Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa
355 JUNHO 2010
Nesta Edição CAIO GUATELLI
MONIQUE RENNE
A LEX S LAIB 5 A NTÔNIO C OUTINHO 9
RENATO VELASQUES
B IAMAN P RADO 12
B RENO F ORTES 16
E VANDRO T EIXEIRA 23 D ANIEL K FOURI 20
GUSTAVO PELLIZZON
O DAIR L EAL 32
F ERNANDO Q UEVEDO 26
M ARIZILDA C RUPPE 29
APELO AOS ASSOCIADOS EM DÉBITO - A Diretoria da ABI comunica aos associados em débito há mais de um ano que, por força de anistia decretada pela Casa, a quitação da mensalidade do mês de julho próximo, até o dia 31desse mês, zerará a dívida existente, reintegrando-os na plenitude de seus direitos sociais. Com isso será evitada a suspensão da remessa do Jornal da ABI, motivada pelo alto custo da produção editorial e gráfica da publicação e de sua remessa pelo Correio. O boleto de quitação poderá ser solicitado pelo e-mail presidencia@abi.org.br. Peça o seu.
Jornal da ABI Número 355 - Junho de 2010
Editores: Maurício Azêdo e Francisco Ucha Projeto gráfico e diagramação: Francisco Ucha Redação final: Paulo Chico Edição de textos: Maurício Azêdo Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz, André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobim da Silveira, Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luiz de Freitas Borges. Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas (Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva, Paulo Roberto de Paula Freitas.
CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013 Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage e Teixeira Heizer. CONSELHO FISCAL 2010-2011 Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, Jorge Saldanha de Araújo, Lóres Baena Cunha, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Manolo Epelbaum e Romildo Guerrante.
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Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda. Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808 Osasco, SP
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DIRETORIA – MANDATO 2010-2013 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Tarcísio Holanda Diretor Administrativo: Orpheu Santos Salles Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretora de Assistência Social: Ilma Martins da Silva Diretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn
Jornal da ABI 355 Junho de 2010
Conselheiros efetivos 2008-2011 Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos Arthur Pitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.
Conselheiros suplentes 2010-2013 Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel Mazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, Sérgio Caldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio. Conselheiros suplentes 2009-2012 Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora, Jorge Nunes de Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho Neto (in memoriam) e Rogério Marques Gomes. Conselheiros suplentes 2008-2011 Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello (in memoriam), Salete Lisboa, Sidney Rezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães. COMISSÃO DE SINDICÂNCIA José Pereira Filho (Pereirinha), Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz Sérgio Caldieri, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins. COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti. COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Lênin Novaes de Araújo, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Alcyr Cavalcanti, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Geraldo Pereira dos Santos, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes. COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Ilma Martins da Silva, Presidente, Jorge Nunes de Freitas, José Rezende Neto, Manoel Pacheco dos Santos, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda. REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO Conselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno Jatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra. O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.
E DITORIAL
RECEITA A CONFERIR MAURÍCIO AZÊDO PRESIDENTE DA ABI
Em edição precedente do Jornal da ABI, um destacado profissional da fotografia, Alcyr Cavalcanti, contestou a tese assimilada por não poucas pessoas de que o fotojornalismo estaria morrendo, sob o impacto das inovações tecnológicas que permitiram tanto a universalização da tomada de fotos, graças à disseminação do uso de equipamentos digitais, como a divulgação do material assim produzido, facilitada por um instrumento poderoso, a internet. Os repórteres-fotográficos estariam, pois, condenados a uma sobrevida de que só faltaria dizer de qual duração. Esta nova Edição Especial do Jornal da ABI, tal como fizera Alcyr Cavalcanti, membro do Conselho Deliberativo da Casa, oferece forte desmentido às previsões desses profetas do apocalipse fotográfico, seja pela qualidade dos trabalhos aqui reproduzidos, seja por números contidos em uma das matérias que a compõem, como os revelados pela repórter-fotográfica Marizilda Cruppe, profissional brasileira convidada a integrar o júri do mais importante certame do jornalismo fotográfico mundial, o da World Press Photo, que atrai participantes do mundo inteiro. Ao dar notícia da repercussão do concurso e da dimensão do desafio diante do qual se viu como jurada, Marizilda Cruppe – uma das protagonistas desta Edição Especial – informou que o concurso recebeu mais de 101 mil trabalhos, número que não constitui indicativo de um gênero em extinção, mas sim de uma atividade plena de força, de vitalidade, de poder de atração sobre as novas gerações. Provas dessa vitalidade estão aqui reunidas, nos trabalhos de Alex Slaib, Antônio Coutinho, infelizmente falecido no vigor de sua carreira profissional, Biaman Prado, Breno Fortes, Daniel Kfouri, o premi-
ado brasileiro da nova edição do World Press Photo, Evandro Teixeira, Fernando Quevedo, da própria Marizilda Cruppe, Odair Leal, que captaram em diferentes pontos do País a variedade e o pulsar do cotidiano, da riqueza e beleza do ambiente, dos acontecimentos e iniciativas nos múltiplos campos da atividade social. Tão multifacetado painel reflete a diversidade dos olhares e da sensibilidade de pessoas muito distintas em hábitos, preferências, opiniões políticas e crenças religiosas, mas que guardam fortes traços comuns, como o amor à imagem e a ânsia de oferecê-la à fruição coletiva. Tanta diversidade manifesta-se nas opções desses profissionais, que podem ter confessada atração pelo dia-a-dia das ruas, como revela Alex Slaib, pelas festas populares, como no caso do maranhense Biaman Prado, ou pela notícia em si, onde esta se situe, como se dá com Breno Fortes e Odair Leal, este especialmente preocupado com as questões sociais, a extrema miséria que castiga as populações do Acre, seu Estado. Expressa-se também no fascínio de Fernando Quevedo pela vida em estado puro em países da África e pelos animais que a povoam e pela fixação de Evandro Teixeira pela paisagem social e física que a literatura celebrou com engenho e arte, como em Vidas Secas de Graciliano Ramos e em Os Sertões de Euclides da Cunha, ante-salas do Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa que Evandro sonha reproduzir em imagens. Igualmente importante, tanto quanto os trabalhos que ora apresentamos, é a receita sem pedantismo nem tom professoral que esses mestres exibem dizendo como é o fazer do fotojornalismo. Confiram. A EMOÇÃO DAS IMAGENS Marizilda Cruppe mostra para o Cacique Megaron as fotos feitas na aldeia Piaraçu, dos índios Caiapó, no Mato Grosso, às margens do Rio Xingu. A fotógrafa foi contratada pelo Greenpeace para registrar uma reunião de lideranças indígenas do Xingu contra o projeto do Governo de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. FOTO TODD SOUTHGATE.
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A LEX S LAIB
Um apaixonado pelas ruas. E pelos flagrantes policiais Com passagens por diversos jornais, Alex Slaib dedica seu talento a produzir fotos de impacto, em especial para a Editoria de Polícia. O interesse pela fotografia começou na adolescência, quando, ainda amador, começou a brincar com uma câmera Yashica do pai. Dados os primeiros passos, ou melhor, os primeiros cliques, Alex Slaib passou a registrar a esposa, então grávida, e logo em seguida a filha. “Percebi, então, que, com uma câmera na mão, poderia registrar segundos de vida que não voltariam nunca mais. Para me especializar, procurei alguns cursos, como Fotojornalismo, Fotografia Profissional e Percepção Visual”, conta. Há quase 14 anos atuando como repórter-fotográfico, está hoje no jornal A Tribuna, de Niterói. Alex começou a carreira em 1997, no Agito da Galera, um tablóide de esportes, e obteve o registro profissional quando fazia o Jornal de Ipanema. AS FOTOS Depois, passou pelo Diário ALEGRIA Democrático, O Povo, Jornal DOS HOMENS dos Sports e O São Gonçalo, Contraste entre a onde ficou por três anos e mensagem no assumiu, pela primeira vez, muro e o homem a função de Editor de Fotoexecutado por grafia. “Depois de um ano, traficantes rivais porém, minha vontade de no Morro da Vila voltar para a rua era grande. Ipiranga, em Pedi demissão e muitos, coNiterói. mo minha mãe e alguns coO SORRISO DE leguinhas, acharam loucura, MONA LISA pois o salário de editor é maiO trabalho dos or. Ainda assim, preferi volfotógrafos na tar pra rua e fazer o que mais Sapucaí, para gosto: registrar imagens que conseguir o ficam para a história”. melhor ângulo. E é assim que tem sido. Nos últimos anos, Alex passou ainda pelo O Fluminense e pelo Povo do Rio. Em qualquer veículo que esteja, o que o move são os acontecimentos que mexem com o cotidiano das cidades. Foi assim que participou, ao lado de repórteres como Marlene Silvino, colega de A Tribuna, da cobertura sobre a ação da Prefeitura de Niterói para a demolição de imóveis em áreas de risco – motivada pela tragédia anunciada do deslizamento do Morro do Bumba, no último mês de abril. E também quando da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) nos Morros O SORRISO DE MONA LISA do Borel, Formiga e Casa Branca, na
ALEGRIA DOS HOMENS
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ALEX SLAIB
CHACINA
TRAFICANTE VIRTUAL
INFÂNCIA PERDIDA
CRUZANDO PERIGO
AS FOTOS TRAFICANTE VIRTUAL Traficantes do Morro do Estado, em Niterói, pintaram um boneco armado na parede para enganar os policiais”. CHACINA Crianças face a face com o terror após a chacina de cinco
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menores no Morro de Ititioca, em Niterói. INFÂNCIA PERDIDA Menor preso na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Niterói, por ter sido flagrado com drogas e armas.
