INOVABCD 07

Page 1

AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS

ANO 2 | NO 07 | MAR 2011

R$ 12,00

combustível da inclusão biocombustíveis estimulam busca pela inovação

china Para o correspondente Flávio Aguiar, um novo Cavalo de Troia?

ANTÔNIO ROSA Executivo comanda o projeto do Parque Ecológico Imigrantes

AMANDA PEROBELLI

EXEMPLAR CORT E SIA




editorial

AGÊNCIA PETROBRAS DE NOTÍCIAS

INOVAÇÃO E RENOVAÇÃO É preciso renovar as políticas de inovação. É este o principal sentido da reportagem especial desta edição. Uma das políticas mais inovadoras do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu em torno da produção do biocombustível. Com o Programa Nacional da Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), o Brasil descobriu um caminho alternativo ao etanol para enriquecer sua capacidade produtiva. Do ponto de vista da inovação, o programa recorre à agricultura familiar como uma das fontes de recursos humanos para produzir matéria-prima. Num governo claramente voltado para o social, o ministério do Desenvolvimento Agrário cumpriu papel estratégico na perseguição deste objetivo. O sucesso dessa política permitiu antecipar de 2013 para 2010 o atendimento da meta de suprimento de 5% da matéria-prima com produção de pequenos agricultores. Para o presidente da Petrobras Biocombustíveis (PBio) e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, a missão agora é outra: inovar na prospecção e produção da segunda geração do etanol, através da exploração de resíduos ou processos bioquímicos. A biologia sintética e molecular, aplicada às oleaginosas e às microalgas são outros campos de pesquisa tão revolucionários quanto tudo o que se fez nos últimos anos para a produção de energia. E, pelo que revela a reportagem de Mauricio Thuswohl, o Brasil está decidido a não perder tempo. Infelizmente, ao que parece, parcerias

4

INOVABCD | MARÇO 2011

como a estabelecida com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ainda são insuficientes para atender às necessidades de pesquisa de atores produtivos como a Petrobras. Enquanto a urgência de pesquisa e inovação produtiva são cada vez maiores, como mostra a reportagem do correspondente Flávio Aguiar, apontando os riscos aos mercados europeus representados pela invasão de produtos chineses. Na crise, conta o correspondente, a Grécia parece ter ganhado um novo Cavalo de Troia, cheio de eletroeletrônicos e produtos de todo tipo. Neste quadro, ganham relevância os esforços do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), para trazer representações da indústria de defesa para a Região. O carro-chefe da Nação, a indústria automobilística do ABCD, precisa inovar-se e, quem sabe, aprontar-se para participar de uma nova escalada industrial, a da indústria do conhecimento. No entanto o desenvolvimento de processos de biologia sintética e microalgas na produção de combustíveis, bem como o acesso à moderna tecnologia aeroespacial, dependem de decisões políticas federais. Em especial de investimentos em inovação e pesquisa. Mas, em época de ajuste fiscal e contenção de gastos públicos nunca é demais lembrar que o Brasil e seus muitos territórios regionais não terão futuro sem um processo permanente de renovação. É tudo que INOVABCD se propõe discutir ao longo destas páginas. o editor


ANO 2 | NO 07 | MAR 2011

06 - Entrevista | Luiz Marinho

Refinaria de biocombustível da PBio em Quixadá

Prefeito de São Bernardo fala sobre a inclusão da Região na rota de produção dos caças da FAB, disputada por americanos, franceses e suecos

09 – Logística Portos Secos Rodoanel abre novas possibilidades para inovações em logística

AGÊNCIA PETROBRAS DE NOTÍCIAS

10 Notas 18 Sustentabilidade

12 especial biocombustíveis 12 Biocombustíveis: busca constante pela inovação 14 Biologia sintética 16 Tecnologia e inclusão social

Parque Ecológico Imigrantes Fundação Kunito Miyasaka revela os detalhes do projeto sustentável, inclusivo e inovador

22 Mercado Cosméticos Polo de Cosméticos de Diadema fortalece empresas como a Valmari, que hoje inova em produtos para tratamento da pele

24 Investimento Centro de P&D Áreas de risco terão monitoramento em 3D, projeto será desenvolvido por Centro de Pesquisas da Saab

26 Internacional Flávio Aguiar China: um novo cavalo de Troia?

28 Case Diversificação Uma das maiores fabricantes do setor de higiene e limpeza, a Bombril busca novos mercados e aposta na linha eco

32 Serviço

30

andré gaspar O empreendedor revela como a Comfort House conseguiu financiamentos para o desenvolvimento casas populares

Fomento, financiamento e suporte à inovação CNPq lança primeiro edital 2011 e Finep divulga estudo com perfil das empresas inovadoras

34 Ponto de Vista Gerson mantovani Professor da UFABC expõe a relação entre comunicação e inovação

Errata: Na edição 06, a função correta de Reginaldo Rangel Gusmão é Gerente de Manutenção e Meio Ambiente da Sherwin-Williams

EXPEDIENTE: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 DIRETOR/EDITOR: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) Redação: Clébio Cavagnolle Cantares, Cláudia Mayara, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Maurício Thuswohl, Niceia Climaco e Vinicius Morende. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami TRATAMENTO DE IMAGENS: Fabiano Ibidi DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa Impressão: Leograf Tiragem: 40 mil exemplares

MARÇO 2011 | INOVABCD

5


Luiz Marinho

FOTOS: Luciano Vicioni

entrevista

na rota dos caças Vinicius Morende

vinicius@abcdmaior.com.br

INOVABCD – Qual a importância da inovação para o desenvolvimento econômico brasileiro? Luiz Marinho – Para mim, pensar em inovação é pensar como no futuro poderemos ter soluções mais eficientes, mais baratas e mais sustentáveis do ponto de vista ambiental. Acho que são, principalmente, as universidades que têm o papel de pensar e pesquisar a evolução do conhecimento e da tecnologia. Mas, todos podem produzir inovação. E não adianta esperar que as universidades privadas se responsabilizem pela produção de inovação. A universidade pública é que tem o papel de formar gente para o mercado de trabalho, para produzir o diferencial tecnológico.

6

INOVABCD | MARÇO 2011

INOVABCD – O Brasil dá importância para isso, ou pelo menos provê o avanço disso? Marinho – Estamos avançando bastante. Se olharmos o que tinha de recursos para a pesquisa no Ministério de Ciências e Tecnologia em 2003 e agora, há uma grande evolução de investimentos. Dado o tamanho do crescimento da economia brasileira, talvez os avanços não tenham sido suficientes para dar conta da nossa demanda. Nós evoluímos muito na quantidade de pesquisas e teses publicadas, marcas licenciadas, mas estamos distante do potencial do povo brasileiro. Temos que dar sequência aos investimentos e buscar aumentar os recursos disponíveis. Aliado a isso, é necessário investimento no ensino técnico, para responder às necessidades geradas pelo crescimento da economia brasileira. O poder público está fazendo sua parte. Já as empresas têm que investir mais em pesquisa e tecnologia.

As universidades privadas também devem fazer o mesmo. Compare os investimentos em pesquisa de empresas no exterior e o investimento das empresas brasileiras. Não é só pedir para o setor público fazer, o privado também tem que se comprometer. Afinal, toda a inovação, toda a descoberta, beneficia a todos. INOVABCD – Em que pé está o projeto Cidade Digital, que oferece banda larga para a cidade inteira? Marinho – Nós estamos fazendo investimento público para montar a infovia. Até abril, a gente complementa os arcos de fibra ótica para que todos os órgãos municipais sejam ligados em rede, criando a condição de monitorar a segurança, o transporte, o clima e os seus efeitos para a cidade. Isso tudo para melhorar a qualidade de vida e alertar a população de possíveis proble-


Marinho colocou a Saab na disputa da licitação para a compra dos caças e alterou a rota das negociações, que agora passa por São Bernardo

Ex-funcionário da Volkswagen, Luiz Marinho é um dos políticos brasileiros formados no movimento sindical que integrou o alto escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi convocado pelo ex-presidente para ser ministro do Trabalho. Amigo pessoal de Lula, o metalúrgico recebeu também a incumbência do Ministério da Previdência. Em 2008, Marinho foi eleito prefeito de São Bernardo, berço político do ex-presidente e sede principal da indústria automobilística instalada no Brasil. A cidade detém o 12º maior Produto Interno Bruto (PIB) do País. Com o objetivo de atrair investimentos para o município, o ex-sindicalista colocou um holofote nos debates sobre inovação, transferência de tecnologia e cooperação produtiva entre o Brasil e as empresas que disputam a licitação dos 36 caças supersônicos da Força Aérea Brasileira. A partir dos debates sobre a operação, ressuscitados pelas visitas do prefeito de São Bernardo às fábricas da Saab e da Dassault, dois dos três concorrentes, a presidente Dilma Rousseff, que herdou a possibilidade de decidir, preferiu conhecer a fundo as propostas. Além das tratativas em torno dos projetos de instalação do polo de tecnologia aeroespacial em São Bernardo, Marinho também fala para INOVABCD sobre políticas públicas de inovação, reajuste de salário mínimo e cortes de investimentos públicos. E, de passagem, também revela o que Lula, Dilma e Nelson Jobim pensam do negócio dos caças.

O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, mostra como o poder executivo municipal pode atrair recursos privados e fomentar o desenvolvimento Regional mas. O importante é pensar o conceito da Cidade Digital, investir na educação com a distribuição de 15 mil netbooks para a rede municipal para que as crianças, (hoje) com sete e dez anos, quando tiverem 20 anos possam ser talentos formados. A inovação e a pesquisa dependem de talentos. Precisamos estimular para fazer estes talentos aparecerem mais cedo. INOVABCD – Como presidente da CUT, em 2004, você idealizou a política de valorização do salário mínimo, com reajuste da tabela do imposto de renda, como forma de transferir renda e fortalecer o mercado interno. Você acha que já era hora de interromper o processo de reajuste do salário mínimo com aumento real? Marinho – Não houve interrupção. Como ministro, eu negociei com as centrais sindicais esta política determinada por algumas

regras que foram negociadas a partir da formação de grupos de trabalho e avaliação de estudos. A partir daí estabelecemos que a política valeria até 2023, para que o salário mínimo atingisse um patamar robusto. Como se dizia que não dava para aumentar o salário mínimo, pois isso geraria inflação, condicionamos o aumento à variação do PIB consolidado dos dois anos anteriores ao período do reajuste. Isso, para justificar que a política era sustentável e não geraria inflação. Diziam que isso era pouco. Tanto não era pouco que veja o crescimento do salário mínimo nos últimos anos. O elemento principal do sucesso do Brasil e do crescimento do mercado interno não é o Bolsa Família. É a política de valorização do salário mínimo. Este ano teve a reposição da inflação, mas no ano que vem tem um grande crescimento com aumento real do salário mínimo previsto. É óbvio que cabe o debate

a partir da regra, mas o corte orçamentário de R$ 50 bilhões não dá espaço para antecipar um pedaço da variação do ano que vem. O mais importante é a garantia da manutenção do acordo de crescimento ancorado na variação do PIB, política que se mostrou correta. Este ano o reajuste pegou o vale, no ano que vem pega o pico. Quem vaiou o (deputado federal) Vicentinho neste ano, no ano que vem vai aplaudir. INOVABCD – A falta de aumento real para o salário mínimo neste ano deve afetar a economia do País? Marinho – Nós temos que ter a preocupação com o investimento e o crescimento, mas também devemos ficar atentos à inflação. Nós sabemos o quanto a inflação corrói o poder de compra do trabalhador. Nós tivemos uma época em que reivindicávamos o pagamento semanal, para que a inflação MARÇO 2011 | INOVABCD

7


não “comesse” o salário do trabalhador. O trabalhador é a maior vítima de um processo inflacionário, pois não tem como se defender. Se ele tiver um salário muito justo, ele não suporta, e esta é a realidade da classe trabalhadora brasileira. O salário mínimo ainda é o grande objetivo de quem está desempregado. INOVABCD – O corte de R$ 50 bilhões no orçamento pode influenciar o desenvolvimento da economia brasileira neste ano? Marinho – Eu vejo o corte como uma freada necessária, especialmente pelo controle da inflação. É necessário fazer o ajuste de passagem de um governo para o outro com a garantia da sustentabilidade e da continuidade do crescimento. O corte é necessário para que a economia continue crescendo. INOVABCD – O corte no orçamento também pode influenciar no processo de compra dos caças supersônicos para a renovação da frota da FAB? A presidente Dilma já anunciou que a decisão deve acontecer neste ano, mas a compra deve ocorrer em 2012. Marinho – Eu acho isso uma bobagem. Não tem desembolso do Brasil em curto prazo. Pode até ser usado como desculpa, mas não deveria. A data da decisão pode ser influenciada pela necessidade da presidente Dilma conhecer os três produtos, estar segura da melhor decisão política e econômica a ser tomada. Pelas informações que tenho, eu não vejo razão para postergar a decisão por conta disso. A minha visão é que a definição entre os caças e a compra deve ser feita entre o final deste ano e o começo de 2012. Eu acho que o governo brasileiro tinha que

decidir isso logo e exigir que as unidades sejam feitas no Brasil, pois o País tem condições de produzir as aeronaves. INOVABCD – A prefeitura conta com o apoio, ou está dialogando, com outras esferas do poder público a fim de influenciar de alguma forma a decisão da presidente Dilma sobre a compra dos caças? Marinho – Não. O maior objetivo é garantir investimentos do vencedor em São Bernardo e na Região. Isso já teve efeito, com os investimentos da Saab no Centro de P&D que está sendo instalado no município. Nós estamos em busca dos três concorrentes, para que, independente da decisão, a cidade receba investimentos. Concretamente, a minha ida para a Suécia, minha abordagem alertando os suecos sobre como deveriam atuar para que tivessem chances de disputar a licitação, o meu contato com os franceses, chamando a atenção de que eles estão atrasados no relacionamento e no comprometimento com a indústria brasileira, têm como objetivo estimular os investimentos em São Bernardo e o desenvolvimento da indústria de defesa nacional. Isso respeitando os polos industriais já formados, como é o caso do Vale do Paraíba (SP) e Gavião Peixoto (SP). Tem gente que se preocupa porque eu estou querendo “roubar” empresas para o ABCD. Não existe nada disso. Não tem como estes lugares perderem investimentos por conta desta mobilização. Quem vai liderar este projeto é a Embraer. O que temos é que desenvolver novas empresas e através deste projeto possibilitar à Embraer aumentar seu índice de nacionalização. O Vale do Paraíba pode se fortalecer ainda mais enquanto surge um novo polo em São Bernardo atuando em cooperação com o Vale.

