Boletim da Indústria Gráfica (BIG) - Edição 24 - 1950

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G-UTEMBERGr E O SEU IN V E N T O I----------------------------- C O M E M O R A - S E -----------------------------------1 êste A N O O Q U IN T O C E N T E N Á R I O D A DESCOBERTA DE GUTEM BERG cristão. De repente, teve a Um dia, o sacristão da Ca­ idéia de retalhá-la para ob­ ter letras soltas. Assim, po­ deríam elas formar e com­ binar frases e ser utiliza­ das em novas páginas. Uma idéia, como vemos, que ho­ je nos parece simples co­ mo o ovo de Colombo. Era, entretanto, o achado mira­ culoso que preparava a hu­ manidade para a maior das invenções. Gutemberg bem compre­ endeu o valor da descoberta.

tedral de Harlem, depois de haver mostrado a Gutemberg os manuscritos da bi­ blioteca, lhe exibiu uma tabuinha em que se achava gravada em relêvo uma pá­ gina da gramática latina. Vinham as letras gravadas às avessas, e bastava cobrilas de tinta, comprimindoas sôbre o pergaminho, pa­ ra que o escrito ficasse im­ presso. Êsse processo náo apresentava novidade algu-

Prensa do século XVII, também de madeira

Assim era a prensa de Gutemberg construída de madeira

ma, pois há muito tempo já era usado para reproduzir imagens de santos e qua­ dros da Bíblia com as res­ pectivas legendas. P Á G IN A 2

Gutemberg olhou a tabuinha, elogiou a habilidade e a paciência do sacristão gravador. Em tôdas as in­ venções, e principalmente nas que dizem respeito à máquina, aparêlho ou ins­ trumento, pode-se frequen­ temente surpreender na men­ te do gênio o instante em que da imprevista confla­ gração das idéias pula fo­ ra o achado miraculoso. É o momento em que o gê­ nio resolve o seu problema ou encontra o ponto de par­ tida da sua invenção. Pois o achado miraculo­ so ocorreu a Gutemberg quando nas mãos sopesava a tabuinha, diante do sa­

Prensa do século XVIII, ainda de madeira Nada disse. Todo fechado no seu segrêdo, voltou para Estrasburgo com um ger­ me no cérebro que ia revo­ lucionar o mundo. Quem poderia descrever a alegria

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dêsse feiticeiro enquanto espalhava na tabulnha o seu primeiro alfabeto?

morrer em paz em 1468, aos setenta anos de idade, se­ gundo se supõe.

centos e cinquenta anos após o nascimento de Nosso Se­ nhor Jesus Cristo e depois

Em 1505, o filho de Schoeffer, num livro que impri­ miu, reparou de algum mo­ do a ingratidão do pai para com Gutemberg, bem como a cupidez de Faust, com as

Êste é o prelo de Stanhope, construído em 1910, em ferro, conforme se sabe o segundo feito dêsse material. O pri­ meiro foi construído nos EE. UU. em 1797.

Vieram, em seguida, co­ mo acontece a quase todos os inventores, os anos de tra­ balho, as lutas, as decep­ ções, as perseguições. Com os seus instrumentos, com a sua prensa, isolou-se na cela de um convento. Aliouse a João Faust, que de­ pois, fazendo valer desu­ manamente suas prerrogati­ vas de credor, lhe tira à fôrça a prensa e os forninhos; no entanto, morre de­ pois de peste. Pedro Schoeffer, que lhe sugerira a liga para fundir os caracteres, apodera-se, com a morte de Faust, da tipografia de Gutemberg. Velho e pobre, Gutemberg é acolhido pelo arce­ bispo de Mogúncia, que o nomeia seu gentilhomem de câmara. Pôde, pois, con­ sagrar os últimos anos ao progresso de sua arte e B O L E T IM

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Minerva de funciona­ mento a pedal. Notem que a máquina está aber­ ta e os rolos estão em ■cima da platina. Não foi nova descoberta de funcionamento. Foi êrro do desenhista...

Prelo de funcionamento manual, empregado para pequenos trabalhos, pa­ rente próximo das minervas

melhorada e firmada pelo esforço, pelos gastos e pelo trabalho de João Faust e Pedro Schoeffer, em Mogún­ cia : pelo que esta cidade deve ser estimada e louva­ da eternamente, não só pe­ la nação germânica, mas pelo mundo inteiro” .

seguintes palavras: “ A ma­ ravilhosa arte da imprensa foi inventada em Mogúncia pelo engenhosíssimo João Gutemberg, mil e quatro­

João Faust e Pedro Schoeffer tiraram proveito do inventor mas não con­ seguiram arrebatar-lhe a glória. O linotipista que

Máquina de impressão plana, com margeador automático

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compõe estas linhas, mane­ jando o ejetor, a régua, a alavanca, a faca e a serra, é um discípulo de Gutem-

vilhosas consequências do invento de Gutemberg. Bas­ ta dizer que em fins do sé­ culo XIX a tiragem dos jor­

