INOVA_09

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ANO 2 | NO 09 | MAI 2011

R$ 12,00

DIVULGAÇÃO

EXEMPLAR CORT E SIA

Ilha do Fundão

a ilha da

inovação

relações de TRABALHO Trabalhadores ocupam conselhos de administração

INDÚSTRIA DAS PATENTES Michael Haradom cobra medidas efetivas do Governo Federal

amanda perobelli

Onda de investimentos transforma o Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro em novo polo de inovações




editorial

Uma publicação arrojada, que promova debates, agendas, e preste serviços a acadêmicos, pesquisadores, empresas e lideranças políticas interessadas em construir um futuro com inovação e desenvolvimento sustentável. Uma revista como esta significa uma bela sacudida no coreto, procurando adicionar uma nova dimensão histórica à trajetória de vanguarda política do ABCD. É assim que a revista INOVA é avaliada Brasil afora.

Outra matéria, sobre o Parque Tecnológico de São José dos Campos, sede da Embraer, principal unidade da indústria aeronáutica brasileira, revela como projetos de construção de parques tecnológicos exigem muito tempo, esforço e dedicação para alçar vôo. O Parque de São José é incentivado pelo governo do Estado de São Paulo, programa dentro do qual o ABCD apenas dá seus primeiros passos.

A receita mistura inovação em todos os campos da atividade humana: gestão, relações de trabalho, tecnologia, sem preconceitos de qualquer espécie e sem limites territoriais. É esta, também, a fórmula desta edição, a de número nove. A começar pelas polêmicas proposições sustentadas pelo entrevistado Michael Haradom (pag. 6), e pela abordagem seminal de Flávio Aguiar sobre o drama europeu refletido no desastre de Fukushima (pag. 30).

Ilha da Inovação, no Rio, Parque Tecnológico de São José, ou os investimentos chineses no Parque Tecnológico do Guamá, em Belém (ver edição 8 de INOVA), e o anúncio da Huawei (uma das maiores empresas chinesas em tecnologia de ponta), de investir na construção de um centro de pesquisas na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, são exemplos que mostram como outras regiões do País estão bem mais avançadas que o ABCD na corrida para incentivar a inovação tecnológica em seus parques produtivos.

E que termina no ABCD, às voltas com a necessidade de inovar-se a qualquer custo para fugir de um futuro esgotamento de suas forças motrizes. O caminho é árduo, testemunham lideranças regionais ao ensaiar os primeiros passos, em torno do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Saab, em São Bernardo (pag. 10), e da extensão de fibra ótica nas principais cidades da Região (pag. 19). O que esta edição de INOVA revela é que estes movimentos ainda são muito tímidos diante de processos inovadores que estão acontecendo Brasil afora. A Ilha do Fundão, por exemplo, no Rio de Janeiro, objeto de reportagem especial (pag. 12), começa a transformar-se em um dos maiores clusters tecnológicos do Brasil. Além dos laboratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Petrobras, a Ilha atraiu, entre outras empresas de ponta, os centros de pesquisa da Usiminas e da global General Electric.

São investimentos pesados, como os prometidos pela Huawei, que devem alcançar cerca de US$ 350 milhões, ou os mobilizados pela Saab para instalar-se em São Bernardo, em torno de US$ 50 milhões, envolvendo parcerias com universidades e outras contrapartidas públicas e privadas, que podem promover o salto tecnológico dos territórios que os abrigarem. E o ABCD tem tudo para tornar-se um destes polos tecnológicos. Berço da indústria automotiva, a Região é cenário de infinitos cases de inovação, como o da Karmann-Ghia, reportado nesta edição (pag. 9). Em alguns aspectos, continua sendo vanguarda de inovação, revela a reportagem (da pag. 26) sobre novos avanços no campo das relações de trabalho e a presença de trabalhadores em conselhos de administração de grandes empresas como a Mercedes Benz. o editor

Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro: em permanente expansão

Marco Fernandes - SGCOMS/UFRJ

sacudida no coreto


ANO 2 | NO 09 | MAI 2011 Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) na Ilha do Fundão: inovação contínua

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6 Entrevista Michael Haradom Empresário revela sistema que garante às multinacionais o controle dos preços de insumos e defensivos agrícolas

9 Case SoFtware Modelagens em isopor passam a ser feitas por robô na Karmann-Ghia, com programa feito pelos funcionários

10 Notas 19 Telecomunicações Marco Fernandes - SGCOMS/UFRJ

gvt Para competir com a Telefônica, GVT chega com a proposta de usar mais fibra ótica em suas redes e assim garantir serviços com mais qualidade, sem aumentar custos

20 Tecnologia

especial ilha da inovação 12 Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, recebe empresas que são tops em suas áreas de atuação 14 Tradicionais empresas do setor de óleo e gás se reúnem no Parque, que começa a ser chamado de Vale da Energia 16 General Eletric vai instalar no Parque seu quinto Centro Global de Pesquisas, com investimento de U$100 milhões 18 Em convênio com o Sebrae, será construída a Torre da Inovação, edifício que vai abrigar 100 pequenas empresas

Aeroespacial O Parque Tecnológico de São José dos Campos, que reúne empresas do setor aeroespacial, quer uma indústria de defesa voltada à inteligência

22 Sustentabilidade construção civil Empresa de Boituva desenvolve pisos sustentáveis com misturas inusitadas, que podem levar resíduos de lentes de óculos e até baba de cupim Combustíveis Produtores de biodisel, empenhados em descobrir novas fontes de matéria prima, querem a fixação de novo marco, que motive o setor e proteja investimentos

28 Serviços

AMANDA PEROBELLI

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VALTER SANCHES O dirigente sindical faz parte do Conselho de Administração da Daimler, grupo que controla a Merdedes Benz do Brasil, onde ele é funcionário. A inovação chega às relações de trabalho.

SEBRAE Instituição cria uma série de cursos para apoiar as empresas que completaram dois anos de atividades e estão em franco crescimento

30 Internacional Energia Nuclear O correspondente Flávio Aguiar faz um levantamento de como os países europeus passaram a cuidar da questão da energia nuclear após o desastre no Japão

33 Ponto de Vista Heitor Silva Pinto Reitor da Uniban mostra que a inovação pode e deve ser aplicada à Educação. O exemplo é o convênio firmado pela Uniban com o grupo Lusófona, o maior conglomerado de ensino privado de Portugal.

EXPEDIENTE: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 DIRETOR/EDITOR: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) EDITORa assistente: Sonia Nabarrete Participaram desta edição: Clébio Cavagnolle Cantares, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Maurício Thuswohl e Rosângela Dias. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami TRATAMENTO DE IMAGENS: Fabiano Ibidi DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa Impressão: Leograf Tiragem: 40 mil exemplares

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entrevista

Michael Haradom

FOTOS: AMANDA PEROBELLI

Michael Haradom tornou-se conhecido por sua ousadia. Em 1996, quando a indústria brasileira de agroquímicos agonizava e a empresa que preside, a Fersol Indústria Química, somava uma dívida de US$ 10 milhões, convocou diretores e trabalhadores, reduziu o salário dos primeiros e deu aumento à base. Apostou, então, no mercado de fórmulas genéricas para patentes vencidas de agrotóxicos. Personagem da história do Partido dos Trabalhadores (PT) e comunista convicto, ele não tem medo de soltar o verbo sobre o polêmico setor de agrotóxicos.

“Reproduzir não é simples. Você tem que ter fábrica, licença, pegar o produto, testar, analisar e provar que é substancialmente igual ao produto de referência, além de buscar certificações”

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o combate à indústria das patentes O empresário Michael Haradom, presidente da Fersol, denuncia o monopólio das empresas globais do setor de insumos e defensivos agrícolas e cobra do Estado uma postura inovadora para o fortalecimento da indústria nacional Joana Horta

joana@abcdmaior.com.br

INOVA – Qual é o principal negócio da Fersol? Haradom – A Fersol é uma indústria química de capital 100% nacional que se dedica à produção de agroquímicos genéricos. Nosso foco é buscar produtos que já saíram de patentes e reproduzi-los. Esse desenvolvimento tecnológico é feito dentro da empresa. Hoje restam apenas duas empresas de capital nacional nesse mercado, a Fersol e a Nortox. Nós concorremos com Monsanto, Dow Chemical, Dupont, Bayer, Basf e Syngenta, que são as seis grandes, e depois, num segundo escalão, com FMC, Sipcam e United Phosphoros. INOVA – É preciso investimento e inovação para a fabricação de genéricos? Haradom – Muito. Reproduzir não é simples. Você tem que ter fábrica, licença, pegar o produto, testar, analisar e provar que ele é substancialmente igual ao produto de referência, além de buscar certificações. É muito investimento. INOVA – O que justifica a existência de apenas duas indústrias nacionais no setor, se a agricultura é um dos alicerces da economia brasileira? Haradom – Para entender essa relação, é preciso revelar o que há por trás do sistema atual de patentes. Hoje, há um acordo universal: passados vinte anos, a patente vence

e o produto passa a ser de domínio público. A empresa que teve exclusividade perde o monopólio. Só que o produto patenteado tinha 500% de lucro. Quanto aparece o genérico, o lucro cai para 100%. Os donos das patentes tentam proteger essa exclusividade eternamente e garantir o monopólio. INOVA – Como as detentoras de patentes se protegem da queda nos lucros? Haradom – No caso dos agroquímicos, há várias indústrias no mundo que reproduzem produtos existentes há vinte, trinta anos, fazendo com que o lucro da detentora caia, até o momento em que já não é mais interessante que esta empresa continue a trabalhar com ele. Então, ela retira o produto do mercado, acusa-o de altamente tóxico e apresenta um novo produto, com um custo muito mais alto. Mas quando esse novo produto virar genérico, ele também vai cair em desgraça para a empresa que o patenteou e ser acusado de nocivo à saúde.

INOVA – Os biodefensivos não são uma alternativa? Haradom – Nós pesquisamos uma linha de produtos biológicos. Eles são melhores que os químicos? Não. Então porque eu desenvolvo isso? Porque é uma grife que posso vender ao mercado da agricultura orgânica, que vai vender seus produtos para quem quer comprar essa grife. Não me leve a mal,

produto de grife é bom. Mas quem pode consumir o produto orgânico é a classe média pra cima. Há um custo para o consumo de orgânicos que é quase o dobro do convencional. Ela é mais saborosa? Não, e eu provo isso com um teste cego. Fora isso, há estudos que provam que os produtos orgânicos não tem mais sais minerais e vitaminas do que os cultivados com agroquímicos. INOVA – Existe uma perseguição aos agrotóxicos? Haradom – Essa nomenclatura só aparece no Brasil. Em outros lugares é fitossanitário, agroquímico. Quem fez isso foi o secretário do Meio Ambiente do governo Collor, o José Antônio Lutzenberger. Hoje já se fala em veneno. Li um artigo que diz que o brasileiro consome em média 5,2 kg de veneno por ano. Quem lê isso pensa que todo agrotóxico colocado na terra é ingerido. O que ele está querendo dizer é que para cultivar o que nós produzimos, utilizamos tantas toneladas de agroquímicos que, divididas pela população brasileira, significam 5,2 kg por pessoa. Acontece que de todo o alimento que produzimos, 30% são consumidos e 70%, exportados. Ou seja, nem a conta, nem a relação, são verdadeiras. Se comermos 10 miligramas de agroquímicos, morremos. INOVA – Há estímulo ao fortalecimento da indústria nacional para um enfrentamento dos monopólios? Haradom – A indústria nacional foi MAIO 2011 | INOVA