CRUZANDO PERIGO Duas fotos onde jovens mães e seus bebês são ameaçadas pela insegurança nas favelas: à esquerda, uma operaçao da Polícia Militar no Morro do Borel, no Rio de Janeiro;
à direita, policiais militares dão cobertura na entrada do Morro do Estado, em Niterói, onde peritos fazem a reconstituição da morte de 12 menores, vítimas de policiais do 12º BPM.
ENCALHADA PARA MORRER
MUDANÇA DE HÁBITO
cina de cinco menores no Morro de Ititioca, em Niterói, ENCALHADA PARA MORRER ocorrida há alguns anos. OuBaleia Jubarte encalha na praia tra lembrança de destaque foi de Jurujuba, em Niterói. Após uma das visitas de Lula à cidadias de tentativas de resgate de fluminense. “Não é todo em vão, o animal morre. dia que um repórter-fotográfico, estando ligado à reportaMUDANÇA DE HÁBITO gem policial, acompanha um Pelé se empolga durante festa em um colégio de Niterói e dá Presidente da República”. um beijo comprometedor na Uma foto marcante foi a Figa freira. da Incerteza, tirada durante a troca do Comando Geral da OVER THE RAINBOW Polícia Militar, na qual mosA silhueta de um gato que trava a então Governadora parece contemplar o arco-íris. Rosinha, crente convicta, faNADA A DECLARAR zendo figa com as pernas – Encontro de Coronéis no talvez um apelo a forças supeOVER THE RAINBOW Morro do Estado, em Niterói. riores para iluminar a política de segurança pública da época. A foto ficou entre as 40 primeiras colocadas numa das edições Tijuca, Zona Norte do Rio, também do Prêmio Vladimir Herzog. em abril deste ano. Ao longo da carreira, Alex foi tesNa opinião de Alex, para dar o clitemunha de muitas histórias engraçaque na hora certa é preciso ter muita das, como a que ocorreu com um coatenção e estar por dentro da pauta, lega cinegrafista. “Estávamos na cocontextualizado e em sintonia com o bertura de um enterro e ele, em busrepórter. Ele dá uma dica, baseado na ca do melhor ângulo, acabou caindo própria experiência. “O profissional e num túmulo vizinho. Como estávao iniciante devem fazer um curso de mos todos concentrados, não percebePercepção Visual, que dá orientações mos seu sumiço. Pouco depois, escude como olhar e se posicionar no lotamos um pedido de socorro vindo da cal certo. Ter garra é muito importante cova. Algumas pessoas se assustaram também. A gente não pode se deixar e saíram correndo. Foi muito engraçaabater com as dificuldades da profisdo”. Outras situações, no entanto, são, que não são poucas. É preciso ter são de puro e verídico terror. “Numa persistência, vocação, nascer com pauta, eu e um repórter subimos o alma de jornalista e, principalmente, Complexo do Alemão de madrugada gostar do que se faz. E é bom saber que e fomos surpreendidos por um trafinosso meio é muito fechado”. cante, que deu uma rajada de metraEntre suas coberturas favoritas, Alex lhadora em nossa direção. Como nedestaca a guerra urbana – pauta rotinhum tiro acertou o alvo, apesar de neira, uma vez que atua com freqüênestarmos perto, costumo dizer que cia na Editoria de Polícia. Nesse camNADA A DECLARAR nascemos de novo”. po, uma das mais marcantes foi a cha-
AS FOTOS
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ALEX SLAIB
É CARNAVAL! VÔO DUPLO
NA MIRA DA ALEGRIA
AS FOTOS É CARNAVAL! Duas cenas do Carnaval carioca na noite dos desfiles das Escolas de Samba. VÔO DUPLO Piloto de parapente faz um balé aéreo com um urubu, no céu de Piratininga, em Niterói. PÁTRIA AMADA
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NA MIRA DA ALEGRIA O palhaço Carequinha faz a festa no Dia das Crianças no zoológico de Niterói. PÁTRIA AMADA No Dia da Independência, menor brinca e faz a festa na parada das escolas na Avenida Amaral Peixoto, Centro de Niterói”.
A NTÔNIO C OUTINHO
XÔ, CORRUPÇÃO
BETINHO
O olhar atento de um mineiro com sotaque paulista O Jornal da ABI presta uma homenagem especial a um fotojornalista que teve sua carreira interrompida cedo. Cedo demais. Há pouco mais de um ano, em 15 de maio de 2009, morreu Antônio Coutinho, o ‘Paulista’, como era conhecido no meio profissional e entre amigos. Mineiro criado em São Paulo, adotou o Rio de Janeiro para tocar a vida. O amor pela cidade foi tão grande que incorporou em grande parte o jeito carioca de ser, evidente em sua criatividade e no seu bom humor constantes. Aos 59 anos, foi vítima de um enfarte fulminante. Ele, como tantos outros repórteres de talento, já se foi. Mas, deixou-nos como herança suas fotos. Algumas delas estão aqui, reproduzidas nesta edição.
Morto em 2009, Antonio Coutinho, mais conhecido como 'Paulista', deixou saudades e muitos colegas. E, felizmente, algumas centenas de cliques que comprovam seu talento e criatividade. Antes de se tornar fotógrafo, ‘Paulista’ estudava Belas-Artes e foi estagiar na Folha de S. Paulo. Era época da Ditadura Militar e, por causa dela, saiu da capital paulista e abandonou a fotografia. “Foi aí que vim para o Rio, onde trabalhei na área naval, em estaleiros, até o
início da abertura política. Não pretendia trabalhar em Jornalismo tão cedo. Quando decidi retornar, precisava me reciclar. Só voltei a trabalhar em Redações em 1985”, contou o próprio Antônio Coutinho, em entrevista concedida ao site da ABI em janeiro de 2006. A questão do forte sotaque, que ajudava a explicar o apelido de ‘Paulista’, também foi abordada com humor por Antônio Coutinho. “Mudei-me ainda bebê para São Paulo, onde vivi por 25 anos. Quando cheguei ao Rio, obviamente com o sotaque carregado, tentava explicar que não era paulista – o que de fato era verdade, uma vez que sou mineiro. Mas, não teve jeito. Acabei deixando a história de lado. Na verdade, por mim, tudo bem, gosto
AS FOTOS XÔ, CORRUPÇÃO Fiz esta foto em 2001, em Brasília. A polícia jogou bombas de gás lacrimogêneo, bateu um vento e o gás foi na direção do palanque, fazendo o Lula chorar. Era uma manifestação de funcionários federais contra o então Presidente Fernando Henrique Cardoso e o Lula usava um broche com a inscrição: Xô, corrupção. Na época esta foto não teve muita serventia, mas hoje é muito vendida. BETINHO Discurso de Betinho durante a Eco 92, fórum global que aconteceu no Rio, em junho de 1992.