Para Marinho, o corte de R$ 50 bilhões no orçamento é uma freada necessária, especialmente pelo controle da inflação

8

INOVABCD | MARÇO 2011

INOVABCD – O fortalecimento da indústria de Defesa nacional trará inovação para o parque industrial brasileiro? Marinho – A indústria de Defesa é uma indústria de alta tecnologia, de muito conhecimento. Qualquer uma das aeronaves que disputam a licitação tem muita tecnologia e inovação e agrega muito para o trabalho de pesquisa que nossas universidades devem fazer. Os institutos de pesquisas do ABCD têm que se envolver totalmente em projetos como este. A indústria de defesa é a grande possibilidade de avançarmos na questão da inovação, do conhecimento e do desenvolvimento de tecnologias na Região, lidando com produtos e serviços de alto valor agregado. É uma grande oportunidade. INOVABCD – Você recebeu a visita do ex-presidente Lula há algumas semanas. O que ele acha da sua participação nesta disputa? Ele ainda defende o projeto francês? MARINHO – Na visão do presidente Lula, isso não é a compra de um simples equipamento ou pacote de tecnologia, é um relacionamento de Estado. A França seria um Estado parceiro, para pensar não só a defesa, mas a inserção global do Brasil. Seria uma parceria estratégica de longo prazo. Os Estados Unidos são um bom parceiro comercial, mas têm dificuldades para se tornarem parceiros estratégicos. A Suécia é uma nação menor, mas do ponto de vista tecnológico tem muito a oferecer. Do ponto de vista de São Bernardo, o que importa são investimentos. Então tenho que me relacionar com os três. Mas, eu preciso respeitar esta visão macro que só a presidente (Dilma Rousseff) pode dar. Minha influência na decisão dela é quase zero, eu não tenho esta pretensão. Nosso objetivo é estabelecer relações com estas empresas e países para apresentar o potencial da nossa cidade e da Região. Por exemplo, vamos imaginar que a Boeing não seja a vencedora. Mas, a empresa não faz só caças. Ela pode vir a ter interesse de investir na Região a partir da apresentação adequada da cidade e do ABCD. O mesmo vale para a Saab e para a Dassault. INOVABCD – E o ministro da Defesa Nelson Jobim, você acha que ele mudou de postura quanto à licitação FX-2 após a chegada da presidente Dilma e o interesse dela pela proposta da Boeing? Marinho – O ministro Nelson Jobim tem uma visão clara deste processo, favorável ao Rafale, e isso não muda. A Dilma é que ainda não indicou quem ela acha melhor. Há uma sinalização da presidente de estudar o processo e avaliar política e economicamente as vantagens dos três para tomar a decisão.


andris bovo

logística

portos-secos

Com o trecho sul do Rodoanel finalizado, a Região ressuscita discussões sobre novos portos secos

ABCD, caminho da logística

Rodoanel abre possibilidade para novos portos secos e inovação em logística desafio de escoar produtos com maior agilidade a baixo custo é cada vez maior para os polos industriais, em especial para o ABCD. Embora situada em ponto privilegiado do Estado, próxima ao porto de Santos e aos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, a Região sente na pele o problema. Não é de hoje que empresários são obrigados a mudar seus centros de distribuição para outros estados por conta do alto custo de fretes e taxas do porto santista. O Rodoanel Mário Covas, no entanto, começa a gerar uma nova perspectiva e promete inovações em logística, com a possibilidade da instalação de porto seco em Mauá, além do ganho de tempo no trajeto para as principais rodovias do estado. A discussão sobre o porto seco em Mauá é antiga. Desde a primeira gestão do prefeito Oswaldo Dias (PT), em 1997, se falava na possibilidade, mas o projeto acabou parado. Agora, o tema retorna à pauta, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Edílson de Paula Oliveira. “A cidade está muito bem localizada entre os trechos Sul e Leste do Rodoanel. É interessante e estamos trabalhando por isso, o

problema está em duas situações: o governo do Estado não termina as alças de acesso, na região central do município, e os terrenos de Sertãozinho, bairro margeado pela rodovia, foram supervalorizados. Estamos estudando uma forma de contenção disso. Precisamos rever a planta genérica”, explica. No ABCD existem dois portos secos localizados em São Bernardo do Campo. Um outro, que eventualmente atende a Região, está instalado em Suzano, próximo à divisa com Ribeirão Pires, mas atua focado em transporte por ferrovia. Além disso, as condições da rodovia Índio Tibiriça, com pista simples em toda a sua extensão, não permitem bom escoamento de cargas. Rogério Tadiotto, presidente da Associação Condomínio Industrial Barão de Mauá (ACIBAM) afirma que apesar de ser um investimento privado, o poder público precisa viabilizar o projeto para instalar um porto em Mauá. “A concessão para administrar o espaço é feita por meio de licitação e sob total controle da Receita Federal, mesmo assim, o poder público precisa viabilizar área e buscar soluções para facilitar o acesso. É uma demanda atrasada. O ABCD está saturado e precisa dessa solução urgente”, enfatiza. Tadiotto relata que teve de mudar o depó-

sito de sua empresa, a Petropol, para o Paraná, próximo ao porto de Paranaguá. “Um porto seco em Mauá teria mudado essa realidade, pois os custos no porto de Santos são altos demais. Se você tem essa possibilidade próximo de sua empresa, o container desce do navio direto para o caminhão. Reduz custos e simplifica tudo”, avalia. A questão já foi pauta para Tiojium Metolina, presidente do Sindicato de Transportes do ABC e ex-presidente da Associação das Empresas do Polo Industrial do Sertãozinho. “A região tem a necessidade e será uma grande inovação em logística para todos, mas o projeto acabou ficando no papel. Embora Mauá tenha essa possibilidade, falta vontade política, de um modo geral e em todas as esferas”, ressalta Metolina. Roberto Filho, gerente da Integral Terminais, que administra um dos portos secos de São Bernardo do Campo, afirma que a Região precisa aproveitar a localização privilegiada para um projeto que inove em logística. “Comportamos mais portos secos aqui no ABCD. A Região é rica, tem grandes centros industriais, como polo automotivo, de cosméticos, petroquímico, ou seja, a necessidade de logística existe e a oportunidade para atrair grandes investimentos está aí”, finaliza. (CC) MARÇO 2011 | INOVABCD

9


notas

programe-se 2011 março | abril 15 a 19 de março | Feicon Batimat 2011 | O salão latino-americano da construção civil reúne 750 marcas expositoras de 21 países, apresentando as principais novidades e inovações do setor. LOCAL: Pavilhão de Exposições do Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1.209, São Paulo, SP. Mais informações: www.feicon.com.br 16 a 18 de março | Workshop Biorecursos | O evento de aproximação Brasil-Alemanha, promovido pelo Centro Alemão de Inovação e Ciências, discutirá a inovação na produção e no uso eficiente de biorecursos. LOCAL: Club Transatlântico, Rua José Guerra, 130, São Paulo, SP. Mais informações: www.dwih.com.br 23 a 26 de março | Expocomer Panamá | A Feira anual comercial do Panamá inclui uma grande variedade de produtos dos setores industriais, comerciais e de serviços da América, Ásia, Europa e Caribe. As principais categorias da Expocomer são alimentos, têxteis, construção, tecnologia e serviços. LOCAL: Atlapa Convetion Center, Vila Israel, San Francisco, Panamá. Mais informações: expocomer.com 28 de março a 1 de abril | FIEE e ElectronicAmericas | Este ano, a 26ª Feira Internacional da Indústria Elétrica, Energia e Automação acontece paralela à 6ª Feira Internacional da Indústria de Componentes, Subconjuntos, Equipamentos para a Produção de Componentes, Tecnologia Laser e Optoeletrônica. LOCAL: Pavilhão de Exposições do Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1.209, São Paulo, SP. Mais informações: http://www.fiee.com.br

amanda perobelli

Emprego cresce 52% no ABCD

10

O emprego com carteira assinada cresceu 52% na última década no ABCD. Cerca de 271 mil pessoas entraram no mercado de trabalho formal regional no período. O resultado fez o total de trabalhadores que atuam com carteira assinada na Região atingir a marca de 788,3 mil. A perspectiva é que para os próximos anos as oportunidades de trabalho aumentem em todos os setores. De acordo com a economista Zeíra de Santana, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos SócioEconômicos (Dieese), os resultados conquistados entre 2001 e 2010 estão relacionados ao desenvolvimento de uma política econômica progressista pelo governo federal e à valorização da indústria brasileira. “No primeiro ano de governo já foi possível notar melhorias. Nos anos seguintes, foi possível fazer uma reformulação econômica e os resultados melhoraram”. Para Zeíra, a exploração do petróleo da camada pré-sal na Baixada Santista deverá continuar a impulsionar a geração de empregos na Região nos próximos anos. Motor do crescimento - Um levantamento realizado pela subseção do Dieese, com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que a indústria ainda é a atividade econômica que mais gera empregos na Região. Em 2010, o setor foi responsável por 55% das contratações com carteira assinada no ABCD.

BNDES e Caixa terão aumento de capital O aumento do capital social do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal sinaliza que o governo está disposto a manter a estratégia de reforçar os cofres das duas instituições financeiras. O Decreto 7.439, publicado do Diário Oficial em 17 de fevereiro, autoriza o aumento do capital social do BNDES em até R$ 6,4 bilhões, sem emissão de ações, mas mediante a transferência de ações da Petrobras. No caso da Caixa Econômica Federal, o decreto autoriza o aumento de capital em até R$ 2,2 bilhões, também mediante a transferência de ações da estatal petrolífera brasileira e de ações da Eletrobras.

MPEs vendem R$ 15,9 bi para o governo Em 2010, as micro e pequenas empresas (MPE) venderam para o governo federal R$ 15,9 bilhões em bens e serviços. O valor – nominal - representa cerca de 30% dos R$ 57,3 bilhões em aquisições feitas por parte da administração direta, autarquias e fundações. O resultado é R$ 1,3 bilhão maior do que os R$ 14,6 bilhões comprados pelo governo em 2009 e R$ 13,9 bilhões acima dos R$ 2 bilhões registrados em 2006. A maior participação dos pequenos negócios nas compras públicas federais se deu via pregão eletrônico, respondendo por R$ 12,8 bilhões do total adquirido pela modalidade.

Apex-Brasil sob nova direção Mauricio Borges foi indicado por Dilma Rousseff para o cargo de presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) pelo período de quatro anos. Especialista em direito comercial e internacional, Borges já pertencia ao quadro técnico da ApexBrasil, como diretor de Negócios e assumirá o cargo antes ocupado por Alessandro Teixeira, nomeado titular da Secretaria Executiva do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).


Brasil comercializa 13,7 milhões de PCs Em 2010 o Brasil comercializou 13,7 milhões de computadores, sendo 55% desktops e 45% notebooks. Este número representa um crescimento de 23,5% ante 2009. A movimentação levou o Brasil à quarta posição no ranking mundial dos países que mais vendem computador no mundo. À frente estão Estados Unidos, China e Japão. Os dados são do estudo Brazil Quarterly PC Tracker, realizado pela IDC Brasil, consultoria do setor de Tecnologia da Informação e Telecomunicações. Somente no último trimestre de 2010 foram vendidos 3,6 milhões de equipamentos. Deste total, 52,5% foram desktops e 47,5% notebooks. No início de 2010, a IDC previa que o mercado chegaria à marca de 13,2 milhões de computadores, porém, devido à competição acirrada entre os fabricantes de PCs, o número foi 3,6% melhor. “E se somássemos o número de tablets comercializados no Brasil, cerca de 100 mil unidades, chegaríamos ao total de 13,8 milhões de equipamentos. Definitivamente, o mercado de PCs será impactado pela venda de tablets, principalmente quando observarmos os netbooks.”, declara Luciano Crippa, gerente de pesquisas da IDC. Durante todo o ano, 65% dos computadores vendidos foram para usuários domésticos e 35% para o mercado corporativo, incluindo os segmentos de educação e governo.