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criada na época dos militares e depois de desenvolvida, com capital nacional, entregue às multinacionais. O Brasil tem várias vocações, mas acredito que a agricultura é a maior e a melhor. É preciso fazer muito pelos segmentos de máquinas, fertilizantes e defensivos. A agricultura no Brasil movimenta US$ 80 bilhões. O segmento de defensivos não chega a US$ 7 bilhões e o de fertilizantes gira em torno de US$ 20 bilhões. Nosso setor é pequeno, mas faz o maior crescer. INOVA - O que temos a aprender com a China, maior produtor de defensivos do mundo? Haradom – Diferente do que aconteceu no Brasil, lá foram desenvolvidas milhares de empresas nacionais de agroquímicos. Ela consome o que produz e ainda tem um excesso extraordinário, exportado ao mundo inteiro. O governo chinês oferece empréstimos com juros de meio por cento ao ano, para trinta anos e carência de cinco anos. Além disso, o custo social, de meio-ambiente e tributário são muito baixos. INOVA – A Fersol tem relações comerciais com a China? Haradon – Nossa relação é de compra do intermediário, da matéria prima para o produto que eu vou fazer, não é a formulação. Nós damos preferência aos produtos de origem nacional, por questões ideológi“Quem pode consumir produto orgânico é a classe média. Há um custo para o consumo do orgânico que é quase o dobro do produto convencional”

cas, mas quando se distanciam demais em preço, importamos. E a China incentiva e subsidia a exportação, fazendo com que o preço de seus produtos chegue à metade do custo do produto nacional. INOVA – Empresas estatais como a Petrobras poderiam investir nesse setor? Haradom – Quando você pega uma Petrobras, estamos falando em centenas de bilhões de dólares. Os US$ 7 bilhões viram um detalhe. A Petrobras deve, sim, entrar nesse negócio, porque não pode pensar só em lucro. INOVA – Nesse cenário, universidades e centros de pesquisa não são aliados? Haradom – Os institutos de pesquisa ligados às universidades tem verbas insipientes, portanto não há suficiente desenvolvimento, e o que existe não chega às companhias nacionais porque requer a contrapartida de aportar valores que as empresas, na maioria pequenas e médias, não têm. A Embrapa é um centro de pesquisas extraordinário, recebe verbas excepcionalmente bem usadas, e que retornam ao público dez vezes o que foi investido. O problema é que quem se apodera das tecnologias são as companhias globais. Os ministérios deveriam colocar condições para o desenvolvimento de uma indústria nacional. INOVA – Quais seriam essas condições? O que o governo pode fazer? Haradom – Uma das ações é proteger nosso agricultor, não tirar dele o acesso aos produtos e ao baixo custo dos genéricos. Outra coisa é facilitar o processo de registros junto às agências reguladoras, dentro de prazo e de custo adequados. Hoje, você gasta até duzentos mil dólares e demora três anos pra receber uma autorização. Se você quiser fazer dois três produtos por ano, é preciso investir US$ 2 milhões. Quem tem esse capital de risco? INOVA – Os processos de certificação são muito burocratizados? Haradom – Todos os registros devem passar por um laboratório com certificado de Good Laboratorial Practices (GLP). Esses laboratórios estão entupidos de análises das grandes empre-

sas, que recebem prioridade. E o laboratório aceita isso por uma questão de sobrevivência. Por isso seria importante a criação de um consórcio de empresas nacionais, cada uma colaborando com uma porcentagem de investimentos para fazer essas análises GLP dentro de uma velocidade maior e um custo menor. INOVA – Existem linhas de crédito específicas? Haradom – Não. E o que existe, como fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está muito distante. A indústria nacional, se não tiver um político por trás, não consegue. Você vai apresentar seu projeto e eles apontam mil problemas. As globais vão chegar lá e dizem que se alguma coisa der errado, a matriz cobre. O mais grave disso é que nem isso fazem, ninguém paga nada. INOVA – O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, tem potencial para lidar com a questão dos agroquímicos? Haradom – Conheço o Mercadante e o considero uma pessoa extremamente preparada para fazer do MCT um grande ministério. Mas não está sensibilizado para o problema dos periféricos da agricultura. Se as empresas brasileiras não têm condições de se apropriar da tecnologia, nós temos que ajudar essas empresas e cobrar responsabilidade de retorno de investimento em um prazo de, por exemplo, cinco anos. As pequenas e médias empresas não querem privilégio, querem isonomia com as grandes corporações, que têm menos burocracia, mais advogados para trabalhar toda essa parte, tem financiamento barato, tem Lei de Inovação. INOVA – A Fersol é reconhecida como empresa inovadora nas relações de trabalho. A licença maternidade de seis meses, por exemplo, já é realidade há seis anos. O que há de novidade em gestão? Haradom – Estamos sempre investindo na melhoria das relações de trabalho e, a partir de julho, a Fersol vai estender o mesmo direito de estabilidade de emprego que a mulher tem quando está grávida para o homem “grávido”. Não existe nenhuma empresa que faça isso no Brasil. Nós nunca recebemos nada por isso e eu não acho ruim. Eu acho ruim que os outros não façam e que o governo não ventile essas iniciativas.


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case

software

Uso do robô melhorou a qualidade, dobrou a produtividade e permitiu fazer internamente trabalho que era terceirizado. A automação reduziu pela metade o tempo necessário à execução dos projetos

estamparia automatizada Software da Karmann-Ghia viabiliza funcionamento de robô, dobrando a produtividade esmo deixando de produzir automóveis, a Karmann-Ghia, histórica indústria do ABCD, não perdeu a mão na busca por projetos inovadores. Tanto é que procurou soluções de automatização para o processo de estamparia, um dos mais artesanais dentro da sua cadeia produtiva, o que resultou na construção interna de um software para o robô de usinagem, utilizado em modelos de isopor. Embora a companhia já tivesse o robô, ele não funcionava e o processo era realizado de forma manual. A inovação aumentou em 50% a produtividade, melhorou a qualidade do produto e ainda gerou economia, já que esta área era terceirizada. “Agora, nós é que podemos prestar esse tipo de serviço a outras empresas”, ressalta Alexandro Lopes, encarregado de Planejamento da Ferramentaria. “Tínhamos o motor para usinagem e o robô disponível, mas não tínhamos a tecnologia necessária para fazê-lo funcionar. Desenvolvemos, então, o software coprocessador internamente, por meio do conhecimento da equipe de Programação CNC. Foi um desafio e tanto. Muitos apostaram que era impossível, mas conseguimos”, relata Lopes. A produtividade da empresa aumentou porque manualmente os projetos levavam até quatro semanas

para serem concluídos. “Hoje, em uma, no máximo duas semanas, estão prontos. Conseguimos também a redução de colagens, o que era prejudicial ao processo. Com isso, a qualidade aumentou”, destaca Lopes. O antes e o depois da inovação se revelaram em especial pela possibilidade de novos negócios. “Tínhamos um equipamento de alto custo, mas estava inoperante. Precisamos terceirizar o serviço de usinagem de modelos por conta disso”, destaca Devair Madureira, coordenador de Manutenção da empresa. Mas, a realidade mudou e a indústria agora pode atender a demandas de outras empresas. “Podemos gerar receita daqui para frente”, prevê.

Uso de robô na usinagem é pioneiro Atualmente, diversas universidades e empresas utilizam este sistema. A própria Karmann-Ghia investiu em uma nova máquina, com dimensões maiores, para a usinagem de modelos com até quatro metros, aparelho operado pelos próprios modeladores. Sérgio Rodrigues é um dos funcionários que participaram do projeto desde o início. “Conheço várias modelações na Região, mas nenhuma possui robôs para usinagem. Até se surpreendem quando nos visitam “, comenta.

Com a nova tecnologia, o robô da Karmann-Ghia pode usinar modelos de isopor de até 2x2 metros e a máquina router, de até 3x4 metros. Os modelos de isopor têm diversas aplicações, desde fundição a protótipos visuais, ou até mesmo em ações de marketing e alegorias de escolas de samba.

Histórico de inovações A Karmann-Ghia, adquirida em 2008 pela holding G Brasil Participações S.A., vem se firmando no mercado com serviços e produtos necessários à implementação de projetos automotivos, e não pára de receber investimentos para expansão nas áreas de ferramentaria, estamparia e modelagem. A visão do grupo, aliás, é de que competitividade e inovação estão diretamente ligadas e, para inovar, a empresa deve incentivar a criatividade de seus colaboradores. A empresa, fundada em 1960, tornou-se um dos grandes marcos da indústria automotiva por seu pioneirismo nos veículos esportivos e na área de ferramentaria. Case constante de inovação, em 1962 foi responsável pelo desembarque de forte tecnologia alemã na área de desenvolvimento e produção de ferramentas para as montadoras, algo que movimentou definitivamente o setor. (CC) MAIO 2011 | INOVA

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SAAB inaugura Centro de Pesquisa em SÃO BERNARDO

Centro de Pesquisa da Saab, localizado na Av. Imperador Pedro II, 354, no bairro de Nova Petrópolis, em São Bernardo

O centro de pesquisas aeroespaciais da indústria sueca Saab, que disputa a licitação da compra de 36 caças supersônicos para a renovação da frota da FAB (Força Aérea Brasileira), funcionará em um prédio localizado na bairro Nova Petrópolis, em São Bernardo, São Paulo. A inauguração do complexo está agendada para ocorrer na terceira semana de maio. O evento deve contar com a presença de autoridades da Suécia, do município, de executivos da Saab e representantes de empresas e universidades da Região. De acordo com o diretor-geral da Saab no Brasil, Bengt Janér, a unidade de pesquisa irá funcionar em dois andares do edifício e a fase de acabamento das salas já foi iniciada. Janér destacou também que a empresa iniciou o processo de seleção para contratar um executivo brasileiro para fazer parte do centro. “Atualmente contamos com o nosso diretor da unidade, Magnus Ahlström, mas acreditamos também que é preciso ter um executivo brasileiro atuando no complexo”, disse. Um dos projetos programados da unidade de pesquisas sueco-brasileiro irá desenvolver o mapeamento tridimensional de São Bernardo, com o objetivo de identificar áreas de risco da cidade e regiões que apresentam problemas de planejamento urbano. Para isso, deverá ser aberto um canal de comunicação com a população que concentrará informações de áreas que apresentam problemas urbanos. O centro de pesquisa da Saab trabalhará também na implantação de um sistema de sensores para a detecção da qualidade da água da represa Billings, que é distribuída para a cidade. De acordo com os executivos da Saab, o planejamento e os estudos do projeto devem ser realizados ainda em maio deste ano. A instalação dos sensores está prevista para 2012. (FR)

Mudança Climática será tema da SNCT 2011

Finep executará R$ 1,75 bi do PSI no primeiro semestre

Petrobras é 2ª empresa mais lucrativa das Américas

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2011 (SNCT), maior evento de divulgação científica do País, terá como temas centrais Mudanças Climáticas, Desastres Naturais e Prevenção de Risco. A pauta foi escolhida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), responsável pela coordenação nacional da SNCT, após receber sugestões e consultar instituições e entidades parceiras. O evento será realizado entre 17 e 23 de outubro, em todo o País.

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) anunciou que pretende contratar cerca de 120 projetos, até julho, para executar R$ 1,75 bilhão provenientes do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Os projetos podem ser de diversas áreas, como energia, saúde, tecnologia da informação, biodiversidade e aeroespacial. O valor mínimo de solicitação de crédito é estipulado em R$ 1 milhão. Os recursos serão aplicados por meio do Programa Inova Brasil, voltado a médias e grandes empresas.

A Petrobras, que no ano passado apresentou lucro líquido de US$ 21,1 bilhões, ficou com a segunda posição, entre as 20 empresas de capital aberto mais lucrativas da América Latina e dos Estados Unidos em 2010. O ranking foi divulgado pela Economatica. A empresa mais lucrativa em 2010 foi a Exxon Móbil, com lucro de US$ 30,5 bilhões. A Vale que, em 2009, era a 27ª colocada, pulou em 2010 para a sexta colocação, com lucro de US$ 18 bilhões.

