Editorial
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A Associação de Artes 'Abismo Humano’ dedica-se ao aproveitamento da tendência artística presente nas novas
camadas jovens e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, educação e cultura de forma a ocupar os espaços livres na disposição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto na área da pintura, pintura, da da literatura, literatura, escultura, escultura, fotografia, fotografia,cinematográfica, cinema, ilustração, ilustração, música emúsica artesanato, e artesanato, de forma deaforma expor aasexpor suas as obras suastanto obrasnum tanto jornal numdejornal lançamento de lançamento trimestral, trimestral, consagrado consagrado aos sócios, aoscomo sócios, na como organização na organização de eventos, de como eventos, tertúlias, como tertúlias, exposições, exposições, festas temáticas, festas temáticas, concertosconcertos e teatros. e teatros. A associação A associação de artes dascompromete-se artes compromete-se igualmente igualmente a apoiar a apoiar o artista o artista seu seu colaborador, colaborador, comcom a montagem a montagem de, de, porpor exemplo, exemplo, bancas bancas comerciais comerciais e ecom coma adivulgação divulgaçãodo dotrabalho trabalhoaa ser ser falado, inclusive lançamentos, visando assim proteger a arte do antro de pobreza ingrata e esquecimento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor. Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo que é privilégio do sócio, mediante o pagamento da sua quota, receber o jornal da associação, intitulado de “Abismo Humano”. Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando atenção à qualidade, mais do que à fama, de forma a casar a qualidade com a fama, ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatura de super-mercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz artístico, será autora de promoção às mesmas, deixando um espaço também para a história, segundo as suas nuances artísticas, unindo a vaga jovem ao conhecimento e à experiência passada.
Abismo Humano
Equipa Editorial André Consciência André - Cristina Consciência Lopes --Albano Marta Amado Ruela - Albano Ruela
Assinaturas Assinaturas: abismohumano@gmail.com Para assinar a Revista Abismo Humano contactar por email
Sumário Editorial Assinaturas Sumário Manifesto Ruínas Circulares Hieróglifos Existênciais Noites Passadas na Literatura Flauta de Pã Labirintos Porsaicos Ensaios Filosóficos Obra em Destaque Captações Imaginárias Pintura Arte Digital Fotografia Cartoon - Cartazes Trabalhos Plásticos Escultura
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Tábua de Ilusões Âmagos Teatralizados Apogeus Espirituais Círco Escarlate Transmutações Coliseu dos Assinantes Arautos Sonoros Inventos Publicidade
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Noites Passadas na Literatura Raymond Abellio Página 8
Hieróglifos Existênciais Flauta de Pã
A Morte da Linguagem Página 10
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Hieróglifos Existênciais Labirintos Prosáicos
Túmulos V– akyoku Monogatari Página 14
Hieróglifos Existênciais Obra em Destaque
O Castelo de Ortranto Página 20
Captações Imaginárias Pintura
As úpcias-Branca de eve Página 21
Coliseu dos Assinantes Glória Página 34
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Âmagos Teatralizados Blasted (Ruínas) Página 30
Arautos Sonoros Darkside of Innocence Página 39
Abismo Humano
Manifesto Abismo Humano O
Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico, e o cariz cultural e civilizacional presente no gótico contemporâneo tanto como nas suas raízes passadas. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que tem tendência a permanecer oculto por via da exclusão social, e a elevar o abominável ao estado de beleza, sempre na condição solene e contemplativa que caracteriza o trabalho da inteligência límpida e descomprometida. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essencialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do abismo no humano. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem a conhecer, e entre estes, preferimos as almas incompreendidas nos meios sociais de maior celebridade. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação de Artes, e por isso tomou o compromisso matrimonial para com as gémeas Ars e Sophia, duas amantes igualmente sôfregas (impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas) e incondicionais (solo fértil à condição). O Abismo Humano compromete-se a estudar o intercâmbio da vida e da morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, do qual o Abismo Humano é rebento. Como membro contra-cultura, o Abismo Humano dedica-se à destruição da ignorância que cresce escondida, no seio das subculturas, cobrindo-as à sombra do conformismo e da futilidade. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já foram ao piano do foi para sempre.
André Consciência Imagem - Tatiana Pereira
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Ruínas Circulares
Gótico, Subcultura ou Género Músical? A diferença do punk do qual o gótico descendeu, em relação ao gótico, é que o gótico é menos cru, começa a introduzir o órgão e as letras são muitas vezes introspectivas e até depressivas. Existe uma maior sensibilidade poética, uma ligação no que respeita as letras ao romantismo, ao mórbido, e ao sobrenatural. Muitas vezes a voz é dramática e profunda. Do rock gótico surge a subcultura, é certo, e a subcultura já não era, somente, um movimento musical. Foi incluindo moda, os bares, literatura, pintura, filosofia, banda desenhada e até jardinagem; os sobreviventes do movimento estético do rock gótico criaram para si mesmos uma cultura, um mundo próprio, e até hoje ainda não uma contra-cultura devido ao niilismo inerente a limita-lo em termos de crenças politicas e soluções concretas para o mundo. Dentro da subcultura estava um revivalismo da literatura gótica, propósito já subentendido no rock gótico, e que combinava o horror e o romance, uma rejeição das doutrinas pré-estabelecidas e um mergulho do intelecto na obscuridade, que se lançava no seu modo aos novos descobrimentos (o mundo era desconhecido e cheio de peripécias sobrenaturais e bizarras). A figura da autoridade e do dogma é nesta literatura (como os condes e os sacerdotes) vista como maléfica e assustadora, e o mundo enchia-se de ruínas (as ruínas do que consideravam o velho mundo, ruínas nas quais os condes e os clérigos viviam).
(...) Dentro da subcultura estava um revivalismo da literatura gótica, propósito já subentendido no rock gótico, e que combinava o horror e o romance, uma rejeição das doutrinas pré-estabelecidas e um mergulho do intelecto na obscuridade (...) As criações humanas decaíam e morriam. E para ilustrar como era temível a autoridade, retratava-se um mundo medieval que tão bem foi marcado pelas tiranias da fé e do dogma. A beleza também começa a ser olhada com um misto de admiração e suspeita, a mulher é fatal, a loucura um mistério a penetrar (Freud descobre que o homem tem uma besta no seu interior, coincidente com a imagem artística dos lobisomens libido), e ergue-se uma bandeira contra o catolicismo (coisa dos protestantes). Em suma, esta literatura do século dezoito intitulada de “literatura gótica” vai inserir o fantástico em elementos do realismo que marcava afincadamente a época (esta escola, tal como o gothic rock, também começou na Inglaterra, e espalhou-se para França e para a Alemanha, mãe do Romantismo, que contribuiu para o género gótico). A androginia que se vê dentro da subcultura vem da época vitoriana, que passou a chamar a essa literatura de gothick (com o “k”), em que adoravam a imaginação fantástica da arquitectura gótica. E para não deixar que o movimento aqui morresse, vai Allan Poe beber a Ann Radcliffe e ao romantismo de Byron (tal como contemporaneamente Tim Burton bebe de Allan Poe). O movimento literário alonga-se desde um Bram Stoker, até, no século vinte, H. P. Lovecraft (entre outros). A partir daqui, a literatura influencia o cinema, e o cinema copia a literatura. Antes das bandas góticas já existia uma vivência da literatura gótica no cinema. Não foi apenas o rock gótico a manifestar a literatura gótica (alias em todos estes géneros teve muita influencia Black Sabbath), mas por exemplo King Diamond, do Heavy Metal, bem como vários grupos do Métal Gótico.
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Esta literatura tem influências fortes do período estilístico e filosófico barroco, que retrata um jogo de poder entre o divino e o humano, e o efeito da ilusão, de resto expressão da arquitectura gótica. Pela própria mente construíam catedrais altas o suficiente para chegar ao céu - uma Torre de Babel - (já a pintura gótica mostrava pessoas de rostos voltados para o céu, como os românticos olhavam para o infinito - e os principais pintores da pintura gótica iniciam a pintura do renascimento, em que a “ciência”, a matéria e o sobrenatural são um e o infinito rompe pelo finito), pelos vitrais do homem a luz natural entrava e tornava-se sobrenatural.
(...) pelos vitrais do homem a luz natural entrava e tornava-se sobrenatural (...)
Gótico não é o artigo que compramos, seja este um CD, um filme, um livro, gótico é uma qualidade que pode estar ou não inserida no artigo, o mesmo acontecendo com o membro da subcultura. Um CD de Gothic Metal não é um CD de Gothic Rock, no entanto ambos podem ser álbuns que se incorporem na subcultura gótica. Esta, acima de tudo voltada para si mesma como os iluministas, vê fundir-se a angústia da morte latente no homem como criatura solitária, no corpo e nas coisas da terra, com o sentimento do sublime, da noite do objecto que acaba por o despir de pátria e roupagem e o entrega às fúrias da criatividade errante que vive da fusão desses dois opostos - o sublime e a angústia.
(...) o sublime e a angústia (...)
André Consciência
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Hieróglifos Existênciais Noites Passadas na Literatura (...) One must give oneself body and soul, while keeping for oneself the essential: the observing eye. (...)
