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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

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D EZEMBRO 2009


Nesta Edição O fotojornalismo não acabou POR ALCYR CAVALCANTI

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Daniel Ramalho

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Alcyr Cavalcanti Daniela Xu

6 30 Alexandre Cassiano Eny Miranda

10 34 Marco André Dusek Terranova

14 37 Arnaldo Salvador Carvalho Scofano

19 40 TEXTOS DE PAULO CHICO

Jornal da ABI Número 349 - Dezembro de 2009

Editores: Maurício Azêdo e Francisco Ucha Projeto gráfico e diagramação: Francisco Ucha Edição de textos: Maurício Azêdo e Paulo Chico Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz, André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobim da Silveira, Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luiz de Freitas Borges. Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas (Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva, Paulo Roberto de Paula Freitas. Diretor Responsável: Maurício Azêdo Associação Brasileira de Imprensa Rua Araújo Porto Alegre, 71 - Rio de Janeiro, RJ Cep 20.030-012 Telefone (21) 2240-8669/2282-1292 e-mail: presidencia@abi.org.br Representação de São Paulo Diretor: Rodolfo Konder Rua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51 Perdizes - Cep 05015-O4O Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960 e-mail: abi.sp@abi.org.br Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda. Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808 Osasco, SP

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DIRETORIA – MANDATO 2007/2010 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Tarcísio Holanda Diretor Administrativo: Estanislau Alves de Oliveira Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê) Diretor de Jornalismo: Benício Medeiros CONSELHO CONSULTIVO 2007-2010 Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira (in memoriam), Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura. CONSELHO FISCAL 2009-2010 Geraldo Pereira dos Santos, Presidente, Adail José de Paula, Adriano Barbosa do Nascimento, Jorge Saldanha de Araújo, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Manolo Epelbaum e Romildo Guerrante. MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2009-2010 Presidente: Pery Cotta 1º Secretário: Lênin Novaes de Araújo 2º Secretário: Zilmar Borges Basílio Conselheiros efetivos 2009-2012 Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, José Ângelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho. Conselheiros efetivos 2008-2011 Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos Arthur Pitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa. Conselheiros efetivos 2007-2010 Artur da Távola (in memoriam), Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveira, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, José Rezende Neto, Marcelo Tognozzi, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê), Sérgio Cabral e Terezinha Santos.

Conselheiros suplentes 2009-2012 Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora, Jorge Nunes de Freitas, Lima de Amorim, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho Neto e Rogério Marques Gomes. Conselheiros suplentes 2008-2011 Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello, Salete Lisboa, Sidney Rezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães. Conselheiros suplentes 2007-2010 Adalberto Diniz, Aluízio Maranhão, Ancelmo Góes, André Moreau Louzeiro, Arcírio Gouvêa Neto, Benício Medeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio. COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Jarbas Domingos Vaz, Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz Sérgio Caldieri, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins. COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti. COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Orpheu Santos Salles, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes. COMISSÃO DIRETORA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Paulo Jerônimo de Sousa, Presidente, Ilma Martins da Silva, Jorge Nunes de Freitas, José Rezende Neto, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli e Moacyr Lacerda. REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO Conselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno Jatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra.


E DITORIAL

Desmentindo os que dão por morto o fotojornalismo MAURÍCIO AZÊDO PRESIDENTE DA ABI

O CONJUNTO DE TRABALHOS REUNIDOS nesta edição especial do Jornal da ABI permite uma avaliação fundamentada em riqueza de exemplos da procedência da assertiva de um dos profissionais cuja produção jornalística é aqui exibida, o repórter-fotográfico e professor Alcyr Cavalcanti, que questiona a ligeireza com que apressados teóricos prenunciam ou atestam o fim do fotojornalismo, em razão das prodigiosas inovações tecnológicas a que assistimos em nossos tempos.

ali, resulta da adversidade, da impossibilidade do emprego regular, aberto e ostensivo de equipamento fotográfico, mas não tem o caráter de fotojornalismo, de reportagem fotográfica. Esta tem uma abrangência e um teor de presença que não podem ser substituídos pelo amadorismo, pelo desprendimento da adesão idealista a uma causa. Pode-se fazer nesse caso, e se faz, uma denúncia e um registro histórico, repassado de carga dramática, mas não uma reportagem fotográfica.

ACONTECIMENTOS RECENTES APARENTEMENTE dariam razão aos subscritores desse prévio atestado de óbito do fotojornalismo, como as manifestações e confrontos que se sucedem no Irã desde a eleição que manteve no poder o atual presidente do país. Com os meios de comunicação bloqueados por uma censura rigorosa e por impiedosa repressão policial e militar, os oposicionistas iranianos não poderiam dar ao mundo uma idéia da dimensão de seu inconformismo não fora a existência de câmeras acopladas a celulares que mostraram além das fronteiras do Irã o que então ocorria e ainda ocorre. No dizer desses candidatos a coveiros do fotojornalismo, bastariam esses episódios, assim como outros que poderiam ser arrolados para sustentar a tese, como prova vigorosa de que, como diz a linguagem popular, o fotojornalismo já era.

EM SUA SUSTENTAÇÃO, dissociada de qualquer preocupação corporativa, Alcyr Cavalcanti observa que a fotografia jornalística tem uma linguagem própria, obedece a regras originárias da pintura, e é o respeito ou não a essas normas que confere maior ou menor qualificação ao trabalho jornalístico executado por esses profissionais especializados.

OS QUE BRANDEM ESSE EXEMPLO omitem propositalmente que coberturas como essas que relatam os conflitos no Irã têm um forte travo de excepcionalidade, dado o grau de violência presente nessas manifestações e sobretudo na repressão com que o Governo do Irã buscou e busca reprimi-las. O uso de câmeras dessa caraterística,

ESTA EDIÇÃO ESPECIAL OFERECE, portanto, uma excepcional massa de trabalhos produzidos no dia-a-dia de sua atividade por profissionais que dominam as técnicas de manuseio dos equipamentos de que dispõem, captam a sensibilidade da notícia, sabem da importância que o registro ou complemento gráfico têm para a valorização do texto jornalístico e contam, sobretudo, com a paixão de fazer jornalismo sob o ângulo específico que lhes cabe. Esse é o diferencial que, dissentindo do que assoalham aves de mau agouro, comprova que o fotojornalismo não morreu. Ao contrário: exibe vitalidade, como a encontrada nestas páginas.

A foto de Cássia Eller amamentando seu filho Chicão na Praia de Ipanema foi capa da revista Domingo, do Jornal do Brasil. O autor, Marco Terranova, é um dos profissionais focados nesta edição especial, que também apresenta o trabalho de duas fotógrafas: Daniela Xu, que clicou a agricultora Elsomina Fantin reaproveitando a água depois de um período de seca em São Marcos, RS, e Eny Miranda, que participa de um projeto junto às comunidades ribeirinhas da Amazônia, onde fez o registro da menina brincando.

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REFLEXÕES

O fotojornalismo não acabou POR ALCYR CAVALCANTI

O fotojornalismo acabou. O fotojornalismo está morto. São sentenças que chegam diariamente aos nossos olhos e ouvidos e de tanto serem repetidas se assemelham a uma verdade definitiva. Orquestrada e repetida maciçamente torna-se um simulacro de verdade, deixando uma dúvida no ar: “A quem interessa a morte do fotojornalismo”?. O fotojornalismo não é uma entidade abstrata. É um segmento da fotografia inserido no jornalismo, que está inserido no campo da cultura, que, segundo Pierre Bourdieu, é um espaço de relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais, sendo também um espaço de disputas e jogo de poder. A cultura está sendo colocada em desuso, estando imersa na crise geral do capital, que tem afetado todos os países, num efeito perverso da globalização. Os jornais estão perfeitamente inseridos na economia capitalista e aos poucos vão se transformando em “fábricas de notícias” visando somente o lucro. A informação não é um discurso que vise a informar no pleno sentido da palavra; tem um sentido meramente comercial e passa a funcionar dentro da relação custo-benefício”; transforma-se no aparato ideológico da globalização, EM UM UNIVERSO DE FOTOS E IMAGENS MUDAS QUE NADA REPRESENTAM, NÓS repetindo no noticiário LUTAMOS POR IMAGENS QUE FALAM POR SI MESMAS, QUE NOS CONTAM NOSSA um modelo a ser seguido. HISTÓRIA, NOSSO MUNDO TAL QUAL ELE É, SEM FILTRO. Christian Gauffre A informação para ter lucro máximo precisa trabalhar em ritmo ultra-acelerado, fazendo um jornalismo de imediatismo, onde a melhor notícia é a que chega primeiro, contribuindo para isso a omissão dos editores que confundem informação, um bem cultural, com indústria, não se importando se a fonte é confiável ou não. A fotografia jornalística como toda fotografia tem uma linguagem própria, obedece às regras oriundas da pintura que são freqüentemente ignoradas, passa a exigir avanços tecnológicos na transmissão de dados, podendo levar a meras ilustrações visuais, acessórias da matéria a ser publicada. Qualquer um se julga fotógrafo, poA confiabilidade nem sempre é um faadotado pela Arfoc, estabelecendo rerém se esquecendo de que nem todos tor decisivo, e a tecnologia digital pergras visando à não manipulação de podem ser fotojornalistas, ou seja, jormite manipulação de dados que poimagens, principalmente em noticiánalistas 24 horas por dia, lutando e videm não corresponder à situação sorio (“hot news”). sando informar, sabendo que a imagem cial que foi enfocada. Aí reside o periNessa relação de forças a fotografia publicada poderá vir a ser um docugo. Há dez anos a NPPA (National Press como notícia perde espaço para a comento para a História, daí a sua imporPhotographers Association), que conbertura de celebridades e de sua vida tância mas sobretudo a sua responsagrega os principais fotojornalistas noríntima, daí a proliferação dos paparazzi bilidade como um formador de opinião. te-americanos, publicou documento, e de publicações especializadas. 4

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Nestas fotos, a marca de Alcyr Cavalcanti: “A mão com a arma e a grande mancha de sangue misturada com sujeira me impressionou muito. Faz lembrar petróleo, tal a densidade do sangue coagulado. É uma das minhas fotos mais publicadas e faz parte da sequência premiada pela Kodak/Fenaj em 1988. Também no final da década de 80 fiz a foto ao lado para a Tribuna da Imprensa. Graças a alguns contatos consegui entrar no Complexo da Frei Caneca e registrei a comemoração da “eleição” de Gregório Gordo para presidente do Comando Vermelho”.

