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ANO 2 | NO 10 | JUN 2011

R$ 12,00

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EXEMPLAR CORT E SIA

inep F

Financiadora de estudos e projetos busca apoio parlamentar para ganhar mais autonomia na captação e aplicação de recursos

A cidade da defesa Caças disputam São Bernardo do Campo

Política Industrial de Estado É a proposta de Mauro Borges, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, para que o País inove e cresça

AMANDA PEROBELLI

O banco DA INOVAÇÃO



editorial

RECOMEçO DA HISTÓRIA A falência do projeto neoliberal do final do século deixou um grande vazio no discurso hegemônico. O que virá depois do deus-mercado? Para onde caminha a humanidade ou o que vem depois das redes de produtores de free soft e aplicativos para tablets? Nos corredores da academia, por falta de respostas concretas, sociólogos e economistas ironizam: o chinismo. Até mesmo o conceito de produção em rede se constituiu uma ousadia intelectual. Estupefatos diante do crescimento da China, para os estudiosos restam, apenas, as pistas deixadas no discurso da mídia. E o conceito de inovação é uma destas pistas. Na seção Ponto de Vista desta edição (pág.34), a professora Maria Tereza Leopardi Mello propõe um entendimento bastante amplo do conceito: inovação é tudo que é novo (bem ou serviço) ou significativamente aperfeiçoado pelos atores sociais. É uma leitura bastante abrangente do conceito. Ela ajuda a explicar porque inovação ganha cada vez maior espaço nas formulações do discurso hegemônico. Depois do enterro do “fim da história”, quem quiser sobreviver e crescer precisa inovar. Se a regra vale para gigantes como a francesa Dassault e a sueca Saab, cujos caças rasgam os céus da África e, agora, “sobrevoam” até o planalto paulista, como revela a reportagem da página 14, vale também para os países e para os territórios regionais e locais.

Em São Bernardo do Campo, depois de um ano prospectando negócios relacionados à concorrên­ cia do FX-2, o prefeito Luiz Marinho começa a colher resultados com potencial para revolucionar o mais antigo parque da indústria automotiva nacional. Em parceria com a Saab, um grupo de empresas e uma universidade sueca, e com apoio da Universidade Federal do ABC (UFABC) e outras instituições de ensino superior da Região, o prefeito inaugurou o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro. A presença de UFABC, a mais importante retribuição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Região, que o projetou no cenário político, deveria ser suficiente para produzir este tipo de renovação. Reforçada pelo CISB e outros canais potenciais de relação entre indústria e universidade, a Região ganhou pernas para avançar tecnologicamente em várias direções. O Projeto ABC Inovação, da Câmara Regional do ABC (pág. 12), é mais uma iniciativa nesta mesma direção. O fenômeno da inovação, no entanto, não é privilégio de um território ou local. As várias experiências, como a dos portos da Bahia, relatadas na página 24, ou a do cinturão digital do Ceará (pág. 09), mostram que o incentivo mais importante vem da cultura nacional de inovação alimentada pelo governo federal. E a disposição pública de continuidade aparece também na entrevista do novo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges (pág. 06), e na reportagem especial sobre os planos de Glauco Arbix frente à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A inovação pode ser a saída e pode ser também o recomeço da história. o editor



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06 Entrevista Mauro Borges Lemos Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial defende mudanças na Política de Desenvolvimento Produtivo e ajuste nas leis de incentivo à inovação

09 Telecomunicações Ceará Cinturão digital leva internet mais rápida e barata a mais de 80% da população

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12 especial finep

16 Em busca de autonomia, Finep propõe mudanças no marco legal da inovação 18 Uma das principais mudanças deve ocorrer nos mecanismos que regem a arrecadação e aplicação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 19 Glauco Arbix, presidente da financiadora, defende a criação da Finep-Par, nos mesmos moldes do BNDES-Par 20 Inovar Fundos obtém ótimo retorno para investidores e proporciona crescimento de empresas inovadoras 22 Segundo a Finep, País só vai sustentar seu desenvolvimento se investir em ciência e tecnologia

Rossana Lana/SMABC

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rafael marques Para o vice presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, iniciativas como a do Projeto ABC Inovação são fundamentais para a evolução das pequenas e médias empresas

10 Notas 14 Defesa São Bernardo Empresas europeias que concorrem ao fornecimento de aviões caças para o Brasil mostram seu poder de fogo em São Bernardo do Campo

24 Investimentos Portos Bahia investe na modernização dos portos de Salvador, Ilhéus e Aratu para descentralizar demanda do sul e sudeste

27 Tecnologia Embalagem Criação de produto pela Papéis Suzano e McDonald’s retém a gordura e torna a apresentação de alimentos mais atraente

28 Serviços

BNDES patrocina publicações e eventos que possam contribuir socialmente e gerar inovação

30 Internacional Agrotóxicos Fundamental à produção agrícola, os defensivos, sem controle, envenenam pessoas, animais, águas , terras e até os alimentos que dizem defender

33 Meio Ambiente Mata Atlântica WWF-Brasil lança jogo em seu site para sensibilizar sobre a preservação daquela que já foi a segunda maior floresta tropical do mundo

34 Ponto de Vista Maria Tereza Leopardi Mello Inovação: conceitos legais e suas implicações é o tema abordado pela professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

EXPEDIENTE: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 DIRETOR/EDITOR: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) EDITORa assistente: Sonia Nabarrete Participaram desta edição: Clébio Cavagnolle Cantares, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Laís Corread e Maurício Thuswohl. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami TRATAMENTO DE IMAGENS: Fabiano Ibidi DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa Impressão: Leograf Tiragem: 40 mil exemplares

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Mauro Borges Lemos

FOTOS: AMANDA PEROBELLI

entrevista

gestão guiada por inovação Ele assumiu a missão de promover a política industrial nacional, tendo como norte o incentivo à cultura inovadora Joana Horta

joana@abcdmaior.com.br

Desde fevereiro na presidência da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borges Lemos propõe a superação de gargalos, por meio de uma política industrial de Estado. Economista, fez carreira acadêmica em Londres, Illinois e Paris. No Brasil, é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, até o início de 2011, dirigiu o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar). Na entrevista concedida a INOVA, defende as mudanças propostas para a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e novos ajustes na legislação de incentivo à inovação.

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INOVA – Qual é a cara da ABDI hoje? Mauro Borges Lemos – A inovação está no centro da minha atuação. Ou o Brasil entra na era do crescimento sustentado pela inovação, ou nós não vamos conseguir, de fato, virar uma grande potência econômica mundial. INOVA – O Sr. anunciou, em sua posse, mudanças na formatação da PDP. O que precisa ser redirecionado? Borges – A nova proposta tem mais foco e foi reorganizada em dois grandes blocos. Um deles, das diretrizes sistêmicas e horizontais, tem como objetivo a redução do custo investimento no Brasil, particularmente em inovação. O outro, das diretrizes horizontais, identifica tanto as fortalezas, quanto as fragilidades do processo de desenvolvimento sustentado. INOVA - Na Política de Desenvolvimento Produtivo anterior, falava-se em valorização de 25 setores. Esse número será alterado? Borges – Teremos por volta do mesmo número de setores, a diferença está na reorganização pelo número de desafios. Por exemplo, temos uma grande oportunidade de nos tornarmos uma potência energética. Isso significa direcionar o desenvolvimento da cadeia de suprimentos para os grandes programas energéticos do País, que são petróleo e gás, bioetanol e energias renováveis.


“Se você cria uma governança política, onde os atores institucionais estão trabalhando diretamente, consegue operar de uma forma muito mais ágil”

INOVA – Há uma mudança estratégica de metodologia no PDP. Isso tem implicação em políticas tributárias? Borges – Geralmente esse tipo de investimento do Governo Federal tem implicações tributárias porque envolve taxas de juros menores do que a média praticada nos bancos comerciais. Já existem medidas de estímulo e a ideia das ações horizontais e transversais é a facilitação. A Lei de Inovação e a Lei do Bem fazem parte de um aparato legal recém-criado, em desenvolvimento e que pode melhorar, no sentido de facilitar e ampliar o acesso. Esse ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai trabalhar com um orçamento de R$ 6 bilhões (ver página 17). Isso nunca aconteceu. Estamos falando em mudanças na forma e no volume. INOVA – O novo plano continua trabalhando com metas? Borges – Sim. Será mantida a meta de aumento do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento, com uma perspectiva de ampliação. Assim como a meta de aumento das exportações e expansão das pequenas empresas nas exportações.

INOVA – A meta com pior desempenho da última PDP foi a ampliação da participação das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) nas exportações, que, de fato, caiu. Como superar esse desafio? Borges – Esse é um desafio dificílimo e só superável pelo desenvolvimento de cadeias de suprimento. Dei o exemplo da energia, mas há outros focos importantes, como a área de defesa. Em São Bernardo, o poder público pensa no desenvolvimento dessa cadeia, a partir da oportunidade de negócio que gera a compra dos caças pela Força Aérea Brasileira (FAB). Isso é exemplo de ação para o desafio das PMEs. Não acredito que exista um programa específico para a pequena empresa. Existem grandes desafios e espaço para todos, para a empresa líder, a âncora, a emergente, que está se capacitando tecnologicamente, e para a micro e pequena empresa, porque muitas oportunidades de negócio são demandadas por uma cadeia de suprimentos em desenvolvimento. É um jogo de ganha-ganha. Não é possível uma política industrial que favoreça as PMEs e não favoreça as grandes. Vai, sim, ter uma caixinha sistêmica para a PMEs, mas elas têm que estar engajadas em projetos de grande fôlego. INOVA – Como o corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal interfere nos planos de desenvolvimento inovativo no Brasil?

Borges – Muito pouco. Os R$ 50 bilhões, como é determinação da presidenta (Dilma Rousseff), não atingem os investimentos e toda a política industrial é baseada no esforço de investimento. INOVA – Mas nas interfaces da política de inovação com, por exemplo, a política educacional, os cortes fazem efeito. Como o senhor avalia isso? Borges – Nas universidades, grande parte do orçamento está ligada a projetos com empresas privadas ou com o setor público. São eles que têm viabilizado modernos laboratórios e produção científica de alta qualidade. Não acredito que o esforço fiscal do Estado inviabilize os grandes projetos das universidades. Projetos de despesa em custeio estão sendo adiados, como a contratações de novos docentes. E isso eu reconheço como fator mais importante afetado com o corte. INOVA – Empresários reclamam que a relação de investimento em pesquisa e desenvolvimento nas universidades favorece as grandes corporações e multinacionais. Em sua opinião, isso acontece? Borges – Na verdade, favorece quem consegue se aproximar da universidade e acredito que há dois tipos de empresas com maior facilidade: as spin-off, JUNHO 2011 | INOVA