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FOTOS: AMANDA PEROBELLI

notas


programe-se MAIO 17 a 30 de maio|CICI Cidades Inovadoras|A Conferência Internacional de Cidades Inovadoras reúne palestras e eventos. Local: CIETEP, Jardim Botânico, Curitiba, PR. Mais Informações: www.cidadesinovadoras.org.br/cici2011

IBGE: maior inovação nas estatais Entre 2006 e 2008, as empresas estatais federais promoveram mais inovações do que as companhias privadas. Praticamente sete em cada dez empresas públicas criaram algum produto ou processo nesse período, segundo a Pesquisa de Inovação nas Empresas Estatais Federais 2008, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as empresas privadas, a relação cai para quatro em cada dezena. “O grande diferencial é que as empresas, sobretudo as industriais, promovem a inovação baseada na compra de máquinas e equipamentos. Já nas estatais federais, o padrão de inovação é voltado para pesquisa e desenvolvimento dentro da própria empresa e, também, a arranjos cooperativos com universidades”, afirma Fernanda Vilhena, gerente do IBGE. A pesquisa destacou que o apoio do governo, por meio de bolsas de fundações de amparo à pesquisa e dos incentivos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), impulsionou as inovações nas estatais. * Com informações de Thais Leitão, da Agência Brasil

Foxconn investirá US$ 12 bi para produzir iPads no Brasil Depois de muita especulação sobre a fabricação de produtos da Apple no Brasil, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que a empresa chinesa Foxconn irá começar a montar no Brasil o tablet iPad até novembro. Para isso, estima investimentos de US$ 12 bilhões em até cinco anos no País e a contratação de 100 mil funcionários, sendo cerca de 20 mil engenheiros e 15 mil técnicos. A versão brasileira do tablet deverá custar menos de R$ 1 mil.

24 a 25 de maio|CSI Brazil 2011|A Conferência e Feira de Exposição da Indústria de Segurança da Informação oferece aos profissionais brasileiros palestras de especialistas e troca de experiências. O evento será uma reprodução de um outro que acontece nos Estados Unidos há mais de 30 anos. Local: São Paulo, SP Mais informações: www.csibrazil.com.br 25 a 27 de maio|INOVABRASIL 2011|A 2ª Feira Empresarial de Incubadoras e Parques Tecnológicos conta com expositores de diversos setores e apresenta serviços e produtos desenvolvidos em incubadoras de empresas e parques. Local: Biblioteca Central da Unicamp, Campinas, SP. Mais Informações: www.redeincubadorassp.org.br 26 a 27 de maio|SIPPI 2011|O Seminário Internacional de Políticas Públicas Integradas propõe estimular a reflexão de pesquisadores, especialistas, estudantes e público em geral mediante apresentação dos resultados das pesquisas e experiências no campo das políticas públicas. Local: Universidade Metodista de São Paulo, Auditório Capa, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, SP. Mais Informações: www.cidadesinovadoras.org.br/cici2011

Inbra investirá em expansão regional O presidente do grupo Inbra Aerospace, Jairo Cândido, anunciou investimentos de US$15 milhões nos próximos 20 meses para abertura de uma nova unidade da empresa, em São Bernardo do Campo, complementar à planta de Mauá. A empresa deverá passar a fabricar partes dos caças supersônicos da Saab. Além da expansão da infraestrutura, deverão ser gerados aproximadamente 150 novos empregos. De acordo com o executivo, as tecnologias utilizadas serão 100% nacionais. “A indústria nacional está cada vez mais forte e acredito que a iniciativa dos suecos vai mostrar que as empresas do ABCD possuem competência para atuar em grandes projetos”, disse. Cândido afirmou ainda que a sede de Mauá já iniciou a produção de alguns itens que serão fabricados em São Bernardo. “Temos um contrato com a Saab para quatro protótipos, sendo assim já estamos produzindo algumas partes que serão utilizadas, mas quando mudarmos para a nova unidade devemos ampliar a fabricação dos produtos”, reforçou. “Acredito que será muito positiva a instalação dessa indústria. Nosso objetivo é cada vez mais atuar no setor de defesa e a chegada desse investimento mostra o resultado do trabalho que estamos fazendo para fortalecer o setor na Região”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Jefferson da Conceição. (FR)

À esquerda, Jefferson da Conceição, secretário do Desenvolvimento Econômico de São Bernardo e à direita, Jairo Cândido, Presidente do Grupo Inbra Aeroespace: setores público e privado unidos para fortalecer indústria aeroespacial Regional


a ilha da

inovação O Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, está recebendo grandes investimentos e promete reunir o que há de melhor em matéria de tecnologia no Brasil

Caminhões Sinotruk: em condições de disputar espaço na frota nacional

FOTOS: DIVULGAÇÃO

especial ilha da inovação


Maurício Thuswohl

mauricio@abcdmaior.com.br

proximidade com as reservas do pré-sal, aliada à vocação histórica para a pesquisa e a inovação, desenvolvida a partir do estabelecimento em seu território de instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Petrobras, começa a transformar a Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, em um dos maiores clusters tecnológicos do Brasil. Surfando uma onda de investimentos que deve atingir o montante de R$ 500 milhões até 2014, o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro, localizado na ilha, atrai cada vez mais empresas de ponta – as últimas a anunciarem sua chegada foram Usiminas e General Electric – e já negocia uma expansão que deve ter início em 2012. Instalado dentro do campus da UFRJ, o Parque Tecnológico do Rio está situado em um terreno de 350 mil metros quadrados e tem como objetivo abrigar empresas de setores intensivos em conhecimento, com prioridade para as áreas de energia, meio ambiente e tecnologia da informação. A força atrativa do pré-sal, entretanto, já faz com que o Parque comece a adquirir um perfil de vanguarda tecnológica na área de petróleo e gás. Além da Petrobras, que mantém no Fundão seu moderno Centro de Pesquisas (Cenpes), empresas como a francesa Schlumberger e as norte-americanas Halliburton, FMC e Baker Huges, entre outras, desenvolverão no Parque estudos voltados ao setor. Atualmente, cerca de 80% do território do Parque do Rio está ocupado. A UFRJ abriu em março licitação para alugar, por 20 anos, os últimos três terrenos livres, cada um com quatro mil metros quadrados. Quatro empresas – British Gas, Siemens, EMC e Vallourec & Mannesmann – fazem parte da concorrência e apresentaram projetos para a construção de centros de pesquisa. Na última semana de abril, foi publicado o resultado da habilitação das empresas, e o resultado final da licitação será divulgado na primeira quinzena de maio. A estimativa da direção do Parque é que, quando todos os 350 mil metros quadrados estiverem ocupados, cerca de 200 empresas estejam instaladas no Fundão, gerando cerca de cinco mil postos de trabalho para pessoal altamente qualificado. “O Parque vem tendo um desenvolvimento extremamente acelerado nos últimos dois anos. Nossa prioridade em 2011 é, de um lado, garantir o espaço para as pequenas empresas e, de outro, garantir futuras possibilidades de ampliação do Parque. Estamos discutindo novas áreas nas proximidades do campus que possam ser utilizadas para atender a essa demanda que continua chegando. Nós temos uma fila de espera de empresas importantes que querem se instalar no Fundão”, afirma

o diretor do Parque do Rio, Maurício Guedes. O governo estadual e a Prefeitura do Rio já estudam para o ano que vem a aquisição da Ilha do Bom Jesus, que tem duzentos mil metros quadrados e fica ao lado da Ilha do Fundão, para efetivar um novo ciclo de expansão do Parque. As negociações com o Exército, proprietário da ilha onde atualmente funciona uma vila militar, estão sendo conduzidas pessoalmente pelo governador Sérgio Cabral. Já manifestaram interesse em ocupar terrenos em uma eventual expansão empresas como Braskem, Dow Chemical, White Martins, Nalco e L’Oréal, entre outras.

Complementaridade: um dos trunfos Guedes aponta a possibilidade de interação entre atores diversos e complementares como um dos trunfos do Parque do Rio: “A inovação tecnológica hoje é feita não apenas por grandes empresas, mas por cadeias produtivas, por conjuntos de entidades que incluem grandes empresas, pequenas empresas, universidades, centros de pesquisa. Existem startups que são criadas a partir da própria atividade de pesquisa, e é este ecossistema que a gente está criando no Parque da UFRJ”. Outra característica fundamental do Parque do Rio é a presença de alguns dos mais importantes centros de pesquisa tecnológica do País. Além do Cenpes da Petrobras, lá estão instalados o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), o Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel) e o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem). Outros dois laboratórios de pesquisa da Coppe/ UFRJ também estão no Parque, um voltado à energia e outro à tecnologia oceânica. A Coppe/UFRJ, em parceria com a seção fluminense do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), coordena dentro do Parque do Rio uma incubadora de empresas de base tecnológica que oferece três anos de infraestrutura e assistência integral, além da possibilidade de uma subvenção econômica de R$ 120 mil para microempresas iniciantes. Até o fim do ano, será finalizado o estudo para a viabilização de um outro projeto, a Torre da Inovação, estimado em R$ 150 milhões e que deverá abrigar uma centena de novas empresas.. O diretor do Parque prevê um futuro de sucesso para o cluster tecnológico da Ilha do Fundão: “O Brasil e o Rio de Janeiro entraram no radar do mundo. Essa oportunidade de ter uma grande universidade unida a uma grande empresa âncora – no nosso caso, a Petrobras, com seu centro de pesquisas – e os desafios do présal fazem com que seja extremamente atraente a possibilidade de instalar um centro de pesquisas no nosso Parque”, diz Guedes.

A inovação tecnológica hoje é feita não apenas por grandes empresas, mas por cadeias produtivas, por conjuntos de entidades que incluem grandes empresas, pequenas empresas, universidades, centros de pesquisa. Existem startups que são criadas a partir da própria atividade de pesquisa e é esse ecossistema que a gente está criando no Parque da UFRJ”. Maurício Guedes, Diretor do Parque Tecnológico da UFRJ


especial ilha da inovação

O cluster do setor de petróleo que começa a se formar no Rio e as possibilidades de interação entre as empresas, universidade e centros de pesquisas dão origem ao que especialistas norteamericanos chamam de Vale da Energia

Indústria de Petróleo e Gás pode criar “Vale da Energia” A previsão é que o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro terá para a indústria de óleo e gás o mesmo peso e significado que o Vale do Silício tem, nos EUA, para a indústria de informática O estado do Texas, nos Estados Unidos, é a capital tecnológica mundial da indústria de petróleo e gás, certo? Sim, mas talvez não por muito tempo, no que depender da opinião de um dos mais prestigiados jornais texanos, o Houston Chronicle. Em reportagem especial sobre o Rio de Janeiro, alerta que a cidade, graças à proximidade com áreas de exploração e produção do pré-sal, está prestes a se tornar a principal rival das cidades texanas no desenvolvimento de tecnologia de ponta para o setor. A matéria afirma que, em breve, o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro terá para a indústria de óleo e gás o mesmo peso e significado que tem o Vale do Silício (Silicon Valley), nos EUA, para a indústria de informática. O cluster do setor de petróleo que começa a se formar no Rio e as possibilidades de interação direta entre empresas, universidades e centros de pesquisa fazem com que os analistas norte-americanos qualifiquem a ilha como “Energy Valley (Vale da Energia).” Nos últimos dois anos, expressivas empresas transnacionais de origem norte-americana, como Halliburton, Tenaris Confab, FMC Technologies, Baker Hughes e General Electric (GE), anunciaram sua chegada ao Parque do Rio, para projetos e pesquisas ligados ao présal. Completa o time a francesa Schlumberger, maior empresa mundial em serviços para o setor de petróleo e gás. A Halliburton e a Tenaris Confab assinaram, em dezembro do ano passado, contratos para instalação no Parque do Rio. Famosa por sua participação na “reconstrução” do Iraque, a Halliburton investirá cerca de R$ 26 milhões em um centro de pesquisas que terá suas obras concluídas no final de 2012. As pesquisas terão

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Aos poucos, as principais empresas chinesas do setor do petróleo vão marcando presença no Pré-sal, mesmo sem participar de leilões promovidos pela Agência Nacional de Petróleo. A porta de entrada para essas empresas é a parceria com o grupo do empresário Eike Batista

como foco a análise e o monitoramento da produtividade de reservatórios de petróleo e gás e a construção e complementação de poços. Para o pré-sal, serão realizados projetos para o desenvolvimento de softwares para visualização e monitoramento dos poços. Líder na América Latina na produção e fornecimento de tubos de aço soldados para o setor de energia, a Tenaris Confab pretende desenvolver no Rio novas tecnologias para soldagem de tubos de grande diâmetro e estudos para novos revestimentos metálicos de polímeros em tubos e brocas de perfuração. Seu centro de pesquisas, que terá investimentos de R$36 milhões, também realizará trabalhos voltados aos setores nuclear, automobilístico, de mineração e de construção civil.

