Almirante de Cabral numa reedição sem omissões Página 17
Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa
Fevereiro de 2006 • Número 305
Vítimas de tortura morrem sem a indenização moral Por lentidão na programação de pagamentos do Governo do Estado do Rio, vítimas de prisão e torturas físicas e psíquicas sob a ditadura estão morrendo sem ver a cor do dinheiro da indenização de reparação moral instituída em lei. Há mais de 500 processos por pagar. Páginas 8 e 20 e Editorial na página 2
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ob a mira permanente de fuzis (foto), o povo haitiano aspira ao restabelecimento da plenitude de sua autonomia, disseram o jurista João Luiz Pinaud e a socióloga Sandra Quintela, integrantes da Missão Internacional de Solidariedade ao Haiti, ao divulgar, na ABI, o relatório da inspeção feita lá. Pinaud afirma que a força que as Nações Unidas mantêm no país é na verdade uma tropa de ocupação. Página 9
DEPOIMENTOS
“Governo não gosta de imprensa” “Governo é assim mesmo, não gosta de imprensa”, diz Roberto Pompeu de Toledo (foto), articulista de Veja. “Nos grandes momentos, nossa mídia é impecável”, diz Alfredo de Belmont Pessôa, criador da Revista de Comunicação. Toledo, Pessôa e suas opiniões. Páginas 5, 6 e 7; 14, 15 e 16
ABI vai reativar seu Centro de Memória A ABI está pleiteando patrocínio para promover a reativação do seu Centro de Memória, que conta com um acervo documental composto por peças raras. Página 24
“TROPA NO HAITI É OCUPAÇÃO” No ar, a coragem a serviço da notícia Eles fazem um jornalismo de prestação de serviço, que antes de tudo exige coragem. São os repórteresaéreos, imprescindíveis em cidades como Rio e São Paulo. Páginas 3 e 4
Jota A, o cartunista que venceu o Salão de Humor Maranhense radicado no Piauí, Jota A não troca Teresina por nada. “Não quero mais espaço”, diz. Página 18
Requião joga duro contra a imprensa O Governador do Paraná, Roberto Requião, joga duro com jornal de oposição: replica, acusa, corta — a publicidade oficial. Página 21
Jornal da ABI EDITORIAL
Justiça, em vida A Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro tem cumprido com a diligência desejável o seu encargo de promover os atos propiciatórios do cumprimento da Lei nº 3.744, de 21 de dezembro de 2001, a qual, a exemplo do que ocorreu em outros Estados do País, instituiu uma indenização a título de reparação moral às vítimas de prisão e de torturas físicas e psíquicas em dependências de órgãos estaduais entre 1º de abril de 1964 e o fim do regime militar. Pelo texto legal, o valor da reparação moral poderia situar-se entre R$ 5 mil e R$ 50 mil, segundo a gradação dos danos sofridos pelas vítimas. Para promover a aplicação da lei, o Governo do Estado instituiu um órgão, a Comissão Especial de Reparação, integrada por organismos do Estado, como a Procuradoria-Geral e a Secretaria de Estado de Ação Social, e por instituições representativas da sociedade civil, como a ABI, o Grupo Tortura Nunca Mais, a Ordem dos Advogados do Brasil-Seção do Estado do Rio e o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro-Cremerj-RJ. Salvo em ou outro mês em que motivo eventual impediu a realização da sessão habitual, a Comissão reúne-se regularmente todo mês para decidir acerca dos processos formados e deferir, quando cabível, o pagamento de uma indenização de reparação moral de R$ 20 mil, valor único que a poupa do constrangimento de definir em termos monetários que as lesões de tal ou qual vítima da repressão têm o valor xis ou ípsilon. Como relatado em texto publicado na página 20 desta edição, a Comissão Especial de Reparação apreciou até este mês de fevereiro cerca de 700 dos 1.114 processos de postulação da reparação moral, o que faz prever que concluirá em breve o exame dos pleitos formulados. Deve-se esse resultado tanto aos membros da Comissão, cujo trabalho é voluntário e gratuito, como à equipe de servidores da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, que se dedica com aplicação e eficiência ao trabalho de instrução dos processos. É triste registrar que esse desempenho não encontra correspondência na programação dos pagamentos das indenizações aprovadas, pois ao longo de cerca de dois anos apenas 140 indenizações foram honradas. A área financeira do Estado não parece inteirada da obrigação de, cumprindo a lei, fazer justiça aos homens e mulheres sacrificados pela ditadura enquanto estão vivos, porquanto só neste caso se produzirá, como pretende o texto legal, uma reparação moral aos que padeceram sob a repressão. É igualmente triste que essa leniência da Fazenda do Estado descarregue sobre a Governadora Rosinha Garotinho, neste fim de mandato, a mácula da sonegação do devido a quantos sofreram sob a ditadura.
NESTA EDIÇÃO Pegando a notícia no ar
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“Governo é assim mesmo, não gosta de imprensa”
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Cobrança 1: Pague logo, Governadora
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Cobrança 2: Decoro, ética e crime no Congresso
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“A tropa no Haiti não é de paz, e sim de ocupação”
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Os repórteres num auto-retrato
A telinha, principal fonte de informação dos calouros da UFRJ 11 Nos grandes momentos, nossa mídia é impecável
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Com apoio da ABI, grupo une teatro e literatura
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Cabral amplia o seu Almirante
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Jota A, campeão de humor
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Moção condena impunidade do coronel do Carandiru
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PM de Santa Catarina maltrata Nilson Lage
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Uma procissão de mortos ainda em busca de reparação 20 Transpetro demite pelo telefone
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A peleja de Requião contra jornal de oposição
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Radialista ameaçado no Ceará
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Jobim questionado
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Um novo Centro de Memória
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ERRATAS Na edição nº 304, o nome do autor do artigo O impacto do 11 de Setembro no jornalismo, com chamada na primeira página e texto nas páginas 17 e 18, é Li Xiguang, e não Xinguang. Houve erro também na chamada: o texto está nas páginas 17 e 18, e não 18 e 19.
Conselheiros efetivos (2004-2007) Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura, Sérgio Cabral e Teresinha Santos
Associação Brasileira de Imprensa DIRETORIA – MANDATO 2004/2007 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Audálio Dantas Diretora Administrativa: Ana Maria Costábile Soibelman Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê) Diretora de Jornalismo: Joseti Marques CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura CONSELHO FISCAL Jesus Antunes – Presidente, Miro Lopes – Secretário, Adriano Barbosa, Hélio Mathias, Henrique João Cordeiro Filho, Jorge Saldanha e Luiz Carlos Oliveira Chester CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005) Presidente: Ivan Cavalcanti Proença 1º Secretário: Carlos Arthur Pitombeira 2º Secretário: Domingos Xisto da Cunha Conselheiros efetivos (2005-2008) Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho
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Conselheiros efetivos (2003-2006) Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade, Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, Glória Sueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins, Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga, Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein Conselheiros suplentes (2005-2008) Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de Paula Freitas, Geraldo Lopes, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães Conselheiros suplentes (2004-2007) Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes Conselheiros suplentes (2003-2006) Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, Domingos Augusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, José Carlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza, Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda, Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, Rogério Marques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e Rubem Mauro Machado
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Ely Moreira – Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José Ernesto Vianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Arthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes
Jornal da ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar Telefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012 Rio de Janeiro - RJ (jornal@abi.org.br) Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício Azêdo Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Francisco Ucha Diretor responsável: Maurício Azêdo Impressão: Gráfica Lance Rua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ. As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.
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Jornal da ABI CORAGEM Por José Reinaldo Marques STEFANE SENNE - SPTURIS
O trabalho dos repórteres-aéreos, de reconhecida utilidade pública, é uma prestação de serviços que vai muito além das informações sobre o trânsito. Por vezes, provoca sustos e sobressaltos Todos os dias de manhã bem cedo, a bordo de helicópteros, eles sobrevoam a cidade para informar, em primeira mão, ouvintes e telespectadores sobre a situação do trânsito. São os repórteres-aéreos, intrépidos jornalistas que, com muitas horas de vôo na carreira, ajudam a compor os noticiários de Geral das rádios e das TVs brasileiras. Para a maioria desses profissionais, a reportagem aérea desperta curiosidade e é cheia de adrenalina, mas também ensinou que algumas metrópoles, olhadas de cima, não são apenas as imagens cinzentas das estruturas de concreto dos prédios que se amontoam nos centros urbanos: — São Paulo é colorida — afirma o veterano Geraldo Nunes, da Rádio Eldorado paulista —, mas isso eu só descobri fazendo reportagens a bordo de um helicóptero. Quem faz reportagem aérea diz que nesse ofício enfrenta situações muito diferentes de quem atua na base terrestre: entre outras coisas, a qualidade do som é inferior à do estúdio e conta-se com a sorte de o sinal de transmissão estar bom no local em que o repórter está exatamente na hora de entrar no ar. No rádio, ainda é pior: — Nesses momentos, nós, do rádio,
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estamos sempre sozinhos, sem contar com algum entrevistado no helicóptero, como muitas vezes aparece na TV, o que aumenta nossa responsabilidade ao apurar e transmitir as informações — diz Simone Lamin, do Sistema Globo de Rádio.
“Eles seguram na mão da gente, perguntando se o helicóptero é seguro e se não corremos o risco de cair.”
Marmanjos tremem Juntamente com Simone, Mariana Gross, da TV Globo, é das poucas mulheres nessa especialidade jornalística em que também já se destacou Eleonora Paschoal, atualmente editora especial da TV Bandeirantes, em São Paulo. Fazendo reportagens aéreas na Editoria Rio de segunda a sexta-feira há um ano e meio, Mariana, assim como a colega do rádio, diz que o principal trunfo do profissional da área é a concentração: — Fazemos muitas entradas ao vivo e temos a preocupação de passar a notícia para o telespectador com tranqüilidade. Por isso, dentro do helicóptero deve haver muita concentração. Ex-repórter da Rádio CBN, Mariana sai de casa todos os dias às 5h10 e às 6h está no aeroporto de Jacarepaguá, embarcando no Globocop, em que passa no mínimo hora e meia sobrevoando a cidade. Desde a estréia, já contabilizou 540 horas de vôo noticiando, principalmente, as condições do trânsito em geral, inclusive de barcas e trens, e problemas em morros: — Voamos mesmo
com chuva. No início deste ano, tivemos que fazer um pouso de emergência por causa de um temporal; chovia muito e pegamos rajadas de vento muito fortes. Mas me sinto segura, porque trabalho com o Malaguti, que é um piloto muito experiente. É comum levar alguns convidados no helicóptero, e ela acha graça do medo da maioria: — Acontece com todos os tipos de entrevistados, de comandantes de batalhões da Polícia Militar a autoridades do setor de transportes. Eles seguram na mão da gente, perguntando se o helicóptero é seguro e se não corremos o risco de cair. Apesar de mostrar-se sempre segura, Mariana levou um susto na véspera do réveillon, quando sobrevoava a Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, com um diretor da Cet-Rio (Cia. de Engenharia de Tráfego). Após sua entrada ao vivo no RJ-TV, houve uma grande turbulência: — Foi um sufoco. Recebi o sinal do estúdio, com o apresentador Márcio Gomes dizendo: “Vamos agora falar ao vivo da Barra da Tijuca, com a repórter Mariana Gross”. Eu entrei, dei boatarde e, numa fração de segundos, o helicóptero começou a balançar e perder altitude. Soltei um grito: “Ai, meu Deus! É turbulência!” Pouco depois, refeitos do susto, voltamos ao ar e concluí a entrevista. Como disse, temos que passar tranqüilidade para o telespectador. Nessas situações, é como se nada tivesse acontecido.
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Uma paixão crescente A carreira de Simone Lamin começou na Rádio Manchete, mas foi no Sistema Globo de Rádio, para onde se transferiu em seguida, que estreou na reportagem aérea, em 2002. Ela conta que a primeira decolagem de helicóptero foi “ao mesmo tempo excitante, assustadora e fascinante”. — O que mais me impressionou foi a visão do Rio. Ver a cidade de outro ângulo é excepcional. A cada dia me apaixono mais por ela, apesar de seus inúmeros e crescentes problemas. Mas não escondo que fiquei totalmente assustada ao enxergar pela primeira vez aquele amontoado de concreto — viadutos, elevados, pontes, todos juntos, interligados — e não saber com precisão onde eu estava. Por isso mesmo Simone acha fundamental o repórter-aéreo conhecer bem a cidade e seus pontos mais movimentados, ler muito sobre os acontecimentos do dia e ser ágil e ter boa memória para lembrar os nomes de todas as ruas por onde o helicóptero passou. Entre as compensações da função, Simone — que costuma cobrir as férias do colega Genílson Araújo, titular das ma-
nhãs nas emissoras CBN, 98 FM e Globo AM — diz que ter uma visão ampla da cidade aumenta a gama de informações do profissional: — Durante a cobertura do trânsito, posso, por exemplo, verificar a ocorrência de línguas-negras nas praias e orientar os banhistas sobre a balneabilidade, identificar um incêndio, informar sobre as condições climáticas ou dar detalhes de uma rebelião num presídio. Enfim, a visão aérea permite ao repórter ampliar ainda mais os serviços aos ouvintes, um dos diferenciais do rádio e, certamente, o mais apaixonante. Simone faz cerca de 20 entradas ao vivo diariamente. A matéria mais difícil de sua carreira envolveu um pouso de emergência no Aeroporto Santos Dumont: — Foi num dia de turbulência e temporal. Outro aspecto que é dureza é estar ao vivo e, de repente, presenciar um acidente: a adrenalina sobe e temos que ter muito cuidado para não desconcentrar. Mas há também os momentos agradáveis da função. Um deles é passar pertinho dos pontos turísticos lindos que enfeitam a nossa cidade.
Simone Lamin (acima) faz cerca de 20 entradas ao vivo diariamente e não se limita às informações sobre o trânsito: se há algo relevante, ela informa. Carlos Eduardo realizou um sonho: tinha vontade de voar de helicóptero.
No meio do caos Carlos Eduardo Cardoso está na JB-FM há um ano e iniciou a carreira jornalística há 20, como estagiário da antiga Rádio Manchete AM. Cobria então o setor de trânsito instalado numa central de táxi, pegando as informações enviadas pelos motoristas da cooperativa: — Sempre tive vontade de voar de helicóptero. Portanto, não tive problemas para me adaptar à reportagem aérea. Como seus colegas, ele acha imprescindível para um repórter-aéreo ter boa memória, concentração e muita atenção ao que se observa do alto: — Estas são as provas da função. Muitas vezes o caos no trânsito é tão grande que oferecer opção de circulação aos ouvintes torna-se o grande desafio. A maior gratificação é saber que é um serviço útil aos ouvintes, pois facilita seu trânsito pela cidade. Muitos amigos relatam experiências próprias e de conhecidos que ouvem as dicas e se livram de engarrafamentos. Isso torna nosso trabalho muito estimulante. O estímulo, aliás, vale também para a inspiração. Geraldo Nunes, um dos mais antigos repórteres-aéreos em atividade, com 28 anos de carreira, 16 dos quais na Eldorado paulista, tornou-se cronista de São Paulo devido à visão privilegiada que tem no trabalho diário. No programa São Paulo de todos os tempos (sábados, às 22h), apresenta histórias da cidade e entrevista personalidades, historiadores e pesquisadores.
