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AMANDA PEROBELLI

ANO 1 | NO 01 | AGO • 2010 | EXEMPLAR CORTESIA

universidade da

inovação

LUCIANO VICIONE

Modelo interdisciplinar coloca a UFABC na vanguarda do ensino universitário brasileiro e fortalece espaço de inovações na Região

MATRIZ ENERGÉTICA Mercedes testa diesel extraído da cana de açúcar.

PROMESSA A UFABC nasceu com uma vocação tecnológica e pode transformar-se na mais importante universidade do País.



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editorial

universalidade da inovação Depois do sucesso da circulação de seu número zero, esta nova edição consolida o conceito de inovação que será perseguido pela INOVABCD. Os exemplos das duas reportagens especiais publicadas pela Revista, “A Caça ao Caça”, do número zero, e “Universidade da Inovação”, do número um, mostram com toda clareza a vocação editorial desta nova publicação: olhar para o futuro do País e da comunidade internacional, a partir dos interesses do ABCD. E entender que, sem inovação em todos os campos da vida social, não há futuro para ninguém. E esta edição é expressão fiel deste conceito. O modelo inovador da Universidade Federal do ABC (UFABC), promete ao velho “carro chefe da indústria nacional” e ao País novos horizontes de conhecimento. E, do ponto de vista de seu objetivo imediato, a missão é produzir uma nova força de trabalho, uma mão de obra que pensa.

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E para quem imagina a inovação apenas no campo da tecnologia, a variedade de temas abordados pelas reportagens de INOVABCD mostra que há uma universalidade em torno do conceito de inovação. Ainda que inspirada na realidade social e econômica do ABCD, esta edição consegue trafegar também por inovações no campo da legislação trabalhista e constitucional, da economia

solidária, políticas públicas federais e iniciativas nacionais voltadas a estimular práticas inovadoras. Além disto, oferece ao leitor uma seção de serviços, que deve expandirse em edições posteriores. A experiência do número zero, que circulou em maio, já mostrava que este projeto veio para ter vida longa. Veio com a força da bandeira de uma parceria da Região com uma das mais poderosas indústrias de defesa do globo e cujo objetivo é conquistar um parque aeroespacial para o ABCD. E o que os editores de INOVABCD almejam é fazer de cada nova edição mensal da publicação uma alternativa capaz de ajudar a sociedade regional a vencer os desafios do crescimento com justiça social e respeito ao meio ambiente. Também responsável pela circulação do jornal ABCD MAIOR a MP Editora espera estar oferecendo à Região, e, em conseqüência, ao Brasil, uma nova ferramenta de debate e organização dos interesses e políticas de desenvolvimento regional num mundo globalizado. Celso Horta


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A INOVABCD traz a radiografia em alta definição de uma das mais inovadoras instituições de ensino do país. Seu método interdisciplinar motiva professores e alunos sensíveis ao desafio do conhecimento.

10 UFABC inova em busca da excelência 12 Um marco na gestão Lula 14 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO APROVA INOVAÇÃO 17 Uma história de lutas 18 Modelo atrai professores e alunos 19 UFABC como instrumento inovador 20 Universidades são organismos vivos

03 Editorial UNIVERSALIDADE DA INOVAÇÃO

06 Entrevista - Luis Paulo Bresciani

UMA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO O secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de Diadema mostra como o município está se preparando para atender às demandas impostas pelo acelerado aquecimento da economia.

22 Tecnologia

PARCERIA IMPERFEITA: FÁBRICA DA HELIBRÁS Instalada há 30 anos em Itajubá, até agora não fixou uma interação com agentes econômicos e educacionais.

24 Intercâmbio

PARA O ALTO E AVANTE Prefeita de Linköping confirma interesse da Saab em SBC.

25 Notas

FINANCIAMENTO PARA O E-PROD O BID financia o projeto piloto de um programa inovador desenvolvido pela USCS.

26 Pesquisa

REDESCOBERTA DO PETRÓLEO A Amyris Brasil inova ao extrair diesel da cana-de-açúcar.

28 Cases de sucesso

GESTÃO COOPERATIVA Centro de Formação Padre Leo Comissari, em São Bernardo do Campo é modelo de gestào inovadora.

29 Serviços

FINANCIAMENTO AO ALCANCE DE TODOS Tabela apresenta as melhores opções de crédito.

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PRESIDENTE LULA Opção tecnológica da UFABC enquadra-se no perfil regional.

32 Oportunidades

ACORDOS ESTIMULAM INOVAÇÃO Parcerias firmadas entre o governo federal, a CNI e o Sebrae impulsionam o investimento nas micro e pequenas empresas.

34 Ponto de vista

REGINALDO BRAGA ARCURI Inovação e política de desenvolvimento produtivo.

EXPEDIENTE: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 Editor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) Redação: Paulo Carneiro, Clébio Cavagnolle Cantares, Joana Horta e Caio Luiz. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami. DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 43356017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Débora Farina Impressão: Laser Press Tiragem: 40 mil exemplares

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FOTOS: AMANDA PEROBELLI

entrevista Luis Paulo Bresciani

uma ESTRATéGIA D INOVABCD - Pré-Sal, Minha Casa Minha Vida, Rodoanel, crescimento projetado para o PIB de 5% nos próximos cinco anos. De que forma cidades como Diadema se organizam para aproveitar essa conjuntura favorável? Bresciani – Dividimos as ações estratégicas de desenvolvimento da cidade em cinco eixos. A consolidação do centro público de trabalho e renda, estímulos às cadeias produtivas, com concentração na indústria, qualificação profissional, desenvolvimento territorial e configuração de uma plataforma de dados e informações econômicas visando auxiliar na tomada de decisões.

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INOVABCD – O Centro Público de Trabalho e Renda (CPTR) foi usado como ferramenta no combate aos obstáculos surgidos no mercado de trabalho durante a crise. Em que medida a cidade está buscando consolidar esse instrumento? Bresciani – Estamos consolidando o convênio feito com o governo federal em 2006, que foi prorrogado até dezembro de 2011, mas devido aos resultados gerados no momento da crise, quando abrimos várias oportunidades de recolocação e qualificação profissional aos trabalhadores da cidade, daremos continuidade, independentemente do fim da parceria. O CPTR foi uma verdadeira trincheira usada no enfrentamento da crise, com rápida inserção de pessoal. Estabelecemos não apenas a intermediação entre a oferta de vagas e quem as buscava, mas focamos o centro como uma porta de entrada para o mercado de trabalho. Há 30 dias mudamos o CPTR de endereço. Ele foi para uma área mais central, de melhor acesso, e vamos ter

ali uma incubadora de empreendimentos populares e solidários. Queremos organizar melhor o suporte e sistematizar os grupos já organizados. O conceito inovador é agregar a função do CPTR com a de incubadora voltada ao empreendedorismo. INOVABCD – Como Diadema está desenvolvendo o segundo eixo, de estímulos às cadeias produtivas? Bresciani – Estamos atentos a todos os grandes projetos que envolvem a economia nacional. O Pré-Sal, o Rodoanel, o Trem Bala, e todos os projetos de grande porte podem e devem ter a participação das empresas de Diadema. Por estímulo às cadeias produtivas entendemos toda ação relacionada à modernização do parque industrial da cidade, ao mesmo tempo em que buscamos reduzir as desigualdades econômicas que temos no município. Estamos com grandes projetos de qualificação de processos e


Bresciani: “Por estímulo às cadeias produtivas entendemos todas ações relacionadas à modernização do parque industrial ao mesmo tempo em que buscamos reduzir as desigualdades econômicas que temos no município.”

Luis Paulo Bresciani é graduado e mestre em Engenharia de Produção pela USP (Universidade de São Paulo), doutor em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professor do Programa de Pósgraduação em Administração da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). Secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de Diadema, desde 2009, coordena o grupo de trabalho do Polo Tecnológico do Grande ABC – que integra o SPTec (Sistema Paulista de Parques Tecnológicos), uma iniciativa do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e do Sebrae - SP. Em entrevista ao repórter Fernando Bortolin, o secretário destaca os eixos de desenvolvimento econômico de Diadema, as expectativas do poder público com o Pré-Sal e aponta os desafios em atender às grandes demandas empresariais que a cidade vem sofrendo, frente à falta de espaços físicos para acolher o ciclo positivo de crescimento que toma conta da economia regional e nacional.

e crescimento treinamentos junto ao segmento plástico e de borracha, um dos pilares da economia de Diadema, assim como na indústria de cosméticos, uma referência nacional para novos negócios. No segmento metal-mecânico, outro eixo de nossa economia, não estamos atentos apenas às possibilidades do Pré-Sal, mas também às oportunidades em projetos do Metrô, do Trem Bala, dos investimentos que estão sendo programados sobre a indústria ferroviária. A base industrial da cidade tem todas as condições de atender a estas demandas. INOVABCD – Quais são os apoios recebidos pela cidade aos seus programas na área de estímulo às cadeias produtivas? Bresciani – Temos boas parcerias com instituições de fomento como o Senai e Sebrae, e associações como a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene, Perfumaria e Cosméticos).

INOVABCD – E com as universidades? Bresciani – Fundamental. A discussão da inovação, da tecnologia passa pelas demandas nossas junto à Unifesp, FEI, Mauá, Fundação Santo André, Fundação Salvador Arena, USP, Unicamp e UFABC. INOVABCD – Em quais áreas essas universidades têm se debruçado para atender as necessidades de Diadema? Bresciani – Com a Unifesp temos concentrado o campo de demandas da indústria química. A participação da Fatec de Diadema é outro ponto relevante neste aspecto. No caso dos demais centros de ensino, contamos com uma rede de apoiadores que vem sendo acionada junto a seus centros de pesquisa e a aplicação desses conceitos pelas empresas participantes.

INOVABCD – O senhor mencionou o papel da Fatec de Diadema no processo. Isso se insere na necessidade de fornecimento de mão-de-obra cada vez mais qualificada na região? Bresciani – No caso, a Fatec é apenas um dos instrumentos para suprir essa necessidade. Junto ao governo federal já temos verbas necessárias para o programa de qualificação e estamos operando isso com olhos estratégicos e muito voltados para os públicos de grande vulnerabilidade social. Posso mencionar que temos com o Senai um projeto para qualificar profissionais no setor de confecção e modelagem nos bairros Eldorado e Inamar. Aliás, esse será o grande desafio do segundo semestre, trabalhar o plano municipal de qualificação que envolve a Secretaria da Educação, a Fundação Florestan Fernandes, o Senai, Senac e a Secretaria de Desenvolvimento.

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“No segmento metalmecânico, outro eixo de nossa economia, não estamos atentos apenas às possibilidades do Pré-Sal, mas também às oportunidades em projetos do Metrô, do Trem Bala, dos investimentos que estão sendo programados sobre a indústria ferroviária e cuja base industrial da cidade tem todas as condições de atender.”

INOVABCD – Vários projetos colocam o ABCD no centro do desenvolvimento do Estado e do país. Diadema tem áreas para suprir essa onda positiva de empresas e projetos que aqui desejam se instalar? Bresciani – Somos uma grande cidade pequena, muito adensada, seja no elevado número de galpões e indústrias, seja no quesito populacional. Isso, sem dúvida, nos limita um pouco no cenário atual, mas temos dialogado bastante com empresas que aqui desejam entrar e, mais importante, querem fazê-lo não por vantagens fiscais, mas pelo que a cidade oferece. Nossa visão diante desse processo tem de ser diferente e é isso o que estamos fazendo. Ao invés de correr atrás de empresas, estamos trabalhando e agregando potenciais inovações nas que aqui estão. Isso é uma coisa. Outra coisa é o conjunto de ações para reduzir as disparidades sociais entre a região sul (Eldorado e Inamar) em relação aos demais bairros da cidade. Há espaços para implantação de cooperativas de corte e costura, busca de empresas âncoras para os corredores comer-

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ciais, projeto de desenvolvimento da área de mananciais com o Sebrae. Áreas sobrando não temos, mas as que temos, estamos trabalhando em incentivo, treinamento, qualificação para que as enormes possibilidades que estão se abrindo sejam atendidas. INOVABCD – Isso explica, por exemplo, o empenho do poder público na qualificação de empresas para o Pré-Sal? Bresciani – Ao poder público cabe trabalhar as oportunidades que estão ai no mercado e o Pré-Sal é uma delas. Abrimos um diálogo importante com a Petrobras, com a Recap, com os atores do setor de gás e petróleo e estamos mostrando aos empresários de Diadema a magnitude e importância de participar desse processo, até porque temos plenas capacidades para atuar como sujeitos importantes dos projetos da estatal. Desse processo há o projeto de qualificação de fornecedores, mas que também passa por outras áreas como plásticos, borracha e cosméticos. Diadema tem uma vocação e é nisso que estamos apoiando as ações de inovação.