Santo André investe R$ 4,6 milhões em rede de fibra ótica A Prefeitura de Santo André pretende investir R$ 4,6 milhões em tecnologias para construir uma Infovia digital. Trata-se de uma rede de fibra ótica com alta capacidade de transmissão de informações digitais como voz, dados e imagens. Pelo projeto, estão previstos 216 quilômetros de extensão até 2011. Para a primeira e a segunda fase, já licitadas, os recursos somam R$ 4,6 milhões. O objetivo é interligar os diversos prédios públicos da prefeitura com o provedor de comunicação de dados, que fica no prédio do Executivo, no Paço Municipal. Na primeira etapa, foi realizada a parte de infraestrutura, por meio da instalação de anel óptico com velocidade de até 10GB, que permitirá agilidade e eficácia na transmissão de dados, imagens, monitoramento de sistemas operacionais, além da implantação da VoiP (transmissão de voz pela Internet). Além disso, as informações que ficavam centralizadas em apenas um computador passaram a operar com várias localidades de forma integrada e em rede. A conectividade, que em 2008 era de 34 endereços, passou para 71 na primeira fase, e atingirá 144 na segunda. A segunda fase, que está em andamento, será direcionada à área da Educação, com conexão VoiP nas 75 escolas municipais de Santo André. As unidades de ensino passarão a ter acesso ao sistema de gestão da Educação, Internet e rede para monitoramento de segurança. A adoção da tecnologia reduz os gastos com pulsos telefônicos e assinatura mensal de linhas. Dessa forma, calcula-se que as despesas da área da Educação, que alcançam R$ 1 milhão por ano com telefonia, possam ser reduzidas em 60%, passando para R$ 600 mil.

Franquias rumo ao exterior A Associação Brasileira de Franchising (ABF) renovou o projeto Franchising Brasil – Projeto de Promoção e Exportação de Franquias Brasileiras, em parceria com a Associação Brasileira de Promoção e Exportação (APEX-Brasil). Em sua quarta edição, o projeto visa a promoção do modelo de franquias brasileiro nos principais mercados internacionais. A meta do projeto é levar, pelo menos, 20 novas marcas para o mercado internacional nos próximos anos. Entre os mercados definidos como prioritários pelo programa, estão Austrália, México, Canadá, Colômbia, Espanha, Panamá, Peru e Portugal. As ações contempladas englobam desde a participação em feiras multisetoriais e segmentadas, missões comerciais, visitas técnicas e missões de prospecção de mercados potenciais. Entre os benefícios da participação estão: a redução dos investimentos, visibilidade, infra-estrutura de apoio e plano de comunicação, participação em eventos internacionais com a chancela do governo e da entidade, acesso a estudos de mercado e troca de experiências. As principais características do projeto Franchising Brasil são análise de mercado, análise do setor, identificação de oportunidades, definições estratégicas, plano de ação e acompanhamento de resultados. Para o primeiro semestre a ABF prepara a participação nos seguintes eventos internacionais: feira multisetorial Expocomer, no Panamá; Franchise Expo Paris, na França; ExpoFranchise, em Portugal e a feira Franquicias y Negocios, na Argentina. O Brasil possui hoje 65 redes brasileiras espalhadas em 49 países, o que representa 4,7% das marcas nacionais.

Mais informações www.portaldofranchising.com.br

MARÇO 2011 | INOVABCD

11


FOTOS: AGÊNCIA PETROBRAS DE NOTÍCIAS

especial biocombustíveis

bio combus tíveis busca constante pela inovação


Maurício Thuswohl

mauricio@abcdmaior.com.br

iocombustíveis estão em constante estado de evolução. A massificação do uso do etanol em todo o mundo e a busca por novos combustíveis estimulam uma perseguição permanente pela inovação e o financiamento de diversas linhas de pesquisa. Na vanguarda do setor desde a década de 1970, quando surgiu o Pró-Álcool, o Brasil mais uma vez inova ao incentivar o plantio de oleaginosas entre agricultores familiares para a produção de biodiesel. Criada em julho de 2008 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras Biocombustível (PBio), subsidiária integral da Petrobras, é responsável por direcionar essa busca constante por inovação. O Plano de Negócios da empresa até 2014 prevê investimentos de US$ 2,5 bilhões, sendo que somente para o setor de pesquisas em biocombustíveis estão destinados US$ 436 milhões. Segundo o presidente da PBio, Miguel Rossetto, que chefiou o ministério do Desenvolvimento Agrário no primeiro mandato do presidente Lula, esses recursos irão em sua maior parte para o desenvolvimento de projetos ligados aos chamados biocombustíveis de segunda geração, produzidos a partir de resíduos ou processos bioquímicos: “Nós já temos a tecnologia para a produção do etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar, também conhecido como etanol de lignocelulose. Falta avançarmos na viabilidade economica. Isso significa aumentar a produção de etanol, que hoje é de aproximadamente 7,5 mil litros por hectare, em até 40% sem a necessidade de aumentar a área plantada.”, afirma Rossetto. “A meta é de produzir comercialmente o etanol de lignocelulose até 2015.” Gerente de Gestão Tecnológica da PBio, João Norberto Noschang explica que a busca pela produção de etanol a partir do bagaço de cana ou de resíduos celulósicos como madeira já existe “há pelo menos duas décadas”, mas aponta os desafios atuais. “Já se desenvolve tecnologia, o problema é a viabilidade econômica e a disponibilidade de matéria-prima. O etanol de segunda geração precisa ter matéria-prima barata e disponível em grande quantidade para que se possa formar um negócio de alto rendimento”, avalia.

Para se manter em dia com as tecnologias do etanol de segunda geração, a PBio fez uma associação com a empresa norte-americana KL Energy, que desenvolveu um processo para a produção de etanol de madeira e tem uma planta-piloto de grande porte na cidade de Upton, nos Estados Unidos: “Nós vamos adaptar essa planta para produzir com bagaço de cana. Eles já vinham testando o bagaço e se propuseram a modificar toda sua estratégia de produção da madeira para o bagaço. Até porque, ao mundo inteiro interessa fazer alguma coisa com esse bagaço de cana do Brasil”, afirma Noschang. Segundo o gerente da PBio, a unidade de Upton se encontra “no final da fase de adaptação” e começa a produzir experimentalmente já em março. “Nós obtivemos grandes resultados em laboratório lá nos EUA, aumentamos muito a produtividade de etanol por tonelada de bagaço. Os testes estão sendo realizados e, feito isso, partiremos para um projeto de unidade industrial. Se tudo der certo, essa unidade estará operando em 2013”, prospecta. Noschang aposta no sucesso da empreitada. “O desafio é encontrar uma usina que tenha disponibilidade de bagaço e chegar a um preço muito próximo ao do etanol de primeira geração. Vai ser difícil chegar ao mesmo nível, mas pretendemos chegar a um custo competitivo e acreditamos que haverá mercado para esses produtos ambientalmente corretos. Hoje estamos na vanguarda e vai ser muito bom para a Petrobras contar com essa usina em 2013, com uma tecnologia madura.”

Nós já temos a tecnologia para a produção do etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar, também conhecido como etanol de lignocelulose. Falta avançarmos na viabilidade economica. A meta é de produzir comercialmente o etanol de lignocelulose até 2015.” Miguel Rossetto, presidente da PBio


especial biocombustíveis

AGÊNCIA PETROBRAS DE NOTÍCIAS

Biologia sintética

O etanol de lignocelulose não é a única inovação em biocombustíveis que desperta o interesse brasileiro. Outras formas inovadoras de produção que vêm ganhando terreno são as plataformas que utilizam biologia sintética e molecular e também os chamados Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), ou transgênicos: “Você pode, por exemplo, pegar o caldo da cana e utilizar OGMs que vão fermentá-lo para se chegar a outros produtos. Já temos hoje em dia organismos que produzem éster, que é diesel. Outros que produzem hidrocarbonetos, que é petróleo. Outros que produzem etanol. Então, a biologia sintética e molecular veio trazer uma nova possibilidade de produção de biocombustível”, analisa Noschang. A Petrobras, segundo Noschang, está preparando seu Centro de Pesquisas (Cenpes) para trabalhar com essa nova tecnologia: “Estamos rumando para algumas possibilidades de parceria para acelerar o nosso desenvolvimento na produção de biocombustíveis utilizando a plataforma da biologia sintética e molecular. Não posso dizer com quem estamos negociando, mas o mercado imagina que seja com as principais empresas de ponta. Temos aí um grande desafio, porque o Brasil está muito atrás do resto do mundo em biologia sintética e molecular para biocombustíveis. A gente está engatinhando, e precisa retomar a ponta”. Quando se fala em novas matérias-primas para a produção de biocombustíveis, outra inovação que vem ganhando espaço também com muita força é a produção de óleo a partir de microalgas. Para se ter uma idéia do que essa nova fronteira pode significar em termos econômicos, basta dizer que as microalgas têm um potencial de produção 20 vezes maior do que a oleaginosa que produz mais óleo por hectare no Brasil, que é a palma de dendê. Além disso, as microalgas se reproduzem de um dia para o outro, aumentando ainda mais sua produtividade.

Fruto da palma de dendê: oleaginosa com grande potencial de produtividade

14

INOVABCD | MARÇO 2011


Nesse terreno, segundo a direção da PBio, os maiores desafios são conseguir controlar a produção, criar as condições ambientais favoráveis para que as microalgas se reproduzam e identificar cepas de microalgas que possam produzir uma quantidade significativa de óleo de boa qualidade por hectare. A Petrobras tem desde 2005 um projeto, desenvolvido no Cenpes, para investigar o potencial de microalgas para a produção de biodiesel. Além disso, a empresa iniciou uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tem capacitação na produção de microalgas para alimentar camarões criados em cativeiro. A PBio está construindo seis grandes tanques no Rio Grande do Norte em uma plantapiloto para testar a possibilidade de se produzir biodiesel a partir de microalgas em uma escala maior: “Já saímos da fase de laboratório e vamos partir para uma escala grande ainda este ano. O Rio Grande do Norte foi escolhido porque as microalgas se reproduzem com mais intensidade em um ambiente com forte presença de sol e luz”, explica Noschang. Estima-se que existam nos oceanos cerca de três mil espécies de microalgas, mas a indústria de energia só realizou até hoje pesquisas com trezentas espécies. Hoje, os cientistas sabem que as microalgas também têm a capacidade de purificar a água: “Imagina o que isso significa para um setor que tem como resultado de produção tanta água imprópria quanto o petróleo? As microalgas terão a capacidade de filtrar e purificar a água da produção”, entusiasma-se Noschang, ressaltando que as microalgas têm também grande capacidade de seqüestrar carbono e que sua parte sólida, quando separada do óleo, é rica em proteínas e pode servir à nutrição humana e animal. O gerente de Gestão Tecnológica da PBio cita ainda outros caminhos inovadores de produção que a empresa pretende trilhar nos próximos anos, como a rota termoquímica, que uti-

liza a queima de biomassa e outros resíduos em um processo de refino para a produção de diesel e já tem uma planta-piloto de produção instalada em Fortaleza, no Ceará. Outros caminhos estudados pela empresa são a produção de gás de síntese (uma junção de gases para produzir combustível) e a reutilização de óleo de fritura. Outro projeto que, segundo Noschang, “já está pronto e maduro e depende só de preço de mercado” é o que envolve a produção do H-Bio, que é desenvolvido a partir de um processo de refino onde óleos vegetais são hidrogenados para se produzir diesel: “O H-Bio junta um percentual de óleo vegetal com um percentual de petróleo. No Cenpes, foi desenvolvido um processo onde você junta esse petróleo com óleo vegetal (pode ser de mamona ou de soja) e produz um diesel de altíssima qualidade. Isso já foi testado em cinco refinarias, o processo de produção já está maduro e falta somente estabelecer as janelas de produção nas refinarias para definir quando a produção vai acontecer”, diz.

STEFERSON FARIA

Microalgas no RN

Resíduos produtivos

O acesso a tantas novas tecnologias e plataformas de pesquisa já faz com que a Petrobras sonhe com a refinaria perfeita, que praticamente não deixaria resíduos: “Aquele conceito de biorefinaria começa a se concretizar, começa a fazer sentido. Nós temos uma gama de tecnologias e produtos que, sozinhos, podem até não se viabilizar economicamente. Mas, se reunidos, passam a valer a pena como negócio. A Petrobras tem trabalhado muito nesse conceito de integração de processos em que você tenha mais de um produto a partir de uma mesma matéria-prima. Nessa integração de processos, o que é resíduo de um processo passa a ser matéria-prima pra outro e essa coisa começa a fechar um ciclo. Então, a gente tem trabalhado muito para integrar processos e viabilizá-los comercialmente”, afirma Noschang. Entre as metas da Petrobras Biocombustível está atingir até 2014 a produção de 747 milhões de litros de biodiesel e de 2,6 bilhões de litros de etanol. Miguel Rossetto define o papel da empresa que preside: “A Petrobras sempre quer estar na vanguarda, e nosso papel na PBio é estabelecer metas para manter o Brasil na vanguarda. A gente vive hoje em termos de tecnologia para biocombustíveis o que o País viveu há 20 ou 30 anos naquele desafio das águas profundas. Nosso petróleo estava em águas profundas e nós tínhamos a necessidade de explorar. Daí, foi surgindo tecnologia de tudo quanto é lado. Os biocombustíveis são uma oportunidade de diversificação da matriz energética em todo o mundo, além de proporcionar geração de emprego e renda no campo.”