Jornal Jornal da ABI da 349 ABI 355 Dezembro Junho de 2010 2009
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ANTÔNIO COUTINHO
CRISTO ILUMINADO
PAUL É 10
HUMILHADOS
AS FOTOS HUMILHADOS Eu estava passando na rua e vi esta menina, filha de uma ambulante da Avenida Presidente Vargas, no Rio. O cartaz ao fundo era da CUT, que acabou fazendo um novo cartaz usando como imagem esta foto. PAUL É 10 Fiz esta foto no show de Paul McCartney no Maracanã, para a Revista do Rock. Chovia muito nesse dia. Os organizadores não tinham arrumado um espaço coberto para os repórteres-fotográficos e
muito de São Paulo e não tenho razão para fugir do apelido. No entanto, costumo dizer que sou um cidadão do mundo”, brincou na época. Em pouco mais de três décadas de atividade no Rio, Antônio Coutinho trabalhou para o Jornal dos Sports e O Povo, e fez freelas para o Jornal do Brasil e a Folha de S.Paulo, entre outros veículos. Abriu uma agência, a qual imaginava ser boa alternativa para ganhar dinheiro. “Mas a entrada do Collor no poder quebrou a economia e fechamos. Este era um bom mercado. Lembro que, na época da chacina da Candelária, vendemos fotos, mi10
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nhas e outras de sócios, para 12 países. Fomos os primeiros a chegar ao local, porque a agência era na Rua do Ouvidor. Ouvimos a notícia na CBN, corremos e quase flagramos os policiais”, recordou. Em sua carreira, Paulista produziu mais trabalhos para revistas do que para jornais. “Sempre vendi mais fotos para fora do Brasil, talvez pelos contatos com ONGs, que me abriram portas em revistas como a alemã Stern e a norte-americana Time”, disse ele, que chegou a ser representante no Brasil da World Press Photo, cuja premiação é considerada o Oscar do fotojornalismo.
Foi por diversas gestões Vice-Presidente da Arfoc-Rio e da direção da Enarfoc (Executiva Nacional dos Repórteres Fotográficos). Fez parte da direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Sua admiração pelo Rio era tamanha que ‘Paulista’ fez questão de declará-la através de uma de suas outras paixões, além da fotografia: a pintura. Passou a retratar paisagens da cidade, em especial o bairro de Santa Tereza, em arte Naif. Seus quadros, a óleo ou pinturas em madeira, participaram do Santa Tereza de Portas Abertas, evento anual que reúne artistas do bairro e faz parte do
fizemos um piquete, dizendo que ninguém entrava se não resolvessem o problema. O Paul soube disso, mandou um bilhete e disse que também não subiria ao palco enquanto não providenciassem um lugar para nós. CRISTO ILUMINADO Fiz esta foto do alto de um prédio para a Revista da Antártica, publicação da cervejaria que circulava no Rio. Costumava rodar as festas de Ano Novo na cidade e acabava sempre na queima de fogos.
calendário cultural da cidade. Na verdade, acreditava ele, a fronteira entre arte e fotografia era bastante tênue. “Antes, pintava apenas para presentear. Depois, fiz exposições dos meus quadros e vendi quase todos. Adoro pintar o Rio, as favelas, o Pão-de-Açúcar e o bairro de Santa Teresa. E fotografar, assim como pintar, é uma questão de exercitar a sua sensibilidade. Independentemente de qualquer coisa, o repórter-fotográfico é um artista. Ele deve ser capaz de conseguir captar o que vai rolar, ao perceber que sua passagem por algum lugar pode render uma bela imagem”.
PÔR-DO-SOL
MAMADEIRA
BRIZOLA NA CABEÇA
AS FOTOS PÔR-DO-SOL Estava aguardando a hora de atravessar a Baía. Como fazia alguns trabalhos para a Companhia das Barcas, pedi para subir no topo da embarcação para fazer este registro do Rio visto de Niterói. Sou apaixonado por esta foto. MAMADEIRA Durante um dos comícios do Lula, comecei a andar pelo
meio do povo e fiz este flagrante de uma mãe amamentando. TORCIDA NO TETRA Assistindo ao jogo pelo telão, multidão comemorou a vitória do Brasil na Copa de 1994, decidida nos pênaltis. BRIZOLA NA CABEÇA A Cinelândia, durante a campanha de Brizola à presidência da República.
TORCIDA NO TETRA
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B IAMAN P RADO
O começo por acaso, e acidentado, de um craque nas lentes Um dos mais produtivos e respeitados fotojornalistas do Maranhão, Biaman Prado recorda passagens marcantes de sua carreira. Biaman Prado ingressou na profissão de fotógrafo como muitos de seus colegas: por acaso. De família pobre, sem muitas perspectivas, nascido em Camocim, o rapaz de 17 anos precisou trabalhar para ajudar no orçamento doméstico. Pelas mãos de um primo, arranjou um emprego de contínuo em um estúdio fotográfico em Sobral, para onde a família se mudara. O trabalho era o de levar e trazer, além de fazer a limpeza. Na câmara escura, ficava intrigado com as imagens que surgiam quando mergulhadas no revelador. As investidas no laboratório, digase de passagem, eram secretas, feitas somente quando o estúdio estava vazio – naquela altura, com a confiança que inspirara, Biaman já tinha cópias das chaves do local. Até que um dia, surpreendido pela chegada inesperada do patrão, seu Coelho, estragou uma caixa de papel fotográfico. Levou um cartão amarelo e prometeu se corrigir. Pouco tempo depois, foi novamente flagrado, mexendo no ampliador. “Aí, seu Coelho me chamou à sala dele. A demissão era certa. Para minha surpresa, perguntou se eu gostaria de aprender a trabalhar no laboratório. Respondi que sim. E ele, uma figura fantástica, completou dizendo que, ao me treinar, pelo menos, não teria mais perda de material”, conta. Naquele incentivo, teve início a carreira de um dos mais respeitados profissionais do fotojornalismo no Maranhão. Com 35 anos de profissão, Biaman Prado fez coberturas importantes
MEDO NO OLHAR
AS FOTOS MEDO NO OLHAR Crianças recolhidas das ruas de São Luís, a mando do Juizado da Infância e Juventude. Chamou-me atenção o medo das crianças, não sei se pela presença da Polícia ou pelo receio do que as aguardava. Todas foram mandadas para os seus lugares de origem. FOGO NA PREFEITURA Depois do regime militar as capitais deixaram de ter prefeitos “biônicos”. Em 85, a população de São Luís elegeu a Prefeita Gardênia Gonçalves. Parte dos funcionários públicos ateou fogo no prédio da Prefeitura, em represália.
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FOGO NA PREFEITURA
PELA FORÇA
DOMINGO DE PÁSCOA
NO ALVO
AS FOTOS DOMINGO DE PÁSCOA Jogo entre Moto Clube e Paysandu num Domingo de Páscoa. A torcida do Moto presenteia o goleiro do Paysandu com uma chuva de ovos, não de chocolate, mas de galinha. PELA FORÇA Esta imagem serviu para órgãos de Direitos Humanos do Maranhão denunciarem o uso da força policial em favor de posseiros no município de Buriti de Inácia Vaz, onde até um sub-procurador foi desrespeitado. BONITO DE VER Conjunto de casario colonial na Rua do Giz, no Centro Histórico de São Luís. NO ALVO Domingo pela manhã com pouco movimento no pátio do sistema Mirante, observei este bem-te-vi tentando voar carregando uma lagarta no bico.
