INOVABCD 02

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AMANDA PEROBELLI

ANO 1 | NO 02 | SET • 2010 | EXEMPLAR CORTESIA

os robôs do abcd

Os braços mecânicos que sustentam a indústria automobilística

R$ 500 milhões Saiba como acessar o financiamento da FINEP

glauco arbix Inovação: chave para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil




AMANDA PEROBELLI

AMANDA PEROBELLI

editorial

vantagens competitivas O Brasil, a Região e o mundo estão passando por mudanças. Tão velozes e profundas quanto as que marcaram o aparecimento dos robôs e a automação industrial no final do século passado. Esta edição de INOVABCD é mais um retrato deste quadro sustentado por iniciativas como o Observatório da Inovação, do Instituto de Estudos Avançados, retratado na reportagem Projetando tendências inovadoras (pág. 28).

Durante anos, o custo da mão de obra da Região, fruto da qualidade e da organização de seu trabalhador, foi apontado como fator negativo para explicar fuga de empresas. E também para justificar sua substituição pelos robôs. Mas, como destaca Glauco Arbix (pág.6), a lógica da inovação é oposta. No ambiente altamente competitivo promovido pela inovação, o alto salário se transforma em vantagem competitiva.

As matérias sobre os Robôs do ABCD representam um balanço histórico e tecnológico da indústria automotiva nacional e internacional. Os robôs não foram a catástrofe anunciada quando começaram a ocupar o chão das fábricas. Na realidade, hoje, o futuro depende mais do homem que está por trás da máquina, de empresários, trabalhadores, de seus sindicatos e governos do que de outros fatores.

E, é esta vantagem competitiva que promete fazer diferença para o futuro do ABCD. Mas, para isto é preciso que a Região e o Brasil acreditem no seu potencial. Sem esta crença, ninguém se mobiliza e o mundo continua como é, cheio de carências econômicas, sociais e ambientais.

A conversa do correspondente Flávio Aguiar na Alemanha com sindicalistas ligados à Volkswagen é paradigmática: automação não precisa necessariamente ser confundida com a robotização dos processos, ambientes de trabalho ou dos seres humanos que ali convivem. Tudo depende deles, e de quem tem a iniciativa nas transformações, bem como do modo em que dividem e organizam o poder das decisões.

É com a promoção desta fé nas mudanças e na capacidade do homem de promovê-las que a revista INOVABCD renova mais uma vez seu compromisso e agradece as manifestações de apoio recebidas ao longo destes quatro meses de circulação e durante o lançamento oficial da publicação, realizado na Pinacoteca Municipal de São Bernardo no dia 14 de agosto, como registra a reportagem Lançamento INOVABCD (pág. 11). Celso Horta


ANO 1 | NO 02 | SETEMBRO • 2010

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especial robotização

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03 Editorial

VANTAGENS COMPETITIVAS

06 Entrevista - Glauco Arbix

ATIVISTA DA INOVAÇÃO O especialista em inovação fala sobre sustentação econômica, política industrial e estratégias para um desenvolvimento sustentável do ABCD e do País

09 Eleições

INOVAÇÃO NA PAUTA DOS CANDIDATOS Dilma defende aumento do PIB à pesquisa, Serra propõe ampliação de convênios e Marina vê alternativa ao desenvolvimento sustentável

10 Notas 11 Evento

LANÇAMENTO INOVABCD Cerimônia reúne agentes da inovação na Pinacoteca Municipal de São Bernardo

Educação 12 BRAÇOS MECÂNICOS NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA 25 DE PORTAS ABERTAS 18 O OUTRO LADO DA ROBOTIZAÇÃO A UFABC recebe a comunidade em evento, na busca por diálogo com a Região 20 OS ROBÔS E SEUS PROBLEMAS MARAVILHOSOS 26 Transporte 22 ROBÔS DA FEI BATEM BOLA

O ÔNIBUS DO FUTURO Veículos movidos a diesel de cana começam a passar por testes em São Paulo

28 Tendências

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SÉRGIO NOBRE

acredita no avanço tecnológico, se implementado de forma responsável

Projetando tendências inovadoras O Observatório da Inovação da USP é um laboratório de ideias e projetos para o futuro

31 Case

ARTICULAÇÃO PRÓ INOVAÇÃO IATDI busca integrar pesquisa, produto, setores produtivos e instituições de ensino da Região

32 Serviços

FOMENTO E FINANCIAMENTO Milhões de reais disponíveis a projetos inovadores. Descubra como acessá-los

34 Ponto de vista

ANNE LEWIS-OLSSON Investimento tecnológico gera retorno em forma de crescimento econômico EXPEDIENTE: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 Editor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) Redação: Caio Luiz, Camila Galvez, Clébio Cavagnolle Cantares, Gilberto Nascimento, Joana Horta e Niceia Climaco. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa Impressão: Leograf Tiragem: 40 mil exemplares

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FOTOS: LUCIANO VICIONI

entrevista

Glauco Arbix

Joana Horta

Glauco Arbix é um defensor da inovação. Sociólogo por formação é professor, membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e Coordenador do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP. No governo Lula, foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e coordenador, até 2009, do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (NAE). É ainda membro do Grupo de Especialistas do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD-ONU). Agora, Arbix prepara-se para exportar conhecimento. Dias antes de embarcar para os Estados Unidos, onde ministrará aulas de inovação em programas de mestrado, atendeu a reportagem da INOVABCD para uma entrevista onde defende a inovação como chave para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil.

Glauco Arbix: multiplicidade na defesa de ações inovadoras para o crescimento sustentável do País.

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ATIVISTA DA INOVAÇÃO Filósofo, pesquisador e consultor, Glauco Arbix se multiplica na defesa de ações inovadoras para o crescimento sustentável do País. INOVABCD - A inovação pode sustentar o desenvolvimento econômico? Glauco Arbix – São muitos os empecilhos para a manutenção do crescimento econômico. Nas instituições públicas existem fraquezas na capacidade de elaboração e acompanhamento de projetos, enquanto nas privadas há pouca inclinação para melhorias significativas nos padrões de produção e qualidade. Impostos, burocracia, regulação insuficiente, taxa de juros. Não há varinha mágica, mas acredito que o desafio central do Brasil está em tornar a sua economia mais inovadora. É por essa via que o País pode se ligar a cadeias globais, com retornos significativos. INOVABCD – O senhor defende a criação de uma Agência Nacional de Inovação. Qual seria a missão dessa agência? Arbix – A proposta de criação de uma Agência Nacional de Inovação acompanha um diagnóstico que vários pesquisadores fazem sobre esse gargalo que existe para que o Brasil consiga se estruturar e sustentar um desenvolvimento econômico a médio e longo prazos. A Agência seria um centro com recursos significativos, para programas de grande porte, capaz de dar consistência e qualidade às prioridades fundamentais, diminuindo a distância entre plano de governo e ação institucional e, por isso, subordinada à Presidência da República. Se quisermos construir um país com soberania e autonomia, que eleve o padrão de vida da população, temos a obrigação de orientar a economia para essas questões. Como é que a gente faz isso? Concentrando recursos, criando foco e fazendo a diferença.

INOVABCD – O Brasil deve inovar também na concorrência internacional? Arbix - Quem um dia teve a ideia de que o Brasil seria para sempre um celeiro de baixos salários e qualidade duvidosa de seus produtos, errou no passado, erra mais agora e vai continuar errando no futuro. Principalmente, porque em uma competição que não preza por qualidade ou geração de empregos qualificados, existe um número gigantesco de países que podem ser melhores que nós. Por isso é tão importante que se utilize a inovação para transformar a economia, elevar o padrão e diversificar aquilo que se faz. O Brasil não pode ser um país dependente de commodities, de produtos de baixo valor agregado. INOVABCD – Temos política industrial e maturidade para pensar alto? Arbix – A questão da maturidade tem que ser abordada de duas formas. Do ponto de vista histórico, o Brasil possui experiências riquíssimas de políticas industriais. Entre as décadas de 1940 e 1980, atingiu altas taxas de desenvolvimento, começamos a nos desenvolver antes dos asiáticos. O ABCD não existiria se não houvesse uma política industrial. Porém, geramos uma desigualdade muito grande. Atraíamos as multinacionais, mas oferecíamos um mercado fechado. Hoje, o Brasil está sendo chamado a fazer política industrial em um regime menos protegido. Houve privatizações, a economia está mais dinâmica e, ao mesmo tempo, vivemos uma democracia.

INOVABCD – Você coordenou o NAE do Governo Federal. Como a inovação era discutida nesse Grupo? Arbix – A questão da tecnologia era muito forte nas discussões do NAE. A ideia básica era profissionalizar o Governo, com um corpo de profissionais capazes de dirigir, coordenar e criar a inteligência de um país. Um ministro não pode tomar uma decisão que vai mudar um cenário por décadas, sem ter um apoio. O NAE dialogou com um grupo inglês, um dos mais avançados do mundo, e que teve influencia fundamental para o estabelecimento de uma política de parques tecnológicos. INOVABCD – O Governo enxerga a necessidade de inovação? Arbix – O Governo evoluiu muito nos últimos anos, traçando uma diretriz voltada à inovação. O Brasil começou a se movimentar depois de 25 anos de inércia. Tivemos a Lei de Inovação, a Lei do Bem, contratação de pessoal qualificado, uma série de programas financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Pela Lei de Inovação você consegue colocar recursos públicos em empresas privadas esperando como retorno que a inovação reflita na melhoria da qualidade dos empregos, da renda e da qualidade de vida. Isso é muito positivo.

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“Quem um dia teve a ideia de que o Brasil seria, para sempre, um celeiro de baixos salários e qualidade duvidosa de seus produtos, errou no passado, erra mais agora e vai continuar errando no futuro.”

INOVABCD – Essas linhas de fomento estão sendo utilizadas pela indústria? Arbix – Parcialmente. Existe uma dificuldade reconhecida de nossas empresas para investir no desenvolvimento e na inovação. Isso é reflexo desses quarenta anos de economia ultraprotegida, onde as empresas não criaram uma dinâmica de incorporar a inovação em suas estratégias para sobreviver à concorrência. Inovação é investir nas pessoas, renovar aquilo que você faz para se diferenciar no mercado, mas isso no Brasil é muito recente. Segundo os dados do último IPEA, nós não chegamos a 2% de empresas que inovam e exportam. INOVABCD – E o trabalhador, o que ganha nesse processo? Arbix – Durante todo o período de desenvolvimento brasileiro, o baixo salário era uma vantagem comparativa. A lógica da inovação é oposta, o alto salário é uma vantagem. Você tem que trabalhar de um jeito mais qualificado e de forma mais criativa. As empresas que inovam, crescem e valorizam trabalhador, salários e escolaridade. As pesquisas indicam que trabalhadores que inovam possuem escolaridade maior que a média das empresas brasileiras.

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INOVABCD – Existe razão para o trabalhador temer o robô? Arbix – Depende muito das políticas que as empresas seguem para implementar a automação. A briga não é contra a máquina. O problema está na adoção de uma política de automação predatória. Existe a política de inovação e automação que consegue utilizar a experiência de quem trabalha. É verdade que o robô tira o posto de trabalho de quem estava ali, mas ele precisa ser programado. Quem programa? Um trabalhador. Não há uma obrigatoriedade que o robô seja um predatório. Depende de como você implementa as soluções. INOVABCD – Quais mecanismos podem garantir uma automação saudável? Glauco Arbix – Quanto mais distante estiverem os sindicatos da elaboração, discussão e execução das políticas de automação, pior para os trabalhadores. Isso orienta a preservação dos postos de trabalho. De repente é necessário aprender inglês porque essas máquinas foram programadas em inglês. Existe um radicalismo, que eu acho ingênuo, que renega a automação. Mas os trabalhadores são os primeiros interessados; podem e devem negociar com as empresas a requalificação e a política de automação.

