Duas datas marcantes: Victor Civita, 100 anos; Ziraldo, 75 Comemorações exaltam o fundador da Editora Abril, que importou o Pato Donald, e o criador do Menino Maluquinho, 2 milhões de exemplares vendidos.Páginas 27 e 28
Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa
Jornal da ABI
317
GUILHERME PINTO /AG. O GLOBO
MARIA I GNEZ D UQUE E STRADA E A RMANDO N OGUEIRA
Ela ouviu celebridades para jornais; ele deu mais ética ao jornalismo da televisão Páginas 10, 11, 12 e l3; 18. 19, 20 e 21
FEDERAL AGE NA MOITA CONTRA TRÊS JORNALISTAS EXPEDIENTE DE EX-MINISTRO GERA INVESTIGAÇÃO EM SIGILO SOBRE PROFISSIONAIS DE ISTOÉ E VEJA. PÁGINA 15
UERJ DECLARA 2007 O ANO BARBOSA LIMA
TEMPOS DE GUERRA Assaltos e tiroteios freqüentes entre bandidos e policiais espalham mortes, terror e medo no Rio, O que mudou na cidade? Páginas 3, 4, 5 e 6 e Editorial na página 2
ABI PENSA O HUMOR O cartunista Ota fala sobre a crise dos quadrinhos na série Estação ABI. Página 24
Alberto Ferreira: uma lente que captou a dor e o virtuosismo de Pelé Vidas, Páginas 35
CÍCERO SANDRONI, BECHARA E PROENÇA FILHO FALAM SOBRE ELE NA BIBLIOTECA NACIONAL . PÁGINA 25
CLÁUDIO LEMBO, NOVO SÓCIO, VISITA A ABI EX-GOVERNADOR DE SÃO P AULO PERCORRE A C ASA E SE ENCANTA COM A B IBLIOTECA BASTOS TIGRE. PÁGINA 23
A GUERRA DO IRAQUE, PIOR QUE A DO VIETNÃ CONFLITO COM DURAÇÃO DE QUATRO ANOS MATOU MAIS JORNALISTAS DO QUE OS TREZE DO V IETNÃ . PÁGINA 17
Editorial
Barbárie à solta A POPULAÇÃO DO R IO E DE OUTROS CENtros urbanos do P aís, agora sem distinção se País, são grandes ou pequenos, tem recebido com estupefação e intranqüilidade as repetidas manifestações da violência e da criminalidade mais desaçaimadas, que romperam todos os limites do que é compreensível como ex ex-pressão da anormalidade humana e descambam para a bestialidade mais repugnante. A tragédia do pequeno João Hélio, arrastado até à morte por muitos quilômetros atado a um cinto de segurança do carro da mãe, é agora e ainda será por muito tempo mo mo-tivo de dor não apenas para sua família, seus pais e sua irmã, mas para todos quantos aspiram a viver numa sociedade civilizada em que os liames de solidariedade e de respeito recíproco entre as pessoas não sejam esgarçados como neste momento inundado de brutalidade que vivemos, no varejo e no atacado, a cada dia e na sucessão dos dias. A desumanidade presente nesse caso suscita preocupações que ultrapassam em muito os contornos de um caso policial. Essa carência de traços e sentimentos humanos é sintoma de que vivemos um momento em que numeroso segmento da sociedade está destituído e distante de valores essenciais à convivência coletiva. O desapreço à vida, a própria e a dos outros; a busca do prazer imerecido e da vantagem fácil; a generalização a níveis preocupantes da sensação de impunidade e a constância com que esta é
Associação Brasileira de Imprensa
escancarada ante o olhar indignado do conjunto da sociedade, com os pequenos e os grandes ladrões acobertados e premiados em vez de punidos; o desrespeito à coisa pública e o desconhecimento da noção de ser vir servir vir,, tudo isso oferece demonstração, sinais inequívocos de que a sociedade está do do-ente, muito doente, e não encontrará bálsamo em medidas que ignorem as fontes e as causas de sua falta de sanidade. Em declaração que ainda preserva extrema atualidade, eminentes juristas de São P aulo aler Paulo aler-taram em maio passado que estamos em meio à barbárie e que esta não será superada com truculência; somente será resolvida com mais civilização. Os meios de comunicação têm relevante missão a cumprir na difusão de conceitos que modifiquem esse adoentado estado de coisas; que promovam a socialização de preceitos que contribuam para que o respeito aos valores agora desdenhados alcance o conjunto da população, com uma eficácia que permita a redução paulatina, ainda que lenta e demorada, dos padrões abjetos de comportamento individual e coletivo que agora nos cobrem de opróbrio e de vergonha, por seu caráter degenerado, e sacrificam tantas vidas, cortando -as com cortando-as cega impiedade. O pequeno João Hélio merecia viver numa sociedade digna. Seus contemporâneos -- todos nós -- têm obrigação de construí-la.
Nesta Edição Especial Direitos Humanos - Sobra violência! Artigo: A peregrinação de José e Thereza pelos caminhos do mundo Maria Ignez Duque Estrada - A repórter de celebridades Ziraldo, 75 anos Cultura é com Gorgulho / Derengoski no Instituto Histórico Armando Nogueira - Seriedade e ética no jornalismo de tv Seminário abre o Ano Barbosa Lima Mil no ato pelas vítimas do Holocausto Victor Civita, 100 anos Nas livrarias o Graciliano de Audálio O jornal que fez a Independência Um canal de esportes, o dia todo / Tognozzi, nosso homem em Brasília Nossos mortos dão nomes a 10 ruas
3 8 10 18 19 20 27 28 29 30 31 32 33
SEÇÕES DIREITOS HUMANOS Delane, há um ano desaparecido LIBERDADE DE IMPRENSA Portugal deixa sua imprensa à míngua
Editor e colunistas de revistas sob ameaça da Polícia Federal Guerra do Iraque matou mais jornalistas do que a do Vietnã ACONTECEU NA ABI As propostas de Fruet Entre nós, Cláudio Lembo, nosso novo sócio Samba faz festa para Família Santa Clara Ota: A salvação dos quadrinhos VIDAS - Alberto Ferreira, Anísio Félix, Antônio José Chediak, Gerardo de Melo Mourão, Júlio Camargo 2
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
7 14 15 17 24 25 25 26 34
DIRETORIA – MANDATO 2004/2007 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Audálio Dantas Diretor Administrativo: – Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê) Diretora de Jornalismo: Joseti Marques CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura CONSELHO FISCAL Jesus Antunes, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento, Secretário; Adriano do Nascimento Barbosa, Arthur Auto Nery Cabral, Geraldo Pereira dos Santos, Jorge Saldanha e Luiz Carlos de Oliveira Chester. CONSELHO DELIBERATIVO (2006-2007) Presidente: Fernando Segismundo 1º Secretário: Estanislau Alves de Oliveira 2º Secretário: Maurílio Cândido Ferreira Conselheiros efetivos (2006-2009) Antônio Roberto Salgado da Cunha, Arnaldo César Ricci Jacob, Arthur Cantalice, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Augusto Xisto da Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória Suely Alvarez Campos, Heloneida Studart, Jorge Miranda Jordão, Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinho e Pery de Araújo Cotta. Conselheiros efetivos (2005-2008) Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira (in memoriam), Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho Conselheiros efetivos (2004-2007) Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura (in memoriam), Sérgio Cabral e Teresinha Santos Conselheiros suplentes (2006-2009) Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup, Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurélio Barrandon Guimarães, Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Oséas de Carvalho, Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza. Conselheiros suplentes (2005-2008) Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de Paula Freitas, Geraldo Lopes (in memoriam), Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães Conselheiros suplentes (2004-2007) Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Cândido Ferreira e Yaci Nunes COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Ely Moreira, Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José Ernesto Vianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Audálio Dantas, Presidente; Arthur Cantalice, Secretário; Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes
Jornal da ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar Telefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012 Rio de Janeiro - RJ (jornal@abi.org.br) Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício Azêdo Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Francisco Ucha Apoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar, Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna, José Ubiratan Solino, Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha. Diretor responsável: Maurício Azêdo Impressão: Gráfica Lance Rua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.
As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.
ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS
AGÊNCIA O GLOBO
SOBRA VIOLÊNCIA!
A sociedade assistiu com estupor neste começo de ano a ações criminosas de brutalidade estarrecedora, numa indicação de que a violência escapou ao controle do Poder Público e cresce não apenas em número, mas também em impiedade. Balas referidas como perdidas e assaltos à luz do dia atingem tanto as vitimas diretas dessas ações como o conjunto da cidadania, pelo qual se espalham medo e desassossego. Missa contra a violência no Centro do Rio de Janeiro
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
3
ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS
VLADIMIR, A SÉTIMA VÍTIMA Jovem professor de Educação Física, filho de um Conselheiro da Casa, é morto por suposta bala perdida quando, de madrugada, voltava para casa após uma noitada de trabalho. A ABI contesta o jargão de que se trata de balas perdidas: elas não são perdidas; partem de armas de criminosos e policiais que, desumana e irresponsavelmente, atiram a esmo, sem o menor respeito à vida e à integridade das pessoas. AGÊNCIA O GLOBO - DOMINGOS PEIXOTO
Creuza das Graças e Lênin Novaes, pais, e Nadja, irmã de Vladimir, choram ante o corpo do jovem professor, alvejado no tórax por uma bala impropriamente chamada de perdida.
4
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
D
esta vez a ABI e a comunidade jornalística do Rio, que faz a contabilidade sinistra da violência desalmada que campeia na Cidade e no Estado, foram atingidas diretamente na carne: o jovem professor de Educação Física Vladimir Novaes, de 28 anos, filho do Conselheiro da ABI Lênin Nova-
es, foi morto por uma suposta bala perdida quando, após uma noite de trabalho, voltava para casa numa Kombi de transporte coletivo. A violência golpeou Vladimir quando o veículo passava pela Avenida dos Democráticos, no subúrbio carioca de Manguinhos, cenário freqüente de enfrentamentos a tiros de revólveres, escopetas e metralhadoras travados entre si por quadrilhas e entre quadrilhas e policiais. Além de divulgar vigorosa nota de protesto, a ABI iniciou uma articulação entre entidades representativas da sociedade civil voltadas para a defesa dos direitos humanos, a fim de definir e programar iniciativas de repúdio à violência e para reclamar ações mais eficazes das autoridades do Estado do Rio e da União para contenção ou diminuição dos homicídios em série: Vladimir foi a sétima vitima nos três primeiros meses do ano das impropriamente chamadas balas perdidas. À frente da coordenação, com o coração ferido, está o companheiro Lênin Novaes, pai de Vladimir. A declaração da ABI foi a seguinte: “A ABI manifestou neste domingo, dia 25, seu pesar pela ocorrência de mais uma morte causada por bala perdida, desta vez tendo como vítima o jovem professor de Educação Física Vladimir Novaes de Araújo, filho de seu Conselheiro Lênin Novaes de Araújo e de Creuza das Graças de Oliveira. Vladimir, de 28 anos, foi ferido no tórax por uma bala que o atingiu no interior de uma Kombi quando o veículo trafegava de madrugada pela Avenida dos Democráticos, nas proximidades da Favela de Manguinhos, em Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Socorrido no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, não resistiu aos ferimentos. Vladimir voltava de um espetáculo de música popular e dormia quando foi baleado. Vladimir foi sepultado no Cemitério de Inhaúma no fim da manhã desta segunda-feira, dia 26, após uma vigília marcada por cenas de dor e desespero. Sua mãe, Creuza, teve de ser afastada do esquife e socorrida: sua pressão chegou a 28. Entre as centenas de pre-
sentes encontravam-se colegas de Vladimir no curso de Educação Física e em atividades esportivas, muitos dos quais choravam, inconsoláveis. A ABI fez-se representar na cerimônia por seu Presidente, Maurício Azêdo, e pelos Conselheiros Amicucci Gallo e Domingos Xisto da Cunha. Além de levar sua palavra de conforto ao jornalista Lênin Novaes de Araújo, a ABI considerou necessário expressar seu protesto diante da insegurança que afeta o dia-a-dia das pessoas comuns de todas as condições sociais, as quais não contam com um aparato eficaz de policiamento, para prevenir ocorrências que lhes causem lesões e padecimentos, nem com um sistema de investigação que conduza à identificação dos autores dos atos criminosos e permita a sua responsabilização penal. O jovem professor Vladimir foi a sétima vítima fatal de balas perdidas dentre as 29 alcançadas por disparos dessa origem somente neste mês de março. O que causa especial indignação, agravando o sentimento de dor pelo sacrifício de tantos inocentes, é a indiferença e o conformismo com que as autoridades da União, do Estado e do Município do Rio de Janeiro acolhem os repetidos casos de balas perdidas, como esse que vitimou o professor Vladimir, como se fosse natural, inelutável, a freqüência com que ocorrem os casos de balas impropriamente chamadas de perdidas. Essas balas não são perdidas; partem de armas de criminosos e de agentes policiais, que atiram a esmo, desumana e irresponsavelmente, sem o menor respeito à vida e à integridade física das pessoas. Perdida é a vergonha na cara daqueles que têm a obrigação funcional de garantir a segurança coletiva e se revelam incompetentes no exercício de encargo de tanta importância para a vida e o bem-estar da população.”
A MORTE DO MENINO JOÃO HÉLIO Dois textos que questionam as raízes da violência, como a do brutal assassinato do menino João Hélio, arrastado como uma coisa por mais de sete quilômetros, nos subúrbios do Rio, por assaltantes, um deles de 16 anos, que roubaram o carro de sua mãe, em cujo banco traseiro ele dormia. AGÊNCIA O GLOBO
O que aconteceu com a cidade cordial? POR V ILLAS -B ÔAS C ORRÊA
Um dos protestos contra a onda de violência no Rio: mil cruzes fincadas sobre a areia da praia de Copacabana, simbolizando as vítimas da criminalidade sem controle.
A
descarga emocional que misturou perplexidade, indignação, revolta e a sensação de absoluta impotência diante da brutalidade do assassinato do menino João Hélio buliu com a memória do veterano repórter, vergado ao peso de seis décadas de atividade ininterrupta e que acreditava que já não tinha mais nada de novo a ver nem de se indignar. Não cobri o setor policial. Nos tempos de iniciante na antiga A Notícia de Cândido de Campos e Silva Ramos a única sala da Redação definia o estilo de convivência e intimidade, sem as frias e sofisticadas divisões da era da informática, no jeito de salas de parto. Espremia-se no segundo andar de modesto prédio na Avenida Rio Branco, entre as Ruas da Assembléia e Sete de Setembro, com a carcomida mesa ao centro, cercada de cadeiras em que cada um se acomodava para redigir as matérias, nas laudas de sobras das bobinas, aparadas a facão, com canetas-tinteiro baratas, compradas nos camelôs. Ali, na sala sem baias e biombos, sabíamos de tudo que acontecia de importante no Rio, no Brasil e no mundo, inclusive os grandes crimes de violência passional, de sádica crueldade, do desatino do ciúme, das tragédias das traições nos desenganos do amor. E não amarguei o impacto que sombreou a vista, umedeceu os olhos, travou a garganta e disparou o coração como no tranco na alma do martírio do menino João Hélio. O que mudou tanto em 60 anos, nesga insignificante de tempo na história de uma cidade? A insônia que rola a madrugada revê o filme em preto e branco do Rio da perdida cordialidade, amorável, alegre, que envol-
via o forasteiro e o transformava em carioca de nascença. Para acudir as despesas da família espichei o dia e a noite e acumulei bicos em jornais, revistas, rádios e mais tarde na televisão. Como a maioria das Redações espalhava-se pelo Centro da cidade para a facilidade de acesso aos ministérios, autarquias, Senado, Câmara de Deputados, Câmara dos Vereadores, era a pé que cobríamos as distâncias no desafio da mocidade ao cansaço da estafante jornada diária. Por muitos anos trabalhei no finado Diário de Notícias, instalado em sobrado colonial na Rua da Constituição, que cruza a Praça Tiradentes. Na sala de reportagem política, em cima da fornalha das rotativas, aprendi com uma equipe fabulosa, que ilustra a crônica da imprensa e da cidade: Prudente de Morais, neto, o Pedro Dantas, Heráclio Salles, Pedro Gomes e, na cobertura parlamentar, José Wamberto e Castelo Branco. Depois de horas de busca da notícia no Palácio Tiradentes, sede da Câmara de Deputados, do Senado no Palácio Monroe, derrubado pela estupidez, o serão entrava pela noite e pela madrugada. Nunca antes da uma, duas horas descíamos os
degraus da velha escada rangente. À porta, os grupos buscavam seus caminhos. Com o Odylo e o Heráclio repetíamos a caminhada darotina,atravessando aPraça Tiradentes, descendo a Rua da Carioca até o Tabuleiro da Baiana para esperar o bonde do horário incerto. E jamais nos passou pela cabeça medo, o simples temor de assalto, roubo, violência ou desacato. A cidade era nossa. Do povo. Do transeunte rico, pobre ou remediado; adulto, homem, mulher ou criança. Quando do lançamento de O Dia, com as prerrogativas de fundador, criei os Comandos Parlamentares, de enorme sucesso popular. Com dois ou três deputados e senadores convidados, todas as quartas-feiras partíamos de manhã da sede do jornal para as visitas de surpresa aos endereços previamente escolhidos e que prometiam matérias de repercussão. Com senadores e deputados subi dezenas de favelas nos quatro cantos da cidade. Sem aviso prévio. Descíamos da camionete do jornal, com o fotógrafo, caminhávamos diretamente até a birosca para o dedo de prosa. Logo se aproximava o chefe do local, geralmente o bicheiro e/ou também presidente da associa-
ção comunitária. E, sem pedir licença, subíamos pelos becos e vielas acompanhados por moradores. Nunca fomos barrados, interrogados, suspeitados. O que corrompeu a cidade cordial e fraterna em seis décadas? Não faltam explicações de sociólogos e palpiteiros. Buscam justificativas as mais óbvias ou sofisticadas, da invasão das drogas e o domínio do traficante que expulsou o bicheiro à implosão populacional e suas variantes. E ainda a passividade, a indiferença, a abulia de governos, partidos, candidatos que descobriram a mina de votos nas favelas, vilas, invasões espalhando a praga do populismo. E mais a implosão dos profissionais do voto e gigolôs da miséria, do crime organizado, das favelas, da juventude perdida. O menino João Hélio Fernandes é a última vítima da falência do governo, do descalabro moral do Legislativo, da sociedade emparedada nas jaulas gradeadas das casas e apartamentos. Somos todos culpados. Transcrito de A Voz da Serra, de Nova Friburgo, edição de 17 a 21 de fevereiro de 2007, página 8. Publicado originalmente com o título Memórias de velho repórter.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
5
ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS
AGÊNCIA O GLOBO
O que gera assaltantes sem alma?
Uma imagem que comoveu o País: João Hélio, com a suavidade de um anjo, desfruta do carinho dos pais, Élson e Rosa Cristina Vieites, que suportam com ânimo forte a dolorosa provação sofrida.
POR JOSETI MARQUES
A
brutalidade do crime que tirou a vida do menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, chocou o País e tem demonstrado a força e o vigor da sociedade quando se reúne em torno de um determinado objetivo e encontra a solidariedade da mídia. O conceito de sociedade transmuta-se para o de opinião pública, que se diferencia do primeiro por ser um bloco de cidadãos articulados de forma crítica em torno de uma idéia que se propõe como alternativa ao que está estabelecido. O que dá a esta parcela da sociedade os contornos de poder para fazer valer seus argumentos é a visibilidade que a mídia em geral, e a imprensa em particular, dão aos seus clamores, traduzindo-os em manchetes contundentes, edições fortes, depoimentos emocionais, opiniões críticas, ampliando a dramaticidade da realidade e legitimando os apelos por medidas específicas. Neste momento, a imprensa é a própria opinião pública. Está em seu papel e é a ela que devemos perguntar, amplificando suas premissas técnicas para colocá-la no mesmo diapasão da indignação da sociedade e da dimensão da tragédia: ouviu os dois lados? O princípio do contraditório é, para o jornalista, uma velha bússola que ajuda a não errar o caminho que conduz à imparcialidade e à isenção possíveis. Nesta altura dos acontecimentos, as personagens da história já não são mais as mesmas; os lados já não são os mesmos, separando assassinos e vítimas, mas os dois lados da realidade que os produziu. A cena do crime agora é outra, mas a imprensa parece não se ter dado conta. Está ainda de plantão na delegacia. Perdeu a bússola. Que os políticos respondam apenas em uma direção para atender os clamores da opinião pública é compreensível. Afinal, a opinião pública tem o poder de destituí-los! Mas a imprensa não pode esquecer o outro lado da questão e seguir de antolhos nos agendamentos que vêm mirando apenas o aprofundamento da punição como solução para um problema, como se o assassinato de
6
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
João Hélio fosse caso único, com bandidos exclusivos, numa espécie de exceção à normalidade das relações humanas nestes tempos. A velha técnica de humanizar a reportagem oferecendo a descrição do ambiente e ouvindo suas personagens tem como premissa básica oferecer à opinião pública o máximo de elementos para que ela se manifeste de maneira sensata. Neste caso, seria aconselhável que a reportagem voltasse à cena do crime. Quem são os pais dos criminosos? Como estão se sentindo diante da constatação de que seus filhos são "monstros"? Que contexto social os cerca? Que expectativas um dia tiveram diante da vida? Como seus filhos se tornaram "monstros"? Sim, porque um dia eles também tiveram seis anos e é muito pouco provável que já fossem pervertidos. Este é o outro lado da história. Por isso convém voltar à cena do crime, agora que ninguém mais se interessa pelo local. A imprensa poderá encontrar outros comparsas, quase mandantes, da brutalidade que vitimou João Hélio: vai encontrar ruas sujas de subúrbio, porque lá os garis só passam de quando em vez; vai encontrar pedaços de ruas, em meio a buracos que ao longo de muitos anos nunca foram tapados; vai encontrar ruas às escuras e crianças assustadas pelo fantasma concreto da violência, do estupro; vai encontrar casas velhas, quase escombros, porque o empobrecimento é um fato inexorável na região; vai encontrar desempregados sem perspectivas, assediados pelo alcoolismo; vai ver mães com filhos doentes de madrugada, à espera da condução que não vem para levá-la ao hospital que inúmeras vezes não a atenderá; vai ver favelas onde se vota em grupos de milicianos, porque é o que há. Vai ver que não são apenas os carros de polícia que não passam por lá. A morte do pequeno João Hélio não pode servir apenas para colocar mais alguns bandidos na cadeia. Pensem nas crianças pobres inocentes! O chamado jornalismo investigativo não é autarquia da Secretaria de Segurança Pública; não
está para perseguir bandidos e botar gente na cadeia. Investigar números, estatísticas e indicadores sociais também deveria render matérias importantes, que certamente levariam a criminosos contumazes e historicamente impunes. Os dados mais recentes da publicação Radar Social, do Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, dão conta de que, no Brasil, 30% da população (52,5 milhões de pessoas) são pobres, vivendo com até meio salário-mínimo por mês. Os indigentes, estes sobrevivem com menos de ¼ de salário mínino (R$ 87,50) por mês e são 11,3% da população - 19,8 milhões de pessoas! Que os políticos declarem que a solução está na esfera da Justiça e da Polícia, não é de se espantar. Provavelmente não estarão no mesmo lugar quando rebeliões em presídios superlotados de crianças e adolescentes produzirem manchetes no futuro. Há 36 anos, Vinicius de Moraes, Garoto e Chico Buarque compuseram uma música que descrevia o começo da decadência e da miséria que hoje se abate sobre o subúrbio do Rio. A letra fala de "casas tristes, com cadeiras na calçada, e na fachada escrito em cima que é um lar". E concluíam emocionados: "é gente humilde, que vontade de chorar". A imprensa também não pode perder a capacidade de se emocionar; não pode aderir à resposta fácil e deixar de ouvir o outro lado, mesmo à custa do exercício difícil de se indignar sem perder a razão. Joseti Marques é Diretora de Jornalismo da ABI.
FAMÍLIAS ENLUTADAS RECLAMAM MUDANÇAS Entidades que representam famílias e vítimas de chacinas vão ao Governador. Grupos de parentes de vítimas de chacinas no Rio encaminharam mensagem ao Governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho, exigindo mudanças na área de segurança pública, que alegam não inspirar confiança. O texto do documento, assinado por 12 organizações não-governamentais representantes das famílias, pede que o novo Governador inclua o Ministério Público do Rio de Janeiro nas ações integradas de "combate à violência e às milícias (mineiras) que atuam há uma década no Estado". Em sintonia com o discurso do próprioGovernadorquandoestavaemcampanha, os solicitantes destacam, alegando experiência própria, que o Rio precisa de polícia técnica sem indicação política. Afirmam que o fato de passarem uma década freqüentando órgãos ligados à área no Estado (como ouvidorias, delegacias e batalhões da PM) fez de cada um deles, “vítimas diretas da violência, especialistas em segurança pública". Assinam o documento as organizações Mães e Familiares da Chacina do Maracanã, Grupo Mães do Rio, Ong Questão de Honra, Mães da Cinelândia, Familiares da Chacina da Candelária, Mães da Chacina do Via Show, Familiares e Vítimas da Chacina de Queimados, Desaparecidos de Vigário Geral 2005, Associação de Moradores de Vigáro Geral, Associação de Familiares e Amigos das Vítimas de Violência (Afavi) e Cadec.
Direitos humanos Juíza enquadra vereador pela morte de jornalista Ajuricaba Monassa foi assassinado em Guapimirim, em 2006. A Juíza de Direito da Vara Única de Guapimirim, Myriam Therezinha Simen Rangel Cury, acatou a denúncia da Promotora Marceli Navega contra o Vereador Osvaldo Luiz de Carvalho Vivas pela morte do jornalista Ajuricaba Monassa, ocorrida no dia 24 de julho de 2006 naquele Município do Estado do Rio. Em seu despacho – proferido no Processo número 2006.073.001819-3 –, a Juíza manteve o enquadramento do réu no artigo 129, parágrafo 3º, do Código Penal, que define o crime de lesão corporal seguido de morte, cuja pena pode chegar a até 12 anos de reclusão. O inquérito que apurou a morte do jornalista Ajuricaba Monassa foi concluído em 9 de agosto de 2006 pelo Delegado Luiz Carlos dos Santos, titular da 65ª Delegacia de Polícia. No dia 4 de outubro, a Promotora Marceli Navega denunciou o vereador.
Varig deu prioridade aos caciques O Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro começou a investigar em janeiro denúncia de que houve pagamento de indenização por rescisão contratual, com privilégios, a funcionários da antiga Varig ocupantes de cargos de gerência e de direção. A informação chegou à ABI e foi confirmada pelo Procurador do Trabalho João Hilário Valentim, um dos responsáveis pela investigação. Revelou o Procurador que o MPT recebeu denúncia anônima e a cópia de documentos que comprovam que 20 funcionários, que já estão trabalhando na Nova Varig, receberam a indenização. Um gerente teria recebido R$ 145 mil, enquanto 9 mil funcionários continuam sem indenização: – O Ministério Público do Trabalho está investigando a identidade desses funcionários que teriam sido privilegiados com o pagamento de rescisão. –Estamos apurando valores e quando e como os pagamentos foram realizados, para adotar as medidas judiciais cabíveis para o caso – disse João Valentim. Se forem confirmadas as denúncias, caberá ao Ministério Público do Trabalho pedir ao Juiz Roberto Ayoub, titular da 33ª Vara Empresarial e responsável pelo processo de reestruturação da Varig, que seja aberto processo por danos morais e o ressarcimento do montante pago.
Delanne, há um ano desaparecido Ao se completar, em 16 de março, um ano do desaparecimento de Roberto Delanne, a ABI, o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos dos Negros-Comdedine, a Edições Condão e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB-Leste 1 realizaram o ato Delanne, um ano de tortura social, para cobrar das autoridades do Estado do Rio esclarecimentos sobre o que aconteceu ao jornalista, professor e escritor Roberto Delanne. Entre as instituições promotoras do evento estavam o jornal Tribuna da Imprensa, o Instituto Nacional e Órgão Supremo Sacerdotal da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, a Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro e o Grupo Tortura Nunca Mais. O protesto aconteceu na Sala Belisário de Souza, na sede da ABI. Em documento encaminhado à ABI, em que pediram a adesão da Casa ao ato, os organizadores reclamam da omissão das autoridades policiais. Eles alegam que, em entrevista realizada em 25 de maio de 2006, o Comissário Domingos de Souza Lopes, então lotado na 62ª DP, informou que um dos depoentes sabia mais do que declarou à polícia.