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ou o Brasil entra na era do crescimento sustentado pela inovação ou nós não vamos conseguir, de fato, virar uma grande potência econômica mundial”

nascidas a partir de laboratórios de pesquisas, e as grandes empresas, que já consolidaram pesquisa e desenvolvimento. Mas não diria que a cooperação nas universidades se dá, na maior parte, com multinacionais. Dados atuais sólidos apontam maior cooperação com empresas de capital nacional. Empresas inovadoras têm maior facilidade de ter essa relação e ainda é difícil para as PMEs inovarem, criando um circulo vicioso. Por isso são necessárias novas mudanças na legislação de incentivo à inovação. INOVA – Quem está carregando a mudança na legislação? Borges – É a secretaria executiva da PDP, constituída pela ABDI, pelo MDIC, que é o coordenador da política, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), a Finep, o BNDES e o Ministério da Fazenda. Essa secretaria é forte exatamente para que suas ações sejam efetivadas. O governo muitas vezes encontra dificuldade em apontar uma nova diretriz por falta de articulação entre ministérios. Se você cria uma governança política, onde os atores institucionais estão trabalhando diretamente, consegue operar de forma muito mais ágil. INOVA – Como serão incentivadas as políticas regionais? Borges – Temos a Rede Nacional de Política Industrial (Renap), um esforço bem modesto, no âmbito estadual, para promover políticas

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industriais e de inovação. Outra ação é a Rede Nacional de Investimentos (Renai), também no âmbito do MDIC, e que foi pouco desenvolvida, mas pode se tornar um poderoso instrumento ao crescimento. Um terceiro instrumento seria o Grupo de Trabalho (GT), com Arranjos Produtivos Locais (APL). A ideia é que esses três instrumentos, Renap, Renai e APL, estejam sob a coordenação de uma diretriz sistêmica, no sentido de ter ações de política industrial em territórios. INOVA – Por que São Bernardo foi eleita para abrigar um projeto piloto de Renap municipal? Borges – O Renap funciona no âmbito estadual e eu provoquei o Secretário de Desenvolvimento de São Bernardo, Jefferson da Conceição, a criar um núcleo Renap local. O município é o coração de uma forte indústria regional e hoje oferece aderência, credibilidade e mobilização de atores. Você vê isso, por exemplo, na atração do recéminaugurado Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB, ver página 14). INOVA – Que papel o CISB pode ter no desenvolvimento do setor de defesa? Borges – Um papel muito forte. A Suécia tem uma base industrial tecnológica de serviço e temos tralhado com um diálogo muito eficaz com a Vinnova, que lá funciona como a ABDI. A Vinnova vem demonstrando grande potencial de desenvolvimento de empresas brasileiras e suecas na área de defesa.

INOVA – Com relação à política de patentes, como a ABDI se posiciona? Borges – Falando em nome da coordenação da política industrial, entendemos a necessidade de uma política de patentes. Em conjunto com a PDP, foram pensadas medidas de certificação, normalização e conformidade, de simplificação e também maior controle, por exemplo, no caso de importações e exportações, como medidas de celeridade de registro de patentes. Temos um conjunto especifico de alterações já na mão da secretaria executiva. INOVA – É difícil criar a cultura de inovação no Brasil? Borges – É extremamente difícil e isso não é novidade. Qualquer país que buscou o salto na capacidade de produção de conhecimento e industrial manufatureiro teve dificuldade. É inerente ao salto de qualidade, já que o conhecimento é um processo cumulativo de longo prazo. A principal estratégia no caso brasileiro é juntar o tripé educação, setor público e setor privado. A questão é que esse tripé não está desenvolvido hegemonicamente. O setor público deve ajudar a evoluir a educação e ele já está fazendo isso, mas tem que melhorar. Hoje temos dois programas diretamente ligados às diretrizes da PDP, o pró-engenharia, que enfrenta o chamado apagão das engenharias, e o plano de apoio ao ensino técnico.


telecomunicações

ceará

era digital chega ao sertão cearense Governo do Ceará investe em infraestrutura de fibra óptica e universaliza o acesso à banda larga em todos os municípios do estado epois de três anos em obras, está em fase de testes o Cinturão Digital do Ceará (CDC), um anel de 2,6 mil km de fibra óptica que percorre todo o estado com o objetivo de interligar órgãos públicos, escolas, hospitais e delegacias, além de incluir digitalmente 82% da população urbana. A ideia surgiu da necessidade de reduzir os gastos com telefonia do Estado. Com o projeto, calcula-se economizar pelo menos R$ 15 milhões por ano. Para se ter uma ideia, o custo tornava o acesso a essa tecnologia no interior praticamente inviável. O presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), Fernando Carvalho, conta que “uma escola pagava cerca de mil reais para ter ínfimos 60 kbps”.

Custo mais baixo – O Cinturão Digital

ARQUIVO PESSOAL

já chegou às 56 maiores cidades do estado e irá contemplar as demais com a distribuição do sinal por meio da tecnologia sem fio e rádio freqüência, aumentando em mil vezes a taxa de transmissão. Em relação aos preços, também haverá uma mudança significativa. Ainda este ano, o custo de um Mgbs deverá ser de R$ 25 e, em um futuro próximo, a expectativa é que esse preço alcance os cobrados em países como o Japão. Fernando Carvalho, presidente da Empresa de Tecnologia de Informação do Ceará (Etice), destaca os baixos custos do serviço

Integração de melhorias – Além da interiorização da banda larga e do barateamento da telefonia, as estradas de fibra óptica irão contribuir com outros serviços. De acordo com o professor da Universidade Federal do Ceará, Tarcísio Pequeno, “esse investimento em infraestrutura significa integrar melhorias nas políticas públicas também em áreas como saúde, educação e segurança pública.” Para isso, estão sendo desenvolvidos projetos como educação à distância, telemedicina, videoconferências, além da instalação de câmeras de vigilância por todo o estado e o monitoramente de cargas nas estradas. Quebra de monopólio – A garantia da massificação ao acesso à banda larga se dará com a quebra de monopólio das empresas de telefonia. O Governo do Ceará vai realizar leilões para a concessão da infraestrutura digital a empresas privadas, o que irá permitir a concorrência de preços e, principalmente, fazer com que pequenos servidores levem banda larga a lugares remotos, onde antes não havia interesse de investimento por parte das grandes telcos. Para o presidente da Associação Brasileira de Internet, Eduardo Neger, essa questão pode ser comprovada com o exemplo do Plano Nacional da Banda Larga (PNBL), programa do Governo Federal que visa democratizar a internet. “O simples anúncio feito pelo Ministério das Comunicações, informando a implantação do PNBL em alguns municípios brasileiros foi suficiente para a queda imediata dos preços nessas localidades”, conta. (LC)

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notas

Governo vai investir em desenvolvimento científico

AMANDA PEROBELLI

Governo e empresas internacionais apostam no setor de desenvolvimento, complexos de pesquisas e novas indústrias tecnológicas Nos próximos três anos, o governo federal irá focar investimentos na área da educação e ampliação dos centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no País. A estimativa é de que o Brasil receba aproximadamente US$ 13,4 bilhões em investimentos de empresas internacionais, no setor de desenvolvimento, complexos de pesquisas e instalação de novas indústrias nacionais da área de tecnologia. Durante o seminário “Brasil do Diálogo, da Produção e Emprego”, realizado em maio, em São Paulo, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, apontou o Rio de Janeiro e São Paulo como as possíveis cidades sede de dois grandes complexos de P&D, com investimentos da ordem de US$ 900 milhões. O ministro também apontou a produção de tablets e displays de LED como foco de negócio para empresas nacionais. “Para as corporações que estão chegando, colocamos como critério iniciar a produção dos computadores de mão com 80% de componentes nacionais. Isso será obrigatório nos próximos três anos”, pontuou. O setor de informática deverá continuar em expansão nos próximos anos. De imediato, a empresa chinesa ZTE, que irá se instalar em Hortolândia, interior paulista, vai gerar aproximadamente dois mil empregos diretos. Já a Foxconn, que irá atuar no desenvolvimento dos tablets e displays de LED, é quem vai trazer mais investimentos para o mercado nacional. O montante é estimado em US$ 12 bilhões em cinco anos. O ministro da Ciência e Tecnologia pondera que o governo ampliará seus investimentos em todas as esferas da educação. “Estamos ampliando o número de formação de doutores pelo País e vamos aumentar o número de vagas nas escolas de ensino técnico. Além dessas duas medidas, pretendemos ampliar o número de bolsas no ensino universitário nacional e internacional”, frisa. (FR)

Mercadante aponta São Paulo e Rio de Janeiro como sedes de grandes complexos de pesquisas

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China: US$ 37 bi em importações do Brasil Em meados de maio, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, estimou que o País deve receber este ano cerca de US$ 8 bilhões em investimento chinês. Com o crescimento expressivo das trocas comerciais entre os dois países, Pimentel afirmou que Brasil e China vão criar um grupo técnico para intensificar os negócios. O ministro afirmou estar satisfeito com o volume de exportações brasileiras para a China que, em 2010, ultrapassou os US$ 30 bilhões e deve, segundo ele, saltar para US$ 37 bilhões este ano. No entanto, explicitou sua preocupação no que se refere à concentração dos embarques. Cerca de 80% do volume de exportações são referentes a apenas três produtos: minério de ferro, soja e petróleo.

CNI lança portal de compra coletiva para a indústria A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou um site de compras coletivas exclusivo para as indústrias, o Clube de Indústria de Benefícios. A Confederação espera que o site de negócios e relacionamento beneficie a indústria nacional ao oferecer acesso a descontos, desde a venda de equipamentos até planos de saúde. O investimento inicial para o projeto foi de R$ 5 milhões. O portal pode ser acessado pelo endereço: www.clubeindustria.com.br

Apex-Brasil apresenta estratégia para setor audiovisual A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e representantes do setor Audiovisual apresentaram resultados e próximas ações dos projetos de promoção do setor audiovisual no exterior. A Agência pretende fortalecer a promoção comercial do setor de entretenimento e serviços através de ação que deve reunir 10 projetos de diversas áreas.


Investimento estrangeiro no Brasil triplica em 2011 Os investimentos estrangeiros diretos em empresas no Brasil chegaram a US$ 22,99 bilhões nos quatro primeiros meses do ano, segundo dados do Banco Central. O resultado é praticamente o triplo do verificado no mesmo período do ano passado e já cobre mais de 40% da previsão do BC para o ano. O valor foi suficiente para cobrir o déficit do País nas suas transações de renda, serviços e comércio com o exterior, que somam US$ 18,12 bilhões no mesmo período, com crescimento de 9,4% na mesma comparação.

Devolução de impostos a exportadores é simplificada O governo decidiu simplificar a devolução de impostos para os exportadores, através da publicação da Portaria 260, no Diário Oficial da União. A devolução dos tributos será mais ágil e o cálculo levará em consideração as exportações realizadas a partir de 1º de janeiro de 2009, e não mais 1º de abril de 2010. Antes, era preciso que o exportador tivesse dois anos de exportação acima de 15% do seu faturamento bruto, agora o porcentual de exportações cai para 10%. A expectativa é que a flexibilização barateie as exportações.

Demanda por trem em centros urbanos cresce 150% Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a demanda por trens nos principais centros urbanos do País cresceu 150% nos últimos dez anos. No caso do metrô, o crescimento foi de 54%. A pesquisa chama a atenção para a necessidade de investimentos a fundo perdido, políticas públicas de mobilidade urbana por parte do governo federal e para a ausência de um modelo regulatório para o transporte público.

