e carregamento do caminhão, o material é inspecionado precariamente por um funcionário a serviço do atravessador. Vale acrescenta que o apanhador não recebeu nenhum tipo de orientação técnica de colheita de oiticica por parte de um agente de extensão rural, o que significa dizer que a maioria do material do produtor pode ser de baixa qualidade.
32. ARMAZENAMENTO DOS FRUTOS Depois que os frutos são colhidos, secados com cuidado e embalados e antes de serem comercializados ou beneficiados pela indústria, os mesmos devem ser armazenados adequadamente, a fim de evitar a fermentação das sementes. Ou seja, os frutos geralmente apresentam, por ocasião da maturidade fisiológica, a máxima qualidade, em termos de teor de óleo com alta qualidade e com o processo de deterioração reduzido ao mínimo (COUTINHO et al., 2009). O termo deterioração se refere a toda e qualquer alteração degenerativa que ocorre com a qualidade dos frutos ou sementes em função do tempo. A deterioração é irreversível,
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sendo mínima por ocasião da maturidade fisiológica dos frutos. A partir deste período tende a ocorrer uma queda progressiva da qualidade das sementes, através do processo de deterioração. O seu progresso varia entre lotes de frutos da mesma espécie e entre frutos do mesmo lote (COUTINHO et al., 2009). Estudando a viabilidade de sementes de oiticica (Licania rigida, Benth) armazenadas em câmara fria por 1 ano, Santos et al (2011) observaram que a percentagem de emergência das plântulas do lote 1 das sementes não armazenadas mais semeadas logo após sua coleta (média de 64,2%) foi estatisticamente superior ao lote 2 das sementes armazenadas mais semeadas após um ano em câmara fria (média de 52%). Enquanto o tempo médio de emergência (TME) e índice de velocidade de emergência (IVE) de ambos os lotes não apresentaram diferença significativa entre si, sendo os valores de 31 e 28 dias do TME e de 0,544 e 0,463 do IVE para os tratamentos dos lotes 1 e 2, respectivamente. Avaliando a influência do armazenamento sobre a composição química e mineral das amêndoas de oiticica, provenientes do município de Pombal, PB, depois de passarem pelos tempos de sete (07) dias (semana), 30 dias (mês) e 365 dias (ano) de armazenamento, Queiroga et al. (2013) constataram que os valores referentes ao teor de água foram significativamente elevados para as amêndoas de oiticica analisadas após 30 dias (4,85%) em comparação aos valores baixos de 4,12% e 3,93% dos tratamentos analisados aos 7 e 365 dias, respectivamente (Tabela 8). Após a colheita dos frutos de oiticica, o ideal seria reduzir o teor de água das sementes até 4,0% dentro de um prazo de 4 dias de exposição ao sol (BAYMA, 1957).
Tabela 8. Composição química em amêndoas de oiticica (Licania rigida, Benth). Campina Grande-PB, 2013. Tempos de Armazenamento dos Frutos
Teor de Água
Óleo
Proteína
7 dias
4,12 b
61,11 a
6,87 a
1,92 b
30 dias
4,85 a
56,83 b
5,92 b
1,96 ab
365 dias
3,93 b
17,75 c
5,91 b
2,03 a
DMS
0,25
0,44
0,56
0,08
Variáveis (%) Cinza
Nas colunas, médias seguidas pela mesma letra dentro de cada variável, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
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Com relação ao teor de óleo, constata-se uma superioridade significativa dos frutos colhidos e armazenados de 7 dias (61,11%), ficando os frutos armazenados de 30 dias com valor intermediário (56,83%) e o menor valor (17,75%) para os frutos armazenados de 365 dias. Estes resultados estão de conformidade com os obtidos por Stragevitchet al. (2005), de que a variabilidade no teor de óleo depende dos graus de maturação variados dos frutos de oiticica, ou seja, de dezembro até março sucedem as distintas épocas de colheita da planta, quando os frutos se completam, amadurecem e caem (BAYMA, 1957; PINTO, 1963; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007).
Esse teor de água de 4,85% nas amêndoas, apresentado pelos frutos de oiticica armazenados de 30 dias, não é considerado baixo para a referida espécie, devido ao seu elevado teor de óleo acima de 60% (PEIXOTO et al, 1973). Ou seja, como se tratar de substâncias químicas não miscíveis (água/óleo), o teor de água na amêndoa de oiticica pode equivaler a quase 7%, em razão de que esse óleo está ocupado mais da metade de sua superfície. O mesmo raciocínio foi adotado em sementes de gergelim com elevado teor de óleo (50%) por Langham et al.(2006) e Queiroga et al.(2010).
Os caroços de oiticica (sementes) apresentam uma alta suscetibilidade à perda de óleo, pois assim que os mesmos vão caindo naturalmente no chão, inicialmente sua casca assume uma tonalidade clara que vai mudando gradativamente para uma tonalidade mais escura (Figura 50), em função da lixiviação do óleo e do incremento do seu período de armazenamento. Comportamento parecido ocorre para as sementes recalcitrantes, que em lugar do óleo essas sementes perdem umidade durante o armazenamento (VIEIRA et al., 2001).
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Figura 50. A) - Caroços recém colhidos com tonalidade clara com elevado teor de óleo (acima de 50%) e B) - Caroços escuros colhidos após um ano com baixo teor de óleo (em torno de 17%, considerado óleo residual por não ser extraído pela prensa mecânica). Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Por outro lado, Queiroga et al (2013) verificaram superioridade significativa das amêndoas de oiticica analisadas aos 7 dias para os elementos minerais nitrogênio (N), cálcio (Ca) e enxofre (S), sendo o inverso quando se trata do elemento magnésio em relação aos demais tempos de armazenamento (Tabela 9). Para as amêndoas avaliadas aos 365 dias, houve destaque significativo para os minerais fósforo (P), potássio (K) e magnésio (Mg), porém este último elemento não diferiu do tratamento armazenado aos 30 dias. De certa forma os dados dos minerais fósforo (212,50 mg/100 g) das amêndoas armazenadas aos 365 dias; potássio (225,0 mg/100 g) aos 30 dias e cálcio (412,5 mg/100 g) aos 7 dias foram os que mais se aproximaram dos resultados da composição mineral analisada em laboratório por Pinto (1963).
Tabela 9. Caracterização dos elementos minerais em amêndoas de oiticica (Licania rigida, Benth). Campina Grande-PB, 2013. Tempos de Armazenamento dos Frutos
N
P
K
Ca
Mg
S
7 dias
1100,00 a
152,50 c
200,00 b
420,00 a
207,50 b
100,00 a
30 dias
947,50 b
186,25 b
221,25 b
236,25 b
312,50 a
60,00 b
365 dias
948,75b
212,25 a
300,00 a
218,75 b
296,25 a
87,50 ab
Variáveis (mg/100 g)
DMS
92,25 12,98 26,51 66,75 47,72 27,99 Nas colunas, médias seguidas pela mesma letra dentro de cada variável, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
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33. PADRONIZAÇÃO DOS FRUTOS ADOTADA PELO CEARÁ A semente bem madura, limpa, sem fermentação e bem guardada dará boa classificação e óleo de melhor qualidade. Frutos bons se formam nas árvores bem cuidadas, tratadas com inseticidas na fase da frutificação, pois os estragos provocam óleos oxidados e rançosos. Para obter um produto de alta qualidade, os trabalhos de classificação, colheita, secagem, acondicionamento, armazenagem e transporte dos frutos de oiticica ficaram sujeitos à padronização no Estado do Ceará (Tabela 10), por força do regulamento aprovado pelo Decreto de n 5.739, de 29 de maio de 1940 (BAYMA, 1957).
Tabela 10. Padronização dos produtos de oiticica após sua colheita, conforme regulamento aprovado pelo governo do Estado do Ceará.
COLHEITA
SECAGEM
ARMAZENAMENTO
TRANSPORTE
CLASSIFICAÇÃO
A catação da semente da oiticica só é permitida quando for atingida a sua completa maturidade A época de colheita, para cada zona produtora, será determinada entre dezembro e fevereiro ou março A colheita só será permitida em condições e métodos que não prejudiquem as árvores, nem o produto colhido Após a colheita, a secagem da oiticica deverá ser feita em terreiro perfeitamente limpo, coberto por lona plástica, e de maneira a permitir a sua melhor conservação e aproveitamento industrial Compreende-se por terreiro a área onde a oiticica é submetida à secagem ao sol e que deverá ser de terra batida, coberta de lona plástica, ladrilhada ou cimentada Não poderá ser feita armazenagem de produto que não se encontrar completamente seco Os depósitos para sementes de oiticica deverão ser cobertos, limpos, ventilados e secos, de forma a garantir o armazenamento do produto nas melhores condições de conservação e de modo a evitar danos à sua industrialização, tais como as causadas: pelo excesso de umidade, falta de arejamento e de limpeza A armazenagem da oiticica deverá ser feita de maneira a facilitar a fiscalizarão, ou seja, empilhados em sacos de ráfia O trânsito da oiticica para o comércio regional poderá ser feito quando acompanhado do certificado de classificação Para o transporte, a oiticica deverá ser ensacada e durante o transito, os sacos serão devidamente protegidos contra a chuva por meio de encerados Não será permitido o transporte da oiticica em embalagem defeituosa (furada) ou que comprometa a integridade do produto A classificação comercial da oiticica deverá seguir às especificações e aos padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura Nos lugares onde não existir classificador será permitido o transito da oiticica sem certificado, ficando, entretanto, obrigatória a fiscalização e classificação no ponto de destino Os classificadores e seus auxiliares terão entrada livre dos armazéns das usinas e depósitos de compradores e produtores para fiscalizar a execução do presente regulamento.
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34. QUALIDADE DOS FRUTOS MADUROS Numa análise de amostras dos frutos muito velhos é comum registrar o resultado de 66,15% de amêndoas e 33,62% de cascas, porém não esclarecem se os mesmos eram grandes, pequenos ou heterogêneos. Neste caso, Bayma (1957) afirma que não há subsídios suficientes para que se estabeleça ou não correlação positiva ou negativa entre o tamanho dos frutos e as percentagens desses dois elementos componentes, que influem no valor industrial da matéria prima. Em amostras de frutos colhidos em inspeções dos armazéns junto à fábrica, constatou-se que os pássaros podem influir acidentalmente nas determinações de laboratório em matéria de casca de oiticica, ou seja, no grande estoque de matéria prima a granel se os frutos eram mais ou menos uniformes pelo tamanho, diferiam pela cor destacadamente branca, no meio da grande massa esverdeada e escura. Eram frutos roídos pelos pássaros que povoam abundantemente as oiticicas ao tempo de maturação (BAYMA, 1957). Vale destacar que em exames de laboratório realizados em amostras de frutos intactos, obtiveram-se 36% de cascas e 64% de amêndoas, contra 30% de cascas e 70% de amêndoas para frutos brancos ou roídos. Não obstante à tamanha importância que desempenha os pássaros para identificar apenas os frutos no ponto de maturação, os quais por apresentarem uma diferença de 6% de cascas, independente do tipo de fruto, das árvores e da região de origem. Estes frutos, colhidos neste ponto, produzem iriam óleo mais claro, por não apresentar clorofila na casca, e melhora o rendimento industrial e sua qualidade (BAYMA, 1957). Ao determinar em laboratório o teor de óleo nas amostras de sementes velhas, verificouse que o resultado de 27% de óleo foi considerado um baixo rendimento para a indústria de oiticica, enquanto que nas sementes imaturas o teor de óleo desce para 15%, provenientes das sacudidelas dos galhos da planta, em vez de apanhadas do chão onde naturalmente caem só quando maduras. Quando se trata de frutos normais colhidos ao acaso nos grandes estoques adquiridos para a industrialização, o teor de óleo variou entre 27 a 38%. Só excepcionalmente a percentagem atingiu 40% de óleo, quando se tratava de frutos roídos pelos pássaros (BAYMA, 1957). Para reforçar esta tese seria necessário que houvesse pássaros em demasia para roer toda a produção da árvore, consequentemente todos os frutos colhidos seriam brancos
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(BAYMA, 1957). Uma alternativa mais exequível seria através da classificação manual feita pelo apanhador dos frutos brancos caídos ao chão para conseguir assim um preço diferenciado estipulado pelo mercado. Outra classificação dos frutos de oiticica ficou registrada pelo fato de que os frutos pequenos, procedentes do município de Crateús, zona norte do Ceará, dessem rendimentos de 35% de óleo quando comparado com os frutos grandes, oriundos do Vale de Jaguaribe, zona sul do mesmo Estado, que produziam 38%, em igualdade das demais condições influentes. Também Bayma (1957) narra que a elevação vertiginosa dos preços da oiticica e a insuficiência das safras ocorridas no passado para alimentação do grande número de usinas de oiticica teriam acabado com as sementes velhas, se não fosse a aflitiva falta de transporte. Por outro lado, não se recomenda armazenar frutos de oiticica com objetivo estratégico de esperar a melhoria dos seus preços pelo mercado, pois a matéria prima estocada perde seu peso e reduz o teor de óleo com o tempo, tornando assim imprestável para uso industrial devido sua fermentação total. Há outros fatores que também contribuem na redução do teor de óleo do caroço de oiticica, tais como: deficiência de umidade e ataque de pragas. O estresse hídrico da árvore, provocado pelas secas no Nordeste, pode comprometer a eficiência na produção de frutos, principalmente na sua fase de enchimento com relação ao teor de óleo. Com base nesta resposta da árvore é possível deduzir que as sementes amadurecidas sem chuvas não devem elaborar satisfatoriamente sua reserva de óleo como nas condições climáticas normais. Da mesma forma, os frutos atacados por pragas, que chegam a afetar sua amêndoa, rendem menos óleo e dão produto de pior qualidade que os sadios (BAYMA, 1957).
35. CLASSIFICAÇÃO DOS FRUTOS PARA EXPORTAÇÃO Mesmo que se tratasse de uma indústria lucrativa no estrangeiro, a exportação dos frutos de oiticica é contrária aos princípios econômicos que o espírito e a alta política nacional defendem, propagam, incentivam e vem aos poucos implantando dentro de nosso país. Isto é, o objetivo dos Governos Estaduais é incentivar financeiramente as indústrias locais para se instalarem na região de produção de frutos de oiticica, ao tempo em que procura atrair novos capitais estrangeiros no estabelecimento de fábrica no país, tendo como exemplo a extinta empresa americana Brasil Oiticica S.A., dentro da mentalidade sadia de que não devemos ser fornecedores dessa matéria prima, mas sim de produto (óleo).