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Profissional ativo, também escreve para um site e uma revista especializada em trânsito e já publicou dois livros (São Paulo de todos os tempos, volumes 1 e 2). Mas não esconde a paixão pelo rádio e a reportagem aérea, iniciada em 1989: — Na primeira vez que sobrevoei São Paulo, vi as grandes contradições da cidade: bairros chiques como o Morumbi, outros nem tanto como Paraisópolis, moradias irregulares que não são fiscalizadas à beira da represa de Guarapiranga... Descobri que a reportagem aérea é muito mais que informar as alternativas do trânsito. Isto é muito gratificante, mas temos também a oportunidade de observar a cidade como ela é e pensar como ela poderia ter sido, ou ainda pode vir a ser. Em 11 de novembro do ano passado, cumprindo sua rotina, que começa às cinco da manhã, Geraldo teve seu primeiro grande susto: devido a uma pane no heli-
Há 28 anos no ar, Geraldo Nunes (à direita) tem grave acidente no currículo: seu helicóptero caiu na Marginal Pinheiros, em São Paulo.
“Descobri que a reportagem aérea é muito mais que informar as alternativas do trânsito.”
cóptero, o piloto teve que tentar um pouso forçado na Marginal Pinheiros. Não deu certo, porque o motor já estava sem potência. Em nova manobra para acionar o lado direito do trem de pouso, o helicóptero tombou, bateu num carro e caiu embaixo da Ponte Euzébio Matoso. Conforme relatou à imprensa no dia do acidente, após o choque o helicóptero começou a vazar combustível — e a preocupação passou a ser o risco de uma explosão. O piloto, comandante Leonardo, conseguiu sair, mas o jornalista, portador de deficiência física provocada por poliomielite, teve dificuldades: — Minha sorte foi que um senhor, chamado César, estava passando de carro pelo local, parou, me pegou por debaixo dos ombros e me puxou para fora da aeronave. O susto não afastou Geraldo do helicóptero, que lhe tem revelado “coisas que só existem em São Paulo”. — Como o processo de reversão das águas do Rio Pinheiros, que correm para trás quando encontram o Tietê. É bom saber que a cidade, ao contrário do que dizem, é muito bonita, principalmente vista de cima. Do alto, temos uma visão ampla e genérica. São Paulo é colorida, com muito verde, não tem só o cinza dos edifícios. Também não é somente um caminho reto: tem belas curvas desenhadas pelo curso do Tietê.
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Jornal da ABI DEPOIMENTO-1 Entrevista a José Reinaldo Marques FABIANO ACCORSI
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
O colunista da revista Veja, que está completando 40 anos de profissão e passou por alguns dos principais veículos do País, opina sem rodeios sobre as principais questões que afetam o jornalismo brasileiro. Ele critica a reportagem investigativa e a relação do Governo com a imprensa. Fevereiro de 2006
A
pós 40 anos de carreira em alguns dos principais órgãos de imprensa do País, Roberto Pompeu de Toledo mantém uma coluna na revista Veja, que é publicada na última página a cada dois números, e diz dedicar-se cada vez mais à produção independente. Quanto às diferenças entre o jornalismo de hoje e o que se fazia no início dos anos 60, afirma que são inúmeras — a começar pela tecnologia. Mas acha que, se perdeu em boemia, o jornalismo ganhou em profissionalismo. Nesta entrevista, ele fala da relação do Presidente Lula com a imprensa, questiona a qualidade do jornalismo investigativo brasileiro, opina sobre o sistema de cotas nas universidades e explica por que acha que milhões de anos de progresso da Humanidade são jogados fora à porta das toaletes.
Jornal da ABI — Quais os principais veículos em que o senhor atuou? Roberto P ompeu de T oledo — Tive Pompeu Toledo uma breve passagem pela Rádio Bandeirantes e depois fiquei um período maior na Rádio Eldorado, ambas em São Paulo. Do rádio, fui para o Jornal da Tarde e, em seguida, para a Veja. Depois, trabalhei no efêmero Jornal da República, na IstoÉ como redatorchefe, retornei à Veja, fui ser editorexecutivo do Jornal do Brasil e voltei à Veja pela terceira vez, onde fui editor de Internacional, editor-executivo e correspondente em Paris.
Há muita diferença entre o jornalismo de hoje e o do início de sua carreira? Pompeu de T oledo — Sim, há inúToledo meras. Começa pela tecnologia. O computador mudou a ecologia das Redações. Como assim? oledo — Antes havia Toledo Pompeu de T muito papel em cima das mesas e no chão e um barulho louco de batuque nas máquinas de escrever. Uma nuvem espessa da fumaça dos cigarros cobria o salão. Hoje reina o silêncio, não tem papel, nem no chão nem nas
mesas, e não se fuma. O ambiente é quase conventual. O que é duro de engolir é que quanto mais avança a tecnologia, mais recuam os prazos de fechamento. Não dá para entender. E no que se refere aos jornalistas? oledo — É comum tamToledo Pompeu de T bém dizer que os jornalistas eram mais bem preparados. Mais letrados, pelo menos. Desconfio que isso possa ser papo de velho. O que o jornalismo perdeu em boemia ganhou em profissionalismo. Atualmente o senhor é editor especial de Veja e mantém uma coluna na revista. Como atuam o editor e o colunista? Pompeu de T oledo — O segredo é que Toledo o editor não atua. “Editor especial” é um rótulo, só. Há tempos estou desligado da engrenagem da Redação. Trabalho em casa e tenho uma produção independente. Minhas obrigações são a coluna e, de vez em quando, cada vez mais de vez em quando, uma reportagem, uma entrevista ou uma resenha de livro. A globalização deu uma nova dimensão ao ato de informar e comunicar. Como o senhor avalia a comunicação globalizada que se desenvolve no mundo hoje? Pompeu de T oledo — Uma loucura. Toledo
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O nível do texto dos jornais e revistas brasileiros é bom? Pompeu de T oledo — Toledo Mais ou menos. O dos jornais e revistas principais, líderes nos maiores centros, é razoável. Mas o texto que se lê nos centros menores é, em geral, ruim.
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
E está só começando. A parte boa é que hoje eu posso ler jornais de várias partes do mundo, via internet, na mesma hora em que os leitores locais. A parte ruim é a neurose potencial de não se desligar nunca. Quem tem um laptop e um celular está o tempo todo conectado. Esses dois instrumentos eliminaram as férias. Os franceses têm um verbo ótimo, dépayser (literalmente, “despaisar”) para descrever a sensação das férias, quando você sai do seu ambiente (quer dizer, sai do seu país) e passa a viver num outro patamar. O laptop e o celular anularam o dépaysement. Eles são o seu país e estão grudados em você.
Correspondente internacional, Pompeu de Toledo fez coberturas diversificadas, expondo-se a riscos, como o de contaminação após o acidente nuclear de Chernobyl (à esq.). Ele viveu acontecimentos históricos extraordinários, como o fim da era soviética, que o levou às portas do Kremlin (à dir.), ou de chocante dimensão, como a queda de um avião em Bengazi (Líbia). Perto disso foi mole cobrir os organismos internacionais sediados em Bruxelas (à esquerda).
Como o senhor analisa a qualidade das mensagens jornalísticas veiculadas na TV, no rádio e na internet? Pompeu de T oledo — Toledo Quanto à TV, eu prefiro as emissoras a cabo; seus jornais são mais completos e descansados e contam com analistas e comentaristas. Não gosto da velocidade do Jornal Nacional, ainda muito radiofônica para o meu gosto. Também não gosto dos tiques que são impostos aos apresentadores, como um olhar para o outro ou sorrir totalmente quando anuncia uma notícia de futebol. O problema está então nos apresentadores? Pompeu de T oledo — Tem apresenToledo tadores (principalmente apresentadoras) de telejornal que parecem querer emular a Fernanda Montenegro, de tanto que acompanham a leitura da notícia com inflexões de voz, sorrisos — quando acham que a coisa é alegre —, cara fechada — quando acham que é triste —, cenho carregado — quando acham que é condenável — e assim por diante. O que é isso? Telejornal não é telenovela. E o rádio? oledo — Acho que mesToledo Pompeu de T mo nas melhores estações faltam critérios uniformizadores na programação como um todo e gente mais beminformada. Parece que eles ainda pagam muito mal, daí faltarem profissionais mais qualificados.
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risco de você errar de porta. Merece toda a minha consideração o estabelecimento em cujos toaletes está escrito “Homens” e “Mulheres”. Custou muito para a Humanidade chegar ao estágio da linguagem escrita. Nos banheiros, ela é revogada. E a internet? oledo — É aquele festiToledo Pompeu de T val: tem o melhor e o pior. Agora estamos na mania dos blogs. A maioria não presta. Os melhores sites são as versões eletrônicas das grandes publicações, e não é à toa que isso ocorre: jornalismo é coisa cara, que exige investimento. O senhor escreveu um artigo dizendo que milhões de anos de progresso da humanidade, inclusive a invenção da escrita, são jogados fora à porta das toaletes. Por quê? Pompeu de T oledo — Ué, será que não Toledo fui claro? Há banheiros com bonequinhos na porta, outros com peças do vestuário (cartola para o homem, luvas para a mulher), outros com objetos (cachimbo e batom), e sabe-se lá mais o quê. Os desenhos muitas vezes são indistinguíveis, provocando o
Como senhor analisa o comportamento da imprensa diante do atual quadro político? Pompeu de T oledo — A imprensa vai Toledo indo razoavelmente, se bem que a volúpia de passar na frente do concorrente e trazer denúncias novas atrapalhe. Por um lado, porque se corre o risco de trazer denúncias dessubstanciadas; por outro, porque a cada nova denúncia esquece-se da anterior. É como um monte que você vai alimentando acrescentando-lhe novas camadas, e tantas que afinal as que estão por baixo ficam encobertas. A certa altura, o leitor perde o rumo e o interesse no assunto. Como avalia o jornalismo investigativo no Brasil? Pompeu de T oledo — Ele existe? Ao Toledo que me consta, na maioria dos casos as coisas caem no colo dos jornalis-
tas. Como é possível que o atual Governo tenha aprontado tanto, durante mais de dois anos, sem que ninguém percebesse? Porque a imprensa não investigou. As revistas semanais, principalmente a Veja, vêm sendo acusadas de publicar matérias muito sensacionalistas e mal apuradas envolvendo corrupção. O senhor concorda? Pompeu de T oledo — Não me consta Toledo que alguma das matérias tenha sido cabalmente desmentida. Esta acusação, ao que me parece, tem como alvo a questão do vôo de Cuba. A própria matéria da Veja fazia ressalvas que deixavam dúvidas no ar. Mas, depois de ver na TV o depoimento do implicado — esqueci o nome dele, acho que é Poleto ou algo assim, aquele sujeito que disse estar bêbado quando deu a entrevista ao repórter Policarpo Júnior e que foi desmentido no ato com a gravação levada ao ar, ficou claro que ele não participou de um inocente vôo trazendo três caixas de bebida. A história dele está mal contada? Pompeu de T oledo — É absurdo aluToledo gar um avião para transportar três
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Jornal da ABI caixas de bebida. Além disso, se fosse mesmo o bêbado que alega ser, aquele sujeito seria a pessoa menos confiável para transportá-las. O meu faro indica que há um erro em considerar que o dinheiro tem origem em Cuba; deve ter origem em outro lugar. O que o episódio revela é uma rota de Cuba para internar dinheiro.
que o assunto deveria ser tratado no Brasil? Pompeu de T oledo — É saudável as Toledo próprias pessoas poderem achar o que quiserem a respeito da cor de sua pele. O Ronaldinho acha que é branco e muito bem, parabéns para ele. O Vinicius de Morais achava que era negro, o FHC também, e parabéns igualmente.
Muitos colegas acham que os jornais estão cobrindo a crise do Governo com mais acerto e isenção do que as revistas. Qual é sua opinião? Pompeu de T oledo — Acho que isso Toledo tem a ver com a dificuldade das revistas de separar a notícia do editorial. Os jornais avançaram nesse sentido. Houve tempo em que O Estado de S. Paulo, por exemplo, “editorializava” as notícias. Hoje já se curou disso.
Por que senhor criticou a transferência de Robinho para o Real Madrid, dizendo que “era o último exemplo da submissão brasileira ao império das metrópoles da bola”? Pompeu de T oledo — O Brasil aceiToledo tou servilmente a situação de fornecedor de mão-de-obra para a Europa no futebol. É a reprodução de um padrão colonial que aceitamos candidamente. O jogador de futebol não se julga realizado se não é contratado por um time europeu. Às vezes, nem é questão de muito dinheiro a mais. A questão é que o bonito e chique é jogar na Europa. Hoje voltamos à típica situação do subdesenvolvido, que fornece matéria-prima para ser refinada em outras praças.
Qual o perigo da “editorialização”? oledo — Eu, particularToledo Pompeu de T mente, me irrito muito se estou lendo uma notícia e deparo com um editorial. O mesmo acontece quando leio um editorial incompetente e deparo com uma notícia. Como as revistas se comportam nesse contexto? Pompeu de T oledo — As revistas surToledo giram tendo como característica a contextualização da notícia, o que exige esforço de análise e um texto mais comentado. Para não cair daí no editorial, é preciso talento e vigilância.
O filósofo Olavo de Carvalho o acusa de fazer sucesso no jornalismo “opinando com desenvoltura e segurança sobre assuntos dos quais não tem a mínima idéia”. Pompeu de T oledo — Ele disse isso Toledo é? Eu não sabia. Devia estar nervoso, coitado. Eu não sei onde ele escreve.
O que diz da relação do Governo Lula com a imprensa? Pompeu de T oledo — Governo é asToledo sim mesmo, não gosta de imprensa. Quando Lula estava na oposição, adorava uma denúncia na imprensa. Hoje, acha que vivemos uma era de “denuncismo”. O senhor fez uma entrevista com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso que acabou resultando no livro O presidente segundo o sociólogo (Cia. das Letras, 1998). Qual é a diferença de Lula para FHC no trato com a imprensa? Pompeu de T oledo — Não muita, se Toledo você se refere à reação contra notícias negativas. Repito: Governo não gosta de imprensa. Se você se refere à acessibilidade do Presidente, FHC é muito mais acessível, não tem medo de conversar com jornalista. Lula tem. Há muito o senhor vem escrevendo sobre a desigualdade racial no Brasil. Por que a imprensa brasileira não gosta de falar nesse assunto? Pompeu de T oledo — Será que não Toledo gosta? Nos últimos anos, acho que o assunto desencantou. O Brasil tem todo um passado de idílica idealização da questão das raças, a tal da “democracia racial”, e isso foi difícil — ou está sendo difícil — de romper. Hoje já tem quem cuide do assunto no Go-
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Já o professor de Literatura Portuguesa Adelto Gonçalves, da Universidade de São Paulo, diz que o jornalista é um repórter da História, porque o que ele escreve hoje irá permitir ao historiador reconstituir uma época. Pompeu de T oledo — Eu concordo. Toledo A decisão da Justiça Federal proibindo a Folha de S. Paulo de noticiar qualquer coisa sobre o caso Kroll significa a restauração da censura prévia? Pompeu de T oledo — Não chegaria a Toledo tanto. Até onde posso enxergar, é um caso isolado e muito passível de ser derrubado numa instância superior. Com a solidez de sua experiência, Pompeu de Toledo recolheu de Fernando Henrique Cardoso (primeira foto) um depoimento que resultou num livro, O presidente segundo o sociólogo. O domínio das questões internacionais proporcionou-lhe densa entrevista com Shimon Peres, líder trabalhista israelense (foto do centro). Nada tão prazeroso quanto ouvir José Saramago, o escritor que deu o Prêmio Nobel à língua portuguesa.
verno, debates como o das cotas nas universidades estão na ordem do dia... Isso vai mudando a forma de encarar o problema, e a imprensa vai junto. O que o senhor acha do sistema de cotas na universidade? Pompeu de T oledo — Já fui a favor, Toledo mas hoje estou mudando de posição e simpatizo mais com a proposta de reservar cotas para as escolas públicas. Assim como não gosto da impor-
tação do Halloween, não gosto da importação das cotas. Explico-me: um e outro são produtos made in USA, nem sempre convenientes a terceiros. Nos Estados Unidos, você não escapa de um rótulo: negro, asiático, índio... Até “latino” — e estes somos nós, os latino-americanos, tratados com essa simples palavra, como se fôssemos as mais puras flores do Lácio. De que maneira então o senhor acha
O ano de 2005 foi marcado também por diversos casos de agressão e ameaças a jornalistas. Nossa democracia não aprendeu a conviver com a liberdade de expressão? Pompeu de T oledo — Essa questão Toledo merece uma distinção. Não acho que nos grandes veículos e nos grandes centros a imprensa esteja ameaçada; a liberdade talvez nunca tenha sido maior. Já no âmbito provincial e municipal, a imprensa é tacanha, dependente do poder e sujeita a toda sorte de intimidações. Precisaríamos de uma imprensa regional forte para equilibrar esse jogo. Mas, para isso, precisamos ter regiões fortes. Eis a questão.
