Abismo Humano 10

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Abismo Humano

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index

Editorial...........................................................3 Manifesto.........................................................4 Captações Imaginárias..........................6 Xibalba.........................................................6 Sara Areias................................................. 11 Michele Fernandes.................................12 Albano Ruela............................................22 Babalith......................................................24 André Consciência..................................26 Patrícia Infante da Câmara...................28 Labirintos Prosaicos.............................30 Estética da morte....................................30 Jesus Carlos................................................32 Walter Benjamin e os seus Anjos.......33 Flauta de Pã..................................................36 Véu da Noite.............................................36 Fogo Divino..............................................37 Mater Lacrymarum..................................38

Equipa Editorial André Consciência • Tatiana Pereira • João Diogo Assinatura abismohumano@gmail.com Domínios Myspace: www.myspace.com/abismohumano Fórum: http://s13.invisionfree.com/AbismoHumano Rádio Abismo Humano: http://radioabismohumano.blogspot.com

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Editorial 4

A

Associação de Artes “Abismo Humano” dedica-se ao aproveitamento da tendência artística presente nas novas camadas jovens e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, educação e cultura de forma a ocupar os espaços livres na disposição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto na área da pintura, da literatura, escultura, fotografia, cinematográfica, ilustração, música e artesanato, de forma a expor as suas obras tanto num jornal de lançamento trimestral, consagrado aos sócios, como na organização de eventos, como tertúlias, exposições, festas temáticas, concertos e teatros. A associação das artes compromete-se igualmente a apoiar o artista seu colaborador, com a montagem de, por exemplo, bancas comerciais e com a divulgação do trabalho a ser falado, inclusive lançamentos, visando assim proteger a arte do antro de pobreza ingrata e esquecimento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor. Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo que é privilégio do sócio, mediante o pagamento da sua quota, receber o jornal da associação, intitulado de “Abismo Humano”. Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando atenção à qualidade, mais do que à fama, de forma a casar a qualidade com a fama, ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatura de supermercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz artís­tico, será autora de promoção às mesmas, deixando um espaço também para a história, segundo as suas nuances artísticas, ­unindo a vaga jovem ao conhecimento e à experiência passada.


2. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que têm tendência a permanecer oculto por via da exclusão social, e a elevar o abominável ao estado de beleza, sempre na condição solene e contemplativa que caracteriza o trabalho da inteligência límpida e descomprometida. 3. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essencialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do abismo no humano. 4. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem a conhecer, e entre estes, preferimos as almas incompreendidas nos meios sociais de maior celebridade. 5. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação de Artes, e por isso tomou o compromisso matrimonial para com as gémeas Ars e Sophia, duas amantes igualmente sôfregas (impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas) e incondicionais (solo fértil à condição). 6. O Abismo Humano compromete-se a estudar o intercâmbio da vida e da morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, das quais o Abismo Humano é rebento. 7. Como membro contra-cultura, o Abismo Humano dedica-se à destruição da ignorância que cresce escondida, no seio das subculturas, cobrindo-as à sombra do conformismo e da futilidade. 8. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já foram ao piano do foi para sempre.

MANIFESTO

1. O Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico, e o cariz cultural e civilizacional presente no gótico contemporâneo tanto como nas suas raízes passadas.

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† Captações imaginárias † Abismo Humano

Modelo: Sónia Mistique Fotógrafa: Xibalba

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Modelo: Sónia Mistique Autora: Xibalba

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Título: My Point of View Autora: Sara Areias Praia de Galapos, Setúbal

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Latrodectus

Hasselti

(Photography)

Michele Fernandes com pseudónimo de

encontra-se no Facebook. Uma das suas inspirações é “You can’t just make a photo through a camera. Photography means, bringing all the books we read, the movies we saw, the music we listen, the people that we love...” citada por Ansel Adams.

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† Captações imaginárias † Abismo Humano

Título: XXX Autor: Albano Ruela Those who know and understand see only what’s great about you

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Título: Moth Girl Autora: Babalith

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Modelo: Tatiana Pereira


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Título: O outro Eu Autor: André Consciência

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Modelo: Tatiana Pereira


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† Captações imaginárias † Abismo Humano

Título: Abismo Autora: Patrícia Infante da Câmara

Título: Útero Autora: Patrícia Infante da Câmara

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† Captações imaginárias †

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Título: A Epifania Autora: Patrícia Infante da Câmara

Spasmolytic Quero cair no abismo contigo, dividir o colapso e esfregar-me nos estilhaços. Mastigar a tua pele, deixar-te a marca dos dentes nos ossos, os meus cabelos nas tuas unhas. Os corpos contra o chão, em espasmos frenéticos coordenados pela mesma urgência na queda.