Esta ê uma rotativa moderna, uma das maravilhas que o gênio de Gutemberg possibilitou

berg. Mas um discípulo que maravilharia o mestre, se êste ainda vivesse... Deve-se a Gutemberg, com a sua invenção, o apareci­ mento da imprensa, que ho­ je proporciona ao homem de tôdas as camadas sociais um resumo acessível e útil do mundo em que vive, es­ se mundo sôbre o qual atua e do qual reciprocamente, embora não tenha com êle senão relações indiretas, re­ cebe a influência. Ao tem­ po de Gutemberg, e mes­ mo alguns séculos depois, o mundo, para o homem, era a sua aldeia, a sua vila, a sua cidade. Tudo quanto acontecia para além das fronteiras do seu meio res­ trito era coisa vaga, incerta, de que incompletamente to­ mava conhecimento. Na verdade, só neste meio século começou o homem a usufruir tôdas as mara­ P Á G IN A 4

nais dos países mais adian­ tados não ia além de 50 mil exemplares. Era o que acontecia na Inglaterra, por exemplo, onde o jornal se dirigia a um pequeno nú­ mero de pessoas que pos­ suíam idéias políticas e que governavam o país. O di­ reito do voto estava reser­

vado à classe média, e só em 1870 a educação come­ çou a se difundir na clas­ se trabalhadora. Se o invento, há cinco séculos, era maravilhoso, suas consequências mais re­ centes não o são menos. Como não se maravilharia Gutemberg diante de uma linotipo a alinhar linhas e mais linhas num instante, diante de uma rotativa a imprimir milhares de jor­ nais por hora, ou então diante de uma offset a em­ pilhar belos impressos colo­ ridos. Como não se maravi­ lharia mesmo diante de uma simples minerva, tão pró­ xima do seu prelo de ma­ deira, mas já representan­ do, com o emprêgo dos novos tipos móveis, tôda uma etapa de aperfeiçoa­ mento do seu invento. A êle, no entanto, caberá sempre a glória de ter sido o pioneiro da arte da im­ pressão; a êle que ofereceu ao mundo o maior legado que a civilização poderia de­ sejar.

Interior de uma tipografia do século XVIII B O L E T IM D A IN D Ú S T R IA G R Á F IC A


O Q U IN T O

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------------------------------------------------------------------------CLÁUDIO DE SOUZA----------------------------Que era a imprensa? Que era êsse formidável Invento? A coisa mais simples do mundo: uma prensa de ma­ deira na qual se colocavam tábuas também de lenho Insculpidas de um texto a ser reproduzido no papel. Mas todo o universo resul­ ta de um gráo, semente ou Impulso elementar. Gutemberg cortou aquelas tábuas em tljolinhos com as letras em separado. Estava criado o tipo móvel. Conseguiu Gutemberg fundi-lo depois em tipos me­ tálicos. Faust compreendeu, entáo, o lnterêsse negociá­ vel do Invento. Exigiu de Gutemberg o pagamento de sua dívida de 800 florins e como êste náo a pudesse pagar, forçou-o a entregarlhe todo o seu material, e chamou para seu sócio certo Schoeffer, que aperfeiçoou o tipo metálico. Gutemberg passou apenas a ser impressor e numa pequena oficina deu à luz a famosa Bíblia de 36 linhas. Náo podia, porém, lançar seu nome na própria obra, porque era nobre e os no­ bres, ainda quando famintos, estavam proibidos de figurar em assutos Industriais. Teve, entretanto, que fa­ zer mais dividas. E quando Faust e Schoeffer explora­ vam a descoberta, Gutem­ berg trabalhava como sim­ ples operário lmpressor, vi­ vendo em grande pobreza, que náo lhe permitia com­ pletar sua descoberta. Adol­ fo de Nassau, mais para lhe valer a condlçáo de nobre do que em homenagem a seu Invento, mandou que se B O L E T IM

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Esta è a casa onde, se­ gundo afirmam, Gutem­ berg teve instalada a sua primeira tipografia lhe servisse escassíssima pensão, quando Já se des­ pedia éle da vida. Três anos mais tarde, em 1468, a morte levou-o à tumba, entunlcado de trapos velhos, num regulngote sovado de fidalgo mendigo. Quase ninguém no Beu funeral. Algumas pás de terra do coveiro e fechou-se o seu túmulo.

Primitiva fundição de ti­ pos de metal. Xilogra­ vura de Jost Ammann — O funãidor de tipos

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Os passos vanguardelros da humanidade depois da descoberta da Imprensa sáo conslderàvelmente extensos. Não se poderão evitar, Ja­ mais, as rixas entre os ho­ mens singulares, os confli­ tos entre os grupos sociais, e a guerra entre as naçõeB. Enquanto houver homens ferverá o fermento do dissí­ dio das ambições. A guerra é o fenômeno lnapelável em tôda a animalidade, na ra­ cional como na Irracional. Pode-se, entretanto, de­ morar e atenuar êsse fenô­ meno, êsse flagelo inevitável pela fôrça do pensamento humanitário, arregimentada e alinhada nos batalhões daqueles tipos móveis de Gutemberg, e difundida em milhões de folhas de papel que como bandeiras de paz ao romper do dia ou ao cair da tarde as monumentais máquinas de imprimir ofe­ recem a tôdas as cons­ ciências. Gutemberg foi um gênio que dedicou sua vida à faina de transformar cada uma das vinte e cinco letras do alfabeto nas células de um gigantesco organismo, dan­ do-lhes mobilidade e facul­ dade de reprodução para que o cérebro humano en­ contrasse o veículo de seus pensamentos e a defesa de sua autonomia. Quebrando as trevas do obscurantismo Gutemberg está esculpido no caminho dos séculos nu­ ma estátua como a da Li­ berdade, com um facho sempre aceso indicando ao homem a estrada de sua emancipação. (Extrato de um discurso). P A G IN A 5