BONITO DE VER
no Estado que escolheu para viver. Fotografou, por exemplo, o movimento Diretas Já, que contagiou também a capital maranhense; uma manifestação em repúdio à visita do então Presidente João Figueiredo, ainda no aeroporto do Tirirical, o incêndio na Prefeitura de São Luís; e as visitas de Maluf, quando candidato à Presidência, e do Papa João Paulo II a São Luís. “Fomos também os primeiros a fotografar a torre de lançamento do VLS na Base de Alcântara, logo após o acidente que matou 21 civis em 22 de agosto de 2003”, recorda. Mais recentemente, Biaman participou, ao lado da repórter Cíntia Araújo, de O Estado do Maranhão, da cobertura sobre o assalto com reféns na loja Litoral Móveis, localizada na Rua da Paz, no Centro de São Luís. Durante o episódio, ocorrido em 3 de fevereiro deste ano, nove pessoas foram mantidas reféns. “Essa urgência e essa constante adrenalina para cobrir histórias às vezes escrabosas me deixaram louco para trabalhar em jornal. Iniciei miJornal da ABI 355 Junho de 2010
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BIAMAN PRADO
LADO A LADO COM O ASSASSINO
PONTÍFICE
VOANDO ALTO
AINDA HÁ VAGAS
O ATAQUE DOS MORCEGOS
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UMA PINTURA
nha atuação como freela. Em 1980, fui convidado para trabalhar em São Luís. Em dois anos já estava no Jornal de Hoje, depois fui para o jornal O Debate. Em 1994, vim para O Estado”. Biaman tem a fotografia como parceira, como a própria vida. “Resolvo meu problema financeiro fazendo o que gosto”, diz, com bom humor. Mesmo no cargo de Editor, sempre descola uma oportunidade de ir pra rua, na parte prática da pauta. “Certa vez, fiz a travessia de barco São Luís/Alcântara ao lado de José Vicente Matias, o hippie ‘Corumbá’, logo depois acusado de matar duas estrangeiras no Maranhão. Achei estranho aquele hippie com uma mulher tão bonita. Mal sabia que ela seria sua segunda vítima. Ele já havia assassinado uma turista alemã. Só não os fotografei porque o mar estava bravo e jogava muita água dentro
do barco. Dias depois, o delegado responsável pelo caso me telefonou e eu acabei ajudando na identificação, com detalhes que a polícia não tinha. ‘Corumbá’ foi, então, preso em Belém. E terminei por fazer as fotos da reconstituição dos seus crimes”. Uma foto feita por Biaman, durante a inauguração de uma loja de artigos esportivos no Rio Anil Shopping, em 15 de abril deste ano, deu ao trabalho do fotógrafo uma repercussão inédita. Na ocasião, em meio a uma sequência de cliques, uma adolescente de 19 anos fez uma pose de vitória para as suas lentes. A imagem caiu na web, onde ficou conhecida como Loka do Rio Anil, e ganhou versões montadas, nas quais a menina é transportada para cenários diversos, como a Guerra do Vietnã, e até para a bancada do Jornal Nacional, ao lado de William Bonner. Coisas da internet...
AS FOTOS LADO A LADO COM O ASSASSINO José Vicente Matias, o hippie conhecido como "Corumbá", acusado de matar duas estrangeiras no Maranhão, durante a reconstituição do crime em Barreirinhas. Este fato foi muito interessante: eu viajei ao lado do criminoso sem saber. Fizemos uma travessia de barco de São Luís até a cidade de Alcântara. Ele já havia assassinado uma turista alemã em Barreirinhas. No barco ele estava com uma mulher muito bonita e achei isso estranho. Ao chegar na cidade fiquei sabendo do assassinato em Barreirinhas e, preocupado com a minha pauta, não me liguei no assunto. À noite, em uma festa, um colega falou que tinha visto alguém com as mesmas características do assassino divulgado no rádio. Voltei para São Luís e o delegado responsável pelo caso me telefona. Só aí fui saber que tinha viajado com o assassino. Acabei ajudando na identificação com detalhes que a Polícia não tinha e ele foi preso em Belém. Soube depois que se tratava de um serial killer. PONTÍFICE Visita de Sua Santidade João Paulo ll à cidade de São Luís, na década de 90.
TRISTEZA
VOANDO ALTO Eu tinha saído do Estádio Castelão e esperava o carro do jornal sentado em uma calçada quando vi alguns garotos treinando com skates. O personagem tentava um obstáculo e passou ao meu lado. Não deu outra: virou capa de suplemento Galera. AINDA HÁ VAGAS Retrato da superlotação nas cadeias do País. Esta imagem fez parte da exposição A Luz da Notícia, organizada pela Associação Maranhense de Imprensa e a Companhia Vale do Rio Doce. O ATAQUE DOS MORCEGOS Personagem de uma matéria, Cenira da Silva Almeida lava louça protegida por uma rede de pesca, com medo de ataque dos morcegos em Turiaçu-MA. UMA PINTURA Acidente com navio petroleiro na baía de São Marcos, no porto de Itaqui. TRISTEZA Destroços da torre de lançamento de foguetes na Base de Alcântara, onde morreram 21 técnicos na explosão. Nessa imagem dá para ter uma noção da violência da explosão e do fogo.
DANÇA MEU BOI
DANÇA MEU BOI Bumba-meu-boi, principal manifestação folclórica do Maranhão durante as festas juninas. Boi da Maioba dançando no Convento das Mercês.
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B RENO F ORTES AS FOTOS FORA TODOS Manifestantes de diversos grupos e partidos políticos em protesto contra a corrupção e contra o Presidente Lula, na Esplanada dos Ministérios, em agosto de 2005. PAZ NA TERRA Soldados da Onu tentam manter a ordem próximo a um posto de armazenamento de mantimentos da instituição, em Porto Príncipe, no Haiti. GRAÇAS A DEUS Um manisfestante anarquista numa passeata em Brasília. SOTERRADOS Resgate dos operários que faziam impermeabilização em bloco residencial na Quadra 215 Norte. ANTIBOMBA NO CONGRESSO Policial do esquadrão antibomba no gramado do Congresso após explosão de uma mala suspeita reconhece o material.
FORA TODOS
O repórter-fotográfico se faz presente onde a notícia está
LAÇOS DE TERNURA Flagrante de um caça da Força Aérea Brasileira durante manobra de abastecimento no ar. UM ESTOURO! Show do Charlie Brown Jr no Brasília Music Festival, em setembro de 2005. CASAL 20 Este é um flagrante de um jacaré com uma tartaruga nas costas fotografado no Zoológico de Brasília.
Muitos são os flagrantes locais feitos por Breno Fortes, publicados nas páginas do Correio Braziliense. Outros vêm mais de longe, como do Haiti, país arrasado por um forte terremoto no início deste ano. Diz a máxima que cabe ao bom jornalista fazer-se presente onde a notícia está. Por isso, em janeiro deste ano, Breno Fortes Sales não pensou duas vezes. Impactado, como todo o planeta, pela tragédia do terromoto que devastou o Haiti, arrumou sua malas rumo ao país. Armado de sensibilidade, e de máquina em punho, fez aquilo que sabe fazer de melhor: fotos. Os flagrantes impactantes, e por vezes dramáticos, dessa viagem foram publicados seguidamente nas páginas do Correio Braziliense, veículo no qual trabalha. Uma pequena parte ilustrativa deste material pode ser revista aqui, nesta edição. Formado em jornalismo em 2003, Breno atua na profissão de fotojornalista desde então. Ainda durante a faculdade, começou a fotografar, atividade que o encantava desde criança. Profissionalmente, porém, estreou no mesmo ano em que se formou, quando foi contratado pela Fotografia do jornal no qual trabalha até hoje. “Na verdade, comecei lá como estagiário, em 2001, e passei por vários setores. Quando me formei, sabia que minha 16
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PAZ NA TERRA
vocação era a fotografia. Fiz, então, uma espécie de estágio na seção, até ser efetivado como profissional. E tudo vem dando certo até agora”, conta. Ao ver sua primeira foto publicada, Breno Fortes, é claro, se emocionou. “Quando começamos em jornal não publicamos grandes coisas, principalmente porque ainda não temos uma história. Lembro-me bem que a primeira foto que publiquei foi de uma mulher que estava fazendo doação para um banco de leite de Brasília. Mas, ainda assim, de forma despretensiosa, ver meu nome publicado ali foi um grande prêmio para mim”, recorda-se ele,
que mantém seu portfólio atualizado no www.brenofortes.com. No currículo, Breno acumula passagens por uma agência de publicidade e uma empresa de informática, na qual dava cursos, além do Departamento de Recursos Humanos do próprio Correio Braziliense. Embora relativamente novato na profissão, com menos de uma década de estrada, diz que já cobriu muitos protestos, manifestações do MST, rebeliões e incêndios, entre outros acontecimentos que lhe renderam boas fotos e capas. “No fotojornalismo não temos a oportunidade de repetir uma mesma situação. O fato acontece ali na sua fren-
te, e pronto. Por isso, um clique certeiro é a grande busca do fotógrafo. No entanto, é também imprescindível que o profissional seja bem informado e tenha ótimo conhecimento de informática, de softwares como o Photoshop, já que, hoje, a fotografia é 100% digital nos principais jornais do País e do mundo”. Entre as coberturas das quais já participou, Breno Fortes recorda-se de uma passagem curiosa ao ser pautado para um episódio factual. “Histórias interessantes sempre ocorrem nesses casos. Mas, pelo fato de eu ter alguns cursos de primeiros-socorros e experiência nessa área, fui fotografar um acidente
GRAÇAS A DEUS
SOTERRADOS
ANTIBOMBA NO CONGRESSO
LAÇOS DE TERNURA
UM ESTOURO!
de trânsito e, quando a ambulância do Corpo de Bombeiros chegou, o bombeiro, que me conhecia, pediu minha ajuda para atender as vítimas. Não tive como negar. Adivinha o que aconteceu? Perdi a foto”. Breno, que trabalha 100% com equipamento digital, diz que a fotografia só ganhou com a digitalização. “Minha preferência é pelas câmeras da Canon, pois nelas as cores ficam mais bonitas”, declara. Embora diga que os riscos para
o fotógrafo são maiores em manifestações, quando as pessoas tentam quebrar a máquina ou mesmo agredir os profissionais de imprensa, Breno, certa vez, foi ameaçado por um Deputado Federal, cujo nome prefere não revelar. “Eu o flagrei jogando bingo em uma casa de jogos em Brasília, em pleno horário de expediente no Congresso Nacional. Na época, ele falou que, se a foto fosse publicada, ele poderia desaparecer comigo e com a repórter”.