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† Labirintos Prosaicos †

Estética da morte

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Faz amanhã 5 meses que pensei em me suicidar, mas não com uma daquelas típicas encenações, que devido ao desgaste do uso e do tempo já não chocam como meio mas só como fim, ou seja, não importa o modo como a morte é conseguida, mas sim o facto de ser concretizada. No entanto, também estes banais métodos se me auto-propuseram na fase inicial da idealização e preparação desta minha empreitada. Cheguei mesmo a enrolar uma rude corda em volta do meu fino e pálido pescoço, a qual me afrontava de modo plausível ao meu previsto objectivo, tendo o cuidado de exibir este ensaio em frente de um espelho mágico que me daria a real imagem do meu fim como homem. Foi divertido imaginar o pendulante e gravitado corpo exercer a sua dança de despedida, mas esta prova não era nada de novo. “ Mais um homem enforcado”, diriam os jornais na manhã seguinte e, se a notícia fosse lida no Alentejo…, ela não chegaria a ser lida, pois este é um fenómeno abundante na região, facto que levaria os seus habitantes a saltarem para a página seguinte. De qualquer forma, o protagonismo não era a principal meta que eu desejava alcançar, mas se o iria fazer seria com estilo e personalismo. O cenário em que a tragédia ocorreria, fosse qual fosse o método seleccionado, era outra das preocupações em que a minha cabeça ponderava. O décor ajuda a ampliar a força expressiva de uma cena e esta era uma das mais importantes da minha vida, visto ser a última. Seria, de certa forma, interessante elaborar uma composição de objectos e outros adereços que funcionariam como adjectivos ao meu fatídico desempenho, pois, estando eu concentrado no estertor final, não teria hipótese de analisar com vocábulos aquilo que estava a presenciar e a “viver“. As metáforas teriam uma forma física, material, e ficariam a complementar-me com os seus ilúcidos significados que só algumas mentes mais atentas conseguiriam decifrar. Posso dizer, com a ironia deste presente, que, ao meu modo, tentava ser um vanguardista na matéria do suicídio. Feliz ou infelizmente, o meu pragmatismo não foi suficiente.

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Um cocktail de medicamentos ou venenos seria fatal, construindo mesmo a essência romântica que daria dramatismo suficiente ao meu acto. Seria belo ter o meu sereno corpo estendido numa cama com vestígios de cristal semeados pelo chão. Poderia alcançar a alquimia da morte misturando cianeto, ou qualquer substância da mesma família, ao interior de uma garrafa do meu whisky preferido, juntando deste modo o útil ao agradável. Talvez não! Segundo a voz da medicina este é um longo processo que, além do autor ter consciência da lenta evolução do seu estado de desintegração interior, convoca todas as teorias da reflexão, dando preponderância a um irremediável arrependimento. Este também não! Seria demasiado penoso. Consegui vasculhar na minha memória alguns suicídios famosos que tiveram como intermediário o veneno. Por respeito a esses espíritos e contemporaneidade pessoal, achei também que não seria este o meu rumo. Quanto à hipótese de me afogar, essa era insensatez que nunca cometeria pois, além de não me cativar absolutamente nada a ideia de padecer por asfixia ou sufoco aquático, também não transmitiria a ênfase que eu desejava atribuir ao meu abandono do mundo. Os cadáveres flutuantes são para se chorar de desgosto e não para serem olhados com o sentimento de censura que o suicídio exige. Cortar os pulsos! Outra estratégia que transmite algum misticismo ao acontecimento, talvez pelo facto de haver bastante sangue a irradiar freneticamente das veias. O sangue é a essência da vida, advindo daí o simbolismo que conota este derramar com um extremo sentido de profanação. É também de salientar o seu predominante brilho que tem tanto de belo como de assustador. Esta solução caiu também em desuso, julgo que pelo facto de as pessoas da nossa sociedade serem de um extremo materialismo que, mesmo na hora da morte, pensam no tapete Persa que vai ficar irremediavelmente estragado com o banho de sangue proveniente. Requer ainda um elevado grau de frieza e coragem para suportar a visão do sopro de


