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Dia da Imprensa turvado pela censura

Páginas 26 e 27

Jornal da ABI Órgão Oficial da Associação Brasileira de Imprensa

Maio/Junho de 2005 • Número 300

Em uma cobertura de guerra, o repórter tem que saber mais do que apenas jornalismo para voltar para casa vivo. Nesta reportagem, William Waack (à esquerda da foto), Joel Silveira (à direita), Luiz Edgar de Andrade e outros veteranos do front contam como conquistaram o cobiçado título de correspondente de guerra. Páginas 3, 4, 5, 6 e 7

O drama dos jornalistas pelo mundo Um contundente relatório sobre assassinatos de jornalistas em todo o mundo revela que a corrupção e a parcialidade da Justiça estão entre as maiores causas da impunidade. Dos 78 mortos em 2004, três são brasileiros. Páginas 28, 29 e 30

ARTE FRANCISCO UCHA

REPÓRTERES NO FRONT MÚSICA DE RAIZ NA ABI A ABI proporcionou a seus associados e ao público em geral, nos meses de maio e junho, uma série de espetáculos de música popular brasileira, resgatando uma tradição de apoio e incentivo à cultura nacional. Em maio, apresentaram-se no Música de Raiz na ABI o cantor e compositor Luiz Carlos da Vila, que abriu a série, e Monarco, que divertiu a platéia contando histórias de quando foi contínuo da ABI. Em junho, apresentaram-se Cláudio Jorge, Marcos Nimrichter, Caio Márcio, Moacyr Luz e Wilson Moreira. Páginas 19, 20 e 21

Estágio na imprensa: como chegar lá Não é fácil chegar lá: a cada ano, nada menos de 8 mil candidatos disputam as vagas dos cursos das grandes empresas de comunicação do Rio e de São Paulo. Páginas 14 e 15

General alerta para ameaça à Amazônia Show de sinuca com astros da música

A partida inaugural do I Torneiro Aberto de Sinuca Maestro Vila-Lobos foi um show à parte, na ABI. Paulinho da Viola (à direita) e Toquinho (à esquerda), grandes astros da MPB, brindaram o público com um talento a mais, enfrentando-se em uma partida que teve até torcida organizada. Página 18

O pretexto da internacionalização é ameaça à Amazônia, advertiu em conferência na ABI o General Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da região. Página 32


Jornal da ABI EDITORIAL

Amazônia sem retórica

NESTA EDIÇÃO

Têm um sentido de convocação para uma mobilização nacional, tal como a da campanha O Petróleo é nosso, as advertências que um eminente chefe militar, o General Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da Amazônia, vem fazendo acerca dos perigos e ameaças que envolvem e rondam essa região do País, sem que a consciência nacional tenha idéia e informações sobre a magnitude desses riscos. Não se criou, ainda, como necessário, um clamor público em defesa da região, submetida a um processo permanente de pilhagem, como a escandalosa exportação ilegal de madeiras, precedida de um desmatamento altamente criminoso, que não parece impressionar nem comover as autoridades ditas responsáveis, especialmente as do Ministério do Meio Ambiente, da Polícia Federal e do Ministério Público da União, que não se deram conta da gravidade da obra predatória em curso numa faixa do território nacional que se estende por seis Estados e abriga uma população de cerca de 13 milhões de habitantes. A ineficácia é a principal marca da atuação do Poder Público na região. É confortador verificar que dessa anomalia, dessa omissão sistemática na defesa do interesse nacional, não participa o Exército Brasileiro, que, através do Comando Militar da Amazônia, tem clareza acerca da importância estratégica, econômica e social da região, como ficou evidente na minuciosa exposição que o General Cláudio Barbosa de Figueiredo fez em sua conferência na ABI, no dia 2 de junho, ao desenvolver o tema A Amazônia Que os Brasileiros Desconhecem Desconhecem. O Exército, sublinhou o General, atua como Estado na Amazônia, mas sua ação, dizemos nós, tem de ser complementada em caráter permanente pela de outros órgãos, que não podem continuar a oferecer o quadro desolador com que se apresentam à comunidade nacional, em que há retórica demais e Governo de menos. A ABI vai ferir este tema com insistência, em coerência com o seu passado de defesa do interesse nacional, para proclamar que, assim como sustentou na luta pelo petróleo é nosso nos anos 40 e 50, a Amazônia é nossa e tem de ser defendida não com declarações platônicas, mas com ações concretas, cuja implementação urgente reclamamos.

Correspondentes de guerra - Vivendo a morte de perto O mistério da leitura A festa de Albeniza, repórter há 57 anos Audálio, novo Vice-Presidente Ivan Proença, novo Presidente do Conselho Na TV, a contribuição negra à nossa cultura A nova cara do Caderno B O jornalismo depois da faculdade Dois ases da música num duelo diferente A Rainha Isaurinha revivida por Rosamaria Música de raiz na ABI Saudade de Brizola lota o auditório da ABI União para lembrar Tim José Inácio Werneck dá um passeio pelo Rio A lei de reparação moral é incompleta, diz Geraldão Kajuru ganha hábeas-corpus Conselho de Cultura repele a volta da censura Clima de liberdade de expressão está turvado “O Brasil é filho da imprensa” “A impunidade vive enquanto jornalistas morrem” “Morte vigia o País” Um matador condenado Jornalista quer assassino julgado Inácio de Alencar - Uma vida partida ao meio Amazônia - Uma região sob cobiça

ERRATA Na edição número 299, foi omitido na lista de votantes na eleição de abril passado o nome do consócio Hitler Litaiff

Conselheiros efetivos (2004-2007) Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura, Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Associação Brasileira de Imprensa DIRETORIA – MANDATO 2004/2007 Presidente: Maurício Azêdo Vice-presidente: Audálio Dantas Diretora Administrativa: Ana Maria Costábile Soibelman Diretor Econômico-Financeiro: Diretor de Assistência Social: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Diretora de Jornalismo: Joseti Marques CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura CONSELHO FISCAL Jesus Antunes – Presidente, Miro Lopes – Secretário, Adriano Barbosa, Hélio Mathias, Henrique João Cordeiro Filho, Jorge Saldanha e Luiz Carlos Oliveira Chester CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005) Presidente: Ivan Cavalcanti Proença 1º Secretário: Carlos Arthur Pitombeira 2º Secretário: Domingos Xisto da Cunha Conselheiros efetivos (2005-2008) Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

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Conselheiros efetivos (2003-2006) Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade, Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, Glória Sueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins, Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga, Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein Conselheiros suplentes (2005-2008) Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de Paula Freitas, Geraldo Lopes, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães Conselheiros suplentes (2004-2007) Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes Conselheiros suplentes (2003-2006) Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, Domingos Augusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, José Carlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza, Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda, Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, Rogério Marques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e Rubem Mauro Machado

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COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Ely Moreira – Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José Ernesto Vianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Arthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Jornal da ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar Telefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012 Rio de Janeiro - RJ (jornal@abi.org.br) Diretor responsável: Maurício Azêdo Editora: Joseti Marques Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Francisco Ucha Impressão: Gráfica Lance Rua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ. As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.

Maio/Junho de 2005


Jornal da ABI AVENTURA Maria Vitória Vélez

VIVENDO A MORTE DE PERTO Testemunhos de quem enfrenta conflitos por dever de ofício

Embora arriscar a vida seja algo inerente ao trabalho dos jornalistas que cobrem conflitos, atualmente no Iraque eles têm-se tornado alvo freqüente de seqüestros e assassinatos. Segundo o último relatório da ong francesa Repórteres Sem Fronteiras, o Iraque aparece, pelo segundo ano consecutivo, como o lugar mais perigoso do mundo para o exercício da profissão. Desde o início da guerra, há dois anos, 58 jornalistas e colaboradores foram mortos, 23 seqüestrados e ainda há dois desaparecidos. Como conseqüência, o trabalho dos correspondentes tem-se limitado ao “engajamento” (acompanhamento) de tropas americanas ou ao “jornalismo de hotel”, em que os repórteres apuram as matérias pelo telefone, confinados em seus quartos de hotel, como denunciou Robert Fisk, do jornal The Independent, em artigo publicado na edição de 23 de janeiro da Folha de S. Paulo. Em ambos os casos, a imparcialidade fica comprometida, já que grande parte da informação procede de fontes militares americanas ou do governo provisório iraquiano, patrocinado por Washington. Cobrindo diferentes áreas de enfrentamento em épocas e regiões distintas, os jornalistas Joel Silveira, William Waack, Luis Edgard de Andrade, Beatriz Lecumberri e Antonio Scorza contam aqui suas experiências em campo, sua rotina de cobertura, as dificuldades encontradas e as estratégias criadas para o desenvolvimento desse trabalho. A escritora e também jornalista Paula Fontenelle fala da manipulação da mídia pelo exército britânico e americano na guerra do Iraque descrita em seu livro, Iraque: A Guerra Pelas Mentes (Editora Sapienza) e levanta a questão: como é possível fazer uma cobertura de guerra com isenção? Maio/Junho de 2005

ANTONIO SCORZA/AFP

A cobertura de uma guerra é o ponto alto na carreira de um correspondente internacional. Ao lado do prestígio profissional, esse desafio, considerado único por quem o vive, traz um risco cada vez maior para os profissionais dispostos a enfrentá-lo.

Um clique de Scorza: mujahedin exibe as botas de motorista morto em Abu Ghraib, oeste de Bagdá, abril de 2004.

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William Waack: “É forte a disputa, pela vaidade e menos pela vontade de cumprir uma missão profissional”

ara se cobrir uma guerra, o futuro correspondente precisa apresentar a sua candidatura. Pode parecer difícil de acreditar, mas a cobertura de conflitos é disputadíssima. Muitos jornalistas precisam apresentar-se mais de uma vez até serem enviados. E não que as diárias pagas justifiquem. Em uma agência de notícias internacional como a France-Presse, por exemplo, paga-se entre US$ 60 e US$ 110 por dia numa cobertura como a guerra no Iraque. Algumas vezes, cabe ao próprio jornalista pagar suas despesas com alimentação e hospedagem. Além disso, as seguradoras brasileiras não aceitam fazer seguro para jornalistas que cobrem guerras, devido ao risco de morte de quase 100%. As motivações, no entanto, são as mais variadas: idealismo profissional, prestígio e, muitas vezes, vaidade. “É forte a disputa, pela vaidade e menos pela vontade de cumprir uma

missão profissional”, avalia o prestigiado jornalista William Waack, da Rede Globo, com uma vasta experiência após a cobertura de oito conflitos para jornais e televisão, seis no Oriente Médio e dois nos Bálcãs. “Muitos colegas querem ir para a guerra apenas pelo que consideram valorização do prestígio pessoal e fazem de conta que estiveram na cobertura do conflito para acrescentar ao currículo o título correspondente de guerra”, afirma Waack. Para outros, como no caso do veterano jornalista Luís Edgard de Andrade, que foi cobrir a guerra do Vietnã por conta própria, a motivação foi “a paixão e a aventura” que aquele conflito despertava na geração de 1968. “A guerra do Vietnã significou para os jornalistas, nos anos 60, o que a guerra da Espanha tinha simbolizado, nos anos 30, para a geração de Hemingway, Kostler e Malraux: um momento de paixão e aventura. Os

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Jornal da ABI “Mas depois”, acrescenta, “em lunacionais, mais recentemente a Copa gares santos do xiismo, como Najaf do Mundo do Japão/Coréia de 2002 ou Kerbala, ninguém me agrediu. Fie as Olimpíadas de Atenas-2004 e cava coberta com a minha túnica neSydney-2000, Scorza se define como gra e me deixavam em paz. Não me um correspondente de pós-guerra. incomodava usá-la. “Numa situação É uma questão de de guerra, a pauta respeito e, sobretuestá clara porque há dois lados em con“Quando há um do, se assim posso trabalhar tranqüila flito e o jornalista enfrentamento, e caminhar sem proacompanha um desblemas pelas ruas, ses lados. Quando tudo acontece então tudo bem”. estive no Iraque, o A participação conflito era de guermuito rápido. feminina em co rilha, com a resistênberturas de guerra cia iraquiana ataO fotógrafo data da Segunda cando as forças de precisa registrar Guerra Mundial ocupação. Neste ca(1939-1945). Naso, convive-se com o momento” quela época, conta uma total desorgaa jornalista e escrinização e a única tora Paula Fontenelle, “dezenas de possibilidade para um jornalista ocimulheres lutaram pelo direito de pardental é ficar ‘engajado’, acompaticipar da cobertura. No final do connhando as patrulhas feitas pelas troflito, pelo menos 127 americanas hapas. Nessa situação caótica, a orgaviam adquirido a credencial de cornização da cobertura se dá da seguinrespondente de guerra, e algumas inte forma: os iraquianos trabalham na clusive atuaram no front”. cidade e os ocidentais ficam acampaNo entanto, conta Paula, “as redos com as tropas”, explica. gras eram diferentes para jornalistas Ele lembra ter sido fundamental mulheres. O acesso a alguns lugares a presença de um intérprete, porque era privilégio dos homens e, em vámesmo que falasse árabe por ser ocirias ocasiões, os militares não condental sempre era visto como alcediam às mulheres credenciais para guém estranho, de fora, e os iraquiapermitir a entrada em outros países”. nos tinham receio de passar qualquer Hoje, apesar de existir uma certa informação e serem tomados como resistência nas redações para enviar espiões. As diferenças culturais tamuma correspondente para cobrir bém podem representar uma barreiuma guerra, Beatriz conta que há um ra para o trabalho de um corresponnúmero cada vez maior de mulhedente de guerra, ainda mais se for res repórteres, fotógrafas e cinegramulher. Nestes casos, é muito imfistas cobrindo conflitos. O fato de portante conhecer o contexto do ser mulher, diz, não interfere na quapaís e adaptar-se a ele. lidade do trabalho da “Em Basra, no Sul do Iraque, terprofissional. ra de xiitas, mesmo coberta da cabeça aos pés com uma túnica, eu era como uma prostituta para Joel Silveira, que aqueles homens, que cercavam o cobriu a II Guerra automóvel. Eles nunca tinham visMundial na Itália: na guerra atual o repórter to uma mulher viajando com um também é alvo. homem que não fosse seu marido, usando calças debaixo da túnica e que, além disso, trabalhava. Foi horrível, na verdade”, conta Beatriz.

Antonio Scorza:

William Waack cobriu oito conflitos para jornal e tv, seis no explosivo Oriente Médio.

são da coalizão liderada pelos amejornais dedicavam uma página por ricanos no Iraque, em 2003, e os dia a esse conflito”, explica. atentados terroristas da Al-Qaeda Seja pela motivação que for, uma em Istambul, em novembro daquevez na zona de conflito o jornalista le ano, e em Madri, em 11 de março precisa desenvolver estratégias para de 2004. fazer bem o seu trabalho: conhecer “No trabalho de campo que fiz no o terreno, levantar fontes, estabeleIraque e na Palestina as fontes foram cer relacionamento com os corresrelativamente fáceis de encontrar. pondentes antigos e jornalistas loColoquemos um exemplo: uma cicais. Em empresas com estrutura indade palestina cercada pelo exército ternacional, como grandes jornais, israelense. Se estamos dentro da ciagências de notícias ou emissoras de dade, as fontes são as autoridades loTV internacionais, a logística da cocais, os médicos – se houver ong, ainbertura se concentra em escritórios da melhor – e o enno local ou próximos carregado israelense da área de conflito pela operação miliÉ lá que se organi“A última tar ”, conta Beatriz. za o trabalho e se deNa atual situação de cide, por exemplo, se guerra com guerra de guerrilha o jornalista sairá que se observa no Ira“engajado” (acompaum front que, no entanto, o panhando) com as tronorama é diferente. pas ou se fará cobertradicional “A busca da notítura na rua, o que nem sempre é possífoi a Segunda cia, que em si já é uma das atividades vel. Os jornalistas Guerra mais perigosas do concordam em que mundo, torna-se mornuma situação de Mundial” tal numa guerra de guerra declarada as guerrilhas, em que os fontes e as pautas não repórteres e fotógrafos estão obrigasão difíceis de se encontrar toriamente no meio da ação que pre“As pautas costumam ser óbvias, tendem documentar”, analisa o veas fontes são quase as mesmas, os terano jornalista Joel Silveira, que conflitos se parecem muito na sua aos 85 anos lembra quando tinha 26 ‘técnica’ de cobertura. Em geral, as e cobriu, para os Diários Associados, informações ‘políticas’ e ‘abrangena Segunda Guerra Mundial. tes’ estão perto dos centros de po“A última guerra com um front trader políticos, militares e religiosos dicional foi a Segunda Guerra Mun(em alguns casos é a mesma pessoa). dial”, lembra Joel. Ele explica que a As pautas humanas, digamos assim, ausência de um front tradicional, ao dependem do olho do repórter”, exaumentar a vulnerabilidade dos inplica Waack. vasores, “também coloca, de certa A opinião de Waack é corroborada forma, a imprensa na alça de mira, pela espanhola Beatriz Lecumberri, já que nunca se sabe onde vai se dar uma jovem veterana na cobertura de a ação”. guerras e conflitos. Correspondente É o que confirma o fotojornalista da AFP, sediada em Paris, ela trabaAntonio Scorza, que cobriu também lhou três anos no escritório da empara a AFP o conflito naquele país presa no Rio de Janeiro. Recenteentre março e junho de 2004. Expemente, cobriu os conflitos nos terririente em grandes coberturas intertórios palestinos ocupados, a inva-

Joel Silveira:

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Jornal da ABI “Acho que a cobertura de conflitos criados por ex-militares para mimudou desde que o olho da mulher nimizar os riscos de correspondenestá presente. Houve uma reviravoltes de guerra serem feridos ou morta na informação; a mulher conta coitos durante a cobertura. Ali os jorsas que talvez um homem não connalistas aprendem a escapar do fogo taria”, destaca. “A mulher que cobre cruzado, como reconhecer as trajeuma guerra se adapta às circunstântórias das balas, as últimas inovações cias com a mesma facilidade que o tecnológicas da indústria bélica, a homem ou até com mais paciência procurar áreas protegidas durante a em determinadas ocasiões”. cobertura, além de primeiros socorPaciência, aliás, é a regra da relaros, como evitar e eventualmente neção repórter/fotógrafo na cobertura gociar um seqüestro, prevenir-se de de conflitos, diz Beatriz. “Se é preciarmas químicas, etc. so fazer uma cobertura em dupla, é Com duração média de cinco dias, preciso ser muito paciente. Saber que os cursos custam em média de 2 mil os tempos são diferentes e os intea 5 mil dólares. Um dos mais conheresses, muitas vezes, também. Norcidos, o Ake (Awardeness, Knowledge malmente, onde se obtêm as melhoand Excellence), foi criado em 1991 Beatriz Lecumberri, da France Presse, na linha de fogo de Basra, Iraque, maio de 2003. res declarações não estão as melhopor ex-militares das forças de elite res fotos; portanto, resta aos dois esdo exército britânico. A princípio, o tíveis na estrada entre Bagdá e perar e se respeitar”, afirma. curso era oferecido para executivos (lançador portátil de granadas), torFallujah. Este dia, em que casualO repórter fotográfico Antonio e diplomatas que seriam enviados nando o fotógrafo ou cinegrafista mente se encontrava na rota onde Scorza explica bem a diferença entre para áreas hostis, mas passou a ser um alvo preferencial. aconteceu o ataque, ele texto e imagem numa ministrado também para jornalistas, “Vários fotógrafos e cinegrafistas diz ter sido seu grande cobertura de guerra: depois de um período especialmenforam mortos por este motivo”, remomento profissional “Quando há um te mortal para esses vela. A recomendação, e o mais arriscado da enfrentamento, tudo profissionais em meanestes casos, é deixar cobertura. acontece muito rápido. dos da década de 90, esclaro quem você é. “Mulheres Para ele, o segredo Disparar uma arma pecificamente durante “Quanto mais o jornade uma boa foto é a andura apenas alguns sea guerra da Somália, lista se identificar, melutaram pelo tecipação dos aconte- lhor”, diz ele, que resgundos. O repórter poem 1993. cimentos, tanto para de esperar o desenrolar Luis Edgar de Ansalta a importância de direito de decidir como se proteda situação, inclusive drade, que, além do o correspondente se participar da ger quanto para se ter preparar em cursos espara obter maiores inVietnã, cobriu a Guerum bom enquadraformações. O fotógrara dos Seis Dias, entre pecíficos que oferecem cobertura” mento. A proteção é fo, por outro lado, preIsrael e os países áratreinamento para jorfundamental, porque cisa registrar o mobes, em 1967, observa nalistas que cobrem numa cobertura de guerra, explica mento do disparo. Se ele se atrasar, uma diferença na coconflitos. Embora não Scorza, além de perder a visão peritudo o que ele terá será a arma fubertura dos enfrentatenha participado de férica, por estar com a câmera junto megante ou um tanque circulando”. mentos, causada pela nenhum, ele salienta Paula Fontenelle: um livro de ao rosto, o fotógrafo usa lentes curScorza foi o autor da foto exclusiprópria transformação que os conhecimentos denúncia da manipulação da tas, que dão maior mobilidade, mas va da AFP, capa em vários jornais do da guerra. passados por colegas mídia na guerra do Iraque. deixam o profissional mais vulnerámundo, em que um mujahedin (com“Numa guerra conque tiveram a oportuvel por precisar se aproximar da sibatente muçulmano) aparece seguvencional, pressupõem-se certas renidade de fazê-los foram muito imtuação a ser registrada. Além disso, rando as botas de um motorista ocigras como o respeito aos prisioneiportantes. lembra ele, à distância, a lente da dental morto após ataque a um comros e aos não-combatentes, protegiConcentrados nos Estados Unicâmera se parece com um RPG boio de abastecimento de combusdos pela Convenção de Genebra. Na dos e na Europa, esses cursos foram

Paula Fontenelle:

Cursos para jornalistas em áreas de conflito Os cursos para trabalho em área de alto risco ensinam os jornalistas a reconhecer as trajetórias das balas, a avaliar a espessura de uma parede e, portanto, sua capacidade para suportar o impacto de um projétil, buscar áreas protegidas para fazer sua cobertura, sobre os últimos lançamentos da indústria bélica, a se defender de tentativas de seqüestro, se prevenir de armas químicas e como escapar do fogo cruzado. Oferecidos por ex-militares, custam entre 2 mil e 5 mil dólares e têm duração média de cinco dias. A maioria está com inscrições abertas para todo o ano de 2005. wareness, Knowlegde and Excellence) – • Ake (A (Awareness, www.akegroup.com — Criado por ex-militares britânicos da SAS (força de elite do exército britânico), dura cinco dias e é ministrado nas trincheiras da empresa, em Hereford, Inglaterra. • Centurion Risk Assessment Services Ltd. – www.centurion-riskservices.co.uk — Ministrado por ex-integrantes de comandos da Marinha Real Britânica. rims Group — www.pilgrimsgroup.com - Ofereci• Pilg Pilgrims do por ex-oficiais britânicos.

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• P r a e t o r i a n I n t e r n a t i o n a l – www.praetorianinternational.com — Oferecido por ex-integrantes das Forças Especiais do exército americano. • Travel Advisory Group Inc. – www.traveladvisorygroup.com — Oferecido por ex-integrantes das Special Forces da Marinha Americana. reinamento Conjun• Caecopaz (Centro Argentino de TTreinamento to para Operações de P az) — www.caecopaz.mil.arg – FunPaz) ciona no centro militar do Campo de Maio, localizado a 20 km de Buenos Aires. O curso para jornalistas em ambientes hostis é ministrado por ex-integrantes das três armas (Exército, Marinha e Aeronáutica), policiais federais, civis e ex-membros das forças multinacionais de paz de Brasil, Argentina, França, Bolívia, Canadá, Inglaterra e Estados Unidos, que atuaram em missões de paz da Onu. P) • A Sociedade Interamericana de Imprensa (SI (SIP) www.sipiapa.org — está considerando oferecer ainda este ano o curso de Jornalismo em Ambientes Hostis, tanto em Buenos Aires (Caecopaz), quanto em Virgínia (Centurion), sem custo para os participantes. No entanto, os interessados só podem participar através de convite da Sip ao órgão

de informação. As datas ainda não foram definidas. Maiores informações através do correio eletrônico: mmontaldo@sipiapa.org Guias rápidos • www.centurion-riskservices.co.uk/mediasafetynet — Área de conteúdo da empresa Centurion Risk Assessment, em que são publicados relatórios sobre o que está acontecendo em áreas de risco no mundo, que cuidados deve ter o jornalista ao viajar para estes lugares, etc. • Guia para reportagens em regiões arriscadas do Comitê para a Proteção dos Jornalistas. www.cpj.org/Briefings/ 2003/safety/journo_safe_guide.pdf. Criado pelo Comitê Para Proteção de Jornalistas (CPJ) – www.cpj.org – , ong fundada por jornalistas americanos em 1981, com sede em Nova York. O documento oferece informações básicas sobre como trabalhar em áreas de risco. • Centro Dart Jornalismo/Trauma — O site www.dartcenter.org traz informações sobre as experiências de jornalistas que cobrem guerras e conflitos. Traz dicas de coberturas e como abordar sobreviventes de um ataque.