INOVABCD – O ABCD está se integrando às políticas de inovação de sua indústria? Arbix – Sim, e tem que fazer isso maciçamente, pois a Região vive esse processo. Lá atrás, os metalúrgicos passaram a discutir a necessidade das fábricas da região produzirem novos modelos, pois sem isso a qualidade da produção entraria num processo de estagnação. Então veio o robô e isso significava que a matriz ou a empresa estavam elevando o padrão. O debate sobre inovação interessa antes de mais nada a quem trabalha, mas de uma forma paradoxal. É preciso dizer que são muito raros os sindicatos que se preocupam com a inovação. INOVABCD – Como a Região pode inovar para se adaptar a esse cenário? Arbix – As empresas locais viveram e vivem pressões de concorrência, porque estão próximas dos grandes mercados, têm mão de obra mais qualificada, o custo da terra é mais caro, os aluguéis, o transporte. Quando você coloca tudo isso em custos, o ABCD acaba perdendo uma série de atrativos. Mas, ao mesmo tempo, esse é o diferencial. Para algumas empresas vale a pena, para outras não. Com essa mão de obra ultraqualificada e a sua localização, uma série de empresas que necessitam dessas características podem ser atraídas. A política industrial tem que estar voltada para substituir lacunas na capacitação industrial do País. INOVABCD – O senhor é um caso de exportação de conhecimento brasileiro em inovação para os EUA? Arbix – Se você quiser, pode chamar assim. Nos próximos seis meses vou ministrar aulas de mestrado em inovação, na Universidade de Wisconsin e na capital, Madisson. É praticamente a mesma aula que eu dou aqui em São Paulo, na pós-graduação da USP. Essa será minha primeira experiência como professor fora do Brasil, mas existem muitos outros brasileiros, pesquisadores e professores compartilhando conhecimento pelo mundo.


eleições

propostas

inovação na pauta dos candidatos Dilma defende aumento do PIB à pesquisa, Serra propõe ampliação de convênios e Marina vê alternativa ao desenvolvimento sustentável Além de segurança, saúde e educação – assuntos sempre presentes nas propostas dos candidatos à Presidência – a inovação tecnológica, fundamental para o desenvolvimento e crescimento econômico do país, também ganha destaque na pauta dos presidenciáveis. A INOVABCD localizou nas propostas de Dilma Roussef , José Serra e Marina Silva, referências de estímulo à inovação. Saiba quais as ideias dos candidatos para os próximos quatro anos de governo.

Dilma Roussef

Partido PT

Coligação “Para o Brasil Seguir Mudando”

Vice Michel Temer

Para a candidata do PT, a inovação aparece como proposta junto ao desenvolvimento industrial e agrário. Dilma pretende enfatizar a inovação através do incentivo às pesquisas, da transformação dos centros de pesquisas em centros de difusão de conhecimento e transferência de tecnologia entre empresas estrangeiras e instituições de ensino e pesquisa federais. Para tanto, a candidata propõe o fortalecimento dos 122 institutos implantados, o aumento de 50 mil para 220 mil pesquisadores, mestres e doutores, a implantação de 450 novos centros tecnológicos, escolas técnicas em cidades com mais de 50 mil habitantes e o aumento de bolsas concedidas pelo CNPq e Capes. Além da implantação do número de patentes, domínio das tecnologias de fabricação de satélite e veículos lançadores e aumento do monitoramento por satélite do desmatamento dos biomas brasileiros. Dilma também inclui em sem plano de governo a melhora dos mecanismos de crédito e o aumento da produtividade no País. A candidata sugere, como forma de incentivo ao desenvolvimento tecnológico, o aumento dos investimentos em pesquisa e inovação de 1,4% do PIB para até 2%.

José Serra

Partido PSDB

Coligação “O BRASIL PODE MAIS”

Vice ÍNDIO DA COSTA

Com foco no desenvolvimento industrial, Serra propõe o apoio às instituições de pesquisa e formação tecnológica, com recursos públicos e privados. O candidato ainda reconhece a necessidade de estimular a integração entre universidades e empresas, possibilitando a contratação e treinamento de novos cientistas. Para o candidato do PSDB, os recursos aplicados em inovação devem visar também o meio ambiente, com investimentos em energias renováveis, controle de poluição, incentivo de tecnologias limpas e proteção e recuperação ambiental. Serra pretende ampliar para todo o Brasil alianças como a que o governo do Estado de São Paulo possui com a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e as universidades estaduais USP, UNICAMP e UNESP. Além disso, o candidato pretende elevar de 5% para 18% o número de doutores formados no País e estudar a criação de uma agência nacional de inovação para tratar de políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Marina Silva

Partido VERDE

Vice GUILHERME LEAL

Marina Silva vê o conhecimento como base para a prosperidade sustentável do país. Por isso, tem como proposta a crescente parceria entre as instituições de ensino e ações sociais que impulsionam o desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental. Para a candidata do PV, o investimento em inovação é a saída para aproveitar melhor o território e as riquezas naturais do país, através de uma economia sustentável e com baixa emissão de carbono. Marina propõe o incentivo ao empreendedorismo, criatividade e inventividade como impulsionadores da economia, além da valorização da inovação tecnológica como elemento fundamental para o desenvolvimento. A candidata pretende ainda priorizar o desenvolvimento da bioeletricidade como matriz energética, criando condições para levar o combustível feito a base de cana-de-açúcar para o transporte público no Brasil.

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notas

novidade no ar: presidente Lula inaugura TV dos Trabalhadores Em 23 de agosto, foi ao ar o primeiro programa produzido pela TV dos Trabalhadores (TVT). Após a transmissão, o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, discursou e afirmou que a estreia da TVT representa um divisor de águas no processo da democracia. “A emissora, dirigida por trabalhadores, dá novo vigor a algo que é sagrado para todos nós: a liberdade de imprensa”. A programação é gerada pelo canal 46 de Mogi das Cruzes e retransmitida por uma rede de canais, entre eles o 48 UHF, que alcança a Grande São Paulo e a Região do ABCD. Valter Sanchez é o diretor responsável pelos programas, exibidos entre 19h00 e 20h30. A programação também está disponível no portal www.tvt.org.br

Lula discursa na estreia da TVT

Novos ônibus para a Copa A Scania anunciou a criação do ônibus BRT (Bus Rapid Transport), programado para operar em nove das 12 cidades da Copa 2014. O investimento do País, nesse tipo de transporte, será de R$ 6 bilhões até 2013. Com fábrica em São Bernardo, a Scania terá a divisão de BRT comandada por Claudio de Senna Frederico, ex-secretário de Transportes do Estado de São Paulo. Empresas do setor de transporte querem aproveitar o impacto dos projetos da Copa para que, até o fim da década, o sistema BRT esteja implantado em mais 38 cidades. Para os transportadores, os BRTs têm custo de implantação equivalente a um décimo do metrô e pode ser feito em menos tempo. Algumas linhas de BRT têm capacidade para transportar até 45 mil passageiros/hora, metade da capacidade máxima de uma linha de metrô.

programe-se

Governo cria Sala de Inovação As empresas brasileiras que planejam investir no desenvolvimento de novas tecnologias terão o apoio do governo federal com a criação da Sala de Inovação. O novo espaço, cujo local e data de implantação estão sendo definidos, reunirá órgãos oficiais para apoiar os empresários na elaboração de projetos, captação de recursos e outras atividades. A criação da sala foi proposta pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), movimento liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Diadema eleva taxa de emprego O setor industrial na região do ABCD criou, aproximadamente, 1,3 mil postos de trabalho no mês de julho, de acordo com pesquisa realizada pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e pela Fiesp. Diadema registrou o melhor resultado e foi responsável pela criação de 1,2 mil vagas na indústria, alcançando o terceiro melhor resultado entre as regionais do Ciesp no Estado. O crescimento foi estimulado pelas variações positivas dos setores de produtos de metal. Em todo o Estado, a pesquisa do Ciesp/Fiesp registrou a criação de 12,5 mil postos de trabalho, um crescimento de 0,5% no nível de emprego industrial estadual.

14 a 16 de SETEMBRO TecnoBebida Latin America | 8ª Feira Internacional de Soluções e Tecnologia para a Indústria de Bebidas da América Latina. Local: Transamérica Expo Center - Av. Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387, Santo Amaro, São Paulo, SP

20 a 24 de SETEMBRO XX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XVIII Workshop ANPROTEC “Desbravando Campos Inovadores, Desenvolvendo Empreendimentos Sustentáveis”. Local: Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, Parque dos Poderes, Campo Grande, MS

18 a 24 de OUTUBRO SNCT | Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - Ciência para o Desenvolvimento Sustentável. Local: Em todo o Brasil. Mais informações no Ministério da Ciência e Tecnologia, Esplanada dos Ministérios, Bloco “E”, Sala 278, Brasília, DF | http://semanact.mct.gov.br/

23 a 28 de OUTUBRO JOINT CONFERENCE 2010 | XX Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial, XI Simpósio Brasileiro de Redes Neurais e IV Encontro de Robótica. Local: Campus Universitário da FEI SBC, Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972, São Bernardo do Campo, SP

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Prêmio para novas ideias Estão abertas as inscrições para o 2° Prêmio Suvinil de Inovação, que tem como objetivo incentivar a criação de projetos de inovação e desenvolvimento nas áreas de decoração, química e produtos. Podem se inscrever estudantes matriculados em qualquer curso de graduação ou técnico no ano letivo de 2010, e seus orientadores, que devem ser vinculados à mesma instituição de ensino dos alunos, além de uma categoria destinada também a profissionais. As inscrições seguem até 10 de outubro e podem ser realizadas pelo site http://www.suvinil.com. br/Inovacao


evento

lançamento da inovabcd Evento promove encontro de agentes inovadores da Região A edição número 1 da revista INOVABCD foi comemorada em um lançamento que proporcionou a troca de ideias entre agentes da inovação das sete cidades do ABCD. O evento, realizado na Pinacoteca de São Bernardo do Campo, contou com a presença de representantes das prefeituras, universidades, empresas e entidades. O lançamento da INOVABCD refletiu sua proposta: olhar diferenciado e reflexão diante do potencial de crescimento que a Região detém com a ferramenta da inovação.

A INOVABCD surge em um momento de efervescência de inovações.”

Uma revista como a INOVABCD é a chance de trazer reflexões sobre um assunto que faz parte do nosso dia-a-dia.”

Luiz Marinho, Prefeito de SBC

Plínio Zornoff Taboas, pró-reitor da UFABC

A revista terá a mesma qualidade do ABCD MAIOR e tratará de um tema importante para a Região, mas pouco valorizado pela imprensa.”

As inovações estão em todos os cantos, basta ter um olhar aguçado para percebê-las.” Marcelo Mauad, diretor da Faculdade de Direito São Bernardo

Edinaldo de Menezes, viceprefeito de Riberão Pires

É preciso promover o diálogo entre o que é produzido nas indústrias e pesquisado nas universidades.”