Tecnologias para o pré-sal A primeira grande empresa dos EUA a confirmar sua chegada ao Parque do Rio foi a Baker Hughes, que em julho de 2009 assinou com a Petrobras um acordo de cooperação para o desenvolvimento de softwares para controlar processos de elevação e de


Agência Petrobrás de Notícias

Com seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que já ganhou uma segunda unidade, a Petrobras tem contribuído para atrair novos empreendimentos de óleo e gás ao Parque Tecnológico do Rio de Janeiro

escoamento de petróleo nos poços do présal. As duas empresas se uniram para criar o Centro de Tecnologias do Rio, que conta atualmente com a participação de instituições como a UFRJ, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), a Unicamp e a PUC-RJ. A Baker Hughes deve investir nessa iniciativa R$ 56 milhões até 2013, com contrapartida de R$ 32 milhões da Petrobras. A maior área ocupada por uma empresa dos EUA no Parque do Rio é a da FMC Technologies, que está construindo seu Centro de Tecnologia em terreno de 20 mil metros quadrados para desenvolver soluções tecnológicas submarinas para o pré-sal. Este será o primeiro centro de pesquisas da FMC no Brasil, com investimentos previstos em cerca de R$ 60 milhões em três anos, e deverá empregar 300 engenheiros altamente qualificados. A maior empresa prestadora de serviços para a indústria de petróleo do mundo também está no Parque do Rio. A Schlumberger, presente em 80 países, inaugurou em novembro do ano passado o primeiro centro de pesquisas de uma empresa estrangeira do setor no Brasil, com investimentos anunciados de US$ 48 milhões. “Temos outros qua-

tro centros de pesquisas em todo o mundo, mas a grande especificidade das características do pré-sal brasileiro exige que façamos pesquisa básica no Rio, em parceria com a Petrobras, com a UFRJ e com outras empresas”, afirma o presidente mundial da Schlumberger, Andrew Gould.

Atuação fundamental A Petrobras, por meio de seu Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), faz parte da gênese tecnológica da Ilha do Fundão e tem agora no Parque sua principal plataforma de atuação no que se refere ao desenvolvimento de tecnologias para o pré-sal Uma segunda unidade do Cenpes foi inaugurada no ano passado, com novos 137 laboratórios e 30 unidades-piloto, em sua maioria dedicados a pesquisas relativas ao pré-sal. Os principais focos das pesquisas são a análise geológica e sísmica dos poços e o desenvolvimento de softwares para gestão e monitoramento remoto dos poços e plataformas. “Está sendo criado na Ilha do Fundão um cluster interessantíssimo do setor de óleo e

gás. A Petrobras, por sua posição de liderança e vanguarda, tem muito a contribuir para o processo de integração e cooperação entre as pesquisas aqui desenvolvidas, como também na construção da capacidade local”, afirma o diretor executivo do Cenpes, Carlos Tadeu Fraga. O Centro de Tecnologia Usiminas, que está em construção, ocupará uma área de 3,6 mil metros quadrados no Parque do Rio e terá investimentos de R$20 milhões. A empresa, que tem na siderurgia seu principal ramo de atuação, definiu a estratégia de consolidar sua posição como uma das principais fornecedoras do pré-sal: “Queremos agregar valor a todos os movimentos de desenvolvimento do País. Por isso, a Usiminas está atenta à cadeia naval e ao pré-sal”, diz Sérgio Leite, vice-presidente de Negócios. Para o diretor do Parque do Rio, Maurício Guedes, a projeção feita pelo jornal texano não é exagerada: “O Brasil será, em um horizonte de 10 ou 20 anos, o grande polo mundial desenvolvedor de tecnologia para o setor de petróleo e gás natural. (MT)

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

especial ilha da inovação

GE investe US$100 mi em centro de pesquisas Proximidade com áreas de exploração e produção do pré-sal, interação com outros centros de pesquisa e benefícios fiscais determinaram a escolha pelo Parque Tecnológico do Rio de Janeiro O quinto Centro de Pesquisas Global da empresa norte-americana General Electric (GE) começará a funcionar ano que vem no Parque Tecnológico do Rio de Janeiro. O novo centro da GE na Ilha do Fundão, que só tem equivalentes nos Estados Unidos, na Alemanha, na China e na Índia, receberá investimentos diretos de US$ 100 milhões e deverá proporcionar trabalho para cerca de mil pessoas, sendo 200 pesquisadores e engenheiros com alta qualificação nas áreas de petróleo e gás, aviação, energia, transporte, saúde e tecnologia da informação.

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Confirmada em fevereiro, após intensa disputa com outras cidades que tem longa tradição em pesquisa e tecnologia, como Campinas, São Paulo, Belo Horizonte e São José dos Campos, a ida do Centro de Pesquisas da GE para o Parque do Rio deve-se à proximidade com as áreas de exploração e produção do pré-sal e também à possibilidade de interação com outros centros de pesquisa ligados a universidades ou outras empresas: “É evidente que a concentração das atividades do pré-sal no Rio de Janeiro pesou, mas isso não foi um fator decisivo. Também pesaram a presença das universidades, a infraestrutura do Parque e a proximidade com as empresas clientes”, diz o presidente da GE no Brasil, João Geraldo Ferreira.

Benefícios fiscais Além desses fatores, a Prefeitura do Rio deu sua contribuição à chegada da GE à cidade ao ceder o terreno no Fundão para a empresa por 50 anos e reduzir a tarifa do ISS de 5% para o mínimo constitucional de 2%. O Governo do Estado, por sua vez, já garantiu que dará isenção de ICMS para as atividades desenvolvidas no Centro de Pesquisas da GE: “Inovação e desenvolvimento tecnológico sempre foram vocações econômicas do Rio. Essa conquista ajuda a

cidade a se consolidar como um dos principais polos de tecnologia, não só do Brasil, mas da América do Sul”, comemora o prefeito Eduardo Paes. A confirmação oficial da instalação da nova unidade da empresa no País foi feita em Brasília, com a presença da presidente Dilma Rousseff, dos ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e do diretorexecutivo da GE internacional, o norteamericano Jeffrey Immelt: “O Brasil é um de nossos parceiros mais importantes em todo o mundo”, disse Immelt. Em 2010, o faturamento da GE no Brasil foi de US$ 2,6 bilhões, e a expectativa da empresa, segundo seu presidente, é de um aumento de cerca de 30% em 2011. A direção da GE anunciou também que irá investir US$ 200 milhões em projetos diversos nas áreas de saúde, transporte e tecnologia da informação, que resultarão na expansão da capacidade produtiva em suas unidades GE Healthcare e GE Transportation, ambas localizadas em Contagem (MG), e GE Aviation, localizada em Petrópolis (RJ). Outros R$ 200 milhões terão aplicação concentrada em projetos ligados à cadeia energética, em especial no que se refere a petróleo e gás, área considerada


Maquete do Centro de Pesquisas da GE, que vai gerar cerca de mil empregos, 200 deles para profissionais altamente qualificados

prioritária pela empresa. Entre os projetos previstos nessa área está a criação do Centro de Qualificação Global da GE, que funcionará junto ao Centro de Pesquisas Global no Parque do Rio e terá como foco a capacitação profissional e o desenvolvimento do capital humano da empresa.

Brasil protagonista Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente-geral da área de Petróleo e Gás da GE, Claudi Santiago, não escondeu seu otimismo: “O Brasil poderá se transformar em um dos centros mundiais de desenvolvimento do setor de óleo e gás e, consequentemente, em exportador de tecnologia. A GE poderá cumprir um papel fundamental nesse processo”, disse. Santiago aponta possíveis novos caminhos de pesquisa: “O setor de óleo e gás será menos mecânico e mais eletrônico, as plataformas terão de ser mais inteligentes. Podemos desenvolver isso no Brasil, como, por exemplo, o gerenciamento remoto de plataformas por satélite e a criação de caixas-pretas – como as dos aviões – para esses equipamentos.”

As obras do Centro de Pesquisas da GE no Parque do Rio começam em junho, e sua entrada em funcionamento está prevista para o quarto trimestre do ano que vem. O espaço total, já incluindo o Centro de Qualificação Global, é de treze mil metros quadrados, e será ocupado por alas destinadas aos laboratórios e aos escritórios, além de um auditório e demais unidades de conferência. “O Centro de Pesquisas no Brasil será muito importante para nossa estratégia de acelerar a velocidade das inovações”, avalia o vice-presidente da GE e diretor do centro, Mark Little. O executivo afirma que o Brasil “apresenta uma grande oportunidade de crescimento e aumento do trabalho colaborativo” com os clientes da GE em toda a América do Sul: “Na última década, nosso Centro de Pesquisas Global expandiu suas operações nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. Isso permitiu que nossos pesquisadores pudessem trabalhar de forma mais efetiva e compartilhada com os nossos clientes e com os nossos cientistas em todo o mundo para acelerar a velocidade das inovações. Agora, conseguiremos isso também a partir do Brasil.”

É evidente que a concentração das atividades do pré-sal no Rio de Janeiro pesou, mas isto não foi um fator decisivo. Também pesaram a presença das universidades, a infraestrutura do Parque e a proximidade com as empresas clientes” João Geraldo Ferreira, presidente da GE no Brasil

Centro de Pesquisas Global Conhecido pela sigla em inglês GRC (Global Research Center), o primeiro Centro de Pesquisas Global da GE foi criado na primeira década do século XX na cidade de Niskayuna, no estado de Nova York (EUA), servindo desde então como principal plataforma de inovação e de solução de problemas tecnológicos para a empresa. Atualmente, após se expandir para Alemanha, China e Índia, o GRC da GE é considerado pelos analistas de mercado como um dos mais avançados e diversificados parques de pesquisa industrial de todo o mundo. As pesquisas de ponta desenvolvidas atualmente pela GE nesses centros abrangem áreas como geração de energia, propulsão de aeronaves, tecnologias de iluminação e diagnóstico por imagens, entre outras. (MT)

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especial ilha da inovação

Cem pequenas empresas, de segmentos variados, deverão ocupar um só edifício, para prestar serviços ou integrar a cadeia de atividades dos centros de pesquisa Uma parceria entre o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ) está por trás do projeto de criação da Torre da Inovação, que abrigará cem novas empresas na Ilha do Fundão, a partir de 2012. O total de investimentos estimados para o projeto é de R$ 150 milhões. Os recursos serão captados junto ao BNDES, após a conclusão dos estudos de viabilização, o que deverá ocorrer até o fim do ano. A ideia é que as empresas na Torre da Inovação se tornem prestadoras de serviços ou façam parte da cadeia de atividades dos cen-

Aloisio Teixeira, reitor da UFRJ, e Cezar Vasquez, diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (SEBRAE RJ) assinam um convênio de cooperação técnica e financeira visando a implementação de pequenas empresas na futura Torre de Inovação do Parque Tecnológico do Rio de Janeiro. Maurício Guedes, diretor do Parque (à direita), participa da cerimônia

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tros de pesquisa instalados no Fundão. Outro objetivo é promover ligação estreita entre a Torre e o processo de desenvolvimento de tecnologia nas unidades da UFRJ ali instaladas, para que as empresas atuem de maneira complementar à universidade. Nesse sentido, a direção do Parque do Rio planeja que a maior parte do pessoal altamente qualificado contratado pelas empresas da Torre seja oriundo da UFRJ, em especial engenheiros formados pela Escola Politécnica. “Uma de nossas prioridades para este ano é garantir diversidade em relação ao porte das empresas. Daí a importância extrema desse projeto da Torre da Inovação”, afirma o diretor do Parque, Maurício Guedes. O futuro tecnológico do Parque, segundo ele, passa pelo incentivo aos pequenos: “O modelo que a gente tem com as grandes empresas é o de contrato de concessão de uso dos terrenos por 20 anos, e a própria empresa constrói a sua unidade. Isso, obviamente, não funciona para uma pequena empresa.” O Sebrae-RJ ficará responsável por todo o suporte técnico e consultoria às empresas que se instalarem na Torre de Inovação. Nesta fase inicial, caberá ao órgão realizar os estudos de viabilidade econômica do projeto, tais como análises de mercado e

mapeamentos de empresas representativas de setores relativos ao Parque do Rio.