Inscrições abertas para o 25° Prêmio Jovem Cientista Estão abertas, até 31 de agosto, as inscrições para o 25° Prêmio Jovem Cientista. O tema desta edição é Cidades Sustentáveis. Quatro categorias serão premiadas: graduado, estudante do ensino superior, estudante do ensino médio e mérito institucional. Há, ainda, uma menção honrosa para um pesquisador com título de doutor. Os orientadores das três categorias e as escolas dos três classificados do ensino médio receberão laptops, como forma de estimular e reconhecer a cadeia de aprendizagem. Na categoria mérito institucional, serão premiadas uma instituição de ensino médio e outra de ensino superior. Na categoria graduado, os vencedores serão premiados com R$ 30 mil (1º lugar), R$ 20 mil (2º lugar) e R$ 15 mil (3º lugar). Para estudantes do ensino superior, os valores são de R$ 15 mil para o 1º lugar, R$ 12 mil para o 2º lugar e R$10 mil para o 3º lugar. Estudantes do ensino médio classificados em 1º, 2º e 3º lugares recebem um laptop de última geração cada um. No mérito institucional, serão pagos R$ 35 mil para cada uma das duas instituições premiadas e o pesquisador indicado ganhará R$ 20 mil. O Prêmio é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Fundação Roberto Marinho, a Gerdau e a General Electric do Brasil (GE). O regulamento completo do prêmio e a ficha de inscrição estão disponíveis no site do prêmio: www.jovemcientista.cnpq.br

programe-se junho 14 a 17 de junho | Brasil Offshore | A 6ª Feira e Conferência Internacional da Indústria Offshore de Petróleo e Gás tem foco na realização de negócios e prospecções nos principais aspectos relacionados ao desenvolvimento de petróleo na Indústria Offshore, otimização de campos e projetos de pré-sal. Local: Macaé Centro, Macaé, RJ. Mais informações em: www.brasiloffshore.com 15 a 17 de junho | Ciab Febraban | O Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras, chega à sua 21ª edição anual com o tema central Tecnologia Além da Web. Local: Transamérica Expo Center, São Paulo, SP. Mais informações em: www.ciab.org.br 20 a 22 de junho | Conferência Anpei | Em sua XI edição, a Conferência Anpei de Inovação Tecnológica tema como tema central as redes de inovação e cadeias produtivas. O ponto central será a apresentação de cases de sucesso e debate de soluções inovadoras. Local: Centro de Convenção do Ceará, Fortaleza, Ceará. Mais informações em: www.anpei.org.br/xiconferencia/ JUNHO 2011 | INOVA

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inovação

pequenas empresas

Rossana Lana/SMABC

Da esquerda para a direita, Rafael Marques, Vice presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Letizia Urbani, gerente do Instituto Meccano, da Região de Marche, na Itália, e Luiz Almeida, coordenador de Relações Institucionais da Agência: união em benefício das pequenas empresas

ação regional fomen Projeto ABC Inovação investirá R$ 7 milhões em consultorias para partir de junho, o projeto ABC Inovação começa a orientar pequenas empresas dos setores plástico e metalmecânico, na inovação de seus processos produtivos, de gestão e de marketing e vendas. A iniciativa é uma parceria da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, responsável pela execução do projeto, do Consórcio Intermunicipal, que reúne as sete prefeituras da Região, e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Nacional, que investiram R$ 7 milhões para atender 560 empresas da Região, durante os próximos dois anos. Durante um ano, cada empresa será individualmente monitorada e avaliada, gratuitamente. De dezembro de 2010, quando a parceira foi firmada, até o fim de maio, a Agência de Desenvolvimento realizou a licitação para contratar três consultorias específicas para cada área de desenvolvimento e dois coordenadores, para liderarem os projetos por setor. Além dessas contratações, será escolhido um profissional para monitorar e avaliar o projeto. De acordo com Luiz Almeida, coordenador de relações institucionais da Agência, as consultorias terão início com 80 instituições já inscritas. “Esses coordenadores também terão como missão

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captar 560 empresas, 280 para o primeiro ano e outras 280 para o próximo ano”. Estão aptas a receber a consultoria, micro e pequenas empresas com até 100 funcionários. O ABCD possui cerca de cinco mil empreendimentos dos setores plástico e metalmecânico que se encaixam no perfil buscado pelo projeto. Para o vice presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, a iniciativa é de extrema necessidade, uma vez que as pequenas empresas sofrem com a defasagem de conhecimento e de capacidade de investimento em novos métodos produtivos. “Empresas inovadoras pagam melhores salários e conquistam mais estabilidade e capacidade de negócio. Não podemos deixar que as micro e pequenas empresas parem no tempo por falta de investimentos.”

Estágios de inovação A Letska, de Mauá, que atua no setor plástico, é uma das instituições que começará a receber a consultoria ainda neste semestre. Seu sócio diretor, Giancarlo Bechelli, acredita que o ABC Inovação se concretize como continuação de investimentos articulados para que as micro e pequenas empresas do setor plástico começassem a inovar.

O ABCD possui cerca de cinco mil empresas que se encaixam no perfil buscado pelo projeto. Os coordenadores devem captar 560 empresas, 280 para o primeiro ano e 280 para o próximo


amanda perobelli

andris bovo

Faça parte do ABC Inovação Ainda há vagas para empresas dos setores plástico e metalmecânico, com menos de 100 funcionários, com base qualquer uma das sete cidades do ABCD. Para realizar a inscrição basta acessar o site www.agenciagabc. com.br e preencher o formulário com os dados da empresa.

ta pequenas empresas 560 empresas do setor plástico e metalmecânico da região do ABCD A Letska é integrante do Arranjo Produtivo Local (APL) Plástico do Grande ABC, formado também a partir do fomento e articulação da Agência e do Sebrae. “Durante a criação e o desenvolvimento do APL Plásticos passamos por processos de consultoria e sentimos a diferença, o que nos faz confiar na ação do programa como ferramenta de continuidade. Hoje já não somos primárias no processo inovativo e sim intermediárias”, explica Bechelli. Durante o período em que a Letska recebeu consultoria em inovação no âmbito da formação do APL, foi orientada a trabalhar de maneira diferenciada no setor de estocagem, o que gerou melhoria nos processos produtivos. Com a consultoria do ABC Inovação, Bechelli espera poder investir em inovação do produto e do processo. “Queremos apostar em um novo produto, ligado a área médica, e para isso temos que pensar em uma nova forma de produção. Esse é um ponto onde poderemos aproveitar o consultor. Outra área importante é a de marketing, para que consigamos nos posicionar nesse novo mercado”, aponta. Outro fator positivo do projeto, apontado pelo executivo, é a escolha da consultoria. “É difícil para o pequeno empresário encontrar uma boa consultoria, com custo acessível.” De acordo com Almeida, o projeto enten-

de que as empresas se encontram em diferentes estágios de inovação e, por essa razão, as consultorias serão realizadas de maneira individualizada. “A consultoria vai fazer um diagnóstico por empresa e a partir daí, vamos começar a trabalhar. Mas sabemos que as empresas primárias são a grande maioria.” Outro aspecto levado em consideração na elaboração dos projetos é a identificação de oportunidades comuns de negócio, como eventos esportivos do porte da Copa do Mundo e Jogos Panamericanos e a entrada das empresas na cadeia de fornecedores da Petrobras. “A empresa, para realizar um fornecimento desse porte, precisa ter certificação, tem que estar regulamentada com as normas ambientais. Vamos identificar essas necessidades e aquelas que precisarem de certificação vão ter apoio financeiro e gerencial nesse aponto”, explica Almeida.

Posto de atendimento Outro desdobramento das ações de inovação Regional foi a inauguração, em maio, do espaço físico do Centro de Tecnologia & Inovação (Cestec), que irá operar nas instalações da Agência e servirá como base para as consultorias. A ação é a etapa final do projeto Cestec, iniciativa da Agência,

em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Sebrae. Durante o ano de 2010, o projeto ofereceu consultoria a 60 empresas do setor metalmecânico. O posto de atendimento contará com um software, disponibilizado pelo Instituto Meccano e tropicalizado no Brasil. A ferramenta cruza as necessidades de tecnologia das empresas e os locais onde os serviços são oferecidos, entre outras funções, como o gerenciamento de projetos. Para a gerente do Instituto Meccano, da Região de Marche, da Itália, Letizia Urbani, a opção pelo ABCD está atrelada ao fato de haver unidades empresariais italianas instaladas na Região e também a oportunidade de integração entre empresas brasileiras e italianas. “É importante trabalhar em conjunto e nossa expectativa é que as empresas possam crescer e com isso contribuir com o crescimento econômico”, pontua. De acordo com o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal do ABC, Luiz Paulo Bresciani, o centro tecnológico terá como principal função fomentar diversos setores da economia do ABCD. “A unidade terá como foco trabalhar em prol do desenvolvimento regional e certamente as pequenas e médias empresas deverão alcançar grandes resultados”, finaliza. (JH / FR) JUNHO 2011 | INOVA

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defesa

são bernardo do campo

Felipe Rodrigues

felipe@abcdmaior.com.br

Caças sobrevoam

Para as empresas Saab e Dassaut, que disputam a concorrência para

ara o segundo semestre, a expectativa é a participação da Boeing. Por enquanto, a disputa para ver quem transfere mais tecnologia para a sonhada indústria de defesa de São Bernardo está entre a sueca Saab e o consórcio francês Rafale. As três gigantes da indústria aeroespacial internacional disputam a licitação FX-2 do Governo Federal, que visa comprar 36 caças supersônicos destinados a renovar a frota da FAB (Força Aérea Brasileira). Suecos e franceses escolheram os dias frios de maio para medir forças nos ares de São Bernardo e mostrar seus potenciais de transferência de tecnologia. A Saab e seus 40 parceiros inauguraram no centro de São Bernardo as instalações do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB). O Consórcio Rafale International realizou o seminário “As Oportunidades do Consórcio Rafale para São Bernardo, Região e Brasil”. O palco francês foi o anfiteatro da Escola Técnica SENAI Mario Amato. De um lado, o CISB, uma contribuição concreta dos suecos para a produção de pesquisa, tecnologia e inovação. De outro, o potencial de transferência do consórcio francês em pequenos demonstrativos representados nos acordos de cooperação assinados com universidades e com a prefeitura da cidade, administrada por Luiz Marinho (PT), sindicalista e amigo do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Ao saudar os parceiros internacionais que chegavam a São Bernardo, Marinho sustentou que um dos objetivos do município é se tornar o “número um” no setor de defesa. “No início das minhas conversas com as fabricantes dos caças, muitos diziam que eu não deveria me envolver tão intensamente, mas agora acredito que podemos mostrar que a cidade possui competência para atuar neste segmento”, diz. Também entusiasta do projeto, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo da Cidade, Jefferson da Conceição, disse que os objetivos da administração estão sendo alcançados. “A ideia era atrair novos investimentos das empresas do segmento de defesa e acredito que estamos alcançando essa finalidade”. Segundo ele, no segundo semestre, São Bernardo vai realizar um seminário

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internacional voltado para o setor de defesa e de petróleo e gás, com o objetivo atrair novos investimentos para a cidade e para a Região. Outro importante ator regional, o também sindicalista Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ressaltou que os trabalhadores não desejam apenas ser referência na fabricação de automóveis, mas podem produzir aviões, trens, entre outros produtos. “O foco principal da luta sindical é o emprego. Nosso objetivo é poder contar uma indústria de defesa forte e que possa desenvolver novas tecnologias”, frisou. Na concepção do reitor do Centro Universitário FEI, Fábio do Prado, a parceria com uma empresa internacional possibilita fomentar o processo de pesquisa de ponta no País. “Será uma forma de fortalecer cursos universitários, ampliar o processo de inovação nas pesquisas e também incentivar os pesquisadores a atuar em âmbito internacional”, ponderou. O vereador e diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo ) de São Bernardo, Mauro Miaguti (DEM), também presente aos dois eventos, afiançou o potencial da economia local para entrar no mercado da indústria de defesa. “Daremos um grande salto no que se refere a tecnologia e inovação e isso, com certeza, vai influenciar de maneira positiva o nosso desenvolvimento econômico”, garantiu.