Desconheço no País uma publicação que trate tão diretamente do tema inovação.” Jefferson Conceição, Secretário de Desenvolvimento Econômico de SBC

Fausto Cestari, assessor especial em Tecnologia e Inovação de São Caetano

O Brasil precisa se apropriar dos meios de produção para evoluir, e a revista vem em um ótimo momento, a fim de produzir esse debate e influenciar decisões estratégicas.”

Promover a mudança e avançar é a missão da Região.” Luis Paulo Bresciani, Secretário de Desenvolvimento Econômico de Diadema

Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Celso Horta, diretor da INOVABCD: O ABCD precisava de uma revista que mostrasse a natureza da atividade social, política e empresarial da Região e tudo isso passa pela inovação.”

Fernando Campoi, Marcel Dellabarba, Evandro Nogueira e André Senador, executivos do Grupo Volkswagen do Brasil: “Parabéns pela iniciativa pioneira.”


especial robotização

braços mecânicos Excelência e agilidade garantem o espaço dos robôs nas montadoras do ABCD Clébio Cavagnolle Cantares

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Braços mecânicos na linha de produção da Volkswagen, responsáveis por processos como soldagem, estamparia, carroceria, pintura e manipulação de peças

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especial robotização

Atualmente, não existe defasagem tecnológica entre os sistemas de automação utilizados no Brasil comparados aos países tradicionalmente líderes em tecnologia.

Garra mecânica na linha de montagem da Volkswagen, que possui 510 robôs apenas na fábrica de São Bernardo do Campo

xcelência e agilidade. Essas são as qualidades empregadas aos robôs da indústria automobilística no Grande ABCD, terra que abriga boa parte das montadoras brasileiras. Na região, estão instaladas a Volkswagen, a Ford e a General Motors (GM), todas detentoras de linhas de produção automatizadas, ou seja, utilizam na fabricação de automóveis os famosos (e no passado, razão de muita discórdia) robôs. As máquinas, embora parecidas na estrutura, se diferenciam pela aplicação em processos de ferramentas para manipulação, soldagem, laser, medição, aplicação de massas, alternadas especificamente para cada função dentre estamparia, carroceria, pintura e montagem final. Só na região, são 1.019 robôs. A Volkswagen lidera com 510 máquinas, seguida pela GM, com 259, e Ford com 250. Os números retratam apenas os equipamentos em funcionamento no ABCD. A busca pela inovação é constante, especialmente nos processos de soldagem, pintura e movimentação de peças que, segundo as indústrias, são atualizadas constantemente por equipamentos cada vez mais rápidos e precisos. O objetivo é comum: a busca por robôs mais ágeis, leves e menores, que se integrem com facilidade ao conjunto de ferramentas da linha de produção. Atrelado a isso, A Volkswagen e a Ford utilizam simuladores capazes de estudar e testar virtual-

mente novos processos antes de preparar a produção ou requisitar um novo equipamento aos fornecedores de robôs. No topo das inovações em automação está a modernização da soldagem, hoje realizada mais frequentemente por máquinas, o que gerou mais precisão, agilidade e segurança, culminando com produtos mais bem acabados e seguros. Apesar de ser um item de prateleira, como define Olavo Vidal, gerente de Engenharia de Manufatura e Armação da Volkswagen, o robô precisa ser adequado e integrado aos sistemas e equipamentos da montadora, justamente onde entra o simulador Fábrica Digital. “Utilizamos este conjunto de softwares para sabermos se a resposta obtida nas simulações é a melhor para o processo. Eram testes traçados em pranchetas e, agora, essa ferramenta permite ajustes antes de o projeto ir para a linha de montagem. É um estudo que permite sabermos quantos e quais tipos de robôs, pinças e ferramentas vamos precisar para uma determinada célula ou ilha, que é o conjunto operacional pelo qual o carro passa na linha de produção”, explica Vidal. Os softwares simulam a interação do homem com os equipamentos, inclusive, na questão de ergonomia. “O sistema indica se determinada atividade, realizada de forma repetitiva, é confortável e eficaz para o trabalhador, ou se precisa ser redefinida, ou ainda, realizada por robôs. Hoje, conseguimos antecipar problemas da linha por meio da simulação virtual.” Segundo Silvio Illi, gerente da planta industrial da Ford em São Bernardo, a montadora conta com uma área dedicada a “virtual manufacturing”, na qual os novos processos são estudados, desenvolvidos e testados virtualmente antes de serem requisitados aos parceiros especialistas, ou seja, antes de a indústria encomendar um robô. “Todo ano temos investido em inovação e tecnologia. Processos de soldagem, pintura, movimentação de partes e produtos são atualizados constantemente. O avanço tecnológico é um processo de inovação e transformação que possui uma função essencial para o negócio automotivo se manter competitivo no mercado global”, explica o gerente. A pesquisa e o desenvolvimento para automação são realizados dentro das empresas, seguindo a padronização de suas matrizes. Os robôs, entretanto, são adquiridos em geral de três fornecedores: Kuka, B.V. e Fanuc. Os processos para aquisição e instalação são terceirizados, conforme acordos globais com parceiros espe-


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cializados no desenvolvimento e implementação dessas tecnologias de processos. “São empresas especializadas e dedicadas ao desenvolvimento e à produção de equipamentos. Atualmente, não existe defasagem tecnológica entre os sistemas de automação utilizados no Brasil comparados aos países tradicionalmente líderes em tecnologia. Com o advento da globalização, os mesmos OEM’s (Integradores de equipamentos) dos países desenvolvidos estão presentes no Brasil e oferecem as mesmas tecnologias e soluções. Nossos fornecedores têm suas matrizes radicadas nos Estados Unidos e na Europa”, afirma o executivo da Ford. Na Volkswagen os robôs são utilizados em solda, armação, pintura, estamparia, colagem de vidros e montagem final. De acordo com Vidal, em sua gerência – que responde pelas fábricas paulistas Anchieta e Taubaté (a mais moderna linha de Armação da marca alemã) e São José dos Pinhais, no Paraná – as pesquisas direcionam para a busca de uma nova geração de robôs, seguindo padrões mundiais da empresa. “Procuramos novos processos de soldagem e, nessa busca por modernidade e eficiência, queremos máquinas que tenham melhor interface com os demais equipamentos, algo com controle integrado, de forma que o conjunto se comunique perfeitamente e agregue ganho de produtividade”, destaca o gerente. A GM adotou um sistema global de manufatura (GMS – Global Manufacturing System), o que vem gerando modernização nas plantas da montadora, tanto no processo produtivo, por meio de otimização das instalações e do layout das fábricas, quanto na instalação de novas ferramentas e equipamentos, no fluxo do abastecimento de materiais para a linha de montagem e logística. Algo que, segundo a empresa, começou com a produção do Chevrolet Agile, na moderna unidade industrial de Rosario, na Argentina, uma das primeiras fábricas da empresa a seguir o GMS. Segundo a montadora, os sistemas automatizados garantem mais qualidade e uniformidade ao resultado final dentro dos processos de funilaria, pintura e montagem final, com maior nível de repetição dos processos, trazendo benefícios em termos de segurança e ergonomia aos operadores, bem como melhora consistente na qualidade final dos veículos produzidos. As novidades estão em várias etapas do processo de manufatura, em especial na soldagem. O nível de segu-

Olavo Vidal, gerente de Engenharia de Manufatura da Volkswagen: “Hoje, conseguimos antecipar problemas da linha de montagem por meio de simulação virtual”


DIVULGAÇÃO

especial robotização

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... apesar de toda a evolução tecnológica, a presença do homem é imprescindível para criar e controlar a máquina. O mercado está em busca de profissionais dinâmicos que se atualizam com rapidez, facilidade e dominem as novas tecnologias” Silvio Illi, gerente da planta industrial da Ford em SBC

Linha de montagem da Volkswagen: integração homem-máquina

rança das operações da GM Mercosul, aliás, é motivo de orgulho na companhia. “As unidades industriais da região estão entre as mais seguras, equiparadas àquelas que chamamos de fábricas de referência”, observa José Eugênio Pinheiro, vice-presidente de manufatura da GM na América do Sul. O dilema da máquina contra o trabalhador é tido como superado pelas empresas. Na visão dos executivos, a automação contribui para o elevado padrão de eficiência e qualidade da operação, além de resultar em ganho na produtividade e na redução de processos antiergonômicos. “O trabalho braçal e repetitivo é uma forma de trabalho que naturalmente tem cedido espaço para a tecnologia e para a automação. Esse processo foi iniciado com a Revolução Industrial e, desde então, o mundo está cada vez mais automatizado”, destaca Illi, da Ford. “No entanto, apesar de toda a evolução tecnológica, a presença do homem é imprescindível para criar e controlar a máquina. O mercado está em busca de profissionais dinâmicos que se atualizam com rapidez, facilidade e dominem as novas tecnologias.” Para o vice-presidente de Recursos Humanos da Volkswagen, Josef-Fidelis Senn, aumentos ou reduções nos processos de automação são justificados principalmente pelos fatores: ergonomia, qualidade, financeiro e produtividade. “É fácil perceber que o nível de automação na indústria automobílistica cresceu muito nos últimos anos. Devido aos altos níveis de recursos demandados, toda automação considerada como não mandatória requer uma criteriosa análise dos resultados financeiros. É preciso analisar se o balanço entre estes resultados, custos de produção, produtividade, amortização e impactos em qualidade serão positivos”, diz Senn. “O fator qualidade deve ser avaliado de uma forma especial quando se fala em automação, uma vez que processos seguros e estáveis aumentam os níveis de qualidade do produto final. O nível de automação na indústria automotiva no Brasil ainda é menor do que na Europa, Estados Unidos e Japão, porém, com o aumento da demanda por produtividade, qualidade e competitividade, a tendência é um aumento gradativo deste índice nos próximos anos”, acrescenta o executivo. Senn destaca que, hoje, diferentes tecnologias são necessárias para o aumento da automação, em especial a robotização. “Existem diversas outras tecnologias que são utilizadas, como as modernas linhas de prensas que fazem o processo de estampagem aumentar sua eficácia em até 300%, as linhas de pintura com dispositivos automáticos de pré-tratamento e aplicação de tinta

em carrocerias, e também a integração de sistemas de informação, sistemas integrados de controle, como os supervisórios e sensorização, entre outros”, afirma o vice-presidente de RH da montadora alemã. “Nossa avaliação é de que a automação gera benefícios diretos aos trabalhadores, pois garante o aprimoramento contínuo das condições de trabalho, especificamente para as questões de ergonomia, além de permitir uma melhor organização dos processos. Considerando o nível de automação existente em nossas fábricas, não entendemos como um fator de redução de postos de trabalho, mas como uma oportunidade para o aperfeiçoamento das atividades. E isso é o que temos constatado em nossas unidades produtivas”, conclui. A prova disso, segundo ele, está na contratação de 312 funcionários para a fábrica Anchieta em agosto, com o objetivo de ampliar a capacidade de produção. Os novos colaboradores atuam nas áreas de armação, pintura e montagem final. Para reforçar sua trajetória de crescimento no Brasil, a Volkswagen anunciou, no fim de 2009, investimentos da ordem de R$ 6,2 bilhões no País entre 2010 e 2014. Com a injeção de crescimento previsto para este ano e as atuais contratações, a capacidade de produção da fábrica Anchieta será elevada dos atuais 1,3 mil veículos por dia para 1,6 mil unidades diárias. Segundo o coordenador da Comissão de Fábrica na Volkswagen Anchieta, José Roberto Nogueira da Silva, o dilema da queda de braço entre máquinas e trabalhadores ocorrido quando a automação teve início, no final da década de 90, hoje é compreendido. “A empresa precisava de velocidade e precisão na produção para ser competitiva. Alguns serviços eram muito difíceis de fazer, além da demora. Se não houvesse a modernização, a fábrica não resistiria. Hoje, vemos grandes avanços, especialmente na tecnologia em soldagem. Desgasta menos o trabalhador, traz velocidade e competitividade para a empresa. A máquina precisa do ser humano para comandá-la e o ser humano precisa dela para ter perfeição e agilidade. Claro que houve um preço a ser pago no começo, mas hoje é mais tranquilo”, destaca José. A visão das montadoras é única sobre um fator essencial: atender as demandas do mercado de forma competitiva, com produtos em escala de produção rápida e com o máximo nível de qualidade, o que só é possível por meio da modernização dos processos produtivos. SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD

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especial robotização

Em 21 anos, montadoras do ABC perderam 58 mil empregos. A média é de 2,8 mil ao ano

Para Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o avanço da tecnologia é inevitável, mas deve ser pensado de forma responsável

O outro lado da robotização Niceia Climaco A reestruturação da indústria automobilística no ABCD, a partir dos anos 1990, com a introdução da robotização, estava diretamente ligada ao cenário internacional de mudanças da produção. Os novos métodos de organização afetaram o nível de emprego, com perda de postos de trabalho nas empresas. Diante dessa nova realidade e como resultado da inovação, a indústria nacional tornou-se mais competitiva, ganhou projeção internacional e o volume de produção passou a ser recorde. Em 21 anos, as indústrias metalúrgicas do ABC perderam 58,7 mil empregos, o que significou 2,8 mil postos de trabalho a menos por ano. Os dados são baseados no levantamento da subseção Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócioeconômicos e Estatísticos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, que inclui as quatro cidades, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema. Em 1989, as empresas empregavam 159,2 mil trabalhadores e em 2010, até maio, um total de 100,5 mil pessoas. Nessa base do sindicato, as montadoras e autopeças são representativas, significam 55% do total. Só as indústrias automobilísticas equivalem a 30%. A história da perda, mas também da recuperação de emprego, sofreu influência das medidas adotadas pelos governos Collor, Fernando Henrique e Lula, nos últimos anos. Na época do presidente Collor, em 1990 – as indústrias metalúrgicas no ABCD, com grande presença das montadoras –, tinham 119 mil trabalhadores. Daí até o final da gestão FHC, em 2002, eram 79,7 mil empregados, uma redução de 30,5 mil postos de trabalho, em 12 anos. Esse período foi marcado por uma política de recuperação econômica, com alta de impostos e abertura indiscriminada do mercado nacional às importações. O processo de reestruturação interna obrigou a indústria nacional a investir na modernização do processo produtivo, qualidade e lançamento dos novos

produtos no mercado. Toda essa modernidade era necessária para as empresas se tornarem mais competitivas, tanto no mercado interno quanto no externo. O aumento de produtividade foi fundamental para a sobrevivência das empresas. Porém, para os trabalhadores, significou perdas de postos de trabalho. A recuperação começou a ser notada a partir do governo Lula. Em 2004, o emprego nas indústrias da Região, na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, era de 86,6 mil postos de trabalho. Em 2010, até maio, as empresas contabilizavam um total de 100,5 mil empregos, um acréscimo de 13.8 mil vagas, em cinco anos e meio. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, considera drástica a perda de postos de trabalho se a iniciativa for vista de forma isolada. Ele diz que o avanço da tecnologia é inevitável, porém a mudança deve vir acompanhada de uma série de medidas. A redução da jornada de trabalho, por exemplo, contribui para diminuir o desemprego. E isso é realidade nas empresas da Região. “Aqui, a jornada de 40 horas é praticada há mais de 10 anos”, afirma. Outro aspecto analisado pelo sindicalista é o de que a robotização foi introduzida em alguns setores das montadoras como solda e pintura. Nesse caso, Nobre considera a medida positiva, já que se tratavam de áreas que prejudicavam a saúde do trabalhador. “O movimento repetitivo e o forte cheiro de produto químico adoeciam os trabalhadores”, comenta. Se, por um lado, as empresas demitiram e reduziram jornada, por outro, investiram na reestruturação da produção. “Foram criadas novas formas de organização da produção em células, a produção foi racionalizada e os estoques reduzidos”, conta. Além disso, outro fato deve ser levado em conta. A realidade hoje é diferente da vivida naquela época. Antigamente, as montadoras fabricavam todos os componentes dos veículos. Hoje, os serviços foram terceirizados, o que significa que parte da perda dos postos de trabalho pode ter sido absorvida pela cadeia da indústria automotiva, como a indústria de autopeças. Se considerado o emprego na indústria automobilística nacional, o quadro é de crescimento. Em 2010 (até junho) o segmento empregava 112 mil trabalhadores, 2,8% a mais do que em 1991, com 109 mil postos de trabalho, de acordo com o Dieese.


FOTOS: AMANDA PEROBELLI

GIORGIO ROMANO

MÁRIO SALERNO

ARTUR HENRIQUE

fantasma da destruição – A reestruturação da indústria automobilística veio acompanhada de novas formas de organização da produção. Os métodos, gestão de trabalho e automação da produção passaram a ser a meta das grandes companhias americanas e européias, tanto nas matrizes quanto nas subsidiárias espalhadas pelo mundo. O professor da área de Economia Institucional da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano, explica que as mudanças nas empresas da Região estavam atreladas a um movimento mundial, relacionadas a importantes fatores que explicam o quadro de emprego. Primeiro, o modelo americano de produção enfrentava uma crise nos anos 70 com o aumento brutal do preço do petróleo, o que gerou uma recessão em toda a Europa. Na sequência, começou a surgir a preocupação com o meio ambiente, ou seja, era necessário que a produção levasse em conta a inovação para provocar uma resposta positiva ao ambiente. E, por fim, a grande concentração de trabalhadores provocava uma organização sindical mais forte. “Juntou-se a isso uma economia concorrente forte, a do Japão, que introduzia no mercado carros pequenos e mais econômicos”, explica. Segundo ele, essa situação acelerava a busca por um novo padrão de produção, consequentemente com reflexos no nível de emprego. De acordo com o professor Romano, o fantasma que se imaginava da destruição da indústria acabou não se concretizando. Embora com menos postos de trabalho, a indústria é mais competitiva e os trabalhadores ganharam em qualificação profissional, condição necessária para o novo modelo que começava a se formar. “Houve pouco desinvestimento”, afirma. Ao contrário, a produção de veículos hoje é estimada em três milhões de unidades, três vezes superior ao volume fabricado há vinte anos, de cerca de um milhão de veículos no país. “No primeiro momento houve um processo inevitável de redução drástica da mão de obra, mas o importante foi que as empresas não saíram daqui, ainda permanecem e mais tarde, com a estabilização da economia, como vemos hoje, houve uma expansão. Ou seja, com a robotização tem menos trabalho, mas aumenta a produtividade, a

economia cresce e absorve os trabalhadores”, explica. Além desse aspecto, Romano explica outra contrapartida da automação industrial. O novo sistema de produção exige mais qualificação dos trabalhadores. “E ainda cria mais condições para discutir a jornada de trabalho. Hoje, a sociedade está mais preparada para discutir 40 horas”.

ascensão japonesa – Para o professor de Gestão da Inovação da Poli (USP), Mario Salerno, é difícil atribuir a redução do número de postos de trabalho exclusivamente à automação,. “Ainda há uma infinidade de trabalhadores em área de retaguarda”, diz. De acordo com ele, não se pode ver o fato de uma forma isolada. “A Volkswagen de São Bernardo, por exemplo, não está só nesta Região. A montadora tem fábrica também no Rio de Janeiro e no Paraná”, observa. Outro aspecto observado por Salerno é o patamar da indústria que deve ser levado em conta e o controle de gestão, que veio atrelado às mudanças. “Hoje, o tamanho da fábrica é outro, bem menor e mais fácil do que gerenciar 40 mil trabalhadores em apenas uma empresa”. O presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, ressalta que as atuais referências e os panoramas são outros. No início eram apenas três grandes montadoras, Volkswagen, Ford e GM. A Fiat chegou depois e mais recentemente houve a invasão das europeias e das japonesas como Peugeot, Citroën, Renault, Toyota e Honda. “A indústria vive de produto, o que determina é o modelo”, afirma o sindicalista. Para se ter uma ideia do que representou a ascensão japonesa, em 1960, o Japão participava com apenas cerca de 3% da produção mundial. Sua fatia pulou para mais de 30% no final dos anos 80. Artur Henrique explica que a introdução das novas tecnologias na indústria é inevitável, porém o processo aumenta a produtividade. “Naquela época se falava que o emprego iria acabar, mas, isso não se confirmou”. Ele explica que muitos postos de trabalho foram eliminados, mas foram absorvidos em outras funções.

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VINICIUS NAVARRO

Os robôs e seus problemas maravilhosos A robotização era inevitável e os metalúrgicos alemães passaram a liderar as discussões sobre a inovação Flávio Aguiar As máquinas têm histórias fascinantes. Talvez tanto pelas soluções que trazem – aliviando o fardo dos humanos – quanto pela ameaça que representam na imaginação – tornando estes inúteis. Minha mãe me contava uma história fantástica. Numa noite de gala, no Teatro São Pedro, até hoje o mais importante em Porto Alegre, uma platéia tão seleta quão numerosa lotou cadeiras, frisas e camarotes para ouvir ópera. Mas no palco não havia um único cantor. No centro da cena, perante os olhares siderados, estava uma máquina: uma vitrola automática. A maravilha estava menos na qualidade das gravações apresentadas, de cantores famosos na época (Enrico Caruso, Tito Schipa, entre outros), e mais no fato de que aquela máquina trocava os discos sozinha, com a ajuda de um braço mecânico.