Quinhentos anos de existência da mais importante descoberta da civilização ----------------

George GERARD

Os primitivos caracteres eram de madeira e furadinhos para serem amarrados depois de formadas as linhas Não podemos deixar pas­ sar êste acontecimento sem fazer uma breve análise re­ trospectiva do prodigioso impulso que a descoberta

---------------grafia foram, realmente, os três elementos iniciais do grande e maravilhoso impul­ so da civilização moderna. Nós, que conhecemos a importância do jornal, não mais podemos imaginar nos­ sa existência sem êsse meio de aproximação entre os ho­ mens. E esta simples cons­ tatação nos faz lembrar da

nossa época, dita atômica. Malgrado a descoberta dêste meio terrível de destrui­ ção, que poderá acarretar a devastação de uma parte de nosso mundo, mesmo assim a nossa civilização jamais recuará, graças ao meio de divulgação e perpetuação de idéias que é a tipografia. A descoberta da tipografia situa-se entre as três des­ cobertas mais importantes, depois da renascença. A bússola, a pólvora e a tipo-

Antigamente os dedos ágeis não martelavam teclados. Iam direta­ mente às caixas e reu­ niam os tipos móveis nos componedores, co­ mo se vê na gravura.

Veio depois a Typograph. Não tem a produção das ou­ tras máquinas de compor. Mas é sabido que quanto à fundição das linhas, alcan­ çou mais perfeição

da tipografia proporcionou à nossa civilização. Graças a ela possuímos o instru­ mento de divulgação mais prodigioso da história. Gra­ ças a ela perdemos o temor de ver o esforço de múlti­ plas gerações desaparecer, mesmo em se tratando de

época tão louvada, mas que nos custa a acreditar tenha existido, na qual nossos avós se comunicavam por meio de longas cartas manuscri­ tas à guisa de jornal; quan­ do os monges copistas pas­ savam tôda a sua existência no afã de reproduzir livros em esplêndidos manuscritos,

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sado se dava a conhecer ao mundo esta maravi­ lha das artes gráficas — a máquina de compor. Assim se produziam ti­ pos em linha, donde o nome de Linotype

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cuja arte nunca será posta em dúvida, mas cujo poder de divulgação de sabedoria ou informações era mais do que restrito; quando biblio­ tecas eram constituídas de tijolos gravados; e quando

A Monotype produz linhas de tipos soltos, que podem depois ser distribuídos nas caixas. Compõe-se de duas partes. A que vemos acima é o teclado... sabemos que uma civiliza­ ção como a egípcia desapa­ recida completamente foi redescoberta 3 000 anos mais tarde, é que compreendemos em verdade a importância da descoberta de Gutemberg, o pai da tipografia. Graças a ela podemos viver sem ser ignorados pelos pósteros, aprender sem dificul­ dades, ter os acontecimen­ tos do mundo diante dos olhos e poder tomar conhe­ cimento de tôdas as desco­ bertas humanas. Qual é, atualmente, a mais potente arma moder­ na, que, ao mesmo tempo é a arma espiritual mais efi­ ciente? A tipografia, isto é, a arte de imprimir, que é tanto temporal como es­ piritual. Reflitamos e lan­ cemos uma vista de olhos sôbre a nossa época. Que encontramos, como mola B O L E T IM

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propulsora de nossas con­ quistas? Livros, livros, ainda e sempre livros. As grandes idéias, as grandes lutas, as revoluções, tudo que tem contribuído para a nossa evolução tornou-se possível, em tempo quase limitado, pelo meio de propagação que é o livro impresso. Graças a êles os pensadores, os sá­ bios nos transmitem meios de vida melhor e mais con­ fortável. É verdade que al­ guns se empenham também em tornar a nossa existência mais complicada, mas isto se deve a uma certa aptidão do homem para a destrui­ ção ... A verdade é que a tipografia permite a nosso espírito desenvolver-se cons­ tantemente adquirindo dia a dia novos conhecimentos. O nível intelectual cres­ ceu e o progresso continua

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•.. e esta é a fundidora da Monotype — aperfeiçoada máquina de compor em linha ascencional; as relações entre os povos se estreitaram mais, o que nos torna esperançosos de uma época, que sonhamos próxima, em que não mais existirão as barreiras da in­ compreensão e na qual as relações mundiais serão nor­ mais, humanas. E em tudo G R A F IC A

