5 minute read
Entrevista a Paulo Fardilha
“É essencial existir uma feira que demonstre a dinâmica do agronegócio”
O encerramento da Agroglobal 2021, em setembro desse ano, ficou marcado pelo anúncio da passagem da organização do evento da Valinveste para o CNEMA. De lá para cá, muito se especulou quanto à localização e à manutenção do “espírito Agroglobal”. Paulo Fardilha foi o homem escolhido para o leme e foi com ele que falámos, nas instalações que irão acolher a Agroglobal 2023.
por Sebastião Marques
O dia estava chuvoso, mas a azáfama no CNEMA, em Santarém, era grande: davamse os últimos retoques na montagem de mais um evento. “Temos que dinamizar este espaço ao máximo, ao longo do ano”, explicou Paulo Fardilha enquanto nos dava as boas-vindas. Ligado à organização da Agroglobal desde a primeira edição, em 2009, Paulo é desde fevereiro o diretor geral da Agroglobal no CNEMA.
Falta menos de um ano para a Agroglobal 2023 e a expectativa é grande. Em que ponto está a preparação do evento?
Os preparativos estão em curso, já temos data (5 a 7 de setembro de 2023), no entanto, os detalhes irão sendo revelados a partir de Janeiro/Fevereiro de 2023. Nesta fase, podemos adiantar que o evento terá lugar no espaço exterior do CNEMA, mantendo-se os campos de demonstração como ponto forte, tanto no recinto exterior do CNEMA, como numa área próxima com acesso direto.
A localização das áreas para ações de demonstração com máquinas foi, possivelmente, o tema que mais apreensão gerou com a passagem da Agroglobal para as instalações do CNEMA, temendo-se que ficassem situadas longe do centro da feira. Pode descansar os mais céticos?
Posso adiantar que estarão garantidas áreas de demonstração, seja de culturas permanentes, anuais, e demonstração de máquinas. Essa foi a nossa prioridade: conseguir trazer para um espaço desenvolvido para a realização de eventos, o “espírito Agroglobal”. É também por isso que, ao já tradicional slogan “Nós semeamos”, juntamos agora o “Cada vez mais Agroglobal”.
Relativamente às demonstrações de máquinas existirá uma área com cerca de 3 hectares, junto à zona de exposição, disponível para que expositores do setor possam exibir as potencialidades dos seus equipamentos. Existirão bancadas para que os profissionais possam assistir ao trabalho das máquinas, com horários e organizado por marcas. No setor do agronegócio é essencial existir uma feira que demonstre a sua dinâmica e potencial porque não é suficiente ver nos vídeos. No caso das alfaias de mobilização do solo, por exemplo, a demonstração física em cenário real é essencial. Os solos em Portugal são muito heterogéneos, muito diferentes dos solos no leste da europa. As demonstrações são uma necessidade das empresas e, prova disso, é a organização dos dias de campo.
A anterior localização, com todo o seu inegável esplendor, comportava alguns entraves logísticos. Aqui tudo parece mais simples…
Garantidas as condições para que os expositores possam demonstrar as culturas e equipamentos, este torna-se, de facto, um espaço com muito valor acrescentado pois foi concebido e está sempre disponível para a realização de eventos. Na anterior localização, não nos era possível criar infraestruturas a longo prazo. O CNEMA tem a vantagem dos acessos, estando no centro do país e com grande proximidade das autoestradas. Resumindo, estão reunidos os requisitos necessários para que num ambiente de proximidade e promotor da troca de experiências e de ideias, no fim os negócios aconteçam.
A existência de infraestruturas permanentes permite aprofundar as mais valias provenientes do contacto próximo com as empresas. Que tipo de iniciativas poderemos ver nos próximos anos?
Para já estamos focados na Agroglobal 2023, mas de futuro pretendemos dinamizar as áreas de demonstração de forma permanente. Para isso, contamos com as empresas do setor que terão aqui disponível um espaço para as suas ações, como por exemplo, “Dias de campo”. Teremos áreas para as culturas anuais e outras para culturas permanentes, estarão disponíveis para ensaios plurianuais. Julgo que de futuro iremos criar uma dinâmica quase contínua com as empresas e não só a cada dois anos com a Agroglobal.
Feira Nacional de Agricultura e Agroglobal passam a estar sob a mesma organização e nas mesmas infraestruturas. Existe algum risco de “canibalização” de um pelo outro?
De todo. A FNA e a Agroglobal são dois eventos com públicos e objetivos diferentes, embora ambas relacionadas com o agronegócio. A FNA pretende captar o público em geral, também com uma componente lúdica e comunicar com o consumidor do produto final do agronegócio.
A Agroglobal manter-se-á estritamente profissional e pretende que nos três dias da feira, as empresas apresentem o que há de novo, quais as tendências, criando negócio. Existirá espaço para ambas. Ainda assim, haverá temas comuns, nomeadamente, a pequena agricultura, que deverá continuar a ter o seu espaço na FNA. As sinergias resultantes de ter uma só entidade a organizar os dois eventos são relevantes sendo um fator positivo para o acompanhamento da constante evolução e modernização deste setor.