RAYMOND
Abellio, pseudónimo do filósofo e romancista francês Georges
Soulès, autor de vários romances iniciáticos, entre eles “Heureux les pacifiques”, “La Fosse de Babel” e “Sol Invictus”, sendo “Les Yeux d’Ézechiel sont ouverts” o mais conhecido e único traduzido para português. Abellio prefacia, também, o romance “Le cinquième empire” de Dominique de Roux, dando a conhecer o seu enorme saber sobre a História de Portugal. Neste âmbito, é convidado, em 1976, a visitar o nosso país, tendo proferido conferências em Lisboa, Porto e Coimbra. Frequentou a Escola Politécnica formando-se em Engenharia civil, mas é na política que constrói uma carreira. Advogando uma visão esquerdista, desde cedo se torna militante socialista, sendo dirigente da Esquerda Revolucionária e pertencendo entre 1937 e 1939 ao Comité Directivo da S.F.I.O. Feito prisioneiro pelos alemães durante a Drôle de Guerre, é já no final da Segunda Guerra Mundial que a sua vida muda de rumo drasticamente, desligando-se totalmente de todos os trabalhos políticos, dedicando-se à escrita e aos estudos esotéricos. É neste pano de fundo de uma Europa em ruínas que surge o seu romance “Os Olhos de Ezequiel Estão Abertos”, uma obra metafísica de matiz autobiográfica. Podendo ser considerada um romance de pendor policial, não é mais que um mote para o desenvolvimento da história e das personagens centrais de Dupastre, Carranza e Drameille. Assim, em Dupastre encontramos o alter-ego do próprio autor Raymond Abellio, o qual se une de forma única a Frei Carranza, criando uma ligação discípulo/mestre que irá influenciar o futuro de Dupastre irremediavelmente. Embora não muito evidente no começo da obra, esta amizade torna-se mais forte devido a Drameille, o jornalista niilista, o romancista da destruição, o foco central da acção. Dupastre, limita-se a observar e a nascer, dividido entre dois pólos, entre Drameille e Carranza, entre a política e ascese.
(...) Dupastre possui os Olhos de Ezequiel, os Olhos Observadores, que se vão abrindo lentamente, “habitados pela luz e perseguidos pelas sombras”. (...)
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Dupastre possui os Olhos de Ezequiel, os Olhos Observadores, que se vão abrindo lentamente, “habitados pela luz e perseguidos pelas sombras”. “Os Olhos de Ezequiel Estão Abertos” é, então, uma tomada de consciência da missão destruidora dos antagonismos, e um aprofundar das contradições do homem perante o Abismo, missão essa que culmina em “La Fosse de Babel”, onde Dupastre não é mais um narrador, mas o próprio protagonista, superando-se a Drameille. Marta Amado
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Hieróglifos Existênciais Flauta de Pan Vazio Dor? Não a sinto, Que sou um pedaço de vazio Resgatado à corrente vaga do nada. Puro e impuro. Depuro Todos os termos que são nada E eu um tudo, Vago o conceito de ser um ser, Se é certeza o não ser incerto. Incompleto o doer de ser, E por isso não serei, Meu amor vazio, Que não te sinto. E o que te leva a sentir? Pergunto, discreta, em murmúrio fosco, Que o não ouvir canta em sinfonia leda E o escutar é martírio à alma. Por isso não respondas, Que não te ouvirei. O vazio é surdo. Não te entreponhas entre mim E a díspar cor que não vês. Que o vazio é cego. E não me oiças. O vazio não é mudo, Mas não sente o que diz. E o que não é vazio é defunto, Meu defunto amor, que sou vazio, Aquele que vagueia em tudo Na esperança de te sentir. Carina Monteiro
O Triunfo da Morte—Autor Desconhecido
A Morte da Linguagem Fogo e ar, deslizando sobre os céus de destroços fumegantes, alimento-te da terra húmida, ainda quente na memória da vida que o passado gerou. Mundo e morte, pela colina enegrecida das nossas vidas, quantas lanças partidas quantas distorções no teu canto desconexo, esse teu canto desconexo que mata os pássaros azuis, que mata os pássaros e os corações dos homens tímidos. Se em tempo de canto emudeceste ilustres sábios e não os acusaste de ignorarem a natureza melódica das coisas, Se em tempo de lírica dedilhaste sentimentos profundos e não os procuraste nas faces das crianças, Se em tempo de flores caíste em agonia e te perdeste em choro, diz-me, Palavra e Som! E eu saberei que por fim o sonho te nega sono ou companhias menores, por fim o fogo aéreo te explode nos renovados céus da nossa nova babilónia, por fim, sim!, por fim a morte esquece o mundo que te viu crescer fazendo brotar lírios de silêncio nessa boca perfeita. Choque Plumbeo
(...) por fim a morte esquece o mundo que te viu crescer fazendo brotar lírios de silêncio nessa boca perfeita. (...)
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Hieróglifos Existênciais Labirintos Prosaicos
Túmulos. I. Lua e mercúrio num céu de chumbo. Depois, florestas de galhos retorcidos nos campos de batalha. Ervas oceânicas, ondulando de insectos e, em baixo, xistos esparsos de costelas. A terra húmida, de apertada cota de malha férrea - e vermes, de dedos sem as suas mãos. E mais terra arfando do peso do mundo e dos carvalhos; e naus que navegam imóveis nas suas entranhas, sem vento ou vela. Um sepulcro, de ar rarefeito com o óxido dos séculos. Os teus olhos glaucos, fixos na escuridão do silêncio eterno. Mas renasceste longe, para lá das areias e do sol ocre dos desertos. Do tempo de alémtúmulo chega-te apenas um sopro agudo de uma indizível tristeza: aquela de um último cruzado, elmo chispando com um brilho de alma ausente, para sempre montando guarda ao teu corpo inerte.
Túmulos. II. Escuto a ressonância diáfana dos passos no embarcadouro, o macio entrechocar de vozes que se abraçam e depois, juntas, mergulham nas águas verdes. Desce pela trança de algas, essa espiral que, das pedras maceradas pelas rodas das carroças, conduz às grades do meu elmo. Amortalhado neste casco aberto, meus são todos os gestos do silêncio. As guelras, os labirintos de água, a eternidade deste breve abismo suspensa do voo dos falcões.
No fundo do lago, descanso.
(...) Os teus olhos glaucos, fixos na escuridão do silêncio eterno. (...)
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Hieróglifos Existênciais Labirintos Prosaicos
Túmulos. III. A barca imobilizou-se às portas do grande deserto branco. "Sois chegado ao vosso destino." Do véu de neblina, que espalhava o silêncio das águas geladas àquelas primeiras horas, emergiu o dorso de uma baleia azul e o barqueiro disse: "Eis o vosso guia." Depois, juntos varremos as ondas sem rasto ou espuma, os vertiginosos e oceânicos abismos, as rochas negras de azul e, por fim, o labirinto de fiordes que se abriu ao vasto manto polar. Sobre o gelo, dois ursos brancos, e a baleia disse: "Eis a vossa guarda." E então juntos caminhámos para Norte, seguindo o trilho aberto pelas nuvens, a elite dos exércitos boreais no cume do mundo, para lá do alcance da mais poderosa das bestas. "Este é o vosso rei", disseram os ursos às donzelas e eu segui-as; três raposas do Árctico num rasto de sangue de leões marinhos, por três dias e três noites em que o Sol nunca se pôs.
E quando de novo olhei o céu já não o vi. Nem céu nem alto, ou algo ao seu redor. Nem gelo no horizonte ou sob os pés. Nem pés nem corpo ou espada no meu punho. Em tudo, apenas, o mesmo branco neve longe ou perto, nem sombra de miragem ou deserto, nem deste que aqui estou, envolto neste manto sem o ver.
Apenas esta consciência: de não ser mais que ser eu, que não se apaga.
(...) E quando de novo olhei o céu já não o vi. Nem céu nem alto, ou algo ao seu redor. Nem gelo no horizonte ou sob os pés. Nem pés nem corpo ou espada no meu punho. (...)