† Labirintos Prosaicos †

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uma lânguida lâmina sobre os plácidos pulsos no momento incisivo. Seria olhar e esperar a morte como quem observa uma garrafa esvair-se, com a iminente certeza de que a cada gota derramada o vazio fundo se aproxima. A visão fílmica do meu desespero, além de atribuir alusões cenográficas e decorativas, conduzia-me para a antevisão de que, caso o acto fosse consumado em interior, uma banda sonora seria ideal para acompanhar o desenlace. Teria de ser minuciosamente escolhida e calculada para que funcionasse como estimulante psicológico e não houvesse o risco de terminar nos minutos ou segundos antecedentes ao último suspiro. Um salto mortal de um edifício ou de uma ponte? Ao menos ficaria a conhecer a sensação de desbravar o ar sem qualquer tipo de segurança, uma espécie de vôo da liberdade. Definitivamente, esta opção está fora de questão, visto lhe faltar a classe que poderia salientar alguma nobreza ao evento. Um corpo esborrachado no negro alcatrão da estrada não transmite nada de excepcionalmente artístico ou criativo, se bem que o vermelho faz uma óptima combinação com o negro. Haveria também a hipótese de uma oportunista testemunha relatar que me vira passear ou trabalhar no local e, assim sendo, a divulgação da notícia passaria a ser de um acidente. Isso é que não! As pessoas parecem assumir uma atitude de colectiva possessão de piedade, quando confrontadas com este tipo de notícias. Um fenómeno de massas que se imaginam na pele dos acidentados e se deixam sensibilizar por um inconsciente que faz com que essa súbita condolência, seja sim, em relação aos medos pessoais e não às desgraças dos outros. Se existisse uma raça ou tribo imortal, os seus membros não teriam este tipo de apreciação para com os finitos humanos, advindo daí o facto de não se identificarem com a nossa espécie. Podemos comparar esta realidade com a insignificância que têm para nós os milhares de insectos que assassinamos no curto espaço de uma semana, talvez por nos julgarmos superiores. Assim, o indivíduo imortal deve também considerar-se superior ao mortal, deixando de nutrir por ele o sentimento de compaixão aqui referido. Quanto aos suicidas, desses ninguém tem pena, pelo contrário, são excomungados de um inferno do qual se tentaram salvar para outro que os tomará pela eternidade, quando esperavam encontrar o paraíso. Eu não queria cativar sensações lacrimosas ou de culpa a ninguém especificamente, e, se o tivesse de fazer, já o estava. -Eu! O principal responsável pelo que fui, pelo que não fui, aquilo que senti e o que não senti,

o que desejei e não obtive, o que reneguei e não mantive, o que sou e não serei… Desta forma, deixaria apenas patente para o escasso público, uma mostra do meu bom gosto exibindo-lhes uma morte em forma figurada de poema. Não obstante todas estas minhas neuroses, referentes ao dia em que amanhã faz anos, a minha intenção não era inventar ou aproximar-me do macabro, muito pelo contrário, ansiava somente produzir uma novidade, que apesar da sua natureza trágica chegasse a invocar também o belo. Por último, só me ocorria a recorrência à milagrosa bala que traçasse uma fugaz diagonal no órgão que comanda todos os outros. ( Não é o coração… é o outro.) Esta seria uma maneira rápida, quase imperceptível e indolor, de passar para o outro lado. O desvendar dos mistérios pós-morte que tanto apoquenta o ser humano, apesar de este saber que mais cedo ou mais tarde vai encontrar a resposta. Neste caso, teria de engendrar uma forma de conseguir rapidamente a arma que se dispusesse a ser manipulada pelos meus trémulos dedos. Pior do que isso, e se o disparo não fosse fatal? Como enfrentaria aqueles que vivem à minha volta com o rótulo de suicida frustrado, ou ainda, quem sabe, passaria o resto da minha supérflua existência exilado num hospício, onde seria anualmente visitado pelos actores da piedade. Algumas pessoas sofreriam bastante com esta minha precipitação mas, naquele momento, quem mais sofria era eu, dono e senhor de uma inconsolável miséria. Talvez por respeito a esse restrito aglomerado, decidi que os ofertaria com um memorável acontecimento. Passados alguns anos eles olhariam para o passado, não com a lembrança de um pobre coitado que sucumbiu ao arrastar da loucura, mas sim como um louco que até a sua morte conseguiu manipular, transformando-a numa peculiar exibição artística. O que não consigo encontrar para a vida, também não consigo encontrar para a morte.

de s o v i ot m r de, a o d i “P v i iat r c i e o f d a o l t cu fal á t c os e p m i s d e e o . P o.” o d d o a l m e can c pelo in có ulpa c s e d

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† Labirintos Prosaicos † Abismo Humano

Os beduínos chamam-lhe «o Olho de Íblis». É um círculo descendente que se abate sobre a secura do nada, sobre a exígua sombra de ruínas milenares. Atravessa-se um sol impiedoso em busca de um inferno oculto dentro de um inferno, é-se uma miragem perseguida por miragens. Um pedaço de carne pode ser um festim, a morte é o sustento do mundo desde o princípio dos tempos – ah, que grito final o de um coração abandonado – ah, quanta beleza e sonho nestes esqueletos perdidos – ah, a justiça do Sol! Os corvos dançam no céu, ou talvez sejam abutres... poderia aproximar-me, mas aprendi a respeitar a inteligência das bestas que se deixam montar pelos homens desde as trevas primordiais, e a voracidade destas aves negras da morte talvez seja piedade, uma estranha tempestade de amor, uma divina coroa de sol cravejada de lágrimas escuras.

