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Etelgra: 40 anos a par da evolução

A Etelgra, Lda comemorou 40 anos no passado dia 9 de setembro e o adn da empresa mantém-se intacto desde o dia em que Etelvino Carrasquinha deu início ao seu negócio: crescer cada vez mais. Hoje nas mãos de Nelson Carrasquinha e Graciete Matias devido a um infortúnio, a empresa de Vendas Novas continua a ter o foco em máquinas agrícolas.

por Hugo Neves

O “meu marido era uma pessoa que gostava muito de criar objetivos para se auto-motivar. Se ele cá estivesse, não sei dizer se estaria igual ou melhor. Mostrava sempre muita determinação em tudo o que fazia.” O olhar de Graciete Matias não esconde tristeza quando recorda Etelvino Carrasquinha, o marido e fundador da Etelgra, Lda. De um dia para o outro, a empresa ficou-lhe nas mãos, e Graciete, com dois filhos menores, teve de arregaçar as mangas e gerir uma empresa que comemorou 40 anos em setembro deste ano. Mas não o fez sem ajuda.

Três pilares num momento decisivo

Nessa altura, já o filho Nelson trabalhava na oficina. “Desde que me lembro, as minhas férias eram aqui. Depois do que aconteceu [falecimento de Etelvino Carrasquinha em janeiro de 1995], tivemos três grandes pilares que nos apoiaram em tudo: na oficina, o senhor Vicente, que já se reformou, o senhor Sousa na parte administrativa e o senhor Mário na parte comercial e de vendas. A partir desse dia, fomos avançando, com a minha mãe sempre presente”, explica Nelson, recordando a forma como o pai ajudou vários agricultores. “Vendia o trator dava um ano ou dois para pagar, mas deixava-o nas mãos do agricultor. Muitos cresceram e são hoje grandes graças a essa ajuda”, explica. Nelson fez o seu caminho dentro da empresa e hoje lidera a Etelgra. “Quando desisti do curso de engenharia, estabeleci-me aqui na oficina. Ao fim de três anos passei a ser vendedor na parte agrícola e automóvel. Após cinco anos, transitei para o escritório, para aprender a gerir a empresa”, conta quem segue a filosofia do pai: “Crescer cada vez mais e acompanhar a evolução do setor para responder às necessidades dos clientes.”

Parte da equipa da Etelgra

“Se não há, temos de os fabricar”

A Etelgra fechou 2022 com balanço positivo, ainda que 2023 prometa dar muito trabalho. “Os objetivos, em termos globais, foram concluídos. Para 2023, não vai ser fácil: o país e a Europa estão como vemos e não se consegue prever nada. Há que continuar o trabalho deste ano e estar muito atentos, trimestre a trimestre, para nos irmos adaptando ao mercado. Queremos melhorar as instalações a nível de imagem e condições de trabalho, veremos se é possível. Podia haver mais apoios do governo para as empresas...”, confessa Nelson Carrasquinha, que também enfrenta o problema da escassez de mão-deobra mas com uma ideia definida. “A Etelgra tem falta de mão-de-obra, mas preferimos formar pessoas com a cultura da empresa. E uma das coisas que sempre aprendi é: ‘Se não há, temos de os fabricar.’ Foi o que me levou a ter a equipa de hoje.”

Graciete Matias e Nelson Carrasquinha seguiram o legado de Etelvino e são hoje os rostos maiores da Etelgra.

Duas apostas ganhas

Com 75% do volume de negócio a vir da parte agrícola - o restante da parte automóvel, onde Lara Machado, esposa de Nelson, é a responsável do Pós-Venda da Toyota na Etelgra, empresa onde trabalha há 8 anos -, e por ser concessionário da New Holland (fabricante de tratores e motores), a Etelgra sai a ganhar. “Há prazos longos de entrega e falta de peças e componentes em todas as marcas, mas como a New Holland produz, temos vantagem. Oferecemos equipamentos de agricultura de precisão e os clientes cada vez mais procuram isso”, explica. Outra aposta com um excelente retorno, foi a expansão da Etelgra para Setúbal, realizada há 6 anos: “Já trabalhava lá com a Fiat na altura do meu pai. Depois, a a Fiat comprou a Ford e houve uma reorganização. Nós tínhamos a zona de Setúbal com a FiatAgri e quando nasceu a New Holland, perdemo-la. Mas sempre quisemos apoiar lá clientes e amigos da casa. Em 2016 aceitámos voltar a explorá-la.”

Oficina agrícola da Etelgra

Quatro histórias para recordar

Sogros ajudaram no arranque

“Ao princípio houve uma ligação do meu marido com o Nuno Gusmão [fundador d’abolsamia]. Ainda venderam uns tratores em ‘sociedade’ e depois é que o meu marido fundou a empresa. Começámos a vender tratores David Brown. Antes davam-nos um trator para vender e outro à consignação - até foram os meus pais que nos ajudaram a pagar o primeiro -, facilitavam a vida para pequenos empresários crescerem.”

Ajuda deu dores nas costas

“As ferramentas eram totalmente diferentes, quem servia de ‘macaco’ para erguer os tratores era eu! O meu marido queria mudar pneus e não tínhamos macaco. Punha umas tábuas por baixo e eu ajudava-o a levantá-lo. Veja a pobreza que existia e a força de vontade que nos levou a criar o que criámos, tudo à base do nosso trabalho.”

A máquina do “desenrasca-te”

“Quando precisou de alguém para fazer a escrita do negócio, o meu marido comproume uma secretária. Eu era modista e não tinha uma letra horrível mas também não tinha a letra dele. Quando ele viu que a minha letra não era clara, comprou-me uma máquina de escrever. Mas nenhum de nós sabia mexer naquilo. Quando lhe perguntei quem é que me ia ensinar a escrever nela, disse-me: “Não sei, olha, desenrasca-te.” [risos] E assim fiz...”

Surpresa para Carlo Lambro

“Em 1993, o Carlo Lambro (atual presidente da New Holland Agriculture) veio cá conhecer os concessionários da marca para aprender a ser delegado. Um dos primeiros que visitou foi a Etelgra e veio cá no dia de anos dele. Quando o meu pai descobriu, trouxe um bolo e cantámoslhe os parabéns no refeitório! Sempre que nos vemos nas reuniões europeias da NH, recorda essa história.”

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