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Hieróglifos Existênciais Labirintos Prosaicos
Túmulos. IV. Partimos para Leste, pelas infindáveis curvas brancas do rio; mas cortar a direito, por uma vez na vida, era impossível. Em vez disso o caminho afundou-se-nos nas veias, pleno de paciências, de silêncios, da certeza dos taman ho s rel ativ os do m un d o e d os n os s os . Por fim o rio esvaiu-se nas planícies agrestes de vegetação rasteira e então virámos a Norte e a Leste. O percurso era feito de todos os trilhos pequenos das aldeias, do tempo em que éramos poucos sobre a terra e, de facto, naquele momento fomos únicos. Foi toda nossa a pena, a dor e os céus das nuvens mais altas do que a vista alcança. Passaram duas luas, antes que finalmente tomássemos o caminho do Sul e do Leste - mas hoje, ao pertencer a estes muros de pedra que me abraçam, não me lembro de quantos dias tinham; apenas recordo aquele Ser branco no céu, duas noites a fio, das sombras de cinzas suaves e dum recorte perfeito suspenso dos confins, do negro. E depois foram mais curvas, mais rio, e quatro cumes de morte - apenas conquistados por aqueles que já foram deste mundo, e regressaram para de novo partir. Subir para morrer, e descer para de novo negar a vida. Vieram os campos, de pós sujos, dos minérios; sítios que a Criação não logrou alcançar - tudo cinzas, ferros magnéticos. E os rios transversais - mas desta vez o caminho era direito, e todas as curvas se e s b a t i a m n o s c a n t o s d o s o l h o s . Por fim alcançámos os pântanos cobertos de um branco de gelo invernal. Mas não menos pântanos. Naquele mundo esquecido os nossos sons morriam perto; a minha corrida metálica, da armadura descompassada pelas quinhentas léguas a fio, e o arfar dos cães das línguas enormes pendendo já sem saliva, as unhas rasgando as últimas placas de neve e sendo rasgadas por estas. Também eles davam sinais do fim, da inquietação do mundo imenso para lá daquele tempo, que acabaria nessa noite. Chegaram as trevas. Sentei-me no meio da clareira das árvores nuas, o elmo entre os joelhos. Os cães partiram e regressaram com a lenha húmida nos dentes, e com esta marcaram um círculo à nossa volta. No centro, eu era a torre caída e eles, companheiros de uma vida, formaram as ruínas de uma muralha em meu redor. E assim permanecemos, sem som, sem olhar, indo-se os sentidos sem regresso. Podia ouvir os lobos da noite, mas os cães inquietavam-se apenas com os silvos dos meus demónios. E por fim acendeu-se um tronco, como um diabo. E logo dois. E todo o círculo de fogo se ergueu na noite. Naquele instante, dos nossos corpos fez-se a pedra e fez-se E ali permanece, ainda hoje, a escultura oca. Dos dias em que fomos o mundo todo.
o
gelo.
(...) E assim permanecemos, sem som, sem olhar, indo-se os sentidos sem regresso. Podia ouvir os lobos da noite, mas os cães inquietavam-se apenas com os silvos dos meus demónios. (...)
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Hieróglifos Existênciais Labirintos Prosaicos
Túmulos. V. Nakyoku Monogatari Tínhamos pela frente aqueles dois meses de Inverno. Dias intermináveis no frio e implacáveis no vento ou - na ausência deste - no rigor da cegueira das neves mais do que das noites; ainda que o sol brilhasse sempre, a coberto do horizonte e dos glaciares. Não há nada mais belo neste mundo do que a solidão nos confins da Terra quando todos os elementos conspiram contra a permanência; mas que ainda assim nos concedem respeito por nos termos escusado a partir. Eu sei que isto parece vago e estranho. Mas não o era para nós, cães, que nascêramos sob as luzes da Aurora Austral. O mundo dos nossos olhos guardava em si mesmo todas as respostas transcendentais. Mas é precisamente quando a existência se torna no único alimento que todas as perguntas se extinguem. Aqui, nos gelos eternos do sul, o tempo não interessa. Aquilo que diz que passado é passado, presente ou futuro, não tem qualquer importância. Tenho as patas feridas de sangue. Tenho os caninos feridos de fome. Cobre-me o pelo o eterno branco e o azul; tenho comigo o gelo e os mares que se estendem negros, ao longo das fendas abertas e dos glaciares. Eu sigo o meu irmão por toda a terra: ele, que se libertou da morte certa antes de todos. Dêem-me a morte, mas a morte incerta. Seja a fome no gelo flutuante, seja o vento impiedoso ou o abrigo derradeiro na carcaça das baleias. Sol ou noite tanto faz, pois se o prazer ou a dor são agora meras palavras. Todos os homens partiram; raça maldita, mesmo que sendo o melhor amigo. E contudo este é o mais belo testemunho da existência. O branco azul do gelo, o negro mar e o vento, os dentes, as garras e os ossos; meus, das focas e das baleias. Nasci e cresci cativo das minhas forças. E então, enquanto aguardava a morte e a Primavera, cedi a esta última fraqueza: lembrei-me de nós - tu e eu - quando este mundo ao Sul que hoje me recebe vivia ainda só das cores dos menestréis e das especiarias; nos pergaminhos. Eis que sou morto, e estou vivo.
(...) Ñão há nada mais belo neste mundo do que a solidão nos confins da Terra quando todos os elementos conspiram contra a permanência; mas que ainda assim nos concedem respeito por nos termos escusado a partir. (...) Texto e Ilustração de Gotikraal (gotikraal.blogspot.com)
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Hieróglifos Existênciais Ensaios Filosóficos
(...) The ancient tradition that the world will be consumed in fire at the end of six thousand years is true, as I have heard from Hell. For the cherub with his flaming sword is hereby commanded to leave his guard at the tree of life; and when he does, the whole creation will be consumed, and appear infinite and holy, whereas it now appears finite & corrupt. This will come to pass by an improvement of sensual enjoyment. But first the notion that man has a body distinct from his soul is to be expunged; this I shall do by printing in the infernal method, by corrosives, which in Hell are salutary and medicinal, melting apparent surfaces away, and displaying the infinite which was hid. If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite. For man has closed himself up, till he sees all things thro’ narrow chinks ofhis cavern. William Blake (...)
A Noção do Infinito no Finito e a Indiferenciação de Todas as Coisas Finito
A palavra Finito tem como definição: “completo”, “terminado” e “acabado”, sendo também no italiano, e não o dizemos em vão, sinónimo calão para “morto”.
Infinito
A noção de infinito teve início nas deambulações filosóficas dos gregos, sobre o espaço interminável e as multiplicidades sem fim de mundos, anteriores a Platão e a Aristóteles. É no século quinto antes de Cristo que Zenão de Elea (discípulo de Paraménides e defensor do Uno) descobre, nos Paradoxos de Zenão, que se aplicarmos a continuidade a um movimento, e o conceito da infinita divisão, matematicamente, esse movimento, como uma unidade, nunca existiu.
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O Paradoxo do Estádio diz-nos que, para se atingir uma meta, é necessário primeiro, a titulo de exemplo, atingir-se o ponto intermédio do seu cumprimento, e para se atingir este ponto intermédio, o ponto intermédio, assim sendo até ao infinito. Da mesma forma nos diz a matemática que, de o número um ao número dois, existem infinitos números, e para chegar ao número um, ou ao número dois, ou a qualquer outro número, um infinito número de operações. Esta teoria comprova a existência, pelo menos intelectual, do infinito, mas é rebatida quando tenta comprovar a inexistência do finito, ou do seu modo de aplicação. O finito não pode, e nisto o argumento é válido, integrar-se no infinito e permanecer finito, mas, pela divisibilidade, o infinito pode integrar-se no finito.
Isto não o souberam os gregos, e foi com o horror do movimento, o horror do infinito e a degradação do número que as formas de pensar pitagóricas foram abandonadas e uma barreira separou os filósofos da realidade. Só com o renascimento viria o infinito a reaparecer.
(...) ELP. Como é possível que o universo seja infinito? FIL. Como é possível que o universo seja finito? ELP. Julgam que se pode demonstrar essa infinidade? FIL. Julgam que se pode demonstrar essa finidade? ELP. De que extensão falas? FIL. E tu de que limites falas? (...) Giordano Bruno, 1984, p.27
FIL. Em suma, indo directamente ao assunto, parece-me ridículo dizer-se que fora do céu está o nada, que o céu está em si próprio, localizado por acidente, e é lugar por acidente, idest com respeito às suas partes. E seja como for que se interprete o seu «por acidente», não se pode fugir a que se faça de um, dois; porque sempre é uma coisa o continente, e outra o conteúdo, e tanto assim é, que para ele próprio o continente é incorpóreo, e o conteúdo é corpo o continente é imóvel, o conteúdo móvel; o continente matemático, o conteúdo físico. Ora, seja essa superfície o que se quiser, nunca me cansarei de perguntar: o que é que está para além dela? Se se responde que está o nada, então direi ser o vácuo, o inane, e um tal vácuo, um tal inane que não tem limite nem qualquer termo ulterior, tendo porém limite e fim no lado de cá. É mais difícil imaginar isto que pensar ser o universo infinito e imenso, porque não podemos fugir ao vácuo se quisermos admitir o universo finito. Vejamos agora, se é possível que exista o tal espaço em que nada está. Neste espaço infinito encontra-se este universo (por acaso, ou por necessidade, ou providência, por enquanto não nos interessa). Pergunto se este espaço, que contém o mundo, tem maior faculdade de conter um mundo do que outro espaço qualquer, existente mais além. (Bruno, 1984, p. 29-32)
FIL. Para a solução do que procuras resolver, deves primeiro considerar que, se o universo é infinito e imóvel, não há necessidade de procurar o seu motor. Segundo, que sendo infinitos os mundos nele contidos, tais como as terras, os fogos e outras espécies de corpos chamados astros, todos se movem pelo princípio interno que é a própria alma, como noutro lugar provámos; por isso é escusado andar a investigar o seu motor extrínseco. Terceiro, que estes corpos mundanos se movem na região etérea e não estão pendurados ou pregados a qualquer corpo, assim como esta terra, que sendo um deles, não está fixa em parte alguma; a qual demonstrámos girar à volta do próprio centro e em torno do sol, movida pelo instinto animal interno. Enunciadas tais advertências, segundo os nossos princípios, não somos obrigados a demonstrar o movimento activo, nem o passivo duma eficiência infinita, intensiva, pois que são infinitos o móvel e o motor, e a alma movente e o corpo movido
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concorrem num sujeito finito, isto é, em cada um dos ditos astros mundanos. Tanto assim, que o primeiro princípio não é o que move; mas, quieto e imóvel, proporciona o movimento a infinitos e inumeráveis mundos, grandes e pequenos animais postos na amplíssima região do universo, tendo cada um deles, segundo a condição da própria eficiência, a razão da mobilidade, mudança e outros acidentes. (Bruno, 1984, p. 45-46)
E diz Galileu: “Salviati: Se te perguntar quantos são os quadrados perfeitos, podes responder-me, sem mentir, que são tantos quantas as suas raízes quadradas; visto que todo o quadrado tem a sua raíz e que toda a raíz o seu quadrado, não há nenhum quadrado que tenha mais de uma raíz nem uma raíz que tenha mais de um quadrado.” Simplício: O que há a decidir nesta situação?” Salviati: Não vejo outra solução que não seja a de que todos os números são infinitos; que os quadrados são infinitos; e que a imensidão dos quadrados não é menor que a de todos os números, nem maior, e, em conclusão, que os atributos de igualdade, maior que e menor que, não têm lugar no infinito, mas só nas quantidades finitas.”