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Jornal da ABI COBRANÇA-1 Por Cristino Costa
PAGUE LOGO, GOVERNADORA paração administrou com tolerância, presidida pelo Secretário de Estado mandando proceder a diligências, dos Direitos Humanos. Com calensolicitando provas documentais ou dário de reuniões mensais, ela instestemunhais e indo até à exaustão tala seus trabalhos no auditório do antes da prolatação do veto. Centro Administrativo do Governo Ao longo dos quase dois anos de do Estado, na Rua da Ajuda, 26, 11º instalação dessa plenária, foram julandar, relatando e deferindo ou não os procediVítimas de tortura estão morrendo mentos administratisem ver a cor do dinheiro da indenização vos sob sua responsabilide reparação moral instituída por lei. dade. O tragados 707 procedimentos — até 23 balho dessa Comissão é exercido de de fevereiro — dos 1.114 requeriforma criteriosa e técnica, angaridos, e pagos apenas 150, o que, conando o respeito e a reverência de venhamos, é pouco, muito pouco! quantos a acompanhem. A instituição da reparação ecoA propósito, não raras vezes elenômica simbólica não é prática mentos inescrupulosos com regisvanguardista do nosso Estado; ao tros comprometedores em suas vicontrário, somos até refratários na das pregressas tentaram requerer bematéria, com a agravante de que nefícios estranhos à Lei n° 3.744, nos outros Estados, julgados os com cristalinas intenções temeráriprocessos, eles são honrados com as. Mesmo assim, diante de tais anipagamentos imediatos. mus fraudandis, a Comissão de Re-
É triste ver alguém morrer sem receber o numerário a que faz jus. Pois é isso que está acontecendo com o pessoal que teve seus processos analisados e julgados pela Comissão Especial de Reparação, plenária instituída pela Lei estadual n° 3.744, de 21 de dezembro de 2001, de autoria dos Deputados Carlos Minc, do Partido dos Trabalhadores, e Edmilson Valentim, do Partido Comunista do Brasil. A Comissão Especial de Reparação reporta-se a processos de presos políticos custodiados em estabelecimentos prisionais do Estado do Rio de Janeiro e é composta por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil — Seção RJ, Associação Brasileira de Imprensa, Secretaria de Estado de Ação Social, Grupo Tortura Nunca Mais, Procuradoria-Geral do Estado, Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) e
Outro fato a lamentar é a constatação de que na nominata para apreciação dos procedimentos do dia já venha sublinhada a expressão falecido. O que também é lastimável é que governantes não percam a oportunidade de destilar frases demagógicas e até façam comparações e lamentações de entes queridos seus que passaram por perversidades da ditadura, e na prática não envidem esforços para honrar seus compromissos. Aquele que sofreu na sua militância a violência das torturas sofre agora o vexame de sequer usufruir em vida a magra cifra que lhe foi destinada. Reclama-se sensibilidade. Pague logo, Governadora.
Cristino Costa, jornalista e advogado, é sócio da ABI.
COBRANÇA-2 Por Bernardino Capell Ferreira
As coisas evoluem em todos os seus aspectos e de uma forma tão abrangente na sociedade contemporânea a que mal se pode interpretar os fatos que se dão, aplicando-lhes terminologia própria e adequada quando se trata, inclusive, de formatar delitos criminosos, estejam estes previstos ou não no nosso Código Pernal. No que tange à ótica de certos membros do Congresso, a definição do que seja o decoro ou ética parlamentar, nos termos dos regimentos internos das duas Casas, é um assunto por demais polêmico. Pode ser considerado que um Conselho de Ética formado muitas vezes por senadores ou deputados que não se sentem à vontade no conhecimento da processualística jurídica não teria condições para julgar e encaminhar à decisão colegiada do plenário das duas Casas quaisquer pedidos de cassação ou absolvição de possíveis indigitados. Ao que cremos, a responsabilidade do exame e punição de crimes, quaisquer que sejam eles, acha-se na órbita da Justiça. Só assim estaríamos evitando corporativismos indecentes ou conchavos que desvirtuam a verdade, comprovação essa que foi feita quando da deci-
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WILSONDIAS/ABR
Decoro, ética e crime no Congresso
são da Câmara de absolver deputados a que foram imputadas ilegalidades outras que não só aquelas referentes a simples quebra de decoro e ética. Acreditamos, todavia, que sobre esses processos venha a recair a visão e julgamento da Justiça, em que não se descarta o envio dos mesmos processos ao Supremo Tribunal, via Ministério Público, de vez que ilícitos cometidos estariam prescritos no Código Penal. Em outro foco, embora o sigilo do veto esteja prescrito no artigo 55 da Constituição e 240 do Regimen-
to Interno da Câmara, evidencia-se que sob esse manto se esconde o votante no sigilo da sua identidade, prova inconteste que se permite a alguém defender-se no anonimato, escudando-se, desse modo, da transparência devida por suas ações. Necessário se torna lembrar, de uma vez por todas, que um deputado ou senador são representantes daqueles que lhes concederam o voto e por esse motivo não devem contrariar o que dele se espera. Em termos de renovação ou, melhor, reforma política, considere-
mos que os parlamentares já perderam algumas das suas imunidades, mas se é comum falar de plenas transparências no trato de assuntos político-sociais quando das infindáveis oratórias de tribuna, tão comuns aos vídeos do Congresso, que promovam os bons congressistas um projeto que diga respeito à interpretação regimental com base jurídica, em torno de crimes ou leviandades parlamentares que devam suscitar possíveis cassações, absolvições, suspensões ou meras advertências verbais ou escritas. É tão comum o pedido de emenda constitucional, a PEC, que no momento atual, em termos de moralização de costumes internos do Congresso, o projeto deverá ser bem acatado, de vez que só poderá prestigiálo perante a opinião pública. Bernardino Capell Ferreira, jornalista e engenheiro, é sócio da ABI.
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Jornal da ABI DENÚNCIA O problema do Haiti não é militar, reconheceu o General Heleno Ribeiro, que comandou a tropa da Onu.
MARCELLO CASAL JR/ABR
comandava então a tropa brasileira e a força da Onu, reconheceu que o problema do Haiti não é militar, mas sim de falta de solidariedade e educação. — Temos uma dívida eterna com aquele país, o primeiro da América Latina a se tornar independente ainda pela mão dos escravos. – acrescentou Sandra Quintela. Perguntada sobre a situação no Haiti após as eleições, Sandra disse que as pessoas estão nas ruas para lutar pela posse de seu candidato: — O Conselho Eleitoral Provisório diz que René Preval, ex-Presidente haitiano, tinha apenas 48% das intenções de voto, e não os 75% demonstrados pelo resultado. Como ele é o candidato da massa pobre, não interessa às classes dominantes que seja eleito. Não podemos dizer que houve fraude, mas não estão aceitando a soberania do voto do povo, um direito constitucional republicano. Informou Sandra Quintela que durante a visita da Missão houve um ato na Embaixada das República Dominicana contra a presença militar no Haiti. Ela disse que a campanha internacional de solidariedade ao país, lançada no Fórum Social Mundial realizado na Venezuela, em janeiro, luta para não deixar que o Haiti seja esquecido. — O haitiano está buscando uma nova forma de viver. E a opinião pública, de acordo com o que ouvimos lá, é contrária à presença militar. Nossa intenção é fazer o Governo brasileiro intervir junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para pedir o cancelamento da dívida externa haitiana, de US$ 1,5 bilhão. Sandra lembrou que os primeiros países a ocupar o Haiti foram Estados mos levados para conhecer as tropas venção no país. — Esta carta será enviUnidos, Canadá, França e Chile. — E norte-americanas. Vejo a militarização ada aos Governos de Honduras, Uruagora o Brasil está fazendo o papel sujo na América Latina e Caribe como um guai, Chile e Argentina, entre outros de ocupar militarmente o país. Que problema. Não podemos perder isso países. É preciso acabar com essa misautonomia temos lá? Como os Estade vista, nem aceitar a doutrina imsão fracassada que, nestes 18 meses, dos Unidos estavam desgastados com perialista do Governo Bush. gastou mais de US$ 26 milhões e resa guerra do Iraque, fizeram com que Pinaud disse que as tropas militagatou apenas 265 armas. A Minustah Brasil e Chile fossem para lá. res que ocupam o Haiti se intitulam atende apenas aos interesses de EstaPinaud considera a presença miliforças de paz, quando na verdade são dos Unidos, Canadá e França e não contar no Haiti uma crueldade contra o forças de ocupação: — Os haitianos ta nem com serviço de inteligência. povo e contra os soldados. — Se a sosão um povo forte, que tem consciSandra recordou que durante a vilução fosse a ocupação militar, o proência de suas necessidades. Atesto sita feita há nove meses o General-deblema já estaria resolvido desde o iníisso pela presença massiva da popuDivisão Augusto Heleno Ribeiro, que cio do século passado, colação numa eleição que mo destacou um menino não é obrigatória. Existe de 13 anos quando estilá uma exploração sistevemos lá. E a dívida exmática do povo. terna deles é ilegítima, Sandra Quintela mosilegal e odiosa. trou uma carta dirigida às O relatório da Missão autoridades brasileiras e Internacional, disse Sanassinada por entidades nadra Quintela, é um docucionais e internacionais mento importante para em que a Rede Jubileu Sul compreender o que aconpede ao Governo brasileitece no Haiti, “país que ro que seja con-trário à remerece respeito e solidanovação da Minustah riedade”. — A Minustah (Missão de Estabilização é a quarta missão que vai no Haiti), que seria votaaté lá. Segundo as estatísda no dia seguinte no Conticas, até agora não cumselho de Segurança das Nações Unidas, – o ConSandra Quintela e João Luiz Pinaud na ABI: A ocupação do Haiti atende priu nenhum dos objetiselho prorrogou a interapenas aos interesses dos Estados Unidos, Canadá e França. vos a que se propôs.
“A tropa no Haiti não é de paz, e sim de ocupação ” Membro da Missão Internacional de Solidariedade ao Haiti, o jurista João Luiz Pinaud defende a saída do território haitiano da força militar patrocinada pelas Nações Unidas. Em entrevista coletiva na ABI, em 14 de fevereiro, a economista Sandra Quintela e o jurista João Luís Pinaud, dois dos integrantes da Missão Internacional de Investigação e Solidariedade ao Haiti, apresentaram um relatório sobre a situação naquele país, elaborado com base na visita realizada pelo grupo há nove meses, mas contextualizado com os últimos acontecimentos. Sandra Quintela, da organização não-governamental Jubileu Sul, lembrou a visita feita ao Haiti em abril de 2005 e salientou que, apesar do longo período decorrido até à redação do relatório final, este é atual e trata das causas geradoras da situação no país, entre elas a presença militar desde 2004 e a ocupação econômica há quase 20 anos. — Tenho acompanhado as eleições no Haiti e fiquei assustada ao saber que 800 homens desembarcaram no país e esperam-se ainda 14 mil. Isto deve servir de alerta para uma nova intervenção militar na ilha. Pinaud, ex-Secretário de Justiça do Estado do Rio, disse que o relatório é de extrema lucidez e propõe a retirada gradativa das tropas: — Quando estivemos no Haiti, fo-
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Jornal da ABI COMEMORAÇÃO
Os repórteres num auto-retrato Seis profissionais de mídias variadas falam sobre sua função no dia dedicado à categoria UCHA
Mariana Ceratti,
Murilo Ribeiro,
do Correio Braziliense
da TVE
“Ser repórter — um bom repórter, vamos combinar! — é não ter vergonha de perguntar nada. Estar preparado para ouvir todos os tipos de respostas — e nunca acreditar de cara na primeira versão daquilo que ouvimos. Ser repórter é ser observador, curioso, bom ouvinte e batalhador. Acho que todos nós temos duas facetas: há horas em que é preciso ser paciente. Em outras, se a gente tiver paciência ou educação demais, podemos perder certas informações. É preciso um bocado de cara-de-pau. Ser repórter é bacana na maior parte das vezes, principalmente quando a gente descobre uma grande história (que não necessariamente é aquela feita para ganhar prêmio). Mas causa um certo sofrimento quando a gente deixa de estar com a família ou os amigos porque precisamos dar plantão — no meu caso, é um por mês — ou porque a notícia pede que fiquemos até mais tarde na apuração. É engraçado como, depois de um tempo, os parentes e amigos passam a achar que nós estamos permanentemente de plantão (minha mãe me pergunta, todo fim de semana, se vou trabalhar). Felizmente, todos à minha volta entendem e apóiam o que eu faço. Ninguém demonstrou ciúme até agora. O que me atrai no fato de ser repórter é o de estar permanentemente em contato com aquilo que a vida tem para mostrar. A gente tem sempre que estar preparado para ver e viver o melhor e o pior da vida. Sendo repórter, eu tive e tenho oportunidade de conversar com gente de todas as condições e estar em lugares diferentes — chiques ou humildes, bonitos e feios — que eu não sei se conheceria se tivesse outra profissão. Talvez seja uma visão excessivamente poética ou romântica do meu trabalho, mas é como eu o vejo.”
“Ser repórter para mim é ter a oportunidade de contar histórias. Acho que nós somos, de certa forma, ‘historiadores do agora’, escrevemos a História que as outras gerações vão estudar nos bancos escolares. Temos um papel fundamental numa sociedade democrática: o de fiscalizar o funcionamento das demais instituições de interesse coletivo. Somos, também, portavozes do cidadão comum, de seus anseios, de suas queixas, de suas reivindicações. E somos os neurônios de qualquer empresa de comunicação. O que mais me atrai nessa nossa profissão é justamente essa possibilidade de contar (boas) histórias. Gosto do contato, gosto de estar com essas pessoas tão diferentes, cujas histórias — muitas vezes também tão diversas — nos servem de matéria-prima. E, confesso, gosto de me sentir cumprindo um papel maior, um papel social: o de fazer a informação chegar — pelas ondas da TV — aos lugares mais distantes.”