Para Jean François-Le Roy, diretor do mais importante festival de fotojornalismo do mundo, realizado há vinte anos em Perpignan, na França, o Visa Pour L’Image afirma: “Há vinte anos a imprensa era dirigida por jornalistas, agora os jornais são dirigidos por banqueiros, que só falam em lucro, e na relação custo-benefício”. De qualquer forma para nós fotojornalistas, os verdadeiros “caçadores de imagens”, o fotojornalismo está mais vivo do que nunca. Continuaremos “correndo atrás da notícia” procurando a verdade por detrás das aparências, apesar de mal remunerados, indesejados pelos governantes, pelo aparato repressivo de Estado e pela bandidagem que corre à solta pela outrora Cidade Maravilhosa. Alcyr Cavalcanti, repórter-fotográfico e professor universitário, é membro do Conselho Deliberativo da ABI e Secretário-Geral da Associação dos RepórteresFotográficos e Cinegrafistas do Rio de Janeiro-Arfoc.


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A LCYR C AVALCANTI

“O repórter-fotográfico é um formador de opinião”

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Da tela dos cinemas para a lente das máquinas. Esse foi o caminho percorrido por Alcyr Cavalcanti, repórter fotográfico desde 1971, ano de sua estréia em O Fluminense. “Eu era apaixonado por cinema. Fiz curso de direção cinematográfica no Mam, o Museu de Arte Moderna, onde também era lecionada fotografia. Aprendi a fotografar e logo optei pelo fotojornalismo”, recorda ele, que, aos 68 anos e quase há quatro décadas de câmeras em punho, passou por diversos veículos, como Correio da Manhã, Última Hora, Diário de Notícias, Editora Vecchi, O Globo, IstoÉ, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, O Dia, Estadão, Folha de S.Paulo, Lance e Placar. Quase tão vasta quanto o número de locais em que trabalhou é a sua formação acadêmica. Alcyr é formado em Filosofia pela Uerj (na época, chamada Universidade do Estado da Guanabara) e mestre em Antropologia pela Uff (Universidade Federal Fluminense). É professor do Instituto de Humanidades da Cândido Mendes e mantém seus laços com a fotografia atuando como freREMOÇÃO DE FAVELADOS elancer. Na ditadura militar, emprestou seu talento a títulos da imprensa alternativa, com linha contestadora, como O Pasquim. Atuou em O Repórter e no Jornal Inverta, semanário marxista-leninista, em sintonia com sua formação política. E é justamente por este viés, o político, que ele analisa as características de cotidiano dos fotojornalistas ao longo dos últimos 40 anos. “Comecei na época da ditadura, quando havia censura e tudo era proibido. Havia muita cobrança e exploração quanto ao horário, com hora marcada para entrar e não para sair, numa rotina diária mínima de dez horas. Hoje, temos muita concorrência, devido a um desemprego estrutural, o desafio de adaptação às novas tecnologias e um descrédito generalizado entre todos nós, motivado pelo péssimo exemplo dos chefes da nação. Vide só Brasília, nossa ‘Ilha da Fantasia’ e da corrupção”, aponta Alcyr. Uma produção de qualidade, no caso do fotojornalismo, procura mostrar com clareza a situação social, sem subterfúgios e sem falsear a realidade com


A QUEDA NO MARACANÃ

AS FOTOS REMOÇÃO DE FAVELADOS Feita em 1982 para o jornal O Globo, esta foto faz parte de uma seqüência de quatro imagens publicada pelo editor Pinheiro Júnior. Enviei as fotos para um concurso em Havana, Cuba, pela Casa de las Americas. A seqüência foi premiada. 31 DE DEZEMBRO A solidão de um final de ano em Copacabana às 10 horas da manhã. A QUEDA NO MARACANÃ Trabalhava no JB na final do Campeonato Brasileiro em 1992. Foi um instante decisivo, muito rápido. Só eu e Hipólito Pereira registramos esse momento trágico embora mais de oitenta fotógrafos estivessem em campo cobrindo o jogo. A grade cedeu e centenas de torcedores caíram devido à superlotação da arquibancada, com um saldo de dezenas de feridos e 4 ou 5 mortes.

A QUEDA NO MUNICIPAL

critérios pseudo-artísticos. É a partir dessa definição própria que ele aconselha aos jovens que pensam em seguir a profissão. “Fotografem muito, sejam dedicados ao seu ofício e mantenham-se sempre nos princípios da ética. Tenham em mente a responsabilidade da imagem, pois o repórter fotográfico é um forma-

dor de opinião, faz retratos da realidade. A sorte é fator essencial em tudo. Mas é preciso saber aproveitá-la, dominando bem a ferramenta que as fábricas modificam a cada seis meses, estando sempre aptos a ‘clicar’ no momento exato”, ensina. Se, por um lado, vivemos na era da imagem, por outro, nem sempre elas,

A QUEDA NO MUNICIPAL Aconteceu em um dos aniversários do Teatro Municipal: a bela jovem rolou pela escadaria, mas não perdeu a elegância. O Globo publicou duas fotos e o acompanhante da jovem foi até o jornal, não para reclamar, mas para comprar as fotos para guardar como lembrança. Eles ficaram felizes pelos segundos de fama!

e seus autores, são devidamente reconhecidos nos grandes jornais. “De uns anos para cá, talvez a partir de década de 1980, as fotos passaram a ganhar mais espaço na mídia impressa. Muitas vezes, ocupam a página inteira. Em contrapartida, qualquer um se julga fotojornalista e os editores preenchem as páginas com

qualquer subproduto, devido ao deadline, que de fato é uma linha mortal. É necessário, a qualquer custo, fechar naquele horário determinado, pois as Redações se transformaram em fábricas de notícias”, lamenta. Provocado a escolher alguns entre tantos filhos já registrados, Alcyr aponta imagens que marcaram sua carreiJornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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ALCYR CAVALCANTI

ANO VELHO ANO NOVO

ra. A Queda no Maracanã (1992), a extensa Reportagem na Rocinha (“onde fiquei por dez dias, em 1988”), a Greve Geral (em 1989), a seqüência de mendigos (“que me rendeu um processo na Polícia Federal”), e a Campanha das Diretas (1984). Vale destacar ainda os atos de vandalismo e quebraquebras feitos pelo tráfico (em 2002), a Operação Rio (de 1995) e o Baile do Teatro Municipal do Rio (em 1975), que acabou em pancadaria, às 5 da manhã”, enumera. Alcyr é jurado em concursos (Esso e Embratel) e recebeu prêmios como o Kodak-Fenaj, em 1988, com Ensaio Sobre Violência Urbana. Em 1982 destacouse no Casa de las Americas, em Havana, Cuba. Em 1993, foi eleito Melhor Fotógrafo pela Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro-Acerj. Teve atuação elogiada à frente da Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos-Arfoc. O reconhecimento a seu talento é até previsível. A surpresa surge mesmo é na última pergunta da entrevista. ‘Se não fosse fotógrafo, você seria o que?’ Ao que ele responde. “Guitarrista de uma banda de rock em Londres, de preferência, ou dj de boate da moda. Ou, talvez, seguindo sábio conselho do Silvio Tendler, diretor de filmes ‘B’ nos Estados Unidos”, dispara, em mais uma dentre as milhares de revelações feitas ao longo da carreira. 8

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VIA ÁPIA NA ROCINHA


AS FOTOS ANO VELHO, ANO-NOVO Fui a Salvador fotografar as festas de Santa Bárbara e Conceição da Praia em dezembro de 1971 pelo jornal O Fluminense e registrei essa imagem em uma das igrejas da capital baiana.