INOVABCD – Fale um pouco sobre essa ferramenta da dados que Diadema quer implantar para, com base nela, tomar decisões estratégicas no futuro. Bresciani – Esse é outro ponto de convergência entre o Conselho Econômico Municipal e as universidades. Queremos formar um grande banco de dados com informações que moldem um quadro mais claro e transparente que nos oriente para tomadas de decisões. Esse projeto envolve o BNDES e a criação de áreas específicas nas diversas secretarias para lidar com essas informações. Ao mesmo tempo estamos dialogando com a Fundação Santo André para a construção de um observatório econômico de Diadema, que nos dê uma retaguarda técnica para organização de dados. INOVABCD – Diante desses eixos de desenvolvimento versus a realidade dos fatos, como o senhor vê Diadema no futuro de médio prazo? Bresciani – Sentimos bastante a crise, mas hoje posso dizer que estamos num processo vigoroso de expansão, muito intenso e acima da média. Em dois indicadores isso se expressa de forma bem clara, como na geração de empregos formais onde Diadema apresenta indicadores de crescimento acima das médias regionais, do Estado e do Brasil e outro são os repasses do BNDES, principalmente nas operações com o Cartão BNDES e Finame, onde Diadema está na liderança de recebimento de recursos. No médio prazo, diria entre seis meses e dois anos, há, sem dúvida, uma centena de investimentos que vai maturar, e nossa expectativa é manter essa dianteira regional.


inovação constitucional

movimento + feliz: tecnologia social A Constituição – Se alterado, o Artigo 6º de nossa Constituição ficaria assim: “São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Os defensores da proposta citam como exemplo a constituição de países que atribuem ao Estado a responsabilidade pela busca e garantia do direito de ser feliz. A Declaração de Direitos da Virgínia (EUA, 1776) outorga aos cidadãos o direito de buscar e conquistar a felicidade. Na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789), há a primeira noção coletiva de felicidade, determinando que reivindicações dos indivíduos sempre se voltarão à felicidade geral. Constituições de outros países, como Japão e Coreia do Sul, também determinam que todas as pessoas têm direito à busca da felicidade, devendo o Estado empenhar-se na garantia das condições para atingi-la. “A campanha não surge agora por acaso. Acreditamos que o País esteja em um momento de crescimento e maturidade suficiente para seguir exemplos de nações desenvolvidas”, defende Motoryn. A PEC foi protocolada em 7 de julho, no Plenário do Senado Federal, mas sua efetividade ainda depende de aprovação pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), que avaliará a constitucionalidade da proposta. (JH)

Proposta de emenda ao Artigo 6 da Constituição busca colocar em pauta soluções para transformação social

Para o presidente do Movimento + Feliz, Mauro Motoryn, a felicidade é coisa séria e deve estar explícita na Constituição.

DIVULGAÇÃO

m maio de 2010, uma audiência pública realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal colocou em pauta um assunto bastante subjetivo: a felicidade. O debate sugeriu a alteração do Artigo 6 da Constituição e a inclusão do direito à felicidade no texto. Polêmica, a discussão atraiu parceiros e críticos e, nas mãos do Senador Cristovam Buarque, transformou-se em Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Mas afinal, o que muda com a discussão? Para os articuladores do Movimento + Feliz, proponentes do debate, a intenção está em reforçar a responsabilidade de o Estado criar e promover tecnologias sociais, por meio de políticas públicas adequadas. “A inclusão do direito à busca da felicidade não significa que todas as pessoas passarão a ser felizes a partir da alteração constitucional, mas reforça o papel do poder público”, justifica Mauro Motoryn, fundador do Movimento. Pautado na promoção de tecnologias sociais – metodologias de desenvolvimento locais, efetivas e reaplicáveis – o Movimento + Feliz surgiu do envolvimento da agência 141 Soho Square com o Projeto Educacional Escola Aprendiz, que funciona no Bairro Vila Madalena, zona Oeste de São Paulo. “O Movimento nasce dentro de uma agência de publicidade, ao utilizarmos a comunicação para colaborar com o Escola Aprendiz. Mas percebemos que a Felicidade poderia ser o carro chefe de um trabalho”, relembra Alexandre Sayad, coordenador do projeto. Para Sayad, o + Feliz é apartidário, nãoassistencialista e pretende conscientizar a população, mobilizar a sociedade e motivar as pessoas a se doarem, através de uma plataforma de comunicação. Por isso, entidades como a Associação Nacional dos Procuradores da República, a Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (Anadef) e diversos artistas, intelectuais e líderes sociais foram mobilizados pela 141 Soho Square para dar apoio.

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especial ufabc Clébio Cavagnolle Cantares CLÉBIO CAVAGNOLLE CANTARES

Pronta para o futuro! Esta é a melhor definição para a UFABC (Universidade Federal do ABC). Concebida há apenas quatro anos, está baseada em um projeto inovador e revolucionário para o ensino no Brasil e no mundo. Apoiada no tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, a universidade orgulha-se de ser a primeira no País, e uma das poucas no mundo, a oferecer graduação com bacharelados interdisciplinares, de modo que o estudante pode ser o empreendedor de sua própria carreira acadêmica por meio da escolha das disciplinas que deseja cursar. 10


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ufabc excelência inova em busca da

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especial ufabc

inovação da Universidade Federal do ABC vai além da formalidade e propõe um novo modelo institucional: aposenta a estrutura departamental e permite maior integração entre as diversas áreas do conhecimento. Tudo isso com um só objetivo: formar um novo perfil de profissional, mais empreendedor, dinâmico, antenado com o mercado e com questões sociais. O que a UFABC quer, segundo os pró-reitores, alunos e professores, é transformar seu material humano em empreendedores que poderão atuar diretamente para produzir uma profunda mudança nas relações sociais. O pró-reitor de Pesquisa, Klaus Werner Capelle, de nacionalidade alemã, é um exemplo desse novo projeto. Atraído pela proposta da interdisciplinaridade e a chance de participar de um projeto novo, Klaus avalia a UFABC como um organismo vivo. “O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão funciona como um organismo. O Ensino como o coração, é vital para o conhecimento, a Pesquisa como o pulmão, que traz renovação e vitalidade, e a Extensão como os órgãos sensoriais, olhos, etc., é o braço de comunicação da instituição com a sociedade”, destaca o professor, avaliando esta integração como o processo fundamental para o sucesso do novo modelo de universidade. Sendo Pesquisa um dos principais objetivos da universidade, Klaus deixa claro a abertura para parcerias, como forma, inclusive, de participação da sociedade neste modelo educacional. “Queremos parcerias. As empresas e a sociedade podem nos procurar para estudarmos convênios. Cada caso será avaliado para chegarmos à melhor forma de estabelecer a parceria. Os representantes desses segmentos são bem vindos para conhecerem nossa estrutura, em especial as empresas da região”, destaca o pró-reitor. A importância da Pesquisa é levada tão a sério que o estudante é incentivado desde o primeiro ano por meio de um programa chamado PDPD (Pesquisando Desde o Primeiro Dia). Trata-se de um projeto único entre as instituições brasileiras de ensino superior, voltado para alunos que acabaram de entrar na universidade para que o ingressante tenha a idéia de que a pesquisa

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científico-pedagógica é parte fundamental na formação acadêmica. “Não conheço outra instituição que tenha esse programa. Normalmente, os estudantes começam a iniciação científica no terceiro ou quarto ano. Nosso objetivo é que ensino e pesquisa andem de mãos dadas. Isso possibilitará que o futuro profissional acompanhe com agilidade as mudanças rápidas que ocorrem no conhecimento”, destaca Klaus Capelle, para quem o perfil interdisciplinar facilita a comunicação entre os especialistas de áreas diferentes, o que agrega no saber. “Até a estrutura física foi feita pensando nisso. O bloco A (principal da universidade) é todo integrado por dentro justamente para possibilitar esse contato. A idéia é romper a fronteira entre as áreas do conhecimento, afinal, a natureza é uma só e não se importa sobre o olhar pelo qual é analisada, se por um físico, químico ou filósofo. A UFABC nasceu adequada para pesquisas intercisciplinares do futuro”, justifica. Outro ponto importante é a Central Experimental Multiusuário (CEM), um laboratório central muito bem equipado que ocupa 240 m2, sendo de uso comum entre os pesquisadores. É um outro braço para promoção de parcerias entre a instituição e órgãos externos, além de ser um agente promotor da interdisciplinaridade nas pesquisas, segundo Capelle.

Distinção – Para o pró-reitor de Graduação, Derval dos Santos Rosa, não só interdisciplinaridade e extinção dos departamentos são inovações do modelo da UFABC. Também a formatação do curso em quadrimestres, ao contrário das demais instituições, que utilizam o sistema semestral. “A proposta é inovadora porque os departamentos representavam a fragmentação do ensino. Esse novo modelo permite uma formação ampla e com base sólida, não apenas científica, mas geral. O aluno se transforma em um pensador”, destaca o pró-reitor. A UFABC oferece 24 cursos de graduação com bacharelado em Ciência e Tecnologia e Ciência e Humanidades, com formações específicas, (veja quadro na página 14). “O formato interdisciplinar permite ao estudante conhecer áreas que são de seu interesse e obter a formação mais ampla. Claro que ele terá de cursar as disciplinas necessárias para a área

Para o pró-reitor de Pesquisas, Klaus Werner Capelle, ensino e pesquisa caminham de mãos dadas na UFABC. Outro diferencial é o perfil dos docentes, todos doutores por exigência da instituição, e na maioria jovens, como afirma o Pró-reitor de Graduação, Derval dos Santos Rosa. “Eles vão ajudar a construir esse modelo e já se sentem parte disso”.

Klaus Werner Capelle: “As empresas e a sociedade podem nos procurar. Os representantes desses segmentos são bem vindos para conhecer nossa estrutura, em especial as empresas da região”.


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que escolheu, como engenharia aeroespacial, por exemplo, para a qual terá de cursar o que compete a esta formação específica. A questão do quadrimestre proporciona a possibilidade de ele estudar mais matérias, o que se torna mais dinâmico e proveitoso. Isso exige, claro, muita dedicação e disciplina, inclusive extra-sala de aula. Mas, eles possuem um programa tutorial e acompanhamento para isso”, explica Derval. Segundo o pró-reitor, em todo ciclo inicial de cursos, os ingressantes passam por um encontro de apresentação do modelo institucional e da proposta tutorial. “Além disso, eles são acompanhados de perto por orientadores”, destaca. Outro diferencial da UFABC é o perfil de docentes, todos doutores, por exigência da instituição, e na maioria jovens, algo que segundo Derval aconteceu de forma natural. “É um corpo docente jovem, mas de elevada produtividade científica e com excelente vivência acadêmica. São egressos dos cursos de doutorado, se dedicaram aos concursos e aqui estão. O bom desse perfil é que não trazem vínculos ou vícios dos formatos de ensino tradicionais, além de estarem mais próximos do jovem formando. Eles vão ajudar a construir esse modelo e já se sentem parte disso”, destaca Derval.