Esta xilogravura de Jost Ammann tem por motivo a fabricação de papel a mão. Foi em 1700 que se inventou a primeira máquina de pa­ pel contínuo isso tem e terá participação direta a invenção de Gutemberg. Cada indivíduo pode, hoje em dia, escolher, segundo suas aptidões, o que melhor convém ao seu de­ senvolvimento intelectual. As artes, as letras, as ciên­ cias, tudo está ao nosso al­ cance. Rendamos, pois, ho­ menagem a Gutemberg, cuja obra é imperecível. Pois se, neste mundo agitado em que vivemos, muitas vêzes po­ demos também esquecer e repousar dos problemas co­ muns da existência numa boa leitura, a êle devemos o livro que trazemos no bol­ so ou que descansa em nos­ sa estante, ou o jornal que nos traz as últimas notícias. O nosso cotidiano está veiculado à imprensa, pois nada pode ser divulgado sem a sua ajuda. Gutem­ berg, pai da imprensa, fez mais com a sua descoberta do que qualquer outro ser humano. É justo, pois, que nosso entusiasmo venha re­ lembrar um pouco do que sua descoberta permitiu e afirmar as esperanças que ela nos concede. P A G IN A

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Fragmentos de coluna da Bíblia de “ trinta e seis linhas” impressa por Gutemberg

füífriplmfmtupírmta*íura tjo tnfriplftttPilfttíoía üílrc noluQoOtaltgíI tllí?t ♦£ufia intíoaúrIrgutnrõfummario ftomiptíonts tfl: íntorruptío nútt à t rifcjjjeínmtto*£5ni= píftêriattatp fapínuírKDunt aúrcgtmpnpnuú-S»ítrgott* lcctamíntTtOíb?rtfcepms nrr* Fragmento do Donatus impresso por Gutemberg P A G IN A 8

CO O PERA ÇÃ O A ÊSTE BO LETIM Merece menção especial de nossa parte a cooperação que tem recebido da dire­ ção regional do SENAI êste órgão oficial do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo, que vem sendo impresso na Es­ cola de Artes Gráficas da­ quela instituição. Não po­ demos, portanto, nos furtar ao dever, que prazelrosamente cumprimos, de agra­ decer à direção regional do SENAI em São Paulo a co­ operação recebida. Queremos também aqui lembrar a boa vontade de todos os elementos que in­ tegram a Escola de Artes Gráficas para com esta pu­ blicação. Ainda agora, esta modesta edição e s p e c i a l , com que comemoramos a passagem do nosso primeiro aniversário, se tornou possí­ vel graças a essa boa von­ tade, pois colaboraram na sua feitura todos os instru­ tores e seus auxiliares, aos quais enviamos o nosso muito obrigado por inter­ médio dos srs. João F. de Arruda, nosso colaborador, responsável pela direção da escola, no melindroso encar­ go de administrá-la e Luiz Bernardlno, competentíssi­ mo lnstrutor-chefe, a quem devemos sempre a nossa boa apresentação. Ressaltando assim o con­ curso de todos os elementos da Escola de Artes Gráficas do SENAI de São Paulo, bem sabemos que estamos ferindo a natural modéstia désses funcionários compe­ tentes e coneientemente in­ tegrados aos seus deveres. Que nos relevem, no entan­ to, a Irreverência, pois só assim podemos testemu­ nhar publicamente o nosso aprêço pela colaboração re­ cebida.

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NÚMERO 24________________ SÃO PAULO. 15 DE NOVEMBRO DE 1950___________________ ANO II

Jlosso p-rlmeLro anluersário É altamente significativa para nós a data de hoje. Completa neste dia o seu primeiro ano de vida o BOLETIM DA INDÚSTRIA GRÁFICA. Todos sabem o que significa para um órgão de imprensa, embora modesto como o nosso, o seu primeiro ano de vida. É no trans­ correr dêle que se firma a publicação. Por isso esta data é altamente significativa para nós. IO COMPLETAR nosso pri” meiro ano de lutas — que Pois queremos crer que o BOLETIM DA IN­ elas existem em todos os DÚSTRIA GRÁFICA já se firmou no conceito empreendimentos — não po­ de seus leitores, aos quais deve grande parte demos deixar de registrar a boa vontade e cooperação de sua existência, pelo constante incentivo que que nos emprestaram a di­ tem recebido. retoria do Sindicato das In­ Quando de nosso aparecimento, dizía­ dústrias Grá/icas, que se desvelou em carinhos ao seu mos que nos havíamos lançado à luta com o órgão oficial, a Escola de “fito de estreitar as relações entre a família Artes Gráficas do SENAI, gráfica” , prestar nosso “modesto concurso às onde é impresso, os nossos colaboradores, leitores, in­ artes gráficas, ventilando assuntos de interêsdustriais gráficos que nos se para a classe, propugnando pelo seu desen­ enviaram suas sugestões « volvimento e, acima de tudo, trazendo nossa amigos. A todos o nosso muito palavra de fé no muito que se poderá reali­ obrigado. zar com a cooperação de todos aquêles que se interessam pelos nossos problemas e assuntos” . Hoje, podemos dizer que alguma coisa conseguimos. Muito pouco, é verdade, para o tamanho de nossos propósitos. Mas ainda nos sobra a vontade inquebrantável de mais realizarmos, até que possamos nos ufanar por ver completa nossa finalidade. Com isto queremos tão somente afirmar, mais uma vez, a fé que temos no muito que poderão fazer, em qualquer setor, mesmo apenas alguns poucos imbuídos de boa vontade e com a pitadinha de idealismo necessária para tôdas as realizações.