CRIANÇAS NO VALÃO

RUA UM, FAVELA DA ROCINHA

VIA ÁPIA NA ROCINHA Fui indicado para reforçar a equipe do JB para registrar as escaramuças na Rocinha após o assassinato de uma líder comunitária em novembro de 1987. A equipe do JB era excepcional, formada por fotógrafos de primeiríssima linha. Figuei ligado e fui fotografando tudo o que via pela frente. O editor de fotografia Alberto Ferreira, talvez o melhor que o Brasil já teve, publicou essa foto com destaque na capa do recémcriado caderno Cidade. Naquela época eu já era um fotógrafo experiente, mas me sentia um novato frente aos colegas do JB. CRIANÇAS NO VALÃO A sedução pelas armas, verdadeiros fetiches para as crianças das favelas. Estava ciceroneando jornalistas holandeses em 1988 quando vi a cena, que foi muito rápida, e fotografei instantâneamente.

EXÉRCITO INVADE ROCINHA

RUA UM, FAVELA DA ROCINHA Foi no primeiro dia de uma temporada na Rocinha onde o repórter Jorge Barros e eu residimos por dez dias para verificar in loco a guerra entre o narcotráfico e o jogo do bicho. A foto foi feita em 20 de janeiro de 1988 e o JB a publicou num memorável Caderno B com o título Rocinha S.A. A foto faz parte de uma seqüência premiada no Prêmio Kodak-Fenaj em 1988. EXÉRCITO INVADE ROCINHA A foto foi feita em 2008 numa das inúmeras incursões do Exécito nas favelas do Rio de Janeiro.

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A LEXANDRE C ASSIANO VITÓRIA RUBRO-NEGRA

Quando a imagem fala mais que mil palavras O processo de apuração dos perfis dos fotojornalistas aqui retratados não deixa dúvidas. Para todos eles, uma boa imagem vale mais do que mil palavras. De alguns, aliás, obter algumas poucas palavras é uma tarefa e tanto. Foi um pouco assim com Alexandre Cassiano. As respostas sucintas às perguntas enviadas no primeiro e-mail não deixaram escapatória. Houve a necessidade de questões complementares para dar corpo à matéria, solicitação prontamente atendida pelo fotógrafo de O Globo. Nada de má vontade, longe de ser preguiça. Economizar nas palavras, neste caso, é comportamento colateral natural de quem está acostumado a se comunicar por meio das imagens. “Eu sempre gostei de imagens. Quando tinha uns 17 anos um primo meu me chamou pra fazer o curso do Senac, mas logo descobrimos que não tínhamos dinheiro para comprar a câmera necessária para a inscrição. Em 1993, um colega de trabalho tinha uma máquina semiprofissional e me falou novamente do curso. Depois de demitido, não tive dúvidas e após alguns meses de curso apareceu a oportunidade de fazer uma espécie de estágio no O Povo, onde fiquei por um ano e meio. Já com o registro profissional nas mãos fui fazer um frila apenas de fim de semana no O Dia, e lá fiquei por sete anos”, conta Alexandre, 39 anos, 15 de profissão. Os flagrantes esportivos são mesmo o ponto forte do trabalho do repórter 10 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

VITÓRIA NO TURFE

fotográfico. Um nicho que coincidiu com seu gosto pessoal. “Sou apaixonado por esportes. E, de certa forma, atuar nesta área foi escolha minha. E muito por incentivo de uma pessoa que faço questão de citar

o nome, o Eurico Dantas, na época de O Dia. Ele era chefe por lá quando iniciava minha carreira. Como fotógrafo de esportes, sempre me dava boas dicas e me escalava para pautas desse tipo, para que eu treinasse mais. Fui

gostando e melhorando tecnicamente. No primeiro jogo que cobri no Maracanã, um Flamengo x Vasco, publiquei seqüência de quatro fotos de um dos gols do Edmundo. Depois, passei a ser escalado em outros jogos e para via-


BASQUETE DE RUA

AS FOTOS VITÓRIA RUBRO-NEGRA Na final do Campeonato Estadual de Futebol do Rio de Janeiro deste ano, o goleiro Bruno comemora a defesa de um pênalti que deu a vitória ao Flamengo. VITÓRIA NO TURFE No Grande Prêmio Brasil de Turfe de 2007, o jóquei Vagner Leal comemora ao vencer a corrida montando L'Amico Steve. BASQUETE DE RUA Jogo embaixo do viaduto Negrão de Lima, em Madureira, Rio de Janeiro. CORRIDA DE OBSTÁCULOS Troféu Brasil de Atletismo 2009 no Engenhão, Rio de Janeiro. Prova dos 3.000 m com obstáculos. PARAATLETA Treino de paraatletas no Engenhão, durante o ParaPan 2007.

gens, sendo a primeira um Corinthians x Flamengo, no Morumbi. Conheci praticamente todo o Brasil, vários países da América do Sul e Europa, além da Antártica”, conta. Há peculiaridades no fotojornalismo esportivo? Essas fotos exigem maior acuidade por parte do profissional, além de melhores equipamentos? “Elas exigem mais concentração, pois tudo acontece em um tempo determinado, que é o de duração da prova ou do jogo. Em alguns esportes isso significa alguns segundos; se você os perde, dança... Exigem o conhecimento das regras de cada esporte, para que você saiba o melhor posicionamento para a foto que deseja. Mas acho que o maior grau de dificuldade está na utilização de lentes específicas, como as teleobjetivas, e operar, em algumas situações, mais de uma câmera ao mesmo tempo, além de lidar com a pressão de não poder perder nenhum lance. E do desafio de conseguir a boa foto de um ângulo novo, que é o mais difícil”, responde Alexandre Cassiano. Não por acaso as coberturas esportivas são as favoritas dele. “Eu destacaria a Copa de 98, realizada na França, e as Olimpíadas de Pequim. Mas como melhor clique acho difícil destacar um. Depois de publicado um trabalho, você só pensa na próxima melhor foto. E é complicado defini-la. Cada foto tem sua peculiaridade. Mas, falando do aspecto técnico, a boa foto pode ser aquela que reúne elementos básicos, como um bom enquadramento, foco adequado, luz correta. É justamente a busca por isso que me move. É conseguir a melhor foto todos os dias. Considero isso o maior estímulo da profissão, e é o que a torna fascinante”. Como dica aos novatos, que pensam em seguir a profissão, Alexandre destaca alguns procedimentos. “É preciso ter comprometimento e dedicação ao que se faz, para se man-

CORRIDA DE OBSTÁCULOS

PARAATLETA

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ALEXANDRE CASSIANO ROMÁRIO NA SELEÇÃO

DERROTA BRASILEIRA

CAMPEÃO

ter atualizado e preparado para qualquer trabalho. E, principalmente, nunca desistir, pois a próxima pode ser a melhor foto da sua vida”, aconselha ele, que ainda faz uma crítica ao mercado. “O fotógrafo hoje está mais valoriza12 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

do. Até porque o perfil desses profissionais mudou bastante nos últimos anos. Mas sinto falta de um olhar voltado para os cliques de esportes. Praticamente não existem concursos ou premiações para fotos desta editoria”, reclama.

PÉ TORTO


TREINO DA SELEÇÃO

CORUJAS NO AUTÓDROMO

SINCRONIZADO

AS FOTOS DERROTA BRASILEIRA Contraste entre alegria dos jogadores franceses e a tristeza de Ronaldo na final da Copa de 98, em Paris.

TREINO DA SELEÇÃO Cena de riqueza plástica: treino da seleção olímpica brasileira na cidade de Qinhuangdao, China

ROMÁRIO NA SELEÇÃO Amistoso entre Alemanha e Brasil na cidade de Stuttgart, na Alemanha.

CORUJAS NO AUTÓDROMO Cena inusitada: uma família de corujas no complexo esportivo do autódromo durante as obras para o Pan-Americano do Rio.

CAMPEÃO Final da Taça Guanabara de 2006 entre Botafogo e América, Dodô segura a taça.

VÔLEI NA CABEÇA

PÉ TORTO O jogador Luciano Almeida com o pé torto após dividida no jogo do Campeonato Brasileiro de 2007 entre Botafogo e Sport no Engenhão.

VÔLEI NA CABEÇA Torcedor num jogo de vôlei feminino no Maracanãzinho no Pan 2007. SINCRONIZADO Ainda no Pan do Rio, Seleção americana de nado sincronizado se apresenta no Parque Aquático Maria Lenk.

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A NDRÉ D USEK

A arte da fotografia como herança de família Uma questão de família. Assim a fotografia está associada à trajetória de André Dusek. “O meu avô materno, húngaro radicado no Brasil, era arquiteto e gostava de música e de fotos. Eu não o conheci, ele morreu um ano antes de eu nascer. Mas tenho fotografias dele tocando violoncelo e também um auto-retrato feito num espelho segurando uma câmera Voigthlander de chapa da década de 20. Essa câmera eu tenho até hoje. E ela ainda funciona com um ‘back’ para filmes 120. Meu pai, checo naturalizado brasileiro, é pintor, escultor e gravador e sempre fez fotografias como amador. Ele ampliava suas fotos num velho laboratório em casa. Eu o acompanhava na luz vermelha da sala escura e achava um barato ver a imagem aparecendo imersa na banheira”, recorda. A influência da família não parou por aí. Por sinal, está bem conservada, com artigos do passado presentes até os dias de hoje. “Meu pai nos fotografou, a mim e a meus irmãos, quando éramos crianças, e guarda esses negativos até hoje. O meu tio, irmão de meu pai, era fotógrafo e cinegrafista. Eu cresci cercado de quadros e fotos por todos os lados e vendo os álbuns de família. Tenho álbuns desde o século XIX. Minha primeira câmera foi uma Tuka de plástico de filmes 127. Só aprendi fotografia seriamente com o meu pai já em Brasília, em 1975, no mesmo laboratório montado em casa”, conta Dusek, numa referência ao primeiro professor. “A fotografia é uma forma de expressão popular. É relativamente fácil fotografar e todo mundo tem, por pior que seja, uma câmera ou um celular para registrar sua família, seus amigos e a vida.