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A própria indústria da oiticica nunca foi excluída de atmosfera protetora da administração publica brasileira. O parque industrial só se estabeleceu no Nordeste do Brasil para erguer os alicerces de seus edifícios, as fundações de seus maquinários e as chaminés de suas caldeiras sobre a confiança das leis proibitivas da exportação de matéria prima. Além disso, existia no passado um exagerado otimismo em torno da oiticica de que era mais lucrativo comprar sementes para vender óleo, quaisquer que fossem as condições de exportação (BAYMA, 1957). Vale ressaltar que no decorrer das primeiras grandes safras de oiticica, os industriais aos poucos começaram a perceber as baixas qualidades da produção, principalmente as relacionadas com as más condições de colheita ou apanha dos frutos de oiticica. Para sanar tais dificuldades, o Ministério de Agricultura estabeleceu novas especificações para a classificação e fiscalização da exportação de frutos de oiticica, baixadas com o Decreto nº 22.850, de 311 de março de 1947, em virtude das disposições do Decreto-lei nº 334, de 15 de março de 1938 e do regulamento aprovado pelo Decreto nº 5.739, de 29 de maio de 1940 (BAYMA, 1957). De forma resumida, o novo Decreto de 1947 visa alterar vários detalhes das especificações para a classificação e fiscalização da exportação dos frutos inicialmente estabelecidas em 1940 para as sementes da Licania rigida, as quais estavam em vigor. Para facilitar a exportação os frutos de oiticica para ser processado nas indústrias da região sudeste do país ou mesmo para atender a demanda das indústrias locais, o novo Decreto de 1947 estabeleceu as seguintes classificações: I - O fruto de oiticica (Licania rigida, Benth) será classificado segundo a aparência, o estado de maturidade, de conservação e de sanidade, a quantidade de impurezas e defeitos. II – Para a execução do disposto no item I, ficam estabelecidos cinco tipos, assim discriminados: Tipo 1 ou primeira – Constituído de frutos de boa aparência, em bom estado de maturidade, de conservação e sanidade, secos, isto é, com teor de umidade que não exceda os limites normais e contendo, no máximo, 1% de impurezas e 2% de imaturos ou danificados.
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Tipo 2 ou segunda – Constituído de frutos de boa aparência, secos, isto é, com teor de umidade que não exceda os limites normais, em bom estado de maturidade, de conservação e sanidade e contendo, no máximo, 2% de impurezas e 4% de imaturos ou danificados. Tipo 3 ou terceira – Constituído de frutos de boa aparência, em bom estado de conservação e de sanidade e de maturidade, secos, isto é, com teor de umidade que não exceda os limites normais e contendo, no máximo, 3% de impurezas e 8% de imaturos ou danificados. Tipo 4 ou quarta – Constituído de frutos de bom aspecto, em boas condições de maturidade, de conservação e de sanidade, com teor de umidade que não exceda os limites normais e contendo, no máximo, 4% de impurezas e 20% de imaturos ou danificados. Tipo 5 ou quinto – Constituído de frutos satisfazendo quanto ao aspecto, condições de maturidade, de conservação e de sanidade as mesmas exigências estabelecidas em relação ao tipo 4 e contendo, no máximo, 5% de impurezas e 30% de imaturos ou danificados. III - Todo lote de frutos de oiticica que não se enquadra nos tipos descritos será classificado sob a denominação de “abaixo padrão”.
IV - Para melhor verificação dos limites de tolerância estabelecidos para os tipos respectivos, consideram-se:
a) Impurezas - Todo material estranho e detritos, provenientes da colheita ou do produto. b) Frutos imaturos – São aqueles colhidos antes da maturação e ainda com sementes sem o necessário desenvolvimento. c) Frutos danificados – São os frutos prejudicados por agentes mecânicos, físicos e biológicos (pragas e doenças) V – Serão usados no acondicionamento e transporte de frutos de oiticica sacos resistentes e apropriados ou ainda, embalagem de outra natureza, desde que ofereçam proteção eficaz e facilidade para as marcações (identificação dos lotes ou tipo de classificação)
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VI – Os depósitos ou armazéns de caroços de oiticica devem ter espaço suficiente, cobertura apropriada e satisfazer os preceitos de higiene e as exigências de iluminação. VII – Cabe ao Ministério de Agricultura a classificação e a fiscalização da exportação de frutos de oiticica, além da análise da amostra e emissão do certificado de classificação de frutos.
VIII - Será permitido o transporte de frutos de oiticica a granel em vagões fechados, sendo que a carga constituída de frutos uniformes em relação ao tamanho, ao estado de maturidade e demais características de qualidade. IX – Com base no item anterior, fica autorizado o uso de caminhão para transporte de sementes ou frutos de oiticica a granel, desde que haja dificuldades de transporte ferroviário. O carregamento deverá ser levado a efeito em caminhão com cobertura impermeável ou de lona, protegendo assim contra umidade e poeira.
É de conhecimento do produtor que a característica mais importante da oiticica é sem dúvida a sua percentagem de óleo. Mas, para o melhoramento da espécie é necessário considerar as especificações acima referenciadas para classificação comercial dos diferentes tipos de frutos. Ou seja, é imperioso que nas metas de um projeto conduzam os exploradores de oiticicais a melhorarem suas respectivas safras, principalmente quando se trata do aperfeiçoamento ou melhoria dos tipos por meio da redução da tolerância referida a impurezas no sentido geral. Os abusos mais freqüentes e maiores são representados pelos frutos imaturos que rendem pouco e dão óleo enriquecido de clorofila. A apanha dos frutos no sertão, mesmo diante da extraordinária valorização do produto pelo mercado, às vezes é feita apressadamente, antes da sua maturação, e levados aos compradores com secagem insuficiente. Com seu rendimento industrial baixo, essa matéria prima não encontra onde se enquadrar nos tipos comerciais estabelecidos, apesar de não ser mercadoria destituída de valor econômico ou industrial. A criação de uma nova classificação, por exemplo o tipo 6, tem por fim absorver, pelo valor justo, todas as
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partidas de frutos nessas condições, conciliando os interesses dos produtores do interior e dos industriais, ao mesmo tempo praticando um valor mais baixo desse último tipo de escala. Tal exigência irá refletir no melhor ensinamento para apanha e secagem dos frutos sob outros cuidados e cautela, em benefício de uma produção colhida de maior qualidade e mais valorizada pelo mercado (BAYMA, 1957).
36. COMERCIALIZAÇÃO DOS FRUTOS A venda dos caroços, embalados em sacos de 60 kg, é feita diretamente às usinas de beneficiamento para extração de óleo, a maioria delas localizadas no estado do Ceará. Algumas usinas não trabalham só com a oiticica, exemplo da OLVEQ – Indústria e Comércio de Óleo Vegetal Ltda da cidade de Quixadá, CE, mas também com a mamona, pois não podem ficar na dependência das safras de oiticica, muito irregulares em volume e concentradas numa única época do ano. Atualmente, Jaguaribe, também no Ceará, é uma cidade do sertão, que possui uma indústria de óleo, consumidora específica de caroços de oiticica.
37. MERCADO DO ÓLEO DA OITICICA A ocorrência da oiticica é registrada em quase toda região semiárida, sendo seu extrativismo praticado, principalmente nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. O estado da Ceará é o maior produtor e o principal mercado consumidor. Em relação ao período de 1956-1958, a contribuição percentual de cada um desses Estados foi: Piauí com 4%, Ceará com 52%, Rio Grande do Norte com 18% e Paraíba com 27% (ROSADO; ROSADO, 1988). No século passado a oiticica se constituía na grande vedete da pauta da exportação dos produtos agrícolas do estado do Ceará. A planta existia com abundancia nas áreas dos sertões e se multiplicava em ritmo acelerado nas margens dos açudes, riachos e rios. Fazer a apanha da oiticica era uma atividade que gerava renda extra para o agricultor, principalmente no período posterior a estação das chuvas. Menos da metade do óleo de oiticica produzido no Brasil é consumido pelo mercado interno. O restante é exportado para os Estados Unidos, México, Itália, Inglaterra e outros países. O mercado externo, porém, é altamente competitivo, e o preço do óleo de oiticica depende da produção e da comercialização de óleos concorrentes, como o de tungue, o
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de perila, o de linhaça e outros óleos sintéticos relativamente baratos e de qualidade às vezes superior (ROSADO; ROSADO, 1988; DUQUE, 2004). Apesar da empresa Eliseu Batista S/A de Orós, CE estar atualmente inativa, mesmo assim teria condições de retomar a produção no curto prazo de tempo. Estima-se que sua capacidade de esmagamento seja de 2.000 toneladas/ mês de sementes de oiticica. Para efetuar este calculo da capacidade mensal, Viana e Rocha (2009) consideraram o trabalho durante 21 horas/dia (dois turnos) e 30 dias/mês. É importante ressaltar que na recente missão brasileira à China, o agrônomo José Maria Pimenta, ex-presidente da Ematerce, que participou dessa equipe técnica, afirmou que há amplas possibilidades dos chineses voltarem a comprar a oiticica produzida no Brasil, em particular toda produção do Estado do Ceará. Essa abertura de mercado com a china irá possibilitar a revitalização da cultura, já que, a planta existe em abundancia no sertão nordestino, bem como o agricultor já tem experiência de sua colheita e secagem (SERPA, 2012).
38. ASPECTO SOCIAL DA ATIVIDADE EXTRATIVISTA No contexto atual e em função da fragilidade do ecossistema semiárido, os recursos naturais e as atividades agropecuárias ali desenvolvidas, não garantem mais a renda indispensável à sobrevivência de uma parcela significativa da sua população, caracterizando, assim, uma situação de extrema vulnerabilidade e insustentabilidade dos atuais sistemas de produção dependentes de chuva. Desta forma, a atividade extrativista do fruto da oiticica é de grande importância por garantir, em parte, a sobrevivência dos pequenos agricultores e de seus animais. Essa atividade extrativista desenvolvida pelos pequenos agricultores da região semiárida do Nordeste é de grande importância para a absorção de mão-de-obra e geração de renda dos pequenos agricultores, como também na fixação do homem ao campo (Figura 51), visto que, os agricultores que colhem a oiticica, normalmente, permanecem em suas comunidades, à espera da próxima safra (ANDRADE-LIMA, 1981; SERPA, 2012).
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Figura 51. Colheita dos frutos da oiticica no sistema extrativismo na região do sertão nordestino.
No período da colheita e comercialização da oiticica, a economia da cidade movimentavase, por conta da circulação de mais dinheiro advindo da venda e compra da produção de oiticica, do que o normalmente costumava circular. A sua exploração, ao contrario do algodão, dispensava custos adicionais no preparo do solo e plantio, por se tratar de uma espécie nativa cuja existência independe da interferência humana. E por ser uma atividade extrativista, os passarinhos e os animais, que se alimentam da polpa do fruto, são os responsáveis pela expansão do oiticical existente na região. Portanto, as despesas dos proprietários restringem-se aos encargos com a colheita, sacarias, transporte e a alguns cuidados necessários, para permitir o acesso das pessoas responsáveis pela cata dos frutos (SERPA, 2012).
39. ORGANIZAÇÃO NA COMERCIALIZAÇÃO DA OITICICA A oferta de um produto de melhor qualidade para a indústria nacional (DUQUE, 2004), organizada em formas associativas de pequenos produtores e/ou cooperativas de produção é um fator da maior relevância capaz de, em sendo bem sucedido a sua gestão, refletir as tendências atuais e revitalizar a atividade que passaria a estimular não somente o crescimento da produção, mas, que venha contribuir com o desenvolvimento sócioecnonômico e ambiental da cadeia produtiva da oiticica, por meio de uma melhor qualificação dos produtores com novos conhecimentos tecnológicos e pelo fortalecimento da infra-estrutura das unidades produtivas, com incremento do transporte da produção para usina, sistema de comercialização em vários entrepostos comerciais distribuídos nos principais municípios produtores e preços justos oferecidos aos frutos selecionados.
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40. LINHAS DE CRÉDITO
Tabela 11. Linhas de crédito favoráveis a produção da oiticica AGENTE
LINHAS DE
FINANCEIRO
FINANCIAMENTO
PÚBLICO
TAXAS
OBSERVAÇÕES
Custeio agropecuário tradicional
Produtores do
BNDES MODERAGRO
Agronegócio
BANCO DO
Investimento
BRASIL
PRONAF
Prazo até 1 ano Prazo de até 96 meses, carência de até 24 meses
Custeio
Agricultores
PRONAF
Familiares
Teto máximo de R$ 40 mil reais
Teto máximo de R$ 36 mil reais
Investimento Custeio/ Investimento (PRONAF) Produtores Rurais Produtores Rurais (FNE Rural) BANCO DO NORDESTE
FNE Industrial FNE Giro insumos
0,5% a
Prazo de 2 a 12 anos, dependendo
3 % ao
da finalidade e do tipo de
ano
PRONAF utilizado
5% a
Prazo de até 12 anos para
8,5%
investimento e até 8 meses para
ao ano
custeio Prazo até 12 anos
Empresas 6,75% a 10%
Nordeste Exportação
Prazo até 24 meses
Empresas Exportadoras
ao ano
Aquisição de matéria- prima, insumos e estoque de mercadorias para empresas exportadoras. Prazo até 12 meses
41. ASPECTOS ECONÔMICOS Considera-se, o sistema de produção como uma unidade econômica na qual o produtor rural desenvolve suas atividades produtivas com o propósito de viabilizar seus objetivos. Assim, coeficientes técnicos de produção, associados aos custos de produção, ao permitir uma visualização detalhada da unidade física no uso de fatores de produção das diversas atividades, possibilitam subsidiar outros estudos, como os de competitividade entre os municípios produtivos de oiticica na região do sertão nordestino.
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Tabela 12. Coeficiente técnico para implantação e condução de 1 ha da cultura perene de oiticica (Licania rigida) no espaçamento de 10 m x 10 m (100 plantas/ha), sendo essas despesas de implantação viabilizadas pelas margens de lucros advindos das culturas temporárias intercalares nos três primeiros anos. 1°e 2° Ano
3°e 4° Ano
Unidade
Preço (R$)
Quant.
Valor
Quant.
h/tr.
