Sisal (Agave sisalana, Perrine): Tecnologias de plantio e utilização

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SISAL (Agave sisalana, Perrine) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

Vicente de Paula Queiroga Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva José da Cunha Medeiros Camilo Flamarion de Oliveira Franco Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


SISAL (Agave sisalana, Perrine) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA ODILON RENY RIBEIRO FERREIRA DA SILVA JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS CAMILO FLAMARION DE OLIVEIRA FRANCO (Editores Técnicos)

SISAL (Agave sisalana, Perrine) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª Edição

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2021


©Copyright 2020 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, ODILON RENY RIBEIRO FERREIRA DA SILVA, JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS, CAMILO FLAMARION DE OLIVEIRA FRANCO Capa FLÁVIO TORRES DE MOURA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 19-01-2021 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3s

Queiroga, Vicente de Paula. Sisal (Agave sisalana, Perrine): Tecnologias de plantio e utilização. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva, José da Cunha Medeiros, Camilo Flamarion de Oliveira Franco. – Campina Grande: AREPB, 2021. 217 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-09-4 1. Agave sisalana. 2. Sistema de produção. 3. Corte de folhas. 4. Desfibramento. 5. Fibra. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Silva, Odilon Reny Ribeiro Ferreira da. III. Medeiros, José da Cunha. IV. Franco, Camilo Flamarion de Oliveira. V. Título. CDU 633.5

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

José da Cunha Medeiros (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Camilo Flamarion de Oliveira Franco (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO

A cadeia produtiva do sisal, especialmente no segmento agrícola da produção da fibra seca, é uma das mais importantes do semiárido nordestino, fornecendo ocupação e renda, somente no Estado da Bahia, principal produtor nacional, para cerca de 900.000 pessoas. Apesar das dificuldades atuais e da baixa rentabilidade da cultura do sisal, embora tendo mercado interno satisfatório, um dos fatores que vem desestimulando as pessoas que lidam com a atividade sisaleira é o baixo uso dos subprodutos desta importante planta produtora de fibra dura foliar. No Brasil, maior produtor mundial desta agavacea, somente a fibra foliar seca é aproveitada, e representa de 3% a 5% no máximo, do total que a planta produz. Além da fibra, que tem inúmeras aplicações industriais, na fabricação de tapetes, escovas, redes, telas, mantas, sacos, bolsas, do sisal se extrai também matérias-primas para a fabricação de pectinas, medicamentos, como a cortisona vegetal, celulose pura, papel kraft, papéis em geral e outros produtos. No semiárido nordestino, englobando a parte árida, que corresponde a pouco mais 10% da área da região praticamente não existe opções fitotécnicas, tendo, a cultura de sisal como elemento de produção, e distribuidor de renda no campo. Desde 1985 que a Embrapa Algodão, via seus pesquisadores e grupos de apoio à pesquisa e desenvolvimento vem trabalhando com a cultura do sisal, gerando e adaptando várias tecnologias, proporcionando melhor frequência de corte, configurações de plantio e sistemas de consorciação adequados, máquina para processar resíduos (peneira rotativa) separando a bucha da mucilagem, entre outros. Neste livro, os editores embrapianos enfatizaram com certeza, reunir o máximo de informações sobre a cadeia produtiva do sisal no nosso País, na tentativa de melhorar os diversos passos de cada elo da cadeia, especialmente o que envolve os produtores da matéria prima principal desta planta que é a sua fibra, buscando, também, alertá-los para a importância do planejamento racional da propriedade, dentro do contexto que a sustentabilidade está diretamente relacionada com a competibilidade do setor.

Os autores


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. SISTEMA DE PRODUÇÃO DO SISAL PARA O SEMIÁRIDO – Vicente de Paula Queiroga, Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva, José da Cunha Medeiros, Camilo Flamarion de Oliveira Franco, Tarcísio Marcos de Sousa Gondim ..........................................10

CAPÍTULO 2. PÓS-COLHEITA: PROCESSOS DE BENEFICIAMENTO DO SISAL – Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva, Vicente de Paula Queiroga, José da Cunha Medeiros, Camilo Flamarion de Oliveira Franco, Tarcísio Marcos de Sousa Gondim, Orozimbo Silveira Carvalho, Rafael Bernardino de Souza, Azarias Amaro de Souza ..........................................132

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................206


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Capítulo 1

SISTEMA DE PRODUÇÃO DO SISAL PARA O SEMIÁRIDO

Vicente de Paula Queiroga Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva José da Cunha Medeiros Camilo Flamarion de Oliveira Franco Tarcísio Marcos de Souza Gondim (Editores Técnicos)


C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O sisal (Agave sisalana Perrine) é uma planta perene oriunda do México que apresenta um amplo campo de utilização. Da extração e beneficiamento de suas folhas, se produz uma fibra de excelente qualidade, a qual se destina a fabricação de diversos tipos de fios para as mais variadas utilidades, sendo muito bem aceita no mercado internacional. Ademais, a seiva que é oriunda de suas folhas contém hecogenina, utilizada na síntese da droga cortisona. Os resíduos do desfibramento podem produzir pectato de sódio e cera, já o pendão floral é bastante utilizado na construção de cercas (ALVARENGA JÚNIOR, 2012). Atualmente os maiores produtores mundiais do sisal são: Brasil, Tanzânia, Quênia, Uganda, Moçambique, Angola e México. Além de maior produtor, o Brasil se consolida como principal exportador mundial de sisal. Estima-se que 80% da produção brasileira é direcionada ao mercado externo (NAVES, 2016). No país a planta é cultivada predominantemente na região Semiárida (BATISTA et al., 2010), merecendo destaque o estado da Bahia, responsável por 95,8% da área cultivada no território brasileiro, os 4,2% restantes estão localizados na Paraíba (3,5%), Ceará (0,4%) e Rio Grande do Norte (0,3%) (NAVES, 2013). O Brasil é líder no mercado internacional ao responder por 61% da produção mundial estimada em 314,7 mil toneladas e por 59% das exportações da fibra em 2004. O Estado da Bahia concentra 95% da produção brasileira, de 214,4 mil toneladas em 2005 (LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA – LSPA, 2005). A atividade sisaleira na Bahia contribui para a renda de cerca de 700 mil pessoas que cultivam, em mais de 50 municípios baianos, 193 mil hectares com a cultura do sisal. Sua distribuição engloba o Centro Norte Baiano (113.042 ha), Nordeste Baiano (78.097 ha) e Centro Sul Baiano (2.138 ha) (IBGE, 2017). Nos municípios de Valente, Retirolândia, Conceição do Coité, Santa Luz, que somam 23% da área colhida na Bahia, em 2016, o sisal representa uma das mais importantes culturas. Neste setor do semiárido brasileiro, há também o segmento industrial a exemplo da APAEB (Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia) em Valente, BA, onde o sisal tem sua pujança nos aspectos socioambiental e econômico, fundamentado no empoderamento dos pequenos agricultores sertanejos (NASCIMENTO, 2003).


C a p í t u l o I | 12 A situação é ainda mais complexa na Paraíba, estado que na década de 1970 detinha a hegemonia da produção brasileira de sisal, status que a partir 1990 passou a ser ocupado pela Bahia (ALVES; SANTIAGO, 2006). A produção da cultura na Paraíba está concentrada em 27 municípios, sendo Picuí, Barra de Santa Rosa, Casserengue, Remígio e Pocinhos as localidades que lideram a produção (IBGE, 2006). Neste último município, encontra-se a cooperativa Campol (Cooperativa Agropecuária Mista de Pocinhos Ltda) de beneficiamento de fibra e bucha de sisal. Embora seja cultivado em larga escala, o sisal é ainda explorado com baixo índice de modernização, e com práticas culturais arcaicas o que tem levado a redução da área plantada e na produção. Somado a esses fatores, o baixo valor pago pela fibra, o reduzido índice de aproveitamento da planta (somente 3 a 5% das folhas colhidas se convertem em produto comercial), a concorrência com as fibras duras sintéticas, o elevado custo inicial para implantação e manutenção da lavoura e a falta de variedades mais produtivas tem colaborado para o declínio da cultura no Semiárido (BRASIL, 2011). Após o corte das folhas, as etapas da produção da fibra compreendem: descorticagem em máquinas desfibradoras, lavagem, secagem e beneficiamento (escovação) a fim de se obter uma fibra homogênea. Embora muitos produtores não realizem o beneficiamento, ou seja, comercializem a fibra na forma bruta, é comum a utilização de máquinas comunitárias para essa operação. De modo geral, nas indústrias as fibras de sisal são rebeneficiadas para que possam atender às exigências de cada empresa com relação à qualidade do produto final (OASHI, 1999). Em relação ao sistema produtivo, além de a máquina paraibana ter modernizado de forma significativa o setor sisaleiro, alterou ainda as relações de trabalho, criando uma relação patrão-empregado até então desconhecida, a figura do “trabalhador do motor”. Antes, o farracheiro desfibrava o seu próprio sisal, agora o trabalhador do motor desfibrava o sisal de terceiros, em terras de terceiros, criando, em muitos casos, uma relação trabalhista que, na prática, não existia e/ou ignorava completamente a legislação. Além do trabalhador do motor, diferentes trabalhadores rurais passaram a trabalhar – sem direitos trabalhistas – em propriedades de terceiros, com o objetivo de complementar a renda familiar (ALVES et al., 2005). Sobre a comercialização, com a crise da cultura do sisal, ficou evidente que o produtor agrícola não participava de qualquer etapa comercial, ficando limitado somente à venda


C a p í t u l o I | 13 da fibra seca para intermediários. Até chegar à fase final de exportação ou industrialização, o produto passava por vários agentes de comercialização. Para Alves et al. (2005), os exportadores ou as indústrias ficavam com quase 40% da receita bruta gerada pela fibra seca. Enquanto isso, os produtores rurais e os trabalhadores ficavam, em média, com 23% e 10% respectivamente. É visível, deste modo, que os frutos econômicos do cultivo do sisal estão concentrados nas mãos de intermediários e indústrias oligopolistas (no setor sisaleiro). Com o intuito de revitalização da atividade sisaleira, a Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA-ALGODÃO, 2005), implementou o Projeto Massabielle (comunidade de mesmo nome localizada no município de Esperança, na Paraíba), que tem por objetivo a reorganização da cadeia de produção do sisal com vistas à agregação de emprego e renda no semiárido nordestino. A extensão do Projeto a outras localidades, tradicionais produtoras - como na Bahia -, deverá recuperar as lavouras já existentes e propiciar a formação de novas plantações em sistemas consorciados com culturas de alimentos e a caprinocultura. Quanto às potencialidades do uso do sisal, as pesquisas sobre o aproveitamento da fibra se concentram em três setores: indústria automobilística, construção civil e agricultura (DESENVOLVIMENTO, 2001). Estudos na área de ciências de materiais demonstram a eficiência da fibra de sisal em substituição à de vidro, bem como da associação com um polímero (plástico) para a fabricação de estruturas de média resistência dos veículos. Outras aplicações consistem na substituição do asbesto, matéria-prima para a produção de amianto e, ainda, como material geotêxtil - uma malha de fibras utilizada no combate à erosão do solo. A real importância da cultura do sisal é sua capacidade de tornar produtivas regiões do semiárido brasileiro sem alternativas econômicas e de baixo índice de IDH (Índice de desenvolvimento humano), sendo fator de sobrevivência para a população rural e contribuindo para a fixação do homem no campo (BANDEIRA; SILVA, 2006). Esta atividade econômica gera empregos diretos e indiretos para 800 mil pessoas nos Estados da Bahia, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará (SUINAGA et al., 2006). O principal emprego do agave reside no aproveitamento integral das fibras estruturais contidas nas suas folhas, de ampla utilização na indústria de cordas, tapetes, capachos e carpetes. A fábrica da APAEB ocupa 5.800 m2 de área construída, numa área total de 30.000 m2; sua implantação provocou impactos positivos sobre todos os setores da economia local, a partir do aumento de oferta de emprego e geração de renda,


C a p í t u l o I | 14 particularmente no aquecimento do comércio e da economia local. A trajetória da fábrica começou com as iniciativas dos próprios agricultores associados à APAEB, que conseguiram fazer os investimentos iniciais e promover a expansão do empreendimento ao longo do tempo, valorizando tanto a estrutura quanto as pessoas (capacitação e profissionalização da gestão). Esses investimentos foram financiados pelo Banco do Nordeste, mas também por Organizações Não Governamentais e por recursos próprios da Associação. Atualmente, a fábrica é autossustentável, tendo seus lucros reinvestidos na modernização de suas atividades, aumento da capacidade, treinamentos etc. A fibra do sisal, na forma bruta, beneficiada ou industrializada, representa importante fonte de divisas para aqueles estados, por se tratar de um produto de exportação que gera valores de 80 milhões de dólares (SILVA et al., 2008). Segundo dados da CONAB (2014), a produção brasileira, em 2013, foi estimada em 82,3 mil toneladas e o Brasil exportou fibra beneficiada de sisal para 33 países, sendo considerada a China a maior compradora, com 49,4% do total exportado, seguida de Portugal com 10,3% (2,7 mil toneladas). Nas exportações de cabos, cordas e cordéis, que seguiram para 15 países, a maior demanda foi dos USA com 77% (16,7 mil toneladas do total exportado; CONAB, 2014).

IMPORTÂNCIA DO SISAL A cadeia produtiva do sisal demanda uma numerosa quantidade de mão-de-obra, no qual abrange desde os trabalhos de manutenção das lavouras até a extração e o processamento da fibra para o beneficiamento, inclusive nas atividades de industrialização de diversos produtos e o uso para fins artesanais (Figura 1), que podem trazer diversos benefícios aos municípios localizados no semiárido nordestino, nos aspectos econômico, social ou ambiental (contribuindo para a desconcentração do Produto Interno Bruto - PIB, pelo significativo impacto que pode gerar na economia local; gerando divisas, pelo grande potencial exportador; servindo de cobertura do solo, impedindo a desertificação; sendo fonte de renda e emprego, por ser intensiva em utilização de mão-de-obra em todas as fases de implantação, manutenção, colheita e desfibramento; favorecendo a desconcentração da estrutura fundiária, ao viabilizar economicamente as propriedades familiares). Além dessas vantagens, existe a possibilidade de abertura de novos mercados


C a p í t u l o I | 15 para os produtos do sisal, diante da preocupação crescente das populações de países desenvolvidos com a preservação ambiental (ALVES; SANTIAGO, 2006).

Figura 1. Cadeia produtiva agroindustrial do sisal no semiárido nordestino.


C a p í t u l o I | 16 O desfibramento do sisal é a principal etapa da pós-colheita. Consiste no processo de eliminação da polpa ou mucilagem que envolve a fibra da folha, mediante uma raspagem mecânica. A principal desfibradora utilizada pelos agricultores nordestinos ainda é a “Paraibana”, que apresenta baixa capacidade operacional (em torno de 150 a 200 kg de fibra seca, em um turno de 10 horas/dia), além de desperdiçar em média 20 a 30% das fibras/folhas e de expor os operadores a constantes riscos de acidentes. Esse, entretanto, é um dos únicos equipamentos disponíveis no mercado brasileiro, de baixo custo aquisitivo e de fácil manutenção. Após o desfibramento, o ideal é que se proceda à lavagem da fibra, no final do dia, em tanques com água, onde deve ser imersa durante a noite por 8 a 12 horas. Entretanto, nas regiões produtoras brasileiras, essa etapa não é cumprida, seja devido à escassez de água, seja pelo reduzido retorno financeiro obtido mediante a realização dessa etapa do processo. Pela manhã, as fibras são colocadas em varais feitos com fios de arame, para secarem ao sol. A próxima etapa é o batimento, que consiste em remover o pó que envolve a fibra de sisal. Essa etapa se processa em máquinas denominadas de batedeiras, localizadas dentro de um galpão fechado, de empresas exportadoras, que utilizam, em geral, trabalhadores urbanos. Após o batimento a fibra é classificada e enfardada para então ser comercializada (SILVA et al., 1999). Do batimento da fibra, resultam, além da fibra, os subprodutos bucha e pó. As folhas do sisal produzem uma fibra altamente resistente e que é utilizada para produzir artesanatos, vassouras, sacos, bolsas, chapéus, barbantes, cordas, capachos e tapetes, bem como na fabricação de celulose para a produção de papel Kraft (de alta resistência) e outros tipos de papel fino (para cigarro, filtro, papel dielétrico, absorvente higiênico, fralda etc). Além dessas aplicações, há possibilidade de utilização da fibra na indústria automotiva, de móveis, de eletrodomésticos, de geotêxtis (proteção de encostas, na agricultura e revestimento de estradas), na mistura com polipropileno, em substituição à fibra de vidro (composição de objetos plásticos) e na construção civil (PROSSIGA, 2004; CAMPBELL, 2004). Os subprodutos do sisal, que hoje praticamente não são aproveitados, podem ter inúmeras utilizações. Cite-se a possibilidade de utilização da mucilagem como complemento alimentar para rebanhos bovinos e caprinos; a bucha, como adubo orgânico e o suco, que é rico em ecogenina, fármaco que serve como medicamento e pode ser utilizado como bioinseticida, no controle de lagartas (quando no primeiro instar), de nematoides e


C a p í t u l o I | 17 carrapatos, como sabonete (Figura 2) e pasta cicatrizante. O substrato resultante do processamento do sisal também pode ser aproveitado para o cultivo de cogumelos comestíveis (SILVA, 2004; FAPESB, 2002).

Figura 2. Sabonete de Agave americana, denominado de pita em Portugal.

A bucha é utilizada para fazer cordas de segunda e manta (para proteção de encostas na agricultura). O pó é utilizado na mistura com milho para a preparação de ração animal. Ainda não se sabe qual o valor nutritivo dessa alimentação, tendo em vista que ainda não foi desenvolvida pesquisa nesse sentido. É importante destacar que a maior parte da produção de fibras de sisal é utilizada para fabricação de fios e cordões destinados à agricultura, embalagens ou transformados em artigos diversos pela indústria de cordoaria. Devido à sua elevada tenacidade e resistência a abrasão, e também ao seu baixo custo, a fibra do sisal tornou-se preferida entre outras fibras naturais. É extraída das folhas da planta, altamente resistente às secas das regiões semiáridas do Nordeste brasileiro. Os fios agrícolas de sisal constituem-se na maior aplicação individual da fibra, o chamado “baler twine”, o qual se refere a um cordão destinado ao enfardamento de feno, palhas e outras forrageiras (Figura 3). O cordão da fibra do sisal apresenta as seguintes vantagens: - É biodegradável, podendo ser ingerido pelo gado sem danos ao seu organismo; - Tem excelente capacidade de aperto nos nós, não deslizando como os fios plásticos; - Recebe tratamento especial contra fungos, mofo e roedores, permitindo a estocagem do produto por longos períodos; - Possui elevada resistência à tração (simples e no nó).


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Figura 3. Fio de sisal (barbante), também denominado no mercado internacional de “baler twine”. Foto: Robson Andrade; Jackson Ornelas; Welito Brandão.

Apesar do desenvolvimento dos produtos sintéticos de cordoaria, os fios, cordéis e cordas de sisal ainda detêm uma boa parcela do mercado, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e países europeus (Figura 4).

Figura 4. Material da Corda: Fibra de Sisal; Tipo de União: Torcida; Cor: Natural; Resistência: 550 kgf; Diâmetro: 13 Mm - 1/2 Pol. Foto: SINDIFIBRAS.


C a p í t u l o I | 19 Podem-se citar inúmeros itens fabricados a partir do sisal, destacando-se os seguintes: fios e cordéis naturais para embalagem, artesanato, indústria de móveis, laticínios, curtumes, fumo, madeira, entre outros; cordas torcidas e cabos trançados destinados aos mais variados setores da economia, construção civil, agropecuária, movimentação e apeação de cargas em navios, portos e sondas de petróleo, além de uma infinidade de aplicações no campo e no lar. Na sua abordagem sobre o assunto, Savastano et al. (1997) procurou analisar o emprego das fibras naturais na produção de componentes construtivos. Foram estudadas as características existentes em diferentes tipos de resíduos oriundos do processo agroindustrial, principalmente as fibras de sisal (Tabela 1). O objetivo dessa pesquisa foi o desenvolvimento de um sistema alternativo de cobertura de baixo custo.

Tabela 1. Resíduos do processamento de fibras vegetais Fibra

Resíduo Denominação

Produto principal Sisal

Fibra verde secagem

antes

Sisal Sisal Sisal Sisal

Fibra beneficiada Fios Cordas Baler twine (Fio agrícola)

Sisal

Tapetes

da

Bucha verde (já separada do bagaço) – umidade aprox..: 120% em massa Refugo/bucha Bucha branca (sem tratamento) Fibras curtas (menos de 3 cm) Bucha (tingimento c/ anilina e mistura c/ óleo mineral) Fibras curtas (tingimento c/ anilina e mistura c/ óleo mineral) Retalhos de fios (submetidos a tingimento a quente)

Aproveitamento para outros fins Uso potencial para produção de celulose

Reforço de gesso, produção de fios e celulose Produção de celulose (uso total) Combust. E adubo (uso desprezível.) Reprocessamento (uso total) Combustível (uso total)

Uso potencial para produção de celulose

Fonte: Savastano et al. (1997).

As fibras de sisal ainda são utilizadas por todo território nacional para fabricação de diversos tipos de artigos artesanais para decoração. Essa atividade é importante para o desenvolvido econômico de comunidades humildes do Brasil. Na Figura 05 encontra-se um exemplo de peças artesanais de sisal.


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Figura 5. Artesanato de Sisal. Foto: Luz (2016).

ORIGEM E EVOLUÇÃO Acredita-se que o gênero Agave tem como centro natural de dispersão, a região geográfica compreendida entre o sudoeste dos Estados Unidos, México, América Central, Antilhas e Norte da América do Sul (MEDINA, 1954). Sendo a península de Yucatan (situada entre os paralelos 19o 41' e 21o 38' de latitude Norte, e os meridianos 87o 33' e 90o 25' de longitude Oeste de Greenwich), o local mais preciso de sua origem (ALVES; SANTIAGO; LIMA, 2005; MEDINA, 1954; SHARMA; VARSHNEY, 2012), trazida para o Brasil por volta de 1903, sendo amplamente distribuído nas regiões do Nordeste do Brasil e leste da África (SUINAGA et al., 2006). Por outro lado, a palavra agave tem sua origem na expressão grega “agaus”, que quer dizer magnífico. Pela sua beleza e rusticidade, o agave também é muito utilizado como planta ornamental. O seu principal emprego, porém, reside no aproveitamento integral das fibras estruturais contidas nas suas folhas, de ampla utilização na indústria de cordoalha. O agave é uma planta originária do continente norte-americano e das Ilhas Caraíbas. Suas propriedades são conhecidas desde as épocas mais remotas pelos primitivos habitantes do México, que não só se utilizavam de suas preciosas fibras para


C a p í t u l o I | 21 fabricação de diversos utensílios como: tapetes, redes, cordas, etc., mas também, e principalmente, como fonte natural de alimentos. Dada a sua facilidade de aclimatação, o agave foi levado do México para outras partes do mundo, passando a ser comercialmente cultivada. Até a Primeira Guerra Mundial, o México monopolizava o mercado dessas fibras. A quebra do monopólio ocorreu quando o Dr. Henry Perrine, na década de 1830, exportou para a Flórida os primeiros bulbilhos do Agave sisalana. Da Flórida, eles foram levados mais tarde para a África Oriental e também para o Brasil. Desde esse tempo, muitos países se dedicaram à exploração comercial de algumas espécies de agave têxteis para a produção de fibras. De todas as espécies cultivadas, as que mais se destacaram comercialmente foram o Agave sisalana Perrine, popularmente conhecida como “sisal”, e o Agave fourcroydes Lamaire, conhecida como henequém. Segundo estudos arqueológicos realizados no Vale do Tehuacan, no México, ficaram comprovadas que diversas espécies de agave serviram como fornecedoras da maior produção de matéria-prima necessária aos seus primitivos habitantes. Os primeiros indícios de cultivo dessa espécie datam, aproximadamente, de 6.500 – 5.000 a.C. O gênero pertence à família agavaceae e abrange um grupo de quase trezentas espécies vegetais que ocupam posição de destaque entre as plantas nativas características das regiões semidesérticas. O material disponível para o estudo não permitiu identificar as espécies usadas naquela época, além dos seguintes materiais: Agave karwinski Zucc, Agave kerchovei Lam e Agave giesbrechtu Koch. Tanto as folhas como as flores de algumas espécies de agave, bem como as bases dos rebentos de outras, eram alimentos consumidos (CMS), cozidos ou assados pelos antigos habitantes do México. A extração de seiva para a fabricação de bebidas alcoólicas também era uma técnica bastante antiga entre esses povos. Ainda hoje as bebidas fermentadas da seiva do agave (tequila, pulque e outras) são muito apreciadas no México, e também exportadas para muitos países. Apesar de ser conhecida desde os tempos mais remotos e utilizada pelos indígenas para diversos fins, somente nos últimos setenta anos é que essa planta veio ter certa


C a p í t u l o I | 22 importância econômica dentro do grupo das fibras vegetais e especialmente dentro do subgrupo das fibras duras.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CULTURA DO AGAVE NO MÉXICO Segundo Sánchez (1993), das 310 espécies existentes no continente americano, 272 encontra-se no México, que por isso mesmo é considerado o país de origem desse vegetal. Sua utilização remonta aos tempos pré-hispânicos. Dada a sua diversidade de usos, é considerada uma planta de destacada importância econômica para o país. Segundo pesquisas realizadas, é possível constatar-se que as diversas espécies de agave no México encontram-se assim distribuídas em todas as regiões do país: o agave pulquero no Vale do México; o mezcalero nos Vales Centrais de Oaxaca; o tequilero, em Tequila, no Estado de Jalisco. Existem ainda os tipos de agave destinados à produção de bacanora (licor derivado do agave), produzido em Sonora, os fibrosos na Península de Yucatán, os fibroso-forrageiros na altiplanície árida mexicana e os fibroso-pulquero-forrageiros no Vale do Mezquital, no Estado de Hidalgo. Dentre as utilidades das várias espécies cultivadas ou nativas, destaca-se o fabrico de bebidas, evidenciando-se como mais famosas a tequila e o pulque, ao lado de muitas outras como o aguamiel, suco doce, jarabe, mel, vinagre, aguardente, mezcales, atoles, etc. O pulque é provavelmente a mais antiga delas, pois existem registros de que há 300 anos a.C. já representava importante papel social por se atribuírem a essa bebida forças espirituais associadas a um grande número de deuses mitológicos, e que por isso mesmo era bastante consumida nos rituais religiosos (QUEIROGA et al., 2020). É comum o uso de algumas espécies de agave na alimentação humana. Depois de arrancadas e retiradas todas as folhas, o bulbo ou pinha, como é conhecido, é cozido em fornos apropriados e, em seguida, cortados em pedaços que tanto podem ser consumidos de imediato como guardados para usos futuros (LIMA, 1975). Em regiões que apresentam maiores dificuldades de subsistência, existem também muitas outras formas mediante as quais o agave é incluído na culinária mexicana. A utilização da planta na alimentação animal também se constitui num importante recurso das regiões desérticas; além da palma, as folhas de maguey (agave spp) são amplamente utilizadas.


C a p í t u l o I | 23 Dentre todas as espécies de agave atualmente plantadas no México, quatro delas são consideradas mais importantes, do ponto de vista econômico. São elas:

a) Henequém O henequém (Agave fourcroydes Em.) é a espécie que mais se aproxima do Agave sisalana predominante no Brasil. É cultivada em sua quase totalidade na Península do Yucatan e abrange 62 municípios polarizados pela capital Mérida, com uma superfície de 14.000 km2. A região possui clima semiárido, semelhante ao do Nordeste brasileiro. Apesar do bom rendimento em fibras por hectare, o henequém possui fibras mais grossas que o Agave sisalana, menos flexíveis e com menor resistência à ruptura. No que diz respeito aos aspectos agronômicos, os estudos realizados no México indicam que as melhores produções de folhas e de fibras foram obtidas a partir da densidade média de 3.150 plantas por hectare. A cultura do henequém no México também está atravessando uma crise muito forte, provocada pela reduzida procura de fibras no mercado internacional. Os preços praticados no mercado têm feito com que muitos produtores abandonem seus campos, o que tem provocado uma acentuada redução da área. Durante a conferência nacional sobre o henequém, realizada em 1992, no México, concluiu-se que a redução acentuada do consumo de fibras no mercado internacional deve-se, em grande parte, a mudanças de hábito de alguns pecuaristas europeus e americanos que, ao invés dos tradicionais fardos de feno, estariam preferindo armazenar silagem, dispensando, desta maneira, os conhecidos “baler twines”. Outras informações mostraram também que a indústria petroquímica continuava investindo pesadamente na busca de tecnologias voltadas para tornar as fibras sintéticas mais biodegradáveis. Verifica-se, portanto, uma situação semelhante à do Brasil, ou seja, mercado restrito, preços baixos, produtores desestimulados e, em consequência, sisalais sendo abandonados e até mesmo erradicados. O impacto socioeconômico provocado pela crise do henequém na Península do Yucatán não é tão forte como o que ocorre no Nordeste brasileiro. Isso porque a região produtora mexicana possui clima e solo melhores que o nosso o que possibilita uma maior diversificação de culturas. Dessa forma, o henequém entra apenas como um componente


C a p í t u l o I | 24 do sistema de produção da região, diferentemente do que ocorre aqui, onde as opções de cultivo são bem mais escassas. O sistema ejidal de posse da terra prevalecente em Yucatán ficou durante muito tempo sob o controle estatal. Eram propriedades comunitárias organizadas a partir de terras públicas e imóveis particulares que foram desapropriados para tal fim. As famílias assentadas produziam sob a orientação do governo e eram financiadas pelo Banco Ejidal. Esse sistema ejidal atingiu seu auge por volta de 1964, com a criação da CORDEMEX, que passou a se responsabilizar pela industrialização e comercialização das fibras de henequém e similares no mercado externo. A partir de 1992, com a privatização da CORDEMEX, esse sistema de produção começou a se desarticular. As propriedades foram divididas em pequenas glebas, sendo algumas máquinas desfibradoras transferidas para os pequenos parceleiros, que eram pequenos produtores selecionados entre os antigos ejidários. Estes passaram a atuar fora do controle governamental. Dentro dessa nova realidade governamental, foi concebido um novo programa, voltado para o desenvolvimento da zona henequenera de Yucatán. O programa, denominado de PRODEZOH, contemplava a execução de projetos produtivos de bem-estar social e de infraestrutura, enfatizando a diversificação da produção, no sentido de buscar alternativas de cultivo. Assim, o henequém passou a ser um integrante do já diversificado sistema de exploração do qual fazem parte os hortifrutigranjeiros, com destaque para a citricultura, além de uma planta muito promissora denominada sábila (Aloe barbadensis ou Aloe vera), originária da África do Sul e de cujas folhas podem-se obter uma grande variedade de produtos destinados à indústria farmacêutica. b) Agave tequilana A produção de agave destinada à fabricação de tequila está concentrada no Estado de Jalisco, mais precisamente nos vales de Tequila e de Atotonilco. Existe na região produtora uma área superior a 100 mil hectares plantadas com muitas variedades, em solos com pluviosidade em torno de 1.000 milímetros anuais e altitudes de aproximadamente 2.000 metros. As variedades existentes nessa região são as seguintes: Agave longisepala Tod., Agave pesmulae Trel., Agave pseudotequilana Trel., Agave


C a p í t u l o I | 25 subtilis Trel. e Agave tequilana Weber. De todas elas, o Agave tequilana é a espécie mais explorada comercialmente, porque possui características que permitem obter uma tequila de melhor qualidade. O ciclo produtivo dessa espécie é bastante longo, chegando ao estádio de maturação entre 6 a 7 anos nos vales de Tequila e 7 a 9 anos nos vales de Atotonilco. A variedade tequileira é também conhecida como “agave azul”, dada a sua coloração' verde azulada. Possui folhas em torno de 1,25 m de comprimento e 8 a 10 cm de largura, e suas fibras não possuem nenhum valor comercial (QUEIROGA et al., 2017). Quando a planta atinge a fase de colheita, é totalmente arrancada do solo e todas as suas folhas são retiradas, ficando apenas o bulbo ou pinha, como é mais conhecido, que é a parte usada para a fabricação de tequila. Possui uma densidade média em torno de 2.360 ha, quando plantada em consórcio ou pastagens, e 4.500 ha quando plantada isoladamente, atingindo em algumas áreas o rendimento médio de 5.500 pinhas por ha. O peso de uma pinha é de aproximadamente 40 kg e seu valor comercial é de US$ 3.50, o que justifica a sua' exploração em termos econômicos. Depois de pesada, a pinha é analisada em função do maior teor de açúcar que possui. Em seguida, é cozida e moída, de cujo suco, depois de fermentado e bidestilado, obtém-se a tequila na proporção de 7 kg de pinha para um litro de tequila (QUEIROGA et al., 2017).

c) Maguey manso (Agave atrovirens Kawr) O maguey é uma variedade que também se destina à produção de bebidas alcoólicas. Essa espécie possui um porte bastante avantajado, quando comparada às outras espécies. Suas folhas podem atingir 3 a 4 metros de comprimento e apresentam aspectos por demais carnosos, demonstrando possuir uma grande quantidade de mucilagem e pouca fibra. Sua utilização principal é a fabricação do pulque, uma bebida muito apreciada no México. No entanto, essa espécie também possui uma grande diversidade de usos medicinais. As folhas possuem um sabor adocicado e de grande palatabilidade, constituindo-se num considerável recurso forrageiro. O maguey adapta-se bem em todos os tipos de solos e em climas e regiões de precipitações diferentes. No entanto, apresenta a desvantagem de ter um crescimento muito lento, que leva cerca de 10 anos, do plantio até a maturação (QUEIROGA et al., 2020).


C a p í t u l o I | 26 d) Lechuguilla

Uma das mais importantes dessas espécies vegetais é a lechuguilla, cujo aproveitamento principal é a extração da fibra, também conhecida como ixtle, que tradicionalmente é feita de forma artesanal desde o ano de 1741. Para que possam ser desfibradas manualmente, as folhas são colocadas de molho na água. Por possuírem elevado conteúdo de saponinas, o resíduo é utilizado no fabrico de sabão para o uso doméstico. É, na verdade, um extraordinário recurso natural, que da forma como é utilizado e na abundância em que ocorre dificilmente se esgotará. Quando a demanda de mão-de-obra se reduz muito nas regiões secas do país, os trabalhadores recorrem a lechuguilla, explorando-a exclusivamente de forma extrativista, o que lhes propicia uma renda mínima para que possam sobreviver. Pode-se dizer que as espécies de agave de Yucatán são parte do patrimônio natural e cultural, e que tanto o henequém como outras espécies são potencialmente fontes de riqueza para seus habitantes. Informações coletadas durante muitos anos sobre a biologia e aproveitamento do agave na Península de Yucatán revelaram uma grande perda gradual de germoplasma desse importante grupo de plantas. Essa perda tem se dado de duas maneiras: A primeira se refere à redução gradual de habitat das populações silvestres de algumas espécies devido às transformações tão intensas que tem sofrido a paisagem peninsular durante os últimos anos. Este é o caso de F. cahum, M. maculata, B. plialibis e D. americana. Essas espécies, por seus hábitos e características morfológicas, podem ser uma fonte importante para a extração de produtos naturais como sapogeninas esteroidais e fibras, que talvez nunca se possa ter oportunidade de avaliar. A segunda refere-se às espécies ainda cultivadas, como o henequém, cuja produção tem diminuído significativamente (ORELLANA et al., 1985). A zona henequenera tem sido de grande importância na economia e na vida social de Yucatán. Porém, as crises ocorridas nos últimos anos têm repercutido significativamente na sociedade yucateca. Sua exploração econômica tem se concentrado em um reduzido número de espécies, principalmente produtoras de licores e fibras duras, que têm gerado até hoje baixo retorno econômico para algumas regiões.