Mas Galileu pensou que, porque o infinito se comportava de forma diversa de tudo o resto, devia ser, a título da eficiência de cálculo e da ordenação intelectual do mundo, evitado, teoria simpatizada por Gauss, no século XIX:
(...) “Protesto contra o uso de uma quantidade infinita como sendo uma entidade de facto; isto nunca é permitido em matemática. O infinito é só uma maneira de falar, na qual se fala correctamente de limites para os quais certas razões se aproximam tanto quanto desejarmos, ao passo que outras crescem sem limite.. (...)
O Finito, o Infinito, e a Indiferenciação A palavra porta, e o conceito que carrega, traduz-se numa definição finita. A porta é um objecto cuja utilidade é ora abrir passagem ora fechar passagem a um ou vários homens e mulheres, independentemente do material do qual é constituído (pode ser uma porta de madeira, de ferro, de aço, e.t.c.). Porém, o objecto em si, além da abordagem pela sua utilidade, terá, de si, limites? A porta não é sem as paredes e as divisões, assim o diríamos. Mas, imagine-se que se retirava uma porta de um quarto e suspendia-se a mesma no céu, sem paredes e divisões, permaneceria uma porta e, a sua utilidade a mesma, se a porta está fechada não se passa através dela (embora se possa contornar pelo céu) e se está aberta atravessa-se. Se retiramos o céu, a amplitude, as paredes e as divisões, deixa de ser possível prosseguir o raciocínio, porque sem espaço (virtual ou real) para a porta, a porta não existe. Se considerarmos que o céu é infinito, a porta pode ainda ser colocada no céu, mas se retirarmos a porta, a terra, a estrela, os astros, e qualquer referência igualmente e aparentemente finita, o céu perde a concepção, sendo o céu (e/ou o infinito) aplicado a cada uma. A este nível, o céu pode ainda ser colocado na porta (não dizemos, com isto, que a porta é o céu e que a porta é infinita, mas que uma caracteristica da porta é o céu e o infinito).
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A diferença e a pluralidade é sustentada pelo raciocínio que nos dita que todas as coisas estão separadas (pela diferenciação, a nível do intelecto, pelo espaço e pela eventualidade a nível físico), e se um espaço e um tempo existem onde se possam assim espalhar, um espaço e um tempo existem em que estão intrinsecamente unidas (este espaço, este tempo, e este intelecto, em si mesmos). A porta, embora seja uma porta e nada mais, não acaba na porta, tem continuidade no seu contexto, que tem continuidade no seu contexto, e assim o livro que se situa no solo e que se pode encontrar uma vez a porta transposta. Sob este prisma, nesta característica cada objecto é um símbolo igual e um símbolo vivo (em movimento de expansão) para o infinito, mesmo que um livro seja um livro e a sua utilidade a leitura, e uma porta e a sua utilidade o zelo da segurança e da privacidade. André Consciência
Hermenêuticas do Símbolo
Depois de um longo processo de desvalorização da dimensão imagética do homem, que se iniciou no século XIX, com o positivismo, no qual tudo o que escapasse à experimentação científica não se considerava que tivesse qualquer valor epistemológico; o século XX em reacção contra o racionalismo que imperou durante o século precedente redescobriu a importância do símbolo para a estrutura mental humana. Durante o positivismo e o extremo racionalismo do século XIX, pensou-se que era esse o tempo em que todos os "preconceitos" iriam desaparecer, pois a ciência tudo explicava à luz da razão. O que actualmente a maior parte dos sociólogos indicam é que o homem é um animal symbolicum. É impossível amputar esta dimensão no homem, pois sem ela deixaríamos de estar perante o homem na sua totalidade. Antes da redescoberta da importância do símbolo pensava-se que os símbolos, os mitos e os ritos eram apenas próprios dos povos primitivos, mas nunca do homem moderno. No entanto, ritos como, por exemplo, o da iniciação ainda se mantêm metamorfoseados. Podemos considerar o casamento como um rito de iniciação, no qual o homem e a mulher se devem submeter um ao outro. Um rito ainda posto em acção na cultura ocidental contemporânea é passar a porta carregando a noiva nos braços. O símbolo, para Freud, remete sempre para um recalcamento de um episódio sexual, devido a um interdito de satisfação das pulsões sexuais, seja este interdito imposto pela sociedade, seja pela parte super moral do indivíduo, ou seja, o seu ego. O símbolo invoca sempre uma insatisfação sexual. Podemos dizer juntamente com Gilbert Durant que para Freud todos os símbolos reduzem-se a alusões metafóricas dos órgão sexuais masculino e feminino . Há na concepção de Freud acerca da realidade que o simbolismo apresenta um determinismo contrário à noção de símbolo. Aqui este deixaria de ser uma janela aberta para uma infinidade de realidades, circunscrevendo-se a uma dimensão extremamente reduzida, ou seja, a dimensão sexual. Freud não distingue símbolo de signo, confundindo a sua noção com a deste último; o símbolo seria assim uma realidade concreta convencionada para significar uma outra realidade específica, adquirindo uma significação dogmática. O símbolo seria, pois, obrigatoriamente, a apresentação de uma sexualidade insatisfeita. Freud esquece-se da dimensão polissémica do símbolo; reporta-se, portanto, a apenas um sentido possível entre tantos outros, tomando-o como absoluto. O símbolo é uma epifania do significado indizível no significante sensível. O símbolo é pela própria natureza do significado inacessível, epifania, isto é, aparição, através do e no significante, do indizível. No símbolo há um aspecto concreto do significante que pode ser apresentado através de uma imagem, uma figura, ou por qualquer outra realidade sensível. Um aspecto referido por Durant é o carácter "optimal" do significante. Optimal porque é o melhor medium para conhecer o significado. Por último, o significado é
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sempre algo que não se consegue definir ou perceber de outra maneira. Durant descreve ainda o símbolo como sendo constituído por uma dimensão mecânica, isto é, o homem tem em si um "aparelho" simbólico. Por sua vez, este "aparelho" tem três categorias: o esquema (schéme) verbal. Durant usa a palavra "verbal" metaforicamente, pois o esquema simbólico precede a linguagem, o verbo. O que se pretende dizer é que o esquema é uma acção, que funciona como um reflexo, mais ou menos como estímulo-resposta. Para Durant, e contrariamente a Jung e a Freud, é o esquema que está na origem da figuração simbólica. Seguem-se os arquétipos, que se dividem em epitéticos, adjectivos que funcionam como qualidades sensíveis do significado, tais como quente, frio, profundo, puro, etc; e substantivos, tais como trevas, lua, cruz, etc. Os arquétipos variam conforme aspectos geográficos, climáticos, culturais, etc. Isto é, há várias apropriações particulares do significado de determinado símbolo. Durant sublinha que à medida que os símbolos adquirem um valor cada vez mais particular a sua pluralidade de significados vai diminuindo até se tornar um signo. A mais clara ilustração deste facto é a apropriação da cruz como símbolo cristão, que fez quase esquecer que originalmente a cruz não era cristã. Há ainda as influências fonéticas sobre a determinação do significado de vários símbolos. Isto é a terceira, e última, dimensão do "aparelho" simbólico, que Durant chama de símbolo stricto senso (A imaginação simbólica, p. 11). Uma outra dimensão do símbolo é a genética. O que distingue o homo sapiens dos outros animais é a sua actividade psíquica, que não tem a imediatidade do instinto, antes é reflexiva. Toda a actividade humana é um conjunto de formas simbólicas . Durant menciona três tipos de metamorfose do símbolo. A estrutura simbólica está presente nos animais, ainda que de uma forma rudimentar, assim como na criança e no doente mental. É na experiência de Pavlov que podemos verificar que, neste caso, o cão depois de repetidas experiências passa o sinal a signo. Nas crianças o imaginário encontra-se pouco desenvolvido devido a não ter ainda entrado em contacto directo com o mundo. Nos doentes mentais o distanciamento necessário dos problemas existenciais não existe e por isso o imaginário encontra-se desfigurado e impossibilitado de se manifestar. É na arte, na filosofia e na religião que a consciência simbólica atinge o seu auge de funcionamento. A última dimensão que Durant refere como caracterizadora do símbolo é a dinâmica. Esta dimensão concretiza-se no mito escrito e falado. O mito, na sua narração, utiliza vários símbolos, arquétipos ou profundos que, apesar da sua pluralidade de significados, pretendem sentido específico. O mito é a parte dinâmica do símbolo, pois nele são "jogados" vários símbolos em relação uns com os outros num textum (tecido) que é preciso seguir para nos aparecer o sentido. Durant diz que nos fundamentos primordiais do mito estão as "guerras dos deuses", ou seja, todos os mitos relatam uma condição primordial na qual o homem se encontrava necessitado de lutar contra os deuses para subsistir, outras vezes para a eles se igualar. Até mesmo em religiões monoteístas de tradição abraâmica há uma condição de oposição à vontade de Deus, que valeu ao homem a expulsão de uma situação paradisíaca onde não havia dualismos ontológicos. Os mitos permitem o prevalecimento da memória de acontecimentos históricos.