SEM JEITO

AS FOTOS SEM JEITO O então Presidente José Sarney parece um estranho no ninho nesta foto entre os seus ministros militares, numa cerimônia no qg do Estado-Maior das Forças Armadas. CACIQUES O Deputado Ulisses Guimarães e o cacique Raoni em Brasília durante a Assembléia Nacional Constituinte em 1988. SERRA PELADA A imensidão de Serra Pelada impressiona. Fui o primeiro fotógrafo da imprensa brasileira a registrar o drama daqueles garimpeiros. Vi muita miséria e loucura no garimpo.

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CACIQUES


SERRA PELADA

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ANDRÉ DUSEK IMPLOSÃO

Além disso, é uma forma de expressão universal, pois todos a entendem, não é preciso ter tradução. Se a pessoa é analfabeta, não lê o texto, mas vê as fotos e de certa forma recebe a mensagem”, acredita. Por isso mesmo, diz Dusek, uma boa fotografia, antes de ser esteticamente boa, precisa informar, contar uma história. Servir à matéria jornalística. De preferência, sem depender da legenda. A formação acadêmica ocorreu na graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, onde ingressou em 1976. “Na época, não havia professor de fotografia e fui me aperfeiçoando com os laboratoristas do departamento. Fazia fotos e escrevia textos para jornais de laboratório. Comecei a fotografar em 1975, e meu primeiro trabalho profissional, antes de me formar, foi para um jornal do MDB, chamado Campanha, em Catalão, Goiás, em 1978. Logo depois fui trabalhar quase de graça na sucursal Brasília da Bloch, para as revistas Manchete e Fatos & Fotos. Durante um tempo, fazia textos e fotos. Fazia tudo. Quando resolveram me contratar me perguntaram se queria ser repórter de texto ou fotográfico. Embora goste de escrever até hoje, optei pela fotografia”, diz. A partir de então, muitos foram os veículos que contaram com o trabalho deste carioca, nascido em 1956. “Fui fotógrafo do Correio Braziliense de 1980 a 1982, presidente da União dos Fotógrafos de Brasília, e membro da agência Agil Fotojornalismo, de 1982 a 1989. Trabalhei na Agência Estado e no jornal O Estado de S. Paulo, de 1988 a 1994. De 1994 até 2006, fui repórter fotográfico da IstoÉ, sucursal de Brasília. Em 2006, voltei a integrar a equipe de fotógrafos do Estadão em Brasília”, lista ele, que recebeu o título de ‘Jornalista Amigo da Criança e do Adolescente’, concedido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância-Andi. “Tenho vários momentos marcantes. Fui o primeiro fotógrafo a fazer uma reportagem no garimpo de Serra Pelada, no seu auge, em 1980. Tive a oportunidade de acompanhar o Major Curió e acabei fazendo uma grande matéria que rendeu duas primeiras páginas no Correio Braziliense. Mas a minha melhor foto foi feita em 1989. Fui com a repórter Eliana Lucena, pelo Estadão, acompanhar uma equipe de saúde da Funai numa missão no Rio Cuminapanema, Norte do Pará. Lá existia uma aldeia de índios isolados, os Zoés, que estavam doentes após contato com missionários brancos. Um dia, eu e o cinegrafista Gustavo Hadba, de uma tv alemã, seguimos um índio que saiu pra caçar. Ele levava um arco e duas flechas. No momento em que foi atirar a primeira delas, como estava nu, não tinha aonde colocar a segunda, e a posicionou entre as próprias pernas. Fiz várias fotos. Além de plasticamente bonita, ficou engraçada, pois a primeira impressão que se tem é que a flecha está ‘enfiada’ e não apenas colocada entre as pernas. É uma foto polêmica e que desperta a curiosidade de todos os que a vêem”, conta. 16 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

CHEGA DE CORRUPÇÃO!

ANDARILHOS


O CAÇADOR

ABANDONO

CLUBE DA LUTA

AS FOTOS IMPLOSÃO Registro da implosão do esqueleto de um prédio de 12 andares na beira do Lago Paranoá em 2007, cuja obra estava interditada há 19 anos. Ao fundo, o Congresso Nacional. CHEGA DE CORRUPÇÃO! Manifestação de estudantes e sindicalistas em 2005 contra a corrupção e contra o Governo Lula no lago em frente ao Congresso Nacional. ANDARILHOS Quatro cegos andam juntos em Gaza, na Palestina, em1982. ABANDONO Em 1990, a foto dos meninos Crenacarore, uma das tribos do Parque Nacional do Xingu, revela o drama de miséria e abandono em que vivem as populações indígenas brasileiras. CLUBE DA LUTA Uma cena lamentável protagonizada por parlamentares em 1984: Agnaldo Timóteo, à época deputado federal, envolvido numa briga no Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados. PEDALANDO Durante a greve de peões de 1980, em Taguatinga Sul, Brasília, a imagem do ciclista cercado pela força policial.

PEDALANDO

O CAÇADOR A foto mais comentada e que desperta a curiosidade de todos: o índio da tribo Zoé caça com duas flechas.

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ANDRÉ DUSEK CARROÇA

O ÚLTIMO DISCURSO

AS FOTOS O ÚLTIMO DISCURSO Fidel Castro, em sua última aparição pública antes de ficar doente, discursa na Universidade de Córdoba, Argentina, em 2006.

CARROÇA Um carroceiro catador de lixo e papel passa no fundo do Palácio do Planalto, perto da Divisão de Transportes da Presidência, em Brasília.

O ELEITO A satisfação de Tancredo Neves e seus correligionários no Congresso Nacional no dia em que foi eleito, pelo Colégio Eleitoral, Presidente do País.

GUARDA-CHUVA A difícil tarefa de sair do ônibus escolar durante uma enxurrada na rua principal da Cidade Satélite do Itapoã, em Brasília, no ano passado.

HERÓIS DO PENTA A Seleção Brasileira de Futebol, pentacampeã mundial em 2002, é recebida com festa na Praça dos Três Poderes em Brasília.

O ELEITO

GUARDA-CHUVA

HERÓIS DO PENTA

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A RNALDO C ARVALHO FOME ZERO

Num clique, a revelação das mazelas sociais Bastaria um único e recente motivo para justificar a presença de Arnaldo Carvalho nesta seleção de fotojornalistas. O Editor-Assistente de Fotografia do Jornal do Comércio do Recife, PE, onde começou como estagiário em 1997, recebeu o Prêmio Esso de 2009, em solenidade realizada na noite de 8 de dezembro, no Hotel Copacabana Palace, no Rio. O trabalho premiado, Exilados na Fome, foi realizado em reportagem feita ao longo de 15 dias, com passagens pelos locais mais pobres do Nordeste. “É muito gratificante ganhar um prêmio como esse, ainda mais porque é o primeiro jornal de Pernambuco a vencer essa categoria. É importante destacar, porém, que esse trabalho é de toda a equipe do JC Imagem, que cumpre a função social importante de mostrar a realidade aos leitores”, disse Carvalho na solenidade de premiação. “Prêmios são importantes, pois são

reconhecimento. O Esso tem a mesma importância, para jornalistas brasileiros, que o Pulitzer para nossos colegas norte-americanos. Mas temos que manter os pés no chão, tocar o trabalho em frente. Só estamos cumprindo a nossa função. O verdadeiro prêmio é ajudar as pessoas com nosso trabalho”, conclui o fotógrafo, de 37 anos. Denunciar a dura realidade social do Brasil pode render a satisfação do dever cumprido, como bem ressaltou o profissional do JC, que em sua carreira recebeu também o Prêmio Cristina Tavares 2008 e o Prêmio Sinduscon 1999. Mas também tira o sono e provoca revolta.

AS FOTOS Duas fotos para matéria especial sobre a fome no Nordeste: família da zona rural de Guaribas, cidade símbolo do Fome Zero no sertão do Piauí, e garoto desnutrido morador de Ouricuri.