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Jornal da ABI guerra do Vietnã os correspondentes de guerra eram, de certo modo, ainda respeitados, tanto pelos americanos como pelos guerrilheiros vietcongs. Hoje, como se viu no Afeganistão e agora no Iraque, os jornalistas passaram à categoria dos alvos preferenciais. Matar jornalista dá manchete de jornal no dia seguinte”, analisa. É essa situação de risco permanente que tem provocado sérias limitações na cobertura da atual guerra do Iraque, restrita agora para os ocidentais ao engajamento e ao chamado “jornalismo de hotel”, como indicou o jornalista Robert Fisk, do diário inglês The Independent. “Jornalismo de hotel é a única exLuís Edgar cobriu a guerra do Vietnã por conta própria, movido pelo desejo de aventura. pressão que cabe. Mais e mais, os jornalistas ocidentais em Bagdá estão tratamento da mídia por parte dos tânico, Coronel David Howard, que realizando seu trabalho dos hotéis, aliados. deixa claras as razões da autorizaem lugar de saírem às ruas das cida“Bush não se preocupou tanto ção para que um número sem precedes iraquianas”, denunciou Fisk em com a cobertura do seu país, já que dentes de jornalistas ficasse engaseu artigo “Risco cria ‘Jornalismo de 70% dos americanos apoiavam a jado às tropas: Hotel’ no Iraque”, publicado na ediguerra. Mas diante “O motivo que nos fez adotar o ção de 23 de janeida grande resistênsistema é porque acreditamos que ro de 2005 do jornal cia antiguerra ennos rende reportagens positivas (...) Folha de S. Paulo frentada pelo GoOs jornalistas queriam ir ao campo (página A23). verno Blair o exérde batalha, queriam imagens, e esse As ameaças aos “Os jornalistas cito britânico decisistema era a forma mais fácil de aljornalistas ocidendiu aumentar o núcançar isso com um certo grau de setais são tão graves, passaram à mero de vagas para gurança... nós queríamos uma coberdiz Fisk, que “diver‘engajados’ nas tura positiva e nós sabíamos que sos jornalistas ocicategoria de tropas, a fim de conseguiríamos dessa forma. Sabíadentais simplesmente não saem de alvos principais” conquistar a sim- mos, porque sempre conseguimos”. patia dos jornalisPara alguns jornalistas, a maniseus quartos, dutas e, conseqüentepulação dos militares ficou muito rante seu período mente, uma cobertura mais positievidente. como correspondentes em Bagdá”. va”, explica. “Não quis viajar com as tropas “Assim, muitos repórteres se vêem No livro consta uma declaração à americanas por essa razão. Para reduzidos a telefonar para as Forças autora do Coordenador de Comunimim, cobrir uma guerra é contar Armadas norte-americanas ou ao gocação do Ministério da Defesa briquem são suas vítimas, não quem verno ‘provisório’ iraquiano de seus quartos de hotel , ou aceitam as informações de seus correspondentes integrados a unidades norte-americanas, ou seja, só retratam o lado norte-americano da situação”, lamentou. É dessa parcialidade na cobertura que fala a jornalista brasileira Paula Fontenelle no livro Iraque: A Guerra Pelas Mentes, em que denuncia a manipulação da mídia por parte dos militares britânicos e americanos durante a guerra no Iraque. Para chegar a essa conclusão, ela entrevistou 18 correspondentes de seis veículos britânicos (The Guardian, The Daily Mirror, The Sun, The Independent, ITV News e sistema BBC), além de coordenadores de mídia do Ministério da Defesa britânico “O sistema de engajados que acompanhavam a guerra junto às troO risco da aventura: pas resultou numa cobertura que fubarbudo, os gia da isenção defendida pela maiodentes maltratados, ria dos jornalistas”, afirma Paula, obLuís Edgar é servando que a opinião pública foi socorrido no determinante para a diferença de Vietnã.

Luís Edgar de Andrade:

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são os que a provocam. Acho que a informação difundida das unidades militares foi pouca e parcial. Muitas vezes os jornalistas não tinham como divulgar outro tipo de informação, outras vezes nem se davam conta de que estavam sendo manipulados. Os americanos levaram consigo jornalistas para que contassem um determinado lado dessa guerra e só esse lado da ofensiva”, afirma Beatriz Lecumberri. O fotojornalista Antonio Scorza, que acompanhou várias patrulhas – americanas e britânicas – ao longo da cobertura, conta que embora não houvesse uma ordem direta para filtrar as informações existiu sim um controle velado. O jornalista, explica, precisava solicitar previamente seu ingresso na tropa e uma vez aceito era como um hóspede dos militares, com os quais precisava manter um bom relacionamento para se manter ali. Estes pesquisavam tudo o que aquele jornalista publicava e deixavam claro que seu trabalho estava sendo observado. Apesar disso, para Paula Fontenelle, ainda é possível encontrar exemplos de jornalismo isento durante a guerra. “O melhor modelo a que tive acesso foi o adotado pelo jornal britânico The Guardian. Eles conseguiram ter repórteres de todas as categorias: embutidos (engajados); na Unidade Móvel de Transmissão; independentes espalhados por vários pontos do Iraque; no Centro de Mídia, em Qatar; e no hotel Palestina. Desta forma, o jornal conseguiu contextualizar a guerra com amplitude.”

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Jornal da ABI

Euclides da Cunha, Hemingway, Capa, Korda, Bresson

O LEGADO DO FRONT A cobertura de guerras legou à aparecer, estava na segunda fila da tribuna e Humanidade dois dos maiores gênios da não era visto. Mas, num determinado literatura universal. No Brasil, o escritor momento, ele vai para a frente para ver a ira Euclides da Cunha cobriu a Guerra de do povo com aquele atentado do Canudos, em 1897, como enviado do jornal imperialismo ianque que causou um grande O Estado de S.Paulo. A partir de suas número de vítimas. Eu, que estou anotações escreveu Os Sertões (1902), em que acompanhando com a minha máquina as explica a guerra como o embate entre dois personalidades da tribuna, me surpreendi processos de mestiçagem: a litorânea e a com o seu olhar e apertei o obturador. Só sertaneja tive tempo de fazer dois cliques, pois Um dos principais representantes da imediatamente o Che voltou para o seu “geração perdida”, ciclo literário nortelugar”. americano iniciado nos anos 20, Ernest Em seu livro Iraque: A Guerra Pelas Mentes Hemingway também começou sua carreira a jornalista Paula Fontenelle traça um de escritor no front. Cobriu para a Associação histórico da cobertura de guerras; o primeiro Norte-americana de Jornais a Guerra Civil registro de cobertura data da guerra da Espanhola (1936-1939) e em agosto de 1944, Criméia (1854-1856). no fim da Segunda Guerra, foi o primeiro “Foi uma cobertura limitadíssima. Dos correspondente aliado a entrar em Paris. jornais britânicos, apenas o The Times Na fotografia, Robert Capa, Henri Cartierregistrou o conflito, mas a censura foi Bresson e Alberto Korda eternizaram com imposta rapidamente devido à postura suas lentes momentos que se tornaram crítica da mídia. A participação da imprensa históricos.O húngaro Capa (1913- 1954) cresceu rapidamente. Na Guerra Civil registrou com sua máquina alguns dos Americana (1861-1865), por exemplo, mais É uma guerra dura, dizia a revista Life de 31 de janeiro de 1944 de quinhentos jornalistas estiveram grandes acontecimentos da história mundial: com ampla reprodução da foto de Robert Capa feita nas a Guerra Civil Espanhola, a invasão da China trincheiras da Europa, pouco antes da invasão da Normandia. presentes na região Norte dos Estados pelo Japão, em 38, o desembarque dos Unidos. Naquele tempo, os veículos de aliados na Normandia, em 1944, e o nascimento do Estado de Israel, em comunicação contratavam ilustradores para registrar as imagens”, 1949. Costumava dizer “se a foto não está boa é porque não cheguei conta. Paula afirma que houve inúmeras mudanças no trabalho dos perto o suficiente”. Coerente até o fim, morreu em 1954 ao pisar numa correspondentes de guerra desde então. mina durante cobertura da Guerra da Indochina “Grande parte das mudanças, tanto do O francês Cartier-Bresson, morto em 2004, começou sua carreira em lado da mídia, quanto dos governos 1931. Registrou com sua Leica os últimos dias da Revolução Chinesa, envolvidos no conflito, ocorreu devido aos em 1949, e a Índia de Ghandi, inclusive o líder momentos antes de seu avanços tecnológicos. Dos ilustradores da assassinato, em 1948. Em 1947, fundou ao lado de Capa, George Rodger Guerra Civil Americana evoluímos para a e Davi Seymour a agência fotografia, o rádio, os filmes (bastante Magnum, que detém o utilizados como instrumentos de propaganda acervo fotográfico mais de guerra nos dois conflitos mundiais), a expressivo da história do transmissão ao vivo via satélite e agora a século XX. Internet, que possibilita a difusão imediata e O cubano Alberto Días irrestrita do fato”. Gutierrez (1928-2001) ficou Quanto aos governos, analisa a autora, mundialmente famoso ao “houve evoluções e involuções. A guerra do Dois trabalhos sobre tirar a foto mais conhecida Vietnã foi um marco no retrocesso da jornalismo, guerras e do líder revolucionário cobertura. Paradoxalmente, também foi um papel da mídia nos conflitos: Paula Fontenelle, Ernesto Che Guevara para o marco na liberdade de imprensa. Explico: analisando a invasão do jornal Revolución. Em quando a mídia americana acordou para o Iraque, e Luís Edgar, entrevista recente concedida contando o que viu e absurdo daquele conflito, partiu para o ataque viveu no Vietnã. ao jornalista Jose Aurélio Paz, ao governo dos Estados Unidos (que até hoje do jornal cubano Invasor, culpa a imprensa pela derrota). A reação do Korda, como era conhecido, governo americano foi limitar seus canais de explicou da seguinte forma comunicação com a mídia em guerras como conseguiu a foto posteriores. Esse retrocesso tem um nome na histórica: literatura que trata da propaganda de guerra: O cubano Korda fez apenas dois cliques “Esta foto foi um acaso do chama-se ‘Síndrome do Vietnã’.” do Che e assim gerou a foto mais destino. Cinco de março de Além de Paula Fontenelle, que faz reproduzida no mundo. 1960. Ato pelo enterro das minuciosa análise das motivações dos Estados vítimas da explosão do vapor La Coubre e Fidel fala ao povo. É a Unidos para invadir o Iraque, também Luís primeira vez que pronuncia a famosa frase ‘Pátria ou Morte!’ Lá estou Edgar de Andrade está presente nas livrarias eu, no meio da multidão, como mais um, com uma câmera Leica, com uma obra sobre guerra, esta em tom tirando fotos para o jornal (Revolución). O Che, que não gostava nada de romanesco, com sua aventura no Vietnã.

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Jornal da ABI ARTIGO Luíza Mariani

PROPOSTA

O mistério da leitura

Espanha quer ampliar intercâmbio cultural

Ler encerra um segredo nos tempos que correm em nossa sociedade. Quem sabe um receio, na era da velocidade da informação, de “perder muito tempo lendo um livro”. Ou de pressentir que no momento da leitura acontece alguma coisa que escapa, que não é possível controlar. A questão salta aos olhos (ou aos ouvidos) de quem prestar atenção nas campanhas em favor da leitura veiculadas sistematicamente pelo governo através da televisão. Encontramos aí um paradoxo interessante para pensar. Andei comentando com amigos acerca dessa campanha. Estão todos a favor. Mas quando indaguei a respeito do motivo da campanha, quer dizer, da importância da leitura, ficaram surpresos. A campanha martela um refrão: a necessidade de se criar o hábito da leitura. Mas não diz por quê. “É isso mesmo, e daí, ler para que, afinal?”, perguntou-me uma amiga psicanalista. Ela disse que costumava ficar curiosa cada vez que ouvia a campanha pró-leitura na televisão. No momento que vivenciamos silenciar acerca da importância da leitura tem um peso cultural na medida em que desvela um modo de ser, de estar no mundo da nossa sociedade. Decidiu-se pelo silêncio. Quem decidiu não foi apenas a empresa de publicidade contratada. Foi também quem, no governo, deu aval para o filme ir para o ar. O responsável por este aval poderia ser um técnico desavisado. Bem, mas o contratante final, as autoridades responsáveis pela educação e pela cultura em nosso País, também concordou. Teríamos que supor então que as autoridades desconhecem que a importância da leitura transcende o simples hábito de ler. Ou talvez não tenham prestado a devida atenção no material de publicidade. Mas é inegável que ocorreu um não-ver, ou nãoperceber. Também é sintomático que quem assiste não escreva uma cartinha para as colunas dos leitores, movido pela curiosidade de saber por que a leitura é tão importante. Quer dizer, o público compactua com o silêncio. Este comportamento faz parte do modo de estar no mundo de nossa sociedade hoje. Fica encoberto pelo filtro da ideologia. É coisa do dia-a-dia, tão óbvia que ninguém vê, ninguém se dá conta. É bom pararmos para pensar a este respeito. Afinal, há um bom tempo quem gosta de trilhar os caminhos das chamadas “Teorias da Leitura” vem

estudando a importância do ato de ler. Para descobrir a importância da leitura há muitos caminhos. Um deles está no texto que a escritora Lygia Bojunga assinou no caderno Prosa & Verso de O Globo pouco antes da Bienal da Leitura, realizada neste semestre. Ouvir histórias era um costume de Lygia, que elegeu como preferida o mundo da imaginação criado por Monteiro Lobato no Sítio do Pica-pau Amarelo. Ela recorda a sua reação, aos sete anos de idade, quando foi apresentada à “magia” de um outro escritor, o dinamarquês Hans Cristian Andersen,

do vi o título do livro, puxei conversa. A República, de Platão, era da filha dele. Trocamos algumas idéias, aproveitando o ônibus meio vazio: — Por que o senhor lê? — Porque gosto. E também para ficar informado, ter conhecimento. — O que a leitura traz para o senhor? — Bom, agora estou lendo sobre a justiça. — Para onde a leitura leva o senhor? — Para o nosso dia-a-dia, com os nossos políticos. Há tanta coisa errada, não é? Por aí se vê que o leitor interage, evolui em um contexto cultural que se relaciona com o mundo como uma dada sociedade lida com o presente, o passado e o futuro. O leitor, evoluindo nesse contexto, se apropria do texto e cria um livro para si próprio. Quer dizer, a leitura do livro se relaciona com a leitura que cada pessoa faz do mundo em redor de si. E esta leitura prévia do mundo também está inserida no ato de ler um livro. Resumindo, no ato de ler o leitor dialoga com o autor e faz uma outra leitura, a sua, construindo um livro para si. E, nas escolhas de leitura que faz, é bastante guiado pelo inconsciente. Ou seja, no ato de ler emerge o interior do leitor.

Cabe a nós pensarmos por que são desencadeadas campanhas que escamoteiam do público a importância da leitura em pleno século XXI, quando as pesquisas sobre esse tema andam tão desenvolvidas.

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celebrado autor de literatura infantil. Lygia chorou ao ouvir seu pai ler a história da pequena vendedora de fósforos que morre gelada no meio da rua. “Eu soluçava porque as histórias do poeta eram belas, mas tristes, muito tristes, mas eu soluçava muito mais porque, aos sete anos, eu me fiz prisioneira da imaginação de Lobato, e era naquele reino e não noutro que eu queria morar”. Outra pista está no comentário de Sérgio Luiz Argollo de Oliveira, trocador de ônibus da linha 438, que faz o percurso Barão de Drummond-Leblon. Conheci o Sérgio há umas duas semanas, a caminho da Uerj. Ele estava lendo, pronunciando baixinho as palavras. Quando me aproximei para pagar a passagem, guardou os óculos, fechou o livro e me deu o troco. Quan-

Cabe a nós pensarmos porque são desencadeadas campanhas que escamoteiam do público a importância da leitura em pleno século XXI, quando as pesquisas sobre esse tema andam tão desenvolvidas. È bom lembrarmos que o silêncio das campanhas sobre a importância da leitura não é de agora, nem do ano passado, ou do ano retrasado. O silêncio que envolve a leitura é bem mais antigo. Na Idade Média, entre as muitas vítimas da Inquisição estava um moleiro do Friuli, Itália, que morreu porque ousou criar um modo especial de interpretar as leitura que fez. Por que ainda manter cercada de mistério a importância da leitura em pleno século XXI? Como jornalista, proponho esta matéria aos pauteiros. Um bom repórter pode desenvolver bem o tema.

A Espanha está interessada em ampliar o intercâmbio cultural com a cidade do Rio de Janeiro e entende que para isso é necessário instalar o Instituto Cervantes, seu órgão cultural, num espaço situado na Cinelândia ou em suas imediações, porque é nessa área que acontecem e têm êxito os eventos culturais. A revelação foi feita em 16 de maio, na ABI, pelo Cônsul-Geral da Espanha no Rio de Janeiro, Rafael FernándezPita, em visita de cortesia à entidade, com a qual pretende estreitar os vínculos de colaboração e intercâmbio. Fe r n á n d e z - P i t a considera que essa cooperação poderá resultar em benefícios para a colônia de origem espanhola do Rio, a qual é constituída por cerca de 15 mil pessoas, das quais 12 mil de segunda geração e que não têm familiaridade com a cultura de seus ancestrais. No encontro com o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, Fernández-Pita procurou informar-se sobre a situação dos meios de comunicação no Brasil e deu conta do interesse dos espanhóis pelas coisas brasileiras. Ele lamentou que o conhecimento espanhol acerca do Brasil se limite à música popular, e especialmente ao samba, e ao futebol, graças à presença em clubes espanhóis dos dois Ronaldos, o Fenômeno e o Gaúcho. Fernández-Pita saudou como positiva a ampliação dos investimentos de empresas espanholas no Brasil, sobretudo no campo das telecomunicações e no setor bancário, e manifestou sua crença de que essas inversões crescerão de forma diversificada nos próximos anos. Um encontro do Presidente da ABI, Maurício Azêdo, com Nilton Romanowski, Vice-Presidente da Associação Paranaense de Imprensa, que visitou a sede da entidade nacional, no Rio de Janeiro, selou uma parceria entre as duas organizações para atuarem juntas na defesa dos interesses da classe jornalística e da preservação do direito da liberdade de imprensa e de expressão. De acordo com o ofício encaminhado pela Associação Paranaense de Imprensa, o principal motivo da sua proposta de filiação à ABI deve-se ao papel que esta exerce junto à classe jornalística e às instituições democráticas. No documento, o Presidente da API, João Carlos de Almeida Formighieri, diz: “Sempre foi nosso desejo pertencer a essa Associação, por ser ela de grande representatividade e pelo respeito que goza junto à classe jornalística, seja ela empresarial ou profissional.” A Associação Paranaense de Imprensa, cuja sede é em Curitiba, foi fundada em 31 de outubro de 1934 e tem como missão institucional preservar o pensamento, as aspirações e a expressão cultural e cívica da imprensa do Paraná, reforçando o papel do jornalismo na história política do Estado e do País.

Associação do Paraná unida à ABI

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Jornal da ABI MÉRITO José Reinaldo Marques

A festa de Albeniza, repórter há 57 anos Completando 76 anos em 24 de junho, Albeniza Garcia acabou tendo festa antecipada com a homenagem recebida na ABI, no dia 22, durante a entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto, conferida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro por iniciativa de Stepan Nercessian. O vereador do PPS recordou sua própria infância em Goiás, onde nasceu e aprendeu a admirar o trabalho da imprensa: — Os jornalistas são pessoas a quem a população pode recorrer para lutar pela reversão dos obstáculos sociais. Fico muito feliz por entregar a Albeniza Garcia a Medalha de Mérito Pedro Ernesto. E sei que nessa missão estou realizando um ato que muitos gostariam de fazer, pois a cidade do Rio de Janeiro, por unanimidade, subscreve esta homenagem. O Presidente da ABI abriu a solenidade afirmando ser uma satisfação para a Associação apoiar a cerimônia em homenagem à companheira de imprensa. Em seguida, além da própria Albeniza, convidou para compor a mesa que dirigiu os trabalhos o vereador Stepan Nercessian; Wilson França, que estava representando o Vice-Governador Luís Paulo Conde; Nelson Garbaio, Chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Direitos Humanos; a professora Mary Nildes dos Santos Coelho; o cartunista Jaguar; e o jornalista José Cortez dos Santos, mais conhecido como Zé Grande. Após a interpretação do Hino Nacional pelo cantor lírico Raimundo Pereira, foi apresentado um documentário em vídeo, com a homenageada falan-

nhuma outra repórter no mundo passou tantos anos fazendo reportagem de polícia. Destaco nela a coragem, pois nunca foi fácil para uma mulher trabalhar nos ambientes em que ela trabalhou, sempre com muita garra. Jaguar fez uma pausa em seu discurso para lembrar uma história de Albeniza que lhe foi contada pelo jornalista Cláudio Vieira, de O Dia: — Certa vez ela estava acompanhando uma batida policial num morro. De repente, começou o tiroteio e todo mundo se jogou no chão. Menos Albeniza, que permaneceu de pé e explicou: “Se eu me abaixar, como é que vou ver o que está acontecendo e escrever a minha matéria?” Na festa de Albeniza, todos os que foram seus colegas de Redação ressaltaram seu companheirismo. Como Zé Grande, amigo de longa data que disse estar emocionado, mas também muito à vontade para falar da homenageada da noite: — Trabalhei na imprensa durante 50 anos e aprendi a ser repórter de Polícia com ela, que, nesse meio, é uma grande autoridade. Albeniza é a minha madrinha. Outra amiga, a professora Mary Nildes, uma das responsáveis pela organização da solenidade, falou da satisfação de reunir depoimentos sobre a jornalista, como o de André Freeland, chefe de reportagem de O Dia — para quem “Albeniza é a repórter das missões impossíveis” — e o do carnavalesco Milton Cunha, que disse: “Ela devia ser tombada pelo Patrimônio Artístico, Histórico e Geográfico Brasileiro, pelo muito que fez pelo jornalismo do País.” Ao final da cerimônia, problemas de saúde aliados à emoção levaram Albeniza a passar a palavra a seu irmão Antônio Garcia, que leu uma mensagem de agradecimento em nome da família e da homenageada. A veterana repórter ganhou ainda uma saudação especial da bateria da escola mirim Mangueira do Amanhã e de ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis, comandados por Mestre Paulinho, encerrando a premiação a uma das personagens mais queridas do Rio e do samba: — Estou contente. Era uma festa assim mesmo que eu queria — agradeceu Albeniza com um largo sorriso.

A cerimônia de entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto a Albeniza Garcia na ABI antecipou a festa de aniversário da repórter que é referência na história do jornalismo policial. do de sua trajetória profissional, das grandes matérias que fez e da maneira como atravessou o período da censura imposta aos jornais pela ditadura militar. Depois, Albeniza e a platéia se encantaram com a exibição dos passistas mirins Ludmila, Lara e Leonardo, do Projeto Mestre e Sala e Porta-Bandeira, dirigido pelo veterano mestre-sala Manoel Dionísio. Juntamente com Stepan Nercessian, o cartunista Jaguar fez a entrega das comendas à repórter policial mais antiga do Estado do Rio de Janeiro e a primeira mulher a exercer essa função numa redação de jornal no Brasil. E lembrou que foi sua a sugestão de trazer para a ABI a cerimônia para a colega que tanto admira: — A ABI é a Casa do Jornalista. Portanto, é o lugar mais adequaAlbeniza entre os amigos Antônio Guerra e Olga Machado. À direita, na montagem, o cartunista Jaguar e as fotos da exposição em homenagem à jornalista

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do para abrigar esta homenagem. Albeniza Garcia tem somente 1,50m de altura, mas seu legado de atuação como repórter policial, construído ao longo de 57 anos de carreira profissional, transcende em muito a sua estatura, segundo Jaguar: — Ela merecia um registro no livro dos recordes, porque acredito que ne-

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Jornal da ABI

Como Clark Kent, rainha da Repol Nascida em Salvador, em 24 de junho de 1929, Albeniza Garcia veio com os pais para o Rio quando tinha um mês de nascida. Na Saúde, bairro da zona portuária, ainda menina começou a alimentar o sonho de um dia trabalhar em jornal, através da leitura de gibis. Sua grande inspiração para se tornar repórter policial foi Clark Kent, o tímido repórter do jornal Planeta Diário que virava Super-Homem. Parece piada, mas é verdade: — Eu queria ser como ele e ajudar as pessoas. Foi com essa determinação que, aos 18 anos, ela procurou Roberto Marinho para pedir uma vaga na editoria de Polícia do Globo. Ele olhou para aquela jovem franzina, com um metro e meio de altura, e perguntou se ela não gostaria de cobrir chás-dançantes ou desfiles de moda. Resoluta, Albeniza respondeu: — Não, eu quero a repol, como era chamada a reportagem policial. Daí em diante, foram 57 anos de dedicação — no Globo, na Última Hora e no Dia — a uma função difícil e que,

Albeniza aos 20 anos de idade

REPRODUÇÃO

Clark Kent, a inspiração para a carreira

até então, era exercida apenas por homens — na verdade, na virada da década de 50 para a de 60, poucas mulheres atuavam na imprensa brasileira. Entre os muitos troféus conquistados, destacam-se o Prêmio Direitos Humanos da Sociedade Interamericana de Imprensa, em 1995, pela série de reportagens “A infância perdida”; o Esso, com “Infância a serviço do crime”, em 97; e o Ayrton Senna de Jornalismo, na categoria “Busca de soluções para os problemas da infância”, em 99. Quando soube que ia ser agraciada com a Medalha Pedro Ernesto, Albeniza diz que se emocionou: — Aguardo ansiosa pelo dia da entrega, que desejo que seja uma festa. Trata-se de uma das condecorações mais importantes da minha vida, que me deixou muito feliz. Fontes privilegiadas Companheiro de editoria de Albeniza no Globo e no Dia, Luarlindo Ernesto diz que “é mais do que justo ela ser condecorada

Na redação, cercada pelos colegas, com o papagaio que ganhou do seqüestrador de Medina

pela cidade do Rio de Janeiro, pois sempre foi uma guerreira, colocando seu trabalho a serviço da população e destacando-se dos demais colegas por suas privilegiadas fontes de informação”. No dia-a-dia de sua função, Albeniza conquistou o respeito tanto de policiais quantos dos bandidos que entrevistava: — Sempre tive a preocupação de ouvir os dois lados das histórias.