Jesus Carlos

Adeus, mortos insólitos, desfeitos como castelos de areia espezinhados por crianças de vento, djinnsde prata lunar e demónios tão antigos que nenhuma civilização lhes conhece já o nome. Adeus, o destino dos vivos é prosseguir, o dos mortos ficar e entre uns e outros o meu destino é glorificar túmulos e saber-lhes o lugar e gravar o seu lamento lúgubre no mapa sangrento da minha alma. Deus vos abençoe e perdoe e miríades de Anjos cantem a vossa saga trágica, a glória, a honra e a coragem, para sempre, para todo o sempre!

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† Labirintos Prosaicos †

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Walter Benjamin e os seus Anjos «Existe um quadro de Klee que se intitula Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar do local em que se mantém imóvel. Os seus olhos estão escancarados, a boca está aberta, as asas desfraldadas. Tal é o aspecto que necessariamente deve ter o anjo da história. O seu rosto está voltado para o passado. Ali onde para nós parece haver uma cadeia de acontecimentos, ele vê apenas uma única e só catástrofe, que não pára de amontoar ruínas sobre ruínas e as lança a seus pés. Ele quereria ficar, despertar os mortos e reunir os vencidos. Mas do Paraíso sopra uma tempestade que se apodera das suas asas, e é tão forte que o anjo não é capaz de voltar a fechá-las. Esta tempestade impele-o incessantemente para o futuro ao qual volta as costas, enquanto diante dele e até ao céu se acumulam ruínas. Esta tempestade é aquilo a que nós chamamos o progresso». (Walter Benjamin, Teses sobre a Filosofia da História, 9) Na tradição cristã, nomeadamente na dos Grandes Doutores da Igreja (Alberto Magno, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, S. Boaventura, Duns Scoto), os anjos foram criados por Deus ao mesmo tempo que o mundo material como seres dotados de memória, inteligência e livre arbítrio. São criaturas imortais e incorpóreas, embora Tertuliano, Orígenes e Clemente de Alexandria lhes atribuissem um corpo muito subtil e invisível aos seres humanos. Quanto à sua natureza, os anjos estavam muito próximos do ser divino, embora sejam, ao contrário de Deus, entidades compósitas. Parece que nunca dormem e nunca estão cansados, porque são semper mobiles et infatigabiliter operantes. Estes seres puramente espirituais habitam o céu, o caelum empyreum, assistem a Deus no céu e são mensageiros que Deus envia para executar as suas ordens, operando como agentes intermediários entre Deus e os homens. Os anjos puros diferem uns dos outros não só como indivíduos mas também como espécie, formando uma hierarquia angélica (Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Principados, Potestades, Virtudes, Arcanjos e Anjos). Os anjos mais citados nas Escrituras Sagradas são: S. Miguel, S. Rafael e S. Gabriel que anunciou a Maria a Encarnação do Verbo. Porém, nem todos os anjos são puros: os anjos das trevas ou anjos caídos revoltaram-se contra Deus pouco tempo depois da criação e foram precipitados no abismo, habitando o aer caliginosus. A Queda foi iniciada por Lúcifer, um anjo da ordem mais elevada (serafim), e resultou do seu desejo de não obedecer a Deus e de se colocar acima de todas as criaturas. Devido à sua sublimidade de essência, o facto de terem sido criados muito perto do trono divino, os anjos caídos já não podem ser salvos. S. Boaventura, o autor da exposição que seguimos, apresenta uma definição mais elaborada dos anjos: os anjos são “vestígios de Deus”, ou seja, criaturas em cuja figura Deus aparece aos homens. Os Anjos que habitam o pensamento de Walter Benjamin não são os arcanjos mensageiros que transmitem a vontade de Deus ou mesmo os querubins em chamas que guardam o domínio de Yahvé, portanto, anjos gloriosos e imponentes, mas “anjos menores” que vivem apenas no instante do seu hino para seguidamente se desvanecerem na noite. Benjamin conhecia estes anjos fulgurantes e efémeros graças às pesquisas de Gershom G. Scholem sobre a mística judaica. A angelologia benjaminiana é extremamente complexa e está longe de ter sido bem compreendida (Scholem, Jürgen Ebach, Peter von Haselberg, Anna Stüssi, Stéphane Mosés, Gagnebin): o Angelus Novus, o “Angesilaus Santander”