80,0
5
400,00
-
-
Unid.
10,00
100
1.000,00
-
-
Marcação
d/h
30,00
1
30,00
-
-
Abertura de covas
d/h
30,00
1
30,00
-
-
d/h
30,00
2
60,00
-
-
d/h
30,0
2
60,00
-
-
d/h
30,0
2
60,00
-
-
d/h
30,0
2
60,00
-
-
h/cult.
80,00
1,5
120,00
3
240,00
d/h
30,00
5
150,00
5
150,00
-
-
-
-
-
-
d/h
60,00
-
-
2
120,00
Litro
90,00
-
-
2
180,00
d/h
30,00
2
60,00
-
-
d/h
30,00
-
-
4
120,00
d/h
30,00
-
-
2
60,00
Especificações
Valor
Preparo do solo com trator (Aração e gradagem) Preparação de mudas enxertadas (dois anos de antecipação)
Adubação orgânica( apenas na cova) Plantio de mudas em condições de sequeiro (inicio de inverno Coroamento (com capina) Coroamento (com cobertura morta) Preparo do solo (gradagem entre fileiras no 2º, 3º e 4º ano) Consorciação no 1º, 2º, 3º e 4º ano (milho, feijão, gergelim, sorgo, etc) Agrossilvopastoril (capina efetuada pelo animal a partir do 4º ano) Pulverização no 4º ano (floração ou frutificação) Inseticidas Poda de formação Poda de galhos após colheita Antes da colheita, limpeza do solo
C a p í t u l o I | 94 abaixo da copa com a vassoura Colheita em janeiro e fevereiro (Uma apanha de frutos do
d/h
30,00
-
-
8
240,00
d/h
30,00
-
-
4
120,00
Metro
8,00
-
-
6
48,00
Unid.
0,80
-
-
160
128,00
d/h
30,00
-
-
2
60,00
Frete
60,00
-
-
1
60,00
-
-
-
1.880,00
-
1.358,00
ton
0,50 por kg
-
-
7
3.500,00
chão por semana) Secagem ao sol sobre lona (4 dias) Aquisição de uma lona de 6 m x 6 m Aquisição de sacarias Ensacamento Transporte para usina ou entrega no campo Despesas totais (R$) Produtividade da oiticica por ha (70 kg/planta)
OBS: Valor Estimado.
42. PROTEÇÃO DA OITICICA E RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES Levantamentos realizados nas comunidades da região semiárida do Nordeste por Bayma (1957), demonstram a importância que o extrativismo do fruto da oiticica tem na composição da renda familiar dos agricultores da região. Mesmo assim, a prática de destruição tem sido usada nas oiticiqueiras, visando à exploração de sua madeira e ocupação de áreas férteis para darem lugar às culturas irrigadas com maiores rentabilidades. Em consequência disso, no estado do Ceará foi criada a lei nº 1.525, de 12 de abril de 1935, impedindo o corte da árvore de oiticica em todo seu território. Atualmente, cabe as Secretárias Estaduais do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos autorizarem, de acordo com a legislação vigente, desmatamentos e quaisquer outras alterações de cobertura vegetal nativa, primitiva ou regenerada e florestas homogêneas. As diretrizes das políticas de preservação e conservação do meio ambiente são estabelecidas e reavaliadas pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente. É importante recordar que proprietários de armazéns, nas décadas de 1950 até 1980 pagavam bom preço pelo quilo de baga da oiticica, porém, com o crescimento do cultivo de espécies de óleo secativo em outros países, a colheita foi desestimulada por conta da queda no preço final pago pelos compradores. Começa o declínio da atividade, que foi se
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agravando por conta da introdução dos cultivos irrigados nas margens dos mananciais hídricos, como capineiras para o alimento do rebanho bovino, propiciando a inconsequente ação da derrubada das matas ciliares, onde se encontrava a oiticica (BAYMA, 1957). A oiticica é uma planta típica do sertão nordestino, considerada uma árvore de espécie ciliar dos cursos de água temporários do semiárido nordestino (Figura 52). Ela é encontrada nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, e tem grande importância, quer pelo aspecto ambiental de ser uma espécie arbórea perene sempre verde que preserva as margens dos rios e riachos temporários na região da caatinga, quer como espécie produtora de óleo. Durante todo o ano, inclusive nos períodos de seca, comuns às regiões de ocorrência natural dessa planta, mantém-se verde e fornece sombra ao homem e diversos outros animais (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973, DUQUE, 2004).
Figura 52. Vista aérea de espécies ciliares com intensa concentração de oiticica ao longo do curso de água temporário do rio Acaraú, no Estado do Ceará. Foto: Arquivo da Google. A vegetação da margem dos cursos d’água pode ser denominada de floresta ciliar, mata de beira-rio ou mata ripária, estando presente uma diversidade de tipos vegetacionais (AB’SABER, 2000). Essa vegetação é heterogênea em sua florística e estrutura, em função da heterogeneidade de ambientes, especialmente quanto à disponibilidade hídrica e nutricional (RODRIGUES; NAVE, 2000; SOUZA; RODAL, 2010). Com relação à produção de mudas de espécies nativas, como a oiticica, é uma alternativa para reflorestamento de áreas degradadas proporcionando a redução do impacto ambienta e recuperação das matas ciliares, contribuindo assim para o aumento da biodiversidade
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nestas áreas (ARAÚJO et al., 2012). É necessário elaborar um projeto de reflorestamento destas matas com uma boa concentração de oiticicas, apresentando assim também uma opção de renda economicamente viável para os produtores, além da possibilidade de emitir certificados de carbono numa visão do Protocolo de Kyoto.
43. COMPETIVIDADE NA PRODUÇÃO DE ÓLEO SECATIVO A descoberta do óleo secativo na semente da oiticica deu ao Brasil a possibilidade de diminuir a importação do óleo de linhaça, na fabricação de tintas, vernizes, esmaltes finos, oleados, lonas, etc. A importância dessa matéria prima, que regulava de 2.000 a 5.000 toneladas anuais, até 1930, baixou para 84 toneladas, em 1938. Concorreu, também para essa economia de divisas, o aumento da produção de linho, no R. G. do Sul onde a safra de sementes de 1938 alcançou 14.239 toneladas (DUQUE, 2004). A China, a Coréia e o Japão eram os fornecedores de óleos secativos (tungue e perila) à indústria ocidental até 1937, quando, em 1938, o mercado norte-americano, diminuindo de 40% e 25%, respectivamente, a importação desses óleos, passou a preferir o de oiticica do Nordeste e o de tungue das suas plantações, na Flórida (DUQUE, 2004). O óleo de tungue é fornecido pelas sementes (Figura 53) da Aleurites forddi e A. molucana (Euforbiáceas), árvores que crescem até 10m de altura e vivem cerca de 30 anos. Elas produzem óleo secativo em clima subtropical, com teor de 40% a 50% do peso das sementes e sua produção por árvore é inferior à da oiticica (DUQUE, 2004).
Figura 53. Frutos, sementes e planta de tungue. Fotos: Scipioni, M. C.
O óleo de perila é produzido nas sementes da Perila ocymoides e P.nankinensis (Labiatae), planta anual, cultivada no norte da Índia, em Kwantung na China, na Coréia
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e no Japão (Figura 54). Ali, o rendimento é aproximadamente de 500 kg de sementes por ha e a colheita exige muita mão-de-obra devido à deiscência das vagens e amadurecimento desigual, motivo porque essa cultura não se desenvolveu nos Estados Unidos (DUQUE, 2004).
Figura 54. Sementes de perila (Perila ocymoides) com 2 a 3 mm de tamanho. Foto: Gonçalo Ferreira (2010).
Os óleos secativos, naturais, concorrentes do óleo de oiticica no mercado mundial são, portanto, o de tungue, o de perila e o de linhaça (Figura 55). Por motivos políticos e pela industrialização do Oriente existe a possibilidade de afastada a competição dos dois primeiros no mercado Ocidental, o que, possivelmente, abre novas perspectivas para a expansão da lavoura da oiticica, no Nordeste (DUQUE, 2004).
Figura 55. Sementes e óleo de linhaça. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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44. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABOISSA.
Oiticica.
Disponível
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Capítulo II
O APOGEU DAS INDÚSTRIAS DE OITICICA: PROCESSOS DE EXTRAÇÃO E POLIMERIZAÇÃO DO ÓLEO
(Autores)
Vicente de Paula Queiroga Carlos Renato Cavalcante Barbosa Paulo de Tarso Firmino Francisco de Assis Cardoso Almeida
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1. ANTECEDENTES A Licania rigida Benth., conhecida como oiticica é uma árvore típica de matas ciliares dos cursos de água temporários do semiárido, usada para reflorestamento, arborização, além de possuir uma semente rica em óleo extraída pela indústria (BAUTISTA, 1986). Antes de se tornar uma extraordinária fonte de matéria prima de valor econômico, as árvores de oiticica foram muito devastadas pelo próprio homem nordestino para a ocupação das terras aluvionais, mais férteis, com as culturas de cereais, algodão e pastagens (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004).
Apesar dessa grande devastação de oiticiqueiras nativas pelos desbravadores do sertão, a sua história começou em 1843, quando Martius classificou-a no gênero Moquilea da família das Rosaceas, sendo posteriormente classificada de Licania rigida da família Chrysobalanaceae. Entretanto, o grande precursor da indústria de oiticica no Brasil foi o Barão de Ibiapaba, que em 1896 instalou sua fábrica em Fortaleza, CE, a qual era formada por duas prensas hidráulicas que logo foi abandonada pelo forte e desagradável cheiro do produto. O segundo fracasso foi à fábrica estabelecida entre 19914-1918 no Rio Grande do Norte, que tinha por objetivo produzir óleo para a indústria de saboaria, sendo fechada em razão da baixa qualidade do sabão fabricado. Além disso, o óleo endurecia dentro dos tambores por defeito de tratamento. A fase vitoriosa da indústria da oiticica foi iniciada por dois empresários cearenses em 1927. Os mesmos fundaram a pequena fábrica “Miriam” em Fortaleza, CE, a qual foi posta a funcionar em 1929, tendo propalado a produção de óleo para o mercado externo. Em 1930, as suas compras de caroços de oiticica atingiram 2.800.000 kg (BAYMA, 1957; PEIXOTO, 1973; DUQUE, 2004).
Apesar desse tímido avanço industrial, somente a partir de 1934, uma empresa com capital norte-americano criou o primeiro estabelecimento fabril moderno em Fortaleza, CE, denominada de Brasil Oiticica com grande produção de óleo extraído da amêndoa por prensagem ou por solventes (Figura 1). Sua capacidade de beneficiamento era de 20 ton de caroços por dia e uma produção de 6 ton de óleo. Em pouco mais de 50 anos de existência, exportou milhões de dólares para atender aos mercados da Inglaterra e dos Estados Unidos. Mesmo apresentando sua matriz um potencial elevado de produção para os padrões tecnológicos daquela época, a empresa Brasil Oiticica ainda criou mais duas unidades filias de menor porte, sendo uma em Pombal, PB (3,8 ton de óleo; Figura 2) e
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outra em Mossoró, RN (3 ton de óleo), exclusivamente entregues à extração de óleo de oiticica (BAYMA, 1957; DUQUE, 2004). Essa unidade de Pombal, PB, que era subordinada a Fortaleza, acabou fechando em 1987 após decretar falência.
Figura 1. Fábrica da matriz da Indústria Brasil Oiticica S. A em Fortaleza, CE, em 1947. Foto: Arquivo da Brasil Oiticica S. A.
Figura 2. Fábrica da filial da Indústria Brasil Oiticica S. A de Pombal, PB. Fotos: Clemildo Brunet e Ignácio Tavares (2012)
Das 28 empresas indicadas na Tabela 1, apenas as empresas Eliseu Batista de Orós, CE e Sabão Jaguaribano de Jaguaribe, CE estão em atividades no beneficiamento de caroços de oiticica, enquanto as outras 26 empresas implantadas nos estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Paraíba tiveram suas atividades paralisadas, incluindo a maior empresa Brasil Oiticica S. A., apesar de ter sido considerada a mais bem estabelecida
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organização dedicada à exploração da oiticica, quer sob o ponto de vista de capitais, instalações, maquinarias de extração mecânica e química do óleo, sem esquecer o seu elevado nível gerencial (BAYMA, 1957).
Tabela 1. Resumo das empresas de exploração de oiticica existentes entre 1939 a 1962 na região do Nordeste do Brasil, destacando seu nome, localização, material-prima consumida e situação atual. NOME DAS EMPRESAS
Localidade por
Matéria-Prima
Em
Estado
consumida
operação?
CEARÁ Brasil Oiticica S. A., denominada de Fábrica Oitivila
Sabóia de Albuquerque Indústria Ltda Sociedade Anônima Industrial do Nordeste
Linhares & Cia Ltda Usina Ceará de Óleo Vegetal Ltda- Siqueira Gurgel & Cia, Ltda. Empresa Nordestina de Óleos Vegetais
J. Chaves & Irmão F. Varela & Cia Companhia Indústria Santana Sociedade Oiticica Sardinha Ltda Abílio Gurgel Guedes & Filho Randal Pompeu Fábrica de Iguatu, Cia., Industrial de Algodão e Óleo
Eliseu Batista S/A
Indústria Sabão Jaguaribano
Fortaleza Fortaleza Fortaleza Fortaleza Fortaleza
Santa Quitéria
Oiticica, castanha de caju e mamona Oiticica Babaçu, caroço de algodão e oiticica Oiticica Babaçu, caroço de algodão e oiticica Caroço de Algodão e oiticica
Não Não Não Não Não
Não
Limoeiro
Oiticica
Não
Cedro
Oiticica
Não
Santana do Acaraú
Oiticica
Não
Quixadá
Oiticica
Não
Senador Pompeu Sobral Iguatu
Não Oiticica Algodão, mamona e oiticica
Não Não Sim, quando
Orós
Algodão e oiticica
Jaguaribe
Oiticica
Sim
Oiticica
Não
arrendado
PARAIBA Brasil Oiticica S.A. Anderson Clayton & Cia, Fábrica São Francisco
Pombal Patos
Babaçu, caroço de algodão e oiticica
Não
Indústria e Comércio Cassiano Pereira S.A.
Campina Grande
Algodão e oiticica
Não
Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S.A.