O reconhecimento e o carinho dos amigos que lhe outorgaram o título de Rainha da Repol

LOUZEIRO: ELA NUNCA FEZ AUTOPROMOÇÃO Desde que conheço Albeniza Garcia, isso já faz certo tempo, ela se destaca pela prudência, o respeito aos personagens do submundo, a habilidade no escrever sobre os perdedores e a inteligência no lidar com a Policia e os membros do Ministério Público sem deixar-se corromper. No tempo em que eram raras as mulheres nas redações dos jornais cariocas, Albeniza já se tornara um nome de destaque na “reportagem de polícia”, setor que os grandes jornais mantinham na “cozinha” das redações, um tanto quanto envergonhados, embora reconhecendo que era a partir dali que se definiam as vendas, pois o jornalismo produzido pelos intelectuais da elite sempre esteve contrário aos interesses do povão. Indiferente ao “fenômeno da glória”, nunca se autopromoveu, nem na hora de reivindicar melhores salários. Preocupou-se, em todos os momentos de suas atividades, em

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manter bem elevado o conceito da sua profissão de repórter, o que significa dizer que poucos profissionais que conheci foram tão autênticos e determinados na valorização da categoria. Outra lição que Albeniza deu aos repórteres de Polícia: nunca tripudiar diante da amargura dos delinqüentes para valorizar a empresa em que trabalhava. Manteve-se, sempre, como observadora imparcial, não se deixando influenciar pelas “normas do submundo” e/ou pelas leis da chamada “sociedade livre”. Por não procurar entender semelhante postura, muitos coleguinhas terminaram ficando pelo caminho. Eu aprendi a lição de Albeniza. Nunca chamei marginal de bandido. Afinal, num país de capitalismo selvagem como o nosso, onde ricos e emergentes têm tudo e a grande massa não tem nada, fica difícil saber quem é o bandido. Nesta oportunidade agradeço publicamente a Albeniza por tudo que me ensinou. De suas lições, jamais abrirei mão!

Destacava-se também pela rapidez — quase “clark kentiana” — com que chegava às matérias, furando os colegas e deixando perplexa a própria Polícia. — Ela conseguia chegar primeiro a muitos marginais que os homens da lei não conseguiam encontrar — diz a filha Nelita, com orgulho. Não era trote No seqüestro de Roberto Medina, em 1990, Albeniza acabou se transformando em personagem-chave quando o chefe da quadrilha, Maurinho Branco, mandou que lhe telefonassem na redação do Dia para negociar a libertação do empresário: — Desliguei várias vezes, achando que era trote. Até que resolvi ouvi-los e eles me disseram que entregariam o Medina, mas, com medo da ação da polícia, queriam que uma equipe do jornal estivesse presente na hora da troca. Então eu fui, com o fotógrafo Paulo Alvadia. Ao libertar Medina, Maurinho Branco deixou de presente um papagaio, que acabou indo parar na Redação com Albeniza. — Ela é hors concours — elogia Ely Moreira. — Fui chefe dela no Globo, mas me sinto honrado em dizer que era seu aluno, pois quando cheguei ao jornal, em 1970, ela já era a rainha da repol, no meio de grandes profissionais como Vargas Júnior, Hélio Vieira e Adriano Barbosa. Quem não a conhece desconhece o que é reportagem policial. Por tudo isso, Albeniza virou até personagem de novela: foi nela que José Louzeiro se inspirou para criar o papel de Lídia Brondi em “Corpo santo”, exibida pela extinta TV Manchete em 1987.

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Jornal da ABI ELEIÇÃO

Audálio, novo Vice-Presidente Vice-Presidência e Diretoria Administrativa da Casa têm novos titulares O Conselho Deliberativo da ABI aprovou por unanimidade, em reunião de 30 de maio, a indicação do jornalista Audálio Dantas para a vaga de Vice-Presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Para a Diretoria Administrativa foi aprovada, também por unanimidade, a jornalista Ana Maria Costábile. Os cargos eram ocupados, respectivamente, por Milton Temer e Fichel Davit Chargel, que renunciaram no dia 29 de abril, após a eleição que renovou um terço do Conselho Deliberativo. Os dois ex-diretores encabeçavam uma chapa que organizaram em oposição à chapa Prudente de Moraes, neto, vitoriosa nesse pleito e na qual haviam sido eleitos para a Diretoria da entidade em 2004. O presidente da ABI, Maurício Azêdo, fez uma breve referência ao currículo dos jornalistas que estavam sendo indicados. Comentou, sobre Audálio Dantas, a importante atuação que teve à frente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ao comandar a resistência nacional ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro 1975, e ainda a expressiva vitória que o elegeu

O Conselheiro Milton Coelho da deputado federal com mais de 100 mil Graça saudou a indicação dos dois jorvotos, em 1978, pelo antigo MDB. nalistas, lembrando o episódio da elei— Com Audálio Dantas nós podeção de Audálio para o Sindicato de São mos novamente atrair para a entidaPaulo, sob a ditadura, quando a chapa de, neste centro jornalístico, cultural encabeçada por ele era representativa e econômico importante que é São não apenas de uma corrente, mas de Paulo, a presença de companheiros que todos os jornalistas. já se ofereceram para colaborar em ini— Acho que curiosamente acabaciativas da ABI. mos tendo uma repetição desse tipo Maurício Azêdo referiu-se a Ana Maria Costábile como uma profissional de larga experiência em diversas áreas do campo da Comunicação. — Ana Maria nos oferece a possibilidade de iniciar, como ela mesma disse, com paciência e determinação a construção desse setor administrativo da ABI. Para nós, tal como no caso do companheiro Audálio Dantas, é muito confortante fazer a indicação da companheira Ana Maria Costábile, que se reintegra à ABI com a disposição de trabalhar, sem se render à fadiga, para a solução dos complexos desafios que a Casa tem no campo de Ricardo Kotscho vota na eleição que escolheu Audálio e Ana Maria Costábile para a Diretoria. sua administração.

de pensamento nesta última eleição da ABI e acho que a escolha do Audálio Dantas é muito significativa. Nós podemos ter certeza de que Audálio é um representante de todos os jornalistas e não apenas de uma corrente de jornalistas e isso vai ser muito importante para a ABI. Audálio Dantas agradeceu a aprovação e os aplausos dos Conselheiros, dizendo-se feliz por poder dar sua colaboração à instituição. — A indicação muito me honra porque a ABI tem uma história que honra todo jornalista. Ana Maria Costábile também agradeceu sua indicação, ressaltando o grande desafio que terá pela frente. — Agradeço a confiança da indicação. Tenho consciência de que é um desafio muito grande, mas também tenho a certeza de que não estarei sozinha para vencer os eventuais obstáculos. Atendendo à solicitação do Conselheiro Conrado Pereira, o novo VicePresidente fez um pronunciamento, onde ressaltou o papel da ABI em momentos importantes da história recente do País.

canhões nós dispúnhamos para tomar aquela atitude ou realizar o culto ecumênico; se nós devíamos sair do Sindicato numa passeata gritando “abaixo a ditadura” ou deveríamos ir no silêncio que gritou mais alto do que todas as palavras de ordem naquele momento e que foram sintetizadas magnificamente bem no culto ecumênico realizado na Catedral de São Paulo por Dom Hélder Câmara, que lá compareceu e permaneceu durante todo o ato sem pronunciar uma palavra e, ao perguntarem por que ele não se havia manifestado, ele disse: –– Amigo, o silêncio algumas vezes fala mais alto do que todas as vozes reunidas. Então, nesse sentido eu quero dizer, mais uma vez, que naquele momento estava a ABI junto conosco, porque, no mesmo momento do culto ecumênico em São Paulo, aqui se realizava uma manifestação que também teve esse sentido de protestar em silêncio contra o arbítrio que naquele momento tinha praticado mais um dos seus crimes.

Diga-se de passagem que a Diretoria da ABI havia convocado e marcado a realização de uma missa em memória de Herzog na Igreja de Santa Luzia. Essa missa não pôde ser realizada porque houve decisão em contrário da autoridade eclesiástica, cujo nome aqui não é nem o caso de repetir. Mas aquilo se transformou nesse ato aqui na sede da ABI, que teve uma importância muito maior pelo significado. No mesmo momento em que lá em São Paulo se realizava esse culto, aqui se realizava essa manifestação de silêncio que durou, se eu não me engano, sete minutos. Não me lembro exatamente. Mas quero dizer mais uma vez, encerrando, que é importante que a ABI pense em São Paulo. É importante que São Paulo esteja representado na ABI não por uma pessoa, não por um indivíduo, não por um jornalista, mas por esse sentimento de que é preciso fazer esta entidade mais forte. E nesse sentido é que eu proponho que a Vice-Presidência tenha condições de reunir um grupo para constituir uma direção local e, mais do que isso, fazer uma campanha de filiação à ABI, porque praticamente a ABI deixou de existir na cabeça dos jornalistas de São Paulo, e isso é um absurdo. Finalmente, reportando-me à minha passagem pela Federação Nacional dos Jornalistas, persiste neste momento a minha intenção de agir com o mesmo espírito que me levou à Federação, que foi a primeira entidade sindical do País, de nível superior, que teve uma eleição direta, uma eleição com todos os jornalistas associados a todos os sindicatos no País. Eu acho que esse espírito, que é o espírito da ABI, é aquele que eu assumo neste momento com muita honra, agradecendo aos companheiros todos pela indicação do companheiro Azêdo e pela aprovação dos companheiros do Conselho. Muito obrigado.”

“Assumo com muita honra” “Primeiro devo agradecer a manifestação unânime dos companheiros, que muito me honram com esta indicação. Eu devo dizer que em minha atuação como sindicalista, ou como parlamentar, ou principalmente como jornalista, tive sempre como um símbolo da resistência ao autoritarismo essas três letras que são ABI. Considero que esta indicação, neste momento, a esta altura da minha vida, é realmente uma honra. Não é mera força de expressão. Devo dizer que a ABI, desde a sua fundação e depois em momentos importantes, cruciais mesmo da vida nacional, teve atuação que honrou não apenas o jornalismo, mas todos aqueles que lutam pelas liberdades democráticas no País. E quero me referir especialmente a duas figuras que tiveram participação em momento citado pelo companheiro Maurício Azêdo, que foi o do assassinato do companheiro Vladimir Herzog e da resistência que nasceu entre os jornalistas de São Paulo e do apoio fundamental que foi a presença, primeiro, de Prudente de Morais, neto na semana seguinte ao ocorrido, levando pessoalmente ao Sindicato o seu apoio, o apoio da ABI. Depois, a de Barbosa Lima Sobrinho, aqui neste Conselho, tomando as medidas que eram da tradição da ABI tomar em defesa das liberdades democráticas. Estas duas figuras para mim sintetizam a importância da ABI e nelas eu me inspiro para poder seguir e contribuir para o que eu acho, neste momento, uma fase importantíssima desta entidade, com a eleição do companheiro Azêdo e da Diretoria que ele representa e a eleição da Mesa deste Conselho, dirigido pelo companheiro Ivan Cavalcanti Proença — que eu estava obser-

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vando aqui e é um verdadeiro juiz, um árbitro tranqüilo, decide com a maior justeza e com conhecimento de causa todas as questões. Quer dizer, nós estamos num momento em que esta ABI, que realmente tinha perdido um pouco seus rumos, ou perdido muito seus rumos, os retoma, porque esta sigla precisa voltar a ser respeitada da maneira que sempre foi ao longo da sua história de quase cem anos. Com relação ao que disse o companheiro Milton Coelho da Graça, eu entendi, quando fui para o Sindicato dos Jornalistas, que eu não ia fazer uma carreira de sindicalista, não pretendia fazê-la, como não fiz. Mas entendi naquele momento que era essencial, sendo homem de esquerda – mas não sendo um homem de visão estreita, limitada –, que era o momento do pluralismo, era o momento em que todas as forças tinham o dever de se reunir, independentemente das suas convicções, no sentido de combater um inimigo como era a ditadura militar. O companheiro Milton Coelho teve uma participação muito importante nesse sentido, porque naquele momento havia um certo radicalismo, que depois veio durante o episódio Herzog, quando se pretendia que o Sindicato dos Jornalistas saísse em passeatas pelas ruas. E quando nós perguntamos se queríamos fechar aquele espaço que naquele momento era uma referência nacional da luta contra a ditadura, independentemente das posições que cada um dos diretores representava naquela direção sindical, felizmente um dos companheiros, diante de uma proposta de uma passeata ao II Exército, teve a lucidez de perguntar de quantos

Audálio: A ABI simboliza a resistência.

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Jornal da ABI

AUDÁLIO, VINDO DO CHÃO DE GRACILIANO Nascido no interior de Alagoas, em 8 de julho de 1929, Audálio Dantas é conterrâneo de Graciliano Ramos. Além da admiração intelectual que tem pelo escritor, o jornalista costuma dizer que pertence ao mesmo pedaço de chão em que nasceu o autor de Vidas Secas, com quem divide o mesmo tronco familiar materno, dos Ferreira Ferro. Em 54, iniciou a carreira como repórter da Folha da Manhã , hoje Folha de S. Paulo, passando em seguida pelas redações das revistas O Cruzeiro, onde foi redator e chefe de reportagem; Quatro Rodas, nas funções de Editor de Turismo e Redator-chefe; Realidade, como Redator e Editor; Manchete, como Chefe de Redação; e Nova, como Editor. Entre os trabalhos mais importantes que realizou como escritor] está Quarto de Despejo, da favelada Carolina Maria de Jesus. Audálio compilou o diário que ela escreveu e o lançou em 1960. O livro já foi traduzido em 13 idiomas. Também teve atuação destacada no sindicalismo e na política. Aliás, já fez tanta coisa que, ao ser convidado para dar esta entrevista, brincou: “Não sei onde vocês vão encontrar espaço para tanta conversa.” Jornal da ABI — De que maneira encara a rresponsabilidade esponsabilidade do car go de V icecargo VicePresidente da ABI? Audálio Dantas — Assumo com grande satisfação, pela importância da ABI como entidade das mais representativas da sociedade civil e, historicamente, uma trincheira da liberdade de informação, fundamental para a defesa das demais liberdades públicas. Jornal da ABI — O que o levou a aceitar esse convite? Audálio Dantas — A ABI passa por uma importante renovação. O processo eleitoral, com a vitória de Maurício Azêdo e outros companheiros identificados com essas lutas, abriu perspectivas de avanços para o que é fundamental: a reorganização da entidade, que já está em curso. — Como foi sua primeiJornal da ABI— ra aproximação com a ABI? Audálio Dantas — Ocorreu em 29 de outubro de 1975, num momento crucial: o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, do qual eu era Presidente, denunciou o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. O então Presidente da ABI, Prudente de Moraes, neto, visitou o Sindicato e manifestou o apoio e a solidariedade da entidade aos colegas de São Paulo. Mas só agora ocupo um cargo na ABI. elação Jornal da ABI — Qual é a sua rrelação com o P Prresidente Maurício Azêdo e os outros membros da Dir etoria? Diretoria? AudálioDantas — Conheço de perto o trabalho de Maurício Azêdo e a sua capacidade profissional. Acompanho de longa data a sua participação nas lutas democráticas, especialmente no que se refere à resistência ao arbítrio do regime militar. Sua presença na ABI, assim como a de outros companheiros, como Domingos Meirelles, é a garantia de uma administração séria e profícua na entidade.

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Jornal da ABI — O que a classe jornalística pode esperar do senhor como membro da atual Dir etoria da ABI? Diretoria Audálio Dantas — Dedicarei à ABI o melhor dos meus esforços. A questão da liberdade de expressão exige vigilância permanente. Não se pode ignorar que, apesar de termos superado o autoritarismo dos golpistas de 64, temos hoje uma nova forma de censura no País, exercida por membros do Poder Judiciário, em flagrante desrespeito à Constituição. eside em Jornal da ABI — O senhor rreside São P aulo. Qual o impacto que sua eleiPaulo. ção poderá ter no processo de expansão da ABI no Estado? Audálio Dantas — A ABI sofreu graves prejuízos em São Paulo, em função de desmandos em sua representação no Estado. A maioria dos jornalistas se afastou. Por isso, antes de expandir, temos de trabalhar para trazer de volta esses associados. Jornal da ABI — Quais foram seus trabalhos mais importantes como jornalista? Audálio Dantas — Em tanto tempo, é difícil apontar esse ou aquele trabalho, mas acho que a cobertura do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no Doi-Codi de São Paulo, em 75, foi a mais importante reportagem que fiz. Jornal da ABI — Por que a Comissão de Liber dade de Impr ensa, criada em São Liberdade Imprensa, Paulo em 1967, teve uma atuação independente do Sindicato? Audálio Dantas — A constituição da Comissão foi, em si, uma vitória, pois a direção sindical da época considerava a luta pela liberdade de imprensa uma questão política, na qual não devia se envolver. Quando o regime militar propôs a Lei de Imprensa, conseguimos número suficiente de assinaturas de jornalistas para convocação de uma assembléia, em que se elegeu a Comissão. Em seguida, partimos para uma campanha que culminou com um ato público, no Teatro Paramount, com a presença de 2 mil pessoas. Jornal da ABI — Como o senhor mobilizou a categoria? Audálio Dantas — A linha de atuação da Diretoria que eu presidia foi fundamental para que o sindicato fosse preservado como espaço para a luta contra a repressão ao mesmo tempo em que fazíamos a denúncia do episódio que foi o ponto de partida para as lutas que se seguiriam até à reconquista das liberdades públicas. Jornal da ABI — A posição da entidade provocou alguma mudança no processo político da época e no próprio meio sindical? Audálio Dantas — De imediato, detivemos o ímpeto dos militares da ultradireita, que se opunham ao projeto de abertura política. Mesmo assim, houve o assassinato do operário Manoel Fiel Filho, encontrado morto nas mesmas circunstâncias e na mesma cela em que morreu Herzog. Jornal da ABI — Então, qual foi a mudança? Audálio Dantas — Primeiramente, a destituição do Comandante do II

Exército, General Ednardo D’Ávila Melo. Depois, o Fiel Filho foi o último preso político assassinado nos porões da ditadura e o episódio contribuiu para a organização de movimentos de oposição nos sindicatos de jornalistas em todo o País. Não tenho dúvidas de que isso também levou ao ressurgimento do movimento operário no ABC. Jornal da ABI — O senhor se lembra de ter sido eleito, entr entree 1981 e 1982, um dos mais influentes líder es sindicais líderes do P aís, ao lado de L uiz Inácio L ula da País, Luiz Lula Silva? Audálio Dantas — Sim, apareci por três anos nessa lista, que resultava de pesquisas feitas pela Gazeta Mercantil em setores diversos, entre os quais o sindical. Jornal da ABI — Quanto às suas atividades culturais, são muitas? Audálio Dantas — Além de pertencer ao Conselho da União Brasileira de Escritores, desenvolvo vários projetos

culturais. É a minha principal atividade profissional, ao lado da comunicação. Tenho realizado várias exposições temáticas, entre elas O Chão de Graciliano e Macunaíma. Em abril deste ano, lancei um livro infanto-juvenil, A infância de Graciliano Ramos, e já estou trabalhando em outro, A infância de Maurício de Sousa, sobre o criador da Turma da Mônica. Depois, vou escrever sobre o caso Herzog e a minha visão daqueles dias de terror, 30 anos depois. Jornal da ABI — O senhor ganhou o Prêmio K enneth David Kaunda de Kenneth Humanismo, da ONU, em 1981. Audálio — Na medida do possível, dou a minha contribuição à luta em defesa dos direitos humanos. No Brasil, eles são desrespeitados de várias maneiras, em função das desigualdades que impedem o acesso de grande parte do nosso povo a um mínimo de condições que lhe permita uma vida digna.

Ivan Cavalcanti Proença é o novo Presidente do Conselho da ABI Em sessão no dia 13 de maio, o escritor e jornalista Ivan Cavalcanti Proença foi eleito Presidente da Mesa do Conselho Deliberativo da ABI num pleito em que derrotou a chapa encabeçada pelo jornalista Carlos Alberto de Oliveira Caó, que concorria à reeleição para o cargo. Com Ivan Proença, foram eleitos primeiro e segundo secretários, respectivamente, os jornalistas Carlos Arthur Pitombeira e Domingos Xisto da Cunha. Proença teve 23 votos contra 13 de Caó. Houve um voto nulo. Além da Mesa Diretora, foram eleitos os integrantes de três comissões do Conselho Deliberativo da ABI: Comissão de Ética dos Meios de Comunicação Comunicação, Alberto Dines, Cícero Sandroni, Arthur José Poerner, Ivan Alves Filho e Paulo Totti; Comissão de Sindicância Sindicância, Ely Moreira, Maurílio Candido Ferreira, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, Jarbas Domingos e José Ernesto Vianna;

Pitombeira, Ivan Proença e Xisto à frente da Mesa Diretora do Conselho.

Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos Humanos, Arthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes. Participaram da votação dois conselheiros da ABI radicados em São Paulo: Audálio Dantas, que foi deputado federal e Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo nos anos 70, e Ricardo Kotscho, que foi Secretário de Imprensa da Presidência da República até o princípio do ano.

UM MESTRE DE LITERATURA Ivan Cavalcanti Proença,, Presidente do Conselho Deliberativo, é jornalista e professor, com mestrado e doutorado em Literatura, autor de diversos livros e ensaios. Em 1966 ganhou o Prêmio Especial Esso de Literatura. Como jornalista, foi colaborador em vários jornais, inclusive o antigo Pasquim. Em duas gestões de Barbosa Lima Sobrinho à frente da Presidência da ABI, Ivan Proença foi membro do Conselho e exerceu a função de Coordenador do Centro de Memória da instituição. Sempre trabalhando pela cultura e pela educação, ocupou vários cargos no Governo do Estado do Rio de Janeiro: foi Assessor Pedagógico da Secretaria Estadual de Educação; Presidente do Conselho de Cultura e Esportes da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer; presidiu o Conselho de Carnaval e Cultura Popular do Rio de Janeiro; atuou como Diretor de Cultura e

de Projetos Especiais da Secretaria de Estado de Cultura, e também foi membro da Diretoria do Museu da Imagem e do Som, durante o segundo Governo Brizola. Pesquisador minucioso da literatura brasileira, Ivan Proença ocupou, até o ano passado, a presidência da Comissão de Folclore do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é o titular da cadeira de Cultura Brasileira na Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso– Facha, exercendo também a função de examinador de dissertações e teses de pós-graduação na UFRJ. Em 2006, Ivan Proença estará completando 40 anos de magistério, à frente de um de seus mais caros projetos: a Oficina Literária Ivan Cavalcanti Proença, fundada em 1972, que é hoje a mais antiga escola dedicada a ensaios, ficção e poesia no Estado do Rio de Janeiro

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Jornal da ABI DOCUMENTÁRIO

Na TV, a contribuição negra à nossa cultura O Canal Futura marca um Instituto Brasileiro de Geograponto positivo com a comunifia; a atriz Zezé Motta, no padade negra por ocasião dos 117 pel de Elizeth Cardoso; e Toni anos da Abolição da EscravaGarrido, no de Pixinguinha. tura, comemorados em 13 de O seriado integra o projeto maio, com o lançamento da séA Cor da Cultura, apresentado rie Heróis de todo o mundo, prepela emissora desde março para visto para ir ao ar em setematender à Lei federal 10.639, que bro. O programa vai contar a determina a inclusão da Históparticipação dos afro-descenria da África no ensino fundadentes na construção de impormental, como conta a coordetantes momentos da História nadora Ana Paula Brandão: do Brasil. — A Cor da Cultura é um proEm minidocumentários de O professor Muniz jeto de ação afirmativa de reledois minutos, a série vai apreSodré viverá vância social para a valorização sentar 30 personagens históriTeodoro Sampaio e preservação da cultura negra cos afro-brasileiros, interpretacomo elemento vital da nossa dos por personalidades negras de diferensociedade e contribui para inclusão da Histes campos de atuação, contemplando ditória e da cultura afro-brasileira no curversas áreas de conhecimento. rículo das escolas. Ana Paula diz ainda No elenco estão, entre outros, o radiaque o trabalho nasceu de uma idéia origilista Antônio Carlos, que vai interpretar nal da historiadora e pesquisadora Wânia o legendário jogador de futebol Leônidas Sant’Anna, do ator Antônio Pompeo e do da Silva; o sambista e compositor Nei Lodiretor de TV Luís Antônio Pilar. pes, como o jornalista abolicionista José — A idéia foi apresentada à TV Glodo Patrocínio; o professor e escritor Muniz bo, que a encaminhou para o Futura. Sodré, como o geógrafo e historiador Aqui, ela foi reformatada e ampliada para Teodoro Sampaio, um dos fundadores do o escopo atual, com um kit educativo que

será distribuído nas escolas públicas de ensino fundamental de seis Estados. O projeto tem ainda como objetivo estabelecer uma nova dinâmica de produção, com a inclusão dos afro-descendentes na conceituação, Zezé Mota e Nei Lopes: interpretando personagens históricos criação e produção dos produtos audiovisuais: Ana Paula concorda com as organiza— Queremos contribuir com a popuções e lideranças do Movimento Negro, lação negra no sentido do seu auto-recoque reclamam que os afro-descendentes nhecimento e com o rompimento das essão pouco e mal-representados na mídia: truturas de invisibilidade, buscando re— Sabemos e entendemos o quão poduzir a exclusão racial – diz Ana Paula. derosa é a televisão na formação do imaO radialista Antônio Carlos, que fez a sua estréia como comunicador em 1959, ginário coletivo, reproduzindo estereótipos e lugares-comuns. O que este projeto na antiga TV Continental, e atualmente deseja é romper com essa estrutura e aprecomanda um programa na Rádio Globo, sentar personagens negros de uma maneidiz se sentir exultante com a iniciativa ra correta, responsável, afirmativa. do canal: Para julho, o Futura programou usar — Achei a idéia do Futura sensacional histórias escritas ou ilustradas por negros por dois motivos: porque vou viver o granno programa Livros animados, que transde Leônidas da Silva, o Diamante Negro, forma em animação publicações destinaídolo do futebol brasileiro da década de das ao público infantil. Em agosto, em 1930; e pela oportunidade de estar na teMojubá, serão exibidos sete documentálevisão dando visibilidade ao legado sórios sobre religiões de origem africana. cio-cultural afro-brasileiro no País.