(Angelus Santanas?), o Anjo da Morte, o Anjo do Natal e o Anjo da História constituem as manifestações mais evidentes do Angelus Novus de Klee. A ordem apresentada explica-se por razões cronológicas, mas sobretudo por razões teóricas. Em última análise, e esta é a nossa hipótese de trabalho, todos os anjos de Benjamin são manifestações de um único anjo: o Anjo da História, representado no quadro Angelus Novus de Klee, cuja gravura Benjamin comprou em 1921 em Munique. Esta gravura foi a sua mais preciosa aquisição, talvez por nela estar representado fielmente o seu anjo primordial, cujas re-aparições nos seus textos constituem uma elaboração contínua da sua angelologia que culmina com as Teses sobre a Filosofia da História, onde a figura do Anjo da História está positivamente consumada. Em linguagem vulgar, poderíamos dizer que Benjamin leu o quadro de Klee com o recurso aos anjos talmúdicos até que alcançou a inteligibilidade do seu único Anjo da História na sua filosofia messiânica da História. 1. Angelus Novus. Em 1921, Benjamin escreveu um ensaio para anunciar a publicação da revista intitulada “Angelus Novus”, onde recorda que, segundo uma lenda talmúdica, os anjos são criados para desaparecer na noite do nada, após terem cantado o seu hino diante do trono de Deus. Benjamin lança aqui o seu conceito fundamental de actualidade (Aktualität) ou “relevância contemporânea” e, em função deste conceito, o seu anjo pode ser visto como vestígio, sopro ou brisa de um outro tempo: a rotura introduzida na cronologia linear da História, a saga catastrófica das classes dominantes e da inércia metodológica dos seus historiadores, de modo a possibilitar a narração de uma outra História, a História dos vencidos, que foi recalcada, perdida ou mesmo esquecida. A “verdadeira actualidade” é fulgurante, evanescente e destruidora: os anjos não só se aniquilam a si mesmos, desaparecendo na noite do nada, como também e fundamentalmente procuram destruir um tempo homogéneo e contínuo que teima em perpetuar-se sempre igual a si mesmo. Sem esta destruição não é possível haver verdadeira actualidade e, por conseguinte, verdadeira redenção. No seu estudo sobre Karl Kraus, Benjamin (1931) refere a sua revista, Die Fackel, como uma “obra efémera” que “começou a durar” graças ao seu empreendimento crítico que une a destruição e a salvação: aqui o anjo aparece como o “mensageiro do humanismo real” que luta contra o “ideal clássico da humanidade”. Porém, os seus traços são os de um “Unmensch” (inumano), isto é, de uma “criatura nascida de uma criança e de um devorador de homens”. O anjo talmúdico transfigura-se num anjo aniquilador e purificador: a sua missão já não é proteger o homem, mas salvar “o que ainda resta da humanidade real dos homens”. 2. Angesilaus Santander. Em 1972, Scholem publicou “Angesilaus Santander”, um manuscrito autobiográfico de Benjamin (1931), acompanhado pelo seu comentário “Walter Benjamin und sein Engel”, no qual decifra nesses fragmentos não-publicados por Benjamin o anagrama de Angelus Santanas, como se Benjamin fosse um místico judeu avesso ao marxismo. Nestes textos obscuros, o Angelus Novus de Klee re-aparece como um anjo talmúdico, descrito com as suas “garras afiadas” e o “bater cortante” das suas asas. Este anjo poderia revelar o “nome secreto” ao homem, isto é, o nome oculto e verdadeiro, mas, em vez disso, recusa a descoberta da “essência invisível” revelada pelo nome ao seu “protegido”.