Roberto Delanne morava em Santa Lúcia, no Município de Duque de Caxias, RJ, onde foi visto pela última vez. De acordo com a ocorrência registrada na 62ª DP, uma testemunha afirma que viu o jornalista na noite do seu desaparecimento e que ele teria dito que iria ao Centro de Tradições Nordestinas, no bairro de São Cristóvão, no Rio. Depois disso não houve mais notícias sobre o seu paradeiro.
Um memorial para as Ligas Camponesas Paraibanos criam instituição destinada a exaltar a memória dos que lutavam no começo dos anos 60 pela reforma agrária. Em mensagem à ABI, o escritor paraibano Agassis Almeirda comunicou a criação na cidade de Sapé de um memorial destinado a exaltar a memória dos trabalhadores que, reunidos nas Ligas Camponesas, lutaram pela reforma agrária nos anos que precederam ao golpe militar de 1º de abril de 1964. Entre os homenageados destaca-se o líder camponês João Pedro Teixeira, fundador da Liga Camponesa de Sapé, assassinado em 1962 por latifundiários. Diz a comunicação de Agassis Almeida: • “A história das Ligas Camponesas na Paraíba e sua importância para o País estão sendo resgatadas com a fundação do Memorial das Ligas Camponesas, em Sapé, núcleo do movimento que marcou a luta contra as injustiças sociais desde a década de 60. A organização não-governamental que tem também por objetivo fazer justiça à memória daqueles que deram a vida na luta pelos direitos dos trabalhadores foi inaugurada no domingo, dia 7 de janeiro, no Centro Social da cidade de Sapé. O evento contou com ampla participação da comunidade sapeense e de líderes sindicais. Na ocasião foram homenageados o escritor e Deputado constituinte Agassiz Almeida, cassado pelo golpe militar de 64, a líder camponesa Elizabete Teixeira, viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, e o exDeputado Assis Lemos. Eleita a nova diretoria da organização, foi escolhido presidente o líder camponês Eduardo da Silva Costa, que ressaltou a importância de resgatar para a História o trabalho, a luta e o sacrifício daqueles que abraçaram há quase meio século as lutas dos trabalhadores do campo sob a bandeira das Ligas Camponesas e que por estas lutas perderam liberdades e vidas. • Em 2 de abril de 1962, João Pedro Teixeira, um dos fundadores das Ligas
Diante de Elizabete Teixeira, viúva do líder camponês assassinado, Agassiz evoca as lutas de 1962.
Camponesas, foi covardemente assassinado pelos latifundiários da Várzea do Paraíba. No outro dia, 3 de abril, a Paraíba e o País ouviram a palavra inflamada do jovem Deputado Agassiz Almeida, um dos homenageados no evento, da tribuna da Assembléia Legislativa, contra os covardes latifundiários. Na Assembléia Constituinte de 1986 estava lá aquele mesmo jovem defendendo os trabalhadores do País. O ex-Deputado Assis Lemos relembrou os esforços dos camponeses no início da década de 60. Elizabete Teixeira relatou todo o martirológio e a luta de João Pedro Teixeira em defesa dos camponeses. • Usando da palavra na inauguração do Memorial, o escritor Agassiz Almeida exaltou o trabalho daqueles que estão a resgatar a história das Ligas Camponesas, genes dos quais se originou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Continuando, disse Agassiz: 'O País vive uma melancólica hora em que o povo perdeu sua capacidade de indignação. As
injustiças mais brutais desabam contra a população e ela se queda passiva sem nenhum protesto'. • Quarenta e cinco anos nos separam do assassinato de João Pedro Teixeira. O jovem indignado de 1964, o então Deputado Agassiz Almeida, que está hoje carregando os mesmos ideais através de livros como 500 anos do povo brasileiro (Paz e Terra, 2001) e República das elites (Bertrand Brasil, 2004) editados para todo o País, relatou ainda que 'diante dessa falência total de valores políticos e morais da nação, a inauguração do Memorial das Ligas Camponesas marca alta significação: reconhece aqueles que deixaram nas suas lutas momentos de resistência'. • Encerrando a sessão, usou da palavra um dos líderes do movimento operário na Paraíba, o Vereador Garibaldi de Sousa Pessoa, um dos coordenadores do evento. Ele disse que “a bandeira de 64 das Ligas Camponesas será bem defendida nas mãos dessa entidade.” Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
7
DRAMA
A peregrinação de José e Thereza pelos caminhos do mundo Em artigo especial para o Jornal da ABI, o jornalista e acadêmico Murilo Melo Filho evoca a tormentosa trajetória do jornalista José Maria Rabelo e sua mulher, Thereza, após o golpe militar de 1964, que eles narram no livro-testemunho Diáspora – Os longos anos do exílio.
Estávamos nos idos de 1960: eu na Manchete do Rio e José Maria Rabelo no Binômio de Belo Horizonte, em campos distantes, mas unidos por fortes laços de comum estima, respeito e admiração. Sobrevieram os anos de chumbo de 1964, quando ele foi vítima de uma covarde agressão no interior do Binômio, seu jornal: o General Punaro Bley, de triste memória, denunciado pelo seu passado de nazista como interventor no Espírito Santo, levou desvantagem na agressão física, mas vingou-se logo depois, enviando uma expedição punitiva, de 200 soldados do Exército e da FAB, que reduziram a pó as máquinas do jornal. No melhor estilo hitlerista. Caçado como o inimigo nº 1, José Maria conseguiu, numa fuga rocambolesca, vir de Belo Horizonte até à Embaixada da Bolívia, no Rio, cujo embaixador, convencido, entre outros, por Hélio Fernandes, concedeu-lhe o asilo. Embarcou para La Paz, onde Juan Lechín, um sofrido revolucionário boliviano, vendo-o ansioso por voltar ao Brasil, tranqüilizou-o: “Tive companheiros que morreram na angústia e na ilusão de poderem voltar imediatamente. A volta tem a sua hora, que não pode antecipar, porque não depende de você. E olhe que posso falar do assunto, pois já estive exilado oito vezes...” No altiplano da Bolívia, a mais de quatro quilômetros acima do nível do mar, morou inicialmente num apartamento com os jornalistas Neiva Moreira (Diários Associados) e Carlos Olavo da Cunha Pereira (de O Combate, de Governador Valadares), além do alemão Kurt e de José Serra, ex-Presidente da Une, e, depois, secretário do Planejamento de São Paulo, deputado-constituinte pelo PMDB paulista, senador do PSDB, ministro da Saúde e atual Governador de São Paulo. Como a Bolívia era um país onde só havia hora certa para golpes, Estenssoro foi derrubado por Barrientos e, em menos de um ano, José Maria teve de exilar-se novamente, desta vez, noutra angustiada viagem, que levou dois dias, de La Paz a Antofagasta. Em Santiago, integrou o grupo de Adão Pereira Nunes, Paulo Freire, José Serra, Artur da Távola, Almino Afonso, Paulo de Tarso, Plínio Sampaio, Darci Ribeiro, César Maia, Francisco Weffort, 8
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
DIVULGAÇÃO
P OR M URILO M ELO F ILHO
José Maria e Thereza num momento de carinho: 15 anos de exílio que eles contam num livro sem exageros.
Ib Teixeira e Lício Hauer, entre outros. Aonde quer que fosse, os tentáculos da ditadura militar buscavam alcançá-lo. Não tinham qualquer assistência da Embaixada. Antes, pelo contrário. Cinco anos depois, 4 de setembro de 1970, Frei não conseguiu eleger o seu candidato Alessandri, derrotado por Allende, que, no dia 11 de setembro de 1973, justamente três anos depois de um governo convulsionado por greves e uma inflação galopante, era deposto e morto, com uma metralhadora na mão, dentro do palácio La Moneda, incendiado. O nome de José Maria constava de uma lista “de morte”, na qual figuravam Luis Corvalán, Carlos Altamirando e Clodomiro Almeyda. Um dos seus filhos, Pedro José, de 17 anos, levado para o Estádio Chile, viu-se durante três meses torturado e submetido a simulacros de fuzilamentos, com descargas e tiroteios ouvidos à distância. O asilo na Embaixada do Panamá foi simplesmente dantesco: num apartamento de 150 metros quadrados, comprimiam-se 300 asilados, entre os quais 22 crianças, 24 gestantes, três epilépticos e um hemofílico, o nosso Betinho, com a média de quase três pessoas por metro quadrado então disponível. A área de serviço, com seis metros quadrados, foi reservada aos fumantes. Havia apenas dois banheiros: um destinado às crianças, às gestantes e aos doentes. O outro, ao resto, para cujo
uso as filas exigiam três horas de espera. Aquela foi uma vivência assaz dolorosa, mas ao mesmo tempo uma ambiência que produziu enormes e sólidas amizades. Depois, novo exílio - desta vez, e ainda,nacatarsedoseucalvário-paraaFrança, com um vôo de 20 horas, via Lima, Guaiaquil, Bogotá, Caracas e Lisboa, até Paris. Sempre ao lado de sua mulher, Thereza, e dos seus sete filhos, Álvaro, Pedro, Mônica, Patrícia, Hélio, Fernando e Ricardo, José Maria iria enfrentar a terceira adaptação a um novo país, de idioma, hábitos e costumes diferentes, mas no convívio de muitos outros brasileiros: Josué de Castro, Waldir Pires, Heron de Alencar, Leite Lopes, Luís Hildebrando, Raul Ryff, Edmundo Moniz, Márcio Moreira Alves, Celso Furtado, Roberto Las Casas e Mário Pedrosa, entre outros. Já sob o governo de Mitterrand, o seu faro de empresário transformou num sucesso a Livraria de Língua Espanhola e Portuguesa, em pleno Quartier Latin, como centro cultural de irradiação brasileira, por cujo Auditório Gil Vicente desfilaram grandes nomes ibero-americanos: o paraguaio Roa Bastos, o argentino Júlio Cortázar, o peruano Vargas Llosa e o nicaragüense Ernesto Cardenal, além do
português José Saramago. Mas desligou-se dela, dia 31 de dezembro de 1978, ao divergir de um grupo sob a chefia de outro brasileiro, transformado em próspero empresário ligado à empreiteira Mendes Júnior no projeto da construção de uma rodovia na Mauritânia. José Maria já vivia aí, em 1979, com a expectativa da anistia, a esperança do retorno ao Brasil, após 16 anos de um penoso exílio. Repetia Manuel Alegre, o grande poeta português: “Pergunto ao vento que passa/ Notícias do meu país. O vento cala a desgraça/ O vento nada me diz”. Como iria reencontrar o Brasil? De que forma seria recebido? E compôs estas poucas linhas marcadas por uma profunda ansiedade: “Mais do que a partida, o que dói é a volta, quando você não sabe, ao certo, se está voltando, ou novamente partindo”. Sob o prisma da crítica literária, este é um depoimento objetivo e simples escrito por um jornalista, no seu universo kafkiano, sobre a odisséia vivida por centenas de escritores, estudantes, jornalistas, professores e cientistas, que, como nômades, se espalharam pela Europa e pelas Américas do Sul e do Norte. Impávido, determinado e escorreito, José Maria desfila tudo isto aos olhos do leitor, no viés de um texto escrito com correção e dignidade, sem exageros, transbordamentos, excessos, sentimentalismos ou ambições intelectuais, muito menos sem pretensões a la Maurois, Brecht, Neruda, Rui ou Zola, do Capitão Dreyfus. As 250 páginas deste Diáspora – Os longos anos do exílio, escrito de parceria com a mulher Thereza Rabelo, encerram sobretudo lições da saga de um exilado coerente e sincero, que soube, com a família unida sob sua liderança, mapear com altivez a malaise do desterro, do banimento e da proscrição e pagar o altíssimo tributo da fidelidade às suas opiniões e credos políticos.
MURILO MELO FILHO é jornalista, acadêmico e escritor, autor do livro Testemunho Político, membro do Pen Club, da União Brasileira de Escritores–UBE e da Academia Brasileira de Letras e sócio da ABI.
VEM AÍ O
NA CAIXA VOCÊ CONSEGUE O Feirão CAIXA da Casa Própria é a melhor solução para você comprar seu imóvel novo, usado ou na planta, construir e reformar com as melhores condições do mercado. • Você tem até 20 anos para pagar • As prestações são decrescentes • A CAIXA financia até 100% do valor do imóvel • Você pode usar o FGTS • Você pode usar a renda familiar Vem pra casa própria você também. Vem.
an_fase 1_27x35.indd 1
18/5/07 4:34:33 PM
DEPOIMENTO MARIA IGNEZ DUQUE ESTRADA
Y
úri Gagárin. Ted Kennedy, Jean-Paul Sartre, John dos Passos, Graham Greene, Marlene Dietrich, Leonel Brizola e Carolina Maria de Jesus foram algumas personalidades entrevistadas pela jornalista Maria Ignez Duque Estrada Bastos, que começou a carreira, ainda como estagiária de Belas-Artes, ao fazer estágio na Tribuna de Imprensa, assinando a coluna de artes plásticas, e depois foi para o Diário Carioca. Militante contra a ditadura, foi presa e interrogada no Doi-Codi e na PE, trabalhou na Petrobrás, mas voltou ao jornalismo, como setorista no Galeão, simultaneamente, da Ultima Hora, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio. Tradutora de autores americanos e franceses, Maria Ignez relembra os tempos de Redação com poucas repórteres mulheres e fala sobre seu namoro com Carlinhos de Oliveira e sua simpatia por Cuba e Fidel Castro.
nalista, havia Jornal da ABI — Quando você estreou como jor jornalista, poucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade? Maria Ignez Duque Estrada — Na época, a presença das mulheres no mercado de trabalho e o movimento feminista começavam a se refletir na imprensa. Lembro-me, inclusive, de uma passagem interessante. Em 1960, cobri uma palestra do Sartre, que, com a Simone de Beauvoir, passou pelo Brasil vindo de Cuba. Foi no auditório da Faculdade de Filosofia da UFRJ, que ficava ao lado da Maison de France. Eu estava com 20 anos. Depois, soube que o Vladimir Herzog — que tinha a mesma idade — estava ali também, grudado no Sartre, como repórter do Estadão. Eu já sabia quem eram Sartre e Simone de Beauvoir, cujo livro O terceiro sexo foi fundamental para a minha formação. Jornal da ABI — Na primeira Redação em que você trabalhou, da T ribuna, havia outras mulheres jor nalistas? Tribuna, jornalistas? Maria Ignez — Sim, a começar pela Hilde Weber, excelente chargista política e maravilhosa figura humana, e a Clecy Ribeiro, que depois foi minha colega na Internacional do JB. Jornal da ABI — Você recorda como foi a sua estréia na Redação? Maria Ignez — Minha chegada à Tribuna foi muito engraçada, porque eu comecei assinando uma coluna. Mas antes tenho que contar uma história. Eu tinha 18 anos, uma boa cultura, gostava de desenhar e ia estudar Arquitetura. Mas peguei uma segunda época justamente numa matéria de que gostava muito, Matemática, porque chegava atrasada na aula, às 7h, no Pedro II da Avenida Marechal Floriano. nal? Jornal da ABI — Que é que isso teve a ver com o jor jornal? Maria Ignez — Não pude fazer o vestibular para Arquitetura, mas fiz exames para a Escola Nacional de Belas-Artes, que, naquela época, não exigia secundário completo, só o ginásio. Passei em segundo lugar e, enquanto cursava Belas-Artes, terminei o terceiro ano científico. Foi então que um colega, Marius Lauritzen Bern, me levou para a Tribuna.
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 10 Jornal da AB
Setorista do Aeroporto Internacional do Galeão no começo da vida profissional, Maria Ignez tropeçava em personalidades, como Marlene Dietrich, John dos Passos, Ted Kennedy. As entrevistas eram rápidas, “pouco passavam de banalidades”, diz. ENTREVISTA A JOSÉ REINALDO MARQUES
nalista? Jornal da ABI — Ele também era jor jornalista? Maria Ignez — O Marius, que morreu há poucos meses, foi um artista que merece reconhecimento. Era excelente fotógrafo, desenhista e pintor e foi ilustrador da Tribuna. O jornal estava precisando de uma colunista de artes plásticas. Como eu conhecia um pouco de artes e escrevia direitinho (tive excelente curso primário), aceitei a função. Estreei com uma coluna assinada, mas naquela época não havia tanto glamour na função de colunista. Eu fazia um noticiário, dava algumas notícias do exterior, e pronto. Quando decidiram acabar com a seção, me passaram para a Geral. Jornal da ABI — Essas são as melhores lembranças que você tem da Tribuna ? ribuna? Maria Ignez — Minhas memórias do prédio da Rua do Lavradio são muito loucas.
Jornal da ABI — Pelo visto era um ambiente muito divertido... Maria Ignez — Uma vez quiseram me pregar uma peça: trouxeram um rato para a Redação e o levaram atrelado a um barbante, andando pelo chão, até o lado da minha mesa. Todo mundo na expectativa. Só que eu, que gosto muito de bichos, peguei o rato, que passeou pelos meus ombros, e mandei que o levassem de novo para o lugar dele, na oficina. Isto foi registrado numa crônica do Carlinhos Oliveira, que infelizmente não tenho.
Maria Ignez — Não sei disso, não. Se fosse verdade, ficaria muito feliz, porque acho Hemingway um escritor extraordinário. Na verdade, acho que nunca falamos sobre como eu escrevia, nada disso. Conversávamos sobre literatura, arte, coisas assim. E bebíamos também. Íamos à casa de amigos como Mário e Mary Pedrosa, Ferreira Gullar e Teresa Aragão, Reinaldo Jardim e Edelweiss. Um tempo lindo, pessoas lindas. E tinha os bares, muitos bares. Nisso eu me parecia com Hemingway, mas bebia com moderação e não dirigia... não tinha carro.
Jornal da ABI — Como era a sua relação com o Carlinhos Oliveira? Maria Ignez — Eu conheci o Carlinhos na Tribuna, e ele ficou me cortejando; mandava bilhetes lin-
Jornal da ABI — Você trabalhou no JB, no Jornal do Commercio e na Última Hora ao mesmo tempo. Como conseguiu fazer isso? Maria Ignez — Eu saí do Diário porque não pagavam,
“Nada me faz mais feliz do que uma roda de samba e um partido-alto.”
Jornal da ABI — Como assim? Maria Ignez — É muito engraçado pensar no que era uma Redação de jornal naquele tempo e o que é hoje, em termos de decoração. Era uma bagunça, mas ótima e alegre.
Jornal da ABI — Você chegou a ser apresentada ao acerda? Lacerda? Carlos L Maria Ignez — Ele não estava no Brasil, quem dirigia o jornal era o Aluisio Alves. Além da Hilde, tinha o Newton Carlos, Carlos Lemos, Zuenir Ventura (responsável pela pesquisa e arquivo), Hermano Alves, Hilcar Leite, que foi meu primeiro professor de Jornalismo, e a Clecy. Jornal da ABI — Você se lembra das suas primeiras reportagens? Maria Ignez — Lembro-me bem de uma das minhas primeiras matérias. Millôr Fernandes fazia uma grande exposição no MAM e eu fui entrevistá-lo em seu apartamento, na praia de Ipanema. Quando estava chegando, começou a chover e foi piorando. O guarda-chuva não adiantava de nada. Podia ter desistido e deixado para outro dia. Mas eu era muito caxias e fui até o fim, entrevistando o Millôr, molhada feito um pinto, com o guarda-chuva escorrendo água num canto da sala.
dos. Uma vez minha mãe viu um e detestou, principalmente porque os bilhetes eram escritos a máquina, em laudas do jornal. Para ela, bilhete de amor tinha que ser escrito a mão. Alguns desses bilhetes eu dei ao Jason Tércio, que escreveu uma biografia do Carlinhos intitulada Órfão da tempestade. Carlinhos era uma pessoa muito especial. O que me encantou nele antes de tudo foi o senso de humor. Ele era muito engraçado. Também havia o nosso gosto comum por literatura. Lembro-me dele recitando Baudelaire... Nosso namoro começou no Diário Carioca e terminou quando fui para o JB. Foi aí que começou a minha paixão pelo samba e suas agremiações, que me acompanha até hoje. Nada me faz mais feliz do que uma roda de samba e um partido-alto. Jornal da ABI — Saiu publicado recentemente num nalístico que Carlinhos Oliveira, quando lia jornalístico site jor seus te xtos, a comparava a Hemingway ... textos, Hemingway...
davam vale. Dizia-se que algumas pessoas recebiam geladeiras e outras coisas cedidas pelos anunciantes. Então, resolvi fazer concurso para a Petrobrás, onde trabalhei durante pouco mais de um ano, mas voltei para a redação, fazendo frila para UH, JB e Jornal do Commercio, como setorista do aeroporto do Galeão, porque falava um pouco de francês e de inglês. O problema era que não podia escrever a mesma coisa para os três jornais, tinha que dar uma redação diferente a cada matéria. Minha base se alternava entre a UH, onde também tive colegas muito estimados, como Haroldo Wall, que foi para Cuba, e o JB, onde acabei ficando. Jornal da ABI — Das diversas personalidades innacionais que entrevistou, qual foi a mais inteternacionais ter ressante? Maria Ignez — As entrevistas feitas no Galeão eram em geral muito rápidas, pouco passavam de banalidades. Digamos que cruzei com grandes personalidades
Jornal da ABI — Em que ano você ingressou no Diário ? Carioca? Carioca Maria Ignez — O Diário Carioca foi uma espécie de promoção, embora na época eu não tenha reparado nisso. Foi José Carlos Oliveira quem me levou para lá, em 1958. Era o jornal mais bem escrito de então. Tinha entre seus colunistas Paulo Francis, Armando Nogueira e Jota Efegê, uma figura notável e de quem me lembro com o maior carinho. No copidesque, Nélson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar, Nilson Lage, Décio Vieira Ottoni, José Ramos Tinhorão. Luiz Edgar de Andrade chefiava o copidesque e Evandro Carlos de Andrade, a Redação. Não esqueço também de meu grande amigo Alaor Barreto, fotógrafo, meu companheiro em muitas reportagens. Jornal da ABI — O Diário Carioca nos anos 60 já tinha mulheres entre os repórteres? Maria Ignez — Eu não era a única mulher no Diário Carioca. Tinha também a Stella Lachter, que já morreu. Havia também uma aeromoça, que, quando estava no Rio, trabalhava na Redação, mas não sei exatamente o que escrevia. Chamava-se Maria do Socorro, excelente nome para aeromoça. O Deodato Maia, que muitos anos depois reencontrei no Globo, era o secretário de Redação. Ficava sentado próximo da janela que dava para a Rádio Nacional e, de vez em quando, soltava uns gritos loucos: “Caubicha!”
Maria Ignez entrevista no Galeão o jovem Senador Edward Kennedy: a conversa, como outras, ela conta, não foi além das trivialidades.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
11
DEPOIMENTO MARIA IGNEZ DUQUE ESTRADA
internacionais. Lembro-me de poucos: os escritores Graham Greene, que eu ainda não tinha lido, embora já tivesse visto filmes baseados em livros dele, como O terceiro homem, que recomendo; e John dos Passos, Marlene Dietrich, já idosa, mas ainda linda, Ted Kennedy... Não era um trabalho fácil. idel Castro Jornal da ABI — Sua admiração por F Fidel é notória. Maria Ignez — Até hoje o considero o maior líder da América Latina e Cuba, o maior exemplo de resistência do mundo, ao lado do Vietnã. Eu já trabalhava no JB quando a Revolução Cubana foi vitoriosa e tive alguns atritos devido à minha admiração por ele. Só saí depois de uma greve que mobilizou todos os jornalistas e gráficos da imprensa do Rio. Naquela época, como não havia computador, os gráficos eram uma categoria essencial para que os jornais saíssem. Isto aconteceu em 1962 e eu já tinha então uns cinco anos de jornalismo diário. Ou melhor, quatro, porque um ano passei trabalhando na Petrobrás, de que desisti porque me botaram no setor de compras. repende hoje de não ter Jornal da ABI — Você se ar arrepende etrobrás? Petrobrás? continuado na P Maria Ignez — Não, e por vários motivos. Não muito depois, viria a ditadura. Não consigo nem imaginar como seria eu trabalhando no serviço público sob um regime militar. Depois, continuei um caminho que era mais o meu, este da comunicação. O jornalismo combina com meu temperamento. Acho fantástica a Petrobrás (que na épocatinhaacento),ehojeeladáumapoioenormeàcultura e às artes. Se naquele tempo tivesse isto, talvez desse certo.
Com paciência, Maria Ignez aguarda que um colega mais entusiasmado pegue o autógrafo da visitante ilustre: Célia Guevara de la Sierna, mãe do legendário Che. Além dela, Maria Ignez entrevistou outras figuras mitológicas, como a diva Marlene Dietrich, já envelhecida, “mas ainda linda”. Em 1979 ela entrevista outro mito, que voltava do exílio: Leonel Brizola. Ela o entrevistara 18 anos antes. após a Campanha da Legalidade, em 1961.
Jornal da ABI — Em 1968, você trabalhava no Cor Corrreio da Manhã nal visado pela ditadura militar Manhã,, um jor jornal militar.. Algum episódio da época a marcou? Maria Ignez — Lembro-me muito bem do dia em que foi decretado o AI-5, do silêncio mortal na Redação. Lembro-me também da notícia da morte de Che Guevara. Alguns, como eu, não queriam acreditar. Achávamos que era invenção dos americanos para minar a nossa moral, até que chegaram as fotos. Foi também a época de O Sol, que durou pouco tempo, mas foi marcante, como o filme da Tetê Moraes mostrou. O Sol ficava perto do Correio, e lá trabalhavam amigos meus,
Maria Ignez na Redação do JB na era da máquina de escrever
como Ana Arruda, chefe de Reportagem, e Reinaldo Jardim, o grande idealizador do jornal. upo político você pertenJornal da ABI — A que gr grupo Codi, no quartel da P olícia Doi-Codi, Polícia cia quando foi presa no Doido Exército, da R ua Barão de Mesquita, no Rio de Rua Janeiro, em abril de 1973? Maria Ignez — Estava ligada à Resistência Armada Nacional, um grupo pequeno, herdeiro do movimento de Caparaó, mas nunca peguei em armas ou vi armadas as pessoas que conheci ali. Eu colaborava num jornalzinho, Independência ou Morte, que veiculava artigos contra a ditadura e notícias censuradas pela imprensa, como a de uma homenagem a Dom Hélder Câmara na Suécia. Nessa época, eu não estava em Redação, fazia a Enciclopédia Britânica — antes fui redatora da Mirador, dirigida pelo professor Antônio Houaiss, na editoria chefiada pelo Otto Maria Carpeaux e onde também trabalhava Moacyr Werneck de Castro. Convivi com tantas pessoas maravilhosas! Isso não teria acontecido se tivesse ficado no serviço público. Jornal da ABI — Chegou a ser torturada no Doi-Codi? Maria Ignez — Fiquei um mês lá e duas semanas no
I 317 ABI de 2007 JornaldadaAB AB I 314Fevereiro/Março ABI Novembro de 2006 12 Jornal
“Lembro-me muito bem do dia em que foi decretado o AI-5, do silêncio mortal na Redação.” Batalhão de Guardas. Não gosto de falar sobre isso, foi muito duro. Mas com tudo na vida se aprende. Aprendi vivendo que odeio a tortura, que não a aceito em hipótese alguma, seja aqui, em Guantânamo, em qualquer lugar. Fui presa diante do meu filho pequeno, levada por homens armados com metralhadoras, que revistaram minha casa e cortaram meu telefone. Nada disso a gente esquece. xpeJornal da ABI — Você já era uma repórter eexperiente, formada em Filosofia, quando deixou o Brasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jornalismo da França. Maria Ignez — Não fui estudar, fui praticar num país que tem talvez o melhor jornalismo do mundo. Os debates políticos, por exemplo, são tratados com dignidade e inteligência pela mídia, não é como aqui, onde se imita o estilo dos EUA. Jornal da ABI — Como foi essa prática jornalística no exterior? Maria Ignez — Fui indicada pela jornalista Sônia Meinberg para integrar o programa chamado Journalistes en Europe, na Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Jornalistas. Havia repórteres de diversos países e fizemos matérias sobre a antiga União Européia para seis edições da revista Europe, criada em 78. Outros brasileiros — como a Iza Freazza, o Roberto D’Ávila e o Márcio Chalita — participaram do programa, que acabou há pouco tempo. Jornal da ABI — Fale do seu encontro com Carlos Heitor Cony Cony.. Maria Ignez — Foi na Fatos, uma revista que procurava concorrer com a Veja e que, se tivesse continuado, seria sem dúvida muito, mas muito melhor. Infelizmente, não durou muito tempo, provavelmente porque a Editora Bloch já começava a se deteriorar. A Redação era chefiada pelo Cony, de quem sou grande admiradora como chefe, ser humano e escritor. Seu livro Quase memória é inesquecível. Da equipe faziam parte dois excelentes colegas: o crítico de arte Flávio de Aquino e o jornalista Sérgio Ryff, filho do grande Raul Ryff, com quem tive a honra de trabalhar na Internacional do velho JB. Jornal da ABI — Além de jornalista, você é tradutora de livros. O que a levou a entrar nesse mercado? Maria Ignez — Nem sei como começou, mas já traduzi muitos livros. É um trabalho fisicamente cansativo, mas sempre há uma coisa nova a descobrir num livro. Gosto mais de traduzir do francês, mas, infelizmente, as editoras privilegiam os autores americanos. Jornal da ABI — Quais foram as obras mais importantes que você traduziu?