REFORMA

A NOVA CARA DO CADERNO B Sob o comando de Ziraldo, o JB muda a partir do seu mais antigo e prestigiado caderno O JB não é mais o mesmo. Desde 1º de maio, o Caderno B ganhou novo projeto editorial, sob o comando de Ziraldo. Foi ele o responsável pela escolha dos novos colunistas, a maioria amigos de longa data dos quais destaca a competência: — Não houve uma reforma gráfica, mas sim uma mudança de conceito editorial. Eu quero mostrar que ele é um caderno que abre espaço para a reflexão e a leitura e que acompanha a vida da cidade. Luís Pimentel, subeditor do B, complementa: — Penso que as principais mudanças foram feitas neste momento, com esta reforma de agora: adicionar conteúdo, por intermédio de colunistas e cronistas de peso, o que sempre foi uma marca do caderno. No expediente agora figuram os nomes de Aldir Blanc, Marina Colassanti, Mauro Santayana, Fausto Wolff, Fernando de Castro, Antônio Torres, Michel Melamed, Maria Lucia Dahl, Reynaldo Jardim, Silvio Lach, Tomaz Câmara, Ivo Barroso, Vitor Paiva, Léo Montenegro e João Luiz Albuquerque. Lançado em 1960, o B foi o primeiro caderno do País a reunir apenas notícias relativas a variedades; ao longo do tempo, não perdeu o seu conceito de vanguarda, segundo Pimentel, que explica por que o suplemento virou modelo para outros: — Isto se deve à relação que os criadores do B — sobretudo Reynaldo Jardim, que retorna diariamente a suas páginas com poemas inéditos e colagens, e Jânio de Freitas — tinham com a cultura e o pensamento.

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Ziraldo, por sua vez, ressalta a representatividade do JB na história da imprensa brasileira: — Ele sofreu a mudança mais radical dos jornais brasileiros ao deixar de ser apenas um espaço para a publicação de classificados e balanços e tornar-se um veículo moderno. O B acompanhou essa evolução, sendo testemunha efervescente das mudanças de comportamento no Rio da segunda metade do século XX. Em editorial, o presidente do JB, Nelson Tanure, falou da intenção de “empreender significativo esforço para redimensionar o hábito de ler jornal no Brasil” e do reconhecimento do JB, “destacado pela análise, a reflexão, a vanguarda mesmo de muitas manifestações intelectuais, artísticas e culturais”. A nova equipe também produzirá material para outras seções do jornal, como a revista Programa e o Idéias, que deverá ser reformulado em breve. Apesar do otimismo, Pimentel recorda que o B já viveu momentos de crise: — O caderno nem

sempre fez sucesso. Teve períodos críticos, que acompanharam os períodos críticos pelos quais passou o jornal como um todo. Também em editorial, Ziraldo destacou: “O B maiúsculo que se amplia no espaço branco, onde começamos a ter nossa primeira conversa, é, verdadeiramente, um ícone carioca. (...) Reflete um modo próprio de ver a vida, uma atitude especial diante dos fatos, a percepção de um mundo novo que surgia quando o caderno foi criado, há exatos 45 anos.” Sobre as expectativas com a mudança, ele diz: — Queremos começar uma nova história. Vamos torcer e ver o que acontece. A saída do Diretor de Redação O jornalista Marcus Barros Pinto, que deixou a Direção de Redação do JB, negou que sua saída tenha sido motivada pelo acerto entre Nelson Tanure e Ziraldo: — Foi o cansaço, acima de tudo, que me afastou do JB. Discordava de algumas diretrizes administrativas e editoriais e resolvi devolver o cargo à Direção da empresa. Marcus entrou para o Jornal do Brasil em 1995 e, com a saída de Augusto Nunes e Cristina Konder do comando da redação, da qual era Editor-executivo, foi convidado por Tanure para ocupar o cargo

de Editor-chefe, função que exerceu por nove meses. Ele acredita que sua saída não vai interferir na linha editorial do jornal e, apesar de não comentar as mudanças do B e do Idéias, das quais não foi comunicado, concorda com o colunista do site Comunique-se Milton Coelho da Graça quando este diz que há um certo autoritarismo nas interferências da Direção na Redação do centenário diário carioca: — Considero autoritárias algumas dessas interferências. Noutros casos, diria que pecaram por omissão. Desde o início, segundo Marcus, seu grande objetivo em relação ao JB foi a qualificação dos quadros da Redação, para conseguir fazer um jornal cada vez melhor. Prova dessa determinação, diz ele, foi o Prêmio Esso conquistado em 2004: — No entanto, não consegui atingir meu objetivo. Num primeiro momento porque, assim que assumi a Redação, a empresa fez um rigoroso corte em todos os departamentos, inclusive na Redação. Depois, de setembro a dezembro, o período foi de estabilização interna. E considero que no primeiro trimestre deste ano o Jornal do Brasil não foi prioritário dentro dos objetivos da empresa. Ainda assim, Marcus acredita que o jornal possa recuperar a sua credibilidade e voltar a crescer no mercado editorial: — Sua marca fortíssima e sua história permitem que o JB sobreviva apesar dos contínuos sobressaltos de gestão. Para haver futuro, porém, é preciso investimento em conteúdo, seja ou não através de grandes nomes.

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Jornal da ABI PROFISSIONALIZAÇÃO

O jornalismo depois da faculdade A penosa busca de espaço no mercado de trabalho

qualidades e desafios diferentes, para que uns possam incentivar os outros e aprender entre si. Além disso, o treinamento permite que os participantes cometam erros num ambiente protegido, ou seja, numa espécie de redação-modelo onde os alunos acompanham todos os passos da produção do jornal, assistem a reuniões de pauta e de edição, fazem exercícios de redação, cortam, aumentam, corrigem e reescrevem textos, fazem legendas, montam páginas no computador, selecionam fotos e até elaboram gráficos. Além de uma equipe de jornalistas

Como na maioria das profissões, o mar do mercado de trabalho para jornalismo não está para peixe, que dirá para foca. Com cada vez menos postos de trabalho em um reduzido número de veículos, a competição entre os recém-formados para conseguir um estágio que lhes garanta um lugar ao sol se torna cada vez maior. Tem mais chances quem se prepara melhor e acrescenta ao curPor ano, 8 mil rículo competências que candidatos nem sempre são formadas concorrem nas universidades. Daí o sucesso dos cursos de exàs vagas nos tensão, das palestras com cursos de profissionais experientes, treinamento dos livros que contam os Ana Estela, da Folha, e Francisco Ornellas, do Estadão: cursos selecionam os melhores e preparam para cada veículo segredos da profissão. das grandes No entanto, além da faempresas. e colaboradores, os cursos da Folha Em São Paulo, os já formados, continuarão a ter aulas de culdade, são os programas E a vaga é de contam com o professor de Português mais procurados são Português – fundamental para qualquer de treinamento oferecidos Pasquale Cipro Neto e Luís Francisco o Curso de Jornalisárea do jornalismo –, além de Direito, por empresas jornalísticas trainee, nome Carvalho Filho, consultor jurídico do mo Aplicado do GruEconomia e do contato permanente que realmente preparam do estágio de jornal. Desde que foi criado, o prograpo Estado, o Progracom os jornalistas mais experientes do os jovens jornalistas e deiquem já tem ma da Folha aproveitou cerca de 300 ma de Treinamento Grupo, o que é a parte nobre do procesxam antever uma perspectreinees, nas mais diversas editorias. em Jornalismo Diário so de aperfeiçoamento profissional. tiva no fim do estreito túcanudo. Um dos beneficiados foi Vinicius Moda Folha de S. Paulo e O programa de treinamento da Fonel que desemboca em ta, hoje editor-chefe da Editoria Muno Curso Abril de Jornalismo. Todos se lha foi inaugurado em 1988, com curuma redação. E o benefício é mútuo, do. Ele não é formado em Jornalismo, dedicam a ensinar aspectos práticos da sos de reportagem e redação. Em 98, porque o treinamento acaba gerando mas em Ciências Sociais pela Uniprofissão nas áreas de texto, fotograpassou a incluir o projeto para infograpara a empresa uma melhor qualificacamp, com mestrado em Sociologia fia, infografia e diagramação. O profia e diagramação. ção de seus profissionais. pela USP. O Grupo Folha é contra a grama do Grupo Estado oferece tam— Já em 85, promovíamos um seNo Rio e na capital paulista, a Ediexigência do diploma específico em bém capacitação em radiojornalismo. minário que serviu de base para o protora Abril e os jornais O Globo, EstaComunicação para trabalhar na proEste ano a Folha de S. Paulo vai realigrama de treinamento, criado três anos do de S. Paulo e Folha de S. Paulo atrafissão (ver box ao lado). Vinícius Mota zar pela primeira vez um treinamento depois. Queremos atrair jovens bemem, anualmente, cerca de 8 mil candiz que sua passagem pelo treinamenintegrado em 12 semanas, ensinando formados, inteligentes, criativos e intedidatos em busca de uma vaga nos to do jornal foi fundamental para o tudo o que é necessário para se fazer ressados em Jornalismo e ensiná-los na seus concorridíssimos programas seu desenvolvimento como jornalista. um jornal diário. Os trainees, embora prática a trabalhar em jornal diário, com para trainee. — Sem ele, dificilmente estaria na o objetivo de dinamizar e aperfeiçoar os posição em que estou hoje. O curso é quadros profissionais da Folha – conta muito eficaz em seu objetivo de treiAna Estela de Souza Pinto, responsável nar de maneira intensiva e preparar os pela Editoria de Treinamento. alunos para iniciar a carreira num Segundo Ana Estela, são cerca de grande veículo de comunicação. 2.500 inscrições por turma, duas ou Na Folha, os trainees não são remutrês por ano, vindas de todo o País, de nerados e não têm seus trabalhos pumais de 100 universidades e das mais blicados; tudo é feito apenas como diversas áreas. exercício. Ao final do curso, eles parti— A seleção é complexa. Alguns dos cipam da produção de um caderno esfatores analisados são formação escopecial que, dependendo da qualidade lar, domínio de idiomas, capacidade de jornalística, pode vir a ser publicado articulação, informação geral, formano jornal. Neste caso, diz Ana Estela, ção cultural, capacidade de trabalhar “os alunos recebem um pagamento coem grupo e sob pressão, interesses pesmo free-lancers”. soais e projetos profissionais – diz ela. No Grupo Estado, responsável peNa hora da seleção, diz Ana Estela, los jornais O Estado de S. Paulo e Jornal não há critérios mais ou menos imporda Tarde, a Agência Estado e a Rádio tantes. Procura-se formar turmas heEldorado, o Curso Intensivo de Jornaterogêneas, com pessoas que tenham Ex-Ministro Maílson da Nóbrega faz palestra para trainees do curso intensivo do Estadão

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Jornal da ABI lismo Aplicado é sempre no segundo semestre do ano e tem três meses de duração. Durante esse período, os alunos têm contato com profissionais experientes e participam de debates sobre os mais variados aspectos da atividade jornalística e são treinados para a realização de entrevistas coletivas com autoridades, parlamentares e personalidades do meio acadêmico e artístico. O ex-Ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega foi um dos entrevistados. Eles também são mandados a campo para fazer reportagens e entrevistas, supervisionados pelos seus coordenadores, e acompanham todas as fases de elaboração do jornal, da apuração das matérias à distribuição. Criado em 1990, o curso é reconhecido como Extensão Universitária em Jornalismo pela Faculdade de Comunicações da Universidade de Navarra, na Espanha. — Anualmente, temos 30 vagas para brasileiros e três vagas adicionais para estrangeiros. Os candidatos podem estar concluindo a faculdade de Jornalismo no ano da inscrição ou já se terem formado até dois anos antes. A cada turma, são mais de 2 mil inscritos. Para estabelecer uma ponte com o mercado de trabalho, criamos um cadastro dos nossos alunos, o Banco Estado de Talentos –, diz o coordenador-geral do projeto, Francisco Ornellas. A seleção dos candidatos é feita em duas etapas: a primeira, eliminatória, de conhecimentos gerais e texto jornalístico; na segunda etapa, os 60 classi-

ficados passam por uma entrevista pessoal com profissionais do Grupo Estado e professores da Universidade de Navarra; são então selecionados os 30 alunos da turma. No Globo, o programa de treinamento ganhou um estágio multimídia em 2002. Desde então, os alunos fazem um rodízio pelas principais editorias do Globo, do Extra, do Globo Online e do Sistema Globo de Rádio, antes de passarem a trainee: — Além da experiência nas redações e na rua, onde são sempre acompanhados por um profissional, os estagiários participam de ciclos de palestras com nomes de destaque no jornalismo —, conta a editora Nívia Carvalho, responsável pelo programa. Este ano, para quase mil inscritos, foram oferecidas 15 vagas, sendo apenas uma para a Fotografia, uma para a Arte e outra para a Diagramação, todas com provas específicas. A média de idade dos inscritos no programa é de 23 anos. Os estagiários, que passam por 11 meses de treinamento e têm direito a seguro, bolsa de R$ 630,00 e ajuda-de-custo para transporte e alimentação, devem estar matriculados no 7º período de Comunicação. Mesmo apontando deficiências no ensino do Jornalismo nas universidades, Nívia diz que o índice de aproveitamento dos estagiários no Globo é alto. No ano passado, dez dos 12 estagiários passaram a trainees. Hoje repórter da Editoria Grande Rio, Alessandro Soler acha que

Grupo Folha

A cidadela do antidiploma O jornal aceita graduados de qualquer área. Às inscrições para seus cursos, por isso, acorrem multidões. O Curso Folha de Jornalismo deste ano teve 1 mil 800 candidatos inscritos e deste total 150 conseguiram passar às etapas finais do processo seletivo. Os alunos que obtiveram as 40 melhores notas credenciaram-se a participar da última fase da seleção, que acontece no período de 12 a 16 de setembro, e irá indicar os 10 candidatos que irão compor a 40ª turma do Curso Folha de Jornalismo, que começa no dia 26 de setembro. O jornal já está aceitando inscrições para o período de treinamento de 2006 — em maio já havia mais de 1.200 inscritos. Qualquer pessoa com um máximo de dois anos de graduação em qualquer curso de nível superior pode candidatarse a uma vaga no curso de treinamento da Folha de S. Paulo. Na turma de treinamento deste ano, dos 10 aprovados no curso dois não são formados em Jornalismo e nem possuem registro profissional. A Gerente de Treinamento da Folha, Ana Stela Pessoa, diz que o jornal é contra a exi-

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gência do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão. Ela mesma é formada em Agronomia e começou no jornal há 18 anos na Editoria de Educação e Ciência. O Diretor do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo Rodinaldo Gonçalves considera que a Folha de S. Paulo age em desrespeito à regulamentação da profissão: — O curso da Folha tenta qualificar pessoas estranhas à atividade profissional de jornalista, que não possuem a qualificação necessária para participar do tipo de treinamento que o jornal oferece. Gonçalves explica que o jornal se beneficia da sentença proferida em primeira instância pela Juíza Federal substituta Carla Rister, da 3ª Região do Tribunal Regional Federal de São Paulo, que em dezembro de 2003 acatou pedido de liminar do Procurador André de Carvalho Ramos, autorizando o exercício da profissão de jornalista sem a exigência do diploma e do registro profissional. O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj entraram com recurso no TRF e aguardam uma decisão que, segundo o relator do processo Juiz Manoel Alvarez, deverá ocorrer entre os meses de agosto e setembro deste ano.

Ao final do treinamento, os alunos editam jornais e revistas. Algumas matérias podem até ser publicadas. Ao lado, o grupo do curso da Folha observa o resultado do trabalho. Abaixo, os alunos da Abril falam sobre a revista que produziram

seu período como trainee foi fundamental para sua carreira. — Estudei na UFRJ, que não tem disciplinas práticas e em que a maioria dos professores está fora do mercado. Não tive contato com o Jornalismo na prática. Já no curso do Globo, aprendi basicamente tudo, desde o que é a pauta até como fazer uma reportagem. Criado em 1984, o Curso Abril foi inspirado no que já havia na Veja e ensinava a fazer revistas semanais. Em 1968, 100 jornalistas de diferentes Estados selecionados entre quase 2 mil candidatos participaram do treinamento de estréia. Desses, 50 profissionais foram contratados. A idéia foi retomada por Alberto Dines, num curso que, inicialmente, durava apenas 15 dias e era voltado para a redação de textos. Em 92, Marília Scalzo assumiu a direção-geral e iniciou uma nova etapa, como a formação de fotógrafos e designers. — É uma forma de atrair talentos. O curso está em sua 22ª edição e daqui já saíram nomes como Caio Fernando Abreu — diz Hamilton dos Santos, diretor do Curso Abril. As inscrições abrem em setembro, exAlessandro Soler: treinamento complementou a formação teórica e pouco prática recebida na universidade

clusivamente para jornalistas recémformados. No ano passado, de 2 mil inscritos, 59 foram selecionados e quatro se tornaram trainees; nenhum deles fotógrafo. — Não selecionamos nessa área porque temos poucos fotógrafos contratados e alguns frilas. Nosso foco mesmo é texto e design. De qualquer forma, todos os alunos são tratados como potenciais profissionais. Preferimos formar nossos próprios quadros para atender às nossas necessidades. Em geral, há um desequilíbrio entre a grade oferecida nas universidades e a realidade da prática profissional e das exigências do mercado – explica Hamilton. Desenvolver o potencial dos alunos como gestores editoriais é outra meta do Curso Abril, que há quatro anos oferece 10 vagas para áreas administrativas. Em todas as áreas os alunos têm direito a refeição, mas não são remunerados. Se forem contratados como trainees, passam a receber cerca de R$ 2.400,00 mais benefícios como auxílio-saúde e alimentação. Hamilton diz que os requisitos para alcançar essa oportunidade são “fazer uma boa faculdade, ter formação humanística, domínio de Matemática, raciocínio lógico e uma boa bagagem cultural”.

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Jornal da ABI ACONTECEU NA ABI

A Rainha Isaurinha revivida por Rosamaria Paulinho da Viola (à esquerda) chegou com a mão gelada para a disputa com Toquinho (à direita). Havia motivo: perdeu de 3 a 1.

Dois ases da música num duelo diferente Disputa entre Toquinho e Paulinho da Viola abriu o I Torneio Aberto de Sinuca da ABI

aqui torcer para o Paulinho, pois dessa forma estarei torcendo também pela Portela — disse o sambista, perto da mesa que na juventude, como contínuo da ABI, costumava escovar para Villa-Lobos jogar. Satisfeito com o resultado promocional alcançado Acostumados a “duelos” de voz e violão, no dia 7 pelo evento, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, de junho Toquinho e Paulinho da Viola fizeram o disse que “o Torneio de Sinuca é mais uma afirmação jogo inaugural do I Torneio Aberto de Sinuca Mavital que Associação experimenta nesse momento”. estro Vila-Lobos. As partidas oficiais começaram dois — Trata-se da grande energia da entidade, do cordias depois, em duas séries: uma para jornalistas e po social, dos amigos e da administração da ABI, que associados da Casa, outra para o público em geral. nos fazem prenunciar novos avanços de liberdade O Salão de Estar da ABI, no 11º andar do edifíciode imprensa, dos direitos civis e humanos. sede, ficou lotado para receber os artistas. Cerca de Maurício acompanhou Toquinho e Paulinho da Vi150 pessoas, entre convidados, jornalistas associaola à mesa escolhida para a disputa de melhor de dos da Casa e sinuqueiros inscritos na competição cinco partidas. Antes da primeira tacada, o Presidente disputaram espaço próximo à mesa de jogo com os da ABI fez questão de ressaltar a participação do colegas de jornais e TV que cobriam o evento. público “pelo prestígio emprestado a esta iniciativa Antes da partida, Toquinho dizia a amigos que da Casa do Jornalista”. Ele falou ainda do carinho e esperava disputar um jogo difícil, pois Paulinho da da admiração “por dois grandes expoentes da MPB Viola, segundo ele, é um jogador malicioso. que são também dois ases da sinuca” e fez questão — Estou gostando da festa. Quanto ao jogo, é clade destacar a colaboração do Presidente do Consero que cada um de nós quer sair vencedor. Mas entre lho, Ivan Cavalcanti Proença; do coordenador do mim e o Paulinho há muita amizade e estamos semTorneio, José Henrique (Zezé) Cordeiro; da Diretopre nos enfrentando na sinuca nesse clima amistora de Jornalismo, Joseti Marques; e do Diretor de so. Mas é claro que eu não quero perder. Assistência Social, Domingos Meirelles. Paulinho chegou em seguida e, ao avistar o amigo Zezé Cordeiro deu uma breve explicação sobre as adversário, foi logo dizendo: regras do Torneio e brincou com os ilustres compe— Pega a minha mão; olha como está gelada. Agotidores da partida inaugural: ra, escuta o coração, que está pior ainda. — Vamos apreciar uma saudável rivalidade que Sobre ser um jogador malicioso, Paulinho negou: existe entre Paulinho da Viola e Toquinho, que cos— Isso não é verdade. As palavras do Toquinho tumam se bicar nas sinucas da vida. fazem parte de uma brincadeira que fazemos há anos Toquinho venceu as duas primeiras partidas e e me lembra um samba do Miguel Gustavo, gravado Paulinho, após ganhar a terceira com a larga diferenpelo Moreira da Silva, que ça de 26 pontos, brincou: diz: “Ele atirou/ eu atirei/ — Eu quero um lexotan! e até hoje/ ninguém sabe A quarta e última partiquem morreu”. da foi a mais longa e a mais Dito isto, os amigos se tensa. Paulinho deu a saída abraçaram, mas não consecom jogada suicida, dando guiam tranqüilidade para os sete primeiros pontos conversar sobre o jogo ou para seu adversário. o show que fariam juntos Toquinho marcou vários na semana seguinte, em pontos em tacadas seguiSão Paulo, devido ao assédas, somando 24 pontos. dio dos fãs — deles e da siO vencedor da noite foi nuca. Entre eles estava o aplaudido por todos os ex-funcionário da ABI presentes e cumprimentaMonarco, grande amigo de do por Paulinho. Maurício Paulinho da Viola e Azêdo entregou aos dois portelense como ele: competidores tacos de — Joguei sinuca muito luxo do I Torneio de Sinupouco, mas aprecio quem ca, uma homenagem da joga bem. Apesar de gosABI aos convidados de Toquinho eufórico, Paulinho vencido mas altivo. Ele tar do Toquinho, hoje vim honra do evento. disse que pior do que a mão estava o coração.

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A comovente apresentação dos sucessos e do drama de Isaurinha Garcia marca o Dia da Imprensa na ABI A ABI comemorou o Dia Nacional da Imprensa com uma versão pocket do musical “Isaurinha Garcia, a Personalíssima”, interpretado por Rosamaria Murtinho e com a participação do ator Mauro Mendonça. A atriz recordou vários sucessos da Rainha do Rádio, como “Mensagem” (Aldo Cabral), “Edredon vermelho” (Herivelto Martins), “Cansei de ilusões” (Tito Madi) e “Eu sei que vou te amar” (Tom Jobim). Segundo o produtor e diretor Renato Lima, a idéia era reproduzir um autêntico programa de auditório. E foi nisso que o palco do Auditório Oscar Guanabarino se transformou, para contar, por meio da música, a trajetória de Isaura Garcia, a Rainha do Rádio paulista nas décadas de 1940 e 50. O show teve início com a narração de Mauro Mendonça, interpretando um apresentador de programa radiofônico no gênero de César de Alencar, da Rádio Nacional, e Blota Júnior, da Record de São Paulo. Em seguida, Rosamaria Murtinho subiu ao palco e, caracterizada como Isaurinha e acompanhada pelos músicos André Estrela (violão) e Daniel Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça: com Gordon (percussão), Isaurinha, uma cantou “Camisa listrahomenagem ao da”, grande sucesso do Dia da Imprensa compositor Assis Valente. Um dos momentos mais marcantes foi a interpretação de “Eu sei que vou te amar”, que Isaurinha cantou no show de despedida de seu marido, o tecladista Walter Wanderley, quando este aceitou o convite do cantor Tony Bennett para os Estados Unidos, numa apresentação memorável no São Sebastião Bar, em São Paulo, nos anos 60. Antes de o evento começar, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, agradeceu aos presentes por apoiarem a singela homenagem da ABI ao Dia Nacional da Imprensa e fez questão ainda de ressaltar o pioneirismo de Hipólito da Costa, que, no dia 1º de junho de 1888, lançou em Londres o Correio Braziliense, marcando o primeiro esforço de expressão da imprensa brasileira.

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Jornal da ABI José Reinaldo Marques e Rodrigo Caixeta

SÉRIE MÚSICA DE RAIZ

A bossa de sempre no palco da ABI

Dotado de memória privilegiada, Monarco contou histórias singulares, como as do seu tempo de contínuo da ABI, quando era pouco mais que adolescente. Numa delas o personagem foi Truman, Presidente dos EUA.

A ABI retomou em maio uma de suas mais caras tradições – o incentivo às manifestações da cultura genuinamente brasileira, principalmente aquelas que vêm através dos artistas e compositores da música popular. O projeto Música de Raiz, dirigido pelo jornalista e também músico Jorge Roberto Martins, teve início no dia 13 de maio com uma programação que previa a apresentação de um grande nome de nossa música todas as sextas-feiras de maio e junho. Abrindo a série de shows, o palco do auditório do 9º. andar do Edifício Herbert Moses recebeu o cantor e compositor Luiz Carlos da Vila.