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m 16 de fevereiro comemora-se o Dia do Repórter. Embora seja uma profissão notória, poucos sabem realmente o que ela exige e qual deve ser o perfil desse profissional. O Dicionário Houaiss dá a seguinte definição: “Jornalista que recolhe informações, notícias de qualquer natureza, para transformá-las em matéria de noticiário. Noticiarista de periódicos, rádio, televisão etc.” Teoricamente, seria apenas isso. No entanto, na prática é preciso muito mais. Para mostrar como é a vida de um repórter, Mariana Ceratti, Murilo Ribeiro, André Gonçalves, Thais de Menezes, Marco Aurélio Lisan e Sérgio Brandão, profissionais de mídias variadas, contam suas impressões sobre a atividade que desempenham. Iniciativa, curiosidade, isenção e perseverança são alguns dos ingredientes indispensáveis na opinião deles. Nos depoimentos a seguir, é possível perceber uma visão romântica desses repórteres com relação à sua função — embora não deixem de apontar também os reveses da profissão. Independentemente disso, comprovam que o repórter é o responsável pelo conteúdo que abastece as empresas de comunicação. Sem eles não há carne embrulhada em jornal, como disse há mais de quatro décadas, na época em que não havia os cuidados atuais de embalagem, o jornalista Carlos Lemos, mestre de gerações de jornalistas, na Tribuna da Imprensa e no Jornal do Brasil.
André Gonçalves, da Rádio Brasil AM “Ser repórter é ter a oportunidade de narrar os fatos, seja por palavras escritas ou faladas. É a melhor profissão que existe. A adrenalina sempre está a mil, a vontade de fazer o melhor e transmitir a emoção de cada evento para a população sintetiza o nosso trabalho. É cada vez mais significativo para o meu interior ser repórter. O que me atrai é a falta de rotina. Pelo simples fato de que a cada dia estou em um lugar fazendo uma pauta diferente. É sair de casa e não saber como serão suas horas pela frente. É fascinante.”
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Jornal da ABI Sérgio Brandão, da TVE “Ser repórter é ser curioso, incansável, obstinado e, acima de tudo, apaixonado, responsável por seu ofício. Talvez esta seja uma das profissões que mais exijam rigor ético e responsabilidade da parte de quem a pratica. É bem verdade que ‘ética’ é uma palavra que anda meio desgastada, mas ela continua sendo perseguida por repórteres que pretendem ser reconhecidos pela seriedade e a lisura do seu trabalho. Um bom repórter tem o poder de divulgar um bem que deve ser estendido a todos; na mesma proporção, um mau repórter pode acabar com a credibilidade de uma pessoa, uma instituição ou qualquer bem. Um bom repórter é aquele que sabe, no seu dia-a-dia, que nem toda manchete ‘vale o quanto pesa’.
O que mais me atrai nesta atividade são os meios que nos permitem ser informados e informar. O repórter é o cidadão que tem credencial para chegar primeiro no fato, na informação. Depois, é ele também que fica incumbido de narrar o acontecido, de expor a sua versão sobre a realidade. Isto, por si só, já não é fantástico? Se a gente for pensar no poder que emana do teclado de cada repórter, aí nem se fala!”
O que me mais me atrai é poder proporcionar às pessoas informação, coisa que tento fazer da melhor e mais correta maneira possível. É fazer que as pessoas saibam o que acontece no resto do País e do mundo graças ao nosso trabalho. Acho que todos têm direito à informação correta. Somos formadores de opinião e, conseqüentemente, temos um certo poder de influência... Fazer o trabalho da maneira mais correta é saber que estaremos contribuindo positivamente para o bom discernimento de todos.”
Thais de Menezes, do site Comunique-se “Ser repórter é correr atrás dos fatos, é esgotar todas as possibilidades de saber o que realmente ocorreu, é ser isento mesmo quando não concordar com os acontecimentos. Ser repórter é gostar do que faz e fazer com prazer.
Marco Aurélio Lisan, da Rádio CBN “Acho que ser repórter é ser chato — se não for de natureza, é preciso se tornar chato com a profissão. Além da vocação, é preciso ser muito esforçado e não desistir nunca. No meu caso, a
reportagem tem um lugar muito especial, porque por meio dela encontro outras tantas histórias dos outros (e, por que não, também minhas) e isso me faz bem pessoalmente. Na realidade, nunca quis ser repórter, me tornei um e por sorte gostei da profissão. O que mais me atrai nessa atividade é a possibilidade de contar de viva voz uma história, já que minha atuação prioritária é em rádio. Este veículo me fascina! Ser repórter de rádio é espetacular por causa da agilidade do ‘online’, da rapidez da notícia e de se poder falar sobre a história e não apenas escrevê-la (ou descrevê-la). Admiro muito também aqueles repórteres por vocação nata, que desde pequenos sonhavam com isso e transformaram o sonho em uma linda carreira. Acho que nesse campo estão os repórteres investigativos. Meu aplauso a todos eles!”
RADIOGRAFIA
A telinha, principal fonte de informação dos calouros da UFRJ Pesquisa revela que jornais ocupam o segundo lugar como fonte de informação. Uma pesquisa realizada pela PróReitoria de Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro para traçar o perfil dos alunos que ingressaram na universidade no ano passado apontou que 49,6% dos estudantes usam a televisão como meio de informação. O estudo, coordenado pela Professora Ana Cristina Andrade, Diretora da Divisão de Integração Acadêmica, revelou que a TV é o veículo de maior audiência entre os alunos da universidade, apesar de 90% deles terem acesso a microcomputadores e de mais de 80% acessarem a internet. A pesquisa é o resultado de um questionário respondido por 6.356 universitários, que demonstraram preferir os telejornais para se informar. O jornal aparece como o segundo meio mais uti-
lizado pelos estudantes (21,2%), embora os dados da pesquisa revelem que apenas 20% dos novos alunos da UFRJ lêem jornais diariamente e 56,1%, ocasionalmente. As revistas são lidas por 5,6% dos entrevistados; a internet, por 16,4%. O rádio aparece com apenas 1,6%. O hábito de leitura de livros também é baixo: 36,1% dos novos universitários costumam ler de três a cinco livros anualmente. A maioria (78%) prefere leitura não-acadêmica e 21% disseram ter em casa entre 51 e 100 livros, mas 6% dos entrevistados não lêem um livro sequer por ano. Nos jornais os assuntos mais procurados pelos entrevistados são cultura (24,85), notícias internacionais (12,5%), ciências (12,3%) e esportes (12,2%). A Professora Ana Cristina informou que um dos
Assuntos mais procurados pelos calouros: Cultura 24,85% Internacional 12,5% Ciências 12,3% Esportes 12,2% Fevereiro de 2006
objetivos principais do trabalho é ajudar na formatação do perfil do corpo discente, composto por 36 mil alunos de vários estratos sociais: – Queremos
Qual seu principal meio de informação?
traçar o perfil socioeconômico dos alunos da UFRJ, por isso daqui a um ano eles serão novamente entrevistados, para que possamos avaliar a influência da universidade em seus hábitos. Entre outros comportamentos dos universitários pesquisados, concluiu-se que mais de 50% praticam algum tipo de esporte, 21,3% fizeram consulta médica de rotina nos meses anteriores à matrícula e 81%, quando necessário, buscam atendimento médico na rede particular. A Professora Ana Cristina considera que os resultados obtidos derrubam vários mitos, entre eles o de que o aluno da UFRJ, cuja renda familiar varia de cinco a 30 salários-mínimos, não depende de transporte coletivo: — Vimos que a maioria dos estudantes depende do ônibus para chegar ao campus e vamos usar o estudo para criar uma política de infra-estrutura de transportes para a universidade, pressionando as empresas de ônibus para que garantam esse serviço.
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Jornal da ABI DEPOIMENTO-2 Entrevista a Rodrigo Caixeta
ALFREDO DE BELMONT PESSÔA
Nos grandes momentos, nossa mídia é impecável Criador da celebrada Revista de Comunicação, que volta em versão online, ele faz um balanço do que viu e vê em 40 anos de jornalismo.
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le começou a carreira há mais de 40 anos e trabalhou em jornais, revistas e emissoras de rádio e TV. A maior parte do tempo ocupou o cargo de redator, mas foi também chefe de reportagem, diretor de Redação e pauteiro, entre outras atividades jornalísticas, e ainda encontrou tempo para advogar. No entanto, a paixão pelo jornalismo falou mais alto — e não pretende calar. Um dos fundadores da Revista de Comunicação — importante publicação voltada para o público estudantil que circulou por 15 anos e recebeu o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa —, Alfredo de Belmont Pessôa não esconde o entusiasmo com o novo desafio que enfrenta: relançar a revista, agora em versão online. Também conta detalhes de sua passagem pelos mais importantes veículos do País e comenta o comportamento da mídia nos dias de hoje. Jornal da ABI — Primeiramente, falenos sobre seu início no jornalismo. Alfredo P essôa — Meu primeiro texPessôa to escrito com intenção jornalística foi publicado numa revista chamada Amazônida, de Carlos Mesquita, que era meu professor no Colégio Estadual do Amazonas, em Manaus, onde nasci. Pouco depois, já na Faculdade de Direito, passei a publicar no Jornal do Commercio, dos Diários Associados, e, esporadicamente, no O Jornal, da empresa Archer Pinto. Naquele tempo, Manaus tinha quatro jornais diários: os já citados, que eram matutinos, e os vespertinos Diário da Tarde, também da Archer Pinto, e A Tarde, de Aristófano Antony, que foi Presidente da Associação Amazonense de Imprensa. Mas foi na Gazeta, que começou a circular em meados dos anos 1950, que comecei a aprender o ofício. Era
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então muito jovem, completamente ignorante, como quase todo iniciante, e deslumbrado com a ilusão de ser jornalista, ou de achar que era jornalista. Desse tempo de aprendizado restou uma lembrança prazerosa, porque significou para mim uma espécie de batismo profissional, mas particularmente dolorosa: a cacetada que levei de um policial durante a cobertura de uma manifestação estudantil. E quando o senhor veio para o Rio de Janeiro? Pessôa — Em 1957, e foi aqui que me profissionalizei de fato. No curso de quase 50 anos, com a rápida interrupção de uma medíocre incursão forense, trabalhei em jornais (Diário Carioca, O Semanário, Correio da Manhã, O Globo e Jornal do Commercio), revistas (Grande Hotel,
O Cruzeiro e Manchete), televisão (Globo, TVS — atual SBT — e Bandeirantes-Rio) e até em rádio (Jornal do Brasil), com bons e maus momentos, empregos e subempregos, malogros, incompreensões, tudo compensado pela grande alegria de ser, afinal, o que queria ser, ou seja, ser jornalista. Apesar dessa alegria, confesso que no começo tinha vergonha de declarar que era jornalista. Não que me envergonhasse da profissão, que isso fique claro. O que me tolhia era que eu achava que estava me elogiando ao dizer que era jornalista. E como foram essas passagens pelos principais jornais cariocas? De todos nos quais trabalhou, restaram apenas O Globo e o Jornal do Commercio. Pessôa — Minha passagem pelo jornal O Globo foi meteórica e modesta, mas muito significativa, pois marcou meu retorno à profissão depois da já referida incursão forense. Fui contratado, por indicação do Milton Coelho da Graça, que era diretor de Redação e eu conhecera no Correio da Manhã, para cobrir as férias de um redator, prática comum antigamente. A mesa que transitoriamente ocupei ficava ao lado da de Aluísio Flores, o que estabeleceu entre nós uma boa camaradagem, que se consolidaria mais tarde na redação da Revista de Comunicação, em Copacabana, que ele visitava com freqüência para longos papos. Flores morreu em maio do ano passado. Foi uma perda para nós, para a classe jornalística e para mim, particularmente. E nos outros veículos? Pessôa — Na Rádio Jornal do Brasil
minha passagem foi mais ou menos clandestina, para dar uma mãozinha ao Mauritônio Meira, excelente profissional também já falecido, que era o faz-tudo dos chamados “jornais falados” da emissora. Mauritônio me convidou para ajudá-lo na base de uns trocados no fim do mês. Aceitei. Andava, nessa época, em fase de vacas magérrimas e qualquer grana que entrasse ajudava no orçamento doméstico. Na TV Bandeirantes, eu e Mário de Moraes, companheiro de tantas jornadas, tivemos uma experiência frustrante. Íamos fazer um programa jornalístico, produzido ou dirigido, não me lembro bem, pelo jornalista Humberto Borges. Era interessante, dinâmico. Saíamos para a rua no caminhão da emissora, estacionávamos num local de grande afluência de público e mandávamos brasa em entrevistas-relâmpago com o povo sobre o assunto do dia, ou qualquer assunto de interesse local. Chegamos a fazer dois ou três ensaios, mas o programa gorou por falta de patrocínio... Qual foi a redação que marcou sua vida? Pessôa — De todas as redações pelas quais passei, as que de fato me marcaram foram as do O Cruzeiro, do Correio da Manhã e da Manchete. Principalmente a do O Cruzeiro, onde tive a chance de conviver com excelentes profissionais e assistir ao emplumar dos jovens repórteres — na sua maioria oriundos do jornal O Sol — que foram responsáveis pelo quase soerguimento da revista, que decaíra de 600 mil exemplares semanais, nos anos 50, para 150 mil ou
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Jornal da ABI pouco mais nos 60. Vivíamos então — estou falando de 1964 e anos seguintes — momentos difíceis para o exercício da atividade jornalística. O Brasil estava sob o tacão do regime militar. Tudo ou quase tudo era proibido, fosse diretamente, por censores fardados ou não, fosse indiretamente, pela pior de todas as censuras, que é a autocensura. Mesmo assim, naqueles dias que não devemos esquecer, até para que não se reproduzam, conseguimos fazer matérias e capas que tinham tudo para esbarrar num imperativo “não pode”. Por exemplo... Pessôa — Publicamos reportagens de várias páginas, com profusão de fotos, driblando a vigilância dos nossos censores internos, sobre as passeatas, a violência policial que comia solta nas manifestações estudantis, o maio vermelho de Cohn-Bendit em Paris, a morte de Marighela em São Paulo, fuzilado por Sérgio Fleury. É dessa época a capa com o caixão do Edson Luís, jovem estudante paraense, quase um menino, assassinado no restaurante Calabouço por agentes da repressão. Considero a chamada que fiz para essa capa o meu melhor texto, ou o mais significativo, em 50 anos de jornalismo. Dizia assim, concisamente: “Edson Luís, estudante, 17 anos. Ele podia ser seu filho”. Também são dessa época — fim dos anos 60 — reportagens sobre homossexualismo masculino e feminino, controle da natalidade, aborto, racismo, divórcio etc. No que tange
Momentos da parceria Mário de Moraes (à esq.) e Alfredo Pessôa: na primeira Redação da Revista de Comunicação, que eles criaram, e na festa do Prêmio Esso de 2005: Mário foi o primeiro a ganhá-lo, em 1955.
ao racismo, publicamos no Natal uma capa com um Papai Noel negro que deve ter arrepiado nossos censores, mas foi um sucesso na Redação. Tenho saudade daquele tempo, ou melhor, do que vivi naquele tempo, dos colegas com quem trabalhei, da garotada, a minha “Guarda Vermelha”, como a chamava. Tenho saudade de Sérgio Rocha, Gilberto do Valle, Robson de Freitas, Chico Nelson e Cláudio Lysias, meninos que vi nascer profissionalmente e que já partiram.
fia de Reportagem e de Redação, a diretor de sucursal, no caso a de São Paulo, onde fiquei dois anos. Tive alguns momentos dos quais me regozijo, como aquele em que botei uma Pentax nas mãos de um jovem laboratorista e mandei-o fotografar. Ele se chamava — é outra das minhas saudades — Carlos Piccino. Alguns anos mais tarde, em 1974, já no Globo, ele ganharia o Prêmio Esso de Fotografia pela cobertura do incêndio do Edifício Joelma. Claro que também tive momentos amargos, incompreensões, desencontros — Quais atividades o senhor desenvolnada mais que os inevitáveis espiveu nessas redações? nhos das chefias a que ascendi. Pessôa — No O Cruzeiro fui quase Da Manchete, em que fiquei menos tudo, de redator, passando pela Chetempo, também guardo boas lembranças. Foi onde tive oportunidade de ser o que até então não fora: pauteiro. Chegava, diariamente, às oito da manhã, ligava o rádio, passava a vista pelos jornais, consultava o telex e mandava brasa. As pautas tinham umas 12 laudas de sugestões de reportagem para as revistas da casa. Tenho dúvida quanto ao aproveitamento que tiveram, mas mereci um elogio indireto do Jaquito (Pedro Jack Kapeller, diretor da Bloch, editora da revista), que não acrescenta nada ao meu currículo, mas mesmo O começo do jornalismo da TV Globo, em que Pessôa trabalhou como redator do noticiário nacional; assim guardei-o ena partir da esquerda, Aluísio Pimentel, Paulo Gil, Natália Thimberg, Teixeira Heizer e Fernando Lopes.