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O “bom anjo” original, aquele que guarda o seu protegido, transfigura-se num anjo próximo e, ao mesmo tempo, imprevisível e ameaçador, porque, como diz Benjamin, este anjo se assemelha àquilo que foi separado de si: os homens e os objectos alienados. Tal como o anjo defrontado por Jacob, este anjo benjaminiano não revela o seu nome, não abençoa e, em vez do reencontro, anuncia o vazio, a separação e a ausência (J. Ebach). É um anjo deformado ou mesmo mutilado, incapaz de voar, ajudar, assistir e transmitir a mensagem divina. Porém, estes seres deformados são os únicos anjos que nos restam: anjos mutilados e destituídos dos seus poderes sagrados. 3. Anjo da Morte. O Anjo da Morte aparece em “Infância em Berlim: 1900”, no fragmento intitulado “Desgraças e Crimes”. Neste fragmento autobiográfico e colectivo, Benjamin descreve os passeios citadinos da criança que procura espreitar a desgraça: um acidente, uma morte, um roubo, um incêndio ou um afogamento. A cidade parece acolher em todos os seus lugares a infelicidade que se furta ao olhar da criança: nas ambulâncias “deslizava pelas ruas a desgraça, cujo rasto eu não conseguia apanhar”. As desgraças da cidade afastam-se da criança que procura em vão os seus vestígios: “Os judeus, quando ouviam falar do anjo da morte que apontava com o dedo para a ca sa dos egípcios cujo filho primogénito devia morrer, devem ter imaginado essas casas com o horror com que eu via estas janelas de portadas fechadas. Mas será que ele cumpria realmente a sua missão, o anjo da morte? Ou abrir-se-iam um dia as portadas e o doente grave, convalescente, viria sentar-se à janela? Não se deveria ter-lhes dado uma ajuda, à morte, ao fogo, ou apenas ao granizo que tamborilava nas minhas vidraças sem nunca as partir?” O perigo que ameaça a criança não é a manifestação da desgraça, mas a ausência de garantia do cumprimento das coisas: o cumprimento da promessa. O anjo parece ser impotente para levar a cabo as suas tarefas e, desta impotência angelical, nasce uma nova exigência política: os homens devem ajudar os anjos a concluir a sua obra necessária e purificadora, rompendo a continuidade da infelicidade quotidiana limitada, contida e escondida, enfim sequestrada, pelos vidros, pelas persianas e pelas grades da arquitectura urbana, e instaurando o perigoso transtorno da felicidade, a vida plena. No seu ensaio sobre Marcel Proust, Benjamin capta a dupla vontade da felicidade como a dialéctica da felicidade: uma “figura hímnica da felicidade”, a do “inaudito, daquilo que nunca existiu, a cúspide da felicidade”, e uma “figura elegíaca ou eleática da felicidade”, a do “eterno renovado, a eterna restauração da felicidade primeira, original”. Para Proust, a felicidade elegíaca é a que transforma a existência infernal num bosque encantado. A felicidade como hino e elegia é tensão de um tempo feliz, simultaneamente sempre novo (hino) e sempre retomado (elegia): o tempo da actualidade, o único capaz de revelar o elemento verdadeiro e libertador contido na noção de progresso, exorcizando o seu feitiço. 4. Anjo do Natal. A voz de uma presença estranha aparece, na mesma obra “Infância em Berlim”, num fragmento anterior intitulado “Um Anjo do Natal”, onde Benjamin elabora a antítese entre a abundância dos ricos e a miséria dos pobres. Esta antítese é exacerbada precisamente durante a quadra natalícia, desdobrando-se na oposição sobrecarregada entre o calor das velas e das árvores de Natal e a escuridão fria dos pátios