DESNUTRIÇÃO

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ARNALDO CARVALHO

LIGHT PAINTING

VAQUEIROS

LUZES DA ESCURIDÃO

REVERÊNCIA

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“Sem sombra de dúvidas, essa imagem que ganhou o Esso foi a mais impactante da minha trajetória. Fiquei com ela bombardeando a cabeça durante semanas... Deitava para dormir, fechava os olhos e ela vinha na mente. A cobertura sobre a fome foi a mais desgastante que já fiz, tanto fisicamente quanto psicologicamente. É impossível passar incólume por isso tudo; isto é, sua vida não mudar após realizar uma pauta com essa profundidade”, emociona-se. Desde o início, fazer de sua câmera um instrumento feroz de crítica social foi a proposta de Arnaldo Carvalho. “O que me atraiu na fotografia foi a possibilidade de comunicar, através da imagem e da utilização da mesma. Fazer disso uma poderosa ferramenta para denunciar as questões sociais. Ao ingressar na faculdade de Jornalismo, antes de pagar a cadeira de Fotojornalismo, já sabia que queria mesmo seguir por este caminho”, resume. Mas o que faz um bom fotógrafo? Quais elementos são de fato decisivos para compor uma carreira de sucesso? “A sorte é fundamental, mas não adianta ter sorte se você não estiver preparado para registrar o fato quando a ‘janela’ se abrir pra você. Do mesmo jeito que existem crimes premeditados, existem fotos premeditadas. Você fica olhando pelo visor da câmera e mentalizando que determinada coisa ou ação vai acontecer, e pimba, acontece mesmo. Comigo mesmo já aconteceu várias vezes”, conta. Para os novatos, a dica é só uma. “Veja muita foto e pratique muito, sem medo de errar. O medo de errar, às vezes, nos impede de acertar”. E o que é acertar, em termos de fotojornalismo? “Só dá pra definir uma boa foto vendoa, descrever em palavras é difícil. Para


LAMENTO

CHORO DO BEBÊ

AS FOTOS LIGHT PAINTING Uma potente lanterna ilumina uma casa sem energia elétrica no interior de Pernambuco. LUZES DA ESCURIDÃO Mais uma foto para o especial sobre a fome retrata a extrema pobreza de uma família de Ipubi, no sertão de Pernambuco. REVERÊNCIA O Presidente Fernando Henrique Cardoso gesticula durante a cerimônia do Projeto Alvorada, no Palácio do Campo das Princesas, em Recife, em 2001.

VAQUEIROS Missa do vaqueiro em Serrita, interior de Pernambuco. LAMENTO O olhar sofrido de uma moradora da Serra dos Cafundó, sertão do Ceará. CHORO DO BEBÊ Exilados na Fome: foto vencedora do Prêmio Esso 2009. TRAGÉDIA NO CIRCO A imagem de um dos cinco leões do Circo Vostok que atacaram e devoraram um menino de 6 anos no Recife em abril de 2000.

mim, uma boa foto tem de transmitir emoção e informação. Nós somos os olhos dos nossos leitores, testemunhas oculares dos acontecimentos. Estamos ajudando a contar e a registrar a história do nosso tempo. Daí a importância e responsabilidade desse trabalho”, aponta. Uma atividade profissional que não raramente sofre com diversos percalços cotidianos. “A maior dificuldade é a quantidade de pautas que muitas vezes temos de fazer durante o dia. Às vezes, não temos tempo de trabalhar bem uma foto. Já sofri até uma agressão por ocasião da primeira cassação de um deputado estadual, aqui de Pernambuco. Ao sair da Assembléia Legislativa, pela porta dos fundos, os seguranças dele me agrediram, pois eu estava só. Os companheiros dos outros veículos apostaram na porta da frente e eu corri para a outra, apostando que ele sairia por lá. Apanhei, quebraram o flash da máquina... Mas no outro dia só nós demos a foto grande na capa do deputado com a mão no rosto. E, em letras garrafais, a sentença: cassado.”

TRAGÉDIA NO CIRCO

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ARNALDO CARVALHO

AS FOTOS LUZES OLÍMPICAS Cerimônia de encerramento do Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007. TRAVESSIA Ciclista na ponte Marechal Hermes, Minas Gerais, 2005. CABEÇADA Lance da partida entre Santa Cruz e Náutico no Estádio do Arruda, em Recife. Foto vencedora do Prêmio Arfoc-PE de 1999. CRIANÇAS NA PRAIA Meus filhos brincando num final de tarde, em agosto deste ano, na praia de Japaratinga, Alagoas.

TRAVESSIA

LUZES OLÍMPICAS

CABEÇADA

CRIANÇAS NA PRAIA

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D ANIEL R AMALHO

CARTÃO POSTAL

Em pauta, o que a foto revela do fotógrafo

FÉ CEGA

“Você fotografa o que vê. E o que você vê tem tudo a ver com quem você é”. A frase, do fotojornalista mineiro Juvenal Pereira, é citada por Daniel Ramalho como definição sobre o próprio trabalho. Em poucas palavras, as imagens feitas pelo jovem de 30 anos revelam muito do seu perfil. Cronista dedicado. Observador ao extremo, daqueles que avaliam as coisas, pessoas e situações sob todos os ângulos possíveis, talvez em busca do enquadramento mais original. “A foto eficiente cumpre o fim a que se destina. Um 3x4 pode ser uma foto excelente. Entendo que a boa foto jornalística deve responder ao máximo sobre o lide da matéria e ser flagrante do instante decisivo, onde as coisas se organizam para dar sentido ao fato. O repórter-fotográfico é testemunha da tormentosa vida humana e da esperança a brotar das cinzas. Representa os olhos de milhares de pessoas”, diz ele. As máquinas sempre estiveram presentes nos projetos de Daniel Ramalho, embora nem sempre tenham sido fotográficas. A graduação em Engenharia Mecânica, abandonada em 2002, ainda no meio do percurso, cedeu caminho à formação técnica em Fotografia pelo Centro de Comunicação e Artes do Senac, culminando AS FOTOS na pós em Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais, feita na CARTÃO POSTAL Universidade Candido Mendes. Ao lonFila para compra de go dessa trajetória, ainda garoto, trabaingressos para o clássico lhou como freelancer para diversos sindientre Fluminense e catos. Desde 2005 é repórter fotográfico Botafogo na inauguração do Estádio do Engenhão, do Jornal do Brasil. Observador, como já em 2007, Rio de Janeiro. descrito aqui, recorda em detalhes o início da sua profissionalização. FÉ CEGA “No final de 1999, por exigência do Menino cheira cola entre curso técnico, procurei estágio na área de estátuas na Cinelândia, fotografia. Atraído por um anúncio de Rio de Janeiro, 2006. jornal, me dirigi à Rua Riachuelo, 114, na Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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DANIEL RAMALHO

Lapa. Na época, tinha acabado de deixar o trabalho em uma empresa engarrafadora de botijões de gás. Ao ver aquela Redação fiquei encantado com a movimentação das pessoas, a descontração, o falatório e o barulho de digitação, tudo bem diferente da frieza das máquinas industriais. Era o jornal Folha Dirigida. Fiz provas escrita e prática e acabei aprovado. Depois, na oficialização, a empresa que realiza os contratos de estágio se recusou a fazer o meu, pois meu curso era técnico e a faculdade que eu cursava não era de Comunicação Social. Mas fiquei na empresa graças ao saudoso Waldemar Cardozo, Vice-Presidente na época. Ele, acho, foi com minha cara e assinou a minha carteira no cargo de assistente de fotografia”. Uma vez dada a largada, era hora de acelerar. “Posso dizer que tive na prática da Folha Dirigida a minha ‘formação universitária’ e que a jornalista Maria Cristina Siqueira, que faleceu este ano, foi a minha ‘professora orientadora’.

PRESENÇA

AUSÊNCIA

CASAL 20

AS FOTOS PRESENÇA Lula fotografa os fotógrafos na inauguração do centro de vigilância dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. AUSÊNCIA Primeiro debate da Tv Globo nas eleições presidenciais de 2006. O candidato Lula não compareceu e a disputa acabou indo para o segundo turno. CASAL 20 Visita do presidente da França Nikolas Sarkozy e da Primeira-Dama Carla Bruni ao Brasil, em 2008

PARA INGLÊS VER

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PARA INGLÊS VER Neste ano o Príncipe Charles fez uma visita à Favela da Maré, no Rio de Janeiro.


AS FOTOS SAMBA NA MANGUEIRA Samba na quadra da Estação Primeira, em 2005. A FORÇA NO RIO No dia 16 de janeiro de 2007 a Força Nacional de Segurança se apresenta no Rio de Janeiro...

SAMBA NA MANGUEIRA

A FORÇA NO RIO

GUERRA NA MANGUEIRA ...enquanto isso, traficantes do Morro da Mangueira incendiavam dois ônibus nas imediações do morro.

No Jornal do Brasil, acredito ter desfrutado de uma espécie de masterclass, com feras como Evandro Teixeira, Luiz Morier, Fernando Rabelo e Paulo Nicolella”. No aprendizado do mercado, no entanto, surgiram lições pouco agradáveis. “O campo de trabalho é reduzido e é difícil valorar a nossa produção. Além disso, há excessiva glamourização da profissão do fotógrafo. Basta reparar na quantidade de personagens fotógrafos nas novelas e minisséries de televisão”, diz. Em carreira não muito longa, Daniel Ramalho já seleciona sua cobertura inesquecível. “As Olimpíadas de Pequim foram um momento especial. A equipe do JB era formada por mim e o repórter Luciano Cordeiro Ribeiro. O fuso de 12 horas complicava tudo. Dois dias antes de começar a competição houve uma tremenda festa, mas fomos cobrir o treino da dupla do vôlei de praia, Larissa e Juliana. Chegamos lá e só havia mais uma jornalista. A Larissa treinava com a comentarista Virna e a Juliana estava no banco, com cara de choro. Fiz várias fotos e provoquei o Luciano: ‘tem coisa aí’. Ao fim do treino, por volta das 23 horas em Beijing, o Luciano indagou a Virna o motivo de ela ter treinado no lugar da Juliana. Aí, logo depois, a própria atleta confirmaria que estava fora dos Jogos. Ainda era de manhã no Brasil. Tínhamos um furo! Isso nos deu tranqüilidade para trabalhar e, com sorte, conseguimos estar presentes nas três medalhas de ouro do Brasil”, conta. Seguro de que ainda tem muito o que fotografar, é como num flash que Daniel responde à última pergunta. “Qual a minha grande foto? É a que eu vou fazer amanhã”, sentencia. A julgar pelo que já produziu até aqui, alguém aí duvida?