Robô: história de uma palavra O fascínio da máquina era um tema da época (começo do século XX), e foi a base para a criação e a popularização da palavra robô. A palavra nasceu na literatura, em língua tcheca. Quem primeiro a usou em público foi o escritor Karel Capek (1890 – 1938), mas ele dizia que o verdadeiro criador fora seu irmão, também escritor, Josef Kapek (1887 – 1945, morto num campo de concentração nazista). A expressão nasceu no meio de uma família de palavras: rab, escravo; robota, trabalho rotineiro e sem imaginação, ou também trabalho forçado; e robotnik, servo. A peça, escrita em 1921 e estreada em 1922, chamava-se (em inglês, língua para a qual foi logo traduzida) “Rossum’s Universal Robots”. Esse era o nome de uma empresa, então no “futuro” – lá pelos anos 50 do século passado – especializada na criação de robôs, que substituíam os humanos. Esses robôs tinham menos de mecânica e mais de engenharia genética (termo então desconhecido), mas ainda assim tinham de ser “montados”. O passo seguinte coube ao escritor norte-americano (nascido na Bielo-Rússia) Isaac Asimov

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“No palco não havia um único cantor. No centro da cena, perante os olhares siderados, estava uma máquina: uma vitrola automática” À direita, Joachim Fährmann, representante sindical da Volkswagen, em Wolfsburg, Alemanha


(1920 – 1992). Em 1941, no seu conto “Liar” (“Mentiroso”), Asimov criou a palavra robotics – robótica – para descrever a criação, o estudo e o que chamou de “as leis da robótica”, segundo as quais um robô não deve fazer mal aos humanos, deve obedecer a eles, salvo se isso contrariar a primeira lei, e deve preservar a si próprio, desde que isso não contrarie as leis anteriores.

inovações dramáticas Desde a Antiguidade, o homem cria máquinas – muitas apenas para diversão – que se assemelham aos seres vivos, ou reproduzem suas atividades, desde patos mecânicos que podem “comer” e “excretar” até bonecos que tocam piano. Mas essas práticas inocentes traziam também à tona um secreto medo de que essas “criações” fossem o espelho de uma lenta, mas segura e gradual “desumanização”. A humanidade estaria se transformando segundo a imagem das peças mecânicas que criava, não só se tornando supérflua, mas também “robotizando-se”. Esse temor virou dramático na mesma medida em que, a partir de meados do século XX, os robôs viraram a vanguarda da automação na indústria e outras atividades paralelas. O primeiro “robô moderno” entrou numa linha de produção em 1960, na General Motors, para lidar com peças extremamente quentes. A partir daí, o uso de aparelhos semelhantes, digitalizados e programáveis, se alastrou por toda a indústria, definindo uma nova “modernidade” que tornava tudo que viera antes “obsoleto”. A automatização das linhas de produção ganhou em volume e intensidade durante as décadas de 70 e 80, mudando a relação dos trabalhadores com as máquinas e introduzindo modificações nas fábricas e na organização do seu espaço. Aliada à prática do chamado Toyotismo como ideal de processo produtivo e à idéia da produção just in time, a crescente automatização mudou a paisagem do trabalho. Aparentemente, as máquinas podiam pulverizar o trabalho humano – e também, o que era mais dramático, os postos de trabalho antes a eles reservados. Para se proteger dessa condição, o trabalhador teria de enfrentar a obrigação de esquecer os “sentimentos humanos”: solidariedade, criatividade e outros. Enfrentar a “obrigação” de “robotizar-se”, de criar uma nova identidade, definida não mais pela sua própria história, mas pela sua inserção nas expectativas de uma empresa.

Uma história diferente Mas nem tudo precisava acontecer assim. Tive a oportunidade de conversar com dois membros do sindicato IG Metall, dos metalúrgicos alemães, sobre uma experiência original e criativa desenvolvida na sede da Volkswagen, em Wolfsburg, na Alemanha: o brasileiro Flávio Benites (assessor para relações internacionais) e o alemão Joachim Fährmann, coordenador do processo interno de discussão sobre “Organização inovadora do trabalho” na fábrica. Para ambos, a chave inovadora do “processo Volkswagen” esteve no comportamento do sindicato diante da crise pela qual a empresa passou em 2005, quando esteve ameaçada de perder o controle sobre seu próprio capital e sobre as decisões a serem tomadas. Segundo Joachim, a seção sindical do IG Metall na Volkswagen compreendeu que inovações na organização do trabalho dentro da fábrica eram inevitáveis, e tomou a iniciativa de liderar o processo de discussão dessas inovações. Essa disposição, ao invés do posicionamento sistematicamente contrário a mudanças na forma do trabalho, preservou a capacidade do sindicato e dos trabalhadores na manutenção de direitos, de postos de trabalho e também os capacitou a discutir as condições gerais da produção industrial e suas implicações na Volkswagen. O processo, que começou em 2006, continua até hoje, e, segundo Joachim, com razoável sucesso. Ele chegou a ser definido como o estabelecimento de “um micro-corporativismo democrático”, que substituiu o corporativismo tradicional, de caráter vertical, hierarquizado ao máximo, e avesso a discussões amplas. Segundo Joachim e Benites, tudo o que se passa na fábrica, em termos de inovação ou reorganização dos processos de trabalho, envolve a discussão nos grupos envolvidos. O acúmulo de conhecimento e de know-how organizacional desse processo, que vai para o quinto ano de duração, é imenso. As condições do IG Metall na Volkswagen, e as da própria fábrica, são muito especiais. Na prática, existe uma quase identificação entre a Volkswagen e a cidade de Wolfsburg, a uma hora de Berlim, a oeste. Tudo, na cidade, “é Volkswagen”. Isso gera, por exemplo, uma condição muito diversa daquela vivida, por exemplo, no ABCD, onde diferentes montadoras de grande porte convivem no mesmo município, cada uma com seu estilo e organização. Em segundo lugar, diversamente de outros lo-

cais de trabalho, o IG Metall representa todos os tipos de trabalhadores envolvidos na produção – da montagem aos escritórios, do operário ao engenheiro. Isso dá um poder de representação ao sindicato que são raros na Alemanha e fora dela. O IG Metall representa 89% dos trabalhadores da Volkswagen, e assim tem a condição de liderar, além do contrato coletivo de trabalho, a discussão das condições específicas em cada seção da fábrica. Aí reside outro aspecto original: a discussão desses contratos se dá diretamente com a direção da fábrica. Isso, segundo Joachim, reforçou o papel do sindicato ao tomar ele a iniciativa da discussão sobre a reorganização do trabalho, seja junto à sua base ou ao management da empresa. “Com isso”, disse Joachim, “impedimos também que a fábrica absorvesse a identidade dos trabalhadores. Assim mesmo, os números que traduzem a dimensão da fábrica e sua nova realidade são dramáticos. Cinquenta anos atrás, a Volkswagen tinha 60 mil operários na linha de montagem. Hoje, tem 60 mil trabalhadores ao todo. Mas na montagem estão 18 mil. Perguntado sobre o futuro desse processo, Joachim declarou que ele está “na puberdade”. É preciso, insistiu, que ele amadureça dentro da própria fábrica para tornar-se uma cultura que atravesse gerações; isso, estima ele, deve levar pelo menos mais cinco anos. Depois, deverá ser posto em cotejo com outros processos, de outras montadoras. E mais tarde ainda, deverá entrar em contato com processos de outros setores produtivos da sociedade. Perguntado sobre o que diria a seus colegas sindicalistas do Brasil, Joachim ponderou: “Eu contaria a nossa história, para que entendessem a natureza do nosso processo, e o que isso teria de interessante para os processos que eles estão vivendo, sem querer impor nada, ou sequer sugerir que o nosso resultado é melhor do que outros”. O exemplo mostra que a robótica, agora entendida como um aspecto da produção, não precisa necessariamente se confundir com a robotização dos processos, ambientes de trabalho ou dos seres humanos que ali convivem. Tudo depende deles, e de quem tem a iniciativa nas transformações, bem como do modo em que dividem e organizam o poder das decisões.


AMANDA PEROBELLI

especial robotização

Robôs da FEI batem bola Em outubro, a instituição receberá um dos mais importantes eventos de robótica da América Latina Camila Galvez

Flávio Tonidandel, professor da FEI, apresenta time de robôs preparados por uma equipe de alunos da instituição para a Joint Conference

São cinco jogadores – incluindo o goleiro - de cada lado, que se movem com destreza e rapidez pelo gramado em busca da bola. Eles avançam contra o adversário e constroem suas jogadas em segundos. São acompanhados de perto por câmeras, que controlam cada movimento. São pequenos, mas bastante ágeis. De repente, a “redondinha” escapa dos pés de um jogador mais habilidoso e vai parar direto no gol adversário. A comemoração, porém, vem exclusivamente de fora do campo, já que os jogadores ainda não aprenderam a tirar a camisa. Eles são robôs do time de futebol do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI). O time começou em 2003 com alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Ciências da Computação e Engenharias Eletrônica e Mecânica. O primeiro robô, do tamanho de um cubo mágico, custou cerca de R$ 400. O robô que deve participar em outubro da Joint Conference, um dos mais importantes palcos de apresentações de pesquisas e competições da América Latina, precisou de mais de R$ 10 mil em investimentos para sair do papel. Ele será o grande trunfo da equipe durante o evento, que ocorrerá no campus da FEI, em São Bernardo, e deve reunir mais de 200 robôs, todos completamente autônomos, ou seja, sem interferência humana para realizar as atividades. Cerca de 250 equipes de diversos países, entre eles Brasil, Inglaterra, China, Irã, Chile, Venezuela, Colômbia e México, fizeram a pré-inscrição para participar da competição, de acordo com o coordenador da conferência e do projeto de robótica da FEI, Flávio Tonidandel. “O recorde de participação na história do evento até agora foi de 60 times. Esperamos que 70% das equipes, ou seja, 175 das que fizeram a pré-inscrição confirmem a participação, portanto, a conferência já começará com um belo recorde”, destaca. O Joint Conference ocorrerá entre os dias


AMANDA PEROBELLI

23 e 28 de outubro e abrigará simultaneamente três eventos. O primeiro deles é a IV Jornada de Robótica Inteligente, que envolve o Encontro Nacional de Robótica Inteligente/Latin American Robotics Symposium (Lars/Enri), a Latin American Robotics Competition/Competição Brasileira de Robótica (Larc/CBR) e as finais da Olimpíada Brasileira de Robótica. Os outros dois eventos dos quais a FEI será sede são o XX Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial e o XI Simpósio Brasileiro de Redes Neurais Artificiais. A programação ainda prevê seis workshops, seis minicursos e sete palestras internacionais, todos sobre robótica, redes neurais e inteligência artificial.

programação –

As competições da Jornada de Robótica Inteligente acontecerão entre os dias 24 e 27, das 9h às 18h, no Ginásio de Esportes da FEI. Já o Lars/Enri está na sétima edição e é um evento anual internacional que promove apresentações de artigos técnico-científicos elaborados por pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecatrônica e áreas afins do Brasil e Exterior. As apresentações serão nas salas do prédio K da FEI. A Larc/CBR é uma competição de robôs autônomos com equipes de diversos países, distribuídas em oito categorias. Na FEI, a competição incluirá também as finais da Olimpíada Brasileira de Robótica, com projetos desenvolvidos por alunos e professores dos ensinos médio, técnico e fundamental de escolas de todo o País. O Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial (BSIA) é a principal conferência nessa área no Brasil para apresentação de pesquisas e aplicações. Mais de 30 artigos são apresentados neste encontro internacional. Já o Simpósio Brasileiro de Redes Neurais Artificiais (SBRN) está na 11ª edição e é a principal conferência no Brasil dedicada a redes neurais. Esta é a primeira vez que a FEI sediará o Joint Conference, que ocorreu pela última vez no Brasil, em 2008, em Salvador (BA). Para o professor Tonidandel, será uma ótima oportunidade para trocar experiências e ampliar a pesquisa na área. “Teremos os melhores artigos de robótica, redes neurais e inteligência artificial e também receberemos novos talentos para estimular o desenvolvimento da ciência e tecnologia do País”, afirma.