C a p í t u l o I | 27 HISTÓRIA DO SISAL NO NORDESTE O Brasil é o maior produtor mundial de sisal, tendo como seus principais representantes os Estados da Bahia e Paraíba, hoje os dois maiores produtores dessa cultura no Nordeste. Por sua adaptabilidade climática, o sisal ajustou-se perfeitamente a essa região, onde predomina o clima semiárido. É um componente importantíssimo na economia agrícola do Estado da Paraíba, por tratar-se de um produto de exportação, gerador de divisas. Destaca-se, também, pela capacidade de geração de empregos, por meio de uma cadeia de serviços que abrange desde os trabalhos de manutenção das lavouras (baseados na mão-de-obra familiar), extração e processamento da fibra para o beneficiamento, até as atividades de industrialização de diversos produtos, bem como seu uso para fins artesanais. Os primeiros bulbilhos do Agave sisalana foram introduzidos na Bahia, em 1903, por Horácio Urpia Júnior nos municípios de Madre de Deus e Maragogipe, trazidos provavelmente da Flórida, através de uma firma americana. No entanto, as primeiras plantações só começaram a aparecer por volta de 1930/31 e apenas em 1939 é que, no governo de Landulfo Alves, foram intensificadas as culturas por meio de campos de experimentação e produção de mudas. Em 1940, por iniciativa do engenheiro agrônomo Joaquim Rocha Medeiros, então Secretário da Agricultura daquele Estado, foram criados dois campos experimentais para a cultura do sisal, um situado no município de Feira de Santana e o outro no município de Nova Soure. Este último tinha uma plantação de 2.000 pés e era dotada de uma usina de beneficiamento, equipada com a primeira máquina desfibradeira tipo mexicana, denominada “Irene”. Esses campos forneceram, durante alguns anos, mudas para as novas plantações que surgiram na Bahia e em Sergipe. Lamentavelmente, quando as plantações já alcançavam a casa dos 2 milhões de pés, com uma meta de 12 milhões em Nova Soure, a orientação política mudou e os trabalhos não prosseguiram seu curso normal, abandonando-se o campo quase por completo. Com isso, perderam não só os plantadores de sisal, como a própria economia do Estado. Na Bahia, os municípios produtores de sisal mais importantes são: Cuité, Queimadas, Santa Luz, São Domingos, Valente, Piemonte da Chapada, Diamantina, Jacobina, Urolândia e Várzea Nova. São praticamente 39 municípios, cuja atividade envolve


C a p í t u l o I | 28 aproximadamente 800 mil pessoas. Portanto, o sisal, em determinadas regiões semiáridas de baixas aptidões, tem se tomado muito mais importante do ponto de vista social do que econômico. Implantada e desenvolvida no Nordeste, segundo a emergência de lucros fáceis e compensadores, essa cultura chegou a ser considerada um destaque na pauta de exportações durante muitos anos. No período de 1943 até 1976, o Estado da Paraíba era o maior produtor e exportador de sisal, perdendo essa liderança posteriormente para a Bahia. Para que se tenha uma ideia da dimensão econômica que o sisal representava, principalmente nessa época, não só para a Paraíba, mas principalmente para o Nordeste, dados oficiais revelam que, em 1957, a região contava com 177 municípios produtores, assim distribuídos: 44 na Paraíba; 38 do Rio Grande do Norte; 34 em Pernambuco; 32 na Bahia; 14 em Alagoas; 8 no Ceará e 7 em Sergipe. As primeiras mudas de sisal introduzidas na Paraíba foram trazidas da Bahia pelo engenheiro J. Viana Júnior, quando diretor do campo de demonstração do município paraibano de Cruz do Espírito Santo. Essa cultura foi inicialmente plantada na região do Brejo, passando em seguida para a Caatinga Litorânea e depois para os Cariris. Mas foi somente por volta de 1939/40 que o interesse por essa planta se generalizou, passando da Paraíba e Bahia para outros Estados do Nordeste. Após a Segunda Guerra Mundial, em função do incremento da demanda decorrente das necessidades geradas pelo conflito, bem como da intensificação da atividade agrícola na América do Norte e dos novos mercados da Europa, o sisal consolidou-se como um dos principais produtos de exportação, assumindo uma importância econômica significativa no país. Por volta de 1952, o surto rápido da cultura de sisal no Nordeste fez com que muitos produtores desprezassem as culturas consorciadas de gêneros alimentícios, a ponto de transformarem algumas regiões em áreas especificamente de monoculturas. Este fato, ao invés de ser um demonstrativo do espirito de progresso reinante entre os produtores e de sua determinação em intensificar a cultura, mostrou, ao contrário, até onde ia o espirito especulativo daqueles que, ocasionalmente, experimentavam uma substancial melhoria.


C a p í t u l o I | 29 Em 1965, em virtude da penetração no mercado mundial das fibras sintéticas, através de produtos sucedâneos, com preços bem mais competitivos, o mercado produtor da fibra do sisal sofreu violento abalo devido à queda brusca da demanda e de preços. Estes foram os fatores determinantes na mudança do cenário de produção interna da atividade agavieira no Nordeste. No início da década de 70, verificou-se uma elevação de preços da fibra do sisal no mercado externo, o que levou a uma ampliação de algumas áreas produtivas. Essa situação perdurou durante toda a década, fortalecida, ainda, pela implantação no país de várias indústrias de manufaturados de sisal, detentoras de tecnologias mais modernas e competitivas. A partir da década de 80, a situação começou a se inverter, provocando um quadro de incertezas e de insegurança no setor de produção do sisal e dos seus manufaturados. O preço das fibras teve uma queda acentuada, ocasionando novamente uma mudança no comportamento da economia sisaleira. Por conta da queda de demanda das fibras duras naturais, que perdiam mercado em função das fibras sintéticas, a economia sisaleira do Nordeste entrou em crise, exigindo dos órgãos e setores por ela responsáveis soluções originais e agressivas. Essas medidas eram urgentes por ser a atividade principal absorvedora de grande contingente de mão-de-obra no setor primário e secundário e, sobretudo, por ser uma das poucas alternativas econômicas para as microrregiões do semiárido. Ao fazer um retrocesso histórico para examinar-se o comportamento dessa cultura no Nordeste, desde a sua introdução até os dias atuais, chega-se à conclusão de que, mesmo atravessando os seus períodos áureos de produção e exportação, ela nunca recebeu estímulos adequados que pudessem dinamizá-la em bases verdadeiramente econômicas. É importante evidenciar que o sisal floresce apenas uma vez e a polinização é, em geral, realizada por insetos, contudo, a descendência de polinização aberta tem a desvantagem de exibir espinhos marginais nas folhas, o que não é interessante à exploração comercial (SALGADO et al., 1979). O processo de propagação sexual só se consegue de maneira artificial, quando o pendão é decapitado antes da emissão dos ramos floríferos (MEDINA, 1954). Enquanto a propagação assexuada é mais comum e se processa através de rebentos (filhotes) ou bulbilhos (propágulos). Os últimos são pequenas plantas que se desenvolvem dos pendões florais, após a queda das flores. Os rebentos são mudas originadas do rizoma


C a p í t u l o I | 30 da planta-mãe, ligadas a esta através de estolões (ABREU, 2010; SANTOS et al., 2011). Ambos são geneticamente iguais à planta matriz original, o que constitui em uma desvantagem, do ponto de vista do melhoramento, pois não produz variabilidade de interesse e aumenta a probabilidade de uma doença dizimar uma população, em função da estreita base genética da cultura. Por este motivo, os estudos em relação ao melhoramento das plantas de sisal pouco destacaram novas cultivares ou híbridos (SALGADOS et al., 1979). Por outro lado, a propagação assexuada pode ser também de grande valia para o melhorista, pois, caso se consiga um híbrido com características comerciais desejaveis, será possível propagá-los sem perigo de segregação (MOREIRA; VIEIRA, 1999). Os objetivos que se pretende alcançar no melhoramento de sisal são: produção prolífica de folhas, ausência de espinhos marginais, folhas largas e pesadas, maior pecentagem de fibra por folha, fibra de qualidade superior, resistência a doenças, a pragas e à seca, rápido crescimento e desenvolvimento inicial da planta e baixo números de rebentos (MEDINA, 1954; MOREIRA; VIEIRA, 1999). Este último pode baratear custos por diminuir a prática de sua erradicação, além de manter o arranjo do plantio da lavoura (GONDIM; SOUZA, 2009). Pode-se dizer que os problemas enfrentados hoje pela Bahia são quase os mesmos enfrentados pelo Estado da Paraíba e podem ser estendidos também a todos os municípios nordestinos que ainda plantam sisal. São eles: falta de orientação técnica no plantio e na colheita, falta de uma tecnologia de desfibramento mais moderna e adequada, falta de incentivos ao setor, entre outros. É importante destacar que na década de 90, a Bahia e a Paraíba responderam com 97,8% da produção (sendo 86,7% para a Bahia e 11,1% para a Paraíba), ficando os 2,2% restantes distribuídos entre os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Das 135 mil toneladas produzidas em 1997, 113 mil foram exportadas, sendo 26% de fibras e 74% de manufaturados, gerando divisas na ordem de 102 milhões de dólares.


C a p í t u l o I | 31 TERRITÓRIO DO SISAL No ano de 2003, a produção brasileira atingiu mais de 170 mil toneladas. Os principais produtores brasileiros, atualmente, são a Bahia (95,65%), a Paraíba (3,35%) e Rio Grande do Norte (0,73%) (Tabela 2).

Tabela 2. Produção brasileira de sisal, por unidade da Federação, 2002 e 2003. UF

Comparativo de área cultivada e produção, variações e participação percentual. 2003 Área (ha)

2002

Ren

Prod

Área

d.

(t)

(ha)

(kg/

Variação % - 2003/2002

Part. %

Ren

Prod.

Área

Rend.

Prod.

Prod.

d

(t)

(ha)

(kg/ha)

(t)

(2003)

(kg/

ha)

ha)

BA

190.693

852

162.458

200.178

853

170.711

4,97

0,12

5,08

95,65

CE

170

1.20

204

390

1.20

468

129,41

0,00

129,41

0,26

5.983

19,65

4,76

25,27

3,35

0 PB

0

6.305

757

PE

25

720

RN

4.580

609

201.771

844

170.243

Total

4.776

7.544

793

18

25

720

18

0,00

0,00

0,00

0,01

2.787

2.845

458

1.303

-37,88

-24,79

-53,25

0.73

210.982

846

178.483

4,56

0,24

4,84

100,00

Fonte: IBGE (LSPA-julho), elaborado pela CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento)

Em termos de rendimento em campo, há variação entre a média de 609 kg/hectare no Rio Grande do Norte e 1.200 kg/hectare no estado do Ceará; segue-se o estado da Bahia, cuja produção alcança a média de 852 kg por cada hectare colhido. A média para o país, no ano de 2003, foi de 844 kg/hectare. Na Figura 6, é possível visualizar toda a área nordestina produtora de sisal, no ano de 2002, de acordo com dados do IBGE (2002).


C a p í t u l o I | 32

Figura 6. Municípios nordestinos produtores de sisal no ano de 2002. Fonte: IBGE – Fonte: Produção Agrícola Municipal.

Na safra de 2015, o Brasil teve uma produção de 181.785 t de fibras. Os estados da Bahia, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, foram os maiores produtores (GCEA/IBGE, 2015) (Figura 7) (CONAB, 2014).

Figura 7. Produção de Sisal no Brasil. Fonte: CONAB, 2014.


C a p í t u l o I | 33 Os principais territórios do sisal por estado nordestino são: 1.BAHIA - O Estado da Bahia é, atualmente, o principal produtor brasileiro de sisal, tendo, em 2003, explorado mais de 160 mil hectares e colhido 95,65% de toda a produção brasileira. A atividade promove ocupação de cerca de 700 mil pessoas direta e indiretamente, sem contar com um número importante de ocupações nos setores secundário e terciário. Além disso, o sisal é o décimo produto da pauta de exportação da Bahia (APAEB, 2004a). No ano de 2003, o Estado exportou o correspondente a US$ 45,9 milhões, o que equivale a 1,41% da sua pauta de exportação. O maior problema observado na cadeia produtiva do sisal na Bahia diz respeito à concentração da remuneração “nas mãos” do elo mais forte – o industrial. A propósito, em recente seminário realizado em Conceição do Coité (BA), com o objetivo de discutir a problemática em torno da economia sisaleira, verificou-se que, em todas as palestras ministradas, foi enfatizada a grande importância da atividade para o semiárido, principalmente pela capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas e de geração de emprego e renda. Em termos de organização, a Bahia conta com a APAEB, uma associação de grande importância para o setor sisaleiro, tanto pela abrangência em termos de área quanto pela quantidade de empregos gerada e o apoio à agricultura familiar. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), 75 municípios baianos são produtores de sisal. Tais municípios, juntos, ocupam uma área de 80,6 mil hectares, abrigam uma população em torno de 1,5 milhão de habitantes e estão distribuídos nas microrregiões Nordeste, Piemonte da Diamantina e Paraguaçu. Destes municípios, 36 merecem uma descrição sucinta, por serem os mais representativos em termos de produção. Assim, a partir do agrupamento desses municípios nas respectivas microrregiões, é feita uma análise da situação socioeconômica da região sisaleira baiana. -Microrregião do Nordeste da Bahia – Nessa Microrregião, 15 municípios são mais representativos em termos de produção: Araci, Cansanção, Conceição do Coité, Euclides da Cunha, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente. Referidos municípios, juntos, abrigam uma população de 510.807 habitantes, a maioria apresentando densidade demográfica abaixo de 30 hab/km2 e população inferior a 60 mil habitantes. De toda a população dos municípios, 34,7% possuem idade entre 0 e 14 anos e somente 9,2% estão


C a p í t u l o I | 34 na faixa etária superior a 60 anos. Os demais (56,2%) encontram-se na idade economicamente ativa, entre 15 e 59 anos de idade (IBGE, 2002).

O número de propriedades rurais dos municípios chega a 63,5 mil, ocupando uma área total de 1,33 milhão de hectares. Do total dos estabelecimentos rurais, 95,7% são familiares, ocupando 57,7% da área total. O tamanho médio dos estabelecimentos familiares é de 12,61 hectares, enquanto que os patronais têm área média de 219,47 hectares (MDA/INCRA, 2000). E, em termos de área plantada, o sisal ocupa o segundo lugar, perdendo somente para o feijão (102.700 hectares). -Microrregião Piemonte da Diamantina da Bahia – Essa Microrregião possui 12 municípios mais representativos em termos de produção de sisal: Andorinha, Campo Formoso, Capim Grosso, Itiúba, Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba, Ourolândia, São José do Jacuípe, Serrolândia, Umburanas e Várzea Nova. Juntos, esses municípios abrigam uma população total de 321.686 habitantes, sendo que 51,9% encontram-se no meio rural. Somente três dos municípios têm população acima de 30 mil habitantes (Jacobina: 76.492; Campo Formoso: 61.942; Itiúba: 35.543; IBGE, 2002).

Os municípios contam com 29,5 mil estabelecimentos rurais, os quais ocupam uma área de cerca de 1 milhão de hectares. Destes estabelecimentos, 92,8% são familiares, ocupando 59,8% da área total. Os estabelecimentos familiares têm área média de 23,73 hectares, enquanto que a área média dos estabelecimentos patronais é de 218,35 hectares (MDA/INCRA, 2000). O sisal é o principal produto agrícola da Microrregião em termos de área plantada, com 100.173 ha. Em seguida, aparece a mamona (15.380 ha) e a mandioca (12.110 ha).

Microrregião Paraguaçu - Os municípios mais representativos da microrregião de Paraguaçu, em número de 9, são: Candeal, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ichu, Nova Fátima, Pé de Serra, Pintadas, Riachão do Jacuípe e Tanquinho. Juntos, esses municípios abrigam uma população de 103.491 habitantes, grande parte com baixa densidade demográfica e população inferior a 31 mil habitantes. O município mais populoso é Riachão do Jacuípe, com 61.633 habitantes. Do total de 103.491 habitantes, 44,5% se encontram no meio urbano. De toda a população dos municípios, 31,5% possuem idade


C a p í t u l o I | 35 entre 0 e 14 anos e somente 7% estão na faixa etária superior a 60 anos. Os demais (58%) encontram-se na idade economicamente ativa, entre 15 e 59 anos de idade (IBGE, 2002).

Os municípios contam com 10,9 mil estabelecimentos rurais, os quais ocupam uma área de 394 mil hectares. Do total destes estabelecimentos, 91% são familiares, ocupando 54,8% da área total (MDA/INCRA, 2000). O sisal é o terceiro produto agrícola em termos de área plantada (1.950 ha), perdendo para o feijão (9.130 ha) e o milho (9.460 ha).

2.PARAÍBA - A Paraíba já foi o maior produtor brasileiro de sisal nos anos 1970, perdendo na década de 1990, para o estado da Bahia e ocupando, a partir de então, a segunda colocação. Em 1993, a produção estadual foi de 10.441 toneladas, o que representou 8,3% da produção nacional. No ano de 2002, a produção caiu para 4.776 toneladas, reduzindo para 2,8% a participação na produção brasileira. Em consequência, o número de indústrias no Estado caiu de 10 para 4, hoje todas localizadas em João Pessoa e proximidades. Mesmo assim, a maior parte do sisal beneficiado nestas indústrias é oriunda da Bahia.

Atualmente, 34 municípios produzem sisal no estado da Paraíba, de acordo com informações do IBGE para o ano de 2002. Nesse mesmo ano, os municípios de Picuí (1.600 toneladas), Barra de Santa Rosa (720 toneladas), Casserengue (460 toneladas) e Nova Floresta (400 toneladas), juntos, foram responsáveis por cerca de 58% de toda a produção paraibana de sisal.

Os principais problemas do setor sisaleiro paraibano são os custos de processamento, os quais são bastante elevados, comparativamente aos preços do produto final no mercado e, em consequência, da baixa remuneração do produtor.

A falta de organização entre os produtores também é um problema sério no setor sisaleiro paraibano. Neste Estado existem poucas associações, poucas cooperativas e baixo nível de participação. Atualmente, predominam as pequenas propriedades, com área média em torno de 10 hectares, produzindo cerca de 700 kg/ha. A despeito da queda de produção ao longo dos últimos anos e dos demais problemas que afetam o setor sisaleiro paraibano, atualmente, o sisal ainda tem relativa importância na pauta de exportação da Paraíba. No


C a p í t u l o I | 36 ano de 2003, o Estado exportou o correspondente a US$ 1,8 milhão, o que equivale a 1,1% de toda a pauta de sua exportação. Na Paraíba, existem aproximadamente 200 máquinas “Paraibanas”. Embora se verifique a preocupação das instituições com os problemas oriundos da utilização desse equipamento, observa-se certa desarticulação em torno da problemática do sisal.

3.RIO GRANDE DO NORTE - A produção de sisal no Rio Grande do Norte se concentra em propriedades de agricultores familiares que, em termos de organização, passam por dificuldades, pois a única cooperativa representativa do segmento na principal região produtora, o Mato Grande, está desativada. A falta de representação desses agricultores contribui, inclusive, para que o produto seja entregue os intermediários em condições desvantajosas, que repassam a fibra para empresas localizadas na região e na capital do Estado. Em João Câmara, por exemplo, duas empresas, com fábrica instalada em Natal, atuam na comercialização do sisal (Mantas Nelbon e Ecopar). A comercialização é feita através de prepostos dessas empresas, residentes na cidade, que se encarregam de repassar a produção para suas unidades em Natal.

Segundo dados do IBGE, a produção atual do Estado é registrada somente nos municípios de Coronel Ezequiel, Jaçanã, João Câmara, Monte das Gameleiras e Pureza. Estes municípios, juntos, produziram no ano de 2002, um total de 2.787 toneladas de fibra, ocupando a terceira posição no ranking brasileiro de produtores de sisal. O maior produtor de sisal do Estado, segundo dados do IBGE, é o município de João Câmara, com 3.000 hectares de área plantada e uma produção de 2.100 toneladas, o correspondente a 75,3% de toda a produção estadual. Essa produção gera uma receita total de aproximadamente R$1,5 milhão.

Na região do Mato Grande, os principais produtores são os municípios de João Câmara, Parazinho, Pedra Grande, Pedra Preta, Jandaíra e Touros. Empresários locais estimam que, em João Câmara, cerca de 6.000 hectares foram abandonados nos últimos anos. Na região do Trairi, 69 produtores estão com áreas recuperadas nos municípios de Coronel Ezequiel e Jaçanã. No ano de 2001, foram recuperados 1.300 hectares, com produção estimada em 3.961 toneladas.


C a p í t u l o I | 37 4.CEARÁ - No Ceará, a cultura do sisal foi introduzida recentemente, no Sítio Serrinha, dentro do território do município de Granjeiro. A comunidade residente nesse sítio, composta por 80 famílias e cerca de 1.300 pessoas, por meio da sua associação comunitária (Associação dos Produtores de Sisal do Sítio Serrinha), explora e beneficia o sisal de forma associativa, consorciada com a criação de 400 cabeças de caprinos e ovinos. Na própria comunidade, são produzidas peças artesanais num galpão industrial, as quais são comercializadas no próprio galpão, pela Central de Artesanato do Ceará (CEART), e nas feiras de artesanato da região (SEBRAE, 2004). Um Caririaçu, CE, a produção de agave neste município, praticamente o único do Estado a cultivar a planta também conhecida como sisal para a fabricação de cordas, cordões e artesanato, está em baixa.

Em 2002, a produção total do Ceará, nesses dois municípios, alcançou 204 toneladas. (IBGE, 2002). Os campos de sisal desses dois municípios detêm a melhor produtividade brasileira, entre 1.200 e 1.500 kg por cada hectare plantado. Isso ocorre, segundo informações de pesquisadores da Embrapa, em virtude das melhores condições de solo e pluviosidade existentes nessa região, comparativamente às demais regiões produtoras.

GÊNERO AGAVE L. Em grego, agave, agavus, significa “admirável”. Seu centro de origem se localiza em México, pois é nesse país que se encontra a maior variabilidade e número de espécies (CASTORENA-SÁNCHEZ, 1985). Atualmente, foram reconhecidas 136 espécies, 26 subespécies, 29 variedades e sete formas para a parte continental de Norteamericanas (GENTRY, 1982). O gênero Agave se divide nos subgêneros: Agave, com inflorescência em panícula ou umbela, e Littaea, a inflorescência é em forma de espiga ou racemosa. A distribuição em grupos para ambos os subgêneros proposta por Gentry (1982) está inscrita na Tabela 3.


C a p í t u l o I | 38 Tabela 3. Relação de gênero Agave, subgêneros, espécies e exemplos. Subgêneros

Grupo ou seção

Nº de

Exemplos

espécies Littaea

Agave

Amolae

8

Agave vilmoriniana Berger (presente em Jalisco)

Choritepalae

3

Agave guiengola (enémica Oax.)

Filiferae

8

Agave schidigera (presente em Jalisco)

Marginatae

21

Agave victoriae-reginae T. Moore

Parviflorae

4

Agave schotii Engelm (N. de México)

Polycephalae

5

Agave celsii Hook (Hidalgo)

Striatae

3

Agave stricta Zucc (Puebla)

Urceolatae

2

Agave utahensis Engelm (E. U. A.)

Americanae

6

Agave americana (amplamente distribuído)

Campaniflorae

3

Agave promontorio Trel. (Baixo California)

Crenatea

6

Agave inaequidens (Jal. Mezcal “raicilla”)

Deserticolae

10

Agave avellanidens (E.U.A.) e N. de México)

Ditepalae

10

Agave durangensis (Dgo. Mescal)

Hiemiflorae

12

Agave potatorum (Oax. para mescal)

Marmoratae

4

Agave marmorata (Oax. algumas vezes para mescal)

Parrynae

6

Agave guadalajara (Jal.)

Rigidae

12

Agave tequilana; Agave fourcroydes, Agave angustifolia

Salminae

5

Agave salmiana, Agave mapisaga (aguamieleros, pulqueros)

Sisalanae

6

Agave sisalana (Henequén verde)

Umbelliflorae

2

Agave sebastiana (Somente em baixo Califórnia)

Fonte: Ana G. Valenzuela (2003).

De todas as espécies cultivadas no mundo, apenas o Agave sisalana Perrine e o Agave fourcroydes Lamaire se destacam comercialmente para a produção de fibras. A primeira, conhecida vulgarmente como agave ou sisal, é quase a única espécie cultivada no Brasil, e a mais produzida no mundo. A segunda, conhecida como agave bravo, sisal branco, cabinho ou henequém, tem como maior produtor o México. Suas fibras são tecnologicamente mais fracas que as do sisal e normalmente são usadas para a fabricação de binder twine (fios de enfeixar).


C a p í t u l o I | 39 MELHORAMENTO GENÉTICO O sisal tem sido bem pouco explorado do ponto de vista dos métodos de melhoramento genético, visto que somente dois procedimentos têm sido empregados no melhoramento desta planta: 1) seleção de plantas individuais e 2) hibridação; no primeiro, faz-se uso da variação natural existente nas populações de sisal cultivadas ou não e, no segundo, o objetivo é induzir nova variabilidade a partir da qual a seleção passa a ser realizada. A seleção individual consiste na escolha dos indivíduos superiores de uma população de plantas para sua propagação nas gerações seguintes. No sisal a seleção individual pode ser realizada a partir da descendência assexuada ou sexuada; no primeiro caso, ela consiste na escolha dos tipos superiores existentes nos plantios comerciais de sisal, para propagação dos seus bulbilhos e/ou rebentões na próxima geração. Esta modalidade de seleção, de ordinário, não proporciona melhorias na população porque, sendo a variabilidade de natureza ambiental, ela não será aproveitada pelo melhoramento; no entanto, poderá ser valiosa no caso de ocorrerem mutações espontâneas e se deseja perpetuá-las, através da seleção individual. A seleção individual segue, a partir da descendência sexuada, o mesmo princípio, porém utiliza as sementes das plantas superiores para propagação da próxima geração. Nesta modalidade de seleção a probabilidade de sucesso é maior porque a variabilidade trabalhada é tanto de natureza genética como ambiental. Para o sisal, no entanto, a descendência sexuada não oferece vantagens para o melhoramento, devido ao fato dos “seedlings” apresentarem espinhos nas margens das folhas, o que confere à planta um grande defeito para a exploração comercial; por outro lado, os descendentes derivados pela via sexuada não chegam a apresentar caracteres importantes que possam compensar a grande desvantagem da presença dos espinhos nas margens das folhas. A dificuldade na hibridação artificial está relacionada à posição dos ramos florais na inflorescência da planta. Em razão de sua altura, pode ser necessário se construir um andaime para assegurar o acesso às flores pelo operador encarregado de hibridação. Salgado et al. (1979) descrevem dois métodos para contornar esta dificuldade na hibridação artificial do sisal. No primeiro método, o escapo floral é decapitado a uma altura de cerca de 3 m do solo e, em seguida, a planta é inclinada de acordo com um ângulo de 45º na horizontal; com este artifício, consegue-se que as gemas inferiores do escapo floral produzam ramos floríferos em uma posição capaz de facilitar a hibridação;


C a p í t u l o I | 40 normalmente, em muitas espécies essas gemas não entram em atividade, porém com o corte saem do estado de dormência e passam a se desenvolver; segundo método, arrancase cuidadosamente a planta do solo quando ela está no início do desenvolvimento da inflorescência, sendo a mesma transportada para um local mais apropriado onde vão ser realizadas as operações do cruzamento; deve-se ter o cuidado de manter a planta ereta e, para isto, ela pode ser apoiada em uma parede, utilizando outro suporte qualquer. Durante as operações de cruzamento a planta pode, assim, ser facilmente deitada, de modo a tornar as partes florais acessíveis às operações de emasculação e polinização. Depois de utilizada, a planta pode ser colocada no local anterior, o que poderá ser repetido muitas vezes, durante a fase dos cruzamentos. Segundo o autor, o manuseio da planta por este método não causa qualquer distúrbio no florescimento do Agave sisalana, visto que este vai ocorrer totalmente à custa da água e de nutrientes acumulados nas folhas carnosas da planta. Na Figura 8 pode ser observado o esquema de melhoramento por hibridação para a obtenção de cultivares de sisal.

Figura 8. Polinização artificial de flores do agave. Foto: Lock, G. W. (1962).


C a p í t u l o I | 41 Os objetivos gerais no melhoramento genético do sisal são: 1) plantas com alta produção de fibras; 2) fibras de boa qualidade; 3) plantas resistentes e rústicas e 4) tipos que facilitem a colheita e a industrialização (MEDINA, 1954). Para atender a esses objetivos e garantir o sucesso do melhoramento, os seguintes critérios devem ser adotados na escolha de uma planta de sisal: 1) Prolífica produção de folhas - plantas com não menos que 500 e até 1.000 folhas durante todo o seu ciclo de vida; 2) Folhas de dimensão e peso adequados - comprimento da folha entre 130 a 140 cm e peso variando de 800 a 1.000 g; 3) Boa conformação das folhas - espinho na folha pouco saliente, lâmina da folha reta e livre de sulcos longitudinais, margens das folhas livres de espinhos e folhas rígidas, para facilitar o enfeixamento; 4) Percentagem de fibra em todos os cortes igual ou superior a 4%; 5) Rápido crescimento e desenvolvimento inicial das plantas para pronto retorno do capital investido na lavoura; 6) Fibra fina no primeiro corte tornando-se gradualmente mais grossa e forte para resistir à descorticação quando as folhas se tornam mais fibrosas durante o último estádio de vida da planta.

A dificuldade no melhoramento do sisal reside no fato do pouco conhecimento que se tem acerca da herdabilidade das características de importância econômica da planta, especialmente as relacionadas à produção às características de fibra. Estudos estão sendo realizados visando à estimação dos parâmetros genéticos em clones de sisal do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa Algodão, com vistas a se obter informações para orientar o melhoramento genético desta importante fibrosa. Foram estudados o sisal comum, pertencente à espécie A. sisalana, os híbridos Quênia, 400 folhas, Rio Grande do Norte e o de número 11648. As características medidas compreenderam, na folha, o comprimento e a largura em centímetros, a espessura em milímetro, peso em gramas e, na fibra, peso, percentagem e resistência, e ainda, as forças F1 e F2 relacionadas ao esforço despendido na descorticação. Na Tabela 4, são encontrados os diversos parâmetros genéticos, estimados a partir dessas populações. Digno de registro é o valor encontrado para o coeficiente de variação (CV)


C a p í t u l o I | 42 genotípica (40,22%) exibido pela resistência de fibra; este caráter tem grande importância no sisal, porque dele vai depender a resistência do fio, durante a industrialização da fibra. Como o valor para este CV encontra-se associado a um coeficiente de determinação genotípica igualmente alto (0,97); isto pode constituir num indicativo das potencialidades de melhoria genética desta importante característica do sisal, nas populações estudadas. Por outro lado, constitui-se numa evidência da potencialidade do melhoramento do sisal quando orientado para o aproveitamento da variabilidade entre clones de diferentes origens.

Tabela 4. Estimativas por caráter das variâncias fenotípicas (2F), genotípicas (2G) e ambientais (2E), coeficiente de determinação genotípica (“h2”) e erro associado (“S22X”), coeficientes de variação fenotípica (CVF %), genotípica (CVG%) e do experimento (CVE %) e índice b (b), relativos aos clones de sisal. Caracteres

 2F

 2G

2E

Comprimento da folha

274,63

270,58

Espessura da folha

5,41

Largura folha

“h2”

S22X

CVF %

CVG %

CVE %

b

4,05

0,98

 1,33

18,92

18,78

5,14

3,65

5,34

0,07

0,99

 0,67

22,28

22,19

5,77

3,84

8,76

8,41

0,35

0,96

 2,66

16,17

15,89

7,22

2,20

Peso da folha Peso da fibra

3.66,84 12,32

3.152,06 11,51

614,78 0,81

0,83 0,93

 11,32  4,66

12,86 24,71

11,77 23,87

11,62 14,18

1,01 1,68

Força 1 Força 2 Percentagem de fibra

13,82 5,40

13,08 4,92

0,74 0,48

0,95 0,91

 3,33  5,99

21,08 30,97

20,51 29,63

10,91 22,80

1,88 1,30

0,56

0,55

0,01

0,98

 1,33

25,00

24,66

7,57

3,26

2.217,87

89.266,28

2.951,59

0,97

 1,99

40,88

40,22

16,35

2,46

Resistência da fibra

da

Fonte: José de Alencar Nunes Moreira e Robson de Macêdo Vieira (1998).

BOTÂNICA, MORFOLOGIA, ECOLÓGICO E FISIOLOGIA

-Aspecto Botânico O Agave sisalana é considerado uma espécie de sucesso, devido às suas adaptações morfológicas, reprodutivas e ecológicas, sua plasticidade genética, tolerância ecológica, capacidade de dispersão e germinação de suas sementes e sua interação biótica com outros organismos, como são os polinizadores (LEÓN et al., 2013).


C a p í t u l o I | 43

O gênero Agave faz parte da família de plantas agavaceas ou agavaceae (por seu nome científico) e pertence à classe das monocotiledôneas. Ainda não há um consenso sobre a sua delimitação taxonômica, no entanto, os especialistas listram em mais de 200 espécies que fazem parte desse gênero, entre as quais se encontra o Agave sisalana. Por sua ampla diversidade, a família Agavaceae está integrada por oito gêneros, entre os quais se encontra o gênero Agave (GARCÍA-MENDONZA, 2007).

Foi Carlos Linneo quem estabeleceu, no ano de 1748, em Hortus Upsalensis o gênero Agave. Linnaeus tomou a palavra grega Agavos, que significa algo grande, ilustre, nobre ou admirável para a designação deste gênero, talvez baseado na morfologia dessa planta quando ocorre sua reprodução sexuada (JACQUES-HERNÁNDEZ; SALAZAR, 2009).

A família Agavaceae é endêmica da América por se encontrar distribuídas em diversos habitats desde o sul do Canadá até a Bolívia, incluindo as ilhas do Caribe (MENDOZA, 2004). Esta família é definida citologicamente com 5 cromossomos compridos e vinte e quatro curtos e sua classificação taxonômica é a seguinte:

Reino: Plantae Divisão: Antophyta Classe: Liliopsida Subclasse: Liliidae Ordem: Liliales Família: Agavaceae Subfamília: Agavoideae Gênero: Agave Subgênero: Agave Espécie: Agave sisalana

O gênero Agave, segundo o seu tipo de inflorescência, se divide em dois subgêneros. Existe um subgênero Agave que tem uma inflorescência em panícula, no qual se encontram as espécies de importância econômica, tais como: Agave sisalana, Agave americana, Agave tequilana, Agave fourcroydes e Agave angustifolia, e o outro


C a p í t u l o I | 44 subgênero Littaea que apresenta uma inflorescência em forma de espiga (IRISH; IRISH, 2000; Figura 9).