CASAL 20
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D ANIEL K FOURI
A original genialidade do brasileiro na World Press Photo deste ano O 12 de maio é significativo na vida do fotógrafo Daniel Kfouri. Contudo, em 2010, essa data teve um sabor pra lá de especial. Além de completar 35 anos, recebeu, exatamente neste dia, a notícia de que foi o terceiro colocado na World Press Photo, na categoria Esportes e Ação, com sua foto do skatista, uma das reproduzidas nesta edição. Detalhe: na edição deste ano, cuja exposição esteve em cartaz em junho, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, ele foi o único brasileiro presente. Considerado o mais importante prêmio internacional de fotojornalismo, o World
Daniel Kfouri, há apenas nove anos na profissão de fotógrafo, já acumula boa dose de experiência. E a honra de estar em destaque no mais importante prêmio internacional de fotojornalismo. Press expôs, em sua 53ª edição, uma seleção das melhores fotos de 2009, publicadas em veículos de 23 países. São 162 imagens, de 63 fotógrafos. E Dani-
A FOTO PREMIADA
el diz-se honrado de estar entre eles. “Estou super feliz por se tratar do meu primeiro prêmio internacional. Recebi a notícia por telefone, pelo meu amigo Mauricio Lima, fotógrafo da AFP em São Paulo, que, por sinal, sempre acredita e incentiva o meu trabalho. Fiquei muito contente em ser reconhecido internacionalmente. A sensação é ótima, e não poderia ser diferente... Quero, agora, dar continuidade aos meus projetos, sem me deixar levar por esse reconhecimento momentâneo. E trabalhar mais, ter mais oportunidades de publicar o meu trabalho
de maneira íntegra, o que infelizmente é raro de acontecer no mercado editorial brasileiro. No Brasil, você não vê nenhum veículo que tenha uma linguagem apurada, como alguns dos veículos mais influentes do mundo, como os europeus e americanos. As pessoas precisam ser mais incentivadas a refletir quando vêem uma imagem, do mesmo modo que refletem quando lêem um texto”, afirma. São severas as críticas feitas por Daniel Kfouri ao mercado nacional. “Fiz esse trabalho para mim mesmo. Não foi para nenhuma revista, nenhum
GATOS ELÉTRICOS DEUS É FIEL
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FENÔMENO NA ÁGUA
AS FOTOS A FOTO PREMIADA O skatista Bob Burnquist tenta completar manobra durante a sessão de treinos livres para o evento da Megarampa no Anhembi em São Paulo, no final de 2009. GATOS ELÉTRICOS Jardim Pantanal, Zona Leste da São Paulo. em 2001. DEUS É FIEL Torcida do Corinthians em Barueri, 2008. FENÔMENO NA ÁGUA Ronaldo jogando no Pacaembu pelo Corinthians, em São Paulo, em 2009. SOB O CÉU DE SÃO PAULO Morador de rua dorme na estrada, 2003. DESCALÇO Homem assassinado na periferia de São Paulo. 2007.
jornal. Se não fosse por mim, pela minha iniciativa, não teria conseguido esse prêmio. Aliás, acho que essa é a maior dificuldade encontrada no cotidiano da minha profissão: encontrar publicações interessantes e interessadas, que se preocupem em fazer uma fotografia honesta, criativa e diferenciada. Hoje, o fotojornalismo está desvalorizado nos jornais – o que temos como produto é muito pobre. Os fotógrafos são muito bons, mas os donos de jornais não querem uma fotografia de qualidade. Querem o óbvio, tratam o leitor com se ele fosse burro”, dispara ele, que, fã confesso dos registros em preto-e-branco, lista na condição de mestres nomes como Sergio Larrain, Josef Koudelka, Gilles Peress, Gueorgui Pinkhassov e Paolo Pellegrin. Apesar de relativamente jovem – de idade e de profissão, pois trabalha com fotografia há apenas 9 anos –, Daniel já soma boa dose de experiência. Trabalhou como freelancer por dois anos
SOB O CÉU DE SÃO PAULO
DESCALÇO
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DANIEL KFOURI
FANTASIA
TÁ LIMPO
para algumas revistas da Editora Abril, tais como Contigo e Placar, e pelo mesmo período, e na mesma situação, na Folha de S.Paulo. “Também fiz algumas pautas especiais para a France Presse, Associated Press e Getty Images. Nos últimos dois anos tenho trabalhado como freelancer para a Nike, cobrindo eventos esportivos. Atualmente faço ‘frilas’ para a Nike, a revista Placar e estou começando a fazer trabalhos para a Poder”, conta ele, que já participou de exposições coletivas na Estação Júlio Prestes, na Casa da Fotografia da Fuji e no Senac. Em 2007, destacou-se no cenário internacional pela primeira vez: foi um dos 13 brasileiros selecionados para expor na Fototeca de Havana, em Cuba. A primeira manifestação estética de Daniel tomou forma na área de design gráfico, na qual trabalhou por cinco anos. “Após fazer algumas fotos, senti uma alegria muito grande e resolvi virar fotógrafo. Ficar o dia inteiro na frente do computador nunca mais, troquei o escritório pelas ruas. Fotografar é sempre marcante. Não interessa a grandeza da pauta ou do evento. O que interessa é você ter sempre prazer em fotografar.” Quando questionado sobre o que é uma boa foto, não vacila. “É aquela que faz você pensar e refletir sobre ela. O trabalho de um repórter-fotográfico é especial quando ele consegue ser verdadeiro diante de tanta mediocridade na imprensa brasileira”, diz Kfouri, que, se não fosse fotógrafo, gostaria de ser pintor. Por fim, ele define seu trabalho, que parece estar sendo cada vez mais reconhecido: “Estou tentando ser original.”
RATOS
AS FOTOS TÁ LIMPO Gari limpa o Túnel Airton Sena, em São Paulo. FANTASIA Rainha da bateria no Carnaval de São Paulo de 2008. RATOS Policiais em frente ao Edifício Prestes Maia, na capital paulista, ocupado pelo Movimento dos Sem-teto em 2007. PELAS JANELAS Incêndio numa favela em São Paulo, 2007.
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PELAS JANELAS
E VANDRO T EIXEIRA
O olhar muito particular sobre uma obra universal
Considerado por muitos o maior documentarista do Brasil, Evandro Teixeira também empresta seu talento a projetos especiais, como o ensaio sobre Vidas Secas, clássico de Graciliano Ramos. Em 55 anos de atividade profissional, Evandro Teixeira já expôs em vários países e documentou de tudo, de desfiles de moda a Golpes Militares – casos do Brasil, em 1964, e do Chile, em 1973. Além de fotógrafo, é também um viajante. Circulou pela Europa em junho de 2010, onde realizou exposições na Itália e na Suíça. O trabalho em questão, em tempo de Copa do Mundo, era o esporte. Em Futebol, a Paixão do Brasil, uma edição feita a pedido do Clube dos 13 – entidade que agrega os maiores times do País – lançou seu olhar sobre as partidas. Não aquelas televisionadas, com jogadores milionários, ou impecavelmente vestidos em uniformes repletos de patrocinadores. “Fotografei, no interior do Brasil, o futebol em seu estado mais puro e ingênuo, no campo, às vezes, de terra batida. São as populares ‘peladas’, por vezes improvisadas”, conta ele, que só lamenta que tal edição, feita sob encomenda, seja basicamente distribuída a associados do patrocinador. Estará disponível em poucas li-
vrarias, o que certamente dificultará o acesso do leitor comum. Não é de hoje que este fotógrafo do Jornal do Brasil, tão acostumado a clicar as ruas, dedica-se a projetos. Um dos mais importantes e recentes, data-
do do final de 2008, mas que está prestes a ganhar novo fôlego com uma segunda edição, é seu trabalho de ilustração para uma edição especial de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. São deste ensaio primoroso as imagens reprodu-
AS FOTOS No alto, a cadela Baleia passeia pelo sertão de Minador do Negrão, em Alagoas. Acima, visão da terra natal de Graciliano.