Luiz Carlos da Vila, aplaudido de pé

Monarco, o contador de histórias

Luiz Carlos brindou o público com seu talento e a simplicidade que lhe é peculiar. Cantou músicas do seu CD mais recente cujo título, Benza Deus, é também o nome de uma música feita em parceria com Moacyr Luz, outro grande nome da música. Mas foram os clássicos O sonho não acabou, composição sua, e O show tem que continuar, dele com Sombrinha e Arlindo Cruz, que levantaram o entusiasmo e a participação da platéia. Lembrando a Abolição da Escravatura que se celebrava naquele dia, Luiz Carlos da Vila exaltou as raízes do samba, legado cultural da presença africana no Brasil e o mais popular dos ritmos musicais brasileiros, cantando Treze de maio e Kizomba. Na platéia, o bancário José Amadeu Alvarenga era um dos mais entusiasmados. — Ninguém melhor para representar a cultura negra do que Luiz Carlos da Vila. É um dos nossos maiores poetas. É muito bom ver a ABI criar um foco de resistência cultural. Resistir é preciso. Parabéns! Quem também compareceu à ABI para assistir a Luiz Carlos da Vila foi a jornalista e cantora Tânia Malheiros. — Vim ver um amigo que é também um dos maiores poetas da atualidade. Em meus shows tenho cantado uma música dele, Duas saudades, que representa o momento de total felicidade do poeta. Adorei essa iniciativa da ABI. Acompanhado da mulher, o comerciário Cláudio Luz era outro entusiasmado com o projeto da Associação:

A ABI recebeu na noite de 20 de maio, um dos maiores sambistas brasileiros: Monarco, que não escondeu a alegria de voltar à instituição onde trabalhou dos 13 aos 15 anos. Num show envolvente e animado, o segundo do projeto Música de Raiz, o compositor apresentou seus maiores sucessos e contagiou a platéia. Monarco começou o show emocionado, agradecendo a presença dos amigos e relembrando algumas figuras importantes da história da ABI. — Eu volto com muita alegria no coração. Já matei a saudade do 11º andar, onde escovava a mesa para Vila-Lobos jogar bilhar francês e onde também se reunia aquela turma boa: Nássara, Barão de Itararé e Abdias Nascimento e tantos outros homens de grande valor da nossa imprensa —, disse ele, acrescentando com bom humor que o samba foi o grande causador de sua demissão. — Vejam só que ironia. Hoje volto à Casa como artista e essa é a forma como eu ganho meu dinheirinho. Um momento importante em sua trajetória na ABI se passou na época em que ele trabalhava como contínuo: — Eu e o Tupi (Durval Tupinambá, seu amigo de infância) estávamos sambando no 11º andar; eu com uma vassoura e ele com uma lata, quando chegou o elevador que trazia o então Presidente dos EUA, Harry Truman, e o Dr. Moses, que nos deram um flagrante. Eu pensei que seria demitido, mas nada aconteceu. Monarco levou a platéia às gargalhadas ao lembrar que um dia voltou à ABI para comunicar a Herbert Moses que havia se casado e ficou surpreso ao ouvir seu comentário: — Ele olhou para mim e disse: “Pensei que você fosse mais equilibrado.” Com mais de 50 anos de samba, Monarco comemora o reconhecimento do gênero musical no mundo, referindo-se ao convite para se apresentar, juntamente com a Velha Guarda da Portela, nas comemoração do ano do Brasil na França: — Os franceses estão muito amarrados no samba brasileiro. Eles tocam cavaquinho e nos emocionaram quando

Luiz Carlos da Vila abriu a série em 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura, tema de uma de suas celebradas criações: o samba-enredo Kizomba, com que a sua Unidos da Vila Isabel foi campeã.

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— A última vez que estive aqui foi no lançamento de um disco do Xangô da Mangueira, no fim dos anos 90. É ótimo estar aqui de volta. É um programa cultural, com preço acessível e que deve ser continuado. Para o jornalista Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, é bom ver a ABI retomando o caminho da cultura popular no Rio de Janeiro. — Este programa veio em boa hora e a atual Diretoria está conseguindo a união da classe. Estou voltando à Casa por causa das novas propostas, que estão trazendo momentos de alegria, shows e arte. Há uma nova onda de entusiasmo na atual gestão da ABI. Luiz Carlos da Vila subiu ao palco acompanhado pelo grupo Batifundo (Pedro Holanda, violão sete cordas e voz; Roberta Nistra, cavaquinho e voz; Marcelo Mattos, percussão; Sérgio Krakowski, pandeiro e voz), que abriu a programação com repertório que incluiu obras de Paulinho da Viola e Zé da Zilda. Muito à vontade com a platéia que o acompanhou cantando seus sucessos durante todo o espetáculo, Luiz Carlos da Vila encerrou sua apresentação com O show tem que continuar, sendo aplaudido demoradamente por uma platéia de pé.

estivemos lá em abril e nos apresentamos com um coral de franceses que passou seis meses ensaiando uma música brasileira. A França é hoje em dia o país que mais gosta do nosso samba de raiz. O próprio Monarco definiu o roteiro de sua apresentação no Música de Raiz, reunindo “sucessos tanto das rádios como da comunidade portelense”. Monarco cantou acompanhado do grupo Batifundo, composto por Pedro Holanda (violão e voz), Roberta Nistra (cavaquinho e voz), Clarice Magalhães (pandeiro e voz) e Marcello Mattos (percussão). As músicas escolhidas foram Tudo menos amor, Coração em desalinho, Proposta amorosa, Passado de glória, Passado da Portela, Quitandeiro, Homenagem à Velha Guarda, Seu Bernardo sapateiro, Vivência no morro e Homenagem a Geraldo Pereira. Batizado Hildemar Diniz, Monarco foi criado em Osvaldo Cruz e começou a freqüentar rodas de samba ainda menino. Aos 11 anos, compôs suas primeiras músicas para blocos de subúrbios. A primeira a ser registrada, na voz de Risadinha, em 1975, foi Vida de rainha, composta em parceria com Alvaiade. Monarco integra a Ala dos Compositores da Portela desde 1950 e teve músicas gravadas por Clara Nunes (Vai amor), Martinho da Vila (Tudo menos amor), Roberto Ribeiro (Proposta amorosa), Paulinho da Viola (O lenço e Passado de glória) e Beth Carvalho (Fim de sofrimento), entre outros. As habilidades musicais de Monarco sobressaem quando ele toca cavaquinho e percussão. Lançou o primeiro LP em 1974, pela gravadora Continental. O segundo disco, pela Eldorado, saiu em 1980. Onze anos mais tarde, estreou no formato CD com Monarco, a voz do samba, que teve produção de Henrique Cazes e foi lançado no Japão. Monarco também foi eleito, em 1994, melhor cantor na categoria Samba do Prêmio Sharp. Entre suas composições de sucesso, destacam-se Amor de malandro, Coração em desalinho, Falsa alegria, Presença incerta, Vou procurar esquecer e Vai vadiar. Seus parceiros mais constantes atualmente são Ratinho e seu filho Mauro Diniz.

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Jornal da ABI ACONTECEU NA ABI

SÉRIE MÚSICA DE RAIZ “Quando toco na viola/ fica bom bater uma bola/ e a inspiração decola”, diz a letra do samba Quando toco na viola, de Ivan Lins e Cláudio Jorge. E foi assim que o artista com o seu violão encantou o público presente ao Auditório Oscar Guanabarino. O clima intimista entre Cláudio Jorge e a platéia deixou transparecer que o Música de Raiz na ABI agradou aos associados e aos cariocas em geral. Cláudio Jorge foi o primeiro artista a se apresentar em junho na série, com um repertório, disse ele, preparado para mostrar que imprensa e música têm um vínculo muito forte: — Basta ver minhas raízes, minha história, pois sou neto, filho e pai de jornalista. Dedico este show a três grandes jornalistas: meu avô Canuto Silva, meu pai, Everaldo de Barros, e Lena Frias, gente cuja trajetória profissional foi dedicada às causas sociais, à arte da música e principalmente ao samba. Por escrever muitas crônicas sobre música popular, o jornalista Everaldo de Barros, pai de Cláudio Jorge, fez amizade com compositores como Ismael Silva, padrinho de Cláudio, e Wilson Batista, de quem foi parceiro. Nascido na Boca do Mato, no Rio de Janeiro, Cláudio Jorge está perto de completar 30 anos de carreira dedicada especialmente ao samba. Aos 20 anos de idade, estreou como violonista de importantes compositores da Velha Guarda, como Ismael Silva e Cartola. Mais tarde, participou de shows e gravações de outros veteranos, entre eles Nelson Cavaquinho e Clementina de Jesus. Sua primeira gravação como cantor e compositor aconteceu em 1980. De lá para cá, teve músicas suas gravadas por gente de renome como Emílio Santiago, Angela Maria, Alaíde Costa, Zeca Pagodinho, Elza Soares, Roberto Ribeiro, Zezé Motta, Jorge Aragão, Martinho da Vila, Sivuca, Cartola e o grupo Arranco de Varsóvia. Guitarrista, arranjador e violonista dos mais requisitados, participou de vários shows no Brasil e exterior e de inúmeros discos de colegas, de Leila Pinheiro, Sérgio Mendes e Ney Matogrosso a Johnny Alf e Leny Andrade. Cláudio Jorge abriu a programação sozinho no palco, cantando Coisa de chefe, que dá nome ao CD com que concorreu ao Grammy Latino. No meio da execução de Quanto toco na viola, após um solo no

Wilson Moreira, o que faz diferença Na noite de 24 de junho, Wilson Moreira apresentou seu samba na ABI, onde cantou seus maiores sucessos, como Senhora liberdade, Água de moringa, Judia de mim e Goiabada cascão. — Estou satisfeito por voltar à Casa, onde já cantei há algum tempo, e espero que seja um sucesso. Tenho me apresentado bastante por aí e o público está gostando.

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CIDINHA ZANON

Cláudio Jorge, raiz em jornal

Marcos Nimrichter e Caio Márcio: a música clássica como base dos improvisos de samba e choro

Marcos e Caio Márcio, a vez do choro

Cláudio Jorge, neto e filho de jornalistas.

violão, arrancou aplausos da platéia. Na seqüência, foi acompanhado pelos músicos Paulinho da Aba e Marcelo Pizzotti (percussão) e Humberto Araújo (sax e flauta). Depois, uma surpresa: chamou ao palco o filho Gabriel Versiani — músico em início de carreira e jornalista —, que interpretou o samba Novos Tempos. Com cinco CDs gravados –– um deles, Coisa de Chefe, indicado ao Grammy Latino na categoria samba ––, Cláudio Jorge é um dos fundadores da gravadora Carioca Discos e como produtor assina trabalhos como A luz do vencedor e Benza Deus, de Luiz Carlos da Vila, e Sincopando o breque, de Nei Lopes, um dos cinco melhores CDs de 1999, segundo o jornal O Globo. Seus projetos para 2005 incluem três lançamentos: o segundo CD que fará pelo selo Carioca Discos; o de O violão e o samba, em que, juntamente com Carlinhos Sete Cordas, acompanhará a cantora Dorina; e o do livro Levadas, em que apresentará mais de 50 ritmos brasileiros e o método que desenvolveu para executálos ao violão. Além disso, apresenta um programa de crônicas na Rádio Mec AM, ás 10h50min das quartas-feiras, e prepara um livro sobre os seus 30 anos de carreira.

Wilson diz que suas músicas precisam ser ensaiadas — pois “têm um tom mais rebuscado e uma ressonância e uma harmonia diferentes” — e apostou no conjunto Batifundo, que o acompanhou. — Nunca me apresentei com o grupo, mas certamente vai ser uma boa parceria, porque seus músicos conhecem meu repertório. Herança Carioca do Realengo, Wilson Moreira é neto e sobrinho de jongueiros e tocadores de caxambu. Cresceu ouvindo a

Marcos Nimrichter e Caio Márcio apresentaram no Música de Raiz na ABI um perfil de suas maiores influências, recriando composições de Radamés Gnattali, Ernesto Nazareth e Jacob do Bandolim, entre outros mestres da música brasileira. No palco, Marcos e Caio combinam suas sólidas formações na música clássica a novas concepções de improvisação, debruçadas sobre o samba e o choro. Em primeira mão, eles mostraram alguns dos arranjos criados para o disco de estréia do duo, que está em fase de pré-produção. Marcos ficou empolgado com a apresentação. — Não conhecia este espaço da ABI. Quando fui convidado, não sabia que faria parte de uma série de shows, nem que estaria ao lado de outros grandes nomes da música. Para ele, a apresentação constituiu um novo formato de seu desempenho. — Todo nascimento é aguardado. Estou achando estimulante, porque é um trabalho diferente. Normalmente me apresento em quarteto e toco apenas minhas músicas. O repertório incluiu Estudo nº 5, Estudo nº 7 e Tocata em ritmo de samba, de Radamés Gnattali; Sonoroso, de K.Ximbinho; Assanhado e Vôo da mosca, de Jacob do Bandolim; Feitiço, de Ernesto Nazareth; Nítido e obscuro, de Guinga; Choro com paço, de Caio Márcio; e Frevo do frei frívolo, de Marcos Nimrichter. Desde a infância Aos 4 anos de idade, Marcos Nimrichter iniciou os estudos de Música na Escola Santa Cecília, em Niterói, onde cursou

Piano, Teoria, Solfejo, Harmonia e Canto Coral. Em 1988, ingressou na Escola de Música da UFRJ, onde graduou-se em Piano e Composição. Em 89, começou a aprender acordeom. Estreou profissionalmente aos 13 anos, tocando em regionais, bailes e casas noturnas. Depois, começou a participar de shows e gravações de CDs e DVDs com artistas de variadas tendências, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Elza Soares, Jorge Ben Jor, Sandra de Sá, Ed Motta, Cássia Eller e Emílio Santiago. Entre os artistas estrangeiros com quem trabalhou, destacam-se Al Jarreau, Stanley Jordan, Michel Legrand e Maxi Priest. Seu primeiro álbum solo foi lançado em 2002. Também Caio Márcio descobriu a música na infância, tendo se interessado, primeiramente, pelo piano de sua mãe. O interesse pelo violão e a guitarra surgiu mais tarde, quando, por sugestão do padrasto, começou a ter as primeiras aulas com Luiz Otávio Braga. Em 96, conheceu o violonista e guitarrista Hélio Delmiro, que se tornou sua principal influência. Estreou nos palcos no ano seguinte, num show de seu pai, o clarinetista Paulo Sérgio Santos, no Clube do Choro de Brasília. Em 2001, formou o grupo Tira Poeira, que em 2003 lançou seu primeiro CD. Já dividiu palco com grandes nomes, como Guinga, Zélia Duncan, Beth Carvalho e Lenine, e gravou com Maria Bethânia e Ney Matogrosso, entre outros. Ano passado, concluiu o bacharelado em Instrumento no Conservatório Brasileiro de Música e lançou seu primeiro CD solo.

batida do samba e aos 16 anos tocava tamborim na Unidos de Padre Miguel. Com seu primeiro parceiro, Da Volta, foi campeão do samba-enredo da escola em 1962, Brasil no campo cultural. Três anos mais tarde, começou a cantar na TV Continental. Em 1967, junto com Zuzuca, Zito, Jair do Cavaquinho e Velha, formou Os Cinco Só e, depois, a Turma do Ganzá. Suas músicas foram gravadas por várias estrelas da MPB, como Clara Nunes, Alcione, Beth Carvalho e Jair Rodrigues. Participou de 11 discos como convidado

especial e sua discografia inclui Quem samba fica, A arte negra, Comitê de mobilização pelo não pagamento da dívida externa, Brasil Roots Samba, Okolofé, Entidades I e Peso na Balança. Além dos sucessos citados, o repertório escolhido por Wilson Moreira para sua apresentação na ABI incluiu Deixa clarear, Mel e mamão com açúcar, Não tem veneno, Formiga miúda, Só chora quem ama, Meu baio e meus balaios, Põe dendê e tempero, Quero estar só, Yaô, Benguelê, Efunoguedê, Oloãn, Jongueiro cumba, Morrendo de saudade e Gostoso veneno.

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Jornal da ABI

MÚSICA...

ALEXANDRE VIDAL

Com Moacyr Luz, o samba da cidade Moacyr Luz é daqueles compositores que estão intimamente ligados a duas fortes marcas do Rio: o samba e os botequins. Por causa dessa cultura, acabou até virando personagem da série de charges Carioquices, do amigo Lan, e já tem no computador um livro prontinho para ser editado, com dicas sobre como sobreviver circulando pelos melhores botecos da cidade. — O livro se chama Manual de sobrevivência em butiquins mais vagabundos e é uma crônica sobre relacionamentos em bar. O lançamento, no segundo semestre deste ano, será, é claro, num boteco. Nascido em 1958 em Bangu, onde passou a sua infância, esse devoto de São Jorge é hoje Grão-Mestre Anfitrião da Muda — honorabilidade que divide com o amigo, vizinho e Moacyr Luz: parceiro Aldir Blanc. a boa No bairro, costuma parceria ser encontrado na entre feira-livre da Rua Gaimprensa ribaldi, onde, sempre e música que não tem algum compromisso musical a cumprir, promove o encontro Sexta na Ponte, que invariavelmente acaba se estendendo ao Bar da Maria, onde tem mesa cativa. Esta não foi a primeira vez que o compositor se apresentou na ABI: cantou no show pelos 80 anos do cartunista Lan e lembra-se de ter participado de outras homenagens a personalidades. — Num desses eventos, lembro-me bem de ter ao meu lado uma fonte constante de inspiração, o Nelson Sargento. Acho muito importante a cidade receber novos espaços para a música. Na ABI, a expectativa é maior por conta da sua história, que já se construiu como referência de resistência — e o samba também sempre foi resistência. Além disso, imprensa e música formam uma boa parceria, pois ambos são narradores do cotidiano e carimbam ao seu modo as páginas das nossas vidas. Escolhas favoráveis Para o compositor — que acaba de lançar seu sétimo disco —, o horário de seis e meia e a sexta-feira, escolhidos para os espetáculos do Música de Raiz na ABI, são muito favoráveis. — Sempre achei que cantar às sextas-feiras oferece ao público uma mistura da emoção com a música e alívio com o início do fim de semana, tão esperado pelo trabalhador. Para sua apresentação, Moacyr Luz diz que selecionou as músicas que considera as mais representativas da sua carreira. — Vou cantar Saudades da Guanabara, Anjo da Velha Guarda, Pra que pedir perdão, Cabô, meu pai, Cachaça, Árvore e bandeira e Vila Isabel, músicas que meus parceiros Aldir Blanc, Luiz Carlos da Vila e Martinho da Vila ajudaram a construir.

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Saudade de Brizola lota o auditório da ABI A homenagem que a ABI prestou a Leonel de Moura Brizola, no primeiro ano de sua morte, contou com a presença da Governadora Rosinha Garotinho, que anunciou a construção, no Centro do Rio, de um memorial dedicado ao ex-Governador. A Governadora Rosinha Garotinho e outras autoridades estaduais, além de parentes e amigos de Brizola e políticos e militantes do PDT, estiveram na Associação Brasileira de Imprensa, para prestigiar a homenagem da instituição ao ex-Governador do Estado no primeiro aniversário da sua morte. A celebração foi realizada no Auditório Oscar Guanabarino, no 9º andar do Edifício Herbert Moses, sede da entidade, e foi aberta pelo Presidente da ABI, Maurício Azêdo, que convidou para compor a mesa que conduziu a cerimônia, além da Governadora, os Deputados estaduais Noel de Carvalho (PMDB) e Waldeth Brasiel (PL), o Chefe de Gabinete da Secretaria de Governo, Fernando Peregrino, o Diretor de Assistência Social da ABI, Domingos Meirelles, o jornalista José Gomes Talarico, Presidente de Honra da Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI, e o jornalista Hélio Fernandes, diretor da Tribuna da Imprensa. A programação organizada pela ABI teve início com o discurso da Governadora Rosinha Garotinho, que expressou sua felicidade por ter sido convidada para o evento: — Devo confessar minha emoção por ter sido convidada para participar desta solenidade. Agradeço à ABI e à Associação Nacional de Divulgação da História Política e Cultural do Rio Grande do Sul, que permitiram que eu rendesse esta homenagem a Brizola. E a ABI é o lugar perfeito para essa celebração, pois Brizola foi um árduo lutador pela imprensa livre. Rosinha Garotinho anunciou a liberação de R$ 4 milhões para a construção do Memorial Leonel Brizola, que será erguido no Centro do Rio com projeto de Oscar Niemeyer. O arquiteto não pôde comparecer à cerimônia, mas enviou uma mensagem, em que dizia: “Brizola foi um exemplo de patriotismo na vida pública. Foi um grande patriota que nos faz muita falta.”

Coerência e coragem Ao fim do pronunciamento da Governadora, foi exibido o DVD “Brizola, coerência e coragem”, de Fernando Barbosa Lima. O documentário mostra a trajetória política de Brizola, começando com sua eleição para Deputado Estadual pelo PTB do Rio Grande do Sul, em 1947, até o cumprimento dos dois mandatos como Governador do Estado do Rio de Janeiro — o primeiro, em 1982, logo após o seu retorno do exílio. Depois da exibição do DVD, a Governadora e o Presidente da ABI seguiram para o Salão João Antônio. Mesplé, onde inauguraram uma exposição de 45 painéis intitulada Os 60 anos de vida pública de Leonel de Moura Brizola. A mostra — que ficou aberta ao público, com entrada franca, das 11h às 18h, de segunda a sexta-feira, até 29 de julho seguinte — contou com o apoio da Associação Nacional de Di-

vulgação da História Política e Cultural do Rio Grande do Sul, que autorizou a ABI a exibi-la não apenas no Rio, mas em outras cidades fluminenses que manifestassem interesse em apresentá-la. A última etapa da cerimônia foi a conferência A dimensão política e social de Leonel Brizola, feita pelo engenheiro pós-graduado em Economia Arnaldo de Assis Mourthé. Membro do Diretório Nacional do PDT, Mourthé explicou que faria uma abordagem do cidadão e do homem político que foi Leonel de Moura Brizola: — Ele era uma pessoa de ação analítica fria em relação à política. Antes de tomar qualquer decisão, aprofundava-se na interpretação dos fatos e da situação política do momento. Mourthé contou que se aproximou do ex-Governador por causa da sua linha de pensamento: — Nós nos co-

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Jornal da ABI nhecemos em 1979, durante uma tomada de posição comum de defender a retomada do PTB como solução política para a abertura, diferentemente daquela que era pretendida pelos militares e defendida pelo PMDB com Franco Montoro e pelo Deputado pernambucano Fernando Coelho, que deixariam de fora do processo político lideranças como Brizola, Luís Carlos Prestes e Miguel Arraes. Arnaldo Mourthé destacou também a formação moral, religiosa e filosófica de Brizola: — Ele era um cristão não-praticante e um republicano convicto, que entendia que a República era um representativo avanço para a Humanidade, desde que viesse somada às conquistas sociais implantadas por Getúlio Vargas e que antes já haviam sido defendidas por José Bonifácio. Assim como ele, Brizola também era um libertário. Mourthé disse ver na formação política do homenageado uma escola de vanguarda: Era uma pessoa reconhecida pela coerência e a coragem, duas qualidades admiradas por todos, amigos e adversários. Os programas sociais criados por ele no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro são a marca da sua generosidade. O esforço que ele fazia para que as ações do Estado no

campo social fossem cumpridas, como a reforma agrária e escolas que tirassem as crianças das ruas, a exemplo dos Cieps, as oportunidades criadas em seu Governo para mulheres, negros e índios e os programas de saneamento e Cada Família Um Lote foram iniciativas que poucos políticos tomaram. O conferencista terminou a sua exposição lembrando que o ex-Governador Brizola, pouco antes de morrer, falou várias vezes sobre os riscos de instabilidade política e institucional que ameaçavam o País: — Fez essas advertências porque respeitava a soberania do voto popular, pois para ele o que deveria ser defendido pelos Governos não eram as ambições particulares e sim o interesse público. Um hino relembrado A programação em homenagem a Leonel Brizola no primeiro ano de sua morte foi encerrada com o sambista Darcy da Mangueira, acompanhado por Jesus Antunes, Presidente do Conselho Fiscal da ABI, cantando o Hino da Legalidade: “Avante brasileiros de pé / marchamos todos juntos com a bandeira / que prega a lealdade (...) / Pois um povo só é bem grande / se for livre sua nação.”

Acompanhada pelo Presidente da ABI, a Governadora visita a exposição sobre Brizola

Em uma mostra, 60 anos de vida pública Uma exposição com 45 painéis sobre a trajetória pessoal e política de Brizola foi apresentada pela ABI em homenagem ao ex-Governador do Estado no primeiro aniversário de seu passamento. A mostra, sob o título Os 60 anos de vida pública de Leonel de Moura Brizola, foi realizada com a cooperação da Associação Nacional de Divulgação da História Política e Cultural do Rio Grande do Sul, sediada em Porto Alegre, e contou com o apoio institucional do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A mostra ficou aberta ao público, com entrada franca, das 11h às 18h, de segunda a sexta-feira, de 22 de junho a 29 de julho. Depois da apresentação na ABI, o conjunto de painéis seria apresentado em um sindicato de São Paulo.

“Um ícone da liberdade de expressão” Um perfil de Brizola, pela Governadora Rosinha “Inicialmente, devo confessar minha emoção por ter sido convidada a fazer esta abertura da inauguração da exposição Os 60 anos de vida pública de Leonel Brizola. Emoção também por esta solenidade celebrar um ano transcorrido do falecimento deste inesquecível líder e estadista brasileiro. Agradeço, portanto, à nossa gloriosa Associação Brasileira de Imprensa e à Associação Nacional de Divulgação da História Política e Cultural do Rio Grande do Sul pela escolha que fizeram de meu nome e com isso permitiram que, mais uma vez, eu renda minhas homenagens à sua memória. Este auditório da Associação Brasileira de Imprensa, palco de tantos momentos históricos de nosso Brasil, é — sem dúvida alguma — um lugar perfeito para esta sempre oportuna homenagem. Sua biografia é uma verdadeira saga pelo Brasil. Por isso, destaco alguns momentos que me tocam mais como pessoa e militante política. Brizola foi um dos mais ardorosos lutadores pela imprensa livre em nosso País. Daqui, ele empunhou, com grande coragem, essa bandeira.

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Enfrentou setores da própria mídia e interesses que — através de meios de comunicação — procuravam, e procuram até hoje, anestesiar e escravizar nosso povo. Nem que para isso esses tais setores discriminem alguns em detrimento de outros. Disse ele, em um seminário: “Só aqui no Brasil um concessionário de meios de comunicação — portanto, um serviço público — pode discriminar alguém. Isso ocorre enquanto o próprio poder concedente deve tratar todos igualmente em conformidade com o que diz a Constituição.” O nome de Brizola também se confunde com a maior de todas as políticas públicas: a da Educação, simbolicamente representada pelos Cieps. Um arrojado modelo de escola de tempo integral, antes carinhosamente apelidados de “Brizolões”, agora é assim denominado oficialmente, de acordo com lei que sancionei. Uma homenagem singela ao líder falecido. Mas não podemos lembrar do Brizola sem pensar nos dias de turbulência e de grandes frustrações que nosso País vive hoje! Apenas como exemplo: como reagiria ele à surpreendente notícia de que a dívida pública alcançará, em outubro, a triste marca de R$ 1 trilhão?