Patricia Calvário
(...) “O símbolo é uma epifania do significado indizível no significante sensível. O símbolo é pela própria natureza do significado inacessível, epifania, isto é, aparição, através do e no significante, do indizível. (...)
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Abismo Humano
Hieróglifos Existênciais Obra em Destaque
“O Castelo de Otranto”, escrito em 1764 pelo aristocrata inglês Horace Walpole inaugurou o gênero literário de maior alcance ao público: o terror e o sobrenatural. A partir desta obra, e inspirados por ela, inúmeros escritores foram imortalizados neste gênero, como Edgar Allan Poe e Bram Stoker. O romance gótico de Walpole conta a história do príncipe Manfredo, senhor do principado de Otranto, que, na ocasião do casamento do seu filho (e único herdeiro homem) Conrado, sofre de uma maldição que percorria gerações na sua família e que aterrorizou todo o seu castelo: o assassinato sobrenatural de Conrado. Manfredo, ao constata-lo, enlouquece à procura de culpados reais para a morte do seu filho, na vã tentativa de não encarar o verdadeiro motivo que desencadeou a maldição sobre a sua família. Nesse ínterim, vários personagens misteriosos surgem, incluindo-se aí visões de espíritos, que aumentam ainda mais o suspense, trazendo revelações incríveis e questionando
a
legitimidade
do
trono
de
Manfredo.
Uma pequena mas óptima estória, com todos os elementos clássicos para um suspense sobrenatural: o castelo gótico, o príncipe tirano, o assassinato extraordinário do único herdeiro, a maldição que paira sobre uma descendência e por fim, todas as reviravoltas no destino de uma família, causadas por erros do passado e as suas assombrações... André Consciência
(...) “At that instant, the portrait of his grandfather, which hung over the bench where they had been sitting, uttered a deep sigh and heaved its breast.” (...)
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Abismo Humano
Captações Imaginárias Pintura
As Núpcias - Branca de Neve Claudine Rodrigues
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Captações Imaginárias Arte Digital
“Fragile Pictures of Silence” Ana Cruz, Porto http://lunebleu.deviantart.com/ anacruz.arts@gmail.com
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Abismo Humano
Captações Imaginárias Fotografia
“A Senhora de Elfame” Foto, Cláudia Valdez Modelo, Miriam Rodrigues
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Captações Imaginárias Fotografia
“Á Margem do Capital” Foto, Marta Amado Modelo, André Consciência
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Abismo Humano
Captações Imaginárias Cartoon - Cartazes
Esoteric Order of Dagon
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Abismo Humano
Captações Imaginárias Trabalhos Plásticos
Hell Egg - Inês Bizarre http://www.myspace.com/bazaarbizarre
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Abismo Humano
Captações Imaginárias Escultura
Androgynous Christ - Albano Ruela http://neoartes.blogspot.com/
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Abismo Humano
Tábua de Ilusões Exorcist: The Beginning (2004)
DEPOIS
de perder a fé, devido ao que assistiu na
Alemanha nazi, em 1949 o padre Merrin tinha renunciado ao hábito e feito da arqueologia a sua profissão. É nesta qualidade que aceita a missão de partir para o Quénia, onde os colonizadores britânicos descobrem uma improvável igreja do século quinto, datada de mil anos antes de os missionários terem chegado a África, com o objectivo de recuperar um ídolo pagão supostamente encontrado no local. É de origem Suméria e representa o demónio Pazuzu. Este enredo podia parecer digno de Indiana Jones mas depressa se compreende que se assemelha mais ao universo lovecraftiano, o que não deixa de ser uma agradável surpresa. Esta igreja teria sido, afinal, construída sobre o local mitológico em que Lúcifer caíra na Terra após a guerra nos Céus de onde foi expulso.
(...) Esta igreja teria sido, afinal, construída sobre o local mitológico em que Lúcifer caíra na Terra após a guerra nos Céus de onde foi expulso. (...)
Gostei particularmente da cena inicial. Não é todos os dias que se vê Cruzados crucificados de cabeça para baixo, e muito menos uns pelos outros. Este é um local de extrema malignidade, razão pela qual a igreja foi soterrada assim que construída. Os trabalhos de escavação trazem à superfície o Mal escondido debaixo da areia, e o Diabo anda à solta. Este não é o Diabo subtil do primeiro e terceiro Exorcista, porque neste sítio em especial, que é d’Ele, causa doença, loucura, morte e violência a seu bel prazer, o que não é muito inteligente de um Diabo porque em breve o local tem de ser s o t e r r a d o o u t r a v e z .
É, pois, um filme que questiona a essência do Mal dentro do próprio ser humano, acredite-se ou não no D i a b o , e u m d a q u e l e s q u e d á p r a z e r v e r d e n o v o . U m a b o a sequela, portanto . Tendo em conta o enredo (o local onde Lúcifer caiu) este é também um óptimo filão a explorar, em filmes de época remontando a tempos imemoriais (porque não medievais ou mesmo Sumérios?), e só posso esperar que a l g u é m t e n h a s e m e l h a n t e i d e i a , c o m o u s e m P a d r e M e r r i n . V a l i a bem a pena !
O único ponto fraco deste filme, sob todos os outros aspectos irrepreensível, são ironicamente as cenas do exorcismo, com efeitos especiais exagerados, e tão copiadinhos do Exorcista I!, que é de fazer fugir o próprio Diabo (se calhar por isso é que fugiu). Eu, pelo menos, ao ver uma coisa tão mal feita num filme por todos os motivos tão espectacular, só me apetecia fugir. É por isso que não leva o 20. Mas 19 dá uma uma boa ideia do que penso no geral: é para ver, para guardar, e para pensar.
katrina a gotika gotikka.blogspot.com/2009/06/exorcist-beginning-2004.html
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Âmagos Teatralizados O Inferno Cardíaco do Teatro de Sarah Kane: Blasted (Ruínas) O quarto de um hotel de luxo aglutina dentro de si o inferno cardíaco da condição humana: um homem, uma mulher. O amor de frutos fugazes e flores impossíveis, sustentado pela apatia, pela galopante incapacidade expressiva nas relações afectivas e a paradoxal violência quotidiana, numa guerra que deixamos entrar pela porta da frente, sob o signo de um anónimo soldado. Soldado – Tu não sabes nada sobre mim. Eu fui à escola. Fiz amor com a Col. Os cabrões mataram-na, agora estou aqui. Agora estou aqui. (Encosta a espingarda à cara de Ian.)
(...) recalcamos o que de mais puro e belo pode nascer selvaticamente do coração humano, por questões várias de pseudo-fé acorrentada, proibitiva e corrosiva, (...)