Figura 9. Destaque dos dois tipos de inflorescência: A) Panícula (gênero Agave) e B) forma espigada (gênero Littaea).

-Aspecto Morfológico Planta: O sisal (Agave sisalana) é uma planta de folhas rígidas, lisas, de cor verde brilhante, em forma de espada de 10 a 15 cm de largura por 1 a 2 metros de cumprimento; na extremidade da folha encontra-se um espinho redondo, marrom de 20 a 25 cm de comprimento. Possui de 1,70-2,0 m de altura, acaule com 7-10 dm de largura, cespitosa, suculenta, com pouco rizomas, roseta grande e aberta, estendida radialmente, multifoliada com 80-100 folhas na fase madura (Figura 10).


C a p í t u l o I | 45

Figura 10. Planta do Agave sisalana com quase 2 m de altura.

Os agaves são perenes que geralmente assumem a forma de rosetas pela disposição circular de suas folhas que crescem em forma de espiral. As folhas são regularmente suculentas e se caracterizam por serem grossas, achatadas, fibrosas, de consistência dura e com terminação afilada no ápice, quase sempre de margens não espinhosas (Figura 10). Por se tratar de uma planta monocárpica, ela floresce uma só vez durante o ciclo vegetativo, morrendo posteriormente. Por outro lado, o Agave sisalana é uma das quase 300 espécies conhecidas de agave no mundo, das quais 75% destas plantas desenvolvem no México, que se reproduz principalmente por rebentos (em espanhol denomina-se de hijuelos) e são tirados da planta, quando alcançam uma altura de 30 a 40 cm.

Raiz: A planta apresenta uma raiz primária e perene, formada pelo desenvolvimento de uma radícula de bulbos ou rebentos; e uma raiz secundária, cuja forma fasciculada atinge uma distância que pode variar de 1,5 a 3,0 m da planta e invade a terra lateralmente, o que dificulta a erosão quando cultivada em terreno declivoso (Figura 11). Essas raízes são


C a p í t u l o I | 46 responsáveis pela fixação da planta ao solo e, quando livres, isto é, sem competição lateral, a distância pode atingir até cinco metros. É por esta razão que seu diâmetro é de 2-4 mm e são ramificadas para que a planta possa suportar o peso das folhas e do escapo floral.

Figura 11. Detalhe do rebento de agave com sua raiz descoberta. Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

A maioria das raízes concentra-se na profundidade de 10 a 25 cm da superfície do solo e elas têm as funções de fixar e sustentar a planta e dar origem às raízes alimentadoras, cuja função é absorver água e nutrientes da solução do solo. Estas são de pequeno diâmetro (1 a 2 mm) e, dependendo das condições de fertilidade do solo, desenvolvem-se em grande número; com o tempo, também se suberizam e aumentam de tamanho (SILVA et al., 2008).

Talo: A planta do sisal não tem caule, isto é, é acaulescente (pouco desenvolvido) e de forma cilíndrica, mas em seu lugar há um tronco rizomatoso ou eixo principal, sobre o qual se acham inseridos as folhas e o broto terminal (Figura 12). Em uma planta adulta madura, o pseudocaule do Agave sisalana pode atingir 120 cm de comprimento e o


C a p í t u l o I | 47 diâmetro chega a alcançar o máximo de 20 cm em plantas com dois anos de idade. Depois desta fase, em especial quando as plantas são regularmente cortadas, o tronco deixa de crescer em diâmetro, uma vez que todo o crescimento da planta passa a ser apical.

Figura 12. Destaque do tronco do agave após o corte de folhas.

Por outro lado, o tronco apresenta ampla propagação por brotos rizomatosos (rebentos) e é coberto por uma casca dura lignificada de, aproximadamente, 3 mm de espessura, que serve para dar sustentação e fixação às folhas, além de servir como órgão de armazenamento. O interior do pseudocaule é composto por tecido de consistência dura, semelhante à madeira. Na parte média superior do caule, encontram-se tecidos menos fibrosos, de coloração esbranquiçada, enrugados e suculentos e, logo acima, localiza-se o meristema principal ou superfície de crescimento, que é o ponto de origem das folhas, constituídas de pequenas células de alto poder reprodutivo (SILVA et al., 2008).

Folhas: A folha do sisal possui um formato linear lanceolada, destituída de pecíolo (séssil, ligada diretamente ao tronco), rígida, de cor verde escuro e comprimento variando entre 120 e 160 cm, com 10 a 15 cm de largura na sua parte média. A superfície é côncava, desprovida de espinhos nas bordas, possuindo um único acúleo de 2 cm na extremidade da folha (Figura 13). A inserção da folha no pseudocaule ocorre em forma de espiral,


C a p í t u l o I | 48 ascendente, formando rosetas; as mais jovens são verticais, mas, à medida que amadurecem, amplia-se o ângulo de sua inserção no caule até as folhas inferiores, que são horizontais (Figura 14). Uma planta de A. sisalana produz entre 200 e 250 folhas durante o ciclo, com peso médio variando entre 400 e 700 gramas. É possível realizar o primeiro corte aproximadamente aos 36 meses após o plantio, podendo-se colher de 50 a 60 folhas, das quais 30 a 40% são curtas e impróprias para a cordoaria. Nas colheitas seguintes, são retiradas cerca de 30 folhas, o ciclo da planta dura em média 8 a 12 anos. A epiderme da folha é composta por uma cutícula cerosa, que repele a água facilmente; nesta camada, encontram-se numerosos estômatos distribuídos de maneira contínua, realizando as trocas gasosas. Esses estômatos estão profundamente submersos e distribuídos sobre as superfícies abaxial e adaxial, e são providos das células guarda, que se acham envolvidas no mecanismo de abertura e fechamento dessas importantes estruturas foliares.

Figura 13. Espinho terminal da folha do Agave sisalana Perrine. Foto: Vincent Boullet.


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Figura 14. a) Folhas distintas emitidas do talo da planta: superiores, médias e básicas; e b) as particularidades da folha do Agave sp.: espinho, ápice, bordas, dentes, colo e a parte superior e inferior da folha. Fotos: Ana G. Valenzuela Zapata.

Tanto o sisal (Agave sisalana) como o Hibrido 11648 raramente devem apresentar espinhos marginas nas folhas (Figura 15), sendo que a planta dessa primeira variedade produz entre 200 e 250 folhas durante o ciclo, com peso médio da folha variando entre 400 e 700 gramas e seu comprimento pode variar entre 130 cm a 140 cm. Essas folhas estão dispostas em roseta em torno de uma única haste nunca ramificada, geralmente escondida pela profusão de folhas e que é exposta quando as folhas são cortadas para diversos usos.

Figura 15. Ausência de espinhos nas bordas laterais da folha do Agave sisalana. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I | 50 Fibra: Internamente, as folhas são formadas por um tecido composto de células palissádicas; abaixo deste, encontra-se o parênquima, que é um tecido esponjoso, onde se localizam as fibras. Cada folha contém de 1.000 a 1.200 fios de fibra. As fibras "mecânicas", que são as comerciais, constituem-se 75% do total das fibras da folha e concentram-se principalmente em três ou quatro fileiras da zona periférica, abaixo da epiderme; essas fibras são as responsáveis pela manutenção da rigidez da folha. As fibras "curtas" estão associadas aos tecidos condutores e se encontram na parte média dos tecidos da folha. Geralmente as fibras curtas são perdidas no processo atual de desfibramento, enquanto algumas fibras "mecânicas", que possuem entre 45 e 50 fios, as quais estão localizadas na camada média da folha, se unem e se lignificam para formarem o acúleo terminal da folha. Os fios das fibras são formados por células fusiformes, fortemente compactadas, com 3 mm de comprimento e 20 a 30 micra de diâmetro; são poligonais em corte transversal e apresentam paredes grossas e lúmen pequeno arredondado (SILVA et al., 2008; Figura 16).

Figura 16. a) Vista longitudinal da fibra; b) vista em corte transversal da fibra; c) fibra elementar única. Fotos: Ashish Hulle; Pradyumkumar Kadole; Pooja Katkar (2015).

Rizomas (Rebentos): Os rizomas são talos subterrâneos com diâmetro que variam entre 1,5 a 3,0 cm que crescem geralmente em um plano horizontal, paralelo à superfície do terreno na profundidade de 5 a 15 cm. Com a diferença das raízes, os rizomas possuem gemas na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que formam uma nova planta e pela face inferior geram raízes adventícias (Figura 17). A cada ano os rizomas emitem gemas que originam novos órgãos aéreos. Por outro lado, a propagação por rizomas é a mais utilizada em agaves, não só porque conserva as características genéticas


C a p í t u l o I | 51 da planta madre, mas é devido ao desenvolvimento das plantas ser mais rápido e vigoroso que os bulbilhos. Quando se trata de planta mãe jovem, os rizomas se estendem radialmente e têm diferentes comprimentos, o que ajuda à dispersão dos rebentos, enquanto que em plantas adultas de cinco anos, os rizomas são curtos e os rebentos nascem sombreados pela própria planta mãe. Os rebentos de plantas velhas são geralmente deformados (deforme), devido a pouca luz que recebem ao crescer na base da planta mãe (VALENZUELA, 2003). Recomendam-se, para o plantio, os rebentos com 40 a 50 cm de altura e com 12 a 15 folhas (Figura 18).

Figura 17. Detalhes do talo do agave: base do escapo floral, base das folhas, raízes e rizoma que se modifica em rebentos. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.


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Figura 18. Rebentos de Agave sisalana. Foto A: Vicente de Paula Queiroga.

Uma planta-mãe poderá produzir de 5 a 10 rizomas, no caso do sisal comum ou Agave sisalana, mas existem outras cultivares, como o Híbrido 11648, que poderão emitir entre 30 e 50 rizomas.

Inflorescência: Na fase de floração, entre o 5º e o 8º ano do plantio, a planta emite no meio das folhas (ou roseta) uma inflorescência denominada tecnicamente de escapo floral ou, popularmente, “poste” ou “pendão de agave” (Figura 19). No sisal a inflorescência é uma grande panícula de formato variável, que engloba os tipos oblongo, oblongo piramidal ou piramidal alongado. Ou seja, possui inflorescência paniculada com 6- 9 m de altura e essa haste torna-se cada vez mais resistente até a morte da planta. Também são encontrados no pendão floral, normalmente, de 25 a 40 ramos principais, com um número de 40 flores em cada cacho. Nesse estádio, são produzidos flores, frutos e sementes, ou apenas bulbilhos, enquanto vai ocorrendo a morte do agave (LOCK, 1962).


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Figura 19. Escapo floral do agave Híbrido 11648. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Depois que emerge, o crescimento do escapo é muito rápido e pode atingir cerca de 1012 cm por dia; em seu estágio inicial apresenta coloração verde, com flores de aparência cerosa, que suportam as brácteas de tonalidade cinzento-purpurina, enquanto o diâmetro pode chegar a 15 cm na base quando plenamente desenvolvido, em condições de solo rico ou em plantas que são regularmente cortadas; as brácteas são em grande número, podendo-se encontrar de 50 a 60 a cada 10-15 cm de comprimento do escapo floral (Figura 20).


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Figura 20. Agave sisalana com sua inflorescência paniculada com 6-8 m de altura. Foto: Pimentel et al. (2006).

Durante o processo de floração, as folhas vão secando à medida que as sementes amadurecem, devido que estas últimas aproveitam os nutrientes acumulados. A polinização de plantas de agave é realizada com a intervenção de várias espécies de aves, roedores e insetos que, em busca de alimento, são atraídos pelo néctar e pela cor das flores. Entre eles estão os morcegos considerados importantes polinizadores de agaves, pois são de hábitos migratórios e se alimentam em pequenos rebanhos. Outros possíveis polinizadores são beija-flores, abelhas, vespas, periquitos e outros roedores com hábitos de escalada (GENTRY, 1982). Flor: A flor é hermafrodita, sendo encontrada agrupada em cachos situados no final de cada ramo da panícula (Figura 21). Cada flor possui seis estames que estão inseridos na base da corola, sendo os estames constituídos por anteras trilobadas. O gineceu é constituído por um estilo que sustenta um estigma trilobado, com ovário ínfero triloculado. As flores com 6-7,5 cm de comprimento, hipocrateriformes, amareloesverdeado; pétalas com 2,5-3,5 cm de comprimento, oblongas, grossas, tubo do perigonio com 1-1,5 cm de comprimento, ovário com 2,5-3 cm de comprimento, estames


C a p Ă­ t u l o I | 55 com filamentos com 5,5 a 8,0 cm de comprimento, inserido na parte central do tubo (Figura 22).

Figura 21. PanĂ­cula com flores tubulares (nĂŁo abertas) e flores amarelas acinzentadas (Agave sisalana Perrine). Fotos: J. M. Garg (2009).


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Figura 22. Flores de Agave sisalana mostrando, da esquerda para a direita, as etapas sucessivas do desenvolvimento dos estames e maturidade do estigma. Foto: Júlio Cesar Medina (1954).

Durante o florescimento são encontradas flores em todos os estágios na planta de sisal (Figura 23). O florescimento em cada ramo pode ser completado em uma semana, porém a panícula inteira pode requerer diversas semanas.


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Figura 23. Floração do agave. Foto: Ben e Raisa Gertsberg (2012).

Frutos e Sementes: A partir da flor se origina o fruto de cor verde e consistência carnosa nos estágios iniciais de formação, ao final do qual seca e assumi a forma de uma cápsula lenhosa, trilocular, alongada e ovoide, ocasionalmente com terminação pontiaguda (Figura 24). Essa cápsula tem, internamente, três lóculos, nos quais as sementes se distribuem em duas colunas por lóculo; o fruto amadurece cerca de seis meses depois que a flor é polinizada.


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Figura 24. Detalhe das sementes no fruto do agave. Fotos: CONABIO. Oswaldo Téllez Valdés e Reynoso-Santos, R.

As cápsulas variam em tamanho, espessura das paredes e pericarpo, bem como em seu grau de suculência. As dimensões de cada cápsula são: 3,0 cm de comprimento por 2,0 cm de largura; sementes com 6-7 mm na direção do seu maior comprimento. Em cada cápsula pode se desenvolver dezenas de sementes, que têm uma forma papirácea ou de disco ligeiramente triangular, de cor preta quando alcança a sua maturação fisiológica ou branca quando em estado imaturo (Figura 25). As sementes são liberadas e dispersadas gradualmente pelas rachaduras das cápsulas já secas, quando são sacudidas por animais ou pelo ar.


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Figura 25. Frutos triloculares do Agave americana com as sementes viáveis (pretas) e as sementes não viáveis (brancas). Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

Bulbilho: Após a queda das flores, desenvolvem-se novas plantas chamadas "bulbilhos" sobre a panícula, originadas de gemas que se encontram logo abaixo da linha de inserção das flores. Os bulbilhos são formados por tecido meristemático. Cada bulbilho alcança um tamanho máximo de 6 a 10 cm e 6 a 8 folhas e pequenas raízes adventícias que caem da planta, após três meses, e servem como órgão de propagação de novas plantas. No campo, têm-se observado plantas que não chegam a produzir frutos, isto é, que todas suas flores caem sem fertilizar. Contudo, se existe maior quantidade de plantas florescendo e pólen estranho, um maior número de flores consegue se converter em frutos. Por outro lado, sob condições de baixa fertilização floral, os bulbilhos emergem apenas nas partes baixas do eixo floral, porque foram as primeiras flores que lograram a antese. A diferenciação dos botões florais demora em torno de um mês, que corresponde o tempo que dura à abertura de suas flores (antese; VALENZUELA, 2003). Deve-se proceder à escolha dos bulbilhos, levando-se em consideração à produtividade, o porte, o vigor e o desenvolvimento do pendão floral da planta-mãe (Figura 26).


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Figura 26. Bulbilhos se desenvolvem na base floral dos pedúnculos, uma vez que as flores caem. Foto: © Mazza.

-Aspecto Ecológico Outra contribuição da pesquisa do Agave sisalana e sua estreita relação com os serviços ecossistêmicos é o uso dessa espécie vegetal para resolver problemas ambientais, tendo sido reconhecido que o mesmo se adapta a condições climáticas desfavoráveis, suporta períodos de estresse hídrico e se adapta a estas condições. Além disso, esse agave pode ser usado para neutralizar a desertificação e a erosão do solo. Também essa espécie é usada para fixar nutrientes, regular o clima, obter comida, etc. gerar bem-estar na população rural e urbana, sustentabilidade nos ecossistemas e adaptação às mudanças climáticas da área rural e serrana.

-Aspecto Fisiológico

Germinação: A germinação de uma semente de agave inicia com a emergência da radícula de cor branca, em um dos lados (Figura 27A) e, depois, o único cotilédone (classe monocotiledônea), emerge e torna-se verde. A emissão da radícula da semente de agave pode ocorrer ainda no interior da cápsula, porém com pouca viabilidade na formação de muda. Em teste de germinação, utilizando-se sementes de Agave sisalana embebidas em


C a p í t u l o I | 61 água destilada por seis horas, em substrato de papel germitest, previamente umedecido com água destilada na proporção de 2,5 vezes a massa fresca do papel, em germinador com temperatura de 30 oC, Gondim e Souza (2009) verificaram uma percentual de germinação da ordem de 66% nos dez primeiros dias da semeadura, sendo que o processo de germinação ocorre a partir do sexto dia após a semeadura, podendo prolongar-se por mais de 90 dias. Para Lock (1962), na germinação, o cotilédone não é utilizado somente como reserva do endosperma, mas ele funciona como órgão fotossintético, além de envolver e proteger a plúmula e a primeira folha. Devido à testa dura, ou revestimento da semente, não há visível inchaço da semente durante o processo de embebição. Durante a emergência, o cotilédone se alonga e normalmente conduz a testa preta na ponta. Na Figura 27B, observam-se plântulas de agave apresentando raiz e primeira folha com proteção da testa em sua extremidade.

Figura 27. Germinação de semente de agave. A- Emissão da radícula de coloração branca; B- Plântulas de agave apresentando raiz e primeira folha com a proteção da testa no ápice. Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

POLINIZAÇÃO DO AGAVE

O sisal, pela peculiaridade da maturação de suas partes florais, é um vegetal tendente a se enquadrar na categoria das plantas alógamas ou de polinização cruzada; de fato, o desenvolvimento da protandria na espécie deve favorecer a fertilização cruzada em detrimento da autofecundação.


C a p í t u l o I | 62 Deve-se considerar, ainda, que em um campo de sisal diversos indivíduos florescem dentro de um mesmo período e, de ordinário, em espaços de tempo bastantes próximos uns dos outros. O florescimento também leva várias semanas e neste período podem ser encontradas flores em diferentes estágios de crescimento, fato este que, associado às visitas das flores pelas abelhas, leva a supor que pode ser alta a taxa de polinização cruzada nessa planta.

As histórias dos agaves e os morcegos estão intimamente interligados. Para se reproduzir, essa planta depende da atuação de um polinizador e, ao mesmo tempo, ela serve de alimento para esse mamífero. Além de poder percorrer grande distância e visitar muitas plantas a cada noite, o morcego consegue realizar a polinização efetiva do agave, por ser capaz de carregar uma alta quantidade de pólen. O néctar e pólen dos agaves contêm uma grande quantidade de proteínas e aminoácidos essenciais para os morcegos, permitindolhes que se habituem, com exclusivamente, desse alimento fornecido pelo agave (CASANUEVA, 2015; Figura 28).

Figura 28. Visita noturna das flores da planta do agave pelos morcegos polinizadores.

Mas esse precioso néctar não é um tesouro exclusivo dos morcegos. Para algumas espécies de agave, em que as plantas que não têm ramificações na sua flor, os principais polinizadores são alguns visitantes diurnos, tais como insetos, colibrís, e não os mamíferos voadores (Figura 29).


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Figura 29. Visita diurna de insetos (besouro, borboleta e abelha) e beija-flores da planta do agave. Fotos: Uribe e Granados, 1993.

FENOLOGIA O agave é propagado vegetativamente por bulbilhos e por rebentos. Os bulbilhos são produzidos no escapo floral, após a queda das flores, enquanto os rebentos se originam de rizomas subterrâneos emitidos pela planta-mãe (SILVA et al., 1999).

Os agaves são plantas perenes que alcançam seu ciclo produtivo entre 08 a 12 anos, e apresentam características das plantas xerófitas; sua anatomia e metabolismo estão adaptados para utilizar eficientemente a água e, portanto, estão capacitadas para viver em condições áridas e semiáridas. Além disso, suportam as condições de estresse impostas pelo ambiente, como déficit hídrico, alta temperatura, salinidade e deficiências nutricionais.

A presença de uma cutícula grossa na epiderme da folha, a acumulação de cera na superfície e, conta com estomas de natureza complexa, que são características distintas


C a p í t u l o I | 64 dessas plantas, que as protegem da transpiração excessiva nos períodos de estiagem. Por seu tipo de fotossíntese, os agaves pertencem às plantas MAC (metabolismo do ácido crassuláceo), as quais apresentam transpiração noturna, já que abrem seus estomas na parte da noite e fixa o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico.

A floração do agave ocorre com a emissão do escapo floral, o qual indica o final do seu ciclo de crescimento por se tratar de uma espécie de crescimento determinado e um só ponto de emissão de folhas.

Resumidamente, o ciclo fenológico do Agave sisalana pode ser dividido em 5 fases principais, as quais estão ilustradas na Figura 30 e são descritas tais como: 0) Plantio no seco e estabelecimento da muda no início das chuvas (um mês transcorre para emissão das raízes adventícias apenas utilizando a umidade do rebento); 1-2) Desenvolvimento inicial da planta, desde o pegamento até a fase inicial da colheita. Geralmente ocorre no período de 3 a 4 anos, dependendo das condições edafoclimáticas da região; 3). Quando a planta alcança a maturidade, estando apta ao primeiro corte das folhas. Nesta fase, o tronco deverá estar bem desenvolvido, com folhas de tamanho superior a 1 m; 4) Produção plena. O ciclo produtivo de folhas da planta poderá se manter por período de 8 a 10 anos. Em condições normais de chuva, a colheita é realizada uma vez ao ano, com um intervalo de 12 meses para o desenvolvimento das folhas; e 5). Tem início a senescência da planta, com a emissão do escapo floral (pendão), com sua respectiva inflorescência. Nesta fase, a produtividade é reduzida pelo menor número de folhas e pela redução de tamanho.

Figura 30. Ciclo de desenvolvimento e produção do sisal. Fonte: Adaptado do livro “O agronegócio do Sisal no Brasil” Embrapa-CNPA, 1999.


C a p í t u l o I | 65 METABOLISMO DO AGAVE A maioria das plantas fixa o bióxido de carbono durante a fotossíntese na presença de luz solar. Sob estas condições, os estômatos se encontram abertos e apresentam uma grande perda de umidade. Algumas plantas, que evoluíram em condições de pouca umidade, modificaram seu metabolismo com a finalidade de economizar água. Este tipo de metabolismo se encontrou pela primeira vez em plantas da família Crassuláceas e, portanto, se chamou metabolismo ácido crassuláceo, e as plantas que o apresentam se denomina CAM (VALENZUELA, 2003). O metabolismo ácido das crassuláceas (CAM, do inglês Crassuláceo Ácido Metabolismo) é um dos três tipos (outras vias estão às plantas C3 e C4) possíveis de assimilação do carbono atmosférico (CO2) via fotossíntese, o qual está presente em certas espécies de plantas, especialmente em plantas suculentas como o agave. As plantas CAM têm sua eficiência no uso da água aumentada, especialmente as suculentas, constituindo uma importante adaptação fisiológica a condições áridas.

O metabolismo CAM é muito importante para plantas como o sisal, que vivem em ambientes xéricos, onde a disponibilidade de água é em geral baixa (GARDNER et al. 1994) com elevada eficiência no uso de água, gastando em média 75 g de água para produzir um grama de fitomassa (LEVITT, 1972) contra mais de 500 g nas plantas de metabolismo C3, podendo chegar a até 1000 g de água por grama de fitomassa produzida (MAGALHÃES, 1979). A vantagem do mecanismo de CAM é que a planta, durante as horas quentes, mantém os seus estomas fechados, portanto, reduz significativamente a perda de água pela transpiração e ainda permite que uma quantidade suficiente de dióxido de carbono seja utilizada no ciclo de Calvin. Este tipo de metabolismo é verificado unicamente em tecidos que contêm clorofila.

O sisal, à semelhança de outras plantas que apresentam metabolismo fotossintético CAM, tem taxa de absorção de CO2 baixa, variando na luz de 3,0 a 20,0 mg/dm2/h, contra 50,0 a 80,0 mg/dm2/h em plantas de metabolismo fotossintético C4 (LARCHER, 1975). Além de apresentar metabolismo ácido crassuláceo, que permite à planta do sisal abrir os estômatos somente à noite para evitar perda excessiva de água, esta Agavaceae tem os estômatos em criptas ou cavidades que aumentam significativamente a resistência ao


C a p í t u l o I | 66 fluxo de vapor de água no processo de transpiração, conforme pode ser observado na Figura 31, além de sua elevadíssima resistência cuticular.

Figura 31. Esquema simplificado do metabolismo ácido das crassuláceas (CAM) que ocorre em Agave sisalana. Foto: Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão e Amorim Neto (1999).

Em síntese, as plantas CAM abrem os seus estomas durante a noite, absorvendo dióxido de carbono durante este período, e armazenando-o nos vacúolos das células sob a forma de ácido málico. Ou seja, elas fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico. Durante o dia, com a incidência de luz solar, o ácido málico sofre reações no ciclo de Calvin e é transformado em moléculas de glicose (Figura 32).


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Figura 32. Figura 1. Esquema simplificado do metabolismo ácido crassuláceo (CAM) da fotossíntese que ocorre na planta do sisal. Fotos: Djalma Santos e Adriana Tourinho Salamoni.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO SISAL

O sisal tem em sua composição química celulose, hemicelulose, lignina, pectina e ceras (MWAIKAMBO; ANSELL, 2002; MEGGIATO JR. et al., 2007; MARTIN et al., 2009). A hemicelulose que predomina na composição da fibra é constituída de xiloses. De fato, elas constituem cerca de 68% do total das polioses do sisal. A glicose, também, é um dos monossacarídeos presente no sisal, mas representa apenas 2% do total dos sacarídeos, sendo encontrados, também, outros monossacarídeos, como a galactose em maior quantidade (17%). Outras polioses, como manose, arabinose e celobiose são encontradas em menor proporção (Figura 33) (MEGGIATO JR. et al., 2007).


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Figura 33. Composição das unidades monossacarídeos da hemicelulose presente na fibra do sisal (MEGGIATO JR. et al., 2007).

O subproduto, resultado do desfibramento das folhas de sisal, é uma fonte alternativa para a geração do biogás, insumo farmacêutico e como compósito utilizado na construção civil. A biomassa obtida, após a extração da fibra, representa 98% da planta e pode ser utilizada, como fertilizante, assim como para alimentação animal. No suco das folhas foi quantificado o alto teor de açúcar composto por glicose, frutose e sacarose (11,02 gL-1, 28,37gL-1 e 1,73 gL-1, respectivamente) substâncias com alto potencial farmacológico como a inulina (FAO, 2015) e a hecogenina - precursor na síntese de corticoesteróides (CALLOW et al., 1951; ZULLO et al., 1989).

Por sua vez, as fibras de sisal aparecem em formas de feixe, com comprimentos que variam de 50 cm a 180 cm. Como a fibra provem das folhas do sisal sua constituição química é basicamente formada pelos mesmos compostos presentes nas folhas, o que as tornam lignocelulósicas (HOLANDA, 2013). Diversos autores estimaram a porcentagem da composição da fibra do sisal, e de acordo com Turner (1949), a fibra é constituída por 65,8% de celulose, 12% de hemicelulose, 9,9% de lignina, 0,8% de pectina, 1,2 % de substâncias solúveis em água, 0,3% de óleos e ceras e 10% de teor de água (Tabela 5). Já para Mwaikambo e Ansell (2002), os valores encontrados foram: 73% de celulose, 13% de hemicelulose, 11% de lignina e 2% de pectina. Conforme Gutiérrez et al. (2008), da fibra do sisal pode ser obtido um extrato lipofílico que apresenta 0,5% do seu peso total, sendo constituído especialmente de ácidos graxos e, em menores proporções hidrocarbonetos, esteroides, cetonas, monoglicérides, aldeídos e diacilgliceróis.


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Tabela 5. Composição química da fibra de sisal. Expresso em percentagens de peso e calculado sobre o mesmo teor de água. Espécie

Celulose

Hemicelulose

Pectina

Lignina

Substâncias

Óleos

solúveis em

ceras

e

Teor água

0,3%

10%

de

água Sisal (Agave

65,8%

12,0%

0,8%

9,9%

1,2%

sisalana)

Fonte: A. J. Turner (1949).

PROPAGAÇÃO DO AGAVE SISALANA A reprodução é uma característica notória no agave, porque essa planta apresenta três formas de propagação: por via sexual em forma de sementes, por rebentos de rizoma e por bulbilhos da inflorescência, sendo as duas últimas consideras vias assexuadas. É importante destacar que o método mais utilizado comercialmente é por meio de rizomas subterrâneos modificados, que quando se emergem a superfície se diferenciam em novos rebentos. A coleta dos rebentos é feita em plantações estabelecidas de três a cinco anos de rebentos selecionados com altos padrões sanitários e vigorosos, mas, antes de plantálos, são classificados por tamanho. Apesar de não ser comercial, o método de propagação por meio de bulbilhos se desenvolve na inflorescência da planta (MEDINA, 1963; RENDÓN-SALCIDO et al., 2009).

A reprodução sexual é a obtida por meio de sementes, as quais foram polinizadas e desenvolveram a partir de flores, mas tudo se sucede no escapo floral da planta do agave, mas na prática são poucos viáveis. Enquanto a reprodução in vitro ou agave micropropagado é considerado um método moderno capaz de produzir rebentos com altos padrões sanitários e bem desenvolvidos. Atualmente, seu elevado custo é considerado o fator limitante, pois o mesmo poderá exceder de oito a dez vezes sobre o valor de um rebento de agave normal de boas características.

Reprodução sexual Na via sexual, a propagação do agave é realizada por semente. Nesse caso, seus gametas masculinos e femininos se unem, somando assim suas características, dando assim origem a um novo indivíduo. Portanto, na reprodução por sementes pode surgir variação genética


C a p í t u l o I | 70 para produzir uma nova cultivar estável ou segregação entre as plantas descendentes, ou seja, as plântulas resultantes são muitas heterogêneas para o cultivo em campo.

Para o Agave sisalana não é costume o produtor utilizar a reprodução via sexual como método de propagação para a instalação de sua área de cultivo. As verdadeiras sementes têm uma baixa percentagem de germinação e também requer um longo período, quase três anos, para se transformar em plântulas de tamanho adequado para o plantio definitivo em campo. Os estudos sobre propagação por sementes do agave foram pouco pesquisados e implica em problemas por variação genética a que está sujeito a polinização cruzada e por dificuldades de manter um abastecimento regular de mudas, devido ao longo ciclo de crescimento da planta, a qual leva de 08 a 10 anos para alcançar a etapa de maturação para produção de sementes.

Reprodução assexual A produção assexual é aquela que não envolve o processo sexual, sendo que a reprodução vegetativa de vários tipos de plantas ocorre por meio de folhas, caules e raízes. Com maior frequência, os resultados positivos são obtidos com os caules. De modo que os indivíduos gerados mediante este tipo de reprodução constituem os clones, exceção de mutações, geneticamente idênticos à planta-madre. Entre as diferentes formas de reprodução assexuada vegetal existente, no caso do Agave sisalana, os métodos de propagação são os seguintes: bulbilhos, rebentos (rizomas) e os de propagação massiva de plantas realizada em laboratório de cultura de tecidos.

1.Bulbilhos: São plântulas produzidas a partir de meristemas da planta-mãe, as quais são clones da mesma, que ao completar seu desenvolvimento caem ao solo, onde as raízes se desenvolvem e crescem como plantas independentes. Esse fenômeno é apresentado em alguns agaves, inclusive o Agave sisalana, que desenvolvem bulbilhos a partir dos meristemas axilares da inflorescência, na base das flores (Figura 34). Algumas vezes caem ao solo e terminam apodrecendo. Esse método de propagação tem desvantagens por ocorrer depois da floração, após o ciclo completo de produção do agave de 08 a 12 anos. Esse tipo de propagação por bulbilhos faz aumentar o risco da disseminação de doenças quando já existe na planta-mãe. Em razão disso, não é um método utilizado com frequência pelo produtor.


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Figura 34. Bulbilhos do agave com 50 unidades por cacho. Fotos: Raul B. Fernandes (2010) e Iván Saldaña e Tomas Estes.

2.Rebentos (Rizomas): Os rebentos são talos subterrâneos que crescem geralmente no plano horizontal, paralelo à superfície do terreno. A característica marcante que diferencia o rizoma da raiz é a presença de gemas (botões vegetativos), na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que compõem uma nova planta e na parte inferior, vão gerar raízes adventícias (Figura 35). A cada ano, os rizomas emitem brotos e vão originar novos órgãos aéreos ou rebentos.

Figura 35. Rebentos do Agave sisalana. Foto: agencia.cnptia.embrapa.br


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3.Cultivo in vitro ou micropropagação: A propagação convencional do Agave sisalana ocorre principalmente por bulbilhos produzidos na inflorescência, o que se converte em um problema devido a lentidão do processo de floração que ocorrem depois de 08 a 10 anos de cultivos em solo e raramente produz sementes férteis. Em vista da importância econômica dessa planta e da lenta propagação convencional da mesma, torna-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que estabeleçam protocolos para realizar propagação rápida e maciça, ampliando a técnica de cultura de tecidos in vitro. Para propagação in vitro de agaváceas, tem-se aplicado diferentes técnicas; utilizando segmentos caulinares e foliares, bulbilhos, sementes, calos, meristemas, gemas e embriões zigóticos. A maioria destas técnicas enfoca a multiplicação massiva através de brotos adventícios e axilares (segmentos nodais) e a produção de embriões somáticos (CARVALHO et al., 2004).

Por outro lado, a organogênese é o processo pelo qual há a formação ou multiplicação de brotos ou órgãos vegetais onde antes não existiam, através da indução de gemas já existentes ou recém-formadas, também chamadas de gemas adventícias. Esse processo pode ser classificado em direto ou indireto, quando analisada a origem da mesma. Quando ocorre o aparecimento direto de gemas mediante tecidos que expressem algum valor morfogenético, como gemas apicais, laterais ou mesmo axilares, está se referido a organogênese direta. Já na indireta ocorre a formação de calos no processo de regeneração de gemas (GRATTAPAGLIA; MACHADO, 1998).