Campina Grande
Algodão e oiticica
Não
Massilon Caetano
Medeiros Cisne & S.A. André Gadelha & Irmãos
Patos
Caroço de algodão e oiticica
Não
Campina Grande
Algodão e oiticica
Não
Sousa
Algodão e oiticica
Não
Mossoró
Algodão e oiticica
Não
RIO GRANDE DO NORTE Fábrica Cicosa – Cantídio, Indústria e Comércio de Óleos
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Caicó
Algodão e oiticica
Não
Nóbrega e Dantas
Acari
Algodão e oiticica
Não
Fábrica Santa Terezinha
Caicó
Algodão e oiticica
Não
Mossoró
Algodão e oiticica
Não
Floriano
Algodão e oiticica
Não
Indústria e Comércio de Óleos PIAUÍ Usina Nossa Senhora de Fátima. R. Souza Lima Cia
Em 1957, várias fábricas antigas que esmagavam exclusivamente os caroços de oiticica deixaram de funcionar, posteriormente, surgiram outras unidades industriais interessadas em operar com outras oleaginosas, além do caroço de oiticica. Essa opção por diversas oleaginosas sucedeu por questão da sobrevivência das indústrias, em razão da planta de oiticica apresentar uma produção bianual (BAYMA, 1957). Atualmente, a indústria Sabão Jaguaribano de Jaguaribe, CE, de grande porte, encontrase em pleno funcionamento para extrair o óleo de oiticica por prensagem seguida de extração por solvente (hexano). Os caroços de oiticica utilizados no esmagamento das suas prensas provêm da região polarizada por Pombal, PB e de alguns municípios do estado do Ceará. As condições de funcionamento das usinas de oiticica de Jaguaribe, CE e Orós, CE são plenamente favoráveis, tanto no que diz respeito à estrutura física como as máquinas. A nova Indústria e Comércio de Óleos Vegetais Ltda – OLVEQUÍMICA, de Quixadá, CE (Figura 3), que opera na extração e comercialização de óleos de mamona, algodão e oiticica, efetuou recentemente um esmagamento de 1 ton de caroços de oiticica na prensa mecânica em caráter experimental, cujo rendimento em óleo foi zero, por se tratar de caroço velho colhido na safra passada. Também foi avaliada a presença de mais de 10% de areia na referida amostra após o processo de pré-limpeza, significando que a matéria prima processada é de baixa qualidade. Vale lembrar a importância de uma fiscalização rigorosa no momento da recepção do produto na usina, independentemente que seja proveniente do apanhador ou do atravessador.
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Figura 3. Equipamentos da OLVEQ – Indústria e Comércio de Óleo Vegetal Ltda de Quixadá, CE, 2014. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
Com relação à estrutura física da usina de oiticica, a mesma se compõe de uma série de grandes edifícios e pavilhões, todos construídos em cimento armado, onde se localizam suas várias dependências. Além de possui os escritórios e a administração na parte externa, seguindo os edifícios encontram-se os dois pavilhões de extração do óleo pelas prensas expellers e os maquinários de extração por solvente. No mesmo pavilhão das prensas estão os equipamentos de pré-limpeza dos caroços e descascador (moinho) com as peneiras de separação da casca da amêndoa de oiticica. Três a cinco armazéns são destinados à recepção dos caroços de oiticica, a espera do seu devido beneficiamento (BAYMA, 1957; Figura 4).
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Figura 4. Armazém utilizado para depositar os caroços de oiticica antes do beneficiamento de pré-limpeza e de prensagem para extração do óleo. Foto: Arquivo da Brasil Oiticica S. A.
Em outras construções localizam as oficinas mecânicas, seção de filtragem e polimerização do óleo, casa de força, almoxarifado, caldeiras, piscina d’água etc. Para depósito do combustível para a caldeira e do óleo extraído, a usina conta com 7 tanques de capacidades variadas: dois tanques com capacidade de 240.000 litros cada um e um tanque de 80.000 litros, destinados a óleo combustível e mais 4 tanques de 120.000 litros cada um, sendo 2 para óleo diesel e 2 para a estocagem do óleo de oiticica. O transporte do óleo de oiticica é feito em caminhão tanque para ser embarcado em navios-tanque para o mercado externo, através do porto de Fortaleza, CE (BAYMA, 1957).
2. PROCESSO INDUSTRIAL 2.1 Extração de Óleo: Usina de Jaguaribe, CE No rendimento máximo de 32% na extração do óleo de amêndoas de oiticica pela indústria de Jaguaribe, utiliza-se inicialmente o processo de extração por prensagem para obter 24% do teor de óleo, sendo usada a torta na extração por solvente para extrair os 8% restantes. Independentemente do processo de extração utilizado, a preparação da matéria-prima (caroço de oiticica) normalmente passa por algumas etapas iniciais antes da extração em si: pré-limpeza, descascamento com trituração de amêndoas e cozimento. A extração de óleos de amêndoas de oiticica da usina de Jaguaribe, CE é feita sob
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prensagem mecânica de porte médio e complementado com o processo que emprega solvente (BEZERRA, 2000).
Uma vez adquirido a produção de oiticica dos agricultores extrativistas, o produto embalado em sacos de ráfia na carroceria do caminhão é destinado para o depósito da indústria processadora, onde os caroços secos são desensacados e armazenados a granel. Posteriormente, estes caroços são descarregados na moega (Figura 5) para submetê-los ao processo de beneficiamento. Através de um elevador mecânico, os caroços de oiticica são transportados a uma peneira de pré-limpeza, a qual é dotada de um mecanismo de vibração (Figura 6), cuja finalidade é a eliminação dos materiais estranhos contidos no produto (pedra, areia, material orgânico em forma de casca, folhas etc). Uma vez eliminadas as impurezas contidas no lote, os caroços vão se desembocar na moega adiante para o elevador de canelas efetuar sua alimentação diretamente na máquina descascadora (Figura 7). Essa passagem dos caroços na descascadora ou moinho é fundamental, pois é onde a casca é separada da amêndoa.
Figura 5. Na indústria, os caroços secos de oiticica provenientes do campo são depositados na moega e o elevador de canecas transportará tais materiais para a esteira de pré-limpeza. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 6. Peneira vibratória de pré-limpeza de caroços de oiticica para eliminação de pedras e areia. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Figura 7. Através da tubulação, o elevador de canecas alimenta com caroços secos de oiticica a máquina descascadora. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
A casca deve ser eliminada antes da prensagem para evita a retenção de óleo na torta e também, devido ao alto teor de clorofila que pode passar à gordura. Pela ação da máquina descascadora, as amêndoas são desgrudadas das cascas e transformadas em pequenos pedaços e, as cascas do caroço, em grandes pedaços. Estes materiais partidos de distintos tamanhos vão cair sobre outra esteira de furos maiores, os quais irão deixar passar os
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pequenos pedaços (amêndoas trituradas), mas vão reter os pedaços grandes (cascas). Nessa esteira vibratória, as cascas vão sendo deslocadas até alcançar uma zona de sucção produzida pela tubulação de um ventilador pneumático (Figura 8 A). Em seguida, as mesmas são transportadas por seus dutos para acumular em outro galpão. Mas é necessário ter cuidado com as cascas armazenadas, as quais podem liberar um pó inflamável (Figura 9) que chega a provocar incêndio de forma espontâneo nos prédios da indústria de oiticica, fato esse já ocorrido em Jaguaribe, CE. Na parte inferior da esteira de furos grandes, fica uma rampa inclinada que transporta por gravidade as amêndoas trituradas até o final de sua extensão, para então alimentar uma rosca sem fim conectada à outra moega (Figura 8 B).
Figura 8. A) Tubulação de sucção produzida por um ventilador pneumático para transportar as cascas fragmentadas dos frutos e B) Rosca sem fim alimentada por amêndoas trituradas pela máquina descascadora. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 9. Pó liberado diretamente da casca dos caroços de oiticica em função do processo de fermentação ou decomposição provoca fogo espontâneo quando armazenado. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Com a descarga do material feita na moega, às amêndoas trituradas vão sendo descarregadas numa segunda rosca sem fim, através de um elevador, e transportadas para abastecer pela parte superior as prensas do tipo expellers (Figuras 10 e 11). Fazendo parte do pré-tratamento da matéria-prima no processo de extração do óleo, as amêndoas trituradas são submetidas à temperatura de até 100°C num aparelho apropriado chamado de condicionador ou cozinhador (staker) embutido na parte superior da prensa mecânica de pressão contínua ou expeller. Este sistema de aquecimento é provido de pratos, cujo vapor quente circula entre as paredes laterais e na parte inferior do cozinhador com duplo estágio. No seu interior, as amêndoas vão descendo de prato em prato, perdem umidade e são aquecidas para reduzir a viscosidade e facilitar o seu esmagamento sob pressão efetuado pelas duas prensas mecânicas contínuas do tipo expellers.
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Figura 10. Elevador de canecas para alimentar a rosca-sem-fim e descarregar as amêndoas trituradas na parte superior das prensas extratoras tipo expeller. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
Figura 11. Prensas mecânicas de pressão contínua tipo expellers de extração de óleo de oiticica com cozinhador embutido de duplo estágio. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
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Vale salientar que o óleo se encontra na forma de glóbulos e está presente nas células das amêndoas de oiticica. Para que seja possível extrair o óleo é necessário que haja uma ruptura da membrana das células o que irá provocar a saída dos glóbulos. Tal ruptura no caso da prensa mecânica é dada pelo esmagamento das amêndoas sob pressão continua por meio de eixo helicoidal (Figura 12), girando a matéria prima dentro de um cilindro tubular para ser comprimida no final do eixo. Além disso, o cilindro é dotado de orifícios de saída de óleo em suas paredes laterais (Figura 13). No caso da usina de Jaguaribe, CE, a eficiência de sua prensa mecânica contínua com cozinhador embutido de duplo estágio tem alcançado rendimento industrial satisfatório de 24% de óleo com as amêndoas de oiticica.
Figura 12. Detalhe do eixo helicoidal da prensa mecânica de extração de óleo de oiticica. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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Figura 13. Parte do cilindro tubular com orifícios nas laterais de saída do óleo em função da compressão exercida pelo eixo helicoidal sobre a matéria prima. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
O óleo bruto passa por gravidade em três tanques decantadores feitos de alvenaria, embutidos abaixo do nível do solo, pois é no primeiro tanque pequeno que se recebe o óleo bruto diretamente das prensas extratoras. Esse óleo extraído pelo processo mecânico contínuo arrasta partículas da matéria prima que devem ser separadas por decantação, pois de forma progressiva esse óleo bruto consegue transbordar pela parte superior do primeiro para o segundo tanque e terminará desembocar no terceiro tanque de maior tamanho (Figura 14). Já a torta acumulada no fundo do primeiro tanque pequeno é transportada por lata de 20 litros para vários tambores (cada tambor com capacidade de 200 litros), que só depois de um determinado tempo de repouso, o óleo no seu interior vai subindo para se acumular na parte superior (Figura 15), cujo processo de separação do óleo fica então facilitado. Enquanto a massa da torta acumulada no fundo de cada tambor será posteriormente misturada com a torta gorda expelida diretamente pelas prensas mecânicas na rosca sem fim para submetê-la ao processo de extração química do óleo (solvente).
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Figura 14. Após a passagem nos dois primeiros taques, o óleo bruto decantado desemboca no terceiro tanque grande para ser bombeado diretamente para o tanque de aquecimento por vapor. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
Figura 15. Tambores de 200 litros para sedimentação da borra e separação do óleo. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Uma vez aquecido com vapor à temperatura de 120º C no tanque (Figura 16), o óleo é bombeado para ser submetido ao processo de filtragem (panos de filtro entre as placas), pois só assim se consegue uma filtragem eficiente das impurezas contidas no mesmo. No
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final, o óleo filtrado é bombeado para os tanques de armazenamento de grande volume (Figura 17).
Figura 16. A) Aquecimento a vapor do óleo bruto no taque de aço inox, B) As partículas contidas no óleo aquecido são retidas no filtro de prensa. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.
Figura 17. Tanque de armazenamento do óleo de oiticica. Foto: Vicente de Paula Queiroga.
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Na usina de óleo de oiticica de Jaguaribe, CE, a torta gorda resultante da prensa do tipo expellers é transportada por rosca-sem-fim (Figura 18) até sua descarga na moega instalada em outro compartimento separado, cujo setor é responsável pela extração química de óleo com solvente (hexano).
Figura 18. Rosca-sem-fim que transporta a torta gorda produzida pela prensa mecânica para o compartimento de extração de óleo com solvente. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
2.2 Extração química do óleo A indústria de extração de óleo com solvente desenvolveu um tecnologia que permite abastecer o exaustor com torta gorda de oiticica, ou seja, a partir da prensa mecânica tal material é transportado por uma rosca sem fim para alimentar uma moega. Através de um elevador de canecas, a torta é novamente transportada por um sistema de rosca sem fim que irá conectar separadamente com a boca de alimentação na parte superior, em forma de funil, de cada exaustor (Figura 19). Vale salientar que no processo de químico de extração de óleo, a torta de oiticica passa essencialmente por sete etapas.
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Figura 19. A) Rosca-sem-fim distribui a torta gorda em cada boca do funil na parte superior da plataforma; e B) na parte inferior da plataforma, cada exaustor é abastecido com torta de oiticica por meio desses funis. Usina de Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
No Extrator (Figura 20), coloca-se a mistura de torta de oiticica e solvente, na proporção de 14 tambores de 200 L de hexano para 1200 kg de torta, que passa por um processo de aquecimento numa temperatura que varia entre 55 e 65 ºC, gerando um composto de óleo, água resultante da perda de umidade da torta e bagaços de casca. O solvente, água e óleo seguem para a próxima etapa do destilador, através do bombeamento de um motor elétrico. Os resíduos que ficam nos extratores são chamados, na indústria, de borra. Essa borra pode ser utilizada como adubo para a atividade agrícola ou na alimentação animal.
Figura 20. Conjunto de extratores da indústria de extração de óleo de oiticica. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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O Destilador é responsável pela separação da mistura de solvente e água do óleo aquecido (Figura 21). O solvente e a água evaporam pelo processo de aquecimento para o condensador, ficando o óleo de oiticica retido no fundo desse tanque. No Condensador (Figura 22), com o uso da água fria da piscina ou caixa dágua, a mistura de solvente e água, é resfriada, voltando ao estado líquido. A água que passou pelo condensador retorna aquecida à piscina (Figura 23) e esfria naturalmente para ser reaproveitada. Depois do condensador, a mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no Separador (Figura 24), sendo que este sistema opera com o nível de 60% de água. Enquanto, o solvente retorna por gravidade para o Tanque Original para ser reaproveitado (Figura 25). Segundo o técnico de produção, ao longo de todo o trajeto do solvente, há perdas na ordem de 5% (CARVALHO, 2005).