A militante Maria Ignez em dois momentos de sua combativa trajetória: na histórica Passeata dos 100 mil, de braço dado com a atriz Odete Lara na primeira fila da manifestação, tendo ao fundo o escritor Antônio Callado (ao centro), o ex-Deputado Renato Archer (à esq.) e a atriz Norma Benguell; na foto de baixo, ela empunha um cartaz em manifestação da também histórica greve dos jornalistas e gráficos em novembro de 1962
Maria Ignez — Como um autor, diria que a mais importante é a que estou traduzindo no momento — no caso, The Poe´s shadow, que é muito instigante, difícil de traduzir e ainda não sei como vai se chamar em português. Gostei muito de uma biografia de Yitzak Rabin, escrita por uma equipe de jornalistas israelenses, que fiz há anos para a Nova Fronteira. Jornal da ABI — Você colaborou recentemente com em as máquinas — Jornaarem um conto para o livro Par listas que valem mais de 50 contos contos.. Já pensou em escrever um só seu? Maria Ignez — Não, nunca pensei, talvez por falta de tempo. O conto não tinha sido escrito para publicação. Na realidade, nem era um conto. Eram divagações registradas no computador, às quais dei um acabamento quando o José Sérgio Rocha, meu amigo e ex-colega de JB, pediu minha participação no livro que estava organizando. Tenho projetos de livros muito interessantes, mas são livros-reportagem, a serem produzidos com equipes de jovens jornalistas e fotógrafos. Jornal da ABI — Fale da sua relação com a ABI. Maria Ignez — Como repórter, cobri muitas coletivas na ABI nos anos 60 e 70: a do astronauta russo Yúri Gagárin, quando ele veio ao Brasil; a do Brizola, quando a Campanha da Legalidade saiu vitoriosa, garantindo a posse de Jango após a renúncia do Jânio... Lembro também da Carolina Maria de Jesus, mulher, negra e favelada, que publicou o livro Quarto de despejo, com prefácio de Audálio Dantas, hoje Vice-Presidente da Casa. Em 1968, na passeata em protesto pela morte do estudante Edson Luiz, grande parte do trajeto caminhei ao lado do Azêdo (Maurício Azêdo, Presidente da entidade). A ABI está se renovando e espero que ela abra espaço para os jornais comunitários. Há muitos jovens aprendendo jornalismo na prática, seja na Maré, na Cidade de Deus ou em outros bairros mais pobres do Rio.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
13
Liberdade de imprensa
Portugal deixa sua imprensa à míngua Cortados subsídios que beneficiavam 900 publicações enviadas para emigrantes em todo o mundo.
Concentração Calcula-se que existem cerca de 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo, sem contar seus descendentes. Recebem os veículos regionais países com maior concentração de colônias, como Brasil, Estados Unidos, Venezuela, Canadá, Reino Unido, França e Luxemburgo. Em Portugal, apenas dois títulos são editados exclusivamente para portugueses que residem no exterior: a revista Portugal e o jornal Mundo Português, que deverão ser muito afetados pela medida oficial, afirma Nuno Araújo. – Serão afetadas todas as comunidades que querem manter o vínculo à língua, à cultura e à sua região de origem. Muitos dos nossos emigrantes não dominam as novas tecnologias para ter acesso a uma publicação online. Além disso, os jornais circulam de mão em mão nas várias associações e instituições espalhadas pelo mundo. ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 14 Jornal da AB
REVISTA PORTUGAL
O Governo de Portugal anunciou que não vai mais subsidiar o envio de jornais para as colônias lusitanas espalhadas pelo mundo. O anúncio foi feito pelo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga (foto), durante seminário promovido no fim do ano passado pela União Portuguesa da Imprensa Regional (Unir). A medida entrou em vigor em janeiro, com a publicação no Diário da República (jornal oficial do Governo português). Em entrevista à revista Portugal, o Secretário disse que, apesar da provável insatisfação dos portugueses emigrados, a decisão já estava tomada: – Embora o Governo saiba que eles (imigrantes e seus descendentes) não vão ficar satisfeitos com esta notícia, é certo que o porte-pago para os integrantes das comunidades portuguesas vai acabar – declarou. Órgão responsável pela área de emigração, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao qual está subordinada a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, gasta cerca de € 7 milhões por ano com o envio de jornais para as colônias. O jornalista português Nuno Araújo, redator da revista Portugal, revelou que atualmente a imprensa regional de seu país publica 1.500 mil títulos. Deste total, 900 publicações se beneficiam do subsídio do Governo para circular no exterior, porque atendem aos requisitos exigidos, tais como o número de profissionais contratados e tiragem.
Beiras, Casa dos Poveiros, Casa de Trásos-Monte etc. Depois, existe nessas agremiações uma grande concentração de portugueses de várias regiões – umas mais que outras, é certo –, o que só favorece essa imprensa. É preciso salientar que são muitos os jornais que chegam às entidades associativas sem custos de assinatura. Com a nova lei, isso vai acabar. "Como uma carta de família." Assim Nuno descreve a imprensa regional quando chega aos imigrantes portugueses. "Mas agora, como é que eles saberão das notícias de sua aldeia, vila ou cidade? Canais de televisão como a RTP Internacional ou a SIC são generalistas e exigem planos especiais de assinatura. A imprensa regional é aquela que lembra ao emigrante de onde veio e que o português que reside do outro lado do Atlântico gosta de saber como vai". Ele sublinha que a imprensa regional tem possibilitado o apoio sistemático dos cidadãos emigrados a inúmeras causas: – Da associação da terra que precisa de dinheiro aos bombeiros da vila que necessitam de nova viatura ou à banda de música que preciA decisão do Governo de Portugal rompe os vínculos dos imigrantes com sua terra de origem, diz o jornalista sa de instrumentos, não Nuno Araújo (à esq.), cuja análise é confirmada por Mateus Rocha (ao centro), da Casa dos Poveiros. O Ministro esquecendo um aspecto Santos Silva (à dir.) ouviu os representantes da imprensa regional, achou justo o pleiteado, mas não passou disso. fundamental: é a imprensa regional que conNuno Araújo acrescenta que a intertinua a dar eco do que se passa nas nossas como o empresário Vicente Tavares, Prerupção do envio de jornais ao exterior comunidades espalhadas pelo mundo. sidente da Casa dos Poveiros, na Tijuca: conduzirá a um inevitável decréscimo Enquanto a portaria governamental – Eu não sabia disso e considero pésdo número de publicações regionais que não entrava em vigor, a Unir, juntamensima a novidade. É uma medida muito circulam nas comunidades portuguesas, te com outros organismos, dedicou esfornegativa do Governo de Portugal, pois vaporque as empresas jornalísticas não têm ços para que a situação não avançasse. Seus mos deixar de ficar informados sobre o como arcar com os custos de correio: representantes procuraram autoridades que acontece em nossas cidades de origem. – Se a participação do Estado na expee até se reuniram com o Ministro dos AsTemosquetomarumaatitudeevoupropor dição de jornais para o estrangeiro é de 95% suntos Parlamentares, Augusto Santos que todas as Casas portuguesas façam um e, com a nova portaria, passará a zero, naSilva, que tutela o setor de imprensa reabaixo-assinado entre seus membros, para turalmente isso trará custos insuportágional, para propor a manutenção da que as autoridades mudem de idéia. E não veis para as empresas do setor, que cobram política de sustentabilidade da remessa acho que os donos dos jornais devam arcar preços de assinaturas insuficientes para de jornais ao exterior. com as despesas de correio, pois já nos manfazer face às despesas de envio. Assim, só Outra proposta seria encontrar soludam os jornais de graça. há uma solução: aumentar o preço das asções alternativas de expedição das publiO 2º Vice-presidente da Casa dos sinaturas, que nem todos podem pagar. cações, o que implicaria consulta aos Açores, Mateus Rocha, também lamenOu seja, a medida levará a um afastamento operadores postais internacionais, medita a medida: – É muito triste para nós. Não progressivo da terra de origem por parte da considerada de longo prazo. Para os tenho dúvidas de que isso vai ser prejudos nossos emigrantes e descendentes, empresários do setor jornalístico, seria dicial para os nossos associados. Temos além de uma drástica diminuição da línnecessário ao menos um ano para se gente que vem à sede somente para pegua, da cultura e do patrimônio portuchegar a alternativas e, ao mesmo temgar os jornais e ler as notícias da sua terra. gueses no exterior. Mais do que lamenpo, honrar os compromissos com os asAcho que o Governo não deve parar um tar, porém, é necessário agir e tentar sinantes que têm de pagar antecipadamensistema que vem funcionando bem há cumprir aquilo que a imprensa regional te a assinatura. muito tempo. sempre fez: prestar um serviço público Apesar de demonstrar entender os Nuno Araújo acha que o forte víncuao país e sua gente. argumentos dos representantes da imlo dos luso-brasileiros com Portugal é um prensa regional, o Ministro Augusto dos motivos de preocupação da imprenAbaixo-assinado Santos Silva disse que não podia alterar sa regional do país: A notícia do fim da circulação dos sua posição, nem prolongar o prazo para – Eu diria que todas as associações lusojornais pegou de surpresa alguns dirigenposterior implementação da suspensão brasileiras têm um cunho regional muito tes das associações que têm sede no Rio, do porte-pago internacional. acentuado. Basta ver os nomes: Casa das
Editor e colunistas de revistas sob ameaça da Polícia Federal Diretor do DPF atendeu a solicitação feita de forma imprópria para investigar Attuch, de IstoÉ, e Jardim e Mainardi, de Veja.
"Ilustre Ministro Márcio Thomaz Bastos, A Associação Brasileira de Imprensa dirige-se a Vossa Excelência para manifestar apreensão em relação à informação de que o Departamento de Polícia Federal, subordinado a esse Ministério, estaria realizando investigações em torno da atividade profissional e da vida pessoal dos jornalistas Leonardo Attuch, Editor de Economia da revista IstoÉ Dinheiro, Lauro Jardim, titular da coluna Radar da revista Veja, e Diogo Mainardi, colunista de Veja, em razão de denúncia formulada contra os três pelo ex-Ministro Luiz Gushiken. Causa especial preocupação, Senhor Ministro, o fato de que o ex-Ministro Luiz Gushiken solicitou a realização das citadas investigações em carta que dirigiu
ao Senhor Diretor-Geral do cidadão que lhe escreveu Departamento de Polícia uma carta ou ofício, uma Federal, Delegado Paulo grave ameaça à liberdade de Lacerda, o qual teria acolhiimprensa, que fica desde do a manifestação desse logo constrangida não só antigo membro do Goverpelas investigações que se no Federal como se este realizem, mas até mesmo ainda detivesse prerrogatipela simples divulgação de vas e competências deferique tais investigações se das aos Ministros de Estaencontram em curso. Goldo, cargo que Sua Senhopear a liberdade de informaria desempenhou na admição constitui, como sabe nistração federal passada. Vossa Excelência, um dano Decorre tal preocupação irreparável ao Estado Deda circunstância de que o mocrático de Direito. eminente cidadão Luiz Pleiteamos a Vossa ExGushiken não detém titucelência, digno Ministro laridade para se dirigir diMárcio Thomaz Bastos, retamente ao Senhor Direum esclarecimento formal tor-Geral do Departamento acerca do exposto, porde Polícia Federal para posquanto o fato descrito comtular, propor ou reivindicar promete o Governo Fedea adoção de procedimentos ral em sua obrigação de investigatórios. O que ele fidelidade ao juramento de faz como cidadão comum, respeito à Constituição e às ainda que em defesa legítileis do País, ainda recentema de interesse e bem mente renovado perante o imaterial que considera Congresso Nacional pelo vulnerado, não pode ser Excelentíssimo Senhor acolhido in limine pelo Presidente da República DPF e seu Diretor, sob pena Luiz Inácio Lula da Silva. de se instalar a desordem Na expectativa da maninesse setor governamental. festação de Vossa ExcelênSe todos os atingidos ou cia, renovamos as expresprejudicados por atos de sões do nosso elevado e profissionais da comunicajustificado apreço. Cordialção puderem recorrer diremente (a) Maurício Azêdo, O Ministro Márcio Thomaz Bastos ficou impassível diante da denúncia de tamente à Polícia Federal Presidente" exorbitância do Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal. para a busca de satisfações de justiça em caráter pessoSilêncio A Associação Brasileira de Imprensa vê al, esse respeitável órgão do Governo O Ministro Márcio Thomaz Bastos no procedimento do Senhor Delegado Federal estará entregue a irremediável não respondeu ao ofício nem acusou seu Paulo Lacerda, ao acolher as razões de um balbúrdia. recebimento. ANTONIO CRUZ/ABR
A ABI recebeu com preocupação a informação de que o Departamento de Polícia Federal estaria investigando a atividade profissional e a vida pessoal dos jornalistas Leonardo Attuch, editor de Economia da revista IstoÉ Dinheiro, e Lauro Jardim e Diogo Mainardi, colunistas da revista Veja. A informação encaminhada à ABI deu conta de que o motivo das investigações seria uma denúncia do ex-Ministro da Comunicação Social, Luiz Gushiken, em carta enviada ao Diretor-Geral do DPF, Delegado Paulo Lacerda. Em ofício que enviou ao Ministro da Justiça, a ABI justificou a preocupação da entidade com a atitude de Gushiken, alegando que ele "não detém titularidade para se dirigir diretamente ao Diretor-Geral da PF para postular, propor ou reivindicar a adoção de procedimentos investigatórios". O ofício da ABI tem o seguinte teor:
Presos acusados de seqüestrar equipe da Globo Polícia de São Paulo diz que diretores de ong participaram da ação. Foram presos dia 23 de janeiro, em São Paulo, três diretores da ong Nova Ordem, acusados de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e com o seqüestro de Guilherme Portanova, repórter da TV Globo, e de Alexandre Calado, auxiliar técnico da emissora. Os dois foram seqüestrados em 12 de agosto do ano passado, quando estavam em uma padaria em frente à sede
da rede de televisão. A polícia prendeu o ex-policial e expresidiário Ivan Raymondi Barbosa, Presidente da Nova Ordem, e Anderson Luis de Jesus e Simone Barbaresco, diretores da entidade. Além deles, também foi presa, por porte ilegal de arma, a advogada Iracema Vasciaveo, que presta assessoria jurídica a presidiários e à ong. Os diretores da Nova Ordem são acu-
sados de ter fornecido apoio logístico para o seqüestro dos profissionais da TV Globo, repassando informações e ordens dos líderes da facção aos responsáveis pelo crime. Desde julho de 2006, a ong é investigada pelo Ministério Público paulista por supostas ligações com o PCC. Fundada em 2005, a Nova Ordem propõese a desenvolver atividades de recuperação de presos, atuando em 144 cen-
tros de detenção no Estado de São Paulo. O seqüestro de Guilherme Portanova e Alexandre Calado aconteceu alguns dias depois de uma série de ataques do PCC em São Paulo. Alexandre foi solto na noite do dia 12, mas Guilherme só foi libertado depois de a Globo veicular mensagem em vídeo de um suposto integrante da facção. Na época, a ABI pediu ação política contra a crise em São Paulo.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
15
Liberdade de imprensa FABIO POZZEBOM/ABR
Todo mundo dominado Veículos de Mato Grosso recebem cd com denúncias de corrupção eleitoral formuladas pelo Ministério Público, mas nada divulgam. Em mensagem encaminhada à ABI, o jornalista Ademar Adams acusou os veículos de comunicação de Mato Grosso de silenciar em relação a denúncias de corrupção, numa demonstração do condicionamento e envolvimento político que pesa sobre a mídia da região. O jornalista baseia sua denúncia na entrevista coletiva convocada por entidades não-governamentais - no dia 24 de janeiro, na sede local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) para distribuir aos jornalistas um cd com a relação das ações propostas pelo Ministério Público contra os Deputados José Riva, Bosaito e Fabris, que, diz Ademar, são acusados de desviar R$ 65 milhões dos cofres públicos. No dia seguinte, informa o jornalista, à exceção do site Olhar Direto e da Rádio Cultura, nenhum veículo noticiou o que foi dito no encontro, ao qual
compareceram equipes dos jornais Diário de Cuiabá, A Gazeta e Folha do Estado e da TV Record. No documento enviado à ABI, Ademar explica que a intenção da coletiva promovida pelas organizações governamentais erasensibilizarosdeputadosdaAssembléia Legislativa de Mato Grosso "para não eleger para a Mesa-Diretora aqueles acusados de desvios de verba pública". E relata também que na ocasião dois estranhos, que se identificaram como "acadêmicos de Direito", causaram tumulto, e um deles foi identificado como segurança do Deputado José Riva. As entidades que assinaram o documento apresentado à imprensa são a OAB-MT, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – MCCE, o Fórum de Controle Social – Focos e o Movimento Organizado pela Moralidade Pública e Cidadania –Moral/MT.
Histeria policial em Itapeva, SP POR RAUL RODRIGUES AZÊDO
"Cala a boca!!!", "Vou tomar sua máquina!!!", "Vou apreender sua máquina", "Apague a foto!!!", "Se continuar falando, vou te prender!!!". Estas ameaças histéricas foram desferidas e fazem parte do vocabulário de um policial (que não quis revelar seu nome mas cujo prenome, Alexandre, descobri depois), e foram usadas contra mim em 25 de março, quando exercia o meu direito profissional ao fazer reportagem escrita e fotográfica, nas dependências da Delegacia de Investigações Gerais e Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes de Itapeva, São Paulo, sobre o resultado da Operação Nacional da Polícia Civil, desencadeada em 26 Estados e no Distrito Federal. E a foto nem prestou. A tentativa de intimidação se deu depois que foi feita uma foto sem autorização de Silvio Maciel Domingues, acusado de ser o coordenador regional da facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital, o PCC. Que a manifestação partisse, como partiu, do advogado do acusado, que também tentou me intimidar, tudo bem, é até explicável. Mas partir de um policial, que, tomado por um histerismo incontrolável, gritava, desferindo, não só as frases acima, mas outras ameaçadoras, é de se
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 16 Jornal da AB
causar estranheza! Quando escrevia este artigo me perguntava, qual o interesse que este policial teria para proteger o acusado e tentar constranger o jornalista? Será que, se houvesse outros jornalistas nas dependências da DIG/ DISE, ele faria a mesma coisa? É preciso apurar, saber por que o policial saiu em defesa de uma pessoa que está sendo acusada de ser o coordenador regional do PCC. Esta facção é que tem, constantemente, comandado ataques em delegacias policiais do Estado de São Paulo. Não ficou só nisso. As ameaças continuaram até depois que eu já estava saindo no portão, quando pediu meu nome dizendo que iria abrir um Boletim de Ocorrência (BO) contra mim, a despeito da Lei de Imprensa, que garante os direitos da informação e do exercício da profissão de jornalista. É bom lembrar que ameaças a jornalistas são objeto de preocupação e apuração da ABI, da Federação Nacional dos Jornalistas e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Fatos como este não podem e não devem se repetir em nenhuma Delegacia de Polícia do Estado ou do País. Raul Rodrigues Azêdo é jornalista há 26 anos e filiado desde 1984 à ABI.
Presidente Evo Morales acusa a mídia de se unir aos setores de oposição ao seu Governo.
Condenadas agressões em Cochabamba Repórteres foram atacados e perderam equipamentos. O Comitê de Proteção dos JornalistasCPJ condenou os ataques de manifestantes e policiais a 11 repórteres, fotógrafos e cinegrafistas que cobriam violentos protestos na cidade de Cochabamba, na Bolívia, no dia 8 de janeiro. As manifestações pediam a renúncia do Prefeito Manfred Reyes Villa, segundo os informes da imprensa. Alguns jornalistas foram alvo dos manifestantes e das forças de segurança enquanto outros estavam no meio do fogo cruzado. O Diretor-Executivo do CPJ, Joel Simon, pediu às autoridades bolivianas que dêem proteção adequada aos jornalistas e que responsabilizem os agressores.
Alfredo Orellana, cinegrafista da Univalle Televisión, foi hospitalizado por dois dias com ferimentos na cabeça e teve seu equipamento roubado; Elizabeth Paravisini, fotógrafa do periódico Los Tiempos, sofreu ferimentos leves e teve o equipamento extraviado; e o repórter de rádio Efraín Gutiérrez foi agredido por seguranças do Prefeito, que o acusaram de ser contra Villa. Durante o tumulto, manifestantes acusavam profissionais de imprensa de serem parciais contra o Governo do Presidente Evo Morales, que também já acusou a mídia de seu país de se unir a forças da oposição.
Joshua Wolf, um recorde indesejável O cinegrafista freelancer Joshua Wolf bateu um recorde infeliz no princípio de fevereiro. Ele se tornou o jornalista a passar mais tempo na prisão, nos Estados Unidos, por proteger suas fontes: 169 dias de detenção. O cálculo foi feito por organizações de imprensa locais. Wolf, que teve negado um pedido de liberdade, foi preso por se recusar a divulgar para autoridades norte-americanas
uma gravação que mostra um grupo de anarquistas acusados de depredar um carro da polícia e fraturar o crânio de um oficial durante um encontro de líderes mundiais em São Francisco, em 2005. O recorde anterior, nos EUA, pertencia a Vanessa Leggett, que também se negou a divulgar informações obtidas com fontes em off sobre um assassinato. Ela ficou presa 168 dias, entre 2001 e 2002.
Colômbia persegue venezuelano A Procuradoria colombiana emitiu nova ordem de prisão para o correspondente da Telesur Freddy Muñoz, sob acusação de envolvimento em ataques a redes elétricas, que seriam atos de guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Farc. Informações divulgadas pela agência Ansa revelam que uma fonte, que prefere não se identificar, disse que a ordem de captura de Munõz não tem relação com sua profissão ou seu vínculo com um canal estrangeiro de televisão. No fim de 2006, o jornalista foi preso pelas autoridades colombianas, acusado por crimes de rebelião e terrorismo. A versão oficial da Procuradoria é de que ex-
integrantes das Farc afirmaram que entre 2000 e 2002 Freddy Muñoz teria participado da derrubada de três torres de eletricidade com o uso de explosivos. Ele foi libertado em 9 de janeiro por falta de provas. Tito Gaitán, advogado do correspondente, supõe que o processo é uma retaliação contra o trabalho de seu cliente e acredita que haja o desejo das autoridades de provocar um conflito com a Venezuela. Ele afirma também que até o princípio de fevereiro ninguém recebera qualquer notificação da nova ordem de prisão. Seu cliente aguardava em liberdade que a situação se resolvesse.
U.S. ARMY - SGT. BRONCO SUZUKI
Sigilo e liberdade POR VILSON A NTONIO R OMERO
Vilson Antonio Romero é jornalista da Associação Riograndense de Imprensa e Delegado Sindical do Sindifisp/RS
Entre uma missão e outra, uma batalha e outra, os invasores norte-americanos curtem tirar fotografias e divulgá-las na internet, como se estivessem numa viagem de turismo. Esta foto é uma da série.
Guerra do Iraque matou mais jornalistas do que a do Vietnã Repórteres Sem Fronteiras denunciam atentados, agressões e censura em todo o mundo.
Agressões e censura
O balanço anual também mostra que o núme-
W .R
SF .O
RG
ro de vítimas entre os colaboradores dos veículos de comunicação saltou de cinco, em 2005, para 32, em 2006. São motoristas, tradutores, técnicos e agentes de seguranças que passam a ilustrar a lista da organização. No ano passado, outro recorde foi atingido: foram registrados mais de 1.400 casos de agressão a jornalistas, a maioria em razão de campanhas eleitorais. Já os índices de censura apresentaram melhora: o número de casos diminuiu de 1.006 em 2005 para 912 no ano passado. Os principais registros de cerceamento à liberdade de imprensa se deram na Tailândia, onde muitos sites e mais de 300 rádios comunitárias foram fechados no dia seguinte ao golpe de Estado, em 19 de setembro de 2006. Na China, Coréia do Norte e Birmânia, no entanto, a censura é tão freqüente que não foi possível quantificar o número de meios de comunicação prejudicados por ela. No Egito, Arábia Saudita, Irã, Síria e Turcomenistão, entre outros países, a internet é firmemente controlada. Blogueiros dessas nações sofreram duras restrições e chegaram a ser presos em algumas ocasiões. Até os fóruns de discussão de alguns sites foram retirados do ar. No relatório (disponível na íntegra em www.rsf.org), a RSF registra pela primeira vez o número de jornalistas seqüestrados em todo o mundo. Em 2006, pelo menos 56 profissionais foram capturados enquanto trabalhavam: 17 no Iraque e seis na Faixa de Gaza. W
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou na primeira semana de janeiro o balanço anual sobre a liberdade de imprensa e a violência contra jornalistas no mundo. Os números são surpreendentes: 81 profissionais foram mortos enquanto exerciam uas atividades em 2006. É o maior índice desde 1994, quando o número chegou a 103. Dos 81 jornalistas assassinados em 2006, 64 foram mortos no Iraque, considerado o país mais perigoso para profissionais da imprensa. Somando-se as vítimas desde o começo da guerra, em 2003, o número chega a 139, mais que o dobro de jornalistas mortos durante a guerra do Vietnã, que durou 13 anos (Fonte: Almanaque Abril). O relatório da RSF apresenta estimativas de casos em que a morte do profissional está relacionada ao dever de informar, mas há outras dezenas de casos ainda em investigação que não entraram no ranking. Já no continente americano, o México lidera a lista dos países com maior risco de vida para os profissionais dos meios de comunicação e aparece em segundo lugar na lista da RSF. Foram nove os jornalistas mortos enquanto faziam investigações sobre o narcotráfico ou cobriam movimentos sociais violentos. As Filipinas vêm na terceira posição, com seis jornalistas mortos, e, em seguida, a Rússia, com três.