Foco – O pró-reitor é enfático quanto ao caminho que a instituição percorre e considera pouco provável qualquer retrocesso no projeto pedagógico, mesmo com o crescimento da UFABC. “Não creio que isso venha a ocorrer. A transparência é fundamental no processo e é desta forma que estamos tratando tudo. O crescimento nos levará a fluxos mais definidos. Estamos no caminho certo e podemos dizer seguramente que esta é uma universidade do século XXI, projetada para o futuro e que acompanha os anseios e a evolução do conhecimento”, afirma. Carlos Alberto Kamienski, pró-reitor de Pós-Graduação, explica que a instituição possui três centros de estudos: Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC), Centro de Engenharia e Ciências Sociais Aplicadas (CECS) e o Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH). Eles congregam toda a estrutura de ensino. “Esses centros misturam as disciplinas justamente para propiciar a troca de experiências e conhecimentos entre os estudantes.

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cursos específicos Engenharias Ambiental e Urbana Aeroespacial Bioengenharia Energia Gestão Materiais Informação Instrumentação, Automação e Robótica

bacharelados Ciências Biológicas Ciência da Computação Física

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a ideia de que a UFABC nasceu com uma vocação tecnológica e que pode transformarse na mais importante universidade o País. Em entrevista ao jornal ABCD Maior, na edição de 04 de julho de 2008, ele prometeu que a universidade vai fazer uma revolução na área tecnológica. “O ABCD é a região mais apropriada para isso no Brasil, a mais industrializada, com indústria de ponta”, disse Lula. Para ele, a UFABC é um marco de sua gestão na Presidência da República.

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Na Pós-Graduação, queremos formar profissionais com o viés de pesquisa científica. O professor ou orientador age como questionador, o que faz com que o aluno se antecipe às perguntas e faça uma pesquisa mais completa, com as devidas bases, respostas e justificativas. Nosso principal diferencial nesse processo está justamente no relacionamento entre os estudantes de diversas áreas, o que irá prepará-los para uma visão ampla”, explica Kamienski. A instituição oferece atualmente sete cursos em Pós-Graduação para Mestrado e Doutorado, com programas que contam com bolsas institucionais e de agências de fomento à pesquisa. Todos foram aprovados e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Outros sete novos cursos já foram submetidos ao órgão e aguardam validação para início em 2011: Ciências da Computação; Engenharia Elétrica; Engenharia Mecânica; Ensino, História e Filosofia das Ciências e Matemática; Ciências Humanas e Sociais; Planejamento e Gestão de Territórios; e Neurociência e Cognição. “No final da formação, após cumprir os três anos mínimos do bacharelado, o aluno da UFABC opta pela formação específica ou pela pós diretamente. Em cinco anos, ele pode sair com dois diplomas”, enfatiza o pró-reitor. Em termos de Extensão, o pró-reitor Plínio Zornoff Táboas afirma que a UFABC busca o alinhamento de ações à política da área em âmbito nacional. “Não há como inventar a

Matemática Química Filosofia Ciências Econômicas Políticas Públicas

licenciaturas Ciências Biológicas Física Matemática Química Filosofia

pós-graduação Os programas contam com bolsas institucionais e de agências de fomento à pesquisa. Todos foram aprovados e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

mestrado Biossistemas Ciência e Tecnologia/Química Energia Nanociências e Materiais Avançados Engenharia da Informação Física Matemática

doutorado Biossistemas Ciência e Tecnologia/Química Energia Física Nanociências e Materiais Avançados


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roda nessa questão. Queremos ver exemplos bons que funcionaram em outras regiões para aplicar aqui. Entretanto, precisamos promover uma ecologia do saber, ou seja, uma troca de conhecimentos. A universidade leva expertise à sociedade e também capta as experiências dela para enriquecer o conhecimento. O sucesso disso virá do material humano. Não falo em formação na Federal do ABC, porque formar é colocar em uma forma, algo muito quadrado e o que queremos propiciar é mais do que isso, é uma verdadeira transformação para gerar um capital intelectual capaz de promover grandes mudanças na sociedade. É esse tipo de profissional que esperamos criar”, explica Táboas. Segundo o pró-reitor, ações ligadas à Educação no ensino público de todo o ABCD e projetos de integração com a comunidade já podem ser mensurados. Entre eles, um programa que envolve catadores de lixo. “Queremos integrá-los à sociedade moderna. Se não fizermos isso, quem fará? A universidade tem sido repensada e essa preocupação com a sociedade, além da troca de experiências, resulta em pesquisas benéficas que ajudarão a desenvolver inúmeras áreas. Precisamos aproveitar o conhecimento alheio e buscar soluções antecipadas. O desenvolvimento deve ser sustentável”, enfatiza Plínio. O professor destaca ainda a instituição. “A transformação social está ocorrendo e não pode ser negada. Somos pioneiros nisto e basta ver que 50% dos nossos alunos são oriundos da escola pública, o que contraria uma amostragem nacional, na qual 90% dos ingressantes saem do ensino particular. Precisa haver essa ruptura das desigualdades e estamos à frente neste aspecto”, finaliza. A UFABC impressiona não apenas pelo projeto pedagógico ou pelas propostas inovadoras, mas também pelos números e pelos resultados a curto prazo, alguns de cunho econômico, como a movimentação imobiliária que trouxe a Santo André, onde está instalada a sua principal unidade. Para abrigar os 2.557 alunos de Graduação, 296 de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) e 401 professores houve investimento de R$ 120 milhões para erguer os prédios que ocupam 40 mil m2 de área construída no bairro Bangu, diante da avenida dos Estados. “Esses investimentos e mais o orçamento anual de cerca de R$ 100 milhões são mais proveitosos do que um viaduto, pois estão

centralizados em desenvolvimento humano, que acolhe pessoas, antes sem acesso à universidade”, avalia Táboas. A mesma transformação deve ocorrer em São Bernardo, onde o segundo campus está sendo erguido. A área tem 120 mil m2 e abrigará 26 mil m² de construção. As obras do primeiro bloco da graduação (4,2 mil m2) estão previstas para conclusão em novembro e a previsão para o término da próxima etapa de construção é dezembro de 2011. O projeto conta com investimento de R$ 123 milhões, o que inclui a compra do terreno e os serviços de terraplenagem e construção. A unidade de Mauá ainda é apenas um projeto, embora a prefeitura já tenha sinalizado a disposição em doar uma área.

A Universidade Federal do ABC começou do zero com uma proposta inovadora sem precedentes no Brasil. Os primeiros resultados serão sentidos nos próximos meses com a saída de parte do primeiro grupo de alunos, que ingressou em 2006. Alguns deles decidiram ir para o mercado apenas com o bacharelado, sem seguir especialização ou Mestrado e Doutorado. Enquanto isso, a instituição toma fôlego e se prepara ainda para áreas pouco exploradas, como Nanociência e Nanotecnologia, que têm por meta estudar a organização da matéria átomo por átomo, molécula por molécula. O estudo focado no nanômetro, ou seja, um bilionésimo de metro, é encarado como apenas mais um desafio.

ministério afirma que modelo é tendência no país O projeto interdisciplinar da UFABC é reconhecido como inovador pelo Ministério da Educação. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério afirma que o bacharelado interdisciplinar é uma modalidade de curso que vem sendo adotada em algumas universidades federais no âmbito das inovações acadêmicas propostas no contexto do Reuni, o programa de expansão e reestruturação das instituições. Para o Ministério da Educação, a implantação dos bacharelados interdisciplinares, assim como dos demais cursos, é uma decisão que cabe única e exclusivamente às universidades. O fato de pelo menos dez universidades federais terem apostado nesse modelo demonstra a intenção das instituições em experimentar essa nova modalidade de curso. De acordo com a avaliação, a adoção dos bacharelados interdisciplinares surge em um contexto de expansão das matrículas na educação superior. Diversos fatores culturais e temporais no decorrer dos anos resultaram em uma modificação do perfil do estudante. O aumento do número de vagas presenciais no período noturno, a ampliação de políticas de ações afirmativas e a adoção de novas formas de ingresso influenciaram para a modificação do perfil do estudante do ensino superior. A implantação do regime de ciclos amplia as opções de formação. O primeiro ciclo é dedicado ao espaço de formação universitária em um conjunto de competências, habilidades e atitudes, aliada a uma formação geral com bases conceituais. O segundo, de caráter opcional, é dedicado à formação profissional em áreas específicas do conhecimento. O terceiro é voltado à pós-graduação stricto senso, que poderá contar com alunos egressos do Bacharelado Interdisciplinar. Segundo ainda a assessoria do Ministério, o modelo brasileiro de bacharelado interdisciplinar foi inspirado na organização da formação superior proposta por Anísio Teixeira para a concepção da Universidade de Brasília, no início da década de 1960, no Processo de Bolonha e nos colleges existentes nos Estados Unidos. Com base nessas referências, o modelo dos bacharelados foi elaborado a partir das demandas de formação acadêmica do país.

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especial ufabc fernando bortolin

história de lutas para conquista democrática

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou um ponto final na polêmica e implementou um novo marco regulatório ao ensino universitário. Segundo o ex-reitor da UFRJ, Nelson Maculan Filho, o caráter inovador adotado na Universidade Federal do ABC representava um contrasenso total aos governos militares. “Ditadura não se coaduna com liberdade e a UFABC não tem limites. Sua base nevrálgica é a liberdade de pensamento, de criação, de relação sem departamentos”, diz Maculan.

Estudantes caminham no saguão do prédio central da UFABC. À direita, o segundo reitor, Luiz Bevilácqua, uma das peças chaves na construção da universidade, segundo Adolfo Galati de Oliveira, que defendeu tese de mestrado sobre a história da instituição.

Os anseios de uma universidade federal no Grande ABC remontam aos anos 50. Uma história de lutas, de frustrações e de muito desdém, não apenas dos governantes civis e militares, mas também dos catedráticos que permeavam o cerne do espírito educacional do país. Tudo isso fez parte de um enredo que teve seu ápice institucional sob governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O metalúrgico, sem diploma, não apenas colocou um ponto final nessa dívida para com a Região, como implementou um novo marco regulatório ao ensino universitário. Após tantos anos de expectativa, a UFABC nasceu inovadora. Assim como o departamentalismo presente hoje na estrutura educacional das universidades brasileiras enterrou os catedráticos de antanho, a UFABC solapou o departamentalismo, num sistema único em território brasileiro e internacional. Atores objetivos do nascimento da UFABC, e sujeitos de uma ala do moderno pensamento educacional brasileiro, Nelson Maculan Filho, ex-reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Luiz Bevilácqua, o segundo reitor da Universidade Federal do ABC, foram peças centrais na construção da UFABC. Quem afirma é o técnico em assuntos educacionais, ex-metalúrgico e membro do Conselho Universitário da UFABC, Gustavo Adolfo Galati de Oliveira, que acaba de defender sua tese de mestrado sobre a história da instituição. Segundo Gustavo Galati, os dois personagens inseriram a construção inovadora da Universidade Federal do ABC dentro de um corolário de lutas dos poderes públicos instituídos na Região, de seus trabalhadores e de todo o meio acadêmico regional. “O Maculan e o Bevilácqua eram parte intrínseca da Academia Brasileira de Ciências e eram signatários do Manifesto de Angra. Ambos faziam parte de alas do meio educacional brasileiro que defendiam a liberdade acadêmica, com ensino capaz de formar lideranças intelectuais em pesquisa

de excelência, em interação da universidade com a sociedade, fatores que, hoje, ganham substância e são a marca da Universidade Federal do ABC”, diz Gustavo Galati. “Eu era secretário de Educação Superior no Ministério da Educação e Cultura na gestão de Tarso Genro e trabalhávamos entre outros projetos, da expansão do ensino federal. No Rio de Janeiro, em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os estudos apontavam que os investimentos em expansão já estavam consolidados, mas em São Paulo, apesar de ser o Estado mais rico e com maior número de escolas superiores privadas, tinha carência de uma universidade federal, principalmente na região do Grande ABC e em Santos”, descreve Maculan, apontando um possível viés político-ideológico para essa dívida histórica: “O Grande ABC sempre teve a conotação do trabalhismo, das lutas metalúrgicas e Santos foi o berço do anarquismo, fatores que podem explicar o fato de não serem atendidos com universidades públicas federais”, disse. Questionado sobre o motivo de a UFABC não ter sido criada antes, Maculan aponta que o caráter inovador, adotado na Universidade Federal do ABC, representava um contrasenso total aos governos militares. “Ditadura não combina com liberdade e a UFABC