Boletim da Indústria Gráfica S. FERRAZ - Diretor Redação e Administração: Praça da Sé, 399 — 5.° Andar, Sala 508 — Fone 2-4694 — S. Paulo

_________________________________________ Publica-se quinzenalmente ____________________ Composto e Impresso na Escola de Artes Gráficas do SEN Al

A atuação da Sociedade Cooperativa Gráfica de Se­ guros contra Acidentes do Trabalho, a Cooperativa Gráfica, como comumente é denominada, merece maior atenção por parte de nossos industriais gráficos. É conhecido de todos os benefícios que proporcionam à sociedade as cooperativas organizadas e funcionando nas modalidades básicas se­ gundo as verdadeiras dire­ tivas dessas sociedades po­ pulares. Os mais adiantados países de nosso globo têm desenvolvido em seus siste­ mas políticos o Cooperativismo. Na Inglaterra, por exemplo, grande parte da indústria, do comércio e do povo se vale, nos mais di­

guro que pagaram à Coope­ rativa, devolvidos a seus cofres. É ainda importante notar que o montante dos prêmios arrecadados, ou seja............ Cr$ 879 418,80, garantiu, com sobras, os riscos sôbre a res­ peitável soma de ............... Cr$ 49 879 143,10, soma essa que correspondeu ao mon­ tante dos salários e ordena­ dos pagos, no exercício, aos beneficiários de seus seguros pelas 116 firmas seguradas, pois justamente sôbre aquêla importância é que foram calculados os prêmios de seguros arrecadados. Como já vimos, 116 foi o número de firmas que segu­ raram seus trabalhadores em

nossa Cooperativa, com o propósito de defesa de seus próprios interêsses. Os destinos da Cooperati­ va Gráfica são confiados a uma diretoria eleita trienalmente, sendo a sua parte administrativa confiada a um gerente-técnico. O sr. José Mesa Campos há mais de catorze anos vem empre­ gando seu dinamismo e ex­ periência nesse cargo, que, aliás, ocupa desde a funda­ ção da Cooperativa. Para o triênio 1949-1951, foi eleita a seguinte diretoria: Presi­ dente, João Gonçalves (da Comp. Paulista de Papéis e Artes Gráficas); Vice-Pre­ sidente, Ricardo Rodrigues Moura (da Cia. Gráfica P. Sarcinelli); l.° Secretário,

versos setores de suas ati­ vidades, dessas instituições de caráter cooperativo entre as classes. Êstes sucintos comentá­ rios foram provocados pela vista do relatório de nossa Cooperativa, correspondente ao exercício de 1949. O que desde logo chama a aten­ ção é a percentagem do chamado Fundo de Retor­ no aos associados segurados, que foi, no exercício em questão, de 23,15 por cento. Como o total dos prêmios arrecadados foi de............... Cr$ 879 418,80, subiu a ......... Cr$ 202 469,70 a importância do Fundo de Retorno. Isto quer dizer que tôdas as fir­ mas seguradas tiveram 23,15 por cento do prêmio de se­

1949. O número de associa­ dos, no entanto, foi de 141. Embora a linguagem elo­ quente das cifras acima de­ monstrem a invejável situa­ ção de prosperidade que goza a Cooperativa Gráfica, somos obrigados a um re­ paro : menos de um têrço dos associados de nosso Sin­ dicato, apenas, confiou, em 1949, seus seguros à nossa Cooperativa. Não vemos ra­ zão para essa abstenção, pois de ano para ano se evidenciam as vantagens oferecidas por êsse órgão anexo ao Sindicato da classe dos industriais gráficos pau­ listas. E é justamente por isso que chamamos a aten­ ção de nossos industriais gráficos para a atuação de

Nestor Ferraz Campos (da Gráfica Alpha S. A. ) ; 2.° Secretário, Álvaro Paupério (de A. Paupério & Cia. Ltda.); l.° Tesoureiro, Paulo Monteiro (de Rotschild Lou­ reiro & Cia. Ltda.); e 2.° Tesoureiro, Gino Martini (da Gráfica Martini). Conselho Fiscal: dr. Orlando Fausto Alcides (de Assunção Tei­ xeira, Ind. Gráfica S. A.), dr. Nélson Palma Travassos, (da Emprêsa Gráfica da Re­ vista dos Tribunais) e Pascoal Spina (de Indús­ trias Reunidas Irmãos Spina S. A.). Suplentes: Humber­ to Rebizzi (da Quimigráfica Radium Ltda.), Ludowico Carlos Hennies (de Hennies & Cia.) e Luiz De Nardi (de Irmãos De Nardi).

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Dadústrlas gráficas ao ôstado de S ã o ''pau.lo

"Aos industriais gráficos paulistas: Lembro-vos que nesta data se comemora o aniversário do "Boletim da Indústria G ráfica", que representa uma das conquistas em pról do congraçamento da classe, pelo qual temos sempre propugnado. Lembro-vos ainda que uma classe unida é uma classe forte, e para que êste Boletim, elo de amizades, cumpra essa finalidade, é preciso contar sempre com a co­ operação de todos os industriais gráficos. A palavra de ordem, portanto, é: fazer de vosso colega um amigo!