Na metodologia do processo de micropropagação executada por Silva (2012), os rebentos do agave híbrido 11648 foram utilizados como material biológico, cujo tamanho oscilou entre os 4 e 8 cm, vigorosos e sem danos por fitopatógenos, procedentes de plantas de dois a três anos de idade. Esses rebentos, provenientes dos campos experimentais da Embrapa Algodão, foram lavados em água corrente para eliminar as folhas exteriores, deixando somente as que rodeavam a gema. Em seguida, os meristemas foram colocados numa solução de álcool etílico a 70% por um minuto e posteriormente numa solução de hipoclorito de sódio a 3% por 20 minutos e deu-se a correta lavagem, desinfecção e enxágue na câmara de fluxo laminar. Para o trabalho de regeneração de plantas do agave foi utilizado às combinações de reguladores de crescimento BAP (6-benzilaminopurine) e 2,4D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético) na micropropagação de rebentos e a auxina AIB


C a p í t u l o I | 73 (ácido indolil-3-butírico) para indução a rizogênese. A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Cultura de Tecidos, da Embrapa Algodão, em 2011. Para o estudo das combinações dos reguladores de crescimento foi feita a inoculação dos explantes em meio MS, suplementado com 3% de glicose, 0,62% de Gelrite e pH ajustado para 5,7, com diferentes concentrações de hormônios. Os frascos foram armazenados em câmara de crescimento a 25±2 ºC sob o fotoperíodo de 16 h de luz e intensidade luminosa de 30 μmol m-2s-1. Os explantes foram diferenciados em tipo 1 e tipo 2 (gemas apicais e gemas laterais, respectivamente; Figuras 36 e 37) e avaliados após 45 dias, considerando-se a presença de broto, o número de brotos, o tamanho do broto e se houve um superbrotamento. Na rizogênese foram testadas três concentrações diferentes da auxina 4-indol-3-butírico (AIB) visando observar a resposta que estas apresentavam na formação de raízes. Depois de transferidos para o meio de enraizamento os brotos foram avaliados após 15 e 30 dias, observando duas variáveis: número de raízes e tamanho do broto. Com base nos resultados estatísticos, concluiu-se que todas as concentrações da auxina utilizada responderam igualmente a contento no desenvolvimento do sistema radicular.

Figura 36. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 1 (gemas apicais) de rebento de agave em meio MS, suplementado com diferentes concentrações de BAP, combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.


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Figura 37. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 2 (gemas laterais) de rebento de agave em meio MS suplementado com diferentes concentrações de BAP combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.

SISTEMA DE PROPAGAÇÃO DO AGAVE SISALANA POR REBENTOS A propagação por rebentos é mais utilizada para os agaves em geral, não só porque mantém as características genéticas da planta-mãe, mas porque o desenvolvimento da planta é mais rápido e vigoroso do que por bulbilhos. Além disso, a tecnificação do cultivo de agave segue um padrão rígido que visa à homogeneidade das plantações, que atualmente pode ser controlada apenas com a seleção do tamanho da cabeça ou bulbo do rebento. Por outro lado, o manejo comum da propagação do agave, baseado no conhecimento empírico aplicado para otimizar a produção de rebentos e consiste nas seguintes práticas: 1- Preparação e produção de rebentos; 2- Eleição de plantas-mãe; 3- Seleção de rebentos; 4- Transporte de rebentos.


C a p í t u l o I | 75 1. Preparação e produção de rebentos. Os trabalhos intensos de preparação dos solos para o plantio do agave são realizados com máquinas agrícolas em fazendas ou em áreas não muito acidentadas, visando melhorar a estrutura do solo de forma que aumente sua captação e armazenamento de umidade, facilitando assim o crescimento de rizomas e a brotação de rebentos para a superfície do solo. Alguns produtores mexicanos têm por tradição efetuar a prática de subsolagem antes da época de chuvas com a finalidade de produzir mais rebentos. Se o objetivo é desenvolver mudas de boa qualidade (peso e volume), recomenda-se suspender os trabalhos de solo quando os rebentos emergem. Por outro lado, havendo uma tendência declinante de demanda por rebentos, os produtores destroem mecanicamente as plântulas ou mudas em qualquer idade da plantação, pois não convém deixá-las competir com a planta-mãe. Vale salientar que a melhor idade das plantas para gerar rebentos é entre 3 a 5 anos, quando se obtêm rebentos mais viáveis para as novas plantações (VALENZUELA, 2003; RAMÍREZ; LABORDE, 2007).

2. Eleição das plantas-mães A eleição das plantas-mães tem-se que considerar:

a-Idade da planta-mãe: É necessário que a planta tenha sido estabelecida no campo entre 3 a 5 anos, etapa na qual a planta-mãe está em plena atividade vegetativa e em melhores condições de poder nutrir os rebentos que emergem. Uma plantação velha e não zelada produzirá rebentos deformes no seu bulbo e folhas, com pouco vigor e com alta probabilidade de serem atacados por fusarium. Recomenda-se iniciar a primeira seleção do material vegetativo ou rebento na propriedade plantada com Agave sisalana para verificar a idade da planta-mãe e avaliar se ela é planta vigorosa de primeiro arranque.

b-O estado sanitário da planta-mãe: a planta eleita deve mostrar aparência visual saudável, vigorosa e sem a presença de insetos nocivos tanto na folhagem, como na raiz e no bulbo.

c-Quantidade e qualidade dos rebentos: Em razão dos rebentos se formarem dos rizomas emergidos em distintas épocas, consequentemente o tamanho dos rebentos ao redor da planta-mãe é variável. Este aspecto é determinante ao decidir qual é o destino dos rebentos, se são para plantações comerciais ou para viveiro ou replantes. Também é


C a p í t u l o I | 76 importante conhecer a quantidade disponível de cada tipo, assim como a qualidade dos mesmos, resultante das condições ambientais do plantio de sequeiro. Outros aspectos que devem ser avaliados são: os danos físicos como queimas; danos por insetos e doenças; danos mecânicos e as condições de manejo do terreno sob as quais os rebentos têm crescidos.

Destacando novamente que o método usado para reproduzir o agave é assexual, tecnicamente chamado apomixia, que consistem na seleção de rizomas ou estolões. O agave pode produzir rizomas a partir do terceiro ano de vida, no entanto, é no quarto ano, quando os mesmos têm qualidade satisfatória para serem transplantados. Essa qualidade se avalia medindo seu peso que deve ser, em média, de 1,5 a 2,5 kg. Não é recomendável usar os rizomas de plantas que já estão próximo da etapa de colheita, isto é, oito anos em diante, porque tem pouca qualidade para sua reprodução, igualmente aos rebentos colhidos de plantas jovens (2 anos). Os materiais sem qualidade são mais susceptíveis de ser afetados por pragas e doenças ou por fenômenos climatológicos.

3. Seleção de rebentos A seleção de rebentos é uma das etapas mais importantes para o estabelecimento da plantação, porque irá depender em grande parte da qualidade da mesma. Na seleção dos rebentos, são várias etapas que devem ser cumpridas:

a-Arranque e preparação do rebento: Antes de iniciar o arranque dos rebentos, é importante conhecer as condições em que se encontra o terreno onde será realizado tal operação, porque é importante avaliar previamente as dificuldades da prática e tempo de arranque para definir a quantidade de trabalhadores que deverão ser contratados. Além disso, devem-se considerar os seguintes aspectos: topografia planta ou de ladeira, solos soltos ou compactos, com pedras na superfície do terreno ou na sua parte interna, presença de plantas daninhas ou sem sua infestação, alta ou baixa densidade de plantio da planta adulta. A alta densidade de plantação tem como efeito diminuir a quantidade de rebentos produzidos e dificulta a operação de arranque (VALENZUELA, 2003).

O arranque dos rebentos pode ser realizado com um instrumento manual conhecido como cavador (Figura 38; ou outros tipos de instrumento), que é uma chapa de metal que serve para cortar o rizoma, o qual se une ao rebento com a planta-mãe (Figura 39). Esse corte


C a p í t u l o I | 77 deve ser efetuado de um só golpe, de maneira precisa e transversal ao rizoma, evitando danos aos rebentos por cortes acentuados. Caso contrário, poderá provocar problemas na sobrevivência e falhas na plantação.

Figura 38. O arranque manual de rebentos feito com ajuda do instrumento cavador.

Figura 39. Emissão de rebentos junto à planta-mãe do Híbrido 11648.


C a p í t u l o I | 78 Uma vez liberado o rebento, recomenda-se deixar os rebentos sob meia sombra (sombrite com 50% de cobertura ou debaixo de uma árvore) durante 10 dias com o propósito de dar tempo para que cicatrizem das lesões e evitar problemas de podridão e perda de planta.

b-Seleção dos rebentos: A não seleção de rebentos poderá comprometer a qualidade da plantação e, por conseguinte, a produção da matéria-prima destinada para a industrialização de fios e cordas, em razão da falta do benefício econômico obtido a partir da colheita uniforme. Essa seleção deve ser realizada por um técnico ou agricultor já que tal atividade depende o êxito ou o fracasso das plantações. Os rebentos devem ser selecionados quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo.

Os rebentos podem ser provenientes de uma plantação comercial ou de viveiros. As características desejadas para a seleção de rebentos são: plântulas que procedam de uma planta-mãe jovem de 2 a 4 anos, preferencialmente de primeiro arranque. Devido a melhor atividade reprodutiva da planta-mãe ser entre 3 a 4 anos, mas no caso de ocorrer uma grande demanda por rebentos se utilizam as plantações de 5 anos de idade. Devem ser rebentos provenientes de uma plantação mãe livre de pragas e enfermidades. Os rebentos têm que apresentar as seguintes características: uma boa estrutura de cabeça (bulbo) e foliar, rebentos com tamanho uniforme, elevado peso, vigoroso, de cor intenso e aqueles rebentos desenvolvidos mais isolados da planta-mãe. Vale destacar que um operário treinado é capaz de arrancar em média 300 rebentos por dia numa jornada de trabalho de 8 horas.

c-Classificação dos rebentos: A classificação dos rebentos no México é feita com base nos seguintes pontos: - Verificar que a planta-mãe é da espécie Agave sisalana; - Verificar que os rebentos provenham de plantas-mães da mesma idade. -Conhecer o histórico de manejo e da origem do material da plantação original. - Determinar o tamanho dos rebentos e que sejam uniformes. Para medir esta característica, o agricultor se baseia no tamanho das folhas, que pode variar de 0,60 a 0,85 cm. Para classificar o tamanho do bulbo ou cabeça, uma bancada é levada ao campo e na sua parte superior estão fixados vários blocos de metal, espaçados entre si, nas seguintes distancias: 7, 8, 9, 10, 12 e 14 cm (Figura 40). Ou seja, todos os


C a p í t u l o I | 79 rebentos de Agave Tequilana no México passam pela bancada de classificação (ou seleção de rebentos por seu tamanho uniforme), de modo que as mudas são jogadas separadamente em lotes, dependendo da avaliação de cada tamanho e depois são plantadas em campo (Figura 41).

Figura 40. Na bancada de classificação, todos os rebentos de Agave Tequilana no México são selecionados nos intervalos espaçados de 9, 10, 12, 14 e 15 cm (separados por blocos de metal fixos) por quatro técnicos habilitados e posicionados em volta da mesa.


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Figura 41. Plantio de rebentos de tamanho uniforme por parcela ou talhão. Foto: Julio Cesar Nieto Aquino.

É recomendável utilizar rebentos de plantas saudáveis, que não apresentam problemas de enfermidades como a podridão-do-tronco, murchamento do agave, murcha de fusarium e outras doenças. Os rebentos de plantações jovens (3 a 5 anos) e com cerca de 2,0 kg de peso são as melhores mudas, sendo que os rebentos maiores se desenvolvem mais rápido, consequentemente sua maturação é alcançada em menos tempo. As plantações de cada parcela devem ser estabelecidas com rebentos de tamanhos uniformes (padronizado), visando obter uma maturação das folhas a mais uniforme possível, o que facilita a colheita no mesmo ano ou quando muito em dois anos.

4.Transporte de rebentos É necessário evitar danos nos rebentos durante o seu transporte entre o campo de arranque das mudas, a instalação temporária de armazenamento e a nova área de plantação do agave (Figura 61). Algumas medidas preventivas de controle devem ser seguidas: a) O veículo que irá transportar as plântulas ao local de plantação definitiva deverá ser pulverizado com uma solução semelhante à que foram utilizadas nas plântulas, mas deverá evitar usar o Sulfato de Cobre, por ser um produto corrosivo e pode deteriorar o metal do caminhão. Desinfetar a carroceria do caminhão e pneus antes e depois de cada carga de rebentos, aplicando uma pulverização a base de solução de 10% de hipoclorito de sódio (ou antes, e depois de entrar na plantação de agave).


C a p í t u l o I | 81 b) Evitar pisotear os rebentos já carregados no caminhão, porque rompe com facilidade o meristema apical ou folear. c) Não provocar lesões nos rebentos.

PRODUÇÃO DE BULBILHOS EM VIVEIRO Os bulbilhos são rebentos pequenos que emergem do escapo floral da planta adulta com idade ente 8 a 10 anos (Agave sisalana), junto com as flores não fecundadas que caem posteriormente sem formar frutos. Esses bulbilhos não se utilizam mais na propagação de material vegetativo para a plantação do agave, porque a planta velha está mais exposta as enfermidades. Quando o agricultor optar pelo plantio por bulbilhos, deverá levar em consideração os seguintes aspectos: • Será preciso fazer um viveiro ou sementeira em terreno fértil, de boa drenagem e em condições de irrigação, devendo-se situar o mais próximo possível da área do plantio definitivo; • Os bulbilhos selecionados deverão ter tamanho superior a 10 cm e, de preferência, serem tratados com produtos químicos e estar isentos de espinho nas bordas laterais das folhas. • Deve-se proceder à escolha dos bulbilhos, levando-se em consideração a produtividade, o porte, o vigor e o desenvolvimento do pendão floral da planta-mãe (SUINAGA et al., 2006). • Depois de um ano (ou 16 meses; Figura 42) em viveiro, as mudas provenientes de bulbilhos, estão em condições de ser transplantadas para o local definitivo.


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Figura 42. Sementeira de bulbilhos de sisal (Híbrido 11648) em plantio adensado com 16 meses de idade. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

PRODUÇÃO DE REBENTOS EM VIVEIRO E TRANSPLANTE Desde o início do seu cultivo, os produtores têm preferido à reprodução do agave através da extração de rebentos gerados de rizomas modificados das plantas adultas. De acordo com seu desenvolvimento (bulbo do tamanho de 08 a 12 cm para o Agave sisalana) podem ser transplantados a um viveiro, os quais irão receber um manejo técnico adequado. Para facilitar o manejo no viveiro de agave, é necessário organizar o seu plantio obedecendo às seguintes distâncias: a) plantio em faixa com 1,20 m de largura, contendo 4 fileiras de rebentos; b) Espaçamento entre faixas ou parcelas de 100 cm; e c) Espaçamento entre fileiras de rebentos com 50 cm e entre rebentos com 20 a 25 cm. Quando se tem a oportunidade de utilizar plantas produzidas em viveiro, para o estabelecimento em campo, o produtor terá inúmeros benefícios como redução de custos e tempo para produzir maior quantidade de rebentos. Além disso, permitirá ampliar a área plantada de agave, apesar de que tal operação demande mais mão-de-obra para o transplante das mudas na época de chuvas. Outro benefício proporcionado pela utilização do viveiro é a seleção de rebentos mais vigorosos e isentos de pragas e doenças. Por último, a muda de Agave sisalana produzida em viveiro, uma vez atingindo a altura de


C a p í t u l o I | 83 50 cm e o tamanho do bulbo de 8-10 cm, está em condições de ser transplantada para o terreno definitivo (SÁNCHEZ, 2013). E relação ao emprego de rebentões para a multiplicação do sisal, Medina (1954) recomenda utilizar dois tipos de tamanho de rebentos, os quais são os seguintes: -Rebentos pequenos – Os rebentos são retirados da plantação de sisal, já existente, ainda pequenos com cerca de 15 cm de altura, e plantados em viveiros, como no caso de bulbilhos; e, depois de um ano, transplantados para o local definitivo. -Rebentos grandes – Os rebentos são deixados para se desenvolver na própria plantação até atingirem a altura média de 40 a 50 cm com 12 a 15 folhas, quando então são arrancados e levados diretamente para o local definitivo da nova plantação. A este processo têm sido atribuídas vantagens econômicas sobre os dois outros que utilizam bulbilhos ou rebentos pequenos, pelo simples fato de dispensar o enviveiramente. Na escolha do tipo das mudas para a formação do campo de sisal, deverão ser considerados fatores importantes: econômicos e a disponibilidade de material adequado na área.

CLIMA E SOLO O clima é um fator importante e que deve ser levado em consideração para a instalação dos campos de agave, assim como a qualidade dos solos, métodos de cultivos e tratos culturais. Entretanto, as plantações de sisal no Nordeste são as mais variadas possíveis em tamanho, topografia, climas, solos, etc. O clima ideal para o desenvolvimento da cultura é o quente, em que a média anual de temperatura esteja entre 20° e 28°C, com grande intensidade de luz e chuvas regulares. A umidade excessiva é prejudicial à cultura, assim como prolongadas estiagens. Todas as zonas de ocorrência do sisal pertencem à extensa região nordestina de clima quente e seco. A temperatura média dessa região é, aproximadamente, de 26 ºC à sombra. As máximas se elevam algumas, no verão, a 35ºC e, no inverno, as mínimas descem a 16ºC nos meses de maio e junho. Sua média pluvial, anual, não chega a atingir 600 mm. As áreas ideais para um bom desenvolvimento da cultura, do ponto de vista climatológico, são aquelas em que a precipitação média anual se concentra entre 1.000 e 1.500 mm, e onde ocorre uma distribuição regular de chuvas durante todo o ano. Porém, não suporta longas estiagens, com médias inferiores a 400 mm, que prejudicam acentuadamente a


C a p í t u l o I | 84 planta, não só o seu crescimento e desenvolvimento, mas, também o rendimento e a qualidade da fibra. Por se tratar de uma planta semixerófila, o agave possui órgãos de defesa contra as condições de aridez ao realizar seu metabolismo fotossintético durante a noite, o qual é uma estrutura peculiar de uma planta CAM (Crassuláceo Ácido Metabolismo). Além disso, as suas folhas são providas de cutículas impermeabilizante que protegem a planta contra evaporação intensa dos meses de verão. Durante a época das chuvas, o agave armazena nas folhas, no talo e nos rizomas, água e outras substâncias nutritivas que constituem reservas de que a planta se utiliza nos períodos críticos, resistindo assim às adversidades climáticas, as quais caracterizam o bioma caatinga. Vale acrescentar também que a sua produção poderá ser reduzida significativamente por causa da competição com plantas daninhas (ACLAND, 1971). As regiões produtoras de sisal do Nordeste brasileiro caracterizam-se por apresentarem altitude (ALT) entre 209 e 1.012 m, precipitação pluvial (P) entre 335,8 e 863,1 mm (Tabela 2), concentradas entre 3 e 6 meses do ano, considerando-se que o período chuvoso inicia e encerra quando a precipitação pluvial mensal equivale a pelo menos 10% do total anual. A percentagem da precipitação na época chuvosa (PPC) varia entre 42,8 e 90,2% do total anual de precipitação, com a maioria dos municípios, devido ao efeito da altitude, apresentando ocorrência de orvalho (AMORIM NETO; BELTRÃO, 1999). Pode ser explorado economicamente em altitudes que variam entre 200 a 800 m (SERRA; SILVA, 1952), embora se encontre produção comercial desde o nível do mar até 1.800 m de altitude (ACLAND, 1971). Os solos mais indicados para a lavoura agavieira são os silicosos, sílico-argilosos, permeáveis ou soltos, de média fertilidade e relativamente profundos, ricos em potássio e fósforo (OASHI, 1983), dotados de bom teor de calcário, podendo necessitar de solos com pH variando de 5 a 8 (PRATA, 1983). No entanto, na região Nordeste existe uma diversidade muito grande de tipos de solo, podendo ser rasos e pedregosos, arenosos e argilosos. Os solos mais comuns de sua ocorrência são: os Brunos não Cálcicos (pouco espessos e pedregosos) associados à Planossolos (FELICIANO; MÉLO, 2003). A associação de solos férteis com precipitações pluviais adequadas e bem distribuídas (LUTZENBERGER, 1974) reduz a percentagem de fibra nas folhas; contudo, aumenta o número e o tamanho de folhas colhidas por ano. A fertilidade do solo induz a produção


C a p í t u l o I | 85 de folhas largas de sisal. O aumento dos níveis de salinidade (EL-GAMASSY et al., 1974) reduz o peso fresco e seco da parte aérea, especialmente acima de 3,0 atm, diminui a taxa de transpiração, apresentando redução constante entre 1,0 e 3,0 atm e acima de 10,0 atm, o tamanho da folha, relação raiz/parte aérea, principalmente acima de 5,0 atm; a turgidez relativa dos tecidos da folha diminui acentuadamente quando o nível de salinidade excede a 10,0 atm e a pressão osmótica da seiva das folhas aumenta, especialmente acima de 10,0 atm.

SISTEMA DE PRODUÇÃO O Agave sisalana é considerado um cultivo sustentável e altamente lucrativo para o Nordeste brasileiro, mas é necessário adotar um novo sistema de produção para a referida espécie, o qual irá resultar em maior ganho de produtividade com redução de custo de produção, desde que se utilize das tecnologias mais apropriadas em lugar de tecnologias mais tradicionais adotadas pelos agaveicultores. Algumas tecnologias compreendem os estudos das condições de solos, seleção e produção de mudas sadias, adubação orgânica, capinas ou ILP, eliminação de rebentos, controle preventivo de doenças, além das etapas de colheita, desfibramento, beneficiamento da fibra e sua industrialização.

ANÁLISE DE SOLO E CALAGEM A amostragem é considerada a fase mais crítica de um programa de recomendação de correção e adubação, quando baseado em análise química de terra. O objetivo da amostragem é caracterizar a fertilidade de uma área ou gleba de grande dimensão, por meio da determinação das quantidades de nutrientes e outros elementos presentes, através de uma pequena fração de terra. Com relação à habilidade do operador que vai retirar a amostra, o ideal é que ele seja capaz de tomar pequenos, suficientes e iguais volumes de solo em cada ponto de amostragem. A pá de corte ou trado deve ser de aço inoxidável, para evitar contaminações principalmente de micronutrientes. Cada amostra composta representará as características químicas de cada talhão, portanto deve-se ter o cuidado de coletar as amostras simples, procurando cobrir a totalidade do talhão. Recomenda-se fazer a coleta caminhando em ziguezague. Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trado ou


C a p í t u l o I | 86 pá reta ou enxadão, balde plástico e saco plástico (Figura 43). Dos trados utilizados, os tipos mais comuns são o holandês, de rosca e tubo.

Figura 43. Materiais utilizados para coleta de amostras de solo: a) trado holandês, b) trado de rosca, c) trado de meia-lua, d) marreta, e) trado tubular, f) pá reta, g) enxadão, h) balde, i) saco plástico virgem.

A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa (Figura 44). O número no qual o erro amostral é bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Essas subamostras devem ser armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 44. a) Abertura da cova em forma de V; b) Corte de uma lâmina de solos de 2 a 3 cm; e c) Disposição dos pontos de amostragem de solos em forma de ziguezague.


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No caso de área homogênea, tomam-se amostras em 10 a 12 pontos bem distribuídos, limpando-se em cada local a superfície do terreno, retirando-se as folhagens, resíduos orgânicos, etc, sem, contudo, raspar a terra. As amostras simples deverão ser reunidas em um balde limpo e bem misturadas, formando uma amostra composta. Retirar aproximadamente 500 g de terra, transferir para saco plástico sem uso, identificar pelo número correspondente da área (talhão) e especificar informações complementares (profundidade, entrelinha, etc). Devem-se separar as amostras coletadas das partes altas, médias e baixas do terreno. O tamanho da gleba homogênea não deve ser muito grande em geral de 3 a 5 hectares.

A análise de solo é uma ferramenta básica para recomendações de calagem. Sua aplicação tem sido reconhecida como uma das principais técnicas na agricultura para controlar a acidez dos solos, reduzir os níveis de Al+3 e atuar como fonte de Ca+2 e Mg+2 para as culturas agrícolas. É importante ressaltar que a pesquisa orienta que a aplicação do calcário, se for necessária, deverá ser feita dois meses antes do plantio, para que o calcário tenha produzido a correção pretendida ou a disponibilização de Ca e Mg na quantidade esperada. Contudo, mesmo que não dê para aplicar calcário com a antecedência recomendada, apurando-se a necessidade de calagem através da análise de solo, deve-se fazer a calagem a qualquer tempo, pois os efeitos benéficos da calagem serão alcançados no decorrer do desenvolvimento da cultura.

Na implantação da lavoura do agave, a calagem pode ser realizada em área total, aplicando-se 50% antes da aração e os outros 50% após a aração e antes da gradagem. Este procedimento tem a finalidade de uniformizar a distribuição do calcário (pontos brancos na figura) na camada arada do terreno para um crescimento mais abundante das raízes das plantas cultivadas (Figura 45). Para o cultivo ideal do sisal, recomenda-se que o solo tenha pH entre 5,5 e 6,5; em solos ácidos deve-se fazer a calagem preferencialmente com calcário dolomítico (MALAVOLTA, 1996).


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Calcário total + aração

½ Calcário + aração

½ Calcário + gradeação

Figura 45. Distribuição do calcário no perfil do solo conforme o tipo de incorporação.

O produtor pode também realizar uma calagem na cova de plantio. O calcário na cova de plantio tem efeito localizado e contribui de forma mais significativa para o crescimento radicular em profundidade. É uma aplicação opcional e não deve ser entendida como substituta da calagem em área total. Sua utilização baseia-se em critérios agronômicos bem consolidados e não deve ser feita sem prévia análise de solo. Vale lembrar que a falta ou excesso de calcário podem prejudicar a nutrição das plantas.

ESCOLHA DO TERRENO A área escolhida deve ter elevações suaves (máximo de 5%) e, de preferência, ser com exposição Leste-Oeste, de forma a proporcionar maior luminosidade. Terrenos de forte inclinação devem ser evitados, a menos que sejam usadas práticas de conservação do solo. Pode ser explorado economicamente em altitudes que variam entre 200 a 800 m (SERRA; SILVA, 1952), embora encontre-se produção comercial desde o nível do mar até 1.800 m de altitude (ACLAND, 1971). É importante alertar que o agave não tolera áreas compactadas nem encharcadas, pois dificultam o seu pleno desenvolvimento (SILVA; BELTRÃO, 1999; SILVA et. al., 2008).

PREPARO DO SOLO O preparo convencional do solo tem por objetivo intervir e revolver uma camada profunda do solo, destruir e incorporar restos vegetais, expor pragas de solo à insolação (para seu controle), destorroar e nivelar o terreno. Com relação aos aspectos ambientais, um preparo do solo inadequado, isto é, realizado sem a consideração das características pedológicas, físicas e topográficas, pode levar a problemas como a compactação, que é o adensamento


C a p í t u l o I | 89 de uma camada subsuperficial do solo devido ao trânsito de tratores e outros veículos na superfície, assim como a erosão, que é a perda das camadas superficiais do solo pela ação do vento ou das chuvas. Pelo fato do cultivo do agave apresentar um ciclo prolongado de 08 a 12 anos, é necessário realizar melhorias ao solo com práticas mecânicas que permitam obter um maior volume de solo para a planta desenvolver suas raízes, consequentemente elas irão captar mais água e ar. Ou seja, o manejo do solo visa melhorar a estrutura do solo e eliminar as ervas daninhas, cuja atividade é efetuada com maquinaria ou animais.

Portanto, o preparo do solo refere-se ao conjunto de operações realizadas com a finalidade de dar ao terreno condições de receber os rebentos de agave. As práticas mais comuns utilizadas no semiárido nordestino são:

Desbravamento: O sistema de plantio do agave envolve a limpeza do terreno para, posteriormente, proceder-se ao preparo do solo propriamente dito. Caso o terreno contenha vegetação arbustiva, recomenda-se a destoca ou roço, que poderá ser manual ou tratorizada. Porém, quando o solo apresenta vegetação natural (matas, capoeiras, campos nativos), torna-se necessária a remoção desses obstáculos para a instalação do agave consorciado com outras culturas, dependendo da inclinação do terreno. Às operações então requeridas são chamadas operações de preparo inicial do solo, as quais são: corte de plantas nativas, retirada da madeira, destocamento, encoivaramento e queimada. Recomenda-se deixar algumas árvores dentro da plantação para servir de abrigo aos trabalhadores, além de ajudar a preservar o meio ambiente. Tratando-se de campo de sisal velho, a eliminação das plantas poderá ser com trator de esteira ou trator de rodas, com uma lâmina na frente. No primeiro caso, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, complementado com uma gradagem com grade leve. É importante salientar que as condições topográficas e texturais do solo são fatores imprescindíveis na escolha dos equipamentos e no manejo do solo. Além desses cuidados, recomenda-se, também, a adoção de práticas conservacionistas, de modo a se evitar a degradação do solo, principalmente no primeiro ano de instalação da cultura.


C a p í t u l o I | 90 O preparo do solo, para o cultivo do sisal, realizado de forma correta desempenha um importante papel no plantio de mudas (rebentos), e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das plantas (08 a 12 anos), principalmente por se trata de uma espécie perene. Por este motivo, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total do campo.

Plantio Direto - O não preparo do solo com implementos agrícolas é considerada uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e com raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção. Após as primeiras chuvas de inverno, com o solo ainda úmido, é possível efetuar a abertura das covas com o cavador, o qual é confeccionado geralmente a partir de uma foice (Figura 46). Numa posição inclinada (ângulo de 45ºC) é usado tal equipamento manual para golpear o solo úmido e, de imediato, o cavador passa para a posição vertical, sendo que esse último movimento simples imprimido pelo operador permitirá abrir a cova junto a sua lâmina de perfurar. Em seguida, um rebento (muda) é introduzido manualmente na cova pelo operador, enquanto na outra mão permanece segurando o cavador.


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Figura 46. Instrumento cavador de uso manual para abertura de covas, confeccionado geralmente a partir de uma foice quebrada. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Preparo Mínimo - O preparo mínimo do solo para o plantio de rebentos de sisal pode ser realizado passando o cultivador de tração animal ou minitrator (tipo Tobata) apenas nas linhas de cultivo (Figura 47). Uma vez determinada à primeira linha de plantio (linha mestre), os produtores em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando a corda marcada com a fita adesiva colorida no espaçamento de 2 m entre fileiras e 01 metro entre plantas ou covas. Em seguida, o operador do cultivador ou minitrator irá preparar o solo apenas nas linhas paralelas de plantio demarcadas com piquetes posicionados nas cabeceiras, orientando-se por duas estacas de 2 m de altura posicionadas nas duas extremidades (cabeceiras) do campo e por alguns piquetes distribuídos ao longo de cada linha de plantio. Esse mesmo procedimento de demarcação é adotado nas demais linhas de plantio subsequentes.


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Figura 47. Cultivador a tração animal e mini trator usados no preparo mínimo da área de sisal. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

Preparo do Solo em Toda Área - A aração e a gradagem com o trator podem ser feitas em toda área a ser cultivada com sisal no início da estação úmida, mas tal procedimento só é viável quando se pretende aproveitar os espaços livres para o plantio consociado com outras espécies alimentícias, tais como: feijão, milho, sorgo, gergelim, palma forrageira, leucina, etc. Em solos trabalhados muitas vezes com o trator, só há necessidade de uma ou duas gradagens.

Arado: A aração deve ser realizada com arado de discos (Figura 48), principalmente em solos com pedras e tocos, pois este arado é menos vulnerável a estas obstruções, de modo que o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Em geral, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, nos dois sentidos, complementado com uma gradagem com grade leve. Além disso, a exposição de larvas do solo por ação do arado não chega a ser significativa.


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Figura 48. Preparo do terreno com arado de disco, em forma cruzada e com 15-20 cm de profundidade, para o terreno destinado ao plantio do sisal.

Gradagem: É uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo do agave (Figura 49).

Figura 49. Operação de gradagem do solo para nivelar o terreno e facilitar o plantio do agave. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

MARCAÇÃO DO TERRENO Após o preparo do terreno, procede-se à marcação da área para o plantio das mudas, que deve sempre acompanhar as curvas de nível do terreno. Em terrenos planos, recomendase que as linhas de plantio sejam orientadas no sentido norte-sul, para se evitar o sombreamento entre as plantas. Para facilitar a operação de colheita e transporte da


C a p í t u l o I | 94 produção de folhas, aconselha-se que os talhões apresentem dimensão de aproximadamente 2 ha.

Uma vez determinada à primeira fileira de plantio no terreno (linha mestre), os operários em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando varas do tamanho de 2,00 m, visando à marcação das demais fileiras paralelas de plantio do campo (Figura 50). Em seguida, os operários se posicionam em cada linha riscada do terreno (extremidades do campo) e colocam os piquetes para esticar a corda marcada com a fita adesiva no espaçamento (1,00 m entre plantas; Figura 51) exigido para a espécie Agave sisalana. A segunda fileira e as demais fileiras são demarcadas paralelamente (espaçamento de 2 m entre fileiras), aproveitando-se da colocação dos piquetes nas suas cabeceiras. Uma vez esticada a corda entre os dois piquetes posicionados nas suas cabeceiras, previamente marcada com auxílio de uma trena, providenciam-se a marcação das covas e sua respectiva abertura com uma enxada ou cavador.

Figura 50. Utilização de varas retilíneas (2,0 m) nas cabeceiras do campo para auxiliar a marcação do espaçamento entre fileiras de plantas, sendo que entre plantas usa-se uma corda previamente marcada de 1,00 m. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.


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Figura 51. Corda de nylon marcada no espaçamento de 1,00 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

ÉPOCA DE PLANTIO A observância da época de plantio adequada oferece maior possibilidade de êxito para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita os cultivos em várias microrregiões do Nordeste do Brasil, tendo em vista a grande influência do tempo sobre o estabelecimento das plantas do agave. Recomenda-se iniciar o plantio um mês antes do período das chuvas, pois as raízes dos rebentos já estão desenvolvidas o suficiente para aproveitar a umidade do solo (Figura 52). Após o desprendimento da planta-mãe, o rebento imitirá uma boa quantidade de raízes no transcurso de um mês e estará preparado para receber água e nutrientes no início das chuvas. Em muitos casos, o fator limitante pode ser a dureza do solo seco em não permitir o preparo pelo trator. .


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Figura 52. No início das chuvas, as raízes dos rebentos estão desenvolvidas para o aproveitamento da umidade do solo.

Entretanto, se o cultivo for estabelecido, quando a chuva tenha começado, o rebento não irá aproveitar a umidade do solo por falta de raízes, além de aumentar o risco de apodrecer. É importante mencionar que ao se realizar o plantio tardio (uma vez iniciadas as precipitações), a disponibilidade de água que terá os rebentos será menor, porém aumentará o período de estiagem e, consequentemente, haverá um retraso no desenvolvimento da cultura.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO Uma vez separados os rebentos da planta-mãe (ideal: 4 anos de idade), procede-se o seu estabelecimento, precisamente antes do período de chuva. No plantio, a muda deve ser colocada em perfeito alinhamento com a fileira, na posição vertical, e mantida em profundidade adequada, de forma a enterrar parcialmente o bulbo (enterrando-se ¾ ou 75% do bulbo), deixando a parte de inserção das folhas do colo fora da terra (Figura 53).


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Figura 53. A) Plantio manual do rebento ao solo na posição vertical, usando uma chibanca ou enxada para abertura das covas e B) Uso de reboque ou carroça para distribuição dos rebentos selecionados em cada fileira de plantio.