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não tem limites. Sua base nevrálgica é a liberdade de pensamento, de criação, de relação sem departamentos, algo até mesmo utópico para que um governo militar pudesse aceitar. A UFABC nasceu para ser um ITA do futuro”, destaca. “O não surgimento da UFABC sob o Governo Fernando Henrique Cardoso se deu por uma decisão de governo. “FHC não foi receptivo. Houve ali uma supervalorização do ensino privado, orientado para atender a uma demanda de mercado e, portanto, não havia espaço para um processo de expansão do ensino público gratuito”, completa o professor Luiz Bevilácqua. De posse desse projeto de expansão, Maculan, um dos maiores cientistas do País, acionou o professor Bevilácqua, cuja folha corrida tem entre outros cargos, o de presidente da Agência Espacial Brasileira, vice-reitor da PUC-Rio, e secretário geral do Ministério da Ciência e Tecnologia. “Quando o Maculan me ligou, acertamos na hora”, afirma o ex-reitor da Universidade Federal do ABC, Bevilácqua. Interdisciplinaridade com inserção social são duas das marcas da Universidade Federal do ABC e, nela, a luta dos trabalhadores encontra respaldo. Vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e membro do Conselho Curador da UFABC, Rafael Marques da Silva Junior é a voz e a alma das demandas de inserção social dos trabalhadores na universidade. “A UFABC é uma das mais importantes do país e sua construção não poderia ser diferente do que são as lutas dos trrabalhadores. Ela é uma realidade e não apenas isso, é democrática e busca atender os sonhos e as expectativas da sociedade civil do Grande ABC”, afirma.

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O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e membro do Conselho Curador da UFABC, Rafael Marques: “Esta é uma das mais importantes universidades do país e sua construção não poderia ser diferente do que são as lutas metalúrgicas”.

Da esquerda para a direita, Francisco de Assis Lopes, Daniel Almeida e Jader Clarindo: alunos da UFABC destacam as vantagens do novo modelo.

Modelo atrai professores e alunos A interdiscplinaridade e a integração foram fatores preponderantes para que professores e estudantes optassem pela UFABC. No caso dos primeiros, pesou a chance de participar de um projeto inovador em fase inicial, com grande inclinação para pesquisas. Os segundos foram atraídos pela opção de construir o currículo com flexibilidade e sem a exigência de matérias anteriormente cursadas. A professora Cecília Chirenti, de 28 anos, por exemplo, estava fazendo Pós-doutorado na Alemanha, mas veio ao Brasil exclusivamente para prestar o concurso da UFABC. “A proposta pedagógica é muito interessante, além disso, estão formando um profissional que fará toda a diferença no mercado, justamente em áreas com extrema necessidade de talentos humanos. O aluno sairá daqui com uma base sólida em conhecimento”, afirmou Cecília, que dá aulas no curso de Bases Matemáticas, para ingressantes, e Funções de Várias Variáveis para alunos do segundo ano. Ela é formada em Física pela Universidade de São Paulo (USP), onde também fez doutorado. Sua visão é compartilhada pelo professor Vilson Zanchin, físico formado pela Universidade Federal de Santa Maria – RS, com Mestrado e Doutorado pela Universidade de Campinas (Unicamp), que foi atraído pelo interesse da UFABC em Pesquisa. “O projeto como um todo prioriza a formação de cientistas e engenheiros, áreas carentes no País. Há ainda um grande espaço para Pesquisas e novas descobertas propiciados pela instituição”, explicou. O estudante Jader Clarindo é um forte exemplo de como o modelo pode atrair pessoas de fora. Vindo de Tocantins, ele cursa o terceiro ano de Engenharia Mecânica. “O modelo e a chance de participar de algo novo me atraíram muito. Além disso, temos a chance de montar parte de nossa grade curricular, e isso possibilita amplo conhecimento”, detalhou o estudante, que compartilha uma casa alugada com grupo vindo de outros estados. Entre eles, está também Francisco de Assis Lopes, de Minas Gerais, que cursa o primeiro ano de Engenharia Aeroespacial. “O aluno não sofre a pressão de escolher um curso sem conhecimento prévio. Isso ajuda muito a desenvolver uma carreira mais promissora”, enfatizou. Daniel Ladeira Almeida é mestrando em Energia e prepara sua dissertação sobre os passivos ambientais no reservatório Billings e os seus impactos na geração hidroenergética da usina Henry Borden. Formado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Daniel comenta que a extinção dos departamentos possibilita maior diálogo entre as áreas. “Isso não ocorria muito. Havia pouca conversa entre elas mas, agora, está mais abrangente. Hoje está mais desafiador”, defende.


a ufabc como instrumento inovador Na avaliação de Luiz Bevilácqua, o primeiro Prêmio Nobel em ciência e tecnologia sairá dos bancos de estudos da UFABC. “A universidade tem um programa sem correlação no mundo. Há muita confusão aqui. Erra quem diz ser uma cópia do projeto de Bolonha. A interdisciplinaridade ainda posta em termos só tem similar com a Universidade da Califórnia”, destaca ele, ao mesmo tempo em que sustenta que a ciência e tecnologia aplicada na UFABC não focaliza a formação profissional, mas está mais imersa no desenvolvimento de novas ideias. Nelson Maculan Filho, aponta que algo semelhante existe na Politécnica de Paris, mas não na magnitude existente na Universidade Federal do ABC. “No espaço de 10 a 20 anos, a UFABC será a melhor universidade do país em tecnologia”, preconiza ele, ao destacar que os alunos formados pela UFABC terão uma diferença fundamental em relação aos formados em universidades tradicionais: “serão uma mão-de-obra que pensa”, diz.

UFABC pronta para o Pré-sal e Polo Aeronáutico   Helio Waldman, engenheiro de Eletrônica formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA, São José dos Campos) em 1966, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Stanford, na Califórnia, EUA, em 1968 e 1972 respectivamente, é o reitor da UFABC. Segundo ele, a instituição está pronta para contribuir com o Pré-Sal, especialmente sob o olhar da formação de cientistas e engenheiros de perspectiva interdisciplinar, capacitados para explorar os recursos naturais. Waldman também vê com entusiasmo a possibilidade de uma parceria brasileiro-sueca, especialmente para o Programa de Engenharia Aeroespacial da universidade. InovABCD – O que falta para que a UFABC conste entre os principais centros de pesquisa habilitados a contribuir com o Pré-Sal? Helio Waldman – A nossa capacidade de contribuir ainda não foi reconhecida, o que é natural em função da nossa pouca idade (menos de quatro anos de atividade na graduação, e apenas três na pós-graduação). A UFABC está em construção. Por isso, nossos esforços atuais estão concentrados na Fase 1 desse sábio roteiro, justamente para que a Fase 2 venha a ser brilhante. Cabe acrescentar que, ao formarmos cientistas e engenheiros de primeira linha, dotados de perspectiva interdisciplinar, já estaremos contribuindo para a capacidade brasileira de explorar o Pré-Sal, sem que necessariamente sejamos “habilitados” (por quem?) para isso. Explorar o Pré-Sal não é um objetivo a ser atingido por meio de habilitações cartoriais. É um desafio duro, que deverá mobilizar toda a sociedade brasileira, em especial as universidades. InovABCD – Qual o impacto que um Polo Aeroespacial no ABCD teria sobre a UFABC? E qual a opinião da instituição sobre a demanda da Região de construir este polo em parceria com os suecos? Helio Waldman – Trata-se de uma perspectiva atraente e promissora, especialmente para o nosso Programa de Engenharia Aeroespacial, responsável por um dos nossos cursos de engenharia. Vejo com entusiasmo a perspectiva de uma parceria brasileirosueca nessa área. No início do mês, aproveitei minha presença em Estocolmo (para participar de um workshop especializado a convite de uma Universidade sueca) para conversar com o vicepresidente de Tecnologia (CTO) do Grupo SAAB. Combinamos empreender esforços conjuntos para organizar, se possível ainda em 2010 no ABCD, um Simpósio Brasileiro-Sueco voltado para essa área, com vistas à identificação de interesses comuns à UFABC e a possíveis parceiros suecos das áreas acadêmica e empresarial.

O reitor Hélio Waldman: “Ao formarmos cientistas e engenheiros de primeira linha, dotados de perspectiva interdisciplinar, já estaremos contribuindo para a capacidade brasileira de explorar o Pré-Sal. É um desafio duro, que deverá mobilizar toda a sociedade brasileira, em especial as universidades”.

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Segundo Rafael Marques, a UFABC está dando apenas os primeiros passos em direção a um futuro de transformações da realidade socioeconômica e cultural da região, como uma das mais importantes do mundo nos conceitos de inovação tecnológica e científica. “A UFABC representa uma conquista do movimento sindical, da necessidade de construção de profissionais que atendam as demandas da região. Todos os reitores respeitaram e respeitam o papel da UFABC como formadora de profissionais para o mercado de trabalho e para a academia”. Ao escolher uma visão de vanguarda, a UFABC se abre à sociedade, aos seus anseios e suas necessidades. “Tudo isso está se consolidando e a contribuição de médio e longo prazo se dará tanto na formação de talentos em ciências e tecnologia, como o atendimento dessa formação a projetos locais que já estão ai e de outros que possam surgir”, diz.


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“Algumas ideias centrais permanecem como marcas da vida universitária desde o seu nascimento. Duas delas são a “liberdade acadêmica” e a “autonomia universitária”. No começo a “liberdade acadêmica” significava o direito de professores e estudantes terem “liberdade para viajar” em nome do “interesse da educação”. Essa idéia faz com que uma das condições vitais das universidades tenha sido e continue sendo o intercâmbio, que hoje se compreende mais ou menos pelo nome de “internacionalização” dessas instituições e também pela busca de interfaces e padrões comuns de formação”.

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universidades: organismos vivos Flávio Aguiar

As universidades têm muito em comum com os organismos vivos. Nascem, crescem, amadurecem, até envelhecem. Mas ao contrário destes, raramente morrem. Quando morrem, em geral, é por um assassinato, como nos regimes ditatoriais. Num processo que pode ser demorado, elas vão se transformando, se adaptando às novas realidades e contextos. Mas por isso mesmo podem ser organismos bastante conservadores. Não estou falando no sentido político direto, mas sim no sentido de que uma das forças maiores que governa a vida das universidades é a auto-preservação. Isso faz com que, por exemplo, com freqüência o que se julga provisório se torna permanente. Uma universidade sempre carregará suas cicatrizes de nascença. A palavra latina “universitas” foi primeiro aplicada a instituições de ensino superior no século XI da Europa Medieval, em relação à Universidade de Bolonha que, criada em 1088, ainda está viva hoje em dia. Depois até usou-se a expressão retroativamente em relação a instituições de formação superior da Antigüidade. Durante os séculos XII e XIII a palavra popularizou-se na Europa e depois, com a expansão do capitalismo e dos impérios europeus, no mundo inteiro e em diferentes línguas. Algumas ideias centrais permanecem como marcas da vida universitária desde o seu nascimento. Duas delas são a “liberdade acadêmica” e a “autonomia universitária”. No começo a “liberdade acadêmica” significava o direito de professores e estudantes terem “liberdade para viajar” em nome do “interesse da educação”. Essa idéia faz com que uma das condições vitais das universidades tenha sido e continue sendo o intercâmbio, que hoje se compreende mais ou menos pelo nome de “internacionalização” dessas instituições e também pela busca de interfaces e padrões comuns de formação.