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interiores, onde os pobres não falam da solidão, da velhice e da terrível miséria e aguardam pela esmola. No limiar entre estes dois mundos, na janela do seu quarto sem o candeeiro aceso, a criança mimada espera pela “hora dos presentes” que os seus pais estavam a preparar. O seu olhar é atraído para as janelas das casas pobres que davam para o pátio e, por detrás das quais, a pobreza envergonhava-se na escuridão ou estagnava na luz de gás dos fins de tarde. A escuridão destas janelas pobres faz ressaltar o brilho colorido da árvore de Natal que, na sala, espera pela criança mimada. De repente, quando se afastava da janela, com “aquele peso na consciência”, a criança sentiu “uma estranha presença no quarto”: “Era apenas uma aragem, e as palavras que afloravam aos meus lábios eram como as dobras que se formam subitamente na vela frouxa de um navio quando sopra uma brisa fresca: «O Menino Jesus / vem todos os anos / à terra onde estamos / nós, os seres humanos». Com estas palavras, o anjo que nelas começara a ganhar forma desaparecia”. Neste instante, a criança com a “consciência” dilacerada ou cindida pela presença do anjo pressente outra felicidade possível, distinta da felicidade garantida e assegurada pela posição social e pela previsibilidade da ternura e do afecto dos pais. A presença de uma alteridade radical que cria uma cisão momentânea da consciência é uma espécie de brisa passageira e fresca que atormenta levemente a segurança da riqueza e dos presentes, deixando antever, durante um brevíssimo e fulgurante instante, que a infelicidade dos pobres não é uma necessidade e que a felicidade dos ricos não é uma segurança. Os homens podem vencer a inércia do curso da História, favorável às classes dominantes, interrompendo o seu contínuo e abrindo assim um novo caminho, capaz de reconhecer as esperanças fracassadas do passado e de retomá-las, de modo a garantir a restituição integral da História. 5. Anjo da História. A nona Tese sobre a Filosofia da História de Benjamin que aparece em epígrafe mostra claramente que os anjos não ficaram a salvo do processo de desencantamento do mundo (Weber), porque são criaturas fracas e impotentes, portanto, destituídas dos poderes imponentes atribuídos outrora aos anjos mensageiros da vontade de Deus. Os anjos de Benjamin já não possuem o esplendor e a majestade do sagrado; pelo contrário, tal como os anjos potenciais de Kafka, participam das inseguranças, das dúvidas e dos desamparos do mundo profano. De certo modo, são “figuras profanas” que só podem possibilitar algum tipo de relação “débil” (Vattimo) com o sagrado enquanto são criaturas impotentes e frágeis como nós os humanos: os anjos são os únicos vestígios da “Teologia que, como se sabe hoje, é pequena e feia e, além disso, não ousa mostrar-se” (Tese 1). Se assim for, a angelologia dos anjos efémeros é o que resta da teologia numa época secular que se entrega completamente à “crença no progresso”, como se o progresso pudesse por si só conduzir à emancipação da humanidade. Os anjos efémeros podem, neste caso, ser vistos como os únicos vestígios de Deus, que, dado serem impotentes para resistir à tempestade que sopra do Paraíso, se deixam arrastar na corrente da história, embora voltados para o passado, incapazes de “interromper o curso” do tempo. Porém, apesar da sua impotência, os anjos desejam a felicidade dos homens e aparecem para logo desaparecer depois de despertar nos homens o desejo de cumprirem,


† Labirintos Prosaicos †

Abismo Humano

eles próprios, a missão que os anjos já não podem cumprir: a missão da destruição do ciclo infernal do tempo homogéneo e vazio, o do eterno retorno do mesmo e do sempre igual da mercadoria, e da redenção. Contra o antimarxismo de Scholem, cuja bela epígrafe se evapora na Tese IX (“A minha asa está pronta para o voo, / gostaria de voltar atrás, / porque ficaria mais tempo vivo / se tivesse menos felicidade.”), Benjamin anuncia a sua fidelidade à dialéctica: “A utilização de elementos do sonho no despertar é o exemplo de manual do pensamento dialéctico. Consequentemente, o pensamento dialéctico é o órgão do despertar histórico”. O Anjo da História concentra em si todas as determinações reveladas nas aparições angélicas anteriores, afinal redutíveis à impotência angelical: O Angelus Novus de Klee aparece imobilizado e arrastado para a frente pela tempestade que sopra do Paraíso, a tempestade do progresso, e que o impossibilita de permanecer, “despertar os mortos e reunir os vencidos”. O Anjo da História é incapaz de “interromper o curso do mundo” (Baudelaire) e de empreender a obra salvadora da memória. Neste presente pervertido pelo progresso, ou melhor, pela “crença no progresso”, o anjo já não consegue levar a cabo a sua missão salvadora, embora deseje a felicidade do homem. Aquilo que o anjo não pode realizar pode ser realizado pelos próprios homens, ou melhor, pela luta da classe oprimida, “o sujeito do saber histórico”, que, “em nome das gerações vencidas, leva até ao fim a obra de libertação”. O papel da classe operária não é libertar as “gerações a vir”, mas alimentar o ódio e a vontade de sacrifício mais com a “imagem dos antepassados submetidos” do que com o “ideal dos filhos libertados”. Para a classe dos vencidos, o passado não é uma evolução progressiva, mas uma sucessão de derrotas, nas quais a revolução redentora encontra a sua fonte de inspiração capaz de a levar a interromper o curso do tempo linear e de o preencher com o tempo actual ou o agora, de modo a torná-lo tempo messiânico: o tempo que faz explodir a continuidade da História dos vencedores e que força a chegada do “reino”. Em vez de esperar, a classe dos vencidos deve agarrar a oportunidade revolucionária oferecida por cada instante histórico. “Marcar época” (Focillon) é precipitar o momento revolucionário e, assim, abrir o caminho para a novidade utópica irredutível à