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EVANDRO TEIXEIRA
zidas aqui. “O convite me foi feito, na época, pela Luciana Villas-Boas, da Editora Record. Ela foi tão simpática, tão gentil, e me deu tanta liberdade, que não tive como recusar, e acabei topando, o que me obrigou a abrir mão da cobertura das Olimpíadas de Pequim”, recorda-se. Mas, confessa Evandro, havia um outro motivo, bem mais forte, para se encantar pela proposta. “Sou fã do livro de Graciliano Ramos, e também do filme homônimo, adaptado e dirigido pelo Nelson Pereira dos Santos. Tenho, inclusive, uma cópia dele em casa. Como sempre acontece, queriam as fotos pra ontem. Reli o livro, assisti novamente ao filme e viajei, durante três meses, por Alagoas e Pernambuco, fazendo uma espécie de reconstrução, passando por lugares como Quebrangulo/AL, onde o escritor nasceu, no local onde estudou, pela casa de parentes... Na verdade, este é um tipo de trabalho no qual o ritmo e o foco são bem diferentes de fotografar um quebra-quebra na Cinelândia, por exemplo. É preciso que você tenha toda a história e os personagens na cabeça. E construa uma espécie de roteiro próprio, com as referências que você precisa identificar e registrar ”, conta Evandro, que garante não ter tido dificuldades em realizar o ensaio. Talvez pelo fato de, na década de 1990, ter morado, por quatro anos, no interior da Bahia, com objetivo similar. Traduzir, em imagens, um dos mais marcantes episódios históricos do Brasil. “O livro acabou saindo em 1997, 24
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exatamente como parte das celebrações pelos 100 Anos da Guerra de Canudos”, lembra Evandro que, no trabalho sobre a obra de Graciliano Ramos, utilizou a mesma técnica empregada na reconstituição da atuação de Antônio Conselheiro. “É claro que ambos os ensaios foram feitos em preto-e-bran-
co. O clima das histórias pedia isso. No caso de Graciliano, o próprio título do livro induz a essa escolha: Vidas Secas, isto é, algo pesado, rude, repleto de amargura e desesperança, exatamente como a paisagem do sertão”, explica ele, que revela que gostaria de ilustrar com sua máquina e sensibilidade
AS FOTOS Na foto maior, sertão de Palmeira dos Índios. Acima, lavadeiras no Rio São Francisco, em Pão de Açucar. As duas cidades ficam em Alagoas.
AS FOTOS No alto à esquerda, um vaqueiro de cabras e, abaixo, um ex-vaqueiro da família Graciliano, com 103 anos. Ambos do sertão de Buique, em Pernambuco. Acima, o sossego do sertão Miçosa, em Alagoas. Ao lado, Dona Rosinha de Santana de Ipanema, em Alagoas.
outros temas clássicos, como Grande Sertão: Veredas, de Graciliano Ramos, e a saga de Lampião. Nascido em Jequié, no interior da Bahia, quando criança Evandro sonhava ser escultor. Também gostava de brincar de cinema e, inspirado num primo que foi convocado para a Segunda Guerra, pensou em seguir a carreira de aviador militar. Passou a apreciar o fotojornalismo em 1954, pela revista O Cruzeiro, que considera a grande escola da reportagem fotográfica brasileira. “Ainda morava no interior da Bahia e ficava impressionado com o trabalho de seus grandes fotógrafos, principalmente Jean Manzon e José Medeiros. Foi inclusive um ensaio sobre mães, feito pelo Medeiros, que depois veio a ser meu professor, que me transformou definitivamente num apaixonado pela fotografia. Depois, com o Nestor Rocha, tio do cineasta Glauber Rocha, aprendi os primeiros segredos da profissão”, lembra ele. Bom, o resto é história. Imagens. Deu no que deu. Aluno aplicado, esse. Jornal da ABI 355 Junho de 2010
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F ERNANDO Q UEVEDO
No meio da selva urbana, um apaixonado por paisagens e animais É na batalha diária da Geral de O Globo que Fernando Quevedo faz seus cliques. Mas, é em ambientes exóticos, como a savana africana, que ele diz atingir a plena realização com seu ofício. Apesar de dedicar-se à agitada rotina de estresse da selva urbana, Fernando Quevedo não esconde que seu grande barato, como fotógrafo, é clicar a natureza. É para cenários deslumbrantes, como a savana africana, que este gaúcho, nascido em Porto Alegre em 21 de março de 1956, corre em busca de seus melhores registros. Uma atração por paisagens e animais exóticos que se manifestou desde cedo, ainda na infância. “Tinha uns 8 ou 9 anos quando me interessei por livros de caçadas na África e na Índia. Via as fotos de leões e tigres e já começava a sonhar com grandes viagens, nas quais eu tiraria as fotos. Aos 12, comprei minha primeira câmera, uma Kodak Instamatic, e fui direto para o Zoológico do Rio, fotografar os bichos. Eram dias memoráveis! Eu lá, em frente às jaulas das feras, aguardando um bom instantâneo. Sempre sonhei viver no mato, no meio dos animais e o mais longe possível das grandes cidades”, conta. Com quase 22 anos de carreira, Quevedo orgulha-se em dizer que O Globo é o jornal em que começou a trabalhar, em março de 1988, e onde trabalha até hoje. Morando no Rio desde 1961, mergulhado de cabeça na editoria Geral,
TERROR NA AVENIDA BRASIL
teve a oportunidade de fazer o registro de acontecimentos que marcaram a história da cidade – e até de municípios vizinhos. Um dos casos mais recentes, no qual atuou de forma marcante, foi a tragédia do deslizamento no Morro do Bumba, no bairro do Cubango, em Niterói, ocorrido no dia 7 de abril deste ano. Fernando Quevedo foi um dos primeiros a registrar o trabalho das equipes de resgate no local.
FOGO NO CAMELÓDROMO
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AS FOTOS TERROR NA AVENIDA BRASIL Flagrante do ônibus da 1001 metralhado por traficantes na Avenida Brasil. Todo mundo deitado no asfalto se protegendo, eu no meio do fogo cruzado. FOGO NO CAMELÓDROMO Incêndio do camelódromo da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que
aconteceu em 26 de abril de 2010. LUTA PELA VIDA No bebedouro de Salvadora, em Etosha, tive a oportunidade de observar a verdadeira luta pela sobrevivência. Depois de ficar segurando a zebra pela garganta por 20 minutos, a leoa se cansou e deixou a presa escapar. Foi uma cena sensacional.
LUTA PELA VIDA
PARAÍSO AQUÁTICO
O PAPA E O POVO
BEBEDOURO
Outras pautas significaram a exposição do próprio profissional a situações de risco. “A pior pauta da minha vida foi a do ônibus da 1001 metralhado por traficantes na Avenida Brasil. Todo mundo deitado no asfalto se protegendo, e eu ali, no meio do fogo cruzado... Não gostei nadinha da experiência”, conta ele que, ao longo de mais de duas décadas de serviços prestados ao O Globo, teve seus momentos de glamour, embora sem muito entusiasmo. “Também já registrei o mundo dos astros e estrelas para a Revista da TV, na década de 1990. Posso garantir que fotografar celebridades é uma das pautas que, digamos, menos me apetece. Tomei muito chá-de-espera. É um trabalho estressante e cansativo”. Sem titubear, Quevedo escolhe a reportagem sobre hotéis na selva amazônica, em 1990, como o trabalho mais prazeroso de sua carreira. Tendo Aníbal Philot, Editor de Fotografia de O Globo, já falecido, como ídolo, Fernan-
do também destaca os profissionais da National Geographic Magazine e ainda Michael Nichols, Carsten Peter, Chris Johns e David Allan Harvey. “Estes são, para mim, os maiores mestres da imagem e eternas fontes de inspiração para todos os fotógrafos do planeta”. Quevedo, vejam só, formou-se Engenheiro Civil, especializado em Cálculo Estrutural, até que a Matemática cedeu lugar aos cliques. No último ano em que atuou como engenheiro, em 1985, numa empresas de produtos de impermeabilização, acabou fazendo também as fotos do catálogo dos novos produtos a serem lançados. Até que, em 1987, decidiu mudar de profissão, viajando para a África pela primeira vez. “Fiquei quatro meses visitando os grandes parques do Quênia e da Tanzânia, considerados a verdadeira meca dos fotógrafos da vida selvagem”.