Já a “autonomia universitária” se refere aos padrões pedagógicos internos e de administração das instituições. Desde o princípio, deveriam ser livres de interferências dos poderes institucionais que regessem os espaços onde elas fossem criadas, fossem as cidades, os principados, até, em certos termos, a Igreja, e depois os governos nacionais. Claro está que a autonomia universitária é um ideal, e sua aplicação, seus limites, ou até sua revogação (como nos tempos do nazismo, por exemplo) dependiam dos contextos históricos particulares. Essas duas forças motrizes – intercâmbio e autonomia – combinam-se em tendências maiores, até supra-nacionais, que vão moldando, dentro de suas especificidades, o perfil dessas instituições naquilo que é também peculiar ao conceito de universidade, que é a integração entre ensino, pesquisa e extensão, e o modo como essas três áreas de atuação se relacionam com os espaços da sua organização administrativa e pedagógica interna: em geral, faculdades, institutos, escolas, departamentos, centros de pesquisa. Também ajudam a moldar o intercâmbio interno entre esses diferentes espaços da universidade em programas interdisciplinares, como se diz hoje, já que uma das características de uma universidade, em que pese ela poder ter uma “vocação maior”, é a presença da pluralidade das áreas do conhecimento. Hoje em dia, na Europa, existe uma grande força motriz dos processos de organização ou de reorganização das universidades. É o chamado “Processo de Bolonha”, controverso e polêmico, mas aceito já por 47 países da macro-região, da Rússia ao Reino Unido, da Turquia à Suécia. Na época da assinatura da “Declaração de Bolonha”, em 1999, eram 29 os signatários. Outros países tentaram entrar na “área do acordo”, mas não foram aceitos, por não serem signatários da Convenção Cultural Européia, como Israel e o Quirguistão, ou por serem ainda de reconhecimento controverso, como a República do Kosovo e o Norte de Chipre. Conceitualmente, o “Processo de Bolonha” visa criar uma “área universitária comum” na Europa, aproximando ou afinando os conceitos vigentes em cada país e em cada instituição, para melhor promover a internacionalização e o intercâmbio. Por exemplo, uma das áreas onde o Processo foi saudado geralmente como positivo foi a do ensino de línguas estrangeiras, unificando


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MASSACHUSETTS INSTITUTE OF TECNOLOGY (MIT)

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UNIVERSIDADE DE BOLONHA

UNIVERSIDADE DE BAYREUTH

critérios de avaliação, estágios do aprendizado e graus obtidos. Porém há também muitas críticas ao Processo, acusado de ser um esforço de enquadrar as universidades européias a padrões norte-americanos de eficiência, prestígio, financiamento e redução de custos. As críticas mais radicais chegam a dizer que os critérios do Processo provêm mais da Organização Mundial do Comércio (OMC) do que da pedagogia ou da pesquisa. Os movimentos estudantis de diversos países, entre eles a Alemanha e a França, têm feito manifestações “contra Bolonha”, acusando o Processo de políticas de privatização, fim da gratuidade onde ela ainda exista, e de motivar cortes de cursos considerados “não rentáveis”, como muitos dos da área de humanidades. Além das tensões “pró e contra Bolonha”, outras forças motrizes têm ajudado a provocar a remodelação interna das universidades, de seus currículos e dos diplomas oferecidos. Em geral essa remodelação está ligada à consciência de novos problemas mundiais como o das alterações climáticas ou às mudanças no mundo do trabalho e da produção. Essa é uma tendência mundial, que não se restringe à Europa. No entanto, raramente essas mudanças põem em xeque a tradicional estrutura dividida em faculdades, escolas, institutos, departamentos e centros; o que muda, em geral, é a inter-relação entre elas e eles. Por exemplo, uma das universidades mais inovadoras nesse sentido é a da Califórnia, com seus vários campi, de que o mais importante e conhecido é o de Berkeley, famoso inclusive pelos protestos contra a Guerra do Vietnã no passado. Em Berkeley, ela continua dividida nos tradicionais 14 “Colleges” e “Schools”, dos quais o maior é o prestigiado “College of Letters and Sciences”, que se dividem, na maioria, em departamentos e centros de estudos. Ela oferece 80 tipos de áreas de concentração, divididas em cinco grandes setores: Artes e Humanidades; Ciências Biológicas; Ciências Físicas e Matemática; Ciências Sociais; e a Divisão de Graduação. O que se aprofundou nos últimos anos foi a tendência de estimular os estudantes a “navegarem” por outros departamentos e áreas, além daquela de sua formação específica, flexibilizando extremamente as possibilidades de escolhas curriculares. Outra tradicional instituição norte-americana, o Massachussetts Institute of Technology

(MIT), onde trabalha o famoso lingüista Noam Chomsky, lançou programas extremamente inovadores na flexibilização. Um dos mais avançados está na Escola de Engenharia, lançado a partir desse ano, e se chama “MIT Flexible Engineering Program”, visando atender a crescente busca por profissionais polivalentes. De acordo com esse programa o estudante escolhe uma área de concentração regular em dois departamentos que o fundaram, o de Engenharia Mecânica e o de Aeronáutica e Astronáutica. Além disso, ele escolhe uma segunda área de concentração interdisciplinar, entre: energia, transporte, meio-ambiente, robótica, engenharia computacional, engenharia administrativa ou de produção, percorrendo outros departamentos da Escola de Engenharia ou de outras do MIT. Ou ainda, ele pode propor uma outra área para a sua segunda concentração, que é discutida com vistas à aceitação nos departamentos concernidos. Na Europa, a tradicionalíssima Universidade de Bolonha vem abrindo áreas inovadoras. Uma delas é a do Programa de Treinamento Interdisciplinar Avançado, destinado a “expor estudantes a disciplinas que podem não ter qualquer relação com o seu curso preferencial”. Outra inovação é a de que esse Programa é aberto também a qualquer cidadão, independentemente de títulos acadêmicos que ele tenha. A seleção é feita por exame específico e também independe de resultados anteriores. Já na Alemanha existe uma experiência muito interessante na Baviera, delineada a partir do tema multi- e interdisciplinar do aquecimento global. Trata-se um curso (com grau de mestre) de 4 semestres básicos de duração, em Ecologia e Ciência do Meio-Ambiente, para alunos de diferente formação prévia, envolvendo as grandes áreas de Biologia, Ecologia, Ciências Sociais e Economia. O curso está sediado na Universidade de Bayreuth, mas é dado em colaboração com as universidades de Augsburg e Würzburg, além de abrir a possibilidade de que os estudantes façam estágios em universidades de outros países da Europa ou de outras macrorregiões. Esses exemplos apontam, no seu conjunto, para uma estratégia comum, uma vez que estão sendo construídos em universidades tradicionais, algumas de existência multissecular.

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tecnologia

parceria imperfeita

inovação no ar, Linha de montagem da Helibrás em Itajubá: com 25% de participação do Governo de Minas e 5% do Grupo Buenivest, é controlada pela Eurocopter. A empresa francesa é 100% da EADS, líder mundial no segmento aeroespacial, principal parceira no consórcio Eurofighter e acionista da francesa Dassault, que disputa com os suecos o fornecimento de caças ao Brasil.

epois de 30 anos montando helicópteros de última geração, a Helibras não agregou um único e inovador impulso econômico à bucólica Itajubá, cidade de 90 mil habitantes, incrustrada na encosta da serra da Mantiqueira, sul de Minas. Agora, a fábrica se prepara para atender uma nova encomenda bilionária do governo brasileiro: os helicópteros EC725, um negócio de R$ 5,2 bilhões, destinado a reequipar as Forças Armadas. Desta vez, no entanto, os franceses da Helibras prometem que “o futuro vai começar em Itajubá”.  E, segundo o presidente do grupo Inbra Filtros, fabricante de aeroestruturas em Mauá, estas promessas podem favorecer até mesmo o ABCD, namorado pelos suecos. O  contrato assinado pelos franceses com o governo brasileiro prevê o fornecimento de 50 helicópteros: 16 para a FAB, 16 para a Marinha, 16 para o Exército e dois para a Presidência da República. As primeiras três unidades serão produzidas pela própria Eurocopter – a controladora da Helibras brasileira – na França e serão entregues ao

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governo brasileiro no final de 2010. Para atender ao resto da encomenda, a planta de montagem da Helibrás, em Itajubá, será ampliada até 2012. Os primeiros helicópteros deste pacote, produzidos no Brasil, serão entregues apenas em 2013. Segundo a empresa, o cronograma de entregas vai obedecer a uma escala gradativa de nacionalização, que chegará a um mínimo de 50% até a entrega dos últimos equipamentos. O modelo EC725 é a versão mais recente da família Super Puma/Cougar. É uma aeronave biturbina média da categoria de 11 toneladas, equipada com rotor de cinco pás e tanque de combustível de grande capacidade, resultando em maior autonomia de vôo. Foi concebida para desempenhar múltiplas missões, como SAR (busca e resgate) de combate, transporte tático de longa distância, transporte aeromédico, apoio logístico e missões navais. A Eurocopter, controladora da Helibras, é uma subsidiária 100% controlada pela EADS, líder mundial no segmento aeroespacial. Principal parceira no consórcio Eurofighter, é acionista da Dassault Aviation (fabricante dos caças Mirage e Rafale). Vale lembrar que

a Dassault é justamente a companhia que está na disputa com os suecos e americanos pelo fornecimento de caças ao Brasil. Em março, durante evento de inauguração das obras de terraplenagem da Helibras, até então responsável apenas pela montagem das aeronaves, Eduardo Marson Ferreira, presidente da empresa, afirmou que “já estava contratando mão de obra especializada e que 40 funcionários serão enviados à Europa para treinamento na Eurocopter”. Ele afirmou também que o projeto “mudará a interface do intercâmbio entre Brasil e Europa com a troca de conhecimento e tecnologia entre os países.” Segundo a assessoria de Comunicação da FAB, o contrato foi consolidado a partir de exigências de requisitos operacionais estabelecidos pelas três Armas (Aeronáutica, Marinha e Exército) e é fruto de cooperação no campo aeronáutico entre o Brasil e a França, que “visa consolidar e ampliar o intercâmbio e a colaboração na área militar e industrial entre os dois países”. O acordo celebrado entre o Governo Federal e o Consórcio composto pelas empresas Helibras e Eurocopter engloba o projeto H-XBR e


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para francês ver

prevê, por meio de acordo de compensação e cooperação industrial, a viabilização da capacitação da indústria brasileira de helicópteros para atender aos mercados da América do Sul e África. Ocorre que a Helibras, criada em 1978, foi instalada dois anos depois em Itajubá, ou seja, em 1980. Comemora, portanto, 30 anos de existência. O desenvolvimento, até aqui, fica apenas para francês ver, já que a cidade, de vocação industrial, não possui nenhum pólo aeroespacial, nem sequer um círculo de empresas fornecedoras de matéria-prima para a montadora de aeronaves. Existem muitas promessas de que “agora o futuro vai começar em Itajubá”. Tanto que Marson avaliou durante o lançamento das obras de expansão da companhia que o “índice de nacionalização de 50% vai impulsionar o mercado fornecedor de peças.” Município com 90.812 habitantes (segundo IBGE), é uma cidade bonita, mas não parece dever muito à Helibras. A recepção da reportagem pela empresa não foi das melhores. Os portões foram mantidos fechados para a INOVABCD. Por parte do prefeito, Jorge Renó Mouallem,

a hospitalidade foi melhor. O próprio chefe do Executivo, que recebeu o presidente da Helibras na véspera da visita, foi muito cuidadoso com as palavras e admitiu que Itajubá será marcada pelo antes e depois da expansão da Helibras. “Cremos que este contrato vai trazer indústrias para fornecerem matéria-prima. Já estamos sendo procurados para tratar de áreas para instalação de novas companhias e isso certamente trará grande desenvolvimento para nossa região”, destacou Mouallem. Para o reitor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Renato de Aquino Faria Nunes, a Helibras é um dos símbolos do setor empresarial tecnológico do município. Entretanto, admite, nenhum curso foi criado para atender à demanda da empresa até aqui. Segundo Renato, o curso de mecânica da instituição já tinha ênfase em aeronáutica, até pela proximidade do município com São José dos Campos, onde está instalada a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronautica). O reitor, seguindo o discurso do prefeito, destacou que a expansão da Helibras, com o seu projeto de transferência de tecnologia, induziu agora à criação de um curso de graduação em engenharia aeronáutica e

Assim que a SAAB, fabricante sueca do caça Gripen, prometeu dividir com o ABCD o desenvolvimento de uma nova geração de caças militares, a atenção da Região para a indústria aeronáutica francesa se aguçou.  A Saab disputa com a Dassault francesa a renovação da esquadrilha de caças da Força Aérea Brasileira (FAB). Enquanto uma comitiva de suecos visitava São Bernardo, no final de junho, o repórter Clebio Cavagnolle, de INOVABCD, foi conferir como a indústria aeronáutica francesa está instalada no Brasil.