acumulação mecânica, repetitiva e quantitativa. No fragmento “Parque Central”, Benjamin escreve: “O conceito do progresso tem de assentar na ideia de catástrofe. Que as coisas «continuem como estão», é isso a catástrofe (que o Anjo da História vê). Ela não é aquilo que a cada momento temos à nossa frente, mas aquilo que já foi (o passado). O pensamento de Strindberg: o inferno não é nada que tenhamos à nossa frente, é esta vida aqui em baixo”. O Anjo da História deseja a nossa felicidade, mas, embora pareça querer ajudar-nos na missão da redenção da memória, nada pode fazer para cumprir a redenção: “A salvação agarra-se à pequena fissura na catástrofe contínua”. Cada um de nós pode interromper o curso do mundo, desejado por Baudelaire, talvez a última figura literária do anjo, mas a grande revolução está nas mãos da luta feroz e violenta dos vencidos e, em última análise, do Messias que nunca foi “nomeado” por Benjamin. Os anjos talmúdicos evaporam-se na noite como meros despertares ou talvez meras imagens dialécticas: o único que se de-mora neste inferno que é a nossa vida contemporânea é o Angelus Novus de Klee: o quadro que representa a concepção da História de Benjamin. Contudo, a revolução redentora que visa reinstituir a História não está garantida e, no caso de fracassar, a irrupção do Messias não é uma possibilidade descartável. Há uma tradição obscura da mística judaica que remonta aos tempos talmúdicos e que criou o “santo oculto” (nistar). Segundo esta tradição, em cada geração existem trinta e seis homens justos, santos, mudos e anónimos, cuja “assembleia” constitui e garante os fundamentos do mundo. O seu anonimato garante a santidade da sua missão: os seus actos são executados sem o conhecimento da humanidade e, por isso, estão isentos das ambiguidades inerentes às acções públicas. Talvez um deles seja o Messias que permanece oculto porque a nossa época não está à sua altura. A ira do Messias oculto contra os vencedores da História pode explodir a qualquer instante, numa chuva purificadora de fogo e de sangue.

J Francisco Saraiva de Sousa

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† Flauta de Pã † Abismo Humano

Véu da Noite

Ala Crime

Este é o lugar em que invisivelmente te dou a mão. Estas são as árvores que contemplamos sem olhar e as ruas que preenchemos com o nosso volume inexistente. Não te digo adeus! Reprimo as palavras que não tenho para te dizer. As lágrimas,essas,não as consigo chorar. Este é o lugar em que o frio me desperta e a tua ausência me ensombra. Enluto-me com o veú da noite e confundo-me. Este é o lugar do não adeus e do não esquecimento. Cada folha transpira a tua presença. Este é o lugar em que não há território para a memória. Este é o cemitério da lembrança.

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† Flauta de Pã †

Fogo Divino

Abismo Humano

Vede a inquietude Da minha inércia que vos ilude Ou da euforia ao luar – Tão pouco seria de inquietar – Em afáveis sons de alaúde Direi agora, porque entorpeço Ao som dos pássaros que no olhar Trazem a aurora; doce mar e flora E ao raiar do sol desfaleço Num sono inquieto – reconheço – De sonhos dúbios por deslindar

Da chama flamejante da mocidade Que arde ainda – na verdade – Nasce gelo cristalino Impenetrável; de um calor incalculável (Embora agora dispersante Pelas vivências da aragem errante) Fora outrora divino

Tatiana Pereira

Pelas paredes escorrem (Incessantemente, parecendo que não) As horas dos dias que se arrastam, Quando morrem, pelo chão Em poças húmidas que se alastram

LINK: http://akila-sekhet.blogspot.com/2011/11/fogo-divino.html

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† Flauta de Pã † Abismo Humano

Do princípio do mundo até ao fim do mundo há promessas faladas e outras caladas e quais pesarão mais? O meu labirinto é o mais antigo do covil dos Imortais mas que cegueira, que abandono...

Mater Lacrymarum

Longe da luz florescem raras as rosas canibais.

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Dj’s: Manon & Akila Sekhet Formato: Música Alternativa

Human Abyss é um programa da associação de artes “Abismo Humano” para a Warfare Radio com o Dj Manon na primeira hora de emissão e a Dj Akila Sekhet na seguinte, onde podem ser guiados por uma experiência sonora destinada a abrir os sentidos e as mentalidades. A Abismo Humano inspira-se na subcultura gótica abrindo-a às suas influências tanto como nestas revelando a sua qualidade subtil. O programa Human Abyss já passou por variados estilos musicais e inicia, antes do lançamento do jornal da associação, um passatempo com sorteio de discografias e a publicação de material artístico.


© 2012


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