Rodolpho Leme: noites sem dormir para programar o robô perfeito

de olho nos preparativos

O time de robótica da FEI é formado por dez alunos, escolhidos a dedo. Eles chegam a passar noites em claro fazendo os últimos ajustes nos robôs. No processo de seleção da equipe, inscreveram-se 70 alunos para apenas três vagas, cada uma delas destinada a um curso (ciências da Computação, engenharia eletrônica e engenharia mecânica). Para participar é preciso ter ótimas notas e muito interesse, caso de Rodolpho Leme. O jovem veio da cidade de Leme, no interior de São Paulo, atraído pela fama da FEI no ensino de Engenharia. Ele cursa o 6º ciclo do curso de Engenharia Eletrônica. Leme ficou sabendo do projeto de robótica quando ingressou na faculdade, por meio de amigos. “Fui conversar com o professor Flávio, mas na época a seleção daquele ano já tinha acontecido. Tive de esperar quase um outro ano inteiro para que o processo seletivo abrisse novamente”, relembra. Mas não esperou passivamente. Enquanto não podia fazer parte da equipe, o estudante procurou se integrar de outra forma. “Passei a conversar muito com os colegas e até ajudar em alguns problemas, mesmo do lado de fora. Isso facilitou a escolha do professor quando finalmente pude me inscrever”, comemora. Para participar do projeto, os estudantes precisam dedicar ao menos 20 horas semanais ao laboratório de robótica, no qual dispõe de todos os equipamentos necessários para desenvolver a atividade. A tarefa não é nada fácil, mas possibilita que os alunos coloquem em prática aquilo que aprendem na sala de aula. Os desafios são enormes e, no meio do caminho, há decepções. “O robô anterior ao atual era leve, ágil, e tínhamos orgulho dele. Levamos o time para Salvador e voltamos de lá com todas as unidades queimadas. Os meninos chegaram tristes, dizendo que precisávamos desenvolver um projeto novo”, diz Tonidandel. Para alcançar esse objetivo, a equipe pesquisou novas tecnologias e estudou os times que se destacaram nas competições. A partir de então, criou melhorias como uma mudança mecânica das peças, que tornou o robô mais robusto e resolveu um problema sério, especialmente em competições internacionais. “Quando chegamos para a RoboCup em Singapura, em junho deste ano, um competidor do Irã viu os nossos robôs e disse: Vocês vão jogar com isso? Ele achava que as peças eram leves demais, e, infelizmente, tinha razão”, lamenta. Além de ganhar mais peso, os robôs novos têm um sistema de dribles diferente, tiveram o chute aprimorado e agora podem até dar o famoso “chapéu” no adversário. Cada unidade funciona com quatro baterias (de 7,4 volts cada) e cinco motores, que neste ano tiveram a potência elevada de 15 para 50 watts. “Não é simplesmente pela competição que fazemos esse trabalho. Cada time que se inscreve deve apresentar um artigo detalhando o projeto. Quando a equipe ganha, as demais correm para ver o que ela fez e desenvolvem tecnologias melhores, o que faz todos avançarem”, destacou. O objetivo principal é que as melhorias nos robôs não fiquem estagnadas ou apenas concentradas em um determinado grupo. O encontro se transforma, então, em um espaço de troca de conhecimentos. O futebol é a categoria mais popular da competição, mas a Joint Conference reúne ainda outras categorias, como robôs para resgates e atividades domésticas. “Em alguns anos o mundo será repleto de robôs, inclusive com inteligência artificial. Há diversas aplicações práticas possíveis para a tecnologia, desde a indústria até nosso próprio lar. Esses meninos estão conectados com o futuro”, garante Tonidandel.

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AMANDA PEROBELLI

comunidade

amanda perobelli

educação

“UFABC para Todos” abriu as portas da universidade para alunos do ensino médio e demais interessados em conhecer a instituição de ensino

DE portas ABERTAS

A UFABC recebe a comunidade em evento, na busca pelo diálogo com a Região Camila Galvez A UFABC (Universidade Federal do ABC) realizou nos dias 06 e 07 de agosto o evento “UFABC para Todos”, que abriu as portas da universidade para alunos do ensino médio e demais interessados em conhecer a instituição de ensino. Cerca de 100 estudantes, professores e servidores se envolveram diretamente na organização de mais de 70 atividades realizadas no Campus Santo André e no Bloco Sigma, em São Bernardo. Esta foi a primeira vez que a universidade abriu suas portas à comunidade. O pró-reitor de extensão da UFABC, Plínio Táboas, explicou que o evento está alinhado à política educacional da universidade, que preza pelo diálogo com a Região. “Queremos mostrar o que é a UFABC e atrair novos alunos, lembrando que 50% das vagas são para estudantes de escolas públicas. Abrir as portas da universidade não é algo novo, mas a proposta da UFABC que é diferenciada. É importante que potenciais estudantes entendam isso”, afirmou. Weasley Aparecido da Silva Sampaio e Stephanie Caroline Peixoto Menino, alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Professor Francisco Lou-

renço de Melo, de Rio Grande da Serra, são dois dos estudantes de escolas públicas que visitaram a instituição. Foi a primeira vez que entraram em uma universidade desse porte. Para Stephanie, a visita valeu para ter certeza do que ela quer. “Assisti a uma palestra sobre biologia e vi que é com isso mesmo que vou trabalhar, estudando as plantas e os animais”, garantiu. O colega Weasley chegou com a certeza de que queria cursar Filosofia. Saiu de lá em dúvida: “Gostei muito de engenharia ambiental. Agora não sei mais o que fazer”, afirmou. Weasley ainda tem um semestre pela frente para descobrir se prefere cursar o bacharelado em Ciência e Humanidades ou o bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFABC. Atrair os alunos e estreitar os laços com a comunidade foram os principais objetivos da realização do evento.

Fórum Social A reunião ordinária do Fórum Social do ABCD, que reúne organizações não governamentais e instituições do movimento social dos sete municípios da Região, também fez parte do evento. A “ocupação da UFABC” foi uma das bandeiras definidas pelo Fórum durante seminário realizado no pri-

meiro semestre deste ano. A ideia foi aproveitar o evento da instituição de ensino para estreitar as relações do movimento social da Região com a UFABC. O Fórum nasceu durante a 2ª Jornada Cidadã, realizada em novembro de 2008, no Sesi de Santo André, resultado de um esforço multilateral entre os poderes públicos, sindicatos e entidades do movimento social para debater propostas e soluções para os problemas da Região. Táboas mostrou-se satisfeito em conhecer as demandas dos movimentos sociais e garantiu que a universidade está aberta para trocas e que deve participar ativamente das ações do Fórum daqui pra frente. “A ciência trouxe conhecimento, benefícios, mas também trouxe doenças. Essa universidade tenta mostrar um caminho de diálogo com a sociedade para que possamos buscar inovação sadia e constante. Queremos ensinar, mas também queremos aprender”, disse. Universidade e Fórum Social criaram um calendário de encontros com o intuito de colocar em pauta na UFABC as demandas dos movimentos sociais. As conversas serão em torno dos principais eixos sistematizados pelo Fórum: cultura, saúde, economia solidária, moradia, questões de raça e gênero, entre outras. SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD

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transporte

sustentabilidade

Clébio Cavagnolle Cantares

Veículo movido a combustível sustentável em teste de comprovação de alta performance, para produção e comercialização em escala

busca por soluções sustentáveis avança a passos largos no Brasil. Apesar da descoberta do pré-sal, o aquecimento global e a progressão de problemas ambientais abrem caminhos para combustíveis renováveis. Com esse foco, a Amyris Brasil S.A., subsidiária da Amyris Biotechnologies Inc., e a Mercedes-Benz do Brasil iniciaram nova etapa para produção em escala do diesel feito a partir da cana-de-açúcar. Por meio de cooperação técnica com parceria da SPTrans, a BR Distribuidora e a Viação Santa Brígida - uma das principais companhias de transporte de passageiros de São Paulo -, já estão em testes os primeiros ônibus movidos pela mistura do diesel renovável na capital paulista. O programa faz parte de uma iniciativa que tem o objetivo de comprovar a alta performance e os benefícios do combustível proveniente da cana.

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A Mercedes já vinha realizando testes em caminhões desde dezembro, conforme antecipado nas duas últimas edições de INOVABCD. Os testes iniciais comprovaram a redução de emissões de materiais particulados. Além de auxiliar no combate à poluição, o novo combustível vem acompanhado da façanha de não alterar o desempenho do motor e manter o consumo baixo. Os testes contemplarão seis ônibus da Viação Santa Brígida. Três veículos circularão com mistura de 10% de diesel renovável Amyris e 90% de óleo diesel comercial, que já tem 5% de biodiesel, resultando em uma composição com aproximadamente 15% de combustível renovável. Os outros três ônibus circularão apenas com diesel comercial para fins de referência. A mistura proveniente da cana produzida pela Amyris tem como base um hidrocarboneto que utiliza tecnologia de fermentação. Justamente por ser um hidrocarboneto, este combustível pode ser utilizado diretamente

Os primeiros ônibus com o produto renovável circularão durante seis meses em linhas com grande fluxo atendidas pela Viação Santa Brígida.


DIVULGAÇÃO

o ônibus do futuro Veículos movidos a diesel de cana começam a passar por testes em São Paulo nos motores convencionais a diesel, sem a necessidade de alteração na estrutura de distribuição existente. A análise das amostras de diesel da cana (chamado AMD10) e do óleo lubrificante de motor está a cargo da Mercedes-Benz, maior fabricante de caminhões e ônibus da América Latina e parceira da Amyris no programa de testes e certificação do combustível. Em testes internos realizados previamente pela montadora, com larga experiência em avaliações de combustíveis alternativos, o diesel de cana apresentou 9% de redução na emissão de particulados na atmosfera quando comparado ao diesel derivado do petróleo, sendo isento de enxofre em sua composição química. De origem totalmente renovável, os estudos preliminares mostraram que o produto é capaz de reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa em mais de 90%. Em termos de consumo e desempenho, a montadora destacou nos testes que, em ensaios comparativos, todos os parâme-

tros de controle do motor permaneceram exatamente iguais. Não ocorre aumento do consumo e, segundo a empresa, o novo biocombustível se mostra uma alternativa interessante por não requerer alterações na estrutura da frota atual, ou seja, os motores não passarão por mudanças ou adequações para receber o diesel da cana-de-açúcar. Os primeiros ônibus com o produto renovável circularão durante seis meses em linhas com grande fluxo atendidas pela Viação Santa Brígida. Os testes representam importante passo no cumprimento das metas determinadas pela Lei Municipal de Mudanças Climáticas – em vigor em São Paulo -, que prevê a redução gradual do uso de combustíveis fósseis, com a eliminação total até 2018. Em função das propriedades que permitem introdução sem alterar a estrutura de abastecimento dos veículos, o diesel de cana é uma das alternativas mais promissoras para viabilizar o cumprimento das metas dessa lei, pois não há limite técnico para o percentual de mistura a ser utili-

zado. “Esta oportunidade é fundamental para comprovar as qualidades do diesel de cana em situações reais de uso no Brasil”, afirma Adilson Liebsch, gerente de Produto e Marketing da Amyris. Os parâmetros a serem monitorados estão divididos em consumo de combustível/óleo lubrificante, contaminação de óleo, emissões (opacidade), durabilidade dos componentes de motor e veículo, desempenho dos veículos – de acordo com a percepção dos motoristas e características de manuseio do combustível – transporte, mistura e armazenamento. O encerramento dos testes está previsto para dezembro de 2010. A partir daí, o combustível da Amyris poderá ser utilizado, futuramente, em grande escala. “A certificação pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) seguirá o processo pós-testes e, em 2011, a usina da empresa será construída. A escala comercial deverá ser iniciada em 2012”, destaca Luciana Di Ciero, gerente de assuntos regulatórios da companhia. SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD

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tendências

observatório da inovação

Caio Luiz

projetando tendên O Observatório da Inovação da USP

Encontro no IEA-USP reúne especialistas e empresários que buscam e valorizam a inovação

riado em 1986, o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) se dedica à pesquisa e discussão dos mais variados temas envolvendo política, cultura e ciência. Com a intenção de obter análises mais precisas, recorre a disciplinas distintas e à colaboração de personalidades renomadas em conferências e na composição de seus grupos de estudo. Entre elas, o geógrafo Aziz Ab’ Saber e o escritor português José Samarago. Um dos desdobramentos recentes do Instituto, fundado e idealizado no início de 2007 pelo sociólogo Glauco Arbix (leia entrevista à página 6), é o Observatório de Inovação e Competitividade do IEA, que se propõe a prospectar tendências e analisar alternativas econômicas e sociais em projetos e publicações realizados em parceria com instituições públicas e privadas. O embrião da entidade foi a pesquisa in-

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titulada “Inovação: Estratégias em sete países”. O trabalho, encomendado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e desenvolvido por vários autores, esmiúça políticas públicas de nações como a Finlândia, Japão e Irlanda, em prol do desenvolvimento. O objetivo era olhar para o exterior e buscar informações que pudessem ser aplicadas à realidade brasileira, representando soluções e avanços para o país. Durante a execução deste projeto, que seria a primeira atividade do Observatório, Glauco Arbix e o chefe do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, Mário Salerno, notaram que havia a ausência de um órgão com visibilidade que reunisse pesquisadores para tratar de temas em torno da inovação. “Faltava uma instituição perene que promovesse discussões sistemáticas e que tivesse caráter propositivo ao se disponibilizar para enten-

Faltava uma instituição perene que promovesse discussões sistemáticas e que tivesse caráter propositivo ao se disponibilizar para entender a atualidade, preparando e apoiando políticas ao fazer recomendações e sugestões baseadas em estudos”. Mário Salerno, chefe do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP


ncias inovadoras DIVULGAÇÃO

é um laboratório de ideias e projetos para o futuro

der a atualidade, preparando e apoiando políticas ao fazer recomendações e sugestões baseadas em estudos”, afirma Salerno, coordenador executivo da iniciativa. Segundo ele, a entidade é “sui generis”, pois trabalha em rede com colaboradores de empresas e institutos, valendo-se de um corpo de “empregados” enxuto, flexível e de baixo custo, uma vez que boa parte dos trabalhadores se renova - dependendo da pesquisa – ou são orientandos e bolsistas dos projetos em construção. “A ideia é ser um órgão de inteligência sobre processos de evolução. Especificamente, trabalhamos com propostas articuladas não necessariamente dentro do IEA, onde fica a sede do Observatório”, explica o engenheiro. Como exemplo do alinhamento de grupos diversos, Salerno cita o projeto em que pós-graduandos selecionados por editais e apoiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ainda com suporte econométrico e estatístico do Instituto de Pes-

quisa Econômica Aplicada (IPEA), foram designados para mapear o que está acontecendo em relação à inovação em estados brasileiros. “Nem conheço os alunos fisicamente. Estão dispersos no Rio de Janeiro, Paraná, no interior de São Paulo, colhendo e comparando dados para fechar um livro que levou dois anos para alcançar o estágio atual. Somos multidisciplinar, multinstitucional e multilocal”, explica Salerno. Do ponto de vista acadêmico e empresarial, o coordenador acredita que existem poucas entidades de mesmo cunho e que, portanto, “o Observatório é uma referência inédita neste sentido. Claro que estamos começando, é preciso aumentar a verba e angariar parcerias, mas, para tanto, precisamos ter um portfólio de análises e projetos de grande porte que atraía atenção para o debate da inovação no Brasil”, refletiu.

De olho na Inovação As principais missões do Observatório podem ser divididas em duas: produção de pesquisas universitárias e realização de pesquisas para outras instituições. A primeira é de interesse público e acadêmico, pois divulga conhecimento, tanto do setor público (municipal, estadual e federal) quanto do setor privado, elaborado por estudantes em projetos universitários que participam por livre e espontânea vontade. Praticamente não possui orçamento, além do providenciado pela USP, ao arcar com salários dos professores e estagiários, e ao fornecer estrutura física para colocar em pauta discussões em seminários no auditório do IEA. A segunda parte está vinculada à execução de projetos de pesquisa que contam com remuneração e orçamentos estipulados e inteiramente direcionados à conclusão da proposta, como foi a da ABDI ou da Finep. Nestes casos há contratação de equipe para fazer as avaliações requisitadas e os trabalhos SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD

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PETER ILICCIEV

... buscamos estabelecer uma relação orgânica com o Observatório porque é um departamento que, assim como nós, possui acúmulo significativo nos processos de desenvolvimento” PAULO GADELHA, presidente da Fiocruz

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têm duração média de seis a 12 meses. Para o cientista político da USP e doutorando em sociologia Demetrio Gaspari de Toledo, o sucesso do Observatório de Inovação e Competitividade se deve a dois fatores. “Nossa estrutura propositadamente mutável, sem ter custos fixos e elevados com quadro de empregados, que onerariam o Estado por ser mais uma instituição dispendiosa do meio, faz com que não precisemos nos desdobrar em busca de projetos de pouco ou relativo interesse para pagar contas ou recorramos a algum fundo público para nos manter.” As circunstâncias são o outro lado da equação que sustenta o grupo, garante Toledo. “A conjuntura dos institutos de ciência, tecnologia e inovação dá ênfase a trabalhos feitos em rede que tenham ampla gama de contatos. Usamos isto a nosso favor porque o que temos a oferecer são ideias e conhecimento que exigem poucos gastos”, analisa o sociológo que acompanhou os primórdios do processo de montagem da instituição e hoje é pesquisador.

Visando o Futuro De acordo com a avaliação de Toledo, a tendência é que as ações do Observatório sejam replicadas por conta de um problema histórico das últimas três décadas no Brasil: a supervalorização do curto prazo. “Quem tem o caráter da observação inserido no fundamento está menos preocupado com o imediatismo, com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), se os juros vão subir ou não”, exemplifica. “Empresas e entidades abraçam a ideia de projetar caminhos a médio e longo prazo. O intuito de apontar possibilidades e entender para onde vamos vem sendo valorizado.” O próximo passo para a consolidação definitiva seria a produção de periódicos de alcance no setor de políticas públicas que envolvam áreas de inovação. “Ainda estamos em fase de formação enquanto instituição. Nestes dois anos e meio avançamos ao difundir e tornar conhecidas nossas pesquisas pelo Brasil e ao olhar para o exterior a fim de coletar visões diferentes do futuro. Estas são nossas maiores contribuições.” O pesquisador defende a publicação de estudos e indicadores em forma de boletins para fornecer ao público conjuntos de infor-

mações relevantes que possam orientar os setores público e privado a aumentarem o nível de desenvolvimento em âmbito nacional. “O fundamental é propagar o conteúdo para chegar a gestores públicos, associações empresariais e universidades”, prioriza.

Associações O Observatório vem se aproximando hoje de instituições, por exemplo, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para buscar a troca de experiências e conhecimento. A diversidade de atuações de ambos os órgãos na concretização de estudos incentiva o diálogo permanente. “Sempre tivemos a intenção de fazer um centro de pesquisa e nos baseávamos no IEA. Agora, buscamos estabelecer uma relação orgânica com o Observatório porque é um departamento que, assim como nós, possui acúmulo significativo nos processos de desenvolvimento”, afirma o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Há 110 anos em operação, a Fiocruz é um centro médico hospitalar associado ao Ministério da Saúde, localizado no Rio de Janeiro, que presta serviços ambulatoriais, fabrica vacinas, realiza pesquisas, apresenta informação e comunicação em saúde, ciência e tecnologia, controle da qualidade de produtos e serviços, entre outras atividades. A instituição contém dez mil funcionários e pretende inaugurar centros de pesquisa nos estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Piauí nos próximos anos. Gadelha enxerga vínculos a serem explorados em questões ligadas à biodiversidade, natureza da bioética, na própria modelagem institucional e, principalmente, na maneira de pensar inovação como tema central conectado à construção da saúde no País. Para ele, essa é uma das grandes preocupações atuais. “Hoje, a saúde representa de 8% a 10 % do PIB brasileiro”, disse Gadelha ao enfatizar a importância do ramo e da criação de parcerias. Há previsão de contratação de pesquisas do Observatório por parte da Fiocruz. Negociações em andamento demonstram que a cooperação integrada acontecerá em breve. “Estamos no detalhamento do programa, que é a primeira etapa. Em seguida assinaremos um termo de compromisso”, confirma Gadelha, que manteve em sigilo o conteúdo das pesquisas.


articulação

case de sucesso

Joana Horta

articulação pró inovação Desarticulação entre pesquisa e desenvolvimento (P&D) e produção na região do ABCD Quem resolve Instituto de Ação Tecnológica e Desenvolvimento Inovador (IATDI) A saída União de especialistas para a promoção da cultura inovadora

Fundado há pouco mais de um ano, o Instituto de Ação Tecnológica e Desenvolvimento Inovador (IATDI) busca integrar pesquisa, produto, setores produtivos e instituições de ensino da Região do ABCD. Fundado por pesquisadores com espírito empreendedor e conhecimento de mercado, o instituto nasce para suprir uma demanda de orientação em projetos tecnológicos e de inovação, com foco nas pequenas e médias empresas da Região. Para atender diferentes setores, o instituto está formando uma rede de especialistas, entre mestres e doutores. “Buscamos fortalecer uma rede de contatos, onde um indica outro. Por exemplo, eu conheço vinte doutores, que conhecem outros tantos, e assim conseguimos uma rede que contemple diversas capacidades”, explica Alexandre Lancin, sóciofundador do instituto. “Com essa base formada, podemos atender às demandas produtivas da Região, sem dispensar setores por falta de conhecimento. O empresário não enxerga a pesquisa, enquanto o pesquisador não enxerga o produto. Essa é a aproximação que estamos fazendo.” A atuação da instituição se dá através de núcleos de desenvolvimento, organizados em setores, a fim de concentrar a demanda para elaboração de projetos e programas específicos, junto ao público beneficiado, possibilitando o desenvolvimento de empresas através de estudos, pesquisas e acesso à tecnologia e inovação. Os núcleos se dividem em desenvolvimento da saúde, desenvolvimento da cultura, desenvolvimento industrial, desenvolvimento do setor turístico, desenvolvimento do setor de tecnologia da informação e desenvolvimento do setor de energia. A administradora e sócia-fundadora, Silvana Pompermayer explica que o desenvolvimento industrial da Região se constituiu no fortalecimento da produção e não no investimento em P&D. Por isso,

hoje os empresários encontram tanta dificuldade para unir o planejamento de negócio à inovação. “As empresas locais atendiam demandas e sobreviviam disso. De uma década para cá, a concorrência, a globalização e uma nova conjuntura econômica estão forçando as empresas a pensarem diferente em P&D”, reforça. “As empresas querem a inovação e a tecnologia. Alguns empresários estão mais preparados, mas a grande maioria não tem experiência e nem paciência de aguardar o processo de criação. Por isso, é preciso estimular essa cultura.” Com uma ideia simples, Silvana conseguiu, através do IATDI, uma bolsa de pesquisa para o desenvolvimento de um projeto inovador, voltado para a indústria moveleira local. “Queremos criar o móvel Pop, estimulando a produção de móveis populares, com maior qualidade, menor custo e que atendam às especificações do programa Minha Casa, Minha Vida”, afirma. Para desenvolver o projeto, o instituto trabalhará em conjunto com designers e desenvolvedores de tecnologia da informação, para a criação de maquetes eletrônicas, com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, por concurso do CNPq. De acordo com Silvana, para o empresário fica apenas o trabalho de pensar na inovação. “Faz parte do projeto encontrar a empresa que produzirá esse bem e essa, por sua vez, não tem que dar nenhuma contrapartida. E para uma empresa, é sempre interessante ter um cliente CNPq, que vai trabalhar para um programa federal”, acrescenta. O projeto é um exemplo da capacidade do IATDI de perceber as demandas locais, entender as diretrizes dos investimentos públicos e unir a pesquisa ao desenvolvimento do produto, gerando emprego, renda e melhoria da qualidade de vida, prerrogativas da instituição