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namoro de marinho com suecos continua Caio Luiz

Jairo Cândido, da Inbra Filtros, anunciou que negocia com a prefeitura de São Bernardo a possibilidade de transferência para o município da unidade de aeroestrutura que está há dez anos em Mauá.

o estabelecimento de cursos, em formato de dupla diplomação, principalmente com as universidades francesas de Toulose, cidade que abriga um dos principais centros de inteligência aeronáutica do mundo. O Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá segue linha dura em relação à expansão da empresa e reafirma que não houve desenvolvimento da cidade ocasionado pela Helibras. A empresa conta, hoje, com 350 funcionários, mas deve saltar para 700 dentro de um ano. Segundo o diretor do sindicato, José Carlos dos Santos, o crescimento significará a precarização dos empregos atuais. “Vão terceirizar os postos, explorar a mão de obra e enviar o lucro para o exterior. É o que já ocorre. O único benefício que trazem para a cidade é o imposto que pagam, pois as peças vêm da França, eles montam os helicópteros aqui e ninguém vê desenvolvimento”, criticou. A posição é compartilhada pelo colega sindicalista Jeferson Mendonça. “O governo na verdade vai injetar dinheiro na empresa para pegarem mão de obra mais barata e ajudar na conquista do mercado em toda a América Latina. Para nós não vai sobrar muito. Em 30 anos aqui, não promoveram nada”, reclamou Mendonça.

Na penúltima semana de junho, a prefeita de Linköping, cidade sueca que abriga a sede da Saab, Ann-Cathrine Hjerdt veio ao ABCD para explicitar o interesse dos suecos em firmar o acordo de produção de partes do caça Gripen em território bernardense. Acompanhada de secretários e representantes da indústria sueca, assinou termo de cooperação com o prefeito do município, Luiz Marinho (PT). A intenção é incentivar a troca de informações e selar a parceria, que visa conquistar o negócio da compra de 36 caças supersônicos para a FAB. A disputa envolve a americana Boeing e a francesa Dassault. A prefeita de Linköping reafirmou ao prefeito Luiz Marinho o compromisso de Linköping de ajudar a São Bernardo e a Região do ABCD a constituirem um novo polo tecnológico em torno da indústria aeroespacial.

Mais investimentos, agora franceses

O presidente do grupo Inbra Filtros, Jairo Candido, anunciou ao prefeito Luiz Marinho a possibilidade de transferência de uma das cinco unidades da companhia, no caso a de aeroestrutura que existe há dez anos e está em Mauá, para São Bernardo. A mudança seria em decorrência da demanda atual de construção de peças e partes para companhias como a Embraer, Helibras, Eurocopter, Grupo EADS, Bombardier, Elbit, entre outros clientes. A realocação da planta movimentaria U$ 80 milhões, segundo estimativas iniciais do CEO da Inbra. “Somos uma das empresas que fazem parte do programa de nacionalização de peças para os 50 helicópteros que o Governo Federal comprou da francesa Helibras e que serão montados em Itajubá (MG).” De acordo com o presidente, há diversas companhias da França nas negociações e o contrato de fato deve sair em meados de agosto. “Existe a hipótese de integrarmos um arranjo produtivo para fornecimento de partes para asa rotativa de helicópteros EC725, o que viabilizará a vinda de uma linha de montagem completa para o Brasil”, especifica. Paralelamente, a Inbra também fabrica peças para aviões civis e já tem contrato com a Saab para fazer protótipos para o Gripen. A intenção da Inbra Aerospace é fabricar tudo que se refere a material aeronáutico em São Bernardo. “O Prefeito está fazendo esforço para levar empresas de alto conteúdo tecnológico para a cidade. Nós tivemos um entendimento. Há estudos de terreno, prazos para obras, pré-estrutura e pré-locação em discussão e previsões de contratações.” Candido pressupõe que a unidade possa ser ativada em 12 meses. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo, Jefferson da Conceição, confirma o objetivo de trazer grande quantidade de investimentos militares ao município. “Queremos construir um polo de defesa que atenda a demanda de fornecedores e que possa dialogar com as metalúrgicas e universidades da Região.” Para Conceição, o momento econômico positivo pelo qual passa o Brasil e a vinda do Rodoanel servem de chamariz para as empresas. “Aliamos estes fatores a uma ‘agressividade estratégica’ para elaborar políticas atrativas baseadas em tendências internacionais.


notas

A prefeita da cidade sueca de Linköping, Ann-Cathrine Hjerdt (esq.), e comitiva, durante visita a Incubadora de Empresas de São Bernardo (IESBeC).

Incubadora de SBC recebe comitiva Sueca

A Incubadora de Empresas de São Bernardo do Campo (IESBeC) recebeu a visita da prefeita de Linköping, na Suécia, Ann-Cathrine Hjerdt. A visita reflete a intensificação do relacionamento entre as cidades e os países, acordada pelo chefe do Executivo de São Bernardo, em visita à cidade européia. Ann-Cathrine conheceu os serviços, projetos e produtos desenvolvidos pelos empreendedores locais e declarou estar “impressionada com a interação que a incubadora mantém com a Administração e com o município”. A IESBeC é resultado da parceria entre a Prefeitura, Sebrae e a indústria moveleira da cidade, oferecendo infra-estrutura e capacitação empresarial para que novos empreendimentos surjam com condições de competir no mercado, tendo como princípio a inovação. A cidade de Linköping abriga a sede da empresa SAAB, que produz o caça Gripen e disputa o contrato para fornecer novos aviões de combate ao governo brasileiro.

programe-se 05 a 07 de agosto VI Congresso Nacional de Excelência em Gestão | Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para Gestão sustentável. LOCAL: Firjan, Av. Graça Aranha, 1 - Centro, Rio de Janeiro, RJ

12 a 14 de agosto Labace | Conferência e Exposição Latino Americana de Negócios da Aviação 2010 LOCAL: Aeroporto de Congonhas, Av. Washington Luís, 6000 – Portão 3 – São Paulo, SP

31 de agosto a 02 de setembro ECO Business | Feira e Congresso Internacional de Econegócios e Sustentabilidade LOCAL: Centro de Exposições Imigrantes, Pavilhão de Convenções, Rod. dos Imigrantes, km 1,5, São Paulo, SP

22 a 25 de setembro Feira ABC | Feira Industrial e de Subcontratação de Serviços do Grande ABC, focada na promoção e desenvolvimento empresarial das sete cidades que a compõem a região. LOCAL: Pavilhão Vera Cruz, Avenida Lucas Nogueira Garcez, 856, São Bernardo do Campo, SP

financiamento para o e-prod O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), por meio da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, financia o projeto piloto de um programa inovador desenvolvido pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Trata-se do Extensão Profissional a Distância (e-Prod), programa de ensino a distância, que permite às Prefeituras de uma forma geral promover cursos de formação para seus munícipes, oferecendo capacitação profissional a microempresários, pequenos comerciantes, indivíduos fora do mercado de trabalho e estudantes. O e-Prod é pioneiro na área pública e foi desenvolvido pela Pró-Reitoria de Educação a Distância da USCS. Por se tratar de autarquia municipal, a USCS pode ser contratada por qualquer Prefeitura Municipal do País, dispensando-se licitação.

Projeto garantido A Prefeitura de Santo André e o Governo do Estado de São Paulo selaram convênio para caminhar com a proposta de instalação de um Parque Tecnológico local. O município receberá repasse de R$ 330 mil, para a elaboração de um Plano Urbanístico Piloto, exigido pelo Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec). A proposta deve apresentar estudos que justifiquem o projeto, levando em consideração aspectos como uso do solo, logística, sistema viário, infraestrutura, meio ambiente e implementação jurídico-institucional, com vista à elaboração de diretrizes que nortearão a ocupação por empresas de base tecnológica e de incubadoras.

IBM investe em centro de P&D no Brasil A IBM anunciou a escolha do Brasil para sediar seu novo centro de P&D em Tecnologia, com investimentos na ordem de US$ 250 milhões. Um dos focos do novo centro será a pesquisa em petróleo e gás, uma vez que o pré-sal está na área de interesse da gigante americana. As negociações entre empresa e governo federal contaram com a participação dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Ciência e Tecnologia, Apex-Brasil, BNDES, Inpi e Finep. Este é o segundo centro de pesquisa e tecnologia que o país atrai em 2010. Em janeiro, a General Electric (GE), anunciou ter escolhido o Brasil para abrir sua quinta planta de pesquisa e desenvolvimento no mundo. AGOSTO DE 2010 | INOVABCD

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O processo deu origem ao surgimento de uma “Bio Refinaria”, responsável pelo desenvolvimento de outros derivados do petróleo que estão em teste na Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo.

pesquisa energia renovável Clébio Cavagnolle Cantares

A REDESCOBERTA DO PETRÓLEO arece impossível pensar em um produto similar ao petróleo, com as mesmas capacidades de derivação e produção, porém renovável e pouco poluente? Parecia. Inovando o conceito de biocombustíveis, a Amyris Brasil, subsidiária da Amyris Biotechnologies, empresa americana especializada em produtos renováveis, com unidade em Campinas, desponta como responsável por um novo horizonte na pesquisa e produção de diesel a partir da cana-de-açucar. A inovação não para por aí. A organização orgulha-se de destacar o surgimento de nada menos que uma “Bio Refinaria”, responsável pelo desenvolvimento de outros derivados do petróleo como solventes, detergentes, lubrificantes e até combustível para aviação, tudo tendo como matéria prima nada mais do que a cana-de-açucar. Esse passo histórico insere o Brasil como personagem fundamental no momento em que todas as autoridades mundiais buscam soluções renováveis e sustentáveis para continuar o progresso sem mais prejuízos para o ecossistema. Segundo Luciana Di Ciero, gerente de assuntos regulatórios da Amyris, instalada em Campinas há dois anos e meio, o País foi escolhido para o desenvolvimento do projeto justamente por sua experiência e soli-

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dez na produção de etanol. “Temos aqui uma larga tradição para produzir o álcool como combustível. Esse conhecimento é fundamental para alavancar o projeto. Além disso, estamos em uma região propícia, próximo das usinas, de ótimas universidades e dos canaviais, o que nos dá plenas condições de desenvolver produtos renováveis, pouco poluentes, eficientes e que vão gerar mais riquezas. Esse projeto vai abrir muitas possibilidades para a indústria canavieira, com o Brasil na liderança”, explica a executiva. O projeto está avançado e para produção em escala comercial falta apenas uma fase de testes: em frota urbana, ainda está em articulação. “Estamos em escala de certificação da planta pré-indústrial. A certificação pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) seguirá esse processo pós-testes. Em 2011 vamos construir nossa usina e a escala comercial deverá ser iniciada em 2012”, destaca Luciana. A primeira etapa dos testes vem sendo realizada em caminhões da Mercedes-Benz do Brasil desde dezembro, conforme a INOVABCD antecipou na edição passada. Além de reduzir emissões de materiais particulados, e com isso, auxiliar no combate à poluição, o novo combustível vem acompanhado da façanha de não alterar o desempenho do motor e manter um baixo consumo. “Nossa expectativa é criar uma opção sustentável de combustível, de modo

que o motor não perca autonomia”, destacou na ocasião o gerente de Desenvolvimento de motores da montadora, Gilberto Leal. Produzido com material de origem 100% vegetal e sem a presença do enxofre, como ocorre no diesel do petróleo, o produto da Amyris não tem emissões, por isso, além de poluir menos, não perde a eficiência, já que a molécula pura queima mais rápido. Em um dos testes realizados pela montadora de São Bernardo do Campo, utilizando em um tanque de combustível 90% de diesel comercial (S 50) e 10% do novo biocombustível, o resultado foi que, mesmo presente em um porcentual aparentemente pequeno, o produto a partir da cana-de-açucar já proporcionou redução de 9% nas emissões de material particulado, sem aumentar as emissões de NOx (Óxidos de Nitrogênio), segundo a Mercedes. Em termos de consumo e desempenho, a montadora destacou nos testes que, em ensaios comparativos, todos os parâmetros de controle do motor permaneceram exatamente iguais. Não ocorre aumento do consumo e, segundo a empresa, o novo biocombustível “se mostra uma alternativa interessante por não requerer alterações na estrutura da frota atual, ou seja, os motores não passarão por mudanças ou adequações para receber o diesel da cana-de-açucar.” Neste passo, a Amyris já mira o próximo


fotos: divulgação

Além de reduzir emissões de materiais particulados e, com isso, auxiliar no combate à poluição, o novo combustível vem acompanhado da façanha de não alterar o desempenho do motor e manter um baixo consumo.

desafio, o combustível para aviação. “Já fechamos o acordo para testes com a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) e com a Azul Linhas Aéreas. Teremos de passar pelos mesmos testes do diesel da cana para a certificação da ANP”, enfatiza Luciana. A Bio Refinaria ainda realiza os testes para, em um futuro próximo, trazer ao mercado outros produtos como solventes, detergentes e lubrificantes tendo como matéria prima uma fonte inesgotável e socialmente responsável.