Vira-te, Ian. Ian de 45 anos, jornalista e Cate de 21 anos, sua ex-namorada, são dois dos três únicos personagens numa peça onde Sarah Kane traz à boca de cena da sociedade contemporânea, tudo o que de perturbador e decadente encontramos no Homem do final do século XX: a dança obscena que a todos nós a dramaturga americana convida a assistir e onde, ironicamente, nos sentimos cúmplices, nós que como filhos e respectivos vectores de sociedades antagónicas caminhamos cada vez mais para uma única sociedade global, altamente fóbica e temente a entidades que se intitulam superiores, manipuladoras, fomentadoras do materialismo e da estupidificação, recalcamos o que de mais puro e belo pode nascer selvaticamente do coração humano, por questões várias de pseudo-fé acorrentada, proibitiva e corrosiva, de harmonia possível unicamente na ideia, pelo nome e pela aparência – o que quer que isso signifique na diária prostituição da alma –, que nos dão uma falsa sensação de segurança nos bastidores da guerra, da tortura psicológica, da permanente violação dos direitos humanos e do sarcasmo, incompetência e abuso político, que se tornaram lugares-comuns no Caos palpável. Em continuidade e complemento de todas as outras peças da mesma autora, em Ruínas, verifica-se ousadia e inteligência em contar, de uma maneira extremamente negativista, ao mesmo tempo também realista, sucinta, desesperante e crua, a catarse do espectáculo da nossa própria encenação colectiva, desta feita trazendo à luz a decadência do Homem e das suas criações. Ian, Cate e o Soldado. Dois homens que se esqueceram de si mesmos por causas distintas, mas que partilham a experiência de assistirem à prostituição da própria morte, reunidos num quarto de hotel que em nada se equipara à realidade do lado de fora da janela, nem à que as personagens constroem no seu interior. Cate, a mulher menina que se esconde por trás de uma grande simplicidade de raciocínio, mas que a dramaturga sugere ser dominada por um mundo de fobias e complexos que a levam a refugiar-se num quase permanente comportamento infantil para com Ian: o amor, o que é o amor se vais morrer de tanto gin e cigarros, porque tudo permanece tardio e demasiado complexo ao pensamento?
Ian – Pergunto-me a mim próprio se o chamuscado percebe inglês. (Percebe o sofrimento de Cate e faz-lhe uma festa. Beija-a. Ela empurra-o e limpa a boca.) Cate – Não metas a língua, não gosto. Ian – Desculpa.
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Cate – Eu amava-te. Ian – O que é que mudou? Cate – Tu. Ian – Não, agora vês-me. É tudo. Cate – És um pesadelo. A fome de tudo numa guerra hipotética que é a própria luta pela sobrevivência num século antagónico e cada vez mais supervisionado, onde a liberdade e a prisão se confundem na fantochada dramática e alucinada em que os dias e as noites vão mergulhando paulatinamente, como que sugados num pântano esperado de sonhos por haver. Sarah Kane é inegavelmente controversa nas suas peças, esventra qualquer tipo de convenções, não só pelas críticas e angústia intrínsecas aos temas abordados, como na medida em que se sustenta nos pilares do realismo extremo – característica mais controversa nas suas obras –, o que em teatro se revela desafiador q.b. de conceber e – arrisco afirmar –, extremamente difícil de encenar sem parte do imaginário e do espaço metafórico que o teatro naturalmente cria em qualquer espaço onde seja praticado, porque o palco não é necessariamente um espelho do mundo, mas se quisermos, a possibilidade de um espelho de uma dada pintura do mundo reinventado, recontado e do que se passa muito para além deste, no incógnito inconsciente colectivo e no caos que dá forma ao corpo humano. Podemos afirmar que na peça Ruínas, o realismo extremo inerente é o mote para um retrato e possível negação da opressão que o mundo cada vez mais exerce sobre si mesmo? Não duvido que sim, mas é a forma como Sarah Kane conta a densidade dos labirínticos mundos interiores do Homem, que fazem dela uma referência na dramaturgia do final do século XX e desta peça uma gritante denúncia artística do esgoto onde mergulhou a civilização ocidental contemporânea. Antígona http://renascimentolusitano.blogspot.com/2008/11/boca-de-cena-o-inferno-cardaco-do.html
Fotograma
NOTA: A peça Blasted (Ruínas) está publicada no livro Teatro Completo, pela editora Campo de Teatro, numa compilação de peças de Sarah Kane. Esta peça foi estreada a 12 de Janeiro de 1995 no Royal Court Theatre Upstairs em Londres, encenada por James Macdonald, com Pip Donaghy no papel de Ian, Kate Ashfield no papel de Cate e Dermot Kerrigan no papel de Soldado. Em Portugal estreou-se n' A Capital pela mão dos Artistas Unidos, a 26 de Outubro de 2000, com a encenação de Jorge Silva Melo e Paulo Claro e com João Saboga no papel de Ian, Carla Bolito no papel de Cate e Vítor Correia no papel de Soldado. Citações: Kane, Sarah, 1995, Teatro Completo, "Ruínas", tradução de Pedro Marques, Porto: Campo do Teatro, 2001.
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Abismo Humano
Apogeus Espirituais Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XCI)
(...) A ideia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia (...)
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. São
três
as
grandes
linhas
de
pensamento
que
predominavam
na
Renascença:
1. Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros do Hermetismo; nela se destacava a ideia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus. 2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida activa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores resgataram autores políticos da Antigüidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico. 3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro).
A efervescência teórica e prática foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja respondeu com a Contra-Reforma e com o recrudescimento do poder da Inquisição.
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa. Carla Fonseca
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Circo Escarlate Do Império Invisível (...) - Onde estão agora as pessoas? Espalhadas por várias partes da cidade; deitadas em canapés, em divãs de seda, em alcovas cheias de almofadas, em estrados cobertos por peles; todas envolvidas pelo véu brilhante dos sonhos. (...) Robert E. Howard
O império existe para preservar, estimular e desenvolver: a) o indivíduo como indivíduo, b) a liberdade, c) a consciência, d) e a responsabilidade. Nunca o homem (e a mulher) foi confrontado consigo próprio como o é hoje, e por conseguinte posto à prova. Ninguém governa ninguém e todas as mentiras são compradas pelo ouvinte. Radicais falaram em destruir a televisão, os bancos, o espectáculo e em suma a tecnologia, em deitar abaixo o fascínio do consumismo e da satisfação efémera e instantânea. Os radicais encararam sempre os indivíduos como seres desprovidos de poder, e a idade presente não os recebeu. Quando se escuta o grito que diz “Sem mestres e sem deuses”, descreve-se com exactidão os nossos tempos, de escassez de mestres, e cuja religião se fez culto à tecnologia do homem. O homem tem escolha entre aderir ao banco ou não, entre ligar a televisão ou não a comprar, e decide até que ponto quer aderir à rede que designa agora a humanidade. A tecnologia ligou-nos a todos, um exemplo disso está em chamar tecto a um fórum, a um blogue, etc, as ideias não necessitam de um rosto físico, mas podem adquiri-lo, estando a questão à escolha do idealista. A modernidade parece-se com um poço de ruído, sendo-o, de facto, porque onde antigamente poucos levantavam a voz, e levantar a voz era um risco, agora a voz é um direito que a cada um pertence, um espaço até necessário para a saúde do ser social e a Rede materializa os nossos ouvintes: existe sede de ouvir a humanidade com as suas múltiplas vozes, curiosamente em consonância. O presidente, o homem de negócios, a prostituta com um blogue, o telefonista do marketing, a senhora a quem caiu o tecto esta manhã e que apareceu no noticiário. O capitalismo dita, como exemplo, que o consumidor que faz da sua vida o consumo, segue a sua natureza. Em si, os elementos suprimidos eram os mais fracos. Dando a cada um igual escolha, força a competitividade, elimina a fraqueza e fortalece a força (entre os que mais aderem à corrida). A tensão daí resultante será aliviada pelo esforço do agora. Promete-se que, em breve, habitaremos as estrelas. Já os sentidos, estarão cada vez mais despertos e capacitados no mundo virtual. O futuro será uma época de gratificação e extremo conforto. Um Paraíso.
Babalith
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Abismo Humano
Transmutações O CyberPunk, Ficção ou Realidade O CyberPunk é uma corrente literária e cinematográfica cujo foque incide numa sociedade avançada a nível tecnológico (Cyber), com as tendências de degradação social e pessoal assim como a marginalização existentes na cultura Punk. As tendências CyberPunk tiveram uma grande expressão durante os anos oitenta e noventa do século passado onde a cultura Punk emergiu de forma exponencial e era mostrada ao mais alto nível nos meios de comunicação, bem como a aparição de várias drogas e degradação pessoal que surge com o uso de substâncias ilícitas como estas. A juntar-se a isto houve um “boom” tecnológico que previa de grande exactidão as ideias Cyberpunk existentes anteriormente.
(...) A nível social e político, a cultura CyberPunk relata uma sociedade corrupta onde o poder está sob a alçada de multinacionais capitalistas, corrupção nos governos e a alienação e vigilância tecnológica. (...)