Figura 21. Mediante aquecimento no destilador, processa a separação do óleo de oiticica do solvente e água. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 22. A mistura do solvente e água (vapor) retorna ao seu estado líquido no condensador. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 23. A) Água da piscina usada pela caldeira para produzir vapor aquecido e B) Vapor quente circula pelos canos serpenteados no interior do tanque para aquecer o óleo extraído por solvente e por prensa mecânica, auxiliado por um agitador com palhetas (eixo central). Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 24. A mistura de água e solvente é separada por diferença de densidade no tanque separador, sendo mantido um nível de 60% de água no seu interior. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 25. Tanque original para armazenar o solvente (hexano) usado no processo industrial de extração de óleo da torta de oiticica. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
A Caldeira, movida à lenha ou com borra de oiticica (Figuras 26 e 27), responde pela oferta de vapor necessário ao processo industrial de extração de óleo de oiticica. O vapor é utilizado, especialmente, nos extratores, destiladores, cozinhador embutido em cada prensa, no tanque de aquecimento para o processo de filtragem do óleo óleo bruto extraido das amêndoas de oiticica pelas prensas mecânicas e no processo de fabricação de sabão
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com óleo de oiticica da própria usina de Jaguaribe, CE, denominado de Sabão Jaguaribano. Essa caldeira consome água da piscina para os processos de formação de vapor (CARVALHO, 2005).
Figura 26. Caldeira movida à lenha ou borra de oiticica para gerar vapor ao processo industrial de extração de óleo de oiticica por solvente ou por prensa mecânica. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 27. Resíduos sólidos ou borras geradas pelo processo de extração do óleo por solvente no interior do extrator. Usina de Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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A energia elétrica é usada, principalmente, na movimentação de motores que bombeiam o óleo líquido de oiticica de um recipiente para outro (óleo bruto de oiticica tem facilidade de se solidificar), assim como para transposição da água da piscina para resfriar o solvente no condensador. Por sua vez, o solvente hexano utilizado é preferido no processo de extração pelo seu excelente poder de solvência para um grande número de sementes oleaginosas e, também, por ser o mais seletivo, possuir estreita faixa de ebulição e ser imiscível com a água. A sua facilidade de separação do óleo permite simplificar o processo de recuperação desse solvente. Nesse processo geral de extração do óleo de oiticica, a maior parte de consumo do solvente ocorre, pela perda, na fase de aquecimento nos extratores e no seu resfriamento no condensador, para, em seguida, retornar ao tanque original e ser reaproveitado (CARVALHO, 2005).
2.3 Extração de Óleo: Usina de Orós-CE
Na indústria de extração de óleo de oiticica de Orós, CE, o planejamento operacional da usina está dividida em três setores distintos: pré-limpeza com extração mecânica do óleo, filtração e processo de polimerização, sendo que alguns equipamentos implantados em tais setores são alimentados pelo vapor da caldeira com temperatura de 120 ºC. Ao ser eliminadas pelo moinho e transportadas pela tubulação do sistema pneumático existentes no setor de pré-limpeza com extração mecânica, as cascas de oiticicas vão se acumulando no compartimento ao lado onde funciona a caldeira, servindo como combustivel para produzir vapor ao queimá-las na caldeira. A unidade de pré-limpeza dos caroços é parecido a uma mesa de gravidade com peneiras de furos maiores e vibrador para permitir a eliminação dos materiais estranhos contidos nos caroços (Figura 28). Esses caroços sem impurezas vão alimentar uma moega, os quais serão transportados por um elevador de canecas para abastecer uma máquina de descascadora de grande porte (Figura 29), pois é numa peneira que as cascas em maiores pedaços são separadas das amêndoas trituradas em pequenos pedaços (Figura 30).
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Figura 28. Peneirão de pré-limpeza dos caroços de oiticica. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 29. Elevador de canecas transporta os caroços para alimentar a máquina descascadora ou moinho por meio de um tubo. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 30. Tubulação de sucção produzida por um ventilador pneumático para transportar as cascas fragmentadas dos frutos, sendo separadas das amêndoas através da peneira. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Com a descarga do material feita na moega, às amêndoas trituradas vão sendo descarregadas numa segunda rosca sem fim, através de um elevador, e transportadas por rosca-sem-fim para abastecer pela parte superior uma prensa de grande porte do tipo expeller (Figura 31). Fazendo parte do pré-tratamento da matéria-prima no processo de extração do óleo, as amêndoas trituradas são submetidas à temperatura de até 100°C num aparelho apropriado chamado condicionador ou cozinhador com triplo estágio, embutido na parte superior da prensa mecânica. O condicionamento térmico da matéria prima (amêndoas trituradas) antes de ser alimentada na prensa irá auxiliar na redução da umidade e no aumento da temperatura do material, facilitando assim o processo de extração pela maior fluidez do óleo. A torta gorda resultante do processo de extração mecânica será transportada por rosca-sem-fim para se acumular em outro armazém adjacente, pois na usina de oiticica de Orós, CE não existe o processo de extração com solvente do óleo da torta ou amêndoa triturada.
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Figura 31. Prensa mecânica de pressão continua tipo expeller de extração de óleo de oiticica com cozinhador embutido de triplo estágio. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Por outro lado, o óleo bruto extraido pela prensa mecânica passa por três tanques decantadores instalados abaixo do piso, sendo que, apenas o óleo acumulado no último tanque de alvenaria (Figura 32), é bombeado através de tubulação para os outros tanques de aço do compartimento específico de filtração. Uma vez aquecido com vapor da caldeira (Figura 33) à temperatura de 120º C no tanque (Figura 34), o óleo é bombeado para ser submetido ao processo de filtragem (panos de filtro entre as placas), pois só assim se consegue uma filtragem eficiente das impurezas contidas no mesmo. Ao mesmo tempo, o óleo filtrado está sendo bombeado para o setor de polimerização para ser armazenado no tanque com capacidade de 6.000 litros.
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Figura 32. Tanques de decantação do óleo bruto instalados no fosso e cobertos por uma tampa. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 33. Caldeira movida à casca ou torta de oiticica ou óleo (ácidos graxos) para gerar vapor ao processo industrial de extração de óleo de oiticica na prensa mecânica. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 34. A) Aquecimento a vapor do óleo bruto nos tanques de aço, B) As partículas contidas no óleo aquecido são retidas no filtro de prensa. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
2.4 Setor de Polimerização O óleo de oiticica é bombeado do setor de filtagem para um tanque de estocagem com capacidade de 6.000 litros (Figura 35), o qual se encontra instalado no setor de polimerização (Figura 36). Por ser um tanque dotado de serpentinas e um agitador mecânico, o óleo é aquecido a temperatura de 120 ºC pelo vapor produzido na caldeira, o qual fica circulando no interior das serpentinas. Em seguida, adiciona-se a quantidade de 500 kg desse óleo no tacho de aço inox (1,12 metro de altura x 1,00 metro de diâmetro) que se encontra encaixado sobre o carrinho de ferro (Figura 37). Para facilitar sua movimentação dentro do setor de polimerização, o tacho fica posicionado o tempo todo sobre um carrinho manual de ferro (Figura 38).
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Figura 35. Cada tanque com capacidade de 6.000 litros, dotado de serpentinas e agitador mecânico para aquecer o óleo a 120 ºC pelo vapor produzido na caldeira. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Figura 36. Distribuição dos equipamentos no setor de polimerização: dois tanques de armazenamento de óleo, sendo cada com capacidadade 6.000 litros (lado direito); um condensador (lado esquerdo) e dois fornos (ao fundo). Dimensão do setor de polimerização: 10 m x 17 m. Usina de Orós, CE.
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Figura 37. Abastecimento do tacho com 500 kg de óleo de oiticica à temperatura de 120 ºC retirados do tanque de 6.000 litros. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 38. A) Tacho separado da carrinho de ferro e B) tacho encaixado no carrinho de ferro. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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Por ser a polimerização do óleo um processo em batelada, que é realizado de acordo com uma receita, pois exige a intensa presença de trabalho humano em todas as etapas do processo de polimerização. Em primeiro lugar, o tacho terá que receber a quantidade exata de 500 quilos de óleo com 120 ºC de temperatura armazenado no tanque de 6.000 litros. Para regular a quantidade de óleo dentro do tacho, coloca-se uma medida em forma de “T” que fica apoiado sobre a borda do tacho (Figura 39) e que possui uma vareta de 50 cm de profundidade, correspondendo então a metade do volume do óleo dentro do tacho (ou 500 kg).
Figura 39. Medidores em forma de “T” para controlar o vulume de óleo dentro do tacho: varetas com 50 cm e 40 cm. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Um vez abastecido o tacho com 500 kg de óleo, o carrinho de ferro é conduzido para a segunda etapa do processo de polimerização: forno de aquecimento do tacho com óleo. Seu revestimento interno é de tijolos reflatários (1,30 m de profunidade e 0,90 m de diâmetro; Figura 40), enquanto ao lado da borda do forno, que representa o piso do armazém, dois trilhos de cantoneiras são montados para a movimentação das duas rodas do carrinho (Figura 41). Esses trilhos irão permitir a retirada imediata do tacho sobre o carrinho de ferro em aquecimento no forno, quando o óleo atingir a temperatura máxima de 230 ºC. Ou seja, esse óleo de oiticica com temperatura acima de 230 ºC pode queimar com facilidade, caso o tacho montado sobre o carrinho de ferro não seja retirado do forno com rapidez.
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Figura 40. Forno revestido de tijolos reflatários, usado no aquecimento do óleo de oiticica. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 41. Tacho com carrinho de ferro posicinado sobre os trilhos para agilizar sua retirada do forno, sendo a temperatura do óleo controlada pelo ternômetro industrial. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Adjacente ao fosso do forno existe outro fosso retangular mais largo e com profundidade aproximada de 2,00 m, que é usado para introduzir um maçarico no interior do forno, por meio de um cano grosso de aço que fica interligado a parte inferior do forno. Além de permitir a entrada de um operário no seu interior (Figura 42), esse último fosso (retangular) foi projetado para controlar a torneira de regulagem da chama do maçarico e também para facilitar a instalação da tubulação que alimenta o fogo do maçarico no interior do forno (Figura 43).
Figura 42. Pequena entrada com escada para interior do fosso retangular para o operário controlar a chama do maçarico desde a parte inferior do forno até atingir o tacho na parte superior. Usina de Orós, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 43. Parte interna do fosso retangular por onde passa a tubulação que alimenta o fogo do maçarico. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
A combustão produzida pelo maçarico é alimentada pelo óleo quente de castanha (mais barato) que circula na tubulação do fosso retantular, proveniente de um tanque dotado de serpentinas, instalado na parte externa do setor de polimerização (Figura 44), que é aquecido pelo vapor da caldeira na temperatura máxima de 120 ºC. Com esta temperatura elevada (120 ºC), o óleo de castanha passa a ficar mais fino, tornando-se assim mais inflamável. Ou seja, durante o aquecimento no forno do tacho com óleo de oiticica, o óleo quente de castanha fica circulando na tubulação principal a partir do tanque de armazenamento e seu excedente fica retornando pela mesma tubulação para o próprio tanque de origem. Entretanto, no interior do fosso retangular existe um ponto de bifurgação da tubulação principal para o óleo de castanha quente alimentar diretamente o maçarico, consequentemente irá provocar sua combustão.
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Figura 44. Tanque de armazenamento de óleo de castanha, tubo de passagem de óleo, (ambos com serpentina), filtro e motor, instalados na parte externa do setor de polimerização. Foto: Vicente de Paula Queiroga
O tacho com óleo de oiticica encaixado no carrinho de ferro fica estacionado em cima da boca do forno para receber fogo direto produzido pelo maçarico, o qual é instalado na parte interna do fosso. Ao atingir o ponto de fervura, o óleo se eleva de volume dentro do tacho pela ação do calor provocado pelo maçarico. Para melhora a eficiência do processo de agitação do óleo em aquecimento, utiliza um compressor com a extremidade da mangueira conectada a um tubo de ferro, que fica introduzido na massa de óleo em aquecimento. Esse ar insuflado na massa evita que o óleo não borbulhe, consequetemente, não irá transbordar do tacho. Para controlar a temperatura do óleo, um termômetro industrial fica instalado dentro do tacho de óleo (Figura 45). Com a temperatura aproximando da marca de 200 ºC, a massa de óleo quente irá baixar normalmente de volume. Mesmo assim, a massa de óleo deve ser fervida até registrar no termômetro a temperatura máxima de 230 ºC (BAYMA, 1957). Ao atingir tal temperatura, o carrinho com o tacho de óleo sobre os trilhos de cantoneira é puxado rapidamente do forno, evitando assim ultrapassar tal temperatura e queimar o óleo.
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Figura 45. Termômetro industrial usado para controlar a temperatura do óleo dentro do tacho e o carrinho de ferro posicinado sobre o forno. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Visando agilizar o processo de polimerização, o tubo do compressor megulhado no óleo com a temperatura alcançando a marca de 200 ºC é transferido para o tacho do segundo forno, cujo óleo se encontra em fase inicial de fervura. Ao mesmo tempo, o terceiro tacho com carrinho de ferro fica abastecido com óleo de 120 ºC, esperando a saída do tacho no primeiro forno em fase final de polimerização. Esse trabalho de polimerização bastante sicronizado é executado por dois operários. Na terceira etapa do processo de polimerização, o carrinho com o tacho de óleo na temperatura de 230 ºC é levado para o processo de resfriamento ou condensador (Figura 46). Para evitar que o óleo superaquecido não seja coagulado ou solidificado (resinado), o segredo é adicionar mais 100 kg de óleo com temperatura de 120 ºC, aquecido pelo vapor da caldeira no tanque de 6.000 litros. Por meio de um tubulação, os 100 kg de óleo com 120 ºC é bombeado para dentro do tacho que contém 500 kg de óleo à 230 ºC, o qual fica posicionado junto ao condensador (Figura 47). Esse adicionamento do óleo controle é regulado também por uma medida em forma de “T”, sendo que a profunidade da vareta é de apenas 40 cm, que corresponde a 10 cm de altura do volume do óleo (ou 100 kg) dentro do tacho. Com uma palheta de madeira, o operário efetua a mistura do óleo com as distintas temperaturas (Figura 48).