AS FOTOS O PAPA E O POVO Quando o Papa João Paulo II estava internado em estado grave, pessoas em várias partes do mundo se uniram em orações pedindo seu pronto restabelecimento. Essa foto foi em um centro religioso no Flamengo, Zona Sul do Rio. PARAÍSO AQUÁTICO Existem várias atrações ecológicas na região de Bonito, em Mato Grosso do Sul, entre elas três flutuações em rios diferentes. Uma das mais famosas é a do Rio Baía Bonita, onde esta foto foi feita: um passeio de flutuação no aquário natural. BEBEDOURO Esta foto das zebras no bebedouro de Okaukuejo, no Parque de Etosha, na Namíbia, foi tirada em agosto de 2008. Este é um dos lugares mais fantásticos para se observar a vida selvagem, incrível mesmo!
CAMINHADA
CAMINHADA Elefantes ao pôr-do-sol no Parque Chobe, em Botswana, paraíso para esses paquidermes, que encontram ali um mundo extenso de paz e tranqüilidade.
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FERNANDO QUEVEDO
De volta ao Brasil, começou a vender matérias para a extinta Revista Geográfica Universal e para o Caderno de Turismo, do próprio O Globo, para o qual logo foi convidado como efetivo, pelo mestre Anibal Philot. Entre 1995 e 1996, Quevedo morou um ano e meio no Quênia, onde fez uma exposição na capital Nairóbi. Ali diz ter passado um dos períodos mais felizes de sua vida. “No ambiente selvagem sinto o meu espírito livre e na mais completa paz. Meu sonho sempre foi morar no interior da África, tendo como vizinhos apenas leões e elefantes”, diz ele, que aponta os segredo para uma boa foto. “O fotógrafo tem que aprender o funcionamento do processo. Aí fica mais fácil executar uma idéia. Não adianta ter uma sacada genial se a sua bagagem técnica não permite executá-la. Gosto das fotos noturnas, no lusco-fusco ou em situações difíceis de luz. Quando você acerta, fica uma imagem atrativa para quem a vê”.
COM UMA ONDA NO MAR
AS FOTOS COM UMA ONDA NO MAR Em 1992, fiz muitas pautas de moda para o caderno Ela e para o extinto Jornal da Família, de O Globo. Tenho saudades daquela época em que cada saída era um desafio para se voltar à Redação com boas fotos, pois o tempo era curtíssimo e a exigência do Philot, enorme! VILAS DE PALHA Os habitantes do Estreito de Caprivi, na Namíbia, usam a palha para quase tudo: para fazer o teto das casas, muros, mesas, camas, etc. É impressionante, ao longo da estrada, a quantidade de pequenos vilarejos onde as construções são essencialmente feitas desse material. O ELEFANTE E AS GIRAFAS Flagrei as girafas e o elefante no entardecer no Parque Chobe, em Botswana. Nunca vi tantos elefantes em toda a minha vida como ali, onde estima-se que vivam 40 mil desses animais. PERIGO SUBMERSO Num fim de dia no Rio Khwai, em Botswana, somos observados por um hipopótamo, animal responsável pelo maior número de acidentes fatais com seres humanos em toda a África.
VILAS DE PALHA
PERIGO SUBMERSO
O ELEFANTE E AS GIRAFAS
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M ARIZILDA C RUPPE
Uma brasileira no júri que elege os melhores do mundo Marizilda Cruppe, de O Globo, mostra suas fotos mais recentes, ao mesmo tempo em que fala da experiência de fazer parte do júri da World Press Photo deste ano. 41 anos de idade, 17 de profissão. Esses são números iniciais da rápida apresentação do perfil de Marizilda Cruppe. Contudo, numeroso mesmo é o volume de atividades às quais se dedica. Além de O Globo, jornal onde iniciou a carreira e no qual trabalha até hoje, na dominical Revista O Globo, atua no EVE Photographers, que reúne fotógrafas da África do Sul, Brasil, Espanha, Geórgia, Irã e Tailândia. Nos últimos cinco anos, os projetos do EVE foram exibidos e publicados na Ásia, Europa e Estados Unidos. Marizilda colabora com a Trip e a TPM, o Greenpeace e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Como se já não bastasse para lotar sua agenda, este ano foi recrutada para outro compromisso – de extrema responsabilidade. TRANSPOSIÇÃO Marizilda é uma das juradas da World Press Photo – prêmio internacional considerado o mais importante do mundo, e cuja exposição esteve, no mês de junho, em cartaz no Rio. “O convite foi feito por Michiel Munneke, diretor da Fundação WPPh, pela indicação do fotógrafo e co-fundador da agência VII, Gary Knight, presidente do júri anteriormente”, conta ela, que explica como se dá a avaliação do material. “O julgamento é dividido em dois rounds, com dois grupos diferentes de jurados. Neste ano, o primeiro round foi dividido em quatro júris especializados – categorias Notícias e Documentários, Esportes, Natureza e Retratos. Fiz parte do grupo da primeira categoria, no primeiro round, junto com outros quatro profissionais. Nos reuníamos pela manhã e durante todo o dia víamos as fotos projetadas em um telão, numa sala escura”, descreve. Este ano, foram 101.960 fotos inscritas, de 5.847 AS FOTOS fotógrafos, representanTRANSPOSIÇÃO do 128 nacionalidades. É Na margem do Rio São Francisco, o mais global dos concurum cão observa o pescador se sos. Diante de tamanha afastar em seu barco. diversidade, o que mais teria surpreendido MariA ESPERA Uma mulher e sua filha aguardam zilda? “A quantidade de atendimento num hospital na fotos com porcos do munperiferia de Maputo, Moçambique. do todo”, acha graça ela.
A ESPERA
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MARIZILDA CRUPPE
A TODO GÁS
MOVIMENTO
LOTAÇÃO
RETRATO
AS FOTOS LOTAÇÃO Carceragem superlotada da Polinter do Grajaú, Rio de Janeiro. A TODO GÁS Mais uma foto sobre a população que vive às margens do Rio São Francisco, esta em Xique-Xique, Bahia. MOVIMENTO Acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra próximo a Juazeiro, na Bahia. SOB CHUVA
SOB CHUVA Indígena Parakanã se banha no Rio Xingu, na reserva dos Apyterewa, Pará. RETRATO Wejo Kayapo, índia que vive na reserva dos Capoto Jarina, Pará.
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IMENSIDÃO AZUL E BRANCA
IMPACTO PROFUNDO
GUERREIRO
AS FOTOS IMENSIDÃO AZUL E BRANCA A vastidão silenciosa da Baía do Almirantado, na Antártica. IMPACTO PROFUNDO O navio Ary Rangel enfrenta ondas de 5 metros no trajeto das Ilhas Deception até a Baía do Almirantado, Antártica. GUERREIRO Raoni, em novembro de 2009. SOLIDÃO Pingüins em Punta Plaza, também na Baía do Almirantado.