Como estaria reagindo Brizola a essa escalada da dívida do País, promovida pela maior taxa de juros do planeta, e ao mesmo tempo o aumento da desigualdade que coloca o Brasil entre as duas nações mais desiguais do mundo? Todos nós sabemos como se indignava e com que lucidez apontava os descaminhos dos sucessivos governos e, ao mesmo tempo, vislumbrava o destino de sermos uma grande nação. Senhoras e senhores, um ano após sua morte, nos sentimos meio órfãos. Como afirmei no dia de seu velório, no Palácio Guanabara, Brizola é exemplo de homem público e de político neste País. Um líder cujo legado sobreviverá ainda por muito tempo! Rui Barbosa, quando se despediu de Machado de Assis, pronunciou-se assim: “A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima.” Foi o que aconteceu com Leonel Brizola. Sua partida não extinguiu um líder, mas o transformou em um ícone nacionalista, um defensor da universalização da educação integral para todos; um ícone da liberdade de expressão, um eterno lutador contra a discriminação dos mais humildes. A morte não aniquilou Brizola, mas o renovou; não o afastou de seus liderados, mas o aproxi-

mou, mais forte do que nunca. Senhoras, senhores, a memória de Brizola precisa ser conservada e cultivada. Com projeto concebido pelo Professor Oscar Niemeyer, o Governo do Estado ajudará a perpetuar sua biografia para que as novas gerações o conheçam plenamente, como exemplo de homem público íntegro, honesto e coerente e que nunca transigiu quando se tratava do interesse público. Refiro-me ao projeto do Memorial Leonel Brizola, que será construído em terreno localizado na Avenida Presidente Vargas, para o qual hoje autorizei a liberação de recursos de mais de R$ 4 milhões. Não é exagero lembrar as palavras de Getúlio Vargas em sua carta-testamento, palavras essas que sintetizam também a vida e a força de Leonel Brizola. Disse Vargas: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. (...) O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo.” Mas, como na canção popular, posso dizer que “bate outra vez com esperança o meu coração” de ver a Pátria amada, idolatrada, com sua brava gente brasileira, livre e soberana! Este é o Brasil que Brizola sonhou, e desejamos que se torne realidade! Muito obrigada.”

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Jornal da ABI MEMÓRIA

LIVRO

União para lembrar Tim Um seminário de técnica de jornalismo em homenagem ao companheiro assassinado Profissionais e estudantes de Comunicação participaram do seminário “Lembrando Tim Lopes na prática do Jornalismo”, organizado pela Comissão Tim Lopes, a ABI e o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro. Durante o encontro foram relembradas a vida e a trajetória profissional de Tim Lopes e debatidos os temas liberdade de imprensa, mercado de trabalho e jornalismo investigativo. A mesa que conduziu os debates foi composta pelo Presidente da ABI, Maurício Azêdo; Chico Otávio, Vicepresidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo-Abraji e repórter especial do Globo; Aziz Filho, diretor da sucursal Rio da revista IstoÉ e Presidente do Sindicato; Joseti Marques, Diretora de Jornalismo da ABI; e Domingos Meirelles, Diretor de Assistência Social da Associação. Maurício Azêdo lembrou Tim Lopes e destacou a importância de se dar aos estudantes a oportunidade de aprender com profissionais experientes: — Ao invés de fazermos um pranto em torno do Tim Lopes e do seu sacrifício, pela emoção de que ainda estamos possuídos pelo bárbaro fim que ele teve, o encontro teve um sentido pedagógico de exaltação da sua atuação profissional. Principalmente pelo desejo dele de fazer um jornalismo que ajudasse as pessoas a viver melhor. Segundo Miro Lopes, desde o ano passado a Comissão Tim Lopes vem usando a data da morte de seu irmão para promover grandes eventos de que profissionais e estudantes de Jornalismo possam tirar algum proveito. — Desta vez foram convidadas pessoas que pudessem abordar três temas diferentes, visando a preparar o aluno de Comunicação. Os jovens que puderam participar dos debates na ABI tiveram hoje uma grande lição. E foi importante também para os veteranos, porque pudemos reforçar nossas discussões sobre o que desejamos aprimorar. Ao abordar o tema mercado de trabalho, Aziz Filho disse que a partir do episódio da morte de Tim Lopes o Sindicato dos Jornalistas vem conclaman-

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do a sociedade a lutar pela garantia da liberdade de ir e vir: — Além de acabar com a violência da miséria e a violência do tráfico, temos que tentar abrir diálogo com as empresas de comunicação, para que as redações encontrem fórmulas de proteger seus jornalistas. Algumas já se mostraram sensíveis ao tema, mas precisamos avançar mais. Revelou Aziz que o seminário foi encarado pelas entidades representativas da classe jornalística com tanta seriedade que, em todo o País, sindicatos rejeitaram sugestão da Fenaj de promover atividades pelo Dia Nacional da Imprensa, 1º de junho, para destacar a importância do evento na ABI como um ato representativo da liberdade de imprensa no Brasil.

Sanções e ameaças Domingos disse ainda que a atividade vem sofrendo uma série de sanções, cercos e ameaças, principalmente com a quantidade de processos contra jornalistas e contra a liberdade de expressão que estão ocorrendo pelo Brasil: — Este seminário teve o papel de estimular a discussão sobre o futuro do jornalismo investigativo no Brasil, do qual Tim Lopes se tornou um ícone. Uma prova disso é que o Sindicato dos Jornalistas sinalizou que vai dar continuidade a esse processo, promovendo um debate em torno do assunto e do mercado de trabalho.

Virtude rara Domingos Meirelles foi colega de Tim Lopes em O Globo de 1974 a 1976 e diz que o que mais lhe chamava a atenção nele era a extraordinária capacidade de percepção das dificuldades do homem comum: — Hoje esta é uma virtude rara entre os profissionais de imprensa. Eu me perguntava: onde foi que ele desenvolveu esse dom? E o Tim sempre foi dedicado às questões sociais. Domingos falou também do processo de restabelecimento de algumas tradições da ABI, como a de ser um fórum de discussão das grandes questões da imprensa brasileira: — Acho que o que se falou nesse encontro, baseado na trajetória profissional de Tim Lopes, mostra o acerto da atual Diretoria. O ponto alto deste encontro é que ele nos levou a uma profunda reflexão sobre o exercício da atividade de repórter, que é hoje uma profissão de risco. A Diretora de Jornalismo da ABI, Joseti Marques, concordou com Meirelles: — Vivemos um momento em que os jornalistas têm sido abatidos a tiros. É preciso consistência e coragem para vencer esses obstáculos. Além disso, no caso do jornalismo investigativo é preciso estar atento, porque nem

O mercado de trabalho foi analisado por Chico Otávio, que falou das dificuldades enfrentadas pelos repórteres no exercício da profissão, devido a uma infinidade de notificações judiciais por danos morais contra eles nos tribunais de Justiça. — A Abraji já contabilizou cerca de 3,5 mil ações por danos morais contra jornalistas. Mesmo assim, é preciso fazer a informação emergir, pois este é o papel da imprensa. Há dois anos e meio, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo foi criada a partir da morte de Tim Lopes. –– E a melhor contribuição que a gente pode dar para esse legado é fomentar o bom jornalismo. Disse Chico Otávio que a Abraji está empenhada na disseminação de técnicas de jornalismo, a promoção de debates e a aprovação de uma lei de acesso a informação pública no País –– “este é um dos objetivos centrais da instituição.” No encerramento do seminário, Maurício Azêdo, além de citar a colaboração entre a ABI e o Sindicato dos Jornalistas do Rio, ressaltou a dedicação de Miro e Tânia Lopes, irmãos de Tim, no esforço para garantir a presença de estudantes e profissionais no debate.

tudo o que se apura aparece; e às vezes as denúncias ocorrem, mas nem sempre sabemos a quem elas vão atender.

Werneck: veterano do esporte na literatura

Com “Sabor de mar”, José Inácio Werneck dá um passeio pelo Rio Aos 67 anos de idade, o cronista esportivo José Inácio Werneck acaba de estrear na carreira literária com o lançamento de seu primeiro romance, Sabor de mar, pela editora Revan. Segundo ele, se há algum “culpado” nessa história de jornalista escritor, ele se chama Moacir Japiassu: — Em anos passados, ele perdoou até mesmo minhas críticas ao seu amado Vasco da Gama e me incentivou a escrever meu primeiro livro, que não era de ficção. O livro a que Werneck se refere chama-se Com esperança no coração: os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos e traça um perfil dos quase 2 milhões de pessoas que enviam mais de 5 bilhões de dólares para o Brasil e ainda assim são mal-atendidos pelo Governo nos nossos consulados. — Com muita sensibilidade, o José Inácio percebeu os grandes problemas dos brasileiros nos EUA e resolveu escrever um livro sobre o assunto — conta o amigo Giulio Sanmartini. Na opinião do cientista político Bolívar Lamounier, Sabor de mar é obra de um homem maduro no ofício de escrever. — Jornalista experiente, José Inácio Werneck é dono de uma prosa enxuta e elegante. Calejado e viajado, percorre campos os mais diversos, da cultura ao esporte, da vida cotidiana à política. O romance mostra o panorama cultural, político e de costumes da vida carioca e brasileira, desde as vésperas da ditadura militar até a atualidade. A história conta a trajetória de uma jornalista inteligente e audaciosa que sai do interior fluminense para trabalhar na cidade do Rio de Janeiro e, depois, no exterior. A capa do livro é de Marco Antonio Rodrigues, jornalista e ilustrador da ESPN Internacional, onde é colega de trabalho de José Inácio. Rodrigues tem trabalhos publicados no Miami Herald e no New York Times.

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Jornal da ABI DIREITOS HUMANOS

A LEI DE REPARAÇÃO MORAL É INCOMPLETA, DIZ GERALDÃO Mesmo militantes que não foram presos sofreram perseguições e torturas morais, sustenta o antigo líder portuário de Santos. Em carta à Diretoria da ABI, o antigo líder portuário e dirigente do Partido Comunista Brasileiro-PCB Geraldo Rodrigues dos Santos contesta a afirmação da matéria Comissão de Reparação avalia 52 processos, publicada na edição número 299/abril de 2005 do “Jornal da ABI”, de que não foi preso durante o regime militar “graças ao aparato de segurança montado pelo PCB”. Geraldão, como ele é conhecido, diz que só não foi preso porque o Comitê Central do PCB fez uma avaliação correta da natureza do regime, “uma ditadura militar fascista”, e adotou rigorosas medidas de segurança. Além disso, contaram militantes e dirigentes comunistas com a solidariedade de cidadãos anônimos que impediram muitas mortes e prisões. Geraldão considera que a Lei nº 3.744/2001 do Estado do Rio de Janeiro, que instituiu uma indenização como reparação moral às vítimas da ditadura, foi elaborada de forma incompleta, pois militantes e lutadores que não foram presos, “também sofreram perseguições e torturas morais, pois foram separados das famílias, sofrendo também toda a sorte de perseguição e padecimento físico e moral”. Como Geraldão não foi preso, a Comissão Especial de Reparação, da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, indeferiu o pedido de reparação por ele formulado. A seguir, a carta de Geraldão. “Prezados Companheiros Eu, Geraldo Rodrigues dos Santos, portuário da cidade de Santos-Geraldão, freqüentador e amigo dessa entidade há muitos anos, da época de companheiros como o velho Henrique Cordeiro, Pedro e Paulo Mota Lima, João Antônio Mesplé, infelizmente todos já falecidos, vem solicitar-lhe o obséquio de uma correção numa matéria publicada no “Jornal da ABI”, de abril de 2005, número 299, com o título de Comissão de Reparação avalia 52 processos. Entre os processos de reparação que são listados na referida matéria, há uma referência a Geraldo Rodrigues dos Santos, o Geraldão. Nesta citação diz-se “graças ao aparato de segurança montado pelo PCB, Geraldão nunca foi preso durante a ditadura militar. Com isto sua postulação não atendeu a dois requisitos essenciais da Lei nº 3.744/2001, que instituiu a reparação: o de ter sido preso por motivação

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política e de ter padecido de tortura física ou moral em dependência do Governo do Estado do Rio de Janeiro”. Gostaria de que fosse feita uma correção, já que desconheço nesses meus 60 anos de militância política a montagem de qualquer aparato de segurança organizado por dirigentes ou militantes do PCB. O que contribuiu para que Geraldão não fosse preso foram as resoluções do Comitê Central do PCB, que caracterizavam o regime estabelecido no País como uma ditadura militar fascista. Esta decisão determinava que os comunistas, principalmente seus dirigentes, diante dessa realidade e com as experiências do movimento operário internacional, principalmente aquelas da luta contra o fascismo no mundo inteiro, fossem as-

similadas e aplicadas naquelas circunstâncias, com o cumprimento de rigorosas medidas de segurança. Outro fator decisivo que impediu diversas prisões e assassinatos pelo aparelho repressivo foi a solidariedade da militância e de uma grande parte do nosso povo, muitos dos quais, cidadãos anônimos, que a História provavelmente não registrará, se integraram na luta, contribuindo para impedir a prisão e até a morte de muitos militantes e dirigentes comunistas e antifascistas que lutavam dia e noite para a derrubada da ditadura fascista que se instalou em nosso País. Como vemos, a idéia de um aparato de segurança partidária é completamente equivocada. Ao mesmo tempo, gostaria de frisar

que a Lei nº3.744/2001, que não deixa de ser uma conquista, foi elaborada de forma incompleta, pois é lamentável que os nossos parlamentares e governantes não tenham percebido que militantes e lutadores que não foram presos, mas foram condenados e perseguidos pela Polícia Política do Estado do Rio de Janeiro, também sofreram perseguições e torturas morais, pois foram separados das famílias, sofrendo também toda sorte de perseguição e padecimento físico e moral. Aproveito essa oportunidade para oferecer a essa Diretoria alguns dados biográficos de minha militância política resumida no livro A trajetória de um comunista. Cordiais saudações. (a) Geraldo Rodrigues dos Santos.”

Mais indenizações a vítimas da ditadura Em suas reuniões de maio e junho a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio aprovou o pagamento de indenizações a 84 vítimas de prisão e tortura. Em longa reunião realizada em 25 de maio, a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro apreciou 53 processos de vítimas de prisão e tortura em dependências estaduais durante o regime militar e aprovou a concessão de indenização a 45 dos requerentes ou seus cônjuges ou descendentes, no caso dos falecidos. A indenização, no valor de R$ 20 mil, tem o caráter de reparação moral pelos padecimentos impostos aos alcançados pela decisão do Conselho. Durante a sessão, presidida pelo representante da ABI, Maurício Azêdo, como membro mais idoso da Comissão, o representante da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ, Marcos Cilos, apresentou um voto de repúdio às violências contra a liberdade de imprensa, especialmente as praticadas no Estado de Rondônia, com a censura prévia à reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, sobre corrupção de deputados à Assembléia Legislativa local. A representante do Grupo Tor-

tura Nunca Mais, Elizabeth Silveira, comunicou ao plenário que de 23 a 29 de maio estaria em curso a Semana Internacional dos Desaparecidos Políticos, instituída por organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. A Comissão indeferiu cinco dos processos apreciados, por entender que os requerentes não atendiam aos requisitos da Lei estadual nº 2.744, de 21 de dezembro de 2001, que instituiu a reparação moral. Três dos processos tiveram sua apreciação adiada, em razão de pedidos de vista ou por necessidade de presença do relator, para esclarecer dúvidas suscitadas. Dez dos processos referiam-se a perseguidos políticos falecidos. Os processos deferidos foram os de Affonso Henriques Guimarães Corrêa, Aganipio Portela de Sá, Altivo Ferraz da Silva, Antônio Ramiro da Silva, Avelino Bioen Capitani, Chricio Ciryllo de Oliveira (falecido), Claudionor Soares de Sena, Durval Ribeiro, Eduardo Ferreira dos Santos, Emir Mamoud Amed, Francisco Flávio Araújo da Costa, Geraldo Galisa Rodrigues (falecido), Gilberta Acselrad, Haroldo Siervo Cardoso, Hermógenes Reis, Horalto Alves da Silva (falecido), Jamil José Miguel, João Clair Cortês, João Figueiró, João Vieira Filho, Jorge Saldanha de Araújo, José

Arimathea Coradello Lima. E ainda: Josias Nunes de Azevedo Santos (falecido), Juarez Cícero Pinheiro Coqueiro, Jussara Ribeiro de Oliveira, Lúcio Xavier de Almeida (falecido), Luiz Miguel Ramos Aude, Manoel José de Pinho Duque (falecido), Maria Lucy Rodrigues Matos Carneiro (falecida), Meçando Rachid (falecido), Miguel Ferreira de Archanjo, Milton Gaia Leite (falecido), Murilo Moreira Ribeiro, Murilo Teixeira da Silva (falecido), Narciso Júlio Gonçalves, Nelson Florêncio Duarte, Osman Aranha Falcão Cezar, Pedro Alves Filho, Perceval Rosa, Raimundo Augusto Sérgio Nogueira Carneiro, Renan Gomes de Menezes, Roberto Domingos Gabriel Chabo, Rosalice Magaldi Fernandes, Ulysses Silva do Amaral e Walter Mendonça de Siqueira (falecido). Foram indeferidos os processos de Annice Dib, Arlindo Ferreira Guimarães, Edmilson Martins de Oliveira, Luiz Carlos Santos e Verônica Vicente Ferreira Fernandes. Os processos adiados foram os de José Átila Dias dos Santos, sobre o qual a Comissão considerou necessário ouvir a relatora, a representante da OAB-RJ Celuta Ramalho, e de Iracy José de Almeida e José Lazarini, dos quais a representante do Tortura Nunca Mais pediu vista.

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Jornal da ABI LIBERDADE DE IMPRENSA

KAJURU GANHA HABEAS-CORPUS STJ susta violência contra o jornalista O jornalista Jorge Kajuru conseguiu no Supremo Tribunal de Justiça dois habeas-corpus nos processos de condenação por difamação, pelos quais deveria cumprir 18 meses de detenção, em regime aberto, que lhe foram movidos por Jaime Câmara Júnior, proprietário das Organizações Jaime Câmara, que edita o jornal O Popular e controla a TV Anhanguera — afiliada da TV Globo em Goiás. Alegando falhas na condenação do jornalista no primeiro processo, o juiz Arnaldo Esteves Lima, da 5ª Turma do STJ, concedeu o habeas-corpus até o julgamento do mérito que deverá ocorrer dentro de 30 ou 60 dias. O habeascorpus do segundo processo foi concedido pelo Ministro do STJ Helio Quaglia Barbosa, após a constatação de que houve falha da 12ª Vara Criminal na condenação de Kajuru, pois o processo estava prescrito desde fevereiro de 2005. Jorge Kajuru foi condenado em 28 de maio a ficar em um albergue em Goiânia, capital de Goiás, todas as noites, no horário das 20h às 6h da manhã — impedido de se ausentar de Goiânia sem prévia autorização judicial. Esse procedimento interferiu na rotina de trabalho do jornalista, que é funcionário do SBT em São Paulo, onde mora. A ação criminal por difamação contra Kajuru ocorreu por causa das críticas que ele fez ao contrato que deu à TV Anhanguera os direitos de transmissão com exclusividade do Campeonato Goiano, em 2001. As Organizações Jaime Câmara, impetraram ação criminal contra Kajuru, alegando difamação. Em junho de 2003, o juiz Alvarino Egídio da Silva Primo, da 12ª Vara Criminal de Goiânia, considerou Kajuru criminalmente culpado. Os advogados dele fizeram várias apelações junto ao Tribunal de Justiça de Goiás mas a condenação foi mantida. O caso então foi parar no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Kajuru diz que está confiante na sua completa absolvição, no julgamento final. — Acredito que serei absolvido por vários motivos: primeiro, porque um dos processos já estava prescrito e não cabe discussão; segundo pela competência dos meus advogados, entre eles o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. Outro dado importante é que o processo que deverá ter o seu mérito julgado daqui há dois meses está sendo apreciado em Brasília, longe da influência política do Governo de Goiás.

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Sem cobrança Para o autor de Na toca dos leões, Fernando Morais, não há novidades em seu processo. A última notícia que se tem é de que o publicitário Gabriel Zellmeister, também processado pelo Deputado federal Ronaldo Caiado

(PFL-GO) por ter sido fonte de Morais no trecho em que o parlamentar é citado no livro, entrou com um pedido de suspensão que foi negado. Morais diz que ainda há uma instância que podem recorrer no Tribunal de Justiça de Goiás, mas sua preocu-

pação era com o recesso do judiciário a partir de 1º de julho: — Só em agosto teremos como recorrer em Brasília, pois até agora todos os votos foram favoráveis ao deputado. Na época em que seu livro foi proibido de ser comercializado, Fernando Morais estava na França. Por ordem judicial, nenhum dos acusados poderia pronunciar-se sobre o assunto, sob pena de pagar uma multa. Morais disse que pagaria por todas as suas declarações, mas fez apenas uma, em Paris, quando convocou os correspondentes da imprensa brasileira para falar sobre o caso. — Quando cheguei ao Brasil, e fui recebido pelo promotor de Justiça, não fui cobrado e também não tomei a iniciativa de pagar.

Conselho de Cultura repele a volta da censura Em mensagem à ABI, o órgão da intelectualidade fluminense denuncia como grave atentado à Constituição a interdição do livro de Fernando Morais Reunido em 11 de maio, o Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro manifestou sua indignação diante da decisão do juiz da 7a. Vara Criminal de Goiânia que interditou o livro Na toca dos leões, de Fernando Morais, “fato que desperta a preocupação de que se pretenda reinserir a censura em nosso panorama social”. O pronunciamento do Conselho Estadual de Cultura foi transmitido à ABI por seu Presidente, Ricardo Cravo Albin, num ofício em que, em nome dos qualificados membros do órgão, expressa sua solidariedade “com as medidas tomadas pela ABI, no sentido de pôr cobro a este ato que pode se constituir no ‘ovo da serpente’, visando reintroduzir a censura aos pensamentos, palavras e obras de nós, o povo brasileiro”. Difundida no site da ABI (www.abi.org.br) assim que chegou à Casa, a mensagem do Conselho Estadual de Cultura tem o seguinte teor: “O Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, por seus membros: Ricardo Cravo Albin, Paulo Roberto Menezes Direito, Aloísio Teixeira, Ana Arruda Callado, Antonio Olyntho Marques da Rocha, Carlos Henrique de Sorocaba Botkay, Carlos Heitor Cony, Cylene Castro, Ivan Nóbrega Junqueira, Júlio César Valladão Diniz, Maria Eugenia Stein, Nélida Piñon, Nelson Antônio de Freitas, Nival Nunes de Almeida, Reinaldo Paes

Barreto, Roberto Atila Amaral Vieira, Urbino Ubiratan Corrêa, Frederico Augusto Liberalli de Góes, João Leão Sattamini Netto, Raymundo Nery Stelling Júnior e Teresa Maria Mascarenhas, reunidos nesta data, verberaram o grave atentado aos inalienáveis direitos constitucionais, perpetrados pelo Juiz da 7a. Vara Criminal de Goiânia, contra o escritor Fernando Morais e seu editor, decidiram dirigir-se a Vossa Senhoria para externar sua indignação com o fato que desperta em nós a preocupação de que se pretenda reinserir a censura em nosso panorama social. Conhecedores que são da trajetória dessa Casa e de seus atuais dirigentes, os Membros do Colegiado se solidarizam com as medidas tomadas pela ABI, no sentido de pôr cobro a este ato que pode se constituir no “ovo da serpente” visando reintroduzir a censura aos pensamentos, palavras e obras de nós, o povo brasileiro. Assim, aguardam os Conselheiros que, em face dos protestos da classe, da sociedade civil organizada, da intervenção do Ministério Público e do Poder Judiciário, o bom senso, a ética e a razão voltem a nortear as decisões sobre o legítimo direito de pensar e agir. Respeitosamente (a) Ricardo Cravo Albin, Presidente.”

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Jornal da ABI LIBERDADE DE IMPRENSA

DIA DA IMPRENSA

CONSELHO SOLIDÁRIO ABI se mobiliza em defesa da liberdade de imprensa, contra duas sentenças que ferem a Constituição Por proposta dos jornalistas Ricardo Kotscho e Audálio Dantas, o Conselho Deliberativo da ABI aprovou, na sessão de 13 de maio, moção de solidariedade com os jornalistas Fernando Morais e Jorge Kajuru e de repúdio às decisões adotadas contra ambos por juizes do Estado de Goiás. Ao apresentar a proposta de Audálio e Kotscho ao Conselho, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, fez um breve histórico em que classificou as decisões como agressões à Constituição praticadas pelos juízes de Goiás. No caso de Kajuru, ele lembrou que o jornalista foi condenado a 18 meses de prisão em regime aberto na cidade de Goiânia, em ação ajuizada pelo empresário Jaime Câmara, diretor de uma afiliada da TV Globo em Goiás. Pela sentença, o jornalista é obrigado a se recolher todo dia às 20h. Como Kajuru mora em São Paulo, a pena que lhe foi imposta, disse o Presidente da ABI, corresponde a uma deportação ao contrário. Em vez de ser alocado de Goiânia para São Paulo, tem que ser compulsoriamente deslocado de São Paulo para Goiânia, diariamente. No caso de Fernando Morais, punido pelo juiz Jeová Sardinha em ação ajuizada pelo deputado Ronaldo Caiado, disse Maurício Azêdo que o autor de Na Toca dos Leões, livro que ensejou a ação, foi proibido de falar sobre a sentença de condenação sob pena de pagar multa de R$ 5 mil quando o fizer. Ele estava em Paris quando se tomou a decisão e de lá informou que quando retornasse iria comentar a decisão de Jeová, assumindo o ônus de ter de pagar R$ 5 mil por declaração, por considerar que não pode submeter-se a uma situação que viola a Constituição da República. A proposta foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo da ABI.