W
Mais de uma centena de profissionais da mídia morreram no exercício da atividade em 2006, ano que alcança o execrado pódio de mais mortífero da história para os jornalistas. O conflito do Iraque assume um papel nefasto neste registro com quase metade das perdas fatais. A lastimável contabilidade é referendada por organismos internacionais de defesa da liberdade de expressão como a ong Repórteres Sem Fronteiras, a Federação Internacional de Jornalistas e a Associação Mundial de Jornais, entre outros. Afora esta preocupação sobremaneira vital que tem atingido definitivamente o jornalismo no mundo, há outra que assume especial relevância no debate sobre o trabalho dos meios de comunicação social. Abrangendo todas as suas mídias – jornal, rádio, revista, tv e internet –, cada vez mais surgem formas de tentativa de amordaçamento, em especial os ataques reiteradamente freqüentes à prerrogativa constitucional – no Brasil – do sigilo da fonte. Inúmeros episódios têm escancarado as tentativas de vilipêndio desta matéria-prima básica da boa informação: a preservação da origem e dos agentes propulsores das mais relevantes matérias. Exemplos surgem todos os dias, reprisando a situação vivida pela ex-repórter do New York Times Judith Miller, que permaneceu 85 dias na prisão em 2005 por desafiar uma ordem judicial para que informasse suas fontes de informação e testemunhasse em uma investigação sobre o vazamento à imprensa do nome de uma espiã da CIA. Casos como este têm-se repetido recentemente, inclusive em nações ditas civilizadas como a França, a Holanda e nos próprios EUA, inclusive com novas detenções de profissionais, todas atentando contra o preceito assinalado no item III da Declaração de Chapultepec: "Nenhum jornalista poderá ser compelido a revelar suas fontes de informação." O mandamento constitucional brasileiro está inserido taxativamente no inciso XIV do artigo 5º do capítulo dos "Direitos e garantias fundamentais": "É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional." Mesmo assim, o jornalismo tem sido notícia quando são grampeados telefones de jornais e jornalistas como o ocorrido em 2005 e 2006 com a Rede Gazeta (ES) e o jornal Folha de S.Paulo (SP). Ou como o que ocorreu com profissionais da revista Veja que, em outubro de 2006, sofreram tentativa de intimidação na Polícia Federal (PF) para revelar as fontes utilizadas na matéria "Operação Abafa", em que afirmam que o Ministro da Justiça teria orientado policiais e acusados a blindarem o Presidente da República das acusações envolvendo o Dossiê Cuiabá. Um outro repórter, da revistaIstoÉ,tevequebuscarnaJustiçapaulistaagarantia do sigilo de suas fontes em matéria sobre um assassinato de 2004, onde era criticada a ação de setores da Polícia Civil paulista. Estes são alguns casos tornados públicos. Como neste emaranhado de tensões e pressões muita coisa não se revela, com certeza há uma série de outras ocorrências, inclusive internas, nas redações, constrangendo jornalistas pela quebra de um dos pilares fundamentais sobre o qual se assenta a informação de qualidade. Até a famigerada Lei de Imprensa (5250/67), editada sob o tacão do regime militar, garantia em seu artigo 7º: "No exercício da liberdade de manifestação do pensamento e de informação não é permitido o anonimato. Será, no entanto, assegurado e respeitado o sigilo quanto às fontes ou origem de informações recebidas ou recolhidas por jornalistas, radiorrepórteres ou comentaristas." A tomada de posição firme com uma nova postura dos profissionais e empresários dos meios de comunicação social, buscando a consolidação de um marco regulador condizente com os novos tempos, deve considerar convictamente a preservação deste ingrediente essencial da imprensa: o sigilo da fonte. Sem ele, não há imprensa livre, um dos pilares da democracia e, antes de tudo, um bem da sociedade e da cidadania.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
17
GENTE
DIVULGAÇÃO
75 ANOS O criador do Menino Maluquinho recebe homenagens pelo que realizou numa existência intensa e criativa.
MANIFESTO
fotografado e, com a ajuda da tecnologia, o Paulo Caruso usou meus slides e recuperou o painel. Ziraldo informou que ainda há outras homenagens previstas até o fim deste ano, como o lançamento de um dvd da série Grandes Brasileiros, coordenada por Fernando Barbosa Lima, e a inauguração da exposição Ziraldo – O eterno Menino Maluquinho, voltada para o público infantil, com fotos, desenhos originais, livros, vídeos, filmes e um carro alegórico criado pelo carnavalesco Paulo Barros, que ficarão expostos no Centro Cultural da Caixa Econômica. Ainda de acordo com o artista multimídia, deve ser lançado pela Editora Melhoramentos, até o fim de 2007 o Almanaque do Ziraldo, além de um livro que está ilustrando com a história do musical Os saltimbancos, de Chico Buarque. Aliás, este ano pode representar também outro marco na vida de Ziraldo: ele está prestes a bater a marca de 10 milhões de livros vendidos e a expectativa é de que alcance o número entre 2007 e 2008. Atualmente, já atingiu quase 9,7 milhões – 2,5 milhões só com O Menino Maluquinho. E guarda os textos de mais dois livros infantis, O namorado da fada, continuação do recém-lançado O menino da lua, e Meninas.
N
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 18 Jornal da AB
sos, mas sim os de sangue – fazendo aniversário. Lisonjeado com a homenagem, brinca: – Não dá pra não ficar contente. Sou exibido mesmo e gosto de mostrar o que faço. E o meu acervo está aí servindo de referência para o trabalho das novas gerações.
The Supermãe e O Menino Maluquinho na exposição do Centro Cultural dos Correios, que fez um balanço da carreira de Ziraldo.
Mais homenagens Umdosmaioresdestaquesdaexposição, no entanto, encontra-se no Pátio dos Correios: um painel de 15 metros, que é uma réplica do mural que o artista pintou no Canecão em 1967, mas que, apesar de todo o sucesso na época, foi encoberto por uma arquibancada construída um ano depois: – Por sorte – diz Ziraldo – tinha tudo
REPRODUÇÃO
o ano em que completa o 75º aniversário, Ziraldo foi o grande homenageado da 18ª edição do Salão Carioca de Humor, o mais importante evento de desenho e artes gráficas da América Latina. Até 30 de abril, o Centro Cultural dos Correios abriga a exposição Jubileu do Ziraldo: 75 anos de um menino feliz, que faz um balanço dos mais de 50 anos de trabalho do quadrinista, cartunista, escritor, jornalista e sócio da ABI. Com o humor que lhe é característico, Ziraldo brinca com o fato de ser homenageado mesmo estando em plena atividade: – É muito bom ser reconhecido, mas acho que quiseram me homenagear antes que eu morra – diverte-se o artista, que participou intensamente da montagem da exposição, selecionando, junto com o curador,RickyGoodwin,cercade400obras para a exibição, entre cartuns, cartazes, quadrinhos e tirinhas, além de personagens como o Menino Maluquinho, Jeremias e Turma do Pererê. A mostra, que tem cenografia assinada por Daniela Thomas, filha de Ziraldo, ocupa dois andares do CentroCulturaldosCorreios.Agrandeza do trabalho do artista fica exposta em seis salas temáticas: O início de carreira, Os personagens, Sala infantil, Pasquim & política, Pôsters & cartazes e Ora bolas (e belas) – Mulheres & futebol. Em um outro ambiente, estão reunidas caricaturas de 25 colegas em homenagem a Ziraldo e a seu personagem mais famoso, o Menino Maluquinho. Ziraldo orgulha-se de chegar aos 75 anos e contabilizar tantos trabalhos. Ele diz que só percebe o quanto trabalhou quando vê seus filhos – não os impres-
Em comemoração aos 10 anos do Pasquim, foi lançado na década de 80 o Almanaque do Ziraldo, que trazia uma seleção de trabalhos do desenhista, incluindo a dos super-heróis ao lado.
Trajetória Ziraldo estreou profissionalmente desenhando para publicidade, no fim da década de 40, em Minas Gerais. Nas décadas de 50 e 60, começou a brilhar na imprensa, colaborando como cartunista para revistas como O Cruzeiro, A Cigarra, fenômenos de vendas da época. Ainda nos anos 60, lançou a Turma do Pererê, primeira revista em quadrinhos brasileira de um único autor. Em 1969, estreou na literatura infantil com Flicts, considerado um clássico do segmento. Nos anos 60 e 70, militou contra a ditadura com O Pasquim, que ajudou a fundar e revolucionou a imprensa, a linguagem e o comportamento do País na época. Em 1980, lançou O Menino Maluquinho, que até hoje bate sucessivos recordes de vendas e o consagrou definitivamente junto ao público infantil. Durante muitos anos, ele foi chargista diário do Jornal do Brasil e cartunista da Visão. Criou personagens populares como a Supermãe, Jeremias, o bom e Mineirinho Come-Quieto. Também passou pela presidência da Funarte e foi editor de publicações como Bundas, Palavra, Pasquim 21 e Caderno B.
DIVULGAÇÃO
Cultura é com Gorgulho Além da homenagem a Niemeyer, o novo Secretário quer reforçar o caráter aglutinador da Capital.
Ele dirige a seção de Lages, a primeira fora da capital catarinense.
O
jornalista Silvestre Gorgulho, membro suplente do Conselho Deliberativo da ABI e até então ChefedaRepresentaçãodaCasa em Brasília, é desde 1º de janeiro SecretáriodeCulturadoDistritoFederal.Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1972, no início dos anos 80 Gorgulho foi professorvisitante na University of Minnesota (EUA). Trabalhou como repórter do Diário do Comércio, redator das revistas Veja, Quatro Rodas e Escola, da Editora Abril, e foi colunista do Jornal de Brasília, por dez anos. Em 1989, fundou seu próprio jornal, a Folha do Meio Ambiente. Esta não é a primeira vez que Silvestre Gorgulho ocupa um cargo público. Ele passou pela Codevale (Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha), vinculada ao Ministério da Agricultura e à Embrapa; de 1974 a 1998, esteve ao lado de três ministros de Estado – Alysson Paulinelli, Nestor Jost e José Hugo Castelo Branco – e foi Secretário dos Governadores José Aparecido de Oliveira (DF), Harry Amorim (MS) e Luiz Rocha (MA): – Criei a Secretaria de Comunicação Social do Distrito Federal. Antes, era apenas uma Coordenação – diz ele. – E, por um breve período, ocupei a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, no Governo Sarney. Gorgulho trabalha com o atual Governador José Roberto Arruda desde 1986 – na gestão de José Aparecido no DF, o primeiro foi Secretário de Comunicação e o segundo, Secretário de Serviços Públicos: – Somos conterrâneos do Sul de Minas e temos sonhos e propostas para Brasília como Capital da República. Recebi o convite logo depois da eleição, em outubro. Foi até uma surpresa, pois minha ligação é mais com o jornalismo e com o meio ambiente. Quando o Governador eleito me disse que gostaria de contar comigo, achei que fosse numa destas duas Pastas. Mas ele veio falando logo de Cultura. Disse claramente que havia pessoas mais preparadas, mais disponíveis, e até relacionei algumas. Aí, um dia antes de anunciar os últimos nomes do primeiro escalão, ele me avisou: anuncio seu nome amanhã. Para poder ocupar a Secretaria de Cultura, Gorgulho deixou sua empresa Folha do Meio Ambiente para "mergulhar de cabeça nos desafios das questões culturais de Brasília", onde mora há 33 anos – foi para lá, em 1974, a convite do então Ministro da Agricultura Alysson Paulinelli: – Vejo a possibilidade de interferir no dia-a-dia dos assuntos e implementar ações que ratifiquem a importância de
Derengoski no Instituto Histórico
Gorgulho anuncia entre os planos da Secretaria de Cultura a comemoração do Ano Oscar Niemeyer.
nossos equipamentos culturais, reforcem o caráter aglutinador de uma capital, envolvendo moradores e visitantes. Sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura do Distrito Federal estão 54 museus, o Teatro Nacional, o Pólo de Cinema e Vídeo, a Orquestra Sinfônica do Distrito Federal, o Arquivo Público, bibliotecas, espaços culturais e eventos como o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, para os quais Gorgulho conta com o apoio declarado do novo Governador: – O Governador José Roberto Arruda tem envolvimento pessoal com a cultura, foi quem praticamente criou o Pólo de Cinema. Mas o trabalho é intenso, diário e interminável, seja para manter o existente, seja pelo que pretendemos implementar nos anos que se seguem. O Ano Niemeyer O centenário de Oscar Niemeyer – "uma das maiores personalidades vivas do mundo e a personificação dos conceitos fundamentais da criação de Brasília" – está na agenda do novo Secretário: – Pensamos num cinema itinerante, com filmes sobre o homenageado, sempre seguidos de debates e exibição por todo o Distrito Federal; no lançamento de um selo comemorativo; na criação de um portal na internet, com a vida e a obra do arquiteto e muita interatividade. O Ano Oscar Niemeyer terminaria com um grande seminário internacional sobre o 20º aniversário do tombamento de Brasília, que é a única cidade do mundo tombada no século XX. Gorgulho também pretende resgatar e premiar as pessoas que foram importantes para o ato de tombamento da cidade – “quando o professor Darci Ribeiro
mandou um bilhete para o então Governador José Aparecido com uma simples frase: 'Zé, você fincou uma lança na Lua'." Com relação à verba para investir nos projetos, ele afirma: – Partimos do compromisso – absolutamente cumprido nos primeiros dias do novo Governo – de obter receita suficiente, apoio oficial e estímulo na criação de ações e estratégias. Cabe a nós unir criatividade, tradição e vocação cultural da capital para que, rompendo as fronteiras do Distrito Federal, nossa cidade seja reconhecida como capital de todos os brasileiros, todas as culturas, todas as manifestações de seu povo. A vez da ABI A ABI não foi esquecida pelo novo Secretário de Cultura do DF: – Há um sonho que nasceu na primeira reunião da atual Diretoria da Casa, em junho de 2004. Todos conhecem a história de luta e de trabalho da ABI pela cultura, a valorização política e a imprensa brasileira. Foram muitos os movimentos democráticos encabeçados pela entidade, que vai comemorar seu centenário em abril de 2008. A intenção do Presidente Maurício Azêdo era promover uma grande festa, quem sabe inaugurando a nova sede na capital da República. E um de nossos associados, também no caminho dos 100 anos, topou fazer o projeto: o arquiteto maior Oscar Niemeyer. A ABI pensa numa sede que tenha biblioteca, museu multimídia e espaço cultural para passar às futuras gerações a história de luta da imprensa brasileira. Uma sede que possa receber Chefes de Estado quando em visita a Brasília, para entrevistas, seminários, encontros e workshops.
O jornalista Paulo Ramos Derengoski está à frente da Presidência provisória da filial de Lages do Instituto Histórico Geográfico de Santa Catarina. Esta é a primeira seção da entidade fundada fora da capital. Paralelamente à sua inauguração, foi criada a revista História Catarina, cuja segunda edição começa a circular em março e traz como assunto principal a Guerra do Contestado. O convite para a Diretoria provisória surgiu em razão da atuação de Paulo como associado do IHGSC. Paulo Derengoski, que é colaborador do Jornal da ABI e autor de 14 livros, diz que o IHGSC é uma entidade não acadêmica, criada com o objetivo de preservar a memória catarinense. O acervo do Instituto reúne documentos e uma biblioteca especializada em assuntos da região, com fototeca e mapoteca: – É um centro de estudos que está-se espalhando pelo Brasil e todas as seções são filiadas ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Derengo, como é tratado pelos amigos mais antigos, publicou suas obras fora do eixo Rio-São Paulo, abordando temas como meio ambiente, guerras, artes e viagens, entre outros. Todas as edições estão esgotadas: – O que prova que não só nas grandes capitais existe produção literária, embora a grande mídia, as bienais e as feiras gigantes muitas vezes ignorem a produção do Brasil profundo – diz ele. Antes de se radicar novamente em Lages, sua terra, onde está há mais de três décadas, Derengoski trabalhou na imprensa do Rio, como redator e editor de publicações da Bloch, como Manchete e Fatos & Fotos. Ele é colaborador freqüente do Site e do Jornal da ABI, para os quais produziu textos exemplares, como, entre outros, os dedicados a Ernest Hemingway e Jack London. Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
19
DEPOIMENTO ARMANDO NOGUEIRA
Seriedade e ética no jornalismo de tv Este acreano de Xapuri, terra de Chico Mendes, implantou e consolidou o jornalismo da TV Globo e diz que o ponto mais louvável desse trabalho, uma obra coletiva, foi dar um padrão ético ao tratamento da notícia.
ENTREVISTA A JOSÉ REINALDO MARQUES
D
iretor de Jornalismo da TV Globo entre 1973 e 1989, período em que consolidou um padrão de seriedade e ético nos noticiários da rede, Armando Nogueira chega aos 80 anos em plena atividade em jornal e programas de televisão e diz que assim pretende continuar “por necessidade profissional e existencial”. Repórter, Armando foi testemunha do atentado contra o Major Rubem Vaz e o jornalista Carlos Lacerda, tendo escrito o texto na primeira pessoa do singular para o Diário Carioca e depois, como testemunha no processo, conseguiu entrevistar dois im-
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 20 Jornal da AB
plicados no caso, Climério e Alcino. Também como repórter, fotografou o técnico Zezé Moreira atirando uma chuteira na cabeça do ministro de Esportes da Hungria, após a derrota brasileira por 4 a 2 na Copa de 1954. E foi como cronista esportivo que Armando Nogueira se tornou conhecido do grande público, em jornal e televisão, por seu estilo leve e poético ao tratar da paixão pelo futebol. Tão leve e poético quanto seu hobby: é piloto de ultra-leves, atendendo assim ao sonho da juventude – ele queria ser aviador ou jornalista. É os dois.
Jornal da ABI — Em que ano você chegou ao Rio de Janeiro? Armando Nogueira — Cheguei aqui em setembro de 1944, com 17 anos, vindo diretamente de Rio Branco, num vôo da Cruzeiro do Sul que levava dois dias do Acre ao Rio. Jornal da ABI — Qual foi a primeira impressão que teve da cidade? Armando — Mais que um deslumbramento, foi um choque emocional, porque nunca tinha visto o mar, asfalto, bonde e automóvel — até àquela altura, só tinha conhecido um carro na minha vida. A sensação física era de que estava respirando um ar que pertencia a outros e não a mim. Que eu estava usurpando o meio físico de um carioca. Isso me dava desconforto e insegurança muito grande. Jornl da ABI — Por quê? Armando — Eu me sentia muito intimidado e afrontado com a maravilha que era a vida urbana, com todos os ingredientes que naquela época
muito curioso contribuiu para a minha adaptação: a simpatia que as pessoas demonstravam por alguém com procedência tão exótica de acreano como eu; quando ninguém sabia que o Acre existia. Isso despertava muito interesse, era como se eles dissessem “descobrimos um kaxinauá, um apurinã”, para citar as duas tribos indígenas mais conhecidas do Estado. Jornal da ABI — E por que você resolveu sair de Xapuri, sua cidade natal? Armando — Achava que estava sem horizonte no Acre. Minha intenção era continuar a carreira de pilotagem, iniciada no aeroclube de Rio Branco. Jornal da ABI — Então seu gosto por aeronaves é antigo? Armando — É um devaneio desde que eu tinha cinco anos de idade, quando tinha freqüentes sonhos de que estava voando nas asas de um regador de jardim. Voar de ultraleve, como faço atualmente, não é um acaso na minha vida. Eu diria que faz parte de uma predestinação. Jornal da ABI— Por que você decidiu estudar Direito? Armando — Esse era o desejo do meu
tremamente comunicativo, isso facilitou demais meu acesso a essa geração de monstros sagrados do jornalismo, entre os quais faço questão de citar o legendário jornalista Jota Efegê, que foi crítico musical. Conheci também Pompeu de Sousa e Sábato Magaldi, que eram críticos de teatro; Oto Lara Resende, repórter político; Fernando Sabino, colunista e cronista. Essa elite me adotou, inclusive me chamava carinhosamente de Armando Doidinho. Jornal da ABI — Por que o apelido? Armando — Porque eu era muito safo e elétrico e eles achavam que eu tinha uma espontaneidade que atribuíam à magnanimidade da floresta acreana. Tanto que ao me apresentar a seus amigos da boemia, quando saíamos à noite do jornal, o Rubem Braga dizia: “Esse aqui é o Armando Nogueira, recém-chegado do Acre, onde vivia da caça, da pesca e da coleta de frutos naturais, como um bom nativo.” Jornal da ABI — O Diário Carioca nalismo? jornalismo? foi, então, a sua escola de jor Armando — Foi a minha escola definitiva, na qual me preparei do ponto de vista técnico e, sobretudo, ético para exercer a profissão.
ção de testemunha. No inquérito que corria no 2º Distrito Policial, me incluíram como peça do processo. Com isso, passei a ter acesso aos personagens principais do episódio, como o Climério (investigador Climério Eurides de Almeida, apontado como integrante da guarda pessoal de Getúlio Vargas) e o Alcino (João Alcino do Nascimento, que confessou ter matado o Major Rubens Vaz), que eu entrevistei tirando partido da minha condição de testemunha processual. Jornal da ABI — Então o repórter mando transformando esportivo acabou se transfor num privilegiado repórter policial? Armando — Na verdade, um repórter político-policial. Jornal da ABI — Em algum momento pensou em trocar de editoria? Armando — Fiquei tentado. No Diário Carioca, segui uma carreira que passava, paralelamente, pela Política e os Esportes. Só que fazer matérias em duas frentes era quase impossível. Então eu me mantive como repórter político e o jornal criou para mim uma coluna chamada Bola pra frente, que eu assinava com o pseudônimo de Arno.
“O Diário Carioca foi a minha escola definitiva, na qual me preparei do ponto de vista técnico e, sobretudo, ético para exercer a profissão” eram sedutores. O Rio era uma cidade sem violência e muito cordial que soprava a brisa do poder, por ser a capital da República. Jornal da ABI — O que mais o impressionava era a estr utura urbana da ciestrutura dade grande ou a postura do povo carioca? Armando — Todos esses elementos juntos. Sofri forte impacto com a beleza da cidade e também com as manifestações das pessoas, que, de certa maneira, me deixavam inibido pelo olhar, o sorriso e o ar sisudo com que me assustavam no bonde. Jornal da ABI — Demorou muito para se adaptar à nova realidade? Armando — Demais. Era impressionante como eu, jovem interiorano, me sentia muito órfão. Nessa época o Brasil era um arquipélago urbano, as cidades pouco se intercomunicavam. Consegui superar essa fase graças à rotina do Instituto Lafayete, onde me matriculei para complementar os estudos. Jornal da ABI — Como se deu esse processo? Armando — A convivência com os colegas de turma foi decisiva para eu conquistar um lugar na cidade. Um dado
pai. Acabei me formando, mas nunca fui buscar o diploma. Jornal da ABI — A vontade de ser jor jor-nalista já era mais forte? Armando — Quando eu estava no segundo ano de Direito, abriu-se uma oportunidade para eu exercer o jornalismo. Experiência — muito incipiente — que eu já tinha tido quando estava no colegial e redigia notícias para o jornal O Acre. Meu sonho oscilava entre ser aviador ou jornalista, nunca bacharel, porque já estava no pleno exercício da atividade de imprensa. Jornal da ABI — Onde foi o seu prinalista? jornalista? meiro emprego como jor Armando — Num jornal que já desapareceu do mapa, chamado Diário Carioca, mas não sumiu da História, porque foi um veículo muito importante no Rio de Janeiro. Jornal da ABI — Como profissional, você já começou atuando na editoria de Esportes? Armando — Sim, fiz a cobertura das equipes que vieram ao Brasil disputar a Copa do Mundo de 1950. Jornal da ABI — Nessa época o Diário Carioca contava com uma equipe de jor nalistas de primeira linha, que jornalistas incluía P Prr udente de Morais, neto e Carlos Castelo Branco. Como foi conviver com eles? Armando — Eu era um garoto ex-
Jornal da ABI — Você ainda trabalhava no Diário quando testemunhou o atentado ao jornalista Carlos Lacerda? Armando — Sim, e fiz a matéria principal. Eu estava entrando em casa quando presenciei o atentado (na noite de 5 de agosto de 1954). A primeira coisa que fiz foi correr para uma esquina, entrar num bar em busca de um telefone e ligar para o jornal. Pedi ao secretário de Redação, que era o Pompeu de Sousa, para não fechar a edição, porque eu tinha acabado de assistir ao atentado contra o Carlos Lacerda, ia apurar os últimos dados e voltaria correndo para lá. Jornal da ABI — O que aconteceu em seguida? Armando — Ele pôs todo mundo de plantão e me deu instrução para redigir a reportagem na primeira pessoa do singular, ato que acabaria se tornando um fato quase histórico na técnica de escrever notícias de jornal. xto é consideraJornal da ABI — O te texto do um marco no jor nalismo brasileiro... jornalismo Armando — Foi uma grande jogada do Pompeu, que me transformou de repórter em testemunha. Jornal da ABI — Diz-se que todo repórter é testemunha dos fatos. Armando — Isso é uma metáfora, mas no meu caso, não. O Pompeu, deliberadamente, me lançou na condi-
Jornal da ABI — Quanto tempo durou essa coluna? Armando — Três anos. Depois apareceu um liquidificador da marca Arno, que inviabilizou o pseudônimo, e eu passei a assinar a coluna com o meu verdadeiro nome, Armando Nogueira. Jornal da ABI — Quando o esporte jor-dominou de vez sua trajetória no jor nalismo? Armando — Nunca deixei a editoria. Continuei cronista esportivo do Diário Carioca, ao mesmo tempo em que era redator-copidesque do jornal e redator principal da revista Manchete, de 1954 a 55, sob a direção de Oto Lara Resende. Fiz o mesmo quando virei repórter de Geral em O Cruzeiro e quando fui trabalhar no Jornal do Brasil em 59, logo após a reforma. Jornal da ABI — Fale de sua passaJB.. gem pelo JB Armando — Eu me transferi para lá a convite do Carlos Lemos, que estava criando uma nova figura na Redação, que tive o privilégio de estrear na imprensa carioca: a de pauteiro. Eu chegava às 4h, lia todos os jornais, fazia um pré-roteiro de matérias, e ia embora às 7h. Como meus companheiros me viam apenas no dia do pagamento, surgiu um movimento dizendo que eu era protegido da direção e só aparecia para pegar o dinheiro. Jornal da ABI — Como você reagiu? Armando — Para neutralizar a maJornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
21
DEPOIMENTO ARMANDO NOGUEIRA
Armando diante de duas de suas paixões: o Botafogo de Futebol e Regatas, que ele aprendeu a amar ao ver o lendário Heleno de Freitas jogando, e a aviação. Ele é siderado por gaita, que está aprendendo a tocar. Abaixo, num estúdio de televisão, em que é reconhecido mestre.