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Figura 46. Resfriamento do óleo no condensador. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 47. Tacho com óleo superaquecido sobre o carrinho de ferro posicionado junto ao condensador. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 48. Antes de submeter ao resfriamento, adiciona-se no tacho com 500 kg de óleo superaquecido à 230 ºC mais 100 kg de óleo de 120 ºC e efetua, através de uma palheta, a mistura de ambos. Usina de Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Ainda depositado no tacho, o óleo quente segue para o processo de resfriamento, através do bombeamento de um motor a vapor, vulgarmente denominado de burrinho (Figura 49). No condensador, com uso de água fria da piscina ou caixa dágua, o óleo é resfiado, enquanto a água que retorna do condensador para a piscina é quente (Figura 50). Vale destacar que o óleo de oiticica apresenta-se como liquido transparente ou gordura (resina esponjosa; Figura 51) conforme a temperatura ambiente; aquecido a 230°C e depois resfriado durante alguns minutos no setor de polimerização da indústria de extração de óleo de Orós, CE, torna-se permanentemente liquido e fornece, pela secagem, películas lisas e resistentes. Assim estabilizado, o produto recebe o nome comercial de "óleo polimerizado" (PINTO, 1963). Finalmente, esse óleo é bombeado pela pressão do burrinho para os tanques com grande capacidade de armazenamento.
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Figura 49. O óleo superaquecido é bombeado pelo burrinho a vapor a partir da tubulação apontada com a mão, passando pelo processo de resfriamento no condensador e terminando no tanque de armazenamento. Usina de Orós, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga
Figura 50. O condensador com os dois canos (abaixo), sendo um de entrada de água fria e o outro de saída de água quente. Usina de Orós, CE. Foto de Vicente de Paula Queiroga
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Figura 51. Resina esponjosa do óleo de oiticica na forma sólida, conforme a variação da temperatura ambiente. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Dependendo da habilidade profissional da equipe, o processo completo de polimerização do óleo de oiticica, que envolve as três etapas de enchimento do tacho com óleo a 120 ºC de temperatura, aquecimento do tacho no forno e resfriamento do óleo, podem ser realizadas entre 30 a 40 minutos em cada batelada, produzindo 12.500 litros de óleo polimerizado no final de 10 horas de trabalho. Em geral, o setor de polimerização do óleo terá que contar com uma estrutura de 2 fornos em operação e ser auxiliado por 3 carrinhos de ferro com seus respectivos tachos, quando se tem por meta atender uma produção em grande escala de óleo polimerizado, que é o exemplo da usina de óleo de oiticica de Orós, CE. Além disso, Bayma (1957) relatou que o experimento com óleo de oiticica, desenvolvido no processo de polimerização à temperatura de 230 ºC durante 26 minutos apresentou no final as seguintes características: cor amarelo-dourado, não se solidificou na geladeira a 3 ºC durante 8 dias e era solúvel no éter, petróleo e querosene. Entretanto, seu peso foi diminuído em 0,31%. Segundo o mesmo autor, a polimerização do óleo de oiticica em tacho aberto não foi conseguida com a temperatura abaixo de 220 ºC, ou seja, o óleo não permanecia liquefeito na estação do inverno. Dependendo do caroço, se é de safra recente ou velha (safra do ano anterior), a temperatura de polimerização pode ser alterada. No caso do óleo do caroço novo, por conter mais umidade, irá suportar temperatura entre 250 a 270 ºC para conseguir a polimerização e sua coloração muda para verde. A cor verde surge no aquecimento do
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óleo por haver sido empregado no processo caroço novo, em conseqüência da presença da clorofila (BAYMA, 1957). Para óleo de caroço velho, a temperatura de polimerização fica entre 220 a 230 ºC, pois utilizando temperatura mais elevada o óleo passa a soltar fumaça, sinal que está queimando por assumir uma cor preta, o que o torna imprestável para uso industrial.
2. CARACTERÍSTICAS DO ÓLEO No seu estado natural ou bruto, o óleo de oiticica extraído dos caroços por prensagem ou por solventes, apresenta-se sob a forma de liquido ligeiramente amarelo (Figura 52) e por suas qualidades secativas têm grandes aplicações nas indústrias de tintas e vernizes. Ou seja, o óleo da oiticica apresenta alta secatividade e outras propriedades, como índice de refração médio de 1,515 (25 ºC) e 1,509 (40 ºC), tempo de gelatinização médio de 22 minutos a 280-300 ºC (Tabela 2). Quanto à composição química, salienta-se entre seus ácidos graxos o licânico (70 a 80%) e o linolênico (10 a 12%), com pequenas quantidades de ácido oléico, palmítico e esteárico (PINTO, 1963).
Figura 52. Óleo de oiticica com coloração ligeiramente amarelo. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Tabela 2. Características físico-químicas do óleo de oiticica. Características
Valores Extremos
Valores Médios
Densidade (a 25 ºC)
3
0,958 a 0,971 g cm
0,960 g cm3
(a 40 ºC)
0,947 a 0,960 g cm3
0,953 g cm3
Refração (a 25 ºC)
1,510 a 1,518
1.515
(a 40 ºC)
1,504 a 1,512
1,509
45 a 54 ºC
52 ºC
0,3 a 1,7 mL
1,0 mL
186 a 203 mgKOH/g
194 mgKOH/g
133 a 152 cg l2 por 100 g
140 cg l2 por 100 g
0,4 a 0,9%
0,5%
18 a 24 minutos
22 minutos
Título Índice de acidez (comercial) Índice de saponificação Índice de iodo Insaponificáveis T. gelatinação (280-300 ºC) Fonte: Pinto (1963).
Vale destacar que no final do ano de 1934, fundou-se a Brasil Oiticica, a quem o país deve o assinalado serviço do aproveitamento da latente riqueza do Nordeste do Brasil representada pela oiticica. O óleo de oiticica na época começou a encontrar dificuldades sérias quanto a sua aceitação por parte do mercado americano, em virtude da falta de uniformidade e de outros defeitos que as fábricas pequenas, mal aparelhadas de recursos materiais e técnicos, não podiam evitar (BAYMA, 1957). Diante das perspectivas desanimadoras, o presidente da Brasil Oiticica salvou do desastre a indústria extrativista brasileira. Seu espírito de iniciativa e de empreendedorismo conseguiu reunir os técnicos mais experimentados da “Condor Oil Tintas S. A., a fim de que visitassem em sua companhia todas as fábricas decepcionadas nos USA com o emprego do óleo de oiticica. A princípio de 1939, a padronização do óleo exportado pela Brasil Oiticica estava de conformidade com as exigências do mercado americano. Essa padronização consistiu no estabelecimento de dois tipos definidos do produto, com as especificações e constantes que se seguem na Tabela 3 (BAYMA, 1957).
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Tabela 3. Padrões físico-químicas do óleo de oiticica exigidos pelo mercado americano. TIPO OITIOIL Viscosity (Gardner-Holdt 25 ºC) Colour (Gardner Standards) Gelling Time (A.S.T.M. Heat Test) Free Fatty Acids
CARACTERISTICAS L to Q 12 22 minutes 3.5%
TIPO CICOIL Viscosity (Gardner-Holdt 25 ºC) Colour (Gardner)
W to Y 9-11
Heating Test (A.S.T.M.)
Max. 17 minutes
Specific Gravity (920 ºC)
0.9770 to 0.9880
Ref. Ind. (25 ºC)
1.5090 to 5.5130
Acid Value
Max. 4% F.F.A.
Saponification Value
186 - 193
Insaponifiable Matter
1.5%
Equivalente Gelling Time (Brown Heat) Max.
15 minutes
Fonte: Bayma (1957)
3. CARACTERÍSTICAS DA TORTA O ensacamento da torta de oiticica para ser comercializada pode provocar fogo espontâneo caso ela esteja com teor de óleo excessivo (Figura 53). Para reduzir esse teor de óleo na torta é necessário apertar mais a coroa circular na extremidade do eixo helicoidal da prensa mecânica, visando pressionar a bucha cônica para dentro do anel de saída da torta. Com menos óleo, a torta não oferece risco de queima espontânea. A própria usina pode usá-la como combustível na caldeira de vapor ou vendê-la para ser usada também na caldeira da indústria de cimento de Barbalha, CE. Raramente a torta é fornecida como alimento animal em mistura com outras rações, pois quando é ingerida pura causa diarréia nos animais. Ao contrário da borra, resultante da extração do óleo de oiticica pelo processo químico que pode ser utilizada sem problema na alimentação animal.
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Figura 53. Torta de oiticica queimada resultante do fogo espontâneo. Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
De acordo com Bayma (1957), as cascas dos frutos de oiticica (Figura 54), as quais são separadas das amêndoas nos descascadores das fábricas na fase inicial de industrialização, são bem aceitos como alimentação pelos bovinos. Enquanto a torta por apresentar um cheiro repugnante e efeito purgativo (Figura 55), difere bastante da casca por não possui cheiro e não conter óleo residual. Mesmo assim, a casca é considerada um material fibroso com baixo valor nutricional que pode ser misturado com a palma triturada para alimentação dos animais.
Figura 54. Cascas dos frutos de oiticica separadas pelo moinho ou descascador. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 55. Torta de oiticica resultante da prensagem mecânica de frutos velhos colhidos de safra anterior. Orós, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
4. CUSTOS DE AQUISIÇÃO E BENEFICIAMENTO DA OITICICA PELA USINA DE ORÓS, CE
De acordo com os dados levantados pela usina de oiticica de Orós, CE em 20 de outubro de 2011 para aquisição e extração de 1.000 tons de caroços de oiticica, sendo que o óleo extraído foi comercializado para uma indústria de São Paulo e a torta foi utilizada na caldeira de vapor da indústria de cimento de Barbalha, CE (Tabela 4).
Tabela 4. Custos de aquisição e beneficiamento da oiticica pela usina de Orós, CE, sendo os valores cotados em 20 de outubro de 2011. DISCRIMINAÇÃO
Caroços de Oiticica
PREÇOS (R$) ou
VALOR TOTAL
PERCENTUAIS
(R$)
5,00/arroba = 0,33/kg
Óleo de Oiticica Posto em São Paulo, SP
3,80/kg
Torta de Oiticica Posta em Barbalha, CE
150,00
Rendimento do Óleo
25%
Rendimento da Casca
22%
Rendimento da Torta
41%
Impurezas e Perdas
12%
C a p í t u l o I I | 149 FATURAMENTO Óleo (rendimento 25%): 1.000 tons x 25% = 250 ton 250 ton x 3.800,00 =
950.000,00
Torta (rendimento 41%): 1.000 ton x 41% = 410 ton 410 ton x 150,00 =
61.500,00
1.011.500,00
DESPESAS Aquisição de Caroços 1.000.000 x R$ 0,33 =
334.000,00
ICMS da Oiticica 1.000.000 x 0,33 x 0,17%
56.660,00
Comissão do Corretor (2%) 250.000 kg de Óleo a R$ 3,80 – 2%
19.000,00
PIS/COFINS S/Torta 3,65% x s/R$ 61.500,00
2.244,75
PIS/COFINS S/Óleo 3,65% x s/R$ 950.000,00
34.675,00
Frete de Óleo para São Paulo 250.000 kg x R$ 0,25
62.500,00
Esmagamento de Caroços 1.000.000 kg x R$ 0,10/kg = TOTAL DO FATURAMENTO
100.000,00
609.079,75 1.011.500,00
TOTAL DAS DESPESAS
609.079,75
LUCRO
402.420,25
Fonte: José Wellington Costa Rolim (Diretor Superintendente da Usina Eliseu Batista S/A Comércio e Indústria de Orós, CE).
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAYMA, C. Oiticica. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola. Produtos Rurais, n.1, 1957, 143p.
BEZERRA, R. T. R. Extração do óleo de babaçu (Orbignia martiana) por prensagem contínua. 2000. 73f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Viçosa, 2000.
BAUTISTA, H. P. Espécies arbóreas da caatinga: sua importância econômica. In: Simpósio sobre caatinga e sua exploração racional, 1984. Feira de Santana, Anais... 1986. Feira de Santana, 117-140.
CARVALHO, F. P. A. Eco-eficiência na Produção de Pó e Cera de Carnaúba no Município de Campo Maior (PI). 2005. 157f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2005.
DUQUE, J. G. O Nordeste e as Lavouras Xerófilas. 4. ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2004. 330p.
PEIXOTO, A. R. Oiticica (Licania rigida, Benth). In: PEIXOTO, A. R. Plantas oleaginosas arbóreas. São Paulo: Livraria Nobel S. A, 1973. p.227-245.
PINTO, G. P. Oiticica. In: PINTO, G. P. Características físico-químicas e outras informações sobre as principais oleaginosas do Brasil. Recife: Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuárias do Nordeste. 1963. p.47-49 (Boletim Técnico, 18).
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Capítulo III
APROVEITAMENTO ENERGÉTICO E INDUSTRIAL DA OITICICA
(Autores)
Vicente de Paula Queiroga Carlos Renato Cavalcante Barbosa Paulo de Tarso Firmino Francisco de Assis Cardoso Almeida
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1. PRODUÇÃO DE BIODIESEL COM ÓLEO DE OITICICA
1.1 Introdução Com o advento do biodiesel produzido pela transesterificação de óleos vegetais, aliado ao fato do Brasil ser considerado um país privilegiado pela diversidade de oleaginosas, poderá despertar grande interesse por parte dos produtores do semiárido em manejar as oleaginosas nativas em que o extrativismo pode ser explorado (NOGUEIRA; PIKMAN, 2002; PARENTE, 2003). Entre as oleaginosas com potencial econômico para produção de biodiesel tem-se a oiticica, pois esse novo segmento da cadeia produtiva irá permitir que a mesma ganhe maior competitividade no mercado energético pelo seu elevado teor de óleo (superior a 60%), podendo até mesmo ser incentivado o estabelecimento de novos plantios com a espécie Licania rigida.