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tre as minhas lembranças profissionais por ser das coisas menos comuns, partindo de quem partiu. O importante desse tempo foram os companheiros com quem convivi. Redatores, repórteres e fotógrafos da qualificação de Raimundo Magalhães Júnior, Marcos de Castro, Cícero Sandroni, Narceu de Almeida, Irineu Guimarães, Roberto Muggiati, Arnaldo Niskier, José Carlos (Carlinhos) Oliveira, Murilo Melo Filho, Maurício Gomes Leite, Rui Castro, Ney Bianchi, Ruy Portilho, Heloneida Studart, Raul Giudicelli, Zevi Ghivelder, Marco Aurélio Borba, Atenéia Feijó, Gil Pinheiro, Hélio Silva (que é um pintor de muito talento), Jader Neves, Klaus Meyer e Justino Martins, que foi, sem sombra de dúvida, um grande revisteiro. Ninguém, antes ou depois, por melhor que tenha sido — e houve gente muito boa nas duas ocasiões —, fez a Manchete que Justino sabia fazer. No caso do Correio da Manhã, se não fosse o orgulho de ter sido seu copidesque, bastava a alegria de ter convivido com profissionais como Aloísio Branco, Peri Cotta, Mauro Ivan Pereira, Jaime Negreiros, Newton Rodrigues, Gontran da Veiga Jardim, Salvyano Cavalcanti de Paiva, Mário Rolla, Idalício Oliveira, Fuad Atala e tantos outros. Onde o senhor conheceu o Mário de Moraes? Pessôa — Meu primeiro encontro profissional com o Mário foi na TV Globo, onde participamos, ele como chefe de Redação, eu como redator do noticiário nacional, do primeiro telejornal da emissora. Éramos uma equipe bem entrosada, formada por jornalistas oriundos da mídia impressa, como Baleixe Filho, Mauro Ivan Pereira, Roberto Porto, Teixeira Heizer, Luís Alberto, Edson Braga, Jaime Dantas, Fernando Lopes, Eduardo Ramalho e Roberto Dantas, entre outros. Em sua primeira fase,
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Jornal da ABI ele era apresentado por Hilton Gomes, o mais completo jornalista de televisão que conheci. Hilton reportava, decupava, redigia, traduzia e apresentava. Não tinha glamour; tinha competência. Tivemos alguns atritos no pega-pra-capar dos fechamentos, mas nunca deixei de admirá-lo, e fiz com que ele soubesse disso no nosso último encontro. Em sua segunda fase, graças ao patrocínio de um banco, o “Teleglobo” — que era como se chamava, ou passou a chamar — foi maquiado por Maurício Sherman e enriquecido com a presença, no vídeo, de Natália Thimberg e dos apresentadores Aluísio Pimentel e Paulo Gil, além de Teixeira Pessôa dirigiu Redações no Rio e São Paulo e atuou tanto em veículos impressos como em rádio e televisão. Aqui ele brinca de fotógrafo na sucursal de O Cruzeiro em São Paulo, onde trabalhou dois anos. Heizer, que fazia o noticiário de esportes, e Fernando dos grandes momentos, como o que nheiro no O Cruzeiro. No Noticentro Lopes, que redigia e apresentava as vivemos; do outro, o dia-a-dia. Nos carioca, o Mário era chefe de Redanotícias da noite e do society. Na regrandes momentos, salvo alguns ção e eu, chefe de Reportagem. O dação, ganhamos o bom texto de escorregões, ela é impecável. É gradiretor era Moisés Weltman e a loFernando Leite Mendes e Sylvan ças à sua vigilância, à sua presença cução ficava por conta do excelente Paezzo, a experiência de Walter no centro dos acontecimentos, revolCorrêa de Araújo, que teria morte Lambert e a velocidade redatorial — vendo e esmiuçando o monturo fétitrágica alguns anos depois. celeridade, diria melhor — de Carlos do que cresce a cada nova investigaLima. A mesma equipe de redatores A que o senhor credita o fim da reção, que episódios como os atuais e repórteres fazia, na época, os dois vista O Cruzeiro? não acabarão em pizza. Diga-se o jornais que a emissora apresentava, Pessôa — Há quem culpe a Manchete, mesmo dos colunistas e articulistas. de segunda-feira a sábado, um ao a Veja e/ou a televisão, principalmenEstamos muito bem-servidos de uns meio-dia, outro às 19h, se não me te depois que ficou colorida, pela dere outros. Zuenir Ventura, Clóvis falha a memória. No domingo, a Glorocada. Não concordo. A dita “maior e Rossi, Carlos Chagas, Ancelmo Gois, bo apresentava apenas o jornal da melhor revista da América Latina” foi Miriam Leitão, Elio Gaspari, Villastarde. Chegávamos à Redação, que vítima de práticas administrativas irBoas Corrêa, Ricardo Boechat, funcionava no prédio da Rua Pacheco responsáveis, que esvaziaram seus coMerval Pereira, Helena Chagas, Leão, às oito da matina e saíamos às fres e acabaram por atingir, levando ao Augusto Nunes, Arnaldo Jabor, oito da noite, depois de comentardesalento e à inevitável apatia, a exRoberto Pompeu de Toledo e tantos mos os erros e acertos do último jortraordinária equipe de profissionais outros pelo Brasil afora. São profisnal. Era uma dureza, porque as conque reunira. No início década de 60, sionais de altíssima qualificação, que dições de trabalho não eram das mepoucos restavam do grupo que David sabem onde têm o nariz, como se lhores, apesar das faladas injeções de Nasser chamara de Esquadrão de dizia antigamente. dólares do Grupo Time-Life. CurioOuro. A maioria tinha pedido o boné. so que a Globo, no livro que editou A falha, então, está na cobertura do Os que ficaram continuavam os messobre o Jornal Nacional, ignorou ou dia-a-dia? mos, mas já não traziam no peito a reduziu à insignificância esse início Pessôa — É aí que a gana investigativa chama de outros tempos... do seu telejornalismo, simplesmen— salvo exceções; sempre há exceções, te esquecendo de nomear alguns daFoi também por má administração felizmente — esmorece. Apura-se queles pioneiros. Isto não alterou em que tantos outros veículos fecharam mal, ou simplesmente não se apura, nada a minha vida, tampouco o meu ou enfrentaram crises? aceitando-se a primeira versão, sem currículo, como não deve ter alteraPessôa — Parece que sim. É o caso, maiores questionamentos. A informado a vida e o currículo dos demais por exemplo do Jornal do Brasil, emção errada, truncada, ou pela metade esquecidos. Mas não posso negar que bora creia que ele tem condições de é comum na mídia. Há quem culpe, gostaria de figurar oficialmente, dar a volta por cima. Há profissionais por essa situação, os jovens recém-forcomo figurei de fato, entre os que de primeiríssima qualidade em sua mados e, por extensão, o ensino nas batalharam aqueles verdadeiros Redação, que sabem fazer jornal e que faculdades de Comunicação. Não con“tempos heróicos”... estão, segundo ouço dizer, de mancordo. Podem até ter alguma culpa, gas arregaçadas para colocar o “nosmas não são os culpados. Querer exiO senhor e o Mário trabalharam junso” JB lá no alto, no lugar que é dele. gir deles o que ainda não podem dar é tos em outra emissora. Pessôa — Anos mais tarde, voltaríaVamos torcer. O Jornal do Brasil é um um evidente erro de avaliação. Ninpatrimônio de todos nós, jornalistas. guém começa em qualquer profissão mos a uma Redação de TV no Noticonhecendo os seus meandros. Nós, centro, telejornal com esse nome Como o senhor observa a situação os mais velhos e mais tarimbados, ou horrível que a TVS, atual SBT, pôs da mídia nos dias atuais? a maioria de nós, começamos tão crus no ar na segunda metade dos anos Pessôa — Do ponto de vista da quae tão perdidos como os que estão co70. O Departamento de Jornalismo lidade, creio que ela deva ser analisameçando agora. Cometíamos erros da emissora ficava em São Paulo e era da sob dois aspectos de certa forma homéricos, apurávamos mal, não éradirigido pelo Arlindo Silva, excelenconflitantes: de um lado a cobertura mos em nada melhores que os jovens te repórter que fora nosso compa-
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de hoje. Nossa vantagem sobre eles — e uma senhora vantagem — é que os tempos eram outros. A pressa não era tão grande, a estrutura das Redações não era tão complexa, as chefias tinham tempo para puxar nossas orelhas pelos erros cometidos e mostrar como devíamos agir, como era indispensável que apurássemos até a exaustão. Culpar as faculdades, embora algumas, talvez muitas, tenham culpa, ou repórteres em começo de carreira é, simplesmente, empurrar o problema com a barriga. Na sua opinião, qual o ponto alto de sua carreira? Pessôa — Considero-me apenas um jornalista esforçado, movido pelo amor à profissão, e que nunca procurou focos de luz para aparecer, vivendo sempre na intimidade das Redações. Nessa trajetória, o mais gratificante foi, sem a menor dúvida, a Revista de Comunicação. Fundei-a, em 1985, com Mário de Moraes, um dos mais importantes repórteres brasileiros. Agora a revista volta em versão online... Pessôa — Os propósitos são os mesmos que a tornaram um ícone — digo sem vaidade, mas com muita satisfação — da comunidade universitária de Comunicação Social na segunda metade da década dos anos 80 e na maior parte dos 90. Primeiro Prêmio Esso de Jornalismo na categoria de Melhor Contribuição à Imprensa, conferido em 1986, ela passou, em quase 15 anos de vida ativa, de 22 mil a 40 mil exemplares de tiragem, feito que até hoje nenhuma outra revista do gênero alcançou. Contamos durante esses anos todos — e voltaremos a contar agora — com a colaboração de jornalistas, publicitários e relações-públicas do mais alto nível. Além do Prêmio Esso e da tiragem crescente, demonstram o sucesso que conseguimos os dois seminários que realizamos, em 1994 e 1995, em oito capitais, nos quais chegamos a ter auditórios com a superlotação de mais de mil participantes. E o que se pode esperar dela nessa nova roupagem? Pessôa — Para a versão online, que está no ar em teste (www.revcom. com.br), elegemos como um dos nossos principais objetivos estabelecer uma aproximação maior com os estudantes de Comunicação e seus professores e com profissionais recémformados, através da efetiva participação de todos em projetos criados especialmente para esse fim. Dessa maneira, espero estar contribuindo, como fecho de carreira, para a formação profissional do comunicador no Brasil. Missão grandiosa, sem dúvida. Talvez acima do que posso fazer. Mas que vou tentar.
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Jornal da ABI ACONTECEU NA ABI
Com apoio da ABI, grupo une teatro e literatura A ABI cedeu espaço em sua sede para que um grupo teatral amador, o Literatorium, realize os ensaios do espetáculo Memorial, que deverá ser lançado em breve no Rio. Líder do grupo, a atriz Andréia Ribeiro diz que a idéia do Literatorium nasceu de seu encontro com os atores Renato Carrera e Ronaldo Serruya e a vontade do trio de desenvolver uma linguagem que tem sua origem dramatúrgica, direta ou indiretamente, no texto literário: — O objetivo é investigar o universo do conto, da poesia, da crônica, da novela e do romance e tirar deles a referência para nossas montagens. Memorial tem como ponto de partida a obra de Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Pedro Nava, Caio Fernando Abreu, Manoel de Barros e Cecília Meireles, entre outros. Mesclando os textos literários com as próprias vivências e depoimentos de portadores de Alzheimer, o grupo pretende construir uma dramaturgia híbrida, em que conceitos como esquecimento, invenção e memória transitem em uma linha tênue e desafiadora para o espectador: — Fazemos esse tipo de teatro porque amamos a literatura e o resultado de sua adaptação para o teatro pode ser lindo — diz Andréia.
A jovem atriz Andréia Ribeiro e seus parceiros Renato Carrera e Ronaldo Serruya: unidos no amor à literatura e na paixão pelo teatro.
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Sérgio Cabral (à dir.), com Maurício e Chediak (à esq., nessa ordem), temia não ter dito tudo sobre Almirante na primeira edição da obra; daí seu empenho em reeditá-la, corrigindo possíveis omissões. A cantora Ellen de Lima (à dir.) trouxe seu abraço a Cabral.
CABRAL AMPLIA O SEU ALMIRANTE Biografia revista e aumentada do radialista é lançada na ABI em evento da Diretoria de Cultura e Lazer. Hermínio Belo de Carvalho, a cantora Ellen de Lima e o compositor e sambista Délcio Carvalho foram algumas das personalidades da MPB que compareceram à sede da ABI, em 20 de fevereiro, para prestigiar o lançamento do livro No tempo de Almirante, uma história do rádio e música popular brasileira, do jornalista Sérgio Cabral, em edição revista e ampliada. A iniciativa do evento foi da Diretoria de Cultura e Lazer da ABI e abriu a programação organizada pelo novo titular dessa Diretoria, Jesus Chediak. Como revela na abertura do livro, o autor tinha a preocupação de não ter dito tudo sobre Almirante e temia comentários sobre o esquecimento de algumas passagens da vida de uma das maiores personalidades do rádio no Brasil: — Não sei se consegui, mas tentei contar a história de Almirante com muita energia e paixão –– disse Sérgio, que é membro do Conselho Deliberativo da ABI.
Fã declarado de Sérgio Cabral há muito tempo, o compositor, poeta e escritor Hermínio Belo de Carvalho se disse impressionado com a iniciativa de fazer uma edição ampliada do livro sobre Almirante: — O Sérgio Cabral é um dos pesquisadores da nossa música popular que eu mais respeito. E essa edição revisada sobre Almirante é um trabalho pelo qual tenho grande expectativa. Afinal, quero ver sua capacidade de ampliar uma história que eu julgava que já tinha sido contada na íntegra. Mas o Sérgio é um pesquisador preciso. É por isso que sou seu maior fã. Feliz pela oportunidade de reencontrar um antigo companheiro a quem muito admira, Maurício Azêdo, Presidente da ABI, disse que considera Sérgio Cabral uma personalidade excepcional da vida cultural carioca e brasileira: — Ele tem oferecido contribuições inestimáveis à fixação dos valores mais genuínos da cultura brasileira e à divulgação de personalidades que, se não fosse pelo seu trabalho, estariam no esquecimento, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti, cuja projeção resulta do trabalho jornalístico que Sérgio desenvolveu com uma seção fantástica no Jornal do Brasil,
chamada Música naquela base, no começo dos anos 60. Jesus Chediak também estava entusiasmado com o lançamento do livro na ABI: — Fico muito feliz que meu primeiro evento na Diretoria de Cultura e Lazer seja exatamente o lançamento do livro do Sérgio Cabral, jornalista muito querido de todos nós e figura importantíssima para a cultura e a comunicação brasileiras. Além disso, ele era amigo do meu irmão Almir (Chediak) e foi copidesque em alguns trabalhos da sua coleção de songbooks. O jornalista Domingos Meirelles, Diretor Econômico-Financeiro da ABI, elogiou a qualidade de pesquisador de Sérgio Cabral: — Além de ser uma figura humana extraordinária, ele é um pesquisador aplicado e deu grande contribuição pessoal à história da música popular brasileira. O compositor Délcio Carvalho definiu Sérgio como um homem surpreendente, tanto como jornalista quanto historiador — “Ele é um cidadão importantíssimo para o Brasil”. E a amiga Ellen de Lima completou: — Espero que Deus nos permita tê-lo conosco por muito mais tempo. Ele é carinhoso, competente e uma pessoa assim tem que durar muito.