CISB começa A operar em São Bernardo Principal investimento da Saab, o CISB foi inaugurado no Bairro Nova Petrópolis, em São Bernardo. A unidade terá como foco de atuação os setores de defesa e segurança, transporte e logística, energia e sustentabilidade e inovação urbana para o futuro. Até o momento, fazem parte oficialmente do complexo de pesquisa 40 parceiros, mas esse número deve ser ampliado. Aproximadamente 90 instituições informaram o desejo de integrar-se ao centro. Serão investidos inicialmente pela indústria de defesa sueca, principal idealizadora do projeto, cerca de US$ 50 milhões nos próximos cinco anos. Os parceiros do complexo de pesquisa já comprometidos incluem governo municipal, com um aporte de 25%, indústrias com outros

25% e a metade restante ficará por conta de universidades e institutos de pesquisa brasileiros e suecos. Volvo, Scania e a brasileira Vale estão entre as parceiras da unidade de pesquisa. De acordo com o presidente da Saab, Hakan Buskhe, o CISB vai investir em vários projetos: “acredito que o centro gerará inovações e, conseqüentemente, negócios no Brasil, na Suécia e também em outros países”, diz. Para o diretorgeral da Saab no Brasil, Bengt Janér, a inauguração da unidade de pesquisa certamente irá propiciar o desenvolvimento tecnológico em São Bernardo e também no País. O diretor de desenvolvimento de negócios e cooperações industriais da Saab, Magnus Ahlström, disse que a unidade de pesquisa vai atuar também nas áreas de nanotecnologia, tecnologias da informação, comunicação, ciência dos materiais, biotecnologia. “Nosso objetivo é poder transferir as tecnologias suecas para São Bernardo”, pontua.

Consórcio Rafale sela acordos de cooperação Investindo na disputa, o Consórcio Rafale selou sete acordos de cooperação com a Prefeitura de São Ber­nardo e as univer­sidades Faculdade de Tecnologia (Fatec), Centro Universitário FEI e Universidade Federal do ABC (UFABC). Com eles, o Consórcio alcança o volume de 53 acordos assinados no País. A empresa conta ainda com outros 67 projetos, sendo que 38 são pontuais entre empresas e entidades brasileiras. Na visão do representante do Consórcio Rafale no Brasil, Jean-Marc Merialdo, a cidade de São Bernardo pode ser uma das grandes precursoras do desenvolvimento da indústria de defesa no País. “A região possui vocação industrial muito forte e pode com certeza contribuir tanto com as suas empresas quanto com as universidades”, ressaltou. O grupo francês manifestou também a intenção de implantar em São Bernardo o projeto Cidade Digital, que visa desenvolver aplicativos tecnológicos nos serviços públicos, educação infantil e também no planejamento urbano. Entretanto, a aplicação do programa na cidade só ocorrerá se os franceses vencerem a disputa do FX-2.


São Bernardo

fornecimento do FX2 ao Brasil, a transferência de tecnologia independe de resultado

andris bovo

andris bovo AMANDA PEROBELLI

Durante a inauguração do CISB, Hakan Buskhe, Presidente da Saab, ressalta os vários projetos e consequentes negócios que o centro vai gerar

AMANDA PEROBELLI

Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, determinado a fazer da cidade a número 1 em defesa

andris bovo

Em seminário promovido pela Dassault, da esquerda para a direita: Evandro de Lima, secretário de Relações Internacionais de SBC, Jefferson da Conceição, secretário do Desenvolvimento Econômico de SBC, Jean-Marc Merialdo, Representante do Consórcio Rafale no Brasil, Luiz Marinho, prefeito de SBC, e Michel Paskolf, vice presidente Internacional de Cooperações da Dassault Aviation


getty images

especial Finep

inep-par F em busca da autonomia

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Maurício Thuswohl

mauricio@abcdmaior.com.br

Entre as bandeiras levantadas pela diretoria, está a criação da Finep-Par, nos mesmos moldes de um programa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES-Par nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) voltados às empresas. A segunda parte traz propostas que buscam, segundo a Finep, “uma definição mais clara e ampla para mecanismos de financiamento que ainda possuem insegurança jurídica”, e a última parte pede “uma orientação definitiva sobre a divisão orçamentária e a cooperação entre Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) e empresas.”

BNDES é a inspiração Chefe do Departamento de Planejamento Orçamentário da Finep, André Amaral afirma que as mudanças propostas no marco regulatório apontam para uma maior autonomia no fomento à inovação, “principalmente no que diz respeito à questão do reconhecimento da Finep como instituição financeira”. O desejo é que a Financiadora, assim como outras instituições financeiras públicas de fomento, esteja ancorada em um modelo de captação de recursos garantidos por fundos constitucionais: “O BNDES, por exemplo, captou nas últimas décadas grande parte dos seus recursos dentro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), onde constitucionalmente ficou definido que 40% da arrecadação do PIS/PASEP deve ser destinada diretamente a empréstimos ao banco”. A Finep quer adotar para si o mesmo princípio: “Isso é fundamental para uma instituição financeira porque um dos pilares das normas prudenciais dos bancos é a garantia de captação mínima de recursos para que eles possam desenvolver seus produtos financeiros e possam emprestar a terceiros. Isso é uma coisa indispensável para que a Finep possa ser reconhecida como instituição financeira”, diz Amaral.

As propostas buscam uma forma de garantir maior integração e eficácia nos instrumentos de apoio financeiro a projetos inovadores”, João de Negri, Diretor de Inovação da Finep

FOTOS: João Luiz Ribeiro/FINEP

uscar uma maior autonomia na promoção da inovação científica e tecnológica no Brasil é uma das prioridades da atual direção da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A principal medida para atingir esse objetivo, defendida pelo ministro Aloizio Mercadante e pelo presidente da Finep, Glauco Arbix, é transformar a Financiadora em um banco público de fomento à inovação e multiplicar por dez seu volume de financiamentos a projetos, hoje estimado em R$ 4 bilhões. Enquanto isso ainda não é possível, a Finep estimula os debates internos e externos e também a elaboração de propostas que, na visão de seus diretores, podem preparar o País para mudar de patamar no que se refere à inovação ao longo da próxima década. Nos primeiros anos do governo de Dilma Rousseff, o Congresso Nacional será um dos principais cenários de discussão sobre as transformações que definirão o futuro do apoio à inovação científica e tecnológica no Brasil. Ciente disso, a Finep pretende estimular a criação de uma frente parlamentar para defender algumas alterações na política atual para o setor. O primeiro passo nessa direção foi dado no fim de maio, com a aprovação pela diretoria da Financiadora de um documento que sugere mudanças na estrutura do marco legal regulatório do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI). O documento, que será encaminhado ao Senado e à Câmara dos Deputados, pontua ao longo de 13 páginas dez propostas de alteração legislativa no marco regulatório. Sua elaboração foi realizada por um grupo de trabalho composto por representantes da Finep e da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas Inovadoras (Anpei), “As propostas buscam uma forma de garantir maior integração e eficácia nos instrumentos de apoio financeiro a projetos inovadores”, afirma o diretor de Inovação da Finep, João De Negri. O conjunto de propostas que a Finep e a Anpei encaminharão aos deputados e senadores é dividido em três partes. A primeira trata da revisão dos instrumentos do Fundo Nacio-


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A Constituição permite que o banco não pague o principal, que ele reinveste, reaplica. Este tipo de padrão permite um crescimento acelerado”, André Amaral, Chefe do Departamento de Planejamento Orçamentário da Finep

Uma das propostas é mudar relação com FNDCT Finep quer expandir recursos para ter um patamar mínimo que assegure crescimento Uma mudança prioritária no Marco regulatório, segundo a Finep, deve ocorrer nos mecanismos que regem a arrecadação e a aplicação dos recursos do FNDCT, que é uma das principais fontes de captação de recursos da Financiadora para fazer empréstimos e permitir a concessão de crédito: “Hoje, estes recursos não estão claramente assegurados. Existe um artigo que diz que a Finep poderá pedir empréstimos até o montante equivalente a 25% da dotação orçamentária anual do FNDCT. Ora, até 25% pode ser 1%, pode ser o total ou pode ser zero. Essa é uma fragilidade, uma insegurança jurídica na maneira como a lei foi escrita em relação a um padrão que a Finep deveria ter”, avalia Amaral. A Finep quer expandir seus recursos para ter um patamar mínimo de captação que assegure crescimento: “Ao invés de um máximo de até 25% do FNDCT, poderia ser um mínimo de 25% do Fundo. Sabemos que o FNDCT cresce e que sua base de arrecadação aumenta em função do PIB, do crescimento da economia e de uma série de fatores como, por exemplo, a arrecadação com os royalties do petróleo que ainda deve crescer mais. Fixar um percentual dessa natureza significa não só viabilizar uma captação segura como também sinalizar com uma perspectiva de crescimento para a instituição financeira, o que é muito importante”, diz o chefe do Departamento de Planejamento Orçamentário. Outras mudanças sugeridas pela diretoria da Finep são a diminuição da taxa de juros captados e o aumento do prazo (padrão de carência e de amortização) para o pagamento dos empréstimos obtidos junto ao FNDCT. Na visão de Amaral, mais uma vez o exemplo é o BNDES, que paga ao FAT somente os juros

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sobre o dinheiro que captou: “A Constituição permite que o banco não pague o que ele reinveste, reaplica. Esse tipo de padrão permite um crescimento acelerado. Essa é uma mudança na relação com o FNDCT que pode servir como uma âncora para a Finep”, diz.

Subvenção Econômica e Chamadas Públicas No segundo pilar de propostas de mudança no marco regulatório, desenvolvido pela Finep com o intuito de definir novas regras para os mecanismos de financiamento, o principal objetivo é mudar a Subvenção Econômica e acabar com a obrigatoriedade de realização de chamadas públicas: “A concessão de recursos também pode estar condicionada à integração com outras vias de incentivo à inovação. A Subvenção Econômica pode atuar de forma contínua, o que permitirá às empresas uma maior adequação ao uso dessa ferramenta”, diz o diretor de Inovação, João De Negri. Para André Amaral, são necessárias alterações no procedimento administrativo de concessão e transferência de recursos: “Atualmente, a concessão é feita exclusivamente por concorrência pública. O edital faz todo sentido quando você tem várias empresas querendo fazer coisas semelhantes em uma mesma área, já que não existem recursos para todo mundo e é preciso fazer uma seleção dos melhores projetos. Por outro lado, existem tecnologias que são importantes para o Brasil e você tem apenas uma pessoa, uma empresa ou duas que são capazes de fazer aquilo. Pode ser um produto para uma área estratégica, uma vacina ou um fármaco, às vezes é até um equipamento estratégico para um determinado setor como o de petróleo. Então, não faz muito sentido você ter um único tipo de procedimento administrativo para fazer a concessão daquele recurso.” Segundo Amaral, a Finep está estudando com seus advogados um balizamento administrativo para que a transferência de recursos, nesses casos, seja feita por concessão direta às empresas, desde que estas estejam, é claro, habilitadas a acessar esse dinheiro de acordo com as exigências legais: “Estamos discutindo, desenhando e buscando amparo legal para esse modelo. Nos Estados Unidos e na Europa já existe esse regime de subvenções concedidas por encomenda quando se trata de algum bem de interesse do Estado ou interesse social.”