ledicência e mostrar às pessoas que eu começava no batente de madrugada, morto de sono, num horário que nem contínuo pegava, criei uma marca para o meu trabalho. Na primeira lauda, punha o título: “Balanço do dia”. Embaixo, escrevia: “Não leva a vida na flauta quem vive de fazer pauta”. E assinava: “Armando Nogueira, o filho da pauta”. Jornal da ABI — Qual foi sua funnal? jornal? ção seguinte no jor Armando — Copidesque da editoria de Esportes, por sugestão também do Carlos Lemos. Na época, Nascimento Brito, então dono do JB, havia comprado a Tribuna da Imprensa do Carlos Lacerda. O Alberto Dines, que era editorchefe do JB, me convidou para escrever na Tribuna uma coluna que batizou de Na grande área. A estréia foi logo após o Mundial de 62, no Chile, mas três meses depois houve um desentendimento entre o Nascimento Brito e o Hélio Fernandes, que retomou o jornal. Então a coluna Na grande área passou a ser publicada no Jornal do Brasil, juntamente com a Coluna do Castelo, do Carlos Castelo Branco, também criada pelo Dines. or quanto tempo Jornal da ABI — P Por a coluna ficou no JB ? JB? Armando — Até 1973, quando me desliguei do jornal e fui ser exclusivo da recém-inaugurada TV Globo, como diretor de Jornalismo.. mos Jornal da ABI — Antes de falar falarmos da Globo Globo,, poderia comentar o furo que você deu na Copa de 1954, na Suíça, e que o projetou definitivamente como repórter esportivo? Armando — Fotografei uma briga entre brasileiros e húngaros, cena que entraria para a história dos sururus dos Mundiais de futebol. Enfiei uma câmera ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 22 Jornal da AB
pelo basculante do vestiário e fotografei, sem querer, o Zezé Moreira, que era técnico da nossa Seleção, arremessando uma chuteira no rosto do então ministro de Esportes da Hungria. O flagrante me deu grande popularidade no meio profissional e ainda ganhei uns trocadinhos, porque alguns veículos — como a revista El Gráfico, de Buenos Aires — compraram a foto. Jornal da ABI — Você se considera nalista de sorte? jornalista um jor Armando — Na verdade, eu estava onde tinha que estar para ser beneficiado com a sorte. Picasso dizia: “Eu tenho sorte porque toda vez que ela me procura me encontra no meu ateliê, trabalhando.”. Quando a sorte me procurou, no dia do atentado contra o Carlos Lacerda, eu estava no exercício profissional; assim como na Copa, em que fiz uma foto que não esperava. Jornal da ABI — V Você apurador,, ocê foi apurador repórter,, redator e comentarista de repórter Esportes. Quanto essa eexperiência xperiência significou para o eex xercício da crônica? Armando — Foi fundamental. O melhor caminho para a formação de um profissional de jornalismo, de qualquer editoria, vai do estágio na Reportagem até o ponto de passar a assinar matérias, especialmente para quem deseja ser comentarista ou cronista. Jornal da ABI — Quem é o melhor cronista esportivo brasileiro? Armando — Para mim, Nélson Rodrigues era o maior do mundo. Ele não tinha olhos para ver as partidas, porque enxergava pouco. No entanto, ninguém jamais escreveu crônicas como ele sobre a Seleção, os ídolos da bola e o Fluminense do seu coração. O Nélson via o futebol por meio da alma. Era um extraordinário dramaturgo que se
transformou em cronista, função que nos permite viajar e recriar, com direito a devaneios. Jornal da ABI — Suas crônicas ficaram famosas devido ao estilo poético. O futebol lhe inspira poesia? Armando — Se fosse escrever sobre aviação, outra das minhas paixões, o faria com o mesmo enfoque. Para mim, a poesia é uma janela que me permite debruçar sobre a vida. Haja o que houver na minha paisagem, eu descreverei sempre com um toque de poesia. Se eu sou poeta, não sei; mas poético, tenho certeza. Jornal da ABI — A crônica valoriza o nalismo esportivo ou é o contrário? jornalismo jor Armando — A crônica veio dar um toque literário ao jornalismo esportivo, que é seguramente a vertente mais fecunda para alimentar os ideais de um poeta ou grande trovador. Jornal da ABI — Por quê? Armando — Porque numa partida de futebol ou vôlei ou numa corrida de 100 metros você vê concentrados todos os sentimentos que regem a existência humana, dos mais subalternos
aos mais sublimes. No esporte, convivemos com ódio, paixão, soberba, frustração, lágrima, sorriso, ironia... Todas as emoções e qualidades que enaltecem ou aviltam o ser humano se encontram na grande alegoria do esporte. Então, é um prato cheio para um poeta. Jornal da ABI — Nos anos 60, você foi um dos curingas do programa Mesa-redonda F acit, da TV Rio, hoje Facit, extinta. Ele foi realmente um dos melhores debates esportivos da televisão brasileira? Armando — O programa contava com grandes personalidades, como Nélson Rodrigues, João Saldanha, que era uma figura sedutora, e Luiz Mendes, grande narrador. Foi a melhor porta de entrada para o debate esportivo na TV, revestido, ao mesmo tempo, de inteligência e de paixão. Esse binômio foi irresistível para perenizar a atração, dirigida pelo saudoso companheiro Augusto Melo Pinto, que deu forma a uma idéia de Walter Clark. Jornal da ABI — O que mais o atrai na televisão? Armando — Gosto muito de fazer tv. Outro dia o Otávio Florisbal, dire-
tor-geral da Globo, me perguntou: “Armando, onde é que você se sente melhor, por trás das câmeras ou diante delas?” Respondi que me sinto muito mais motivado atrás das câmeras. Devo reconhecer que tenho que ir pra frente delas para me valorizar no mercado, mas o meu ideal é atuar nos bastidores. É um desafio quase neurótico comandar uma cobertura, seja de uma partida de futebol ou de um buraco na rua. Jornal da ABI — Seus colegas e o público dizem que você é um craque do jor nalismo esportivo. P or jornalismo Por que você mesmo acha que ainda não atingiu a valorização profissional desejada? Armando — Se sentisse que não precisava dessa valorização, estaria correndo um risco muito grande de morrer antes do tempo, porque perderia essa coisa fundamental na existência humana que é se sentir desafiado pela própria vida. Jornal da ABI — Você foi um dos responsáveis pela implantação do Departamento de Jornalismo da Globo. O que foi mais significativo em sua passagem pela emissora? Armando — Essa implantação foi, antes de tudo, obra coletiva. Agora, se eu pudesse destacar o ponto mais louvável desse trabalho, eu diria que foi a criação de um padrão ético no tratamento da notícia, no respeito à responsabilidade social do veículo e na configuração de todos os elementos do telejornalismo, do produtor ao locutor, criados sob o rótulo de operários e não de artistas. Seeudeiuma contribuição relevante, foi essa. Porque notícia se apura por fontes, que podem ser qualificadas ou não, mas o revestimento moraldainformaçãosóépreservadoseexistir um modelo ético inflexível. De tal maneira que, mesmo quando atravessamos todo o período da ditadura militar, fazendo um noticioso como o Jornal Nacional, ainda assim conseguimos implantarumpadrãodecredibilidade, porque tínhamos o apoio da direção daRedeGlobodeentão,daqualfaço Armando agora é uma das 00 estrelas do canal por assinatura0 Globo News, mas confessa que0 sempre gostou mais de ficar atrás da tela, vivendo nos bastidores o clima de produção do noticiário.
questão de citar o Walter Clark e o Boni. Jornal da ABI — Você chegou a ter alguma dificuldade na direção do Jornalismo da emissora? Armando — Naquela época, vivia-se uma briga de cão e gato entre a área comercial e a editorial, com pessoas ligadas às agências de publicidade querendo interferir de maneira tendenciosa para distorcer a verdade dos fatos. Jornal da ABI — E qual era a posição do Roberto Marinho? Armando — Com ele tive menos dificuldade, porque encontrei apoio total. Toda a direção da emissora costumava me dizerqueeuestavanocaminhocerto.“Deve ser assim mesmo, tem que ser ético”, incentivavam eles. Jornal da ABI — Alguém tentou contrariar esse processo? Armando — Havia um sujeito de uma agência de propaganda, ligada ao patro-
buiu, definitivamente, para eu sair da emissora.
volução para impor a vitória do drible.
Jornal da ABI — Gostaria que você falasse sobre Copas do Mundo, evento esportivo que acompanha desde 1950. Armando — É mera circunstância — pelas oportunidades profissionais que os veículos me deram de acompanhar os Mundiais — e um pouco de obstinação — por eu gostar muito de futebol e de viver a adrenalina do esporte. Acabei transformando isso num patrimônio que, além de profissional, é sentimental.
Jornal da ABI — Outras Copas lhe agradaram? Armando — A de 1974, na Alemanha, foi admirável, pelo fenômeno do Carrossel Holandês. Gostei da de 82, na qual o Brasil foi desclassificado talvez num exemplo de injustiça maior do que em 1950, porque fomos desbancados pela Itália, que não jogava o futebol que o Uruguai jogou aqui, e porque a Seleção montada pelo Telê era mais brilhante que a outra.
Jornal da ABI — Na Copa de 1954, Nélson Rodrigues implicou com suas reportagens sobre a Seleção Húngara, dizendo que os te xtos eram pura ficção. textos Você chegou a questioná-lo sobre isso? Armando — Cheguei a romper relações com o Nélson, preocupado com a minha reputação profissional. Com a autoridade que ele tinha, ao criar uma
Jornal da ABI — E os melhores jogadores que você viu jogar em Mundiais? Armando — Eu poderia citar uma dinastia, pois vi Puskas, Di Stéfano, Masopust, Nilton Santos, Djalma Santos, Nestor Rossi, Maradona, Didi, Zizinho, Danilo, Rui, Zito, Pelé, Garrincha, uma galeria em que, se estiver faltando algum nome, autorizo qualquer pessoa
“A poesia é uma janela que me permite debruçar sobre a vida” cinador do primeiro telejornal que fizemos, o Ultranotícias. Quando assumi o Jornalismo, ele passou a ser o primeiro a receber o script do jornal e o censurava seguindo instruções da sua empresa. Até que eu lhe disse: “Você vai continuar sendo o primeiro a receber o espelho do jornal, mas o último a opinar sobre ele.” A partir daí, estabeleceu-se uma guerra com a agência e o anunciante. Eu banquei, a direção da Globo ficou do meu lado e nós acabamos com a interferência da publicidade nos jornais da emissora. Jornal da ABI — Na campanha presidencial de 1989, como você reagiu ao episódio da edição do debate entre L ula e Collor Lula Collor,, favorecendo este último no Jornal Nacional ? Nacional? Armando — Fiquei muito decepcionado, mas não com meus superiores e simcomosmeussubordinados, que se portaram de maneira muito equivocada naadulteraçãododebate. Isso contri-
ficção para questionar o talento da Seleção Húngara, de certa forma desvalorizava o meu trabalho, numa fase da minha carreira em que eu precisava me afirmar perante o público. Depois percebi que ele não me havia feito mal algum; tinha até me promovido. Ainda contribuiu para dar respeitabilidade a tudo que eu fazia e, sobretudo, ao jornalismo esportivo brasileiro. Hoje, sou muito grato ao Nélson. Jornal da ABI — Quais foram as melhores Copas a que você assistiu? Armando — Esquecendo as derrotas e pensando nas equipes, elejo a de 1950 — pelo futebol do mais alto nível jogado pelo Brasil, principalmente nas partidas memoráveis contra Espanha, Suécia e Iugoslávia, e a de 1958, quando as seleções do Brasil e da França me impressionaram muito. A nossa foi o extremo da excelência em matéria de futebol-arte. Jornal da ABI — O que o fez chegar a essa conclusão? Armando — Em 58 aconteceu a libertação do futebol brasileiro, que passou uma década inteira atrelado a esquemas europeus de jogar, até aparecerem Garrincha e Pelé, fazendo uma re-
de bom gosto a acrescentar o jogador ausente. Jornal da ABI — Hoje o futebol explora mais o conjunto. Neste contexto, Gar Gar-rincha ainda seria considerado um gênio? Armando — Com o poder de drible que tinha, acho que sim, mas ele precisaria de muito mais condições físicas para defender o seu repertório. Jornal da ABI — Como você virou tor tor-cedor do Botafogo? Armando — Descobri o time pela estrela solitária que brilhava no peito de Heleno de Freitas, o primeiro jogador que mexeu comigo. Assistindo a uma partida entre o Botafogo e o Flamengo, em General Severiano, vi o Heleno fazer uma exibição épica, me apaixonei por seu futebol e, conseqüentemente, pelo clube. ocê é autor de dez Jornal da ABI — V Você retende escrever Pretende livros sobre futebol. P outros? Armando — É minha sina e minha sobrevivência. Preciso escrever por necessidade profissional e existencial, embora eu sofra muito no processo, a ponto de dizer que melhor que escrever é ter escrito. Vou continuar a escrever, para ter a alegria de depois poder dizer: “Escrevi, confesso que escrevi!” Jornal da ABI — Como é chegar aos 80 com qualidade de vida, fazendo o que aprecia e sendo reverenciado como um ícone do jor nalismo brasileiro? jornalismo Armando — Basta ser otimista e continuar tendo projetos de vida, que é o que eu faço. Quero aprender a tocar gaita, a pilotar melhor os meus aviõezinhos e aumentar meu círculo de amigos. Quanto mais eu os tiver, mais testemunhas terei da minha vida.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
23
Aconteceu na ABI
As propostas de Fruet Na Presidência da Câmara dos Deputados,ele pretendia lutar pelo fim das medidas provisórias e promover o reencontro da Casa com a sociedade. Em visita à ABI, o Deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR) explicou as razões que o levaram a se candidatar à presidência da Câmara, no que se convencionou chamar de terceira via. Revelou Fruet que sua intenção era "mostrar controvérsias, provocar o diálogo e o debate, acabar com a discussão sobre quem é mais leal ao Governo e vai dar aumento de 90% e estabelecer 12 itens que são importantes na relação do Congresso e da Câmara com a sociedade, questões internas e estruturantes para o País". Entre as questões defendidas pelo Deputado estavam o voto aberto, a restrição à edição de medidas provisórias, a revisão da forma de elaboração e discussão do orçamento e o debate das reformas tributária e política. Gustavo Fruet chegou à ABI, no dia 26 de janeiro, acompanhado pelo VicePrefeito do Rio, Deputado federal Otávio Leite, e Paulo Renato de Souza, Deputado federal e ex-Ministro da Educação do Governo FHC, ambos do PSDB, e disse que sua proposta como candidato à Presidência da Câmara visava a promover o reencontro da instituição com a sociedade. Daí a razão de visitar a ABI e também a CNBB e a OAB. O Deputado fez questão de frisar que seu gesto não era para pedir apoio ou voto, pois acha que se deve respeitar a relação político-institucional. Sua visita, explicou, era a sinalização de que mais do que nunca a Câmara dos Deputados tem que radicalizar seu contato com a população: – A Câmara afastou-se muito da sociedade, com os escândalos, julgamentos
Fruet expôs na ABI os 12 pontos de seu programa, um dos quais a restrição às medidas provisórias.
e algumas investigações não terminadas que culminaram com a tentativa de aumento no final de 2006. Essa é a contradição dos acordos políticos, do que representa cada candidatura que nós quisemos agora trazer à ABI. AVereadoraAspásiaCamargo(PV),que acompanhou Fruet, defendeu a reforma política proposta pelo Deputado: – Acho que a reforma política, como se vem discutindo, é muito ampla e talvez lhe falte um pouco de objetividade. A primeira reforma que deve ocorrer é intraparlamentar, porque são problemas que envolvem
Foi o Deputado Otávio Leite (à esq.) quem sugeriu que Fruet visitasse a ABI, a OAB e a CNBB para expor seu programa. Com eles veio (à dir.) o ex-Ministro e Deputado Paulo Renato de Souza.
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 24 Jornal da AB
regimento interno, práticas e cultura política da Casa. É nisso que eu vejo a presença do Fruet já muito ativa e importante. Fatores como a tirania das medidas provisórias, votos de liderança e a forma de negociar as emendas parlamentares são graves e, na verdade, funcionam como mecanismos que degeneram em corrupção. São atos que não permitem ao Congresso cumprir seu verdadeiro papel.
– Otávio é um parlamentar muito respeitado e nos deu a oportunidade de poder testemunhar em nome da Diretoria da ABI, sem que isso que represente uma tomada de posição em relação à votação a se processar na Câmara dos Deputados, a nossa admiração pelo seu desempenho parlamentar, que o Brasil inteiro acompanhou nas CPIs que se formaram na Câmara. O Deputado Fruet mostrou sua firme adesão a uma causa com uma concepção altamente ética da administração pública, bem como a sua competência como parlamentar. Maurício Azêdo destacou também que as Casas Legislativas contam com grande número de parlamentares, mas nem todos têm a possibilidade de se afirmar no exercício do mandato como Gustavo Fruet: – O Deputado se afirmou nessas jornadas memoráveis. Para nós é gratificante registrar que esse reconhecimento nosso, aqui à distância, no Estado do Rio de Janeiro, foi feito também pelo eleitorado e pelo conjunto da cidadania do Paraná, que lhe assegurou uma reeleição consagradora. Referindo-se à comitiva que acompanhou o Deputado Gustavo Fruet, Maurício comentou: – A Diretoria da ABI sente-se honrada pela presença de um homem público do escol e da envergadura do Ministro Paulo Renato de Souza, que, sabemos, vai elevar o nível intelectual e ético da Câmara dos Deputados nessa próxima legislatura.
Aspásia, vereadora: Formas Diálogo de negociar emendas Gustavo Fruet foi recebiLembrando Barbosa degeneram em corrupção. do por membros da DiretoPara destacar a sua relaria da ABI, entre os quais o ção com a ABI, Gustavo Presidente da Casa, Maurício Azêdo; a Fruet lembrou uma passagem do períoDiretora de Jornalismo, Joseti Marques; do em que fazia mestrado e doutorado em o Diretor Econômico-Financeiro, DominDireito de Informação: – Minha dissergos Meirelles; o Diretor de Assistência Sotação foi sobre a Lei de Imprensa e um belo cial, Paulo Jerônimo; o Diretor Cultural, dia eu queria falar com Barbosa Lima SoJesus Chediak; e o Conselheiro Francisbrinho. Era 1988 e eu achei que, como co de Paula Freitas. estudante, seria muita pretensão de minha Durante o encontro, Fruet ouviu de parte falar com o Presidente da ABI. Maurício Azêdo que a ABI defende uma Resolvi mandar uma carta. E olha o que reforma política que estabeleça fidelidade é o destino: quem me respondeu foi o partidária, os critérios de financiamenMaurício Azêdo, que me mandou um livro to de campanha e a contenção do uso da do Barbosa Lima. Na minha carta havia máquina pública para campanhas eleitoalgumas perguntas que continham carais, "uma distorção do regime democrácoetes de estudante, mas ele a respondeu tico e da democracia no País". O Presidente e eu a guardo até hoje. Então, para mim, da ABI agradeceu a visita do Deputado, já está sendo uma vitória na campanha uma iniciativa de Otávio Leite: estar hoje aqui na ABI.
Maurício, Audálio Dantas (2º à esq.), Ziraldo e, ao fundo, Milton Coelho e Pagê, percorreram a ABI com Lembo, que se encantou com a Biblioteca.
Entre nós, Cláudio Lembo, nosso novo sócio Ex-Governador de São Paulo veio ao Rio para receber sua carteira de associado. O ex-Governador de São Paulo, Cláudio Lembo, fez demorada visita no dia 21 de março ao Edifício Herbert Moses, sede da ABI, para receber oficialmente a carteira de sócio da entidade. Lembo foi recepcionado pelos Diretores Maurício Azêdo, Audálio Dantas, Paulo Jerônimo (Pagê) e Jesus Chediak, além de Ziraldo, membro do Conselho Consultivo, e Milton Coelho da Graça, membro do Conselho Deliberativo. Cláudio Lembo foi convidado para ingressar no quadro de associados da instituição por Maurício e Audálio, antes de deixar o cargo de Governador, em dezembro passado. Honrado com o convite, aceitou-o prontamente e estava
ansioso para receber a sua carteira: – É uma grande honra tornar-me sócio da ABI, uma casa que tem uma bela trajetória na luta pelas liberdades democráticas. Na época em que trabalhava no Rio, sempre admirava o prédio da ABI, que tem um significado histórico para a imprensa e a arquitetura nacionais. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, Lembo exerceu paralelamente à profissão de advogado as funções de revisor e redator da Editora Revista dos Tribunais. Em seguida, foi articulista do extinto Diário Popular, hoje Diário de S. Paulo, e depois analista político das TVs Globo e Gazeta. Atualmente, exerce a mesma função no Portal Terra. Na época
da ditadura, apresentou um programa na Rádio Record de São Paulo, chamado Testemunho de um liberal; apesar da censura naqueles tempos, não sofreu represálias graves. Na Biblioteca Durante a visita, Lembo conheceu as dependências de vários pavimentos do Edifício Herbert Moses. O roteiro começou pela Biblioteca Bastos Tigre, no 12º andar, onde o ex-Governador ficou fascinado com a preservação de alguns exemplares históricos de periódicos brasileiros, como o jornal A República e jornais alternativos, como Resistência, de Belém: – Parabenizo a Biblioteca e a preciosidade das
obras; aqui dá para se ter acesso a uma literatura que não é fácil de ser encontrada. O Rio tem uma seiva cultural, diferentemente de São Paulo – destacou Lembo. No 9º andar, Lembo admirou a conservação de detalhes do Auditório Oscar Guanabarino, que passou por reformas recentes e mantém a construção original, com matéria-prima importada da Argentina: – Os autores deste projeto eram tão visionários que, antes de chegarem à década de 40, já construíram este auditório com características de arquitetura que marcariam aqueles anos. Em seguida, Lembo conheceu o 3º andar,ondeficamassalasdosCursosLivres de Jornalismo da ABI, onde comentou: – Hoje em dia deve ser muito difícil dar aulas de Jornalismo. São diversas mídias e todas com linguagens distintas. Lembo não escondeu a emoção ao receber a carteira de sócio da Casa. Disse: – Ter a carteira da ABI é uma dádiva da vida. Fico imensamente feliz por, agora, figurar entre os sócios desta entidade histórica. Ziraldo, que veio à ABI especialmente para receber Cláudio Lembo, destacou a atuação política do novo sócio: – Têlo como associado é motivo de orgulho. Ele teve atuação importante na história política de São Paulo e foi coroado quando assumiu o Governo daquele Estado. Demonstrou sabedoria enquanto esteve no poder. Também Audálio Dantas exaltou o ingresso de Cláudio Lembo no quadro social da ABI: – Essa filiação é importante, especialmente porque ocorreu antes de ele deixar o Governo de São Paulo, ao qual deu uma grande contribuição na luta pela democracia. Pode-se dizer que o Lembo é um conservador que sempre se portou como progressista, preocupado com os problemas sociais da população. Quando fui Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que fazia oposição à ditadura militar, Lembo não deixou de nos visitar. Isso demonstra o tipo de participação pública que ele tem.
Samba faz festa para Família Santa Clara Instituição que abriga crianças de áreas de risco recebe alimentos não perecíveis. A emoção tomou conta do Auditório Oscar Guanabarino na noite de 25.de janeiro: crianças da instituição Família Santa Clara subiram ao palco do 9º andar do edifício-sede da ABI e interpretaram grandes ícones do samba, como Pixinguinha, Ari Barroso, Noel Rosa e Araci de Almeida, num show que embalou a platéia e foi finalizado com a apresentação de Moacyr Luz. O evento foi uma sessão especial de solidariedade apoiada pela ABI, a Accenture do Brasil e a Biblioteca Nacional, com o objetivo de arrecadar alimentos não-
perecíveis para a Família Santa Clara, que dá assistência e educação a 80 crianças e jovens originários de famílias em situação de risco social. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, abriu a cerimônia, destacando o trabalho meritório da Família Santa Clara. Para ele, "a Casa do Jornalista estará sempre aberta a eventos dessa natureza. É um momento de comunhão e doação, que vai ficar registrado na história de ambas as instituições". O jornalista José Reinaldo Marques foi o organizador do evento e apresentou as
Crianças e jovens da Família Santa Clara mostraram nossa música desde Pixinguinha a Chico Buarque.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
25
Aconteceu na ABI atrações da noite. Emocionado, agradeceu aos amigos e colaboradores que tornaram possível a realização da sessão. – Conheci a Família Santa Clara há pouco tempo e mergulhei nesse trabalho voluntário de doação. Lá as crianças têm acesso à educação, convivem em harmonia e aprendem música. E a ABI, tradicionalmente ligada à luta, defesa e promoção dos direitos humanos, só podia ser o melhor palco. A primeira apresentação musical foi de André Donha, funcionário da Accenture, e Ricardo Barcelos, com Sal da terra, que, para eles, reforçava a temática da noite por ter uma letra que prega a diminuição das diferenças. Depois, cantaram Sangrando, de Gonzaguinha, e Outras rotas, de autoria de Ricardo – Todas essas canções traduzem sentimentos, passam emoções. Nós abraçamos esta causa beneficente e temos muito prazer de estar aqui nesta noite disse André. Talento Em seguida, foi a vez de as crianças mostrarem seus talentos. O primeiro quarteto veio representando Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Ari Barroso. Na seqüência, vieram Geraldo Pereira, Wilson Batista, Noel Rosa, Araci de Almeida, Adoniran Barbosa, Dolores Duran, Assis Valente, Chico Buarque e Nara Leão. Também houve espaço para a Tropicália e a Bossa Nova, representadas por Caetano Veloso e Tom Jobim, entre outros. A apresentação infantil foi encerrada ao som de A voz do morro, de Zé Kéti, também homenageado na festa. À vontade no palco que já pisou algumas vezes (na última, em homenagem ao amigo Lan), Moacyr Luz não escondeu a alegria de ter assistido à representação de grandes nomes do samba na voz e interpretação de crianças. Sem repertório definido, inspirou-se no que viu: – Como não sabia o que tocar, mas vi Pixinguinha aqui no palco – brincou –, resolvi começar cantando uma música para o Rio de Janeiro, aproveitando também o ensejo da recente comemoração do dia do padroeiro da cidade. Atividades Ao final do show de Moacyr Luz, Cícero e Eliete Soares de Castro Rosa, criadores da Família Santa Clara, agradeceram a participação de todos e definiram as atividades da instituição, que já acolheu mais de mil crianças até hoje. – A música solta a alma, faz estarmos mais próximos do mundo. Com o nosso trabalho, queremos construir um mundo melhor, cercado de amigos - disse Eliete. As apresentações da noite, segundo ela, foram baseadas na identificação de cada criança com um artista. – Fizemos um recorte pessoal da criança e sua semelhança com o sambista. O resultado foi esta bela apresentação, carregada de energia, alegria, beleza e verdade. Quem quiser conhecer ainda mais as nossas atividades ou ainda colaborar com a nossa instituição, visite www. familiasantaclara.org.br – conclamou. ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 26 Jornal da AB
A salvação dos quadrinhos O humorista Ota, que começou a desenhar profissionalmente aos 14 anos e agora invade também as telas, lamenta a crise das tiras de humor, que só não é pior graças à sua publicação em jornal. Entrevistado na série ABI pensa o humor, o cartunista Ota - de nascimento, Otacílio D'Assunção - disse que o humor em quadrinhos vive momento de crise. A declaração foi feita ao Diretor Cultural da ABI, Jesus Chediak, que reúnedepoimentosdeprofissionaisdamídia e de outros segmentos artísticos para o Projeto Estação ABI. – As revistas vendem pouco, porque o custo de tiragem é alto e isso dificulta o mercado. O gibi, hoje, é peça acessória. O desenho de humor tem mais vida nos jornais. A Folha de S. Paulo, por exemplo, tem uma página de quadrinhos belíssima, mas é um jornal e pode bancar o custo dos autores. Ota, que nasceu no Rio em 1952, disse em seu depoimento, gravado no dia 16 de janeiro, que gosta de fazer trocadilhos com o seu nome artístico – daí se considerar um “cariota”. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, nunca fez curso de Desenho, apesar de, na infância, ter nos gibis Pererê, de Ziraldo, Luluzinha e Bolinha suas leituras prediletas e rabiscar as próprias histórias: – Acho que fiz meu primeiro gibi quando tinha cinco para seis anos, nem sabia escrever. E aprendi a ler rapidamente para poder consumir os quadrinhos. Meu pai era professor e lá em casa não faltavam livros. Naquele tempo, com o salário de professor era possível sustentar a família e ainda sobrava dinheiro para comprar livros e revistinhas.
O criador Ota e suas criaturas: acima, Dom Ináfio, tira publicada no Jornal do Brasil; abaixo, o primeiro número da revista Mad in Brazil e, logo abaixo, página de abertura sobre superheróis da série “Relatório Ota”
Os primeiros gibis Em junho de 1973, Ota criou a revista Os Birutas, primeira hq feita integralmente com seus textos e desenhos. A publicação, mensal, teve só três edições. Em 93, durante a II Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro, o cartunista lançou a Revista do Ota, que um ano depois ganhou o prêmio HQ Mix de Melhor Revista Independente, apesar de não ter passado do número de estréia. A adoração pelos quadrinhos é tanta que, além de desenhista, Ota virou colecionador, com acervo de mais de 50 mil títulos, e chegou a criar uma editora,aOtacomix,para fazer suas produções. – Eu achava que fazendo o lançamento de várias revistas ia incrementar a produção, com a impressão de várias capas de uma só vez. O plano parecia ótimo na teoria, mas na prática foi um tremendo fracasso. O cartunista começou a carreira na editora Ebal, na qual passou três anos como editor de quadrinhos: – Eu fazia gibizinhos e meu pai achava que eu era menino prodígio. Quando completei 14 anos e fazia o curso clássico (naquela época, havia o ginasial e depois o clássico ou científico ou normal), já pensava em editar quadrinhos. Meu pai tinha um amigo na Ebal e lá eu aprendi tudo o que sei sobre gráfica, fotolito, impressão etc. Nessa época o trabalho de menores de idade era legalizado, havia até uma carteira de trabalho especial. Quando com-
pletei 25 anos, já tinha dez de trabalho. Ota é o editor responsável pela revista Mad in Brazil, que já passou pela antiga Editora Vecchi e pela Record e agora está a cargo da Mythos. – As editoras fazem contrato com a Mad norte-americana e obtêm licença para publicar a revista. Eu sou contratado para fazer a adaptação local. Sonho animado O sonho de transformar suas tiras em animação foi alcançado com o filme A dança do acasalamento que, em suas palavras, representa “a primeira fita pornô liberada para menores de 18 anos”, realizada com a ajuda do animador Fernando Miller e reunindo cerca de 3 mil cartuns. Entre os grandes colegas brasileiros por quem foi influenciado, Ota cita Maurício de Souza, Millôr, Jaguar e Ziraldo, de quem recebeu importante conselho: – Uma vez ele viu meus desenhos e foi curto e grosso: "Isto está uma merda. Sua idéia é boa, mas você tem que caprichar mais. Não basta somente sua mãe e seu pai acharem que está bom, você tem que melhorar." Eu saí desse encontro arrasado, mas valeu o toque, porque o que ele disse era extremamente procedente. Já o Maurício de Souza foi mais carinhoso, chegou a me mandar uma carta, dizendo: "Otacílio, vi seus desenhos de quando você ainda era criança. Parabéns. Seremos colegas em breve."