GUERRA NA MANGUEIRA

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DANIEL RAMALHO

CRUEL

É O AMOR

PONTO ALTO

AS FOTOS É O AMOR A girafa Zagallo chega ao Zoológico do Rio em 2008 para "namorar" a girafa Beija-céu. CRUEL Bailarinas da Companhia de Dança Débora Colker em ensaio do espetáculo Cruel, no Rio de Janeiro, em 2007. PONTO ALTO A Seleção Feminina de Vôlei comemora a conquista da medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, jogando a levantadora Fofão para o alto. IMPACTO FULMINANTE Torcedor agride o jogador Diguinho em treino do Fluminense. Foto finalista do Prêmio Embratel 2009. RESGATE Incêndio em Copacabana neste ano. Bombeiro resgata a aposentada Elza Hidal, 80 anos por meio de rapel. (Essa foi primeirinha no JB, no Globo, Extra e em O Dia). CIELO NO CÉU O campeão olímpico César Cielo é atacado por fãs chineses na visita ao Templo do Céu, durante as Olimpíadas de Pequim. FASHION RIO Gisele Bundchen defila para Colcci em 2008. A PRIMEIRÍSSIMA Maureen Maggi no pódio, primeira medalha de ouro do atletismo brasileiro. Pequim, 2008.

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IMPACTO FULMINANTE


CIELO NO CÉU

RESGATE

FASHION RIO

A PRIMEIRÍSSIMA

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D ANIELA X U

DESOLADO

Flagrantes de uma constante corrida contra o tempo O cotidiano é cada vez mais corrido. O trânsito das grandes cidades, cada vez mais lento, quando não parado. No meio disso tudo, de um lado para o outro, estão os profissionais que correm atrás da informação, que enfrentam hoje outra espécie de concorrência: os próprios leitores, telespectadores ou ouvintes. Sinal dos tempos. “A nossa maior dificuldade é a grande quantidade de pautas dos jornais diários. São muitos repórteres em ação, para poucos fotógrafos. Com a explosão das câmeras digitais, o nosso ‘leitor-repórter’ chega aos locais primeiro que a gente. Até por isso, temos que estar nos aperfeiçoando sempre. Temos que apostar no diferencial do bom profissional da imagem. Os sites, por exemplo, têm investido na publicação desses registros”, afirma Daniela Xu, 35 anos, natural de Pelotas,RS, e fotojornalista há 12. Desde 2004 no jornal Pioneiro, em Caxias do Sul, no interior do Estado, Daniela tem passagens por vários veículos da região. “Comecei como aprendiz do fotógrafo Nauro Jr., da sucursal da Zero Hora em Pelotas, onde passei a fazer 30 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

NO ÂNGULO


LEITE MATERNO

SUPERLOTAÇÃO

freelancer. Trabalhei por dois anos no Diário Popular (1997 a 1999). Em 2000, trabalhei na sucursal da Zero Hora em Rio Grande. Em 2001, fiz um caderno de verão para o Diário Catarinense. Nesse mesmo ano entrei para a equipe de fotógrafos do Jornal de Santa Catarina, em Blumenau. De lá voltei ao Rio Grande do Sul para trabalhar na Zero Hora em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande, conta Daniela, que, em 2005 recebeu uma menção honrosa no Prêmio Abraciclo. Nada mais justo em relação ao trabalho de uma profissional cuja beleza plástica das fotos beira o encantamento. O fascínio pela fotografia aconteceu meio que por acaso. “Fazia estágio na Federal FM, e cobríamos a Feira do Livro de 1996, ao vivo, da Praça Coronel Pedro Osório. E recebi, duas semanas depois, um exemplar da Zero Hora com uma foto do Nauro Jr. em que eu aparecia lendo durante o evento. Fiquei encantada em receber o jornal das mãos do autor daquela foto. E bateu aquela sensação bacana de que eu tinha encontrado a minha paixão no jornalismo, na fotografia. Percebi que queria fazer aquilo. Eu incomodava o Nauro Jr. todos os dias, querendo saber mais, orientação sobre qual câmera devia comprar... SoPERIGO NO AR

FOGO

AS FOTOS DESOLADO Em 2007 um vendaval atingiu a cidade de Vacaria, RS, matando todas as aves desse aviário. NO ÂNGULO Onde dorme a coruja! Foto tirada durante um treino do Juventude em março de 2008 LEITE MATERNO Foto feita em uma Unidade Básica de Saúde. SUPERLOTAÇÃO Presídio industrial de Caxias do Sul, RS, em 2008. FOGO Incêndio em uma vila atrás do aeroporto de Caxias do Sul, em 2006. PERIGO NO AR Avião que transportava empresários de São Paulo cai no interior de Santa Cruz do Sul, RS, em 2002.

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DANIELA XU

mos amigos e irmãos até hoje. E guardo comigo a página e a foto que mudaram minha vida. O fotojornalismo foi o que me atraiu na área da fotografia. Aqui no Rio Grande temos o hábito de ler jornais. Isso vem da infância, esse gosto pelo impresso. Levantar cedo no domingo e correr às bancas”, diz. Mas o pedido para destacar alguns de seus cliques, em detrimento de outros, é algo que parece desagradar Daniela Xu. “Sou como um médico clínico-geral. Faço de tudo. Gosto de fazer fotos que tragam informação e, se possível, um pouco de encantamento. Não tenho uma que eu ache mais marcante do que as outras. Eu gosto de assuntos variados: geral, esporte, cultura, segurança... Cada foto tem uma história, eu participei delas. Isso é muito bom. Em um jornal diário, posso estar cobrindo um atendimento em uma Unidade Básica de Saúde e daqui a uma hora estar num treino de futebol. Não gosto de rotina”, diz Daniela, que, no entanto, não se furta a descrever as características básicas de um bom registro fotográfico. “Para mim, a boa foto é aquela que causa, ao menos, uma dessas reações: encantamento, curiosidade, admiração da simetria, polêmica ou a percepção de perpetuação de um momento único”. Para chegar a esse ideal, diz Daniela, um foco fundamental é a interação entre repórter e fotógrafo, em todas as fases de produção da reportagem: “Sem informação não há solução, né? Quanto melhor a pauta for produzida, no caso de não ser uma factual, é claro que isso ajuda no resultado final. E quanto mais o repórter e o fotógrafo se falarem, trocarem idéias, melhor vai ser a produção. Qual é o assunto? Quanto espaço teremos? O que o entrevistado falou? Acompanhar a entrevista te dá mais dados sobre a cobertura. E estar por dentro dos assuntos da cidade, do Estado, do mundo... Tudo isso faz o trabalho fluir melhor.”

CAVALGANDO NA CIDADE

CHUVA EM VERMELHO

AS FOTOS CAVALGANDO NA CIDADE Garoto cavalga durante as comemorações da Semana Farroupilha em Caxias do Sul, RS, nos pavilhões da Festa da Uva, local onde os gaúchos tradicionalistas fazem shows, acampamentos e apresentações culturais. CHUVA EM VERMELHO O inverno é sempre chuvoso em Caxias do Sul, RS. Vi esse plástico que cobria um estacionamento e fiquei esperando por volta de uns 40 minutos para que alguém passasse por ali. A ONDA E A CHUVA O clima sempre é notícia nesses tempos de aquecimento global: mais uma pauta de chuva. AGRICULTURA Na página seguinte: registro da colheita de fumo em Santa Cruz do Sul, RS, em 2002. CRIME E CASTIGO Em fevereiro de 2007, um foragido trocou tiros com a polícia e acabou alvejado e morto no bairro Reolon, em Caxias do Sul. A ONDA E A CHUVA

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AGRICULTURA

CRIME E CASTIGO

CARETA

IMENSIDÃO VERDE

AS FOTOS CARETA Senador Pedro Simon em 2005, numa reunião com integrantes do PMDB em Caxias do Sul. IMENSIDÃO VERDE Canions do Itaimbezinho, em Cambará do Sul, RS.

RETRATO

RETRATO Adolfo Lona, enólogo argentino radicado em Garibaldi, RS, proprietário de uma produtora de vinhos, em 2006.