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CLIMA DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO ESTÁ TURVADO Em declaração comemorativa do Dia da Imprensa, que transcorreu em 1º de junho, a Associação Brasileira de Imprensa exortou o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil a que façam uma reflexão sobre a importância da liberdade de imprensa na construção de uma sociedade efetivamente democrática no País, pois sem ela os países mergulham no totalitarismo. A ABI registra que o Dia da Imprensa decorre num ambiente de prevalência das instituições democráticas, mas lamenta que esse clima seja turvado por decisões da Justiça que contêm ingredientes totalitários, como a condenação do jornalista Jorge Kajuru, a interdição do livro Na toca dos leões, do jornalista e escritor Fernando Morais, e a vedação no Estado de Rondônia da transmissão de programa jornalístico da Rede Globo de Televisão sobre corrupção de deputados estaduais. É este o texto da declaração da ABI, assinada por seu Presidente, Maurício Azêdo: “A Associação Brasileira de Im-

prensa dirige sua saudação carinhosa à comunidade jornalística de todo o País pela passagem, hoje, 1º de junho, do Dia da Imprensa, que celebra a criação, há quase 200 anos, do primeiro periódico impresso dedicado a notícias e comentários sobre a vida no Brasil, por inspiração e esforço pessoal de seu fundador, Hipólito José da Costa Furtado de Mendonça. Entende a ABI que a data deve inspirar uma reflexão da comunidade jornalística e do conjunto da sociedade sobre o papel que os meios de comunicação, tanto impressos como eletrônicos, têm desempenhado na vida nacional, à qual têm oferecido informações e opiniões marcados pela pluralidade e pelo propósito de dotar a população de subsídios para sua orientação no cotidiano e nos momentos especiais em que se reclama a manifestação da vontade coletiva. Com todas as insuficiências que lhes possam ser atribuídas, a imprensa e os meios de comunicação em geral têm procurado exercer essa relevante missão com espírito público e disposição de servir ao desenvolvimento material do País e ao progres-

so social do nosso povo. A ABI assinala que o Dia da Imprensa de 2005 decorre num ambiente de prevalência das instituições democráticas consagradas na Constituição de 1988, mas tem a lamentar que esse clima seja turvado por manifestações que ferem as disposições e o espírito da Carta Maior, de que são exemplos recentes a condenação do jornalista Jorge Kajuru pela Justiça de Goiás, a absurda interdição do livro Na toca dos leões, do jornalista e escritor Fernando Morais, também por decisão da Justiça desse Estado, e a vedação da transmissão de programa jornalístico da Rede Globo de Televisão no Estado de Rondônia, igualmente por decisão judicial. No entender da ABI tais episódios contêm ingredientes totalitários que urge escoimar da vida nacional. Daí a pertinência da exortação que a Associação Brasileira de Imprensa dirige aos membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil em todos os níveis da Federação para que procedam à reflexão sobre a necessidade de participação de todos na construção de uma sociedade efetivamente democrática no País, a qual deve ter como apanágio a liberdade de expressão sem a qual os países mergulham no totalitarismo.”

NA UNESCO, UM DIA PARA A LIBERDADE DE IMPRENSA O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado em 3 de maio, foi instituído pela Unesco para celebrar o que já foi consagrado pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que diz que “todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão”. Para marcar a data, o Presidente da ABI, Maurício Azedo, divulgou uma mensagem, em nome de toda a Diretoria da entidade, enaltecendo um dos pilares mais importantes da luta pelo fortalecimento das liberdades democráticas. Diz a nota:

“A Associação Brasileira de Imprensa festeja com as galas devidas a existência do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura — Unesco, que corresponde à pregação que a ABI desenvolve desde a sua fundação, em 1908. Ao longo de seus quase 100 anos de vida, a ABI jamais esmoreceu na defesa desse bem essencial para a vida democrática, mesmo nos momentos mais tormentosos e ásperos da vida nacional, como a ditadura do Estado Novo, entre 1937 e 1945, e a ditadura militar mais recente, entre 1964 e 1985. Sob o império do Estado Democrático de Direito instituído pela Consti-

tuição de 5 de outubro de 1988, a ABI não tem arrefecido na vigilância necessária à preservação da liberdade de imprensa. Esta pertence não aos jornalistas nela reunidos, mas ao conjunto da sociedade, que precisa ter acesso à informação prestada sem condicionamentos e à opinião manifestada sem temor. A Casa de Herbert Moses, de Danton Jobim, de Prudente de Moraes, neto e de Barbosa Lima Sobrinho tem todos os motivos para festejar a iniciativa da Unesco de instituir o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que há que ser estendida a todos os pontos do planeta onde os povos almejam uma vida de bem-estar e felicidade.”

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Jornal da ABI

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“O Brasil é filho da imprensa”

Plenário da Câmara dos Deputados prestou homenagem ao Dia da Imprensa, comemorado em 1º de junho, em ato conduzido por vários parlamentares, entre eles o Deputado Miro Teixeira (PT-RJ), membro do Conselho Consultivo da ABI. O representante da ABI em Brasília, Silvestre Gorgulho, manifestou-se em nome da entidade através da seguinte mensagem: “Em nome da Associação Brasileira de Imprensa, em nome de nosso Presidente, Maurício Azêdo, gostaria de agradecer a todos os integrantes da Câmara Federal esta homenagem ao Dia da Imprensa. Gostaria de agradecer especialmente ao Deputado Vanderley Assis, autor desta iniciativa. O Brasil é filho da Imprensa. Pero Vaz de Caminha fez a primeira reportagem sobre o País. E foi por causa desta reportagem que Portugal e o mundo ficaram sabendo que o Brasil estara, Coordenador-Geral de Editoração va sendo encontrado. da Imprensa Nacional. Depois de abrir Em 1808, D. João VI chegou aqui e os trabalhos, o presidente da Mesa e logo nasceram dois jornais: A Gazeta vice-presidente da Câmara, Deputado do Rio de Janeiro, da monarquia, do GoInocêncio Oliveira (PL-PE), convidou verno. E o outro, liberal, contra o Goa todos para ouvir o Hino Nacional e verno, de Hipólito José da Costa: o depois fez o discurso de abertura da Correio Braziliense. sessão solene: Hipólito José da “Caros jornalistas Costa, hoje patrono Silvestre Gorgulho, da Imprensa Naciorepresentando a Assonal, provou logo no ciação Brasileira de começo que ImprenImprensa; Sérgio Musa é sinônimo de Lirilo de Andrade, Presiberdade. dente da Federação A primeira grande Nacional dos Jornalisdiscussão dos inconfitas Profissionais, Jordentes mineiros foi ge Luís Alencar Guersobre o lema a ser criara, Coordenador-Gedo para a Indepenral de Editoração da dência do Brasil. Imprensa Nacional; Cláudio Manuel da Deputado Vanderlei Costa propôs Libertas Gorgulho: Nosso primeiro repórter foi aut nihil — “LiberdaPero Vaz de Caminha. Assis, autor desta sessão em homenagem de ou nada”. Mas, afiao Dia da Liberdade de Imprensa. nal, os inconfidentes aprovaram LiberImprensa livre e democracia não se tas quae sera tamen — “Liberdade ainseparam jamais. Só uma imprensa lida que tardia”. Como se vê, caros Devre e plural possibilita a formação da putados e caros amigos jornalistas, o consciência da cidadania, indispensáBrasil, a Imprensa e a Liberdade nasvel para o exercício da democracia. Por ceram juntos. Sobretudo, devem cameio dos ricos debates travados por jorminhar juntos. nalistas e articulistas, o público pode Como vejo muitos colegas jornalisposicionar-se sobre questões que afetas aqui presentes e como sei, tamtam diretamente suas vidas. Felizmenbém, que muitos deputados e senadote, a imprensa brasileira tem uma lonres acumulam a função de parlamenga tradição de liberdade e de combate tar com a de jornalista ou de donos de à opressão política. Desde os primórrádio, TVs e jornais, gostaria de ressaldios da imprensa no nosso País, ainda tar: Imprensa e Parlamento censurano Brasil Colônia, quando o Correio dos ou comprados significam prepoBraziliense tinha de ser impresso em tência, opressão. Imprensa e ParlaLondres e vinha de navio para o Brasil, mento livres significam democracia, até alguns períodos do século XX, país livre!” quando driblar os censores passou a ser mais uma tarefa dos jornalistas, a imA Sessão prensa brasileira nunca se curvou às Foram convidados para compor a tentativas de cerceamento. Mesa os jornalistas Silvestre Gorgulho, É importante lembrar, no entanto, representando a ABI; Sérgio Murilo de que a ausência de censura não é o basAndrade, Presidente da Federação Natante para caracterizar uma imprensa cional dos Jornalistas Profissionaislivre. Uma imprensa livre pressupõe a Fenaj; e o Sr. Jorge Luís Alencar Guer-

Uma tese de Gorgulho no Dia da Imprensa

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pluralidade de veículos e de linhas editoriais, e é no contato com essa diversidade que se forma a consciência cidadã. A imprensa livre, a democracia e a consciência cidadã são as três facetas de uma mesma realidade. A ausência de um desses elementos impossibilita a existência dos outros dois. É este conjunto que permite o movimento democrático numa sociedade, onde a livre circulação de idéias forma cidadãos que pensam e agem autonomamente. Hoje, quando saudamos a liberdade de imprensa pelo seu dia, parabenizo todos aqueles que dedicam a vida a proporcionar a cada um de nós informação e análise, notícias e debate, contribuindo decisivamente para a formação da consciência de cidadania e o fortalecimento da prática democrática entre nós e, sobretudo, em nosso País.” Autor da iniciativa de realização da sessão, o Deputado Wanderlei Assis sublinhou que “o Brasil mais uma vez se defronta com o imperativo da verdade”. “É ela, e somente ela, que, em meio às turbulências que nos tomam hoje de grave preocupação, poderá restabelecer o equilíbrio entre dois dos Poderes da República, cada qual cotejado com as próprias limitações, as próprias idiossincrasias e aquilo que um e outro têm ambiguamente como a própria verdade. Mas foi antes desse clima crítico de intensa expectativa, no qual os olhos da Nação se voltam para todos os gestos emanados desta Casa, que tive a idéia desta sessão. Se então considerei a propósito aqui lembrar o 7 de junho, quando se comemora o Dia da Liberdade de Imprensa e, comigo, os nobres colegas que a acolheram, mas certo estou agora quando ao seu objeto final: a liberdade de expressão, algo a ser especialmente reverenciado. O respeitado jornalista Alberto Dines ensina que o papel do jornal é ser necessário. De fato, nobres colegas,

os países desenvolvidos, sobretudo do ponto de vista político social, são absolutamente dependentes desta que é garantia irrecusável do funcionamento das instituições democráticas: a imprensa livre. Livre e serena; livre e abstraída de julgamentos, assim como de prejulgamentos; livre e atenta à verdade dos acontecimentos; livre e não mercantil; livre e não subserviente.” Após citar Barbosa Lima Sobrinho, Vanderlei Assis recebeu aparte do Deputado Miro Teixeira, membro do Conselho Consultivo da ABI, que salientou que “o País está melhorando a cada dia”. “A indicação disso é a qualidade da imprensa que temos. O Deputado Inocêncio, no discurso que fez, trouxe-nos uma menção à multiplicidade de órgãos de imprensa, porque é daí que vem a liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa não vem, pura e simplismente, por um texto constitucional, por um decreto ou por uma lei. Ela existe de fato quando há multiplicidade de veículos de comunicação com liberdade de manifestação ideológica. A Associação Brasileira de Imprensa tem sido um ícone dessa luta pela liberdade de imprensa. V. Exa. citou a figura de Barbosa Lima Sobrinho grande professor de todos nós. Está aqui o Silvestre Gorgulho, representando a ABI. Sou membro do Conselho da ABI, membro ausente, justificado pelas presenças aqui, no Plenário da Câmara dos Deputados, e acompanho o trabalho que meus companheiros estão fazendo lá, presididos por Maurício Azêdo, recuperando o espírito de Barbosa Lima Sobrinho. Foram muito oportunas a lembrança e a iniciativa de V. Exa. Não vou mais lhe tomar tempo. Encerro lembrando apenas o seguinte: existe democracia quando o Parlamento está funcionando. O pior Parlamento em funcionamento é melhor do que um Parlamento fechado. E existe democracia quando existe imprensa livre. Um não existe sem o outro. Enganam-se aqueles que imaginam que podem fechar um Parlamento e continuar com uma imprensa livre. Não existe essa possibilidade, como a história demonstra. O Brasil já superou todas as possibilidade de riscos dessa natureza. Continuaremos com o nosso Parlamento, continuaremos com as nossas instituições, e a nossa imprensa será cada vez mais livre para, como dizia nos seus melhores textos o mestre Rui Barbosa, que não deve ser citado em vão, continuar sendo os olhos, os ouvidos e o sentimento do povo brasileiro.” Discursaram na sessão também os Deputados Chico Alencar, Nárcio Rodrigues, Marcos de Jesus, Arnaldo Faria de Sá, Rogério Teófilo, Carlos Willian, Alexandre Cardoso, André Figueiredo, Nelso Marquezelli e Fernando Gabeira, que aproveitou para denunciar a agressão sofrida por jornalistas da TV Globo, na porta da sede do PT.

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Jornal da ABI ESPECIAL TEXTO INTEGRAL EM PRIMEIRA MÃO

“A impunidade vive enquanto jornalistas morrem” “Com 78 jornalistas assassinados, 2004 foi um dos piores anos desde que o Instituto Internacional de Imprensa começou a fazer suas estatísticas. A atual insurreição no Iraque matou 23 jornalistas e o mantém como o pior lugar para se praticar o jornalismo. A Ásia e o Mena (Oriente Médio e Norte da África), com um total de 54 jornalistas mortos – 27 em cada – são as regiões mais perigosas, enquanto nas Américas 15 jornalistas perderam suas vidas. No restante do mundo, dois jornalistas foram mortos na África e sete na Europa. Embora os jornalistas tenham morrido por uma variedade de motivos, esse ano viu a continuação de uma preocupante tendência unindo países diversos, como Bangladesh, Belarus, Haiti, Gâmbia, México, Filipinas e Ucrânia, além de muitos outros. Sua ligação está na vergonhosa falha das autoridades em investigar e julgar devidamente os assassinos dos jornalistas. Em muitos casos, as investigações acerca das mortes são dificultadas pela falha em interrogar testemunhas, por incapacidade de seguir orientações, evidências perdidas, desejo de encobrir os fatos, corrupção, parcialidade da justiça, inércia e até mesmo pura indiferença. Em outras ocasiões, o motivo é mais claro: é o governo que não quer que os criminosos ou as razões das mortes se tornem públicas. Isso une as autoridades e os criminosos em uma mesma causa: assegurar que os jornalistas estejam silenciados e que informações embaraçosas ou inconvenientes não alcancem o conhecimento público. Um exemplo significativo deste tipo de impunidade e encobrimento dos fatos que oprime todas as tentativas de investigação são as Filipinas. Desde que o país ganhou independência em 1986, aproximadamente 56 jornalistas foram

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assassinados, inclusive 12 em 2004. Ninguém foi condenado por essas mortes. Com 5 jornalistas mortos nesse ano, Bangladesh é outro país onde as autoridades parecem esquecer da necessidade de se cumprir a lei. Nas Américas, quatro jornalistas morreram no México, onde a corrupção e o tráfico de drogas têm impossibilitado quase que totalmente o jornalismo investigativo. No Haiti, onde um jornalista foi morto em 2004, a indiferença do governo obscureceu a verdade. Não houve prisões nos casos de dois jornalistas haitianos mortos em 2000 e 2001.

A íntegra do texto de abertura, sob esse título, do Relatório relativo a 2004 do Instituto Internacional de Imprensa (International Press Institute), sediado em Viena, Áustria, com seu minucioso acompanhamento da situação da liberdade de imprensa e da liberdade de atuação profissional dos jornalistas no mundo inteiro e a íntegra, também, da descrição e avaliação do Relatório acerca da situação da liberdade de imprensa no Brasil. O texto integral dos dois documentos, divulgado originalmente em inglês, é publicado pela primeira vez no Brasil pelo “Jornal da ABI”.

A Europa Oriental é também uma região onde há impunidade. Na Rússia, com três assassinatos em 2004, existe um histórico de tentativas fracassadas de se investigar a morte de jornalistas. Belarus e Ucrânia são dois outros países onde as autoridades não tratam dos casos envolvendo jornalistas. Cerca de cinco anos após o assassinato do jornalista ucraniano

Hryhoriy Gongadze, as autoridades ainda não encaminharam o processo adequado de investigação para a satisfação da comunidade internacional. Em um tempo onde muitos países clamam por democracia, suas autoridades devem avaliar os danos causados pela impunidade e assegurar que aqueles que cometem a mais definitiva forma de censura sejam punidos.”

OS MORTOS DA IMPRENSA, POR CONTINENTES

OS MORTOS DA IMPRENSA, POR PAÍSES E CONTINENTES África Costa do Marfim Gâmbia América Brasil Colômbia Haiti México Nicarágua Peru Rep. Dominicana Venezuela Ásia Bangladesh Filipinas Índia Kazaquistão Nepal Paquistão Sri Lanka Europa Belarus Holanda Rússia Sérvia-Montenegro Ucrânia Oriente Médio e Norte da África Arábia Saudita Iêmem Iraque Palestina Total

2 1 1 15 3 1 1 4 2 2 1 1 27 5 12 3 1 3 1 2 7 1 1 3 1 1 27 1 1 23 2 78

Total de mortos 78

A ABRANGÊNCIA DO RELATÓRIO, POR NÚMERO DE PAÍSES POR CONTINENTES* Total 191 Países

* A listagem inclui territórios vinculados a países, mas geograficamente destes afastados.

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Jornal da ABI RELATÓRIO IPI

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Relatório IPI 2004 constitui alentado volume de 322 páginas e é na verdade uma edição especial da World Press Freedom Review (Revista Liberdade de Imprensa no Mundo), elaborada sob a direção de Wilfred D. Kiboro, Presidente do Instituto Internacional de Imprensa (IPI, na sigla em inglês), e de Johann P. Fritz, Diretor da Review, tendo como editor David Dadge. A montagem do trabalho, após dezembro de 2004, mobilizou uma equipe de 21 pessoas na sede do IPI, em Viena e nos cinco continentes, as quais sistematizaram informações recebidas de repórteres, editores de publicações e executivos de órgãos de comunicação de 120 países e de 96 associações de imprensa e de direitos humanos e de personalidades de diferentes continentes. Além dessa rede, a Review contou com o noticiário e o material fotográfico fornecido pelas agências Reuters e Associated Press e Agência Européia de Fotojornalismo. Ao longo do texto, o Relatório publica quase 150 fotografias de aspectos relacionados com as ocorrências que menciona, focalizando tanto jornalistas e manifestações relacionadas com a imprensa como eventos de caráter político que afetam o noticiário. Parte delas foi reproduzida também na capa (duas) e na contracapa do volume (seis): Pôde o Relatório IPI produzir, assim, um painel da situação da liberdade de imprensa e da atividade profissional dos jornalistas em nada menos que 191 países e territórios nos cinco continentes. Os registros do IPI assinalam a ocorrência de 78 assassinatos de jornalistas, dos quais três no Brasil. Esses crimes, diz a apresentação do Relatório, com freqüência não são apurados; quando identificados os autores, são eles beneficiados pela ação dos governos ou do Judicário; os crimes se repetem porque são recebidos com indiferença, como se matar quem busca e divulga informações fosse um exercício inocente, banal. São essas peças do Relatório IPI 2004 que o “Jornal da ABI” traz a público no Brasil. Relatório IPI 2004: um painel da impunidade que cerca a morte de 78 jornalistas no mundo todo.

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“MORTE VIGIA O PAÍS” Sob este título, o Relatório IPI faz o seguinte relato sobre a situação da liberdade de imprensa no Brasil. “O maior e mais influente país da América Latina é também o maior mercado de mídia do continente. O Brasil possui um cenário de mídia vibrante com milhares de estações de rádio e centenas de canais de televisão e jornais. As publicações independentes e os jornalistas de radiodifusão conseguiram amplo apoio do público que lê suas publicações sobre corrupção e outras atividades ilegais. No entanto, enquanto jornalistas dos centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo são capazes de levar sua profissão com liberdade considerável, aqueles que trabalham em regiões menos populosas continuam a encarar ameaças, moléstias, agressões físicas e morte nas mãos de criminosos e detentores do poder local. Três jornalistas – Samuel Romã, da Rádio Conquista FM, de Mato Grosso do Sul, José Carlos Araújo, da Rádio Timbaúba FM, em Pernambuco, e Jorge Lourenço dos Santos, da Criativa FM de Alagoas – foram assassinados em 2004. Quando não se deparam com ameaças e violência física, os jornalistas brasileiros têm de lidar com uma barreira de processos, tentativas de censura e julgamentos excessivamente punitivos. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está na metade de seu mandato, enviou um projeto de lei ao Congresso em agosto que iria estabelecer conselhos federais e estaduais de jornalismo para regular os jornalistas. O projeto foi amplamente condenado por grupos internacionais que lutam pela liberdade de imprensa e foi no final das contas arquivado. Samuel Romã, apresentador de rádio e dono da Conquista FM, foi morto a tiros por dois homens em uma motocicleta na porta de sua casa na cidade de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, cidade próxima à fronteira paraguaia, em 20 de abril. Romã, que era também um membro político

ativo da oposição do PDT, apresentava o programa A Voz do Povo, onde freqüentemente denunciava traficantes de drogas e autoridades locais. A polícia brasileira afirmou que dois homens armados dispararam vários tiros contra Romã enquanto dois comparsas esperavam no lado paraguaio da fronteira. Os quatro homens voaram para o Paraguai. A fronteira do Brasil com Paraguai, que possui 450 milhas de extensão (724 quilômetros), é conhecida como um antro de corrupção e do crime organizado. Em 22 de abril, a polícia paraguaia prendeu três homens suspeitos do assassinato de Romã e os entregou à polícia brasileira. Os supostos assassinos foram soltos após a polícia ter rejeitado a possibilidade de envolvimento dos três homens com o crime. Em junho, procuradores do Estado acusaram Eurico Mariano, prefeito de Coronel Sapucaia, de estar envolvido no assassinato de Romã e solicitaram sua detenção temporária. Um julgamento no Estado concedeu a solicitação dos procuradores, porém, um recurso federal revogou a ordem de detenção e determinou a soltura de Mariano. José Carlos Araújo, jornalista da Rádio Timbaúba FM, foi morto em 24 de abril por dois homens armados não identificados na porta de sua casa na cidade de Timbaúba, em Pernambuco. Araújo, que apresentava o programa José Carlos Entrevista, havia exposto o envolvimento de figuras locais bem conhecidas em assassinatos na região. Em 28 de abril, a polícia prendeu Elton Jonas Gonçalves de Oliveira, que confessou o assassinato de Araújo porque o jornalista o havia acusado em seu programa de estar envolvido com atividades criminosas. Jorge Lourenço dos Santos, dono da rádio local Criativa FM, foi morto em 11 de julho próximo à sua casa em Santana do Ipanema, Alagoas, por um homem não identificado que disparou contra ele quatro tiros antes de fugir em um carro. Jorge Lourenço, que já havia sido alvo de duas tentativas de assassinato, apresentava um programa onde criticava freqüentemente políticos e personalidades locais. Ele também era ligado à política e havia se candidatado nas eleições locais ao cargo de vereador. Em maio, o Presidente Lula pediu que o Ministério da Justiça cancelasse o visto do correspondente do jornal New York Times no Brasil, Larry Rohter, após o jornalista ter escrito um artigo onde falava do hábito do presidente de consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Em uma decisão em 11 de maio, o Ministro da Justiça interino Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto disse que as autoridades decidiram por cancelar o visto de Rohter citando o artigo 26 da Lei

n° 6815, uma lei de imigração, em um relato que dizia que “o jornalista havia ofendido a honra do presidente da República Federativa do Brasil e causou um sério dano à imagem da nação no plano internacional”. Segundo o artigo 26, a chegada, estada ou registro de um estrangeiro pode ser bloqueado caso o Ministério da Justiça considere sua presença no país “inconveniente”. Em um artigo intitulado Brazilian Leader ’s Tippling Becomes National Concern (Hábito de Beber do Líder Brasileiro Torna-se Preocupação Nacional), publicado no New York Times em 9 de maio ao lado de uma fotografia do Presidente em um festival de cerveja, Rohter alegou que alguns brasileiros estavam preocupados com que o suposto hábito de beber freqüentemente afetasse sua performance no Governo. Apesar de o Governo ter revertido a sua revogação do visto de Rohter após ter recebido uma carta de desculpas do jornalista, o IPI (International Press Institute) em 27 de maio exigiu que o artigo 26 de Lei n° 6815 fosse corrigido ou removido para prevenir uma nova ocorrência. “A prática desta lei pouco utilizada, aprovada em 1980 na vigência do regime militar, favorece o surgimento de questões aborrecedoras que devem ser resolvidas”, disse o Diretor do IPI, Johann Fritz. “Primeiro, estou preocupado com um sistema legal que iria permitir que o Presidente do Brasil pedisse ao Ministério da Justiça a penalização de um jornalista por sua matéria. Deveria haver uma clara separação do poder, com as leis sendo aplicadas em razões objetivas, e não com o intuito de punição por causa de um artigo que causa embaraço.” “Também estou preocupado com a aparente justificativa do uso da lei da imigração. De acordo com o website do Governo, o artigo de Rohter causou ofensa à honra do Presidente. O que pa-rece, portanto, é que esta lei da imigração pode ter uma aplicação tão ampla que pode ser usada praticamente como aparente “lei do insulto” – uma lei que poderia ser usada para remover correspondentes estrangeiros quantas vezes fosse necessário”, afirmou Fritz. Em julho, o premiado jornalista Lúcio Flávio Pinto, punido com sentença de um ano de prisão por supostamente difamar um desembargador, conseguiu um recurso no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Em 2000, Lúcio Flávio era editor do Jornal Pessoal em Belém, no Pará, e publicou um editorial no qual criticava o Desembargador João Alberto Paiva, atualmente aposentado, por ter garantido a posse de um terreno para a empresa controlada por Cecílio Rego de Almeida, dono da construtora CR Almeida, ignorando o fato de a situação da terra estar sendo contestada pelo Instituto de Terras do Pará. Após Paiva ter aberto o processo de

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Jornal da ABI RELATÓRIO IPI difamação contra o jornalista, a 16ª Vara Criminal o sentenciou a cumprir um ano de prisão em fevereiro de 2003. Em 6 de julho de 2004, o Tribunal de Justiça do Pará confirmou a decisão, mas mudou a sentença para uma multa de aproximadamente 3.500 dólares. Lúcio Flávio dirigiu um recurso ao Tribunal do Pará, mas teve seu recurso rejeitado. Organizações de jornalismo, incluindo a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenaram a sentença, classificandoa como uma tentativa de “calar o jornalista”, e afirmaram que Lúcio Flávio, que enfrenta diversos processos criminais e civis e já recebeu inúmeras ameaças no passado por suas reportagens críticas sobre a devastação do meio ambiente, tratava de uma questão de interesse público e fez uso em sua matéria de informação fornecida por órgãos estaduais e federais. Grupos internacionais de liberdade de imprensa rejeitaram fortemente o projeto de lei enviado ao Congresso em 4 de agosto pelo qual o Presidente Lula iria restringir severamente o direito à liberdade de expressão, disseram. O projeto, originalmente proposto para a monitoração do trabalho da mídia e para determinar se as matérias jornalísticas obedeceriam a princípios éticos, foi revisado pelo Ministério do Trabalho e encaminhado ao Presidente em 27 de maio. Ele estabeleceria um Conselho Federal de Jornalismo com representações em cada um dos 26 Estados brasileiros, com autoridade para “orientar, disciplinar e fiscalizar” a prática do jornalismo. Segundo o projeto de lei, cada jornalista deveria se registrar no Conselho Regional do lugar onde reside e, além disso, estaria sujeito a advertências, multas, censura ou suspensão da permissão de trabalhar por 30 dias ou até mesmo permanente. O Governo alegou que o projeto tinha como objetivo melhorar o jornalismo, mas jornalistas e advogados da imprensa independente denunciaram a lei cogitada como um instrumento para silenciar as críticas. No meio de setembro, Lula abandonou seu apoio ao projeto de lei e o Presidente do Senado, José Sarney, confirmou que não havia chances de sua aprovação no Congresso. Enquanto isso, em julho, o Grupo Abril, maior empresa de publicações do Brasil, concordou em vender uma parte minoritária do grupo para a Capital Group, a primeira negociação desde que as leis de mídia no País foram revisadas em 2002 para permitir que grupos estrangeiros pudessem comprar até 30% da parte de empresas brasileiras. Segundo Roberto Civita, Presidente da Abril, a negociação permitiria à Abril a pagar dívidas e abrir caminho para a chamada de capital. Assim como a maioria das empresas de mídia brasileiras, a Abril vinha sendo atingida por um declínio em sua receita de publicidade. Houve especulações sobre uma suposta influência do Governo para ajudar a levantar algumas empresas da mídia brasileira, mas a prática de socorro financeiro poderia ser condenada como uma tentativa de influenciar a cobertura da mídia.”