Tudo começou com pesquisa de medicamentos

A Amyris tem origem de um projeto sem fins lucrativos financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para a produção de medicamento contra malária a baixo custo. Este projeto utilizou a Biologia Sintética para desenvolver um micro-organismo que, fermentando açúcares, pudesse produzir o remédio, o que acabou servindo como plataforma tecnológica de todos os outros produtos da companhia. A empresa conta com dois centros de pesquisa: a sede, na Califórnia, faz a pesquisa com os micro-

organismos, denominados como leveduras Saccharomyces Cerevisieae, utilizando as técnicas de Engenharia Genética e Biologia Sintética. A Unidade em Campinas faz o escalonamento da produção, as pesquisas tecnológicas de fermentação e o processo de produção utilizando como matéria-prima o caldo da cana-de-açúcar. “A partir dos estudos para o medicamento, os pesquisadores passaram a aplicar novos testes para descobrirem outras propriedades benéficas à sociedade. Foi quando chegaram ao hidrocarboneto, que tem propriedades idênticas ao petróleo. Então, viram que poderia ser projetado como biocombustível”, explica a executiva Luciana Di Ciero. O processo de produção do diesel da cana é muito parecido com o do etanol. As leveduras modificadas pela Amyris usam o açúcar do caldo-de-cana para fermentação. Essas leveduras metabolizam o açúcar e excretam um hidrocarboneto de cadeia linear com 15 carbonos. Este hidrocarboneto é separado por centrifugação. Não precisa de destilação, como no caso do etanol, já que é um óleo e não se mistura com o caldo de cana. Após a separação há uma etapa de finalização do produto para poder utilizá-lo em motores.

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inovação cases de sucesso JOANA HORTA

Inovação no combate à miséria O problema Mão-de-obra qualificada sem acesso a postos de trabalho Quem resolve Centro de Formação Profissional Padre Leo Comissari A saída Desenvolvimento de Incubadora de Cooperativas

Às margens da rodovia Anchieta, o Jardim Silvina exibe, entre barracos e casas de alvenaria, o prédio do Centro de Formação Padre Leo Comissari. A associação, que em 1998 iniciou seus trabalhos oferecendo cursos técnicos à comunidade carente de São Bernardo do Campo, hoje agrega um Espaço Cultural, uma editora, uma creche e salas para alfabetização de adultos e cursos preparatórios para vestibular e concursos públicos. A evolução não para por aí. Do centro, nasceu a Rede Comissari, que fomenta o empreendedorismo e a troca de bens e serviços na comunidade, utilizando princípios da Economia Solidária. E a mais recente iniativa da casa é a formação de uma incubadora de cooperativas. Tudo, para cumprir sua missão de resgate da cidadania e da qualidade de vida nas periferias e favelas do ABCD. Um dos responsáveis pelo constante crescimento do Centro é Ailton Galdino. Aos 26 anos, o jovem que trabalhava como mecânico foi escolhido pelo padre Leo Comissari para estagiar em uma cooperativa, na cidade de Imola, na Itália. Lá fez faculda-

de e, quando voltou, em 1998, assumiu a gestão da Associação. Galdino percebeu que o mercado não absorvia os alunos que concluíam os cursos de formação profissional oferecidos pelo Centro, hoje mais de mil ao ano. Daí a necessidade de promover e criar empreendimentos para absorção dessa mão de obra. “Comecei a colocar em prática todo meu conhecimento em gestão cooperativa. Primeiro formamos a rede; agora articulamos a incubadora.” Com quatro anos de existência, a Rede Comissari conta com 25 iniciativas, de diversos setores, unidas para o fortalecimento da economia popular. “Procuramos capacitar os moradores para o empreendedorismo e estimular a troca de produtos e serviços para que a riqueza permaneça na própria comunidade”, explica Galdino. “Assim, se a Cooperativa de reciclagem de óleo precisar aumentar suas instalações vai dar prioridade à contratação da Cooperativa de construção civil, também associada à rede.” Além de associações, cooperativas e estabelecimentos comerciais locais, outras duas cooperativas estão sendo estimuladas e estruturadas dentro da rede que, de forma independente, atua como incubadora. “Por enquanto estamos conseguindo realizar essas ações sem investimentos externos, buscando o apoio do Sebrae, das prefeituras e do Estado. Mas enquanto isso não acontece, vamos seguir contando com quem já ajuda, como o Banco do Povo de Crédito Solidário.” Para estimular a compra de produtos e serviços entre os membros da rede, foi criada uma moeda social, o “comissari”, que possui a mesma cotação do real. Por enquanto, a moeda circula somente entre os parceiros da rede, mas a ideia é que ela seja gradualmente expandida para todos os moradores da região. De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), até 2007 o governo havia mapeado cerca de 22 mil empreendimentos econômicos solidários e 45 moedas sociais em 52% dos municípios brasileiros. O MTE estima que a economia solidária movimente cerca de R$ 8 bilhões por ano. O Centro de Formação Profissional Padre Leo Comissari foi pensado e fundado pelo padre Leo Commissari, assassinado em junho de 1998, vitima da violência urbana na favela Jardim Silvina.

Luciano Vicioni

gestão cooperativa e


e pragmatismo legal reciclagem da lei trabalhista O problema Ilegitimidade de acordos para redução das jornadas de trabalho Quem resolve Ministério do Trabalho e Comitê Sindical de Empresa A saída Aprovação de portaria pelo Ministério do Trabalho

Portaria assinada pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, legaliza acordo realizado entre CSE (Comitê Sindical de Empresa) e empregador para a redução do horário de refeição. Nas fábricas do ABCD, a portaria será utilizada para reduzir ou eliminar o trabalho aos sábados. A conquista vai além da regulamentação desse acordo específico. Ela se configura como uma brecha no sentido de regulamentar o funcionamento dos CSEs dentro das fábricas. Desde que surgiram na Região, há mais de 30 anos, eles aguardam uma solução legal. Até hoje, acordos firmados entre empresa, sindicato e trabalhadores, que diferem do que estabelece a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), não têm valor legal. “As leis trabalhistas foram feitas na década de 1940, quando cerca de 80% ou 90% da força de trabalho brasileira estava no campo. Todo dia surgem novos cenários nas fábricas e a legislação não acompanhava as mudanças que os trabalhadores vivenciam”, pondera o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. O primeiro acordo com a nova regulamentação, assinado entre o Sindicato dos Metalúrgicos e a

Mercedes-Benz, fixa o horário de refeição em 45 minutos. “Cerca de 12 mil trabalhadores na Mercedes estão tranquilos quanto à manutenção do acordo, pois não correm o risco de terem a jornada diária aumentada por imposições legais”, afirmou Nobre. A Itaesbra, de Diadema, a Mahle de São Bernardo e a Dura, de Rio Grande da Serra, também aderiram ao acordo. No final de maio, o ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Maurício Godinho Delgado visitou empresas que possuem o modelo de comitê e elogiou a forma de trabalho. O professor Iram Jácome Rodrigues, do Departamento de Economia da USP (Universidade de São Paulo), acredita que a medida poderá contribuir para o surgimento de CSEs em outras categorias, o que criaria uma nova realidade trabalhista no País. “A médio e longo prazo essa iniciativa é extremamente importante para dar representatividade aos trabalhadores no local de trabalho e isso ainda não existe fortemente no Brasil. O modelo que existe no ABCD é um exemplo para outras categorias”, apontou o professor. “Teremos mais transparência na relação entre empresa e trabalhador.” A defasagem entre a anacrônica CLT e a realidade das relações de trabalho gera descontentamentos entre patrões e empregados. Nesse sentido, a iniciativa do governo federal foi um grande passo para o fortalecimento da representação sindical ao regularizar uma negociação direta.

AMANDA PEROBELLI

À esquerda, Ailton Galdino, que fez estágio em Imola, na Itália, e hoje dirige o Centro de Formação Padre Leo. Empreendedorismo absorve mão de obra treinada na instituição. “Primeiro formamos a rede. Agora, a incubadora”. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre (ao lado): “Cerca de 12 mil trabalhadores na Mercedes estão tranquilos quanto à manutenção do acordo, pois não correm o risco de terem a jornada diária aumentada por imposições legais”.

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serviços

Financiamentos ao Linhas de crédito para inovação estão disponíveis à empresas de todos os portes, setores e focos de investimento. Mas, para muitos empresários, o desafio de buscar recursos começa na escolha do financiamento correto. O quadro ao lado sugere oito linhas de financiamento, onde você poderá encontrar a que melhor se aplica ao seu negócio.

LINHAS DE FINANCIAMENTO FONTE

BNDES AUTOMÁTICO BNDES

PORTE DA EMPRESA

Todos

SETOR DE ATIVIDADE

TIPO DE INVESTIMENTO

ITENS FINANCIAVEIS

Todos

Investimento Recursos Financeiros

Ampliação, recuperação e modernização de empresas, incluindo obras civis, montagens e instalações, aquisição de equipamentos novos e capital de giro associado

Investimentos e planos de negócios de empresas produtoras de softwares e fornecedoras de serviços de TI Capital de giro associado

PROSOFT EMPRESA BNDES

Todos

TI e Software

Tecnologia Recursos Financeiros Setorial

PROSOFT

Todos

Todos

Tecnologia Recursos Financeiros

Financiamento para aquisição, no mercado interno, de softwares e serviços correlatos desenvolvidos no Brasil

TI

Tecnologia Recursos Financeiros Setorial

Financiamento, na fase pré-embarque, ao desenvolvimento de softwarese serviços de TI, destinados à exportação. Apoio à comercialização no exterior de software e serviços de TI, desenvolvidos no Brasil, na modalidade de refinanciamento, mediante o desconto de títulos de crédito ou a cessão de direitos creditórios relativos às exportações

Todos

Tecnologia Incentivos Fiscais

Isenção e redução de impostos (CSLL, IPI e IRPJ) com o objetivo de incentivar a capacidade das empresas desenvolverem internamente inovações tecnológicas; remuneração de pesquisadores, titulados como mestres e doutores, empregados em atividades de P&D nas empresas

Todos

Todos

Tecnologia Recursos Financeiros Fundo de Capital de Risco

Recursos dirigidos a ações como a construçãode protótipos ou contratação de executivos para empresas nascentes de base tecnológica em fase inicial

Todos

Empresas de base tecnológica, nascentes ou fundadas há, no máximo, 2 anos

Tecnologia Recursos Financeiros Subvenção

Contratação de controladoria e serviços de consultoria especializada em estudos de mercado, serviços jurídico, financeiro, certificação, custos, etc.