SOLIDÃO
“Outra coisa, que não chegou a ser uma surpresa, foi constatar que a edição é uma dificuldade universal. É difícil o fotógrafo conseguir editar bem o próprio trabalho. Todos os grandes eventos de 2009 estavam lá representados, mas tive a impressão de ter visto algumas fotos publicadas que não foram inscritas. Fotojornalistas nem sempre são organizados o suficiente para inscrever suas fotos em concursos”, lamenta. E quanto à participação brasileira? Vale lembrar que, na edição deste ano da World Press Photo, apenas um fotógrafo verde-amarelo – Daniel Kfouri, também retratado nesta edição – conseguiu emplacar uma foto na seleção mundial. “Comparando com nossos vizinhos latino-americanos, a nossa participação ainda é pequena. Havia muitos trabalhos sobre o Brasil feitos por estrangeiros. A participação dos brasileiros ainda é maior em singles do que em histórias. De qualquer forma, me sentia orgulhosa cada vez que reconhecia o trabalho de um compatriota”. E como foi a experiência de julgar fotos de colegas depois de tantos anos no mercado? “Quem já ajudou a editar as fotos de algum amigo sabe que é mais fácil olhar o trabalho do outro do que o próprio. É preciso desapegar-se para editar bem. Como exercitar o desapego com as próprias fotos e as lembranças, boas ou más, do momento do clique embutidas nas imagens? Julgar é editar. E sempre é mais fácil fazer isso com as fotos dos outros”, diz ela que, se por um lado, considera alarmista a polêmica tese defendida por alguns, de que o fotojornalismo caminha rumo à extinção, por outro acha que mudanças e correções de rota são, de fato, necessárias. “O factual está sendo cada vez mais registrado por amadores e, neste caso, o que importa é estar na hora certa, no lugar certo, independente da qualidade da câmera. Os jornais e revistas, de forma geral, não apenas os fotojornalistas, deveriam pensar em uma cobertura mais reflexiva do que descritiva. A internet e a tv cobrem tudo em tempo real. Logo, os jornais e revistas que saem no dia seguinte deveriam refletir sobre as causas e soluções, e não apenas descrever os fatos. Para isso, precisamos superar obstáculos. A violência urbana é um deles, um problema para todos os cidadãos, e também para os fotógrafos. Os assaltos a profissionais têm se tornado freqüentes. No último mês soube de dois casos, só na Zona Sul do Rio: da Paula Kossatz, freelancer, e do Bruno Domingos, da Reuters”. Jornal da ABI 355 Junho de 2010
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O DAIR L EAL
Um fotógrafo entre a beleza do céu e as mazelas da terra Duas vertentes bem distintas ajudam a explicar o perfil de atuação de Odair Leal, de Rio Branco, Acre. A beleza plástica de paisagens diversas e o foco na denúncia social. Os livros têm sido veículos especiais de divulgação do trabalho de Odair Leal. Foi assim em 2009, quando lançou Sem Terras na Amazônia, álbum que reuniu 108 fotos em preto-e-branco que retratam o cotidiano de pessoas que lutam pelo direito a um pedaço de terra na região. E, em 2010, a história não será diferente. Com lançamento previsto para setembro, Entre o Céu e a Terra – No Topo do Mundo, vai revelar a beleza de cenários da Cordilheira dos Andes, no Peru. Algumas dessas fotografias podem ser apreciadas, em primeira mão, nesta edição do Jornal da ABI. Odair Leal nasceu em 1975, em Rio Branco. Com pouco mais de uma década de carreira, firmou-se como um dos melhores fotojornalistas do Acre. Começou como estagiário no jornal A Semana, em 1997. Trabalhou nos jornais A Gazeta, O Estado, O Rio Branco e, atualmente, trabalha na assessoria da Assembléia Legislativa do Estado. Já colaborou com os jornais como a Folha de S. Paulo, Valor Econômico, O Dia, O Paraná, Correio Braziliense, A Crítica, Diário do Amazonas e Washington Post (EUA). Tem fotos publicadas na Veja e Época. Questões sociais são preocupações constantes do fotógrafo, refletidas nas suas imagens. “Em nossa região, os índices de miséria são alarmantes. As pautas podem ser diversificadas. Já fiz muitas coberturas importantes neste sentido, sendo a mais arriscada para a Folha de S. Paulo, em 2000. Era uma matéria sobre prostituição infantil no Acre, e o motorista do táxi que nos levou até a fronteira nos relatou que meninas se prostituíam na Bolívia. Isso
PELA JANELA
AS FOTOS PELA JANELA Esta imagem, que saiu na Folha de S.Paulo, mostra o ciclista rompendo a água sobre a bicicleta. PARA TURISTA NAVEGAR Lago Titicaca na cidade de Pune, barco feito com junco navega tranqüilo com turista.
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PARA TURISTA NAVEGAR
CRUZES
CAMINHANDO
A PRAÇA É NOSSA
DESCASO
foi muito perigoso, pois estávamos em outro país, a dez quilômetros de nosso território. Se fôssemos AS FOTOS descobertos, poderíamos ser presos”. CRUZES A devastação da AmaEntidades ligadas aos direitos zônia é outro tema de deshumanos aproveitaram o julgamento de membros do taque. Para Odair, quem vê Esquadrão da Morte, em 2000, para as imagens mais divulgachamar a atenção da Justiça e da das da região não imagina sociedade para as barbáries as tragédias e mazelas sopraticadas pelo grupo, formado em ciais que se escondem por sua maioria por policiais. Em cada trás daquela natureza exucruz lê-se o nome de uma vítima. berante. “Por isso, tento No fundo, fotografias que provocam mostrar as belezas dessa sensação de desterro. região, mas também revelo que aqui há um povo CAMINHANDO que sofre e que quer ser O andarilho trafega pela BR-364, no trecho entre Bujari e Sena feliz. Adoro fotografar o Madureira, antes de o asfalto chegar. real, o cotidiano, clicar as pessoas que sentem na A PRAÇA É NOSSA pele o abandono ao qual Dois cães repousam indiferentes na foram submetidas pelos praça. No banco, uma indigente políticos”. Em abril destambém descansa. te ano, o Tribunal de Justiça do Acre, na 12ª EdiDESCASO ção do Projeto Mais Arte, A classe mais pobre sempre abriu espaço para duas encontra dificuldades para ser exposições do fotógrafo: atendida. Em Rio Branco flagrei o descaso com a anciã que aguarda a Sem Terras da Amazônia e vez de conseguir uma consulta num Povo Yawa. dos principais hospitais do Acre. Odair acredita que a fotografia é uma arte que depende da luz para existir. Mais que isso: ela exerce um papel fundamental na História da humanidade. “Principalmente a foto jornalística, que tem a Jornal da ABI 355 Junho de 2010
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ODAIR LEAL
A QUEDA
PARABÓLICA
AS FOTOS A QUEDA Fotografei o momento exato em que um ciclista, ao se aventurar numa rua esburacada, virou mais uma vítima do descaso do Poder Público. Antes dele, um ancião havia caído durante a noite, fraturando uma perna. PARABÓLICA A vida moderna já chegou a praticamente todos os pontos do mundo. Mas em algumas localidades ela chega sobre duas rodas. Flagrante em Sena Madureira, terceiro maior Município do Acre. DESABRIGADOS Em 2006, logo após a grande seca na região da Amazônia,
Rio Branco foi atingida por chuvas torrenciais. Mais de 30 mil famílias ficaram desabrigadas. Os desalojados foram levados para galpões utilizados como abrigos. NA CONTRAMÃO Motoristas e cadeirantes disputam espaço nas ruas de Rio Branco. Há completa falta de estrutura para o trânsito de portadores de necessidades especiais, população de incidência significativa na capital do Acre. TRISTEZA O consumo do álcool tem colocado à margem da sociedade centenas de cidadãos.
DESABRIGADOS
NA CONTRAMÃO TRISTEZA
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ENCHENTE
AS FOTOS ENCHENTE No detalhe da foto, publicada no site do Uol, a placa que identifica a rua alagada: Barra Verde. A DONA DO GATO O cachorro é o melhor amigo do homem? E o gato? EQUILÍBRIO A imagem do garoto caminhando sobre o parapeito que protege os transeuntes da Rua Marechal Deodoro, em Rio Branco, onde ocorre desbarrancamento, mostra que para sobreviver às vezes é necessário começar a fazer malabarismos ainda muito cedo.
A DONA DO GATO
EQUILÍBRIO
missão de denunciar a verdade dos fatos que acontecem no mundo. O repórter-fotográfico atua como uma espécie de juiz ou advogado, denunciando as mazelas da vida. É emocionante estar presente nos fatos que podem marcar a História e registrá-los, para que as futuras gerações possam ter um outro olhar sobre os acontecimentos que, daqui a algum tempo, serão parte do passado”. Ele acredita que as novas tecnologias tornaram o fotojornalismo uma atividade mais prática e ágil. E cita a fotografia digital, as novas formas de tratamento e o envio de arquivos por email – exatamente como foi feito no caso das imagens publicadas nesta edição – como avanços que se tornaram indispensáveis à profissão. Para quem está chegando ao mercado, ele dá uma dica. “No cotidiano da reportagem fotográfica, a sensibilidade e a sorte são elementos que fazem a diferença. Mas, é claro que amor, empenho, determinação e paciência são indispensáveis. O fotógrafo deve procurar sempre um ângulo novo, um diferencial, porque em nossa profissão somente se sobressai quem tem a capacidade de mostrar os fatos de uma maneira que ninguém ainda foi capaz de registrar. É preciso treinar um olhar que fuja do óbvio”, resume. Jornal da ABI 355 Junho de 2010
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