Incubadora de empresas O incentivo a novas empresas ocorre com sucesso há algum tempo na Ilha do Fundão. Desde 1994, funciona na Cidade Universitária a Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, gerida pela Fundação Coppetec, que é o escritório de transferência de tecnologia da Coppe. Atualmente, fazem parte da incubadora 15 empresas residentes e 43 graduadas. Em 2006, as empresas reunidas na Incubadora da UFRJ obtiveram um faturamento médio de R$ 67 milhões, o que atesta seu sucesso. Três tipos básicos de suporte são colocados à disposição das empresas que fazem parte da Incubadora. O suporte tecnológico inclui alocação de equipamentos e promoção de cursos e palestras técnicas; o suporte estratégico apóia na elaboração de projetos e na busca por financiamento; e o suporte operacional diz respeito à infraestrutura condominial à disposição das empresas dentro do Parque. Além disso, disponibiliza serviços de assessoria jurídica, de finanças, de marketing e de imprensa.(MT)

Marco Fernandes - SGCOMS/UFRJ

Torre da Inovação é nova aposta do Parque


FOTOS: AMANDA PEROBELLI

telecomunicações

GVT

GVT usa mais fibra ótica em suas redes, o que garante maior qualidade nos serviços

fibra ótica muda perfil de São bernardo GVT escolhe a cidade para implementar nova concepção de telecomunicação Felipe Rodrigues

felipe@abcdmaior.com.br

té o fim do primeiro semestre, o município irá contar com uma série novidades no campo das inovações tecnológicas: a chegada da operadora de telecomunicações Global Village Telecom (GVT), a inauguração de um centro de pesquisas aeroespaciais da indústria de defesa sueca Saab (veja na página 10) e também o início da produção de radares pelo Grupo Thales, líder mundial em eletrônica e sistemas, por meio da sua unidade brasileira, a Omnisys. “O principal objetivo da cidade é atrair novos investimentos e nos últimos meses estamos conquistando muitos resultados positivos”, frisa Ronaldo Tadeu, secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo. O investimento parcial feito pela GVT na Região é estimado em R$ 80 milhões, mas a expectativa é de que o valor total possa chegar à casa dos R$ 130 milhões. Até o momento, cerca de 40% do território de São Bernardo já são atendidos pela empresa, percentual semelhante à vizinha Santo André. A GVT vai disputar o mercado regional dominado pela Net e pela Telefônica e já estuda disponibilizar internet com velocidade de 35 Mbps (Megabits por segundo) por menos de R$ 100 por mês.

Tecnologia é arma na luta por clientes O diretor da ACOPLA (Assessoria, Consultoria e Planejamentos de Telecomunicações), Javier Cavaz, lembra que Telefônica, NET e GVT já ‘brigam’ em outros Estados. “Cada vez mais as empresas investirão em tecnologia para atrair mais clientes. Algumas delas já iniciaram a implantação de fibra óptica para que a rede fique mais estável. Outras investiram para oferecer vários serviços por meio de um único cabo”, ressalta. Além de oferecer preços mais acessíveis, a GVT se destaca pelo fato de utilizar cabo de cobre apenas num trecho de 500 metros e no resto do traçado a fibra óptica é aplicada integralmente. Já as operadoras concorrentes chegam a utilizar o cabo em distâncias que podem chegar até quatro quilômetros.

Muitas vezes, as empresas optam por utilizar o cabo, mas com o passar do tempo ele vai enferrujando e acaba gerando mais gastos com manutenção. Já a fibra, embora seja uma tecnologia com preços elevados, acaba compensando pelo fato de ser mais resistente”, pondera. De acordo com o diretor de marketing e produtos da GVT, Ricardo Sanfelice, o lançamento comercial da empresa no ABCD está programado para ocorrer no final do primeiro semestre. “Estamos implantando a nossa rede na Região. São Bernardo e Santo André são duas cidades de muita importância e o nosso objetivo é oferecer produtos de qualidade e com preços mais acessíveis aos consumidores do ABCD”, destaca

Mais fibra ótica, mais qualidade nos serviços O professor de engenharia elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Marcelo Motta, destaca que a utilização da fibra óptica possibilita transporte mais rápido das informações e reduz possibilidade de danos à rede. “O serviço fica muito mais eficiente com fibra óptica.

Ricardo Sanfelice, diretor de Marketing e Produtos da GVT: mais qualidade por menor preço


aeronáutica

defesa

parque tecnológico em fase de expansão Empreendimento localizado em São José dos Campos, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, vem se firmando como polo de excelência tecnológica undado há três anos, o Parque Tecnológico de São José dos Campos faz parte do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, criado pelo Governo de São Paulo, em 2006. Em terreno localizado às margens da Via Dutra, com área total de 25 milhões de metros quadrados, o Parque inicia sua expansão, agregando, nos próximos anos mais 12,5 milhões de metros quadrados. O processo é coordenado pela Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos, figura jurídica sem fins lucrativos, que firmou contrato de gestão com a Prefeitura de São José dos Campos. Diretor-geral do Parque, José Raimundo Coelho explica que o desenvolvimento estratégico do Parque foi imaginado em três eta-

LUCIANO COCA

José Raimundo Coellho, diretor do Parque, quer a indústria da Defesa indentificada com a parte da inteligência

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pas: estruturação, expansão e consolidação: “Estamos no estágio um e meio. Durante três anos, instalamos os elementos fundamentais, que são os centros de desenvolvimento tecnológico e alguns institutos de pesquisa ligados às universidades. Terminamos de construir o primeiro centro empresarial e estamos colocando lá 26 pequenas e médias empresas”, relata. A próxima expansão, de um milhão de metros quadrados em uma área privada adjacente ao Parque, já tem, segundo Coelho, cerca de 80% de ocupação garantida. Em um momento em que o Brasil fala em aumentar seu poderio de vigilância e defesa e sua capacidade aeronáutica para proteger riquezas, como o pré-sal, ou garantir a segurança de eventos de massa, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, um dos objetivos do Parque é atender a essas necessidades com tecnologia de ponta. “ Estivemos três vezes com o ministro Nélson Jobim – que, inclusive, já visitou o Parque – sobre a possibilidade e as oportunidades que têm as empresas de São José dos Campos e região de participar do programa que está sendo desenhado pelo Ministério da Defesa para o setor”, afirma Coelho.

Defesa inteligente O diretor-geral do Parque acredita que o Brasil pode imprimir estilo próprio a sua indústria de defesa, com a ajuda de São José dos Campos: “O Parque foi criado para

atender aos setores aeroespacial e de defesa. Nada se faz, entretanto, por decreto. A gente faz as coisas ou por oportunidade ou por necessidade. Nós estamos aguardando com muita fé que essas oportunidades para a região surjam agora para o renascimento da indústria de defesa inteligente. Não a indústria de defesa de armamentos, mas a indústria de defesa mais relacionada e identificada com a parte de inteligência”, argumenta. Diversas empresas estão situadas atualmente no Parque Há quatro centros de desenvolvimento tecnológico, onde estão as empresas-âncora (Embraer, Sabesp, SPDM e VSE), que desenvolvem projetos de pesquisa e inovação. Vinte e seis empresas de médio e pequeno porte fazem parte do Centro Empresarial I, e o Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi) funciona como incubadora para outras onze empresas. Também estão sediadas no Parque, mas em terrenos próprios, unidades da Embraer, Ericsson e Parker Haniffin. Algumas ocupantes do Centro Empresarial I já começam a colher os frutos do crescimento. É o caso da Flight Technologies, fundada em 2005 e primeira empresa a sair da incubadora de negócios do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que logo depois se instalou no Parque. “Nesses seis anos, a empresa vem tendo um crescimento orgânico interessante como resultado de inovação tecnológica e investimento em ciência e tecnologia e de con-


Arnaldo Kikuti

Aeronáutica no DNA Outro exemplo de empresa situada no Centro Empresarial I com uma trajetória interessante é a AirMod, que surgiu há apenas dois anos, mas carrega em seu DNA um grande conhecimento sobre a área aeronáutica, já que seus três sócios são ex-funcionários da Embraer. Também iniciada em uma incubadora tecnológica – desta vez na Universidade do Vale do Paraíba (Univap) – a empresa participou de um processo de seleção para se estabelecer no Parque. “Dentro de um mês,

assim que acabarem as obras, a gente consegue se mudar”, comemora Amaury Acatauassu, chefe executivo da AirMod. Acatauassu vê a presença em São José como fator fundamental para o futuro de sua empresa. “O Parque gera um ambiente bastante propício de negócios na área de tecnologia. Existe a proximidade física com outras empresas, a presença do Cecompi como um organismo promotor da competitividade das empresas e todo o apoio do Parque na parte de capacitação, com um plano para fornecer uma infraestrutura comum que possa ser utilizada pelas empresas de tecnologia como, por exemplo, laboratórios. As pequenas e médias empresas encontram no Parque um ambiente muito propício ao seu crescimento”, diz. A AirMod atua nas áreas de engenharia e projetos, consultoria e serviços de aeronáutica. Na área de engenharia e projetos, trabalha com a Embraer e com empresas de segundo e terceiro níveis de fornecimento, além de engenharia e modificação de aeronaves: “Essa é uma área que tem boa demanda, com serviços como modificação de interior e modernização de aviônicos”, diz Acatauassu. Na área de consultoria, a empresa tem uma rede de colaboradores com conhecimento em diversas áreas, como engenharia de manutenção, aerodinâmica e estruturas, entre outras. Na área de serviços, oferece aos clientes projetos de trabalhos temporários com, por exemplo, engenheiros de campo, técnicos de manutenção e pessoal da linha de fabricação. (MT)

DIVULGAÇÃO

tratos com o Exército e a Aeronáutica. Esses contratos, principalmente na área de sistemas embarcados aviônicos e sistemas não-tripulados, é que geraram esse crescimento orgânico. Em 2011, a Flight Technologies passou a fazer parte do Grupo Sinergy, acompanhando a tendência de grandes conglomerados empresariais para trabalhar em defesa e segurança”, conta Nei Brasil Salis Neto, sócio fundador da empresa. Brasil afirma que a intenção da Flight Technologies é permanecer ali. “Hoje trabalhamos com suporte de engenharia e alguns laboratórios de desenvolvimento. Assim que começarmos a estabelecer atividade industrial, nossa expectativa é continuar no Parque, onde há área e política para isso. O mais importante é o alinhamento estratético de praticamente 100% do Parque com a Flight”

EHDER DE SOUZA

Atualmente, Parque abriga centros de desenvolvimento tecnológico, empresas e institutos de pésquisa ligados à universidade

De cima para baixo, Nei Brasil Salis Neto, sócio fundador da Flight Tecnologies e Amaury Acatauassu, chefe executivo da AirMod: otimismo com o Parque Tecnológico de São José dos Campos