Todos

Bens de capital, produtos, serviços, tecnologias e alimentício

Investimento Recursos Financeiros Setorial

Softwares, capacitação, consultorias, projetos, certificação, obras, máquinas, P&D, comunicação e capital de giro

PROSOFT EXPORTAÇÃO BNDES

Todos

LEI DO BEM MCT

Médias e Grandes Empresas

PROGRAMA INOVAR FINEP

PRIME FINEP

REVITALIZA / BNDES

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo

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alcance de todos % DE PARTICIPAÇÃO DO TOTAL

CUSTOS FINANCEIROS

PRAZO DE PAGAMENTO

LIMITE

MAIS INFORMAÇÕES

Microempresas - até 70% Pequenas e Médias empresas - até 40% Grandes empresas - até 15%

Custo Financeiro (TJLP +( TJLP + 1,0% a.a ) + Cesta) + Remuneração BNDES de 2,5 % a.a + Taxa de Intermediação de 0,5 % a.a + Remuneração da Instituição Financeira Obs.: MPME e pessoas físicas são isentas da taxa de intermediação financeira

Definidos pela instituição financeira em função da capacidade de pagamento do emprendimento, da empresa ou do grupo econômico.

Até R$ 10 milhões.

bndes.gov.br/ apoiofinanceiro

até 100%

TJLP + Bndes de 1% a.a. até 1,5 % a.a. + Remuneração Instituição Financeira

A partir de R$ 400 mil

bndes.gov.br/ apoiofinanceiro

até 100%

TJLP + BNDES de 1% a.a. Instituição Financeira: até 4% a.a.

Até 42 meses

Até 150 % do valor do produto a ele associado

bndes.gov.br/ apoiofinanceiro

até 100%

Pré-embarque: BNDES de 1% a.a + TJLP ou Libor + Variação Cambial (Micro, pequena e média) e BNDES de 2% a.a + TJLP (Grande Empresa). Pós-embarque: Libor (corresp. ao prazo de Financiamento) + Remuneração BNDES ( igual ou maior que 0,5% a.a.)

Pré-embarque: até 36 meses. Pósembarque: até 80 meses.

Pós-embarque: De US$ 200 mil a US$ 2 milhões. Pré-embarque: acima de US$ 200 Mil

bndes.gov.br/ apoiofinanceiro

De R$ 500 mil a R$ 1 milhão

venturecapital.gov.br/ vcn/programainovar.asp

R$ 240 mil em dois anos (R$ 120 mil em cada fase)

finep.gov.br/programas/ prime.asp

R$ 100 milhões por grupos de empresas Projetos e capital de giro até R$ 10 milhões

bndes.gov.br/ apoiofinanceiro

“Finep: 40% Instituição: 40% Empresário: 20%”

100%

Juros zero: para recursos reembolsáveis

9 % a.a.

Até 96 meses

(61) 3317-7809 (Brasília-DF) incentivos. fiscais@mct.gov.br

Classificação de porte de empresa adotada pelo BNDES e aplicável a todos os setores: Microempresa: menor ou igual a R$ 2,4 milhões | Pequena empresa: maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões | Média empresa: maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões | Média-grande empresa: maior que R$ 90 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões | Grande empresa: maior que R$ 300 milhões

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micro e pequenas

oportunidades

PAULO CARNEIRO

parcerias estimulam in governo federal e a CNI (Confederação Nacional de Indústria) anunciaram a formação de duas parcerias destinadas a estimular a inovação nas empresas. O projeto prevê o investimento de cerca de R$ 100 milhões na formação de núcleos estaduais e setoriais de apoio à pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Esses núcleos incentivarão as empresas a investir em novos produtos e processos e orientarão empresários e dirigentes empresariais a preparar e implementar projetos. “Nossa determinação é mudar a agenda de inovação no país, que sempre foi mais voltada para o lado acadêmico. Queremos estimular o interesse mais pelo lado empresarial, mostrar que inovação tem de ter valor de mercado e rentabilidade”, disse o gerente de política industrial da CNI, Paulo Mol, em entrevista à INOVABCD. Segundo ele, a CNI desenvolve projetos para facilitar o acesso dos empreendedores às informações e às ferramentas de que necessitam. “O objetivo é fazer com que a inovação seja o motor do setor produtivo”. afirmou. Em uma das parcerias, o Ministério da Ciência e Tecnologia, a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) lançaram um edital com recursos de R$ 50 milhões para estruturar 20 núcleos de apoio à gestão da inovação, tendo como fonte o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A outra, firmada entre a CNI e o Sebrae, prevê investimentos de R$ 48,6 milhões, em 36 meses, para os núcleos de inovação, que permitirão a criação de um portfólio de produtos a serem oferecidos dentro dos núcleos, em especial para micro e pequenas empresas. O portfólio está dividido em seis eixos: 1) eventos de sensibilização e motivação de empresas; 2) cursos de capacitação em gestão da inovação para as empresas industriais; 3) plano de inovação na empresa; 4)

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suporte à implantação do plano de inovação na empresa; 5) assessoria à elaboração de projetos para submissão aos órgãos de fomento; 6) monitoramento, avaliação e difusão de resultados. Na etapa inicial, a meta é sensibilizar 18 mil empresas, capacitar 9 mil empresários e executivos, elaborar 3.600 planos e implementar 3 mil planos e elaborar 2.400 projetos de inovação. “O projeto é de abrangência nacional”, afirma Paulo Mol. “Os núcleos serão articulados com as federações de indústrias dos estados e com associações setoriais da indústria, inclusive no ABCD”. A criação de uma rede de inovação é uma das ações da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), projeto da CNI que articula líderes empresarias e parceiros como o Sebrae com o objetivo de fazer da inovação um tema permanente dentro das empresas. As lideranças devem atuar na mobilização, capacitação e apoio às empresas nas atividades de gestão. Os detalhes do projeto foram anunciados pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, pelo secretário-executivo do Ministério de Ciências e Tecnologia, Luís Elias, e o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. Já as parcerias foram anunciadas depois da reunião da MEI, ocorrida no escritório da CNI de São Paulo, com a presença do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e de empresários como o presidente da WEG, Harry Schmelzer Jr. o presidente do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, além de dirigentes das indústrias Kablin, Natura, Fiat, Embraer, IBM, entre outros. Eles discutiram diversas ações articuladas entre o setor empresarial e o governo de incentivo à inovação. Os idealizadores da iniciativa partiram da constatação de que muitos empresários não utilizam os recursos disponíveis para impulsionar seu crescimento por acreditarem equivocadamente que as aplicações em novos processos demoram a dar resultados e exigem um grau de sofisticação inacessível às empresas de menor porte.

Acordo firmado entre o Ministério da Ciência e Tecnologia, a FINEP e o BNDES garante recursos de R$ 50 milhões para estruturar 20 núcleos de apoio à gestão da inovação, tendo como fonte o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Outra parceria, firmada entre a CNI e o Sebrae, prevê investimentos de R$ 48,6 milhões, em 36 meses, para os núcleos de inovação, que permitirão a criação de um portfólio de produtos a serem oferecidos dentro dos núcleos, em especial para micro e pequenas empresas.


Carlos Rudiney | Banco de Midia CNI

novação em empresas Na avaliação feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), a aposta na criação de 20 núcleos estaduais de estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico poderá trazer resultados importantes a curto prazo. O principal papel deles será a redução da defasagem entre o grau de inovação alcançado pelas grandes e médias empresas e as micro e pequenas. Segundo o presidente da entidade, Robson de Andrade Braga, a disseminação de projetos de inovação pelos estados irá estimular as microempresas e as de pequeno porte a investir mais em tecnologia para aumentar sua produção e gerar mais empregos. Andrade lembra que as micro e pequenas representam 98% das empresas em atividade no País. Os núcleos terão a função estratégica de providenciar treinamento e consultoria para induzir pequenas, médias e grandes empresas a preparar projetos de inovação. Os financiamentos para esses projetos, no entanto, deverão ser obtidos pelas próprias empresas no mercado, seja no Ministério da Ciência e Tecnologia, no BNDES ou com recursos próprios. Para o presidente da CNI, o Brasil jamais será competitivo se as empresas não investirem em inovação. Segundo ele, esta tem sido uma das frentes de luta da entidade que preside. As expectativas do presidente do Sebrae, Carlos Alberto Santos, também são elevadas em relação aos resultados da iniciativa. Para ele, esse incentivo deverá gerar 2,4 mil projetos concretos de inovação em empresas nos próximos meses. Ele destaca que haverá um comitê de empresários para dar suporte às ações inovadoras a serem apresentadas em todo o País. A ideia é formar um número cada vez maior de gestores e multiplicar os trabalhos mais relevantes.

José Paulo Lacerda | Banco de Midia CNI

Projeto une micro pequenas e grandes

O presidente da CNI, Robson de Andrade Braga (no alto), e o gerente de política industrial da entidade, Paulo Mol, afirmam que a disseminação de projetos de inovação pelos estados irá estimular as microempresas e as de pequeno porte a investir mais em tecnologia para aumentar sua produção e gerar mais empregos. As micro e pequenas representam 98% das empresas em atividade no País.

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ponto de vista Reginaldo Braga Arcuri

FOTO DIVULGAÇÃO

O modelo institucional estruturado para a PDP visa disseminar o uso de ferramentas de incentivo à inovação, acelerando o crescimento econômico e potencializando o desenvolvimento tecnológico.

inovação e política de desenvolvimento produtivo inovação é o centro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada em maio de 2008 pelo Governo Federal. O conjunto de propostas, afinadas com as diretrizes da política macroeconômica e diversas outras ações de governo, percebe a inovação como prioridade para conduzir o País em uma rota de evolução afinada com os requisitos competitivos da economia atual. Concebida com o objetivo central de construir condições para a sustentabilidade do ciclo de crescimento da economia brasileira, a PDP apóia-se em quatro macrometas, sendo uma delas justamente ligada ao tema inovação. Além da ampliação do investimento fixo, do aumento da participação das exportações brasileiras nas exportações mundiais e da dinamização das micro e pequenas empresas, a Política assumiu o desafio de elevar o gasto privado em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), em torno da qual se organizam objetivos e programas setoriais específicos. O modelo institucional estruturado para a PDP visa disseminar o uso de ferramentas de incentivo à inovação, acelerando o crescimento econômico e potencializando o desenvolvimento tecnológico. Adicionalmente, tem se mostrado capaz de estruturar ações emergenciais voltadas para a sustentação da indústria, com destaque para o período pós-crise internacional. Embora ainda seja preciso avançar para conquistar uma posição de maior conforto, os aumentos registrados no volume de recursos disponível para investimentos em atividades inovadoras ilustram alguns dos resultados alcançados. Seja por meio da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia (Finep/MCT)

ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os recursos destinados ao financiamento à P&D ampliaram-se sensivelmente. Entre 2007 e 2009, o montante disponibilizado pela Finep aumentou pouco mais de 40%, enquanto o suporte financeiro do BNDES para atividades inovadoras cresceu cerca de 63%. Ao longo da última década, diversas alterações no marco regulatório, nos mecanismos de apoio e nas instituições de suporte ao desenvolvimento científico e tecnológico moldaram um novo ambiente para o fortalecimento das atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) no Brasil. No plano institucional, a instalação de fóruns setoriais com o objetivo de elevar a competitividade de cadeias produtivas, entre os anos 2000 e 2002, foi um ponto de partida para a estruturação de um modelo de formulação e implementação da política industrial que aproxima empresas e órgão públicos. Usufruindo dessa estrutura, a PDP mantém a ênfase na inovação tecnológica e avança nos esforços de articulação intragovernamental e na promoção de um maior envolvimento do setor privado. Neste contexto, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que compõe a Secretaria Executiva da Política ao lado do BNDES e Ministério da Fazenda, atua conciliando interesses, alinhando as diversas ações e minimizando a dispersão de esforços e a superposição de tarefas. Dessa forma, cumpre papel decisivo para o êxito da política industrial.

Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)


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