LEMBRANÇA
E
m comemoração ao seu 30º aniversário de fundação, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação-Intercom promove, em 2007, o Ano Barbosa Lima Sobrinho. A programação foi aberta dia 22 de janeiro, data em que o jornalista completaria 110 anos, com o Seminário Barbosa Lima Sobrinho: precursor do estudo do jornalismo no Brasil. O evento, no Anfiteatro Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, contou com os depoimentos de Cícero Sandroni, que ocupa a cadeira que foi de Barbosa Lima na Academia Brasileira de Letras, e de Fernando Barbosa Lima, filho do homenageado, mediados por Marialva Barbosa, especialista em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense. A ABI foi representada pelo Diretor Econômico-Financeiro Domingos Meirelles. Na platéia, destacava-se a presença dos imortais Evanildo Bechara e Domício Proença Filho, amigos de Barbosa Lima Sobrinho. Antes da composição da mesa, foi exibido um vídeo sobre o Centro de Cidadania Barbosa Lima Sobrinho, projeto que compreende a restauração e adaptação do conjunto arquitetônico que abrigou a Faculdade de Direito da Uerj até 1976 e que faz também o tratamento e processamento técnico do acervo do jornalista e acadêmico, para compor uma biblioteca pública de preciosidades em Filosofia, Direito, História, Política e Literatura, entre outras áreas. Marialva Barbosa destacou a importância da homenagem ao jornalista, a seu ver o maior nome da imprensa brasileira no século XX, que foi também testemunha das modernizações no setor e protagonista de transformações sociais na política nacional: – É uma justa homenagem da Intercom, que está completando 30 anos. O Dr. Barbosa lutou veementemente contra a ditadura e transformou a ABI na principal trincheira de luta pelas liberdades democráticas.
Conveniência Cícero Sandroni recordou os tempos em que era Secretário-Geral da ABI e teve grande convivência com Barbosa Lima,
Seminário abre o Ano Barbosa Lima Sentimento nacionalista e luta contra a ditadura são apontados como marcas do homenageado na comemoração do seu 110° aniversário.
com quem aprendeu lições de vida, de patriotismo e de nacionalismo. Diz, no entanto, que o jornalista estava muito mais ligado à ABI do que à ABL: – Ele foi Tesoureiro da Academia e a construção do prédio que a abriga aconteceu durante sua gestão. Foi o segundo imortal mais novo, eleito em 1938, aos 41 anos de idade, concorrendo com o poeta Jorge de Lima. Foi também o segundo que mais tempo permaneceu na ABL, num período de 61 anos, só perdendo para Carlos Magalhães de Azeredo, um dos fundadores e o mais novo a ocupar uma cadeira, aos 25 anos. Sandroni disse que um aspecto fundamental a ser destacado na trajetória de Barbosa Lima Sobrinho é sua contribuição à política brasileira. A pregação do jornalista, diz, era nacionalista, mas sem xenofobia. Ele lembrou também como foi a chegada de Barbosa ao Rio de Janeiro, após perder uma vaga num concurso da Universidade Federal de Pernambuco, Estado onde nasceu e, anos mais tarde, ocupou o cargo de Governador: – Ele desembarcou no Rio com uma carta do Barão de Suassuna, que era amigo de seu pai, endereçada ao Conde Pereira Carneiro, dono do Jornal do Brasil. Era jovem, talentoso e culto. Pouco tempo depois, publicou O problema da imprensa, para combater um projeto de lei que instituía a censura aos veículos de comunicação. Ele mandava petardos contra tudo o que achava de errado na política. Outro livro citado por Cícero foi Presença de Alberto Torres, pensador de idéias nacionalistas que dizia que nacionalismo e patriotismo tinham o mesmo conceito, mas que, segundo Barbosa Lima, foi desvirtuado pela globalização: – Para ele, o conceito de globalização baseia-se no nacionalismo de nações hegemônicas, preocupadas com os interesses de suas empresas no estrangeiro. Ele costumava dizer que primeiro veio o colonialismo, depois o imperialismo e, então, a globalização. Num discurso caloroso, Sandroni afirmou que as lições de Barbosa Lima permanecem e serão eternas, pois suas reflexões se contextualizam
FOTOS: HENRIQUE HUBER
Os acadêmicos na homenagem a Barbosa Lima: Bechara (à esquerda), pernambucano, falou de seu orgulho de tê-lo como conterrâneo. Proença (ao centro) e Sandroni ressaltaram a atualidade das idéias de Barbosa.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
27
LEMBRANÇA
Orgulho Emocionado com a homenagem, Fernando Barbosa Lima afirmou que seu pai se sentiria orgulhoso de saber que sua cadeira na ABL é ocupada atualmente por Cícero Sandroni. Durante a cerimônia, ele mostrou a edição de um jornal japonês em que a primeira e a segunda páginas foram dedicadas a Barbosa Lima Sobrinho, em razão de um livro seu sobre o Japão, redigido sem que o jornalista jamais pisasse naquele país:"Papai dizia que se viaja muito mais com a cabeça do que com os pés", esclareceu.
Contou Fernando que em sua casa havia uma divisão perfeita das tarefas: a trivial, com sua mãe, Maria José, administrando os problemas da casa, e a essencial, com seu pai, tomando conta dos problemas do mundo. Fernando recordou ainda que Barbosa Lima Sobrinho fazia parte da Academia de Ciências de Lisboa. – Ele era um homem que ia além das fronteiras, mas que nunca perdeu a humildade. Certa vez, caminhando juntos pela rua, uma mulher o reconheceu e beijou sua mão. Ele me perguntou se eu sabia por que ela tinha feito aquilo e respondi que em razão da figura que ele representava. Ele rebateu: "Não. Foi porque eu tenho mais de cem anos!", brincou. Evanildo Bechara sentiu-se tocado com as homenagens a seu conterrâneo e exaltou a obra Língua portuguesa e a unidade do Brasil, também de Barbosa Lima: – Este é um dos livros mais lúcidos de uma língua que persiste e que merece ser preservada. O livro não ficou na primeira edição e é permanente em Portugal e no Brasil. Domício Proença Filho, por sua vez, reafirmou a atualidade do pensamento e da reflexão de Barbosa Lima Sobrinho: – Todos os que se debruçam sobre os estudos da língua portuguesa percebem a vitalidade desta obra do jornalista.
Na tela das tevês do Congresso e na TVE
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 28 Jornal da AB
HENRIQUE HUBER
A TV Câmara e a TV Cultura exibiram no dia 22 de janeiro, o documentário Barbosa Lima Sobrinho, Cidadão do Brasil, que contou com o apoio da Petrobras. O vídeo também foi ao ar no Canal Brasil, na TV Senado e na TVE. Na data, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, destacou a trajetória de Barbosa Lima na imprensa e sua dedicação à defesa dos interesses do País: "O Dr. Barbosa Lima Sobrinho foi um dos mais eminentes brasileiros a marcar sua presença na vida nacional, expressa na defesa que fazia dos interesses da Nação e quando dizia que o Brasil tem dois partidos: o de Tiradentes, que defende o País, e o de José Silvério dos Reis, que conspira e Filho do ex-Presidente, Fernando Barbosa Lima trabalha contra o interesse produziu o documentário Barbosa Lima Sobrinho, da pátria. Foi um exemplo de jornalista, que imprimiu um estilo ímpar nos mais de 70 anos em que escreveu artigos na imprensa brasileira." Barbosa Lima Sobrinho, Conselheiro e Presidente da ABI em várias ocasiões, também foi homenageado no dia 18 de janeiro em sessão especial da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 6, que tem como patrono Casimiro de Abreu. Em discurso, o acadêmico Tarcísio Padilha destacou a importância do jornalista para a História: – O seu desaparecimento não se dá à semelhança do que ocorre com aqueles que são apenas dirigentes, são apenas chefes, e desaparecem definitivamente. Já aqueles que são modelos e referenciais da sociedade às vezes se opulentam quando desaparecem, porque a morte permite que se faça de cada ser humano que desaparece um retrato irretocável, e aí, em toda sua grandeza límpida e meridiana, emerge a figura e o papel representado, no caso, por Barbosa Lima Sobrinho. Fixemos o nosso olhar neste retrato definitivo, e tenhamos como modelo para cada um de nós, porque ele já é modelo do Brasil inteiro. O jornalista Fernando Barbosa Lima, filho de Barbosa Lima Sobrinho e autor do documentário Cidadão do Brasil, comentou: – Sempre fizeram essas homenagens a meu pai e eu acho que são justas, porque ele é uma pessoa que deve ser lembrada por sua trajetória.
Mil no ato pelas vítimas do Holocausto Celebração amplia forças que impedirão a repetição desses horrores, disse o Presidente Lula. A ABI estava presente entre as mais de mil pessoas que participaram da celebração promovida em 2 de fevereiro pela Congregação Israelita Paulista e a B'nai B'rith do Brasil do Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, instituído pela Organização das Nações Unidas. Presidida pelo Rabino Henry Sobel, Presidente do Rabinato da Cip, a cerimônia contou com a presença do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; dos Governadores de São Paulo, José Serra, e da Bahia, Jacques Wagner; do Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; do Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo “Compartilhamos de um único mundo e Magela Agnelo; dos Embaié nele que precisamos viver”, disse o xadores dos Estados UniRabino Henry Sobel ao lembrar o Holocausto. dos, Clifford Sobel, e da Ele mencionou a instituição do Dia NaÁustria, Werner Brandstetter, da Embaicional de Recordação das Vítimas do Hoxadora de Isarael, Tzipora Rimon, além locausto, pela Onu, em 2005, aprovada de líderes de entidades judaicas do Brasil com voto favorável do Brasil. e do exterior. A ABI foi representada O Rabino Henry Sobel disse que pelo Vice-Presidente Audálio Dantas. "compartilhamos de um único mundo Em seu discurso, o Presidente Lula e é nele que precisamos viver". E comafirmou que, "cada vez que prestamos pletou: "Quanto tempo levará para que homenagens às vítimas do Holocausos países tenham o pluralismo e o resto, ampliamos as forças que irão prevepeito pelas minorias, como no Brasil?" nir que esses horrores não se repitam".
Solidariedade ao Rabino Sobel A ABI foi a primeira instituição da sociedade civil, com precedência até mesmo em relação a instituições israelitas, a manifestar solidariedade ao Rabino Henry Sobel, Presidente do Rabinato da Congregação Israelita de São Paulo, após o episódio em que ele se viu envolvido numa loja em West Palm Beach, na Flórida, Estados Unidos. Em nota oficial, disse a ABI: "Por mais graves que sejam as conseqüências do episódio, que alcançou ampla repercussão no noticiário da imprensa, a ABI quer levar uma palavra de conforto ao Rabino Sobel e lembrar a importância do papel por ele desempenhado em defesa das liberdades democráticas e dos direitos humanos. Não se pode esquecer, por exemplo, a sua participação no episódio do as-
sassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Sua coragem como cidadão e líder religioso contribuiu de maneira relevante para que não prevalecesse a versão de suicídio apresentada pelas autoridades militares. Foi destacada sua participação, ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns e do pastor James Wright, no culto ecumênico que o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, então presidido por Audálio Dantas, atual Vice-Presidente da ABI e Presidente de sua Representação em São Paulo, organizou em memória de Herzog. Realizado na Catedral da Sé, o culto marcou um momento de grandeza na História recente do País, pois foi a partir daquele ato, que reuniu 8 mil pessoas, representando setores diversos de sociedade civil, que a ditadura militar começou a cair."
DIVULGAÇÃO
com momentos atuais mesmo com a passagem do tempo. Uma peculiaridade do jornalista destacada por ele foi a aversão a homenagens. Quando completou 102 anos, rendeu-se a uma comemoração na quadra da União da Ilha, por ter tido sua vida escolhida como tema do enredo da escola naquele ano. Sandroni lembrou também que Ziraldo pediu a Barbosa Lima, na virada para o século XXI, que escrevesse uma carta dirigida aos brasileiros do terceiro milênio: – No texto, ele escreveu que, como testemunha por mais de cem anos de esforços do brasileiro para o Brasil crescer, gostaria de ver o País destacado entre as grandes nações do mundo.
COMEMORAÇÃO
Victor Civita, 100 anos Fundador da Editora Abril, Seu Victor, como era chamado na empresa, foi um dos mais bem sucedidos empresários da área de comunicação.
O lançamento de um documentário e de um site e a inauguração de uma praça, prevista para 2008, e de um busto, na sede da empresa, no bairro paulistano de Pinheiros, marcaram o início das homenagens do Grupo Abril ao seu fundador Victor Civita, que estaria completando 100 anos de idade no dia 9 de fevereiro. O vídeo de comemoração do centenário do criador do Grupo Abril – dirigido por Sérgio Mota Mello, da TV1 – foi exibido em 7 de fevereiro para 1.500 convidados na Sala São Paulo, na Estação da Luz. O busto foi inaugurado na manhã do dia do centenário do empre-
sário, numa cerimônia com a presença do Governador José Serra e do Prefeito Gilberto Kassab. Falecido em 24 de agosto de 1990, Victor Civita até hoje é considerado um dos mais bem-sucedidos empresários da área editorial e conseguiu transformar a Editora Abril – fundada em 1950 – numa das maiores do setor na América Latina. De ascendência italiana, Victor Civita nasceu em Nova York, no bairro de Greenwich Village. Em 1935, casou-se com Sylvana Alcorso, com quem teve os filhos Roberto e Richard. Morou na Inglaterra, na França e nos EUA. Em meio à dedicação à família e aos negócios, sempre reservava um tempo para a
música, especialmente a ópera – paixão também do pai, Carlo. Em 1949, Victor foi passar férias com a família na Itália, onde se encontrou com o irmão César Civita, que se tornara responsável pela versão italiana das revistas do Grupo Disney. Na biografia que escreveu sobre ele, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, editor especial de Veja, conta que o empresário resolveu interromper as férias e viajar imediatamente com o irmão para a América do Sul. Ele visitou primeiro a Argentina, para conhecer a Editorial Abril, fundada por César. Depois, veio para o Rio e seguiu para São Paulo, que o atraiu mais. "A cidade era mais do feitio de um milanês. Disseram-lhe que implantar uma editora em São Paulo não daria certo. Era uma província. Não tinha os jornalistas, os artistas gráficos, os recursos necessários ao setor. Victor insistiu, e o resto já se sabe", destaca Pompeu. Ao se mudar para São Paulo, Victor Civita instalou-se com a família no Hotel Esplanada, considerado o mais nobre da cidade, próximo ao Teatro Municipal. Seu primeiro escritório foi uma pequena sala, com apenas um telefone, na Rua Líbero Badaró, que dividia com uma secretária. Fundou a Editora Abril – mês em que começa a primavera na Europa – e escolheu a logomarca, como costumava explicar, porque "a árvore é a representação da fertilidade, a própria imagem da vida, e o verde é a cor da esperança e do otimismo". Nessa época, contava com US$ 500 mil em recursos próprios, levantou alguns empréstimos e convidou para sócios o Grupo Smith de Vasconcelos e o italiano Gordiano Rossi. No dia 12 de
julho de 1950, lançou o primeiro número da revista O Pato Donald. Na década seguinte, Victor Civita investiu na publicação de obras em fascículos, que se transformaram em fenômeno editorial, e lançou a revista Zé Carioca, impulsionando os quadrinhos nacionais. Aproveitando o crescimento da indústria automobilística e do turismo, iniciado no Governo Juscelino Kubitschek, pôs também no mercado as revistas Quatro Rodas, Guia Quatros Rodas e Viagem & Turismo. Victor Civita foi um dos maiores empreendedores do setor editorial no Brasil. Sob sua direção, em 50 anos de fundação, o Grupo Abril se tornou um dos líderes da sua área de atuação. A editora chegou a publicar 351 títulos, sendo 90 regulares, com circulação de 161 milhões de exemplares e índice de 23 milhões de leitores e 3,5 milhões de assinaturas. Sete das principais revistas que circulam atualmente no País pertencem à Abril – a Veja lidera a circulação, com cerca de 1 milhão de exemplares, de acordo com a Associação Nacional dos Editores de Revistas. A editora é também uma das maiores empresas de comunicação que mais emprega profissionais de imprensa – atualmente, tem em seus quadros mil jornalistas. Em setembro de 1985, Seu Victor, como era chamado, criou a fundação que leva seu nome, com a missão de "contribuir para a melhoria da qualidade do ensino fundamental, prioritariamente das escolas públicas com menos recursos". Pompeu de Toledo considera que Victor Civita é um dos principais personagens da história dos sucessos empresariais do Brasil, aliando a capacidade de trabalho "ao fino talento para manter sua caravela a favor do vento, de forma a aproveitar-se das mesmas forças que impulsionavam o País de modo geral".
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
29
LIVROS POSSE
Chineses pela reunificação sem guerra Empossados os dirigentes da associação que sonha com a China novamente unida através de negociações. A ABI expressou mais uma vez seu apoio à idéia de reunificação da China através de negociações, sem guerra, ao participar, em 10 de março, no Hotel Rio Othon, da cerimônia de posse da Associação PróReunificação Pacífica da China do Rio de Janeiro, entidade que há oito anos trabalha para ver seu país novamente unido. À mesa principal da solenidade tiveram assento o Cônsul-Geral da República Popular da China no Rio, Yan Xiaomin, a Presidente Zhan Hui Hua, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, o Embaixador Francisco de Lima e Silva, ex-chefe da representação diplomática brasileira em Pequim, os Vereadores Rubens de Andrade (PSC) e Sílvia Pontes (PFL) e o Presidente de Honra da Associação Pró-Reunificação, Chiu Ke Yu, um dos fundadores da entidade. Entre os presentes encontravase o Professor Raimundo de Oliveira, exPresidente do Clube de Engenharia. Convidado a usar da palavra, o Presidente da ABI leu a seguinte saudação aos membros da Diretoria que tomavam posse: "Em nome da Associação Brasileira de Imprensa, que se sente honrada com o convite que recebeu para participar desta cerimônia, quero saudar os diretores da Associação Pró-Reunificação Pacífica da China que ora tomam posse e expressar nossos votos de uma gestão fecunda, marcada pelo êxito de iniciativas que visem à consecução dos altos e generosos propósitos que inspiraram a sua criação. É alentador verificar que os povos da República Popular da China não esmoreceram em sua luta para promover a unificação do território chinês, fracionado por uma guerra civil cujo desfecho remonta a quase 60 anos, quando as forças revolucionárias lideradas por Mao Tse Tung assumiram o controle político do país e implantaram o regime que desde então governa os chineses. Cessadas as animosidades e as práticas belicistas que marcaram a Guerra Fria, acreditam as autoridades chinesas, com apoio de representações de seus cidadãos radicados em diferentes países, como esta criada no Rio de Janeiro, que um processo de negociação poderá conduzir à reunificação do território chinês, sonho de muitos dos que aqui se encontram. A Associação Brasileira de Imprensa sabe que esse processo, lento, marcado por adversidades de todo tipo, exigirá obstinação e paciência e é preferível a qualquer outro que dependa da violência das armas, com sacrifício de vidas humanas. Seu desfecho não se dará com a rapidez que seria desejável. A China não tem pressa e há-de construir com perseverança e lucidez o caminho da felicidade de seus povos. Parabéns, senhores diretores." ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 30 Jornal da AB
Nas livrarias o Graciliano de Audálio Em colaboração com o fotógrafo Tiago Santana, Audálio fez várias viagens a partir de 2002 às áreas do sertão nordestino presentes na obra do romancista de Vidas Secas. Em concorrida noite de autógrafos na Livraria da Vila, no bairro paulistano da Vila Madalena, Audálio Dantas, VicePresidente da ABI, e o fotógrafo Tiago Santana, lançaram no dia 1º de março o livro O chão de Graciliano, que tem apresentação de um jornalista e escritor notável: Joel Silveira. O chão de Graciliano é definido como um livro de artereportagem, que mostra, com texto de Audálio e fotografias de Tiago, a região de nascimento e criação literária de Graciliano Ramos. Com versões em inglês e espanhol, o livro é resultado de várias viagens dos autores ao sertão de Alagoas e Pernambuco, a partir de 2002, quando foi feito o primeiro ensaio fotográfico para a exposição homônima, considerada a mais importante até hoje realizada sobre a vida e a obra do escritor, e promovida no Sesc Pompéia, em São Paulo, em 2003. Na época, a exposição - que teve projeto e curadoria de Audálio - marcou a passagem dos 110 anos de nascimento de Graciliano e os 70 anos da publicação de seu primeiro romance, Caetés, e percorreu cidades como Maceió, Fortaleza e Recife, onde contou com palestra de abertura de Ariano Suassuna. Como Graciliano, Audálio e Tiago têm origem nordes-
tina. O Vice-Presidente da ABI, também nascido em Alagoas, produziu para a obra uma reportagem literária em que registra o tempo e o espaço do escritor em sua região: - O passado e o presente muitas vezes se confundem, pois em muitos aspectos as condições do homem que nela vive permanecem praticamente as mesmas - explica. Já o fotógrafo, cearense, cresceu vendo os romeiros que buscavam milagres em Juazeiro, cidade do Padre Cícero. Seguindo a obra de Graciliano, fez um ensaio fotográfico centrado na figura do homem, tendo a paisagem como mero pano de fundo. Na apresentação do livro, Joel Silveira, outro nordestino, afirma: "O chão percorrido pelo fotógrafo é o mesmo sobre o qual Graciliano construiu a sua literatura, mas não é a paisagem, a terra quase sempre dura e seca, que Tiago recolhe em sua câmera; o que ele registra é o homem que nela vive, sobrevive ou dela se retira quando de todo perde a esperança." O chão de Graciliano, que contou com incentivo da Lei Rouanet, tem como patrocinadores a Companhia Hidrelétrica do São Francisco-Chesf e a Petrobras Transporte S.ATranspetro.
Poerner doa obra sobre a invasão da FNM em 1966 O jornalista e escritor Arthur José Poerner, Conselheiro da ABI, doou para a Biblioteca Bastos Tigre um exemplar de Invasão da FNM - 40 anos, obra que remete à madrugada do dia 23 de setembro de 1966, quando forças policiais do regime militar espancaram cruelmente os estudantes que haviam se abrigado no antigo prédio da Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro.
O episódio, conhecido como Massacre da Praia Vermelha, é contado no livro através de depoimentos de testemunhas daquele dia, como Aloísio Teixeira, Almir Fraga Valadares, Antônio Paes de Carvalho, Diana Maul de Carvalho e Antônio Rafael da Silva. No livro, a pedido da Coordenadoria de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi
reproduzido um dos capítulos de O poder jovem: história da participação política dos estudantes brasileiros, de autoria de Poerner: – Eles aproveitaram o meu relato porque descrevo aquele momento crítico da luta dos estudantes contra a ditadura militar, contextualizado com acontecimentos anteriores. A noite do dia 23 de setembro foi trágica, revoltante e chocante - diz Poerner.
RARIDADE
O jornal que fez a Independência A coleção do Reverbero Constitucional Fluminense, em edição fac-similada, é doada à Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre) pela historiadora Cybelle de Ipanema, que fez com o marido, o falecido historiador Marcelo de Ipanema, um índice de 120 páginas com todos os assuntos tratados no jornal. A historiadora Cybelle de Ipanema, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro-IHGB, doou à Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre) a versão fac-símile dos exemplares do jornal Reverbero Constitucional Fluminense, publicado de 1821 a 1822 para apoiar a Independência do Brasil. O trabalho foi editado pela Biblioteca Nacional em três volumes: um instrumental, de orientação para pesquisa, e dois com a reprodução dos exemplares do jornal. Trata-se de um documento raro, hoje encontrado apenas na BN, na Biblioteca da ABI e no IHGB, todos no Rio de Janeiro. Para realizar o trabalho, a historiadora contou com a colaboração do marido, o jornalista e também historiador Marcello de Ipanema, falecido em 1993: — O Reverbero foi o jornal que mais contribuiu para a Independência do Brasil. Reunir os exemplares foi uma obra de paixão, que começou a ser desenvolvida nos anos 50. Resolvemos fazer um estudo sobre o jornal, que circulou entre 1821 e 1822, estimulando a população a aderir à idéia da Independência. Os três volumes foram lançados em março de 2005, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Diz a Professora Cybelle que a obra é fruto de demorada pesquisa e constitui um instrumento valioso “para a História do Brasil, da imprensa e da Independência, que vai facilitar o acesso dos pesquisadores a uma obra rara”. O maior trabalho, diz, foi conseguir que a BN
Cybelle de Ipanema: Mais de 50 anos pesquisando o Reverbero.Constitucional.
fizesse a edição fac-símile dos dois tomos com exemplares da publicação: — O volume instrumental será muito útil aos pesquisadores e interessados na história do Reverbero. Só a parte da indexação, por exemplo, tem 120 páginas e é uma peça importante da obra, porque foi organizada em capítulos toponímicos (de lugar), hemerográficos (jornais citados), onomás-
ticos (nomes de pessoas) e analíticos. O impacto, na época A edição nº 1 do Reverbero Constitucional Fluminense foi lançada em 15 de setembro de 1821 — data da comemoração, pela Corte, do primeiro aniversário da adesão de Lisboa à revolução da cidade do Porto — e seus mentores e editores foram Joaquim Gonçalves
Ledo e o cônego e jornalista Januário da Cunha Barbosa: — O lançamento teve um impacto muito grande, porque naquele momento a população já via com boa aceitação os princípios do liberalismo — diz Cybelle. O jornal chegou a ser impresso em três gráficas diferentes: Moreira e Garcez, Tipografia Nacional e Tipografia de Silva Porto e Cia. Geralmente circulava sem o nome de seus editores e colaboradores — mas apenas porque naquela época não era comum as publicações terem o que chamamos de expediente: — Descobriam-se os responsáveis por informações cruzadas e referências. Uma vez ou outra alguém assinava as matérias — explica a historiadora. Quando o Reverbero começou a circular, a idéia de liberar a colônia da Corte portuguesa, apesar da oposição, já estava bem adiantada; seria muito difícil o Príncipe Regente recuar da responsabilidade de concretizar a Independência do País, diz Cybelle, que é sócia da ABI. Outra informação que consta do trabalho de Cybelle e Marcelo de Ipanema é que os jornais da época costumavam ter epígrafes, a maioria em latim ou francês. A de Januário da Cunha Barbosa e Joaquim Gonçalves Ledo para o Reverbero era “Redire sit nefas” (“É um crime voltar atrás”), numa clara alusão à atitude que desejavam de Dom Pedro I. Quem não gostou foi José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, que fez reclamou da divisa diretamente ao jornal.
Uma coleção de História Ciências Saúde na ABI A Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre) conta agora com toda a coleção (44 volumes) da revista História Ciências Saúde, publicação da Casa de Oswaldo Cruz, órgão ligado à Fundação Oswaldo Cruz. Lançada em 1994, a revista circula entre pesquisadores, especialistas, cientistas sociais e historiadores das áreas de medicina e de biologia. A Editora-Executiva Ruth Martins, que teve a iniciativa da doação, informa que a revista – trimestral desde o ano passado – publica resenhas, notas de pesquisas, artigos e
ensaios inéditos e foi pioneira num campo editorial que vem crescendo no País. A publicação também reproduz documentos e imagens de valor histórico e edita debates, entrevistas, dissertações e teses: – Desde o seu lançamento, ela vem causando boa impressão no meio acadêmico e o número crescente de colaboradores mostra que estamos no caminho certo, ganhando prestígio em vários campos de pesquisa. Um dos fatores que também contribuiu para o crescimento do interesse por História Ciências Saúde foi o seu in-
gresso no portal de periódicos científicos Scielo, que abriga textos e divulga a produção científica da América Latina e do Caribe. Ruth Martins, porém, não esconde que, no lançamento, a revista apareceu como um corpo estranho na centenária Fiocruz, que até então só se dedicava às pesquisas médicas e biológicas: – Surgiu na instituição um novo olhar para a memória e a preservação dahistóriadasaúdeedamedicina.Hoje, a Casa de Oswaldo Cruz já tem um lastro que inclui cursos de pós-graduação e um museu de ciências.
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
31
COMPETIÇÃO
Tevês do Ceará em disputa pelo futebol Verde Vale x Verdes Mares, o prélio fora do gramado.