Gerente de Gestão Tecnológica da PBio, João Noschang defende a parceria com empresas estrangeiras, para que o Brasil se mantenha na vanguarda do desenvolvimento de biocombustíveis

15


especial biocombustíveis

Tecnologia e inclusão social

Durante a ditadura militar, quando se começou a produzir etanol no Brasil através do programa Pró-Álcool, a busca por biocombustíveis era associada aos grandes usineiros de cana-de-açúcar a ao agronegócio. Uma das maiores mudanças trazidas pelo governo de Lula nos últimos oito anos foi inverter, em parte, a lógica do setor ao incluir na cadeia de produção de biocombustíveis uma vertente social através da participação de agricultores familiares no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Quando lançado, o programa tinha como meta alcançar 5% de adição de biodiesel, produzido por pequenos agricultores a partir de plantas oleaginosas, ao diesel convencional (o chamado B5) até 2013. Em 2007, teve início a fase compulsória de adição de 2% de biodiesel (B2), com forte adesão da Petrobras. Em janeiro de 2008, começaram as etapas obrigatórias, passando pelo B3, pelo B4 e, já no início de 2010, chegando ao B5: “Conseguimos antecipar para 2010 aquilo que inicialmente estava previsto para 2013. O programa teve êxito no fortalecimento do biodiesel na matriz energética nacional”, avalia o Coordenador de Comunicação da Petrobras Biocombustível (PBio), Hélio Seidel.

16

INOVABCD | MARÇO 2011

A compra do biodiesel demandado pelo mercado junto aos agricultores familiares para a mistura do B5 é feita através de leilões trimestrais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que são divididos em duas etapas. Na primeira, a ANP coloca 80% da demanda projetada para o trimestre seguinte e só podem participar as empresas portadoras do Selo Combustível Social, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) como um mecanismo para garantir a inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Para obter o Selo Combustível Social, a empresa tem que destinar ao menos 30% de seus custos com o suprimento de matériasprimas para a produção de biodiesel à agricultura familiar (esse percentual varia por região). De acordo com o estabelecido no PNPB, as empresas que aderem aos esforços de fortalecimento da agricultura familiar têm direito a vantagens tributárias, o que estimula a sua participação. Mesmo com os esforços do governo federal, a perseguição ao objetivo da inclusão social plena através da cadeia produtiva do biodiesel precisa continuar. Apesar da preocupação maior com os agricultores familiares da Região Nordeste, na prática, em termos de suprimento para a produção de biodiesel, o que ainda predomina é o mercado da soja nas regiões Sul e Centro-Oeste do País: “Segundo os últimos dados, 80% da produção de biodiesel vem da soja. 13% é sebo bovino, depois vem o algodão com 3% ou 4%. As outras oleaginosas ficam abaixo de 1%. Essa é a realidade do mercado brasileiro”, diz Seidel.

Usinas do Semi-Árido

Para reverter esse quadro, o MDA e a PBio são aliados no objetivo de alcançar o máximo de produtividade nas três usinas de biodiesel inauguradas pela empresa entre abril e agosto de 2008. Todas localizadas no Semi-Árido brasileiro, as usinas de Quixadá (Ceará), Montes Claros (Minas Gerais) e Candeias (Bahia) agregam cerca de 65 mil agricultores familiares da região envolvidos na produção de oleaginosas em uma área de 148,7 mil hectares. Em menos de três anos de funcionamento, as usinas de Montes Claros e Quixadá atingiram uma capacidade de produção que hoje chega aos de 108,6 milhões de litros de biodiesel por ano em cada uma. Ambas praticamente dobraram sua capacidade inicial, que era de 57 milhões de litros de biodiesel por ano. Na usina de Candeias, que teve sua duplicação concluída pela PBio em 2010, o sucesso é ainda maior. Atualmente, a usina baiana produz 217,2 milhões de litros de biodiesel por ano, o que representa quatro vezes sua capacidade produtiva inicial. A empresa investiu R$ 66 milhões na duplicação da usina, que conta hoje como fornecedores com 27,5 mil agricultores familiares contratados nos estados da Bahia e de Sergipe. A cadeia produtiva no Semi-Árido, segundo a direção da PBio, ainda está se desenvolvendo. “No Semi-Árido a realidade é muito diferente da que se tem no Sul. A situação climática é muito difícil e temos a mamona e o girassol como as oleaginosas que se adaptam


AGÊNCIA PETROBRAS DE NOTÍCIAS

Refinaria de biocombustível da PBio em Quixadá, no estado do Ceará

bem à região de pouca chuva. Elas funcionam também como uma espécie de segurança financeira para o agricultor”, diz Seidel. O coordenador faz referência ao Programa de Suprimento Agrícola que faz parte do PNPB e oferece aos agricultores familiares assistência técnica e sementes certificadas, além de contratos de cinco anos que asseguram a compra da produção pelo preço estabelecido no Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), se este estiver acima do preço estabelecido pelo mercado no momento dos leilões. O principal desafio para a PBio e o governo continuam a ser aumentar a produtividade das oleaginosas no Semi-Árido e atrair mais compradores. “Ainda não há escala de produção para o biodiesel de mamona. Tem agricultor que produz somente 300 kg por hectare, enquanto os melhores produzem 1,2 mil kg. O ideal é equilibrar e chegar a uma média de mil quilos por hectare”, diz Seidel. Atualmente, o preço de mercado do óleo de mamona ou girassol é bem superior ao preço do óleo de soja, o que traz dificuldades para que se utilize a mamona e o girassol em larga escala para produzir biodiesel. “Com isso, nós não conseguimos usufruir a segunda parte do Selo Combustível Social, que é a questão do benefício tributário às empresas. A gente faz o programa, garante a participação em 80% do leilão, mas não consegue o benefício tributário”, lamenta Seidel. Para o presidente da Pbio, Miguel Rossetto, alguns ajustes deverão ser feitos nos próximos anos para que o objetivo da inclusão social nas áreas mais carentes do País

Em menos de três anos de funcionamento, as usinas de Montes Claros e Quixadá atingiram uma capacidade de produção que hoje chega aos de 108,6 milhões de litros de biodiesel por ano em cada uma. Ambas praticamente dobraram sua capacidade inicial, que era de 57 milhões de litros de biodiesel por ano.

seja atingido mais rapidamente. “É necessário aprofundar a relação da agricultura familiar com o PNPB e também ampliar os mecanismos para acelerar o desenvolvimento de regiões onde há maiores dificuldades de produção agrícola, como é o caso do Semi-Árido brasileiro”, diz.

Novos projetos

Além das três usinas pilares do PNPB, a PBio investe em projetos em outras partes do Brasil, como a aquisição de 50% de participação societária na usina de biodiesel da empresa BSBios, localizada em Marialva, no Paraná. A usina, onde a Petrobras não é operadora, foi inaugurada em maio do ano passado e já tem capacidade de produção de 127 milhões de litros de biodiesel por ano. Segundo a PBio, sete mil agricultores familiares paranaenses serão envolvidos no fornecimento de matéria-prima para a produção. Na região Norte, existem dois grandes projetos em curso. Um deles, o Projeto Biodiesel Pará, prevê a instalação de uma usina de biodiesel produzido a partir da palma de dendê com capacidade de produção de 120 milhões de litros por ano para abastecer o mercado local. Com investimentos estimados em R$ 330 milhões – sendo R$ 237 milhões na área agrícola e R$ 93 milhões na industrial – o projeto inclui a instalação de dois complexos industriais de extração do óleo, incluindo esmagadoras de sementes e uma unidade de cogeração de energia elétrica. A previsão é que a usina fique pronta em 2013 para começar a produzir em 2014.

Outro projeto é uma parceria com a empresa portuguesa Galp Energia com o objetivo de produzir biodiesel em Portugal visando o mercado ibérico. O investimento estimado é de um milhão de reais, metade dele destinado ao plantio e produção, também no Pará, de trezentas mil toneladas de óleo de palma de dendê por ano. A outra metade servirá à implantação de uma unidade industrial de biodiesel na cidade portuguesa de Sines, com previsão de entrada em operação em 2015. Miguel Rossetto garante que a parceria com a Galp é a “primeira de muitas” a ser realizada pela PBio no exterior. “Isso faz parte de uma estratégia da Petrobras para entrar no mercado de biocombustíveis europeu. Estamos atentos ao mercado internacional e avaliamos neste momento diversos projetos voltados ao mercado internacional”, afirma o presidente da empresa brasileira. Juntos, os dois projetos no Pará envolvem 75 mil hectares plantados com palma de dendê em áreas degradadas. “É bom que se frise nosso compromisso com a sustentabilidade ambiental, porque não faz sentido derrubar um palmo de mata na Amazônia”, diz Hélio Seidel. O projeto da usina própria envolverá 1.250 agricultores familiares, e o projeto em parceria com a Galp outros mil. Ambos os processos já estão na fase de plantio das mudas. Os projetos têm um viveiro para produzir um milhão de mudas e áreas de cultivo de 25 mil hectares (usina própria) e 50 mil hectares (parceria com a Galp).

MARÇO 2011 | INOVABCD

17


FOTOS: DIVULGAÇÃO

sustentabilidade

parque ecológico imigrantes

O projeto do Parque Ecológico Imigrantes, da fundação Kunito Miyasaka, em São Bernardo, coloca a conservação do meio ambiente em primeiro lugar Na página ao lado, ilustrações do projeto e fotos da fauna nativa

Muito mais que

Para os idealizadores do Parque Ecológico Imigrantes, a chave Claudia Mayara

mayara@abcdmaior.com.br

magine-se entrando no interior de um grande projeto arquitetônico. A expectativa é encontrar canteiro de obras, com operários, máquinas e material de construção. A ausência de tudo isto é o primeiro diferencial que salta aos olhos no projeto do Parque Ecológico Imigrantes: não existe devastação. Quem passa pelo quilômetro 34,5 da rodovia Imigrantes, em São Bernardo, nem sonha que, por detrás daquela mata fechada, funcionários e colaboradores da Fundação Kunito Miyasaka iniciam intervenções para a construção do empreendimento. O trabalho silencioso coloca a conservação do meio ambiente em primeiro lugar. A iniciativa idealiza 100% de acessibilidade e uma revolução no uso de tecnologias para o aproveitamento dos recursos naturais. Localizado no coração da Mata Atlântica, o parque de 484 mil m² está projeta-

18

INOVABCD | MARÇO 2011

do para que a obra, edificação e a gestão garantam a preservação do meio ambiente, até mesmo durante a instalação do projeto. A preocupação em não agredir o bioma local é tão arraigada na proposta que fez o parque ser o primeiro, e até o momento, o único do País a alcançar o selo Aqua (Alta Qualidade Ambiental), da Fundação Vanzolini, por atender 14 critérios de construção sustentável. “Chega a ser antagônico, pois é algo tão inovador que busca a preservação do antigo”, destacou o presidente da fundação japonesa, Antônio Rosa. Para preservar o meio ambiente, o parque será suspenso e construído a partir da utilização de estruturas de aço, material 100% reciclável. Uma passarela de 400 metros de extensão cortará a área usando poucos pontos de apoio no solo, para evitar a agressão ao terreno. Todas as edificações serão instaladas em cima dessa ponte, permitindo a máxima preservação da vegetação nativa. A passarela interligará três células, semelhantes a casinhas, que concentraram o auditório e as salas multiuso com biblioteca digital e centro de estudo e pesquisa.

“Iniciamos a sondagem da sapata dos pilares da ponte. A obra segue em ritmo lento, o que reduz os impactos”, declarou Rosa. Na parte inferior da passarela estão previstos dois carros suspensos com capacidade máxima de oito pessoas cada um. Os bondinhos irão percorrer 270 metros e serão destinados, principalmente, para idosos e pessoas com dificuldades de locomoção. A ponte também dará acesso aos elevadores panorâmicos hidráulicos, que levarão os visitantes a trilhas ecológicas. E, para garantir a acessibilidade ao local, haverá trilhas sensoriais, adaptadas as pessoas com necessidades especiais. “Prevemos um programa de monitoramento para visitação e sensibilização dos cadeirantes e das pessoas deficientes visuais ou auditivas”, revelou o empresário. O investimento para a construção do parque está cotado em R$ 16,6 milhões, o que inclui a construção e a manutenção do espaço por três anos. Para bancar o custo do projeto, a fundação japonesa busca o patrocínio de empresas privadas. “Faremos o parque de qualquer maneira. Se conseguirmos apoio, o projeto sai em


do sucesso está na sustentabilidade e acessibilidade dois anos, se não conseguirmos, vai demorar uns cinco anos”, enfatizou Rosa. Além do terreno, que já era da fundação, entre o estudo de fauna e flora do local e a realização do projeto arquitetônico, o grupo já investiu R$ 794 mil. A fundação organizou os patrocínios em dez cotas, sendo um patrocinador master, três patrocinadores e seis apoiadores. A diferença entre eles está nas contrapartidas oferecidas pelo grupo e o valor de investimento que cada um fará. Rosa ainda explicou que a fundação japonesa não está procurando investimento de governos, mas sim de indústrias, bancos e multinacionais. “Cerca de 30% do custo da obra será com aço, então queremos uma siderúrgica que possa transferir o material em troca do patrocínio. Na verdade se trata de uma troca de interesses”, revelou. O empresário também não descartou a possibilidade do parque entrar como compensação de créditos de carbono. “Não há dúvidas de que podemos entrar como compensação ambiental, uma vez que teremos viveiro de mudas nativas da Mata Atlântica e poderemos contribuir com o reflorestamento. Nossos pa-

trocinadores terão esse benefício”, garantiu. “Primeiro, fizemos todos os licenciamentos necessários, os estudos e projetos. Agora vamos negociar esses patrocínios”, comentou.