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E NY M IRANDA FOTOS: ENY MIRANDA/CIA. DA FOTO

PAUTA MUSICAL

É natural que, com duas décadas de profissão, e com passagens por inúmeras Redações, como as do Diário da Tarde, Estado de Minas, O Globo, O Dia, O Estado de S. Paulo, e revistas Caras e Ego, Eny Miranda sinta o peso da profissão. E, neste caso, não em sentido figurado. “Acho que a maior dificuldade encontrada no cotidiano de repórter fotográfica é o peso do equipamento para o corpo”, conta ela, que, por isso mesmo, talvez como uma ação preventiva, dá uma dica inusitada aos que pensam em seguir a carreira. “Façam academia e musculação. E vão em frente, pois este trabalho vale muito a pena. É mágico. É único”. Nascida em Belo Horizonte, em 26 de junho do macabro ano de 1964 – poucos meses após o golpe militar – Eny teve na figura do pai a principal inspiração profissional. “Ele era jornalista do Estado de Minas e, muitas vezes, eu ia à Redação do jornal, onde ficava, por horas a fio, nas mesas, vendo as fotos dentro das caixas”, recordase. A opção por andar por aí, máquina em punho, foi exatamente para estar mais próxima dos fatos. “E o que diferencia a produção de um bom fotógrafo é exatamente a capacidade de ver o que ninguém enxerga. Meu trabalho é algo que ainda está acontecendo e me revela o mundo”, sentencia. Nem só nas Redações foi moldado o perfil de Eny. Ela também trabalhou na Imprensa Oficial, foi chefe de Fotografia do Governo do Estado do Rio e esteve mergulhada em campanhas políticas. Editou um livro, Retratos do Tempo, e participou de exposições como 100 anos de Belo Horizonte; A caminho da Folia; Londres, Paris e Roma; Abrigo Cristo Redentor e CarnaAS FOTOS val Através de João do Rio. AtuPAUTA MUSICAL almente, é sócia da Agência Pássaros no sertão do Brasil, em 2001. Cia. da Foto. “Estou fora dos jornais. Acredito que a fotograMADRUGADA EM BOTAFOGO fia digital, no geral, desvaloriCapa do cd da cantora Mart’nália em 2008. zou um pouco o trabalho dos

O fotojornalismo como exercício diário

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MADRUGADA EM BOTAFOGO


fotógrafos. Hoje, os jornais fazem poucas matérias especiais, viaja-se muito pouco... Então, resolvi andar com as minhas próprias pernas.” Nesse caminho, e em busca de novos ares e desafios, Eny Miranda voltou seu foco para projetos na área social. Atua hoje, e pelos próximos dois anos, no projeto Amigos do Planeta na Leitura, cuja proposta básica é distribuir livros e estimular este hábito em comunidades ribeirinhas da Amazônia Legal brasileira. Locais isolados, com dificuldades imensas de acesso ao conhecimento. “É mesmo uma alegria ver a garotada com os olhos brilhando, lendo seus livros”, descreve ela, lembrando que o projeto é fruto de parceria entre o Programa Socioambiental das Casas Bahia, chamado Amigos do Planeta, com a organização não-governamental Vaga Lume. Eny Miranda diz não ter um clique mais marcante. “Gosto de sentir o meu trabalho como um todo”, justifica. Mas tem a lembrança de uma bela história. “Fotografei uma menina cega para a campanha do Banco do Brasil que, ao sentir a forte luz do flash direcionada para o seu rosto, quando eu apertei o botão, me disse: ‘Senti a sua foto na ponta do meu nariz!’ Aquilo foi emocionante...”, conta ela, que destaca, dentre as coberturas já feitas, a chacina de Vigá-

AS FOTOS AMIGOS DO PLANETA NA LEITURA Três fotos feitas através do projeto que distribui livros e estimula o hábito da leitura em comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira. SEM SAÍDA Ônibus superlotado devido a uma greve de trem no Rio de Janeiro em 1993.

SEM SAÍDA

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ENY MIRANDA

rio Geral, no Rio de Janeiro, em 1992. “Até hoje, de vez em quando, lembro daquelas imagens. E isso me dói”. A violência, cada vez mais estampada nas páginas dos jornais de todo o País, faz parte do exercício profissional dos repórteres fotográficos. “Eu já senti medo várias vezes, como quando tive uma arma de fogo apontada para a minha cabeça e quando colocaram uma faca no meu pescoço dentro de um presídio. Mas, isso faz parte do dia-a-dia. É quase impossível não correr riscos na nossa profissão”. Segundo Eny, o fotojornalismo brasileiro vive um estágio especial da sua história. “A primeira fase foi no seu surgimento. A segunda, quando adotou a cor. Agora, tudo mudou com a tecnologia digital. Mas precisamos estar atentos em relação à qualidade, pois, com a entrada no mercado de alguns fotógrafos sem condições técnicas, o fotojornalismo fica ameaçado e pode até perder o rumo”. E o que é uma boa foto? “É aquela que não precisa do photoshop. A que consegue transmitir claramente para os leitores a idéia da pauta ou da cena local”, resume.

ANJINHOS

AS FOTOS

A CAMINHO DA FOLIA

ANJINHOS Festa religiosa durante a Semana Santa em Ouro Preto, MG. A CAMINHO DA FOLIA No Carnaval de 1996, o registro de Laura de Vison no metrô do Rio de Janeiro.

DEVOÇÃO

CAMINHO TORTUOSO

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CAMINHO TORTUOSO Durante a campanha eleitoral de 1994, Marcello Alencar, teve que vencer muitos obstáculos para ser eleito. DEVOÇÃO Nossa Senhora do Bom Parto, MG, em 2007


M ARCO T ERRANOVA

Em busca de novos e próprios caminhos “ Voltar a pensar por mim mesmo era algo que eu precisava reconquistar... E isso só era possível pedindo demissão e voltando ao mundo da insegurança. Impressionante o que faz com a sua criatividade a necessidade de sobreviver sem ter um salário garantido no final do mês”. O depoimento de Marco Terranova chama a atenção pela coragem e sinceridade, bem como pelo quanto é revelador de sua relação visceral com o próprio ofício. “Eu sempre fui autônomo e, atualmente, voltei às minhas origens. Meu único emprego de carteira assinada, fora o de office-boy da empresa do meu pai, aos 14 anos, foi no Jornal do Brasil, onde consegui realizar um velho sonho de criança: trabalhar em um grande jornal”, recorda Marco, hoje com 45. A fotografia, de fato, foi transformadora na vida daquele garoto que, ainda aos 12 anos, começou a explorar o universo das máquinas, mas que somente ao 15 passou a ganhar algum trocado com os seus cliques de peças de teatro, crianças e reproduções de obras de arte. “Com a fotografia pude conhecer um mundo totalmente diferente do que fui criado, burguês e superprotetor. Aprendi a ver a realidade com meus próprios olhos e a escolher de que maneira deveria mostrar o que estava vendo. As escolhas que fiz na adolescência praticamente estão comigo até hoje. Não estou falando dos temas fotografados, mas da maneira como devemos tratar o que fotografamos”, explica. Ao longo destes últimos dez anos, desde que saiu do JB, Marco dirigiu documentários, videoclipes, projetos de livros e, é claro, fez fotos. Muitas fotos. O mais importante, diz ele, é perceber que houve mudanças no setor. “O digital veio para ficar e com ele surgiram dúvidas sobre sua qualidade. Eu acredito que quem controla o equipamento somos nós, por isso, seja com o digital, ou com as analógicas, sempre seremos o reflexo daquilo que somos e pensamos. Sinto saudades das velhas tiras de negativos. O processo de ter que passar pelo crivo de alguém, de um editor, fazia que nossa produção fosse cuidadosa, e a edição do material, mais rigorosa. Por outro lado, esta fartura de

CORAÇÃO DA LAGOA

AS FOTOS CORAÇÃO DA LAGOA Foto aérea da Lagoa Rodrigo de Freitas publicada em 1998 na revista Programa, do Jornal do Brasil. ISTO É FERNANDA Capa da revista Domingo, do Jornal do Brasil, de 1998, com a foto da atriz Fernanda Torres, que estrelava o filme O Que é Isso, Companheiro?

espaço nos cartões, hoje, faz que eu me sinta num parque de diversões. Passei grande parte da minha vida como freelancer. E quantos filmes paguei do meu bolso...”, lembra. É com certa dose de orgulho que Terranova define a profissão. “O repórter-fotográfico é um maravilhoso cronista de sua época. Para contarmos uma história é preciso um ótimo relacionamento com a equipe no trabalho. Do motorista ao repórter, isto

é fundamental, ou podemos colocar tudo a perder. Ser cronista, antes de mais nada, é um estado de espírito. Algo que podemos fazer estando em um grande jornal ou saindo com a câmera nas mãos, pela rua. Adoro fazer isso... Mesmo nos lugares mais perigosos em que fui, ou nas maiores saiasjustas pelas quais passei, eu sempre consegui ser visto não como um intruso, querendo somente capturar uma imagem e ir embora”. Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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MARCO TERRANOVA

Um desses exemplos de situações de risco é a Comunidade Santa Marta, na Zona Sul do Rio, atualmente pacificada. “Hoje podemos realizar o direito democrático de ir e vir, mas não foi sempre assim. A câmera, em algumas situações, pode ser vista de maneira mais ameaçadora do que fuzis ou qualquer arma de fogo. Uma coisa eu pude aprender: nunca mentir para bandidos. A capacidade que eles têm de farejar mentiras supera a de cães bem treinados. Pode até acontecer o pior, mas não podemos ser levianos com as nossas próprias vidas. Então, nunca minta em uma situação de confronto, pois isso pode deixar de ser uma mera experiência excitante para se tornar um pesadelo perigoso”. O sentido de agradecimento é marca presente neste depoimento. A começar por Rogério Reis, Editor de Fotografia da JB, responsável pela ida de Marco para o jornal, passando pelo colega Pedro Marinho Rego e pelos mestres Alaor Filho, Luiz Morier, Evandro Teixeira, Carlos Magno, Felipe Varanda, Dilmar Cavalier, Antônio Lacerda, Marcelo Sayão, Carlo Wrede, João Cerqueira, André Arruda, Nelson Perez e Samuel Martins, este já falecido. “Gostaria de finalizar fazendo uma homenagem a todos os fotógrafos, amigos ou não, que de alguma maneira estenderam as mãos para me ajudar em situações nas quais me faltavam filmes, pilhas, carona, comida ou forças. A maior lição que posso tirar da minha vivência num grande jornal é que existe espaço para competir. E um espaço maior ainda para se fazer amizades verdadeiras.”