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Jornal da ABI TALENTO Por Samanta Petersen
JOTA A, CAMPEÃO DE HUMOR Nascido no Maranhão e criado no Piuaí, onde fez carreira, ele venceu o XVI Salão Carioca de Humor. Um artista radicado em Teresina, Piauí, foi o vencedor do XVI Salão Carioca de Humor, aberto em fevereiro na Casa de Cultura Laura Alvim, com previsão de encerramento somente em abril. É o maranhense Jota A, que acumula mais de 60 prêmios em salões e exposições no Brasil e em Portugal, entre menções honrosas e primeiras colocações nas categorias charge, cartum e quadrinhos — paixão do artista desde a infância: — Aprendi as primeiras palavras nas HQs (histórias em quadrinhos), especialmente do Tex, do Tarzan e do Zé Colméia. O passo seguinte de Jota A foi copiar os desenhos e começar a criar as próprias histórias. Em 1987, ganhou o seu primeiro prêmio, em Belo Horizonte, com um desenho de Conan, O Bárbaro feito com lápis de cor. O humor veio depois: — A revista Chiclete com Banana foi uma descoberta! Um ano depois, Jota A foi pedir em-
prego em O Dia, em Teresina, e deu sorte: o jornal estava perdendo seu chargista e ele ocupou um espaço que exige muita pesquisa. — Dizem que a charge é um pouco de inspiração e muito de informação. Você precisa saber todos os detalhes do assunto, ou fará um trabalho errado ou incompleto. Também acho importante o contato com os colegas, embora muitos chargistas tenham se distanciado da Redação, mandando seus trabalhos pela internet. Além de enviar suas criações a diversos salões e fazer charges para o jornal, Jota A produz tirinhas, colaborou com a revista Pasquim 21 enquanto ela durou e já lançou dois livros de cartuns: Humor todo dia (1997) e Cara ou coroa (2004). Este último, diz ele, é uma obra diferente, pois não tem começo, meio e fim definidos e apresenta duas capas, dois prefácios — um escrito por Ziraldo — e dois sentidos distintos. Mesmo premiado e prestigiado no meio, Jota A conhece poucos colegas de profissão pessoalmente, pois é avesso a badalações e não vai aos salões, apenas envia suas obras. —
Artista superpremiado, Jota A não vai aos salões de humor: limita-se a enviar suas criações.
Sou feliz em Teresina. Não quero mais espaço, mais dinheiro, mais prestígio. Minhas raízes estão aqui e trabalho com o que mais amo. O que mais gosto de fazer é ficar vendo desenho animado com o Tiago, meu filho, enquanto a mãe dele, Hoderlene, faz pipoca pra gente comer com guaraná. Afinal, a vida não precisa ser complicada. A única insatisfação de Jota A é com o pouco espaço que se dá ao desenho de humor no País: — Se eu estivesse começando hoje, não conheceria o desenho de humor, pois não existem
mais revistas como a Chiclete com Banana. Até mesmo os livros com cartuns são raríssimos. Atualmente, além das exposições, os portais de internet são uma boa forma de mostrar nosso trabalho. É um novo mercado que estáse abrindo lentamente. Samanta Petersen formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí em 2004. Estagiou na TV Clube, afiliada da Rede Globo no Estado, passou por assessorias de imprensa e atualmente é repórter da Editoria de Cultura do jornal O Dia, de Teresina.
DIREITOS HUMANOS
Moção condena impunidade do coronel do Carandiru Reunida em 20 de fevereiro, a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI aprovou moção de protesto contra a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que absolveu o ex-Coronel Ubiratan Guimarães, anteriormente condenado a 632 anos de cadeia pelo massacre dos 111 presos da Casa de Detenção do Carandiru, em 1992. Diz o texto da moção: “A Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos vem a público manifestar o seu protesto em relação à absolvição do ex-Coronel Ubiratan Guimarães, um dos responsáveis pelo massacre ocorrido no Carandiru, em 1992. Esta decisão, além de desabonar a Justiça brasileira, é, na prática, um incentivo à impunidade. Uma decisão dessa envergadura, certamente, fará com que outras ações violentas como a do presídio sejam repetidas. Como se tudo isso não bastasse, a absolvição do ex-Coronel bota em descrédito a imagem do Brasil no exterior.”
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dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas (Onu). O Conselheiro Milton Coelho da Graça Em sua reunião anterior, realizada em também chamou a atenção para a gravida30 de janeiro, a Comissão de Liberdade de de da crise da saúde pública no Rio, onde Defesa da Imprensa e Direitos Humanos não está afastada a possibilidade de nova sugeriu à Diretoria que dirija moção às auepidemia de dengue, como aconteceu em toridades que cuidam da Saúde no Gover2002. Salientando que, tradicionalmente, no do Estado e na Prefeitura do Rio, a fim a ABI tem histórico de compromisso com de que se tomem providências concretas e a cidade, Milton propôs a realização de uma urgentes com o objetivo de solucionar os reunião de entidades representativas da soproblemas dos hospitais. ciedade civil com representantes da SaúO Secretário da Comissão, Arthur de, para eliminação das emergências que Cantalice, autor da moção, disse que se têm assinalado nesse campo os organismos baseou no noticiário da imprensa, “que dos três níveis da Federação: União, Estatem denunciado coisas incríveis que estão do e Município. ocorrendo nos hospitais”. Ele recorda a Milton disse ainda que é importante notícia da paciente que estava sendo opeCoisas incríveis acontecem nos atrair para a discussão — e possíveis interrada no Lourenço Jorge e que durante a hospitais do Rio, disse Cantalice operação foi vítima da infiltração que há ao justificar sua moção. venções — instituições como o Clube de Engenharia, o Instituto de Arquitetos do no hospital através da luz da sala: Brasil, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Univer— A água caía diretamente na abertura da cirurgia, o sidade do Estado do Rio de Janeiro e a UniRio, que formaque aumenta os riscos de infecção. riam, segundo sua proposta, um fórum permanente de Ao justificar sua proposta, Cantalice salientou que o defesa da população carioca no campo da saúde pública. direito à saúde e à vida integra a Declaração Universal
SAÚDE PREOCUPA
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Jornal da ABI DIREITOS HUMANOS
PM DE SANTA CATARINA MALTRATA NILSON LAGE Policial agrediu-o, algemou-o, jogou-o no camburão e o levou preso para a Central de Polícia, onde o autuaram por “desacato à autoridade”. Violências geraram vigorosos protestos da ABI e de entidades sindicais e acadêmicas. A Polícia Militar de Santa Catarina deu um show de brutalidade contra o jornalista e professor Nilson Lage, que no começo da noite de 18 de fevereiro, um sábado, foi agredido, algemado, jogado num camburão e conduzido preso à Central de Polícia, onde, para extremação das violências, o autuaram por desacato à autoridade, por protestar contra a estupidez de que foi vítima. Nilson, de 69 anos e que é professor titular do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, dias após as violências ainda sentia dores nos ombros, na cabeça e nos pulsos. Na segunda-feira 20 de fevereiro, ele fez exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal e apresentou queixa na 2ª. Delegacia Distrital contra o policial que identificou como seu principal agressor. A agressão a Nilson Lage gerou protesto da ABI, que enviou mensagem ao Governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, reclamando “uma investigação honesta e isenta” do episódio, sobretudo em razão da versão “viciosa e inverídica, além de precipitada”, do Comandante do Policiamento Metropolitano de Florianópolis, Mário César Simas, segundo o qual não havia “relatos de violências sobre o caso”, declaração com que se antecipou às conclusões de qualquer apuração. Também se manifestaram sobre as violências e em solidariedade a Nilson entidades profissionais, como a Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj, e instituições universitárias, que firmaram uma declaração conjunta a respeito. Entrevistado pelo site Comuniquese, contou Nilson Lage que, depois de um dia dedicado aos livros, pegou o carro por volta das 7 horas da noite e foi ao local que costuma freqüentar para tomar duas taças de vinho e comer um salgado. Em tratamento contra depressão há dois anos, ele acredita que ao sair de casa tomou a medicação errada, trocando o remédio da noite, que dá sono, pelo do dia. Ao seguir para casa, sentiu-se mal e parou em frente a um posto da Polícia Militar, na suposição de que estaria protegido. “Só sei que dormi. Acordei já apanhando de um policial. Me arrancaram do carro e me
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A tomada de posição da ABI 1. A mensagem ao Governador Luiz Henrique “Há risco de o corporativismo manter impune o agressor” “Senhor Governador Luiz Henrique da Silveira, A Associação Brasileira de Imprensa dirige-se a Vossa Excelência para reclamar um investigação honesta e isenta da agressão sofrida pelo jornalista e Professor Nilson Lage no dia 18 de fevereiro corrente por parte de um integrante da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, que o tratou de forma violenta e humilhante, retirando-o à força de seu carro, jogando-o no camburão e tratando-o com um desrespeito de que devem ser poupados até os criminosos. Relato feito pela Federação Nacional dos Jornalistas, Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo e outras respeitáveis instituições do seu Estado e do Rio de Janeiro dá conta de que o Comandante do Policiamento Metropolitano de Florianópolis, Mário César
Simas, alegou que “não há relatos de violência” no caso, versão que nos soa como viciosa e inverídica, além de precipitada, pois se antecipa às conclusões de qualquer investigação. Há risco, pois, de que o corporativismo evidenciado nessa declaração proteja e mantenha impune o agressor. A ABI, Senhor Governador, acompanha desde de há muito tempo a militância de Vossa Excelência nas lutas democráticas, a qual remonta aos mais duros tempos do regime ditatorial, e recusa admitir que seu Governo possa ser tisnado por práticas desses filhotes da ditadura que ainda detêm o poder e o usam com brutalidade contra as pessoas comuns. Na expectativa de seu pronunciamento, renovamos as expressões do nosso elevado apreço. Cordialmente (a) Maurício Azêdo, Presidente”
2. A declaração de protesto Esses métodos não encontram abrigo na Constituição. “A ABI expressa a sua adesão à nota de solidariedade ao Professor Nilson Lage emitida pela Federação Nacional dos Jornalistas, Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo e outras entidades em protesto contra a agressão praticada contra esse companheiro por um integrante da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, que agiu com uma truculência inadmissível no Estado Democrático de Direito. A ABI exige do Governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, a realização de uma investigação isenta e honesta do episódio, sobre o qual o Comandante do Policiamento Metropolitano de Florianópolis, Mário César Simas, oferece informações viciosas e
inverídicas, como ao afirmar que “não há relatos de violência” a respeito. Ignora o Senhor Simas que o Professor Nilson Lage fez exame de corpo delito e só o laudo respectivo contém informação exata sobre as conseqüências do brutal tratamento imposto a esse companheiro. Exige também a ABI um pronunciamento público do Governador Luiz Henrique da Silveira de condenação à violência que atingiu Nilson Lage e ao uso pela Polícia de seu Estado de métodos que não encontram abrigo nas disposições constitucionais de proteção da pessoa humana. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2006, (a) Maurício Azêdo, Presidente da ABI.”
jogaram no camburão”, contou Nilson, que recusou fazer o teste do bafômetro, possível pretexto da autuação por desacato à autoridade. “Eu não estava alcoolizado. Bebo todas as noites uma taça de vinho, desde jovem”, disse. A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina informou ao Comunique-se que a PM foi avisada de que um carro estava parado no acostamento da Avenida Pequeno Príncipe, na praia do Campestre, e que a vizinhança estranhou que houvesse uma pessoa dormindo dentro dele. Os policiais teriam concluído que Nilson estava embriagado e que não poderia mais dirigir. Embora o Comandante do Policiamento Metropolitano, Mário César Simas, tenha negado a ocorrência de violências, o Secretário de Segurança, Ronaldo Benedet, pediu a abertura de uma sindicância na PM para apurar as denúncias de agressão à Nilson. Além da Fenaj firmaram a declaração de protesto contra a agressão a Nilson Lage o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo; a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo; o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina; o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro; a Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina-Seção Sindical do Andes; o Centro Acadêmico Adelmo Genro Filho, do curso de Jornalismo da UFSC, e o Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Após relatar o episódio, diz a declaração conjunta: “Nilson Lage conta com uma trajetória de amplos serviços prestados ao longo dos últimos 50 anos como jornalista, professor e pesquisador do jornalismo. Trabalhou, como profissional jornalista, nas principais redações do Rio de Janeiro, entre as quais as do Diário Carioca, Jornal do Brasil, Última Hora, O Globo, Bloch Editores e TVE. Paralelamente, fez uma brilhante carreira acadêmica como professor da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro e outras instituições de ensino. Desde 1992, trabalha como professor titular do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. É autor utilizado como referência em todos os cursos de graduação e citado em dissertações e teses sobre jornalismo, com obras vendidas aos milhares.” Após reclamar a apuração do caso, a punição dos responsáveis, o reparo dos danos morais e “a tomada de providências quanto ao preparo das nossas polícias, para que lamentáveis fatos como estes não voltem a ocorrer em Santa Catarina ou em qualquer lugar do País”, a declaração classifica de “injustificáveis e inaceitáveis espancamentos por quem deve garantir a paz e o abuso de força por quem, ao tê-la, deve impedir o seu uso” e conclui: “Lembramos que justamente aqueles que detêm o poder devem assegurar tratamento humano e digno a todos os cidadãos”.
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Jornal da ABI DIREITOS HUMANOS
UMA PROCISSÃO DE MORTOS AINDA EM BUSCA DE REPARAÇÃO À medida que o tempo passa, cresce o número de falecidos entre as vítimas de torturas e prisão que aguardam a reparação moral que lhes é devida. Reunida em 31 de janeiro, a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio aprovou a concessão de indenização, a título de reparação moral, a 44 vítimas de prisão e tortura em dependências de órgãos estaduais durante a ditadura militar. Para quase metade dessas vítimas –– nada menos de 21 – –, a reparação chegará tardiamente, em razão de sua morte. Seis dos processos apreciados foram indeferidos. Entre os casos analisados pela Comissão figurou o de Perla Nísia Bursztyn, que contava apenas 14 anos quando foi presa por se encontrar em
OS PROCESSOS APRECIADOS EM JANEIRO
INDEFERIDOS Fidelis Nunes (falecido) Itair José Veloso (falecido) Luiz Borges Coelho Marília Carvalho Guimarães Marlene de Castro Ferreira Ney Gomes de Paiva Chaves
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no Conselho de Administração da empresa. Othon, falecido, foi preso, destituído do cargo e aposentado compulsoriamente em outubro de 1964. A Comissão Especial de Reparação foi instituída pela Lei nº 3.744, de 21 de dezembro de 2001, e é integrada por órgãos do Governo do Estado e instituições da sociedade civil –– a ABI, a Ordem dos Advogados do Brasil-Seção do Estado do Rio, o Grupo Tortura Nunca Mais e o Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremerj). A Comissão reúne-se uma vez por mês e em cada sessão aprecia um mínimo de 50 processos.