FRANCISCO CRUZ MALDONADO

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ágina da

ESCOLA DE ARTES GRÁFICAS DO SENA Redação de João F. de Arruda

ecálogo de

azões P O R Q U E os Industriâis Gráficos dpoidm a scold de A rtes réficõs do )E N A I

1 — É uma escola que pertence a uma organização dirigida e mantida pela própria indústria. 2 — Ela surgiu de uma necessidade da própria indústria: formação profissional de seus emprega­ dos menores. 3 — A indústria de hoje será maior amanhã. Seu crescimento exi­ girá maior número de profis­ sionais habilitados. 4 — As gerações se sucedem. Por isso novas gerações deverão ser preparadas para substituir os profisisonais de hoje. 5 — A formação profissional gra­ tuita, oferecida pelo industrial, aproxima patrão e empregado e alicerça a concórdia. 6 — Aprender Fazendo é um prin­ cípio de ensino. Mas só a esco­ la com aprendizagem racional prepara eficientemente o pro­ fissional em tempo reduzido. P A G IN A 12

7 — Cultura e Técnica são elemen­ tos equivalentes. Mas só a es­ cola, por um currículo de aulas teóricas e práticas, engloba êsse ensino e completa a edu­ cação. 8 — A ação da escola transcende o âmbito escolar. Os serviços de natureza para-escolar: assis­ tência médica, dentária e ali­ mentar são problemas de so­ lução social que valorizam o homem. 9 — Tôda escola é uma sociedade em miniatura. Cada aluno um elemento social. As relações entre êles educam-nos, como homens, para a vida civil, fa­ miliar e de trabalho. 10 — Cidadão digno, profissional competente são objetivos essen­ ciais da educação. No SENAI, sua escolas educam, visando sempre a valorização do ope­ rário como criatura humana, cidadão e trabalhador. B O L E T IM D A IN D Ü S T R IA G R A F IC A


Com unicados do Sindicato ín d ice por Ed ição , d a s M atérias P u b licad as nesta Seccão EDIÇÃO N." X Desconto no período das férias das faltas ao serviço — art. 134 da C. L. T. — Duração das férias — art. 132 da C. L. T. (incompleto) — Trabalho durante a gravidez — arts. 392 e 393 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 2 Auxilio enfermidade — instruções — Contribuição mínima aos institutos de aposentadorias e pensões (posterior­ mente modificadas) — instruções — Duração do trabalho da mulher e do menor — instruções — Horário de trablaho durante o aviso prévio — art. 488 da C. L. T. — Isenção de imposto de vendas e con­ signações de papel de jornal — lei n.° 13, ar. 18, de 22-11-47. — Pagamento de contribuições (posterior­ mente aumentadas) — instruções — Quadro de horário — art. 74 da C. L. T. — Relação de menores — art. 433 da C. L. T. — Rescisão de contrato de trabalho — art. 487 da C. L. T. — Suspensão do empregado — instruções. EDIÇÃO N.° 3 Anotações pelo empregador na carteira profissional — art. 29 da C. L. T. — Obtenção de nova carteira profissional — art. 21 da C. L. T. — Relação de feriados (posteriormente modificadas) — lei n.° 605, de 5-1-49. EDIÇÃO N.° 4 Repouso remunerado — comentário à apli­ cação do § 4.° do art. do Regulamento da lei n.° 605. EDIÇÃO N.° 5 Férias — texto da lei 816, de 9-9-49, sôbre a duração das férias. EDIÇÃO N.° 6 Igualdade de salários para as mulheres — art. 461 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 7 Recusa de anotações na carteira profis­ sional — arts. 36, 37, 38 e 39 da C. L. T. EDIÇÃO Ns. 8-9 Imposto Sindical dos empregados — ins­ truções. EDIÇÃO N.° 11 Rescisão do contrato de trabalho — arts. 487 e 488 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 12 Registro industrial — instruções. — Relação de dois terços — instruções. EDIÇÃO N.° 13 Atestado de saúde — decreto 19 391, de 2-5-50 — Feriados remunerados — lei n.° 3 857, de 30-3-50.