O terceiro pilar de propostas da Finep trata da relação entre o capital empresarial e a academia. Segundo João de Negri, a Financiadora quer ter maior poder de decisão para encomendas ligadas a projetos cooperativos entre empresas e universidades, o que ainda não é possível de acordo com as leis atuais: “Este mecanismo fará com que as empresas possam contratar profissionais nos meios universitários para desenvolver seus projetos inovadores. Isso irá ampliar os instrumentos de integração entre esses dois setores.” Nesse ponto, o que a Finep propõe é o aperfeiçoamento de algo que já existe hoje: “A Lei de Inovação, aprovada em 2004, flexibilizou uma série de coisas que favorecem essa parceria. Muitas vezes, uma empresa está fazendo parceria com a universidade, mas precisa que o pesquisador da universidade – que, na maior parte dos casos, é um servidor público – passe um tempo dentro da empresa. Para tornar isso possível, o pesquisador tinha que romper seu contrato de trabalho ou pedir uma licença sem vencimentos. É um processo frágil para acompanhar uma pesquisa que, às vezes, ele mesmo começou e articulou com uma empresa para transformar aquilo em tecnologia. Queremos que seja facultada a possibilidade de cessão do pesquisador para que ele possa ser emprestado à empresa”, diz André Amaral. Finalizada a etapa da elaboração de propostas de mudança no marco regulatório, agora a direção da Finep irá se mobilizar pela criação de uma frente parlamentar: “Pode ser que a gente consiga convencer Executivo e Congresso de que é importante tornar o nosso padrão assemelhado ao padrão da relação do BNDES com o FAT. Isso permitirá que a disponibilidade de recursos da Finep para as empresas seja crescente porque todo ano ela vai captar mais sem ser obrigada a devolver ao Fundo a totalidade dos recursos que voltam com as amortizações”, conclui Amaral.

Finep-par, a proposta de Glauco Arbix Há anos envolvido com o mundo das pesquisas e inovações e há cinco meses no comando da Finep, Glauco Arbix agora quer criar um novo instrumento para fomentar a inovação no Brasil: o Finep-Par. E ele fala de cátedra sobre o assunto. Sociólogo e professor, ele integra o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e coordena o Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. No governo Lula, presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e coordenou, até 2009, o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (NAE). Com este currículo, em entrevista ao repórter Mauricio Thuswohl, ele defende a inovação como chave para elevar o padrão de vida da sociedade brasileira. INOVA – Qual a principal missão da Finep? Glauco Arbix – Toda discussão sobre inovação gira em torno da necessidade que o Brasil tem de elevar o padrão de competitividade e de produtividade da sua economia. Esse é o alvo primeiro da atividade da Finep e, penso eu, da atividade do governo, de seus ministérios e de todas as autoridades envolvidas nesse debate.

João Luiz Ribeiro/FINEP

Projetos cooperativos


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Não é somente o dinheiro, o recurso financeiro. Chamamos isso de capital inteligente porque só o recurso financeiro não é suficiente para a empresa. O que faz a diferença na empresa é também a gestão. Então o foco da Finep nessa atividade é retorno financeiro e a inovação” Patrícia Freitas, Superintendente da Área de Investimentos da Finep

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Inovar Fundos obtém ótimo retorno para investimentos Parceria na gestão de fundos permite à Finep ampliar e qualificar apoio a empresas Em maio, os meios econômicos noticiaram que o Fundo Stratus CG I, gerido pela Stratus Investimentos com aporte de R$ 4,8 milhões da Finep, por intermédio do Inovar Fundos, já havia dado um retorno de pouco mais de R$ 10 milhões à Financiadora. Esse bom resultado deve ser acentuado ao longo do ano, quando forem recebidos pela Finep os saldos restantes dos seis desinvestimentos (vendas) de empresa já realizados pelo Fundo Stratus. Isso sem falar na concreta possibilidade de desinvestimento das duas últimas empresas restantes na carteira. A expectativa é que o retorno total ultrapasse os R$ 13 milhões. O ótimo desempenho do Fundo Stratus chama a atenção para uma área menos conhecida da Finep, mas na qual a Financiadora já atua há uma década com alguma desenvoltura. Através do Inovar Fundos, a Finep adota diversas modalidades de investimento e, até o momento, já comprometeu recursos em 26 fundos de investimento (oito de capital semente, doze de venture capital, cinco de private equitye e um fundo de fundos). Um destes fundos já foi completamente desinvestido, onze estão em fase de investimento, oito em fase de desinvestimento e seis ainda em fase de captação. Somados os recursos da Finep e de outros investidores associados, estes fundos detém mais de R$ 4 bilhões e já investiram em 84 empresas inovadoras. Superintendente da Área de Investimentos da Finep, Patrícia Freitas conta que a Financiadora já participa de fundos de investimento desde 2001: “Essa atividade tem o objetivo de investir em empresas inovadoras, mas com capital inteligente e com várias externalidades positivas. A Finep investe no fundo, mas, para a efetivação do investimento, existe um processo de seleção dos gestores desse fundo. A Finep partici-

pa do processo de deliberação dos fundos, é claro, mas é esse gestor quem vai prospectar empresas e investir nas empresas”, diz. Segundo Patrícia, essa parceria na gestão dos fundos é muito boa porque permite à Finep apoiar um número maior de empresas, além de oferecer a elas um apoio mais qualificado: “Não é somente o dinheiro, o recurso financeiro. Chamamos isso de capital inteligente porque só o recurso financeiro não é suficiente para a empresa. O que faz a diferença na empresa é também a gestão. Então, o foco da Finep nessa atividade é retorno financeiro e inovação”, afirma. A superintendente avalia que as escolhas das modalidades de investimento são realizadas em consonância com o mercado: “O venture capital é a base das economias mais saudáveis no mundo. Um exemplo disso é que o pacote do governo dos Estados Unidos para enfrentar a crise teve uma parte destinada ao apoio à inovação e ao venture capital.”

Crescimento acelerado Nesses dez anos, a Finep realizou investimentos nos setores de Informática e Eletrônica, Agronegócio, Comunicação, Farmacêutica, Medicina e Estética, Alimentos e Bebidas, Biotecnologia, Serviços Financeiros, Indústrias Químicas, Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, Infraestrutura, Serviços Diversos, Serviços de Transporte e Logística, Varejo, Construção Civil, Educação e Energia e Combustíveis. Esses investimentos devem ser ampliados. Além da dinâmica de crescimento da economia brasileira, outro fator que pode ser fundamental para essa ampliação é o reconhecimento da Finep como instituição financeira, como deseja o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT): “A transformação da Finep em uma instituição financeira reconhecida pode ampliar o que a gente já faz. A Área de Investimentos já segue uma estrutura semelhante a uma instituição financeira. Essa mudança seria natural e só fortaleceria a Finep. A gente faz investimento, faz crédito, tem subvenção, tem empréstimo não-reembolsável para universidades e centros de pesquisa. Todas essas atividades são feitas a partir de chamadas públicas, dando a transparência que uma agência de Estado tem que


dar” analisa Patrícia Freitas. A superintendente afirma acreditar que o volume de investimentos da Finep vai crescer bastante nos próximos anos: “Nossa expectativa para o futuro é bastante positiva, já que o Brasil vive hoje um bom momento e a indústria amadureceu bastante nos últimos dez anos. Vários investidores internacionais consideram aumentar suas exposições ao País”, afirma Patrícia.

Com esse encontro de lógicas e formas diferenciadas de encarar a economia, que a gente consegue avançar e evoluir”

Desinvestimento consolida sucesso Quando o desinvestimento das duas empresas restantes em sua carteira for concluído, o Fundo Stratus CG I deverá se tornar o segundo fundo de investimentos com aporte de recursos da Finep a ser totalmente desinvestido. Assim como no primeiro caso, o fundo será finalizado com retorno acima do projetado: “O Fundo Stratus foi o primeiro fundo investido pela Finep e é considerado um caso de sucesso porque conseguiu executar a tese de investimentos proposta entregando um retorno atrativo aos seus cotistas e investindo em empresas inovadoras”, resume Patrícia. O principal case de sucesso do Fundo Stratus até agora foi a venda de sua participação na empresa Alog Data Centers do Brasil. A empresa, que ficou sete anos dentro do fundo, obteve um retorno que superou em dez vezes o capital investido. Com apenas 71 funcionários em 2004 , a Alog pulou para 400 funcionários em 2011. Dos pouco menos de cem clientes, pulou para mais de mil clientes, o que a torna atualmente uma das principais empresas brasileiras do setor de infraestrutura em Tecnologia da Informação (TI). “O segredo do sucesso do Fundo Stratus é a equipe gestora, que faz a diferença. Por isso que em todo processo de seleção e de análise de fundos realizado, a gente examina com muito cuidado quem é esse gestor que vai estar cuidando dos recursos da Finep”, diz Patrícia Freitas. Ela reafirma que o principal objetivo da Finep, além do retorno dos investimentos realizados nos fundos, é possibilitar o surgimento de novas empresas de sucesso, como é o caso da Alog, no Brasil.

INOVA – O estímulo à inovação tem como objetivo a promoção econômica ou social? Arbix – A Finep coloca no centro das suas preocupações a necessidade de fortalecer e estimular a inovação em todos os sentidos, em todos os setores da economia e em todas a as áreas de geração de conhecimento novo, seja na universidade, em centros de pesquisa ou em institutos nacionais, de modo que o país consiga criar uma base consistente que possa ser reconhecida como uma economia inovadora. Isso significa produzir e oferecer para a sociedade bens, serviços e processos diferentes, significa apresentar modelos de negócio diferenciados e um padrão de qualidade que permita ao País aumentar a renda e gerar postos de trabalho melhores que sejam ocupados por pessoas mais qualificadas. Em última instância, o que está em jogo é a nossa capacidade de elevar o padrão e a qualidade de vida das pessoas. INOVA – A união entre os setores público e privado possibilitaria um salto em termos de inovação tecnológica? Qual o papel da Finep no fomento dessa união? Arbix – A Finep trabalha para colocar o setor público em ação juntamente com o setor privado. A experiência no mundo todo mostra que, para inovar, você precisa de diferentes histórias, culturas e maneiras de olhar e equacionar os problemas. São precisos instrumentos diferenciados que hoje não estão de posse isoladamente nem do setor público nem do setor privado. Colocar esses dois setores em sintonia significa a possibilidade de otimizar e racionalizar esforços e viabilizar os processos de inovação. É só assim, com esse encontro de lógicas e formas diferenciadas de encarar a economia, que a gente consegue avançar e evoluir. A Finep, assim como outras instituições da República, oferece as possibilidades desse entroncamento entre os setores público e privado. Nossa diferença é que essa missão é central na atividade da Finep. INOVA – As propostas de alteração no marco regulatório de C,T&I elaboradas pela Finep apontam para uma maior autonomia na promoção da inovação no Brasil? Arbix – Sim. O aperfeiçoamento do marco regulatório é uma das tarefas mais importantes que nós nos colocamos. A Finep tem três instrumentos de atuação (o crédito, o não-reembolsável e a subvenção econômica), mas não trabalha com eles de modo combinado e flexível, de forma a atender às necessidades das empresas. Isso às vezes acontece, às vezes não acontece. A idéia de combinar estes instrumentos é super importante. JUNHO 2011 | INOVA

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Estudo analisa dados de 23.892 empresas brasileiras entre os anos de 1998 e 2008 e mostra: as que investiram em conhecimento cresceram pelo menos 21% a mais do que aquelas que não investiram. Hoje, o país tem 58,3% dos seus pesquisadores trabalhando em universidades, enquanto 5,1% trabalham no governo e apenas 37,3% nas empresas. A título de comparação, o percentual de pesquisadores nas empresas é de 79,7% nos EUA e de 66,4% na China.