Em fevereiro, aprovadas 24 indenizações Em reunião realizada em 23 de fevereiro, presidida pelo Subsecretário de Estado de Direitos Humanos, Sérgio Guimarães, a Comissão Especial de Reparação aprovou a concessão de indenização de reparação moral a 24 vítimas da ditadura. Dos 32 processos examinados, oito foram indeferidos. Em 2006, esta foi a segunda reunião da Comissão Especial de Reparação, que desde a sua instalação, em agosto de 2004, apreciou 700 processos com pedidos de indenização, de um total de 1.114 apresentados dentro do prazo fixado na legislação. Dos 32 requerimentos analisados nessa reunião, 13 diziam respeito a vítimas já falecidas. Isto levou o plenário — as reuniões são abertas — a solicitar à ABI que faça um apelo à Governadora Rosinha Garotinho para apressar o pagamento das indenizações aprovadas, a fim de que maRosinha: Só ela pode is vítimas enapressar os pagamentos. contrem reparação em vida. Afinal, muitos são pessoas idosas, já que os fatos que ensejam as reivindicações se deram há mais de 40 anos, depois do golpe militar de 1964. Um desses manifestantes foi o advogado, jornalista e sócio da ABI José Cristino Costa Ferreira, segundo o qual todos os Estados que instituíram a reparação moral a vítimas da ditadura,
como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, já pagaram as indenizações devidas. Cristino reiterou a cobrança no artigo Pague logo, Governadora, publicado nesta edição. Pelo levantamento dos membros da Comissão, foram pagas indenizações a 140 pessoas — 50 em novembro de 2004, 40 em março de 2005 e 50 em agosto do mesmo ano.
OS PROCESSOS APRECIADOS
FRED ABRANTES
DEFERIDOS: Almir de Souza (falecido) Álvaro da Costa Ventura Filho (falecido) Anestor Lúcio de Magalhães Anízio Cunha da Costa (falecido) Antônio Pereira Matos Arthur Botelho Júnior (falecido) Cosme Ribeiro de Souza Dalmo Macedo Gaspar Darcy Câmara (falecido) Dejanir Afonso Pereira (falecido) Dilson da Silva Edmilson Juvino Pontes Ejay Dias (falecido) Elyseu Rodrigues y Rodrigues (falecido) Francisco Alves da Costa (falecido) Francisco Arnaud de Castro Francisco Arrabal Gonçalves (falecido) Helvécio de Carvalho Alvim (falecido) João Alves do Carmo João Passos (falecido) João Pedro de Oliveira Joelivan Pinheiro Conceição José Augusto Dias Pires José Lima de Souza (falecido) José Luiz Fontoura de Albuquerque José Pereira da Silva José Pio de Godoy (falecido) José Ribeiro Alves (falecido) Lincoln Bicalho Roque (falecido) Manoel de Souza Teixeira (falecido) Marcius de Carvalho Pereira Maria Beatriz de Albuquerque David Miguel Calisto da Silva (falecido) Newton de Almeida Menezes Nina Maria Rangel Wehinger Noeli Correia de Melo Sobrinho Othon Reis Fernandes (falecido) Perla Nisia Bursztyn Raimundo José Barros Teixeira Mendes (falecido) Selva Corrêa Mendes Sérgio Luiz Rocha Vellozo Valdir Reis Costa (falecido) Victor Hugo d’Oliveira Cabral Vitória Lucia Martins Pamplona Monteiro
casa quando os agentes da repressão a invadiram para prender sua mãe, seu irmão e sua irmã –– o pai de Perla também era procurado, mas escapou da prisão por não se encontrar em casa. Perla assistiu à sessão da Comissão de Reparação ao lado de sua irmã Ana Bursztyn, que chorou durante a análise do processo. –– Até hoje –– disse Ana –– eu me considero culpada pela prisão de minha irmã, então muito jovem. Também foi deferido o processo relativo ao líder sindical Othon Reis Fernandes, que era diretor da Companhia Siderúrgica Nacional em abril de 1964, como representante dos trabalhadores
DEFERIDOS Allan Kardec Ignácio dos Reis (falecido) Antonio dos Santos (falecido) Saul Alves Quadros Augusto Vieira Sarmento Dalila Cenira da Costa Ellas Fajardo da Fonseca Elson de Souza Prado (falecido) Eufrasiano Nunes Galvão (falecido) Francisco Carneiro Filho Jamilton Mendonça de Barros Jayme Azevedo Rodrigues (falecido) José Conceição Dantas (falecido) José Ribamar Ferreira José Salles (falecido) Linda Tayah de Melo Maria Augusta Carneiro Ribeiro Maria Lucia Wendel de Cerqueira Leite Murillo Mello Nelson Raimundo de Souza (falecido) Odair Lopes de Faria (falecido) Osmar de Jesus Mendes Barbosa Waldebrando Ribeiro Queiroz Waldemiro Cruz (falecido) Wladimir Alves de Quadros
INDEFERIDOS Alberto José Barros da Graça Amilcar Baiardi Dilermano Melo do Nascimento (falecido) Hermínio Ramos (falecido) Hugo Chor Júlio Cesar Covello Neto Paulo Ferreira Campos Wilson da Silva Mendes (falecido)
Transpetro demite pelo telefone Em mensagem enviada à ABI, a jornalista Isa Cambará denuncia o procedimento da empresa. Isa trabalhou o dia inteiro e à noite, em casa, foi surpreendida por um telefonema de uma pessoa que não conhecia comunicando que ela e outros quatro companheiros estavam demitidos. Ela denunciou a violência na carta do seguinte teor que dirigiu à ABI: As horas vão As horas vêm As horas vão e vêm Nunca em vão. (Oswald de Andrade/Relógio)
“Assim como as horas, as pessoas. Vão e vêm. Nunca em vão. Estou deixando a Transpetro depois de um ano e dez meses. Não foi tempo em vão para nenhuma das partes. A Transpetro, tenho certeza, ganhou com minha competência, minha dedicação, meu sentimento de profissionalismo. Eu ganhei a oportunidade de realizar um bom trabalho, numa empresa respeitada e, sobretudo, a chance de conviver com uma equipe formada por profissionais e seres humanos excelentes (em sua maioria) dentro de uma empresa reconhecida. A lamentar, somente a maneira indigna como eu e mais quatro colegas fomos demitidas: à noite, no nosso lar, por meio do telefonema de uma pessoa que sequer conhecemos. Isso depois de termos estado durante todo o dia na empresa, quando poderíamos ter sido avisadas. É realmente lamentável que uma empresa ligada a um Governo liderado por um trabalhador — e na gestão de um Presidente que ressalta continuamente a importância da força de trabalho para a Transpetro — trate cinco profissionais como se fossem objetos descartáveis e não seres humanos, merecedores de todo o respeito. Mais triste ainda é o fato do setor de RH ter sido conivente com esse tipo de atitude. Resta esperar que essa situação humilhante não mais se repita; que todas demissões sejam feitas de forma respeitosa, como exigem a ética, a moral e as conquistas da classe trabalhadora. Estendo minha queixa e minha esperança à Ouvidoria da Transpetro. No mais, as portas do coração e da minha casa continuam abertas àqueles que se consideram amigos. Àqueles que participaram da maneira como fomos demitidas — ou foram coniventes com ela — só me resta citar outro Andrade, o Mário: ‘O importante não é ficar; é viver. Eu vivo’. Com a maior dignidade, acrescentaria eu. Apesar das rasteiras. Abraços (a) Isa Cambará.”
Fevereiro de 2006
Jornal da ABI LIBERDADE DE IMPRENSA
A PELEJA DE REQUIÃO
CONTRA JORNAL DE OPOSIÇÃO Insatisfeito com a linha editorial da Gazeta do Povo, o Governador do Paraná espalha outdoors contra o jornal, edita panfleto com acusações e manda suspender a publicidade oficial no veículo. A ABI faz protesto, evocando a trajetória democrática do Governador, mas antigo militante do PMDB, o ex-Deputado Hélio Duque, diz que ele foi omisso nessa luta.
Fevereiro de 2006
EVERSON BRESSAN/SECS
A
imprensa e a política no Paraná enfrentaram um turbilhão em fevereiro, diante da violenta reação do Governador do Estado, Roberto Requião, à linha editorial do jornal Gazeta do Povo, contra o qual ele acionou mecanismos do poder e do seu partido, o PMDB: mandou espalhar por Curitiba outdoors acusando o jornal de mentir, editou com o nome e recursos partidários um folheto de acusações à Gazeta e, para coroar seu revide e suas represálias, mandou suspender a inserção de publicidade oficial no veículo. Em resposta ao pedido de solidariedade que lhe foi encaminhado pela Gazeta do Povo, a ABI encaminhou uma mensagem de protesto ao Governador, lamentando as iniciativas que adotou contra o jornal e fazendo reparos às suas atitudes: 1. recorreu a represálias, em vez de buscar abrigo na Lei de Imprensa; 2. repetiu antigo comportamento de oligarquias locais, que “não vacilavam em expor à exprobação pública aqueles que ainda que timidamente contestavam seus atos”; 3. utilizou recursos do Fundo Partidário para financiar a edição de um folheto contra o jornal; 4. substituiu os chamados critérios de mídia pelos de agrado ou desagrado na definição da programação das inserções publicitárias do Governo do Estado. Sem sacrifício da firmeza na exposição de suas opiniões, a ABI evocou a “imagem democrática” que Requião “construiu no plano regional e nacional nos ásperos tempos da ditadura”. Esta menção foi contestada por um antigo militante do PMDB do Paraná, o economista e ex-Deputado Hélio Duque, atualmente afastado da vida política institucional, o qual enviou mensagem à Casa com contundentes referências a Requião. “O atual governador do Paraná – disse Hélio Duque em e-mail à ABI– nunca foi filiado ou militante do MDB nos ásperos tempos ditatoriais. Nunca participou da resistência democrática. Carreirista e individualista, é dono de um discurso enganador.” A seguir, os lances documentais das intervenções da ABI nessa peleja entre o Governador do Paraná e a Gazeta do Povo.
Requião acionou poderosos mecanismos para a retaliação à Gazeta do Povo, diário que lhe faz oposição.
AS PONDERAÇÕES DA ABI “Senhor Governador Roberto Requião, A Associação Brasileira de Imprensa vem manifestar a Vossa Excelência sua apreensão diante das ocorrências que vêm marcando nos últimos dias o relacionamento entre o seu Governo e o jornal Gazeta do Povo, as quais podem caracterizar restrições ao exercício da liberdade de imprensa que não se coadunam com a trajetória democrática com que Vossa Excelência se impôs à admiração da sociedade tanto no âmbito do Paraná como no do Brasil. Entre essas malsinadas ocorrências incluise a afixação em profusão de outdoors com a inscrição A Gazeta do Povo mente, método de contestação a informações divulgadas pelo jornal que não encontra abrigo na legislação relativa aos abusos no exercício da liberdade de imprensa (Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967). Se o noticiário do jornal contém relatos inverídicos ou imprecisos, cabe aos alcançados ou prejudicados por inverdades ou imprecisões o direito de resposta, exercido na forma prescrita na Lei n° 5.250/67 ou através de iniciativa de caráter político, como a convocação de entrevista coletiva em que Vossa
Excelência ou agente qualificado de seu Governo apresentasse as refutações cabíveis. Dado o prestígio pessoal de Vossa Excelência e a boa imagem de sua administração, os órgãos de informação do Paraná e de centros jornalísticos importantes, como o Rio, São Paulo e Brasília, não deixariam de comparecer à entrevista coletiva e de divulgar as razões do Governo do Paraná. A contradita a que recorreu o seu Governo lembra práticas políticas que mereceram reprovação dos setores democráticos da vida nacional no período regido pela Constituição de 1946, no qual oligarcas locais não vacilavam em expor à exprobação pública aqueles que ainda que timidamente contestavam seus atos. No caso presente, o emprego de tal prática é agravado pelo fato de os outdoors aparecerem sob a responsabilidade do Partido do Movimento Democrático Brasileiro-PMDB, agremiação política de Vossa Excelência, que sabidamente não terá recursos próprios para financiar despesa publicitária de tal porte e terá utilizado para cobri-la recursos do Fundo Partidário, incorrendo em ilegalidade passível de questionamento no âmbito judicial. Agrava a apreensão da Associação Brasilei-
ra de Imprensa, ilustre Governador Roberto Requião, a informação de que, como represália ao noticiário que ensejou tão virulenta reação de seu Governo, a Gazeta do Povo teria sido ou será excluída da programação publicitária oficial, punição de caráter econômico que se somaria àquela representada pelos outdoors. Queremos crer, Senhor Governador, que tal medida, se cogitada ou aplicada, não será efetivada ou mantida, já que a programação publicitária deve apoiar-se nos chamados critérios de mídia e outros aspectos relevantes da área da comunicação, e não derivar da satisfação ou insatisfação de governos que se sintam agradados os desagradados pelos veículos de comunicação. São estas as ponderações, digno Governador, que a Associação Brasileira de Imprensa lhe formula, por apreço à imagem democrática que Vossa Excelência construiu no plano regional e nacional nos ásperos tempos da ditadura e também pela obrigação que esta Casa tem de defender a liberdade de imprensa, de expressão e de opinião, na senda trilhada por nossos maiores, entre os quais um dos seus companheiros de lutas e de partido, nosso patriarca Barbosa Lima Sobrinho.”
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Jornal da ABI LIBERDADE DE IMPRENSA A PELEJA DE REQUIÃO...
“No Paraná, resistentes foram outros” “Jornalista Maurício Azêdo, Tenho enorme respeito e apreço pela ABI. Relembro que, em 1972, foi na histórica sede da Rua Araújo Porto Alegre que lancei o meu livro ‘As contradições no desenvolvimento brasileiro’, em função das pressões ditatoriais que ameaçavam os editores de represália policial se o evento fosse em livraria. A ABI é um templo da liberdade. Daí mandar-lhe esse texto, objetivando um esclarecimento histórico. Em expediente enviado ao Governador do Paraná e publicado no jornal Gazeta do Povo, o bravo jornalista, com enorme generosidade, afirma: ‘A ABI lhe formula, por apreço à imagem democrática que Vossa Excelência construiu no plano regional e nacional nos ásperos tempos da ditadura.’
Infelizmente o fato não é verdadeiro. O atual Governador do Paraná nunca foi filiado ou militante do MDB nos ásperos tempos ditatoriais. Nunca participou da resistência democrática. Carreirista e individualista, é dono de um discurso enganador. Deputado Federal, por vários mandatos, pelo MDB e pelo PMDB, só vim a conhe-cê-lo em 1981. Foi um omisso na luta pelo restabelecimento do Estado de Direito no Brasil. Nos ásperos tempos da ditadura, no Paraná, os resistentes foram outros. Dispensável nominá-los. Cito o companheiro Alencar Furtado, líder do MDB na Câmara, cassado no dia 29 de junho de 1977, quando na cidade de Londrina chegava à minha casa para um jantar. O trauma dessa cassação chocou de tal maneira o Brasil, que veio a ser a última feita pelos golpistas de 64. Jornalista Maurício Azêdo, pelo respeito e admiração que tenho pelo indomável lutador, não obstante não conhecê-lo pessoalmente, é que me arvorei do direito
de encaminhar esse esclarecimento histórico. Em nome da verdade. Cordialmente, (a) Hélio Duque, Economista e ex-Deputado Federal.”