O site da TopSports apresenta entre outras atrações os jogos do Campeonato Italiano, onde brilha o brasileiro Kaká, astro do Milan.
VEÍCULOS
Um canal de esportes, o dia todo Transmitido em UHF e por parabólica, Esporte Interativo é o primeiro canal aberto exclusivo sobre o assunto Chama-se Esporte Interão agora em março. O rativo e é produzido pela canal investe também em agência de marketing esesportes radicais, como portivo TopSports o mais surfe e skate, e tem o pronovo canal de tv com programa Revista Eletrônica, gramação exclusivamente com conteúdo mais diverdedicada ao tema. A estréia sificado: – Ele exibe o que foi no dia 20 de janeiro e a há de mais atual no esportransmissão é ininterrupte internacional, como as ta. O novo canal tem transmais importantes compemissão em UHF e via antições de tênis, natação e tena parabólica – presente Carlos Moreira: atletismo. E ainda acomem 15 milhões de lares no atrações diversificadas panhamos o dia-a-dia de Brasil – na freqüência 980 uma equipe de iatismo que vertical do satélite B1. De acordo com se prepara para o Pan 2007 no Améo publicitário Carlos Moreira – responricas cup – diz Carlos Moreira. sável pelo marketing comercial da O jornalista André Henning é o resTopSports –, essa distribuição vai posponsável pelo comando das 50 pessosibilitar o acesso de telespectadores de as das equipes de transmissão (narravárias camadas sociais: dores, comentaristas e apresentado– O Esporte Interativo é mais volres) e produção (jornalistas e pessoal tado para as classes B, C e D, para gente de operação). Informou Carlos Moreira até então sem acesso a um canal esque o canal vai manter as parcerias com portivo que funcionasse 24 horas por a TV Band – jogos dos campeonatos dia, por não ter tv paga. inglês e italiano – e a TV Cultura – camOs principais atrativos da grade peonato português: – Já para a comprogramação do Esporte Interativo petição do Sul-Americano Sub-17, no são as exibições dos campeonatos Paraguai, estamos em contato com a inglês, italiano e português de futeBand e a Record. Vamos viabilizar esse bol; o torneio pré-olímpico sul-ameprojeto. Afinal, será a última compericano sub-20, em fase final; e os jotição de seleções nacionais antes dos gos da divisão sub-17, que aconteceJogos Pan-Americanos 2007.
Astronomia tem jornal trimestral Em comemoração aos seus 30 anos de fundação, o Clube de Astronomia do Rio de Janeiro lançou a publicação Astronomia em Jornal, um espaço para divulgação de artigos e curiosidades sobre temas referentes à astronomia e aos objetos celestes. No primeiro número, colaboram os astrônomos Fernando Vieira, Diretor-Presidente da Associação Brasileira de Planetários e Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Presidente de honra do Clube, que assina o artigo A história do universo, sobre gê-
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 32 Jornal da AB
nese e a formação dos elementos fundamentais do universo. O Astronomia em Jornal tem formato A4, com oito páginas, em quatro cores. Sua distribuição é feita gratuitamente para associados e parceiros do clube, com o objetivo de contribuir para a difusão da astronomia como área do conhecimento humano. O Vice-Presidente do Clube, Roberto Alvim Pinheiro, revelou que a periodicidade de Astronomia em Jornal deverá ser trimestral, com tiragem de 1 mil exemplares.
O Diretor de Jornalismo da TV Verde Vale, Wilkier Barros, pediu orientação à ABI sobre como proceder diante de incidente recente do qual sua emissora foi vítima. Disse ele que a concorrente TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará, acionou a Polícia Militar para que todas as câmeras da Verde Vale fossem retiradas do campo durante as partidas de futebol Icasa X Guarani e Icasa X Ceará pelo Campeonato Cearense, alegando que o contrato de exclusividade na transmissão dos jogos estava sendo infringido. O clube de futebol Icasa assinou um contrato de exclusividade para as transmissões ao vivo dos jogos no estádio municipal Romeirão, que foi cedido pela
Prefeitura de Juazeiro do Norte para sediar a equipe da TV Verdes Mares. No entanto, disse Wilkier, o contrato da afiliada da Rede Globo "não tem qualquer cláusula que proíba a permanência de outra emissora de televisão ou rádio no campo; mesmo que houvesse esta cláusula, não poderia se sobrepor à Lei de Imprensa ou ao direito de transmitir, através de videoteipe, os jogos e/ou lances do campeonato". Para o Diretor de Jornalismo da Verde Vale, a atitude da concorrente é "equivocada e contraventora". A ABI recomendou à TV Verde Vale que recorresse à Justiça e pedisse uma liminar que possa garantir o seu direito de fazer a cobertura do Campeonato Cearense.
REPRESENTAÇÃO
Tognozzi, nosso homem em Brasília O novo Chefe da Representação da ABI em Brasília é o jornalista Marcelo Tognozzi, que substitui Silvestre Gorgulho, empossado em 1º de janeiro no cargo de Secretário de Cultura do Distrito Federal. Logo após ser indicado, Tognozzi veio ao Rio acompanhado do Presidente do Conselho Nacional de Propaganda, Hiran Castello Branco, e do publicitário João Santos, sócio de Hiran na agência Giacometti, que será responsável pela criação voluntária da campanha de promoção do centenário da Casa. Participaram do encontro o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, o Diretor Financeiro, Domingos Meirelles, e o ConselheiroFrancisco Paula Freitas. Marcelo Tognozzi iniciou a carreira jornalística na Bloch Editores, em 1977, e trabalhou na Rádio Roquette Pinto, no Jornal do Commercio, O Globo, Correio Braziliense e Folha de S. Paulo e nas revistas Tendência, Veja e IstoÉ. Em 1966, assumiu o cargo de Secretário-Adjunto de Comunicação do Governador Cristovam Buarque, para o qual criou a primeira agência de governo online. De 1977 a 2000, escreveu a coluna política O Dia em Brasília, no jornal carioca O Dia. Especializou-se em assuntos políticos e mantém uma empresa de consultoria na área, a A + B Comunicação. A reaproximação do jornalista com a ABI aconteceu há dois anos, quando ele foi convidado para suplente de Silvestre Gorgulho como representante da entidade no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão do Ministério da Justiça. Na ocasião, foi convidado também para colaborar na organização dos festejos do centenário da ABI, em Brasília. Além de chefiar a Representação da Abi, Tognozzi foi designado representan-
Tognozzi assumiu a ABI de Brasília já fazendo planos para o centenário da Casa.
te da Casa no Conselho, em substituição a Gorgulho. Para suplente foi designado o jornalista Orlando Britto, um dos mais respeitados repórteres-fotográficos da capital. Ao comunicar o apoio que o Conselho Nacional de Propaganda dará à ABI na divulgação do seu centenário, Hiran Castello Branco disse que um dos principais objetivos da entidade é justamente participar de campanhas de interesse público: - A ABI é uma das principais entidades de mobilização pela liberdade de expressão. Não podemos falar de livre iniciativa e cidadania sem citar a liberdade de expressão, princípio que o Conselho Nacional de Propaganda também defende. Por isso, trabalhar em parceria com a ABI é motivo de orgulho para nós e as agências filiadas e atendemos ao chamado desta Casa para colaborar na campanha que será criada voluntariamente pela Giacometti.
HOMENAGEM
Nossos mor tos dão nomes a 10 ruas A Prefeitura do Rio celebra companheiros que se dedicaram a jornal, rádio e televisão.
pórter do Diário do Comércio na década de 50; quando morreu, era relator da Assembléia Legislativa do Estado do Rio e chefiava o Gabinete da Presidência da CâmaradeVereadoresdeNiterói.JacintoFigueira Júnior, conhecido como O Homem do Sapato Branco – nome de uma de suas atrações –,apresentavaprogramaspoliciaisnos anos 60 e 70, dando início ao gênero que até hoje faz sucesso na TV. Membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo, Luiz Alberto Bahia começou na profissão em 1945, como repórter do Correio da Manhã, depois foi editorialista do JB e editor de Política da revista Visão. Entre 1966 e 1968, foi Chefe do Gabinete
AGÊNCIA O GLOBO
ARQUIVO ABI
Mário Cunha, que foi 1º Secretário da ABI na Gestão Prudente de Morais, neto, Conrado Pereira e José Carlos Rego, que foram membros do Conselho Deliberativo, estão entre os jornalistas homenageados com nomes de rua em Campo Grande, no Rio Janeiro, de acordo com o Decreto nº 27.570, do Prefeito Cesar Maia, publicado no dia 29 de janeiro no Diário Oficial do Município. Marco Uchôa, Elaine Rodrigues, Rogério Coelho Neto, Luiz Alberto Bahia, Jacinto Figueira Júnior, Arnaldo Nogueira e Sérgio Lopes também receberam a homenagem póstuma. Ex-Secretário da Diretoria de Assistência Social da ABI, Conrado Pereira dedicou mais de 30 anos de sua vida à Associação e 46 ao jornalismo. Passou por veículos como TV Excelsior, Rádio Tupi, Jornal do Brasil, O Globo e O Dia e foi um dos primeiros profissionais formados pelo Curso de Jornalismo da Faculdade Nacional de Filosofia. José Carlos Rego, cuja carreira começou no diário Imprensa Popular, órgão do Partido Comunista Brasileiro-PCB, completaria 50 anos de profissão neste ano de 2007. Marco Uchôa era repórter da TV Globo e morreu, aos 36 anos, em decorrência de um câncer. Também vítima da doença, ElaineRodriguestrabalhavanoGloboeuma de suas últimas grandes reportagens publicadanojornalfoisobrecomoosbicheiros administravam os cerca de R$ 70 milhões destinados ao Carnaval carioca. Rogério Coelho Neto iniciou a carreira como re-
dos pioneiros da televisão brasileira. Foi locutor e ator de rádio em cidadesdointeriordeSãoPaulo e Minas Gerais; em 1946, tornou-se correspondente da Rádio BBC, e foi morar em Londres. No início dos anos 50, participou da inauguraçãodaTVTupieapresentou os programas de entrevistas Falando francamente e Senhora opinião. Em 1954, entrou para a União Democrática NaConrado Pereira e José Carlos Rego: dois dos dez jornalistas que cional (UDN), pela qual agora dão nomes a ruas do Rio, por iniciativa da Prefeitura. se elegeu vereador e deputado estadual e fedeCivil de Negrão de Lima, Governador do ral pelo Rio de Janeiro. Dirigiu a sucursal então Estado da Guanabara. Em 1980, de O Globo em Brasília por 22 anos. tornou-se Conselheiro do Tribunal de Sérgio Lopes, conhecido como Serjão, Contas do Município do Rio de Janeiro. era apaixonado por Carnaval e dividiu seu Mário da Cunha trabalhou durante 20 tempo entre o mundo do samba e da anos no Estado de S. Paulo e foi um aguerpolítica. Acumulou passagens nas Orgarido defensor da liberdade de imprensa. nizações Globo - jornal, rádio e televisão Durante o regime militar, chefiou a sucur-, na Gazeta Mercantil, na Luta Democrásal Rio do Estadão e driblou a censura na tica, no Jornal dos Sports e nas rádios Redação. Trabalhou ainda no Jornal do Guanabara e Continental. Foi também Commercio, no Correio da Manhã, na TV professor da disciplina Jornal-laboratóGlobo, na Radiobrás e na Folha Dirigida. rio, na Faculdade da Cidade, e assessor de Na campanha das Diretas Já, foi assessor imprensa de escolas de samba, como Mande Ulysses Guimarães. Morreu em 2004, gueira, Salgueiro, Estácio de Sá e Acadêquando editava o jornal Terceiro Tempo, micos da Rocinha. Antes de falecer, em criado por ele e dirigido aos aposentados. julho passado, trabalhava na assessoria do Arnaldo Nogueira é considerado um Deputado estadual Noel de Carvalho.
MEMÓRIA
Catarinenses mostram sua imprensa desde 1831 Exposição itinerante é o embrião do futuro Museu da ACI. A Associação Catarinense de Imprensa mantéve seu calendário cultural durante as férias. Aproveitando a presença de milhares de turistas brasileiros e estrangeiros no litoral, a ACI decidiu promover a exposição Memória da Imprensa Catarinense – Fase I. É o embrião do futuro Museu da Imprensa de Santa Catarina, projeto da Casa do Jornalista que começa a ser executado este ano. A mostra passou o mês de fevereiro no pavilhão central do Parque Unipraias, em Camboriú, e conta com o apoio da Assembléia Legislativa, da Eletrosul, do Governo do Estado e da Secretaria Municipal A exposição Memória da Imprensa Catarinense, organizada pela ACI, que atraiu visitantes de Turismo. Comemorativa do bicentedurante as férias de fevereiro em Camboriú, percorrerá diversas cidades do Estado nário de nascimento de Jerônimo Coe-
lho, fundador da imprensa e da Maçonaria em Santa Catarina, a exposição já tem agendadas exibições em Blumenau, Pomerode, Jaraguá do Sul e Brusque, entre outros Municípios. Dois núcleos principais compõem a mostra: o histórico, com a apresentação de uma réplica do prelo em que foi impresso o primeiro jornal catarinense, em 1831, e o contemporâneo, com capas de todos os diários que circulam hoje no Estado – há uma foto da capa do primeiro número de cada jornal e foto da capa do número que circulou no primeiro dia de janeiro de 2006 – ano do bicentenário –, um breve histórico do jornal e um mapa de Santa Catarina, localizando a cidade sede da publicação. Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
33
Vidas ARQUIVO PESSOAL
ANÍSIO FÉLIX Um personagem de romance Tez cor de cobre, cabelos cortados rente, o corpo enxuto, apesar da deseconomia à mesa. Anísio Félix dos Santos podia ter saltado das páginas de um romance de Jorge Amado ou nelas ter ingressado sem pedir licença ao autor, que o receberia com uma saudação familiar, alguém do extenso rol de personagens do romancista baiano. Anísio tinha a riqueza de uma densa personalidade da Bahia. Jornalista e advogado, editor internacional de jornais importantes de Salvador, como o Jornal da Bahia e a Tribuna da Bahia, editor de Opinião do mais respeitado dos jornais baianos, A Tarde, repórter e redator do Diário de Notícias de Salvador, era festejado como intelectual e admirado como boêmio: não havia canto da cidade, por mais recôndito que fosse, que ele não conhecesse, em que não tivesse um amigo, um parceiro de aventuras, mais que um simples conhecido. Ele sabia onde degustar a arraia frita mais saborosa e a moqueca mais deliciosa, o acarajé mais apimentado a evitar, o terreiro de mãe-de-santo onde buscar proteção, o grupo cultural mais criativo, a barraca (agora, boxe) do Mercado Modelo mais indicada para algumas horas de prosa e prazer. Sabia, na profusão de gente de tipos e figuras da Bahia, quem era quem, quem fez o quê, quem pensou em fazer e não fez, quem podia ser encontrado onde. Sem investidura especial para isso, era um secretário de Cultura da Bahia, um guia e cicerone de sua esplêndida e hospitaleira capital. Anísio morava há seis anos no Rio, mas voltava sempre a Salvador, onde estava passando férias quando teve um infarto fulminante, em 27 de janeiro. Membro atuante da ABI, integrou a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos de 1999 a 2005. Em 2002, como suplente, assumiu no Conselho Deliberativo a vaga do Conselheiro Fritz
Utzeri. Há dois anos fora reeleito suplente do Conselho Deliberativo para o triênio 2005-2008. Com atuação destacada na imprensa de Salvador, Anísio foi Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia e teve participação de relevo nas lutas que se travaram nos anos 70 para a retomada da Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj pelo segmento mais combativo da comunidade profissional, com a derrota do setor apelegado e acumpliciado com a ditadura militar. Sua sobrinha Jacileida Félix lembra que ele desempenhou importante papel no noticiário político da imprensa da Bahia: -- Ele era um profissional supercrítico, cujos comentários mais ácidos tinham como alvo os desmandos na política regional e nacional. No dia-a-dia, era uma pessoa que amava a vida e não tinha medo de nada, nem da morte. Escritor, cronista, poeta, compositor e historiador, Anísio Félix escreveu cinco livros: Bahia pra começo de conversa, Filhos de Gandhi - A história de um afoxé, Pelo Pelourinho, Um vento estranho e Bahia, Carnaval, este em parceria com Moacir Néri. Ele participou de duas coletâneas de contistas baianos: Dezoito contos baianos e Contos que a Bahia conta. Companheiro de Anísio na Redação de A Tarde, Cláudio Leal considera que ele integrava uma espécie em extinção: -- Anísio era de uma geração de jornalistas que pegou a fase de modernização da imprensa baiana, que implantou o lide e outras técnicas que mudaram a forma de escrever as notícias. Pertencia também ao grupo da imprensa boêmia quie freqüentava o Centro de Salvador. Como cronista, escreveu a história da cidade. Foi, também, um grande compositor, famoso como outras importantes figuras da música baiana, como Ederaldo Gentil, Batatinha e Riachão. (José Reinaldo Marques-Maurício Azêdo)
GERARDO, O DECANO DOS MOURÕES Celebrado como o único brasileiro indicado para o Prêmio Nobel de Literatura, por inscrição feita em 1979 pela Universidade de Nova York e que ele propalava sem qualquer culto à modéstia, Gerardo de Melo Mourão era escritor, romancista, poeta, político e jornalista e teve uma trajetória tormentosa, à qual não faltou uma condenação como espião nazista pela ditadura do Estado Novo (1937-1945), durante a qual foi preso 18 vezes. Na prisão, em que permaneceu durante quase seis anos e da qual se livrou após um apelo de intelectuais franceses, à frente Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus, escreveu seu romance O Valete de Espadas e o ambicioso poema Cabo das Tormentas,composto por dez elegias. A vinculação de Melo Mourão aos nazistas decorreu de sua filiação ao integralismo, movimento criado em 7 de outubro de 1932 pelo escritor Plínio Salgado, sob a denominação de Ação Integralista Brasileira, à qual ele aderiu por influência e sugestão de Alceu Amoroso Lima, o Tristão de
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 34 Jornal da AB
Ataíde. Não fora pelo conselho de Alceu, Melo Mourão teria se tornado padre, vocação que o levara ao Seminário Redentorista de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, e ao Convento da Glória, no Rio Entre seus companheiros no movimento figuravam pelo menos quase 40 intelectuais da maior expressão na época e nas décadas seguintes, conforme relação publicada pelo escritor e crítico literário Victor Emanuel Vilela Barbuy no elogio póstumo de Melo Mourão. A lista incluía, entre outros, os nomes do poeta Vinícius de Morais e do romancista José Lins do Rego. Natural de Ipueiras, no interior do Ceará, onde nasceu em 8 de janeiro de 1917, o poeta Melo Mourão escreveu também A Invenção do Mar, livro dedicado a Luiz Gonzaga, e a trilogia Os Peãs, composta por O País dos Mourões, Peripécia de Gerardo e Rastro de Apoio. No texto em memória de Melo Mourão, Vilela Barbuy diz que ele e sua obra "tiveram seu valor reconhecido por críticos do porte de um Wilson Martins, que chamou seu livro
Invenção do Mar de Os Brasilíadas, numa comparação com Os Lusíadas, de Camões". Nas duas últimas décadas de vida, Melo Mourão ligou-se ao bloco político oposto àquele que integrara nos anos 30 e 40 e ocupou cargos de relevo na administração do PDT de Leonel Brizola, entre as quais a de Presidente do Instituto Municipal de Arte e Cultura-Rioarte. Ele encerrava na administração pública sua carreira tanto de escritor como de jornalista, esta última assinalada por importantes missões jornalísticas, como a de correspondente da Folha de S. Paulo em Piong Yang, capital da Coréia do Norte. Sempre fascinado pelos extremos, Melo Mourão não escondeu seu entusiasmo pelo Governo de Kim Il Sung, fundador da República Democrática Popular da Coréia do Norte, de quem decantava entre as realizações a de ter implantado luz elétrica em todas as habitações do país, incluídas as situadas nas montanhas e de difícil acesso. Ele faleceu em 9 de março, no Rio de Janeiro. (Maurício Azêdo)
Chediak, o mestre do idioma Sócio efetivo da ABI desde 18 de julho de 1972, quando ingressou na Casa pela mão de Danton Jobim, o professor, jornalista e destacado acadêmico Antônio José Chediak, nascido em 10 de abril de 1916 na cidade mineira de Três Corações, começou a trabalhar muito cedo, aos 10 anos de idade, como tipógrafo e atendente numa loja de discos e papelaria, onde tomou gosto pelas letras e mais tarde veio a se tornar professor. Chediak foi professor de Francês, Latim e Grego, mas tinha especial predileção pela língua portuguesa. Lecionou em importantes unidades educacionais, como os cursos de Jornalismo e Letras Clássicas da Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil. Dirigiu outras instituições de ensino, como o Colégio Pedro II, a Universidade Santa Úrsula e a Faculdade de Humanidades Pedro II. Ele foi Presidente e fundador, ao lado de Antônio Houaiss, da Academia Brasileira de Filologia. Na Academia Brasileira de Letras, presidiu a Comissão Machado de Assis e coordenou a equipe que elaborou o Dicionário e o Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa da instituição. Ocupou importantes cargos nos Governos Federal e Estadual na área de ensino e cultura. Fez parte da Comitiva Presidencial que, em 21 de abril de 1960, inaugurou Brasília. Na qualidade de Secretário Particular do Presidente Juscelino Kubitschek foi o redator da Ata da Nova Capital do País, documento histórico concebido por ele e JK. Ainda no serviço público Chediak exerceu inúmeras atividades. Foi Diretor da Divisão de Obras Raras e Publicações da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e dirigiu o Departamento de Educação Técnico-Profissional da Secretaria Geral de Educação e Cultura do antigo Estado da Guanabara. No Governo Chagas Freitas, ocupou a Chefia de Gabinete do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Em diferentes períodos e por vários anos, integrou os Conselhos de Cultura e de Educação do Estado do Rio de Janeiro. Em 1997, foi condecorado com a Medalha Tiradentes pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a comenda mais importante do Poder Legislativo do Estado. Era tio do Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak, e do violonista, editor e produtor musical Almir Chediak, criador dos Songbooks. Ele faleceu em 11 de fevereiro, dois meses antes de completar 91 anos.
Júlio Camargo teve o cuidado de editar o número 29 de Bem-Te-Vi, jornal que digitava com paixão para imprimir em frente e verso de uma folha A-4, antes de se embrenhar pelo interior de São Paulo, em visita a amigos, aproveitando o recesso do Carnaval. Quando voltava para a capital paulista, no dia 19 de fevereiro, após alguns dias em Itapevi, viajando sozinho em um trem suburbano, foi acometido de um mal súbito. Levado para um hospital, não resistiu e morreu antes de receber atendimento. Júlio, que estava com 78 anos, foi suplente do Conselho Administrativo, entre 2001 e 2004, e membro da Caixa de Auxílios no período de 1994 e 1995. Radicado no Rio há 50 anos, ele se formou em História da Arte pela Universidade Federal de Pernambuco, Estado onde nasceu, na pequena cidade de Ipojuca. Na capital fluminense, deu aulas no Colégio Pedro II e também lecionou em outras instituições de ensino. Escreveu 11 livros, entre os quais se destacam A arte de sofismar e Como se faz um presidente, que, segundo sua sobrinha Maria Beatriz Araújo Silva, deveria ser leitura obrigatória nas salas de aula: – É uma obra educativa que não fala só sobre os presidentes, mas contextualiza assuntos históricos e de pouco conhecimento do público. Lembra Maria Beatriz que Júlio tinha vida cultural intensa e se dedicava, nos últimos anos, à edição do boletim Bem-Te-Vi, redigido por ele e que circulou por mala-direta até janeiro deste ano. Caminhava diariamente e costumava se reunir ao grupo de andarilhos das Paineiras, para onde levava, nas folgas, sua máquina de escrever e datilografava suas crônicas. Aficionado por viagens, Júlio orgulhava-se da última, feita de navio, o único meio de transporte de que ainda não havia desfrutado. Maria Beatriz se consola: – Certamente meu tio morreu feliz, fazendo uma de suas paixões: viajar. Por dificuldades na comunicação com os parentes residentes em Pernambuco, o corpo de Camargo foi sepultado na sexta-feira, dia 23, em Itapevi.
AGÊNCIA JB
Júlio Camargo, o andarilho
Esta foto de Alberto Ferreira se tornou um símbolo de Pelé: o atacante Flávio passou a bola com o peito e o Rei desferiu a bicicleta prodigiosa.