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EDIÇÃO N.° 14 Indenização por rescisão do contrato de trabalho — arts. 477 e 478 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 15 Justa causa para rescisão do coptrato de trabalho pelo empregador — art. 482 da C. L. T. — Justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregado — art. 483 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 16 Aborto não criminoso, repouso remunera­ do — art. 395 da C. L. T. — Amamentação durante o trabalho — art. 396 da C. L. T. — Anotações sôbre acidentes do trabalho — art. 30 da C. L. T. — Indenização por acidente e moléstias profissionais — letra c, art. 40 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 17 Trabalho noturno — art. 73 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 18 Suspensão e interrupção do trabalho por parte do trabalhador — arts. 471, 472, 473, 474, 475 e 476 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 19 Elevado o valor das aposentadorias e pensões — instruções — Novas taxas de contribuição aos in s-. titutos de aposentadorias e pensões — instruções. EDIÇÃO N.° 20 Alteração nos contratos de trabalho — arts. 468, 469 e 470 da C. L. T. — O que é aprendiz — art. 80, § único, da C. L. T. — O que é empregado art. 3 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 21 Cabe ao patrão fixar o horário de serviço — instruções — Concessão e época das férias — arts. 136, 137, 138 e 139 da C. L. T. — Duração do trabalho do menor — arts. 411, 412, 413 e 414 da C. L. T. — Não proibição do trabalho do menor de 14 anos —art. 403, § único, da C. L. T. EDIÇÃO N.° 22 Contribuição mínima aos institutos de aposentadorias e pensões — instruções — Duração da jornada do trabalho — arts. 58, 59, 61e 62 da C. L. T. EDIÇÃO N.° 23 Interrupção do trabalho por prestação do serviço militar obrigatório — art. 135 da C. L. T. — Não direito a férias — art. 133 da C. L. T. — Remuneração do período de férias — arts. 140 e 141 da C. L. T. — Jornalista — art. 302, § l.°, da C. L. T. — Empregador — art. 2.- da C. L. T.

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A importância do desenho e do senso artístico nas Ar­ tes Gráficas é fundamental. A própria definição do têrmo “ Gráfico” , a confirma: a arte de representar uma idéia ou um objeto por determinados sinais, linhas ou figuras. Todo trabalho gráfico é concebido antes em forma de uma idéia, de­ pois em traços indecisos em forma de croquis, ajustado, composto, concluído na for­ ma de uma maquete, sendo então já o modêlo do tra­ balho que será executado. É verdadeiramente neste mecanismo de fixação de uma idéia por sinais deter­ minados, e estes sinais com­ postos em grupos dentro de um formato, que reside a razão estética, a qual deno­ minamos arte. Além do va­ lor próprio de cada sinal, há a composição dêstes, do equilíbrio, dos contrastes entre prêto e branco, da teoria das côres; Há mesmo problemas históricos para­ lelos às artes puras que de­ vem ser considerados: ori­ gem, evolução das técnicas, evolução do pensamento, in­ fluências intelectuais e eco­ nômicas, estilos clássicos, conservadores, modernos, e acima de tudo, o artista em si, que mesmo obedecendo aos devidos cânones, con­ cebe, cria, exprimindo algo de sua própria personalidade. As artes gráficas têm sua origem direta na gravura, que foi e continua sendo um dos meios de expressão artística mais fortes que se conhecem. A própria letra, o tipo, — que é a mais per­ feita síntese conhecida — não deixa de ser um grava­ do. Os antigos usavam a pictografia mural, que eram representações simbólicas pela imagem. Após, os hie­ róglifos que eram sinais simbólicos,quase já a escri­ P Á G IN A 14

tura, seguidos pelo abecedário dos fenícios gravados sôbre pedra. A madeira ser­ viu na antiguidade e, após um longo declínio, renasceu na idade média prestando-se a reproduções, primeiramen­ te como imagens e mais tarde, com Gutemberg, à gravação de tipos. Como ilustração serviu a xilografia até há pouco mais de meio século, quando cedeu à evo­ lução da ciência, da meca­ nização. Mas, quer seja a xilografia do século XVII ou a clicheria de hoje, é sempre

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LINÓLEO E SUA APLICAÇÃO — 0. Guersoni — uma gravura, com os mes­ mos princípios funcionais. Pelas necessidades práti­ cas de produção e rapidez, a gravura artezanal não teria mais razão de existir. Mas por necessidade artística e pedagógica, ela existe e exis­ tirá sempre. Artística, por continuar sendo um extraor­ dinário meio de expressão e com possibilidades de di­ vulgação de obras originais, tornando-as acessíveis ao grande público, consequen­ temente, popularizando a grande arte. Pedagógica,

porque proporciona um real princípio de aprendizagem ao aluno gráfico. Pela gra­ vura funda — água forte, buril, etc. — a origem da rotogravura. Pela gravação plana — litografia — a ori­ gem da moderna off-set. Pela gravação em relêvo — xilografia e linóleo — a ori­ gem da tipografia. Propor­ ciona ainda ao aprendiz, um esforço contínuo de síntese de planos e linhas, sobriedade de côres e a va­ lorização do contraste entre o prêto e branco. Dêste contacto integral — con­ cepção, gravação e impressão — resulta integridade entre o ofício e a arte, entre a obrigação e o prazer. Pela facilidade de aquisi­ ção, preparação e gravação, a gravura em linóleo é pre­ ferível em relação à gravura em madeira. Naturalmente seus resultados são mais li­ mitados, porém, suficientes para o fim a que nos pro­ pomos. Jamais poderemos prescindir da clicheria e a esta deverão ser encaminha­ dos todos os trabalhos ha­ bituais, de resultados mais precisos. Trata-se de peque­ nos e rápidos recursos de modestas tipografias ou de exercícios artísticos que um verdadeiro gráfico teria pra­ zer de fazer: Um fundo chapado, uma tarja, um fri­ so, uma vinheta simples ou mesmo uma letra. E por que não, um desenho artístico, de tempo em tempo, para presentearmos alguém? A técnica de gravação em linóleo é simples. Havendo vários tipos de linóleos, de­ ve-se escolher um que seja flexível e macio. Sua aqui­ sição é fácil, encontrando-se retalhos a bom preço em qualquer casa do ramo. Fá­ cil também é a aquisição do material de gravação. Dois buris (um número 2 e outro