A oiticica da família Chrysobalanaceae é uma espécie ciliar dos cursos de água temporários do semiárido nordestino, e tem grande importância, quer pelo aspecto ambiental de ser uma espécie arbórea perene sempre verde que preserva as margens dos rios e riachos temporários na região da caatinga, quer como espécie produtora de óleo. Essa espécie está concentrada nas margens das bacias hidrográficas nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba (MELO et al., 2010).
Esta planta produz como fruto uma drupa fusiforme ou ovalada, de 2,5 cm a 7,5 cm de comprimento, cujo caroço se apresenta envolvido por uma massa fibrosa e amarelado (ABOISSA, 2006). No caroço de um fruto maduro contém uma amêndoa rica em um óleo secante, atualmente empregado na indústria na indústria de tintas de automóvel e para tintas de impressoras jato de tintas, além de vernizes e outros fins como potencial para a sustentabilidade do biodiesel no semiárido, constituindo-se assim numa fonte de renda e de absorção de mão de obra para muitas famílias rurais na época da safra e como manutenção de colméias de apicultores no período mais seco do ano (PALMEIRAS, 2006).
O Governo Federal está empenhado em promover a introdução do biodiesel na matriz energética nacional, pois a idéia principal é transformar a matéria-prima renovável em combustíveis alternativos aos derivados de petróleo, visando baixo custo de produção com alta eficiência e menor impacto ambiental (MELO et al., 2006). Nesse contexto, a
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produção de biodiesel associada ao extrativismo e à produção agrícola familiar tem recebido atenção especial, pois, representa uma oportunidade de inclusão social para pequenos produtores. Por se tratar de uma fonte de energia renovável, o óleo de oiticica constitui-se em importante matéria-prima para essa produção de biocombustível (SILVA, 1994).
1.2 Extração Mecânica do Óleo de Oiticica A extração do óleo de oiticica pode ser realizada por prensagem, por extração com solventes ou por combinação pelos dois métodos. Após efetuar a separação da amêndoa no processo de pré-limpeza para eliminação da casca do caroço, a extração por prensagem consiste em submeter às amêndoas de oiticica ao aquecimento e esmagamento sob pressão do eixo helicoidal da prensa expeller, para facilitar o escoamento do óleo, através das células do material. A pressão é específica para as amêndoas de oiticica, enquanto a temperatura pode oscilar entre 100 a 120ºC. A extração por solventes seja como uma operação isolada ou como uma operação complementar à prensagem, vem adquirindo uma grande importância técnica e econômica, tendo em vista, os altos rendimentos de 32% de óleo de oiticica obtidos pela indústria Sabão Jaguaribano de Jaguaribe, CE em relação aos 24% de óleo obtido pela indústria de Orós, CE, que utiliza apenas a prensagem mecânica.
1.3 Extração Química do Óleo A determinação do teor de óleo da amêndoa de oiticica foi realizada no Laboratório da Embrapa Algodão, por extração em 50 mL de hexano, em 2 g da amostra triturada, no extrator de Randall (Figura 1), por 8 horas (RANDALL, 1974; AZEVEDO FILHO et al., 2007), cujo processo conseguiu extrair os teores de 61,11, 56,83 e 17,75% de óleo, que corresponderam aos frutos de oiticica armazenados aos 7 (semana), 30 (mês) e 365 dias (ano), respectivamente (QUEIROGA et al., 2013). Estes resultados estão de conformidade com os obtidos por Stragevitch et al (2005), de que a variabilidade no teor de óleo depende dos graus de maturação variados dos frutos de oiticica (BAYMA, 1957; PINTO, 1963; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007).
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Figura 1. Extração de óleo da torta moída de oiticica pelo processo químico, utilizando o solvente hexano no extrator Randall. Laboratório da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Quando se determinou o teor de óleo da amêndoa de oiticica no laboratório do Centro de Tecnologia Estratégicas do Nordeste (CETENE), por extração em 80 mL de hexano, em 15 g da amostra triturada, no extrator soxhlet (Figura 2), por duas horas a uma temperatura de 80°C, Melo et al. (2006) detectaram um teor médio de óleo de 54% em base seca, após a separação do solvente pelo processo de destilação. Inclusive, houve uma variabilidade de 2% no teor de óleo entre diferentes tipos de amostras que foi atribuída a diversos fatores, tais como: variabilidade genética, graus de maturação variados e diferentes estados de conservação dos frutos.
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Figura 2. Extração de óleo da torta moída de oiticica pelo processo químico, utilizando o solvente hexano no extrator de Soxhlet, tendo gerado um co-produto: Borra ou farelo desengordurado de amêndoas, usado como ração animal ou combustível para a caldeira de vapor. Fotos: Vicente de Paula Queiroga A extração química de óleos vegetais em maior escala, denominado de extração com solvente, utiliza uma mistura de hidrocarbonetos denominada de "hexano" (fração do petróleo) com ponto de ebulição ao redor de 70ºC que passa pela matéria prima devidamente preparada. Esta passagem do solvente pela matéria prima é denominada "lavagem" e sua eficiência será maior quando o contato com as células de óleo for facilitado pela exposição de uma superfície maior (através da moagem das amêndoas). O óleo da matéria prima que está na superfície é retirado por simples dissolução, e o óleo presente no interior de células intactas são removidos por difusão. Assim, a velocidade de extração do óleo decresce com o decurso do processo. Mesmo com a extração por solvente não se tem uma eficiência de 100%, pois o farelo ficará ainda com um teor de 0,5 a 0,6% (em geral 1%) de óleo. A mistura de óleo com solvente é chamada de "miscela" e o equilíbrio no sistema óleo-miscela-solvente é o fator que determina a velocidade de extração. A difusão do solvente será mais rápida quanto melhor for à preparação da matéria prima e quanto maior for à temperatura de extração (próximo à temperatura de ebulição do solvente). A extração não é completa, pois o farelo geralmente apresenta um teor de 0,5 a 2,0% de óleo. Posteriormente é necessário fazer uma nova destilação, para separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006).
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Outro método para extração de óleos de amêndoas trituradas de oiticica pode ser realizado através do sistema de Extração por Arraste de Vapor. A extração desses óleos é feita por destilação. Uma corrente de vapor passa pela matéria prima e arrasta com ela o óleo. Quando esse vapor condensa, temos dois líquidos imiscíveis: água e óleo. A Ecirtec dispõe de vários modelos com diversas capacidades de produção (Figura 3).
A
B
Figura 3. Extração por arraste de vapor dorna: A) equipamento com capacidade de 15 litros e B) equipamento com capacidade de 500 litros. Fotos: Adilson Manzano.
A produção de biodiesel com oiticica na região semiárida do nordeste do Brasil é relativamente recente. Assim, poucas informações estão disponíveis sobre o comportamento da referida espécie nas áreas produtoras de caroços devido às distintas épocas de colheita da planta (entre dezembro e fevereiro), quando os frutos se completam, amadurecem e caem. Diante da grande demanda do mercado de biodiesel falta gerar mais informações desta espécie quanto à variabilidade no rendimento de óleo da amêndoa triturada, extraído pelo método químico, o qual depende dos graus de maturação variados dos frutos de oiticica e da conservação dos frutos colhidos (BAYMA, 1957; PINTO, 1963; BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007).
Em geral, nos processos de extração em que se inclui a etapa de extração com solvente, o farelo sai do processo com um teor de óleo inferior a 1%. A torta nestas condições é denominada de torta magra ou farelo, que pode ser destinada para alimentação animal
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(ração ou combustível para a caldeira de vapor da própria fabrica de extração de óleo de oiticica ). Na Figura 4, encontram-se todas as etapas produtivas do processo completo de extração, incluindo a etapa de extração com solvente.
OLEAGINOSA OLEAGINOSA RECEP ÇÃO RECEPÇÃO ARMAZENAMENTO LIMPEZA
Ç
IMPUREZAS IMPUREZAS
ARMAZENAGEM PRÉ-LIMPEZA DECORTICA Ç ÃO DESCASCADORA VAPOR VAPOR
COZIMENTO COZIMENTO
ÓLEO ÓLEO
PRENSAGEM PRENSAGEM
CASCAS CASCAS
HEXANO SOLVENTE SOLVENTE SOLVENTE SOLVENTE
COMSOLVENTE SOLVENTE EXTRAÇÃO EXTRA Ç ÃO COM RECUPERAÇÃODO RECUPERA ÇÃO DOSOLVENTE SOLVENTE FILTRAÇÃO FILTRA Ç ÃO ÓLEO VEGETAL ÓLEO VEGETALBRUTO BRUTO
DESSOLVENTIZAÇÃO DO FARELO DO FARELO BORRA BORRA FARELO FARELO
Figura 4. Processo de extração do óleo de oiticica.
Com relação ao óleo extraído da amêndoa, Bayma (1957) admite que o mesmo deva ser submetido a alguns processos de refinação, tais como: degomado, neutralização e clarificação, visando reduzir o índice de acidez, para o tipo refinado de até 0,5 g/100 g. Ao mesmo tempo, substancias indesejáveis não gliceridicas que acompanham o óleo bruto também são reduzidas durante o refino, tais como: gomas, mucilagens, carboidratos, fosfatídeos, fragmentos protéicos, pigmentos, esteróides e principalmente ácidos graxos livres. Essas substâncias escurecem o óleo bruto, provocando um aroma forte (MANDARINO; ROESSING, 2001). Degomado - visa remover do óleo bruto os fosfatídeos, proteínas e substâncias coloidais o que reduz a quantidade de álcali durante a subseqüente neutralização e diminui as perdas na refinação. Essas substâncias são facilmente hidratáveis, sendo removidas
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através da adição de água (1 - 3%) ao óleo aquecido a 60 – 70º C e agitação durante 20 30 minutos, formando precipitados que são facilmente removidos do óleo por centrifugação a 5000-6000 rpm. As gomas removidas que possuem cerca de 50% de umidade podem ser secas em vácuo (100 mm de Hg de pressão) a temperatura de 70 – 80º C. As gomas também podem ser extraídas com 0,1 – 0,4% de ácido fosfórico a 85% misturado com óleo à temperatura de 60 – 65º C, seguido ou não pela adição de terra branqueadora que posteriormente são separadas por filtração ou centrifugação (MANDARINO; ROESSING, 2001). Neutralização - é o processo de remoção de ácidos graxos livres e outros componentes (proteínas, ácidos oxidados, produtos de decomposição de glicerídeos), através da adição de solução aquosa de álcalis, como hidróxido de sódio ou carbonato de sódio. A quantidade de solução alcalina necessária para o processo dependerá do teor de ácidos graxos livres no óleo, tempo de mistura, temperatura de neutralização e processo adotado (MANDARINO; ROESSING, 2001). Clarificação - é o tratamento que visa tornar o óleo mais claro através do uso de adsorventes, como terras clarificantes, ativadas e naturais, misturadas às vezes com carvão ativado. Para aumentar a eficiência dos adsorventes, o óleo neutro e lavado, deve estar seco, à temperatura de 80 – 90º C sob vácuo (30 mm Hg) durante 30 minutos. Após a secagem é adicionada a quantidade apropriada de adsorvente por sucção, com o qual o óleo é agitado à temperatura de 80 – 95º C durante 20 – 30 minutos. O seguinte passo é resfriar a 60 – 70º C e filtrar no filtro prensa. O resíduo que permanece no filtro prensa contém aproximadamente 50% de óleo, a aplicação de ar comprimido reduz esse conteúdo para 30 – 35% (MANDARINO; ROESSING, 2001).
1.4 Processo de Refino dos Óleos A refinação ou refinamento do óleo vegetal tem por objetivo preparar esta matéria prima para a obtenção adequada dos ésteres metílicos ou etílicos, os quais deverão constituir o biodiesel. É recomendável eliminar do óleo a sua acidez, as partículas sólidas em suspensão e o residual de água. Este procedimento se mostra na Figura 5.
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ÓLEO BRUTO
FILTRAÇÃO
ÁGUA
BORRA
NEUTRALIZAÇÃO
HIDRÓXIDO DE SÓDIO
CENTRIFUGAÇÃO
ÁGUA RESIDUAL
ÓLEO REFINADO
Figura 5. Processos de refinação de óleos (PARENTE, 2003).
Os rendimentos do óleo cru por extração de solvente na usina de Jaguaribe, CE oscilam entre 32 a 35% dependendo da qualidade da matéria prima utilizada, ou seja, do tempo de colheita e maturidade dos frutos de oiticica.
1.5 Processo de Produção do Biodiesel de Oiticica O biodiesel do óleo de oiticica foi produzido por transesterificação metílica a 60°C, relação molar álcool/óleo de 6/1, com 0,5% de hidróxido de sódio em relação à massa de óleo, sob agitação durante uma hora. Após a reação de transesterificação, o glicerol foi separado do biodiesel por decantação durante 2 horas. O excesso de álcool foi separado do biodiesel por destilação e o biodiesel purificado por lavagem com água destilada e deionizada para a remoção de resíduos de catalisador, sabão, sais, álcool e glicerina livre. Finalmente, o biodiesel foi submetido a um processo de secagem por aquecimento e tratamento com sulfato de sódio. Na Figura 6 (b) é apresentada uma amostra do biodiesel de oiticica, enquanto a Tabela 1 mostra as propriedades do óleo e biodiesel de oiticica, sendo que o óleo extraído apresentou uma coloração amarelada a castanha, conforme ilustrado na Figura 6 (a) (MELO et al., 2005).
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Figura 6. Amostras de óleo (a) e de biodiesel (b) de oiticica. Fotos: MELO et al. (2006).
Tabela 1. Propriedades do óleo e do biodiesel de oiticica. Característica
Unidade
Óleo
Biodiesel
Especificação Anp * B100 Petrodiesel 820 a 880
Massa específica a 20°C kg/m3 962,6 932,4 Viscosidade cinemática a mm2/S 133,9 12,678 2,5 a 5,5 40°C Índice de acidez mg KOH/g 1,19 0,41 ≤ 0,80 Ponto de fulgor °C 130,0 ≥ 100 ≥ 38 * Portaria ANP N° 42/2004 (B100) e Portaria ANP N° 310/2001 (petrodiesel). Fonte: MELO et al. (2006).