No cinema esta tendência cultural tem grande expressão nos líderes de bilheteira, filmes como Blade Runner, a trilogia de Matrix, A Clockwork Orange e Metropolis são os maiores exemplos de Filmes CyberPunk. Hoje em dia o Japão é considerado como sendo o primeiro pais CyberPunk, conotação essa que advém sobretudo porque um dos impulsionadores do CyberPunk é mesmo os livros Manga e os filmes Anime. Exemplos disso são os filmes de animação como Tron, Akira, Aeon Flux, Tetsuo 1 e 2, Cowboy beebop e muito provavelmente os vários filmes e séries de animação Ghost In The Shell serão os maiores exemplos de cultura CyberPunk. A literatura foi muito provavelmente o berço do Cyberpunk. Os livros de William Gibson (Neuromancer, Count Zero e MonaLisa Overdrive); Philip K. Dick (Do Androids Dream of Electric Sheep? que mais tarde viria a ser fonte para o filme Blade Runner) e George Orwell (Nineteen Eighty-Four). Este ultímo, Nineteen Eighty-Four data de 1949 o que demonstra o grande visionamento do futuro destes autores. As histórias CyberPunk relatam muitas vezes um prognóstico futurístico para a evolução da Internet. Palavras como Matriz, Rede computacional ou Cyberespaço são muitas vezes referidos em obras do género anteriores à era dos computadores e da Internet. A nível social e político, a cultura CyberPunk relata uma sociedade corrupta onde o poder está sob a alçada de multinacionais capitalistas, corrupcão nos governos e a alienação e vigilância tecnológica. Normalmente existe sempre um “escolhido” de entre a população que trava uma batalha contra todos esses géneros de poder que difamam a vida em sociedade. “Escolhido” esse que geralmente fazia parte do mal, tendo depois acordado para a realidade, vendo então que tudo o que ele fazia estava errado, apelando assim para a conciencia do leitor/espectador. Posto isto deixo aqui estas perguntas: Será que hoje já vivemos dentro deste mundo CyberPunk? Será que este mundo ainda está para vir? Será que seremos “salvos” através da mudança de consciências como acontece com o herói no CyberPunk? Mastiphal www.odetriunfante.pt.vu
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Coliseu dos Assinantes Glória (...) E se a voz é o instrumento da alma, se nela se inscreve o meu destino, então eu cantarte-ei, Glória, (...) http://shapovalov.deviantart.com/
(...) Porque era mais que uma dezena de bocas o poeta que tu alimentavas, tu, meu anjo, tu e o lento lamento de Lamosa, essa pátria nação (...)
Egor Shapovalov, white horses, they will take,, 2009
Estímulo e dedicação, minha avó, eis o que me apraz lembrar quando o fio da navalha na jugular da manhã dilata esta minha lassidão de viver. Sei-te na outra face do espelho a mesmerizar a minha fala com olhos de garça, espectral cadência onde me sinto reviver com uma febre que sobre o papel se afirma quando a escuridão distribui as palavras. E se a voz é o instrumento da alma, se nela se inscreve o meu destino, então eu cantar-te-ei, Glória, eternizar-te-ei até que o meu viver de sopro intenso e estarrecido cesse. Assim a minha história escrevo-a a partir da tua memória, essa inesgotável fonte de pureza e luz que os meus medos atenua, o infindo caudal de nomes que nas minhas mãos balbuciam oitenta e tal anos de sacrifício e devoção, porque era mais de uma dezena de bocas o poeta que tu alimentavas, tu, meu anjo, tu e o lento lamento de Lamosa, essa pátria canção que me viu nascer.
(...) espectral cadência onde me sinto reviver com uma febre que sobre o papel se afirma quando a escuridão distribui as palavras. (...)
Estímulo e dedicação, Glória, eis a minha fatalidade. Vela-me, pois, quando o féretro enfim selado, sublime e feérico, o meu poema te confiar. Nodula de Nomada http://avozdaserpente.blogspot.com/ http://inamok.blogspot.com/
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Coliseu dos Assinantes Pela Sombra, Branco o Silêncio do teu Corpo Exausta me deitei e rapidamente adormeci. Em sonhos ele veio e nos meus cabelos sussurrou... Palavras da Verdade ele disse e a minha alma escutou. Mas como veio, assim se foi. Como uma brisa que passou...
http://penvmbra.deviantart.com/
Suas penas me roçaram e um cabelo me arrancou. Suas asas me abraçaram, com um beijo me deixou... Meu Anjo, meu Anjo! A minha vida acabou...
Penvmbra,. Gárgula A lua cheia reina nos céus E o meu olhar sobre o seu brilho Enaltece um certo silêncio sobre a noite. Grito por dentro. Grito algumas súplicas de paz e Outras de amor e de luz. Súplicas de morte. São as velas que aquecem quatro possíveis paredes E a cera entornada sobre a pele acende essas cruéis Cicatrizes traçadas com a lâmina afiada do tédio. Acontecem lágrimas jorradas pelo passado. Desejo adormecer. Quero esquecer. Hoje sei que são mais os espinhos do que as rosas E envolve-me a sensação de quem ingénuo Se perdeu num labirinto mais escuro que a Cegueira que por acaso um dia abracei Num grave gesto polido de existência.
Penvmbra http://www.myspace.com/penvmbra
no roçar dos seus lábios. Porque a face do amor é a lâmina desta faca refazendo-se na irrequieta distância das mãos. Durante a chuva ela manipula a melancolia das mãos. (muda de rosto e de morte): Hoje matei-me a pensar em ti. (os seios soltos no vestido negro, os gestos cúmplices) o amor é a imitação da morte olho-o enquanto fuma e penso amanhã acordarás ao meu lado
Mónica Sofia com os pulsos num roçar de sangue
Pela Sombra (branco, o silêncio do teu corpo parte II)
à perecível queda da chuva. Havia uma doença fixa contra o peito da mulher
Ali, junto à janela e no tempo do quarto vermelho
tal uma faca de um brilho insondável passando
circulou em tempos de olhar repousado.
pelo repetido reflexo na treva do espelho.
Pelas pálperas súbitas,
Desejou afastar-se devagar até perder-se de vista
pétalas reacendem-se hoje contra o acaso da luz
sou aquela que te amou por detrás do espelho
e arde o peito que a faca fende num silêncio purificado.
onde jamais quiseste reflectir-te
Fecho os olhos e lembro-me dele na pressa dos relógios.
na minha solidão havia tempo para a tua melancolia.
Atraída pelo relevo da faca, lenta,
Na minha solidão havia tempo para a tua melancolia.
dolorosamente
Foi o teu corpo que me abandonou primeiro.
na rarefacção da madrugada: a boca de uma mulher condenada à morte revela-se
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Elisabete Patrícia Andrade
Abismo Humano
Arautos Sonoros The Dead of Night O projecto The Dead of Night surgiu, na forma de uma ideia algo difusa, em meados de 2007. Ainda que de início a direcção musical a seguir não fosse a mais clara, nunca houve dúvidas quanto ao meio de difusão privilegiado: a Internet, através do famigerado Myspace. Tracei então o primeiro objectivo: gravar três músicas e publicá-las. Entrei de mansinho na sonoridade Dark Ambient, pois em boa verdade venho e sou do Metal. Não ousei tentar a abordagem clássica, dominada por orquestradores competentes, que não se apavoram com a ideia de não saber o que fazer com determinado instrumento. Decidi então assumir a sensibilidade como único critério na escolha dos sons. Precisava de ideias, de bases musicais. Comecei por recolhê-las num acervo pessoal que fora alimentando ao longo dos anos, desde que comecei a tocar guitarra. Peguei em riffs e sequências de acordes, alguns com quase dez anos, e pensei na melhor forma de os materializar em termos de arranjos. À medida que os tocava e ia transformando, novas ideias surgiam rapidamente. Não me posso queixar de falta de inspiração. O ambiente era, claro, sombrio. As fortíssimas influências do Black Metal e a minha personalidade assim o ditaram. Criei pequenas homenagens à Noite, em todos os seus matizes. Inevitavelmente, o peso de outros estilos fez-se sentir, nomeadamente alguns legados da ficção científica e um psicadelismo latente. Nada fiz para o evitar, fazem parte de mim e teriam de se manifestar. Os poucos mas calorosos incentivos que ia recebendo através do site ajudaram-me a percorrer o ano de 2008, penoso e complexo nos planos extra-musicais. Foram tempos de fraquíssima produção, em que apenas acrescentei um ou outro tema a uma playlist que, de tão ouvida aquando da fase de mistura, se me afigurava demasiado estéril. Lá para o Outono desse ano, decidi aventurar-me por terrenos mais ambiciosos em termos de instrumentação, tendência que se materializou na nova faixa The Gift of Which we Spoke. Após a conclusão da sétima música, seguiu-se uma fase de divulgação e procura de editora. Ocupei-me sobretudo com tarefas menos criativas, envio e reenvio de mails, CDs por correio, etc. Já em 2009, recebi algumas propostas, tendo optado pela da italiana Invisible Eye Productions. Definidos os termos do futuro lançamento em CD-r, dediquei o primeiro semestre deste ano a compor mais e melhor. Se a facilidade de utilização das ferramentas de software me permite, agora, concluir o trabalho mais depressa, o tempo necessário para compor uma faixa continuar a variar imenso. Ainda assim, esse trabalho está concluído há já cerca de um mês, altura em que comecei a trabalhar nas linhas de voz para a Morgana Duvessa. E é com as palavras dela que ficarão agora os leitores da Abismo Humano. Refiro apenas que estou muito satisfeito com a possibilidade de esta talentosa cantora participar no CD e, sobretudo, de integrar The Dead of Night. A voz feminina era o elemento que faltava e poderá elevar a música a um novo patamar de sensibilidade.
(...) Criei pequenas homenagens à Noite, em todos os seus matizes. Inevitavelmente, o peso de outros estilos fez-se sentir, nomeadamente alguns legados de ficção científica e um psicadelismo latente. (...)