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sustentabilidade

construção civil

Clébio Cavagnolle Cantares clebio@abcdmaior.com.br

O piso do futuro

De baba de cupim a resíduos de lentes de óculos, empresa usa materiais incomuns na

s pisos produzidos pela Concresteel prometem revolucionar o mercado da construção civil, não apenas pela versatilidade, mas pela inovação no material que faz parte de sua composição, basicamente entulho. Na mistura, há itens como baba de cupim sintetizada, que substitui o impermeabilizante e ajuda o barro do entulho a ter resistência, e fibra da cana-de-açúcar, que substitui o polipropileno. Guilherme Castanheira, engenheiro civil por formação e químico por hobby, como gosta de dizer, é a mente por trás dos testes realizados na fábrica sediada em Boituva, interior de São Paulo. “Um dia, estávamos em um restaurante que passava por reforma. Peguei um dos sacos de entulho, triturei e fiz a primeira peça. Não ficou bonita, mas todos acharam impressionante. Aí começamos a estudar o entulho e pesquisar materiais esquisitos e alternativos”, conta o empresário, que testou, durante entrevista à INOVA, um novo processo com resina e resíduos de lentes de óculos. O aspecto lembra quartzo ou granito. Para quem vê a aplicação, não há possibilidade de imaginar que restos de lentes de óculos fazem parte do material. “Cada produto nosso é resultado de testes minuciosos, de erros e acertos”, revela Castanheira. Em um universo repleto de possibilidades, esse “professor Pardal” não se cansa. Depois da criação de um piso que imita grama sintética, produzido à base de pneus triturados, ele avança para um novo material que poderá ser utilizado em playgrounds. “Trata-se de um piso monolítico, ou seja, não é colocado em forma de placas, mas aplicado por inteiro, não deixando qualquer imperfeição. Fica bonito e prático, além de evitar que as crianças se machuquem, já que a superfície é macia”, destaca. Castanheira nunca fica feliz com o primeiro resultado de cada experiência. “Tal como ler um livro e depois assistir a um filme baseado nele, nossa imaginação cria coisas muito mais bonitas do que somos capazes de reproduzir. Esse teste que vocês acompanharam teve um resultado bastante satisfatório,

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mas ainda temos que trabalhar bastante nele, seja para melhorarmos o aspecto final, seja para testarmos sua resistência e produção em série”, diz Castanheira. O processo de produção das placas leva cerca de 24 horas, entre mistura, colocação em formas e o período de cura em câmaras específicas.

Inovação motivada por limitações

Guilherme Castanheira faz teste com resíduos de lentes de óculos. Para inovar a Concrestel verificou quais eram as deficiências e desvantagens dos concorrentes

A inovação dos produtos começou com a busca de deficiências e desvantagens de similares no mercado. “Quando ouvimos as reclamações dos clientes, dos colocadores de piso, dos transportadores, descobrimos o que teríamos de melhorar. No inicio, fizemos materiais verdadeiramente feios, mas precisávamos descobrir quais eram os limites, então fazíamos combinações levando em conta a resistência e agilidade na produção, facilidade de comprar insumos e utilização de materiais não reativos. Depois, começamos a pedir aos arquitetos e clientes que nos dissessem quais eram as cores, os formatos e o acabamento que desejavam. Foram inúmeros erros e acertos para chegarmos ao que, acreditamos, seja do gosto geral”, explica o empresário. Em uma fase aquecida no mercado imobiliário, a produção da Concresteel vem ganhando espaço. Apesar de produzir somente sob demanda, a linha de montagem passa por ampliação a cada semana. “Produzimos no mínimo 1.000 m² por dia, e vendemos exatamente isso diariamente, o que retrata a aceitação do nosso produto”, enfatiza o executivo. “Concreto é o segundo material mais consumido pelo homem, depois da água, e o terceiro material de construção mais antigo da humanidade, depois do vidro e do tijolo. Mesmo assim, não evoluiu tanto quanto deveria nesse tempo. O mundo vem descobrindo que alguns restos de outras produções podem agregar qualidades fantásticas a ele. Um exemplo é a fibra de polipropileno, que utilizamos para que o concreto não trinque depois de assentado, e que originalmente é utilizada na fabricação de cobertores e fraldas descartáveis.. Outra adição indispensá-


FOTOS: AMANDA PEROBELLI

produção de piso sustentável vel para a nossa produção é o plastificante. É com ele que conseguimos resistência na massa de cimento, e é basicamente o mesmo produto usado na composição do papel. Não adianta somente ter criatividade e projetar um material. Procuramos incansavelmente por soluções inovadoras e sempre que possível ouvimos técnicos e fornecedores. Temos hoje uma grande quantidade de colaboradores e parceiros que nos trazem novidades, muitas vezes sem saber exatamente para que servem. Com os testes, acabamos desenvolvendo materiais realmente tecnológicos”, ressalta.

Maior desafio é: “isso não vai dar certo” Nos testes, Castanheira conta com a parceria do químico italiano Alvaro Ambivero e da arquiteta Maria Aparecida Tronnon, que há pouco mais de um ano desembarcaram dos EUA com novas tecnologias e ideias ousadas. “Estamos mesclando conhecimentos e experiências que se tornaram tendência no exterior. São mais de 14 anos de estrada associados, agora, à ousadia da Concresteel”, afirma a arquiteta. “Acho que nosso maior desafio é vencer o ‘isso não vai dar certo’. Muitas vezes, é mais complicado agregar pessoas contribuindo positivamente do que vencer nossos próprios desafios. Nos materiais sustentáveis, foi muito difícil encontrar fornecedores de ‘lixo’ barato. Com o modismo, todos que tem material ecologicamente correto aproveitaram para vender lixo pelo preço de ouro. Ai veio o desafio de produzir algo ecologicamente correto, não esquecendo que para ser sustentável, o produto tem de ser socialmente justo e economicamente viável. Quem procura por esse tipo de material tem um conceito sério na cabeça, e quer um material bom, com uma proposta realmente condizente com o que ele acredita.”, avalia Ambivero. Os projetos da Concresteel são bem cotados no mercado. “A utilização do material traz ganho estético, técnico e estrutural, e claro, tem a questão da sustentabilidade. É um material de ótima qualidade”, afirma a arquiteta Mônica Cappa.

Pelo menos 1.000 m2 de pisos sustentáveis são produzidos e vendidos diariamente

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sustentabilidade

combustíveis

biodiesel: sucesso preocupante Produtores querem ações de curto e longo prazo para manutenção de investimentos A UBRABIO congrega todos os produtores de biodiesel no País. Segundo Moura de Castro, além da iniciativa privada e universidades, como a de Juiz de Fora, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem liderado o processo de desenvolvimento de novos cultivares para utilização comercial no biocombustível. “Já são grandes avanços para uma indústria recente no País”, constata. Para o empresário, não existe uma fórmula perfeita. “O que existe é a mais viável para este ou aquele país. Querer globalizar os conceitos é impossível”, enfatiza. “Muito se tem falado do diesel da cana-de-açúcar, do H-Bio, bioquerosene de aviação e outras alternativas. É certo que grandes inovações tecnológicas ainda surgirão nas próximas décadas para termos um cardápio de alternativas com viabilidade econômica e que se utilizará neste ou naquele país, conforme o contexto regional e importância geopolitica”, avalia.

Ao atingirmos o B5 mister, se faz necessário o estabelecimento de um novo marco regulatório para 2020, um PNPB 2, que alinhe novamente as diretrizes do Estado com os produtores e demais agentes econômicos” MARCO ANTONIO DE MOURA CASTRO, vice presidente da União Brasileira de Biodiesel

DIVULGAÇÃO

mbora tenha registrado avanços surpreendentes em apenas seis anos, o Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB) enfrenta, paradoxalmente, seu pior mal: o sucesso. Essa é a avaliação de Marco Antonio Moura de Castro, vice presidente da União Brasileira do Biodiesel (UBRABIO). “Com capacidade instalada para produção de B10, mistura de 10%, o mercado estagnou no B-5. Dentro deste cenário, o setor precisa se movimentar em ações de curto e longo prazo para manutenção de seus investimentos”, alerta. O Biodiesel é a principal aposta brasileira entre várias iniciativas pela busca de matriz energética ideal em todo o mundo. Embora o processo de produção já seja conhecido, o grande desafio está no desenvolvimento de novas fontes de matérias primas. Pinhão manso, crambe, canola (já consagrada na Europa), girassol, amendoim, palma (já utilizada no Brasil com alguma escala) e algas marinhas são algumas das possibilidades, como relatou a revista INOVA em sua edição de março de 2011.


Agência Petrobrás de Notícias

“O setor precisa se movimentar em ações de curso e longo prazo para manutenção de seus investimentos”. Marco Antonio Moura de Castro, da União Brasileira Um dos desafios agora do Biodiesel, que representa é descobrir novas os produtores matérias primas para a produção de biodiesel

modelo de produção Castro afirma que os avanços do biodiesel não estão apenas no produto, mas no modelo de negócio. “Hoje, há um novo modelo de produção em andamento. Além disso, a qualidade do biodiesel controlada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) tem se mostrado cada vez mais aprimorada. É possível evoluirmos para misturas especificas de utilização em motores estacionários, como é o caso das termoelétricas em regiões remotas (Eletronorte, por exemplo), ou mesmo nas grandes cidades, onde a questão ambiental é critica. Frotas de transportes coletivos poderiam utilizar misturas maiores, tendo redução nas emissões de partículas no ar. Na Europa, principalmente, as frotas automotivas de passeio são, hoje, em grande parte, movidas por motores a diesel, mais baratos, mais econômicos e menos poluentes, com o biodiesel na composição. O Brasil deve caminhar para este modelo, dentro de sua matriz energética”, prevê Castro.

Nova meta para o setor Quando foi lançado, em 2005, o PNPB, com marco regulatório para 2013, permitiu

aos empresários programarem seus investimentos e atividades no setor para que não houvesse descontinuidade de abastecimento e de fomento à produção das matérias primas agrícolas. “Toda a cadeia econômica foi ativada e respondeu de maneira positiva ao chamamento do Governo Federal. Agora, ao atingirmos o B5 mister, se faz necessário o estabelecimento de um novo marco regulatório para 2020, um PNPB 2, que alinhe novamente as diretrizes do Estado com os produtores e demais agentes econômicos”, diz Castro. Para ele, a fixação de nova meta motivaria o desenvolvimento tecnológico, beneficiando famílias de agricultores, além de gerar fonte de energia mais limpa e renovável. “A Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 poderão se constituir de marcos políticos internacionais relevantes com a realização de misturas”, enfatiza o representante da UBRABIO.