AS FOTOS DOMINGO DE PAVOR Publicada no JB, essa foto recebeu o Prêmio Esso de Fotojornalismo de 1999. MERGULHO NO CLÁSSICO Mais uma capa da revista Programa, 1996. MENINO DE RUA Foto para a revista da Associação do Ministério Público-AMPERJ, em 2008. TRAVESTIS PERFORMÁTICOS Show na Comunidade João XXIII, Santa Cruz, em 1995. ENSAIO EM BRANCO E PRETO Moradora da Comunidade Santa Marta. BALÉ AQUÁTICO Golfinhos na Baía da Ilha Grande. PARAÍSO Ilhas Botinas em Angra dos Reis. MULHERES MAIORES DE 40 Foto feita no formato 6x6, analógico. TRÊS PICOS EM FRIBURGO Noturna em longa exposição.

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DOMINGO DE PAVOR

MENINO DE RUA

TRAVESTIS PERFORMÁTICOS


ENSAIO EM BRANCO E PRETO

BALÉ AQUÁTICO

MULHERES MAIORES DE 40

PARAÍSO

TRÊS PICOS EM FRIBURGO

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S ALVADOR S COFANO

BOAS VINDAS

Uma câmera na mão, muita curiosidade na cabeça “Não sei. Talvez trabalhasse com História das Artes ou Turismo. Não nasci para trabalhar preso a um escritório, tendo hora de almoço e cartão de ponto”. Essa resposta de José Salvador Scofano, 45 anos, à pergunta sobre o que faria caso não fosse fotógrafo é um retrato da sua personalidade. Quem o conhece, ou com ele já dividiu uma pauta, sabe que a rua é seu habitat natural. “Trabalho para registrar e mostrar todas as sortes, belezas e aventuras de uma profissão sem fronteiras. Não tenho regra para o fotojornalismo. Sou curioso com a máquina na mão. E calmo por esperar o momento exato da explosão que faz o equipamento ser a extensão do meu corpo”, filosofa. Com 22 anos de profissão, Salvador, como é conhecido, já trabalhou na Última Hora, no Diário do Pará, em O Dia, na Folha Dirigida e no Infoglobo. Sua trajetória inclui ainda assessorias de comunicação, e as agências Futura Press e O Globo. Com três exposições individuais, e diversas outras coletivas, no currículo, foi vencedor dos Prêmios Riotur e Finep de Fotojornalismo, além de finalista do Prêmio Imprensa Embratel. “Boa foto não precisa de texto, fala por si só. O fato de o repórter fotográfico ver a foto antes mesmo de ela existir já é o diferencial para 40 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

JOGOS INDÍGENAS NO TOCANTINS


DEU TRINTA NA CABEÇA

A SOMBRA DO TENISTA

uma foto ser especial. Enxergamos tudo, sem ver nada”, explica Scofano. Ele resume o início de sua trajetória. “Estudei Turismo e Museologia. Nas aulas práticas eu sempre levava a minha máquina e registrava todo o trabalho para depois estudar vendo as fotos. Isso despertou a vontade de aprender, e me matriculei no curso do Jorge Peter. Na época, falavam que este era o melhor curso de fotografia do Rio. Ele era fotógrafo de O Globo, um sujeito sempre calmo, mascando chicletes. Aprendi fotografia com uma leitura jornalística, pois Peter, além de ensinar o básico de como operar uma máquina e a conhecer os filmes, transmitia o prazer de ser um repórter-fotográfico. Falava sempre do desafio que sentia todas as vezes em que saía para realizar uma pauta”. Daí para a profissionalização foi um pulo. Ou melhor, alguns cliques. “Ao fim do curso, comecei a visitar as Redações à procura de estágio. Na Gazeta de Notícias tive a primeira oportunidade. O editor era Rufino Nogueira Borba, que disse que não podia pagar um salário, mas me daria a oportunidade de aprender a revelar e copiar. Em troca, poderia copiar fotos de meus serviços particulares. Trabalhei seis meses lá, até surgir uma CÍRIO DE NAZARÉ chance na Última Hora. Ali, sim, estava começando minha carreira. Tive o prazer de trabalhar com Osvanildo Dias, AS FOTOS Severino Silva, Uanderson Fernandes, CarBOAS VINDAS O Exército nas ruas do Rio em 2007. los Magno, Alaor Filho, Luiz Nicolella. Na rua, JOGOS INDÍGENAS NO TOCANTINS sempre colava na galeAs mulheres têm que dar duas voltas na arena ra mais experiente, cocarregando um tronco que pesa em torno de mo Jorge Marinho, Fer60 quilos e pode ser revezado com as reirinha, Jorge Peter, Eucompanheiras da mesma tribo. rico Dantas, Evandro DEU TRINTA NA CABEÇA Teixeira. Estava aprenJoãozinho Trinta acena como campeão do dendo na prática e gosdesfile das escolas de samba em 2006, pela tando mais e mais de Unidos de Vila Isabel. cada pauta realizada”, conta Salvador. A SOMBRA DO TENISTA O lado nostálgico – Foto numa escola de tênis em Camboinhas, RJ. evidente em citações CÍRIO DE NAZARÉ como ‘a magia de ver No segundo domingo de outubro Belém a foto aparecer dentro recebe milhões de pessoas para a maior festa de uma banheira num religiosa regional do Brasil. Há oito anos pedaço de papel’ – só participo desse evento. perde espaço quando A POLINÉSIA É AQUI o repórter-fotográfico Todos os anos acontece no Rio de Janeiro, o fala do mercado e das Campeonato Mundial de Canoagem da Polinésia. condições de trabalho A POLINÉSIA É AQUI O circuito vai da Praia Vermelha ao Leblon. dos profissionais. Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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SALVADOR SCOFANO

A ÚLTIMA DO REI

A VOZ

SORRISO

ALEGRIA, ALEGRIA

UM BRASILEIRO

“A maior dificuldade hoje é a desvalorização do profissional pelo empregador, que por vezes trata profissionais como amadores. As empresas acham que com a chegada da câmera digital todos se tornaram fotógrafos. Ok, todo mundo tem máquina fotográfica, mas poucos têm sensibilidade e, ao mesmo tempo, a velocidade para captar o momen42 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

to. Pensar antes que o fato aconteça está além das máquinas amadoras. E longe de pessoas que não sejam gabaritadas”. Para encerrar, um pouco de humor. “Continuo fazendo as coberturas de forma emocionada. Por exemplo, sou fã do B.B. King. Pude fotografá-lo no Brasil e, ao final do show, pedi um autógrafo. Paguei, ali, o mico que jurava

nunca pagar: pedir para fazer fotos com um entrevistado”, brinca. Mas o melhor relato fica por conta da passagem de Shimon Peres pelo Rio, em novembro deste ano. “Para fazer uma foto com exclusividade do Presidente de Israel, no Copacabana Palace, tive que ficar só de cuecas, para ser revistado, antes de entrar

na sala. Foi a primeira vez que isso me aconteceu”, conta ele, autor de fotos como o beijo na boca entre Caetano Veloso e Gilberto Gil, vencedora do Prêmio Finep, e da prisão de Adriana, acusada de mandar matar o marido no chamado Caso da Mega Sena, feita com exclusividade e grande repercussão para o Extra.


VELAS CRUZADAS

ERA RADICAL

AS FOTOS A ÚLTIMA DO REI Depois desse show no Rio, B.B. King declarou que era a sua última apresentação fora dos EUA. A VOZ Um dos últimos shows de Cássia Eller, no Canecão. ALEGRIA, ALEGRIA Depois de meses internado, o Palhaço Carequinha decidiu voltar para casa: queria voltar a alegrar as crianças. SORRISO Criança da etnia Kayapo durante os III Jogos Indígenas em Conceição do Araguaia. UM BRASILEIRO Índio da tribo Gorotire.

ERA RADICAL Bob Burnquist no Campeonato Mundial de Skate na Lagoa Rodrigo de Freitas. VELAS CRUZADAS Duelo na Baía da Guanabara. DOIS BARCOS Devido ao calor, remadores treinam de madrugada em Belém do Pará. NA MARQUÊS DE SAPUCAÍ A criança consegue dormir durante o desfile das escolas de samba, no Rio. Esta foto foi premiada no concurso da Riotur. Trabalhava em O Dia. RIACHO DOCE Ribeirinhos se banham em São Domingos do Capim.

NA MARQUES DE SAPUCAÍ DOIS BARCOS

RIACHO DOCE

Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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