Maior investimento em ciência e tecnologia Para Finep, essa é a condição para que o Brasil possa sustentar seu crescimento econômico Durante sua participação no XXIII Fórum Nacional, realizado na sede do BNDES em maio, o presidente da Finep, Glauco Arbix, afirmou a urgente necessidade de o Brasil destinar pelo menos 30% de seus investimentos globais ao setor de ciência e tecnologia. Sem esse salto, segundo Arbix, o Brasil não conseguirá sustentar seu desenvolvimento e, para garantir o futuro tecnológico brasileiro, a solução é seguir desde já o mesmo caminho trilhado pelos países desenvolvidos. O presidente da Finep usou o exemplo dos Estados Unidos, país no qual os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento giram em torno de US$ 400 bilhões anuais: “No Brasil, esse montante não passou de US$ 24,2 bilhões em 2009”, disse. Apesar de o Brasil ter conquistado avanços nas últimas décadas e criado um arcabouço legal para a área de inovação, “ainda existe um déficit institucional no país que não foi solucionado”, segundo Arbix. Para suprir esse déficit, o presidente da Finep diz ser preciso que “as instituições brasileiras estejam atentas para as mudanças” que ocorrem no Brasil e no mundo: “O amadurecimento das instituições brasileiras fornece as condições necessárias para o desenvolvimento econômico e social. Há muitas instituições criadas, algumas delas envelheceram, outras morreram, mas a transformação institucional continua sendo um desafio”.

Público e privado unidos Ao lado do ministro Aloizio Mercadante, que defendeu a mesma tese, Arbix afirmou que os setores público e privado precisam se unir e que é necessária uma maior inserção deste último em projetos de inovação tecnológica: “Se não for dessa forma, nós vamos mais uma vez perder o bonde da história. Nos últimos dez anos, o investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação contri-

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buiu para melhorar o cenário, mas foi insuficiente para diminuir o gap tecnológico que separa o Brasil dos países que estão na fronteira do conhecimento. Ele é o mesmo de 20 anos atrás”, disse. Arbix fez também um alerta sobre o baixo investimento das empresas privadas brasileiras em projetos de P&D. Segundo o informado pela Finep, o Brasil investiu em 2010 cerca de 1,3% do seu PIB em CT&I, mas 60% desses recursos vieram do setor público, cabendo somente cerca de 0,6% ao setor produtivo: “Nos países mais avançados, mais de 70% dos dispêndios em P&D são realizados pelas empresas”, afirmou. Outro problema apontado por Arbix é a taxa de inovação nas empresas brasileiras que, segundo o IBGE, não vem conhecendo melhoras significativas nos últimos anos. Hoje, o País tem 58,3% dos seus pesquisadores trabalhando em universidades, enquanto 5,1% trabalham no governo e apenas 37,3% nas empresas. A título de comparação, o percentual de pesquisadores nas empresas é de 79,7% nos EUA e de 66,4% na China.

mais investimentos em inovação “Aqui no Brasil, estima-se que o setor produtivo invista R$ 25 bilhões por ano em inovação. Há um desejo do governo, que deve se traduzir em um plano de ação do MCT a ser divulgado nos próximos meses, de deslocar esse percentual de 0,6% do PIB para o mais próximo possível de 1%”, afirma o chefe do Departamento de Planejamento Orçamentário da Finep, André Amaral, ressaltado: “mesmo que o setor produtivo dobre e passe para R$ 50 bilhões, ainda não é uma cifra tão grande”. Segundo Glauco Arbix, a Finep deve “aumentar recursos e aperfeiçoar procedimentos” para centralizar seu foco de atuação nas áreas intensivas em conhecimento de forma a melhorar a qualidade dos seus investimentos em C,T&I. A mesma idéia foi defendida pelo diretor de Inovação da Finep, João De Negri, durante um debate realizado na sede da Financiadora no Rio: “A Finep cobre bem o espectro de empresas emergentes nas suas


Inova Brasil: duas linhas de crédito Até julho, a Finep pretende executar cerca de R$ 1,75 bilhão em recursos do Programa de Sustentação ao Investimento 3, que é voltado para o apoio a projetos de inovação científica e tecnológica em médias e grandes empresas. Os recursos serão aplicados através do Programa Inova Brasil e devem contemplar 120 projetos em oito áreas prioritárias. O Inova Brasil oferece duas linhas de crédito, uma para inovação tecnológica e outra para capital inovador. O pedido mínimo de financiamento por projeto é de R$ 1 milhão e as linhas de crédito terão taxas de juro anuais fixas de 4% e 5%, respectivamente. Outro programa de financiamento, desta vez voltado a pequenas e médias empresas, é o Primeira Empresa Inovadora (Prime). Os sucessivos adiamentos do lançamento da segunda parte do programa, no entanto, já alimentam rumores de que a Finep estaria pensando em abandonar essa linha de atendimento, fato que é negado pela direção da empresa. Criado em novembro de 2009, o Prime contratou 1.381 empresas e executou R$ 165 milhões em recursos até o fim de 2010.

Temos que batalhar para que a inovação e a tecnologia sejam consideradas um valor dentro da casa parlamentar”

INOVA – Como funcionria a Finep-Par? Arbix – Estamos tentando definir um espaço de atuação para a Finep de modo que ela possa construir uma Finep-Par que, nos moldes do BNDES-Par, seria um braço que investe em empresas de base tecnológica e corre juntamente com essas empresas os riscos do mercado. Se a empresa for bem, nós vamos também auferir uma parte dos resultados obtidos. Se for mal, vamos dividir os prejuízos com a iniciativa privada. São processos normais de investimento, conhecidos como venture capital ou capital semente. INOVA – Há outras propostas? Arbix – Esses dois elementos dão suporte a um terceiro bloco de sugestões de modificação no Marco regulatório. Estamos tentando dar mais musculatura aos fundos geridos pela Finep e aumentar o volume de recursos que temos para investir. Hoje, a Finep investe cerca de R$ 4 bilhões por ano em inovação, mas teríamos a necessidade de já estar investindo concretamente R$ 10 bilhões por ano. Até 2020, nós precisaríamos investir R$ 40 bilhões no coração da economia, naquela área sensível ligada à inovação e tecnologia e que tem o poder de puxar outras áreas. Com isso, o Brasil teria condições de competir em pé de igualdade com seus concorrentes mais diretos como, por exemplo, China e Índia que já estão fazendo isso.

João Luiz Ribeiro/FINEP

ações de fomento, mas ainda alcança uma parte pequena das empresas líderes. Portanto, há um espaço grande para o crescimento das nossas ações”, disse. Nesse mesmo debate, foram apresentados os resultados da pesquisa “Metodologia de Avaliação dos Resultados de Conjuntos de Projetos Apoiados por Fundos de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Realizado em parceria pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o estudo analisa dados de 23.892 empresas brasileiras entre os anos de 1998 e 2008 e mostra que as empresas que investiram em conhecimento cresceram pelo menos 21% mais do que as empresas que não investiram.


investimentos

portos

Maquete e imagens do porto de Salvador, que passou por reformas para receber navios de grande porte

Bahia aposta em inova

Sistema portuário público se prepara para descentralizar demanda do sul e Laís Corread

lais.cultura@gmail.com

tento à saturação nacional do sistema portuário, o estado da Bahia investirá, até 2014, R$ 1 bilhão na ampliação e modernização dos portos públicos de Ihéus, Salvador e Aratu. O aporte é proveniente do Governo Federal, da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) e da iniciativa privada. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o movimento nos portos brasileiros deve crescer em torno de 20% em 2011, em comparação com o ano anterior. “O setor portuário está com sua capacidade instalada praticamente saturada e precisa de investimentos urgentemente”, afirma o diretor da Agência, Tiago Lima.

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Recentemente, foi concluído nos portos de Salvador e Aratu a dragagem de aprofundamento, que aumentou para 15 metros o calado operacional, possibilitando a atração de navios de maior porte. O porto de Aratu, o mais importante do estado, possui localização estratégica, na Baía de Todos os Santos, e atende principalmente ao Centro Industrial de Aratu, no município de Candeias, e o Polo Petroquímico de Camaçari.

Obras inovadoras Além da dragagem de aprofundamento do Porto de Salvador, concluída em 2010, outros projetos em andamento devem reinserir esse porto entre os principais do País. Um deles é a Via Expressa Baía de Todos os Santos, trecho rodoviário exclusivo para ligar o porto diretamente à BR-324, desafo-

gando o tráfego dentro da capital e reduzindo o custo de logística para as empresas. Outro projeto é a ampliação do terminal de contêineres de Salvador, possibilitando um incremento de quase 100% na capacidade operacional. Há também a implantação da Estação Marítima de Passageiros, para melhorar a infraestrutura turística, um dos principais setores da economia local. Mas a obra que está realmente criando expectativas em todos os setores é a construção da ferrovia Oeste-Leste, que promete liquidar a falta de integração com a malha logística nacional, principal problema enfrentado pelos portos da Bahia. A nova ferrovia irá ligar o município de Figueirópolis, em Tocantins, a Ilhéus, no sul da Bahia, formando um corredor de transporte que otimizará o escoamento da produção e servirá de ligação a outros polos do País.


FOTOS: DIVULGAÇÃO

inovação à beira-mar

e sudeste e atrair novos investimentos para o nordeste Localização privilegiada A segunda cartada para o setor portuário baiano, depois das melhorias estruturais, é a valorização da posição geográfica privilegiada do estado. “A localização da Bahia é estratégica e significa seu grande diferencial. Ela está na metade do caminho entre a ligação sul/norte da costa leste das Américas, bem como a curta distância entre a África e a Europa. Além disso, podemos destacar as águas abrigadas e profundas da Baía de Todos os Santos, ideais para essa atividade”, explica José Rebouças, presidente do Codeba. Para os produtores de grãos do centro-oeste do País, o frete também pode ser reduzido pela metade se a opção for o nordeste ou até mesmo o norte. A reunião desses fatores e o crescimento das novas fronteiras agrícolas nacionais resultará em uma migração irreversível para os portos emergentes.

O setor portuário está com sua capacidade instalada praticamente saturada e precisa de investimentos urgentemente” Tiago Lima, diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq)


Luciano Garcia

Edgar Souza

Da esquerda para a direita: José Rebouças, presidente do Codeba, destaca a privilegiada localização da Bahia Denir Lourenço Junior, diretor executivo do Tecon, quer o porto de Salvador (foto ao lado) equiparado aos melhores do País

A revitalização dos portos também pretende atrair empresários do próprio estado. O oeste da Bahia é a segunda região que mais produz algodão no Brasil, mas as exportações são realizadas pelos portos do sudeste

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O resultado das mudanças já pode ser observado, de acordo com o diretor presidente da Codeba, José Rebouças. “Os portos baianos registraram em 2010 o melhor resultado de uma série histórica”, relata. No ano passado, foram faturados R$ 97 milhões e movimentadas 9,27 milhões de toneladas. Apenas o porto de Aratu, comparado ao ano de 2006, obteve um crescimento de mais de 50% em faturamento.