Com o fim de oferecer maior sustentação, deve-se comprimir, com os pés, a terra à sua volta e, neste período, deve-se fazer vigilância permanente da lavoura, que por efeito do vento ou da chuva pode provocar o tombamento ou mesmo o arranquio das mudas (Figura 54).

Figura 54. Plantio superficial do rebento ao solo, o que ocasiona seu tombamento em poucos dias (enterrar na profundidade de 10 cm).


C a p í t u l o I | 98 Para o plantio definitivo, o produtor deverá proceder à abertura de sulcos, com sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfico de máquinas, ou em covas, com a enxada ou enxadão, em terrenos com topografia acidentada. O plantio do agave no México é praticamente realizado manualmente, abrindo-se as covas de um só golpe com a enxada. É importante destacar que seu plantio deve ser realizado por quadras, separando-se os rebentos quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo (Figura 55). A não observação das recomendações dos rebentos padronizados poderá implicar na formação de agavais desuniformes quanto ao tamanho das plantas, à época de corte e à produção de folhas (Figura 56).

Figura 55. Plantio de rebentos de tamanho uniforme por talhão. Foto: Santiago Medina.


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Figura 56. Não se recomenda instalar plantações com mudas desuniformes de agave de distintos tamanhos, porque dificulta identificar a maturação exata das plantas.

CULTIVARES DE SISAL No Nordeste, os produtores têm duas opções quanto ao tipo de sisal a ser plantado: o sisal comum, como é conhecido o Agave sisalana (Figura 57) - que representa 99% do sisal cultivado na região -, e o Híbrido 11648 (Figura 58), resultante do cruzamento entre Agave angustifólia e Agave amaniensis, originário da África (LOCK, 1969) e introduzido no Brasil na década de 1970.

Figura 57. Agave ou Sisal (Agave sisalana). Foto: Odilon Reny R. F. da Silva.


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Figura 58. Agave Híbrido 11648. Foto: Odilon Reny R. F. da Silva.

A geração F1, oriunda do cruzamento entre as espécies Agave angustifólia e Agave amaniensis, foi retrocruzada com o Agave amaniensis e, dentre os numerosos descendentes gerados, foi selecionado e obtido o que veio a constituir o Híbrido 11648 (MOREIRA; VIEIRA, 1999; ROBERT et al., 2008).

Uma planta de Agave sisalana produz entre 200 e 250 folhas durante o ciclo, com peso médio variando entre 400 e 700 gramas e cada folha contento 1.000 a 1.200 fios de fibra (SILVA et al., 2008). Em comparação, o Híbrido 11648 possui nítida vantagem com relação à produção de fibra, à percentagem de fibra na folha e ao rendimento de fibra por hectare (SILVA et al. 1999). Em ensaios realizados pela Companhia de Celulose da Bahia (CCB), a produção de folhas do Híbrido 11648 foi 116,0% superior à do sisal comum, em média de cinco cortes. Com relação ao peso da folha, as folhas do Agave sisalana foram 18% superiores em relação às do Híbrido 11648.

Com referência a percentagem de fibra na folha, o Híbrido foi superior em 13% em comparação ao Agave sisalana; já para rendimento de fibra por hectare, as plantas do material híbrido foram, em média, 196% superiores em relação ao sisal comum. No resultado do ensaio de competição de cultivares realizado pela Embrapa Algodão, verificou-se que houve superioridade do Agave sisalana no comprimento de folhas e resistência de fibra, porém inferioridade em relação ao número de folhas/planta e produção na segunda colheita.


C a p í t u l o I | 101 O sisal Híbrido também tem mostrado menos susceptibilidade à podridão do tronco e maior resistência à seca do que a Agave sisalana, o que permite colheita de suas folhas, praticamente durante todo o ano. Porém, em ambientes úmidos, o híbrido tem se mostrado suscetível ao ataque de fungos e, quando plantado em locais sujeitos a baixas temperaturas, tem a desvantagem de pendoar prematuramente (MOREIRA; VIEIRA, 1999). Apesar de o híbrido ter evidenciado a sua alta capacidade de produção de folhas e resistência à seca nos locais em que tem sido plantado, no entanto, não é grande a sua aceitação, primeiro porque a fibra é mais curta que a do sisal e, segundo, em razão de apresentar folhas mais duras, o que dificulta o seu desfibramento nas máquinas Paraibanas usadas nesta operação com o sisal do Nordeste. Por estas razões, são pouquíssimos os produtores que se ocupam do cultivo deste híbrido na região, a despeito de ser muito mais produtivo quanto à produção de folhas e fibras que o sisal, comumente plantado no Nordeste. Silva et al. (1997) compararam este genótipo com os híbridos Quênia, 400 folhas, Rio Grande do Norte em comparação ao sisal tradicional, no Campo Experimental de Monteiro, PB, da Embrapa Algodão. Através de métodos estatísticos da análise multivariada, constatou-se que o Agave sisalana foi significativamente superior em relação aos materiais testados, quanto ao peso da folha e da fibra e mesmo em relação à percentagem e resistência; observou-se, ainda, que a força dispendida na descorticação foi significamente menor no Agave sisalana, em relação aos outros materiais em teste. Os resultados obtidos fortalecem, assim, o cultivo dos sisalais no Nordeste brasileiro, baseado na espécie A. sisalana, dada à sua superioridade frente aos outros genótipos, especialmente em relação aos híbridos de origem africana. Alguns valores médios para características agronômicas apresentadas por Monteiro (1997) apud EMBRAPA (2008) se mostram na Tabela 6.


C a p í t u l o I | 102 Tabela 6. Valores médios para características agronômicas e resistência para o Agave sisalana e o Hibrido 11648. Variáveis

Altura da planta Nº de folhas

Unidade

Agave sisalana

Híbrido 11648

cm

Primeira colheita 145

Segunda colheita 165

Primeira colheita 143,5

Segunda colheita 140

Unidade

7,7

6,09

10,80

9,13

116,8

76,5

97

1.977

3.083

3.942

1046

781

831

Comprimento cm 101 folha Produção Kg/ha 2.208 fibra seca Resistência gf 1048 fibra Fonte: Adaptação da EMBRAPA (2008).

CONFIGURAÇÃO E DENSIDADE DE PLANTIO Um dos aspectos mais discutidos do cultivo do Agave sisalana é o espaçamento, em razão da falta de resultados experimentais convincentes. Segundo Valenzuela (2003), a determinação da população de plantas por hectare pode divergir bastante entre lavouras de agave, dependendo principalmente do sistema de cultivo. Os sistemas podem ser de monocultivo com altas e baixas densidades ou complementando-se com cultivos consorciados e pastoreios controlados. Além disso, essa espécie pode ser plantada em terrenos planos ou com inclinação acentuada.

Na região Nordeste, particularmente na Paraíba, os agricultores dão preferência ao sistema de plantio em fileiras simples, cujo espaçamento mais utilizado é o de 2 m x 1m (Figura 59), com uma população de 5 mil plantas/ha; entretanto, para cultivos mais tecnificados, recomendam-se os espaçamentos mais largos, como, 2,5 m x 0,8 m, ou 2,8 m x 0,7 m, que mantém uma densidade de 5.000 plantas/ha, possibilitando a implantação de culturas intercalares nos dois primeiros anos, além de permitir que algumas operações sejam tratorizadas, como o roço e o transporte das folhas (SILVA et al., 1999).


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Figura 59. Plantas de sisal com 32 meses de desenvolvimento (Lavoura de agricultor, no Município de Pocinhos, PB, região do Cariri Paraibano). Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva

Com relação à pecuária de corte, poderá ser adotado o sistema de recria ou engorda, utilizando apenas novilhas de gado, na proporção média de 1:1 cabeça/ha na pastagem nas entrelinhas (Figura 60). Esse tipo de integração é realizado a partir do terceiro ano, época em que o agave está completamente formado, mas é necessário proporcionar um espaçamento mais largo para circulação dos animais. O espaçamento mais recomendado é o de 3,0 m x 1,8 m, com densidade de 1.850 plantas/ha, o que permite a ampla circulação dos animais em volta das plantas, para o pastejo, além de a planta ficar mais livre para a produção de folhas mais longas (MEDINA, 1954).


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Figura 60. Produtores que consorciam o agave com a pecuária bovina no espaçamento de 2,8 m x 1,1 m (3.247 plantas/ha).

Outra modalidade de integração lavoura-animais de pequeno porte é aquela feita com caprinos e ovinos. Na prática, observou-se que o caprino danifica as folhas do agave, principalmente as mais tenras, enquanto o ovino, por ser um animal mais seletivo, permite interagir a partir do primeiro ano, sem danos à cultura (SILVA et al., 1999).

Outro sistema de plantio utilizado por alguns produtores é o de fileiras duplas (Figura 61). Este sistema protege melhor o solo; entretanto, a colheita e os tratos culturais são mais dispendiosos. Os espaçamentos mais recomendados são 3,00 m x 1,00 m x 1,00 m, com densidade de 5 mil plantas/ha, e 4,00 m x 1,00 m x 1,00 m com 4 mil plantas/ha (SILVA et. al., 2008; SILVA et al., 2006; SILVA; BELTRÃO, 1999).


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Figura 61. Campo de Agave tequilana cultivado em fileira dupla.

O sistema de fileiras duplas permite que se tenha uma cultura consorciada permanente. Trata-se de um sistema de plantio organizado que consiste em se deixar um espaçamento maior entre as fileiras, geralmente superior a quatro metros, permitindo, além dos tratos culturais mecânicos, uma consorciação durante todo o ciclo vegetativo da planta. Isso mostra que a densidade é um fator que deve relacionar-se estritamente não só com problemas econômicos, mas principalmente com os problemas sociais de cada área. Na Tabela 7 encontram-se as vantagens e desvantagens do sistema de plantio de fileiras simples em comparação ao de fileiras duplas.


C a p í t u l o I | 106 Tabela 7. Características do plantio do sisal em fileiras simples e duplas. Características das Operações - Preparo do solo

Fileira Simples Fileira Dupla Exige preparo comum, Exige preparo bem feito sem esmero na operação visando a menor incidência possível de ervas daninhas

- Densidade de plantio

Densidade alta, e à medida que a cultura é adensada, limita as operações mecanizadas para o controle das ervas daninhas

Densidade elevada de plantas, permite a mecanização dos tratos culturais entre os pares de fileira dupla e os dificulta entre as fileiras formadoras desses pares

- Consórcio

Permite o consórcio entre as fileiras, nos três primeiros anos com culturas alimentares. Quando o consórcio é com bovinos, dependendo do espaçamento entre as plantas permite o livre trânsito dos bovinos

Permite o consórcio entre as fileiras largas com culturas alimentares e forrageiras. O consórcio com bovinos, apresenta limitações por dificultar o trânsito dos bovinos por entre as plantas, principalmente na fileira dupla

- Capinas

Facilidades no controle Dificuldades no controle das das ervas daninhas entre ervas daninhas principalmente as linhas e entre plantas entre as fileiras duplas e entre as plantas destas

- Roço

Facilidade de utilizar a Permite o uso da roçadeira roçadeira para o somente nas fileiras de controle das ervas espaçamento mais largos daninhas

- Rebentões

Permite melhor controle Dificuldades no controle dos dos rebentões rebentões

- Proteção ao solo

Menor proteção do solo Maior proteção do solo contra a contra a erosão erosão

- Corte e transporte das folhas

Maior facilidade para Maior dificuldade para proceder o corte e o proceder o corte e o transporte transporte das folhas das folhas

Fonte: Silva et al. (1999).

CULTURAS INTERCALADAS Existem diversas formas de cultivo do Agave sisalana, entretanto a mais utilizada é o monocultivo, mesmo assim alguns produtores intercalam outros cultivos durante os primeiros 4 anos de idade da planta. Após tal período, fica impraticável realizar alguma atividade entre as fileiras.


C a p í t u l o I | 107 De uma maneira indireta, o uso tradicional do cultivo intercalado ou consorciado de gramíneas e leguminosas elimina a primeira geração de plantas daninhas, o que favorece o estabelecimento do agave. Além de propiciar a manutenção do agave no limpo, a cultura intercalar não deve exercer competição drástica com a cultura perene, a ponto de prejudicar seu desenvolvimento e sua produção. Em algumas configurações mais adensadas, tem-se observado concorrência entre as culturas; portanto, é necessário verificar o espaçamento adequado para evitar a competição por luz, água e nutrientes.

Em muitas propriedades, é quase impossível a prática de culturas intercaladas, pois o espaço deixado entre as fileiras é tão pequeno que não permite a consorciação. De um modo geral, o sistema de plantio introduzido no Nordeste foi o de fileiras simples, com os seguintes espaçamentos: 2 x 2 m e 1,5 x 2 m, com uma densidade média de 3.350 pés por hectare.

Esse sistema só permite o consórcio durante os dois primeiros anos da lavoura, pois, durante o resto da vida da planta, o espaço necessário às outras culturas desaparece em virtude do crescimento das folhas. No caso do sisal, essa oportunidade nunca deverá ser perdida, visto que intensificar uma lavoura significa ajudá-la em sua melhor adaptação ao meio.

O consórcio representa não só uma grande contribuição na quota de alimentos, mas também pode ajudar a baixar os custos da cultura principal. O consórcio do sisal com outras culturas assegura, dessa forma, a sobrevivência de um grande número de famílias, diminuindo ao mesmo tempo o custo de produção da fibra e devolvendo ao solo as condições necessárias à continuidade da lavoura. No entanto, as distâncias e a densidade de plantas por hectare deverão necessariamente estar fundamentadas nas diferenças ecológicas das diversas zonas produtoras.

Mesmo nos lugares áridos, onde as terras não permitem as culturas intercaladas de plantas alimentícias, como o milho, o feijão, a mandioca etc., devem-se plantar as leguminosas forrageiras (Figura 62) ou a palma forrageira que melhor resistam às secas. Dessa forma, é possível propiciar o aumento de carne e leite para determinadas regiões.


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Figura 62. Plantio do sisal em fileiras duplas em consórcio com a forrageira leucena (Leucaena leucocephala Lam. de Wit).

Considerando-se os altos custos de produção da cultura, o plantio intercalado com culturas regionais pode ser uma alternativa economicamente viável. Portanto, a Embrapa Algodão tem realizado estudos sobre a viabilidade produtiva e econômica da cultura do Agave sisalana, envolvendo o consórcio com culturas alimentares como o milho e o feijão vigna, e também do Agave sisalana com o capim buffel e a palma forrageira (Figura 63), utilizando diferentes espaçamentos. Os resultados estão apresentados nas Tabelas 8 e 9, a seguir.


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Figura 63. Consórcio do Agave sisalana, usando três linhas de plantio com a cultura da palma forrageira.

Tabela 8. Rendimento médio de feijão e de milho em kg/ha, obtido no consórcio com Agave sisalana. Monteiro/PB-1997. Tratamentos

Rendimentos feijão (kg/ha) 1996 1997 736 727

Sisal isolado (3 m x 1,5 m) Feijão isolado (1,0 x 0,5)m (6/MF) Sisal (3x1,5) m (2FF/M) 682 615 Sisal (4x1,5) m (3FF/M) 657 593 Sisal (4x1,5x1,5) m (3FF/M) 859 622 Sisal (5x1,5x1,5) m (4FF/M) 857 542 MG 748 619 CV (%) 30,5 29,7 F 0,70 ns 0,54 ns Fonte: Silva; Beltrão (1999). FF/M= Fileiras de feijão e milho

Rendimentos milho (kg/ha) 1996 1997 1.311 668 708 819 903 804 909 31,4 2,8 ns

635 937 721 619 716 47,4 0,58 ns

Obs.: As médias com a mesma letra para cada coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.


C a p í t u l o I | 110 Tabela 9. Produção da palma forrageira em raquetes em kg\ha e rendimento médio do capim buffel em massa verde, obtido no consórcio com Agave sisalana. Monteiro/PB1997. Tratamentos

Sisal isolado (3 m x 1,5 m) Sisal (3x0,8) m +(2P/5CB) Sisal (4x0,8) m (3P/7CB) Sisal (4x1x1) m (3P/7CB) Sisal (5x1x1) m (3P/7CB) MG CV (%) F

Palma forrageira Nº de raquetes/há e rendimento em t\ha (Primeira colheita) Nº de raquetes Kg/ha 23,4 74,21 24,1 99,33 20,6 88,18 22,2 73,38 22,7 81,86 16,03 22,63 0,51 ns 2,07 ns

Capim-buffel Rendimento em t/ha Primeira colheita 1995 11,9 7,0 9,6 10,1 9,7 29,8 2,48 ns

1996 15,4 15,3 14,8 13,4 14,8 15,8 0,8 ns

P= Fileiras de palma; Cb= Fileiras de capim-buffel. Obs.: As médias com a mesma letra para cada coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

O controle preventivo de plantas daninhas consiste do uso de práticas que visem prevenir à introdução, o estabelecimento, a reinfestação e a disseminação de determinadas espécies para novas áreas de plantio do agave, sendo o elemento humano a chave do controle preventivo. As principais medidas preventivas são a aquisição de mudas em substratos livres da contaminação com plantas daninhas; a escolha de local para a área de plantio, evitando áreas infestadas com plantas daninhas, principalmente aquelas perenes e/ou que se propagam vegetativamente.

A competição por plantas daninhas é grande na plantação do Agave sisalana, porque as raízes absorventes do agave crescem superficialmente no solo, onde a maioria das raízes das plantas daninhas ocorre. A presença de plantas daninhas durante as fases iniciais de crescimento atrasa o estabelecimento e o tempo para que a cultura atinja o estádio reprodutivo, além de reduzir a sua capacidade produtiva. A competição, principalmente por luz, é grande em lavouras em formação, pois as plantas de agave ainda jovens deixam grande área de solo livre, favorecendo, dessa forma, a infestação e o crescimento das espécies infestantes.


C a p í t u l o I | 111 A prática da "amontoa", cuidadosamente realizada três semanas após o transplantio de rebentos, constitui-se numa operação indireta de controle de plantas daninhas, uma vez que coincide com o período crítico de competição. Ou seja, o agave é bastante sensível à concorrência das ervas daninhas, especialmente nos dois primeiros anos. Alguns autores, como Medina (1954), Serra; Silva (1952) e Lock (1969), com experiência na condução de campos de produção, recomendam duas a três capinas no primeiro ano, dependendo da incidência das invasoras, e uma ou duas capinas no segundo ano, podendo ser uma logo após o início da estação chuvosa e outra ao final. Controle Mecânico - Durante a fase de crescimento do agave, os controles de plantas daninhas podem ser feitos com o cultivador a tração animal ou, então, tratorizado com uma grade leve, quando o espaçamento entre fileiras assim o permitir. Em ambos os casos, recomenda-se a limpa manual com enxada ou enxadão, entre as plantas de sisal, como complemento das operações anteriores. Além disso, seu sistema radicular, em forma fasciculada, se expande horizontalmente e sua maior densidade se encontra nos primeiros 20 a 40 cm da camada superficial do solo, razão pela qual se recomenda o roço manual ou tratorizado (Figura 64), uma a duas vezes por ano. Caso se proceda o roço uma vez ao ano, este deverá ser no final do inverno, se for duas vezes ao ano, um deverá ser em meados do inverno e outro no final. Quando as operações de limpeza forem realizadas com o trator recomenda-se guardar uma distância de aproximadamente 50 cm do pé da planta para evitar danos às raízes e as folhas do sisal (SILVA et al., 1999).

Figura 64. Roço com roçadeira tratorizada entre as fileiras do sisal. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.


C a p í t u l o I | 112 O controle mecânico de plantas daninhas ainda jovens, na entrelinha de plantio, pode ser feito com cultivadores acoplados a microtratores, visto que estes se adequam ao espaçamento da cultura, ou utilizando-se de carpideiras de tração animal (Figura 65). Esse equipamento é mais eficiente no controle de espécies daninhas anuais e em condições de calor e solo seco, porém apresenta como desvantagem principal a incapacidade de controlar plantas daninhas na linha de plantio.

Figura 65. No México, ainda é tradição usar o cultivador para capinar as entrelinhas do agave.

Controle Manual - Um método antigo, porém eficaz para o controle de plantas daninhas tem sido a capina manual e/ou o uso de cultivador. No entanto, essas atividades manuais deixaram de ser executadas, por causa do seu alto custo no México. Por outro lado, os cultivadores atualmente têm sido considerados uma ajuda favorável para o controle de plantas daninhas. Em muitos dos campos de agave, as máquinas agrícolas para tal finalidade deixaram de ser uma prática usual, uma vez que o solo úmido da chuva impede a entrada do trator dentro da área cultivada. Entretanto, em ocasiões que existam períodos de ausência de chuvas, o produtor pode capinar sem problema o terreno, apesar de que essa condição favorável estará condicionada pelo estado do clima (MARCICO, 1980; URZÚA, 2000).

Cobertura Morta - O revestimento de todo o terreno com uma camada de palha triturada (exemplo: bagana de carnaúba ou outros restos vegetais; Figura 66), após o plantio dos rebentos de agave, desde que esse material seja abundante na região de plantio. Para


C a p í t u l o I | 113 torná-la eficiente como cobertura morta, tal revestimento do solo terá que ser repetido por mais de duas vezes apenas no período de inverno dos dois primeiros anos, em razão da palha triturada com 3 cm de comprimento apresentar maior facilidade ao processo de decomposição do que as palhas adultas inteiras (GOMES, 1945). No caso de não haver grande disponibilidade de bagana ao alcance do produtor, recomenda-se distribuí-la apenas sobre as linhas de plantio do agave, nas quais deverão ser plantados os rebentos de agave no espaçamento de 2,0 m x 1,0 m, deixando a carroça seguir cada linha de plantio. Outra situação seria usar o espalhamento das folhas trituradas num raio de 0,5 m ao redor da muda de agave, de modo a manter essa área do coroamento sempre revestida com bagana, principalmente nos meses de chuva. Este manejo simples com a cobertura morta dispensa a capina manual (enxada) no controle das plantas daninhas, o que implica menos custos de mão-de-obra em tratos culturais no agaval.

Figura 66. A cobertura morta do terreno com bagana de carnaúba para controlar a incidência de ervas daninhas na área cultivada com rebentos de agave.

Integração Lavoura-Pecuária - Outra forma de redução dos custos de produção do agave e que é usado pelos agaveicultores em geral, é a integração entre agave e bovinos, através do pastoreio direto do animal no campo de agave, como aproveitamento do pasto natural e das folhas dos rebentos menores de agave, como alimento. Ou seja, trata-se de um sistema de plantação agrícola que utiliza a estratégica de controle de plantas daninhas, sem nenhum tipo de custos para o produtor de agave. Esse tipo de integração é realizado a partir do terceiro ano, época em que o agave está completamente formado, mas é


C a p í t u l o I | 114 necessário proporcionar um espaçamento mais largo para circulação dos animais. O espaçamento mais recomendado é o de 3 m x 1,8 m, com densidade de 1.850 plantas/ha.

ERRADICAÇÃO DOS REBENTOS

Os rebentos desenvolvem-se por meio da assimilação de substâncias nutritivas elaboradas pela planta-mãe. Para evitar o carreamento dessas substâncias em atividades não produtivas, é necessária a erradicação sistemática dos rebentos, que deve ocorrer sempre após o quinto ano de idade do Agave sisalana. Esta prática é importante porque o crescimento desordenado dos rebentos acarreta problemas na lavoura, dificultando a circulação dos trabalhadores nas operações de capinas e colheita (Figura 67). Sua erradicação é feita através do roço manual ou por meio do enxadão ou roçadeira mecânica acoplada ao trator. O roço, que consiste no corte do rebento próximo ao solo, permite o seu rebrotamento após algum tempo.

Figura 67. Planta adulta de agave com vários rebentos. Foto: Institute for Industrial Crops, 2010.


C a p í t u l o I | 115 FERTILIDADE

A nutrição vegetal do agave deve ter a finalidade de melhorar seu rendimento e qualidade, buscando incluir o enfoque da sustentabilidade econômica e a harmonia com o meio ambiente. A melhora em rendimento e qualidade requer um processo de incrementos sistemáticos através de um manejo integrado do cultivo, específico para cada condição de solo e clima, pois as diferencias em desenvolvimento das plantações de agave se manifestam essencialmente como resultado dessa interação. Assim, na nutrição da planta de agave, o objetivo é compreender que fatores estão associados com ela, os quais limitam o desenvolvimento do cultivo, mas é necessário tentar corrigi-los e estabilizar os rendimentos no tempo e no espaço, isto é, para que a produção de uma safra a outra, em todas e cada uma das zonas, não vá variar drasticamente.

Mesmo assim, na região sisaleira do Brasil, o sisal é cultivado em solos de baixa fertilidade, o que afeta o seu crescimento e o rendimento das folhas, apesar de ser considerada uma cultura esgotante e exigente em solos férteis e equilibrados quanto aos elementos nutritivos. Portanto, recomenda-se fazer, então, análise do solo para determinar as reais necessidades dos nutrientes exigidos pela cultura (SILVA; BELTRÃO, 1999).

Atualmente, a adubação nitrogenada indicada para a cultura do sisal na região Nordeste é de 20 kg/ha de Nitrogênio no plantio das mudas e 40 kg/ha no início da estação chuvosa do ano seguinte; recomenda-se também adubação de manutenção de 40 kg/ha/ano de Nitrogênio (SILVA et al., 2008). A adubação fosfatada e a potássica deverão ser feitas conforme os resultados da análise do solo e de acordo com a Tabela 10.


C a p í t u l o I | 116 Tabela 10. Recomendação de Fósforo (P) e Potássio (K) para cultura do sisal de acordo com os níveis de P e K extraído pelo método de Mehlich.

Fonte: Malavolta (1996).

Adubo Orgânico com Esterco de Gado: A matéria orgânica na cova/sulco de plantio tem duas finalidades principais. A primeira é a de servir como fonte de nutrientes de disponibilidade lenta às plantas. Devido a este fato, a maior parte dos nutrientes liberados durante sua decomposição, é assimilada pelas raízes das plantas, havendo pouca perda por lixiviação e por processos erosivos. A segunda é a de constituir-se em condicionador do solo, sendo responsável por melhor agregação das suas partículas, facilitando a infiltração de água; aumentar a CTC, ou seja, aumento das cargas negativas do solo, contribuindo para maior retenção dos elementos nutrientes aplicados através dos fertilizantes; complexar o alumínio com redução das formas tóxicas no solo; aumentar a retenção de umidade, etc. que provocam melhorias generalizadas no solo, levando a uma condição muito mais favorável ao crescimento e produção das plantas cultivadas. Apesar de todas estas virtudes, a adubação orgânica não deve ser realizada de forma exclusiva, mas sim, de forma a complementar a adubação mineral e contribuir para potencializar a eficiência desta última.

Tradicionalmente no México, a cada ano o agave azul é adubado em três ocasiões, sendo duas aplicações de adubos orgânicos (cada adubação é de até 1 quilo de esterco de gado


C a p í t u l o I | 117 ou galinha por planta) realizados no período seco, e a terceira com adubos químicos, no período das chuvas. Por outro lado, muitos produtores mexicanos utilizam a adubação sem nenhum tipo de conhecimento técnico, pois acreditam que tal prática agrícola poderá acelerar a maturação da planta. Em alguns casos, produtores inovadores aplicam adubação foliar com a finalidade de nutrir com eficiência a planta de agave e assegurar o êxito da sua produção.

USO DO RESÍDUO DO DESFIBRAMENTO COMO ADUBO É recomendável que os resíduos do desfibramento, constituídos da mucilagem, bucha e suco, sejam distribuídos nas laterais de cada fileira de plantas com o fim de repor ao solo, parte dos elementos nutritivos retirados pela planta, mantendo assim, a cultura em plena atividade produtiva. Essa prática serve também de cobertura morta, impedindo o crescimento de ervas daninhas na área coberta, reduzindo assim, a necessidade de tratos culturais, além de contribuir para a retenção de água no solo, visto que o protege da incidência direta dos raios solares. Também o resíduo do desfibramento é utilizado como adubo orgânico para evitar estresses nutricionais à planta, o qual irá influir na redução do desenvolvimento da podridão vermelha do tronco do sisal (Figura 68).


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Figura 68. Adubação do agave: a) aplicação de resíduos do desfibramento entre as plantas com ajuda de uma carroça de mão e b) os resíduos em decomposição. Fotos: Maria Odete Alves e Tarcísio Marcos de Souza Gondim.


C a p í t u l o I | 119 Embora o uso de resíduos do próprio sisal seja recomendado, em alguns casos, para a adubação da lavoura, essa prática é potencialmente perigosa caso as folhas utilizadas no desfibramento sejam oriundas de plantas doentes. Neste caso, os resíduos podem ser contaminados e, consequentemente, servirão como fonte de inoculo, pois, o agente causal da podridão vermelha do tronco do sisal sobrevive em restos da cultura como saprófita. Entretanto, uma alternativa é utilizar o resíduo do sisal para fazer compostagem, pois o extrato aquoso do resíduo fermentado tem ação fungitóxica e já inibiu em 100%, a germinação dos esporos de A. niger (SOARES et al., 2007).

DOENÇAS Apesar da importância do sisal, nos últimos anos tem sido constatado um declínio da cultura. A ausência de práticas adequadas de plantio, tratos culturais incorretos, cortes indiscriminados das folhas, problemas fitossanitários, utilização de máquinas obsoletas no desfibramento e falta de material genético mais adaptado, são alguns dos fatores limitantes para a competitividade do setor sisaleiro (OASHI, 1999; SUINAGA et al., 2006).

Considerando-se os problemas fitossanitários, a podridão vermelha do tronco do sisal tem ameaçado a sustentabilidade da cultura (COUTINHO et al., 2006a). Neste caso, o desconhecimento de tecnologias, mesmo de alternativas simples para o manejo da doença, e que sejam capazes de promover as mudanças necessárias do quadro fitossanitário, é outro problema enfrentado. É preciso, portanto, que sejam adotadas estratégias de manejo que promovam a redução da pressão da doença no campo e que minimizem a disseminação da mesma, uma vez que o controle químico não é adotado.

A podridão vermelha do tronco é o principal problema fitossanitário desta cultura nos estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte (COUTINHO et al., 2006b). A doença foi constatada pela primeira vez no Brasil no Estado da Paraíba, segundo dados de Machado (1951), citado por Medina (1954). Foi constatada, em campos experimentais localizados no município de Monteiro, Estado da Paraíba, a ocorrência de uma doença do sisal, espécie Agave sisalana Perr., caracterizada pela podridão de coloração avermelhada, do tronco da planta, a qual se estende até a base das folhas. Enquanto na Bahia, foi observada pela primeira vez na fazenda Mandacaru, município de Santaluz, em


C a p í t u l o I | 120 um plantio comercial de 500 hectares (LIMA et al. 1998). Externamente, as plantas afetadas apresentam amarelecimento das folhas (Figura 69).

Figura 69. Plantas doentes apresentando amarelecimento das folhas. Foto: LIMA et al. 1998.

A podridão vermelha do sisal é também conhecida como podridão do caule do sisal, podridão vermelha do tronco, podridão do cepo, podridão úmida do cepo ou ainda podridão parda do colo. Essa doença tem alarmado os produtores por causa da sua capacidade de destruição, pois as folhas tornam-se impróprias ao desfibramento e as plantas morrem, inviabilizando a atividade para o agricultor (COUTINHO et al., 2006b). A incidência dessa doença em plantios de sisal tem variado de 5% a 65% (ABREU et al., 2007; COUTINHO et al., 2006b; LIMA et al., 1998). Em estudos desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa Semiárido no Território do Sisal, no Estado da Bahia, foi constatada incidência variando de 1,5% a 46,66% (SILVA et al., 2009).

A podridão vermelha do sisal afeta as plantas de sisal em qualquer estádio de desenvolvimento e induz a descoloração avermelhada dos tecidos internos do caule, evoluindo para podridão, resultando na morte da planta. Externamente as folhas ficam amarelas e murchas (COUTINHO et al., 2006a). Embora a doença possa ser observada em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, aquelas submetidas a estresse nutricional e ou hídrico se tornam mais predispostas (MEDINA, 1954). Isso significa que a capacidade de penetração e de colonização do tecido por este patógeno está na dependência do estado em que se encontra a planta hospedeira. Segundo Roger (1953),


C a p í t u l o I | 121 citado por Souza Filho et aI. (1979), quando submetidas a algum tipo de estresse, as plantas ficam mais predispostas à infecção por este fungo.

Embora a epiderme da folha de sisal com sua cutícula espessa e cerosa possa conferir uma barreira natural à penetração de microrganismos patógenos afetados por várias doenças que, por sua vez, poderão causar sérios prejuízos à cultura (BOCK, 1965; LIMA et al., 1998), tais como: a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum agaves Cavo (MEDINA, 1954), a podridão do cepo causada por Aspergillus niger (MEDINA, 1954; ANDRADE, 1962) e a podridão parda do colo, cujo agente etiológico ainda não foi identificado (MEDINA, 1954).

A podridão vermelha do tronco do sisal pode ser causada por diferentes fungos. No Brasil, dois são apontados como causadores da doença: Aspergillus niger e Botryodiplodia theobromae Pato (= Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff & Maubl.). Dentre estas, citam-se: a podridão vermelha, que ocorre na Venezuela e a podridão parda do colo do sisal, constatada na Paraíba que, segundo Medina (1954) provavelmente sejam uma mesma doença.

Acredita-se que, possivelmente, a podridão vermelha do tronco do sisal causada por B. theobromae seja a mesma podridão parda do colo, constatada na Paraíba, por Machado (1951) citado por Medina (1954). O fungo Botryodiplodia theobromae Pato (=Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff & Maubl.) é o agente etiológico da podridão vermelha do tronco do sisal, visto que o patógeno foi reisolado dos tecidos infectados do hospedeiro após a inoculação e consequentemente o surgimento dos sintomas da doença confirmando-se, assim, os princípios do postulado de Koch (LIMA et al. 1998).

O Aspergillus niger Van Tieghem foi identificado como o agente causal da podridão vermelha do sisal nos estados da Paraíba e Bahia (COUTINHO et al., 2006b; SOARES et al., 2006). É um fungo filamentoso, pertencente à ordem Eurotiales, Família Tricomaceae e Filo Ascomiceto (DEEPAKE, 2009). Possui crescimento aeróbico e é encontrado na serrapilheira e na matéria orgânica em decomposição (SCHUSTER et al., 2002).


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É um fungo considerado oportunista, que só penetra em tecidos injuriados do hospedeiro, necessitando de lesões de origem mecânica ou fisiológica para que se dê a infecção (LIMA et. al.,1998). Roger (1953) citado por Souza Filho et al. (1979), relatam que a capacidade de penetração e colonização de A. niger depende do estado em que se encontra o hospedeiro pois, quando submetidas a algum tipo de estresse, as plantas ficam mais predispostas à infecção. Por ser um fungo necrotrófico, continua seu ciclo de vida sobre a planta senescida ou em restos culturais sobre o solo. O micélio continua a colonizar os tecidos mortos, nutrindo as estruturas reprodutivas, as quais, por sua vez, produzem esporos por tanto tempo quanto existirem nutrientes para o patógeno.