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número 3) e uma pequena faca, são suficientes. Uma vez feito o desenho que se deseja gravar, decalca-se ao inVerso sôbre o linóleo, por meio de um papel carbono. Feito o decalque no li­ nóleo, começa-se a gravar, utilizando-se no início o buril n.° 2, gravando-se sòmente os traços. A grossura dêstes traços é uma questão de maior ou de menor pressão. O buril é dirigido com os dedos indicador e polegar, e impulsionado pela polpa da mão. Para os longos traços retos, principalmente os ex­ teriores, pode-se utilizar a faca, apoiada numa régua de metal. O buril número 3 é empregado para retirar as grandes superfícies bran­ cas. Para maior firmeza, êste buril deve ser apoiado sôbre a régua. Deve-se gra­ var apenas o essencial *do desenho antes da primeira prova, e após esta, pode-se fazer uma análise, procurar novos efeitos, retocando esta prova com guache branco e nanquim. Ao reiniciar a gra­ vação do linóleo, deve-se seguir as correções e conti­ nuar até se dar por termi­ nado o trabalho. As provas podem ser feitas num “ tiraprovas” comum, num balanclm ou mesmo manualmente, entintando-se o li­ nóleo com tinta tipográfica por meio de um rôlo. De­ pois, colocando o papel sôbre o mesmo, fricciona-se com um brunidor improvisado. No caso de um trabalho em duas côres, faz-se o primei­ ro linóleo na côr dominan­ te. Tira-se uma prova bem entintada e com esta, imprime-se sôbre o segundo B O L E T IM

linóleo, evitando-se assim o decalque. Tem-se, pois, no segundo linóleo, uma re­ produção inversa do traba­ lho e, em seguida, grava-se a segunda côr com a má­ xima precisão. Logicamente, um linóleo para ser montado na rama, precisa ser colado sôbre um calço em madeira que te­ nha a altura necessária, isto é, mais ou menos 19 mm., totalizando com a es­ pessura do linóleo, os 63 pontos precisos. Apresentamos no encarte anexo, exemplares de tra­ balhos de alunos da Escola de Artes Gráficas do SENAI. Trabalhos de simples apren­ dizagem, mas que nos po­ dem dar uma idéia clara do assunto aqui tratado: técnica inicial, utilidade e possibilidades do linóleo. O trabalho mais fácil é o ne­ gativo, como nos demons­ tra a figura n.° 3. O traba­ lho n.° 7 já é uma procura do positivo e negativo em planos. O friso n.° 4 é sòmente em positivo, impli­ cando Já maiores dificulda­ des. Continuando nesta or­ dem de dificuldades, temos as iniciais ns. 2, 10 e a marca A M, n.° 5. Em se­ guida, o trabalho n.° 1, em duas impressões, com certa liberdade na justaposição das côres. Por último, os trabalhos ns. 6 e 8 em duas côres também, onde a justa­ posição é mais precisa. Cum­ pre notar que a maioria dêstes trabalhos são apenas exercícios, sendo que al­ guns representam a primei­ ra gravura feita pelo aluno. Esperamos com o presente artigo trazer um pouco de

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estímulo ao verdadeiro grá­ fico que queira, além de algum aproveitamento prá­ tico, entrar em contacto com a parte mais artística do ofício, ou sentir o primi­ tivo prazer de conceber, gra­ var e imprimir o seu pró­ prio trabalho, adquirindo com isso compreensão e amor às Artes Gráficas, qua­ lidades que vêm se perden­ do, à medida que esta mes­ ma arte se mecaniza e se especializa.

N. da R. — Odetto Guersoni, como disse há pouco a “ Revista Brasil Gráfico” , é um dos novos valores nacio­ nais no domínio das Artes Plásticas aplicadas, possuin­ do visão artística desenvol­ vida em escolas da França, onde foi aluno do prof. René Cottet, mestre de Gravura da Escola Estienne de Paris, e do prof. Henri Munsch, mestre de Desenho da Letra e Publicidade da mesma es­ cola. O. Guersoni tem o previlégio de se amoldar a diversas modalidades plás­ ticas da arte, sem que a ne­ nhuma delas se prenda ex­ clusivamente. Assim é que, além da pintura, em que se iniciou no Brasil, já produ­ ziu a gravura a buril, a xilogravura, a litogravura e a linogravura. Orientador de Desenho Gráfico na Es­ cola de Artes Gráficas do SENAI, busca sustentar todo o seu programa escolar sô­ bre a necessidade de compor, reduzir, sintetizar, simplifi­ car, fazendo de cada traço um grafismo, de cada aluno, se não um artista, pelo me­ nos um gráfico aperfeiçoado aos princípios do Belo e do Bom aliados ao ofício. São de sua autoria as linogravuras (gravuras em linóleo) que aparecem na primeira e na última página desta edição, em impressão direta. P Á G IN A

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CENA SERTANEJA

Lin贸leo de O. Guersoni


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