O biodiesel de oiticica produzido por transesterificação metílica apresentou valores de massa específica e viscosidade cinemática elevados, sendo importante sua mistura com biodiesel de outras oleaginosas e/ou com óleo diesel de petróleo. O ponto de fulgor e o índice de acidez apresentaram valores dentro dos padrões estabelecidos pela ANP tanto para o B100 como para o óleo diesel de petróleo. Vale frisar que para alcançar os resultados obtidos na Tabela 1, a caracterização do óleo de oiticica foi realizada seguindo as etapas de tratamento para retirada dos fosfatídeos (gomas) e das impurezas do óleo, centrifugação para separação das fases, esterificação para tratamento da acidez e diminuição da viscosidade, lavagem para retirada do catalisador e secagem a vácuo para retirada de água e álcool adicionados durante o processo (MELO et al., 2006). Uma vez produzindo o biodiesel (Figura 6), extraem-se a glicerina empregada para fabricação de sabão. O biodiesel da oiticica pode ser usado em motores ciclo diesel automotivo (caminhões, tratores, caminhonetes, automóveis, etc.) ou estacionário (geradores de eletricidade, calor, etc.), na sua forma misturada com diesel de petróleo, em até 20% de proporções, não sendo necessária nenhuma modificação nos motores (PARENTE, 2003).
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1.6 Características da Miniusina para Produção de Biodiesel As empresas TECBIO de Fortaleza, CE e Linard de Missão Velha, CE estão fabricando os equipamentos de produção biodiesel para os distintos cultivos agrícolas oleaginosos para atender os programas de produção de biocombustível do Brasil, inclusive também uma unidade de extração de óleos vegetais de tamanho compatível para produção de biodiesel em cooperativas e associações organizadas de agricultura familiar (miniusina).
Um sistema de miniusina para produção de biodiesel é constituído por uma unidade compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de 100 L· h-1. Este mini-sistema, o qual tem sido denominado “máquina de biodiesel” é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figuras 7 e 8). Esta miniusina possui as seguintes características: - Dimensões: 7.500 mm (comprimento) x 3.500 mm (largura) x 5.000 mm (altura). - Peso aproximado: 3.500 kg - Esta Unidade é móvel, facilmente transportada por caminhão convencional. - Potencia elétrica: 18 Kw, quando o gerador de calor é elétrico e 3 Kw quando a fonte de calor é outra. - Consumo de água: 2.000 litros por dia - Mão de obra: dois operários (empregado e auxiliar) - Processo manual com varias etapas
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Figura 7. Mini equipamento de produção de biodiesel, fabricado pela empresa Tecbio. Fotos: Expedito Parente
Figura 8. Planta Piloto Industrial com capacidade de produção de 8.000 litros diários de biodiesel, instalada no campo da Universidade Federal de Piauí, Teresina, PI. Fotos: Expedito Parente
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2. PRODUÇÃO DE SABÃO COM ÓLEO DE OITICICA
2.1 Introdução O mercado de produtos de limpeza é dominado por grandes empresas. Entretanto, nos últimos anos, algumas empresas de pequeno e médio porte estão conseguindo furar esse monopólio, uma vez que o investimento em equipamentos e materiais permanentes para esse tipo de indústria é relativamente pequeno, principalmente quando se trata da fabricação de sabão comum (SEBRAE, 2013).
Para que os negócios pudessem atender a demanda do mercado, as pequenas indústrias de sabão atentaram para alguns itens importantes, tais como: a qualidade dos produtos, seguida por preço final competitivo e, por último, estratégia de marketing adequada (SEBRAE, 2013).
A qualidade dos produtos depende de competência técnica industrial, instalações adequadas e matéria-prima de boa procedência ou diferenciada (óleo de oiticica). Vale salientar que a legislação específica obriga o registro dos produtos, ou seja, sem registro a empresa opera clandestinamente (SEBRAE, 2013).
De acordo com o Sebrae (2013), as indústrias de sabão também estão sujeitas as regras de segurança, pois quem trabalha com produtos químicos deve seguir rigorosamente algumas regras de fundamental importância:
-Trabalhar sempre com botas de borracha. Este material permite uma maior proteção dos pés contra umidade, substâncias ácidas e básicas, além de diminuir o risco de escorregões; -Manter sempre limpo o piso dos locais onde são fabricados os produtos; -Quando for necessário colocar as mãos em algum produto, usar luvas de proteção; -Devem-se usar luvas de amianto quando for manipular caldeirões ou tambores quentes; -Quando montar a área de produção, evitar o uso de materiais de segunda categoria, principalmente para tubulações de água e gás; -Ao preparar um produto, todas as matérias-primas a ser utilizadas devem ser separadas com antecedência, a fim de que o funcionário não fique se locomovendo na área de produção, durante o processo;
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-Usar sempre aventais e equipamentos adequados de proteção, para evitar o contato das matérias primas com a roupa e, principalmente, com a pele; -Sempre que houver derramamento de alguma matéria-prima, lavar o local imediatamente com bastante água, para evitar riscos maiores de acidentes; -Não deixar o sistema de aquecimento ligado, quando não estiver sendo utilizado; -Manter, sempre que possível, um sistema de exaustão, para eliminar materiais voláteis; -Em caso de acidente com funcionário, procurar imediatamente o socorro médico.
2.2 Edifícios e Instalações (SEBRAE, 2013). -As instalações devem ser construídas em área que não ofereça risco às condições gerais de higiene e sanidade; -O espaço deve ser suficiente para a instalação de equipamentos, armazenagem de matérias-primas, produtos acabados e outros materiais auxiliares e propiciar espaços livres para a adequada ordenação, limpeza e manutenção; -A contaminação cruzada deve ser evitada, através de instalações e fluxo de operações adequadas; A área de lavagem de equipamentos e utensílios deve ser isolada; -Os sanitários e vestiários não devem ter comunicação direta com as áreas de produção; -As portas externas dos mesmos devem ter sistema de fechamento automático; -O piso deve apresentar característica antiderrapante, ser impermeável, de fácil lavagem e sanitização, inclusive deve ser resistente ao tráfego; -Os equipamentos e utensílios devem ser construídos, preferencialmente, em aço inoxidável ou materiais inertes; -O uso de madeira, amianto e materiais rugosos e porosos deve ser evitado; -O ar deve ser seco, filtrado e limpo. A direção do fluxo de ar não pode ser de uma área contaminada para uma área limpa; -A água para a fabricação do sabão deve ser desmineralizada; -A água não potável utilizada na produção de vapor e refrigeração deve ser conduzida em linhas separadas e sem cruzamentos com a tubulação de água desmineralizada; -Nas áreas de acesso de pessoal, é preferível a instalação de torneiras de acionamento sem toque das mãos.
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-Devem ser definidos locais exclusivos para materiais tóxicos, explosivos e inflamáveis, separados das áreas de fabricação e armazenamento. Também deve existir local apropriado para armazenagem de matérias-primas, embalagens e produtos acabados. 2.3 Formulação de Sabão com Óleo de Oiticica dada pelo SEBRAE As técnicas de fabricação de sabão são simples e, portanto, não requerem equipamentos sofisticados. Basicamente, os equipamentos usados são: balança; agitador; tanques de aço inox, máquina plastificadora e fonte de calor, etc. Diversos são os produtos químicos que entram na composição do sabão, com a finalidade de aumentar seu peso e baratear o seu custo. Na formulação da Tabela 2, estão os produtos mais utilizados pelas médias e pequenas indústrias de sabão (SEBRAE, 2013).
Tabela 2. Matérias-primas e quantidades usadas na fabricação de sabão comum a base de óleo de oiticica por pequena empresa. Matérias-primas Sebo Óleo de Oiticica Breu Soda cáustica escama 98/99% Silicato de sódio alcalino Caulim Água
Quantidades 3.300 gramas 300 gramas 100 gramas 600 gramas 500 gramas 500 gramas 1 a 2 litros
Fonte: Sebrae (2013).
PROCEDIMENTOS 1 - Dissolver os 600 gramas de soda cáustica em dois litros de água no mínimo oito horas antes de fazer o sabão. Não usar recipiente de alumínio e tomar cuidado ao manusear, pois se trata de produto cáustico, que queima a pele; 2 - Derreter as gorduras, isto é, o sebo e o óleo de oiticica, juntamente com o breu. O breu deve ser transformado em pó, para ser mais bem derretido; 3 - Em outro recipiente colocar a soda, que foi dissolvida, em dois litros de água, o silicato de sódio, a água da fórmula e o caulim. Misturar muito bem; 4 - Estando a gordura derretida e a mais ou menos 50 graus (temperatura normal), despejar vagarosamente a soda e os outros materiais sobre a gordura e ir agitando até a massa começar a engrossar, o que acontece rapidamente; 5 - Quando a massa estiver grossa, pode ser despejada na forma;
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6 - Após colocar o sabão na forma, esperar seis horas aproximadamente e desformá-lo. Durante este tempo o sabão estará reagindo e sua temperatura chegará a até 80 graus centígrados.
IMPORTANTE - A lixívia, o silicato de sódio e o caulim devem ser despejados vagarosamente sobre a gordura, por um fio delgado (torneira). Agitar até a massa engrossar. Para mexer o sabão use uma pá de madeira, tipo remo. - Não utilize cabo de vassoura, pois é redondo e não mexe bem a massa, principalmente no fundo. - Para maior comodidade, pode-se fazer, antecipadamente, uma quantidade maior de lixívia, que não estraga.
OBSERVAÇÕES -O corante deve ser diluído e colocado juntamente com a soda, o silicato de sódio e o caulim. -A mistura de soda com a água chama-se LIXÍVIA. -Caso o fabricante queira, pode adicionar aproximadamente 50 gramas de essência na gordura derretida e esfriada (entre 40 e 50 graus). -O óleo de oiticica é a melhor gordura para a fabricação de sabão. De excelente saponificação, produz sabão da melhor qualidade e abundante em espuma. -A qualidade do sabão depende da quantidade de óleo de oiticica usada na formulação.
2.4 Indústria Sabão Jaguaribano O sabão produzido na indústria de Jaguaribe, CE possui os seguintes componentes químicos: óleo de oiticica, ácido graxo, soda cáustica, sebo bovino, essências e coadjuvantes. Sua fabricação exige conhecimentos de química, bom domínio de fórmulas, dados e informações técnicas (não revelados pelo fabricante), nos quais a participação de um profissional da área é imprescindível, sendo tal procedimento adotado pela referida indústria. Na Figura 9, tem-se uma visão geral da parte interna da indústria de sabão de Jaguaribe, CE.
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Figura 9. Visão total da parte interna da indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Essa indústria de sabão trabalha ao mesmo tempo com dois tanques, os quais são aquecidos pelo vapor da caldeira por serem dotados internamente de serpentinas e agitadores mecânicos, sendo que um tanque irá produzir sabão comum (sem essência) e o outro para sabão com essência. O tacho com torneira que é usado para colocar a solução de soda cáustica misturada com silicato de sódio e caulim fica posicionado entre os dois tanques (Figura 10). De acordo com o comentário da indústria de sabão de Jaguaribe, CE, a desvantagem da matéria prima oiticica é consumir em cada 4 toneladas de produção de sabão a quantidade de 11 litros de essência com 60% de óleo, enquanto no sabão comum com outros tipos de óleo essa relação é de 7 ton. de produção de sabão para 3 litros de essência.
Figura 10. Tacho com torneiras posicionado entre dois taques. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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Com base na receita de sabão do Sebrae (2013), assim deveria ser sua preparação na indústria Sabão Jaguaribano: Todos os componentes são adicionados no tanque (sebo, óleo de oiticica e breu), que devido ao calor e agitação mecânica são dissolvidos. Enquanto a soda cáustica e água são misturadas num tanque de menor porte instalado na parte superior da plataforma (Figura 11). Depois de um determinado tempo, adicionamse o silicato de sódio e o caulim no mesmo recipiente da solução de soda cáustica, sendo tal mistura bombeada para o tacho. Em seguida, abre um pouco a torneira do tacho para escorre lentamente, como fio delgado, a soda em mistura com outros materiais sobre a massa de gordura derretida dentro do tanque. Com o agitador mecânico em movimento, rapidamente a massa passa a engrossar e, por uma canaleta de alvenaria e metal, é transportada por gravidade para a forma grande de resfriamento.
Figura 11. Tanque usado para misturar a soda cáustica com os demais produtos (água, silicato de sódio e caulim), conforme receita de sabão do Sebrae (2013). Equipamento da Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Para resfriar na forma grande de cimento, a massa de sabão aquecida requer 8 dias de repouso (Figura 12). Através de uma régua de madeira, os vários blocos de sabão são riscados em partes iguais. Ao mesmo tempo, cada bloco é cortado e destacado da massa de sabão, utilizando-se duas ferramentas tipos espátulas de ferro (Figura 13).
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Figura 12. Resfriamento da massa de sabão na forma de cimento da Indústria Sabão Jaguaribano. Jaguaribe, CE. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 13. Espátula usada para cortar e separar os blocos da massa de sabão, previamente riscadas em partes iguais. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Na sequência, o bloco de sabão vai para uma espécie de mesa, onde uma chapa de ferro acionada por um hidráulico irá exercer pressão sobre o bloco de sabão ainda morno contra uma tela feita de cabo de aço e, ao atravessá-la, o mesmo irá se dividir em várias barras de iguais tamanhos e pesos (Figura 14). No equipamento de plastificação, a barra de sabão de 500 g é individualmente enrolada de maneira manual (Figuras 15 e 16), mas quando são levadas ao setor de embalagem, um grupo de dez barras é enrolado num só papel grosso (Figura 17). No final da linha de produção, é colada uma etiqueta com o nome da
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indústria em cada embalagem de 5 kg de sabão (Figura 18). Na Figura 19, técnicos da Embrapa Algodão em visita a Indústria Sabão Jaguaribano.
Figura 14. Pressionado contra a tela, o bloco de sabão é dividido em várias barras. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE, 2013. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Figura 15. Equipamento de plastificação das barras de sabão. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE, 2013. Fotos: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 16. Barras de sabão de oiticica envolvidas individualmente com plástico, sendo uma barra comum e a outra barra com essência (verde). Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE, 2013. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 17. Papel grosso usado no processo de embalagem das barras de sabão. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE, 2013. Foto: Vicente de Paula Queiroga
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Figura 18. Empilhamento de pacotes etiquetados de sabão com óleo de oiticica. Indústria Sabão Jaguaribano, Jaguaribe, CE, 2013. Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 19. Técnicos da Embrapa Algodão e dirigentes da Indústria Sabão Jaguaribano. Jaguaribe, CE. Foto: Paulo de Tarso Firmino
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3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABOISSA. Óleos Vegetais: Oiticica. Disponível em: <
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