Sustentabilidade como desafio

Com pouca área para edificações, muitas leis para obedecer e o desafio de conectar dois pontos, separados por 400 metros, tocando poucos espaços no solo, o projeto arquitetônico do Parque Ecológico Imigrantes se mostrou um tremendo desafio, antes mesmo de criar forma. Ousadia, criatividade e inovação não faltaram à dupla de arquitetos e urbanistas da Gesto Ambiental, Newton Massafumi Yamato e Tânia Regina Parma, para transformar o projeto em uma espécie de showroom de sustentabilidade em edificações. Antônio Rosa, presidente da fundação japonesa: “chega a ser antagônico, pois é algo tão inovador que busca a preservação do antigo”

AMANDA PEROBELLI

um parque


FOTOS: DIVULGAÇÃO

O conforto visual, a gestão dos resíduos sólidos, a economia de água e energia, a inserção na Mata Atlântica e a escolha dos materiais duráveis e de baixo impacto ambiental, foram os pontos principais que garantiram o selo Aqua ao projeto

20

INOVABCD | MARÇO 2011

O projeto de construção das células ainda prevê que os telhados das unidades possuam duas coberturas, sendo uma para o sombreamento e a outra, mais recuada e de vidro, para a captação da água da chuva. O líquido captado cairá em tubos, será levado para uma cisterna, receberá um pré-filtro e será bombeado para uma torre de armazenamento. “Podemos separar a água em vários segmentos, como água potável ou de reuso”. Para água de reúso, os arquitetos planejaram aproveitar a mesma Estação de Tratamento de Esgoto usada pelo posto de combustível vizinho ao empreendimento. “Na estação há tanques que fazem a decantação do resíduo sanitário. Hoje temos filtros que conseguem tirar 99,99% das impurezas”, informou Yamato. A proposta é que tal processo de transformação, se confirmada à parceria entre as partes, seja transformado em algo didático e incorporado na visitação do parque. O projeto do parque também contempla um sistema próprio de processamento e reciclagem dos resíduos sólidos. A arquitetura das edificações servirá de suporte para a demonstração das tecnologias sustentáveis. “A idéia é que quem visitar o espaço saia diferente de quando chegou e pense que valeu à pena passar por aquele portal”, falou Yamato.

AMANDA PEROBELLI

Yamato disse que foram necessários vários ensaios de engenharia, arquitetura e muita tecnologia para que se pudesse projetar a passarela, principal estrutura do parque suspenso. “Precisávamos de algo que impactasse o mínimo possível a execução, a paisagem e a vida útil da construção”, informou. A escolha dos materiais também foi uma preocupação ambiental. “Além de ser reciclável e resistente, o aço nos permite montar ou até desmontar tudo na obra. Essa é uma peculiaridade do material que será quase todo parafusado”, afirmou. Antes de ter acesso à passarela, os visitantes passarão pelo portal de acesso ao parque, estrutura semelhante a um tubo metálico que servirá como uma espécie de ritual de passagem. “Simbolicamente, queremos que ao passar pelo edifício, os visitantes percebam a diferença do cenário e do clima, a diferença entre a cidade e a natureza”, explicou o arquiteto. Ao longo do piso da ponte, em espaços previamente selecionados, está prevista a implantação de nove espaços de vidros de um metro quadrado cada um, para que os visitantes possam visualizar os topos das vegetações ao atravessar o espaço. Yamato garantiu que o projeto é seguro, uma vez que a tecnologia de fabricação dos vidros está bem desenvolvida. “Vamos usar vidros resistentes, laminados e temperados com cerca de 20 milímetros de espessura”, revelou. As células, classificados pelo urbanista como unidades independentes, pequenas, isoladas, fáceis de reproduzir e não impactantes, também utilizaram o vidro como material nas paredes. Yamato apenas lembra que o excesso do material exigirá cuidados especiais para que as aves não se machuquem. “A ideia é colocar filmes nos vidros para que os pássaros percebam que ali não é uma passagem e sim uma transparência. Há ainda a possibilidade de colarmos figuras de predadores, como os gaviões”, argumentou.

Projeto certificado

O certificado Aqua (Alta Qualidade Ambiental), da Fundação Vanzolini, concedida ao projeto do Parque Ecológico Imigrantes, deverá facilitar o empreendimento a conseguir o respeito e a credibilidade das multinacionais, por se tratar de um selo de qualidade de referência internacional. “Além de a certificação brasileira estar no mesmo patamar dos demais selos mundiais, nós fomos buscar as informações na fonte francesa, o que por si só, serve de reconhecimento”, afirmou o professor Manuel Carlos Reis Martins, que também é coordenador executivo do processo Aqua. O Aqua fez adaptações para que os critérios, normas técnicas, regulamentos e parâmetros de desempenho fossem de acordo com as regras brasileiras. A ideia de se atestar a sustentabilidade das edificações veio quando o meio ambiente virou tema recorrente. “Percebemos que as pessoas poderiam dizer que fizeram algo sustentável, mas não havia como comprovar. Foi aí que surgiu a iniciativa”, explicou.

Newton Yamato, do escritório Gesto Ambiental: “precisávamos de algo que impactasse o mínimo possível a execução, a paisagem e a vida útil da construção”


Ambiente de estudos

Conscientizar a população e as gerações futuras, mostrando a necessidade de preservar o meio ambiente é o objetivo do Parque Ecológico Imigrantes. Assim, além das inovações no método construtivo e no projeto urbanístico, a intenção é que o espaço se torne um centro de estudos e pesquisa da flora e fauna da Mata Atlântica. A proposta é oferecer cursos e envolver a comunidade local, ambientalistas, além de alunos e professores das escolas do ABCD e Capital. “Digamos que a beleza do local servirá apenas para fisgar os visitantes. Queremos abordar questões profundas”, explicou o presidente da fundação japonesa, Antônio Rosa. A aprendizagem ambiental se dará pela observação, pesquisa, atividades dinâmicas e cursos que terão o suporte de profissionais e mídias digitais. “A plataforma digital que será montada em uma das células será propícia para se acessar os conteúdos, não apenas pessoalmente, mas de maneira remota. Por exemplo, as pessoas que estiverem no Japão, também poderão ter acesso as pesquisas e estudos do parque”, revelou. Além das plataformas de multimídia para monitoramento remoto, também estão previstas a produção de conteúdo audiovisual em tempo real para o aprendizado virtual, além de cursos e atividades audiovisuais de Vivências Ecodigitais, incluindo a Web 2.0, games, ambientes de aprendizados 3D, celulares e parcerias com redes de universidades e centros de pesquisas voltadas para o uso de novas mídias, ecoturismo e monitoramento do meio ambiente. Nesse mesmo sentido, os sistemas de aproveitamento dos recursos naturais, que integram o planejamento da construção, como captação de energia solar, ventilação, reaproveitamento da água

da chuva e tratamento do esgoto, também farão parte do processo educacional do parque escola. “A ideia é que a própria estrutura do empreendimento seja transformada em um processo didático que seja incorporado a visitação”, comentou um dos arquitetos e urbanistas do projeto, Newton Massafumi Yamato. Entre os cursos previstos estão o de Museologia, onde será feito um mapeamento da evolução histórica da fauna e flora da região até os dias atuais. E o de formação de Vivências com a Natureza, de acordo com o método Sharing Nature (em português Compartilhando a Natureza), um dos mais avançados e reconhecidos internacionalmente como referência em educação ao ar livre. “Nosso objetivo é prestar uma enorme contribuição para a população. Tudo será aberto para todos e gratuito”, afirmou Rosa. O acesso ao parque será gratuito, mas o número de visitantes por dia será controlado. “O passeio será programado para que o espaço não sofra impacto. Para não gerar tumulto, haverá uma limitação de 300 pessoas por período, sendo que ficaremos abertos de manhã e a tarde”, esclareceu Rosa.

Manuel Martins, da Fundação Vanzolini, diz que a legislação ambiental brasileira está em um bom nível, mas os projetos com o selo Aqua devem ser ainda melhores

AMANDA PEROBELLI

Os programas, projetos e obras são avaliados por meio de critérios que levam em consideração o aproveitamento das características e restrições do local. “È preciso que a construção nasça sustentável e haja equilíbrio entre meio ambiente, conforto e saúde”, destacou Martins. Das três fases de certificações de desenvolvimento do empreendimento, o Parque Ecológico Imigrantes possui apenas a primeira etapa que é a do programa. Ainda faltam as fases de concepção, onde são avaliados todos os projetos da obra, e a de realização, quando a construção é entregue. “Conceitualmente, falamos que o Aqua é muito fácil, pois o empreendedor se programa para ser sustentável, projeta de acordo com o que programou e constrói de acordo com o que projetou”, enfatiza Martins. O conforto visual, a gestão dos resíduos sólidos, a economia de água e energia elétrica, a inserção na Mata Atlântica junto à rodovia dos Imigrantes e a escolha dos materiais duráveis e de baixo impacto ambiental, para realização da obra, foram os pontos principais que garantiram o selo de sustentabilidade ao parque do ABCD. “Não podemos esquecer a estratégia ambiental no desenvolvimento cultural e social de modo inclusivo que garantirá a total integração com o meio ambiente”, destacou o professor. Apesar de ser opcional, a Fundação Vanzolini trabalha para que o Aqua ganhe no Brasil, a mesma força e parceria governamental e empresarial que o selo possui na França. “Esperamos que os projetos Aqua consigam aprovação mais facilitada nas prefeituras ou de financiamentos com melhores condições nos bancos e seguradoras”, comentou. Apesar disso, o professor descarta a possibilidade do selo virar obrigatório. “A legislação está em um nível bom, mas nossa filosofia prega que os projetos Aqua sejam ainda melhores. O Aqua vai além do obrigatório”, finalizou Martins.


mercado

polo de cosméticos

Clébio Cavagnolle Cantares clebio@abcdmaior.com.br

a fórmula da beleza Empresa do Polo de Cosméticos de Diadema inova em produtos para mercado de cosméticos não pára de se desenvolver, inclusive, na evolução de fórmulas, gerando produtos mais modernos e eficazes. Prova disso é o novo lifting para tratamento da pele envelhecida produzido pela Valmari Dermocosméticos, do Polo de Cosméticos de Diadema. O produto conta com células-tronco de maçã suíça, e segundo o diretor Institucional e fundador da empresa, Silvestre Resende, atua no preenchimento das rugas, esticando a pele de forma natural. “É uma grande inovação, pois o efeito é rápido e o tratamento muito simples, apenas com uso de cremes.” A empresa destaca-se também pelas pesquisas com nanotecnologia e vislumbra o lançamento de produtos de alta performance. Com investimentos pesados e constantes em pesquisas, a Valmari apóia diretamente o Centro de Estudos de Cosmetologia Aplicada (Ceca), com sede em São Paulo, que atua formando técnicos na área. “Nossa contribuição está ligada à formação de professores que multiplicarão esses processos a profissionais do segmento”, explica o executivo. A companhia destaca-se ainda pelo pioneirismo em dermocosméticos, ou seja, em produtos específicos para diferentes tipos de pele, como sabonetes e cremes para peles oleosas, secas, mistas, etc. “Fomos os primeiros a aplicar o protetor solar aos hidratantes, já pensando na prevenção de doenças e em retardar o envelhecimento, fruto de muita pesquisa desde que começamos no mercado, há quase 30 anos”, observa o empresário. Resende afirma que toda essa tecnologia é fruto de um mercado crescente e cheio de oportunidades, mas que precisa de maior união. “O público, formado especialmente por mulheres, hoje detentoras do dinheiro, é muito exigente. Precisamos desenvolver cada vez mais esse segmento”, avalia o

22

INOVABCD | MARÇO 2011

fundador da Valmari, para quem o Polo de Cosméticos de Diadema vem se transformando em uma grande vitrine. “O Polo fez com que a cidade saísse das páginas policiais e ganhasse destaque nas de economia. É uma ferramenta de grande importância para desenvolver o setor. Precisamos atuar de forma conjunta para isso. Com o grande crescimento que obtivemos em 2010, cada empresário ficou muito focado em seu próprio negócio, não dando a atenção devida ao Polo”, enfatiza.