De acordo com Shuster et, al. (2002), o A. niger cresce na faixa de temperatura de 6 a 47 °C, com ótimo de temperatura variando entre 35 e 37 °C, e na faixa de pH entre 1,4 e 9,8. RIPPEL; BALDES 1955, citados por DEEPAKE (2009) ressaltam que essas características, além da produção de conidiosporos e sua dispersão pelo ar, garantem que ele frequentemente esteja presente em ambientes com alta temperatura e umidade.

Sintoma - O sinal da doença é uma alteração de cor das folhas que, progressivamente, ficam com uma coloração amarelo arroxeada. Esse sinal vem sempre acompanhado de murcha progressiva. As folhas afetadas e murchas se dobram tanto na base quanto no sentido longitudinal. Na parte interna do tronco, também ocorre uma descoloração dos tecidos que, inicialmente, apresentam uma coloração vermelho-róseo (daí o nome podridão vermelha do tronco), e que posteriormente ficam cinza escuro, evoluindo para uma podridão generalizada (Figura 70). Plantas doentes são mais facilmente identificadas durante a época chuvosa, quando há uma diferença acentuada em relação às plantas sadias e com o vigor. No período seco, em virtude do estresse hídrico, plantas sadias podem desenvolver murchas, podendo ser confundidas com a doença.


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Figura 70. Sintoma interno da podridão vermelha do tronco do sisal. Foto: Diógenes da Cruz Batista.

Até o momento, não há nenhum tipo de tratamento e a doença é fatal para a cultura. A única forma de evitar maior disseminação da doença nas áreas de produção do Nordeste brasileiro é a utilização de medidas preventivas, tais como arrancar e queimar plantas que apresentem os sintomas; plantar rebentos vindos de áreas sadias para implantação de novos campos (Figura 71); utilizar o resíduo do desfibramento como adubo orgânico para evitar estresses nutricionais à planta; e manter por maior tempo a umidade do solo e o plantio consorciado com outras culturas (SUINAGA et al., 2006). Recomenda-se para o agave africano adicionar à cultura uma aplicação de fertilizantes ricos em cálcio em solo alagado ou altamente ácido. Além disso, a incidência pode ser reduzida através da remoção do material infestado e deve efetuar a colheita em condições secas.


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Figura 71. Escala descritiva para avaliação de mudas de sisal quanto à severidade da podridão vermelha do sisal. Notas: 0 - mudas sem sintomas; 1 - mudas com sintoma interno; 2 - mudas com sintoma interno e externo e 3 - mudas mortas. Foto: Kátia Cristina Leão de Magalhães Abreu (2010).

COLHEITA Em geral, na região Nordeste, o primeiro corte pode ser feito entre 30 a 36 meses depois de plantado o sisal. Na sequência, deve-se manter um corte por ano, mas este intervalo (12 meses) nem sempre é observado, pois, dependendo da conjuntura de preços do mercado, o produtor pode protelar, ou então antecipar o corte e, quando, antecipa, procede a um corte drástico, incluindo folhas prematuras, o que afeta a qualidade da fibra.

Nessa colheita do sisal, é necessário destaca todas as folhas inferiores da roseta foliar que se acham inclinadas a mais de 30 graus em relação ao eixo vertical da planta. No primeiro corte podem ser retiradas, em condições normais de crescimento, 50 a 70 folhas por planta, deixando-se entre 7 a 12 folhas para o Agave sisalana e 9 a 12 folhas para o agave Híbrido 11648 (BANDEIRA; SILVA, 2006). Deste total de folhas cortadas, apenas 30 a 40% delas são demasiadamente curtas e estragadas, e não se prestam para aproveitamento


C a p í t u l o I | 125 industrial. Deve-se, portanto, separar estas folhas de baixa qualidade e desfibrar aquelas em boas condições (MEDINA, 1954). Recomenda-se praticar uma desfolha nas plantas, destacando-se as folhas inferiores, próximas do solo, que em geral, estão estragadas e secas, e não se prestam para o desfibramento. Com esta limpeza previa, evita-se, em grande parte, no primeiro corte a se realizar uns meses depois, a necessidade de separação e descarte das folhas ruins das que são tecnicamente aproveitáveis. Considera-se que esta prática tem um efeito benéfico e estimula o crescimento das plantas. A literatura sobre a industrialização do sisal informa que, na prática, as folhas são consideradas maduras para corte logo que atingem a posição de 45 graus em relação ao eixo vertical da planta, e que a maturidade é indicada por uma modificação de coloração das folhas, que passa de verde-clara para verde-escuro (MEDINA, 1954). Por outro lado, o mesmo autor admite que não encontro diferença de maturidade das fibras ao analisar as fibras das folhas ainda situadas no broto central, em relação aquelas nas posições de 25, 50 e 75 graus, em relação ao eixo vertical da planta, pois elas apresentaram, praticamente, as mesmas características físico-químicas. Na colheita do sisal, recomenda-se não efetuar o corte exagerado de folhas porque poderá provocar sérios distúrbios fisiológicos, com significativa queda de produção, em consequência do nanismo que causaria às plantas. Desenvolvendo-se em condições naturais, isto é, sem sofrerem nenhum tipo de corte de folhas, as plantas florescem precocemente em comparação aquelas, sob idênticas condições de clima e solo, mas que se procedeu periodicamente, o corte de folhas. Ou seja, a colheita das folhas aumenta sensivelmente a longevidade da planta de sisal (MEDINA, 1954). Com base em resultados experimentais, a vantagem da execução de cortes leves (30% de folhas), a intervalos de seis meses um do outro, ou então, de cortes mais severos (60% de folhas), porém a intervalos de 9 meses. O primeiro método seria aplicável em região de solo e climas ideais para o crescimento do sisal; ao passo que, o segundo, em condições menos favoráveis. O corte severo e mais frequente, além de retardar o ritmo de produção, afeta decisivamente o crescimento da planta, que passa a produzir folhas menores, mais leves e com menor percentagem de fibras (MEDINA, 1954). A operação de corte das folhas deve ser executada para proporcionar uma seção lisa e uniforme na zona de corte, de modo a reduzir ao máximo o tamanho da base de folhas


C a p í t u l o I | 126 remanescentes na planta (nunca o comprimento deve ser superior a 5 cm). Isto é, esse corte é feito manualmente com uma pequena faca ou foice, bem rente ao troco (Figura 72). Deve-se ter o cuidado para não ferir as folhas restantes, deixadas na planta sem cortar. A rapidez da cicatrização dos tecidos em seguida ao secionamento das folhas depende da lisura da seção de corte. Isso é importante porque se a lesão criada pelo corte permanecer exposta por longo tempo, principalmente no período de chuvas, pode constituir uma porta aberta à invasão de microrganismo.

Figura 72. Corte de folhas do Agave sisalana bem rente ao tronco realizado com ajuda de uma pequena foice.

Para as regiões do Nordeste, onde à operação de corte é feita por empreitada, com gente de fora da propriedade, neste caso é necessária uma supervisão severa nos trabalhos de corte e da qualidade dos serviços dos cortadores, pois tal medida é de capital importância para o êxito financeiro da fazenda de sisal. Outra forma de colheita do sisal se baseia quando as folhas atingem o comprimento de aproximadamente 1,20 a 1,40 m para serem cortadas no próprio campo. As operações de corte, enfeixamento, transporte e desfibramento devem ser sincronizadas, de modo que


C a p í t u l o I | 127 as folhas cortadas sejam beneficiadas no mesmo dia (dentro de 24 horas), para evitar o murchamento, o que dificulta o desfibramento e causa depreciação da fibra. A forma mais comum de transporte das folhas do campo para a máquina desfibradora é através do jumento, o qual tem capacidade de transportar aproximadamente 200 folhas por viagem, pesando em torno de 100 a 130 kg (SILVA et al. 1999). Normalmente, o Agave sisalana apresenta, para condições do semiárido nordestino, uma produção média de 180 a 250 folhas/ciclo por planta. O ciclo da planta dura em média 8 a 10 anos. No primeiro corte podem ser colhidas 50 a 60 folhas, das quais 30% não aproveitadas para a cordoaria; nos cortes subsequentes, executados manualmente, são retiradas da planta cerca de 30 folhas. Enquanto o Híbrido 11648 apresenta produção média de 600 folhas/planta durante o ciclo, que é de aproximadamente 8 a 10 anos. No primeiro corte são retiradas mais ou menos 110 folhas e, nos cortes subsequentes, cerca de 60 folhas/planta. A fim de controlar a produção diária dos cortadores e os trabalhos de carregamento, transporte e descarga para alimentação da desfibradora, as folhas precisam ser reunidas em feixes no campo (Figura 73). Em geral, o serviço de enfeixamento das folhas está a cargo dos próprios cortadores, auxiliados ou não por outro operário. No enfeixamento, as folhas são obrigatoriamente reunidas com as bases de um lado e as pontas de outro, visando assim facilitar as etapas posteriores de desfibragem. Empregam-se, geralmente, como amarrilho, pedaços de corda de comprimento suficiente para dar uma volta em torno do feixe e uma laçada com as suas pontas (MEDINA, 1954). Um procedimento muito comum no semiárido consiste em se amarrar o feixe de folhas com as fibras de sisal. Estima-se que um trabalhador comum consegue cortar e enfeixar 2.500 folhas por dia, que são depois reunidas em feixes de 25 folhas, totalizando 100 feixes/dia.


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Figura 73. Feixes de folhas amarrados com corda ou fibras de sisal e empilhados em pequenos ‘montes’ no campo. Fotos: Arquivo da SECTI-BA e disponível em http://www.ateffaba.org.br/?p=7738.

TRANSPORTE DAS FOLHAS Para reduzir o custo de produção da cultura do sisal, o transporte das folhas cortadas para o local do desfibramento é um componente importante. Assim, deve-se buscar, sempre, a menor distancia a percorrer, de forma que as folhas cheguem com regularidade, em abundância e no menor espaço de tempo possível. No Nordeste, o transporte é feito por asininos (jumentos) utilizando-se de cangalhas com cambitos (ganchos tipo V de madeira) em seu dorso, onde são colocadas as folhas. Esses animais podem transportar, aproximadamente, 200 folhas por viagem, que pesam em torno de 100 a 130 kg (BANDEIRA; SILVA, 2006). Ou seja, o botador de palha recolhe as folhas de sisal cortadas do campo e as leva, geralmente, usando o jegue, para próximo ao motor de sisal onde elas são empilhadas novamente (Figura 74).


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Figura 74. Descarregamento de feixes de folhas de sisal para alimentar a desfibradora.

Um animal e um operário são suficientes para abastecer de folhas, uma "Máquina Paraibana" (Figura 75). O número de viagens do animal varia com a distância e, em média, são realizadas 40 a 60 viagens/dia, percorrendo entre 12 a 20 km. Quando a máquina desfibradora é automática, sua instalação é fixa, constituindo-se em uma usina de desfibramento e, neste caso, as folhas são reunidas em feixes de aproximadamente 50 unidades transportados através do trator com reboque ou caminhão (SILVA et al., 1999).


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Figura 75. Empilhamento de folhas de sisal próximo a Máquina Paraibana.

RENOVAÇÃO DO SISALAL Recomenda-se a renovação total do sisalal após 70% das plantas completarem seu ciclo vegetativo. Deve-se realizar o corte de todas as folhas, inclusive a vela, depois o arranchamento das plantas e bulbos; a seguir, novo preparo (aração e gradagem, calagem e adubação), sulcamento ou coveamento e plantio de mudas selecionadas.

COEFICIENTE TÉCNICO DA CULTURA DO SISAL Pela análise econômica o produtor passa a conhecer os resultados obtidos em termos monetários, de cada atividade da empresa rural. É mediante resultados econômicos que o produtor pode tomar decisões e encarar o seu sistema de produção como uma empresa. Pois, para administrar qualquer negócio o primeiro passo é conhecê-lo, bem como o mundo no qual ele está inserido, seu funcionamento e seu ambiente. E quanto mais


C a p í t u l o I | 131 conhecimentos destes aspectos o administrador tiver, maiores serão as chances de tomar decisões corretas. As despesas, que se enquadram como custos variáveis na fase de implantação de um hectare de sisal em cultivo agroecológico, estão descritas na Tabela 11 e, como essas despesas envolvem desembolso do produtor, constituem assim, o custo operacional efetivo. Tais despesas estão secionadas em três etapas: 1 – produção de mudas; 2 instalação da lavoura; e 3 - condução da lavoura durante cinco anos, o que corresponde ao desenvolvimento e crescimento das plantas até estarem prontas para a colheita, o que poderá totalizar no máximo oito anos. Tabela 11. Coeficiente técnico para 1 hectare de sisal consorciado. Descriminação das atividades 01.ADAPTAÇÃO DA ÁREA -Broca -Aceiro, encoivaramento e queima -Destocamento e limpeza da área 02.PREPARO DO SOLO -Gradagem 03.OPERAÇÃO E PLANTIO -Arranquio de mudas -Transporte interno de mudas -Marcação, coveamento e plantios 04.TRATOS CULTURAIS Duas limpas à cultivador Duas limpas à enxada 05.INSUMOS 5.1-Aquisição de sementes -Milho -Feijão -Gergelim 5.2-Outros produtos -Óleo diesel de motor -Óleo lubrificante para motor 06.COLHEITA Sisal – Corte de folhas Milho Feijão Gergelim Transporte das folhas Desfibramento das folhas Transporte do resíduo para adubar Espalhamento da fibra p/ secagem Fonte: Embrapa/ Emater-PB.

Total

1º ano

2º ano

3º ano

4º ano

5º ano

d/h d/h d/h

30 10 40

-

-

-

-

h/t

04

-

-

-

-

unidade d/h d/h

6.100 0,4 10

-

-

-

-

d/h d/h

0,4 10

02 05

02 05

02 05

02 05

kg kg kg

04 06 01

04 06 01

06 -

-

-

L L

-

-

50 -

50 -

50 -

d/h d/h d/h d/h d/h d/h d/h d/h

05 02 05 -

05 02 05 -

08 01 10 10 05 06

08 10 10 05 06

10 10 10 05 06


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Capítulo 2

PÓS-COLHEITA: PROCESSOS DE BENEFICIAMENTO DO SISAL

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva Vicente de Paula Queiroga José da Cunha Medeiros Camilo Flamarion de Oliveira Franco Tarcísio Marcos de Souza Gondim Orozimbo Silveira Carvalho Rafael Bernardino de Souza Azarias Amaro de Souza (Editores Técnicos)


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PROCESSOS DE BENEFICIAMENTO DO SISAL O ciclo de transformação do sisal em fios naturais tem início aos 3 anos de vida da planta, ou quando suas folhas atingem até cerca de 140 cm de comprimento que podem resultar em fibras de 90 a 120 cm. As fibras representam apenas 4 a 5% da massa bruta da folha do sisal. As folhas são cortadas a cada 6 meses durante toda vida útil da planta que é de 6/7 anos. Ao final do período é gerada uma haste (inflorescência), a flecha, onde surgem as sementes de uma nova planta. Uma característica da família é que a planta morre após gerar as sementes. E esse produto agrícola passa pelo primeiro beneficiamento na zona rural em propriedades que destinam parte das terras para o plantio de campos de sisal. Uma vez cortadas, as folhas das plantas são desfibradas nas máquinas paraibanas (um conjunto articulado de lâminas de corte associado a um motor a diesel) e estendidas ao sol. Apesar da subdivisão em fase rural e urbana da cadeia produtiva do sisal, o seu beneficiamento está divido em três etapas: a) 1º beneficiamento que se refere ao desfibramento das folhas e que ocorre na zona rural em propriedades que destinam parte das terras para o plantio de campos de sisal. Uma vez cortadas, as folhas das plantas são desfibradas nas máquinas paraibanas (um conjunto articulado de lâminas de corte associado a um motor a diesel) e estendidas ao sol, b) 2º beneficiamento que corresponde ao processo de batimento de fibras nas batedeiras e sucede na zona urbana e c) 3º beneficiamento também ocorre na cidade, representada pela indústria de transformação de fibras em fios, mantas, tapetes, carpetes e cordas. Essa empresa utiliza o sisal beneficiado nas batedeiras, transformando-o em novas mercadorias que animam o mercado regional, nacional e mesmo o internacional, como no caso dos fios e cordas exportados para vários países, como os Estados Unidos da América (SANTOS, 2010). Na Figura 76, destacam-se essas três etapas do beneficiamento da APAEB, em cuja dinâmica se verifica os diversos agentes/sujeitos envolvidos na cadeia produtiva do sisal da Bahia.


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Figura 76. Representação esquemática do processo produtivo do sisal, que envolve os processos de beneficiamento subdivididos em fase rural e fase urbana. Fonte: Edinusia Moreira Carneiro Santos; Onildo Araújo Silva (2017).

De acordo com a Figura 76, esse produto agrícola passa pelo primeiro beneficiamento na zona rural em propriedades que destinam parte das terras para o plantio de campos de sisal. Uma vez cortadas, as folhas ou palhas das plantas são desfibradas nas máquinas paraibanas e estendidas ao sol. Nesse processo de beneficiamento da fibra, o sisal deixa subprodutos que têm valor econômico: o resíduo, a bucha, o pó e o sumo, pois apenas 4% da folha do sisal são aproveitadas na forma de fibras, 16% são resíduos sólidos e 80% são resíduos líquidos. Porém, esses subprodutos (96%) não são ainda aproveitados a ponto de gerar outro processo em escala industrial ou comercial.


C a p í t u l o I I | 135 Ainda na fase rural, a colheita é o primeiro passo para o beneficiamento, procedimento no qual é intensivo o uso de mão-de-obra, pois para um motor de sisal funcionar é necessário no mínimo um cortador de folhas, um carregador de folhas, um botador, um cevador, um resideiro e uma estendedeira de fibras úmidas. Cada um tem função específica, materializando assim a divisão técnica do trabalho no estado da Bahia. Para a compreensão dos trabalhadores no estado da Paraíba envolvidos no desfibramento com a máquina Paraibana, são descritos a seguir os termos empregados e suas funções: -Cortador: colhe as folhas das plantas, cortando-as com instrumento apropriado denominado foice; o número de pessoas envolvidas nesta atividade pode variar de uma a três; -Enfeixador: amarra as folhas em forma de feixes que são transportados até a máquina de desfibramento; -Cambiteiro - Recolhe os feixes e os transporta até a máquina no dorso dos animais; -Puxador: é o responsável pela operacionalização da máquina; esta atividade envolve uma ou duas pessoas, dependendo da região produtora; -Fibreiro: responsável pelo abastecimento da máquina com as folhas e pela recepção das fibras, que são pesadas com umidade (Figura 77); esta atividade poderá ser realizada por uma ou duas pessoas; -Bagaceiro: retira da máquina os resíduos do desfibramento ou coleta o resíduo (mucilagem) e joga em outro canto. -Transportador das fibras. - Lavadeira: faz a lavagem, secagem e armazenamento da fibra.


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Figura 77. Pesagem de fibras com umidade realizada no campo para o controle produtivo/diário da equipe de trabalhadores. Foto: Pereira, A. V.; Oliveira, F. M; Machado, T.; G.; Monteiro, F. M (2016).

Após essa etapa no espaço rural, o sisal é transportado para as cidades onde recebe o segundo beneficiamento nas batedeiras (unidades industriais que alisam e selecionam as fibras de sisal). Da batedeira, a fibra sai pronta para ser vendida como matéria-prima para outras regiões brasileiras e/ou para o mercado externo. A exportação ainda é o maior destino da fibra de sisal produzida no semiárido baiano; no entanto, parte da fibra pode também ser novamente beneficiada nos próprios espaços produtores ou indústria, resultando na confecção de cordas, fios, mantas, tapetes, peças de artesanato, entre outros.


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1º BENEFICIAMENTO DO SISAL 1.Desfibramento - A atividade de desfibrar a folha da planta chamada “agave” ou sisal, que é uma vegetação típica do meio rural de clima seco e semiárido, sendo uma característica da região Nordeste, a qual se concentra principalmente nos estados da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Todas as espécies do gênero agave têm, dentre as suas folhas, fibras longitudinais responsáveis pela sua rigidez. Assim os “agaves de fibra” se referem aos agaves cujas fibras podem ser economicamente aproveitáveis para fins industriais. O limite econômico do aproveitamento é de cerca de 2,5% de fibra por peso da folha verde, segundo Scholz (1959). Por sua vez, o desfibramento é a principal atividade pós colheita do sisal. Nesta etapa ocorre a eliminação da polpa das fibras, através de uma raspagem mecânica, tornando esta prática complexa e com custo elevado (SILVA et al., 2008). A falta de uma tecnologia adequada para desfibrar o sisal fez com que os próprios agricultores inventassem o primeiro instrumento destinado a essa finalidade: o farracho (Figura 78). Tratava-se de um instrumento rústico, feito com uma forquilha de madeira com duas lâminas de ferro, uma delas móvel. De um lado, uma pedra pendurada permitia a pressão suficiente para desfibrar a folha do sisal e, do outro, um pedal feito de vara permitia que o farracheiro movimentasse a lâmina para cima para introduzir a folha do sisal, puxando-a com a ajuda do cambito, feito de vara (CODES SISAL, 2008).

Figura 78. Equipamento rústico Farracho de desfibramento de folhas de sisal. Foto: Google Imagens, 2017.


C a p í t u l o I I | 138 A evolução rápida da cultura sisaleira no País se deu em consequência da II Guerra Mundial que dificultou a importação de similares da fibra do sisal, provocando, desse modo, o “aumento de mercados, devido ás necessidades geradas pelo conflito e, sobretudo, devido que, em 1946, sua exportação começa a despontar nas estatísticas fazendo o Brasil passar, em poucos anos, de importador da fibra, para um grande exportador mundial (ANDRADE, 2002). Apesar do rápido destaque na pauta de exportação do país, a utilização do farracho no processo de desfibramento do sisal permaneceu exclusivamente até 1940, mesmo após a inserção das máquinas Paraibanas (Figura 79), sendo substituído totalmente, apenas, por volta de 1950 quando houve uma maior disseminação delas devido aos avanços da industrialização do Brasil nesse período.

Figura 79. Trabalhadores desfibrando o sisal num motor “Paraibana”. Foto: Ana Virginia Pereira dos Santos (2011). Embora a “máquina Paraibana” tenha modernizado de forma significativa o setor, trouxe para a região mudanças significativas: de um lado, alterou radicalmente as relações de trabalho; antes, o farracheiro desfibrava o seu próprio sisal ou de terceiros através da meia; a “máquina Paraibana” criou a figura do “trabalhador do motor”, estabelecendo uma relação patrão-empregado até então desconhecida (CODES SISAL, 2008). Ou seja, para se obter um beneficiamento mais veloz é necessário ter um motor, conhecido como motor de agave, ou, máquina Paraibana, que precisa de um investimento maior para sua aquisição, e que veio substituir os antigos instrumentos, chamados de farracho ou alicate.


C a p í t u l o I I | 139 Apesar de tudo, a propriedade desse motor é um dos grandes responsáveis pelo processo de diferenciação social entre as pessoas que vivem do cultivo do sisal. Quem tem sua posse, é responsável pelo controle e beneficiamento de uma maior produção da fibra do sisal, produto mais rentável a ser vendido, adquirindo parte da produção de outros agricultores, ou mesmo, negociando em regime de porcentagem da produção para a autorização do uso do motor. Outro fator é que, tendo a posse de um motor, o proprietário tem outra possibilidade de explorá-lo como alternativa de renda, alugando o equipamento para outros produtores desfibrarem o sisal produzido. Contudo, além de fonte de renda, os motores são responsáveis pela grande porcentagem de mutilados na cultura do sisal, os quais são denominados de “os mutilados do sisal”. Isso ocorre pela falta de segurança e excesso de trabalho na operação. Na maioria das propriedades, os turnos de trabalho na operação do motor têm em torno de 10 h/dia por grupo. A máquina funciona em alta velocidade, obrigando o operador a aproximar as mãos das engrenagens para introduzir as folhas do sisal e puxá-las já beneficiadas. A falta de segurança no manuseio do motor é um dos motivos que têm afastado os trabalhadores do sisal. Os pequenos proprietários alegam que já existem máquinas mais seguras, apesar da limitação de alguns fatores, tais como: a). Não são máquinas de fácil aquisição, b). O seu custo é elevado para um grupo de pequenos proprietários que não tem capital para investir em sua produção, e c). Essas máquinas ainda não conseguiram alcançar a mesma produtividade do motor de agave tradicional. O inventor popular Faustino Silva tem se dedicado à busca de alternativa tecnológica para o sisal, com invenções das máquinas conhecidas como Faustino 1, 2, 4 e 5 que anunciam possibilidades, entretanto, não resultaram ainda em projeto efetivo. No atual momento, vigora o projeto de produzir uma máquina automizada (Faustino 3, 6 e 7), que solucionaria o grande problema de mutilação, mesmo assim são desfibradoras de grande porte que exige muita mão de obra para alimentar a desfibradora, mas tal projeto tem sido efetivado por Cooperativas ou Associações de Produtores da Bahia. Atualmente, é possível distinguir duas linhas distintas de máquinas desfibradoras: uma correspondente ao processo de raspagem com alimentação longitudinal das folhas e a outra com alimentação transversal. O processo de alimentação longitudinal das folhas, normalmente manual, representa a tecnologia mais amplamente difundida, tendo em


C a p í t u l o I I | 140 conta que os equipamentos dessa linha são de pequeno porte, itinerantes e envolvendo pequenos investimentos iniciais na sua aquisição. Trata-se dessa máquina tipo paraibana que, pela sua rusticidade, exige grande esforço dos operadores (puxadores), os quais devem trabalhar em perfeita sintonia, da seguinte maneira: o primeiro operador segura a folha pela parte apical e introduz a outra extremidade, aproximadamente 60% do seu comprimento, na boca de alimentação da máquina; em seguida, auxiliado pelo segundo operador, inverte a posição da folha e introduz a parte ainda não-desfibrada para completar a operação. Os puxadores utilizam luvas rudimentares feitas de borracha de câmara de ar pneumática para proteger as mãos dos efeitos corrosivos do suco da folha. A outra linha de máquina desfibradora, refere-se ao seu sistema de alimentação transversal que representa uma tecnologia bem mais elaborada e complexa, de modo a excluir a necessidade de um operador para alimentar a máquina. Esse sistema dá origem a equipamentos de grande porte e por isso mesmo, eles são estacionários ou itinerantes. A seguir, um detalhamento dos principais equipamentos utilizados no processo de desfibramento do sisal no Nordeste do Brasil:

1.1-Instrumento Rústico de Desfibramento do Sisal - Embora essa cultura tenha sido implantada comercialmente no Brasil a partir de 1939, pouca coisa mudou com relação à tecnologia utilizada no processo de desfibramento. O primeiro instrumento utilizado na operação de desfibramento do agave no Brasil chamava-se alicate ou farracho. Era um aparelho essencialmente manual, cujo processo bastante rudimentar baseava-se na extração da folha para a retirada da polpa ou da mucilagem que envolve a fibra.

Segundo Scholz (1959), o alicate ou farracho era constituído por duas lâminas de metal, com os bordos lisos, encravadas em dois suportes de madeira. Uma pedra amarrada à lâmina superior pressionava esta contra a inferior, e o movimento de abertura e fechamento dessas lâminas era executado por um pedal, ou equipamento manual, que funcionava como alavanca (Figura 80).


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Figura 80. Desfibradora manual de folhas de sisal. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.

Outra maneira simples de relatar esse desfibramento mecânico manual seria: as lâminas posicionadas horizontalmente são mantidas fechadas pela pressão exercida na corda com o peso da pedra. A lâmina inferior é fixa e para abrir a outra lâmina, que é móvel, o operário desfibrador pisa na extremidade da vara suspensa do solo e introduz a folha do sisal entre as lâminas, e ao soltar o pé sobre a vara, a guilhotina volta a ser fechada. Em seguida, o operário puxa a folha para realizar o processo de desfibramento.

Em linhas gerais, o aparelho assemelhava-se a uma guilhotina. O processo de desfibramento era executado em duas fases: na primeira, o sisaleiro introduzia a parte basal da folha entre as lâminas, puxando-a em seguida e desfibrando-a em um quarto do seu comprimento; na segunda fase, repetia-se a operação com o restante da folha, desfibrando-a totalmente. Sendo a folha muito grossa, o sisaleiro dividia-a longitudinalmente em duas e até três partes, executando-se, então, as operações acima descritas.

1.2-Desfibradoras de Pequeno Porte - No primeiro grupo, ou seja, onde se encontram os equipamentos de pequeno porte, estão os aparelhos chamados “raspadores ou raladores”, conhecidos também como “motor paraibano” ou “motor de agave”.


C a p í t u l o I I | 142 1.2.1-MÁQUINA PARAIBANA - O primeiro conceito de desfibramento aplicado nas máquinas utilizadas nos sisalais brasileiros foi o desfibramento de corte do tipo paralelo. Esse mecanismo foi utilizado na construção da máquina conhecida por “Motor Paraibano” atualmente muito utilizada pelo pequeno produtor. Sua configuração está apresentada nas Figuras 81 e 82 e esse equipamento foi introduzido na região sisaleira por volta de 1950.

Figura 81. Detalhe do rotor da máquina desfibradora de sisal. Foto: Raudel Pérez del Río et al. (2013).

Figura 82. Motor Paraibano – corte do tipo paralelo (lâminas).


C a p í t u l o I I | 143 A alimentação da folha na máquina é manual e o desfibramento acontece quando o rotor com diâmetro de 230 mm é acionado por um motor a diesel cuja potência varia de 7 a 12 cv (cavalo vapor) e faz girar 12 cantoneiras de abas iguais de dimensões 34,925 mm x 6,35mm (dimensões 1.3/ 8”x 1/4”) que estão fixadas equidistantemente na periferia do rotor (rotor de ferro de 23 cm de diâmetro). Estas lâminas ou cantoneiras, em movimento, promovem o esmagamento e a raspagem da folha, auxiliadas por um raspador. Estes elementos são de aço e na parte superior do rotor é acoplada uma capa protetora de madeira com uma abertura por onde se introduz a folha para ser desfibrada. Essa máquina não tem um bom desempenho, devido ao perigo no momento da colocação da folha e de sua baixa produtividade. São máquinas acionadas por um motor diesel, estacionário, de 7-12 cv, sendo operado a uma velocidade de 1.800 a 2.000 rpm e que possuem uma baixa capacidade operacional (sete trabalhadores são exigidos), em torno de aproximadamente 150 a 200 kg de fibra seca em um turno de 10 horas/dia (Figura 83). Para evitar os efeitos do sol, geralmente é construído um pequeno abrigo sobre a máquina desfibradora e o motor de acionamento. Bem próximo a desfibradora, deve-se deixar um tambor de 200 litros ou tanque de água improvisado (a água fica circulando), responsável pelo abastecimento e pela refrigeração necessária do motor a diesel.


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Figura 83. Máquina Paraibana no processo de desfibramento das folhas de sisal. Foto: Silva et al. (2008).

As folhas são introduzidas através de uma boca e puxadas para fora pelo operador, que rapidamente retira a folha e a reintroduz pela outra extremidade, realizando 4.000 movimentos por dia. Os operadores, também chamados de puxadores, utilizam luvas rudimentares, improvisadas a partir da borracha de câmara de ar para proteger as mãos dos defeitos nocivos do suco cáustico da folha, que provoca uma enorme coceira.

O processo de desfibramento com a máquina Paraibana, na Bahia, é feito por uma única pessoa (puxador) e na Paraíba por duas pessoas, que trabalham em perfeita sintonia, da


C a p í t u l o I I | 145 seguinte maneira: o primeiro operador segura a folha pela parte apical e a introduz a outra extremidade, aproximadamente 60% do seu comprimento, na boca de alimentação da máquina (Figura 84); em seguida, auxiliado pelo segundo operador, inverte a posição da folha e introduz a parte ainda não desfibrada, para completar a operação. Este procedimento, também é feito quando o desfibramento é realizado por um único puxador. Em operação normal, desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto, ou 1.200 a 1.800 folhas por hora ou, ainda, 550 a 820 kg de folhas/hora (SILVA et al., 2008). Ou seja, a máquina Paraibana apresenta baixa capacidade operacional (em torno de 150 a 200 kg de fibra seca, em um turno de 10 horas/ dia) (ALVES et al., 2005).

Figura 84. O primeiro puxado executa o desfibramento da metade da folha do sisal na boca de alimentação da máquina e o segundo puxador, a outra metade.

Esse sistema, bastante rudimentar e primitivo, provoca ainda uma grande quantidade de desperdício de fibras (em média 20% a 30% da fibra contida na folha) e envolve um grande número de pessoas para a sua operacionalização, o que representa um considerável aumento nos custos de produção (ALVES et al., 2005). Esse processo é cinco vezes mais dispendioso do que o utilizado na África Oriental e isso se deve exatamente à sua baixa capacidade de produção.

Esses equipamentos de alimentação longitudinal (motores Paraibanos) são os que vêm sendo utilizados durante muitos anos, nas pequenas propriedades. Além do seu


C a p í t u l o I I | 146 baixíssimo índice de produção e de desperdício das fibras contidas nas folhas, o motor Paraibano tem provocado um elevado número de acidentes de trabalho (mutilação durante a operação da máquina). Ademais desse problema, levantamentos realizados na maior parte das máquinas em uso evidenciaram que elas produzem ruído excessivo aos trabalhadores que executam suas funções durante oito horas por dia (nível sonoro entre 90 a 98 dB).

A fadiga, aliada à falta de segurança da máquina paraibana, expõe os operadores a constantes riscos de acidente, o que constitui um dos principais problemas da máquina e da operação propriamente dita (SILVA et al., 1999). Nos últimos anos, algumas pesquisas foram realizadas no sentido de que pudessem oferecer algumas soluções técnicas concretas, objetivando diminuir ou eliminar os riscos de mutilação existentes na tecnologia atualmente utilizada na atividade sisaleira.

Foi a partir dessa preocupação que surgiu a ideia de instalar um dispositivo protetor na máquina desfibradora ou descortificadora de sisal para propiciar proteção aos trabalhadores contra os riscos de mutilação apresentados pelo seu cilindro de descorticagem. Mas hoje, por iniciativa dos próprios operadores, a fim de evitar acidentes no desfibramento da folha, algumas máquinas Paraibanas foram dotadas de uma caixa protetora do rotor (capuz) com a boca mais prolongada (Figura 85) ou então, usa-se um pedaço de madeira (cepo) na boca da máquina para impedir que a mão do operador se aproxime do rotor desfibrador (SILVA et al., 2008; Figura 86).


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Figura 85. Caixa protetora do rotor com a boca mais prolongada da máquina Paraibana proporciona maior segurança aos puxadores durante o processo de desfibramento das folhas de sisal.

Figura 86. Detalhe da madeira ou cepo colocado próximo ao rotor. Foto: SILVA, et al., 2008.


C a p í t u l o I I | 148 Apesar de ter sido regulamentada pela Portaria Ministerial n° 3.376, de 15/08/85 do Ministério do Trabalho, que tornou obrigatório o uso desse dispositivo em todas as máquinas do tipo “Paraibano”, sabe-se que a medida não teve uma boa aceitação por parte dos operadores. Segundo eles, o dispositivo atrapalha um pouco a operação de desfibramento, de modo que preferem continuar a utilizar o equipamento sem a devida proteção.