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Como o Shadow foi o fundador inicial deste projecto, tendo já descrito toda a sua evolução, penso que me estaria a repetir se me focasse no mesmo. Deste modo, deixo-vos com uma pequena apresentação da minha pessoa, a minha visão acerca deste projecto e as minhas expectativas em relação a este. Desde cedo me senti cativada pelo imenso mundo das artes, pelo que investi muitos dos meus sonhos, do meu tempo e a minha vida a seguir esse caminho. Possuo formação em canto, dança, design, aprendi a tocar alguns instrumentos… Tenho aulas de canto há quase seis anos, sendo três dos quais e até aos dias de hoje dados pela cantora lírica Helena Vieira. Da minha formação em canto também constam alguns workshops de voz. Também danço desde muito nova, pelo que estou mais que “em casa” quando piso um palco. A dança é obviamente uma parte muito importante da minha vida, mas actualmente, cantar tem-me preenchido muito mais. Em conjunto com tudo isto, encontro-me também a concluir o curso de design. Na música sou um pouco influenciada por bandas como: Nightwish, Epica, Tristania, Demether, Kamelot, Mortal Love, Dark Sanctuary, Mandragora Scream, entre muitas outras. Em termos de géneros gosto de tudo um pouco desde que seja de qualidade, mas entre os meus géneros favoritos encontram-se sem dúvida o Metal Symphonic, o Dark Ambient, o Fado e um pouco de Soul. Integrar um projecto deste tipo e qualidade sempre foi um dos meus maiores sonhos. Desde há muitos anos que possuo um enorme interesse por músicas com sonoridade Dark Ambient e Gothic Metal Symphonic, por isso sinto-me bastante confortável neste projecto, que se tem vindo a transformar, por assim dizer, numa parte de mim. A minha contribuição neste projecto tem consistido na escrita de letras para as músicas já criadas, como a Restfulness, a Broken Doll e a Shallow Imagery, tendo sido a letra da música One Breath in Catharsis escrita e muito bem, devo referir, pelo meu colega de projecto. E futuramente, a minha participação no projecto será enriquecida pela junção da voz aos temas. Escrever as letras a partir de uma música já criada, seguidamente encaixá-las numa linha de voz e aprender a música completa e acabada tem sido um novo processo para mim, algo que nunca tinha feito, mas que estou a gostar imenso. Para a construção das letras inspirei-me em tópicos, histórias e ambientes que o Shadow tinha previamente pensado quando compôs as músicas. A Broken Doll conta a história de uma boneca de porcelana que já se encontra partida, mas que ao espelho e na sua mente se vê como era antes, bonita. Na Restfulness foi-me dada mais liberdade para a escrita da letra, a única imposição que tive foi que tinha que ter um ambiente meio sombrio, um pouco triste. Na Shallow Imagery, foi-me dado como tema a idolatria e a vaidade. A One Breath in Catharsis, não tendo sida escrita por mim, tem a ver com a possibilidade de concentrar séculos de vida e intensidade num só momento. No CD a ser lançado este ano, apenas quatro músicas contarão com a minha participação, mas no futuro, próximo espero, participarei em muitas mais.
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Arautos Sonoros Darkside of Innocence Gnografia - Gnosis-Sophia; Os herdeiros “Tal como seu, é o grande “Olho” que possui todas as vistas, também dela é; O velho ceptro da sapiência, glorificando a nossa grandiosidade…” Este hino fúnebre de imensa tristeza e escuridão, intitulado de “Darkside of Innocence” floresceu sobre terras antigas; o outrora aclamado quinto império… De um mensageiro emergente no século XXI, anno domini MMV! Conhecidos como os principais arquitectos, Pedro Bruno e André Reis escolheram a artística contudo enegrecida senda para cruzarem este místico legado dos antepassados, que jaz ao tempo antevista, ainda assim não esquecida nem prevista, tendo o mesmo ficado reconditamente em enorme sigilo, apenas a ser revelado àqueles que carregam o conhecimento escolhido. Ascendendo uma vez como os já esperados enviados da deusa negra, para após e finalmente realizar o mais negro dos fins; “O alvorecer eminente de Sophia”. - Gnosis-Sophia; Os sucessores “…Assim sendo, como herética, escapou para de novo poder voltar; Invocando os seus herdeiros de forma à sua sede voraz saciar!” Aquando da ausência, “aeons” passaram-se; O percussionista Pedro Bandeira tornou-se bastante importante tendo concedido aos Darkside of Innocence uma criatividade própria, abundante e bastante característica. Mais tarde, a vocalista Sara Henriques junta-se a esta história para entoar uma faceta mais doce na escuridão, seguindo igualmente o baixista João Arcanjo que melhorou consideravelmente as linhas de baixo significativamente; benevolente para o que previamente se encontrava “extinto”. A análise de alguns espectáculos em Portugal, incluindo os mestres lusitanos de Doom; DESIRE e também lusitanos porém praticando uma sonoridade folk; Gwydion, concedeu aos Darkside of Innocence a necessidade de fazer algumas mudanças cruciais, sendo assim Paulo Roque andando pelos trilhos da deusa, juntou-se a esta demanda influenciando o que os herdeiros tinham em mente previamente. Gnosis-Sophia; Revelações – “…e agora aí jazendo enfim, ocultos por pretensiosas calunias! …E em breve todos aqueles que sépticos permanecem, não prevêem o que estamos prestes a tornar-nos!” Os Darkside of Innocence surgem agora com o á muito tempo anunciado “Infernum Liberus EST”, uma revelação para breve ser liberta!
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Darkside of Innocence Stagnant she awoke gazing onto incomprehension For ye to carve my enchained wrists once more With those blizzard shaped nails of yours, Was I born fated to wither with thee? Once again she bowed; release these living sores lying in me!!!
The Eve to a Colder Epoch “Frozen, I felt her breath… Besieged by winter, a direful blood bath Standing still a bitter cold, Laid bewildered, for I saw, Bizarre corpses unfolding Whose souls held ever lost! Unsavoured I sensed the angriest frost Absorbed by a snowy paled skin… Midwinter nightmare led her to a faster dim Tepid cloudy-water reflects her conscience, like a mirror As beauty she slept, unaware of an inverno crescendo fever And once upon dreaming, she silently cried Whispering unwell, as from her a part died:
Oh… But no! All those beliefs I defied in vain, Each inquisitive dark midnight, only signified worthless pain Mine they were to seek, the perishing angel until his rot… Thus… thy absence dried my veins, Oh nostalgia, void of a howling past Without care I landed onto an unknown, so vast Thus… thy absence dried my veins, The eve to a colder epoch…
Embraced by the arms of betrayal Swaying her blackheart for an unbearable decadence Witchcrafted here, may lady Laila deserve to belong? To burden inside this riveting iced scenario along! For ye to carve my enchained wrists once more With those blizzard shaped nails of yours, Was I born fated to wither with thee? Once again she bowed; release these living sores lying in me!!! Oh… But no! All those beliefs I defied in vain, Each inquisitive dark midnight, only signified worthless pain Mine they were to seek, the perishing angel until his rot… Thus… thy absence dried my veins, The eve to a colder epoch… And dimly, I remember the came of daylight The veil of illusion, no longer mesmerized her sight…
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Darkside of Innocence Ajoelhai-vos perante Dom Inferno Ave Perdição (Jaz dormente a mente, herege Vossa Salvação) Língua essa, que me serpenteai oh demo Tão engendrada, enganadora Sobre sangue outrora puro, inocência encantadora Aliciais assim, vil diabo Ingénuo e caótico, teu hoje, Anjo negro do pecado” “Desliza mão vostra (m’ia), possessa d’alma ainda que cruel quão delicada Ao percorrer ténue, a infinda pele, por vós não amada Impulso dócil, um olho pela não transparência… Apoderais-te de mim (apoderar-me de ti), com tamanha insolência” Impludais-me de um só e apenas desejo O de te ter em mim (anseio) Talvez por preencher odiosa a alma, carne seminua Devorar satisfação, horrivelmente tão nossa e crua” “Descaindo eloquência tão sensual, véu vostro Enaltecer erótico, escarlata nostra carnificina Diabolicamente seduzir-vos sobre falsa e m’ia empatia Pois, de inócua eu te alteei mulher, um solo gemer Meu intelectual manifesto ás origens insanas do prazer In Nomine Dementia Ansiais, talvez por escassez, mi’a é liberdade Essa que sendo reles, macabra a divindade Vos negai, sequer em dor, iníqua existência Tão e sombria, porem acolhedora, senhora “Demência” Atrevei-vos, Oh, “Rainha”, por entre moribundos Sobre um tão decaído mundo de meros mortais Oh sim… de meros mortais… Devorai-lhe a carne, condenada por ancestrais
“Á luz de 3 luas incandescentes Aeterna será hoje, nocturna… Insinuação macabra de momento… Maleável e amargo fingimento…”
http://www.myspace.com/darksideofinnocence
Mensageiro, oh vindouro de desgraças Seus Antebraços envoltos em esbeltas asas desfiguradas Subtis os sussurros maliciosos, invocando o senhor dos horrores Vestindo em nós as trevas, laivos esses tão ensurdecedores
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