Apoio do município Não é em vão que a Prefeitura de Diadema está focada em apoiar ainda mais o Polo. Segundo o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal do ABC e ex-secretário de desenvolvimento Econômico e Trabalho do município, Luis Paulo Bresciani, a Administração pretende “manter a chama do grupo de empresas cada vez mais acesa”. Para ele, a ideia é aglutinar as empresas e trabalhar em ações conjuntas com o Governo Federal, como por exemplo um calendário de eventos e ações que evidenciem e permitam o desenvolvimento do setor. A associação, prestes a completar o oitavo ano de atividades, reúne mais de 70 empresas e vislumbra 2011 como o ano de negócios internacionais. Para o presidente do Polo, René Lopes Pedro, proprietário da Indústria Brasileira de Aerossóis, o objetivo é claro: exportar. “Os últimos anos foram de preparo para esse momento. Será um ano de reflexão e realinhamento para nós. Em conjunto com a Prefeitura, queremos reorganizar nossa visão, com foco em um salto das empresas para o mercado internacional”, enfatiza o executivo. Segundo René, o Polo já preparou terreno para essa expansão. “Participamos de feiras internacionais, embora estivéssemos bem focados no mercado interno. Agora, queremos ver um grande crescimento de


tratamento da pele negócios internacionais, mesmo para as pequenas empresas que fazem parte de nosso conjunto”, detalha o presidente. Entre os projetos para alavancar o crescimento, o executivo prevê para o segundo semestre uma grande feira regional, capaz de atrair investidores nacionais e internacionais. O Polo de Cosméticos de Diadema representa 10% de todas as indústrias do setor no País, correspondendo a mais de oito mil empregos diretos e cerca de três mil indiretos. Em 2010, o conjunto de empresas registrou crescimento de 15% a 17%. Entre os fabricantes de cosméticos integrantes do Polo estão, além da Valmari, Davene, Micro Ervas, Planta Brasilis, St. Moritz e Eco Cosméticos. O conjunto agrega também produtores de acessórios, distribuidores, embalagens, fabricantes de aerosol, insumos para laboratórios, máquinas e equipamentos, além de matérias primas.

Se depender do consumidor, as expectativas do Polo serão superadas. Os brasileiros, cada vez mais preocupados com a aparência, elevaram o Brasil à posição de terceiro país que mais produz cosméticos em todo o mundo. Com o aquecimento do mercado nacional e a ascensão da nova classe C, as expectativas de crescimento são otimistas, e segundo pesquisa realizada pela MITI Inteligência, o setor promete movimentar mais de 29 bilhões de reais até 2012. Nessa linha de frente estão as mulheres, que além de formarem boa parte da chamada nova classe média, forte em consumo de cosméticos, ainda atuam como mobilizadoras de vendas porta-a-porta, principal forma de comercialização das empresas nacionais de cosméticos.

FOTOS: AMANDA PEROBELLI

Mercado promissor

A Valmari, do Polo de Cosméticos de Diadema, destacase pelas pesquisas com nanotecnologia e vislumbra lançar produtos de alta performance


investimentos

centro de P&D

áreas de risco terão fotos: Andris Bovo

Projeto será concebido pelo Centro de Pesquisa e D

Felipe Rodrigues

felipe@abcdmaior.com.br

indústria de defesa Saab e a Universidade de Lin­ köping, ambas suecas, anunciaram a implantação de sistema de monitoramento tridimensional em São Bernardo. O principal objetivo do sistema é identificar áreas de risco e instabilidades em terrenos. Além da ferramenta de gestão urbana, o projeto sueco prevê também o monitoramento da represa Billings para detecção da qualidade da água. A intenção é melhorar o aproveitamento dos recursos hídricos do reservatório, que banha seis das sete cidades da Região do ABCD. De acordo com os executivos da Saab, o projeto começa a ser realizado a partir de maio deste ano. A instalação dos sensores está prevista para 2012 e os primeiros resultados devem ser apurados em 2013.

24

INOVABCD | MARÇO 2011

Os sistemas serão desenvolvidos pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Aeroespacial que a Saab vai construir em São Bernardo e que deve ser inaugurado no dia 5 de maio. Neste Centro serão investidos R$ 50 milhões ao longo dos próximos cinco anos. O diretor de Desenvolvimento de Negócios e Cooperações Industriais da Saab, Magnus Ahlström, afirmou que a empresa deverá investir R$ 2 milhões para a manutenção do espaço, pagamentos de funcionários, entre outros gastos, apenas no primeiro ano de funcionamento do centro. “Neste primeiro ano a Saab vai arcar com os gastos. Nos próximos os parceiros devem começar a contribuir”, afirmou. De acordo com o diretor, a possibilidade de trabalhar em conjunto com o poder público de São Bernardo vai possibilitar uma excelente troca de experiência entre suecos e brasileiros. “Nosso objetivo é poder transferir as tecnologias suecas para São Bernardo. Acredito que será uma forma também de testar nossos sensores em

adversidades diversas, na represa Billings e também na cidade”, disse. Ahlström revelou também que os investimentos para a realização dos primeiros projetos previstos para a unidade de pesquisa sueca-brasileira, possivelmente, chegarão à marca dos R$500 mil. “Nos próximos dois meses, professores e técnicos de Linköping e São Bernardo deverão trabalhar pela cidade para colher dados e começar os primeiros testes”, afirmou. Para o executivo da empresa sueca e diretor do Centro de Pesquisas, a chance de trabalhar em parceria com São Bernardo é sem dúvida uma excelente oportunidade. “Os dois países possuem uma ligação muito forte há muito tempo e acredito que o desenvolvimento de diversos projetos irá possibilitar o crescimento mútuo em vários setores”, finalizou.


monitoramento em 3D esenvolvimento da indústria de defesa sueca Saab

Sentados, da esquerda para a direita, o secretário-adjunto de Desenvolvimento e Turismo de São Bernardo, Ronaldo Tadeu, a secretária de Relações Internacionais da cidade alemã Linkoping, Kerstin Reinstad, e o diretor de Desenvolvimento de Negócios e Cooperações Industriais da Saab, Magnus Ahlström

Fibras de Carbono

Entre os projetos previstos, o Centro de P&D da Saab articula o desenvolvimento de fibras de carbono voltadas para a mecânica pesada. Quatro instituições, duas suecas e duas brasileiras, deverão trabalhar em conjunto para formatar e executar as primeiras fases do programa. A duração do projeto é estimada em, aproximadamente, três anos e meio. Outro projeto que poderá ser desenvolvido pelo Centro é o dos veículos aéreos não tripulados. O objetivo é instalar câmeras no veículo, tornando possível o rastreamento do gado em fazendas e o monitoramento para a segurança em eventos públicos, quando realizados em locais abertos e de grandes dimensões. O valor estimado para a realização e execução do projeto pode chegar até a R$ 683 mil. O tempo mínimo para realização do programa varia entre três ou cinco anos. Já o projeto de engenharia colaborativa terá como foco a atuação nos setores de mecatrônica móvel e eletro hidráulico. O objetivo é identificar problemas técnicos em atividades petrolíferas, em esgotos e redes de transmissão

elétrica. O programa também atuaria no desenvolvimento do desenho de veículos não tripulados. Volvo, Atlascopco e a Vale do Rio Doce estariam, segundo o executivo da Saab, entre as empresas interessadas em trabalhar para o desenvolvimento do projeto. O investimento é estimado em aproximadamente R$ 455 mil. A duração pode variar entre três e cinco anos.

Expectativas

O secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico e Turismo do município, Ronaldo Tadeu, alimenta grande expectativa no desenvolvimento do projeto de veículos aéreos não tripulados. “Esse projeto se aplica perfeitamente à cidade. Acredito que temos empresas qualificadas para atuar na produção desse produto e com a parceria com os suecos certamente pode dar certo”, ponderou. Para a vice-reitora de extensão e atividade comunitária do Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Rivana Basso Fabbri Marino, os projetos certamente irão fomentar o desenvolvimento tecnológico de São Bernardo. “Tenho certeza de que se o

Centro procurar mão de obra na Região, certamente encontrará excelentes profissionais formados em nossas universidades”, pontuou. Outro resultado imediato da instalação da unidade de pesquisa em São Bernardo é apontado pelo reitor da UFABC (Universidade Federal do ABC), Helio Waldman. Segundo ele, o início das atividades deste Centro significará a consolidação dos cursos de engenharia aeroespacial dentro da universidade. “Nossa expectativa é de que nossos alunos, em breve, também possam fazer parte do quadro de engenheiros pesquisadores do Centro”, afirmou à INOVABCD.

Histórico

O presidente da empresa sueca, Hakan Buskhe, e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) anunciaram, no final de setembro, a criação do Centro de Pesquisa aeroespacial no município. Segundo Buskhe, a criação do centro de pesquisa independe do resultado da licitação F-X2, disputada pela Saab, pela Dassault francesa e pela Boeing americana.

MARÇO 2011 | INOVABCD

25


INTERNACIONAL | flávio Aguiar

Escritor e correspondente internacional em Berlim

china: um novo A Europa já é o maior parceiro comercial da a economia chinesa tornou-se a segunda A China não está satisfeita apenas em ser o escoadouro para produção alheia. Sua presença está crescendo em escala global.”

26

INOVABCD | MARÇO 2011

ma esfinge: essa é a imagem que a China, hoje, mais projeta no mundo. Afinal, será ela uma forma de capitalismo de estado? Ou de comunismo de mercado? Mas de qualquer lado que se olhe para seu enigma, ela parece dizer: decifrando-me ou não, eu vou te devorar... Pelo menos esse é o pesadelo dos economistas ortodoxos, cuja ortodoxia não consegue dar conta da esfinge chinesa. É preciso reconhecer que a China tem algo em comum com a América Latina, sobretudo, com a América do Sul, apesar das diferenças de tamanho e de culturas. O que acontece hoje nestes continentes não estava previsto nos manuais – nem nos do FMI, nem nos do marxismo dos séculos XIX e XX. É claro que tanto as análises pela direita quanto aquelas pela esquerda podem nos ajudar a entender a situação. Mas elas nos ajudam a entender também a relativa perplexidade que toma conta dos analistas ao focalizarem as economias emergentes nesses continentes – e também a democratização emergente na América Latina, o que nos põe, no plano político, numa posição um pouco mais vantajosa do que a chinesa. Vista da Europa, a China aparece numa variedade de discursos, ora como uma tábua de salvação em meio à tempestade, ora como a própria tempestade que tudo ameaça varrer sobre a face da Terra. Já se cantou em prosa e verso que a Alemanha está conseguindo fazer sua economia emergir do dilúvio continental gerado pela crise financeira de 2007/2008 e do gigantismo das dívidas públicas nacionais (ironicamente chamadas de “soberanas”), em grande parte, graças à China. A Alemanha apostou numa solução ortodoxa receitada pelo FMI para si mesma e para a Europa como um todo. Isso se traduz em compressão salarial para trabalhadores e “ajuste fiscal”, eufemismo para cortes em programas sociais, apo-

sentadorias, pensões e outros “gastos públicos”. A lógica dessa filosofia é que isso aumenta o poder aquisitivo global da população, aumentando o nível de emprego e impedindo um processo inflacionário veloz e corrosivo. Mas para que o paciente sobreviva enquanto pisam no tubo de ar que o mantém precariamente vivo, é necessário algo – uma injeção de adrenalina – para que o seu organismo não entre em parafuso (medicamente posso ser um fracasso, mas a imagem é elucidativa). No caso da Alemanha, essa injeção veio da China. Segundo o artigo “China cultivates Taste for German Cars”, de Vanessa Fuhrmans (The Wall Street Journal, 19/08/2010), naquele momento a exportação de maquinário da Alemanha para a China representava 10,2% do total, enquanto a para os EUA ficavam em 7,2%. Mas os números de crescimento mais espetaculares ficavam para as montadoras, cuja exportação cresceria em 2010, conforme a empresa, de 63 % a 132%. Os números totais absolutos ainda são modestos, mas as exportações da Alemanha para a China já são 5% do total – o que mostra um potencial de crescimento não desprezível. Por outro lado, os analistas apontam que isso pode se transformar numa armadilha, com o crescimento da importação chinesa de outros países e com o aumento da sua própria produção. O certo, no entanto, é que sem essa “injeção” a economia alemã, a mais poderosa da Europa, teria dificuldades maiores para enfrentar a crise. O gigante também navega – A China, por sua vez, não está satisfeita apenas em ser o escoadouro para produção alheia. Sua presença está crescendo em escala global – desde em investimentos em infra-estrutura na África, a outros na América Latina. A China tem investimentos em infra-estrutura portuária no Brasil e agora está envolvida na formulação de um ambicioso projeto para construir uma ferrovia entre a costa do Pacífico e a do Atlântico através da Colômbia, numa concorrência ao canal do Panamá.


cavalo de troia? China, batendo os EUA; e, no final de 2010, economia mundial, superando a do Japão Os dirigentes chineses olham a Europa como um mercado potencial de grande valor para seus próprios produtos. Também atuam num momento em que os países do continente europeu estão em crise de capital e financiamento. E a China então joga pesado também no mercado financeiro e na infraestrutura européia. Há várias fontes que comentam o aporte e a chegada dos chineses na Europa, concentrando-se em diferentes aspectos. Por exemplo, os chineses vêm investindo, ainda numa escala reduzida, mas promissora, em comprar letras do tesouro de países endividados, num momento em que essas letras são “punidas” por juros mais altos dos credores tradicionais. Foi o caso da Espanha, em que a China comprou 625 milhões de dólares em títulos do débito público. O montante não é espetacular; mas de novo aponta para onde vai andar a carruagem. Também mostra, com que isso, que a China está disposta literalmente a pagar para diminuir a pressão de outros países pela valorização de sua moeda, o yuan (oficialmente o renminbi). E a China tem 2,3 trilhões de dólares em reservas internacionais. A Europa já é o maior parceiro comercial da China, batendo os Estados Unidos; e a economia chinesa, no apagar das luzes de 2010 e no acender das de 2011, tornou-se a segunda mundial, superando a do Japão. A companhia estatal chinesa Cosco arrendou o porto grego do Pireu, dentro de uma operação que injetou 5 bilhões de dólares na combalida economia grega. Numa dessas operações a China constituiu uma linha de crédito para a Grécia comprar... navios de fabricação chinesa. No Pireu, a Cosco pretende elevar as importações para 3,7 milhões de conteiners em 2015. Conteiners carregados com o quê? Produtos chineses, daqueles que tiram o sono dos economistas, dos empresários, dos governantes. Investimentos semelhantes estão sendo feitos ou planejados na Itália, na Irlanda, na Espanha e na Hungria.