Impactos na economia Segundo a ANP, existem no Brasil 69 empresas autorizadas a atuar com o biodiesel. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou estudo sobre os impactos do produto na economia brasileira desde 2005,

quando foi lançado o PNPB, ponderando que houve inclusão social de 103 mil famílias de pequenos agricultores no período; geração de 1,3 milhão de empregos entre a lavoura e os postos de combustíveis; economia de US$ 5,1 bilhões, evitando importação de nove milhões de m³ de óleo diesel; redução da emissão de poluentes na ordem de 57%; e investimentos privados em torno de R$ 4 bilhões em todas as regiões brasileiras. “Com o estabelecimento de um novo marco regulatório, dentro de um horizonte de 10 anos, chegando ao B20, haveria um efeito multiplicador nos setores avaliados pela FGV. Isso quer dizer que uma ação política estruturante alinharia os diversos agentes econômicos, levando a um crescimento com qualidade, desenvolvendo outras oleaginosas, aumentando a diversificação em números absolutos e relativos para mais de três milhões de toneladas, bem como as áreas plantadas em regiões degradadas, elevando a produção de óleos. Experimentaríamos uma movimentação importante e necessária na mobilidade social”, estima. (CC)

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participação na gestão

avanços

NOVAS FORMAS DE

Trabalhadores ocupam posições estratégicas e interferem diretamente nas decisões de empresas: Rosângela Dias rosangela@abcdmaior.com.br

ara reconhecer os papéis inovadores desempenhados hoje pelos trabalhadores no universo das corporações capitalistas é preciso abandonar preconceitos e olhar os sinais que demarcam as novas relações de produção. Um deles é fácil perceber: o patrão tradicional, dono da fábrica, está cada dia mais difícil de encontrar na figura do executivo e do acionista. Mais complexo é entender o que acontece do lado do trabalhador globalizado e seus sindicatos. Uma análise atenciosa para o que vem ocorrendo no universo do próprio trabalhador brasileiro, pode indicar algumas novidades significativas. A Daimler, multinacional alemã que controla a Mercedes Benz, é comandada pelo seu Conselho Administrativo que se reúne anualmente na Alemanha para deliberar as estratégias da empresa. Dos 20 membros que o compõem, dez representam acionistas e dez os seus 271 mil trabalhadores lotados nas 25 fábricas esparramadas ao redor do mundo. Entre os dez representantes dos trabalhadores, está o sindicalista Valter Sanches, 47 anos, geógrafo formado pela USP, que fala fluentemente inglês, espanhol e alemão. Único membro nãoalemão do Conselho da Daimler, Sanches é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos

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os modelos de relação trabalhista desenvolvidos na Europa são resultado do processo histórico, especialmente da Segunda Guerra” Giorgio Romano Schutte, professor de relações internacionais e economia da UFABC

do ABC. Ex-membro do Conselho Mundial de Trabalhadores da Mercedes, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e Secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), conquistou em 2008 o posto no Conselho de Administração da Daimler, depois de ter seu nome sufragado pelo colégio eleitoral de 13 mil trabalhadores alemães. O mandato tem duração de cinco anos e garante ao representante dos trabalhadores participação direta em assembléias como a ocorrida no início de abril, na Alemanha. Entre as decisões do Conselho, Sanches aprovou metas de investimentos e produção para o ano. Ou seja, participou da decisão de contratar 10 mil novos trabalhadores em todo o mundo, inclusive na fábrica da MercedesBenz, em São Bernardo, onde está lotado. Na legislação alemã, as empresas são administradas em sistema de co-gestão, ou seja, os funcionários têm direito a instituir comissões de trabalhadores nos mais diversos segmentos, indústrias, bancos, supermercados, escolas etc. “O fato de eu estar presente nesse conselho nos dá (aos sindicatos) uma enorme vantagem. Não só de conhecer os planos da empresa, evitando que o sindicato só trate das conseqüências de decisões anteriores. Dessa forma podemos, não apenas conhecer antes as intenções, como também temos o poder de interferir e mudar.”, avalia o diretor. Para o professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano Schutte, os modelos de relação trabalhista desenvolvidos na Europa são resultado do processo histórico, especialmente da Segunda Guerra. O docente também enfatiza o atual posicionamento dos sindicatos, especialmente por conta da crise econômica que atinge países como Portugal e Espanha, além da concorrência com a mão-de-obra barata oferecida pela China, que desponta como uma das maiores potências mundiais.


ADMINISTRAR

: desde 2008, um brasileiro tem assento no Conselho de Administração da Daimler. Abraçando publicamente a bandeira da vinculação do negócio à exigência de transferência de tecnologia, Sanches visitou a sueca Saab e a francesa Dassault, duas das indústrias que disputam a concorrência. O objetivo era discutir com as empresas e respectivos sindicatos o potencial de cooperação embutido nestes negócios. Segundo Sanches, para os franceses que produzem o caça Rafale, a interferência dos metalúrgicos brasileiros nesta negociação causou surpresa. “Eles acham que venda é um tema da empresa e que os sindicatos têm de negociar as condições de trabalho, empregos, jornada etc. Só que, na nossa concepção, se você interferir nas vendas, você está trabalhando estas questões com antecedência”, avalia Sanches. Na França, diferente da Alemanha e Sué­ cia, não existe lei específica sobre a participação dos trabalhadores na direção das empresas. Mas há uma legislação de respeito à organização sindical com negociação coletiva obrigatória e com fiscalização do Estado. No caso da Suécia, pelo contrário, os trabalhadores ocupam assento até mesmo na direção executiva das empresas, o que proporciona a participação direta na gestão. “Para nós é um choque cultural, acho que pode existir um meio termo. A função primeira do sindicato é defender os interesses dos trabalhadores. Se para isso precisar interferir na gestão da empresa, tudo bem, mas o que é importante é que os trabalhadores sejam ouvidos e possam ser informados com antecedência dos planos da empresa.”

O fato de eu estar presente nesse conselho nos dá uma enorme vantagem. Não só de conhecer os planos da empresa, evitando que o sindicato só trate das conseqüências de decisões anteriores. Podemos, não apenas conhecer antes as intenções, como também temos o poder de interferir e mudar.” Valter Sanches, dirigente sindical

FOTOS: AMANDA PEROBELLI

“Hoje os sindicatos europeus adotaram uma posição mais defensiva, com uma bandeira de defender direitos que já foram conquistados e de obter acesso às informações, que é a base de qualquer ação sindical. Sem dúvida a crise deu uma renovação aos sindicatos, porque traz uma maior mobilização e a população começa a enxergar o sindicato como um representante direto.” A participação do sindicalista de São Bernardo em conselho administrativo não é fato isolado. Da mesma forma como ocorreu com a Vale do Rio Doce, a Embraer privatizada herdou no seu Conselho de Administração a presença de representação eleita pelos trabalhadores. Claudemir Marques de Almeida, 58, é controlador de qualidade e integra o conselho da empresa há 10 anos. A ministra Miriam Belchior regulamentou a participação de representações de trabalhadores nos conselhos de administração das empresas públicas, com mais de 200 funcionários. A representação dos trabalhadores nos conselhos de empresas privadas brasileiras, no entanto, ainda está longe de virar lei. Mas há propostas de inovações legislativas, como a formulada por Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de avançar no reconhecimento da validade jurídica das negociações realizadas entre comitês sindicais constituídos dentro das empresas e suas respectivas administrações (ver revista INOVA de março/2011). Esse padrão de sindicalismo que galgou espaços como os ocupados por Valter Sanches e Claudemir Marques de Almeida, ambos metalúrgicos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), ainda é localizado. Mas, é bastante forte para interferir em negócios milionários (em torno de R$ 7,5 bilhões) como o da indústria de defesa internacional que disputa a concorrência para fornecimento de caças para Força Aérea Brasileira.

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serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

A sua empresa cresceu? Então é hora de usar o Sebrae Mais: programa para apoiar empresas com mais de dois anos de fundação e em estágio de desenvolvimento avançado Lançado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Sebrae Mais reúne diversas formas de atuação, como consultoria individual, workshops, capacitação, palestras e encontros. Com sua implementação, o Sebrae espera colaborar com empreendedores na implantação de modelos avançados de gestão, na ampliação de redes de contatos, no estímulo à cultura de inovação, na análise dos aspectos fundamentais da gestão financeira e na melhoria do processo de tomada de decisões gerenciais, entre outras estratégias. Em fevereiro deste ano, mais de 40 consultores credenciados na instituição foram preparados para os cursos que integram o Sebrae Mais. “Essas capacitações são importantes para que os profissionais consigam aprimorar a gestão das micro e pequenas empresas, que é o nosso objetivo”, explica a coordenadora nacional do programa, Alessandra Cunha. Segundo Alessandra, devem ser realizados mais dois treinamentos até o fim do primeiro semestre. “A meta do Sebrae é atender 100 mil micro e pequenas empresas neste ano e o Sebrae Mais contribuirá para atingirmos esse resultado”, enfatiza. Conheça as soluções do programa Sebrae Mais nas tabelas ao lado:

Estratégias empresariais Abordam o processo estratégico, análise do negócio e ambiente empresarial. É feito diagnóstico do setor e da empresa para a implementação de um plano de ação em formato de planilha eletrônica. Carga horária e formato: Curso com 36 horas, divididas em cinco encontros, e com pelo menos 11 horas de consultoria por empresa. Duração: 45 dias e acompanhamento por três meses.

Encontros Empresariais Tem como objetivo promover a interação de empresários de um mesmo ou de vários setores, por meio de eventos em que são debatidos temas específicos de interesse do grupo, gerando aprendizado e criação, ou fortalecimento, de redes de relacionamento. Os encontros contam com o suporte de um moderador (figura que estimula a troca de ideias e experiências entre os empresários) de um redator (para registrar todo o aprendizado gerado), além de especialistas convidados. Carga-horária e formato: Cada encontro tem no mínimo 1h30 e no máximo, 2h30 de duração. Podem ser aplicados no mínimo três e no máximo seis encontros por grupo.

Gestão Financeira Solução semi-presencial que utiliza a Internet para interação com o consultor durante o processo de capacitação, realizado na própria empresa. Entre os temas tratados estão: controles financeiros, capital de giro, liquidez, indicadores de desempenho e planejamento orçamentário. A aprendizagem é baseada na prática, de modo que os participantes sejam capazes de: analisar aspectos fundamentais da gestão financeira, para melhorar o processo de tomada de decisões; desenvolver uma gestão financeira eficiente e eficaz; e predispor-se a investir em sua formação técnica e científica, a ter uma atitude de reflexão em todas as ações. Carga-horária e formato: 90 dias, com momentos presenciais e assessoria personalizada pela internet.

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Gestão da Inovação Apresenta conceitos e exemplos de diferentes tipos de inovação, destacando formas para que a pequena empresa também inove constantemente, aumentando sua competitividade. São apresentadas boas práticas que podem levar as empresas a tratar a inovação como elemento do dia a dia. Ao final, é elaborado um conjunto de ações práticas para incentivar o estabelecimento de uma cultura da inovação. Carga Horária e formato: 15 horas de capacitação divididas em cinco encontros e três horas de consultoria por empresa. Duração: 15 dias.

Planejando para Internacionalizar Solução formulada para planejar e implantar o processo de internacionalização de uma pequena empresa, desenvolvida como um passo a passo prático. São abordados conceitos e formas de internacionalização, permitindo compreender as relações entre um pequeno negócio e o mercado global, e a importância do planejamento para a internacionalização, como forma de aumentar a competitividade. Carga-horária e formato: Curso presencial com 16 horas, divididas em quatro encontros, além da assessoria personalizada de três horas por empresa, após o curso. Duração: 15 dias.

Empretec

Gestão da Qualidade Ajuda na implantação de um processo contínuo de gestão da qualidade rumo à excelência, com introdução de novas crenças e atitudes que promovem a satisfação dos clientes e aumento de competitividade. Carga-horária e formato: Palestra de abertura “Compromisso com o êxito”, com duas horas de duração, 96 horas de capacitação presencial e pelo menos 20 horas de consultoria por empresa (cerca de um ano de duração).

Ferramentas de Gestão Avançada Solução inédita do Sebrae para empresas avançadas, promove a implantação de um modelo de gestão baseado em indicadores e metas, bem como acompanha sistematicamente a execução e os resultados. Os empresários praticam o estabelecimento de estratégias para suas empresas, direcionando-as para a tomada de decisões mais assertivas, nas principais áreas funcionais: finanças, marketing, operações/processos e recursos humanos. Carga-horária e formato: 127 horas de consultoria por empresa, 76 horas de workshops, oito horas de encontros empresariais. Total de 211 horas, durante um ano. (disponível somente nas capitais dos Estados: CE, PE, PR, RS, SC e SP)

Mais informações

www.sebrae.com.br

Desenvolvida pela ONU (Organização das Nações Unidas), a solução identifica, estimula e desenvolve o comportamento empreendedor. Através de metodologia vivencial e interativa, com jogos, exercícios e debates, o participante é incentivado a promover mudanças em seu comportamento, aperfeiçoando habilidades de negociação e de gestão, tendo maior segurança nas decisões, melhor planejamento e mais chances de sucesso no seu negócio. Carga-horária e formato: 60 horas de capacitação em seis dias de imersão.