O panfleto de Requião: pago com dinheiro do PMDB ou do Fundo Partidário?
Mensagem à Redação da Gazeta “Caros companheiros da Gazeta do Povo, A Associação Brasileira de Imprensa expressa a sua solidariedade à direção e ao corpo de jornalistas e demais colaboradores desse periódico em face das represálias adotadas pelo Senhor Governador do Estado, Roberto Requião, diante de noticiário que gerou insatisfação na administração pública estadual. Contem os companheiros com a aguerrida participação da ABI em todas as iniciativas que visem a resguardar a plenitude do exercício da
liberdade de imprensa. Informamos aos companheiros que a esse respeito dirigimos exten-
so e minucioso expediente ao Senhor Governador Roberto Re-quião, no qual expressamos a reprovação da ABI ao emprego do método de utilização de outdoors para contestar informações divulgadas pelo jornal, à possivel utilização de recursos do Fundo Partidário conferidos ao PMDB para financiar tal campanha e à cogitada, ou já em aplicação, exclusão da Gazeta do Povo da programação publicitária oficial do Governo do Paraná. Estamos divulgando estas nossas manifestações no site da ABI (www.abi.org.br), para ampliar o alcance da reprovação que fazemos a esse comportamento do Governo do Estado do Paraná.”
RADIALISTA AMEAÇADO NO CEARÁ A casa de Francisco Tácito, de uma rádio do interior, foi arrombada, mas os invasores nada levaram. Eles queriam intimidá-lo, por criticar a Prefeitura.
1. Ao Governador Lúcio: “O digno Deputado Bismarck Maia deu-nos ciência das ameaças, inclusive de morte, que o radialista Francisco
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Tácito Gomes da Silva, da Rádio Sinal de Aracati, vem sofrendo há cerca de seis meses, a última das quais em 30 de janeiro passado, quando arrombaram sua casa, sem nada levar, num sintoma claro de que se pretendia sobretudo intimidá-lo. Além disso, escreveram no veículo da Rádio Aracati, com erros grosseiros, uma frase ameaçadora: “Tarssio tu vai morrer”. Em sua comunicação à ABI, na qual dá conta de que Francisco Tácito registrou as ameaças na Delegacia Regional de Aracati, informa o Deputado
PAULA SHOLL/DIVULGAÇÃO
Líder de audiência na região do Aracati, o radialista Francisco Tácito Gomes da Silva havia seis meses vinha recebendo ameaças por fazer críticas à administração municipal da cidade, até que em 30 de janeiro os descontentes com seu trabalho resolveram mandar um recado direto: arrombaram sua casa mas nada levaram, num claro sinal de que o que pretendiam era intimidá-lo. Outro recado foi ainda mais claro: escreveram no carro da Rádio uma frase com erros grosseiros (“Tarssio tu vai morrer ”), certamente para disfarçar sua origem. As ameaças a Francisco Tácito foram denunciadas à ABI pelo Deputado Bismarck Maia (PSDB) e comunicadas pela Casa ao Governador do Ceará, Lúcio Alcântara, com pedido de apuração da origem das violências e de adoção de medidas de proteção à integridade física e à vida de Francisco Tácito. O Governador encaminhou o expediente da ABI ao Secretário de Segurança do Estado, Théo Espíndola Basto, com despacho do próprio punho em que determinou a adoção das providências cabíveis no caso. Foram estas as intervenções da ABI diante da denúncia:
2. Ao Deputado Bismarck: “Em face da denúncia contida em seu Ofício nº 21/2006, de 31 de janeiro passado, encaminhamos expediente ao Senhor Governador do Ceará, Dr. Lúcio Alcântara, solicitando a apuração dos responsáveis pelas ameaças que vêm sendo feitas ao jornalista Francisco Tácito Gomes da Silva, da Rádio Sinal de Aracati, ao mesmo tempo que pedimos a adoção de medidas que preservem a incolumidade física e a vida desse profissional. Além de noticiar essas violências no site da ABI (www.abi.org.br), dirigimos mensagem a esse companheiro, apresentando a nossa solidariedade e informando da iniciativa de Vossa Excelência de dar ciência à ABI das ameaças que ele vem sofrendo.”
Bismarck Maia que esse processo de intimidação do radialista teria motivação política, já que seu programa, líder de audiência na região, vem denunciando indícios de irregularidades na atual administração municipal de Aracati. Fazemos-lhe esta comunicação, Senhor Governador, para lhe postular que determine a realização de investigações para identificação da origem e dos autores das ameaças e seus mandantes, bem como para solicitar de Vossa Excelência as necessárias garantias de vida e de incolumidade física a esse profissional. Ficaremos gratos se Vossa Excelência nos informar que medidas adotará em face de tão graves violências.”
Deputado Bismarck Maia: partiu dele o pedido de SOS para Francisco Tácito, o radialista ameaçado.
3. Ao radialista Tácito: “Quero apresentar-lhe nossa solidariedade diante das ameaças que o Companheiro vem sofrendo por praticar um jornalismo independente na Rádio Sinal de Aracati, das quais tivemos ciência através de denúncia que nos foi encaminhada pelo Deputado Bismarck Maia, membro da bancada do Ceará na Câmara dos Deputados. Informo-lhe que dirigimos ao Senhor Governador do Ceará, Lúcio Alcântara, o expediente de que estamos anexando cópia, no qual solicitamos a apuração da origem e dos autores das ameaças que Você vem sofrendo, ao mesmo tempo que pedimos garantias para a preservação de sua incolumidade física e de sua vida.”
Fevereiro de 2006
Jornal da ABI INTERPELAÇÃO
JOBIM QUESTIONADO Lideranças da magistratura e instituições da sociedade civil censuram o jogo duplo do Ministro, por agir como candidato sem despir a toga.
Fevereiro de 2006
JOSECRUZ/ABR
Membros do Poder Judiciário, advogados e dirigentes de instituições da sociedade civil, entre eles o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, deram entrada em 1º de fevereiro numa interpelação ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Nélson Jobim, para que esclarecesse se é candidato a algum cargo eletivo, atitude que contraria a Constituição da República, em seu art. 95, parágrafo único, e a Lei Orgânica da Magistratura brasileira, no seu art. 26, inciso II, alínea c, que proíbe magistrados de exercerem atividade político-partidária. A interpelação judicial foi feita pelo Escritório Ivan Nunes Ferreira Advogados Associados e protocolada às 13h30min no Supremo Tribunal Federal. Logo na abertura, a petição cita a Constituição e a Lei Orgânica da Magistratura para justificar a medida, dizendo que a postura do Ministro Nelson Jobim tem sido absolutamente incompatível com a natureza da sua função jurisdicional. Citando matérias jornalísticas e artigos de analistas políticos que indicam a intenção do Ministro Nelson Jobim de se candidatar a um cargo político e que jamais foram contestadas, os reclamantes criticam o Presidente do Supremo Tribunal Federal, dizendo que seu comportamento fere “a sua aura de imparcialidade no julgamento das causas que lhe sejam submetidas”. Dizem também que a postura dúbia de Nelson Jobim em relação a suas aspirações políticas tem proporcionado graves críticas à sua atuação como Ministro da Suprema Corte. E se referem aos pedidos de vistas em Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adins), cujos julgamentos têm sido postergados pelo Ministro, numa conduta que, segundo eles, seria de interesse do Governo Federal. A petição relaciona as Adins que dependem de parecer de Jobim: em nove anos, chegaram às suas mãos 33 ações diretas de inconstitucionalidade; 15 tiveram seus pedidos de vista renovados e a mais antiga é de junho de 1997. Entre os 39 signatários do documento figuram dois ex-Presidentes do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Eduardo Seabra Fagundes e Hermann de Assis Baeta; os Desembargadores Thiago Ribas Filho, ex-Presidente do Tribunal de Justiça do Rio, e Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, ex-Presidente da Asso-
Jobim, num colóquio com o Presidente Lula: magistrados e juristas o acusam de submissão ao Executivo.
ciação dos Magistrados Brasileiros; e um ex-Presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, Dom Luciano Mendes de Almeida. Com base no Código de Processo Civil, os peticionários requerem que o Supremo Tribunal Federal determine que Nelson Jobim, num prazo de cinco dias, declare não ser candidato a cargo eletivo em 2006. Caso contrário, esperam que renuncie ao cargo de Ministro, sob pena de ser denunciado por crime de responsabilidade, com base na Lei nº 1.079/50, que determina que o magistrado pode ser acusado por motivos de desídia que firam a honra no cumprimento dos deveres da função. Após a entrada da petição, o Desembargador Walter D’Agostinho, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, professor da Universidade de São Paulo, e o advogado Paulo Lopo Saraiva, membro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do
Norte, ingressaram, por meio de procuração, no processo de interpelação ao Ministro Nelson Jobim. O Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, recusou dar prosseguimento à interpelação judicial ao Presidente do órgão, para que ele se manifeste se é ou não candidato a cargo eletivo nas próximas eleições. Os signatários da interpelação recorreram ao plenário do STF, para que se manifeste sobre a propriedade do recurso regimental contra o Ministro Jobim. Em comunicado enviado à ABI, o Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, lamentou a decisão do Ministro Joaquim Barbosa de negar seguimento à interpelação judicial ajuizada em relação à conduta do Ministro Nelson Jobim na Presidência do STF. –– Segundo nosso patrono, advogado Ivan Nunes Ferreira, a argumentação do relator não procede, sob pena de nunca ser possível interpelar
um Ministro do STF, já que o Senado seria incompetente para a medida preparatória, que não poderia ter outro estuário que não o próprio STF. Ribeiro de Carvalho observou que o Ministro Joaquim Barbosa, em seu despacho, usou como argumento para negar o prosseguimento da interpelação judicial “um suposto descabimento da medida” porque à mesma poderia se seguir a formulação de pedido de impeachment no Senado Federal, pois ele entende que a competência do STF somente se caracterizaria se a interpelação tivesse como desdobramento uma ação de competência originária do Supremo. O Desembargador discorda dessa argumentação e conclui sua mensagem dizendo: — Se a intenção foi blindar o interpelado por meio de índole corporativista, o tiro saiu pela culatra, além de levar o Supremo a amargar o revés de uma mácula indesejável. O texto integral da petição de interpelação ao Ministro Nélson Jobim Poe ser lido no site da ABI: www.abi.org.br
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Jornal da ABI PROJETO Por José Reinaldo Marques namento adequado das peças documentais: — Nossa proposta de trabalho prevê, inicialmente, a recuperação da História Oral, que precisa ser tratada. Além disso, propomos a adoção de medidas de preservação e a produção de instrumentos de consulta e acondicionamento desse acervo importante da História do Brasil e do jornalismo — diz a Coordenadora do Setor de Documentação do CPDoc, Suely Fraga. A linha de acervo do novo Centro de Pesquisa e Documentação da ABI foi definida pela Diretoria, que incumbiu a Diretora de Jornalismo, Joseti Marques, de cuidar do assunto. Joseti diz que se sente muito honrada em participar do projeto e assinar, por determinação estatutária, este esforço de reativação do antigo Centro de Memória: — Ele foi idealizado por grandes jornalistas para ser um registro permanente dos fatos e personagens da imUma peça do acervo documental que a ABI quer preservar: visão da sua Biblioteca nos anos 40., quando ela ocupava um andar inteiro. prensa brasileira, mas infelizmente foi deixado ao abandono. Pretendemos reafirmar a importância deste espaço e reconstruí-lo de forma que se torne refratário à ação do descaso ou de más administrações, o que também esperamos que nunca mais venha a ocorrer na ABI. O Centro de Pesquisa e Documentação do Jornalismo Brasileiro e da Vida Contemporânea será uma versão atualizada do antigo Centro de Memória do Jornalismo Brasileiro, criado em 1978 como parte do processo de reorganização da Biblioteca Bastos TiABI entrou com um pedijornalística os seus direitos sem, congre, desativada na gesdo de apoio financeiro na tudo, ignorar o interesse público. tão de Celso Kelly, nos Caixa Econômica Federal, — A ABI — destaca Maurício — anos 60, devido à crise no âmbito do Programa tem esperança de obter recursos para financeira vivida pela Caixa de Adoção de Entidades Culdotar seu Centro de Documentação ABI, e hoje instalada turais, para o projeto de recuperação de uma estrutura e de meios para conno 12º andar do edifíPrudente de Moraes, neto numa foto de inestimável valor: de seu antigo Centro de Memória do duzir um trabalho da significação cio-sede da entidade. pelo retratado e pelo fotógrafo, o grande Walter Firmo. Jornalismo Brasileiro. Este passará a para a vida nacional, qual seja a doA Biblioteca ocupase chamar Centro de Pesquisa e Documentação da trajetória da História va todo o 8º andar, que foi então aluNunes, Álvarus, Prudente de Moraes, cumentação do Jornalismo e da Vida da Imprensa no Brasil, sem a qual é gado para gerar receita para a Associaneto, Ferreira Gullar, Odylo Costa, fiContemporânea e seus trabalhos seimpossível conhecer, em toda a sua ção, ainda que com grave prejuízo cullho, Joel Silveira, Breno Caldas, rão desenvolvidos com a colaboração plenitude, as origens e as lutas pelas tural e renúncia à idéia dos fundadoEdmundo Moniz, Samuel Wainer e do CPDoc (Centro de Pesquisa e Dotransformações econômicas, políticas res da ABI, que incluíram entre as finaAlberto Dines estão entre os que decumentação de História Contempoe sociais no País. lidades da ABI a manutenção de uma ram depoimento à ABI — algumas rânea do Brasil), da Fundação GetúCom a obtenção de patrocínio, a biblioteca aberta ao público. Com nogravações estão armazenadas no Mulio Vargas, mediante convênio a ser ABI pretende realizar a preservação vos recursos, foi implantado o Centro seu da Imagem e do Som. firmado após a obtenção de recursos. e o tratamento do seu patrimônio de Memória, cujo primeiro trabalho reO projeto é assunto prioritário Para o Presidente da ABI, Maurício documental formado por documengistrou A imprensa na década de 20, tepara a Diretoria da ABI, que busca Azêdo, a recuperação do Centro de tos textuais, iconográficos e sonoros ma escolhido, entre outros motivos, as condições necessárias para a preMemória da ABI é uma iniciativa de — estes incluem um acervo de cerca pela possibilidade de se obter depoiservação e difusão do acervo, procesfundamental relevância para a entide cem horas de entrevistas gravamentos de jornalistas que haviam traso que deverá ser executado em várias dade no sentido real da sua importândas com expoentes do jornalismo balhado em publicações daquele períoetapas, começando com o tratamencia e da sua missão institucional. Funbrasileiro. do. São preciosidades como essa que to do arquivo sonoro. Daí cogitar-se dada por Gustavo de Lacerda em 7 de Personalidades como Pompeu de precisam ser recuperadas e digitalizada colaboração do CPDoc, que ficaabril de 1908, a Associação tem como Souza, Barreto Leite Filho, Raimundo das, para que não se perca parte imria responsável pela análise da docuobjetivo principal assegurar à classe Magalhães Júnior, Adão Pereira portante da História do Brasil. mentação, a descrição e o acondicio-
UM NOVO CENTRO DE MEMÓRIA A ABI busca recursos para reativar seu núcleo de documentação, que possui um acervo de peças singulares e preciosas
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