ALBERTO FERREIRA A lente precisa, no momento certo Algumas das mais preciosas fotos de Pelé foram colhidas pela lente deste paraibano, entre elas a mais simbólica, em que o Rei do Futebol, no apogeu de seu inigualável e inigualado virtuosismo, aparece parado no ar dando uma bicicleta, a perna direita, que desferiu o petardo, a formar um ângulo de quase 90 graus, absolutamente retilíneo, com o resto do corpo perfeito de atleta. Ao fazer a evocação póstuma do antigo companheiro no Jornal do Brasil, em artigo publicado em 18 de março no site Direto da Redação, editado a partir de Miami pelos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araújo, o jornalista Roberto Porto deu pormenores dessa extraordinária criação de Alberto Ferreira, o autor da foto que correu mundo. Foi em 1965, no Maracanã, contra a Seleção da Bélgica, que, diz Roberto Porto, nasceu esse instantâneo “que se transformou numa espécie de ícone do jornalismo esportivo, tal o oportunismo do fotógrafo e a plasticidade do movimento do jogador ”. Antes de chegar à chefia da Editoria de Fotografia do JB dos áureos tempos da Avenida Rio Branco, 110, onde ombreou com profissionais da expressão de Erno Schneider, Campanela Neto, Evandro
Teixeira, José Antônio Moraes, Delfim Vieira, Kaoru Higuchi, Odir Amorim, Alberto Jacob, Ronald Theobald, Antônio Andrade e Ari Gomes e com o laboratorista Jair Martinho, como lembrou com saudade Roberto Porto na crônica Réquiem para Alberto Ferreira, Alberto fez outras fotos antológicas de Pelé, como a do momento em que o Rei sentiu a coxa na Copa do Mundo do Chile em 1962 e caminhava na direção da margem do campo, ao qual não mais retornaria até o fim da competição. Espalhava-se em todo o Brasil o temor de frustração da sonhada conquista do bicampeonato mundial de futebol. O JB abriu a foto com a dimensão devida, encimando-a com o título que refletia a angústia nacional: O Rei se curva ante a dor que o Brasil inteiro sentiu. Também Hélio Fernandes prestou comovida homenagem a Ferreira, exaltando-o como “excelente profissional de fotografia e um grande amigo e companheiro”. Em texto publicado na sua coluna da página 9 da Tribuna da Imprensa no dia 13 de março, dois dias após o passamento do amigo, Hélio Fernandes descreveu-o como “divertidíssimo, sempre de bom humor, gostando de fotografar e de fazer amizades”, “as duas coisas muito
fáceis para ele”. Na série de tópicos do rodapé da coluna, intitulado Ur-gente, lembrou Hélio: “Pouco depois de chegar ao Rio, (Alberto) foi trabalhar comigo na Revista da Semana, uma das três Revistas Ilustradas, como se chamava na época. (Além do Alberto, lancei ali Paulo Francis, Carlos Lemos e muitos outros). A Revista da Semana era a mais antiga das 3 (as outras eram O Cruzeiro e Manchete), mas ficou retardada, por causa de Gratuliano de Brito (interventor na Paraíba, que deu o primeiro emprego civil a Ernesto Geisel), que recebera essa revista, e muitas outras, pelo casamento. Eu e Alberto Ferreira nos divertimos muito, principalmente em 2 carnavais. Enquanto O Cruzeiro e a Manchete mobilizavam mais de 100 pessoas para a cobertura, eu e o Alberto Ferreira fazíamos tudo sozinhos. Um número especial antes do carnaval, outro depois. As duas outras revistas montavam “salões” para fotografias posadas. Alberto Ferreira fazia tudo ao vivo e com que categoria. Esses números da Revista da Semana devem ter destaque no seu acervo profissional.” Alberto Ferreira morreu no dia dos seus 75 anos. Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
35
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADO Em 31 de dezembro de 2006 ABI – RJ e SP
Em R$
ABI-RJ
ABI-SP
CONSOLIDADO
CI RCU L ANTE - OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS - CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS - FORNECEDORES - EMPRÉSTIMOS - OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS - OUTRAS OBRIGAÇÕES
372.315,14 10.811,81 160.855,53 33.915,65 148.418,54 4.639,42 13.674,19
0,00
372.315,14 10.811,81 160.855,53 33.915,65 148.418,54 4.639,42 13.674,19
212.254,86 3.657,71 125.338,37 83.258,78
EXIGÍVEL A LLONG ONG O P R A ZO ONGO - JUROS E MULTAS A PAGAR - CEDAE - C/C ABI-RJ
320.730,31 160.056,41 160.673,90
3.65 7, 7 1 3.657
324.388,02 160.056,41 160.673,90 3.657,71
788.258,15 0,00 7 8 7. 3 9 1,6 7 39 1,67 288.632,68 498.758,99 866,48 866,48
PATR I MÔN IO S OCIAL SOCIAL - FUNDO PATRIMONIAL - FUNDOS ESTATUTÁRIOS - SUPERAVIT ACUMULADO
541.431,06 301.357,78 58.501,89 181.571,39
0,00
541.431,06 301.357,78 58.501,89 181.571,39
1.234.476,51
3.65 7, 7 1 3.657
1.238.134,22
Nota Explicativa
2006
2005
9 10 11 12 13
372.315,14 10.811,81 160.855,53 33.915,65 148.418,54 4.639,42 13.674,19
412.063,81 11.014,88 157.593,90 230.364,18
324.388,02 160.056,41 160.673,90 3.657,71
163.426,04 163.426,04
541.431,06 301.357,78 58.501,89 181.571,39
594.250,90 301.357,78 58.501,89 234.391,23
1.238.134,22
1.169.740,75
ATIVO
ABI-RJ
ABI-SP
CONSOLIDADO
CI RCU L ANTE CIRCU - DISPONIBILIDADES - CAIXA e BANCOS - CRÉDITOS A RECEBER
233.963,50 2.950,06 231.013,44
3.65 7, 7 1 3.657 3.657,71
2 3 7.62 1,2 1 .621,2 1,21 6.607,77 231.013,44
R EALIZÁVEL A LLONG ONG O P R A ZO ONGO PR - C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SP - CRÉDITOS A RECEBER - DEPÓSITOS JUDICIAIS
212.254,86 3.657,71 125.338,37 83.258,78
0,00
P ER MAN ENTE MANENTE TI M ENT OS NVESTI ENTOS . I NVES . I MOB I LIZ ADO - BENS MÓVEIS - BENS IMÓVEIS . DI F ER I DO - INSTALAÇÕES
788.258,15
0,00
7 8 7. 3 9 1,6 7 39 1,67 288.632,68 498.758,99 866,48 866,48
0,00
1.234.476,51
3.65 7, 7 1 3.657
TOTAL
0,00
1.238.134,22
PASSIVO
TOTAL
3.657,71
BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADO Em 31 de dezembro de 2006 e 2005 CONSOLIDADO - ABI – RJ e SP
Em R$ ATIVO
Nota Explicativa
2006
2005
CI RCU L ANTE CIRCU - DISPONIBILIDADES - CAIXA e BANCOS - CRÉDITOS A RECEBER
4
2 3 7.62 1,2 1 .621,2 1,21 6.607,77 231.013,44
436.876,73 132.200,25 304.676,48
R EALIZÁVEL A LLONG ONG O P R A ZO ONGO PR - C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SP - CRÉDITOS A RECEBER - DEPÓSITOS JUDICIAIS P ER MAN ENTE MANENTE TI M ENT OS NVESTI ENTOS . I NVES . I MOB I LIZ ADO - BENS MÓVEIS - BENS IMÓVEIS . DI F ER I DO - INSTALAÇÕES TOTAL
5 6 7
8
212.254,86 3.657,71 125.338,37 83.258,78
125.338,37
788.258,15
60 7. 5 2 5,65 607 52
7 8 7. 3 9 1,6 7 39 1,67 288.632,68 498.758,99 866,48 866,48
60 7. 5 2 5,65 607 52 268.680,84 338.844,81 0,00
1.238.134,22
1.169.740,75
125.338,37
PASSIVO CI RCU L ANTE - OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS - CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS - FORNECEDORES - EMPRÉSTIMOS - OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS - OUTRAS OBRIGAÇÕES EXIGÍVEL A LLONG ONG O P R A ZO ONGO PR - JUROS E MULTAS A PAGAR - CEDAE - C/C ABI-RJ PATR IO S OCIAL TRII MÔN MÔNIO SOCIAL - FUNDO PATRIMONIAL - FUNDOS ESTATUTÁRIOS - SUPERAVIT ACUMULADO
TOTAL
14 15 16 17
1.630,51 11.460,34
Continua na próxima página
Continuação da página anterior
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS SIMPLIFICADA Em 31 de dezembro de 2006 Em R$ ITE NS ITEN
AB I- S P ABI-
ABI-RJ
RECEITA ASSOCIATIVA RECEITA DE PUBLICIDADE RECEITA DE PATROCÍNIO RECEITA ATIVIDADE ESPORTE RECEITA ATIVIDADE CULTURA R E CEIT A B R UT A - A TIVI D ADE P R I NCI P AL CEITA UTA ATIVI DESP ESAS OP ER A CIONAI S GERAIS PESSOAL INSS FGTS PIS SOBRE FOLHA DE PAGAMENTO ATIVIDADE ESPORTE ATIVIDADE CULTURA ATIVIDADE SAÚDE DESPESAS FINANCEIRAS RECEITAS FINANCEIRAS SU P ERÁVIT / DÉF ICIT OP ER A CIONAL BENEFÍCIOS OBTIDOS RENÚNCIA FISCAL OBTENÇÃO SERVIÇOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE BENEFÍCIOS CONCEDIDOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE SU P ERÁVIT / DÉF ICIT DO EXERCÍCIO
1.327.938,09 288.390,00 322.800,00
ABI CONSOLIDADO 1.327.938,09 288.390,00 372.800,00 0,00 0,00 1.989.128,09 (2.268.522,20) (1.022.394,70) (901.783,35) (226.574,27) (64.897,48) (7.634,95) (500,00) 0,00 (31,00) (57.270,22) 12.563,77 (279.394,11) 226.574,27 229.665,00 (229.665,00) (52.819,84)
50.000,00
1.939.128,09 7 7.2 45,5 2) (2.17 .245,5 45,52) (2.1 (933.559,68) (899.615,42) (226.574,27) (64.897,48) (7.634,95) (500,00) (31,00) (56.618,69) 12.185,97 (2 3 8.1 1 7,43) 23 8.11 226.574,27 229.665,00 (229.665,00) (11.543,16)
50.000,00 (91.276,68) (88.835,02) (2.167,93)
(651,53) 377,80 (41.276,68)
(41.276,68)
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS SIMPLIFICADA Em 31 de dezembro de 2006 e 2005 CON SOLI DADO AB ONS OLID ABII – R RJJ e SP
Em R$ ITENS
RECEITA ASSOCIATIVA RECEITA DE PUBLICIDADE RECEITA DE PATROCÍNIO RECEITA ATIVIDADE ESPORTE RECEITA ATIVIDADE CULTURA R E CEIT A B R U TTA A - A TIVI D ADE P R I NCI P A L CEITA ATIVI DESP ESAS OP E R A CIONAI S GERAIS PESSOAL INSS FGTS PIS SOBRE FOLHA DE PAGAMENTO ATIVIDADE ESPORTE ATIVIDADE CULTURA ATIVIDADE SAÚDE DESPESAS FINANCEIRAS RECEITAS FINANCEIRAS S U P ERÁVIT / DÉF ICIT OP E R A CIONAL BENEFÍCIOS OBTIDOS RENÚNCIA FISCAL OBTENÇÃO SERVIÇOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE BENEFÍCIOS CONCEDIDOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE S U P ERÁVIT / DÉF ICIT DO EXERCÍCIO
2006
2005
1.327.938,09 288.390,00 372.800,00
1.275.970,16 111.900,00 372.350,00 1.830,00 1.470,00 1.763.520,16 (1.656.070,53) (612.746,34) (755.320,60) (184.800,27) (68.575,20) (5.134,73) (5.775,50) (16.916,33) (671,64) (16.712,46) 10.582,54 1 0 7.449,63 180.975,38 159.110,00 (159.110,00) 288.425,01
1.989.128,09 (2.268.522,20) (1.022.394,70) (901.783,35) (226.574,27) (64.897,48) (7.634,95) (500,00) (31,00) (57.270,22) 12.563,77 (279.394,11) 226.574,27 229.665,00 (229.665,00) (52.819,84)
DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Em 31 de dezembro de 2006 e 2005 Em R$
EM 31 DE DEZEM B RO DE 2004 Superávit do Exercício 2004 EM 31 DE DEZEM B RO DE 2004 Superávit do Exercício 2005 EM 31 DE DEZEM B RO DE 2005 Déficit do Exercício Transferência para Fundo estatutário EM 31 DE DEZEM B RO DE 2006
Patrimônio Social
Fundos Estatutários
3 0 1.3 5 7, 7 8 1.35
58.501,89
3 0 1.3 5 7, 7 8 1.35
58.501,89
3 0 1.3 5 7, 7 8 1.35
58.501,89
3 0 1.3 5 7, 7 8 1.35
58.501,89
Superávit (Déficit) Acumulado (2 2 9.7 9 7,4 7) 22 9.79 ,47 175.763,69 (54.033,78) 288.425,01 234.391,23 (52.819,84)
130.062,20 305.825,89 594.250,90
541.431,06 181.571,39
ABII 317 Fevereiro/Março de 2007 38 Jornal da AB
Total
1. CONTEXTO OPERACIONAL M P R EN SA - AB OCIAÇÃO B R ASI LEI R A DE IIM A ASS ASSOCIAÇÃO BR ASILEI LEIR ENSA ABII , sediada na Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Castelo – Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20.030-012, legalmente constituída e registrada com situação cadastral regular na Secretaria da Receita Federal ATIVA, CNPJ n° 34.058.917/0001-69; é uma entidade sem fins lucrativos. Reconhecida como de utilidade pública no Governo do Presidente Venceslau Brás Pereira Gomes, em 14 de julho de 1917, através do Decreto-Lei nº 3.297, a ABI tem atuado ao longo de quase um século na assistência social aos jornalistas e suas famílias e a quantos recorrem dos seus serviços, na promoção cultural de seus associados e na defesa dos interesses do País e do povo brasileiro promovendo, inclusive, a filantropia com assistência médica sem qualquer forma de discriminação, como estabelecido em seu Estatuto. 2. APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS As demonstrações financeiras foram elaboradas e estão sendo apresentadas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, com observância da Resolução nº 877, do Conselho Federal de Contabilidade-CFC, que aprovou a NBC-T-10.19, que visa a orientar o atendimento às exigências legais sobre procedimentos contábeis a serem cumpridos pelas pessoas jurídicas de direito privado sem finalidades de lucro. Foi observado o cumprimento dos Princípios Fundamentais de Contabilidade, bem como as demais Normas Brasileiras de Contabilidade. 3. SUMÁRIO DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS CONTÁBEIS As principais práticas contábeis adotadas pela ABI na elaboração das demonstrações contábeis são as seguintes: a) Imobilizado: Está registrado ao custo de aquisição. A depreciação é calculada pelo método linear, com base em taxas determinadas em função do prazo de vida útil estimado dos bens. As reformas dos pavimentos e dos elevadores são registradas pelo custo do material e mãode-obra e são contabilizados em contas específicas do ativo peressoa Jurídica – IIR R PJ e Conmanente. b) Imposto de Renda P Pessoa tribuição Social sobre o Lucro–CSL: A ABI goza da prerrogativa concedida pela União de isenção do Imposto de Renda Pessoa Jurídica-I R PJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLL Jurídica-IR CSLL, conforme art.15 da Lei n° 9.532/97. c) Cofins: A isenção desta contribuição esteve amparada pela legislação que vigiu até 31/01/99 (art. 6°, III, da Lei Complementar n° 70/91). A partir de 01/02/ 99, de acordo com os arts. 2° e 3° da Lei n° 9.718/98, a base de cálculo da Cofins foi ampliada. Porém, nos termos do art. 14, inciso X, da MP n° 1.991-16/2000, atual MP n° 2.158-35/2001, em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 01/02/99 as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural, científico e associações isentas do imposto de renda continuaram isentas da Cofins, mas restringindo às receitas relativas às atividades próprias das entiASEP: A ABI efetua regularmente os pagamentos dades. d) P PII S/P S/PASEP: mensais com a alíquota de 1% sobre a folha de salários, conforme legislação vigente. e) Contribuições Previdenciárias: A isenção destas contribuições, de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei n° 8.212/ 91, concedida às entidades beneficentes de assistência social, foi cancelada em 18/08/2003, pelo Ato Cancelatório de Isenção de Contribuições Sociais N° 17.001/001/2003, retroagindo seus efeitos a 01/01/1995. A atual administração recorreu administrativamente ao INSS em 04/11/2004 (Processo 35301.011197/2004-34), sem êxito, tendo orientado que fosse apresentado recurso ao CNAS, porém a ABI, ao dar entrada no CNAS, constatou que já existia o Processo n° 71010.00795/2004-17, requerendo a restituição da imunidade retroativa a janeiro de 1995. Em 11/05/2005 o CNAS indeferiu o recurso, determinando o arquivamento do pedido. Em julho de 2005, a ABI formula novo pedido de RECONSIDERAÇÃO do indeferimento publicado no D.O.U. de 17/05/2005. Em janeiro de 2006 o CNAS indeferiu o pedido e arquivou o processo. A ABI espera o restabelecimento da isenção das contribuições sociais, interrompida em 01/01/1995, com a aprovação do Projeto de Lei do Senado Nº 191/2006 191/2006, de autoria do Senador José Sarney, que concede isenção tributária à Academia Brasileira de Letras – ABL, Associação Brasileira de Imprensa – ABI e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, e cancela os débitos fiscais destas instituições. Assim, a ABI adotou, durante o ano-calendário de 2006, por decisão da direção, o mesmo procedimento de renúncia fiscal das contribuições sociais adotados em 2005. Por último, cabe informar que a ABI teve o seu pedido de registro no Conselho Municipal de Assistência Social do Município do Rio de Janeiro negado em 18/12/2006 e apresentou novo requerimento em 3 de janeiro de 2007 com novas alegações. Esta iniciativa tem como objetivo, independentemente da iniciativa do Projeto de Lei do Senado que resolve definitivamente a situação da ABI, preparar um novo processo via administrativa para dar entrada no CNAS. f) Provisão para contingências: Não foram constituídas provisões para contingências com expectativa de “perda provável”, tendo em vista não ter existido manifestação da consultoria jurídica sobre os custos dos desfechos dos processos em andamento na Justiça. g) Demais
NOTAS EXPLICATIVAS às demonstrações contábeis em 31 de dezembro de 2006 e 2005 (Em reais) Ativos e Passivos: Os demais ativos e passivos, classificados no circulante a longo prazo, obedecem ao prazo de realização ou de exigibilidade. Esses ativos e passivos estão apresentados pelo valor de custo ou realização. h) Apuração do Resultado: As receitas e os gastos foram reconhecidos pelo regime de competência registrando um déficit de R$ 52.819,84 (cinqüenta e dois mil, oitocentos e dezenove reais e oitenta e quatro centavos). A contabilização da gratuidade e dos benefícios da contribuição patronal à Previdência Social está apresentado em quadro resumo anexo e os documentos que dão suporte estão organizados junto à documentação contábil do exercício. Quanto ao resultado, apesar de a receita total ter apresentado um acréscimo de 13% em relação ao ano de 2005, cabe destaque para a receita de publicidade, que obteve um aumento de 157%, comparada com o ano anterior. Por outro lado, cabe ressaltar que os fatores responsáveis pelo aumento dos gastos, em torno de 36% em relação ao ano anterior, foram: 1) indenização trabalhista de R$ 37.600,00 (trinta e sete mil e seiscentos reais); 2) reflexo do reajuste dos acordos coletivos dos anos de 2003/2004 (13%), 2004/2005 (6%) e 2005/2006 (7%) ,representando um aumento acumulado na folha de pagamento de 28% e reflexos nos encargos sociais. Este reajuste provocou um maior comprometimento da receita com os gastos de pessoal; 3) parcelamento da apropriação indébita do IRF, ITR, PIS e Cedae com maior gasto com despesas de juros e multas; 4) aumento dos gastos gerais em decorrência do aumento dos preços e funcionamento da Representação da ABI-São Paulo que apresentou um déficit de R$41.276,68 (quarenta e um mil, duzentos e setenta e seis reais e sessenta e oito centavos) no seu primeiro ano de atividade, e 5) com a redução da liquidez, agravada com a continuidade dos bloqueios judiciais, a ABI teve que captar recursos no mercado para capital de giro e honrar suas obrigações ordinárias. Isto também impactou o resultado com o aumento das despesas financeiras. Logo, estes gastos provocaram o déficit do exercício, mas a ABI teve uma postura ousada na recuperação de seu patrimônio, que apresentou um aumento do ativo permanente de R$180.732,50 (cento e oitenta mil, setecentos e trinta e dois reais e cinqüenta centavos), representando um acréscimo de 30% em relação ao ano anterior. 4. DISPONIBILIDADES O bloqueio do valor de R$ 83.258,78 (oitenta e três mil, duzentos e cinqüenta e oito reais e setenta e oito centavos) reduziu a liquidez da ABI neste exercício, fazendo que houvesse necessidade de captação de recursos no mercado para honrar obrigações de curto prazo. 5. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO – C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SP O valor da conta representa os recursos adiantados que estão em poder da Representação da ABI-São Paulo para custear o funcionamento operacional. 6. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO CRÉDITOS A RECEBER O valor de R$125.338,37 (cento e vinte e cinco reais, trezentos e trinta e oito reais e trinta e sete centavos) s.m. resulta de vários direitos que continuam merecendo providências judiciais, a médio e longo prazos, para o seu recebimento. 7. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO – DEPÓSITOS JUDICIAIS Para uma melhor compreensão da demonstração contábil os valores bloqueados nas contas bancárias decorrentes de causas judiciais foram transferidos para esta conta. A ABI tem, por decisão judicial, o bloqueio das contas 1011882-4, Agência 026-4, do Banco Bradesco, no valor de R$ 52.032,74 (cinqüenta e dois mil, trinta e dois reais e setenta e quatro centavos), e 1010266-9, Agência 026-4 do mesmo Banco no valor de R$ 31.226,04 (trinta e um mil, duzentos e vinte e seis e quatro centavos); totalizando R$ 83.258,78 (oitenta e três mil, duzentos e cinqüenta e oito reais e setenta e oito centavos) 8. ATIVO PERMANENTE - IMOBILIZADO Os valores do balanço patrimonial não retratam o preço real dos bens móveis e imóveis. Quanto aos valores dos imóveis, torna-se necessária uma reavaliação por perito ou empresa especializada para ajuste de seu valor contábil. Cabe o registro de que a atual administração consolidou a melhoria dos controles internos do patrimônio adotando a prática da depreciação dos bens. Neste exercício, apesar de a liquidez não ter tido o desempenho de anos anteriores, a ABI fez investimentos significativos representando um acréscimo de R$180.732,50 (cento e oitenta mil, setecentos e trinta e dois reais e cinqüenta centavos), conforme citado na Nota 3, letra h, item 5. O peso dessas imobilizações foi na recuperação da Sede da ABI com prioridade nos reparos do 3º e 12º pavimentos reforma da Biblioteca Bastos Tigre e reforma dos elevadores.
9. OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS RF a) IIR Os valores já lançados na dívida ativa foram objeto de notificação e cobrança através de Termo de Constatação Fiscal, demonstrando um valor de R$38.998,67 (Principal + Multa), conforme Processo RPF/MPF nº 0719000/02011/2005. A administração, tempestivamente, em 15/12/2005, requereu o parcelamento em 30 (trinta) meses, através do Processo n° 18471.001520/2005-71 e passou a efetuar um recolhimento mensal de R$ 1.316,94 (hum mil, trezentos e dezesseis reais e noventa e quatro centavos). A Pagadoria Geral da Fazenda Nacional – Dívida Ativa, processou novo parcelamento com prazo de 60 (sessenta) meses, no valor de R$ 633,99 (seiscentos e trinta e três reais e noventa e nove centavos), para reinício do pagamento em julho de 2006. A ABI está honrando todos os pagamentos; entretanto já existe processo iniciado pela PGRF - Pagadoria Geral da Receita Federal (Procedimento Administrativo da Dívida Ativa número 18471.001642/2005), tramitando no Ministério Público Federal (Procedimento 1.30.011.001684/200647) e Polícia Federal (Protocolo Geral da Polícia Federal número 08455.027824/2006-94), sob segredo de justiça, responsabilizando penalmente os gestores que praticaram crime de apropriação indébita. A ABI, antecipando-se à notificação, protocolou na Polícia Federal, em 24 de janeiro de 2007, Defesa Prévia. b) ITR Os ITR´s de 1998, 1999, 2001 e 2002 foram parcelados junto à dívida ativa em 60 (sessenta) meses e estão sendo pagos regularmente. A partir de 2003 a ABI passou a fazer as declarações no prazo e vem efetuando os pagamentos em dia. 10. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS a) IIN N SS Empregador a Recolher Os valores apurados até abril de 2004 e atualizados até dezembro 2006 são R$ 3.228.017,57 (três milhões, duzentos e vinte e oito mil, dezessete reais e cinqüenta e sete centavos), conforme planilha anexa, não foram reconhecidos no passivo em função das informações constantes da Nota 3e. Mesmo assim, o I NSS está dando andamento ao processo de cobrança com a conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., de procedimento judicial para obtenção de liminar visando acautelar os procedimentos adotados. b) IIN N SS Empregado a Recolher Os valores históricos de retenção da contribuição social do empregado pela ABI e não recolhido ao INSS, praticada por gestões anteriores, estão sendo executados pelo INSS através da Ação de Execução Fiscal n° 2006.51.01.527985-1, na 5a. Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro. Cabe ressaltar a que a atual administração, a partir de maio de 2004, passou a adotar um procedimento para pagamento de todas as retenções. O valor da execução na Justiça é de R$ 347.002,39 (trezentos e quarenta e sete mil, dois reais e trinta e nove centavos) está atualizado até julho de 2006 e apresenta a seguinte discriminação: Principal – R$ 143.757,21; Juros – R$ 88.239,42 e Multa – R$ 115.005,76. Os valores atualizados até dezembro de 2006 totalizam R$ 354.940,81 (trezentos e cinqüenta e quatro mil, novecentos e quarenta reais e oitenta e um centavos). c) IIN N SS Autônomo a Recolher Os valores históricos contabilizados sob este título representam a retenção da contribuição social dos autônomos efetuados pela ABI e não recolhidos ao INSS. Cabe a observação de que a atual administração a partir de maio de 2004 passou a adotar um procedimento para pagamento de todas as retenções. O valor retido atualizado até junho de 2006 está incluído no débito apurado do INSS contido na execução em curso na 5a. Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro. d) P olha a Recolher PII S sobre FFolha O valor devido, atualizado até setembro de 2006, é de R$ 18.702,70 (dezoito mil, setecentos e dois reais e setenta centavos). A ABI incluiu este valor no Parcelamento Excepcional (Paex), conforme permite a MP nº 303, de 29 de junho de 2006, com benefício de redução de juros e multa e conseguiu reduzir a dívida para R$ 17.285,39 (dezessete mil, duzentos e oitenta e cinco reais e trinta e nove centavos), com a seguinte composição: Principal – R$ 10.719,45; Multa – R$ 1.514,33 e Juros – R$ 5.051,61. Assim, este passivo já está equacionado da seguinte forma: a) Dívida até 28/02/2003 – 6 (seis) parcelas de R$988,37 (novecentos e oitenta e oito reais e trinta e sete centavos) acrescida da TJLP, b) Dívida de 01/03/2003 a 30/ 04/2004 – 56 (cinqüenta e seis) parcelas de R$202,77 (duzentos e dois reais e setenta e sete centavos) acrescida da TJLP. A ABI está honrando os pagamentos mensalmente. 11. FORNECEDORES Foi realizada uma conciliação da conta visando à melhoria dos controles internos dos fornecedores. Neste sentido foi excluída
desta conta o valor da dívida da Cedae para uma melhor classificação em 2006, transferindo o valor apurado na conta no valor de R$ 179.038,00(cento e setenta e nove mil e trinta e oito reais), para o EXIGÍVEL A LONGO PRAZO. 12. EMPRÉSTIMOS Conforme citado na Nota 3, letra h, item 5, a ABI encerrou o exercício com as seguintes obrigações com instituições financeiras: Instituição Financeira
Tipo de Operação para SALDO EM DEZ/ to Prazo Curto Capital de Giro no Cur 2006 (R$) Empréstimo: 10 parcelas de R$4.536,25
40.000,00 TEXTO
Empréstimo: 10 parcelas de R$5.403,87
50.000,00
BANCO REAL
Cheque Especial
2.165,53
BRADESCO
Empréstimo: 11 parcelas de R$2.972,45
27.272,73
BRADESCO
Cheque Especial
28.980,28
BANRISUL TEXTO BANCO REAL
Total
148.418,54
13. OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS As diferenças salariais não pagas por gestões anteriores, referentes aos Acordos Coletivos no valor de R$100.542,10 (cem mil, quinhentos e quarenta e dois reais e dez centavos), continuam em processo de negociação com o Sindicato da categoria. 14. EXIGÍVEL A LONGO PRAZO – JUROS E MULTA A PAGAR Esta conta foi objeto de mudança do título e transferência dos valores da conta 221.04.002-1 – Credores Diversos, após conciliação, análise e melhoria dos controles internos. Assim os valores das obrigações com juros e multas estão assim representados: ITEM INSS Empregado PIS (Paex) IRF (Parcelamento)
MULTA (R$) JUROS (R$)
TOTAL (R$)
115.005,76
88.239,42
203.245,18
1.409,45
3.819,47
5.228,92
10.574,84
7.553,42
18.128,26
126.990,05
99.6012,31
226.602,36
Total
O valor da conta de R$ 160.126,41 (cento e sessenta mil, cento e vinte e seis reais e quarenta e um centavos) não foi ajustado para o valor acima apresentado, tendo em vista que a ABI ainda não foi notificada pela Ação de Execução Fiscal 2006.51.01.527985-1, em curso na 5a. Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro movida pelo INSS, podendo existir possibilidade de questionamento dos valores da multa e juros. 15. EXIGÍVEL A LONGO PRAZO - CEDAE A ABI renegociou a dívida junto à Cedae em 80 (oitenta) parcelas de R$ 2.901,85 (dois mil, novecentos e um reais e oitenta e cinco centavos). O montante da dívida de 144.649,5751 UFIR, em outubro de 2005, totalizava R$ 232.148,00 (duzentos e trinta e dois mil, cento e quarenta e oito reais). A ABI começou a efetuar o pagamento em novembro de 2005 e o término previsto no contrato é junho de 2012. Foi procedida uma melhor classificação em 2006, transferindo o saldo da conta no valor de R$ 179.038,00(cento e setenta e nove mil e trinta e oito reais), para o EXIGÍVEL A LONGO PRAZO. 16. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO – C/C ABI-RJ O valor da conta representa os recursos recebidos da ABI-RJ que estão em poder da Representação da ABI-São Paulo para custear o funcionamento operacional. 17. PATRIMÔNIO SOCIAL Foi realizado o ajuste do Déficit do Exercício com a conta Superávit Acumulado e os resultados superavitários acumulados vêm sendo reinvestidos na entidade, conforme determina o Estatuto Social.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA
OSCAR MAURÍCIO DE LIMA AZEDO Presidente
SERGIO CORREIA BARBOSA Contador C.R.C. – RJ - 073957
Jornal da AB ABII 317 Fevereiro/Março de 2007
39
Leo Burnett Brasil
www.brasiltelecom.com.br
A Brasil Telecom está com a cultura em todos os seus movimentos. A cultura merece o aplauso da Brasil Telecom, que, por meio da parceria com as artes, demonstra o seu compromisso com a sociedade e com a valorização da diversidade cultural brasileira. Desde 1999, a Brasil Telecom já apoiou mais de 600 projetos culturais entre cinema, teatro, música, dança e literatura. Todas essas manifestações artísticas tiveram palco e os aplausos de nosso respeitável público. Porque na Brasil Telecom é assim: você encontra mais que todos os serviços de telecomunicações em um único lugar.