1.2.2- PROTÓTIPO DA UFPB - Em 1994, pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) apresentaram um projeto de pesquisa ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) – Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), o qual se propunha a projetar dois modelos alternativos para a tecnologia originalmente concebida por José Faustino dos Santos. O projeto foi aprovado e desenvolvido. Em 1999, a mesma equipe apresentou uma segunda proposta que previa a otimização da desfibradora de sisal, bem como a construção de um dos protótipos definidos na primeira etapa da pesquisa, o modelo de “corte paralelo” semiautomático. A conclusão e o teste de laboratório foram finalizados no ano de 2000. O equipamento oferece risco zero e possibilita menor esforço ao trabalhador, além de minimizar o esforço repetitivo, destinando-se a atender a cultivos de até oito hectares (Figura 87).


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Figura 87. Protótipo da desfibradora desenvolvida por pesquisadores da UFPB, no município de João Pessoa (PB).

A máquina apresenta algumas características da “Máquina Paraibana”, segundo os pesquisadores, para facilitar a aceitação por parte dos agricultores, entretanto, até agora não foi realizado o teste de campo. Segundo informação do professor Geraldo Targino do C. Moreira, coordenador do Projeto, antes de validar a máquina em campo, é necessário que se façam alguns ajustes técnicos e aperfeiçoamento no equipamento, o que requer investimentos financeiros.

1.2.3- MÁQUINA FAUSTINO V - Em 2010, uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação do Estado (Secti) viabilizou a produção e distribuição de mais de 100 unidades de uma nova máquina desfibradora de sisal de pequeno porte. Conhecida como "Faustino V" (Figura 88), o equipamento surgiu como a esperança de "mutilação zero" nos municípios da região sisaleira da Bahia. A distribuição das máquinas foi realizada na cidade de ValenteBA, a 26 quilômetros de Conceição do Coité-BA, que é considerado o maior polo industrial de sisal do país.


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Figura 88. Protótipo e máquina desfibradora Faustino V de pequeno porte.

A nova máquina desfibradora, que é à prova de acidentes mutiladores, possui um dispositivo de inversão do sentido de rotação dos cilindros. Assim que a mão chega ao limite de segurança e toca o dispositivo, a rotação é invertida, expelindo o sisal e empurrando a mão para traz. A máquina foi desenvolvida por um agricultor e mecânico autodidata José Faustino Santos. O novo modelo foi batizado de 'Faustino V' em sua homenagem. Além de mais segura, a 'máquina Faustino V' é 51 quilos mais leve que a 'Paraibana', gasta menos combustível e não usa água no sistema de resfriamento, o que facilita a utilização em locais com poucos recursos hídricos.

1.3-Desfibradoras de Grande Porte - O segundo grupo, consiste na utilização de máquinas de grande porte no Nordeste que só seria viável a partir de cooperativas, porque elas possuem uma grande capacidade de produção e, necessariamente, precisariam trabalhar com um sistema de plantio organizado, onde houvesse também um suprimento de água necessário ao processo de limpeza das fibras. Isso explica porque grande parte dos pequenos produtores comercializam seus produtos na forma bruta, sem realizar qualquer processo de melhoria da fibra, como o batimento ou escovamento. 1.3.1- PROTÓTIPO DE MÁQUINA AUTOMÁTICA DE DESFIBRAMENTO – Essa máquina foi construída em 1995 pelo mecânico José Faustino de Nova Floresta, Paraíba (MONTEIRO et al., 1998). A referida máquina tem dimensões de 8000 mm x 1500 mm


C a p í t u l o I I | 151 x 1500 mm e pode ser acionada por um trator de média potência ou, então, por dois motores elétricos ou a diesel, de potência média de 10 cv (Figura 89). Devido ao seu tamanho o seu transporte é feito através de um trator. O uso desta máquina demanda uma grande área de plantação de sisal (SILVA et al. 1993).

Figura 89. Vista isométrica da máquina desfibradora de corte do tipo transversal. Foto: Luciana Lima Monteiro et al. (1998).

A operação de desfibramento dá-se do seguinte modo: as folhas são colocadas adequadamente em uma mesa alimentadora e, a partir daí, são conduzidas, por meio de cordas de sisal, para o primeiro rotor, que tem diâmetro de 1,20 m e desfibra a parte apical da folha; em seguida, as folhas continuam a trajetória, sendo que a parte dorsal inverte de posição para ser conduzida ao segundo rotor, a fim de completar sua desfibragem (Figura 90). Em seguida, a fibra que está sobre a corda é conduzida para a recepção. Finalmente, observou-se que o protótipo apresentou capacidade operacional equivalente a três máquinas paraibanas, com relação às quantidades de fibra úmida e seca obtidas durante o período de 15 minutos de funcionamento (SILVA et al. 1993). Também foi constatado um comportamento similar, tanto no desfribamento com o protótipo como da máquina Paraibana, com relação às perdas das fibras submetidas ao batimento manual e mecânico (SILVA; BELTRÃO, 1999).


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Figura 90. Máquina automática de desfibramento de folhas de sisal de grande porte, de propriedade da Cosibra, na Fazenda Mandacaru, município de Santa Luz (BA). Foto: Maria Odete Alves (2005).

1.3.2- DESFIBRADORA FAUSTINO III - Também, na Bahia, existe uma máquina de grande porte desenvolvida pelo paraibano Faustino, denominada de “Faustino III”, de propriedade da APAEB (Figura 91). No início de julho de 2004 o BNB aprovou o financiamento de recursos não-reembolsáveis para a realização dos ajustes necessários, bem como a sua validação em campo. Sua operacionalização consiste na colocação adequada das folhas sobre a mesa alimentadora, as quais, a partir daí, são conduzidas, por meio de cordas de sisal, para o primeiro rotor, que desfibra a parte basal da folha (40%); em seguida, as folhas continuam a trajetória, em direção ao segundo rotor, a fim de completar o desfibramento. A fibra que está sobre a corda é conduzida para a recepção e a máquina pode ser acionada por um trator de média potência ou por dois motores elétricos ou a diesel, de potência média de 10 cavalos (SILVA et al., 2008).


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Figura 91. Máquina da desfibradora Faustino III, de propriedade da APAEB de Valente, BA, com revestimento de chapas metálicas para garantir maior segurança aos operadores. Foto: Arquivo da APAEB. A operação da “Máquina Faustino III” requer o trabalho de 07 (sete) homens: quatro trabalhadores jogam a palha; um opera (jogando a fibra para desfibrar); um colhe a fibra após desfibramento; e outro operário amarra a fibra em pacotes. A produtividade da “ Máquina Faustino III” varia entre 750 a 800 kg de fibra úmida/hora. Segundo o administrador da Fazenda Mandacaru, a produtividade pode chegar a 1.000 kg/hora. Entretanto, sua capacidade de produção alcança somente de 550 a 600 kg fibra úmida/hora, por problemas de alimentação e por limitação da mão-de-obra ocupada no serviço. No corte, em geral, trabalham 30 trabalhadores, a fim de que sejam cortadas as folhas, em quantidade suficiente, para alimentar a máquina. O transporte é feito em jumentos. Nesse sistema, o pagamento ao grupo de trabalhadores também é feito com base na produtividade: R$ 47,00/1000 kg. Observou-se que, ao contrário do que ocorre com a “Máquina Paraibana”, o processo de desfibramento na “Faustino III” deixa a fibra com certo teor de matéria verde e, por isso, na Fazenda Mandacaru a fibra passa pelo processo de lavagem.


C a p í t u l o I I | 154 Após desfibramento, foi constatado no local de que as presenças da mucilagem e do suco reduzem a resistência da fibra. Daí a necessidade de realizar a lavagem antes do batimento das fibras. Verificou-se, também, grande desperdício de fibras no processo de desfibramento, o que indica a necessidade de aperfeiçoamento da máquina. Nessa lavagem da fibra, são utilizados 30 tanques, cuja operação é totalmente realizada por mulheres, com produtividade de 30 toneladas de fibra lavada/dia.

1.3.3-DESFIBRADORA FAUSTINO VI - A máquina de desfibramento de corte transversal, modelo “Faustino VI”, devido sua alta produtividade, baseada no cálculo da velocidade de transporte da folha, a qual foi desenvolvida por um mecânico José Faustino do município de Nova Floresta, PB, em 1997. O processo de desfibramento transversal acontece ao longo da largura da folha, enquanto a folha é movida na direção perpendicular ao desfibramento (Figura 92). Esse mecanismo de corte transversal foi baseado no princípio das máquinas Coronas de fabricação alemã. Sua operacionalização consiste na colocação adequada das folhas sobre a mesa, as quais, a partir daí, são conduzidas por uma esteira inclinada alimentadora até a parte superior do equipamento, para o primeiro rotor, que desfibra a parte basal da folha (40%); em seguida, as folhas continuam a trajetória, em direção ao segundo rotor, a fim de completar o desfibramento. Devido a seu tamanho, o seu transporte é feito através de um trator.

Figura 92. Máquina desfibradora de sisal, modelo ‘Faustino VI”, de corte tipo transversal.


C a p í t u l o I I | 155 1.3.4- DESFIBRADORA FAUSTINO VII – A máquina desfibradora de sisal Modelo “Faustino VII” (DSF VII) foi desenvolvida pela Empresa Jose Faustino Santos M.E. e, em processo de validação pela Embrapa, proporcionou eficiência no desfibramento das folhas de sisal e garante segurança aos operadores no trabalho de obtenção da fibra do sisal (Figura 93). Sua produtividade é maior de 1.500 kg de fibra verde/ hora (48% de fibra seca), se comparada com a antiga “máquina paraibana”, capaz de gerar fibras de melhor qualidade, além de reduzir o esforço físico do operador e anular os riscos de acidentes ou mutilações.

Figura 93. Desfibradora móvel de sisal e de corte do tipo transversal, desenvolvida por José Faustino Santos, denominada de Faustino DSF VII. Foto: Teones Araújo; Marenilson Batista da Silva.

A DSF VII é composta em seu desfibramento por uma mesa de recepção, onde se deposita as folhas que passam por uma esteira de 1,95 m de comprimento por 1,1 m de largura, conjugadas a um jogo de polias e correias, que levam as folhas até os dois rotores fundidos em alumínio com 1.200 mm de diâmetro e 250 mm de largura, onde se têm 18 cantoneiras em L de 25 cm de comprimento. As folhas sofrem uma fricção entre os rotores e os dois raspadores e assim acontece o desfibramento. Em seguida, a fibra é então encaminhada


C a p í t u l o I I | 156 por polias e correias até 2 varões de meia polegada, daí são recepcionadas pela mesa de recebimento (Figura 94).

Figura 94. Detalhe da desfibradora Faustino DSF VII. Foto: Marenilson Batista da Silva.

Na Tabela 12, observa-se que o rendimento em desfibramento da máquina DSF VII, chegou a 332,76 kg/hora de trabalho, superando em 365,27% a produção de fibra extraída pelo motor Paraibano.


C a p í t u l o I I | 157 Tabela 12. Estimativa por hora de desfibramento do Agave sisalana processado pelas máquinas desfibradoras ‘Faustino VII1 e ‘Motor Paraibano’. Valente, BA, 2017. Desfibradora de sisal Faustino VII (1 hora) em 10 repetições* Paraibana (1 hora) em 5 repetições**

Peso de fibra úmida (kg/hora) 332,76 71,52

OBS:* Tempo por repetição de 5 minutos; ** Tempo por repetição de 10 minutos.

A qualidade da folha utilizada no desfibramento também é fator fundamental no rendimento de fibra. As folhas utilizadas apresentavam comprimento médio de 102,3 cm e peso médio de 220,8 g, o que possivelmente pode ter prejudicado o rendimento da máquina. Os resultados da qualidade da fibra, obtida na máquina DSF VII foram realizados por meio de testes na APAEB, cujos resultados são apresentados na Tabela 13, comparando-os com a qualidade da fibra obtida na desfibradora “Paraibana”.

Tabela 13. Massa úmida da fibra de Agave sisalana e Híbrido 11648 obtida por desfibramento em máquina Desfibradora de sisal Faustino VII. Valente, BA, 2017.

Desfibradora de sisal

Agave sisalana – (média de 5 repetições)* Úmida (kg)

Faustino VII (com 5 operadores, em 5 minutos de trabalho) Faustino VII (com 6 operadores, em 5 minutos de trabalho) Desfibradora de sisal Faustino VII (com 5 operadores, para 100 folhas de sisal híbrido)

23,0 35,7 Sisal Hibrido 11648 (média de 5 repetições)* Úmida (kg) 22,2

*Avaliação feita no laboratório de fibras da APAEB.

Houve incremento de 55,3% no rendimento de fibra úmida quando o desfibramento na DSF VII foi realizado com seis pessoas, sugerindo-se realizar ajustes posteriores para a composição de equipe a trabalhar na DSF VII. Outro aspecto importante com respeito à capacidade de desfibramento mais rápido da DSF VII está relacionado com a maior umidade da folha utilizada no processo por influir significativamente no rendimento e na qualidade da fibra.


C a p í t u l o I I | 158 Fundamentado na capacidade de desfibramento da DSF VII, quando em um dia de trabalho a produção de fibra desta máquina corresponde proporcionalmente a uma semana de trabalho realizado pela máquina “Paraibana”, deve-se realizar todo um planejamento e adequação para o sistema de plantio, colheita, desfibramento e secagem.

1.3.5 MÁQUINA CORONA – Trata-se de uma máquina de grande porte produzida para desfibramento do sisal e funcionou na Companhia de Celulose da Bahia (CCB), na década de 1980. Tal máquina de fabricação alemã requeria grande quantidade de água, sem reciclagem, no processo de desfibramento. Segundo informações obtidas na Fazenda Mandacaru, essa máquina atualmente se encontra sem funcionamento nos depósitos da Fibrasa, no Estado da Paraíba (Figura 95).


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Figura 95. Máquina desfibradora Corona de corte transversal de folhas de sisal no depósito da Fibrasa, no Estado da Paraíba. 1.3.6 OUTRAS DESFIBRADORAS - A partir do modelo “Faustino”, a Cosibra encomendou a produção de outra máquina à firma americana John Deere, com o objetivo de substituí-la. Entretanto, a máquina apresentou problemas de embuchamento (travamento). Diante dos problemas apresentados, a Cosibra decidiu abandonar o projeto e passou a trabalhar com a “Máquina Faustino”. Atualmente, a John Deere se encontra no pátio da Fazenda Mandacaru, sem nenhuma utilização.


C a p í t u l o I I | 160 Com relação ao desenvolvimento de máquinas desfibradoras, a Companhia de Celulose da Bahia (CCB) desenvolveu, na década de 80, uma desfibradora automática de sisal, chamada "Brasilana", que consistia, basicamente, de uma esteira alimentadora, rotor descorticador, esteira de recepção da fibra e de motor de acionamento de potência entre 15 a 18 cv. Essa máquina apresentava excelente capacidade de desfibramento, mas a fibra obtida saía de forma enrodilhada, não se prestando para a fabricação de cordas e fios, mas apenas para a celulose.

2. Lavagem e Secagem - Se a desfibragem é feita sem água, as fibras saem da máquina com excesso de fragmentos de polpa aderentes, umedecidas pelo suco celular e ligeiramente coloridas de verde devido à presença de clorofila. Quando postas a secar neste estado, os componentes do suco residual sofrem uma oxidação e as fibras então se tornam manchadas e assumem uma coloração cor de palha com nuança avermelhada. Portanto, para se obter um produto de qualidade superior, é imprescindível que as fibras sofram uma intensa lavagem com água (MEDINA, 1954). Assim sendo, é comum no Nordeste, após o término da jornada diária do desfibramento, a fibra obtida ser transportada, em padiola ou no dorso de animais (Figura 96), para tanques com água limpa, onde deverá ser imersa durante a noite (8 a 12 horas), para a limpeza através do desprendimento dos resíduos da mucilagem péctica e da seiva clorofiliana, agregados à fibra (Figura 97; SILVA et al., 1999).

Figura 96. Transporte de fibras no dorso de animais após desfibramento para as operações de lavagem e secagem.


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Figura 97. Imersão de feixes de fibras (manocas) em tanque com água para retirada de impureza. Foto: Odilon Reny Ribeira Ferreira da Silva (1999).

O ponto de captação da água poderá ser de rio, açude ou outra fonte qualquer, mas não se recomenda a utilização de água salobra para a lavagem da fibra do sisal, em virtude da sua alta higroscopicidade e da mobilização da vida bacteriana, que poderão afetar a qualidade da fibra em estado seco (SILVA et al. 1999; MEDINA, 1954).

Logo ao amanhecer, as fibras já lavadas deverão ser levadas no dorso de animais para secagem, através da sua exposição ao sol, durante 8 a 10 horas. No caso deste período ser ultrapassado, os raios solares poderão produzir uma ação branqueadora, depreciando o produto (MEDINA, 1954). O local de secagem poderá ser uma área onde as fibras não absorvam impurezas, como em varais ou estaleiros do tipo triângulo ou estrado, ambos feitos com fios de arame galvanizado, conforme se observa na Figura 98, ou em área cimentada devidamente limpa. Recomenda-se, para melhor secagem, a reviragem da fibra, uma ou duas vezes, até que atinja a umidade média de 13,5%, e, a seguir, sejam as fibras arrumadas em pequenas manocas (pequenos feixes) amarradas pela parte mais espessa e conduzidas ao depósito para serem armazenadas sem serem dobradas (SILVA; BELTÃO, 1999).


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Figura 98. Colocação de fibras em varais para secagem. Foto: Alamy Stock.

Os estaleiros devem ter um comprimento máximo de 30 metros, para evitar longos caminhamentos no transporte das fibras, deixando-se um espaço de trabalho de um metro entre as fileiras de estaleiros. As fibras devem ser uniformemente distribuídas sobre os varais, em camadas finas para facilitar a secagem, o que corresponde a mais ou menos um quilo de fibras úmidas por metro linear de estaleiro (Figura 99). Para a secagem mais rápida, os estaleiros devem ficar, se possível, paralelos à direção dos ventos dominantes do local e sua melhor orientação na direção norte-sul, de maneira que as fibras se beneficiem da ação do sol, em ambos os lados, de manhã e à tarde.


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Figura 99. Varal ou estaleiro com comprimento máximo de 30 metros. O sistema de secagem ao sol, além de exigir das mulheres uma severa fiscalização do serviço, absorve uma elevada proporção de mão-de-obra para o transporte, distribuição, reviramento e coleta das manocas (pequenos feixes) de fibras (Figura 100). Durante toda secagem e o manuseio, podem ocorrer perdas de cerca de 5% de fibras, quando as mesmas caem ao solo impelido pelo vento.

Figura 100. Distribuição, reviramento e coleta das manocas (pequenos feixes) de fibras. Fotos: Ana Virginia Pereira dos Santos (2011).


C a p í t u l o I I | 164 3.Aproveitamento da Mucilagem - Poucos são os produtores que aproveitam os resíduos do desfibramento para recompor parte da fertilidade de suas lavouras ou como alimento para ruminantes. Quando utilizados como adubo, os resíduos são distribuídos entre as fileiras de várias culturas para depois serem espalhados em toda a área. Frequentemente, observam-se bovinos, ovinos e caprinos alimentando-se dos resíduos frescos do desfibramento, mas, quando utilizado in natura, esse alimento pode ocasionar problemas aos animais, pela presença de uma grande quantidade de fibra (bucha) e suco (seiva). A separação da bucha da mucilagem poderá ser realizada por meio de peneira ou gaiola rotativa, desenvolvido pela Embrapa Algodão (Figura 101). A tela utilizada na peneira apresenta malha de 35 mm e fio de tamanho 12, que tem a finalidade de reter a bucha até a extremidade inferior e deixar fluir, por entre as malhas, a polpa do sisal. Na parte interna da peneira, foram colocadas fileiras de pinos com a finalidade de reter as fibras por ocasião do movimento giratório. A peneira cilíndrica apresenta pequena inclinação de (12º) para garantir o escoamento da bucha.

Figura 101. Peneira rotativa usada para a separação da mucilagem (alimentação animal) das fibras curtas (bucha). Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.


C a p í t u l o I I | 165 A alimentação é feita por uma pessoa, que coloca o resíduo na parte superior com o auxílio de uma pá. Portanto, o equipamento deverá ser instalado próximo à máquina desfibradora para aproveitar todo o resíduo produzido no processo de desfibramento do sisal (SUINAGA et al., 2005) ou pode receber acionamento motriz quando acoplado a desfibradora Faustino DSF VI (Figura 102). É na realidade um equipamento de concepção simples e de baixo custo, que possivelmente poderá ser adquirido pelos pequenos produtores.

Figura 102. Peneira rotativa usada para a separação da mucilagem (alimentação animal) das fibras curtas (bucha) de acionamento manual tipo manivela.

Ao girar, conduz o subproduto através dos pinos, a uma posição de queda livre, provocando impacto de massa sobre a tela e, consequentemente, o escoamento da mucilagem através da sua malha. A bucha, após sofre vários impactos, flui pela extremidade inferior (Figura 103). Para a mucilagem obtida fresca, recomenda-se a secagem ao sol, para armazenamento, enquanto a bucha deve ser lavada para a comercialização; ou para a produção de celulose ou para a construção civil, desde que se proceda à sua lavagem e retirada dos tecidos parenquimatosos aderentes à fibra (SILVA et al., 1999).


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Figura 103. Acionamento motriz da esteira rotativa para separação da mucilagem, acopladando a desfibradora Faustino DFE VI e sendo o resíduo alimentado manualmente pela extremidade aberta do cilindro (lado inferior).

Em testes realizados, a peneira rotativa demandou o tempo médio de 2,34 minutos para peneirar uma amostra de 100 kg de resíduo fresco de sisal, obtendo-se 72,41 kg de mucilagem, 23,75 kg de bucha e 3,83 kg de perda, quando se operava a uma velocidade média de giro de 17,66 rpm. A partir desses resultados, pode-se deduzir que a peneira rotativa é de grande valia para os agaveicultores/pecuaristas das regiões produtoras, uma vez que viabiliza a mucilagem para a alimentação dos ruminantes, durante os períodos de seca prolongada e épocas com escassez de pasto, além de evitar os riscos de morte dos animais pela ingestão de resíduos com a presença da bucha na mucilagem. A capacidade de processamento da peneira é perfeitamente compatível com a produção diária de resíduos obtidos no desfibramento do sisal com o motor de agave (Máquina Paraibana) (SILVA et al. 1999).


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2º BENEFICIAMENTO DO SISAL Com o objetivo de apresentar um produto de alta qualidade e de melhor preço no mercado, as fibras, em seguida à secagem, devem ser limpas em máquinas batedeiras e classificadas antes do seu enfardamento. Antigamente, o processo primitivo de eliminação de impurezas contidas nas fibras consistia em bater as manocas (pequenos feixes) contra cavaletes de madeira, contudo ainda é usado nas pequenas plantações ou em regiões de mão-de-obra fácil e onde prevalecem métodos empíricos de produção.

1.Máquina de Batimento ou Limpeza da Fibra - Após o processo de secagem da fibra em campo, é feito o transporte para os galpões fechados, em geral, localizados na zona urbana dos municípios, onde estão localizadas as máquinas denominadas de batedeiras. Ao entrar na batedeira, os carros carregados de fibra são pesados. É por essa quantidade que serão remunerados os donos de motor e/ou donos da plantação. Depois de descarregados no armazém da batedeira, as fibras brutas são classificadas em: a) -Extra; b) -Tipo 2; c) –Refugo, etc.

Nas batedeiras, ocorre a etapa de batimento das fibras para remoção do tecido parenquimatoso (pó) aderido aos feixes fibrosos, além de retirar as fibras de pequeno comprimento e as quebradas (Figura 104). Cada batedeira ocupa dois homens e a produtividade é de 4.800 kg de fibra/dia ou 12 toneladas/homem/semana.


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Figura 104. Batedeira de fibra de sisal ocupada por dois operários. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Atualmente, existem cerca de 50 batedeiras, somente no estado da Bahia. Essas batedeiras são máquinas de concepção semelhante à das desfibradoras e dotadas de um tambor rotativo de aproximadamente 0,60 m de diâmetro e de seis lâminas planas de 5 cm de largura, protegidas por uma capa metálica, que gira no sentido inverso ao das desfibradoras (Figura 105). A velocidade de giro do tambor está em torno de 200 rpm; um operário segura a extremidade mais espessa da manoca e a introduz na boca da máquina para proceder à limpeza, por meio do batimento das lâminas sobre as fibras, numa extensão de 70% do comprimento. A seguir, inverte a posição para completar a limpeza da outra extremidade. É importante observar a tecnologia adotada no batimento da fibra, bastante arcaica, não tendo passado por inovações desde que se implantou a cultura sisaleira no Nordeste. Portanto, há bastante espaço para ganhos de produtividade no batimento da fibra, desde que se avance na tecnologia adotada no processo.


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Figura 105. Equipamento batedeira usado na limpeza de fibras de sisal. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Nessa operação, geralmente se perde entre 8 e 10% do peso original da fibra, pela eliminação dos resíduos parenquimatosos, em forma de pó e fibras curtas. O pó pode ser aproveitado como adubo orgânico e até mesmo em misturas para ração animal; a bucha pode ser utilizada para a produção de celulose, estofados e como componente de polímeros para uso doméstico ou na indústria automobilística. Mesmo assim, grande parte dos produtores de sisal comercializa seu produto na forma bruta, sem realizar qualquer processo de melhoria da fibra (agregação de valor), como o batimento ou o penteamento.

2.Classificação da Fibra - Após o batimento, as fibras são selecionadas de acordo com os padrões de classificação vigentes no país produtor. No Brasil, com vistas a homogeneizar a comercialização, o Ministério de Agricultura e Abastecimento aprovou portarias (BRASIL 1987 e 1989), que identifica e qualifica a fibra do sisal fundamentada nos seguintes critérios:


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2.1.CLASSES: Segundo o comprimento, medido em centímetros, entre as partes extremas da amostra, a fibra de sisal será classificada em 4 classes, não se admitindo sua mistura: -Extra Longo (EL): fibra de comprimento acima de 1,10 m (um metro e dez centímetros); -Longa (L): fibra de comprimento acima de 0,90 m (noventa centímetros) até 1,10 m (um metro e dez centímetros); -Média (M): fibra de comprimento acima 0,71 m (setenta e um centímetros até 0,90 m (noventa centímetros); -Curta (C): fibra de comprimento de 0,60 m (sessenta centímetros) até 0,70 m (setenta centímetros). 2.2.TIPOS: Em função da qualidade, a fibra de sisal será classificada em 4 tipos, caracterizados pelas especificações abaixo: 2.2.1-Tipo Superior: Constituído de fibras lavadas, secas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-claro, em ótimo estado de maturação, macias, brilhosas e resistentes, com teor de umidade máxima de 13,5%, (treze e meio por cento), bem soltas e desembaraçadas, isentas de: manchas, impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos, nós, fragmentos de folhas e cascas, bem como quaisquer outros defeitos; -Tipo 1: constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-claro ou amarelada, em ótimo estado de maturação, com maciez, brilho e resistência normais, manchas com pequena variação em relação à cor, umidade máxima de 13,5% (treze e meio por cento) soltas e desembaraçadas, isentas de: impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos, nós, fragmento de folhas, cascas e de quaisquer outros defeitos; -Tipo 2: constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada ou pardacenta, com pequenas extensões esverdeadas, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ligeiramente ásperas, umidade máxima de 13,5% (treze e meio por cento) soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas;


C a p í t u l o I I | 171 2.2.2.Tolerância: defeitos de beneficiamento e maceração, constituído por algumas fibras emaranhadas de pouca extensão e profundidade, esparsas concentrações de substâncias pécticas e manchas com acentuada variação em relação à cor; -Tipo 3: constituído de fibras secas, bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada, com parte de tonalidade esverdeada, pardacenta ou avermelhada, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ásperas, manchas com variação bem acentuada em relação à cor, umidade máxima de 13,5% (treze e meio por cento) soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas. De maneira resumida, encontra-se na Tabela 14 a classificação da fibra de sisal.

Tabela 14. Classificação da fibra de sisal. Classes ExtraLonga

Tipos Tipo1 Tipo2 Tipo3

Características da fibra Fibra lavada de cor creme-claro Fibra de cor creme-claro ou amarelada Fibra de cor amarelada, com algumas fortemente esverdeadas, pardas ou avermelhadas Longa Tipo1 Fibra lavada de cor creme-claro Tipo2 Fibra de cor creme-claro ou amarelada Tipo3 Fibra de cor amarelada, com algumas fortemente esverdeadas, pardas ou avermelhadas Média Tipo1 Fibra lavada de cor creme-claro Tipo2 Fibra de cor creme-claro ou amarelada Tipo3 Fibra de cor amarelada, com algumas fortemente esverdeadas, pardas ou avermelhadas Curta Tipo1 Fibra lavada de cor creme-claro Tipo2 Fibra de cor creme-claro ou amarelada Tipo3 Fibra de cor amarelada, com algumas fortemente esverdeadas, pardas ou avermelhadas Fonte: Maara/Bolsa de Mercadorias de Campina Grande,1997.

Comprimento Fibras ˃ 110 cm

Fibras entre 90 cm a 110 cm

Fibras entre 70 cm a 90 cm

Fibras entre 60 cm a 90 cm

2.3.REFUGO: São as fibras de sisal com menos de 0,60 m (sessenta centímetros) ou cujas características não se enquadrem nos tipos descrito anteriormente. 2.4.SOBRAS OU RESTOS DE FIBRAS: As sobras ou restos de fibras de sisal são classificados em:


C a p í t u l o I I | 172 2.4.1Resíduos de Beneficiamento - Para efeito de identificação, os resíduos de beneficiamento são aqueles provenientes das operações de desfibramento, lavagem, secagem, batedura e seleção de fibras, inclusive aparas resultantes do processo de corte e serão classificados em 4 tipos, conforme especificado a seguir: -Bucha de 1ª: constituída de fibras de coloração creme-claro uniforme, em ótimas condições de conservação, umidade máxima de 14% (quatorze por cento) provenientes das operações de secagem, batedura e seleção, isentas de materiais estranhos e com nós; -Bucha de 2ª: constituída de fibras de coloração amarelada, pardacenta, avermelhada ou esverdeada, em bom estado de conservação, umidade máxima de 14% (quatorze por cento) proveniente das operações de secagem, batedura e seleção, isentas de materiais estranhos e com nós; -Bucha de 3ª ou de campo: constituída de fibras de coloração amarelada, pardacenta, avermelhada ou esverdeada, em bom estado de conservação, umidade máxima de 14% (quatorze por cento) proveniente da operação de desfibramento das folhas, tolerando-se algumas fibras com fragmento de folhas e de nós; -Aparas: pedaços curtos ou seccionados, inclusive pontas, soltos, em bom estado de conservação, umidade máxima de 14% (quatorze por cento) isentos de matérias estranhas, nós e mofo, tolerando-se pedaços de fibras unidas por fragmento ou resto de tecido foliáceo.

3.RESÍDUOS DE FIAÇÃO: Para efeito de identificação, os resíduos de fiação serão aqueles provenientes da industrialização da fibra e serão classificados de acordo com as seguintes especificações: -3.1.Resíduos de Espalmadeira-Penteadeira (RE): constituídos de pó, fibras cortadas e pedaços curtos de fibra que caem durante o processo de estiragem entre os pentes da máquina industrializadora; -3.2.Resíduos de Passadeira (RP): constituídos de pó e de fibra penteada pela máquina industrializadora e pelo próprio passador; -3.3.Resíduos de Fiadeira (RF): constituídos de pó e de fio retorcido, juntamente com fibras, apresentando-se rígido devido à torção exagerada;


C a p í t u l o I I | 173 -3.4.Resíduos de Tosquiadeira (RT): constituídos de aparas das pontas de fibras que se projetam para fora dos fios e cordas, com o comprimento de 0,01 m (um centímetro) a 0,03 m (três centímetros); -3.5.Resíduos de Trançadeira e Torcedeira de Corda (RTC):

constituídos de

pequenos pedaços de fibra, ponta de corda e pedaços de corda com defeito. Abaixo do Padrão a) A fibra de sisal que não atender às condições especificadas no subitem Tipos, das presentes normas, ou que apresentar mistura de classes, será classificada como abaixo do padrão. b) A fibra classificada como abaixo do padrão, poderá ser: b.1). Comercializada como tal, desde que perfeitamente identificada; b.2) Desdobrada ou recomposta, de modo a permitir nova classificação.

4.DESCLASSIFICAÇÃO: A fibra será desclassificada quando apresentar: 1) Mau estado de conservação; 2) Aspecto generalizado de mofo e fermentação; 3) Evidências acentuadas de apodrecimento.

5.CLASSIFICAÇÃO POR EQUIVALÊNCIA 1) A fibra de sisal submetida a tratamentos especiais ou, ainda, beneficiada por processos biológico ou químico, será classificada por equivalência, nas respectivas classes e tipos, devendo constar do Certificado de Classificação a expressão CLASSIFICADA POR EQUIVALÊNCIA. 2) Ocorrendo alteração de suas propriedades, a fibra será classificada pela denominação do processo empregado no tratamento.


C a p í t u l o I I | 174 3.Enfardamento – Após a operação de batimento das fibras e a sua separação por tipos, segundo os padrões de classificação em vigor no país, os lotes de fibras correspondentes são levados a prensa de enfardamento, onde são comprimidos em fardos, a fim de tornar o seu transporte até os centros consumidores mais fácil e econômico. Na maior parte do enfardamento de fibras de sisal é feito em prensa hidráulica pelo beneficiador do sisal, à qual é composta de um caixão para o recebimento da matéria prima, um cilindro para a prensagem e um motor elétrico que irá acionar o cilindro de prensagem (Figura 106). Por sua vez, os fardos deverão ser preparados em caixa de prensas com dimensões de 150 cm x 50 cm x 70 cm, podendo variar entre 200 e 250 kg de peso, em razão da falta de padronizações.

Figura 106. Destaque da prensa hidráulico de sisal, tipo móvel, constituída por dois caixões de prensagem, um cilindro de prensagem e um motor elétrico. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Existem três tipos de prensa de sisal em relação ao caixão: fixo, móvel ou giratório. As prensas de caixão fixo são usadas em unidades pequenas de beneficiamento, em que o fator tempo de prensagem não é muito importante. A vantagem das prensas de caixão móvel ou giratório é o seu rendimento diário, pois, enquanto um caixão vai sendo carregado, o outro é comprimido pela prensa (Figura 107).


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Figura 107. Prensa de enfardamento de fibra de sisal do tipo móvel com dois caixões que se deslocam sobre dois trilhos de ferro. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Ao carregar o caixão da prensa, as manocas (pequenos feixes) de fibras devem ser arrumadas e bem estendidas por um operário (Figura 108), em toda sua extensão e sem dobras, cabeceando-as e emparelhando-as cuidadosamente, de modo que as cabeças dos fardos fiquem com boa aparência. A classificação das fibras antes do enfardamento deve ser feita com particular cuidado, pois cada lote de fardos deve ser formado unicamente de fibras do mesmo tipo, pois havendo a presença no fardo de uma única manoca de fibra de tipo inferior ao das demais manocas nela contidas, baixará o tipo não só do fardo como de todo o lote do qual ele faz parte (a classificação do tipo mais baixo é prevalecida).