PIB em ascensão A justificativa para os números positivos também está ligada à boa saúde da economia local. A Bahia é o sétimo estado mais rico do País e tem se destacado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No último trimestre do ano passado, o PIB baiano cresceu 7,5%. “O investimentos nos portos vem para acompanhar a crescente demanda da economia local”, afirma Rebouças. A revitalização dos portos também pretende atrair empresários do próprio estado. O oeste da Bahia é a segunda região que mais produz algodão no Brasil, mas as exportações ainda são realizadas pelos portos do sudeste. “Em 2010, 80% do algodão baiano foi exportado pelo Porto de Santos. A ideia é que, a partir de 2012, o porto de Salvador atenda a essa demanda, encurtando 641 km de viagem. A alternativa trará mais dinamismo, mais competitividade e ainda contribuirá com o planeta, emitindo menos poluentes”, afirma o diretor da Codeba.

Aumento de exportações Vantagens como essas têm diminuído gradativamente as diferenças regionais. A cada ano, os portos do norte e nordeste ampliam a participação na exportação. Dados do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que os três principais canais de escoamento das duas regiões – Itacoatiara (AM), Santarém (PA) e Salvador (BA) – já representam 10% de todo o volume de soja e milho exportado. Para os investidores do setor privado, que sempre sofreram com a falta de infraestrutura da região, o nordeste está vivendo bons momentos. Na capital baiana, todos os gargalos que antes a impediam de competir com os portos do sul e sudeste estão sendo eliminados. “No ano passado, foram concluídas obras importantes que nos permitem receber navios de grande porte e acreditamos que em curtíssimo prazo estaremos operando nas mesmas condições dos principais portos do País”, afirma Demir Lourenço Júnior, diretor executivo do Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon). Pensando na qualificação do setor, a empresa está investindo R$ 160 milhões para o aumento de sua capacidade.


tecnologia

embalagem

Nova embalagem preserva identidade visual do McDonald’s

embalagem anti-gordura usa nova matéria-prima Parceria da Suzano com o McDonald’s desenvolve papel especial que garante melhor conservação dos alimentos e reduz consumo com embalagens papel cartão Art Premium Barr é uma inovadora matéria prima para embalagens, fruto da parceria entre a companhia Suzano Papel e Celulose e o McDonald’s. Mais rígido, é utilizado para sanduíches, batatas fritas e tortas da rede de fast-food. “Estamos sempre em busca de inovação em todas as áreas e qualidade é uma premissa da qual não abrimos mão. Esse produto tem tudo a ver com nosso foco no consumidor”, destaca Celso Cruz, diretor de Supply Chain da Arcos Dourados do Brasil, empresa que opera a marca McDonald’s na América Latina.

qualidade em respeito ao meio ambiente O novo cartão preservou as características físicas das embalagens da rede e, em função da menor gramatura, reduziu de forma considerável o consumo anual de cartão, estando, portanto, totalmente alinhado a um dos principais pilares da empresa: a sustentabilidade. “Estamos gerando qualidade, sem impactar o meio ambiente”, enfatiza Celso Cruz. Adriano Canela, gerente Executivo de Estratégia e Marketing da Papel Suzano, acredita que agregar inovação é uma estratégia importante adotada pela companhia para se antecipar às necessidades dos clientes e demandas do mercado. “Este produto reforça o posicionamento da empresa como líder em vendas de papel cartão com verso branco na América Latina, por meio de produtos com maior valor agregado”, avalia.

Além da “superior barreira, alto corpo e melhor rigidez”, o que impede a expansão da gordura, o novo Art Premium Barr, segundo Canela, também incorpora beleza e modernidade às embalagens. “Ele reflete um produto de alta qualidade, já que temos certificação FSC (Forest Stewardship Council Conselho de Manejo Florestal) e aprovação do ISEGA, órgão internacional que atesta a compatibilidade do produto para contato direto com o alimento”, finaliza. A Brasilgráfica, uma das maiores indústrias gráficas de embalagens impressas pelo sistema Off-Set da America Latina, que montou as embalagens, pode atender outras empresas de qualquer segmento. “Outros clientes, não apenas os que atuam com alimentação, também podem utilizar o material”, explica o gerente de Marketing, Célio Coelho Magalhães. (CC)

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serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

BNDES patrocina eventos e O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) patrocina a edição de publicações e a realização de eventos - como festivais, congressos, feiras e seminários - que possam gerar benefícios significativos para a sociedade e contribuir para reforçar a cultura de inovação no Brasil. O banco mantém linhas de patrocínio subdivididas em temas prioritários, para atender projetos de interesse público, que demonstrem sua contribuição para o desenvolvimento do País. Os pedidos devem ser apresentados por pessoas jurídicas regularmente constituídas no Brasil, que detenham – isolada ou conjuntamente – a responsabilidade legal pela iniciativa.

Como solicitar o patrocínio

Os interessados deverão preencher o Formulário de Solicitação de Patrocínio (FSP) de acordo com a modalidade do projeto (FSP/Evento; FSP/ Publicação ou FSP/Rouanet), e enviá-lo à Gerência de Patrocínios, acompanhado da documentação para a etapa de análise preliminar e de qualquer material complementar que julguem necessário. Caso o projeto seja selecionado, o BNDES solicitará o encaminhamento da documentação jurídica para a etapa de análise. Além disso, o banco poderá solicitar do proponente a apresentação de três cotações de preço para cada serviço/produto a ser reembolsado.

Prazo para solicitação

Os pedidos de patrocínio devem ser enviados com, no mínimo, 60 dias de antecedência da data de início do evento ou lançamento da publicação. O prazo só começará a ser contado após a entrega do formulário de solicitação, acompanhado do orçamento e da documentação para a etapa de análise preliminar. Após o envio do projeto, o BNDES avaliará a proposta e comunicará formalmente (por e-mail ou carta) o resultado ao proponente. A resposta será encaminhada em até 45 dias antes do início do projeto.

Liberação dos recursos

A efetivação do patrocínio do BNDES ocorre na forma de reembolso, ou seja, os recursos só são liberados após a execução total do projeto e a comprovação dos gastos financeiros previstos e das contrapartidas negociadas. No caso de projetos enquadrados na Lei Rouanet, poderá ser avaliada a liberação parcelada de recursos, de acordo com o cronograma de execução do projeto.

Mais informações

www.bndes.gov.br

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publicações Critérios de

seleção do BNDES mérito da proposta; credibilidade e capacidade gerencial do proponente; adequação à política de patrocínios do BNDES; contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do País; viabilidade técnico-financeira; resultados previstos; impacto social; retorno de imagem para o Banco; grau de acesso do público ao projeto patrocinado; localização/região do evento ou da distribuição da publicação.

Temas prioritários da

linha de patrocínio a eventos e publicações

Questões econômicas; Inovação tecnológica; Cidadania e inclusão social; Preservação ambiental; Desenvolvimento sustentável; Economia da cultura e preservação do patrimônio cultural.

Não serão objeto de patrocínio projetos de pessoas físicas; de associações de empregados das empresas integrantes do Sistema BNDES; de entidades político-partidárias ou religiosas; que desrespeitem princípios éticos; que agridam o meio ambiente.

Programa de inovação tem inscrições abertas Está aberto o período de inscrições de projetos ao Programa Oseo/Finep, que seleciona propostas de desenvolvimento inovativo, entre empresas brasileiras e francesas. O Acordo de Cooperação Tecnológica, assinado pelos dois países em 7 de maio de 2009, prevê que o Programa tenha duração inicial de cinco anos. A Oseo é a agência de inovação da França, equivalente à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT) no Brasil. Até 20 de setembro de 2011, a Finep e a Oseo recebem propostas de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P, D & I) que envolvam tecnologias aplicáveis a qualquer área do conhecimento, desenvolvidas sob a coordenação de empresas do Brasil e da França. Os projetos devem ser complementares e capitaneados por uma empresa nacional e uma francesa. As propostas devem ser apresentadas às duas agências – redigidas em francês, para a Oseo, e em português, para a Finep. Na fase 1, a empresa nacional que compõe esta parceria tem de apresentar à Finep o formulário eletrônico preenchido com os dados do futuro projeto e com informações sobre as condições de formalização do Termo de Parceria Técnica. As propostas devem contemplar o desenvolvimento de produtos inovadores que atendam a uma necessidade imediata do mercado. Centros de pesquisas, universidades e empresas de outros países poderão integrar o projeto na condição de participantes, mas não como proponentes do projeto. Na fase 2, as empresas que tiverem propostas selecionadas devem apresentar os projetos, juntamente com cópia do Termo de Parceria Técnica celebrado nas condições apresentadas na Fase 1. Cada proposta de projeto será analisada de acordo com a legislação, regulamentos e procedimentos vigentes no país em que se localiza a sede da empresa proponente. No caso das empresas francesas, serão elegíveis aquelas que tiverem um quadro consolidado inferior a dois mil empregados (caso o projeto esteja inserido no Programa Estratégico de Inovação Industrial, o total deve ser inferior a cinco mil empregados). No caso das empresas brasileiras, serão elegíveis aquelas cuja receita auferida em 2009 tenha sido inferior a R$ 300 milhões. A aplicação dos recursos a serem desembolsados pela Finep se dará exclusivamente para despesas relacionadas à parte brasileira dos projetos. Mais informações

www.portalinovacao.mct.gov.br

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INTERNACIONAL | agrotóxicos

A solução de curto e médio prazo é o controle extensivo e intensivo desses produtos, numa cadeia que vai desde a produção até o consumo, passando pela sua manipulação e pela disposição dos resíduos”

flávio Aguiar Escritor e correspondente em Berlim

flavio-aguiar@t-online.de

Trabalhadores borrifam agrotóxico em plantação de arroz

A lógica dos Necessários à produção de alimentos, os proporções, como no acidente em Bhopal, s nomes são vários: pesticidas, praguicidas, agrotóxicos, defensivos agrícolas... O mais interessante é o último, porque implica algumas perguntas: defender quem, ou o quê, de quê, ou de quem? Defender as plantas? Os animais? Os seres humanos? As águas, as terras e a atmosfera? Todos os anteriores? Ou defender o rendimento e a lucratividade da produção? É possível defender tudo ao mesmo tempo? Às vezes sim, às vezes não. O caso mais exemplar que ilustra as contradições entre essas perguntas continua sendo o da cidade de Bhopal, no centro da Índia, ocorrido na década de 80 do século passado. Às

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21h00 do dia 2 de dezembro de 1984, os trabalhadores começaram uma “operação limpeza” na fábrica do pesticida Sevin, pertencente à Union Carbide India Limited, uma subsidiária da Union Carbide Corporation (hoje parte da Dow Chemical), dos EUA. Por que aquela unidade foi parar lá? Redução de custos: salários mais baixos, fiscalização mais frouxa, essas coisas que conhecemos. Às 22h00, a água da limpeza vazou indevidamente para dentro do tanque 610, provocando uma reação que elevou a temperatura interior para 200 graus Celsius. Em consequência, às 22h30 houve uma liberação do gás metil-isocianato através da torre de ventilação. Aos 30 minutos do dia 3, a sirene de alarme soou, mas