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INTERNACIONAL | energia

O que assusta nas usinas nucleares é a irreversibilidade de seus desastres. A região de Chernobyl está inutilizada para a vida humana por muitas gerações. Ainda não se conhece a extensão temporal do desastre em Fukushima: só se sabe que será grande

flávio Aguiar Escritor e correspondente em Berlim

flavio-aguiar@t-online.de

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o nó nuclear

Sem consenso, desastre na usina de Fuku drama de Fukushima, no Japão, varreu a Europa. Mas se em alguns países teve o porte de uma tsunami, em outros só provocou marolas. Em outros, ainda, presenteou as populações, governos e agências do setor com um nó – sem instruções prontas sobre como desatá-lo. É que o comportamento do público, das agências do setor e dos governos varia muito de país para país, e as vezes guardam distâncias enormes entre si. Na Finlândia, o público está dividido: 48% a favor e 48% contra as usinas nucleares. Mas o governo não. O anterior, do Partido do Centro, derrotado na última eleição, declarou que não desativaria nenhuma das quatro usinas, nem pararia a construção da quinta. O novo governo, que deverá ser formado por uma provável coalizão de social-democratas, do Partido da Coleção Nacional e do Partido dos Verdadei-

ros Finlandeses, de extrema-direita, não parece disposto a mudar de posição a respeito das usinas nucleares, responsáveis por 33% da energia elétrica consumida no país. O mesmo se dá na maioria dos países do antigo Leste europeu, como Hungria, Eslováquia, Eslovênia, Rússia, Bulgária e até Ucrânia, apesar do trauma provocado pelo desastre de Chernobyl, em 1986. Em outros países, a questão ficou embaralhada. No Reino Unido, que tem 19 unidades em operação, o governo autorizou a construção de mais oito. No entanto, o parlamento escocês aprovou uma resolução dizendo que não quer nenhuma delas e deseja um futuro não-nuclear. Na Itália, que havia banido as usinas nucleares por meio de um plebiscito nos anos 90, o governo conservador de Silvio Berlusconi autorizou a retomada. Mas o desastre de Fukushima fez com que decretasse moratória de um ano. Na Alemanha, houve uma reversão dramá-


FOLHAPRESS / REUTERS Usina nuclear de Fukushima mostra vulnerabilidade após terremoto e tsunami

ushima, no Japão, coloca a energia nuclear em discussão por toda a Europa tica de perspectiva. O governo conservador da União Democrata Cristã (CDU, em alemão) e do Partido da Liberdade e da Democracia (FDP) havia autorizado prorrogação da vida útil das 17 usinas no país até 2035 (o prazo anterior era 2021). A catástrofe japonesa provocou congelamento da ideia e reunião recente da chanceler Ângela Merkel com governadores estabeleceu que o futuro do país dispensará, a médio prazo, essas usinas em favor da produção renovável de energia. Caso também complexo é o da Lituânia, que operava dois reatores em Ignalina, de procedência soviética. A União Européia os considerava inseguros e exigiu que fossem fechados para aceitar o país entre seus membros. Isso acabou acontecendo em 2009, apesar da oposição por parte da maioria da população. No entanto, Lituânia, Letônia, Estônia e Polônia acordaram em 2010 a construção de uma nova usina na mesma região, embora com outro nome: Visagina.

Os números e proporções também variam muito de país para país. O caso mais espetacular é o da França, com 58 usinas, que produzem 75% da energia elétrica consumida. Já a Eslovênia tem apenas uma usina, mas que produz 38% da energia disponível. A Rússia tem 32 usinas (cinco delas na Ásia) e mais 11 em construção. Entretanto, a sua produção é semelhante à das 17 em operação na Alemanha. Substituição levaria, pelo menos, 30 anos Em alguns países, o fechamento repentino das usinas nucleares provocaria crises de grandes proporções. Na França, até as ONGs que se mobilizam contra as usinas avaliam que um processo de substituição levaria pelo menos 30 anos. Na Ucrânia (48,6% da energia consumida), Bélgica (51,7%) e Eslováquia (53,5%), haveria um colapso econômico imediato. Mesmo em países onde essa proporção é menor, como na Espanha (17%) ou Holanda

(4%), a paralisação súbita é impensável. Os argumentos a favor das usinas nucleares são variados, mas convergentes. Seus defensores alegam que a produção é relativamente barata, provoca menos danos ao meio ambiente do que as termoelétricas, e facilita a vida dos países com baixo potencial hidrelétrico. A propaganda, feita pelos técnicos da área, ou pelo lobby das empresas comprometidas, dizia que elas podiam resistir a tudo: de terremotos a inundações, de quedas de avião a ataques terroristas. Casos como o de Chernobyl eram atribuídos a falhas técnicas ou humanas de construção e operação, quando não à “ineficiência” própria do regime comunista. No Japão, houve ocultação de informações, pela subestimação do porte da tragédia. Apenas quase um mês depois do terremoto e da tsunami consequente terem provocado o acidente, foi que a Agência Nuclear do Japão reconheceu que ele era de gravidade de nível sete, o máximo, antes só registrado em Chernobyl.

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Se existe um grande consenso de que a Alemanha deve caminhar para um futuro não-nuclear, os problemas começam quando se passa à discussão de quem vai pagar a conta. De um lado, é tudo muito caro, se não se quiser cair no que se chama hoje a “coal renaissance”: a “renascença do carvão”.

Consequências do desastre japonês O desastre mostrou consequências ainda não de todo avaliadas em relação à contaminação de alimentos, da atmosfera, do oceano e também em termos econômicos para o Japão e o mundo inteiro. Para finalizar esse dominó de efeitos em escala crescente, cientistas alertam para o fato de que conhecemos muito mais sobre a estratosfera e o espaço sideral do que sobre o interior da Terra. Apesar disso, muitas vozes continuam se erguendo em defesa das usinas nucleares. Em artigo no Spiegel International, o oncologista norte-americano Robert Peter Gale argumenta que anualmente morrem mais mineiros de carvão no mundo (10.000, 2.000 só na China) do que por vazamento radioativo em Fukushima em 50 anos. Também argumenta que hidrelétricas e represas podem provocar doenças em grande escala, como em Assuã, no Egito, onde a construção da barragem provocou a proliferação de um mosquito que transmite a chamada “cegueira do rio”, atingindo mais de um milhão de pessoas. Ainda assim, contra argumentam os críticos, o que assusta nas usinas nucleares é a irreversibilidade de seus desastres. A região de Chernobyl está inutilizada para a vida humana por muitas gerações. Ainda não se conhece a extensão temporal do desastre em Fukushima: só se sabe que também será grande. Na Alemanha, é forte o movimento contra usinas A menção à Alemanha no artigo de Robert Peter Gale não é gratuita. A Alemanha é um dos países onde o movimento anti-usina é dos mais bem organizados e influentes do mundo. Herdeiro das tradições pacifistas, anti-guerra fria, dos anos cinquenta e sessenta, o movimento reúne sempre milhares de pessoas em suas manifestações. Logo depois da catástrofe japonesa, manifestações em quatro cidades alemãs (Berlim, Hamburgo, Colônia e Munique) reuniram mais de 220 mil pessoas contra as usinas. O Partido Verde foi catapultado nas eleições de abril no estado de Baden-Würtemberg, e formará o novo governo com o Partido Social-Democrata, pela primeira vez indicando o primeiro-ministro no

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estado e nesse tipo de coligação. Se houvesse eleições nacionais no mês de abril, não só a coligação desbancaria a da CDU com o FDP, ora no governo, como seria também PV/PSD, com os verdes chegando um ponto à frente de seus aliados pela primeira vez na história. Mas... nem tudo é azul nesse vale verde. Se existe um grande consenso de que a Alemanha deve caminhar para um futuro nãonuclear, os problemas começam quando se passa à discussão de quem vai pagar a conta. De um lado, é tudo muito caro, se não se quiser cair no que se chama hoje a “coal renaissance”: a “renascença do carvão”. A principal fonte alternativa na Alemanha seria a eólica, concentrada, sobretudo, no Mar do Norte, onde os ventos são mais constantes. Para viabilizar que 25% da energia consumida sejam eólicas em 2030, seria necessário construir 3.600 km. de fiação de alta voltagem, principalmente no sentido norte-sul, a um custo de 300 milhões de euros. Fiação significa mega postes, que interferem na paisagem e no meio-ambiente de modo negativo. Significa, também, a construção de mega reservatórios elevados de água, que acumulariam uma reserva hídrica com o excedente da produção eólica nas épocas favoráveis. Nas épocas desfavoráveis, essas reservas movimentariam turbinas que continuariam gerando eletricidade de raiz eólica. Acontece que ninguém quer esses fios, postes e mega-reservatórios por perto. Criase um jogo de empurra-empurra. Muitas vezes os mesmos movimentos que lutam contra a energia nuclear no plano nacional se mobilizam contra os postes e os reservatórios no plano local. Desativar as usinas nucleares e ao mesmo tempo diminuir a dependência do carvão implica em aumentar as importações de gás da Rússia, e viabilizar a transferência de energia solar produzida na África para o continente europeu, a um custo estimado de 30 bilhões de euros. O projeto já existe, chama-se Desertec, e tem uma experiência piloto entre a Tunísia e a Itália. Mas hoje ninguém consegue prever as implicações políticas disso, diante da nova situação no mundo árabe. Muita gente quer se livrar das usinas nucleares. Mas querem fazê-lo indo para frente, não para trás, pelo menos em termos de qualidade, senão de quantidade do consumo. Esse é o nó a desatar.


ponto de vista Heitor Pinto Filho

globalIZAÇÃO inOVA educação

Amana Salles/Divulgação

Parceria entre a UNIBAN Brasil e o Grupo Losófona promove cooperação educacional, científica e tecnológica entre escolas de países que falam a língua portuguesa

s laços que unem Brasil, Portugal e os países africanos de língua portuguesa não podem ser representados apenas por bons arquivos históricos, comemorações de efemérides e protocolos diplomáticos. Quinto maior idioma falado no mundo, o português tem um potencial cultural e de difusão de conhecimento que extrapola os limites geográficos dos países que o adotam. Nesse contexto, o processo de globalização ora em curso abre grandes oportunidades na área da educação. Com essa percepção, a Universidade Bandeirante UNIBAN Brasil e o Grupo Lusófona, maior conglomerado de ensino privado de Portugal, assinaram uma parceria inédita de cooperação educacional, científica e tecnológica. Na contramão da política de fusões e aquisições que subordina os grupos brasileiros do setor ao capital internacional, as duas instituições se fortalecem mutuamente e alcançam novos patamares de presença no cenário mundial. De uma só vez, a soma de esforços significará, a médio prazo, a oferta de mais de duas centenas de cursos de graduação e pós-graduação, com amplas possibilidades de intercâmbio de alunos e professores nos países de língua portuguesa. Assim, um estudante da UNIBAN, por exemplo, poderá frequentar períodos letivos na Europa e ter as disciplinas validadas no Brasil, ou vice-

versa. De imediato, serão criados dois cursos em nível de pós-graduação: Negócios na União Européia e Negócios nos Países Lusófonos. Outra iniciativa contemplada na parceria prevê a criação de dois centros de pesquisa, um de Tecnologia e outro de Segurança, este último em convênio com Israel. Também será criado um centro de investigação para a elaboração de indicadores socioeconômicos dos países da comunidade de língua portuguesa, que servirá como referência para pesquisadores e a mídia. Um site comum tratará de articular todas essas ações. Somadas, as duas instituições possuem 120 mil alunos e quatro mil professores, incluindo as escolas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, igualmente presentes na parceria. Para a UNIBAN Brasil, que tem em São Bernardo do Campo um dos seus maiores campi, a parceria com a Universidade Lusófona traz as marcas da inovação, do pioneirismo e da vanguarda acadêmica, elementos fundamentais para o desenvolvimento da região do ABCD, do estado de São Paulo e do Brasil. Igualmente importante é que a Língua Portuguesa reforça os laços de integração entre os nossos povos e, ao mesmo tempo, recoloca nossa identidade cultural como ponta de lança no mundo. Heitor Pinto Filho é reitor da UNIBAN Brasil (reitoria@uniban.br)

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