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Figura 108. As manocas (pequenos feixes) de fibras sendo arrumadas no caixão por um operário e a prensa hidráulica já disponível para receber o segundo caixão cheio de fibras. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

O número de cordas, arames ou cintas metálicas usadas no enfardamento, é variável, sendo que 8 a 10 constituem um bom número para a perfeita amarração do fardo (Figura 109). Evidentemente, a boa armação dos fardos influi decisivamente na aparência da matéria prima. Por outro lado, a marcação do fardo deve ser feita sobre a faixa de tecido com caracteres perfeitamente legíveis e de fácil visualização, devendo conter as seguintes indicações: produto, safra, lote, número do fardo, nome da prensa (marca comercial), classe, tipo, peso bruto (Figura 110), local de prensagem (cidade e Unidade Federativa) e data da prensagem.


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Figura 109. Fardos de fibras de sisal amarrados com corda pertencentes à cooperativa Campol de Pocinhos, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 110. Balança usada na pesagem de cada fardo de fibras após o seu enfardamento na prensa hidráulica. Foto: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I I | 178 4.Armazenamento - Os compartimentos mais adequados do prédio de uma cooperativa deverão ser destinados ao armazenamento dos fardos de sisal, tendo em vista prevenir a deterioração das fibras pela umidade. Por experiência comprovada, o grau de umidade contido na matéria prima é um dos atributos que define a qualidade da fibra, pois, por meio de sua contaminação, se produz o mofo e escurece a fibra. A fibra deve conter no máximo 13,5% de umidade e ser armazenada em fardos prensados, obedecendo às especificações de classificação da legislação vigente. Ou seja, não é permitido o armazenamento de fibras não enfardadas (Figura 111). Assim, durante o transporte e armazenagem dos fardos, o manuseio das fibras deve ser cuidadoso para mantê-las arejadas e longe de fontes úmidas.

Figura 111. Evitar o armazenamento de fibras de sisal não enfardadas, por questões de segurança contra incêndio, de ventilação, de umidade e de escoamento do produto armazenado. Foto: Natália Campbell (2007).

O prédio da cooperativa deve oferecer segurança contra o fogo, em razão de que se devem evitar as construções de madeira e a localização do armazém próximo de fontes eventuais de incêndio. Também deve ser rigorosamente proibido fumar em todas as seções da


C a p í t u l o I I | 179 cooperativa (depósito de fibras, batimento, prensagem e escritório). Além disso, para facilitar o serviço dos fardos, o armazém deve estar situado o mais próximo possível do local de prensagem. Por sua vez, os fardos deverão ser colocados em pilhas cruzadas, em número de 2, em cada lado do corredor central do armazém. A altura da pilha deverá ter o máximo de 2,4 m, correspondendo a 6 vezes à altura de cada fardo e bem empilhado de modo a facilitar a ventilação dos fardos (MEDINA, 1954; Figura 112).

Figura 112. Fardos de sisal empilhados no armazém da Companhia Sisal do Brasil (Cosibra), Santa Rita, PB. Foto: Arquivo da Cosibra.

5.Comercialização da Fibra - A comercialização da fibra é formada por uma cadeia de intermediários desde o processamento (desfibramento, batimento e enfardamento) até a comercialização. Geralmente, o produtor negocia sua lavoura com o proprietário do motor (desfibrador) que, por sua vez, estabelece uma relação financeira com o intermediário, que financia todas as despesas com o desfibrador (dono do motor) relativo à mão de obra, combustível, manutenção e transporte, em troca do compromisso de entrega da fibra bruta. Esse intermediário poderá ser o agente de compra que comercializa a fibra bruta ou aquele que beneficia em sua batedeira para depois entregá-la à indústria de fiação ou ao exportador. Uma alternativa, que é a mais viável para o produtor, consiste na organização de grupos de agricultores para formar uma cooperativa ou associação e, nela, proceder ao beneficiamento da fibra (batimento) e a sua comercialização


C a p í t u l o I I | 180 diretamente com a indústria, exemplos da Cosibra na Paraíba e da APAEB na Bahia, com isto se consegue melhores preços em função do volume e constância da entrega da produção (SILVA; BELTRÃO, 1999; SILVA et. al., 2006; SILVA et al., 2008). Com ajuda de uma empilhadeira (Figura 113), o caminhão é carregado com os fardos de fibras, os quais serão destinados majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas, cordéis, fios, tapetes etc.).

Figura 113. Empilhadeira da Cooperativa Campol (Coop. Agropecuária Mista de Pocinhos Ltda.) de Pocinhos, PB usada no carregamento de fardos de fibras de sisal (batimento) do armazém para o caminhão. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

6.Máquina de Bucha – A operação de batimento libera ainda resíduos (buchas) ou fibras de pequeno comprimento, que imediatamente vão se acumulando por atrás das máquinas de batimento. Em seguida, elas são recolhidas e transportadas para outro compartimento do prédio da cooperativa Campol (Coop. Agropecuária Mista de Pocinhos Ltda.) de Pocinhos, PB, onde se encontra instalado uma máquina de bucha (Figura 114). Além de eliminar o pó, essa máquina tem por finalidade em emaranhar mais a bucha resultante


C a p í t u l o I I | 181 deste processo (Figura 115), a qual é usada pelos gesseiros na composição de massas para a fabricação de forros de gesso e por oferecer maior resistência aos compósitos na construção de casas residenciais ou de telhas de cobertura de imóveis industriais ou residenciais em substituição do amianto (SILVA et al., 1999).

Figura 114. Máquina de bucha que realiza o emaranhamento e limpeza das fibras curtas de sisal (eliminação do pó). Foto: Vicente de Paula Queiroga.


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Figura 115. Fardos de bucha (fibra bem clara) processados pela máquina de bucha da cooperativa Campol, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

3º PROCESSO DE BENEFICIAMENTO DO SISAL – INDUSTRIAL

O uso principal do sisal limitou-se, ao longo de toda a sua história, a fibra, cuja transformação em produtos acabados pode ser dividida, basicamente, em três etapas distintas, a saber: 1) Preparação de fibras para fiação 2) Fiação 3) Transformação de fios em artigos diversos.

O principal uso da fibra de sisal é a produção de fios para uso agrícola (LOCK, 1969) internacionalmente conhecido com o nome de "Baler Twine".

Definição do Produto: "Baler Twine" é um fio torcido, elaborado a partir de fibras de sisal paralelizadas que, necessariamente, devem ter uniformidade de comprimento para regularidade do seu diâmetro e melhor resistência (Figura 116) sendo utilizado para a amarração de fardos de feno, principalmente nos mercados dos Estados Unidos e da Europa e, mais recentemente, no Brasil.


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Figura 116. Bobina de "Baler twine". Foto: arquivo da Fullin Insumos agrícolas.

No seu processo de produção recebe um tratamento através da adição de um líquido (emulsão) que o protege contra roedores (ratos), fungos (mofo) e apodrecimento, permitindo que o produto seja armazenado com segurança por períodos mais longos. Uso do Produto - O "Baler Twine" é utilizado na amarração de fardos de feno (alfafa, palhas, capim etc.) amarração esta feita por máquinas chamadas enfardadeiras, que realizam os trabalhos de colheita do feno, prensagem e amarração, tudo de forma automática (117).

Figura 117. Máquina enfardadeira de feno que utiliza o “Baler Twine” na amarração dos fardos. Foto: Arquivo da empresa JF Prisma.


C a p í t u l o I I | 184 Tipos de Fio - Existem inúmeros tipos de fio, cuja diferenciação depende do seu peso por comprimento (metro/quilograma). O cliente, usuário do fio, determina o tipo que prefere em função da máquina que utiliza do tipo de fardo que vai produzir e do material que vai fenar. Dentre os vários tipos possíveis de fios, os mais utilizados são os de 155 m/kg, de 200 m/kg e 270 m/kg; quanto maior esse número, chamado "título", mais fino é o fio e, portanto, maior comprimento terá a bobina, vez que esta tem sempre tamanho padrão para facilitar a utilização pelas máquinas enfardadeiras. Normalmente, as máquinas utilizam as bobinas de 9,3 kg e, em função disto, cada bobina terá comprimento diferente, que é função do seu "título"; uma bobina de fio 155 m/kg tem 1.330 m, a de fio 200 m/kg tem 1.620 m e a de fio 270 m/kg tem 2.400 m.

Características de um Bom Fio 1) Resistência igual ou superior à dos padrões indicados pelas suas características técnicas; 2) Regularidade na relação peso/comprimento; 3) Ausência de nós, casca e sujeira; 4) Torção constante ao longo de todo o seu comprimento e 5) Mínimo possível de "pelo"

Produção do Fio (Baler Twine) - Na primeira etapa, utilizam-se fibras já beneficiadas, que chegam às indústrias depois de passarem por um processo chamado batimento ou beneficiamento, que utilizam máquinas próprias que submetem as fibras, ao sair na forma bruta do campo, a um processo de limpeza, amaciamento e padronização de tamanho, para que possam ser utilizadas pela indústria transformadora. Na primeira etapa da industrialização, utilizam-se dois tipos de máquinas: 1) As espalhadeiras, internacionalmente conhecidas como máquinas "Goods", em homenagem ao seu inventor, John Good, que as patenteou em 1896 (WRIGHT, 1985). 2) As penteadeiras ou passadoras.


C a p í t u l o I I | 185 Essas máquinas recebem feixes ou bonecas de fibra, de peso e velocidade de abastecimento padronizados e fazem a transformação da massa de fibra recebida, através de sucessivas “passagens”, em mechas ou fitas alongadas e regulares, suscetíveis de fiação (Figura 118).

Figura 118. Vista do abastecimento da primeira máquina de preparação (1º Good) da Indústria Cosibra de Santa Rita, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

O processo se inicia nas máquinas Goods (em número de quatro) abastecidas com sisal, que chega dos fornecedores em fardos, com peso variando entre 200 e 250 kg. É necessário, para a produção de um bom fio, que a umidade dessa fibra seja de 13%, cuja medida é obtida com aparelhos próprios, enquanto que a umidade acima é prejudicial, porque aumenta a possibilidade da propagação de fungos (mofo) comprometendo a qualidade do produto.

A primeira máquina Good é abastecida com a fibra em forma de "molho", comumente chamado "boneca", cujo volume tem peso previamente estabelecido, de acordo com o plano de produção determinado. Pode-se ter, por exemplo, um plano que estabeleça o número de 20 "bonecas" de 1,3 kg/min. O abastecimento da máquina é feito com a colocação das "bonecas" na mesa de alimentação, uma sobreposta à outra, que vão sendo "penteadas" por uma esteira dotada de agulhas para formar uma mecha com as fibras


C a p í t u l o I I | 186 paralelizadas, decorrente do processo de "estiragem" ou de "arrumação", (Figura 119) dando forma de rolo de fibra com 150 m de comprimento e peso ao redor de 90 kg.

Figura 119. Vista da 2º Good para o estiramento das mechas das fibras da Indústria Cosibra de Santa Rita, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Durante o processo de "estiragem" na primeira Good, a fibra recebe uma pulverização de emulsão, um líquido composto de óleo amaciante, produto anti-mofo e um corante que dará cor própria ao Baler Twine; normalmente, é cor laranja, podendo também ser verde, caso seja esta a especificada pelo cliente. Os rolos saídos da primeira Good vão abastecer a máquina seguinte, chamada segunda Good, a qual recebe uma carga composta de oito rolos, devidamente acasalados em função do seu peso, de maneira que a combinação entre eles, um mais pesado com um mais leve, na mesma proporção, proporcionando uma padronização ideal para o seguimento do processo; assim, se um rolo fica com 89 kg, ele deve entrar em conjunto com um de 91 kg, ou um de 88 kg com outro de 92 kg e assim por diante, de maneira que cada rolo, ao sair da segunda Good, (Figura 120) tenha peso mais padronizado, ao redor de 90 kg. Com a mesma lógica, o material desta máquina passa para a terceira Good, também abastecida com oito rolos provenientes da segunda e acasalados com associação


C a p í t u l o I I | 187 de peso semelhante ao procedimento anterior, e ao passarem pela série de agulhas da máquina, recebem novo processo de "estiragem" e "penteagem", produzindo novos rolos, também de 150 m e já bem mais regulares que os anteriores.

Figura 120. Vista da 3ª Good da Indústria Cosibra de Santa Rita, PB. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

A quarta Good recebe também oito rolos saídos da terceira que é a última máquina de penteagem da primeira fase do processo, deixam os rolos ainda mais regulares e padronizados para a entrada na série da máquina seguinte, chamada "passadores", em número de quatro, com processo de produção sequencialmente semelhante ao que ocorre nas quatro Goods da série anterior. O primeiro passador é alimentado com 12 rolos, ou pilhas de mecha, oriundas da quarta Good. A função desse novo conjunto de quatro máquinas é provocar mais "estiragem" nas fibras, agora através de engrenagens e não mais de agulhas, como na série anterior, de maneira que as mechas fiquem mais padronizadas e regulares. Os rolos (ou pilhas de mecha) devem sair do primeiro passador com peso ao redor de 130 kg. Quanto mais próximo cada rolo estiver desse peso, mais eficaz estará sendo o processo de produção e


C a p í t u l o I I | 188 mais regular será o procedimento inicial de alimentação da primeira máquina, ou seja, da primeira Good. Novamente, o segundo passador é alimentado com uma carga de 12 rolos oriundos do primeiro, que serão novamente acasalados com pilhas de mechas de variação equivalente, ou seja, uma com mais de 2 kg com uma menos de 2 kg, de maneira que as mechas saídas desse segundo passador estejam com uma variação mínima na gramatura, o que significa mechas muito bem padronizadas. O terceiro passador é abastecido por 12 rolos ou pilhas de mechas, divididas em duas entradas de 6 e que repete o processo anterior, com aperfeiçoamento, da estiragem e saída em dois lotes de mechas prontas para o passador seguinte. O quarto e último passador termina a preparação das mechas para as fiadeiras ou filatórios e a sua carga é feita de acordo com o plano de produção, isto é, depende do tipo de fio que se deseja produzir. Para os fios mais grossos, ou seja, aqueles que têm menos metros por quilo, o número de rolos ou pilhas de mechas é maior, e o inverso, para fios mais finos fios com os títulos abaixo de 200 m/kg, seria necessário alimentar-se o quarto passador com 6 rolos, para produzir fios de 124 a 200 m/kg e com 4 rolos para os fios de 240 a 270 m/kg. Assim no quarto Passador já se extrai a produção em tambores individuais de 40 kg, com mechas bem regulares e prontas para o processo seguinte, que é o de “fiação” (Figura 121).


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Figura 121. A) Vista da esteira de pentes do 4º passador no processo final de preparação da fibra e B) mechas regulares produzidas são recolhidas em tambores. Indústria Cosibra de Santa Rita, PB. Fotos: Vicente de Paula Queiroga.


C a p í t u l o I I | 190 A esses dois conjuntos de máquina (Goods e Passadores) dá-se o nome de Seção de Preparação e o seu estado físico é uma condição básica para a qualidade do fio a ser produzido. Esta seção exige, portanto, um rigoroso e permanente sistema de manutenção mecânica, sem a qual não se pode garantir o sistema de qualidade da produção. Da “preparação”, o material segue para a fiação, que é a seção onde o produto (fio) de fato é fabricado. As fiadeiras são máquinas compostas de quatro conjuntos que são: a) Gaiola de alimentação b) Camada de agulhas, por cada fuso c) Cilindro de draft (estiragem) e torção d) Conjunto de fusos e) Seção de bancada

O "tamanho" de cada fiadeira é determinado pelo seu "conjunto" de fusos. Existem fiadeiras de 12, 24, 36 e 48 fusos e as mais comuns, para a produção de Baler Twine, são as de 24 fusos. Nos funis, da gaiola de alimentação de cada fiadeira, são colocados uma mecha oriunda do quarto passador e um tambor para cada fuso, o que significa que numa máquina de 24 fusos tem-se 24 tambores, colocados lado a lado (Figura 122).


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Figura 122. Tambores de alimentação das fiadeiras. Foto: Arquivo do Grupo Sisal Gomes de Conceição do Coité, BA.

A camada de agulhas, composta de barretas com três séries de agulha, puxa as mechas e faz a "entrega" ao Cilindro de Draft ou de estiragem, que é regulado através de engrenagens selecionadas em função do título do fio que se vai produzir (155, 200 ou 270 m/kg) e torce e produz o fio de acordo com a gramatura (diâmetro) planejada (SOUZA et al., 1999). Na Seção de Bancadas, localizam-se os carretéis que recebem o fio produzido e, dependendo do tipo da fiadeira, esses carretéis podem comportar, individualmente, um volume de 2, 4, 5 e 9 kg de fios, (Figuras 123 e 124), e dos carretéis, o fio passa para outra máquina, chamada bobinadeira (Figura 125), colocada em frente a cada fiadeira, na proporção de uma bobinadeira para cada três fusos da fiadeira; assim, uma fiadeira de 24 fusos terá oito bobinadeiras para receber sua produção, as quais dispõem de um dispositivo elétrico, através do qual se determina o padrão de metragem de cada bobina, que é função do título do fio em produção, parando automaticamente logo que essa metragem for alcançada (SOUZA et al., 1999).


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Figura 123. Detalhe das bobinadeiras (amarelas) posicionadas diante dos fusos da fiadeira para formação de fios. Foto: Odilon Reny R. F Silva.

Figura 124. Vista frontal de uma fiadeira com suas bancadas de carretéis para o enrolamento dos fios. Foto: Arquivo do Etene/BNB.


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Figura 125. Máquinas bobinadeiras de fios de sisal (Seis caixas teladas de cor amarelada). Foto: Arquivo da Cotesi do Brasil.

As bobinas são envolvidas numa cinta de papel tipo Kraft, que as protege contra todo tipo de sujeira estando, portanto, prontas para o processo de embalagem, composto de um conjunto de duas bobinadas, formando um fardo com peso e comprimento padronizados, de acordo com o plano de produção previamente estabelecido (Figura 126).

Figura 126. Bobinas de fios envolta em papel tipo kraft e antes do envolvimento. Foto: Arquivo da Sisalandia Fios Naturais Ltda.


C a p í t u l o I I | 194 Para a embalagem sempre se utiliza um saco de papel composto de quatro camadas, sendo a primeira, a interna, que fica em contato com as bobinas cintadas, com revestimento plástico (geralmente de polietileno) para reter o óleo e manter o fio macio; caso contrário, esse óleo (oriundo da emulsão aplicada à fibra ainda na preparação, como descrito anteriormente) passaria para a parte exterior, comprometendo a aparência e a qualidade do fio. As duas folhas que compõem as camadas seguintes dão maior resistência ao saco, enquanto a quarta folha se destina apenas à gravação das especificações do produto, da marca do cliente, do fabricante etc (SOUZA et al., 1999). No que tange à produção de fios, destaca-se, em termos de produção, o fio agrícola (baler twine), responsável por 60% do destino da fibra de sisal produzida na Bahia. Sua comercialização é feita, na sua quase totalidade, através da exportação, sendo os Estados Unidos da América o maior mercado consumidor do mundo; a exportação normalmente é feita através de um sistema de embalagem chamado "pallet", que é um estrado de madeira com tamanho padronizado, sobre o qual se colocam 55 fardos, envolvendo todo esse material (estrado de madeira e fardos) num filme plástico que, após receber chamas de gás, sofre o processo de encolhimento ou contração, dando à embalagem condição compacta, adequada ao transporte até o porto, depois até o navio; por fim, a exportação (SOUZA et al., 1999). A fabricação de fios destinados ao uso agrícola (Baler Twine) obedece a padrões estabelecidos por normas internacionais, que determinam rígidos controles de torção, diâmetro e grau de oleosidade a ser aplicado às fibras e, portanto, aos fios. Normalmente, o fio agrícola tem classificação em quatro níveis de diâmetro e comprimento, internacionalmente diferenciado pelo número de pés por metro; tem-se o fio de 7.200 pés, o de 9.000 pés, o de 10.000 pés e o de 16.000 pés, em que o cliente escolhe cada um desses em função do tipo de equipamento de que dispõe para o enfardamento e do tipo de enfardamento que vai fazer para o feno. Fardos do tipo “quadrado” normalmente são prensados com maior pressão e exigem fios mais grossos; os fardos “redondos” recebem menor pressão e podem ser amarrados com fio mais fino, como o de 16.000 pés. Desta série de fios, os que mais se destacam são o de 9.000 e o de 16.000 pés (SOUZA et al., 1999). O baler, por ser largamente conhecido, é comercializado no mercado interno, nos principais estados do Sul, em especial, o Paraná e Rio Grande do Sul, no Sudeste, destacando-se São Paulo, em alguns estados do Centro-Oeste, onde se destaca o Estado


C a p í t u l o I I | 195 do Goiás e a região Nordeste, sendo o Estado de Pernambuco um polo de distribuição para os demais estados do Nordeste. No mercado externo, o fio baler é comercializado para a Ásia, Europa e, principalmente, para a América Central.

Cordoalha - O setor de cordoalha é o campo de maior aplicação do sisal e a expressão cordoalha aqui, significa, em sentido lato, toda a gama de produtos de sisal, incluindo fios, barbantes, cordéis para embalagens e todos os tipos de corda utilizados na agricultura, na pecuária, na indústria e no comércio; no entanto, sabe-se que cerca de 2/3 do uso da fibra de sisal se destinaram, ao longo do tempo, à produção de Baler Twine, mas existem outros produtos oriundos da fibra do sisal que merecem referência, como:

1) Barbante singelo, também chamado fio comercial ou não oleado, difere do Baler Twine no título (geralmente mais fino) e na composição da emulsão que lhe é aplicada; 2) Cordéis, assim chamados por serem formados por dois ou três fios (não oleados) retorcidos: 3) Cordas, fabricadas tanto com fios oleados (Baler Twine) como com fios secos (sem óleo) têm diâmetro que varia conforme a aplicação desejada pelo cliente, podendo variar de 5 mm a até 36 ou 50 mm (Figura 127);


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Figura 127. Tipos de cordas fabricadas com a fibra do sisal. Foto: Arquivo da Agrofios.

4) Cordas calibradas, assim chamadas pela regularidade necessária ao seu diâmetro. Para a fabricação de cordas calibradas, os fios precisam ter melhor acabamento, eliminando-se os “pelos” (fibrilas que se destacam ao longo do corpo do fio) utilizando-se, para isto, máquinas “barbeadeiras” que contêm lâminas com grande poder de corte, deixando o fio com máxima regularidade; esse tipo de corda se destina às industriais e aos fabricantes de cabo de aço, que as utilizam como "alma", ou seja, entram no centro do cabo de aço, principalmente dos cabos destinados a usos especiais, como os de elevadores.

A corda calibrada de sisal, por ser de fibra natural, permite melhores condições de trabalho para o cabo de aço, no que diz respeito à sua lubrificação interna, vez que no processo de produção dos cabos de aço aplicam-se, sobre a corda, produtos lubrificantes.


C a p í t u l o I I | 197 Antigamente também se utilizava o sisal para fabricação de cabos para uso marítimo; esses cabos recebiam tratamento à base de alcatrão e outros agentes químicos para proteção contra a corrosão pela água salgada do mar, que possibilitava sua utilização na amarração de navios nos portos; atualmente, com o surgimento das fibras químicas e petroquímicas, como a poliamida (nylon), o polipropileno, o poliester e o polysteel, o sisal perdeu esse tipo de utilização porque sua durabilidade e resistência são bem inferiores aos dos sintéticos. Além do setor de cordoalha, ainda existem outros campos de aplicação para o sisal, como: Papel: as “buchas” de sisal são utilizadas na manufatura de papel tipo “kraft”, porque oferecem tenacidade especial e grande resistência, apesar de que, atualmente, esse tipo de utilização está se tornando inviável, uma vez que a celulose de madeira apresenta menores custos de produção. Também se utiliza sisal na fabricação de papéis finos para embalagem de cigarro, filtros especiais e absorventes. Construção Civil: “buchas” de sisal também são utilizadas neste setor, para polimento de revestimentos cerâmicos e, também, na composição de “massas” para a fabricação de forros de gesso. No campo da construção civil, o sisal ainda poderá ter espaço para outras aplicações, como na construção de casas residenciais, visando oferecer maior resistência aos compósitos, bem como a substituição do amianto na composição de telhas para cobertura de imóveis industriais ou residenciais, cujos estudos vêm sendo realizados pela Universidade Federal da Paraíba, Campus II, em Campina Grande, PB. Tapetes: Os tapetes e capachos são encontrados em diversas tramas e acabamentos especiais. Como exemplo destaca-se os tapetes com bordas em couro ou tecidos especiais. O principal mercado é o internacional, atendendo alguns países da Europa, como França, Espanha e Alemanha. No entanto, o mercado interno vem apresentando crescimento significativo, principalmente nas grandes capitais do Brasil, principalmente após a onda ecológica; os tapetes de sisal deixaram de ser instalados apenas em ambientes rústicos de antigamente e estão decorando escritórios de grandes e modernas empresas, pelo mundo afora. Para a fabricação de tapetes (Figura 128), são necessários fios muito finos (de 800 a 1.000 m/kg) e de qualidade, o que só será possível de se fabricar se houver fibras de comprimento longo (em torno de 1,10 m) e de alto grau de limpeza (Figura 129). Apesar de ser um setor em crescimento, a quantidade de sisal utilizada na fabricação de tapetes


C a p í t u l o I I | 198 ainda é pequena, quando em comparação com a quantidade que normalmente se utiliza na indústria de fios agrícolas (Baler Twine).

Figura 128. Fábrica de tapetes de sisa da APAEB em Valente, BA. Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

Figura 129. Tipos de tapetes de sisal. Foto: Arquivo da Sisalsul.


C a p í t u l o I I | 199 Para a produção de fios para tapete, também é preciso uma boa instalação de tinturaria, porque esse produto exige uma grande variedade de cores, tendo em vista ser objeto de decoração e, como tal, necessita preencher requisitos de combinação de cores aliado ao gosto dos arquitetos decoradores e de consumidores, em geral com alto grau de exigência. Sacaria: alguns países, como a Venezuela, e durante algum tempo o México, fabricavam sacos com fibras de sisal, talvez por não disporem de juta, fibra de qualidade muito superior para esse tipo de utilização. No Brasil, a preferência sempre foi pela juta para os chamados sacos de aniagem, principalmente para armazenamento de café. Não se tem notícias, portanto, de que tenha havido desenvolvimento da indústria de sacaria com fibras de sisal. Atualmente, o grande volume de sacaria fabricada no Brasil (e no mundo) é de ráfia de polipropileno, portanto, de fibras sintéticas. Artesanato: São produzidos vários tipos de artesanato, como bolsas, cadeira de balanço, escova, objetos de adorno e decoração em geral. Após melhorias no design e qualidade do acabamento, o artesanato de sisal baiano vem abrindo novos mercados, sendo encontrado nas principais lojas de decoração de Salvador, assim como, em outras capitais do país.

Essa série de produtos utiliza apenas a fibra do sisal e, dentre eles, a maior utilização, como já se referiu acima, cerca de dois terços da fibra, é realizada sempre pelo setor de fios agrícolas, internacionalmente conhecido como Baler Twine, empregado maciçamente no enfardamento de feno e palha de trigo e milho.

TESTES DA FIBRA E DO FIO DO SISAL REALIZADOS PELA INDÚSTRIA

1) Assim que um caminhão chega à indústria carregado com os fardos de sisal escolhese, aleatoriamente, coletar uma amostra de 10% do total dos fardos para determinar o teor de umidade da fibra; espera-se que o mesmo esteja em 13%, que é o conteúdo ideal para o processamento do fio. O aparelho utilizado para essa determinação é portátil, pode ser digital e apresentar uma ponta, que funciona como sensor, para ser introduzida no fardo, determinando o conteúdo de umidade.

2) Desta mesma, as amostras de fibra são retiradas em pequenas quantidades para determinação da sua resistência à ruptura, através de um dinamômetro com


C a p í t u l o I I | 200 capacidade média para 15 kg. Vale registrar que este teste é muito importante, pois determina o Fator de Qualidade da Fibra, associado ao peso da fibra e a sua resistência à ruptura. O mesmo é realizado em fibras individualizadas, em número de 50 determinações, cujo valor de qualidade padrão é de 28.481 (WRIGHT, 1985).

3) Uma vez confeccionado o fio, ele deverá obedecer aos padrões internacionais, pois será exportado para outros países com o fim de amarrar feixes de feno; para isto, procede-se à análise da Resistência a Ruptura, que consiste em se amarrar as duas extremidades de um pedaço de 60 cm de fio nas garras de um dinamômetro, que irá medir a força necessária para a sua ruptura (Figura 130). Cada tipo de fio tem a sua própria resistência; por exemplo, um fio cujo título é de 170 m/kg, oleado (BT) deve apresentar resistência direta mínima de 134 kgf; já o fio cujo título é de 135 m/kg, BT, a resistência mínima direta é 169 kgf. Para se calcular a resistência direta mínima de um fio, utiliza-se a seguinte equação:

Resistência Direta=

Fator de qualidade do fio Titulo estipulado

Onde:

Fator de qualidade do fio = Fator de qualidade da fibra x 80%=22.785

Para se determinar o fator de qualidade do fio, utiliza-se a seguinte expressão:

Fator de qualidade do fio = TítuloxRe sistência obtida no dinamômetro


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Figura 130. Aparelho Dinamômetro para medir a resistência à ruptura da fibra. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

4) No processo de enfardamento do feno, o fio sofre, em determinadas partes, nós de amarração, que deve apresentar resistência suficiente para a manutenção intacta do fardo, por longo período, razão pela qual se procede ao teste de resistência à ruptura ao nó, que consiste em se dar um nó na metade de um fio de 60 cm de comprimento e submetê-lo à ação de uma força, medindo-a com o dinamômetro. Neste processo admite-se que o fio perde 40% da sua resistência, em virtude do abrasão que sofrem as fibras do nó; portanto, o cálculo teórico da resistência de tração ao nó é dado pela seguinte equação:

Resistência de tração ao nó= Re sistência direta x 60 100


C a p í t u l o I I | 202 5) A torção das fibras é um processo importante na fiação e deve ser quantificada situando-se dentro dos padrões recomendados, a fim de não alterar a resistência do fio; é medida por um torciômetro, amarrando-se as extremidades do fio, distorcendo-as até as fibras do fio ficarem paralelas, procede-se, então, à leitura, cujos resultados são transformados para se obter o número de voltas por metro, uma vez que eles são medidos em pé (medida inglesa) (Figura 131).

Figura 131. Torciômetro. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

ATUAÇÃO DA APAEB A Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB) foi criada na década de 1980, a partir de um movimento de pequenos agricultores preocupados com a ação dos atravessadores na comercialização de seus produtos (Figura 132). A organização se deu de diferentes formas, em alguns municípios baianos, resultando na criação de cinco APAEBs na região sisaleira, instaladas nos municípios de Valente, Serrinha, Feira de Santana, Araci e Ichu.


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Figura 132. Vista dos pequenos sisaleiros em processo de desfibramento.

Hoje, porém, somente a APAEB-Valente tem uma forte atuação com os agricultores. O crescimento dessa associação ocorreu de forma paulatina. Com a preocupação inicial de vender em grupo para eliminar atravessadores, montou um Posto de Vendas. Posteriormente, implantou uma central comunitária de beneficiamento (batedeira) e, algum tempo depois, uma fábrica de tapetes e carpetes. Atualmente, a APAEB faz o batimento da fibra, o beneficiamento e a comercialização dos produtos finais. A batedeira comunitária recebe a produção de cerca de mil agricultores e emprega em média 40 funcionários. A fábrica de tapetes e carpetes da Associação foi construída com recursos do BNB, da DISOP12 e da Inter American Foundation (dos Estados Unidos) e atualmente gera 570 empregos diretos (APAEB, 2004). No ano de 2002, segundo informações do Relatório Anual da APAEB, a Fábrica foi responsável por 73% do faturamento geral da Entidade (APAEB, 2003; Figura 133). Segundo informações do mesmo relatório, a Associação “movimenta mais recursos no município que a própria Prefeitura...” (APAEB, 2003).


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Figura 133. Fábrica de tapetes/carpetes da APAEB – Valente, Bahia. Foto: Felipe Prado Macedo da Silva (2011).

Em virtude da preocupação com a preservação do meio ambiente e diante da qualidade apresentada pelos produtos (tapetes e carpetes), há grande procura por parte dos países desenvolvidos, tendo em vista que a fibra do sisal é um produto natural e quando descartado, se decompõe, sem poluir a natureza, como acontece com os produtos sintéticos. Os principais importadores são os Estados Unidos e países da Europa (APAEB, 2004). Dentro do princípio de trabalhar o desenvolvimento sustentável, a APAEB-Valente incentiva, além da produção de sisal, a criação de caprinos, ovinos, abelhas, assim como o comércio dos produtos oriundos dessas atividades (mel de abelhas, carnes, peles, artesanato, leite e derivados). Para dar suporte à produção, a Entidade mantém instalada na Sede do município de Valente, um “Laticínio da Cabra” (são produzidos: leite pasteurizado, doce de leite em creme e em barra, iogurtes e queijos), um curtume (compra, venda, curtimento de pele e fabricação de produtos artesanais e industriais a partir da pele caprina), um posto de vendas (supermercado regulador de preços), uma associação de


C a p í t u l o I I | 205 artesãs, uma loja de produtos artesanais, um fundo rotativo e uma cooperativa de crédito (ofertar crédito aos agricultores sócios da APAEB para o financiamento da produção agropecuária) (OLIVEIRA, 2002; APAEB, 2003).


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 206 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, K. C. L; SOARES, A. C. F.; TORRES, C. N.; LARANJEIRA, F. F; CARDOSO, E. L.; CANDEIAS, E. L. Prevalência e incidência da podridão vermelha do pseudocaule do sisal na microrregião de Serrinha. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.32, p.218, 2007. ABREU, K. C. L. M. Epidemiologia da podridão vermelha do sisal no Estado da Bahia. 2010. 100f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas. ACLAND, J. D. East African crops. London: Longman. 1971. ALVARENGA JÚNIOR, E. R. Dossiê Técnico (Cultivo e aproveitamento do sisal). Fundação Centro Tecnológico Minas Gerais, 2012. ALVES, M. O.; SANTIAGO, E. G. Tecnologia e relações sociais de produção no setor sisaleiro nordestino. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v.37, n.3, p.368-381, jul./set. 2006. ALVES, M. O.; SANTIAGO, E. G.; LIMA, A. R. M. Diagnóstico sócio econômico do setor sisaleiro do Nordeste Brasileiro. Fortaleza: BNB, 2005. 90p. (Série documentos do ETENE, n.04). AMORIM NETO, M. S., BELTRÃO, N. E. M. Clima e Solo. In: SILVA, O. R. R.; BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999, p.41-52. ANDRADE, B. P. Sisal e sociedade rural: o caso de Valente e Santa Luz – Bahia. In: LAGE, C. S.; ARGOLO, J. L. A.; SILVA, M. A. O sisal baiano: Entre natureza e sociedade: uma visão multidisciplinar. Salvador: EDUFBA, 2002, p.71-80. ANDRADE, D. X. Instruções para o cultivo do sisal. João Pessoa: Comissão Executiva do Sisal, 1962. 24p. APAEB - ASSOCIAÇÃO DE PEQUENOS AGRICULTORES DO ESTADO DA BAHIA. Relatório anual 2002. Valente, 2003.


R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s | 207 APAEB - ASSOCIAÇÃO DE PEQUENOS AGRICULTORES DO ESTADO DA BAHIA

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Disponível

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