SHUTTERSTOCK

defensivos agrícolas defensivos agrícolas, sem controle, provocam envenenamento, em grandes na Índia, ou em doses homeopáticas, no cotidiano de boa parte do planeta inexplicavelmente foi desligada. Aos 50 minutos, soou de novo, mas apenas para o interior da fábrica. Os trabalhadores começaram a fugir. Fora da fábrica, já às 22h30, a população de Bhopal começou a sentir os primeiros efeitos do gás: tosse, sufocação, ardência nos olhos, vômitos. À 01h00 do dia 3, a polícia, alertada, começou a evacuar a área. Ao mesmo tempo, o diretor da fábrica negou que houvesse vazamento. Às 02h00, os hospitais próximos começaram a receber os primeiros pacientes, já com sintomas graves: cegueira total ou parcial, dificuldades respiratórias, bolhas e baba espumosa na boca, vômitos com sangue. Às 02h10, a grande sirene foi ouvida novamente. Às 04h00, o vazamento foi controlado. Às 07h00, a polícia anunciou que

a situação voltara à normalidade. Normalidade? Nos dias subsequentes, todas as árvores da região perderam as folhas e 2.000 animais morreram. Hoje, a contagem oficial é de 3.787 seres humanos mortos, 558.125 feridos, 38.478 incapacitados temporariamente e 3.900 permanentemente. Questões judiciais permanecem pendentes até hoje, embora a Union Carbide tenha pago centenas de milhões dólares em indenizações, depois de condenada nos tribunais. As causas do acidente foram discriminadas como sendo o armazenamento inadequado, em tanques muito maiores do que o conveniente; manutenção deficiente; falhas no sistema de segurança; e mecanismos de segurança desligados para economia de gastos.

Bhopal foi um caso extremo. Mas dá ideia da complexidade e da gravidade da questão. É impossível, nas condições atuais, pensar em produções agrícolas em escala mundial sem recurso a defensivos agrícolas, ou agrotóxicos. Uma alternativa depende de uma rotação mutante na produção e nos hábitos de consumo de bilhões de pessoas que vai demandar gerações. E há mais alguns bilhões esperando poder entrar no mercado consumidor de alimentos para ter acesso ao mínimo condizente com a dignidade humana. A solução de curto e médio prazo é o controle extensivo e intensivo desses produtos, numa cadeia que vai desde a produção até o consumo, passando pela sua manipulação e pela disposição dos resíduos.

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A Organização Mundial de Saúde estima em três milhões o número de agricultores ou consumidores envenenados por pesticidas anualmente só nas nações subdesenvolvidas, com 18.000 óbitos.”

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A União Européia vem construindo um padrão para o setor, através da “Política Agrária Comum” e da “Política de Desenvolvimento Rural 2007 – 2013”. Mas as dificuldades são de monta, a começar pelo tamanho da empreitada: 91% do território são considerados rurais; 56 % da população vivem nessas áreas; 50% das terras servem a algum tipo de produção agrícola. A produção de pesticidas é altamente internacionalizada. As estatísticas apontam 2.261 produtores. Só na Ásia, há 1.285 e na Europa, 488. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em três milhões o número de agricultores ou consumidores envenenados por pesticidas anualmente só nas nações subdesenvolvidas, com 18.000 óbitos. A política da UE colocou como pedra de toque de sua política uma prática chamada, em inglês, de cross-compliance, que consiste em estímulo financeiro direto aos produtores, que comprovem “padrões básicos de segurança ambiental e alimentar”, o que inclui também a saúde de animais e seu bem estar. Assim mesmo, o controle direto da produção, distribuição e consumo de produtos agrários continua a ser basicamente nacional, bem como o do uso e da disposição de defensivos. O caso mais citado na Europa como problemático é o da França. Ela é o terceiro consumidor mundial de defensivos, só perdendo para os EUA e o Japão (a U. E. é a segunda consumidora mundial). As estimativas falam num consumo anual de pesticidas da ordem de no mínimo 75 mil até 100 mil toneladas por ano. Por outro lado,

só em 2008 o governo descobriu 103 toneladas de pesticidas ilegais (não autorizados ou contrabandeados) no país. 80% dos rios e 57 % do lençol freático são considerados como tendo algum tipo de contaminação. Um agricultor em cada seis tem ou já teve problemas de saúde por causa da manipulação de defensivos. Pesquisas oficiais mostram que 7,6 % das frutas e legumes chegam ao mercado com resíduos acima do legalmente permitido. Mas além dos agricultores, as pesquisas mostram que há outros usuários, alguns surpreendentes para o leigo (como eu): concessionários de estradas, jardins particulares, companhias de navegação, serviço de trens (a estatal SNCF) e, naturalmente, campos de golfe... Esse acúmulo de problemas tem levado os governos europeus à criação de programas de redução do uso de defensivos. Na França, a intenção é reduzir o uso em 50% até 2019, enquanto na Alemanha, onde o uso não é tão expandido, prevê-se uma redução de 15% até 2015. Pode-se dizer que, num mundo ainda premido pela fome, pode haver, momentaneamente, alguma lógica no uso de pesticidas, embora com mais e melhor controle local e internacional para prevenir macrotragédias com a de Bhopal, e as micromacro-tragédias da ingestão cotidiana de resíduos nocivos. A questão é, justamente, saber se produtores, distribuidores, usuários e consumidores também terão alguma lógica em suas ações para além do lucro ou do conforto imediatistas.


meio ambiente

mata atlântica

Mata Atlântica já foi a segunda maior floresta tropical do mundo. Hoje restam 7,9% da vegetação original

WWF inova para despertar a consciência ambiental Ong lança jogo sobre a Mata Atlântica em seu site para interagir com internauta Clébio Cavagnolle Cantares clebio@abcdmaior.com.br

WWF-Brasil, organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, encontrou uma nova forma de chamar a atenção para a necessidade de preservação ambiental. Inseriu em seu site jogos interativos que, em breve, poderão ser instalados em celulares. A novidade foi lançada dia 27 de maio, quando se comemora o dia daMata Atlântica. Segundo Maria Cecília Wey de Brito, coordenadora do Programa Mata Atlântica, os jogos despertam a atenção do público. “O formato atrai pela interatividade, reforça os conhecimentos sobre a mata e leva as pessoas a valorizarem e buscarem sua preservação”, explica. A organização já pensa em inserir programas similares nas redes sociais, como Orkut e Facebook. “Esse contexto interativo traz as pessoas para mais perto do tema, o que é fundamental para que a conscientização seja eficaz”, ressalta Maria Cecília. O primeiro projeto foi batizado de “Mata Atlân-

tica em Jogo”. É um teste de conhecimento on-line educativo e bem humorado sobre o bioma, um dos recordistas em número de animais e plantas no planeta. “A ideia foi despertar em cada brasileiro a curiosidade em conhecer, respeitar e preservar essa ecorregião e sua biodiversidade”, destaca a coordenadora.

Jogo mostra diversidade da Mata Atlântica O aplicativo para internet traz uma série de perguntas e várias opções de respostas, com vídeos, sons, fotos e curiosidades sobre a Mata Atlântica, que, segundo Maria Cecília, mostram sua diversidade. “O objetivo é fazer com que o internauta possa se divertir e aprender. A cada acesso, dez questões são sorteadas aleatoriamente. O jogo é voltado para jovens e adultos, mas pode ser também uma ótima oportunidade para pais e mães apresentarem a Mata Atlântica para as crianças”, destaca a coordenadora. O jogo pode ser acessado pelo endereço mataatlantica.wwf.org.br/mataemjogo.

Pouco resta da vegetação original Para a coordenadora, o projeto é fundamental dentre inúmeras ações que visam chamar a atenção para aquela que já foi a segunda maior floresta tropical do mundo, ocupando porções da Argentina, Paraguai e principalmente do Brasil, onde alcançava 17 estados e mais de 3.200 municípios. Hoje, ela está bem reduzida, restando 7,9% de sua vegetação original.

Maria Cecília Wey de Brito, coordenadora do Programa Mata Atlântica: “os jogos despertam a atenção do público”


ponto de vista Maria Tereza Leopardi Mello leopardi@ie.ufrj.br

inovação: conceitos legais e suas implicações Embora quase sempre associada à tecnologia, inovação pode ser aplicada não apenas a produtos e processos, mas à organização e ao marketing, desde que envolva um grau de novidade para a companhia. Pode ser uma inovação copiada de outra empresa e não precisa ser nova no mercado

literatura especializada costuma problematizar a delimitação dos conceitos de inovação e de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e como isso repercute nos desenhos das políticas de incentivos voltadas a essas atividades. Reconhece-se a necessidade de ampliar o conceito de inovação, tanto no plano teórico quanto nos estudos aplicados à economia da inovação. Em primeiro lugar, inovação não é apenas de natureza tecnológica; e mesmo em relação às inovações tecnológicas, o impacto econômico que podem ter decorre não apenas da pesquisa e “invenção” de um novo produto ou processo, mas também de todas as atividades necessárias a sua colocação no mercado e a seu processo de difusão – as atividades de desenvolvimento, comercialização, distribuição e imitação são, também elas, atividades ‘inovativas’. Seguindo essa linha, o Manual de Oslo estabelece que inovação é tudo que é novo ou significativamente aperfeiçoado para a empresa, mesmo não sendo necessariamente novo para o mercado. Inovação consiste na implementação “... de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”. Definem-se, nesse Manual, os quatro tipos de inovações: além de novos produtos e processos, há também as inovações organizacionais (e.g. mudanças nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho etc) e as inovações de marketing (e.g. mudanças no design do produto, embalagem, promoção, precificação etc.). O fundamental é que tais mudanças – para serem consideradas inovações - devem envolver um grau de novidade para a firma; pode

ser uma ‘inovação’ imitada de outras firmas e não precisa ser nova para o mercado. O Manual define ainda o que se entende por atividades de inovação, que consistem em etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem... à implementação de inovações. Algumas atividades de inovação são em si inovadoras, outras não são atividades novas mas são necessárias para a implementação de inovações – ou seja, incluem a P&D mesmo que não esteja diretamente relacionada ao desenvolvimento de uma inovação específica. Essa conceituação tem implicações evidentes para a discussão de políticas públicas voltadas para incentivar as atividades inovadoras, pois quanto mais amplas forem as fronteiras da definição conceitual do objeto incentivado, maior o universo de agentes/atividades que poderão se beneficiar, e vice-versa. Note-se, entretanto, que a discussão conceitual jurídica, voltada para a tomada de decisões e implementação de políticas, se submete a uma lógica diversa daquela do debate acadêmico. A amplitude da definição não é, por si, boa ou má, certa ou errada; a questão é saber se essa amplitude é adequada ao alcance dos objetivos de dada política; é saber o que se deseja incentivar e o que necessita ser incentivado. Na legislação brasileira referente a inovação – a Lei 10.973/04, a Lei 10.176/01 e a Lei 11.196/05, que constituem o principal aparato legal das políticas em vigor – esse conceito ampliado de atividade inovativa parece ser predominante. Há diversas hipóteses legais nas quais o conceito de inovação contempla não apenas a novidade para o mercado mas também para a empresa.

Maria Tereza Leopardi Mello é professora do Instituto de Economia da UFRJ


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