Porto grego do Pireu, antes do arrendamento pela companhia estatal chinesa Cosco

Na Irlanda os chineses pretendem abrir uma autêntica “zona manufatureira” para produzir mercadorias dentro das linhas demarcatórias da U. E., o que significaria tarifas e custos menores em termos de transporte, por exemplo. E na estremecida Irlanda isso poderia gerar até 10 mil novos postos de trabalho, que, ao contrário do que aconteceu muitas vezes na África, não seriam ocupados por chineses. Para o antigo leste europeu estão reservados investimentos no setor de infra-estrutura e rodovias, ligando os países da região à Alemanha e à Turquia. Há até um projeto de limpeza do rio Danúbio, ainda atulhado por destroços que remontam às batalhas da Segunda Guerra

Mundial, prejudicando a navegação. Os temores são enormes. Quase toda a semana, lê-se pelo menos um artigo na imprensa alertando sobre esse novo “perigo oriental” (não se pode mais escrever “amarelo”, como no passado; agora o preconceito é cultural e geográfico). Mas há quem duvide de tanto alvoroço. Haris Pamboukis, espécie de ministro Casa Civil na Grécia, declarou ao New York Times enfaticamente: “eu não penso que a China esteja vindo para cá como um Cavalo de Tróia”. Além da declaração ser ironicamente adequada à Grécia, eu confesso que de minha parte não teria tanta certeza assim.

MARÇO 2011 | INOVABCD

27


diversificação

FOTOS: AMANDA PEROBELLI

case

Uma das maiores fabricantes do setor de higiene e limpeza, Niceia Climaco

nicéia@abcdmaior.com.br

m breve, os consumidores atentos às novidades no setor de higiene e limpeza poderão contar com mais uma opção nas gôndolas de supermercado. Uma das marcas mais famosas de esponja de aço no Brasil, a Bombril planeja entrar em um setor onde ainda não atua: cera para assoalhos. Nesse mercado, a empresa vai disputar ao lado de marcas fortes e globais como Reckitt Benckiser, fabricante da cera Poliflor e da Johnson, que produz a Bravo. O lançamento pode acontecer ainda este ano, já que a meta da Bombril para 2011 é alcançar uma linha com 540 produtos, de acordo com diretor de Marketing, Marcos Scaldelai. Para isso será necessário entrar em categorias de produtos em que a empresa ainda não está presente. Dentro dessa diversificação também estão nos planos ceras para sapatos. No período de três anos, as perspectivas da Bombril são as de dobrar o tamanho da linha no segmento de higiene e limpeza e ampliar a participação no mercado. Em 2010, a companhia começou o ano com 300 itens e fechou com 405, o que inclui uma das recentes inovações lançadas pela empresa: a nova linha Ecobril, com o desenvolvimento de 24 produtos ecológicos, naturais, concentrados, de fontes renováveis e com ativos biodegradáveis. São limpadores, detergentes, amaciantes, lava-roupas, sapólios e pastilhas para ralo.

28

INOVABCD | MARÇO 2011

Para Scaldelai, a Bombril se considera uma marca inovadora e para atuar em determinado mercado procura conversar com o consumidor e capturar tendências. Foi assim com os produtos ‘eco’, que contemplam uma linha completa de solução de limpeza. “Já vínhamos percebendo a demanda, mas entramos no mercado de uma forma diferente da concorrência”, explica. E em um quesito fundamental para o consumidor: o preço. A empresa lançou os produtos com valores nos mesmos patamares de produtos tradicionais. Dentro da categoria de sabão em pó, por exemplo, o OMO, fabricado pela Unilever, é um dos mais caros e nos supermercados a caixa de um quilo custa entre R$ 4,99 e R$ 5,99.

Os produtos Eco lançados pela Bombril mantêm a mesma faixa de preço da categoria

O sabão em pó Ecobril ficou dentro dessa margem. A busca por informações sobre o poder de compra do consumidor também teve o objetivo de disseminar a linha para todas as classes sociais. “E não somente para as A e B, que são as mais antenadas aos produtos ecológicos”, diz. Dentro da nova linha, a Bombril avançou na performance dos produtos ‘eco’ com o desenvolvimento de itens concentrados com maior rendimento, economia de embalagem, água, energia e transporte. A embalagem também fez parte de um composto de medidas inovadoras, defende Scaldelai. Os produtos Ecobril são acondicionados em refis econômicos, que permitem a reutilização. Dentro da linha de produtos ‘eco’, a Bombril disputa o mercado com grandes companhias, entre as quais, Unilever e Procter e Gamble. Como opção para a preservação do planeta, a Unilever também lançou no ano passado sabões líquidos para roupas como o OMO líquido. Segundo estudos da empresa, a utilização do produto prevê um consumo menor de água, embalagens e transporte na produção. A Unilever adotou a prática da logística reversa, recolhendo os produtos danificados, avariados e vencidos dos pontos de venda. As embalagens são encaminhadas para a reciclagem. A Procter & Gamble, fabricante do sabão em pó Ariel anunciou planos de usar plástico feito a partir de fonte renovável, derivado da cana-de-açúcar, em algumas embalagens de suas marcas.


AMANDA PEROBELLI

Para entrar no segmento de produtos de limpeza ecológicos, a Bombril investiu R$ 7 milhões. Sua nova linha já representa 5% do faturamento e os planos são os de ampliar essa fatia de mercado

Inovar e diversificar: saída para a crise a Bombril busca novos mercados e aposta na linha ecológica Consumidor consciente - O executivo da Bombril afirma que a empresa tem como característica trazer inovação para os seus lançamentos e a entrada nesse novo nicho de mercado representa um passo que não terá mais volta. “A questão do meio ambiente está presente em todas as discussões dos tempos atuais, e em reação a este novo cenário surge um novo grupo de consumidores, preocupados, sobretudo com saúde, bem-estar e meio ambiente. Este consumidor é influenciado cada vez mais por produtos que possuem apelo ecológico”, avalia. Para entrar nesse segmento, a companhia desenvolveu estudos em pesquisa e desenvolvimento durante três anos e investiu R$ 7 milhões. A nova linha representa 5% do faturamento e os planos são os de ampliar essa fatia de mercado. A aposta está relacionada não só às tendências globais de sustentabilidade, mas também a surpreendente demanda encontrada pela empresa na área de produtos ecológicos. A previsão inicial era lançar a série de produtos apenas para o mercado no Estado de São Paulo e, em menor escala, no Rio de Janeiro. Mas, em função da grande demanda, a Bombril decidiu ampliar o leque de itens ecológicos para o mercado nacional. Desde novembro de 2010, a linha conquistou espaço nas prateleiras de diversos pontos em todo o País. “Os clientes abriram as portas porque também encontraram uma oportunidade de ter na sua loja um espaço para produtos ecológicos”, comentou o executivo.

No quesito inovação, a Bombril criou no ano passado uma campanha publicitária inusitada. Com apelo ecológico, a empresa atacou o seu próprio portfólio defendendo o carro-chefe das vendas, as esponjas de aço Bom Bril como produto ecológico contra as conhecidas esponjas de cozinha dupla face, item que também faz parte da sua linha de produtos. “Defendemos a esponja de aço, mas fabricamos a esponja de espuma porque há mercado, então deixamos para o consumidor decidir”, explica Sacaldelai. A Bombril possui três complexos industriais: em São Bernardo, Abreu e Lima (PE) e Sete Lagoas (MG), emprega 2,7 mil funcionários e produz 250 mil toneladas de produtos por ano.

O diretor de Marketing da Bombril, Marcos Scaldelai, afirma que o consumidor consciente força a indústria a buscar inovações no campo da sustentabilidade


case

construção

Joana Horta

joana@abcdmaior.com.br

Da esquerda para direita: o empreendedor André Gaspar e o coordenador de projetos e de P&D, Rafael Almeida. A maquete digital e o software de desenvolvimento: investimento em eficiência.

construi

Partindo do zero, a Comfort House já conseguiu financiamentos a idealização à realidade, uma inovação passa por um longo processo de trabalho. O empreendedor André Gaspar, que desenvolve o sistema Comfort House System, conhece essa realidade e hoje colhe os frutos de sua empreitada: R$ 1 milhão de reais em recursos para o desenvolvimento de projetos de casas populares que não utilizam tijolos e podem ser construídas em dez dias. Em fase de certificação, o sistema promete uma revolução na construção civil tradicional. Com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Gaspar desenvolveu um projeto que poupa esforços dos trabalhadores da construção civil. De pedreiros, eles passam a montadores. E as casas começam a ser levantadas em três dias e finalizadas em até dez dias. A qualidade do produto final também é diferencial: enquanto a maioria dos projetos de casas populares entrega imóveis no cimento, o acabamento interno das casas Comfort House é todo em gesso. Mas a maior inovação está na matéria prima. Não há tijolos, nem betoneiras com cimento para dar liga. O sistema utiliza placas de isopor com densidade medida e estruturas metálicas para sustentação. As placas são montadas formando a estrutura da construção e, para finalizá-la, imprimese pelo lado externo um jato de concreto

30

INOVABCD | MARÇO 2011

aparente e pelo lado interno o gesso. Casa pronta, chave em mãos! A inspiração para o projeto veio do Caribe. Em viagens à Cuba e ao Equador, Gaspar conheceu novas tecnologias de construção, com sistemas acústicos, térmicos e estruturais diferenciados, para suportar as adversidades climáticas da Região, como terremotos e furações. Envolvido no ramo de construção há duas décadas, o empreendedor percebeu que poderia transformar a realidade da construção civil no Brasil, adotando tecnologias e desenvolvendo novas metodologias construtivas. O desafio começou no momento de montar um negócio próprio, que viabilizasse as ideias. O apoio necessário para os primeiros passos partiu da Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas, que mantém a incubadora Ciatec. “Apresentei meu projeto e consegui uma vaga na incubadora. Aqui, além do contato com outros pesquisadores, mais experientes na área de projetos, tive acesso a informações, como editais e subvenções, e à formação”, revela Gaspar. O Ciatec fornece acesso à infra-estrutura, sistema de comunicação e treinamentos. Nos primeiros seis meses de incubação não há taxas de hospedagem e no segundo semestre paga-se a metade da taxa base. As empresas podem ficar hospedadas por três anos, com possibilidade de renovação. “Na fase inicial, tínhamos um capital pequeno e precisávamos de orientação. E o Ciatec tem convênio com o Serviço Brasileiro de

Na fase inicial, tínhamos um capital pequeno e precisávamos de orientação. E o Ciatec tem convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena empresa (Sebrae), que disponibiliza treinamentos dentro da própria estrutura da incubadora. Ou seja, você não precisa nem sair da sua sede para receber formação de primeira” André Gaspar, empresário


DIVULGAÇÃO

ndo inovação

da ordem de R$ 1 milhão para projetos de casas populares Apoio à Micro e Pequena empresa (Sebrae), que disponibiliza treinamentos dentro da própria estrutura da incubadora. Ou seja, você não precisa nem sair da sua sede para receber formação de primeira”, exalta o empreendedor. Entre os benefícios oferecidos pelo Sebrae estão orientação e financiamento para processos de registro de marca, patente, apoio jurídico e noções de gestão.