Silvana Pompermayer, diretora do IATDI: “Queremos criar o móvel Pop, estimulando a indústria moveleira popular, com maior qualidade, menor custo e que atenda às especificações do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal”

amanda perobelli

O problema

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serviços

Fomento, financiamento Milhões de reais e serviços de apoio estão disponív FINEP

Subvenção Econômica à Inovação

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, publicou no início de agosto uma chamada pública para disponibilizar R$ 500 milhões à inovação tecnológica. O objetivo é apoiar empresas brasileiras, por meio da concessão de recursos não-reembolsáveis, no desenvolvimento de projetos inovadores. As empresas interessadas tem até 7 de outubro deste ano para enviar o formulário eletrônico disponibilizado no site da Finep. Podem participar da licitação empresas brasileiras de qualquer porte, individualmente ou em associação, com mais de dois anos de funcionamento e situação ativa em 2009. Cada empresa poderá entregar apenas uma proposta por tema, independentemente de figurar individualmente ou em associação na proposta. No mínimo 40% dos recursos serão dedicados a pequenas empresas, empresas de pequeno porte e microempresas. Confira na tabela ao lado as áreas contempladas com a subvenção:

ÁREA 1 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs) Desenvolvimento de processos de fabricação ou projetos de componentes eletrônicos, optoeletrônicos, magnetoeletrônicos, ferroelétricos e microeletromecânicos; de dispositivos, equipamentos ou sistemas para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, nas áreas de segurança pública, mobilidade urbana e governo eletrônico e de equipamentos; e de dispositivos e sistemas para comunicações de alta velocidade, para do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

ÁREA 2 | ENERGIA Desenvolvimento de soluções para exploração e desenvolvimento em campos off-shore de petróleo e/ou gás, incluindo modelagem de bacias, imageamento sísmico e aquisição e processamento de dados; de plantas-piloto para obtenção de etanol de segunda geração a partir de biomassa e algas; e de sistemas de tração elétrica, baterias e capacitores aplicados a veículos elétricos automotores, inclusive em versão híbrida.

ÁREA 3 | BIOTECNOLOGIA Desenvolvimento de inovações em bioprodutos para aplicação em agricultura; de inovações em bioprodutos para aplicação nas indústrias farmacêutica e de cosméticos; e de inovações em bioprodutos para diagnóstico rápido de doenças infecciosas, degenerativas e genéticas.

ÁREA 4 | SAÚDE Desenvolvimento de dispositivos de uso em saúde humana, com ênfase em implantáveis; de equipamentos, com ênfase aos destinados a diagnóstico, hemodiálise e acessórios; e de inovações em moléculas e processos que contribuam para desenvolvimento da produção nacional de insumos farmacêuticos ativos e medicamentos para uso em tratamentos.

ÁREA 5 | DEFESA Desenvolvimento de soluções integráveis para vôo autônomo; de sistemas ligados à segurança e controle de navegação; e de materiais para proteção balística individual e de veículos para emprego militar.

ÁREA 6 | DESENVOLVIMENTO SOCIAL Desenvolvimento de sistemas de massificação do acesso à internet, visando a atender as políticas públicas de inclusão digital, no contexto da PNBL; de tecnologias sustentáveis para habitação segundo os princípios da coordenação modular decimétrica e da industrialização de ciclo aberto; e de produtos e serviços inovadores para a acessibilidade.

SUBVENÇÃO ECONÔMICA À INOVAÇÃO

Total R$ 500 MILHÕES

Tecnologias da Informação e Comunicação

R$ 90 milhões

Energia

R$ 90 milhões

Biotecnologia

R$ 90 milhões

Saúde

R$ 90 milhões

Defesa

R$ 90 milhões

Desenvolvimento Social

R$ 90 milhões

PORTE / FATURAMENTO BRUTO 2009 (FB):

CONTRAPARTIDA

Micro / FB inferior ou igual a R$ 2,4 milhões (mi):

10%

Pequena / FB superior a R$ 2,4 mi e inferior ou igual a R$ 16 mi:

20%

Média 1 / FB superior a R$ 16 mi e inferior ou igual a R$ 90 mi:

50%

Média 2 / FB superior a R$ 90 mi e inferior ou igual a R$ 300 mi:

100%

Grande/ FB superior a R$ 300 mi:

200%

OUTRAS INFORMAÇÕES: www.finep.gov.br

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financiamento e suporte à inovação eis para projetos inovadores. Saiba como acessá-los CNPq Bolsas de Fomento Tecnológico e Extensão Inovadora O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) oferece Bolsas de Fomento Tecnológico e Extensão Inovadora, destinadas à formação e capacitação de pesquisadores e agregação de especialistas, que contribuam para a execução de projetos de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico ou atividades de extensão inovadora e transferência de tecnologia. As bolsas são vinculadas a projetos selecionados em função de editais ou encomendas do CNPq por convênios com Ministérios, Secretarias, entidades do Governo Federal e Estadual, Secretarias estaduais e municipais e Fundações de Amparo à Pesquisa. Para solicitação do auxílio, o pesquisador deverá apresentar um coordenador residente no país, vinculado a uma instituição brasileira, pública ou privada, que se constitua como empresa, instituição de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, atividades de extensão e transferência de tecnologia ou organização não-governamental, entidade técnica ou de classe, bem como associações profissionais, que realizem atividades dirigidas ao desenvolvimento tecnológico, à atividade de extensão inovadora ou à transferência de tecnologia. O bolsista deverá ser residente e em situação regular no País e ter seu currículo cadastrado e atualizado na Plataforma Lattes. Não poderá acumular bolsas, embora possa receber suplementação. As linhas de fomento do CNPq contemplam projetos de longa e curta duração.

APEX Brasil

PEIEX

Criado no início de 2009 pela Apex-Brasil, o Projeto de extensão industrial exportadora (PEIEX) visa a capacitação de empresas com potencial de exportação. O objetivo do projeto é incrementar a competitividade e promover a cultura exportadora nas empresas de micro, pequeno e médio porte, qualificando e ampliando os mercados das indústrias iniciantes em comércio exterior. O PEIEX funciona por meio de técnicos extensionistas e núcleos operacionais, localizados em várias cidades do Brasil, que atendem as empresas, oferecendo soluções e auxílio nas áreas de administração estratégica, capital humano, finanças e custos, vendas e marketing, produto, manufatura e comércio exterior, o que ajuda a tornar a empresa mais forte e mais competitiva em um mercado cada vez mais acirrado. Em 2009, o PEIEX atendeu mais de 3,5 mil empresas. Para inscrever a empresa no programa, deve-se preencher a Ficha de Inscrição disponibilizada pela equipe técnica e/ou associações de classe e encaminhá-la ao núcleo operacional mais próximo.

Outras informações www.apexbrasil.com.br

BOLSAS DE LONGA DURAÇÃO Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI) Iniciação Tecnológica e Industrial (ITI) Especialista Visitante (EV) Extensão no País (EXP) Apoio Técnico em Extensão no País (ATP) Fixação e Capacitação de RH - Fundos Setoriais (SET) Apoio à Difusão do Conhecimento (ADC) Iniciação ao Extensionismo (IEX)

BOLSAS DE CURTA DURAÇÃO Especialista Visitante (BEV) Estágio/Treinamento no País (BEP) Estágio/Treinamento no Exterior (BSP)

OUTRAS INFORMAÇÕES: www.cnpq.br

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ponto de vista Anne Lewis-Olsson

DIVULGAÇÃO

O investimento feito no desenvolvimento do caça Saab Gripen já deu um retorno à Suécia de pelo menos 2,6 vezes, na forma de geração de crescimento econômico.

investimento no Gripen já se pagou rojetos de desenvolvimento sofisticados e de grande porte sempre requerem a resolução de problemas tecnológicos ao longo do caminho. Toda a produção tecnologicamente avançada se vê envolvida em uma “nuvem de novas tecnologias”, as chamadas compensações tecnológicas. O desenvolvimento de aeronaves militares pertence ao conjunto mais avançado deste tipo de projetos. Em um estudo recente, o professor sueco Gunnar Eliasson concluiu que o investimento feito no desenvolvimento do caça Saab Gripen já deu um retorno à Suécia de pelo menos 2,6 vezes, na forma de geração de crescimento econômico. Isso ocorreu em função da criação de um novo conhecimento industrial, durante a execução do projeto militar, viabilizando uma produção adicional para a área civil. Por meio de estudos de casos, Eliasson ilustra como isso é possível e como as novas tecnologias, criadas durante o processo de desenvolvimento do sistema Saab Gripen, se difundiram através da economia sueca e formaram a base tecnológica de novos programas de produção na área civil. No estudo, ele enfatiza dois aspectos responsáveis por este resultado positivo na economia do país. Primeiramente, destaca o papel fundamental da agência sueca encarregada da aquisição de material militar (FMV). Em segundo lugar, ele detalha o importante papel do empreendedorismo local ou comercialização de competências na economia para maximizar a exploração desta “nuvem de tecnologias”. Ele investigou a ligação dos movimentos decorrentes do desenvolvimento da aeronave de combate Gripen com as compensações identificadas na área civil, derivadas deste projeto. A maioria delas foi capturada e comercializada pelas empresas diretamente envolvidas no desenvolvimento desta aeronave sueca (Saab, Volvo Aero e Ericsson) e as demais, por empresas de fora.

A conclusão de Eliasson é a de que o valor na área civil, gerado pelo Gripen, menos os custos de oportunidade, acumulado por todo o período, dividido pelo investimento feito em pesquisa e desenvolvimento, é pelo menos equivalente a 2,6. Ou seja, o investimento feito no Gripen deu um retorno à sociedade sueca de, pelo menos, 2,6 vezes, na forma de crescimento econômico adicional. De acordo com Eliasson, todas as empresas avançadas engajam-se em uma produção conjunta quando se trata do desenvolvimento de novos produtos. Elas desenvolvem não somente o produto em si, mas também a nuvem de compensações, que fica disponível gratuitamente para outras empresas, cujo valor gerado para a economia do país é proporcional à sua capacidade de comercialização. A indústria de aviação sueca começou como parte do esforço de defesa do país, na década de 30, para uma situação de ameaça que se avizinhava. Na época, a Suécia já era uma nação industrializada, mas não ainda uma das principais economias industriais. Hoje, a Saab tem sido uma impressionante geradora de tecnologias, contribuindo para catapultar a indústria manufatureira do país a várias posições de liderança, no período pós-guerra. Parte destas compensações foram capturadas e comercializadas com sucesso por outras empresas do grupo Saab. No entanto, os sucessos mais importantes ocorreram fora do grupo Saab. Diante disto, conclui-se que o desenvolvimento dos produtos avançados não somente se distingue por si próprio, como também pelo fato da indústria de aviação sueca, com a Saab em seu centro, atuar como uma universidade técnica para a indústria do país. Um programa de cooperação industrial, portanto, proporciona benefícios muito maiores que o investimento negociado em contrato.

Anne Lewis-Olsson é diretora de Comunicação para o Brasil da Saab




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