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JUSTIÇA

UM MATADOR CONDENADO O traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foi condenado a 28 anos e seis meses de prisão, em regime fechado, pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. O julgamento durou mais de 16 horas e o júri considerou Elias Maluco culpado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha. Outros cinco acusados de participação na morte do jornalista irão a julgamento em separado, porque optaram por serem representados por defensor público. Tim Lopes foi morto em junho de 2002, na Vila Cruzeiro, uma das 12 favelas do morro conhecido como Complexo do Alemão, no bairro da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. O jornalista era repórter da TV Globo e estava trabalhando em uma reportagem investigativa sobre consumo de drogas e exploração sexual de jovens em bailes funk. Ele recebera a denúncia de moradores. Aquela seria a quarta vez que Tim Lopes subiria à favela para realizar a reportagem. Nas duas primeiras, fez o reconhecimento de área; na terceira, levou a microcâmera, mas as imagens não foram consideradas boas o suficiente para sustentar a denúncia. Ele não tinha imagens do baile e por isso voltou ao local.

Na sala do I Tribunal do Júri do Rio, o Juiz Fábio Uchôa lê a sentença que condenou Elias Maluco a 28 anos e meio de prisão pelo assassinato do jornalista Tim Lopes

Logo após a divulgação da sentença, a irmã de Tim, Tânia Lopes disse que estava satisfeita e que “foi feita a justiça”. Para Maurício Azêdo, Presidente da ABI, a decisão do júri reflete a pressão dos meios de comunicação: “A ABI recebeu a sentença, emitida pelo corpo de jurados, como realização da justiça que a comunidade jornalística e a opinião pública reclamavam para os matadores do nosso Tim Lopes, especialmente para o seu chefe, o bandido Elias Maluco. É certo que a decisão do júri reflete uma pressão vigorosa dos meios de comunicação e do con-

junto da sociedade, mas isso corresponde a um traço dos países submetidos a instituições democráticas. Haveria setores da sociedade que desejavam uma pena maior, como espécie de vendeta, uma represália do gênero olho por olho, dente por dente. Mas o que se desejava para esse episódio era a produção de justiça feita com serenidade e com respeito à lei. O júri, a nosso ver, não foi condescendente com Elias Maluco e apenas se comportou com apreço às provas que lhe foram exibidas e ao empenho de se fazer justiça.”

Jornalista quer assassino julgado Ainda traumatizada com as mortes do irmão Ângelo e de seu amigo Carlos Roberto — baleados pelo policial civil Eduardo Ciambarella Filho —, a jornalista Zilmar Basílio vem travando uma luta incansável para que o assassino seja julgado e condenado pelos crimes que cometeu em 15 de agosto de 2004. Desde então, as famílias dos jovens assassinados aguardam a punição do criminoso e sua expulsão da Polícia Civil — da qual ele foi afastado administrativamente. Recentemente, Cláudia Guerreiro, assessora de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, enviou e-mail para Zilmar, dizendo que a polícia “tem cumprido o seu papel” e lembrando “a necessidade de respeito aos trâmites jurídicos para que a decisão final seja tomada de maneira clara e justa”. A jornalista ficou indignada: — Agradeci por ter sido informada de que a Polícia Civil tem cumprido seu papel. Mas será que a Justiça está fazendo o mesmo? Um policial civil, cujo salário é pago com dinheiro público para nos proteger, matou dois inocentes e ainda está transitando nas ruas. Zilmar Basílio enviou carta à ABI, relembrando o caso: “O escrivão da Polícia Civil Eduardo Ciambarella Filho (lotado na 75a DP — Rio D’Ouro, Niterói), 33 anos, assassinou barbaramente meu irmão Ângelo Borges Basílio, 32, e seu amigo Carlos Roberto, 34, e continuamos nos mobilizando para que eles não sejam mais um número nas estatísticas de impunidade do Estado em que vivo com nossa mãe e no qual Ângelo nasceu e viveu. A Justiça há de ser cumprida, como nos afirmaram os Drs. Paulo Passos e José Renato, respectivamente Corregedor da Polícia e Subchefe da Polícia Civil do Estado, que estariam empenhados para que o assassino seja punido. Aguardamos ainda que o Secretário de Segurança

Pública do Rio, Dr. Marcelo Itagiba, o expulse dos quadros da instituição policial em que ele trabalha. O processo administrativo está em fase de conclusão desde o dia 3 de maio de 2005, quando as principais testemunhas depuseram. Ciambarella Filho está afastado de suas funções policiais desde o dia 18 de agosto de 2004, para ser julgado pela Justiça comum e condenado pelos crimes que cometeu. Meu irmão morreu porque tentou defender a vida do próximo. No dia 15 de agosto de 2004, pediu para um ‘policial civil’, destemperado e despreparado para exercer a sua função, não matar um amigo. O que fez o assassino? Não satisfeito em atirar pelas costas em Carlos Roberto, decidiu que Ângelo deveria pagar com a própria vida por ter tido a ‘ousadia’ de pedir pela vida do amigo. Somos uma família de nove irmãos. Hoje, oito. Sempre fomos unidos e estamos tristes e mutilados com a ausência do nosso Ângelo. Peço, ou melhor, imploro que vocês nos ajudem a colocar este ‘homem’ na prisão. É uma forma de amenizar a dor da minha mãe, da minha cunhada (que precisa de muita força para cuidar do filho de 10 meses), do meu sobrinho Matheus, de apenas 7 anos, dos meus irmãos, e também o sofrimento da mãe do Carlos Roberto. Queremos que Eduardo Ciambarella Filho seja preso e expulso ‘’da Polícia Civil e pague pelas duas vidas que ele interrompeu bruscamente. Temos a certeza de que, com a ajuda de vocês, o autor desse crime hediondo será preso. A vida não pode ser banalizada. Hoje foi o meu irmão a vítima. Não deixe que alguém próximo ou não de você seja a vítima de amanhã. A nossa dor é muito grande, mas nós, das famílias do Ângelo e do Carlos Roberto, não descansaremos enquanto o culpado não for preso e condenado.”

Maio/Junho de 2005


Jornal da ABI VIDAS Márcia Guimarães

INÁCIO DE ALENCAR A

os 21 anos de idade Inácio de Alencar iniciou-se no jornalismo, deixando claro que seria um marco na História da Imprensa Baiana. Secretário Gráfico do jornal O Momento (1948/1950) – órgão do Partido Comunista no qual acumulava as funções de repórter e chefe da seção esportiva –, sócio-fundador e secretário de redação do semanário O Povo (1948) e repórter de A Gazeta Esportiva de São Paulo (1947/1948), Inácio começava uma carreira brilhante, interrompida aos 37 anos pelo golpe de 64 – a partir do qual nunca mais aquele rio de talento e genialidade retornaria ao leito caudaloso. Em 1950, aos 23 anos de idade, assume a Coordenação do Suplemento Literário do Diário da Bahia e começa intensa atividade como crítico de cinema, anunciando a revolução que faria, oito anos depois, no histórico SDN – Suplemento do Diário de Notícias –, ninho de efervescência intelectual liderada por Inácio, e de onde Glauber Rocha iria reinventar o Cinema Novo. No ano seguinte, 1951, alcança o posto de Secretário de Redação do mesmo Diário da Bahia, e colabora, simultaneamente, com os jornais Diário da Noite e O Jornal, do Rio de Janeiro. Sua capacidade de produção é inesgotável. Nestes anos, entre 1951 e 1954, além de comandar o Diário da Bahia, é redator da Agência Nacional, redator do Boletim Econômico do Instituto Brasileiro do Café-IBC e repórter político do jornal Vanguarda (RJ). Em 1955, aos 28 anos, assina o projeto de reformulação gráfico-editorial do jornal O Estado da Bahia, onde ocupa o cargo de Secretário de Redação. A revolução gráfica nascida na Última Hora de Samuel Wainer o leva a romper com a concepção provinciana da imprensa nacional-baiana, inserindo O Estado da Bahia no século XX. Em torno do seu nome, começa a ser criada a lenda que o marcaria como um dos mais brilhantes e completos profissionais da história do jornalismo baiano. Em 1956, aos 29 anos, é eleito Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia, cargo para o qual foi reeleito em 1958. Em 1957 deflagra e lidera a mais importante greve de jornalistas do País: a única que, de fato, paralisou as rotativas e emudeceu todos os jornais de Salvador. Registros da greve estão no livro Dez Dias que abalaram a Imprensa da Bahia, de Maurício Naiberg. A liderança de Inácio de Alencar junto a os gráficos baianos foi decisiva para o movimento. Braços cruzados no fosso das oficinas, as máquinas pararam. Sua participação nas lutas sindicais vem de muitos antes, 1949, quando integra a delegação baiana ao I Congresso de Jornalistas em Salvador. Em 1955 é membro da delegação baiana ao IV Congresso Nacional de Jornalistas no Rio de Janeiro. Em 1956, é membro

Maio/Junho de 2005

Uma vida partida ao meio da delegação brasileira ao 2º Encontro Nacional de Jornalistas em Otanieme, Helsinque, Finlândia. Em 57, está no III Encontro Nacional de Jornalistas, como presidente da delegação baiana. Três anos depois, em 1960, é vice-presidente da delegação brasileira ao 3º Encontro Internacional de Jornalistas em Viena, Áustria. Os carimbos no passaporte se sucedem: Tcheco-Eslováquia, URSS, China. Vai ao Uzbequistão, Bratislava, Praga, Pequim, Moscou, Roma, Paris, participando de congressos e encontros patrocinados pela Organização Internacional do Trabalho-OIT.

D

e 1960 a 1963, participa dos intensos debates pela regulamentação da profissão, como vicepresidente da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais e relator da Comissão de Regulamentação da Profissão do 7º Congresso de Jornalistas, em Brasília. Na ABI, é o sócio nº 3.211. Na liderança do movimento grevista que paralisou Salvador, Inácio organiza, funda e cria o projeto gráficoeditorial que abre alas para um novo jornal no nicho dos mais importantes diários do Estado: o Jornal da Bahia. No ano seguinte, em 1958, aos 31 anos de idade, recebe carta branca de Odorico Tavares para assumir o projeto gráfico-editorial do Diário de Notícias, o poderoso tentáculo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. E ele executa uma revolução cultural jamais vista na Bahia reunindo, na mesma redação, alguns dos mais brilhantes e jovens intelectuais do seu tempo. Do Jornal da Bahia leva Glauber Rocha – que, pela mão de Inácio, havia iniciado sua carreira jornalística como repórter de polícia – e Paulo Gil Soares, entre tantos outros. O Suplemento do Diário de Notícias não marca, apenas, a história do jornalismo baiano. Marca, sobretudo, a revolução no campo das idéias, refle-

tindo um mundo pegando fogo: a aurora dos anos 60, com sua luta encarniçada na defesa de novos valores libertários do pensamento, desde a política à literatura, à música, ao cinema, ao sexo, à religião. Em 1963 e 64, aos 36 anos, é Assessor de Imprensa e Assessor de Relações Públicas, ad hoc, da Petrobrás, colunista político do Diário de Notícias e Editor do SDN. Em abril de 1964, a ruptura: é cassado pelo golpe militar. A vida é partida ao meio. Deixa Salvador, e recebe asilo na Embaixada do México. A partir daí, o rio passa a correr em leito tortuoso. Na Cidade do México colabora com a revista Política. Viaja a Havana e, depois, parte para a Argélia, onde encontra o grupo de Miguel Arraes. Em 1956/66 está em Paris, com Heron de Alencar, seu irmão, e colabora, como diagramador, no boletim do Institut pour la Recherche et la Aplication de Méthodes em la Agriculuture (IRAM). Sobreviver é preciso.

E

m fins dos anos 60 volta ao Brasil, clandestinamente. Não há trabalho. Glauber Rocha lhe consegue espaço no Jornal dos Sports, onde fica até o início dos 70. A sucessão de anos traz pequenos trabalhos como diagramador, paginador e, ocasionalmente, um ou outro projeto editorial, como o da revista GAM, que funda em 1967. Participa, como editor de esportes, da aventura de O Sol, e colabora em pequenas publicações. Em 1974/1975 retoma, com certo vigor, a carreira interrompida, assumindo a chefia de redação do jornal Crítica, no Rio de Janeiro, marcando sua passagem no tempo ágil, virulento e resistente da imprensa nanica. Ao apagar das luzes da década de 70,

ocupa a direção da Capel – Consultoria Política. Volta a Bahia no início dos anos 80, mas os tempos são outros. Viaja a Paris, e, na volta, é convidado para chefia de gabinete da RioArte, onde desenvolve projetos editoriais e culturais na cidade do Rio de Janeiro. Com a anistia, retorna à Petrobrás, onde é enquadrado como assistente administrativo, nível médio. Recusamlhe o reconhecimento de nível superior, como jornalista que sempre foi. Na Sercom, fica encarregado do clipping. É a cassação branca, o silêncio insultante sobre sua trajetória profissional.

I

nácio de Alencar jamais olhou a vida pelo espelho retrovisor. Em nenhum momento a palavra amarga lhe arranhou a garganta, ou um “já fui” indigno manchou sua biografia moral e intelectual. Jamais o ódio, a frustração ou a revolta alcançaram o brilho da sua lucidez. Viver 28 anos ao seu lado, mais do que um privilégio, foi uma aventura marcada pela alegria, pelo permanente encanto de viver, e pela inabalável paixão pelo futuro. Na madrugada de 1º de maio ele ergueu o corpo no leito do Hospital Copa D’Or, e aos médicos e enfermeiros que o cercavam com respeito exigiu que desligassem os aparelhos. “A vida –– disse – deve se acabar com dignidade. Devemos deixá-la fluir naturalmente. Não se apegue a esse resto de vida, que nada significa para mim. Isto não é mais vida. Durante 77 anos vivi com dignidade. Em nome dos 28 anos de amor que nós vivemos, tenha coragem e grandeza para mandar desligar os aparelhos.” Inácio faleceu na manhã de 2 de maio de 2005. As rotativas calaram.

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ACONTECEU NA ABI Rodrigo Caixeta

AMAZÔNIA UMA REGIÃO SOB COBIÇA

O General Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da Amazônia, denuncia na ABI as ameaças que pesam sobre uma área do País exposta a riscos pela magnitude das riquezas que possui. Na noite de 2 de junho, a ABI abriu as portas do Auditório Oscar Guanabarino para a discussão de um tema importante: A Amazônia que os brasileiros desconhecem. Com a palestra do General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo, os participantes — que lotaram a platéia e entre os quais estavam não apenas jornalistas, mas também autoridades e personalidades como o arquiteto Oscar Niemeyer e o ex-Ministro do Exército Zenildo Lucena — puderam aprofundar seus conhecimentos sobre a região e os principais problemas por ela enfrentados. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, agradeceu a presença do General e rememorou a história da instituição em acolher líderes militares para discussões e debates: — Com muito orgulho a ABI tradicionalmente acolheu figuras que ajudaram na História do País e que tiveram participação em movimentos nacionais. Esta iniciativa de hoje pretende dar continuidade ao culto dos valores patrióticos. No início da palestra, após agradecer o convite de Maurício Azêdo e de José Roberto Gomes Correia, Presidente do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas do Rio de Janeiro, o General apresentou um vídeo com imagens da Amazônia. Em seguida, explicou que trata-

ria dos aspectos fisiográficos e geopolíticos, assim como da atuação do Exército em sua missão institucional de defender a integridade do Brasil. Do ponto de vista fisiográfico, o General apresentou as dimensões territoriais da Amazônia, que abrange seis Estados e tem população estimada em 13 milhões de habitantes. A região seria capaz de cobrir toda a Europa, incluindo as ilhas inglesas O General Cláudio Barbosa de Figueiredo recebeu da ABI e irlandesas. São 22 mil uma placa comemorativa de sua conferência na Casa. quilômetros de rios navegáveis, cujo eixo principal é o Solimões-Amazonas, que desembofundidade. Na Ásia e na África, as jaca no Oceano Atlântico. zidas estão a mais de cem metros. Para ele, as denúncias da imprensa mundial sobre o desmatamento camuPosicionamento estratégico fla os interesses de outros países em A Amazônia tem posicionamento promover a internacionalização. O Geestratégico de defesa, por estar afastaneral destacou que a Amazônia não da dos grandes centros políticos, ecotem solo fértil — seu subsolo, no ennômicos e sociais do Brasil. Mas, setanto, concentra os minerais mais imgundo o General, a tendência atual de portantes para a vida moderna: os países ricos entrarem em confronto — A Reserva dos Seis Lagos tem a com os países pobres e as intervenções presença do nióbio, muito utilizado na armadas acontecerem com a interfeindústria da aviação. Na região da Rerência ou não da ONU é um agravante: serva de Roosevelt estão as jazidas de — Alguns dizem que a internaciodiamantes a apenas dez metros de pronalização está na cabeça de naciona-

Patriotismo, tradição da ABI A saudação da Casa ao conferencista “Excelentíssimo Senhor General-de-Exército Cláudio Barbosa de Figueiredo, digníssimo Comandante Militar da Amazônia; eminentes oficiais-generais e chefes militares que integram a mesa da presente sessão; excelentíssimo senhor Presidente do Clube de Engenharia, Doutor Raymundo de Oliveira, e excelentíssimo senhor Presidente do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas do Rio de Janeiro, Dr. José Roberto Corrêa, instituições que se associaram à ABI no patrocínio e organização deste magno evento; Dra. Maria Augusta Tibiriçá Miranda; Dra. Irene Garrido Filha; excelentíssimo senhor Presidente do Conselho Deliberativo da ABI, escritor, jornalista e professor Ivan Cavalcânti Proença; senhores Diretores, Conselheiros e associados da ABI; ilustres convidados; minhas senhoras e meus senhores; digno General Cláudio Barbosa de Oliveira, É com justificado orgulho que a Associação Brasileira de Imprensa acolhe a presença de Vossa Excelência e de tantos oficiais-generais e a oficialidade do Exército Brasileiro e das demais Armas das nossas for-

ças militares. A ABI tem uma longa tradição neste Auditório Oscar Guanabarino de acolhimento de destacados líderes militares para exposição e debate de questões relacionadas com o interesse do País, seu presente e seu futuro. Há mais de meio século, esta Casa dignificada pelo patriotismo de nosso patriarca Barbosa Lima Sobrinho abriu-se de par em par para a discussão de aspectos de extrema relevância da vida nacional, como a forma de exploração do petróleo, que nas décadas de 40 e 50 concentrava as atenções de quantos chefes e pensadores militares se preocupavam com o aproveitamento de tão importante riqueza nacional. Ainda que em diferentes prismas de análise e observação, todos buscavam colocá-las a serviço do desenvolvimento econômico do País e do progresso material e espiritual do povo brasileiro. Aqui estiveram patriotas da estirpe dos Generais Juarez Távora, Estevão Leitão de Carvalho, Arthur Carnaúba e muitos outros que ajudaram o País a plasmar a definição técnica e legal nesse campo, com a

instituição do monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobrás, empresa que, à parte o seu desempenho e seus resultados econômicos, envaidece o povo brasileiro pela demonstração da alta competência técnica dos seus quadros em inúmeras especializações, como na pioneira tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas. Ainda recentemente, ilustre General Cláudio Barbosa Figueiredo, a ABI acolheu para uma entrevista coletiva o digno Presidente do Clube Militar, General Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, seu ilustre antecessor no Comando Militar da Amazônia, cuja folha de serviços nesse posto é emoldurada pelo mesmo patriotismo com que Vossa Excelência orna o exercício dessa notável missão a serviço da Pátria, essa mãe gentil que infelizmente não merece de todos o afeto e a dedicação de que deveria ser sempre merecedora. Sua presença entre nós, hoje, digno Comandante, tem, pois, o sentido de continuidade do culto a valores patrióticos de que o Exército Brasileiro e esta Associação Brasileira de Imprensa são apóstolos e infatigáveis defensores. É com grande prazer, portanto, que lhe passo a palavra para que Vossa Excelência nos revele e mostre, sob a ótica do interesse nacional, a Amazônia que os brasileiros desconhecem e precisam proteger. “

listas xenófobos, mas sabemos que a cobiça exterior é antiga. No império de D. Pedro II, o Chefe do Observatório Naval de Washington, Matthew Maury, já defendia a tese de livre navegação no Rio Amazonas. O General recordou outros grandes nomes que também defendem a internacionalização da Amazônia, como Margaret Tatcher, Al Gore, Mikhail Gorbachev e Madeleine Albright. Ele recordou uma fala de Pascal Lamy, Presidente da Organização Mundial do Comércio, que disse que as florestas devem ser bens públicos mundiais: — Felizmente, segundo uma pesquisa brasileira recente foi constatado que 75% dos brasileiros entrevistados sabem que o País corre o risco de sofrer intervenções devido a suas riquezas. Entre outros problemas enfrentados, o General aponta a instabilidade dos países vizinhos, como a Colômbia, que enfrenta a guerrilha promovida por forças revolucionárias e o crime organizado. Há também a questão indígena, que envolve a integração social das tribos, além da expansão territorial, que corresponde a 12, 8% do território nacional, e a exploração das riquezas naturais. Preservador da natureza Segundo o General, o Exército é, por essência, preservador da natureza. E a presença de ongs e estrangeiros na Amazônia é fator de alerta: — Sabemos que as ongs têm repercussão favorável na imprensa, caráter humanitário e preenchem as lacunas deixadas pelo Estado. Mas é preciso atentar para a atuação de algumas. O número de estrangeiros é cada vez mais crescente — com destaque para a presença de pesquisadores norte-americanos e europeus e de mão-de-obra boliviana, colombiana e peruana: — Para conter o narcotráfico, o tráfico de armas e animais, a biopirataria e a exploração ilegal de madeiras, o Exército dá apoio logístico, de comunicação e de inteligência. O General destaca que a ausência do Estado permite a destruição do patrimônio e a presença de organizações internacionais: — Por isso, a missão do Exército é defender a pátria. E a missão do Comando Militar da Amazônia é garantir a integridade territorial da região e atuar como Estado nessas localidades. Para o General, há três ameaças principais para a Amazônia: a internacionalização, a ação dos crimes transnacionais e a perturbação da ordem pública. Para conter essas ameaças, é preciso promover o convencimento da opinião pública internacional e haver maior atuação dos órgãos de Governo: — Atuamos com a estratégia da dissuasão, começando pela resistência e passando pela ofensiva até consolidarmos nossa presença na região. Ao final da palestra — tendo ao fundo uma imagem em que se lia a frase “É na Amazônia que o coração do brasileiro bate mais forte” —, o General recordou que a atuação do Exército na Amazônia data de 1616, quando as Forças Armadas portuguesas fundaram o Forte do Presépio, onde hoje é o Pará. Segundo ele, o Comando Militar da Amazônia, composto por 124 organizações militares distribuídas em 58 localidades, é o maior em extensão territorial no Brasil.


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