Em busca do financiamento

Nos primeiros seis meses, a Comfort House se estabeleceu como empresa e Gaspar começou a desenvolver um projeto que justificasse o aporte de verbas do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Finep. “Eu nunca tinha escrito um projeto na minha vida e essa foi a pior parte, mas foi muito reveladora. Fiz um levantamento da demanda para construção de casas populares e descobri que apenas na região de Campinas há um déficit habitacional de 110 mil residências.” O primeiro projeto submetido à Finep foi rejeitado e mais uma vez o Sebrae entrou em cena. “Em 2007 não deu certo. Quase desisti. Foram meses sem receita e muitos gastos. Mostrei o projeto pros consultores do Sebrae que me disseram que a ideia estava correta, mas faltava aplicar uma linguagem mais acadêmica. Então comecei de novo”, revela o empresário.

Mais uma vez, o projeto foi submetido à Finep, pela linha Subvenção Econômica à Inovação, que tem como objetivo apoiar por meio da concessão de recursos não-reembolsáveis, o desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores, visando ao desenvolvimento das áreas consideradas estratégicas nas políticas públicas federais. Enquanto aguardava o resultado da licitação, o governo federal lançou um novo programa, o Primeira Empresa Inovadora (Prime), que entrou em operação no início de 2009. O objetivo é criar condições financeiras para que empresas nascentes, de alto valor agregado, possam consolidar com sucesso a fase inicial de desenvolvimento dos seus empreendimentos. “Fomos as cobaias do projeto. Entramos no primeiro grupo e conseguimos um aporte de cerca de R$ 200 mil, para estruturarmos nossa empresa.” Meses depois do anúncio do Prime, a Subvenção Econômica à Inovação também apresentou laudo favorável ao projeto Comfort House System, anunciando o aporte de mais de R$ 800 mil. “Foi uma euforia. Passamos de caixa zero para quase milionários”, comemora. “Agora que eu aprendi a escrever projetos, tenho certeza que terei muitas portas abertas. O segredo está no foco e no alinhamento com as necessidades do País. O meu foco hoje é inovação tecnológica pra a construção civil. Mas quero explorar as diversas vertentes possíveis.”

Investimentos Com dinheiro em caixa, o projeto tomou fôlego e começou a alcançar a realidade. O arquiteto Rafael Almeida, contratado com o aporte da Finep e hoje coordenador de projetos, pesquisa e desenvolvimento (P&D) reconhece a importância dos projetos federais. “Minha contratação é fruto da subvenção, que além de novos projetos gera emprego e renda.” Além de investir em equipe e formação, a Comfort House investe em novas tecnologias. É pioneira na utilização da tecnologia Building Information Modeling (Bim) para o desenvolvimento integral de seus projetos. “Com essa tecnologia se projeta toda a edificação no computador, permitindo uma análise mais detalhada e profunda das decisões tomadas em projeto”, explica Almeida. Nos próximos seis meses a Comfort House deve adquirir a certificação do empreendimento e poderá, de fato, tirar o projeto do papel e transformá-lo em realidade. A empresa já foi sondada por investidores e o retorno dos investimentos é garantido. “Pensando muito pessimistamente, se acontecer um furacão em Campinas e uma crise financeira grave, devo conseguir o retorno de todo o investimento em dois anos. Se tudo der certo, em seis meses. Também poderei, em breve, ceder meu espaço na incubadora, dando a mesma oportunidade que tive a outros empreendedores”, promete Gaspar. MARÇO 2011 | INOVABCD

31


serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

Softex promove empresas durante 1ª edição da AnBraTI

CNPq lança primeiro edital 2011: R$ 3 milhões para P,D&I

Empresas brasileiras desenvolvedoras de tecnologias da informação (TI) poderão apresentar e negociar suas soluções em Angola. De 22 a 23 de março, a Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software (Softex) promove o Angola-Brasil em Tecnologia da Informação – Cooperando para o desenvolvimento (AnBraTI). A ação foca um esforço conjunto na busca por negócios de empresas brasileiras no país africano, em diversas verticais, entre elas finanças, petróleo e agronegócios.

Para estimular a cooperação internacional entre Brasil e Suíça, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq/MCT) lança seu primeiro edital de 2011. Serão investidos cerca de R$ 3 milhões para apoiar propostas para a execução de projetos conjuntos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I), desembolsados pelo CNPq e pela Secretaria de Estado para Educação e Pesquisa da Suíça (SER). A Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), será a executora.

A proposta do evento é apresentar produtos brasileiros que colaborem com o crescimento macro econômico angolano. Em sua primeira edição, o AnBraTI será realizado em Luanda e, por dois dias, apresentará diversas palestras e rodadas de negócios que visam a concretização de ofertas de venda. Estarão presentes instituições, companhias, órgãos públicos e empresários angolanos, focados no negócio de TI. O evento recebe ainda apoio técnico e financeiro do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), através da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A viabilização do evento se dá por meio do Projeto Setorial Integrado para Exportação de Software e Serviços de TI (PSI-SW). Criado em 2004, o PSI-SW faz parte da estratégia de políticas para o desenvolvimento e software no País, entre elas o Programa de Desenvolvimento Produtivo e o Programa de Aceleração do Crescimento de Ciência e Tecnologia (PAC/C&T). Empresas interessadas em participar do projeto devem entrar em contato com os coordenadores das verticais Agronegócios, Finanças, Petróleo: PSV Agronegócios: Aline Barabinot psv-agro@nac.softex.br PSV Finanças: Fernanda Coletta psv-fin@nac.softex.br PSV Petróleo: Alvaro Moreira psv-petro@nac.softex.br Coordenação do Projeto: Ricardo Ferreira psi-boc@nac. softex.br Mais informações: www.softex.br

A oportunidade é parte do Plano de Ação Brasil-Suíça 2009-2011, assinado entre os ministros de C&T dos dois países em outubro de 2009. O apoio, dado exclusivamente a projetos de pesquisa científica, tecnológica e inovação, busca dar maior mobilidade aos cientistas e pesquisadores vinculados a redes temáticas de pesquisa, selecionando projetos de alta relevância estratégica para ambos os países, os quais, preferencialmente, devem apresentar contrapartida financeira de fontes nacionais ou internacionais. Segundo o gestor do edital, Flávio Velame, a Suíça tem um grande número de grupos de pesquisa de excelência e há um forte e mútuo interesse em reforçar a cooperação científica e tecnológica. “Recebemos no CNPq uma delegação suíça de alto nível em agosto de 2010, quando discutimos nossas prioridades e especificamos os temas que seriam contemplados no presente edital. Será uma oportunidade de apoiar projetos conjuntos de forma bastante consistente, inclusive com bolsas no exterior inseridas em projetos, algo recente no CNPq”, afirmou. Os projetos devem abranger aos seguintes temas de interesse: Energia e Meio ambiente, com foco em “energias renováveis”; Saúde e Meio ambiente, com foco em “doenças negligenciadas” e “alimentação e nutrição funcional”. Cada proposta pode solicitar o valor máximo de R$ 350 mil para o financiamento da mobilidade internacional, bolsas de pós-doutorado e doutorado-sanduíche e outros custeios, com prazo de vigência do projeto em até 24 meses. O pesquisador interessado em participar do edital deve ter título de doutor, currículo cadastrado na Plataforma Lattes, experiência em projetos de cooperação internacional e qualificação equivalente à de pesquisador Categoria 1 do CNPq, ser brasileiro ou estrangeiro com visto permanente, residente no Brasil e ainda ter vínculo formal com a instituição de execução do projeto. As propostas devem ser encaminhadas ao CNPq exclusivamente via Internet, por intermédio do Formulário de Propostas Online, disponível na Plataforma Carlos Chagas (http://carloschagas.cnpq. br/), até 15 abril. A contratação das propostas aprovadas será feita partir de 1º de agosto próximo. Confira na íntegra o Edital: http:// www.cnpq.br/editais/ct/2011/001.htm

32

INOVABCD | MARÇO 2011


FINEP DIVULGA ESTUDO COM perfil dAS EMPRESAS inovadorAS NO BRASIL O que um empreendimento precisa ter para receber investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), principal órgão de fomento à pesquisa e inovação do Governo Federal? Um estudo divulgado pela financiadora traça o perfil das empresas apoiadas pelo programa de subvenção econômica à inovação, de 2006 a 2008. São 500 empresas, contratadas até outubro de 2010, responsáveis por 695 projetos. Empresas de pequeno porte representam 60% do total. As grandes empresas, com faturamento acima de R$ 300 milhões, respondem por 5% da carteira. Quanto à classificação por setor da Economia, as maiores ocorrências são nas áreas de serviços de Tecnologia da Informações (TI) e fabricação de produtos de informática, eletrônicos e ópticos. Geograficamente, as cinco regiões do País, através de 20 estados da Federação e mais o Distrito Federal, participam do programa de subvenção. Acre, Amapá, Alagoas, Mato Grosso, Piauí e Tocantins não possuem nenhuma empresa na carteira de ações da Finep. A Região Sudeste participa com 57% das empresas, a Região Sul com 25%, a região Nordeste com 12%, a região Centro-Oeste com 4% e a região Norte com 2% do total das empresas que compõem a carteira. Os cinco estados com maior número de empresas apoiadas são: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. No que se refere à distribuição por idade, em 2009, 49% das empresas tinham menos de 10 anos; e seis, ou seja, pouco mais de 1%, tinham mais de 50 anos de funcionamento. Quanto à natureza jurídica, 77% são sociedades empresariais limitadas. As sociedades anônimas fechadas representam 19% e as abertas, 2%. O programa de Subvenção teve sua primeira chamada pública lançada em 2006. Desde então houve editais todos os anos. O relatório considera todas as empresas que estavam aptas e foram contratadas nos editais de 2006, 2007 e 2008. O edital de 2009 ainda tem 40 projetos aprovados em contratação. O estudo completo pode ser acessado no endereço: http://www. finep.gov.br/programas/subvencao_perfil_2006_2009.pdf

MARÇO 2011 | INOVABCD

33


ponto de vista Gerson Mantovani

CONECTAR PARA INOVAR A inovação aberta não deve ser entendida como inovação gratuitamente distribuída. As empresas continuam precisando ser remuneradas pelos seus investimentos em P&D e inovação.

34

INOVABCD | MARÇO 2011

capacidade das empresas em articular não apenas seus recursos internos, mas também recursos externos, para o desenvolvimento e a exploração de inovações é a essência da inovação aberta. As empresas estão sendo cada vez mais desafiadas a inovar de maneira sistemática, num contexto de baixa tolerância a riscos e custos cada vez mais altos. Como agravante, tanto para o desenvolvimento quanto para a exploração comercial de inovações, as empresas dependem muitas vezes de conhecimentos e recursos que não possuem internamente. Não é mais vigente a era da inovação desenvolvida sob a égide da confidencialidade, baseada na ideia de que a capacidade de inovar depende apenas da capacidade de criação de seus funcionários. Ruiu a ideia de que a inovação advém unicamente de gênios que residem em grandes laboratórios de P&D, que mais parecem fortalezas, tamanho seu isolamento. Hoje, entende-se que a inovação depende talvez mais da conexão do que da invenção propriamente dita. Empresas reconhecidamente inovadoras como 3M, Philips e Xerox entendem que o desenvolvimento de inovações deve ser gerido como um processo aberto. Estas empresas transformaram seus centros de P&D outrora fechados em ambientes propícios à colaboração externa. No Brasil, empresas como Embraer, Natura, Vale e Petrobras seguem a mesma direção buscando novas formas e processos para melhor interagir com o ambiente externo em busca da sistematização de sua capacidade de criar e explorar inovações. Ao adotar práticas de inovação aberta de forma sistemática, estas empresas estão reconhecendo que sozinhas não são capazes de gerar todo o conhecimento, coordenar todos os recursos e assumir todos os riscos necessários para gerar e disponibilizar uma inovação no mercado. Longe de representar

um demérito à capacidade de inovação interna das empresas, a adoção da inovação aberta visa tirar o foco das equipes internas na invenção e colocá-lo na conexão. Ambos os processos, invenção e conexão, são fundamentais para a criação de inovações. Vale remarcar, no entanto, que a inovação aberta não deve ser entendida como inovação gratuitamente distribuída. As empresas continuam precisando ser remuneradas pelos seus investimentos em P&D e inovação, e a adoção de práticas de inovação aberta com fornecedores, clientes, parceiros externos e, até mesmo, concorrentes visa tanto aumentar a criação de valor quanto garantir modelos de negócio que permitam a captura de, ao menos, uma parte desse valor criado para a firma que conduziu o processo. Ainda, é importante compreender que, para que uma empresa possa aproveitar melhor as práticas de inovação aberta, é fundamental que ela possua uma capacidade interna de P&D também forte. É o investimento em P&D interno que permitirá à empresa identificar, reconhecer e orientar parceiros externos na condução de projetos de inovação. Também é o P&D interno que será capaz de absorver ideias e, eventualmente, tecnologias externas. Finalmente, sem a capacidade de desenvolvimento interno, a empresa tampouco teria muito a agregar dentro de processos de inovação de outras empresas, eventualmente clientes que também possam vir a adotar a inovação aberta como modelo de gestão da inovação. Finalmente, a prática da inovação aberta não depende do tamanho da firma. Inúmeros são os exemplos de pequenas e médias empresas que obtiveram grande sucesso adotando o modelo desde cedo, como foi o caso de empresas como Omnisys, Padtec e Buscapé. Gerson L. Mantovani – Professor do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Federal do ABC


MARÇO 2011 | INOVABCD

35



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.